de não ser - Rosa dos Ventos Conclave de Bruxaria

Transcrição

de não ser - Rosa dos Ventos Conclave de Bruxaria
PREFÁCIO
Esse conjunto de poemas foi compilado e editado pelo Rosa dos Ventos
Conclave de Bruxaria, com o intuíto de homenagear o Dia Internacional da
Poesia.
Nossa imensa gratidão a todas e a todos que participaram desse importante
trabalho.
Boa leitura!
Maurício Melo
Arauto Soberano do Rosa dos Ventos Conclave de Bruxaria
O Invisível
Denis Libório
Tal como o vento toca a superfície do lago,
Os efeitos do invisível sobre o visível se tornam evidentes.
Não nasce fruto sem arvore, não nasce arvore sem semente.
Não nasce a ideia sem pensamento, não nasce pensamento sem existência.
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A Besta Lupina
Christopher René Varjão
O aroma da noite de luar que causa arrepio no mais nobre.
Deixastes cair em tentação o teu filho,
Agora, surge aquele que persegue tua luz todas as noites.
Incansavelmente, seus olhos faíscam em cor anil.
O riso insano quebra o silêncio que embalava protegidos de Pã.
Passos pesados e respiração acelerada, assim anunciava a chegada do lupino.
Atroz exilado da paz
Caístes na própria loucura.
Vassalo do tempo e senhor da sabedoria,
Foste traído por tua inocência.
Teu ódio é em vão.
Manchastes tua alma.
Lagrimas que agora alimentam o solo,
Deixe crescer a esperança que ainda resta.
Abrace-a, pois ganhastes mais uma chance de mudar os vértices
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Sou Bruxa
Cris Oliveira
Sou bruxa sim
Sou filha da Deusa
Filha da lua
Minha essência vem dos ancestrais
Que aqui já não habitam mais
Sou bruxa sim
Minha força vem da Deusa,
Meu lar é o universo
Seus mistérios são minha escola
Sou bruxa sim
Meu orgulho é a Grande Mãe
Seus elementos me sustentam
O ar enche meus pulmões
O fogo aquece meu ser
A terra sustenta meus pés
A água refrigera meu espírito
Sou bruxa sim e assim sempre será.
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PEREGRINO
Luís Gustavo Pereira
Sozinho sigo pelas estradas da noite.
Perambulo passo a passo sem rumo.
Sem rumo, não significa sem propósito.
Não há rumo quando se trata de cuidar e vigiar,
Aqueles que estão a viver e os que estão para partir.
Sozinho sigo pelas estradas da noite;
Por trás das portas desvelo e conservo o Poder.
Além dos caminhos encontro meu bálsamo;
Encontro-me com o Séquito de Espíritos;
Com Eles eu sigo, na Vida e na Morte.
O medo torna-se uma brisa.
A dor nada mais é que uma palavra.
E nada poderá ser rotulado em meu Ser,
Pois vivo na mais clara das esferas;
E trilho seguramente na mais profunda Escuridão.
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Sou Heathen!
Helena Pereira
Honro minha palavra.
Só eu sou responsável por mim e por meus atos.
Eu não peco, não preciso de perdão.
Não me ajoelho diante dos meus Deuses,
Não espero que eles atendam meus desejos.
Tenho coragem e enfrento meus desafios.
Não vivo minha vida procurando batalhas, usando armas e sendo arrogante;
Mas se preciso for defenderei a mim e aos meus
Com fúria, mas nunca sem honra.
Farei o meu melhor e sei que não estarei só.
Minha honra não é doutrinação, ela aparece em meus atos;
Minha coragem não é soberba é minha determinação;
Minha fidelidade não é por interesse, mas sim por meus valores.
Sou o que minhas ações representam
E assim honro meus Deuses, meus Ancestrais e minha fé.
Sim, sou Heathen com orgulho!
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Conjuro
Mauricio Melo
Meia noite
Minha hora
Um sinal...
Uma sina...
Poder soturno que alucina!
Vozes errantes, como lâminas a lapidar
O picaresco em mim...
Dança insana dos meus devaneios
Anjo de ébano de joelhos
Pedindo a mim o perdão...
Acorrentado por antigas palavras
Sigilos em sangue desenhados no chão!
Dizem que com o diabo não se brinca
Mas se existe verdade nisso, há algo muito pior...
Com nascidos de águas profundas
De onde a noite é oriunda
Jamais se deve brigar!
Pois têm nos lábios doçura
Do veneno que perdura
Mesmo depois de matar!
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NO MUNDO DA LUA
Mirian Marclay Fraga
Quando descobri na integralidade telúrica meus fins
E dei a mim o princípio da dúvida, meditei a arte quase dúbia,
Porém exata, das fórmulas abstratas que da energia surgiam.
Mesclei estrelas mortas vindas das luzes findas, que salpicaram
De poeira cósmica os meus receios.
E nos seios das novas galáxias,
Evoquei novas máximas a serem tidas pelo corte do punhal,
Como um novo ritual de libertação.
Quando o grande olho intercalou meu espírito entre
Inquietude e desassossego, pratiquei o desapego material
E evolui.
Impregnou-se em meus veios o calor escarlate de sóis
Transeuntes de outros mundos e planos.
A esfera foi sorvida no cálice leitoso
Que fomenta a sabedoria dos neófitos.
E sob a frondosa árvore mediúnica
Entoei minha divindade.
Fruto das escolhas que sou
É a bruxa
Que sempre me habitou...
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Os opostos
Denis Libório
Talvez a tua tempestade seja uma gota d’água,
talvez a tua ventania seja somente suspiro,
talvez o teu inferno seja o meu Paraíso.
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O ultimo pedido do rei
Christopher René Varjão
Antigas escrituras que foram perdidas no tempo,
Voltam em fragmentos, repletos de uma antiga historia.
O amor proibido.
Incompleto do completo
Complexidade na simplicidade
O sonho estampado na realidade.
Ela levava o calor da vida por onde passava.
Ele congelava tudo que já não havia mais vida.
Ele era o rei que vivia apenas em proteger os mais fracos.
Ela dançava pela floresta, protegia tudo que pertencia ali.
Numa tarde, o rei saiu de seu castelo.
Triste, pois estava amargurado de sempre viver sozinho.
Ouvia de longe um cantar, era ela.
Aproximava-se cada vez mais.
Descalça e com flores vestindo seu corpo tão delicado.
O rei, encantado, não soube como lidar, então apenas reverenciou.
A ninfa sorriu e pediu para que ele não se se curva perante ela.
Então se foi.
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Todos os dias, o nobre espiava a bela mulher.
Ele sabia que nunca iriam ficar juntos, pois ele era a morte.
Aquilo o consumia, manchava sua alma. Mas ela não tinha culpa nenhuma.
Invernos se passaram, o rei estava no seu fim.
Mas ele não queria que tudo que sentiu fosse devorado pelo vazio.
Invocou sua ultima gota de vida.
Pousou seu punho junto a uma pena num papel velho,
Ali gravou a declaração:
“Não importa o quanto estudei o macrocosmo.
Eu esqueci o que continha na essência de amar.
Quando pensei, já era tarde demais.
Não enxerguei que havia encontrado a última estrela da grande constelação.
Ignorei todas as lições do amor, e definhei no tempo.
Já é tarde demais para dizer que todos os verões desde aquele,
Admirei seu amor pela vida, mas você podia me ver.”
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Treze Bruxas em Reunião
Luma Elora Aislin
Uma bruxa prepara
O fogo no caldeirão
Duas bruxas purificam
Cada mão
Três bruxas rodam
Batendo os pés no chão
Quatro bruxas nos portais
Saúdam o guardião
Cinco bruxas formam
O pentagrama de proteção
Seis bruxas evocam
Amor no coração
Sete bruxas borrifam
Água e sal para a purificação
Oito bruxas entoam
Uma suave canção
Nove bruxas giram
A roda em cada estação
Dez bruxas evocam
A Deusa com devoção
Onze bruxas juntam
Suas varas de condão
Doze bruxas fazem
Da magia uma oração
Treze bruxas tramam
Caminhos de evolução
Na espiral da vida
Que é movimento e ação
As treze mulheres vivem
Em união.
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Aos Meus
Dair Rofhessa Mac Morrigu
Vivo
Luto
Lido
Faço dessa terra meu abrigo
Ponho-me de pé ao menor sinal de perigo
Na minha porta, finco a cabeça do meu inimigo
Vivo
Luto
Morro
Sei que Ela virá em meu socorro
E se não vier, de mim não verás choro
Pois sei que me esperam do Outro Lado
Ela com sua Lança
Ele com seu Cajado
E ali sim, deixo meu legado
Pois sei que contra inimigo nenhum me acovardo.
Vivo
Luto
Livre
Corro pelo mundo como um tigre
Ecoo pelo Universo no mais belo timbre
E entendo que nada mais denigre
Meu espírito Guerreiro.
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Pacto de Lilith
Raven Luques McMorrigú - Everson Romero
Tu que és a Noite Eterna e Oscura,
Ancestral Lilith do Negro Véu,
Coruja, Bruxa, Vontade Nua,
Mulher que urra debaixo do Céu...
Da Serpente os Caminhos herdaste
A Tortuosa Via da Iniciação,
infinitas Legiões de Demônios geraste,
Oh Vaso de Veneno, Sangue e Paixão...
A Adão seduziu a carne e a alma,
Soberbo, o deixaste, orgulhoso e sozinho,
A Eva ensinaste a não mais esperar calma,
Com o fruto feitiço, lucífero descaminho...
Teu Voo Nocturno, Desejo e Vingança,
A estrangular dos homens o pescoço e a natura,
Feiticeira e Bruxa da Negra Aliança
Perfume de olíbano, sangue e datura...
Contigo sela o Satânico Pacto
A Grei de Strigas e Lobos errantes,
E em Orgia Sabática se encerra este Ato
Oh Primeira Bruxa, Vampira e Amante!
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Necromanteion
Lucas Melo
Em murmúrios inaudíveis se fez
O feitiço injuriado e maldito.
Do lado dela estavam os seus fiéis
Em acrópole muda e sombria...
De um reino funesto, pútrido, maligno.
De onde se extrai a vida,
Passado e futuro solvem-se
No cálice de sangue ancião.
Do santo nome, divina alma invoca.
Alma não viva, alma no sangue morta.
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Eu?
Pedro Henrique Neves
Trancado na casa perambulante:
Uma mistura dos elementos das estrelas
Com o abstrato que veio antes
De qualquer manifestação de matéria.
Retornar à origem que é o nada
É vertigem, movimento, fluxo,
Preocupada a mente, alucinada sente
A materialização etérea.
Sou eu, (o Nada)
Passando pelo Tudo
E retornando sem pressa.
Morreu, (dá nada)
Sou eu, o conteúdo
Que realmente interessa.
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Aviso
Mauricio Melo
Deixe-me com meus Santos
Deixe-me com meus Anjos
Com meus Deuses e Ancestrais...
Antes que me volte em sua direção
Não queira as palavras da minha oração
Pois sei ferir a alma
Destroçando o coração!
Aviso dado por quem conjura
O azedo azar como tortura
Usando a morte como atadura
Sempre pronto a costurar!
Destinos teço em minha roca...
Sabedoria que é minha
Mas que posso partilhar!
Só não venha aqui pedante
Pois detesto arrogância
Lanço-a as chamas para queimar!
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Pedro Henrique Neves
A luz me acompanha em meio a escuridão.
Não quero caminhar na luz, na plena satisfação,
Eu quero levar a luz comigo, pro fundo do poço
E iluminar o rosto que quem caiu.
Iluminar as trevas é melhor do que
Estar em local já iluminado.
Apontar a luz pro escuro
E ajudar a libertar quem está aprisionado,
A luz atinge o irmão do lado.
Então, se és luz, que tal ir pra escuridão
Que não seduz, mas é onde precisa de luz.
Caminhemos na escuridão sendo luz,
Tiremos todo capuz,
Mostremos nossa esquizofrenia
E pintemos o breu com poesia,
Depois de já pintado e iluminado
Iremos para outro breu, outro dia
Sem levar eu, levando luz
Levando alegria pro triste,
Pro que vive no maior inferno que existe.
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EXISTENCIALMENTE VAZIO DE NÃO SER
Luís Gustavo Pereira
O Frio transpassa meu Ser,
A Luz novamente se faz aparecer;
Há briga e dúvida entre o que é certo e errado;
Mas no fundo sei que não estou enganado.
Os sons que agora vibram no Ar,
Ecoam traduzindo sentimentos de alguém que só sabe Amar.
Por mais que se tente outro caminho buscar,
Acabo sempre prezo àquilo que jamais tento Ousar.
A benevolência dos Antigos não posso omitir:
Concordam aqueles que comigo tudo puderam sentir,
Quando o Reino da Escuridão se fez em mim emergir,
A dor que rasgou meu peito transformou-me num sereno fluir.
Aguçados sentidos que pela noite perambulam:
Em vigília e cuidado àqueles que a tudo burlam.
Anunciam a esses que o pior ainda está por vir;
Mas jamais para aqueles que souberem ouvir.
O Silêncio fala mais que qualquer palavra.
A imensidão que o Calar provoca a mim desbrava.
O Querer já não mais importa - já perpetuei minha lavra.
Ao meu lado só tenho, mantenho e permito gente brava.
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É chegado o momento de partir;
Não me refiro para Outro Mundo ir;
É sim chegado o momento de agir.
Com o apoio de tudo aquilo que me fez surgir - e hoje existir
Denso Amor que minh’alma lava;
Rogo aos meus que mantenham de pé cada um sua clava.
Aos imundos nada desejo - nem sequer nutro ou sinto raiva.
Existo e simplesmente trilho o Caminho que meu destino rumava.
Doce e Sagrada Morte, faça-me em Vida uno contigo!
Que todo e qualquer recôncavo me sirva de abrigo.
Que eu sempre possa estender minha mão a um amigo;
Jamais de mim ouvirão: “eu obrigo”.
Meu Ser vagarosamente passa a deslumbrar plenitude:
Aos meus afirmo que o vazio também é uma virtude.
Que não pequem por excesso nem por falta de atitude;
Felizes são aqueles que diferem solidão de solitude.
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Poema para Morrigan
Claudia Bandeira
Guerreira, Astúcia, força e nobreza
É pura fortaleza
Deusa forte
Beleza em forma de morte
Força em forma de mulher
Das nossas guerras a certeza
Da tua força encontrar
A energia necessária
Para continuar a lutar
No lado escuro da roda
No meio da escuridão
Que tua lança seja nossa guia
Nesse verso em forma de oração
Agora e na hora de nossa morte
Um brinde a Deusa a Morrighan
Poder, força e proteção!
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Raio Solar
Diego Far’fetch Trevas
Flechas luminosas crescem no horizonte
O Zênite equatorial em céus cristalinos
Verde azul turmalina do brilho opalino
Das planícies de vento suspensas
Erbúneo fulgor solar
Devastação de fogo sopra ao vento
Momento sereno do tempo
Radiância sutil queima em anil o firmamento
Reflexos áureos na linha do mar
No tênue mármore suspenso em linhas no ar
Refrata centelhas de cores no espelho das águas
Luminares de fogo na crista das vagas
Corona apolínea em esplêndido apogeu
Descende flamas em achas no céu do equador
Ardor em glória de ouro, aura de calor
Espírito em vapor de água do chão ascendeu
Império de luz que à terra se impõe
Vive e morre com o passar das estações
Mudança da vida, eterno pulsar cósmico
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Filho da Lua
Matheus Azevedo
Eu sou o filho da Lua.
Minh’alma é composta
Por milhares de estrelas
Que reluzem em meus olhos.
Eu sou o filho da Lua.
Sou o filho livre como
Assim é a bela Ártemis.
Miro o céu com o meu arco
E, retesando-o, lanço uma
Flecha de luz aonde bem quero.
Eu sou filho da Lua.
Eu habito as trevas e
As domino assim como Hécate.
Aos que desejo, levo o terror
E os fantasmas atormentadores.
Sou o lado negro da Lua e sou
O cão infernal que uiva na noite.
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Eu sou o filho da Lua.
Meus olhos vêem nas trevas
E meu corpo desperta os eu.
Eu porto a semente que faz germinar.
Assim como Lilith, a primeira,
Jamais serei dominado e
Jamais me submeterei a outrem.
Assim como Lilith, a Mãe,
Eu sou o portador da sedução.
Eu sou o filho da Lua.
Eu habito os infernos e
Ando sobre a terra.
Sobre a noite, espalho
A minha semente em
Corpos ainda imaculados.
Eu sou o filho da Lua.
Sob sua luz eu sou poderoso,
Sob sua luz eu sou soberano,
E sob a sua luz encantadora,
Eu posso beber a vitalidade...
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Pedro Henrique Neves
Vou empurrado pelos ventos galácticos
Até sua morada, como se estivesse ao lado,
Mas não vim pela estrada, vim atravessado
Pelo saudoso nada.
Minha origem é longe:
Lá onde se isolam os monges
Para caminharem nas ruas e vielas
Do próprio ser.
A alma tem uma janela,
São os olhos, pode ver.
Eles fecham,
Para não mais ver,
Ou ver só dentro.. Vai saber..
Enfim, olha para mim,
Vim só mostrar você a você mesmo,
O lado bom do ruim
E o ruim do bom.
Conseguir ver tão claro assim
Nessa terra é um dom.
Tais ventos que me empurraram
No caminho me mostraram
A origem da flor da vida.
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É o espírito entediado consigo,
Envolto pela solidão do vácuo infinito,
Querendo do seu lado um amigo,
Ou o conhecimento da luz.
Expansão! É a palavra chave
Da criação! Eu tive que tirar
Do meu olho uma trave
Para poder remover o cisco do seu.
Enfim, no fim, falei tudo isso a você
Será que entendeu?
Entendeu a origem da estrutura?
Corpo e mente
São os dois que você sente,
Mas quem é você que sente?
É a origem da estrutura,
O ponto inicial que expandiu
É o protagonista da loucura
Desse planeta denso
Onde você caiu.
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Osonmilu Argdão
Nas conjunturas dos sois, que com mesma força se atraem, se chocam, quem de vós
poderás impedir meu calor sobre teu corpo?
Sobre ele percorro a serpente mais sagaz e assim te envolvo lhe mordo o pescoço, a
cada abraço lhe mato, lhe liberto.
Quiseras tu fugir, até onde meus pensamentos não te encontrem, tão densos que
tu podes sentir, renuncia a tudo menos aos abismos que coloco em teus pés e as
chamas que ergo em teu coração.
Se um dia me levar à ruína como previ em visão, que o nosso mundo se torne escombros entre o encontro de dois sois.
Sou teu vicio mais mortal!
E você meu desejo mais letal!
E assim matamos um ao outro.
Por tudo que não dizes...
Por tudo que não omito...
Pelos confrontos e conflitos...
Amamo-nos sobre abismos...
Amaldiçoou a tua chegada
Amaldiçoo a tua partida
A mesma lança que te fere é a mesma que me abre as feridas...
Bebe da minha dor, da minha luxuria e do meu desejo, pois também bebo de ti.
Dessa sombria alquimia de provocar dor em amor, deitamos em uma cama de áspides e escorpiões.
Encha a taça!
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Poema para Airmid
Morrighan Brigante
Beleza e palidez em um largo sorriso
Amou os mortais e fez deles seus preciosos amigos
Ombro estreito e esguia
Cabelo baio
Da cor das éguas de soberania
Escorrem pelas costas
Tocam a terra
Solo querido que ela tanto ama
De onde brotam suas filhas
Vive abaixada a catar o chão
Com as mãos ligeiras
Mãos maternas de gratidão
Afaga suas crias
Lindas crias
Doces e amagas crias
Tudo podem curar
Tinha um irmão de habilidade tamanha
Que o próprio pai se pôs a invejar
O ciúme é perfídia
E sem nenhum aviso
A espada viu fincar
E a maestria do irmão findada
Até virar a página seguinte
Onde a vida ele retornara
Sempre a natureza volta
Ao seu antigo curso
Como espiral
Abre e fecha
E o rio no leito corre seu rumo
Viu suas filhas amadas
Que nasceram do corpo
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Entregue ao chão
Serem lançadas ao vento
Gritar
365 lamentos dentro do seu coração
Osso para osso
Veia para veia
Sangue para sangue
Tendão para tendão
Essa era sua magia
Na mais feliz companhia
Do loiro e adorado irmão
Ao perceber que a vida lhe retornara
Mas não era mais querida e amada
Foi para longe e não mais quis voltar
A fim de esquecer a grande dor
Que em seu peito trazia a encerrar
Mais ainda hoje ela é vista
Embora muito bem disfarçada
Para não ser reconhecida
Não se mostra verdadeiramente a danada
Não vive escondida
E sim em lugares a vista
Por todas as sendas da fé
Na simples rezadeira com a arruda
Na xícara de chá que me deixa muda
E finge ser uma mulher mortal
E quem dele com coragem se aproxima
Recebe centenas de presentes
Ganha a cura do corpo
O alívio da alma
E a calma na mente
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O Rio da Morte
Diego Far’fetch Trevas
A água macabra que corre nos rios do nada
Se derrama em minha boca aberta desdentada
Esquecido e frio nas terras do pesadelo
Volto e acordo desmembrado pelo medo
Cadência errática, passo claudicante
Sufoco engolfado na garganta berrante
Ardência na pele, atmosfera estafante
Queima meus olhos, o sonho inconstante
Como o dia escorre em horas de luz
Nuvens vagando nos céus da mente
Corroem a lembrança vaga evanescente
Do mundo do além, do real inconsciente
Raiva, medo, a saliva escura e amarga
Frustração e estranhamento, desgraça
Maldição de existir nessa plaga
Escuridão me leva de volta ao mundo das almas
Trovão de arco voltaico reverbera em meus nervos
Agora tão cedo, não voltarei à terra do pesadelo
A riqueza, tesouro da mente ao meu alcance esteve
Parece que nunca mais volverá a estar em meus dedos
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Vênus Escura
Matheus Azevedo
Escavei meu Jardim Selvagem.
Abri mil túmulos - inclusive o meuSimplesmente para inalar o passado
E constatar que nada daquilo me era
Mais tão familiar como fora uma vez.
Lancei-me à ela e àquele fogo alaranjado.
Queimei e cai ao chão, abraçado aos
Mortos do meu Jardim Selvagem.
Beijei a todos eles e a seus ossos
Impregnados pelo tempo que morreu.
A estrela matutina brilhou no céu
Desanuviado e ofuscou as duas luas
Tão amantes e amadas por mim.
Algo estalou em minha mente e
Meus sentidos e minha 2ª pálpebra cerrou-se.
Ali deixei-me ficar, aos olhos da Vênus Escura
Que perpetuou sua dança ofídica e fez ressoar
Sua gargalhada indubitavelmente misteriosa.
Ouvi um canto silencioso que parecia
Emergir das águas frias e mortas.
Um perfume selvagem como o meu
Jardim despertou-me e diante de
Meus olhos resplandecia uma Vênus Escura,
Nascida do fogo que crepitou sem
Combustível aparente a alimentá-lo.
Ela gargalhou docemente e dançou
Ao som de uma música que só ela ouvia.
“Venha! Venha! O fogo lhe chama, não ouves?”
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Paula Machado
A espada gira, fazendo o ar gemer
As Nornes resolveram olhar para você
Com seus terríveis olhos negros
As Valquírias despertam e olham para a Terra
Com seus profundos olhos azuis
A Terra estremece embebedada pelo sangue dos homens
Não cruzei seu caminho ali, e saí ilesa a tudo
Hail Freyja!
Uma lâmina qualquer rasgará sua carne!
Uma lâmina qualquer perfurará suas entranhas!
Hoje é o seu dia!
Caminhando na densa névoa
Com o ódio esfriando por todo o corpo
Um corvo voa à minha frente
Abrindo a cortina de fumaça
Vejo então sua carcaça podre estendida
Visão doce da vingança
Hail Oden!
Nenhuma Valquíria te buscou
Ali eu pude sentir
Grudada em sua carcaça
Seu espírito atormentado
Tormento de uma alma sem honra
E meu repúdio a ti,
Dará a força que falta
Para te levar ao Salão de Hella
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Maldição
Mauricio Melo
Insossa ovelha de pentagrama
Feliz a pastar no prado da ignorância...
Marcada pelo ferrete forjado do vil metal
Oriundo das trinta moedas de Judas
Traição é seu legado!
Destino traçado ao sem rumo
Pois não há caminhos para quem trai...
Amaldiçoada por sua indolência
Seguirá sempre falsos profetas
Que tem como meta os bolsos forrar...
E quando no vale da sombra da morte
Sua triste sorte findar
Hécate, a escura rainha
Na treva que sempre caminha
A paga lhe conferirá!
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Rhiannon
Mauricio Melo
Égua alada da meia noite
Banhada no sangue dos inocentes...
Me lava com água fluída
Prata líquida de tuas correntes!
Cavalgo contigo na relva abissal
Despido dos medos e anseios...
E nos seios de Gaia nos fartamos
Como animais que somos
O abandono do mundo, há um segundo deixei
Permiti licorosa loucura
Bebi dos sonhos de Érebo
E com ele me deitei!
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AMOR POR AMOR
Erika Bokel Schoellkopf
Reflete o amor, arte do mistério.
É tão livre e profundo, o amor rima com tudo.
Amor é canção, não força a barra, não escora e,
Se chora é por ter alcançado um coração.
Dono de si mesmo voa livre de proibições.
Na brisa do vento pega carona em tempestade de ilusões.
Elevado e humilde lá estão o amor.
Vem até nós, Seres de certo torpor.
No cenário da vida, o amor não se repete, ama sempre de novo.
Presente, o amor não se desfaz e não se prende à própria falta que ele faz.
Ensina o amor a qualquer um...
Como canto dos anjos e cheiro de flor, está porque é.
Simples assim:
Amor por amor.
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pela última vez, adeus.
Gabriel Leal
De joelhos sob a Grande Senhora
Entre lágrimas sorri
Questionei-a onde encontrar
O amor que outrora vivi
Respondeu-me a Bela Rainha:
- Siga as trilhas que lhe ponho e teu sonho irás de alcançar
Desvairado me ergui e andei a buscar
Tomado de desejo, por vastos caminhos te procurei
E a cada ladrilho um pedaço perdi
Foi assim, quando finalmente encontrei
Oh Deuses, logo notei
Que já não restava nada de ti
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Diagramação e identidade visual por
Gabriel Leal - Membro do Conventículo da Serpente