aNa Maria MaCHado Pescador de naufrágios

Transcrição

aNa Maria MaCHado Pescador de naufrágios
N
Projeto de Leitura
Coordenação: Maria José Nóbrega
Elaboração: Luísa Nóbrega
Leitor fluente
uma primeira dimensão, ler pode ser entendido como de
cifrar o escrito, isto é, compreender o que letras e outros
sinais gráficos representam. Sem dúvida, boa parte das atividades
que são realizadas com as crianças nas séries iniciais do ­Ensino
Fundamental têm como finalidade desenvolver essa capacidade.
Ingenuamente, muitos pensam que, uma vez que a criança
tenha fluência para decifrar os sinais da escrita, pode ler sozinha,
pois os sentidos estariam lá, no texto, bastando colhê-los.
Por essa concepção, qualquer um que soubesse ler e conhecesse o
que as palavras significam estaria apto a dizer em que lugar estão a
andorinha e o sabiá; qual dos dois pássaros vai e volta e quem não
quer voltar. Mas será que a resposta a estas questões bastaria para
assegurar que a trova foi compreendida? Certamente não. A compreensão vai depender, também, e muito, do que o leitor já souber
sobre pássaros e amores.
Isso porque muitos dos sentidos que depreendemos ao ler
derivam de complexas operações cognitivas para produzir inferências. Lemos o que está nos intervalos entre as palavras, nas
entrelinhas, lemos, portanto, o que não está escrito. É como se
o texto apresentasse lacunas que devessem ser preenchidas pelo
trabalho do leitor.
 2 
Enc Pescador de naufra gios.indd 1
O assunto da trova é o relacionamento amoroso, a dor de cotove­lo
pelo abandono e, dependendo da experiência prévia que tivermos a respeito do assunto, quer seja esta vivida pessoalmente ou
“­vivida” através da ficção, diferentes emoções podem ser ativadas:
alívio por estarmos próximos de quem amamos, cumplicidade por
estarmos distantes de quem amamos, desilusão por não acreditarmos mais no amor, esperança de encontrar alguém diferente...
Quem produz ou lê um texto o faz a partir de um certo lugar,
como diz Leonardo Boff*, a partir de onde estão seus pés e do
que veem seus olhos. Os horizontes de quem escreve e os de
quem lê podem estar mais ou menos próximos. Os horizontes de
um leitor e de outro podem estar mais ou menos próximos. As
leituras produzem interpretações que produzem avaliações que
revelam posições: pode-se ou não concordar com o quadro de
valores sustentados ou sugeridos pelo texto.
Se refletirmos a respeito do último verso “meu amor não quer
voltar”, podemos indagar, legitimamente, sem nenhuma esperança de encontrar a resposta no texto: por que ele ou ela não
“quer” voltar? Repare que não é “não pode” que está escrito, é
“não quer”, isto quer dizer que poderia, mas não quer voltar. O
que teria provocado a separação? O amor acabou. Apaixonou-se
por outra ou outro? Outros projetos de vida foram mais fortes
que o amor: os estudos, a carreira, etc. O “eu” é muito possessivo
e gosta de controlar os passos dele ou dela, como controla os da
andorinha e do sabiá?
Um pouco sobre o autor
Contextualiza-se o autor e sua obra no panorama da literatura
para crianças.
Resenha
Apresentamos uma síntese da obra para permitir que o professor,
antecipando a temática, o enredo e seu desenvolvimento, possa
considerar a pertinência da obra levando em conta as necessidades
e possibilidades de seus alunos.
Comentários sobre a obra
Procuramos evidenciar outros aspectos que vão além da trama narrativa: os temas e a perspectiva com que são abordados,
certos recursos expressivos usados pelo autor. A partir deles, o
professor poderá identificar que conteúdos das diferentes áreas
do conhecimento poderão ser explorados, que temas poderão ser
discutidos, que recursos linguísticos poderão ser explorados para
ampliar a competência leitora e escritora do aluno.
___________
* “Cada um lê com os olhos que tem. E interpreta a partir de onde os pés pisam.” A águia e
a galinha: uma metáfora da condição humana (37a edição, 2001), Leonardo Boff, Editora
Vozes, Petrópolis.
Propostas de atividades
a) antes da leitura
Ao ler, mobilizamos nossas experiências para compreendermos
o texto e apreciarmos os recursos estilísticos utilizados pelo autor.
Folheando o livro, numa rápida leitura preliminar, podemos antecipar muito a respeito do desenvolvimento da história.
 3 
 4 
As atividades propostas favorecem a ativação dos conhecimentos prévios necessários à compreensão do texto.
üExplicitação dos conhecimentos prévios necessários para que
os alunos compreendam o texto.
üAntecipação de conteúdos do texto a partir da observação
de indicadores como título (orientar a leitura de títulos e
subtítulos), ilustração (folhear o livro para identificar a localização, os personagens, o conflito).
üExplicitação dos conteúdos que esperam encontrar na obra
levando em conta os aspectos observados (estimular os alunos
a compartilharem o que forem observando).
b) durante a leitura
São apresentados alguns objetivos orientadores para a leitura,
focalizando aspectos que auxiliem a construção dos significados
do texto pelo leitor.
üLeitura global do texto.
üCaracterização da estrutura do texto.
üIdentificação das articulações temporais e lógicas responsáveis pela coesão textual.
c) depois da leitura
Propõem-se uma série de atividades para permitir uma melhor compreensão da obra, aprofundar o estudo e a reflexão a
respeito de conteúdos das diversas áreas curriculares, bem como
debater temas que permitam a inserção do aluno nas questões
contemporâneas.
üCompreensão global do texto a partir da reprodução oral ou
escrita do texto lido ou de respostas a questões formuladas
pelo professor em situação de leitura compartilhada.
üApreciação dos recursos expressivos mobilizados na obra.
üIdentificação dos pontos de vista sustentados pelo autor.
üExplicitação das opiniões pessoais frente a questões polêmicas.
üAmpliação do trabalho para a pesquisa de informações
complementares numa dimensão interdisciplinar ou para a
produção de outros textos ou, ainda, para produções criativas
que contemplem outras linguagens artísticas.
Leia mais...
üdo mesmo autor
üsobre o mesmo assunto
üsobre o mesmo gênero
]
[[
Ilustrações:
IGOR MACHADO
meton joffily
DESCRIÇÃO DO PROJETO DE LEITURA
]
Pescador de naufrágios
[[
Sei que a andorinha está no coqueiro,
e que o sabiá está na beira-mar.
Observo que a andorinha vai e volta,
mas não sei onde está meu amor que partiu e não quer voltar.
]
“Andorinha no coqueiro,
Sabiá na beira-mar,
Andorinha vai e volta,
Meu amor não quer voltar.”
ANA MARIA MACHADO
]
Maria José Nóbrega
Quem é esse que se diz “eu”? Se imaginarmos um “eu” masculino, por exemplo, poderíamos, num tom machista, sustentar que
mulher tem de ser mesmo conduzida com rédea curta, porque
senão voa; num tom mais feminista, poderíamos dizer que a mulher fez muito bem em abandonar alguém tão controlador. Está
instalada a polêmica das muitas vozes que circulam nas práticas
sociais...
Se levamos alguns anos para aprender a decifrar o escrito com
autonomia, ler na dimensão que descrevemos é uma aprendizagem que não se esgota nunca, pois para alguns textos seremos
sempre leitores iniciantes.
]
De Leitores e Asas
Se retornarmos à trova acima, descobriremos um “eu” que
associa pássaros à pessoa amada. Ele sabe o lugar em que está a
andorinha e o sabiá; observa que as andorinhas migram, “vão e
voltam”, mas diferentemente destas, seu amor foi e não voltou.
Apesar de não estar explícita, percebemos a comparação entre a andorinha e a pessoa amada: ambas partiram em um dado
momento. Apesar de também não estar explícita, percebemos
a oposição entre elas: a andorinha retorna, mas a pessoa amada “não quer voltar”. Se todos estes elementos que podem ser
deduzidos pelo trabalho do leitor estivessem explícitos, o texto
ficaria mais ou menos assim:
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7/6/10 4:33:34 PM
N
Projeto de Leitura
Coordenação: Maria José Nóbrega
Elaboração: Luísa Nóbrega
Leitor fluente
uma primeira dimensão, ler pode ser entendido como de
cifrar o escrito, isto é, compreender o que letras e outros
sinais gráficos representam. Sem dúvida, boa parte das atividades
que são realizadas com as crianças nas séries iniciais do ­Ensino
Fundamental têm como finalidade desenvolver essa capacidade.
Ingenuamente, muitos pensam que, uma vez que a criança
tenha fluência para decifrar os sinais da escrita, pode ler sozinha,
pois os sentidos estariam lá, no texto, bastando colhê-los.
Por essa concepção, qualquer um que soubesse ler e conhecesse o
que as palavras significam estaria apto a dizer em que lugar estão a
andorinha e o sabiá; qual dos dois pássaros vai e volta e quem não
quer voltar. Mas será que a resposta a estas questões bastaria para
assegurar que a trova foi compreendida? Certamente não. A compreensão vai depender, também, e muito, do que o leitor já souber
sobre pássaros e amores.
Isso porque muitos dos sentidos que depreendemos ao ler
derivam de complexas operações cognitivas para produzir inferências. Lemos o que está nos intervalos entre as palavras, nas
entrelinhas, lemos, portanto, o que não está escrito. É como se
o texto apresentasse lacunas que devessem ser preenchidas pelo
trabalho do leitor.
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O assunto da trova é o relacionamento amoroso, a dor de cotove­lo
pelo abandono e, dependendo da experiência prévia que tivermos a respeito do assunto, quer seja esta vivida pessoalmente ou
“­vivida” através da ficção, diferentes emoções podem ser ativadas:
alívio por estarmos próximos de quem amamos, cumplicidade por
estarmos distantes de quem amamos, desilusão por não acreditarmos mais no amor, esperança de encontrar alguém diferente...
Quem produz ou lê um texto o faz a partir de um certo lugar,
como diz Leonardo Boff*, a partir de onde estão seus pés e do
que veem seus olhos. Os horizontes de quem escreve e os de
quem lê podem estar mais ou menos próximos. Os horizontes de
um leitor e de outro podem estar mais ou menos próximos. As
leituras produzem interpretações que produzem avaliações que
revelam posições: pode-se ou não concordar com o quadro de
valores sustentados ou sugeridos pelo texto.
Se refletirmos a respeito do último verso “meu amor não quer
voltar”, podemos indagar, legitimamente, sem nenhuma esperança de encontrar a resposta no texto: por que ele ou ela não
“quer” voltar? Repare que não é “não pode” que está escrito, é
“não quer”, isto quer dizer que poderia, mas não quer voltar. O
que teria provocado a separação? O amor acabou. Apaixonou-se
por outra ou outro? Outros projetos de vida foram mais fortes
que o amor: os estudos, a carreira, etc. O “eu” é muito possessivo
e gosta de controlar os passos dele ou dela, como controla os da
andorinha e do sabiá?
Um pouco sobre o autor
Contextualiza-se o autor e sua obra no panorama da literatura
para crianças.
Resenha
Apresentamos uma síntese da obra para permitir que o professor,
antecipando a temática, o enredo e seu desenvolvimento, possa
considerar a pertinência da obra levando em conta as necessidades
e possibilidades de seus alunos.
Comentários sobre a obra
Procuramos evidenciar outros aspectos que vão além da trama narrativa: os temas e a perspectiva com que são abordados,
certos recursos expressivos usados pelo autor. A partir deles, o
professor poderá identificar que conteúdos das diferentes áreas
do conhecimento poderão ser explorados, que temas poderão ser
discutidos, que recursos linguísticos poderão ser explorados para
ampliar a competência leitora e escritora do aluno.
___________
* “Cada um lê com os olhos que tem. E interpreta a partir de onde os pés pisam.” A águia e
a galinha: uma metáfora da condição humana (37a edição, 2001), Leonardo Boff, Editora
Vozes, Petrópolis.
Propostas de atividades
a) antes da leitura
Ao ler, mobilizamos nossas experiências para compreendermos
o texto e apreciarmos os recursos estilísticos utilizados pelo autor.
Folheando o livro, numa rápida leitura preliminar, podemos antecipar muito a respeito do desenvolvimento da história.
 3 
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As atividades propostas favorecem a ativação dos conhecimentos prévios necessários à compreensão do texto.
üExplicitação dos conhecimentos prévios necessários para que
os alunos compreendam o texto.
üAntecipação de conteúdos do texto a partir da observação
de indicadores como título (orientar a leitura de títulos e
subtítulos), ilustração (folhear o livro para identificar a localização, os personagens, o conflito).
üExplicitação dos conteúdos que esperam encontrar na obra
levando em conta os aspectos observados (estimular os alunos
a compartilharem o que forem observando).
b) durante a leitura
São apresentados alguns objetivos orientadores para a leitura,
focalizando aspectos que auxiliem a construção dos significados
do texto pelo leitor.
üLeitura global do texto.
üCaracterização da estrutura do texto.
üIdentificação das articulações temporais e lógicas responsáveis pela coesão textual.
c) depois da leitura
Propõem-se uma série de atividades para permitir uma melhor compreensão da obra, aprofundar o estudo e a reflexão a
respeito de conteúdos das diversas áreas curriculares, bem como
debater temas que permitam a inserção do aluno nas questões
contemporâneas.
üCompreensão global do texto a partir da reprodução oral ou
escrita do texto lido ou de respostas a questões formuladas
pelo professor em situação de leitura compartilhada.
üApreciação dos recursos expressivos mobilizados na obra.
üIdentificação dos pontos de vista sustentados pelo autor.
üExplicitação das opiniões pessoais frente a questões polêmicas.
üAmpliação do trabalho para a pesquisa de informações
complementares numa dimensão interdisciplinar ou para a
produção de outros textos ou, ainda, para produções criativas
que contemplem outras linguagens artísticas.
Leia mais...
üdo mesmo autor
üsobre o mesmo assunto
üsobre o mesmo gênero
]
[[
Ilustrações:
IGOR MACHADO
meton joffily
DESCRIÇÃO DO PROJETO DE LEITURA
]
Pescador de naufrágios
[[
Sei que a andorinha está no coqueiro,
e que o sabiá está na beira-mar.
Observo que a andorinha vai e volta,
mas não sei onde está meu amor que partiu e não quer voltar.
]
“Andorinha no coqueiro,
Sabiá na beira-mar,
Andorinha vai e volta,
Meu amor não quer voltar.”
ANA MARIA MACHADO
]
Maria José Nóbrega
Quem é esse que se diz “eu”? Se imaginarmos um “eu” masculino, por exemplo, poderíamos, num tom machista, sustentar que
mulher tem de ser mesmo conduzida com rédea curta, porque
senão voa; num tom mais feminista, poderíamos dizer que a mulher fez muito bem em abandonar alguém tão controlador. Está
instalada a polêmica das muitas vozes que circulam nas práticas
sociais...
Se levamos alguns anos para aprender a decifrar o escrito com
autonomia, ler na dimensão que descrevemos é uma aprendizagem que não se esgota nunca, pois para alguns textos seremos
sempre leitores iniciantes.
]
De Leitores e Asas
Se retornarmos à trova acima, descobriremos um “eu” que
associa pássaros à pessoa amada. Ele sabe o lugar em que está a
andorinha e o sabiá; observa que as andorinhas migram, “vão e
voltam”, mas diferentemente destas, seu amor foi e não voltou.
Apesar de não estar explícita, percebemos a comparação entre a andorinha e a pessoa amada: ambas partiram em um dado
momento. Apesar de também não estar explícita, percebemos
a oposição entre elas: a andorinha retorna, mas a pessoa amada “não quer voltar”. Se todos estes elementos que podem ser
deduzidos pelo trabalho do leitor estivessem explícitos, o texto
ficaria mais ou menos assim:
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N
Projeto de Leitura
Coordenação: Maria José Nóbrega
Elaboração: Luísa Nóbrega
Leitor fluente
uma primeira dimensão, ler pode ser entendido como de
cifrar o escrito, isto é, compreender o que letras e outros
sinais gráficos representam. Sem dúvida, boa parte das atividades
que são realizadas com as crianças nas séries iniciais do ­Ensino
Fundamental têm como finalidade desenvolver essa capacidade.
Ingenuamente, muitos pensam que, uma vez que a criança
tenha fluência para decifrar os sinais da escrita, pode ler sozinha,
pois os sentidos estariam lá, no texto, bastando colhê-los.
Por essa concepção, qualquer um que soubesse ler e conhecesse o
que as palavras significam estaria apto a dizer em que lugar estão a
andorinha e o sabiá; qual dos dois pássaros vai e volta e quem não
quer voltar. Mas será que a resposta a estas questões bastaria para
assegurar que a trova foi compreendida? Certamente não. A compreensão vai depender, também, e muito, do que o leitor já souber
sobre pássaros e amores.
Isso porque muitos dos sentidos que depreendemos ao ler
derivam de complexas operações cognitivas para produzir inferências. Lemos o que está nos intervalos entre as palavras, nas
entrelinhas, lemos, portanto, o que não está escrito. É como se
o texto apresentasse lacunas que devessem ser preenchidas pelo
trabalho do leitor.
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O assunto da trova é o relacionamento amoroso, a dor de cotove­lo
pelo abandono e, dependendo da experiência prévia que tivermos a respeito do assunto, quer seja esta vivida pessoalmente ou
“­vivida” através da ficção, diferentes emoções podem ser ativadas:
alívio por estarmos próximos de quem amamos, cumplicidade por
estarmos distantes de quem amamos, desilusão por não acreditarmos mais no amor, esperança de encontrar alguém diferente...
Quem produz ou lê um texto o faz a partir de um certo lugar,
como diz Leonardo Boff*, a partir de onde estão seus pés e do
que veem seus olhos. Os horizontes de quem escreve e os de
quem lê podem estar mais ou menos próximos. Os horizontes de
um leitor e de outro podem estar mais ou menos próximos. As
leituras produzem interpretações que produzem avaliações que
revelam posições: pode-se ou não concordar com o quadro de
valores sustentados ou sugeridos pelo texto.
Se refletirmos a respeito do último verso “meu amor não quer
voltar”, podemos indagar, legitimamente, sem nenhuma esperança de encontrar a resposta no texto: por que ele ou ela não
“quer” voltar? Repare que não é “não pode” que está escrito, é
“não quer”, isto quer dizer que poderia, mas não quer voltar. O
que teria provocado a separação? O amor acabou. Apaixonou-se
por outra ou outro? Outros projetos de vida foram mais fortes
que o amor: os estudos, a carreira, etc. O “eu” é muito possessivo
e gosta de controlar os passos dele ou dela, como controla os da
andorinha e do sabiá?
Um pouco sobre o autor
Contextualiza-se o autor e sua obra no panorama da literatura
para crianças.
Resenha
Apresentamos uma síntese da obra para permitir que o professor,
antecipando a temática, o enredo e seu desenvolvimento, possa
considerar a pertinência da obra levando em conta as necessidades
e possibilidades de seus alunos.
Comentários sobre a obra
Procuramos evidenciar outros aspectos que vão além da trama narrativa: os temas e a perspectiva com que são abordados,
certos recursos expressivos usados pelo autor. A partir deles, o
professor poderá identificar que conteúdos das diferentes áreas
do conhecimento poderão ser explorados, que temas poderão ser
discutidos, que recursos linguísticos poderão ser explorados para
ampliar a competência leitora e escritora do aluno.
___________
* “Cada um lê com os olhos que tem. E interpreta a partir de onde os pés pisam.” A águia e
a galinha: uma metáfora da condição humana (37a edição, 2001), Leonardo Boff, Editora
Vozes, Petrópolis.
Propostas de atividades
a) antes da leitura
Ao ler, mobilizamos nossas experiências para compreendermos
o texto e apreciarmos os recursos estilísticos utilizados pelo autor.
Folheando o livro, numa rápida leitura preliminar, podemos antecipar muito a respeito do desenvolvimento da história.
 3 
 4 
As atividades propostas favorecem a ativação dos conhecimentos prévios necessários à compreensão do texto.
üExplicitação dos conhecimentos prévios necessários para que
os alunos compreendam o texto.
üAntecipação de conteúdos do texto a partir da observação
de indicadores como título (orientar a leitura de títulos e
subtítulos), ilustração (folhear o livro para identificar a localização, os personagens, o conflito).
üExplicitação dos conteúdos que esperam encontrar na obra
levando em conta os aspectos observados (estimular os alunos
a compartilharem o que forem observando).
b) durante a leitura
São apresentados alguns objetivos orientadores para a leitura,
focalizando aspectos que auxiliem a construção dos significados
do texto pelo leitor.
üLeitura global do texto.
üCaracterização da estrutura do texto.
üIdentificação das articulações temporais e lógicas responsáveis pela coesão textual.
c) depois da leitura
Propõem-se uma série de atividades para permitir uma melhor compreensão da obra, aprofundar o estudo e a reflexão a
respeito de conteúdos das diversas áreas curriculares, bem como
debater temas que permitam a inserção do aluno nas questões
contemporâneas.
üCompreensão global do texto a partir da reprodução oral ou
escrita do texto lido ou de respostas a questões formuladas
pelo professor em situação de leitura compartilhada.
üApreciação dos recursos expressivos mobilizados na obra.
üIdentificação dos pontos de vista sustentados pelo autor.
üExplicitação das opiniões pessoais frente a questões polêmicas.
üAmpliação do trabalho para a pesquisa de informações
complementares numa dimensão interdisciplinar ou para a
produção de outros textos ou, ainda, para produções criativas
que contemplem outras linguagens artísticas.
Leia mais...
üdo mesmo autor
üsobre o mesmo assunto
üsobre o mesmo gênero
]
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Ilustrações:
IGOR MACHADO
meton joffily
DESCRIÇÃO DO PROJETO DE LEITURA
]
Pescador de naufrágios
[[
Sei que a andorinha está no coqueiro,
e que o sabiá está na beira-mar.
Observo que a andorinha vai e volta,
mas não sei onde está meu amor que partiu e não quer voltar.
]
“Andorinha no coqueiro,
Sabiá na beira-mar,
Andorinha vai e volta,
Meu amor não quer voltar.”
ANA MARIA MACHADO
]
Maria José Nóbrega
Quem é esse que se diz “eu”? Se imaginarmos um “eu” masculino, por exemplo, poderíamos, num tom machista, sustentar que
mulher tem de ser mesmo conduzida com rédea curta, porque
senão voa; num tom mais feminista, poderíamos dizer que a mulher fez muito bem em abandonar alguém tão controlador. Está
instalada a polêmica das muitas vozes que circulam nas práticas
sociais...
Se levamos alguns anos para aprender a decifrar o escrito com
autonomia, ler na dimensão que descrevemos é uma aprendizagem que não se esgota nunca, pois para alguns textos seremos
sempre leitores iniciantes.
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De Leitores e Asas
Se retornarmos à trova acima, descobriremos um “eu” que
associa pássaros à pessoa amada. Ele sabe o lugar em que está a
andorinha e o sabiá; observa que as andorinhas migram, “vão e
voltam”, mas diferentemente destas, seu amor foi e não voltou.
Apesar de não estar explícita, percebemos a comparação entre a andorinha e a pessoa amada: ambas partiram em um dado
momento. Apesar de também não estar explícita, percebemos
a oposição entre elas: a andorinha retorna, mas a pessoa amada “não quer voltar”. Se todos estes elementos que podem ser
deduzidos pelo trabalho do leitor estivessem explícitos, o texto
ficaria mais ou menos assim:
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Projeto de Leitura
Coordenação: Maria José Nóbrega
Elaboração: Luísa Nóbrega
Leitor fluente
uma primeira dimensão, ler pode ser entendido como de
cifrar o escrito, isto é, compreender o que letras e outros
sinais gráficos representam. Sem dúvida, boa parte das atividades
que são realizadas com as crianças nas séries iniciais do ­Ensino
Fundamental têm como finalidade desenvolver essa capacidade.
Ingenuamente, muitos pensam que, uma vez que a criança
tenha fluência para decifrar os sinais da escrita, pode ler sozinha,
pois os sentidos estariam lá, no texto, bastando colhê-los.
Por essa concepção, qualquer um que soubesse ler e conhecesse o
que as palavras significam estaria apto a dizer em que lugar estão a
andorinha e o sabiá; qual dos dois pássaros vai e volta e quem não
quer voltar. Mas será que a resposta a estas questões bastaria para
assegurar que a trova foi compreendida? Certamente não. A compreensão vai depender, também, e muito, do que o leitor já souber
sobre pássaros e amores.
Isso porque muitos dos sentidos que depreendemos ao ler
derivam de complexas operações cognitivas para produzir inferências. Lemos o que está nos intervalos entre as palavras, nas
entrelinhas, lemos, portanto, o que não está escrito. É como se
o texto apresentasse lacunas que devessem ser preenchidas pelo
trabalho do leitor.
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Enc Pescador de naufra gios.indd 1
O assunto da trova é o relacionamento amoroso, a dor de cotove­lo
pelo abandono e, dependendo da experiência prévia que tivermos a respeito do assunto, quer seja esta vivida pessoalmente ou
“­vivida” através da ficção, diferentes emoções podem ser ativadas:
alívio por estarmos próximos de quem amamos, cumplicidade por
estarmos distantes de quem amamos, desilusão por não acreditarmos mais no amor, esperança de encontrar alguém diferente...
Quem produz ou lê um texto o faz a partir de um certo lugar,
como diz Leonardo Boff*, a partir de onde estão seus pés e do
que veem seus olhos. Os horizontes de quem escreve e os de
quem lê podem estar mais ou menos próximos. Os horizontes de
um leitor e de outro podem estar mais ou menos próximos. As
leituras produzem interpretações que produzem avaliações que
revelam posições: pode-se ou não concordar com o quadro de
valores sustentados ou sugeridos pelo texto.
Se refletirmos a respeito do último verso “meu amor não quer
voltar”, podemos indagar, legitimamente, sem nenhuma esperança de encontrar a resposta no texto: por que ele ou ela não
“quer” voltar? Repare que não é “não pode” que está escrito, é
“não quer”, isto quer dizer que poderia, mas não quer voltar. O
que teria provocado a separação? O amor acabou. Apaixonou-se
por outra ou outro? Outros projetos de vida foram mais fortes
que o amor: os estudos, a carreira, etc. O “eu” é muito possessivo
e gosta de controlar os passos dele ou dela, como controla os da
andorinha e do sabiá?
Um pouco sobre o autor
Contextualiza-se o autor e sua obra no panorama da literatura
para crianças.
Resenha
Apresentamos uma síntese da obra para permitir que o professor,
antecipando a temática, o enredo e seu desenvolvimento, possa
considerar a pertinência da obra levando em conta as necessidades
e possibilidades de seus alunos.
Comentários sobre a obra
Procuramos evidenciar outros aspectos que vão além da trama narrativa: os temas e a perspectiva com que são abordados,
certos recursos expressivos usados pelo autor. A partir deles, o
professor poderá identificar que conteúdos das diferentes áreas
do conhecimento poderão ser explorados, que temas poderão ser
discutidos, que recursos linguísticos poderão ser explorados para
ampliar a competência leitora e escritora do aluno.
___________
* “Cada um lê com os olhos que tem. E interpreta a partir de onde os pés pisam.” A águia e
a galinha: uma metáfora da condição humana (37a edição, 2001), Leonardo Boff, Editora
Vozes, Petrópolis.
Propostas de atividades
a) antes da leitura
Ao ler, mobilizamos nossas experiências para compreendermos
o texto e apreciarmos os recursos estilísticos utilizados pelo autor.
Folheando o livro, numa rápida leitura preliminar, podemos antecipar muito a respeito do desenvolvimento da história.
 3 
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As atividades propostas favorecem a ativação dos conhecimentos prévios necessários à compreensão do texto.
üExplicitação dos conhecimentos prévios necessários para que
os alunos compreendam o texto.
üAntecipação de conteúdos do texto a partir da observação
de indicadores como título (orientar a leitura de títulos e
subtítulos), ilustração (folhear o livro para identificar a localização, os personagens, o conflito).
üExplicitação dos conteúdos que esperam encontrar na obra
levando em conta os aspectos observados (estimular os alunos
a compartilharem o que forem observando).
b) durante a leitura
São apresentados alguns objetivos orientadores para a leitura,
focalizando aspectos que auxiliem a construção dos significados
do texto pelo leitor.
üLeitura global do texto.
üCaracterização da estrutura do texto.
üIdentificação das articulações temporais e lógicas responsáveis pela coesão textual.
c) depois da leitura
Propõem-se uma série de atividades para permitir uma melhor compreensão da obra, aprofundar o estudo e a reflexão a
respeito de conteúdos das diversas áreas curriculares, bem como
debater temas que permitam a inserção do aluno nas questões
contemporâneas.
üCompreensão global do texto a partir da reprodução oral ou
escrita do texto lido ou de respostas a questões formuladas
pelo professor em situação de leitura compartilhada.
üApreciação dos recursos expressivos mobilizados na obra.
üIdentificação dos pontos de vista sustentados pelo autor.
üExplicitação das opiniões pessoais frente a questões polêmicas.
üAmpliação do trabalho para a pesquisa de informações
complementares numa dimensão interdisciplinar ou para a
produção de outros textos ou, ainda, para produções criativas
que contemplem outras linguagens artísticas.
Leia mais...
üdo mesmo autor
üsobre o mesmo assunto
üsobre o mesmo gênero
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Ilustrações:
IGOR MACHADO
meton joffily
DESCRIÇÃO DO PROJETO DE LEITURA
]
Pescador de naufrágios
[[
Sei que a andorinha está no coqueiro,
e que o sabiá está na beira-mar.
Observo que a andorinha vai e volta,
mas não sei onde está meu amor que partiu e não quer voltar.
]
“Andorinha no coqueiro,
Sabiá na beira-mar,
Andorinha vai e volta,
Meu amor não quer voltar.”
ANA MARIA MACHADO
]
Maria José Nóbrega
Quem é esse que se diz “eu”? Se imaginarmos um “eu” masculino, por exemplo, poderíamos, num tom machista, sustentar que
mulher tem de ser mesmo conduzida com rédea curta, porque
senão voa; num tom mais feminista, poderíamos dizer que a mulher fez muito bem em abandonar alguém tão controlador. Está
instalada a polêmica das muitas vozes que circulam nas práticas
sociais...
Se levamos alguns anos para aprender a decifrar o escrito com
autonomia, ler na dimensão que descrevemos é uma aprendizagem que não se esgota nunca, pois para alguns textos seremos
sempre leitores iniciantes.
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De Leitores e Asas
Se retornarmos à trova acima, descobriremos um “eu” que
associa pássaros à pessoa amada. Ele sabe o lugar em que está a
andorinha e o sabiá; observa que as andorinhas migram, “vão e
voltam”, mas diferentemente destas, seu amor foi e não voltou.
Apesar de não estar explícita, percebemos a comparação entre a andorinha e a pessoa amada: ambas partiram em um dado
momento. Apesar de também não estar explícita, percebemos
a oposição entre elas: a andorinha retorna, mas a pessoa amada “não quer voltar”. Se todos estes elementos que podem ser
deduzidos pelo trabalho do leitor estivessem explícitos, o texto
ficaria mais ou menos assim:
 5 
7/6/10 4:33:34 PM
N
Projeto de Leitura
Coordenação: Maria José Nóbrega
Elaboração: Luísa Nóbrega
Leitor fluente
uma primeira dimensão, ler pode ser entendido como de
cifrar o escrito, isto é, compreender o que letras e outros
sinais gráficos representam. Sem dúvida, boa parte das atividades
que são realizadas com as crianças nas séries iniciais do ­Ensino
Fundamental têm como finalidade desenvolver essa capacidade.
Ingenuamente, muitos pensam que, uma vez que a criança
tenha fluência para decifrar os sinais da escrita, pode ler sozinha,
pois os sentidos estariam lá, no texto, bastando colhê-los.
Por essa concepção, qualquer um que soubesse ler e conhecesse o
que as palavras significam estaria apto a dizer em que lugar estão a
andorinha e o sabiá; qual dos dois pássaros vai e volta e quem não
quer voltar. Mas será que a resposta a estas questões bastaria para
assegurar que a trova foi compreendida? Certamente não. A compreensão vai depender, também, e muito, do que o leitor já souber
sobre pássaros e amores.
Isso porque muitos dos sentidos que depreendemos ao ler
derivam de complexas operações cognitivas para produzir inferências. Lemos o que está nos intervalos entre as palavras, nas
entrelinhas, lemos, portanto, o que não está escrito. É como se
o texto apresentasse lacunas que devessem ser preenchidas pelo
trabalho do leitor.
 2 
Enc Pescador de naufra gios.indd 1
O assunto da trova é o relacionamento amoroso, a dor de cotove­lo
pelo abandono e, dependendo da experiência prévia que tivermos a respeito do assunto, quer seja esta vivida pessoalmente ou
“­vivida” através da ficção, diferentes emoções podem ser ativadas:
alívio por estarmos próximos de quem amamos, cumplicidade por
estarmos distantes de quem amamos, desilusão por não acreditarmos mais no amor, esperança de encontrar alguém diferente...
Quem produz ou lê um texto o faz a partir de um certo lugar,
como diz Leonardo Boff*, a partir de onde estão seus pés e do
que veem seus olhos. Os horizontes de quem escreve e os de
quem lê podem estar mais ou menos próximos. Os horizontes de
um leitor e de outro podem estar mais ou menos próximos. As
leituras produzem interpretações que produzem avaliações que
revelam posições: pode-se ou não concordar com o quadro de
valores sustentados ou sugeridos pelo texto.
Se refletirmos a respeito do último verso “meu amor não quer
voltar”, podemos indagar, legitimamente, sem nenhuma esperança de encontrar a resposta no texto: por que ele ou ela não
“quer” voltar? Repare que não é “não pode” que está escrito, é
“não quer”, isto quer dizer que poderia, mas não quer voltar. O
que teria provocado a separação? O amor acabou. Apaixonou-se
por outra ou outro? Outros projetos de vida foram mais fortes
que o amor: os estudos, a carreira, etc. O “eu” é muito possessivo
e gosta de controlar os passos dele ou dela, como controla os da
andorinha e do sabiá?
Um pouco sobre o autor
Contextualiza-se o autor e sua obra no panorama da literatura
para crianças.
Resenha
Apresentamos uma síntese da obra para permitir que o professor,
antecipando a temática, o enredo e seu desenvolvimento, possa
considerar a pertinência da obra levando em conta as necessidades
e possibilidades de seus alunos.
Comentários sobre a obra
Procuramos evidenciar outros aspectos que vão além da trama narrativa: os temas e a perspectiva com que são abordados,
certos recursos expressivos usados pelo autor. A partir deles, o
professor poderá identificar que conteúdos das diferentes áreas
do conhecimento poderão ser explorados, que temas poderão ser
discutidos, que recursos linguísticos poderão ser explorados para
ampliar a competência leitora e escritora do aluno.
___________
* “Cada um lê com os olhos que tem. E interpreta a partir de onde os pés pisam.” A águia e
a galinha: uma metáfora da condição humana (37a edição, 2001), Leonardo Boff, Editora
Vozes, Petrópolis.
Propostas de atividades
a) antes da leitura
Ao ler, mobilizamos nossas experiências para compreendermos
o texto e apreciarmos os recursos estilísticos utilizados pelo autor.
Folheando o livro, numa rápida leitura preliminar, podemos antecipar muito a respeito do desenvolvimento da história.
 3 
 4 
As atividades propostas favorecem a ativação dos conhecimentos prévios necessários à compreensão do texto.
üExplicitação dos conhecimentos prévios necessários para que
os alunos compreendam o texto.
üAntecipação de conteúdos do texto a partir da observação
de indicadores como título (orientar a leitura de títulos e
subtítulos), ilustração (folhear o livro para identificar a localização, os personagens, o conflito).
üExplicitação dos conteúdos que esperam encontrar na obra
levando em conta os aspectos observados (estimular os alunos
a compartilharem o que forem observando).
b) durante a leitura
São apresentados alguns objetivos orientadores para a leitura,
focalizando aspectos que auxiliem a construção dos significados
do texto pelo leitor.
üLeitura global do texto.
üCaracterização da estrutura do texto.
üIdentificação das articulações temporais e lógicas responsáveis pela coesão textual.
c) depois da leitura
Propõem-se uma série de atividades para permitir uma melhor compreensão da obra, aprofundar o estudo e a reflexão a
respeito de conteúdos das diversas áreas curriculares, bem como
debater temas que permitam a inserção do aluno nas questões
contemporâneas.
üCompreensão global do texto a partir da reprodução oral ou
escrita do texto lido ou de respostas a questões formuladas
pelo professor em situação de leitura compartilhada.
üApreciação dos recursos expressivos mobilizados na obra.
üIdentificação dos pontos de vista sustentados pelo autor.
üExplicitação das opiniões pessoais frente a questões polêmicas.
üAmpliação do trabalho para a pesquisa de informações
complementares numa dimensão interdisciplinar ou para a
produção de outros textos ou, ainda, para produções criativas
que contemplem outras linguagens artísticas.
Leia mais...
üdo mesmo autor
üsobre o mesmo assunto
üsobre o mesmo gênero
]
[[
Ilustrações:
IGOR MACHADO
meton joffily
DESCRIÇÃO DO PROJETO DE LEITURA
]
Pescador de naufrágios
[[
Sei que a andorinha está no coqueiro,
e que o sabiá está na beira-mar.
Observo que a andorinha vai e volta,
mas não sei onde está meu amor que partiu e não quer voltar.
]
“Andorinha no coqueiro,
Sabiá na beira-mar,
Andorinha vai e volta,
Meu amor não quer voltar.”
ANA MARIA MACHADO
]
Maria José Nóbrega
Quem é esse que se diz “eu”? Se imaginarmos um “eu” masculino, por exemplo, poderíamos, num tom machista, sustentar que
mulher tem de ser mesmo conduzida com rédea curta, porque
senão voa; num tom mais feminista, poderíamos dizer que a mulher fez muito bem em abandonar alguém tão controlador. Está
instalada a polêmica das muitas vozes que circulam nas práticas
sociais...
Se levamos alguns anos para aprender a decifrar o escrito com
autonomia, ler na dimensão que descrevemos é uma aprendizagem que não se esgota nunca, pois para alguns textos seremos
sempre leitores iniciantes.
]
De Leitores e Asas
Se retornarmos à trova acima, descobriremos um “eu” que
associa pássaros à pessoa amada. Ele sabe o lugar em que está a
andorinha e o sabiá; observa que as andorinhas migram, “vão e
voltam”, mas diferentemente destas, seu amor foi e não voltou.
Apesar de não estar explícita, percebemos a comparação entre a andorinha e a pessoa amada: ambas partiram em um dado
momento. Apesar de também não estar explícita, percebemos
a oposição entre elas: a andorinha retorna, mas a pessoa amada “não quer voltar”. Se todos estes elementos que podem ser
deduzidos pelo trabalho do leitor estivessem explícitos, o texto
ficaria mais ou menos assim:
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7/6/10 4:33:34 PM
RESENHA
ANA MARIA MACHADO
Pescador de naufrágios
Ilustrações:
IGOR MACHADO
meton joffily
UM POUCO SOBRE A AUTORA
Ana Maria Machado é carioca, tem três filhos e mora no Rio de Janeiro. São quase quarenta anos de carreira, mais de cem livros publicados no
Brasil e em mais de dezessete países, somando mais de dezoito milhões
de exemplares vendidos. Os prêmios conquistados ao longo da carreira
de escritora também são muitos, tantos que ela já perdeu a conta.
A escritora vive viajando por todo o Brasil e pelo mundo inteiro
para dar palestras e ajudar a estimular a leitura. Depois de se formar
em Letras, começou sua vida profissional como professora em colégios
e faculdades. Também já foi jornalista e livreira. Desde muito antes
disso, é pintora e já fez exposições no Brasil e no exterior.
Mas Ana Maria Machado ficou conhecida mesmo foi como escritora,
tanto pelos livros voltados para adultos como aqueles voltados para crianças e jovens. O sucesso é tanto que em 1993 ela se tornou hors-concours
dos prêmios da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ).
Finalmente, a coroação. Em 2000, Ana Maria ganhou o prêmio Hans
Christian Andersen, considerado o prêmio Nobel da literatura infantil
mundial. E em 2001, a Academia Brasileira de Letras lhe deu o maior
prêmio literário nacional, o Machado de Assis, pelo conjunto da obra.
 6 
Enc Pescador de naufra gios.indd 2
Antes da leitura:
1. Mostre aos alunos a capa do livro. O que lhes sugerem as imagens da ilustração e o título da obra? Deixe que criem hipóteses a
respeito do conteúdo do livro.
Durante a leitura:
1. Estimule os estudantes a verificar se as hipóteses que levantaram
a respeito do conteúdo do livro se confirmam ou não.
2. Desafie-os a perceber de que maneira os versos da epígrafe se
relacionam à narrativa em questão. Será que o sentido dos versos
que interessa à autora é o mesmo explorado pelo poeta?
3. Veja se seus alunos notam de que maneira o protagonista da
história está ligado às tradições e aos costumes de sua família. De
que maneira ele repete e transforma experiências que seu pai e seu
avô já tinham vivenciado?
4. Solicite à turma que atente para a maneira pela qual se estabelece a relação entre o protagonista e um ser de outra dimensão
de realidade.
5. Estimule-os a observar as ilustrações de Igor Machado e Meton
Joffily, percebendo como seu colorido contribui para criar a atmosfera
onírica da história.
Depois da leitura:
1. Pergunte aos alunos de que maneira lhes parece que os versos
da epígrafe se relacionam com o texto. Veja se eles percebem que
o desejo da autora é tomar a imagem criada pelo poeta de maneira
muito mais concreta: o “copo de mar”, aqui, não evoca a possibilidade de remotas utopias, mas sim o copo de bebida, que provoca
embriaguês: a bebida contida num copo pode ser suficiente para que
um homem navegue, e até mesmo se afogue, em águas instáveis.
2. A narrativa do livro provém da Irlanda, terceira maior ilha da
Europa, país de belas paisagens, mitologia rica e inúmeras tensões:
politicamente dividido em duas (Irlanda do Norte, pertencente ao
Reino Unido, e República da Irlanda), a região é constantemente palco
de inúmeros conflitos políticos e religiosos. Proponha que seus alunos
realizem uma pesquisa a respeito desse país, procurando reunir informações sobre seus aspectos físicos e geográficos, bem como sobre a sua
história. Quais são as principais diferenças entre a República da Irlanda
e a Irlanda do Norte? De que maneira surgiu essa divisão? Como se
transformou historicamente a relação entre a Irlanda e a Inglaterra?
Quais os principais pontos que geram tensão ainda hoje?
3. Os merrows, que aparecem nessa história, são seres mágicos
das águas que pertencem ao folclore irlandês e que possuem um
claro parentesco com as populares sereias, que conhecemos, bem
como com a brasileira Iara, ou Mãe d’água. Divida a turma em três
grupos e solicite que cada um fique responsável por um desses seres, propondo-se a realizar uma pesquisa o mais detalhada possível
a respeito. O grupo responsável pelas sereias provavelmente ficará
surpreso ao descobrir que, na antiga mitologia grega, elas não eram
uma mistura de mulher e peixe, mas sim de mulher e pássaro... Sugira
que os grupos complementem sua pesquisa com imagens.
4. Na narrativa desse livro, o astuto Jack Dogherty consegue enganar
o merrow para libertar almas aprisionadas. Ora, existem muitos contos
populares em que um homem simples e astuto consegue ludibriar
entidades ou seres poderosos, como a morte ou o diabo... Leia com
seus alunos dois desses contos, um da tradição brasileira, outro da
portuguesa. O primeiro é uma história protagonizada pelo célebre
personagem Pedro Malasartes, que, obcecado pelo que ouviu dizer
sobre a esperteza do diabo, não consegue deixar de pensar numa
forma de passá-lo para trás; o conto está disponível no link http://
www.jangadabrasil.com.br/revista/junho67/im67006b.asp. O segundo
é uma divertida narrativa tradicional portuguesa, Comadre morte, disponível na página http://bettelheim-carochinha.blogspot.com/2007/12/
comadre-morte-conto-tradicional.html. Proponha uma comparação
entre esses contos, estimulando seus alunos a perceber as semelhanças
e diferenças entre eles. Veja se eles notam como, enquanto no conto
português e no irlandês, ao menos a princípio, o homem resolve enganar o ser sobrenatural por compaixão por outras almas, o brasileiro
Pedro Malasartes age pensando apenas nos próprios interesses. Por
outro lado, se na história brasileira e na irlandesa o homem sai ven-
 7 
 8 
 9 
Lugar estranho, esse em que vivia Jack Dogherty, e onde antes
tinham vivido seu pai e seu avô. Região isolada, de ventos fortes, mar
bravio e enormes e íngremes rochedos. Estranho lugar para um pescador viver... mas Jack não era um pescador comum. Sua riqueza não
vinha dos peixes, mas dos naufrágios: dos baús com riquezas, peças
raras e, principalmente, dos barris de rum, uísque e aguardente que
sobravam dos desastres. Desastres sempre havia e eram muitos nessa
região de correntezas perigosas. Não passava muito tempo sem que
um navio afundasse. A vida transcorria tranquila, até o dia em que Jack
conheceu um merrow, misteriosa criatura do mar com o corpo coberto
de escamas, que o levou para beber de sua adega nas profundezas
do oceano. Acontece que o tal merrow tinha uma coleção enorme
de almas cujos donos tinham falecido nos naufrágios... coisa que Jack
não podia aceitar. Roubar os bens de homens mortos não lhe parecia
errado, mas roubar sua alma? Ele precisava fazer algo.
COMENTÁRIOS SOBRE A OBRA
Em mais um título da Coleção 7 Mares, Ana Maria Machado reconta
uma inusitada e fascinante narrativa do folclore irlandês, que trata
de pescadores que vivem das mercadorias de navios afundados, de
seres mágicos e, principalmente, de muitas bebedeiras – afinal, os
irlandeses são tidos como célebres beberrões. Essa história apresenta
uma estrutura bastante semelhante a de outras narrativas populares
oriundas dos mais diversos povos: um homem simples usa de astúcia
para enganar um ser de origem sobrenatural, transgredindo o pacto
que havia estabelecido com ele. É claro que, por ser uma narrativa
irlandesa, o estratagema escolhido não podia deixar de envolver
bebida e embriaguez...
Gênero: contos tradicionais.
Palavras-chave: luta pela sobrevivência, amadurecimento, embate
entre homem e natureza.
Áreas envolvidas: Língua Portuguesa, História.
Tema transversal: pluralidade cultural.
Público-alvo: quarto a sétimo ano do Ensino Fundamental.
PROPOSTAS DE ATIVIDADES
2. Leia com eles a epígrafe, composta de dois versos do poema
A invenção de Orfeu, do poeta alagoano Jorge de Lima. Como eles
interpretam esses versos? O que lhes sugere a expressão “copo de
mar”? Chame atenção para o jogo entre imensidão e espaço ínfimo
que esses versos estabelecem.
3. Proponha que a classe realize uma pesquisa a respeito da obra
A invenção de Orfeu e da vida de seu autor, grande poeta modernista brasileiro, embora menos conhecido do que outros autores
do período. Como ela se estrutura? Qual é o seu enredo? De que
maneira ela relaciona trechos de grandes poemas épicos a questões
especificamente brasileiras?
4. Em seguida, leia com seus alunos a parte II do Canto I do livro
A invenção de Orfeu (publicado pela editora Record), trecho em que
aparecem os versos que Ana Maria Machado escolheu para a epígrafe.
Não se trata de uma leitura fácil, portanto faça uma leitura lenta, pausada, dando tempo para que os alunos possam refletir sobre as imagens criadas pelo poeta. Veja se percebem como esses versos evocam a
possibilidade de uma utopia: as imagens e frases repletas de advérbios
de negação falam de ausência e vazio, mas o poeta ainda deixa espaço
para uma possibilidade de esperança, de transcendência (“mesmo sem
mar e sem fim / mesmo sem terra e sem mim”). As três primeiras partes
desse primeiro canto encontram-se também disponíveis na internet, no
link http://oldpoetry.com/opoem/121844-Jorge-mateus-de-Lima-Inven-o-de-Orfeu---canto-I--parte-I--II--III--.
5. Peça à turma que leia as biografias que se encontram no final do livro,
para que conheça um pouco mais o universo da autora e do ilustrador.
Estimule a visita ao site de Ana Maria Machado: www.anamariamachado.
com. Na seção Tudo ao mesmo tempo agora, que integra o Caderno de
notas, é possível encontrar uma série de perguntas e respostas interessantes a respeito do universo da autora e de seu processo criativo.
cedor, no conto português quem vence é a morte, embora não antes
de que o seu compadre lhe dê muito, mas muito trabalho...
5. O mergulho no fundo do mar como metáfora para a embriaguês
não aparece apenas nesse antigo relato de origem irlandesa. Em
Destrudo, bela história em quadrinhos de Lourenço Mutarelli, um
dos melhores quadrinistas brasileiros, o autor se utiliza dessa mesma
metáfora para contar, com muito lirismo e sensibilidade, a história de
um mendigo bêbado que vai se perdendo cada vez mais da realidade.
Leia essa narrativa com seus alunos, pedindo-lhes que atentem para o
modo como o autor remete ao mar no texto e nas imagens, como fala
do duro confronto entre realidade e ilusão. Essa narrativa se encontra
no volume Mundo pet, publicado pela Devir Livraria.
6. O final da narrativa não deixa claro o que aconteceu com o merrow: muitas possibilidades ficam em aberto. Como, antes de visitar
Jack, ele já havia conhecido seu pai e seu avô, podemos prever que
provavelmente ele viria visitar também o filho do pescador, talvez
ainda enraivecido com o fato de ter perdido sua preciosa coleção de
almas... Proponha que seus alunos contem a história desse encontro
futuro, procurando imaginar como ele se daria.
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1. DA MESMA AUTORA
• Amigos secretos – São Paulo: Ática.
• Bisa bia, bisa Bel – São Paulo: Salamandra.
• História meio ao contrário – São Paulo: Ática.
• Bem do seu tamanho – São Paulo: Salamandra.
• Ponto a ponto – São Paulo: Cia. das Letrinhas.
2. SOBRE O MESMO GÊNERO
• Contos de fadas russos, organização de Aleksandr Afanas’ev.
São Paulo: Landy.
• Contos de fadas indianos, seleção de Joseph Jacobs. São Paulo:
Landy.
• O mundo dos contos e lendas da Hungria, de Elek Benedek. São
Paulo: Landy.
• Contos populares da Angola, organização de Viale Moutinho.
São Paulo: Landy.
• Contos de fadas celtas, seleção de Joseph Jacobs. São Paulo:
Landy.
7/6/10 4:33:34 PM
RESENHA
ANA MARIA MACHADO
Pescador de naufrágios
Ilustrações:
IGOR MACHADO
meton joffily
UM POUCO SOBRE A AUTORA
Ana Maria Machado é carioca, tem três filhos e mora no Rio de Janeiro. São quase quarenta anos de carreira, mais de cem livros publicados no
Brasil e em mais de dezessete países, somando mais de dezoito milhões
de exemplares vendidos. Os prêmios conquistados ao longo da carreira
de escritora também são muitos, tantos que ela já perdeu a conta.
A escritora vive viajando por todo o Brasil e pelo mundo inteiro
para dar palestras e ajudar a estimular a leitura. Depois de se formar
em Letras, começou sua vida profissional como professora em colégios
e faculdades. Também já foi jornalista e livreira. Desde muito antes
disso, é pintora e já fez exposições no Brasil e no exterior.
Mas Ana Maria Machado ficou conhecida mesmo foi como escritora,
tanto pelos livros voltados para adultos como aqueles voltados para crianças e jovens. O sucesso é tanto que em 1993 ela se tornou hors-concours
dos prêmios da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ).
Finalmente, a coroação. Em 2000, Ana Maria ganhou o prêmio Hans
Christian Andersen, considerado o prêmio Nobel da literatura infantil
mundial. E em 2001, a Academia Brasileira de Letras lhe deu o maior
prêmio literário nacional, o Machado de Assis, pelo conjunto da obra.
 6 
Enc Pescador de naufra gios.indd 2
Antes da leitura:
1. Mostre aos alunos a capa do livro. O que lhes sugerem as imagens da ilustração e o título da obra? Deixe que criem hipóteses a
respeito do conteúdo do livro.
Durante a leitura:
1. Estimule os estudantes a verificar se as hipóteses que levantaram
a respeito do conteúdo do livro se confirmam ou não.
2. Desafie-os a perceber de que maneira os versos da epígrafe se
relacionam à narrativa em questão. Será que o sentido dos versos
que interessa à autora é o mesmo explorado pelo poeta?
3. Veja se seus alunos notam de que maneira o protagonista da
história está ligado às tradições e aos costumes de sua família. De
que maneira ele repete e transforma experiências que seu pai e seu
avô já tinham vivenciado?
4. Solicite à turma que atente para a maneira pela qual se estabelece a relação entre o protagonista e um ser de outra dimensão
de realidade.
5. Estimule-os a observar as ilustrações de Igor Machado e Meton
Joffily, percebendo como seu colorido contribui para criar a atmosfera
onírica da história.
Depois da leitura:
1. Pergunte aos alunos de que maneira lhes parece que os versos
da epígrafe se relacionam com o texto. Veja se eles percebem que
o desejo da autora é tomar a imagem criada pelo poeta de maneira
muito mais concreta: o “copo de mar”, aqui, não evoca a possibilidade de remotas utopias, mas sim o copo de bebida, que provoca
embriaguês: a bebida contida num copo pode ser suficiente para que
um homem navegue, e até mesmo se afogue, em águas instáveis.
2. A narrativa do livro provém da Irlanda, terceira maior ilha da
Europa, país de belas paisagens, mitologia rica e inúmeras tensões:
politicamente dividido em duas (Irlanda do Norte, pertencente ao
Reino Unido, e República da Irlanda), a região é constantemente palco
de inúmeros conflitos políticos e religiosos. Proponha que seus alunos
realizem uma pesquisa a respeito desse país, procurando reunir informações sobre seus aspectos físicos e geográficos, bem como sobre a sua
história. Quais são as principais diferenças entre a República da Irlanda
e a Irlanda do Norte? De que maneira surgiu essa divisão? Como se
transformou historicamente a relação entre a Irlanda e a Inglaterra?
Quais os principais pontos que geram tensão ainda hoje?
3. Os merrows, que aparecem nessa história, são seres mágicos
das águas que pertencem ao folclore irlandês e que possuem um
claro parentesco com as populares sereias, que conhecemos, bem
como com a brasileira Iara, ou Mãe d’água. Divida a turma em três
grupos e solicite que cada um fique responsável por um desses seres, propondo-se a realizar uma pesquisa o mais detalhada possível
a respeito. O grupo responsável pelas sereias provavelmente ficará
surpreso ao descobrir que, na antiga mitologia grega, elas não eram
uma mistura de mulher e peixe, mas sim de mulher e pássaro... Sugira
que os grupos complementem sua pesquisa com imagens.
4. Na narrativa desse livro, o astuto Jack Dogherty consegue enganar
o merrow para libertar almas aprisionadas. Ora, existem muitos contos
populares em que um homem simples e astuto consegue ludibriar
entidades ou seres poderosos, como a morte ou o diabo... Leia com
seus alunos dois desses contos, um da tradição brasileira, outro da
portuguesa. O primeiro é uma história protagonizada pelo célebre
personagem Pedro Malasartes, que, obcecado pelo que ouviu dizer
sobre a esperteza do diabo, não consegue deixar de pensar numa
forma de passá-lo para trás; o conto está disponível no link http://
www.jangadabrasil.com.br/revista/junho67/im67006b.asp. O segundo
é uma divertida narrativa tradicional portuguesa, Comadre morte, disponível na página http://bettelheim-carochinha.blogspot.com/2007/12/
comadre-morte-conto-tradicional.html. Proponha uma comparação
entre esses contos, estimulando seus alunos a perceber as semelhanças
e diferenças entre eles. Veja se eles notam como, enquanto no conto
português e no irlandês, ao menos a princípio, o homem resolve enganar o ser sobrenatural por compaixão por outras almas, o brasileiro
Pedro Malasartes age pensando apenas nos próprios interesses. Por
outro lado, se na história brasileira e na irlandesa o homem sai ven-
 7 
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 9 
Lugar estranho, esse em que vivia Jack Dogherty, e onde antes
tinham vivido seu pai e seu avô. Região isolada, de ventos fortes, mar
bravio e enormes e íngremes rochedos. Estranho lugar para um pescador viver... mas Jack não era um pescador comum. Sua riqueza não
vinha dos peixes, mas dos naufrágios: dos baús com riquezas, peças
raras e, principalmente, dos barris de rum, uísque e aguardente que
sobravam dos desastres. Desastres sempre havia e eram muitos nessa
região de correntezas perigosas. Não passava muito tempo sem que
um navio afundasse. A vida transcorria tranquila, até o dia em que Jack
conheceu um merrow, misteriosa criatura do mar com o corpo coberto
de escamas, que o levou para beber de sua adega nas profundezas
do oceano. Acontece que o tal merrow tinha uma coleção enorme
de almas cujos donos tinham falecido nos naufrágios... coisa que Jack
não podia aceitar. Roubar os bens de homens mortos não lhe parecia
errado, mas roubar sua alma? Ele precisava fazer algo.
COMENTÁRIOS SOBRE A OBRA
Em mais um título da Coleção 7 Mares, Ana Maria Machado reconta
uma inusitada e fascinante narrativa do folclore irlandês, que trata
de pescadores que vivem das mercadorias de navios afundados, de
seres mágicos e, principalmente, de muitas bebedeiras – afinal, os
irlandeses são tidos como célebres beberrões. Essa história apresenta
uma estrutura bastante semelhante a de outras narrativas populares
oriundas dos mais diversos povos: um homem simples usa de astúcia
para enganar um ser de origem sobrenatural, transgredindo o pacto
que havia estabelecido com ele. É claro que, por ser uma narrativa
irlandesa, o estratagema escolhido não podia deixar de envolver
bebida e embriaguez...
Gênero: contos tradicionais.
Palavras-chave: luta pela sobrevivência, amadurecimento, embate
entre homem e natureza.
Áreas envolvidas: Língua Portuguesa, História.
Tema transversal: pluralidade cultural.
Público-alvo: quarto a sétimo ano do Ensino Fundamental.
PROPOSTAS DE ATIVIDADES
2. Leia com eles a epígrafe, composta de dois versos do poema
A invenção de Orfeu, do poeta alagoano Jorge de Lima. Como eles
interpretam esses versos? O que lhes sugere a expressão “copo de
mar”? Chame atenção para o jogo entre imensidão e espaço ínfimo
que esses versos estabelecem.
3. Proponha que a classe realize uma pesquisa a respeito da obra
A invenção de Orfeu e da vida de seu autor, grande poeta modernista brasileiro, embora menos conhecido do que outros autores
do período. Como ela se estrutura? Qual é o seu enredo? De que
maneira ela relaciona trechos de grandes poemas épicos a questões
especificamente brasileiras?
4. Em seguida, leia com seus alunos a parte II do Canto I do livro
A invenção de Orfeu (publicado pela editora Record), trecho em que
aparecem os versos que Ana Maria Machado escolheu para a epígrafe.
Não se trata de uma leitura fácil, portanto faça uma leitura lenta, pausada, dando tempo para que os alunos possam refletir sobre as imagens criadas pelo poeta. Veja se percebem como esses versos evocam a
possibilidade de uma utopia: as imagens e frases repletas de advérbios
de negação falam de ausência e vazio, mas o poeta ainda deixa espaço
para uma possibilidade de esperança, de transcendência (“mesmo sem
mar e sem fim / mesmo sem terra e sem mim”). As três primeiras partes
desse primeiro canto encontram-se também disponíveis na internet, no
link http://oldpoetry.com/opoem/121844-Jorge-mateus-de-Lima-Inven-o-de-Orfeu---canto-I--parte-I--II--III--.
5. Peça à turma que leia as biografias que se encontram no final do livro,
para que conheça um pouco mais o universo da autora e do ilustrador.
Estimule a visita ao site de Ana Maria Machado: www.anamariamachado.
com. Na seção Tudo ao mesmo tempo agora, que integra o Caderno de
notas, é possível encontrar uma série de perguntas e respostas interessantes a respeito do universo da autora e de seu processo criativo.
cedor, no conto português quem vence é a morte, embora não antes
de que o seu compadre lhe dê muito, mas muito trabalho...
5. O mergulho no fundo do mar como metáfora para a embriaguês
não aparece apenas nesse antigo relato de origem irlandesa. Em
Destrudo, bela história em quadrinhos de Lourenço Mutarelli, um
dos melhores quadrinistas brasileiros, o autor se utiliza dessa mesma
metáfora para contar, com muito lirismo e sensibilidade, a história de
um mendigo bêbado que vai se perdendo cada vez mais da realidade.
Leia essa narrativa com seus alunos, pedindo-lhes que atentem para o
modo como o autor remete ao mar no texto e nas imagens, como fala
do duro confronto entre realidade e ilusão. Essa narrativa se encontra
no volume Mundo pet, publicado pela Devir Livraria.
6. O final da narrativa não deixa claro o que aconteceu com o merrow: muitas possibilidades ficam em aberto. Como, antes de visitar
Jack, ele já havia conhecido seu pai e seu avô, podemos prever que
provavelmente ele viria visitar também o filho do pescador, talvez
ainda enraivecido com o fato de ter perdido sua preciosa coleção de
almas... Proponha que seus alunos contem a história desse encontro
futuro, procurando imaginar como ele se daria.
LEIA MAIS...
1. DA MESMA AUTORA
• Amigos secretos – São Paulo: Ática.
• Bisa bia, bisa Bel – São Paulo: Salamandra.
• História meio ao contrário – São Paulo: Ática.
• Bem do seu tamanho – São Paulo: Salamandra.
• Ponto a ponto – São Paulo: Cia. das Letrinhas.
2. SOBRE O MESMO GÊNERO
• Contos de fadas russos, organização de Aleksandr Afanas’ev.
São Paulo: Landy.
• Contos de fadas indianos, seleção de Joseph Jacobs. São Paulo:
Landy.
• O mundo dos contos e lendas da Hungria, de Elek Benedek. São
Paulo: Landy.
• Contos populares da Angola, organização de Viale Moutinho.
São Paulo: Landy.
• Contos de fadas celtas, seleção de Joseph Jacobs. São Paulo:
Landy.
7/6/10 4:33:34 PM
RESENHA
ANA MARIA MACHADO
Pescador de naufrágios
Ilustrações:
IGOR MACHADO
meton joffily
UM POUCO SOBRE A AUTORA
Ana Maria Machado é carioca, tem três filhos e mora no Rio de Janeiro. São quase quarenta anos de carreira, mais de cem livros publicados no
Brasil e em mais de dezessete países, somando mais de dezoito milhões
de exemplares vendidos. Os prêmios conquistados ao longo da carreira
de escritora também são muitos, tantos que ela já perdeu a conta.
A escritora vive viajando por todo o Brasil e pelo mundo inteiro
para dar palestras e ajudar a estimular a leitura. Depois de se formar
em Letras, começou sua vida profissional como professora em colégios
e faculdades. Também já foi jornalista e livreira. Desde muito antes
disso, é pintora e já fez exposições no Brasil e no exterior.
Mas Ana Maria Machado ficou conhecida mesmo foi como escritora,
tanto pelos livros voltados para adultos como aqueles voltados para crianças e jovens. O sucesso é tanto que em 1993 ela se tornou hors-concours
dos prêmios da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ).
Finalmente, a coroação. Em 2000, Ana Maria ganhou o prêmio Hans
Christian Andersen, considerado o prêmio Nobel da literatura infantil
mundial. E em 2001, a Academia Brasileira de Letras lhe deu o maior
prêmio literário nacional, o Machado de Assis, pelo conjunto da obra.
 6 
Enc Pescador de naufra gios.indd 2
Antes da leitura:
1. Mostre aos alunos a capa do livro. O que lhes sugerem as imagens da ilustração e o título da obra? Deixe que criem hipóteses a
respeito do conteúdo do livro.
Durante a leitura:
1. Estimule os estudantes a verificar se as hipóteses que levantaram
a respeito do conteúdo do livro se confirmam ou não.
2. Desafie-os a perceber de que maneira os versos da epígrafe se
relacionam à narrativa em questão. Será que o sentido dos versos
que interessa à autora é o mesmo explorado pelo poeta?
3. Veja se seus alunos notam de que maneira o protagonista da
história está ligado às tradições e aos costumes de sua família. De
que maneira ele repete e transforma experiências que seu pai e seu
avô já tinham vivenciado?
4. Solicite à turma que atente para a maneira pela qual se estabelece a relação entre o protagonista e um ser de outra dimensão
de realidade.
5. Estimule-os a observar as ilustrações de Igor Machado e Meton
Joffily, percebendo como seu colorido contribui para criar a atmosfera
onírica da história.
Depois da leitura:
1. Pergunte aos alunos de que maneira lhes parece que os versos
da epígrafe se relacionam com o texto. Veja se eles percebem que
o desejo da autora é tomar a imagem criada pelo poeta de maneira
muito mais concreta: o “copo de mar”, aqui, não evoca a possibilidade de remotas utopias, mas sim o copo de bebida, que provoca
embriaguês: a bebida contida num copo pode ser suficiente para que
um homem navegue, e até mesmo se afogue, em águas instáveis.
2. A narrativa do livro provém da Irlanda, terceira maior ilha da
Europa, país de belas paisagens, mitologia rica e inúmeras tensões:
politicamente dividido em duas (Irlanda do Norte, pertencente ao
Reino Unido, e República da Irlanda), a região é constantemente palco
de inúmeros conflitos políticos e religiosos. Proponha que seus alunos
realizem uma pesquisa a respeito desse país, procurando reunir informações sobre seus aspectos físicos e geográficos, bem como sobre a sua
história. Quais são as principais diferenças entre a República da Irlanda
e a Irlanda do Norte? De que maneira surgiu essa divisão? Como se
transformou historicamente a relação entre a Irlanda e a Inglaterra?
Quais os principais pontos que geram tensão ainda hoje?
3. Os merrows, que aparecem nessa história, são seres mágicos
das águas que pertencem ao folclore irlandês e que possuem um
claro parentesco com as populares sereias, que conhecemos, bem
como com a brasileira Iara, ou Mãe d’água. Divida a turma em três
grupos e solicite que cada um fique responsável por um desses seres, propondo-se a realizar uma pesquisa o mais detalhada possível
a respeito. O grupo responsável pelas sereias provavelmente ficará
surpreso ao descobrir que, na antiga mitologia grega, elas não eram
uma mistura de mulher e peixe, mas sim de mulher e pássaro... Sugira
que os grupos complementem sua pesquisa com imagens.
4. Na narrativa desse livro, o astuto Jack Dogherty consegue enganar
o merrow para libertar almas aprisionadas. Ora, existem muitos contos
populares em que um homem simples e astuto consegue ludibriar
entidades ou seres poderosos, como a morte ou o diabo... Leia com
seus alunos dois desses contos, um da tradição brasileira, outro da
portuguesa. O primeiro é uma história protagonizada pelo célebre
personagem Pedro Malasartes, que, obcecado pelo que ouviu dizer
sobre a esperteza do diabo, não consegue deixar de pensar numa
forma de passá-lo para trás; o conto está disponível no link http://
www.jangadabrasil.com.br/revista/junho67/im67006b.asp. O segundo
é uma divertida narrativa tradicional portuguesa, Comadre morte, disponível na página http://bettelheim-carochinha.blogspot.com/2007/12/
comadre-morte-conto-tradicional.html. Proponha uma comparação
entre esses contos, estimulando seus alunos a perceber as semelhanças
e diferenças entre eles. Veja se eles notam como, enquanto no conto
português e no irlandês, ao menos a princípio, o homem resolve enganar o ser sobrenatural por compaixão por outras almas, o brasileiro
Pedro Malasartes age pensando apenas nos próprios interesses. Por
outro lado, se na história brasileira e na irlandesa o homem sai ven-
 7 
 8 
 9 
Lugar estranho, esse em que vivia Jack Dogherty, e onde antes
tinham vivido seu pai e seu avô. Região isolada, de ventos fortes, mar
bravio e enormes e íngremes rochedos. Estranho lugar para um pescador viver... mas Jack não era um pescador comum. Sua riqueza não
vinha dos peixes, mas dos naufrágios: dos baús com riquezas, peças
raras e, principalmente, dos barris de rum, uísque e aguardente que
sobravam dos desastres. Desastres sempre havia e eram muitos nessa
região de correntezas perigosas. Não passava muito tempo sem que
um navio afundasse. A vida transcorria tranquila, até o dia em que Jack
conheceu um merrow, misteriosa criatura do mar com o corpo coberto
de escamas, que o levou para beber de sua adega nas profundezas
do oceano. Acontece que o tal merrow tinha uma coleção enorme
de almas cujos donos tinham falecido nos naufrágios... coisa que Jack
não podia aceitar. Roubar os bens de homens mortos não lhe parecia
errado, mas roubar sua alma? Ele precisava fazer algo.
COMENTÁRIOS SOBRE A OBRA
Em mais um título da Coleção 7 Mares, Ana Maria Machado reconta
uma inusitada e fascinante narrativa do folclore irlandês, que trata
de pescadores que vivem das mercadorias de navios afundados, de
seres mágicos e, principalmente, de muitas bebedeiras – afinal, os
irlandeses são tidos como célebres beberrões. Essa história apresenta
uma estrutura bastante semelhante a de outras narrativas populares
oriundas dos mais diversos povos: um homem simples usa de astúcia
para enganar um ser de origem sobrenatural, transgredindo o pacto
que havia estabelecido com ele. É claro que, por ser uma narrativa
irlandesa, o estratagema escolhido não podia deixar de envolver
bebida e embriaguez...
Gênero: contos tradicionais.
Palavras-chave: luta pela sobrevivência, amadurecimento, embate
entre homem e natureza.
Áreas envolvidas: Língua Portuguesa, História.
Tema transversal: pluralidade cultural.
Público-alvo: quarto a sétimo ano do Ensino Fundamental.
PROPOSTAS DE ATIVIDADES
2. Leia com eles a epígrafe, composta de dois versos do poema
A invenção de Orfeu, do poeta alagoano Jorge de Lima. Como eles
interpretam esses versos? O que lhes sugere a expressão “copo de
mar”? Chame atenção para o jogo entre imensidão e espaço ínfimo
que esses versos estabelecem.
3. Proponha que a classe realize uma pesquisa a respeito da obra
A invenção de Orfeu e da vida de seu autor, grande poeta modernista brasileiro, embora menos conhecido do que outros autores
do período. Como ela se estrutura? Qual é o seu enredo? De que
maneira ela relaciona trechos de grandes poemas épicos a questões
especificamente brasileiras?
4. Em seguida, leia com seus alunos a parte II do Canto I do livro
A invenção de Orfeu (publicado pela editora Record), trecho em que
aparecem os versos que Ana Maria Machado escolheu para a epígrafe.
Não se trata de uma leitura fácil, portanto faça uma leitura lenta, pausada, dando tempo para que os alunos possam refletir sobre as imagens criadas pelo poeta. Veja se percebem como esses versos evocam a
possibilidade de uma utopia: as imagens e frases repletas de advérbios
de negação falam de ausência e vazio, mas o poeta ainda deixa espaço
para uma possibilidade de esperança, de transcendência (“mesmo sem
mar e sem fim / mesmo sem terra e sem mim”). As três primeiras partes
desse primeiro canto encontram-se também disponíveis na internet, no
link http://oldpoetry.com/opoem/121844-Jorge-mateus-de-Lima-Inven-o-de-Orfeu---canto-I--parte-I--II--III--.
5. Peça à turma que leia as biografias que se encontram no final do livro,
para que conheça um pouco mais o universo da autora e do ilustrador.
Estimule a visita ao site de Ana Maria Machado: www.anamariamachado.
com. Na seção Tudo ao mesmo tempo agora, que integra o Caderno de
notas, é possível encontrar uma série de perguntas e respostas interessantes a respeito do universo da autora e de seu processo criativo.
cedor, no conto português quem vence é a morte, embora não antes
de que o seu compadre lhe dê muito, mas muito trabalho...
5. O mergulho no fundo do mar como metáfora para a embriaguês
não aparece apenas nesse antigo relato de origem irlandesa. Em
Destrudo, bela história em quadrinhos de Lourenço Mutarelli, um
dos melhores quadrinistas brasileiros, o autor se utiliza dessa mesma
metáfora para contar, com muito lirismo e sensibilidade, a história de
um mendigo bêbado que vai se perdendo cada vez mais da realidade.
Leia essa narrativa com seus alunos, pedindo-lhes que atentem para o
modo como o autor remete ao mar no texto e nas imagens, como fala
do duro confronto entre realidade e ilusão. Essa narrativa se encontra
no volume Mundo pet, publicado pela Devir Livraria.
6. O final da narrativa não deixa claro o que aconteceu com o merrow: muitas possibilidades ficam em aberto. Como, antes de visitar
Jack, ele já havia conhecido seu pai e seu avô, podemos prever que
provavelmente ele viria visitar também o filho do pescador, talvez
ainda enraivecido com o fato de ter perdido sua preciosa coleção de
almas... Proponha que seus alunos contem a história desse encontro
futuro, procurando imaginar como ele se daria.
LEIA MAIS...
1. DA MESMA AUTORA
• Amigos secretos – São Paulo: Ática.
• Bisa bia, bisa Bel – São Paulo: Salamandra.
• História meio ao contrário – São Paulo: Ática.
• Bem do seu tamanho – São Paulo: Salamandra.
• Ponto a ponto – São Paulo: Cia. das Letrinhas.
2. SOBRE O MESMO GÊNERO
• Contos de fadas russos, organização de Aleksandr Afanas’ev.
São Paulo: Landy.
• Contos de fadas indianos, seleção de Joseph Jacobs. São Paulo:
Landy.
• O mundo dos contos e lendas da Hungria, de Elek Benedek. São
Paulo: Landy.
• Contos populares da Angola, organização de Viale Moutinho.
São Paulo: Landy.
• Contos de fadas celtas, seleção de Joseph Jacobs. São Paulo:
Landy.
7/6/10 4:33:34 PM
RESENHA
ANA MARIA MACHADO
Pescador de naufrágios
Ilustrações:
IGOR MACHADO
meton joffily
UM POUCO SOBRE A AUTORA
Ana Maria Machado é carioca, tem três filhos e mora no Rio de Janeiro. São quase quarenta anos de carreira, mais de cem livros publicados no
Brasil e em mais de dezessete países, somando mais de dezoito milhões
de exemplares vendidos. Os prêmios conquistados ao longo da carreira
de escritora também são muitos, tantos que ela já perdeu a conta.
A escritora vive viajando por todo o Brasil e pelo mundo inteiro
para dar palestras e ajudar a estimular a leitura. Depois de se formar
em Letras, começou sua vida profissional como professora em colégios
e faculdades. Também já foi jornalista e livreira. Desde muito antes
disso, é pintora e já fez exposições no Brasil e no exterior.
Mas Ana Maria Machado ficou conhecida mesmo foi como escritora,
tanto pelos livros voltados para adultos como aqueles voltados para crianças e jovens. O sucesso é tanto que em 1993 ela se tornou hors-concours
dos prêmios da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ).
Finalmente, a coroação. Em 2000, Ana Maria ganhou o prêmio Hans
Christian Andersen, considerado o prêmio Nobel da literatura infantil
mundial. E em 2001, a Academia Brasileira de Letras lhe deu o maior
prêmio literário nacional, o Machado de Assis, pelo conjunto da obra.
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Antes da leitura:
1. Mostre aos alunos a capa do livro. O que lhes sugerem as imagens da ilustração e o título da obra? Deixe que criem hipóteses a
respeito do conteúdo do livro.
Durante a leitura:
1. Estimule os estudantes a verificar se as hipóteses que levantaram
a respeito do conteúdo do livro se confirmam ou não.
2. Desafie-os a perceber de que maneira os versos da epígrafe se
relacionam à narrativa em questão. Será que o sentido dos versos
que interessa à autora é o mesmo explorado pelo poeta?
3. Veja se seus alunos notam de que maneira o protagonista da
história está ligado às tradições e aos costumes de sua família. De
que maneira ele repete e transforma experiências que seu pai e seu
avô já tinham vivenciado?
4. Solicite à turma que atente para a maneira pela qual se estabelece a relação entre o protagonista e um ser de outra dimensão
de realidade.
5. Estimule-os a observar as ilustrações de Igor Machado e Meton
Joffily, percebendo como seu colorido contribui para criar a atmosfera
onírica da história.
Depois da leitura:
1. Pergunte aos alunos de que maneira lhes parece que os versos
da epígrafe se relacionam com o texto. Veja se eles percebem que
o desejo da autora é tomar a imagem criada pelo poeta de maneira
muito mais concreta: o “copo de mar”, aqui, não evoca a possibilidade de remotas utopias, mas sim o copo de bebida, que provoca
embriaguês: a bebida contida num copo pode ser suficiente para que
um homem navegue, e até mesmo se afogue, em águas instáveis.
2. A narrativa do livro provém da Irlanda, terceira maior ilha da
Europa, país de belas paisagens, mitologia rica e inúmeras tensões:
politicamente dividido em duas (Irlanda do Norte, pertencente ao
Reino Unido, e República da Irlanda), a região é constantemente palco
de inúmeros conflitos políticos e religiosos. Proponha que seus alunos
realizem uma pesquisa a respeito desse país, procurando reunir informações sobre seus aspectos físicos e geográficos, bem como sobre a sua
história. Quais são as principais diferenças entre a República da Irlanda
e a Irlanda do Norte? De que maneira surgiu essa divisão? Como se
transformou historicamente a relação entre a Irlanda e a Inglaterra?
Quais os principais pontos que geram tensão ainda hoje?
3. Os merrows, que aparecem nessa história, são seres mágicos
das águas que pertencem ao folclore irlandês e que possuem um
claro parentesco com as populares sereias, que conhecemos, bem
como com a brasileira Iara, ou Mãe d’água. Divida a turma em três
grupos e solicite que cada um fique responsável por um desses seres, propondo-se a realizar uma pesquisa o mais detalhada possível
a respeito. O grupo responsável pelas sereias provavelmente ficará
surpreso ao descobrir que, na antiga mitologia grega, elas não eram
uma mistura de mulher e peixe, mas sim de mulher e pássaro... Sugira
que os grupos complementem sua pesquisa com imagens.
4. Na narrativa desse livro, o astuto Jack Dogherty consegue enganar
o merrow para libertar almas aprisionadas. Ora, existem muitos contos
populares em que um homem simples e astuto consegue ludibriar
entidades ou seres poderosos, como a morte ou o diabo... Leia com
seus alunos dois desses contos, um da tradição brasileira, outro da
portuguesa. O primeiro é uma história protagonizada pelo célebre
personagem Pedro Malasartes, que, obcecado pelo que ouviu dizer
sobre a esperteza do diabo, não consegue deixar de pensar numa
forma de passá-lo para trás; o conto está disponível no link http://
www.jangadabrasil.com.br/revista/junho67/im67006b.asp. O segundo
é uma divertida narrativa tradicional portuguesa, Comadre morte, disponível na página http://bettelheim-carochinha.blogspot.com/2007/12/
comadre-morte-conto-tradicional.html. Proponha uma comparação
entre esses contos, estimulando seus alunos a perceber as semelhanças
e diferenças entre eles. Veja se eles notam como, enquanto no conto
português e no irlandês, ao menos a princípio, o homem resolve enganar o ser sobrenatural por compaixão por outras almas, o brasileiro
Pedro Malasartes age pensando apenas nos próprios interesses. Por
outro lado, se na história brasileira e na irlandesa o homem sai ven-
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Lugar estranho, esse em que vivia Jack Dogherty, e onde antes
tinham vivido seu pai e seu avô. Região isolada, de ventos fortes, mar
bravio e enormes e íngremes rochedos. Estranho lugar para um pescador viver... mas Jack não era um pescador comum. Sua riqueza não
vinha dos peixes, mas dos naufrágios: dos baús com riquezas, peças
raras e, principalmente, dos barris de rum, uísque e aguardente que
sobravam dos desastres. Desastres sempre havia e eram muitos nessa
região de correntezas perigosas. Não passava muito tempo sem que
um navio afundasse. A vida transcorria tranquila, até o dia em que Jack
conheceu um merrow, misteriosa criatura do mar com o corpo coberto
de escamas, que o levou para beber de sua adega nas profundezas
do oceano. Acontece que o tal merrow tinha uma coleção enorme
de almas cujos donos tinham falecido nos naufrágios... coisa que Jack
não podia aceitar. Roubar os bens de homens mortos não lhe parecia
errado, mas roubar sua alma? Ele precisava fazer algo.
COMENTÁRIOS SOBRE A OBRA
Em mais um título da Coleção 7 Mares, Ana Maria Machado reconta
uma inusitada e fascinante narrativa do folclore irlandês, que trata
de pescadores que vivem das mercadorias de navios afundados, de
seres mágicos e, principalmente, de muitas bebedeiras – afinal, os
irlandeses são tidos como célebres beberrões. Essa história apresenta
uma estrutura bastante semelhante a de outras narrativas populares
oriundas dos mais diversos povos: um homem simples usa de astúcia
para enganar um ser de origem sobrenatural, transgredindo o pacto
que havia estabelecido com ele. É claro que, por ser uma narrativa
irlandesa, o estratagema escolhido não podia deixar de envolver
bebida e embriaguez...
Gênero: contos tradicionais.
Palavras-chave: luta pela sobrevivência, amadurecimento, embate
entre homem e natureza.
Áreas envolvidas: Língua Portuguesa, História.
Tema transversal: pluralidade cultural.
Público-alvo: quarto a sétimo ano do Ensino Fundamental.
PROPOSTAS DE ATIVIDADES
2. Leia com eles a epígrafe, composta de dois versos do poema
A invenção de Orfeu, do poeta alagoano Jorge de Lima. Como eles
interpretam esses versos? O que lhes sugere a expressão “copo de
mar”? Chame atenção para o jogo entre imensidão e espaço ínfimo
que esses versos estabelecem.
3. Proponha que a classe realize uma pesquisa a respeito da obra
A invenção de Orfeu e da vida de seu autor, grande poeta modernista brasileiro, embora menos conhecido do que outros autores
do período. Como ela se estrutura? Qual é o seu enredo? De que
maneira ela relaciona trechos de grandes poemas épicos a questões
especificamente brasileiras?
4. Em seguida, leia com seus alunos a parte II do Canto I do livro
A invenção de Orfeu (publicado pela editora Record), trecho em que
aparecem os versos que Ana Maria Machado escolheu para a epígrafe.
Não se trata de uma leitura fácil, portanto faça uma leitura lenta, pausada, dando tempo para que os alunos possam refletir sobre as imagens criadas pelo poeta. Veja se percebem como esses versos evocam a
possibilidade de uma utopia: as imagens e frases repletas de advérbios
de negação falam de ausência e vazio, mas o poeta ainda deixa espaço
para uma possibilidade de esperança, de transcendência (“mesmo sem
mar e sem fim / mesmo sem terra e sem mim”). As três primeiras partes
desse primeiro canto encontram-se também disponíveis na internet, no
link http://oldpoetry.com/opoem/121844-Jorge-mateus-de-Lima-Inven-o-de-Orfeu---canto-I--parte-I--II--III--.
5. Peça à turma que leia as biografias que se encontram no final do livro,
para que conheça um pouco mais o universo da autora e do ilustrador.
Estimule a visita ao site de Ana Maria Machado: www.anamariamachado.
com. Na seção Tudo ao mesmo tempo agora, que integra o Caderno de
notas, é possível encontrar uma série de perguntas e respostas interessantes a respeito do universo da autora e de seu processo criativo.
cedor, no conto português quem vence é a morte, embora não antes
de que o seu compadre lhe dê muito, mas muito trabalho...
5. O mergulho no fundo do mar como metáfora para a embriaguês
não aparece apenas nesse antigo relato de origem irlandesa. Em
Destrudo, bela história em quadrinhos de Lourenço Mutarelli, um
dos melhores quadrinistas brasileiros, o autor se utiliza dessa mesma
metáfora para contar, com muito lirismo e sensibilidade, a história de
um mendigo bêbado que vai se perdendo cada vez mais da realidade.
Leia essa narrativa com seus alunos, pedindo-lhes que atentem para o
modo como o autor remete ao mar no texto e nas imagens, como fala
do duro confronto entre realidade e ilusão. Essa narrativa se encontra
no volume Mundo pet, publicado pela Devir Livraria.
6. O final da narrativa não deixa claro o que aconteceu com o merrow: muitas possibilidades ficam em aberto. Como, antes de visitar
Jack, ele já havia conhecido seu pai e seu avô, podemos prever que
provavelmente ele viria visitar também o filho do pescador, talvez
ainda enraivecido com o fato de ter perdido sua preciosa coleção de
almas... Proponha que seus alunos contem a história desse encontro
futuro, procurando imaginar como ele se daria.
LEIA MAIS...
1. DA MESMA AUTORA
• Amigos secretos – São Paulo: Ática.
• Bisa bia, bisa Bel – São Paulo: Salamandra.
• História meio ao contrário – São Paulo: Ática.
• Bem do seu tamanho – São Paulo: Salamandra.
• Ponto a ponto – São Paulo: Cia. das Letrinhas.
2. SOBRE O MESMO GÊNERO
• Contos de fadas russos, organização de Aleksandr Afanas’ev.
São Paulo: Landy.
• Contos de fadas indianos, seleção de Joseph Jacobs. São Paulo:
Landy.
• O mundo dos contos e lendas da Hungria, de Elek Benedek. São
Paulo: Landy.
• Contos populares da Angola, organização de Viale Moutinho.
São Paulo: Landy.
• Contos de fadas celtas, seleção de Joseph Jacobs. São Paulo:
Landy.
7/6/10 4:33:34 PM
RESENHA
ANA MARIA MACHADO
Pescador de naufrágios
Ilustrações:
IGOR MACHADO
meton joffily
UM POUCO SOBRE A AUTORA
Ana Maria Machado é carioca, tem três filhos e mora no Rio de Janeiro. São quase quarenta anos de carreira, mais de cem livros publicados no
Brasil e em mais de dezessete países, somando mais de dezoito milhões
de exemplares vendidos. Os prêmios conquistados ao longo da carreira
de escritora também são muitos, tantos que ela já perdeu a conta.
A escritora vive viajando por todo o Brasil e pelo mundo inteiro
para dar palestras e ajudar a estimular a leitura. Depois de se formar
em Letras, começou sua vida profissional como professora em colégios
e faculdades. Também já foi jornalista e livreira. Desde muito antes
disso, é pintora e já fez exposições no Brasil e no exterior.
Mas Ana Maria Machado ficou conhecida mesmo foi como escritora,
tanto pelos livros voltados para adultos como aqueles voltados para crianças e jovens. O sucesso é tanto que em 1993 ela se tornou hors-concours
dos prêmios da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ).
Finalmente, a coroação. Em 2000, Ana Maria ganhou o prêmio Hans
Christian Andersen, considerado o prêmio Nobel da literatura infantil
mundial. E em 2001, a Academia Brasileira de Letras lhe deu o maior
prêmio literário nacional, o Machado de Assis, pelo conjunto da obra.
 6 
Enc Pescador de naufra gios.indd 2
Antes da leitura:
1. Mostre aos alunos a capa do livro. O que lhes sugerem as imagens da ilustração e o título da obra? Deixe que criem hipóteses a
respeito do conteúdo do livro.
Durante a leitura:
1. Estimule os estudantes a verificar se as hipóteses que levantaram
a respeito do conteúdo do livro se confirmam ou não.
2. Desafie-os a perceber de que maneira os versos da epígrafe se
relacionam à narrativa em questão. Será que o sentido dos versos
que interessa à autora é o mesmo explorado pelo poeta?
3. Veja se seus alunos notam de que maneira o protagonista da
história está ligado às tradições e aos costumes de sua família. De
que maneira ele repete e transforma experiências que seu pai e seu
avô já tinham vivenciado?
4. Solicite à turma que atente para a maneira pela qual se estabelece a relação entre o protagonista e um ser de outra dimensão
de realidade.
5. Estimule-os a observar as ilustrações de Igor Machado e Meton
Joffily, percebendo como seu colorido contribui para criar a atmosfera
onírica da história.
Depois da leitura:
1. Pergunte aos alunos de que maneira lhes parece que os versos
da epígrafe se relacionam com o texto. Veja se eles percebem que
o desejo da autora é tomar a imagem criada pelo poeta de maneira
muito mais concreta: o “copo de mar”, aqui, não evoca a possibilidade de remotas utopias, mas sim o copo de bebida, que provoca
embriaguês: a bebida contida num copo pode ser suficiente para que
um homem navegue, e até mesmo se afogue, em águas instáveis.
2. A narrativa do livro provém da Irlanda, terceira maior ilha da
Europa, país de belas paisagens, mitologia rica e inúmeras tensões:
politicamente dividido em duas (Irlanda do Norte, pertencente ao
Reino Unido, e República da Irlanda), a região é constantemente palco
de inúmeros conflitos políticos e religiosos. Proponha que seus alunos
realizem uma pesquisa a respeito desse país, procurando reunir informações sobre seus aspectos físicos e geográficos, bem como sobre a sua
história. Quais são as principais diferenças entre a República da Irlanda
e a Irlanda do Norte? De que maneira surgiu essa divisão? Como se
transformou historicamente a relação entre a Irlanda e a Inglaterra?
Quais os principais pontos que geram tensão ainda hoje?
3. Os merrows, que aparecem nessa história, são seres mágicos
das águas que pertencem ao folclore irlandês e que possuem um
claro parentesco com as populares sereias, que conhecemos, bem
como com a brasileira Iara, ou Mãe d’água. Divida a turma em três
grupos e solicite que cada um fique responsável por um desses seres, propondo-se a realizar uma pesquisa o mais detalhada possível
a respeito. O grupo responsável pelas sereias provavelmente ficará
surpreso ao descobrir que, na antiga mitologia grega, elas não eram
uma mistura de mulher e peixe, mas sim de mulher e pássaro... Sugira
que os grupos complementem sua pesquisa com imagens.
4. Na narrativa desse livro, o astuto Jack Dogherty consegue enganar
o merrow para libertar almas aprisionadas. Ora, existem muitos contos
populares em que um homem simples e astuto consegue ludibriar
entidades ou seres poderosos, como a morte ou o diabo... Leia com
seus alunos dois desses contos, um da tradição brasileira, outro da
portuguesa. O primeiro é uma história protagonizada pelo célebre
personagem Pedro Malasartes, que, obcecado pelo que ouviu dizer
sobre a esperteza do diabo, não consegue deixar de pensar numa
forma de passá-lo para trás; o conto está disponível no link http://
www.jangadabrasil.com.br/revista/junho67/im67006b.asp. O segundo
é uma divertida narrativa tradicional portuguesa, Comadre morte, disponível na página http://bettelheim-carochinha.blogspot.com/2007/12/
comadre-morte-conto-tradicional.html. Proponha uma comparação
entre esses contos, estimulando seus alunos a perceber as semelhanças
e diferenças entre eles. Veja se eles notam como, enquanto no conto
português e no irlandês, ao menos a princípio, o homem resolve enganar o ser sobrenatural por compaixão por outras almas, o brasileiro
Pedro Malasartes age pensando apenas nos próprios interesses. Por
outro lado, se na história brasileira e na irlandesa o homem sai ven-
 7 
 8 
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Lugar estranho, esse em que vivia Jack Dogherty, e onde antes
tinham vivido seu pai e seu avô. Região isolada, de ventos fortes, mar
bravio e enormes e íngremes rochedos. Estranho lugar para um pescador viver... mas Jack não era um pescador comum. Sua riqueza não
vinha dos peixes, mas dos naufrágios: dos baús com riquezas, peças
raras e, principalmente, dos barris de rum, uísque e aguardente que
sobravam dos desastres. Desastres sempre havia e eram muitos nessa
região de correntezas perigosas. Não passava muito tempo sem que
um navio afundasse. A vida transcorria tranquila, até o dia em que Jack
conheceu um merrow, misteriosa criatura do mar com o corpo coberto
de escamas, que o levou para beber de sua adega nas profundezas
do oceano. Acontece que o tal merrow tinha uma coleção enorme
de almas cujos donos tinham falecido nos naufrágios... coisa que Jack
não podia aceitar. Roubar os bens de homens mortos não lhe parecia
errado, mas roubar sua alma? Ele precisava fazer algo.
COMENTÁRIOS SOBRE A OBRA
Em mais um título da Coleção 7 Mares, Ana Maria Machado reconta
uma inusitada e fascinante narrativa do folclore irlandês, que trata
de pescadores que vivem das mercadorias de navios afundados, de
seres mágicos e, principalmente, de muitas bebedeiras – afinal, os
irlandeses são tidos como célebres beberrões. Essa história apresenta
uma estrutura bastante semelhante a de outras narrativas populares
oriundas dos mais diversos povos: um homem simples usa de astúcia
para enganar um ser de origem sobrenatural, transgredindo o pacto
que havia estabelecido com ele. É claro que, por ser uma narrativa
irlandesa, o estratagema escolhido não podia deixar de envolver
bebida e embriaguez...
Gênero: contos tradicionais.
Palavras-chave: luta pela sobrevivência, amadurecimento, embate
entre homem e natureza.
Áreas envolvidas: Língua Portuguesa, História.
Tema transversal: pluralidade cultural.
Público-alvo: quarto a sétimo ano do Ensino Fundamental.
PROPOSTAS DE ATIVIDADES
2. Leia com eles a epígrafe, composta de dois versos do poema
A invenção de Orfeu, do poeta alagoano Jorge de Lima. Como eles
interpretam esses versos? O que lhes sugere a expressão “copo de
mar”? Chame atenção para o jogo entre imensidão e espaço ínfimo
que esses versos estabelecem.
3. Proponha que a classe realize uma pesquisa a respeito da obra
A invenção de Orfeu e da vida de seu autor, grande poeta modernista brasileiro, embora menos conhecido do que outros autores
do período. Como ela se estrutura? Qual é o seu enredo? De que
maneira ela relaciona trechos de grandes poemas épicos a questões
especificamente brasileiras?
4. Em seguida, leia com seus alunos a parte II do Canto I do livro
A invenção de Orfeu (publicado pela editora Record), trecho em que
aparecem os versos que Ana Maria Machado escolheu para a epígrafe.
Não se trata de uma leitura fácil, portanto faça uma leitura lenta, pausada, dando tempo para que os alunos possam refletir sobre as imagens criadas pelo poeta. Veja se percebem como esses versos evocam a
possibilidade de uma utopia: as imagens e frases repletas de advérbios
de negação falam de ausência e vazio, mas o poeta ainda deixa espaço
para uma possibilidade de esperança, de transcendência (“mesmo sem
mar e sem fim / mesmo sem terra e sem mim”). As três primeiras partes
desse primeiro canto encontram-se também disponíveis na internet, no
link http://oldpoetry.com/opoem/121844-Jorge-mateus-de-Lima-Inven-o-de-Orfeu---canto-I--parte-I--II--III--.
5. Peça à turma que leia as biografias que se encontram no final do livro,
para que conheça um pouco mais o universo da autora e do ilustrador.
Estimule a visita ao site de Ana Maria Machado: www.anamariamachado.
com. Na seção Tudo ao mesmo tempo agora, que integra o Caderno de
notas, é possível encontrar uma série de perguntas e respostas interessantes a respeito do universo da autora e de seu processo criativo.
cedor, no conto português quem vence é a morte, embora não antes
de que o seu compadre lhe dê muito, mas muito trabalho...
5. O mergulho no fundo do mar como metáfora para a embriaguês
não aparece apenas nesse antigo relato de origem irlandesa. Em
Destrudo, bela história em quadrinhos de Lourenço Mutarelli, um
dos melhores quadrinistas brasileiros, o autor se utiliza dessa mesma
metáfora para contar, com muito lirismo e sensibilidade, a história de
um mendigo bêbado que vai se perdendo cada vez mais da realidade.
Leia essa narrativa com seus alunos, pedindo-lhes que atentem para o
modo como o autor remete ao mar no texto e nas imagens, como fala
do duro confronto entre realidade e ilusão. Essa narrativa se encontra
no volume Mundo pet, publicado pela Devir Livraria.
6. O final da narrativa não deixa claro o que aconteceu com o merrow: muitas possibilidades ficam em aberto. Como, antes de visitar
Jack, ele já havia conhecido seu pai e seu avô, podemos prever que
provavelmente ele viria visitar também o filho do pescador, talvez
ainda enraivecido com o fato de ter perdido sua preciosa coleção de
almas... Proponha que seus alunos contem a história desse encontro
futuro, procurando imaginar como ele se daria.
LEIA MAIS...
1. DA MESMA AUTORA
• Amigos secretos – São Paulo: Ática.
• Bisa bia, bisa Bel – São Paulo: Salamandra.
• História meio ao contrário – São Paulo: Ática.
• Bem do seu tamanho – São Paulo: Salamandra.
• Ponto a ponto – São Paulo: Cia. das Letrinhas.
2. SOBRE O MESMO GÊNERO
• Contos de fadas russos, organização de Aleksandr Afanas’ev.
São Paulo: Landy.
• Contos de fadas indianos, seleção de Joseph Jacobs. São Paulo:
Landy.
• O mundo dos contos e lendas da Hungria, de Elek Benedek. São
Paulo: Landy.
• Contos populares da Angola, organização de Viale Moutinho.
São Paulo: Landy.
• Contos de fadas celtas, seleção de Joseph Jacobs. São Paulo:
Landy.
7/6/10 4:33:34 PM