Considerações sobre folksonomy no sistema del
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Considerações sobre folksonomy no sistema del
CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC Fernando Andrino Weno Artigo disponível para download: www.weno.com.br Contato com o autor: [email protected] Considerações sobre folksonomy no sistema del.icio.us São Paulo 2006 FERNANDO ANDRINO WENO Considerações sobre folksonomy no sistema del.icio.us Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Centro Universitário Senac como exigência parcial para obtenção do título de Especialista em Mídias Interativas. Orientador: Dr. Roger Tavares São Paulo 2006 Aluno: Fernando Andrino Weno Considerações sobre folksonomy no sistema del.icio.us Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Centro Universitário Senac como exigência parcial para obtenção do título de Especialista em Mídias Interativas. Orientador: Dr. Roger Tavares A banca examinadora dos Trabalhos de Conclusão em sessão pública realizada em ____/____/_______, considerou o(a) candidato(a): 1) Examinador(a) 2) Examinador(a) 3) Presidente “Não precisa ser doutor para ter certeza As respostas das perguntas quem mostra é a natureza” (Música “Natureza”, de André Abujamra) Resumo Este trabalho analisa a evolução da Teoria Geral dos Sistemas proposta por Ludwig von Bertalanffy, e sua relação com os conceitos de sistemas abertos, cibernética, autopoiese e sistemas emergentes. São apresentados os conceitos de desenvolvimento de sites web 2.0 e tecnologias envolvidas, com ênfase no ambiente colaborativo e a utilização da web como plataforma para aplicativos. A folksonomy é uma das características da web 2.0 e denomina o processo para categorização de informações por palavras-chave e apresenta-se como uma alternativa aos sistemas de classificação hierárquicos centralizados. Um aplicativo analisado neste trabalho que segue esta metodologia é o del.icio.us, desenvolvido para armazenar e compartilhar bookmarks. A folksonomy tem um grande potencial de uso além do conteúdo disponível na web, e mesmo sendo uma prática restrita ao ambiente digital, apresenta similaridades na sua estrutura com conceitos originados na biologia. Abstract This work analyzes the evolution of the General Theory of the Systems proposed by Ludwig von Bertalanffy, and its relation with the concepts of opened systems, cybernetics, autopoiesis and emergent systems. Concepts of development of sites Web 2,0 and involved technologies are presented with emphasis in the collaboration environment and the use of web as platform for applications. Folksonomy is one of the web 2,0’s characteristics and calls the process for categorization of information by tags and is presented as an alternative to the centered hierarchic classification systems. One application that’s analyzed in this work follows this methodology is the del.icio.us, developed for the storage and sharing of bookmarks. Folksonomy has a great potential of use beyond the available content in web, and besides being one practical restricted to the digital environment, it presents similarities in its structure with concepts originated in biology. Lista de ilustrações Figura 1 – Tela inicial do del.icio.us. .............................................................................................. 38 Figura 2 – Página inicial do del.icio.us após realização do login. .................................................. 39 Figura 3 – Todos os links do usuário weno..................................................................................... 40 Figura 4 – Todos os links do sistema com a palavra-chave folksonomy....................................... 41 Figura 5 – Todos os links com as palavras-chave folksonomy e pos_midias do usuário weno. 42 Figura 6 - Exibição de um bookmark. .............................................................................................. 43 Figura 7 – Tela para registro de bookmarks. ................................................................................... 44 Lista de tabelas Tabela 1 – Estrutura de exibição de um bookmark. ........................................................................ 42 Sumário 1 Introdução ......................................................................................................11 2 Teorias sistêmicas.........................................................................................12 2.1 Sistemas vivos .................................................................................................................... 12 2.2 Tectologia............................................................................................................................ 13 2.3 Teoria geral dos sistemas ................................................................................................... 14 2.3.1 Propósitos da teoria geral dos sistemas....................................................................... 15 2.3.2 Sistemas abertos .......................................................................................................... 16 2.3.3 Entropia ........................................................................................................................ 17 2.3.4 Organização ................................................................................................................. 18 2.3.5 Cibernética.................................................................................................................... 18 2.3.6 Autopoiese.................................................................................................................... 19 2.3.7 Padrão em sistemas ..................................................................................................... 20 2.3.8 O homem como indivíduo............................................................................................. 20 2.4 Cognição ............................................................................................................................. 21 3 Sistemas emergentes ....................................................................................22 3.1 Complexidade organizada .................................................................................................. 22 4 Web 2.0 ...........................................................................................................26 4.1 Ajax ..................................................................................................................................... 26 4.2 CMS .................................................................................................................................... 26 4.3 Interface .............................................................................................................................. 27 4.4 Interoperabilidade ............................................................................................................... 27 4.5 Compartilhamento de informações ..................................................................................... 27 4.6 Filtros humanos................................................................................................................... 27 4.7 Arquitetura de informação................................................................................................... 27 4.8 Lançamentos iterativos ....................................................................................................... 28 4.9 Modelos e bibliotecas de modelos ...................................................................................... 28 4.10 Mashup-ability ..................................................................................................................... 28 4.11 Simplicidade e modulação .................................................................................................. 28 4.12 Folksonomy ......................................................................................................................... 29 4.13 Modelos de redes sociais.................................................................................................... 29 5 Folksonomy....................................................................................................30 5.1 Sistemas de classificação ................................................................................................... 30 5.2 Definição do termo .............................................................................................................. 32 5.3 Áreas de atuação ................................................................................................................ 33 5.4 Classificação versus categorização .................................................................................... 33 5.5 Propriedades da folksonomy............................................................................................... 33 5.5.1 Folksonomy aberta e fechada ...................................................................................... 34 5.5.2 Aspectos cognitivos ...................................................................................................... 35 5.5.3 Evolução ....................................................................................................................... 35 6 del.icio.us .......................................................................................................37 6.1 Definição ............................................................................................................................. 37 6.2 Utilização............................................................................................................................. 37 6.3 Aspectos técnicos ............................................................................................................... 45 6.4 Palavras-chave.................................................................................................................... 46 6.4.1 Características.............................................................................................................. 46 6.4.2 Limitações..................................................................................................................... 47 6.4.3 Vantagens..................................................................................................................... 49 6.5 Individual vs. comunitário.................................................................................................... 50 6.6 Outros usos ......................................................................................................................... 51 6.7 Aplicativos derivados .......................................................................................................... 52 6.8 Sistemas similares .............................................................................................................. 53 7 Conclusão ......................................................................................................55 8 Considerações finais.....................................................................................56 11 1 Introdução O estudo de sistemas abertos tem origem na biologia e conforme a evolução tecnológica, percebeu-se que estruturas semelhantes de sistemas poderiam ser aplicadas em outras áreas do conhecimento, como teoria da comunicação, cibernética chegando aos sistemas digitais e à Internet. A evolução do uso da tecnologia sobretudo para usuários não-especializados e às informações disponíveis na web causaram um grande impacto sobre as metodologias para organizar esse conteúdo. Sistemas de pesquisa automatizados facilitam bastante a busca de uma determinada informação, mas os critérios adotados para classificação são impessoais e centralizados. Dessa maneira, um sistema de organização pessoal que funcione com métodos simples e que ao serem combinados resultem em um conhecimento útil e ao mesmo tempo complexo pode trazer uma série de benefícios, comparado à metodologia tradicional de organização para a mídia impressa, representada pelos livros, por exemplo. A folksonomy é uma dessas alternativas, ao utilizar o conceito de categorização de informações por palavras-chave resultando em um processo não-hierárquico e emergente. O sistema del.icio.us possibilita o uso da folksonomy para organizar listas pessoais de bookmarks e compartilhá-las entre outros usuários, entre outros conceitos característicos da evolução nos serviços disponíveis na Internet, denominado web 2.0. 12 2 Teorias sistêmicas Por volta da década de 30, a maior parte dos critérios do pensamento sistêmico foi formulado por biólogos organísmicos, psicólogos da Gestalt e ecologistas. Algumas características definem o pensamento sistêmico (CAPRA, 1996): • Os sistemas vivos são totalidades integradas cujas propriedades não podem ser reduzidas a partes menores. As propriedades do conjunto são definidas a partir das relações de organização entre seus componentes e não existem se analisados isoladamente; • Capacidade de deslocar a atenção entre níveis sistêmicos, ou seja, é possível analisar sistemas aninhados em diversas áreas, como o conceito de estresse a um organismo, uma cidade ou uma economia. Diferentes níveis sistêmicos também exibem diferentes níveis de complexidade. Desse modo, pode-se dizer que são propriedades “emergentes”, já que existem a partir de um nível em particular. Comparado ao pensamento mecanicista, o pensamento sistêmico inverteu a relação entre as partes e o todo. No primeiro caso, o mundo é concebido como uma coleção de objetos que interagem uns com os outros e portanto, há relações entre eles. No entanto, há o foco para os objetos e suas relações são secundárias. No segundo caso, as relações são fundamentais, considerando os objetos como sub-sistemas que se inter-relacionam. “O que torna possível converter a abordagem sistêmica numa ciência é a descoberta de que há conhecimento aproximado (...) O velho paradigma baseia-se na crença cartesiana na certeza do conhecimento científico. No novo paradigma, é reconhecido que todas as concepções e todas as teorias científicas são limitadas e aproximadas. A ciência nunca pode fornecer uma compreensão completa e definitiva” (CAPRA, 1996, p.49). 2.1 Sistemas vivos Sistemas vivos são sistemas determinados estruturalmente, ou seja, qualquer interação realizada depende de sua estrutura e desencadeia mudanças determinadas neles próprios. Freqüentemente fala-se sobre agentes externos incidindo sobre sistemas, mas a informação dada ao sistema depende de como ela é interpretada para então desencadear uma ação. Do cotidiano, por exemplo, ao uma pessoa falar uma frase à outra, o que é ouvido é um acontecimento 13 interno de quem recebe a mensagem, e não o que a outra disse, apesar de desencadeado por ela. A compreensão acontece quando as duas pessoas interagem recursivamente, ajustam seus sistemas de percepção, até que exista uma coerência. Uma condição para sua existência é que este sistema mantenha suas mudanças estruturais desde que sejam recursivas, ou seja, refira-se a si próprio. Há dois domínios onde os sistemas vivos operam: o domínio de sua composição, que descreve sua estrutura, e o domínio do meio em que eles existem como interações recursivas.”Esses dois domínios não se intersectam, e não podem ser deduzidos um do outro, apesar da composição do sistema vivo, enquanto um sistema autopoiético, por sua constituição como uma totalidade delimitada no qual ele opera como tal totalidade ou entidade discreta. Ou seja, uma vez que os dois domínios de existência dos sistemas vivos (ou das entidades compostas em geral) não se intersectam, não há entre eles nenhuma relação causal, ou o que o observador poderia chamar de relações causais – tudo o que há são relações gerativas recíprocas que o observador pode ver quando ele ou ela distingue correlações dinâmicas entre as operações, fenômenos ou processos que neles ocorrem” (MATURANA, 2001, p.176). O domínio da estrutura é condição para a possibilidade do sistema vivo, mas sua constituição e regulação é feita a partir das interações entre o sistema vivo e a estrutura em que se insere. Um domínio não é possível sem o outro apesar de ambos se modularem mutuamente. Por exemplo, um corpo se transforma de acordo com o modo do sistema vivo é organizado como um todo, que também depende da existência deste corpo. O meio, o espaço que funciona como um todo e contém um ou mais sistemas vivos, possui uma dinâmica estrutural independente destes que o compõem. Ambos estão em fluxo contínuo de regulação, de acordo com suas dinâmicas estruturais desencadeadas a partir de seus encontros recursivos. Nestas situações, o meio é constituído por todos os sistemas que interagem com um sistema vivo. 2.2 Tectologia Antes de Ludwig von Bertalanffy outro pesquisador já delimitava princípios para uma teoria sistêmica em meados da década de 20 e deu o nome de tectologia, a partir da palavra grega tekton designando uma “ciência das estruturas” cujo 14 principal objetivo era esclarecer e generalizar os princípios de organização de todas estruturas vivas e não-vivas. Alexander Bogdanov, pesquisador médico, filósofo e economista russo, distinguiu três tipos de sistemas: complexos organizados, onde o todo é maior que a soma de suas partes; complexos desorganizados onde o todo é menor que a soma de suas partes e complexos neutros, nos quais as atividades organizadora e desorganizadora se cancelam mutuamente. Segundo a tectologia, todos os sistemas podem ser entendidos por meio de dois mecanismos organizacionais básicos: formação e regulação. A dinâmica da formação baseia-se na tensão entre crise e transformação onde há uma ruptura no estado de equilíbrio de um sistema, e simultaneamente este desequilíbrio tende a um novo estado de equilíbrio. Ou seja, sistemas abertos operam afastados do equilíbrio e funcionam por meio de processos de regulação e autoregulação. Um sistema que não necessita de regulação externa, pois regula-se a si mesmo é denominado “bi-regulador”, seguindo o mesmo conceito de feedback proposto por Norbert Wiener na sua teoria sobre a cibernética. Apesar de Bogdanov ter publicado sua obra Tectologia entre 1912 e 1917, ele não é mencionado por Bertalanffy na Teoria geral dos sistemas em 1968. Filósofos marxistas criticavam as teorias de Bogdanov por considerarem a tectologia como um novo sistema filosófico para substituir o de Marx. Conseqüentemente suas obras foram proibidas por quase meio século na União Soviética. 2.3 Teoria geral dos sistemas Esta teoria foi desenvolvida na década de 70 e o senso comum era o conhecimento científico cartesiano, exemplificado pela física e biologia por Ludwig von Bertalanffy, biólogo austríaco, que desenvolveu os princípios para a Teoria geral dos sistemas. Nesta época, as pesquisas transitavam das bases do behaviorismo para as ciências cognitivas e o conceito de não-linearidade. A ciência moderna caracteriza-se por suas várias especializações. Cada área do conhecimento constrói seu universo com leis próprias de funcionamento. A física, por exemplo, trata de seus sistemas com funções precisas dentro de um universo controlado. Apesar de ser possível descrever um fato que acontece na natureza, 15 este sujeita-se a diversas variáveis que convenientemente são descartadas conforme o caso. A fórmula da aceleração constante pode ser utilizada perfeitamente em um ‘ambiente ideal’, desprezando-se a resistência do ar ou o atrito do pneu com o tipo de terreno, por exemplo. Ou ser combinadas com outras fórmulas. Mas como explicar o funcionamento de um sistema aberto, como o do fluxo de trânsito de automóveis ou sistemas multi-usuários alimentados por palavras-chave? É preciso uma “teoria não dos sistemas de um tipo mais ou menos especial mas de princípios universais aplicáveis aos sistemas em geral” (BERTALANFFY, 1975). Ludwig von Bertalanffy postula a “teoria geral dos sistemas”, que busca a formulação e derivação dos princípios válidos para “sistemas” em geral. Desta maneira, modelos aplicados a uma área também podem ser utilizados em outras áreas também, por conta de semelhanças estruturais, ou isomorfismos destes sistemas. Antes de definir o que é a teoria geral dos sistemas, é necessário dizer o que não é. Esta já foi comparada a uma ordem matemática que pode ser aplicada a qualquer tipo de sistema, como o de crescimento exponencial, aplicados em vários campos. No entanto, os problemas tratados por esta teoria geral dos sistemas vão além de simples substituições de objetos contáveis para problemas originais, que estão parcialmente longe de terem solução. O método da ciência clássica era adequado para cadeias causais isoladas ou simulações estatísticas (sistemas fechados), ao contrário de situações onde conceitos como totalidade, organização, são mais adequados. Outra critica é que uma teoria “genérica” tende a realizar apenas associações genéricas. A teoria geral dos sistemas não busca apenas as analogias superficiais, fáceis de se criarem apesar de possíveis diferenças entre uma área e outra. No entanto, o isomorfismo que se trata “é uma conseqüência do fato de, sob certos aspectos, poderem ser aplicadas abstrações correspondentes e modelos conceituais a fenômenos diferentes”. 2.3.1 Propósitos da teoria geral dos sistemas Enquanto a ciência procurava analisar diversos fenômenos e isolar seu funcionamento a unidades independentes umas das outras, na ciência 16 contemporânea procura tratar de assuntos referentes à totalidade destes fenômenos, desenvolvendo problemas de organização, fenômenos que não ocorrem em acontecimentos locais, entre outros, caracterizados por serem sistemas de várias ordens, não inteligíveis se investigados isoladamente. “Não somente os pontos de vista e os aspectos gerais são iguais em diferentes ciências, mas freqüentemente encontramos leis formalmente idênticas ou isomórficas em campos diferentes”. Dito isto, temos os principais propósitos: 1. Há uma tendência geral no sentido da integração de várias ciências, naturais e sociais. 2. Esta integração parece centralizar-se em uma teoria geral dos sistemas. 3. Esta teoria pode ser um importante meio para alcançar uma teoria exata nos campos não físicos da ciência. 4. Desenvolvendo princípios unificadores que atravessam “verticalmente” o universo das ciências individuais, esta teoria aproxima-nos da meta da unidade da ciência. 5. Isto pode conduzir à integração muito necessária na educação científica. 2.3.2 Sistemas abertos A física convencional trata apenas de sistemas fechados, ou seja, sistemas isolados de seu ambiente. Há também, sistemas que por sua natureza e definição não são fechados. É mantido um fluxo constante de entrada e saída de componentes, mantendo uma constante movimentação, nunca em um estado de equilíbrio químico e termodinâmico, mas estacionário. Bertalanffy apresenta duas conclusões gerais para os sistemas abertos. A primeira é o princípio de eqüifinalidade. Ao contrário de um sistema fechado onde o estado final é determinado por suas condições iniciais (como em uma fórmula sobre aceleração constante, ou o resultado de entre dois compostos químicos), nos sistemas abertos, o mesmo estado final pode ser alcançado a partir de condições iniciais e caminhos distintos. Outro exemplo é o contraste entre a lei de dissipação da física e a lei da evolução da biologia. De acordo com a segunda lei da termodinâmica, a tendência geral dos acontecimentos aponta para uma máxima desordem e do nivelamento de 17 diferenças, chegando a um resultado final de paralisação. Na biologia, com os sistemas vivos (abertos), os acontecimentos apontam para uma ordem mais complexa de heterogeneidade e organização. Além disso, a segunda lei da termodinâmica introduziu uma ordem de tempo na ciência, denominado processos irreversíveis. Segundo ela, alguma energia mecânica sempre é dissipada em forma de calor que não é aproveitado. Dessa maneira, toda a máquina do mundo está deixando de funcionar e entrará em colapso. Esta idéia confrontava diretamente com a teoria evolucionista, que afirmava justamente o contrário: o universo vivo evolui da desordem para a ordem, em níveis de complexidade crescente. Bertalanffy não chegou a uma conclusão de qual destes conceitos estaria correto, mas sua teoria teve enorme importância em reconhecer que os organismos vivos são sistemas abertos que não podem ser descritos pela termodinâmica clássica. “Com base na teoria dos sistemas abertos, a aparente contradição entre a entropia e a evolução desaparece. Em todos os processos irreversíveis a entropia tem de aumentar. Por conseguinte, a variação da entropia nos sistemas fechados é sempre positiva, a ordem é continuamente destruída. Nos sistemas abertos, porém, temos não somente produção da entropia devida a processos irreversíveis mas também importação da entropia, que pode ser negativa. Tal é o caso do organismo vivo, que importa moléculas complexas de alta energia livre. Assim, os sistemas vivos, mantendo-se em um estado estacionário podem evitar o aumento da entropia e desenvolver-se mesmo no sentido de estados de ordem e organização crescentes” (BERTALANFFY, 1975). Estes exemplos de sistemas abertos demonstram que as violações das leis desaparecem na generalização de um sistema fechado. 2.3.3 Entropia Um sistema que permite várias possibilidades na constituição de seus elementos pode-se dizer que há existe uma eqüiprobabilidade, ou seja, uma alta chance de determinado elemento participar de um conjunto. Conseqüentemente, a chance de desordem, ou entropia também é alta, resultando em informações originais. A origem do conceito de entropia trata dos problemas de termodinâmica da física e depois foi relacionado com o conceito de informação por Norbert Wiener, fundador da cibernética. 18 2.3.4 Organização Assim como a entropia, o conceito de organização aparece em diversas áreas do conhecimento, apesar de outras, como a termodinâmica na física apontar para o sentido de desordem. Um exemplo claro são as teorias pertencentes à biologia e à química que tratam da organização apontando para um estado de equilíbrio baseado em dados quantitativos. Mesmo estes campos têm dificuldades para definir este conceito quando estuda casos que são difíceis de mensurar, como a teria dos equilíbrios biológicos e da seleção natural. Nesses casos, é preciso explicar esses fenômenos “em princípios”, conduzindo a um raciocínio qualitativo. 2.3.5 Cibernética Define-se como a teoria do funcionamento de certos sistemas naturais ou artificiais, caracterizados pela auto-regulação obtida por meio de comunicação, controle e feedback, que têm uma característica comum: são entidades nãomateriais; ao contrário da biologia e física que geralmente tratavam de entidades materiais. Os primeiros ciberneticistas eram matemáticos, engenheiros e neurocientistas que, durante a Segunda Guerra Mundial buscavam solucionar problemas de rastreamento de aviões e subseqüentemente, uma teoria para explicar os fenômenos mentais por meio da linguagem matemática. Ao entender a mente como um fenômeno sistêmico, a cibernética contribuiu para o entendimento do corpo e mente além do sistema cartesiano. A cibernética tem origem da palavra grega kybernetes (timoneiro), e este termo foi cunhado por CAPRA (1996) apud WIENER (1948) como a ciência do “controle e da comunicação no animal e na máquina”, e designa também o ato de administrar a máquina do governo, que também é um amplo sistema composto por vários órgãos diretores. O conceito de auto-regulação, ou retroalimentação de Wiener é o efeito que um elemento proporciona em outros, alterando o estado geral do sistema, até que a relação deste primeiro elemento também seja afetado. É “um arranjo circular de elementos ligados por vínculos causais, no qual uma causa inicial se propaga ao redor das articulações do laço, de modo que cada elemento tenha um efeito sobre o seguinte, até que o último ‘realimenta’ o efeito sobre o primeiro elemento do ciclo.” (CAPRA, 1996, p.59). 19 É semelhante ao conceito de sistemas autopoiéticos, de Humberto Maturana e Francisco Varela onde as relações entre os elementos de um sistema são constantemente regeneradas, que existe essencialmente por estas relações. 2.3.6 Autopoiese O neurocientista Humberto Maturana buscava referências para entender a cognição como um fenômeno biológico e não-organizado segundo o pensamento cartesiano. A partir dos estudos da percepção da cor, chegou à conclusão de que o sistema nervoso opera como uma rede fechada de interações, onde as alterações em cada relação entre componentes afeta relações do mesmo componente ou com outros. Sua base de comparação são os sistemas vivos, considerados processos circulares fechados que evoluem sem, no entanto, perder a própria circularidade. Conseqüentemente, seus componentes são produzidos e regulados dentro desses processos. Outra conclusão é que se um processo circular fechado é auto-organizador, ele também é auto-referencial, já que baseia-se nas relações preexistentes de um sistema para reconhecer a realidade externa. Na década de 70, Maturana juntou-se a um ex-aluno, também neurocientista, chamado Francisco Varela. Numa busca de encontrar uma definição mais precisa da teoria de organização celular, ambos chegaram a um conceito denominado autopoiese, derivado do grego auto (“si mesmo”), referente à autonomia dos sistemas auto-organizadores, e poiese, que compartilha da mesma raiz da palavra “poesia” e significa “criação, construção”. Inicialmente, distinguem claramente a distinção entre “organização” e “estrutura”. Como organização entende-se o conjunto das relações entre os componentes de um sistema. A descrição é uma organização abstrata das relações e não compreende os componentes. Ao contrário de estrutura, que são as relações efetivas entre os componentes de um sistema. Maturana e Varela defendem também que a organização de um sistema independe da propriedade de seus componentes, ou seja, uma organização pode ser incorporada de diversas maneiras por tipos distintos de componentes. Dessa maneira, a autopoiese é a organização comum a todos os sistemas vivos. 20 A Internet também pode ser interpretada como um sistema autopoiético, dado que é composta por vários computadores interligados que se auto-referenciam e autoorganizam por sistemas existentes neste ambiente. A organização também está presente nas relações entre tecnologias e troca de dados entre protocolos e sites distintos, como a combinação de dados de um blog de links, sistema de categorização e blog de notícias (diggdot.us - http://diggdot.us), por exemplo. 2.3.7 Padrão em sistemas A idéia de auto-organização, feedback, foco do pensamento na cibernética, compreende antes o conceito de padrão, ou seja, “uma configuração de relações característica em um sistema particular”. Em toda história da ciência preocupouse em entender a substância, enquanto a filosofia, tratava de estudar a forma, proporcionando uma tensão entre quantidade e qualidade. O padrão tem importância fundamental no estudo de sistemas vivos, já que estes são uma configuração de padrões ordenados. 2.3.8 O homem como indivíduo A Teoria geral dos sistemas não trata apenas de como processos são semelhantes em várias áreas do conhecimento, mas também como características únicas que se posicionam dentro de um todo. Como por exemplo, em um sistema de classificação onde se descreve um elemento por meio de palavras-chave únicas mas combinadas, constituindo um novo contexto no sistema geral. Segundo BERTALANFFY(1975): “o homem não é somente um animal político, mas é antes e acima de tudo um indivíduo. Os valores reais da humanidade não são aqueles que ela tem de comum com as entidades biológicas, a função de um organismo ou de uma comunidade de animais, mas o que derivam do espírito individual. A sociedade humana não é uma comunidade de formigas ou térmites, governada por instintos herdados e controlada pelas leis da totalidade superior. A sociedade é baseada nas relações do indivíduo e está condenada se o indivíduo for transformado em uma roda dentada da máquina social. Este, parece-me, é o preceito final que uma teoria da organização pode dar: não é um manual para ditadores de qualquer denominação subjugarem mais eficientemente os seres humanos pela aplicação científica de Leis de Ferro, mas uma advertência de que o Leviatã da organização não deve engolir o indivíduo sem selar sua própria inevitável ruína.” A questão da individualidade também está presente na folksonomy, onde um usuário organiza informações conforme seus próprios conceitos e inicialmente 21 para uso pessoal, mas compartilha esta sua base de dados com outros, construindo assim, um conhecimento coletivo, ainda que não siga regras formalizadas por uma entidade centralizada. 2.4 Cognição De acordo com a teoria dos sistemas vivos, a mente é um processo e não algo físico. As interações de um organismo vivo com seu meio ambiente são interações cognitivas, ou mentais. Dessa maneira, vida e cognição estão inseparavelmente ligadas. Na década de 60, Gregory Bateson desenvolveu critérios necessários em um sistema para desenvolver processos associados à mente – percepção, aprendizagem, memória, raciocínio, entre outros. Segundo Bateson, a mente não se manifesta apenas nos indivíduos, mas aparece em sistemas sociais e ecossistemas. Outra afirmação é que esses processos mentais são conseqüentes de uma complexidade identificada antes mesmo de organismos desenvolverem cérebros e sistemas nervosos superiores. Semelhante à esta última afirmação, Maturana e Varela também desenvolveram uma teoria, denominada “teoria de Santiago”. Eles afirmam que o cérebro não é necessário para que a mente exista, baseando-se que os organismos mais simples são dotados de percepção, e portanto de cognição. É a mente corporificada, onde corpo e mente estão estritamente vinculados um ao outro. Desde o século XIX cientistas têm discutido qual é a relação exata entre mente e cérebro, sem sucesso. Na teoria de Santiago, a relação mente-cérebro é simples, ao considerar a mente como um processo e não uma “coisa”, ao contrário do cérebro, identificado como uma estrutura específica no qual a mente opera. Assim como na semiótica por Charles Sanders Peirce, a mente é a própria semiose (processo). Portanto, a relação mente-cérebro é uma relação entre processo e estrutura. 22 3 Sistemas emergentes Resumidamente, define-se sistemas emergentes como um sistema complexo baseado em regras simples (JOHNSON, 2003). O exemplo mais popular para explicar o conceito de sistemas emergentes é o funcionamento de uma colônia de formigas. Apesar do nome remeter ao sistema político humano, a formiga-rainha não controla todas as formigas da colônia; sua função é a de pôr ovos e constituir toda a colônia; portanto, esta recebe cuidado e tratamento das operárias e é especialmente protegida em caso de ataque. As outras formigas reagem individualmente e comunicam-se por meios de sinais químicos obedecendo a uma ordem complexa onde cada uma sabe a sua função e regulam suas ações, juntamente com a localização física e seu código genético. Sem um controle centralizado, a colônia demonstra uma habilidade na tomada de decisões de várias atividades relativas à alimentação, construção, ataque, defesa, descarte de lixo e formigas mortas e localização (onde é possível identificar claramente resoluções geométricas) entre outras. A organização de estruturas emergentes é encontrada em diversas situações que vão desde a formação de galáxias, o desenvolvimento descentralizado de uma cidade e a dinâmica das aves durante o vôo. Para um fenômeno emergente pode ser imprevisível (como a trajetória de um punhado de bolas de borracha atiradas contra uma parede) ou previsível (a formação de um feto humano), mas mesmo assim ele está sujeito a variáveis que não podem ser controladas. No início de seu processo a previsão de seu comportamento é inexistente ou apenas apresenta indícios do que virá a ser; é irredutível. 3.1 Complexidade organizada Na introdução do livro “A teoria matemática da comunicação” de Claude Shannon, o cientista e matemático americano Warren Weaver comentou sobre a evolução da teoria de sistemas, que viria a ser o texto fundador da teoria da complexidade. Nesse texto, ele dividiu a pesquisa científica em três campos. O primeiro tratava do estudo de sistemas simples, problemas com duas ou três variáveis, como a rotação de planetas ou a relação entre a corrente elétrica, sua voltagem e 23 resistência, por exemplo. O segundo, problemas de “complexidade desorganizada”, compostos por milhares de variáveis e analisados por meio de métodos estatísticos. Explicava, por exemplo, comportamento das moléculas de gases e modelos de combinação de genes. O terceiro campo era um intermediário entre os sistemas simples e o de milhares de variáveis. Shannon identificou sistemas que funcionavam sob um número “moderado” de variáveis, além da característica que todas estas variáveis são inter-relacionadas, mostrando um aspecto geral de organização, denominados sistemas de “complexidade organizada”. Estes três tipos de problemas podem ser exemplificados pela analogia de uma mesa de sinuca. Um sistema simples de duas ou três variáveis pode ser uma mesa de sinuca comum, onde uma bola bate em outra analisando a velocidade e a direção do movimento. Um sistema de complexidade desorganizada seria uma mesa ampliada com milhares de bolas colidindo ao mesmo tempo. Por probabilidade é possível explicar o comportamento global da mesa, mas não o de uma bola individualmente, exceto algumas previsões estatísticas. O sistema de complexidade organizada seria uma mesa motorizada cujas bolas seguem regras específicas (quando uma bola branca bate em uma azul, ela pára até ser atingida por uma bola de outra cor, por exemplo) e por meio de suas interações, é possível identificar um padrão de comportamento após determinado tempo. Na década de 50 o pesquisador Oliver Selfridge estudava os sistemas de inteligência artificial, focando não em como a inteligência se processava, mas como os sistemas se modificavam, evoluíam. Ao final de 1958 Selfridge apresentou o software Pandemonium que tinha uma abordagem audaciosa, considerando os recursos tecnológicos da época: como reconhecer padrões inconstantes ou mal-definidos. A grande inovação era um sistema de inteligência distribuída chamada de bottom-up, ao contrário da abordagem tradicional de uma inteligência unificada, ou top-down. O software era composto de programas menores chamados de “demônios”, com funções específicas que relacionavam suas informações para alimentar outros programas maiores que realizavam o mesmo processo, em uma cadeia hierárquica. Em um sistema de reconhecimento de letras, por exemplo, há um demônio para cada letra do alfabeto a ser reconhecido. Ao analisar uma frase, todos os 26 24 demônios respondem se reconheceram sua letra e reportam a um demônio-chefe para analisar a letra seguinte da frase até o fim. Ao final, o demônio-chefe terá uma interpretação geral da frase analisada. Todo esse sistema compreende várias camadas de demônios, como em um nível mais baixo, onde cada demônio que analisa sua letra separadamente recebe informações de outros demônios que identificam elementos visuais brutos, como linhas paralelas, quebras de linha ou um ponto. Este processo básico assemelha-se ao pensamento de uma criança de dois anos de idade, que identifica as formas que vê como letras, mas não pode decodificá-las em palavras. Por meio de um mecanismo de feedback, o sistema pode aperfeiçoar seu reconhecimento e identificar ou aperfeiçoar padrões já conhecidos. Este mecanismo é semelhante ao problema proposto por John Searle, sobre o quarto chinês. Um indivíduo que fala inglês, mas não chinês é trancado em um quarto com pequenos ideogramas chineses em caixas e um manual em inglês ensinando como combinar os ideogramas e enviá-los para fora da caixa. Para quem está de fora da caixa, o indivíduo de dentro fala chinês, apesar deste apenas montar seqüências sem saber seu significado. Os processos emergentes passaram da área cientifica para o leigo; era uma obra de cultura e não de ciência. A partir dos sistemas biológicos reproduzidos em software para facilitar suas pesquisas, em 1991 Will Wright alcança outra fronteira para os sistemas emergentes ao desenvolver o jogo SimAnts, simulador de uma colônia de formigas e serviu de inspiração para lançar outro jogo que utiliza o mesmo conceito de simulador, mas com pessoas e suas relações sociais: The Sims. Desde então, os processos emergentes ficaram mais evidentes em outras situações como a identificação de padrões de consumo no marketing, ambientes colaborativos na web (sistemas como wikipedia, del.icio.us e orkut, por exemplo). Assim como uma cidade pode ser formada a partir de pequenas comunidades e desenvolver-se até tornar-se um grande centro urbano, o mesmo ocorre com a web. A antiga idéia de conectar mentes para construir um macro-conhecimento, como o Memex de Vannevar Bush, na década de 40, parece realizar-se na grande rede global de informação (World Wide Web). Apesar de facilmente identificado o processo emergente neste exemplo é importante destacar que a formação de inteligência requer mais do que facilitar conexões entre pontos de 25 informação, mas de organização. Portais e mecanismos de busca como Google e Yahoo existem porque toda a informação da web está desorganizada. É um grande paradoxo: quanto mais informação flui, maior a desorganização e a dificuldade de encontrar um dado específico neste universo. Por um sistema complexo alimentado por milhares de pessoas entende-se que seja impossível ter um controle central que organize toda a informação disponível de forma realmente relevante. Uma alternativa à construção de conhecimento bottom-up seja também um sistema de organização que utilize estes mesmos princípios. 26 4 Web 2.0 O termo Web 2.0 é uma convenção entre a comunidade de desenvolvedores web popularizado a partir de uma série de conferências organizadas pelo grupo O’Reilly Media e atribui uma série de conceitos para sistemas disponíveis na web, com um forte apelo de compartilhamento de informação, ambiente colaborativo e comportamento emergente. Uma característica principal da web 2.0 é a concepção da web como plataforma de softwares, onde todo o sistema necessário está hospedado em um site, ao contrário de programas que precisam ser instalados no computador local. O ambiente web facilita muito a troca de informação, sobretudo os sistemas web 2.0 já que propõem um ambiente em que grupos promovem a criação de novos grupos, em contraste a mídias de comunicação um-para-um (telefone, carta) e um-para-vários (televisão, rádio). ZIEGLER (2006) apresenta outras características identificadas em sites web 2.0: 4.1 Ajax É a sigla para Asynchronous JavaScript and XML, e denomina a combinação de tecnologias que possibilitam um comportamento de uma página web diferente, ao apresentar novas informações ao usuário sem que a página inteira seja carregada. Um exemplo é o sistema Gmail (http://www.gmail.com), que carrega os e-mails em uma lista individualmente, conforme o usuário seleciona, sem que a página inteira seja recarregada. 4.2 CMS Sistemas de gerenciamento de conteúdo (CMS – Content Management System) que apresentem informações em outros formatos além do HTML comum, possibilitando sua reutilização em novas tecnologias e troca entre outros sistemas web 2.0 de maneira mais flexível. Antigos sistemas de CMS não possuem este recurso. 27 4.3 Interface A construção de sites de forma que todos os elementos úteis estejam disponíveis na mesma página e/ou sejam mutáveis conforme as ações do usuário é um recurso bastante útil, considerando o uso da web como plataforma, e portanto o acesso às ferramentas e informações precisa ser otimizado. 4.4 Interoperabilidade A formatação do código de um site está otimizado para oferecer conteúdo para outros sistemas, que consiste na gravação de arquivos para conteúdo, design e códigos, separadamente, além de meta-dados que são diversas informações úteis para a manipulação das informações de um site, mas não aparecem para o usuário final. O mesmo vale para a formatação do conteúdo em HTML de forma corretamente semântica, utilizando as referências apropriadas para títulos (“h1”, “h2”, “h3” e outros) e abreviaturas (“abbr”), por exemplo. 4.5 Compartilhamento de informações Listas de bookmarks, opiniões sobre filmes, comentários em posts de blogs, fotos, tutoriais, todo conteúdo compartilhado tende a gerar novos conhecimentos. “Os melhores aplicativos Web 2.0 tornam-se cada vez melhores à medida em que são mais utilizados” (ZIEGLER, 2006). 4.6 Filtros humanos Sistemas bottom-up em que os próprios usuários apontam quais informações são relevantes, ao invés de mecanismos automatizados. Um exemplo é o sistema utilizado no site Slashdot (http://www.slashdot.com) onde usuários registrados mantêm um nível de credibilidade baseado na sua participação em comentários e qualidade das informações de seus posts a partir de votos entre eles mesmos. 4.7 Arquitetura de informação Compreende o desenvolvimento de sistemas complexos, otimizando como a informação é processada em determinado projeto, utilizando métodos de controle e padrão a fim de permitir um escalonamento e manutenção mais fácil, quando necessário. 28 4.8 Lançamentos iterativos Sistemas são lançados com suas funções básicas, buscam novos usuários e estudam seu comportamento durante o uso para então identificar novas demandas enquanto agrega novos recursos. Além da economia de recursos operacionais, esse processo evita o estresse de grandes lançamentos de um pacote completo, quando todas as funções do sistema já foram previamente definidas, sem que o usuário validasse suas reais necessidades. 4.9 Modelos e bibliotecas de modelos Apresentados como patterns, os modelos são soluções otimizadas para problemas específicos. Seu uso possibilita uma estratégia mais flexível conforme o caso, diferente dos guias de estilos, onde regras rígidas eram apresentadas para todas soluções previstas possíveis, mas nem sempre aplicáveis. Este conceito foi popularizado em 1977, pelo livro de Christopher Alexander: A Pattern Language, que apresentava vários modelos aplicáveis a várias situações do ser humano. Este conceito reaplicado em processos para desenvolvimento de aplicativos web e um exemplo é o site Yahoo! Design Pattern Library (http://developer.yahoo.com/ypatterns). 4.10 Mashup-ability Este termo corresponde à capacidade de combinar informações de dois ou mais aplicativos web por meio de suas API’s (Application Programming Interface), que são tecnologias que possibilitam o uso do conteúdo para serem reprocessados. Por exemplo, o site digglicious.com (http://www.digglicious.com) que mescla informações do sistema de bookmarks del.icio.us (http://del.icio.us) e o blog de notícias colaborativo digg (http://digg.com). 4.11 Simplicidade e modulação Interfaces simples proporcionam uma ótima experiência ao usuário, realizando apenas a tarefa que é proposta, sem elementos adicionais que possam causar confusão. Um exemplo foi o lançamento do site de pesquisas Google (http://www.google.com) onde em sua página constava apenas o logo e o campo 29 para entrada de pesquisa, enquanto outros sistemas de busca agregavam novas informações na tentativa de firmar-se como portal. A modulação está na composição de pequenos aplicativos autônomos, que podem funcionar individualmente ou como componentes em um sistema maior. 4.12 Folksonomy O uso de palavras-chaves possibilitando a categorização de conteúdo pelo usuário tem se tornado comum nos sistemas web 2.0, e diversas funcionalidades já apresentadas, como tag-clouds, comportamento emergente, entre outras. 4.13 Modelos de redes sociais Para estes modelos, é preciso considerar questões de privacidade ou publicidade, anonimato ou visibilidade e votar sobre características dos usuários, se houver. O uso de um aspecto ou outro varia conforme a natureza do sistema. 30 5 Folksonomy 5.1 Sistemas de classificação As informações publicadas na Web têm aumentado significativamente, sobretudo com novas ferramentas de publicação, facilitando o acesso para usuários nãoespecializados, como novos blogs (weblogs) criados a cada segundo segundo o site de tecnologia Technorati1. Hoje, o usuário leigo é ao mesmo tempo produtor e consumidor do conteúdo disponível. Um problema crítico decorrente desse enorme volume de dados é a organização. A mente humana tende a reconhecer, categorizar, organizar e nomear que está à sua volta. É necessário do ser humano entender qual é a sua posição relativa ao mundo; fisicamente, ele se utiliza de mapas, coordenadas, diagramas e sinalização de direções, por exemplo. O mesmo é necessário em um ambiente virtual. QUINTARELLI (2005) apresenta dois tipos de classificação: • Hierárquico-enumerativo: sistema de organização top-down, onde um conhecimento é dividido recursivamente em diferentes categorias e cada vez mais específico. Compreende uma hierarquia das categorias, enumeradas e organizadas em uma ordem sistemática. Um exemplo é o sistema decimal de Dewey (DCC - Dewey Decimal Classification), utilizado em bibliotecas. Neste caso, um objeto encontra-se em uma única posição dentro do sistema. • Analítico-sintético: um sistema bottom-up que divide uma informação em diversos conceitos individuais (análise) e utiliza regras para agrupar estes conceitos constituindo uma categoria complexa (síntese). Outros conceitos podem ser adicionados ou alterados sem prejudicar a categoria já existente. O sistema hierárquico-enumerativo é um conceito clássico cujas categorias são mutuamente exclusivas e exaustivamente organizadas. Apesar de sua utilização ser bem difundida e bem aceita até hoje, o sistema apresenta algumas falhas: • 1 Não compreende itens que participem em mais de uma categoria. <http://technorati.com/weblog/2006/04/96.html>. Acessado em 20 jun. 2006. 31 • As classificações dependem do ponto de vista de um organizador, que é influenciado por características culturais e outras variáveis subjetivas. • Requer um exercício de previsão do sistema para manter-se estável. • Não leva em conta as diferentes necessidades de uso do pesquisador, que deve adaptar-se à estrutura imposta pelo sistema. De outro modo, o sistema analítico-sintético proporciona diversas configurações de classificação de acordo com a organização dos conceitos individuais utilizados, ou palavras-chave. Ao invés de uma hierarquia predeterminada, a classificação de um item pode ser reconfigurada (adicionando, alterando ou excluindo uma palavra-chave) sem que prejudique o sistema geral. Na teoria de processos emergentes, a alteração de uma palavra-chave na base do sistema implica em uma auto-regulação das relações dos componentes do sistema e conseqüentemente a configuração geral do macro-sistema. A recuperação de uma informação pode assumir um caráter exploratório, quando o pesquisador busca referências para uma determinada palavra-chave e desse resultado ele encontra outras associadas para então utilizá-las e assim refinar sua pesquisa. No sistema del.icio.us, por exemplo, é possível identificar quais outras palavras-chave estão associadas com o termo “social” e selecionar também o termo “artigos”, verificar quais outras pessoas que também utilizaram determinado termo ou até mesmo listar todas as classificações de um bookmark por todos os usuários do sistema. Pelo volume significativo de dados gerados na Web, e considerando a diversidade cultural e social dos usuários que geram e consultam esse conteúdo, surge a necessidade de ferramentas que possibilitem o compartilhamento e a organização não-especializada de informação. Nesse caso, o uso de um sistema de comportamento emergente baseado em regras simples, flexíveis e escaláveis parece ser mais adequado. Uma proposta para esse problema é o sistema de classificação baseado em folksonomy. É importante ressaltar que, historicamente, toda informação formal da humanidade é registrada em livros, que são organizados até hoje dentro de um rígido sistema de classificação. Quando essa mídia física passa ser digital, a forma de como a informação é construída altera assim como ela pode ser 32 utilizada, possibilitando inúmeras ações que seu antecessor não permite. Portanto, é natural que surjam novas formas de tratar essa mídia, e isso implica em quebra de paradigmas. 5.2 Definição do termo Folksonomy é a prática de uma classificação pessoal compartilhada por usuários e organizada por processos emergentes. É comumente associado como a junção inglês folk (pessoas) e taxonomy (taxonomia). Ironicamente, embora haja um consenso sobre a origem do termo, o neologismo formado a partir dessas duas palavras é criticado por Thomas Vander Wal, quem cunhou o termo no início de suas pesquisas, por considerar folksonomy um neologismo para uma prática que tem por princípios não ter uma denominação absoluta sobre algo2. Outro termo conhecido para esse conceito é o de tagging (ato de aplicar tags, traduzidas aqui por “palavras-chave”). Alguns aplicativos na Web tornaram este conceito familiar e são aplicados para classificar informações desse meio, como bookmarks e fotografias. Como sistema emergente, a folksonomy (assume-se aqui o gênero feminino por tratar-se de uma “classificação”) é a manifestação de um afastamento do uso de uma classificação somente hierárquica centralizada. Ao invés de utilizar um processo autoritário e obedecer a regras rígidas de classificação (inteligência unificada, top-down), os usuários desses sistemas procuram associar palavraschave a conteúdos que considerem relevantes, mesmo que não correspondam a um consenso comum. Quando isso acontece, o usuário tem um nível menor de compartilhamento de sua ontologia com outros grupos, mas mesmo assim não deixa de usufruir do sistema para recuperar suas próprias informações. A ontologia de um usuário equivale ao conjunto de todas as palavras-chave dentro de um sistema. Além desse mecanismo, o mais importante da folksonomy é compartilhar estas informações com outras pessoas, novas relações emergem naturalmente (inteligência distribuída, bottom-up). 2 <http://www.vanderwal.net/random/category.php?cat=113>. Acessado em 20 jun. 2006. 33 5.3 Áreas de atuação Inicialmente, a maioria dos aplicativos destinava-se a organizar bookmarks e fotografias, como del.icio.us (http://del.icio.us), Flickr (http://www.flickr.com), Furl (http://www.furl.net), Technorati (http://www.technorati.com). Apesar do uso mais evidente para a folksonomy seja conteúdo referente à internet, como um sistema geral ele se aplica a outras áreas, por exemplo a degustação de vinhos (Cork’d - http://corkd.com), obras de arte em museus (The art museum social tagging Project - http://www.steve.museum) até mesmo coletar e catalogar todas as fotografias de fãs da cantora Madonna (Madonna tagging - http://www.madonna.com/taggingproject.html). 5.4 Classificação versus categorização Apesar das definições entre “classificação” e “categorização” serem semelhantes e ambas servirem para designar processos de organização de informação, é importante distingui-las para o uso correto dos termos neste trabalho. Enquanto classificação divide um universo de entidades em um sistema arbitrário de classes hierárquicas mutuamente exclusivas e que não se interseccionam, na categorização o processo é mais flexível, já que estas entidades são agrupadas por similaridade dentro de um determinado contexto e podem participar de uma ou mais classes (JACOB, 2004). Para a folksonomy, o conceito de categorização 5.5 Propriedades da folksonomy O uso de palavras-chave em sistemas na Internet não é novo, mas algumas características são relevantes a este processo: • O feedback do sistema é imediato. Ao incluir ou editar as palavras-chave de um elemento, são reorganizadas as relações entre os outros elementos assim como a ontologia do usuário (seu conjunto pessoal de palavras-chave) e também o sistema-macro, relacionado com todos os usuários. • A partir de uma palavra-chave é possível descobrir novos termos de classificação utilizados, quando são intersectados na ontologia de outros usuários. 34 • O uso de tag-clouds, ou literalmente “nuvem de tags”. São referências visuais de quais palavras-chave são mais relevantes em uma lista, diferenciadas pelo tamanho do tipo ou outro recurso, como negrito, cor, entre outros. • Possibilidade de combinação entre palavras-chave para refinamento da pesquisa. • Na rede social, é possível associar o uso de determinadas palavras com o perfil de usuário e a época em que foi utilizado, mapeando o vocabulário de uma comunidade. 5.5.1 Folksonomy aberta e fechada Vários tipos de informação podem ser utilizados para a folksonomy servindo a diferentes propósitos. WAL (2005) classifica a folksonomy em dois tipos: aberta (broad) e fechada (narrow). A folksonomy aberta é caracterizada por várias pessoas categorizando um elemento comum, com a possibilidade de compartilhar a mesma palavra-chave proporcionando uma troca de informação entre ontologias. Cada usuário pode utilizar suas palavras-chave de acordo com seu modelo mental, linguagem e vocabulário. A distribuição dos usuários relacionados aos termos utilizados tende a uma grande parcela (power law curve) que utiliza uma palavra-chave comum, diminuindo progressivamente até uma faixa estreita (long tail) que usa termos pouco comuns. Ao investigar quais palavras-chave são utilizadas em certos grupos, é possível identificar quais os termos mais relevantes para determinado elemento e extrair um vocabulário comum desta maioria. O sistema do del.icio.us é um exemplo deste tipo. A folksonomy fechada apresenta vantagens em categorizar elementos que por sua natureza são difíceis de serem pesquisados, como imagens. Diferente da folksonomy aberta, esta caracteriza-se por uma palavra-chave referenciar especificamente um objeto específico, como uma fotografia. Apesar dos conteúdos compartilhados, as palavras-chave normalmente as pessoas que criam o conteúdo e aplicam as palavras-chave são os mesmos. Apesar de ser possível a pesquisa, outras pessoas não podem aplicar novas palavras-chave a um conteúdo já categorizado, como no sistema Flickr (http://www.flickr.com). 35 Meta-noise é o tipo de palavra-chave que apesar de não descrever explicitamente o objeto, adiciona um entendimento semântico dentro de um contexto. 5.5.2 Aspectos cognitivos A categorização de um elemento envolve duas etapas. A primeira compreende a análise de semelhança entre o elemento e os conceitos que ele remete. A segunda envolve a escolha de qual conceito é mais adequado a este elemento segundo critérios preestabelecidos, envolvendo um esforço cognitivo para testar algumas hipóteses e finalmente registrá-lo. Este elemento é da classificação A ou B, subclassificação a1, a2, ou a3? É o que acontece em um sistema de classificação centralizado e hierárquico. Na folksonomy este processo termina na primeira etapa, quando os conceitos imediatamente associados já são registrados. É mais simples e não requer um treinamento anterior sobre os critérios de classificação, já que o repertório utilizado é do próprio usuário e não um externo. Por este mesmo motivo, a recuperação desse registro é mais eficiente, pois o processo de associação de conceitos é intrínseco ao usuário. No del.icio.us, ao armazenar um bookmark o usuário imediatamente insere as palavras-chave associadas ao valor reconhecido do site, que podem compreender aspectos técnicos, pessoais e outros. 5.5.3 Evolução No processo de comunicação há problemas que não podem ser desconsiderados, visto que a “linguagem não pode excluir erros e nem mau uso intencional” (LUHMANN, 2001). A mensagem não precisa ser necessariamente correta ou verdadeira, mesmo que a linguagem seja utilizada corretamente. Se não há mecanismos para identificar a veracidade de uma comunicação, é possível regulá-la na comunicação posterior ao afirmar, corrigir ou negar tal informação. O próprio sistema trata de corrigir esses desvios, auto-regulando-se. Além da possibilidade de afirmação ou negação de uma informação, é preciso que esta tenha um sentido. No âmbito digital, com a possibilidade de cópias indefinidas assim como a facilidade de distribuição, “o próprio mundo da percepção converte-se em objeto comunicativo” (LUHMANN, 2001). O contexto está incluso na própria informação, pois a percepção só fará sentido se se entender como o ato de comunicação pretendia ser. Uma outra situação é quando o processo de 36 comunicação está integrado ao de dados eletrônicos e o entendimento do contexto perde sua importância no entendimento. Neste caso, a negação só acontece quando é determinada uma falha no meio eletrônico. Ao surgirem novas tecnologias, conceitos antigos de grande relevância são deixados de lado para dar lugar a novos. Não são perdidos, mas deixam de ser a única referência ao ser complementado com novas possibilidades. “O novo torna possível uma utilização mais específica daquilo que já existe” (LUHMANN, 2001). A penetração dos sistemas digitais nos processos humanos chegou a um nível em que o próprio meio se tornou natural e a sensação de que seria insuportável caso ele não existisse. Atingido este limite, outros surgem como é o caso da organização do conteúdo no meio digital, que trouxe a metodologia aplicada na mídia impressa e esta já complementada por novas propostas como é o caso da folksonomy. E com certeza outras metodologias virão, complementando-a. 37 6 del.icio.us 6.1 Definição O site del.icio.us (http://del.icio.us) é um sistema de armazenamento de bookmarks compartilhado baseado em folksonomy. Foi desenvolvido a partir de um projeto pessoal do engenheiro em comutação Joshua Schachter e lançado em 2003, até ser adquirido pelo grupo Yahoo em 2005. A constituição incomum de sua URL, contribuiu para sua popularidade ao utilizar a separação de prefixos e sufixos para compor uma palavra inteira. Outros sites inspirados a partir do del.icio.us também usam essa prática, chamada de domain hack. Sua estrutura é formada pelo compartilhamento dos bookmarks armazenados de usuários cadastrados, que por sua vez, organizam seus bookmarks por meio de palavras-chave definidas a partir de contextos pessoais. Ou seja, o usuário define quais palavras-chave são relevantes para determinado bookmark que podem ser as mesmas de outros usuários. Nesse caso, há um padrão emergente de categorização que permite a troca de informação entre usuários. 6.2 Utilização 6.2.1.1 Interface A interface do del.icio.us segue os conceitos de web semântica com a construção de sites baseados em tableless, ou seja, não utiliza elementos de tabelas para organizar os elementos em sua página. Há uma série de vantagens, como redução do tamanho em Kbytes, economia do uso de banda, portabilidade entre sistemas operacionais e browsers, e acessibilidade facilitada para tecnologias para portadores de necessidades especiais. Na tela inicial (http://del.icio.us), há diversas informações para os novos usuários. No canto superior direito localiza-se o menu do sistema, com as funções de login (para usuários cadastrados), registro (usuários novos) e help (ajuda) (Figura 1). Os itens popular e recent listam os links mais cadastrados e recentes, respectivamente. 38 Figura 1 – Tela inicial do del.icio.us. Logo abaixo um pequeno texto apresentando as funções do sistema com destaque para três ações principais: keep (guardar), share (compartilhar) e discover (descobrir). Ao centro, um campo para pesquisa das palavras-chave, seguido de um texto de ajuda explicando o conceito de tag. Á direita, há uma coluna para registro rápido de novos usuários. Abaixo, segue uma lista com os 3 dos links registrados mais recentemente no momento em que a página foi acessada, e nas horas anteriores. Esta última função na página inicial foi inserida recentemente, já que sua página de links populares (http://del.icio.us/popular) tinha um alto índice de acessos, reforçando a função do del.icio.us como um sistema para descobrir novos sites e não somente armazená-los (apesar de uma ação estar diretamente relacionada à outra). Quando o usuário já está cadastrado e após ter efetuado o login, as informações da página inicial explicando o funcionamento são suprimidas e são apresentados somente os links do menu e a lista dos registros populares mais recentes (Figura 2). 39 Figura 2 – Página inicial do del.icio.us após realização do login. Além de seguirem o mesmo padrão de cores do logotipo do sistema, os links são apresentados na cor azul diferindo do texto comum em preto sobre fundo branco, que coincidem com as recomendações do especialista em usabilidade Jakob Nielsen. 6.2.1.2 Navegação A pesquisa por palavras-chave dos bookmarks armazenados pode ser feita de duas maneiras. A partir do campo de pesquisa no topo da página ou diretamente no campo para a url do browser, por exemplo: • Listar todos os links do usuário weno: del.icio.us/weno (Figura 3) • Listar todos os links do sistema com a palavra-chave folksonomy: del.icio.us/tag/folksonomy (Figura 4) • Listar todos os links com a palavra-chave folksonomy do usuário weno: del.icio.us/weno/folksonomy 40 • Listar os links com as palavras-chave folksonomy e pos_midias do usuário weno: del.icio.us/weno/folksonomy+pos_midias (Figura 5) • Listar os links mais populares do sistema: del.icio.us/popular • Listar os links mais recentes do sistema: del.icio.us/recent Também é possível selecionar a pesquisa pelo campo de entrada após o nome do usuário, no topo da página. Este recurso facilita a localização do usuário dentro do sistema e é chamado de breadcrumbs, ou “migalhas de pão”, fazendo alusão ao conto infantil “João e Maria”, dos Irmãos Grimm onde os personagens marcavam o caminho percorrido com migalhas. Figura 3 – Todos os links do usuário weno. 41 Figura 4 – Todos os links do sistema com a palavra-chave folksonomy 42 Figura 5 – Todos os links com as palavras-chave folksonomy e pos_midias do usuário weno. 6.2.1.3 Bookmark Todo bookmark ou registro de um site no del.icio.us é apresentado da seguinte maneira (Figura 6): a) Nome do site b) Editar/Apagar c) Descrição d) Palavras-chave e) Salvo por nnn f) Data do registro pessoas Tabela 1 – Estrutura de exibição de um bookmark. a) Nome do site: por padrão, é o título apresentado no site, mas pode ser alterado; b) Editar/Apagar: se o usuário estiver registrado no sistema, os comandos de editar ou apagar são apresentados à direita, para facilitar a manutenção; c) Descrição: preenchimento opcional, descreve em linhas gerais o bookmark; 43 d) Palavras-chave: preenchimento opcional; e) Salvo por nnn pessoas: este link aponta para a lista dos usuários que também registraram este bookmark; f) Data do registro: data de quando o bookmark foi registrado no sistema. Figura 6 - Exibição de um bookmark. Registrando novos bookmarks Após realizado o registro no sistema, o usuário pode cadastrar seus bookmarks diretamente pelo site do del.icio.us ou criando um atalho em seu browser a partir de um link fornecido pelo sistema. No segundo caso, ao navegar em um site do seu interesse, o usuário clica neste atalho para carregar automaticamente a página de cadastro do del.icio.us (Figura 7). No topo da página há 4 campos de entrada: • url: o endereço web do site (preenchimento obrigatório); • description: o nome do site (preenchimento obrigatório); • notes: texto descritivo do site. Por padrão, é carregado a partir do título da página, se houver. (preenchimento opcional); • tags: palavras-chave relevantes para o usuário sobre o site (preenchimento opcional). Abaixo do campo tags, há um recurso útil que são as recomendações para as palavras-chave baseadas na relação entre as mais populares do sistema para determinado bookmark e a ontologia do usuário que está cadastrando3. Atenção para o fato dos campos de notes e tags serem opcionais, já que o del.icio.us presta-se a armazenar bookmarks e a forma como este processo é organizado fica a critério do usuário. No entanto, ao deixar de preencher ao 3 <http://www.ece.ubc.ca/~leei/weblog/2005/11/delicious_and_recommended_tags.html>. Acessado em 21 jun. 2006. 44 menos uma palavra-chave no campo de tags, perde-se o potencial de uso do sistema. Ao salvar o cadastro, o browser retorna à página original. Figura 7 – Tela para registro de bookmarks. 6.2.1.4 Ambiente colaborativo Como um sistema emergente, o del.icio.us oferece algumas ferramentas facilitando o acesso a novos bookmarks. Além de verificar outros usuários que já registraram o mesmo bookmark e daí navegar em uma outra lista, é possível criar assinaturas dos bookmarks de determinadas palavras-chave a partir do link inbox. Há também a função de network onde é possível adicionar usuários cadastrados no sistema em uma lista pessoal e receber os bookmarks cadastrados por esses usuários em uma lista separada. Ao cadastrar um bookmark é possível mandar uma cópia para um usuário cadastrado em um determinado network ao incluir a palavra-chave for: seguido do nome do usuário, sem espaços. Dessa maneira, este usuário receberá este bookmark ao clicar no link links for you. 45 É possível atribuir licenças de uso para a lista de um determinado usuário como domínio público ou outras categorias definidas pela organização sem fins lucrativos Creative Commons (http://creativecommons.org) dedicada a auxiliar na preservação de direitos autorais e o compartilhamento legal de materiais disponíveis na web. O usuário pode também explicitar que sua lista é para uso pessoal, reservando todos os direitos para si. 6.2.1.5 Manutenção A manutenção do sistema pode ser feita individualmente para cada bookmark, ou pela lista de palavras-chave, onde é possível renomeá-las ou apagá-las. É possível agrupar as palavras-chave comuns em grupos, chamados de bundles (pacotes). Estes grupos não são compartilhados como as palavras-chave, são criados apenas para organização pessoal. Um ou mais bundles podem conter as mesmas palavras-chave. 6.3 Aspectos técnicos O sistema foi desenvolvido em linguagem Perl e Mason em uma base de dados MySQL, segundo entrevista com o desenvolvedor, Joshua Schachter4. O del.icio.us apresenta algumas funcionalidades para distribuição das ontologias de usuários ou pesquisas por palavras-chave no formato RSS (Really Simple Syndication), facilitando o acesso do usuário que utiliza este recurso, ao acompanhar as atualizações de várias ontologias sem que tenha que acessá-las individualmente via browser. O acesso em dispositivos móveis também é possível por meio do sistema mobileGlu (http://www.mobileglu.com) que transforma o conteúdo RSS em um formato acessível para telefones celulares, por exemplo. Há a possibilidade de desenvolvedores web utilizarem HTML, Javascript e JSON (JavaScript Object Notation) para distribuir o conteúdo do del.icio.us em outros sites e aplicativos web. 4 <http://www.randsinrepose.com/archives/2004/12/03/a_delicious_interview.html>. Acessado em 21 jun. 2006. 46 A API (Application Programming Interface) do sistema também está disponível, que é uma interface para outros aplicativos que utilizem suas informações para serem reprocessadas em outros sistemas. Outros aplicativos também utilizam as informações do del.icio.us como o browser Flock (http://www.flock.com), ou componentes extras para integrar o uso do sistema no browser Firefox (http://www.mozilla.com/firefox). Nos blogs é possível listar os bookmarks mais recentes, lista de palavras-chave ou lista dos bookmarks de arquivos de áudio por meio de códigos gerados automaticamente no sistema, facilitando o uso para usuários não-familiarizados com as linguagens de desenvolvimento para web. Apesar de apresentar características de sites web 2.0, o del.icio.us utiliza poucos recursos de Ajax focando mais nas ações de sistema, deixando de lado algumas características de usabilidade, como funções de arrasta-e-solta, seleção de grupos pelo mouse, entre outros. 6.4 Palavras-chave O termo traduzido por “palavra-chave” neste trabalho deriva do termo inglês, tag, cuja tradução literal é etiqueta, rótulo. O significado do termo original faz mais sentido para o sistema de folksonomy, analogamente ao ato de rotular, etiquetar coisas com o fim de organização. No entanto, a escolha do uso de “palavrachave” justifica-se pela familiaridade do termo na prática de classificação de livros ou informações, aproximando-se mais do elemento virtual. Adotar os termos “rótulo” ou “etiqueta” remeteria erroneamente ao ato de aplicar rótulos ou etiquetar algo físico. 6.4.1 Características Apesar da inexistência de um critério formal nas escolhas das palavras-chave, há discussões sobre o tipo de palavra-chave, se esta descreve o objeto diretamente ou a categoria em que este objeto está inserido (COATES, 2005). No entanto, “o tipo de palavra-chave – se esta descreve um objeto ou grupo de objetos – é menos importante do que a função de uma palavra-chave, qual informação ele referencia ou como ela é utilizada” (GOLDER; BERNARDO, 2006). A seguir, as funções identificadas para bookmarks: 47 • Identificar o que (ou a quem) se trata: em sua grande maioria, as palavras-chaves referem-se ao conteúdo que é apresentado no bookmark, nomes próprios ou de instituições; • Identificar o que é: referenciam o tipo de conteúdo que trata o bookmark, como “livro”, “artigo”, “post”; • Identificar seu proprietário: referenciam o usuário que registrou o bookmark no sistema; • Refinar categorias: algumas palavras-chaves são utilizadas em combinação com outras, mas não referenciam nada sozinhas. É o caso de numerais, como “100”, “50”, por exemplo; • Identificar qualidades ou características: adjetivos utilizados de acordo com a opinião do usuário, como “fun”, “cool”, “confusing”, por exemplo; • Auto-referência: palavras-chaves com o prefixo “my” como “mystuff”, ou “me” que referenciam conteúdo do usuário; • Organização: ao registrar bookmarks para uma determinada tarefa como “toread” (para ler depois), ou “pos_midias”, como foi utilizado na a pesquisa desta monografia5. 6.4.2 Limitações Os problemas derivados de um vocabulário não-controlado formalmente limitam alguns usos da folksonomy, como ambigüidade, falta do controle de sinônimos, por exemplo. 6.4.2.1 Ambigüidade A ambigüidade acontece quando uma palavra-chave pode assumir dois ou mais significados. Ao pesquisar somente o termo filter no sistema del.icio.us são apresentados os seguintes sites de várias áreas, como softwares de edição de imagens, controle de pais para o acesso de sites de seus filhos, problemas técnicos do sistema de óleo de motos ou ar-condicionado, como a seguir: • 5 Photoshop Filters From Nikon Camera Users. <http://del.icio.us/weno/folksonomy+pos_midias> 48 • Parental Controls, Internet Filtering and Monitoring - Parental Controls Software. • MKL's Harley-Davidson Sportster 1200 Custom - How to Deal With The Oil Blowby Phenomenon. • Air Conditioner Spring Cleaning. A ambigüidade também é encontrada no caso de algumas siglas, como “ANT”, que aparece em registros sobre formigas ou Actor Network Theory. No entanto, a ambigüidade deixa de ser uma limitação do sistema quando relacionam-se outras palavras-chave que contextualizem a de significado dúbio. É o mesmo processo de refinamento de uma pesquisa onde acrescenta-se mais detalhes para filtrar a informação relevante. 6.4.2.2 Palavras compostas Não há um suporte específico para palavras compostas no del.icio.us, já que as palavras-chave são separadas por espaços. Nestes casos é preciso utilizar outros recursos como substituir o espaço por outro caractere, como o hífen, sublinha (underscore), concatenar as palavras ou outro critério definido pelo usuário. Por exemplo, o termo “user experience” aparece em ocorrências do del.icio.us como “user-experience”, “user_experience” ou “userexperience”. Um recurso para minimizar este problema na lista de um usuário seria adotar um único critério ao cadastrar palavras compostas. 6.4.2.3 Sinônimos No sistema del.icio.us e outros similares, não há uma função de controle de sinônimos. Abreviações, gírias, versões em singular ou plural são interpretados como palavras-chave diferentes. Em um sistema centralizado (como o DCC, para bibliotecas, por exemplo) este problema é evitado, dado o controle central das palavras “disponíveis” para classificação. Porém, nos sistemas de folksonomy na web isto seria praticamente impossível, pelo enorme volume de usuários e dados inseridos. No caso de palavras-chave com caracteres latinos o sistema interpreta como iguais suas versões em caracteres da língua inglesa. Por exemplo, “concepción” e “concepcion”, ou “conexão” e “conexao”. 49 Não há um controle de bad words como palavrões ou palavras-chave relacionadas a sexo. Em outros sistemas como o Flickr (http://www.flickr.com) também não existe este tipo de controle, mas há um link para qualquer usuário aplicar uma palavra-chave para designar um conteúdo que possa ofender, embora este critério seja muito relativo conforme costumes e crenças dos usuários. No sistema Furl (http://www.furl.net), ao pesquisar bad words ele exibe logo acima os resultados um aviso que o termo de pesquisa é relacionado a conteúdo adulto e assim como pode apontar alguns links apresentados. 6.4.3 Vantagens Apesar da folksonomy não ser um vocabulário controlado e algumas limitações como as citadas, há outros fatores que destacam este sistema de organização. 6.4.3.1 Ampliação do campo de pesquisa Uma delas é a capacidade de se encontrar informações úteis no processo de pesquisa, mesmo que não fossem do foco inicial. No inglês, este fenômeno é chamado de serendipity. Ao listar todos os sites associados a uma palavra-chave dentre as listas de todos os usuários, é grande a possibilidade de se descobrir outras fontes interessantes, além de novas palavras-chave associadas por critérios diferentes do pesquisador. Dessa maneira, novas conexões são formadas e amplia-se o campo de pesquisa. Há uma diferença fundamental entre explorar para encontrar uma informação e realizar uma pesquisa direta e objetiva. Analogamente, seria o mesmo processo de pesquisar um livro direto no sistema informatizado de uma biblioteca e ir diretamente à ele, ou circular entre as estantes de um assunto específico e verificar os livros que se considere interessante. Aumenta-se as chances de encontrar novos autores e títulos que não seriam descobertos na situação anterior. Ou comparar à ação de explorar um problema para formular questões ou buscar respostas para questões específicas. 6.4.3.2 Ontologia pessoal À medida em que um usuário adiciona suas entradas de bookmarks no del.icio.us, sua lista de palavras-chave aumenta e diretamente reflete seu vocabulário e do grupo em que ele participa. Dessa maneira é possível identificar 50 padrões emergentes de organização dentro de determinados grupos, e em que maneira eles se relacionam. A vantagem sobre vocabulários controlados é que as palavras-chave do sistema são as mesmas do usadas na prática para nomear as coisas. O uso de uma denominação que já é familiar traz vantagens no cadastramento, recuperação das informações (mais fácil de lembrar) e é mais autêntico do que uma outra denominação oriunda de um vocabulário controlado e que não é utilizada cotidianamente. 6.4.3.3 Aprendizagem A facilidade com que usuários aprendem e aperfeiçoam sua ontologia na prática da folksonomy é muito maior do que o tempo e esforço gasto para familiarizar-se com um sistema hierárquico e centralizado. 6.4.3.4 Escalabilidade e manutenção O sistema é automaticamente remodelado quando uma palavra-chave é incluída ou alterada. Todas as relações da ontologia de um único usuário e conseqüentemente do sistema inteiro são formadas no momento em que uma pesquisa é realizada, sem custos adicionais para o sistema ou o usuário, diferente nos casos de um sistema centralizado e controlado, por exemplo. O feedback do sistema é imediato, sem a necessidade de um novo processamento toda vez que há uma alteração em seus componentes. À medida em que o usuário torna-se mais familiarizado com a prática da folksonomy, sua metodologia ao escolher as palavras-chave adequadas é refinada e uma manutenção em sua ontologia se faz necessária. Assim como o vocabulário pessoal muda conforme o repertório de um indivíduo, o mesmo deve refletir em sua ontologia para que o sistema atinja seu grau máximo de eficiência. 6.5 Individual vs. comunitário Apesar da função mais imediata da folksonomy ser de categorização individual a maior mudança é a comunicação assíncrona entre usuários por meio de suas ontologias. Bookmarks classificados como “personal”, “toread” referem-se estritamente a um usuário específico. Porém, à medida em que este usuário explora outras ontologias, até mesmo estas palavras-chave pessoais tornam-se familiares e passam a integrar suas próprias listas. Não há imposição no uso de 51 uma determinada palavra-chave, mas este feedback imediato ocasiona em uma auto-regulação do sistema. À medida em que a preocupação com o compartilhamento aumenta, o usuário vai levar em consideração a escolha de uma palavra-chave que seja relevante a ele e também para que a comunidade possa identificá-la corretamente. O limiar entre individual e comunitário não fica muito bem definido mas não são mutuamente exclusivos. A folksonomy serve a propósitos individuais mas agrega valor à toda comunidade do sistema automaticamente. As funções de network do del.icio.us contribuem para este aspecto colaborativo, ao facilitar a troca de bookmarks. Um exemplo claro do uso social da folksonomy é o site 43 Things (http://www.43things.com) onde os usuários compartilham atividades que desejam realizar e dessa maneira sintam-se estimulados a concretizá-las. 6.6 O Outros usos del.icio.us foi desenvolvido essencialmente para armazenamento e compartilhamento de bookmarks. Mas como é característico de um sistema emergente, outros usos são utilizados além dos projetados inicialmente, como a seguir: • Pesquisa: organização de referências durante o processo de escrita de um artigo ou dissertação acadêmica (como é o caso deste trabalho, na url http://del.icio.us/weno/folksonomy+pos_midias) • Lista de presentes (whislist): organizando listas de presentes a partir de links de sites comerciais para compra ou sugestão para amigos. • Podcast: bookmarks que apontem diretamente para arquivos de áudio são automaticamente identificados pelo sistema e atribuídos com a palavra-chave system:filetype:mp3. No caso dos arquivos .mp3, o del.icio.us dispõe de um player integrado, possibilitando a audição de músicas ou podcasts (diários baseados em áudio), ao cruzar as palavras-chave system:filetype:mp3 e podcasts. • Viagens: organizando previamente links úteis para o uso durante uma viagem. As aplicações são inúmeras. Outros blogs apresentam sugestões, como: 52 • Filmes para alugar: adicionando a palavra-chave toRent ou movies_to_see nos links de filmes do site Internet Movie Database (www.imdb.com). • Coleções de CDs: cadastrando todos os CDs de uma coleção e aplicando a palavra-chave missing no caso de não saber onde um determinado CD possa estar. • Troca direta de links: alguns usuários acham mais conveniente pedir para que vejam suas últimas entradas na sua lista pessoal do que selecionar, copiar e colar url’s nos instant messengers ou e-mails. • Catálogo de endereços: baseados na API do sistema Google maps, o usuário cadastra a url de um determinado endereço localizado no mapa. • 6.7 Caderno de receitas. Aplicativos derivados Assim como a maioria dos sistemas Web 2.0, o del.icio.us apresenta uma API (Application Programming Interface), ou seja, uma interface para outros serviços utilizarem suas informações em outros aplicativos, variando entre novas soluções de navegação, representação de mapas ou relacionando com informações de API’s de outros sistemas. Abaixo, alguns exemplos: • Delicious Soup (http://www.zitvogel.com/delicioussoup): apresenta as relações em um mapa radial de uma determinada palavra-chave no centro, circundada das outras que a relacionam. • del.icio.us. discover (http://www.mandalabrot.net/delicious): imagens abstratas a partir de relações das palavras-chave intra e inter-usuários. • Delicious Mind Map (http://maps.pietrosperoni.it/delicious/makemap.html): disposição visual das palavras-chave como um mapa conceitual. • Research Chronology (http://www.datadreamer.com/research): projeto acadêmico, relacionando datas, horas e palavras-chave de sites cadastrados, demonstrados em um mapa. • Revealicious (http://www.ivy.fr/revealicious): série de aplicativos demonstrando novas referências visuais para relações entre palavras-chave, relevância entre usuários, entre outros. • extisp.icio.us text (http://kevan.org/extispicious): gerador de tag-cloud, baseado na lista de um usuário dado. 53 • extisp.icio.us images (http://kevan.org/extispicious): realiza busca de imagens no sistema Yahoo images (http://www.yahoo.com) a partir das palavras-chave de determinado usuário. • Del.icio.us Popular Treemap (http://codecubed.com/map.html): mapa dos links mais populares. • Oishii! (http://opencontent.org/oishii): ranking dos sites mais cadastrados atualizado a cada 5 minutos. • Populicio.us (http://populicio.us/newlinks.html): ranking dos sites mais populares nas últimas 24 horas. • Supr.c.ilio.us (http://supr.c.ilio.us) folksonomy em bookmarks de outros sites de folksonomy. • Del.icio.us direc.tor (http://johnvey.com/features/deliciousdirector): interface de navegação baseada em AJAX (Asynchronous JavaScript and XML). • Mobilicio.us (http://mobilicio.us/www/index.php): Acesso de uma lista pessoal do Del.icio.us via celular, em conjunto com o sistema Google Mobile (http://www.google.com/xhtml). • DiggLicious.com (http://www.digglicious.com): relação das informações do del.icio.us com o blog de links colaborativo Digg (http://digg.com). • Connotea (http://www.connotea.org): foco no armazenamento de artigos para a comunidade acadêmica. 6.8 Sistemas similares Além do del.icio.us, há outros sistemas de compartilhamento de bookmarks (também denominados de social bookmarking) semelhantes, com poucas variações em funções ou tipo de informação categorizados. Abaixo, alguns exemplos: • Furl (http://www.furl.net): tem características mais controladas, como notas e seções; • Clipmarks (http://www.clipmarks.com): interface com o conceito de RIA. • Yahoo MyWeb (http://myweb2.search.yahoo.com); • Bookmark manager (http://www.bookmark-manager.com); • BibSonomy (http://www.bibsonomy.org); 54 • Bloglines (http://bloglines.com); • Technorati (http://www.technorati.com): especializado em conteúdos de blogs; • Scuttle (http://scuttle.org); • sa.bros.us (http://sourceforge.net/projects/sabrosus). A folksonomy como um sistema aberto de organização possibilita seu uso em qualquer área do conhecimento em que palavras-chave sejam usadas para categorizar sem a condição de uma hierarquia. Diversos sistemas têm sido desenvolvidos utilizando a folksonomy com aplicações não somente para conteúdos diretamente relacionados à Internet mas gastronomia, por exemplo. • Cork'd (http://corkd.com) destina-se a reunir avaliações de vinhos por meio da folksonomy. Um usuário registrado mantém sua lista de vinhos avaliados, que são confrontados por outras avaliações. Como o vocabulário de degustação é criado a partir das sensações do degustador com palavras associadas livremente, pode-se dizer que esta prática assemelha-se bastante com a folksonomy. Dessa maneira, é possível afirmar que outras áreas da gastronomia podem se utilizar de um sistema semelhante. • Youtube (http://www.youtube.com): disponibiliza vídeos para execução diretamente do browser com seu conteúdo todo organizado a partir de palavras-chave de seus usuários cadastrados. • Flickr (http://www.flickr.com): sistema de armazenamento de imagens organizadas via folksonomy. 55 7 Conclusão A folksonomy não está somente relacionada ao conceito de armazenamento e organização, mas também de comunicação e compartilhamento facilitado de informações. Além das vantagens já apresentadas, provavelmente o potencial emergente da troca neste e outros sistemas é o que explica o grande e crescente número de usuários do del.icio.us e outros sistemas apontando a tendência para a web 2.0. Mesmo assim, o processo de categorização de entidades pode compreender qualquer tipo de informação, exemplificado por alguns aplicativos já apresentados e outros usos da folksonomy que com certeza serão descobertos, contribuindo para a evolução desta monografia para uma possível tese de mestrado. É interessante notar que apesar da teoria geral dos sistemas ter origem na biologia na década de 70, sua aplicação ainda é atual após mais de 30 anos depois e em outra área do conhecimento com tecnologias não-existentes naquela época. E apesar da tecnologia não ter uma ligação direta com a natureza, ela ainda traz padrões reconhecíveis que ajudam no desenvolvimento de uma outra natureza, ainda que digital. Ironicamente, as respostas para a “evolução” tecnológica podem estar em um ambiente que precede a própria tecnologia. 56 8 Considerações finais A decisão do tema da monografia foi um dentre vários assuntos que despertaram a curiosidade do autor, durante o desenvolvimento do curso de pós-graduação em Mídias Interativas. Além de ampliar a visão das possibilidades que as mídias interativas podem proporcionar, inúmeras discussões teóricas e práticas serão fundamentais para o desenvolvimento acadêmico, profissional e pessoal do autor. A escolha por este sistema foi baseada na popularidade e facilidade de uso para a tarefa de armazenar bookmarks e ser um dos sistemas pioneiros em utilizar a folksonomy. As discussões em diversos blogs sobre essa forma de categorização citavam o del.icio.us como referência. 57 Referências BERTALANFFY, Ludwig von. Teoria geral dos sistemas; trad. de Francisco M. Guimarães. 2ª ed. Petrópolis: Vozes, 1975. BARBOSA, Gustavo; RABAÇA, Carlos Alberto. 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