2ª SEMANA TEOLÓGICA 2ª SEMANA TEOLÓGICA AT Gênesis e

Transcrição

2ª SEMANA TEOLÓGICA 2ª SEMANA TEOLÓGICA AT Gênesis e
PARÓQUIA PAPA JOÃO XXIII
Colider – MT
2ª SEMANA TEOLÓGICA
AT
Gênesis e Êxodo
O início de tudo
FREI DIONES RAFAEL PAGANOTTO, OAD
05-09/11/12
Frei Diones Rafael Paganotto, oad
II Semana Teológica (Gênesis e Êxodo)
CAPÍTULO I.
LIVRO DO GÊNESIS
Quando rezamos... falamos com Deus; quando lemos... é Deus que nos fala.
São Jerônimo
1. INTRODUÇÃO AO GÊNESIS
1.1
Nome do livro
-
1.2
Divisão do livro
-
1.3
Hebraico: tyviareB.
bereshit
o 1ª palavra do texto – “No princípio”
ghênesis
Grego: ge,nesij
o Conteúdo principal, a origem da humanidade.
Gn 1-11: a origem (etiologia meta-histórica)
Gn 12-36: patriarcas (tribos, santuários)
Gn 37-50: história de José no Egito (novela)
Idéias teológicas
-
Deus é criador de todo o mundo...
o Senhor da História
Deus é misericordioso...
o Fonte da bênção e promessa
Deus faz uma aliança com o homem...
o Noé (humanidade)
o Abraão (Israel)
Paróquia Papa João XXIII
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Colider – MT
Frei Diones Rafael Paganotto, oad
II Semana Teológica (Gênesis e Êxodo)
2. INTRODUÇÃO A GN 1
2.1
Criação na Bíblia
-
2.1.1
A primeira página da Bíblia é um hino litúrgico e não um narração.
Uma grande liturgia em honra ao Deus criador, um louvor a Deus.
Para compreender melhor este famoso texto bíblico, precisamos eliminar algumas idéias, algumas précompreensões que possuímos.
1ª – Quando começa a Revelação de Deus?
-
2.1.2
A primeira manifestação de Deus não é na criação, mas com a libertação do Êxodo.
Bíblia começa com a criação, mas a experiência decisiva, na qual Israel se tornou “povo de Deus” foi a
libertação da escravidão do Egito.
A reflexão sobre a criação veio depois. Israel compreendeu que o Deus libertador é criador.
2ª – Temos outros textos sobre a criação?
-
Gn 1 não é o único texto bíblico que fala de criação, possuímos vários textos sapienciais (Salmos, Jó,
Provérbios) que de várias maneiras narram ou celebram a criação.
Portanto, para ter uma idéia global do que a Bíblia diz sobre a criação, precisamos ler estes textos e tentar
compreendê-los.
(Sl 104) Minha alma, bendize o SENHOR!
Envolto em luz como num manto. Tu estendes o céu como uma tenda,
constróis sobre as águas tuas moradas, fazes das nuvens teu carro.
Firmaste a terra sobre suas bases, para ficar imóvel pelos séculos.
Com o abismo a envolveste como um manto,
as águas cobriam as montanhas.
Para as águas marcaste um limite intransponível,
para não tornarem a cobrir a terra.
(Sl 108) Ó Senhor, nosso Deus,
como é glorioso teu nome em toda a terra!
Quando olho para o teu céu, obra de tuas mãos,
vejo a lua e as estrelas que criaste:
Que coisa é o homem, para dele te lembrares,
que é o ser humano, para o visitares?
No entanto o fizeste só um pouco menor que um deus,
de glória e de honra o coroaste.
(Pv 8,22-31) O Senhor me gerou no início de suas obras,
antes de ter feito coisa alguma, no princípio,
antes que a terra fosse feita.
Ainda não havia os abismos, e eu já fora concebida,
quando ainda não havia os mananciais das águas.
Ele ainda não havia feito a terra e os campos,
nem os primeiros elementos do orbe terrestre.
Quando preparava os céus, ali eu estava,
quando fixava ao mar os seus limites e às águas,
para que não ultrapassassem suas bordas,
e lançava os fundamentos da terra,
eu estava ao seu lado como mestre-de-obras.
(Jó, 38,1ss) Então o Senhor, do meio da tempestade, respondeu a Jó:
“Quem é este que obscurece o meu Projeto com palavras insensatas?
Onde estavas, quando lancei os fundamentos da terra?
Quem lhe deu as medidas, se sabes?
ou quem estendeu o cordel sobre ela?
Onde se encaixam suas bases,
ou quem assentou a sua pedra angular enquanto aclamavam em coro
os astros da manhã e jubilavam todos os filhos de Deus?
Quem fechou com portas o mar,
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quando ele irrompeu como se saísse das entranhas...
2.1.3
3ª – Narração ou poema/hino?
-
-
2.1.4
Conclusão sobre a criação na Bíblia
-
2.2
A experiência com Deus inicia com o Êxodo, a libertação criação.
Gn 1 não é o único texto que fala de criação na Bíblia, mas vários textos sapienciais já trazem as mesmas idéias.
Gn não é uma narração, uma história dos acontecimentos, mas um louvor, uma celebra-ção ao Deus que salva
libertando e criando.
Importância de uma 1ª página
-
-
-
2.3
Celebração do Deus criador: em toda a Bíblia não são feitas afirmações sobre a criação, mas é celebrado o Deus
criador. O autor bíblico não se interessava em explicar como Deus criou, mas em compor um texto para elevar o
seu louvor ao Deus que é criador.
Os textos da criação são sapienciais e litúrgicos, escritos em ambientes de estudo, com a finalidade de louvar a
Deus e ensinar ao homem a justa relação com Deus.
Este texto poderia ser intitulado: “Hino sacerdotal ao Criador”
o Hino: forma literária do texto, palavras escolhidas, rimas, etc.
o Sacerdotal: escrito por sacerdotes no exílio, um hino para ser utilizado nas celebrações sacerdotais.
o Criador: Deus deve ser louvado e celebrado pela grandiosa obra realizada  Criação.
Gn 1 tem a função de ser o grande portal de ingresso na história de Israel, o povo escolhido por Deus através da
história. Texto escolhido para ser a 1ª página de uma longa história.
o Em muitos livros, conseguimos compreender o início, só após a leitura de toda a obra.
o O mesmo acontece nos filmes, quando termina o filme, compreendemos melhor cada passagem, cada
momento, e o episódio obscuro do início se torna assim compreensível.
O autor desta primeira página já tem em mente todas as etapas da história do seu povo, mas o leitor que inicia a
leitura da Bíblia nesta primeira página, ainda não tem em mente toda a história.
Por isso, este hino litúrgico tem, também, a função de ser uma introdução à toda a obra, pois somente com toda
a obra, com toda a Bíblia, é que conseguimos compreender os mínimos particulares.
Características do poema
-
Antes de ler o texto, devemos conhecer algumas características utilizadas pelo autor.
Vamos examinar a construção literária de Gn 1 para compreender melhor o ensinamento teológico do texto.
Lendo com atenção o texto, percebemos que a primeira impressão é a repetição de algumas palavras ou frases,
parecendo com uma litania.
-
Quantas vezes aparece:
o Deus disse...
o Deus viu que era bom…
o Assim se fez…
o Deus fez…
-
Quantas palavras tem Gn 1,1:
#rah taw ~ymVh ta ~yhla arB tyvarB
ha´arets
-
ve´et hashamaym ´et ´elohim
bará
bereshit
Quantas palavras tem Gn 1,2:
ygp-lc $vxw whbw wht htyh #rahw
`al - penêy
vehoshek
vâbohu
thohu
hâyetáh
vehâ'ârets
~ymh ygp-lc tpxrm ~yhla xwrw ~wht
hamâim
-
2.4
`al - penêy merahephet
'elohim
veruáh
tehom
O autor conta as palavras e o número 7 domina todo o esquema.
o Gn 1,1 tem 7 vocábulos.
o Gn 1,2 tem 14 vocábulos (7x2).
o Fórmulas importantes como “Deus viu que era bom”, “assim se fez”, “Deus disse” se repetem 7x.
o O nome de Deus [’elohim] se repete 35 vezes (7x5).
o No 7º dia temos 3 afirmações com 7 palavras cada uma (7+7+7).
Esquema do comando
-
Em todos os dias temos um esquema:
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a) Início:
b) Comando:
c) Realização:
d) Avaliação:
e) Conclusão:
-
2.4.1
... dia
Este esquema do comando é típico dos sacerdotes: Deus fala com alguém, comanda e a pessoa realiza esta
ordem que é boa e se torna a lei por muitos anos.
Início: Deus disse...
-
2.4.2
Deus comanda, confirma com a potência da sua Palavra, abençoa e reconhece a bondade do que se realizou.
Deus está sozinho e fala com quem?
Deus comanda ao nada e a ninguém, Deus simplesmente ordena e acontece!
Comando: Faça-se...
-
2.4.3
No poema bíblico, a ordem de Deus é dirigida em 3ª pessoa: «faça-se», «juntem-se».
Não explica como tudo aconteceu, mas chama a atenção ao mistério escondido na criação.
Realização: E assim se fez...
-
2.4.4
Depois da ordem divina, temos a realização, o resultado do comando divino.
Com a fórmula «e assim se fez», o autor menciona os elementos que constituem o mundo dizendo que todos
foram pensados e criados por Deus.
Avaliação: Deus viu que era bom...
-
2.4.5
2.5
II Semana Teológica (Gênesis e Êxodo)
Deus disse
Faça-se...
E assim se fez
E Deus viu que era bom
Houve uma tarde e uma manhã:
Só Deus percebe como tudo é bom, como tudo possui a bondade.
Mentalidade sacerdotal: como Deus criou tudo, e Deus é a bondade na sua plenitude.
Conclusão: Houve uma tarde e uma manhã... dia
-
Esta fórmula dá o ritmo temporal, descreve a ação de Deus no tempo.
Deus entra na história, e desde o início, a sua ação é histórica e visa o homem como ápice da criação, ponto
final de toda a obra de Deus.
-
Percebemos que o esquema que o autor sacerdotal seguiu é um esquema teológico e não científico.
Ele não descreve como o mundo foi criado, como passou a existir, mas atribui tudo ao Deus criador e louva este
Deus pela sua obra.
Visão hebraica do mundo
-
Para bem estudar o nosso poema inicial, devemos entender como os hebreus pensavam o mundo.
Qual era a visão Cosmogônica?
-
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-
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Terra era plana
o Está apoiada sobre colunas e
rodeada pelo mar inferior
Firmamento
o Cúpula de cristal que dividia as
águas do mar: Mar superior e
Mar inferior
Santuário celeste
o Está acima do firmamento está o
3º céu, a morada de Deus e dos
anjos.
Sheol
o Está abaixo da terra, é o lugar
dos mortos.
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3. GN 1: HINO AO CRIADOR
3.1
Estrutura do poema
-
Gn 1 é bem estruturado de modo harmônico, seguindo um esquema paralelístico:
o Obras de Deus reagrupadas em 6 dias.
1º - 2º - 3º obras de fundação.
4º - 5º - 6º obras de ornamentação.
o Descanso de Deus no último dia.
-
O esquema setenário caracteriza Gn 1: a obra de Deus é dividida em 6 dias mais 1 ao descanso.
O autor bíblico precisava de um esquema para apresentar o evento da criação. Ele escolheu um esquema
litúrgico, já que era acostumado às celebrações litúrgicas do templo de Jerusalém.
Tais celebrações obedeciam ao ritmo semanal, cada dia possui uma liturgia especial, com as suas orações, os
seus ritos, os seus sacrifícios.
-
-
3.2
Conceito de separação
-
3.3
No esquema setenário 6+1, o interesse do autor está direcionado ao sábado.
Enquanto os hebreus evidenciam a importância do último dia da semana, do sábado; nós cristãos dedicamos a
nossa atenção ao primeiro dia da semana, ao dia do Ressuscitado, ao domingo, o dies Domini.
O poeta sacerdotal descreve a criação através de uma série de separações.
o Deus é santo porque separou Israel dos outros povos,
o Santidade = separação, delimitação do resto do mundo.
o Deus inicia a sua construção estabelecendo a ordem das coisas, e posteriormente Deus continua
separando os povos, os tempos e as estações, os alimentos puros e impuros, etc.
o É tarefa da classe sacerdotal reconhecer estas separações estabelecidas por Deus e aplicá-las no dia a
dia para manter a ordem primordial que Deus estabeleceu na criação.
Título do poema
-
-
-
-
(Gn 1,1) No princípio, Deus criou o céu e a terra.
1º versículo não é o início do poema, mas o seu título, a síntese do conteúdo teológico.
“no princípio” (bere'shît) indica o início da história graças à bondade de Deus.
(Jo 1,1) No princípio era a Palavra (lógos), e a Palavra estava junto de Deus, e a Palavra era Deus.
O verbo “criar” (bara’) é exclusivo de Deus!
o Deus cria com facilidade, produzindo algo de novo; já o homem inventa utilizando algo pré-existente.
o Ainda não temos o conceito de “criação do nada”: o antigo sacerdote não conhece e não usa esta
linguagem filosófica grega.
(2Mc 7,28) Eu te suplico, filho, contempla o céu e a terra e o que neles existe. Reconhece que não foi de coisas
existentes que Deus os fez, e que também a humanidade teve a mesma origem.
(Gn 1,2) A terra estava deserta e vazia, as trevas cobriam o abismo
e o Espírito de Deus pairava sobre as águas.
A terra é deserta, as trevas a cobrem, a água domina tudo: A VIDA É IMPOSSÍVEL!
A terra estava “deserta” (tohú) e “vazia” (bohú).
o Difícil tradução, são palavras que indicam a deformidade, uma realidade vazia e sem nenhuma
característica ou ordem.
Neste caos o “Espírito de Deus” (rùach ’elohim) se movimenta: sopro, respiro, Palavra.
o Não temos uma apresentação do Espírito Santo, somente Jesus Cristo nos apresenta a 3ª pessoa da
Trindade.
o Espírito de Deus = vento muito forte, uma tempestade
o “pairava” (marachafet) aparece 2x no AT
(Jr 23,9) Sinto o coração esmagado no peito, os ossos desconjuntados, pareço um bêbado, cambaleando por
causa do vinho.
o Pairar = cambalear
(Dt 32,11) Qual águia que desperta a ninhada, voando sobre os filhotes, também ele estendeu as asas e o
apanhou e sobre suas penas o carregou.
o Pairava = águia que voa sobre os seus filhotes
Nesse caos o mais importante é a presença de Deus que respira e fala. O obra de Deus será organizar este caos,
esta confusão inicial.
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1º dia
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(Gn 1,3) Deus disse: “Faça-se a luz”! E assim se fez a luz.
A primeira ação de Deus é a palavra.
o “Deus disse” 10x.
o Criação ↔ Aliança.
A ação de Deus inicia sobre as trevas que cobrem o abismo (água).
O poeta bíblico não possui uma mentalidade científica, não devemos procurar explicações sobre a criação da luz
com a nossa mentalidade, mas saborear a sua linguagem poética.
(Gn 1,4-5) A luz Deus viu que era bom. DEUS FEZ a separação da luz e das trevas. À luz Deus chamou “dia” e às
trevas chamou “noite”.
Houve uma tarde e uma manhã: 1º dia.
Dar o nome é um sinal de domínio, superioridade e conhecimento. Deus inicia dando nomes, depois esta tarefa
será humana.
2º dia
-
-
(Gn 1,6) Deus disse: “Faça-se um firmamento entre as águas, separando umas das outras”.
Depois de criar a luz (+) separando as trevas (-), Deus passa para as águas.
“Firmamento” (raqi’a) é a cúpula de cristal que separa as águas do oceano superior das águas do oceano
inferior: sobrevivência!
(Gn 1,7-8) DEUS FEZ o firmamento.
Separou as águas debaixo do firmamento, das águas acima do firmamento. E assim se fez. Ao firmamento
Deus chamou “céu”.
Houve uma tarde e uma manhã: 2º dia.
Firmamentum (latim) indica algo firme e forte, capaz de reger uma enorme quantidade de água que se encontra
acima da terra.
Deste modo, o estudioso antigo explicava a cor do céu: ele é azul porque o firmamento rege uma grande
quantidade de água e a chuva, nada mais é que uma abertura neste firmamento.
3º dia
-
-
-
(Gn 1,9-10) Deus disse: “Juntem-se num único lugar as águas que estão debaixo do céu, para que apareça o
solo firme”. E assim se fez.
Ao solo firme Deus chamou “terra” e ao ajuntamento das águas, “mar”. Deus viu que era bom.
A passagem do Mar Vermelho: as águas se dividem, os israelitas entraram no mar e conseguem a sobrevivência.
o Esta experiência histórica de salvação permitiu a compreensão da criação do mundo.
o Criação – libertação: duas realidades sempre presentes na história de Israel e nas orações.
(Gn 1,11) Deus disse: “A terra faça brotar vegetação: plantas, que dêem semente, e árvores frutíferas, que
dêem fruto sobre a terra, tendo em si a semente de sua espécie”. E assim se fez.
Duas obras: separação da terra e do mar e produção vegetal. Nos primeiros 3 dias temos as obras de fundação,
enquanto nos outros 3 dias as obras são de ornamentação.
As plantas e as árvores são realidades estáticas, diferentemente das outras realidades da segunda fase que são
caracterizadas pelo movimento.
(Gn 1,12-13) A terra fez BROTAR vegetação: PLANTAS, que dão a semente de sua espécie, e ÁRVORES, que dão
seu fruto com a semente de sua espécie.
Deus viu que era bom. Houve uma tarde e uma manhã: 3º dia.
“De sua espécie”: detalhada organização de todo o universo. O homem deve reconstruir esta ordem para
administrar o mundo.
Classificação dos vegetais em 03 categorias:
o BROTOS: pequenas plantas sem semente;
o PLANTAS: plantas com semente/flores, sem frutos;
o ÁRVORES FRUTÍFERAS: plantas com semente, com frutos.
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4º dia
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-
(Gn 1,14-15) Deus disse: “Façam-se luzeiros no firmamento do céu, para separar o dia da noite. Que sirvam de
sinais para marcar as festas, os dias e os anos. E, como luzeiros no firmamento do céu, sirvam para iluminar a
terra”. E assim se fez.
Sol e Lua não são chamados pelo nome, pois em todas as culturas próximas a Israel eles eram divindades 
processo “demitizante”.
Eles aparecem só em uma 2ª fase, reduzidos a simples instrumentos temporais.
(Gn 1,16-19) DEUS FEZ OS 2 GRANDES LUSTRES, o lustre maior para presidir ao dia e o lustre menor para
presidir à noite, e também as estrelas. Deus colocou-os no firmamento do céu para iluminar a terra, presidir
ao dia e à noite e separar a luz das trevas. Deus viu que era bom. Houve uma tarde e uma manhã: 4º dia.
“Luz” (me'orót) indica a sustentação do objeto que produz a claridade, um lustre pendurado no firmamento.
Nem perto de uma divindade!
Tríplice função:
o Iluminam a terra;
o Regulam o dia e a noite;
o Estabelecem o calendário religioso (festas, dias e anos).
5º dia
-
-
-
-
(Gn 1,20) Deus disse: “Fervilhem as águas de seres vivos e voem pássaros sobre a terra, debaixo do
firmamento do céu”.
O 5º dia corresponde ao 2º: à criação do firmamento que separa o céu do mar, corresponde a obra de
ornamentação do céu e do mar: os peixes e os pássaros.
(Gn 1,21) DEUS FEZ os grandes monstros marinhos e todos os seres vivos que nadam fervilhando nas águas,
segundo suas espécies, e todas as aves segundo suas espécies. Deus viu que era bom.
“Os grandes monstros marinhos” (tanninim) para os antigos eram uma realidade concreta: causavam os
naufrágios.
Os monstros marinhos estão presentes nas antigas tradições sobre a origem do mundo.
(Sl 74,13-14) Com poder tu dividiste o mar, quebraste a cabeça dos dragões nas águas, ao Leviatã tu
esmagaste as cabeças, deste-o como pasto aos monstros do mar.
Mais uma vez, ele faz uma demitização e estes monstros são reduzidos a simples criaturas.
(Gn 1,22-23) Deus os abençoou, dizendo: “Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei as águas do mar, e que as
aves se multipliquem sobre a terra”.
Houve uma tarde e uma manhã: 5º dia.
Um elemento novo BÊNÇÃO.
o Vegetais (3º dia) se multiplicavam esponta-neamente, porque têm a semente e não podem se
locomover.
o Já a reprodução dos peixes e dos pássaros acontece de modo misterioso, da união de um macho e uma
fêmea; a “bênção de Deus” transmite a vida e conserva a espécie.
o Deus é proclamado o único autor da vida, o responsável pela conservação de todo o mundo.
6º dia
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-
(Gn 1,24-25) Deus disse: “Produza a terra seres vivos segundo suas espécies, animais domésticos, animais
pequenos e animais selvagens, segundo suas espécies”. E assim se fez.
Alteração no comando inicial: uma realidade criada tem a função de produzir outras: “a terra produza seres
vivos”; mas, logo em seguida, o autor retorna à tradicional fórmula: “Deus fez os animais selvagens”.
O poeta expressa assim a “lei natural”: Deus cria um sistema de vida, organiza a realidade para obter uma
corrente produtiva; assim, de uma criatura deriva outra, evolução natural?
(Gn 1,25) DEUS FEZ os animais selvagens segundo suas espécies, os animais domésticos segundo suas espécies
e todos os animais pequenos do chão segundo suas espécies. Deus viu que era bom.
Assim como os vegetais tinham uma tríplice divisão, também os animais:
o DOMÉSTICOS: animais dóceis ao homem, produzem algo utilizado por ele (leite, lã, carne);
o PEQUENOS: animais sem pernas ou com pernas minúsculas (insetos);
o SELVAGENS: animais que vivem longe do homem e que se ameaçados reagem de modo perigoso.
Não é uma classificação que segue os critérios científicos atuais da biologia.
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(Gn 1,26) Deus disse: “Façamos o ser humano à nossa imagem e segundo nossa semelhança, para que domine
sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todos os animais selvagens e todos os animais
que se movem pelo chão”.
Estamos no ápice da obra criadora de Deus e a fórmula inicial demonstra um salto de qualidade:
Nas primeiras obras nós encontramos fórmulas simples como “faça-se a luz” ou “juntem-se as águas”;
Depois, no início do 6º dia, aconteceu uma alteração no comando “a terra produza”;
Agora, a exortação divina não é mais em terceira pessoa, com uma fórmula impessoal e dirigida a uma criatura,
mas Deus exorta si mesmo! “Façamos” é uma fórmula especial para sublinhar a importância da última criatura:
o homem.
(Gn 1,26) Deus disse: “Façamos o ser humano à nossa imagem e segundo nossa semelhança”.
Porque Deus utiliza “façamos”?
o Hebreus: Deus está falando com a corte celeste.
o Racionalistas: resíduo de politeísmo.
o Cristãos: alguns Padres da Igreja (Basílio, João Crisóstomo, Jerônimo e Agostinho) leram esta fórmula
como um diálogo entre as pessoas da Trindade.
o Plural deliberativo: quando Deus fala consigo mesmo, ou qualquer outra pessoa, a gramática hebraica
parece aconselhar o emprego do plural . Nós também usamos frases deste tipo.
Certamente, o autor bíblico não tinha a intenção de mencionar um diálogo da Trindade. Lendo a Sagrada
Escritura como cristãos, à luz de Cristo, podemos reconhecer nestas palavras a Trindade.
o A Bíblia tem dois autores, Deus e o homem.
o A Trindade não era intenção do autor humano.
o Mas, pode ser a intenção do autor divino através de um texto que vai muito além da compreensão e
capacidade de comunicação do próprio autor humano.
(Gn 1,27) DEUS FEZ o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou, homem e mulher ele os criou.
O que significa a semelhança entre Deus e o homem?
o A tradição patrística insistiu na semelhança da alma/espiritualidade.
o “imagem” (sélem) indica um objeto concreto, construído para reproduzir uma realidade: um quadro,
uma estátua.
o A imagem representa o rei; homenagear uma imagem ou fazer uma reverência é sinal de respeito em
relação à pessoa que está bem longe, mas é representada na imagem.
Tríplice sentido:
o Título real: cada homem é “imagem de Deus”.
o Criatura por excelência: o homem é a única criatura a ter este título, a representar Deus  Corpo
Templo do Espírito Santo.
o Relação com Deus: a imagem é também o reflexo no espelho, o homem é capaz de dialogar com Deus,
de pessoa para Pessoa.
(Gn 1,28) E Deus os abençoou e lhes disse: “Sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra; submetei-a e
dominai sobre os peixes do mar, as aves do céu e todos os animais que se movem pelo chão”.
O homem não é pensado como um servo, mas como o rei de toda a terra.
o Submeter: possuir, utilizar os animais nos campos.
o Dominar: controle total (pastorear, guiar), mas não pode fazer tudo aquilo que deseja.
o Homem = pastor do universo, uma idéia de domínio e responsabilidade. O homem é o representante de
Deus e deve cuidar da criação: não é o dono nem o governador, mas faz parte da criação e deve zelar
pelo seu bem estar.
(Gn 1,29-30) Deus disse: “Eis que vos dou, sobre toda a terra, todas as plantas que dão semente e todas as
árvores que produzem seu fruto com sua semente, para vos servirem de alimento. E a todos os animais da
terra, a todas as aves do céu e a todos os animais que se movem pelo chão, eu lhes dou todos os vegetais para
alimento”. E assim se fez.
A carne é excluída como alimento humano: o alimento pode ser “todas as plantas”, mas não a carne; do mesmo
modo todos os animais são herbívoros nesta visão primordial.
Mas esta é uma afirmação histórica (no início todos eram herbívoros) ou um projeto futuro de Deus?
No início da história é apresentado o desejo de Deus de um mundo pacífico sem agressões.
(Gn 1,31) E Deus viu tudo quanto havia feito e viu que era MUITO bom.
Houve uma tarde e uma manhã: 6º dia.
O nosso poema ao Criador termina com a sétima citação da fórmula “Deus viu que era bom”, mas com um
significativo acréscimo: tudo era muito bom!
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7º dia
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-
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3.4
(Gn 2,1) Assim foram concluídos o céu e a terra com todos os seus elementos.
Este versículo é a conclusão litúrgica do poema, a grande síntese que introduz finalmente o 7º dia: sábado.
o “elemento” (seba’ot) está presente no canto litúrgico do Santo : “Dominus Deus Sabaoth”.
o Ele fala do exército do céu e da terra;
Soldados do céu são as estrelas e os astros,
Soldados da terra todas as criaturas,
A potência de Deus que faz vencer o nosso exército e protege os nossos soldados.
Por exemplo, a palavra firmamento é utilizada por Ezequiel, um sacerdote no exílio de Babilônia e
contemporâneo do autor de Gn 1, para indicar a base do trono de Deus: o céu é a base do trono de Deus, o
mundo é o templo da sua glória.
(Gn 2,2-3) No 7º dia, Deus concluiu toda a obra que tinha feito; e no sétimo dia repousou de toda a obra que
fizera. Deus abençoou o sétimo dia e o santificou, pois nesse dia Deus repousou de toda a obra da criação.
“concluir” (shabat) dá o nome ao dia de festa.
A celebração do sábado constitui o momento sagrado por excelência, já que completa toda a obra, neste dia não
são permitidos trabalhos, mas somente o repouso, a paz, a festa e o diálogo com Deus.
(Gn 2,4a) Essa é a origem (toledót) da criação do céu e da terra.
Concluindo o poema da criação, o autor diz que tudo o que foi elencado é a “origem” (toledót) do céu e da terra.
A concepção histórica do povo de Israel é baseada nas gerações, e o livro do Gênesis possui 10 toledóts: esta é a
primeira das 10 recorrências deste vocábulo que é a divisão interna de todo o livro.
Textos do Oriente Antigo
-
3.4.1
O ambiente cultural do texto de Gn 1 é o pensamento mítico oriental: o princípio de raciocínio é mito. Portanto,
se rende importante uma comparação com este ambiente cultural para melhor compreender o nosso texto.
O Enuma Eliš e a luta com os monstros
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O mundo cultural mais próximo à mentalidade bíblica é aquele mesopotâmico. Os assírios e os babilônicos são
semitas como os hebreus, os quais sabem que o grande pai na fé, Abraão vem da terra de Ur dos Caldeus, na
alta Mesopotâmia.
As antigas tradições familiares reconheciam uma grande ligação cultural com o ambiente mesopotâmico, em
particular com aquela acádica de onde vem um famoso poema que trata da criação: o Enuma Eliš. O título
significa “Quando no alto”, que são as primeiras duas palavras do texto.
É uma obra muito conhecida e difundida na antiguidade oriental, tem a sua origem, aproximadamente, pelo ano
2.000 a.C., sendo precedente ao tempo de Abraão (1.800 a.C.) e a última redação se refaz ao séc. VIII (700
a.C.), na cidade de Babilônia. Os hebreus foram mandados em exílio para Babilônia a partir de 587 a.C.: neste
contexto histórico e cultural o autor sacerdotal escreve um hino à criação alternativo ao Enuma Eliš, texto que
se torna depois a primeira página da Bíblia.
O texto do Enuma Eliš está escrito em 7 tábuas, número simbólico da perfeição, e era recitado no quarto dia
festivo do “akítu”, na festa do Ano novo que durava uma semana. No quarto dia, o evento decisivo é a criação
do mundo.
A finalidade do poema Enuma Eliš é celebrar o deus Marduk, senhor da cidade de Babel: a criação através de
uma luta primitiva, da luta entre o bem (período da primavera) e o mal (período das inundações no inverno). A
festa do ano novo é o retorno à estação do bem, à primavera depois das enchentes, a maior de todas tinha sido o
grande dilúvio. Os antigos habitantes da Mesopotâmia pensavam, então, que antes do mundo existissem só os
deuses e o mundo tivesse nascido desta luta primordial entre eles.
A 1º tábua do poema inicia assim:
Quando no alto não havia firmamento,
nem terra, alturas, profundezas ou sequer nomes,
Quando o Apsu estava sozinho,
Ele, as águas doces, o iniciador da criação, e Tiamat,
as águas salgadas, e útero do universo, quando não existiam os deuses...
É a descrição mítica do caos primordial: uma grande quantidade de água e os dois princípios: um masculino
(Apsu) e um feminino (Tiamat). Nesta situação ainda não existia absolutamente nada.
Quando as águas doces e as salgadas estavam juntas, misturadas,
Os juncos não estavam trançados, ou galhos sujavam as águas,
quando os deuses não tinham nome, natureza ou futuro, então a partir de Apsu e Tiamat,
nas águas dele e dela, foram criados os deuses, e para dentro das águas precipitou-se a terra [lama].
Uma longa série de gerações das várias divindades ocupa toda a primeira tábua do poemas. Os deuses mais
velhos, com o tempo, não suportam mais os deuses jovens que fazem muito barulho, sobretudo Apsu e Tiamat
estão próximos a “um ataque de nervos” e decidem assim eliminar todos os deuses jovens. Porém, uma das
jovens deusas, Ea, faz uma bruxaria e mata Apsu.
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- O primeiro elemento, Apsu, foi eliminado, mas resta o segundo, Tiamat, que agora está furiosa, um monstro
fora de controle, um verdadeiro caos: Tiamat é o mar, símbolo do mal. Todos os jovens deuses estão com medo,
somente Marduk, filho de Ea, tem a coragem necessária para enfrentar Timat e começa a organizar a guerra
contra o monstro enfurecido.
- A 2º e a 3º tábuas continuam uma série de repetições, de conselhos e descrições. Os dois exércitos se estão
preparando para a grande guerra. Tiamat cria doze monstros para a guerra, entre os quais o escorpião, o
sagitário e o câncer (signos do zodíaco). Já Marduk cria doze ventos, um diferente do outro.
- Finalmente, na 4º tábua, aquela central, se narra a batalha:
Marduk lancou sua rede para prender Tiamat, e o vento Imhulu veio por trás e bateu na face de Tiamat.
Quando ela abriu a boca para engolir Marduk, o jovem deus empurrou Inhulu para dentro dela,
de modo que a boca não se fechasse e que o vento rugisse na barriga da mãe original de todos os deuses, para
que sua carcaça explodisse, intumescida.
Tiamat escancarou sua boca, e então Marduk disparou a flecha que lhe cortou as entranhas, que atingiu seu
estômago e útero da criação.
Agora que Marduk havia conquistado Tiamat, ele terminou com a vida dela.
Ele atirou-a ao chão, subindo em sua carcaça.
A líder da insurreição estava morta, seu corpo despedaçado, seu bando disperso.
- Nesta batalha Tiamat é esquartejada, o grande monstro primordial, o caos enfurecido foi divido em duas partes:
com a primeira Marduk faz o céu e com a outra a terra. Do caos começa a ordem.
- A 5º tábua descreve a criação das estrelas.
- A 6º tábua, como no 6º dia bíblico, se descreve a criação do homem.
Agora que Marduk havia escutado o que os deuses haviam dito,
surgiu dentro dele o desejo de criar um trabalho da mais completa de todas as artes.
Ele contou para Ea os pensamentos profundos que estavam em seu coração.
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“Sangue com sangue, Eu junto, sangue a osso, Eu formo algo original, cujo nome será “lulu” (homem)
os seres (humanos) originais, cuja feitura foi minha obra”.
O vocábulo sumério que indica homem (lulu) é interpretado ironicamente em acádico, onde significa “estúpido,
bobo, selvagem”. O homem é por natureza estúpido!
“Todas as suas ocupações serão o serviço fiel,
os deuses que caíram terão seu descanso,
e eu sutilmente alterarei suas operações,
dividindo companhias, igualmente abençoadas”.
Nesta passagem encontramos um pensamento teológico importante da cultura babilônica: o homem é criado
para ser um servidor estúpido dos deuses que descançavam enquanto o ele trabalha. Os jovens venceram a
batalha contra os velhos, agora o escravo homem deve trabalhar e é incapaz de se tornar livre.
Os deuses fazem uma reunião para decidir sobre a criação do homem. Os deuses percebem que é necessário de
matar alguma divindade para que o homem tenha em si algo de divino. O monstro Kingu é o escolhido, pois era
o chefe do exército de Tiamat.
Foi Kingu quem instigou a rebelião, ele levantou as águas da amargura e liderou a batalha por ela.
Eles declararam Kingu culpado, eles o prenderam e o fizeram se ajoelhar frente a Ea,
eles cortaram suas artérias e do sangue de Kingu eles criaram os homens e mulheres.
Ea impôs a Kingu sua servidão.
A mensagem de fundo é esta: o homem tem nas próprias veias um sangue pecador, de um deus ruim, de um
deus odiado, deste modo os deuses podem comandar o homem. A humanidade não tem nenhuma culpa, já que
nasceu odiada pelos deuses. Os deuses não querem dar nada ao homem, somente escravizá-lo e se aproveitar da
sua “estupidez”.
Os teólogos babilônicos são muito negativos. Eles vêem os deuses como chefes exigentes e terríveis que
pretendem do homem um serviço constante. A humanidade foi criada para manter a tranquilidade dos deuses,
para cultivar a terra, oferecer sacrifícios aos deuses e construir templos para atenuar a ira divina que de um
momento ao outro pode mandar catástrofes naturais e exterminar o homem.
A 7º tábua narra a fundação da cidade de Babilônia e a proclamação dos 50 nomes de Marduk.
A diferença do Enuma Eliš com o texto bíblico é evidente: notamos a presença de Deus na elaboração dos
textos bíblicos. Deus, de modo misterioso, mudou a mentalidade dos hebreus, os quais chegaram a grandes
concepções teológicas sobre a criação, válidas para toda a humanidade; enquanto os babilônicos, espertos e
poderosos, se tornaram “velhos”, sepultados no passado e no esquecimento.
Acabamos de ler alguns trechos do Enuma Eliš para evidenciar a “juventude” e atualidade da Bíblia, escrita por
um pequeno e insignificante povo, sob a inspiração divina, com ensinamentos perenes e válidos para todos os
tempos e todos os povos.
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4. INTRODUÇÃO A GN 2-3
4.1
Nova Criação?
-
4.2
Diferenças entre Gn 1 e Gn 2-3
4.2.1
Estilo
-
4.2.2
4.2.3
Gn 1 utiliza a palavra “Deus”,
Gn 2-3 prefere “SENHOR Deus”.
o SENHOR = nome de Deus (yhwh), em grego é Kyrios, em latim Dominus.
Universo e o homem
-
4.2.4
(Gn 1,1) No princípio Deus criou o céu e a terra.
(Gn 2,4b) Quando o SENHOR Deus fez a terra e o céu.
Os nomes estão invertidos.
o Sacerdote: o céu/Deus vem antes cosmologia.
o Deuteronomista: o homem vem antes, não fala dos astros (sol, lua, estrelas).
Ações divinas
-
4.2.5
Gn 1: a linguagem é mais simples: “Deus disse, Deus criou, Deus fez”;
Gn 2-3: a linguagem é mais humana: “Deus fez, plasmou, soprou, plantou, colocou, conduziu, tirou uma
costela”.
o Deus é apresentado como um jardineiro, um artesão, um médico.
Conclusão
-
Gn 2-3 tem um estilo narrativo diferente daquele utilizado no hino litúrgico sacerdotal.
São antigas tradições transmitidas de pai para filho; esta tradições não foram eliminadas pelo último redator do
Pentateuco (V século), mesmo tendo idéias diferentes daquelas do seu ambiente sacerdotal.
Uso do mito
-
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4.4
Gn 1 é um hino litúrgico que celebra o Deus Criador;
Gn 2-3 é uma narração, uma história com personagens bem precisos.
Vocabulário
-
4.3
A 2ª página da Bíblia é uma narração dedicada à primeira humanidade, não temos mais um hino litúrgico
sacerdotal (Gn 1);
É um texto pertencente a um grupo chamado deuteronomista: leigos que se dedicavam à pregação itinerante
(profetas), que também escreveram a sua opinião sobre a criação.
O autor deuteronomista utiliza a linguagem mítica. Ele não faz uma demitização.
Gn 2–3 é uma narração mítica que apresenta o início da história humana e quer com isso explicar a atualidade.
O que é o mito? Muitos pensam que mitologia seja sinônimo de falsidade, invenções, realidades anti-religiosas.
o MITO é uma narrativa simbólica, relacionada a uma cultura. O mito procura explicar a realidade, os
fenômenos naturais, as origens do mundo e do homem.
Fato histórico = algo que aconteceu uma única vez.
Fato mítico = algo que acontece sempre!
Portanto, o mito é um modo antigo de explicar a realidade, é a interpretação da realidade através de um conto.
Com o mito os antigos procuravam explicar o “porque” das coisas.
Dizer que um mito nunca aconteceu é errado, pois o mito não é um fato histórico, uma fotografia de um evento
bem situado no tempo, mas ilustra o que acontece sempre, uma realidade universal.
Esquema da aliança
-
A estrutura desta narração é o esquema da Aliança. O autor (profeta) conhece muito bem a história de Israel, a
Aliança que o povo estipulou com Deus, por meio de Moisés, no monte Sinai.
O autor também sabe também que em muitas ocasiões o povo rompeu esta Aliança.
Lendo com atenção Gn 2-3, percebemos o esquema da Aliança:
o Deus cria o homem,
o Coloca em um jardim,
o Deus dá uma lei.
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5. GN 2: NARRAÇÃO DA CRIAÇÃO
5.1
Introdução à narração
-
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5.2
(Gn 2,4b-5) Quando o SENHOR Deus fez a terra e o céu,
ainda não havia nenhum arbusto do campo sobre a terra e ainda não tinha brotado a vegetação, porque o
SENHOR Deus ainda não tinha enviado chuva sobre a terra, e não havia ninguém para cultivar o solo.
O início do texto reflete a mentalidade do trabalho = cavar poços, a água sobe e é possível irrigar a terra em um
ambiente árido e deserto.
Na falta de dois elementos, a chuva/água e o homem trabalhador, não se produz nada!
(Gn 2,6) Mas brotava da terra uma fonte,
que lhe regava toda a superfície.
Este texto não quer apresentar o caos inicial como o hino litúrgico sacerdotal.
“Brotava da terra uma fonte” indica o início da ação de Deus, como a separação luz/trevas em Gn 1.
Criação do homem
5.2.1
Ordem da criação
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5.2.2
(Gn 2,7) Então o Senhor Deus formou o ser humano com o pó do solo,
soprou-lhe nas narinas o sopro da vida, e ele tornou-se um ser vivente.
Gn 1: todas as obras criadas, no final o homem. Deus prepara o mundo como o grande templo e no fim coloca o
grande sacerdote para administrar a criação.
Gn 2-3: no início coloca o homem, a primeira realidade criada, quando ainda não existia nada.
(Gn 2,7) Então o Senhor Deus formou o ser humano com o pó do solo,
soprou-lhe nas narinas o sopro da vida, e ele tornou-se um ser vivente.
O autor sacerdotal já tinha elencado a criação de toda a vegetação, mas agora se diz que não brotava vegetação!
o O homem fora criado no 6º dia, mas agora se menciona que o homem é formado do pó!
o No hino ao Criador os animais são criados antes e o homem é o ápice, mas agora o homem é colocado
ao início e os animas são criados para fazer “companhia” ao homem.
O homem é apresentado de dois modos:
o Sacerdote: o homem no final, ponto alto da criação,
o Deuteronomista: o homem no início, pois tudo é para ele.
Deus forma o homem (ser humano) com o pó do solo como um “oleiro” (yotser).
Em hebraico existe um jogo linguístico por trás desta reflexão teológica:
o Homem = ’adam – ~d'a.'
o Terra = ’adamáh – hm'd'a.)
Com o pó do solo
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5.2.3
(Gn 2,7) Então o Senhor Deus formou o ser humano com o pó do solo,
soprou-lhe nas narinas o sopro da vida, e ele tornou-se um ser vivente.
Adam e Adamá são palavras muito parecidas:
o Deus forma o “terro” (homem) da “terra”.
o ’adam indica a humanidade e não um homem histórico.
Homem histórico se diz iš e išáh (mulher).
Se nós traduzimos ’adam com Adão, estamos dizendo que Deus criou o homem chamado Adão e não o ser
humano em geral. Todos nós somos Adão, pois Deus criou a humanidade.
O sopro de vida
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(Gn 2,7) Então o Senhor Deus formou o ser humano com o pó do solo,
soprou-lhe nas narinas o sopro da vida, e ele tornou-se um ser vivente.
A humanidade é feita de terra, de uma realidade material.
Os mesopotâmicos pensavam que era necessário matar um deus e com o seu sangue criar o homem, por isso o
homem é mau.
Para o autor deuteronomista, o homem criado recebe de Deus a sua própria vida: o “sopro vital” (nešamáh).
Provérbios explica esta palavra:
(Pv 20,27) O espírito do ser humano (nešamah) é uma luz do Senhor que esquadrinha todos os segredos do
seu íntimo.
nešamah não é tanto a vida ou o respiro, mas a consciência humana, a capacidade de se conhecer e de julgar os
próprios atos com liberdade.
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5.3
Criação do jardim
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5.4
II Semana Teológica (Gênesis e Êxodo)
(Gn 2,8) Depois, o SENHOR Deus plantou um jardim em Éden, a oriente, e pôs ali o homem que havia formado.
Um belo jardim no deserto é o máximo que a natureza pode oferecer ao homem.
Deus não precisa que homem trabalhe a terra e cave poços para que a água comece a verter da terra.
Deus cria o ser humano gratuitamente e lhe dá o que possui de melhor: jardim...
(Gn 2,9) E o Senhor Deus fez brotar do solo toda sorte de árvores de aspecto atraente e de fruto saboroso, e,
no meio do jardim, a árvore da vida e a árvore do conhecimento do bem e do mal.
Em meio a todas as árvores do jardim, Deus faz brotar duas particulares.
Não são duas árvores reais, mas dois símbolos nesta linguagem mítica:
o Árvore da vida,
o Árvore do conhecimento do bem e do mal.
Em muitas religiões a árvore é o sinal de uma ligação entre a terra e o céu: as raízes estão dentro da terra, os
galhos crescem para o céu.
o ÁRVORE DA VIDA: muitas culturas conhecem a imagem simbólica da árvore da vida, é a possibilidade de uma vida melhor!
o ÁRVORE DO CONHECIMENTO DO BEM E DO MAL: nenhuma cultura, além daquela bíblica,
conhece esta imagem simbólica.
(Gn 2,10-14) Do Éden nascia um rio que irrigava o jardim e, de lá, se dividia em 4 braços.
Físon: ele banha toda a terra de Hévila, onde se encontra muito puro, o bdélio e o ônix;
Geon: ele banha toda a terra de Cuch;
Tigre: ele corre para a Assíria;
Eufrates.
4 = universo, da totalidade geográfica.
Assim o mundo é também divido em 4 partes e são necessários 4 rios que levem a água do jardim para todas as
partes do mundo.
Aliança com o homem
5.4.1
Relação com Deus
-
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5.4.2
(Gn 2,15) O SENHOR Deus tomou o homem e o colocou no jardim de Éden, para o cultivar e guardar.
Deus criou o homem fora do jardim, agora toma o homem e o coloca no jardim.
Aliança: Deus toma Israel da terra do Egito e o coloca na terra prometida onde corre leite e mel.
A tarefa do homem é:
o “cultivar” (‘abad): indica o culto, a liturgia;
o “guardar” (šamar): indica a observação, a prática.
O jardim se torna o símbolo da relação de amizade entre Deus e o homem, uma relação que deve ser cultivada e
guardada, assim como toda a criação.
A Lei
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(Gn 2,16-17) O SENHOR Deus deu-lhe uma ordem, dizendo:
“Podes comer de todas as árvores do jardim.
Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não (deves) comerás, porque, no dia em que dele comeres,
com certeza morrerás”.
Antes de dar a Lei ao homem, Deus lhe deu um dom: o jardim. No jardim o homem recebeu uma permissão:
“podes comer de todas as árvores”, todo o jardim que Deus fez, foi em vista do homem, pois o homem está ao
centro.
Só depois que aparece uma restrição: “da árvore do conhecimento do bem e do mal não (deves) comerás”,
“comer” está no futuro, é um aviso
Dois pontos importantes:
o Jardim: é para o homem,
o Deus avisa: sobre o perigo da árvore simbólica.
Não tem nenhum sentido procurar onde se encontra o jardim do Éden. O paraíso é a relação com Deus, é a
amizade com Deus, algo que não se explica ou se encontra, mas se vive!
BEM e mal: são antônimos, hebraico utiliza os opostos para dizer a totalidade.
(2Sam 14,17b.20) Como um anjo de Deus é o senhor meu rei, pois ouve e discerne entre o bem e o mal... para
entenderes tudo o que acontece sobre a terra.
Distinguir entre bem e mal tem o mesmo sentido que afirmar o conhecimento da realidade. O conhecimento do
bem e do mal é o que nós chamamos hoje de Teologia moral.
Comer da árvore do conhecimento do bem e do mal equivale a possuir esta realidade, significa dominar/possuir
a moral, decidir o que é bem ou mal.
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- Esta expressão não se refere a uma proibição alimentar, mas se refere à morte: quando o homem pretende de ser
autônomo e decidir o que é bem e mal, a única coisa que encontra é a morte.
5.5
Criação da mulher
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(Gn 2,18) E o Senhor Deus disse: “Não é bom que o homem esteja só. Vou fazer-lhe uma auxiliar que lhe
corresponda”.
O Deuteronomista cria uma palavra para dizer que não é bom que o indivíduo esteja fechado em si mesmo, para
ser feliz é necessário que ele ex-ista (se coloque fora).
Inventa uma palavra unindo três vocábulos:
o a preposição como
o o advérbio defronte
o o pronome ele
ADg>n<K.
ke–neged–ô
o Alguém que seja como ele (homem), pois está defronte a ele.
o Uma realidade que possa olhar nos olhos, que se comunique e entre em relação com ele.
(Gn 2,19a) Então o SENHOR Deus formou da terra todos os animais selvagens e todas as aves do céu.
Tudo vem depois da criação do homem, pois tudo está em função do homem.
O mesmo verbo utilizado para a criação do homem, é reutilizado na criação dos animas: “formar da terra”.
A ação e a matéria são as mesmas, mas falta o sopro!
O homem possui a vida de Deus dentro de si, os animais não.
(Gn 2,19b-20) Apresentou-os ao homem para ver como os chamaria;
cada ser vivo teria o nome que o homem lhe desse.
Mas o homem não encontrou uma auxiliar que lhe correspondesse.
Dar nome indica domínio, mas o homem quer alguém semelhante, para poder “olhar nos olhos, manter uma
relação, se doar”.
(Gn 2,21–22) Então o SENHOR Deus fez vir sobre o homem um sono profundo, e ele adormeceu.
Tirou-lhe uma das costelas e fechou o lugar com carne.
Depois, da costela tirada do homem,
o SENHOR Deus formou a mulher e apresentou-a ao homem.
“Sono profundo” (tardemah) é um vocábulo sagrado: é o sono misterioso que domina o homem quando Deus se
aproxima para realizar maravilhas.
A única testemunha do nascimento da mulher estava dormindo. Com a costela retirada de Adão, Deus “formou”
a mulher, mas a matéria utilizada agora é diferente, não é mais a terra.
Porque a costela?
o Mito de Atrahasis: a deusa que conduz toda a criação se chama Ninti, ou seja “senhora da costela”.
o Língua suméria: a palavra “ti” significa vida, mas também costela.
o Complementaridade: os ossos que formam a costela iniciariam abaixo da clavícula e continuam até à
bacia, mas Deus retirou metade destes ossos presentes no homem e os colocou na mulher; proteção do
CORAÇÃO!
(Gn 2,24) Por isso deixará o homem o pai e a mãe e se unirá à sua mulher, e eles serão uma só carne.
Fundamento do matrimônio: uma nova carne com a mulher que está defronte a ele.
(Gn 2,23) E o homem exclamou: “Desta vez sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Ela será
chamada ‘humana’ porque do homem foi tirada”.
Pela primeira vez o homem fala!
“carne da minha carne, osso dos meus ossos” indica um grau de parentesco muito próximo.
O homem não dá “um” nome à mulher, mas dá o seu próprio nome, não como sinal de domínio, mas de
igualdade!
(Gn 2,25) O homem e sua mulher estavam nus, mas não se envergonhavam.
O que é a nudez? É um aspecto físico, uma pessoa está nua quando não está vestida?
o As vestes são sinal de dignidade (vestição).
o A nudez citada pelo nosso autor não se refere à sexualidade, mas é a humanidade limitada que possui
uma dignidade, o homem “não se envergonhava” deste limite.
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6. GN 3: PECADO DA HUMANIDADE
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6.1
Gn 2 apresenta três relações de harmonia:
o Homem ↔ Deus
CRIADOR
o Homem ↔ natureza
ANIMAIS
o Homem ↔ Mulher
HUMANIDADE
Se Deus criou o homem bom, porque existe a desarmonia no mundo? Porque existe o mal?
Sábia serpente
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(Gn 3,1a) A serpente era o mais astuto de todos os animais selvagens que o Senhor Deus tinha feito.
Personagem novo: a “serpente” (nahaš):
o Não mencionado, mas é nominado como se todos já o conhecessem.
o Em uma narração, quando um novo personagem é introduzido, se fala quem é e de onde veio.
o É um símbolo que o autor não considera necessário apresentar, pois é conhecido a todos.
Algumas palavras parecidas.
o Adjetivo “nu” (‘erom) ↔ adjetivo “astuto” (‘arum).
o Se passa do ‘erom ao ‘arum, da nudez à astúcia.
o A serpente é astuta, uma qualidade positiva que demonstra a sabedoria: a serpente é o animal mais
inteligente que Deus tenha criado.
Em Provérbios, o adjetivo “astuto” é usado para caracterizar o homem prudente e inteligente em contraste com
o estúpido e insensato.
(Pv 12,16.23) O tolo demonstra logo a sua raiva,
enquanto o astuto dissimula a ofensa.
A pessoa astuta esconde o conhecimento, enquanto o coração dos tolos solta besteiras.
Mas quem é a serpente?
o Hoje é fácil ligar a serpente ao diabo.
o Esta doutrina pertence ao:
Tardo judaísmo (Sabedoria – 100 a.C.),
(Sab 2,23-24) Deus criou o ser humano para a imortalidade e o fez à imagem de Sua própria natureza. Mas a
morte entrou no mundo por inveja do diabo que, e experimentam-na os que são do seu partido.
Cristianismo primitivo (Apocalipse – 100 d.C.).
(Ap 12,9a) Assim foi expulso o grande Dragão, a antiga Serpente,
que é chamado Diabo e Satanás, o sedutor do mundo inteiro.
(Ap 20,2) Ele agarrou o Dragão, a antiga Serpente,
que é o Diabo, Satanás.
Não era típica do narrador antigo, o qual usa o símbolo da serpente, muito comum à sua
cultura.
Com o tempo, se começou a identificar o símbolo da serpente antiga com o conceito de diabo
ou satanás (satán = acusador || diábolos = obstaculador).
o Muitas culturas da época usavam a serpente:
BABILÔNIA: no poema do Enuma Eliš, o monstro primordial do caos Tiamat é uma grande
serpente.
Serpente = falta de Deus, o caos total.
ASSÍRIA: a serpente é a guardiã do jardim dos deuses (cf. Ningiszida).
Serpente = animal que protege a árvore do conhecimento do bem e do mal.
EGITO: a serpente é o símbolo divino do poder e da sabedoria. O faraó no lugar da coroa
usava uma tiara com uma serpente.
Serpente = tentação da potência humana, da idolatria.
CANANÉIA: serpente era o símbolo da eterna fertilidade, uma divindade que proporciona
grandes colheitas e fartura ao povo.
Serpente = força da natureza.
VOCABULÁRIO: “serpente” (NaHaŠ) parecido com “fazer bruxarias” (NaHaŠ).
Serpente = dominar a realidade.
ESTUDOS MODERNOS: símbolo do próprio homem, a serpente era a “mais astuta das
criaturas de Deus”, mas não é o próprio homem o ser mais inteligente e astuto?
Serpente = homem que depende de Deus.
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6.2
Origem de cada pecado
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6.3
II Semana Teológica (Gênesis e Êxodo)
(Gn 3,1b) Ela disse à mulher: “É verdade que Deus vos disse: ‘Não comais de nenhuma das árvores do
jardim?’”
Infelizmente esta é a imagem que nós temos da Lei de Deus ao homem: Deus proibiu de comer!
Deus não proíbe, mas dá a possibilidade de comer de todas as árvores e avisa que da árvore do conhecimento do
bem e do mal o não (deves) comer.
Serpente muda a Lei de Deus, perguntando se Deus proibiu de comer os frutos de qualquer uma das árvores. Se
fosse verdade o homem morreria de fome!
(Gn 3,2-5) A mulher respondeu à serpente:
“Nós podemos comer do fruto das árvores do jardim. Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim,
Deus nos disse: ‘Não comais dele nem sequer o toqueis, do contrário morrereis’”.
A serpente respondeu: “De modo algum morrereis. Pelo contrário, Deus sabe que, no dia em que comerdes da
árvore, vossos olhos se abrirão, e sereis como Deus, conhecedores do bem e do mal”.
Deus tinha alertado o homem da morte, já a serpente induz a mulher a acreditar que Deus os teria enganado.
Deus não quer que o homem se torne como Ele, portanto disse para não comer da árvore.
Deus não ama o homem mas o está enganando. É melhor não confiar em Deus!
Esta é a origem do pecado: duvidar que Deus seja um aliado do homem, querer ser como Deus.
A tentação é se perguntar: é possível acreditar em Deus? É positivo confiar em Deus ou é melhor fazer tudo
sozinho?
(Gn 3,6a) A mulher viu que seria bom comer da árvore, pois era atraente para os olhos e desejável para obter
conhecimento.
“Viu que seria bom comer da árvore”: a criatura humana duvida de Deus, o que produz morte passa ser bom!
A fruta não é venenosa, mas o veneno está no modo de ver a realidade, os valores, até mesmo o que é negativo
(morte), pode parecer bom para o homem.
“Atraente para os olhos”: o belo passa a ser considerado como bom.
“Desejável”: a criatura acaba pecando pois deseja o conhecimento do bem e do mal.
Possuir o bem e o mal é querer possuir a moral, se tornar o árbitro da verdade; assim, cada um pode fazer como
bem entende, já que cada indivíduo se sente sábio.
Verdadeiro sábio não é aquele que se coloca no lugar de Deus, mas conhece os princípios da realidade, se
reconhece limitado e capaz de uma boa relação com Deus.
(Gn 3,6b) Colheu o fruto, comeu dele e o deu ao marido a seu lado, que também comeu.
Vergonha e medo
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-
-
Consequências: o projeto divino foi transgredido, se tornariam como Deus, mas...
(Gn 3,7) Então os olhos de ambos se abriram, e, como reparassem que estavam nus, teceram para si tangas
com folhas de figueira.
Humanidade percebe a fraqueza, a humilhação, a perda total.
o Nudez= perda de dignidade.
o Vergonha = limite e fraqueza.
Este modo simbólico é difícil, estamos acostumados a pensar na nudez como aspecto físico; assim o pecado foi
reduzido a uma interpretação sexual.
o É a visão primordial do pecado (se repete sempre),
o A menção sexual era a última coisa que o autor tinha pensado.
Do mesmo modo a “maçã”, de onde veio a figura da maçã relacionada ao fruto do pecado?
o No início da Igreja, o latim era a língua falada,
o Ocorreu uma ambiguidade entre “malus” (macieira) e “malum” (mal).
o A expressão “árbor mali” pode ser traduzida como “árvore do mal” ou “árvore da macieira”.
o Assim, se passou do mal à maçã, as pessoas, relacionam o comer o fruto da árvore do conheci-mento
do bem e do mal com o comer uma maçã!
o Pecado original não está em comer uma maçã proibida, mas na falta de confiança em Deus.
Paróquia Papa João XXIII
16
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6.4
Investigação
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6.5
II Semana Teológica (Gênesis e Êxodo)
(Gn 3,9-10) Mas o Senhor Deus chamou o homem e perguntou: “Onde estás?” Ele respondeu: “Ouvi teu ruído
no jardim. Fiquei com medo, porque estava nu, e escondi-me”.
“Ficar com medo” significa que o homem duvida de Deus.
Não confiando em Deus, o homem descobre a própria fraqueza natural e pensa de não ser amado por Deus.
O homem está projetando em Deus algo que não é divino e sente medo. O homem se esconde e não se relaciona
mais com Deus.
(Gn 3,11-12) Deus perguntou: “E quem te disse que estavas nu?
Então comeste da árvore, de cujo fruto te proibi comer?”
O homem respondeu: “A mulher que me deste por companheira, foi ela que me fez provar do fruto da árvore,
e eu comi”.
O osso dos meus ossos, a carne da minha carne, a complementaridade entre homem e mulher não existe mais.
o A culpa passa a ser da mulher, o homem acusa Deus por ter criado alguém que lhe enganou.
o A humanidade não se sente culpada e transfere a culpa para Deus!
(Gn 3,13) Então o Senhor Deus perguntou à mulher: “Por que fizeste isso?”
E a mulher respondeu: “A serpente enganou-me, e eu comi”.
Deus Homem Mulher Serpente.
A insistência em “comer” = pecado.
Não é uma ação histórica de comer, é o símbolo da desobediência, da falta de confiança em Deus.
O homem faz o 1º de uma série de pecados, no momento em que não confia em Deus, quando pretende agir
seguindo só os próprios conceitos.
A origem do pecado original é a desobediência, a desconfiança, a raiz de cada pecado.
Pecado original: Paulo compara Adão a Cristo, percebe o pecado porque conhece a infinita misericórdia de
Deus.
(Rm 5,17-19) Por um só homem que pecou, a morte começou a reinar. Muito mais reinarão na vida, pela
mediação de um só, Jesus Cristo, os que recebem o dom gratuito e transbordante da justiça. Como a falta de
um só acarretou condenação para todos os seres humanos, assim a justiça de um só trouxe para todos a
justificação que dá a vida. Com efeito, como, pela desobediência de um só homem, a humanidade toda
tornou-se pecadora, assim também, pela obediência de um só, todos se tornarão justos.
A desconfiança, a incapacidade de se relacionar com Deus são superadas em Jesus Cristo, no gesto de confiança
e obediência.
o A comparação entre o primeiro Adão e o último Adão demonstra a superioridade de Jesus:
o Não podemos somar o -1 de Adão e o +1 de Cristo para retornar à estaca 0, mas Cristo é infinitamente
superior (+1000) e nos doa esta vida nova como filhos adotivos de Deus.
Sentenças
-
6.5.1
O narrador apresenta os três personagens em questão seguindo uma ordem bem precisa:
o Tentação: serpente → mulher → homem;
o Investigação : homem → mulher → serpente;
o Sentenças : serpente → mulher → homem.
Serpente
-
-
(Gn 3,14) O SENHOR Deus disse à serpente:
“Porque fizeste isso, serás maldita entre todos os animais domésticos e entre todos os animais selvagens.
Rastejarás sobre teu ventre e comerás pó todos os dias de tua vida”.
Bênção é capacidade de transmitir a vida, a maldição é o oposto: é a esterilidade.
Toda a realidade simbolizada na serpente (caos primitivo, potência humana, arrogância da sabedoria, cultos de
fertilidade, bruxaria e lado obscuro da inconsciência humana) é declarada estéril e sem vida.
(Gn 3,15) “Porei inimizade entre ti e a mulher,
entre a tua descendência e a dela.
Esta te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar”.
Deus preanuncia uma luta futura.
Deus coloca inimizade entre os filhos da serpente e os filhos da mulher.
o Filhos da serpente = imagem do mal e dos princípios incorretos que levam ao pecado.
o Filhos da mulher = homens de todos os tempos, humanidade que pode se tornar filhos da serpente.
o A eterna batalha que o homem deve ter contra as forças do mal. Juntamente com a batalha que é
anunciada, também uma vitória futura é prometida.
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II Semana Teológica (Gênesis e Êxodo)
Hebraico
Texto Massorético
Grego
Tradução dos LXX
Tyvia) hb'yaew>
^n>yBe
hV'aih; !ybeW
^()r>z: !ybeW
H('r>z: !ybeW
varo ^p.Wvy> aWh
`bqe'( WNp,WvT. hT'a;w>
kai. e;cqran qh,sw
Latim
Tradução da Vulgata
inimicitias ponam
avna. me,son sou
inter te
kai. avna. me,son th/j gunaiko.j
et mulierem
kai. avna. me,son tou/ spe,rmato,j sou
et semen tuum
kai. avna. me,son tou/ spe,rmatoj auvth/j et semen ilius
auvto,j sou thrh,sei kefalh,n
ipsa conteret caput tuum
kai. su. thrh,seij auvtou/ pte,rnan
et tu insidiaberis calcaneo eius
Porei inimizade entre ti e a mulher,
entre a tua descendência e a dela.
Este (esta) te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar.
-
-
6.5.2
HEBRAICO/GREGO: pronome masculino para indicar quem ferirá a cabeça da serpente, então entende a
“descendência”: um filho ou a humanidade em geral alcançará a vitória. Os cristãos vêem o Próto-Evangelho,
ou seja o primeiro bom anúncio da vitória sobre o pecado: “o Filho da mulher ferirá a cabeça da serpente”, o
Messias, filho de Maria, ferirá a cabeça da serpente e doa uma vida nova à humanidade.
LATIM: o pronome masculino se transformou em um pronome feminino (ipsa)! Assim a mulher ferirá a cabeça
da serpente. Iniciou-se uma profecia mariana, na imagem da Imaculada Conceição, Maria está esmagando uma
serpente.
Mulher
-
-
6.5.3
(Gn 3,16) À mulher disse: “Multiplicarei os sofrimentos de tua gravidez. Entre dores darás à luz os filhos. Teus
desejos te arrastarão para teu marido, e ele te dominará”.
o Deus não condena a mulher e o homem, mas indica a desarmonia e presença do pecado.
o O autor parte da atual realidade negativa, da presença da desarmonia nas relações entre os homens,
com a natureza e com Deus e se pergunta: “por quê?”
1. SOFRIMENTO NO PARTO: o dom da vida é maravilhoso mas também preocupante. A imagem da mulher
no parto indica a salvação, a origem da vida através da dor.
(Jo 16,21) A mulher, quando vai dar à luz, fica angustiada, porque chegou a sua hora. Mas depois que a criança
nasceu, já não se lembra mais das dores, na alegria de um ser humano ter vindo ao mundo.
Paulo afirma que toda a criação continua sofrendo as dores do parto, pois vive esta fase de nascimento com
dores (Rm 8,19-25).
2. RELAÇÃO DESARMÔNICA COM O HOMEM: a igualdade “osso dos meus ossos, carne da minha carne”,
o mesmo nome (iš e iššàh) e o canto nupcial foram abandonados. A mulher submissa ao homem não era o
projeto de Deus, mas é consequência do pecado.
Homem
-
-
(Gn 3,17a) Ao homem ele disse:
“Porque ouviste a voz da tua mulher e comeste da árvore, de cujo fruto te proibi comer, amaldiçoado será o
solo por tua causa.
1. DESARMONIA DA NATUREZA: o homem não é amaldiçoado, mas o solo. O pecado original não afeta só
a humanidade mas todo o universo (enchente, terremoto, queimadas). A natureza tem o seu ciclo, mas não é
controlável: proporciona alimentos e traz vida e pode também provocar a morte.
(Gn 3,17b-19) Com sofrimento tirarás dele o alimento todos os dias de tua vida. Ele produzirá para ti espinhos
e ervas daninhas, e tu comerás das ervas do campo. Comerás o pão com o suor do teu rosto, até voltares ao
solo, do qual foste tirado. Porque tu és pó e ao pó hás de voltar.
2. MORTE: o homem descobre em si a causa da própria morte e sente medo. “Volta ao pó” significa morrer.
(Gn 3,20) O homem chamou à sua mulher “Eva”, porque ela se tornou a mãe de todos os viventes.
Depois das sentenças, o homem impõem um nome à mulher: “Dar nome” = domínio.
o “Eva” (hawwah),
o “viver” (HaWaH) = Vida.
Paróquia Papa João XXIII
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6.5.4
II Semana Teológica (Gênesis e Êxodo)
Conclusão misericordiosa
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(Gn 3,21) E o Senhor Deus fez para o homem e sua mulher roupas de pele com as quais os vestiu.
Folhas de figo roupas de pele.
A nudez do homem, a sua fraqueza e limitação, é coberta pela misericórdia de Deus.
Quando o homem percebe que não consegue com as suas próprias forças, Deus intervém.
(Gn 3,22) Então o Senhor Deus disse: “Eis que o homem tornou-se como um de nós, capaz de conhecer o bem
e o mal. Não ponha ele agora a mão na árvore da vida, para dela comer e viver para sempre”.
Esta frase é a chave de leitura teológica de todo o texto: o homem não tem mais acesso à árvore da vida pela sua
própria culpa.
(Gn 3,23-24) E o Senhor Deus o expulsou do jardim de Éden, para que cultivasse o solo do qual fora tirado.
Tendo expulso o ser humano, postou a oriente do jardim de Éden os querubins, com a espada fulgurante a
cintilar (raios), para guardarem o caminho da árvore da vida.
O paraíso é terrestre! O homem é expulso, o jardim resta assim longe do homem.
O jardim não é eliminado, a árvore da vida não foi cortada. O homem é expulso e não tem mais acesso ao
jardim, símbolo da relação amigável com Deus.
Era o homem que deveria proteger e cultivar a árvore, mas não quis e agora deverá cultivar o solo de onde foi
criado.
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II Semana Teológica (Gênesis e Êxodo)
7. GN 4: CAIM E ABEL
7.1
Irmãos e adversários
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7.2
(Gn 4,2b) Abel era pastor de ovelhas e Caim cultivava a terra.
Irmãos indicam os dois grandes grupos:
o Abel = pastor nômade,
o Caim = agricultor sedentário.
Caim vem do Homem (‘adam) e cultiva a terra (‘adamah).
Escolha de Deus
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7.3
(Gn 4,1) O Homem se uniu a Eva e ela concebeu e deu à luz Caim:
“Conquistei um homem com a ajuda do SENHOR”.
Homem (‘adam) - homem (‘ish).
Caim (qaim) - conquistei (qanah).
O centro é Caim, se explica seu nome;
o É o primogênito;
o Deve fazer as suas escolhas.
(Gn 4,2a) Tornou a dar à luz e teve Abel, irmão de Caim.
Abel (hebel) indica o sopro, a vaidade.
Não se explica o nome, é o irmão de Caim.
7x “irmão”.
(Ecle 1,2) Vaidade das vaidades, diz o Eclesiastes,
vaidade das vaidades, tudo é vaidade!
38x para indicar a inconsistência, a fragilidade.
(Gn 4,3-5a) Caim ofereceu ao SENHOR frutos do solo como oferta.
Abel ofereceu os primeiros cordeirinhos e a gordura das ovelhas.
O SENHOR olhou para Abel e sua oferta,
mas olhou menos Caim com sua oferta.
Prática religiosa da oferta: dar ao Senhor as primícias para receber a bênção.
Deus olha a pessoa e depois a oferta:
o (+) olhou mais
o (-) olhou menos
(Gn 4,5b) Caim ficou irritado e com o rosto abatido.
Porque Deus faz distinção?
Deus escolhe os pequeninos...
(Dt 7,7) O SENHOR vos escolheu, não por serdes mais numerosos, na verdade sois o menor de todos os povos.
Caim não preparou bem a sua oferta...
(Hb 11,4) Pela fé, Abel ofereceu a Deus um sacrifício melhor que o de Caim, pois Deus atestou o valor de suas
oferendas.
(Gn 4,6-7a) Então o SENHOR perguntou a Caim:
“Por que andas irritado e com o rosto abatido?
Não é verdade que, se fizeres o bem, andarás de cabeça erguida?
Caim não aceita a escolha de Deus!
“fazer o bem” = não indica tanto fazer bem feita a oferta, mas carregar o bem dentro de si.
Escolha de Caim
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(Gn 4,7b) E se fizeres o mal,
não estará o pecado espreitando-te à porta?
Pecado = animal abaixado à porta, pronto para atacar quem passa despercebido, quem é frágil.
Teologia Concupiscência.
CIC §1264 Certas consequências temporais do pecado permanecem: sofrimentos, doença, morte, fragilidades,
assim como a propensão ao pecado, que a Tradição chama de concupiscência ou "incentivo do pecado" (fomes
peccati").
(Gn 4,7c) A ti vai seu desejo, mas tu deves dominá-lo.
Caim tem o desejo do bem, mas deve demonstrar, deve dominar (mashal) si mesmo, esta inclinação ao mal que
traz consigo. Não é impossível! Deve tentar...
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20
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II Semana Teológica (Gênesis e Êxodo)
(Pv 16,32) É melhor o paciente que o valente;
quem domina a si mesmo vale mais que o conquistador de cidades.
-
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7.4
(Gn 4,8) Caim disse a seu irmão Abel: “Vamos ao campo!”
Mas, quando estavam no campo,
Caim atirou-se sobre seu irmão Abel e o matou.
Caim não conversa com o irmão, mas faz a sua escolha, assim como o homem e a mulher: uma escolha de
morte!
“Vamos ao campo” = território agrícola.
2º Pecado Original: fratricídio.
PECADO ORIGINAL
CIC §397 O homem, tentado pelo Diabo, deixou morrer em seu coração a confiança em seu Criador e,
abusando de sua liberdade, desobedeceu ao mandamento de Deus.
Foi nisto que consistiu o primeiro pecado do homem. Todo pecado, daí em diante, é uma desobediência a Deus
e uma falta de confiança em sua bondade.
CIC §402 Todos os homens estão implicados no pecado de Adão. São Paulo o afirma:
(Rm 5,19) Pela desobediência de um só homem, todos se tornaram pecadores.
(Rm 5,12) Como por meio de um só homem o pecado entrou no mundo e, pelo pecado, a morte, assim a morte
passou para todos os homens, porque todos pecaram...
CIC §402 Sobre a universalidade do pecado e da morte, Paulo opõe a universalidade da salvação em Cristo:
(Rm 5,18) Assim como da falta de um só resultou a condenação de todos os homens, do mesmo modo, da obra
de justiça de um só (Cristo), resultou para todos os homens justificação que traz a vida.
Consequência da escolha de Caim
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-
-
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(Gn 4,9) O SENHOR perguntou a Caim : “Onde está teu irmão Abel?”
Ele respondeu: “Não sei. Acaso sou o guarda do meu irmão?”
Como no paraíso terrestre, Deus inicia o diálogo com uma pergunta:
(Gn 3,9) O SENHOR Deus perguntou ao homem: “Onde estás?”
Caim responde com outra pergunta...
(Gn 4,10) O SENHOR perguntou: “Que fizeste?
Da terra está clamando por mim a voz do sangue do teu irmão!”
Sangue (dam) clama da terra (‘adamah).
“Ouvir o grito” como no Egito.
Fratricídio começa uma onda de assassinatos, o mal se instaura num efeito dominó.
(Gn 4,11-12) Serás amaldiçoado pela própria terra que engoliu o sangue de teu irmão que tu derramaste.
Quando cultivares a terra, ela te negará seus frutos
e tu virás a ser um fugitivo, vagueando sobre a terra”.
Sentenças contra Homem – mulher – serpente:
Serpente - amaldiçoada; homem/mulher não.
Agora o filho do homem é amaldiçoado pelo seu pecado, pelo assassinato do irmão.
Caim não será mais agricultor sedentário, mas deverá fugir, vaguear pela terra (fuga do Egito)
(Gn 4,13-14) Caim disse ao SENHOR:
“Meu castigo é grande demais,
quando estiver fugindo e vagueando pela terra;
quem me encontrar vai matar-me”.
“Quem me encontrar”: outras pessoas?
Aparece já uma civilização bem desenvolvida:
o Agricultores e Pastores,
o Sacrifícios apresentados a Deus,
o Existência de outras populações.
(Gn 4,15) Mas o SENHOR lhe disse:
“Se matarem Caim, ele será vingado 7 vezes”.
O SENHOR pôs então um sinal em Caim,
para que ninguém o matasse.
Mesmo com o pecado, a misericórdia de Deus se manifesta com um sinal de salvação.
Irmandade é difícil, mas não é impossível!
(Gn 4,16) Caim afastou-se da presença do SENHOR
e foi habitar na região de Nod, a leste de Éden.
Nod = vagar, fugir, andar sem nenhuma meta.
Paróquia Papa João XXIII
21
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7.5
II Semana Teológica (Gênesis e Êxodo)
Conclusão
-
Ensinamentos desta passagem:
o A revolta do homem contra Deus conduz à revolta do homem contra o seu próximo.
o Deus é justo em punir o pecado, mas misericor-dioso no aplicar a pena.
o O pecado pode ser dominado pelo homem.
o Sempre teremos na humanidade este conflito entre o Justo (Abel) e o Injusto (Caim).
8. GN 6-9: NOÉ E O DILÚVIO
8.1
Dilúvio em outras culturas
-
Dilúvio Sumério GILGAMESH (1.300 a.C.)
8.1.1
-
-
8.1.3
Um grande dilúvio foi produzido por Poseidon, que por ordem de Zeus havia decidido pôr fim à existência
humana. Os humanos haviam aceitado o fogo roubado por Prometeu do Monte Olimpo; assim Prometeu diz a
seu filho Deucalião que construísse uma arca e nela introduzisse uma casal de cada animal.
Hipótese Histórica
-
Mar Negro: o Dilúvio seria um mito derivado de uma fantástica catástrofe natural, ocorrida por volta do ano
5.600 a.C.  o degelo ao final da última glaciação provocou a migração de diversos grupos (dito universal).
Mesopotâmia: uma grande inundação causada pelos rios Tigre e Eufrates, por uma elevação anormal do nível
d'água, causando devastação por toda a região em algum momento.
Algumas perguntas
-
-
8.3
Gilgamesh era o rei da cidade de Uruk que viaja em busca da imortalidade, nesta busca encontra as duas únicas
pessoas imortais: Utanapistim e sua esposa; pois o homem foi dizimado por incomodar aos deuses. Utanapistim
explica:
Eu percebi que havia grande silêncio, não havia um só ser humano vivo além de nós, no barco. Ao barro, ao
lodo haviam retornado. A água se estendia plana como um telhado, então eu da janela chorei, pois as águas
haviam encoberto o mundo todo. Em vão procurei por terra, somente consegui descobrir uma montanha, o
Monte Nisir, onde encalhamos e ali ficamos por sete dias, retidos. Resolvi soltar uma pomba, que voou para
longe, não encontrando local para pouso retornou (…) Então soltei um corvo, este voou para longe encontrou
alimento e não retornou.
Dilúvio Grego DEUCALIÃO
8.1.2
8.2
Nas mais variadas culturas, em todos os continentes, existirem tradições que aludem à ocorrência de um dilúvio
global.
Tradição judaico-cristã: narra a história do dilúvio com a Arca de Noé.
Também as tradições americanas, asiáticas, sumérias, assírias, armênias, egípcias e persas, entre outras, relatam
inundações e chuvas torrenciais.
Divindade decide eliminar da Terra a humanidade corrupta e escolhe um homem bom para construir uma
arca/barco para sobreviver.
Qual a diferença entre o dilúvio bíblico e o dilúvio de outras culturas?
o CAUSA DO DILÚVIO: os deuses estariam cansados do barulho ou de algum roupo por parte dos
humanos, seria uma vingança divina.
o Na Bíblia, pelo contrário, o motivo é o pecado do homem e Deus quer re-criar a humanidade através de
uma nova aliança.
É um fato histórico ou simbólico?
o O que os animais comeram, Deus os nutria?
o Ainda poderiam existir os restos da arca?
o Existe água suficiente no Planeta para ultrapassar o Monte Everest com 8.848 mt?
Introdução ao texto
-
(Gn 5,28-32) Lamec tinha 182 anos quando gerou um filho, a quem deu o nome de Noé, dizendo: “Este nos
consolará do trabalho e do cansaço de nossas mãos, causados pela terra que o SENHOR amaldiçoou”. Depois
de gerar Noé, Lamec viveu mais 595 anos e gerou filhos e filhas. Ao todo, Lamec viveu 777 anos e depois
morreu. Noé tinha 500 anos quando gerou Sem, Cam e Jafé.
Noé/consolar  x;në (noah) mx;n: (naham)
Idade avançada como sinal de importância:
o Número indica qualidade e não só quantidade,
o Pessoa é vista como em uma pintura (1º plano).
Paróquia Papa João XXIII
22
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II Semana Teológica (Gênesis e Êxodo)
-
(Gn 6,1-4) Quando o ser humano começou a pro criar-se sobre o solo da terra e gerou filhas, os filhos de Deus
viram que as filhas dos humanos eram bonitas e escolheram as que lhes agradassem como mulheres para si. E
o SENHOR disse: “Meu espírito não animará o ser humano para sempre. Sendo apenas carne, não viverá mais
do que 120 anos”. Havia então gigantes na terra, mesmo depois que os filhos de Deus se uniram às filhas dos
humanos e lhes geraram filhos. São eles os heróis renomados dos tempos antigos.
Filhos de Deus = anjos
Gigantes/heróis = vestígios de mitologia
-
(Nm 13,32-33) Mas os homens que haviam subido com Caleb disseram: “Não podemos enfrentar esse povo,
porque é mais forte do que nós”. E puseram-se a fazer comentários negativos diante dos israelitas sobre a
terra (prometida) que haviam explorado, dizendo:
“A terra que fomos reconhecer é uma terra que devora os seus habitantes, e todos os homens que aí vimos
são gigantes”.
Gigantes/heróis = vestígios de mitologia.
Respeito aos textos mais antigos que são conservados quando todos eles são unidos para formar o Pentateuco.
-
(Gn 6,5-6) O SENHOR viu o quanto havia crescido a maldade das pessoas e como todos os projetos de seus
corações tendiam unicamente para o mal. Então o SENHOR arrependeu-se de ter feito o ser humano na terra
e ficou com o coração magoado.
Maldade no coração (interior): o mal deve ser exterminado  o homem também!
8.3.1
Deus se arrepende?
(Nm 23,19) Deus não é homem para que minta, nem criatura humana para que se arrependa. Diz alguma coisa
e não a faz, promete algo e não o cumpre?
-
-
-
8.4
(1Sm 15,10-11) A palavra do SENHOR veio então a Samuel:
“Arrependo-me de ter feito a Saul rei. Ele afastou-se de mim e não executou as minhas ordens”. Samuel
entristeceu-se.
Arrependimento = dor profunda diante de um pecado tão grande e enraizado no homem.
ANTROPOMORFISMO
(Gn 6,7) O SENHOR disse: “Vou exterminar da face da terra o ser humano que criei e, com ele, os animais, o
que se move pelo chão e até as aves do céu, pois estou arrependido de os ter feito”.
Noé, porém, encontrou graça aos olhos do SENHOR.
o Deus está com sentimentos humanos...
o A criação sofre pelo pecado do homem:
o Animais, plantas, tudo é afetado!
o Mas... Noé encontra a Graça de Deus, ele será agraciado pela sua vida correta.
(Gn 6,9.12) Esta é a história de Noé: Noé era homem justo e íntegro entre os contemporâneos e sempre
andava com Deus.
Mas a terra se perverteu diante de Deus e encheu-se de violência.
Noé era:
o Justo = conceito de caráter cultual,
o Íntegro = conceito de caráter social.
Construção da arca
-
(Gn 6,14-15) Constrói para ti uma arca de madeira resinosa, divide-a em compartimentos e calafeta-a com
piche por dentro e por fora. A arca terá as seguintes dimensões: 300 cúbitos comprimento [150 mt], 50
cúbitos largura [25 mt] e 30 cúbitos de altura [15 mt].
Arca (tebah): mesma palavra utilizada para indicar o cesto onde Moisés foi colocado:
o Noé salva a humanidade com a arca;
o Moisés é salvo pela arca para salvar depois o povo.
o Cúbito = 54 cm.
Paróquia Papa João XXIII
23
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8.5
II Semana Teológica (Gênesis e Êxodo)
Significado do dilúvio
-
A narração do dilúvio é concêntrica:
(7,4.10) 7 dias de espera
(7,10) 7 dias de espera
(7,12) 40 dias de dilúvio
(7,24) 150 dias de dilúvio
(8,3) 150 dias de dilúvio
(8,6) 40 dias de dilúvio
(8,10) 7 dias de espera
(8,12) 7 dias de espera
-
Dilúvio = retorno ao caos primitivo (abismo, água, escuridão), quando Deus não mantém a criação, o caos
retorna.
(Gn 8,1) Então Deus se lembrou de Noé e de todos os animais selvagens e domésticos que estavam com ele na
arca. Fez soprar um vento sobre a terra, e as águas começaram a baixar.
Soprou um vento = Espírito pairava...
-
(Gn 8,20) Então Noé construiu um altar ao SENHOR, tomou animais e aves de todas as espécies puras e
ofereceu holocaustos sobre o altar.
-
8.6
(Gn 8,21-22) O SENHOR aspirou o agradável odor e disse consigo mesmo: “Nunca mais tornarei a amaldiçoar a
terra por causa do gênero humano, por serem más desde a infância as inclinações do coração humano; nunca
mais tornarei a castigar todos os seres vivos como acabei de fazer. Enquanto a terra durar, plantio e colheita,
frio e calor, verão e inverno, dia e noite jamais hão de cessar”.
O homem obtém o perdão pelo sacrifício.
Deus quer manter uma boa relação com o homem, o qual deve manifestar esta vontade em meio às suas
inclinações negativas.
Aliança com Deus
-
-
(Gn 9,1-7) Deus abençoou Noé e seus filhos, dizendo-lhes: “Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra...
Tudo o que vive e se move vos servirá de alimento. Entrego-vos tudo, como já vos dei os vegetais. Da mesma
forma pedirei contas do vosso sangue, que é a vossa VIDA, a qualquer animal. E da VIDA do homem pedirei
contas a seu irmão. Quem derramar sangue humano, por mãos humanas terá seu sangue derramado, porque
Deus fez o ser humano à sua imagem”.
Deus re-propõe a aliança com Adão  BÊNÇÃO.
Vida (nefesh) = natureza humana, intimidade com Deus graças à uma re-criação.
(Gn 9,11-14) Estabeleço convosco a minha Aliança: não acontecerá novamente que toda a carne seja
exterminada pelas águas de um dilúvio. Eis o sinal da Aliança que estabeleço entre mim e vós e todos os seres
vivos: ponho meu arco nas nuvens, como sinal de Aliança entre mim e a terra. Quando eu cobrir de nuvens a
terra, aparecerá o arco-íris.
Arco-íris liga o céu e a terra como sinal da aliança (berit) entre Deus e o homem.
o Outras alianças: Abraão, Jacó, Moisés...
o Deus se recorda || Homem se recorda.
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9. GN 11: TORRE DE BABEL
9.1
Diferença entre Deus ↔ homem
HOMEM
9.2
-
-
Uma torre que sobe até o céu
Desce para ver a torre dos homens
Unidos por uma única língua
Divididos em várias línguas
Desejam fazer um “nome”
Babel é o único nome citado
Iniciam a construção da torre
Evita a construção da torre
(Gn 10,1.5) Eis os descendentes dos filhos de Noé: Sem, Cam e Jafé. Eles tiveram filhos depois do dilúvio.
Destes se separaram as populações das ilhas, cada qual segundo seu país, língua, família e nação.
Após o dilúvio, a humanidade começa a re-popular a terra com diferenças de línguas, mas temos um passo para
trás...
(Gn 11,1-2) A terra inteira tinha uma só língua e usava as mesmas palavras. Ao migrarem do oriente, os
homens acharam uma planície na terra de Senaar, e ali se estabeleceram.
Homens divididos e com várias línguas, agora estão unidos e com uma única língua?!?
(Gn 11,1) A terra inteira tinha uma só língua e usava as mesmas palavras.
“uma só língua” (śapah) = único lábio, limite, fronteira Babilônia dominava o mundo.
“mesmas palavras” (dabar) = palavras únicas, sem diálogo ou conversa Babilônia tirânica.
o É um passo para trás querer que todos falem a mesma língua, usem a mesma palavra.
o TIRANIA = não respeitar os limites, a cultura...
(Gn 11,2) Ao migrarem do oriente, os homens acharam uma planície na terra de Senaar.
“Migrarem” = pode se referir aos movimentos migratórios impostos pelos babilônicos em suas conquistas.
“Senaar” = planície entre os rios Tigre e Eufrates.
(Dn 1,2) No 3º ano do reinado de Joaquim em Judá, Nabucodonosor, rei da Babilônia, chegou a Jerusalém e
pôs cerco à cidade. Ele levou tudo para a terra de Senaar e guardou os objetos no tesouro do seu templo.
Cidade ou torre?
-
-
9.5
Diperde por toda a terra
Uma só língua e mesmas palavras?
-
9.4
Vão para um único lugar: Senaar
Introdução
-
9.3
DEUS
(Gn 11,3-4) Disseram uns aos outros: “Vamos fazer tijolos e cozê-los ao fogo”. Utilizaram tijolos como pedras e
betume como argamassa. E disseram: “Vamos construir para nós uma cidade e uma torre que chegue até o
céu. Assim nos faremos um nome. Do contrário, seremos dispersados por toda a superfície da terra”.
“cidade” (hir) e “torre” (migdal) = construir uma cidade com uma torre, ou seja uma cidade com muros, uma
cidade fortificada.
(Gn 11,5-6) Então o SENHOR desceu para ver a cidade e a torre que os homens estavam construindo. E o
SENHOR disse: “Eles formam um só povo e todos falam a mesma língua. Isto é apenas o começo de seus
empreendimentos. Agora, nada os impedirá de fazer o que propuserem.
Deus se preocupa com os homens, mas porque decide de destruir o projeto humano?
A escolha é errada!
Mais um Pecado Original: Adão/Eva, Caim/Abel, Dilúvio, Torre de Babel...
Dispersão
-
(Gn 11,7-8) Vamos descer ali e confundir a língua deles, de modo que não se entendam uns aos outros”. E o
SENHOR os dispersou daquele lugar por toda a superfície da terra, e eles pararam de construir a cidade.
“Vamos descer” = façamos o homem...
Mais um Pecado Original: Adão/Eva, Caim/Abel, Dilúvio, Torre de Babel...
Construir a cidade (torre): agora o caminho para a unidade deve ser feito através do diálogo, cada um
respeitando o outro.
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-
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(Gn 11,9) Por isso a cidade recebeu o nome de BABEL (Confusão), porque foi lá que o SENHOR confundiu a
língua de todo mundo, e de lá dispersou os seres humanos por toda a terra.
BABEL = confusão (BaLaL)
BABILU = porta do céu.
(Jr 51-53) Ainda que a BABILÔNIA suba até o céu, que ponha sua fortaleza nas alturas, lá hão de chegar,
mandados por mim, os que vão destruí-la.
9.6
Zigurate
-
Zigurate zaqaru “construir no alto”.
Templos criados pelos sumérios e comum para os babilônios e assírios, eram construídos na forma de pirâmides
terraplanadas com vários andares.
O acesso ao templo, situado no topo do zigurate, se fazia por uma série de rampas e a função era levar o
templo/sacerdote mais próximo aos céus, sendo uma ponte entre os dois mundos.
Marduk era a principal divindade da Babilônia.
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CAPÍTULO II.
LIVRO DO ÊXODO
1. INTRODUÇÃO AO ÊXODO
1.1
Nome do livro
-
1.2
Divisão do livro
-
1.3
1.4
Hebraico: tAmv. hL,aew>
we’elleh shemôt
o 1ª palavra do texto – “Estes são os nomes”
Grego:
evxodo,j
eksodós
o Significa: “do lado de fora” + “caminho”
o Conteúdo principal: a saída do Egito.
Ex 1-15: Egito
Gn 16-40: Deserto – Monte Sinai
Idéias teológicas
-
Nome de Deus
Saída do Egito Páscoa
Aliança do Sinai decálogo
-
Êxodo efetiva o nascimento e a formação do povo de Deus (promessa a Abraão):
o Saída do Egito
FESTA DE PÁSCOA
o Caminho no Deserto FESTA DAS TENDAS
o Aliança no Sinai
FESTA DE PENTECOSTES
Experiência fundamental
Fundação do povo de Israel
Continuação de Gênesis
-
... : Início de tudo: Criação
1.800 a.C: Abraão/Isaac/Jacó
1.400 a.C: Descida no Egito
1.250 a.C: Libertação e Deserto
1.200 a.C: Conquista e ocupação
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2. EX 1: SITUAÇÃO DE ISRAEL
2.1
Continuação do Gênesis
-
-
-
-
-
2.2
(Ex 1,7-8) Estabeleceu, pois, sobre eles, trabalhos penosos:
eles construíram para o faraó as cidades de Pitom e Ramsés,
que deviam servir de entreposto.
Todos terão um nome, exceto o faraó/rei.
São submetidos à corvéia:
o trabalhar gratuitamente
o para não ser expulso.
(Ex 1,12) Quanto mais os acabrunhavam,
tanto mais eles se multiplicavam.
2ª Tentativa = Recém Nascidos
-
2.4
(Ex 1,1-4) Estes são os nomes dos filhos de Israel que vieram com Jacó para o Egito, cada um com sua família:
Rúben, Simeão, Levi, Judá, Issacar, Zabulon,
Benjamim,
Dã, Neftali,
Gad e Aser.
Nomes conforme mães (4 mulheres de Jacó).
(Ex 1,5-6) Os descendentes diretos de Jacó eram 70 ao todo.
Depois morreu José, assim como seus irmãos e toda aquela geração.
Número 70 é simbólico
o 70 anciãos, 70 anos do exílio, 70 descendentes de Noé
Rapidez nos acontecimentos...
o Em dois versículos passam 400 anos, tempo da permanência no Egito (+ 1.600 – 1.200 a.C.)
o Depois 3 livros para narrar os 40 anos no deserto!
(Ex 12,37) Os israelitas partiram de Ramsés para Sucot.
Eram cerca de 600.000 homens a pé, sem contar as crianças.
(Ex 1,7-8) Os israelitas foram fecundos, proliferaram, multiplicaram-se e tornaram-se cada vez mais
poderosos, de modo que o país ficou repleto deles. Surgiu no Egito um novo rei, que não conheceu José.
Os israelitas começam a se multiplicar, a população começa a ser notada (600.000?!).
É a realização do mandamento inicial.
Ramsés II (1.298 – 1.224 a.C.):
o “não conhecer” = não levar em conta o passado, retirar qualquer privilégio, inicia-se uma repressão, o
autor quer transmitir o sofrimento do povo!
1ª Tentativa = Trabalho forçado
-
2.3
O final do Gênesis menciona que José, ministro do Faraó, conseguiu que seu pai Jacó e seus 11 irmãos viessem
se estabelecer no Egito com suas família, num período de grande fome.
(Gn 47,5-6) O faraó disse a José: “Teu pai e teus irmãos vieram a ti. Tens à disposição a terra do Egito. Instala
teu pai e irmãos na melhor parte do país: que habitem na terra de Gessen”.
(Ex 1,15-16) O rei dirigiu-se às parteiras dos hebreus Séfora e Fua:
Quando assistirdes às mulheres dos hebreus,
se for menino, matai-o; mas se for menina, deixai-a viver.
Interpretação: não deve ser um genocídio, mas a eliminação de um inteiro povo Pecado:
o Falta de respeito pelas diferenças: Babel,
o Assassinado do irmão: Caim/Abel,
o Querer dominar tudo: Adão/Eva.
(Ex 1,20) Deus beneficiou as parteiras que temeram a Deus:
o povo continuou a multiplicar-se e a espalhar-se.
3ª Tentativa = Jogar no Nilo
(Ex 1,22) Então o faraó deu esta ordem a todo o seu povo:
“Lançai ao rio todos os meninos hebreus recém-nascidos, mas poupai a vida das meninas”.
- Uma ordem mais drástica: já que as parteiras não obedeceram, agora o povo é encarregado de eliminar os filhos
de Israel...
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- Temer a Deus:
o Centro da Narração = disputa Deus/faraó.
o Bênção garante a vida mesmo em meio à morte.
2.5
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Comparação com Salomão
-
-
O Êxodo é um fato histórico: o povo de Israel permaneceu no Egito e foi escravizado.
Porém o livro é escrito muitos anos depois:
o História teológica.
o Reflete situações do presente no passado.
(1Rs 11,26-29) Também Jeroboão filho de Nabat levantou a mão contra rei. Ele era oficial de Salomão. A
ocasião da sua revolta foi a seguinte: Ao construir o aterro, Salomão mandou terraplenar a voragem que havia
em Jerusalém e designou Jeroboão para dirigir todo o trabalho imposto à casa de José.
Jeroboão percebe o sofrimento dos Israelitas.
(1 Rs 12,2.28) Jeroboão, refugiado no Egito por causa do rei Salomão, (após a sua morte) voltou do Egito.
Depois disse ao povo: “Basta de subir a Jerusalém! Eis aqui, Israel, os teus deuses, que te tiraram da terra do
Egito”.
3. EX 2: SURGE MOISÉS
3.1
Nascimento de Moisés
-
-
-
-
3.2
(Ex 2,1-2) Um homem da casa de Levi casou-se com uma mulher de seu clã. A mulher concebeu e deu à luz um
filho. Ao ver que era um belo menino, manteve-o escondido durante 3 meses.
Nós não sabemos o nome deste menino: ele nasce da tribo sacerdotal (Levi), mas não recebendo nome ele é
“ninguém”.
O seu 1º nascimento é para a morte...
(Ex 2,3-4) Não podendo escondê-lo, pegou uma arca de papiro, calafetou-a com betume e piche, pôs dentro
dela o menino e deixou-o no rio. A irmã do menino ficou parada à distância para ver.
(Ex 2,5-6) A filha do faraó desceu para se banhar no rio. Ela viu a arca no meio dos juncos e mandou que uma
criada a apanhasse. Quando abriu a arca, viu a criança: era um menino, era uma das crianças dos hebreus.
Água = pode matar ou salvar.
“Meio dos juncos” Mar Vermelho é na verdade chamado “Mar dos Juncos” (yam suf).
(Ex 2,10) A filha do faraó deu-lhe o nome de Moisés,
porque, disse ela, “eu o tirei das águas”.
2º nascimento é para a vida... recebe nome!
hv,mo MoŠeH
o Nome egípcio = filho (Ramsés)
o Nome hebraico = tirar, extrair, salvar
o Moisés: aquele que foi salvo, liberado, tirado.
(Dt 34,7) Ao morrer, Moisés tinha 120 anos.
(Ex 7,7) Moisés tinha 80 anos, quando foi falar ao faraó.
Leitura simbólica da vida de Moisés:
o 0-40: estuda  EGITO
o 40-80: medita, reza  DESERTO
o 80-120: trabalha  LIBERTAÇÃO
Escolha de Moisés
-
(Ex 2,11) Certo dia, quando já adulto, Moisés saiu para junto de seus irmãos hebreus e viu sua aflição e como
um egípcio maltratava um deles. Olhou para os lados e, não vendo ninguém, matou o egípcio e escondeu-o na
areia.
Moisés “saiu”: é o seu 1º êxodo.
Moisés quer fazer justiça com as próprias mãos, ele sabe que é um filho adotivo (hebreu) mas ainda não
conhece nada do seu povo.
Quer libertar alguém, mas de um modo errado!
(Ex 2,15) O faraó soube do acontecido e procurou matar Moisés.
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Este, porém, fugiu para a terra de Madiã, ficou sentado num poço.
Moisés mata e agora pode morrer!
o Egípcios: não o aceitam,
o Hebreus: também não.
(Ex 2,16-17) O sacerdote de Madiã tinha 7 filhas. Estas vieram tirar água e encher os bebedouros para dar de
beber ao rebanho do pai.
Chegaram uns pastores e queriam expulsá-las. Mas Moisés levantou-se em defesa delas e deu de beber ao
rebanho.
Forte presença feminina (parteiras, mãe/irmã, filha faraó, filhas sacerdote).
Tarefa de pegar água ou dar água para o rebanho era tipicamente feminina.
(Ex 2,18-20) Sacerdote Raguel perguntou: “Por que voltastes mais cedo?”
Elas responderam: “É que um egípcio nos livrou dos pastores; ele mesmo tirou água para nós e deu de beber
ao rebanho”.
Raguel perguntou às filhas: “E onde está ele? Ide chamá-lo”.
Moisés inicia uma nova vida.
o Recebe a formação dos egípcios,
o Deve ter fugido numa caravana de beduínos,
o Senta-se junto a um poço, pois sabia que mulheres passariam por ali.
o Demonstrando força e inteligência, ele pode encon-trar um lugar para ficar...
(Ex 2,21-22) Raguel deu sua filha Séfora em casamento a Moisés.
Ela teve um filho, a quem ele chamou Gérson, pois disse:
Tornei-me hóspede em terra estrangeira”.
~vor>GE Gher – Šam = extrangeiro lá
Tudo começou com o nascimento de um meni-no e poderia terminar aqui com o nascimento.
(Ex 2,23-25) Passado muito tempo, morreu o rei do Egito.
Os israelitas continuavam gemendo e clamando sob dura escravidão,
e seu grito de socorro subiu até DEUS.
DEUS ouviu os seus lamentos e DEUS lembrou-se da aliança com Abraão, Isaac e Jacó. DEUS olhou para os
israelitas e DEUS tomou conhecimento.
O nome de DEUS quase não tinha aparecido, agora em poucos versículos aparece 5x.
“Gemer – clamar” a Deus, algo novo.
Mais uma vez, Deus se “lembrou” e “conheceu”: entrou em relação!
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4. EX 3-6: VOCAÇÃO DE MOISÉS
4.1
Vocação de Moisés
-
-
-
4.1.1
(Ex 3,1) Moisés era pastor das ovelhas de Jetro, seu sogro, sacerdote de Madiã. Certo dia, levou as ovelhas
deserto adentro e chegou ao monte de Deus, o Horeb.
Nomes diferentes:
o Raguel Jetro.
o Sinai Horeb.
Vocação de Moisés é a resposta ao grito do povo que sofre a escravidão.
Não é um texto informativo, mas formativo.
(Ex 3,2) Apareceu-lhe o anjo do SENHOR numa chama de fogo, do meio de uma sarça. Moisés notou que a
sarça estava em chamas, mas não se consumia.
Anjo do Senhor = a presença do próprio Deus.
Sarça:
o Provavelmente era um árvore sagrada, em algum santuário daquela região (tempestade? raios?).
o Não são explicações científicas, mas teológicas.
o FOGO serve para queimar/purificar.
1ª Missão
(Ex 3,10) Te envio ao faraó para que faças sair o meu povo do Egito.
A)
OBJEÇÃO
(Ex 3,11) Quem sou eu para ir ao faraó e fazer sair os israelitas?
B)
RESPOSTA
(Ex 3,12) Eu estarei contigo: quando tiveres tirado do Egito o povo, vós servireis a Deus sobre esta montanha.
C)
OUTRA OBJEÇÃO
(Ex 3,13) Mas, se eu for aos israelitas e lhes disser: “O Deus de vossos pais enviou-me a vós”, e eles me
perguntarem: “Qual é o seu nome?”
D)
RESPOSTA
(Ex 3,14) Eu sou aquele que sou.
4.1.2
2ª Missão
(cf. Ex 3,16-22) Vai e reúne os anciãos de Israel para dizer-lhes: “O SENHOR, o Deus de vossos pais, decidiu
tirar-vos da opressão egípcia e conduzir-vos à terra dos cananeus, onde corre leite e mel”.
A)
OBJEÇÃO
(Ex 4,1) Se eles não acreditarem em mim: “O SENHOR não te apareceu”?
B)
RESPOSTA
(cf. Ex 4,2-9) “Joga esta vara no chão”. A vara se tornou uma serpente. Moisés recuou diante dela. Moisés
estendeu a mão, segurou-a, e a serpente voltou a ser uma vara em sua mão.
C)
OUTRA OBJEÇÃO
(Ex 4,10) Pobre de mim, Senhor! Nunca tive facilidade para falar, nem antes, nem agora que falas a teu servo.
Tenho boca e língua pesadas.
D)
RESPOSTA
(Ex 4,11) E quem é que dá a boca ao ser humano? Quem faz o surdo e o mudo, o cego e o aquele que vê? Por
acaso não sou eu, o SENHOR?
Paróquia Papa João XXIII
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4.1.3
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3ª Missão
(Ex 4,12) Vai, estarei com tua boca e te ensinarei o que deverás dizer.
A)
OBJEÇÃO
(Ex 4,13) Pobre de mim, Senhor! Por favor, manda um outro.
B)
ÚLTIMA RESPOSTA
(Ex 4,14-17) O SENHOR ficou irritado com Moisés: “Não tens teu irmão Aarão, o levita? Eu sei que ele fala
muito bem. Tu lhe falarás e lhe transmitirás as mensagens, e eu estarei com os dois para falardes, ele será teu
porta-voz, leva contigo esta vara. É com ela que deverás realizar os sinais.
C)
EXECUÇÃO
(Ex 4,18) Moisés retornou para junto de seu sogro Jetro:
“Quero voltar aos meus irmãos no Egito, para ver se ainda vivem”.
4.2
Nome de Deus
-
-
-
-
-
-
4.3
(Ex 3,13) Moisés disse a Deus:
“Mas, se eu for aos israelitas e lhes disser:
‘O Deus de vossos pais enviou-me a vós’,
e eles me perguntarem: ‘Qual é o seu nome? ’, que devo responder?”
Passaram 40 anos, mas Moisés coloca a hipótese que muitos ainda lembrem ele fugiu porque assassinou um
egípcio.
Nome = quem a pessoa é, a sua história, as suas ações.
(Ex 3,14a) Deus disse a Moisés:
“Eu sou aquele que sou”.
Deus = ‘elohym
~yhil{a/
YHWH = ‘eheye ašer ‘eheye hy<h.a, rv<a] hy<h.a,
verbo “ser” aparece 2x (pass – pres – fut)
o Ser = Existir
eu existo próximo a você
o Ser = Estar com
eu estou contigo, em relação
o Ser = Ser para
eu sou para você, a teu favor
pronome “ašer”:
o Quem
o O que
o Porque
A partir daí, a Bíblia apresenta o nome de Deus com as quatro consoantes sagradas:
o hwhy YHWH, sem vogais.
o Os históricos gregos, quando falam do Deus dos hebreus, o chamam de IABE ou IAUE.
o As vogais foram colocadas, depois, para facilitar a leitura, conforme os hebreus pronunciavam.
Assim o nome de Deus é YHaWeH:
o Grego
ku,rioj
o Latim
Dominus
o Português
Senhor
(Ex 20,7) Não pronunciarás o nome do SENHOR teu Deus em vão, o SENHOR não deixará sem castigo quem
pronunciar seu nome em vão.
o Hebreus
Adonay
No humanismo (XV séc.), muitos começaram a estudar o hebraico antigo, cometendo um erro que se arrasta até
hoje:
o YeHoWaH = Jeová
o Não se trata de uma invenção da seita das “Testemunhas de Jeová” utilizam vogais erradas.
Retorno ao Egito
-
(Ex 4,18c.20) Jetro disse a Moisés: “Vai em paz”.
Moisés levou consigo a mulher e os filhos, num jumento, e voltou ao Egito. Moisés levava na mão a vara de
poder divino.
Finalmente Moisés retorna ao Egito.
Paróquia Papa João XXIII
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4.3.1
Questão da festa
-
-
4.4
Pedido de celebrar uma festa no deserto:
o Provavelmente, os hebreus celebravam anualmente uma festa no deserto, uma peregrinação a alguma
santuário com o sacrifício de carneiros e cabritos.
(Ex 8,22) Não convém fazer assim, pois o sacrifício que nós oferecemos ao SENHOR nosso Deus é abominação
para os egípcios.
o Esta festa anual devia ser conhecida pelos egípcios que emprestavam jóias e roupas:
(Es 3,22) Cada mulher pedirá à vizinha e à mulher que mora em sua casa objetos de prata e de ouro e vestidos,
que poreis
Após a festa:
o Provavelmente, os hebreus retornavam ao Egito, pois a ninguém interessava ficar no deserto.
Porém, naqueles anos:
o Apelando-se para um direito antigo, o pedido é rejeitado pelo faraó, que à medida que as negociações
vão progredindo, faz concessões.
(Ex 8,24) Não deveis ir muito longe.
(Ex 10,11) Ide somente vós os homens.
(Ex 10,24) Fiquem somente os vossos rebanhos e o vosso gado.
Falência da Missão
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4.5
II Semana Teológica (Gênesis e Êxodo)
(Ex 4,21-23) O SENHOR lhe disse: “Voltando ao Egito, cuida de fazer diante do faraó todos os prodígios que pus
à tua disposição. Mas eu endurecerei o seu coração, e ele não deixará o povo partir. Tu lhe dirás: ‘Se te
recusares a deixá-lo partir, eu matarei teu filho primogênito’”.
Autor sabe como termina a narração, antecipa assim alguns fatos.
(Ex 4,27-28) O SENHOR disse para Aarão:
“Vai ao encontro de Moisés no deserto”.
Aarão foi, encontrou-se com o irmão na montanha de Deus e beijou-o.
Moisés contou a Aarão tudo o que o SENHOR lhe tinha dito ao incumbi-lo da missão.
Depois que Moisés fora adotado, ele perde o vínculo de sangue com seus pais, de onde aparece o irmão Aarão?
o Narração com lacunas históricas, mas com ensina-mento teológico.
o O primeiro apoio vem de um familiar.
(Ex 5,1-3) Moisés e Aarão apresentaram-se ao faraó:
“Assim diz o SENHOR, Deus de Israel: Deixa partir o meu povo, para que me celebre uma festa no deserto”.
Mas o faraó respondeu: “E quem é o SENHOR para que eu lhe deva obedecer, deixando Israel partir? Não
conheço o SENHOR, nem deixarei Israel partir”.
Faraó é um “tipo”: opressor que não leva em consideração o que Deus diz.
“Não conheço”: não acredito, não tenho relações com Deus, não significa nada para mim.
(Ex 5,14) Os inspetores do faraó açoitaram os capatazes israelitas que eles haviam nomeado, alegando: “Por
que nem ontem, nem hoje, completastes a quota costumeira de tijolos que produzíeis antes?”
A situação começa a se complicar pois não se entende, teologicamente, quem comanda:
o YHWH ou o faraó?
(Ex 5,22-23) Então Moisés voltou-se para o SENHOR, dizendo: “Meu SENHOR, por que maltratas este povo?
Para que foi que me enviaste? Desde que me apresentei ao faraó para lhe falar em teu nome, ele ficou
maltratando o povo, e tu nada fizeste para libertá-lo”.
Diante desta falência, Moisés entra em crise.
(Ex 6,1.9) O SENHOR disse a Moisés:
“Agora verás o que vou fazer ao faraó. Por mão poderosa será forçado a deixá-los ir; será coagido a expulsá-los
do país”. Moisés falou deste modo aos israelitas, mas eles não o escutaram, porque estavam com o ânimo
abatido pela dura escravidão.
O capítulo 6 é uma repetição dos discursos de Deus e novamente uma queixa de Moisés que não sabe falar, que
se sente fraco.
O redator final preservou todos os textos, colocando-os juntos, mesmo sendo repetições.
Renovação da vocação
-
(Ex 7,5-7) Os egípcios conhecerão que eu sou o SENHOR, quando eu estender minha mão contra o Egito e tirar
os israelitas do meio deles”. Moisés e Aarão fizeram exatamente o que o SENHOR lhes havia ordenado. Moisés
tinha 80 anos, e Aarão 83.
Antes tudo era direcionado ao faraó, agora todo o Egito conhecerá quem domina tudo.
Tudo está preparado para os “prodígios” de Deus defronte à recusa do faraó.
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5. EX 7-11: LUTA PELA LIBERDADE
5.1
Introdução às “pragas”
-
5.1.1
A narração do Êxodo continua com um luta:
o Povo gritou a Deus,
o Deus ouviu o grito,
o Deus chamou Moisés,
o Faraó rejeita Moisés.
Praga ou prodígio?
-
-
-
5.1.2
Somos acostumados a chamar Ex 7-11 de “Pragas do Egito”, mas o texto bíblico usa a palavra praga somente
para o último episódio:
(Ex 11,1) O SENHOR disse a Moisés:
“Farei vir mais uma praga sobre o faraó e sobre o Egito”.
Em outras passagens encontramos “prodígio”:
(Ex 7,9) O faraó vos pedirá que façais algum prodígio.
(Ex 10,1) Apresenta-te ao faraó, porque eu endureci o coração do faraó e de seus ministros para realizar no
meio deles os meus prodígios.
A intenção do texto não é apresentar somente pragas, castigos, desgraças; mas demonstrar prodígios e sinais, ou
seja eventos estranhos, fora do normal, com um significado simbólico.
PRODIGIO = capacidade de demonstrar e invocar a presença e a ação de Deus.
Usaremos o nome de “LIÇÃO”.
Salmos
A)
B)
C)
-
Além do Êxodo, temos outros dois salmos que apresentam a luta pela libertação.
SALMO 105: LOUVOR E CELEBRAÇÃO DA HISTÓRIA.
(Sl 105, 26-36) Então enviou Moisés, seu servo, e Aarão.
Realizaram entre eles seus prodígios e seus milagres no país de Cam.
Enviou trevas, e ficou tudo escuro, mas não respeitaram sua ordem.
Mudou suas águas em sangue, fez morrer seus peixes.
Sua terra pululou de rãs, até nos aposentos de seus reis.
Ordenou e veio uma nuvem de moscas, mosquitos em todo o seu território.
Deu-lhes granizo em vez de chuva, chamas de fogo no seu país.
Ordenou e vieram os gafanhotos, e grilos sem número,
que comeram toda a erva do seu país, que devoraram os produtos do seu solo.
Exterminou todos os primogênitos na sua terra, as primícias do seu vigor.
7 prodígios e milagres (ordem diferente).
SALMO 78: LEITURA TEOLÓGICA DA HISTÓRIA.
(Sl 78,2.44-51) Meu povo relembra os mistérios do passado.
Quando realizou seus prodígios no Egito e seus milagres no campo de Tânis.
Mudou em sangue seus rios e riachos para impedi-los de beber.
Enviou contra eles moscas para os devorar e rãs para afligi-los.
Entregou às pragas suas colheitas, ao gafanhoto o produto do seu trabalho.
Destruiu suas vinhas com o granizo, seus sicômoros com a geada.
Lançou contra eles o fogo da sua ira, a cólera, a indignação,
a desgraça, todo um exército de anjos do mal.
Matou todos os primogênitos do Egito.
7 prodígios e milagres (ordem diferente).
Sb 11-19 também lembra 7 prodígios.
EXPLICAÇÃO DOS EVENTOS
Muitos tentaram explicar cientificamente a série de “lições” que afligiu o Egito:
o Explicação cósmica: a passagem de um meteoro próximo à Terra teria desencadeado uma série de
eventos estranhos;
o Explicação geológica: em 1.447 a.C. a erupção do vulcão Santorino (ilha grega) teria desencadeado
esta série de eventos;
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o Explicação natural: uma enchente no Nilo com microorganismos vermelhos afetou o eco-sistema
(rãs, moscas) e os ventos (granizo, areia).
- Nós reconhecemos o fundamento históricos das “lições”, durante a escravidão uma série de eventos estranhos
foi reconhecida pelos israelitas como uma mensagem de Deus.
- Tudo foi aumentado EPOPÉIA.
5.2
Introdução ao texto
-
Ex 7,8-13: Introdução
Ex 7,14-25
água em sangue
Ex 7,26 – 8,11
rãs
Ex 8,12-15
mosquitos
Ex 8,16-28
moscas varejeiras
Ex 9,1-7
peste dos animais
Ex 9,8-12
úlceras
Ex 9,13-35
granizo
Ex 10,1-20
gafanhotos
Ex 10,21-29
trevas
Ex 11,1-10
anúncio da morte dos primogênitos
-
Cada lição inicia com: “O Senhor disse a Moisés...”
Nós temos alguns refrões que se repetem ao longo do texto, que revelam a intenção teológica do nosso autor.
5.2.1
Magos do Egito
-
5.2.2
No início os magos do Egito conseguem imitar Moisés, mas a partir da 3ª lição reconhecem a presença de Deus,
enquanto que o faraó não!
(Ex 8,14-15) Os magos tentaram fazer o mesmo com encantamentos a fim de produzir mosquitos, mas não
foram capazes.
Então os magos disseram ao faraó: “Aqui está o dedo de Deus”.
Mas o faraó continuou obstinado e não os atendeu.
Pedido de liberdade
-
5.2.3
Moisés insiste junto ao faraó para que o povo seja libertado, para servir a Deus: a mensagem é da escravidão ao
serviço!
(Ex 7,16.26; 8,16; 9,1.13; 10,3) Deixa partir o meu povo para me prestar culto no deserto.
Diferença entre Israel e o Egito
-
5.2.4
Diante da ameaça de uma lição, quem ouve Moisés se salva, quem dá ouvidos ao faraó sofre com as
consequências, pois Deus fez a sua escolha de Israel como seu povo!
(Ex 8,19) Farei distinção entre o meu povo e o teu.
(Ex 11,7) Mas contra os israelitas nem mesmo um cão latirá, nem contra as pessoas, nem contra os animais,
para que saibais que o SENHOR faz distinção entre egípcios e israelitas.
Reconhecer Deus
-
5.2.5
Tudo serve como lição, tudo serve para que Deus seja reconhecido e receba a devida consideração por parte do
faraó (Egito). A intenção não é punir, mas demonstrar!
(Ex 8,6.18) Moisés lhe disse: “Será como pedes, para que saibas que não há ninguém como o SENHOR Deus”.
“Para que saibas que eu, o SENHOR, estou nessa terra”.
Coração endurecido
-
-
-
O faraó é um personagem, um símbolo de quem não ouve porque tem um coração de pedra, endurecido.
(Ex 7,13-14) Todavia o coração do faraó ficou endurecido, e ele não lhes atendeu o pedido, conforme o
SENHOR tinha predito. O SENHOR disse a Moisés: “O coração do faraó endureceu e ele não quer deixar o povo
partir”.
Num certo momento, o Senhor é visto como responsável pelo coração de pedra do faraó.
(Ex 9,12) O SENHOR endureceu o coração do faraó, que não atendeu ao pedido de Moisés e Aarão, como o
SENHOR tinha dito a Moisés.
Em outras palavras, Deus percebe que o faraó não ouvirá o pedido de Moisés, mesmo diante dos sinais; assim
Ele continua a agir com liberdade para a salvação e o faraó se endurecia ainda mais (cf. Rico e Lázaro).
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5.3
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Leitura do texto
1ª lição: Água sangue
5.3.1
-
5.3.2
(Ex 7,16-17) Deixa partir o meu povo para me prestar culto no deserto. Mas até agora não me escutaste. Deste
modo conhecerás que eu sou o SENHOR: com a vara que tenho na mão vou bater nas águas do rio Nilo, e elas
se mudarão em sangue.
Faraó não conhece = prodígio para conhecer.
(Ex 7,23) O faraó retornou ao palácio sem preocupar-se com o caso.
2ª lição: rãs
-
5.3.3
(Ex 8,2-4.11) Aarão estendeu a mão sobre as águas do Egito, e as rãs saíram e cobriram o Egito. Os magos,
porém, conseguiram o mesmo.
O faraó chamou Moisés e Aarão e lhes disse: “Suplicai ao SENHOR que afaste as rãs de mim e de meu povo, e
eu deixarei vosso povo ir oferecer sacrifícios”. Mas o faraó, vendo que houve trégua, endureceu o coração e
não escutou Moisés e Aarão.
Faraó não mantém a sua palavra e os magos “pioram” a situação.
3ª lição: mosquitos
-
5.3.4
(Ex 8,12-13) O SENHOR disse a Moisés: “Dize a Aarão: Estende a vara e golpeia a poeira da terra, para que se
transforme em mosquitos no Egito inteiro”. Assim o fizeram. Aarão estendeu a vara com a mão e golpeou o pó
do chão, e vieram mosquitos sobre homens e animais. Toda a poeira do chão, no Egito inteiro, transformou-se
em mosquitos.
Quem realiza as ações é Aarão através da vara que tinha se transformado em serpente.
Exagerações são constantes nas lições.
4ª lição: moscas-varejeiras
-
5.3.5
(Ex 8,20-24.28) O país ficou infectado por causa das moscas-varejeiras.
O faraó disse: “Ide oferecer sacrifícios ao vosso Deus sem sair do país”.
Moisés respondeu: “Não convém fazer assim, pois o sacrifício que nós oferecemos ao SENHOR nosso Deus é
abominação para os egípcios. Temos de caminhar 3 dias pelo deserto para oferecermos sacrifícios ao
SENHOR”.
O faraó respondeu: “Eu vos deixarei ir oferecer sacrifícios ao SENHOR vosso Deus no deserto, com a condição
de não vos afastardes longe demais. Suplicai por mim”.
As negociações avançam...
5ª lição: peste dos animais
-
5.3.6
(Ex 9,5-6) O SENHOR fixou um prazo: Amanhã ele fará isto no país. No dia seguinte pereceram todos os
rebanhos dos egípcios, mas não morreu um só animal dos rebanhos israelitas.
Continuam as distinções entre israelitas e egípcios, em alguns momentos o faraó recebe um prazo: “amanhã”
tudo isso acontecerá.
TODOS OS ANIMAIS DOS EGÍPCIOS MORREM.
6ª lição: úlceras
-
5.3.7
(Ex 9,8-9.11) “Recolhei um punhado de fuligem de forno, e que Moisés a jogue para o céu, à vista do faraó. Ela
se tornará uma sarna que provocará úlceras”. Nem os magos puderam comparecer à presença de Moisés
devido às úlceras.
Não temos um prazo, mas algo de imediato.
Ironicamente, também os magos desta vez são afetados pela lição.
7ª lição: granizo
-
-
(Ex 9,20-21) Alguns dos ministros do faraó que temiam a palavra do SENHOR mandaram os escravos e o gado
refugiar-se sob um teto. Mas os que não deram importância à palavra do SENHOR deixaram os escravos e o
gado no campo.
Moisés pede confiança: alguns confiam na “palavra do Senhor” e salvam os seus bens, outros não confiam e
perdem tudo.
(Ex 9,27.29) Faraó disse: “Desta vez eu pequei. O SENHOR é que está com a razão; eu e o meu povo somos os
culpados”.
Moisés disse: “Para que conheçam que ao SENHOR pertence a terra”.
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5.3.8
II Semana Teológica (Gênesis e Êxodo)
8ª lição: gafanhotos
-
5.3.9
(Ex 10,2) Assim poderás contar a teus filhos e netos a maneira implacável como tratei os egípcios e os
prodígios que realizei no meio deles. Assim sabereis que eu sou o SENHOR.
Característica dos nômades: contar as ações do passado para os filhos  tradição oral.
(Ex 10,7.16) Os ministros do faraó disseram-lhe: “Até quando este indivíduo será para nós uma armadilha?
Ainda não vês que o Egito está sendo arruinado?”
O faraó disse: “Pequei contra o SENHOR vosso Deus e contra vós”.
9ª lição: trevas
-
5.3.10
(Ex 10,28-29) O faraó disse a Moisés: “Afasta-te de mim e cuida-te de não tornar a ver a minha face, pois
quando vires minha face morrerás”.
Moisés respondeu: “Falaste bem! Nunca mais verei a tua face!”
A duração desta lição é de 3 dias, a mais longa.
As diferenças chegaram ao máximo e não é mais possível o diálogo!
Anúncio da última lição
-
(Ex 11,1.4-5) O SENHOR disse a Moisés:
“Farei vir mais uma PRAGA sobre o faraó e sobre o Egito. Depois, ele vos deixará partir daqui, e não só vos
deixará partir, como vos expulsará definitivamente daqui. À meia-noite farei uma incursão entre os egípcios, e
morrerão todos os primogênitos do Egito, desde o primogênito do faraó, até o primogênito da escrava e até os
primogênitos do gado”.
Esta lição é descrita como “praga” (negef), ou seja uma ferida: é a lição final que se abate sobre todos à meianoite.
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6. EX 12-13: PÁSCOA DA LIBERDADE
6.1
Introdução
-
1. Situação histórica de Israel 1.250 a.C.
6.1.1
-
6.1.2
O texto deixa claro que os hebreus são expulsos e depois são perseguidos pelo faraó.
Temos duas tradições:
o Êxodo expulsão.
o Êxodo fuga.
A)
-
ÊXODO EXPULSÃO (1.400 A.C.):
Grupo de hebreus é “convidado” a se retirar do Egito e vão pela estrada litorânea do Egito para Canaã.
Puderam pegar a estrada principal, sem problemas, nos “postos de fiscalização” dos Egípcios.
B)
-
ÊXODO FUGA (1.250 A.C.):
Outro grupo permanece no Egito e, anos depois, liderado por Moisés, tenta a fuga durante um período de
desastres, durante uma festa anual.
Vão para o deserto, não podendo utilizar a estrada principal. São perseguidos, mas de modo misterioso
encontram liberdade.
-
Festa da Páscoa
-
-
-
-
-
-
6.3
Egito sofre com vários desastres naturais e a agricultura/economia está em colapso.
Uma série de mortes (peste, infecção) afeta a população, além do filho do faraó.
Hebreus vêem nisso “sinais de Deus” contra o poder opressivo do faraó.
Diante desses vários problemas, os hebreus aproveitam para fugir...
2. Êxodo fuga ou expulsão?
-
6.2
Chegamos ao ponto alto do texto.
Todas as lições prepararam a chegada da grande “praga”.
Ex 12-13 é formado por explicações litúrgicas, normas religiosas para a celebração da festa da Páscoa.
Festa de pastores (Inverno Primavera):
o Após as chuvas do inverno, tudo começa a florir;
o Os pastores devem procurar outras pastagens e começa um período de incertezas.
1ª lua cheia do Equinócio de Primavera:
o Equinócio = aequus (igual) e nox (noite),
o Ocasião em que o dia e a noite duram o mesmo tempo (12h) na mudança das estações.
Demônio Exterminador:
o Celebração de um rito para afastar o mal.
o O espírito do mal (maškit) era representado por um manco que passando em meio ao rebanho matava.
Rito do Cordeiro:
o Sacrifício de um cordeiro (1 ano), o suficiente para o maškit deixar de lado todo o rebanho.
o Sangue colocado sobre as tendas, depois o cordeiro era assado e consumido ervas amargas.
Páscoa:
o Hebraico = qv;M, PeŠaQ = mancar, saltar, passar.
(1Rs 18,21) Elias disse: “Até quando andareis mancando com os dois pés?
o Grego = pa,sca páska
Latim = pascha
Significado teológico:
o Exterminador é um demônio manco,
o Deus salta a casa dos hebreus,
o Hebreus passam pelo mar para a liberdade.
Festa dos Ázimos
-
Festa de agricultores (Inverno Primavera):
Chegando em Canaã, os hebreus encontram outra festa no mesmo período da Páscoa (1 semana).
O Equinócio de Primavera é a passagem de um ano para outro: começa a colheita do “orzo” (1º cereal); o velho
é abandonado, após uma semana, se utiliza o fermento.
o Mazzot = ázimos:
o Hebraico = tACM; MaZOT = sem gosto, insípido.
(2Cr 35,17) Celebraram a Páscoa e também a festa dos Ázimos, durante 7 dias.
o Grego = a;zumoj a-zumos (sem fermento)
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6.4
-
-
6.5
II Semana Teológica (Gênesis e Êxodo)
Festa da Páscoa + Ázimos
Naquele ano a festa da Páscoa foi proibida,
Quando os hebreus fogem, celebram a Páscoa no deserto, mas é diferente, é única:
o Festa de Primavera Festa da libertação.
o Todos os anos, será lembrada, será re-vivida, a Páscoa se transforma assim em um MEMORIAL.
União PÁSCOA + ÁZIMOS em Canaã.
Leitura do texto
-
-
-
-
-
(Ex 12,3.5.7-8.11) No dia 10 deste mês, cada um tome um animal por família, O animal será sem defeito,
macho de 1 ano. Tomarão um pouco do sangue e untarão as ombreiras da porta das casas onde comerem.
Comerão a carne nesta mesma noite. Deverão comê-la assada ao fogo, com pães sem fermento e ervas
amargas: com os cintos na cintura, os pés calçados, o cajado na mão; e comereis às pressas, pois é a Páscoa do
SENHOR.
Inicia com a descrição do Rito da Páscoa.
Pois aquela noite foi e sempre será especial.
(Ex 12,13-14.23) Ao ver o sangue, passarei adiante, e não vos atingirá a praga exterminadora quando eu ferir
a terra do Egito. Este dia será para vós uma festa memorável em honra do SENHOR, que haveis de celebrar por
todas as gerações, como instituição perpétua. Quando o SENHOR passar pelo Egito para castigá-lo, não
permitirá que o Exterminador entre em vossas casas para causar dano.
Como na narração das “lições”, também na Páscoa o sujeito de tudo é YHWH.
Passa adiante,
Não permite que o maškit entre nas casas.
(Ex 12,29-30) Era meia-noite quando o SENHOR feriu todos os primogênitos no Egito. Ouviu-se no Egito um
grande clamor, pois não havia casa onde não houvesse um morto.
10ª lição anunciada se realiza!
Ocorre o Êxodo (expulsão / fuga).
(Ex 12,31.40) O faraó chamou Moisés e Aarão de noite e disse: “Ide. Saí do meio de meu povo, tanto vós como
os israelitas!” Eram cerca de 600.000 homens a pé, sem contar as crianças.
A permanência dos israelitas no Egito foi de 430 anos.
600.000 = 600 @l,a, (‘elef) mil/família/tribo/clã.
(Ex 13,18.20-21) Deus fez o povo dar uma volta pela rota do deserto do mar dos Juncos. Partiram de Sucot e
acamparam em Etam, na periferia do deserto. O SENHOR os precedia, de dia, numa coluna de nuvem, para
lhes mostrar o caminho; de noite, numa coluna de fogo para iluminar, a fim de que pudessem andar de dia e
de noite.
Muito se discute sobre o caminho feito pelo povo após a saída do Egito:
o Temos diferentes tradições sobre esta saída, assim cada uma narra um caminho diferente.
o Não devemos imaginar um povo vagando sem saber para onde, mas diferentes épocas e caminhos.
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II Semana Teológica (Gênesis e Êxodo)
7. EX 14-15: PASSAGEM DO MAR
7.1
Reconstrução dos eventos
-
7.2
7.3
Israelitas aproveitam uma série de desastres no Egito para fugir e celebrar uma festa anual.
Deixam Pitom e Ramsés e vão para a região de Sucot (acampamento) lagos Amargos.
Evitam a estrada normal para Canaã, vigiada pelos egípcios, durante a noite estão encurralados:
[Água dos lagos] .... [Exército egípcio]
Acontece algo que nem eles sabem explicar:
o Provavelmente um temporal, a clara noite de lua cheia se torna escura.
o Inicia-se um vento forte que levanta muita areia e move as águas destes pequenos lagos.
o Israelitas, no escuro, e desesperados decidem continuar o caminho, guiados por Moisés.
o Egípcios, após temporal, continuam a perseguição e agora se encontram no barro, na chuva e muitos
desesperados acabam morrendo.
Interpretação dos eventos
-
(Sl 76,16-21) Com teu braço libertaste o teu povo.
As águas te viram, ó Deus, tremeram e se agitaram os mares.
As nuvens derramaram águas, os céus soltaram a voz,
e voaram tuas setas (raios).
Teu trovão ressoou no turbilhão,
teus relâmpagos iluminaram o mundo.
Abriu-se no mar o teu caminho, tua vereda na imensidão das águas,
mas teus rastros ficaram invisíveis.
Guiaste o teu povo como a um rebanho,
por meio de Moisés e de Aarão.
Salmista louva vários elementos de tempestade.
Deus passou pelas águas e guiou o povo.
-
(Ex 15,1-2) Então Moisés e os israelitas cantaram ao SENHOR este cântico: Cantarei ao Senhor porque
estupenda foi a vitória; cavalo e cavaleiro jogou no mar. Minha força e meu canto é o SENHOR, ele foi para
mim a salvação.
Cântico que celebra a passagem do mar.
-
(Ex 15,4-5.8.10) Precipitou no mar os carros do faraó e seu exército;
Vagalhões os encobriram; mergulharam nas profundezas como pedra.
Ao sopro de tua ira amontoaram-se as águas,
Sopraste com teu vento, e o mar os cobriu;
afundaram como chumbo em águas profundas.
Não são descritos os particulares.
Leitura do texto
-
7.3.1
(Ex 14,1) O SENHOR disse a Moisés:
Texto se divide em 3 partes:
“Senhor disse a Moisés” Profissão de fé de Moisés – Egípcios – Todo Israel.
1ª parte
-
-
(Ex 14,4.7) Vou endurecer o coração do faraó para que os persiga. O rei do Egito foi informado que o povo
tinha fugido. Tomou 600 carros escolhidos e todos os carros do Egito, com os respectivos escudeiros.
Coração endurecido do faraó permanece
Perseguição para não perder mão de obra,
Saem na noite para capturar os fugitivos.
Teologia da Noite:
o Tudo ocorre de noite, quando o homem está com medo.
1. Noite da Criação
2. Noite da aliança com Abraão
2. Noite do Êxodo
4. Noite da Ressurreição
(Ex 14,10.13) Enquanto o faraó se aproximava, os israelitas, levantando os olhos, viram os egípcios que vinham
chegando e aterrorizados, os israelitas gritaram ao SENHOR. Moisés respondeu ao povo: “Não temais!
Permanecei firmes e vereis a vitória que o SENHOR hoje vos dará, ficai tranquilos”.
Profissão de fé de Moisés conclui esta parte.
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- Pede calma, pois o Senhor fará tudo,
- Mais uma vez o povo “grita” e o Senhor responde.
7.3.2
2ª parte
-
-
7.3.3
(Ex 14,15.21-22) O SENHOR disse a Moisés: “Dize aos israelitas que se ponham em marcha”. Moisés estendeu
a mão sobre o mar, e durante a noite inteira o SENHOR fez soprar sobre o mar um vento leste muito forte,
fazendo recuar o mar e transformando-o em terra seca. As águas se dividiram e os israelitas entraram pelo
meio do mar a pé enxuto, enquanto as águas formavam uma muralha.
Uma viagem para a morte se transforma em vida:
Israel desce na fossa da morte, mergulha nas águas do caos primitivo (nova criação) e sai limpo do outro lado.
Israel experimenta assim uma nova vida liberdade.
(Ex 14,23-25) Os egípcios puseram-se a persegui-los mar adentro. Na vigília da manhã, o SENHOR lançou um
olhar sobre as tropas egípcias e as pôs em pânico. Emperrou as rodas dos carros, de modo que só a muito
custo podiam avançar. Então os egípcios disseram: “Vamos fugir de Israel, pois o SENHOR combate a favor
deles, contra nós”.
ANTROPOMORFISMO.
Profissão de fé dos Egípcios diante de mais um grande “prodígio” do Senhor.
3ª parte
-
7.4
II Semana Teológica (Gênesis e Êxodo)
(Ex 14,26) O SENHOR disse a Moisés: “Estende a mão sobre o mar, e as águas se voltarão contra os egípcios,
seus carros e cavaleiros”. Não escapou um só. Israel viu a mão poderosa do SENHOR agir contra o Egito. O
povo temeu o SENHOR e teve fé no SENHOR e em Moisés.
A guerra entre YHWH – faraó chega ao fim:
A resposta à pergunta: “Quem domina?” foi encontrada.
Israel sem saber como está salvo, o Egito querendo ou não, Deus libertou o seu povo da escravidão.
Profissão de fé de Israel.
Conclusão
-
(Ex 15,22) Moisés fez Israel partir do mar Vermelho.
Tomaram a direção do deserto de Sur.
Caminharam três dias pelo deserto sem achar água.
O caminho no deserto de 40 inicia.
O povo está livre, mas começam as dificuldades do caminho e Deus não os abandonará.
Paróquia Papa João XXIII
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CAPÍTULO I.
1.
Nome do livro ................................................................................................................................................................................................1
Divisão do livro..............................................................................................................................................................................................1
Idéias teológicas .............................................................................................................................................................................................1
INTRODUÇÃO A GN 1 ......................................................................................................................................... 2
2.1
2.2
2.3
2.4
2.5
3.
LIVRO DO GÊNESIS ........................................................................................................... 1
INTRODUÇÃO AO GÊNESIS ............................................................................................................................. 1
1.1
1.2
1.3
2.
II Semana Teológica (Gênesis e Êxodo)
Criação na Bíblia............................................................................................................................................................................................2
Importância de uma 1ª página ........................................................................................................................................................................3
Características do poema................................................................................................................................................................................3
Esquema do comando ....................................................................................................................................................................................3
Visão hebraica do mundo ...............................................................................................................................................................................4
GN 1: HINO AO CRIADOR .................................................................................................................................. 5
3.1 Estrutura do poema ........................................................................................................................................................................................5
3.2 Conceito de separação ....................................................................................................................................................................................5
3.3 Título do poema .............................................................................................................................................................................................5
1º dia .........................................................................................................................................................................................................................6
2º dia .........................................................................................................................................................................................................................6
3º dia .........................................................................................................................................................................................................................6
4º dia .........................................................................................................................................................................................................................7
5º dia .........................................................................................................................................................................................................................7
6º dia .........................................................................................................................................................................................................................7
7º dia .........................................................................................................................................................................................................................9
3.4 Textos do Oriente Antigo ...............................................................................................................................................................................9
4.
INTRODUÇÃO A GN 2-3.................................................................................................................................... 11
4.1
4.2
4.3
4.4
5.
GN 2: NARRAÇÃO DA CRIAÇÃO ................................................................................................................... 12
5.1
5.2
5.3
5.4
5.5
6.
Irmãos e adversários.....................................................................................................................................................................................20
Escolha de Deus ...........................................................................................................................................................................................20
Escolha de Caim ..........................................................................................................................................................................................20
Consequência da escolha de Caim ...............................................................................................................................................................21
Conclusão ....................................................................................................................................................................................................22
GN 6-9: NOÉ E O DILÚVIO ............................................................................................................................... 22
8.1
8.2
8.3
8.4
8.5
8.6
9.
Sábia serpente ..............................................................................................................................................................................................15
Origem de cada pecado ................................................................................................................................................................................16
Vergonha e medo .........................................................................................................................................................................................16
Investigação .................................................................................................................................................................................................17
Sentenças .....................................................................................................................................................................................................17
GN 4: CAIM E ABEL ........................................................................................................................................... 20
7.1
7.2
7.3
7.4
7.5
8.
Introdução à narração ...................................................................................................................................................................................12
Criação do homem .......................................................................................................................................................................................12
Criação do jardim.........................................................................................................................................................................................13
Aliança com o homem .................................................................................................................................................................................13
Criação da mulher ........................................................................................................................................................................................14
GN 3: PECADO DA HUMANIDADE ................................................................................................................ 15
6.1
6.2
6.3
6.4
6.5
7.
Nova Criação?..............................................................................................................................................................................................11
Diferenças entre Gn 1 e Gn 2-3 ....................................................................................................................................................................11
Uso do mito..................................................................................................................................................................................................11
Esquema da aliança ......................................................................................................................................................................................11
Dilúvio em outras culturas ...........................................................................................................................................................................22
Algumas perguntas.......................................................................................................................................................................................22
Introdução ao texto.......................................................................................................................................................................................22
Construção da arca .......................................................................................................................................................................................23
Significado do dilúvio ..................................................................................................................................................................................24
Aliança com Deus ........................................................................................................................................................................................24
GN 11: TORRE DE BABEL ................................................................................................................................ 25
9.1
9.2
9.3
9.4
9.5
9.6
Diferença entre Deus ↔ homem ..................................................................................................................................................................25
Introdução ....................................................................................................................................................................................................25
Uma só língua e mesmas palavras? ..............................................................................................................................................................25
Cidade ou torre? ...........................................................................................................................................................................................25
Dispersão .....................................................................................................................................................................................................25
Zigurate ........................................................................................................................................................................................................26
Paróquia Papa João XXIII
42
Colider – MT
Frei Diones Rafael Paganotto, oad
CAPÍTULO II.
1.
Introdução às “pragas” .................................................................................................................................................................................34
Introdução ao texto.......................................................................................................................................................................................35
Leitura do texto ............................................................................................................................................................................................36
EX 12-13: PÁSCOA DA LIBERDADE ............................................................................................................... 38
6.1
6.2
6.3
6.4
6.5
7.
Vocação de Moisés ......................................................................................................................................................................................31
Nome de Deus ..............................................................................................................................................................................................32
Retorno ao Egito ..........................................................................................................................................................................................32
Falência da Missão .......................................................................................................................................................................................33
Renovação da vocação .................................................................................................................................................................................33
EX 7-11: LUTA PELA LIBERDADE ................................................................................................................. 34
5.1
5.2
5.3
6.
Nascimento de Moisés .................................................................................................................................................................................29
Escolha de Moisés........................................................................................................................................................................................29
EX 3-6: VOCAÇÃO DE MOISÉS ....................................................................................................................... 31
4.1
4.2
4.3
4.4
4.5
5.
Continuação do Gênesis ...............................................................................................................................................................................28
1ª Tentativa = Trabalho forçado ...................................................................................................................................................................28
2ª Tentativa = Recém Nascidos ....................................................................................................................................................................28
3ª Tentativa = Jogar no Nilo.........................................................................................................................................................................28
Comparação com Salomão ...........................................................................................................................................................................29
EX 2: SURGE MOISÉS ....................................................................................................................................... 29
3.1
3.2
4.
Nome do livro ..............................................................................................................................................................................................27
Divisão do livro............................................................................................................................................................................................27
Idéias teológicas ...........................................................................................................................................................................................27
Continuação de Gênesis ...............................................................................................................................................................................27
EX 1: SITUAÇÃO DE ISRAEL .......................................................................................................................... 28
2.1
2.2
2.3
2.4
2.5
3.
LIVRO DO ÊXODO............................................................................................................. 27
INTRODUÇÃO AO ÊXODO .............................................................................................................................. 27
1.1
1.2
1.3
1.4
2.
II Semana Teológica (Gênesis e Êxodo)
Introdução ....................................................................................................................................................................................................38
Festa da Páscoa ............................................................................................................................................................................................38
Festa dos Ázimos .........................................................................................................................................................................................38
Festa da Páscoa + Ázimos ............................................................................................................................................................................39
Leitura do texto ............................................................................................................................................................................................39
EX 14-15: PASSAGEM DO MAR ....................................................................................................................... 40
7.1
7.2
7.3
7.4
Reconstrução dos eventos ............................................................................................................................................................................40
Interpretação dos eventos .............................................................................................................................................................................40
Leitura do texto ............................................................................................................................................................................................40
Conclusão ....................................................................................................................................................................................................41
Paróquia Papa João XXIII
43
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