O Futuro na ponta do lápis

Transcrição

O Futuro na ponta do lápis
Juntos
escrevendo
Uma publicação da Alfabetização Solidária - Julho / Dezembro - 2007 - Nº 36
X Concurso de Redação da AlfaSol
O Futuro na ponta do lápis
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Tecendo o Saber
História de Vida
Campanha Adote um Aluno
Regina Célia Esteves de Siqueira
Superintendente Executiva
Escrevendo a Liberdade
Juliana Opípari Paes Barreto
Diretora de Planejamento
Conferência de Dakar
Claudia Amalfi Marques
Diretora de Desenvolvimento Institucional
São Tomé e Príncipe
Concurso de Redação
Ednéia Gonçalves
Diretora de Formação e
Acompanhamento Pedagógico
Parceira AlfaSol e GDF
Daniel Augusto Furst Gonçalves
Diretor de Relações Internacionais e
Governamentais
AlfaSol e IES
Notas
Edição
Simone Oliveira
Mtb 24.772
Parceiros
04
07
10
12
16
19
21
22
29
30
31
33
Sumário
Encontro de Parceiros
Redação
Regina Scomparin
Simone Oliveira
Cristiano Tosi
Camila Souza
Foto da Capa
Zuleika de Souza
Projeto Gráfico
Alfredo Lemos
A Revista EJ é uma publicação semestral,
desenvolvida pela Alfabetização Solidária
(AlfaSol), uma organização da sociedade
civil, sem fins lucrativos, fundada em 1997
com a missão de reduzir os altos índices
de analfabetismo e ampliar a oferta pública de Educação de Jovens e Adultos no
Brasil (EJA). O presente veículo é dirigido
a empresas privadas, instituições governamentais e não-governamentais, instituições de ensino superior, municípios,
bem como governos estaduais e federal,
além de cidadãos e formadores de opinião.
Alfabetização Solidária
São Paulo (SP)
Rua Pamplona, 1005, 2º andar – Conj. 2B
Jardim Paulista - CEP: 01405-001
Tel.:(11) 3372-4300
site: www.alfabetizacao.org.br
email: [email protected]
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Escrevendo Juntos
Foto: Camila Souza
Tiragem desta edição: 9.000
A superintendente da AlfaSol ao lado do professor da ESPM, Orlando Urbano, e da
alfabetizadora Maria José Kurovski no lançamento da Campanha Adote um Aluno
Editorial
A
cada dia a Alfabetização Solidária descobre uma
maneira de se reinventar. Sempre inovando, a nossa organização busca, através de novos projetos,
diferentes formas de alavancar a alfabetização e a educação
de jovens e adultos no Brasil.
Completando 11 anos de atuação, com resultados expressivos, a AlfaSol mais uma vez saiu a frente ao convidar seus
parceiros para uma discussão interessante a respeito do trabalho em rede e do investimento social privado na educação
de jovens e adultos. No encontro, empresas, Instituições de
Ensino Superior (IES), aluno e alfabetizador tiveram a oportunidade de trocar experiências e, através de vários pontos de
vista, retratarem o trabalho realizado pela AlfaSol.
O resultado foi muito positivo, além de estreitar relacionamentos, a presença de uma alfabetizadora e de um ex-aluno
encantaram os parceiros que, através de seus depoimentos,
sentiram-se mais próximos da realidade brasileira. Além do
impacto do trabalho da AlfaSol na vida dessas pessoas, durante o encontro os empresários que ainda não visitaram as localidades também tiveram a oportunidade de conhecer de perto
as experiências dos municípios atendidos pela organização.
Falando em inovação, não poderíamos deixar de mencionar o
novo projeto em que estamos empenhados, o Tecendo o Saber. Criado pela Fundação Roberto Marinho (FRM) em parceria com a Fundação Vale e implementado em parceria com a
AlfaSol, o Tecendo o Saber oferece a jovens e adultos a oportunidade de estudar os conteúdos do 1º segmento do ensino
fundamental, aliando recursos tecnológicos e formação continuada de professores, propiciando ainda a continuidade do
processo de escolarização iniciado na alfabetização. Implantado em fevereiro desse ano em sete municípios
brasileiros, o Tecendo o Saber utiliza vídeos educativos que propõem discussões em sala de aula.
Esse novo projeto já tem tudo para dar certo e
deverá trazer várias histórias de sucesso, como o
exemplo do índio Dílson Ingaricó, que já foi alfabetizador da AlfaSol, hoje é vereador, e em breve
será o primeiro índio de sua etnia a ter um diploma universitário.
Assim como a de Dílson, o trabalho que a Alfabetização Solidária vem realizando há mais de uma
década, tem resultado na transformação de muitas vidas. É por isso que a nova Campanha Adote
um Aluno, que acaba de ser lançada, traz histórias
reais de alunos e alfabetizadores contando ao público, de forma espontânea, as suas experiências
com a AlfaSol. Os artistas Lima Duarte e Regina
Duarte também participam, recomendando a mobilização dos cidadãos solidários e conferindo
ainda mais credibilidade à campanha.
Outro passo muito importante que será dado
por esta organização nos próximos meses
será a criação de um escritório internacio-
nal em Nova York, nos Estados Unidos. Essa nova etapa é resultado do envolvimento e do interesse da AlfaSol em questões internacionais e do nosso conquistado
reconhecimento.
Além de atuar no Brasil e em países de outros continentes,
como São Tomé e Príncipe, cuja experiência se transformou
em referência na África, a AlfaSol também faz questão de
participar de discussões internacionais a respeito da educação
e da alfabetização de jovens e adultos.
Envolvida cada dia mais com as questões nacionais e internacionais, a AlfaSol esteve presente no Fourth Meeting of
the Collective of NGO on Education for All, realizado em Dakar, Senegal. Esse encontro foi de grande importância para
a discussão das mudanças na educação nos últimos anos. O
evento foi a reunião de um Comitê Coletivo de organizações
não-governamentais de todo o mundo que avaliou a evolução
do Educação para Todos, compromisso mundial para prover
uma educação básica de qualidade a todas as crianças, jovens
e adultos.
Depois desse encontro, a AlfaSol participou também da Reunião preparatória para a Conferência Internacional sobre Educação Prisional, em Bruxelas, Bélgica. A discussão a respeito
da educação prisional tem tomado grandes proporções nos
últimos anos. A AlfaSol deu um passo à frente ao iniciar uma
parceria com o Departamento Penitenciário Nacional (Depen),
órgão do Ministério da Justiça, que resultou em uma iniciativa
inédita: o Concurso de Redação “Escrevendo a Liberdade”.
Destinado à participação da comunidade carcerária e internos
dos 499 estabelecimentos prisionais em todo país, o concurso teve mais de 7.000 textos inscritos e foi considerado um
sucesso.
A participação da AlfaSol em vários encontros internacionais
também reflete o interesse de nossa organização em manterse sempre atualizada frente às mais recentes tendências que
envolvem a alfabetização de jovens e adultos. E nesses encontros temos ainda a oportunidade de disponibilizar a nossa
experiência de sucesso.
Além de todos esses assuntos, você ainda encontrará nesta
edição da revista Escrevendo Juntos uma reportagem completa sobre o X Concurso de Redação da Alfabetização Solidária,
outra sobre a nova parceria com o Governo do Distrito Federal, e mais, a influência da AlfaSol na produção acadêmica das
IES parceiras.
Enfim, quase todas as novidades da Alfabetização Solidária,
dos últimos meses, estão presentes nessa EJ. Convidamos,
portanto, todos os leitores a conhecerem um pouco mais sobre a nossa organização e apresentamos as nossas últimas
conquistas.
Boa leitura!
Regina Célia Esteves de Siqueira
Superintendente Executiva da AlfaSol
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Foto: Camila Souza
Representantes de empresas parceiras da AlfaSol durante o encontro
Encontro de parceiros
aproxima realidades
AlfaSol reúne parceiros e possibilita a troca de experiências entre empresas, IES, aluno e alfabetizador
Encontro de Parceiros
R
eunir parceiros, debater idéias acerca do trabalho
em rede e do investimento social privado na educação de jovens e adultos, bem como refletir sobre a
atual realidade brasileira, em especial os índices de analfabetismo que ainda figuram em nosso País. Esses foram alguns
dos principais assuntos do encontro de parceiros realizado
pela Alfabetização Solidária nos dias 03 e 04 de outubro.
O encontro foi realizado na sede da Alfabetização Solidária,
onde aconteceram dois cafés-da-manhã com parceiros. A superintendente da organização, Regina Célia Esteves de Siqueira, e a sócio-fundadora da AlfaSol, Drª Ruth Cardoso, receberam representantes de algumas empresas parceiras, como
o Itaú BBA, Fundação Itaú Social, Unibanco, Fundação Bradesco, CBA Votorantim, no dia 03/10, e Fundação Vale, Microsoft, Energias do Brasil, Santander e Instituto Sadia, no dia
04/10. As Instituições de Ensino Superior (IES) parceiras, Universidade Mogi das Cruzes (UMC) e Universidade Mackenzie,
o ex-aluno Sebastião de Freitas Lima e a alfabetizadora Maria José de Lima Kurovski também participaram dos debates.
Nos dois dias de encontro, as universidades tiveram a oportunidade de mostrar um pouco do seu trabalho em parceria com a AlfaSol e a importância da organização no meio
acadêmico. “A Alfabetização Solidária representa um marco
para a Educação de Jovens e Adultos no Brasil. Até 1997, as
universidades não davam atenção a esse segmento da educação. A bibliografia sobre o assunto era mínima comparada
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Escrevendo Juntos
a que existe hoje e devemos isso aos 11 anos de atuação da
AlfaSol”, afirma a coordenadora de programas e projetos do
Decanato de Extensão da Universidade Mackenzie, Maria de
Fátima Chassot.
As histórias da alfabetizadora e do ex-aluno encantaram
os parceiros, que se sentiram mais próximos da realidade
brasileira com os relatos. “Esse encontro foi uma boa oportunidade para ver de perto os protagonistas da Alfabetização
Solidária, foi uma forma de trazer o município até nós e, assim, pudemos ter uma idéia melhor do que está acontecendo
lá na ponta”, afirma o Presidente do Conselho do Instituto
Unibanco, Tomas Tomislav Zinner.
O ex-aluno da AlfaSol que participou do encontro, Sebastião,
teve uma infância e adolescência longe dos estudos, algo bem
comum para a região onde nasceu, Bom Conselho (PE). Ele
poderia ser apenas mais um jovem sem escolaridade, mas em
2000, após receber o convite de uma vizinha, a alfabetizadora
da AlfaSol Lucineide, ele resolveu voltar a estudar. Hoje, depois de mudar para São Paulo, ele já finalizou o ensino médio
e trabalha em uma empresa de eventos que presta serviços
terceirizados para o SERASA. “E não pretendo parar por aí!
Assim que puder, vou fazer faculdade de administração de
empresas”, diz cheio de expectativas com o futuro.
O importante papel do educador também foi abordado durante os encontros. “O alfabetizador é o agente motivador
dessas pessoas, que enfrentam uma difícil rotina para reto-
Conselho que mudou uma vida
Dizem que se conselho fosse bom, ninguém dava, vendia.
Mas foi devido a um conselho recebido gratuitamente que
Sebastião Freitas de Lima, um jovem pernambucano de 29
anos, transformou sua vida.
Nascido no município de Bom Conselho, em uma família grande, com 15 filhos, Sebastião conta que até teve a
oportunidade de estudar, mas não conseguiu prosseguir
pois precisava ajudar o pai a cultivar a lavoura de banana,
café e batata-doce na pequena propriedade da família.
“Eu era obrigado a faltar constantemente, então acabei
desistindo de ir para a escola”, conta.
Anos mais tarde, Sebastião encontrou Lucineide, sua amiga e alfabetizadora da AlfaSol, que o incentivou a retornar
aos estudos. O empenho da alfabetizadora foi tanto que
ele não só voltou a estudar, como também convenceu seu
irmão mais novo a fazer o mesmo. Após meses de muita
dedicação Sebastião então, concluiu o curso, em setembro de 2000. “O curso de alfabetização da AlfaSol mudou
minha vida, pois me estimulou a prosseguir os estudos e
ir além”, explica.
Cheio de expectativas, assim que terminou o curso de
alfabetização Sebastião fez as malas e rumou para São
Paulo, onde imediatamente matriculou-se 1º segmento
de EJA. A vida não era fácil: Sebastião estudava à noite
e trabalhava durante o dia como prestador de serviços de
limpeza para um banco. Mas desta vez ele não desistiu e
logo em seguida também concluiu o 2º segmento.
Ele explica que estudar fez nascer nele o anseio por novos
conhecimentos e motivação para buscar alternativas que
lhe proporcionassem melhores oportunidades profissionais. Prova disso é que, além de estudar, Sebastião fez
também um curso de informática, um outro para porteiro
e ainda um terceiro, na qual aprendeu a tratar de piscinas.
Sua perseverança deu certo e as portas logo se abriram.
“Consegui um emprego melhor! Hoje trabalho em uma
empresa de eventos que presta serviços terceirizados para
o SERASA”. Lá, entre suas atividades, está o atendimento
ao telefone e o contato direto com muitas pessoas.
E não foi só! Além de melhorar profissionalmente o esforço de Sebastião em continuar estudando também
lhe proporcionou renda suficiente para realizar o antigo
sonho de comprar uma
casa. “E não pretendo
parar por aí! Assim que
meu salário melhorar,
vou fazer faculdade
de administração de
empresas”, diz cheio
de expectativas com o
futuro. “Tenho certeza
que estudando ainda
conseguirei um emprego no qual ganharei o suficiente para ter
absolutamente tudo o
que quero!”.
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Sebastião Lima no encontro
de parceiros da AlfaSol
Foto: Camila Souza
mar ou começar os estudos. Nas minhas salas de aula havia
muita aproximação entre os alunos”, conta Maria José. Ela,
que foi motivada a retomar os estudos após entrar na sala
de aula como alfabetizadora, fez questão de ressaltar aos
presentes a relevância do acompanhamento que os alfabetizadores recebem durante todo o processo das aulas.
“Após a capacitação inicial nós, alfabetizadores, temos
todo o apoio da AlfaSol e das IES parceiras, durante
todo o módulo”.
As empresas também tiveram a oportunidade de trocar experiências com os presentes e, dessa forma, demonstrarem o
seu comprometimento com a parceria e discutirem a importância do investimento social. “As empresas também aprendem
muito com a AlfaSol, nós do Santander tivemos que aprender
a ter mais flexibilidade para entendermos melhor a realidade
brasileira”, disse a analista sênior de Responsabilidade Social
do Santander, Cíntia Rinaldi Fernandes.
Para a superintendente executiva da AlfaSol, Regina Célia
Esteves de Siqueira, essa troca de conhecimentos é mútua.
“Nós da AlfaSol, também ganhamos e aprendemos muito,
tanto na relação com IES, quanto com as empresas. Esse
contato com o setor privado proporcionou a profissionalização do terceiro setor”.Segundo o diretor de investimento
social para a América Latina da Microsoft, Rodolfo Fücher,
investir na AlfaSol garante o sucesso das ações e resultados com qualidade. “É muito importante que organizações
como a AlfaSol continuem atuando, são elas que possuem o
conhecimento necessário para realizar esse trabalho que beneficia tantos brasileiros”.
A reflexão a respeito da qualidade da formação dos alunos
da AlfaSol e do cuidado da organização em fomentar a oferta
pública de Educação de Jovens e Adultos (EJA) nos municípios
atendidos também fez parte do evento. “O que eu acho essencial no trabalho da AlfaSol é a preocupação de que os
municípios tenham EJA, a fim de proporcionar a continuidade
dos estudos aos alunos”, afirmou Maria de Fátima Chassot.
O gerente geral da Fundação Vale, Sergio Dias, tem uma importante visão do trabalho desenvolvido pela Alfabetização
Solidária. “A AlfaSol proporciona uma formação cidadã, as
pessoas têm um grande ganho, elas encontram nas salas de
aula um ambiente acolhedor e saem de lá transformadas.
Educar o adulto é uma função muito interessante, foi ótimo
ver os exemplos. Temos um grande orgulho dessa parceria”.
Ao final dos dois dias de evento, a opinião dos presentes
foi muito positiva, tanto pela iniciativa da organização em
reunir alguns parceiros para o debate, quanto pelos resultados apresentados e a aproximação com a realidade, por
meio dos depoimentos da alfabetizadora e do ex-aluno especialmente convidados para a ocasião. “Esse tipo de encontro é muito importante, porque é a chance de estarmos mais
próximo do parceiro, ver a opinião de outras empresas a
respeito da organização, além de ter a oportunidade de
conhecer alguém que passou pelo curso de alfabetização e
o que isso representou na sua vida. Foi muito especial e a
Alfabetização Solidária está de parabéns como sempre!”,
diz a coordenadora de investimento social do Instituto Sadia,
Luciana Lanzoni.
... Depoimentos
Foto: Camila Souza
“Esse encontro foi uma boa oportunidade para conhecer de perto os protagonistas da Alfabetização Solidária, foi uma forma de
trazer o município até nós ”.
Tomas Tomislav Zinner - Presidente do Conselho do Instituto
Unibanco
“A
Votorantim acreditou na organização desde o começo,
tanto que fomos uma das primeiras empresas a apoiá-la.
Nós saímos fortificados desse evento e agradecemos o trabalho das pessoas envolvidas com a AlfaSol, que levam para
frente uma organização que proporciona o aprendizado, ensinando milhares de pessoas pelo Brasil a ler e escrever ”.
Delmo Niccoli - Assessor Jurídico CBA Votorantim
“Para a Energias do Brasil é muito importante constatar o que a
Alfabetização Solidária tem feito pela sociedade e ver que a organização tem realizado um bom trabalho. O formato da AlfaSol é
muito sustentável! Essa parceria é muito importante para a nossa
empresa, é por isso apoiamos e agradecemos a AlfaSol ”.
Lopes Alves - Diretor de Sustentabilidade da Energias do Brasil
“Um evento como esse é muito importante, pois oferece a pos-
Foto: Camila Souza
sibilidade de pessoas de lugares diferentes se encontrarem e
falarem sobre cada uma das suas perspectivas. A empresa fala
sobre a experiência que teve e da sua percepção sobre a AlfaSol,
enquanto o alfabetizador fala o que considera importante e o
que ele vivencia no seu dia-a-dia. E a presença do aluno, que
é para quem todo mundo trabalha, refletiu aquilo que vemos
quando visitamos o município adotado, ou seja, a valorização
pessoal, a valorização da auto-estima e da qualidade de vida dessas pessoas ”.
Cíntia Rinaldi Fernandes - Analista Sênior de Responsabilidade
Social do Santander
Rodolfo Fücher (Microsoft), Sergio Dias (Fundação
Vale) e Lopes Alves (Energias do Brasil)
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Escrevendo Juntos
Sebastião, Fernão Bracher (Itau BBA),
Tomas Zinner (Instituto Unibanco) e Maria José
“Considero que o ponto mais importante desse encontro
foi a troca de experiências e o fato de ter testemunhas vivas
presentes, como a alfabetizadora e o ex-aluno que puderam
contar um pouco da sua história e da relevância do trabalho
da AlfaSol em suas vidas ”.
Rodolfo Fücher - Diretor de Investimento Social para a
América Latina da Microsoft
“A AlfaSol proporciona uma formação cidadã, as pessoas
tem um grande ganho, elas encontram nas salas de aula um
ambiente acolhedor e saem de lá transformadas. Temos um
grande orgulho dessa parceria ”.
Sérgio Dias - Gerente geral de projetos da Fundação Vale
“Ter a oportunidade de conhecer a história de alguém que
passou pelo curso de alfabetização e que teve todos esses resultados na vida foi muito especial. A Alfabetização
Solidária está de parabéns, como sempre!”.
Luciana Lanzoni - Coordenadora de Investimento Social do
Instituto Sadia
“A
AlfaSol tornou-se um patrimônio das IES Brasileiras.
Trata-se de um longo caminhar de mais de 11 anos de
construção conjunta. Entre seus méritos estão precisamente essas parcerias com a participação das IES, sejam
estatais ou particulares, possibilitando que seja a única
organização que atua na área de alfabetização com capacidade de atender projetos em todos os estados da Federação. Penso que as relações baseadas na transparência
das ações, na confiança e na reciprocidade, constituemse a base que possibilitou a consolidação da AlfaSol.
Nesse encontro pude conhecer mais de perto a visão de
outros parceiros. Acredito que houve uma troca e o crescimento foi conjunto, uma vez que eles também obtiveram
informações de como as IES atuam concretamente para tornar a AlfaSol uma realidade ”.
Prof. Dr. Adolfo Ignácio Calderón – Coordenador do Núcleo
de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade de Mogi das
Cruzes (UMC)
Foto: Rosilene Costa
Tecendo o Saber
Sala de aula do Tecendo o Saber na casa do professor Weverson Ferreira, Eldorado dos Carajás (PA)
Tecnologia a favor
da educação
Juntas, FRM, Fundação Vale e AlfaSol iniciam projeto Tecendo o Saber e ampliam o acesso a
EJA utilizando recursos tecnológicos em sala de aula
P
roporcionar a continuidade dos estudos através do
fomento da oferta pública de Educação de Jovens e
Adultos (EJA). Esse sempre foi um dos princípios da Alfabetização Solidária. Afinal, é necessário que após o processo
de alfabetização o aluno inicie uma nova etapa educacional.
Para que isso aconteça, além de articular com o poder público dos municípios que atende, a AlfaSol foi mais longe,
e em parceria com a Fundação Roberto Marinho (FRM) e a
Fundação Vale adotou o projeto Tecendo o Saber no âmbito
do Programa Fortalecendo a EJA. Trata-se de um telecurso de
1º ao 4º ano do ensino fundamental (equivalente às antigas
quatro primeiras séries) que possibilita que jovens e adultos
consolidem seu processo de alfabetização com qualidade e
em menos tempo. O gerente de Desenvolvimento Institucional da FRM, Ricardo Piquet, explica como aconteceu a parce-
ria. “A partir dos projetos Telecurso e Tecendo o Saber, nós
da FRM acumulamos experiência e estamos seguros do que
foi feito. Mas o número de beneficiados ainda está aquém
daquilo que gostaríamos. Então decidimos buscar parcerias,
a fim de ampliar o número de atendidos pelo Tecendo, com
organizações sem fins lucrativos que tivessem um trabalho
sério, com valores compartilhados pela Fundação e que nos
dessem segurança. Assim, achamos que a parceria com a
Alfabetização Solidária seria um bom começo”, conta.
O Tecendo o Saber oferece a jovens e adultos a oportunidade
de estudar os conteúdos do 1º segmento do ensino fundamental aliando recursos tecnológicos e formação continuada
de professores, proporcionando a continuidade do processo educacional. Desde o início do ano, a AlfaSol tem
acompanhado o trabalho da FRM na execução do Tecendo
7
Foto: Rosilene Costa
o Saber em sete municípios. “Essa experiência tem sido
muito positiva, a AlfaSol e a FRM estão aprendendo e crescendo muito. Essa parceria também é muito boa para
os alunos, pois o projeto consolida a aprendizagem iniciada no processo de alfabetização”, diz Piquet.
A partir do ano que vem, a Alfabetização Solidária utilizará a
metodologia do Tecendo o Saber em seu novo projeto TeleSol, que faz parte do Programa Fortalecendo a EJA. O projeto
leva às salas de aula um aparelho de televisão e outro de DVD
para a reprodução das teleaulas. Além de oferecer 12 livros,
sendo oito para o aluno (com textos e atividades) e quatro
para orientação do trabalho dos professores, bem como uma
coleção de 75 vídeos. “Essa metodologia foi especialmente
pensada para o público que atinge, ou seja, jovens e adultos.
Nos vídeos, os personagens refletem a realidade que os alunos
vivem como a migração, a dificuldade de arrumar emprego,
entre outros”, afirma a coordenadora de EJA da Secretaria
Municipal de Educação e coordenadora do Tecendo o Saber
em Parauapebas, Delma Silva Alves.
Com base na teoria de Paulo Freire, a metodologia utiliza parte do aprendizado que o aluno já possui, resgatando as suas
experiências de vida e, assim, proporciona todas as condições
para que ele construa novos conhecimentos.
Os vídeos são multidisciplinares e abordam assuntos da atualidade, é o caso de temas relacionados ao meio-ambiente,
cidadania, etc. A discussão dessas questões possibilita a conscientização para a busca de uma melhor qualidade de vida
e da transformação da sociedade. “Os alunos assistem dois
vídeos por semana e o conteúdo exibido é debatido nas aulas
8
e utilizado como base para os estudos”, conta o professor do
Tecendo em Parauapebas, Carlos Alberto Santos Costa.
O projeto tem a duração de 12 meses, divididos em quatro
módulos, envolvendo diversas ações voltadas para mobilização de alunos, a formação de educadores, a implantação nas salas de aulas, o acompanhamento e a avaliação.
“O acompanhamento e a capacitação são contínuos. No final de cada módulo, profissionais da AlfaSol e da FRM vão
até as localidades para realizar a capacitação, esse é um
importante momento para tirar dúvidas e aprender ainda
mais”, diz a coordenadora.
Na opinião do professor, que além de dar aulas no Tecendo e na rede pública de Parauapebas também cursa Letras
em uma universidade local, esse treinamento é essencial
para o aperfeiçoamento em sala de aula. “As capacitações
são muito importantes para que a gente aprenda mais
sobre a metodologia”, considera.
O acompanhamento dos coordenadores durante o período
das aulas também é muito importante. “O coordenador representa um elo entre a AlfaSol, FRM e as salas de aulas e alunos, nós conferimos se o planejamento está sendo seguido e
reportamos qualquer dúvida ou problemas aos nossos parceiros”, conta Delma.
Essa mistura de comprometimento e dedicação de todas as
partes envolvidas nesse projeto tem trazido grandes resultados. “Os alunos ficam encantados com a metodologia e o
dinamismo das aulas, dessa forma, o aprendizado é muito
bom. Uma prova disso, é que pela primeira vez nós inscrevemos alunos do 1º ciclo de EJA na Olimpíada Municipal
de Matemática e o resultado
foi surpreendente, alguns alunos do Tecendo tiveram melhores pontuações do que os
alunos do 2º ciclo de EJA!”,
comemora a coordenadora
de Parauapebas.
Um bom exemplo desse envolvimento é o aluno do professor Carlos de Parauapebas,
o Getúlio Conceição, 41 anos.
Nascido no interior do Maranhão, Getúlio cursou apenas
as séries iniciais, porque teve
que trabalhar desde a infância. Pai de cinco filhos,
mesmo sem ter tido a oportunidade de estudar, sempre
valorizou a educação. Por
isso, em 2003 resolveu sair
da roça e ir procurar emprego
na cidade para que seus filhos pudessem prosseguir nos
estudos. “Com a experiência
de vida descobri que o futuro
de qualquer ser humano está
nos estudos”, afirma.
Em Parauapebas, ele teve que
Escrevendo Juntos
Alunos do professor Weverson durante as aulas com a metodologia do Tecendo o Saber
se adaptar e descobrir novas profissões. Foi aí que percebeu o
quanto não ter estudado faz falta. “Aqui se você não tem formação é difícil, para qualquer função é preciso ter estudo”, conta.
Getúlio decidiu então recuperar o tempo perdido e no início desse ano foi se matricular em EJA. “Ao chegar à escola
descobri que teria esse novo projeto, achei interessante e me
matriculei”, lembra. Quando chegou à sala de aula, ele conta
que teve uma grande surpresa na primeira aula. “O Tecendo
o Saber é um avanço! Senti um grande otimismo, foi uma
alegria, um estímulo para todos os alunos, a classe adorou o
sistema!”, lembra.
Getúlio faz questão de destacar a importância do professor
em sala de aula. “O projeto é uma mistura de conhecimento
que vem dos vídeos e dos livros. E o professor é essencial para
as aulas, pois é ele quem incentiva os alunos e explica aquilo
que não entendemos”.
De acordo com Ricardo Piquet, a aula é conduzida pelo professor, é ele quem interage com os alunos. “O vídeo é apenas
uma ferramenta para dinamizar as aulas, uma mera instigação
para que os alunos possam dar o melhor de si, assim como o
jornal, a música, etc. É por isso que continuamos apostando na
formação desses professores. Nosso projeto está pautado no
sucesso do educador e assim consequentemente dos alunos”.
O professor do Tecendo em Eldorado dos Carajás, Weverson
Silva Ferreira, também entende bem a sua função como educador e se diz muito interessado no projeto. “Procuro ser bem
criativo e através de conversas e exercícios explico os conteúdos apresentados”, conta. Ele afirma que seus alunos estão
adorando essa metodologia do Tecendo o Saber e muitos estão superando as expectativas. (ver box)
Dessa forma, em todas as localidades onde foi implementado,
o Tecendo vem proporcionando uma educação de qualidade
a jovens e adultos que passaram pelo processo de alfabetização e que querem continuar seus estudos de 1ª a 4ª série do
ensino fundamental.
A partir do próximo ano, dentro do Fortalecendo a EJA, a
Alfabetização Solidária começa a executar o TeleSol, com
a metodologia do Tecendo o Saber, e pretende estender
o atendimento a outros municípios e, assim, seguir proporcionando a continuidade dos estudos. “De todas as
parcerias que a FRM está buscando em vários projetos, essa
tem um potencial maior para nós, talvez por somar, por ter
uma interação rica entre as equipes. A nossa expectativa de
que esse projeto com a AlfaSol chegue rápido ao público que
aspiramos é alta”, afirma Piquet.
Vontade de ensinar que vem de família
Poder transmitir os seus conhecimentos para aqueles que ainda não tiveram a oportunidade de adquiri-los. Para Weverson Silva Ferreira, 28 anos, ser professor é isso, uma forma
de ser solidário! Desde a sua infância, época que via sua mãe
lecionando e dedicando sua vida aos alunos, poder ensinar
sempre foi um sonho de vida.
Essa vontade de ser professor foi crescendo junto com Weverson, que mesmo com uma infância e adolescência difíceis
nunca abandonou o seu objetivo. Nascido em Campinaçu
(GO), Weverson conta que a vida por lá não era nada fácil.
“Estava complicado para os meus pais arrumarem trabalho na cidade, por isso, em 1989 resolvemos mudar para
Tucumã, no Pará, onde trabalhávamos em uma fazenda, foi
lá que eu comecei a dar aulas”, lembra.
Em 2002 a família se mudou novamente, dessa vez foram para
Eldorado dos Carajás, mais precisamente no assentamento
17 de Abril, onde havia acontecido o chamado massacre de
Eldorado dos Carajás, conflito em que 19 agricultores semterra foram mortos pela Polícia Militar. O confronto ocorreu em 1996 quando 1.500 sem-terra que estavam acampados na região decidiram fazer uma marcha em protesto
contra a demora da desapropriação de terras. Depois desse
episódio, os assentados ganharam o direito de continuar nas
terras e hoje o assentamento já possui três mil moradores.
Foi lá que Weverson entrou em contato com a Alfabetização Solidária. “Logo que cheguei a Eldorado dos Carajás
descobri que poderia dar aulas a jovens e adultos, então fui
ser alfabetizador e também incentivei a minha mãe a fazer
o mesmo!”, conta.
Sempre envolvido com questões educacionais, no início
desse ano ele começou a cursar pedagogia, foi procurar uma
vaga para dar aula na rede pública de ensino de Eldorado
dos Carajás e descobriu que poderia continuar o seu contato
com a AlfaSol e dar aulas para um novo projeto, com a metodologia do Tecendo o Saber.
Weverson não perdeu tempo, procurou os seus ex-alunos
e conseguiu mobilizar uma turma. “Fui na casa deles e
chamei um a um para continuarem seus estudos.
Como eles foram alfabetizados por mim, já havia muita confiança e a maioria topou!”.
Foi aí que surgiu outra dificuldade, os alunos não sairiam
do assentamento para ter aulas. Sem pensar duas vezes,
ele abriu as portas de sua casa, derrubou uma parede e
transformou um cômodo em uma grande sala de aula. A
sua mãe, que é alfabetizadora, seguiu o mesmo exemplo e
cedeu um terreno que possui no assentamento para realizar
as suas aulas de alfabetização pela AlfaSol.
Weverson também se diz muito interessado no projeto e faz
questão de desenvolver atividades complementares ao vídeo exibido para os alunos. “Procuro ser bem criativo e
através de conversas e exercícios explico os conteúdos
apresentados”, conta.
O professor já tem planos para o futuro, além de continuar
fazendo parte do Tecendo o Saber e terminar a faculdade
de pedagogia já está pensando no próximo curso.
“Pretendo fazer faculdade de matemática, que é uma disciplina que gosto muito, além de continuar lecionando”,
planeja Weverson.
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História de Vida
Foto: AFB Press
Dilson Ingaricó ao lado de Chico Pinheiro durante a V Semana da Alfabetização, SP
Uiramutã (RR): exemplo
de transformação social
A
leitura e a escrita são ferramentas fundamentais para
a comunicação de todos os indivíduos, independente
do idioma falado ou do grupo social ao qual pertencem. Mas como alfabetizar quando a língua se expressa apenas na forma oral, sem ter uma grafia e sem material didático?
Foi com essa situação que a Alfabetização Solidária se deparou com os índios da etnia Ingaricó, no município de Uiramutã (RR). “Quando fui convidada para atuar junto à AlfaSol
no estado de Roraima, comecei a pesquisar sobre a região e
descobri que existia uma grande população indígena, fiquei
encantada com o desafio”, conta a coordenadora pedagógica
da Universidade Severino Sombra, Magda Sayão.
Uiramutã é uma cidade situada no nordeste de Roraima,
fazendo divisa com outros dois países: Venezuela e Guiana.
Com aproximadamente 5.800 habitantes, de acordo com
o Censo Demográfico do IBGE (2000), a população indígena
do município se subdivide em duas etnias: Ingaricó e Macuxí, que vivem em vinte comunidades. “Logo que cheguei a
Uiramutã tive muito interesse em conhecer essas comu-
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Escrevendo Juntos
nidades e realizar o trabalho de alfabetização com eles”,
conta a coordenadora.
Mas chegar até essa população indígena não é uma missão
tão fácil, tanto pelo caminho a ser percorrido, quanto pelas
diferenças culturais. Para chegar até os Ingaricós são necessários 40 minutos em um avião, pois não existem estradas, ou então, 11 dias de caminhada pelas matas da Floresta
Amazônica. “Assim que cheguei à comunidade percebi que
estava sendo observada por eles, que seria necessário primeiro
conquistar a confiança, para depois iniciar o nosso trabalho”,
relembra Magda.
A comunicação também era uma barreira que precisava
ser transposta pela equipe da AlfaSol, pois a língua falada
por eles é o Ingaricó. Apenas os mais jovens sabem falar
outros idiomas, mesmo assim, a maioria fala o inglês devido
a proximidade com a Guiana. “Os Ingaricós fazem questão
de manter as suas tradições, com poucas influências da nossa
cultura. Todos se comunicam na língua materna e poucos
falavam português”.
Logo que chegou nessa comunidade, Magda encontrou um
grande aliado, Dílson Ingaricó, o índio que hoje é vereador de
Uiramutã - eleito com o maior número de votos do município - e que será o primeiro indígena da região a completar o
ensino superior.
A trajetória de Dílson Ingaricó, aliás, é uma história a parte.
Seu interesse em descobrir o mundo das letras e, em especial,
defender os direitos e o território de seu povo fizeram com que
ele saísse de sua comunidade aos 11 anos de idade. “Na época
não existiam escolas na região e eu sempre quis falar sobre a
minha realidade, representá-la através da forma escrita. Também vi as dificuldades enfrentadas pelo meu pai. Ele era o líder
da comunidade, mas não sabia ler nem escrever. Fui, então,
buscar o estudo com o povo Macuxi, uma comunidade distante quatro dias de caminhada dos Ingaricós”, conta Dílson.
Com os índios da etnia Macuxi, ele foi alfabetizado e quando estava com 14 anos aquela comunidade também ficou
pequena para a necessidade de conhecimento de Dílson. “Saí
sem destino, mas com o objetivo de continuar meus estudos. Cheguei até Boa Vista, capital de Roraima, mas quando
tentei me matricular na escola não consegui porque não tinha
certidão de nascimento. Mesmo assim, não desisti! Insisti até
conseguir os documentos para estudar”, relembra.
Em Boa Vista, Dílson cursou até o magistério indígena e se
tornou professor. “Nesse magistério, as aulas aconteciam no
período de férias do calendário escolar, ou seja, entre dezembro e fevereiro e no mês de julho. Nos outros períodos do ano
eu voltava para a comunidade Ingaricó para lecionar”.
No período em que estava em Boa Vista, Dílson foi convidado
para auxiliar uma professora da Universidade Federal de Roraima (UFRR) – no desenvolvimento de sua tese de doutorado
sobre os idiomas indígenas. “Fomos convidados para palestrar
e realizar um curso de estrutura lingüística, durante 30 dias,
em uma universidade de Amsterdã, na Holanda, que estuda
idiomas que estão desaparecendo. Nesses estudos aprendi
muito sobre estrutura lingüística”.
Assim que voltou ao Brasil com os novos conhecimentos, Dílson não via a hora de aplicá-los em sua comunidade. Afinal,
até esse momento, a língua Ingaricó não possuía forma escrita, apenas oral. “Foram cinco anos de trabalho e dedicação
para estruturar toda a gramática do idioma”, diz.
Foi nessa época, que Dílson conheceu a professora Magda
Sayão e a Alfabetização Solidária. E, juntos, encontraram uma
forma de alfabetizar os Ingaricós em sua língua materna.
“Também aprendi um pouco de Ingaricó para poder traduzir
o material didático. Nós tínhamos a teoria, mas foi com Dílson
que aprendemos a transpor os dados”, relata Magda.
No primeiro ano de atuação da AlfaSol em Uiramutã foram
mobilizadas 10 turmas de alfabetização de jovens e adultos,
sendo uma na sede do município e nove nas comunidades
indígenas. “Nós realizamos a capacitação com jovens alfabetizadores indígenas, entre eles o Dílson, que iniciaram as aulas
de alfabetização em suas comunidades. Essa experiência foi
muito interessante, pois na cultura indígena são os mais velhos que ensinam e, nesse caso, foram os jovens que ensinaram os idosos”, destaca a coordenadora pedagógica.
Durante o tempo em que a AlfaSol atuou no município, Mag-
da visitava a localidade mensalmente e afirma que a influência
da organização atingiu vários níveis educacionais, garantindo
verba pública e reconhecimento do Governo do Estado de Roraima sobre a necessidade do acesso à educação indígena. “A
atuação da Alfabetização Solidária em Roraima representou
uma revolução, um impacto social impressionante”, conta
Magda. O empenho em conjunto resultou na implantação de
um ensino bilíngüe, Ingaricó e Português, até a oitava série
dentro da comunidade Ingaricó. Hoje os jovens índios não
precisam sair da comunidade para estudar.
Muito de tudo que aconteceu também se deve ao Dílson, que
se preocupou em ensinar os mais jovens, sempre respeitando
as tradições do povo Ingaricó. “A minha luta se destaca na
região, pois sempre tive a preocupação de formar os mais jovens, para que nosso povo possa conquistar mais autonomia.
Primeiro precisamos saber quem somos, fortalecendo os nossos conhecimentos tradicionais e a nossa cultura”, explica ele.
Em 2004, a luta de Dílson ingaricó foi merecidamente homenageada pela Alfabetização Solidária durante a cerimônia
de abertura da V Semana da Alfabetização, realizada em São
Paulo. Na ocasião, além de conhecer a capital paulista, ele
teve a oportunidade de contar a sua história no palco da casa
de espetáculos Tom Brasil para todos os presentes. “Essa experiência me fortaleceu muito, fez com que eu tivesse ainda
mais motivação para continuar meus estudos, me senti muito
valorizado!”, lembra emocionado.
Dílson continuou estudando e em abril de 2008 deverá ser o
primeiro indígena Ingaricó a ter um diploma de nível superior!
Vai se formar em ciências da natureza pela UFRR, aliás, ele
passou em primeiro lugar no vestibular. “Não vou parar por
aqui não! No final do ano vou prestar vestibular para Direito, pois quero ajudar a construir uma política que favoreça a
população indígena”, conta.
Os primeiros passos ele já deu, conquistou o direito à educação e à política para a sua comunidade. “Consegui levar uma
urna eletrônica para a comunidade, e pela primeira vez todos
votaram!”. Dílson foi o vereador mais votado de Uiramutã em
2004. “Além de realizar melhorias para o meu povo, como
vereador também estou aprendendo muito!”, conta Dílson
que pretende ser candidato novamente em 2008. “Não tenho
parada! Quero ser um exemplo para o país”.
Além do reconhecimento nas urnas, no último mês de outubro Dílson foi eleito por todas as lideranças Ingaricós
como o grande líder da comunidade. Com certeza, fruto
de seus esforços para assegurar a preservação da cultura indígena e ampliar os seus direitos. A história de Dílson, que hoje fala cinco idiomas, é impressionante, mas não
é a única que resultou dessa influência da AlfaSol em
Uiramutã. Atualmente, os ex-alfabetizadores Vicente da
Silva Lima, da etnia macuxi, e Eliésio Cavalcante de Lima são,
respectivamente, vice-prefeito do município e presidente
da Câmara Municipal. Além da prefeita, Florany Maria
dos Santos Mota que, juntamente com a professora
Magda Sayão e a AlfaSol, foi grande articuladora pela
conquista dos direitos indígenas.
A Alfabetização Solidária se orgulha de também fazer parte
desta história.
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Foto: Camila Souza
Campanha Adote um Aluno
Maria José Kurovski e Joel Silva no lançamento da Campanha Adote um Aluno na ESPM
Histórias reais
Sob o tema “Histórias de sucesso” nova Campanha Adote Um Aluno traz depoimentos de alunos e
alfabetizadores da AlfaSol e tem o apoio dos artistas solidários Lima e Regina Duarte
N
o mundo onde a comunicação e a mídia fazem
parte da vida cotidiana dos cidadãos, uma campanha publicitária torna-se ferramenta fundamental para apresentar ao público as qualidades dos produtos
e/ou serviços oferecidos. No caso da Alfabetização Solidária,
a Campanha Adote um Aluno é a mais importante forma de
tornar público as ações desenvolvidas pelo Projeto Grandes
Centros Urbanos (PGCU), no qual são atendidos jovens e
adultos que residem nas grandes metrópoles e não tiveram a
oportunidade de aprender a ler e escrever.
Mas produzir uma campanha com vídeo, spots de rádio e
fotografias para a mídia impressa, não é assim tão simples!
Principalmente se essa campanha representar uma organização como a AlfaSol, com 11 anos de muito trabalho pela
redução dos altos índices de analfabetismo e fomento de
educação de jovens e adultos no País. Afinal, são muitas as
histórias para contar.
Então, como fazer isso de maneira simples e verdadeira, de
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Escrevendo Juntos
forma que todo o Brasil compreenda e se mobilize? Pensando
assim, nada melhor do que colocar personagens da vida real
para contar de forma espontânea um pouco da experiência
após serem atendidos pela Alfabetização Solidária. E foi justamente esse o mote da nova Campanha Adote um Aluno: com
o tema “Histórias de sucesso” trouxe para frente das câmeras
os atores da vida real, alunos e alfabetizadores que contam as
suas experiências para o País.
Os artistas Lima Duarte e Regina Duarte também participam,
recomendando a mobilização dos cidadãos solidários e conferindo ainda mais credibilidade à campanha. “A importância
de participar de uma campanha como essa, é poder ajudar a
AlfaSol nesse processo de alfabetização e, assim, cumprir o
que todos nós brasileiros desejamos: mais educação, cultura
e conhecimento, para construirmos uma sociedade melhor,
mais equânime, com mais afeto e sensibilidade”, disse Lima
Duarte durante a gravação da campanha.
A atriz Regina Duarte, que já havia atuado em campanhas
Foto: Camila Souza
Foto: Camila Souza
anteriores, também conhece bem as ações desenvolvidas pela
AlfaSol desde o início e fez questão de participar mais uma
vez. “Todos os interessados em um Brasil melhor deveriam
trabalhar, cada um ao seu modo, para que o número de excluídos diminuísse. Essa é uma batalha de todos! E a Alfabetização Solidária, por liderar essa iniciativa pela diminuição do
analfabetismo em nosso País, merece o respeito e a gratidão
de todos os brasileiros”, destacou a atriz no dia em que gravou o spot de rádio.
A criação da nova Campanha foi realizada pelos alunos e
professores da Escola Superior de Propaganda e Marketing
(ESPM) com apoio da Promo ESPM e ESPM Social, e o desenvolvimento das peças publicitárias contou com as seguintes
parcerias: Margarida Flores e Filmes, produtora do filme, fotógrafo Fabio Laub, Play It Again, responsável pelo áudio do
filme e spots e CTO Publicidade, responsável pela arte final
das peças impressas.
Desde o processo de criação até a sua finalização, a campanha
mobilizou um grande número de profissionais. João Pedro de
Albuquerque, produtor executivo da Margarida Flores e Filmes, um dos responsáveis pela viabilização do projeto, conta
que participar pela segunda vez da realização da Campanha
vai além da responsabilidade social. “Nós vemos o trabalho
da AlfaSol como fundamental para o crescimento humano e
desenvolvimento da sociedade. A equipe toda gosta de fazer
esse trabalho”, relata.
O diretor do filme publicitário, Johnny Araújo, é um bom exemplo desse envolvimento dos profissionais. “No momento em
que vi os testes com os alunos e alfabetizadores, que conheci
aquelas histórias de vida, me apaixonei pelo projeto, me tocou muito”, relembra.
Embora os alunos e alfabetizadores não tivessem nenhuma experiência com o universo da publicidade, demonstraram muito interesse em participar e o fizeram com muita naturalidade,
afinal estavam retratando a sua própria história sem um roteiro produzido. “A AlfaSol me deu a oportunidade de realizar
mais um sonho”, conta Robson Martins da Silva, ex-aluno da
Alfabetização Solidária e um dos protagonistas da Campanha.
Joel durante as gravações da CAA
Nas aulas, esperança de um
futuro melhor
Sempre sorridente e de bem com a vida, o aluno
Joel Peixoto da Silva, 65 anos, conta que nasceu
em Itabuna, na Bahia, mas aos 9 anos seguiu com
os pais para a cidade de Teófilo Otoni, em Minas
Gerais, aonde chegou “até a freqüentar a escola”,
mas por muito pouco tempo. Aos 22 anos, decidiu
se mudar para São Paulo, cidade que sempre quis
conhecer, para tentar uma vida melhor. “Cheguei cheio de esperanças mas, ao contrário do que
imaginei, não consegui melhorar muito de vida,
pois fiquei muito tempo sem contato com a escrita
e a leitura e acabei desaprendendo tudo!”, explica
acrescentando que “em São Paulo as coisas acontecem mas só para quem tem estudo”.
Solteiro convicto, Joel foi, então, levando a vida sem
profissão “fixa” e fazendo “de tudo um pouco”.
“Faço vários bicos principalmente na igreja que
freqüento e, na qual, também tenho muitos amigos”, explica. E foi justamente uma amiga de sua
igreja chamada Maria Clélia que o incentivou a se
inscrever no curso da Alfabetização Solidária, a qual
freqüentou em 2007. Joel conta de forma divertida
que sempre alimentou o desejo oculto de voltar a
estudar, mas não sabia nem por onde começar. “O
que eu mais gosto de ler é o dicionário. Agora já
consigo chegar à letra e rapidamente encontrar o
significado da palavra que procuro”, ressalta feliz.
Sobre o futuro, diz que pretende ingressar em EJA
assim que terminarem as aulas da Alfabetização
Solidária. “Desde que voltei a estudar me sinto mais
forte e confiante com relação a minha vida pessoal
e profissional. Agora sim tenho certeza que as coisas irão melhorar”, justifica.
No dia do teste de gravação, a percepção geral da
equipe de filmagem e produção foi o orgulho que Joel
demonstrou por estar estudando, bem como a felicidade e humildade que carrega consigo. Para definir
seu encontro com a Alfabetização Solidária acrescentou bem humorado: “sempre tive sede para voltar a estudar e o bebedouro acabou vindo até mim”.
Evento de lançamento da Campanha realizado na ESPM
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Foto: Camila Souza
Maria José na gravação da Campanha
Um reencontro com a própria
vocação
“A educação é a luz que ilumina as pessoas”. Sob
essa premissa, a alfabetizadora Maria José de Lima
Kurovski tem estruturado as suas aulas para introduzir jovens e adultos no mundo das letras. Trata-se
de uma vocação antiga, que começou quando ela
era ainda adolescente. Fez quatro anos de Magistério, um dos quais, de especialização. Casou logo em
seguida e, com o nascimento dos três filhos, teve
que abdicar da profissão para se dedicar à família.
O tempo passou, os filhos cresceram, o casamento
chegou ao fim. Quando a filha mais velha ingressou
na faculdade, o destino, enfim, bateu à sua porta.
Admitida na Universidade Mackenzie para cursar
Desenho Industrial, a filha de Maria José ganhou
uma bolsa de estudos. Por uma filosofia de vida
pessoal, Maria José decidiu retribuir à sociedade
a chance que estava sendo concedida à filha e resolveu colaborar com os projetos da universidade.
Ficou sabendo da Alfabetização Solidária e a antiga
vocação renasceu. Candidatou-se para a capacitação de alfabetizadores e conquistou uma vaga para
lecionar. Simultaneamente, Maria José buscou seu
aprimoramento profissional e tornou-se aluna especial da Universidade Mackenzie em Pedagogia, onde
estudou psicologia voltada para professores, conhecimento esse que transferiu para a sala de aula.
Aliás, é aqui que todo o talento para lecionar de
Maria José veio à tona. Ela descobriu que o melhor
caminho para ensinar é trabalhar com a auto-estima
de cada aluno e, por meio dela, guiá-los para a alfabetização. “Procuro mostrar a eles que sempre é
possível aprender uma coisa nova. Assim, eles compreendem que a educação é um processo contínuo
e interminável”, conta.
Atualmente, Maria José cursa o terceiro semestre
da Faculdade de Pedagogia do Mackenzie e, com
freqüência, é chamada para atuar como palestrante
nos cursos de capacitação de novos alfabetizadores
promovidos pela universidade parceira da Alfabetização Solidária.
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Escrevendo Juntos
Para os profissionais que contribuíram com a realização da
nova campanha, depoimentos como esses são de grande
importância para a identificação do público com o trabalho desenvolvido. Na opinião de João Pedro, por exemplo,
eles ajudam a aproximar as pessoas de uma realidade distante. “Os depoimentos induzem a reflexão sobre como
a magia do conhecimento leva as pessoas a sonharem,
crescerem e serem mais felizes”.
Após o processo de produção, a AlfaSol realizou o lançamento da campanha convidando alguns dos seus principais parceiros, como Rede Globo, Editora Abril, Nova
Brasil FM, Margarida Flores e Filmes e Escola Superior de
Propaganda e Marketing (ESPM), bem como a representante do Todos pela Educação, Maria Lucia Meirelles Reis.
No evento, as duas alfabetizadoras e um dos alunos que
participaram da campanha, também estiveram presentes,
afinal são os protagonistas!
Durante o lançamento todos conheceram as novas peças
publicitárias - vídeo, spots para rádio e fotografias para mídia impressa. “A campanha está excelente, a Rede Globo
vai continuar dando todo o apoio ao trabalho desenvolvido pela Alfabetização Solidária. A educação é um compromisso assumido por nós”, fez questão de ressaltar a gerente de Relações Externas da emissora, Viridiana Bertolini.
A espontaneidade dos depoimentos dos alunos e das
alfabetizadoras nas peças publicitárias, gravados sem
absolutamente nenhum texto decorado, é uma das características que mais agradam na nova campanha. “O
resultado ficou muito emocionante, pois os depoimentos
nos aproximaram da realidade. Gostei muito!”, salientou
a assistente de Relações Públicas da Editora Abril, Mariana
Szauter. “Sempre apoiamos a AlfaSol porque consideramos o trabalho dessa organização muito sério e lindo”,
fez questão de ressaltar.
O vídeo também agradou a alfabetizadora Andréia Tenório
dos Santos. “O resultado final superou minhas expectativas! Foi uma experiência gratificante participar dessa campanha e poder mostrar que existe uma organização como
a AlfaSol e pessoas como nós, que estão fazendo a sua
parte”, considerou satisfeita.
A ESPM também organizou um evento para apresentar ao
público a nova Campanha. Afinal, os alunos da agência
Promo ESPM tiveram uma importante participação no processo de criação das peças publicitárias. Para o professor
responsável pelo projeto, Orlando Urbano Charles, o envolvimento dos universitários nesse processo representou a
concretização na prática, de toda a teoria que eles aprendem
em sala de aula. “Essa parceria é extremamente importante
não só para a vida profissional dos alunos, mas também
para a pessoal, por proporcionar o engajamento com uma
causa tão nobre como é o trabalho da AlfaSol. Sem dúvida
foi uma experiência extremamente gratificante”, afirma.
Nos quadros dessa matéria, conheça um pouco mais da
vida dos alunos e das alfabetizadoras protagonistas da
nova campanha Adote um Aluno que já está sendo veiculada nacionalmente por todos os veículos de comunicação
parceiros da Alfabetização Solidária.
Nascida para alfabetizar
Mesmo um pouco arredia por “não querer aparecer”, a alfabetizadora Andréia Tenório dos Santos, 22 anos, acabou aceitando o convite para participar da nova campanha “Adote
um Aluno” da Alfabetização Solidária para 2007. “Estava um
pouco resistente em participar das gravações da Campanha
pois achava que não tinha razão para estar lá, afinal, considero que ao alfabetizar estou fazendo apenas a minha parte”,
diz com humildade.
Ela conta ter aceitado somente após perceber como seu caso
poderia ser um exemplo de cidadania para que mais pessoas
aderissem à Campanha. “Hoje sinto orgulho por ter participado. Foi muito bom, não tive que decorar texto algum.
Apenas respondi algumas perguntas enquanto eles gravavam. Quer dizer, foi tudo muito espontâneo e verdadeiro. Gostei bastante“.
Estudante do segundo ano de pedagogia na Universidade
Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, Andréia conta que
sua história com a AlfaSol começou no próprio curso superior.
“Na faculdade temos uma disciplina específica sobre Educação de Jovens e Adultos (EJA) e fomos informados de que
haveria a possibilidade de nos aprofundar nessa atividade. Foi
quando me inscrevi para ser alfabetizadora e fui selecionada”,
conta. Ela ressalta que sempre teve vontade de trabalhar com
jovens e adultos não apenas para expandir seus conhecimentos em técnicas de ensino, mas também por se considerar
muito próxima da realidade desse público. “Por ser de um
meio humilde, sempre me preocupei em como poderia ajudar. Infelizmente, eu conheço muitos analfabetos, e estando
na faculdade pensei usar meu conhecimento para ajudar
minha comunidade”, conta orgulhosa.
Quanto ao futuro, diz que pretende continuar estudando para
se especializar em alfabetização. “Ainda estou decidindo qual
linha seguirei, mas sei que será no segmento de alfabetização.
Tenho lido bastante sobre técnicas e tenho opiniões próprias
com relação a métodos de ensino. Quem sabe um dia eu ainda escreva um livro didático”, planeja a alfabetizadora.
No palco da alfabetização
Quem conhece Robson Martins da Silva, 38 anos, logo percebe que tem uma personalidade bastante peculiar. Nascido
em Recife, Pernambuco, é muito falante, sorridente e simpático, mas confessa que antes de ser alfabetizado seu sorriso
tinha uma “ponta de tristeza”. Ele conta que quando menino não tinha “muito juízo” era muito inquieto, bagunceiro
e atrapalhava os demais alunos. “Não conseguia freqüentar
a escola pois logo era expulso, mas no fundo me comportava assim para disfarçar a dificuldade que sentia para
aprender”, explica.
Aos 13 anos decidiu vir morar com uma tia em São Paulo
mas, além da insegurança para andar sozinho na cidade,
logo sentiu falta dos estudos pois não conseguia encontrar
um emprego que o fizesse feliz. “Arrependo-me muito pelo
tempo perdido, pois como não sabia ler nem escrever só me
selecionavam para vagas de auxiliar ou ajudante geral e isso
me entristecia muito, pois sempre tive um lado artístico muito
forte”, explica. Na tentativa de “se realizar” profissionalmente, Robson decidiu trabalhar em casas de shows atuando
como cover de cantores famosos, mas até mesmo sua performance artística era prejudicada pela falta dos estudos. “Não
conseguia ler as letras das músicas novas e demorava mais
tempo para decorar”.
E assim Robson foi levando sua vida, até tomar conhecimento,
por meio de uma amiga, que a Universidade Mackenzie estava
com as inscrições abertas para o curso de alfabetização da AlfaSol. Ele conta que no início ficou receoso e envergonhado,
pois se sentia “incapaz” de aprender. “Se quando criança,
que aprendemos tudo mais fácil eu já não conseguia, imagine
agora depois de velho”, pensava ele, que chegou a acreditar
“sofrer de problemas mentais e precisar de um psicólogo”
devido à dificuldade que sentia para aprender. “Eu rezava
para Deus melhorar minha cabeça pois me sentia burro e, por
ser burro, me sentia excluído do mundo!”.
Mas cansado de sofrer desilusões na vida decidiu tomar coragem e fazer a inscrição. “Para me acalentar procurava pensar:
se eu não tenho vergonha de subir em um palco e cantar
não posso ter vergonha de ir para a escola”, justificava para
si mesmo. Cheio de fé e força de vontade Robson, então,
começou a freqüentar as aulas e bastou aprender as primeiras
palavras para vencer o medo e a vergonha e nunca mais parar
de estudar. Hoje já está na 3ª série do ensino fundamental e
diz que sua vida mudou muito, principalmente com relação
ao que sentia a respeito de si mesmo. “No fundo eu sabia
que o vazio que tinha no peito era pelo fato de não saber ler
nem escrever. Não nego que ainda tenho dificuldades, mas
hoje sei que não sou burro, aliás, sou inteligente até demais”,
diz ele confiante. Atualmente, como já consegue anotar recados e atender bem ao telefone, conseguiu emprego “um
pouco melhor”; como porteiro, mas diz não ter desistido do
mundo artístico e pretende, no futuro, fazer um curso profissionalizante de teatro ou curso superior de artes cênicas.
“Meu sonho sempre foi ser ator, mas a diferença é que agora
aprendi que para alcançá-lo terei de estudar muito, e nunca
desistir”, diz ele, que hoje arrisca até “filosofar” comparando
o mundo das letras ao palco. “Assim como no palco, quando
você aprende a ler e escrever uma cortina se abre na sua vida
e você descobre o mundo novo que há por trás dela”!.
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Concurso de Redação
Escrevendo a Liberdade
revela talentos
Cerca de 7900 textos em forma de prosa, verso e até poesias
comprovam o sucesso da iniciativa, inédita no Brasil
Escrevendo a Liberdade
A
qualidade dos cerca de 7900 textos recebidos pelo
Concurso de Redação Escrevendo a Liberdade, lançado em abril pela Alfabetização Solidária (AlfaSol)
e o Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) e o Ministério da Educação
(MEC), surpreendeu a equipe responsável pela seleção e dificultou a escolha dos quatro primeiros colocados.
Inédito no Brasil, o concurso foi voltado exclusivamente à comunidade carcerária brasileira envolvendo os 499 estabelecimentos prisionais do país e teve como objetivo promover um
canal de comunicação deste público com a sociedade e provocar uma reflexão sobre a importância da educação para a
reinserção social dos presos brasileiros. O sucesso da iniciativa
também foi atestado pelo interesse causado nos detentos,
que se manifestaram das mais diversas formas nos cerca de
7900 textos inscritos. Segundo uma das julgadoras, a professora Ana Enedi Prince, da Universidade do Vale Paraibano
(Univap), os internos escrevem muito bem e as redações apresentavam poucos erros ortográficos. “A experiência foi muito
interessante e altamente relevante, já que os presos foram
valorizados pelas suas qualidades e competências e não pelos seus delitos”, destaca ainda a professora da Universidade
Mogi das Cruzes, Francine Martins.
De acordo com a comissão que selecionou as redações finalistas, muitos textos foram narrativas das histórias de vida dos
internos e a criatividade foi outro ponto forte das redações inscritas no concurso. Na opinião da Profª Dra. Maria P. Fátima
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Escrevendo Juntos
Rotta Furlanetti, da Universidade Estadual Paulista (Unesp),
os concorrentes são contadores de histórias para um público
determinado. “Que bom que tiveram voz e puderam mandar
seus recados”, destaca. A estudante de jornalismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Maitê Coelho, que também
integrou a comissão responsável pela seleção dos textos, ficou
impressionada com a maneira como os presos se expressaram.
“O concurso foi uma via de reintegração social, uma vez que
abriu uma porta e deu oportunidade para que eles pudessem
se expressar”, considera.
A primeira triagem, realizada por estudantes e profissionais de
educação, selecionou trinta redações finalistas, cujos autores
receberão, cada um, o prêmio de R$ 500,00 e um kit de livros. Para apontar os três primeiros colocados, a coordenação
do evento compôs uma Comissão Nacional, integrada por 11
jurados. Participaram desta comissão o representante do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP),
Mário Julio Pereira da Silva; a superintendente da Fundação
Bradesco, Ana Luisa Restani; a diretora executiva do Instituto
Latino Americano das Nações Unidas para a Prevenção do
Delito e Tratamento do Delinqüente (ILANUD), Paula Miraglia; o representante da Unesco no Brasil, Vincent Defourny;
a coordenadora do Projeto Todas as Letras da CUT, Maristela
Miranda Barbara; a professora da Faculdade de Educação,
da Universidade Federal do Ceará, Angela Linhares; o rapper
e escritor Reginaldo Ferreira da Silva, o Ferréz; o secretário
executivo do Plano Nacional do Livro e da Leitura (PNLL/Brasil), José Castilho Marques Neto; o coordenador nacional da
Pastoral Carcerária, Padre Gunther Zgubic; o escritor Antonio
Prata, e o médico, pesquisador e referência em população
carcerária, Drauzio Varella.
De acordo com o resultado apontado pela Comissão Nacional, o primeiro lugar foi conquistado por Anderson Aparecido
Machado, do CDP de Diadema (SP); o segundo lugar por João
Batista Cezário Filho, da Penitenciária Dr. Pio Canedo (MG); e
o terceiro lugar por Alexandre da Silva Camillo, do Centro de
Detenção Provisória de Suzano (SP).
Além da classificação indicada pela Comissão Nacional, as
trinta redações foram democraticamente disponibilizadas no
site do Centro de Referência de Educação de Jovens e Adultos
(Cereja), da Alfabetização Solidária, para que o júri popular
apontasse a melhor redação. Nesta eleição, o texto escolhido
foi o escrito por Márcio Augusto dos Santos, da Penitenciária
de Serra Azul (SP).
Liberdade 2007
“...Toquinho de madeira, alpiste e água. Toquinho de madeira, alpiste e água. Toquinho de madeira, alpiste e água.
Toquinho de madeira, alpiste e água. Toquinho de madeira, alpiste e água. Toquinho de madeira, alpiste e água. O
menino abriu a gaiola; Ele voou por três dias... morreu de fome. “
1º colocado pela Comissão Nacional
Anderson Aparecido Machado
Centro de Denteção Provisória de Diadema, (SP)
Escrevendo a Liberdade
“Diálogos de um homem livre”
“Vem devagar...
Nem sabe se pode entrar
No peito se espalha...
Com desejo e sentimentos
É fatal! Nunca falha conquista...
Esse jeitinho altruísta. contente...
Serve milimetricamente. convence...
quebra barreiras e vence
consigo traz a calma
e penetra em minha alma.
Só aqui te conheci
Então pude te sentir
És mais que ir e vir
Vem e leva todo o mal
Se torna mais especial.
No coração carente encaixa eternamente
Diante desta emoção
Se transforma em doação.
No fundo do peito
Vejo que a sempre tive
Mas nunca me senti Verdadeiramente livre.
Sinto falta sim com muita sinceridade.
inunda, habita em mim
Maravilhosa liberdade. “
“...- Qual a diferença que você acha que tem entre
as pessoas que nunca foram presas e você? - Acho
que vivo mais intensamente, não tenho tempo para
problemas inventados, a vida me é urgente. - Você já
pensou em se matar quando preso estava? - Eu sei
que muitas pessoas dizem que temos que ter Deus
no coração, mas pra quem está preso se tem a impressão que Deus se esqueceu de você, então toda
vez que me vinha esse pensamento eu imaginava o
meu velório, você chorando em cima de mim e no
fundo me perguntando porque fui tão covarde de
te abandonar sem lutar e nossa filha já maior perguntando por mim e você mentindo para não decepcioná-la, aí eu decidia lutar um pouco mais assim
foi várias vezes durante esses cinco anos. Acho que
Deus se lembrou de mim através de vocês duas. Era a
última gaiola, um cenário velho só com uma asa, sem
cantos à tempo naquele canto, acompanha o diálogo. Ele o tirou da gaiola e disse: - Esse não precisa de
gaiola, mesmo livre preso estará para sempre.”
3º colocado pela Comissão Nacional
Alexandre da Silva Camillo
Centro de Detenção Provisória de Suzano (SP)
2º colocado pela Comissão Nacional
João Batista Cezário Filho
Penitenciária Dr. Pio Canedo (MG)
17
Escrevendo a Liberdade:
“...no raio habitacional
Com a super lotação
Não permite que os espaços
Sejam de moderação.
Com o descaso da justiça,
Com os benefícios negados
Tornam-se as unidades prisionais
Em um grande aglomerado
Excluidos da sociedade,
Da justiça relegados
Esperam com ansiedade
Para serem ressocializados
Mas enquanto ela não vem
Não permito abater
Aproveito meu vasto tempo
Para meu aprandizado enriquecer.
Leio livros, revistas e jornais
E tudo mais que posso ter
Para mim, tanto faz
O que me importa é os ensinamentos absorver.
Foi preciso vir tão fundo
Nesse poço de angústias
Para entender que o mundo
Está cheio de astúcias.
Pra quando estiver liberto
Uma coisa aprendi
Não há nada de incoberto
Que um dia não se venha a descobrir.
Tudo posso fazer
Desde que não seja ilícito
Para não reincidir
Nos erros aqui explícitos.
Nas páginas da vida
Vou escrevendo a liberdade
E com a publicação desta história
Desejo que afaste
De toda e qualquer memória
Esta terrível realidade
Este é o relato de um detento
Que sofre a todo momento
Mas espera com serenidade
O dia da liberdade!”
Vencedor pelo Júri Popular
Márcio Augusto dos Santos
Penitenciária I de Serra Azul (SP)
18
Escrevendo Juntos
Evento internacional discutirá
a Educação nas Prisões
A cidade de Bruxelas, na Bélgica, sediará, em
2008, a Conferência Internacional sobre Educação nas Prisões, que está sendo organizada pelo
Instituto da Unesco para a Educação ao Longo
da Vida e pela Comunidade Francesa da Bélgica
e da Região da Valónia. Esta conferência, de
acordo com Marc De Maeyer, pesquisador sênior
do Instituto e um dos principais organizadores
do evento, tem expressão política, porque será
realizada pela primeira vez. “O tema educação
prisional não é discutido pela opinião pública
e a conferência torna-se, assim, uma oportunidade para que ocorra um intercâmbio de dados
quantitativos e qualitativos, além da troca de experiências e práticas”, explica.
Para o pesquisador, a educação na prisão é mais
do que um instrumento de reintegração social,
é um direito conferido aos presos pela igualdade sacramentada na Declaração Universal
dos Direitos do Homem. Assim, cabe ao Estado
assumir a questão e fornecer a base necessária
para que o preso, devidamente motivado, possa definir sua própria demanda por educação.
De Maeyer salienta que todas as campanhas
da Unesco - Educação para todos, Educação
ao Longo da Vida, Educação como um direito
- valem também para os internos nas prisões.
Como organizador, ele convidou a AlfaSol para
coordenar o tema “Alfabetização e Educação
Básica” na Conferência de 2008, tornando-a
responsável pela definição da estrutura programática e conteúdo científico. Na conferência preparatória, ocorrida em outubro de 2007,
também em Bruxelas, além de apresentar aos
demais integrantes do comitê organizacional
sua estrutura e trabalho desenvolvido ao longo
de 11 anos de atuação, a AlfaSol apontou ainda
direções temáticas que podem ser abordadas na
Conferência de 2008, assim como os próximos
passos a serem percorridos. Entre eles está uma
consulta às grandes organizações mundiais que
atuam na área de educação nas prisões no intuito de conhecer os pontos de dificuldade e facilitadores para atuação neste segmento.
Conferência de Dakar
Especialistas discutem
avanços educacionais
em Dakar
Única organização brasileira a participar, AlfaSol destacou a importância das parcerias em
todos os segmentos da sociedade para o alcance das metas do Educação para Todos
A
tender às necessidades educacionais de milhões de
homens e mulheres analfabetos em todo mundo
é um enorme desafio. Por isso, em setembro, na
cidade de Dakar, no Senegal, especialistas em educação,
agências bilaterais e multilaterais, governos e organizações da
sociedade civil reuniram-se no 4º Encontro de Consulta Coletiva de Organizações Não-Governamentais (ONGs) sobre Educação para Todos (Fourth Meeting of Collective Consultation
of Non-Governmental Organizations on EFA - CCNGO/EFA),
para discutir os avanços obtidos até o momento no intuito de
garantir que as metas traçadas em Dakar 2000 sejam efetivamente atingidas até o ano de 2015.
Para o diretor-geral da Unesco, Koïchiro Matsuura, em comunicado enviado ao encontro, a conferência aconteceu em um
momento crucial, a meio caminho de 2015. “Apesar de os sete
anos transcorridos desde Dakar 2000 terem sido marcados
por etapas significativas no intuito de atingir as metas globais,
está claro que precisaremos acelerar os passos se quisermos
realmente cumprir o estabelecido para 2015”, informa ele.
Embora registre progressos, Matsuura afirma que o desafio
ainda é considerável. Isto porque, segundo ele, o número de
crianças fora da escola é muito alto – estimado em 72 milhões
– tornando-se, assim, totalmente inaceitável; as disparidades
de gênero ainda persistem em todos os níveis educacionais;
um em cada cinco adultos ao redor do mundo possuem habilidades mínimas de alfabetização, e há número insuficiente de
professores qualificados.
“Nós precisamos que exista uma parceria forte e atuante entre
governos e as organizações da sociedade civil e devemos lutar
pela criação de mecanismos viáveis para consultas dos tópicos
relacionados à Educação para Todos”, acredita o diretor-geral
da Unesco. Matsuura acrescenta que a Unesco tem consciência da diversidade de situações e contextos, bem como das
áreas de desavenças e dos desafios com relação a resolução
dessas diferenças de maneira construtiva e positiva.
Ao final do evento, as ONGs presentes também elaboraram
um documento, intitulado “A meio caminho de 2015: Alcançando o inalcançável” (Midway to 2015: Reaching the unreached). Nele, as organizações presentes consignaram que,
apesar dos avanços obtidos em relação às metas do EFA,
muitos governos ainda não abraçaram as metas estabelecidas
pela agenda Educação para Todos (Education for All – EFA)
e nem reconheceram que tais metas estão interligadas, não
podendo ser executadas de forma seletiva ou isoladamente.
Segundo o documento, muitos países africanos e asiáticos
deixaram de atingir as metas estabelecidas para a educação
básica formal, negligenciando também as metas da EFA para
educação infantil e a alfabetização de adultos. “Os governos
em geral demonstram pouco interesse em educação básica e
ensino técnico para os jovens e adultos que não tiveram acesso à educação formal”, afirma o documento, acrescentando
que há um déficit de pelo menos US$ 11 bilhões por ano nos
recursos destinados à educação.
Entre as propostas apresentadas pelas ONGs na Conferência,
19
com vistas a alcançar as metas de 2015, está o fortalecimento
das organizações da sociedade civil para atuar em todos os
níveis educacionais, realizando, de forma ativa, mais movimentos para garantir o direito à educação gratuita, universal
e de qualidade, ao longo da vida, bem como garantir a paz, a
eliminação da discriminação, da exclusão e da pobreza. Convidada pela Unesco para participar do evento, a Alfabetização
Solidária contribuiu para que o documento final fizesse menção à importância das parcerias em todos os segmentos da
sociedade para que as metas da Educação para Todos sejam
alcançadas. Essa parceria inclui ONGs, pais, crianças, jovens
e professores atuando ao lado de governos, instituições de
ensino superior, legisladores, mídia, instituições e grupos religiosos, setores privados e assistenciais. Desta forma, a idéia é
consolidar uma plataforma única em favor da educação. Em
seu comunicado o diretor-geral da Unesco também reforçou
a importância dessa aliança. “A criação e manutenção do engajamento das ONGs e outras instituições da sociedade civil
em cada aspecto dos desafios globais da Educação para Todos é e continuará sendo indispensável. Por isso, quero garantir a vocês que nós continuaremos firmes e comprometidos no
propósito de promover a construção de parcerias nos níveis
nacionais, regionais e global”, diz Matsuura.
A Alfabetização Solidária foi a única organização não-governamental brasileira a participar da conferência. Seus 11 anos
de trabalho contínuo na alfabetização de jovens e adultos,
registrando o atendimento de 5,3 milhões de pessoas, avalizam sua presença em tão importante evento. “A AlfaSol tem
uma grande contribuição a partilhar, devido a sua atuação na
área de educação de jovens e adultos (EJA), incluindo também
a realização do programa Fortalecendo a EJA, específico para
garantir a continuidade com qualidade do processo de aprendizagem de nossos alunos”, considera a superintendente executiva da AlfaSol, Regina Célia Esteves de Siqueira.
Ela ressalta que o convite para participar desses eventos representa não só uma excelente oportunidade para a troca de experiências, como também o reconhecimento dos trabalhos da
organização. “Em muitos deles são convidadas somente organizações com atuação destacada na sociedade civil, portanto,
sermos chamados é mais uma prova irrefutável do reconhecimento internacional cada vez maior que nosso trabalho vem
conquistando”, destaca.
Dia da Alfabetização em Mali, na África
A
Alfabetização Solidária também foi convidada
para participar da Conferência Regional Africana sobre Alfabetização em Apoio à Alfabetização Global (African Regional Conference on Literacy
in Support of Global Literacy), promovida em setembro
pela Unesco e Casa Branca, em Bamako, em Mali, na
África. O evento, que marcou as comemorações do Dia
Internacional da Alfabetização, celebrado no dia 8 de
setembro, teve a finalidade de dar continuidade aos trabalhos iniciados na Conferência Global de Alfabetização
da Casa Branca, realizada em 2006.
Além de sedimentar as bases para a articulação de políticas para a alfabetização, a Conferência Africana objetivou apresentar e disseminar práticas efetivas de alfabetização, bem como identificar e discutir os desafios que a
alfabetização impõe, principalmente no continente sede
da conferência. Estiveram presentes no evento primeiras-damas de países envolvidos, ministros ligados à alfabetização, coordenadores do movimento Educação para
Todos, representantes de universidades, pesquisadores,
além de membros da Unesco e de Organizações NãoGovernamentais (ONGs).
A presença de um público tão diversificado foi destacada
pelo diretor do Instituto para Educação ao Longo da Vida
(Institute for Lifelong Learning – UIL) da Unesco, Adama
20 Escrevendo Juntos
Ouane, no documento “Making a difference: effective
practices in Literacy in Africa”, publicado ao final do
evento. “A ajuda para vencer esse desafio tem vindo de
várias partes e, nós sabemos que, todos os esses esforços, sejam pequenos ou grandes, contribuem para prover habilidades e competências que resultarão em uma
comunidade alfabetizada mais forte e criativa”, afirma.
O diretor ressalta que as metas estabelecidas, principalmente no evento de Dakar 2000, somente serão atingidas por meio de ações coordenadas em várias frentes.
Entre elas está a elaboração de políticas que considerem
a alfabetização como fundamental para o desenvolvimento; o incremento da arrecadação de fundos para a
alfabetização, um dos mais marginalizados setores educacionais; o desenvolvimento de um currículo relevante
para a alfabetização, com metodologia apropriada e materiais de qualidade; a promoção da integração de conceitos de desenvolvimento com temas como cidadania,
promoção da saúde, planejamento financeiro pessoal e
emprego; a execução de um processo de alfabetização
bilíngüe e a garantia da participação dos professores e da
comunidade nos processos de alfabetização.
A publicação sobre o evento está disponível no endereço eletrônico http://www.bamakoliteracyconference.
org/pgs/en/index_en.htm
Foto: Edneia Gonçalves
A
estruturação de uma política pública de Educação
de Jovens e Adultos (EJA) em São Tomé e Príncipe
(STP), país parceiro da AlfaSol em um projeto de
cooperação técnica, ganha cada vez mais notoriedade. Os frutos do trabalho desenvolvido em conjunto, estabelecido por
meio da parceria que envolve a Agência Brasileira de Cooperação (ABC), órgão do Ministério das Relações Exteriores do
Brasil, e o Ministério da Educação e Cultura de São Tomé e
Príncipe, foi apresentado em setembro na 177ª Sessão da
Comissão Executiva – Comissão Internacional sobre Organizações Não-Governamentais (177th Executive Board / Committee on International NGOs), promovida pela Unesco, em Paris.
O evento, que reuniu as ONGs que mantém relações formais
com a Unesco, discutiu o papel e o lugar dessas organizações
em países em desenvolvimento e a cooperação que elas realizam ou podem realizar nos pequenos países insulares. Na ocasião foi organizado um fórum no qual a AlfaSol relatou a cooperação técnica realizada em parceria com São Tomé e Príncipe.
A AlfaSol apresentou os resultados concretos e bem-sucedidos obtidos desde 2001, quando a parceria com São Tomé e
Príncipe foi iniciada. O trabalho conjunto já percorreu diversas
fases, sempre objetivando contribuir com a estruturação local
de uma política pública de educação de jovens e adultos, por
meio do apoio técnico junto à equipe santomense responsável
pelo desenvolvimento dos cursos desta modalidade de ensino.
A AlfaSol é a única organização brasileira neste país africano
envolvida com a alfabetização e a educação de jovens e adultos.
Entre as ações desenvolvidas até aqui, pode-se destacar a capacitação inicial e continuada de alfabetizadores e de coordenadores técnicos como ferramenta para a elaboração, gestão e
avaliação de projetos de alfabetização de jovens e adultos.
A AlfaSol também desenvolveu ações no intuito de garantir
a sustentabilidade em São Tomé e Príncipe na modalidade
de EJA. O destaque fica por conta da ampliação e fortaleci-
mento das ações de capacitação da equipe técnica local, para
atualizar os procedimentos de acompanhamento, formação,
avaliação e registro de processos; da estruturação do ensino recorrente (pós-alfabetização), e da formação na área de
elaboração de materiais didáticos. Esta atividade, aliás, vem
ao encontro da idéia basilar do trabalho desenvolvido pela
AlfaSol, que sempre parte da história e cultura do país onde a
cooperação técnica será efetivada. Por conta disso, a AlfaSol
forneceu apoio técnico para que as equipes santomenses pesquisassem e iniciassem o desenvolvimento de seus próprios
materiais didáticos, contextualizados com a realidade local.
Para a diretora do Departamento de Formação e Acompanhamento Pedagógico da AlfaSol e responsável pela condução da cooperação técnica, Ednéia Gonçalves, o trabalho
desenvolvido em São Tomé e Príncipe tem sido bastante
gratificante.”Acompanhamos o processo desde o início,
fornecendo apoio aos santomenses na elaboração das atividades necessárias para a implantação da Alfabetização e
Educação de Jovens e Adultos em São Tomé e Príncipe”, informa.
Os próximos passos da parceria serão definidos a partir da
demanda local. Hoje, São Tomé e Príncipe conta com 100
salas de alfabetização espalhadas pelas localidades de Lembá,
Cauê, Cantagalo, Mezóchi, Neves, Lobata, Guadalupe, Trindade, Água Grande e Príncipe, totalizando 2.500 alunos. A
partir dos resultados desta ação, o país implantou salas de
ensino recorrentes (pós-alfabetização), estruturando, assim,
um projeto denso de educação de jovens e adultos.
Segundo a assessora técnica da AlfaSol, a médio e longo prazos, será possível aumentar o número de mulheres nas escolas, uma das preocupações santomenses, bem como proporcionar ainda mais a continuidade dos estudos e a valorização
da cultura local. “Desta forma, podemos vislumbrar dias mais
prósperos para um lugar tão maravilhoso como é São Tomé e
Príncipe”, considera.
21
São Tomé e Príncipe
Um bom exemplo a
ser seguido
Concurso de Redação
X Concurso de Redação da AlfaSol:
o futuro na ponta do lápis
O
acesso à alfabetização, garante aos jovens e adultos atendidos pela AlfaSol a possibilidade de expandir seus conhecimentos em diversas áreas,
permitindo-lhes atingir objetivos diferentes e ao mesmo
tempo desenvolver uma idéia positiva e estimulante sobre
o futuro. Foi a partir deste conceito que a Alfabetização
Solidária desenvolveu o tema de seu X Concurso de Redação: “Lendo o mundo, Escrevendo o Futuro”. “Trata-se de
um convite para que os alunos e alfabetizadores pensem no
futuro, não só aplicado aos seus planos pessoais, mas uma
idéia mais globalizada e consciente sobre como lendo o
mundo de hoje, podemos construir um futuro melhor”,
explica a superintendente executiva da AlfaSol, Regina Célia
Esteves de Siqueira.
Realizado anualmente a iniciativa já é considerada uma
tradição e, além de promover e valorizar os participantes atendidos pela AlfaSol, também divulga o trabalho das Instituições
de Ensino Superior (IES) com quem estabelece parcerias para
diminuição dos índices de analfabetismo no Brasil.
“A intenção também é estimular o alfabetizando como agente
co-responsável pelo processo de alfabetização, incentivando a
sua reflexão e possibilitando seu próprio reconhecimento, ao
mesmo tempo, como autor e leitor”, diz a superintendente.
As redações produzidas pelos inscritos no módulo XXI foram
recebidas pelos coordenadores pedagógicos, os quais fizeram
a seleção de uma redação de alfabetizando por sala e uma
redação de alfabetizador por município. Após esta fase, foi
ainda realizada uma triagem por alunos e coordenadores das
IES parceiras da AlfaSol que selecionaram os 30 textos finalistas que, posteriormente foram analisados por uma Comissão
Nacional, composta por parceiros da Alfabetização Solidária,
incluindo IES, poder público e iniciativa privada. Dos 30 textos
finais a Comissão Nacional selecionou três redações de alunos
e três de alfabetizadores. Pelo Júri Popular foram selecionadas
uma redação de aluno e uma de alfabetizador.
Integrante da comissão que realizou a primeira triagem, Juliana da Conceição é estudante do 4º ano de letras na Universidade Braz-Cubas, IES parceira da AlfaSol, e considerou um
prazer ter participado da seleção do Concurso de Redação
da Alfabetização Solidária. “Foi uma experiência muito boa
conhecer os trabalhos, pois sei o que eles representam na vida
dos participantes. O concurso estimula que eles desenvolvam
uma visão crítica sobre o futuro”, complementa.
Rosana da Silveira, da Faculdade Torricelli de Guarulhos, cursa
o 8º semestre de pedagogia e foi convidada pela primeira vez
22 Escrevendo Juntos
para fazer parte do corpo avaliador dos trabalhos. Segundo
ela, pelos textos recebidos foi possível perceber que os alunos
da Alfabetização Solidária estão desenvolvendo uma visão de
mundo bastante articulada. “O mais importante é que o concurso estimulou os participantes e provocou neles o interesse
em mudar uma realidade que não os agrada”, diz, ressaltando que, ao fazer planos para um futuro seja ele próximo ou
distante, estimula de maneira automática o senso crítico do
autor, levando-o a acreditar mais no seu potencial. “Trata-se
de uma oportunidade importante para desenvolver uma nova
visão, estimular a reflexão e o raciocínio”, acrescenta.
Andréia Aparecida de Souza, da Universidade Cruzeiro do Sul
(Unicsul), que também participou do corpo de avaliação do
concurso realizado no ano passado, diz ter percebido uma
melhora no nível gramatical das redações deste ano. Segundo
a estudante do segundo ano de pedagogia, as redações estão
mais longas e embora focadas na visão do futuro, cada uma
trata de um assunto em sua descrição pessoal. Na avaliação
da julgadora, a diversidade e subjetividade de temas também
foi um ponto positivo.
Mais uma vez a Alfabetização Solidária ficou feliz com a receptividade com a qual foi recebida a iniciativa: este ano,
até 31 de agosto, data em que se encerrou o processo de
recebimento, foram entregues ao Centro de Referência em
Educação de Jovens e Adultos (Cereja) e encaminhadas para
a Comissão Nacional o total de 525 redações, sendo 447 de
alunos e 78 de alfabetizadores. A Comissão Nacional contou
com nomes como o do Embaixador Luís Fonseca, Secretário
Executivo da Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa (CPLP), Maria Auxiliadora Seabra Rezende, Secretária
de Estado da Educação e Cultura do Tocantins, Justina Iva
de Araújo Silva, Secretária Municipal de Educação de Natal,
Rosana Tomazini, Assessora de Cooperação da União Européia, Luciana Lanzoni, Coordenadora de Investimento Social
do Instituto Sadia de Sustentabilidade, Renata Zacarelli, Vicepresidente de Assuntos Corporativos do Santander, Antonio
Lopes Alves, Diretor de Sustentabilidade da Energias do Brasil,
Luiz Mattar, Presidente da TIVIT, Rosemary Aparecida Santiago, Coordenadora Pedagógica da Universidade Cruzeiro
do Sul (Unicsul), Sylvia Terzi, Coordenadora Pedagógica da
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Júlia Sara
Quirino, Pró-reitora de graduação da Universidade Estadual
de Alagoas (Uneal).
A seguir nessa matéria, conheça ainda as redações vencedoras e um pouco mais sobre a vida de seus autores.
Escolhido pelo povo
Agricultor que planta, cuida, colhe e transporta laranjas,
Daniel Honório da Silva diz não ter acreditado quando ficou
sabendo que tinha sido o mais votado pelo Júri Popular no X
Concurso de Redação da Alfabetização Solidária. “Só acreditei
quando me disseram que eu teria que ir até a prefeitura pra
dar entrevista. Fiquei muito feliz. Nunca pensei que pudesse
ganhar”, conta Daniel, que largou o lápis e a borracha ainda
adolescente, para ajudar a família na lavoura. Nascido e criado no interior de Alagoas, mais especificamente no município
de Santana do Mundaú, ele diz que teve sorte por não ter sofrido o quanto poderia com o analfabetismo, porque morou
a vida toda dentro do sítio no qual trabalha, sem nunca ter
ido muito além dos limites de seu município. Mesmo assim,
Daniel não se esqueceu de pensar no futuro e deixa claro que
sabe a importância das aulas de alfabetização na sua vida.
“Chega um momento que a gente tem de estudar e recuperar o tempo perdido. Hoje não me arrependo de ter voltado
para escola. Ganhei até esse concurso de redação!”, conta
orgulhoso de sua conquista. Aos 35 anos, casado há seis, e
pai de Larissa, de seis, ele conta que seus quatro irmãos e sua
mãe também moram no mesmo sítio. “Não vivo sem minha
família. Todos moram bem pertinho, não dá nem tempo de
sentir saudade”, brinca.
Daniel diz ainda ter alguma dificuldade com os estudos por
causa do trabalho “duro que não dá trégua”. “Tenho de me
esforçar muito pois às vezes preciso trabalhar a noite, carregando o caminhão de laranjas e depois ainda levar a carga
até Recife. Aí não posso ir à aula, mas fico sentindo falta”.
Mas mesmo com tanto trabalho, o agricultor não desiste.
Tanto esforço foi recompensado pelo público, que votou em
sua redação como favorita por meio do portal do Centro de
Referência de Educação de Jovens e Adultos (Cereja) da AlfaSol. Homem de poucas palavras, quando questionado sobre
sua redação Daniel fica encabulado para responder que “saiu
tudo da própria cabeça”. “Mas não foi fácil não! Tive de pensar bastante! Fico feliz que o povo do Brasil tenha gostado!”,
ressalta.
Na opinião de Daniel, é muito difícil pensar no próprio futuro
e, mais ainda, no futuro do Brasil. No entanto, dá uma lição
de cidadania somada ao sentimento de esperança que nasce
no coração de todo alfabetizando ao comentar o tema do
concurso de redação deste ano “Lendo o mundo, escrevendo
o futuro”. “Vivemos em um mundo muito difícil, muito crítico
e todos precisamos entendê-lo. Quanto ao Brasil, o que temos
de saber é que esse é o país em que nascemos e, portanto,
temos de amá-lo para que as coisa melhorem”, finaliza.
Transcrição da Redação do Daniel:
E muito importantes.
Promim estuda i o prender aler ohoji sou uma pessoa feliz.
Me sinto realizado porque hoji se ler e escrever antes eu não sabia ler escrever.
Sou feliz pornão repitir a historia de meus país quesão analfabetos.
1º Lugar Júri Popular - Alfabetizando Daniel Honório da Silva
Santana do Mundaú (AL) - IES parceira: Universidade Braz Cubas (UBC)
Superando obstáculos
A vida de Manoel Guilherme Silva, de 36 anos, é repleta de
superações que começaram bem cedo. Nascido em Viseu, no
Pará, a 250 km de Belém, com apenas dois anos enfrentou
a separação dos pais. A mãe mudou-se com a irmã mais velha para outra cidade e eles perderam totalmente o contato.
Criado somente pelo pai, Manoel explica que até chegou a
ser matriculado na escola, mas não conseguiu freqüentar as
aulas por causa da distância. “A escola ficava na cidade e nós
morávamos na zona rural. Era inviável ir todos os dias para o
centro, então acabei desistindo”, explica.
Quando completou doze anos, seu pai decidiu mudar de cidade, mas ele resolveu ficar. Claro que essa escolha teve suas
conseqüências, já que ele precisou trabalhar para se manter.
“Fazia qualquer tipo de trabalho que aparecia: tirava leite nas
fazendas, roçava a terra... Precisava me manter”, lembra.
Ele conta que a partir daí ficou ainda mais difícil voltar a estudar, pois, além da distância, as aulas aconteciam no horário
da manhã, período em que ele estava ocupado garantindo o
seu sustento. “Eu via as outras crianças indo para a escola e
tinha muita vontade de ir também, mas não podia”, conta.
O tempo foi passando. Em 2002, aos 31 anos, Manoel mudou-se para Eldorado dos Carajás e foi então que, finalmente,
conheceu sua mãe, que foi procurá-lo. “Minha irmã, que
morava em Belém, no Pará, me encontrou”, recorda. Mas,
apesar do reencontro, ele não deixou o município. Comprou
uma casinha na Vila Betel, a 30 km de Eldorado dos Carajás,
onde reside com a mulher e ajuda a criar o filho dela.
E foi em Betel, que há 10 meses Manoel conseguiu um emprego como vigilante numa escola local e, com isso, recebeu
de volta a oportunidade de estudar que a vida lhe tinha tirado.
“Antes desse emprego, eu tinha que escolher entre trabalhar
e estudar. Essa foi a primeira vez na minha vida que consegui
conciliar as duas coisas”, conta. Para facilitar ainda mais os
estudos de Manoel, a escola, na qual trabalha e aonde tam-
23
bém são realizadas as aulas da Alfabetização Solidária, que no
município conta com a parceria da Universidade Estadual do
Pará (UEPA), fica bem em frente à sua casa.
Para escrever a redação vencedora do X Concurso de Redação
da AlfaSol, Manoel conta que demorou um pouquinho. “Eu
gosto de pensar e escrever devagar, passando a limpo meus
rascunhos”, detalha. Todo esse zelo foi recompensado com
a primeira colocação pela Comissão Nacional, mas segundo
ele, sua verdadeira vitória é sentida no dia a dia. “O estudo
mudou muita coisa na minha vida. Eu fiquei mais atento às
coisas que acontecem e cresci como pessoa”, diz.
Quanto ao futuro, Manoel diz que se esforçará para continuar
estudando e, se possível, terminar o Ensino Médio. “Quero
apenas ter uma vida mais tranqüila”, finaliza.
Transcrição da Redação do Manoel Guilherme
Lendo o nundo escrevendo o futuro
Ler mundo é um grande desafio para a humanidade. Desafio este que está sendo superado por milhões de brasileiros onde a
garra maior advém de pessoas idosas que não sabiam ainda ler até pouco tempo atrás em meados da década de 90 e, com
um empurrãozinho só despertaram e levaram consigo a familia para a conquista dos sonhos. Hoje ao saberem ler, se exaltam,
se abrilhantam e se encontram cada vez mais aptos e desejosos de ler, de buscar. O mundo para dentro de si, conhecer tudo
que nele há.
1º Lugar Comissão Nacional - Alfabetizando Manoel Guilherme Silva
Eldorado dos Carajás (PA) - IES parceira: Universidade Estadual do Pará (UEPA)
Um prêmio para a força de vontade
Uma grande alegria tomou conta de Conceição Marcelina Furtunata, alfabetizanda de Barro Duro, no Piauí, quando soube
que a redação que escreveu para o concurso da Alfabetização
Solidária “Lendo o mundo, escrevendo o futuro”, conquistou
o 2º lugar da Comissão Nacional.“Fiquei muito feliz por este
reconhecimento”, conta ela.
Aluna da alfabetizadora Antonia Pessoa dos Santos, Marcelina teve que vencer, antes do concurso, outra dificuldade que
quase impossibilitou seu retorno aos estudos. Ela tem um problema sério na córnea, que já lhe tirou a visão de um olho e
ameaça o outro. “Só consigo enxergar com um dos olhos e
ainda assim usando óculos de grau muito forte”, explica ela.
A esperança está por conta de um transplante de córnea, mas
Conceição terá que aguardar sua vez na lista de receptores.
Por enquanto, ela faz um tratamento para diminuir o avanço
da doença.
Mesmo assim, essa mineira nascida em Conselheiro Lafaiete
não desistiu de buscar conhecimentos. Ela morou com os pais
mais oito irmãos até os 19 anos, quando se mudou para o Rio
de Janeiro para trabalhar em casas de família. Aos 30 anos,
conheceu seu atual marido, Oliveira Pessoa dos Santos, e veio
com ele para Barro Duro, no Piauí. Tiveram dois filhos, Renato
e Renata, com 17 e 16 anos, respectivamente. O marido tra-
balha como vigia e os filhos já freqüentam o Ensino Médio.
Este ano, Conceição recebeu o convite para retomar os estudos.
“Quando criança, cheguei a estudar por três anos, mas depois
parei. Com o problema da visão ficou mais difícil ainda”, conta
ela. A paciência da alfabetizadora, que é sobrinha do marido
de Conceição, foi decisiva. “Ela explica bem e isso foi fundamental para mim, porque eu não enxergava direito à noite”.
O ensino recebido foi importante: aprendeu matemática, melhorou sua letra...
“Ir à escola é muito bom, sempre se aprende coisas boas”,
destaca ela.
Para escrever a redação, Conceição conversou com a alfabetizadora e, dessa conversa, surgiu a idéia de como escreveria o texto, que enfatiza a importância de se dar uma nova
oportunidade para aqueles que não tiveram. E Conceição faz
questão de ensinar aos filhos sobre a importância dessa oportunidade que ela não teve. “Explico para meus filhos que ter
saúde e estudo é a melhor coisa que uma pessoa pode querer
da vida. Mesmo que eu não consiga mais estudar por causa
do meu problema de visão, ter vencido este concurso já foi
para mim um grande presente, um reconhecimento pelo meu
esforço. Uma prova de que nunca é tarde para superar os
próprios limites e dificuldades”.
Transcrição da Redação da Conceição
Lendo o mundo, escrevendo o futuro.
Atualmente é bem mais facil para a sociedade conhecer o mundo da leitura e da escrita muitas portas foram abertas principalmente para os jovens da terceira idade que não puderam conhecer sese mundo na sua juventude mas que agora desfrutam
da magia de se aprender ter e escrever.
Agradeço a professora a oportunidade de poder voltar a estudar e enriquecer o meu mundo e o mundo que me rodeia.
2º Lugar da Comissão Nacional - Alfabetizanda Conceição Marcelina Furtunata
Barro Duro (PI) - IES Parceira: Universidade Federal do Piauí (UFPI)
24 Escrevendo Juntos
Dias melhores a caminho
Vanilde Fernandes do Carmo, nascida em Tocantinópolis no
estado do Tocantins, deixou a escola muito cedo, quando
criança, para ajudar na criação dos seus sete irmãos. Com
pai falecido, sua mãe deixou os filhos quando Vanilde ainda
era uma pré-adolescente, e ficou 18 anos sem dar notícias.
Com toda a responsabilidade de criar, ainda tão nova, todos
os irmãos, que se ajudavam mutuamente para driblar a falta
dos pais, Vanilde não teve mais tempo de retomar os estudos.
Hoje, aos 42 anos, moradora do município de Eldorado dos
Carajás, no Pará, ela orgulha-se não só de ter um bom relacionamento com sua mãe que há dois anos voltou para o
município, mas também por estar recuperando o tempo que
perdeu fora da escola. Prova disso é ter sido contemplada
com o terceiro lugar no X Concurso de Redação da Alfabetização Solidária. Dona-de-casa com dois filhos já criados,
Marcos e Marcilene com 17 e 18 anos respectivamente, Vanilde disse ter ficado surpresa, mas muito feliz com o resultado
apresentado pela Comissão Nacional que analisou os textos.
“Ter ficado em 3º lugar nesse concurso me deu ainda mais
estímulo. Além disso, minha vida já melhorou bastante depois
que ingressei no curso de alfabetização da AlfaSol, que aqui
em Eldorado dos Carajás conta com a parceria da Universidade Estadual do Pará (UEPA). Antes eu era muito tímida, não
conseguia me aproximar das pessoas e até para ir para outra
cidade tinha de pedir ajuda por não saber ler. Hoje já posso ir
sozinha pois aprendi a ler e ficou muito mais fácil. Mas ainda
fico um pouco receosa”, confessa a vencedora.
Além de mais independência, Vanilde, que às vezes revende
algumas roupas para ajudar o marido e os filhos com as despesas da casa, conta que a alfabetização trouxe outra vitória
muito importante para sua vida pessoal: conseguiu, graças ao
seu processo de alfabetização, fazer inscrição para um concurso público, referente a uma vaga de serviços gerais para a
prefeitura. “Prestei o concurso e consegui alcançar os pontos
necessários para me classificar. Agradeço muito a minha professora e a AlfaSol por eu ter conseguido um emprego melhor
e mais digno. Se eu não tivesse aprendido a ler e escrever
e, claro, estudado muito, eu não teria conseguido passar na
prova”, conta a mais nova contratada pela prefeitura.
Graças a sua fase de conquistas, com emprego novo e ganhadora do concurso de redação, Vanilde está cheia de planos para o futuro. “A curto prazo quero começar a trabalhar
logo para ganhar um dinheirinho melhor e me esforçar para
continuar estudando. Quanto ao futuro do Brasil, eu espero
que seja mais brilhante, com mais justiça, mais amor e mais
esperança”, profetiza. Este também é nosso desejo sincero!
Transcrição da redação de Vanilde Fernandes:
Lendo o mundo escrevendo o futuro
Quando aprendemos à ler e escrever passamos a ver o mundo de outra maneira por exemplo. quando não sabemos e escrever,
somos dirigido pelos outro mais guando aprendemos novos horizontes se abrem como ir ao Banco ao hospital
Viajar pra outra cidade etc. conseguimos nós relacionamos melhor com as pessoas vemos um futuro promissor, temos oportunidades e capacidade de um emprego melhor viver com mais diguinidade com mais esperança de um futuro mais feliz, a
partir do momento gue aprendemos a ler e escrever traço um futuro melhor.
3º Lugar – Comissão Nacional - Alfabetizanda Vanilde Fernandes do Carmo
Eldorado dos Carajás (PA) - IES parceira: Universidade Estadual do Pará (UEPA)
Uma experiência bem-sucedida!
O alfabetizador Valdomiro Martins de Oliveira, 49 anos, do
município Senador Rui Palmeira, em Alagoas, não esperava
que a sua redação fosse eleita pelo júri popular como primeira
colocada no X Concurso de Redação “Lendo o mundo, escrevendo o futuro”, da Alfabetização Solidária. Funcionário da
área de saúde do Estado de Alagoas há 28 anos, Valdomiro
decidiu dividir sua rotina diária entre o trabalho de meio
período na farmácia mantida pelo governo e as aulas de alfabetização da AlfaSol para complementar sua renda familiar
– ele tem 12 filhos – e a experiência deu certo!
Além de ajudar a numerosa família, ele diz sentir-se feliz por
também ajudar pessoas a se tornarem mais capacitadas. “É
uma alegria contribuir para o aprendizado do próximo”.
Na opinião de Valdomiro, atuar como alfabetizador lhe trouxe
muitos ganhos profissionais e pessoais. O primeiro deles aconteceu já na capacitação promovida no município pela IES parceira da AlfaSol, Faculdade de Educação São Luis, e coordenada pela Prof. Iramar Honório Ferreira de Freitas, ocasião em
que ganhou muitos amigos. “Dos contatos que fiz não só na
capacitação mas durante minha atuação como alfabetizador,
25
surtiram amizades que me proporcionaram crescimento e
conhecimento”, considera, referindo-se, inclusive, aos alunos.
Quanto ao profissional, ele diz ter aprendido a usar e abusar
da criatividade para atingir seus objetivos. Para manter o interesse e a freqüência dos alunos, por exemplo, ele procura
realizar algumas atividades extras “de incentivo”. “Muitas
vezes compro objetos e faço sorteios entre aqueles que são
mais assíduos”, conta.
Valdomiro acredita que seu trabalho como alfabetizador con-
tribui para o desenvolvimento do País. “Cada vez que se tira
uma pessoa do analfabetismo, o Brasil melhora”, defende.
“Também é muito bom ajudar as pessoas a serem mais independentes, afinal, até para executar simples tarefas como ir
ao banco ou fazer compras é preciso saber ler e escrever”.
Participar do X Concurso de Redação da AlfaSol foi uma
decisão sem muitas pretensões. “Gosto de escrever e resolvi arriscar. Não esperava a premiação. Fiquei muito feliz!”,
comemora.
Transcrição da Redação de Valdomiro
“Lendo o mundo, escrevendo o futuro.
Ler o mundo é tomar consciência das regras, normas, direitos, deveres, valores e cultura transmitidos pelas gerações adultas às
novas gerações da socialização que só e possível através da educação. Em todas as sociedades existe a educação, nem sempre
formal, mesmo as mais primitivas têm uma educação centrada na família e com regras particulares No atual mundo globalizado
não existem o certo ou o errado o que existem são diferentes modos de agir e de pensar, portanto, para escrever o futuro é
preciso reconhecer as marcas da sociedade deixadas pela educação. O individuo tem que se envolver com questões conflitantes de seu mundo e quais modificações adequadas poderá desempenhar, sempre valorizando e respeitando as liberdades
individuais.“
1º Lugar no Júri Popular - Alfabetizador Valdomiro Martins de Oliveira
Senador Rui Palmeira (AL) - IES parceira: Faculdade de Educação São Luís (FESL)
Empolgação premiada
O destino planejado pela aluna do 4º ano do curso de Letras,
da Universidade Cruzeiro do Sul (UnicSul), Thaís Fernandes
de Sousa, de 24 anos, passou por uma mudança inesperada
– e bastante positiva! Ela inscreveu-se para atuar como alfabetizadora em uma das salas do Programa Grandes Centros
Urbanos (PGCU) da AlfaSol com a UnicSul e uma nova vocação despontou. “No início, queria apenas sentir se eu deveria
mesmo ser professora, mas acabei me apaixonando pela alfabetização de jovens e adultos, sua didática, sua organização
e, principalmente, pelos alunos”, destaca ela. Desde então,
ela tem se envolvido cada dia mais com o assunto, estudando
e fazendo sua iniciação científica sobre a alfabetização. “Fui
até indagada por meus colegas da Faculdade, que acham que
agora minhas opções estão mais relacionadas à Pedagogia do
que ao curso de Letras”, brinca.
Ela considera que a UnicSul lhe deu o conhecimento teórico
que ela necessitava, enquanto que a Alfabetização a formou
como professora e como ser humano. “Aprendi a respeitar as
pessoas e a compreender que todos têm condições de aprender”, afirma ela, acrescentando que jamais se tornaria uma
professora se não tivesse passado pelas salas da AlfaSol.
Moradora de São Miguel Paulista, nos arredores da instituição
onde estuda e atua como alfabetizadora da AlfaSol, Thaís é
uma alfabetizadora que literalmente veste a camisa: prepara
as aulas com antecedência, faz pesquisa escolares para os alu-
26 Escrevendo Juntos
nos e fica à disposição para fornecer explicações extras. “Os
alunos da alfabetização são diferentes, mais compreensivos,
têm ânsia de aprender, porque compreendem a importância
do estudo e já sentiram na pele a falta que ele faz”, diz. “Além
disso, como têm experiência de vida eles são mais críticos e
gostam de debater tudo”, acrescenta.
Na opinião de Thaís, a alfabetização permite a essas pessoas,
que antes sentiam-se excluídas, se perceberem valorizadas e
motivadas. “Hoje, eles já procuram livros com maior quantidade de páginas e debatem as histórias que lêem. Até o
computador deixou de ser um mistério para eles, que hoje já
mandam e-mails e dominam os comandos básicos”.
Sempre muito envolvida com a sua rotina de alfabetizadora,
Thaís conta que a idéia de participar do X Concurso de Redação da AlfaSol surgiu inicialmente com o objetivo de incentivar seus alunos a também participarem. “No início queria somente dar o exemplo, mas acabei me empolgando. Primeiro
fiquei em dúvida se escreveria em prosa ou verso e acabei
ficando com a segunda opção. Mas cheguei até a pensar em
musicar a redação com meu irmão, que é músico”, lembra
brincando. Tanta empolgação lhe rendeu o primeiro lugar
pela Comissão Nacional, reflexo de seu amor pela atividade.
“Quando você faz as coisas por amor, a sala evolui, os alunos
aprendem”. E o reconhecimento, claro, torna-se quase uma
conseqüência natural.
Transcrição da redação da Thais
Mundo x mundo
Existe um mundo,
que dá, outro que pede,
um sem lugar, outro,
que nem se mede,
um que cuida, outro que fere
Existe um mundo,
pobre o outro nobre,
com muita gente “esnobe”,
que nem se envolve...
Existe um mundo,
que procura mudar,
e outro que evita melhorar,
fica apenas a observar,
esse próprio mundo afundar.
Existe uma nação,
querendo melhorar a situação,
a maioria não teve educação,
por isso fica sem ação
Existe um mundo
que as vezes parece escuro
mas tenho certeza
que dará lindos frutos
Por isso tenho orgulho
de ajudar a plantar
esse fruto chamado Futuro.
1ª Colocada pela Comissão Nacional - Alfabetizadora Thaís Fernandes de Sousa – PGCU São Paulo
IES parceira: Universidade Cruzeiro do Sul (UnicSul)
“Alfabetizar é como levantar asas e voar como uma águia”
Dona de uma personalidade bastante dinâmica, a alfabetizadora Elisabeth Pimentel Dantas, do município de Ouricuri
(PE), não pára. “Eu não paro nunca. Sou uma quarentona
na ativa!”, costuma brincar. Formada em Psicologia pela
Universidade Federal de Fortaleza e em Pedagogia pela Universidade do Vale do Acaraú, Elisabeth tem 42 anos e atua
junto à Alfabetização Solidária quase desde sua fundação.
Apaixonadíssima pelo seu trabalho e por todo o bem que ele
proporciona, ela diz que seu grande prazer na vida é ensinar
e poder observar seus alunos aprendendo e evoluindo. “Sempre amei ensinar adultos. Desde que tive a oportunidade de
trabalhar efetivamente com EJA nunca mais parei. Uni o útil
ao agradável”, conta sorridente.
A alfabetizadora ainda enfrenta mais um desafio: em sua
sala, em Ouricuri, ela ministra aulas para dez alunos com
deficiência mental. “Uso cartões postais lúdicos e todo tipo
de material que posso dispor. Com isso eles já aprenderam
a escrever o nome, e estão evoluindo para assimilar a escrita de coisas mais complexas. Gosto muito de trabalhar com
eles, que merecem todo o nosso respeito e nossa atenção”, diz
a cearense, que também faz questão de trabalhar conceitos de
solidariedade e cidadania no conteúdo de suas aulas. “Acho
muito importante reforçar questões como cidadania, responsabilidade social etc., pois acredito que se todos se
ajudarem o mundo e cada um de nós ficarão melhores”,
justifica.
Além de alfabetizadora, Elisabeth atua também como coordenadora da Escola Municipal Joaquim Angelin Filho, também
no município de Ouricuri, onde é responsável pelo período de
primeira à oitava série e Educação de Jovens e Adultos (EJA).
E não pára por aí! Aos domingos ela ainda dá aulas em sua
própria casa para as pessoas que moram nas redondezas e
não podem freqüentar as aulas na escola por causa da distância. “É um trabalho que eu faço com o maior prazer. Eu
sou apaixonada pela leitura e escrita desde a infância e poder
proporcionar esse prazer para outros é muito gratificante. É
como levantar asas e voar como uma águia”, conta citando
o exemplo que usou em sua redação eleita em 2º lugar pela
Comissão Nacional no X concurso de Redação da AlfaSol.
Ela conta que o tema foi um grande estímulo para que escrevesse seu texto. “Lendo o mundo, escrevendo o futuro foi
um tema brilhante pois foi exatamente o que fiz minha vida
inteira. Acho que com a realidade do nosso país temos de
nos esforçar para ser alguém que faz a diferença, e ensinar
as pessoas a ler é dar a elas a oportunidade de saber mais,
de aprender a expressar as próprias opiniões e a pensar de
maneira mais ampla”, orgulha-se.
Ao longo de todos os anos de seu trabalho, Elisabeth considera que acumulou grande experiência e teve muitas idéias
sobre alfabetização e métodos de ensino. Idéias essas que ela
sonha em publicar em um livro voltado para alfabetizadores
e profissionais da área. “Já escrevo há muitos anos mas ainda não tem um título. Escrevo sobre tudo que aprendi e vivi
nesses anos todos trabalhando com educação. Quem sabe
um dia eu consiga publicar meu livro. Isso me faria felicíssima”, sonha alto a cearense. Mas seus planos para o futuro
não param por aí. Elisabeth ainda quer prestar vestibular para
Teologia, afinal, “precisamos alimentar o corpo, a mente e
o espírito”. “Vou estudar muito para passar e sei que vou
conseguir, pois faço tudo com muito amor, por isso consigo
dar tanto o melhor de mim para as pessoas que precisam de
atenção especial”, finaliza dando mais uma lição.
27
Transcrição da redação da Elisabeth:
Lendo o Mundo, escrevendo o futuro
Ler, escrever? Mas que coisa mais maravilhosa é viajar neste mundo mágico e as vezes tão desconhecido, que é o universo das
letras. Vejo todos os dias milhares de pessoas voando e anciando nadar neste paraíso especial, quando descobrem o encantamento de ler e escrever, de se sentirem livres e absolutamente realizados, de poderem rabiscar as primeiras letras e formarem
palavras e até frases, é um amor novo, desabrochando, é o orvalho da manhã, é o grande vôo da águia para um futuro vindouro e imaginário. Agora posso ver milhões de neurônios viajando em cabecinhas famintas de saber e anciosas para saltitar
no mundo mágico e encantado de letras e números. E quando dizem que já posso escrever meu próprio nome e ser mais um a
salvar o mundo com o meu simples nome e fazer parte das coisas que ainda estão por vir. Deixo de ser um desconhecido, um
anônimo, para participar da criação de um mundo melhor, começando a ler o mundo e escrever o futuro, junto com o nascer
do sol e com o belo vôo da águia, pois futuro se escreve com realidade e sonho.
2º Lugar – Comissão Nacional - Alfabetizadora Elisabeth Pimentel Dantas
Ouricuri (PE) - IES parceira: Universidade do Estado da Bahia (UNEB)
“Ler é o nosso meio de libertação”
Luciene Alves de Lima, moradora e alfabetizadora da AlfaSol
no município de Bodocó em Pernambuco, ficou sem palavras
ao receber a notícia de que havia ganhado o terceiro lugar
no concurso de redação da Alfabetização Solidária. “Não sei
o que dizer, só sei que estou muito feliz”, diz. Com 21 anos
completados apenas dois dias antes de receber a notícia, ela
diz ter recebido como um presente a terceira colocação no
concurso. Segundo Luciene, não só participar do Concurso,
mas também a oportunidade de ser alfabetizadora da AlfaSol têm sido experiências muito importantes em sua vida. “Já
atuo como alfabetizadora da AlfaSol em um sítio de Bodocó
há 6 meses. É minha primeira experiência profissional, mas já
estou amando. Achei muito interessante poder escrever sobre
o que significa para mim “Ler o mundo e escrever o futuro”,
porque acredito que somente sabendo ler e escrever é possível
fazer planos futuros. É disso que todas as pessoas precisam:
de um futuro”, diz Luciene entre sorrisos de felicidade por ter
tido sua redação escolhida pela Comissão Nacional.
Apesar da pouca idade, Luciene, que tem ensino médio completo, diz ter encontrado na alfabetização a profissão que vai
levar para toda a sua vida e que está bastante estimulada a
continuar os estudos. “O ano que vem eu pretendo estudar
mais ainda para poder entrar em uma faculdade, quero estudar Letras em Araripina, um município aqui de Pernambuco.
Já me sentia realizada por poder ensinar as pessoas e, assim,
também ajudá-las a ter um futuro, e agora com a notícia boa
de que fui selecionada me sinto ainda mais estimulada a melhorar também o meu”, orgulha-se.
A jovem alfabetizadora acredita no trabalho que desempenha
junto aos seus alunos. Em sua redação, desenvolvida especialmente para o concurso, Luciene discorre sobre sua concepção
de futuro através do conhecimento que as pessoas adquirem
quando descobrem o mundo das letras. Parafraseando a mais
nova ganhadora, e admitindo suas palavras como vindas de
alguém que participa ativamente no processo de alfabetização, Luciene fala bonito e elabora quase uma filosofia ao discorrer sobre o tema: “Ler e escrever é nosso meio de libertação, de se comunicar, ter informação, expressão e defender
seu ponto de vista, participar ativamente da vida social, alargar a visão de mundo, do outro e de si mesmo”, escreveu
em sua redação. Luciene dá aí, uma prova contundente da
clareza com que enxerga a importância da educação para a
sociedade, bem como o orgulho que sente de seu papel como
alfabetizadora. Fazendo de todos nós orgulhosos também.
Transcrição da Redação da Luciene
“Lendo o mundo, escrevendo o futuro”
É entender o que se lê e escrever o que se entende. Quando temos o domínio de habilidades de leitura e escrita, sabemos
interpretar o mundo de várias maneiras. Aperfeiçoando cada vez mais no seu contexto para que possa produzir e interpretar
com seus próprios conhecimentos. Pois ler e escrever é o nosso meio de libertação, de se comunicar, ter informação, expressar
e defender seu ponto de vista, participar ativamente da vida social, alargar na visão do mundo do outro e de si mesmo. É ter
a capacidade de interagir de forma criativa consciente, capaz de reescrever o mundo, ou seja, transformá-lo com sua prática
consciente.
Ler o mundo é compreender o seu contexto, não numa manipulação mêcanica de palavras, mas numa relação dinâmica que
vincula linguagem a realidade.
Na verdade, a leitura e escrita é uma crítica no mundo, que formam cidadãos críticos conscientes capazes de enfrentar-los os
problemas, buscando informações adequadas.
3º lugar Comissão Nacional - Alfabetizadora Luciene Alves de Lima
Bodocó (PE) - IES parceira: Universidade do Estado da Bahia (UNEB)
28 Escrevendo Juntos
Parceria AlfaSol e GDF
Governo do Distrito Federal
busca experiência
da AlfaSol para diminuir
o analfabetismo
A
AlfaSol assumiu um importante compromisso
para com a capital do País. É que a organização
firmou parceria com o Governo do Distrito Federal que visa garantir inicialmente o acesso de cinco mil jovens e adultos, ainda no segundo semestre desse ano,
às salas de alfabetização do Projeto Grandes Centros Urbanos (PGCU), que em Brasília recebeu o nome de abcDF.
O termo de parceria foi assinado dia 1º de junho de 2007
pela superintendente executiva da AlfaSol, Regina Célia
Esteves de Siqueira, e o governador José Roberto Arruda, no
Palácio do Buriti em Brasília.
O governador desenvolveu um apreço pessoal pelo projeto,
por saber exatamente como o processo de alfabetização pode
impactar a vida de alguém: seu pai também foi alfabetizado
já idoso. “Eu não tenho dúvidas que esse projeto será um
grande sucesso. O meu pai aprendeu a ler e escrever com a
idade já avançada. Eu era criança e lembro da emoção dele.
Quero que mais famílias possam ter a chance que nós tivemos
na minha casa”, contou Arruda na solenidade da assinatura
onde também leu trechos da primeira carta escrita pelo pai ao
seu avô, depois de concluída a sua alfabetização.
O primeiro ano do projeto visa atender dez mil pessoas, nos
dois anos seguintes esse número sobe para 15 mil estudantes
e no último novamente dez mil. Segundo o gerente de erradicação do analfabetismo do GDF, Sinval Lucas, o planejamento
é audacioso pois visa diminuir os níveis de analfabetismo que
foram apontados pelos estudos mais recentes do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, que mostraram a
existência de mais de 50 mil analfabetos no Distrito Federal.
Segundo ele, as metas poderão ser reajustadas conforme
novos dados das bases de pesquisa forem sendo atualizados
durante o projeto. “Sabemos que a meta é bastante ousada,
mas há determinados objetivos que não se justificam pelo ato
de alcançá-los, mas pelo ato de persegui-los. Há que se dar
o primeiro passo. Há que se tentar alcançar este objetivo”,
complementou o governador.
Além de sua experiência de 11 anos de atuação, para desenvolver e executar o abcDF, a Alfabetização Solidária con-
tinuará adotando a articulação da rede de parceiros que vem
fundamentando o seu atendimento a mais de cinco milhões
de brasileiros. Já estão envolvidas nos trabalhos as seguintes
Instituições de Ensino Superior (IES) parceiras da AlfaSol: Universidade de Brasília (Unb), Universidade Católica, Centro Universitário de Brasília (UniCEUB), Instituto de Ensino Superior
de Brasília (IESB), Unicesp e Faculdade Santa Terezinha.
Declarado como prioridade desde o início do atual governo,
o projeto abcDF integra o Plano de Desenvolvimento Social
e Econômico do Governo do Distrito Federal para o período
de 2007 a 2010, atendendo inicialmente cinco mil alunos,
divididos em 250 turmas atendidas em 12 regiões administrativas do Distrito Federal. São elas: Ceilândia, Samambaia,
Riacho Fundo I e II, Santa Maria, Gama, Estrutural, Recanto
das Emas, Itapoá, Paranoá, Planaltina e Varjão. Como método
de incentivo à alfabetização, buscou-se meios de envolver a
comunidade selecionando-se alfabetizadores entre os próprios moradores locais, que já foram devidamente capacitados
pelas IES parceiras.
As aulas, que tiveram início em junho, estão sendo ministradas em salões de igrejas, centros comunitários, espaços
particulares cedidos e salas de aulas de escolas públicas. O
governador explica que os resultados e experiência da Alfabetização Solidária foram essenciais para sua escolha como
parceira. Outro fator importante, segundo ele, foi o reconhecimento, por parte do IBGE, da significativa contribuição
da AlfaSol para a redução dos índices de analfabetismo no
Brasil. “O material didático dos alfabetizadores e o sistema de
parcerias com instituições de ensino superior também foram
diferenciais importantes”, ressalta. Sinval Lucas explica que
após o término do curso de oito meses, os alunos serão encaminhados para os cursos de Educação de Jovens e Adultos
da Secretaria de Educação, além de poderem optar pela capacitação profissional nos cursos promovidos pela Secretaria
de Desenvolvimento Social e Trabalho. “O objetivo é proporcionar novas oportunidades à população. Queremos transformar o Distrito Federal na primeira unidade da federação a
erradicar o analfabetismo”, conclui.
29
AlfaSol e IES
AlfaSol e IES:
interesse fundamental
Intrinsecamente ligada ao tema, atuação da Alfabetização Solidária estimula o aumento
de trabalhos acadêmicos sobre EJA no País
N
unca a alfabetização de jovens e adultos foi tão
freqüentemente abordada como tema de monografias e trabalhos universitários de conclusão de
curso como nos últimos anos. Parte da responsabilidade por
este crescente interesse e aumento da conscientização da importância desse segmento da educação se deve ao estreito
relacionamento que a Alfabetização Solidária vem mantendo
com as Instituições de Ensino Superior (IES) parceiras nesses
11 anos de atuação pela diminuição do analfabetismo no
País. Prova contundente disso é o banco de dados de currículos lattes do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico), organização destinada ao fomento
da pesquisa científica e tecnológica e à formação de recursos
humanos para a pesquisa no País. Basta uma simples consulta
no link pesquisa e mais de 1.200 ocorrências surgem sobre
trabalhos acadêmicos citando a Alfabetização Solidária.
A AlfaSol, aliás, também mantém um núcleo de referência
primordial para o levantamento de material de apoio: o Cereja (Centro de Referência em Educação de Jovens e Adultos),
que disponibiliza um banco de dados onde defesas de teses,
dissertações e trabalhos de conclusão de curso voltados para
o tema podem ser cadastrados e consultados por toda comunidade acadêmica.
Desta maneira, a Alfabetização Solidária também desempenha o importante papel de estimular o debate e a produção
científica sobre a alfabetização de jovens e adultos e é referência para dezenas de trabalhos acadêmicos, muitos deles
analisando o impacto das ações da organização em diferentes municípios brasileiros, como é o caso da dissertação
de mestrado da Profª. Rejane Maria Gomes da Silva, com o
tema “A Universidade Estadual Vale do Acaraú e o Programa
Alfabe-tização Solidária: impactos e conseqüências sociais,
políticas e educacionais nos municípios da Região Norte do
Estado do Ceará”, apresentada na Universidade Estadual Vale
do Acaraú (UVA) Universidade Internacional de Lisboa (UIL).
Neste tra-balho a autora, que atuou como coordenadora da
AlfaSol no município, buscou um resgate histórico das políticas de educação de jovens e adultos nas reformas educacio-
30 Escrevendo Juntos
nais deste século, analisando as concepções de alfabetização
de jovens e adultos concebidos ao longo da história da educação no Brasil, ao mesmo tempo em que fez uma análise
a respeito dos objetivos, finalidades e proposta pedagógica
adotada pela Alfabetização Solidária. “É um estudo voltado
para a reflexão sobre o resgate da cidadania das classes populares, visando a conquista da autonomia individual e coletiva,
além da redução da discriminação e exclusão social impostas
aos sujeitos sociais na condição de analfabetos”, explica ela.
Muito embora inúmeras articulações acadêmicas tratem de
um estudo local do impacto da AlfaSol em municípios onde
o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) merecia uma
análise mais aprofundada, também há trabalhos onde o modelo de operações da organização é estudado para possíveis
novas aplicações, como na tese de doutorado desenvolvida
pela educadora Maria Angélica Batista, que leva o título de
“A formação de alfabetizadores no Programa Alfabetização
Solidária: um estudo a partir da práxis”, apresentado na Pontifícia Universidade Católica (PUC). Maria Angélica, que atou
como capacitadora da AlfaSol na Universidade Mogi das Cruzes (UMC) realizou o trabalho com o objetivo de contribuir
com as políticas públicas de Educação de Jovens e Adultos no
país, concentrando-se na figura do alfabetizador, na ação formadora que incide sobre ele e na formação que ele realiza em
seus alunos. “Também achei importante discutir a compreensão que os alfabetizadores têm do seu papel e as possíveis
mudanças em suas vidas após a capacitação oferecida pela
organização, passando pela atuação do alfabetizador na vida
comunitária onde se insere o núcleo durante e após a duração
do módulo de alfabetização”, esclarece a professora.
Sem dúvida esses trabalhos acadêmicos acabam se consolidando como iniciativas que promovem uma valiosa análise
crítica do próprio programa, também colaborando para seu
aperfeiçoamento.
É sempre bom que a AlfaSol sirva de medida para análises científicas que levam à novas conclusões e, logo, novas
soluções. Sem dúvida todos nós ganhamos com isso: os alunos, os alfabetizadores, o meio acadêmico e, é claro, o Brasil.
Foto: Regina Scomparim
Notas
Investco é o mais novo parceiro da AlfaSol
AlfaSol, Siderúrgica Viena e OIT:
juntos contra o trabalho escravo
A Investco, empresa responsável pela construção, operação e manutenção da Usina Hidrelétrica Luís Eduardo Magalhães - UHE
Lajeado, é um dos mais novos parceiros da Alfabetização Solidária.
Pela parceria, firmada para os próximos dois anos, seis municípios
do Estado do Tocantins serão beneficiados pela implantação de três
ações distintas: o Programa Nacional de Alfabetização, pelo qual é
oferecido curso de alfabetização inicial para jovens e adultos; o Projeto de Complementação Nutricional (Merenda), para complementar
a dieta dos alfabetizandos durante o período de aulas, e o Projeto
Ver, que tem como foco a realização de consultas oftalmológicas e
distribuição gratuita de óculos à população atendida pela parceria.
A empresa, que tem como valor corporativo ações de responsabilidade
socioambiental, optou por atender aos municípios de Miracema do
Tocantins, Brejinho de Nazaré, Tocantínia, Porto Nacional, Ipueiras e
Lajeado, com o intuito de fortalecer o relacionamento com as comunidades onde atua. Para a Investco, o analfabetismo é uma questão
nacional e o trabalho de alfabetização realizado pela AlfaSol modifica
realidades dando autonomia e cidadania às pessoas. “É uma satisfação
para nós, da Investco, participar de um projeto de transformação da
sociedade, como é o da AlfaSol. Através dele, temos a certeza de
contribuir para a inclusão social e garantir o direito à cidadania para
milhares de brasileiros do Tocantins”, afirma o presidente da Investco,
Evandro César Camillo Coura.
De acordo com a superintendente executiva da AlfaSol, Regina Célia Esteves de Siqueira, o fato da AlfaSol ser escolhida como parceira
pela Investco reforça ainda mais a credibilidade e a seriedade que o
trabalho desenvolvido pela organização conquistou ao longo de seus
onze anos de atuação.
Uma nova parceria estabelecida pela Alfabetização
Solidária envolvendo a Organização Internacional do
Trabalho (OIT) e a Siderúrgica Viena, uma das maiores produtoras de ferro-gusa do Brasil, está realizando
um trabalho para prevenir um problema que, embora
pareça ser antigo, ainda hoje acontece em algumas
regiões do Brasil: o trabalho escravo. É o caso de
Pequiá, município de Açailândia (MA), que apresenta
casos freqüentes de aliciamento para o trabalho escravo apesar de nos últimos anos ter tido forte desenvolvimento econômico devido ao crescimento do seu
parque industrial. Além de contribuir para a prevenção
do trabalho escravo, o projeto “Prevenção do trabalho
escravo e inclusão educacional de cidadãos resgatados
no distrito de Pequiá, município de Açailândia (MA),
por meio da Educação de Jovens e Adultos (EJA)”
também objetiva a reinserção social dos trabalhadores já resgatados e o desenvolvimento e ampliação
de políticas públicas voltadas ao combate do trabalho
escravo no distrito maranhense. Para tanto, as ações
que envolvem o projeto terão o propósito de contextualizar todos os temas relacionados ao trabalho escravo
no curso de alfabetização, de forma que a população
atendida fique menos vulnerável ao trabalho escravo
e também mais apta a entrar no mercado de trabalho
formal. A capacitação dos 15 alfabetizadores que estão ministrando as aulas aos 375 alunos inscritos no
curso foi realizada pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Campus Imperatriz, IES parceira da
Alfabetização Solidária.
Segundo informações do relatório da OIT denominado “Trabalho Escravo no Brasil do Século XXI”, de
2006, o trabalho forçado é um problema mundial,
que atinge aproximadamente 12,3 milhões de vítimas. Tocantins, Maranhão e Piauí são as principais
regiões fornecedoras de mão-de-obra para a atividade escravagista no Brasil. As aulas tiveram início
logo após a capacitação, que aconteceu em outubro.
Cepal concede à AlfaSol “Menção Honrosa Especial”
Em evento realizado em Porto Alegre, entre os dias 5 e 7 de dezembro, a comissão julgadora do Prêmio Experiências em Inovação Social , uma
iniciativa da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com o apoio da Fundação W.K. Kellogg, reconheceu a dimensão
da Alfabetização Solidária e criou uma nova categoria para conceder à organização uma “Menção Honrosa Especial”. “É um projeto altamente bem-sucedido que atende a comunidade, unindo os setores público, privado e a sociedade civil para reduzir de maneira significativa o
analfabetismo”, emitiu a Comissão ao anunciar o resultado.
Para apontar os premiados, a organização do prêmio analisou aproximadamente 800 inscrições com o objetivo de identificar e reconhecer iniciativas inovadoras na área de desenvolvimento social, a fim de difundir experiências e contribuir para a melhora das práticas e das
políticas sociais da população dos países da América Latina e Caribe. As avaliações dos finalistas do prêmio, que está em sua terceira
edição, começaram no final de 2006 e foram bastante rigorosas. Foram avaliadas, por exemplo, toda a sistemática de trabalho e custos da
Alfabetização Solidária, que ainda recebeu a visita de um perito que percorreu todas as áreas, visitou salas de aula e entrevistou parceiros.
No evento realizado em Porto Alegre, a AlfaSol apresentou o alfabetizando Sebastião Freitas de Lima, 29 anos, que contou todas as mudanças positivas que ocorreram em sua vida após ser alfabetizado pela Organização. “Mais do que números, nossos resultados são feitos de
transformações na vida de nossos ex-alunos. E isso é altamente gratificante e nos impele a continuarmos firmes em nosso propósito”, afirma
a superintendente executiva da AlfaSol, Regina Célia Esteves de Siqueira.
31
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) acaba
de divulgar os indicadores apresentados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), ano-base 2006. A pesquisa, como indica o próprio nome, é feita por amostragem
em residências localizadas em todas as regiões do Brasil e tem
o objetivo de levantar características socioeconômicas, como
população, educação, trabalho, renda, habitação, entre outros
dados relevantes.
A queda nos índices de analfabetismo está entre os dados positivos apontados pela PNAD. Em números percentuais, na faixa
dos maiores de 10 anos, o analfabetismo foi reduzido em 4,2%
em relação a 2005, ou seja, há menos 600 mil analfabetos no
Brasil. Ainda nesse grupo, a taxa de analfabetismo baixou dos
10,2% em 2005 para 9,6% no ano passado, enquanto que
para as pessoas de 15 anos ou mais, a taxa de analfabetismo em
2006 era de 10,4%, 0,7 ponto percentual inferior à de 2005.
Embora a taxa de analfabetismo tenha caído em todas as
regiões brasileiras, as disparidades regionais continuam. O Nordeste permanece com o índice mais alto, 18,9%, mais que o
triplo da região Sul, que ostenta o índice de 5,2%. A região
Norte mantém ainda dois dígitos na taxa de analfabetismo, ou
seja, de 10,3%.
O analfabetismo funcional continua elevado. Uma pessoa é
classificada como analfabeta funcional se é incapaz de utilizar a
leitura e a escrita para continuar aprendendo e se aperfeiçoando. Em 2006, 23,6% de pessoas de mais de 10 anos de idade
eram analfabetas funcionais, índice 1,3% menor que em 2005.
Em todas as regiões, de 2005 para 2006, houve decréscimo
dessa taxa, sendo mais forte no Norte - reduziu de 29,7%
para 28,5% - e Nordeste – baixou de 37,5% para 35,5%.
O Nordeste permanece com a média de anos de estudos mais
baixa do País. Enquanto que o Sudeste apresenta a média mais
alta (7,5 anos), seguido de perto pelo Sul (7,2 anos), o Nordeste
registra 5,6 anos.
Foto: Petrônio Cinque
Taxa de analfabetismo cai em
2006, aponta PNAD
Alfabetização Solidária recebe troféu
“Hall da Fama” do Top of Mind 2007
A AlfaSol foi homenageada com o prêmio especial “Hall da
Fama” do Top of Mind para Fornecedores RH 2007. A diretora de Desenvolvimento Institucional da Organização, Claudia
Amalfi Marques, recebeu o prêmio das mãos do ex-ministro da
Educação, Paulo Renato, em cerimônia realizada em novembro
na casa de espetáculo Tom Brasil, em São Paulo .
A indicação da Alfabetização Solidária foi feita pelo comitê técnico do prêmio Top of Mind, na intenção de manifestar “reconhecimento da organização à Associação e repercutir para
a comunidade empresarial e os profissionais de RH o trabalho
valoroso que vem sendo realizado”. Pelo 10º ano consecutivo,
o Top Of Mind Fornecedores para RH apresenta ao mercado as
empresas que estão mais presentes na memória dos profissionais, aquelas que desenvolveram o melhor esforço de comunicação e relacionamento junto ao seu público alvo.
“Ficamos muito satisfeitos quando outras áreas que não as
exatamente afins com nosso trabalho, como Educação e Terceiro Setor, manifestam seu reconhecimento ao trabalho desenvolvido pela AlfaSol. Significa que os resultados dos esforços empreendidos pela Organização e por seus parceiros estão
sendo aplaudidos por toda a sociedade”, comemora a superintendente executiva da Alfabetização Solidária, Regina Célia
Esteves de Siqueira.
Uma história para refletir
Saído da cidade de Imperatriz no estado do Maranhão e recém-chegado a Parauapebas, no Pará, Reginaldo Silva de Souza, 26, logo ficou
sabendo sobre a abertura de vagas para alfabetizadores de jovens e
adultos e se inscreveu para o processo de seleção. Quando viu seu
nome impresso na lista dos selecionados, mal acreditou. “Pensei que
nunca iriam me chamar, pois no fundo era muito inseguro e me perguntava se realmente eu seria capaz de ensinar”, diz. Vindo de uma
criação simples e com poucos amigos durante sua vida, a insegurança
de Reginaldo tinha um motivo: sua extrema timidez dificultava seu
contato social. “Quando vi que a capacitação seria de uma semana
e horário integral entrei em pânico. Eu não queria ficar em uma sala
cheia de gente, trancado por esse tempo todo. Eu tinha um problema com as relações pessoais, posso dizer até que tinha uma certa
fobia social. Por alguns momentos cheguei a ficar triste por ter
passado porque eu tinha claro na minha cabeça que eu não iria
conseguir”, lembra ele.
Ele não esperava que a semana destinada a seu treinamento tivesse
tanta influência sobre sua vida para sempre. Após freqüentar o curso
de capacitação de alfabetizadores, ministrado no município em parceria com a Universidade Federal do Pará (UFPA), ele relata que sentiu
como se aquele fosse o primeiro dia do resto de sua vida. “A semana
de capacitação inicial que eu tinha medo de enfrentar passou tão
rápido que pareceu meia hora. O curso foi importantíssimo não só
32 Escrevendo Juntos
para aprender a como lidar com os alunos e a desenvolver o trabalho com eles, mas também para me reintegrar socialmente. Mesmo
desconhecido na cidade, fiz amigos, conheci pessoas e hoje sou bem
mais extrovertido. Mudou minha vida”, conta sorridente.
Reginaldo lembra também que teve outro sonho realizado pela AlfaSol, o de possuir uma conta bancária. “Eu já havia tentado por várias
vezes ter uma conta em um banco, com direito a cheques e cartão
de crédito, mas é uma burocracia muito grande e eu não tinha como
comprovar renda. Até que um dia eu recebi uma carta da AlfaSol
informando que havia uma conta aberta no meu nome”, explica
referindo-se à conta aberta pela organização para que os alfabetizadores possam receber a bolsa auxílio. “Hoje tenho até cartão de
crédito. Me ajuda muito, uso em todo lugar”, diz.
Atualmente, além de atuar como alfabetizador, Reginaldo também
estuda mecânica e garante que irá continuar os estudos. Já pensa
no futuro e pretende trabalhar na Vale. “Tenho muitos planos e
devo tudo o que tenho hoje a experiência que a AlfaSol e a Vale
me proporcionaram por meio do programa Vale Alfabetizar aqui em
Parauapebas. Sou muito grato”. Tão grato que teve a idéia de contar
sua história de vida e está escrevendo um livro relatando seu caso, e
diz que ainda pretende publicá-lo. “Quero que mais pessoas possam
ser ajudadas como eu fui. Se hoje eu sou mais feliz, todo mundo pode
ser”, conclui.
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Faculdades SPEI
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Universidade Cruzeiro do Sul
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Universidade de Brasília
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