Faça aqui o do artigo.

Transcrição

Faça aqui o do artigo.
“HUMOR, VERDADE E PSICANÁLISE”
Este é o tema da III Bienal de Psicanálise e Cultura da Sociedade Brasileira de
Psicanálise de Ribeirão Preto, que será realizada nos dias 15, 16 e 17 de maio de 2014,
no auditório da Faculdade de Direito da USP, Ribeirão Preto.
Conheça a programação científica, com temas e profissionais confirmados:
CURSO I: “Humor e verdade na comédia grega: uma leitura psicanalítica”
Raul Hartke – Psicanalista – SPPA
CURSO II: “Humor em Shakespeare”
Marlene Soares dos Santos – Professora Titular de Literatura Inglesa da
Universidade Federal do Rio de Janeiro
MESA: “Humor e Dor Mental”
Palestrantes: Antonio Carlos Eva – Psicanalista – SBPSP
Mário Prata – Dramaturgo, escritor, jornalista.
CONFERÊNCIA: “Humor e Verdade em Nietzsche”
Conferencista: Oswaldo Giacóia – Filósofo - SP
CONFERÊNCIA: “Reflexões sobre Humor e a Verdade na Grande Mídia – TV e
Internet”
Conferencista: Eugênio Bucci – Jornalista – SP
CONFERÊNCIA: “Chaplin: da tragédia pessoal à comédia Universal”
Conferencista: Ignácio Gerber – psicanalista, músico – SBPSP
MESA: “A caricatura na cena analítica: a função do exagero”
Palestrantes: Arnaldo Chuster – Psicanalista – SPRJ
Luís Oswaldo Rodrigues – Cartunista – MG
CONFERÊNCIA: “Humores: Pensamentos Sonhos"
Palestrante: Antônio Sapienza – Psicanalista – SBPSP
MESA: “O Riso e o Risível”
Palestrantes: Luiz Tenório Oliveira Lima – Psicanalista – SBPSP
Verena Alberti – Historiadora – RJ
CONFERÊNCIA DE ENCERRAMENTO: “Uma visão psicanalítica do humor judaico”
Conferencista: Cláudio Laks Eizirik – Psicanalista – SPPA
Nas próximas comunicações traremos informações atualizadas e entrevistas
com os convidados sobre os temas que serão abordados.
Acompanhe também as notícias no blog e facebook.
Comissão de Divulgação:
Gislene Andrade Santos
Mauro Campos Balieiro
Patrícia R. de Andrade Tittoto
Coordenação: Guiomar Papa de Morais
HUMOR, VERDADE E PSICANÁLISE
É com prazer que venho, nesse espaço, falar um pouco da III Bienal de Psicanálise e
Cultura que estamos preparando para 15, 16 e 17 de maio de 2014. Essa terceira
Bienal parece já ter ares de uma certa tradição. Evento que tem mobilizado direta ou
indiretamente boa parte de nossa Sociedade sendo assim de todos nós.
Entre cursos, mesas e conferências, teremos a apresentação de temas que passo a citar
brevemente: A psicanálise e a comédia grega; Humor em Shakespeare; Humor e dor
mental; Humor e verdade na grande mídia; Chaplin; A caricatura na cena analítica;
Humor e prática clínica; O riso e o risível etc. Teremos a presença de vários colegas de
outras Sociedades, como: Raul Hartke; Arnaldo Chuster; Antônio Sapienza; Tenório
Lima; Carlos Eva; Ignácio Gerber; Cláudio Eizirik etc e convidados de outras áreas,
como: Marlene dos Santos; Mario Prata; Oswaldo Giacóia; Eugênio Bucci e Verena
Alberti. Para a abertura, estamos convidando Jandira Martini, com a peça “Prof!
Profa!”. Além de uma exposição de cartoons e a presença de típicos personagens do
Humor como sombra, caricaturista etc
Organizadores: Alexandre Mello, Andréa Ciciarelli, Bernadete Assis, Cesário Junior, Cora
Chiapello, Fernanda Passalacqua, Gal Pelissari, Gislene Andrade, Greice Kökeny, Guiomar
Morais, Josi Magro, Letícia Wierman, Lia Falsarella, Lídia Campanelli, Manoel Santos, Mauro
Balieiro, Mércia Fagundes, Miguel Marques, Mônica Bitar, Patrícia Tittoto, Paulo Ribeiro,
Pedro Paulo, Rachel Beltrame, Thaís Helena e Xila Campos.
Sobre o Tema
Alguém demonstrava curiosidade sobre as duas figuras que aparecem no logotipo de
Humor, Verdade e Psicanálise... É que esse tema sugere um mínimo de dois: dois
vértices, duas faces, dois personagens desenrolando o fio contínuo e inacabado da
verdade. Ou ainda, “o outro lado do outro lado”, como diz Luiz Fernando Veríssimo.
“A procura constante pelo outro lado é uma característica de duas atividades: uma muito
antiga, o humor, que começou com Adão e Eva (...) e a outra, mais recente, a
psicanálise”. “Agora”, diz ele, “quando psicanalistas tratam sobre humor, estão vendo
através do outro lado do outro lado. O lado sério do lado cômico do lado sério.” Freud
dedicou pelo menos dois textos ao tema: “O chiste e sua relação com o inconsciente”
(1905) e “O humor” (1927).
Bion diz no Aprendendo com a Experiência (1962): “... a verdade parece ser essencial
para a saúde psíquica. O efeito que esta privação (da verdade) pode ter na personalidade
é análogo ao efeito que a inanição pode ter sobre o físico.” O Humor, muito mais antigo
que a Psicanálise, pode ser um método de lidar com verdades, muitas vezes, dolorosas e
até impensáveis. “Porque rimos do que nos dá medo?”, pergunta Diatkine e passa a
interessantíssimas considerações sobre “A Corrida do Ouro” de Chaplin. Analisa, nesse
filme, a presença de algumas angústias primitivas, como a de ser devorado ou a angústia
de cair para sempre no vazio. Esta última, uma das “angústias dissecantes primitivas”, é
ilustrada de forma espetacular na célebre cena da cabana que oscila sobre o penhasco.
A comédia, assim como a tragédia, teve sua origem nas festas em louvor a Dioniso.
Mas, firmou-se, com sua estrutura definitiva, no século V a.C, mais tardiamente que a
tragédia. As falofórias que eram procissões dionisíacas, onde se transportavam símbolos
fálicos e celebravam a fecundidade da terra, dos rebanhos e dos homens, terminavam
com o sacrifício de um bode dedicado a Dioniso. Após o sacrifício, certos membros da
procissão se dirigiam com provocações à multidão que assistia ao ritual e que, com o
tempo, passou a responder às provocações. Desse “desafio verbal” originou a comédia.
No século V a.C, os atores eram profissionais respeitados e os autores competiam em
certames anuais, nas festas de Dioniso, onde eram apresentadas duas comédias e três
tragédias e, os prêmios para os três primeiros colocados eram uma cabra, um cesto de
figos e uma ânfora de vinho.
Aristófanes foi o grande nome desta época e seus personagens davam voz a uma
contundente crítica social e política. A paz era seu tema recorrente. “Lisístrata”, por
exemplo, cujo nome significa “a que dissolve os exércitos”, é uma saborosa comédia
que condena a interminável e desoladora guerra do Peloponeso.
Já a Idade Média nos legou o eterno “Bobo da Corte”. Originário da cultura bizantina,
tornou-se personagem freqüente nas cortes européias e igualmente freqüente na
literatura. Ocupava uma posição singular de entreter e alegrar a corte, ao mesmo tempo
sendo, muitas vezes, o único a quem era permitido expressar livremente julgamentos
críticos aos personagens reais. Heliodora observa, quanto ao Bobo da Corte em “Rei
Lear”, que Shakespeare o sustenta na trama até Lear, depois da crise na tempestade,
passar a ter ele mesmo consciência dos seus atos. É interessante notarmos que Lear
passa por um longo processo de “loucura” a partir daí até o desfecho trágico da peça.
Outros dois personagens nos foram legados pela “commedia dell’arte” que teve seu
alvorecer no século XVI: o esperto Arlequim e o tristonho Pierrot. Veneza tinha sete
teatros à época de Carlo Goldoni, no século XVIII, três deles consagrados à comédia.
Esses dois personagens imortais estão nas obras de inúmeros autores até os dias atuais,
quer seja na forma original ou encarnados em brilhantes Chicós e Joões Grilos. Essas
duas faces da natureza humana de cujo conflito obtemos algumas de nossas essenciais
verdades.
Esse duplo: Arlequim ↔ Pierrot ou, alegria ↔ tristeza, esperteza ↔ reflexão,
Goldmund ↔Narciso ou, desejo ↔ sonho como quis Menotti Del Picchia, disputa para
sempre a escolha de Colombina que responde serena: “Não! Não me compreendeis...
Ouvi atentos (...) O teu beijo é tão quente, Arlequim! O teu sonho é tão manso... Pierrot!
(...) Nessa duplicidade o amor todo se encerra: um me fala do céu... outro da terra! Eu
amo, porque amar é variar, e em verdade toda a razão do amor está na variedade...
Penso que morreria o desejo da gente, se Arlequim e Pierrot fossem um ser somente
(...)”.
Fontes: Aristófanes (446?-380? a.C). Lisístrata In Teatro Vivo. S. Paulo: Abril Cultural.1977; Del
Picchia, M. Máscaras. In Jornal de Poesia. WWW.revista.agulha.nom.br/mpicchia04p.html; Diatkine, G.
Sobre o Riso. RBP, 40(4), 53-72; Goldoni, C. (1707- 93). Arlequim servidor de dois amos. In Teatro
Vivo. S. Paulo: Abril Cultural.1977; Shakespeare, W. (1564 - 1616). Rei Lear Trad. B. Heliodora. R.
Janeiro: Saraiva. 2011; Verísimo, L.F. Orelha In Seria trágico... se não fosse cômico. Org. A. Slavutzky e
D. Kupermann R. Janeiro: Civ. Brasileira.2005.
Lia Falsarella
[email protected]