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Bon Bagay
No Haiti, “Bon Bagay” é impossível de traduzir.
Em janeiro de 2010, com o trauma do terremoto ainda fresco, jornalistas brasileiros
enviados ao país tentávamos explicar o que significavam aquelas palavras
onipresentes. Alguém um dia arriscou “sangue bom”, e houve um consenso de que
era o mais perto a que conseguiríamos chegar.
Para registrar seus flagrantes, ele rodou freneticamente pelo Haiti em garupas de
motocas. Passou horas dentro de carros calorentos esperando o trânsito serpentear
por entre destroços. Trouxe de volta um retrato precioso do tremor que matou de
200 a 300 mil pessoas e destruiu grande parte de um país já miserável.
Mas “sangue bom” não dá conta de definir essa expressão do creole, a lingua
remotamente derivada do francês que é falada na ilha caribenha. Bon Bagay está na
boca dos haitianos dia e noite, como uma saudação a um estrangeiro, um chamado
fraterno a um amigo, um suspiro de esperança ou um grito de decepção.
Numa favela de Porto Príncipe, uma senhora junta lama e farinha para fazer
uma torta. Em um acampamento improvisado em frente ao palácio presidencial
arruinado, um microempreendedor trabalha em um salão de beleza a céu aberto.
Na primeira luz do dia, tropas da força de paz brasileira, ainda sob o trauma de
terem perdido 18 colegas no tremor, distribuem água e alimentos.
Talvez por isso, melhor do que tentar traduzir é entender visualmente o que se
poderia chamar de um certo “espírito Bon Bagay”, que naqueles dias dramáticos
após a tragédia rondou o Haiti tão intensamente. As fotos de Alan Marques
oferecem uma janela.
Eram eles, os militares, quem mais ouviam pelas ruas os gritos de “Bon Bagay!”,
desta vez com exclamação, significando “obrigado”, “vá em frente”, “nos ajude”.
Impossível traduzir.
Frequently used in Haiti, “Bon Bagay” is an expression that is impossible to translate.
In January 2010, with the trauma caused by the earthquake still recent, we,
the Brazilian journalists sent to that country, were trying to explain what those
ubiquitous words meant. One day one of us risked “good fellow” (“sangue bom”),
and we all agreed that this was as close as we could get to.
But “good fellow” doesn’t comprehend the full definition of this expression of
the Creole, the language remotely derived from the French that is spoken in the
Caribbean island. Bon Bagay is on the Haitians’ lips day and night, as a greeting
to a foreigner, a fraternal call to a friend, a hopeful sigh, or a cry
of disappointment.
Maybe because of that, better than trying to translate it is trying to visually
understand what could be called a certain “Bon Bagay spirit”, that roamed around
Haiti so intensely on those dramatic days right after the tragedy. The photos of Alan
Marques offer us a window to this visual apprehension.
In order to register his caught-in-act photos, he wandered frenetically throughout
Haiti on backseats of motorbikes. He spent several hours inside stuffy hot cars
waiting for the traffic to start meandering among the wreckage. And he brought
back a precious portrait of the tremor that killed about 200 and 300 thousand
people and destroyed a great part of an already miserable country.
In a shantytown of Port-au-Prince, a woman gathers mud and flour to make a pie.
In an improvised camping in front of the ruined presidential palace, a small-scale
entrepreneur works in an open-air barber shop. On the first light of day, troops of
the Brazilian peacekeeping force, still under the trauma of having lost 18 fellows in
the quake, are distributing water and supplies.
It was them, the military, who most heard the cries of “Bon Bagay!” through the
streets, this time followed by an exclamation, meaning “thank you”, “keep going”,
“help us”. It is impossible to translate.
En Haïti, « Bon bagay » est impossible de traduire.
En janvier 2010, avec le trauma du tremblement de terre encore frais, nous, les
journalistes brésiliens, avions été envoyés au pays pour essayer d’expliquer ce que
ces mots omniprésents voulaient dire. Quelqu’un avait risqué une fois « bonne
chose » et il y avait un consensus que c’était le plus proche de la précision
sémantique que nous pourrions atteindre.
Pour enregistrer les photos, il a couru frénétiquement à travers l’Haïti à l’arrière
des motos. Il a passé des heures en attendant dans les voitures chaudes du
trafic que faisait des méandres parmi les débris. Il a rapporté un précieux tableau
du séisme qui a tué de 200 à 300 mille personnes et a détruit une grande partie
d’un pays déjà misérable.
Mais « bonne chose » ne suffit pas à définir cette expression du créole, la langue
dérivée du français qui est parlée dans cette île des Caraïbes. « Bon bagay » est jour
et nuit dans le vocabulaire courant des Haïtiens comme un salut à un étranger, un
appel fraternel un amical, un souffle d’espoir ou un cri de déception.
Dans un bidonville de Port-au-Prince, une dame mélange de la boue et de la farine
pour en faire une tarte. Dans un camp improvisé devant le palais présidentiel en
ruines, un petit entrepreneur travaille dans un salon de beauté ouvert. Le matin dès
l’aube, les soldats des troupes brésiliennes, encore sous le trauma d’avoir perdu 18
collègues dans le séisme, font la distribution d’eau et de nourriture.
Peut-être, plutôt que d’essayer de traduire, il vaut mieux comprendre visuellement
ce que l’on pourrait appeler un certain « esprit bon bagay», qui a fréquenté ces
jours intenses et dramatiques de l’après-tragédie de l’Haïti. Les photos d’Alan
Marques y proposent une fenêtre.
Apoio:
www.bonbagay.com.br
www.alanmarques.com.br
C’étaient eux, de l’armée, qui entendaient le plus dans les rues : « Bon bagay ! »,
cette fois l’exclamation qui signifiait « merci », « aller avant », « aidez-nous ».
Impossible de traduire.
Realização:
Patrocínio:
The struggle at Haiti after the earthquake | La lutte à l’Haïti après le tremblement de terre
The struggle at Haiti after the earthquake | La lutte à l’Haïti après le tremblement de terre
1a Edição
Brasília, 2012
© ALAN MARQUES
Todos os direitos reservados.
Fotografias
Alan Marques / Folhapress
Edição de Imagens, Textos e Projeto Editorial
Alan Marques
Direção de Arte, Projeto Gráfico e Diagramação
João Campello
Tradução
Ana Araújo Vázquez (Inglês)
Lúcia Hugueney (Francês)
Professor da Universidade de Brasília (UnB) Eclair Antonio Almeida Filho (Coordenação)
Apoio:
Realização:
Patrocínio:
Marques, Alan.
M357b Bon Bagay : a luta no Haiti após terremoto / Alan Marques. –
Brasília : Alan Marques, 2012.
140 p. : il. ; 30 cm.
Edição trilíngue.
1. Fotojornalismo - Haiti. 2. Terremoto - Haiti. 3. Haiti –
História. I. Título.
CDD 070.49097294
CDU 77.044(729.4)
Elaboração da ficha catalográfica
Maria Ivete G. M. Rodrigues CRB-DF 1682
Agradecimentos Gratefulness | Remerciement
Deus, que arquiteta meu destino;
Minha mãe, d. Ditinha, e meu pai, Epifânio, pela vida, amor, carinho e educação;
A minha amada Karla, que está sempre ao meu lado;
Meus irmãos, Lula e Sérgio, que são as minhas colunas de Salomão;
Meu irmão Paulo, que deixou saudades;
Minhas irmãs, Nadja, Telma e Vilma;
Ao jornal Folha de S. Paulo, o berço da minha vida profissional;
Melk Filho, pela oportunidade de viver do jornalismo;
Igor Gielow, que me enviou ao Haiti;
Juliana Laurino, que abriu as portas da Folhapress;
João Campello, que montou o corpo desse projeto;
Leonêncio Nossa, Roberto Jaime e Orlando Brito que me ajudaram na construção deste trabalho;
Samuel Figueiredo e Giancarlo Summa, que acreditaram neste trabalho;
Damaris Giuliana e Valéria Schilling, que me ajudaram na sintonia fina deste projeto;
Exército Brasileiro e ONU, que me acolheram no Haiti
Antônio Marcelino, que ordenou o fluxo do meu trabalho e ajudou no resgate das imagens;
Aos meus irmãos de pensamento e de fotografia;
E aos verdadeiros amigos que me apoiaram no meu caminho.
Alan Marques
A Organização das Nações Unidas tem atuado no
Haiti desde 1993, lidando com as pesadas heranças –
sociais, políticas, econômicas – de décadas da feroz
ditadura da família Duvalier.
The United Nations Organization has worked in Haiti
since 1993, dealing with the heavy legacies – social,
political, economic – from decades of brutal dictatorship
of the Duvalier family. A Missão das Nações Unidas para Estabilização no
Haiti (MINUSTAH), a quinta operação da ONU no
país, foi iniciada em 1º de junho de 2004, atendendo
a um pedido do novo Governo haitiano, que
necessitava de auxílio para restabelecer a segurança
interna, ameaçada por gangues de narcotraficantes
que controlavam áreas inteiras do território nacional,
e reestruturar as instituições.
The United Nations Stabilization Mission in Haiti
(MINUSTAH), the fifth operation of the UN in the
country, was initiated on 1st June 2004, fulfilling a
request from the new Haitian Government that needed
assistance to restore the internal security, threatened by
drug gangs that controlled whole areas of the national
territory, and to restructure institutions.
Ao longo desses anos, a ONU prestou assistência
humanitária a milhões de pessoas e implementou
programas educacionais, de emprego, reciclagem e
saúde, entre outras iniciativas que têm minimizado o
sofrimento do país mais pobre das Américas.
Throughout all these years, the UN has provided
humanitarian assistance to millions of people and has
implemented programs in education, employment,
recycling and health, among other initiatives that
have minimized the suffering of the poorest country
of the Americas.
Com o apoio da MINUSTAH, o Haiti reformulou seu
Congresso e realizou duas eleições presidenciais
livres e democráticas – pela primeira vez na História
da nação o poder foi transmitido entre opositores.
Também fortaleceu a formação de magistrados
e policiais, promovendo o Estado de Direito e o
respeito aos direitos humanos.
With the support of MINUSTAH, Haiti has reformulated
its Congress and organized two free and democratic
presidential elections - for the first time in the history
of the nation the power was transmitted among
opponents. The country has also strengthened the
training of magistrates and policemen, promoting the
Rule of Law and the respect for human rights.
A lenta recuperação do Haiti, no entanto, sofreu um
golpe terrível com o terremoto que arrasou o país em
12 de janeiro de 2010, ceifando as vidas de centenas
de milhares de haitianos – e de 96 funcionários civis
e militares da ONU: a maior perda jamais sofrida
pela Organização. Vinte destes colegas e amigos
eram brasileiros; entre eles, Luis Carlos da Costa, o
chefe-adjunto da Missão.
The slow recovery of Haiti, however, suffered a terrible
blow with the earthquake that devastated the country
on 12 January 2010, taking the lives of hundreds of
thousands of Haitians – and of 96 civilian and military
UN staff members: the highest loss the Organization has
ever had. Twenty of these colleagues and friends were
Brazilian; among them Luis Carlos da Costa, Deputy
Head of the Mission.
Alan Marques foi para o Haiti logo depois do
terremoto, e lá ficou trabalhando sem parar
por semanas a fio. As fotos reunidas neste livro
transmitem a emoção, a dor e, apesar de tudo, a
esperança daqueles dias terríveis. A escolha do
preto e branco é esteticamente acertada, e valoriza
a sensibilidade do olhar do fotografo. São imagens
fortes, que destacam os valores do trabalho das
Nações Unidas: solidariedade, respeito, tolerância.
Alan Marques went to Haiti right after the earthquake
and stayed there working nonstop for weeks. The
photographs gathered in this book transmit the emotion,
the pain and, despite everything, the hope felt during
those terrible days. The choice of black and white is
aesthetically correct and it enhances the sensitive eye of
the photographer. The images are strong and emphasize
the values of the work developed by the United
Nations: solidarity, respect, tolerance.
A ONU continua, e vai continuar, ao lado do povo
e do Governo haitiano para superar os desafios do
terremoto, defendendo a igualdade, a justiça, a paz.
The UN continues and will continue to work side by side
with the people of Haiti and the Haitian Government
to overcome the challenges created by the earthquake,
always advocating equality, justice and peace.
L’Organisation des Nations Unies est présente en Haïti
depuis 1993. Sur place, ses activités la confrontent
quotidiennement au désastreux héritage des décennies
de dictature de la famille Duvalier, aussi bien sur le
terrain social que politique ou économique.
La Mission des Nations Unies pour la stabilisation en
Haïti (MINUSTAH) est la cinquième opération de
l’ONU dans le pays. Elle a commencé le 1er juin 2004,
à la demande du gouvernement haïtien. Ce dernier avait
besoin de soutien pour rétablir la sécurité, menacée par
des gangs de narcotrafiquants qui contrôlaient des pans
entiers du territoire national, ainsi que pour restructurer
les institutions.
Tout au long de ces années, l’ONU a mis en place
une assistance humanitaire touchant des millions de
personnes, et développé des programmes relatifs à
l’éducation, l’emploi, la santé et le recyclage, entre
autres initiatives ayant pour objectif de réduire les
souffrances au sein du plus pauvre pays des Amériques.
Avec l’appui de la MINUSTAH, Haïti a réformé son
Congrès et organisé deux élections présidentielles libres
et démocratiques – pour la première fois de l’histoire
de la nation, le pouvoir a été transmis dans le cadre des
institutions entre des opposants. Le pays a également
renforcé la formation de ses magistrats et de ses
policiers afin de promouvoir l’Etat de droit et le respect
des droits de l’homme.
La lente résurrection d’Haïti a néanmoins souffert un
coup terrible à travers le tremblement de terre qui a
dévasté le pays le 12 janvier 2010, tuant des centaines
de milliers de Haïtiens, ainsi que 96 fonctionnaires civils
et militaires de l’ONU – la plus grosse perte jamais
soufferte par l’organisation. Ce groupe d’amis et de
collègues comprenait vingt Brésiliens, parmi lesquels
Luis Carlos da Costa, chef-adjoint de la mission.
Alan Marques s’est rendu en Haïti juste après le
tremblement de terre, il y a travaillé sans relâche
pendant des semaines. Les photographies réunies
dans cet ouvrage transmettent l’émotion, la douleur,
et, malgré tout, l’espérance qui fleure au cours de
ces journées terribles. Le noir et blanc est un choix
esthétique, qui valorise la sensibilité du regard du
photographe. Ce sont des clichés forts, qui mettent en
avant les valeurs guidant le travail des Nations Unies :
solidarité, respect et tolérance.
L’ONU est, et restera toujours aux côtés du peuple et
du gouvernement haïtien pour les aider à surmonter les
nouveaux obstacles créés par le tremblement de terre,
en défendant l’égalité, la justice, et la paix.
Giancarlo Summa,
Diretor do Centro de Informação das Nações Unidas
para o Brasil (UNIC Rio)
Giancarlo Summa,
Director of the United Nations Information Center in
Brazil (UNIC Rio)
Giancarlo Summa,
Directeur du Centre d’Information des Nations Unies
au Brésil (UNIC Rio)
Alan Marques | Bon Bagay
5
A tragédia que desabou sobre o povo haitiano em 12
de janeiro de 2010 trouxe para o coração do Brasil
parte dos destroços, poeira e sangue que desde
então passaram a compor a rotinada população de
Porto Príncipe. O sacrifício de 21 brasileiros mortos
naquele terremoto, dos quais 18 militares, sintonizou
ainda mais as emoções entre brasileiros e haitianos.
A amizade entre os dois povos, que se fortalecia
desde 2004, quando o Brasil passou a coordenar
a missão militar da ONU no Haiti, robusteceu-se,
numa onda de solidariedade que até hoje mostra
seus ecos nos fluxos migratórios de haitianos que
buscam no Brasil reencontrar os “BonBagay”.
É nesse momento da tensão máxima, do sofrimento
inenarrável, que o repórter Alan Marques chega
à capital conflagrada para contar suas histórias.
Imagens de dor, de morte, de desalento, mas também
de solidariedade e esperança, a florescer em meio ao
ferro e ao concreto despedaçado. Essa é a principal
imagem que trago daqueles dias tristes, e que são
também acolhidas neste livro: a força do sonho, da
esperança e da amizade a conduzir os homens.
The tragedy that crumbled over the Haitian people
on January 12, 2010, brought to the heart of Brazil
part of thewreckage, debris and blood that ever
since became part of Port-au-Prince’s population
routine. The sacrifice of 21 Brazilian citizens killed
in the earthquake, 18 of them Military, tuned even
more the emotions of Brazilians and Haitians. The
friendship between the two people, which was
getting stronger since 2004, when Brazil started
to coordinate the UN military mission in Haiti,
augmented, in awave of solidarity that until now
shows its echoes on the immigration flow of Haitians
expecting to be in reunion with the “Bon Bagay”. In
a moment like this of maximum stress, unspeakable
suffering, the reporter Alan Marques arrives in the
embattled capital to tell its stories. Images not only
of pain, death and despair, but also of solidarity
and hope were rising from the poured concrete and
steel. That is the main remembrance I keep from
those sad days, which is also part of this book: the
strength of the dream, of hope, and the friendship
that guides the men.
La tragédie qui s’est abattue sur le peuple haïtien le 12
janvier 2010 a ramené au cœur du Brésil une partie des
décombres, de la poussière et du sang qui font désormais
partie de la routine de la population de Port-au-Prince. La
perte de 21 Brésiliens dans le séisme, dont 18 militaires,
a rapproché encore davantage les émotions éprouvées
par les Brésiliens et les Haïtiens. L’amitié entre les deux
peuples, qui se fortifiait depuis 2004 , lorsque Le Brésil
a assumé la coordination de la mission militaire de
l’ONU en Haïti,s’est solidifiée, en déclenchant une
vague de solidarité qui, jusqu’à présent, montre ses
repercussions dans les fluxs migratoires d’Haïtiens qui
cherchent à rencontrer au Brésil les “Bon Bagay”. C’est
dans ce contexte de tension maximale et de souffrance
indescriptible que le journaliste Alan Marques arrive à
la capitale bouleversée pour raconter ses histoires. Des
images de douleur, de mort, de découragement, mais
aussi de solidarité et d’espoir, fleurissent enplein milieu du
fer et du béton tombés en morceaux. Voici la principale
image que je retiens des ces journées tristes,par ailleurs
reprises dans ce livre : la force du rêve, de l’espoir et de
l’amitié à conduire les hommes.
Nelson Jobim
Ministro da Defesa do Brasil no período 2007-2011
Nelson Jobim
Brazilian Ministryof Defense, from 2007 to 2011
Nelson Jobim
Ministre de la Défence du Brésil dans la période de
2007 à 2011
Um pouco do Haiti e ONU
Historiadores dizem que a pobreza e a tragédia do povo haitiano podem ter
origem no século 19, quando Neg Mawon –a figura mítica do negro desconhecido,
representante da insurreição escrava– apontou seu machete para o colonizador
francês e começou a luta pela libertação.
O Haiti era então a mais rica e cobiçada colônia. Após a vitória militar sobre
o colonizador, os haitianos queimaram todas as plantações e engenhos. Sua
intenção: tornar o país objetivo pouco atraente para uma força francesa
de reconquista.
Nessa época surgiu uma expressão “cupetet bo le cay” (cortem as cabeças e
queimem as casas), ainda bradada nos conflitos mais recentes do país.
Nascia assim, em 1804, a primeira república negra nas Américas, já exaurida
economicamente pela guerra e por dívidas com o colonizador.
Fora isso, após anos de guerrilha e golpes de Estado, a vida voltava à capital Porto
Príncipe, com lojas, restaurantes e mercados sendo abertos em cada esquina.
E, sim, a preparação da próxima eleição democrática ia bem.
O cenário favorável fez a ONU apostar que 2011 seria o ano da virada na história
haitiana, quando as tropas e agências humanitárias começariam uma retirada
escalonada.
O Haiti seria então um exemplo de intervenção internacional em um país pobre e caótico.
Contudo, na tarde do dia 12 de janeiro de 2010 as placas tectônicas do Caribe e
dos EUA se deslocaram um metro e meio, a dez quilômetros de profundidade.
Os planos da comunidade internacional para o Haiti desabaram em alguns
segundos, assim como boa parte da capital do país.
A catástrofe deixou mais de 220 mil mortos, segundo cálculos do governo do Haiti.
Dezenas de governantes civis e militares se sucederam no poder, sendo depostos ou
mortos, até a ascensão da violenta ditadura Duvalier (1957-1985).
A queda desse regime provocou uma luta pelo poder entre militares e o presidente
esquerdista Jean Bertrand Aristide, processo cuja violência fez a ONU desembarcar
capacetes azuis pela primeira vez no país em 1993.
Poucos dias após o tremor principal e ainda sem ter a real ideia do tamanho do
desastre – ninguém tinha, na época – o fotógrafo Alan Marques chegou ao Haiti de
carona com um avião C-130 da Força Aérea do Brasil.
Nos dez anos seguintes, quatro missões do organismo se sucederam no Haiti,
fracassando sistematicamente.
Em uma terra em escombros, onde tremores secundários e saques eram frequentes,
Alan registrou o terror dos sobreviventes e os esforços sem limites de militares
brasileiros, americanos e de tantas outras nacionalidades, para socorrer, dar abrigo,
água e comida para 1,3 milhão de desabrigados.
Quando Aristide foi deposto e exilado em 2004, o Departamento de Missões de
Paz da ONU, projetou uma operação maior e mais robusta que as anteriores - a
Minustah (Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti), cujo comando
militar é brasileiro.
Tive a honra de acompanha-lo por mais de 15 dias naquele caos. Percebi que
os personagens que ele fotografou não eram só mais um punhado de crianças
moribundas, homens mutilados, sacerdotes vudus, cozinheiras de biscoitos de barro
e pilotos de tap-tap (lotação).
Em meados de 2007, após três anos de combates, a maior parte dos grupos
rebeldes havia se rendido ou sido aniquilado. A reestruturação e a ampliação da
Polícia Nacional do Haiti e do sistema judiciário do país se aceleraram no nos
dois anos seguintes.
As lentes do fotógrafo retrataram um povo e uma parte sombria de sua história.
Alan captou a luta dos haitianos, os descendentes do Neg Mawon, que mesmo
vivendo na nação mais pobre da América, sobreviveram a uma das maiores
catástrofes humanitárias do último século.
Luis Kawaguti é repórter do caderno Mundo da Folha de S.Paulo, foi enviado para
cobrir o terremoto do Haiti horas após o desastre e é autor do livro “A República
Negra - histórias de um repórter sobre as tropas brasileiras no Haiti”
Alan Marques | Bon Bagay
Something of Haiti and the UN
Historians say that the poverty and tragedy of the Haitian people may have
had their origin in the XIX Century, when Neg Mawon – the mythic figure of the
unknown Black Man, representative of the slave insurrection – aimed his machete at
the French colonizer and led the fight for liberty.
The favorable scenario made the UN bet that 2011 would be the year of the
turning point in the history of Haiti, when the troops and humanitarian agencies
would initiate a gradual retreat. Haiti would then be an example of international
intervention in a poor and chaotic country.
Haiti was then the richest and most coveted French colony. After the victory over the
colonizers, the Haitians burned down all the plantations and sugar-mills in the country.
Their intention: to make the country a poorly attractive goal for a French reconquest
Force. At that time an expression came up, “cupetet bo le cay” (cut the heads off and
burn the houses down), that the Haitians were still roaring in the most recent conflicts.
However, in the afternoon of the January 12, 2010, the Caribbean and North
America tectonic plates moved about 5 feet (1.5 meter), about 6 miles (10
kilometers) below the surface of the Earth. The plans of the international
community for Haiti collapsed in a few seconds, just like a great part of the capital
of the country.
Thus was born, in 1804, the first black republic in the Americas, already exhausted
economically by war and debts to the colonizers.
The catastrophe killed more than 220 thousand people, according to Haitian
government figures.
Dozens of civil and military governors came to power one after another, being either
deposed or killed, until the rising of the violent Duvalier dictatorship (1957-1985).
A few days after the quake, and yet without having a clear idea of the dimension of
the disaster – no one did, at the time – the photographer Alan Marques arrived at
Haiti hitching a ride on C-130 plane of the Brazilian air Force.
The fall of this regime led to a power struggle between the military and the leftist
president Jean Bertrand Aristide, a process whose violence made the UN disembark
blue berets in the country for the first time, in 1993.
Through the ten years that followed, four UN missions took place in Haiti,
failing miserably.
When Aristide was deposed and exiled in 2004, the Department of Peacekeeping
Operations of the United Nations set up an operation greater and more robust than
the previous ones - the Minustah (United Nations Stabilization Mission in Haiti ),
which has its military component under the command Brazilian Army.
In mid 2007, after three years of combats, most of the rebel groups had surrendered
or been annihilated. The restructuring and expansion of Haiti’s National Police
judicial system were accelerated in the two years that followed.
In a land turned into wreckage, where aftershocks and pillages were frequent, Alan
registered with his camera the terror of the survivors and the limitless efforts of the
soldiers from Brazil, USA, and so many other countries, to assist, rescue, shelter, and
provide water and food for 1,3 million displaced.
I had the honor of accompanying him for over 15 days on that chaos. I realized the
characters he photographed weren’t just another bunch of dying children, mutilated
men, voodoo priests, mud biscuit cookers, and Tap-Tap pilots.
The lenses of the photographer portrayed a people and a dark period of their
history. Alan captured the struggle of the Haitians, the descendants of Neg Mawon,
who even living in the poorest nation of America, managed to survive one of the
greatest humanitarian catastrophes of the last century.
After years and years of guerrilla and putsches, life was coming back to the capital
city of Port-au-Prince, with stores, restaurants and markets springing in every corner.
And certainly the preparations for the next democratic elections were doing fine.
Luis Kawaguti is a reporter for “World” section of the paper Folha de S.Paulo, was
sent to cover the earthquake in Haiti hours after the disaster, and is the author of the
book “A República Negra – histórias de um repórter sobre as tropas brasileiras no
Haiti” (The Black Republic – stories of a reporter about the Brazilian troops in Haiti).
Un peu de l’Haïti et des Nations Unies
Les historiens disent que la pauvreté et la tragédie du peuple haïtien peuvent avoir
eu son origine dans le dix-neuvième siècle, quand Neg Mawon - la figure mythique
du Noir inconnu, représentant de l’insurrection esclave – a pointé sa machette pour
les colonisateurs français si bien qu’a commencé ainsi la lutte de émancipation.
Haïti était alors la colonie française la plus riche et la plus convoitée. Après la
victoire militaire contre le colonisateur, les Haïtiens ont brûlé toutes les plantations
et les usines. Leur intention : rendre le pays peu attractif pour une force française de
reconquête. À ce moment-là vint au jour l’expression « cupetet bo le Cay” (coupez
les têtes et brûlez les maisons), encore utilisée dans les conflits récents dans le pays.
Ainsi, en 1804, la première république noire des Amériques est née, déjà
économiquement épuisée par la guerre et les dettes envers son colonisateur.
Des dizaines de dirigeants civils et militaires qui ont réussi au pouvoir, ont été déposés
ou morts jusqu’à l’avènement de la violente dictature de Duvalier (1957-1985).
La chute de ce régime a conduit à une lutte de pouvoir entre l’armée et la gauche
du président Jean Bertrand Aristide ; dans ce processus, la violence utilisée était une
raison pourquoi les Nations Unies avaient envoyé des casques bleus au pays pour la
première fois en 1993.
En dehors de cela, après des années de guérilla et de coups d’État, la vie revenait à
la capitale Port-au-Prince, avec des magasins, restaurants et marchés qui avaient été
ouverts à tous les coins. Et oui, la préparation de la prochaine élection démocratique
allait bien. Le rapport favorable fait l’ONU miser que l’année 2011 serait l’année
du grand tournant de l’histoire haïtienne, lorsque les troupes et les agences
humanitaires commenceront un retrait progressif. L’Haïti serait alors un exemple de
l’intervention internationale dans un pays pauvre et chaotique.
Cependant, l’après-midi du 12 janvier 2010, les plaques tectoniques dans les
Caraïbes et les États-Unis se sont déplacées d’un mètre et demi, à une profondeur
de dix kilomètres. Les plans de la communauté internationale en faveur d’Haïti se
sont effondrés en quelques secondes, ainsi qu’une bonne partie de la capitale.
La catastrophe a fait plus de 220 mille morts, selon les estimations du gouvernement
d’Haïti.
Quelques jours après le séisme principal et toujours sans une véritable idée de
l’ampleur de la catastrophe - personne n’en avait à cette époque -, le photographe
Alan Marques était arrivé en Haïti dans l’avion C-130 de l’Armée de l’Air du Brésil.
Au cours des dix prochaines années, quatre missions de l’agence se sont passées en
Haïti, mais aucune n’a réussi.
Dans un pays où les répliques et les pillages étaient fréquents, Alan a enregistré la
terreur des survivants et les efforts sans limites des militaires brésiliens, américains et
de bien d’autres nationalités, pour sauver, fournir de l’hébergement, de la nourriture
et de l’eau à 1,3 millions d’haïtiens sans-abri.
Lorsque Aristide a été destitué et exilé en 2004, le département de missions de
paix des Nations Unies avait fait une opération plus grande et plus robuste que les
précédentes - la MINUSTAH (Mission des Nations Unies pour la stabilisation en
Haïti), dont le commandement militaire est brésilien.
J’ai eu l’honneur de l’accompagner pendant plus de 15 jours dans ce chaos. Je me
suis aperçu que les personnages qu’il a photographiés ne sont pas seulement un tas
d’enfants qui meurent, des hommes mutilés, des prêtres vaudous, des cuisiniers de
biscuits de boue et les chauffeurs de tap-tap (bus).
À la mi-2007, après trois années de combats, la plupart des groupes rebelles
s’étaient déjà rendus ou ont été détruits. La restructuration et l’extension de la Police
nationale haïtienne et le système judiciaire du pays se sont accélérés dans les deux
années suivantes.
L’objectif du photographe dépeint un peuple et une partie sombre de son histoire.
Alan a saisi la lutte des Haïtiens, descendants de Neg Mawon qui, même vivant
dans la nation la plus pauvre de l’Amérique, ont survécu à l’une des plus grandes
catastrophes humanitaires du dernier siècle.
Luis Kawaguti , journaliste de la section Mundo du journal Folha de S. Paulo, a été
envoyé pour rapporter le tremblement de terre en Haïti quelques heures après la
catastrophe et est l’auteur de “A República Negra – histórias de um repórter sobre
as tropas brasileiras no Haiti”.
Alan Marques | Bon Bagay
Sumário
summary
résumé
em pedaços
9
in pieces
en morceau
marcas
49
marks
stigmate
bon bagay
97
bon bagay
bon bagay
Alan Marques | Bon Bagay
em pedaços
in pieces
en morceau
Jojo Flerime Victor, 10 anos, adora futebol. Naquela tarde de terça-feira, o garoto
haitiano corria atrás da bola na brincadeira diária com os amigos da rua. Disputava
cada lance sem se importar com o pé descalço e o dorso nu. Só queria marcar um
gol, mirando na trave improvisada com tijolos.
No campinho da rua Lycée Jean Marie-Vicent, em Porto Príncipe, a bola meio murcha
passava de pé em pé. Um pouco antes das 17h daquele 12 de janeiro de 2010, um
barulho forte parou o jogo. Jojo olhou para cima porque pensou, naquele primeiro
momento, que era uma explosão no poste de iluminação. O asfalto ralo foi sacudido
uma vez, duas vezes e na terceira o chão sumiu e para depois projetar Jojo para o
alto. O garoto haitiano sentiu com se estivesse montado em um cavalo raivoso.
A terra continuou a tremer. Uma nuvem densa e sufocante cobriu o céu. O silêncio
durou pouco e deu lugar aos gritos: “Jesu”, “Bon Dieu”. O rosto da molecada
de rua ficou coberto por uma fina camada de poeira monocromática com filetes
vermelhos do sangue que corria de suas cabeças.
Jojo se recorda de ter começado a chorar. Correu para casa. Achou em seu lugar
um monte de concreto e ferro. Parte do corpo de sua mãe, Tereza, estava esmagada
por uma laje e se misturava ao tom uniforme da poeira. Muitos sobreviventes
permaneceram sentados no meio-fio. Prédios inteiros bloqueavam ruas. Corpos
inertes começavam a ser colocados na rua.
Naquelas primeiras horas, Jojo andava sem rumo pelo bairro à procura dos seis
irmãos e do pai, Vivil. As labaredas dos incêndios em alguns prédios eram a única
fonte de iluminação em Porto Príncipe pós-terremoto. Mais e mais pessoas vagavam
sem rumo, tropeçando no concreto e se desviando dos corpos.
Jojo perdeu a referência de onde estava e seguia procurando um rosto familiar ou
amigável. Rodou pelo bairro até a sede e a fome corroerem suas forças. Acabou por
se deitar junto com uma família de haitianos desabrigados como ele. Formara com
seus corpos um pequeno ninho na rua. Não tinham nada para se cobrir, nada para
beber, nada para comer.
O saldo da tragédia naquele momento erra de, ao menos, 2 milhões de pessoas em
situação de emergência, segundo a Minustah (Missão das Nações Unidas para a
Estabilização no Haiti).
Um novo dia começou antes de o sol nascer. O barulho da cidade sofrendo não
deixava ninguém descasar. Alguns haitianos corriam atrás de um homem que
acabara de saquear uma casa. Conseguiram dominar o saqueador, amarraram suas
mãos, bateram nele até ele parar de se mexer, tiraram sua roupa e atearam fogo em
seu corpo.
O saqueador foi deixado na rua com os outros mortos. Jojo viu tudo.
Ao longe um grupo de soldados de capacetes azuis abriu passagem para seus carros
no meio da mistura de concreto, ferro e asfalto. Os militares também cruzavam de um
lado para outro à procura de seus mortos e feridos. Jojo correu até eles. Conseguiu
água e sua primeira refeição depois do terremoto. A força de Paz da ONU, liderada
pelos soldados brasileiros, contava suas baixas nas primeiras horas do desastre,
enquanto se preparava para atender aos milhares de atingidos pelo terremoto.
O menino seguiu os soldados que retornavam para a base brasileira. Viu uma pequena
multidão de feridos e famintos se amontoarem na entrada do quartel da ONU.
Foi ali que Jojo se sentiu seguro e dormiu sua segunda noite, como mais um órfão da
tragédia que se abateu sobre o sei país e com 220 mil mortos, segundo estimativas
incertas. Ao acordar no meio da confusão de atendimento das vítimas, ele conseguiu
um banho, comida, água, um calção novo e uma camisa do Botafogo.
Duas semanas depois do abalo de 7,9 graus na escala Richter, grande parte
dos mortos havia sido recolhida das vias destruídas. Sobreviventes ainda eram
milagrosamente retirados com vida dos escombros.
Barracas de pano, plástico e madeira eram usadas como habitação pelos haitianos
que perderam suas casas. Quem não teve sua morada destruída tinha medo
dos vários tremores menores que sucederam o primeiro e preferiam ficar na
rua. Os haitianos dormiam nas calçadas em frente aos antigos endereços ou no
improvisados campos-abrigos.
Apesar do caos, não houve a temida explosão de violência, mas, sim, crimes e
saques em pontos isolados. Os haitianos que conseguiram salvar alguma coisa
pegavam os tap-taps, carros do tipo lotação, para deixarem Porto Príncipe em
direção ao interior do país.
Jojo Flerime Victor
Alan Marques | Bon Bagay
Jojo Flerime Victor, 10 years old, loves football. On that Tuesday afternoon the
Haitian boy was chasing after the ball in his daily play with the friends of his
street. He followed each movement of the ball eagerly, not minding his bare feet
and naked back. All he cared about was scoring a goal, aiming at the goalpost
improvised with bricks.
In the small football field on the street Lycée Jean Marie-Vincent, in Port-au-Prince, the
almost flat ball was kicked hither and tither. A little bit before 5 pm of that January
12, 2010, a loud noise stopped the match. Jojo looked up, for he assumed, in that first
moment, it was a street lamp that had exploded. The thin asphalt was shaken once,
twice, and at the third time the floor first disappeared from under his feet and then
threw him up to the sky. The Haitian boy felt like he was riding an angry horse.
The earth shook on. A dense and suffocating cloud covered the sky. The silence
didn’t last long and gave place to screaming: “Jesu”, “Bon Dieu”. The faces of the
kids on the street were covered by a thin layer of monochromatic dust with red
fillets of the blood that was flowing down their heads.
Jojo remembers having started to cry. He run home. In its place he found a pile of concrete
and iron. Part of the body of his mother, Tereza, was crushed by a flagstone and was lost
in the even hue of the dust. Many survivors remained seated on the curb. Entire buildings
blocked the streets and lifeless bodies began to be brought out from the rubble.
On those first hours, Jojo wandered through the neighborhood in search of his
six brothers and his father. The flames of the fires in some buildings were the only
source of lighting in the post quake Port-au-Prince. More and more people roamed
about, stumbling on the concrete and making their away among the dead bodies.
13
A new day began before the sun rose again. The noise of suffering wouldn’t let
anyone rest. Some Haitians were running after a man who had just pillaged. They
managed to overrun the looter, and then they tied his hands, beat him up until he
stopped moving, took off his clothes and set fire to his body.
The looter was left on the street along-side the other dead bodies. Jojo saw it all.
At distance, a group of blue berets made way for their cars amid the mix of
concrete, iron and asphalt. The military were also running hither and tither searching
for their dead and injured. Jojo run after them and got water and his first meal after
the earthquake. The UN peacekeeping force, led by the Brazilian soldiers, was
counting their casualties in the first hours of the disaster while heading to assist the
thousands of quake-injured.
The little boy followed the soldiers that were going back to the Brazilian
headquarters. He saw a small crowd of wounded and starving people gathering at
the door of the UN quarter.
It was there that Jojo felt safe and spent the second night, another orphan of tragedy
that befell over his country and left 220 thousand deaths, according to uncertain
estimations. When waking up in the middle of the chaotic assistance to the victims,
he got a bath, food, water, a new short, and a Botafogo jersey (Botafogo is a
Brazilian football team).
Two weeks after the magnitude 7.9 quake, great part of the dead bodies had been
collected from the streets. Survivors were still being miraculously rescued alive from
the rubble.
Jojo lost track of where he was and kept looking for a familiar or simply friendly
face. He roved around the neighborhood until thirst and hunger consumed his
strength. He ended up lying besides a Haitian family, displaced like him. They
formed together, with their own bodies, a small nest in the middle of the street. They
had nothing to cover themselves with, nothing to drink, nothing to eat.
Stalls made of fabric, plastic and wood would be used as dwelling by the Haitians
that had lost their homes. Whoever hadn’t had their abode destroyed by the quake,
was afraid of several smaller aftershocks that came after the first one and preferred
to stay on the street. Haitians were sleeping on the sidewalks in front of their former
addresses or in the improvised shelter-camps.
The score of the tragedy on that moment was of at least 2 million people in an
emergency situation, according to the Minustah (United Nations Stabilization
Mission in Haiti).
In spite of the general mayhem, the so feared violence explosion didn’t happen.
There were only crimes and pillage in isolated points. The Haitians that managed to
save something got in the tap-taps, to leave Port-au-Prince and go upcountry.
Jojo Flerime Victor, 10 ans, aime le football. Un après-midi d’un mardi, le garçon
haïtien chassait le ballon, c’était le jeu quotidien avec les amis de la rue ... Il
disputait avec les autres chaque pas sans donner aucune importance qui soit aux
pieds et aux dos nus. Il voulait seulement marquer un but, visant toujours au poteau
du but improvisé avec des briques.
Les conséquences de la tragédie à ce moment-là étaient d’au moins 2 millions de
personnes dans une situation d’urgence, selon la MINUSTAH (Mission des Nations
unies pour la stabilisation en Haïti).
Au terrain pour le football de la rue Lycée Jean-Marie Vincent à Port-au-Prince,
le ballon demi-creux passait de pied en pied. Juste avant les dix-sept heures
du 12 Janvier 2010, un fort bruit a arrêté le match. Jojo regarda en haut, parce
qu’il pensait d’abord qu’il s’agissait d’une explosion dans le réverbère. Le pavé
secoua : une fois, deux fois, et à la troisième fois le sol est disparu sous ses
pieds. Jojo saillit vers le haut. Le garçon haïtien a senti comme s’il était sur un
cheval fou.
La terre continuait à trembler. Un nuage dense et suffocant couvrait le ciel. Le
silence a eu courte durée et a donné la place à des cris : « Jésus », « Bon Dieu
». Le visage des enfants de la rue a été couvert par une fine couche de poussière
monochromatique teinte par les filets rouges du sang qui coulait de leur tête.
Jojo se souvint de commencer à pleurer. Il courut chez lui. Il trouva au lieu de sa
demeure beaucoup de béton et de fer. Une partie du corps de sa mère, Tereza, a été
écrasée par une dalle et se mêlait à la couleur uniforme de la poussière. Nombreux
survivants restaient assis au bord du trottoir. Des immeubles entiers encombraient
les rues. On commençait à y placer les corps inertes.
Dans ces premières heures, Jojo marchait sans but dans le quartier à la recherche
de ses six frères et de son père, Vivil. Les flammes des incendies dans quelques
bâtiments étaient la seule source d’éclairage à Port-au-Prince après le séisme. De
plus en plus de gens erraient sans but, trébuchant dans le béton et en esquivant des
corps.
Jojo perdit la référence de l’endroit où il était, et marchait à la recherche d’un visage
familier ou amical. Il roulait dans le quartier jusqu’à ce que la soif et de la faim
avaient corrodés ses forces. Il finit par aller dormir avec une famille haïtienne sansabri comme lui. Ils formaient avec leurs corps un petit nid dans la rue. Ils n’avaient
rien avec quoi se couvrir, rien à boire, rien à manger.
Une nouvelle journée commence avant le lever du soleil. Le bruit de la ville qui
souffre ne laissait repos à personne. Quelques Haïtiens chassaient un homme qui
venait de piller une maison. Ils ont saisi l’aileron, attaché ses mains, l’ont battu
jusqu’à ce qu’il ne bouge plus, ont ôté ses vêtements et mis feu à son corps.
Le voleur fut laissé dans la rue avec les autres morts. Jojo regarda tout .
Au loin, un groupe de soldats en casques bleus cède la place à leurs voitures au
milieu du mélange de béton, de fer et d’asphalte. Les militaires ont également
traversé d’un côté à l’autre à la recherche des morts et blessés. Jojo courut à eux.
Il obtint de l’eau et son premier repas après le tremblement de terre. La force de
maintien de la paix des Nations Unies, dirigée par des soldats de terre brésiliens,
recensait les victimes des premières heures de la catastrophe, alors qu’elle se hâtait
à aider des milliers de personnes frappées par le tremblement de terre.
Le petit garçon suivit les soldats qui retournaient à la base brésilienne. IIl regarda
s’accumuler une petite foule de blessés et affamés à l’entrée du siège de l’ONU.
Jojo s’y sentait en sécurité et il dormit là-bas sa deuxième nuit, comme un autre
orphelin de la tragédie qui s’est abattue sur son pays et a fait 220 mille morts, selon
les estimations incertaines. Quand il s’est réveillé au milieu de la confusion d’aide
aux victimes, il a fait un bain, a reçu de la nourriture, de l’eau, ainsi qu’un short neuf
et une chemise du Botafogo (club brésilien de football).
Deux semaines après le tremblement de terre de 7,9 degrés sur l’échelle Richter,
la plupart des morts avaient déjà été collectés des routes détruites. Des survivants
étaient encore miraculeusement retirés vivants des décombres.
Tentes de toile, de plastique et de bois étaient utilisées comme logement pour les
Haïtiens qui avaient perdu leurs maisons. Qui n’avait pas eu sa maison détruite
avait peur des nombreux petits tremblements qui ont suivi le premier et préférait
rester dans les rues. Des Haïtiens dormaient sur les trottoirs devant leurs anciennes
adresses ou dans les refuges improvisés.
[em pedaços]
[in pieces]
[en morceau]
Alan Marques | Bon Bagay
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[catedral]
[cathedral]
[cathédrale]
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[Palácio]
[Palace]
[palais]
Alan Marques | Bon Bagay
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[Solidão]
[loneliness]
[solitude]
Alan Marques | Bon Bagay
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Alan Marques | Bon Bagay
Marcas
marks
Stigmate
Carole Gedeson, 40 anos, mora na região de Cité Soleil, a mais violenta da capital
haitiana. Sua família de sete filhos e marido vive em um barraco de madeira de dois
cômodos com banheiro a céu aberto. O terremoto aumentou a vulnerabilidade da família
de Carole que vive com uma refeição diária e é complementada com biscoito de barro
haitiano, que é a mistura de terra, água, manteiga e deixado ao sol para secar.
Exius Baptiste, 60 anos, é um hugan ou um sacerdote vodu. Ele viu seu templo de
barro e madeira pintados de cor-de-rosa, na comunidade Bellanto cerca de 10 km de
Porto Príncipe, ser destruído pelo abalo sísmico. Exius é líder de sua comunidade, onde
recebia comida e dinheiro dos seus vizinhos em troca de conselhos, remédios naturais ou
cerimônias vodus. Com sua saúde fraca devido a uma crise de pressão alta e sentindo falta
de ar, o hugan se viu cercado por escombros do que antes era uma comunidade. Sua fonte
de rendas se esgotava com a falta de clientes. Os vizinhos do sacerdote vodu fugiram da
região com medo que um novo terremoto atingisse a área.
Como Carloe, Exius e os outros haitianos que ficaram em Porto Príncipe, a disputa era
agora por água e comida em uma terra arrasada, árida e rude. A esperança desse povo
repousava nas doações e na ajuda de governos estrangeiros. A Minustah (Missão das
Nações Unidas para a Estabilização no Haiti) organizava, empunhando armamento, a
distribuição de comida nos bolsões de refugiados. Homens e mulheres formavam filas para
conseguir algum alimento. As crianças só recebiam biscoitos, pois, ao saírem da área de
proteção dos soldados da ONU, eram roubados pelos adultos.
Carole Gedeson
Exius Baptiste
Alan Marques | Bon Bagay
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Carole Gedeson, 40 years old, lives in Cité Soleil, the most violent region of the Haitian
capital. Her family, composed of seven children and her husband, lives in a two-room
wooden shack with an external open-air bathroom. The earthquake increased the
vulnerability of Carole’s family, that lives on one daily meal complemented with the
Haitian mud biscuit, which is a mixture of earth, water and butter left in the sun to dry.
Exius Baptiste, 60 years old, is a Hugan, a voodoo priest. He watched his pink-painted
temple of mud and wood, in the Bellanto community, 10 km off Port-au-Prince, be
destroyed by the quake. Exius is a leader in his community, where he used to receive
food and money from his neighbors in exchange for advices, natural medicines or
voodoo ceremonies. Already in a poor state of health due to a hypertensive crisis and a
breathing problem, the Hugan found himself surrounded by the debris of what used to
be his community.
His source of income was drying because he was lacking customers. The voodoo priest’s
neighbors fled from the region fearing a new earthquake would hit the area.
For Carole and Exius and for all the others Haitians that remained in Port-au-Prince, the
struggle was now for water and food in a devastated, arid and inhospitable land. All the
hopes of this people rested on the donations and aid from foreign governments. The
armed soldiers of the Minustah (United Nations Stabilization Mission in Haiti) were in
charge of the distribution of food in the pockets of refugees. Men and women waited in
long lines to get some food. The children were allowed only crackers, because after they
left the area protected by the UN soldiers they risked being robbed by the adults.
The hard life in the Haitian capital city was forcing people upcountry. Packed Tap-Taps
left Port-au-Prince towards the inland, where death and hunger had not arrived yet
Carole Gedeson, 40 ans, vit dans le quartier de Cité Soleil, le plus violent de la capitale
haïtienne. Sa famille composée de sept enfants et de son mari vivent dans une cabane
en bois à deux chambres avec la salle de bains à ciel ouvert. Le tremblement de terre a
augmenté la vulnérabilité de la famille de Carole qui vit avec un seul repas par jour, qui
n’est accompagné que de biscuit de terre haïtien, qui est un mélange de terre, de l’eau,
du beurre, laissé au soleil pour sécher.
Exius Baptiste, 60 ans, est Hugan ou un prêtre vaudou. Il a vu son temple d’argile et de
bois peint de rose être ravagé par le séisme dans la communauté de Bellanto à environ
10 kilomètres de Port-au-Prince. Exius est un leader de sa communauté, où il recevait
de la nourriture et de l’argent de leurs voisins en échange de conseils, des médicaments
naturels ou des cérémonies vaudous. Ayant une mauvaise santé en raison d’une crise
d’hypertension artérielle et de l’essoufflement, le Hugan s’est vu entouré des décombres
qui étaient jadis sa communauté. Sa source de revenu soudain s’était épuisé à cause
du manque de clients. Voisins du prêtre vaudou ont fui la zone dans la crainte qu’un
nouveau tremblement de terre frappe la région.
Comme pour Carole, Exius et autres Haïtiens qui sont restés à Port-au-Prince, les conflits
étaient maintenant à cause de la nourriture et de l’eau dans une région dévastée, aride
et rude. L’espoir de ces gens était ​​les donations et l’aide des gouvernements étrangers. La
MINUSTAH (Mission des Nations Unies pour la stabilisation en Haïti) organisait, armes
à la main, la distribution de nourriture dans les poches des réfugiés. Les hommes et les
femmes formaient des queues d’attente pour obtenir un peu de nourriture. Les enfants
recevaient seulement des biscuits parce que, en quittant la région protégée des soldats de
l’ONU, ils étaient volés par des adultes.
La vie aride de la capitale haïtienne poussait la population vers l’intérieur. Véhicules
Tap-taps remplis de gens quittaient Port-au-Prince vers l’intérieur, où la mort et la famine
n’étaient pas encore arrivées.
Alan Marques | Bon Bagay
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[Carole]
[Carole]
[Carole]
[Exius]
[Exius]
[Exius]
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[saque]
[plundering]
[pillage]
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[marche de la croix]
[marche de la croix]
[marche de la croix]
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Alan Marques | Bon Bagay
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[vida continua]
[life continues]
[la vie continue]
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[medo noturno]
[nocturnal fear]
[crainte nocturne]
Alan Marques | Bon Bagay
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Alan Marques | Bon Bagay
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[êxodo]
[exodus]
[exode]
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bon bagay
Às 20h do dia 19 de janeiro de 2010, uma cerimônia simples foi montada no pátio
do que restou do aeroporto de Porto Príncipe, capital do Haiti. A homenagem se dava
em noite fria, escura sem lua e sob a fraca iluminação de holofotes. O silêncio da
pequena aglomeração que acompanhava o rito fazia retumbar os soluços e o fungar
de narizes. Duas fileiras de militares posicionados à esquerda, um avião de carga
à frente e autoridades civis à direita formavam os três lados da moldura do pátio.
O último lado do quadrado tinha 36 cavaletes de madeiras onde repousavam 18
caixões cobertos com a bandeira azul e branca das Nações Unidas e uma coroa de
flores. Os discursos foram breves e honrosos com o hino brasileiro tocado ao final.
Vagarosamente, cada sarcófago foi rodeado por quatro militares vestidos de uniforme
verde oliva, boinas e lenços azuis. Eles ergueram os caixões pelas alças e, lentamente,
a escolta fez o caminho do pátio para dentro do avião de transporte. A cerimônia
fúnebre foi para dar adeus aos militares do Exército brasileiro, que morreram no
terremoto do Haiti.
O desastre natural entrava para História brasileira como a maior baixa do Exército
desde a 2ª Guerra Mundial. O Brasil tinha um grande contingente de soldados
no Haiti na missão da ONU (Organização das Nações Unidas) de estabilização e
de manutenção da paz no dia que o terremoto. A notícia que um desastre natural
ceifava vidas no Haiti abalou o mundo e o Brasil. Logo, o desespero, o choro e a
dor ouvidos no país caribenho começavam a ecoar entre os brasileiros, que tinham
familiares e amigos trabalhando no Haiti. A notícia da perda de vidas brasileiras logo
se confirmou.
A história da missão brasileira no Haiti havia começado em junho de 2004, quando a
ONU definiu um plano de ação para conter a grave crise social e estabilizar o Haiti.
O comando militar foi dado ao Brasil e foi considerada na época a maior operação
fora do território nacional. O país caribenho viva um período de grande insegurança
devido a instabilidade no governo haitiano e ausência do Estado na prestação de
serviços básicos como segurança, educação e saúde. As ruas das cidades do Haiti
e de sua capital, Porto Príncipe, eram dominadas por grupo rebeldes que tentavam
alcançar o poder e de gangues que retalhavam o país.
Luto
A primeira parte da missão brasileira foi de pacificar as ruas haitianas com ações
de combate armado contra os grupos que agiam como bandidos na ausência do
governo local. Bairros violentos como Cité de Soleil com suas ruas labirínticas foram
cenários de confronto, onde os soldados brasileiros se engajaram em troca de tiros
com os bandidos da região. Os conflitos se estenderam por dois anos e, com a
queda do último senhor da guerra de Porto Príncipe, a ONU pôde dar seguimento
ao trabalho de estruturação do Haiti. A etapa seguinte estava no fortalecimento do
governo democrático e na construção de infraestruturas do país. A presença dos
soldados boinas azuis brasileiros dava segurança para essa nova parte de solidificação
democrática. Porém, o terremoto reconfigurou o teatro da missão militar da ONU.
Os soldados brasileiros foram treinados para o tipo de operação em áreas de conflito
e de risco que as cidades haitianas apresentavam, mas o abalo sísmico de tal
magnitude surpreendeu todos. Após o tremor, a ONU e o Exército brasileiro passaram
ao resgate dos soterrados, socorro aos feridos, manutenção da ordem pública e
distribuição de comida e água à população. As antigas patrulhas para captura de
gangues deu lugar para os comboios para entrega de alimentos que chegavam do
mundo, inclusive do Brasil. Os quartéis militares passaram a base para o atendimento
dos desalojados e hospitais de campanha.
O terremoto afetou diretamente a vida de três milhões de haitianos. O número
de mortos nunca será sabido com precisão, mas a estimativa é que tenha passado
de 220 mil pessoas. Entre as vidas perdidas, repousam os brasileiros coronel João
Eliseu Souza Zanin, coronel Emílio Carlos Torres dos Santos, tenente-coronel Marcus
Vinicius Macedo Cysneiros, major Márcio Guimarães Martins, major Francisco
Adolfo Vianna Martins Filho, tenente Bruno Ribeiro Mário, tenente Cleiton Batista
Neiva, subtenente Raniel Batista de Camargos, sargento Davi Ramos de Lima,
sargento Leonardo de Castro Carvalho, sargento Rodrigo de Souza Lima, cabo
Douglas Pedrotti Neckel, cabo Ari Dirceu Fernandes Júnior, cabo Washington Luis de
Souza Seraphim, soldado Tiago Anaya Detimermani, soldado Kleber da Silva Santos,
soldado Antônio José Anacleto, soldado Felipe Gonçalves Júlio, soldado Rodrigo
Augusto da Silva, diplomata Luiz Carlos da Costa e médica Zilda Arns.
mourning
deuil
Alan Marques | Bon Bagay
At 8 p.m. of January 19, 2010, a simple ceremony was set in the tarmac of what
was left of the airport of Port-au-Prince, the capital city of Haiti. The homage took
place in a cold, dark, moonless night, under the feeble lighting of the spots. The
silence of the small gathering that participated in the rite made the the sobs and
sniffing resonate. Two rows of military men placed on the left, a cargo plane on the
front, and civil authorities on the right, formed the three sides of the tarmac frame.
The fourth side of the square had 36 wooden chevalets where laid 18 open coffins
draped with the blue and white flag of the United Nations and, with flower garlands
on top. The speeches were brief and honorable, and the Brazilian anthem was
played at the end. Slowly, each casket was surrounded by four soldiers dressed in
olive-green uniforms,wearing blue berets and handkerchiefs. They raised the coffins
by the grips and slowly the escort walked through the tarmac into the cargo plane.
The memorial service was meant as a way of saying good-bye to the military of the
Brazilian Army that were killed in the earthquake in Haiti.
The natural disaster was passing into the Brazilian history as the largest number of
casualties of the Army since the Second World War. Brazil had a great contingent of
soldiers in Haiti on the UN stabilization and peacekeeping mission the day when
the earthquake stroke the island. The news that a natural disaster was reaping lives
in Haiti shook the world and Brazil.
Soon enough the despair, the crying and the pain that could be heard in the Caribbean
country began to echo among the Brazilians who had relatives and friends working in
Haiti. The news of Brazilians’ lives that had been lost was soon confirmed.
The history of the Brazilian mission in Haiti had begun in June 2004, when the UN
defined an action plan to tackle the severe social crisis and stabilize Haiti. Brazil
was given command over the mission, and it was considered at the time its greatest
operation outside national territory. The Caribbean country was going through a
period of major insecurity due to the instability of the Haitian Government and the
negligence of the government in providing basic services such as security, education
and health care. The streets of the towns of Haiti and of its capital, Port-au-Prince,
were dominated by rebel groups that were trying to rise to power, and by gangs that
were slashing the country.
The first part of the Brazilian mission was to pacify the Haitian streets with actions
of armed combat against the groups that were acting like bandits in the absence of
A vingt heures du 19 janvier 2010, une cérémonie simple a été assemblée dans la
cour de ce qui restait de l’aéroport de Port-au-Prince, la capitale d’Haïti. L’hommage
a été rendu dans la nuit froide, sombre sans lune et sous les projecteurs de faible
éclairage. Le silence de la petite agglomération qui accompagnait le rite causait des
sanglots sonores et reniflait le nez. Deux rangées de soldats positionnés à gauche,
un avion-cargo à l’avant droit et les autorités civiles formaient trois côtés du cadre
de la terrasse. Le dernier côté du carré était composé de 36 chevalets en bois où
reposaient 18 cercueils recouverts du drapeau bleu et blanc de l’Organisation des
Nations Unies et d‘une couronne. Les discours étaient brefs et honorables avec
l’hymne brésilien joué à la fin. Au ralenti, chaque cercueil était entouré de quatre
militaires en uniformes verts olive, des bérets et des foulards bleus. Ils ont soulevé
les cercueils par les poignées et lentement ont fait son chemin pour escorter la cour
dans le plan de transport. L’enterrement était fait pour dire adieu aux hommes de
l’armée brésilienne, qui sont morts dans le séisme en Haïti.
La catastrophe naturelle est inscrite à l’histoire du Brésil comme ayant le plus grand
nombre d’hommes morts depuis la Seconde Guerre mondiale. Le Brésil avait un
important contingent de soldats dans la mission de l’ONU en Haïti (Organisation
des Nations Unies) de stabilisation et de maintien de la paix au jour du tremblement
de terre. Les nouvelles qu’une catastrophe naturelle ôtait des vies à l’Haïti ont
secoué le monde et le Brésil. Aussitôt le désespoir, les pleurs et la douleur écoutés
dans le pays des Caraïbes ont commencé à se répandre parmi les Brésiliens, qui
avaient des familiales et des amis qui travaillaient en Haïti. Les nouvelles de la perte
de vies brésiliens ont été vite confirmées.
L’histoire de la mission brésilienne en Haïti a commencé en juin 2004, lorsque
l’ONU a mis en place un plan d’action pour arrêter la crise sociale et stabiliser
l’Haïti. Le commandement a été donné au Brésil, qui a pris charge à l’époque de sa
plus grande opération en dehors du territoire national. Le pays des Caraïbes vivait
une période de grande incertitude en raison de l’instabilité dans le gouvernement
haïtien et de l’absence de l’État dans la fourniture des services de base tels quels
la sécurité, l’éducation et la santé. Les rues des villes d’Haïti et sa capitale Port-auPrince ont été dominées tant par des groupes rebelles qui ont tenté d’obtenir le
pouvoir que par les gangs qui ruinaient le pays. La première partie de la mission
brésilienne était de pacifier les rues haïtiennes avec des actions de combat armé
contre les groupes qui travaillaient comme des bandits en l’absence d’action du
gouvernement local. Dans des quartiers violents comme Cité Soleil, avec ses rues
labyrinthiques, il y a eu des véritables scènes de confrontation, dans lesquelles
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the local government. Violent neighborhoods such as Cité Soleil, with its labyrinthine
streets, were the scenario of confrontations, where the Brazilian soldiers engaged in
gunfights with the bandits of the region. The conflicts lasted for two years and, with
the fall of the last war lord of Port-au-Prince, the UN could proceed with the work
of structuring Haiti. The next step was to strengthen the democratic government and
the construction of infrastructure in the country. The presence of the Brazilian blue
berets gave the country security for this new stage of solidification of democracy.
However, the earthquake has changed the face of the military mission of the UN.
The Brazilian soldiers had been trained to operate in the kind of conflict and risk
zones that the Haitian towns proved to be, but the quake of such a magnitude
caught everyone by surprise. After the tremor, the UN and the Brazilian Army
proceeded to rescue the trapped, assist the injured, ensure the rule of law, and
distribute food and water to the population. The former patrols for capturing gangs
were replaced by the convoys of food delivery that were arriving from every corner
of the world, including from Brazil. Military headquarters were turned into centers
for assistance of the displaced and field hospitals.
The first expression of the Creole that the Brazilians learn as soon as they set foot
in Haiti was “Bon Bagay”. These two words mean good friend, good fellow or good
thing, and are used in the beginning of every conversation or to get attention in a
chat. People used Bon Bagay as never before in the earthquake to ask for help, get
food and water, to cultivate a friendship with a thank you, or to sooth their suffering.
The earthquake affected directly the life of three millions of Haitians. The number
of casualties will never be precisely known, but it is estimated around more than
220 thousand people. Among the lives that were lost, rest the Brazilians colonel
João Eliseu Souza Zanin, colonel Emílio Carlos Torres dos Santos, lieutenant
colonel Marcus Vinicius Macedo Cysneiros, major Márcio Guimarães Martins,
major Francisco Adolfo Vianna Martins Filho, lieutenant Bruno Ribeiro Mário,
lieutenent Cleiton Batista Neiva, sub-lieutenent Raniel Batista de Camargos,
sargent Davi Ramos de Lima, sargent Leonardo de Castro Carvalho, sargent
Rodrigo de Souza Lima, corporal Douglas Pedrotti Neckel, corporal Ari Dirceu
Fernandes Júnior, corporal Washington Luis de Souza Seraphim, private Tiago
Anaya Detimermani, private Kleber da Silva Santos, private Antônio José Anacleto,
private Felipe Gonçalves Júlio, private Rodrigo Augusto da Silva, the diplomat Luiz
Carlos da Costa and the doctor Zilda Arns.
les soldats brésiliens se sont engagés dans un échange de tirs avec des bandits
de la région. Les conflits ont duré deux ans et, avec la chute du dernier seigneur
de la guerre de Port-au-Prince, l’ONU pouvait alors procéder aux travaux de
structuration de l’Haïti. L’étape suivante en était le renforcement d’un gouvernement
démocratique et la construction d’infrastructures dans le pays. La présence des
casques bleus brésiliens amenait de la sécurité pour cette nouvelle partie de la
solidification démocratique. Toutefois, le tremblement de terre a reconfiguré le
théâtre de la mission militaire de l’ONU.
Les soldats brésiliens ont été entraînés pour le type d’opération dans les zones de
conflit et de risque que les villes haïtiennes avaient, mais le tremblement de terre
d’une telle magnitude a surpris à tous. Après le séisme, l’ONU et l’armée brésilienne
sont venus à la rescousse, au secours des blessés, au maintien de l’ordre public et
à la distribution de nourriture et d’eau pour la population. Les vieilles patrouilles
pour saisir des gangs a cédé la place aux trains pour la livraison des aliments qui
arrivaient du monde entier, notamment du Brésil. Les casernes sont devenus la base
pour la prise en charge des sans-abri et des hôpitaux de campagne.
La première expression du créole que les Brésiliens apprenaient alors qu’ils mettent
le pied en Haïti c’était « Bon bagay ». Ces deux mots signifient bon ami, bon peuple
ou bonne chose et sont utilisés au début de chaque conversation ou pour attirer
l’attention. Bon bagay a été très utilisé dans l’avènement du tremblement de terre
pour demander de l’aide, obtenir de la nourriture et de l’eau, cultiver une amitié,
parfois était usé simplement avec grâce ou pour soulager la souffrance.
Le tremblement de terre a directement affecté les vies de trois millions d’Haïtiens.
Le nombre de morts ne sera jamais connu avec précision, mais on en estime
plus de 220 mille personnes. Parmi les pertes en vies humaines, on compte le
Colonel brésilien João Eliseu Souza Zanin, colonel Emílio Carlos Torres dos Santos,
Lieutenant-colonel Marcus Vinicius Macedo Cysneiros, commandant Márcio
Guimarães Martins, commandant Francisco Adolfo Vianna Martins Filho, Lieutenant
Bruno Ribeiro Mário, Lieutenent Cleiton Batista Neiva, Sous-Lieutenant Raniel
Batista de Camargos, Sargent Davi Ramos de Lima, Sargent Leonardo de Castro
Carvalho, Sargent Rodrigo de Souza Lima, Caporal Douglas Pedrotti Neckel,
Caporal Ari Dirceu Fernandes Júnior, Caporal Washington Luis de Souza Seraphim,
Soldat Tiago Anaya Detimermani, Soldat Kleber da Silva Santos, Soldat Antônio
José Anacleto, Soldat Felipe Gonçalves Júlio, Soldat Rodrigo Augusto da Silva,
Diplomate Luiz Carlos da Costa et le medécin Zilda Arns.
[luto]
[mourning]
[deuil]
Alan Marques | Bon Bagay
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Alan Marques | Bon Bagay
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[segurança]
[security]
[sécurité]
Alan Marques | Bon Bagay
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Alan Marques | Bon Bagay
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Alan Marques | Bon Bagay
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Alan Marques | Bon Bagay
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Alan Marques | Bon Bagay
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[filas]
[lines]
[chaînes]
Alan Marques | Bon Bagay
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Alan Marques | Bon Bagay
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Alan Marques | Bon Bagay
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Alan Marques | Bon Bagay
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Alan Marques | Bon Bagay
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Alan Marques | Bon Bagay
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Alan Marques | Bon Bagay
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Alan Marques | Bon Bagay
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[bon bagay]
[bon bagay]
[bon bagay]
Alan Marques | Bon Bagay
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Alan Marques | Bon Bagay
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Alan Marques | Bon Bagay
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Atrás da
Lente
Behind the lens
Derrière l’objectif
O fotojornalista Alan Marques nasceu em Brasília, onde cursou administração e jornalismo. Fez também MBA em
marketing na Fundação Getúlio Vargas. A paixão pela fotografia vem de família, uma vez que cresceu rodeado
pelas máquinas fotográficas de seus irmãos, também fotojornalistas, Paulo, Sérgio e Lula Marques. Começou como
laboratorista no jornal O Globo em 1992. Em 1994, inicia a carreira de repórter fotográfico no Jornal de Brasília.
Atualmente, trabalha na sucursal de Brasília da Folha de S. Paulo, na qual entrou em 1997.
Vencedor de vários prêmios internacionais e nacionais em fotojornalismo e jornalismo, Alan é também autor de
dois livros. Caçadores de Luz – Histórias de Fotojornalismo, escrito junto com seus irmãos, Lula e Sérgio Marques
e lançado em 2008. Neste, os três narram como conseguiram algumas das principais fotografias de suas carreira.
E a outra obra Nunca Antes – Uma viagem em 88 fotos pela Era Lula, livro lançado em 2011, que conta a história
do momento político brasileiro durante a eleição e os dois mandatos do presidente Lula e a eleição de sua
candidata à Presidência da Repúblca, Dilma Rousseff.
Photojournalist Alan Marques was born in Brasília (Brazil), where he studied business management and
journalism. He also got a Marketing MBA at Fundação Getúlio Vargas (Getúlio Vargas Foundation). His passion for
photography runs in the family, since he grew up surrounded by the cameras of his brothers, Paulo, Sérgio and Lula
Marques, who are also photojournalist. He began his career as photography lab technician at the newspaper “O
Globo”, in 1992. In 1994, he started working as a reporter and photographer at the paper “Jornal de Brasília”. Since
1997 he has worked at the local branch of the paper “Folha de São Paulo” in Brasília.
Awarded several international and national prizes for photojournalism and journalism, Alan has also published two
books. The first one, Caçadores de Luz – Histórias de Fotojornalismo (Light Hunters – Stories of Photojournalism),
written together with his brothers Lula and Sérgio Marques was published in 2008. In this work, the three authors
narrate how they got some of the most important photos of their careers. The other book, Nunca Antes – Uma
viagem em 88 fotos pela Era Lula (Never before – A journey in 88 photos through the Lula Era), put out in 2011,
tells the story of the Brazilian political momentum during both the election and the two mandates of president
Lula, as well as of the election of his candidate to the Presidency, Dilma Rousseff.
Le photojournaliste Alan Marques est né à Brasilia, où il a étudié le journalisme et l’administration. Il a fait aussi un
MBA en marketing à la Fundação Getúlio Vargas. La passion pour la photographie est un partage de famille, une
fois qu’il a grandi entouré des caméras de ses frères, qui sont aussi des photojournalistes, à savoir, Paulo, Sérgio
et Lula Marques. Il a commencé ses activités comme technicien de laboratoire dans le quotidien O Globo en
1992. En 1994, il commence sa carrière de photojournaliste dans le Jornal de Brasilia. Dès 1997 il travaille dans la
branche de Brasilia du journal Folha de S. Paulo.
Lauréat de plusieurs prix internationaux et nationaux de photojournalisme et de journalisme, Alan est également
l’auteur de deux livres : Caçadores de Luz – Histórias de Fotojornalismo, écrit avec ses frères, Sérgio et Lula
Marques, et sorti en 2008. Les trois frères y racontent comment ils ont fait certaines des photographies les plus
importantes de leur carrière. Et l’autre livre Nunca antes – Uma viagem em 88 fotos pela Era Lula, publié en
2011, raconte l’histoire du moment politique au Brésil pendant les scrutins présidentiels de 2002 et 2006 et les
deux mandats du président Lula, ainsi que le scrutin de 2010, auquel a participé sa candidate présidentielle,
Dilma Rousseff.
Bon Bagay
No Haiti, “Bon Bagay” é impossível de traduzir.
Em janeiro de 2010, com o trauma do terremoto ainda fresco, jornalistas brasileiros
enviados ao país tentávamos explicar o que significavam aquelas palavras
onipresentes. Alguém um dia arriscou “sangue bom”, e houve um consenso de que
era o mais perto a que conseguiríamos chegar.
Para registrar seus flagrantes, ele rodou freneticamente pelo Haiti em garupas de
motocas. Passou horas dentro de carros calorentos esperando o trânsito serpentear
por entre destroços. Trouxe de volta um retrato precioso do tremor que matou de
200 a 300 mil pessoas e destruiu grande parte de um país já miserável.
Mas “sangue bom” não dá conta de definir essa expressão do creole, a lingua
remotamente derivada do francês que é falada na ilha caribenha. Bon Bagay está na
boca dos haitianos dia e noite, como uma saudação a um estrangeiro, um chamado
fraterno a um amigo, um suspiro de esperança ou um grito de decepção.
Numa favela de Porto Príncipe, uma senhora junta lama e farinha para fazer
uma torta. Em um acampamento improvisado em frente ao palácio presidencial
arruinado, um microempreendedor trabalha em um salão de beleza a céu aberto.
Na primeira luz do dia, tropas da força de paz brasileira, ainda sob o trauma de
terem perdido 18 colegas no tremor, distribuem água e alimentos.
Talvez por isso, melhor do que tentar traduzir é entender visualmente o que se
poderia chamar de um certo “espírito Bon Bagay”, que naqueles dias dramáticos
após a tragédia rondou o Haiti tão intensamente. As fotos de Alan Marques
oferecem uma janela.
Eram eles, os militares, quem mais ouviam pelas ruas os gritos de “Bon Bagay!”,
desta vez com exclamação, significando “obrigado”, “vá em frente”, “nos ajude”.
Impossível traduzir.
Frequently used in Haiti, “Bon Bagay” is an expression that is impossible to translate.
In January 2010, with the trauma caused by the earthquake still recent, we,
the Brazilian journalists sent to that country, were trying to explain what those
ubiquitous words meant. One day one of us risked “good fellow” (“sangue bom”),
and we all agreed that this was as close as we could get to.
But “good fellow” doesn’t comprehend the full definition of this expression of
the Creole, the language remotely derived from the French that is spoken in the
Caribbean island. Bon Bagay is on the Haitians’ lips day and night, as a greeting
to a foreigner, a fraternal call to a friend, a hopeful sigh, or a cry
of disappointment.
Maybe because of that, better than trying to translate it is trying to visually
understand what could be called a certain “Bon Bagay spirit”, that roamed around
Haiti so intensely on those dramatic days right after the tragedy. The photos of Alan
Marques offer us a window to this visual apprehension.
In order to register his caught-in-act photos, he wandered frenetically throughout
Haiti on backseats of motorbikes. He spent several hours inside stuffy hot cars
waiting for the traffic to start meandering among the wreckage. And he brought
back a precious portrait of the tremor that killed about 200 and 300 thousand
people and destroyed a great part of an already miserable country.
In a shantytown of Port-au-Prince, a woman gathers mud and flour to make a pie.
In an improvised camping in front of the ruined presidential palace, a small-scale
entrepreneur works in an open-air barber shop. On the first light of day, troops of
the Brazilian peacekeeping force, still under the trauma of having lost 18 fellows in
the quake, are distributing water and supplies.
It was them, the military, who most heard the cries of “Bon Bagay!” through the
streets, this time followed by an exclamation, meaning “thank you”, “keep going”,
“help us”. It is impossible to translate.
En Haïti, « Bon bagay » est impossible de traduire.
En janvier 2010, avec le trauma du tremblement de terre encore frais, nous, les
journalistes brésiliens, avions été envoyés au pays pour essayer d’expliquer ce que
ces mots omniprésents voulaient dire. Quelqu’un avait risqué une fois « bonne
chose » et il y avait un consensus que c’était le plus proche de la précision
sémantique que nous pourrions atteindre.
Pour enregistrer les photos, il a couru frénétiquement à travers l’Haïti à l’arrière
des motos. Il a passé des heures en attendant dans les voitures chaudes du
trafic que faisait des méandres parmi les débris. Il a rapporté un précieux tableau
du séisme qui a tué de 200 à 300 mille personnes et a détruit une grande partie
d’un pays déjà misérable.
Mais « bonne chose » ne suffit pas à définir cette expression du créole, la langue
dérivée du français qui est parlée dans cette île des Caraïbes. « Bon bagay » est jour
et nuit dans le vocabulaire courant des Haïtiens comme un salut à un étranger, un
appel fraternel un amical, un souffle d’espoir ou un cri de déception.
Dans un bidonville de Port-au-Prince, une dame mélange de la boue et de la farine
pour en faire une tarte. Dans un camp improvisé devant le palais présidentiel en
ruines, un petit entrepreneur travaille dans un salon de beauté ouvert. Le matin dès
l’aube, les soldats des troupes brésiliennes, encore sous le trauma d’avoir perdu 18
collègues dans le séisme, font la distribution d’eau et de nourriture.
Peut-être, plutôt que d’essayer de traduire, il vaut mieux comprendre visuellement
ce que l’on pourrait appeler un certain « esprit bon bagay», qui a fréquenté ces
jours intenses et dramatiques de l’après-tragédie de l’Haïti. Les photos d’Alan
Marques y proposent une fenêtre.
Apoio:
www.bonbagay.com.br
www.alanmarques.com.br
C’étaient eux, de l’armée, qui entendaient le plus dans les rues : « Bon bagay ! »,
cette fois l’exclamation qui signifiait « merci », « aller avant », « aidez-nous ».
Impossible de traduire.
Realização:
Patrocínio:
The struggle at Haiti after the earthquake | La lutte à l’Haïti après le tremblement de terre