Dom Diogo Martim Afonso de Souza Telles

Transcrição

Dom Diogo Martim Afonso de Souza Telles
Dom Diogo Martim Afonso de Souza Telles
C
onforme a pesquisadora
e historiadora Elizabeth
Macedo Fagundes, em
seu livro “Inventário cultural de
Bagé”, o fundador de Bagé, Dom
Diogo Martim Afonso de Souza
Telles, conde de Rio Pardo, nasceu em Lisboa, a 17 de maio de
1755. Era doutor em Matemática
pela Universidade de Coimbra
e general do Exército português,
já tendo sido capitão-general em
Moçambique e capitão-general no
Maranhão. Veio para o sul com
uma missão essencialmente militar,
mas mostrou-se hábil em administração, proporcionando várias
melhorias em Porto Alegre, onde
foi nomeado primeiro capitãogeneral da Capitania de São Pedro
do Rio Grande do Sul. Em sua
ação administrativa implantou os
municípios de Porto Alegre, Santo
Letra e Música:
Roberto Madureira Burns
Antônio da Patrulha, Rio Pardo,
Rio Grande e Bagé.
Durante sua administração, na
província ocorreram os movimentos
revolucionários das colônias espanholas do Prata, que geraram intervenção naqueles domínios e coube a
ele organizar o Exército Pacificador
da Banda Oriental. Nessa missão
passou pelo território hoje pertencente ao município de Bagé, vilarejo que
fundou entre as paradas de renovação
das possibilidades de atividades militares em terras uruguaias.
No mesmo ano que fundou
Bagé, Dom Diogo de Souza foi
nomeado marechal de campo. Ao
deixar o governo da Província de
São Pedro recolheu-se à corte no
Rio de Janeiro e, em 1815, recebeu
o titulo de conde de Rio Pardo.
Morreu em Lisboa, aos 74
anos, no dia 12 de julho de 1829.
Símbolos do município
Bagé, Terra da Gente
Nas torres mais energia,
Na terra mais produção,
Mais alegria no povo,
No governo mais ação;
Mais escolas, mais saber,
Mais casas para morar,
Mais estradas a percorrer,
Mais hospitais para curar.
Tem um povo a cantar,
Tem amor nos corações.
Bagé, terra da gente
Que ao progresso diz presente
Amanhã, futuro será
Temos pressa em chegar
Vamos participar e confiar.
Para o futuro abrir caminho,
Formamos uma corrente,
Bagé, terra da gente
Integrando com carinho
Que ao progresso diz presente Bagé, a terra da gente.
Amanhã, futuro será
Temos pressa em chegar
Bagé, terra da gente
Vamos participar e confiar.
Que ao progresso diz presente
Amanhã, futuro será
Tem alegria no ar,
Temos pressa em chegar
Tem de civismo lições,
Vamos participar e confiar.
Brasão
Letra: Hipólito Lucena
Música: Vitor Neves
Hino a Bagé
Dos teus campos a linda verdura
Mostram a força, a grandeza, a pujança.
E na guerra demonstra bravura
O teu filho empunhando uma lança.
Ribombou no teu seio o canhão
Dos combates gravados na história.
Revivemos da glória a canção
Sons de sinos dobrando a vitória!
Estribilho: Em teu seio nasceram heróis
Que souberam honrar o Brasil.
A grandeza da Pátria contróis
Minha terra, Bagé, varonil.
Junto ao cerro das bandas do sul
Tu te estendes alegre garrida.
Minha terra de céu tão azul
Sentinela da Pátria querida!
És rainha sustentas a palma
De que tanto me orgulho e me ufano.
Retempero meu corpo e minh’alma
Ante o sopro feroz do minuano.
Cidade cenográfica de Santa Fé
Na edição 2014/2015 do Alô, Bagé!, a cidade cenográfica de Santa Fé do filme O Tempo e o Vento, exibido nos cinemas do Brasil
em 2013, recebe destaque com imagens na capa, contracapa e no alto de páginas. O Sindilojas, responsável pela produção, edição e
distribuição do Alô, Bagé!, relata a seguir a motivação para esse destaque.
E
m 2011, o diretor de cinema e
televisão Jayme Monjardim escolheu o município de Bagé para
construir a cidade cenográfica de Santa Fé,
cenário principal das filmagens de O Tempo
e o Vento, longa-metragem baseado na obra
literária de Érico Veríssimo, com produção da
Nexus Cinema e Vídeo.
Em janeiro de 2012 teve início a construção, em área de 10 mil metros², no Parque
do Gaúcho, zona leste de Bagé, de 17 edificações, conforme descrição da cidade de
Santa Fé no livro O Continente, o primeiro
da trilogia que compõe a saga “O Tempo e o
Vento” e que sustenta o filme de Monjardim,
iniciando na formação do Rio Grande do Sul e
encerrando na Revolução Federalista de 1893.
Na obra de Érico Veríssimo, Santa Fé
surge no Século XVIII com um arranchamento
pequeno nas terras do coronel Ricardo Amaral.
No início dos anos 1800, ganha autorização para
ser um povoado e em 1830 é elevada à condição
de vila. Nesse período já conquista o direito de
instalar sua primeira Câmara de Vereadores.
Edificações
1. Casa de Chico Pinto
2. Casa de Juvenal Terra
3. Casa de Pedro Terra
4. Casa simples
5. Sobrado
6. Casa simples
7. Câmara de Vereadores
8. Ferraria
9. Venda do Nicolau
10. Galpão
11. Casa simples
12. Casa simples
13. Casa de Ricardo Amaral
14. Intendência (prefeitura)
15. Venda do Capitão Rodrigo
16. Igreja
17. Figueira
18. Praça
19. Casa de Ana Terra (é demolida na
sequência do filme, ao mudar de época,
assim como a cidade sofre transformações, como ruas de terra batida que
passam a ter pedras, por exemplo)
Bagé, Candiota e Aceguá
A
s filmagens começaram no dia 26
de março de 2012, em Pelotas,
onde ocorreram as cenas internas
do sobrado. Em Santa Fé, Jayme Monjardim
começou a filmar em abril. Também foram
aproveitados cenários no interior do município,
como a Estância São Francisco, e no centro de
Bagé, especificamente em frente ao Palacete
Pedro Osório e no salão do Clube Comercial.
Candiota e Aceguá integraram o filme,
principalmente em cenas que destacam o pampa.
O Tempo e o Vento estreou em Bagé no
dia 19 e nos cinemas do Rio Grande do Sul
no dia 20 de setembro. Oficialmente a estreia
nacional ocorreu uma semana depois, em uma
sexta-feira, 27 de setembro de 2013.
maior acontecimento cultural da década para
o município. No entanto, um projeto do poder
público prevê a reconstrução das edificações
em material que permita maior durabilidade,
memorial de O Tempo e o Vento, sala de
exibição do filme e de make off, bem como a
comercialização de produtos típicos da região
Projeto de Turismo Cultural
da Campanha, da cultura e tradição do gaúcho,
A cidade de Santa Fé ficou para Bagé entre outras iniciativas de incentivo ao turismo
após a produção do filme. Trata-se, talvez, do na cidade cenográfica de Santa Fé.
A próspera Rainha da Fronteira
no final do Século XIX
- Um panorama da cidade que se preparava para dias melhores -
Q
uando faltava pouco tempo para
a chegada dos anos 1900, Bagé
é marcada por grandes mudanças
estruturais na cidade, como o contrato para a
iluminação elétrica pela empresa de Antônio
Manoel de Azevedo Caminho, o acerto com o
arquiteto Domingos Rocco para a construção
do palacete municipal na rua General Osório,
onde funcionaria a intendência, e a inauguração da Praça Voluntários da Pátria, totalmente
ajardinada pelo senhor Agostinho Fernandez,
membro da comissão nomeada para esse fim. A
Praça Voluntários teria ainda outros nomes, até
que se fixou, na segunda metade do século XX,
com a designação em homenagem ao tribuno
Gaspar Silveira Martins.
Bagé vivia um período de desenvolvimento econômico, três anos antes do novo
século é inaugurada a Charqueada de Santa
Thereza, a 5,5 km da cidade, com uma festa
que provocou comentários além fronteira.
O proprietário, visconde Antônio Nunes de
Ribeiro Magalhães fez correr na charqueada
um trem expresso, conduzindo os convidados
e duas bandas de música. Mais de 300 pessoas
participaram da festa, abençoada pelo cônego
João Ignácio Bittencourt e que teve como padrinhos o coronel Carlos Maria da Silva Telles
e a esposa Etelvina, coronel Antônio Barbosa
Netto, capitão Serafim dos Santos Souza e
Manoel Gonçalves de Azevedo.
A charqueada de Santa Thereza impressiona pelo que representa economicamente
para Bagé e seus 200 funcionários em fevereiro
de 1897, ao iniciar as atividades.
Na primeira safra, abateu 14 mil reses,
mas chegou a alcançar a fantástica soma de
45 mil animais.
O intendente (prefeito) eleito é o major
José Octávio Gonçalves e o vice, Viriato Vieira
da Silva, que, ao assumir, defronta-se, ainda,
com os tristes vestígios da revolução findada
em 1895.
José Octávio é responsável por uma
verdadeira operação de melhoramentos na
cidade, como o calçamento da rua Sete de
Setembro, iluminação pública, estudos para o
Avenida 7 de Setembro, vista da praça Silveira Martins (Voluntários da Pátria) ainda cercada
abastecimento de água, construção do matadouro público, instalação da segunda delegacia
de polícia, ponte de alvenaria na rua 3 de
Fevereiro (mais tarde Senador Salgado Filho,
a ponte permite a passagem sobre o rio para a
zona oeste), o comércio é intensificado e vários
prédios construídos no centro urbano.
Até o início de setembro de 1899, são
registrados 84 pedidos de licença para a construção de novas construções particulares e, no
dia dia 9 daquele mês, a intendência contrata
a empresa Pratti & Rossel para construir, na
Praça Voluntários, um chalé. Os dois sócios
gozariam das benesses daquele “quiosque” por
12 anos, passando a seguir para o município.
Em 20 de setembro é organizado o Centro Gaúcho, associação destinada a comemorar
as glórias e datas do passado.
O médico mais conceituado é o carioca
José Francisco de Azevedo Penna, que viria
a morrer no dia 12 de maio de 1901, solteiro,
aos 77 anos de idade, com a voz do povo
chamando-o simplesmente “doutor Penna”.
No final do século ainda não havia em
Bagé o serviço telefônico, o que ocorreu apenas
no segundo ano do século seguinte, mas existia
o cinema. Invento que os irmãos Lumiére apresentaram ao mundo em 1895 e que a Rainha da
Fronteira teve o privilégio de exibir no dia 19
de setembro de 97, apenas dois anos depois da
estreia em Paris. O espetáculo foi apresentado
ao público no Teatro 28 de Setembro.
A próspera cidade no extremo sul do
Brasil, situada na divisa com o Uruguai, entraria
no novo século com excelentes perspectivas
de desenvolvimento. Para tanto, contava com
duas casas bancárias, sete lojas de fazendas,
quatro ferragens, um bazar, seis joalherias, 59
armazéns de secos e molhados, nove hotéis, seis
farmácias, 103 oficinas de pequenas indústrias,
oito escolas públicas e quatro particulares, duas
charqueadas, três curtumes, uma fábrica de
sabão, duas de cerveja, uma de água mineral,
dois moinhos e fábricas de massas e velas. Tudo
isso para uma população que, ao final do século
XIX, contava em torno de 29 mil habitantes.
No censo de 1901, o número exato atingia 29 172, sendo 11 682 na cidade e limites
urbanos e 17 490 no interior, dividido em seis
distritos rurais.
Praça Júlio de Castilhos
P
raça do Quartel foi o primeiro nome
da atual Praça Júlio de Castilhos.
A primeira referência à denominação é de 1869. Está no Registro Geral de
Imóveis do Ministério do Exército, quando
este adquiriu um terreno, lindeiro à atual área
da praça, de propriedade de Jacques Brum,
no dia 5 de abril daquele ano. Mais tarde, nas
cercanias do antigo Quartel General, o local
foi chamado de Praça do Quartel.
Em 18 de julho de 1881, a Câmara Municipal de Bagé deliberou que a Praça do Quartel
fosse denominada Praça Silveira Martins. Mas,
em 21 de agosto de 1895, quando Júlio de Castilhos presidia o Rio Grande do Sul, o nome foi
modificado mais uma vez, agora por motivação
política. Martins e Castilhos eram adversários
políticos no período e quem ocupou o poder
deu o novo nome à praça, no caso, Júlio de
Castilhos, presidente do Estado e autor da nova
Constituição do Rio Grande do Sul.
De acordo com documentos do Exército
de 1897, a Praça Júlio de Castilhos englobava
dois quarteirões, indo até a rua Marcílio Dias.
Em 1899, foram iniciados os trabalhos de
terraplanagem.
Na administração do prefeito Carlos
Mangabeira, em 1927, o lugar ganhou canteiros, árvores e iluminação. As estradas do
interior da praça foram calçadas com paralelepípedos para que os carros trafegassem
por ali. Mais tarde, o prefeito Luiz Mércio
Teixeira realizou o calçamento nas ruas ao redor e melhorou a iluminação. Na época, havia
banheiros subterrâneos na Praça da Estação.
- Na memória dos bajeenses A praça e o trem
A praça era lugar de estacionamento
de carroças e carros e sempre que faltavam
os cuidados necessários, em que ficava em
situação de abandono, a população reclamava.
Afinal, tratava-se da primeira vista de Bagé
para quem chegava de trem. E, durante muitos
anos, o trem foi o principal meio de transporte
a trazer as pessoas para conhecer ou rever a
próspera cidade na fronteira sudoeste do Rio
Grande do Sul.
Por esse motivo, é impossível contar a
história da Praça Júlio de Castilhos ou, simplesmente, Praça da Estação, sem retornar
no tempo, ao ano de 1884, quando o clima
de euforia tomou conta da população com a
chegada dos “trilhos do progresso” a Bagé.
Às vésperas da inauguração da estrada
de ferro, era visível a preocupação com o
embelezamento do centro da cidade, tendo
sido nomeada uma comissão de vereadores
para cuidar desses aspectos. Sendo assim, de
imediato iniciaram-se os trabalhos de compostura da então Praça Silveira Martins, local onde
foi edificada a estação e que passaria a ser um
local muito frequentado e de alta importância,
um verdadeiro cartão de visita da cidade. Do
mesmo modo, foram providenciados reparos
urgentes nas ruas transversais à avenida Sete
de Setembro que conduziam à Estação da Via
Férrea. Tudo isso a partir do mês de outubro
de 1884.
No dia 2 de dezembro de 1884, Bagé
estava pronta para receber o trem. Convidados
presentes, entre eles o bispo do Rio Grande do
Sul, dom Sebastião Laranjeira, os conselheiros Gaspar Silveira Martins e José Júlio de
Albuquerque Barros, presidente da Província
do Rio Grande do Sul. Embora tivesse confirmado a presença, o conde D’Eu (marido da
princesa Isabel) não compareceu.
Ao final da tarde, envolto em fumaça e
apitos chegava o progresso em Bagé.
Cerca de duas mil pessoas atravessaram a praça naquele dia de comemoração.
Em um mês, a Viação Férrea já havia transportado 890 toneladas de carga e vendido 9
598 passagens.
A partir de então, até meados dos anos
70, do Século XX, a Praça Júlio de Castilhos
ou, simplesmente, contra todas as imposições
políticas, a Praça da Estação foi o principal
cartão de visita da Rainha da Fronteira.
No início dos anos 80, a Estação Ferroviária se transformou no Centro Administrativo Municipal e a praça ganhou novos
contornos, não deixando jamais de ser bastante
frequentada. Com o tempo, ganhou área de
lazer para crianças, o entorno passou a servir
para caminhadas e corridas monitoradas e, no
início desta década, aparelhos para exercícios
físicos foram instalados.
Em 2013, começou a servir à Feira do
Livro de Bagé, promovida pelo Sesc.
Apesar das mudanças, a Praça da Estação
continua sendo um dos mais belos cartões postais da cidade, graças às árvores, aos plátanos
em copas, que derrubam folhas e erguem cores
à praça da memória dos bajeenses.
A praça e seus dois nomes
- Rio Branco e Esporte -
“É pensamento da administração (municipal) dotar a nossa cidade com uma praça para desenvolvimento das crianças,
já tendo sido escolhida a praça Rio Branco. A planta da citada praça está sendo elaborada em Montevidéo no ‘Centro de
Cultura Physica’. Este grande melhoramento para Bagé deve-se em grande parte à generosidade de um illustre filho que,
ausente ha muitos anos de sua terra, atendeu imediatamente ao pedido que lhe fiz a fim de custear em companhia da
municipalidade a execução desta praça de esportes, concorrendo assim para que seu berço natal seja a primeira cidade do
Rio Grande que vai possuir tal melhoramento. Este bageense distinto, a quem deixo aqui os meus maiores agradecimentos,
que são os de todos os seus conterraneos, é o ilustrado médico José Pardo Santayanna.”
Intendente Municipal Carlos Cavalcante Mangabeira, no Relatório Intendencial de 1925
F
oi no ano de 1907, quando administrava Bagé o doutor Augusto
Lúcio de Figueiredo Teixeira, que
o local onde é a Praça Rio Branco ou Praça Esporte deixou de ser uma lagoa com a conclusão
da terraplanagem do local.
A homenagem a José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão de Rio Branco, deve-se ao
seu importante desempenho na História do Brasil,
tanto na Monarquia quanto na República brasileira, de herói nos acordos de paz na América do Sul
a embaixador brasileiro em vários países, homem
que traçou o desenho das fronteiras brasileiras e
fundou a diplomacia do Itamaraty.
No início havia a denominação Praça da
Constituição, depois passou a Rio Branco, o
que se tornou oficial em 1909, quando o próprio
Rio Branco esteve em Bagé e teve uma grande
festa de recepção na praça. Na ocasião, ele
havia sido lançado candidato à Presidência da
República, mas não aceitou, preferindo apoiar
Hermes da Fonseca.
Um de seus netos, filho de Amélie e José
Thomaz Nabuco de Gouvêa nasceu em Bagé,
em 1918.
O monumento ao Barão do Rio Branco,
fixado na área em frente à avenida Sete de
Setembro, é de autoria de Bruno Giorgi e foi
inaugurado em 1965.
Em 1910, o prefeito José Octávio Gonçalves fez constar no Relatório da Intendência
que estavam sendo colocados “cordões nas
quatro faces da praça”, sendo que a área entre
as quatro linhas paralelas, pavimentadas com
camadas de pedras (incluindo valas laterais
para o enxugo das águas).
Em 1925, no governo de Carlos Mangabeira a Praça Rio Branco começou a se tornar
Praça de Desportos, sendo escolhida para ser
um tipo de “colégio” do desenvolvimento físico
das crianças.
Inicialmente, a ideia era a construção da
praça de jogos infantis, uma intenção administrativa e pedagógica primordial na década de 20
Inauguração da praça no ano de 1927
para a cidade de Bagé, o que a tornaria a primeira
do Rio Grande do Sul a possuir tais melhoramentos e com grande parte da obra custeada
pela iniciativa privada. Contribuiu com a doação
de aparelhos o médico José Pardo Santayana,
bajeense que residia à época em Montevidéu.
Nos dois próximos anos (1926-27), a
praça recebeu vários melhoramentos, incluindo tela ao redor e na pista de patinação foram
colocados os balaústres de cimento (existentes até hoje). Cancha de tênis e aparelhos de
ginásticas passaram a fazer parte do cenário;
divisão de área para a prática esportiva de
meninos e meninas, entre outros, como as
regras de procedimento de alunos, professores,
funcionários e visitantes.
Inauguração
Foram preparados números especiais
de Educação Física com os colégios locais
para os atos de inauguração da praça que se
tornava nova e inovadora. Um grupo de atletas
estudantes da cidade uruguaia de Melo veio a
Bagé, desenvolvendo um programa especial,
no dia 14 de setembro de 1927. O dia oficial
da inauguração foi 7 de setembro.
Instituída como exemplo a partir do
Uruguai, a praça que se inaugurava na administração de Carlos Mangabeira, específica para
a prática de Educação Física, foi a primeira e
única praça do gênero no Brasil. Assim relataram os jornais à época.
Estação do tempo
Até 1973 havia na praça uma estação
pluviométrica do Ministério da Agricultura,
onde eram medidos os volumes de chuva
ocorridos no centro da cidade. Também um
termômetro apontava índices máximos e mínimos de temperatura.
Fontes:
Professor Alessandro Carvalho Bica (Unipampa), trechos extraído de sua pesquisa “Primeiras aproximações entre educação e civismo
na primeira República Rio-grandense: o caso da Praça de Desportos do município de Bagé”.
Inventário Cultural de Bagé, de Elizabeth Macedo de Fagundes, Editora Praça da Matriz – 2ª Edição/2013.
Oitenta anos da Capela São João Batista
- A igreja do João Turco -
À esquerda, prefeito Luiz Mércio Teixeira;
ao centro, João Turco e autoridades
Festa de São João batista em frente à capela
H
á 80 anos, no dia 24 de junho,
pela devoção de um homem a
São João Batista foi erguida,
no bairro Getúlio Vargas, a capela que leva o
nome do santo. Da fé desse comerciante libanês, conhecido na cidade como “João Turco”,
surgiu uma singela capela que, até hoje, reúne
os fiéis aos sábados. A iniciativa de João José
de Oliveira (nome que registrou, traduzindo o
de sua origem familiar) serviu para congregar
uma comunidade que participava das celebrações religiosas, bem como das quermesses
juninas patrocinadas pelo comerciante.
Sua presença na história do bairro
Povo Novo (hoje Getúlio Vargas) não está
registrada apenas pela construção da capela
São João Batista, isso porque, ao fixar residência no bairro que acabou loteando, há
uma rua diferente de muitas de nossa cidade.
A rua São João Batista não chama a atenção
apenas pelo sua diminuta extensão ao ligar
as ruas Borges de Medeiros e Pinheiro Machado, mas, principalmente, por conter em
seu meio um obelisco.
Esse monumento comemorativo, que
é típico do Antigo Egito, caracteriza-se por
um pilar de pedra em forma quadrangular
alongada, que se afunila em direção a sua
parte mais alta. Ele desperta a curiosidade
das pessoas que passam pela primeira vez
na rua, porém, para muitos moradores do
bairro, tanto o obelisco quanto a capela são
legados de um homem que se tornou uma
das principais figuras na história de Bagé.
“Não conheci o meu avô, mas durante
toda a minha vida ouvi inúmeras histórias de
suas ações de benfeitoria para com os mais
necessitados. Ele tinha o hábito de fornecer
alimentos para carentes da Santa Casa”,
relata uma das cinco netas do comerciante,
Vera Lúcia Kobais Wassaf.
João Turco
João José de Oliveira chegou ao Brasil em 1913, com 20 anos de idade, vindo
de Sebhel, no Líbano. Com a vocação de
comerciante, instalou-se na Rainha da
Fronteira e logo começaria a se destacar no
extinto Mercado Público Municipal, onde
ganhou o apelido “João Turco” e vendia
Fontes:
Jornalista Marcelo Pimenta e Silva (Jornal Folha do Sul)
Inventário Cultura de Bagé, de Elizabeth Macedo de Fagundes (Editora Praça da Matriz, 2013/2ª edição)
uma variedade de produtos importados à
comunidade. O seu armazém, que exibia
o famoso cartaz “Tem de tudo”, era um
dos mais populares e fez crescer a fama
do homem que circulava pelos diversos
centros sociais da cidade com uma grande
alegria em ajudar o próximo, como conta
a neta Vera Lúcia Wassaf.
No mês de junho, tradicionalmente,
João Turco patrocinava “quermesses” para
os carentes ao redor da capela. A escritora
bajeense Elizabeth Macedo Fagundes, em
sua obra “Inventário Cultural de Bagé”,
ressalta que a festa durava três dias, reunindo adultos, crianças e jovens, ricos e
pobres. A quermesse era ornamentada com
fogueiras, fogos de artifício e balões. Havia
muita comida e prêmios para as competições
realizadas no evento.
João José de Oliveira morreu em 25
de janeiro de 1946, aos 53 anos. A capela
São João foi doada, após sua morte, aos
salesianos, que mantêm o templo em funcionamento. Hoje, quem coordena os eventos
ali realizados é a Paróquia São Pedro.
Capela São José
E
- Noventa anos de pujança espiritual -
m 3 de outubro de 1924, o doutor Jorge Julien e sua
esposa Augusta Ernst Julien doaram ao Gymnasio Nossa Senhora Auxiliadora, representado pelo seu diretor,
padre Antônio de Almeida Lustosa, um terreno de 358 m² para ser
construída uma capela denominada São José. O terreno triangular
limitava-se, à época, ao norte com terrenos de Francisco Lopes
Fernandes, ao sul e ao leste com terrenos do doutor Julien e a oeste
com o prolongamento da rua Sete de Setembro (atual Tupy Silveira).
A capela e os trabalhos já existiam, mas no discurso pronunciado pelo doutor Áttila Taborda, por ocasião da bênção solene da
imagem de São José, em 19 março de 1939, foi obtida a confirmação
de que as atividades, em uma capelinha improvisada, já haviam
iniciado em 1923.
O dia 16 de dezembro daquele ano marca a fundação, com a
primeira santa missa dita em honra ao santo. Padre Antônio Lustosa, pároco da Paróquia Auxiliadora, acompanhado pelo primeiro
capelão da São José, padre Jorge Carrié dão a Áttila Taborda o
privilégio de escolher o padroeiro da capelinha que iria ser erigida.
A primeira imagem venerada do santo naquela antiga capela era de
propriedade do próprio Taborda. A solenidade teve como paraninfos
Plácido Silveira e Augusta Julien. Na ocasião houve a doação de
um quadro do santo ofertado pelo artista José Greco, quadro este de
uma beleza plástica e realista impressionante que ainda se conserva
em excelentes condições.
Para quem imagina que a São José foi apenas mais uma capela
na qual se realizaram missas, batizados, casamentos e demais atividades religiosas deve-se dizer que atesta a história dos 90 anos desta
capelinha, pequena, surgida nos paludes lodacentos e arrabaldes
da zona norte de Bagé uma pujança espiritual, material e caritativa
como poucas vezes se leu sobre as festas medievais das capelas
europeias. Ressaltando-se, como exemplo, as festas cheias de gala
ao padroeiro, desde 1924, festas essas que envolviam e animavam o
fervor religioso de toda a cidade e arredores, as grandes quermesses
nas quais os empresários e a população disputavam o privilégio de
doar algo para ser rifado ou leiloado; e, em 26 de agosto de 1928,
a colocação de uma cruz missionária, oportunidade essa na qual
inúmeros fiéis acorreram ao tribunal misericordioso da confissão;
nos idos de 1939 a publicação do “Eco da Capella do Glorioso São
José”, jornalzinho esse que, quando aparecia, competia por ávidos
leitores junto com o Correio do Sul.
A grande reforma que ampliou e transformou a humilde capelinha no belo templo de traços ecléticos foi obra do capelão padre
Antônio Maria. O sacerdote não só inicia seus trabalhos em 1935
como parece ter sido o homem da Providência para a São José, pois
desenvolve intenso trabalho de ampliação da capela, organiza em
Bagé a “Pia União do Trânsito de São José”, entidade espiritual e
caritativa que congregava dezenas de senhoras e senhores aplicados em fazer o bem ao próximo; destaquem-se ainda as grandiosas
festas dedicadas ao seu padroeiro e a Santo Antônio, a Associação
Fontes:
Cléber Dias, administrador da Paróquia Sagrada Família, doutor em História da Igreja
de Damas de Santa Isabel que, gratuitamente, mantinha aulas do
curso primário, corte e costura, bordados, trabalhos manuais, uma
biblioteca infantil, uma sala de cinema, distribuía roupas, calçados, alimentos e medicamentos entre outros. Na década de 60, a
presença do padre Gille Trés e a criação do Centro Social São José,
torna-se verdadeira alavanca no atendimento da formação humana
e espiritual.
O Centro Social São José, criado à sombra da capela, oferecia
alfabetização, corte e costura, bordados, higiene, aulas de ballet,
canto orfeônico, teatro, apresentações artísticas
para elevar o nível cultural da região com mais
carência. Atendia cerca de mil crianças e adultos
carentes com um gabinete dentário, além da tradição do serviço social com doação de alimentos
à comunidade.
O abnegado diácono Pai João (Horacil
Dutra) está à frente da São José há 34 anos, do
alto dos seus 87 anos, trabalhando incansavelmente pelo bem-estar social dos seus párocos.
O
A Sociedade Espanhola na vida
e nas artes de Bagé
“registro primeiro” da formação da colônia espanhola em
Bagé consta no livro do ViceConsultado de Espanha no Município e está
datado de 1810. Tal registro com o nome dos
412 espanhóis vindos das mais diferentes
regiões da Espanha é o que a Sociedade
Espanhola de Bagé considera oficial.
Com a formação da colônia, houve a
necessidade da convivência e assim surgiu
a ideia de uma sociedade que acolhesse os
“irmãos imigrantes”, não só por ocasião
dos festejos, mas também nas horas de
aflição, proporcionando o apoio moral
necessário.
José Loza, natural de Cádiz/Espanha,
tomou a iniciativa de criar a sociedade,
ocorrendo a fundação no dia 20 de dezembro de 1868.
No trabalho desenvolvido a partir de então existem obras de grande valor, realizadas
com muita dedicação e amor por aqueles que
presidiram a Sociedade Espanhola.
Solar espanhol
de março de 1928, já com as obras concluídas
no Cemitério da Santa Casa de Caridade, teve
Desde a primeira junta diretiva da So- realizada a leitura dos estatutos do panteón,
ciedade Espanhola de Bagé foram traçados os impressos, distribuídos e levados à apreciação
planos para a construção de um prédio social dos associados.
com a finalidade de abrigar sócios e também
Prédio social
ser usado para as artes. Esse processo arrastou-se por vários anos e sua construção foi
O admirável edifício da Sociedade
lenta, envolvendo seus presidentes por várias Espanhola de Bagé teve ato de inauguração
décadas e enfrentando muitas dificuldades em 12 de outubro de 1934, data determinada
financeiras.
para a tradicional festa da sociedade.
Apenas em 27 de março de 1905, na
O terreno consta com registro de comgestão de Martin Rosell, que se concluiu a obra. pra datado em 22 de junho do ano anterior e
No solar funciona o Instituto Municipal início das obras em dezembro.
de Belas Artes (Imba).
Em 2014, a Sociedade Espanhola completa 146 anos em Bagé.
Panteón social
Sob a presidência de
Bernardo Goricochea, em
1924, os associados, em assembleia geral, manifestaram
a vontade de construir um
panteón social, o que, em 25
Prédio nos
dias de hoje
Sociedade Espanhola - fundação do teatro em 1934, arquivo Cid Marinho
D
A beneficência dos portugueses
epois da Independência do Brasil (1822) os emigrantes lusos,
observando a falta de assistência
médica e hospitalar para seus irmãos pobres e
desamparados, fundaram obras alicerçadas nas
“Obras de Misericórdia” e que se chamaram
Beneficências Portuguesas. Essas eram também um ponto de encontro onde os imigrantes
cultivavam e exaltavam os valores da pátria
mãe, amenizando saudades.
A Sociedade Portuguesa de Beneficência
de Bagé foi fundada no dia 27 de novembro
de 1870. A data consta no quadro de fundação
ainda existente na sede da sociedade.
Nos estatutos reformados em 1919 e
1937 consta que a fundação ocorreu em 6 de
junho de 1871, mas refere-se à aprovação dos
estatutos. Permanecendo, hoje, portanto, a data
de 27 de novembro.
Assim, reunidos os portugueses interessados, funda-se a Sociedade Portuguesa de
Beneficência, “sob a proteção do rei português
Dom Carlos, Duque de Bragança, tendo como
padroeiro São João de Deus”.
A primeira diretoria
Joaquim da Costa Guimarães - Presidente e vice-cônsul de Bagé, Francisco Leopoldino
da Costa Cabral - Vice-presidente, João Maria
Peixoto - Secretário, João Pereira Mendonça
Lima – Tesoureiro. Os estatutos foram aprovados aos 6 dias de junho de 1871 por João Simões Lopes Neto, vice-presidente da Província
de São Pedro do Rio Grande.
O prédio
Logo após a aprovação dos estatutos,
tratou a Sociedade Portuguesa de Beneficência
de conseguir do Governo Provincial a doação
de um terreno para nele construir um hospital.
Antes mesmo de oficializar a doação, fez-se o
lançamento solene da pedra fundamental no
dia 9 de julho de 1871.
Primeiro, constrói-se o bloco voltado
ao poente com festa da cumeeira, no dia 1º de
dezembro de 1875, com a presença do farmacêutico Serafim dos Santos Souza, que recita
versos de sua autoria.
O edifício, pronto apenas na parte interna, foi inaugurado em 27 de novembro de
1878, o que ocorreu graças à contribuição da
Hoje Museu Dom Diogo de Souza
colônia portuguesa, pela distribuição de títulos
de sócios beneméritos, benfeitores, remidos e
honorários.
O Hospital da Beneficência funciona
até o início da Guerra Federalista, em 1893,
quando foi ocupado pelas forças do exército.
Em 1895 é reorganizada a beneficência
e lavrada a primeira ata existente até os dias
atuais, pois, da fundação à tomada do prédio
pelo exército, toda a documentação queimou
na casa do secretário.
Quando, em 1896, o edifício continuava
desocupado, o presidente da diretoria, visconde Antônio de Ribeiro Magalhães, optou por
alugar ao Exército, mas a assembleia, por 16
votos a 15, disse não, motivando o afastamento
do visconde da beneficência.
A crise na sociedade se instalou devido
à Guerra Federalista que provocou a saída da
cidade de muitos portugueses que não mais
retornaram.
Mais tarde, sob a presidência de José Antônio da Cruz (1898 a 1905) houve a concordância de alugar o prédio para o Hospital Militar.
Só em 1913 houve a conclusão da parte
externa do edifício. Ainda hoje, a frente do
prédio mantém o aspecto monumental no
estilo neoclássico.
O período de ouro da sociedade vai de
1914 a 1940, com o funcionamento do Hospi-
tal da Beneficência, primeiro sob a direção do
doutor Mário Araújo e depois por arrendamento. O médico e sua equipe ofereceram, nesse
período, assistência aos sócios da Sociedade
de Beneficência Portuguesa.
Em 1922, Francisco Sousa Pinto, na
presidência, constrói novo pavilhão com a
frente para a rua 3 de Fevereiro (hoje Flores da
Cunha), e nele são instaladas as enfermarias.
Segundo Abílio Garcia* foi na Beneficência Portuguesa de Bagé que, no Estado,
em 1922, realizou-se o maior número de
operações.
De 1944 a 1951 o edifício foi alugado
ao exército.
Em 1952, o edifício volta a ser alugado
para atendimento médico e cirúrgico.
Em 1975, graças à colaboração do prefeito Antônio Pires, de ascendência lusa, o prédio
é recuperado e nele se instala o Museu Dom
Diogo de Souza, e no pavilhão novo é instalada
a Secretaria Municipal de Assistência Social.
Fontes:
Histórico da Sociedade Portuguesa de Beneficência de Bagé, autor Abílio Garcia/ 1987 / Prefácio Tarcísio Antônio da Costa Taborda – Editoria do autor.
Revista das Comunidades de Língua Portuguesa, Revista n.º 20, Director e Editor João Alves das Neves.
“La prima” das sociedades
italianas do Brasil
A
ntecedendo a imigração italiana
oficial do Rio Grande do Sul,
sob a administração da União,
realizada em 1875, imigrantes italianos
chegaram a Bagé procedentes da região
do Prata.
Assim, já em expressivo número, no
final do ano de 1870 a comunidade italiana,
no dia 14 de dezembro, dá início a uma
sociedade para socorrer associados que estivessem em situação difícil economicamente
ou acometidos de alguma enfermidade. Na
reunião, determinou-se a data de fundação
para o dia 1º de janeiro de 1871 com o nome
de Societá Italiana de Soccorso Mutuo e
Beneficenza, primeira entidade do país. O
primeiro presidente foi Giuseppe Bina, vice
Francesco Credidido, ainda na diretoria,
Ângelo Obino, Luiz Mogetti, Nocola, Roque
e Pedro Cironi, Henrique Tonioli, Rodolfo
Moglia e Francisco Chicchi.
Em 2 de novembro de 1886, o Governo da Província de São Pedro do Rio
Grande do Sul concedeu à Sociedade Italiana o terreno onde os italianos ergueram
a sua primeira sede e a inauguraram em 20
de setembro de 1887. Na mesma data, e de
modo original no Estado, era aberta uma
agência consular para atender a região da
fronteira Brasil-Uruguai, em 1877.
Em 11 de outubro de 1886, o marechal
Deodoro da Fonseca concede o aforamento
perpétuo de um terreno, onde hoje se situa a
sede da sociedade, e que foi inaugurada em
20 de setembro de 1887, data da tomada de
Roma, ocasião em que também se instalou
uma escola, sob a direção de Nicola Cironi,
para aprendizado da língua, da história, da
geografia e da literatura italiana.
Por culpa da Segunda Guerra Mundial, a Sociedade Italiana é fechada em
1942, sendo seus bens e haveres colocados
sob a custódia da Santa Casa de Caridade,
cessando as atividades. Só quando terminou
o conflito, já em 22 de novembro de 1944,
através da escritura pública de emissão de
posse e quitação, o patrimônio foi restituído,
tendo subscrito o ato Pasqual Gamaro, pela
Sociedade Italiana e José Gomes Filho, pela
Santa Casa.
Em assembleia geral de 10 de maio de
1950, em vista das circunstâncias e preconceitos (a participação do Brasil na guerra foi
contra a Itália) houve a alteração do nome
da entidade para Sociedade Beneficente
Anita Garibaldi.
Em 20 de setembro de 1971 grandes
festividades comemoraram o centenário
da sociedade, incluindo a inauguração da
avenida Itália, na região sudeste de Bagé,
entre o Hospital Militar e o Parque da Rural.
1910 - Società Italiana de Soccorso
-Mutuo e Beneficenza XX de Settembro
in Bagé
1950 - Sociedade Beneficente Anita
Garibaldi
1993 - Sociedade Italiana de Beneficência Anita Garibaldi
Passaram-se os anos e novos italianos
chegaram à região, imigrantes que partiram
da Itália na década de 1940 ao pós-guerra e
migrantes de outras regiões do Rio Grande
do Sul, que vieram na década de 1970 para
plantar, produzir e industrializar Bagé.
Com o mesmo empenho dos primeiros
imigrantes, hoje esses italianos e descentes
continuam a manter viva a chama da cultura
e o espírito itálico simbolizado na sociedade
fundada há 143 anos.
A propaganda no início do século XIX
Q
uando a população de Bagé
adentrou o Século XX, a propaganda impressa já era um
costume havia 40 anos, desde o primeiro
jornal, que começou a circular em setembro de 1861, o Aurora de Bagé, de Izidoro
Paulo de Oliveira. O jornal era o principal
meio de divulgação de produtos e ideias,
embora a propaganda oral também tivesse
sua importância.
Em 15 de novembro de 1900, surge
O Dever, órgão de divulgação do Partido
Fábrica de cerveja, jornal
O Dever do dia 15/11/1901
Fábrica de carro, jornal
O Dever do dia 15/11/1901
Anúncios nos classificados,
jornal O Dever do dia 22/05/1903
Hotel do Commercio,
Guia Bemporat
Republicano e representante dos interesses
do comércio e indústria do Estado do Rio
Grande do Sul.
Nesta página, um panorama dos anúncios desse jornal bajeense, que circulou por
36 anos.
Internato na general Sampaio,
jornal O Dever do dia 20/05/1903
Casa Vemelha,
Guia Bemporat
Caminho da Luz
A
- Para tantos com a ajuda de muitos -
União Espírita Bajeense (UEB),
mantenedora da Escola de
Educação Especial “Caminho
da Luz” e da Clínica de Diagnóstico,
Tratamento e Reabilitação, e Oficinas, foi
fundada em 27 de dezembro de 1959.
São seus fundadores:
Francisco Ferrer Pires,
Álvaro Azevedo,
Arnóbio Balbuena Lopes,
Vasco da Gama e Silva,
Gomercindo de Souza Garcia,
Protázio da Rosa Fagundes,
Jenner Nóbrega Ferrer,
Ari Ravazza Gonçalves,
Ney Ferreira Paiva,
Homero Escobar,
Cecílio Pacheco Rodrigues,
Otto Filman,
Francionil Oliveira Rosa,
Francisco Lázaro Preto de Ávila
e Aureliano Ilha.
A primeira sede foi no Centro Espírita
Adolfo Bezerra de Menezes, à rua Félix da
Cunha, 167. Depois, nas sociedades espíritas Amor e Caridade e O Bom Samaritano.
Quando, em 12 de abril de 1964, o casal
Murát Porto e Olívia Brignol Porto fez a
doação de um lote de terreno com 3 100m²
de área na avenida General Osório, 2 478.,
a entidade construiu sua sede própria e a
escola.
A construção só foi possível graças à
movimentação de senhoras das comunidades espíritas que conseguiram convencer a
população da necessidade de erguer uma
instituição de tamanha importância. As
primeiras paredes foram levantadas com
doações e promoções.
O instituto educacional, que ganhou
o nome de Caminho da Luz e que passou
a abrigar também uma clínica, surgiu para
atender pessoas com deficiências e necessidades especiais de Bagé e região, através
da realização de atividades de assistência e
promoção social, sob a visão biopsicossocial
e espiritual.
A grande importância do Caminho da
Instalações atual
Luz é representada pela realidade enfrentada
pelas pessoas com deficiência e seus familiares na década de 50, quando não havia
consciência e cultura para compreender o
quanto é necessário prestar assistência e
mudar conceitos.
Os fundadores do instituto eram todos
trabalhadores da doutrina espírita. Um dos
principais líderes da verdadeira batalha
travada para tornar realidade essa assistência chama-se Ney Ferreira Paiva, que
idealizou uma associação religiosa, cultural,
filantrópica e de assistência social.
A partir do Caminho da Luz o ser
humano necessitado, com dificuldades
motoras, síndrome de Down, entre outros
problemas mentais e de doenças degenerativas, passou a ter com quem contar.
O Caminho da Luz mantém sua filosofia de trabalho assistencial até os dias de
hoje com o apoio da comunidade.
Declarada de Utilidade Pública pela
União, Estado e Município, possui certificado
de Filantropia (CNAS) e registro nos Conselhos Nacional e Municipal de Assistência
Social e no Conselho Regional de Medicina.
Novos tempos
Com o passar dos anos, a melhor
compreensão da sociedade às doenças
tratadas, da evolução científica e das leis
em defesa dos portadores de necessidades
especiais, a instituição entendeu a necessidade de oferecer novos serviços e ampliar
os existentes, assim, para clínicas, oficinas
profissionalizantes e escola de educação
especial eram necessários mais espaço. Uma
nova estrutura surgiu, incluindo ginásio
coberto, proporcionando mais e melhores
atendimentos.
No Caminho da Luz o trabalho é
constituído por uma equipe interdisciplinar,
responsável por diagnosticar, tratar, reabilitar, educar e socializar. Tratando o corpo e
a mente da pessoa sem desconsiderar seu
ambiente social, sua família e sua origem
espiritual, proporcionando através de uma
ação conjunta – família/escola/comunidade -,
atividades que oportunizem uma educação
especializada que resulta em um bom desempenho das áreas psicomotora, afetiva
e cognitiva.
A “Revolução nas Artes” do Grupo de Bagé
O
Grupo de Bagé foi
um movimento de
artistas gaúchos, escritores, pintores e poetas, que,
na década de 40, começaram a se
juntar para uma leitura da arte. Com
o tempo o objetivo passou a ser a
compreensão e a atualização da arte
praticada naquela época.
“Nós juntávamos dinheiro
para alugar uma casa e manter
um ateliê onde pudéssemos criar
e estudar. Sempre que um de nós
comprava um livro novo, esse
conhecimento era dividido entre
todos. Era uma troca enorme,
como já não se vê mais. Tínhamos
a liberdade, inclusive, de criticar o
trabalho uns dos outros e, assim,
crescíamos juntos”, conta Glênio
Bianchetti, fundador do grupo.
São vários os integrantes
iniciais do movimento, mas Bianchetti, Glauco Rodrigues, Danúbio
Gonçalves e Carlos Scliar se tornaram os mais populares.
O objetivo era artístico e
social, pretendiam garantir aos
artistas gaúchos a oportunidade
de investigação de técnicas, além
disso, tratavam da realidade das
classes mais pobres, do trabalho e
dos costumes regionais.
Nomes como Pedro Wayne,
Ernesto Wayne, José Morais, Jacy
Maraschin, Vasco Prado e Clóvis
Assumpção foram importantes na
formação e continuidade de um
processo que se iniciou na busca
de identidade e que foi além fronteiras, tornando-se uma verdadeira
revolução nas artes do Rio Grande
do Sul e do Brasil.
“Os novos”
Em uma exposição realizada em Porto Alegre, em 1948, na
Galeria do Correio do Povo, os
artistas receberam a denominação
através da imprensa de “Os Novos
de Bagé”. Eles já defendiam a popularização da arte através da abordagem de temas sociais e regionais,
num estilo figurativo realista com
traços expressionistas. O grupo foi
uma influência direta para a formação do Clube de Gravura de Bagé
e do Clube de Gravura de Porto
Alegre, os quais renovaram as artes
gráficas brasileiras nos anos 50.
A denominação Grupo de
Bagé surgiu através do poeta Clóvis
Assumpção.
Arte é comunhão
A história da arte brasileira
registra e reconhece a importante
contribuição artística e a atuação
política e ideológica do Grupo
de Bagé, consolidado mais tarde
como o Clube de Gravura de
Bagé e o de Porto Alegre, que
marcaram o panorama nacional
do pós-guerra, dando ênfase ao
Abapuro, tinta acrílica sobre tela colada em
madepam - 1981 - Glauco Rodrigues
Glauco, Glênio, Danúbio e Scliar
realismo e à temática social.
O Clube de Gravura não
foi um movimento artístico com
manifesto tal como os movimentos de vanguarda da arte europeia.
Surgiu da aglutinação de jovens
artistas que sabiam o que queriam:
uma arte moderna, significativa,
inovada, um testemunho de seu
tempo. Negavam a arte acadêmica,
conservadora, com presença muito
forte no cenário artístico gaúcho.
As imagens criadas no clube de gravura não eram gratuitas
como as obras de arte “puras” e
sim a arte a serviço de um ideário.
De aspecto subversivo, as gravuras criadas no clube limitavam-se
ao tema rural ou urbano, sempre
focalizando o trabalhador, seu
ambiente de trabalho e suas lutas
reivindicatórias como classe.
A definição de Danúbio Vilamil Gonçalves é significativa
nesse aspecto de característica da
obra: “Percebi que a arte não tem
sentido se isolada do povo. Arte é
comunhão é vida”.
O Museu da
Gravura Brasileira
Em 1976, é lançada, pelos integrantes do grupo de Bagé, a ideia de
criar um espaço destinado à valorização e à difusão da gravura. Em
21 de outubro de 1977 é inaugurado
o Museu da Gravura Brasileira,
com uma mostra dos integrantes
do Grupo de Bagé. O museu é
administrado pela Universidade
da Região da Campanha e foi o
primeiro do gênero no Brasil.
Jogo de osso, xilogravura - 1955 - Glênio Bianchetti
Fontes:
Trabalho do Curso de Belas Artes da Urcamp, coordenado por Carmen Barros / Maria de Lourdes Henriques / Aluna pesquisadora: Clélia Camargo
Projeto Caixa Resgatando a Memória/Grupo de Bagé (Caixa Econômica Federal 1998) | Itaú Cultural/Enciclopédia Artes Visuais (www.itaucultural.org.br)
Túlio Lopes
O homem das múltiplas atividades por Bagé
V
indos de Portugal,
desembarcavam no
Rio de Janeiro, em
1895, João Lopes da Silva e Emília
Mello Lopes da Silva. Eles traziam
o pequeno Túlio, de apenas um ano
de idade.
A família ficou pouco tempo na Capital Federal, viajando
em seguida para Bagé, no Rio
Grande do Sul, onde João instalou a Casa Armadora, empresa
de decoração de igrejas e residências em festas de casamentos, decoração de aniversários,
solenidades cívicas e ambientes
de velório. Anexo montou
também uma casa funerária,
na avenida Sete de Setembro,
onde depois foi construído o
Teatro Avenida. Mais tarde
mudou para a avenida General
Osório, quase esquina com a
atual Salgado Filho.
Túlio Lopes casou em 1914
com Maria da Glória Nogueira e
tiveram nove filhos. Nesse período, o pai constituiu a firma Lopes
& Filho, instalando filial em Dom
Pedrito e montando uma oficina
tipográfica.
Em 1922, mudou para prédio próprio, na mesma rua e quadra, na General Osório.
- Da chegada aos primeiros anos -
e Marmoraria Nossa Senhora de havia clicheria, o que impossibiFátima e a Tipografia Fênix.
litava a impressão, as fotos dos
principais acontecimentos da cidaVida social e artística
de eram exibidas em um painel na
Desde cedo, adotou a fo- frente do prédio do jornal.
tografia como seu grande hobby.
A sua coleção de fotos foi
Montou em casa um atelier, tor- doada ao Museu Dom Diogo de
nando-se fotógrafo amador. Um Souza e faz parte da Fototeca Túlio
dos destaques nos trabalhos de Lopes. Aliás, a coleção do jornal
Túlio era a habilidade para colorir O Dever que está no museu foi
à mão as fotografias. Foi ele o salva por ele, quando estava sendo
primeiro repórter fotográfico do jogada fora pela prefeitura. Assim
jornal Correio do Sul. Como não como a coleção de fotos do italiano
Funerária e tipografia
Túlio Lopes nasceu em
Agueda, província de Portugal,
em 20 de fevereiro de 1894, sendo
registrado com o nome Sérvio Túlio Lopes da Silva. Depois retirou
o nome Sérvio.
Iniciou seus estudos no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora,
sendo um dos alunos fundadores
do educandário salesiano em Bagé.
Após uma rápida experiência
com um pequeno armazém de secos
e molhados, denominado “O Amigo
do Povo”, na antiga rua 3 de Fevereiro, Túlio passou a dirigir a empresa
constituída por seu pai, a Lopes
& Filho, proprietária da Funerária
Teatro em Família no ano de 1944
Em pé: Ernesto Costa, Fausto Alcalde, Terezinha Alcalde Brasil,
Carlos Stcheman e Maria Catarina Viña Rodrigues
Sentados: Mário Nogueira Lopes, Lourival Viña Filho, Zilma
Umgarete Stcheman, Zaira Lopes Kopper e João Carlos Kopper
José Grecco (1863-1942), também
foi reconstituída por ele.
Aos 15 anos, Túlio lançou o
jornal Fon-Fon, “órgão da mocidade bajeense, periódico literário,
crítico, humorístico e noticioso”.
Mais tarde editou O...Belisco,
órgão de um bloco carnavalesco, o
Obeliscoide, que fazia propaganda
em versos.
A inteligência, perspicácia
e cultura de Túlio Lopes da Silva
motivava o apoio ao seu filho,
Mário Nogueira Lopes, em sua
oficina gráfica, iniciando o menino
na carreira jornalística. Mário se
tornaria o mais destacado profissional da imprensa bajeense.
O mais importante trabalho
jornalístico de Túlio foi a revista
Phenix, mensal, ilustrada e com
circulação em todo o Estado. A
Phenix reunia a intelectualidade de
Bagé da época. A revista circulou
por mais de um ano, 1935/36.
Túlio Lopes também foi
um grande incentivador das artes,
integrou a diretoria da Associação
Artística de Bagé, que organizou a
orquestra filarmônica da cidade; na
década de 50 fez parte da comissão
que reergueu a Sociedade União
dos Artistas. Também ele foi um
batalhador para que as casas de
exibição de filmes e clubes fossem
dotadas de palcos para apresentações teatrais. Assim, abraçou
a causa da criação do Teatro em
Família. Transformou a carpintaria e o depósito de caixões da sua
funerária em teatro.
Em sua vida, Túlio Lopes
participou ativamente da vida
social e cultural de Bagé, como
simples incentivador ou mesmo
protagonista. Presidiu entidades
como a Sociedade Portuguesa de
Beneficência, o Sociedade Recreativa Rio Branco e o Clube Recreativo Brasileiro, este por 18 anos,
tornando-se símbolo do clube.
Túlio despediu-se da vida no
dia 7 de janeiro de 1970.
Mário Lopes
M
Jornalista 91 anos de vida
- Apesar de tudo que fez, diz que perdeu tempo -
ário Nogueira Lopes
é jornalista há 73
anos. Setenta e três!
Começou em junho de 1940 nas
oficinas tipográficas de Túlio Lopes,
seu pai. Naquele inverno fez um pequeno jornal, denominado “O Tal...”
Embora tenha cessado suas
atividades em jornal diário, na
verdade nunca parou. Ele continua
“informalmente” no departamento
de imprensa e arquivo, tanto do
Núcleo de Pesquisas Históricas
Tarcísio Taborda quanto buscando
notícias interessantes de Bagé para
suas pastas pessoais, o que servirá,
com certeza, para um próximo livro.
O caminho do jornalismo
era tão evidente na vida de Mário
Lopes que, em 1922, ano em que
nasceu, o seu pai, Túlio Lopes,
editou a Revista Phenix. Não havia
como escapar dessa sina. Ainda
mais com uma tipografia em casa
e um monte de gente da área rondando seus passos.
Pioneiro e inovador, o jornalista transformou seu “O Tal...”
em Desportista, num período de
fervor e graça do futebol bajeense.
Como comentarista da “Voz do
Povo”, um alto-falante de rua,
desbravador das emissoras de
rádio que estavam por chegar,
transmitiu direto da Panela do
Candal a possível aparição de
um fantasma. Ele e o amigo Carlos Stechmann. Uma multidão
compareceu ao local à espera do
fantasma, que, dizem, não apareceu porque ninguém viu.
Em 1943 foi para o Correio do
Sul como cronista esportivo. Em
46, na Rádio Cultura, narrou o
primeiro Ba-Gua do rádio. Aliás,
narrou, comentou, fez reporta-
Presidente Emílio Médici com jornalista Mário Lopes na década de 70
gem e locução dos comerciais.
Só não instalou os equipamentos.
Mário Lopes, no alto de
seus 91 anos, conhece Bagé e seus
caminhos, manias e idiossincrasias como poucos. E conhece de
hoje para ontem, de ontem para
anteontem e amanhã. Os arquivos
que mantêm em sua casa comprovam que para entender a aldeia em
que se vive é preciso conhecer seu
passado. Mário conhece. E quem
conhece o filho de Túlio Lopes e
Maria da Glória sabe disso.
Para se ter uma ideia da representatividade de Mário Lopes para a história do jornalismo
e a cultura de Bagé, eis algumas de suas iniciativas:
- Editor do primeiro jornal esportivo;
- Primeiro narrador e comentarista esportivo do rádio;
- Iniciou a cobertura radiofônica de apuração de eleições, urna por urna;
- Introdutor do rádio-teatro na cidade;
- Primeira gravação de rádio-teatro e de jornal falado e primeiro a usar gravador em entrevistas;
- Editor, com Elvaldo de Alarcon, do primeiro jornal de cultura de Bagé, O Mensário de Artes e Literatura (1949);
- Fundador do Teatro em Família;
- Primeiro assessor de imprensa da prefeitura;
- Responsável por uma das edições do Correio do Sul que se tornou o jornal com o maior número de páginas da história de Bagé.
Prêmio Imprensa já na sua décima edição
Troféu Mário Nogueira Lopes é infindável em suas realizações nas comunicações da cidade. Seus amigos brincam que ele deixara de
trabalhar na imprensa para virar prêmio. Referência ao Troféu Mário Lopes, oferecido pelo Sindilojas aos destaques da comunidade segundo
a escolha de profissionais da comunicação.
O jornalista lamenta que tenha perdido tanto tempo no jornal, em horas consideradas ociosas. Poderia ter juntado material para mil
biografias históricas que sente necessidade de publicar.
Jornais e revistas publicados
- O Tal
- O Desportista
- Revista dos Esportes
- Folha Esportiva
- Revista O Guarany
- Mensageiro da História
Livros
- Bagé – Fatos e Personalidades (Editora Evangraf)
- Personalidades de um Século em Bagé (Gráfica Instituto de Menores)
- Aciba – Cem anos (Gráfica Instituto de Menores)
Luís Simão Kalil
O médico, prefeito e escritor que amava as
pessoas e o conhecimento
Na ocasião, ele frequentava o serviço cirúrgico do Hospital São Miguel para aprimorar
seu aprendizado.
Reconhecido como médico em sua terra,
sempre dedicado e gentil com todos que o
procuravam, Luís Kalil entrou para a política,
primeiro como vereador e depois como prefeito. Isso afastou o médico do dia a dia com
pacientes. Tanto que, segundo ele contou, em
1993, quando encerrou seu mandato na prefeitura, faltava-lhe coragem de voltar à Medicina,
tanto o tempo que ficou afastado. Mas voltou.
Política e ética
F
ilho de imigrantes libaneses,
Luís Simão Kalil nasceu em 19
de novembro de 1937, na rua
Coronel José Otávio, em Bagé, onde seu pai
tinha comércio de secos e molhados. Luís era
o único homem entre os seis filhos de seu Elias
e dona Labibe.
O pai queria a formação universitária
dos filhos, o que não era comum naquela
época entre os imigrantes árabes. E conseguiu;
formou todos. A explicação para essa atenção
especial do pai aos estudos e à cultura talvez
seja pelo fato de ter estudado no liceu francês
em Beirute, período em que o Líbano era um
protetorado da França (quando um estado está
sob a autoridade de outro). Elias veio para o
Brasil com 14 anos, falava fluentemente a
língua francesa, que é latina, e isso permitiu
que ensinasse o português, que aprendeu com
facilidade, a outros imigrantes árabes.
Apesar do pai professor, Luís nunca
aprendeu a falar o idioma árabe. E havia todas as condições, principalmente no interior
do armazém, mas era proibido a qualquer
estrangeiro, sobretudo no período da Segunda
Guerra Mundial, quando todos os imigrantes
eram suspeitos de espionagem.
Luís começou os estudos na Escola
Silveira Martins e depois foi para o Colégio
Nossa Senhora Auxiliadora, onde concluiu
o Científico.
Em 1954, em Santa Maria, consegue a
autorização para o curso de Medicina. E como
a Medicina era o sonho compartilhado por pai
e filho, mas havia o receio de Elias deixar o
jovem Luís morar em Porto Alegre, a criação
do curso em cidade do interior foi a solução.
Como em Santa Maria a faculdade apresentava deficiências, seu fundador, Mariano da
Rocha, fez uma parceria com a Universidade de
São Paulo (USP), onde os alunos iam durante
as férias para estudar no Hospital das Clínicas.
A viagem de avião e a estada eram de graça. Foi
nessa ocasião que optou pela cirurgia.
Ao concluir o curso voltou a São Paulo
para tentar um emprego, mas soube pelo pai
que em Bagé se instalara o Samdu – Serviço de
Assistência Médica Domiciliar e de Urgência,
com duas vagas de médicos. Tratava-se de um
“emprego federal”. Indicado para suprir uma
das vagas, permaneceu em Bagé. No entanto,
começaram as dificuldades para concluir os
estudos e a especialização. Então, decidiu que
todos os meses de julho sairia de Bagé. Fez
isso por mais de 10 anos seguidos. Ia ao Rio
de Janeiro porque lá se instalara o curso do
professor Fernando Paulino, que era o maior
cirurgião brasileiro.
Luís Kalil foi vereador eleito em 1976.
Mandato interrompido para assumir como
prefeito no lugar de Camilo Moreira, que
obteve uma cadeira na Assembleia Legislativa
em 1978. Kalil era presidente da Câmara de
Vereadores e, naquela época, não havia eleição
pelo voto direto para prefeito. Ficou no cargo
até 1979, quando o governo federal nomeou
um novo prefeito.
Em 1985, Bagé deixava de ser área de
segurança e ocorria, pela primeira vez depois
de 1964, uma eleição pelo voto direto para prefeito. Luís Kalil entrou na disputa, mas não conseguiu seu intento, o que acabou acontecendo
três anos depois. Em 1988, o filho de seu Elias é
eleito prefeito de Bagé e assume em janeiro de
1989 para enfrentar a maior seca da história de
Bagé. Fez um governo tranquilo, conseguindo
encerrá-lo com saldo político-administrativo
positivo. Mas não voltou mais à política para
concorrer a cargo algum.
Com muita resistência retornou à Medicina e, mais tarde, mergulhou na literatura,
escrevendo livros como “Contando parece
Mentira”, “Deus não Esquece” e “Salim faz
preço, freguês; Samuel também faz, senhor”.
O médico e político, casado com Leny Nunes
Kalil, pai de três filhos e avô de sete netos,
orgulhoso em suas duas empreitadas da vida,
sempre que tinha oportunidade confessava seu
prazer em escrever, em fazer literatura. Assim
pretendia chegar ao fim e assim foi, no dia 27
de janeiro de 2013, domingo.
Luis Simão Kalil deixou uma obra inédita, história que se desenrola na rua de sua vida,
Coronel José Otávio, de sua amada cidade.
Jorge Suñe Grillo
Homem de poucas palavras e total
dedicação humanitária
N
ascido em Bagé, em 24 de abril
de 1922, Jorge Suñe Grillo
formou-se em Medicina no Rio
de Janeiro, em 1948, retornando a sua cidade
em 1950, após fazer o curso de graduação.
Entre suas atividades profissionais
foi chefe dos Serviços Médicos da Previdência Social e diretor médico da Santa
Casa de Caridade de Bagé, além de atender
em seu consultório particular. Em 1967,
em São Paulo, tornou-se especialista em
cardiologia.
Jorge Grillo foi vice-presidente da
Associação Médica do Rio Grande do Sul e
delegado da entidade; presidiu a Associação
de Medicina de Bagé e tornou-se seu representante junto à Amrigs.
Sempre empenhado na busca de atualização, participou de diversos congressos
médicos no Rio Grande do Sul, Paraná, São
Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Buenos Aires.
Jorge Grillo teve uma intensa atuação
na comunidade local. Foi presidente do Rotary Clube de Bagé e governador distrital de
Rotary Internacional. Foi também provedor
da Santa Casa de Caridade, presidente do
Clube Comercial e do Bagé Tênis Clube.
O primeiro consultório foi instalado
no estabelecimento do farmacêutico Aniceto
Ruiz, na avenida Sete de Setembro, em frente
ao Edifício Avenida. Mais tarde, mudou-se
para um prédio na frente do Clube Comercial. Nos últimos anos, o consultório estava
no Edifício Móglia, no Calçadão.
Cortês, dedicado, amante da Medicina,
cardiologista respeitado, Jorge Grillo Suñe
faz parte da história de Bagé como o grande
profissional que foi.
Sem medir esforços
Grillo falava pouco e debatia o necessário. Incansável em aprimorar seus
conhecimentos médicos, dedicava-se aos
pacientes como poucos em sua ânsia de vê
Fontes:
Jornal Correio do Sul | Jornal Minuano/ George Teixeira Giórgis | Personalidades de um Século / Mário Nogueira Lopes
-los bem tratados. O esposo de dona Maria
Célia Freire Grillo, com quem estava casado
havia 58 anos e sempre vistos lado a lado,
gostava de ir à Santa Casa caminhando, todas
as manhãs. Aliás, Santa Casa a que se doou,
sem medir esforços, e onde será sempre uma
referência, um exemplo a seguir.
Teve seu período de político, mas durou pouco ao se eleger vereador pelo Partido
Libertador, em 1956. Foi por apenas um
mandato. “Não gostava de política, nunca
fui bom orador. Abandonei”, confessou em
determinada ocasião para uma revista da
Santa Casa.
O pai de Sérgio, Roberto, Renato, Célia
Maria e o avô de oito netos tem seu nome
na História de Bagé com bons exemplos e
atitudes.
O cardiologista Jorge Suñe Grillo
despediu-se da vida na madrugada de 14
de setembro de 2009, aos 87 anos, 61 deles
dedicados à Medicina.
Jesus Ollé Vives
O
Cinquenta anos dedicados à
saúde das crianças
médico pediatra Jesus Ollé Vives tem 85 anos de idade. Nasceu
em Bagé e, aos sete meses, foi
para a Espanha com a família. Voltou à cidade natal aos sete anos de idade com a certeza
de que seria médico. Os primeiros anos de
escola foram difíceis em razão da adaptação
ao novo idioma, tendo em vista que voltou
falando a língua catalã. Trocou de escola
algumas vezes cursando as séries iniciais.
Na adolescência foi estudar em Porto
Alegre, no Colégio Júlio de Castilhos, referência de educação no Estado e a melhor
alternativa para os que se preparavam para
o vestibular de Medicina na única universidade que oferecia o curso no Rio Grande do
Sul. Foram seis anos de estudos na UFRGS
até obter o diploma.
Já casado, mudou-se para Vila Progresso (Lajeado), onde exerceu a Medicina
e teve experiência em todas as áreas. “Naquela época não havia curso de especialização. Era na prática que a gente decidia a
área com que mais se identificava”, explica.
O retorno para Bagé aconteceu em 1957.
Jesus Ollé abriu um consultório
na avenida Sete de Setembro, mas as
consultas nas casas dos pacientes eram
bem mais frequentes, assim como a visita
dos pacientes na casa do médico. “Quem
escolhe essa profissão sabe que doença
não tem hora, ainda mais em criança. Eu
estava sempre pronto, independente do
dia ou da hora.”
Ele lembra, com carinho, de toda
a sua trajetória de trabalho dedicada às
crianças. A pediatria, exercida durante cinco
décadas, até se aposentar em 2002, deu ao
pediatra a chance de atender três gerações
de uma mesma família: “E eu posso dizer
que criança é sempre criança, mesmo que
os anos passem”.
Experiência
Foi em seus primeiros anos como pediatra em Bagé que Jesus Ollé passou pelas
duas experiências mais marcantes de sua
carreira. A primeira foi com um prematuro,
que nasceu com pouco mais de meio quilo
e sobreviveu graças aos cuidados de toda
a equipe do hospital de Bagé. “Não havia
os recursos de hoje, não tinha nem incubadora”, recorda. A outra história também
é relacionada a um prematuro nascido em
casa, mas dessa vez o feto era tão pequeno
que a mãe achava que havia sofrido um
aborto. “O caso era muito complicado.
Levamos a criança para o hospital, que já
tinha uma incubadora, e o marido só contou para a mulher que o bebê estava vivo
quatro meses depois, quando estava fora de
risco”, lembra.
Não eram raros os casos, também, de
pacientes com bem mais de 18 anos que
faziam questão de serem atendidos pelo
pediatra. “Eu atendia e encaminhava para
meus colegas.”
Nos 50 anos dedicados à Medicina,
Jesus Ollé Vives confessa que a pureza das
crianças é um dos adjetivos mais fantásticos
que conhece. As únicas mudanças percebidas pelo médico se referem às doenças e
às brincadeiras. “Antigamente as crianças
exercitavam muito mais a criatividade para
se divertir e brincar.”
Felipe Kalil
A religiosidade e a benemerência
de um comerciante
F
elipe Kalil emigrou do
Líbano para o Brasil
em 1936, aos 19 anos
de idade, a bordo do navio “Vapor
Neptuno”. Em 15 de setembro de
1937 funda sua empresa, a Casa
York Modas, inicialmente no
Mercado Público Municipal de
Bagé e, posteriormente, com a demolição do mercado, transferiu-se
para a rua Juvêncio Lemos, onde o
trabalho continua aos 76 anos de
existência da empresa.
Os primeiros anos foram de
muitos sacrifícios, tanto pelas dificuldades financeiras, de comunicação e de costumes, quando pelos
hábitos familiares em um novo país,
mas segundo afirmava o próprio
Felipe Kalil, a superação veio pela
fé, ajuda de Deus e muito trabalho.
Com o passar do tempo, os
resultados chegaram, originando
diversos empreendimentos na
área de serviços, turismo e setor
imobiliário.
Paralelo a sua atividade comercial, Kalil consolidou em Bagé
ações sociais com espírito humanitário destacado na comunidade.
Receberam o auxílio a Vila Vicentina, os orfanatos São Benedito
e Bidart, o Instituto de Menores
e o Caminho da Luz, bem como
inúmeras atividades pontuais em
benefício da comunidade carente.
Por sua liderança conseguiu unir
as forças comunitárias para dotar
a cidade com sua primeira Unidade de Terapia Intensiva (UTI),
um antigo sonho da comunidade.
Nesse período presidia o Rotary
Club Bagé.
No entanto, o anonimato nas
ações beneméritas sempre foi uma
marca de Felipe Kalil. Ajudava,
mas com a condição de se manter
anônimo.
Por mais de meio século,
Kalil integrou várias diretorias da
Associação Comercial e Industrial
de Bagé (Aciba) e do Sindicato do
Comércio Varejista (Sindilojas).
Católico, participava, com
sua esposa Glória, das cerimônias
religiosas da Igreja Nossa Senhora
da Conceição. Aliás, na construção
do Centro Antoniano sua colaboração foi fundamental, segundo
destacou frei Mário, assim como
na obra da congregação dos freis
capuchinhos no município.
Felipe Kalil, em seu casamento com Glória Nader, deixou
cinco filhos, sendo quatro médicos
e um economista. Os médicos
são Luís Felipe, Nélson Gustavo,
Roberto Samy e André Celestino.
Luís Francisco, o economista que
está à frente dos empreendimentos
e nos últimos tempos assessorou o
pai, destaca a vida inteira de Felipe
Kalil dedicada a Bagé, à família e
às boas e meritórias ações.
Aos 86 anos, no dia 11 de fevereiro de 2008, morreu o homem
que a comunidade aprendeu a respeitar e admirar por sua conduta,
seu trabalho, sua benemerência e
sua simplicidade.
Rafaela Gonçalves Ribas
Autobiografia poética de uma professora
Igreja São Sebastião
Rafaela Ribas
Trincheiras plantadas na estância
da memória, onde houve amor
e morte, soluçam nos braços
do passado.
Lutas em que foi talhado
teu rosto, entre os vãos da terra
e os dedos do céu alto,
poucos se lembram.
Mas a raiz das tuas pálpebras,
costuradas entre a alma e o horizonte,
um povo ainda te contempla.
Pois teu perfil e tua face
parados entre suspiro e sonho,
dizem da tua saga:
Esculpida que foste por
N
asci em Bagé, onde flui meu
tempo. Meu olhar. Meu êxtase.
Onde escrevo minha história e
onde estão plantados, na eternidade dos dias,
meu berço, minhas raízes. Quando me embrenho no pano verde esmaltado do pampa.
No cálice desta luz meridional que o pôr-dosol inscreve no horizonte, em suas vertentes
de luz. No abraço platino do minuano.
Aqui me perpetuo. Construo e sou
construída. E me embrenho neste tempo,
quando sou mãe da Patrícia, ao lado do
Fábio, e dos meus netos Gustavo e Fabiana,
na sinalização de seus afetos, compondo
o milagre da minha caminhada neste sul
do planeta.
Aprendi a aprender.
Primário, nos cálidos bancos do
Silveira Martins. Secundário, no Colégio
Espírito Santo, onde conheci todas as
devoções e em que me ajoelhei diante de
Jesus Cristo e de todos os santos.
Bacheraldo e Licenciatura em Pedagogia. Licenciatura em Letras. Bacharel
em Direito (Urcamp). Advogada jubilada
pela Ordem dos Advogados do Brasil.
Pós-Graduação em Língua Portuguesa pela
Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, títulos que fixaram, em mim, os mais
radiosos emblemas humanos.
Participação na Antologia “Seis
Contistas de Bagé” da Oficina de Criação
Literária de Alcy Cheuiche – 2003.
“1000 Versos do Sul e Algumas Letras Perdidas” – Antologia da Oficina de
Poetas do Cultura Sul – 2008.
Ani Versário 200 – Antologia de
Poetas do Cultura Sul – 2008.
Manifestos Poéticos – inúmeros –
Cultura Sul.
Patrona da Feira do Livro de Bagé
– 2011.
Presidente da Associação dos Amigos
do Museu Dom Diogo de Souza e do Museu da Gravura Brasileira (ex).
Presidente da Associação dos Amigos da Biblioteca Pública Municipal “Dr.
Otávio Santos” (ex).
Membro da Diretoria da Associação
dos Amigos da Casa de Cultura “Pedro
Wayne”.
Membro do Projeto Ecoarte.
mãos eternas, eterniza-te
entre as rugas de tua fronte.
Com os olhos no claro abismo
do teu chão, hoje vemos teu
porte vazado no amarelo denso,
nas mãos sem pressa das horas.
Em tuas paredes silenciosas,
onde se soletra a memória
de 93, e onde repousam restos
de eternidade, veneramos o
santo-mártir, sem dizer a
ninguém do enigma da tua
história erguida na
escultura dos teus séculos.
Diploma de “Colaborador Emérito do
Exército” – 25 de agosto de 1999.
Diploma da Brigada Militar “Amigo
da Guarnição” - 18 de novembro de 2004.
Troféu Mérito Municipal – Prefeitura
de Bagé – 2000.
Diploma “Honra ao Mérito” – Câmara de Vereadores de Bagé – 2013.
Aulas, há cinquenta anos em que
proclamo o enlace da cultura regional aos
emblemas da cultura brasileira, sem perder
o verde esplendor do rosto deste chão. Com
seus mitos. Suas crenças. Seus emblemas.
Seu linguajar fronteiriço. Sua história.
Assim vou caminhando. Arando
os escaninhos da alma. Desvendando o
enigma da palavra. Reencontrando o mito
e o sagrado. Com indizível imolação. Desembrulhando afetos e emoções no lume
dos dias. Suas auroras e seus clamores.
Costurados aos braços do tempo. Quando
escrituro meu signo no pergaminho da
perpetuidade. Sobre o rosto deste céu
sulino em seu paradigma azul de frio e
vento. Ressuscitando o esplendor da vida
– semente brotada neste chão.
Gilca Nocchi Collares
A
O maravilhoso mundo musical
da maestrina dos corais
professora primária, professora
de música, regente de coral e
musicista Gilca Nocchi Collares
emocionou e continua emocionando muito
com a energia que transpõe à sua música e
aos corais que rege. Os pequenos cantores do
Silveira Martins, as Normalistas da Escola
Presidente Vargas, o Coral dos Soldados,
Coral do Auxiliadora, Coral das Mil Vozes...
Gilca é a própria energia que emana desta terra, de seus artistas em todos os seus tempos.
A 5 de agosto de 1934, na avenida Marechal Floriano, em Bagé, nasceu Gilca Maruri
Nocchi. Seu pai Domingos de Souza Nocchi
e a mãe Anáulia Maruri Nocchi. Três irmãos,
Maria do Carmo, José Victor e Marly. Sua vida,
em tempos de início, entremeava-se a da Escola
Espírito Santo, aos jogos na Praça Esporte,
passeios pelas avenidas de Bagé e a paixão pela
música em aulas no Conservatório de Música.
Gilca foi eleita rainha dos estudantes
secundários em 1951, quando recebeu os primeiros aplausos da comunidade na avenida
Sete de Setembro.
Em 1954, casou com Leonardo José
Collares, oficial do Exército Nacional. Na
vida, quatro filhos: Margareth, Magali, Leonardo e Magda, também netos e bisnetos.
A opção pelo magistério foi enriquecida com a formação artística, estudou música
no Instituto Municipal de Belas Artes (Imba),
formando-se em violino.
Aos 16 anos de idade, Gilca já integrava a Orquestra Filarmônica de Bagé como
violinista.
Continuou sua trajetória, especializando-se em Música e Canto Orfeônico, em
Porto Alegre, onde estudou regência com a
professora e maestrina Dinah Neri.
Na Faculdades Unidas de Bagé, FunBa,
atual Universidade da Região da Campanha,
realizou o curso de Pós-Graduação em Arte
Contemporânea, nível de especialização.
Em 1954, Gilca Nocchi Collares foi
nomeada para lecionar na Escola Manoel Lucas de Oliveira, na localidade de Trigolândia,
então distrito de Hulha Negra. Ali foi professora das séries iniciais. No ano seguinte
foi transferida para a zona urbana, Grupo
Escolar Silveira Martins, onde continuou
como professora primária.
De 1956 a 59, em Porto Alegre, lecionou na Escola Estadual 3 de Outubro, no
bairro Tristeza.
Em 1960, com a transferência do marido militar para o Rio de Janeiro, licenciou-se
para acompanhá-lo.
O retorno a Bagé, em 1961, representou retomar as aulas no Silveira Martins,
onde, quatro anos depois, seria convidada
para constituir o coral da escola.
Ali começava uma nova fase, com o
envolvimento de todos, alunos, professores,
direção, pais e comunidade na organização
do coral. Com a colaboração da professora e
amiga Zélia Fernandes Sastre, selecionou 110
crianças. Formava-se o Coral dos Pequenos
Cantores do Grupo Escolar Silveira Martins.
Sobre o coral formado por Gilca, escreveu a amiga, escritora e professora Dora
Garcia Simões:
“Ela é a regente que, sem cortar as asas
de seu alegre bando de passarinhos humanos,
sem engaiolá-los, enfeitiçou-os pelo coração,
fazendo-os obedecer e entender a magia de
suas mãos, capazes de pintar poesia e música.” (Correio do Sul, 1969)
Nessa mesma época, a professora Gilca
foi convidada a lecionar a disciplina de Educação Musical na Escola Normal Presidente
Vargas (atual Justino Quintana). Ela chegou a
dizer que apesar de sua formação em artes e
paixão pela música, nunca havia pensado em
lecioná-la. No entanto, em sua primeira aula
sentiu que estava ali o seu mundo. Dedicouse então à educação pela arte, lecionando as
disciplinas de Educação Artística e Didática
da Música, além de integrar a Comissão de
Estágio do Curso Normal e manter o Coral
dos Pequenos Cantores do Silveira Martins.
Formou o Coral das Normalistas, presente em todos os eventos da escola.
O sucesso com a música provocou
mais um convite. Desta vez para formar um
coral integrado por soldados – o Coral do 25º
Grupo de Artilharia de Bagé. Assim o fez.
Em 1970, um novo momento com a
transferência do marido para Cachoeira do
Sul. Na Escola João Neves da Fontoura constituiu três corais, Coral Infantil, Coral das
Escolas Primárias e o Coral de Professores da
24ª Delegacia de Educação. Tornou-se Gilca,
em homenagem, destaque artístico do ano.
De volta a Bagé, retomou as atividades
nas escolas, quando formou o Coral das Mil
Vozes, integrado por alunos das escolas públicas e particulares da cidade, com apoio da
Banda da 3ª Brigada Militar e a participação de
professores de música das escolas de origem.
Na ocasião, compôs o Hino a Gaspar Silveira
Martins com letra de Hypólito Lucena.
Destacam-se nas suas atividades musicais, o Cenarte da Urcamp, nas oficinas de
ópera sob a coordenação da professora Gelcy Porto Médici e nas oficinas de concerto
sob a coordenação do maestro Armando
Baraldi Júnior.
O Coral Auxiliadora, que surgiu lá nas
proximidades da data de seu nascimento, teve
em Gilca Collares toda uma simbologia do
que há de belo nas artes musicais e gerais
da cidade. Em todos os cantos de Bagé, a
comunidade mostra o seu encanto em ouvir
o Coral Auxiliadora, regido pela maestrina
maior desta terra desde 1974.
São bem mais de 30 prêmios recebidos
por seu talento na música, por seus corais,
por sua liderança comunitária.
Ernesto Lima
Uma voz inigualável no rádio e na propaganda
E
- Locutur do Prêmio Imprensa Troféu Mário Lopes -
rnesto Lima nasceu em Bagé no
ano de 1941. Ao longo de sua
vida profissional foi um homem
de rádio e de publicidade. Seguiu os passos
do pai, Lauro, que exerceu atividades como
comentarista esportivo na Rádio Difusora “A
Voz de Bagé” e em locuções em serviço de
alto-falante da mesma emissora radiofônica.
Atento aos acontecimentos do mundo
e da vida, perspicaz e criativo, Lima sempre
procurou fugir ao lugar comum, buscando ser
um diferencial nos vários empreendimentos
dos quais fez parte, assim foi no departamento
esportivo da Rádio Gaúcha, no início dos
anos 60, depois na Rádio Upacaray de Dom
Pedrito, Cultura e Difusora de Bagé. Assim
também agiu como publicitário, na Sigma
Publicidade, a agência de propaganda das
empresas Obino; na Quadra Propaganda,
onde foi sócio-proprietário; no jornal Correio
do Sul, como colunista do cotidiano de Bagé
ou diretor de redação, e, ainda, na Central
de Comunicação, empresa que criou para,
inicialmente, produzir o programa Clube do
Repórter, no Canal 20 da Net, no final dos
anos 90 e início de 2000.
Ernesto Lima era um inquieto, um
profissional querendo sempre ir além, um agitador social, apesar de seu conservadorismo
político. Com esse perfil assessorou o prefeito
Carlos Sá Azambuja, foi diretor administrativo da Câmara Municipal de Vereadores e
Lima apresentando a 9º edição
coordenou campanhas políticas municipais.
Aliás, debater a política local era um dos seus
prazeres diários.
Locutor e apresentador de grandes eventos em Bagé, como os festivais de dança do
Instituto Municipal de Belas Artes, bailes de
debutantes, entre tantos outros, a voz forte e de
dicção perfeita de Ernesto Lima está marcada
na memória auditiva desta terra.
Nos anos 80, na Quadra Propaganda,
com os sócios Sérgio Bervig, José Francisco
da Silva e Zélio La Rocca, talvez tenha vivido
o melhor momento na publicidade bajeense,
em produção e investimentos. Como diretor
de criação da agência era responsável pelo
cliente Químio do Brasil, empresa multinacional de produtos agropecuários como o
carrapaticida Butox, criando o slogan “Banho
que dá tranquilidade”, que percorreu o país.
Também nesse período produziu a campanha
publicitária “Bagé preparada para o ano 2
mil”, para a prefeitura e que, por duas décadas,
incitou o questionamento se a cidade estava ou
não preparada para o novo milênio.
A convite do Sindilojas, Ernesto Lima
participou do desenvolvimento do “Prêmio
Imprensa - Troféu Mário Lopes”, que há dez
edições (em 2013) tem destacado empresas
e profissionais em vários segmentos, todos
escolhidos pelos profissionais da imprensa
bajeense.
Na 10ª Edição do Prêmio Imprensa a
sua ausência na produção e apresentação foi
sentida pelo público e dirigentes do Sindilojas,
já acostumados com sua voz clara e forte, no
entanto não faltaram homenagens ao sempre
lembrado Lima.
Também é criação do radialista-publicitário o “Diário da Rainha”, em parceria com
o Jornal Minuano e Grupo ASM, nas comemorações dos 200 Anos de Bagé, em 2011,
destacando as principais datas do município.
Na vida particular, Ernesto Pinto Lima
foi um homem dedicado à família, esposa
Ione Vieira Lima e às filhas Simone e Sinara.

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