Smurfit Kappa aproveita crise para entrar no Brasil

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Smurfit Kappa aproveita crise para entrar no Brasil
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06/01/2016 ­ 05:00
Smurfit Kappa aproveita crise para entrar no Brasil
Por Thais Carrança
Após anos de tentativas frustradas para entrar no mercado brasileiro, a irlandesa Smurfit Kappa encontrou em
meio à crise a brecha adequada para realizar sua estreia nacional. Beneficiando­se da queda no preço dos ativos, a
fabricante de papéis para embalagens anunciou nesta semana a compra das brasileiras Indústria de Embalagens
Santana (Inpa) e Paema Embalagens, por R$ 805 milhões.
Agora, a companhia planeja otimizar as operações nas instalações adquiridas, preparando a casa para uma
esperada retomada da economia brasileira em 2017. Enquanto isso, mantém no radar possíveis novas
consolidações em território nacional.
Líder no setor de papéis para embalagens, a brasileira Klabin sofreu um baque inicial com a chegada da nova
competidora: as ações da fabricante de papel e celulose fecharam em queda de mais de 6%, liderando as perdas do
Ibovespa na segunda­feira, após o anúncio da concorrente. Analistas, no entanto, avaliam que a entrada do novo
agente não é motivo suficiente para causar uma ruptura no mercado.
"A Smurfit tentou entrar no Brasil por um bom tempo, posto que o país representa cerca de 40% do mercado
latino­americano de papelão ondulado e já tínhamos uma forte presença em outros países da região, mas ainda
não havíamos encontrado os alvos certos, ao preço adequado", relata o colombiano Juan Guillermo Castañeda,
presidente da Smurfit Kappa para as Américas.
Segundo o executivo, a compra simultânea das duas companhias, com uma capacidade combinada de 210 mil
toneladas de papelão ondulado ­ cerca de 6,4% do mercado brasileiro, onde a Klabin é líder com 15% de
participação ­, coloca a empresa em boa posição para atender a uma parte significativa do território nacional,
incluindo Nordeste, Rio e São Paulo e o Sul do país.
Após o anúncio das aquisições, a agência de classificação de risco Fitch Ratings cortou a perspectiva da nota de
crédito "BB+" da Smurfit Kappa de estável para negativa, devido ao ritmo acelerado de compras da empresa.
Recentemente, a companhia irlandesa também realizou aquisições na República Dominicana, El Salvador e Costa
Rica, como parte de esforço para diversificar sua base de ativos para além da Europa e fortalecer sua posição de
liderança em papelão ondulado na América Latina.
No entanto, apesar do sinal amarelo da agência de rating, a fabricante não tem qualquer intenção de colocar o pé
no freio em seu processo de crescimento inorgânico. "Precisamos manter nossa estratégia de crescimento, não
podemos desacelerar, desde que o balanço da companhia permita", afirma Castañeda.
No Brasil, diz ele, não há pressa, mas existe o interesse em ampliar a operação local, caso surjam oportunidades
de fusão, com ganhos de sinergia a partir da atual base de ativos. Neste caso, negócios podem ocorrer tanto no
mercado de papelão ondulado, feito de material reciclado, quanto no setor de kraftliner, de fibra virgem.
O difícil momento da economia brasileira não assusta a empresa, garante o executivo. "Temos uma visão de longo
prazo e entendemos os ciclos econômicos, particularmente em países latino­americanos, onde temos operado há
muito anos. Pudemos entrar no Brasil devido à situação atual, e agora temos 2016 para entrar em boa forma e
esperar a recuperação que com sorte ocorrerá em 2017", afirma.
A Smurfit é o terceiro grande grupo internacional a entrar no mercado brasileiro de embalagens de papel ­ após a
WestRock, em 2005, e a International Paper, em 2012 ­, ampliando a competição para a líder Klabin.
No entanto, na avaliação do analista Lucas Ferreira, do banco J.P. Morgan, a companhia brasileira tem vantagens
em relação à competidora especializada em papelão ondulado, uma vez que possui produção integrada de fibra
virgem e um mix mais rico de produtos, com embalagens longa vida e papel cartão.
Além disso, acredita Ferreira, a maior fatia de mercado da Klabin em papelão ondulado é uma vantagem
competitiva relevante e o fato de o setor ainda ser extremamente fragmentado representa um empecilho para uma
eventual guerra de preços.
A Smurfit Kappa registrou um faturamento global de € 6,02 bilhões nos nove primeiros meses de 2015, contando
com 350 unidades produtivas em 33 países ­ 21 deles na Europa e 12 nas Américas. A companhia é lider no setor
de papelão ondulado na América Latina.
Com a compra da Inpa, cujos ativos líquidos são avaliados em R$ 129 milhões, a Smurfit passa a contar com
unidades em Pirapetinga e Uberaba (MG) e escritórios no Rio e em São Paulo. Já a aquisição da Paema, com ativos
avaliados em R$ 26 milhões, dá à irlandesa unidades em Bento Gonçalves (RS) e Maranguape (CE). A força de
trabalho conjunta é de 1,7 mil pessoas e a empresa espera gerar sinergias de € 6 milhões até o fim de 2017.