Aspectos do Conhecimento Etnoictiológico de - PPG
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Aspectos do Conhecimento Etnoictiológico de - PPG
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS CENTRO DE CIÊNCIAS DO AMBIENTE Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia – PG-CASA Aspectos do Conhecimento Etnoictiológico de Pescadores Citadinos Profissionais e Ribeirinhos na Pesca Comercial da Amazônia Central. LIANE GALVÃO DE LIMA MANAUS – AM 2003 ii UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS CENTRO DE CIÊNCIAS DO AMBIENTE Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia – PG-CASA LIANE GALVÃO DE LIMA Aspectos do Conhecimento Etnoictiológico de Pescadores Citadinos Profissionais e Ribeirinhos na Pesca Comercial da Amazônia Central. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia, da Universidade Federal do Amazonas, como requisito para obtenção do Titulo de Mestre em Ciências, Área de concentração: Serviços Ambientais e Recursos Naturais. Orientador: Prof. Dr. VANDICK DA SILVA BATISTA. MANAUS – AM 2003 iii Ficha Catalográfica Catalogação pela Biblioteca Central da Universidade Federal do Amazonas Galvão-Lima, Liane Aspectos do Conhecimento Etnoictiológico de Pescadores Citadinos Profissionais e Ribeirinhos na Pesca Comercial da Amazônia Central/ Liane Galvão de Lima – Manaus, UFAM, 2003. 116 f.: il. 1. Etnoecologia 2. Etnoictiologia 3. Pesca Artesanal 4.Pescadores profissionais 5. Pescadores Ribeirinhos CDU 639.2.05 (811.3) (043.3) iv LIANE GALVÃO DE LIMA Aspectos do Conhecimento Etnoictiológico de Pescadores Citadinos Profissionais e Ribeirinhos na Pesca Comercial da Amazônia Central. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia Universidade Federal do Amazonas, como requisito para obtenção do Titulo de Mestre em Ciências, Área de concentração: Serviços Ambientais e Recursos Naturais. Aprovado em 19 de agosto de 2003 BANCA EXAMINADORA Prof. Dr Vandick da Silva Batista - Orientador Universidade Federal do Amazonas - UFAM Prof. Dr. Jansen Zuanon Instituto Nacional de Pesquisa do Amazonas - INPA Prof. Dra. Maria Inês Higuchi Instituto Nacional de Pesquisa do Amazonas - INPA Prof. Dra. Sandra do Nascimento Noda Universidade Federal do Amazonas- UFAM MANAUS – AM 2003 v “Dedico este trabalho aos meus pais, Edilson Lima e Edna Galvão, por terem me dado o dom da vida e ao apoio e incentivo de nunca desistir de realizar meus sonhos”. e “Aos pescadores profissionais e de subsistência da Amazônia Central, enfim, a todos os trabalhadores da pesca de todo o Brasil”. vi AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar, agradeço ao meu Deus, por ter me dado à chance de encontrá-lo sempre na dedicação ao trabalho e no ajudar do próximo. Agradeço de todo o coração, também ao Dr. Vandick Batista, pela orientação, apoio, estrutura, e principalmente pelo seu voto de confiança na realização do presente estudo. À professora e amiga Olívia Ribeiro, por todo o carinho e disponibilidade em me ajudar, criticar e direcionar o meu trabalho, em todas as vezes que a procurei. À profa.dra. Nídia Fabré, pela oportunidade de ter participado do Grupo de Pesquisa PYRÀ, trabalhado durante o estágio de docência, e a todos os seus ensinamentos valiosos, os quais nem saiba que tenha me passado durante o desenvolvimento da pesquisa. Aos pescadores por todo conhecimento com eles aprendido durante o todo o trabalho. Ao meu amigo “contrário” Joel, uma peça chave nesta pesquisa, o qual sempre se disponibilizou em me acompanhar nas entrevistas no porto desembarque em Manaus. A todos os meus amigos do laboratório, onde sempre pude contar com o apoio, atenção, sugestões e também tirar boas gargalhadas, em especial ao Charles Farias, Cristiano Gonçalves, Guillermo Estupiñán e Tony Porto. A todos da equipe PYRÁ pela oportunidade de trabalharmos juntos e por todo o carinho e amizade que obtive durante todo esse tempo de pesquisa. A todos os colegas da turma: Deolinda Ferreira, Ivano Cordeiro, Lindolpho Lima e Leandro Parizotto, os quais sem eles, o curso não teria tido a mínima graça. A toda a minha família, meus pais, irmãos: Nelise e Wesley, minha segunda mãe Fátima, por sempre acreditarem em mim, e estar continuamente me apoiando nas horas difíceis. Agradeço também a todos os meus amigos da “Turma da Toga” por terem compreendido e apoiado as minhas faltas devido a maior dedicação ao trabalho, mas sempre que precisei, pude contar com o ombro amigo. Não esquecendo das “Vamps”, em especial, a Tatianne Araújo, uma amiga verdadeira, a qual não tem palavras para descrevê-la, mas sei que todos gostariam de tê-la como amiga. vii Não podendo esquecer da Luciene e da Rai, pela compreensão e na disponibilidade de me ajudar sempre que precisei durante o curso. Ao Laboratório de Manejo e Avaliação de Pesca e ao Programa Integrado de Recursos Aquático e da Várzea (PYRÁ), pela estrutura e apoio financeiro cedidos ao estudo. E a CAPES pela bolsa de mestrado concedida, a qual me auxiliou durante o desenvolvimento do projeto. viii RESUMO A pesca representa a atividade profissional mais tradicional da região amazônica, desempenhando papel importante na economia e no processo de ocupação humana na região. Também é considerado um elemento importante da cultura regional, a qual se torna depositária de informações da dinâmica dos recursos e do ambiente aquático. Nesse contexto, o conhecimento do pescador ribeirinho, comercial e de subsistência, e do pescador citadino profissional a respeito à biologia e ecologia dos peixes, fornece informações de grande utilidade no desenvolvimento de pesquisa no campo da ictiologia, e assim, este conhecimento etnoictiológico pode ser útil para o desenvolvimento do manejo integrado e participativo dos recursos naturais na região. O presente trabalho tem por objetivo comparar o conhecimento tradicional ecológico e biológico sobre os peixes, que possuem os pescadores profissionais citadinos e pescadores ribeirinhos de subsistência da Amazônia Central, com o conhecimento científico disponível. O estudo foi conduzido no porto de desembarque de Manaus e na área rural de Manacapuru. A coleta de dados primários foi realizada por meio de entrevistas semiestruturadas, aplicadas individualmente, contendo perguntas objetivas e subjetivas, abordando aspectos biológicos e ecológicos de seis tipos de peixes: aruanã, pirarucu, tucunaré, curimatã, jaraqui e tambaqui. Foram entrevistados 57 pescadores, sendo 31 citadinos e 26 ribeirinhos. As maiores congruências entre o conhecimento tradicional e científico dizem a respeito ao ciclo reprodutivo dos peixes: os aspectos de tamanho da primeira e completa maturação, épocas e áreas de desovas, e cuidados parentais, bem como nos aspectos de alimentação, predação, migração, mortalidade e recrutamento. Idade de primeira e completa maturação, crescimento, fecundidade e tipo de desova, foram os aspectos que os pescadores, de um modo geral, demonstraram maior desconhecimento. PALAVRAS-CHAVE: 1. Etnoecologia 2. Etnoictiologia 3. Pescadores Ribeirinhos 4 Pescadores profissionais 5. Amazonas Central. ix ABSTRACT The fisheries represents the most traditional professional activity of the Amazonian area, playing important part in the economy and in the process of human occupation in the area, as well as an important element of the regional culture is considered, which becomes receiver of information of the dynamics of the resources and of the aquatic environment. In this context, the knowledge of the riverine fishermen of subsistence and the professional urban fisherman regarding the biological and ecological knowledge of the fish, supply information of great usefulness for ichthyology, and this can be useful for the development of the integrated and participative in resource management. The present study has the aim to compare the ecological and biological traditional knowledge on the fish, by the urban professional and riverine fishermen of the Central Amazonian, with the available scientific knowledge. The study was driven in the port of Manaus and in the rural area of Manacapuru. The collection of primary data was accomplished by means of structured individuals’ interviews, containing objective and subjective questions about biological and ecological data of six types of fish: aruanã, pirarucu, tucunaré, curimatã, jaraqui and tambaqui. 57 fishermen, 31 city dwellers and 26 riverine inhabitants were interviewed. The most congruent information with the scientific data was related to the reproductive cycle: size of the fish at first and complete maturation, time and area of spawning, and parental care; in the feeding aspects, predation, migration, mortality and recruitment. Age of first and complete maturation, growth, fecundity and type of spawning, were the aspects that the fishermen demonstrated larger ignorance. KEYS-WORDS: 1. Etnoecology 2.Etnoicthiology. 3. Riverine people. 4 Professional fishermen.. 5. Amazonas Central. x LISTA DEFIGURAS Figura 1 – Mapa esquemático da divisão municipal do estado do Amazonas, com indicação dos municípios onde ocorreu a coleta de dados, Manaus e Manacapuru. .............................................................................................. 21 Figura 2 – Quantidade de desovas do aruanã por ano segundo os pescadores citadinos (n=31) e ribeirinhos (n=26) da região Amazônia Central ............ 33 Figura 3 – Fecundidade aruanã segundo os pescadores citadinos (n=17) e ribeirinhos (n=31) da Amazônia Central..................................................... 34 Figura 4 – Alimentação do aruanã segundo os pescadores citadinos (cit) e ribeirinhos (rib) da Amazônia Central durante o período de enchente (Ench) e vazante (Vaz.) ............................................................................................ 36 Figura 5 – Mortalidade do aruanã nas fases larval, juvenil e adulta segundo os pescadores citadinos - Cit (n=31) e Ribeirinhos – Rib (n=26) da Amazônia Central........................................................................................................ 39 Figura 6 – Tipos de cuidados parentais do pirarucu segundo os pescadores citadinos (esquerda; n=30) e ribeirinhos (direita; n=26) da Amazônia Central.......... 43 Figura 7 – Alimentação do pirarucu segundo os pescadores citadinos (Cit) e ribeirinhos (Rib) da Amazônia Central durante o período de enchente (Ench) e vazante (Vaz). ............................................................................................ 46 Figura 8 – Mortalidade do pirarucu nas fases larval, juvenil e adulta segundo os pescadores citadinos – Cit (n=31) e Ribeirinhos – Rib (n=26) da Amazônia Central........................................................................................................ 50 Figura 9 – Tipo de cuidados parentais do tucunaré segundo os pescadores citadinos (direita; (n=31)) e ribeirinhos (esquerda; (n=26)) da Amazônia Central ..... 52 Figura 10 – Fecundidade do tucunaré segundo os pescadores citadinos (n= 20) e ribeirinhos (n=4) da Amazônia Central....................................................... 54 Figura 11 – Alimentação do tucunaré segundo os pescadores citadinos (Cit.) e ribeirinhos (Rib.) durante os períodos de enchente (Ench) e vazante (Vaz) da Amazônia Central....................................................................................... 56 Figura 12 – Predação do tucunaré segundo os pescadores citadinos (Cit) e ribeirinhos (Rib) durante o período da enchente (Ench) e vazante (Vaz). . 57 xi Figura 13 – Mortalidade do tucunaré durante as fases larval, juvenil e adulta segundo os pescadores citadinos-Cit (n=31) e ribeirinhos-Rib (n=26) da Amazônia Central....................................................................................... 59 Figura 14 – Quantidade de desova do curimatã por ano segundo os pescadores da região amazônica central ........................................................................... 62 Figura 15 – Alimentação do curimatã segundo os pescadores citadinos (Cit.) e ribeirinhos (Rib.) da Amazônia Central durante o período de enchente (Ench) e vazante (Vaz). ............................................................................................ 64 Figura 16 – Predação do curimatã durante o período de enchente (ench) e vazante (vaz) segundo os pescadores citadinos (Cit.) e ribeirinhos (Rib.) da Amazônia Central........................................................................................................ 65 Figura 17 – Comportamento migratório do curimatã durante um ciclo sazonal das águas segundo os pescadores citadinos (acima) e ribeirinhos (abaixo) da Amazônia Central....................................................................................... 66 Figura 18 – Mortalidade do curimatã segundo os pescadores citadinos (Cit) e ribeirinhos (Rib) da Amazônia Central ....................................................... 68 Figura 19 – Tipos de desova do jaraqui segundo os pescadores da região da Amazônia Central....................................................................................... 71 Figura 20 – Alimentação do jaraqui durante o período de enchente e vazante segundo os pescadores citadinos (Cit) e ribeirinhos (Rib) da Amazônia Central. ................................................................................................................... 73 Figura 21 – Predação do jaraqui segundo os pescadores citadinos (Cit) e ribeirinhos (Rib) durante o período de enchente (ench) e vazante (vaz) na Amazônia Central........................................................................................................ 74 Figura 22 – Comportamento migratório do jaraqui durante um ciclo sazonal segundo os pescadores citadinos (Cit) ribeirinhos (Rib) da Amazônia Central. ....... 75 Figura 23 – Mortalidade do jaraqui durante as fases larval, juvenil e adulta segundo os pescadores citadinos (Cit) e ribeirinhos (Rib) da Amazônia Central. .... 78 Figura 24 – Alimentação do tambaqui durante o período de enchente e vazante segundo os pescadores da Amazônia Central........................................... 82 Figura 25 – predação do tambaqui segundo os pescadores citadinos (Cit) e ribeirinhos (Rib) da Amazônia Central durante o período da enchente e vazante. ................................................................................................................... 83 xii Figura 26 – Comportamento migratório do tambaqui durante um ciclo sazonal segundo os pescadores citadinos (acima) e ribeirinhos (abaixo) da Amazônia Central........................................................................................................ 85 Figura 27 – Mortalidade do tambaqui nas fases larval, juvenil e adulta segundo os pescadores citadinos (Cit) e ribeirinhos (Rib) da Amazônia Central ......... 87 xiii LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Grau de escolaridade e função na pesca apresentados pelos pescadores citadinos e ribeirinhos na Amazônia Central. ............................................. 25 Tabela 2 – Principais locais de origem e de onde se criaram dos pescadores citadinos e ribeirinhos da Amazônia Central .............................................. 26 Tabela 3 – Tempo em que os pescadores citadinos e ribeirinhos viveram em outras cidades....................................................................................................... 27 Tabela 4 – Cidades em que viveu os pescadores citadinos e ribeirinhos ......... 27 Tabela 5 – Classes de idade que os pescadores citadinos e ribeirinhos da Amazônia Central começam a pescar e quando iniciam a pescar com fim de comercialização. ........................................................................................ 28 Tabela 6 – Perfil sócio econômico dos pescadores profissionais citadinos e ribeirinhos da Amazônia Central ................................................................ 30 Tabela 7 - Comparação entre as informações dos pescadores da Amazônia central e da literatura sobre o comportamento reprodutivo do aruanã ..................... 35 Tabela 8 – Médias de tamanho (cm) do aruanã conforme a idade (ano) segundo os pescadores citadinos e ribeirinhos da Amazônia Central........................... 38 Tabela 9 - Comparação entre as informações dos pescadores da Amazônia central e da literatura sobre o comportamento reprodutivo do pirarucu.................... 45 Tabela 10 - Comparação entre as informações dos pescadores da Amazônia central e da literatura sobre o comportamento reprodutivo do tucunaré................ 55 Tabela 11– Crescimento do tucunaré segundo os pescadores da Amazônia Central comparado com a literatura científica ........................................................ 58 Tabela 12 - Comparação entre as informações dos pescadores da Amazônia central e da literatura sobre o comportamento reprodutivo do Curimatã ............... 63 Tabela 13 – Crescimento do curimatã segundo os pescadores da Amazônia Central comparado com a literatura científica ........................................................ 67 Tabela 14 - Comparação entre as informações dos pescadores da Amazônia central e da literatura sobre o comportamento reprodutivo do Jaraqui.................. 72 Tabela 15 – Crescimento do jaraqui segundo os pescadores da Amazônia Central comparado com a literatura científica ........................................................ 77 Tabela 16 – Comparação entre as informações dos pescadores da Amazônia central e da literatura sobre o comportamento reprodutivo do Tambaqui.............. 81 xiv Tabela 17 - Comparação entre as informações dos pescadores da Amazônia central e da literatura sobre Crescimento do Tambaqui. ....................................... 86 xv SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................1 2. REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................5 2.1. Etnoictiologia – conceitos e definições ......................................................5 2.2. A região: aspectos ecológicos ...................................................................8 2.3. A pesca......................................................................................................9 2.3.1. Histórico ..............................................................................................9 2.3.2. Potencial pesqueiro...........................................................................11 2.3.3. Tipos de Pescadores.........................................................................12 2.3.4. Tipos de pescarias ............................................................................13 2.4. Os recursos pesqueiros amazônicos e sua dinâmica migratória .............16 3. OBJETIVOS ...................................................................................................19 4. METODOLOGIA.............................................................................................21 4.1. Área de estudo ........................................................................................21 4.2. Coleta de dados.......................................................................................21 4.2.1. Dados primários coletados................................................................21 4.2.2. Dados secundários coletados ...........................................................22 4.3. Análise dos dados....................................................................................22 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO......................................................................24 5.1. Caracterização dos pescadores citadinos profissionais e ribeirinhos comerciais e de subsistência na Amazônia Central........................................24 5.1.1. Experiências e relações sociais na pesca da Amazônia Central ......27 5.2. Etnoictiologia das espécies de comportamento sedentário segundo os pescadores da Amazônia Central...................................................................31 5.2.1. Aruanã (Osteoglossum bicirrhosum.) ................................................31 5.2.2. Pirarucu (Arapaima gigas).................................................................40 5.2.3. Tucunaré (Cichla monoculus) ...........................................................51 5.3. Biologia e ecologia das espécies de comportamento migratório .............60 5.3.1. Curimatã (Prochilodus nigricans) ......................................................60 5.3.2. Jaraqui (Semaprochilodus spp.)........................................................69 5.3.3. Tambaqui (Colossoma macropomum.) .............................................79 6. CONCLUSÕES ..............................................................................................89 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...............................................................91 1 1. INTRODUÇÃO Uma das principais preocupações ambientais deste novo século é a perda da biodiversidade, devido ao índice crescente de degradação ambiental produzida pelas atividades da população humana. Esta diversidade biológica vem sendo irreversivelmente diminuída através da extinção, à medida que os habitats são destruídos. A manutenção dos recursos naturais é de fundamental importância para o bem estar do ser humano, em parte, pois as espécies de plantas e animais e outros organismos oferecem às pessoas produtos importantes, inclusive alimentos, medicamentos e/ou matéria-prima às indústrias. Sem mencionar os mais diversos serviços ambientais que estes prestam a toda sociedade como todo. Com o crescimento dos centros urbanos, nos tornamos desvinculados dos ambientes naturais e de seus recursos, assim tornamo-nos mais dependentes do conhecimento daqueles que vivem em áreas naturais. Estes representam a chave para o entendimento, utilização e proteção da diversidade biológica. Segundo CORSON (1994), muitos habitantes das áreas naturais enfrentam uma crise de sobrevivência. Suas culturas, juntamente com suas tradições orais, desenvolveram-se durante séculos, mas estão desaparecendo a cada década, devido às políticas utilizadas que seguem a linha dos “biocentristas” ou “conservacionistas”, ou seja, são a favor da retirada das populações tradicionais, fundamentando-se na fragilidade dos ecossistemas e exemplos de mau uso deste patrimônio pelo homem (ADAMS, 2000). A valorização do conhecimento tradicional caracteriza-se como uma nova ordem no que se diz respeito a conservação dos recursos naturais, reconhecida pelo princípio 22 da Declaração do Rio sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, isso 2 se refere principalmente aos povos indígenas, habitando locais essenciais para o manejo e desenvolvimento ambiental, observando que tanto a diversidade cultural quanto a diversidade biológica são recursos naturais que merece a conservação (ZWAHLEN, 1996 apud COSTA NETO, 2001). Até então, as discussões sobre sustentabilidade e conservação dos recursos naturais excluíam as análises socioculturais que complementam a interação homem/natureza. De acordo com SACH (1995), a melhor forma de explorar os recursos naturais é aquela que usa o conhecimento tradicional. Vale ressaltar, que este conhecimento é passado ao longo das gerações através de experiências e observações do cotidiano (BEGOSSI, 1998). Na Convenção sobre Diversidade Biológica-CDB, foi definido no artigo 8 j para que as nações-membro, em conformidade com a legislação nacional, respeitem, preservem e mantenham o conhecimento, inovações e práticas das comunidades locais e populações indígenas, incentivando sua mais ampla aplicação, e encorajando a repartição justa e eqüitativa dos benefícios oriundos da utilização desses mesmos conhecimentos (DIEGUES & ARRUDA, 2001). Além disso, no Art. 10 c a Convenção determina que cada Parte Contratante deve: "...proteger e encorajar a utilização costumeira dos recursos biológicos de acordo com práticas culturais tradicionais compatíveis com as exigências de conservação ou utilização sustentável". E também "apoiar populações locais na elaboração e aplicação de medidas corretivas em áreas degradadas onde a diversidade biológica tenha sido reduzida". (Art. 10 d). Em seu Art. 17, a CDB também recomenda às Partes Contratantes que proporcionem o intercâmbio de informações sobre o conhecimento das comunidades 3 tradicionais, e no art. 18, determina o aperfeiçoamento de métodos de cooperação para o desenvolvimento de tecnologias, incluindo as tradicionais e as indígenas. No contexto mundial, já existem mais de 33 centros de Recursos em conhecimento tradicional em diversos países, como o Estados Unidos, Rússia, Austrália e Índia (SILLITOE, 1998). Na América Latina, RIBEIRO (1987), MORAN (1994), MARQUES (1995), POSEY (1997), ADAMS (2000), DIEGUES & ARRUDA (2001) e BEGOSSI (1998) chamam atenção para o resgate e valorização dos saberes tradicionais, com implicações nos mais variados campos da ciência e economias regionais, como também para a preservação das sociedades locais e populações indígenas. Na região amazônica, a pesca é uma das atividades mais tradicionais, que desempenha um papel importante na economia e no processo de ocupação humana na região (SANTOS & FERREIRA, 1999). Representa também um importante elemento da cultura regional (FURTADO, 1993), a qual se torna depositária de informações sobre dinâmica dos recursos e do ambiente aquático, que podem ser úteis para o desenvolvimento do manejo integrado e participativo na região. Portanto, a atividade pesqueira artesanal, requer todo um conhecimento etnoecológico que possibilita a exploração do recurso pesqueiro que garante a sua sustentabilidade. Já afirmava MARQUES (1995), que os pescadores detêm o saber e o saber fazer relacionado com a estrutura e a função do ecossistema a que estão vinculados. Nesse contexto, o presente estudo pretende dar uma contribuição a esse novo paradigma de desenvolvimento: avaliar aspectos etnoictiológicos dos pescadores profissionais citadinos e ribeirinhos de subsistência da Amazônia 4 Central, verificando se estes podem ser incorporados como informações úteis para implementação de futuros projetos de gestão participativa local no manejo pesqueiro da região. Esta dissertação está estruturada numa análise comparativa entre as informações dadas pelos pescadores, citadinos e ribeirinhos, colacionadas com uma compilação das informações científicas sobre a biologia e dinâmica das espécies. 5 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1. Etnoictiologia – conceitos e definições A etnociência trata do estudo das percepções culturais do mundo e de como os indivíduos organizam essas percepções por meio de linguagem. Esta ciência, que parte da lingüística para estudar o conhecimento das populações humanas sobre os processos naturais, tentando descobrir a lógica subjacente ao conhecimento humano do mundo natural, as taxonomias e classificações totalizadoras, está entre os enfoques que têm contribuído para os estudos das relações entre o homem e o meio ambiente (MORAN, 1994). Segundo BEGOSSI (1998), os resultados desses estudos que envolvem o conhecimento tradicional, podem facilitar a concepção de novos modelos de sustentabilidade do uso e manejo dos recursos naturais. Internacionalmente o termo “tradicional” é utilizado como adjetivo, de tipo de manejo, tipo de sociedades, de forma de utilização de recursos, de território, de modo de vida, de grupos específicos e de tipo culturais. No Brasil, é empregado como referência a sociedades rústicas (VIANA, 1996). DIEGUES & ARRUDA (2001) definem conhecimento tradicional como o conjunto de saberes e saber-fazer a respeito do mundo natural e sobrenatural, transmitido oralmente, de geração em geração. Segundo BERLIN (1973) apud DIEGUES et al. (2000), há três áreas básicas de estudo na etnociência: a da classificação, que se preocupa em estudar os princípios de organização de organismos em classes; a de nomenclatura, em que são estudados os princípios lingüísticos para nomear as classes folk; a da identificação, que estuda a relação entre os caracteres dos organismos e a sua classificação. 6 A partir da etnociência originaram-se vários campos de domínios específicos culturais, entre estes a etnobiologia, recebendo contribuições basicamente da sociolingüística, da antropologia estrutural e da antropologia cognitiva. É a disciplina que se ocupa, essencialmente, do estudo do conhecimento e das conceituações desenvolvidas por qualquer sociedade a respeito da biologia. Segundo POSEY (1987), etnobiologia é o estudo do papel da natureza no sistema de crença e de adaptação do homem a determinados ambientes, enfatizando as categorias e conceitos cognitivos utilizados pelos povos em estudos, que, no caso, o conhecimento tradicional não se enquadra, em categorias e subdivisões precisamente definidas como as que a biologia tenta, artificialmente, organizar. Um campo relativamente novo da ciência, a etnobiologia ainda está construindo seu método e sua teoria. Ela pressupõe que cada povo possua sistema único de perceber e organizar as coisas, os eventos e os comportamentos. E este não o percebe de forma idêntica à do pesquisador, pois cada povo tem suas próprias formas de conhecimento e classificação. Ao primeiro tipo de análise se convencionou chamar de “ética”, ao segundo, de “êmica”, termos derivados de fonética e fonema (RIBEIRO, 1987). Os etnoecólogos consideram que o saber milenar conservado pelas populações tradicionais permitiu a conservação do equilíbrio ecológico em vastas regiões do mundo (RIBEIRO, 1987). A etnoecologia parte do pressuposto de que as informações que as pessoas possuem sobre seu ambiente e a maneira como pela qual elas categorizam essas informações (sobre zoneamento ecológico, distribuição dos recursos naturais, diversidade biológica, administração integrada dos reinos animal e vegetal, por exemplo) vão influenciar seu comportamento em relação ao mesmo (ADAMS, 2000). 7 Saberes estes, que constitui, hoje, os últimos repositórios vivos de um conhecimento acumulado durante milênios para sobrevivência humana na floresta tropical úmida, nos campos e cerrados. Parte deste saber foi herdada pelas populações rurais, caboclos, sertanejos, caipiras e caiçaras, encontrando-se em graus diversos codificados nas culturas folk (RIBEIRO, 1987). Na medida em que vai se desenvolvendo a coleta de dados e classificação na etnobiologia, vão se construindo a etnobotânica, a etnozoologia, a etnoecologia, a etnopedologia, a etnomedicina, a etnofarmacologia etc. Nesse tipo de análise vai se combinar a visão do observador estranho à cultura, refletindo a realidade percebida pelos membros de uma comunidade. O pesquisador procura inferir as categorias “êmicas” dos povos em estudo (POSEY, 1987). De uma forma mais específica, a etnoictologia, é o modo como o conhecimento, os usos e os significados dos peixes ocorre-nos diferentes grupos humanos, a qual é definida como estudo científico das relações entre homem com os peixes. Ela inclui-se na etnozoologia (estudo científico das relações homens e animais), que por sua vez faz parte de uma disciplina mais abrangente, a etnobiologia (COSTA NETO, 2001). Segundo MARQUES (1995), a etnoictiologia pode ser interpretada como a busca da compreensão do fenômeno da interação entre o Homem e os peixes, englobando aspectos tanto cognitivos quanto comportamentais. Vale ressaltar, que RIBEIRO (1987) recomenda para qualquer pessoa que queira fazer pesquisa etnobiológica, que considere cinco aspectos fundamentais: 1. Investigar as ciências biológicas de outras culturas, levando em conta o fato de que também nesse caso, elas se esforçam para classificar, catalogar e explicar o mundo natural; 8 2. Não menosprezar os informantes, já que dominam, em seus mínimos detalhes, fenômenos poucos conhecidos ou completamente ignorados para nossa ciência; 3. Deixar que os informantes sejam os guias, tanto na identificação de categorias culturais significativas, como no desenvolvimento das veredas para pesquisa de campo. 4. Tratar os informantes, que são tidos como peritos em suas próprias culturas, da mesma forma que tratamos nossos especialistas. 5. Não eliminar dados que, superficialmente, possam parecer absurdos. Eles podem conter codificações de relações evolutivas, ou de animais mitológicos, cuja função é proteger os recursos naturais e preservar o equilíbrio ecológico. 2.2. A região: aspectos ecológicos A região Amazônica abrange uma área de 6 milhões de km2 , 1/3 da América do sul, contém o equivalente a 20% de toda a água doce do planeta devido à presença da maior bacia hidrográfica do mundo ocupando uma área de inundação causadas pelos grandes rios e pequenos rios equivalente a 3.940.000 km2 (JUNK, 1983; MILLIAN & MEADE apud ISAAC & BARTHEM, 1995; HIGUCHI, 1999). Essas inundações marcam as formas de vida das populações ribeirinhas que vivem nas margens dos rios (DIEGUES, 1992). Observa-se que a água é um fator preponderante na paisagem amazônica, tanto para os grandes rios quantos pequenos rios e igarapés que contribuem para os corpos d’água. Estes corpos d’água não são uniformes. Os lagos existem ao lado dos grandes rios e são típicos de áreas alagáveis (várzea e igapó), enquanto nas 9 áreas não inundáveis (terra-firme), são mais característicos os igarapés e pequenos rios (JUNK, 1983). A Amazônia apresenta um clima quente e úmido, com alta taxa pluviométrica, de 2000 a 3000 mm/ano (SALATI et al., 1983). As chuvas começam entre novembro-dezembro na região sul de Equador e uns meses mais tarde ao norte do Equador e estendem-se por quatro e cinco meses (SALATI & MARQUES, 1984). Neste período, devido ao alto índice de pluviosidade, aumenta o nível dos rios, na região da Amazônia Central. De acordo com dados fornecidos da ANEEL (1999), a enchente costuma ocorrer nos meses de dezembro a maio, e a cheia nos meses de junho e julho. No verão, com a diminuição das chuvas, ocorre o processo inverso, ocorrendo nos meses de agosto a outubro o período da vazante, e a seca nos meses de outubro a novembro (BRAGA, 2001). Essas oscilações do nível d’água dos rios variam conforme o local, sendo que o padrão geral é unimodal e a oscilação média anual é de 5 a 10m (MARLIER, 1973; IBGE 1977; HANECK, 1982 apud ISAAC & BARTHEM 1995). Além disso, há consideráveis diferenças nos corpos d’água, tanto em relação à morfologia quanto nas suas propriedades física – químicas, onde SIOLI (1985), propôs a seguinte tipologia: rios de água branca, água preta e água clara. Dependendo do tipo de água que inunda essas áreas, SIOLI (1985) as classifica como várzea, quando inundáveis por rios de águas brancas; e igapó, quando inundáveis por rios de águas pretas. 2.3. A pesca 2.3.1. Histórico No século XVII ao XIX, no período de ocupação portuguesa, a pesca era efetivamente praticada pelos índios por processos como a tapagem de rio, a palheta, 10 a narcotização das águas com timbó, cururutimbó e com assacu; arpões e anzóis com ponta de osso. O produto desta atividade abastecia os aldeamentos e, mais tarde, os centros que foram se nucleando, nos quais a pesca, a lavoura e a coleta eram as bases da economia regional (FURTADO, 1993). A partir do século XX, novos instrumentos de pesca foram sendo incorporados, como a malhadeira, arrastadeira e a redinha, e os barcos pesqueiros foram sendo equipando com caixas e urnas de gelo, o que tornou secundária a prática de salgar o peixe nos mercados que passaram a manter um abastecimento regular de pescado conservando em gelo. (VERÍSSIMO, 1895; RIBEIRO & PETRERE, 1990; MESCHAT, 1958 apud BARTHEM et al., 1997). No final da década de 60, o Governo Federal programou uma política oficial voltada para estimular a pesca, a fim de torná-la uma atividade econômica mais expressiva para a Amazônia. A partir dessa intervenção federal, acelerou-se o desenvolvimento da pesca industrial na região que, através de subsídios do Estado, aumentou a sua frota e incorporou novas técnicas pesqueiras (BRITTO et al., 1975 apud BARTHEM et al., 1997). A pesca tornou-se para muitos uma atividade profissional permanente; juntamente com outros fatores, como a decadência de outros recursos tradicionais, tais como a borracha e a juta, e o grande aumento da demanda urbana de pescado, foram as causas sócio-econômicas desta transformação. Os suportes técnicos para essa mudança foram dados principalmente pela instalação de empresas frigoríficas, com a finalidade de beneficiar e estocar o pescado para o comércio nacional e internacional; e a introdução das fibras de náilon monofilamento e dos motores a diesel. Surge, desta maneira, a figura do pescador profissional itinerante, que pesca de forma permanente, em lugares distantes da sua moradia e vende o seu peixe nos 11 frigoríficos e nos mercados dos centros urbanos. (PENNER, 1980 apud BARTHEM et al., 1997; FURTADO, 1993). De acordo com BARTHEM et al. (1997), para categorizar a pesca na região, temos que considerar três aspectos importantes, devido à complexidade do ecossistema amazônico, que seriam o pescador, o tipo de pesca e os estoques pesqueiros. 2.3.2. Potencial pesqueiro A pesca é uma das atividades extrativistas mais tradicionais e importantes da região (ISAAC & BARTHEM, 1995). O peixe representa a principal fonte de proteína na alimentação das populações ribeirinhas locais. A média do consumo anual de pescado na Amazônia foi estimada em cerca de 270.000 toneladas (MERONA, 1993), e o consumo per capita de pescado nas cidades de Manaus e Itacoatiara foi estimado entre 100 e 200 g/dia (SHRIMPTON & GIUGLIANO, 1979; SMITH, 1979; AMOROSO, 1981). Segundo PETRERE et al. (1997) o potencial pesqueiro da Bacia Amazônica equivale a algo entre 425 e 1500 toneladas/ano, gerando cerca de 70 mil empregos diretos, além de movimentar anualmente cerca de US$ 200 milhões (BARTHEM et al., 1992; PETRERE, 1992; PARENTE, 1996; BATISTA, 1998; ALMEIDA et al., 2001). Na região Amazônica, o desembarque foi estimado de 198.650 ton. em 1980, com produtividade média de 11kg/ano e 275.904 ton. em 1985 a 1989, representando a metade da produção pesqueira comercial das águas interiores do Brasil (PARENTE, 1996). As pescarias exploram uma alta diversidade de espécies, de médio e grande porte, com predominância de espécies migradoras como o tambaqui Colossoma 12 macropomum, o jaraqui Semaprochilodus spp., a curimatã Prochilodus nigricans, a matrinxã Brycon sp., a piramutaba Brachyplatystoma vaillantii, a dourada B. flavicans, o surubim Pseudoplatystoma fasciatum e a piraíba B. filamentosum (FREITAS, 2003). 2.3.3. Tipos de Pescadores Os pescadores podem ser basicamente classificados em cinco categorias: 1. Citadino: é aquele que vive em cidade e já perdeu sua ligação com a terra; são incluídos os pescadores que trabalhavam nas frotas pesqueiras de Manaus, e Belém, da pesca industrial do estuário e de várias outras que abastecem os principais centros urbanos da região Amazônica (FURTADO, 1993); 2. Interiorano: vive na zona rural e tem alguma relação com a terra; a pesca é renda parcial de sua atividade, podendo ser principal ou complementar de outras atividades relacionadas ao campo; 3. Indígena: é semelhante ao pescador interiorano, apresenta fortes laços com a terra e pesca basicamente para subsistência, podendo comercializar o excedente: difere do anterior, devido à forma de distribuição dos bens sólidos pela pesca, que é estabelecida pela cultura da sociedade local; 4. Esportivo: apresenta fortes ligações com a cidade, investe na pesca sem nenhum interesse com o retorno econômico, e sua presença nas áreas de pesca depende da infra-estrutura turística da região; 5. Ornamental: também está mais relacionado com a cidade ou, mais especificamente, com o mercado de exportação de peixes ornamentais. 13 Destes, somente os três primeiros têm importância para a pesca que abastece a população local, e os demais como atividades econômicas consideradas ainda subexploradas (PETRERE, 1992; BARTHEM, et al., 1997; BATISTA, 1998). 2.3.4. Tipos de pescarias A pescaria é classificada de acordo com a combinação dos fatores: dimensão do barco e tipo de aparelho de pesca. Em relação aos barcos, existem duas categorias bem distintas que atuam na região amazônica: a frota industrial e a artesanal (comercial e de subsistência) (PETRERE Jr, 1992; BARTHEM et al., 1997). 2.3.4.1. Pescaria Industrial Os barcos possuem cascos de aço, comprimento variado de 17 a 27m, tonelagem líquida entre 10 e 105 t e potência de motor entre 165 e 565 hp; a tripulação é composta em média por 7 homens, e a pesca é feita de arrasto de parelha sem portas, utilizando redes do tipo “portuguesa” ou “norueguesa” (BHARTEM & PETRERE Jr, 1995). Essas frotas são controladas pelas indústrias que processam, estocam e exportam o pescado. Esse tipo de pescaria só ocorre na região de estuário, na pesca da piramutaba (Brachyplatystoma vaillantii), da dourada (Brachyplatystoma flavicans), e de camarões (Pennacidae). 2.3.4.2. Pesca Artesanal É toda aquela que não é classificada como pesca industrial. Apresentam características bastante diversificadas, tanto em relação aos habitas onde atuam, quanto aos estoques que exploram. Podem ser de caráter comercial ou de subsistência. 14 2.3.4.2.1. Pesca Artesanal Comercial Apresenta características sazonais, necessita dos pescadores a dedicação quase ou totalmente exclusiva e cuja produção destina-se, em grande parte, à comercialização nos grandes mercados regionais. Geralmente, apresenta uma embarcação principal, conhecida como “geleira” que recebe a produção dos pescadores embarcados de pequenas canoas. As geleiras possuem urnas com gelo para a conservação do pescado (ISAAC & BARTHEM, 1995). Apresenta características da pesca de subsistência: como por exemplo, uso de vários utensílios de pesca, baixa tecnologia envolvida e a elevada dependência do conhecimento tradicional empírico para detecção dos cardumes e/ou determinação dos pesqueiros (FREITAS, 2003). Os encarregados destas embarcações podem comprar o pescado dos pescadores locais ou mesmo conduzir pescadores de outras regiões, que são contratados e suas canoas rebocadas para as áreas de pescas. Atualmente, os barcos da frota de Manaus realizam viagens de pesca à distância máxima de até 3700 km para realizar pescarias nos trechos superiores dos rios Juruá, Japurá e Javari (BARTHEM et al., 1997; ISAAC & BARTHEM, 1995). Estima-se que no Amazonas existem aproximadamente 40.000 pessoas vivendo exclusivamente da pesca. (ISAAC & BARTHEM, 1995; FALABELLA, 1994; BATISTA, 1998). 2.3.4.2.2. Pesca Artesanal de Subsistência Segundo MUTH (1996), o termo subsistência em pesca pode ser empregado para caracterizar o uso tradicional e cotidiano de recursos pesqueiros por formações sociais dependentes do recurso, incluindo a sobrevivência física, manutenção de culturas tradicionais e a própria persistência das estruturas sociais. 15 É considerada uma atividade tradicional, permanente e complementar a outras atividades econômicas, cuja produção dedica-se quase exclusivamente ao consumo próprio ou de parentes e amigos, mas às vezes o excedente é vendido na vila mais próxima ou salgado para posterior utilização. O pescado é utilizado imediatamente após a capturar, sem sofrer o beneficiamento com gelo (BARTHEM et al., 1997). Esta pescaria é executada com uma grande variedade de apetrechos e por uma substancial multiespecificidade (BATISTA et al, 1998; 2000; FREITAS & BATISTA, 1999). Ainda que a pesca seja eminentemente masculina, nas comunidades de ribeirinhos da Amazônia Central a pesca é desenvolvida com elevada participação de mulheres, além de parte das crianças com idade suficiente para praticar a atividade (FREITAS & BATISTA, 1999). Segundo FREITAS et al. (2002), existe uma profunda interação entre os ribeirinhos, o ambiente e a biota, assegurando um elevado conhecimento empírico que se traduz no uso de estratégias de pesca adequadas ao ambiente e à espécie de exploração. Baseado em extrapolações com consumo médio per capita e da densidade demográfica na bacia, estima-se que esta pesca é responsável por cerca de 70% da captura total, correspondendo a 110.130 toneladas, usando dados de 1980 (BAYLEY & PETRERE Jr., 1989). Este tipo de pesca é de fundamental importância no contexto social da região, pois se destina ao suprimento alimentar da camada mais carente da população e quem tem no peixe a única fonte de proteína (SANTOS & FERREIRA, 1999; FALABELLA, 1994; BATISTA, 1998). 16 2.4. Os recursos pesqueiros amazônicos e sua dinâmica migratória A diversidade da ictiofauna da região acompanha também sua extensão, ainda é desconhecida, sendo esta responsável pelo grande número de espécies da região neotropical, que pode alcançar 8.000 espécies (VARI & MALABARBA et al., 1998). A fauna de peixes conhecida é formada praticamente por um único grupo taxonômico: cerca de 85% das espécies pertencem a Superordem Ostariophysi, sendo que 43% são Characiformes, 39% são Siluriformes (bagres e peixes liso) e 3% Gymnotiformes (peixes elétricos). As demais espécies pertencem a outras 14 famílias (LOWE-McCONNELL, 1999). Tendo como base a sazonalidade e ecologia das espécies alvo, podem-se categorizar os peixes conforme os hábitos que estes apresentam sob o ponto de vista da pesca, no caso, o comportamento migratório das espécies. Existem as espécies que realizam migrações extensas, percorrendo trechos da calha do rio e que possuem fortes ligações com o estuário. Como exemplos, temos as espécies que pertencem à ordem dos Siluriformes, e as mais conhecidas são do gênero Brachyplatystoma, como a piramutaba e a dourada (BARTHEM & GOULDING, 1999). As espécies que realizam migrações moderadas são aquelas que utilizam a calha do rio para se deslocar rio acima, de uma várzea ou afluente para outra várzea ou afluente. As espécies que geralmente realizam esse tipo de migração pertencem à ordem Characiformes, como tambaqui (Colossoma macropomum), o pacu (Mylossoma spp.), jaraqui (Semaprochilodus spp.), curimatã (Prochilodus nigricans), entre outras. 17 As espécies que não realizam migrações para completar o seu ciclo biológico são aquelas tipicamente de ambientes lênticos, como por exemplo, os que pertencem às famílias Arapaimidae e Osteoglossidadae (pirarucu e aruanã), Cichlidae (tucunaré e acarás em geral) e Sciaenidae (pescadas em geral), entre outras. RUFFINO & ISAAC (2000) observaram que as espécies migradoras são fortemente influenciadas pelas condições das flutuações do nível das águas. Segundo ISAAC & BARTHEM (1995), no período da enchente, a maioria das espécies se deslocam para as regiões de savanas e florestas recentementes alagadas, onde encontram renovadas fontes de alimento aquático ou acesso a frutos, sementes, artrópodes e outros itens de origem terrestre, assim como refúgio e proteção contra predadores. Estes movimentos realizados para a floresta inundada, principalmente pelos Characiformes logo depois de ter descido de seus afluentes para desova, também foram observados no Rio Madeira por GOULDING (1979). As espécies que pertencem aos grupos dos Characiformes, segundo BATISTA (1998), além de serem o principal grupo da região, são também o que fornece a maior parte do pescado disponível para o consumo de Manaus, como também para as comunidades ribeirinhas, como as das famílias Prochilodontidae e Curimatidae. As espécies que serão avaliadas nessa dissertação são algumas das mais importantes nos desembarques em Manaus e em cidades do interior do estado (BATISTA, 1998), assim como para a alimentação dos ribeirinhos (CERDEIRA, 1997; BATISTA et al., 1998). Foram consideradas espécies de comportamento migratório, como a curimatã (Prochilodus nigricans Spix & Agassiz, 1829), o jaraqui (Semaprochilodus insignis Jardine & Schomburgk, 1841, Semaprochilodus taeniurus 18 Valenciennes, 1817) e o tambaqui (Colossoma macropomum Cuvier 1818); bem como as que não migram para completar o seu ciclo biológico como o pirarucu (Arapaima gigas Cuvier, 1829), o tucunaré (Cichla monoculus Spix & Agassiz, 1831) e o aruanã (Osteoglossum bicirrhosum Vandelli 1829.). 19 3. OBJETIVOS O objetivo geral desta pesquisa é determinar a compatibilidade do etnoconhecimento de pescadores profissionais e ribeirinhos com o conhecimento científico já estabelecido para subsidiar ao manejo local de recursos pesqueiros. Os objetivos específicos são: 1. Compilar a informação publicadas na literatura científica e em literatura cinza sobre a dinâmica populacional de 3 espécies sedentárias (tucunaré-comum, Cichla temensis; Aruanã, Osteoglossum bicurhosum e Pirarucu, Arapaima gigas) e 3 espécies migrantes (Tambaqui, Colossoma macropomum; Curimatã, Prochilodus nigricans; Jaraqui, Semaprochilodus spp.) de importância comercial na Amazônia Central; 2. Determinar o conhecimento de pescadores profissionais sobre a dinâmica populacional de 3 espécies sedentárias e 3 espécies migrantes de peixes de importância comercial na Amazônia Central; 3. Determinar o conhecimento de pescadores de subsistência sobre a dinâmica populacional de 3 espécies sedentárias e 3 espécies migrantes de peixes de importância comercial na Amazônia Central; 4. Avaliar comparativamente o conhecimento etnoecológico de ambos tipos de pescadores com as informações científicas sobre a dinâmica de populações das espécies. Para isto serão testadas as seguintes hipóteses: i. Pescadores comerciais possuem informações igualmente precisas e abrangentes em relação aos saberes dos pescadores de subsistência sobre a dinâmica dos recursos pesqueiros. 20 ii. O saber ictiológico de pescadores citadinos comerciais e de subsistência apresenta similaridade suficiente com o saber científico já acumulado, permitindo sua utilização no monitoramento e ordenamento pesqueiro e viabilizando o manejo participativo da pesca. 21 4. METODOLOGIA 4.1. Área de estudo As entrevistas semi-estruturadas foram realizadas na Balsa de desembarque de pescado em Manaus – AM e nas áreas rurais do município de Manacapuru – AM. Figura 1 – Mapa esquemático da divisão municipal do estado do Amazonas, com indicação dos municípios onde ocorreu a coleta de dados, Manaus e Manacapuru. 4.2. Coleta de dados 4.2.1. Dados primários coletados Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com os pescadores profissionais citadinos 1 no Porto de Desembarque Pesqueiro (Balsa Manaus Moderna) em Manaus, e com os pescadores ribeirinhos2 comerciais e de 1 2 Pescador citadino – é aquele que vive em cidades e já perdeu sua ligação com a terra (Furtado 1993). Pescador ribeirinho – aqui foi chamado o pescador interiorano que vive na zona rural e tem alguma relação com a terra, onde a pesca é renda parcial de sua atividade, podendo ser principal ou complementar de outras atividades relacionadas ao campo. 22 subsistência das áreas rurais de Manacapuru, durante o período de julho a dezembro do ano de 2002. As entrevistas foram realizadas de modo individual, contendo perguntas chaves e também de questões abertas, as quais incluíam 45 tópicos, abordando primeiramente os aspectos pessoais, experiências e relações sociais na pesca do pescador entrevistado e, posteriormente os aspectos biológicos e ecológicos (reprodução, alimentação, predação, crescimento, migração, mortalidade, e recrutamento) de espécies de peixes sedentárias: aruanã, pirarucu e tucunaré; e migradoras: curimatã, jaraqui e tambaqui. Os entrevistados foram selecionados aleatoriamente, dependendo da disponibilidade e da boa vontade a responder às questões. Por se tratar de um estudo de etnoconhecimento, as expressões e palavras nativas foram mantidas a fim de garantir maior confiança entre as partes. As entrevistas tiveram duração de 40 minutos a cerca de 2 horas. Foram todas registradas por escrito, e logo em seguida inseridas num banco de dados, onde foram posteriormente efetuadas as consultas e análises. 4.2.2. Dados secundários coletados Foi efetuado um levantamento de dados científicos sobre biologia e ecologia das espécies, por meio de revisão bibliográfica que incluiu teses, monografias, artigos científicos e livros especializados. 4.3. Análise dos dados Foi realizada uma análise comparativa dos dados científicos com o conhecimento popular dos pescadores ribeirinhos e dos pescadores citadinos 23 profissionais, e entre estes dois últimos, utilizando estatística descritiva. Os testes de hipótese foram efetuados após avaliação da normalidade por Kolmogorov-Smirnov e da homocedasticidade das variâncias por Bartlett (LEVINE et. al.,2000). Para analisar as diferenças entre as respostas dos pescadores citadinos e dos ribeirinhos, foram efetuados teste Z (Equação 1), e teste t (Equação 2) que se baseia na diferença entre as duas proporções de amostras. A hipótese nula indica sempre que as duas amostras das populações são iguais (LEVINE et. al.,2000). Equação 1 – Teste Z Z ( ps1 ps 2 ) ( p1 p2 ) 1 1 Pm (1 Pm )( ) n1 n2 com Pm X1 X 2 n1 n2 Ps X n Onde: p = proporção total da amostra (1 e 2) ps = proporção da amostra obtidas na população (1 e 2) X = número total da amostra (1 e 2) n = tamanho da amostra extraída (1 e 2) Pm = estimativa agrupada da proporção da população (1 e 2) Equação 2 – Teste t t ( Xm1 Xm2 ) ( 1 2 ) 1 1 2 Sp ( ) n1 n2 (n1 - 1 )S1 (n 2 - 1 ) S2 (n1 - 1) (n 2 - 1) 2 com S2 p Onde: S2p = variância combinada Xm = média aritmética da amostra tirada da população (1 e 2) S2 = variância da amostra tirada da população (1 e 2) n = tamanho da amostra extraída da população (1 e 2) µ = média aritmética da população (1 e 2). 2 24 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1. Caracterização dos pescadores citadinos profissionais e ribeirinhos comerciais e de subsistência na Amazônia Central O número total de entrevistados foi de 57 pescadores. Todos os entrevistados são do sexo masculino. Destes, os que foram entrevistados no porto de desembarque de Manaus, aqui chamados de pescadores citadinos (n= 31), cerca de 60% têm o Ensino fundamental; e os pescadores entrevistados na região rural de Manacapuru, aqui chamados de pescadores ribeirinhos (n= 26), cerca de 70% apresentam o Ensino fundamental (Tabela 1). Cerca 56% dos pescadores citadinos ocupavam a função de pescador no barco de pesca, enquanto que o restante ocupava outras funções como encarregado, dono do barco e outros. Dos pescadores ribeirinhos, 46% pescavam apenas para subsistência, e 53% pescavam para subsistência e também comercializavam o seu pescado. Esses dados confirmam que a atividade pesqueira tem grande importância para as populações ribeirinhas (ALMEIDA et al, 2001; CERDEIRA et al. 1997). 25 Tabela 1 – Grau de escolaridade e função na pesca apresentados pelos pescadores citadinos e ribeirinhos na Amazônia Central. CARACTERÍSTICA ESTUDADA PESCADOR CITADINO N % PESCADOR RIBEIRINHO N % ESCOLARIDADE Ens. Fund. Incompleto 19 61,3 19 73,1 Analfabeto Ens. Fund. Completo Ens. Médio Completo Ens. Médio Incompleto Superior Completo TOTAL Função na Pesca Pescador 4 3 3 1 1 31 12,9 9,7 9,7 3,2 3,2 100 6 1 0 0 0 26 23,1 3,8 0 0 0 100 18 56,3 12 46,2 0 0 12 46,2 8 5 31 25 18,7 100 1 1 26 3,8 3,8 100 Pescador de subsistência Encarregado Outros TOTAL Dos pescadores citadinos, cerca de 50% são de origem do médio Solimões, 26% do município de Coari, 23% do Purus, e os outros 30% nasceram no Careiro (alto Amazonas), Manacapuru e Codajás (baixo Solimões). Os principais locais nos quais passaram a maior parte de suas vidas foram Purus (23%), Coari (20%), Manacapuru (16%), Manaus (10%) e Codajás (10%). Dos pescadores ribeirinhos cerca de 50% são originários da região de Manacapuru e os outros 25% são dos municípios de Coari, Careiro, Manaus e Manaquiri. Destes últimos, cerca de 50% criaram-se em Manacapuru. E os outros locais de criação destes pescadores ocorreram com maiores freqüências em Puraquequara, área rural de Manaus (12%), Coari (8%) e na cidade de Manaus (8%). (Tabela 2). 26 Tabela 2 – Principais locais de origem e de onde se criaram dos pescadores citadinos e ribeirinhos da Amazônia Central ONDE NASCEU ONDE SE CRIOU Acre Acre Careiro Careiro da Várzea Careiro Manacapuru Manaus Total Coari Manacapuru Coari Manaus Total Codajás Codajás Janauacá Janauacá Coari Puraquequara Juruá Tefé Total Lábrea Lábrea Manacapuru Manacapuru Manaquiri Manaquiri Manaus Total Iranduba Manaus Manaus Puraquequara Total Manicoré Manicoré Parintins Parintins Purus Purus Santarém/PA Manaus Tefé Tefé Uruá Puraquequara CITADINOS (N=31)(%) 0,00 3,23 3,23 0,00 3,23 9,68 16,13 6,45 3,23 25,81 9,68 0,00 3,23 0,00 3,23 6,45 3,23 9,68 0,00 0,00 0,00 0,00 3,23 0,00 3,23 3,23 3,23 22,58 0,00 3,23 0,00 RIBEIRINHOS (N=26) (%) 3,85 3,85 0,00 3,85 0,00 7,69 7,69 0,00 0,00 7,69 0,00 3,85 0,00 3,85 0,00 3,85 0,00 46,15 3,85 3,85 7,69 3,85 0,00 3,85 7,69 0,00 0,00 3,85 3,85 0,00 3,85 TOTAL GLOBAL (N=57) (%) 1,75 3,51 1,75 1,75 1,75 8,77 12,28 3,51 1,75 17,54 5,26 1,75 1,75 1,75 1,75 5,26 1,75 26,32 1,75 1,75 3,51 1,75 1,75 1,75 5,26 1,75 1,75 14,04 1,75 1,75 1,75 Entre os pescadores citadinos, destes cerca de 70% pescadores já viveram em outras cidades urbanas, das quais de 25% já viveram até 5 anos em outras cidades (Tabela 3). 27 Tabela 3 – Tempo em que os pescadores citadinos e ribeirinhos viveram em outras cidades CLASSE DE TEMPO 00-05 05-10 10-15 15-20 20-25 25-30 30-35 35-40 Total CITADINOS Nr 5 3 2 3 1 3 2 1 20 % 25 15 10 15 5 15 10 5 100 N 5 2 4 0 0 1 RIBEIRINHOS % 41,7 16,7 33,3 0 0 8,3 12 100 As cidades mais citadas foram: Manaus (32%), Manacapuru (29%), Coari (10%) e Tefé (7%) (Tabela 4). Dentre os pescadores ribeirinhos cerca de 40% já viveram até 5 anos em outras cidades, alguns chegaram a viver, cerca de 33%, entre 10–15 anos em outras cidades, Manaus (53%) e Manacapuru (35%), foram as mais citadas por estes pescadores. Tabela 4 – Cidades em que viveu os pescadores citadinos e ribeirinhos CIDADES Manaus Manacapuru Coari Tefé Outras Total N 9 8 3 2 6 28 CITADINOS % 32,1 28,6 10,7 7,1 21,4 100 N 9 6 RIBEIRINHOS % 52,9 35,3 2 17 11,8 100 5.1.1. Experiências e relações sociais na pesca da Amazônia Central Segundo os relatos dos pescadores da Amazônia Central, a maioria começou a pescar de subsistência e a pescar com finalidade de venda entre a classe de 10 a 15 anos (Tabela 5). 28 Tabela 5 – Classes de idade que os pescadores citadinos e ribeirinhos da Amazônia Central começam a pescar e quando iniciam a pescar com fim de comercialização. CLASSE CITADINOS DE TEMPO N % IDADE QUE COMEÇA A PESCAR 5-10 6 24 10-15 10 40 15-20 5 20 20-25 0 0 25-30 3 12 30-35 1 4 Total 25 100 IDADE QUE COMEÇA PESCAR PARA COMERCIALIZAÇÃO 5-10 1 3,6 10-15 15-20 15-20 20-25 25-30 30-35 Total 2 10 5 1 7 2 28 7,1 35,7 17,9 3,6 25 7,1 100 RIBEIRINHOS N % 9 12 1 40,9 54,5 4,5 22 100 2 7 5 1 1 12,5 43,8 31,3 6,3 6,3 16 100 Esses dados apresentados demonstram que a atividade pesqueira de forma geral está sendo exercida homens novos, resultado este, que indica de que o conhecimento da pesca na região ainda é transmitido aos jovens de maneira a proporcionar condições para prática da pesca, com uma alternativa de geração de renda. Fora do setor pesqueiro, a agricultura foi à atividade mais citadas 36% pelos pescadores citadinos e cerca de 70% para os pescadores ribeirinhos. Essas informações ressaltam que os pescadores ribeirinhos desenvolvem atividade da agricultura para complementar a renda familiar. Cerca de 60% dos pescadores citadinos e dos pescadores ribeirinhos informaram que aprenderam a pescar com o pai e outros responderam que aprenderam o ofício da pesca com outros parentes (irmão, tios, primos), amigos ou sozinho (observando outros pescadores). Quanto à relação de trabalho em barco de pesca, tanto os pescadores citadinos quanto os ribeirinhos, a maioria exerce esta 29 atividade em parceria. Os pescadores que comercializam seu pescado escolheram tal atividade da pesca, porque não tinha alternativa a não ser pescar: “é o que sabe fazer”. Já os pescadores ribeirinhos, a maior parte citou que a pesca é mais uma fonte de renda “dá dinheiro”. A rede foi considerada o instrumento de pesca preferido entre os pescadores citadinos, correspondendo cerca de 80%. Entre os pescadores ribeirinhos, 35% indicaram pescar melhor com a rede e 23% indicaram a malhadeira (Tabela 6). Cerca de 40% dos pescadores citadinos são donos de algum utensílio de pesca, incluindo o barco de pesca que corresponde cerca de 50%. Entre os pescadores ribeirinhos 85% são proprietários de algum instrumento de pesca, entrem eles: a rede, canoas, malhadeira e de barcos de pesca. A maioria dos pescadores entrevistados (95%) sabe fazer algum tipo de utensílios de pesca, destes cerca de 80% dos citadinos sabem confeccionar todo tipo de utensílios de pesca como arpão, arrastadeira, caniço, espinhel, flecha, linha de mão, malhadeira, currico, redinha, tarrafa, zagaia entre outros. Cerca de 78% dos pescadores ribeirinhos confeccionam todo tipo de instrumento, e 22% sabem fazer até cinco instrumentos utilizados na pesca. Os pescadores citadinos que sabem fazer algum tipo de utensílio de pesca, 55% relataram que aprenderam observando outros pescadores trabalhando. Entre os pescadores ribeirinhos cerca de 41% responderam que também aprenderam “vendo os outros fazer”. 30 Tabela 6 – Perfil sócio econômico dos pescadores profissionais citadinos e ribeirinhos da Amazônia Central PESCADOR CITADINO CARACTERÍSTICA ESTUDADA N % EXPERIÊNCIA EM OUTRAS ATIVIDADES Agricultura 10 35,7 Extrativismo vegetal 4 14,3 Pedreiro 3 10,7 Industriário 3 10,7 Funcionário público 2 7,1 Comerciante 2 7,1 Outros 4 14,3 TOTAL 28 100 QUEM ENSINOU A PESCAR 19 61,3 Pai 6 19,4 Outros parentes 5 16,1 Amigos 1 3,2 Outros 31 100 TOTAL RELAÇÃO DE TRABALHO 22 71 Parceria 5 16,1 Familiar 3 9,7 Contrato 1 3,2 Proprietário 31 100 TOTAL MOTIVO QUE TRABALHA NA PESCA 15 39,5 É o que sabe fazer 11 28,9 Dá dinheiro 9 23,7 Gosta 3 7,9 Outros 38 100 TOTAL PREFERÊNCIA DE UTENSÍLIOS 24 82,8 Rede 2 6,9 Malhadeira 1 3,4 Arrastão 2 6,9 Outros 0 0 Sem preferência 29 100 TOTAL PESCADOR RIBEIRINHO N % 18 72 3 12 1 4 3 25 12 100 17 7 3 3 30 56,7 23,3 10 10 100 12 1 1 14 56,7 23,3 10 10 100 10 8 4 45,5 36,4 18,2 22 100 9 6 4 5 2 26 34,6 23,1 15,4 19,2 7,7 100 31 5.2. Etnoictiologia das espécies de comportamento sedentário segundo os pescadores da Amazônia Central 5.2.1. Aruanã (Osteoglossum bicirrhosum.) Pertence à família Osteoglossidae, são conhecidas duas espécies Osteoglossum bicirrhosum, distribuída na Bacia Amazônica e na savana do Rupunny. E O. ferrarai, que só foi registrada para região de Orinoco e Rio Negro (ARAGÃO, 1981). É caracterizada por apresentar escamas grandes, grossas e fortemente imbricadas em forma de mosaico, apresenta uma região ventral quilhada, boca oblíqua, profundamente fendida. É vulgarmente conhecido como baiano, sulamba, macaco-d’água. O aruanã não está classificado como peixe de primeira qualidade, vai aparecer entre as principais espécies comercializadas na região para classe de baixo poder aquisitivo. Tem um grande potencial como peixe ornamental principalmente nos primeiros estágios de desenvolvimento pelos aquariofilistas (SHWARTZ, 1968). BATISTA (1998) registrou a produção pesqueira do aruanã executada pelos ribeirinhos no período 1994-1996 na Amazônia Central, caracterizando-se ser exclusivamente para a alimentação, participando cerca de 5% nos seus resultados, sendo efetuada principalmente com tarrafa. E na pesca profissional, o aruanã esteve entre os itens mais importante em 1 ano (1996 com 401 ton.), embora ocorresse nos outros anos, sua produção pesqueira não foi de total importância. 5.2.1.1. Conhecimentos relacionados com o comportamento reprodutivo Não foi verificada diferença significativa (p > 0,01) entre as respostas dos pescadores citadinos e ribeirinhos. 32 Os pescadores informaram que o peixe começa a reproduzir com 58 ± 5,1 cm de tamanho de comprimento e 2,2 anos ± 1,5 ano de idade. E atinge a maturação completa com a média de 89 cm (± 17 cm) de tamanho e 4,5 anos (± 2,7 anos) de idade. Afirmaram ainda que a espécie: 1. reproduz no período da enchente, 2. tem preferência de desovar na boca do outro peixe, 3. apresenta comportamento de cuidados parentais com sua prole. Como por exemplo, o hábito de guardar os filhotes na boca quando ameaçados. Quando comparamos essas informações com o conhecimento cientifico verificamos equivalências relacionais com o conhecimento tradicional dos pescadores, pois segundo SHWARTZ (1968) GOULDING (1980) ARAGÃO (1981) FERREIRA et al. (1998), QUEIROZ (no prelo) e BARTHEM & FABRÉ (2004) registraram que a desova do aruanã ocorre no período da enchente, com fecundação externa em lagos poucos profundos, sem turbulência com plantas aquáticas e com alta temperatura (LULINg, 1964 apud ARAGÃO, 1981). Segundo as observações dos pesquisadores SCHWARTS (1968), ARAGÃO (1981), GOULDING (1980), VAZZOLER (1996) logo após a desova, o macho pega os ovos fertilizados e põe na boca, onde eles são abrigados e guardados com condições necessárias para o seu desenvolvimento. Antes de alcançar 10 cm de comprimento, o filhote de aruanã é incapaz de nadar, devido à presença do saco de vitelo que puxam eles para o fundo. Quando estão mais independentes, o aruanã pai abre sua boca, permitindo que eles saiam e nadem ao redor dele caçando larvas de mosquito e comida microscópicas, quando percebem algum perigo, nadam rapidamente para a boca do pai (SCHWARTZ, 1968). Foi verificado por FERREIRA et al. (1998) e QUEIROZ (no prelo) que o aruanã pode alcançar até 1 m de comprimento e 3 quilos 33 em peso. E GOULDING (1980) sugerem que o aruanã começa a reproduzir com 2 anos. Em relação às respostas entre os pescadores sobre o tipo de desova do aruanã, foi observada diferença significativa (p < 0,01) entre as proporções indicadas, onde cerca de 80% dos citadinos registraram que o aruanã desova uma vez por ano. Cerca de 50% dos pescadores ribeirinhos afirmaram que o aruanã desova uma vez por ano, e cerca de 7% registraram que aruanã desova até duas vezes por ano. E o restante (46%) não sabia informar (Figura 2). 100 80 60 % Citadino Ribeirinho 40 20 0 1 2 não sabe desova/ano Figura 2 – Quantidade de desovas do aruanã por ano segundo os pescadores citadinos (n=31) e ribeirinhos (n=26) da região Amazônia Central Nos dados científicos também foi visto que há uma contradição em relação ao tipo de desova do aruanã, GOULDING (1980) e BARTHEM & FABRÉ (2004) registraram que apresenta uma desova do tipo parcelada. Enquanto ARAGÃO (1981) e QUEIROZ (no prelo) afirmaram que o aruanã apresenta a desova do tipo total, desovando uma vez dentro de cada período, sendo que nem todos os indivíduos expelem ovócitos simultaneamente, estabelecendo um período mais amplo. 34 Quanto à fecundidade do aruanã, também foi observada diferença significativa (p< 0,01) entre as proporções indicadas com maior freqüência entre os pescadores, onde 88% dos pescadores citadinos e 60% dos pescadores ribeirinhos registraram que aruanã apresenta uma fecundidade de até 500 ovos. E cerca de 80% não sabiam de quantos ovos o peixe poderia produzir a cada desova (Figura 3). Vale destacar, que os pescadores de forma geral não se preocupa em conhecer o número exato de quantos ovos a espécie produz, e sim afirma que o peixe produz muitos ovos. Frequência% 100 80 60 Citadino 40 Ribeirinhos 20 050 500 0 -1 10 00 00 0 -1 15 50 00 0 -2 20 00 00 0 -2 25 50 00 0 -3 30 00 00 0 -3 35 50 00 0 -4 40 00 00 0 -4 45 50 00 0 -5 00 0 0 Quantidade de ovos Figura 3 – Fecundidade aruanã segundo os pescadores citadinos (n=17) e ribeirinhos (n=31) da Amazônia Central. Quando comparamos essas informações citadas pelos pescadores, verificamos que há congruências com os dados de QUEIROZ (no prelo), o qual aponta que a espécie apresenta uma fecundidade relativamente baixa.. Outros autores registraram em torno de 182-210 ovócitos (GOULDING, 1980). SHWARTZ (1968) citou a fecundidade do aruanã entre 200-300 ovócitos e ARAGÃO (1981) deu a média absoluta de 156 ovos maduros por ano. 35 Em síntese, a Tabela 8 mostra uma comparação do ciclo reprodutivo do Aruanã entre os dados citados pelos pescadores da Amazônia Central e os encontrados na literatura científica. Tabela 7 - Comparação entre as informações dos pescadores da Amazônia central e da literatura sobre o comportamento reprodutivo do aruanã CITAÇÕES DAS ENTREVISTAS COM OS PESCADORES "O peixe começa produzir com 60 cm com 2 anos de idade" CITAÇÕES DAS LITERATURAS L50 idade: 2 anos (Goulding, 1980). “A Sulamba pode atingir 90 cm de comprimento L100: Tamanho 100 cm (Ferreira et al., 1998; com idade de 6 anos" Queiroz, no prelo). Enchente (Barthem & Fabré, 2004. Goulding, “A Sulamba produz filhotes na enchente" 1980; Aragão, 1981; Ferreira et al., 1998;Queiroz, no prelo) “Desova mais de uma vez" Parcelada (Goulding, 1980; Barthem & Fabré, 2004 ); Total (Aragão, 1981; Queiroz, no prelo) Fecundação externa, lagos, (Aragão, 1981); “A fêmea desova na boca do outro peixe" Guardam a prole na boca (Schwartz, 1968; Aragão, 1981; Vazoller, 1996. Ferreira et al., 1998.). 209 ovócitos (Queiroz, no prelo); 182-210 / “Desova muitos ovos, a ova é grande" 200-300 / 156 ovócitos (Goulding, 1980; Shwartz, 1968; Aragão, 1981) 5.2.1.2 Conhecimentos relacionados com ecologia trófica Os pescadores da Amazônia Central possuem um conhecimento peculiar sobre os hábitos alimentares do aruanã. Relataram que a espécie tem uma alimentação diversificada registrando como sua preferência alimentar o peixe, indicaram o lago como o principal ambiente utilizado na alimentação durante a época de enchente e vazante. Enunciaram que não há mudanças nos itens da dieta alimentar durante a sazonalidade das águas, sendo que alguns pescadores enfatizaram que diminui a oferta de alimentos durante o período da seca (Figura 4). 36 100 80 Cit/Ench (n=56) 60 % Cit/Vaz(n=55) Rib/Ench (n=54) 40 Rib/Vaz (n=53) 20 0 peixe rã inseto calango Outros Itens alimentícios Figura 4 – Alimentação do aruanã segundo os pescadores citadinos (cit) e ribeirinhos (rib) da Amazônia Central durante o período de enchente (Ench) e vazante (Vaz.) Quando comparado esses dados com as literaturas, observamos certa equivalência, onde GOULDING (1989) indicou a espécie como onívora, não apresenta ter exigências alimentares restritas, com preferência por insetos, principalmente besouros grandes, na captura chegam a saltar fora d’água, sendo por isso conhecida como macaco-d’água (FERREIRA et al. 1998). Às vezes, alimenta-se de pássaros e pequenos morcegos (ARAGÃO, 1984; 1986). Na fase inicial de desenvolvimento seu principal alimento é fitoplâncton e zooplâncton. Na fase adulta, ARAGÃO (1981), distinguiu 66 itens alimentícios, como insetos, vegetais, moluscos, crustáceos aracnídeos e peixes. No período da enchente, registrou o grupo dos insetos como alimento principal, incluindo 7 ordens predominando os Coleópteras, Hemípteros, Orthópteros, e os menos freqüentes Odonata, Dípteros e Hymnópteros. No grupo do aracnídeo, destacou a ordem de Araneida. Nos moluscos a classe só ocorreu dos gastrópodes. E dentre os peixes, foi registrado a ocorrência das ordens Clupeiformes, Siluriformes, e Perciformes. No período da vazante, devido da presença do “matupá” foi registrada 8 ordens de insetos, destacando-se os 37 Hemípteros e Coleópteras. Entre os crustáceos, destacou-se o camarão Paleomídeos. Quanto às informações relacionadas com os principais predadores do aruanã os pescadores apontaram outros tipos de peixes e o jacaré, tendo como principal ambiente o lago, durante toda sazonalidade das águas não observada diferença significa (p > 0,01) entre os pescadores citadinos (42%) e ribeirinhos (32%). Exemplos dos principais espécies de peixes que predam o aruanã citado pelos pescadores: a piranha e o pirarucu. Não foram encontradas informações específicas nas literaturas científicas sobre a predação desta espécie. 5.4.1.4. Conhecimento relacionado com o comportamento migratório Em relação ao comportamento migratório do aruanã foi registrado pela maioria dos pescadores entrevistados que esta espécie de peixe não migra durante as sazonalidades das águas, não havendo diferenças significativas (p > 0,01) entre os dados de pescadores citadinos e ribeirinhos. Essa informação corresponde com da literatura, onde LOWE-MCCONNEL (1964), GOULDING (1980) e BARTHEM & FABRÉ, (2004) registraram que o peixe não apresenta comportamento migratório. 5.4.1.5. Conhecimento relacionado com o crescimento Quanto ao crescimento, segundo o saber tradicional dos pescadores da Amazônia Central a média de tamanho do aruanã com a idade de 1 ano é 30 cm, não havendo diferenças significativas entre os pescadores (p > 0,01). Com a idade de 2 anos, foi verificado diferenças significativas (p < 0,01) entre os de tamanhos indicados pelos pescadores, onde os citadinos citam que a espécie atinge a média de tamanho de 76 cm contra os 53 cm dos ribeirinhos. Com 3 anos não foi verificado diferenças significativas entre os pescadores (p > 0,01), sendo que o peixe pode 38 chegar até a média de tamanho de 76 cm de comprimento (Tabela 8). Não foram encontradas informações específicas nas literaturas científicas sobre o crescimento desta espécie. Tabela 8 – Médias de tamanho (cm) do aruanã conforme a idade (ano) segundo os pescadores citadinos e ribeirinhos da Amazônia Central. Pescador Citadino Ribeirinho Idade 1 2 3 4 1 2 3 4 N 16 16 5 8 14 11 8 1 Média 30 76 76 300 34 53 71 80 MIN 10 20 50 300 10 25 50 80 MAX 60 150 120 300 100 100 100 80 DESV 19 3 60 23 20 20 5.4.1.6. Conhecimento relacionado com a mortalidade e recrutamento pesqueiro Quanta a mortalidade larval do aruanã 65% dos pescadores citadinos apontaram o que mais mata este peixe nesta fase é a mortalidade natural 26% não sabiam responder quais as causas de mortalidade desta espécie contra os 96% dos pescadores ribeirinhos indicando mortalidade natural, revelando uma diferença significativa (p < 0,01), entre os dados destes pescadores. Entre as quais se destacam a predação e a friagem como morte natural. Na fase jovem os pescadores indicaram a morte natural, não registrando diferenças significativas (p > 0,01) entre seus dados e na fase adulta os pescadores registram a pesca como principal motivo da mortalidade deste peixe nesta fase, não verificadas diferenças significativas (p > 0,01) entre suas respostas (Figura 5). Não foram encontradas informações específicas nas literaturas científicas sobre a mortandade desta espécie. Em relação ao tamanho de captura do aruanã, os pescadores registraram um tamanho médio de 50 ± 21 cm não havendo diferenças significativas (p > 0,01) entre 39 as respostas dos pescadores citadinos e ribeirinhos. O recrutamento pesqueiro do aruanã permitido pela Portaria 01/2001 IBAMA é a partir de 44 cm. 100 % 80 Natural 60 Pesca 40 N sabe 20 /a du lto R ib ad ul to Ci t/ /jo ve m Ri b jo ve m Ci t/ /la rv al Ri b Ci t/ la rv al 0 Pescadores/Fase de vida Figura 5 – Mortalidade do aruanã nas fases larval, juvenil e adulta segundo os pescadores citadinos - Cit (n=31) e Ribeirinhos – Rib (n=26) da Amazônia Central. 40 5.2.2. Pirarucu (Arapaima gigas) O Arapaima gigas distribui-se no Amazonas desde o Orinoco, Guianas, até Ucayali-Peru, não atingindo o sistema do Madalena nem o do Pará (LULING, 1969 apud NEVES, 2000). Porém BARD & IMBIRIBA (1986) dizem não haver registro na bacia Orinoco, sendo encontrado na parte inferior do rio Amazonas. Na Amazônia peruana a espécie é chamada de paiche, provavelmente pelo vocabulário indígena original payshi, e pirarucu no Brasil, o mais correto segundo EIGNMANN & ALLEN (1942) apud NEVES (2000). E na Guiana, de Arapaima, provavelmente pelo nome guiano original waraima (ROMERO, 1960). De acordo com FONTENELE (1948), a palavra pirarucu é de origem indígena, constituída pela união de pira = peixe e urucu= vermelha, devida à intensa coloração na sua orla posterior. Pertence a família Arapaimidae, caracterizada pela língua óssea e áspera, escamas grandes, grossas e fortemente imbricadas em forma de mosaico; corpo roliço; região ventral arredondada, boca terminal. Espécie de grande porte é o maior peixe de escama da Amazônia, chegando a atingir mais de 2 metros de comprimento e 100 quilos de peso. Tem respiração aérea obrigatória, isto é, precisa subir regularmente à superfície para tomar o oxigênio do ar. Este hábito é conhecido pelos pescadores e usado para capturá-lo com arpões. Outra peculiaridade, segundo NEVES (2000), é que esse peixe pode sobreviver durante várias horas fora d’água (resiste 24 horas), desde que suas escamas não fiquem ressecadas. FONTENELE & VASCONCELOS (1982), IMBIRIBA et al. (1985) destacaram que o pirarucu é considerado o “bacalhau brasileiro”, devido ao excelente sabor de sua carne, particularmente quando beneficiada a seca e salga. O que determina o seu alto valor que reside no seu grande porte, tornado-se então, um alimento rico em 41 proteína, superando a carne do salmão, sardinha e carne bovina, submetidas o igual tratamento (SOLAR, 1949 apud NEVES, 2000). É de domínio público a diminuição de algumas espécies de peixe nos últimos anos, principalmente as que têm sofrido um grande esforço pesqueiro, como no caso do pirarucu (ISAAC et al., 1993). PETRERE Jr. (1985; 1986) já indicava que a densidade de espécies grandes como esta, próxima a Manaus, está diminuindo consideravelmente, pela pressão da pesca nos últimos anos. Além dessa espécie esta correndo o risco de sobrexploração, temos que considerar que esta situação se agrava pelo hábito gregário dos juvenis, pelo longo período de proteção à prole dispensado pelos reprodutores e pela necessidade fisiológica de vir a à superfície para captar o ar, no exercício da respiração aérea, o que expõem os reprodutores à fácil captura; os filhotes, então, tornam-se sujeitos à predação por peixes carnívoros e outros animais (BARD & IMBIRIBA, 1986), ou até mesmo sujeitos à pesca com fim de criá-los em cativeiro. 5.2.2.1. Conhecimentos relacionados com o comportamento reprodutivo Não foi observada diferença significativa (p > 0,01) entre os dados citados pelos pescadores citadinos e ribeirinhos em relação ao comportamento reprodutivo do pirarucu quanto aos aspectos de tamanho e idade de primeira maturação e tamanho em que o peixe atinge a maturidade completa. Os pescadores da Amazônia Central relataram que o peixe começa reproduzir com 159 ± 43 cm de tamanho e 4 ± 2 anos de idade. E atinge a maturidade completa com a média de 257 ± 72 cm de tamanho. Informaram ainda que a espécie: 1. reproduz no período da enchente, 42 2. apresenta o costume de desovar em buracos no fundo do lago “faz panela”, e descreveram os cuidados parentais com suas crias (Figura 6). 3. desova uma vez por ano, 4. tem fecundidade classificada entre 0-500 ovos por desova. Para a idade de maturação plena que foi verificada diferença significativa (p < 0,01), onde os pescadores citadinos indicaram que o pirarucu atinge a plena maturação com 8 ± 1,6 anos de idade e os ribeirinhos registraram 6 ± 2,1 anos de idade para maturação completa do pirarucu. Esses dados demonstram equivalências com as bibliografias científicas, onde LÜBLING (1964), ALLSOPP (1958), LOWE-MCCONNEL (1975) registraram 212 cm para tamanho de primeira maturação do Arapaima gigas. Em Mamirauá segundo Queiroz (2000) o pirarucu começa a reproduzir com 165-168 cm por volta dos 5 anos. FONTENELLE (1948), IMBIRIBA (1994) estudaram o pirarucu em cativeiro, e registraram que sua reprodução ocorre com o peso de 40-50 kg, a partir do 5º ano quando já apresenta mais de 160 cm de comprimento total. LÜLING (1969), FLORES (1980) apud NEVES (2000) após a análise de estágios de maturidade das gônadas do pirarucu no rio Pacaya e Samiria no Peru concluíram que esta espécie começa amadurecer quando atinge o peso de 40-50 kg entre 160 – 185 cm após o 4º e 5º ano de vida determinado através de exames das vértebras e pela curva de crescimento. 43 outros 3% não sabem 26% protege 25% não sabem 19% carrega na boca 15% carrega na boca 23% agressivo 23% protege 58% agressivo 8% Figura 6 – Tipos de cuidados parentais do pirarucu segundo os pescadores citadinos (esquerda; n=30) e ribeirinhos (direita; n=26) da Amazônia Central. Comparando estas informações com o conhecimento científico vimos que existe coerência, pois segundo LÜLING (1964) apud NEVES (2000), FLORES (1980), o pirarucu do rio Pacaya e Samiria no Peru desova durante o ano todo com um período de máxima intensidade de agosto a dezembro, sendo que o pico mais notável é no mês de novembro e, de mínima intensidade, é entre março e maio. Sugerem que o pirarucu que apesar de haver várias desovas durante um período de reprodução, pois os óvulos amadurecem sucessivamente, a desova pode não ser anual, mas sim ocorrendo a cada dois anos, o que reduz a fecundidade total. Este resultado assemelha-se com o encontrado por QUEIROZ (2000), onde ele cita que o pirarucu de Mamirauá apresenta uma reprodução sazonal, relacionada com o período de enchente, sendo novembro e dezembro os principais períodos de maturação das gônadas e desova. Seus resultados evidenciam o suporte da idéia que a fêmea madura não desova todo ano consecutivo, mas uma vez em cada 2 anos, ou a cada 3 anos. De acordo com FONTENELE (1952; 1948) o pirarucu em cativeiro, quando vão reproduzir, dão preferência a locais sem vegetação aquática flutuante, embora depois da desova, os reprodutores conduzissem os alevinos para locais obrigados 44 ou não de vegetação aquática. A profundidade da água varia entre os limites 0.80 a 1,00m. Os ninhos possuem forma de calota esférica, tendo cerca de 20cm de profundidade e um diâmetro de aproximadamente 50cm, onde a fêmea coloca os óvulos que recebem o líquido seminal do macho para ocorrência da fertilização, mas podem pegá-los na boca por curto período de tempo para transportá-los para outro local escolhido, caso o local inicial se torne inadequado, como muito raso, ou muito quente. SAWAYA (1946), ALSSOP (1958); BARD & IMBIRIBA (1986), FERREIRA et al (1998) descreveram que os ninhos são cavados no fundo dos lagos com a cooperação de ambos os pais em pouca corrente. A Tabela 11 mostra de forma resumida uma comparação do ciclo reprodutivo do pirarucu entre as dados citados pelos pescadores da Amazônia Central e os encontrados na literatura científica. 45 Tabela 9 - Comparação entre as informações dos pescadores da Amazônia central e da literatura sobre o comportamento reprodutivo do pirarucu CITAÇÕES DAS ENTREVISTAS COM OS PESCADORES "O peixe começa produzir com 150 cm e 4 anos de idade" CITAÇÕES CIENTÍFICAS L50: 212 cm e 6 anos (Lübling, 1964; Allsopp, 1958; Lowe-MacConnel, 1975); 160 cm e 5 anos (Fontenelle, 1948; Imbiriba, 1964). “O pirarucu chega a medir 250 cm com 8 anos de L100: 311,7 cm e 10 anos (Queiroz, 2000) idade" “O pirarucu produz filhote na enchente" "O pirarucu desova no buraco no fundo do lago, faz panela" “O macho protege o filhote, fica agressivo" “O pirarucu reproduz uma vez por ano" “O peixe tem muitos ovos (0-500 ovos)" Durante o ano todo - pico em nov-dez (enchente) (Lüling, 1964; Flores, 1980 apud Neves, 2000; Queiroz, 2002; Lübling, 1964; Lowe-McConnel, 1975; Alssopp, 1958) Florestas inundadas, constroem ninhos no fundo do lago (Sawaya, 1946; Alssopp, 1958; Lübling, 1964;Lowe-McConnel, 1975; Bard & Imbiriba, 1986; Ferreira et al., 1998; Queiroz, 2000.) Protegem a prole, principalmente os alevinos recém nascidos (Neves, 2000.); Cuidado com o ninho, principalmente executado pelo macho (Queiroz, 2000). Parcelada (Lübling, 1964; Lowe-McConnel, 1975; Alssopp, 1958; Neves, 2000; Queiroz, 2000) 11000 ovócitos (Bard & Imbiriba, 1986); 20,327 ovócitos (Queiroz, 2000). 5.2.2.2. Conhecimentos relacionados com ecologia trófica Segundo os pescadores da Amazônia Central, o pirarucu tem uma alimentação diversificada registrando como sua preferência alimentar, o peixe e o camarão. Indicaram o lago durante os períodos de enchente e vazante. Vale ressaltar, que não há mudanças nos itens da dieta alimentar nas épocas de subida e descida das águas sendo que alguns pescadores enfatizaram que diminui a oferta de alimentos durante o período da seca, não foi observado diferenças significativas (p > 0,01) entre as respostas dos pescadores citadinos e ribeirinhos (Figura 7). 46 100 80 Cit/Ench (n=36) Cit/Vaz (n=35) 40 Rib/Ench (n=38) % 60 Rib/Vaz (n=41) 20 0 peixe camarão carangueijo outros Itens Alimentícios Figura 7 – Alimentação do pirarucu segundo os pescadores citadinos (Cit) e ribeirinhos (Rib) da Amazônia Central durante o período de enchente (Ench) e vazante (Vaz). Essas informações apresentam-se equivalentes com os encontrados na literatura científica, onde observamos que QUEIROZ (2000) examinou o conteúdo estomacal de 232 pirarucus de ambos os sexos de vários tamanhos originados de uma Coleção de Referêncial de Mamirauá de tratos digestivos do pirarucu conservados em uma solução de álcool (30-40%) e formol (15%), referentes ao período de abril de 1993 e junho de 1995, onde nos seus resultados mostraram que o pirarucu alimenta-se tanto de vertebrados como invertebrados. Dos vertebrados, o que se destacou foram espécies de outros peixes, exemplos: “tamoatá” (Mecalechy thoracatam), “bodó” (Hypostomus spp., Loricariichthys spp. e Gyptarichthys gibbcepes), “mandi” (Pimelodus spp. e Pimelodella cristalta), “traíra” (Hoplias malabaricus), “acará” (Apistogramma spp., Heros appendiculatus e Mesonauta insignis), “rabeca” (Megalodoras uranoscafus), “sarapó” (Sternopygidae, Gymnotidae, Rhamphichthyidae, Hypopomidae, Apteronotidae e Eigenmanniidae), “Chorona” (Curimatella sp.), “peixe-cachorro” (Acestrorhynchus e Rhaphiodon), “cascudinha” (Psectrogaster rutilordes e P. amazonica), “jeju” (Hoplerythrinus 47 unitaeniatus) e “branquinha”(Potamorhina altamazonica). Eventualmente alimenta-se de vegetais (pequenos brotos, algumas sementes e flores, fragmentos de macrófitas aquáticas Eichhornia sp). Em pirarucus jovens, além de peixes, foram encontrados invertebrados como insetos (Coleoptera, Diptera, Odonata e Hemiptera.), crustáceos e moluscos. O de maior importância foram os macrocrustáceos décapodes (Malacostraca), isto é caranguejo (Sylviocarcinus pictus e Dilocarcinus pagei) e camarão (Macrobrachium amazonicum). Dos microcrustáceos foram encontrados Ostracoda e Conchostraca (Branchiopoda), presentes somente nos estômagos de animais muitos jovens (menos que 50 cm CT). Os principais predadores do pirarucu conhecidos pelos pescadores da Amazônia Central são outros tipos de peixes, que se alimenta dos filhotes e o jacaré durante toda sazonalidade das águas não observando diferenças significas (p > 0,01) entre os tipos de pescadores citadinos e ribeirinhos. Correspondendo com vários pesquisadores, como NEVES (2000), registrou que o pirarucu quando jovem tem como “predadores principais” as aves (Anhinga anhinga, Ceryle torquata, Phalacrocorax brasilianus) que, quando têm oportunidade, atacam para comê-los. Outros predadores importantes do pirarucu jovem são: a piranha (Serrassamus spp.), e o jeju (Hopterythrinus sp.). Os ocasionais são Cichla monoculus (tucunaré) e Astronotus ocellatus (Acará açu). MIKDALSKI (1957) registrou que o jacaré (Caiman yacare) é um outro predador em potencial de pirarucus jovens de 40-50 cm. 48 5.2.2.3. Conhecimentos relacionados com comportamento migratório Em relação ao comportamento migratório do pirarucu foi registrado pelos pescadores entrevistados que durante o período da cheia e enchente esta espécie estariam se movimentando de um lago para outros lagos com a fim de desovar; e durante os períodos de vazante e seca o peixe não executaria migração e estariam mais na procura de abrigo, não havendo diferenças significativas (p > 0,01) entre os dados de pescadores citadinos e ribeirinhos. Vale ressaltar que em geral, estes percebem que esta espécie em outros períodos são sedentárias conforme já descritos nas literaturas especializadas (QUEIROZ, 2000). 5.2.2.4. Conhecimentos relacionados com crescimento Quanto ao crescimento do pirarucu, os pescadores registraram a média de tamanho do pirarucu com a idade de 1 ano é 32 +/- 18,6 cm de comprimento. Com a idade de 2 anos, é 66,6 +/- 33,5 cm de comprimento. Com 3 anos, indicaram que o peixe pode alcançar a média de tamanho de 73 +/- 24,2 cm e com 4 anos, a média de tamanho é de 190 +/- 155 cm não havendo diferenças significativas entre os pescadores (p > 0,01) . Comparando essas informações com os da literatura científica encontramos razoável equivalência, o qual QUEIROZ (2000) estimou através do modelo de VonBertalanffy a taxa de crescimento, utilizando dados de capturas no período de 19931998 (Tabela 12). Tabela 12. Crescimento do pirarucu segundo os pescadores da Amazônia Central comparado com a literatura científica IDADE PESCADORES LITERATURA AUTOR 1 2 3 4 32 cm 66,6 cm 73 cm 190 cm 55-56 cm 73-75 cm 91-94 cm 106-107 cm Queiroz, 2000 49 5.2.2.5. Conhecimento relacionado com a mortalidade e recrutamento pesqueiro Para os pescadores da Amazônia Central o que mais mata pirarucu na fase larval e juvenil é a mortalidade por causas naturais, no caso eles apontaram a predação. E na fase adulta os pescadores indicaram a pesca como a principal causa de mortalidade destes peixes, onde não foram registradas diferenças significativas (p > 0,01) entre as respostas dos pescadores citadinos e ribeirinhos (Figura 21). Fato este, que podemos confirmar na literatura sobre o aumento do esforço pesqueiro os quais esta espécie tem sofrido nos últimos anos. Pois, segundo VERISSIMO (1895) não existem registros contínuos da captura de pirarucu na Bacia Amazônica. No século passado, entre 1885 e 1893, somente no porto de Belém foram comercializadas, em média 1200 ton./ ano. SOUZA & VAL (1991) registraram que dados da ex-SUDEPE mostraram, que no estado do Amazonas, as capturas desta espécie caíram de 1140 ton. em 1979 para 364 ton. em 1986. Na Amazônia Central, BATISTA (1998) registrou a produção pesqueira anual para a espécie 67,13 ton. em 1994, e 15,80 ton. em 1995. De acordo com ISAAC & RUFFINO (1999), foi desembarcado nos anos de 1992 a 1996 uma média de 18,5 toneladas por ano em Santarém. NEVES (2000) afirma que a produção deve estar sedo subestimada devido ao mercado negro e ao desvio do produto nos portos, em vista das proibições existentes para a comercialização desta espécie. Em relação ao tamanho de captura do pirarucu foram verificadas diferenças significativas (p < 0,01) entre os tamanhos apontados pelos pescadores, os citadinos (n=25) registraram um tamanho médio de 151 ± 67 cm. Os pescadores ribeirinhos (n=21) afirmaram que o pirarucu começa a ser capturado na média dos 51 ± 55 cm de comprimento. 50 100 % 80 Natural 60 Pesca 40 N sabe 20 /a du lto Ri b ad ul to Ci t/ /jo ve m R ib jo ve m Ci t/ /la rv al Ri b Ci t/ la rv al 0 Pescadores/Fase de vida Figura 8 – Mortalidade do pirarucu nas fases larval, juvenil e adulta segundo os pescadores citadinos – Cit (n=31) e Ribeirinhos – Rib (n=26) da Amazônia Central. Os dados citados pelos pescadores ribeirinhos são equivalentes aos citados por JUNK & HONDA (1976) em Manaus, na década de 70, grande parte dos animais desembarcados possuía comprimento total inferior a 100 cm; e com NEVES (2000), registrando que de 810 pirarucus amostrados em 1996, em Santarém, mais de 80% estavam abaixo de 150 cm. Já os dados registrados pelos pescadores ribeirinhos são congruentes ao citados por QUEIROZ (2000) onde este afirma que a captura do pirarucu em Mamirauá esta sendo efetuado a partir de 149-151 cm comprimento total. Para proteger o período de desova e cuidado da prole, a Portaria No. 480-91 do IBAMA proíbe a peca do pirarucu na Amazônia entre 1º de dezembro a 31 de maio. E durante o período de pesca, o tamanho mínimo do peixe permitido para captura deve ser de 150 cm e o tamanho mínimo permitido da manta deve ser pelo menos de 100 cm (Portaria no. 008-96 e no. 1534-89 do IBAMA). 51 5.2.3. Tucunaré (Cichla monoculus) Pertencente a família Cichlidae, distribuída por toda região do rio SolimõesAmazonas. É considerada uma espécie de grande porte, pode alcançar cerca de 50 cm de comprimento e é muito apreciada pela população da Amazônia, por sua carne de alta qualidade para preparação de pratos típicos da região. É prontamente diferenciada das demais espécie do gênero devido á existência de uma mancha escura longitudinal, contínua ou interrompida, sob as nadadeiras peitorais, além disso, apresenta três ou quatro faixas verticais escuras sobre a porção superior dos flancos, nunca se estendendo abaixo da linha mediana do corpo. Segundo PETRERE (1986), o tucunaré foi uma das espécies mais pescadas durante o período de 1976-1978. MERONA & BITTENCOURT (1988), nos seus estudos de desembarque na Amazônia Central, dos 35 tipos de pescados registrados, o tucunaré figura entre os oito mais importantes, e apresentou uma produção estável até 1980-1981, reduzindo até 1986 e mantendo a baixa até a produção de 1994, onde BATISTA (1998) registrou o desembarque de 160 toneladas. Porém em 1995-1996 saltou ao nível de 800 toneladas, o qual só havia atingido excepcionalmente em 1979 em Balbina (AM). 5.2.3.1. Conhecimentos relacionados com o comportamento reprodutivo Não foi verificada diferença significativa (p > 0,01) entre as respostas dos pescadores citadinos e ribeirinhos Os pescadores da Amazônia Central apontaram que o peixe começa reproduzir com a média de 25 (CP) ± 10 cm de tamanho e 1,8 ± 0,8 anos de idade. E atingem a maturação plena a média total de 45 (CP) ± 12 cm de tamanho e 5,3 ± 5,7 anos de idade. Registraram ainda que o peixe: 52 1. desova na época da enchente; 2. tem preferência desovar nos trocos de árvores, “no pau” em ambientes de lago; 3. reproduz uma vez por ano. 4. cuida dos filhotes após a desova, tornando-se mais agressivos, evitando assim a predação (Figura 9) acompanha 6% Guarda na boca 10% não sabem 6% não sabem 19% protege 46% agressivo 4% protege 77% agressivo 32% Figura 9 – Tipo de cuidados parentais do tucunaré segundo os pescadores citadinos (direita; (n=31)) e ribeirinhos (esquerda; (n=26)) da Amazônia Central Quando comparamos essas informações com a literatura científica observamos certa equivalência, onde CÔRREA (1998) registrou o tamanho (CP) de primeira maturação do tucunaré de 19,75 cm com um ano de idade, considera o período reprodutivo do tucunaré longo, tornando-se mais intenso durante a enchente, com pico no mês de fevereiro. A espécie apresenta desova parcelada (FONTENELLE, 1950; CÔRREA, 1998), reproduzindo várias vezes durante o ano em cativeiro. CÔRREA (1998), FONTENELLE (1950) registrou que a espécie começa a reproduzir entre 29-35 cm (CP) com 1 ano de idade, entre o mês de dezembro a julho (enchente – cheia). ISAAC et al. (2000) no baixo Amazonas sugerem que a espécie apresenta uma época de reprodução entre os meses de março e abril; porém considerando a ocorrência de fêmeas em maturação após este 53 período, confirmou a idéia que a espécie tenha um longo período de reprodução, ou talvez vários períodos reprodutivos de desova ao longo do ano. Vivem nas margens dos lagos, rios e em pauzadas (FERREIRA et al., 1998). Formam casais durante a época de reprodução, construindo ninhos, onde depositam os ovos. ZARET (1980) afirmou que o tucunaré dedica especiais proteções parentais, defendendo com agressividade a prole, desde os ovos até fase alevina, contra ataque os de predadores. Em relação à quantidade de ovos que o tucunaré desova, foi observada diferença significativa (p < 0,01) entre os dados relatados pelos pescadores citadinos (60%) e ribeirinhos (50%), onde a maioria afirmou que o peixe apresenta uma fecundidade classificada entre 0-500 ovos por desova (Figura 10). Quando comparamos estes dados com as referências científicas, analisamos coerência em suas resposta, pois estas informações são consideradas como uma fecundidade baixa em relação às outras espécies de peixe, onde FONTENELLE (1950) registrou que o tucunaré apresenta uma fecundidade entre 1500-8000 óvulos. De fato, em termo de quantidade exata de ovos que a espécie possa produzir é um ponto que os pescadores não sabem de forma concreta, mas sim de suposições, pois foram poucos pescadores que indicaram tal aspecto. 54 100 Citadinos % 80 Ribeirinhos 60 40 20 00 50 de m ai s 00 - 35 40 00 30 45 00 00 00 25 00 00 - 15 20 00 10 0- 50 0 0 Quantidade de ovos Figura 10 – Fecundidade do tucunaré segundo os pescadores citadinos (n= 20) e ribeirinhos (n=4) da Amazônia Central. A Tabela 14 mostra de forma resumida uma comparação do ciclo reprodutivo do tucunaré entre as dados citados pelos pescadores da Amazônia Central e os encontrados na literatura científica. 55 Tabela 10 - Comparação entre as informações dos pescadores da Amazônia central e da literatura sobre o comportamento reprodutivo do tucunaré CITAÇÕES DAS ENTREVISTAS COM OS PESCADORES CITAÇÕES CIENTÍFICAS "O peixe começa produzir com 25 cm e 1,5 anos de idade" L50: 29-35 cm e 1 ano de idade (Fontenele, 1950.); 19 -75 cm e 1 ano de idade (Corrêa, 1998). " O Tucunaré chega a medir 45 cm com 5 anos de idade" L100: 41 cm e 4 anos (Corrêa, 1998). “O Tucunaré produz filhote na enchente" Enchente/cheia (Fontenele, 1950); Várias vezes, mais intenso durante na enchente, com pico em fevereiro (Côrrea, 1998); Vários períodos de desova, com pico nos meses de mar-abril. (Isaac et al., 2000.). "O tucunaré desova no pau (troncos de árvores) dentro do lago" Galhas - Lêntico. (Fontenele, 1950). “O tucunaré vigia os filhotes, fica agressivo" Constroem ninhos, defendem com agressividade a prole e a fêmea. Constroem ninhos, defendem com agressividade a prole e a fêmea.(Fontenele, 1950; Zaret, 1980). “O tucunaré reproduz uma vez por ano, principalmente quando dá repiquete" “O peixe tem muitos ovos (0-500 ovos)" Parcelada (Fontenele, 1950; Côrrea, 1998). 1,500-8,000ovócitos (Fontenele, 1950). 5.2.3.2. Conhecimentos relacionados com a ecologia trófica Os pescadores da Amazônia Central consideram o tucunaré um peixe predador registrando como sua preferência alimentar, o peixe e o camarão. Entre as proporções das respostas dadas pelos pescadores citadinos (79% na enchente e 77% na vazante) e ribeirinhos (52% na enchente e 63% na vazante) para o item peixe foi observada diferença significativa (p < 0,01), onde os pescadores ribeirinhos apresentaram maior heterogeneidade, indicando outras preferências alimentares além peixes. Vale ressaltar, que não há mudanças nos itens da dieta alimentar nas épocas de subida e descida das águas, sendo que alguns enfatizaram que diminui a oferta de alimentos durante o período da seca (Figura 11). 56 100 80 Cit/Ench (n=43) Cit/Vaz (n=43) 40 Rib/Ench (n=39) % 60 Rib/Vaz (n=38) 20 0 peixe camarão rã outros Itens Alimentícios Figura 11 – Alimentação do tucunaré segundo os pescadores citadinos (Cit.) e ribeirinhos (Rib.) durante os períodos de enchente (Ench) e vazante (Vaz) da Amazônia Central. Relacionando estas informações dadas pelos pescadores, observamos equivalência com o conhecimento cientifico, os quais ZARET & PAINE (1973), CÔRREA (1998), FERREIRA et al. (1998), RABELO (1999) consideram o tucunaré como um predador voraz, tem boca larga protrátil que facilita a apreensão da presa; a espécie é piscívora, embora eventualmente possa consumir também camarões (SUÁREZ et al., 2001; GAMIERO & BRAGA, 2004;). CALA et al. (1996), além destes, registrou a presença de restos de macrófitas, e insetos, como odanatas e dípteros. Quanto aos principais predadores do tucunaré os pescadores da Amazônia Central indicaram outros peixes, como a piranha, o pirarucu, aruanã, arraia, bagres, traíra e outros tucunarés durante toda sazonalidade das águas não observando diferenças significas (p > 0,01) entre os pescadores citadinos (58%) e ribeirinhos (44%) (Figura 12). Quando comparamos estas informações com a literatura 57 cientifica, verificamos relacionada equivalência, onde GOMIERO & BRAGA (2004) registrou ocorrência de canibalismo em alta freqüência analisando tucunarés introduzidos no reservatório de Volta Grande, Rio Grande (MG/SP). 100 80 Cit/ench (n=45) 60 % Cit/vaz (n=45) Rib/ench (n=39) 40 Rib/vaz (n=39) 20 0 peixe jacaré outros Predadores Figura 12 – Predação do tucunaré segundo os pescadores citadinos (Cit) e ribeirinhos (Rib) durante o período da enchente (Ench) e vazante (Vaz). 5.2.3.3. Conhecimentos relacionados com o comportamento migratório Em relação ao comportamento migratório do tucunaré foi registrado pela maioria dos pescadores entrevistados que esta espécie de peixe não migra durante as sazonalidades das águas, não havendo diferenças significativas (p > 0,01) entre os dados de pescadores citadinos e ribeirinhos. 5.2.3.4. Conhecimentos relacionados com o Crescimento Quanto ao crescimento, segundo os pescadores a média de tamanho (CP) do tucunaré com a idade 1 ano, é de 15 (CP) ± 7,6 cm. Com a idade de 2 anos, é de 28,25 (CP) ± 7,6 cm de tamanho. Com 3 anos, foi registrado a média de tamanho de 31,7 (CP) ± 11 cm de comprimento, não foi verificada diferenças significativas entre os pescadores (p > 0,01). 58 Essas informações foram conferidas com as informações científicas, as quais foram verificadas correspondência, particularmente até a idade de 3 anos (Tabela 11). A diferença observada na idade 4 associada ao elevada dispersão nas informações prestadas pelos pescadores indica que a percepção etária pelos pescadores é pior a partir desta idade. . Tabela 11– Crescimento do tucunaré segundo os pescadores da Amazônia Central comparado com a literatura científica IDADE 1 2 3 PESCADORES LITERATURA 15 cm 20 cm 28,25 cm 27cm 31,7 31 cm AUTOR Côrrea, 1998 5.2.3.5. Conhecimentos relacionados com a Mortalidade e Recrutamento Pesqueiro Para os pescadores da Amazônia Central o que mais mata tucunaré na fase larval e juvenil é a mortalidade por causas naturais, no caso eles apontaram a predação e a friagem. E na fase adulta os pescadores indicaram a pesca como a principal causa de mortalidade destes peixes, onde não foram registradas diferenças significativas (p > 0,01) entre as respostas dos pescadores citadinos e ribeirinhos (Figura 13). Estes dados evidenciam que os pescadores conhecem as características hidrológicas da região, geradas por condições meteorológicas (mudança de temperatura), correspondendo um aspecto também evidenciado por pescadores artesanais em outros trabalhos de etnoecologia e etnoictiologia (FURTADO, 1993; MARQUES, 1995; COSTA-NETO,2001). 59 100 80 Natural % 60 Pes ca 40 N s abe 20 R ib /a d ul to to C it / a du l ve m ib /jo ov e C it / j la ib / R R al rv al ar v it / l C m 0 Pescadores/Fase de vida Figura 13 – Mortalidade do tucunaré durante as fases larval, juvenil e adulta segundo os pescadores citadinos-Cit (n=31) e ribeirinhos-Rib (n=26) da Amazônia Central. Em relação ao tamanho de captura do tucunaré, os pescadores registraram um tamanho médio de 27,36 ± 21,6 cm não havendo diferenças significativas (p > 0,01) entre as respostas dos pescadores citadinos e ribeirinhos. Essas informações estão dentro dos padrões exigidos pelo IBAMA através da Portaria 01/2001 que indica que o tucunaré é legalmente capturado a partir dos 25 cm de comprimento. 60 5.3. Biologia e ecologia das espécies de comportamento migratório 5.3.1. Curimatã (Prochilodus nigricans) Pertence à família Prochilodontidae. É conhecido vulgarmente como curimatã, curimbatâ ou curimatá. A espécie apresenta corpo alongado, coloração cinza prateada, ligeiramente azulada no dorso; as nadadeiras caudal, dorsal e anal apresentam numerosas manchas escuras e claras, alternadamente; escamas ásperas do tato; boca protrátil, em forma de ventosa, com lábios carnosos sobre os quais são implantados numerosos dentes diminutos em fileiras; linha lateral com 45 a 50 escamas (FERREIRA et al., 1998). O gênero apresenta uma ampla distribuição pelas bacias da América do Sul, ocorrendo em grandes rios, florestas inundadas e lagos (GOULDING, 1979). 5.3.1.1 Conhecimentos relacionados com comportamento reprodutivo Não foi observada diferença significativa (p > 0,01) entre os dados citados pelos pescadores citadinos e ribeirinhos. Os pescadores da Amazônia Central informaram que o peixe começa a reproduzir com 28 ± 11 cm de tamanho, informaram ainda que a espécie: 1. desova no período da enchente; 2. tem como ambiente o rio de água branca, 3. não apresenta comportamento de cuidados com a sua prole após a desova, 4. apresenta uma fecundidade mais de 5000 ovos por desova; Os pescadores, citadinos e ribeirinhos, têm o conhecimento que estes peixes têm a capacidade de produzir em muitos ovos “milhares” (cit. Pesc.), resultados de suas observações, principalmente por parte dos pescadores citadinos, da sua produção pesqueira. 61 Foram poucos entrevistados que quantificaram com exatidão o número de ovos que estas espécies possam produzir por desova, e seus dados apresentaram uma quantidade baixa se comparada com os dados registrados na bibliografia científica. Para idade de primeira maturação, tamanho e idade de completa maturação foi verificada diferença significativa (p < 0,01) entre os dados dos pescadores, sendo que para os dados relacionados à idade de primeira maturação, os citadinos informaram que o curimatã reproduz a partir de 2,7 ± 0,6 anos de idade e os pescadores ribeirinhos indicaram que peixe começa a reproduzir a partir de 1,4 ± 0,7 anos de idade. Para o tamanho e idade de completa maturação os pescadores citadinos registraram a média de 44 ± 12 cm de tamanho com 5,5 ± 2,2 anos de idade e os pescadores ribeirinhos indicaram a média de 37± 8 cm de tamanho com 2,3 ± 0,6 anos de idade Quanto a quantidades de desovas por ano do curimatã foi verificada diferença significativa (p < 0,01) entre as respostas dos pescadores citadinos e ribeirinhos, onde 93,5 % dos pescadores citadinos afirmaram que a espécie desova somente uma vez por ano. Enquanto que os pescadores ribeirinhos, 61% afirmaram que o peixe desova uma única vez por ano e 35% não souberam responder (Figura 14). 62 100 80 Citadino (N=31) 40 Ribeirinho (N=26) % 60 20 0 1 2 não sabe Desovas/ano Figura 14 – Quantidade de desova do curimatã por ano segundo os pescadores da região amazônica central Na literatura encontramos registros equivalentes aos pescadores da Amazônia Central de que espécie começa a reproduzir (L50) entre as classes 25-30 cm de tamanho e a idade de primeira maturação está entre 1-2 anos (SCHWASSMANN, 1978; GOULDING, 1979; JUNK, 1985; OLIVEIRA, 1997; BARTHEM & FABRÉ (2004). OLIVEIRA (1997) afirmou que o tamanho de completa maturação (L100) do curimatã é de 42 cm, com longevidade ou idade máxima de até 6 anos. No início da enchente, os peixes saem dos seus tributários para desovar na desembocadura do rio (SCHWASSMANN, 1978; GOULDING, 1979; JUNK, 1985;), trata-se de ambientes ricos em oxigênio e que garantem uma boa distribuição das larvas (ISAAC et al. 2000). A espécie apresenta uma desova sincrônica e total (VAZOLLER et al., 1989; RIBEIRO & PETRERE, 1990; BARTHEM & FABRÉ, 2004). A espécie não apresenta cuidado parental, pois logo após a desova, os peixes se dispersam nas florestas inundadas, onde passam o período da cheia se alimentando, entram nos afluentes e igarapés, ali permanecendo até baixarem dos mesmos para desovar (GOULDING, 1979; OLIVEIRA, 1997). 63 A Tabela 12 mostra de forma resumida uma comparação do ciclo reprodutivo do Curimatá entre as dados citados pelos pescadores da Amazônia Central e os encontrados na literatura científica. Tabela 12 - Comparação entre as informações dos pescadores da Amazônia central e da literatura sobre o comportamento reprodutivo do Curimatã CITAÇÕES DAS ENTREVISTAS COM OS CITAÇÕES CIENTÍFICAS PESCADORES L50: 25-35 cm e 1,5 ano de idade "O peixe começa produzir com 28 cm e 2 anos de (Schwassmann, 1978; Junk, 1985); 26 (CP) cm idade" e 1,9 ano de idade (Oliveira, 1997; Batista, 1999; Barthem & Fabré, 2004). “O Curimatã chega a medir 50 cm com 4 anos de idade" L100: 33 cm (Barthem & Fabré, 2004). 44 cm e 6 anos (Oliveira, 1997) 52 cm e 6 anos (Batista, 1999). Dez - Mar (início da enchente) (Shwassmann, “O Curimatã produz filhote na enchente" 1978; Goulding, 1979; Junk, 1985; Barthem & Fabré, 2004.). Desembocaduras dos rios / Encontro das "O Curimatã desova no rio de água branca" águas claras com a preta. (Goulding, 1979 / Shwassmann, 1978;Junk, 1985;). “O Curimatã não cuida dos filhotes" “O Curimatã reproduz uma vez por ano" “O peixe tem muitos ovos (0-5000 ovos)" Não apresenta cuidado parental.(Goulding, 1979; Oliveira, 1997; Batista, 1999). Sincrônica e total (Barthem & Fabré, 2004). 300 000 ovócitos (Shwassmann, 1978; Goulding, 1979; Junk, 1985). 64 5.3.1.2. Conhecimentos relacionados com a ecologia trófica Em relação aos hábitos alimentares do Curimatá, os pescadores da Amazônia Central registraram que a espécie alimenta-se preferencialmente por lodo ou limo, indicaram o lago como principal ambiente utilizado para sua alimentação, não há mudanças nos itens da dieta alimentar nas épocas de subida e descida das águas, sendo que alguns enfatizaram que diminui a oferta de alimentos durante o período da seca (Figura 15). 100 80 Cit/Ench (N=33) Cit/Vaz (N=31) 40 Rib/Ench (N=35) % 60 Rib/Vaz (N=32) 20 0 lodo/ limo capim fruto outros Itens alimentícios Figura 15 – Alimentação do curimatã segundo os pescadores citadinos (Cit.) e ribeirinhos (Rib.) da Amazônia Central durante o período de enchente (Ench) e vazante (Vaz). Essas informações quando comparada com as das literaturas científicas observa-se equivalências, onde SCHWASSMANN (1978), GOULDING (1979), JUNK, (1985) e OLIVEIRA (1997) registraram que a espécie apresenta hábitos detritívoros. Alimentando-se principalmente de lodo (BOWEN, 1983 apud BATISTA, 1999). YOSSA & ARAUJO-LIMA (1998), citam algas filamentosas e invertebrados (Brachionus) espécies como item alimentício do curimatã. Segundo BATISTA (1999), a espécie utiliza as várzeas para alimentação e criação. 65 De acordo com os pescadores da região, os principais predadores do curimatã são outros peixes, como por exemplo, os bagres conhecidos como “peixe fera”: pirarara (Phractocephalus hemioliopterus), dourada (Brachyplatystoma flavicans), pacamum (Paulicea luetkeni) e piraíba (Brachyplatystoma filamentosum); a piranha, o tucunaré e traíra também são exemplos de outros peixes que “perseguem” o curimatã durante toda sazonalidade das águas não observando diferenças significas (p > 0,01) entre os pescadores citadinos e pescadores ribeirinhos (Figura 16). 100 80 cit/ench (N=50) cit/vaz (N=50) 40 rib/ench (N=57) % 60 rib/vaz (N=57) 20 0 peixe boto jacaré aves outro Predadores Figura 16 – Predação do curimatã durante o período de enchente (ench) e vazante (vaz) segundo os pescadores citadinos (Cit.) e ribeirinhos (Rib.) da Amazônia Central Há grande equivalência das respostas dos pescadores sobre a predação quando comparados com o conhecimento científico, onde BARTHEM & GOULDING (1997) afirmaram que todos os bagres pimelodídeos são altamente piscívoros, registrando uma ocorrência de curimatã como presas de filhote de piraíba (Branchyplatistoma filamentosum) através de analise de conteúdo estomacal. No entanto, isto demonstra que os pescadores apresentam conhecimento empírico sobre as relações tróficas existentes no ambiente, onde esta constatação é também compartilhada por outros pesquisadores que trabalharam com etnoecologia/ 66 etnoictiologia de diferentes comunidades pesqueiras (JUNK, 1983; FURTADO, 1993; MARQUES, 1995; COSTA NETO, 2001). 5.3.1.3. Conhecimentos relacionados com comportamento migratório Em relação ao comportamento migratório do curimatã os pescadores citadinos e os pescadores ribeirinhos informaram que durante o período de enchente a espécie costuma está saindo de dentro dos lagos para o rio principal, com a finalidade de realizar a desova, não verificada diferença significativa (p > 0,01) entre os dados citados pelos pescadores. (Figura 17). 100 80 Cit/cheia (N=31) Cit/ench (N=31) 40 Cit/seca (N=31) % 60 Cit/vaz (N=31) 20 0 lago sobem rio para não para rio o rio lago migra outros não sabem Circuito de Migração 100 80 Rib/cheia (N=28) Rib/ench (N=33) 40 Rib/seca (N=26) % 60 Rib/vaz (N=26) 20 0 lago para sobem o rio rio rio para lago outros não sabem Circuito de migração Figura 17 – Comportamento migratório do curimatã durante um ciclo sazonal das águas segundo os pescadores citadinos (acima) e ribeirinhos (abaixo) da Amazônia Central. 67 Observa-se que essas informações são parcialmente equivalentes aos encontrados nas referencias SCHUWASSMANN (1978), GOULDING (1979), GOULDING (1978), OLIVEIRA (1997), ISAAC et al. (2000), RUFFINO & ISAAC (2000) informaram que durante a enchente o cardume de curimatã sai dos tributários para desovar na desembocadura do rio e entram no rio principal. Durante a vazante, sobem a calha do rio principal. 5.3.1.4. Conhecimentos relacionados com crescimento Quanto ao crescimento do curimatã, de acordo com o conhecimento tradicional dos pescadores a média de tamanho do peixe com a idade 1; Com a idade de 2 anos é 29 +/- 14,6 cm de tamanho. Com 3 anos; o peixe pode alcançar a média de tamanho de 31,4+/- 10 cm, não foi verificado diferenças significativas entre os pescadores (p > 0,01). Esses dados demonstraram equivalentes ao encontrado por OLIVEIRA (1997) quando descreveu alguns aspectos de dinâmica populacional da espécie na Amazônia Central, e seus resultados mostraram que o Curimatã entre 6-7 meses após a desova atinge a média de 12 cm; em um ano o peixe ainda jovem chega a atingir em média 18cm. Em um ano e meio, o peixe encontra-se com 23 cm de comprimento, mas somente com 2 anos é que o indivíduo encontra-se sexualmente maduro, com 26 -28 cm de comprimento.(Tabela 13). Tabela 13 – Crescimento do curimatã segundo os pescadores da Amazônia Central comparado com a literatura científica IDADE PESCADORES LITERATURA AUTOR 1 2 18 cm 29 cm Oliveira, 1997 3 31cm 18 cm 26-28 cm 42 cm (maior tamanho) 68 5.3.1.5. Conhecimentos relacionados com a mortalidade e recrutamento pesqueiro Para os pescadores da Amazônia Central o que mais mata curimatã na fase larval e juvenil é a mortalidade por causas naturais, no caso eles apontaram a predação e a friagem. E na fase adulta os pescadores indicaram a pesca como a principal causa de mortalidade destes peixes, onde não foram registradas diferenças significativas (p > 0,01) entre as respostas dos pescadores citadinos e ribeirinhos (Figura 18). 100 % 80 Natural 60 Pesca 40 N sabe 20 /a du lto R ib ad ul to Ci t/ /jo ve m Ri b jo ve m Ci t/ /la rv al Ri b Ci t/ la rv al 0 Pescadores/Fase de vida Figura 18 – Mortalidade do curimatã segundo os pescadores citadinos (Cit) e ribeirinhos (Rib) da Amazônia Central Em relação ao tamanho de captura do curimatã, os pescadores registraram um tamanho médio de 26,8 ± 13 cm não havendo diferenças significativas (p > 0,01) entre as respostas dos pescadores citadinos e ribeirinhos. Os dados dos pescadores da Amazônia Central equivalem aos registrados por BATISTA (1999), onde afirma que o recrutamento pesqueiro da espécie encontra-se na faixa de 26-30cm (comprimento total), enfatiza ainda, que está acima 69 do tamanho de primeira maturação sexual, permitindo que os peixes se reproduzam pelo menos uma vez no seu ciclo de vida. 5.3.2. Jaraqui (Semaprochilodus spp.) Pertence à família Prochilodontidae, gênero Semaprochilodus e está constituído de duas espécies na Amazônia Central: o jaraqui de escama fina (S. taeniurus) e o jaraqui de escama grossa (S. insignis), ambos com grande importância comercial na região. O jaraqui de escama fina é uma espécie considerada de médio porte, alcança cerca de 30 cm de comprimento. Caracteriza-se pelo corpo alongado, coloração cinza-prateada, mais escura no dorso que no ventre, nadadeira caudal e anal com faixas transversais, de coloração escura e amarela, alternadamente: linha lateral com 66 a 76 escamas, 12 a 14 fileiras de escamas acima da linha lateral. O jaraqui de escama grossa, também é considerada espécie de médio porte, alcança cerca de 30 cm de comprimento: é muito parecida com a anterior, diferindo daquela basicamente pelo número de escama, tendo esta 38 a 45 escamas na linha lateral, e 7 a 9 fileiras de escamas acima da linha lateral. São comumente capturadas juntas, formando cardumes de milhares de indivíduos. 5.3.2.1 Conhecimentos relacionados com comportamento reprodutivo Não foi observada diferença significativa (p > 0,01) entre os dados citados pelos pescadores citadinos e ribeirinhos. Os pescadores informaram que às médias de tamanho e idades em que o peixe começa a reproduzir é de 20 ± 5 cm de tamanho e 1,9 ± 0,6 ano de idade. E para tamanho de completa maturação, foi registrada a média total 27 ± 5 cm de tamanho. Citaram ainda que a espécie: 1. costuma desovar no período da enchente; 70 2. utiliza como ambiente de desova o rio de água branca; 3. apresenta uma fecundidade mais de 5000 ovos por desova; 4. não cuida dos filhotes após a desova. Quanto à idade de completa maturação do jaraqui foi verificada diferença significativa (p < 0,01), onde os pescadores citadinos indicaram que o peixe atinge a plena maturação com 2 ± 2 anos de idade e os ribeirinhos registraram 1,7 ± 0,9 anos de idade. Informações equipotente ao conhecimento cientifico, onde VAZOLLER et al. (1989), RIBEIRO & PETRERE (1990) confirmaram que o jaraqui inicia seu período reprodutivo no período da enchente, descreveram que os cardumes descem os tributários para desovar no encontro das águas brancas com a preta. VIEIRA et al. (2002), identificaram como ambientes utilizados para desova do jaraqui: boca de igarapé (água preta com rios de água branca), boca de rio (água de confluência de pequenos rios de água preta com rios de água branca), furo de lago (ambiente que liga a área da água preta de lagos com os rios de água branca). Segundo VAZZOLER (1986) e RIBEIRO & PETRERE (1990), a espécie não apresenta cuidado parental após a desova. Quanto a quantidades de desovas por ano do jaraqui foi verificada diferença significativa (p < 0,01) entre as respostas dos pescadores citadinos e ribeirinhos, onde 93,5 % dos pescadores citadinos afirmaram que a espécie desova somente uma vez por ano. Enquanto que os pescadores ribeirinhos, 65% afirmaram que o peixe desova uma única vez por ano e 31% não souberam responder (Figura 19). 71 100 80 Citadino (N=31) 40 Ribeirinho (N=26) % 60 20 0 1 2 não sabe Desovas/ano Figura 19 – Tipos de desova do jaraqui segundo os pescadores da região da Amazônia Central. De modo geral, as informações são congruentes aos dados científicos de VAZOLLER et al. (1989), RIBEIRO & PETRERE (1990), BARTHEM & FABRÉ (2004) onde descrevem que o jaraqui tem desova é total, ocorrendo na enchente. A Tabela 20 mostra de forma resumida uma comparação do ciclo reprodutivo do Curimatá entre as dados citados pelos pescadores da Amazônia Central e os encontrados na literatura científica. 72 Tabela 14 - Comparação entre as informações dos pescadores da Amazônia central e da literatura sobre o comportamento reprodutivo do Jaraqui CITAÇÕES DAS ENTREVISTAS COM OS CITAÇÕES CIENTÍFICAS PESCADORES Jaraqui escama fina: L50:17-36 cm (Ribeiro, "O peixe começa produzir com 20 cm e 2 anos de 1983); 24 cm; Jaraqui escama grossa: L50:26 cm (Vazzoler et al., 1989; Ribeiro & Petrere, idade" 1990; Barthem & Fabré, 2004). “O Jaraqui chega a medir 27 cm com 2 anos de Jaraqui da escama grossa: L100: 32 cm e idade" 3 anos (Vieira, 1999). Dez - Mar / Nov-Mar (início da enchente). “O Jaraqui produz filhote na enchente" (Vazoller et al., 1989; Ribeiro & Petrere, 1990 / Ribeiro, 1983; Vieira, 1999; Barthem & Fabré, 2004). Vazoller et al., 1989; Ribeiro & Petrere, 1990 / "O Jaraqui desova no rio de água branca" Ribeiro, 1983; Vieira, 1999; Barthem & Fabré, 2004. (Vazoller et al., 1989; Ribeiro & Petrere, 1990; Vieira, 1999 / Vieira et al.2002). “O Jaraqui não cuida dos filhotes" “O Jaraqui reproduz uma vez por ano" “O peixe tem muitos ovos (0-5000 ovos)" Não apresenta cuidado parental.(Vazoller et al., 1989; Ribeiro & Petrere, 1990). Total (Vazoller et al., 1989; Ribeiro & Petrere, 1990; Barthem & Fabré, 2004). Dados não encontrados 5.3.2.2. Conhecimentos relacionados com ecologia trófica Segundo os pescadores da Amazônia Central, o jaraqui alimenta-se preferencialmente por lodo ou limo, indicando o lago como ambiente de alimentação durante os períodos de enchente e vazante, também não há mudanças nos itens da dieta alimentar nas épocas de subida e descida das águas, sendo que, alguns enfatizaram que diminui a oferta de alimentos durante o período da seca, não observada diferença significativa (p > 0,01) entre as respostas dadas pelos pescadores (Figura 20). 73 100 80 Cit/Ench (N=33) Cit/Vaz (N=31) 40 Rib/Ench (N=34) % 60 Rib/Vaz (N=31) 20 0 lodo/limo Capim Fruto outros Itens alimentícios Figura 20 – Alimentação do jaraqui durante o período de enchente e vazante segundo os pescadores citadinos (Cit) e ribeirinhos (Rib) da Amazônia Central. Comparadas com as literaturas cientificas, as informações dadas pelos pescadores são equivalentes, onde RIBEIRO (1983), VAZZOLER et al. (1989) e; BARTHEM & FABRÉ (2004) registraram que o jaraqui apresenta hábitos detritívoros. Mais especifico, RIBEIRO (1983) observou alguns itens incluídos na sua dieta, como “aufuchs” perifiton das árvores, folhas submersas, diatomáceas, espículas de esponjas, fungos e bactérias, principalmente no período da cheia, quando os peixes estão espalhados nas florestas inundadas. De acordo com os pescadores da região, os principais predadores do jaraqui são outros peixes, como por exemplo, os bagres conhecidos como “peixe fera”: a pirarara, a dourada, o pacamum, o surubim; a piranha, a traíra, o tucunaré e o pirarucu também são exemplos de outros peixes que “perseguem” o jaraqui durante toda sazonalidade das águas não observando diferenças significas (p > 0,01) entre os pescadores citadinos e ribeirinhos (Figura 21). Correspondendo com os registros de RIBEIRO (1993) durante o estudo do comportamento migratório dos jaraquis, 74 onde cita os grandes bagres, como a Piraíba (Brachyplatystoma filamentosum) nos rio de água branca, como os principais predadores da espécie. 100 80 cit/ench (N=49) 60 % cit/vaz (N=49) rib/ench (N=55) 40 rib/vaz (N=57) 20 0 peixe boto jacaré outros Predadores Figura 21 – Predação do jaraqui segundo os pescadores citadinos (Cit) e ribeirinhos (Rib) durante o período de enchente (ench) e vazante (vaz) na Amazônia Central. 5.3.2.3. Conhecimentos relacionados comportamento migratório Em relação ao comportamento migratório do jaraqui os pescadores citadinos e os pescadores ribeirinhos informaram que durante o período de enchente, a espécie costuma está saindo de dentro dos lagos para o rio principal com a finalidade de realizar a desova, não verificada diferença significativa (p > 0,01) entre os dados citados pelos pescadores (Figura 22). 75 100 80 Cit/cheia (N=31) Cit/ench (N=31) 40 Cit/seca (N=31) % 60 Cit/vaz (N=31) 20 0 lago sobem rio para não para rio o rio lago migra outros não sabem Circuito de migração 100 80 Rib/cheia (N=27) Rib/ench(N=33) 40 Rib/seca (N=26) % 60 Rib/vaz (N=26) 20 0 lago para sobem o rio rio rio para lago outros Não sabem Circuito de migração Figura 22 – Comportamento migratório do jaraqui durante um ciclo sazonal segundo os pescadores citadinos (Cit) ribeirinhos (Rib) da Amazônia Central. Essas Informações mostram-se congruentes aos das literaturas científicas, onde observamos os registros de RIBEIRO & PETRERE (1990), os quais indicam que os jaraquis formam cardumes que realizam migrações longitudinais da ordem de 1000 a 1300 km a cada ano, com um deslocamento máximo a montante de 300 km em rios de água branca com fins reprodutivos, tróficos e de dispersão. 76 A migração desta espécie é considerada muito complexa, e foi observada e descrita num modelo geral por GOULDING (1979), e posteriormente por RIBEIRO (1983), que detalhou as de informações resumidas a seguir. Após a desova, os peixes sobem o rio e se dispersam rio acima, passando 3 meses nas florestas inundadas para alimentação, utilizando a mesma área que os juvenis daquele ano utilizaram (BAYLEY, 1983). Nesse mesmo período, não foi observado nenhum movimento migratório. Em meados da enchente-cheia (de março a junho) a espécie inicia uma outra migração, período este que os pescadores conhecem como peixe gordo, esta migração é muito importante para dispersão a outros afluentes do sistema Solimões-Amazonas, o que ocorre para os cardumes que alcançarem este eixo migrando pela margem direita, ficando os cardumes restantes na mesma calha onde estavam. No período da vazante, simultaneamente com a migração de dispersão citada acima, sendo que ocorre na margem oposta, a migração é constituída por cardumes vindo do rio principal que saíram recentemente de rios e lagos a jusante, migram rio acima para lagos fundos e igarapés de terrafirme, onde irão passar o período da seca e pré-desova. 5.3.2.4. Conhecimentos relacionados com o crescimento Em relação ao crescimento, segundo o saber tradicional dos pescadores a média de tamanho do jaraqui com a idade 1 ano, é de 15 +/- 7,5 cm de tamanho. Com a idade de 2 anos, é de 20 +/- 6,7 cm de tamanho. Com 3 anos é de 23+/- 6 cm de tamanho, não verificada diferenças significativas entre os pescadores (p > 0,01) citadinos e ribeirinhos Dados que podem ser comparados equivalentes ao das referências cientificas, onde VIEIRA (1999), nos seus estudos sobre a determinação de idade e crescimento do jaraqui de escama grossa, registrou que com 1 ano o peixe atinge 77 19-24 cm de comprimento padrão (CP); com 2 anos a espécie cresce entre 25-31 cm CP e com 3 anos o peixe tem 32 cm CP. Foi estimado em 23 cm CP e 2 anos, o tamanho e idade da primeira maturação de S. insignis. Vazzoler (1989), Ribeiro & Petrere (1990), registraram 26 cm a classe de comprimento de primeira maturação para a mesma espécie (Tabela 15). Tabela 15 – Crescimento do jaraqui segundo os pescadores da Amazônia Central comparado com a literatura científica Idade Pescadores Literatura 1 15 cm 19-24 cm 2 20 cm 25-31cm 3 23 cm 32 cm - 39-41cm Maior Tamanho Autor Vieira, 1999 5.3.2.5. Conhecimentos relacionados com a mortalidade e recrutamento pesqueiro Para os pescadores da Amazônia Central o que mais mata o jaraqui durante as fases: larval e juvenil é a mortalidade por causas naturais, no caso, eles indicaram a predação por outros peixes. E na fase adulta os pescadores indicaram a pesca como a principal causa de mortalidade destes peixes, onde não foram registradas diferenças significativas (p > 0,01) entre as respostas dos pescadores citadinos e ribeirinhos (Figura 23). 78 100 % 80 Natural 60 Pesca 40 N sabe 20 /a du lto Ri b ad ul to Ci t/ /jo ve m Ri b jo ve m Ci t/ /la rv al Ri b Ci t/ la rv al 0 Pescadores/Fase de vida Figura 23 – Mortalidade do jaraqui durante as fases larval, juvenil e adulta segundo os pescadores citadinos (Cit) e ribeirinhos (Rib) da Amazônia Central. Em relação ao tamanho de captura do jaraqui, os pescadores registraram um tamanho médio de 20 ± 8 cm de tamanho, não verificada diferença significativa (p > 0,01) entre as respostas dos pescadores citadinos e ribeirinhos. Essas informações são parcialmente equivalentes aos resultados registrados por BATISTA (1999), o qual cita que a exploração pesqueira na Amazônia Central do jaraqui de escama grossa está atualmente concentrada sobre indivíduos de 1 ano de idade, 26 a 30 cm de comprimento, cujos ainda não atingiram o tamanho de primeira maturação sexual, e apresenta uma taxa de exploração 5% superior à do escama fina, tendo em vista que a espécie é a preferida, seja por ter maior porte ou por ser mais resistente à conservação no gelo por períodos longos, segundo os pescadores. Vale ressaltar que para o jaraqui de escama fina também foi diagnosticada a sobrepesca de crescimento do estoque. 79 5.3.3. Tambaqui (Colossoma macropomum.) É uma espécie originária dos rios Amazonas, Orinoco e seus afluentes. Espécie de grande porte alcança cerca de 90 cm de comprimento. Caracteriza-se pelo corpo muito alto, romboidal, maxilar superior com duas fileiras de dentes robustos e molariformes, maxilar inferior com uma fileira de dentes igualmente robustos, decrescendo de tamanho a partir do par central, atrás do qual ocorre um par de dentes cônicos; nadadeira adiposa curta, com raios na sua extremidade; rastros branquiais longos e numerosos. Atualmente, o tambaqui é considerado uma das espécies mais importantes e rentáveis para pescaria comercial, com grande preferência no consumo local (ISAAC & RUFFINO, 1996), e também com um grande potencial para o cultivo em cativeiro (FREITAS, 2003). 5.3.3.1. Conhecimentos relacionados com o comportamento reprodutivo Não foi verificada diferença significativa (p > 0,01) entre as respostas dos pescadores citadinos e ribeirinhos. Os pescadores informaram que o tambaqui começa a reproduzir com 60 ± 18 cm de comprimento total (CT) e 4 ± 3,1 anos de idade. Atinge a maturação completa com a média de 94 ± 25 cm CT e 7,4 ± 6,3 anos de idade. Afirmaram ainda que a espécie: 1. se reproduz na época da enchente; 2. tem preferência de desovar nas pauzadas (acumulo de troncos e galhos) em rios de água branca; 3. reproduz apenas 1 vez no ano; 80 4. desova mais de 5.000 ovos e 5. não cuida dos filhotes. Quando comparamos estas informações com a literatura cientifica, verificamos equivalência entre o conhecimento tradicional e conhecimento científico, havendo registro científico de que a espécie começar a se reproduzir com comprimento padrão de 62 cm com 5 anos de idade (VILLACORTA-CORRÊA & SAINT PAUL, 1999). Já a maturação completa é atingida aos 76-80 cm de comprimento com 10 anos de idade (PENNA ET al. 2005). Quanto ao ciclo reprodutivo, VIERA et al. (1999) em estudo no baixo Amazonas registraram que a espécie apresenta uma desova anual e total na enchente dos rios. A fecundidade por desova é alta (1.007.349 ovócitos), não apresenta cuidados parentais, enquadrando-se no grupo de espécies de estratégia reprodutiva sazonal, segundo a classificação de WINEMILLER (1989). A Tabela 26 mostra de forma resumida uma comparação do ciclo reprodutivo do Tambaqui entre as dados citados pelos pescadores da Amazônia Central e os encontrados na literatura científica. 81 Tabela 16 – Comparação entre as informações dos pescadores da Amazônia central e da literatura sobre o comportamento reprodutivo do Tambaqui CITAÇÕES DAS ENTREVISTAS COM OS PESCADORES "O peixe começa a produzir com 60 cm com mais ou menos 4 anos de idade". "O Tambaqui adulto atinge 90 cm de comprimento, idade de 7 anos". "O tambaqui produz filhotes na enchente". "O tambaqui desova nas pauzadas" "O tambaqui não cuida dos filhotes". "O tambaqui desova só uma vez por ano". "O tambaqui desova muitos ovos, mais de 5000" CITAÇÕES DA LITERATURA Tamanho L50: 61 cm (Villacorta-Corrêa & Saint Paul, 1999); Idade do peixe L50: 5 anos (Junk, 1985; Goulding & Carvalho, 1982; Isaac et al., 2000. Araújo-Lima & , Goulding, 1998). Tamanho L100: 76-80 cm (Araújo-Lima & Goulding, 1998; Penna et al. 2005). Idade do peixe L100: 10 anos (Penna et al. 2005). Épocas de desovas: Enchente (Vieira et al., 1999 / Junk, 1985; Goulding & Carvalho, 1982; Isaac et al., 2000, Villacorta-Corrêa & Saint Paul, 1999). Local de desova: Lótico (rio principal) (Goulding, 1979; Junk, 1985; Goulding & Carvalho, 1982; Isaac et al., 2000;Isaac & Ruffino, 1996) Sem cuidado com a prole (Goulding, 1979; Junk, 1985; Goulding & Carvalho, 1982; Isaac et al., 2000;Isaac & Ruffino, 1996). Desova Total (Vieira et al. 1999, Villacorta-Corrêa & Saint Paul, 1999). Fecundidade: 1,007,349 / 1,000,000 ovócitos (Vieira et al. 1999). 5.3.3.2. Conhecimento relacionado com a ecologia trófica Os pescadores afirmaram que a espécie tem uma preferência alimentar por frutos durante a época de enchente e vazante, havendo diferença significativa (p < 0,01) entre as respostas dadas pelos pescadores citadinos (84% na enchente e 61% na vazante) e ribeirinhos (76% na enchente e 59% na vazante). Os pescadores ribeirinhos detalharam que este peixe pode mudar o seu hábito alimentar durante as épocas secas, comendo capim, lodo ou outros peixes. 82 100 80 Cit/Ench (N=44) Cit/Vaz (N=44) 40 Rib/Ench (N=62) % 60 Rib/Vaz (N=63) 20 ou tro s an di oc a ão m ca m ar lo do ca pi m xe pe i Fr ut os 0 Itens Alimentícios Figura 24 – Alimentação do tambaqui durante o período de enchente e vazante segundo os pescadores da Amazônia Central. Na literatura cientifica foi encontrada equivalência com respostas dadas pelos pescadores, com ARAÚJO-LIMA & GOUDING (1998) registrando que a alimentação do tambaqui é do tipo onívora, baseada principalmente, no consumo de frutas, sementes e organismos aquáticos de pequeno porte. Observam ainda que o ruelo (tambaqui jovem) tem preferência por sementes, mas também come considerável quantidade de frutos carnosos, principalmente na enchente. Sobre a predação da espécie, foi descrito pelos pescadores que o tambaqui tem como predador natural outro peixes, como por exemplos os bagres, piracatinga, pirarucu e o tucunaré, durante toda sazonalidade das águas, não foi observado diferença significativas (p>0,01) entre as respostas dos pescadores ribeirinhos e citadinos. Além destes peixes, também foi citado o jacaré como um predador potencial do tambaqui (Figura 25). 83 100 80 cit/ench (N=49) 60 % cit/vaz (N=49) rib/ench (N=55) 40 rib/vaz (N=57) 20 0 peixe boto jacaré outros Predadores Figura 25 – predação do tambaqui segundo os pescadores citadinos (Cit) e ribeirinhos (Rib) da Amazônia Central durante o período da enchente e vazante. Há grande equivalência das respostas dos pescadores sobre a predação quando comparados com o conhecimento científico, onde BARTHEM & GOULDING (1997) afirmaram que todos os bagres pimelodídeos são altamente piscívoros, registrando uma ocorrência de tambaqui como presas de filhote de piraíba (Branchyplatistoma filamentosum) através de analise de conteúdo estomacal. Segundo ARAÚJO-LIMA & GOULDING (1998), o pirarucu (Arapaima gigas) no passado pode ter sido um predador importante, pois este se alimenta principalmente de peixes nas águas abertas como sob vegetação, mas, no entanto a população de pirarucu tem diminuído devido à sobrepesca e que atualmente deixaram de ser um predador representativo na várzea. Há uma necessidade de ter mais estudos sobre predação do tambaqui, pois segundo estes autores a espécie parece ser relativamente pouco predada em comparação com outras espécies de Characiformes. 84 5.3.3.3. Conhecimento relacionado com o comportamento migratório Quanto ao comportamento migratório do tambaqui os pescadores, informaram que durante o período de enchente a espécie costuma sair de dentro dos lagos para o rio principal para desovar, porém destacaram que no período da cheia, o tambaqui entra nos igapós para comer. Não foi verificada diferença significativa (p > 0,01) entre os dados citados pelos pescadores citadinos e ribeirinhos. GOULDING (1979) informa que usualmente não é possível observação direta da migração do cardume pelos afluentes, porque esta espécie migra afastada da superfície, raramente revelando sua presença ao passar pelas desembocaduras dos rios. Entretanto, ARAÚJO-LIMA & GOULDING (1998) informam que aparentemente a espécie permanece nos afluentes enquanto existem áreas de florestas inundadas disponíveis, nas quais frutos e sementes podem ser encontrados. Quando não se move rio acima, o tambaqui ficaria nas “pauzadas”, ou seja, nas margens do rio onde existem troncos e galhos submersos. O tambaqui não entraria nos afluentes antes de desovar, ficando no rio principal, ou em alguma área de floresta inundada perto das desembocaduras dos afluentes até a desova. No período de pré-desova (2 a 5 semanas), GOULDING (1979) observou a formação de cardumes compactos que se moviam lentamente rio acima no médio rio Madeira. Para alguns pescadores, este movimento é conhecido, e sugerem que tais cardumes procuram locais para desovar ao longo das restingas que estão começando a submergir nesta época do ano. Logo 85 após a desova, entram nos afluentes à procura de frutas e sementes nas florestas inundadas. Observa-se que as descrições de pesquisadores estão mais baseadas em descricões de pescadores do que em observações próprias ou em experimentos de marcação-recaptura ou atividade afim. Logo é natural que haja equivalência entre o saber dos pescadores e o saber divulgado em trabalhos científicos no tema. 100 % 80 Cit/cheia (N=31) 60 Cit/ench (N=31) 40 Cit/seca (N=31) Cit/vaz (N=31) 20 0 lago para rio lago para igapó sobem o rio igapó para lago outros Não sabem Circuito de migração 100 80 R ib/c he ia (N = 26) R ib/enc h (N = 26) 40 R ib/s ec a (N = 26) % 60 R ib/vaz (N = 26) 20 0 lago rio para não para rio la go m igra s obem o rio o utros N S C ircu ito d e m ig ra çã o Figura 26 – Comportamento migratório do tambaqui durante um ciclo sazonal segundo os pescadores citadinos (acima) e ribeirinhos (abaixo) da Amazônia Central. 86 5.3.3.4. Conhecimento relacionado com o crescimento Segundo o saber tradicional dos pescadores, a média de tamanho do peixe com a idade 1 ano, é de 23,8 ± 18,7 cm CT. Com a idade de 2 anos, é de 37,6 ± 18,4 cm CT. Com a idade de 3 anos, é de 60 ± 6 cm CT. Com 4 anos, o peixe pode alcançar a média de 77,8 ± 32,2 cm CT, a maior dispersão encontrada, indicando dificuldades de inferência a partir desta idade. Não foram registradas diferenças significativas entre as respostas dos pescadores ribeirinhos e citadinos (p > 0,01) em nenhuma das idades. Quando confrontamos tais saber com a literatura científica observamos que existe equivalência, particularmente até a idade de 3 anos (Tabela 17). A diferença observada na idade 4 associada ao elevada dispersão nas informações prestadas pelos pescadores indica que a percepção etária pelos pescadores é pior a partir desta idade. Tabela 17 - Comparação entre as informações dos pescadores da Amazônia central e da literatura sobre Crescimento do Tambaqui. IDADE PESCADORES 1 23,8 cm 2 37,6 cm 3 60 cm 4 77,8 cm LITERATURA AUTOR 24 cm 30 cm 43 cm 40 cm 58 cm 50 cm 71 cm 60 cm Isaac & Ruffino, 2000 Penna et al, 2005 Isaac & Ruffino, 2000 Penna et al, 2005 Isaac & Ruffino, 2000 Penna et al, 2005 Isaac & Ruffino, 2000 Penna et al, 2005 87 5.3.3.5. Conhecimento relacionado com mortalidade e recrutamento pesqueiro Os pescadores indicaram a predação como o maior fator causal de mortalidade da espécie durante a fase larval. Nas fases juvenil e adulta, os pescadores indicaram a pesca como a principal causa de mortalidade destes peixes, não registrando diferenças significativas (p > 0,01) entre as respostas dos pescadores profissionais e ribeirinhos. O tamanho médio de primeira captura do tambaqui foi de 45,4 ± 21,5 cm CT, sem diferença significativa (p > 0,01) entre as respostas dos pescadores citadinos e ribeirinhos (Figura 27). 100 % 80 Natural 60 Pesca 40 N sabe 20 /a du lto Ri b ad ul to Ci t/ Ri b/ jo ve m jo ve m Ci t/ /la rv al Ri b Ci t/ la rv al 0 Pescadores/Fase de vida Figura 27 – Mortalidade do tambaqui nas fases larval, juvenil e adulta segundo os pescadores citadinos (Cit) e ribeirinhos (Rib) da Amazônia Central No rio Machado, GOULDING (1979) registrou captura de tambaquis com 44 cm com menos de 3-4 anos de idade, quando a espécie começa a migrar de seus habitats de criação para as várzeas dos rios barrentos e para o canal dos rios durante o período da seca. PETRERE JR. (1983) apresentou dados de tambaqui sendo vendidos no mercado de Manaus na seca de 1978 a partir de 55 cm com 3-4 88 anos de idade, responsável por cerca de 40% de desembarque de Manaus. Desde a década de 80 já foram observados indícios de sobrepesca desta espécie (MERONA & BITTENCOURT, 1988), sendo que apenas 41% em 1995 e 11% em 1996 do tambaqui desembarcado apresentou tamanho superior a 55 cm (BATISTA & PETRERE, 2003), o que sugeriu a ocorrência de sobrepesca de crescimento. 89 6. CONCLUSÕES De acordo com os objetivos propostos nesse estudo, pode-se concluir que os pescadores da Amazônia central, os citadinos e ribeirinhos, têm um conhecimento extenso sobre os peixes, apresentando elevada concordância com a literatura cientifica. O etnoconhecimento influencia diretamente na atividade da pesca e está sempre no seu cotidiano, onde constamos como uma das principais fontes de renda para os pescadores da região. O conhecimento tradicional sobre a ecologia e a biologia do aruanã, pirarucu, tucunaré, curimatã, jaraqui e tambaqui demonstrado pelos pescadores estudados é detalhado e compatível com a literatura científica nos respectivos aspectos: tamanho e idade em que o peixe começa reproduzir, maturação plena, época de desova, local de desova, tipo de desova e comportamento de cuidados parentais, hábitos alimentares, predação, crescimento até a idade de 3 anos, mortalidade e tamanho de captura da espécie. Constatou-se que os pescadores conhecem as espécies que realizam migrações, detalhando o circuito executado pelas espécies e ainda apresentam dúvidas em relação à finalidade das migrações, mas a grande maioria associa tal processo ao comportamento de reprodução. Em relação à gestão dos recursos naturais, vale ressaltar que, quando comparado o saber tradicional com as compilações científicas, identificamos que o etnoconhecimento pode ser considerado folclórico ou anedóticos por elites, mas em contrapartida, estes são compreensíveis para os usuários diretas, financeiramente mais baratas e, no entanto são abstratos, nesse caso, todo este conhecimento constitui recursos importante, e que é suficiente para ser incorporado tanto no plano 90 de desenvolvimento quanto em estudos de manejo pesqueiro participativo local. Quanto que as informações científicas, são apoiadas por elite e são aceitas pelos usuários, mais muitas vezes estas não são compreensíveis as que tornam também abstratas, nesse sentido este conhecimento constitui um recurso também de grande valor, pois é suficiente para ser incorporado tanto no plano de desenvolvimento quanto em estudos de manejo pesqueiro participativo regional. A verificação da existência de um conhecimento particular dos aspectos ecobiológicos de peixes, feita por esse estudo e por outros autores como CLAUZET (2005), COSTA-NETO (2001), COSTA-NETO et al. (2002), CUNHA (2003), JOHANES et al (2000), MARQUES (1995), MOURÃO & NORDI (2002), PINTO & MARQUEZ (2002), SILVANO (2001) e outros pesquisadores já publicados, nos mostra que é viável e recomendável à inserção de tais conhecimentos dos pescadores artesanais, profissionais citadinos e ribeirinhos comerciais e de subsistência, juntamente com as informações e pesquisa científicas no planejamento de manejo pesqueiro participativo local. 91 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADAMS, C. 2000. Caiçaras na Mata Atlântica: pesquisa científica versus planejamento e gestão ambiental. Ed. Annablume, FAPESP, São Paulo p. 336. AMOROSO, M. C. M. 1981. Alimentação em um bairro pobre de Manaus, Amazonas. Acta Amazonica, 11(3), p. 1-43. ALLSOPP, W.H.L. 1958. Arapaima, The giant fish of South America. J. R. Agric. 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Life history and growth relations ships of Cichla ocellaris, a predatory South America Cichlid. Biotropical 12 (2):p. 144-147. 109 APÊNDICE I - Entrevista Estruturada – Pescador Entrevistador: LIANE / ____________________ Data: / / 2002 Questionário no. : IDENTIFICAÇÃO Nome do entrevistado:___________________________________________________________________ Função na pesca: PESCADOR / ARMADOR / ENCARREGADO / DESPACHANTE OUTROS: ____________________________________________________________ Onde nasceu:________________________UF:_____ Idade:____ Onde se criou:______________________UF:____ Local onde mora? ______________________ (CIDADE / RURAL) Há quantos anos: ___ Já viveu em que cidades? __________________ Número de anos em que viveu na cidade? ________ Estudou até que série? ___________________ Parou de estudar há quantos anos? _____________________ Religião: NÃO TEM/ CATÓLICO/ PROTESTANTE/ OUTROS: ______________________________ EXPERIÊNCIA E RELAÇÕES SOCIAIS NA PESCA A partir de que idade começou a pescar ______ Quanto tempo pesca PARA VENDER?___________ E em barco de pesca? ______ Quantas vezes sai em viagem para pescar na cheia: _________ na seca:__________ Que funções já ocupou no setor pesqueiro? PESCADOR / ARMADOR / ENCARREGADO / DESPACHANTE MAQUINISTA / COZINHEIRO / OUTRA: __________________________________ Que funções já ocupou fora do setor pesqueiro? _________________________________________________ ________________________________________________________________________________________ Com quem aprendeu o ofício da pesca? PAI/PARENTES/AMIGOS/OUTROS: _________________________ Nome do(s) barco(s) onde Município pesca: de origem: Como é sua relação de trabalho neste barco: PARCERIA / FAMILIAR / CONTRATADO / OUTROS _____ Na pesca comercial, você é o dono do: BARCO / CANOA / UTENSÍLIOS / OUTRO BEM?____________ Porque trabalha no setor pesqueiro? É O QUE SABE FAZER; GOSTA DE PESCAR; DÁ DINHEIRO; INFLUÊNCIA DA FAMÍLIA, OUTRA RAZÃO:_________________________________________________ Quais utensílios de pesca sabe fazer? ARPÃO, ARRASTADEIRA, CANIÇO, ESPINHEL, FLEXA, LINHA-DE-MÃO MALHADEIRA, CORRICO, REDINHA, TARRAFA, ZAGAIA, OUTRO UTENSÍLI (qual):___________________________________________________________________________________ Quem ensinou:_____________________ Qual utensílio você mais gosta de usar ?________________________ Você acha que pesca BEM com qual utensílio: ___________; MAU com:__________MÉDIO com:_________ 110 INFORMAÇÕES BIOLÓGICAS 1. Reprodução 1.1. Maturação sexual Quando começa a Espécie reproduzir? Tamanho Idade Tucunaré Quando todos já estão maduros? Tamanho Idade Estes tamanhos mudaram de antigamente para agora? (MAIOR/MENOR – Por quê?) Aruanã Pirarucu Jaraqui Curimatã Tambaqui 1.2. Ciclo reprodutivo Espécie Tucunaré Aruanã Pirarucu Jaraqui Curimatã Tambaqui Épocas de desova Onde desova Quantas Tem cuidados com desovas tem os filhos? no ano? Quais? Muitos ovos? Muitos filhotes? (fecundidade) 111 2. Alimentação Espécie O que come e onde? Enchente O que Vazante Onde O que Onde Tucunaré Aruanã Pirarucu Jaraqui Curimatã Tambaqui INFORMAÇÕES ECOLÓGICAS 1. Como ocorre a predação sobre esta espécie? Espécie Quais animais são predadores destas espécies e em que ambiente isto ocorre? Enchente Predador Tucunaré Aruanã Pirarucu Jaraqui Curimatã Tambaqui Vazante Onde Predador Onde 112 2. Quais as principais migrações que a espécie executa? Espécie Tucunaré Aruanã Pirarucu Épocas En / Ch / Vz / Circuito ( ) comer Finalidade ( ) desova Se ( ) outros ____________ En / Ch / Vz / ( ) comer Se ( ) outros ____________ En / Ch / Vz / ( ) comer Se ( ) outros ____________ En / Ch / Vz / ( ) comer Se ( ) outros ____________ En / Ch / Vz / ( ) comer Se ( ) outros ____________ En / Ch / Vz / ( ) comer Se ( ) outros ____________ En / Ch / Vz / ( ) comer Se ( ) outros ____________ En / Ch / Vz / ( ) comer Se ( ) outros ____________ En / Ch / Vz / ( ) comer Se ( ) outros ____________ En / Ch / Vz / ( ) comer Se ( ) outros ____________ En / Ch / Vz / ( ) comer Se ( ) outros ____________ En / Ch / Vz / ( ) comer Se ( ) outros ____________ ( ) desova ( ) desova ( ) desova ( ) desova ( ) desova ( ) desova ( ) desova ( ) desova ( ) desova ( ) desova ( ) desova 113 Cont. Quais as principais migrações que a espécie executa? Jaraqui Curimatã Tambaqui En / Ch / Vz / ( ) comer Se ( ) outros ____________ En / Ch / Vz / ( ) comer Se ( ) outros ____________ En / Ch / Vz / ( ) comer Se ( ) outros ____________ En / Ch / Vz / ( ) comer Se ( ) outros ____________ En / Ch / Vz / ( ) comer Se ( ) outros ____________ En / Ch / Vz / ( ) comer Se ( ) outros ____________ En / Ch / Vz / ( ) comer Se ( ) outros ____________ En / Ch / Vz / ( ) comer Se ( ) outros ____________ En / Ch / Vz / ( ) comer Se ( ) outros ____________ En / Ch / Vz / ( ) comer Se ( ) outros ____________ En / Ch / Vz / ( ) comer Se ( ) outros ____________ En / Ch / Vz / ( ) comer Se OBSERVAÇÕES ( ) desova ( ) desova ( ) desova ( ) desova ( ) desova ( ) desova ( ) desova ( ) desova ( ) desova ( ) desova ( ) desova ( ) desova 114 3. Crescimento Espécie o 1 ano Quanto mede? o o 2 ano 3 ano 4 ano o NX Fatores que afetam ( ) alimentação ( ) pesca Tucunaré ( ) outros:_______________ ( ) alimentação ( ) pesca Aruanã ( ) outros:_______________ ( ) alimentação ( ) pesca Pirarucu ( ) outros:_______________ ( ) alimentação ( ) pesca Jaraqui ( ) outros:_______________ ( ) alimentação ( ) pesca Curimatã ( ) outros:_______________ ( ) alimentação ( ) pesca Tambaqui ( ) outros:_______________ 115 4. Mortalidade – De que morrem (por ordem) na fase: Espécie Dos filhos Produzidos no ano Ovo-larva passado, quantos restaram após um ano? Tucunaré Aruanã Pirarucu Jaraqui Curimatã Tambaqui OBSERVAÇÕES: Juvenil Adulta 116 . Recrutamento: Espécie Dá para saber muitos filhos foram produzidos no ano? Como? Tucunaré Aruanã Pirarucu Jaraqui Curimatã Tambaqui OBSERVAÇÕES A partir de que tamanho ocorre a captura