Mogi - Secretaria Municipal de Educação

Transcrição

Mogi - Secretaria Municipal de Educação
9 771981 314004
00036
ISSN - 1981-3147
a
r
c
m
aram
e
u
q
s
a
a
i
re
d
o:
giã
Cin
co
Outubro de 2007 - Ano VI - Nº 36
Fórum Mundial de Educação Alto Tietê
- Ano VI
- Nº 36
Editorial
0003
0
1 314
70
ISSN 1981
-3147
9 771
98
que marcar
am
dias
a
co
o:
giã
re
Cin
6
Outubro/
Novemb
ro de 2007
Fórum M
undiaall de
d Eduuccaaç
çãããoo Al
Alttoo Tietê
SECRETÁRIA MUNICIPAL
DE EDUCAÇÃO
COORDENADORIA DE
COMUNICAÇÃO SOCIAL
Av. Ver. Narciso Yague Guimarães, 277
Cep 08790-900 – Centro Cívico
Mogi das Cruzes – SP
Tel.: (11) 4798-5085
Fax: (11) 4726-5304
[email protected]
www.mogidascruzes.sp.gov.br
• Conselho Editorial
A
revista Educando em Mogi traz nesta edição um especial
sobre o Fórum Mundial de Educação Alto Tietê 2007,
realizado de 12 a 16 de setembro, que reuniu pela
primeira vez 11 municípios em sua organização e teve Mogi das
Cruzes, como cidade anfitriã. Este foi um momento único para a
região que, unida, pôde partilhar experiências com educadores
de todo o Brasil e do mundo. Todos e todas com um único
objetivo: a defesa da educação como direito social e inalienável
e nunca remetida à condição de mercadoria.
Maria Geny Borges Ávila Horle
Anne Ivanovici
Cláudia Helena Romanos Pereira
Leni Gomes Magi
Marilda Aparecida Tavares Romeiro Safiti
A grande mobilização de 40 mil pessoas também contou
com a importante participação da imprensa convencional e
alternativa, que dirigiu seu olhar para as conferências, painéis
temáticos, atividades autogestionadas e culturais, apresentação
de pôsteres e o Fórum Infanto-Juvenil durante os cinco dias
do Fórum. Diferente dos outros números, esta edição mostra o
ponto de vista dos jornalistas e comunicadores que apresentaram
ao mundo sua visão sobre esta grande mobilização em prol da
Educação no Alto Tietê.
• Colaboraram nesta edição
Os comunicadores sensibilizaram seus leitores sobre os
acontecimentos e mostraram os novos conceitos de educação,
práticas que podem mudar o cotidiano de educadores que,
mesmo não comparecendo às atividades, tiveram acesso ao
seu conteúdo por meio de jornais, sites, revistas e televisão.
Reproduzimos aqui, a cobertura da equipe de Comunicação
do Fórum Mundial de Educação Alto Tietê, Coordenadoria de
Comunicação Social da Prefeitura de Mogi das Cruzes, artigos
da equipe da Ciranda Internacional de Informação Independente
e dos jornais mogianos Mogi News e O Diário. Não podemos
nos esquecer do apoio da Rádio Metropolitana e da TV Diário
(afiliada local da TV Globo) e sua cobertura, que não podemos
reproduzir aqui, mas que contagiou educadores de todo o Alto
Tietê envolvidos nos trabalhos do Fórum.
As reportagens contemplaram os quatro eixos do Fórum,
que teve como seu grande tema: Educação: Protagonismo na
Diversidade: sustentabilidade, diversidade, protagonismo e
políticas públicas. Educadores, pais, alunos, representantes de
organizações e movimentos sociais compartilharam momentos
importantes que demonstraram que, realmente, para um outro
mundo é possível, uma outra educação é necessária.
2
• Jornalistas Responsáveis
Luiz Suzuki – MTB 22936
Kelli Correa Brito – MTB 40010
• Coordenação Editorial
Bernadete Tedeschi Vitta Ribeiro
Lilian Gonçalves
Marinina Beatriz Leite
Thais Chita (IPF)
Luiz Suzuki
Adriana Bravim (Bio-Bras),
Ludmila Santos (Mogi News)
Negralu (Ciranda)
Juliana Nakagawa (O Diário)
Ana Trigueiro Sola (Ciranda)
Naira Cirino (Ciranda)
Wanderson Mansur (Ciranda)
Karina Matias (O Diário)
Márcia Galdino (FMEAT)
Ramón Moncada
Helena Singer
Ana Clara de Almeida Correia
Gracila Maria Grecco Manfré
José Sebastião Witter
• Imagem de Capa
Bandeira do município de Guararema, escolhida
para representar o Fórum Mundial de
Educação Infanto-Juvenil Alto Tietê
• Fotos
Juliana Bruce
Ney Sarmento
Julia Delibero
Uelves Sombra
Arquivos das Escolas Municipais
Fernanda Matheus
• Fotolito, impressão e acabamento
Rettec Artes Gráficas
Rua Xavier Curado, 388 - Ipiranga
04210-100 - São Paulo - SP
Tel.: (11) 6163-7000 Fax: (11) 6161-8709
[email protected] • www.rettec.com.br
• Editoração eletrônica
Mauro Teles
• Tiragem
3.500 exemplares
A Revista Educando em Mogi nº 36
é uma publicação da Secretaria Municipal de
Educação de Mogi das Cruzes e não se
responsabiliza por conceitos emitidos em
artigos assinados.
Educação Democrática
Sumário
A cor da minha pele
16
Marcha Cultural
abre o Fórum com
5 mil participantes
4
6
8
9
M das Cruzes se
Mogi
transforma na
tr
ccapital mundial
dda educação
Educar para a
sustentabilidade
do planeta
Os cenários da
diversidade
26
17
Fórum Mundial de
Educação Alto Tietê: De
alma e coração abertos
para uma nova era em
busca da verdadeira
educação para a
diversidade
Ler, escrever,
alfabetizar pra
valer
28
18
Construindo
novas relações
de gênero
Grande conferência
marca encerramento
do Fórum Mundial de
Educação Alto Tietê
30
19
Parceiros do movimento
Novas tendências entram
em debate
20
11
Escolas reúnem
4 mil pessoas
Educar sem traumatizar,
um desafio
a
12
Atividade
At
A
tivvidad lúdica
gganha
ga
nha ddestaque
13
22
32
Plantando
o futuro da Educação
Carta do Fórum
Infanto-Juvenil
Alto Tietê
33
Conferencistas propõem dez
princípios da responsabilidade
social na educação
Desafios para
o ensino no
século XXI
24
34
A educação
pública na mesa
Memória Paulo Freire
resgata valores das
obras freirianas
14
Carta do Alto Tietê
pela Educação
25
O político das políticas
educacionais
36
3
Marcha Cultural
abre o Fórum com 5 mil participantes
Thais Chita
Q
uem não tinha pensando em ir ou não sabia,
mas parou para ver, acabou ficando. Este foi
o caso da adolescente Caroline Regina Oliveira, 13
anos, que parou para prestigiar dançarinos(as) em
uma das apresentações da Marcha Cultural, hoje, em
Mogi das Cruzes, e continuou até o fim. O evento,
que coloriu as praças e ruas do centro da cidade no
dia 12 de setembro com palhaços, fanfarras, cartazes
e bandeiras, abriu as atividades do Fórum Mundial
de Educação Alto Tietê, realizado de 13 a 16 de
setembro. A Marcha encerrou seu trajeto no Ginásio
Municipal de Esportes com muito maracatu, street
dance, entre outras danças.
Caroline representou um grupo escasso na
Marcha: os (as) adolescentes. Das 5 mil pessoas,
segundo a Secretaria Municipal de Transportes,
havia poucos(as) deles(as) por ali. Adilson Ramos,
educador de um grupo religioso de jovens e de
danças folclóricas, também notou. “Moça, uma
informação por gentileza. Onde estão os (as) jovens
desta marcha?”, questionou.
Porém, educadores (as), familiares, homens,
mulheres e muitas crianças caminharam os cerca
de dois quilômetros pelas ruas do centro dando
uma força ao tema do Fórum deste ano: Educação:
Protagonismo na Diversidade. Força esta que
resultou em “pequenos desconfortos físicos”, mas
não atrapalhou, literalmente, a caminhada de
4
algumas pessoas. “Meu pé está assando,
mas estou adorando”, comentou Mariane
Carolina, de 8 anos. E Larissa de Lima
Duarte, de 6 anos, concordou:”Eu sabia
que ia gostar.”
Para Márcia Helena Fernandez,
presidente da Associação de Pais e
Mestres, o Fórum é um espaço de reflexão
sobre a educação. “É imprescindível esse
tipo de mobilização para envolver ainda
mais pais, familiares e educadores(as) no
assunto. É um momento de parar, pensar
e discutir sobre a educação no Brasil.
Além disso, trocar experiências que
deram certo em outras localidades como
conheceremos aqui.”
Além da troca, Wilson Secari, de
Poá, catador e há 12 anos gestor da
Cooperativa de Reciclagem Unidos pelo
Meio Ambiente (Cruma), complementa:
“Estamos aqui porque queremos chamar
a atenção das pessoas para a nossa
existência e importância da nossa atuação
tão fundamental para o meio ambiente,
além de geração de trabalho e renda”.
A Cruma participará do FMEAT com 28
integrantes.
Educadora há 17 anos, Roseli
Aparecida Pitta Silva, afirma que
o Fórum é momento histórico
para a região. “É um movimento
estimulador, uma chamada para a
educação, um olhar diferenciado
para o respeito à diversidade que
defendemos. É um momento de
formação para nós educadores(as),
de revermos nossas práticas
educativas e aprimorá-las”, disse a
coordenadora pedagógica da Escola
Municipal Vereador Ástrea Barral
Nebias, de Mogi das Cruzes.
Fotos: Juliana Bruce
O FME é um movimento
aberto a todos(as) que lutam pela
educação de qualidade como
direito universal, que existe desde
2001, e já passou por diversas
cidades e países.
Thaís Chita é jornalista e coordenadora de
comunicação do Instituto Paulo Freire
5
Mogi das Cruzes
se transforma na capital mundial da educação
Luiz Suzuki
M
ogi das Cruzes se transformou no dia 13 de
setembro na capital
p
mundial da Educação.
ç
Até o dia 16, professores e estudantes de todas as
partes do mundo estiveram na cidade debatendo
propostas para a formatação de uma plataforma
mundial que objetiva, entre outros itens, oferecer
ensino público de qualidade para todas as pessoas,
independentemente de raça, credo, cor e classe
social.
Organizado em conjunto pelos 11 municípios do
Alto Tietê, o Fórum Mundial da Educação reuniu
em sua abertura mais de 20 mil pessoas no Ginásio
Municipal de Esportes e no seu entorno. “Ver este
Ginásio completamente tomado por educadores
enche o nosso peito de esperança e alegria. A
educação é a base daquilo que nós buscamos: um
mundo melhor, com oportunidades iguais e mais
justas para todos”, ressaltou o prefeito de Mogi das
Cruzes, Junji Abe.
Ele destacou que o evento foi um momento
riquíssimo para toda humanidade, pois cada
educador que participou de qualquer uma das
centenas de mesas temáticas que foram realizadas
6
até domingo recebeu uma carga fantástica de inform
informações
e conhecimentos. “Ao voltar ao seu país,
p , estado ou rregião,
esse profissional irá aplicar em seu cotidiano todas as
experiências positivas que ele teve a oportunidade de
conhecer”.
O camaronês Pierre Founkoua, do Conselho
Internacional do Fórum Mundial de Educação, destacou
que a região do Alto Tietê pode ajudar e muito no
desenvolvimento das políticas públicas do setor em
outras partes do mundo. “O dia 13 de setembro de 2007
ficará marcado na história. Este movimento representa a
luta pela justiça social em todo o mundo. Ainda temos
muitas regiões do mundo, como os países da África que
não possuem a força que tem o Alto Tietê”.
Esta força à qual Fonkoua se refere, segundo a
secretária municipal de Educação de Mogi das Cruzes,
Maria Geny Borges Ávila Horle, está explicita na união
dos 11 municípios do Alto Tietê na organização do
evento. “É a primeira vez que 11 cidades se juntam
para promover o Fórum. Nos últimos 18 meses todos
os secretários municipais de Educação e seus servidores
trabalharam ativamente não apenas na organização, mas
no planejamento de todas as atividades”, salienta.
F
Fotos: Ney Sarmento
Para Erasto Fortes Mendonça, coordenador Geral de
Educação em Direitos Humanos da Secretaria Especial de
Direitos Humanos da Presidência da República, o Fórum
Mundial é uma ferramenta imprescindível para “combater
todo tipo de violação que impede crianças e adolescentes
de freqüentarem a escola pública”.
Ele também ressaltou a relevância do tema abordado
pelo Fórum Mundial de Educação Alto Tietê, Educação:
Protagonismo na Diversidade. “Este tema está bem
ligado aos interesses de nossa secretaria, que tem a
função de articular políticas públicas em todas as
esferas da sociedade. Esta edição, em Mogi das Cruzes,
colhe o resultado de experiências anteriores ao reunir
militantes em prol da causa da educação”, comentou.
O clima de celebração da educação foi comentado
por Moacir Gadotti, representante do Conselho
Internacional do Fórum Mundial de Educação. “Não
é só um momento para reivindicar, mas também de
celebrar a importância da educação. Vamos dialogar,
construir uma nova cultura política ao aprofundar o
diálogo para melhorar a educação do futuro”, disse.
Para Gadotti, a abertura foi objetiva e com clareza de
propósitos.
O presidente da Associação dos Municípios do Alto
Tietê (Amat), prefeito Marcelo Cândido, de Suzano,
agradeceu a Junji por colocar Mogi das Cruzes como
sede de um evento tão importante e ressaltou o esforço
contínuo das cidades da região para alcançar uma
educação de qualidade.
Também estiverem presentes à abertura do Fórum
Mundial as seguintes autoridades: os prefeitos de
Arujá, Genésio Severino da Silva, de Salesópolis,
Benedito Rafael da Silva, de Guararema, André
Luiz do Prado, o deputado estadual Marco Aurélio
Bertaiolli, o presidente da Câmara Municipal de
Mogi das Cruzes, José Antonio Cuco Pereira, a
dirigente regional de Ensino, Teresa Lúcia dos Anjos
Brandão, além de todos os secretários municipais de
Educação do Alto Tietê, entre outras autoridades.
Luiz Suzuki é jornalista e coordenador de Comunicação Social da Prefeitura
de Mogi das Cruzes
7
Educar
para a sustentabilidade do planeta
Fotos: Julia Delibero
e Juliana Bruce
Adriana Bravim
S
abemos da importância dos recursos
naturais em nossa vida e que o meio
ambiente tem sido visto, por alguns, como
inimigo do desenvolvimento. Engano. Puro
engano.
O debate Educar para a sustentabilidade do planeta,
do FMEAT em seu primeiro dia, trouxe à luz a questão
da necessidade da transformação das pessoas para
que possamos falar em sustentabilidade global. Em
sua fala, o professor Moacir Gadotti ressalta
que nós “assistimos a primeira crise
planetária – o aquecimento global e
precisamos enxergar a Terra como um
A tecnologia e o desenvolvimento são presentes maravilhosos,
organismo vivo”. A Terra é a nossa
ninguém discorda. Precisamos nos atentar apenas para que as
casa, aliás, o único lugar sabidamente
facilidades tecnológicas não nos façam escravos do consumo.
possível de vivermos. Somente aqui existe
Podemos e devemos buscar meios de viver de forma
água, ar, alimento e abrigo compatíveis com nossas
sustentável. E podemos.
necessidades de “sobrevivência”. Não estamos falando
É possível viver bem com conforto e segurança,
de conforto, mas de elementos essenciais à vida. Esta
causando
menos impacto ao planeta e a todos os seres
é toda a diferença.
vivos. Podemos fazer a diferença, podemos modificar o rumo
A revolução industrial nos trouxe
da história. Mudar hábitos é uma questão de prática e praticar
incontáveis facilidades, proporcionando
significa fazer todo dia, ter sempre em mente o que se quer e o
mais conforto nos afazeres cotidianos e acesso
que se precisa.
à alta tecnologia, capaz de nos conectar ao mundo
Portanto, pratique todos os dias, faça dos
inteiro. Porém, não podemos deixar que isto nos faça
seus
passos um caminho diferente. No dia-a-dia,
esquecer do nosso compromisso com a vida, com a nossa
consumindo
com consciência, reduzindo
vida. Reflita. O que é necessário para vivermos? Água,
embalagens
e sacolas, destinando
ar, alimento e abrigo. Qual destes itens essenciais
resíduos
para
a reciclagem, comprando
à vida são recursos naturais? Sim, todos eles. E
alimentos
orgânicos, consumindo
o que os bilhões de seres humanos que vivem
menos
carnes,
usando bem a água e
neste planeta fazem com estes recursos?
a energia, enfim pensando no bem
Poluímos diariamente rios e córregos
coletivo. Ações concretas também
com quantidades gigantescas de lixo,
incluem Educação, chave para a
esgoto, óleos e agrotóxicos; desmatamos
cidadania, para que mais e mais
e queimamos as matas – o que coloca o
pessoas sejam sensibilizadas pela
Brasil na péssima quarta posição de países
causa ambiental que, como visto,
mais poluidores do mundo - e com elas
também é nossa.
morrem seus animais, sem abrigo, alimento,
ar ou água; jogamos toneladas diárias de
Participaram
da
conferência
gases tóxicos no ar, inventando um problema
Carlos Rodrigues Brandão (UNICAMP
que até então parecia muito distante: o aquecimento
- Brasil), Cristina Vargas (representante do MST) e
global e as mudanças climáticas, levando milhares
Moacir Gadotti (IPF / USP - Brasil). O coordenador
de pessoas a perderem casas, pertences e pessoas
foi Mário Celso Micaeli dos Santos (voluntário da
queridas.
sociedade civil) com relatoria de Rosely Imbernon
A natureza tem prestado contas de como a estamos
(USP Leste - Brasil).
tratando. A maneira com que utilizamos os elementos
fundamentais para a nossa vida tem nos apontado como
o único ser vivo capaz de acabar com outros milhões de
Adriana Bravim é vice-presidente e diretora de Comunicação da
organização Bio-Bras, e responsável pela revista Voz Ambiental
seres e também com a sua própria espécie.
8
Os cenários da
diversidade
Thaís Chita
Fotos: Juliana Bruce, Ney Sarmento e Uelves Sombra
“Q
uero fazer uma provocação a vocês.
Pense e comente com a pessoa ao
lado um desafio do seu cotidiano de diversidade
que tenha enfrentado nos últimos tempos”, disse
Denise Carreira, da Plataforma Brasileira de
Direitos Humanos, Econômicos, Sociais, Culturais e
Ambientais (DHESCA), para aquecer ainda mais a
platéia depois da apresentação dos taikos (tambores
japoneses) dos Yamabuki.
O grupo emocionou a platéia de cerca de seis
mil participantes que ficou em pé para aplaudir sua
habilidade em encantar as pessoas, na abertura da
conferência Práticas em Educação: os cenários da diversidade,
realizada no dia 13 de setembro, na Tenda do Fórum.
Também participaram da mesa Beatriz Gonzáles Soto,
da Corporação Viva la Ciudadanía e Pierre Founkoua,
representante da Unesco no Fórum, sob a coordenação
de Camila Croso, da Campanha Latino-Americana pelo
Direito à Educação e relatoria de Dante de Rose, da
Universidade de São Paulo Leste (USP Leste) - Brasil.
Do público, um participante levantou a mão e
respondeu que se sentia incomodado pelo fato de
não ter visto escola de nenhuma periferia dos 11
municípios que estão realizando o Fórum. E que a
situação era um desafio em relação à convivência
com a diversidade. “Promover e respeitar de fato a
diversidade em nosso cotidiano e em nossas práticas
educativas é difícil mesmo. Em primeiro lugar, temos
que nos questionar: qual o conceito de diversidade
manejamos? Qual a diversidade que almejamos?”,
provocou mais um pouco Denise.
Assim
como
democracia,
participação,
cidadania, qualidade educacional, a diversidade se
apresenta com diferentes e conflitantes significados
e perspectivas políticas, dependendo de quem
a utiliza, na opinião da conferencista. “Para o
senegalês Doudou Diéne, da ONU, podemos dizer
que há duas formas básicas de tratar a diversidade:
a hierárquica e a interativa e igualitária. A
primeira poderia ser traduzida no velho ditado
‘cada macaco no seu galho’, ou seja, podemos
reconhecer as diferenças entre nós, mas mantemos
a hierarquização, não colocamos em xeque os
modelos que são valorizados, não interagimos
efetivamente com o outro. A outra, se propõe a
quebrar as hierarquias, aposta na alteridade, na
capacidade efetiva e afetiva de nos abrirmos para
esse encontro com o(a) outro(a)”, completa.
Segundo ela, apostar na construção da diversidade
interativa e igualitária exige, no mínimo, dois
9
enormes passos. “O primeiro é reconhecer
que vivemos em um mundo desigual sócioeconômico-cultural. É necessário não aceitar
mais a naturalização dessas desigualdades
como se fossem imutáveis. E o segundo,
reconhecer que vivemos imersos em uma
cultura discriminatória, preconceituosa e
intolerante. E que tudo isso está nos meios
de comunicação, na política, nos grupos
econômicos; mas também vive e se reproduz
em nossas casas, em nossas escolas e demais
espaços educativos, em nossas mentes e
corações”.
Para a colombiana Beatriz Soto, as
políticas públicas de seu país desconhecem
a diversidade e multiculturalidade de seu
povo, embora o governo atual afirme que
os temas sociais são eixos fundamentais de
sua administração. “Querem que o índice de
pobreza caia de 49% para 35%, mas junto com
ela sustentar um crescimento da iniciativa
privada. Dessa forma, creio que a política
pública é mais vulnerável à interferência
estrangeira, às grandes corporações”.
Ela teme que, com esta situação, algumas
áreas poderão sofrer efeitos danosos às ações
relacionadas à promoção da cidadania para
recompensar os empresários. “As políticas
públicas da Colômbia não estão construídas
sobre o projeto de nação e contrato social
que propõe o reconhecimento do princípio
da multiculturalidade e da articulação da
diversidade”.
Beatriz conta que a atual política
educativa está fincada em conceitos
neoliberais: cobertura e eficiência,
qualidade da educação e eficiência do
setor educativo. “O primeiro não leva
em consideração os (as) alunos (as) não
matriculados(as) e os índices de evasão
escolar. Estes são provocados pela falta
de recursos econômicos das famílias, de
motivação e interesse pela escola, além
de viverem em zona de conflito armado.
O segundo, desconhece os contextos
sociais, culturais e pedagógicos, e não
reflete sobre os problemas estruturais
do sistema educativo. E o terceiro, está
centrado basicamente na modernização
das secretarias de educação em relação
à estrutura física, na definição de um
modelo de gestão que diminui o quadro
de funcionários(as) com aumento das
responsabilidades dos que ficam.”
O camaronês Pierre Founkoua convidou
o público a pensar sobre o que é uma prática
educativa, como e por quê se elabora uma
prática pedagógica e quais os modelos
existentes. “Devemos saber que nossa
sociedade é formada por várias práticas
pedagógicas e que as encontramos nas
nossas famílias, na mídia e nos movimentos.
Todos eles seguem uma lógica bem
simples: seus princípios, modelos étnicos
e modalidades. Inclusive, em períodos de
ditadura militar como no Brasil, de onde
surgiu um dos mais importantes nomes da
pedagogia: Paulo Freire”.
Estamos vivendo em espaços que
contribuem com a formação de pessoas
autônomas, capazes de resolver conflitos?
A resposta, segundo Pierre, está na
reflexão de como as práticas educativas
são elaboradas e quem as faz. “Quando
a escola reconhece que é um elemento
do desenvolvimento completo do ser
humano, promoção dos princípios de
auto-gestão e do respeito e que o(a)
educador(a) é um animador democrático
que deve estimular a criatividade do
aprendiz, ela se torna um lugar de
comunicação multicultural, que vê de
fato no homem e na mulher o legado
do patrimônio humano. A escola deve
ser um espaço de aprendizado sobre
prudência e responsabilidade que são
valores fundamentais em nosso futuro.”
Thaís Chita é jornalista e coordenadora de comunicação
do Instituto Paulo Freire
10
Novas tendências
entram em debate
Ludmila Santos
A
s duas principais tendências mundiais
na área da educação – a construção de
políticas públicas e de mecanismos de diálogo
entre escola e comunidade – foram tratadas
neste sábado (15/09), das 9 às 12 horas, nas
últimas conferências do Fórum Mundial de
Educação Alto Tietê. Os dois debates contaram
com a participação de profissionais renomados,
entre eles o colombiano Ramón Moncada e o
italiano Alessio Surian.
O eixo “Protagonismo: responsabilidade
social na educação contemporânea” foi
discutido no Ginásio Municipal de Esportes.
Segundo o conferencista Alessio Surian, do
Conselho Internacional do Fórum Mundial
de Educação, o principal ponto discutido foi
a relação entre a educação e as comunidades
locais: “A escola surgiu com um conceito de
aprendizagem cognitiva e agora começa a
reconhecer outros tipos de inteligência: social,
cultural e emocional. Nesse sentido, discutimos
o que a escola pode fazer pela sociedade e o
que a sociedade pode fazer pela escola”.
Segundo Surian, o reconhecimento
dessa nova forma de educar permite que o
conhecimento passe a ser gradativamente
emancipativo: “A própria realização do Fórum
é emancipadora, uma vez que aqui, todos têm
direito à fala, à troca de idéias, a expressar-se
de diversas formas”. Também participaram
das discussões como conferencistas Carlos
Alberto Torres, da Universidade da Califórnia
– Los Angeles, e Maria da Glória Gohn, da
Unicamp.
Na Tenda do Fórum, ao lado do ginásio,
os debates se voltaram para o eixo “Políticas
públicas em educação: efetivando e
concretizando direitos?”. O encontro foi um
dos mais ricos por tratar de uma ferramenta
que garante o direito à educação para todos,
a permanência na escola, a diversidade
cultural e social. “A maioria dos governos
pensa a educação por meio de programas ou
projetos de curto prazo, ao invés de traçar
políticas públicas educacionais”, destacou o
coordenador da conferência, Ramón Moncada,
da Rede Cidade Educadora, que apontou
alguns aspectos da capital colombiana,
Bogotá, durante o debate.
Grafite
Na tarde de ontem, cerca de 200 jovens que
participam do Fórum usaram a criatividade para
pintar os muros da Estação Estudantes, na rua Álvaro
Pavan, com grafites alusivos ao evento. A CPTM cedeu
uma área de 50 metros de parede, que foi totalmente
preenchida hoje.
Ludmila Santos é jornalista do Jornal Mogi News. Esta é uma
reprodução da reportagem publicada no Caderno Cidades do dia
15/09/2007
11
Educar sem
traumatizar, um desafio
Negralu
O
ficina em São Paulo mostrou que cada pessoa gosta mais
de aprender de um jeito que de outro, com dificuldades
diferentes. A escola deve tentar descobrir quais
Em pleno século 21 ainda temos uma educação pública
de ensino fundamental e médio defasada, onde se pagam
muitos impostos e impostos não são convertidos em bens para
a população como saúde, moradia, segurança, transporte e
educação de qualidade.
Os debates do Fórum Mundial de Educação do Alto Tietê
mostraram que profissionais de educação não são preparados/as
para lidar com salas lotadas e um público heterogêneo de alunos,
com diferentes dificuldades. Esses profissionais acabam não tendo
tempo para dar atenção diferente a cada aluno e empurrando alguns
para a série seguinte. Isso nas cidades onde não se pode reprovar,
porque fica muito caro para o estado reprovar o aluno. Mas esse
mesmo aluno ou aluna pode passar de ano aprendendo muito.
O que mais interessa
Uma experiência em São Paulo, no município de Salesópolis,
foi contada no FME pela professora Célia Maria de Souza
Fonseca, secretária de educação. Ela falou sobre alunos com sérias
dificuldades e na baixa auto-estima que isso causava neles.
Um núcleo de ajuda foi criado para amparar quem precisava
mais e ela conta que a experiência foi muito boa. Professores/as
foram contratados/as só para essa recuperação, como foi o caso do
professor Anderson, que ficou com alguns alunos que nem sabiam
o alfabeto direito.
Esse professor Anderson começou a trabalhar com coisas que as
crianças mais gostavam e disse que o aprendizado foi muito rápido.
Para descobrir o que interessava mais, levava para a sala de aula,
gibis, livros de histórias infantis e outros tipos de revistas. E então
observou que as crianças pegavam mais os gibis, por não saberem
ler, e passou a trabalhar com estas revistas em quadrinhos.
Deu certo. As crianças começaram a ler e depois a pedir
revistas de outro tipo. Outras experiências feitas por professores
de outros lugares foram relatadas na oficina. Por exemplo, um
trabalho com percussão em São Paulo, com uma oficina que já é
feita há dois anos e uma banda de percussão, a Ubatukêre, que
já tem mais de um ano e meio. Os professores disseram que as
crianças atendidas acabam tendo um desempenho muito bom na
escola e em todo seu contexto social por aprenderem do jeito que
gostam mais.
Tanto em Salesópolis como na capital de São Paulo, os alunos
atendidos estavam em situação de risco.
Negralu é comunicadora da Ciranda Internacional de Informação
Independente. Matéria publicada no Especial Fórum Mundial de Educação
Alto Tietê 2007 no site www.ciranda.net (15/09/07)
12
Atividade
lúdica
ganha destaque
Juliana Nakagawa
Dentro da sala de aula, uma roda formada por dezenas de pessoas
ecoava o refrão: “Sacode o rabo jacaré”. Em seguida, uma coreografia
ensaiada finalizava a brincadeira da aula de danças folclóricas brasileiras.
A cena característica de uma instituição de ensino não chamaria a atenção
de quem passasse pelos corredores da Universidade de Mogi das Cruzes,
a não ser pelo fato de que os protagonistas da atividade não eram alunos e
sim professores e educadores.
Foi nesse clima descontraído e de atividades lúdicas que o Fórum
Mundial de Educação marcou o primeiro dia de programação. Entre as
conferências, palestras e debates, houve espaço para aulas de artesanato,
dança, teatro, entre outros encontros que, ao contrário do que se imagina,
têm mais conteúdo educacional do que as apostilas.
“Essas são atividades culturais primordiais para o conhecimento. É
nesse momento que o profissional identifica as diversidades e potenciais”,
destacou a representante da Prefeitura de Gravataí, no Rio Grande do
Sul, Christine Vieira Castro.
Para ela, o encontro fortalece a educação brasileira, já que os professores
de diversas regiões estão compartilhando conhecimento e vivenciando
experiências diferentes. “A participação dos profissionais de outros países
também acrescenta, porque são todos de países de terceiro mundo, que
enfrentam a mesma problemática que nós”, afirmou.
As professoras de Osasco, Rosângela Mirco e Roseli Pereira participaram
pela primeira vez de um evento dessa natureza e avaliaram que o conteúdo
das oficinas e painéis é tão construtivo quanto as conferências. “As atividades
de reciclagem, por exemplo, trazem a questão de disciplina, espaço e como
trabalhar isso no cotidiano da criança”, disse Rosângela.
O resultado de toda essa experiência já é conhecido pelas professoras
e também pelas demais participantes: uma educação melhor partindo
das mudanças na metodologia de ensino. “Por isso é bom conhecer o
trabalho e o desempenho de outros profissionais”, declararam.
Na Universidade de Mogi das Cruzes, destaque para o painel do
pesquisador João Roberto Baylongue, que traz a história da educação nos
11 municípios do Alto Tietê. “O Fórum traz a oportunidade de todos os
professores interessados em mudanças conhecerem novas práticas. Acho
que, sobretudo, esse evento pode também alavancar o turismo local,
coma visita de todos esses participantes”, avaliou.
Na UMC, a funcionária da Secretaria Municipal de Guarulhos,
Divaneide Alves apontou que o conhecimento extra-verbal, como
a dança e a expressão corporal foi um aprendizado que poderá ser
levado para o Município. “Temos que levar em conta que, mesmo com
a diversidade, podemos recriar as atividades em cima das criações dos
outros”, acrescentou.
Juliana Nakagawa é jornalista do Jornal O Diário. Esta
é uma reprodução de reportagem publicada no Caderno
Cidades no dia 14/09/07
Ontem alguns problemas de infra-estrutura como falhas no som e
atraso dos profissionais responsáveis pela apresentação foram registrados
em algumas atividades. Mas na avaliação da secretária executiva do
Fórum, Andréa Souza, o balanço final do primeiro dia foi positivo,
principalmente em virtude do elevado número de participantes. “Espero
que os demais dias sigam assim, ou até melhores”, declarou. O Fórum
Mundial de Educação termina neste domingo.
13
Memória
Paulo Freire
resgata valores das
obras freirianas
O movimento do Fórum Mundial de Educação é
marcado pelos ideais de Paulo Freire. O educador
pernambucano, falecido há dez anos, ganhou um
espaço especial durante os quatro dias de atividade do
Fórum Mundial de Educação Alto Tietê: a Memória Paulo
Freire. Realizado na Universidade de Mogi das Cruzes
(UMC), o evento foi organizado pelo Centro de Estudos
e Pesquisas em Educação Cátedra Paulo Freire de
Mogi das Cruzes (Cepec) e Instituto Paulo Freire (IPF).
Vídeos, debates e apresentações permitiram que todos
os participantes aprofundassem seus conhecimentos
sobre o trabalho do educador.
Os participantes eram recebidos por pequenas
amostras do trabalho de Freire. No corredor do prédio 1
da UMC, antes da sala reservada para a apresentação
de vídeos e depoimentos, pôsteres contavam a vida
e obra deste educador brasileiro. A exposição é uma
parceria do IPF e do Banco do Brasil.
O Legado Paulo Freire no Círculo Mogiano
de Cultura contou a experiência das educadoras
mogianas que formaram o Cepec. Desde o início da
formação do grupo de estudos e do Círculo de Cultura,
o crescimento do grupo em número de participantes
e formação pessoal, a estrutura e organização do
Círculo e o apoio recebido pela Prefeitura de Mogi das
Cruzes, por meio da Secretaria de Educação. Após a
apresentação feita por Fátima Melo, diretora da Escola
Municipal Profª Noemia Real Fidalgo, foi apresentado o
vídeo-documentário Educar para transformar, em que
Paulo Freire retrata a importância de ensinar de acordo
com a realidade do aluno e mostrar a visão de mundo
como um todo.
Wagna Suely Ribeiro dos Anjos, diretora do CCII
Profª Haydée Brasil de Carvalho, e Ana Clara Camargo
de Moraes, professora de Ensino Fundamental da Rede
Municipal de Suzano apresentaram a autogestionada
Práticas Reflexivas. Na atividade Vivendo Paulo Freire
num mundo globalizado além da diversidade, Martha
Marcontes, professora da Universidade de Londrina,
discutiu a relevância do legado freiriano em um mundo
globalizado, ressaltando a importância da diversidade
para a construção de um mundo mais justo.O vídeodocumentário inédito Paulo Freire Contemporâneo,
14
“Ninguém
ignora tudo,
ninguém sabe
tudo. Por isso
aprendemos
sempre”.
Paulo Freire
ém
do,
abe
sso
mos
re”.
eire
realizado pelo IPF e Ministério da Educação, foi
apresentado por Marli Aparecida de Souza Machado,
diretora da EM Profª Cecília de Souza Lima Vianna.
Um grande círculo marcou a última atividade da
Memória Paulo Freire: Cátedras: Repensando Paulo
Freire nos Círculos de Cultura. As experiências de
Londrina, Curitiba, Santo André e Mogi das Cruzes
foram reunidas para uma conversa sobre os rumos
da educação sob a ótica das obras de Paulo Freire.
Martha Marcondes, da Universidade de Londrina,
Josiane Domingas de Bertoja Pariz, da Universidade
Bargozzi, de Curitiba, Maria Leila Alves, da
Universidade Metodista de Santo André e Andréa
Marinho, da Universidade de Mogi das Cruzes e
presidente do Cepec, falaram sobre a importância
dos círculos de cultura, as especificidades de cada
um e o estudo das obras de Paulo Freire.
Antes do círculo, foi reapresentado o vídeodocumentário Paulo Freire Contemporâneo. A obra
demonstrou a proximidade do educador com os
educandos e a possibilidade de fazer de sua obra
uma realidade nas salas de aula. “Paulo Freire não
queria ser visto como um dogma. O importante de
sua obra é a confiança no outro, todos são capazes
de refletir e mudar seu jeito de pensar”, comentou
Martha.
A educadora comentou que a obra de Paulo Freire
demonstra que o educador é capaz e a sociedade
está formando atualmente cidadãos consumidores,
que exercem uma cidadania passiva. Para Andrea
Marinho, do Cepec, o conhecimento é a chave para
se ter crítica. “O caminho que Paulo Freire aponta é
o diálogo. Não repetir o que ele falou e sim, construir
a partir daí”, disse.
Maria Leila falou sobre a afetividade: “Paulo
Freire fala da afetividade na relação pedagógica.
A vida não é mais um valor universal, dificuldade
que a criança tem em receber carinho. O educador
deve buscar palavras que tenham significado para
o aluno, respeitar o universo do outro”. Educadoras
de Guarulhos e Mogi das Cruzes participaram do
círculo, compartilhando experiências e levando um
pouco da obra de Paulo Freire para seu dia-a-dia.
15
A cor da minha pele
Ana Trigueiro Sola
O
u tem mais gente negra no Brasil ou mais
gente negra está orgulhosa de afirmar
que é. Dados divulgados pelo IBGE na semana
do Fórum Mundial de Educação indicam que mais
1,34 milhão de pessoas passaram a declarar que
sua cor da pele é preta. O total passou de 11,5
milhões de pessoas para 12,9 milhões.
Proporcionalmente, no ano passado havia
6,3% de gente que se dizia de cor preta no Brasil
e agora são 6,9%, o que ainda é pouco perto da
cor da pele que se vê predominando no Brasil.
Esse pretejamento das estatísticas foi
acompanhado da diminuição do número de
pessoas que antes se dizia parda, e que baixou
de 43,2% para 42,6%.
Ainda muito recentes, esses dados estão
sendo explicados com suposições. A principal
delas é de que a cobrança de políticas afirmativas,
a proposta das cotas e do estatuto da igualdade
racial aumentaram os debates sobre a grande
participação afro-brasileira na história do país e
mais pessoas passaram a valorizar sua cor.
Esses temas foram debatidos no Fórum
Mundial da Educação em várias atividades,
especialmente
oficinas
autogestionadas,
organizadas por escolas e organizações do
movimento negro preocupadas com a valorização
da identidade afro-brasileira e a introdução da
história da África no currículo escolar.
“Tem mais gente
orgulhosa em dizer que
tem a pele preta, e que
deixou de ser parda nas
estatísticas do Brasil. O
FME dá indícios de que
isso tem a ver com os
debates dos movimentos
sociais e negros para
mudar a educação”
Foto: Julia Delibero
Um exemplo foi a oficina “Tratando de
africanidades no cotidiano escolar”, da cidade
de Santo André, ou a “Questão racial na escola
para construção positiva de identidade - valores”,
de uma escola de Mogi das Cruzes, ou ainda
sobre os “Saberes negros modernos a serviço
da educação protagonista da diversidade”, do
Centro de Estudos de Culturas e de Línguas
Africanas e da Diáspora.
Um dos mais específicos sobre as cotas
e estatuto da igualdade foi o painel “Políticas
Públicas para a diversicade étnico-racial”,
com a participação de Marilândia Frasão, da
organização Negro Sim, Rute Rodrigues Reis, da
USP, e mediação de Cosme Alves Nascimento,
da Secretaria Municipal de Suzano.
Cosme disse que esta semana entidades do
movimento negro devem completar um milhão de
assinaturas pela aprovação da lei de cotas e da
igualdade racial, que serão levadas a Brasília.
16
Ana Trigueiro Sola é comunicadora da Ciranda
Internacional de Informação Independente. Matéria
publicada no Especial Fórum Mundial de Educação Alto
Tietê 2007 no site www.ciranda.net (1709/07)
Ler, escrever, alfabetizar pra valer
Naira
Nair
iraa Ci
CCirino
iri
riino
“Com leitura em todas as atividades das primeiras séries, professoras dizem gostar de trabalhar em dupla na sala de aula”
A apresentação da EMEF Parque Dourado II (do município de Ferraz de Vasconcelos)
começou em tumulto: na sala ao lado a Associação de Assistência ao Deficiente Visual
do Alto Tietê (AADVAT) fazia uma apresentação musical que atrasou o início da palestra.
Mas o atraso não interferiu no interesse de quem assistia à exposição do Projeto “ler, escrever, alfabetizar pra
valer”, que modificou as bases do ensino nas primeiras séries das escolas municipais em Ferraz de Vasconcelos.
Este é um projeto que propõe maior qualidade de ensino aos alunos de primeira série por meio de um maior enfoque
na alfabetização e na leitura, que são trabalhadas em todas as atividades apresentadas.
A primeira característica do programa é a atuação conjunta de dois professores em uma mesma sala,
com o objetivo de diminuir a quantidade de alunos por professor e oferecer, assim, maior suporte.
A partir disso, novas estruturas de ensino foram desenvolvidas com o objetivo de dar maior enfoque às dificuldades
individuais de cada aluno até que a sala toda esteja em um mesmo ritmo de aprendizagem. Isso é feito variando os métodos
de aplicação de uma mesma atividade ao mesmo tempo em que se oferece ao aluno estímulo e motivação para progredir.
Uma das inovações feitas na estrutura de ensino foi a dinamização das aulas, onde agora uma atividade
recebe vários enfoques diferentes e as crianças aprendem brincando. Exemplificando, as professoras
Quedina e Gisele contaram sobre uma dessas atividades, onde através do preparo de uma vitamina de
frutas foram dadas lições sobre construção de texto (preparo da receita), higiene alimentar e nutrição.
Servindo ainda como exemplo de integração educacional, as professoras contam que há trocas de experiências entre
as duplas de professoras das diferentes salas. “Assim nós comentamos o que deu certo em nossa sala e sabemos
o que funcionou na delas”, disseram.
E o trabalho tem apresentado resultados: “Temos apenas um aluno em fase pr é-silábica”,
-silábica”, afirmam as
professoras. Resta agora esperar que outros municípios despertem para a importância da alfabetização
efetiva e da construção de uma base sólida de ensino desde a primeira série e, seguindo o exemplo de Ferraz
de Vasconcelos, dêem às crianças uma atenção mais individual e personalizada.
Fotos: CCII Ignês Pettená
Naira Cirino é comunicadora da Ciranda Internacional
de Informação Independente. Matéria publicada no
Especial Fórum Mundial de Educação Alto Tietê 2007
no site www.ciranda.net (13/09/07)
17
7
Construindo novas relações
de gênero
Wanderson Mansur
Foto Fernanda Matheus
o preconceito contra pessoas que têm
que amam pessoas do mesmo sexo. É
eles
aqu
tra
con
eito
onc
prec
o
é
obia
“Homof
(Programa Brasil sem Homofobia).
ças como qualquer outro ser humano”
eran
esp
e
es
idad
ess
nec
,
eios
ans
,
vez o assunto é a diversidade
sentimentos
ates a respeito da diversidade. Dessa
deb
os
uem
seg
m,
Fóru
de
dia
eiro
Estamos no terc
homofobia.
sociedade sem racismo, machismo e
sexual e a igualdade de gênero, por uma
e
ndo para a paz na diversidade sexual
istrada pela equipe do grupo “Educa
min
foi
)
cina
(ofi
ade
ada
rsid
tion
Dive
e
ges
o
auto
zaçã
e
A atividad
ão Continuada, Alfabeti
parceria com a Secretaria de Educaç
a Promoção da Cultura de
igualdade de gênero”, que atua em
ito dos “Projetos de Formação para
âmb
no
C),
/ME
CAD
(SE
ão
caç
Edu
“Programa Brasil sem
do Ministério da
e de Gênero”, em cumprimento ao
ldad
Igua
da
e
ual
Sex
ade
rsid
Dive
l de Educação da
Reconhecimento da
s”. O grupo é da Secretaria Municipa
here
Mul
as
para
ticas
Polí
de
l
iona
Nac
Homofobia” e ao “Plano
cidade de Suzano.
o sobre os papéis
dinâmica que colocou a reflexã
uma
com
ntes
icipa
part
os
u
ões sociais que
A oficina envolve
e problematizar as representaç
eu-s
end
Pret
de.
ieda
soc
na
inseridos.
sociais que temos
no meio social no qual estamos
mos
olve
env
des
que
éis
pap
s
dico’, ’policial’,
temos sobre os infinito
éis sociais diversos, como o de ’mé
pap
íram
ribu
dist
oras
cad
edu
as
e:
A dinâmica consistiu no seguint
’, etc. Papéis estes que nem sempre
esti’, ’mulher casada’, ’mulher solteira
’trav
’,
’gay
do’,
rega
emp
’des
or’,
’profess
te, ao que realmente representamos.
estavam relacionados, necessariamen
as algumas
estavam carregando. Foram escolhid
que
ial
soc
de
tida
iden
va”
“no
da
cia
r”, tendo
Os participantes não tinham ciên
de “colocar cada qual no seu devido luga
das
mbi
incu
riam
esta
as
ess
de,
ieda
pessoas para representarem a soc
egamos apenas uma identidade
reotipada desses papéis. Nós não carr
este
s
veze
tas
mui
ia,
méd
o
visã
a
e
como bas
, ou seja, esses papéis não são
ora somos educadores e educandos
s,
mãe
e
pais
os
som
ora
,
lhos
fi
os
visão do estereótipo para
social, ora som
ém, a proposta era trabalhar com a
Por
.
dos
gna
esta
is,
táve
imu
s,
nido
que se travou durante
categoricamente defi
lemática foram pontuadas no diálogo
prob
sa
des
rca
ace
es
açõ
tiviz
rela
as
facilitar a dinâmica. Ess
estava acontecendo.
o processo de aprendizagem que ali
nto ela é antidemocrática,
o quanto a sociedade é perversa, o qua
trar
ons
dem
de
tido
sen
no
s
soa
pes
as
transitar por todos os
A dinâmica afetou
soas se sentiram mal por não poder
pes
As
.
osa
eitu
onc
prec
e
sta
raci
negro, a mulher e
machista, homofóbica,
é fazer eles sentirem na pele o que o
tivo
obje
“O
o.
mod
incô
num
ou
sion
ois da dinâmica,
espaços sociais, isso oca
preconceito antes da dinâmica e dep
ero,
gên
utir
disc
e
rent
dife
É
e.
idad
o homossexual sofrem na real
cadora social Luciana Freitas.
devido ao ato vivencial”, afirma a edu
culdade que eles têm
sexualidade na nossa sociedade, a difi
da
tabu
ao
tivas
rela
s
stõe
que
m
unto, temos que
Os educadores discutira
to cuidado na hora de tratar desse ass
mui
ter
iso
prec
“É
.
olas
esc
nas
a
ília transmite
de conversar sobre esse tem
vivência familiar, os valores que a fam
sua
é
l
qua
res,
valo
s
seu
,
ças
cren
s
saber de onde vem o aluno, sua
de trabalhar com sexualidade. Os pais
educação física. “Eu tive dificuldade
de
ora
cad
edu
uma
rma
afi
”,
nça
cria
a essa
aula”, complementa.
para que os filhos não assistissem à
indo
ped
,
ndo
ama
recl
dia
o
outr
no
chegavam
Alves,educador
orhomossexualnessecontexto.Cláudio
cad
edu
do
gura
fi
a
re
inse
se
ndo
qua
s
os educadores,
Oproblemaseagravaaindamai
onde atua, devido a homofobia de outr
ola
esc
na
ele
por
ada
ontr
enc
ade
homossexual, fala sobre a dificuld
ngedoras, alguns pais dizem que
discreto para não criar situações constra
ser
o
tent
“Eu
os.
alun
de
pais
dos
e
dos alunos
s, é muito complicado”, desabafa.
querem me ver educando os filhos dele
não
que
o
clar
am
deix
mas
,
icos
ofób
fato real irredutível da vida.
não são hom
s vivos, então a diversidade se torna
sere
os
outr
os
s
todo
de
e
rent
dife
é
a é que todas as pessoas
“Se cada ser vivo
te temos que abrir olhos. O problem
men
ples
sim
s
vê-la
para
e
s,
reai
tanto fazer parte
Só as variações são
amental da condição humana, querem
fund
ecto
asp
e
ess
rar
igno
fácil
s
mai
querem ser iguais, acham
filme O Relatório Kinsey).
reza para conseguir isso” (Trecho do
natu
ria
próp
sua
m
trae
que
o
grup
um
de
18
Wanderson Mansur é comunicador da Ciranda Internacional de
Informação Independente. Matéria publicada no Especial Fórum
Mundial de Educação Alto Tietê 2007 no site www.ciranda.net
(14/09/07)
Organização
Conselho Internacional do Fórum Mundial de Educação
Comitê Organizador do Fórum Mundial de Educação Alto Tietê
Realização
Patrocínio
Apoio
ABC Educatio, Aliança Internacional de Jornalismo (Núcleo Brasil), AMOA - Associação Mogiana Oficina dos Aprendizes, Associação
Atlética Comercial, Associação Comercial de Mogi das Cruzes, Associação Comercial de Poá, Associação de Assistência ao Deficiente
Visual do Alto Tietê, Bio-Bras, BR Marketing, Cala-Boca Já Morreu, Centro do Professorado Paulista, Centro Federal de Educação Técnica
de São Paulo, Centro Paula Souza, Ciranda-Afro, Ciranda da Comunicação Independente, CLACSO, Comissão Colegiada Fórum Municipal
de Defesa da Criança e do Adolescente, Diretoria de Ensino – Mogi das Cruzes e região, Diretoria de Ensino de Itaquaquecetuba,
Educarede, El Elmangrullo – Argentina, ELOIN, Escola Técnica Estadual Presidente Vargas, Escola Técnica Mogiana – ETM, Faculdade
de Saúde Pública da USP, Faculdade Montessori de Educação e Cultura, Faculdades Integradas Cantareira, Faculdades Integradas de
Guarulhos, Faculdades Paulista de Serviço Social de São Paulo, FMU, Folha de Mogi, Fundação Cafu, Fundação CASA, Fundação Cásper
Líbero, Fundação Cultural Benedicto Siqueira e silva – Paraibuna, Fundação Gol de Letra, Instituto de Desenvolvimento Humano do Alto
Tietê (Idehat), Instituto para Democratização da Educação no Brasil, Instituto Paulista de Ensino e Pesquisa, Instituto Paulo Freire – Suécia,
Instituto Teológico, Jornal A Semana, Jornal da Tarde, Jornal Mogi News, Jornal Mogi Total, Lions Clube de Mogi das Cruzes Estância,
Mackenzie, Maxpress, Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis - Catasampa, O Diário (Mogi das Cruzes), Opção
Brasil, PUC – SP, Rádio Metropolitana, Revista Direcional, Revista Fórum, Revista Nova Escola, Revista Onda Jovem, RP Propaganda,
Secretaria Nacional de Educação e Formaçã o Profissional, Departamento de Educação do Trabalhador Coordenação Geral de EJA - Santo
André, Secretaria Estadual de Educação de São Paulo, SINDSEP, SME Diadema, SME Jacareí, SME Mauá, SME Santo André, SME São
Bernardo do Campo, SME São Caetano do Sul, SME São José dos Campos, SME São Paulo, SMEC Bertioga, Serviço Social da Indústria
(Sesi), Sociedade do Espetáculo – Santos, Subsede APEOESP de Itaquaquecetuba, Subsede Apeoesp Poá/Ferraz, Subsede Apeoesp
Suzano, Suzano Papel e Celulose, TV Diário, Undime Nacional, Undime São Paulo, Unesp, Uniban, Unicamp, Unicid, Uniesp, Uninove,
Unisantana, Unisuz, Universidade de Guarulhos, Universidade Ibirapuera, USP-Leste, USP - Pró Reitoria de Cultura.
19
Escolas reúnem 4 mil pessoas
Karina Matias
Em uma sala, professores, crianças e adultos
aprendem a confeccionar brinquedos com um
simples pregador. Ao lado, um escritor divide
suas experiências com os leitores. Em outro
ponto, malabarismos e atrações culturais
divertem e impressionam o público. E há espaço
também para o debate. Este caldeirão de
variadas atividades define o espírito do Fórum
Infanto-Juvenil (FIJ), evento que aconteceu
paralelamente ao Fórum Mundial de Educação
Alto Tietê (FMEAT). O objetivo foi dar voz aos
estudantes, mas muitos educadores também
participaram das atividades.
crianças de bicicleta ou “motos” elétricas e teve
como objetivo conscientizar a garotada sobre os
perigos do tráfego, além do conhecimento dos
equipamentos de trânsito, como semáforo de
motorista e pedestre, as faixas de segurança e
sinalizações básicas. “Muita gente acha que a
bicicleta não é veículo e, por isso, não respeita as
sinalizações, o farol. Assim, de pequenos, eles já
criam responsabilidade”, complementa Viviane
Cipriano de Melo Pederro, coordenadora de
Educação para o Trânsito da Secretaria Municipal
de Transportes. A pista esteve disponível ao
público até domingo.
Na manhã de ontem, a movimentação era
intensa nas escolas estaduais Francisco Ferreira
Lopes, o Chicão, e Profª Leonor de Oliveira Melo,
ambas no Mogilar. À tarde, peças teatrais foram
destaque nas universidades. Neste sábado, as
escolas voltaram a abrigar o FIJ, que terminou no
domingo com o plantio de árvores, às 14 horas,
na Barragem de Taiaçupeba.
No andar de cima da escola, educadores
faziam fila para participar da oficina “Brinquedo
de Sucata”, do grupo Arte e Palco. No local, eles
aprenderam a confeccionar pequenos bonecos
com pregador, palito de sorvete ou até de fósforo.
“Estou adorando, para mim foi uma novidade e já
é uma opção para o Dia das Crianças”, contou
Alice Helena de Faria Oliveira, professora de
Ferraz de Vasconcelos. Para Marcelo de Oliveira
Moreira, estudante de Educação Física que já
atua na área, o artigo é de produção simples e
barata.
Para Andréa Souza, secretária executiva do
Fórum, o número de participantes superou as
expectativas. A estimativa é de que 4 mil pessoas
passaram pelas escolas na manhã de ontem.
Entre as 30 atividades realizadas, segundo ela,
apenas quatro tiveram atraso. “Nós contamos
com parceiros de São Paulo e existe o problema
do trânsito, mas não foram atrasos de muito
tempo”, explicou.
Entre as atrações, a Escola Mirim de Trânsito
foi uma da mais solicitadas. Montada logo na
entrada do Chicão, a pista foi percorrida pelas
20
Perto dali, Eduarda Patrícia de Oliveira, 9 anos,
e Carolina Santos de Oliveira, 8 anos, puderam
conhecer e conversar com Nelson Albissú, autor
do livro “Quem Ouvir e Contar, Pedra Há de se
Tornar”, que leram no projeto de leitura da E.M.
Luiz Beraldo de Miranda.
Entre as atividades culturais, os jovens do
grupo “The Fire Brotherhood” arrancaram muitos
aplausos, principalmente dos adolescentes, que
ficaram impressionados com os malabarismos
da trupe. Felipe Rodrigues, Marcos de Oliveira e
Jaqueline Montenegro – ela veio de São Paulo -,
chegaram a distribuir autógrafos e tirar fotos com
os espectadores.
INTERNOS DA FUNDAÇÃO CASA TÊM DESTAQUE
Adolescentes e educadores se apertavam
na pequena sala da Escola Estadual Francisco
Ferreira Lopes, o Chicão, no Mogilar, onde
jovens internos da Fundação Casa (antiga
Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor –
Febem) de Itaquaquecetuba apresentavam a
peça “O Conhecimento Transforma”, na manhã
de ontem, entre as atividades do Fórum InfantoJuvenil (FIJ).
Muito aplaudido ao final da exibição, o
espetáculo agradou as estudantes de Mogi,
Larissa Regina de Melo, 16 anos, e Jane Regina
Livoni, 15 anos. “Foi muito interessante. Eles
conseguiram prender a atenção do público”,
disse Larissa. “Se tiver mais atividades e projetos
como este, vai possibilitar que outros jovens
saíam das drogas”, avalia Jane. Para elas, as
escolas, como um todo, deveriam trabalhar de
forma diferenciada e mais criativa o ensinamento
dentro de sala de aula, envolvendo a participação
de todos os alunos nas atividades.
Para a professora Linei Noves, o que mais
chamou a atenção foi o teor da peça, que
abordou a importância do conhecimento. “Talvez,
se eles tivessem cultura e conhecimento não se
envolvessem em más companhias, pois a gente
sabe que é isso o que acontece”, avalia.
Para os atores amadores, era a estréia
em eventos fora da unidade. “É interessante
participar destas atividades”, disse J.M.S., 17
anos. Segundo a coordenadora pedagógica
da Fundação, Sinhá Carvalho de Oliveira, por
meio de atividades artísticas, como teatro,
coral – que também se apresentou no dia –
são trabalhados a conscientização e conceitos
para a posterior reintegração dos adolescentes
na sociedade.
Mas não foram todos os participantes do FIJ
que compartilharam da mesma opinião. Em outra
sala do evento, o assistente social Givanildo
Manoel da Silva, coordenador do Fórum Estadual
de Defesa da Criança e do Adolescente, criticou
a existência das Febems. “Com toda essa polícia,
metralhadora, como visto aqui, o que os jovens
podem aprender com armas? O que significa
isso na vida deles”, argumentou ele, que à noite
participou do debate específico – “O Menor
Infrator: A Questão da Febem”, na Universidade
de Mogi das Cruzes (UMC).
Aliás, cobrar uma participação maior da
população foi o tema do debate que Silva e
um grupo de integrantes do Fórum Municipal
de Defesa da Criança e do Adolescente de
Mogi estabeleceu em uma das atividades do
FIJ – uma mesa de diálogos que teve como
tema: “Participação popular na Formulação e
Fiscalização das Políticas de Defesa dos Direitos
da Criança e do Adolescente”.
Como resultado da discussão, o grupo definiu
que, no próximo encontro do Fórum, continuam
as discussões sobre o mesmo tema, só que
dessa vez, contará com duas mesas de debate:
uma formada por adolescentes e outra com
adultos.
Karina Matias é jornalista do Jornal O Diário. Esta é uma
reprodução de reportagens publicadas no Caderno Cidades,
do dia 15/09/2007
21
Conferencistas propõem
dez princípios da responsabilidade
social na educação
Thais Chita
Fotos: Julia Delibero
defesa da educação cidadã, defesa do estado democrático, defesa da parceria
entre a educação e os movimentos
sociais. Além destes, a defesa
do direito à dúvida, defesa
da ética, defesa da utopia,
defesa da cidade cosmopolita, planetária e multicultural e a defesa do
amor, pois sem amor
não há esperança.
Segundo os conferencistas,
esses
compromissos contribuirão para uma
educação humanizadora, libertadora,
coerente, cidadã, de
boa qualidade.
22
O segundo eixo do Fórum – Protagonismo:
Responsabilidade Social na Educação Contemporânea – vem provocando crianças, adolescentes,
jovens, adultos e idosos desde o primeiro dia, 13,
aqui em Mogi das Cruzes, sede da edição de 2007
do movimento mundial que acontece até 16 de
setembro. Entre as várias atividades sobre o tema
da conferência deste sábado, que levou o mesmo
nome, saíram dez princípios da responsabilidade
social da educação que os(as) participantes consideraram norteadores para o confronto com o neoliberalismo. Na mesa, Carlos Alberto Torres, da
Universidade da Califórnia (UCLA) e diretor do
Instituto Paulo Freire em Los Angeles, Maria da
Glória Gohn, da Universidade de Campinas (Unicamp), além de Alessio Surian, representante do
Conselho Internacional do FME-Itália, e Ulisses
Araújo, da Universidade de São Paulo (Leste), que
relatou o evento.
“Devemos ser nós
mesmos, mas não os
mesmos todos os dias”,
disse Alessio Surian,
citando Gabriel, O pensador.
E para isso, precisamos falar e
ouvir o outro, compreendê-lo.
“A educação no sentido mais amplo
não está só na escola, está fora também.
A escola hoje não estimula a inteligência
emocional que faz parte da social e que se traduz na
responsabilidade cultural. Sem esta, não chegaremos
à cidadania planetária que queremos”, afirma
Surian. Para ele, uma das mais exitosas estratégia de
educação libertadora é a defendida por Paulo Freire.
“Acho fantástico trabalharmos com os Círculos de
Cultura, como propunha Freire, em que todos(as)
têm a palavra, expõem suas vivências e constroem o
conhecimento de forma coletiva”.
Defesa da liberdade do pensamento, da criatividade e das pessoas, defesa da educação pública,
Surian critica a escola atual que deve entender como
mérito o controle enorme que desempenha no âmbito
social. Porém, no do conhecimento, ela deixa muito a
desejar. “Ela deve propiciar mais espaços para a reflexão,
troca de informações, praticar pedagogia da pergunta
para refletir uma aprendizagem mais significativa,
próxima ao contexto dos(as) alunos(as). E este processo
tem que ser compartilhado com a comunidade. A
responsabilidade social envolve as três culturas: dos pais
(familiares), da comunidade e das crianças. Sempre fui
considerado um ótimo aluno porque, por ser filho
de docentes, o jogo da escola – de reproduzir o que
eles queriam - se tornou fácil para mim. Não quero
que essa situação ainda aconteça”.
Além disso, a transparência dos recursos
financeiros da educação e a qualidade dela para construir a cidadania
ativa buscando da autonomia,
base do pensamento crítico,
foram outras necessidades
imprescindíveis da educação levantadas por
Surian.
“Entendendo o
protagonismo como
fator essencial da
cena social e política constituída de
educadores(as) e
de comunidades”,
Maria da Glória
explicou a evolução
da palavra na nossa
história. “Formada
de raízes gregas, a
palavra protagonismo
significa “lutador”. Passou a ser usada no campo da dramarturgia como
“personagem principal” e,
atualmente, a área das ciências
humanas se apropriou de seu sentido. E como ela se articula com a educação?”, provoca.
Para ela, os educadores(as) devem assumir a
responsabilidade social junto com as comunidades,
estimulando a mobilização das mesmas para que juntos
sejam protagonistas, proponham agendas, indiquem
caminhos como os “grandes agentes” – os fóruns – têm
feito. “Além disso, eles(as), nós, devemos pensar em
como responsabilidade social pode atuar para que as
dimensões da educação não formal, que ocorre nas ações
do coletivo, nos movimentos, nas redes, nos fóruns,
podem se conectar com as das educação formal.”
Segundo Torres, a privatização do ensino, a
descentralização da educação como instrumento
de poder político e controle social e o modelo
economicista são impactos do neoliberalismo que não
são os caminhos que acredita e defende. “Primeiro
porque não devíamos pagar escolas particulares, é
dever do Estado. Segundo que, com este cenário,
ajudamos ainda mais os neoliberais a controlarem
organizações da sociedade, a fazerem acordos
respeitando somente seus interesses, acabando com
a possibilidade de desenvolvermos nosso papel no
controle social”, comenta.
Outra preocupação do educador é que o modelo
economicista de presença marcante em nossa
sociedade elimina o rigor acadêmico, constrange,
limita a capacidade de criar que as pessoas têm,
aumentando e, em muito, a situação de infelicidade
delas. “E que ferramentas acessar para que esta
situação imposta com tanta severidade mude?”,
pergunta alguém da platéia por meio de uma
anotação entregue à mesa. “Teremos a resposta no
dia em que nos questionarmos como amamos as
pessoas”.
Atualmente, levanta Torres, para avaliar a
“qualidade” da educação, muitos países vêm
adotando testes como se fossem a única maneira de
descobrir como educadores(as) e alunos (as) estão
se desenvolvendo, caminhando. “Há tantas outras
situações indispensáveis que deveriam ser levadas
em consideração que ampliariam qualitativamente
os horizontes desses critérios, como a formação
moral e cultural desses sujeitos, a sua relação com a
responsabilidade cidadã”, complementa.
Thais Chita é jornalista e coordenadora de comunicação do
Instituto Paulo Freire
23
A educação
pública na mesa
Márcia Galdino
Profissionais da área, estudiosos e educadores como Vital
Didonet, membro do movimento Fundeb pra valer, Maria
do Pilar Lacerda, secretária nacional de Educação Básica
do Ministério da Educação, Valério Arcary, da Apeoesp e
Ramón Moncada, da Rede Cidade Educadora da Colômbia,
compuseram a mesa de debates Políticas Públicas em Educação:
efetivando e concretizando direitos? referente ao quarto eixo
do Fórum Mundial de Educação Alto Tietê. A conferência
aconteceu neste sábado (15/09). Os participantes apresentaram
estudos e pesquisas e citaram diversos pontos deficientes na
atual política educacional do Brasil e do mundo.
Didonet afirma que quando pensamos em políticas públicas,
temos que pensar como eixo central: a pessoa, e que pensar
em política é buscar a justiça e o respeito à diversidade e às
diferenças. Outra questão é a uniformização, a uniformidade
é um desastre porque perdemos a individualidade para todos
que se põem como dominadores. “Nós temos que ultrapassar
essa visão do eurocentrismo, do americanismo, que na ótica
deles é para todos”, completa.
Para o educador, quando se defende o direito à educação,
não se defende apenas o direito de estar na escola. É preciso
que se aprenda, que se construa uma base em cada cidadão.
“No Brasil há no mínimo 500 mil crianças fora da escola. E
quando pensamos em políticas públicas, devemos pensar
nessas crianças que não tiveram acesso à escola, quem são elas
e porque estão fora. Ela está sendo excluída e isso empobrece
o coletivo”.
Maria do Pilar lembra que falamos de direito em um país
que, historicamente, se acostumou com a exclusão. “A escola
brasileira nunca foi pública, porque ela nunca foi para todos.
Nós, profissionais da educação temos que nos engajar nessa
luta, ter uma política de Estado muito definidora desses
direitos”, completa. Ela faz uma provocação aos educadores
questionando: qual é o papel do professor hoje, onde os
salários são baixos, mas lidam com meninos (as) que precisam
dessa escola. Qual é o papel deles para garantir esse direito?
A secretária fez um levantamento das últimas décadas do
ensino no Brasil e informou que atualmente há cerca de 40
milhões de adultos que não têm a 4ª série. “Isso se deve ao
modelo de reprovação pela exclusão existente desde os anos
50, onde 40% das crianças brasileiras tinham direito à escola.
Esse número foi crescendo, mas é essa escola pública que nossa
geração defende”, e continua, “um modelo de reprovação que
excluía os filhos dos trabalhadores e que seguia uma lógica
que não era a do aluno e, sim, a do professor e sua matéria”.
Assegurar que a política pública seja feita por pessoas comuns
e que essas mesmas pessoas sejam agentes protagonistas e
marquem na história esse ponto, dando o tom através de projetos
pedagógicos é outro ponto defendido por Pilar.
Arcary afirmou, veementemente, que a educação brasileira
está em uma crise terminal e que estamos pior que há 30
24
anos. “Os educadores não acreditam no que estão
fazendo, os estudantes não acreditam no que estão
fazendo. As coisas não são o que são e, sim, aquilo
que as pessoas percebem como são”, afirma. Para
o professor, é preciso falar de políticas públicas
democráticas, como construção, seguimento e
avaliação da cidadania. Além da necessidade da
participação do cidadão, da cidade, e que isso não seja
dirigido apenas aos professores, mas à sociedade em
geral. Para que isso aconteça são necessários espaços
de debates, como o Fórum. É preciso que haja uma
relação entre as políticas públicas da educação e o
direito à educação. A finalidade é a garantia desse
direito. “Não é problema de vaga, de acesso, mas de
compreensão, de gratuidade”, completa.
Moncada explica que não pensamos as políticas e
nem a sua finalidade. Para ele, a política educacional
não é para gestão e sim para fundamentar o projeto
político, social e cultural. “Essas políticas têm uma
relação a longo prazo, têm a ver com transformações
culturais, mentais e isso só se dá a longo prazo.
Também devemos saber que nem tudo o que é
governo é público e nem tudo o que é público é
democrático”, finaliza.
Márcia Galdino é jornalista e fez parte da equipe de Comunicação
do Fórum Mundial de Educação Alto Tietê
Fotos: Uelves Sombra
O político das políticas EDUCACIONAIS
Ramón Moncada
Integrante do Conselho Internacional do Fórum coletivos sociais e culturais. O direito à educação não tem
Mundial de Educação, o colombiano Ramón Moncada só a ver com a entrada na escola, com as vagas. O direiparticipou no sábado (15/09) da conferência “Políticas to à educação é um direito completo, tem a ver com a
Públicas: efetivando e concretizando direitos?”, e criti- gratuidade, com a pertinência e a inclusão e também tem
cou a adoção de programas de educação orientados por relação com a qualidade. Os governantes, os secretários
organismos estranhos à cultura do povo interessado. “As de educação e os funcionários públicos só concebem frepolíticas educacionais refletem o que pensamos e quere- qüentemente a gestão do serviço educativo, mas eles não
mos da sociedade”, disse ele. E por isso, se
pensam no reconhecimento e a garantia
elas refletirem o que o Banco Mundial pensa
“Nem tudo que do direito a educação.
e quer da sociedade, já estarão distorcidas. A
Políticas educacionais e cidade - O que
seguir, algumas opiniões de Ramón Monca- é governamental é chamamos educação é, em realidade, esda, apresentadas na conferência
público. Nem tudo colarização. Então temos políticas educa-
As Políticas educacionais refletem o que pen- que é público é cionais para o sistema escolar, mas não
para a educação da cidade. As secretarias
samos e queremos da sociedade - As políticas
democrático”
de educação pensam quase exclusivameneducacionais têm a ver com o projeto cultute no sistema escolar, a rede municipal de
ral, o projeto político de nossa sociedade, do
ensino; mas não dá para pensar a educação
nosso país. Para essa sociedade que nós
na cidade toda, porque a cidade, no senqueremos, temos então umas políticas
so da proposta da cidade educadora,
educacionais concordantes. Este é o
é um sistema global de educação e
risco da influência de alguns orgaaprendizagem. Então, precisamos
nismos internacionais nas políticas
também pensar nas políticas edueducacionais nacionais e locais.
cacionais para as cidades.
Por exemplo, o Banco Mundial é
uma organização privada e a sua
O papel estratégico das Secretapolítica de educação passa a ser
rias de educação - As secretarias de
política pública nacional nos noseducação têm a responsabilidade
sos países.
da construção, seguimento e avaliação participativa e democrática
As políticas educacionais e o
longo prazo - A educação e a cultura têm a ver com as transformações sociais, culturais e mentais.
Estas transformações se dão a longo
prazo. Os governos planejam e fazem
a gestão a curto prazo. A maioria dos
governos tem projetos, estratégias e programas, mas eles não têm políticas educativas.
A política educacional deve ter um horizonte cultural
e estratégico de longo prazo. Você pode atuar no curto
prazo, mas conectado com o caminho do longo prazo.
Políticas públicas democráticas - Nem tudo que é governamental é público. Nem tudo que é público é democrático. As políticas públicas são feitas e implementadas pelo governo, mas têm a ver, sobretudo, com o
Estado no senso da filosofia política. O Estado é além das políticas educativas. Elas não têm só a ver com a gestão
governo e tem a ver também com a sociedade e com os do serviço educativo, mas com a garantia do direito a eduprojetos políticos e culturais das nações. Existem mais cação. Elas deveriam pensar também à educação na cidade
projetos e programas governamentais do que políticas e não só o sistema escolar, a rede de ensino. As secretarias
de educação precisam ter mais força, mais presença e mais
públicas. Precisamos de políticas publicas democráticas
influência nos governos municipais e nas políticas sociais
feitas com participação cidadã na construção, na aplicae, portanto, maior orçamento, porque sua responsabilidade
ção e no controle cidadão. A participação cidadã legitié as políticas educacionais e estas têm a ver com o projeto
ma as políticas educacionais.
social cultural e político da sociedade que nós queremos
As políticas educacionais e o direito à educação - A fina- ter, que nós queremos construir.
lidade das políticas educacionais deve ser o reconhecimento e a garantia do direito à educação para todos.
A educação é um direito humano fundamental porque Reprodução de texto publicado no Especial Fórum Mundial de
dela depende a realização do projeto de vida individual Educação Alto Tietê 2007 no site www.ciranda.net (1709/07)
de cada pessoa, mas também a realização dos projetos
25
Educação
Democrática
Helena Singer
Certas propostas educacionais pautadas pelos ideais
de liberdade e gestão participativa receberam diferentes
denominações da literatura ao longo dos últimos 150
anos. Embora haja diferenças em relação aos vários
países onde se encontram estas escolas, atualmente
o movimento em torno do qual elas se articulam tem
adotado a denominação de “educação democrática”.
Em geral, escolas democráticas apresentam as
seguintes características:
• gestão participativa, com processos decisórios que
incluem estudantes, educadores e funcionários;
• organização pedagógica em que os estudantes
definem suas trajetórias de aprendizagem, sem
currículos compulsórios.
Um dos pioneiros desse movimento foi o escritor
Leon Tolstoi, que dirigiu a Escola de Yasnaia-Poliana,
na Rússia do final da década de 1850. O pensamento
básico é que a verdadeira aprendizagem é aquela que os
homens buscam espontaneamente. O grande inspirador
desta corrente, o filósofo Jean-Jacques Rousseau entendia
que o ser humano, ao nascer, já é provido de inteligência,
personalidade e disposições mentais e emocionais - de
uma individualidade própria, enfim. Seria necessário,
portanto, permitir a exteriorização plena destas disposições.
Apostava na curiosidade infantil e deixava que ela
conduzisse o processo de aprendizado. Os educadores que
lhe sucederam mantiveram a ênfase na curiosidade infantil
e a necessidade do respeito ao desejo da criança, tratando-a
como um indivíduo pleno e incorporaram a questão da
gestão política da escola, enfatizando a participação dos
estudantes na elaboração das decisões sobre a vida em
comunidade, a responsabilidade compartilhada. Não se trata
de simplesmente inverter os pólos da educação tradicional
e passar a permitir tudo o que até então foi proibido ou
suprimir a ação de todos os agentes responsáveis por
aquela educação. Trata-se bem mais de formular uma outra
proposta de educação para a formação de cidadãos aptos a
viver sob o regime democrático.
Escolas democráticas não são, portanto, um fenômeno
novo e nem circunscrito a poucos países. Trata-se de algo
recorrente nos nossos tempos, em sociedades pouco e
26
muito desenvolvidas, tradicionais e modernas,
ricas e pobres. Mais recentemente, na última
década, temos assistido a um recrudescimento
desta proposta educacional ligado, basicamente,
a alguns processos específicos:
1. o desenvolvimento de novas tecnologias de
comunicação que facilitam os processos de
aprendizagem autônoma e a formação de
comunidades de aprendizagem e de redes;
2. as novas teorias do conhecimento que
assumem a incapacidade das ciências
para solucionar os grandes problemas da
humanidade e preconizam o reconhecimento
dos saberes tradicionais e de outras culturas;
3. os avanços nas pesquisas de psicologia
cognitiva
em
relação
aos
aspectos
motivacionais do aprendizado;
4. as transformações no mundo do trabalho no
sentido da desregulamentação das relações,
da imprevisibilidade das carreiras e da
multiplicidade dos caminhos profissionais;
5. o crescimento dos movimentos pela reinvenção
da democracia. Neste novo contexto, de forma
menos ou mais consciente, escolas públicas
e privadas no mundo todo têm promovido
mudanças pela democratização e novas
experiências escolares têm sido constituídas
sob princípios democráticos.
Atualmente, várias são as redes que articulam
as escolas democráticas no mundo. Presente em
21 países, inclusive no Brasil, a Associação Janusz
Korczak (AJK) promove cursos para educadores,
exposições e traduções de livros do médicoeducador, Janusz Korczak, que fundou e dirigiu
um orfanato para crianças judias entre 1912 e 1942
na Polônia e escreveu vários livros, alguns de
ficção para crianças, outros de aconselhamento
para pais e relatos de suas experiências
educacionais. Em 1987, a AJK de Israel apoiou
a criação da Escola Democrática de Hadera
Helena Singer é mestre e doutora em Sociologia,
atualmente desenvolve projeto de pós-doutorado junto
ao Laboratório de Estudos e Pesquisas sobre Ensino
e Diversidade da Universidade Estadual de Campinas
(LEPED-Unicamp) e é gestora do conhecimento da
Cidade Escola Aprendiz. É uma das fundadoras da Escola
e do Instituto para a Democratização da Educação no
Brasil (IDEB), em São Paulo, e do Instituto para Educação
Democrática do Brasil. Autora de República de Crianças
(Hucitec) e Discursos Desconcertados (Humanitas), entre
outros livros e artigos publicados no Brasil e no exterior
sobre educação e direitos humanos.
que, mais tarde, criou o Institute for Democratic
Education (IDE), dirigido pelo psicólogo Yaacov
Hecht. Desde 1996, o IDE desenvolve projetos
em centenas de escolas e cooperou na formação
de vinte e cinco escolas democráticas no país.
Nos últimos anos, o IDE tem atuado junto a
oito governos municipais para programas
de desenvolvimento sustentável regional,
mobilizando todas as escolas locais bem como
os demais serviços públicos. Em parceria com o
Kibbutzim College, oferece formação em nível
superior em educação democrática, atualmente
com duzentos estudantes.
O IDE organizou a primeira Conferência Internacional de Escolas Democráticas (IDEC) em
m 1993.
Desde então a IDEC vem acontecendo anualmenualmente, sempre em um continente diferente, reunindo
eunindo
centenas de pessoas. Em 2007, foi realizada
da pela
primeira vez na América Latina (junto ao Fórum
Mundial de Educação Alto Tietê em Mogii das
Cruzes, SP, Brasil) como resultado de uma pararceria entre o Instituto para a Democratização
ão
da Educação no Brasil, a Faculdade de Educação da USP, o Instituto Socioambiental e
o Laboratório de Estudos e Pesquisas sobre Ensino e Diversidade da Unicamp.
Também tem contribuído para trazer a proposta da educação democrática para o Brasil, a Escola da Ponte,
de Portugal. Esta escola começou a
ser democratizada em 1976 por iniciativa de um grupo de professores
liderados por José Pacheco, autor de
vários livros sobre o tema. A escola é
os
pública e, depois de ter atuado muitos
anos somente com o primeiro ciclo do enssou
sino fundamental, a partir de 2005, passou
a oferecer todo o ensino fundamental. Nos úlo de vitimos anos, a escola se tornou um ponto
res brasitação para educadores e pesquisadores
sileiros e seu idealizador acabou por se mudar
úblicas
para o Brasil, onde articula escolas públicas
e privadas, secretarias de educação e outras
organizações interessadas na educação democrática.
27
Fórum Mundial de Educação Alto Tietê: De
alma e coração abertos para uma nova era
em busca da verdadeira educação para a
diversidade
Ana Clara de Almeida Correia
“Nada do que foi será, de novo do jeito que já foi um dia...”
(Como uma onda, Lulu Santos)
É muito bom poder ter um canal de comunicação, como a revista Educando em Mogi,
para que eu possa partilhar minhas impressões a respeito do Fórum Mundial de Educação
Alto Tietê, sediado em Mogi das Cruzes, em setembro último. Devemos concordar que,
além de uma grande honra para nosso Município, foi também uma oportunidade única para
os milhares de profissionais de educação ligados a esse encontro. Nestes quatro dias de
reflexão, pudemos ter a oportunidade de, como foi belamente escrito na música da professora
Simone Teodoro da Silva, “...olhar o mundo do nosso quintal...”! (Hino do Fórum Mundial de Educação Alto Tietê). Como foi maravilhoso perceber que as mais variadas concepções e propostas
estavam todas ao nosso dispor e tão perto de nós! Foi valioso aproveitar estes dias para apreender o
mundo, rever muitos amigos, permitir-se experimentar, escutar e transmitir nossas vivências de educadores e seres humanos; promovendo, realmente, a educação para a diversidade cultural, política, étnica,
religiosa. O Fórum trouxe a nossa cidade a oportunidade de sediar o que há de mais novo e também, o que
há muito tempo temos lutado e discutido em termos de educação para busca da qualidade.
A abertura já mostrou-nos a que viemos. Na execução do hino nacional brasileiro, cantado por
milhares de vozes uníssonas de educadores, jovens e crianças, fez-me refletir no quanto
somos perseverantes, no quanto queremos buscar o melhor para nosso país, construir
e viver a nossa cidadania. Foi lindo e emocionante pensar que, em tantas partes deste
país e deste mundo, existem milhões de pessoas envolvidas num mesmo propósito,
que com profissionalismo e, principalmente, amor, dedicam suas vidas à pesquisa,
ao trabalho direto de formação pedagógica, à formação profissional, à alfabetização
de jovens e adultos, à promoção social dos desfavorecidos, à educação de nossas
crianças, sem distinção de raça, cor, credo, poder econômico. Neste momento de
discussão, todos nós, sem distinção fomos iguais, tínhamos um mesmo propósito,
acreditamos num mesmo futuro, tínhamos os mesmos desafios...
28
As atividades do Fórum Infanto-Juvenil mostraram que os jovens e as crianças também
querem participar desta busca pela
educação para a diversidade.
As propostas e a participação
significativa deles nas atividades, nos mostraram que,
além de sujeitos desta
construção cultural, nossos educandos são também atores nela. Para
os alunos das unidades
em que sou gestora, foi
uma experiência única,
maravilhosa e construtiva. Pude ver em cada
olhar, um universo de no-
A
jo
es
R
La
vos questionamentos que surgiram após a participação na marcha ou
nas atividades de que fizeram parte; e, nós, educadores vimos através
deles que a construção de um novo mundo é possível, sim, e está aí
para que nós ajudemos a realizá-la.
Quem passeou por todos os espaços do Fórum, encontrou em cada atividade, em cada painel, palestra, atividade autogestionada, exposição,
pôster, mostra de dança, artes, música, teatro, oficinas; uma nova forma
de ver e conceber a educação na prática da diversidade, encontrando
caminhos para obter, da melhor forma, os objetivos a que se propôs.
Foram propostas que incentivaram a nossa imaginação, instigaram a
vontade de aprofundar-se mais em metodologias, em pesquisa, em novas concepções. Como disse Terezinha Rios, em sua fala na tarde de
sábado, que tentarei reproduzir o mais fielmente possível, sobre a formação do professor: “Constrange-me falar tantas vezes sobre o mesmo
assunto que é a formação do professor para os professores.... Porém,
quando falo diversas vezes sobre a mesma coisa, acredito que a história
que conto seja sempre uma nova história a cada jeito de contar .O
repetido pode ser sempre novo, tenho a esperança de estar sempre
renovando através destas experiências as idéias dos educadores...”
E arremata seu pensamento com uma frase de Paulo Freire, muito significativa:
“A prática de pensar a prática é a melhor maneira de pensar certo...” (Paulo
Freire)... O que estamos fazendo durante o Fórum nada mais é do que repensar a
nossa prática, e pensar a prática é refletir sobre nosso trabalho; pensar, pensamos
sempre, porém, nem sempre REFLETIMOS..”.
O ato de refletir nos traz a oportunidade de melhorar a nossa performance profissional
e individual como seres humanos; e quando temos a possibilidade de participar de momentos de reflexão desta magnitude, como se mostrou o Fórum, somos enriquecidos, tanto
intelectualmente, quanto espiritualmente, pois recebemos energias do universo conspirando
a nosso favor. Devemos, sim, enaltecer a todos aqueles que participaram desta construção, a
todos que de uma forma ou outra colaboraram em cada secretaria, em cada um dos municípios,
em cada atividade ou discussão, pois somente através de ações conjuntas é que realmente
poderemos construir uma nova perspectiva de mundo para todos nós. Será agindo que
veremos os resultados, é no diálogo que seremos livres para atuar na sociedade em
que vivemos e construir como sujeitos e atores a nossa história. O futuro é agora, refletir sobre ele é fazer já o que deve ser feito, aproveitando, é claro, as experiências
vividas como ponto de partida para a reflexão e ação em busca de uma nova era.
É na busca constante que encontramos os melhores caminhos para trilhar. Meus
agradecimentos pessoais a Secretaria Municipal de Educação de Mogi das Cruzes
por ter proporcionado aos profissionais desta a rede a oportunidade de crescimento e formação profissional com seriedade, confiança e visão de futuro.
Ana Clara de Almeida Correia é
jornalista, pedagoga e diretora das
escolas municipais Antonio Pedro
Ribeiro e (R) Profª Maria Alda M.
Lainetti
29
Grande conferência
marca encerramento
do Fórum Mundial de
Educação Alto Tietê
A conferência “Fórum Mundial de Educação em Processo:
Desafios e Perspectivas” marcou o encerramento do Fórum
Mundial de Educação Alto Tietê 2007 neste domingo (16/09). O
público presente ao Ginásio Municipal de Esportes de Mogi das
Cruzes assistiu a relatos sobre os temas trabalhados nestes quatro
dias de intensas atividades em Mogi das Cruzes. Autoridades,
educadores, estudantes e representantes de movimentos sociais
do mundo inteiro ouviram as contribuições do Alto Tietê em
prol da educação de qualidade para todos e todas.
O evento marcou o final do Fórum que reuniu 25 mil pessoas
nas conferências, painéis temáticos e atividades autogestionadas;
10 mil jovens e adolescentes no Fórum Infanto-Juvenil e 5 mil
pessoas no espaço do Centro Municipal Integrado “Maurício
Nagib Najar” com a Feira Mundial de Educação e a Festa das
Nações. O prefeito de Mogi das Cruzes Junji Abe avaliou o
evento como positivo. “Neste ano, o Fórum no Alto Tietê vem
com certeza patentear aquilo em que todos estão interessados em
lutar: a educação universal para todos de alta qualidade”, disse.
Junji falou ainda sobre o envolvimento de todos neste
processo. “Quero crer que não devemos parar aqui e que
todos os dias até o próximo Fórum na cidade de Nova
Iguaçu, todos educadores, todas as Ongs, enfim todos nós,
independente de sociedade civil ou governo, participemos
para que as idéias não fiquem só no verso ou na poesia”,
completou. As contribuições do Alto Tietê foram reunidas em
duas cartas de intenções à Plataforma Mundial de Educação,
que será encaminhada a organizações governamentais e nãogovernamentais do mundo todo.
A carta do Fórum Mundial de Educação Alto Tietê foi lida
pelas secretárias executivas locais, Andrea Marinho e Andrea
Souza. O documento reafirmou os cinco pontos de Nairóbi,
onde foi realizado o Fórum Mundial de Educação no início
30
deste ano e propôs metas (ou utopias) a serem buscadas
e defendidas por todos e todas. A importância da criança
no processo educativo foi mencionada na carta do Fórum
Infanto-Juvenil lida pela estudante Letícia Sayuri Batista.
O Conselho Internacional, representado por Rámom
Moncada, cumprimentou a região pelo Fórum. “Mogi das
Cruzes é organizada, limpa e com um povo muito acolhedor.
Para nós estrangeiros, a sensação de acolhimento é muito
importante. Isso reflete as idéias de Paulo Freire. O Fórum
não é só um movimento acadêmico, é um movimento de
amor”, comentou o colombiano Rámon Moncada, educador
da Rede Cidade Educadora ao se despedir de Mogi. .
Pierre Fonkoua, de Camarões, apreciou as universidades
mogianas e a gentileza do povo. “É uma cidade muito boa.
Gostei do método utilizado pelas escolas com a inclusão
de alunos portadores de necessidades especiais e acho que
devemos insistir na participação das crianças e no uso de
novas tecnologias e línguas”, disse. Junto com Moncada,
Fonkoua integra o grupo de educadores de 28 países que
fazem parte do Conselho Internacional do Fórum Mundial
de Educação.
As universidades Braz Cubas e Mogi das Cruzes
foram grandes apoiadoras do Fórum. “O Fórum Mundial
de Educação é um exemplo e ainda é pouco pelo que
deveríamos estar fazendo”, disse Rubens Guilhemat, próreitor de graduação da Universidade de Mogi das Cruzes.
Saul Grinberg, pró-reitor administrativo da Universidade
Braz Cubas parabenizou os alunos que participaram do
movimento e falou sobre o sonho da transformação do
mundo em que vivemos pela educação: “Foi o brilho nos
olhos destas educadoras Andrea Marinho e Andréa Souza
que nos trouxe aqui hoje”.
Momento de integração
O tema do Fórum “Educação: Protagonismo na
Diversidade” foi uma realidade em todo o período de
preparação e realização do movimento. “Trabalhamos
a diversidade pura e todos fomos protagonistas. Éramos
um grupo diverso formado por 11 municípios, mas que
encontraram um ponto comum: a luta por uma educação
melhor para todos”, comentou a educadora Eliana
Cristiane Hipólito. Profissional de Arujá, Eliana participou
do Fórum pela primeira vez e ressaltou o trabalho das
secretarias municipais de educação em dispensar todos os
profissionais, não só os professores.
A secretária municipal de Educação de Mogi das Cruzes,
Maria Geny Borges Ávila Horle, ressaltou a integração
dos onze municípios para o sucesso do movimento. “O
trabalho em conjunto dos municípios envolvidos foi
fundamental para que tudo ocorresse da melhor forma
possível. Acreditamos que o Fórum Mundial de Educação
Alto Tietê renderá frutos, pois foi um momento de reflexão
sobre as práticas educativas e troca de experiências, o que
com certeza, enriquecerá o trabalho que desenvolvemos
para chegarmos ao mundo melhor que desejamos com
educação de qualidade para todos”, disse.
Alice Rude Horle Martins, secretária municipal de
educação de Guararema, também destacou a cooperação dos
municípios que eram unidos por meio da Associação dos
Municípios do Alto Tietê (Amat) e agora estão juntos pela
educação. “Este envolvimento é importante para que todos
reflitam e repensem suas práticas. Como disse, Paulo Freire
nada está feito, tudo está sendo construído”, comentou. Os
secretários municipais de educação de Arujá, Virginia Alegri,
e Suzano, Valdicir Stuani também compareceram.
Relatos dos temas
Rosely Imbernon (USP Leste), Carlos Alberto Torres
(University of Califórnia – Los Angeles/ Instituto Paulo
Freire EUA) e Beatriz Gonzáles Soto (Viva la Ciudadania
– Colômbia) completaram a mesa e falaram sobre
sustentabilidade, diversidade, protagonismo e políticas
públicas. O garoto Murillo Souza Siqueira, 9 anos, aluno
da rede municipal de Mogi das Cruzes falou pelas crianças
e adolescentes do Fórum Infanto-Juvenil. “Aprendemos
brincando. Em todas as atividades, aprendi alguma coisa.
Revi o aquecimento global e na Escola de Trânsito, aprendi
sobre o respeito”, disse.
A secretária municipal de Nova Iguaçu, Marli de Freitas
falou sobre próximo Fórum, que será realizado no município
fluminense em 2008.
Para Junji, Mogi das Cruzes tem um avanço extraordinário
para atender todos os reclamos, sugestões, críticas que um
Fórum Mundial dessa magnitude apresenta. A dirigente
regional de Ensino de Mogi das Cruzes e Região, Teresa Lúcia
dos Anjos Brandão participou da solenidade. As Escolas
Estaduais Francisco Ferreira Lopes e Profª Leonor de Oliveira
Mello receberam atividades lúdicas e reuniram 10 mil crianças
nos dias 14 e 15 de setembro.
A última atividade do movimento foi o plantio de
árvores na Barragem de Taiaçupeba, no Distrito de
Jundiapeba, organizada em parceria pela Bio-Bras e o DAEE
(Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São
Paulo). Crianças, educadores, voluntários e representantes
da sociedade plantaram mudas de 20 espécies diferentes
para neutralizar as emissões de carbono feitas durante os
quatro dias de movimento.
31
Plantando
o futuro da
Educação
O Fórum Mundial de Educação Alto Tietê (FMEAT)
deixou nas terras da região sementes de esperança no futuro
do planeta, na igualdade e na justiça social, por meio da
educação como direito universal para todos e todas. Para
render ainda mais frutos, este trabalho foi coroado com a
participação de aproximadamente 50 pessoas, no dia 16 de
setembro, na neutralização de gases de efeito estufa emitidos
durante os dias do FMEAT, por meio do plantio de 2 mil
mudas na Barragem de Taiaçupeba, distrito de Jundiapeba.
Este é o primeiro Fórum Mundial de Educação em que a
neutralização acontece, o que mostra o compromisso desta
edição temática com a vida, por meio de uma ação concreta.
Para se ter uma idéia, nestes dias a Rede CataSampa coletou
2 toneladas de lixo. “O diferencial deste Fórum foi se
preocupar com a questão ambiental com um eixo temático
dedicado especialmente para esse debate. Isso demonstra o
compromisso concreto dos educadores com o planeta e os
recursos essenciais para a nossa sobrevivência”, comentou
Adriana Bravim, vice-presidente da organização Bio-Bras.
Foram mais de 300 mudas plantadas no domingo, sendo
que o restante será plantado na área pelos profissionais do
Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São
Paulo (DAEE), que cedeu as mudas, o espaço e preparou a
terra. Luis Carlos Miya, diretor de operação de barragens
do DAEE e o engenheiro Josemar Garcia dos Santos
organizaram a atividade junto com Adriana e Nadja Soares,
presidente da Bio-Bras.
Pais, educadores, representantes de movimentos sociais e
crianças que participaram das atividades do FMEAT deram o
exemplo da atitude necessária para a preservação do planeta, ou
melhor, da espécie humana. “Quem corre risco somos nós. Quem
nos dá água, alimento e abrigo é a natureza, se não protegermos
os recursos naturais, estamos colocando em risco a vida do ser
humano”, observa Adriana. Representando a rede municipal de
Itaquaquecetuba, Cristiano dos Santos Souza levou dois alunos
para a atividade. “A questão da natureza é muito importante e
tudo que é feito no sentido de conscientizar as crianças como
o plantio que fizemos, merece parabéns. Temos que cuidar da
natureza, pois ela tem muito a nos oferecer”, disse.
Mudas de goiaba, ipê amarelo e roxo, angico, tamboriu,
pata de vaca, peroba, aroeira, guarantã, aracá gigante, entre
outras fizeram a festa das crianças. “Estamos aqui para
preservar o meio ambiente”, disse Caroline Mayara da
Silva Soares, 13 anos. A educadora mogiana Sandra Regina
Bento, da rede estadual e do Instituto Dona Placidina,
plantou mudas ao lado de amigos. “Este é o fim de um
trabalho, é o quem vem coroar o discurso que fizemos
nestes dias de mobilização com a participação de alunos,
pais e professores”, comentou.
32
CARTA DO FÓRUM INFANTOJUVENIL ALTO TIETÊ
O Fórum Infanto-Juvenil merece um destaque principal, pois por meio dele notou-se que tão
importante quanto o educador é a criança. Os alunos
participaram do FME ALTO TIETÊ com o mesmo projeto
de
abordado pelos educadores e profissionais do Fórum Mundial
foram
des
Educação. As crianças e jovens tiveram vez e voz e as ativida
pelo
direcionadas para despertar-lhes os sentidos, as emoções e a busca
aprendizado.
o
E isto realmente aconteceu nesses três dias. Entre a programaçã
os,
havia atividades lúdicas, peças teatrais, apresentações de projet
e
ram-s
oficinas e autogestionadas. Os professores e os alunos intera
num movimento de solidariedade e troca de saberes imenso.
que
Com isso, o objetivo do Fórum foi alcançado: uma escola em
sso de
há atividades estimulantes e participação de todos no proce
s do
construção do conhecimento. Espera-se agora que todas as escola
Brasil tenham essa visão inovadora.
A participação de Organizações não Governamentais colaborou
ão
para um evento mais rico e diversificado. Deseja-se que esta atuaç
uma
crie
alcance mais intensamente o cotidiano escolar para que se
rede de relacionamento e ajuda mútua.
Por fim, a relação entre os profissionais da educação, os
alunos e suas famílias foi a chave para a coletividade que se
vivenciou durante o Fórum. O que se espera é que esta relação
de carinho, de compreensão e principalmente de dedicação
às atividades educativas perpetue-se após o fechamento
desta edição do Fórum, para que daqui por diante possa
compartilhar esta experiência e assim mudar a atual
situação da educação mundial.
Letícia Sayuri Batista
Representante da Comissão do Fórum Mundial de
Educação Infanto-Juvenil
33
DESAFIOS PARA O ENSINO NO
SÉCULO XXI
Gracila Maria Grecco Manfré
José Sebastião Witter
Educação e Ensino foram, são e sempre serão temas básicos de qualquer sociedade
constituída. Ensinar e aprender são ações que transformaram os homens em seres
diferenciados na vida do planeta, principalmente depois da criação do alfabeto.
Com ela, os homens viram o nascimento da possibilidade de registro de sua
história e a vontade de transferir as experiências vividas para as próximas
gerações, tornando-as indeléveis. Sem dúvida, a oralidade unida à palavra
escrita permitiu um ordenamento muito maior de sua realidade social.
A construção paulatina da história de pessoas ou de grupos de pessoas
ao longo do tempo e do espaço sempre foi um dos principais instrumentos que permitiu a continuidade dos povos, cada qual com seu
entendimento de “mundo”. O registro do cotidiano fez com que
as comunidades se mantivessem íntegras e, por conseqüência, se
consolidassem no que hoje conhecemos por “países” que, por sua
vez, constituem o próprio mundo. O uso da palavra e o ensino
de usos e costumes em todas as latitudes e longitudes é o que
privilegia e modela formas de pensar, de agir, de se entender e
de se definir os infinitos papéis sociais.
O Século XXI, com a exacerbação do domínio tecnológico e com
a inquebrantável força do mundo eletrônico, introduziu novos
elementos que precisam ser considerados para que se pergunte
quais são os verdadeiros desafios para o ensino em todos os
níveis. Não se pode, portanto, neste momento ainda de certa
forma “novo”, procurar um ou o maior desafio, pois são vários
e de natureza distinta.
Necessário se faz pensar em que momento houve mudanças significativas no mundo da educação, com conseqüências marcantes
para o ensino em seu todo... Cremos que as mudanças começaram,
de fato, com o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945. Desde o
pós-guerra, e até hoje, os meios educacionais sentiram o impacto
dos avanços tecnológicos. Dos aparelhos domésticos mais simples
aos computadores de última geração, vemos surgir, a cada instante,
facilidades que nos levam a refletir não só sobre as relações passadopresente, como também a buscar um sentido, uma “previsão” do que
ainda há por vir. Enquanto tudo avança celeremente, o que se dá àquele
que antes era o centro do saber: o professor? Nada, ou quase nada... Há
experiências em muitos meios e em diversas comunidades, mas o resultado é sempre lento...
No Fórum Mundial de Educação Alto Tietê, recém-organizado e realizado em
Mogi das Cruzes, a pluralidade de eventos de toda natureza, ainda que sempre mantendo o foco dos Eixos Temáticos, aconteceu de forma concomitante,
como, aliás, nada pode deixar de ser na atualidade. Todos querem tudo (e ao
mesmo tempo) neste insano planeta. Assim o é e ponto final. Inúmeras e infalíveis
alternativas postas em debates. Quem fará o encontro, o acompanhamento e a administração do que foi sugerido com a efetiva realização de cada propositura? O que acontecerá em seguida?
Apenas queremos, como em uma conversa franca entre amigos que se querem bem,
reproduzir alguns pontos de um texto surpreendente. O Ensino Superior em nosso país é o
tema, porém, como se verá, vale para todos os níveis de nosso sistema educacional:
“... A expansão (da Universidade) puramente vegetativa começou a criar problemas, não
somente quanto à admissão de alunos, mas também quanto às próprias dificuldades de funcionamento
do novo complexo em que a Universidade se vinha transformando”.
34
“(...) Tomemos como ponto de partida, o corpo docente,
que é, afinal, com o aluno a parte axial da universidade. É,
sem dúvida, mais numeroso do que se poderia esperar, tomado
globalmente. Mas, como é dominantemente de tempo parcial,
podia-se imaginar que o número de componentes do magistério
não representasse igual número de funções integrais docentes,
mas parcelas de funções. Isto, entretanto, não é completamente
exato. Se o curso se reduz puramente a aulas dadas – o que é o
caso da maioria dos cursos – o professor parcial é em realidade
um professor completo”. (...)
extremamente diferentes, embora os currículos tenham
sido geralmente uniformes. É preciso que se recorde que
currículo, no Brasil, é uma lista de disciplinas que deverão
ser ensinadas em certo número de anos, com certo número
de aulas. Quanto ao programa de cada disciplina, poderá
existir, mas não é, de modo geral, fundamente conhecido.
Os cursos são uniformes quanto ao número de horas-aula,
sendo a verificação do aproveitamento do aluno feita por
meio de exames escritos. As questões parece, são limitadas
ao que foi ensinado, ou seja, dito em aula”. (...)
“Vejamos agora o uso do tempo pelo professor. Na sua
maioria vai à universidade para dar a aula. Se lá quiser
permanecer, não tem local para ficar, a não ser alguma sala
dos professores, que só comporta uns poucos, como sala de
conversa. (...) Sendo de tempo parcial, o professor, de modo
geral, tem outros encargos, ou de magistério, ou de outro tipo.
Assim, fisicamente, o corpo docente é um corpo numeroso de
pessoas que visitam, raras vezes diariamente, a universidade
e lá dão aulas”. (...)
Pois bem, isto foi escrito em 1970/71, publicado
e divulgado depois de 1989!! O brilhante autor,
ANÍSIO TEIXEIRA, soube, de fato, alertar sobre
o caminho que a educação brasileira começava a
trilhar naquele período... A bibliografia constante ao
final do texto deve, portanto, ser conferida, por todo
educador que se julga sério e capaz de conviver num
mundo onde Protagonismo e Diversidade dançam
na corda bamba do ensino, de sombrinha na mão.
“ O contato entre o professor e o aluno, na maior parte
das vezes, limita-se ao encontro em aula. Como muitas vezes
a aula é numerosa, esse contato reduz-se para o aluno a ouvilo e, raramente, fazer-lhe uma pergunta, ou dar-lhe uma
resposta. E nisto se desfaz o tempo e a qualidade do ensino.
Como se vê, o contato entre o professor e o aluno é menor do
que o do aluno com o autor de um livro que tenha realmente
lido e estudado. Quanto a dirigir os estudos do aluno, a sua
função é extremamente perfunctória. Quanto a saber se está
aproveitando, há uma ou mais provas parciais, sempre escritas,
para uma avaliação também sumária. Entre professor e aluno
há um ‘gentleman´s agreement’ de que nada pode perguntar
que não tenha sido ensinado, significando ensinado que tenha
dito em aula. Esta é, na maior parte dos casos, a função docente
e o modo de exercê-la”. (...)
Agora, é de se perguntar se este texto continua
atual, ou não...
“E os alunos? O corpo docente é composto pelos que
passam no vestibular. Representam um grupo de alunos com
11 anos no mínimo de estudos primários ou médio, em escolas
GRACILA MARIA GRECCO
Universitária e Consultora Educacional
MANFRÉ é Professora
JOSÉ SEBASTIÃO WITTER é professor titular na área de
História e professor emérito pela Universidade de São Paulo (USP)
Referência Bibliográfica:
TEIXEIRA, Anísio. Ensino Superior no Brasil. Análise
e Interpretação de sua Evolução até 1969. Rio de
Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1989.
35
CARTA DO ALTO TIETÊ
PELA EDUCAÇÃO
Desde abril de 2006 educadores, estudantes, entidades
sindicais, movimentos sociais, governos, organizações
não-governamentais,
universidades
e
escolas,
todos
comprometidos com a defesa da educação pública como direito
social e inalienável, uniram-se para organizar o Fórum Mundial
de Educação Alto Tietê. Onze municípios aceitaram o desafio
de juntos construírem o Fórum Mundial de Educação. Nesta ação
coletiva, a diversidade tornou-se a identidade da construção, pois
a riqueza cultural, política e educacional dos municípios de Arujá,
Biritiba Mirim, Ferraz de Vasconcelos, Guararema, Guarulhos, Itaquaquecetuba, Mogi
das Cruzes, Poá, Salesópolis, Santa Isabel e Suzano foi a maior protagonista desse
processo educativo, dando origem ao tema Educação: Protagonismo na Diversidade.
O resultado dessa rede de movimentos vem reafirmar os cinco pontos de Náirobi
(FME 2007): a educação como direito social e humano e a luta em defesa de sua
universalização por meio de políticas públicas capazes de garantir sua concretização
em oposição à ideologia de mercado; a diversidade compreendida como educação
igualitária, que respeita e convive com o diferente e a sustentabilidade concebida
em seu caráter global planetário e do gênero humano, com acesso à riqueza produzida
socialmente, de modo especial aos excluídos e marginalizados.
A partir das idéias e sínteses apresentadas neste FME Alto Tietê, os participantes
apontam e assumem as seguintes propostas como metas (ou utopias) a serem buscadas e
defendidas por todos e todas:
* Educar para a sustentabilidade do planeta, tendo a união dos direitos humanos
associados aos princípios da Carta da Terra como ponto de qualquer ação educativa,
administrativa e/ou política;
* Valorizar os profissionais da educação nos diversos cenários ao mesmo tempo em
que os mesmos assumam seus papéis com mudanças concretas de posturas. Reafirmamse portanto as diferentes práticas educativas como ações protagonistas que
constroem a formação humana e filosófica da sociedade;
* Efetivar direitos nas políticas públicas educativas para o acesso e a permanência
na escola com qualidade social como direito inalienável de qualquer cidadão
garantido pelo Estado. Concretizar tais direitos não é só um dever do Estado, mas
uma luta de cada pessoa de todos os cantos do Planeta.
* Fortalecer a responsabilidade social na educação contemporânea buscando superar
o desafio ético de unir os diversos setores como empresas, órgãos públicos
e sociedade na construção do Estado democrático, bem como da liberdade de
pensamento, crítica e criatividade.
* E ainda, a solidariedade à África, na sua busca de superar os desafios econômicos,
sociais, políticos e ambientais.
Portanto, o Fórum Mundial de Educação Alto Tietê conclama que haja espaço para as
diferenças: que seja respeitado o direito da criança pela educação da infância,
que todos os segmentos da educação e sociedade participem das parcerias entre
movimentos sociais e as instituições educativas. Defende o direito à suspeita e
à dúvida contra os movimentos de dominação, a ética na luta contra a corrupção,
a cidadania cosmopolita e planetária que articula o global e o local, e o amor
enquanto sentimento essencial para a vida e para a esperança.
36

Documentos relacionados