gorgonz ouvido mais quente
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Na seção casa e conforto, Armentano abre para o leitor as portas de sua bela casa em Campos do Jordão, onde descansa aos fins de semana e onde evidencia seu lado colecionador. Na cozinha, integrada à sala, os produtos da Bosch permitem que o arquiteto receba os amigos em jantares rega dos a vinho e muita conversa, num ambiente impecavelmente decorado — como não poderia deixar de ser. Esta edição mostra também a pre sença da Bosch em duas áreas de im portância fundamental para a saúde do brasileiro. Em Brasil cresce, con tamos como e por que vem crescendo o mercado de produtos diet e light, e, em tendências, você vai ver como uma parceria entre o governo e as empre sas do setor automotivo possibilitou a redução na emissão de poluentes. Nao deixe de ler também as seções eu e meu carro e aquilo deu nisso, em que o tema é a paixão antiga e duradoura por automóveis. Não por acaso, cada um desses temas — decoração de bom gosto para rece ber os amigos, saúde, paixão por au tomóveis — reflete o compromisso da Bosch: desenvolver tecnologia para a vida. E, claro, o compromisso da VidaBosch: abrir ao leitor as portas para um conteúdo útil, interessante e agradável. Ricardo Ayres/Photocamerra De portas abertas para o leitor Sumário 02 viagem | Chapada dos Veadeiros, o mais antigo patrimônio geológico da América 08 eu e meu carro | Jorge Aragão conta quanto gastou para pôr seu Fusca no compasso 10 torque e potência | Um supertrabalho para transportar cargas superpesadas 14 casa e conforto | O arquiteto João Armentano abre sua casa para a VidaBosch 20 saudável e gostoso | Versátil, o queijo conquista mesmo o paladar mais exigente 26 tendências | Contra a poluição dos carros, um calendário verde 30 grandes obras | Uma plataforma digital para bombear petróleo do alto-mar 32 Brasil cresce | Comida light e diet ganham mais peso entre as classes C e D 38 atitude cidadã | O que as empresas podem fazer para eliminar o analfabetismo digital 42 aquilo deu nisso | Colecionadores transformam carros velhos em preciosidades 46 áudio | Em um carro, o barulho de uma banda de rock Expediente VidaBosch é uma publicação trimestral da Robert Bosch Ltda., desenvolvida pelo departamento de Marketing Corporativo (ADV). Se você tiver dúvidas, reclamações ou sugestões, fale com o Serviço de Atendimento ao Consumidor Bosch: (011) 2126-1950 (Grande São Paulo) e 0800-7045446 (outros locais) ou www.bosch.com.br/contato Presidente: Edgar Silva Garbade • Gerente de Marketing Corporativo: Ellen Paula G. da Silva • Produção e edição: PrimaPagina (www.primapagina.com.br), rua Campos Bicudo, 98, 3° andar, CEP 04536-010, São Paulo, SP, tel. (11) 3066.5115, fax (11) 3167.4141 / e-mail: [email protected] • Projeto gráfico e diagramação: Renata Buono Design ([email protected]), tel. (11) 3129-5083 • Tratamento de imagem e finalização: Inovater • Impressão: Globo Cochrane • Revisão: Dayane Cristina Pal ([email protected]) • Jornalista responsável: Jaime Spitzcovsky (DRT-SP 26479) viagem | Por Sócrates Arantes Alex Uchôa | VidaBosch | Entre cristais, cachoeiras e chapadões Mais antigo patrimônio geológico da América, a Chapada dos Veadeiros, em Goiás, mescla paisagem lunar, rios de água cristalina e centenas de cascatas Cachoeira Santa Bárbara 4 | VidaBosch | viagem | VidaBosch | 5 viagem O Pulsar Imagens Ricardo Zinner Os Jardins de Maitréia (ao lado) e a canhoeira Almécegas: algumas das jóias da Chapada, em Goiás é apenas para ser visto de um mirante, mas no Salto 2, bem próximo, de 80 metros, há uma piscina natural formada pela força da queda, onde é permitido o banho. A segunda caminhada, menos íngreme, leva 45 minutos e dá acesso ao monumental cânion de pedra do rio Preto e à majestosa Cachoeira das Cariocas, onde há também poços profundos, excelentes para nadar. Os visitantes da Chapada dos Veadeiros podem conhecer também dezenas de outras cachoeiras — dentre as quais se destacam Almécegas, São Bento, do Mello, do Abismo, Morada do Sol, Raizama e Piquizeiro — em propriedades particulares fora do parque. Há, ainda, atrações como a Pedra Escrita, pré-históricas inscrições não-decifradas, a 11 quilômetros da Vila São Jorge, e o chamado Encontro das Águas do rio São Miguel com o rio Tocantinzinho. Chamam a atenção, ainda, os Jardins de Maitréia, uma paisagem bucólica de frondosos buritis, avistados do lado direito da estrada entre Alto Paraíso e a Vila São Jorge. Nesse trajeto, também são imperdíveis a escalada da Serra da Baleia, um ponto privilegiado de observação, e uma parada no Bar do Valdomiro, uma casinha de sapê à beira da estra- da, onde se serve a comida típica da chapada, o matulão (leia quadro na página 7). Em geral, para chegar às atrações da Chapada é preciso pegar estrada de terra. Um veículo com tração 4 x 4 é especialmente útil nessas condições, mas a maioria dos passeios pode ser feita em carro comum. A Bosch na sua vida Antes da poeira, uma geral no 4x4 Trocar asfalto, semáforos e trânsito por terra, buracos e poeira pode ser uma aventura e tanto — e é, na Chapada dos Veadeiros. Para evitar dores de cabeça, no entanto, é importante fazer um checkup antes de pegar a estrada. Essa revisão deve incluir desde verificações simples, como estado dos pneus e níveis de água e óleo, até a revisão de itens estruturais, como suspensão, correias de motor e freios. Nos 4x4, alguns componentes merecem uma atenção especial. Os níveis do diferencial — peça que distribui a força do motor entre os eixos — precisam ser regulados para evitar que entre água nas engrenagens caso o veículo passe por um trecho alagado, lembra Alan da Mata, chefe de mecânica do Centro Automotivo Sermec, uma oficina de Brasília credenciada à rede Bosch Car Service. Ele ainda frisa a importância de verificar se os filtros de ar do motor estão em boas condições. Como todo caminho repleto de buracos e declives exige muito dos freios, esse componente não pode passar despercebido. Entre os itens a serem verificados está o servofreio (fotos). A peça, pouco conhecida, reduz o esforço que é exigido do motorista ao frear o veículo — se para travar as rodas do carro sem o dispositivo, por exemplo, o condutor precisa aplicar uma força de 20 kg no pedal, com a peça essa exigência cai para 5kg.Na rede Bosch Car Service de todo o país é possível fazer a revisão do servofreio da Bosch. Basta ligar 0-800 70 45 446 e verificar qual a oficina República zen Se a chapada fosse uma república — ecológica e zen, como gostam de pensar seus habitantes — a capital seria a Vila São Jorge, um povoado que nem município é. Abriga uns 400 moradores, se tanto, mas já teve, durante a 2ª Guerra Mundial, quase 3 mil garimpeiros de cristais. Famosa nessa época ficou a Cachoeira da Rodoviária, porque lá paravam os ônibus que traziam e levavam os garimpeiros. Algumas empresas mineradoras se instalaram na Vila, como a Companhia de Cristais, que funcionava na casa de adobe mais antiga do povoado, onde hoje há uma pousada. Esse tempo passou e hoje a gente pacata da Vila São Jorge vive do turismo, já que fica na vila a única entrada para o Parque Nacional. Homens e mulheres tornaram-se guias credenciados pelo Ibama e agora trabalham nas inúmeras pousadas e restaurantes da vila Fotos Arquivo Bosch pequeno rio São Miguel não tem muito volume, a não ser na época das chuvas, mas elaborou uma obra de caprichoso escultor, bem mais notável e conhecida do que ele próprio: o Vale da Lua. Num trecho de uns dois quilômetros de comprimento por uns 100 metros de largura, no máximo, o rio esculpiu, durante milhões de anos, curiosas formas nos blocos de arenito que ocupam essa parte de seu leito. As pedras esbranquiçadas brilham ao sol e sugerem mesmo uma paisagem lunar, diferente, árida e muito bela. No meio das pedras carcomidas, corre sinuoso e mansamente o rio de águas cristalinas, projetando-se em cascatas freqüentes e formando piscinas naturais que deliciam seus visitantes. O Vale da Lua é apenas um dos belíssimos cartões postais da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, 240 quilômetros ao norte de Brasília. A chapada, cujo nome originou-se da intensa caça aos veados, no início do século 20, é um dos pontos mais preservados do Cerrado brasileiro, graças não apenas ao avanço da consciência ecológica, mas principalmente por abrigar, em 236 mil hectares, o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, criado pelo presidente Juscelino Kubitscheck quando da construção de Brasília. Antes de ser santuário da preservação ambiental, sob a atenta vigilância do Ibama, a chapada foi um local de intensa devastação da fauna, flora e até da geologia. Desde 1912, milhares de garimpeiros procuravam veios de cristais de quartzo e de rocha, usados na fabricação de rádios, principalmente durante a 2ª Guerra Mundial, quando a comunicação entre as tropas era vital para o êxito dos aliados. Terminada a guerra, a atividade garimpeira arrefeceu, mas só acabou mesmo quando o decreto presidencial criou o parque, em 1961. No Parque Nacional não se pode entrar de carro (o estacionamento fica do lado de fora). Ele só pode ser visitado durante o dia, em grupos de, no máximo, 10 pessoas, conduzidos por guias credenciados pelo Ibama. São dois passeios principais, que conduzem ao vale do rio Preto, assim chamado por ter águas escuras devido à presença de resíduos de ferro. Uma das caminhadas, de cerca de uma hora, dá acesso a dois saltos muito bonitos e uma corredeira. O Salto 1, de 120 metros, mais próxima. Feita a revisão, o motorista pode seguir viagem. A boa manutenção do veículo requer, porém, uma manutenção “pós-rali”, como define Alan da Mata. “Como o percurso exige muito do carro, é bom verificar tudo de novo. A correia, por exemplo, pode ter sido danificada devido ao excesso de areia ou por algum pedaço de pau”, conta. Ele ainda destaca que coisas simples, como limpar algumas peças, podem evitar prejuízos no futuro. “Se o motorista passou por um trecho com lama e o barro ficou grudado na pinça de freio, com o calor, aquilo vira um tijolo que vai desgastando a pastilha e depois começa a comer o disco”, alerta. 6 | VidaBosch | viagem | VidaBosch | 7 viagem ou atuam nas diversas empresas que prestam serviços aos turistas. Um exemplo dessa mudança é o Pelé, antigo garimpeiro negro que, impedido pela lei de arrancar o cristal da terra, montou um barzinho simples e hoje é referência. Ir à Vila São Jorge e não tomar uma cerveja geladíssima no Bar do Pelé é algo próximo do sacrilégio. Sacrilégio, sim, porque a Chapada dos Veadeiros também é mística e esotérica. É cortada pelo paralelo 14, a rota dos peregrinos da Era de Aquário, o mesmo que passa sobre Machu Pichu, nos Andes peruanos, e atrai, além dos ecologistas e turistas, alternativos de todos os naipes: antigos hippies, religiosos, crédulos em qualquer coisa. Por ter tantos cristais, a chapada é considerada um ponto de contato com Objetos Voadores Não-Identificados (OVNI), os popularmente conhecidos discos voadores. Existe até um “discoporto”, obviamente nunca usado. Mesmo assim, o fluxo de turistas para conhecê-lo é constante! Na realidade, é o que sobrou do ”Areião”, onde funcionou o maior garimpo de cristais da área. O clima esotérico da chapada tem sua máxima expressão em Alto Paraíso, o município que engloba a Vila São Jorge. Situada também no paralelo 14, Alto Paraíso chama a atenção pela arquitetura no mínimo peculiar: são casas com formas estranhas, da ancestral oca circular de concreto ao futurismo mais alucinado. São os lugares onde se estabeleceram as seitas e entidades voltadas ao misticismo e à filosofia da Nova Era. Perto da cidade, algumas fazendas têm cachoeiras de fácil acesso. Gurupi Cavalcante Alto Paraíso de Goiás São Jorge Barreiras GO 118 GO São João D’aliança BR 020 Área ampliada BA Cidades que têm oficina Bosch Service: Formosa e Brasília DF 345 DF Brasília Formosa BR 020 Como chegar Saindo do centro de Brasília pela BR-020 na direção nordeste, prosseguir 50 quilômetros até o trevo de acesso à DF-345, à esquerda, que se liga, já em Goiás, com a GO-118. No total, são 225 quilômetros asfaltados até Alto Paraíso. Para Vila São Jorge, pegar à esquerda, na altura de Alto Paraíso, o acesso asfaltado (GO-239), de 33 quilômetros. Para Cavalcante, prosseguir na GO-118 por mais 65 quilômetros na direção noroeste, e mais 23 quilômetros na GO-241, na direção sudoeste. Distância total de Brasília: 315 quilômetros. No Distrito Federal, o asfalto está um pouco danificado, mas sem buracos na pista. Nos trechos goianos, as rodovias estão em bom estado e bem sinalizadas. Opção Brasil Ricardo Zinner Ricardo Zinner Ricardo Zinner Teresina de Goiás Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros já têm trilha demarcada e estão acessíveis ao público. Destacam-se a Santa Bárbara, considerada a mais bela de todas, Capivara, São Bartolomeu, Prata 1, 2, 3 e 4, Rei, Ave Maria e Renascer. Outros destaques no município são o Poço Xamânico, a Ponte de Pedra, formada pela passagem do rio São Domingos através da rocha, e o Mirante da Ave Maria. Cavalcante é o município da chapada com maior extensão territorial (7.000 quilômetros quadrados), sendo que uma boa parcela — a mais preservada — do Parque Nacional encontra-se dentro de seus limites. A Chapada dos Veadeiros é o mais antigo patrimônio geológico do continente, com sedimentos originais que remontam ao período Pré-Cambriano, entre 1,7 e 1,1 bilhão de anos. Conhecê-la é, simplesmente, dar um mergulho numa das mais remotas eras geológicas da terra, empreender uma aventura pela esplendorosa natureza e conviver com seu povo simples e hospitaleiro. Alguma dúvida de que o passeio seja imperdível? Paraíso das cachoeiras A Chapada dos Veadeiros, no entanto, não termina aí. Tem um perímetro de 160 quilômetros e é cercada por muitos municípios goianos. A cidade de Cavalcante é um exemplo típico da biodiversidade e da riqueza geológica da região. É lá que os paredões de rocha são mais íngremes, e há planos de construir nas imediações uma nova entrada no lado norte do Parque Nacional, o que geraria centenas de empregos. Enquanto não vem a sonhada entrada para o parque, Cavalcante já é um deslumbre para os apreciadores da natureza: são 170 cachoeiras, sendo que mais de 40 delas Alex Uchôa Cortada pelo paralelo 14, o mesmo que passa sobre Machu Pichu, a Chapada dos Veadeiros atrai, além dos ecologistas e turistas, alternativos de todos os naipes No Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, cachoeiras como as do Vale da Lua (acima) e das Cariocas (à esq.), extasiam os turistas que percorrem o local. Para repor as energias, o ideal é apreciar o matulão (na página ao lado) no Bar do Valdomiro (à direita) Onde se hospedar e comer Na Vila São Jorge • Pousada Águas de Março Funciona na casa mais antiga da vila, construída em 1946. Tem 21 apartamentos, piscina, sauna a lenha e ofurô. Tel.: (61) 3347-2082 e 9962-2082 • Tapiocaria e Sorveteria Águas de Março. Tel.: (62) 3455-1080 • Restaurante da Nezinha (comida caseira). Tel.: (62) 3455-1023 • Papalua Delícias (panquecas). Tel.: (62) 3455-1085 • Pizzaria Lua de São Jorge. Tel.: (62) 3455-1054 A feijoada do sertão O matulão (ou matula) é o prato típico da Chapada dos Veadeiros e de todo o Cerrado brasileiro. É uma espécie de feijoada, que leva feijão branco e carne de sol refogada no alho e na cebola, e curcuma (açafrão da terra). Geralmente, é servida na folha da bananeira e precisa ser encomendada com antecedência, já que a preparação é demorada. Em Alto Paraíso • Pousada Camelot In É uma pousada temática, com fachada que lembra um castelo medieval. Dispõe de 20 apartamentos, restaurante e piscina. Tel.: (62) 3446-1581 e (62) 3446-1449 Em Cavalcante • Pousada Vale das Araras Fica a 2 km da cidade e tem sete charmosos chalés. Com um excelente restaurante, abriga, numa propriedade de 140 hectares, uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) e a cachoeira do Rio São Bartolomeu. Tel.: (62) 3459-0007 eu e meu carro | Por Guilherme Prezia Fotos Ricardo Ayres/Photocamera 8 | VidaBosch | carinhosamente. No entanto, não demorou muito para o compositor trocar o pequeno Volkswagen por veículos mais potentes e confortáveis. Essa paixão por automóveis pôde ser alimentada graças ao sucesso conquistado pelo sambista no país. Em poucos anos, suas músicas — como “Coisinha do pai”, “Vou Festejar” e “Enredo do Meu Samba” — ganharam interpretações de artistas consagrados, como Ney Matogrosso, Martinho da Vila, Zeca Pagodinho e Beth Carvalho. Fusca, a verdadeira paixão A primeira experiência ao volante do sambista Jorge Aragão, de 56 anos, não foi num carro de auto-escola, nem de amigo, nem de parente. Foi na sala de casa, em frente ao espelho, segurando um volante e uma manopla de câmbio. “Eu gostava de ver como eu ficaria dirigindo um carro de verdade”, conta. A idéia era que a estréia nas pistas como motorista deveria ser precedida de vários ensaios, assim como acontece nos palcos. Por coincidência, seus primeiros passeios “reais” ao volante de um carro aconteceram na mesma época de seu primeiro sucesso: a música “Malandro”, que estourou em 1977, interpretada por Elza Soares. “Malandro” foi importante para impulsionar a carreira de Aragão e, ao mesmo tempo, possibilitar a realização de um antigo sonho: ter um automóvel. Como a maioria dos brasileiros da época, o primeiro carro de Aragão foi um Fusca — ou “Fuca”, como o cantor gosta de chamá-lo, Coisinha tão bonitinha do pai O sambista Jorge Aragão tem um BMW e um Lexus, mas sua paixão verdadeira é um Fusca 1970 reformado durante três anos Com mais de 25 anos de carreira (e de direção), Aragão perdeu a conta de quantos carros já teve. “É mais fácil dizer o carro que eu não tive”, brinca o músico, demonstrando seu peculiar bom humor. Na longa lista de carros nacionais e importados (que inclui o BMW X5 e um Toyota Lexus que dirige atualmente), a predileção do sambista recai sobre um Fusca ano 70 todo transformado, do motor à carroceria. “O Fusca é a paixão, o amor. Só não ando mais freqüentemente com ele com medo de causar acidente”. O temor de Aragão refere-se ao coração do Fusca, ou melhor, a um motor de 2 mil cilindradas (semelhante ao de um Astra ou Santana) capaz de levar o pequeno “Fuca” a mais de 240 km/h. Como toda paixão implica riscos, Aragão teve que modificar a suspensão do carro para reforçar a segurança. Rodas de 20 polegadas (dimensões semelhantes às da Ferrari) aumentaram ainda mais a estabilidade. Para juntar todas as peças em busca do Fusca perfeito, o sambista investiu mais Jorge Aragão e seu “Fuca”: R$ 100 mil para deixar o carro uma pérola, com motor 2.0, rodas com polegada de Ferrari e peças renovadas R$ 100 mil num serviço que consumiu mais de três anos de mão-de-obra, numa oficina especializada em São Paulo (SP). Além de ganhar um motor possante, o Fusca teve toda sua carroceria modificada, do teto ao chão, passando por todos os detalhes. Quase todas as peças e componentes foram trocados, como vidros, párachoques, faróis e retrovisores. O interior do carro também foi todo refeito, com novos bancos (os mesmos do Omega australiano), acabamento, monitores de TV e aparelho de DVD. “É a Disneylândia ali dentro. O som do carro é o seguinte: numa escala de 1 a 10, se eu ligar no 2 você me chama de doido e sai de dentro do carro”, brinca. Esse interesse intenso por automóveis deveria, claro, refletir de alguma maneira na música de Aragão. “A relação que eu tenho de carro com a música é dirigir. Isso me inspira muito”, explica. Ele chegou a fazer viagens de carro ao Nordeste, por vezes dirigindo de noite e enfrentando chuva. A canção “Além de mim” foi escrita após uma viagem entre Rio e São Paulo que Aragão fez com o seu amigo Nilton Barros. Na rodovia Dutra, eles se depararam com um acidente envolvendo carros e caminhões. Como o resgate ainda não havia chegado, Nilton, que tinha formação de bombeiro, ajudou a socorrer as vítimas que estavam entre as ferragens. O episódio comoveu Aragão e o fez escrever a canção. “Não é por acaso que sinto essa angústia na voz / Esse nó na garganta que não se desfaz / Esse tremor nas mãos, esse frio nos pés”, dizem os versos iniciais da letra. Mesmo sendo dono de três carros possantes, Aragão diz ser um motorista tranqüilo. “Depois de velho, eu estou com medo de ficar com sono. Depois que eu fiz o negócio da ponte de safena eu fiquei meio bobo”, diz, soltando uma gargalhada. Além de cauteloso, Aragão é também precavido com relação à manutenção de seus carros, e diz seguir à risca as recomendações dos fabricantes. “Qualquer sinalzinho ou lâmpada que acende eu já corro para a oficina”. O sambista diz ter ainda um ouvido bem afiado para perceber eventuais ruídos que indiquem possíveis problemas mecânicos. “O meu ouvido de mecânico é melhor do que o de músico”. A Bosch na sua vida Arquivo Bosch Estabilidade, mesmo sobre buracos Para complementar o conforto de um carro, nada melhor que um aparelho de DVD. Um dos modelos mais indicados para automóveis é o DVD IVOD 1022, monitor de teto com leitor de DVD integrado. Desenvolvido pela Blaupunkt, marca dos produtos da unidade de Car Multimedia do grupo Robert Bosch, ele possui um dispositivo antichoque que amortece os impactos causados por buracos e lombadas, o que evita que o filme seja interrompido. Além disso, o aparelho conta com um dos maiores monitores da categoria: 10,2 polegadas. Arquivo Bosch Fonte de energia Um carro com parafernálias eletrônicas, como o de Jorge Aragão, precisa respeitar o equilíbrio entre consumo e reposição de energia na bateria. Amplificadores, falantes e CD player dependem do sistema elétrico e, se não estiverem instalados da forma adequada, podem interferir em outros componentes, como faróis ou motor de arranque. Uma das alternativas para quem quer alargar o limite desse equilíbrio entre consumo e reposição é trocar a bateria. Uma das opções é a Bosch Silver Plus, que armazena até 25% mais energia que uma bateria comum. Ela gera correntes mais altas e, assim, contribui para estender a vida útil do sistema elétrico. 10 | VidaBosch | torque e potência Por | Fabiano Angélico A viagem dos pesos pesados No transporte de cargas superpesadas, trecho de 140 quilômetros pode demorar quatro dias Matuiti Mayezo/Folha Imagem V Em alguns casos, o transporte das supercargas precisa ser acompanhado de técnicos da Prefeitura (página ao lado). Eles retiram semáforos, mexem na fiação ou param o trânsito para dar passagem ao caminhão (à direita). ocê mora em Jundiaí, no interior de São Paulo, e precisa ir a Santos. Acorda por volta das 7h30, toma banho, toma café, prepara os documentos necessários — a viagem é de negócios. Por volta das 8h30, sai de casa no seu carro: a reunião está marcada para as 11h em Santos. Cerca de 140 quilômetros separam as duas cidades. Estrada em boas condições, paradas apenas nos pedágios, você chega à sede da empresa às 10h30. O encontro começa pontualmente às 11h. Ao meio-dia, você procura um lugar agradável para almoçar. Por volta das 13h30, você entra no seu carro para a viagem de volta. Às 15h30, já está no escritório, em Jundiaí. Esse tranqüilo roteiro não vai se repetir, se, em vez de um carro de passeio levando um empresário e sua pasta, o veículo for, por exemplo, um caminhão com 20 metros de cumprimento que transporta um transformador de energia, de algumas centenas de toneladas. “Entre Jundiaí e Santos a viagem dura quatro dias”, conta Francisco Carlos Verpa, gerente operacional da Cruz de Malta, transportadora especializada em cargas excepcionais e indivisíveis. A demora se explica não apenas pela velocidade controlada da carreta. Como o caminhão causaria muitos transtornos ao trânsito se se deslocasse no horário comercial ou no início da noite, o conjunto — carreta mais carga — tem que viajar durante a madrugada. “O caminhão sai de Jundiaí às 23h e chega em São Paulo por volta das 4h da manhã. Só na Grande São Paulo, levamos mais duas noites para fazer o trajeto. Na quarta noite é que descemos a serra”, afirma Verpa. Em fevereiro, a empresa em que ele trabalha foi responsável pelo transporte de um transformador que, somado à carreta, pesava 580 toneladas. “Eram 150 metros de cumprimento, 6,5 metros de largura e 5,7 metros de altura”, diz. “Uma carreta dessas anda, no máximo, a 10 quilômetros por hora”. Os itens superpesados incluem peças de indústrias (asas de avião, componentes de usinas hidrelétricas), embarcações ou até cargas em nada afeitas a estradas, tráfego e grandes cidades — como animais de grande porte. “Dois anos atrás, precisamos fazer o transporte de uma girafa”, conta Paulo Fonseca Peirão, técnico de trânsito da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), órgão que gerencia o tráfego de veículos na cidade de São Paulo. “Disseram para a gente que ela tinha recebido treinamento durante semanas para entrar no caminhão. Mas, no dia de levar, a girafa não entrava no caminhão de jeito nenhum. Acabou que levamos uma outra girafa, mais mansa”, conta Peirão, às gargalhadas. A trabalheira, porém, começa antes mesmo de o caminhão pôr a roda na pista. Isso porque, para pegar a estrada, os veículos que transportam cargas superpesadas têm que ter autorização. “Levamos, em média, cinco dias desde o início do processo, quando começamos a mexer com a papelada, até pegar a autorização”, explica Bylly Washington, supervisor operacional da Irga, empresa de transportes de cargas especiais. “Mas, às vezes, isso toma um mês. É que, dependendo da carga e do trajeto, temos que providenciar um estudo, ver se dá para passar pela ponte tal, ver qual a rota”, exemplifica. AE 12 | VidaBosch | torque e potência | VidaBosch | 13 torque e potência O engenheiro Valmir Quaresma é um dos profissionais do mercado que cuidam exclusivamente desses estudos. A Projecon, empresa em que trabalha, é especializada em planejamentos de rotas para cargas superdimensionadas. “As pessoas às vezes acham que é só colocar o caminhão na estrada e pronto. Mas não é assim. É preciso fazer todo o trabalho de análise para definir as rotas e os locais onde o veículo pode parar”, diz. “Não fazemos os roteiros mais lógicos, e sim os mais viáveis”, comenta. “É preciso contemplar se as condições do trecho permitem a passagem de cargas daquele porte. Para isso, verificamos a conservação e as características de todas pontes e viadutos do trajeto, considerando-se o peso da carga”. Os cálculos levam em conta as várias dimensões do conjunto. “Além de pesadas, es- sas cargas são grandes. Acontece de o peso não ser problema, mas a altura nos obriga a desviar das restrições geométricas, como um viaduto”, explica Quaresma. Em geral, segundo ele, o estudo de um percurso de cerca de 100 quilômetros demora três dias. “Mas, se o trajeto for de mil quilômetros, levamos uns 15 dias”. Papéis, muitos papéis Depois de definir o roteiro, a transportadora tem que obter uma autorização para trafegar — ela é necessária se as dimensões superarem 4,4 metros na altura, 2,6 metros na largura e, no comprimento, 18,5 metros (para veículos articulados, ou seja, caminhão com quinta roda) ou 19,8 metros (veículo com reboque). Caso um veículo seja flagrado sem a autorização, a infração é considerada grave: o motorista perde cinco pontos na carteira de habilitação e tem que pagar multa de R$ 127,69. Se o caminhão passar por mais de uma estrada e mais de uma cidade, a necessidade de documentos se multiplica. Se for trafegar em uma rodovia estadual, a autorização tem que ser retirada no Departamento de Estradas e Rodagem (DER); caso o veículo necessite passar por rodovias federais, o ok fica a cargo da Polícia Rodoviária Federal. E, nas estradas privatizadas, a autorização deve ser emitida pela concessionária e pelo DER. Fazendo as contas: se o caminhão necessita passar por estradas federais, estaduais e privatizadas, são quatro autorizações. Caso seja necessário entrar em uma cidade, serão cinco. Para passar pela cidade de São Paulo, a autorização é concedida pela CET. “A empresa tem que se deslocar até a nossa sede A viagem com um carregamento que pesa centenas de toneladas demora mais não só porque a velocidade do caminhão é controlada, mas porque o trajeto precisa ser feito por trechos que evitem pontes e viadutos com o estudo do roteiro, a especificação das cargas e do caminhão e a documentação do veículo”, informa o gerente de operações da CET, Paulo Milano, que garante a concessão da autorização em 24 horas, caso a carga tenha peso inferior a uma tonelada. “Acima disso, entregamos a autorização em até 72 horas”. Milano informa que a presença de técnicos da CET acompanhando o percurso pela cidade de São Paulo não é sempre necessária. “Só quando precisamos mexer em semáforos, ou em passarelas, ou o carro precisa andar na contra mão. Por exemplo: os semáforos têm 5,2 metros de altura. Se precisarmos desligar ou mexer neles de alguma forma, tem que ir gente nossa”, conta. Nesses casos, as transportadoras têm que pagar. O valor é definido por hora, para cada técnico disponibilizado. “Se não precisar nada disso, pode ter apenas batedores”, diz Milano, lembrando ainda que a autorização da CET vale apenas para a cidade de São Paulo. “Emitimos cerca de 60 autorizações por dia”, diz ele. “Mas isso para as pessoas decentes, que tiram autorização. Outras não fazem o estudo do roteiro e nem pegam as autorizações e acabam por romper fiação e danificar pontes”, lamenta Milano. Hector Edchebaster/ZDL A tarifa paga pelos usuários representou, em 2004, 96% do faturamento das empresas privadas que administram rodovias no Brasil Para transitar por estradas com cargas superpesadas (como o barco Brasil 1, nas fotos ao lado, feito com ferramentas da Bosch), os caminhões precisam ter autorização de órgãos como Polícia Rodoviária e DER A Bosch na sua vida Arquivo Bosch Baixa velocidade, alta pressão No transporte de cargas superpesadas, a velocidade média dos caminhões fica em torno dos 10Km/h. Nessa condição, a mudança freqüente de marchas provoca variações intensas na rotação do motor, o que exige um alto torque (força de aceleração). Esse problema foi solucionado pelos sistemas de injeção diesel da Bosch, como por exemplo o Sistema Common Rail (fotos), que garante grande quantidade de injeção de combustível mesmo com o motor em baixas rotações, gerando maior torque. O Common Rail é um sistema eletrônico de injeção de alta pressão, em que a produção de pressão e a injeção são independentes. Esse aspecto modular é a principal diferença em relação aos sistemas convencionais. No Common Rail, a pressão de injeção é produzida independentemente da rotação do motor, pela bomba de alta pressão. O volume de injeção é gerenciado pelo injetor, enquanto o armazenamento da pressão fica em outro dispositivo, chamado rail. Outra característica do sistema é o controle eletrônico da injeção. Com isso, ganha-se precisão na quantidade de combustível injetada, o que melhora a combustão, reduz a emissão de poluentes e o consumo. 14 | VidaBosch | casa e conforto | Por Nathalia Barboza Fotos Rachel Guedes Os adereços na parede externa e o espaçoso deque de madeira, com espreguiçadeiras, cadeiras e sofás, ajudam a explicar por que João Armentano batizou sua casa de Ville Del Sole Um tributo ao sol, na Serra da Mantiqueira O arquiteto João Armentano usa amplas áreas envidraçadas para acalorar sua casa em Campos do Jordão, onde recebe amigos, coleciona memórias e descansa da rotina paulistana 16 | VidaBosch | casa e conforto | VidaBosch | 17 casa e conforto Fotos Rachel Guedes A casa em Campos do Jordão espelha alguns traços de João Armentano: a paixão por colecionar objetos de viagem, o bom humor (explicitado no lustre com galhada de cervo) e o gosto por janelões que privilegiam a luz do sol N eto de italianos, perfeccionista, amante de massas e de bons vinhos, João Armentano, 44 anos, é um dos mais bem-sucedidos arquitetos do Brasil. Sua fama, acredita ele, vem da sensibilidade que possui para captar a vontade e o desejo mais íntimo de cada um dos seus clientes. Se o cliente é ele mesmo, então a sintonia é perfeita, “ao dente”. A prova é a casa que projetou em Campos do Jordão para aproveitar o ar da Serra da Mantiqueira com amigos e a família — é casado há mais de 20 anos com a empresária Cristina e tem três filhos: Thiago, Julia e Isabella. O recanto, construído há dois anos, lançou mão de uma boa dose de criatividade para vencer o desafio do forte declive do terreno e ganhar uma vista panorâmica de Campos do Jordão. O projeto não fugiu à ousadia que tem permeado o trabalho de Armentano. Nele está presente o mesmo espírito aventureiro e corajoso que pode ser encontrado nos croquis do Helipark, em Carapicuíba (SP), e em dois de seus trabalhos na capital paulista: o Bar Cabral, que ajudou a deslanchar sua carreira de arquiteto, e a decoração do hotel Unique, projetado por Ruy Ohtake, projeto que o fez ganhar prestígio internacional. Ali na serra, depois de um caminho de pedras brancas, o visitante se depara com uma ponte de estrutura metálica revestida com ripas de madeira. A ponte dá acesso à porta principal da residência. Sob ela, o arquiteto aproveitou o declive do terreno para criar tanques com plantas aquáticas. O maior deles entra no andar intermediário da casa, construída em três pavimentos, onde se acessa a área social. É nesse cenário que Armentano dá vazão a seus sonhos, em cada espaço da casa. Na cozinha, por exemplo. “Não sei cozinhar, mas adoraria ser gourmet”, confessa. O jeito foi fazer do seu sonho um espaço convidativo para os amigos que são talentosos no fogão. “Quis conceber para eles uma cozinha de gourmet que fosse integrada à sala de jantar, operacional, mas com um toque de ambiente social da casa, com muito peso, o lado ‘quente’ da morada”, afirma. “Tem sido muito importante este convívio para nós. Eu e a Cris usamos a casa todos os finais de semana e gostamos de receber casais amigos. Sempre tem um que se compromete a fazer um prato diferente. A gente reúne todo mundo ao redor da mesa, toma um vinho e conversa muito”, conta. Uma das escolhas do arquiteto, para que a cozinha assumisse sua vocação de lugar para estar com os amigos, foi estender à cozinha o mesmo assoalho de tacos de ipê encontrado em toda a casa. Outro recurso que dá versatilidade ao espaço, de 25 metros quadrados, é a porta de correr que divide a cozinha e a sala de jantar. Na sala de jantar, um toque de humor está Nas paredes, o revestimento foge do tradi- evidente, bem acima da mesa, iluminada por um imenso lustre, que expõe uma galhada imponente de cervo. “Todos me perguntam: por que um lustre desses? Respondo: comprei os chifres para não ganhá-los”, brinca. Ao lado da enorme mesa redonda de madeira, aparece um louceiro branco adesivado com ideogramas chineses que desejam “saúde” aos freqüentadores da casa. Vários objetos na parede, como louças e peças em madeira vindas de várias partes do mundo, completam o ambiente de refeição. cional azulejo e recebe massa para pintura. Como em vários projetos de Armentano, a casa em Campos do Jordão tem um toque de humor: um lustre com galhada de cervos. “Comprei os chifres para não ganhá-los”, brinca o arquiteto Mais uma vez, explica Armentano, o objetivo foi reforçar o “apelo social” do ambiente. Na cozinha, os armários também são de madeira. Os móveis de wengé são da Florense. “Misturei gavetas e puxadores que desenhei para chegar ao que eu queria”, revela. Armentano comenta que todo o foco do projeto da cozinha está no fogão. “É a vedete, o centro das atenções”, diz. Depois de muita pesquisa, ele foi convencido de que deveria optar por equipamentos mais robustos e fugir de peças que fossem de qualidade duvidosa. O acabamento em aço do refrigerador, do freezer e da lavalouças dá personalidade ao projeto, com linhas mais simples, menos pesadas, explica Armentano. O ponto de discórdia no projeto é a luz fria da cozinha. “Não gostei. Não gosto de luz fria”, diz o arquiteto, que criou uma fenda na parte superior da bancada, no teto, onde o vidro convida o sol a entrar. “Gosto de sempre resgatar a luz natural, a melhor de todas.” Tributo ao sol A luz natural é muito bem-vinda na Ville Del Sole, como foi batizada a propriedade. Por fora, o lugar lembra o Spa em Casa, megaambiente assinado por Armentano para a Casa Cor São Paulo 2004. O ambiente da mostra tinha detalhes de madeira envelhecida na fachada e algumas paredes em limestone, lambris em madeira ripada e vidro nos caixilhos. Um ambiente com toque rústico, mas clean. Na casa da serra, Armentano repete a receita das placas de madeira com tratamento para parecer envelhecida. Elas revestem os dutos externos das lareiras. Na fachada que ladeia o deque social, por exemplo, as tábuas voltam a aparecer, auxiliando a reforçar o tom bucólico típico do cenário da Mantiqueira. casa e conforto | VidaBosch | 19 casa e conforto Fotos Rachel Guedes Integrada à sala de jantar, a cozinha costuma ser o local em que Armentano e sua família reúnem-se com os amigos. “A gente reúne todo mundo ao redor da mesa, toma um vinho e conversa muito”, conta O espaçoso deque de madeira ao lado da sala também convida a aproveitar o sol e a paisagem inesquecível de Campos do Jordão em espreguiçadeiras, cadeiras e sofás. A luz também entra por enormes janelões verticais que alcançam o chão, referência indiscutível aos lofts, conceito trazido pelo curioso e ousado Armentano para o Brasil. Das vidraças, podem-se ver um vale e uma boa parte da cidade. É um tributo ao sol, em plena Serra da Mantiqueira. O ambiente interno conta com luminárias dimmerizadas (que regulam a intensidade da luz). Há, ainda, abajures espalhados por pontos estratégicos, para aumentar a O ecletismo da decoração da casa — que mescla madeira, couro, fibras naturais e até papel machê — é harmonizado pelo forte senso estético do arquiteto iluminação apenas se necessário. Imensas cortinas rolê fazem o trabalho contrário, preservando os móveis dos raios solares. A decoração é marcada por uma dose de refinado humor. Uma hélice de madeira fica no chão, perto da parede, repleta de fotos e mapas. No alto, suspenso por cabos de aço, um antigo caiaque de madeira sobrevoa o estar dos Armentano. Em toda a sala de estar, o forte senso estético do arquiteto harmoniza o ecletismo da decoração em madeira, couro, fibras naturais e até papel machê. Toques bem equilibrados de irreverência e dramaticidade estão por toda a parte, como as velas coloridas quase derretidas sobre castiçais de cristal. A lareira ocupa uma parede inteira e também serve de abrigo para mais bibelôs, coletados nas andanças do arquiteto pelo mundo. A Bosch na sua vida Rachel Guedes 18 | VidaBosch | Os porquinhos O lado colecionador do arquiteto — palmeirense roxo, ou melhor, verde — se revela em todos os cantos. A figura do porquinho, por exemplo, aparece em vários pontos da casa, em porcelana, vidro, acrílico, madeira ou metal. Não poderiam faltar na cozinha, os pobrezinhos: as fotos de simpáticos leitõezinhos aparecem emolduradas ao longo de toda a bancada principal do local. Mas a veia colecionadora de Armentano vai além. Os ambientes são recheados de objetos como as esculturas de sapos, as belíssimas fotos de cavalos e os nem um pouco sutis cinzeiros de hotéis de Paris, de Milão e de outras cidades do planeta, que ficam expostos sobre uma mesa num canto da sala de estar. Com Armentano, as viagens são assim. Ele olha, gosta e leva a peça, não importa o tamanho ou a dificuldade de carregá-la. Foi assim com uma cadeira de madeira e couro trançado, comprada diretamente de índios no Uruguai; o baú de fibra carregado por ele e pela mulher aeroporto afora em Paris; ou ainda a poltrona de couro, embarcada em um navio em meio à mudança de amigos que vieram dos Estados Unidos. É ali na casa de campo que o arquiteto relaxa. E aproveita para criar seus melhores projetos, sem a pressão do telefone tocando ou de uma agenda cada vez mais apertada de compromissos profissionais e particulares. Linhas sóbrias, produtos duráveis Ao decorar e equipar a cozinha de sua casa em Campos do Jordão, o arquiteto João Armentano, um dos mais renomados do país, procurou itens que aliassem design leve e durabilidade. Nos eletrodomésticos, optou por fogão, geladeira, freezer e lava-louças da Bosch. “Queria eletros que fossem duráveis, que não tivessem cara de descartáveis”, justifica. A opção mostrou-se acertada. Adquiridos há mais de dois anos, os produtos não deram preocupação ao arquiteto. Em sua cozinha, ele tem uma Lavalouças Intelligent, um Refrigerador Intelligent Frost Free 44, um Fogão Elétrico e a Gás de cinco bocas e um Freezer Intelligent Frost Free. Todos são feitos com materiais resistentes e apresentam design com linhas sóbrias. O fogão, destaca, é o ponto central. “É forte, com cara de industrial, mas convida a gente à cozinha”, comenta Armentano. “E, acredite, nele a comida sai mais gostosa”, arremata, com a experiência de quem hospeda reuniões gastronômicas entre amigos quase todo final de semana. | VidaBosch| saudável | saudáveleegostoso gostoso 2020| VidaBosch Rachel Guedes | Por Talita Bedinelli O melhor deleite Usado em saladas ou massas, servido em pequenas fatias ou em cubos, o queijo é suficientemente versátil para agradar a qualquer paladar 22 | VidaBosch | saudável e gostoso | VidaBosch | 23 saudável e gostoso O queijo é um ingrediente quase sempre coadjuvante. Em jantares íntimos ou em reuniões entre amigos, os holofotes recaem mesmo sobre os vinhos. Nas mesas de bar, ele vigora apenas como petisco, necessário somente quando o apetite resolve aparecer. Mas é certo que sua variedade e sua capacidade de combinar-se com outros alimentos são tão grandes que não há paladar exigente que resista. Dos singelos — mas nem por isso menos saborosos — mineiros, até os soberbos franceses, todos têm adoradores. Na gastronomia, serve, nas entradas, para dar maior sabor às saladas; recobre e recheia os pratos principais; e, na sobremesa, faz parceria com goiabadas e encorpa caldas. Entra como coadjuvante, mas freqüentemente conquista o papel de estrela: a chef Alice Mesquita, do restaurante Alice, em Brasília, conta que, nas visitas que faz regularmente à França para buscar inspiração para suas receitas, observou algo interessante. “A tradição campestre empresta aos queijos o lugar dos doces: ele é servido sozinho, após as refeições”. Suas propriedades — e suas delícias — são conhecidas há muito tempo. Entre os gregos, reza a mitologia que o queijo foi descoberto pelo pastor Aristeu, um dos filhos de Apolo, o deus da música. Na Bíblia, 3 mil anos antes de Cristo, Samuel — primeiro profeta de Israel — faz referência ao alimento: o queijo foi levado por Davi ao comandante dos israelitas (Saul), no combate contra Golias e os filisteus. Na Ilíada e na Odisséia, obras de Homero, do século 8 a.C, os personagens Plínio e Virgílio ensinam a fabricá-lo. Rachel Guedes O queijo pode – e deve – ser incluído na dieta desde a infância. Para as crianças, ele é fundamental na formação de ossos, dentes e cartilagens Queijos de coloração mais amarelada — como mussarela, parmesão ou prato — são os mais gordurosos e devem ser evitados, principalmente por quem tem colesterol alto Com origens tão remotas, não se sabe ao certo como o queijo foi descoberto. Acreditase que pode ter sido por acaso. Há mais de 10 mil anos, quando se começou a ordenhar animais para obter o leite, notou-se que as altas temperaturas faziam com que a bebida coalhasse rapidamente. Quando isso acontecia, escorria um líquido, o soro, o que tornava a coalhada mais consistente. O processo foi acelerado colocando-se o leite coalhado em um recipiente com furos, fazendo com que o soro escorresse e restasse apenas uma pasta branca e mais sólida: o requeijão — até hoje produzido da mesma forma. O queijo primitivo era muito simples: apenas o leite coagulado, desprovido de soro, e salgado. Hoje, o processo de fabricação é mais complexo: as etapas incluem a filtragem do leite, a adição de fermentos lácteos, a coagulação do leite com o coalho, a compressão para a retirada do soro, a salmoura e, por fim, a cura. Ele pode ser feito à base de coalhada ou leite, geralmente de vaca, mas também de ovelha ou de cabra. O sabor e a consistência variam de acordo com a qualidade do leite, seu grau de acidez, a porcentagem de gordura e outras características, além do processo usado para a elaboração, que também desempenha importante papel. Desde cedo também já se descobriram as virtudes nutritivas do queijo. Assírios, caldeus, egípcios e, posteriormente, gregos e romanos usavam-no para garantir o vigor dos soldados durante as guerras. E não era por acaso: ele é uma respeitável fonte de proteínas — chegando a ser considerado por muitos uma espécie de “carne branca”. Além disso, os queijos em geral contêm vitaminas importantes para o metabolismo. “Quando consumidos pelo menos três vezes ao dia, contribuem eficazmente para o atendimento diário de, no mínimo, 35% das necessidades de cálcio, fundamental na formação das estruturas ósseas e cartilaginosas, e 30% das necessidades de vitamina A, importante antioxidante que atua sobre os radicais livres”, afirma a nutricionista Juliana Nogueira, de São Paulo. Os queijos, destaca, “são também excelente fonte de proteínas de alto valor biológico, fósforo e vitaminas do complexo B”. Além disso, o queijo pode — e deve — ser incluído na dieta desde a infância, pois tem funções específicas para cada faixa etária. Para as crianças, ele é essencial na formação e no desenvolvimento de ossos, dentes e cartilagens. Na adolescência, contribui para atender a maior demanda por proteínas, cálcio e vitaminas, motivada pelo súbito crescimento nessa faixa etária. Na fase adulta e para os idosos, pode ajudar a evitar doenças como a osteoporose e a anemia. Com moderação É importante observar, porém, que os queijos, por mais saborosos que sejam, não devem ser consumidos de forma exagerada. Mesmo seus nutrientes podem ser um problema quando consumidos em excesso. Em comparação ao leite, ele concentra de seis a dez vezes mais proteínas e de quatro a oito vezes mais cálcio. Uma fatia de queijo minas, por exemplo, tem sozinha 23% da quantidade de cálcio necessária para um adulto. A coordenadora de gastronomia do Centro Valéria Paschoal de Nutrição, Joana Mura, avalia que nem todos os queijos são a melhor opção para uma dieta saudável. “O motivo é o seu alto teor de sódio e gordura saturada, que pode aumentar o risco da obesidade, doenças cardíacas e níveis de colesterol”, alerta. Os tipos com menos gordura, como cottage, ricota e os da linha light, são os mais saudáveis. Os de coloração mais amarelada — como mussarela, parmesão ou prato — são os mais gordurosos e devem ser evitados, principalmente, por quem apresenta níveis de colesterol acima do normal. A nutricionista Juliana Nogueira põe essa diferença em números: 30 gramas de queijo cheddar ou roquefort apresentam 6 gramas de gorduras saturadas e 31 miligramas de colesterol, enquanto a mesma quantidade do tipo cottage tem apenas 1 grama de gorduras saturadas e 1 miligrama de colesterol. Mas nada disso é motivo de alarde. É possível continuar se deliciando com um bom pedaço de queijo, de forma moderada. “Qualquer alimento pode deixar de ser saudável quando consumido em excesso. O que é realmente importante para a saúde é controlar os alimentos gordurosos no dia-a-dia, mas sem virar escravo de dietas. Tudo é permitido em quantidades pequenas” , diz Juliana. A Bosch na sua vida Arquivo Bosch Gratinado profissional Nada é mais importante para um prato ser bem-recebido à mesa do que uma boa aparência. E, quando a receita envolve queijos entre os seus ingredientes, o mais atraente é aquela cobertura dourada. Nesses casos, o ideal é contar com o sistema Power Grill, uma tecnologia que pode ser encontrada nos fogões P4 Safety Cook e P3 Time Control, da Bosch. Depois que o alimento está assado e o queijo derretido, o sistema de quartzo blindado entra em ação e gratina a receita por igual. Além de proporcionar um acabamento mais bonito, ele ainda reduz o tempo de cozimento, pois funciona três vezes mais rápido que o grill convencional. Arquivo Bosch Frios bem guardados Queijos com cheiros fortes podem-se tornar um problema na geladeira quando não armazenados corretamente. O odor de alguns tipos, como o roquefort, pode facilmente aderir a todos os outros alimentos, e inclusive alterar o sabor dos mais sensíveis. Por isso, a gaveta de frios com deslocamento, presente nos refrigeradores Inteligent Frost Free, Glass Line KSV 47 e Style Ecológico, da Bosch, é ideal para conservar as características dos produtos. O compartimento separa os queijos e ainda permite um deslocamento mais fácil. Outra vantagem é que ela ajuda a otimizar o espaço interno da geladeira, o que contribui para organizar melhor a comida nos compartimentos. 24 | VidaBosch | saudável e gostoso | Por Talita Bedinelli Ricardo Labastier Ricardo Labastier Uma fronteira entre França e Minas Gerais Celebrada chef de Brasília, a mineira Alice Mesquita mescla influências francesas a raízes brasileiras em suas receitas — inclusive as de queijo N ascida em Minas Gerais, Alice Mesquita começou sua carreira na culinária de forma singular. Funcionária do Senado Federal por 27 anos, foi moldando suas habilidades gastronômicas em reuniões com os amigos, onde preparava quitutes sempre elogiados. Quando se aposentou, resolveu fazer do hobby uma nova profissão e abriu o restaurante Alice, em Brasília. Crepe de maçã e queijo brie Ingredientes 150 gramas de farinha de trigo 150 gramas de queijo brie 2 maçãs 2 ovos 20 gramas de manteiga 150 ml de leite 150 ml de cidra 50 ml de calvados ou conhaque 1 colher de chá de açúcar 1 pitada de sal Logo se tornou uma chef conhecida por misturar o bom gosto da culinária francesa com Modo de preparo Misture bem a farinha, o sal, o açúcar e os ovos. Junte o leite e a cidra. Deixe repousar por 30 minutos no refrigerador. Cozinhe os crepes e reserve-os em local aquecido. Esquente o forno a 180º C. Descasque as maçãs e corte-as em lâminas finas. Leve ao fogo a manteiga, as maçãs e o açúcar e cozinhe por alguns minutos. Fora do fogo, adicione os calvados ou o conhaque. Leve novamente ao fogo e flambe. Recheie os crepes com porções de maçã e queijo brie e leve-os ao forno para gratinar o queijo. Sirva quente com uma pequena salada verde. toques da cozinha brasileira. No ano passado, uma edição especial da revista “Veja Brasília” celebrou o requinte e a qualidade de seu trabalho: ela recebeu os prêmios de “Chef do ano”, “Melhor restaurante francês” e “Melhor cozinha Salada de queijo e champignons da cidade”. Como boa mineira, Alice não dispensa o queijo em suas receitas. “O produto é versátil e se presta a mil interpretações. Como a variedade é muito grande, quem não gosta de um tipo mais Eleita melhor chef de Brasília, Alice elogia a versatilidade do queijo: “Quem não gosta de um mais forte, pode optar por um de sabor mais suave” forte, como o reblochon, pode sempre optar por um com sabor mais suave”, diz. Para os leitores da VidaBosch, a chef selecionou duas receitas especiais e fáceis de fazer em casa. Os crepes de maçãs com queijo brie gratinado ficam ótimos quando acompanhados de folhas verdes. E, para dar uma variada nas saladas, é só adicionar uma pitada de gorgonzola ou roquefort. Restaurante Alice SHIN QI 11, conj. 9, casa 17/Lago Norte/Brasília Fone: (61) 3368-1099 Ingredientes 1 pimentão vermelho 100 gramas de queijo gorgonzola ou roquefort picados 50 gramas de cebolas roxas 150 gramas de champignons Paris 100 gramas de tomates Alface crespa Salsa e cebolinha picadinhas 3 colheres de sopa de maionese 2 colheres de sopa de azeite ½ colher de sopa de vinagre branco ½ colher de chá de açúcar Sal a gosto Modo de preparo Corte o pimentão em pequenas tiras. Jogue-o em água quente salgada por 30 segundos e, em seguida, em água gelada. Escorra e deixe esfriar. Corte o queijo em pequenos pedaços. Fatie as cebolas. Deixe cinco minutos na água gelada e escorra. Reserve. Pique os champignons e corte os tomates em quatro pedaços, retirando as sementes. Reserve. Lave e seque as folhas de alface. Numa travessa, coloque a alface, salpique com a salsa e a cebolinha. Sobre a alface disponha a cebola, os tomates, os champignons, o queijo e o pimentão. À parte, faça um molho com o azeite, o vinagre, o sal e o açúcar, tudo bem misturado, e regue a salada.Sirva a maionese à parte. 26 | VidaBosch | tendências | Por Manuel Alves Filho Contra a poluição, um calendário ecológico Hein von Horsten/Getty Images Emissão de monóxido de carbono por automóveis cai 98% em 20 anos, influenciada por um cronograma de melhorias técnicas na indústria automotiva. Plano prevê mais reduções nos próximos anos 28 | VidaBosch | tendências tendências | VidaBosch | 29 Vladimir Pcholkin/Getty Images N o início dos anos 90, o então presidente Fernando Collor de Mello gerou polêmica ao afirmar que os automóveis brasileiros assemelhavam-se a carroças. À época, a comparação dividiu a opinião pública. Decorrida mais de uma década, a frase de Collor jaz definitivamente no ferro-velho das citações. Hoje, os carros fabricados no Brasil têm, em vários aspectos, qualidade similar aos montados em países desenvolvidos. Os avanços registrados nos últimos anos compreendem diversos itens, que vão do design ao conforto, passando pela segurança. Entre os segmentos que mais evoluíram no período aparece também a chamada eletrônica embarcada, notadamente os dispositivos voltados ao controle da poluição. Graças ao desenvolvimento de novas tecnologias, os níveis de monóxido de carbono (CO, gás altamente tóxico) emitidos pelos veículos produzidos hoje no país são, em média, 98% inferiores aos verificados na década de 80. A melhora no desempenho dos automóveis brasileiros no que toca à emissão de poluentes é resultado direto do Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve), criado em 1986, que estabelece a adoção gradual de medidas que promovam o controle da poluição. “O êxito do Proconve se deve justamente a um cronograma bem elaborado, com etapas cada vez mais restritivas, mas sempre em sintonia com a realidade brasileira”, avalia o coordenador do programa, Paulo Macedo. Nos últimos 20 anos, foram executadas quatro fases do Proconve, em cumprimento às normas fixadas pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). Elas foram responsáveis pela introdução de processos e tecnologias que praticamente eliminaram das ruas as “chaminés ambulantes”, como eram irônica e popularmente chamados os automóveis que contaminavam o ar com densas nuvens de fumaça. Assim, o carburador deu lugar ao sistema de injeção eletrônica, e o catalisador, espécie de filtro dos gases, passou a fazer parte do sistema de escapamento dos carros e do vocabulário dos motoristas brasileiros. Embora a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e o Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças) informem não dispor de nológicos existentes não foram capazes de proporcionar o resultado esperado. Como conseqüência, a lei teve de ser reformulada, o que representou um passo atrás em relação ao programa original”, relata. A Bosch na sua vida Arquivo Bosch Falta fiscalizar Diminuição dos poluentes está ligada ao Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve), criado em 1986 Inspeção veicular, que poderia verificar a poluição causada por carros usados, foi criada em 1993, mas ainda não saiu do papel dados específicos sobre investimentos em favor do controle da poluição veicular, o coordenador do Proconve estima que a indústria brasileira tenha desembolsado perto de US$ 1 bilhão no período. Os recursos foram aplicados principalmente na condução de pesquisas e no desenvolvimento de tecnologias ambientalmente corretas. Como conseqüência desse esforço financeiro e científico, a emissão média de CO por veículo caiu de 54 g/km (gramas por quilômetro) para apenas 0,3 g/km, segundo Macedo. Além de alcançar “expressivo sucesso” no controle da emissão de poluentes, acrescenta o coordenador do Proconve, o programa também trouxe reflexos positivos para outras áreas. Para atender às exigências da legislação, o setor automotivo teve de modernizar o seu parque industrial, o que contribuiu para a geração de novos postos de trabalho. “Mais uma decorrência do programa foi a melhoria da qualidade dos combustíveis automotivos, sem falar nos ganhos para a saúde pública”, enumera. A partir de 2007, segundo a legislação, deverá ser instalado, em duas fases conse- cutivas e complementares, o sistema de diagnose de bordo (OBD, na sigla em inglês) nos veículos zero quilômetro, produzidos ou importados para o mercado brasileiro. O OBD é constituído de vários dispositivos eletrônicos capazes de apontar eventuais defeitos nos sistemas de ignição e injeção de combustível. Os equipamentos também detectam possíveis falhas de combustão e problemas nos sensores de oxigênio e no catalisador. Pelo cronograma, os fabricantes terão até 2011 para dotar toda a frota de carros novos com essas tecnologias. “Com isso, vamos reduzir ainda mais a emissão de poluentes”, prevê o coordenador do Proconve. O engenheiro Celso Arruda, professor da Faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), concorda que o OBD contribuirá para o controle da poluição gerada pelos veículos. De acordo com ele, a tendência é que os automóveis tornem-se cada vez mais eficientes, graças ao emprego crescente da eletrônica. Mas ele faz uma ressalva. A legislação, diz, precisa levar em consideração a disponibilidade de tecnologia, sob pena de as metas previstas não serem atingidas. Isso ocorreu na Europa, onde foi formulada uma lei altamente restritiva. “Os objetivos não puderam ser cumpridos, pois os recursos tec- A despeito dos avanços proporcionados pelo Proconve, confirmados pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), uma meta extremamente importante ainda não foi atingida: a implementação no país dos serviços de inspeção e manutenção veicular. Sem eles, torna-se difícil identificar os carros cujos dispositivos de controle de poluentes apresentem falhas. Ou seja, é possível que, por falta de fiscalização, parte da frota nacional esteja prejudicando o ambiente além do que seria admissível. “Sem dúvida alguma, esses programas são necessários para que os proprietários de veículos automotores dêem sua efetiva contribuição para a redução da poluição do ar”, reconhece Paulo Macedo. Regulamentados pelo Conama em 1993, portanto há 13 anos, os serviços de inspeção e manutenção veicular não foram criados até hoje por problemas de ordem política e burocrática. Até que os impasses sejam definitivamente superados, os automóveis que apresentam problemas nos equipamentos de redução de poluentes continuarão livres de multas. Bom para o bolso, ruim para a saúde. Segundo estudo divulgado em 2005 pelo Banco Mundial, a poluição do ar mata cerca de 800 mil pessoas anualmente no planeta. Mais tecnologia, menos poluição A legislação brasileira, ao impor limites para emissão de poluentes, fez a indústria acelerar suas pesquisas. Na Bosch do Brasil, por exemplo, três soluções apresentadas ao mercado recentemente ajudam a reduzir a poluição: o motor multicombustível, o Flex-Start e o Start-Stop. Esses sistemas contribuem para as montadoras conseguirem cumprir as metas estipuladas para 2009. O multicombustível permite que um carro funcione com gás natural, gasolina e álcool. Ao admitir o uso do gás natural, o dispositivo possibilita que o motorista recorra a um combustível que produz menos monóxido de carbono. Para os carros que rodam a álcool, foi desenvolvido um sistema que age no momento em que o automóvel mais emite poluentes: quando o motor está frio. Chamado Flex-Start, ele elimina o reservatório de gasolina nos veículos a álcool ou multicombustíveis. No sistema atual, após a partida, a gasolina assegura o funcionamento do motor, pois queima mais rapidamente, enquanto parte do álcool se condensa. O Flex-Start esquenta o álcool para que ele evapore mais facilmente durante a partida. Isso dispensa o uso da gasolina e garante que todo o combustível injetado seja usado pelo motor. Assim, economiza combustível — e, portanto, polui menos. “Isso permite uma redução de 18% na emissão de poluentes durante a fase fria”, afirma o chefe de Engenharia de Desenvolvimento e Aplicação da Bosch, Marcelo Brandão. Já o Start-Stop pode ser aplicado a qualquer carro. Ele reduz o consumo (e a emissão de poluentes) em ocasiões em que o veículo está em marcha lenta. Como? Desligando o carro sempre que a seguinte situação durar mais de cinco segundos: automóvel parado, pedal do freio acionado e pedal de embreagem não acionado. O sistema volta a ligar o carro assim que a embreagem for acionada. A estimativa é que o Start-Stop reduza de 5% a 15% a emissão de poluentes. Quanto pode ser despejado na atmosfera Limites Poluentes (grama/km) Desde 1997 monóxido de carbono 2,0 hidrocarbonetos 0,3 hidrocarbonetos não-metano — óxidos de nitrogênio 0,6 material particulado 0,05 aldeídos 0,03 emissão evaporativa (grama/ensaio) 6,0 emissão de gás no cárter nula Até 31/12/2005 (para 40% da frota) 2,0 0,3 0,16 0,25(1) ou 0,60(2) 0,05 0,03 2,0 nula (1) Aplicável apenas a veículos a gasolina ou álcool, (2) Aplicável apenas a veículos a diesel Fonte: Proconve Até 31/12/2006 (para 70% da frota) 2,0 0,3 0,16 0,25(1) ou 0,60(2) 0,05 0,03 2,0 nula Até 31/12/2006 (para 100% da frota) 2,0 0,3 0,16 0,25(1) ou 0,60(2) 0,05 0,03 2,0 nula A partir de 01/01/2009 2,0 0,3 0,05 0,12(1) ou 0,25(2) 0,05 0,02 2,0 nula 30 | VidaBosch | grandes obras | Por Aryane Cararo Banco de Imagens/Petrobras A PRA-1 vai receber o petróleo de outras plataformas e bombeá-lo a navios ou ao continente, por dutos submarinos Com investimento total de R$ 1 bilhão, a PRA-1 está sendo construída em São Roque do Paraguaçu, na Bahia, e será transportada por mar até o Rio de Janeiro O robô do petróleo Plataforma da Petrobras de 22 mil toneladas, que está sendo construída na Bahia, terá estrutura computadorizada e mais de 9 mil instrumentos de medição N ovembro de 2006. Dois rebocadores com enormes balsas de carga se aproximam da costa fluminense. Sobre elas, pesadas e gigantescas estruturas metálicas vão despontando. É possível distinguir algumas torres e chaminés proeminentes. Cada módulo, que tem a altura de um prédio de 15 andares, vem lento pelo oceano, depois de uma viagem de uma semana de São Roque do Paraguaçu, no município baiano de Maragogipe, até o litoral do Rio de Janeiro, na Bacia de Campos. A 120 quilômetros da costa, onde o mar tem 106 metros de profundidade, os rebocadores param. É preciso muita atenção a partir de agora para não pôr um trabalho de mais de dois anos a perder: a Plataforma de Rebombeio Autônoma da Petrobras, chamada de PRA-1, começará a ser montada em alto-mar. Será a primeira desse tipo no Brasil. Outras duas balsas, de diferentes regiões, trazem as estruturas restantes. Uma vem do Rio de Janeiro, portando o módulo de geração de energia. A segunda é de Pontal do Paraná, no litoral paranaense, e carrega a jaqueta, uma estrutura de 113,5 metros que fixará a plataforma ao solo marinho. O trabalho a seguir é tão específico que há apenas dois equipamentos no mundo habilitados a fazê-lo. Cada dia de operação da balsa-guindaste pode custar mais de R$ 1 milhão. Ela deverá içar a jaqueta e os módulos – de geração, bombeamento, utilidades, de alojamento e heliponto – que, montados, compõem a grande estrutura de 22 mil toneladas da PRA-1 (o equivalente ao peso de 22 mil carros populares!). Em dezembro, essa fase estará concluída. Mas não será no início de 2007 que a plataforma começará a escoar os 750 mil barris de petróleo por dia, vindos por dutos de um conjunto de plataformas de outro tipo, as de extração: P-51, P-52, P-53, P-55 e Módulo 4, dos campos de Roncador e Marlim. Isso deverá acontecer somente em julho, segundo o consórcio CNO/UTC, formado pelas empresas Odebrecht e Ultratec, responsável pela construção dos módulos na Bahia e montagem final da plataforma. Até lá, o consórcio vai acompanhar as atividades de integração ao mar (hook-up) e pré-operação. Assim que a última peça, das mais de 5 mil, for ajustada, engenheiros e operários darão vida a uma estrutura metálica computadorizada que faz quase tudo sozinha, uma espécie de “Frankstein do petróleo”. A função da PRA-1 é, como o nome sugere, receber o óleo daquelas plataformas em águas profundas (mais de mil metros) e bombeá-lo para um navio armazenador ou para naviostanque atracados em bóias próximas. Ela não extrairá petróleo e nem irá operar com gás, mas será peça fundamental no Plano Diretor de Escoamento e Tratamento de óleo da Petrobras. No futuro, também deverá enviar petróleo diretamente ao continente, por dutos submarinos. Uma vez em operação, a plataforma vai gerar quase tudo o que precisa: água, energia, ar comprimido, calor e frio, tratamento de água, esgoto e afluentes. O módulo de acomodação – que terá inclusive lavanderia, salão de jogos, sala de cinema e biblioteca – vai abrigar os 90 funcionários que ficarão confinados por até 14 dias em alto-mar. Para se ter idéia do grau de autonomia, há 9 mil instrumentos de medição na PRA-1, que lêem dados, detectam problemas e providenciam a correção automática ou instruem os funcionários – assim, qualquer vazamento de óleo é detectado instantaneamente. Não é à toa que a PRA-1 custou US$ 476 milhões (R$ 1 bilhão), segundo a Petrobras. Sua ativação colocará um ponto final num trabalho que começou em 2004 e envolveu milhares de trabalhadores em vários cantos do país. No Paraná, a Techint fabricou os “pés” da plataforma. Em São Paulo, a Sulzer fez as bombas, por onde passará o “sangue negro”. Da Rolls-Royce, no Rio de Janeiro, saem as turbinas, o coração que vai gerar a energia de toda a PRA-1 – são turbinas que foram inicialmente projetadas para impulsionar Boeings 747. Mas é da pequena São Roque do Paraguaçu, onde vivem 6 mil pessoas, que virá o corpo da plataforma, desenvolvido pelo consórcio CNO/UTC. Somente nesse vilarejo, a 250 quilômetros de Salvador, cerca de 4 mil empregos diretos e indiretos foram gerados – mil destinados à mão-de-obra local. Ali foi produzida a maior parte dos módulos. Os trabalhos começaram efetivamente em dezembro de 2004 e devem ser concluídos em outubro deste ano. Até lá, segundo a Petrobras, o módulo de alojamento da PRA-1 receberá as instalações de infra-estrutura, será colocado, ainda em terra, sobre o módulo de utilidades, que está sendo construído em outra oficina, junto com o de bombas. Cada módulo tem quatro pavimentos e cerca de 1.200 metros quadrados por andar. O consórcio informa que 57% dos trabalhos foram feitos até fevereiro e lembra que todos os equipamentos já foram comprados, a tubulação está quase toda pré-fabricada e a edificação dos módulos está em estágio avançado. Assim que tudo estiver pronto em terra, será a vez de voltar ao início do texto. A Bosch na sua vida Arquivo Bosch Acabamento impecável A PRA-1, quando pronta, vai ficar a 120 quilômetros da costa brasileira. Sujeita a intempéries, precisa ser resistente e de acabamento impecável. Para ajudar nessa tarefa, a obra usa a retífica GGS 27 L, da Bosch. Fina, alongada e montada de maneira a não vibrar, a ferramenta é ideal para fazer o acabamento em locais de difícil acesso. Além disso, a retífica é usada em alargamento de furos, polimentos, ajustes de relevos e de pequenos pontos de solda e engrenagens. Arquivo Bosch Para nivelar metais Composta de 5 mil peças, boa parte delas de metal, a plataforma PRA-1 exige, durante a construção, uma ferramenta que faça o nivelamento de toda essa superfície metálica. Para isso, a obra utiliza a esmerilhadeira angular GWS 9-125, da Bosch. Com 900 watts de potência e rotação de 11 mil rpm, ela é capaz de aplainar estruturas de metal (principal função na construção da PRA-1) e de cortá-las (o que também será feito na plataforma). Apesar de ser robusta, a esmerilhadeira é leve (1,75 quilo) e fácil de ser manuseada. Parte de seu disco de 125 milímetros é coberta por uma capa de proteção com o sistema SDS Click, que prende melhor a capa na ferramenta, possibilita um ajuste mais fácil e protege o usuário. 32 | VidaBosch | Brasil cresce | Por Alan Infante Comida light, faturamento gordo Mercado de alimentos magros cresceu 20% em 2005 e dobrou nos últimos quatro anos; a tendência agora é se consolidar nas classes C e D Rachel Guedes B atata frita, lasanha, maionese, refrige rante, chocolate, leite condensado, sorvete e por aí segue. A lista de alimentos que devem ser evitados por quem quer perder alguns quilos ou simplesmente cui dar da saúde não é segredo para ninguém. Difícil é descobrir uma maneira de não que brar tantas restrições. De olho nesse consu midor que faz de tudo para não abrir mão da dieta, mas também fraqueja diante de uma bela guloseima, a indústria alimentícia tem investido cada vez mais nos produtos diet e light. Uma volta rápida por qualquer super mercado dá idéia do tamanho da aposta. Da prateleira de massas às gôndolas de ge latinas e sobremesas, há versões diet e light para praticamente tudo, de lasanha a cho colate, de doce de leite a mortadela. Com tanta diversidade — e tanta gente fazendo regime — não é de surpreender que esse mercado vá de vento em popa. Em 2005, o setor expandiu 20%, movimentando cerca de U$$ 4,3 bilhões, segundo estimativa da Associação Brasileira das Indústrias de Alimentos Dietéticos, para Fins Especiais e Suplementos Alimentares (Abiad). O re sultado é quase o dobro do registrado em 2001 (US$ 2,2 bilhões) e 10,5 vezes o obtido há dez anos, em 1995 (US$ 400 milhões). Os números indicam que o brasileiro, se não se deleita com os alimentos magros, pelo menos está convencido da importân cia de cuidar da saúde. A expansão mais recente se deveu principalmente à queda de preço dos produtos diet e light, o que permitiu que mais pessoas — principal mente das classes C e D — adotassem um cardápio mais saudável, segundo o presi dente da Abiad, Carlos Eduardo Gouveia. “É um mercado que tem crescido bastante e, à medida que mais pessoas consomem, as empresas produzem em maior escala e os custos naturalmente diminuem”, afir ma. “Quase um quinto da classe D [19%] já consome esses produtos”, destaca. De qualquer forma, o preço ainda tem sido uma barreira para os diet e light. Sinal disso é que as refeições magras ainda fazem mais sucesso entre a população de maior poder aquisitivo. Três de cada cinco pessoas da classe A (60%) consomem algum alimento com restrição ou redução de nutrientes. Na classe B, a adesão é de 46% e, na classe C, de 34%, de acordo com uma pesquisa real izada pela Abiad, em parceria com o Instituto A diferença entre diet e light Apesar de comprarem alimentos diet e light com freqüência cada vez maior, os consumidores raramente sabem di ferenciá-los. É diet um alimento que não contém algum dos ingredientes tra dicionais de sua receita, como açúcar ou sódio. São produtos voltados a pessoas que, geralmente por motivos de saúde, seguem um regime com restrições ali mentares. Ou seja, todo diet apresenta, necessariamente, ausência completa de algum nutriente ou substância. Já o produto definido como light é ca racterizado pela redução – em pelo me nos 25% – de calorias ou de algum nu triente. O light é voltado a quem está de regime ou prefere uma alimentação mais saudável. Brasileiro de Educação para o Consumo de Alimentos e Congêneres (IBCA). Essa maior presença na mesa dos brasi leiros se refletiu na indústria. Os alimen tos magros já respondem por 5% do mer cado e têm uma participação ainda maior na produção total de alguns itens. Quase um quarto (23%) de todo o leite tipo longa vida comercializado no país, por exemplo, é desnatado. Entre os cappuccinos, o per centual de diet e light fica próximo a 18,5%. Essas bebidas também acompanham um lanche cada vez mais saudável: 12% dos pães industrializados têm redução ou res trição de nutrientes, assim como 10% da maionese e 9,5% do presunto. Mas, apesar de muita gente consumir e afirmar que sabe qual a diferença entre diet e light, a verdade é que poucos entendem o que distingue um do outro. “Fizemos uma pesquisa e percebemos o seguinte: todos respondem que sabem, mas no fundo eles não sabem”, afirma a presidente do IBCA, Patrícia Fukuma. O levantamento, realiza do em São Paulo, mostra que para 8% dos en trevistados não existe diferença entre diet e light; 24% dizem saber que há diferença, mas que não sabem qual é; 11% têm dúvidas sobre se há ou não diferença; e 57% deram alguma definição para cada um — na maioria das vezes, errada. Embora pouco conhecida, a diferença é simples: é diet um alimento completamente livre de um de seus ingredientes tradicio nais, como bala sem açúcar. Já o light é ca racterizado pela redução — em pelo menos 25% — de calorias ou de algum nutriente. “O diet está mais ligado à doença, a pessoas com restrições alimentares, enquanto o light é mais voltado a quem está de regime ou busca uma alimentação mais saudável”, 34 | VidaBosch | Brasil cresce | VidaBosch | 35 Brasil cresce Rachel Guedes Linhas de comida light ou diet incluem uma enorme variedade de produtos: de frios a massas, passando por bebidas, gelatinas, bolachas e até doce de leite explica Patrícia. “O diet é ausência e light é redução”, resume. Mesmo sabendo as definições, o consumi dor precisa estar atento às características de cada produto. O fato de um alimento ser sem açúcar, por exemplo, não assegura que ele tenha menos calorias que sua versão normal. “Os primeiros chocolates diet substituíam o açúcar por gordura, ou seja, além de serem menos gostosos, eram mais calóricos que os normais”, exemplifica a presidente do IBCA. que o consumidor observe a tabela nutricio nal do produto, para verificar se ele atende às suas necessidades. “O light obrigatoria mente tem que ter redução de 25% de algum nutriente. Mas isso pode ser caloria, gordu ra, açúcar, sódio, carboidrato etc. Então, a pessoa deve escolher o alimento de acordo com o regime que está seguindo”, afirma. “É importante que ela esteja atenta a essas in formações, até para que não se frustre pos teriormente”, ressalta. Rachel Guedes Os vários light O mesmo pode acontecer com os light, que, por definição, têm uma redução calórica ou de algum nutriente. Isso não garante, por tanto, que esse “ganho” seja em açúcar, car boidratos ou gordura. “Existem light com redução de sal, por exemplo, o que não quer dizer que eles tenham menos calorias”, frisa Patrícia. “Coisa semelhante pode acontecer em alguns cereais light, por exemplo, que diminuem açúcar e gordura, mas acrescen tam outra coisa”, completa. Para evitar equívocos na hora de com prar alimentos light ou diet, Patrícia sugere Quarta onda De qualquer forma, o consumidor mais atento a essas informações nutricionais já pôde perceber que, mais que simples no menclaturas para atrair compradores, os diet e light marcam avanços no mercado de alimentos. A primeira grande mudança ocorreu há mais de meio século, no pósSe gunda Guerra Mundial, quando houve uma transição dos produtos in natura para os alimentos industrializados, segundo Car los Eduardo Gouveia, presidente da Abiad. “Essa primeira onda consolidou a indústria alimentícia, que, a partir de então, tomou a dianteira das mudanças”, afirma. “A segunda onda surgiu na década de 70, quando foram criados os produtos diet, voltados a grupos específicos, como os dia béticos. Os light são a terceira onda. Eles começaram a surgir no início da década de 90, para atender a uma preocupação maior das pessoas com a estética”, conta Gouveia. “A quarta onda é a de alimentos funcionais — enriquecidos com vitaminas, sais minerais ou outras substâncias benéficas à saúde. Essa última onda teve início, ainda que de forma bastante incipiente, no fim dos anos 90”, completa. Mesmo já tendo alguns anos de estrada, os diet e light ainda têm um potencial de crescimento grande, na avaliação de Gou veia. Ele defende, aliás, que reduzir ou cor tar alguns nutrientes na receita é a única saída para muitos produtos. “O mercado Evolução do mercado de alimentos diet e light no Brasil (em bilhões de US$) 4.30 3.60 3.00 2.50 2.20 1.70 0.60 1995 0.74 0.84 1.00 1996 1997 1998 1.20 1999 2000 2001 Fonte: Associação Brasileira das Indústrias de Alimentos Dietéticos, para Fins Especiais e Suplementos Alimentares (Abiad) 2002 2003 2004 2005 Os produtos diet e light ainda são mais comuns na classe A (onde 60% consomem alimentos desse tipo), mas têm ganho espaço nas classes B (46%), C (34%) e D (19%) 36 | VidaBosch | Brasil cresce | VidaBosch | 37 Brasil cresce Fotos Rachel Guedes O crescimento de 20% registrado pelas empresas de alimentos diet e light nos últimos anos deve se manter por mais tempo. Os potenciais consumidores são pessoas preocupadas em perder peso, crianças obesas e diabéticos de iogurtes, por exemplo, estava diminuin do a olhos vistos. Eles conseguiram se re cuperar graças aos light”, afirma. “Está ha vendo um aumento da consciência sobre a importância de manter uma alimentação equilibrada. Nesse sentido, alguns alimen tos muito calóricos, como bolos doces, ten dem a perder mercado se não oferecerem uma opção menos calórica”, frisa. Alguns indicadores ligados à saúde da população brasileira reforçam essa pers pectiva de crescimento, de acordo com Gouveia. Ele cita, por exemplo, que um em cada dois brasileiros faz regime em algum momento da vida. Além disso, cerca de 20% das crianças do mundo sofrem de obe sidade infantil, e a incidência de diabetes tem aumentado na população global. “Es ses sinais indicam que o crescimento de 20% que ocorreu nos últimos três anos deve continuar ao longo dos próximos”, destaca. Para ser considerado light, o alimento deve ter redução de pelo menos 25% em algum de seus nutrientes; no diet, a redução precisa ser de 100% Diet ou light, a embalagem é fundamental As empresas têm feito pesquisas para tornar os produtos diet e light cada vez mais saudáveis e mais saborosos. Mas de pouco adianta tanta pesquisa se eles não forem bem conservados até a hora do consumo. Para assegurar a qualidade desses alimentos até que cheguem ao consumidor, um item fundamental é a embalagem. E é exatamente nessa etapa que começa o trabalho da Bosch, que fornece máquinas de embalagens para a indústria alimentícia do Brasil e da América Latina. Os equipamentos da Bosch podem ser usados para embalar diversos tipos de alimentos diet e light – de refrescos e gelatinas em pó a barras de cereais e chocolates. As máquinas formam a embalagem, dosam e alimentam o produto e fecham o pacote. “A embalagem final é 100% estanque, protegendo totalmente o alimento contra contaminações e deteriorações geradas pela penetração de impurezas, como água e oxigênio”, afirma o gerente regional de Vendas da Bosch, para Exportação, Paulo Seabra. As máquinas da Bosch ainda atendem a todas as normas para o manuseio de alimentos – como a exigência de que todas as partes que mantêm contato com o produto sejam de aço inoxidável. Na esteira, ladeira acima Não tem como escapar. Para uma vida saudável, os alimentos diet e light ajudam muito, mas é fundamental fazer exercício físico. Uma das melhores atividades para quem quer queimar calorias é uma bela corrida. Nas academias, o ideal é sempre começar a esteira num ritmo baixo e ir acelerando conforme o aquecimento do corpo e a disposição. Numa fase mais avançada, o praticante pode utilizar ainda outros recursos da esteira, como inclinar a prancha de modo a simular uma subida. O responsável por suspender a esteira sem interromper ou atrapalhar a atividade do atleta é um aparelho desenvolvido há 80 anos pela Bosch: o motorredutor CEP. Instalado na parte da frente da esteira, o dispositivo pode ser acionado no painel e regulado de acordo com o nível de esforço escolhido pelo praticante. Mas o CEP tem muitas outras aplicações que ultrapassam os limites das academias. Desenvolvido originalmente para movimentar o limpador de pára-brisa do carro, ele hoje é usado também em camas hospitalares, cadeira de dentista e até nos painéis de propaganda rotativos. Arquivo Bosch Arquivo Bosch A Bosch na sua vida 38 | VidaBosch | atitude cidadã | Por Marília Juste Pela inclusão, .com junta-se a .org Paulo Jabur Empresas e organizações nãogovernamentais investem para tentar acabar com uma chaga social: a maioria dos brasileiros nunca entrou na internet nem usou um computador 40 | VidaBosch | atitude cidadã atitude cidadã | VidaBosch | 41 Divulgação “O acesso a um computador não é mais um luxo. É questão de cidadania, que divide e transforma a vida das pessoas”. A frase é do consultor do Ministério das Comunicações Benedito Medeiros, em Brasília. A mais de 1.100 quilômetros, no Rio de Janeiro, o professor de 26 anos Joel Mariano entende bem isso. “A informática mudou todo o meu pensamento, tanto profissional quanto pessoal”, diz ele. Esse conceito que vai dos gabinetes de Brasília aos morros cariocas está, finalmente, chegando às salas de reunião da iniciativa privada. No Brasil inteiro, cada vez mais empresas, de todos os tamanhos, estão descobrindo que pequenas iniciativas na área podem trazer grandes impactos tanto na vida de comunidades carentes quanto na produtividade de seus funcionários. O acesso às chamadas “tecnologias de comunicação e informação” no Brasil ainda é bastante restrito. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos-Opinion, entre agosto e setembro de 2005, mostra que apenas 11% dos brasileiros possuem computador em casa. O acesso domiciliar à internet chega a apenas 9%. A maioria da população brasileira (57%) jamais utilizou um computador e 67% nunca entrou na rede mundial de computadores. Isso não parece bobagem, perto de problemas tão prementes como saúde e educação? “Quando você fala com uma pessoa pobre, realmente, ela não quer saber de computador. Ela quer emprego. Mas a maioria das vagas é anunciada via internet. Ela quer saúde. Mas ela não tem acesso a informações sobre prevenção e tratamento de doenças, que na internet estão a uma busca de distância”, área de Governo Eletrônico da prefeitura de São Paulo, concorda. “A conexão brasileira à rede hoje é restrita, em geral, a uma pequena titucionalizar o projeto. “É preciso continuidade para um trabalho de inclusão social ter impacto efetivo. Não dá para fazer uma coisa em uma gestão de quatro anos e, nos quatro anos seguintes, fazer outra coisa diferente”. A necessidade de ação estatal, no entanto, não significa que a participação empresarial é dispensável. “O problema é gigantesco. A responde Medeiros. “O computador hoje se transformou em um muro que divide aqueles que têm acesso a informações que facilitam sua interação com a sociedade e aqueles que têm que andar, pegar ônibus, pegar filas, passar de um lado para o outro atrás de qualquer pequena orientação”, resume. A gravidade do quadro, avalia o consultor, está passando despercebida por boa parte da sociedade. “Existe hoje um certo otimismo em relação à presença dos brasileiros na internet, mas a realidade que os dados mostram não é nem um pouco otimista”, adverte. O sociólogo Sérgio Amadeu da Silveira, ex-presidente do Instituto Nacional da Tecnologia da Informação, do governo federal, e ex-coordenador da elite e à classe média-alta”, afirma. Mas ambos frisam que o quadro está mudando. Desde 2003, proliferaram projetos de inclusão digital no país. A maioria deles baseada nos telecentros comunitários — salas com computadores abertos para o uso da população e com aulas gratuitas. Segundo Medeiros e Silveira, o resultado tem sido positivo. A contribuição estatal é essencial, avalia Silveira. “É obrigação do Estado garantir a cidadania e isso, hoje, passa pelo acesso às tecnologias digitais”, defende. “Além disso, só o Estado tem força para alocar os recursos necessários para isso ter impacto no país todo. Sem ele, não há escala”, argumenta o sociólogo. Medeiros destaca que é preciso ins- enorme maioria dos brasileiros está fora de uma rede que informa, facilita a comunicação, melhora as condições sociais. Qualquer ajuda é ajuda”, diz Medeiros. As ações de inclusão social realizadas pela iniciativa privada costumam ser de dois tipos: por meio de uma fundação própria que financia a criação de um telecentro comunitário e oferece cursos, ou por meio de parceria com organizações não-governamentais. Segundo Mário Vieira, coordenador do Comitê para a Democratização da Informática (CDI) — uma das maiores ONGs do setor no país, que já atendeu mais de 500 mil alunos em dez anos —, esse último tipo tem aumentado. Empresas, grandes e pequenas, têm colaborado com o Joel Mariano: de analfabeto digital a professor de informática, com apoio de uma ONG “Uma sala com 30 computadores pode dar acesso à era digital a mil usuários por mês”, diz sociólogo CDI, tanto financeiramente como montando centros comunitários. Foi em um centro desse tipo, montado pelo CDI no morro do Urubu, no Rio de Janeiro, que Joel Mariano conheceu um computador. Na época com 18 anos, ele procurava seu primeiro emprego. Envolvido no problema de muitos brasileiros dessa idade — a falta de experiência —, ele encarou as aulas gratuitas de informática como uma forma de conseguir um diferencial no mercado de trabalho. Mesmo tento avançado rapidamente nos cursos, Joel diz que se surpreendeu quando foi convidado a passar de aluno para professor. O sonhado emprego com carteira assinada veio diretamente da sala de aula de informática. “Eu não esperava tudo isso”. “As atividades de apoio às comunidades mostram ao público que a empresa se preocupa com o mundo onde vive”, frisa o coordenador do CDI. “Além disso, as ações de inclusão digital ajudam a melhorar as condições de vida da população. Com isso, aumentam a educação e o acesso a emprego. Isso tudo pode elevar o poder aquisitivo das comunidades e, assim, expandir o público consumidor das empresas”. Mas não é apenas com ações externas que uma empresa pode colaborar. Muitas delas preferem criar centros de informática dentro de sua própria área, permitindo que funcionários e familiares usem os computadores, e também oferecendo aulas gratuitas de informática. E um espaço desse tipo não custa caro. Segundo uma estimativa informal feita por Silveira, montar um centro de alto nível com 30 computadores não custa mais de R$ 40 mil — somando toda a infra-estrutura, inclusive o mobiliário. É preciso ainda manter um funcionário pelo menos — o que dificilmente custa mais de R$ 3 mil por mês. Se o custo não é grande, os benefícios são enormes. “Uma sala com 30 computadores pode dar acesso à era digital a uma média mensal de mil usuários diretos. Se cada empresa brasileira montar uma, o impacto no Brasil será imenso”, destaca Silveira. No morro do Urubu, Joel Mariano comemora o impacto que já aconteceu na sua vida. Nos intervalos das aulas que leciona, procura na internet informações sobre a realização de seu próximo sonho. “Meu objetivo, agora, é fazer faculdade”. A Bosch na sua vida Arquivo Bosch Computadores e monitores A Bosch desenvolve projetos diretamente ligados à inclusão digital em duas de suas unidades no Brasil, ambas em Campinas (SP). O principal desafio identificado pela empresa não foi montar um local com computadores, mas manter esse espaço funcionando. “Nós percebemos que não basta encontrar uma sala e equipá-la com computadores. É preciso garantir que eles sejam usados para o desenvolvimento das pessoas. Por isso, é importante a figura do monitor, do professor”, afirma a assistente social da Bosch Freios, Alexandra Barteli. Nessa unidade, um projeto em parceria com o Comitê para a Democratização da Informática (CDI) já beneficiou mais de 1.100 crianças e adolescentes desde 2004. Até o final de 2006, espera-se atingir outros 670 jovens. Trata-se do Ação Bosch Social (ABS), que mantém uma sala com professores de informática na Escola Municipal Edson Luís Chaves, na periferia de Campinas. Além de dar acesso à internet, os computadores do centro são usados em atividades sociais, coordenadas por funcionários voluntários da Bosch, todos os sábados. “O computador não pode ser um fim, mas um meio. Nós o usamos como uma ferramenta para mudar realmente a vida desses jovens”, enfatiza Alexandra. Na matriz, também em Campinas, há outros dois projetos. Um é o Escola Cidadã, que dá aulas de informática, desde 2003, para alunos de 1ª a 4ª séries da Escola Estadual Carlos Zink. Os professores são voluntários da Bosch. O outro está integrado à formação profissional oferecida pelo Projeto Formare Bosch. Na grade de aulas dos cursos oferecidos pelo programa estão 100 horas reservadas exclusivamente para informática. 42 | VidaBosch | aquilo deu nisso | Por Gerson Campos Rachel Guedes Fotos Rachel Guedes Movido a gasolina e a saudade Apaixonados por carros antigos desembolsam boa dose de tempo, paciência e dinheiro para transformar velharias em relíquias O O Gordini 1967 do advogado Aparecido Romano: reforma completa para transformar o carro antigo (foto do carro bege claro) em objeto de colecionador (à direita e na página ao lado) que levaria alguém a desembolsar um valor considerável para adquirir um veículo com 30, 40, 50 anos ou até mais, e, como se não bastasse, dedicar boa parte de seu tempo livre à procura de peças e oficinas especializadas, para restaurar o automóvel e transformá-lo em relíquia? Em geral, paixão por carros e vontade de tornar presente uma recordação marcante — quem não se lembra do primeiro carro que dirigiu, do sedã do avô ou do esportivo do tio? Motivados, na maioria das vezes, por essas lembranças, os donos de carros antigos, dispostos a deixá-los fiéis às características originais, se diferenciam dos colecionadores porque têm como traço principal a exigência na escolha das peças, a disposição em encontrá-las seja como for e a incansável busca pela imagem do automóvel que guardam em suas recordações. O jornalista Ricardo Ghigonetto, de 52 anos, por exemplo, foi atrás de um automóvel que marcou sua juventude, o Chevrolet Opala. “Meu sonho era restaurar um carro cuja história eu tivesse vivido. Quando tinha 18, 19 anos, o Opala era um dos sonhos de consumo da minha geração”, conta ele, que não poupou nem esforços nem custos para que o veículo ficasse exatamente a seu gosto. “Já gastei mais de R$ 25 mil na restauração. Tenho a consciência de que ele não vale isso, mas, como estava conversando com um amigo também apaixonado por antigos, não temos de contabilizar os valores. O que vale é a satisfação, é a alegria de ver as pessoas admirarem o seu carro na rua, perguntarem sobre ele”, explica. Placa preta, o troféu dos colecionadores Sempre que você observar um carro antigo, dê uma olhada na placa. Se a cor for preta, pode ter certeza: é um modelo com a originalidade comprovada. Criadas para diferenciar os automóveis antigos dos demais, as placas pretas só podem ser usadas em carros originais e permitem que o veículo seja mantido da forma como foi fabricado — inclusive sem os itens de uso obrigatório, como os piscas, o cinto de segurança de três pontos e os encostos de cabeça nos bancos dianteiros. Para obter essa placa, o carro precisa ter 30 anos de idade, no mínimo, e pelo menos 80% das peças originais. Além disso, o dono do automóvel deve ser sócio de um clube apto a lhe fornecer o laudo de originalidade. O certificado tem validade de cinco anos e pode ser renovado. 44 | VidaBosch | aquilo deu nisso | VidaBosch | 45 aquilo deu nisso “Se você for colocar tudo na ponta do lápis, não faz nada. Já paguei R$ 150 por um logotipo de plástico que não custaria mais de R$ 20 se fosse para um carro atual. Só fui encontrar a peça em Belo Horizonte. Além disso, o antigo nunca está pronto. Sempre há um pequeno detalhe, um cromado, uma peça que precisa ser substituída. É um trabalho de paciência, mas é bastante recompensador”, garante Ghigonetto. Tão recompensador que ele já planeja duas companhias para seu Opala Luxo 1970, com quatro portas e motor de quatro cilindros: um Dodge Dart e um Alfa Romeo 164 (que, apesar de ser um carro com pouco mais de 10 anos de uso, já começa a ganhar ares de clássico). Aficionados como Ghigonetto são freqüentadores assíduos de lojas especializadas em peças fora de linha. “Hoje, temos peça para tudo, embora o preço nem sempre seja baixo. Você encontra especialistas em carro inglês, em Mercedes, em Mustang. É um trabalho de procura, tem de conversar com os donos de outros carros, ir a encontros etc.”, conta André Mekhitarian, da tradicional loja de carros antigos Jardineira, que comanda com auxílio do pai, Assadur Mekhitarian. Há mais de 20 anos no ramo, ele identifica os modelos mais cobiçados atualmente. “Os carros norteamericanos dos anos 1960, como o [Ford] Mustang e o [Chevrolet] Camaro, são muito procurados e valorizados. Há também os Mercedes-Benz da mesma época, buscados Arquivo Pessoal fato que evidencia a expressividade desse filão é o grande número de encontros. No sambódromo do Anhembi, em São Paulo, é possível comprar e vender carros antigos e encontrar peças para eles, todas as terçasfeiras, em um evento que já se realiza há três anos. “O valor de um acessório depende do estado dele e se foi restaurado ou não. Uma lanterna de Chevrolet 1954, que eu recuperei, por exemplo, sai por R$ 400. Não é um preço baixo, mas há outras peças muito mais caras por aqui”, exemplifica Alexandre Prado, que tem uma banca no local. Garimpagem O Opala 1970, antes da reforma em versões sedã, cupê e esportiva. Um carro que valorizou muito ultimamente é o [Ford] Maverick, que há alguns anos era encontrado por volta de R$ 8 mil e hoje está na média de R$ 30 mil em bom estado”, conta. O mercado de carros antigos no Brasil não é desprezível. A Federação Brasileira de Veículos Antigos (FBVA, uma das mais importantes do país e filiada à Federação Internacional de Veículos Antigos, FIVA, com sede em Paris), por exemplo, conta hoje com mais de 70 clubes afiliados, aproximadamente 4.200 membros e 21 mil automóveis. Outro Feiras como essa do Anhembi são essenciais para quem precisa encontrar peças antigas. Diferentemente do que ocorre com os veículos atualmente em produção — ou cuja fabricação foi encerrada há pouco tempo —, ninguém vai achar o friso cromado do Ford 1951 reluzente à venda na vitrine de uma grande loja, por exemplo. É necessário que o antigomobilista, como é chamado o dono de carros antigos, vá a encontros e exposições (que servem não só para confraternizar grupos de amigos, mas também contam quase sempre com esse tipo de comércio), converse com donos de oficinas, de outros automóveis, busque na internet e faça consultas com restauradores para encontrar a peça desejada. Quase sempre, o preço segue a lei da oferta e da procura — quanto mais rara, mais cara. “Recentemente, restauramos o Brasil tem mais de 70 clubes de automóveis antigos, que reúnem 4.200 motoristas e 21 mil veículos Opala SS de um cliente e não encontrávamos o espelho retrovisor cromado. Como fazemos em alguns casos, encomendamos uma peça que veio do Rio de Janeiro e, apesar de ser uma réplica, tem excelente qualidade. Na maioria das vezes, encontramos tudo, mas em alguns casos o cliente não quer desembolsar o valor pedido. Nessas ocasiões, e quando não encontramos de forma alguma, mandamos fazer”, explica Vanderlei Vanz, da Wanz Repair. Quando o assunto são encontros nacionais, as reuniões de Araxá (Minas Gerais) e Águas de Lindóia (São Paulo), que também contam com um grande comércio de peças, são a referência. Em busca do objeto de desejo Um dos apaixonados que costumam garimpar peças em feiras, encontros e na internet é o advogado Aparecido Romano, de 50 anos. Proprietário de um Gordini 1967, ele explica por que o carro é seu objeto de desejo: “Quando tinha 17 anos, comprei um Gordini, foi meu primeiro carro. Demorei quase um ano arrumando e, quando ficou pronto, tive de desfazer o negócio porque a documentação não estava ok. Foi uma frustração que ficou durante muito tempo”, conta. Para “exorcizar os fantasmas” da frustração de quase 40 anos atrás, Romano adquiriu um Gordini e mexeu em tudo, desde a pintura até a tapeçaria, passando pela mecânica e pelos acessórios. Para isso, vendeu um Aero-Willys 1968 e, segundo ele, quase perdeu “a esposa e os filhos” quando contou que compraria um Gordini e entraria de cabeça no projeto de restauração. “Durante a recuperação, minha maior preocupação era colocar na cabeça dos mecânicos que eu queria daquele jeito e não desse. Tem que ter tempo para acompanhar se quiser que o carro fique à sua maneira”, diz Romano. Membro do Reumatismo Car Club, um grupo de amigos da cidade paulista de São Bernardo do Campo, Romano vai aos encontros de carros antigos rodando com o Gordini pelas estradas, acompanhado dos colegas, e diz que causa congestionamentos não porque os veículos têm problemas, mas sim pela curiosidade despertada. “Vamos andando devagar, a passeio. Os carros que passam começam a andar lentamente e acompanhar a nossa fila, admirando os modelos um a um. Aí o engarrafamento está formado”, diverte-se o advogado, que, como Ghigonetto, dono do Opala, já tem uma nova empreitada em mente. “Vou restaurar um Kombi 1973”. Vírus, doença ou dependência? Eles garantem que é apenas uma grande paixão, que recompensa os que se entregam a ela com muitas amizades e uma saudável viagem no tempo. Fotos Rachel Guedes O jornalista Renato Ghigonetto já gastou mais de R$ 25 mil para dar um “banho de loja” em seu Opala 1970: “É um trabalho de paciência, mas compensador” A Bosch na sua vida Arquivo Bosch Fonte de relíquias A história da Bosch praticamente se confunde com a história do automóvel. No setor desde 1886, a empresa criou em sua sede, na Alemanha, um departamento voltado justamente ao armazenamento, reparo e venda de parte das peças feitas para carros antigos. O objetivo é atender aos colecionadores de automóveis. Essa nova divisão, chamada Tradição Automotiva Bosch, também ajuda os proprietários com dicas de manutenção e informações sobre quais peças estão disponíveis para cada veículo. A sede abriga componentes de alguns clássicos, como o Maserati Ghibli, de 1970, o Alfa Romeo Giulia, de 1962, o Porsche 356, de 1959, e o Mercedes Ponton w121, também de 1959. Em alguns casos, quando algumas peças antigas específicas não estão mais disponíveis nos estoques, a Bosch as coloca novamente na linha de produção. Dessa maneira, os colecionadores podem ter acesso a componentes originais, com a autenticidade que tanto valorizam. Apenas na Alemanha, os fãs de carros antigos costumam gastar cerca de mil euros anualmente com peças avulsas (algo em torno de R$ 2.500), segundo estimativas da Bosch. O serviço, por enquanto, está disponível apenas na Alemanha. No entanto, as peças podem ser adquiriras por meio de importação. 46 | VidaBosch | áudio | Por Rodrigo Samy Fotos Meca Brasil Fãs de música e de automóveis gastam até R$ 30 mil em falantes e potências para participar de campeonatos sonoros G Som de carro, barulho de avião ostar de ouvir som no carro, todo mundo gosta. Às vezes, com volume mais alto, para curtir melhor a música ou para espantar o sono. Mas alguns aficionados por carros e por potência sonora vão além — muito além: equipam o automóvel com aparelhos capazes de fazer tanto barulho quanto uma turbina de avião ou um show de rock. Essa tribo costuma reunir-se aos fins de semana, nos mais de 160 campeonatos de som automotivo que ocorrem no Brasil. O hábito de competir para ver quem consegue reunir mais potência sonora em um único automóvel surgiu nos Estados Unidos, no início dos anos 90, com associações que buscavam, entre outras coisas, o aprimoramento técnico. Por aqui, a onda começou em 1996. Os apaixonados por parafernálias sonoras não se satisfazem com os equipamentos de série fornecidos pelas montadoras — que asseguram um som afinado e de qualidade, mas com potência limitada. “A diferença é equivalente à que existe entre a Fórmula 1 e os carros de rua”, compara Paulo César da Silva Rocha, 48 anos, que tem uma loja de som há 22 anos em Vitória, Espírito Santo. Paulinho Som, como é conhecido, atende aos mais diversos clientes — dois mais modestos aos mais extravagantes. Mas, quando não fica na loja, roda o Brasil dando palestras e participando de competições. “Tem etapas em que levamos mais de dez automóveis na cegonha”, conta, animado. Ele ganhou seu primeiro título em 2001. Desde então, acumulou 552 títulos e chegou a bater recorde em uma das categorias. Com toda essa experiência, Paulinho Som explica que um carro de competição trabalha com potência e peso (cerca de 3 toneladas) maiores que o permitido pelas normas de trânsito e consome muito mais corrente elétrica. Os equipamentos comuns têm, em média, 7 mil watts RMS (potência real); os de um competidor, 800 mil watts RMS. Não por acaso, são necessárias, em geral, cinco baterias sobressalentes para alimentar tanta sede sonora. Se a energia não agüenta, que dirá os tímpanos... Um aparelho comum consegue atingir, no máximo, 100 decibéis (dB), equivalente ao ruído produzido por motores elétricos — uma mixaria para o padrão dos competidores. Se o som for amplificado por meio de um módulo, esse número pode chegar à casa dos 130 dB, o mesmo nível dos trios elétricos ou de uma discoteca. Um modelo preparado para competições consegue atingir até 170 dB, um barulho equivalente ao de uma turbina de avião. As disputas são divididas em inúmeras categorias. Na Meca Brasil, uma das principais entidades brasileiras na organização de campeonatos de som automotivo — realiza 15 por fim de semana —, são três as categorias principais: SPL (que privilegia os graves), Trio Drives (que destaca os agudos, ou “cornetas”) e o Trio Pancadão (que também destaca os graves). Em cada uma, há várias subdivisões, de acordo com o número de caixas de som, o grau de modificação do carro, o número de módulos e o tipo de veículo (passeio, picape etc.), entre outros critérios. Para instalar os incrementos básicos e ter alguma chance nos campeonatos, gasta-se pelo menos R$ 1.500, de acordo com Daniel Abreu, editor da revista AutoSom, especializada no assunto. Mas para tornar o carro ainda mais competitivo as despesas multiplicam-se. Abreu afirma que já viu automóveis com 60 cornetas disputando ponto a ponto — nesse caso, geralmente é construída uma caixa selada em cima da caçamba de uma picape ou no compartimento de um furgão. Nas categorias em que os graves são mais valorizados, como a SPL, coloca-se concreto entre a lataria e os forros dos carros para o som não vazar. A brincadeira pode custar até R$ 30 mil. Foi isso o que fez, por exemplo, a loja Jonas Fleck, do Rio Grande do Sul, com um Fiat 147 — e alcançou 161,3 dB, batendo recorde de potência nos campeonatos da Meca Brasil. A média, no entanto, costuma ser de 145 dB, conta Márcio Aparecido Silva, juiz das competições. A Bosch na sua vida Arquivo Bosch Som limpo e potente Quem participa de campeonatos de som automotivo sabe que a troca dos alto-falantes é o primeiro passo para incrementar a aparelhagem sonora. A linha de alto-falantes OverDrive, da Blaupunkt, marca da Bosch, é indicada para quem quer se inscrever em competições e para aqueles que, sem ambições de disputar o que quer que seja, pretendem ouvir um som límpido e potente. Ele é composto de um kit com um par de tweeters, que reproduzem sons agudos e devem ser instalados próximo ao motorista, dois mid-basses, que servem para sons graves e médios e devem ficar nas portas laterais do automóvel, e um par de cross-overs, dois pequenos aparelhos que permitem dividir os sons agudos, graves e médios pelos alto-falantes do kit. A linha OverDrive dispõe ainda de outros produtos, como o subwoofer de 12 polegadas Odw2000HP, um alto-falante que reproduz sons graves e deve ser ligado a um amplificador e instalado em uma caixa acústica no porta-malas do veículo. Para o coordenador de assistência técnica da Blaupunkt, Wanderley Galle, a linha OverDrive assegura uma sonoridade superior. “O som é de alta performance, tem uma qualidade e fidelidade fora do comum”. Para otimizar a potência do produto, Galle sugere a utilização dos dois kits. 48 | VidaBosch | áudio Meca Brasil Recorde de potência em uma das competições do Brasil pertence a um Fiat 147 Ele explica que existe um programa especial de computador para medir o volume da “pancada”. Trata-se da Estação 4 RTA (Real Time Analyser, ou Analisador em Tempo Real), que mostra quantos decibéis o sistema gera em cada faixa de freqüência — de 20 hertz (Hz) a 20 quilohertz (KHz). A comissão julgadora também usa microfones e cabos para ajudar a mensurar as potências e definir o vencedor. Ela lança mão, ainda, de trenas, para assegurar que em todos os carros o microfone seja posicionado à mesma distância dos falantes. “O que faz o campeonato não é a altura do som, o volume, e sim a freqüência dele”, afirma Silva. No ano passado, mais de 11 mil competidores estiveram nas etapas da Meca Brasil. Em cada etapa, cerca de 10 mil visitantes passam pelo local para apreciar as loucuras sonoras. Mas é possível apreciar essa barulheira? “O segredo é equilibrar a acústica do carro com os equipamentos. Isso vale tanto para a área de competições como para a preparação do som para o dia-a-dia”, ensina Paulinho Som, que roda o Brasil ministrando cursos sobre o assunto. Com som equipado, carro pode produzir barulho semelhante ao de uma banda de rock Gustavo Lopes Alves e a sua namorada Karini Silva, por exemplo, são apreciado res de som alto, muito alto. Toda vez que ocorre uma etapa de campeonato os dois passam o dia inteiro acertando caixas sobressalentes, cornetas e woofers. Mesmo sem recurso dos pais ou patrocínio de lo- jas especializadas, Alves não hesita em dizer que vale a pena o sacrifício financeiro. “Comecei nas categorias intermediárias e hoje estou chegando nas top”, orgulha-se, acrescentando que já investiu aproximadamente R$ 10 mil na aparelhagem de som de seu Santana. Quanto vale o decibel Fala sussurrada Conversa Aspirador de pó Trânsito normal 40 70 80 80 a 90 Automóvel em estrada 100 Motor elétrico 100 HP 100 Trios elétricos Martelete grande Show de rock e discotecas Turbina de avião Carros de competição Disparo de pistola Motor de foguete Fonte: Universidade Federal do Rio Grande do Sul – engenheiro Rudolf Nielsen 105 a 115 120 130 160 130 a 170 175 200