CONTEXTOBaixe a edição especial do Jornal Contexto

Transcrição

CONTEXTOBaixe a edição especial do Jornal Contexto
L
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JORNAL
C
PE
ES
CON
TEXTO
Ano 13
São Cristóvão/ SE
Maio de 2015
www.contextoufs.com.br
Jornalismo Investigativo
Aliados a processos e ameaças, profissionais conciliam a ética e o interesse público
3/4
A religião que mais cresce
Nos próximos 20 anos, o islamismo deve
passar dos atuais 1,3 bilhões para 2,2
bilhões de seguidores no mundo
6/7
Gastronomia
Tradição e cultura são símbolos da culinária sergipana
Contexto Especial v3.indd 1
14/15
Esporte
Fisiculturismo e as
consequências da busca
pelo corpo perfeito
10/11
06/05/2015 12:56:31
EDITORIAL
2
“
A união faz a força!” E fez uma edição especial do nosso
Jornal Laboratório – Contexto concretizar-se! Implementamos uma verdadeira força-tarefa para, em poucos dias,
conseguir o básico para que você leitor pudesse ler agora essa
edição. Nossos professores suaram a camisa para conseguir a
sonhada impressão do jornal, garimpar o acervo e selecionar
o conteúdo jornalístico a partir das edições publicadas apenas
virtualmente. Enquanto isso, nossos alunos responsáveis pela
diagramação aceitaram o desafio para pensar um layout bacana
e que permitisse uma leitura agradável. O resultado você tem
agora em mãos: a EDIÇÃO ESPECIAL do CONTEXTO para a II
Mostra IN-Comunicações.
Essa edição é apenas um “aperitivo” do conteúdo jornalístico produzido a partir da parceria das turmas Laboratório em
Jornalismo Impresso (2014.1 e 2014.2) e Planejamento Visual
2 (2015.1). Sim! Aperitivo! Porque a “degustação” completa do
CONTEXTANDO
acervo está disponível virtualmente (ISSU: contexto-ufs). E,
por falar em degustar, que tal conhecer os sabores de Sergipe?
Nossa equipe de reportagem preparou um excelente roteiro
gastronômico para você leitor. Seguindo o ritmo dos sabores regionais, você sabia que a mangaba é a fruta símbolo de Sergipe?
Tem mais: Em tempos de intolerância e conf litos religiosos mundo afora, visitamos o Centro Cultural Islâmico
de Sergipe, onde os muçulmanos se reúnem para orações
e sermões. Para os amantes dos aplicativos de bate papo,
trazemos uma ref lexão sobre o uso do WhatsApp. Aos que
sonham com o corpo perfeito um alerta: dietas malucas podem colocar sua saúde em risco. Conheça também a história de Jeferson Santos, campeão sergipano e brasileiro de
bodybuilding. E, claro, não poderíamos deixar de fora uma
autorref lexão sobre a prática jornalística investigativa. Boa
Leitura!
In-Comunicações: Programação
Horário
Sábado
Orientação Pedagógica: Jornalismo
09h-12h
14h-18h
18h-21h30
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Seminário de pesquisa
Seminário de pesquisa
Seminário de pesquisa
Seminário de pesquisa
GT1 – Estudos de R
ecepção e Audiência.
(08h às 10h)
Coordenação: Prof.
Mario Cesar Oliveira
GT3 – Usos de publicidade e propaganda
(08h às 10h) Coordenação: Prof. Renata
Malta
GT 7 – Comunicação,
Economia e Política
(09h às 10h)
Coordenação: Prof.
Michele Tavares
GT2 – Análise de produtos Audiovisuais
(10h às 12h)
Coordenação: Prof.
Erna Barros
GT4 – Estudos em
Cibercultura (10h às
12h)
Coordenação: Prof.
Aline Lisboa
GT 5 – Análise de
Conteúdo – Revistas
Impressas (08h às
10h)
Coordenação: Prof.
Vitor Braga
GT 6 – Usos do Jornalismo (10h às 12h)
Coordenação: Prof.
Josenildo Guerra
Oficina Atendimento
Publicitário: da “faixa
de Gaza” ao brief (Jamil Rosemberg - Base
Propaganda)
Moda e Cidade:
Estilo pessoal e paisagem urbana
(Ruhan Victor Oliveira)
Oficina:
Maquiagem especial
para filmes de baixo
orçamento
Proponente: Camilla
Pedroza
Oficina: Foto UFS
Cidadão
Oficina: Mashup:
Propaganda eficaz na
era digital
(Rodrigo Menezes)
Oficina: Critica
Cultural
(Suyene Correia Mestranda do PPGCOM/UFS e Membro
ABRACCINE)
Oficina:
Critica Cultural
(Suyene Correia Mestranda do PPGCOM/UFS e Membro
ABRACCINE)
Empreendedorismo
Cultural:
Como e quando empreender cultura
(Ruhan Victor Oliveira)
Woekshow: Trajetória de uma Empresa
Jr. (Officina)
Oficina: Mídia e
Diversidade
(Bárbara Nascimento
- Jornalista e Mestranda do PPGCOM/
UFS)
Oficina: Mídia e
Diversidade
(Bárbara Nascimento
- Jornalista e Mestranda do PPGCOM/
UFS)
Oficina: Mídia e
Etnia
Laila Oliveira (Mestranda do PPGCOM/
UFS)
Orientação Pedagógica: Publicidade e
Audiovisual
Mostra de Filmes
Mostra de Filmes
Mostra de Filmes
Mostra de Filmes
Mostra de Filmes
Mostra de Filmes
Mostra de Filmes
Mostra de Filmes
Cerimônia de Encerramento
Festa de encerramento
(DACS)
Todos os
dias
MOSTRA DE FOTOGRAFIA + MOSTRA DE CARTAZES) + MOSTRA JORNAL MURAL
EXPEDIENTE
Universidade Federal de Sergipe
Campus Prof. José Aloísio de Campos
Av. Marechal Rondon, s/n, São Cristóvão - SE
Reitor: Prof. Dr. Angelo Roberto Antoniolli
Vice- Reitor: Prof. Dr. André Maurício C. Souza
Pró- Reitor de Graduação: Prof. Dr. Jonatas Silva Meneses
Diretora do CECH: Drª. Iara Maria Campelo Lima
Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo
Núcleo de Jornalismo: Prof. Drª. Greice Schneider
Fone: 2105-6919/ 2105-6921 Email: [email protected]
Coordenação Editorial: Prof. Ma. Michele da Silva Tavares (DRT 1195/SE)
Coordenação Projeto Gráfico: Prof. Dr. Vitor Braga (DRT –
1009/AL)
Contexto Especial v3.indd 2-3
Equipe Contexto - Edição Especial
Chefes de Redação: Ana Lúcia Carmo e Carolina Leite
Projeto gráfico: Demétrius Oliveira e Saullo d’Anunciação
Arte de capa: Hugo Fernandes
Revisão: Cleydson Santos, Fernanda Sales e Jéssica França
Reportagem: Alana Karolina Gois, Rosely Silva, Silas Brito, Aline
Souza, Igor Sá, Luzia Nunes, Bruno Cavalcante, Isadora Santos e
Marielle Rocha
Fotografia: André Teixeira, Bruno Cavalcante, Igor Sá, e Marielle
Rocha.
Diagramação: Cleanderson Santana, Ellen Cristina, Ítala Marquise, Helena Sader, Hugo Fernandes, Ícaro Novaes, Leilane Coelho, Lucivânia Santos,
Maria Belfort, Nathalia Gomes, Silvânio Júnior, Taís Cristinna e Yasmim
Freitas.
Site Oficial: www.contextoufs.com.br
3
INVESTIGAÇÃO: ESSÊNCIA DO
JORNALISMO
A essência do Jornalismo é a investigação. Essa seria a espinha dorsal de nossa profissão que, aliás, exige conhecimentos e muito investimento financeiro.
É
preciso salientar que para se fazer jornalismo investigativo em Sergipe, coisa que
poucos veículos ousam fazer - primeiro
pelo alto custo e segundo pela interferência
política -, é necessário ter ciência de que haverá a reação de setores antidemocráticos que
não respeitam a liberdade de imprensa para
tentar impedir o trabalho jornalístico e, com
isso, enfraquecer e até mesmo desmoralizar o
papel investigativo do jornalista.
Independente da interferência ou não
dos poderes político, econômico e judiciário,
o jornalismo investigativo terá sempre papel
de destaque e de relevância na sociedade, mas
é preciso ter cuidado com as inconveniências
que surgem no caminho do processo investigatório. Sob a ótica do julgador, encontram-se
casos em que a notícia transcende a apuração
e a divulgação dos fatos e invade o terreno do
Judiciário. Neste sentido, é preciso entender
que a investigação jornalística, como qualquer investigação policial, tem suas limitações que devem ser respeitadas.
O pressuposto da liberdade de imprensa
e de expressão não me dá o direito de atacar
outras liberdades ou de não respeitar os ditames das leis. O caso da Escola Base em São
Paulo é um exemplo de que uma investigação
mal conduzida nos faz reféns da própria liberdade de imprensa, que teoricamente nos faz
acreditar que estamos acima de qualquer li-
*Paulo Sousa
berdade. E é essa falsa impressão que nos leva
ao erro, muitas vezes, fatal.
Observo a necessidade de mais investimento das faculdades no campo do jornalismo investigativo, pois é um mercado ainda
pouco explorado pelas faculdades de Jornalismo, que têm o dever de preparar desde cedo
o futuro profissional de imprensa para uma
demanda de mercado crescente, mas que exige acima de tudo conhecimentos específicos
e responsabilidade social.
É necessário precisão, exatidão e profundidade nos fatos para a boa realização desse
trabalho. E para quem se interessa pelo ramo
do jornalismo investigativo, recomendo muita leitura, principalmente de textos que fogem da superficialidade.
Alguns princípios básicos que destaco
como pontos importantes para uma boa investigação, é sabermos que jornalismo investigativo não é reportagem de editorias, como
alguns jornalistas caem na ilusão de que toda
boa reportagem é uma matéria investigativa.
A investigação exige mais profundidade e
escavação. Jornalismo investigativo também
não é reportagem crítica, essa reportagem
pode fazer parte da matéria investigativa, mas
nunca será vista como uma produção investigativa. Outro erro é achar que a essência
do jornalismo investigativo está apenas na
cobertura de crimes e corrupção. Isso torna
limitado o alcance da matéria. O jornalismo
investigativo nada mais é do que uma abordagem sistemática para um palpite, o que exige
pesquisa e reportagem original e em profundidade.
Como disse David Kaplan, autor de Global Investigative Journalism, durante uma
conferência sobre jornalismo investigativo.
“O jornalismo investigativo deve seguir o método científico de formar e testar uma hipótese, juntamente com uma rigorosa verificação
de fatos, descobrindo segredos, com o foco na
justiça social e prestação de contas e no uso
pesado de registros públicos”.
Seguindo o entendimento do sociólogo e
cientista político francês Dominique Wolton,
que no 36º Congresso Nacional dos Jornalistas
defendeu que a imprensa deve ser vista como
o contra poder do sistema e nunca o quarto
poder, concluo, portanto, que para o bem da
sociedade e da democracia, a imprensa nunca
deve ser uma aliada do sistema, mas uma poderosa fiscalizadora deste e de qualquer outro
sistema que venha a ser implantado no país.
*É graduado em Jornalismo, especialista em Radiojornalismo e presidente do
Sindicato dos Jornalistas Profissionais do
Estado de Sergipe (SINDIJOR-SE).
JORNALISMO INVESTIGATIVO E A SOCIEDADE
Roberto Cabrini é considerado um dos principais jornalistas do Brasil, especializado em
jornalismo investigativo, coberturas de guerras e na defesa dos direitos humanos. Ao
Contexto, Cabrini fala do papel do jornalismo investigativo em sociedades democráticas
CONTEXTO: Para você, qual é o papel do
jornalismo investigativo nas sociedades
democráticas?
ROBERTO CABRINI: Pode-se medir o
grau de democratização de uma sociedade
pelo seu nível de jornalismo investigativo.
Não há democracia sem jornalismo independente.
C: Como você classifica o jornalismo investigativo brasileiro?
RC: Nosso jornalismo evoluiu muito se
tornando mais arrojado e mais responsável. Mas ainda há um longo caminho a ser
percorrido.
C: Qual é o limite de uma apuração investigativa complexa?
RC: O limite é o do bom senso, da responsabilidade e da legalidade... É preciso ousar mas sempre em investigações de claro
interesse coletivo.
C: Por que é necessário investir no jornalismo investigativo?
O investimento para o jornalismo investigativo é vital para a sua relevância. Sem
investimento em aprofundamento o jornalismo corre o risco de se tornar oficial,
tendencioso, leviano ou omisso.
Arquivo pessoal
06/05/2015 12:56:33
4
ESPECIAL
ESPECIAL
A ARTE DE APURAR
Jornalismo investigativo: da importância da notícia aos detalhes da narrativa. Jornalistas
falam sobre os limites éticos, técnicos e a incipiência da prática investigativa em Sergipe.
Marielle Rocha
[email protected]
A
final, o que é jornalismo investigativo? Costumamos ouvir que todo jornalismo por si
só é investigativo. No geral, as técnicas de
jornalismo são muito parecidas e o resultado final de uma reportagem é fruto da
apuração de um fato. Mas, o que diferencia o jornalismo investigativo dos demais
setores da atividade são as circunstâncias,
normalmente mais complexas, dos fatos,
além de sua extensão noticiosa e o tempo de duração quase sempre exercido sobre pressão que se divide em fases, entre
elas, pesquisa minuciosa, concentração,
perseverança, atenção especial, conhecimento policial básico, muitas entrevistas,
desconfiança, frieza e coragem.
Muito se discute sobre o comportamento do jornalista diante das circunstâncias de uma matéria que exige infiltração, dissimulação e, não raras vezes, doses
exageradas de perigo. Para a jornalista
Paula Coutinho, dependendo da investigação, não há limites para a apuração.
“Algumas coisas não tem limite, eu acho
que você tem que pesar: Quem você vai
prejudicar? O que é que isso vai interferir? Se essa apuração vai ajudar a resolver
Marielle Rocha
JORNALISMO INVESTIGATIVO X
ÉTICA PROFISSIONAL
Até onde é permitido ao repórter dissimular atitudes, usar gravadores escondidos, microcâmeras, passar-se por outra
pessoa, adotar outra identidade e, de fato,
violar leis? O fato é que essa questão tem
dois tratamentos, e em ambos, devemse valer do princípio da honestidade de
quem faz, das circunstâncias da reportagem, da intenção da pauta e dos limites que o bom senso e a ética impõem.
É muito importante que o discurso ético
não seja atropelado pela hipocrisia ou por
interesse de um e outro encastelado no
poder de plantão. Toda investigação jornalística, portanto, tem que ser ética.
O Código de Ética do Jornalista Brasileiro existe, está no papel, mas não ajuda
muito. Foi aprovado em 29 de setembro
de 1985 pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), a partir de uma discussão
levada a cabo pela categoria. No artigo
nove, inciso “f”, lê-se como dever de todo
jornalista: “combater e denunciar todas as
formas de corrupção, em especial quando
exercida com o objetivo de controlar informação”.
Contexto Especial v3.indd 4-5
Jornalista sergipana Paula Coutinho
um problema, se essa apuração vai achar
uma melhor verdade ou não”, defende.
Em relação às técnicas jornalísticas,
Paula é enfática: “Muita gente fala ‘ah,
mas é antiético, câmera escondida, é antiético isso, aquilo’, ok! E você acha que
você vai chegar a um estuprador e perguntar ‘você estuprou essa criancinha?’,
ele não vai te falar, óbvio! A gente tem que
ter a clara noção disso. O jornalismo investigativo, como o nome já diz, é porque
a pessoa não quer falar. O que a gente faz
é investigar isso. Então, sinceramente, pra
descobrir alguma coisa, pra mim não tem
limite”.
Quando se trata do relacionamento
com as fontes, Paula acrescenta: “Muitas
vezes as fontes acham que vão te enganar,
que vão te seduzir... Você tem que saber
ir retirando isso e muitas vezes você tem
que se disfarçar de uma coisa que você
não é”.
JORNALISMO
EM SERGIPE
INVESTIGATIVO
Segundo o presidente do Sindicato
dos Jornalistas de Sergipe (Sindijor), Paulo Sousa, o jornalismo investigativo em
Sergipe ainda é tímido, carece de grandes investimentos. “No geral, ele ainda é
tímido aqui em Sergipe. Na verdade, isso
representa algo ruim para a sociedade,
porque a sociedade ganha quando tem
um jornalismo investigativo; claro que
aquele jornalismo que age com ética, com
responsabilidade, obedecendo ao código
de ética da profissão”, comenta.
Em Sergipe, muitos profissionais respondem processos, seja por ter feito um
trabalho investigativo, ou por ter feito o
seu trabalho jornalístico rotineiro, ou até
mesmo por uma simples opinião que ele
fez no rádio, na TV, no jornal, na revista,
ou no próprio veículo pela internet. “Infelizmente, essa é a realidade em que a gente acredita que isso só vai ser combatido
com a aprovação do projeto de lei que está
no Congresso Nacional, que federaliza os
crimes contra jornalistas. Federaliza e, ao
mesmo tempo, intimida aqueles que não
querem permitir que o jornalista exerça a
liberdade de imprensa, a liberdade de expressão”, lamenta.
Para Jozailto Lima, editor-chefe* do
Cinform, jornal semanal sergipano, o jornalismo investigativo no Estado, apesar
de ser mal resolvido e se praticar pouco,
evoluiu. “Sergipe evoluiu um pouco, eu
vivo o jornalismo em Sergipe há 25 anos.
Quando eu cheguei
aqui as matérias
eram todas chapas
brancas, iam para o
jornal aquilo que o
governante queria.
Eu cheguei em 1990,
nós estávamos há
cinco anos do fim da
ditadura militar, e os
governadores ditavam a pauta do jornal. Acho que nesse
sentido, as pessoas
não
reconhecem,
mas o Cinform deu
um contributo enorme, com sua ousadia, com a liberdade
de fazer coisas que Jornalista Jozailto Lima
não tem fronteira,
que não segue a linha do governante de
plantão. Nenhum governador de Sergipe
dá manchete no jornal, mas os governadores de Sergipe, apesar de a mídia local
Marielle Rocha
ter melhorado,
continuam dando manchete nos
demais jornais.
Então,
houve
uma
melhora
sofrida, uma melhora que eu diria
que é carente de
mais intervenção,
de mais melhora”,
relata.
O jornalista
também destaca
as dificuldades
para se exercer o
jornalismo investigativo em Sergipe. “Para você
conseguir
algo
é muito difícil, porque
até mesmo as instituições que deveriam
colaborar são muito corporativas entre
si, como o Poder Judiciário, as diversas
esferas do Ministério Público, as contro-
5
ladorias... Todo mundo trabalha de certo
modo para ofuscar dados, então, praticar jornalismo investigativo é algo muito
complexo”, conta.
Por fim, Jozailto ressalta a pressão por
parte de vários setores da sociedade. “Já
sofremos processos, tivemos interdição e
censura no jornal, chantagem, gente que
liga dizendo que o jornal está a serviço de
uma outra instituição, todo mundo que
é investigado se acha no direito de mesmo errado, sentir-se invadido. Me sinto
precavido, eu diria que até numa escala
de intimidação, também me sinto intimidado, todo mundo intimida todo mundo,
mas a intimidação não é suficiente para
que você pare, para que você aborte o que
você está a fazer”, conclui.
* Atualmente, Jozailto Lima não
exerce mais a função na empresa citada na matéria.
IN-Comunicações promove debate sobre
violência contra jornalistas em Sergipe
A
Mesa de Abertura da II Mostra
IN-Comunicações abordará os
registros de violência contra os
jornalistas em Sergipe. A escolha da temática foi motivada em virtude do lançamento do “Relatório 2014: Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa
no Brasil”, organizado pela Federação
Nacional dos Jornalistas (Fenaj). Lançado em janeiro desse ano, o documento
revela que, em números absolutos, houve uma diminuição dos casos de agressões em comparação a 2013. No entanto,
há ainda muitos registros de assassinatos, entre outros casos de violência, contra profissionais de comunicação, sendo
a maioria durante protestos populares.
Em 2014, foram identificados 82 casos.
No ano anterior, foram 189 ocorrências.
prisões/detenções e violência contra organização sindical.
O relatório apresenta em detalhes
um panorama da violência contra jornalistas no Brasil, indicando os registros
por Região e Estado, por gênero e tipo
de mídia. Além disso, também descreve
os casos enquadrados em diversas categorias como: assassinatos, agressões
físicas, agressões verbais/ injúrias raciais, agressões durante manifestações,
ameaças e intimidações, assédio político, atentados, censura, cerceamentos à
liberdade de imprensa por ação judicial,
impedimentos ao exercício profissional,
O caso do jornalista sergipano Cristian Góes, enquadrado como “Cerceamento à liberdade de imprensa por ação
judicial”, ganhou inclusive repercussão
internacional, tendo em vista sua condenação por ter escrito e publicado em um
blog uma crônica ficcional, em maio de
2012. Na crônica, escrita na primeira pessoa, ele trata de um coronel, que manda
e desmanda, com a proteção de um “jagunço das leis”. O desembargador Edson
Ulisses, vice-presidente do Tribunal de
Em Sergipe, foram registrados três
casos, sendo que dois deles diretamente
relacionados ao exercício da profissão.
Classificado no relatório como “Ameaças e Intimidações”, destaca-se uma
ocorrência em 3 de junho de 2014, quando uma equipe de jornalistas do Portal
Infonet foi ameaçada por dois policias
civis, na saída da cidade de Salgado. Os
policiais ainda quebraram os celulares e
a máquina fotográfica da equipe, que foi
até Salgado para fazer uma reportagem
sobre o suposto assalto a um taxista, praticado por um enteado do secretário de
Estado de Segurança Pública. A equipe
foi abordada pelos policiais logo após
entrevistar alguns moradores da cidade.
Justiça de Sergipe, sentiu-se ofendido e
processou o jornalista civil e criminalmente. Em ação civil, Cristian foi condenado a pagar R$ 30 mil de indenização
por danos morais ao desembargador. Na
ação penal, foi condenado a sete meses e
16 dias de prisão, convertidos em prestação de serviços comunitários.
O terceiro caso, classificado como
“Assassinato de outros profissionais da
comunicação”, remete ao assassinato do
radialista Iran Machado, 55 anos, que
foi morto a tiros na porta de sua casa, na
cidade de Itabaiana. Ele trabalhava nas
rádios São Domingos FM e Capital do
Agreste e era conhecido pela irreverência
nas transmissões de futebol. O criminoso não foi identificado.
O momento inaugural da Mostra
acontece no dia 08 de maio, a partir das
19h, no Centro de Cultura e Arte (Cultart), da Universidade Federal de Sergipe
(UFS). Na ocasião, os dois casos registrados em Sergipe pela Fenaj serão debatidos pelo Presidente do Sindicato dos Jornalistas de Sergipe (Sindijor-SE), Paulo
Sousa, além de contar com a presença
do jornalista Cristian Góes e da diretora
de jornalismo do Portal Infonet, Raquel
Almeida.
(Fonte: Ascom/IN-Comunicações)
06/05/2015 12:56:39
6
MUNDO
MUNDO
ção de indivíduos modernos,” explica
Rodorval.
ISLÃ CRESCE PELO MUNDO
Dos sete bilhões de habitantes no planeta, cerca de 1,3 bilhão são muçulmanos
representando 25% da população mundial.
Bruno Cavalcante
[email protected]
Além da língua, a facilidade para se
tornar um muçulmano também tem colaborado para o crescimento deles no Brasil. A reversão acontece quando a pessoa
diz por três vezes a frase diante de um
interlocutor: “Não há Deus se não Deus e
o Profeta Muhammad é seu mensageiro”.
Depois dessa etapa de confissão, a pessoa
passa a praticar as cinco orações diárias,
fazer caridade aos mais necessitados, participar do jejum durante o mês do Ramadã e, se tiver condições financeiras, faz a
peregrinação à cidade saudita de Meca.
REVERSÃO
Bruno Cavalcante
“São 17h45. Está na hora da oração da
tarde”, avisa Fagner Santos, convertido há
três dias, interrompendo a entrevista. Ele
se levanta, pede licença e vai apressado
ao banheiro. Lava as mãos, em seguida a
boca, barba e orelha, umedece os cabelos
e entra no salão do Centro Islâmico.
Ajoelhado, ora por cerca de cinco minutos.
C
erca de um milhão de muçulmanos estão no Brasil, sendo
que a maioria dos seguidores do
Islã encontram-se na Ásia e no Oriente
Médio. Atualmente, o islamismo é a religião que mais cresce perdendo apenas
para o cristianismo. Os dados apontam,
portanto, que os admiradores de Alá fazem parte de uma realidade social, política e religiosa em âmbito mundial.
Desconhecido pela grande maioria, o
Islã é vítima de preconceito por está associado a casos de terrorismo. Homens
bombas e fanáticos religiosos pregando
a morte de infiéis estão numa minoria
disposta a matar e morrer, movida por
teorias segundo as quais um “fiel suicida”
garantiria um lugar de honra no paraíso. Esses são movidos pelo fanatismo e a
interpretação ao pé da letra de textos sagrados. O verdadeiro muçulmano nega a
violência e prega a união de preceitos e a
busca da paz para a humanidade.
Pouca gente sabe, mas na Rua Nestor Sampaio, no bairro Luzia, funciona
o Centro Cultural Islâmico de Sergipe.
Contexto Especial v3.indd 6-7
Criado em janeiro deste ano, o centro tem
o objetivo de esclarecer equívocos sobre o
Islã e divulgar os verdadeiros ensinamentos da religião para a comunidade sergipana. Muçulmanos de Aracaju, Areia Branca, Itabaiana, Itabaianinha e Simão Dias e
até mesmo de outros países aproveitam o
espaço para as orações e sermões.
CRESCIMENTO DO ISLAMISMO
Com o crescente número de fiéis e de
líderes, o aumento de mesquitas e centros
islâmicos torna-se necessário. Hoje são
115 espalhados pelo Brasil, em 2005 eram
70. O representante dos muçulmanos em
Sergipe, Bruno Gabriel, acredita que o
aumento se dá pela divulgação da religião
em língua portuguesa. “Há mais líderes
falando e ensinando o Islã em português.
Isso ajuda no entendimento e divulgação
da religião”, disse Bruno.
A língua tem sido o fator principal
para a reversão de brasileiros sem origem muçulmana. No Islã todos nascem
muçulmanos, por isso quando se fala de
novos adeptos eles não usam a palavra
“conversão”, mas sim “reversão”. Bruno
também explica que os líderes religiosos
não tinham o incentivo a se dedicarem ao
idioma, pois o desejo era retornar para o
Oriente Médio, mas o pensamento deles
vem mudando por pensarem em se estabelecer no Brasil.
Ainda sobre o crescimento do Islamismo, o sociólogo Rodorval Ramalho
afirma que existem muitas razões para
uma pessoa se converter ou trocar de
religião. A mudança ocorre desde a necessidade de apoio para enfrentar o cotidiano e a busca de sentindo para a vida.
“Os processos de conversão não devem
ser vistos como novidade. No começo do
Cristianismo, por exemplo, as mulheres
se converteram em massa, pois aquela
nova religião lhes tratava como iguais
aos homens. No mundo moderno, com
o pluralismo religioso, as conversões são
mais comuns, tendo em vista que cada
indivíduo escolhe a religião que quiser.
No caso do Islã, é interessante observar
que uma religião tão restritiva ao individualismo moderno chame tanto a aten-
Não é preciso ter nascido muçulmano
ou ser casado com um praticante da religião. Também não é necessário estudar
ou se preparar especialmente para a ocasião. A reversão acontece quando a pessoa
diz por três vezes a frase “Não há Deus se
não Deus e o Profeta Muhammad é seu
mensageiro” diante de um interlocutor.
Depois dessa etapa de confissão a pessoa
passa a praticar as cinco orações diárias,
a fazer caridade aos mais necessitados,
participa do jejum durante o mês do Ramadã e, se tiver condições financeiras, faz
a peregrinação à cidade saudita de Meca.
Mas voltando para o Fagner, ele mora
no município de Lagarto a 75km da capital. Há oito anos era evangélico, se converteu ao Islamismo porque precisava
de algo que o acalmasse espiritualmente.
“Sempre tive muita fé em um Deus supremo, mas me faltava alguma coisa. Agora,
se Deus quiser, morrerei muçulmano”,
explica Fagner.
Quem se converteu há um ano foi
Paulo Andrade. Ele conheceu o Islã por
meio de um amigo muçulmano, numa
época em que só queria saber de diversão. “Gostava de beber, de cair na noite.
Tinha uma irresponsabilidade típica dos
jovens”, conta Paulo. Quando anunciou
sua decisão de se converter ao islamismo,
a família católica ficou apreensiva. As piadinhas, como “vai virar terrorista”, duraram pouco tempo. “Quando perceberam
a mudança da minha postura, das minhas
atitudes, viram que a religião estava me
fazendo bem. Na primeira vez que minha
mãe me viu jejuando durante o Ramadã,
ela se emocionou e chorou”, relata Paulo.
A LIGAÇÃO DO MUNDO ISLÂMICO COM O TERRORISMO
Onde se veem conflitos envolvendo os
muçulmanos, eles podem ser explicados
pelas diferenças internas, aliadas à miséria e à carência de educação, que contribuíram para o surgimento de grupos
fundamentalistas religiosos movidos pelo
fanatismo e interpretação ao pé da letra
de textos sagrados. A maioria dos muçulmanos é contra os ataques suicidas e
considera um pecado extremo, uma ofensa contra Alá, na medida em que atenta
contra o dom da vida.
7
As muçulmanas se dizem protegidas
ao usar o acessório. Quanto ao calor,
alegam sentir-se melhor do que parece
porque os trajes as protegem do sol. “A
mulher tem de conhecer a religião para
André Teixeira
Algumas opiniões de muçulmanos em
Sergipe sobre o assunto:
“No verdadeiro Islã, o terror não existe.
No Islã, matar um ser humano é um ato
tão grave como a infidelidade. Ninguém
pode matar um ser humano. Ninguém
pode tocar numa pessoa inocente, inclusive nos tempos de guerra.” – Bruno Gabriel
“O Islã tem respeitado sempre diferentes pontos de vista e ideias, e isto
deve ser entendido para que possa ser
valorizado adequadamente. Lamento dizer que nos países onde vivem os
muçulmanos, alguns líderes religiosos
e muçulmanos imaturos não têm mais
armas à mão do que sua interpretação
fundamentalista do Islã. Usam-na para
atrair algumas pessoas para lutas que
servem para seus próprios propósitos.”
– Mustafá
“Uma das pessoas mais odiada no
mundo é Osama Bin Laden, por ter manchado o nome do Islã. Criou uma imagem muito ruim. Inclusive, ainda que
tentássemos todo o possível para reparar
o terrível dano ocorrido, levaríamos anos
para repará-lo.” – Fagner Santos
“É nosso erro; é um erro da nação. É
um erro da educação. Um muçulmano
de verdade, alguém que entende o Islã
em todos seus aspectos, não pode ser um
terrorista. É duro para uma pessoa ser
muçulmana se está envolvido com terrorismo ao mesmo tempo. A religião não
permite o assassinato de pessoas para
cumprir uma meta.” – Edivilson Ramos
TRAJES
O uso do véu é um dos traços culturais
que mais chamam atenção daqueles que
não são muçulmanos, principalmente
das mulheres. Em Aracaju, onde o calor é
muito forte, as pessoas não muçulmanas
questionam a adoção do traje, que acompanha roupas folgadas que cobrem todo o
corpo, mas quem usa pouco se importa.
saber os motivos pelos quais usa o véu”,
diz Kátia Ahmad , 32 anos. Natural de
Estância, ela casou com um muçulmano
e acabou se envolvendo com o islamismo.
A adoção do véu é uma norma do islamismo registrada no Alcorão, uma das
ordens que Deus enviou aos muçulmanos. “A mulher é chamada a se proteger,
a cobrir seu cabelo e se vestir com roupa
adequada, seja durante os momentos
da oração ou no dia a dia”, diz Kátia. Ao
contrário da mulher, o homem não precisa se cobrir porque não chama atenção
como a figura feminina. Kátia lembra da
diferença entre o véu e a burca. “O véu é
usado pelos muçulmanos, a burca não.
Não é um ato islâmico, é um costume
afegão”, explica.
CURIOSIDADES
1. Todos os ensinamentos contidos no
Alcorão têm força de lei.
2. Alá é o nome do Deus único do islamismo.
3. Alcorão que dizer o livro, assim como
a palavra bíblia.
4. No Alcorão, Alá é identificado por 99
adjetivos. Três deles são “pacificador”,
“misericordioso” e “clemente”.
5. Maria, mãe de Jesus, é a única mulher
que o Alcorão chama pelo nome.
6. Jesus Cristo é citado 25 vezes no alcorão. Ele aparece ora como filho de Maria
ora como o messias Jesus, filho de Maria.
Mas, para o islamismo, Jesus Cristo foi
apenas um profeta.
7. Segundo os muçulmanos, os ensinamentos de Jesus Cristo foram mal interpretados pelos cristãos.
06/05/2015 12:56:44
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SAUDE
SAUDE
9
A BUSCA PELA BELEZA
Quando os parâmetros que “ditam” o corpo perfeito causam riscos à saúde.
Alana Karolina Gois e Rosely Silva
E
star magra, com silicone nos seios,
cintura impossivelmente fina e
um rosto que traduz a mais perfeita beleza. Estes são os requisitos básicos para um corpo ideal que alimenta a
ilusão feminina. Ao longo dos anos, seja
pela televisão, pelo cinema ou pelas propagandas, mulheres surgem sem qualquer imperfeição física. Vemos modelos
magérrimas desfilando nas passarelas e
tudo é repassado como se todas as mulheres devessem ser da mesma maneira
que elas: magras e usar manequim 36.
Estamos numa época em que as pessoas
não são mais avaliadas por sua cultura ou
ideais. O que importa agora é “ser” como
Gisele Bundchen ou até mesmo Panicat.
Trata-se de um problema social, que desenvolve o preconceito e a discriminação
para aqueles que não se encaixam no padrão exigido nos dias de hoje.
E para tentar ficar bem com o próprio
corpo, os malabarismos são variados. A
submissão vai desde as mais simples,
como cosméticos, até cirurgias radicais
e dietas malucas. No meio dessa batalha
pela perfeição, estão as jovens que crescem com a ideia de que só serão aceitas
se seguirem esse padrão. A partir disso,
surgem os mais variados processos cruéis
de beleza: passar fome, fazer exercícios
exagerados, tudo vale para serem iguais
às modelos de capa de revista. Na busca
incessante pelo corpo ideal, a aversão à
aparência se desenvolve e, ao olhar-se no
espelho, até 2% da população mundial
se assusta com sua própria aparência. É a
partir daí que vemos surgir o Transtorno
Dismórfico Corporal (TDC), conhecido
também como dismorfia corporal ou
dismorfobia. Segundo a psicóloga Maria
Luísa Teodoro, o transtorno é psicológi-
Contexto Especial v3.indd 8-9
co e a pessoa acredita ter defeitos físicos
que não possui ou então, possui em um
nível mínimo, mas acredita ser acentuado. O distúrbio ocorre em ambos os sexos
e é comum que o dismórfico desenvolva
transtornos alimentares, como anorexia,
bulimia ou compulsão alimentar.
De acordo com a nutricionista Leilane Viana, os transtornos alimentares
são doenças mentais que envolvem basicamente o consumo de alimentos e tem
como sintomas a preocupação excessiva
com o peso, alteração da imagem corporal e medo patológico de engordar. “A
maioria dos pacientes que tem transtorno alimentar são jovens. No caso da bulimia e da anorexia o público maior são
as mulheres. Diminuiu bastante a faixa
etária dos pacientes com a doença, mas
hoje varia entre 15 a 40 anos”, explica.
Quem desenvolve anorexia tem o
medo extremo de ganhar peso, restringindo alimentos e ingerindo uma quantidade mínima de calorias por dia. Ao
se olhar no espelho, as pessoas se veem
obesas, mas na verdade estão caquéticas.
Já a bulimia caracteriza-se por longos períodos de compulsão alimentar, seguidos
por episódios de vômitos autoinduzidos.
Nesse caso, os bulímicos têm o peso
dentro da normalidade, mas têm medo
de ganhar mais. Esse transtorno lembra muito a compulsão alimentar, que
também apresenta longos períodos de
ingestão de alimentos muito calóricos,
só que sem induzir o vômito. As consequências são as mesmas de uma pessoa
obesa, como pressão alta, colesterol alto,
diabetes e problemas do coração.
A psicóloga acredita que os transtornos ocorrem porque o indivíduo não
se aceita e deseja se
transformar no que
a mídia impõe.
“A pessoa pode
até não se
sentir mal da
forma que é,
mas a mídia
e os amigos ao
redor impõem
que você não
pode ser gorda,
por isso busca-se
formas incorretas,
como induzir o vômito,
exercícios excessivos, diuréticos e laxantes. Eles não
medem esforços para ficarem
o mais magros e torneados
possíveis”, explica Maria Luísa.
Existem também alguns fatores biológicos que contribuem
para o desenvolvimento dos transtornos alimentares. Essa pré-disposição à doença, de acordo com a psicóloga, pode nascer na gestação, quando
a mãe se preocupa exageradamente em
não engordar, fazendo com que o feto
absorva essas preocupações e se torne
uma criança menos sadia. Porém, Maria Luísa acredita mais no desencadeamento do transtorno através da parte
psicológica, atingida pela influência
externa, inclusive da mídia. “Lógico
que a parte biológica tem a sua influência, mas a partir do momento em
que vou ao médico, percebo que tenho
algumas deficiências de nutrientes e
busco me tratar, fica tudo mais tranquilo. Mas quando reunimos a ausência de nutrientes e a parte psicológica, o caso fica mais sério”, ressalta.
A VIDA IMITA A ARTE
OU A ARTE IMITA A
VIDA?
Através de seus produtos –
telenovelas, seriados, programas,
entre outros - a mídia vem apresentando a discussão sobre esses
transtornos alimentares. Exemplo
disso foi a novela Páginas da Vida, escrita por Manoel Carlos e exibida entre
os anos 2006 e 2007. Na trama, a personagem Gisele, interpretada na infância pela atriz Raquel de Queiroz e
na fase adulta por Pérola Faria, é
uma bailarina que desenvolveu
bulimia nervosa. Anna, sua
mãe, vivida pela atriz Débora
Evelyn, é uma mulher muito
rígida que faz de tudo para impedir que sua filha engorde por
causa do seu sonho de torná-la
uma grande dançarina de ballet.
Sentindo-se pressionada, Gisele
começa a comer tudo o que quer
escondido da mãe e com medo de
engordar provoca o vômito.
Em caso relatado pela psicóloga
Maria Luísa, é possível perceber que
exemplos como esse, vistos na televisão
e nos filmes, muitas vezes retratam histórias reais. Ela citou a história de uma
paciente de 16 anos, oriunda de outro
estado, que foi diagnosticada como um
caso de bulimia. A menina estava em
Aracaju para fins somente de estudos
e sempre era alertada pela tia e avó que
não poderia fazer amigos, apenas estudar.
Para a psicóloga, este já era um fator
que deixava a garota um pouco perturbada. Além disso, um outro ponto considerado era a ausência paterna. “Eu não
consigo dizer um ‘eu te amo’ para o meu
pai”, disse a adolescente em uma das
consultas. Quando a psicóloga a conheceu, ela conta que a menina não tinha
um corpo exagerado, mas ela comentava
que sentia-se acima do peso e que por
causa disso começou, involuntariamente, a induzir o próprio vômito. Na cabeça
da adolescente, comer um prato de feijão
a deixava com a sensação de ter engordado uns “quinhentos quilos”.
Além da indução do vômito, o fator
principal para a psicóloga diagnosticá-la
como bulímica foram os relatos de que
a paciente escondia comida embaixo da
cama. Quando todos da sua casa dormiam, ela ingeria todos os alimentos
escondidos, tomava algum laxante e vomitava diversas vezes. A menina chegava
a deixar as unhas bem pequenas, pois
sabia que estando grandes, elas poderiam machucá-la durante a indução do
vômito.
Aos poucos, a profissional foi conversando e explicando a paciente que ela
tinha bulimia e que a sua necessidade
em vomitar não era só por sentir-se gorda, mas também por questões familiares como a falta do pai. Também houve
conversas com a família que não imaginava a real situação em que a garota se
encontrava. A partir disso, a paciente
tomou consciência de que precisava de
tratamento e passou a ser acompanhada
por uma equipe de profissionais que envolviam a psicóloga, um nutricionista e
um psiquiatra.
TRATAMENTO
Segundo a nutricionista, para um
tratamento eficaz, é necessário a participação de uma equipe multidisciplinar
formada por um médico, um psiquiatra,
um psicólogo e um nutricionista. Além
disso, pode-se precisar de um outro especialista dependendo do estágio em
que o paciente se encontre. “Digamos
que seja uma paciente com anorexia, que
já perdeu muito peso e precisa ser mantida internada em um ambiente hospitalar, então ela vai precisar de um clínico
médico, às vezes, de um endocrinologista, porque essa paciente tem uma queda
muito grande de hormônios. Isso depende muito do estágio em que esteja esse
transtorno alimentar”, afirma. De acordo
com ela, um outro aspecto importante
para o tratamento é que o paciente aceite
que possui o transtorno e queira se tratar.
Todos os pacientes precisam ser
acompanhados até que os profissionais
percebam que eles podem receber alta,
mas a família tem a função de estar sempre observando o comportamento do
ente, pois como se trata de um transtorno psicológico, os problemas emocionais
podem contribuir para o retorno dos sintomas.
Em casos de suspeitas da doença, a
psicóloga afirma que a família tem um
papel fundamental no processo de recuperação. Ela aconselha aos familiares
a estarem mais próximos, conversando,
orientando, porém sem cobranças. Em
casos mais graves, o recomendado é a internação. Ela ainda alerta sobre possíveis
sinais de um transtorno alimentar. “Geralmente, é uma pessoa que tinha uma
alimentação normal e de repente passa a
ficar retraída, sozinha, se tranca no quarto por muito tempo e passa a ter uma feição triste”, explica.
Sobre nossa personagem que ilustra o caso de bulimia, Maria Luisa foi
informada que a adolescente havia voltado para o interior. Mas antes de ir, ela
procurou os profissionais direcionados a
tratá-la e, em última sessão, contou que
tomou consciência do seu estado e que
começaria a se alimentar corretamente
e continuaria resolvendo suas questões
com o pai. Além disso, a família também percebeu que não era um problema
a menina desenvolver relacionamentos
sociais e conciliá-los com o estudo. Segundo a psicóloga, até onde ela acompanhou o caso, as coisas estavam mudando
para melhor.
06/05/2015 12:56:44
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ESPORTE
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MELHOR, MAIS FORTE E MAIS
RÁPIDO
No documentário “Bigger, faster
& stronger”, mostra que o grande segredo dos atletas americanos sempre
foram os esteroides, que são anabolizantes ou as chamadas “bombas”. Os
mais usados são feitos do hormônio
masculino, a testosterona, e ajudam
a construir músculos. Isso acontecia
desde o fim dos anos 50, quando os
russos estavam dominando a América na corrida espacial e nas olimpíadas. Os americanos conseguiram
vencer os comunistas através dos esteroides.
MUNDO DO
FISICULTURISMO
Os caminhos e desafios que o campeão brasileiro de
fisiculturismo enfrentou para chegar até o pódio
O
fisiculturismo tem como foco
principal a definição muscular
e entra na categoria de esporte
para atletas de volume destacado. Os
principais critérios para competição é
tamanho e definição, onde esses atletas são avaliados visualmente. Para um
atleta iniciante, o procedimento básico
é estimular o crescimento das células
(fase de hipertrofia) e, em seguida, ele
parte para a definição.
No entanto, para obter e alcançar
essa hipertrofia é preciso se submeter
a alguns tratamentos dietéticos (ou
seja, ingerir qualquer tipo de alimento
industrializado que apresente ausência de determinados nutrientes, como
carboidratos, açúcar, sal, lactose, gordura, dentre outros). Nesse processo,
é dado uma supervalorização da parte
dos carboidratos e das proteínas e no
fracionamento das refeições. Então, o
atleta de fisiculturismo é comparado a
uma criança que precisa se alimentar
de três em três horas. Porém, no caso
dele, a alimentação acontece antes e
pós-treino.
Algumas pessoas conseguem alcançar um bom resultado da massa
muscular sem contar com recursos
externos, a exemplo dos anabolizantes
e hormônios para ganhar um volume
muscular muito grande. A nutricionista Raquel Simões Mendes Neto, doutora na área de Ciência dos Alimentos
pela Universidade de São Paulo (USP),
explica que, por questões éticas, os nutricionistas não têm uma conduta de
fazer uma prescrição dietética, já que
o atleta está utilizando anabolizantes.
“Não podemos ser coniventes com isso
que eles estão fazendo. Muitos fazem
isso por conta própria”, defendeu.
Ela ainda conta que o atleta fisiculturista é muito disciplinado, pois na
fase de pré-competição, ele come carboidratos, proteínas e até gordura para
Contexto Especial v3.indd 10-11
Silas Brito
ganhar volume. Após dois
meses ou quinze dias, ele
passa a restringir tudo para
secar, perder a gordura e
ficar com predominância
de músculo em seu corpo. “Esse ciclo de ganha
e perda é extremamente
prejudicial para ele do
ponto de vista metabólico e fisiológico”, orienta
Raquel Simões.
Dentro do aspecto relacionado à musculação,
sabemos que são necessários direcionamentos para o
desenvolvimento dessa atividade, que
pode ser voltada tradicionalmente para
o aspecto estético ou para o tratamento
fisioterápico. No entanto, ela também
pode ser praticada para fins competitivos. Nesse aspecto, ela está subdividida em algumas modalidades: o levantamento olímpico, o fisiculturismo e
a quebra de braço. E, por fim, a musculação como sendo um componente
de uma preparação física de equipes de
esportes coletivos ou individuais. Uma
das federações que administra essas
provas é a International Federation of
Body Buildingand Fitness (IFBB).
Segundo o professor Pedro Jorge
Morais Menezes, doutor pela Universidade de Leon na Espanha, que
trabalha com ginástica olímpica e desenvolvimento de atividades físicas em
academia, antes de se pensar em um
treino diferenciado, é preciso se pensar
num aspecto que é importante para a
prática do fisiculturismo, que é a questão da genética privilegiada do atleta.
“Quanto mais geneticamente privilegiado é esse atleta, mais facilidade ele
vai ter de incrementar nos programas
de treinamento de musculação e atingir o resultado num espaço de tempo
bem menor, se comparado a um indi-
ESPORTE
víduo que não
tem uma genética privilegiada para o
desenvolvimento da massa muscular”,
explica.
Para um atleta iniciar nessa modalidade, é necessário preparar o seu arcabouço estrutural. “Um treinamento de
musculação voltado para um aspecto
competitivo, sabemos que vai ser exigido muita carga de treinamento e, para
isso, ele precisa ter um alicerce muito
bem formado em suas estruturas músculo articular, ósteo articular e músculo ligamentar. Se ele não tiver essa
estrutura básica de preparação para
suportar as cargas maiores, ele não vai
ter como chegar a esses objetivos. É um
processo de construção do corpo do indivíduo, partindo do alicerce e nunca
do telhado”, completa.
“O indivíduo que passa por essa fase
da vida e não é uma pessoa praticante
de atividade física ou de musculação, o
processo de degeneração dele é muito
mais rápido do que de um indivíduo
que treinou ao longo da existência”,
conta o professor. Indica-se que, com
o avanço da idade, o indivíduo procure
fazer a sua manutenção diária sem perder os hábitos da prática da musculação, só que numa intensidade e num
volume proporcional aos seus limites.
Os ícones dessa época que representavam força, invencibilidade e o
conceito de melhor, mais forte e mais
rápido, foram ganhando forma rapidamente como produtos midiáticos
em todo o mundo. Filmes, desenhos,
seriados, brinquedos, games , entre
outros. Quem não lembra do incrível
Hulk Hogan nos rings de luta livre?
Rambo, Arnold Schwarzenegger, Heman, Superman, Popeye e o incrível
Hulk? E foi justamente por esse último personagem que o Jeferson Santos, campeão sergipano e brasileiro
de bodybuilding se espelhou durante
a sua vida. Jeferson conta que Hulk
é o melhor por ser o mais forte e invencível.
1,90m de altura. 20Kg de massa
corporal. Hoje ele possui apenas um
objetivo: ser o novo Mister Universo
2014.
11
EM SUA INFÂNCIA
“Quando criança já nasci um pouco diferente, parecia uma criança de três meses,
nasci com quase 5Kg”, lembra Jeferson ao destacar que sempre foi um menino diferenciado em sua comunidade. Sempre foi um pouco rebelde e até problemático na
escola, o que lhe acarretou uma série de expulsões. De uma família humilde, com oito
irmãos, o campeão de bodybuilding começa a trabalhar com onze anos de idade para
ajudar nas despesas de casa. Só depois das participações nos campeonatos, pensa
em ingressar numa universidade. Ele lembra que começou a treinar em 2007, porém
não era seu objetivo um dia chegar a competir. Foi então que se mudou para São
Paulo por uma temporada e voltou para Sergipe. Em 2013, inicia suas participações
em competições de fisiculturismo, mas por não estar com um bom condicionamento
físico, alcançou apenas o quarto lugar. “Quando subi pela primeira vez no palco, vi
que aquilo era o que eu queria pra mim. Comecei a focar no treino e na alimentação”,
expressa Jeferson. O atleta relata que as pessoas o chamavam de louco por comer
quase 40Kg de batata por dia e 1Kg de frango diário. “Tirava dinheiro de onde não
tinha. Precisava escolher, ou comprar roupa ou se alimentar, e eu preferir me alimentar”, completa o fisiculturista.
ANABOLIZANTES
Para Jeferson Santos, hoje o uso de ergogênicos é normal. Tratam-se de substâncias utilizadas para melhorar o desempenho esportivo e a recuperação após
o exercício. E, geralmente, são utilizados para fins terapêuticos e também para
aprimorar algumas partes dos músculos. Ele ainda conta que grande maioria dos
bodybuilding usam anabolizantes e alerta que muitos que tomam acabam se prejudicando e levando até a morte. “Eu não precisei usar, mas se um dia eu precisar,
porque não?”, declara.
“Fui classificado para o sul-americano que ocorrerá dia 07 de setembro, no Paraguai, em Assunção”.
Antes do campeonato, há um pré-júri que define quem está possibilitado a
competir. Dessa forma, os ganhadores da etapa sergipana têm direito a participar
do campeonato brasileiro e, os vencedores do brasileiro, estarão aptos a competir
no sul-americano. Quem passar por esse último terá a chance de disputar o Mister
Universo. As principais federações são a National Amateur Body-Builder’s Association (NABBA) e a International Federation of Body Buildingand Fitness (IFBB).
Jeferson faz parte da federação NABBA e a sua categoria é do Class 1, para atletas
acima de 1,79m. O critério avaliado nos atletas é simetria. É preciso ter o conjunto
completo, um corpo bonito, definido, denso e vascularizado. O campeão de cada
class ainda tem a oportunidade de disputar o over round que é o melhor da noite.
OSTENTAÇÃO
PRECONCEITO
Para Jeferson, no Brasil isso ainda não acontece, mas lá fora, nos EUA, o campeonato mais conhecido é o Olímpia, disputado em Las Vegas em um espaço
luxuoso. A premiação de um misterolímpia chega a mais de 600 mil dólares. Em
2013, o prêmio foi de um milhão de dólares. No Brasil, não há premiações maiores devido aos poucos patrocinadores que apoiam e investem no esporte.
“Minha família me apoia, mas as pessoas
nas ruas tem muito preconceito. As pessoas
passam e comentam: ‘Vai bombado!’ ou
‘Olha o homem bomba!’. Isso é muito chato, mas tenho que relevar. Eles pensam que
sou o cara que só vive na academia, só tomando bomba para se mostrar na rua que é
o que muitos fazem, no caso de muitos que
não são atletas”, desabafa.
DIETA
A dieta começa oito semanas antes do campeonato. Antes de competir, o
atleta chegava a fazer oito refeições por dia em grande quantidade, com 800g de
comida por refeição. E na pré competição, ele diminui para 200g. Diferente da
especialista em nutrição, Jeferson pondera que o ciclo de ganha e perda não é
prejudicial, pois há um período de descanso entre uma competição e outra. “O
que comemos é muito saudável, não comemos frituras e nem ingerimos refrigerantes. Até hoje não vi nenhum bodybuilding morrer por causa de dieta”, disse.
O fisiculturista conta que ao se olhar no
espelho, vê um cara em busca de uma perfeição que não pode ser achada, mas que
ele está disposto a ir atrás dela. “Estou muito longe ainda do que eu quero, pretendo
conquistar o sul americano e garantir uma
vaga no mister universo”, explica.
06/05/2015 12:56:45
12
TECNOLOGIA
ENTRE O VÍCIO E A NECESSIDADE
WhatsApp: o limite entre os dois lados do aplicativo que vem revolucionando a
comunicação.
Isadora Pinho
[email protected]
P
ensar em uma comunicação moderna, instantânea,
prática e ao mesmo tempo
divertida, é pensar hoje,
no WhatsApp, ou para os mais íntimos, apenas “whats”. Ou zapzap. Essa
tecnologia reforça o quanto as pessoas
são dependentes de relações, e por
isso, fica cada vez mais raro encontrar
alguém que não possui esse aplicativo. Ligações? SMS? Estes estão sendo
substituídos, já que as pessoas podem
conversar em tempo (quase) real com
várias outras ao mesmo tempo. Pedir o
número de uma pessoa se tornou inadequado, as pessoas querem agora “o
seu whats”. Nesse universo, as mudanças são inerentes e constantes, a cada
atualização, uma novidade. Agora não
basta apenas enviar uma mensagem e
esperar a resposta. É preciso saber se
Contexto Especial v3.indd 12-13
TECNOLOGIA
empresa, campanhas de vendas, dentre outros assuntos. Cada supervisor,
por sua vez, cria o seu grupo adicionando os funcionários da loja. Nesse,
são passadas informações pertinentes
à loja, frases e vídeos motivacionais, e
é claro, também existe o momento de
descontração e entretenimento com o
grupo”, afirma Tiago.
OUVINDO OS ESPECIALISTAS
“Hoje, estar conectado é meio que
uma regra para viver em sociedade,
me sentiria perdida sem o WhatsApp”,
Maíra Sandes, estudante de medicina. A opinião da estudante ref lete a
realidade da nossa sociedade, onde a
comunicação é necessária e o auxílio
de ferramentas, como o WhatsApp, é
essencial para qualifica-la. Mas o uso
desse aplicativo não apresenta apenas
benefícios. “Considero-me dependente do WhatsApp, porque deixo o celular sempre ao meu alcance. Não consigo ficar mais de uma hora sem ver,
só quando estou dormindo (risadas)”,
afirma Maíra. Essa dependência vem
se tornando comum entre os usuários
que não se veem mais sem essa tecno-
chegou e se foi visualizada. Quantas
pessoas já ficaram com raiva quando
viram aqueles dois tracinhos azuis e
nada de resposta? Quantas pessoas
se sentiram “deslocadas” do mundo
quando o WhatsApp ficou sem funcionar? Muitas outras se conheceram,
se aproximaram e resolveram diversos
problemas com o simples teclar neste
aplicativo.
Sua funcionalidade adentrou o
mundo das comunicações e facilitou
a interação de diversas pessoas. Nas
eleições desse ano, por exemplo, vários candidatos (senão todos) utilizaram o WhatsApp para divulgar suas
campanhas e interagir com seu “público”. Não é diferente com diversas
empresas e seus colaboradores que se
adequaram ao novo meio para garan-
tir melhores resultados diante de seus
clientes. Para Tiago Santos, supervisor
da IBI Promotora de Vendas – Aracaju, as empresas precisam se adequar
às novas realidades de mercado, principalmente aos avanços tecnológicos
que tem contribuído consideravelmente para estreitar a relação “cliente
x empresa”.
Esse aplicativo também agregou
diversas vantagens na comunicação
interna da empresa, pois além de ser
uma comunicação barata, consegue
atingir uma grande quantidade de
pessoas de forma rápida e em tempo
real. “Temos um grupo criado para os
supervisores, onde são passadas informações a todo o momento, desde f lash
de vendas às comunicações atualizadas sobre normas, procedimentos da
13
ENTREVISTA
Vitor Braga
Online
O que é o whatsapp?
É uma ferramenta para comunicação nos dispositivos móveis na perspectiva de um instant
messenger.
Qual a funcionalidade desse aplicativo?
Poder conversar com as pessoas num fluxo de
conversação diferente de outros meios, já que
este é utilizado em dispositivos móveis e permite a interação “a qualquer hora”.
Como surgiu esse aplicativo e o que marcou
sua trajetória até hoje?
Foi criado em 2009, por Brian Acton e Jan
Koum, com o intuito de materializar a ideia de
mobilidade e praticidade na comunicação. Em
2012, já alcançava cerca de 10 milhões de
mensagens. Em 2013, alcançou a marca de
250 milões de usuários ativos e 25 bilhões de
mensagens enviadas e recebidas por dia. Em
2014, foi vendido para o Facebook, que pagou
19 bilhões por sua aquisição. Hoje o seu forte,
além da mobilidade nas conversações, é a
criação de grupos, que permitem maior interação e divulgação de informações.
Charge: Yves Deluc
logia. Para a estudante, esse vício modificou alguns hábitos de sua rotina,
como a perda de foco nos estudos, por
exemplo. “Quando estou estudando
tenho que deixar o celular longe do
alcance de minhas mãos, porque já é
algo mecânico, mas não consigo ficar
muito tempo sem ver”, conta. A psicóloga clínica, Ilza Donald, explica que
isso normalmente acontece devido aos
benefícios ofertados pela tecnologia.
“O usuário fica tão voltado para os benefícios que não percebe o quanto se torna dependente dele, mas nosso cérebro é
um computador natural, cabe a nós mesmos saber equilibrar e dominar as nossas
ações”, ressalta.
Outro problema, causado pelo uso
(excessivo) do WhatsApp, é a mudança
nas relações sociais, uma substituição:
deixar o real e se contentar apenas com
o virtual. Como diz o grande McLuhan
em seu livro, “Os meios de comunicação
como extensões do homem”, muitas pessoas são mais sociáveis utilizando uma
tecnologia do que num ambiente com
várias outras pessoas.
Esse comportamento facilita o distanciamento do mundo real e uma
aproximação do mundo virtual. Essa é
a preocupação. “A comunicação que se
estabelece mediada pelos ‘bate-papos’,
parte do entendimento de que ‘ele vai
ficar lá e eu aqui’, o que gera um nível
de segurança, mas ao mesmo tempo,
talvez, a pessoa perceba em algum momento uma falta de sentido para aquela experiência, porque tem coisas que
não serão expressas pela fala, mas sim
pelo olhar, pelo toque, que muitas vezes
abrimos mão, quando estamos envolvidos com essas tecnologias”, afirma a
psicóloga e professora da Universidade
Federal de Sergipe, Danielle de Gois.
O aplicativo, como forma de substituição, proporciona uma falsa socialização
à medida que não vai aproximar “pessoa - pessoa”, mas sim uma tecnologia
sempre interferindo nessa relação (superficial). Por isso, é importante saber
dosar as relações e utilizar o WhatsApp
como “um meio”, e não como “ única
forma” de interação. “A tecnologia pode
aproximar à medida que a utilizamos
não como substitutiva, mas como um
aparato que está a nosso serviço, e não
nós a serviço dele. É um recurso que podemos usar para marcar um encontro
com alguém, por exemplo, e não como
um impedimento de encontrá-lo por já
estarmos satisfeitos com as trocas de
mensagens”, diz a psicóloga.
06/05/2015 12:56:46
14
GASTRONOMIA
GASTRONOMIA
15
S
ergipe é um paraíso quando falamos
de sua culinária, rica em sabores, em
temperos e condimentos. Seus atrativos e derivados do milho como bolos,
canjicas, pamonhas, nhoque e pudins
compõem o tradicional café da manhã,
enquanto que os frutos do mar como sururu, ostra e camarão, estão na maioria
dos pratos principais, servidos tantos nos
restaurantes tradicionais como nos mais
sofisticados. É toda essa diversidade que
faz da gastronomia sergipana uma das
mais requisitadas do nordeste.
Aline Souza
[email protected]
os pratos mais tradicionais, como o pirão
de capão e o bacalhau no gogo, este último servido todas as sextas-feiras. O restaurante do seu Gonzaga, assim como é
conhecido, é voltado tanto para os turistas quanto para o público local. “Temos
31 anos de tradição, então, não tem como
não servir ao público local, porém, os
turistas aqui não faltam. O nosso prato
principal, o pirão de capão, acompanha a
nossa trajetória e por isso é o mais requisitado, tanto pelos turistas quanto pelos
conterrâneos, além de ser a cara do nosso
Quem visita o estado não esquece o
gostinho tipicamente regional, seja nos
pratos principais, nas sobremesas, petiscos, sucos ou aperitivos, a comida sergipana é mesmo marcante. Em um passeio
pela capital Aracaju, vamos mostrar um
pouquinho do que encontramos aqui,
quando o assunto é a riqueza do estado,
ou seja, a boa comida
Alguns restaurantes, por exemplo,
têm o churrasco e marisco como pratos
principais, é o caso do “Recanto Comida
Caseira do Sílvio”, o restaurante trabalha basicamente com comida regional e
está situado na região central de Aracaju, próximo ao Ceasa. Já outros, como o
restaurante de seu Gonzaga, situado no
mercado de Aracaju, ao lado do restaurante Caçarola, já tem fama quanto aos
pratos servidos, que vão desde o pirão e as
moquecas de peixe, de camarão, de bacalhau e também, o pirão de camarão, até
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Igor Sá
A culinária como atrativo turístico
não é novidade, e em Sergipe, ela ganha
uma composição diferente, são tantas as
variedades de alimentos e especiarias,
que o resultado é um cardápio variado
e o melhor é que não importa o tipo de
estabelecimento, simples ou requintado,
você sempre vai encontrar uma porção
de pratos de dar água na boca. Os preços
sempre muito convidativos, funcionam
como um atrativo a mais, para quem só
quer experimentar o tempero sergipano.
estabelecimento”, argumenta seu Gonzaga, dono do restaurante.
Dona Carminha, 32 anos de cozinha
e esposa de seu Gonzaga, nos explica como é feito o prato mais pedido do
restaurante, o pirão de capão. “Primeiro
a gente corta o capão, cozinha bem cozinhadinho, depois côa, tira o caldo, mexe
o pirão até o ponto, grosso ou fino, como
a pessoa goste, e depois é só servir com
vinagrete e arroz. É muito gostoso, tanto
que é o prato que mais sai”, nos explica
Carminha.
Outro restaurante que nos chamou
a atenção foi o Caçarola, da proprietária Meg Lavigne, seja pelos detalhes do
ambiente, pelo atendimento, ou pela
presença constante de turistas, mas
principalmente pela variedades dos seus
pratos, sobremesas e sucos. No cardápio,
encontramos o prato mais pedido, o camarão de cueca, além de outros como,
caçarola de frutos do mar, moqueca sergipana, pescada aracajuana, camarão da
barra. Contamos também com sobremesas como amor perfeito, negão gostoso,
veia fogosa e a mais pedida, a tal da moça
virgem. O restaurante que está localizado
na parte superior do mercado, com vista
para o Rio Sergipe, propicia um ambiente super agradável e natural para quem
gosta de comer com tranquilidade, o local que também é um ponto turístico na
cidade Aracaju, a Torre do Relógio, atrai
turistas de toda parte.
Além dos pratos principais os restaurantes de Sergipe trabalham com o melhor dos ingredientes quando o assunto
é comida local. O carro chefe da região,
o caranguejo e camarão, estão presentes
na maioria dos restaurantes de pequeno
ou grande porte, a exemplo, o pirão de
camarão, presente na maioria dos cardápios dos restaurantes locais. Do camarão
e do caranguejo, é possível criar uma infinidade de novos pratos, como o bobó
de camarão, caldinho de camarão e de
caranguejo, quebradinho de caranguejo
ao creme, risoto de camarão, camarão na
moranga, estrogonofe de camarão, moqueca de camarão, casquinha de caranguejo, dentre outros.
Para o café da manhã, o registro da região já se apresenta cedinho, estampado
num cardápio variado e colorido, com
gostosuras como a macaxeira com carne do sol, o cuscuz com galinha cozida,
inhame, charque, bolos, tapiocas, batata
doce, sucos diversificados das frutas da
estação e muito mais, tudo bem regional,
tudo tipicamente sergipano.
Embora a grande maioria dos restaurantes que trabalham com a comida da
região sejam bem apreciados e contam
Igor Sá
com grandes números de turistas, como
o Caçarola, o que nos chamou a atenção
foi o fato de não possuírem nenhum
vínculo com empresas de divulgação,
e não terem também, nenhum sistema
de assessoria que vise ampliar seu empreendimento de modo a aumentar a
sua clientela, mas mesmo assim, eles se
sobressaem com destaque no mercado.
Igor Sá
Os atrativos turísticos da culinária sergipana do tradicional ao mais requintado
Igor Sá
O SABOR QUE SERGIPE TEM
estava em Sergipe por curiosidade de
conhecer o estado. “Confesso que fiquei fascinado com tudo, a emoção aqui
é bastante diferente e eu já vim de São
Paulo com indicação do restaurante Caçarola. Uma amiga minha, que inclusive
morou aqui 6 anos me disse, oh, vai lá
no Caçarola que você vai gostar, é um
lugar tão convidativo, a gente se sente
em casa. Ela me disse isso e... ela estava
certa! Amei conhecer o Caçarola, tanto
que pretendo voltar mais vezes”, explica
o turista.
alimentos, criam novas receitas e enriquecem cada vez mais a gastronomia
sergipana.
A culinária sergipana é rica por temperos específicos que diversificam o sabor dos alimentos, entre eles, o uso do
coentro em grande parte dos pratos culinários. Dentre as suas especialidades estão as comidas relacionadas às espécies
litorâneas, fáceis de serem encontradas
devido ao ativo movimento da atividade
pesqueira.
Igor Sá
Na oportunidade, pedimos para Meg
nos explicar bem rapidinho, os ingredientes que fazem do “camarão de cueca”
o prato mais pedido do cardápio. “O Camarão de cueca é um camarão feito com
leite de coco, azeite de dendê, coentro e
cebolinha. Acompanhado com pirão de
camarão, vinagrete, farofa e arroz branco. Na semana temos uma variedade no
cardápio, porém, o camarão de cueca é o
único prato que sai a semana toda, por
ser muito solicitado”, conta Meg.
Veja o que diz seu Gonzaga, com anos
de experiência no ramo. “A propaganda
mais importante do mundo é o boca a
boca.”
Tanto para seu Gonzaga, como para
Meg Lavigne, dona do restaurante Caçarola, procurar um meio de divulgação
nunca foi problema, para ela o que conta é o trabalho profissional. “Quando se
trabalha com honestidade e seriedade,
as coisas dão certo. Então é isso! Quem
divulga o meu restaurante e os serviços
aqui prestados, são os próprios clientes,
que gostam e acabam indicando para outras pessoas, ou ainda, não sei, divulgam
na internet. Quem sabe mais pra frente,
com mais organização, eu pense sim,
nesta possibilidade, o que pretendo no
momento, é ir aprimorando o meu estabelecimento, juntamente com os serviços que ofereço. Estou trabalhando para
isso,” diz Meg.
Anderson é paulista, tem 37 anos e
Alem das múltiplas opções de restaurantes que se encontra no mercado
central de Aracaju, na Passarela do Caranguejo ou em outros locais da orla da
cidade, também é possível encontrar
mais umas dezenas de restaurantes, todos eles oferecem o que Sergipe tem de
melhor em sua culinária. Nesses restaurantes são servidas as casquinhas de siri
recheadas com a própria carne do crustáceo e os caldinhos de sururu, ostra e
camarão, tudo isso, para quem gosta de
muitas opções tanto de lugar como de
paladar.
Outra coisa interessante é que, todas
essas maravilhas da culinária sergipana
são vindas dos lares das cozinhas das
donas de casas, é lá onde as receitas são
aprimoradas e de tão boas, conquistaram espaços nos restaurantes e no paladar de quem vem de fora.
São as donas de casa que se dedicam
no manuseio diário dos mais diversos
06/05/2015 12:56:51
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GASTRONOMIA
MANGABA: SÍMBOLO DE SERGIPE
Abundante no solo sergipano, a mangaba está incluida na Constituição como a fruta que
simboliza o estado.
Luzia Nunes
[email protected]
S
e você pensa que o caju é a fruta que representa Sergipe, está
enganado. A mangaba é, por
lei, símbolo sergipano, como estabelece
o Decreto Lei 12.723 de 20 de janeiro de
1992, com base na concentração, significado econômico e cultural da mangabeira. A mangaba, de nome cientifico
Hancornia speciosa, “Coisa de comer”
em Tupi-Guarani, é reconhecida como
fruto característico da cultura sergipana, da qual o estado é o maior produtor
do país, 51,6%, metade da produção,
como informa o Relatório de Conjuntura
Mensal de junho de 2014 da Companhia
Nacional de Abastecimento (Conab), a
partir de dados de 2011, fornecidos pelo
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística), onde consta que são extraídas 722 mil toneladas da fruta por ano.
Há uma vasta gama de pratos em que
a mangaba é o principal ingrediente:
doces, licor, suco, picolé, sorvete, trufas,
tortas, bombons e balas. É contestante
que programas de TV sobre culinária ou
com temática agrícola dediquem espaço
a apresentação de receitas nas quais essa
fruta é o ingrediente principal, como
mousse, compotas e bolos, que enriquecem ainda mais as opções para seus
apreciadores.
A presença do látex contribui como
um dos elementos mais fortes da mangaba, ele proporciona o toque final da degustação do suco da fruta, através de um
sutil grude nos lábios. Essa característica
é responsável por levar algumas pessoas
a definir rapidamente a mangaba como
“a fruta que gruda”. Esse mesmo elemento foi objeto de pesquisa da UFMG
em 2010 a respeito de seus efeitos medicinais no combate a hipertensão. Uma
rápida busca na internet oferece considerável número de resultados sobre as
qualidades curativas da mangaba sendo
empregada em diversos tratamentos ca-
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André Teixeira
seiros, o que traz um novo olhar sobre o
uso dessa fruta, que não se restringe ao
alimentício.
A comercialização da mangaba se
dar, principalmente, nas férias livres, em
pontos das rodovias do estado, no Mercado Central e nas ruas da cidade. O preço pago ao extrativista é de, em média,
R$ 2,55, de acordo com a Conab (2014).
Esses produtos se encontram disponíveis na Unidade de Recepção e Distribuição dos Produtos das Catadoras de
Mangaba em Aracaju, na Rua Moacyr
Lopez Poconé, 350, Conj. dos Motoristas, bairro Luzia. Outro elemento da
mangaba que recebe muita atenção é o
leite (látex), retirado quando a fruta ainda está verde, que é usado na elaboração
de produtos cosméticos e medicinais.
SUBSISTÊNCIA E CULTURA
O cultivo e a extração da mangaba
em Sergipe estão atrelados ao universo
de mulheres dos municípios de Indiaroba, Barra dos Coqueiros, Estância, Japaratuba, Japoatã e Pirambu, conhecidas
como Catadoras de Mangaba. Esse trabalho é responsável por gerar renda de
várias famílias, através do Projeto “Catadoras de Mangaba Gerando Renda e Tecendo a Vida em Sergipe”, criado em 2011
pela Associação Catadoras de Mangaba
e Indiaroba (Ascamai), com patrocínio
da Petrobrás, em parceria com a Universidade Federal de Sergipe e apoio do
Movimento Catadoras de Mangaba. Seu
objetivo é fortalecer e sustentar as comunidades extrativistas da mangaba, a
implantação de noções de cooperativismo, agroecologia, associativismo e tecnologia social. Na primeira etapa, focou
o cadastramento de 765 catadoras. Sua
linha de ação traz como proposta a geração de renda e trabalho, tratando, ainda,
de temas como gênero, igualdade racial
e comunidades tradicionais, este último
materializado pelo CD “Consolidação da
Cultura Tradicional”.
Atualmente, o projeto está na segunda fase, enquadrada no período de
2013 a 2015. Nesta, o destaque é o registro da Cooperativa de Comercialização
das Catadoras da Mangaba do Estado
de Sergipe e a criação da Identificação
Geográfica para os produtos da mangaba
com foco na cultura da mangaba nacional e internacional, como é exposto no
site http://www.catadorasdemangaba.
com.br/, lançado em 2011 para fornecer
informações do universo das catadoras
de mangaba ao público.
O cenário não é somente favorável
para a cultura da mangaba, como afirma o Movimento Catador de Mangada
(MCM), criado em 2007, que luta contra
a perda de espaço para a plantação de
cana-de-açúcar e a atividade turística
por meio da instalação de hotéis e a consequente especulação imobiliária nas
áreas de plantio da mangabeira. A ideia é
defendida também pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) no mapa divulgado em 2010 sobre o
extrativismo da mangaba em Sergipe. O
texto que acompanha o relatório recebeu
atenção do PNUD (Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento) que o
publicou em seu site.
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