Revista ABRO

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Revista ABRO
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2
Revista da ABRO - Associação Brasileira de Radiologia Odontológica
EDITORIAL
E
stamos às vésperas do VIII CONABRO e VIII Encuentro
Latinoamericano de Radiología Dento Maxilo Facial,
promovido pela Associação Brasileira de Radiologia
Odontológica, que será realizado de 19 a 23 de outubro na
cidade de Gramado-RS. O CONABRO consiste no mais
expressivo evento da área de diagnóstico por imagens em
Odontologia do Brasil, que em 2010 ocorrerá
concomitantemente ao evento latinoamericano da mesma área.
A especialidade tem apresentado um recente avanço
tecnológico que precisa ser sustentado em forte base
filosófica de modelo de atenção em saúde. Desta forma, o
objetivo principal do evento consiste no estímulo e divulgação
do desenvolvimento científico e tecnológico, assim como a
discussão do paradigma de atuação vigente no Brasil e na
América Latina.
A Radiologia Odontológica tem também apresentado
notável crescimento na produção científica qualificada,
especialmente decorrente das parcerias de programas de
pós-graduação brasileiros com centros de pesquisa de
outros países. Desta forma, o evento propicia também o
encontro de estudantes e pesquisadores com os convidados
estrangeiros, oportunizando o estabelecimento e o
fortalecimento de colaborações.
O programa científico engloba todas as áreas de atuação
EXPEDIENTE
Revista da ABRO – órgão de divulgação científica da Associação
Brasileira de Radiologia Odontológica (www.abro.org.br), que
tem como objetivo a publicação de artigos de pesquisa básica e aplicada,
artigos de atualização e casos clínicos no campo da Radiologia
Odontológica. Distribuída gratuitamente aos associados, faculdades
de Odontologia e associações cadastradas na ABRO. O título abreviado
do periódico é Rev ABRO.
Associação Brasileira de Radiologia Odontológica
Presidente
Dr. Manoel Perboyre Gomes Castelo
Vice-Presidente
Dra. Marta Suzana Holanda de Sá
1º Tesoureiro
Dr. Perboyre Gomes Castelo Júnior
2º Tesoureiro
Dr. José Osmar Vasconcelos Filho
1º Secretário
Dra. Sandra Régia Albuquerque Ximenes
2º Secretário
Dr. Lúcio Mitsuo Kurita
Conselho fiscal
Titulares
Dr. Frab Norberto Bóscolo
Dr. João Batista Sobrinho do Nascimento Neto
Dr. José Ribamar de Azevedo
Suplentes
Dr. Mike Bueno
Dra. Luciane Farias de Araújo
Dr. Paulo Sérgio Flores Campos
Corpo Editorial
Editor responsável
Solange Maria de Almeida - FOP/UNICAMP
Editores Associados
Frab Norberto Bóscolo – FOP/UNICAMP
Francisco Haiter Neto – FOP/UNICAMP
Paulo Sérgio Flores Campos – FO/UFBA
Consultores Científicos
Ana Lúcia Alvares-Capelozza – FOB/USP
Adriana Dibo da Cruz – FOUFF-NF/RJ
da Radiologia Odontológica e maioria dos temas propostos
não será abordada na forma tradicional de cursos, e sim
como mesa-redonda com debatedores do Brasil, da América
Latina e da Europa ou Estados Unidos, na perspectiva de
integrar as diversas experiências a nível mundial.
Serão realizadas também reuniões para se debater o
ensino de Radiologia Odontológica na perspectiva da
integralidade de formação e como modelo de atenção em
saúde. Além desta programação, o evento terá cursos,
reuniões de trabalho e apresentação de trabalhos na forma
oral e de pôster, por estudantes e profissionais.
Espera-se expressiva participação da comunidade
científica e de profissionais com atuação na área. O programa
contempla a participação de outros estudantes e
profissionais (que não radiologistas) da odontologia e da
medicina, assim como de pessoal de nível técnico.
A Comissão Organizadora empreenderá todos os esforços
para fazer deste mais um evento com o padrão de qualidade
ABRO, integrando ciência, tecnologia e agradável convívio.
Esperamos tê-los conosco!
Profa. Dra. Vania Fontanella
Presidente da Comissão Organizadora do VIII
CONABRO e VIII Encuentro Latinoamericano de
Radiología Dento Maxilo Facial
Benjamin Martinez Rondanelli – Universidad Mayor (Chile)
Claúdio Costa – FO/USP
Deborah Queiroz de Freitas – UNIARARAS/SP
Eduardo Sannomiya – Universidade Metodista de São Paulo
Elismauro Francisco de Mendonça – FO/UFG
Emiko Saito Arita – FO/USP
Fabrício Mesquita Tuji – FO/UFPA
Fernando Henrique Westphalen – PUC/PR
Flávia Maria de Moraes Ramos Perez - FO/UFPE
Gulnara Scaf – FOA/UNESP
Israel Chilvarquer – FO/USP
Isabel Regina Fischer Rubira Bullen – FOB/USP
Jane Luiza Freire Matos – FO/UFBA
João Batista Sobrinho do Nascimento Neto – FOP/PE
Júlio César de Melo Castilho – FOSJC/UNESP
Karina Lopes Devito – FO/UFJF
Marcelo de Gusmão Paraíso Cavalcante – FO/USP
Márcia Rejane Brucker – PUC/RS
Maria Luiza dos Anjos Pontual – FO/UFPB
Mari Eli Leonelli de Moraes – FOSJC/UNESP
Marlene Fenyo Pereira – FO/USP
Monica Costa Armond – UNINCOR/MG
Márcio Correa - FO/UFSC
Nilson Pena Segundo Neto - FO/UFBA
Paulo Sérgio Flores Campos-FO/UFBA
Plauto Christopher Aranha Watanabe – FORP/USP
Rívea Inês Ferreira – UNICID/SP
Sérgio Lúcio Pereira de Castro Lopes - FO/UFPEL
Vânia Regina Camargo Fontanella – ULBRA-FO/UFRS
Jornalista Responsável
Fabiana Maria Groppo (MTB: 31.280)
Editoração
Miriam Miranda
Impressão
Gráfica Riopedrense
Tiragem
1.000 exemplares
Os conceitos e opiniões contidos neste veículo são de responsabilidade
exclusiva do(s) autor(es), não expressando, a priori, os interesses da
ABRO. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo sem a
devida autorização.
Contato: [email protected]
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SUMÁRIO
05
RADIOGRAFIA DIGITAL
Digital Radiography
Francisco HAITER NETO, Daniela Pita de MELO
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AVALIAÇÃO RADIOGRÁFICA DE DEFEITOS ÓSSEOS TRATADOS COM ENXERTO BOVINO E LASER
DE BAIXA INTENSIDADE
Radiographic Evaluation Of Bone Defects Treated With Bone Graft And Low Level Laser Therapy
Maria Augusta Portella Guedes VISCONT, Éder de Souza MARTINS, Bruno Salles SOTTO-MAIOR,
Karina Lopes DEVITO, Neuza Maria Souza Picorelli ASSIS
23
DISPLASIA FIBROSA: ABORDAGEM TOMOGRÁFICA
Fibrous dysplasia: tomographic approach
Frederico Sampaio NEVES, Luana Costa BASTOS, Luis Antonio Nogueira dos SANTOS,
Iêda CRUSOÉ-REBELLO, Paulo Sérgio Flores CAMPOS
27
AVALIAÇÃO TOPOGRÁFICA DO FORAME MENTUAL EM RADIOGRAFIAS PANORÂMICAS
Topographic evaluation of the mental foramen in panoramic radiographies
Frederico Sampaio NEVES, Luciana Freitas de OLIVEIRA, Vildeman RODRIGUES,
Poliana PIMENTEL, Iêda CRUSOÉ-REBELLO
32
PERCEPÇÃO VISUAL E A QUALIDADE DA INTERPRETAÇÃO RADIOGRÁFICA
Visual perception and the quality of radiograph interpretation
Edemir COSTA; Juliana COSTA; Sílvio Serafim da LUZ FILHO
39
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE RADIOGRAFIAS BANHADAS EM ÁLCOOL NA FASE FINAL DE SEU
PROCESSAMENTO
Quality evaluation of radiographs washed with alcohol in the final phase of development
Luana Costa BASTOS, Thiara Bagdeve de OLIVEIRA, Renata de Araújo BARBOSA,
Vinícius Rabelo TORREGROSSA, Viviane Almeida SARMENTO
44
ADMINISTRAÇÃO E GERENCIAMENTO DE UM SERVIÇO DE RADIOLOGIA ODONTOLÓGICA
Administration and management of a service of oral radiology
Cléber Alexandre SEGATO, Edemir COSTA, Sílvio Serafim da LUZ FILHO
51
EVALUATION OF MAXILLARY SINUS BY PANORAMIC RADIOGRAPHS
Avaliação do seio maxilar através de radiografias panorâmicas
Rejane FUKUSHIMA; Camila Lopes CARDOSO; Milton Carlos Gonçalves SALVADOR;
Ana Lúcia Alvares CAPELOZZA
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CONCEITOS DE PROTOTIPAGEM RÁPIDA
Concepts of Rapid Prototyping
Thiago de Oliveira GAMBA, Isadora Luana FLORES, Melissa Feres DAMIAN,
Elaine de Fátima Zanchin BALDISSERA, Sérgio Lucio Pereira de Castro LOPES
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ATUALIZAÇÃO
RADIOGRAFIA DIGIT
AL
DIGITAL
Digital Radiography
Francisco HAITER NETO1 , Daniela Pita de MELO2
1
Professor Titular - Disciplina de Radiologia da Faculdade de Odontologia de Piracicaba/UNICAMP
Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Radiologia Odontológica da Faculdade de Odontologia de Piracicaba/
UNICAMP
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RESUMO
O objetivo deste artigo é prover aos profissionais de Radiologia Odontológica, conhecimento das principais mudanças
decorrentes da implantação dos sistemas de imagem radiográfica digital no mercado de trabalho. A Radiologia Odontológica
está num momento de renovação constante, sendo necessária atualização contínua no que diz respeito às novas modalidades
de imagem, apresentadas a cada novo período. Para isto, relataremos como se apresenta a imagem digital, os seus variados
sistemas e formas de aquisição, além das suas vantagens em relação à imagem convencional.
INTRODUÇÃO
Em todos os ramos da odontologia, a imagem digital se
tornou a forma de apresentação mais moderna da informação
radiográfica. Já é sabido que a radiografia digital substituirá
por completo a radiografia convencional tanto nas clínicas
especializadas em radiologia quanto nos consultórios
odontológicos. Apesar de uma resistência inicial devido ao
alto custo de aquisição dos equipamentos digitais, as
vantagens proporcionadas por esses sistemas, juntamente
a economia proporcionada no decorrer do tempo por
dispensar reposição do filme e processamento químico, além
da possibilidade de aquisição rápida da imagem e
conseqüente atendimento de um maior número de pacientes,
levarão a aceitação dos sistemas de radiografia digital por
todos os profissionais. Apesar desta substituição ainda não
ter se dado por completa, ela é inevitável.
Como consequência da crescente mudança no modo de
aquisição da radiografia odontológica, é importante que o
profissional tenha conhecimento do que há de novo na
imagem radiográfica digital, sistemas disponíveis, formas
de obtenção da imagem, qual sistema melhor se adapta a
sua realidade de trabalho, qualidade de imagem, utilização
da manipulação e armazenamento da imagem. Para isto,
relataremos como se apresenta a imagem digital, seus
variados sistemas e formas de aquisição, além das suas
vantagens em relação à imagem convencional.
RADIOGRAFIA DIGITAL
A natureza da imagem digital é completamente diferente
da natureza da imagem convencional, apesar de ambas se
apresentarem de forma similar.1 Na radiografia convencional,
quando um feixe de fótons de raios X atravessa um objeto,
parte dos fótons deste feixe é atenuada, e os demais fótons
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expõem o filme radiográfico modificando os cristais de prata
presentes na emulsão. Os tons de cinza visualizados na
imagem radiográfica são derivados da atenuação dos feixes
de raios X pelos objetos radiografados que provoca a
dissociação dos grânulos de prata formando íons de prata,
que após o processamento radiográfico serão reduzidos. As
áreas mais radiolúcidas correspondem aos locais onde os
grãos de prata permanecem na emulsão, e as áreas
radiopacas às áreas nas quais os grãos de prata dispersos
foram removidos durante o processamento radiográfico.1 Isto
significa que na radiografia convencional, a imagem
radiográfica é determinada pelo tamanho e concentração de
prata metálica sensibilizada pelos feixes de raios X. Dessa
forma, a imagem apresenta-se contínua e ininterrupta, assim
nesta forma de imagem, os tons de cinza se intercalam de
maneira sutil. Com isso, a radiografia convencional pode ser
considerada um meio analógico, no qual as diferenças no
tamanho e distribuição dos cristais de prata metálica resultam
em uma escala de densidade contínua.2 Quando a radiografia
convencional é interpretada, utilizando-se um negotoscópio
e lupa , a imagem das diferentes densidades dos grãos de
prata é percebida pelo olho humano como tons de cinza.
As imagens digitais são numéricas e distintas de duas
formas: 1) em termos de distribuição espacial dos pixels e 2)
em termos dos diferentes tons de cinza de cada pixel. Uma
imagem digital consiste de um arranjo de células individuais
organizados em uma matriz de linhas e colunas. Cada célula
possui 3 numerações: 1- coordenada X, 2- coordenada Y e 3valor de cinza.1 O valor de cinza corresponde à intensidade de
radiação absorvida naquele local durante a exposição do
receptor de imagem digital. A célula isolada é denominada
“picture elements”, o que corresponderia em português a
elementos da imagem, e vem sendo relatada na forma
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abreviada “pixel”. Cada pixel terá um valor correspondente à
intensidade média dos fótons que atingiram a sua área
correspondente. Os valores numéricos que estes elementos
apresentam corresponderão ao tom de cinza e a posição na
qual o pixel aparecerá no monitor. Os números correspondentes
a cada pixel serão armazenados no arquivo da imagem na
memória do computador utilizado na aquisição desta.
A natureza da formação da imagem radiográfica é um fator
determinante para as diferenças entre as imagens
convencionais e digitais. Por se tratar de uma combinação
numérica, as imagens digitais, além de não necessitarem
de processamento químico, podem ser modificadas após
sua aquisição. Aplicando-se operações matemáticas para
alterar os valores dos pixels, pode-se alterar algumas
características da imagem. Esta etapa é denominada
manipulação da imagem, e será melhor exemplificada no
decorrer do texto.
O pixel é o ponto de resolução gráfica que se traduz na
menor unidade de informação da imagem. Enquanto nós
utilizamos as letras do alfabeto e seus sons para representar
as informações na forma de palavras, o computador utiliza
uma linguagem binária para representar as informações
contidas nas imagens. Os pixels carregam as informações
que correspondem aos tons de cinza visualizados no monitor
do computador. Um aspecto fundamental dos sistemas
digitais é o tamanho do pixel do receptor de imagem, o que
seria comparável ao tamanho dos grãos de prata da emulsão
do filme convencional.3
Durante a conversão digital os dados analógicos são
convertidos em bits (binary digits) - dígitos binários. O
computador utiliza o sistema binário como base para todo
seu funcionamento, todos os sinais elétricos de entrada,
inclusive os que dão origem a imagem radiográfica digital,
são convertidos em dígitos binários. A unidade básica
fundamental da linguagem digital é o bit, representando por
zero ou 1. O zero representa a ausência de corrente elétrica e
o 1 representa a presença de corrente elétrica. Oito bits podem
ser agrupados para formar uma unidade maior denominada
Byte. O Byte apresenta 256 possíveis combinações
numéricas, e consequentemente, no que diz respeito à
imagem digital, 256 tons variando do preto ao branco.
Durante a aquisição da imagem digital, o tamanho do pixel
e a profundidade do bit são fatores importantes na
determinação das resoluções espacial e de contraste.
Independente da resolução espacial, atualmente o tamanho
do pixel varia de 19-50 µm para sistemas radiográficos
intraorais, teoricamente proporcionando uma resolução
espacial máxima de 25 pares de linha por mm (25 lp/mm),
similar a dos filmes convencionais.4,5
Na radiografia digital, quando o sistema adquire imagens
com 8 bits, os pixels podem apresentar um dos 256 tons de
cinza, entre o preto que é representado pelo ZERO, e o branco,
que corresponde ao número 255. Existem sistemas digitais
que permitem a aquisição de imagens digitais com 8-, 10-,
12- e 16-bits, entretanto, é importante lembrar que o olho
6
humano é capaz de distinguir no máximo até 100 tons de
cinza.6
É importante frisar que quanto maior a profundidade do bit,
maior a resolução de contraste, o que aumenta a precisão no
diagnóstico por proporcionar a visualização de diferenças sutis
na imagem radiográfica digital final.3 Estudos mostraram que
para o diagnóstico de cárie não há diferença entre imagens
de 8-bit e 16-bit.7 Já para a detecção de limas endodônticas
de baixo calibre, deve-se utilizar imagens com profundidade
de 12-bit ou mais. 8 Para avaliar alterações periodontais,
imagens de 6-bit são suficientes.9
Além da limitação da perceptibilidade do olho humano,
arquivos de imagens adquiridos em mais de 8-bits,
necessitam de maior tempo de aquisição, maior área para
armazenamento no HD (Hard Drive), e muitas vezes acabam
sendo salvos em 8-bits ou visualizados em monitores de baixa
resolução, o que faz com que a imagem, apesar de adquirida
em alta resolução, seja visualizada como uma imagem de 8bits. É importante utilizar formas de armazenamento e
visualização da imagem compatíveis com os aparelhos
utilizados na sua aquisição, para assim aproveitar ao máximo
as vantagens oferecidas pelo sistema adquirido.
A matriz é o conjunto de linhas e colunas de pixels que
forma a imagem radiográfica digital. Este conjunto é fixo e
cada pixel apresenta uma localização exata na matriz. As
matrizes mais utilizadas nas radiografias digitais são as de
512 por 512, com um total de mais de 262.144 pixels, a matriz
de 1024 por 1024, com um mais de um milhão de pixels
(1.048.576) e 2.048 por 2.048, com 4.194.304 milhões de
pixels. Quanto maior a matriz, maior será a magnificação da
imagem no monitor e maior será o espaço necessário na
memória do computador para armazenamento.
As propriedades essenciais para qualquer sistema de
imagem digital são: 1- A imagem produzida deve apresentar
qualidade suficiente para ser utilizada no diagnóstico; 2- A
dose de radiação deve ser igual ou menor quando comparada
a necessária para filmes convencionais; 3- As técnicas
radiográficas digitais devem ser compatíveis com os
aparelhos de raio X convencionais; 4- Arquivamento da imagem
em formato que não sofra compressão e que seja compatível
com o padrão DICOM; e 5- O tempo requerido seja igual ou
menor ao necessário para a obtenção da imagem em filme
convencional.4,10
Os sistemas digitais se dividem em: sistemas que fazem
uso de um receptor de imagens sólido (sensor) e os sistemas
que utilizam placas de fósforo como receptores de imagem.
Os receptores de imagem digitais, quando comparados ao
método convencional, são mais sensíveis a radiação, o que
significa que são necessárias menores doses de exposição
para se obter imagens com a mesma qualidade de
diagnóstico da radiografia convencional.11-16 Os receptores de
imagem digitais, tanto os sensores sólidos quanto as placas
de fósforo, podem ser utilizados na obtenção de radiografias
intraorais (periapicais e interproximais) e radiografias
extraorais. Somente as placas de fósforo estão disponíveis
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para realização de radiografias oclusais, uma vez que a
fabricação de um sensor sólido com as dimensões de um
filme oclusal seria muito dispendiosa. 17
A aquisição da imagem radiográfica depende de uma
cadeia de eventos. Esta cadeia se inicia com a produção de
feixes de raios X pelo aparelho e sua atenuação seletiva pelos
tecidos expostos. Um receptor de imagens com alta
sensibilidade a radiação X requer a utilização de um aparelho
de raios X com alta precisão em baixas doses, especialmente
se possuir baixa latitude/escala dinâmica. Por outro lado, um
receptor de alta latitude/escala dinâmica requer cuidado
especial para que não haja superexposição, e conseqüente
exposição indevida do paciente a doses de radiação
desnecessárias. A cadeia de eventos varia de acordo com o
tipo de receptor de imagem utilizado, e a tecnologia utilizada
na confecção do receptor. 4
Para facilitar o entendimento dos métodos de aquisição
de imagem, estes serão divididos de três maneiras
diferentes: Aquisição direta, aquisição semi-direta e aquisição
indireta.
AQUISIÇÃO DIRETA - RECEPTORES DE IMAGEM DO TIPO
SENSOR-SÓLIDO
O método de aquisição direta da imagem digital utiliza
receptores de imagem digital do tipo sensor-sólido - CCD
(Charge Coupled Device) que a tradução literária seria –
Dispositivo de Carga Acoplada ou CMOS-APS
(Complementary Metal Oxide Semiconductor- Active Pixel) Semicondutores de Óxido de Metal Complementar – Pixel
Ativado no lugar do filme radiográfico convencional. A utilização
destes receptores resulta em mudanças significativas na
aquisição, armazenamento, e visualização da imagem
radiográfica.
volumoso. Infelizmente, devido ao grande número de
estruturas presentes no sensor-sólido, não há como tornarlo menos espesso, o que provoca desconforto ao paciente.
A maioria destes sensores é conectada ao computador
por um cabo de fibra óptica, que permite a transferência dos
dados obtidos quase que imediatamente para o computador,
e sua disponibilização em segundos no monitor. Este cabo
pode ter de 40 cm a 3 m, ligando o sistema a uma estação
base; e outro cabo conectando-a ao computador (Fig 2), sendo
que alguns sistemas possuem uma extensão que permite
aumentar seu tamanho para 5 m (VistaRay 6,Dürr Dental,
Holanda). Os sistemas que utilizam tecnologia wireless (sem
cabo) são de 3 tipos: Sistema wireless por onda de
radiofreqüência comum (Schick CDR Wireless), sistema
wireless por WLAN/ Wi-Fi (SIGMATM M, Instrumentarium, Hyrylä,
Finland ) e sistema wireless por Bluetooth (Wireless Digital
System, MyRay, Itália, X-POD Wireless System, MyRay, Itália).
Os sistemas que utilizam tecnologia wireless possuem um
cabo conectando o sensor a estação base, a qual emite os
dados obtidos durante a exposição à radiação do sensor para
o computador por meio de diferentes modalidades de onda
de radiofrequência, exceto o sistema Schick CDR Wireless
que utiliza uma bateria acoplada a face não-ativa do sensor, a
qual emite ondas de radiofrequência para a estação base e
esta a transmite ao computador por meio de um cabo conector
de fibra óptica.
SENSORES-SÓLIDOS INTRAORAIS
Os sensores-sólidos intraorais abrigam chips de silício
em um invólucro de plástico rígido, retangular, geralmente na
cor preta ou cinza, com uma espessura que varia de 5 a 7
mm (Fig 1). Em um sensor-sólido do tipo CCD/CMOS, a matriz
de silício e o dispositivo amplificador localizam-se no interior
do invólucro de plástico. Este invólucro protege os
componentes do sensor contra a deteriorização e
contaminação, ao mesmo tempo em que torna este sensor
Fig. 2- Sistema digital do tipo sensor sólido CignusRay.
Fig. 1 - Vista posterior, lateral e anterior do sensor sólido.
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A principal característica dos sistemas de sensores sólidos
é o aparecimento da imagem no monitor segundos após a
exposição dos sensores aos raios X o que representa
aparentemente uma vantagem em relação aos demais
sistemas digitais e ao filme radiográfico convencional. 18,19
Na aquisição direta da imagem digital, a física da interação
dos raios X com a matéria e a importância de se posicionar o
paciente e o receptor de imagem corretamente é a mesma.
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Os sensores sólidos possuem uma fina superfície de silício
acondicionada no interior do seu invólucro plástico onde se
dá a captura da imagem radiográfica digital. Os cristais ficam
distribuídos como os elementos de imagem (pixels) que
configuram unidades de uma matriz. Quando expostos à
radiação, as ligações covalentes entre os átomos de silício
são quebradas, produzindo pares de elétrons ionizados livres
e vacâncias de carga. O número de pares de elétrons
formados é proporcional à quantidade de exposição que a
área recebe. 2,17
Os elétrons são agrupados em pacotes de carga elétrica,
e são transferidos para um dispositivo amplificador. Estas
informações na forma de carga elétrica são transferidas, por
meio de um cabo de fibra óptica, para um conversor analógicodigital que transformará a informação da voltagem de cada
ponto em unidades binárias que corresponderão a um
determinado o valor de pixel correspondente a um tom de
cinza. Dessa forma a imagem será visualizada no monitor do
computador.
Os sensores-sólidos podem ser encontrados no mercado
em dois tipos: Os sensores que utilizam a tecnologia CCDCharged Coupled Divice - Dispositivo de Carga Acoplada, ou
CMOS-APS-Complementary Metal Oxide SemiconductorActive Pixel – Semicondutores de Óxido de Metal
Complementar – Pixel Ativado.
RECEPTORES CCD
O receptor CCD foi o primeiro tipo de receptor de imagem
digital a ser lançado no mercado como uma alternativa a
radiografia convencional, representado pelo sistema
RadioVisioGraphy (RVG, Trophy Radiologie,Vicennes, Françe)
no ano de 1987. Desde então, novos sistemas foram
lançados utilizando tecnologia CCD, sendo que estes
sistemas vêm sendo substituídos gradativamente pelos
sistemas que utilizam tecnologia CMOS-APS.
Os receptores CCD consistem em uma matriz de pixels
individuais, formados por uma camada de silício do tipo N e
outra do tipo P, posicionados numa matriz. A frente desta
superfície de silício existe uma camada cintilante de cristais
fluorescentes similares as camadas intensificadoras dos
écrans. Os feixes de raios X incidem primeiramente nesta
camada cintilante, onde são convertidos em luz de espectro
variado. A luz então interage com os cristais de silício, e as
ligações covalentes entre os átomos de silício são quebradas,
produzindo pares de elétrons ionizados. Estes pares de
elétrons formam um pacote de carga que representa um pixel
individual, o qual possui um valor proporcional a radiação a
qual foi exposto, o que representará futuramente um tom de
cinza.1,2,17
O padrão de carga formado pelos pixels individuais na
matriz representa a imagem latente. Para que esta imagem
seja visualizada, os elétrons do pacote de carga de cada
pixel são atraídos para o pólo de potencial mais positivo, na
camada de isolamento, sendo transferida para um
amplificador de leitura e transmitida como um sinal analógico
8
de voltagem para o conversor analógico-digital. No conversor
analógico-digital, o sinal analógico será convertido em
unidades binárias e transmitido ao computador, e assim, toda
a informação colhida será visualizada na tela do monitor.
RECEPTORES CMOS-APS
Os receptores CMOS têm estrutura semelhante aos
receptores CCD, mas diferem na forma com que o pacote de
carga elétrica derivado da ionização dos cristais de silício é
transmitido. Na matriz de cristais de silício do receptor CMOS,
cada elemento de imagem do cristal é isolado, ou seja, cada
Figs. 3 a e b- Exemplos de imagens radiográficas dos sistemas
digitais do tipo sensor-sólido e PSP respectivamente.
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pixel é isolado do pixel vizinho, sendo diretamente conectado
ao conversor. O pacote de carga de cada pixel é transferido
como uma voltagem isolada, permitindo que o pixel seja
avaliado individualmente. Isto significa que o sinal
representando o valor médio de cinza de cada pixel é lido
isoladamente.
Nos sensores-sólidos, tanto do tipo CCD quanto CMOSAPS, a matriz de silício e seus componentes eletrônicos de
leitura e amplificação ficam armazenados no invólucro de
plástico que os protege da cavidade oral. Estes elementos
do receptor de imagem do tipo sensor-sólido consomem
parte de sua área total de forma que a área ativa deste é
menor que sua área total de superfície. Muitos dos sistemas
digitais de sensores-sólidos têm uma demarcação
pontilhada indicando o limite entre área ativa e moldura do
invólucro na sua face ativa. A imagem radiográfica recebe o
contorno indicado pela demarcação, apresentando arestas
não arredondadas, o que torna a identificação do uso de um
sensor sólido possível na imagem final (Figs. 3a e 3b).
Praticamente todos os fabricantes que atuam na área de
radiologia digital têm seu sistema radiográfico digital direto
intraoral e extraoral.
SENSORES-SÓLIDOS EXTRAORAIS
Os sensores-sólidos extraorais encontrados no mercado
utilizam tecnologia CCD em matrizes lineares, longas e finas.
O sensor representa apenas uma pequena faixa na região
onde ficaria o conjunto porta-chassi/chassi/filme no aparelho
convencional. O formato do sensor é alinhado ao feixe de
raios X, e a imagem é adquirida pela exposição do paciente,
atenuação dos feixes e recepção dos feixes atenuados pelo
sensor linha por linha. Fig-4
Os aparelhos convencionais de algumas fabricantes
podem ser adaptados para digital. Neste caso, um sensor
plano do tamanho do chassi, mas com área ativa
correspondente a uma faixa central de pixels, é acoplado ao
aparelho panorâmico, substituindo o chassi convencional.
Nem todo aparelho panorâmico convencional pode ser
adaptado. Apenas os aparelhos mais novos foram feitos de
forma a permitir esta modificação.
O aparelho panorâmico digital propriamente dito possui
sensores-sólidos individualmente projetados como parte
exclusiva do aparelho, e em caso do mesmo possuir braço
para radiografia cefalométrica, um sensor sólido para
radiografias do crânio apresenta-se acoplado ao braço de
telerradiografia.
O sensor-sólido para radiografia panorâmica corresponde
a uma faixa fina de pixels do lado oposto a fonte de raios X. O
principio de aquisição da imagem é o mesmo da radiografia
panorâmica convencional, sendo que fonte e receptor de
imagem giram ao redor do paciente e a imagem digital é
adquirida faixa por faixa, sem interrupções, obtendo-se uma
imagem com as mesmas características próprias e
peculiares da radiografia panorâmica convencional, com as
vantagens implícitas na imagem digital.
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Fig. 4- Área ativa do sensor sólido extraoral do sistema digital
Instrumentarium OP 100 D.
SISTEMAS DIGITAIS DE SENSOR-SÓLIDO WIRELESS
A Schick Tecnologies Inc lançou em 2003 o sistema Schick
CDR wireless (Schick Technologies, Inc, Long Island CityNY,
USA) com o intuito de revolucionar a radiologia digital direta.
Esse sistema apresenta um novo método de aquisição de
imagem radiográfica digital direta por não possuir um cabo
de fibra óptica conectando o sensor a unidade de
processamento, e sim uma bateria que converte os elétrons
livres em ondas de radiofreqüência. O sistema consiste de
um receptor CMOS, bateria não recarregável e unidade base
com antena para captação das ondas de radiofreqüência e
interface USB.
Quando o receptor do sistema Schick CDR Wireless é
exposto à radiação, a carga elétrica gerada pela exposição
dos cristais de silício é transformada em ondas de
radiofreqüência em frações de segundos. Essas ondas são
captadas pela a antena receptora da estação base (base
station) (Fig 5). Na estação base, as informações das ondas
são transformadas em segundos em unidades binárias e
transmitidas para o computador através de um cabo de fibra
óptica. A antena da unidade base pode girar até 360°
horizontalmente de forma a ficar voltada para o receptor, e
deve ser posicionada o mais próximo possível deste, sendo
que esta distância não deve exceder 1.8 m. 20 Segundo
Tsuchida et al. 20, quando a antena foi colocada a 350 cm do
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Fig. 5- Sistema Schick CDR Wireless.
sensor, a imagem radiográfica apresentou faixas de
interrupção da imagem, o que indica que se a antena for
posicionada a uma distância maior que a recomendada, parte
dos sinais de radiofrequência não é captada pela antena,
fazendo com que se perca os sinais de faixas de elementos
de imagens – pixels da matriz.
Os canais de recepção das ondas de radiofrequência
desse sistema são: 2.41 GHz; 1.41GHz e 2.46 GHz 20, o que
torna possível a escolha da banda de freqüência, evitando
interferência. Apesar deste sistema não fazer uso de cabo, a
espessura do sensor juntamente com a bateria é de 10,5
mm, o dobro da espessura do sensor da sua versão com
cabo (CDR2000-Schick Technologies Inc, Long Island City,
Ny – espessura de 5,5 mm) , e conseqüentemente aumenta
o desconforto do paciente (Fig. 6 ).
O SIGMATM M da Instrumentarium, lançado em 2006, foi o
primeiro sistema CMOS-APS com transmissão dos dados
via Wi-Fi. A transmissão via Wi-Fi obriga a existência de uma
Fig. 6- Vista posterior do sensor sólido do sistema Schick
CDR Wireless com bateria acoplada.
10
rede wirelles de internet – ponto de acesso - para a
transmissão do arquivo de dados que irá gerar a imagem
radiográfica digital. A rede Wi-Fi é de longo alcance
aumentando a potência de um aparelho wireless pela
utilização de 3 canais receptores de radiofreqüência – 3.43
GHz, 3.96 GHz e 4.48 GHz do tipo spread spectrum - espectro
espalhado - com potência de 528 MHz para cada canal, tendo
um alcance muito maior que a maioria dos sistemas wireless.
É a tecnologia Wi-Fi que permite o acesso a internet em locais
públicos como aeroportos, possibilitando o acesso à
informação a longa distância. Este sistema consiste de um
sensor CMOS conectado a uma unidade de transmissão dos
dados via Wi-Fi imantada por meio de um cabo de 40cm. A
unidade base de transmissão possui um imã para que possa
permanecer fixada ao cilindro do cabeçote do aparelho de
raios X formando uma unidade única. Atualmente este
sistema não se encontra mais disponível no mercado.
A MyRay lançou o primeiro receptor wireless via Bluetooth,
WDS MyRay (MyRay/Cefla Dental Group, Imola, Itália),
utilizando tecnologia CCD e uma placa de fibra óptica
intermediária entre a camada de silício e a camada cintilante,
o que, segundo o fabricante, protege o sensor da penetração
direta dos feixes de raios X, aumentando a vida útil do sensorsólido. O sistema WDS MyRay é composto de uma antena
receptora de radiofreqüência Bluetooth na forma de um
pendrive que pode ser inserido em qualquer entrada USB de
computador; uma base portátil alimentada por uma bateria
recarregável acoplada ao sensor que se liga a esta por um
cabo. Neste sistema, o cabo não deixa de existir, mas apenas
comunica o sensor ao transmissor de dados via Bluetooth. O
sensor-sólido deste sistema possui as mesmas dimensões
que os sensores-sólidos com cabo, o que é uma vantagem
em relação ao Schick CDR Wireless.
A tecnologia de transmissão de dados Bluetooth já é
vastamente utilizada em celulares e computadores. Esta
tecnologia permite uma comunicação simples, rápida, segura
e barata entre computadores, smartphones, telefones
celulares, mouses, teclados, fones de ouvido, impressoras e
outros dispositivos, utilizando uma freqüência de radio de curto
alcance (1 a 100 m) não licenciada (Spread Spectrum- Espectro
Espalhado) e segura no lugar de cabos. As especificações do
Bluetooth foram desenvolvidas e licenciadas pelo grupo
inglês Bluetooth Special Interest Group.
A transmissão Wi-Fi difere da Bluetooth por oferecer alta
potência de transmissão e cobrir grandes distâncias, porém
requer um hardware maior e com alto consumo de energia.
Apesar das duas tecnologias utilizarem o mesmo tipo
radiofreqüência, o Bluetooth substitui o cabo por completo,
enquanto que o Wi-Fi é um substituto apenas para acesso a
rede local, necessitando que o ambiente de trabalho tenha
um ponto de acesso wireless à internet independente do
sistema.
A MyRay lançou recentemente o X-POD, um aparelho sem
cabo que funciona sem a necessidade de um computador
acoplado. O X-POD possui receptores de tecnologia CCD e
Rev ABRO 2010; 11(1): 5-17
Revista da ABRO - Associação Brasileira de Radiologia Odontológica
uma placa de fibra óptica intermediária entre a camada de
silício e a camada cintilante com arestas arredondadas
conectadas por um cabo a uma unidade base que possui
uma tela onde a imagem é imediatamente visualizada e
armazenada, podendo ser transmitida a um computador por
ondas de radiofreqüência do tipo Bluetooth2 (alcance de até
10 m) ou utilizando um cartão de memória. Esta unidade
base é imantada para ser fixada no cabeçote do aparelho de
raios X e funciona com uma bateria de lítio recarregável (Fig.
7). Uma das vantagens deste sistema é que o cabo liga o
sensor a unidade base fazendo um encaixe do tipo USB.
Desta forma, caso o sensor sofra algum dano e tenha que
ser descartado, pode-se repor o sensor sem a necessidade
de se repor todo o sistema.
A necessidade de tornar a radiologia o mais portátil
possível, permitindo sua utilização em missões humanitárias
e em pacientes deficientes físicos, levou a criação de um
Fig. 7- Sistema X-POD.
aparelho três em um, o ADX 4000 (Dexcowin Co. Ltd, Korea),
o qual combina uma fonte de raios X, um receptor digital
sólido do tipo CCD e um processador de computador em
uma unidade wireless portátil. Este aparelho pesa 2,2 kg e
utiliza bateria recarregável como fonte de alimentação. A fonte
de raios X do aparelho opera com os parâmetros fixos de 60
kVp, 10 mA, ponto focal de 0,8 mm, e distâcia foco-objeto de
10 cm. O aparelho possui um monitor TFT - LCD (Thin Film
Transistor -Liquid Crystal Display), e é capaz de armazenar
300 imagens (Ulusu, 2010). Comparando a eficiência do
Rev ABRO 2010; 11(1): 5-17
sistema ADX4000 na detecção de cárie proximal com
radiografia convencional, Ulusu et al. 21, não observaram
diferenças estatisticamente significativas entre os sistemas.
É importante frisar que ainda não foram realizados estudos
enfatizando radioproteção utilizando o sistema ADX4000, e
que estes são extremamente necessários, já que o
profissional para expor o paciente tem que segurar o aparelho
sem ter entre ambos a presença de uma parede baritada
para proteção, e sim apenas um avental de chumbo.
As desvantagens dos sistemas de sensor-sólido são: 1)
O fato de sua área ativa ser geralmente menor do que o filme
radiográfico convencional produzindo imagens com
dimensões menores, limitando assim o número de
estruturas radiografadas por exposição20 e aumentando o
número de exposições necessárias 22,23 ; 2) Sua escala
dinâmica é reduzida em relação às placas de fósforo; 3)
Sensores-sólidos são rígidos e mais espessos que o filme
radiográfico intraoral, o que pode acarretar em desconforto
para o paciente20 e dificulta o posicionamento do sensor nas
regiões posteriores; 4) Presença de cabo que também
dificulta a colocação do sensor na boca do paciente.20 A rigidez,
espessura e presença do cabo de conector pode levar ao
aumento do número de exposições por erro de
posicionamento e movimentação do receptor/paciente,
potencializando as desvantagens supracitadas.23,24
AQUISIÇÃO SEMI-DIRETA – PLACAS DE ARMAZENAMENTO
DE FÓSFORO
Na aquisição semi-direta da imagem digital, o filme
convencional é substituído por placas de armazenamento de
fósforo ou placas de fósforo fotoestimuladas (PSP –
Photostimulable phosphor plates - Phorphor storage plates)
que, ao serem expostas aos raios X, absorvem e armazenam
a energia destes, formando uma imagem latente altamente
sensível a luz, sendo necessário o escaneamento da placa
para a visualização da imagem no monitor do computador.
As placas de fósforo são constituídas de uma base de
poliéster encoberta em uma de suas faces por uma camada
de flúor haleto de bário, acrescido de europium. O bário em
combinação com o iodo, cloro ou bromo forma uma gelatina
cristalina, que com a adição do europium (Eu+2) apresenta
imperfeições. Quando expostos à radiação X, os elétrons do
europium absorvem energia (Eu+3), e migram para os centros
F dos haletos na gelatina onde permanecem em estado de
latência. Os elétrons latentes são proporcionais a energia
absorvida dos raios X e representam a imagem latente. .2,17
Após a exposição da placa à radiação X, a visualização da
imagem é obtida mediante a leitura da placa de fósforo por
meio de um scanner a laser próprio para cada sistema digital
semi-direto. A energia armazenada é convertida em imagem
digital durante o processo de leitura da placa de fósforo. A
placa de fósforo deve ser adaptada ao scanner do sistema
utilizado para que a leitura da(s) placa(s) tenha início. A leitura
é realizada por um feixe de luz vermelha de aproximadamente
11
Revista da ABRO - Associação Brasileira de Radiologia Odontológica
600 nm que estimula os elétrons do flúor haleto de bário,
fazendo com que estes migrem e retornem ao europium que
deixa de ser Eu+3, para voltar ao estado Eu+2, liberando a
energia armazenada em forma de luz do espectro verde ou
azul, a depender do sistema utilizado. 1,17,25,26
Fibras óticas conduzem a luz das placas de fósforo para
um tubo fotomultiplicador que converte a luz emitida em
energia elétrica de voltagem variante. As variações na saída
de voltagem do tubo fotomultiplicador correspondem às
variações na intensidade de luz emitida pela imagem latente.
O sinal energético (sinal de voltagem) é quantificado por um
conversor analógico-digital e então esta energia é convertida
em dígitos binários e disposta como imagem digital no monitor
do computador.
Após sua leitura, as placas de fósforo precisam ser
apagadas/dessensibilizadas para eliminar resíduos de
imagem, antes de serem reutilizadas. Estes resíduos de
imagem apresentam o aspecto semelhante ao observado
na dupla exposição do receptor de imagem (imagem dupla),
se a placa for novamente exposta e escaneada sem que
estes sejam eliminados pela dessensibilização. O
escaneamento (leitura) da placa não apaga completamente
a imagem radiográfica, e alguns elétrons permanecem como
“armadilhas de energia”. Para que esta informação seja
eliminada e o flúor haleto de bário acrescido de europium
volte para seu estado estável, é necessário que a face ativa
da placa seja exposta a uma luz intensa.
A luz utilizada na dessenssibilização da placa pode ser do
tipo fluorescente ou incandescente. Quando a
dessenssibilização é externa, aconselhasse que seja
realizada utilizando-se um negatoscópio com intensidade de
lux conhecida, colocando a placa com sua face ativa voltada
para o negatoscópio. As placas devem ser posicionadas no
centro do negatoscópio, onde sua intensidade é mais
constante, por um período proporcional a intensidade de lux
deste. Quanto maior a potência do negatoscópio, menor o
tempo necessário para dessensibilização da placa. O Manual
de instruções do sistema digital fornece uma tabela indicando
o tempo de dessenssibilização necessário para o tipo e
intensidade de lux utilizado. É importante se realizar a
manutenção do negatoscópio para verificar a intensidade
deste, evitando que se formem imagens duplas derivadas
dos resíduos de imagens remanescentes.
Atualmente, a maioria dos sistemas digitais que utiliza
tecnologia de placa de fósforo fotoestimulada tem
dessensibilização interna, isto é, logo após o escaneamento
da imagem ela é dessensibilizada dentro do próprio scanner
do sistema. O sistema DenOptix® possui dessensibilização
externa, que é realizada expondo a face ativa da placa a luz de
um negatoscópio, por um tempo correspondente a
intensidade de lux utilizada para que haja a sua total
dessensibilização. Este tipo de dessenssibilização se torna
uma desvantagem deste sistema por aumentar seu tempo
de trabalho, além de tornar a placa mais vulnerável a
12
danificações. 26
Geralmente os fabricantes oferecem vários tamanhos de
placas de fósforo, com dimensões compatíveis aos diferentes
tamanhos de filme radiográfico. As placas intraorais são
constituídas de uma base de poliéster, semelhante à base
do filme convencional intraoral, coberta em uma de suas faces
por uma fina camada de flúor haleto de bário combinado a
um polímero. A maioria dos sistemas digitais semi-diretos
intraorais disponibilizam placas de número 2, sendo que o
Express (instrumentarium), DenOptix (Dentisplay/Gendex,
Chicago, IL, USA) e CR7400 (Eastaman Kodak Rochester,
NY, USA), disponibilizam placas nos tamanhos 0, 1, 2 e 3. Os
sistemas DenOptix e CR7400 também disponibilizam placas
intraorais no tamanho 4, e placas de extraorais nos tamanhos
utilizados em radiografias panorâmias e cefalométricas.
Na linha do Digora Optime (Soredex, Milwaukee, Wisconsin,
USA), existe o Digora PCT (Soredex, Orion Corporation Ltd.,
Helsinki, Finland), seu sistema correspondente extraoral, com
placas de fósforo no tamanho 4 e extraorais. A desvantagem
do sistema da Soredex é a necessidade da aquisição de
dois sistemas da marca, um para periapical e outro para
extraorais e oclusal, o que ocupa um espaço maior, já que
haveria a necessidade de se abrigar dois scanners
independentes. Em 2010, a soredex lançou o Digora Optime
com posibilidade de se obter uma imagem oclusal. Isso é
feito por meio de uma exposição de duas placas tamanho 3
colocadas uma ao lado da outra e escaneadas
separadamente. Depois o software agrupa as imagens
formando uma imagem de dimenções próxima a uma oclusal.
Na linha de sistemas de placa de fósforo da Dürr Dental
estão presentes o Vista Scan Plus, Perio Plus e Mini. O Vista
Scan Plus oferece placas de todos os tamanhos intraorais e
extraorais. O Vista Scan Perio Plus e o Vista Scan mini
disponibilizam placas intraorais dos tamanhos de 0, 1, 2, 3 e
4, sendo que Vista Scan Mini tem a vantagem de possuir
scanner compacto e realizar a leitura e dessensibilização de
uma placa em 6 s. O Vista Scan Perio Plus possui scanner
volumoso que realiza a leitura e desssensibilização de mais
até 8 placas ao mesmo tempo.
Apesar da disponibilidade de sistemas com placas de
fósforo extraorais e de sua qualidade de imagem se
assemelhar a dos filmes radiográficos convencionais27, os
sistemas de aquisição direta da imagem são mais aceitos
para este fim pela praticidade, rapidez na aquisição, qualidade
da imagem28, e pelo fato do sensor se encontrar em uma
unidade fixa, sem necessidade de manipulação do mesmo,
o que poderia levar a uma eventual danificação.
Existem vários sistemas digitais de placas de
armazenamento de fósforo. As placas vêm acompanhadas
de invólucro protetor, que as protege da luz e de contaminação
cruzada. (Fig 8) Por armazenar imagem latente altamente
sensível a luz, as placas expostas devem ser guardadas longe
da luz direta antes do seu processamento para que não se
perca a energia depositada nos seus cristais. As placas
Rev ABRO 2010; 11(1): 5-17
Revista da ABRO - Associação Brasileira de Radiologia Odontológica
Fig. 8- Placa de fósforo do sistema digital Digora Optime
(face posterior e face ativa) e papel protetor próprio do sistema.
devem ser armazenadas em recipientes a prova de luz após
seu uso. Placas intraorais possuem invólucro plástico –
envelopes de polivinil – selado e impermeável a fluídos e luz.
Revestidas por estes envelopes, as placas são manuseadas
de forma segura durante a sua exposição. As placas
extraorais são acondicionadas em chassis próprios, similares
aos convencionais, mas sem placas intensificadoras. Se
estas placas forem utilizadas com chassis convencionais,
quando os feixes de raios X atingirem as placas
intensificadoras, e estas emitirem luz de espectro variado, a
imagem formada pelos feixes de raios X que conseguiram
atingir o filme será automaticamente apagada.
Apesar de algumas placas de fósforo de determinados
sistemas poderem ser manuseadas em ambientes iluminados
e produzirem imagens de qualidade após seu escaneamento,
se estas placas forem avaliadas de forma objetiva, os resultados
derivados do manuseio inadequado podem ser quantificados.4
As placas de fósforo do sistema DenOptix devem ser
manuseadas em ambiente escuro, e são altamente sensíveis
a luz. Já as placas de fósforo dos sistemas Digora Optime e
CR7400 podem ser manuseadas em ambiente iluminados sem
que sua imagem se apague completamente, pois possuem
um papel plástico protetor, além de possuírem uma camada
protetora que as torna mais resistentes.
Após a exposição, a placa deve ser escaneada, pois os
elétrons capturados, que dão origem a imagem, são liberados
espontaneamente com o passar do tempo. O tempo de
escaneamento da placa depende da resolução em que se
adquire a imagem (150, 300, 600 dpi), do tamanho de placa
e do sistema utilizado, variando de 4s (Digora Optime) a
aproximadamente 100 s (DenOptix).
O sistema de placa de armazenamento de fósforo possui
a vantagem de oferecer escala dinâmica mais ampla, sendo
possível utilizar uma variedade maior de tempos de exposição
produzindo imagens radiográficas de qualidade,
apresentando dessa forma, menor risco de sub e
superexposições levarem a uma imagem pouco ou muito
densa a ponto de não poderem ser utilizadas, e diminuindo o
número de repetições.23,29,30,31,32 Este fato deve ser avaliado
Rev ABRO 2010; 11(1): 5-17
com atenção já que o profissional que adquire um sistema
digital semi-direto, na maioria das vezes não tem consciência
da redução de dose de exposição permitida pelo sistema e
acaba utilizando um tempo de exposição maior, superexpondo o paciente desnecessariamente, já que esse
sistema lhe oferece uma imagem de qualidade numa larga
faixa de tempos de exposição (alta escala dinâmica). Por
estas razões, uma tabela com a menor dose de exposição
necessária e os corretos parâmetros de exposição para cada
sistema radiográfico digital deve ser estabelecida. Utilizadas
corretamente, as placas de fósforo podem reduzir
substancialmente a dose de radiação a qual o paciente é
exposto.23
Uma grande vantagem das placas de fósforo é possuir
espessura e dimensões semelhantes ao filme radiográfico,
principalmente quando comparadas aos sensores-sólidos.
29
O fato de estar disponível em tamanhos, forma e flexibilidade
similares ao filme, e de serem independentes do scanner do
sistema, não havendo cabo de comunicação entre a placa e
o scanner, facilita o seu posicionamento na boca e
consequente aceitação pelo paciente.33
Uma desvantagem dos sistemas que utilizam placas de
fósforo é a facilidade com que estas podem ser danificadas.
As placas são facilmente arranhadas o que leva a danificação
da imagem radiográfica.34,35,36
Três tipos de artefatos aparecem na placa após algum
tempo de uso: 1) pequenas ranhuras (que podem aparecer
individualmente ou pode haver várias distribuídas na
superfície da placa); 2) Arranhões maiores (que podem
aparecer individualmente ou em grupos) podendo ter entre
2-5 mm ou mais, podendo aparecer em linha reta ou curvas
como arcos; 3) manchas, as vezes quase invisíveis na placa,
com aparência de nuvens na imagem final, podem ser
pequenas, delgadas ou densas, quase opacas e podem se
apresentar como uma única mancha ou múltiplas manchas.29
É preciso manipular as placas com cuidado quando estas
são inseridas e removidas dos seus invólucros plásticos de
proteção e quando são posicionadas em seus scanners para
evitar a formação de artefatos, pois durante estes três passos
as placas se encontram sem proteção e consequentemente
mais vulneráveis. A manipulação das placas utilizando-se
luvas é indicada. As placas podem ser danificadas durante
sua colocação nos posicionadores e se forçadas contra
superfícies duras, mesmo estando protegidas pelo invólucro
plástico.29 Os profissionais devem ser instruídos a evitar estas
situações, assim aumentando a longevidade da placa.
Alguns sistemas digitais semi-diretos são menos
susceptíveis a arranhões, como o Digora Optime® e o Express®
(Instrumentarium, Hyrylä, Finland). Estes sistemas permitem
que suas placas fiquem protegidas não só durante a
exposição, mas também durante a inserção da placa no seu
scanner. O sistema disponibiliza, além do invólucro plástico,
um envelope de papel protetor, que permite a proteção da
placa durante sua inserção no scanner, e que possui um
13
Revista da ABRO - Associação Brasileira de Radiologia Odontológica
recorte correspondente a área onde se localiza um círculo
metálico na face não ativa da placa, que permite que o braço
imantado do scanner puxe a placa para seu interior, sem
haver necessidade do profissional tocar diretamente na placa.
O fato de este sistema apresentar dessensibilização interna
também diminui o contato da face ativa da placa com
superfícies que podem manchar ou arranhar esta.
Posteriormente ao escaneamento e dessensibilização da
placa, esta é descartada no recipiente externo do scanner, e
só neste momento, no qual a placa será removida do
recipiente, sem a proteção do papel protetor e do invólucro
plástico, que a placa corre risco de sofrer alguma danificação.
O sistema digital semi-direto Kodak CR7400 realiza
dessensibilização interna e disponibiliza papel protetor para
as placas, mas o posicionamento das placas em seus
cassetes exige que estas sejam removidas do papel protetor
pelo profissional, apenas minimizando a possibilidade de
danificação da placa na etapa de dessensibilização. (Fig9) E
os sistema DenOptix, parece ser o mais susceptível a danos
em suas placas por além de ter que ser manipulado para
inserção em seus carrosséis, as placas são
dessensibilizadas fora do scanner, ficando susceptíveis a
manchas e arranhões, pois suas faces ativas são geralmente
posicionadas na superfície de negatoscópios, que por sua
vez podem apresentar resíduos que podem danificar as
placas. Profissionais que fazem uso deste sistema devem
reservar um negatoscópio para a dessensibilização das
placas, o qual deve ser sempre higienizado.
Se as placas tiverem sua face ativa contaminada, pode-se
realizar a limpeza destas utilizando gaze embebida em álcool
70% ou 95%. Deve-se esfregar a gaze com cuidado sobre a
face ativa, friccionando levemente, pois se for utilizada
Fig. 9- Scanner do sistema CR 7400 aberto.
14
demasiada força, a placa pode ser arranhada e danificada
após a limpeza. 29 As placas de fósforo costumam ter
longevidade de 50 a 70 exposições,29 mas isto vai depender
da manipulação destas. Para que se assegure a qualidade
da imagem obtida por sistemas semi-diretos, as placas
devem ser avaliadas rotineiramente pelos profissionais, e
as placas danificadas devem ser substituídas.
AQUISIÇÃO INDIRETA – FILME RADIOGRÁFICO
CONVENCIONAL DIGITALIZADO
No Sistema Digital Indireto o filme radiográfico é
digitalizado, ou seja, a informação contida nos grãos de prata
é transformada em dígitos binários. A informação da imagem
radiográfica, contida na emulsão do filme radiográfico, é
capturada por meio de scanners de alta definição adaptados
para transparência, câmera digital ou câmera de vídeo, e a
informação é transformada em números binários através de
uma placa de circuito anexa ao computador, convertendo-a
em uma imagem digital.
A aquisição indireta da imagem se dá pelo processo de
digitalização do filme radiográfico, e requer todas as etapas
do método convencional além do tempo adicional para
captação da imagem por scanner ou câmera fotográfica. Para
os filmes radiográficos, a embalagem do filme intra-oral
precisa ser removida em ambiente escuro e a película precisa
ser processada quimicamente. A qualidade da imagem do
filme depende significativamente do tempo e temperatura
apropriada, e concentração dos químicos utilizados.
Radiografias convencionais de excelente qualidade só são
obtidas em condições apropriadas de processamento.
As vantagens relacionadas à menor contaminação do
meio-ambiente, menor tempo de trabalho não se aplicam as
imagens obtidas pela aquisição indireta. Para se realizar a
digitalização da imagem, o mais indicado é o uso de um
scanner adaptado para transparência. Deve-se adquirir um
scanner de função única que em sua porção superior
apresente um dispositivo emissor de luz. Quando se faz uso
de uma câmera fotográfica, esta deve possui parâmetros de
aquisição de imagem de alta qualidade, além de lentes
apropriadas. A digitalização utilizando-se câmera fotográfica
deve ser realizada em ambiente escuro, com o filme
radiográfico posicionado em um negatóscopio , com as áreas
que não foram cobertas pelo filme envoltas por máscaras
pré-fabricadas ou confeccionadas com cartolina preta. É
importante padronizar os parâmetros de escaneamento para
que se tenha controle e padronização da qualidade das
imagens adquiridas.
Obtendo-se a imagem digitalizada, se torna possível o
uso de programas de manipulação de imagem de sistemas
digitais, ou programas como Photoshop, Image J e Emago,
importando estas imagens e utilizando as ferramentas
disponibilizadas por estes. Existe a limitação deste método
para radiografias superexpostas, que não podem ser
recuperadas por meio da manipulação de imagem. As
Rev ABRO 2010; 11(1): 5-17
Revista da ABRO - Associação Brasileira de Radiologia Odontológica
radiografias que apresentam alta densidade quando
manipuladas para a diminuição desta, geram ruído de
imagem que prejudica a sua qualidade para diagnóstico.
A principal razão para a substituição lenta dos sistemas
convencionais por digitais é o investimento financeiro
necessário para aquisição dos aparelhos digitais. 37 O que
deve ser ressaltado é que o custo para manutenção destes
aparelhos é menor do que os custos de manutenção do
sistema convencional de aquisição de imagens. Numa
clinica onde se adotam sistemas digitais, os gastos filmes
radiográficos, cartelas, líquidos de processamento,
manutenção da câmera escura, além de não ser
necessário o armazenamento de lâminas de chumbo para
reciclagem.
MANIPULAÇÃO DAS IMAGENS DIGITAIS/ PROCESSAMENTO
DIGITAL
As imagens radiográficas digitais podem ser manipuladas
pela modificação do tamanho e dos valores de cinza dos
pixels da imagem. Alterando o valor do pixel, pode-se variar
contraste, brilho, inverter os valores de cinza dos pixels entre
outras formas de manipulação. A manipulação digital permite
que erros derivados de sub-exposição possam ser corrigidos
sem a necessidade de se realizar outra radiografia. A
manipulação também permite que o profissional utilize
ferramentas desenvolvidas para a facilitação do diagnóstico
de determinadas lesões, mas que muitas vezes não alteram
a perceptibilidade do profissional.38,39
Todos os sistemas digitais diretos e semi-diretos
disponíveis no mercado vêm acompanhados de programas
próprios que permitem a manipulação das imagens digitais.
Estes recursos são: 1) Manipulação do brilho e contraste; 2)
Mensurações lineares e angulares; 3) Zoom; 4) Negativo; 5)
Cores; 6) Relevo/3D; 7)Nitidez.
Segundo estudo previamente realizado,40 a ferramenta
mais utilizada pelos profissionais é o zoom. Deve-se utilizar
esta ferramenta com moderação, principalmente se a imagem
for adquirida com baixa resolução, pois ao se ampliar a
imagem digital, sua natureza numérica se torna evidente pela
visualização dos pixels evidenciados na matriz da imagem.
Uma imagem ampliada excessivamente perde sua
continuidade não mais servindo para o diagnóstico. 41,42
Aconselha-se que a imagem digital seja ampliada até 3x para
não comprometer a visualização das estruturas
representadas na imagem. Apesar de ser uma ferramenta
muito utilizada, esta não apresentou, até então, influência no
diagnóstico de lesões.43
O negativo tem como principio a inversão dos valores de
cinza dos pixels da imagem, desta forma as estruturas
radiolúcidas passam a se apresentar como estruturas
radiopacas e vice-versa. Isto significa que um pixel com valor
zero em uma imagem adquirida em 8-bit vai apresentar valor
255 após a manipulação, passando de preto para branco.
As ferramentas de cores não apresentam aplicabilidade
Rev ABRO 2010; 11(1): 5-17
clínica, já que não acrescentam nenhum fator que possa
melhorar a capacidade para diagnóstico da imagem. Os
variados tons de cinza da imagem são convertidos em tons
coloridos que não evidenciam fatores específicos da imagem.
Alguns programas apresentam ferramentas que se
baseiam no mesmo princípio das supracitadas, como: 1)
Spotlight – ferramenta circular ou quadrada, que combina as
ferramentas zoom e nitidez em uma região preestabelecida
pelo profissional; 2) Cores isodensas – ferramenta que colore
apenas áreas fortemente radiopacas; 3) Curva Gama –
ferramenta que quantifica o contraste da imagem e o altera
de acordo com uma equação preestabelecida (ex: γ= 1/2.2;
γ=1/1; γ=1/4); a intensidade do valor do pixel é corrigida de
acordo com a variação estabelecida na curva gama.
Apesar da possibilidade de manipulação da imagem ser
benéfica, a escolha da ferramenta de manipulação vai muito
da preferência do profissional, sendo uma escolha subjetiva,
e que consome tempo de trabalho variável,44 especialmente
durante o período de adaptação do profissional ao software.
A redução do tempo de trabalho é uma das principais
vantagens dos sistemas digitais, e deve ser levada em conta
quando se fizer uso de manipulação da imagem, procurando
tornar esta fase o mais curta possível. Gotfredsen et al.45,
observaram que o tempo gasto na manipulação da imagem
digital por cirurgiões-dentistas seria de aproximadamente 24
s, tempo este que se comparado ao tempo levado para
processar a radiografia convencional ainda representa uma
redução significativa do tempo de trabalho quando da
utilização de sistemas digitais de imagem. Alguns sistemas
realizam manipulação prévia da imagem antes da exposição
da mesma na tela do monitor.
As vantagens dos sistemas digitais em relação às
radiografias convencionais são: (1) Diminuição do tempo de
trabalho - Imagem quase instantânea e eliminação do
processamento químico; 29,46 (2) Manipulação de brilho e
contraste; (3) Função zoom; (4) Possibilidade de se realizar
mensurações lineares e angulares; (5) Redução da dose de
radiação- tempo de exposição; 29,46 (6) Facilidade de
armazenamento e envio ; 27,46 (7) Possibilidade de duplicar a
imagem com facilidade e qualidade; (8) Facilita a
comunicação entre profissionais e entre o profissional e o
paciente; 27,46 (9) Redução da contaminação do meio
ambiente. 27
Com o crescente avanço dos sistemas digitais, vêem
avanço na resolução destes sistemas, a qual requer um
maior espaço para armazenamento e métodos de
transmissão de imagens com maior capacidade. 47 Os
receptores de imagem digitais intraorais vêm passando por
um desenvolvimento rápido, e vários sistemas de sensoressólidos/placas de fósforo descritos em estudos recentes, não
são mais produzidos, e outros foram renomeados ou são
produzidos por outras empresas. 37 Muitos sistemas
receberam versões novas, aperfeiçoadas, o que demonstra
que ainda se busca uma melhora dos sistemas digitais
15
Revista da ABRO - Associação Brasileira de Radiologia Odontológica
disponíveis no mercado. Tudo indica que logo aparecerão
novos sistemas, melhores que os atuais, por preços menores.
A escolha do sistema ideal depende de fatores próprios
da imagem digital muitas vezes relacionados à resolução da
imagem digital e/ou parâmetros de exposição versus
diagnóstico a ser realizado: para a mensuração de limas
endodônticas de baixo calibre é necessária uma alta
resolução espacial (min 16 lp/mm), mas esta não se faz
necessária na detecção de cárie proximal.2 Já altos contraste
e densidade são pré-requisitos para uma imagem de
qualidade quando se avalia cárie proximal.37 Mesmo assim,
fazendo a escolha do sistema com resolução, praticidade e
aceitação pelo paciente, é importante que se utilize um método
de visualização da imagem compatível com o sistema, para
que se possa realmente usufruir dos requisitos escolhidos
para o correto diagnóstico.
Quando uma imagem radiográfica digital é adquirida,
independente do sistema digital utilizado, é necessário um
tipo de mídia para se apresentar a imagem após a
exposição. 48 Quando se iniciou a utilização de sistemas
digitais nos anos 80, os monitores não possuíam resolução
espacial nem escala de cinza suficiente para disponibilizar
uma imagem de qualidade suficiente para substituir a
radiografia convencional. 48,49 Apesar dos aparelhos digitais
apresentarem alta resolução, se a resolução do sistema de
apresentação, no caso monitor, não for igual ao do sistema,
de nada adianta. É preciso se averiguar a resolução do
monitor adquirido para que ela seja próxima o suficiente da
resolução do aparelho, caso contrário, a aquisição de
aparelhos com menor resolução seria mais apropriado e de
menor custo. Estudos realizados comparando a capacidade
de diagnóstico em laptops e monitores não encontraram
diferença entre estas formas de apresentação da imagem
digital.37,48,50,51
Pode-se concluir que a radiologia digital não é um método
novo de aquisição da imagem radiográfica e sim um método
já estabelecido e em constante aprimoramento para melhor
atender as necessidades dos profissionais e pacientes. É
importante estar a par destes avanços, conhecendo-os
profundamente e utilizando este conhecimento na clínica
diária.
ABSTRACT
The aim of this paper is to provide knowledge to dental
radiologists of the changes due to the implantation of digital
radiography systems on the market. Dental radiology is in
constant renovation, what makes a continuous update on the
matter of new image modalities necessary. To achieve our
objective we will report how digital image presents itself, its
varied systems and acquisition methods, and its advantages
over conventional image.
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50. Abreu M Jr, Tyndall DA, Ludlow JB. Detection of caries with
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Endereço para correspondência:
Prof. Dr. Francisco Haiter Neto
[email protected]
Profa. Daniela Pita de Melo
[email protected]
17
Revista da ABRO - Associação Brasileira de Radiologia Odontológica
AVALIAÇÃO RADIOGRÁFIC
A DE DEFEIT
OS ÓSSEOS
RADIOGRÁFICA
DEFEITOS
TRA
TADOS COM ENXERT
O BO
VINO E LASER DE BAIXA
TRAT
ENXERTO
BOVINO
INTENSID
ADE
INTENSIDADE
Radiographic Evaluation Of Bone Defects Treated With Bone Graft And Low Level Laser Therapy
Maria Augusta Portella Guedes VISCONTI1, Éder de Souza MARTINS2, Bruno Salles SOTTO-MAIOR3,
Karina Lopes DEVITO4, Neuza Maria Souza Picorelli ASSIS5
1
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Clínica Odontológica – FO/UFJF
Cirurgião-dentista pela Faculdade de Odontologia de Juiz de Fora – UFJF
3
Mestre em Clínica Odontológica – FO/UFJF
4
Professora Adjunta da Disciplina de Radiologia – FO/UFJF
5
Professora Adjunta da Disciplina de Cirurgia – FO/UFJF
2
RESUMO
O objetivo neste estudo foi avaliar as densidades ópticas de defeitos ósseos associados a enxerto, submetidos à laserterapia
de baixa intensidade. Foram realizados defeitos com broca esférica em fêmures de 24 ratos. O fêmur direito foi utilizado como
controle (apenas defeito ósseo), já o esquerdo recebeu enxerto de osso bovino. Após o tratamento com enxerto, foi aplicado
laser em 12 animais. Os grupos foram divididos de acordo com o momento do sacrifício: um e 14 dias. Foram obtidas
radiografias periapicais pós-cirúrgicas e no dia do sacrifício. As densidades ópticas médias foram determinadas para as
regiões dos defeitos e enxertos nas imagens radiográficas digitalizadas. Estes valores foram submetidos a testes estatísticos
(teste T pareado e ANOVA) com nível de significância de 5%. Observou-se que as maiores densidades foram associadas aos
defeitos tratados apenas com enxerto. Diferença significativa foi encontrada apenas quando comparado o grupo enxerto +
laser, sacrificado com um dia (GEL1), com o grupo enxerto, sacrificado com 14 dias (GE14). Concluiu-se que a aplicação de
laser de baixa intensidade, quando avaliada por um curto período de tempo, não aumentou a densidade óptica de defeitos
ósseos tratados com enxerto de osso bovino.
DESCRITORES: Terapia a laser de baixa intensidade; Enxerto ósseo; Radiografia odontológica.
INTRODUÇÃO
A resposta do osso ao trauma consiste de uma sequência
ordenada e bem diferenciada de eventos, que resulta na
cicatrização do tecido ósseo lesado de forma bastante
semelhante à estrutura inicial 1,2. O reparo tecidual é um
processo dinâmico que compreende diferentes fases, entre
elas inflamação, proliferação celular e síntese de elementos
que constituem a matriz extracelular, como colágeno, elastina
e fibras reticulares 3,4 . Diante desta perspectiva, o
conhecimento de métodos que estimulem a consolidação e
reparo ósseo adquire considerável importância.
Defeitos ósseos na cavidade bucal podem surgir como
consequência de causas diversas, entre elas fraturas, doença
periodontal, lesões de origem endodôntica, extrações
traumáticas e patologias ósseas em geral. A recuperação
desses defeitos pode representar um desafio para os
profissionais da Odontologia, sendo que tal reparo pode ser
auxiliado mediante a colocação de enxertos. O material de
enxerto considerado como padrão ouro é o osso autógeno,
18
porém, sua utilização pode requerer grandes quantidades
de tecido e sua obtenção pode necessitar de mais de um
sítio cirúrgico. Métodos alternativos têm utilizado biomateriais
como os derivados da matriz de osso bovino2,5,6.
A aceleração do reparo ósseo é de grande interesse e
relevância clínica, uma vez que possibilita a reabilitação do
paciente e seu retorno às atividades mais rapidamente. A
terapia a laser de baixa intensidade tornou-se o método nãoinvasivo mais comumente utilizado, experimental e
clinicamente, para estimulação da osteogênese e redução
do tempo de reparo ósseo 7,8. Os efeitos dessa terapia se
processam de diferentes formas, quer induzindo a atividade
mitótica das células, quer modificando a densidade capilar,
estimulando a microcirculação local e, principalmente,
aumentando a síntese do colágeno, tanto “in vitro” quanto “in
vivo”. O pós-operatório dos pacientes também pode ser
melhorado com o emprego deste recurso, se considerar seus
efeitos antiálgico, anti-inflamatório, antiedematoso e
bioestimulador 9,10.
Rev ABRO 2010; 11(1): 18-22
Revista da ABRO - Associação Brasileira de Radiologia Odontológica
A evidência do reparo ósseo pode ser avaliada por meio
de exames como histopatológicos, radiográficos e
tomográficos. Nos exames por imagem podemos avaliar a
cicatrização óssea subjetiva ou objetivamente, sendo que a
avaliação objetiva possui vantagens em relação à primeira,
já que permite a obtenção de dados que independem da
acuidade ou experiência do avaliador que interpreta a imagem
radiográfica. Dentre as ferramentas que se pode utilizar para
avaliação objetiva da cicatrização óssea, destaca-se a
densidade óptica definida por um histograma, que é um
recurso presente em diferentes softwares de manipulação
de imagens. Segundo Rossi et al.11 (2005), a utilização do
histograma (densidade óptica x número de pixels) justificase por correlacionar valores numéricos e visuais da
densidade óptica com a reparação do tecido ósseo.
Considerando-se a possibilidade da matriz orgânica
desvitalizada derivada de osso bovino promover aumento da
atividade osteoblástica juntamente com a interação da reação
tecidual ao laser de baixa intensidade, realizou-se neste
estudo uma avaliação radiográfica, em um curto período de
tempo, do reparo de defeitos ósseos provocados
cirurgicamente em fêmur de ratos.
METODOLOGIA
Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa
em Animais da Universidade Federal de Juiz de Fora (042/
2007).
Para sua realização foram utilizados 24 ratos (Rattus
norvegicus, albinus, Wistar), adultos (60 dias), com peso
variando entre 160 e 220g, que foram mantidos em condições
naturais de luz, umidade e temperatura no biotério da
Universidade Federal de Juiz de Fora. Os animais foram
mantidos em gaiolas e tratados com ração granulada e água
ad libitum, antes e durante o período experimental.
Os animais foram sedados com solução aquosa a 2% de
cloridrato de xilasina (Rompum® - Bayer S.A., São Paulo, Brasil)
e após 5 minutos anestesiados com cloridrato de cetamina
(Vetanarcol® - Konig S.A., Avellaneda, Argentina), na proporção
de 2:1 e 0,1ml da mistura para cada 100g de peso animal, via
intramuscular.
Após a tricotomia, foi realizada incisão longitudinal na área
femural dos animais com dimensão de 2,5cm, divulsão dos
tecidos, exposição óssea e confecção dos defeitos com broca
esférica trefina de 2mm de diâmetro.
No fêmur direito foi realizado apenas o defeito ósseo, sendo
utilizado como grupo controle (GC), já o esquerdo (GE)
recebeu enxerto ósseo bovino orgânico (Genox ®; Baumer S/
A, Mogi Mirim, SP, Brasil). Imediatamente após o tratamento
com enxerto, foi aplicado laser em 12 animais (GEL). O laser
utilizado para as aplicações foi de emissão infravermelha,
contínua, de arseneto de gálio, cujo comprimento de onda é
de 780nm e a potência de pico de 70mW com área da ponta
aplicadora de 4mm2, classificado de acordo com a International
Standard como classe 3B: IEC 60825-1 (Twin Laserâ, MM
Rev ABRO 2010; 11(1): 18-22
Optics LTDA, São Carlos, São Paulo, Brasil). A potência média
de saída se situa entre 0,5 e 3,5mW e dose de 4J/cm2. A
aplicação foi pontual feita através de fibra óptica.
Os grupos foram subdivididos de acordo com o momento
do sacrifício: um (GE1 e GEL1) e 14 dias (GE14 e GEL14)
após a cirurgia de enxerto, sendo este realizado através de
overdose de anestesia geral. Radiografias periapicais póscirúrgicas e no dia do sacrifício foram obtidas de forma
padronizada com filme periapical Insight (Eastman Kodak
Company, Rochester, New York, EUA) e aparelho radiográfico
periapical (Dabi Atlante, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil),
sendo que os fatores de exposição foram mantidos
constantes (70kVp, 10mA, 0,43s, com distância foco-filme de
20cm). Os filmes foram submetidos ao processamento
automático (Periomat, DURR Dental, Bietigheim-Bissinger,
Baden-Württemberg, Alemanha). Posteriormente, as imagens
foram digitalizadas por meio de máquina fotográfica digital
Canon EOS Rebel Digital 300D 6.3 Mpixels, no modo 8bits,
com resolução de 300dpi e armazenadas em formato TIFF.
Foi utilizada uma máscara de papel preto, com abertura no
tamanho do filme periapical para fotografar as imagens
radiográficas. Densidades ópticas médias foram
determinadas nas imagens digitalizadas para as regiões dos
defeitos e enxertos ósseos, utilizando a ferramenta
histograma do programa Adobe Photoshop® versão 10.0 (San
Jose, Califórnia, EUA). As densidades foram mensuradas
em três pontos distintos para cada região avaliada. As médias
destas medidas foram calculadas e submetidas à análise
estatística pelos testes T pareado e análise de variância, com
nível de significância de 5%.
RESULTADOS
Para comparar as densidades ópticas das radiografias
obtidas no pós-operatório e no momento do sacrifício dos
mesmos animais foi utilizado o teste T pareado, com nível de
significância de 5% (Tabela 1). Pode-se observar que existiu
diferença significativa apenas quando se comparou as
densidades ópticas do grupo controle sacrificado com 14
dias.
Considerando-se apenas os dados no momento do
sacrifício, compararam-se, por meio de uma análise de
variância (p<0,05), as densidades ópticas entre os grupos
controle, enxerto e enxerto + laser (Tabela 2). Pode-se
observar que os grupos controle (defeito ósseo)
apresentaram diferença significativa quando comparados
aos grupos experimentais, sendo que os primeiros
possuíram as menores médias de densidade óptica.
Considerando os grupos experimentais dentro de cada
momento de sacrifício (um e 14 dias), não existiu diferença
significativa entre eles.
DISCUSSÃO
A aceleração do reparo ósseo causada pela terapia a laser
de baixa intensidade (LLLT – Low Level Laser Therapy) é
19
Revista da ABRO - Associação Brasileira de Radiologia Odontológica
Tabela 1. Média (desvio-padrão) das densidades ópticas no pós-operatório e no momento do sacrifício
Grupos estudados
Pós-operatório
Momento do sacrifício
p
Um dia
Controle (GC1)
Enxerto (GE1)
Enxerto+laser (GEL1)
135,16 (5,04)
182,33 (12,87)
160,50 (5,54)
137,58 (6,50)
169,50 (9,93)
161,16 (10,22)
0,34
0,07
0,87
14 dias
Controle (GC14)
Enxerto (GE14)
Enxerto + laser (GEL14)
135,33 (9,00)
177,00 (9,07)
172,00 (15,38)
145,25 (1,86)
179,33 (10,98)
168,16 (6,79)
<0,01
0,50
0,64
Tabela 2. Comparação das densidades ópticas entre o grupo
controle e os grupos experimentais considerando-se o
momento do sacrifício.
Grupos estudados
Média (desvio-padrão)
Um dia
Controle (GC1)
Enxerto+laser (GEL1)
Enxerto (GE1)
137,58 (6,50) Aa
161,16 (10,22) Ba
169,50 (9,93) Ba
14 dias
Controle (GC14)
Enxerto + laser (GEL14)
Enxerto (GE14)
145,25 (1,86) Aa
168,16 (6,79) Ba
179,33 (10,98) Ba
Valores acompanhados de letras distintas (maiúscula comparando
os diferentes grupos no mesmo momento de sacrifício e minúscula
comparando os mesmos grupos nos diferentes momentos de
sacrifício) apresentam diferença estatisticamente significativa
(p<0,05).
frequentemente citada na literatura, principalmente em casos
de fraturas experimentais em animais10,12. Giordano et al.1
(2001) num estudo experimental em ratos demonstraram a
influência do laser na consolidação de fraturas, concluindo
que a LLLT é capaz de modular determinados processos
biológicos, em especial a fotobioestimulação do processo
de cicatrização tissular.
O tecido ósseo, segundo Betti 13 (2004), tem grande
capacidade de reparo, demonstrada, por exemplo, em casos
de fratura. Quando a fratura ocorre forma-se um coágulo,
havendo destruição da matriz e morte das células ósseas. O
coágulo, assim como os restos celulares da matriz, é
reabsorvido e um tecido conjuntivo começa a se proliferar, e é
nesse local que se inicia a formação óssea, dando-se
primeiramente pela deposição do colágeno, que
posteriormente formará a matriz óssea. A aplicação do laser
facilita essa síntese de colágeno resultando no aumento da
motilidade de queratinócitos, liberando fatores de crescimento
e transformando fibroblastos em miofibroblastos, todos
participando do processo de reparação do osso 3,14-16. O
presente estudo instituiu a terapia LLLT na tentativa de
acelerar o processo de neoformação óssea nas cavidades
20
experimentais produzidas nos fêmures de ratos.
Sassioto et al.2 (2004) descreveram que a regeneração
óssea guiada por biomateriais facilita a formação óssea por
proteção contra a invasão de tecidos não-osteogênicos
competidores e as matrizes ósseas são lentamente
reabsorvidas e substituídas por osso neoformado. Oztürk et
al.17 (2006) concluíram em seu estudo que a matriz óssea é
um material indutor do reparo tecidual. Entre os biomateriais
disponíveis como substitutos ósseos, a matriz óssea
orgânica bovina foi selecionada nesse trabalho, para
preenchimento dos defeitos ósseos produzidos.
O osso bovino vem se mostrando como um material
alternativo de grande importância para enxertia, uma vez que
é facilmente encontrado no mercado nacional, na quantidade
desejada e por um preço acessível em comparação às outras
terapias, como por exemplo, o osso autógeno18. Segundo
Rossi et al.11 (2005), o aspecto arquitetural tridimensional
presente no osso bovino permite a viabilização de um meio
de compartimentalização de defeitos ósseos extensos de
maneira idêntica ao osso humano. Aghaloo et al.19 (2004)
demonstraram, por meio de um estudo realizado em crânios
de coelhos, que o uso de enxerto bovino é uma alternativa
eficaz nos processos de reparo ósseo.
Na análise do presente estudo, quando se comparou os
valores médios de densidade do grupo controle no pósoperatório e no momento do sacrifício, observamos diferença
significativa (Tabela 1), provavelmente devido ao fato de no
14º dia existir tecido conjuntivo neoformado, assim como
início de trabéculas ósseas e sutil quantidade de
osteócitos9,20, acarretando a produção de uma imagem com
maior densidade óptica, também observada por Lima et al.21
(2004), Louzada et al.22 (2001) e Oliveira et al.23 (2006).
No entanto, ainda que não tenha sido detectada diferença
significativa, os valores numéricos de densidade média do
grupo enxerto + laser sacrificado com 14 dias foram menores
no momento do sacrifício que no pós-operatório. Rocha-Júnior
et al.3 (2006) e Moraes et al.24 (2005) concluíram que o fato de
o laser acelerar a produção celular, aumentar o número de
fibroblastos, a síntese de colágeno e a neovascularização
dos tecidos lesados poderia levar a uma diminuição nos
valores da densidade óptica, deixando a imagem mais
radiolúcida18.
Rev ABRO 2010; 11(1): 18-22
Revista da ABRO - Associação Brasileira de Radiologia Odontológica
Quando analisamos os valores médios de densidade
encontrados no grupo controle e comparamos com os dos
grupos experimentais, observamos que no primeiro esses
valores são menores (Tabela 2), fato esperado já que a
utilização do enxerto ósseo aumenta a neoformação trabecular,
o número de osteoblastos, acelerando o reparo ósseo e
consequentemente produzindo imagens mais radiopacas9, 10.
Merli et al.25 (2005) descreveram que a aplicação do laser
aumenta a produção mitótica no intuito de acelerar o processo
de reparação óssea, no entanto Garcia et al.9 (2000) e Giordano
et al.1 (2001) concluíram que com um dia ainda não houve
tempo hábil suficiente para que isso ocorresse, e afirmaram
que o que pode ser observado é um coágulo sanguíneo com
grande quantidade de macrófagos no seu interior podendo,
dessa forma, produzir uma imagem radiográfica com menor
densidade óptica.
Vale ressaltar que se a avaliação radiográfica ocorresse
por um período mais longo (superior a 14 dias), os valores
das densidades ópticas poderiam ser superiores aos
encontrados. Dessa forma, novos estudos, envolvendo um
maior tempo de avaliação, são fundamentais para verificar o
efeito da aplicação de laser de baixa intensidade associado
a enxertos ósseos.
CONCLUSÃO
Pode-se concluir que a aplicação de laser de baixa
intensidade, quando avaliada por um curto período de tempo,
não aumentou a densidade óptica das imagens de defeitos
ósseos tratados com enxerto de osso bovino.
ABSTRACT
The aim of this study was to evaluate the optical densities
of bone defects associated with bone graft, underwent to low
intensity laser therapy. Defects were performed with round
burs in femurs of 24 rats. The right femur was used as control
(only bone defect), whereas the left one was grafted (veal bone
graft). After treatment with grafts, laser was applied in 12
animals. The groups were divided according to the time of
sacrifice: one and 14 days. Periapical radiographs taken at
post-surgery and the day of sacrifice were obtained. The mean
optical densities were determined for regions of defects and
grafts in digized radiographic images. These values were
subjected to statistical tests (paired T-test and ANOVA) with
significance level of 5%. It was observed that the highest
densities were associated with defects treated only with graft.
Statistical difference was observed only in the comparison
between the graft + laser group, killed in one day (GEL1) and
graft group, sacrificed at 14 days (GE14). It was concluded
that the application of low intensity laser, when assessed by a
short period of time, did not increased the optical density of
regions treated with bone graft.
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Endereço para correspondência:
Karina Lopes Devito
Rua Olegário Maciel, 1930, 404B
CEP: 36016-011 – Juiz de Fora, MG, Brasil
Telefone: (32) 3211-9627/ (32) 9118-2769
E-mail: [email protected]
22
Rev ABRO 2010; 11(1): 18-22
Revista da ABRO - Associação Brasileira de Radiologia Odontológica
DISPLASIA FIBR
OS
A: ABORD
AGEM TTOMOGRÁFIC
OMOGRÁFIC
A
FIBROS
OSA:
ABORDA
OMOGRÁFICA
Fibrous dysplasia: tomographic approach
Frederico Sampaio NEVES1, Luana Costa BASTOS1, Luis Antonio Nogueira dos SANTOS2, Iêda CRUSOÉ-REBELLO3,
Paulo Sérgio Flores CAMPOS4
1
Mestrando do Programa de Pós-graduação em Radiologia Odontológica pela FOP/UNICAMP.
Doutorando do Programa de Pós-graduação em Radiologia Odontológica pela FOP/UNICAMP.
3
Professora Adjunta da Disciplina de Radiologia da FO/UFBA.
4
Professor Associado Livre-docente da Disciplina de Radiologia da FO/UFBA.
2
RESUMO
A displasia fibrosa é uma lesão fibro-óssea benigna causada por um distúrbio no metabolismo ósseo em que o tecido fibroso,
contendo osso anormal, se desenvolve e substitui o osso normal. A imagem radiográfica característica da displasia fibrosa é
uma expansão radiopaca mal definida, exibindo uma aparência de “vidro despolido”. Embora essas características sejam
geralmente visíveis nas radiografias planas, a tomografia computadorizada pode ser útil para uma avaliação precisa da
extensão da lesão e sua fusão com osso normal, e ser indispensável para o planejamento cirúrgico e correção da deformidade
facial. O objetivo deste artigo é relatar um caso de displasia fibrosa, enfatizando seus aspectos tomográficos e discutir as
principais complicações odontológicas relacionadas a tal condição.
DESCRITORES: displasia fibrosa monostótica, tomografia computadorizada, lesão fibro-óssea.
INTRODUÇÃO
A displasia fibrosa (DF) é uma lesão fibro-óssea benigna
causada por um distúrbio no metabolismo ósseo em que o
tecido fibroso, contendo osso anormal, se desenvolve e
substitui o osso normal1. A DF é causada por uma alteração
no gene GNAS1 localizado no cromossomo 20q13.2 com
expressão fenotípica variável2-4.
Fazem parte do grupo de lesões fibro-ósseas benignas
as displasias: fibrosa, cementária (ou cemento-óssea)
periapical, cemento-óssea focal e cemento-óssea florida e o
fibroma cemento-ossificante. Este grupo é formado por
lesões reativas que não podem ser diferenciadas com base
no exame histopatológico, no qual se confirma apenas sua
natureza fibro-óssea 5,6 . Os exames radiográficos
convencionais e imaginológicos são de grande importância
no diagnóstico diferencial da DF, sobretudo com relação ao
fibroma cemento-ossificante, sendo que para a DF as
margens da lesão são mal definidas, na qual ocorre fusão
da área lesional com o osso normal circunjacente,
característica esta refletida no padrão histopatológico7.
A imagem radiográfica convencional na DF pode ser
descrita como uma lesão radiopaca mal definida, com
aparência de “vidro despolido”8. Em raros casos, a lesão pode
apresentar um aspecto de “raios de sol”, mimetizando assim
uma lesão maligna como um osteossarcoma 9 . Embora
essas características sejam geralmente visíveis nas
radiografias convencionais, a tomografia computadorizada
(TC) permite uma avaliação mais precisa da extensão da
Rev ABRO 2010; 11(1): 23-26
lesão e da sua fusão com osso normal10, sendo importante
para o planejamento cirúrgico e correção das deformidades
faciais11.
A imagem radiográfica panorâmica faz parte da maioria
dos exames complementares utilizados para o diagnóstico
em Odontologia. Embora não seja um exame eficaz na
avaliação das estruturas da maxila, a imagem radiográfica
panorâmica permite a avaliação de lesões extensas e que
provocam deformidade facial, como em casos de DF. Como
um segundo exame de eleição, a TC seria a escolha, seja
multidetector ou cone beam, devido à possibilidade de
visualização em três dimensões das estruturas, sem
sobreposição das imagens, além da possível avaliação dos
tecidos moles. Devido à expressividade variável da DF, a TC
é capaz de definir desde acometimentos mais brandos a
manifestações mais severas e agressivas.
Este trabalho tem como objetivo descrever um caso de DF,
evidenciando as principais características imaginológicas e
a importância dos exames por imagem para estudo e
determinação de um correto diagnóstico.
RELATO DE CASO
Paciente de 66 anos, sexo masculino, compareceu à
clínica de radiologia para submeter-se a exame radiográfico,
devido à presença da deformidade facial acentuada, com
tempo de evolução indeterminado.
Na radiografia panorâmica, a hemi-mandíbula esquerda
revelou aspecto de “vidro fosco”, com possível envolvimento
23
Revista da ABRO - Associação Brasileira de Radiologia Odontológica
Fig. 1 – Radiografia panorâmica evidenciando aspecto de “vidro fosco”, com aparente
envolvimento da cabeça da mandíbula, duplicação da basilar e deformidade
acentuada.
da cabeça da mandíbula, duplicação da basilar e deformidade
acentuada (Figura 1).
Para avaliar com precisão a extensão da lesão, o paciente
foi submetido à TC multislice. O exame, sem a utilização de
contraste endovenoso, foi realizado com paciente em decúbito
dorsal, cortes axiais com espessura 0,6mm e incremento de
0,6mm, reconstruções multiplanares com espessura de
1,0mm, campo de visão de 16,7cmxcm, matriz de 512 x 512,
120 kV e 200mA. Nos cortes tomográficos axiais (Figuras 2ad) e reconstruções coronais (Figuras 2e-h) observa-se o
aspecto displásico do osso, com áreas remanescentes nãomineralizadas. As imagens sagitais mostram o envolvimento
do ramo ascendente e do pescoço da mandíbula (Figura 3)
do lado afetado. A imagem tridimensional revela deficiência
maxilar, mordida cruzada e toda a severa deformidade
produzida pela condição (Figura 4). Não se observa o
envolvimento dos tecidos moles, ou seja, não há indícios da
presença de mixoma de partes moles, descartando o
diagnóstico de Síndrome de Mazabraund.
Ante os achados clínicos e imaginológicos, a hipótese
diagnóstica foi de Displasia Fibrosa Monostótica.
DISCUSSÃO
A DF é uma condição na qual o osso normal é substituído
por tecido conjuntivo fibroso. Seu desenvolvimento pode ser
atribuído a mutações ocorridas no gene GNAS 1, mutações
estas que desregulam o metabolismo das células ósseas,
alterando a composição da matriz intercelular8.
A lesão é uma anormalidade localizada, podendo envolver
um (monostótica) ou múltiplos ossos (poliostótica), sendo a
primeira forma a mais prevalente. Cerca de 80% a 85% dos
casos geralmente ocorrem durante a segunda década de
vida8.
As lesões da DF são duas vezes mais comuns na maxila
Fig. 2 – Exame por TC, nos cortes axiais e coronais, observa-se o aspecto displásico do osso, com áreas
remanescentes não-mineralizadas.
24
Rev ABRO 2010; 11(1): 23-26
Revista da ABRO - Associação Brasileira de Radiologia Odontológica
Fig. 3 – Exame por TC, no corte sagital, mostra o envolvimento do ramo ascendente e do colo da mandíbula.
Fig. 4 – Na reconstrução tridimensional observa-se a
deficiência maxilar, mordida cruzada e toda a severa
deformidade produzida pela condição.
do que na mandíbula, sendo as regiões posteriores da arcada
mais frequentemente afetadas que a região anterior1.
Em estágios iniciais de desenvolvimento, a DF se
apresenta como uma matriz não-calcificada, que se
caracteriza pela formação de área unilocular arredondada,
oval ou irregular com margem esclerótica8. A radiolucência
inicial da DF pode sugerir o diagnóstico de granuloma central
de células gigantes, cisto ósseo traumático ou fibroma
cemento-ossificante12.
Ainda nos seus estágios iniciais, a DF pode causar leve
expansão e assimetria facial 13. Embora a condição seja
usualmente assintomática, a compressão dos canais e
foraminas, assim como limitações nos movimentos
funcionais, podem gerar queixas de dores de cabeça, perda
de visão, proptose, diplopia, perda de audição, anosmia,
obstrução nasal, epistaxe, epífora e alguns sintomas que
mimetizam sinusite1,14.
A presença de áreas radiotransparentes em meio ao osso
Rev ABRO 2010; 11(1): 23-26
displásico nem sempre significa estágio inicial da lesão15, o
que pode ser confirmado pelo caso ora apresentado.
MacDonald-Jankowski (1999) 12 avaliou os achados
radiográficos da DF em sete casos entre população oriental
e pôde observar que em todos os casos a lesão apresentava
aspecto radiopaco, o bordo inferior da mandíbula mostravase deslocado ou afinado, mas não reabsorvido, havia
expansão das corticais e não se observava uma definição
das margens da lesão. Tais características radiográficas
também podem ser observadas neste caso.
Degeneração cística não-específica associada à DF tem
sido raramente descrita na literatura. Tais lesões podem ser
cistos ósseos traumáticos ou aneurismáticos16. A presença
de espaços císticos, não visíveis na radiografia panorâmica,
pôde ser claramente visualizada nas imagens coronais da
TC desse paciente.
A DF pode causar diversas complicações de interesse para
o cirurgião-dentista. Frequentemente ocorre deslocamento
do assoalho do seio maxilar, deslocamento ou retenções
dentárias, ausência da lâmina dura, e o bordo da mandíbula
apresenta-se afinado ou ausente, tanto na TC como em
radiografias convencionais. Reabsorção radicular não é
detectada12. Em muitos casos de DF da mandíbula, o canal
mandibular pode estar deslocado inferiormente ou
superiormente17. Na radiografia panorâmica observa-se o
forame mentoniano, porém, não se consegue avaliar a
trajetória do canal mandibular. A TC evidenciou que o forame
mandibular e mentoniano estavam preservados, porém, não
foi possível determinar com precisão o trajeto do canal
mandibular, aparentemente preservado e envolvido por tecido
displásico. O paciente não relatou qualquer sensação de dor
ou parestesia na região afetada ou inervada pelo nervo
alveolar inferior.
A DF pode frequentemente ser diferenciada do
osteossarcoma com base no aspecto radiográfico. As
características radiográficas do osteossarcoma são estrias
ortorradiais, destruição das corticais, alargamento
generalizado dos espaços do ligamento periodontal e
destruição da lâmina dura. O exame histopatológico do osso
é indicado em todos os casos suspeitos de osteossarcoma1.
25
Revista da ABRO - Associação Brasileira de Radiologia Odontológica
Para a DF, o tratamento conservador, incluindo o recontorno
ósseo da região afetada, é geralmente indicado e obtém bons
resultados. A recorrência é rara em adultos, mas as lesões
podem mostrar um potencial de crescimento surpreendente
se cirurgicamente alteradas durante sua fase de crescimento
ativo1. Alvares et al. 14 (2009) relatam casos de regressão
espontânea das lesões, com remodelação óssea ou, mais
comumente, inativação das mesmas quando o paciente atinge
a puberdade, o que é atribuído às alterações hormonais14.
Apenas ocasionalmente a lesão continua a crescer de modo
significativo na vida adulta18.
No caso apresentado, a idade, ausência de
comprometimento funcional e aceitação da sua deformidade
facial determinaram como conduta adequada a proservação
do paciente.
ABSTRACT
Fibrous dysplasia is a benign fibro-osseous disease
caused by a disturbance in bone metabolism in which a
fibrous tissue, containing abnormal bone, develops and
replaces the normal bone. The characteristic radiographic
image of fibrous dysplasia is a poorly defined radiopaque
enlargement, showing a “ground glass” appearance. Although
these characteristics are usually observed in plan
radiographies, computed tomography can be useful for an
accurate evaluation of the lesion extension and its fusion with
the normal bone, and be indispensable for surgical planning
and correction of facial deformity. The aim of this paper is to
report a case of fibrous dysplasia, focusing in its tomographic
features, and to discuss the major dental complications
associated to this condition.
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Endereço para correspondência:
Frederico Sampaio Neves
Avenida Limeira, 901, Areião
Cx Postal 52-Piracicaba-SP
e-mail: [email protected]
Fone: (19) 88108831
Rev ABRO 2010; 11(1): 23-26
Revista da ABRO - Associação Brasileira de Radiologia Odontológica
AV
ALIAÇÃO TTOPOGRÁFIC
OPOGRÁFIC
A DO FFORAME
ORAME MENTU
AL EM
AVALIAÇÃO
OPOGRÁFICA
MENTUAL
RADIOGRAFIAS P
ANORÂMIC
AS
PANORÂMIC
ANORÂMICAS
Topographic evaluation of the mental foramen in panoramic radiographies
Frederico Sampaio NEVES1, Luciana Freitas de OLIVEIRA2, Vildeman RODRIGUES3, Poliana Pimentel3,
Iêda CRUSOÉ-REBELLO4
1
Mestrando do Programa de Pós- graduação em Radiologia Odontológica pela Faculdade de Odontologia de Piracicaba/
UNICAMP
2
Mestranda em Processos Interativos dos Órgãos e Sistemas pelo Instituto de Ciências da Saúde/UFBA
3
Cirurgiões-dentistas
4
Professora adjunta - Disciplina de Radiologia Básica/Universidade Federal da Bahia
RESUMO
O objetivo deste trabalho é avaliar a forma, posição e aspecto do forame mentual em radiografias panorâmicas. Foram
avaliadas 278 radiografias, do arquivo da Disciplina de Radiologia Básica da Universidade Federal da Bahia, por dois avaliadores
devidamente calibrados, em dois momentos diferentes com intervalo de tempo de 30 dias, obtendo-se um intervalo de
confiança de 98% entre os avaliadores. Após tal momento, as imagens foram avaliadas e em casos de discordância, era
obtido um consenso entre os avaliadores. Os critérios avaliados em cada imagem foram: presença, forma, número, aspecto
e posições ântero-posterior e supero-inferior do forame mentual. A análise estatística foi realizada de acordo com o gênero do
paciente. Em todas as imagens o forame mentual foi encontrado bilateralmente e único. Com relação ao aspecto, o padrão
“contínuo” foi o mais comum. A posição ântero-posterior mais frequente foi entre os pré-molares e a supero-inferior mais
frequente foi abaixo dos ápices radiculares dos pré-molares. Pode-se concluir que para os critérios radiográficos avaliados,
o forame mentual se apresentou semelhante, tanto para o gênero masculino quanto para o feminino, e os resultados corroboram
com outros divulgados na literatura.
DESCRITORES: forame mentual, radiografia panorâmica, mandíbula
INTRODUÇÃO
A identificação do forame mentual (FMt) é de grande
importância na clínica odontológica, no que se refere à
administração de anestesia local com finalidade cirúrgica ou
diagnóstica e em tratamentos endodônticos1.
O FMt é evidente na superfície lateral da mandíbula e se
localiza inferiormente à região interproximal do primeiro e
segundo pré-molares inferiores. Comumente, três ramos do
nervo mentual emergem por este forame. Um dos ramos
inerva a pele da região mentoniana, enquanto que os outros
se difundem para a pele do lábio inferior, mucosa e até a
gengiva da região de segundo pré-molar inferior2. Em imagens
radiográficas, o FMt normalmente se apresenta como uma
área radiolúcida oval ou circular na região de pré-molares,
sendo este único e ocorrendo bilateralmente3.
Diversos estudos têm se proposto a avaliar a posição do
FMt, sejam em crânios secos ou radiografias. Tem se
observado que a depender do tipo de população ou da idade,
a posição do FMt é modificada. Estudos em crânios secos
têm mostrado que existe uma relação próxima entre a
posição anatômica do FMt comparado com as suas
respectivas radiografias panorâmicas4.
Rev ABRO 2010; 11(1): 27-31
É importante saber localizar o FMt, pré-cirurgicamente, para
evitar erros de diagnóstico, ao confundi-lo com patologias
ósseas ou mesmo evitar danos ao feixe neurovascular
durante procedimentos invasivos nesta região.
Distúrbios sensoriais como hipersensibilidade,
hiposensibilidade ou parestesia em região de lábio inferior
ou bochechas podem ser resultante de uma pressão
causada sobre o nervo mentual. Estas alterações podem ser
transitórias ou persistentes, dependendo do grau de irritação
do nervo5. Tais distúrbios acontecem principalmente após a
colocação de implantes dentários6 ou então após a realização
de cirurgias endodônticas na região7,8.
O objetivo deste artigo é avaliar a forma, aspecto e posição
horizontal e vertical do FMt em radiografias panorâmicas.
MATERIAL E MÉTODOS
Este trabalho foi realizado após a aprovação do Comitê de
Ética da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal
da Bahia (CEP 13/09). Os critérios radiográficos avaliados
neste estudo foram similares a outros descritos
anteriormente1,9,13 e estão sumarizados na tabela 1.
Participaram deste estudo indivíduos que compareceram
27
Revista da ABRO - Associação Brasileira de Radiologia Odontológica
Tabela 1. Critérios radiográficos avaliados.
Achado radiográfico
Descrição
Aspecto
Contínuo: canal mandibular “unido” ao forame mentual
Separado: canal mandibular “separado” do forame mentual
Difuso: forame mentual difuso, com bordos indefinidos
Indefinido: não se consegue visualizar o forame mentual
Posição horizontal ou ântero-posterior
Posição 1: forame mentual situado anteriormente ao longo eixo do 1æ% pré-molar
Posição 2: forame mentual em linha com o longo eixo do 1æ% pré-molar
Posição 3: forame mentual entre o longo eixo do 1æ% e 2æ% pré-molares
Posição 4: forame mentual em linha com o longo eixo do 2æ% pré-molar
Posição 5: forame mentual situado posteriormente ao longo eixo do 2æ% pré-molar
Posição vertical ou supero-inferior
Posição 1: acima dos ápices radiculares dos 1æ% e 2æ% pré-molares
Posição 2: abaixo dos ápices radiculares dos 1æ% e 2æ% pré-molares
Posição 3: ao nível dos ápices radiculares dos 1æ% e 2æ% pré-molares
Forma
Arredondado
Oval
Irregular
ao Serviço de Radiologia da Faculdade de Odontologia da
Universidade Federal da Bahia para realização de exames
radiográficos panorâmicos, solicitados por outros cirurgiõesdentistas, no período de 2007 a 2008. Antes da realização
dos exames radiográficos, os indivíduos foram esclarecidos
acerca da pesquisa a ser realizada e assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido.
Foram realizadas 278 radiografias panorâmicas (84 de
indivíduos do gênero masculino e 194 do gênero feminino)
no ambulatório de Radiologia da Faculdade de Odontologia
da Universidade Federal da Bahia, todas no mesmo aparelho,
com o filme Kodak T-MAT (Eastman Kodak Company) e
processadas pelo método temperatura/tempo, com o uso de
soluções reveladoras e fixadoras novas (Eastman Kodak
Company), sempre seguindo as recomendações do
fabricante. Todas as imagens apresentaram critérios de
qualidade técnica, a saber: ausência de distorções, manchas
ou qualquer outro fator que dificultasse a avaliação da
imagem.
Além das imagens que não possuíram os critérios de
qualidade supracitados, foram excluídas imagens onde o FMt
não fosse visualizado bilateralmente, presença de lesões
patológicas localizadas na região posterior de mandíbula e
na ausência dos pré-molares e do primeiro molar inferiores
ou quando estes estivessem parcialmente irrompidos.
Após completo processamento químico, as imagens foram
digitalizadas através do uso de um scanner HP 4C com leitor
de transparência e armazenadas em um computador. As
imagens digitalizadas foram avaliadas no monitor do
computador, tela de cristal líquido (LCD) LG Flatron (LG
Eletronics), 15 polegadas e resolução 1024x728, em um
ambiente com condições ideais de luminância e iluminância,
por dois examinadores devidamente calibrados. Para a
28
calibração, foram avaliadas 30 imagens em um primeiro
momento e mais 30 em um segundo momento (com intervalo
de tempo de 30 dias), obtendo-se um intervalo de confiança
de 98% entre os avaliadores. Após tal momento, as imagens
foram avaliadas de maneira independente. Posteriormente,
em caso de discordâncias na avaliação, o consenso entre os
examinadores era obtido.
RESULTADOS
Foram avaliadas 278 imagens de indivíduos dos gêneros
masculino e feminino, totalizando 556 FMts, destes, 69,8%
correspondiam a indivíduos do gênero feminino e 30,2% do
gênero masculino (Tabela 2). Os indivíduos possuíam idades
entre 15 e 65 anos.
Tabela 2. Distribuição do forame mentual de acordo com os
gêneros.
Gênero
Masculino
Feminino
168 (30,2%)
388 (69,8%)
Em relação ao aspecto, o padrão “contínuo” foi o mais
encontrado tanto para o gênero masculino quanto para o
feminino, seguido do padrão “indefinido”. O padrão “difuso”
foi observado em maior frequência no gênero feminino (3%),
enquanto o “separado” foi mais prevalente no gênero
masculino (4%), conforme pode ser observado no Gráfico 1.
A relação horizontal ou ântero-posterior mais prevalente
foi a posição 3, na qual o FMt está entre o longo eixo do
primeiro e segundo pré-molares, tanto para o gênero
masculino quanto para o feminino. A segunda posição mais
prevalente foi a 4, situação em que o FMt está em linha com o
longo eixo do segundo pré-molar. A posição 1, onde o FMt
Rev ABRO 2010; 11(1): 27-31
Revista da ABRO - Associação Brasileira de Radiologia Odontológica
A última análise realizada foi quanto ao formato do FMt,
sendo o oval o mais encontrado (74% no gênero masculino e
63% no gênero feminino), seguido pelo arredondado (23%
no gênero masculino e 36% no gênero feminino). O formato
quadrangular não foi observado em nenhuma das imagens
(Gráfico 4).
Gráfico 1 – Aspecto do forame mentual de acordo com os
gêneros.
está situado anteriormente ao longo eixo do primeiro prémolar só foi observado em uma imagem (Gráfico 2).
Gráfico 4 – Forma do forame mentual de acordo com os
gêneros.
Gráfico 2 – Posição ântero-posterior do forame mentual de
acordo com os gêneros.
Em relação à posição vertical ou supero-inferior, a posição
mais prevalente foi a 2, onde o FMt está abaixo dos ápices
radiculares do primeiro e segundo pré-molares, tanto para o
gênero masculino quanto para o feminino. Seguido da
localização ao nível dos ápices radiculares (posição 3) e, em
menor prevalência, acima dos ápices radiculares (posição
1) (Gráfico 3).
Gráfico 3 – Posição supero-inferior do forame mentual de
acordo com os gêneros.
Rev ABRO 2010; 11(1): 27-31
DISCUSSÃO
Em casos de cirurgia periapical, enucleação cística,
colocação de implantes dentários, cirurgia periodontal com
rebatimento de retalho e tratamento ortodôntico-cirúrgico como
osteotomia no corpo mandibular, faz-se necessário o
conhecimento da exata localização do FMt por parte do
cirurgião-dentista. Tal informação se torna necessária para
correta realização de anestesia do nervo mentual e para se
evitar danos ao seu feixe neurovascular durante tais
procedimentos.
A radiografia panorâmica é um método não invasivo
amplamente utilizado no diagnóstico e planejamento em
cirurgias bucomaxilofaciais. Apesar da radiografia panorâmica
não prover informações precisas sobre a posição de
estruturas anatômicas devido a sua bidimensionalidade e
distorção da imagem, este é um exame extremamente
solicitado na clínica odontológica.
Além disso, utilizamos a radiografia panorâmica, pois esta
possui certas vantagens quando comparada à radiografia
periapical. Permite a visualização de uma maior e continua
área de tecido duro, além de fornecer uma dimensão vertical
e horizontal do FMt mais acurada.
FORMA E ASPECTO
Com relação ao aspecto do FMt, o padrão contínuo foi o
mais prevalente, tanto para o gênero masculino (89%) quanto
para o feminino (89%). Tais achados também foram
observados por Al-Khateeb et al.9 (2007).
Foi observado que quaisquer alterações nas condições
de exposição radiográfica podem afetar o aspecto (contínuo,
separado, difuso ou indefinido)10.
Com relação à forma do FMt, pode-se observar que a forma
29
Revista da ABRO - Associação Brasileira de Radiologia Odontológica
oval foi a mais prevalente, tanto para o gênero masculino
quanto para o feminino. Tais achados contrastam com os
resultados encontrados por Al-Katheeb et al.9 (2007), que
obtiveram maior frequência de forames com forma
arredondada. Existe relato de FMt com formato quadrangular
ao exame panorâmico11. Em nosso estudo não foi observado
nenhum caso com tal formato.
POSIÇÃO HORIZONTAL OU ÂNTERO-POSTERIOR
Al Jasser et al. 1 (1998) demonstraram a existência de
diferenças entre as mensurações anatômicas e radiográficas
de crânios secos com relação à posição ântero-posterior do
FMt, porém tal diferença não foi estatisticamente significante1.
Em nosso estudo pode-se observar que o FMt foi mais
prevalente entre o longo eixo do 1o. e 2o. pré-molares, tanto
para o gênero masculino quanto para o feminino. Tais achados
corroboram com estudos anteriores1,12-14, porém contrastam
com outros estudos onde a população consistia de indivíduos
negros15,16 e coreanos17, na qual o FMt esteve localizado em
uma posição mais posterior. Tais diferenças podem estar
relacionadas aos diferentes grupos étnicos estudados, assim
como pelo tamanho da amostra utilizada14.
POSIÇÃO VERTICAL OU SUPERO-INFERIOR
Tem sido observado que o FMt apresenta variadas
posições no sentido supero-inferior. Isto pode ser devido ao
comprimento das raízes dos dentes da amostra populacional,
sendo a idade o maior fator contribuinte. É geralmente
observado que em crianças onde ainda não ocorreu a erupção
dentária, o FMt se localiza mais próximo da margem alveolar.
Durante o período de erupção, por crescimento alveolar, o
FMt adquire nova posição, sendo localizado entre as margens
alveolar e inferior da mandíbula. A aparente movimentação
do FMt é relativa e depende da deposição de osso alveolar.
Com a perda dos dentes e a reabsorção óssea, o FMt se
apresenta mais próximo da crista óssea alveolar. Em casos
extremos de reabsorção óssea, o FMt e a porção adjacente
do canal mandibular são expostos na margem alveolar12,18.
Em nosso estudo pode-se observar que a localização
supero-inferior do FMt mais prevalente foi abaixo dos ápices
radiculares do primeiro e segundo pré-molares, tanto para o
gênero masculino quanto para o feminino. Tais achados
também foram observados em estudos prévios9.
Uma limitação do nosso trabalho foi não poder
correlacionar a posição do forame mentual com a perda
óssea e dentária, já que este não foi o nosso objetivo principal
e, para tal correlação, seria necessária uma amostra maior.
Através deste artigo, acreditamos que mais estudos possam
surgir acerca da relação entre a perda dentária/óssea com a
mudança ou não da posição do forame mentual.
Pode-se concluir que para os critérios radiográficos
avaliados, o forame mentual se apresentou semelhante tanto
para o gênero masculino quanto para o feminino, e os
resultados corroboram com outros divulgados na literatura.
30
É de fundamental importância o conhecimento das
características topográficas deste reparo anatômico,
principalmente quando se refere a procedimentos cirúrgicos
ou endodônticos.
ABSTRACT
The aim of this study is to evaluate the form, position and
aspect of mental foramen in panoramic radiographies. 278
radiographies from Federal University of Bahia Radiology’s
Department archive were evaluated, by two calibrated
observers, in two different periods with 30 days interval,
obtaining a 98% confidence interval between the observers.
The images were then evaluated and in cases of
disagreement, a consensus was obtained. The evaluated
aspects in each image were: presence, form, number, aspect
and anteroposterior and supero-inferior mental foramen
positions. The statistical analysis was realized according to
patient gender. In all of the images the mental foramen was
found bilaterally and unique for each side. Regarding to the
aspect, the “continuous” pattern was the most common. The
most frequent anteroposterior position was found to be
between the pre-molars and for the supero-inferior position it
was under the pre-molars root apices. We can conclude that
for both radiographic criteria evaluated, mental foramen was
similar between both genders and results concur with others
in the literature.
DESCRIPTORS: mental foramen, panoramic radiography,
mandible
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Endereço para correspondência:
Frederico Sampaio Neves
Av, Limeira, 901, Areião
Cx Postal 52, Piracicaba - SP - CEP 13414903
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Rev ABRO 2010; 11(1): 27-31
31
Revista da ABRO - Associação Brasileira de Radiologia Odontológica
PER
CEPÇÃO VISU
AL E A QU
ALID
ADE D
A
PERCEPÇÃO
VISUAL
QUALID
ALIDADE
DA
INTERPRET
AÇÃO RADIOGRÁFIC
A
INTERPRETAÇÃO
RADIOGRÁFICA
Visual perception and the quality of radiograph interpretation
Edemir COSTA1; Juliana COSTA2; Sílvio Serafim da LUZ FILHO3
1
Professor de Radiologia da UFSC e Doutorando em Engenharia e Gestão do Conhecimento da UFSC
Psicóloga, Especialista, Familiare
3
Doutor e Professor do Programa de Engenharia e Gestão do Conhecimento da UFSC.
2
RESUMO:
Neste estudo os autores procuram mostrar a relação existente entre os processos psicológicos superiores, em particular o
da percepção visual, e a qualidade da interpretação radiográfica na área da Radiologia Odontológica. Devido a maior
complexidade do diagnóstico nos exames feitos através de radiografias convencionais, e de serem estas de uso rotineiro na
Odontologia este estudo limitou-se a esse tipo de exame, onde estão mais presentes os fatores relacionados à subjetividade
das imagens. Após uma breve exposição do processo de obtenção da imagem radiográfica, foram comentadas as limitações
mais importantes que os radiologistas enfrentam na interpretação dessas radiografias, e que podem levá-los ao erro de
diagnóstico. Por esse motivo, se destaca a preocupação com o aspecto perceptual, pois é através dele que o indivíduo
adquire, interpreta, seleciona e organiza as informações recebidas através dos órgãos sensitivos da visão. Neste sentido foi
dada ênfase ao fator “atenção”, que é um processo de observação seletiva onde se inicia o processo de percepção.
DESCRITORES: Percepção visual; Qualidade em serviços; Interpretação radiográfica.
INTRODUÇÃO
O diagnóstico das alterações morfológicas e ou
patológicas no ser humano, rotineiramente é feito através de
três elementos que constituem o “tripé do diagnóstico”:
exames clínico, por imagem e o laboratorial.1
O exame radiográfico faz parte do tripé do diagnóstico em
que o especialista em Radiologia, analisa e interpreta as
imagens obtidas, e busca através delas, estabelecer o
diagnóstico com a finalidade de orientar os profissionais das
diversas áreas odontológicas, no planejamento dos
procedimentos clínicos e cirúrgicos, visando o tratamento do
paciente.
Este tipo de exame, por estar associado aos exames
clínico e laboratorial, também é conhecido como “meio
complementar de diagnóstico”, isto porque, nem sempre é
possível obter o diagnóstico definitivo apenas com o seu
emprego. Sua realização na área da saúde é feita por
cirurgiões-dentistas e médicos especialistas em Radiologia
que se utilizam das imagens para definir ou complementar
os diversos diagnósticos.
Atualmente, além das imagens obtidas através dos
exames com os aparelhos de raios X convencionais, outras
podem ser obtidas através de exames mais sofisticados,
dentre eles as tomografias computadorizadas, o ultra-som e
a ressonância magnética nuclear.
No entanto, em razão da rotina do diagnóstico por imagem
em Odontologia ser feito principalmente através do emprego
32
das radiografias convencionais, iremos abordar neste
trabalho apenas os aspectos da percepção visual que
interagem especificamente nesse tipo de exame.
As imagens obtidas através das radiografias convencionais
são caracterizadas por gradientes de tons de cinza numa
escala variável entre o branco e o preto. Cada estrutura
radiografada pode oferecer uma maior ou menor variação
dessa escala de tons de cinza, dependendo das condições
físicas do aparelho utilizado e, fundamentalmente do número
atômico, da espessura e da densidade da área a ser
radiografada.2
A interação entre os fatores físicos dos aparelhos utilizados
e os filmes radiográficos onde as imagens são obtidas, pode
alterar o gradiente dessa escala de tons de cinza, podendo,
por vezes, provocar o desaparecimento de imagens
necessárias ao diagnóstico.
Além disso, as imagens obtidas nos exames radiográficos
convencionais se limitam a oferecer apenas duas dimensões,
ou seja, imagens que não nos fornecem a visão de
profundidade da estrutura radiografada. Dessa forma, o
resultado da imagem é uma sobreposição das estruturas da
área em profundidade, dificultando sobremaneira o
diagnóstico.
Quando esses exames são feitos através de cortes
tomográficos como no caso das radiografias panorâmicas
onde essas imagens, mesmo não mostrando a terceira
dimensão representam apenas fatias de pouca profundidade
Rev ABRO 2010; 11(1): 32-38
da área a ser examinada dos arcos dentais, a sobreposição
de estruturas antes e depois da área de interesse, é
eliminada, minimizando o fator “sobreposição”. No entanto,
na maioria das radiografias convencionais, as imagens das
estruturas radiografadas são registradas em um único plano,
sobrepostas entre si.
Este fato requer do radiologista, não só o conhecimento
anatômico da área e de suas alterações patológicas, mas
também, um bom treinamento perceptual, para que possa
ocorrer a aquisição, interpretação, seleção e organização das
informações obtidas das imagens através do órgão sensorial
responsável pela visão.
Neste caso é importante considerar que é através do órgão
responsável pela percepção visual que o indivíduo organiza
e interpreta as suas impressões sensoriais para atribuir
significado às imagens.
A percepção visual que ocorre a partir de estímulos a que
são submetidos os órgãos responsáveis pela visão, deve
ser considerada sob o ponto de vista biológico ou fisiológico,
bem como sob o ponto de vista psicológico ou cognitivo,
uma vez que envolve também os processos mentais, a
memória e outros aspectos que podem influenciar na
interpretação dos dados percebidos.3
Por esse motivo, o objetivo principal deste artigo é destacar
a importância dos aspectos perceptuais visuais sob o ponto
de vista fisiológico e psicológico, na qualidade no diagnóstico
das imagens radiográficas.
DISCUSSÃO
A radiografia como meio de diagnóstico
A radiografia é um meio complementar do diagnóstico que
se utiliza das imagens, de forma a contribuir para o
estabelecimento do diagnóstico. Juntamente com os exames
clínico e laboratorial, o exame radiográfico faz parte dos
métodos utilizados para orientar o planejamento e a execução
dos tratamentos na área da saúde1.
Na Odontologia, em razão de ser uma especialidade que
atua marcantemente em tecidos duros do corpo humano
como o tecido ósseo e os dentes, a radiografia passa a ser
um exame imprescindível para o diagnóstico de alterações
patológicas eventualmente presentes.
Conforme considerações feitas na introdução, este artigo
irá considerar o diagnóstico por imagem a partir de
radiografias obtidas apenas pelos exames radiográficos
convencionais.
Assim sendo, é preciso que sejam feitas algumas
considerações relacionadas com a área específica da
Radiologia, para que se possa ter uma melhor compreensão,
entre “diagnóstico radiográfico” e “aspectos fisiológicos e
psicológicos da percepção visual”.
Quando radiografamos um paciente, através das
propriedades dos raios X estamos fazendo com que esses
raios ultrapassem os tecidos do corpo humano e sensibilizem
o filme radiográfico produzindo sua imagem.
Rev ABRO 2010; 11(1): 32-38
O corpo humano é constituído por vários tipos de tecidos,
que variam na sua constituição pelo número atômico,
espessura e densidade. Esses três fatores são os
responsáveis pela maior ou menor penetração dos raios X
nos tecidos, conseqüentemente, por uma maior ou menor
sensibilização do filme radiográfico. Quanto maior o número
atômico, a espessura e a densidade dos tecidos
radiografados, menor quantidade de raios X irão ultrapassálos e assim, menor será a sensibilização do filme radiográfico
e vice-versa. 1,2,4
Quanto ao número atômico podemos, por exemplo,
comparar o tecido dental e o tecido ósseo de espessura
semelhante. Entre os dois, os tecidos dentais possuem
número atômico maior que o do tecido ósseo, impedindo
mais a passagem dos raios X e sensibilizando menos o
filme radiográfico.
Radiografia como projeção de sombras
As imagens formadas nos filmes radiográficos
correspondem a uma escala de tons de cinza que vai do
branco ao preto. Assim, quanto menos o filme for
sensibilizado pelos raios X, menos radiação chegará ao filme,
gerando imagens mais claras, as quais são chamadas de
“imagens radiopacas”. Por outro lado, se a estrutura
radiografada permitir uma maior passagem dos raios X,
haverá uma maior sensibilização do filme e as imagens serão
mais escuras, sendo conhecidas como “imagens
radiolúcidas”. 1,2,4
Portanto, as imagens claras correspondem àquelas áreas
do filme em que os raios X foram barrados pelos tecidos do
corpo humano, como exemplo o tecido dental; e as imagens
escuras, correspondem às áreas em que os tecidos do corpo
humano pouco barraram a passagem dos raios X, como
exemplo, os tecidos moles. 1,2,4
Entre esses dois extremos de imagens, existem as
nuances de tons de cinza, resultado da variação do número
atômico, espessura e densidade de cada tecido, permitindo
assim a composição das imagens das diversas áreas
radiografadas pelo gradiente de “sombras”, ou tons de cinza.
Por se tratar de composição de sombras, as imagens
podem variar de densidade ótica, dependendo da região em
que se encontram ou em que são projetadas, mesmo se
tratando de lesões de mesma constituição.
Assim, a imagem de uma lesão tipo cística quando inserida
no tecido ósseo, como o caso de um cisto periapical (Fig.
1A), gera por efeito de contraste radiográfico uma imagem
radiolúcida, enquanto que um pseudocisto mucoso de
retenção do seio maxilar (Fig. 1B), mesmo sendo de
características semelhantes ao cisto periapical (tecido mole),
gera no seio maxilar uma imagem radiopaca.
Isto se deve ao fato de que, um cisto periapical que é uma
lesão constituída por tecido mole com destruição do tecido
ósseo, permite uma maior passagem dos raios X nesta
região, com maior sensibilização do filme radiográfico. Já no
33
Revista da ABRO - Associação Brasileira de Radiologia Odontológica
consciente sobre fenômenos visuais que podem levá-lo a
erros na leitura das radiografias. Um destes fenômenos é o
“efeito de faixas contíguas”.
Quando muitas áreas uniformes são observadas
simultaneamente, cada área parece ter uma densidade
uniforme. Qualquer área de densidade uniforme, parece estar
mais clara no lado adjacente a uma área de densidade mais
escura e ligeiramente mais escura no lado adjacente a uma
área de densidade mais clara.
Este efeito é observado quando se olha a imagem
radiográfica de uma escala de densidades, placa de alumínio
formando degraus de espessuras diferentes, destinado a
medir a passagem dos raios X. A densidade radiográfica de
cada degrau é uniforme, mas não parece ser assim quando
todos os degraus da escala são vistos ao mesmo tempo.
De acordo ainda com Wuehrmann e Manson-Hing4 (1977),
“os efeitos visuais do contraste aparecem, principalmente
onde há uma área mais bem definida de baixa densidade
radiográfica, em outras palavras, onde existe uma área mais
radiopaca na radiografia”. Esta área parece ter bordos mais
escuros ao seu redor. Esta ilusão de ótica é obtida com
freqüência nos exames radiográficos, quando as imagens
do esmalte dos dentes se sobrepõem. (Fig.2).
Fig. 2 - Efeito de contraste por sobreposição
Fig. 1 - (A) Cisto periapical projetado no tecido ósseo;
(B) Pseudocisto mucoso de retenção do seio maxilar
caso do pseudocisto de retenção do seio maxilar que
originalmente é uma coleção de conteúdo mucoso, haverá a
soma dos tecidos que constituem o pseudocisto, gerando por
efeito de contraste uma imagem radiopaca no interior do seio.
O contraste radiográfico é um dos aspectos que deve ser
considerado como importante no treinamento perceptual do
radiologista, uma vez que o mesmo pode ser resultado
apenas de ilusão de ótica.
Segundo Wuehrmann e Manson-Hing 4 (1977) o
radiologista “lê” as radiografias valendo-se dos olhos. Estes
órgãos não são infalíveis, e o observador deve estar
34
Radiografia como projeção bidimensional
A planificação da imagem radiográfica se constitui em um outro
fator de dificuldade para o radiologista no ato da interpretação
radiográfica.1 Não é incomum a sobreposição de imagens
em profundidade levar o profissional a erros de diagnóstico.
Para evitar isto, é preciso que ele tenha um bom
conhecimento da anatomia topográfica da área representada
na imagem radiográfica. A figura 3 mostra em (A)
sobreposição de um septo do seio maxilar sobre o canal da
raiz palatina do dente 16, sugerindo tratamento endodôntico.
Já em (B), a imagem corresponde a uma variação horizontal
na incidência radiográfica, dissociando a septação do seio
maxilar, do canal radicular.
Rev ABRO 2010; 11(1): 32-38
Revista da ABRO - Associação Brasileira de Radiologia Odontológica
Fig. 3 - (A) Septo do seio maxilar projetado sobre o canal
radicular; (B) Septo dissociado do canal.
(Figura cedida pela Disciplina de Radiologia Odontológica
da UFSC)
sua percepção, envie o estímulo correto à sua mente, e esta
associe o conhecimento topográfico e construa a imagem de
forma tridimensional, transformando o conhecimento tácito
em conhecimento explícito.
Outro dado importante a ser considerado como necessário
ao conhecimento do radiologista, é a semelhança de muitas
imagens, sejam elas anatômicas ou patológicas, fato que
geralmente é agravado pela planificação da imagem no filme
radiográfico, dificultando a sua interpretação. A sobreposição
de parte das imagens pode mascarar a realidade de uma
estrutura ou, até mesmo, gerar imagens que possam provocar
erro de interpretação1,2.
Dessa forma, para se interpretar uma radiografia, não
basta ter um profundo conhecimento da anatomia topográfica
das estruturas a serem analisadas e um bom domínio das
técnicas radiográficas. É preciso, acima de tudo, associar
esses conhecimentos com as influências psicobiológicas
que as imagens podem exercer sobre nossas mentes.
A seguir é apresentada uma figura cujas imagens não
correspondem à percepção visual gerada por elas. A figura 4
mostra dois elementos dentais sobrepostos, um molar e um
pré-molar, onde a projeção de suas imagens nos dá a
sensação de interposição de suas raízes, o que não ocorre
na realidade. A seta superior indica imagem sugerindo que a
raiz do molar (dente em posição horizontal), encontra-se
posicionada sobre a raiz do pré-molar (dente em posição
vertical). Já a seta inferior indica imagem sugerindo o oposto,
ou seja, a raiz do pré-molar, posicionada sobre a raiz do molar.
Nesse caso, o estudo da influência dos fatores perceptuais
gerados pelas imagens é de extrema importância, uma vez
que, de acordo com a psicologia, o comportamento das
pessoas é baseado na interpretação que fazem da realidade,
e não na realidade em si5.
Condições de conhecimento
Diante das situações adversas com que o radiologista se
depara ao analisar uma imagem radiográfica, é fundamental
que o mesmo tenha um grande conhecimento da estrutura
anatômica a ser radiografada, além do domínio das técnicas
utilizadas para a obtenção das imagens radiográficas1.
A imagem radiográfica nada mais é do que a projeção da
estrutura radiografada no filme, a qual pode variar de forma,
tamanho e posição, dependendo do tipo da técnica utilizada
e de sua incidência para a obtenção da imagem.
Por outro lado, é preciso ter em mente que, além desses
aspectos citados, acima as imagens se apresentam numa
radiografia de forma planificada, formadas pela variação de
tons de cinza em razão dos fatores apresentados no item 2.1
(número atômico, espessura e densidade dos tecidos).
Neste caso, a noção de profundidade é dada em parte
pelo conhecimento topográfico das estruturas que geraram
a imagem. No entanto, é preciso que o radiologista saiba
como essas estruturas se dispõem espacialmente para que,
Fig. 4 - Falsa interposição das raízes dentais do molar e do
pré-molar
(Figura cedida pela disciplina de Radiologia Odontológica
da UFSC)
Rev ABRO 2010; 11(1): 32-38
35
Revista da ABRO - Associação Brasileira de Radiologia Odontológica
Percepção
Para Vygotsky4 (2007), a percepção é parte de um sistema
dinâmico de comportamento, por isso, a relação entre as
transformações dos processos perceptivos e as
transformações em outras atividades intelectuais, tais como,
a consciência, o pensamento e a memória, é de fundamental
importância.
De acordo com Bock, Furtado e Teixeira5 (2003), “o homem na
concepção de Vygotsky, é um ser ativo, que age sobre o mundo,
sempre em relações sociais, e transforma essas ações para
que constituam o funcionamento de um plano interno”.
Ou seja, a partir das relações sociais (mediações) e da
linguagem, principalmente, o sujeito se apropria de conceitos
historicamente produzidos, atribuindo a eles novos
significados que serão internalizados, adquirindo um sentido
pessoal, o que constitui sua natureza psicológica 5.
Assim, segundo La Taille, Oliveira e Dantas6 (1992), nos
estágios iniciais do desenvolvimento as atividades mentais
apóiam-se principalmente em funções mais elementares,
enquanto em estágios subsequentes a participação das
funções superiores torna-se mais importante.
O desenvolvimento humano a partir das relações sociais,
conforme Palangana 7 (2001) dão origem aos processos
mentais superiores que ocorrem em dois níveis:
- processos psicológicos elementares (sensações,
percepções imediatas, emoções primitivas, memória
indireta): estão presentes nas crianças desde pequenas e
nos animais, tais como reações automáticas, ações reflexas
e associações simples.
- processos psicológicos superiores (atenção, percepção,
memória, imaginação), são de origem sócio-cultural 7.
O desenvolvimento cognitivo se dá pelo processo de
internalização da interação social com materiais fornecidos
pela cultura. Dentro da teoria vygotskiana, através da interação
social a criança entrará em contato com elementos
mediadores e fará uso deles, possibilitando o surgimento
dos processos mentais.
A mediação simbólica é um pressuposto essencial para
explicar o funcionamento das funções mentais superiores,
sendo uma característica presente em toda atividade humana,
pois dentro da teoria vygotskiana a relação do homem com o
mundo não é direta e sim mediada através dos instrumentos
e signos, sendo que o primeiro é externo e o segundo interno.
Uma operação que inicialmente representa uma atividade
externa é reconstruída e começa a ocorrer internamente. É
de particular importância para o desenvolvimento dos
processos mentais superiores a transformação da atividade
que utiliza signos (imagens por exemplo), cuja história e
características são ilustradas pelo desenvolvimento da
inteligência prática, da atenção voluntária e da memória.
A influência dos aspectos perceptuais na interpretação
radiográfica está diretamente ligada aos processos
psicológicos superiores.
Quando recebemos um estímulo do meio, ele é captado
36
pelos órgãos sensoriais e interpretado a partir de nossa
subjetividade (experiências, motivações, crenças, valores,
atitudes), resultando isto no processo de percepção.
Por esse motivo, a percepção do mundo é diferente para
cada um de nós; cada pessoa percebe um objeto ou uma
situação de acordo com os aspectos que têm especial
importância para si própria.
Bock, Furtado e Teixeira5 (1999) consideram que, “a maneira
com que percebemos um determinado estímulo, seja com a
ajuda de nossa experiência ou necessidades, irá
desencadear nosso comportamento”.
Em se tratando da interpretação radiográfica, o objetivo é
destacar o órgão da visão como meio de percepção para a
elaboração da construção da subjetividade.
A experiência acumulada pelo radiologista é um dos fatores
importantes, que atuam como desencadeante do seu
comportamento na interpretação da imagem radiográfica, no
entanto, deve-se ressaltar outro fator de igual importância
chamado “atenção”.
“Atenção” é um processo cognitivo pelo qual o intelecto
localiza e seleciona estímulos, estabelecendo relação entre eles.
A todo instante recebe-se estímulos, provenientes das mais
diversas fontes, porém só é possível atender a alguns deles,
até porque nem sempre é possível e necessário responder a
todos 8. Este processo de “atenção” faz com que o ser humano
perceba alguns elementos em detrimento de outros.
Os fatores que influenciam a “atenção” se agrupam em
duas categorias: fatores externos e fatores internos, dos quais
os que mais interferem no processo da interpretação
radiográfica pelo radiologista, são os fatores internos, próprios
do nosso organismo.
Os dois conceitos a seguir são muito aplicados quando
se realiza a interpretação radiográfica.
Motivação: presta-se mais atenção a tudo que nos motiva
e nos dá prazer do que as coisas que não nos interessam;
Experiência: vivida ou, por palavras, a força do hábito faz
com que se preste mais atenção ao que já conhecemos e
entendemos. 3,9
Assim, se um radiologista recebe um pedido de exame
radiográfico por suspeita de fratura radicular nos incisivos
centrais superiores de um paciente, uma imagem semelhante
à fratura resultante da sobreposição do contorno do nariz
sobre as estruturas ósseas da região, poderá induzir este
radiologista a “ver” um traço de fratura inexistente, como é o
caso da imagem projetada sobre a raiz do dente 11, seta
inferior. Neste caso, há apenas fratura na raiz do dente 21,
indicado pela seta superior. (Fig. 5).
Da mesma forma quando o radiologista passa por uma
experiência recente de diagnosticar um determinado tipo de
patologia, este poderá induzi-lo a confundir uma nova patologia
de imagens semelhantes. Neste caso, a “atenção” é de
fundamental importância para que erros de diagnóstico não
venham a acontecer, e pode ser influenciada por três fatores
básicos:
Rev ABRO 2010; 11(1): 32-38
Revista da ABRO - Associação Brasileira de Radiologia Odontológica
uma suspeita diagnóstica, fazendo com que o radiologista
seja igualmente induzido a ver aquilo que não existe e, ao
mesmo tempo, deixe de obter outras informações importantes
para o diagnóstico.
Poderíamos sugerir como exemplo um pedido de exame
radiográfico com suspeita de cárie dentária. Esta informação
mencionada poderá induzir o profissional, a ver uma cárie
inexistente e, ao mesmo tempo deixar de ver alguma outra
alteração de maior relevância para aquele diagnóstico.
Portanto, a qualidade da interpretação dos exames
radiológicos, está diretamente relacionada com os fatores
da percepção visual, tanto sob o ponto de vista fisiológico
quanto sob o ponto de vista psicológico, exigindo do
radiologista um treinamento perceptual adequado.
Fig. 5 - Fratura radicular na raiz do dente 21, indicada pela
seta superior e falso traço de fratura na raiz do dente 11
indicada pela seta inferior, resultado da projeção do ápice
nasal.
(Figura cedida pelo Dr. Delmo Tavares, UFSC)
- fator fisiológico: onde depende de condições
neurológicas e também da situação material em que o
indivíduo se encontra.
Neste caso, independentemente do conhecimento
profissional e das condições psicológicas que influem na
interpretação radiográfica, o radiologista tem que apresentar
uma boa “acuidade visual”.
- fator motivacional: o qual depende da forma com que o
estímulo se apresenta e provoca interesse.
É preciso que a imagem da área de interesse da
interpretação seja projetada com destaque para produzir o
estímulo necessário, capaz de motivar a associação entre a
imagem e o conhecimento sobre esta, ou seja, através da
visão da imagem e com o conhecimento, explicitamos a
subjetividade.
- fator concentração: depende do grau de solicitação e
atuação do estímulo.
Ao interpretar uma radiografia, é preciso que o profissional
priorize o órgão sensitivo da visão. Interferências captadas
por outros órgãos exteroceptores do organismo, como por
exemplo, o auditivo, poderão provocar uma desconcentração
com consequente perda da atenção e indução ao erro. Por
outro lado, este fator da atenção pode estar condicionado a
Rev ABRO 2010; 11(1): 32-38
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para o radiologista, é inegável a importância do
conhecimento dos processos psicológicos superiores como
a percepção, no aprimoramento da qualidade do diagnóstico
radiográfico.
Como se observou no desenvolvimento do trabalho, para
se interpretar com qualidade a imagem radiográfica, não basta
o domínio das técnicas de obtenção dessas imagens nem
apenas o conhecimento anatômico das estruturas do corpo
humano, quer topograficamente ou através de suas imagens.
É preciso estar preparado para entender as imagens. Em
psicologia, neurociência e ciências cognitivas, percepção é a
função cerebral que atribui significado a estímulos sensoriais
a partir do histórico de nossas vivências.
Conhecer bem aquilo que se faz como profissional
representa esse histórico; representa acima de tudo a
construção do conhecimento baseado nas experiências. No
entanto, é preciso ter consciência que, através da percepção,
se organiza e se interpreta os estímulos sensoriais
recebidos, dando a eles significado.
Numa radiografia, nem sempre a imagem que é captada
pelo órgão da visão corresponde à realidade, isto porque,
este processo de percepção não depende apenas da boa
acuidade visual, ou seja, da parte fisiológica do nosso órgão
sensitivo da visão. Ela envolve os processos mentais, a
memória e outros aspectos que podem influenciar na
interpretação dos dados recebidos.
Não há dúvidas que a consideração de todos os aspectos
aqui abordados, irão contribuir para que as imagens
radiográficas sejam analisadas com mais cautela e
profundidade, produzindo-se diagnósticos de melhor
qualidade.
Assim sendo, espera-se que, com as considerações
apresentadas neste artigo, seja possível contribuir para a
melhoria da qualidade da interpretação radiográfica, em
particular na área da Odontologia. É importante que os
radiologistas, além do conhecimento técnico-científico na área
odontológica, considerem a necessidade do conhecimento
dos aspectos psicológicos da percepção visual no ato da
37
Revista da ABRO - Associação Brasileira de Radiologia Odontológica
interpretação, melhorando assim a qualidade de seus laudos
radiográficos.
ABSTRACT
In this study the authors seek to show the existing
relationship between the superior psychological processes,
in particular the visual perception and the quality of the
radiographic interpretation in the area of Dental Radiology.
Due to the greater complexity of the diagnosis in the exams
using conventional radiographs, and because they are
routinely used in Dentistry, the present study was limited to
this type of exam, where the factors related to image subjectivity
are more present. After a brief presentation of the process for
obtaining the radiographic image, a discussion followed on
the more important limitations that the radiologists find in the
interpretation of these radiographs, them to errors in the
diagnosis. Because of this, it is stressed the concern with the
perceptual aspect, since it is through it that the person acquires,
interprets, selects and organizes the information received
through the sensitive organs of vision. In this way emphasis
was given to the factor “attention”, which is a process of
selective observation where the perception process begins.
DESCRIPTORS: Visual perception; Service quality;
Radiographic interpretation.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Editora Vozes, 2000.
Rego, TC. Vygotsky: uma perspectiva histórico cultural da
educação, 3ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996.
Endereço para correspondência:
Prof. Edemir Costa
Rua Gal. Estilac Leal, 176
Bairro Coqueiros – CEP: 88080-760
Florianópolis, SC
Fone (48) 32449765.
e-mail: [email protected]
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AVALIAÇÃO D
A QU
ALID
ADE DE RADIOGRAFIAS
DA
QUALID
ALIDADE
BANHAD
AS EM ÁL
COOL NA FFASE
ASE FINAL DE SEU
BANHADAS
ÁLCOOL
PROCESSAMENTO
Quality evaluation of radiographs washed with alcohol in the final phase of development
Luana Costa BASTOS1, Thiara Bagdeve de OLIVEIRA2, Renata de Araújo BARBOSA2, Vinícius Rabelo TORREGROSSA3,
Viviane Almeida SARMENTO 4
1
Mestranda do Curso de Radiologia Odontológica da FOP-UNICAMP
Cirurgiã-dentista pela Faculdade de Odontologia/UFBA
3
Graduando em Odontologia pela Faculdade de Odontologia/UFBA
4
Professora Adjunta da Faculdade de Odontologia/UFBA
2
RESUMO
O presente estudo tem como objetivo avaliar possíveis alterações no grau de escurecimento e na extensão da escala de cinza
de radiografias que foram submetidas a um banho em álcool etílico (92,8°) como etapa final do processamento com soluções
químicas. Para tanto, um dente extraído foi posicionado ao lado de um penetrômetro de alumínio e o conjunto foi radiografado
de forma padronizada utilizando 40 filmes periapicais de sensibilidade E. Para o processamento, os filmes foram separados
em quatro grupos (Grupo 1- controle, no qual não foi utilizado o álcool; Grupo 2- banho de 2 s em álcool; Grupo 3- banho de 1
min em álcool; Grupo 4- banho de 5 min em álcool). As radiografias foram digitalizadas (600 dpi, 8 bits) logo após sua obtenção
e novamente após um ano. As imagens foram analisadas no programa Photoshop 6.0® onde a média dos níveis de cinza e a
extensão da escala de cinza foram mensuradas. Os resultados mostraram que houve diferença estatística (p<0,0001) da
média dos níveis de cinza apenas nos grupos 2 e 4, porém, não houve diferença estatística na extensão da escala de cinza no
período avaliado. Pode-se inferir que o principal efeito do uso do álcool na secagem de radiografias foi a alteração do grau de
escurecimento do filme no período de um ano.
DESCRITORES: Radiografia dentária; Filme radiográfico; Álcool
INTRODUÇÃO
O exame radiográfico é um eficiente recurso disponível
para a avaliação de lesões ósseas, sendo o principal meio
não-invasivo de diagnóstico de algumas delas1. Entretanto,
o valor da imagem varia de acordo com a sua qualidade,
que está intimamente relacionada à eficiência do método
utilizado para a sua obtenção2,3,4. A imagem obtida deve ter
qualidade excelente, demonstrando ótimo detalhe, mínima
distorção e densidade e contraste médios4,5,6.
O controle da qualidade deve ser aplicado em todos os
momentos da realização do exame radiográfico 4, sendo
dependente de quatro fatores: a unidade geradora de raios X,
o filme (ou a combinação filme/écran), a habilidade do
operador e as condições de processamento. Este último fator
mostrou-se mais sujeito às variações do dia-a-dia, levando à
degradação da qualidade da imagem radiográfica 2,6. Iucif &
Tavano5 (1995) citam como condições de processamento: os
tipos de soluções reveladora e fixadora; a temperatura dessas
soluções; as etapas de lavagem e secagem dos filmes; as
Rev ABRO 2010; 11(1): 39-43
condições de armazenamento dos filmes e soluções; e luzes
de segurança adequadas.
O processamento é um procedimento meticuloso, mas
também muito simples, sendo por isso, negligenciado pela
maioria dos profissionais, chegando alguns autores a
afirmarem que 90% das falhas em radiografias acontecem
na câmara escura 7,8. Essas falhas ocorrem porque, na
maioria das vezes, os profissionais não dispõem de todo o
tempo necessário para processar corretamente suas
radiografias e buscam maneiras para acelerar a aquisição
das imagens3,4 .
Com o objetivo de reduzir o tempo total do processamento,
muitos autores estudaram a influência de fatores como
temperatura, diferentes tipos de filmes e soluções e sua
degradação3,4,5,6,9. Um método empírico comumente utilizado
para reduzir o tempo de secagem das radiografias
intrabucais é o uso do álcool. São poucas as publicações
que relatam as possíveis consequências deste método.
Haiter et al.1 (2001) analisaram por meio da densitometria o
39
Revista da ABRO - Associação Brasileira de Radiologia Odontológica
efeito do banho em álcool na qualidade final de radiografias
periapicais. Haiter Neto & Damian2 (2002) realizaram uma
análise visual (subjetiva) e microscópica para avaliar as
possíveis alterações.
O presente trabalho tem como objetivo avaliar, por meio
dos histogramas de radiografias digitalizadas, as possíveis
alterações no grau de escurecimento do filme e extensão
de sua escala de cinza, decorrentes do banho de álcool
para secagem das radiografias.
MATERIAL E MÉTODOS
Nesta pesquisa foram utilizados filmes radiográficos
periapicais do tipo Insight® (Eastman Kodak Co., Rochester,
NY, USA; sensibilidade E) selecionando-se aleatoriamente
40 destes que foram divididos em quatro grupos
experimentais, como demonstrado no Quadro 1. Esses
grupos se diferenciaram quanto à realização ou não do
banho em álcool (como etapa final de seu processamento)
e quanto à duração do referido banho.
Fig.1 - Posição do conjunto (filme – objeto - simulador de
tecidos moles e penetrômetro) para a tomada radiográfica.
Quadro I - Grupos experimentais utilizados na pesquisa
A: Grupo 1 Controle
R + LI + F + LF + S
B: Grupo 2
R + LI + F + LF + BA (2 s) + S
C: Grupo 3
R + LI + F + LF + BA (1 min) + S
D: Grupo 4
R + LI + F + LF + BA (5 min) + S
R: Banho revelador 3min; LI: lavagem intermediária em água
30 s; F: banho fixador 3min; LF: lavagem final em água
corrente 6 min; BA: banho em álcool; S: secagem em estufa
de ar quente.
Todos os filmes foram radiografados utilizando um
aparelho radiográfico (Spectro 70X, Dabi Atlante S.A.
Indústrias Médico Odontológicas, Ribeirão Preto, São Paulo,
Brasil) com 70 kVp, 8 mA e com filtragem total equivalente a
2,5 mm de alumínio. Um dente molar superior, cedido pela
disciplina de Cirurgia da FOUFBA (o dente foi doado pelo
paciente que assinou um Termo de Doação), foi mantido
em posição com cera utilidade no bloco de mordida do
posicionador radiográfico (Rinn ®). Sobre cada filme foi
colocado um penetrômetro de alumínio (cinco degraus com
1 mm de incremento) e, na frente do conjunto, foi posicionado
um simulador de tecidos moles preenchido com água (4
cm3) (Figura 1). O tempo de exposição empregado foi de 0,4
segundos e uma distância focal de 20 cm. Todos os filmes
foram expostos no mesmo dia, com intervalo de no mínimo
2 minutos entre as exposições consecutivas.
Após a exposição, os filmes foram processados pelo
método temperatura-tempo numa câmara-escura tipo
labirinto utilizando luz de segurança com filtro GBX-2
(Eastman Kodak Co., Rochester, NY, USA), soluções
processadoras GBX (Kodak Brasileira Indústria e Comércio
40
Fig. 2 - Exemplo de radiografia obtida. Observa-se imagem
do penetrômetro de alumínio à esquerda.
Ltda, São José dos Campos, SP, Brasil), preparadas 24 horas
antes do experimento para estabilizar suas propriedades.
No momento do processamento a solução reveladora
encontrava-se a uma temperatura de 24º C, sendo assim,
de acordo com a tabela fornecida pelo fabricante, o tempo
de revelação foi de 3 minutos. Realizou-se 30 segundos de
lavagem intermediária, seguindo-se o banho fixador por 3
minutos (tempo determinado pelo fabricante quando a
solução estiver em 24º C) e a lavagem final durante 6 minutos
em água corrente. Todas as radiografias de cada grupo
foram processadas simultaneamente, de forma a minimizar
possíveis influências da fase de processamento sobre a
densidade e contraste do filme. Antes da secagem, as
radiografias do Grupo 2 foram submetidas a um mergulho
rápido em álcool (2 segundos), as do Grupo 3 a um banho
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em álcool durante 1 minuto e as do Grupo 4 a um banho em
álcool durante 5 minutos. Foi utilizado o álcool etílico 92,8º
(álcool comum). Em seguida todos os filmes foram
colocados em estufa de ar quente (EMB ® , Indústria
Brasileira) para secagem.
Após o processamento, cada radiografia foi digitalizada
por um scanner com leitor de transparência (HP
PrecisionScan Pro 2.5, ScanJet XPA, Hewlett Packard
Company, Greeley, Colorado, USA), com uma resolução
espacial de 600 dpi, em 100% do seu tamanho original, no
modo escala de cinza. As radiografias foram armazenadas
no formato bmp num computador compatível com IBM
utilizando o sistema operacional Windows (monitor de 17",
com tela plana SuperVGA). A digitalização foi feita
imediatamente e após um ano da realização do experimento.
Máscaras de papel preto foram utilizadas sobre a face ativa
do scanner durante a captura das imagens radiográficas.
Cada imagem foi aberta no programa Photoshop 6.0®
(Adobe Systems Incorporated, Mountain View, California,
USA) e corrigida em brilho (de modo a eliminar ou diminuir
possíveis discrepâncias decorrentes do ruído fotônico ou
do processamento, permitindo assim que os valores de
cinza a serem aferidos fossem resultado apenas das
repercussões do banho de álcool das radiografias) e
inclinação (pois em algumas radiografias, a imagem do
dente apareceu inclinada) (Figura 2). Foram anotados os
valores máximo e mínimo e a média da escala de cinza, a
partir do histograma de cada imagem. Essas medidas
foram feitas duas vezes, a partir das quais foi obtida uma
média. Não foi mais possível realizar qualquer alteração
adicional na aparência da imagem no momento de sua
análise.
De posse desses dados foi avaliada a extensão da escala
de cinza, subtraindo-se o valor máximo da escala de cinza
pelo seu valor mínimo. A média dos níveis de cinza da imagem
foi utilizada para indicar o grau de escurecimento daquela
radiografia.
Os dados obtidos foram primeiramente testados quanto
a sua distribuição normal (Teste de Kolmogorov e Smirnov).
Para os grupos que passaram no teste de normalidade foi
aplicado o Teste t de Student, para os demais foi utilizado o
Teste de Mann Whitney. A probabilidade de erro assumida
foi de 5%.
RESULTADOS
Comparando-se os grupos entre si nos dois períodos de
tempo estudados, 24 horas e um ano depois da tomada
radiográfica, observou-se que houve diferença estatística
significante da média dos níveis de cinza (alteração do grau
de escurecimento da radiografia) apenas no grupo 2 (2 s de
álcool), no qual o valor diminuiu (p<0,0001 – Teste de Mann
Whitney), e no grupo 4 (5 min de álcool), onde ocorreu
Rev ABRO 2010; 11(1): 39-43
Tabela 1 - Média dos níveis de cinza das radiografias
digitalizadas, 24 horas e 1 ano depois de obtidas, nos
diferentes grupos de estudo
Grupos
1- Controle
2
3
4
Tempos
T1
T2
131,89
131,19
132,02
128,25
130,17
128,71
130,50
133,28
Valor de p
0,13
<0,0001
0,22
<0,0001
Teste
T de Student
Mann Whitney
Mann Whitney
Mann Whitney
T1= 24h; T2= 1 ano depois.
Tabela 2 - Extensão da escala de cinza (quantidade de tons
de cinza exibidos) das radiografias digitalizadas, 24 horas e 1
ano depois de obtidas, nos diferentes grupos de estudo
Grupos
1- Controle
2
3
4
Tempos
T1
T2
153,11
151,78
154,20
149,10
154,80
150,60
153,70
148,40
Valor de p
0,64
0,09
0,16
0,11
Teste
T de Student
Mann Whitney
T de Student
T de Student
T1= 24h; T2= 1 ano depois.
aumento da média dos níveis de cinza (p<0,0001 – Teste de
Mann Whitney) (Tabela 1).
Houve uma diminuição nos valores da extensão da escala
de cinza entre os tempos avaliados, em todos os grupos,
porém sem diferença estatística significante (Tabela 2).
DISCUSSÃO
Uma boa avaliação da imagem radiográfica depende
intimamente da qualidade desta imagem. A radiografia deve
apresentar um grau de escurecimento ou densidade
radiográfica média, para que se possam distinguir os
detalhes da região exposta. Radiografias muito claras ou
escuras demais podem dificultar o diagnóstico. A densidade
está diretamente ligada com a quantidade de radiação que
chega ao filme (miliamperagem), mas varia também com a
quilovoltagem, distância foco-filme, tipo de filme e com as
condições de processamento10.
Tavano & Estevam 11 (1993) definem contraste como a
diferença entre os diversos graus de preto, branco e cinza
da imagem e quanto maior o número de tons intermediários
de cinza, maior é a sua escala e menor é o seu contraste.
Essa propriedade é afetada basicamente pela
quilovoltagem, mas também sofre influências do tipo de
filme, tipo de tecido irradiado e das condições de
processamento 5,10.
Muitos são os estudos que abordam as influências
desses fatores na qualidade final das imagens. Segundo
Casanova et al. 9 (2006), o contraste das radiografias
periapicais, processadas manualmente pelo método
41
Revista da ABRO - Associação Brasileira de Radiologia Odontológica
temperatura-tempo, aumenta à medida que as soluções
processadoras envelhecem.
Thunthy et al. 12 (1991) estudaram os efeitos das
mudanças de tempo e temperatura, utilizando
processamento automático, na qualidade da imagem após
algum período de arquivamento. Concluíram que os filmes
extrabucais apresentaram um pequeno aumento de
sensibilidade e contraste, com o aumento do tempo e
temperatura de processamento.
No que diz respeito aos fatores de processamento, alguns
métodos empíricos são usados rotineiramente na clínica e
poucas são as evidências sobre a sua ação na qualidade
final da imagem. O uso do álcool para acelerar a secagem
das radiografias periapicais foi citada por alguns autores1,2.
Segundo Haiter Neto & Damian2 (2002), o álcool realmente
acelera o processo de secagem, uma vez que ao se volatizar
ele leva também parte da água que se encontra na superfície
do filme e na gelatina. Assim, caso os compostos resultantes
do processamento não sejam adequadamente
solubilizados pela água (da lavagem final) eles reagirão
com o oxigênio ambiente formando substâncias sobre a
radiografia que podem alterar suas propriedades, e com o
tempo, dificultar o diagnóstico.
Empregando grupos que se diferenciaram quanto ao
momento e duração do banho em álcool, Haiter et al.1 (2001)
encontraram valores de densidade muito oscilantes nos
grupos onde a lavagem final foi feita apenas com álcool. No
presente estudo observou-se diferença estatística no grau
de escurecimento do filme nos grupos 2 (onde o valor
diminuiu, o que significa um escurecimento do filme com o
passar do tempo) e 4 (onde ocorreu aumento do valor de
cinza, o que significa que a imagem tornou-se mais clara
após um ano de sua obtenção).
Já a extensão da escala de cinza diminuiu (o que significa
um aumento do contraste) em todos os grupos avaliados,
mas não foi estatisticamente significante. Essa propriedade
não foi descrita por outros autores que utilizaram o método
de secagem com álcool.
CONCLUSÃO
Pode-se concluir que o álcool etílico utilizado para reduzir
o tempo de secagem dos filmes periapicais interfere na
qualidade da imagem radiográfica, alterando seu grau de
escurecimento.
AGRADECIMENTOS
A UFBA/FAPESB, pela verba PRODOC, que permitiu a
aquisição dos equipamentos de digitalização de imagens
utilizados nesta pesquisa.
ABSTRACT
The present study aim to evaluate the possible changes
42
in degree of darkening of the film and range of periapical
films grayscale that were submitted to an ethyl alcohol (92,8°)
wash as final step of processing with chemical solutions.
Therefore, an extracted tooth was placed next to an aluminum
step wedge and the set was imaged in a standardized
manner using 40 E-speed periapical films. The films were
separated in four groups (Group 1- control, in which no
alcohol was used; Group 2- two seconds alcohol washing;
Group 3- one minute alcohol washing; Group 4- five minutes
alcohol washing). The radiographs were digitized
immediately (600 dpi, 8 bits) and again after 1 year. The
images were analyzed in Photoshop® software and the gray
levels mean and grayscale range were measured. The
results showed that there was statistical difference
(p<0,0001) in the gray levels mean analysis between the
groups 2 and 4, although there was not statistical difference
in the grayscale range in the evaluated period. It can be
inferred that the main effect of using ethyl alcohol in
radiographs, after one year, is the alteration of degree of
darkening.
DESCRIPTORS: Dental radiograph; x-ray film; alcohol.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1.
Haiter C, Damian MF, Haiter Neto F, Bóscolo FN. Avaliação do
tempo de secagem e análise densitométrica de dois tipos de
filmes radiográficos submetidos à lavagem em álcool. Rev Fac
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radiografias submetidas a um banho em álcool. Rev Bras
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da solução processadora Hexa, e de sua degradação, através
do método sensitométrico. Rev. FOB. 1994; 2: 68-73.
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automática Dupont Cronex T4. Utilizando solução Kodak RP XO-Mat em diferentes temperaturas. Rev. FOB. 1994; 2: 14-22.
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quando utilizada no processamento manual do filme
radiográfico periapical Agfa M2 “Confort”. Rev. FOB. 1995; 3:
81-86.
6. Tavano O, Capelozza ALA, Fontão FNGK. Análise
sensitométrica de filmes periapicais, processados a
temperatura de 35º C com diferentes tempos de revelação.
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radiografias dentárias. In: Princípios do diagnóstico por imagem
em odontologia. Langland OE, Langlais RP: Santos, 2002, pp
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radiologia em odontologia. Álvares LC, Tavano O: Santos, 1990,
pp 17-40.
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properties of light-sensitive films. Oral Surg Oral Med Oral
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Endereço para correspondência:
Luana Costa Bastos
Rua Santa Cruz, 150, Edifício Atlanta, apto. 54,
Bairro Alto - CEP: 13419-020.
Piracicaba-SP
Telefones: (19) 3374-5765 / (19) 8120-2241
e-mail: [email protected]
Rev ABRO 2010; 11(1): 39-43
43
Revista da ABRO - Associação Brasileira de Radiologia Odontológica
ADMINISTRAÇÃO E GERENCIAMENTO DE UM SERVIÇO
DE RADIOLOGIA ODONTOLÓGICA
Administration and management of a service of oral radiology
Cléber Alexandre SEGATO1, Edemir COSTA2, Sílvio Serafim da LUZ FILHO3
1
Especialista em Radiologia Odontológica e Imaginologia/UFSC
Professor de Radiologia e Doutorando em Engenharia e Gestão do Conhecimento/ UFSC
3
Psicólogo, Doutor, Professor do Programa de Engenharia e Gestão do Conhecimento/UFSC
2
RESUMO
O presente estudo se propõe a mostrar ao cirurgião-dentista especialista em Radiologia a importância da gestão do conhecimento
na administração e gerenciamento de um serviço de Radiologia Odontológica, como resultado da elaboração de um modelo
atualizado de gestão técnico/administrativa, como referencial básico para a implantação de novos serviços, visando a melhoria
e otimização do trabalho organizacional. Utilizando-se de uma revisão da literatura evidenciaram-se as tendências de administração
e gestão presentes no mercado, e que servem de facilitadoras para o crescimento empresarial. Nessa revisão, foram pesquisados
temas considerados importantes como a Lei 453/98 que normaliza os serviços de Radiologia Odontológica, a ética profissional
com a sociedade, as tendências de gestão, a importância do planejamento estratégico numa empresa, o papel dos sistemas de
informação como alavanca tecnológica nos processos de serviços e o papel do marketing como catalisador da clientela. Enfim,
o propósito dos autores não é o de esgotar o assunto a respeito da gestão e da administração de um serviço de Radiologia,
muito pelo contrário, o objetivo é despertar o interesse pela profissionalização de seus métodos de gestão, objetivando não só
o crescimento de sua clínica, como também o fortalecimento deste setor de prestação de serviços. O estudo pretende servir
como uma orientação ao radiologista que optar pela abertura de um serviço de Radiologia Odontológica, evidenciando todos os
aspectos concernentes na área da gestão, fomentando o sucesso organizacional.
DESCRITORES: Gestão; Radiologia; Serviços.
INTRODUÇÃO
A demanda por profissionais e serviços mais eficientes e
de qualidade é facilmente perceptível pelas empresas, pois a
cada dia os clientes se atualizam para realização da compra
de um bem ou serviço, procurando as informações disponíveis
acerca de seu interesse.
Em face disto, é notória a necessidade das organizações
adotarem métodos e processos de trabalho cada vez mais
padronizados, que minimizem o tempo de resposta ao cliente
e, em contrapartida, maximizem melhores resultados para a
organização.
Diante desta realidade, o profissional de saúde, dentista ou
médico que desejar montar seu serviço de Radiologia, não
lhe valerá apenas o conhecimento técnico acerca da Radiologia,
mas também será necessário possuir um conhecimento de
como lidar com os procedimentos gerenciais do serviço, ou
seja, de que forma administrar e gerenciar um serviço de
Radiologia, neste caso odontológico, visando não apenas o
retorno financeiro e o estabelecimento de sua marca, mas
principalmente a manutenção e promoção da qualidade de
vida dos clientes.
O gestor da empresa, conhecendo todas as características
44
pertinentes à administração, poderá dimensionar
adequadamente a estrutura do serviço, buscando a eficiência
no processo de atendimento ao cliente e de execução das
atividades gerenciais.
Sendo assim, este trabalho teve como objetivo apresentar
os aspectos a serem considerados para o desenvolvimento
de um modelo atualizado de gestão e administração de um
serviço de Radiologia Odontológica, a ser utilizado como
referencial básico para novas implantações de serviços,
visando a melhoria e a otimização da organização do trabalho.
CONSIDERAÇÕES ESPECÍFICAS
2.1 Aspectos legais
A Portaria 453/98 da Vigilância Sanitária do Ministério da
Saúde estabelece as Diretrizes de Proteção Radiológica em
Radiodiagnóstico médico e odontológico. Serão descritos a
seguir os pontos principais desta portaria, que tem influência
direta na viabilidade de um empreendimento com esta
característica, visando a defesa da saúde do profissional, do
paciente e do público em geral.
Os requisitos específicos para a Radiologia Odontológica,
segundo a Portaria 453/98, incluem normas para o uso dos
Rev ABRO 2010; 11(1): 44-50
Revista da ABRO - Associação Brasileira de Radiologia Odontológica
equipamentos intra e extrabucais. Para as radiografias
intrabucais, o ambiente deve ter dimensões suficientes para
permitir à equipe manter-se a uma distância de pelos menos
2 metros do cabeçote do equipamento, além de dispor de
sinalização visível nas portas de acesso, contendo o símbolo
de radiação ionizante e quadro com as orientações de proteção
radiológica ao paciente e acompanhante. Para as extrabucais,
os equipamentos devem ser instalados em sala específica,
atendendo aos mesmos requisitos do radiodiagnóstico
médico. É também de suma importância que haja, para cada
equipamento, uma vestimenta plumbífera que garanta a
proteção do tronco dos pacientes, incluindo tireóide e gônadas.
O serviço deve possuir instalações adequadas para o
processamento de filmes com lanterna de segurança,
cronômetro, termômetro e sistema de exaustão, quando estes
não forem aparelhos digitais.
Os equipamentos de raios X para uso odontológico devem
atender aos requisitos de:
• Tensão, a qual deve ser maior ou igual a 50 kVp para
radiografias intrabucais e não inferior a 60 kVp para as
extrabucais;
• Filtração total não inferior ao equivalente a 1,5 mm de
alumínio para equipamentos com tensão de tubo inferior a 70
kVp, e nos casos de tensão de tubo superior a 70 kVp a filtração
total permanente não deve ser inferior ao equivalente a 2,5
mm de alumínio;
• Radiação de fuga: o cabeçote deve estar blindado de modo
a garantir um nível mínimo de radiação de fuga, limitada a uma
taxa de kerma máxima de 0,25 mGy/h a 1 metro do ponto focal,
quando operado em condições de ensaio de fuga;
• Colimação, onde o diâmetro do campo não deve ser
superior a 6 cm na extremidade de saída do localizador para
radiografias intrabucais. Já para as extrabucais é obrigatório o
uso de colimadores retangulares.
• Distância foco-pele, os aparelhos devem possuir um
localizador de extremidade de saída aberta para posicionar o
feixe, limitando a distância foco-pele a um valor mínimo de 18,
20 e 25 cm para tensão de tubo menor ou igual a 60 kVp, entre
60 e 70 kVp e maior que 70 kVp, respectivamente.
• Duração da exposição, a qual deve ser controlada por um
sistema eletrônico e não deve permitir exposição superior a 5
segundos. Deve haver ainda um sistema que garanta que os
raios X não sejam emitidos quando o indicador de tempo se
encontrar na posição “zero” e o disparador for pressionado. O
botão disparador deve estar em uma cabine de proteção ou
disposto de tal forma que o operador possa ficar a uma
distância de 2 metros do tubo e do paciente1.
De acordo com a Portaria 453/98 devem ser adotados
procedimentos a fim de reduzir a dose de radiação no paciente.
Em primeiro lugar, é importante que exames radiográficos
sejam realizados somente quando necessários, devendo-se
averiguar a existência de exames anteriores que tornem
desnecessário um novo exame. O tempo de exposição deve
ser o menor possível, condizente com a obtenção de imagem
Rev ABRO 2010; 11(1): 44-50
de boa qualidade. A repetição de exames deve ser evitada por
meio do uso da técnica correta de exposição e de um
processamento confiável e consistente.
Para radiografias intrabucais deve ser utilizada,
preferencialmente, a técnica do paralelismo com localizadores
longos, dispositivos de alinhamentos (posicionadores),
retentores periapicais e de “bite-wing”. Em extrabucais devese utilizar tamanho de campo menor ou igual ao tamanho do
filme; o operador deve observar e ouvir o paciente durante as
exposições, sendo proibido o uso de sistema de acionamento
de disparo com retardo. A proteção do operador e da equipe é
de extrema importância. Para manter esse princípio, os
equipamentos extrabucais devem ser operados dentro de uma
cabine ou biombo fixo de proteção com visor apropriado. Se a
carga de trabalho for superior a 30 mA/min por semana, o
operador deve manter-se atrás de uma barreira protetora com
uma espessura de, pelo menos, 0,5 mm equivalentes ao
chumbo. Além disso, nenhum elemento da equipe deve segurar
o filme durante a exposição. Caso seja necessária a presença
de indivíduos para assistirem a uma criança ou a um paciente
debilitado, eles devem fazer uso de avental plumbífero com,
no mínimo, o equivalente a 0,25 mm Pb e evitar se posicionar
na direção do feixe primário.
A proteção do público em geral também é um ponto
importante a ser considerado. Neste sentido, o levantamento
radiométrico deve demonstrar que os níveis de radiação
produzidos atendem aos requisitos de restrição de dose
estabelecidos. O acesso à sala de aparelhos de raios X deve
ser limitado durante os exames.
O processamento do filme radiográfico é uma etapa
importante, durante a qual devem ser seguidas as
recomendações do fabricante com respeito à concentração
da solução, temperatura e tempo de revelação. Deve ser afixada
na parede da câmara escura uma tabela de tempo e
temperatura da revelação. Os filmes também devem ser
protegidos, armazenando-os em local protegido do calor,
umidade, radiação e vapores químicos.
O controle de qualidade, previsto no programa de “garantia
de qualidade”, deve incluir um conjunto de testes de constância,
a ser realizado com frequência mínima de dois anos: camada
semi-redutora, tensão de pico, tamanho de campo,
reprodutibilidade do tempo de exposição ou da taxa de kerma
no ar, linearidade da taxa de kerma no ar com o tempo de
exposição, dose de entrada na pele do paciente, padrão de
imagem radiográfica e integridade das vestimentas de proteção
individual1.
2.2 Ética organizacional
São frequentes as discussões em torno dos termos moral,
ética, deontologia e, atualmente, bioética. Não parece simples
indicar a etimologia dos termos ou defini-los, pois os autores
não se referem a eles de maneira uniforme. A moral é
considerada por Vasquez2 (1969) como a normalização dos
atos humanos práticos, dos costumes e dos deveres do
45
Revista da ABRO - Associação Brasileira de Radiologia Odontológica
homem individual e grupal.
Segundo Häring 3 (1972), ética compreende os
comportamentos que caracterizam uma cultura, um grupo
profissional, enquanto faz uso de uma escala de valores.
Já a deontologia é qualificada como o estudo dos deveres
de um grupo profissional.
Com o avanço das ciências biomédicas surgiu a bioética, a
qual trouxe questões relacionadas à vida (bebê de proveta,
bancos de esperma, transplantes de órgãos...). De uma
maneira mais ampla, trata-se da análise crítica das dimensões
morais do processo de decisão no contexto da saúde e onde
atuam cientistas e biólogos.
Na Odontologia, os cirurgiões-dentistas e profissionais de
categorias auxiliares reconhecidas pelo Conselho Federal de
Odontologia - CFO estão sujeitos às normas previstas no
“Código de Ética Odontológica”, as quais devem ser seguidas,
independentemente da função ou cargo que ocupem, bem
como pelas pessoas jurídicas, no caso específico, os serviços
de Radiologia Odontológica.
Uma formação profissional com conhecimentos de
princípios éticos e legais orienta o radiologista, quando da
aplicação do seu saber, na construção de uma prática
consciente, resultando numa melhor relação pacienteprofissional e realização pessoal.
Destacamos alguns artigos do Código de Ética Odontológica
do CFO, que na prática de um serviço de radiodiagnóstico,
estão mais diretamente relacionados com as suas atividades
e, por esse motivo, tem preocupado os radiologistas:
No artigo 5º - deveres fundamentais dos profissionais e
Entidades Odontológicas, destacamos o incivo II que prevê o
dever do profissional investido em função de direção ou
responsável técnico em assegurar as condições adequadas
para o desempenho ético-profissional da Odontologia e inciso
V, em que é dever do profissional zelar pela saúde e dignidade
do paciente. O artigo 7º - no relacionamento com o paciente,
prevê infração ética a discriminação, obtenção de vantagens
física, emocional, financeira ou política; exagerar no diagnóstico
e propor exames desnecessários. Já o artigo 8º - com a equipe
de saúde, destacamos as infrações éticas de desviar
pacientes de colegas, praticar ou permitir a concorrência desleal
utilizando-se de serviços prestados por profissionais não
habilitados legalmente. Por fim, os artigos 12 e 13, que tratam
dos honorários profissionais, destacamos a preocupação
quanto ao descumprimento ético em receber ou dar gratificação
por encaminhamento de pacientes, além da prática do
aviltamento de honorários profissionais com o objetivo de
ganhar o mercado, em detrimento da qualidade dos serviços
prestados 4.
A ética organizacional tem como valores irrenunciáveis a
boa qualidade dos produtos, a honradez no serviço, o respeito
mútuo nas relações internas e externas da empresa, a
cooperação para o alcance de boa qualidade, a solidariedade,
a criatividade e a iniciativa. Também são componentes da ética
nas organizações a avaliação das consequências e a
46
maximização dos benefícios. Ela centra-se na concepção da
empresa como uma organização econômica e como uma
instituição social, ou seja, uma comunidade de sujeitos éticos
que compartilham um projeto, um sistema de comunicação,
de lealdades recíprocas e de compromissos, com base na
confiança, na justiça e no diálogo. Ir além do conhecimento de
padrões éticos de comportamento e conduta é o que prima a
ética organizacional. Ela requer primordialidade em sua prática,
que é concretizada na atuação diária e não somente nas
ocasiões excepcionais geradoras de conflitos de consciência.
2.3 Responsabilidade Social
Nos últimos anos, o setor saúde tem experimentado um
redimensionamento do esquema de “beneficência-caridade”
que os serviços de saúde, especialmente os hospitais, traziam
desde o seu início. A fim de fazer frente às dificuldades
financeiras, à má qualidade, à falta de equidade e à ineficiência,
surge a proposta das instituições de saúde, tornando
impossível conceber o seu desenvolvimento institucional e a
sua gestão de forma isolada do enfoque empresarial. Defendese que a viabilidade de um serviço de Radiologia Odontológica
será facilitada se for concebido como uma empresa que
assume junto com a coletividade um papel na produção de
serviços, tendo por base um planejamento criativo, uma
organização racional, uma direção eficiente e um rigoroso
controle de qualidade. Essas transformações da organização,
com a introdução de matrizes administrativas, financeiras e
econômicas no seu dia-a-dia provocam algumas inquietudes
e questionamentos, principalmente sobre a ética e a
responsabilidade social da gestão em saúde.
Em suma, a responsabilidade social diz respeito à
constituição de uma cidadania organizada no âmbito interno da
empresa e à implementação de direitos sociais no âmbito
externo. Trata-se de uma maneira de conduzir os negócios da
empresa de forma a torná-la co-responsável pelo
desenvolvimento social. A empresa socialmente responsável é
receptiva aos interesses das diferentes partes, como dos
acionistas, trabalhadores, prestadores de serviços,
fornecedores, usuários, clientes, comunidade, governo e meio
ambiente, incorporando-os no planejamento de suas atividades,
com vistas a atender as demandas de todos e não apenas dos
acionistas ou proprietários. Isto exigirá que o administrador ou
gestor de um serviço de Radiologia Odontológica empenhe
parte significativa do seu tempo negociando os possíveis
conflitos de interesses (BROWN, 1992)5.
Sem ética organizacional é impossível a responsabilidade
social. De nada adianta uma empresa empenhar-se em
projetos sociais enquanto seus colaboradores não possuem
condições adequadas de trabalho e segurança.
2.4 As especificidades das organizações de saúde
Em relação às organizações que atuam na área de atenção
à saúde, a expectativa social é ainda mais elevada. Espera-se
que estas se comportem de maneira diferente daquela
Rev ABRO 2010; 11(1): 44-50
Revista da ABRO - Associação Brasileira de Radiologia Odontológica
observada para as empresas comuns. A sociedade acredita
que as preocupações econômicas não devem ser um
empecilho para a excelência da atuação dos profissionais de
saúde, ao contrário, a imagem esperada para os serviços de
saúde é de uma atitude de zelo na defesa das pessoas,
especialmente das que estão doentes.
Entendendo a administração dos serviços de Radiologia
Odontológica como um fator de viabilização da gestão
correta, eficiente e responsável da assistência aos usuários,
a maior aspiração do administrador deve ser o
desenvolvimento de um sistema de atendimento eficaz, com
todos os seus componentes funcionando como uma equipe
para atender, primeiramente, às necessidades da
comunidade, em seguida às da instituição e, só então, às
necessidades individuais dos empregados, dos
profissionais e dele próprio. Quando a ordem nesta relação
inverte-se, os serviços de saúde perdem de vista seu objetivo
social e se tornam pouco efetivos.
Cortina et al.6 (1996) alertam para a necessidade de as
diferentes organizações, tendo patente o sentido da atividade
que lhes é característica, refletirem sobre quais os bens
internos a esta atividade e os meios adequados para atuar
nesta direção. Talvez, esta seja a primeira tarefa de uma ética
para as organizações. Isso significa que há uma obrigação de
buscar a integração entre os critérios éticos e os econômicos,
ou seja, de conciliar as exigências funcional e ética da empresa
e de equilibrar os custos sociais e os resultados. Em outras
palavras, a questão abarca como relacionar os reclames da
economia e as demandas da ética.
2.5 A responsabilidade de proteger os direitos dos
usuários de serviço de saúde
Segundo Ziengenfuss 7 (1996), as organizações, os
programas e as direções dos serviços de saúde têm a
responsabilidade ética e social de proteger os direitos dos
pacientes. Tal proteção será alcançada à medida que esses
direitos encontrem sustentação dos objetivos, valores e
cultura da organização; consonância no desenvolvimento do
trabalho técnico; lugar e suporte na estrutura organizacional;
atividades de apoio da equipe e garantia de serem
considerados, por parte da direção, desde o planejamento
até o controle e a avaliação das atividades.
Um dos direitos fundamentais dos usuários dos serviços de
saúde é o acesso à informação. Constitui condição
indispensável para que a pessoa possa consentir, de forma
esclarecida, aos procedimentos diagnósticos e/ou terapêuticos,
necessários segundo sua patologia e quadro clínico. A
privacidade, da mesma forma, constitui um direito dos usuários
e as condições para seu respeito estendem-se do projeto
arquitetônico às relações diárias. Este direito do paciente à
privacidade gera para os profissionais e para as organizações
de saúde o dever de preservar a confidencialidade, devendo ser
criadas condições para que se mantenham sob sigilo os dados
relativos à intimidade do paciente (SACARDO, 2001)8.
Rev ABRO 2010; 11(1): 44-50
2.6 Planejamento e Gestão estratégica de um serviço de
Radiologia Odontológica
O estudo em questão não tem o propósito de criar um
modelo de gestão, mas sim alertar o gestor ou administrador,
responsável por um serviço de Radiologia Odontológica, da
necessidade de possuir um conhecimento na área de
planejamento e gestão estratégica tendo em vista a grande
oferta de tecnologia e a exigência por qualidade, resultantes
do processo de crescimento cultural e da grande demanda de
informações.
A evolução dos conceitos e práticas associadas ao
planejamento estratégico está intimamente relacionada à
intensificação do ritmo e da complexidade dos processos de
mudanças por que vem passando as organizações
empresariais. A administração estratégica se diferenciou pela
abordagem integrada e equilibrada de todos os recursos da
organização para a consecução de seus fins (GLUCK et al.,
1981)9.
Segundo Henriques10 (2007), num mercado tão complexo e
em constante evolução, as empresas não conseguem
sobreviver quando apenas alguns dos gestores estão
envolvidos na formulação e implementação de estratégias. A
dinâmica do meio ambiente, a geração de flexibilidade, a
interação dinâmica, integração interna da empresa e a
revitalização do espírito organizacional são algumas das
razões pelas quais deve ser utilizado planejamento estratégico.
Autores como Amboni11 (2002) são unânimes em afirmar que
as questões fundamentais ou premissas básicas para um
planejamento adequado são:
• Onde estamos – o que somos?
• Onde queremos chegar – o que desejamos vir a ser?
• O que é preciso fazer para chegar lá?
Independentemente do nível e da área de especialidade,
os gestores e toda a equipe de trabalho devem conhecer e
perceber os conceitos básicos da gestão estratégica, para
entender que as respostas a estas perguntas são
responsáveis pela formulação ou planejamento da missão e
da visão estratégica da empresa na busca de seus objetivos.
Por outro lado, a gestão estratégica organiza os contributos
que as diversas áreas têm a dar à organização, servindo como
linha orientadora à integração dos esforços desenvolvidos
pelos vários especialistas dispersos pela organização.
Num serviço de Radiologia Odontológica, normalmente
temos uma área administrativa que além de compreender o
setor de recursos humanos, envolve também o setor financeiro,
e uma técnica na qual se destacam a execução das técnicas
radiográficas, o processamento radiográfico, o setor de
diagnóstico e o de documentação em áreas como da
ortodontia, periodontia e implantes.
Uma boa análise estratégica é a base da formulação da
estratégia, que se subdivide em quatro níveis: negócio,
funcional, empresarial e internacional, que advém do fato de
que as empresas são compostas por negócios, que por sua
vez são compostas por funções.
47
Revista da ABRO - Associação Brasileira de Radiologia Odontológica
Os serviços de radiodiagnóstico se enquadram nos níveis
de negócios e funcional. O de negócios é o mais importante
dos quatro. É aqui que as empresas se defrontam no campo
de batalha, para aumentar a sua fatia de mercado sobre os
seus concorrentes. Para Gonçalves12 (2000) as empresas que
se enquadram no nível de negócios ou de processos de
negócios são aquelas que caracterizam a atuação da empresa
e que são suportados por outros processos internos,
resultando no produto ou serviço que é recebido por um cliente
externo. No nível funcional, as vantagens competitivas que
tornam possível o crescimento de um negócio dependem da
imagem e do valor que a organização dá aos seus clientes. Tal
valor deve ser desenvolvido pelas várias áreas funcionais da
empresa, ligadas através de uma estrutura chamada “cadeia
de valores”, que é responsável para que todos os setores de
atividades do serviço sejam capazes de produzir valor para os
clientes.
Devido à incerteza relativamente ao futuro, a maioria dos
planos estratégicos são apenas linhas mestras para orientação
do trabalho de cada um, ou seja, não é possível definir um
conjunto de tarefas a realizar por cada indivíduo. Por causa
destes fatores, a gestão estratégica não poderá ser vista apenas
como o processo de desenhar um plano e depois implementálo. Na verdade, a gestão é o processo de repensar e ajustar
continuamente os planos e atividade da organização.
2.7 A empresa do futuro
De acordo com Zimbres13 (2006), um serviço de Radiologia
Odontológica, a exemplo de toda atividade da Odontologia,
pode ser considerado de alta complexidade, pois envolve vários
tipos de materiais e fornecedores, profissionais especializados
e equipe auxiliar. Esse conjunto de fatores, interagindo de
maneira dinâmica e personalizada de acordo com a
necessidade de cada paciente, aliada à grande
competitividade existente no mercado atual, desperta a
necessidade do uso de conceitos de administração para
melhor gerenciar esse tipo de serviço.
Com a saturação de profissionais no mercado de trabalho,
há atualmente uma grande oferta de radiologistas, o que leva
a uma maior diferenciação na qualidade dos serviços
oferecidos para se obter vantagem competitiva. Tal diferenciação
depende não somente dos aspectos técnicos relacionados
ao bom exercício da Odontologia, mas também no que diz
respeito à gestão de um consultório odontológico, ou seja, a
definição do planejamento estratégico, análise financeira e
administração de pessoal.
Para Janes & Janes14 (2003), a empresa do século XXI está
organizada em torno de seus processos e centrará seus
esforços em seus clientes. Ela será ágil e enxuta, os seus
cargos ou tarefas exigirão conhecimento do negócio,
autonomia, responsabilidade e habilidade na tomada de
decisões. Nela não haverá lugar para os empregados
tradicionais, normalmente preparados apenas com a
experiência do dia-a-dia.
48
Segundo Gonçalves15 (1997), as organizações modernas
passaram a ser projetadas com base em novos princípios,
mais adequados à tecnologia e ao estilo gerencial
contemporâneo. A centralização das empresas em seus
processos levará a desenhos organizacionais muito diferentes
dos que conhecemos e levará as organizações a adquirirem
novas características.
2.8 A tendência da gestão no momento atual
Nessa transição paradigmática que estamos
testemunhando, o empreendimento e os organismos
empresariais adquirem fundamental importância. Alguns
velhos mitos tornam-se obsoletos. Segundo Crema16 (1989),
o império da quantidade, o mito mecanicista da empresa como
máquina, a dissociação entre trabalho e lazer, o crescimento
ilimitado, a hierarquia rígida com seus jogos de poder, o
princípio masculino dominante, a empresa sem alma... Outros
mitos estão surgindo, atualizados e com grande potencial
criativo, vinculados à visão multidisciplinar holística da
realidade e à abordagem profunda da ecologia.
A gestão do conhecimento vem cada vez mais se constituindo
em foco de análise e aplicação nas organizações. Ela surge
como uma proposta eficiente de administração e gerenciamento
das organizações, uma vez que leva em consideração que o
sucesso da organização está na interação entre as pessoas,
infraestrutura organizacional e tecnologia.
Laudon & Laudon17 (1998) enfatizam que as organizações
necessitam dos sistemas de informações para que possam
administrar de maneira eficiente todas as influências
sofridas pelo contexto globalizado ao qual estão submetidas.
No momento atual evidencia-se no mercado competitivo
dos serviços de Radiologia Odontológica uma necessidade
constante de atualização. Cada vez mais as organizações
investem em tecnologias que lhes ofereçam condições de
atender às necessidades de seus clientes, bem como obter
informações que lhes ajudem a traçar suas estratégias
corporativas.
O mercado oferece aos serviços de Radiologia Odontológica
alguns softwares que aumentam o desempenho da
organização, como programas de cefalometria digital
responsáveis pela elaboração de análises cefalométricas
completas, incluindo cefalogramas e lista de fatores. As
imagens das radiografias podem ser obtidas por sistemas
digitais ou ainda através do emprego de um scanner ou câmera
digital. Também são encontradas soluções para
documentação odontológica, incluindo um sistema completo
de montagem, impressão e distribuição de documentações
odontológicas, e criação de laudos por imagem.
No entanto, é importante salientar que toda essa tecnologia
agrega conhecimentos para a melhoria do desempenho do
serviço de Radiologia Odontológica sem, no entanto, dispensar
a participação e supervisão de um profissional devidamente
qualificado.
Rev ABRO 2010; 11(1): 44-50
Revista da ABRO - Associação Brasileira de Radiologia Odontológica
2.9 Sistemas de informação
Com a evolução das tecnologias de informação, muitas
empresas, para atender com eficiência, optaram por rever seus
processos adotando sistemas de informação compatíveis às
suas necessidades.
Os sistemas de informação passaram por estágios
evolutivos que começaram a partir dos métodos manuais de
gestão, culminando com a utilização de métodos científicos
para a administração das organizações em parceria com as
tecnologias existentes. Com o advento da tecnologia no
cotidiano das organizações, algumas empresas procuraram
acompanhá-la e empregá-la, adequando o sistema de
informação às necessidades da empresa, em busca de uma
produtividade maior, bem como de qualidade dos serviços para
seus clientes. Algumas clínicas radiológicas usufruem dos
benefícios oferecidos por softwares de imagens, oferecendo
documentação ortodôntica e para implantes, o que tem feito
com que as mesmas evoluam seus processos e meios de
produção. Atualmente, os sistemas de informações contam
com uma gama muito grande de funções tecnológicas, com
recursos suficientes para gerenciar o processo produtivo de
uma empresa, em um período de tempo mais curto, que se
comparados aos métodos de produção manual garantem à
empresa produtos com qualidade.
2.10 Marketing nos serviços de Radiologia Odontológica
Segundo Moraginski 18 (1993), marketing é um dos
instrumentos técnicos embasadores, capaz de produzir
riquezas e idéias traduzindo desejos e transformando
necessidades em realidade. É também conceituado como o
conjunto de atividades humanas dirigidas para a satisfação
das necessidades e desejos (FARAH, 1997)19.
O marketing evolui muito desde sua antiga concepção como
sinônimo de vendas, distribuição, publicidade e investigação
de mercado. Atualmente, se interpreta como uma filosofia, uma
forma de pensar e atuar, cujo objetivo fundamental é de relacionar
as empresas, entidades, governos com seus respectivos
mercados e clientes destinatários de suas atividades. A partir
dessa nova visão percebe-se uma preocupação maior com o
cliente e passa-se a explorar mecanismos que permitam a
organização oferecer produtos e serviços que atendam as
necessidades e expectativas de cada cliente.
O marketing de serviços estuda os fenômenos e fatos que
ocorrem na venda de serviços. O foco do serviço deve ser
sempre o cliente, ou seja, não basta vender um serviço, é preciso
assistir o cliente ou usuário para que ele possa ter satisfação
com a venda ou uso do serviço, dependendo do enfoque de
distribuição ou de uso, respectivamente.
Clementoni20 (1991) preconiza a necessidade de preparar
o pessoal auxiliar, o staff, em como atender e entender cada
um dos pacientes. A equipe deve ser preparada para pensar
em marketing. Quando estiver atendendo aos clientes deve
ficar claro a importância dos mesmos para a organização, pois
é fato que é através do resultado obtido no atendimento aos
Rev ABRO 2010; 11(1): 44-50
clientes que a empresa retribuirá os colaboradores, pois do
contrário, sem clientes não haverá o serviço.
Para Paim et al. 21 (2004), o mercado está sofrendo
transformações radicais em que a relação paciente/
profissional tem importante papel como agente desta
transformação.
É preciso que o profissional da Odontologia reveja suas
percepções e atitudes frente ao paciente e ao próprio mercado
de trabalho. O marketing na Odontologia deve ter a função de
estabelecer, manter e melhorar a relação paciente/profissional
de forma que os objetivos das partes sejam alcançados.
Um prestador de serviço, neste caso um serviço de
Radiologia Odontológica, precisa saber como fazer para que
seus pacientes percebam valor naquilo que lhes é oferecido.
Cabe ao gestor do serviço, incutir na cultura da organização o
cuidado e a importância que o cliente representa para a
empresa. O pensamento voltado ao cliente é a principal atitude
que a empresa pode ter para conquistá-lo e mantê-lo satisfeito
com o serviço. Não basta vender o serviço, é preciso oferecer
algo mais, ou seja, agregar valor ao serviço prestado, pois esta
é a vantagem competitiva que as organizações precisam buscar.
2.11 Importância do planejamento financeiro
De acordo com Oliveira & Oliveira Júnior22 (1999), mesmo
que para muitos as dificuldades financeiras e mercadológicas
enfrentadas pelo cirurgião-dentista ocorram devido à
conjuntura sócio-econômica, grande parte dos problemas
ocorre por falta de conhecimento de administração e pela
pouca flexibilidade em relação às formas de gerenciar seu
consultório ou serviço.
Para esses autores, apesar dos honorários
corresponderem à receita bruta do consultório, muitos
profissionais encaram essa receita como salário, não levando
em conta que administram uma pequena empresa onde
existem gastos fixos, gastos variáveis, além da necessidade
de investimentos constantes em equipamentos e
aprimoramento tecnológico.
É comum profissionais com larga experiência de trabalho
não saber dizer o quanto seus consultórios são rentáveis ou
quanto custa para a empresa a prestação dos serviços, a fim
de estabelecer adequadamente seus honorários.
Não é suficiente seguir as tabelas de preços mínimos
estabelecidos pelos conselhos, associações e sindicatos
profissionais. Cada profissional, por exemplo, ao agregar
tecnologia e conhecimento para um melhor atendimento de
seus pacientes, necessita redimensionar seus custos.
Neste sentido, é fundamental que o profissional conheça o
custo/hora dos serviços prestados, levando em conta todos
os itens que devem compor uma planilha de custos para que
possa administrar sua clínica como uma empresa. A partir
desse conhecimento o mesmo poderá evitar gastos supérfluos
para não praticar preços que possam por em risco a demanda
de seu consultório. Especificamente num serviço de
Radiologia, não deve ser considerado apenas o preço dos
49
Revista da ABRO - Associação Brasileira de Radiologia Odontológica
serviços como fator determinante para a manutenção da
demanda de clientes ainda mais que, neste caso, esses
clientes costumam ser os profissionais das diversas
especialidades odontológicas que se valem do diagnóstico
para o planejamento de seus tratamentos. Assim, a boa
qualidade dos exames por imagem e do diagnóstico tem papel
importante na fidelização da clientela.
decides to open a Dental Radiology service, showing all the
aspects concerning the management area, promoting
organizational success.
DESCRIPTORS: Management; Radiology; Services.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir das considerações feitas no trabalho, é possível
desenvolver um modelo atualizado de gestão e administração
para ser utilizado como referencial básico na implantação de
um serviço de Radiologia Odontológica.
Atuando como profissionais da Odontologia ou técnicos de
serviços de saúde, esquecemos o quão importante é o
processo de gerenciamento e administração de uma
organização, levando-nos por vezes a tomar decisões errôneas
ou, até mesmo, nos impedindo de decidir e planejar
adequadamente as estratégias da empresa.
Ao abordarmos o tema, queremos tornar pública aos gestores
dos serviços de Radiologia Odontológica, a necessidade dos
conhecimentos sobre marketing, planejamento estratégico, ética
e gestão empresarial, a lei 453/98 e, por fim, gestão de
informação, como referencial básico para a administração dos
serviços, visando a otimização dos processos organizacionais
de uma empresa prestadora de serviços.
Este trabalho não esgota o assunto, ao contrário, fomenta
estudos neste sentido, contribuindo para o crescimento do
setor e, principalmente, maximizando resultados positivos tanto
para a empresa quanto para a sociedade envolvida.
ABSTRACT
The present studies intends to show the dentist who is
specialist in Radiology the importance of the knowledge
management in the administration of a Dental, Radiology service,
as a result of the elaboration of an updated model of
administrative/technical management, as a basic reference for
the implantation of new services, in search of the improvements
and optimization of the organizational job. By using a review of
the literature, the trends of administration and management
currently in the market became evident, which serve as
facilitators for the business growth. In the present review, themes
considered important were searched, as Law 453/98, that
governs the Dental Radiology service, professional ethics with
the society, the management trends, the importance of strategic
planning in a company, the role of information systems as a
technological leverage in the service processes and the role of
marketing as a catalyzer of customers. Finally, the authors
propose is not to exhaust the subject related to the management
and administration of a Radiology service, on the contrary, it is
to incite the interest in making its management methods
professional ones, and aiming not just the growth of the clinic,
but also the strengthening of this service sector. The study
intends to serve as an orientation for the Radiologist who
50
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
10.
11.
12.
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Endereço para correspondência:
Prof. Edemir Costa
Rua: Gal. Estilac Leal, 176 - Coqueiros.
Florianópolis, SC - CEP: 88080-760
Fone (48) 32449765
[email protected]
Rev ABRO 2010; 11(1): 44-50
Revista da ABRO - Associação Brasileira de Radiologia Odontológica
EV
AL
UATION OF MAXILLAR
Y SINUS B
YP
ANORAMIC
EVAL
ALU
MAXILLARY
BY
PANORAMIC
RADIOGRAPHS
Avaliação do seio maxilar através de radiografias panorâmicas
Rejane FUKUSHIMA1; Camila Lopes CARDOSO2; Milton Carlos Gonçalves SALVADOR3; Ana Lúcia Alvares CAPELOZZA4
1
DDS,
DDS,
3
DDS,
4
DDS,
2
Bauru Dental School, University of São Paulo, Brazil
MSc, PhD student, Bauru Dental School, University of São Paulo, Brazil
MS, PhD, Bauru Dental School, University of São Paulo, Brazil
MS, PhD, Bauru Dental School, University of São Paulo, Brazil
RESUMO
A radiografia panorâmica ainda é um dos exames radiográficos mais utilizados na odontologia e diante da sua indicação préprotética e cirúrgica o objetivo deste trabalho foi avaliar as medidas lineares do seio maxilar (SM) em radiografias panorâmicas
de pacientes edêntulos, bem como se há diferenças nestas medidas entre os gêneros masculino e feminino. Uma amostra
de 50 radiografias panorâmicas foi avaliada, sendo 25 de cada gênero e foram medidas as distâncias entre: a parede lateral
posterior do SM e eminência articular (A), paredes anterior e lateral posterior do SM (B) e parede anterior do SM e septo nasal
(C). O SM foi então dividido em quartos no sentido vertical e as distâncias entre o soalho do SM e a crista do rebordo alveolar,
seguindo cada linha vertical, foram mensuradas. Os reparos anatômicos utilizados como referência foram traçados em papel
vegetal fixo às radiografias e as mensurações feitas com um paquímetro digital. Os dados obtidos foram submetidos à
estatística descritiva e teste t de student, com nível de significância de 5%. As médias (±DP, unidade mm) encontradas para as
distâncias horizontais A, B e C, respectivamente, foram de 25,70±4,00, 45,32±6,24 e 22,08±8,32 para o gênero feminino e
24,58±4,10, 48,59±6,08 e 23,69±7,39 para o gênero masculino. Não houve diferença significativa nas medidas obtidas entre
os sexos, exceto quanto à distância do soalho do SM à crista do rebordo alveolar, medida na altura da parede posterior do SM
(p=0,009). Após a análise dos resultados podemos concluir que os homens e mulheres edêntulos da amostra tiveram
mudanças morfológicas do SM semelhantes. As medidas encontradas são particularmente úteis no planejamento de implantes
em maxila.
DESCRITORES: Radiografia panorâmica, maxila, edêntulo, seio maxilar.
INTRODUCTION
Diagnostic imaging and techniques help to develop and
implement a proper treatment plan for both the implant team
and the patient. Resorption of the alveolar ridge has been
estimated with various radiographic techniques, such as
lateral cephalometric radiographs and panoramic
radiographs.1,2,3
Panoramic survey represents an important radiographic
examination recommended by the expert panel for the initial
examination of edentulous and dentate patients. It is commonly
used in large institutional practices and is probably the most
often utilized diagnostic modality in implant dentistry.4,5 Despite
the great number of false diagnoses established using
panoramic radiograph, this method has been used in implant
planning to evaluate the sinus floor and its anatomic variations.
It is well established that the edentulous alveolar process
of the posterior maxilla is often affected by resorption, which
results in a loss of vertical bone volume, whereas progressive
sinus pneumatization leads to a decrease in the alveolar
process. The magnitude of these aspects (characteristics)
may vary from one person to another, due to gender, hormones,
Rev ABRO 2010; 11(1): 51-54
metabolism or parafunction and often leaves inadequate bone
height for placement of endosseous implants. However, the
maxillary sinus dimensions of an edentulous population have
not yet been subject to detailed analysis. The morphologic
alterations of the maxillary sinus need to be better understood.
The aim of this investigation was to evaluate the maxillary
sinus dimensions in edentulous patients by mean of
panoramic radiographs. In addition, the effect of gender was
also analyzed.
MATERIAL AND METHODS
Panoramic radiographs of edentulous individuals were
screened from the files of Bauru Dental School, University of
Sao Paulo, Brazil (1999-2004). One researcher selected 50
panoramic radiographs (Kodak 15x30cm) with high quality
and correct positioning. All radiographs were made using a
standardized procedure by the same technician. The
participants included 25 men and 25 women, between the
ages of 35 and 70 years. All panoramic images were made
using the same x-ray apparatus (or machine: Rotograph), with
a magnification factor of 30%. The research project was
51
Revista da ABRO - Associação Brasileira de Radiologia Odontológica
approved by the Bauru Dental School Institutional Review
Board.
By mean of a light box, all images were transcribed to a
paper fixed to the radiographs. A sliding digital caliper was
used to take measurements (model 501601, WPI, Sarasota,
FL, USA), which were recorded to the nearest 0.01 millimeter.
On each panoramic radiograph, eight measurements were
taken. One researcher performed the following linear
measurements: A: MS lateral posterior border and the articular
eminence; B: MS anterior and lateral posterior borders; C: MS
anterior border and nasal septum; D: MS inferior border and
alveolar crest following the tangent line which passed on the
posterior lateral border of the MS; E: MS inferior border and
alveolar crest, following the line that determined one-fourth of
the MS, from the posterior to the anterior border; F: MS inferior
border and alveolar crest, following the line that determined
two-fourth of the MS (half of the MS in a vertical plane), from the
posterior to the anterior border; G: MS inferior border and
alveolar crest, following the line that determined three-fourth
of the MS, from the posterior to the anterior border; H: MS
inferior border and alveolar crest, following the tangent line
which passed on the anterior lateral border of the MS.
Therefore, there were three horizontal tracings and five
vertical tracings to be measured (Figure 1).
Each sort of measurements was averaged and analyzed.
In order to examine the effect of gender and side (right or left),
the statistical analysis of differences was performed with
Student t-test. The 5% significance level was used for statistical
significance.
Fig. 2 - Horizontal measurements by gender. A: MS lateral
posterior border and the articular eminence; B: MS anterior
and lateral posterior borders; C: MS anterior border and nasal
septum.
Fig. 3. Vertical measurements by gender. D: MS inferior
border and alveolar crest following the tangent line which
passed on the posterior lateral border of the MS; E: MS inferior
border and alveolar crest, following the line that determined
one-fourth of the MS, from the posterior to the anterior border;
F: MS inferior border and alveolar crest, following the line that
determined two-fourth of the MS (half of the MS in a vertical
plane), from the posterior to the anterior border; G: MS inferior
border and alveolar crest, following the line that determined
three-fourth of the MS, from the posterior to the anterior border;
H: MS inferior border and alveolar crest, following the tangent
line which passed on the anterior lateral border of the MS.
Fig. 1 - Linear measurements established.
Table 1. Combined mean maxillary sinus dimensions (mm)
considering gender
RESULTS
Measurements of tracings were made on both sides. The
mean values of the distances measured are shown in Table
1. There was no difference between right and left sides.
Regarding gender (Figures 2 and 3), significant difference
was found only in the D tracing, where women presented
significantly greater values compared to men (P<0.01).
A
B
C
D
E
F
G
H
DISCUSSION
Panoramic radiography is widely used and is often used
as a tool in routine dental examinations, especially for
edentulous patients before the implant selection and/or the
construction of a complete denture.
52
Men (n=25)
24.58±4.10
48.59±6.08
23.69±7.39
17.10±5.10
6.20±2.99
6.30±4.10
12.87±6.71
40.43±11.07
Women (n=25)
25.70±4.00
45.32±6.24
22.08±8.32
21.11±5.13
7.58±4.22
7.04±5.03
12.31±6.87
36.82±10.51
Computed tomography allows a reliable planning for
rehabilitation with dental implants, in addition to favoring the
attainment of some reconstructions for analysis of the
structures of the maxilomandibular, as well as injuries involving
Rev ABRO 2010; 11(1): 51-54
Revista da ABRO - Associação Brasileira de Radiologia Odontológica
the maxillary sinus, its relation with third molares6 and other
indications. However, its cost makes the application in all the
services unfeasible, remaining the panoramic x-ray the only
option. The advantages of panoramic x-rays arethe
visualization of all the region to maxilomandibular with low
dose of radiation and accessible cost. However, panoramic
radiography presents some drawbacks, such as:
superposition of structures, which becomes uninterpretable
when conditions are pathological and the structures deviate
from the normal, 7 formation of ghost images on the side
opposite the object,8,9 mesiodistal and vertical enlargement,
non-appearance of third, blurring of some structures,
spreading of a curved structure over a plane.
There is limited information in the literature about the
dimensions of maxillary sinus of edentulous patients.10,11 In
the present study the mean dimensions of maxillary sinus in
edentulous patients were identified and panoramic
radiographs were used in order to evaluate the maxillary sinus
dimensions.
Authors 12 compared measures taken in panoramic
radiographs by two methods: manual and computer program.
They concluded that the measures acquired by the manual
method, similar to the reported in this investigation, were closer
to the real ones. Since panoramic radiographs have been
extensively used in the planning of implants, it is important to
be aware of the maxillary sinus morphometric dimensions in
edentulous patients.
Authors state that the evaluation of maxillary sinuses is
necessarily illusory when one compares the reduced width of
the section thickness and the mean depth of a sinus (40 to
50mm). 13
There was no statistically significant difference between
the left and right sides, which indicates no effect of chewing
side. In general, there was no difference between genders,
except for the D tracing, when females presented greater
values. These results were not expected owing to the bone
loss of women undergo after the fourth decade of life. Dutra et
al. (2005)14 also evaluated the effect of gender and age in the
antegonial and mental indices in edentulous and dentate
patients, by mean of panoramic radiographs. Despite the
different area of tracings, the authors found significantly smaller
values for older females.
ABSTRACT
Panoramic radiography is still one of the most often used
X-rays in dentistry and due to the importance of its statement
before pre-prosthetic surgery, the objective of this paper was
to evaluate maxillary sinus (MS) measurements of edentulous
patients by panoramic radiographs, between genders. 50
panoramic radiographs were analyzed and distances
between: (A) articular eminence and MS lateral posterior
border, (B) MS lateral posterior and anterior borders, (C) MS
anterior border and nasal septum were taken. The SM was
then divided into quarters vertically and the distance between
the floor of SM and the crest of the alveolar ridge, following
each vertical line were measured. The anatomic landmarks
used as reference were drawn on tracing paper fixed to
radiographs and measurements were made with a caliper.
Data were submitted to descriptive statistics and Student’s t
test with significance level of 5%. MS mean (±SD, mm)
measurements found were 24.58±4.10, 48.59±6.08 and
23.69±7.39 for males, 25.70±4.00, 45.32±6.24 and 22.08±8.32
for females, to A, B and C, respectively. There was no significant
difference between right and left sides. Between genders, there
were only significant difference in the distance between MS
inferior border and alveolar crest, measured in the sinus
posterior border point, where females showed greater values
(P<0.01). The results demonstrated the average of MS
dimensions and provided a better understanding of the
morphometric changes in edentulous patients, which can be
helpful in the planning of implants in maxilla.
DESCRIPTORS: Radiography panoramic, maxilla, edentulous,
maxillary sinus.
REFERENCES
1.
2.
3.
4.
5.
CONCLUSION
In conclusion, the results demonstrated the average of
maxillary sinus dimensions, which seems not to be influenced
by gender. These results provide better understanding of the
maxillary sinus morphometric changes and could be of great
value in the planning of implants placement. The success of
treatments with implants depends on many factors such as
pre-surgical evaluation of the patient . Also, the results of this
study may guide clinicians to make primer decision of implant
insertion area for implant supported prosthesis in edentulous
patients.
Rev ABRO 2010; 11(1): 51-54
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Correspondência para:
Camila Lopes Cardoso
Al. Octavio Pinheiro Brisolla, 9-75
17012-901 - Bauru-SP-Brazil
Tel.: +55-14-3235-8347
E-mail: [email protected]
54
Rev ABRO 2010; 11(1): 51-54
Revista da ABRO - Associação Brasileira de Radiologia Odontológica
CONCEIT
OS DE PR
OTOTIP
AGEM RÁPID
A
CONCEITOS
PRO
TIPA
RÁPIDA
Concepts of Rapid Prototyping
Thiago de Oliveira GAMBA1, Isadora Luana FLORES1, Melissa Feres DAMIAN2, Elaine de Fátima Zanchin BALDISSERA2,
Sérgio Lucio Pereira de Castro LOPES2
1
Acadêmicos do 9º Semestre do curso de Odontologia da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Pelotas.
Professores Adjuntos de Radiologia Odontológica da Universidade Federal de Pelotas.
2
RESUMO
A Prototipagem Rápida (PR), tecnologia pela qual se obtém um modelo tridimensional real ou protótipo de uma estrutura do
organismo a partir de imagens virtuais da mesma, vem sendo utilizada progressivamente em muitas áreas da saúde, com
ênfase nas especialidades odontológicas. O advento da tomografia computadorizada por feixe cônico (Cone Beam/TCCB) no
final dos anos 19901, concomitantemente ao desenvolvimento de softwares interativos para a manipulação e reformatação de
imagens tomográficas, levou a um maior acesso e interesse dos profissionais da Odontologia sobre este tipo de exame. Isto,
consequentemente, induziu a uma maior disseminação da tecnologia de PR, já que a TCCB constitui uma das possibilidades
de aquisição de imagens para a confecção de protótipos, tornando assim este tipo de procedimento mais acessível. Nota-se,
porém, dentre os profissionais da área, uma falta de conhecimento sobre a PR, desde suas indicações, solicitação e etapas
de obtenção de imagens para a confecção dos modelos (protótipos). Partindo deste princípio, este estudo teve como objetivo
esclarecer os conceitos de PR, abrangendo seus tipos e etapas para obtenção do protótipo ou biomodelo.
DESCRITORES: Projeto Auxiliado por Computador, Tomografia Computadorizada de Feixe Cônico, Tomografia Computadorizada
por Raios X.
INTRODUÇÃO
O rápido desenvolvimento tecnológico do último século na
engenharia trouxe modificações de suma importância às mais
variadas áreas. Dentre estas, a Odontologia, como suas
especialidades, destaca-se como a que melhor se beneficiou
com a interação entre o design e a fabricação de modelos
reais2. A utilização da Prototipagem Rápida (PR) é um exemplo
desta ligação, que vem sendo utilizada com maior frequência
na área odontológica em especialidades como: Cirurgia
Bucomaxilofacial, Cirurgia Ortognática e Implantodontia. Mas,
afinal o que seria a prototipagem rápida?
O termo protótipo refere-se a um produto fabricado
unitariamente, segundo as especificações de um projeto, com
a finalidade de servir de teste, antes da fabricação em escala
industrial. Em outras palavras, pode-se dizer que o protótipo
é a representação real e palpável (um modelo) de um projeto
virtual (seja gerado manualmente ou por programas de
computador), que tem como objetivos simular e estudar suas
características ergonômicas, funcionais, de resistência,
dentre outras. A obtenção do modelo físico, com as mesmas
características geométricas do virtual, é o principal objetivo
da PR. Os nomes mais comumente utilizados para essa
tecnologia são: fabricação por camadas (layer manufacturing),
prototipagem rápida (rapid prototyping), manufatura rápida
(rapid manufacturing), fabricação de formas livres (solid
Rev ABRO 2010; 11(1): 55-58
freeform fabrication) e impressão tridimensional
(tridimensional printing). O termo mais difundido é
Prototipagem Rápida devido à primeira aplicação desta
tecnologia ter sido a fabricação de protótipos3. No passado, a
construção dos protótipos era artesanal, produzidos por
esculturas ou modelagens e necessitavam de um longo
tempo para a sua confecção. A partir do desenvolvimento da
Informática, foi possível a idealização e modelagem
tridimensional de protótipos virtuais no computador. Os CAD
(Computer Aided Design) são projetos criados através de
softwares, com detalhes milimétricos, que possibilitam uma
avaliação dos mesmos em perspectivas distintas na tela do
computador, num modelo denominado de virtual. Para
materializar esta criação virtual, foi idealizado o processo CAM
(Computer Aided Manufactory), o qual possibilita a
transformação do arquivo virtual, criado pelo CAD, em
realidade, com o auxilio de uma máquina acoplada ao
computador, semelhante a uma impressora especifica para
tal4. Embora a PR tenha iniciada experimentalmente no inicio
dos anos 1970, assim como a tomografia computadorizada,
apenas em 1983 foi realizada a primeira reconstrução
tridimensional para finalidades aplicadas à saúde e nos anos
1990, a criação de protótipos com maior qualidade e
fidedignidade pelo avanço da qualidade dos tomógrafos e o
desenvolvimento dos softwares específicos.
55
Revista da ABRO - Associação Brasileira de Radiologia Odontológica
Fig. 1 - Variedade de setores da economia que utilizam as tecnologias de prototipagem rápida5.
Na verdade, o termo protótipo foi herdado da Engenharia
e não corresponde realmente ao que se tem em área de
saúde. Nesta, há uma reprodução tridimensional em modelo
de uma estrutura já vigente, ou seja, o organismo vivo e não
de um modelo projetado, o qual se quer testar e produzir em
escala. A Figura 1 mostra a distribuição do uso da tecnologia
da prototipagem rápida em diversos segmentos, incluindo a
área da saúde.
OBTENÇÃO DOS PROTÓTIPOS
Mas, afinal como se obtém um protótipo? O processo de
fabricação dos biomodelos pode ser dividido em etapas,
sendo que todas devem estar integradas adequadamente
para obtenção de um produto final satisfatório5. A qualidade
do protótipo depende basicamente de quatro etapas,
igualmente importante, sendo estas: o preparo do paciente,
a qualidade do exame de tomografia computadorizada (TC),
o tratamento das imagens e a escolha da tecnologia de
prototipagem (impressão do biomodelo) (Figura 2):
a) O preparo adequado do paciente facilita a obtenção de
imagens de boa qualidade, devendo ser feito antes da
realização da TC. Tais cuidados têm a finalidade de minimizar
os efeitos indesejáveis nas imagens, causados pelos
artefatos e garantir sua correta reprodução. Dentre estes
cuidados prévios, pode citar: a substituição de núcleos
metálicos fundidos, restaurações e coroas metálicas
condenadas por material provisório não metálico. Faz-se
necessário orientar o ortodontista, nos devidos casos, para
que utilize braquetes níquel-free, além de explicitar ao
radiologista responsável pela aquisição as imagens, sobre
a finalidade do mesmo (“Exame para PR”) bem como a região
de interesse.
b) Feito o preparo do paciente, serão adquiridas as
imagens tomográficas que gerarão o protótipo. A qualidade
das imagens de TC é de suma importância para um resultado
56
Fig. 2 - Sequencia da aquisição das imagens e obtenção do
biomodelo. As etapas A e B são executadas na clínica de
radiologia, enquanto as C e D na empresa de prototipagem.
(A) Tomógrafos de feixes cônicos e multislice,
respectivamente; (B) Sequencia de imagens axiais
adquiridas da região de interesse no formato DICOM, que
serão transferidas via web para a empresa de prototipagem;
(C) Visualização do volume 3D gerado e transformação do
arquivo em formato STL, através de software específico; (D)
Biomodelo (ilustrativo).
final satisfatório deste. Atualmente, há a disponibilidade de
02 tipos de sistemas de aquisição de imagens por TC: TC
multislice e TCCB. A primeira permite a captura de cortes
contínuos e múltiplos em espessuras submilimétricas e uma
excelente definição, tanto de tecidos duros e moles do
paciente, gerando assim uma imagem tridimensional com
alto grau de fidedignidade ao real 6. A TCCB baseia-se em
outro princípio de aquisição volumétrica, com uma menor
Rev ABRO 2010; 11(1): 55-58
Revista da ABRO - Associação Brasileira de Radiologia Odontológica
Fig. 3 - (A) Impressora para prototipagem tipo Inket -PolyJet. (B) Protótipo ou biomodelo pronto5.
dose de radiação, por sua miliamperagem (mA) reduzida em
relação à mA da TC multislice. Este decréscimo na mA
acarreta em uma pior definição das estruturas centrais
registradas da imagem, em relação às periféricas. Ou seja,
para confecção do protótipo, as imagens geradas por TC
multislice são superiores em qualidade que as por TCCB.
Adquirida a sequência de imagens tomográficas, no
formato DICOM padrão (Digital Imaging and Comunication in
Medicine), o radiologista entra em contato com a empresa de
prototipagem, a qual fornecerá uma senha para que estas
imagens sejam transferidas via FTP – File Transfer Protocol através da web. Desta forma, não há a necessidade de enviar
as imagens via correios para a empresa.
c) Transferidas as imagens para o FTP da empresa, esta
irá gerar a imagem tridimensional no computador e então
tratá-la, de modo a extrair artefatos e outros ruídos
eventualmente presentes7. Nesta etapa, as imagens são
manipuladas em softwares de reconstrução específicos, de
modo que seja gerado um modelo virtual em um novo formato,
padrão para os equipamentos de PR, denominado STL
(Structured Triangular Language) 8 . Neste, a imagem é
apresentada como uma malha triangular e não por voxels,
como no anterior. A qualidade do arquivo STL tem uma íntima
relação com o software utilizado 9. Vários softwares são
disponíveis no mercado para a manipulação e conversão
dos arquivos em STL, dentre os quais: Vworks®, Mimics®,
ImplantViewer®, 3D Doctors® e Analyse®, dentre outros.
Terminada esta etapa, será então determinada a tecnologia
de PR para gerar o modelo.
d) Depois de adquirido o arquivo em STL, o mesmo será
usado para construção do modelo, segundo a técnica a ser
escolhida. Esta escolha dependerá do objetivo pelo qual o
profissional está solicitando a confecção do protótipo.
O arquivo em STL é enviado para uma impressora
tridimensional (Figura 3A), que gerará o protótipo. Na grande
maioria das técnicas existentes, o que ocorre é uma
sobreposição gradual do material, a fim de que o biomodelo
seja progressivamente estruturado. Quanto mais fina for a
camada de acréscimo do material, maior sua precisão e
melhor seu acabamento superficial. A espessura das
camadas é inerente ao processo de PR escolhido, como se
pode verificar na Tabela 1. Importante salientar que as regiões
desprovidas de tecido ósseo, como espaços aéreos, seios
paranasais, espaços medulares e canais nervosos, não são
preenchidos pelo material compacto, que gerará o biomodelo,
mas sim deixados vazios ou preenchidos por material
gelatinoso, que será posteriormente removido. Desta
maneira, há a fiel representação do real, permitindo ao
profissional, por exemplo, estudar com exatidão distâncias
de remanescentes alveolares ósseos a estruturas vitais10.
A Estereolitografia (SLA) é a mais antiga tecnologia de PR.
Baseia-se na polimerização de uma resina fotossensível
(acrílica, epóxi ou vinil) por meio de um feixe de laser UV
(ultravioleta). Muitas vezes, o termo Estereolitografia é utilizado
Tabela 1 - Principais sistemas de PR e suas características.
Tecnologia de PR
Estereolitografia(SLA)
Fused Deposition Modelling (FDM)
3D Printing
Inket – PolyJet
Sintetização à Laser (SLS)
Rev ABRO 2010; 11(1): 55-58
Espessura das camadas
0,025mm
0,178mm
0,1mm
0,016mm
0,1mm
Translucidez
SIM
NÃO
NÃO
SIM
NÃO
Resistência
ALTA
ALTA
BAIXA
ALTA
ALTA
Precisão
ALTA
BAIXA
BAIXA
ALTA
ALTA
Material Usado
RESINA
PLÁSTICO
GESSO
RESINA
NYLON
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Revista da ABRO - Associação Brasileira de Radiologia Odontológica
erroneamente como um sinônimo de PR. Além da SLA,
podem-se citar outros sistemas de PR, como: Sintetização
Seletiva a Laser ou SLS, Fused Deposition Modeling – FDM,
InkJet-PolyJet e 3D printing. A Tabela 1 exibe os principais
sistemas de PR, suas características, vantagens e
desvantagens. Normalmente, pode-se obter o biomodelo em
diversos materiais, desde gesso a resina, sendo que esta
última, em geral, é translúcida permitindo a visualização de
canais e espaços aéreos (Figura 3B). Depois de realizada a
polimerização do material e consequente construção do
modelo, este receberá o devido acabamento e será então
enviado via Correios pela empresa responsável ao
profissional solicitante11.
CONCLUSÃO
A Prototipagem Rápida e suas tecnologias, enfatizadas
anteriormente, têm a capacidade de auxiliar diretamente no
diagnóstico, planejamento, simulação cirúrgica, confecção
de implantes e numa posterior proservação de casos clínicos.
O protótipo facilita aos profissionais e pacientes a
comunicação sobre o tratamento, permitindo uma melhor
compreensão, informação adequada e clara a respeito de
seu plano de tratamento. Esta recente e promissora
tecnologia tem a capacidade de diminuir em pelo menos
30% o tempo cirúrgico, aumentando assim as taxas de
sucesso nas abordagens odontológicas.
ABSTRACT
The Rapid Prototyping (RP), technology through which a
tridimensional model or an organism structure prototype is
obtained based on their virtual images, has been progressively
used in many health areas, especially in dental procedures.
The appearance of the computed tomography through cone
clusters (Cone Beam: TCCB) in the end of the 90s1, along
with the development of interactive softwares, for the handling
and resettling of tomographic images, led to a bigger access
and interest of the Dentistry professionals for this type of
examination. This, consequently, induced to a bigger
dissemination of the RP technology, since this kind of image
constitutes one of the possibilities of acquisition for the
production of prototype, making this procedure more
demanded. It is noticed, however, among the professionals a
lack of knowledge concerning the RP, from its indications,
demands and image obtaining phases (so-called prototypes).
Based on this principle, this study aimed at explaining the RP
concepts, including its indications, types and stages in order
to obtain the prototype or biomodel.
DESCRIPTORS: computed aided design, cone beam
computed tomography, computed tomography.
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Endereço para correspondência:
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1. Página de identificação: constando, o título do trabalho
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serão encaminhadas as futuras correspondências.
2. Página de Rosto: constando apenas o título do trabalho
em português e em inglês.
3. Resumo: deverá ser estruturado contendo: objetivos,
material e métodos, resultados e conclusão. Não deve exceder
250 palavras. Abaixo do resumo, especificar até 4 descritores
que definam o assunto. Os descritores deverão ser baseados
no DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) publicado pela
Bireme que é uma tradução do MeSH (Medical Subject
Headings) da National Library of Medicine e disponível no
endereço eletrônico: http://decs.bvs.br.
4. Abstract: tradução para o inglês do resumo incluindo 4
Keywords.
5. Introdução: exposição geral do tema, contendo, de modo
sucinto, a Revisão da Literatura e os objetivos.
6. Material e Métodos: descrição do material utilizado e da
metodologia aplicada. Devem-se usar as unidades do Sistema
Internacional, citando detalhes sobre equipamentos e
softwares (nome, modelo, fabricante, país). Indicar o número
do protocolo do Comitê de Ética em Pesquisa, quando
pertinente.
7. Resultados: reportados de forma direta, na mesma ordem
em que o experimento foi descrito em material e métodos,
lançando mão, sempre que possível, de tabelas e gráficos
que facilitem a compreensão. Não discutir essa seção.
8. Discussão: devem ser comentados os resultados, sua
relação com a literatura científica existente e sua importância
para a Radiologia Odontológica.
9. Conclusão: pode ser incluída no ultimo parágrafo da
discussão ou formar um tópico à parte.
10. Agradecimento: deve ser breve e incluir, caso exista, o
suporte financeiro da pesquisa.
11. Referências Bibliográficas: em número máximo de 30.
No texto devem aparecer em ordem numérica de citação, em
números sobrescritos colocados após o ponto final da frase,
começando do número 1. A exatidão das referências
bibliográficas e a correta citação no texto são de
responsabilidade dos autores. Forma de citação dos autores
no texto:
a) apenas numericamente: “... essa entidade patológica
desenvolve-se durante a puberdade e raramente inicia-se após
a segunda década de vida.2,3”
b) alfanumericamente:
- 1 autor: Santos12 (1986)
- 2 autores: Santos e Carvalho14 (1987)
- 3 ou mais autores: Santos et al.16 (1989)
No final do texto as referências devem ser listadas em ordem
de citação, digitadas em espaço duplo e identificadas com
números arábicos. A apresentação deverá basear-se no
formato Vancouver, conforme exemplos a seguir. Os títulos de
periódicos deverão ser abreviados de acordo com o estilo
apresentado pela List of Journal Indexed in Index Medicus, da
National Library of Medicine (para títulos estrangeiros) e de
acordo com a Bireme (para títulos nacionais). Para todas as
referências, quando houver até seis autores, todos devem ser
citados. Acima de seis autores, devem-se citar os seis
primeiros, seguidos da expressão et al.
Exemplo de referências
1. Artigo em periódico:
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Vascocelos-Filho JO, Manzi FR, Freitas DQ, Bóscolo FN,
Almeida SM. Evaluation of temporomandibular joint in stressfree patients. Dentomaxillofac. Radiol. 2007; 36: 336-340.
2. Citação de livro:
Isberg A. Temporomandibular Joint Dysfunction – A
Practitioner´s Guide (2nd ed). London: Taylor & Francis Group,
2003.
3. Capítulo de livro:
Langlais, RP; Langland OE; Nortjé, CJ. Multilocular
Radiolucencies. In: Diagnostic Imaging of the Jaws. Malvern,
PA: Williams & Wilkins, 1995, pp 327–384.
4. Monografias, dissertações, e teses:
Pontual, AA. Estudo Comparativo de Três Sistemas Digitais
sem Cabo no Diagnóstico de Cáries Proximais. [tese].
Piracicaba: UNICAMP/FOP; 2007.
12. Tabelas: Digitar cada tabela em folha separada, com
espaço 1,5cm. A numeração deve ser seqüencial, em
algarismos arábicos, na ordem em que foram citadas no texto.
Todas as tabelas deverão ter título e cabeçalho para cada
coluna. No rodapé devem constar legendas para abreviaturas
e testes estatísticos, quando utilizados.
13. Figuras: devem apresentar, em média, o tamanho de
84mm x 175mm, não devendo ultrapassar essas medidas.
Pequenas variações para menos são aceitáveis. Os arquivos
de imagens devem ser em formato TIFF ou JPEG, sendo o
formato TIFF preferível para exames de imagens. Arquivos em
formato JPEG devem ser salvos em qualidade máxima (ex.
“10” ou “12”). As figuras devem apresentar no mínimo 300 dpi
de resolução. Cada figura deve ser salva em um arquivo
separado e nomeado como “Figura 1”, “Figura 2”, etc. Digitar
as legendas para as ilustrações em páginas separadas,
usando espaço 1,5cm. Cada legenda deve ser numerada em
algarismos arábicos, correspondendo a cada ilustração e na
ordem que foram citadas no texto. O número de figuras,
incluindo fotografias, tabelas, esquemas e gráficos não deve
exceder 10, em qualquer tipo de produção, estando esse limite
dentro do número de páginas de cada tipo de artigo. As
imagens devem ser enviadas em formato preto e branco. Caso
haja preferência dos autores para a publicação de imagens
coloridas, os custos desta reprodução serão cobrados dos
autores, a depender do número e tamanho das imagens.
TIPOS DE PUBLICAÇÕES
1. ARTIGO ORIGINAL: Contribuição destinada a divulgar
resultados de pesquisa original inédita devendo ser objetivo,
máximo de 18 páginas, visando elucidar as questões que
pretendeu responder. É recomendado incluir apenas os dados
imprescindíveis, evitando-se tabelas muito longas, com dados
dispersos e de valor não representativo. Quanto às figuras,
não serão aceitas aquelas que repetem dados de tabelas. As
referências bibliográficas devem ser estritamente pertinentes
e relevantes à problemática abordada, evitando-se a inclusão
de número excessivo de referências numa mesma citação e
dando preferência as mais atuais. Estrutura: 1. Página de
identificação, 2. Página de Rosto, 3. Resumo, 4. Abstract, 5.
Introdução, 6. Material e Métodos, 7. Resultados, 8. Discussão,
9. Conclusão, 10. Agradecimento (se houver), 11. Referências
Bibliográficas, 12. Tabelas, 13. Figuras.
2. RELATO DE CASO CLÍNICO: Contribuição destinada a
divulgar caso clínico, correlacionando-o com a literatura
Revista da ABRO - Associação Brasileira de Radiologia Odontológica
existente. Máximo de 08 páginas. Deve conter dados clínicos,
radiográficos e histopatológicos relevantes para confirmação
do diagnóstico. Estrutura: 1. Página de identificação, 2. Página
de Rosto, 3. Resumo, 4. Abstract, 5. Introdução, 6. Descrição
do caso, 7. Discussão, 8. Agradecimento (se houver), 9.
Referências Bibliográficas.
3. ATUALIZAÇÃO (A CONVITE DO EDITOR): Discussão e
revisão temática da literatura focando a atualização sobre o
tema abordado. Máximo de 18 páginas. Estrutura: 1. Página
de identificação, 2. Resumo, 3. Abstract, 4. Introdução, 5.
Discussão, 6. Conclusão, 7. Agradecimentos (se houver), 8.
Referências Bibliográficas, 9. Tabelas, 10. Figuras.
4. REVISÃO LITERÁRIA: Contribuição destinada à avaliação
crítica e sistematizada da literatura sobre determinado assunto
devendo conter conclusões. Máximo de 15 páginas. Estrutura:
1. Página de identificação, 2. Página de Rosto, 3. Resumo, 4.
Abstract, 5. Introdução, 6. Discussão, 7. Agradecimento (se
houver), 8. Referências Bibliográficas.
5. RELATO TÉCNICO: Contribuição destinada a descrever
uma técnica radiográfica, um software ou outro procedimento
técnico de interesse para o clínico ou pesquisador. Máximo de
04 páginas. Estrutura: 1. Página de identificação, 2. Página de
Rosto, 3. Resumo, 4. Abstract, 5. Introdução, 6. Discussão, 7.
Referências Bibliográficas, 8. Tabelas e 9. Figuras.
6. CARTA AO EDITOR: Visa discutir artigos recentes
publicados na Revista; sugestões e críticas. Máximo de 01
página. Estrutura: 1. Página de identificação, 2. Texto.
CHECK LIST
• Página de identificação: título do trabalho, em português
e inglês (84 caracteres), nome completo e principal titulação
dos autores e endereço para correspondência do autor
correspondente.
• Página de rosto: título do trabalho (português/inglês).
• Resumo/Abstract (250 palavras).
• Formatação: espaçamento 1,5cm, papel A4, fonte Times
New Roman, tamanho 12, margens laterais de 2,5cm e
páginas numeradas em algarismos arábicos.
• Número de páginas do trabalho (que dependerá do tipo
de trabalho submetido).
• Figuras, não incluídas no texto: resolução: 300 dpi,
tamanho: 84mm x 175mm, formato: TIFF ou JPEG e legenda
(“Figura 1”, “Figura 2”) das imagens.
• Incluir: agência financiadora, número do processo, e
número do comitê de ética, caso os possua.
• Referências bibliográficas: normalizadas segundo estilo
Vancouver, aparecendo no manuscrito em ordem numérica
de citação, em números sobrescritos após o ponto final da
frase.
• Declarações de Responsabilidade e Termo de
Transferência de Direitos autorais.
RESPONSABILIDADE PELO CONTEÚDO
Os conceitos e as informações emitidos nos trabalhos
publicados na Revista da ABRO são de responsabilidade
exclusiva dos autores, não refletindo obrigatoriamente a opinião
do Corpo Editorial.
ETAPAS PARA AVALIAÇÃO DOS TRABALHOS
Todos os trabalhos serão apreciados inicialmente pelo Corpo
Editorial quanto à adequação do conteúdo ao perfil da revista.
Após aprovação inicial, os trabalhos serão encaminhados para
análise e avaliação, realizadas por 03 Consultores Científicos,
sendo o anonimato dos autores garantido em todo o processo
de julgamento.
Para que o trabalho seja aceito ou recusado, deve prevalecer
o julgamento de dois, dos três consultores. Os trabalhos
recusados serão devolvidos, acompanhados de carta
justificativa. Os trabalhos aceitos serão enviados aos autores,
juntamente com os comentários e sugestões dos Consultores
Científicos, para as adequações, quando necessárias. Após reenviado à revista com as adequações e/ou comentários sobre
a aceitação ou não aceitação das sugestões dos Consultores,
o trabalho será novamente encaminhado a estes e somente
após a aprovação final pelos Consultores, os artigos serão
considerados aceitos para publicação, sendo então submetidos
à revisão do português e formatação final. A versão final será
enviada para o autor correspondente que retornará o trabalho
após consideração das alterações sugeridas pelo corretor de
português. Antes da impressão final, os autores receberão cópia
do trabalho em formato PDF para aprovação, tendo no máximo
sete dias para retornar o trabalho. Caso contrário, o Corpo
Editorial aprovará automaticamente este como a versão final
sem possibilidade de alterações posteriores. Após a publicação
da Revista o autor correspondente receberá um e-mail contendo
o arquivo final do trabalho em formato PDF para fins de duplicação
e uso pessoal.
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