higiéia - Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo

Transcrição

higiéia - Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo
“HIGYEIA”, por Peter Paul Rubens
Professor Decio Cassiani Altimari
Coordenador de Extensão e Cultura da Diretoria e Ouvidor Geral da Faculdade
Vice-Mordomo do Museu da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo
Asclépio estava encarregado dos negócios da saúde e da doença, na Mitologia grega. Foi
gerado por Apolo em uma de suas escapadelas terreno- amoróticas, engravidando a ninfa
Corônis. Aí, o Apolo se mandou; Corônis apaixonou-se... platonicamente, por um tal de
Ischys; um corvo (cuja tradução é “coronis”, e a ninfa teve esse nome por ter nascido muito
branca, como eram as penas do cujo corvo) fez intriga junto ao deus dizendo que a ninfa
era uma safada, que se entregara ao Ischys e coisa-e-tal. Apolo, enciumado, mandou a irmã
Artêmis, matar Corônis; antes que a deusa caçadora chegasse, Corônis se jogou em pira
funerária, mas Hermes. antes que a moça virasse carvão, conseguiu tirar o concepto do
ventre dela (quando Apolo percebeu que o corvo branco intrigara, fez suas penas ficarem
negras queném as cinzas da Corônis). Há versões diferentes. Mas no fundo é isso. O
importante é que, por ter vencido a morte certa, a criança, de nome Asclépio, foi levado
por Hermes para ser educado em medicina:
O nascimento de Asclépio
Quem se encarregou disso foi o sábio centauro Quíron (cujo nome tem um significado
próximo ao “trabalhar com a mãos”, e está na raiz do termo “cirurgia”). Aí o Asclépio
cresceu, ficou famoso como curador (inclusive ressuscitando mortos, o que desagradou
Hades, o deus do mundo inferior para onde iam os defuntos; contou a Zeus o atrevimento
do moço, e o Zeus o fulminou com um de seus raios; mas por ser filho de seu filho Apolo
(era seu neto, pois, foi levado ao Olimpo e deificado; diz-que Apolo o transformou na
constelação da serpente, cuja era seu – de Asclépio - símbolo). Antes de morrer, porém,
Asclépio fez família grande com a esposa Epione com quem teve os seguintes filhos:
Iaso, “deusa” invocada para velar sobre a recuperação (após a cura da doença);
Akeso, a “deusa” da convalescença (confundindo-se, pois com os atributos de Iaso, e viceversa);
Meditrina era invocada para se obter a longevidade;
Aglaea (ou Algéia), a “deusa” invocada para se conseguir “a beleza natural” (isto é: aquela
que se tem quando se tem saúde); é uma das três graças e apesar da beleza, acabou sendo
mulher de Hefaistos (ou Volcano);
Panacéia, a “deusa” invocada para se saber o que deve ser feito para se obter a cura
HIGYEIA, a “deusa” da prevenção (das doenças), raiz da palavra higiene;
Além dessas cinco mulheres, nasceram Podaleirus (que era um “taco” nos diagnósticos),
Mackaon, que era um grande cirurgião, e Telésforo, que se notabilizou como assistente do
pai Asclépio, e também está relacionado com a convalescença (confundindo-se com Akeso).
Tudo isso são atributos de uma coisa só: a Cura da Doença, apanágio de Apolo [que “dividiuse” nos pedaços da recuperação, da convalescença, da longevidade, da beleza natural (da
saúde), da cura e da prevenção (das doenças) através das filhas de seu filho Asclépio).
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Dessa filharada, os nomes mais badalados são os de HIGYEIA e Panacea (que estão no
arcaico “Juramento de Hipócrates” cujo começo é “Juro, por Apolo médico, por Asclépio,
HIGYEIA e Panacea, e tomo por testemunhas todos os deuses e todas as deusas...”, mas
mais importante mesmo é a HIGYEIA (que substituiu o pai, depois que ele foi torrado por
Zeus) na invocação dos gregos na busca da saúde ou no afastamento da doença.
A irmã Panacea ficou com incumbência mais prosaica: o tratamento da doença que
eventualmente acontecesse.
Relevo grego clássico (Séc. V a.C) mostrando Asclépio e a filha predileta: HIGYEIA, vestindo o chíton (raramente
é apresentada nua), com uma serpente enrolada no braço e uma taça (a pátera) em uma das mãos (a serpente está
se alimentando do que tem dentro da taça.
Não é raro se encontrá-la representada tendo ao lado o Telésforo, irmão que foi assistente
do pai (curiosamente sempre se apresentando como um menino):
A taça ou pátera e a serpente de HIGYEIA foram “confiscadas” pela Ciência da Farmácia
Nas ilustrações, o logotipo de uma Sociedade de Farmácia, foto de vitrine de uma farmácia da cidade de Córdoba;
e um desenho (de Moyr Smith, 1882) de HIGYEIA com um menino (peruano?) ao lado; esse é o tal do Telésforo
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HIGYEIA foi cultuada em Epidauro, em Cós (dois dos maiores centros de veneração a
Asclépio), em Corinto, em Pérgamo e em Byblos.
Após a civilização grega ter sido dominada pela civilização romana, nesta, assim como
Asclépio mudou de nome (e passou a ser Esculápio) HIGYEIA foi rebatizada com o nome
Salus (tradução: saúde); foi veneradíssima com templo e culto (e celebrada no dia 30 de
Abril).
O Império Romano é rico em esculturas dela; e como a saúde propiciada por Salus é uma
“riqueza”, ela aparece em muitas moedas romanas e em anéis de sinete:
Face de 3 moedas romanas com a efígie de HIGYEIA e um belíssimo sinete de anel
Apresento, a seguir, fotos de esculturas, pinturas e decorações de HIGYEIA, coletadas
pelas minhas andanças neste mundão:
Na frente da Prefeitura de Hamburgo (Alemanha) e Escultura greco-romana (c.200 a.C) Villa Getty, Califórnia
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Duas esculturinhas bobas de loja de Souvenires (em Atenas); à direita, a cuja está com o pai
Pormenores: de uma métopa de templo grego (Séc. V a.C), de uma escultura romana (Séc. I d.C)
e de uma escultura clássica (por Albert Calmet, 1787) para evidenciar HIGYEIA alimentando a serpente
Bronze etrusco (Séc. VIII a.C), rara escultura de HIGYEIA nua (a serpente se mandou)
e reprodução da HIGYEIA (restaurada) encontrada em seu templo em Cós (atualmente no Instituto de História
Antiga da Universidade de Innsbruck)
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HIGYEIA do Ermitage (São Petersburgo) e a HIGYEIA inteira já apresentada em pormenor
“Cupido alimentando a serpente de HIGYEIA”, de Thorvaldsen no museu do escultor dinamarquês
e curiosa decoração de fachada de casa de médico em Boizenburg (Alemanha)
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“Templo” de HIGYEIA, em Edimburgo (Escócia) e pintura de Gustav Klimt
Escultura no Hall de entrada do Museu de Karlsbad e do acervo do Museu de Rhodes
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Sarcófago de homenagem de HIGYEIA, no Museu do Vaticano
É Isso!!!
E DEDUZO: A ESCULTURA RECEBIDA PELO MUSEU É DE HIGYEIA (PROVÁVEL
ORIGEM: FRANÇA; DATA DA FUNDIÇÃO: COISA ENTRE DÉCADA DE 20 E 30; VALOR:
NINGUÉM TÁ INTERESSADO NISSO, UÁI).
anexo para utilização no texto:
Higéia, na mitologia grega, é filha de Esculápio. Se, de um lado, Esculápio era associado à
recuperação e cura, a figura de Higéia (Ὑγεία) era associada à prevenção das doenças e à
continuidade da boa saúde. Ela era a deusa da saúde, da limpeza e do saneamento. Seu nome
deu origem à palavra higiene.
Muitas estátuas e monumentos desde a Grécia, retratam Higéia segurando um receptáculo
circular que recebe o nome de pátera, envolto por uma serpente dócil e prestes a se
alimentar do seu conteúdo. A serpente representa, simbolicamente, o paciente que está
prestes a compartilhar do tratamento, ao mesmo tempo em que está assumindo controle
sobre seu próprio bem-estar ao fazer as escolhas corretas:
A pátera de Higéia
O Significado da Serpente sempre associada à Higéia:
A serpente está relacionada a uma crença grega ainda mais ancestral, de que as cobras
seriam donas de grande sabedoria e capacidade de regeneração e cura (as cobras trocam
de pele “renovando-se”).
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Acreditava-se que os mortos iam para “baixo”, para o fundo da terra, num lugar parecido
com um sonho, denominado Hades (e que não é nem bom, nem ruim). As serpentes
manteriam contato com os mortos, e poderiam até transportar a alma de antepassados que
retornariam de baixo para ajudar os vivos. A idéia de que as serpentes possuem sabedoria
provém justamente da crença que elas transportavam o espírito dos nossos antepassados
falecidos.
Irmã de Higéia, Panacéia (em grego Πανάκεια), filha de Esculápio e neta de Apolo. é a
deusa da cura. Apolo também é referido como deus da cura, entre outras coisas; na
realidade, as cinco filhas de Asclépio, cada uma representa uma faceta “médica” de Apolo:
Panacéia, a cura; Higéia, a prevenção; Meditrina, a longevidade; Algéia, a beleza natural;
Akeso, a recuperação.
Panacéia tinha uma poção “mágica”, com a qual curava todos os doentes. Daí surgiu o termo
“panacéia”, que descreve um medicamento capaz de curar muitas doenças, um “remédio
universal” capaz de solucionar todos os males. Enquanto Higéia tem muitas representações
(pintadas e principalmente esculpidas, Panacéia tem representação m ais rara.
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