contradição básica da renovação carismática católica

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contradição básica da renovação carismática católica
REVISTA CIENTÍFICA DA UFPA – EDIÇÃO Nº 01, MARÇO, 2001
CONTRADIÇÃO BÁSICA DA RENOVAÇÃO CARISMÁTICA
CATÓLICA:
CONTINUIDADE OU RUPTURA?1
Marcos Eliezer da Silva Souza (Graduando do Curso de Ciências
Sociais/CFCH/UFPA)
RESUMO
O expansionismo, as divergências e perspectivas da renovação
carismática dentro da Igreja Católica, suas implicações na sociedade
moderna e novo rumo religioso, merece um olhar científico. Trata-se de
um fenômeno religioso que vem envolvendo as diferentes camadas
sociais e despertando indagações intelectuais no meio das ciências
sociais. Constitui-se numa conjunção de dogma católico e práticas
pentecostais, onde seus fiéis buscam soluções para suas crises
existenciais. O culto carismático envolve terço, oração, veneração a
Maria, cânticos agitados, leitura da Bíblia, sermões inflamados, curas
divinas, milagres e recebimento do Espírito Santo. A religião tornou-se
cada vez mais expressiva, o número de sujeitos que buscam no
sobrenatural soluções para suas crises existenciais ou materiais
demonstram uma nova característica do homem moderno com o
encantamento religioso. O triunfo da modernidade envolve uma relação
de sujeito, razão e sobrenatural. O homem não é apenas secularizado,
mas simboliza, pensa e reflete religiosamente.
Palavras-chave: Religião,
desencantamento, carisma.
carismático,
pentecostes,
secularização,
ABSTRACT
And the expansionisms, divergences in the perspectives ad renovated
charismatic denture the Churches Catholic, sues indelicacies an societies
modern and new rum religious, merest to other scientific. This tare the an
phenomenon religious queue vim evolved the differences cameras socials
and desperado indigenous intellectuals the mayo of the cadencies socials.
1 O trabalho corresponde uma amostra do plano de trabalho “A Renovação Carismática: Análise do
Dogma Católico com Práticas Pentecostais” inserido no projeto de pesquisa “O Pentecostes e a
Virgem de Nazaré: A Renovação Carismática Católica em Belém Pará” do professor Raymundo
Heraldo Maués. Uma atividade científica desenvolvida como bolsista de iniciação científica da UFPA
PIBIC/CNPq no período de Agosto de 1999 à Fevereiro de 2001. Um estudo sobre os novos rumos
do homem em relação à religião no mundo pós-moderno, discorrendo sobre as implicações da
renovação carismática na sociedade brasileira, sobretudo, em Belém do Pará. A metodologia está
baseada na análise comparativa da sociologia, partindo de fontes bibliográficas sobre a RCC como
periódicos, livros científicos e católicos, TCC’s, dissertações e trabalhos apresentados em
jornadas/seminários científicos, como também utilização de alguns vídeos e observações de campo.
Realizaram-se também algumas observações científico-metodológicas em alguns grupos de oração
da renovação carismática em Belém. O grupo de oração “Água da Vida” da Igreja católica de S. João,
na Cidade Velha; “Exército de Deus” da capela de São Sebastião e “Grupo Adonay” da capela da
Escola Nossa Senhora de Lourdes. Estes dois últimos grupos pertencem ao distrito de Icoaraci/PA.
Participou-se ainda de alguns eventos realizados pelos membros da RCC em Belém, organizado pela
Comunidade Maíra no período do carnaval (Renovai-vos 1999, 2000 e 2001).
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Constituents numb contumacy of dogma catholic e practices penthouse,
ode sees fiefs bus cam solaces par sues clays existentialist. And the cult
charismatic evolve taco, oregano, venereal is Maria, antics agitates,
leisure the Bible, sermons inflamed, cures divines, milers y recipient of
Spirit Santo. With religion turnout of coda vest mains expressive, and the
numerous of sureties queue bus cam in supernatural solaces par sues
clays existentialist our materials demons tram new characteristic of home
modern by is reencantamento religious. And the triumph the modern dad
evolve my deleção de suet, raze and supernatural. The home no if arenas
secularised, mass symbolize, pens and reflected revenuer.
Keywords:
Religion,
reencantamento, charisma.
charismatic,
penthouse,
secularized,
Quando se pretende estudar sociologicamente a religião, a primeira referência que
se faz ao objeto de estudo, é saber se há algum valor científico. Que relação há
entre o fenômeno religioso e a ciência ou o que se pode entender como pertinente
ou aproveitável à análise científica. No Brasil, por exemplo, a pesquisa relacionada à
ação religiosa foi, por muito tempo, de pouca preocupação científica; isso, por ser
entendida como um fenômeno indigno de ser estudado pela comunidade científica,
ficando apenas ao interesse particular de seu campo institucional, como: seminários,
centros religiosos de pesquisa e entre teólogos.
Por outro lado, o vulgo prega que “religião e gosto, não se discutem”. Ora, se
essas concepções, em certo sentido, parecem afirmar que, a religião não é objeto
digno de investigação, como entender, por exemplo, “o devoto que, ao nascer, já
encontra prontas as crenças e as práticas da vida religiosa”. Não seria isso um fato
social, portanto, coerente à análise científica? E o que dizer da efervescência mágica
e da diversidade litúrgica que os fenômenos religiosos apresentam a sociedade? O
que dizer da polêmica e da expansão de movimentos mágicos que acabam por
originar mudanças sociais, culturais, políticas e econômicas? Para Durkheim, se a
ciência, em princípio, nega a religião, é um equivoco, pois a religião existe. Constituise num sistema de fatos dados, uma realidade social passível de investigação
científica.
Com o entrechoque de religiões e ideologias, o estudo da religião
experimentou um impulso significativo, sobretudo nas investigações sociológicas.
Doravante, os cientistas sociais, vêem, ainda que timidamente se comparado a
outros objetos de estudo, tecendo vasta rede de informações sobre o fenômeno do
catolicismo brasileiro, destacando não só a sua origem, desenvolvimento e doutrina,
mas especialmente suas influências e transformações na sociedade, tanto no
aspecto religioso como político, social e econômico.
A intenção do tema, bem como o assunto da renovação carismática, a
princípio, pode incomodar determinados leitores e, especialmente, alguns cientistas
sociais, principalmente, quando se observa, em certos pontos do trabalho,
referências à Bíblia. Prudência, portanto, é o que se pede aos incautos dos estudos
relacionados à religião. Na verdade, não se trata de um estudo de perspectiva
teológica, mas sim, um estudo no campo da sociologia da religião, cuja tentativa é
entender o religioso numa perspectiva sociológica.
Quanto aos novos rumos do homem secularizado em relação à religião no
mundo dito pós-moderno, a proposta é discorrer sobre algumas observações feitas
sobre um novo sentimento religioso que sobressai do cristianismo, sobretudo do
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catolicismo e que implica novidades na tradicional Igreja Católica. Uma análise das
implicações da Renovação Carismática Católica (RCC) na sociedade brasileira,
especialmente, em Belém do Pará.
1. OS CIENTISTAS SOCIAIS E A RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA
O Brasil da década de 70, trazia em seu bojo grandes mudanças sociais vividas nas
décadas anteriores, bem como o surgimento e expansão de novas religiões no
cenário nacional, sobretudo o pentecostalismo brasileiro (Freston, 1994). A RCC, por
sua vez, chega ao Brasil em 1972, logo após seu surgimento nos Estados Unidos,
instalando-se, primeiramente, na cidade de Campinas, São Paulo, já com seu novo
nome: “Renovação Carismática Católica,” através dos padres jesuítas, Harold J.
Rahm e Eduardo Dougherty. O movimento espalhou-se pelos Estados brasileiros e
cresceu rapidamente através dos grupos de oração nas centenas de dioceses e
paróquias do catolicismo nacional.
Essa expansão, a princípio, ainda que reprimida pela clero católico, provocou
no cenário brasileiro, não só mudança religiosa, mas também social e cultural,
permitindo assim, estudos científicos com respeito a renovação carismática no
Brasil.
Quanto aos primeiros trabalhos acadêmicos sobre o movimento religioso da
RCC no Brasil, são de poucas publicações e também de pouca expressividade em
bibliotecas, com exceção de alguns artigos e livros. Tem-se, por exemplo, uma
análise sociológica e teológica feita pelo sociólogo Pedro Ribeiro de Oliveira, um dos
primeiros estudiosos desse tema, que obteve participação de teólogos católicos
sobre os carismáticos no Brasil. Uma solicitação da Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB), publicado em 1978. Essa pesquisa trata da estrutura, da
proposta religiosa carismática e das relações clericais do pentecostalismo católico
no interior da Igreja Católica. A renovação havia chegado aos domínios da
tradicional Igreja Católica e estava expandindo-se extensivamente; então, precisava
de um olhar científico afim de que pudesse responder as interrogações do bispado
católico brasileiro, assim como pudesse entender as controvérsias surgidas no
interior do catolicismo. Entretanto, segundo Brenda Carranza existe uma primeira
obra acadêmica datada do ano de 1976 sobre a RCC no Brasil2.
Para o trabalho da autora Elena Krautstofl, da Universidad Nacional de
Misiones, Argentina, observa-se algumas características da RCC nos meados do
novo milênio: O movimento dos carismáticos emerge como parte de uma Igreja
Católica que está em plena reestruturação de acionar e capturar as “almas perdidas”
que foram abrigadas por outras religiões. A Igreja Católica tradicional como também
a ordem eclesiástica do Vaticano vê no movimento carismático uma arma eficaz
para defender e reconquistar os territórios perdidos para os pentecostais, religiões
afro-brasileiras e religiões orientais.
Quanto ao Concílio Vaticano II (1962-65), que produziu documentos (Lumen
Gentium) reinterpretando os sacramentos, os dogmas da Igreja, a liturgia e a
2 CARRANZA, Branda. Renovação Carismática Católica: Origens, Mudanças e Tendências. In. Sob o
Fogo do Espírito. São Paulo: Paulinas, 1998, p 41. A autora destaca que “(...) escassas são as
pesquisas específicas sobre a RCC. O primeiro esforço acadêmico data do ano de 1976, quando
Dom Cipriano Chagas apresentou, à Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUCRJ), uma
dissertação de mestrado na qual sintetizava a mensagem e contribuição pastoral da recém fundada
RCC no Brasil. A análise de Chagas resumiu-se a uma apresentação dos documentos pontifícios que
aprovaram a emergência da RCC, a sua incipiente organização internacional e nacional e a uma
discreta apologia do movimento, chegando a augurar-lhe um feliz desenvolvimento desde que
ancorada na aprovação e apoio da hierarquia da Igreja católica no Brasil”.
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importância do papel do Espírito Santo; acabou, em certo sentido, apoiando a
renovação espiritual dos católicos carismáticos. Isto é, ainda que o Concílio
ocorresse muito antes da origem da RCC e sem qualquer relação quanto à origem
do movimento, possibilitou uma nova adoção dos “carismas” e dos dons espirituais
no que diz respeito à missão de evangelizar o mundo e de reacender a figura do
Espírito Santo que os carismáticos praticam ardentemente. Ainda segundo Prandi, o
movimento carismático, busca no Concílio Vaticano II a legitimidade de ser filho
desta grande reforma católica do século XX. (cf. Prandi, 1996; Maués, 2000).
Para Alberto Antoniazzi, um dos autores do livro “Nem Anjos Nem Demônios”
(1994), o movimento carismático católico pode ser uma expansão do diversificado
pentecostalismo brasileiro, ou seja, uma reação pentecostal na tradicional Igreja
Católica. É interessante também observar que, com o rápido crescimento do
pentecostalismo no cenário religioso brasileiro abalando até mesmo as bases do
catolicismo, houve, por parte da Igreja, na década de 80, uma preocupação com o
crescimento dessa nova religiosidade, resolvendo-se então, os próprios católicos, a
estudarem este fenômeno e conseqüentemente desenvolverem atitudes divididas
face à conjunção do dogma católico com práticas pentecostais. Isto é, diante do
crescimento significativo da renovação carismática, o episcopado católico teve que
fazer concessões ao movimento em meio ao seu envolvimento com o
pentecostalismo. Isso ocorreu devido ao catolicismo ter se tornado banalizado e
burocratizado e a renovação carismática ter buscado a restauração, ou seja, o
carisma perdido. Sendo assim, decidiu-se que, o pentecostes poderia permanecer
no movimento, desde que voltado para os interesses da Igreja Católica. Podendo-se
dizer que, para o movimento da renovação existir, era preciso se respeitar dois
dogmas católicos: primeiro, a veneração à Virgem Maria e, segundo, a obediência e
submissão aos bispos e ao Papa.
Abelardo Jorge Soneira, Universidad del Salvador, Argentina, destaca em seu
trabalho3 que a RCC, apesar de ser um movimento mundial, pela sua grande
abrangência nos diversos países cristãos, não é uniforme e nem unificado. Não tem
um fundador particular, nem um grupo de fundadores e nem uma listra do número de
membros participantes, como muitos outros movimentos religiosos. No entanto, as
afirmações de Soneira, ainda que possam argumentar ser a renovação um
movimento desorganizado em suas bases, os carismáticos atuam em grande êxito,
tanto pela atenção que concentram como por sua capacidade de mobilização.
O professor de sociologia da USP, sociólogo Reginaldo Prandi - já citado - em
sua recente obra4 acadêmica, analisa a renovação carismática como um movimento
de leigos que ocorre no interior da religião católica, destacando-se com expressivo
número de fiéis neste final de milênio. A principio, absorveu a classe intelectualizada,
obtendo crescimento considerável através das classes sociais média e altas. Com a
expansão, arrebanha também outros grupos sociais, podendo ser vista em suas
3 SONEIRA, Alberto Jorge. La Renovación Carismática Católica: del carisma a la instituición.
Trabalho apresentado durante as VIII Jornadas sobre Alternativas Religiosas na América Latina, São
Paulo, 22 a 25 de setembro de 1998.
4 PRANDI, Reginaldo. Um Sopro do Espírito: a renovação conservadora do catolicismo carismático.
São Paulo: Ed. USP, 1997. Um outro trabalho, do qual tomei conhecimento, é o da socióloga Maria
das Dores Campos Machado. ”Carismáticos e Pentecostais: Adesão religiosa na esfera familiar”.
Campinas: Autores Associados, São Paulo: ANPOCS, 1996. A autora desenvolveu um estudo sobre
o reavivamento religioso nas sociedades contemporâneas. Um estudo da renovação carismática e do
pentecostalismo no Rio de Janeiro envolvendo a ética familiar, o processo de conversão e a adesão
das pessoas ao movimento carismático.
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reuniões ampla diversidade de indivíduos e grupos tanto a nível sócio-econômico
como de faixa etária.
Destaque também se faz ao trabalho55 do professor Emerson José Sena, que
aborda outro pensar sobre a RCC, de como o movimento se enquadra ao mesmo
mito de origem do pentecostalismo fazendo demarcações em relação às
Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e o pentecostalismo. A gênese da
renovação carismática se deu do envolvimento do corpo docente/discente de
algumas universidades norte-americanas com os carismas básicos do
pentecostalismo, caracterizando a fundação do movimento sócio-religioso. Além do
que, enfatizando a festa religiosa do Pentecostes como distinta de sua identidade
carismática, a RCC se caracteriza e se constitui como ser social apropriando-se do
relato bíblico do pentecostes. Outro elemento está na estrutura em que cada grupo
seja um pentecostes como foi o pentecostes de Atos dos Apóstolos (livro da Bíblia).
Esse é o ideal do movimento que na prática do cotidiano foi pelo tempo “(...) uma
separação cada vez maior entre o ideal e o real”.
Com isso, na RCC, os grupos de oração podem ser distinguidos pela vivência
do tempo primordial em sua proximidade ou distância. Quanto mais próximo desse
tempo maior é a manifestação dos carismas e portanto o grupo é mais ígneo,
‘quente’. Quanto mais distante, menos é a manifestação dos carismas, mais o grupo
é ‘frio’. Mesmo assim, a RCC constrói um quadro no qual o mito de origem pode ser
atualizado” (cf. Sena, 1998, p. 6 - 7).
Com relação aos estudos feitos sobre a RCC, cujo campo de pesquisa é
Belém, são poucas as publicações sobre esse fenômeno. Entretanto, temos alguns
trabalhos não publicados do professor Raymundo Heraldo Maués, Universidade
Federal do Pará (UFPA) que faz algumas abordagens sobre as atividades e atitudes
do leigo católico nas reuniões da renovação carismática em Belém. O trabalho
intitulado "O Leigo Católico no Movimento Carismático em Belém do Pará”6, destaca,
por exemplo, o leigo carismático que se identifica como o fiel carismático
preocupado em ler e conhecer a palavra de Deus que está na Bíblia.
Outro trabalho do mesmo autor é o intitulado “Mudando de Vida: A Conversão
ao Pentecostalismo Católico - Análise de Alguns Discursos”7, que avalia, baseado
em alguns depoimentos coletados durante pesquisa de campo desenvolvida em
Belém, a conversão do indivíduo de uma seita ou religião para outra. Isto é, no caso
do ingresso de uma pessoa na renovação carismática, resulta de crises da vida
como: desorientação psicológica, problemas conjugais, dificuldades financeiras,
doenças, vícios em drogas ou álcool e conflito familiar.
Neste caso a adesão ao pentecostalismo católico pode ser pensado da
mesma natureza que é visto em outras religiões pentecostais ou mediúnicas. Uma
pessoa que sofre de uma enfermidade e após já haver recorrido aos médicos e não
tendo encontrado saúde, geralmente, acaba tornando-se um adepto fiel de um
movimento religioso, quando este lhe proporciona a cura de sua doença. No entanto,
a conversão a uma denominação religiosa, carismática ou pentecostal não acontece
5
SENA, Emerson José. O espírito sopra onde quer: o ritual da renovação carismática católica.
Trabalho apresentado durante as VIII Jornadas sobre Alternativas Religiosas na América Latina, São
Paulo, 22 a 25 de setembro de 1998.
6
MAUÉS, Raymundo Heraldo. O leigo católico no movimento carismático em Belém do Pará.
Trabalho apresentado no XXII Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa
em Ciências Sociais (ANPOCS) realizada em Caxambu/MG, de 27 a 31 de outubro de 1998.
7
MAUÉS, R. Heraldo. “Mudando de vida”: A “conversão” ao pentecostalismo católico (análise de
alguns discursos). Trabalho apresentado no II Encontro de História Oral da Região Norte, na
Universidade Federal do Pará em Belém Pará, 25 a 28 de maio de 1999.
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apenas por estes motivos, ocorre também, por exemplo, no dizer dos carismáticos
de o Espírito Santo tocar/convencer as pessoas a serem cristãos, assim como, por
curiosidade, incentivo dos amigos ou parentes e, consideravelmente, dado à
religiosidade está em alta, à adesão religiosa tem estado na moda.
Maués, ainda ressalta em outro trabalho: “Algumas técnicas corporais na
Renovação Carismática Católica”8, sobre a mudança de vida de algumas pessoas
que passam a participar de reuniões de curas ou seminários de aprofundamentos
praticando um novo sentimento religioso. Analisa as expressões corporais, a
imposição de mãos, o repouso no Espírito e outros aspectos rituais do movimento
carismático. Essa preocupação não é só deste autor, mas de muitos cientistas
sociais que dedicam seus estudos as técnicas corporais que os carismáticos
praticam. O fiel que adere ao movimento carismático, especialmente, quando recebe
uma benção de Deus, acaba por mudar sua vida consideravelmente. Exercita um
proselitismo novo a ponto de mudar certos aspectos culturais manifestando-se como
um novo homem.
Esses e outros trabalhos não publicados como dissertações, monografias
realizados em Belém do Pará, destacam a atuação da renovação carismática dentro
das várias paróquias paraenses, compartilhando com a liturgia da Igreja católica
tradicional, como também na maior festa religiosa da região, o Círio de Nazaré.
Podendo até dizer que não só em Belém, mas em todo o Estado do Pará, o
pentecostalismo católico desenvolve-se significativamente no meio das muitas
religiões que existem na região amazônica. Portanto, apesar das opiniões a favor ou
contrária do episcopado católico com relação a RCC, seu desenvolvimento e
permanência é significativo em todo o mundo. No Brasil, ainda sem apoio das CEBs
e com pouca aceitação pelos padres da Igreja Católica, o movimento tem sua
repercussão em toda sociedade brasileira.
2. DOGMA CATÓLICO E PRÁTICA PENTECOSTAL
A compreensão que se aspira ter a respeito de uma ação religiosa, bem como de
sua diversidade simbólica, pode ser realizada a partir de suas proposições
doutrinárias, litúrgicas ou dogmáticas. Sendo assim, antes de partir para uma visão
mais direcionada e, portanto, fim objetivo deste exercício sobre o movimento
carismático, se faz necessário observar algumas semelhanças ou diferenças da
renovação carismática.
Quanto à questão dogma católico e prática pentecostal, antes se deve
entender que essas duas nomenclaturas, não se confundem como um cisma do
cristianismo como, por exemplo, o catolicismo, o protestantismo e pentecostalismo.
O que se pode entender é que se trata de elementos religiosos distintos, presentes
na RCC, mas que antes já pertenciam as ramificações do cristianismo.
Por dogma católico9, é pertinente destacar o culto mariano, que é justamente
a grande cisão entre os cristãos e uma das liturgias do catolicismo. O que difere o
fiel católico do protestante é essencialmente o carisma a Maria. Para os pentecostais
ou melhor os movimentos oriundos da reforma, Maria foi uma mulher agraciada por
8
MAUÉS, Raymundo Heraldo. Algumas Técnicas Corporais na Renovação Carismática Católica.
Apresentado nas IX Jornadas sobre Alternativas Religiosas na América Latina, realizada no Rio de
Janeiro de 21 a 24 de Setembro de 1999. Este trabalho foi publicado na Revista de la Asociación de
Cientistas Sóciales de la Religión em el Mercosur – Ciencias Sociales y Religión”. Porto Alegre. Ano
02, Nº 02, 2000. É considerada a primeira publicação sobre a RCC em Belém Pará.
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Entende-se dogma, como uma verdade decidida pelo papa, padres ou ordem sacerdotal, que não
pode ser contestada.
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Deus que teve um grande papel junto à humanidade quando de sua madre trouxe
Jesus ao mundo e, que por isso, deve apenas ser lembrada como um exemplo de fé
e serviço a Deus; qualquer manifestação de culto é entendido como idolatria, pois
culto aos santos é para os protestantes abominação, uma vez que, adoração só se
presta a Deus. Quanto aos católicos, Maria é a santa mãe de Jesus, mãe da Igreja e
de todos os cristãos, uma bem-aventurada que precisa ser venerada pelo seu
grande amor aos homens. Ela, segundo os católicos, não é adorada e sim
reverenciada.
Segundo, Prandi, o culto aos santos começa aproximadamente cem anos
após a morte e ressurreição de Jesus, quando se praticava timidamente veneração
aos mártires do cristianismo. Maria, também, nos primeiros séculos, já começa a
receber homenagens nas orações litúrgicas. Por exemplo, o título de Mãe de Deus,
uma das muitas designações recebidas, foi declarado no Concílio de Éfeso, em 431
como um dogma.
Quanto a prática pentecostal, convém primeiro esclarecer os termos
pentecostalismo, pentecostes e pentecostal que, vale ressaltar, não estão apenas
em destaque nas chamadas Igrejas evangélicas. Segundo os teólogos evangélicos,
sua origem está no começo da civilização judaica, quando os hebreus, escolhidos
como o povo de Deus, foram salvos do domínio egípcio e, doravante, passaram a
cultuar a Jeová através da festa chamada Pentecostes, conforme atesta o livro
Sagrada. Ainda sobre este termo, Antônio Gilberto, pastor pentecostal, diz o
seguinte: “Lingüisticamente o nome pentecostes significa qüinquagésimo, em alusão
ao 50º dia após a realização da festa sagrada das primícias, que precedia a Festa
de Pentecostes ou das Colheitas, também chamada Festa das Semanas (Lv 23.1516). Eram sete as festas que Deus determinava para o seu povo observar no Antigo
Testamento, sendo a das Colheitas, a quarta. Esta comemoração anual do povo
israelita era o antítipo (representa um tipo do velho testamento do que seria o dia de
pentecostes no novo testamento) da descida do Espírito Santo para batizar os
primeiros convertidos da Igreja conforme At 2.1. O derramamento do Espírito Santo
no Dia de Pentecostes, batizando os primeiros convertidos da Igreja, ocorreu num
domingo, 50 dias após a ressurreição de Cristo” (At 1.3 e 2.1)10
Desse modo, em termos teológicos, o pentecostalismo tem origem no
pentecostes de Atos, quando o poder do Espírito desceu sobre os apóstolos
reunidos no cenáculo e sendo portanto a base do êxtase religioso das Igrejas
pentecostais, o envolvimento do Espírito Santo na vida dos fiéis. E é justamente
desta origem que os movimentos pentecostais se germinam e se avivam, assim
como o pentecostalismo católico (cf. Antoniazi, 1994; Sena, 1998).
Portanto, por prática pentecostal, entende-se como toda atividade religiosa
que envolve a participação do Espírito Santo na vida de um “crente pentecostal”. O
êxtase religioso através das manifestações do Espírito Santo, dons e carismas, que
garantam grandes manifestações sobrenaturais e conseqüentemente capacidade de
aglomera multidões. Este é o elemento que neste sentido leva as pessoas a mudar
de vida e de hábitos como resultado da transformação espiritual, pois é o Espírito
que guia a ação do homem. O Espírito, portanto é a presença do sobrenatural nas
reuniões pentecostais através de uma pregação, um hino, de uma oração ou até de
técnicas corporais como a dança e as palmas. (cf. Mafra, 1998)11.
10
Esta nota foi retirada da Revista Pentecostes, Ano 2 Nº 13, Julho de 2000, em que Antônio
Gilberto, escritor evangélico, fala sobre “As Bênçãos da Unção do Espírito Santo”.
11
MAFRA, Clara. A Dialética da Religião. In. Religião e Sociedade. Rio de Janeiro, 1998.
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Por dons e carismas, percebe-se entre os pentecostais uma manifestação de
vários dons espirituais. Segundo a Bíblia Sagrada, usada diuturnamente pelo fiel
como leitura individual e como a mentora de sua vida religiosa e social, registra nove
dons, que resultam da manifestação do Espírito Santo. São eles: a palavra da
sabedoria, a palavra do conhecimento, dom da fé, dons de curar, dons de operações
de milagres, dom de profecia, discernimento de espíritos, dom de variedade de
línguas e o dom de interpretar as línguas. (I Coríntios capítulo 12 e versículos 8, 9 e
10).
Quanto aos dons ressalta-se alguns muito presentes na renovação
carismática. O dom de línguas, por exemplo, é uma manifestação pentecostal que se
evidencia no falar, no orar e no cantar em línguas estranhas12. Ocorre quando numa
reunião pentecostal, no momento da oração, um fiel, possuído pelo Espírito Santo,
começa a orar com suas próprias palavras, em conjunto com outras pessoas ou
individualmente, mas que depois, isso se tiver o dom, ora em línguas estranhas.
Essa prática pentecostal leva o fiel a orar impulsionado pelo Espírito Santo, não
sendo mais ele quem ora e sim o Espírito. Vale ressaltar, que nem sempre um fiel
apresenta essas três manifestações do dom.
O dom de curar, outra manifestação do Espírito ocorre também no momento
da oração. Numa reunião, as pessoas que se encontram com alguma enfermidade
são levadas em frente ao púlpito, onde se encontra o pastor pentecostal e, no
momento da oração, geralmente após a pregação do sermão, os doentes se
ajoelham ou ficam de pé para receber a oração e o toque das mãos pelo pastor ou
presbítero, que, às vezes, ungem a testa das pessoas com um óleo especial. Essa
oração é feita em voz alta destacando a enfermidade dos doentes e pedindo que o
Senhor cure naquele momento. Há ocasiões em que se faz orações por doentes que
ficaram em casa ou nos hospitais.
Outras práticas atribuídas aos pentecostais, mas que também estão
presentes em outros segmentos do cristianismo é, por exemplo, a oração, um rito
oral constantemente utilizado pelos religiosos, um pedido de graça que se faz a
Deus e também, uma maneira de louva-lo. Mas, vale lembrar que, para o
pentecostal, sua oração só pode ser feita diretamente e somente a Deus. A oração
constitui-se num exercício diário e permanente na vida religiosa.
Uma ação impulsionada pelo Espírito Santo que faz com que o fiel pratique
não apenas quando está na igreja, mas em muitos momentos da sua vida pessoal,
ou seja, ora antes de fazer suas refeições, antes de dormir, ao se levantar, ao
realizar um projeto ou uma viagem, bem como em situações de angustia, aflição ou
risco.
Nesse diversificado conjunto de identidade religiosa, observa-se a Igreja
Cristã ao longo da história sofrendo ramificações que para cada fatia religiosa e
doutrinária é tida por seus seguidores como o mais perfeito rumo que a Igreja tomou
sem contudo perder sua origem que é Jesus Cristo. São representações religiosas
que postulam para si valor incontestável, mas que na verdade se autolegitimam.
Para a interpretação sociológica o que se pode pensar, além da disputa religiosa
que elas praticam entre si, é que se trata de segmentos religiosos e dogmáticas que
12
É o Dom de oração em línguas. “glossolalia”, um conjunto de sons pronunciados de modo rítmico
sem significado aparente (Ribeiro de Oliveira, 1978). Segundo o apóstolo Paulo (I Coríntios capítulo
14 e versículos 2, 14 e 15), diz que: “quem fala em línguas não fala aos homens, mas a Deus, pois
ninguém o entende, porque em espírito fala mistérios, o que ora em línguas estranhas, o espírito ora
sim, mas o entendimento fica infrutífero” (v. 14). O que se pode entender é que há interpretação, o
que também se adquire com o Espírito Santo (v. 12, 13).
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possibilitam ao homem abraçar a religião que melhor lhe convém, trocar quando
quiser, praticar a que está na moda ou não abraçar nenhuma.
3. CONTRADIÇÃO BÁSICA DA RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA
Como já foi apreciado no capítulo anterior, o que se pode deduzir a respeito da
identidade carismática é justamente a manifestação do culto mariano e o
recebimento do Espírito numa reunião de grupo de oração ou em qualquer outro
movimento da renovação.
Crenças diferentes, portanto, mas praticadas pelo grupo coletivamente.
Elementos distintos e elucidativos da RCC que, ao mesmo tempo, podem direcionar
outras inquietações.
Seguindo esse raciocínio, o que se pode pensar como a contradição básica
da renovação carismática? Como se concebe dois elementos mágicos de origem
diversificada fazendo aproximação do homem com o sobrenatural? A questão, vai
exatamente da importância de Maria na reunião carismática e a presença do Espírito
Santo, esta última, antes pertencente no sentido de prática apenas as Igrejas
pentecostais. Que movimento seria esse, que restaura os católicos desencantados e
aquece os alicerces da Igreja Católica? A RCC, a exemplo de outros movimentos
católicos como apostolado da oração, teologia da libertação e CEBs, estaria
promovendo uma nova organização social e religiosa ou estaria em uma ação
renovadora dando um novo fôlego à tradicional Igreja Católica?
O que se pode pensar é que se trata de um movimento religioso cujos fins
objetivos dos indivíduos estão em efervescência. O fiel carismático encontra-se
renovado e a própria Igreja, conseqüentemente, está em movimento cuja ação
depende da manifestação do Espírito. E neste sentido a ação religiosa provoca no
território brasileiro mudanças sociais, culturais e religiosas, principalmente no espaço
religioso católico devido às expressões mágicas da renovação.
Apesar da discriminação e coerção sofrida no inicio do movimento, tanto pelo
clero como pelos católicos tradicionais, a renovação manteve-se em crescimento e
foi adquirindo apoio de muitos padres, arrebanhando milhares de adeptos num estilo
proselitista através da formação de grupos de oração nas inúmeras dioceses e
paróquias do Brasil. Uma alargamento religioso no interior do catolicismo
ocasionando profundas transformações na liturgia do culto católico e na vida
espiritual e social do fiel carismático.
Mas como entender essa efervescência católica? Que novo pensar é este que
leva o homem religioso a uma nova intimidade com o Divino? Como o recebimento
do Espírito Santo, sentimento concebido pelas Igrejas ditas pentecostais, pode-se
imbricar nas reuniões da RCC? Que relação há com a veneração à Virgem Maria?
Como entender essa conjunção de práticas religiosas para se chegar a alívios das
crises do homem? Como esse desejo do sobrenatural leva o homem, sobretudo nos
países em desenvolvimento a ver no encantado ou no mágico a solução para suas
angústias? Que magia é essa que, mesmo em países desenvolvidos onde a
secularização tem maior força encontra-se encantada? O que é isso, que em meio a
tantas descobertas científicas e tecnológicas dos países ricos e a tanta miséria e
fome dos países pobres, estes, sobretudo América Latina e África, conseguem
exportar um novo cristianismo para a Europa?
Entender esta problemática, assim como responder as inquietações, além de
ser muita presunção da modesta visão científica apresentada, seria um exercício
arriscado. Portanto, não é essa a intenção. Essas interrogações visam apenas
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REVISTA CIENTÍFICA DA UFPA – EDIÇÃO Nº 01, MARÇO, 2001
mostrar olhares que o expressivo pentecostalismo católico provoca e, deste modo,
pinçar algumas nuanças que o fenômeno possibilitou ler.
A partir de leituras sistemáticas e observações científicas em alguns
movimentos da RCC em Belém, pôde-se analisar através do método comparativo da
sociologia, que se trata de um fenômeno religioso, social e cultural que apresenta
diversidades e semelhanças na nova liturgia de seus cultos. O eixo principal que é a
presença da Virgem Maria, sobretudo de Nossa Senhora de Nazaré nas reuniões
carismáticas em Belém, além de ser um elo de ligação do fiel com Jesus é uma
exigência do clero para que o movimento não perca as características do catolicismo
tradicional.
Quanto à prática religiosa das Igrejas pentecostais é muito comum, por
exemplo, os eruditos cânticos sacros da tradicional Igreja católica serem substituídos
por corinhos de linguagem coloquial de fácil memorização e acompanhados com
instrumentos musicais como bateria, teclado e guitarra. Uma ação religiosa com
muita alegria e palmas, típico das Igrejas evangélicas pentecostais.
Para a interpretação sociológica, quanto à presença do dogma católico e o
recebimento do Espírito Santo numa reunião da renovação, torna-se um tanto
discordante, pois, nestas reuniões a presença de Maria é venerada e postulada
como o refúgio dos pecadores, como a mediadora de todas as graças, um canal que
se vai até seu filho Jesus e um meio, também, de se chegar a Deus. E, ao mesmo
tempo, se propõe receber o Espírito Santo, que segundo os pentecostais é o
Consolador que Jesus prometeu enviar, a fim de que estivesse para sempre com os
discípulos, e que por isso, o Espírito glorifica somente a Jesus, tornando então
contraditório o recebimento do Espírito Santo dentro de uma reunião carismática em
que se cultua também a Maria.
Por dogma católico, entende-se como uma verdade decidida por uma ordem
sacerdotal da qual não se pode contestar, Maria, mãe de Deus, foi portanto
concebida sem pecado, nascida livre do pecado, segundo o dogma da Igreja
declarado pelo papa Pio IX em 1854, sendo, a partir deste momento chamada de
Imaculada Conceição, por ter sido concebida sem pecado. Outro dogma é que Maria
permaneceu sempre virgem, sendo aceito pela Igreja no século V. Logo, a
veneração a Maria é um sentimento que deve permanecer nas ordens da Igreja
Católica e dentro da renovação. Vale destacar que quando esses dogmas foram
postulados já existia há muito tempo a prática religiosa na Igreja Católica.
Quanto à manifestação do Espírito Santo na vida de uma pessoa, ocorre
quando alguém entra em êxtase espiritual, recebimento ou repouso do Espírito, e,
por exemplo, começa a orar em línguas estranhas. Doravante sua vida passa a ter
uma nova graça, um novo sentido espiritual e conseqüentemente social também.
Outra forma de recebimento do Espírito foi quando observava um outro grupo de
oração que durante o louvor no momento do êxtase as pessoas começavam a orar
em línguas estranhas. Uma das coordenadoras (senhora casada que também era
responsável pela pregação da palavra) começou a ser usada pelo Espírito Santo e
utilizando o microfone dizia a todos os presente: Eu, o Senhor, estou no meio de
vós, preparai-vos, pois logo eu virei busca-los. Noutro momento dizia: Há um jovem
aqui no meio de vós que não está acreditando no que acontece no meio de vós, mas
saiba que é o meu poder. Depois, perguntei a um membro do grupo do que se
tratava, ele me respondeu o seguinte: Ela estava sendo usada em dom de profecia e
falava em nome de Deus. Na mesma reunião, no momento da oração outro
coordenador dizia ter recebido revelação de que Deus estava curando pessoas
naquela ocasião, libertando vidas e resolvendo os problemas das muitas vidas ali
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presentes. Dizia ele: Há uma jovem em nosso meio que tem fortes dores de cólica e
essas dores são muito fortes a ponto da pessoa gemer muito, mas essa dor está
sendo aliviada e quando chegar o tempo de sua menstruação essa jovem não mais
sentiria essas dores fortes, está curada. Noutro momento, a mesma senhora da
profecia anterior, disse também ter recebido uma revelação de que um homem no
meio dos fiéis estava com dores muito fortes no lado esquerdo do estômago, mas
que o Senhor o iria curá-lo naquela noite. Dizia também que o Senhor a revelava
que existia outra pessoa com dores fortes no rins, mas que o Senhor estava curando
naquela noite. (Grupo de Oração Adonay, Icoaraci).
Essa prática antes das Igrejas pentecostais, está imbricada na liturgia dos
cultos carismáticos católicos. Condição em que o Espírito se encontra como elo de
ligação ao céu deixado por Jesus quando esteve aqui na terra, ladeado, portanto
com o culto mariano, numa dupla aproximação do homem com Deus. Essa situação
parece ambígua se pensarmos em um único elo de ligação do homem com o
sobrenatural.
É preciso também entender que, segundo a teologia católica, os teólogos
explicam o uso das imagens fazendo distinção entre o que se convém chamar de
“Dulia” - uma forma inferior de devoção que é concedida aos santos, às imagens e
às relíquias; “Hyperdulia” - mais que uma devoção e que é dada exclusiva a Maria; e
“Latria” - adoração dada exclusivamente a Deus. Porém, na verdade essa distinção
teológica na prática desaparece nas adversidades da fé dos fiéis católicos.
Desta forma, surge a renovação carismática como mais um movimento dentro
da Igreja católica e um novo sentimento de fé e culto, caracterizando um novo
carisma13 no meio católico pela renovação do Espírito Santo. A conjunção do culto
mariano e a nova doutrina além de atribuir condições para os fiéis se sentirem
católicos, propõe que a Igreja Católica vive um momento de encantamento, pois a
renovação dá novas características à liturgia católica.
Não seria um fenômeno isolado ou neutro na Igreja, pois existe de uma
imbricação religiosa católica com seus elementos de culto e de movimentos
pentecostais através da adoção de instrumentos do rito pentecostal. Ou seja, na
verdade, realiza uma diversidade religiosa de culto que envolve: terço, oração,
veneração a Maria, cânticos agitados, leitura da Bíblia, sermões inflamados, curas
divinas, milagres e recebimento do Espírito Santo. Se considerarmos as
características do culto carismático isoladamente, inverso ao que foi dito, além de
uma incauta leitura do fenômeno, estaríamos perdendo de vista a verdadeira
identidade do movimento carismático. Por exemplo, a renovação carismática quando
vivencia a compaixão de arrebanhar as ovelhas desgarradas, tanto os católicos
desencantados, secularizados ou oriundos de outros movimentos religiosos, devolve
ao fiel a possibilidade de se ter, ao mesmo tempo, a presença de Maria, como um
elemento da identidade católica e mais a manifestação do Espírito, pratica das
Igrejas pentecostais. São, de fato representações simbólicas distintas, porém de
posição ímpar com o movimento carismático católico. São pentecostais,
naturalmente, mas com elementos do catolicismo, com Maria portanto. É o que
atesta Prandi a respeito dos carismáticos que se posicionam diferente dos
13 Esse novo carisma é a manifestação dos dons do Espírito. Ou seja, dons especiais que Deus
confere a determinadas pessoas para que o poder de Deus se manifeste e seja conhecido. Carisma
significa graça, benção dada gratuitamente e, essa benção está além da vontade humana. Essa
devoção ao Espírito Santo é um ritual recente na Igreja católica, entretanto, desde a origem do
cristianismo, fiéis não só no mundo antigo (oriente), como no novo mundo (ocidente) ocupam-se do
religioso e na maneira de se envolver com o carisma do Espírito.
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REVISTA CIENTÍFICA DA UFPA – EDIÇÃO Nº 01, MARÇO, 2001
pentecostais: “Na luta pela distinção e superação dos pentecostais, o apelo à
devoção a Maria tem peso nos discursos dos líderes da RCC como uma grande
marca de diferenciação dos dois grupos. Os carismáticos sabem reconhecer o valor
que a mãe de Jesus tem para sua identidade” (Prandi, 1997, p. 156).
O grande público simpatizante das reuniões carismáticas, bem como seus
adeptos são na verdade em grande maioria de dentro da própria Igreja Católica. Ou
seja, eram fiéis católicos que estavam totalmente afastados dos movimentos
religiosos realizados pela Igreja; outros que não mais participavam das reuniões
semanais, missas de fim de semana, ou festas religiosas. Esses católicos, quando
muito, por um costume ou tradição, apenas participavam de algum tipo de
religiosidade, como por exemplo, missa do sétimo dia, batismo de criança,
casamento e etc, mas que agora estão renovados.
O movimento veio então reavivar os católicos que estavam ociosos
religiosamente, um catolicismo à moda pentecostal mais perto do sobrenatural de
que do secularismo. Um sopro do Espírito que está caracterizado pela valorização
da presença do carisma, da oração, da palavra de Deus, do louvor e principalmente
dos dons. Segundo Prandi, os dons carismáticos são os edificadores da Igreja e são
bastante enfatizados pela renovação. São seis: o dom de profecia, o dom de cura, o
dom de línguas, o dom do discernimento, da interpretação e da ciência (Higuet, 1984
apud Prandi, 1997). Quantos a esses dons, vale destacar que a RCC difere dos
pentecostais, quanto o número de dons que o fiel pode receber.
Os pentecostais afirmam estarem agraciados com nove dons – citado no
capítulo “Identidade Carismática: Pentecostalismo ou Catolicismo” deste trabalho - e
os carismáticos com seis apenas. Portanto, um proselitismo novo que não está
somente no despertar dos carismas entre os católicos, mas também na volta de
muitos católicos que foram arrebanhados pelas igrejas protestantes, espiritismo e,
principalmente, religiões afro-brasileiras. Muitos carismáticos assíduos aos grupos
de oração, por exemplo, testemunham que foram pessoas oriundas do candomblé,
umbanda ou espiritismo kardecista, ou que se encontravam frios e envolvidos no
vício das drogas, alcoolismo e prostituição, mas que agora estão renovados (cf.
Prandi, 1997).
4. RENOVAÇÃO CARISMÁTICA: CONTINUIDADE OU RUPTURA?
O catolicismo brasileiro apresenta-se como uma realidade institucional de
enorme envergadura religiosa, social, política e ideológica; uma Igreja com poderes
decisivos na formação da identidade social brasileira. Um fenômeno sócio-religioso
que até a primeira metade do século XX, era deixado de lado pelos cientistas sociais
e apreciado apenas pelos teólogos da Igreja. Com a expansão de outras expressões
religiosas, sobretudo as religiões afro-brasileiras, as denominações evangélicas
pentecostais e especialmente os movimentos católicos, houve a necessidade de se
realizar pesquisa científica sobre a religião no Brasil (Alves, 1978).
Destarte, o fenômeno do catolicismo, deixou de ser apenas uma investigação
particular e passou a ser objeto de estudos relativo à ciência social. A preocupação
não estava mais apenas estudar sua origem, desenvolvimento ou doutrina, mas
especialmente suas influências e transformações na sociedade, tanto no aspecto
religioso como político, social e econômico. No entanto, é bom lembrar que nos
últimos vinte anos, as pesquisas sobre o catolicismo estiveram voltados para
Teologia da Libertação, Comunidade Eclesiais de Base (CEBs), com sua ligação
com os movimentos sociais e políticos, bem como outras ações religiosas, como é o
12
REVISTA CIENTÍFICA DA UFPA – EDIÇÃO Nº 01, MARÇO, 2001
caso da renovação carismática católica (Carranza, 1998). Portanto, notadamente
uma preocupação teórica, que resulta de um fenômeno social presente no cenário
brasileiro com efeito modificador na sociedade.
Outro fenômeno evidente em nossa sociedade é o rápido crescimento do
protestantismo das igrejas evangélicas, que segundo estudos é o fenômeno mais
importante no campo religioso brasileiro; destacando também, a forte presença das
religiões afro-brasileiras, religiões orientais e outras crenças menores14. Entretanto,
o catolicismo ainda não perdeu seu apogeu eclesiástico. Constitui-se ainda na maior
comunidade cristã brasileira, possuindo em seu corpo uma grande diversidade de
movimentos católicos ao longo de seu processo histórico. Quanto à RCC, é evidente
o crescimento e a expansão carismática onde, a cada ano que passa, seus fiéis
marcam presença no cenário nacional, assim como na organização que se instala
em quase todas as dioceses do Brasil, através dos grupos de oração, que são a
base da vida carismática. É bom lembrar que a RCC abrange outras importantes
atividades religiosas através de reuniões públicas como cenáculos, congressos,
seminários de vida e shows musicais. Em Belém, por exemplo, ocorre todo ano no
período do carnaval o Renovai-vos15, um extraordinário carnaval espiritual. Enquanto
o mundo se envereda nas aventuras carnavalescas, os carismáticos escolhem um
local afastado das comemorações do carnaval e realizam uma grande festa
espiritual.
A RCC têm efervescência única, pois parece não frear outros movimentos
católicos e nem tão pouco impedir o avanço das Igrejas pentecostais, essa não deve
ser a sua intenção. Na verdade, desenvolve-se com grande encanto na tradicional
Igreja católica. Entretanto, a questão é justamente saber até aonde vai esta magia.
O que poderá ocorrer do ponto de vista sociológico com o movimento carismático?
Terá espaço suficiente para os anseios da diversidade sócio-cultural e religiosa dos
carismáticos ou até que ponto a renovação é resposta para as angústias do homem
brasileiro. E a contradição básica não daria algumas nuanças?
De uma coisa é certa, o fenômeno da RCC é crescente e arrebanha cada vez
mais sujeitos para um novo sentimento religioso, um novo discurso e novas
respostas à vida que, se por um lado, da organização central e da condição de fé,
cresce e encanta; por outro pode estar esgotando-se em si mesma, com os dias
contados. (Carranza, 1998).
14
O novo século será o palco em que menos de três quarto dos brasileiros ainda se dirão católicos de
nascimento. Os restantes serão oriundos de outros grupos religiosos. É que nosso país, que se pensa
até então como o maior país católico, poderá perder sua hegemonia para as igrejas pentecostais e
demais religiões. (cf Prandi, 1996).
15
“Renovai-vos” é considerado o maior encontro carismático realizado pela Comunidade Maíra em
Belém no mês de fevereiro. Em ginásio (Escola Superior de Educação Física) conseguem lotar,
normalmente nos três dias de carnaval, um grande número de fiéis. Todos os ministérios e grupos da
comunidade, trabalham reunindo milhares de pessoas para viverem momentos de profunda oração e
comunhão com Deus. O movimento já é tradição em Belém no chamado carnaval com Cristo, que
além de mobilizar os católicos e simpatizantes, vem envolvendo os vários grupos carismáticos da
metrópole. Quanto a Comunidade Maira, “Por Maria a Jesus” é um grupo de oração, hoje comunidade
católica, inserida no movimento da RCC, reconhecida e oficializada por D. Vicente Zico, arcebispo
metropolitano de Belém. Com quase 14 anos de fundação (30 de Agosto de 1987), tem seu trabalho
dedicado à obra missionária. A missão é lavar a todos os irmãos a Palavra de Deus, através de
shows, congressos, encontros, palestras, manifestações religiosas e muito mais. Tudo isso para
honrar e glorificar o santo nome de Jesus. Em Icoaraci, há também um grupo de oração estruturado
nestes mesmos moldes. Ainda que modesto se comparado ao Renovai-vos, o “Rebanhão”, assim
chamado, é recente, mas a cada ano vem se tornando o grande carisma da vila Sorriso.
13
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Seu “mito”16 de origem está nos Estados Unidos da América no ano de 1967,
em Pittsburgh, Pensilvânia, na Universidade de Duquesne da Fundação Padres do
Espírito Santo. Ou seja, dentro da academia, onde dois professores obtiveram
conhecimento de literaturas que falavam do envolvimento do homem com o Espírito
Santo e nessa busca receberam o batismo no Espírito. Foi então que planejaram,
posteriormente, um retiro de fim-de-semana para vários estudantes, professores e
amigos a fim de buscarem o derramamento do Espírito Santo, desencadeando um
grande mover do Espírito entre eles. Desde então, esse movimento que antes era
conhecido como “Movimento Católico Pentecostal”, até 1974, se espalhou para
outras universidades e só depois se imbricou nas Igrejas católicas do mundo inteiro
(cf. Pierucci, 1996; Prandi, 1997). Sua chegada ao Brasil, se deu logo após seu
aparecimento nos EUA, instalando-se, primeiramente, na cidade de Campinas-SP, já
com seu novo nome, “Renovação Carismática Católica,” através de padres jesuítas,
entre eles o padre Harold J. Rahm e o padre Eduardo Dougherty (ano de 1972).
Desde então, o movimento espalhou-se pelos Estados da federação brasileira e
cresceu rapidamente, conforme destaca o quadro abaixo:
Quadro 01 – A RÁPIDA EXPANSÃO DA RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA
OS NÚMEROS DA RCC NO MUNDO E NO BRASIL
⇒
Perto de 40 milhões de adeptos no mundo;
⇒
Aproximadamente 240 mil grupos de oração no mundo;
⇒
Aproximadamente 140 países;
⇒
30% na América Latina;
⇒
No Brasil 8 milhões de adeptos, 61 mil grupos de
oração e está representada em 95% das 264 dioceses
brasileiras;
Fonte: Carranza (1998, p. 42).
Quanto sua origem em Belém do Pará, segundo depoimentos, aponta-se a
Sra. Jurema dos Santos, como a fundadora do movimento carismático quando
tomou conhecimento através de uma experiência vivida em Campo Grande (MS) e o
trouxe para nossa região quase no mesmo período em que surgiu em São Paulo. É
o que esclarece Maués: “Em Belém, segundo a versão mais amplamente aceita, a
RCC começou em 1973, tendo sido trazido da cidade de Campo Grande (MS), para
a Paróquia de Nossa Senhora de Nazaré (onde se faz, anualmente, o famoso Círio
dessa Santa), por uma paroquiana pertencente ao Encontro de Casais com Cristo
(ECC), D. Jurema dos Santos Gaspar, a qual, auxiliada por seu marido, por outros
16
Uso o termo “mito” no mesmo sentido que Maués faz a respeito da história ou “mitos“ de origem da
RCC: “(...) num sentido bem amplo, mesmo que se refira a acontecimentos comumente considerado
como ‘históricos’. A razão, entre outras, é que essas construções históricas, feitas por líderes ou
participantes desses movimentos, têm sempre um caráter ‘interessado’, omitindo certos aspectos,
dando ênfase a outros e, na verdade, construindo socialmente a história de seus movimentos”
(Maués, 2000). Quanto à gênese da renovação carismática, há três mitos de origem: o pentecostes,
conforme registra a Bíblia em Atos dos Apóstolos capítulo 2 versículo 1 a 21; o envolvimento do corpo
docente/discente de algumas universidade norte-americanas com os carismas básicos do
pentecostalismo católico, caracterizando a fundação do movimento social, exposto acima; e a
atribuição ao Concílio Vaticano II, convocado pelo Papa João XXIII, um pouco antes de sua origem
em Duquesne – EUA, em 1950. (cf Maués, 2000; Sena, 1998).
14
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leigos e sacerdotes, promoveu a criação do primeiro Grupo de Oração da cidade,
chamado “Glória no Senhor”. (Maués, 2000).
Apesar de não ser muito aceita pelo clero brasileiro, a renovação, a princípio,
desenvolveu-se aos poucos, através de leigos católicos que receberam apoio de
poucos padres, tornando o movimento mais expressivo dentro da Igreja Católica.
Segundo Prandi, os dez primeiros anos da RCC “foram de crescimento e
desaprovação, por ser um movimento leigo e independente em relação à estrutura
da Igreja. Na própria estrutura financeira ela inovava e reafirmava a sua
independência e enquanto aumentava em número de membros, não recebia o apoio
de um Vaticano progressista” (cf Prandi, 1997. p. 52).
Com o crescimento e expressividade da renovação postulada com uma
teologia íntima e com um estilo de vida próprio e comunitário através de uma fé
individual, a RCC, ainda com certas restrições, tornou-se uma grande aliada a Igreja
Católica, que cada vez mais se tornava secularizada com o envolvimento nas
questões de política e justiça social e perdia espaço para o movimento do
pentecostalismo que prosperava lotando estádios e igrejas como respostas ao
clamor dos pobres. Se a Igreja Católica politizada não tinha um projeto para atender
as angustias do homem, conseqüentemente abria espaço para as Igrejas
pentecostais apresentarem uma prática religiosa à altura das necessidades
populares. Neste sentido a RCC com o seu novo fervor e devoção acabou por ser
útil à crise do catolicismo. É o que atesta Prandi: “A RCC passou a ser vista como
um braço muito operante, a arma procurada para defender e reconquistar os
territórios perdidos para pentecostais, afro-brasileiros, religiões orientais, crenças da
new age e outras ameaças menores. Apesar das inovações, que poderiam até
desfigurar o velho catolicismo, a RCC mostrou que poderia trazer de volta uma
população de católicos que passeava entre as várias opções do mercado religioso.
Mostrou que poderia de novo encher as Igrejas, e encher as Igrejas com muito fervor
e devoção” (Prandi, 1997. p. 53).
É preciso também entender que para a permanência do movimento
carismático dentro dos muros do catolicismo, teve que passar por algumas
advertências para poder se legitimar dentro da Igreja Católica. A renovação acabou
por adaptar-se a algumas exigências do clero à realidade católica. Uma dupla
restrição à RCC é a que diz respeito à prática do culto à Maria, assim como a
submissão e a reverência à autoridade do Papa, bispos e padres. Quanto à liturgia
do culto, deveria se manter a mesma importância à vida sacramental; a reza do
terço, por exemplo, constitui uma maneira de a Igreja assegurar a presença católica
na vida carismática; o movimento, portanto, não poderia sofrer uma
descaracterização enquanto católico. Ou seja, os carismáticos, mesmo envoltos nos
dons e carismas da renovação espiritual, deveriam estar sob a direção da hierarquia
católica (cf Prandi, 1997; Carranza, 1998).
A renovação, portanto, em seu processo de institucionalização, mesmo
passando por certo controle do clero e da hierarquia católica, acabou por receber
consideração clerical.
Muitos padres, por exemplo, que no início se opuseram aos grupos de
oração, quando perceberam a atuação dos carismáticos nas comunidades,
acabaram por fazer concessões ao movimento, isto é, fazendo parte de certas
atividades religiosas dos carismáticos e até renovando-se também. (cf Prandi, 1997).
A RCC, então, adquire expressividade religiosa e apresenta às massas uma
novidade religiosa, ou seja, uma liturgia de culto que estava esquecida na origem do
cristianismo, mas que agora se renova através dos grupos de oração que se
15
REVISTA CIENTÍFICA DA UFPA – EDIÇÃO Nº 01, MARÇO, 2001
espalharam em quase todas as paróquias do Brasil. Sob a ação do Espírito, as
pessoas passam a ter um novo viver, alegria, felicidade, segurança, amor ao
próximo e paz interior. “Recria-se a referência mítica e miraculosa como recurso
para a solução de problemas e aflições dos fiéis. Prega-se uma nova mensagem
religiosa e sugere-se conforto espiritual, para atrair fiéis”. (cf Carranza, 1998). Um
novo sentimento católico que acabou expandindo-se e adquirindo maior
envergadura neste final de milênio, principalmente a partir da década de 90,
sobretudo nos últimos cincos anos, quando chegou à mídia, especialmente à TV.
Consoante a sua gênesis e sua rápida envergadura, a RCC é hoje um
exemplo da nova conjuntura em que vive a religião. A expressividade de fiéis que
mudam seus hábitos sociais, seus relacionamentos, sua vida familiar e praticam um
proselitismo novo lotando as antigas igrejas e estádios, caracteriza o reavivamento
religioso da Igreja Católica. Uma ação religiosa da interação sócio-religiosa dos
católicos e mais um movimento dentro da Igreja católica que se apresenta em
grande expansão tanto no campo religioso como nas diversas camadas sociais a
que ela pertence. Suas manifestações religiosas, ideológicas, doutrinárias – ética e
moral - e vida social, assim como, o uso da Bíblia, o louvor e a oração evidenciam
uma nova organização sócio-cultural e religiosa do indivíduo carismático e uma
dinâmica na tradicional Igreja Católica. Essas questões compreendem o grande
campo religioso e social que o fenômeno abrange, um novo horizonte permeado de
inquietações intelectuais no meio das ciências sociais, assim como preocupações
pastorais por parte da Igreja. O quadro abaixo, por exemplo, pode melhor elucidar as
mudanças do fiel carismático:
Quadro 02 – MUDANÇAS RELIGIOSAS, SOCIAIS, POLÍTICAS E ECONÔMICAS
MUDANÇA DE VIDA QUANDO DA ADESÃO AO MOVIMENTO DA RENOVAÇÃO CARISMÁTICA
⇒ Os gostos, as idéias, as atitudes, os hábitos e costumes acabam por sofrer mudanças quando do
envolvimento dos indivíduos com a renovação carismática católica;
⇒ A vida em grupo, família, amigos, vizinhos, escola, trabalho, política, e sociedade acabam
sofrendo alterações devido ao novo envolvimento sócio-religioso. O Espírito Santo atua, segundo os
carismáticos, na vida pessoal e do grupo;
⇒ Seus valores morais, políticos, religiosos e artísticos, transformam-se pela nova iniciativa
espiritual e conseqüentemente um novo gosto pessoal;
⇒ Mudanças do cotidiano com novas atitudes individuais com respeito à finalidade de vida, ação
social e prática religiosa. O carismático com um novo relacionamento com a fé, pratica proselitismo e
ações práticas de caráter social. A renovação, ainda que tímida, evangeliza, trabalha em hospitais e
presídios;
Fontes: Ribeiro de Oliveira (1978); Machado (1994 e 1996); Prandi (1997) e
observações de campo feitas em alguns grupos de oração em Belém.
Quanto ao costume, doutrina ou moral, a RCC se assemelha a algumas
Igrejas pentecostais, mas difere, a exemplo, da Igreja Assembléia de Deus, que
postula uma doutrina mais conservadora e rígida com seus usos e costumes,
usando a Bíblia para justificar suas doutrinas. Vale destacar que os grupos de
oração da RCC praticam constantemente o uso da Bíblia, ou seja, têm por hábito ler
e interpretar por eles mesmo, abandonando a tradição católica de que a Bíblia só
poderia ser manuseada pelos sacerdotes. Para exemplo, destaco o que presenciei
numa reunião carismática do grupo de oração “Exército de Deus” em Icoaraci.
16
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“Decorrida uma hora e meia de reunião, após o terço e o
momento do louvor coletivo, uma das coordenadoras
pediu para que todos se sentassem calmamente e
começassem espontaneamente a ler a Bíblia. No meio do
auditório, qualquer pessoa abria sua Bíblia e lia, ao
acaso, um ou mais versículos e após dizia “Gloria a ti
Senhor”, frase que todos repetiam, dando assim
oportunidade para outro que quisesse ler a Bíblia fizesse.
A coordenadora geral, uma senhora muito simpática e
uma das pioneira do movimento carismático em Icoaraci,
estava no meio do auditório e leu uma passagem bíblica,
fazendo, em poucas palavras, alguns comentários a
respeito do amor de Deus para com os presentes daquela
reunião”.
Essa observação além de demonstrar a nova diversidade carismática, deixa
também claro que a reunião dos grupos de oração não possui uma liturgia única
para realização dos cultos, ou seja, há vezes em que a reunião pode começar com
cânticos, com reza do terço ou com a meditação da palavra.
A análise sociológica, no que concerne à conversão carismática, segundo
Ribeiro de Oliveira, em sua pesquisa realizada na década de 70 no Brasil, mostra
que era muito forte a presença de senhoras da classe média no movimento; hoje
porém, envolve outras classes sociais. Outro fator, além do que já citei
anteriormente, é que se pode perceber, na adesão carismática, a presença muito
forte da camada jovem, que se converte, fundamentalmente, para se libertar das
drogas, álcool ou ordem psicológica, principalmente nas classes baixas e médias. É
bom destacar também que é forte a presença de pessoas que aderiram ao
movimento por sentimento religioso em busca da paz de espírito, influência de
amigos ou familiares e também por ser a moda do momento.
A RCC, quanto à conversão, ainda difere, por exemplo, da Igreja tradicional
católica das Igrejas pentecostais. O catolicismo recebe fiéis por tradição de família
ou por movimentos sociais e as Igrejas pentecostais por conversão mais ampla da
camada social pobre, a fim de solucionar os problemas do cotidiano, dar
prosperidade, segurança e paz interior.
Portanto, seu crescimento, na sociedade brasileira, além de abranger a
variedade de classes sociais do país, evidencia uma mudança social. Ou seja, no
início do movimento houve uma predominância de um tipo de agrupamento social,
hoje, porém, se percebe novos participantes que são oriundos de outras camadas
sociais, conforme destaca o quadro abaixo:
Quadro 03 - COMPARAÇÃO DOS INTEGRANTES DA RENOVAÇÃO
CARISMÁTICA CATÓLICA
DÉCADAS DE 60 e 70
Predominância do gênero feminino;
Predominância adulta, sobretudo idosos;
Predominância de nível superior;
Predominância de pessoas provenientes
da classes média e alta;
DÉCADA DE 90
Maior equilíbrio entre os gêneros masculino e feminino;
Participação considerável de jovens e crianças;
Participação de pessoas de nível fundamental e médio;
Participação de pessoas de outras classes sociais.
(média baixa e das camadas pobres urbanas);
17
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Fonte: Ribeiro de Oliveira (1978); Machado (1994 e 1996); Prandi (1997) e
observações de campo feitas em alguns grupos de oração em Belém.
Portanto, com o rumo que vem tomando o fenômeno religioso, a renovação
carismática católica destaca-se por ser um fato sócio-cultural e religioso que envolve
as diferentes camadas da sociedade. Sociologicamente, uma realidade humana que
surgiu, primeiramente, nas universidades e depois se imbricou nas Igrejas católicas,
percorrendo um caminho transcontinental, surgindo na América do Norte,
expandindo-se pela América Latina, imbricando-se na África e invadindo a Europa.
Quanto à interpretação sociológica, que permite analisar a presença do
dogma católico simultaneamente ao recebimento do Espírito Santo, numa reunião
da renovação carismática, pode-se dizer que existe, do ponto de vista teológico, uma
contradição básica; isto permite pensar em algumas tendências17 do movimento,
conforme essa mesma contradição.
Com já exposto acima, o processo de institucionalização da RCC acabou por
sofrer algumas mudanças, vivenciando certas contradições claras. Ou seja, seu
espírito conservador acabou por se submeter a determinadas exigências da ala
progressista da Igreja Católica, que se, por um lado, coibia certos êxtases da RCC,
por outro acabou por fazer concessões para comportar mais um movimento dentro
do gazofilácio18 católico19.
Com esse novo carisma e essa nova força espiritual a renovação de um lado
possibilitou dar resposta à crise do catolicismo quanto aos movimentos pentecostais,
mas por outro é perigosa quando se envolve facilmente com movimentos e teologias
exterioras à realidade da Igreja católica, o que pode ocasionar um movimento
independente da Igreja. Quanto aos dons do Espírito, eles assumem uma
importância fundamental nas decisões da vida dos carismáticos, e se a cada
envolvimento se perde a característica católica quanto a decisões tomadas, poderá,
conseqüentemente, invalidar os princípios ou dogmas católicos. Se na sua origem, o
movimento não obteve atenção e credibilidade por parte do clero, hoje, após esse
primeiro momento, acaba derramando-se por todas as alas da estrutura eclesial,
uma situação em que poderá também estar convertendo padres, bispos e cardeais à
renovação; seu sentido proselitista acaba por renovar a todos, inclusive a ordem
sacerdotal do catolicismo.
Com o contínuo avanço evangelizador da RCC, especialmente nas camadas
mais pobres da sociedade, poderá oferecer, em situações sociais, o mesmo remédio
que oferecem as Igrejas pentecostais, logo, portanto, mais próximo das práticas
pentecostais do que do dogma católico. O que dizer, então? Essas seriam algumas
17
Por não se ter uma teoria geral de caráter científico incontestável do comportamento religioso do
homem, apesar de consideráveis interpretações, essas tendências são apenas tentativas sobre o
rumo dos fiéis carismáticos. É o que explica Max Weber quando discute o papel de um cientista
social. Dar resposta a um fenômeno social, prever comportamento ou atitudes não é tarefa de um
cientista, o que ele pode fazer é apenas apontar tendências de determinado fenômeno, que muitas
das vezes pode não acontecer. (Weber, 1995). Portanto, na verdade, trata-se uma tentativa de
análise de um fenômeno que por si só já é um grande desafio e, mais ainda, quando se pretende
observar a questão sociologicamente.
18
Gazofilácio é nome dado a caixinha ou salva que fica na entrada das igrejas para ser lançada as
ofertas. Neste sentido uso a palavra como metáfora para mostrar a versatilidade da Igreja Católica.
19
Segundo Prandi, hoje, o Vaticano, tem um novo parecer em relação a RCC. “O Vaticano, desde
1980, vem buscando elevar cada vez mais alto a bandeira de uma Igreja voltada apenas para as
obrigações espirituais. São portanto muitos os ventos que sopram a favor da RCC, ventos
conservadores.”
18
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mudanças do cotidiano carismático? A atitude de indivíduos estaria na mudança ou
a questão tem outras inquietações? E o por quê da mudança de culto, atitude
religiosa e ação social? A RCC não estaria alimentando um novo comportamento no
homem? Pelo envolvimento com o sobrenatural o homem estaria adotando um novo
sentimento ou crença? Que são essas crenças e o que alimentam? É esperar para
ver. São perguntas que nos levam a questionar não apenas como o Espírito sopra
entre os carismáticos, mas também, como a Igreja Católica, em detrimento a sua
missão evangelizadora e influenciada por uma sociedade secularizada, vivenciou um
processo de desencantamento quando do envolvimento em questões sociais, mas
que agora, parece estar em parte encantada.
Com o desenvolvimento e as constantes expectativas que o movimento
carismático provoca, o quadro seguinte resume algumas tendências que o fenômeno
sócio-cultural religioso pode manifestar.
Quadro 04 – DO DOGMA CATÓLICO COM PRÁTICAS PENTECOSTAIS
ALGUMAS TENDÊNCIAS SOBRE A RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA
⇒ Do exposto acima, teoricamente a renovação carismática poderia romper com a Igreja
Católica. Na prática não acontece, exceto por alguns membros da RCC que aderem a outros
movimentos religiosos ou desencantam-se;
⇒ Um dos mitos de origem da RCC é o Pentecostes de Atos dos Apóstolos, que registra a
descida do Espírito Santo. Como o Pentecostes se renova, a Igreja Católica estaria se
renovando e vivendo um momento de transformação religiosa. A RCC então ficaria
“estagnada”, como muitos outros movimentos dentro da Igreja;
⇒ A contradição básica da RCC ocasionaria um racha entre os carismáticos. De um lado os
obedientes aos dogmas do catolicismo e do outro os atraídos pelo êxtase do Espírito Santo;
⇒ O movimento tenderia a independência religiosa e de culto. O homem religioso quer
aproximação direta com o sobrenatural;
⇒ A Igreja católica estaria encantada, portanto não precisaria mais do movimento enquanto
meio para se renovar. Ela seria a renovação em si;
⇒ Ocorreria o desencantamento religioso. O medo do inferno e das profecias infundadas de
final de século que não aconteceram, o homem volta a uma nova secularização. O esfriamento
é possível quando o prometido nos discursos apocalípticos perde sentido;
Apesar de todas essas tendências é preciso deixar claro que a RCC é um
movimento dentro da Igreja Católica, portanto, imbricada no catolicismo, é o que
demonstra Prandi: “Apesar de todas as inovações que implementou no território
católico e da sua convivência com movimentos evangélicos, a RCC não abandonou
a presença da reza do terço, do culto a Maria, da unção aos enfermos e da benção
do Santíssimo Sacramento. A Renovação é carismática, porém católica” (Prandi,
1997. p. 43).
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