Dom Diogo Martim Afonso de Souza Telles
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Dom Diogo Martim Afonso de Souza Telles
Dom Diogo Martim Afonso de Souza Telles C onforme a pesquisadora e historiadora Elizabeth Macedo Fagundes, em seu livro “Inventário cultural de Bagé”, o fundador de Bagé, Dom Diogo Martim Afonso de Souza Telles, conde de Rio Pardo, nasceu em Lisboa, a 17 de maio de 1755. Era doutor em Matemática pela Universidade de Coimbra e general do Exército português, já tendo sido capitão-general em Moçambique e capitão-general no Maranhão. Veio para o sul com uma missão essencialmente militar, mas mostrou-se hábil em administração, proporcionando várias melhorias em Porto Alegre, onde foi nomeado primeiro capitãogeneral da Capitania de São Pedro do Rio Grande do Sul. Em sua ação administrativa implantou os municípios de Porto Alegre, Santo Letra e Música: Roberto Madureira Burns Antônio da Patrulha, Rio Pardo, Rio Grande e Bagé. Durante sua administração, na província ocorreram os movimentos revolucionários das colônias espanholas do Prata, que geraram intervenção naqueles domínios e coube a ele organizar o Exército Pacificador da Banda Oriental. Nessa missão passou pelo território hoje pertencente ao município de Bagé, vilarejo que fundou entre as paradas de renovação das possibilidades de atividades militares em terras uruguaias. No mesmo ano que fundou Bagé, Dom Diogo de Souza foi nomeado marechal de campo. Ao deixar o governo da Província de São Pedro recolheu-se à corte no Rio de Janeiro e, em 1815, recebeu o titulo de conde de Rio Pardo. Morreu em Lisboa, aos 74 anos, no dia 12 de julho de 1829. Símbolos do município Bagé, Terra da Gente Nas torres mais energia, Na terra mais produção, Mais alegria no povo, No governo mais ação; Mais escolas, mais saber, Mais casas para morar, Mais estradas a percorrer, Mais hospitais para curar. Tem um povo a cantar, Tem amor nos corações. Bagé, terra da gente Que ao progresso diz presente Amanhã, futuro será Temos pressa em chegar Vamos participar e confiar. Para o futuro abrir caminho, Formamos uma corrente, Bagé, terra da gente Integrando com carinho Que ao progresso diz presente Bagé, a terra da gente. Amanhã, futuro será Temos pressa em chegar Bagé, terra da gente Vamos participar e confiar. Que ao progresso diz presente Amanhã, futuro será Tem alegria no ar, Temos pressa em chegar Tem de civismo lições, Vamos participar e confiar. Brasão Letra: Hipólito Lucena Música: Vitor Neves Hino a Bagé Dos teus campos a linda verdura Mostram a força, a grandeza, a pujança. E na guerra demonstra bravura O teu filho empunhando uma lança. Ribombou no teu seio o canhão Dos combates gravados na história. Revivemos da glória a canção Sons de sinos dobrando a vitória! Estribilho: Em teu seio nasceram heróis Que souberam honrar o Brasil. A grandeza da Pátria contróis Minha terra, Bagé, varonil. Junto ao cerro das bandas do sul Tu te estendes alegre garrida. Minha terra de céu tão azul Sentinela da Pátria querida! És rainha sustentas a palma De que tanto me orgulho e me ufano. Retempero meu corpo e minh’alma Ante o sopro feroz do minuano. Cidade cenográfica de Santa Fé Na edição 2014/2015 do Alô, Bagé!, a cidade cenográfica de Santa Fé do filme O Tempo e o Vento, exibido nos cinemas do Brasil em 2013, recebe destaque com imagens na capa, contracapa e no alto de páginas. O Sindilojas, responsável pela produção, edição e distribuição do Alô, Bagé!, relata a seguir a motivação para esse destaque. E m 2011, o diretor de cinema e televisão Jayme Monjardim escolheu o município de Bagé para construir a cidade cenográfica de Santa Fé, cenário principal das filmagens de O Tempo e o Vento, longa-metragem baseado na obra literária de Érico Veríssimo, com produção da Nexus Cinema e Vídeo. Em janeiro de 2012 teve início a construção, em área de 10 mil metros², no Parque do Gaúcho, zona leste de Bagé, de 17 edificações, conforme descrição da cidade de Santa Fé no livro O Continente, o primeiro da trilogia que compõe a saga “O Tempo e o Vento” e que sustenta o filme de Monjardim, iniciando na formação do Rio Grande do Sul e encerrando na Revolução Federalista de 1893. Na obra de Érico Veríssimo, Santa Fé surge no Século XVIII com um arranchamento pequeno nas terras do coronel Ricardo Amaral. No início dos anos 1800, ganha autorização para ser um povoado e em 1830 é elevada à condição de vila. Nesse período já conquista o direito de instalar sua primeira Câmara de Vereadores. Edificações 1. Casa de Chico Pinto 2. Casa de Juvenal Terra 3. Casa de Pedro Terra 4. Casa simples 5. Sobrado 6. Casa simples 7. Câmara de Vereadores 8. Ferraria 9. Venda do Nicolau 10. Galpão 11. Casa simples 12. Casa simples 13. Casa de Ricardo Amaral 14. Intendência (prefeitura) 15. Venda do Capitão Rodrigo 16. Igreja 17. Figueira 18. Praça 19. Casa de Ana Terra (é demolida na sequência do filme, ao mudar de época, assim como a cidade sofre transformações, como ruas de terra batida que passam a ter pedras, por exemplo) Bagé, Candiota e Aceguá A s filmagens começaram no dia 26 de março de 2012, em Pelotas, onde ocorreram as cenas internas do sobrado. Em Santa Fé, Jayme Monjardim começou a filmar em abril. Também foram aproveitados cenários no interior do município, como a Estância São Francisco, e no centro de Bagé, especificamente em frente ao Palacete Pedro Osório e no salão do Clube Comercial. Candiota e Aceguá integraram o filme, principalmente em cenas que destacam o pampa. O Tempo e o Vento estreou em Bagé no dia 19 e nos cinemas do Rio Grande do Sul no dia 20 de setembro. Oficialmente a estreia nacional ocorreu uma semana depois, em uma sexta-feira, 27 de setembro de 2013. maior acontecimento cultural da década para o município. No entanto, um projeto do poder público prevê a reconstrução das edificações em material que permita maior durabilidade, memorial de O Tempo e o Vento, sala de exibição do filme e de make off, bem como a comercialização de produtos típicos da região Projeto de Turismo Cultural da Campanha, da cultura e tradição do gaúcho, A cidade de Santa Fé ficou para Bagé entre outras iniciativas de incentivo ao turismo após a produção do filme. Trata-se, talvez, do na cidade cenográfica de Santa Fé. A próspera Rainha da Fronteira no final do Século XIX - Um panorama da cidade que se preparava para dias melhores - Q uando faltava pouco tempo para a chegada dos anos 1900, Bagé é marcada por grandes mudanças estruturais na cidade, como o contrato para a iluminação elétrica pela empresa de Antônio Manoel de Azevedo Caminho, o acerto com o arquiteto Domingos Rocco para a construção do palacete municipal na rua General Osório, onde funcionaria a intendência, e a inauguração da Praça Voluntários da Pátria, totalmente ajardinada pelo senhor Agostinho Fernandez, membro da comissão nomeada para esse fim. A Praça Voluntários teria ainda outros nomes, até que se fixou, na segunda metade do século XX, com a designação em homenagem ao tribuno Gaspar Silveira Martins. Bagé vivia um período de desenvolvimento econômico, três anos antes do novo século é inaugurada a Charqueada de Santa Thereza, a 5,5 km da cidade, com uma festa que provocou comentários além fronteira. O proprietário, visconde Antônio Nunes de Ribeiro Magalhães fez correr na charqueada um trem expresso, conduzindo os convidados e duas bandas de música. Mais de 300 pessoas participaram da festa, abençoada pelo cônego João Ignácio Bittencourt e que teve como padrinhos o coronel Carlos Maria da Silva Telles e a esposa Etelvina, coronel Antônio Barbosa Netto, capitão Serafim dos Santos Souza e Manoel Gonçalves de Azevedo. A charqueada de Santa Thereza impressiona pelo que representa economicamente para Bagé e seus 200 funcionários em fevereiro de 1897, ao iniciar as atividades. Na primeira safra, abateu 14 mil reses, mas chegou a alcançar a fantástica soma de 45 mil animais. O intendente (prefeito) eleito é o major José Octávio Gonçalves e o vice, Viriato Vieira da Silva, que, ao assumir, defronta-se, ainda, com os tristes vestígios da revolução findada em 1895. José Octávio é responsável por uma verdadeira operação de melhoramentos na cidade, como o calçamento da rua Sete de Setembro, iluminação pública, estudos para o Avenida 7 de Setembro, vista da praça Silveira Martins (Voluntários da Pátria) ainda cercada abastecimento de água, construção do matadouro público, instalação da segunda delegacia de polícia, ponte de alvenaria na rua 3 de Fevereiro (mais tarde Senador Salgado Filho, a ponte permite a passagem sobre o rio para a zona oeste), o comércio é intensificado e vários prédios construídos no centro urbano. Até o início de setembro de 1899, são registrados 84 pedidos de licença para a construção de novas construções particulares e, no dia dia 9 daquele mês, a intendência contrata a empresa Pratti & Rossel para construir, na Praça Voluntários, um chalé. Os dois sócios gozariam das benesses daquele “quiosque” por 12 anos, passando a seguir para o município. Em 20 de setembro é organizado o Centro Gaúcho, associação destinada a comemorar as glórias e datas do passado. O médico mais conceituado é o carioca José Francisco de Azevedo Penna, que viria a morrer no dia 12 de maio de 1901, solteiro, aos 77 anos de idade, com a voz do povo chamando-o simplesmente “doutor Penna”. No final do século ainda não havia em Bagé o serviço telefônico, o que ocorreu apenas no segundo ano do século seguinte, mas existia o cinema. Invento que os irmãos Lumiére apresentaram ao mundo em 1895 e que a Rainha da Fronteira teve o privilégio de exibir no dia 19 de setembro de 97, apenas dois anos depois da estreia em Paris. O espetáculo foi apresentado ao público no Teatro 28 de Setembro. A próspera cidade no extremo sul do Brasil, situada na divisa com o Uruguai, entraria no novo século com excelentes perspectivas de desenvolvimento. Para tanto, contava com duas casas bancárias, sete lojas de fazendas, quatro ferragens, um bazar, seis joalherias, 59 armazéns de secos e molhados, nove hotéis, seis farmácias, 103 oficinas de pequenas indústrias, oito escolas públicas e quatro particulares, duas charqueadas, três curtumes, uma fábrica de sabão, duas de cerveja, uma de água mineral, dois moinhos e fábricas de massas e velas. Tudo isso para uma população que, ao final do século XIX, contava em torno de 29 mil habitantes. No censo de 1901, o número exato atingia 29 172, sendo 11 682 na cidade e limites urbanos e 17 490 no interior, dividido em seis distritos rurais. Praça Júlio de Castilhos P raça do Quartel foi o primeiro nome da atual Praça Júlio de Castilhos. A primeira referência à denominação é de 1869. Está no Registro Geral de Imóveis do Ministério do Exército, quando este adquiriu um terreno, lindeiro à atual área da praça, de propriedade de Jacques Brum, no dia 5 de abril daquele ano. Mais tarde, nas cercanias do antigo Quartel General, o local foi chamado de Praça do Quartel. Em 18 de julho de 1881, a Câmara Municipal de Bagé deliberou que a Praça do Quartel fosse denominada Praça Silveira Martins. Mas, em 21 de agosto de 1895, quando Júlio de Castilhos presidia o Rio Grande do Sul, o nome foi modificado mais uma vez, agora por motivação política. Martins e Castilhos eram adversários políticos no período e quem ocupou o poder deu o novo nome à praça, no caso, Júlio de Castilhos, presidente do Estado e autor da nova Constituição do Rio Grande do Sul. De acordo com documentos do Exército de 1897, a Praça Júlio de Castilhos englobava dois quarteirões, indo até a rua Marcílio Dias. Em 1899, foram iniciados os trabalhos de terraplanagem. Na administração do prefeito Carlos Mangabeira, em 1927, o lugar ganhou canteiros, árvores e iluminação. As estradas do interior da praça foram calçadas com paralelepípedos para que os carros trafegassem por ali. Mais tarde, o prefeito Luiz Mércio Teixeira realizou o calçamento nas ruas ao redor e melhorou a iluminação. Na época, havia banheiros subterrâneos na Praça da Estação. - Na memória dos bajeenses A praça e o trem A praça era lugar de estacionamento de carroças e carros e sempre que faltavam os cuidados necessários, em que ficava em situação de abandono, a população reclamava. Afinal, tratava-se da primeira vista de Bagé para quem chegava de trem. E, durante muitos anos, o trem foi o principal meio de transporte a trazer as pessoas para conhecer ou rever a próspera cidade na fronteira sudoeste do Rio Grande do Sul. Por esse motivo, é impossível contar a história da Praça Júlio de Castilhos ou, simplesmente, Praça da Estação, sem retornar no tempo, ao ano de 1884, quando o clima de euforia tomou conta da população com a chegada dos “trilhos do progresso” a Bagé. Às vésperas da inauguração da estrada de ferro, era visível a preocupação com o embelezamento do centro da cidade, tendo sido nomeada uma comissão de vereadores para cuidar desses aspectos. Sendo assim, de imediato iniciaram-se os trabalhos de compostura da então Praça Silveira Martins, local onde foi edificada a estação e que passaria a ser um local muito frequentado e de alta importância, um verdadeiro cartão de visita da cidade. Do mesmo modo, foram providenciados reparos urgentes nas ruas transversais à avenida Sete de Setembro que conduziam à Estação da Via Férrea. Tudo isso a partir do mês de outubro de 1884. No dia 2 de dezembro de 1884, Bagé estava pronta para receber o trem. Convidados presentes, entre eles o bispo do Rio Grande do Sul, dom Sebastião Laranjeira, os conselheiros Gaspar Silveira Martins e José Júlio de Albuquerque Barros, presidente da Província do Rio Grande do Sul. Embora tivesse confirmado a presença, o conde D’Eu (marido da princesa Isabel) não compareceu. Ao final da tarde, envolto em fumaça e apitos chegava o progresso em Bagé. Cerca de duas mil pessoas atravessaram a praça naquele dia de comemoração. Em um mês, a Viação Férrea já havia transportado 890 toneladas de carga e vendido 9 598 passagens. A partir de então, até meados dos anos 70, do Século XX, a Praça Júlio de Castilhos ou, simplesmente, contra todas as imposições políticas, a Praça da Estação foi o principal cartão de visita da Rainha da Fronteira. No início dos anos 80, a Estação Ferroviária se transformou no Centro Administrativo Municipal e a praça ganhou novos contornos, não deixando jamais de ser bastante frequentada. Com o tempo, ganhou área de lazer para crianças, o entorno passou a servir para caminhadas e corridas monitoradas e, no início desta década, aparelhos para exercícios físicos foram instalados. Em 2013, começou a servir à Feira do Livro de Bagé, promovida pelo Sesc. Apesar das mudanças, a Praça da Estação continua sendo um dos mais belos cartões postais da cidade, graças às árvores, aos plátanos em copas, que derrubam folhas e erguem cores à praça da memória dos bajeenses. A praça e seus dois nomes - Rio Branco e Esporte - “É pensamento da administração (municipal) dotar a nossa cidade com uma praça para desenvolvimento das crianças, já tendo sido escolhida a praça Rio Branco. A planta da citada praça está sendo elaborada em Montevidéo no ‘Centro de Cultura Physica’. Este grande melhoramento para Bagé deve-se em grande parte à generosidade de um illustre filho que, ausente ha muitos anos de sua terra, atendeu imediatamente ao pedido que lhe fiz a fim de custear em companhia da municipalidade a execução desta praça de esportes, concorrendo assim para que seu berço natal seja a primeira cidade do Rio Grande que vai possuir tal melhoramento. Este bageense distinto, a quem deixo aqui os meus maiores agradecimentos, que são os de todos os seus conterraneos, é o ilustrado médico José Pardo Santayanna.” Intendente Municipal Carlos Cavalcante Mangabeira, no Relatório Intendencial de 1925 F oi no ano de 1907, quando administrava Bagé o doutor Augusto Lúcio de Figueiredo Teixeira, que o local onde é a Praça Rio Branco ou Praça Esporte deixou de ser uma lagoa com a conclusão da terraplanagem do local. A homenagem a José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão de Rio Branco, deve-se ao seu importante desempenho na História do Brasil, tanto na Monarquia quanto na República brasileira, de herói nos acordos de paz na América do Sul a embaixador brasileiro em vários países, homem que traçou o desenho das fronteiras brasileiras e fundou a diplomacia do Itamaraty. No início havia a denominação Praça da Constituição, depois passou a Rio Branco, o que se tornou oficial em 1909, quando o próprio Rio Branco esteve em Bagé e teve uma grande festa de recepção na praça. Na ocasião, ele havia sido lançado candidato à Presidência da República, mas não aceitou, preferindo apoiar Hermes da Fonseca. Um de seus netos, filho de Amélie e José Thomaz Nabuco de Gouvêa nasceu em Bagé, em 1918. O monumento ao Barão do Rio Branco, fixado na área em frente à avenida Sete de Setembro, é de autoria de Bruno Giorgi e foi inaugurado em 1965. Em 1910, o prefeito José Octávio Gonçalves fez constar no Relatório da Intendência que estavam sendo colocados “cordões nas quatro faces da praça”, sendo que a área entre as quatro linhas paralelas, pavimentadas com camadas de pedras (incluindo valas laterais para o enxugo das águas). Em 1925, no governo de Carlos Mangabeira a Praça Rio Branco começou a se tornar Praça de Desportos, sendo escolhida para ser um tipo de “colégio” do desenvolvimento físico das crianças. Inicialmente, a ideia era a construção da praça de jogos infantis, uma intenção administrativa e pedagógica primordial na década de 20 Inauguração da praça no ano de 1927 para a cidade de Bagé, o que a tornaria a primeira do Rio Grande do Sul a possuir tais melhoramentos e com grande parte da obra custeada pela iniciativa privada. Contribuiu com a doação de aparelhos o médico José Pardo Santayana, bajeense que residia à época em Montevidéu. Nos dois próximos anos (1926-27), a praça recebeu vários melhoramentos, incluindo tela ao redor e na pista de patinação foram colocados os balaústres de cimento (existentes até hoje). Cancha de tênis e aparelhos de ginásticas passaram a fazer parte do cenário; divisão de área para a prática esportiva de meninos e meninas, entre outros, como as regras de procedimento de alunos, professores, funcionários e visitantes. Inauguração Foram preparados números especiais de Educação Física com os colégios locais para os atos de inauguração da praça que se tornava nova e inovadora. Um grupo de atletas estudantes da cidade uruguaia de Melo veio a Bagé, desenvolvendo um programa especial, no dia 14 de setembro de 1927. O dia oficial da inauguração foi 7 de setembro. Instituída como exemplo a partir do Uruguai, a praça que se inaugurava na administração de Carlos Mangabeira, específica para a prática de Educação Física, foi a primeira e única praça do gênero no Brasil. Assim relataram os jornais à época. Estação do tempo Até 1973 havia na praça uma estação pluviométrica do Ministério da Agricultura, onde eram medidos os volumes de chuva ocorridos no centro da cidade. Também um termômetro apontava índices máximos e mínimos de temperatura. Fontes: Professor Alessandro Carvalho Bica (Unipampa), trechos extraído de sua pesquisa “Primeiras aproximações entre educação e civismo na primeira República Rio-grandense: o caso da Praça de Desportos do município de Bagé”. Inventário Cultural de Bagé, de Elizabeth Macedo de Fagundes, Editora Praça da Matriz – 2ª Edição/2013. Oitenta anos da Capela São João Batista - A igreja do João Turco - À esquerda, prefeito Luiz Mércio Teixeira; ao centro, João Turco e autoridades Festa de São João batista em frente à capela H á 80 anos, no dia 24 de junho, pela devoção de um homem a São João Batista foi erguida, no bairro Getúlio Vargas, a capela que leva o nome do santo. Da fé desse comerciante libanês, conhecido na cidade como “João Turco”, surgiu uma singela capela que, até hoje, reúne os fiéis aos sábados. A iniciativa de João José de Oliveira (nome que registrou, traduzindo o de sua origem familiar) serviu para congregar uma comunidade que participava das celebrações religiosas, bem como das quermesses juninas patrocinadas pelo comerciante. Sua presença na história do bairro Povo Novo (hoje Getúlio Vargas) não está registrada apenas pela construção da capela São João Batista, isso porque, ao fixar residência no bairro que acabou loteando, há uma rua diferente de muitas de nossa cidade. A rua São João Batista não chama a atenção apenas pelo sua diminuta extensão ao ligar as ruas Borges de Medeiros e Pinheiro Machado, mas, principalmente, por conter em seu meio um obelisco. Esse monumento comemorativo, que é típico do Antigo Egito, caracteriza-se por um pilar de pedra em forma quadrangular alongada, que se afunila em direção a sua parte mais alta. Ele desperta a curiosidade das pessoas que passam pela primeira vez na rua, porém, para muitos moradores do bairro, tanto o obelisco quanto a capela são legados de um homem que se tornou uma das principais figuras na história de Bagé. “Não conheci o meu avô, mas durante toda a minha vida ouvi inúmeras histórias de suas ações de benfeitoria para com os mais necessitados. Ele tinha o hábito de fornecer alimentos para carentes da Santa Casa”, relata uma das cinco netas do comerciante, Vera Lúcia Kobais Wassaf. João Turco João José de Oliveira chegou ao Brasil em 1913, com 20 anos de idade, vindo de Sebhel, no Líbano. Com a vocação de comerciante, instalou-se na Rainha da Fronteira e logo começaria a se destacar no extinto Mercado Público Municipal, onde ganhou o apelido “João Turco” e vendia Fontes: Jornalista Marcelo Pimenta e Silva (Jornal Folha do Sul) Inventário Cultura de Bagé, de Elizabeth Macedo de Fagundes (Editora Praça da Matriz, 2013/2ª edição) uma variedade de produtos importados à comunidade. O seu armazém, que exibia o famoso cartaz “Tem de tudo”, era um dos mais populares e fez crescer a fama do homem que circulava pelos diversos centros sociais da cidade com uma grande alegria em ajudar o próximo, como conta a neta Vera Lúcia Wassaf. No mês de junho, tradicionalmente, João Turco patrocinava “quermesses” para os carentes ao redor da capela. A escritora bajeense Elizabeth Macedo Fagundes, em sua obra “Inventário Cultural de Bagé”, ressalta que a festa durava três dias, reunindo adultos, crianças e jovens, ricos e pobres. A quermesse era ornamentada com fogueiras, fogos de artifício e balões. Havia muita comida e prêmios para as competições realizadas no evento. João José de Oliveira morreu em 25 de janeiro de 1946, aos 53 anos. A capela São João foi doada, após sua morte, aos salesianos, que mantêm o templo em funcionamento. Hoje, quem coordena os eventos ali realizados é a Paróquia São Pedro. Capela São José E - Noventa anos de pujança espiritual - m 3 de outubro de 1924, o doutor Jorge Julien e sua esposa Augusta Ernst Julien doaram ao Gymnasio Nossa Senhora Auxiliadora, representado pelo seu diretor, padre Antônio de Almeida Lustosa, um terreno de 358 m² para ser construída uma capela denominada São José. O terreno triangular limitava-se, à época, ao norte com terrenos de Francisco Lopes Fernandes, ao sul e ao leste com terrenos do doutor Julien e a oeste com o prolongamento da rua Sete de Setembro (atual Tupy Silveira). A capela e os trabalhos já existiam, mas no discurso pronunciado pelo doutor Áttila Taborda, por ocasião da bênção solene da imagem de São José, em 19 março de 1939, foi obtida a confirmação de que as atividades, em uma capelinha improvisada, já haviam iniciado em 1923. O dia 16 de dezembro daquele ano marca a fundação, com a primeira santa missa dita em honra ao santo. Padre Antônio Lustosa, pároco da Paróquia Auxiliadora, acompanhado pelo primeiro capelão da São José, padre Jorge Carrié dão a Áttila Taborda o privilégio de escolher o padroeiro da capelinha que iria ser erigida. A primeira imagem venerada do santo naquela antiga capela era de propriedade do próprio Taborda. A solenidade teve como paraninfos Plácido Silveira e Augusta Julien. Na ocasião houve a doação de um quadro do santo ofertado pelo artista José Greco, quadro este de uma beleza plástica e realista impressionante que ainda se conserva em excelentes condições. Para quem imagina que a São José foi apenas mais uma capela na qual se realizaram missas, batizados, casamentos e demais atividades religiosas deve-se dizer que atesta a história dos 90 anos desta capelinha, pequena, surgida nos paludes lodacentos e arrabaldes da zona norte de Bagé uma pujança espiritual, material e caritativa como poucas vezes se leu sobre as festas medievais das capelas europeias. Ressaltando-se, como exemplo, as festas cheias de gala ao padroeiro, desde 1924, festas essas que envolviam e animavam o fervor religioso de toda a cidade e arredores, as grandes quermesses nas quais os empresários e a população disputavam o privilégio de doar algo para ser rifado ou leiloado; e, em 26 de agosto de 1928, a colocação de uma cruz missionária, oportunidade essa na qual inúmeros fiéis acorreram ao tribunal misericordioso da confissão; nos idos de 1939 a publicação do “Eco da Capella do Glorioso São José”, jornalzinho esse que, quando aparecia, competia por ávidos leitores junto com o Correio do Sul. A grande reforma que ampliou e transformou a humilde capelinha no belo templo de traços ecléticos foi obra do capelão padre Antônio Maria. O sacerdote não só inicia seus trabalhos em 1935 como parece ter sido o homem da Providência para a São José, pois desenvolve intenso trabalho de ampliação da capela, organiza em Bagé a “Pia União do Trânsito de São José”, entidade espiritual e caritativa que congregava dezenas de senhoras e senhores aplicados em fazer o bem ao próximo; destaquem-se ainda as grandiosas festas dedicadas ao seu padroeiro e a Santo Antônio, a Associação Fontes: Cléber Dias, administrador da Paróquia Sagrada Família, doutor em História da Igreja de Damas de Santa Isabel que, gratuitamente, mantinha aulas do curso primário, corte e costura, bordados, trabalhos manuais, uma biblioteca infantil, uma sala de cinema, distribuía roupas, calçados, alimentos e medicamentos entre outros. Na década de 60, a presença do padre Gille Trés e a criação do Centro Social São José, torna-se verdadeira alavanca no atendimento da formação humana e espiritual. O Centro Social São José, criado à sombra da capela, oferecia alfabetização, corte e costura, bordados, higiene, aulas de ballet, canto orfeônico, teatro, apresentações artísticas para elevar o nível cultural da região com mais carência. Atendia cerca de mil crianças e adultos carentes com um gabinete dentário, além da tradição do serviço social com doação de alimentos à comunidade. O abnegado diácono Pai João (Horacil Dutra) está à frente da São José há 34 anos, do alto dos seus 87 anos, trabalhando incansavelmente pelo bem-estar social dos seus párocos. O A Sociedade Espanhola na vida e nas artes de Bagé “registro primeiro” da formação da colônia espanhola em Bagé consta no livro do ViceConsultado de Espanha no Município e está datado de 1810. Tal registro com o nome dos 412 espanhóis vindos das mais diferentes regiões da Espanha é o que a Sociedade Espanhola de Bagé considera oficial. Com a formação da colônia, houve a necessidade da convivência e assim surgiu a ideia de uma sociedade que acolhesse os “irmãos imigrantes”, não só por ocasião dos festejos, mas também nas horas de aflição, proporcionando o apoio moral necessário. José Loza, natural de Cádiz/Espanha, tomou a iniciativa de criar a sociedade, ocorrendo a fundação no dia 20 de dezembro de 1868. No trabalho desenvolvido a partir de então existem obras de grande valor, realizadas com muita dedicação e amor por aqueles que presidiram a Sociedade Espanhola. Solar espanhol de março de 1928, já com as obras concluídas no Cemitério da Santa Casa de Caridade, teve Desde a primeira junta diretiva da So- realizada a leitura dos estatutos do panteón, ciedade Espanhola de Bagé foram traçados os impressos, distribuídos e levados à apreciação planos para a construção de um prédio social dos associados. com a finalidade de abrigar sócios e também Prédio social ser usado para as artes. Esse processo arrastou-se por vários anos e sua construção foi O admirável edifício da Sociedade lenta, envolvendo seus presidentes por várias Espanhola de Bagé teve ato de inauguração décadas e enfrentando muitas dificuldades em 12 de outubro de 1934, data determinada financeiras. para a tradicional festa da sociedade. Apenas em 27 de março de 1905, na O terreno consta com registro de comgestão de Martin Rosell, que se concluiu a obra. pra datado em 22 de junho do ano anterior e No solar funciona o Instituto Municipal início das obras em dezembro. de Belas Artes (Imba). Em 2014, a Sociedade Espanhola completa 146 anos em Bagé. Panteón social Sob a presidência de Bernardo Goricochea, em 1924, os associados, em assembleia geral, manifestaram a vontade de construir um panteón social, o que, em 25 Prédio nos dias de hoje Sociedade Espanhola - fundação do teatro em 1934, arquivo Cid Marinho D A beneficência dos portugueses epois da Independência do Brasil (1822) os emigrantes lusos, observando a falta de assistência médica e hospitalar para seus irmãos pobres e desamparados, fundaram obras alicerçadas nas “Obras de Misericórdia” e que se chamaram Beneficências Portuguesas. Essas eram também um ponto de encontro onde os imigrantes cultivavam e exaltavam os valores da pátria mãe, amenizando saudades. A Sociedade Portuguesa de Beneficência de Bagé foi fundada no dia 27 de novembro de 1870. A data consta no quadro de fundação ainda existente na sede da sociedade. Nos estatutos reformados em 1919 e 1937 consta que a fundação ocorreu em 6 de junho de 1871, mas refere-se à aprovação dos estatutos. Permanecendo, hoje, portanto, a data de 27 de novembro. Assim, reunidos os portugueses interessados, funda-se a Sociedade Portuguesa de Beneficência, “sob a proteção do rei português Dom Carlos, Duque de Bragança, tendo como padroeiro São João de Deus”. A primeira diretoria Joaquim da Costa Guimarães - Presidente e vice-cônsul de Bagé, Francisco Leopoldino da Costa Cabral - Vice-presidente, João Maria Peixoto - Secretário, João Pereira Mendonça Lima – Tesoureiro. Os estatutos foram aprovados aos 6 dias de junho de 1871 por João Simões Lopes Neto, vice-presidente da Província de São Pedro do Rio Grande. O prédio Logo após a aprovação dos estatutos, tratou a Sociedade Portuguesa de Beneficência de conseguir do Governo Provincial a doação de um terreno para nele construir um hospital. Antes mesmo de oficializar a doação, fez-se o lançamento solene da pedra fundamental no dia 9 de julho de 1871. Primeiro, constrói-se o bloco voltado ao poente com festa da cumeeira, no dia 1º de dezembro de 1875, com a presença do farmacêutico Serafim dos Santos Souza, que recita versos de sua autoria. O edifício, pronto apenas na parte interna, foi inaugurado em 27 de novembro de 1878, o que ocorreu graças à contribuição da Hoje Museu Dom Diogo de Souza colônia portuguesa, pela distribuição de títulos de sócios beneméritos, benfeitores, remidos e honorários. O Hospital da Beneficência funciona até o início da Guerra Federalista, em 1893, quando foi ocupado pelas forças do exército. Em 1895 é reorganizada a beneficência e lavrada a primeira ata existente até os dias atuais, pois, da fundação à tomada do prédio pelo exército, toda a documentação queimou na casa do secretário. Quando, em 1896, o edifício continuava desocupado, o presidente da diretoria, visconde Antônio de Ribeiro Magalhães, optou por alugar ao Exército, mas a assembleia, por 16 votos a 15, disse não, motivando o afastamento do visconde da beneficência. A crise na sociedade se instalou devido à Guerra Federalista que provocou a saída da cidade de muitos portugueses que não mais retornaram. Mais tarde, sob a presidência de José Antônio da Cruz (1898 a 1905) houve a concordância de alugar o prédio para o Hospital Militar. Só em 1913 houve a conclusão da parte externa do edifício. Ainda hoje, a frente do prédio mantém o aspecto monumental no estilo neoclássico. O período de ouro da sociedade vai de 1914 a 1940, com o funcionamento do Hospi- tal da Beneficência, primeiro sob a direção do doutor Mário Araújo e depois por arrendamento. O médico e sua equipe ofereceram, nesse período, assistência aos sócios da Sociedade de Beneficência Portuguesa. Em 1922, Francisco Sousa Pinto, na presidência, constrói novo pavilhão com a frente para a rua 3 de Fevereiro (hoje Flores da Cunha), e nele são instaladas as enfermarias. Segundo Abílio Garcia* foi na Beneficência Portuguesa de Bagé que, no Estado, em 1922, realizou-se o maior número de operações. De 1944 a 1951 o edifício foi alugado ao exército. Em 1952, o edifício volta a ser alugado para atendimento médico e cirúrgico. Em 1975, graças à colaboração do prefeito Antônio Pires, de ascendência lusa, o prédio é recuperado e nele se instala o Museu Dom Diogo de Souza, e no pavilhão novo é instalada a Secretaria Municipal de Assistência Social. Fontes: Histórico da Sociedade Portuguesa de Beneficência de Bagé, autor Abílio Garcia/ 1987 / Prefácio Tarcísio Antônio da Costa Taborda – Editoria do autor. Revista das Comunidades de Língua Portuguesa, Revista n.º 20, Director e Editor João Alves das Neves. “La prima” das sociedades italianas do Brasil A ntecedendo a imigração italiana oficial do Rio Grande do Sul, sob a administração da União, realizada em 1875, imigrantes italianos chegaram a Bagé procedentes da região do Prata. Assim, já em expressivo número, no final do ano de 1870 a comunidade italiana, no dia 14 de dezembro, dá início a uma sociedade para socorrer associados que estivessem em situação difícil economicamente ou acometidos de alguma enfermidade. Na reunião, determinou-se a data de fundação para o dia 1º de janeiro de 1871 com o nome de Societá Italiana de Soccorso Mutuo e Beneficenza, primeira entidade do país. O primeiro presidente foi Giuseppe Bina, vice Francesco Credidido, ainda na diretoria, Ângelo Obino, Luiz Mogetti, Nocola, Roque e Pedro Cironi, Henrique Tonioli, Rodolfo Moglia e Francisco Chicchi. Em 2 de novembro de 1886, o Governo da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul concedeu à Sociedade Italiana o terreno onde os italianos ergueram a sua primeira sede e a inauguraram em 20 de setembro de 1887. Na mesma data, e de modo original no Estado, era aberta uma agência consular para atender a região da fronteira Brasil-Uruguai, em 1877. Em 11 de outubro de 1886, o marechal Deodoro da Fonseca concede o aforamento perpétuo de um terreno, onde hoje se situa a sede da sociedade, e que foi inaugurada em 20 de setembro de 1887, data da tomada de Roma, ocasião em que também se instalou uma escola, sob a direção de Nicola Cironi, para aprendizado da língua, da história, da geografia e da literatura italiana. Por culpa da Segunda Guerra Mundial, a Sociedade Italiana é fechada em 1942, sendo seus bens e haveres colocados sob a custódia da Santa Casa de Caridade, cessando as atividades. Só quando terminou o conflito, já em 22 de novembro de 1944, através da escritura pública de emissão de posse e quitação, o patrimônio foi restituído, tendo subscrito o ato Pasqual Gamaro, pela Sociedade Italiana e José Gomes Filho, pela Santa Casa. Em assembleia geral de 10 de maio de 1950, em vista das circunstâncias e preconceitos (a participação do Brasil na guerra foi contra a Itália) houve a alteração do nome da entidade para Sociedade Beneficente Anita Garibaldi. Em 20 de setembro de 1971 grandes festividades comemoraram o centenário da sociedade, incluindo a inauguração da avenida Itália, na região sudeste de Bagé, entre o Hospital Militar e o Parque da Rural. 1910 - Società Italiana de Soccorso -Mutuo e Beneficenza XX de Settembro in Bagé 1950 - Sociedade Beneficente Anita Garibaldi 1993 - Sociedade Italiana de Beneficência Anita Garibaldi Passaram-se os anos e novos italianos chegaram à região, imigrantes que partiram da Itália na década de 1940 ao pós-guerra e migrantes de outras regiões do Rio Grande do Sul, que vieram na década de 1970 para plantar, produzir e industrializar Bagé. Com o mesmo empenho dos primeiros imigrantes, hoje esses italianos e descentes continuam a manter viva a chama da cultura e o espírito itálico simbolizado na sociedade fundada há 143 anos. A propaganda no início do século XIX Q uando a população de Bagé adentrou o Século XX, a propaganda impressa já era um costume havia 40 anos, desde o primeiro jornal, que começou a circular em setembro de 1861, o Aurora de Bagé, de Izidoro Paulo de Oliveira. O jornal era o principal meio de divulgação de produtos e ideias, embora a propaganda oral também tivesse sua importância. Em 15 de novembro de 1900, surge O Dever, órgão de divulgação do Partido Fábrica de cerveja, jornal O Dever do dia 15/11/1901 Fábrica de carro, jornal O Dever do dia 15/11/1901 Anúncios nos classificados, jornal O Dever do dia 22/05/1903 Hotel do Commercio, Guia Bemporat Republicano e representante dos interesses do comércio e indústria do Estado do Rio Grande do Sul. Nesta página, um panorama dos anúncios desse jornal bajeense, que circulou por 36 anos. Internato na general Sampaio, jornal O Dever do dia 20/05/1903 Casa Vemelha, Guia Bemporat Caminho da Luz A - Para tantos com a ajuda de muitos - União Espírita Bajeense (UEB), mantenedora da Escola de Educação Especial “Caminho da Luz” e da Clínica de Diagnóstico, Tratamento e Reabilitação, e Oficinas, foi fundada em 27 de dezembro de 1959. São seus fundadores: Francisco Ferrer Pires, Álvaro Azevedo, Arnóbio Balbuena Lopes, Vasco da Gama e Silva, Gomercindo de Souza Garcia, Protázio da Rosa Fagundes, Jenner Nóbrega Ferrer, Ari Ravazza Gonçalves, Ney Ferreira Paiva, Homero Escobar, Cecílio Pacheco Rodrigues, Otto Filman, Francionil Oliveira Rosa, Francisco Lázaro Preto de Ávila e Aureliano Ilha. A primeira sede foi no Centro Espírita Adolfo Bezerra de Menezes, à rua Félix da Cunha, 167. Depois, nas sociedades espíritas Amor e Caridade e O Bom Samaritano. Quando, em 12 de abril de 1964, o casal Murát Porto e Olívia Brignol Porto fez a doação de um lote de terreno com 3 100m² de área na avenida General Osório, 2 478., a entidade construiu sua sede própria e a escola. A construção só foi possível graças à movimentação de senhoras das comunidades espíritas que conseguiram convencer a população da necessidade de erguer uma instituição de tamanha importância. As primeiras paredes foram levantadas com doações e promoções. O instituto educacional, que ganhou o nome de Caminho da Luz e que passou a abrigar também uma clínica, surgiu para atender pessoas com deficiências e necessidades especiais de Bagé e região, através da realização de atividades de assistência e promoção social, sob a visão biopsicossocial e espiritual. A grande importância do Caminho da Instalações atual Luz é representada pela realidade enfrentada pelas pessoas com deficiência e seus familiares na década de 50, quando não havia consciência e cultura para compreender o quanto é necessário prestar assistência e mudar conceitos. Os fundadores do instituto eram todos trabalhadores da doutrina espírita. Um dos principais líderes da verdadeira batalha travada para tornar realidade essa assistência chama-se Ney Ferreira Paiva, que idealizou uma associação religiosa, cultural, filantrópica e de assistência social. A partir do Caminho da Luz o ser humano necessitado, com dificuldades motoras, síndrome de Down, entre outros problemas mentais e de doenças degenerativas, passou a ter com quem contar. O Caminho da Luz mantém sua filosofia de trabalho assistencial até os dias de hoje com o apoio da comunidade. Declarada de Utilidade Pública pela União, Estado e Município, possui certificado de Filantropia (CNAS) e registro nos Conselhos Nacional e Municipal de Assistência Social e no Conselho Regional de Medicina. Novos tempos Com o passar dos anos, a melhor compreensão da sociedade às doenças tratadas, da evolução científica e das leis em defesa dos portadores de necessidades especiais, a instituição entendeu a necessidade de oferecer novos serviços e ampliar os existentes, assim, para clínicas, oficinas profissionalizantes e escola de educação especial eram necessários mais espaço. Uma nova estrutura surgiu, incluindo ginásio coberto, proporcionando mais e melhores atendimentos. No Caminho da Luz o trabalho é constituído por uma equipe interdisciplinar, responsável por diagnosticar, tratar, reabilitar, educar e socializar. Tratando o corpo e a mente da pessoa sem desconsiderar seu ambiente social, sua família e sua origem espiritual, proporcionando através de uma ação conjunta – família/escola/comunidade -, atividades que oportunizem uma educação especializada que resulta em um bom desempenho das áreas psicomotora, afetiva e cognitiva. A “Revolução nas Artes” do Grupo de Bagé O Grupo de Bagé foi um movimento de artistas gaúchos, escritores, pintores e poetas, que, na década de 40, começaram a se juntar para uma leitura da arte. Com o tempo o objetivo passou a ser a compreensão e a atualização da arte praticada naquela época. “Nós juntávamos dinheiro para alugar uma casa e manter um ateliê onde pudéssemos criar e estudar. Sempre que um de nós comprava um livro novo, esse conhecimento era dividido entre todos. Era uma troca enorme, como já não se vê mais. Tínhamos a liberdade, inclusive, de criticar o trabalho uns dos outros e, assim, crescíamos juntos”, conta Glênio Bianchetti, fundador do grupo. São vários os integrantes iniciais do movimento, mas Bianchetti, Glauco Rodrigues, Danúbio Gonçalves e Carlos Scliar se tornaram os mais populares. O objetivo era artístico e social, pretendiam garantir aos artistas gaúchos a oportunidade de investigação de técnicas, além disso, tratavam da realidade das classes mais pobres, do trabalho e dos costumes regionais. Nomes como Pedro Wayne, Ernesto Wayne, José Morais, Jacy Maraschin, Vasco Prado e Clóvis Assumpção foram importantes na formação e continuidade de um processo que se iniciou na busca de identidade e que foi além fronteiras, tornando-se uma verdadeira revolução nas artes do Rio Grande do Sul e do Brasil. “Os novos” Em uma exposição realizada em Porto Alegre, em 1948, na Galeria do Correio do Povo, os artistas receberam a denominação através da imprensa de “Os Novos de Bagé”. Eles já defendiam a popularização da arte através da abordagem de temas sociais e regionais, num estilo figurativo realista com traços expressionistas. O grupo foi uma influência direta para a formação do Clube de Gravura de Bagé e do Clube de Gravura de Porto Alegre, os quais renovaram as artes gráficas brasileiras nos anos 50. A denominação Grupo de Bagé surgiu através do poeta Clóvis Assumpção. Arte é comunhão A história da arte brasileira registra e reconhece a importante contribuição artística e a atuação política e ideológica do Grupo de Bagé, consolidado mais tarde como o Clube de Gravura de Bagé e o de Porto Alegre, que marcaram o panorama nacional do pós-guerra, dando ênfase ao Abapuro, tinta acrílica sobre tela colada em madepam - 1981 - Glauco Rodrigues Glauco, Glênio, Danúbio e Scliar realismo e à temática social. O Clube de Gravura não foi um movimento artístico com manifesto tal como os movimentos de vanguarda da arte europeia. Surgiu da aglutinação de jovens artistas que sabiam o que queriam: uma arte moderna, significativa, inovada, um testemunho de seu tempo. Negavam a arte acadêmica, conservadora, com presença muito forte no cenário artístico gaúcho. As imagens criadas no clube de gravura não eram gratuitas como as obras de arte “puras” e sim a arte a serviço de um ideário. De aspecto subversivo, as gravuras criadas no clube limitavam-se ao tema rural ou urbano, sempre focalizando o trabalhador, seu ambiente de trabalho e suas lutas reivindicatórias como classe. A definição de Danúbio Vilamil Gonçalves é significativa nesse aspecto de característica da obra: “Percebi que a arte não tem sentido se isolada do povo. Arte é comunhão é vida”. O Museu da Gravura Brasileira Em 1976, é lançada, pelos integrantes do grupo de Bagé, a ideia de criar um espaço destinado à valorização e à difusão da gravura. Em 21 de outubro de 1977 é inaugurado o Museu da Gravura Brasileira, com uma mostra dos integrantes do Grupo de Bagé. O museu é administrado pela Universidade da Região da Campanha e foi o primeiro do gênero no Brasil. Jogo de osso, xilogravura - 1955 - Glênio Bianchetti Fontes: Trabalho do Curso de Belas Artes da Urcamp, coordenado por Carmen Barros / Maria de Lourdes Henriques / Aluna pesquisadora: Clélia Camargo Projeto Caixa Resgatando a Memória/Grupo de Bagé (Caixa Econômica Federal 1998) | Itaú Cultural/Enciclopédia Artes Visuais (www.itaucultural.org.br) Túlio Lopes O homem das múltiplas atividades por Bagé V indos de Portugal, desembarcavam no Rio de Janeiro, em 1895, João Lopes da Silva e Emília Mello Lopes da Silva. Eles traziam o pequeno Túlio, de apenas um ano de idade. A família ficou pouco tempo na Capital Federal, viajando em seguida para Bagé, no Rio Grande do Sul, onde João instalou a Casa Armadora, empresa de decoração de igrejas e residências em festas de casamentos, decoração de aniversários, solenidades cívicas e ambientes de velório. Anexo montou também uma casa funerária, na avenida Sete de Setembro, onde depois foi construído o Teatro Avenida. Mais tarde mudou para a avenida General Osório, quase esquina com a atual Salgado Filho. Túlio Lopes casou em 1914 com Maria da Glória Nogueira e tiveram nove filhos. Nesse período, o pai constituiu a firma Lopes & Filho, instalando filial em Dom Pedrito e montando uma oficina tipográfica. Em 1922, mudou para prédio próprio, na mesma rua e quadra, na General Osório. - Da chegada aos primeiros anos - e Marmoraria Nossa Senhora de havia clicheria, o que impossibiFátima e a Tipografia Fênix. litava a impressão, as fotos dos principais acontecimentos da cidaVida social e artística de eram exibidas em um painel na Desde cedo, adotou a fo- frente do prédio do jornal. tografia como seu grande hobby. A sua coleção de fotos foi Montou em casa um atelier, tor- doada ao Museu Dom Diogo de nando-se fotógrafo amador. Um Souza e faz parte da Fototeca Túlio dos destaques nos trabalhos de Lopes. Aliás, a coleção do jornal Túlio era a habilidade para colorir O Dever que está no museu foi à mão as fotografias. Foi ele o salva por ele, quando estava sendo primeiro repórter fotográfico do jogada fora pela prefeitura. Assim jornal Correio do Sul. Como não como a coleção de fotos do italiano Funerária e tipografia Túlio Lopes nasceu em Agueda, província de Portugal, em 20 de fevereiro de 1894, sendo registrado com o nome Sérvio Túlio Lopes da Silva. Depois retirou o nome Sérvio. Iniciou seus estudos no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, sendo um dos alunos fundadores do educandário salesiano em Bagé. Após uma rápida experiência com um pequeno armazém de secos e molhados, denominado “O Amigo do Povo”, na antiga rua 3 de Fevereiro, Túlio passou a dirigir a empresa constituída por seu pai, a Lopes & Filho, proprietária da Funerária Teatro em Família no ano de 1944 Em pé: Ernesto Costa, Fausto Alcalde, Terezinha Alcalde Brasil, Carlos Stcheman e Maria Catarina Viña Rodrigues Sentados: Mário Nogueira Lopes, Lourival Viña Filho, Zilma Umgarete Stcheman, Zaira Lopes Kopper e João Carlos Kopper José Grecco (1863-1942), também foi reconstituída por ele. Aos 15 anos, Túlio lançou o jornal Fon-Fon, “órgão da mocidade bajeense, periódico literário, crítico, humorístico e noticioso”. Mais tarde editou O...Belisco, órgão de um bloco carnavalesco, o Obeliscoide, que fazia propaganda em versos. A inteligência, perspicácia e cultura de Túlio Lopes da Silva motivava o apoio ao seu filho, Mário Nogueira Lopes, em sua oficina gráfica, iniciando o menino na carreira jornalística. Mário se tornaria o mais destacado profissional da imprensa bajeense. O mais importante trabalho jornalístico de Túlio foi a revista Phenix, mensal, ilustrada e com circulação em todo o Estado. A Phenix reunia a intelectualidade de Bagé da época. A revista circulou por mais de um ano, 1935/36. Túlio Lopes também foi um grande incentivador das artes, integrou a diretoria da Associação Artística de Bagé, que organizou a orquestra filarmônica da cidade; na década de 50 fez parte da comissão que reergueu a Sociedade União dos Artistas. Também ele foi um batalhador para que as casas de exibição de filmes e clubes fossem dotadas de palcos para apresentações teatrais. Assim, abraçou a causa da criação do Teatro em Família. Transformou a carpintaria e o depósito de caixões da sua funerária em teatro. Em sua vida, Túlio Lopes participou ativamente da vida social e cultural de Bagé, como simples incentivador ou mesmo protagonista. Presidiu entidades como a Sociedade Portuguesa de Beneficência, o Sociedade Recreativa Rio Branco e o Clube Recreativo Brasileiro, este por 18 anos, tornando-se símbolo do clube. Túlio despediu-se da vida no dia 7 de janeiro de 1970. Mário Lopes M Jornalista 91 anos de vida - Apesar de tudo que fez, diz que perdeu tempo - ário Nogueira Lopes é jornalista há 73 anos. Setenta e três! Começou em junho de 1940 nas oficinas tipográficas de Túlio Lopes, seu pai. Naquele inverno fez um pequeno jornal, denominado “O Tal...” Embora tenha cessado suas atividades em jornal diário, na verdade nunca parou. Ele continua “informalmente” no departamento de imprensa e arquivo, tanto do Núcleo de Pesquisas Históricas Tarcísio Taborda quanto buscando notícias interessantes de Bagé para suas pastas pessoais, o que servirá, com certeza, para um próximo livro. O caminho do jornalismo era tão evidente na vida de Mário Lopes que, em 1922, ano em que nasceu, o seu pai, Túlio Lopes, editou a Revista Phenix. Não havia como escapar dessa sina. Ainda mais com uma tipografia em casa e um monte de gente da área rondando seus passos. Pioneiro e inovador, o jornalista transformou seu “O Tal...” em Desportista, num período de fervor e graça do futebol bajeense. Como comentarista da “Voz do Povo”, um alto-falante de rua, desbravador das emissoras de rádio que estavam por chegar, transmitiu direto da Panela do Candal a possível aparição de um fantasma. Ele e o amigo Carlos Stechmann. Uma multidão compareceu ao local à espera do fantasma, que, dizem, não apareceu porque ninguém viu. Em 1943 foi para o Correio do Sul como cronista esportivo. Em 46, na Rádio Cultura, narrou o primeiro Ba-Gua do rádio. Aliás, narrou, comentou, fez reporta- Presidente Emílio Médici com jornalista Mário Lopes na década de 70 gem e locução dos comerciais. Só não instalou os equipamentos. Mário Lopes, no alto de seus 91 anos, conhece Bagé e seus caminhos, manias e idiossincrasias como poucos. E conhece de hoje para ontem, de ontem para anteontem e amanhã. Os arquivos que mantêm em sua casa comprovam que para entender a aldeia em que se vive é preciso conhecer seu passado. Mário conhece. E quem conhece o filho de Túlio Lopes e Maria da Glória sabe disso. Para se ter uma ideia da representatividade de Mário Lopes para a história do jornalismo e a cultura de Bagé, eis algumas de suas iniciativas: - Editor do primeiro jornal esportivo; - Primeiro narrador e comentarista esportivo do rádio; - Iniciou a cobertura radiofônica de apuração de eleições, urna por urna; - Introdutor do rádio-teatro na cidade; - Primeira gravação de rádio-teatro e de jornal falado e primeiro a usar gravador em entrevistas; - Editor, com Elvaldo de Alarcon, do primeiro jornal de cultura de Bagé, O Mensário de Artes e Literatura (1949); - Fundador do Teatro em Família; - Primeiro assessor de imprensa da prefeitura; - Responsável por uma das edições do Correio do Sul que se tornou o jornal com o maior número de páginas da história de Bagé. Prêmio Imprensa já na sua décima edição Troféu Mário Nogueira Lopes é infindável em suas realizações nas comunicações da cidade. Seus amigos brincam que ele deixara de trabalhar na imprensa para virar prêmio. Referência ao Troféu Mário Lopes, oferecido pelo Sindilojas aos destaques da comunidade segundo a escolha de profissionais da comunicação. O jornalista lamenta que tenha perdido tanto tempo no jornal, em horas consideradas ociosas. Poderia ter juntado material para mil biografias históricas que sente necessidade de publicar. Jornais e revistas publicados - O Tal - O Desportista - Revista dos Esportes - Folha Esportiva - Revista O Guarany - Mensageiro da História Livros - Bagé – Fatos e Personalidades (Editora Evangraf) - Personalidades de um Século em Bagé (Gráfica Instituto de Menores) - Aciba – Cem anos (Gráfica Instituto de Menores) Luís Simão Kalil O médico, prefeito e escritor que amava as pessoas e o conhecimento Na ocasião, ele frequentava o serviço cirúrgico do Hospital São Miguel para aprimorar seu aprendizado. Reconhecido como médico em sua terra, sempre dedicado e gentil com todos que o procuravam, Luís Kalil entrou para a política, primeiro como vereador e depois como prefeito. Isso afastou o médico do dia a dia com pacientes. Tanto que, segundo ele contou, em 1993, quando encerrou seu mandato na prefeitura, faltava-lhe coragem de voltar à Medicina, tanto o tempo que ficou afastado. Mas voltou. Política e ética F ilho de imigrantes libaneses, Luís Simão Kalil nasceu em 19 de novembro de 1937, na rua Coronel José Otávio, em Bagé, onde seu pai tinha comércio de secos e molhados. Luís era o único homem entre os seis filhos de seu Elias e dona Labibe. O pai queria a formação universitária dos filhos, o que não era comum naquela época entre os imigrantes árabes. E conseguiu; formou todos. A explicação para essa atenção especial do pai aos estudos e à cultura talvez seja pelo fato de ter estudado no liceu francês em Beirute, período em que o Líbano era um protetorado da França (quando um estado está sob a autoridade de outro). Elias veio para o Brasil com 14 anos, falava fluentemente a língua francesa, que é latina, e isso permitiu que ensinasse o português, que aprendeu com facilidade, a outros imigrantes árabes. Apesar do pai professor, Luís nunca aprendeu a falar o idioma árabe. E havia todas as condições, principalmente no interior do armazém, mas era proibido a qualquer estrangeiro, sobretudo no período da Segunda Guerra Mundial, quando todos os imigrantes eram suspeitos de espionagem. Luís começou os estudos na Escola Silveira Martins e depois foi para o Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, onde concluiu o Científico. Em 1954, em Santa Maria, consegue a autorização para o curso de Medicina. E como a Medicina era o sonho compartilhado por pai e filho, mas havia o receio de Elias deixar o jovem Luís morar em Porto Alegre, a criação do curso em cidade do interior foi a solução. Como em Santa Maria a faculdade apresentava deficiências, seu fundador, Mariano da Rocha, fez uma parceria com a Universidade de São Paulo (USP), onde os alunos iam durante as férias para estudar no Hospital das Clínicas. A viagem de avião e a estada eram de graça. Foi nessa ocasião que optou pela cirurgia. Ao concluir o curso voltou a São Paulo para tentar um emprego, mas soube pelo pai que em Bagé se instalara o Samdu – Serviço de Assistência Médica Domiciliar e de Urgência, com duas vagas de médicos. Tratava-se de um “emprego federal”. Indicado para suprir uma das vagas, permaneceu em Bagé. No entanto, começaram as dificuldades para concluir os estudos e a especialização. Então, decidiu que todos os meses de julho sairia de Bagé. Fez isso por mais de 10 anos seguidos. Ia ao Rio de Janeiro porque lá se instalara o curso do professor Fernando Paulino, que era o maior cirurgião brasileiro. Luís Kalil foi vereador eleito em 1976. Mandato interrompido para assumir como prefeito no lugar de Camilo Moreira, que obteve uma cadeira na Assembleia Legislativa em 1978. Kalil era presidente da Câmara de Vereadores e, naquela época, não havia eleição pelo voto direto para prefeito. Ficou no cargo até 1979, quando o governo federal nomeou um novo prefeito. Em 1985, Bagé deixava de ser área de segurança e ocorria, pela primeira vez depois de 1964, uma eleição pelo voto direto para prefeito. Luís Kalil entrou na disputa, mas não conseguiu seu intento, o que acabou acontecendo três anos depois. Em 1988, o filho de seu Elias é eleito prefeito de Bagé e assume em janeiro de 1989 para enfrentar a maior seca da história de Bagé. Fez um governo tranquilo, conseguindo encerrá-lo com saldo político-administrativo positivo. Mas não voltou mais à política para concorrer a cargo algum. Com muita resistência retornou à Medicina e, mais tarde, mergulhou na literatura, escrevendo livros como “Contando parece Mentira”, “Deus não Esquece” e “Salim faz preço, freguês; Samuel também faz, senhor”. O médico e político, casado com Leny Nunes Kalil, pai de três filhos e avô de sete netos, orgulhoso em suas duas empreitadas da vida, sempre que tinha oportunidade confessava seu prazer em escrever, em fazer literatura. Assim pretendia chegar ao fim e assim foi, no dia 27 de janeiro de 2013, domingo. Luis Simão Kalil deixou uma obra inédita, história que se desenrola na rua de sua vida, Coronel José Otávio, de sua amada cidade. Jorge Suñe Grillo Homem de poucas palavras e total dedicação humanitária N ascido em Bagé, em 24 de abril de 1922, Jorge Suñe Grillo formou-se em Medicina no Rio de Janeiro, em 1948, retornando a sua cidade em 1950, após fazer o curso de graduação. Entre suas atividades profissionais foi chefe dos Serviços Médicos da Previdência Social e diretor médico da Santa Casa de Caridade de Bagé, além de atender em seu consultório particular. Em 1967, em São Paulo, tornou-se especialista em cardiologia. Jorge Grillo foi vice-presidente da Associação Médica do Rio Grande do Sul e delegado da entidade; presidiu a Associação de Medicina de Bagé e tornou-se seu representante junto à Amrigs. Sempre empenhado na busca de atualização, participou de diversos congressos médicos no Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Buenos Aires. Jorge Grillo teve uma intensa atuação na comunidade local. Foi presidente do Rotary Clube de Bagé e governador distrital de Rotary Internacional. Foi também provedor da Santa Casa de Caridade, presidente do Clube Comercial e do Bagé Tênis Clube. O primeiro consultório foi instalado no estabelecimento do farmacêutico Aniceto Ruiz, na avenida Sete de Setembro, em frente ao Edifício Avenida. Mais tarde, mudou-se para um prédio na frente do Clube Comercial. Nos últimos anos, o consultório estava no Edifício Móglia, no Calçadão. Cortês, dedicado, amante da Medicina, cardiologista respeitado, Jorge Grillo Suñe faz parte da história de Bagé como o grande profissional que foi. Sem medir esforços Grillo falava pouco e debatia o necessário. Incansável em aprimorar seus conhecimentos médicos, dedicava-se aos pacientes como poucos em sua ânsia de vê Fontes: Jornal Correio do Sul | Jornal Minuano/ George Teixeira Giórgis | Personalidades de um Século / Mário Nogueira Lopes -los bem tratados. O esposo de dona Maria Célia Freire Grillo, com quem estava casado havia 58 anos e sempre vistos lado a lado, gostava de ir à Santa Casa caminhando, todas as manhãs. Aliás, Santa Casa a que se doou, sem medir esforços, e onde será sempre uma referência, um exemplo a seguir. Teve seu período de político, mas durou pouco ao se eleger vereador pelo Partido Libertador, em 1956. Foi por apenas um mandato. “Não gostava de política, nunca fui bom orador. Abandonei”, confessou em determinada ocasião para uma revista da Santa Casa. O pai de Sérgio, Roberto, Renato, Célia Maria e o avô de oito netos tem seu nome na História de Bagé com bons exemplos e atitudes. O cardiologista Jorge Suñe Grillo despediu-se da vida na madrugada de 14 de setembro de 2009, aos 87 anos, 61 deles dedicados à Medicina. Jesus Ollé Vives O Cinquenta anos dedicados à saúde das crianças médico pediatra Jesus Ollé Vives tem 85 anos de idade. Nasceu em Bagé e, aos sete meses, foi para a Espanha com a família. Voltou à cidade natal aos sete anos de idade com a certeza de que seria médico. Os primeiros anos de escola foram difíceis em razão da adaptação ao novo idioma, tendo em vista que voltou falando a língua catalã. Trocou de escola algumas vezes cursando as séries iniciais. Na adolescência foi estudar em Porto Alegre, no Colégio Júlio de Castilhos, referência de educação no Estado e a melhor alternativa para os que se preparavam para o vestibular de Medicina na única universidade que oferecia o curso no Rio Grande do Sul. Foram seis anos de estudos na UFRGS até obter o diploma. Já casado, mudou-se para Vila Progresso (Lajeado), onde exerceu a Medicina e teve experiência em todas as áreas. “Naquela época não havia curso de especialização. Era na prática que a gente decidia a área com que mais se identificava”, explica. O retorno para Bagé aconteceu em 1957. Jesus Ollé abriu um consultório na avenida Sete de Setembro, mas as consultas nas casas dos pacientes eram bem mais frequentes, assim como a visita dos pacientes na casa do médico. “Quem escolhe essa profissão sabe que doença não tem hora, ainda mais em criança. Eu estava sempre pronto, independente do dia ou da hora.” Ele lembra, com carinho, de toda a sua trajetória de trabalho dedicada às crianças. A pediatria, exercida durante cinco décadas, até se aposentar em 2002, deu ao pediatra a chance de atender três gerações de uma mesma família: “E eu posso dizer que criança é sempre criança, mesmo que os anos passem”. Experiência Foi em seus primeiros anos como pediatra em Bagé que Jesus Ollé passou pelas duas experiências mais marcantes de sua carreira. A primeira foi com um prematuro, que nasceu com pouco mais de meio quilo e sobreviveu graças aos cuidados de toda a equipe do hospital de Bagé. “Não havia os recursos de hoje, não tinha nem incubadora”, recorda. A outra história também é relacionada a um prematuro nascido em casa, mas dessa vez o feto era tão pequeno que a mãe achava que havia sofrido um aborto. “O caso era muito complicado. Levamos a criança para o hospital, que já tinha uma incubadora, e o marido só contou para a mulher que o bebê estava vivo quatro meses depois, quando estava fora de risco”, lembra. Não eram raros os casos, também, de pacientes com bem mais de 18 anos que faziam questão de serem atendidos pelo pediatra. “Eu atendia e encaminhava para meus colegas.” Nos 50 anos dedicados à Medicina, Jesus Ollé Vives confessa que a pureza das crianças é um dos adjetivos mais fantásticos que conhece. As únicas mudanças percebidas pelo médico se referem às doenças e às brincadeiras. “Antigamente as crianças exercitavam muito mais a criatividade para se divertir e brincar.” Felipe Kalil A religiosidade e a benemerência de um comerciante F elipe Kalil emigrou do Líbano para o Brasil em 1936, aos 19 anos de idade, a bordo do navio “Vapor Neptuno”. Em 15 de setembro de 1937 funda sua empresa, a Casa York Modas, inicialmente no Mercado Público Municipal de Bagé e, posteriormente, com a demolição do mercado, transferiu-se para a rua Juvêncio Lemos, onde o trabalho continua aos 76 anos de existência da empresa. Os primeiros anos foram de muitos sacrifícios, tanto pelas dificuldades financeiras, de comunicação e de costumes, quando pelos hábitos familiares em um novo país, mas segundo afirmava o próprio Felipe Kalil, a superação veio pela fé, ajuda de Deus e muito trabalho. Com o passar do tempo, os resultados chegaram, originando diversos empreendimentos na área de serviços, turismo e setor imobiliário. Paralelo a sua atividade comercial, Kalil consolidou em Bagé ações sociais com espírito humanitário destacado na comunidade. Receberam o auxílio a Vila Vicentina, os orfanatos São Benedito e Bidart, o Instituto de Menores e o Caminho da Luz, bem como inúmeras atividades pontuais em benefício da comunidade carente. Por sua liderança conseguiu unir as forças comunitárias para dotar a cidade com sua primeira Unidade de Terapia Intensiva (UTI), um antigo sonho da comunidade. Nesse período presidia o Rotary Club Bagé. No entanto, o anonimato nas ações beneméritas sempre foi uma marca de Felipe Kalil. Ajudava, mas com a condição de se manter anônimo. Por mais de meio século, Kalil integrou várias diretorias da Associação Comercial e Industrial de Bagé (Aciba) e do Sindicato do Comércio Varejista (Sindilojas). Católico, participava, com sua esposa Glória, das cerimônias religiosas da Igreja Nossa Senhora da Conceição. Aliás, na construção do Centro Antoniano sua colaboração foi fundamental, segundo destacou frei Mário, assim como na obra da congregação dos freis capuchinhos no município. Felipe Kalil, em seu casamento com Glória Nader, deixou cinco filhos, sendo quatro médicos e um economista. Os médicos são Luís Felipe, Nélson Gustavo, Roberto Samy e André Celestino. Luís Francisco, o economista que está à frente dos empreendimentos e nos últimos tempos assessorou o pai, destaca a vida inteira de Felipe Kalil dedicada a Bagé, à família e às boas e meritórias ações. Aos 86 anos, no dia 11 de fevereiro de 2008, morreu o homem que a comunidade aprendeu a respeitar e admirar por sua conduta, seu trabalho, sua benemerência e sua simplicidade. Rafaela Gonçalves Ribas Autobiografia poética de uma professora Igreja São Sebastião Rafaela Ribas Trincheiras plantadas na estância da memória, onde houve amor e morte, soluçam nos braços do passado. Lutas em que foi talhado teu rosto, entre os vãos da terra e os dedos do céu alto, poucos se lembram. Mas a raiz das tuas pálpebras, costuradas entre a alma e o horizonte, um povo ainda te contempla. Pois teu perfil e tua face parados entre suspiro e sonho, dizem da tua saga: Esculpida que foste por N asci em Bagé, onde flui meu tempo. Meu olhar. Meu êxtase. Onde escrevo minha história e onde estão plantados, na eternidade dos dias, meu berço, minhas raízes. Quando me embrenho no pano verde esmaltado do pampa. No cálice desta luz meridional que o pôr-dosol inscreve no horizonte, em suas vertentes de luz. No abraço platino do minuano. Aqui me perpetuo. Construo e sou construída. E me embrenho neste tempo, quando sou mãe da Patrícia, ao lado do Fábio, e dos meus netos Gustavo e Fabiana, na sinalização de seus afetos, compondo o milagre da minha caminhada neste sul do planeta. Aprendi a aprender. Primário, nos cálidos bancos do Silveira Martins. Secundário, no Colégio Espírito Santo, onde conheci todas as devoções e em que me ajoelhei diante de Jesus Cristo e de todos os santos. Bacheraldo e Licenciatura em Pedagogia. Licenciatura em Letras. Bacharel em Direito (Urcamp). Advogada jubilada pela Ordem dos Advogados do Brasil. Pós-Graduação em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, títulos que fixaram, em mim, os mais radiosos emblemas humanos. Participação na Antologia “Seis Contistas de Bagé” da Oficina de Criação Literária de Alcy Cheuiche – 2003. “1000 Versos do Sul e Algumas Letras Perdidas” – Antologia da Oficina de Poetas do Cultura Sul – 2008. Ani Versário 200 – Antologia de Poetas do Cultura Sul – 2008. Manifestos Poéticos – inúmeros – Cultura Sul. Patrona da Feira do Livro de Bagé – 2011. Presidente da Associação dos Amigos do Museu Dom Diogo de Souza e do Museu da Gravura Brasileira (ex). Presidente da Associação dos Amigos da Biblioteca Pública Municipal “Dr. Otávio Santos” (ex). Membro da Diretoria da Associação dos Amigos da Casa de Cultura “Pedro Wayne”. Membro do Projeto Ecoarte. mãos eternas, eterniza-te entre as rugas de tua fronte. Com os olhos no claro abismo do teu chão, hoje vemos teu porte vazado no amarelo denso, nas mãos sem pressa das horas. Em tuas paredes silenciosas, onde se soletra a memória de 93, e onde repousam restos de eternidade, veneramos o santo-mártir, sem dizer a ninguém do enigma da tua história erguida na escultura dos teus séculos. Diploma de “Colaborador Emérito do Exército” – 25 de agosto de 1999. Diploma da Brigada Militar “Amigo da Guarnição” - 18 de novembro de 2004. Troféu Mérito Municipal – Prefeitura de Bagé – 2000. Diploma “Honra ao Mérito” – Câmara de Vereadores de Bagé – 2013. Aulas, há cinquenta anos em que proclamo o enlace da cultura regional aos emblemas da cultura brasileira, sem perder o verde esplendor do rosto deste chão. Com seus mitos. Suas crenças. Seus emblemas. Seu linguajar fronteiriço. Sua história. Assim vou caminhando. Arando os escaninhos da alma. Desvendando o enigma da palavra. Reencontrando o mito e o sagrado. Com indizível imolação. Desembrulhando afetos e emoções no lume dos dias. Suas auroras e seus clamores. Costurados aos braços do tempo. Quando escrituro meu signo no pergaminho da perpetuidade. Sobre o rosto deste céu sulino em seu paradigma azul de frio e vento. Ressuscitando o esplendor da vida – semente brotada neste chão. Gilca Nocchi Collares A O maravilhoso mundo musical da maestrina dos corais professora primária, professora de música, regente de coral e musicista Gilca Nocchi Collares emocionou e continua emocionando muito com a energia que transpõe à sua música e aos corais que rege. Os pequenos cantores do Silveira Martins, as Normalistas da Escola Presidente Vargas, o Coral dos Soldados, Coral do Auxiliadora, Coral das Mil Vozes... Gilca é a própria energia que emana desta terra, de seus artistas em todos os seus tempos. A 5 de agosto de 1934, na avenida Marechal Floriano, em Bagé, nasceu Gilca Maruri Nocchi. Seu pai Domingos de Souza Nocchi e a mãe Anáulia Maruri Nocchi. Três irmãos, Maria do Carmo, José Victor e Marly. Sua vida, em tempos de início, entremeava-se a da Escola Espírito Santo, aos jogos na Praça Esporte, passeios pelas avenidas de Bagé e a paixão pela música em aulas no Conservatório de Música. Gilca foi eleita rainha dos estudantes secundários em 1951, quando recebeu os primeiros aplausos da comunidade na avenida Sete de Setembro. Em 1954, casou com Leonardo José Collares, oficial do Exército Nacional. Na vida, quatro filhos: Margareth, Magali, Leonardo e Magda, também netos e bisnetos. A opção pelo magistério foi enriquecida com a formação artística, estudou música no Instituto Municipal de Belas Artes (Imba), formando-se em violino. Aos 16 anos de idade, Gilca já integrava a Orquestra Filarmônica de Bagé como violinista. Continuou sua trajetória, especializando-se em Música e Canto Orfeônico, em Porto Alegre, onde estudou regência com a professora e maestrina Dinah Neri. Na Faculdades Unidas de Bagé, FunBa, atual Universidade da Região da Campanha, realizou o curso de Pós-Graduação em Arte Contemporânea, nível de especialização. Em 1954, Gilca Nocchi Collares foi nomeada para lecionar na Escola Manoel Lucas de Oliveira, na localidade de Trigolândia, então distrito de Hulha Negra. Ali foi professora das séries iniciais. No ano seguinte foi transferida para a zona urbana, Grupo Escolar Silveira Martins, onde continuou como professora primária. De 1956 a 59, em Porto Alegre, lecionou na Escola Estadual 3 de Outubro, no bairro Tristeza. Em 1960, com a transferência do marido militar para o Rio de Janeiro, licenciou-se para acompanhá-lo. O retorno a Bagé, em 1961, representou retomar as aulas no Silveira Martins, onde, quatro anos depois, seria convidada para constituir o coral da escola. Ali começava uma nova fase, com o envolvimento de todos, alunos, professores, direção, pais e comunidade na organização do coral. Com a colaboração da professora e amiga Zélia Fernandes Sastre, selecionou 110 crianças. Formava-se o Coral dos Pequenos Cantores do Grupo Escolar Silveira Martins. Sobre o coral formado por Gilca, escreveu a amiga, escritora e professora Dora Garcia Simões: “Ela é a regente que, sem cortar as asas de seu alegre bando de passarinhos humanos, sem engaiolá-los, enfeitiçou-os pelo coração, fazendo-os obedecer e entender a magia de suas mãos, capazes de pintar poesia e música.” (Correio do Sul, 1969) Nessa mesma época, a professora Gilca foi convidada a lecionar a disciplina de Educação Musical na Escola Normal Presidente Vargas (atual Justino Quintana). Ela chegou a dizer que apesar de sua formação em artes e paixão pela música, nunca havia pensado em lecioná-la. No entanto, em sua primeira aula sentiu que estava ali o seu mundo. Dedicouse então à educação pela arte, lecionando as disciplinas de Educação Artística e Didática da Música, além de integrar a Comissão de Estágio do Curso Normal e manter o Coral dos Pequenos Cantores do Silveira Martins. Formou o Coral das Normalistas, presente em todos os eventos da escola. O sucesso com a música provocou mais um convite. Desta vez para formar um coral integrado por soldados – o Coral do 25º Grupo de Artilharia de Bagé. Assim o fez. Em 1970, um novo momento com a transferência do marido para Cachoeira do Sul. Na Escola João Neves da Fontoura constituiu três corais, Coral Infantil, Coral das Escolas Primárias e o Coral de Professores da 24ª Delegacia de Educação. Tornou-se Gilca, em homenagem, destaque artístico do ano. De volta a Bagé, retomou as atividades nas escolas, quando formou o Coral das Mil Vozes, integrado por alunos das escolas públicas e particulares da cidade, com apoio da Banda da 3ª Brigada Militar e a participação de professores de música das escolas de origem. Na ocasião, compôs o Hino a Gaspar Silveira Martins com letra de Hypólito Lucena. Destacam-se nas suas atividades musicais, o Cenarte da Urcamp, nas oficinas de ópera sob a coordenação da professora Gelcy Porto Médici e nas oficinas de concerto sob a coordenação do maestro Armando Baraldi Júnior. O Coral Auxiliadora, que surgiu lá nas proximidades da data de seu nascimento, teve em Gilca Collares toda uma simbologia do que há de belo nas artes musicais e gerais da cidade. Em todos os cantos de Bagé, a comunidade mostra o seu encanto em ouvir o Coral Auxiliadora, regido pela maestrina maior desta terra desde 1974. São bem mais de 30 prêmios recebidos por seu talento na música, por seus corais, por sua liderança comunitária. Ernesto Lima Uma voz inigualável no rádio e na propaganda E - Locutur do Prêmio Imprensa Troféu Mário Lopes - rnesto Lima nasceu em Bagé no ano de 1941. Ao longo de sua vida profissional foi um homem de rádio e de publicidade. Seguiu os passos do pai, Lauro, que exerceu atividades como comentarista esportivo na Rádio Difusora “A Voz de Bagé” e em locuções em serviço de alto-falante da mesma emissora radiofônica. Atento aos acontecimentos do mundo e da vida, perspicaz e criativo, Lima sempre procurou fugir ao lugar comum, buscando ser um diferencial nos vários empreendimentos dos quais fez parte, assim foi no departamento esportivo da Rádio Gaúcha, no início dos anos 60, depois na Rádio Upacaray de Dom Pedrito, Cultura e Difusora de Bagé. Assim também agiu como publicitário, na Sigma Publicidade, a agência de propaganda das empresas Obino; na Quadra Propaganda, onde foi sócio-proprietário; no jornal Correio do Sul, como colunista do cotidiano de Bagé ou diretor de redação, e, ainda, na Central de Comunicação, empresa que criou para, inicialmente, produzir o programa Clube do Repórter, no Canal 20 da Net, no final dos anos 90 e início de 2000. Ernesto Lima era um inquieto, um profissional querendo sempre ir além, um agitador social, apesar de seu conservadorismo político. Com esse perfil assessorou o prefeito Carlos Sá Azambuja, foi diretor administrativo da Câmara Municipal de Vereadores e Lima apresentando a 9º edição coordenou campanhas políticas municipais. Aliás, debater a política local era um dos seus prazeres diários. Locutor e apresentador de grandes eventos em Bagé, como os festivais de dança do Instituto Municipal de Belas Artes, bailes de debutantes, entre tantos outros, a voz forte e de dicção perfeita de Ernesto Lima está marcada na memória auditiva desta terra. Nos anos 80, na Quadra Propaganda, com os sócios Sérgio Bervig, José Francisco da Silva e Zélio La Rocca, talvez tenha vivido o melhor momento na publicidade bajeense, em produção e investimentos. Como diretor de criação da agência era responsável pelo cliente Químio do Brasil, empresa multinacional de produtos agropecuários como o carrapaticida Butox, criando o slogan “Banho que dá tranquilidade”, que percorreu o país. Também nesse período produziu a campanha publicitária “Bagé preparada para o ano 2 mil”, para a prefeitura e que, por duas décadas, incitou o questionamento se a cidade estava ou não preparada para o novo milênio. A convite do Sindilojas, Ernesto Lima participou do desenvolvimento do “Prêmio Imprensa - Troféu Mário Lopes”, que há dez edições (em 2013) tem destacado empresas e profissionais em vários segmentos, todos escolhidos pelos profissionais da imprensa bajeense. Na 10ª Edição do Prêmio Imprensa a sua ausência na produção e apresentação foi sentida pelo público e dirigentes do Sindilojas, já acostumados com sua voz clara e forte, no entanto não faltaram homenagens ao sempre lembrado Lima. Também é criação do radialista-publicitário o “Diário da Rainha”, em parceria com o Jornal Minuano e Grupo ASM, nas comemorações dos 200 Anos de Bagé, em 2011, destacando as principais datas do município. Na vida particular, Ernesto Pinto Lima foi um homem dedicado à família, esposa Ione Vieira Lima e às filhas Simone e Sinara.