Impactos Ambientais Causados por Cemitérios
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Impactos Ambientais Causados por Cemitérios
FACULDADE DE CALDAS NOVAS – UNICALDAS GEOVANI BORGES CARNEIRO MÁRCIO ROGÉRIO FRANCISCO VANTUIR ANTÔNIO PEREIRA JÚNIOR IMPACTOS AMBIENTAIS CAUSADOS POR CEMITÉRIOS CALDAS NOVAS 2010 GEOVANI BORGES CARNEIRO MÁRCIO ROGÉRIO FRANCISCO VANTUIR ANTÔNIO PEREIRA JÚNIOR IMPACTOS AMBIENTAIS CAUSADOS POR CEMITÉRIO Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Engenharia Ambiental da Faculdade de Caldas Novas – UNICALDAS Orientador: Prof. Esp. Sérgio Gustavo Silva CALDAS NOVAS 2010 Faculdade de Caldas Novas – UNICALDAS BIBLIOTECA CENTRAL Ficha Catalográfica na fonte Carneiro, Geovani Borges. Impactos ambientais causados por cemitérios / Geovani Borges Carneiro; Márcio Rogério Francisco; Vantuir Antônio Pereira Júnior. Caldas Novas, 2010. 172 f. Trabalho de conclusão de curso (Graduação) apresentado à Faculdade de Caldas Novas como exigência parcial para a obtenção do grau de Bacharel no curso de Engenharia Ambiental. Orientador (a): Prof. Esp. Sérgio Gustavo Silva. 1. Engenharia Ambiental. 2. Cemitério. 3. Impacto Ambiental. 4. Trabalho de Conclusão de Curso. 5. TCC. I. Título. II. Francisco, Márcio Rogério. III. Pereira Junior, Vantuir Antônio. GEOVANI BORGES CARNEIRO MÁRCIO ROGÉRIO FRANCISCO VANTUIR ANTÔNIO PEREIRA JÚNIOR IMPACTOS CAUSADOS POR CEMITÉRIOS Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Engenharia Ambiental da Faculdade de Caldas Novas – UNICALDAS Caldas Novas, 15 de dezembro de 2010 Banca Examinadora ____________________________________________________________ Prof. Esp. Sérgio Gustavo Silva– UNICALDAS ____________________________________________________________ Profª. Dra Marisa Zuccolo Fiéri ____________________________________________________________ Profª. Ms. Vera Lúcia Dias dos Santos Augusto – UNICALDAS Dedicamos esse estudo a Deus que está sempre nos guiando, aos nossos pais e familiares que nos incentivaram a cada momento e as respectivas namoradas e noivas que estão sempre ao nosso lado nos dando apoio. AGRADECIMENTOS Aos meus amigos de sala que me acompanharam ao longo desses quatro anos de faculdade, ao Márcio e Vantuir que realizaram esse trabalho de conclusão de curso comigo, a todos que facilitaram e somaram para a realização do meu curso de graduação em Engenharia Ambiental. Agradeço também o apoio de toda minha família, minha querida mãe e avó, minha namorada, que mesmo distantes me deram muita força em meus estudos, aos meus amigos, aos professores da Unicaldas e Deus que esteve sempre ao meu lado, me acolhendo, em todos esses momentos. Geovani Borges Carneiro Agradeço primeiramente a Deus que me dá forças para nunca desistir, sendo ele o centro de toda minha vida, me guiando e permitindo usufruir de todas as conquistas realizadas. Aos meus pais, Marcos e Eleusa, e ao meu irmão, Marco Aurélio, que me apoiaram quando pensava em desistir, mostrando que o estudo é o caminho para a formação do caráter. A minha noiva, Carla, que está comigo em todos os momentos tornando os meus dias cada vez melhores, fazendo de pequenos instantes, grandes momentos (O.P.V.E.). Aos meus avós, Heleno e Alice, que, com suas palavras e ações, me mostraram que a humildade é a chave para alcançar o sucesso e que hoje, estando junto ao Pai, continuam a olhar por mim. Aos eternos amigos Vantuir e Geovani, que compartilharam diversos momentos que levarei para sempre comigo. Aos professores e aos alunos que estiveram nesses quatro anos me apoiando e compartilhando bons momentos. Márcio Rogério Francisco Agradeço primeiramente à DEUS por me dar força e motivação para seguir lutando ao longo destes quatro anos de estudo, aos meus familiares, em especial meus pais, Vantuir e Ursulina, e aos meus irmãos, Antenor José e Dárya Maria, que sempre me incentivaram a seguir em frente e nunca desistir, agradeço a minha namorada Viviane Rodrigues, que amo muito e mesmo que distante sua presença sempre esteve ao meu lado, me amando e me fazendo sentir o homem mais feliz deste mundo, aos meus amigos, e aos meus companheiros Márcio Rogério e Geovani Borges, que estiveram junto comigo desde o começo, ajudando a completar a etapa final do curso de Engenharia Ambiental, agradeço a minha tia Kênia Maria e ao seu esposo Sandro Rodrigues, por me dar apoio e atuar como mãe nesses quatro anos que morei com ela, às minhas avós Francisca Zulmira e Geralda Ávila. Agradeço a todos por confiarem e acreditarem em mim. Obrigado a todos. Vantuir Antônio Pereira Júnior Agradecemos a nosso orientador Sérgio Gustavo que nos auxiliou com sua infinita paciência para a conclusão deste estudo. Aos professores que passaram por nossa turma em especial Verinha e Marisa que aceitaram participar do processo final deste estudo. Ao Complexo Vale do Cerrado, na pessoa do Sr. Guilherme Augusto Santana que contribuiu com o fornecimento de informações fundamentais para a realização desta pesquisa. Ao Sr. Alberto Pacheco professor do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (USP) que auxiliou no envio de materiais bibliográficos importantes para a realização desta pesquisa. A todos o nosso muito obrigado. "No que diz respeito ao desempenho, ao compromisso, ao esforço, à dedicação, não existe meio termo, ou você faz uma coisa bem feita ou não faz.” (Ayrton Senna da Silva). RESUMO O mundo em que vivemos está marcado pela quantidade de inovações e tecnologia, que nos são apresentadas a cada dia. Esse fato somado a modernização dos produtos, são frutos de uma sociedade cada vez mais consumistas que, para se manterem, são obrigadas a retirarem da natureza, tudo o que for necessário, gerando uma onda de impactos, muitos deles irreversíveis. Com o crescimento da preocupação ambiental, várias medidas e conceitos, como desenvolvimento sustentável e equilíbrio ambiental, vêm sendo inseridas na vida da população, mudando sua forma de pensar e agir para com o meio ambiente. Foram baseados nesses conceitos que realizamos esse estudo, mostrando que o cemitério, que até pouco tempo atrás era visto apenas com uma questão religiosa sendo um local sagrado de “descanso dos mortos”, hoje é uma das fontes de contaminação, que prejudica o solo, a água e o ar. O surgimento de cemitérios que já possuem esses conceitos inseridos no seu planejamento juntamente com a criação de leis que visam coibir as irregularidades que ainda existem em larga escala, são importantes para direcionar cada vez mais a uma realidade sustentável e ecologicamente correta. A exemplo disso temos como objeto de estudo a empresa Complexo Vale do Cerrado que possui a missão de se tornar um cemitério com os princípios da sustentabilidade e responsabilidade social. Esse trabalho visa mostrar os impactos ambientais cujas fontes poluidoras são os cemitérios, e mostrar à sociedade que, medidas devem ser tomadas a fim de minimizá-los trazendo como consequência a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Cabe a nós adaptarmos essas medidas em conjunto com as práticas religiosas de cada cidadão. Palavras-chave: Desenvolvimento Sustentável, Equilíbrio Ambiental, Cemitério, Complexo Vale do Cerrado, Impactos Ambientais ABSTRACT The world we live in is marked by a number of innovations and technology that are presented to us every day. This fact coupled with the upgrading of products are the fruit of a society that increasingly consumerist, to stay, they are forced to retreat from nature, all that is necessary, generating a wave of impacts, many of them irreversible. With growing environmental concerns, various measures and concepts such as sustainable development and environmental balance, have been inserted in people's lives, changing how they think and act for the environment. Were based on these concepts we conducted this study, showing that the cemetery, which until recently was seen only with a religious issue is a sacred place of "rest of the dead", is today one of the sources of contamination that damages the soil, water and air. The appearance of cemeteries that have already entered these concepts into their planning together with the creation of laws designed to curb the irregularities that exist on a large scale are important to direct more and more a reality sustainable and environmentally friendly. The example we have as object the Vale do Cerrado Complex has the mission to become a cemetery with the principles of sustainability and social responsibility. This paper shows the environmental pollution whose sources are the cemeteries, and show the company that measures must be taken to minimize the impacts result in bringing better quality of life of people. It behooves us to adapt these measures together with the religious practices of every citizen. Keywords: Sustainable Development, Environmental Balance, Cemetery, Vale do Cerrado Complex, Environmental Impact LISTA DE QUADROS QUADRO 01 - Quantidade, Tamanho e Contraste de Mosqueados..................... 32 QUADRO 02 - Classes de Tamanho e Quantidade de Poros............................... 34 QUADRO 03 - Sensações de Tato Provocadas pelas Diferentes Frações Granulométricas que Compõem a Fração Terra Fina do Solo.............................. 40 QUADRO 04 - Equivalência da Simbologia pela Notação de Horizontes Genéticos principais Adotadas a partir de 1886 com a Simbologia Anterior......... 42 QUADRO 05 - Equivalência da Simbologia para a Notação de Horizontes de Transição Adotada a partir de 1988 com a Simbologia Anterior........................... 43 QUADRO 06 - Classificação da Forma ou Topografia de Separação entre os Horizontes.............................................................................................................. 44 QUADRO 07 - Classificação da Nitidez do Contraste de Separação entre os Horizontes.............................................................................................................. 44 QUADRO 08 - Estimativa de Número de Indivíduos e de Biomassa de Alguns Organismos do Solo.................................................................................. 46 QUADRO 09 - Classificação Proposta por Bachilier (1978) e Berthelin et al. (1994), Baseada no Tamanho dos Organismos Definido em uma Escala Logarítmica............................................................................................................. 47 QUADRO 10 - Quantidade e Distribuição de Água na Terra................................ 51 QUADRO 11 - Coeficiente de Escoamento Superficial......................................... 57 QUADRO 12 - Variação de Porosidade Representativa para Materiais Sedimentares......................................................................................................... 65 QUADRO 13 – Composição dos Gases na Atmosfera.......................................... 71 QUADRO 14 - Classificação dos Poluentes Atmosféricos Conforme Estado Físico...................................................................................................................... 81 QUADRO 15 - Massas de Ar que Atuam no Brasil................................................ 82 QUADRO 16 - Composição Aproximada de um Corpo de um Homem de 70 Kg........................................................................................................................... 98 LISTA DE FIGURAS FIGURA 01 - Sistema de Cores de Munsell...................................................................31 FIGURA 02 - Triângulo Textual Representando as Classes Texturais do solo......... 39 FIGURA 03 - Componentes do Ciclo Hidrológico...........................................................53 FIGURA 04 - Esquema de Bacias Hidrográficas............................................................58 FIGURA 05 - Corte Transversal de Bacias Hidrográficas............................................. 59 FIGURA 06 - Ordem dos Cursos d'Água........................................................................60 FIGURA 07 - Variação da Velocidade de Infiltração com o Tempo............................. 62 FIGURA 08 - Perfil de Umidade do Solo Durante a Infiltração..................................... 63 FIGURA 09 - Tipos de Aquíferos....................................................................................66 FIGURA 10 - Aquífero Livre........................................................................................... 67 FIGURA 11 - Aquífero Artesiano....................................................................................67 FIGURA 12 - Massas de Ar no Brasil.............................................................................83 FIGURA 13 - A Vulnerabilidade dos Cemitérios à Contaminação Ambiental........... FIGURA 14 - Risco de Contaminação de Águas Subterrâneas 97 pelo Necrochorume............................................................................................................ 99 FIGURA 15 - Bandeira de Goiânia............................................................................. 109 FIGURA 16 - Brasão de Goiânia...................................................................................110 LISTA DE FOTOS FOTO 01 - Avenida Goiás.................................................................................... 106 FOTO 02 - Praça Cívica....................................................................................... 106 FOTO 03 - Vista Aérea da Cidade....................................................................... 107 FOTO 04 - Complexo Vale do Cerrado................................................................ 111 FOTO 05 - Entrada do Complexo Vale do Cerrado............................................. 113 FOTO 06 - Vela Elétrica....................................................................................... 114 FOTO 07 - Parede com Vidro para Aproveitar a Iluminação Solar...................... 114 FOTO 08 - Construção das Valas para Sepultamento......................................... 115 FOTO 09 - Identificação da Quadra de Sepultamento com o Nome de uma Árvore do Cerrado................................................................................................ 116 FOTO 10 – Crematório......................................................................................... 117 FOTO 11 - Câmara Fria para Armazenamento do Corpo.................................... 117 FOTO 12 - Forno para Cremação........................................................................ 118 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.................................................................................................. 16 2 SOLO................................................................................................................ 18 2.1 Tipos de Solo................................................................................................. 19 2.1.1 Latossolos................................................................................................... 20 2.1.2 Solos Podzólicos......................................................................................... 22 2.1.3 Solos Podzóis.............................................................................................. 22 2.1.4 Solos Brunizens ou Solos Pradaria............................................................. 23 2.1.5 Solos Brunos não-Cálcicos......................................................................... 24 2.1.6 Solos Desérticos......................................................................................... 25 2.1.7 Tundra......................................................................................................... 25 2.1.8 Solos Hidromórficos.................................................................................... 26 2.1.9 Solos Salinos ou Halomórficos.................................................................... 27 2.1.10 Grumossolo............................................................................................... 27 2.1.11 Solos Poucos Desenvolvidos.................................................................... 28 2.2.Descricao de um Perfil de Solo ..................................................................... 29 2.2.1 Cor............................................................................................................... 30 2.2.2 Agregados................................................................................................... 33 2.2.3 Porosidade.................................................................................................. 34 2.2.4 Feições Pedológicas................................................................................... 35 2.2.5 Estabilidade dos Agregados....................................................................... 36 2.2.6 Cimentação................................................................................................. 38 2.2.7 Textura do Solo........................................................................................... 38 2.3 Horizontes do Solo......................................................................................... 40 2.3.1 Horizontes Genéticos Principais................................................................. 41 2.3.2 Horizontes Transicionais e Intermediários.................................................. 42 2.3.3 Espessura dos Horizontes e Transição entre os Horizontes...................... 43 2.4 Fauna do Solo................................................................................................ 44 2.4.1 Classificações dos Organismos do Solo..................................................... 45 2.4.2 Ação da Fauna na Porosidade e no Comportamento Dinâmico do Solo.... 47 2.5 Cobertura do Solo.......................................................................................... 49 3 ÁGUA NO PLANETA....................................................................................... 51 3.1 O Ciclo Hidrológico......................................................................................... 52 3.2 A Precipitação................................................................................................ 53 3.2.1 Formação da Precipitação e Tipos.............................................................. 54 3.2.2 Formas de Precipitação.............................................................................. 54 3.3 Escoamento Superficial.................................................................................. 55 3.3.1 Os Componentes do Escoamento.............................................................. 56 3.3.2 O Coeficiente de Escoamento Superficial................................................... 56 3.4 A Bacia Hidrográfica....................................................................................... 57 3.4.1 Divisores...................................................................................................... 59 3.4.2 Classificação dos Cursos d'Água................................................................ 59 3.4.3 Sistema de Drenagem................................................................................. 60 3.5 A Infiltração.................................................................................................... 61 3.5.1 A Capacidade de Infiltração........................................................................ 61 3.5.2 A Velocidade de Infiltração.......................................................................... 61 3.5.3 Fases de Infiltração..................................................................................... 62 3.5.4 Fatores Intervenientes................................................................................. 64 3.6 Águas Subterrâneas....................................................................................... 64 3.6.1 O Conceito de Áquifero............................................................................... 66 3.6.2 Lençol Freático............................................................................................ 68 4 ATMOSFERA.................................................................................................... 69 4.1 Camadas da Atmosfera.................................................................................. 69 4.1.1 Troposfera................................................................................................... 69 4.1.2 Estratosfera................................................................................................. 70 4.1.3 Mesosfera.................................................................................................... 70 4.1.4 Termosfera.................................................................................................. 70 4.1.5 Exosfera...................................................................................................... 71 4.2 História da Poluição Atmosférica................................................................... 71 4.3 Poluentes Atmosféricos.................................................................................. 73 4.3.1 Impactos Causados nos Seres Humanos pela Poluição Atmosférica........ 73 4.3.2 Impactos Causados nos Vegetais pela Poluição Atmosférica.................... 75 4.3.3 Impactos Causados nos Materiais pela Poluição Atmosférica................... 76 4.3.4 Impactos Causados no Tempo pela Poluição Atmosférica......................... 77 4.4 Fenômenos Causados pela Poluição Atmosférica........................................ 77 4.4.1 Chuva Ácida................................................................................................ 77 4.4.2 Quebra do Ozônio....................................................................................... 78 4.4.3 Efeito Estufa................................................................................................ 78 4.4.4 Inversão Térmica......................................................................................... 79 4.5 Fontes de Poluição do Ar............................................................................... 79 4.5.1 Poluentes Primários.................................................................................... 80 4.5.2 Poluentes Secundário................................................................................. 81 4.6 Massas de Ar que Atuam no Brasil................................................................ 82 4.7 Zoneamento no Controle da Poluição Atmosférica........................................ 83 4.8 O Protocolo de Quioto.................................................................................... 84 4.9 Legislação...................................................................................................... 85 4.9.1 Legislação Aplicável ................................................................................... 86 5 O PLANEJAMENTO URBANO........................................................................ 87 5.1 A História do Planejamento Urbano............................................................... 87 5.2 A Estrutura das Cidades................................................................................ 89 5.2.1 O Cemitério no Planejamento Urbano........................................................ 91 5.3 A História do Cemitério.................................................................................. 91 5.3.1 O Cemitério no Brasil.................................................................................. 92 5.3.2 O Cemitério Atual........................................................................................ 93 5.4 Legislação...................................................................................................... 94 5.5 Impactos Ambientais Causados por Cemitério.............................................. 96 5.5.1 O Necrochorume......................................................................................... 97 5.5.2 Contaminação por Materiais que Compõem o Caixão e da Forma de Conservação dos Cadáveres............................................................................... 99 5.6 A Saponificação............................................................................................. 100 5.7 O Crematório.................................................................................................. 100 6 A ENGENHARIA AMBIENTAL........................................................................ 102 6.1 O Monitoramento Ambiental........................................................................... 102 6.2 Avaliação de Impacto Ambiental (AIA), O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) ............................................... 103 7 OBJETO DE ESTUDO...................................................................................... 105 7.1 A Cidade de Goiânia...................................................................................... 105 7.1.1 A Pedra Fundamental................................................................................. 107 7.1.2 O Batismo Cultural...................................................................................... 108 7.1.3 A Cidade Atual............................................................................................ 108 7.1.4 Os Cemitérios da Cidade............................................................................ 110 7.2 Complexo Vale do Cerrado............................................................................ 111 7.2.1 Dados Técnicos........................................................................................... 112 7.2.2 Responsabilidade Ambiental....................................................................... 113 7.2.3 A Responsabilidade Social.......................................................................... 118 8 METODOLOGIA............................................................................................... 120 8.1 Métodos de Abordagem................................................................................. 120 8.2 Métodos de Procedimento............................................................................. 120 8.3 Nível de Pesquisa.......................................................................................... 120 8.4 Delineamento da Pesquisa............................................................................ 121 8.5 Abordagem do Problema............................................................................... 121 8.6 População e Amostra..................................................................................... 121 8.7 Instrumentos de Pesquisa.............................................................................. 122 9 ANÁLISE DE RESULTADOS........................................................................... 123 10 DISCUSSÃO................................................................................................... 125 11 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................ 127 REFERÊNCIAS.................................................................................................... 128 APÊNDICES......................................................................................................... 131 ANEXOS.............................................................................................................. 133 16 1 INTRODUÇÃO A preocupação com o meio ambiente vem se tornado cada vez maior, com a busca de medidas que visam mitigar os impactos negativos causados pelas ações humanas e prolongar a melhoria da qualidade de vida dos seres vivos, havendo uma necessidade de equilibrar o desenvolvimento econômico seguido pelo progresso com a preservação, de forma a desenvolver a sustentabilidade ambiental. Foi visando nesse equilíbrio, que apresentamos esse estudo que tem como objetivo mostrar a degradação ambiental causado por cemitérios. Essa pesquisa encontra-se estruturada em nove seções. Na primeira seção, intitulada como Solo, fizemos uma busca criteriosa, apresentando a composição do solo, seus tipos, suas estruturas, seus perfis, de forma a entendermos os impactos que a instalação de um cemitério pode ocasionar neste ambiente. Na segunda seção intitulada como A Água no Planeta, apresentamos o ciclo da água, sua distribuição no planeta, sua formação e todas as suas subdivisões, mostrando a sua importância para a manutenção da vida. Todo o ciclo hidrológico é fundamental para a manutenção do lençol subterrâneo que podem ser contaminados com a construção de cemitérios fora das diretrizes da legislação. Na terceira seção intitulada como Atmosfera, mostramos a composição do ar, suas subdivisões e o impacto gerado pelo homem que contribui para a disseminação da poluição atmosférica, influenciado diretamente na saúde da população que consequentemente, influencia na diminuição da qualidade de vida nos seres vivos. Na quarta seção intitulada como O Planejamento Urbano, apresentamos a realidade de nossas cidades, sua formação e deixamos claro que, uma pesquisa detalhada deve ser feito antes da criação da cidade de forma a diminuir e às vezes até impedir que situações impactantes venham a acontecer no decorrer do tempo, com o aumento da urbanização que traz como consequência, dentre outras, a instalação de cemitérios que podem ser uma fonte de poluição tanto social quanto ambiental. Na quinta seção intitulada como Engenharia Ambiental, mostramos a importância de realizar um monitoramento de toda essa área, a fim de equilibrar o sistema socioambiental através de medidas como as avaliações, os estudos e os relatórios de impactos ambientais. 17 Na sexta seção intitulada como Objeto de Estudo, apresentamos as medidas implantadas no Complexo Vale do Cerrado que, com sua proposta de atuação, visam mostrar as medidas utilizadas para impedir essa contaminação e melhorar o aspecto social do empreendimento. Na sétima seção intitulada como Metodologia, mostramos os métodos utilizados para a realização da pesquisa de forma a apresentar ao leitor, um estudo claro e objetivo do tema abordado. Na oitava seção intitulada como Análise de Resultados e nona seção intitulada como Discussão, apresentamos a finalização do estudo com as conclusões que podemos tirar diante da realidade dos impactos que podem ser gerados por um cemitério e as medidas e consideração que fizemos para o tema abordado. Apesar dos ritos e práticas religiosas que acompanham o fim da vida do ser humanos, atitudes de preservação do meio ambiente e da saúde pública devem acompanhar na realização dos atos fúnebres. Um grande desafio para os Médicos, Sanitaristas, Engenheiros Ambientais e demais profissionais ligados a preservação da saúde humana é encontrar medidas mitigadoras que entre em parceria com o ato religioso preservando assim a cultura do local e as medidas legais para o sepultamento. 18 2 SOLO Quando fala-se de solo, pensa-se diretamente sobre o chão que pisamos, o qual é capaz de produzir, de gerar alimentos, devido a grande quantidade de nutrientes existentes abaixo da terra, nutrientes estes que variam de região para região. Pensamos ainda que solo é aquela terra que tem no quintal. Dependendo do profissional que está conceituando o solo pode ter vários significados: os agricultores conceituam solo como sendo a camada superficial da terra, capaz de fixar e produzir alimento através de plantações, que por sua vez sofre impactos físicos, químicos ou biológicos, sejam estes originados pelo próprio homem, animais e/ou microorganismos presentes no mesmo. Já os engenheiros civis dizem que o solo é um material que não oferece resistência intransponível à escavações, pois perdem a resistência quando entram em contato direto e prolongado com a água. Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) definem solo como o resultado das interações presentes entre o clima, o material de origem, os organismos vivos e o homem, afirmando ser a camada mais superior da crosta terrestre. O intemperismo faz parte de uma série de fatores responsáveis pela formação dos solos, talvez por ser um conjunto de reações físicas, químicas e biológicas que levam a degradação e ao enfraquecimento das rochas, embora o intemperismo químico seja o de mais importância nesse processo, pois ele é capaz de transformar a química existente na rocha, tendo como agente principal a água, ele aumenta o número de minerais formados após a quebra dessas rochas. Essa formação de rocha pode ser considerada como um processo de intemperismo avançado. Os profissionais ligados diretamente ao solo, os Pedólogos, tratam o solo como um corpo natural, com constituintes minerais e orgânicos, diferenciando-os por horizontes, profundidades, características físicas, químicas e biológicas, por suas propriedades, e ainda pela biota encontrada abaixo da terra. Há diferenças ainda por suas cores, texturas, variando seus horizontes de poucos centímetros a vários metros de espessura, onde todas essas características juntas formam o que se chama de perfil de solo. 19 2.1 Tipos de Solo Como em todo ambiente, o homem por um impulso natural, classifica qualquer objeto com que lida, o solo não fica de fora. Antigamente a classificação do solo era dada por finalidade prática, se fossem mau ou bom para o cultivo de plantas, hortas ou então para a confecção de vasos, ou por ser muito argiloso ou pouco argiloso. Ao longo dos anos com o avanço tecnológico, a classificação começou a ser distinguida por fatores climáticos, pelo tipo de rocha e pela vegetação de uma determinada região. Surgindo assim, segundo Lepsch (1977, p.72) “termos de diversas origens, como por exemplo: terras residuais de granito, solos de colúvios, solos de origem glacial, terras calcárias, solos tropicais de cerrado, terras férteis arenargilosas e terras humíferas”. Algum destes usados até os dias de hoje, pelos menos avançados em questões tecnológicas. Mas, com o aperfeiçoamento, por volta de 1870 uma nova classificação de solo foi introduzida e desenvolvida por uma escola russa liderada por Dokoutchaiev, em que passou a ser examinado diretamente no campo observando sua morfologia e a sua composição química de seus horizontes. Segundo Lepsch (1977, p. 73) “Várias classificações de solos, que são baseadas nas descobertas da escola de Dokoutchaiev. Entre outras, podem-se citar, a russa, a francesa, a canadense, a americana e a da Organização para a Agricultura e Alimentação das Nações Unidas (FAO) esta ultima criada bem recentemente e a única que pretende,declaradamente ter caráter internacional. O Brasil também tem uma classificação de solos, que é uma adaptação as nossas condições, de outras de vários países, principalmente da americana, publicada em 1949.” Para os solos há um sistema de classificação hierárquico de categorias múltiplas semelhante a classificação da ciências biológicas, no caso dos vegetais, utilizam-se reino, classe, subclasse, ordem, família, gênero e espécie, enquanto já no solos as categorias têm uma ordem decrescente, sendo: ordem, subordem, grande grupo, família e serie. Considerando a classificação americana de 1949 as categorias mais elevadas são divididas em três ordens: zonal, azonal e intrazonal. Na pedologia a classe mais baixa, séries, podem atingir a casa das centenas de milhares de classes de indivíduos, definindo assim as séries com limites bem 20 estreitos e específicos. Devido às dificuldades de estabelecer normas mensuráveis, apresenta-se a seguir as três ordens com suas subordens: a) ordem zonal: nesta ordem encontra-se os solos com características bem desenvolvidas, solos maduros, relativamente profundos e com horizontes A, B e C diferenciados. Divididas nas Subordens ou Grande Grupo: Latossolos, Solos Podzólicos, Pedzol, Brunizem ou Solo de Pradaria, Bruno não-Cálcico, Solo Desértico e Solo Tundra; b) ordem azonal: nesta ordem estão incluídos os solos que não têm características bem desenvolvidas, apresentando seqüência de horizontes A-C ou A-Rocha, encontrados associados ou outro da ordem zonal. Divididas nas Subordens ou Grande Grupo: Litossolo, Regossolo, Solo Aluvial e Cambissolo; c) ordem intrazonal: nesta ordem estão reunidos os solos com características dominantes do relevo local, ou do material de origem, levando em consideração o efeito produzido pelo clima ou pelos organismos, o solo intrazonal pode associar a um número limitado de solos zonais, mas não pode ocorrer com todas as ordens zonais. Divididas nas Subordens ou Grande Grupo: Solo Salino ou Halomórfico, Solo Hidromórficos, Grumossolo. Os Pedólogos brasileiros adotaram uma terminologia semelhante à classificação americana de 1949. Mas, classificam de bem desenvolvidos os solos zonais, e de pouco desenvolvidos os solos azonais. Classificando as subdivisões de alguns Grandes Grupos nas classes eutróficos definidos como os que têm mais de 50% de sua capacidade de troca ocupada por bases, sendo os solos mais férteis. E os solos distróficos com mais de 50% de sua capacidade de troca ocupada por hidrogênio e alumínio, sendo assim menos férteis. 2.1.1 Latossolos Os Latossolos considerados como os solos cujos materiais são os mais decompostos, são predominantemente de coloração vermelha, alaranjada ou amarela, mas existem os Latossolos de cor vermelho-amarelo, Latossolo vermelho- 21 escuro, Latossolo Roxo, Latossolo Férrico, Latossolo Húmico e Latossolo Bruno, que são mais profundos, friáveis, bastante porosos, de textura variável, com argilas de baixa capacidade de troca de cátions e fortemente intemperizados. Apresentam teores de óxidos de ferro e de alumínio bastante elevados, enquanto os minerais primários são ausentes ou existem em proporções pequenas. A profundidade, a porosidade e a pequena diferenciação entre os horizontes são algumas das características morfológicas mais marcantes. Porém, essa pequena diferenciação entre os horizontes causa uma transição gradual ou difusa, a única diferença notável é o escurecimento da camada superficial, decorrente do acumulo de matéria orgânica, originada pela decomposição dos restos de vegetação. O horizonte dos Latossolos possui uma estrutura composta por torrões, nos quais deixam entre si uma grande quantidade de poros, propiciando alta permeabilidade, mesmo contendo teor de argila elevado, devido à esse acúmulo de argila, sua textura é praticamente uniforme em profundidade. Os Latossolos são encontrados facilmente em regiões de clima tropical úmido, pelo fato de dependerem das condições climáticas, intensa umidade e calor, são solos bastante envelhecidos, estáveis e intemperizados, característica esta que os tornam latossolos bastante pobre em relação aos nutrientes necessários aos vegetais, apesar desta pobreza, são usados intensivamente na agricultura, desde que seja feita a correção e a utilização adequada de fertilizantes minerais. Uma solução para minimizar este intemperismo acentua o cultivo intensivo, pois estão situados na maior parte dos casos em declives suaves, tornando-se bastante favorável a mecanização. São frequentemente utilizados por engenheiros como uma ótima fonte de matéria prima para aterros, estradas, barragens de terra, construção de fossa séptica, pelo fato de seu material apresentar uma pequena coerência, e uma elevada permeabilidade. Há uma exceção dos Latossolos em relação a fertilidade, que são os Latossolos Roxos por serem quimicamente ricos, conhecidos popularmente por terra roxa legítima, muito procurada para implantação de cafezais, sendo a preferida dos agricultores para o cultivo de várias outras importantes lavouras a exemplo da canade-açúcar, do algodão e da soja, acabando por auxiliar no aumento da produção destas culturas. 22 2.1.2 Solos Podzólicos Ao contrário dos Latossolos, os Podzólicos têm comumente diferenciação marcante entre os horizontes, possuindo perfis bem desenvolvidos, uma profundidade média, apresentam-se moderadamente ou bem intemperizados e são encontrados nas regiões florestais de clima úmido. Há um grande grupo de solos Podzólicos como: o Podzólicos Vermelho-amarelo, Podzólicos Marrom-acizentado, Lareritico bruno-avermelhado, Terra Roxa Estruturada, Podzólicos Eutróficos, Podzólicos com Cascalho (Salmourão). No Brasil o mais encontrado é o Podzólico Vermelho-amarelo, associado ao Latossolo por apresentar características comuns, considerando como intermédio entre as duas classes. Porém podzólico é mais típico por ter uma profundidade menor, maiores proporções de limo e minerais pouco resistentes ao intemperismo, ele ocorre em situações onde o relevo se apresenta de forma mais acidentada e possui uma melhor fertilidade natural. A diferença de um podzólico para outro solo podzólico do mesmo grupo é pequena como exemplo, o podzólico marrom-acizentado por possuir cores mais acinzentadas no horizonte e menos intemperismo que o vermelho-amarelado, da mesma forma o Lareritico Bruno-avermelhado e a Terra Roxa Estruturada se diferem basicamente no vermelho-amarelado e do marrom-acizentado, por possuírem coloração vermelho-escura. Nos solos Podzólicos a floresta de árvores de folhas largas são as mais encontradas, a maior parte deles possuem uma agricultura intensiva desde que não esteja situado em áreas onde o relevo seja muito acentuado, por favorecer a erosão hídrica. São solos ácidos e de baixa fertilidade e necessitam de corretivos e de fertilizantes agrícolas. 2.1.3 Solos Podzóis Desenvolvem uma textura arenosa e ocorrem em regiões de clima temperado ou frio, sob vegetação de pinheiros, o horizonte B possui produtos advindos do horizonte A, possuem ainda uma acumulação de óxidos de ferro e húmus no 23 horizonte B. Diferem dos Solos Podzólicos porque não foram formados por um processo físico de migração de argila, mas de dissolução química de ferro, e posterior precipitação desse elemento, juntamente com certa quantidade de húmus. Segundo Lepsch (1977, p.88) “O processo de migração de húmus e ferro é favorecido pelas seguintes condições: a) clima temperado e úmido; b) substrato arenoso; c) vegetação de pinheiros (coníferas) que forma sob o horizonte A1 um manto espesso de húmus e folhas em decomposição”. Temperaturas baixas, umidade e resto de folhas em decomposição favorecem a predominância dos fungos sobre as bactérias, os quais produzem condições redutoras e um resíduo ácido favorecendo a dissolução do ferro no horizonte A. São solos escassos no Brasil, por não oferecerem condições necessárias de se desenvolverem, são encontrados somente no sul do país, em alguns lugares de altitude elevada. Ocorre também o Podzol hidromórficos, o qual é desenvolvido em terrenos bastante arenosos, nas faixas litorâneas, ou na maior parte em antigas praias e marinhas. Este apresenta horizonte subsuperficial com acúmulo de húmus e ferro, formando-se nas Serras de climas quentes, desde que condições especiais do relevo local proporcionam excesso de umidade e a matéria de origem seja extremamente arenosa. 2.1.4 Solos Brunizens ou Solos Pradaria Não ultrapassam um metro, são relativamente rasos, e nem muito intemperizados e possuem como características de um horizonte A1, escuro, espesso, rico em matéria orgânica e cálcio. Apresenta camada escurecida pela matéria orgânica com uma estrutura granular macia mesmo seca. São solos principalmente encontrados em regiões subúmidas, onde existe suficiente umidade para manter vegetação de gramíneas, mas o que possa ocasionar muita lavagem de bases pelas águas que infiltram no solo, mantendo assim, os altos teores de cálcio. Transportados pelos ventos e ricos em limo, é comum desenvolverem em materiais sedimentares finos, apresentam vegetação natural composta por 24 gramíneas de diversas alturas, recebendo diversos nomes como, pradarias, campinas e estepes. Possui um sistema radicular númeroso, acrescentando a cada ano na camada mais superficial do solo, quantidade relativamente grande, de matéria orgânica, responsável pela coloração escura. Sua topografia varia de colinas baixas até planícies extensas, é considerado o melhor solo do mundo para agricultura por apresentar fertilidade natural e facilidade no cultivo. Segundo Lepsch (1977, p. 92), “eles podem ser subdivididos em outras classes e ser referidos na literatura com nomes tais como Chernozem, Solo Castanho, Solo Castanho-avermelhado e Brunizem-avermelhado”. 2.1.5 Solos Brunos não-Cálcicos Compreende solos pouco profundos ou moderadamente rasos, com coloração avermelhada viva, resultante da atividade da argila e saturação de bases muito alta, ocorre em topografias de superfícies suaves e fortemente onduladas com vales em V abertos com vertentes de dezenas de metros, são das regiões de transição entre florestas e campinas, que apresentam horizonte superficial e uma coloração marrom, não muito escura, e que se endurecem quando seca. Comuns no Nordeste Brasileiro, sobre a vegetação da caatinga, contendo muitos arbustos espinhosos e cactos. Têm uma espessura pequena, pois as condições do clima não são das mais favoráveis, com chuva escassa vem, também a falta de umidade dificultando a decomposição das rochas e assim o aprofundamento do solo. Outro fator que contribui para uma pequena profundidade é a forte erosão causada pelos aguaceiros, que são as chuvas mal distribuídas e concentradas em alguns meses. Os Brunos não-Cálcicos possuem uma limitação à agricultura por possuírem umas espessura pequena, e uma enorme quantidade de pedras além da falta de chuvas, como estes solos são bastante ricos a limitação de fertilidade é nula. No Brasil a maior parte destas áreas é ocupada por gado bovino e caprino como pastagens naturais, o que acabam contribuindo para a compactação deste solo. 25 2.1.6 Solos Desérticos Conhecidos também em alguns sistemas de classificação pelos termos de Aridissolos e Yermossolos, e responsáveis por 35% da superfície do planeta, sendo solos muito rasos e pouco intemperizados, apresentam um horizonte superficial em comum, geralmente arenoso, menos espesso, recoberto por um manto de pedras e cascalhos, é comum a presença de carbonato de cálcio, esta é tanto menos profunda quanto maior for a escassez de chuva, e pode constituir em alguns casos uma camada endurecida chamada Caliche. Os solos desérticos possuem vegetação rarefeita, constituída de cactos e pequenos arbustos, devido a fortes ventos frequentes diariamente nos desertos, as dunas de areia se movimentam tomando erroneamente a paisagem dominante, o que na verdade ocupam uma porção relativamente pequena da mesma. 2.1.7 Tundra Considerado por ser um solo encontrado apenas em regiões onde as variações estacionais são extremamente negativas, cuja vegetação característica são os liquens, musgos, ervas diversas e pequenos arbustos, na qual a temperatura no mês mais quentes é inferior a 10° C, e quando está no mês mais quente a superfície torna-se alagadiça e inundada por causa do degelo. O solo é o mais prejudicado, bastante afetado por esse frio, não permitindo o desenvolvimento de perfis, por permanecer a maior parte recoberto e congelado por neve, acarretando também o mínimo de intemperismo, possuindo tais características é normal o aparecimento de uma camada denominada Permafrost, a uma profundidade não muito grande, a qual permanece sempre congelada. A vegetação predominante morre no inverno e seus restos acumulam-se na superfície, decompondo-se num processo lento. Essa região possui um solo bastante escuro e rico em restos vegetais em decomposição, pois quando não estão inundadas elas estão congeladas. Sem nenhum proveito na agricultura, mas somente para criação de renas e caribus, e aos animais que migram das florestas de 26 pinheiros no verão que aproveitam a vegetação rasteira como pastagem. 2.1.8 Solos Hidromórficos São os solos que desenvolvem sob a influência da água, do lençol freático, onde a topografia é plana ficando a maior parte do tempo saturados, ocorre em regiões de clima úmido, nas encostas de rios e lagos, ou em depressões fechadas. Segundo Lepsch (1977, p. 99), “existem dois tipos principais de Solos Hidromórficos: os orgânicos e os minerais”. Para diferenciá-los, depende de um fator importante, a quantidade de restos vegetais, que influência na criação de solos orgânicos, ou quando o acúmulo não é intenso tornando-os minerais, mas o encharcamento é bastante para que o ferro seja reduzido e adquirindo assim uma cor acinzentada, nesses casos é comum o aparecimento de mosqueados, resultantes da oxidação do ferro em determinados pontos. Segundo Lepsch (1977, p.99) “existem vários grandes grupos de solos hidromórficos minerais que recebem denominações especiais tais como: Glei Húmico, Glei Pouco Húmico, Planossolos, Podzol Hidromórficos e Laterita hidromórfica”. Em alguns solos os mosqueados ocorrem em grandes quantidades que podem ser cortados secos e usados como material de construção, são comumente denominados de Plintita ou Concreções Lateríticas. Os solos heteromórficos minerais e orgânicos possuem uma camada superficial de espessura superior, na qual a quantidade de materiais orgânicos, ou húmus é maior que 20% em relação aos materiais minerais. Estes têm características escuros, quase negros, fofos e porosos que desenvolvem-se em turfas. Quando o excesso de água é completamente drenada, a maior parte deles presta-se a agricultura por se tratar de uma fertilidade natural e bastante variada. As indústrias de cerâmica utilizam de depósitos argilosos, cinzentos conhecidos como tabatinga, e são ocasionados pelos solos minerais hidromórficos, e os depósitos 27 orgânicos isentos de material mineral, as cortados secos e utilizados como combustíveis. 2.1.9 Solos Salinos ou Halomórficos São classificados com Solos Salinos devido há uma grande concentração de sais solúveis, predominando o cloreto de sódio, que ocorrem em locais mais baixos do relevo, regiões próximas ao mar. A água que traz em sua composição sais minerais, evapora rapidamente antes de infiltrar-se totalmente, havendo um acúmulo de sais no horizonte vertical, cada vez que esse processo é repetido, e provoca a salinização do solo. Mas essa salinização não ocorre somente pelo acúmulo de sais mais também em áreas irrigadas, devido a falta de drenagem adequada, assim os sais mais profundos são trazidos à superfície, pelo movimento ascendente da água capilar ou do lençol freático, o mesmo processo pode ocorrer com água salobra, para irrigar. Segundo Lepsch (1977, p.105) “A vegetação nesses solos é bastante escassa já que poucas plantas conseguem sobreviver em altas concentrações salinas. Para seu aproveitamento na agricultura, é necessário lavá-los com água doce antes do plantio, por intermédio de praticas de irrigação e drenagem devidamente planejadas.” Existem três tipos de solos salinos como: Solonchak possui crostas de sais na superfície, Solonetz que possui concentração de sais no horizonte, com característica de aspecto colunar da estrutura e por último os Solos Salinos Costeiros ocorrem devido a influência da adição de água do mar nas zonas mais baixas e inundáveis pelas marés altas. 2.1.10 Grumossolo Conhecidos também por Vertissolos, Regur, Argila Preta Tropical, Barro Preto 28 e Massapé do Nordeste do Brasil, são classificados por sua cor cinza-escuro, com elevado teor de argila, um tipo diferente denominada montmorilonita, cuja sua propriedade é a expansão, com o umedecimento e a contração com a secagem, apresentando uma grande quantidade de fendilhamentos, situam-se em baixadas planas ou quase planas, onde a topografia apresenta um aspecto particular arredondado denominado microrrelevo Gilgai. Estas fendas se abrem na estação seca do ano, com largura de 10 a 20 cm, e com profundidades de 50 cm a 1 m, como estas fendas estão abertas, o material que esta solto na superfície do solo pode cair para o interior destas fendas, quando a estação chuvosa chega, a massa do solo se expande e as fendas vão fechando, se comprimindo, porém, as mesmas estão parcialmente preenchidas por aquele material solto que estava na superfície do solo, com isso ocorre um estufamento do solo formando montículos característicos, fazendo com que o Grumossolo fique sempre em movimentação. Para a agricultura, um fator importante deve ser observado, a manutenção de um teor adequado de umidade, quando muito úmidos são muito pegajosos, quando secos tornam-se duros, e os fendilhamentos podem vir a arrebentar as raízes. Segundo Lepsch (1977, p. 108) “Por outro lado, os fenômenos periódicos de contração e expansão são fatores que afetam também os trabalhos de engenharia civil, fazendo esses solos apresentarem limitações severas para o estabelecimento de fundações de edificações, ou leitos de rodovias.” 2.1.11 Solos Pouco Desenvolvidos Denomina-se solo pouco desenvolvido, por tratar-se de solos jovens, ainda em fase inicial, ou então por estarem situados em lugares muito declivosos, onde a erosão é igual ou maior que a velocidade de transformação da rocha em solo. São vários os tipos de solos pouco desenvolvidos, dentre os quais os mais importantes são: Litossolo, Regossolo, Solo Aluvial e Cambissolo: a) litossolo – um solo que possui sua rocha consolidada, ocorre em locais declivosos, onde as áreas são de relevos montanhosos, rampas muito inclinadas, ao lado de afloramento rochosos, e é delgado; b) regossolo – intemperização muitos profundos, é o inicio de uma formação, 29 são uniformes e soltos, tais como os saibros e as areias, um relevo normalmente constituído de colinas com um a declividade suave e uma vegetação variada. Ao decorrer do seu desenvolvimento ele se transforma em sedimentos muito arenosos, composto de quartzo, daí então a denominação de Areia Quartzosa; c) solo aluvial – um dos mais importantes sobre o ponto de vista agrícola, responsáveis por grande parte da produção de alimentos, responsáveis pelo aparecimento de civilizações antigas, desenvolvidos recentemente sobre sedimentos, geralmente se origina fluvialmente, camadas alternadas, classes texturais distintas, composto por estratos das deposições sedimentares; d) cambissolo – apesar de ter as características dos demais solos pouco desenvolvidos, é considerado o menos desenvolvido, pela pequena espessura e pouca diferenciação, não é suficientemente desenvolvido para ser considerado como zonal. Segundo Lepsch (1977, p. 110-111) “dos solos pouco desenvolvidos, os Aluviais são os mais importantes sob o ponto de vista agrícola. Em varias regiões do mundo, eles são responsáveis por grande parte de produção de alimentos. Como foi visto, são citados como responsáveis pelo aparecimento de civilizações antigas que prosperam ao longo do rio Indo na Índia e os rios Eufrates e Tigre na antiga Mesopotâmia, hoje Iraque. Por outro lado os Litossolos e os Regossolos têm normalmente potencial agrícola pequeno, devido a limitações de profundidade e alta suscetibilidade à erosão”. 2.2 Descrições de um Perfil de Solo Na descrição de um perfil de solo é importante observar suas características e as análises necessárias, visto que a variação acontece de região para região devido à intensidade de fatores diferentes que agem durante sua formação ou transformação. Durante um estudo para avaliação das características morfológicas de um solo é necessário inicialmente fazer toda uma análise na região descrevendo todo o perfil daquele solo e mapear toda a área. Em seguida iniciam-se as descrições 30 morfológicas através de uma análise estrutural com a verificação da variação vertical dos perfis pela abertura de uma vala ou trincheira. Segundo Lemos; Santos (1996 apud GUERRA; SILVA; BOTELHO, 1999) uma das primeiras etapas a serem realizadas é a delimitação dos seus horizontes limitando-o e fazendo as devidas anotações de suas características. Tais limites podem ser: a) abrupto: ocorre quando há uma faixa de separação abaixo de 2,5 cm; b) claro: ocorre quando há uma faixa variando entre 2,5 e 7,5 cm; c) gradual: ocorre quando há uma faixa variando entre 7,5 cm e 12,5 cm; d) difuso: ocorre quando há uma faixa maior do que 12,5 cm. A análise morfológica do solo também é caracterizada de acordo com sua topografia que Segundo Lemos; Santos (1996 apud GUERRA; SILVA; BOTELHO, 1999) pode ser definida como: a) plana: quando a faixa de separação é praticamente horizontal; b) ondulada: é quando a faixa de separação é sinuosa sendo os desníveis mais largos do que profundos; c) irregular: é quando a faixa de separação apresenta os desníveis mais profundos do que largos; d) descontinua: é quando a faixa de separação não apresenta característica contínua e está parcialmente ou completamente separada de outras parte do meio horizonte. Para que a análise do solo seja bastante útil é necessário que, durante as anotações de suas características, os resultados sejam mais ricos em detalhes possíveis permitindo assim que o leitor possa ter uma boa da análise sem que tenha visto, que os resultados obtidos com base em estudo realizados, sejam os mais precisos possíveis. 2.2.1 Cor Ao iniciar o estudo morfológico de um solo, a cor é uma das características que mais chama a atenção, sendo por isso muito utilizada para diferenciar os diversos tipos de solo existente. Na maioria dos sistemas de classificação de solos a 31 cor é usada como parâmetro diferencial de classes em diferentes níveis categóricos. A cor pode definir também os diferentes tipos de matéria orgânica e demais componentes como a sílica e componentes de ferro presente naquele solo. Para determinar suas características através da cor, o método bastante utilizado é o Sistema de Cores de Munsell ou Carta de Munsell. FIGURA 01 – Sistema de Cores de Munsell Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Sistema_de_cores_de_Munsell (acessado em 18/11/2010) O sistema possui três componentes: croma, matiz e valor definidos segundo Schneider; Klamt; Giasson (2007) da seguinte forma: a) croma (chorme): ou também conhecido como intensidade de saturação refere-se as purezas, intensidade ou saturação corresponde a relação entre o cinza e cores mais claras. Quanto mais afastado do eixo vertical maior é o grau de saturação do solo; b) matiz (hue): que refere-se ao comprimento da onda de luz cuja variação de cor vai do vermelho até uma cor mais amarelada; c) valor (value): ou também conhecido como tonalidade que visa verificar a luminosidade variando as cores entre o branco e o preto. Importante observar ainda que em alguns casos as cores do solo não apresentam características acromáticas, ou seja, não possuem classificação no croma e nem na matiz somente o valor. Para que haja variação na cor, é necessário que o solo entre em contato com a umidade. Assim para determinar as características de um solo é necessário que 32 faça a medida com o solo seco e com o solo úmido. Segundo Schneider; Klamt; Giasson (2007), em um estudo da cor do horizonte, está poderá assumir diversas características diferentes sendo então necessário para a sua classificação conter a abundância, a extensão, a forma, o limite e o contraste em relação a outros volumes de cores. Um exemplo consiste em analisarmos as cores escuras nos horizontes. Se forem superficiais indicam um grande acúmulo de matéria orgânica que tende a escurecer ainda mais tornando praticamente preto quando os locais são mal drenados ou com temperaturas mais baixas. Já no subsolo essa cor indica a presença de minerais de ferro ou matéria orgânica deslocada sob a forma dispersa e/ou solúvel. A presença de hematita e goetita tendem a aumentar a pigmentação vermelha e amarela respectivamente sendo que a hematita aparece em locais bem drenados, solo com pouca umidade e temperaturas elevadas. Já a goetita aparece em locais bem drenados com alta umidade e temperaturas baixas. Ao definir a cor de um solo, é necessário observar que esteja em condições úmidas e a cor da matiz é sempre a cor predominante. Quantidade Classe Tamanho Tamanho Área do eixo Classe Classe Superficial maior Contraste Definição Pouco <2% Pequeno <5 mm Difuso Indistinto, visível apenas com exame detalhado Comum 2-20% Médio 5-15 mm Distinto Facilmente visível >15 mm Diferença da cor matriz do solo é Proeminente várias unidades matiz, valor croma Abundante >20% Grande da de de ou QUADRO 01: Quantidade, Tamanho e Contraste de Mosqueados Fonte: Schneider; Klamt; Giasson (2007, p.35) Em situações em que o solo não apresenta uma cor predominante, denominamos como coloração variegada. Nesse caso, é identificada cada cor separadamente. 33 2.2.2 Agregados Segundo Curi et al. (1993, apud GUERRA, SILVA, BOTELHO, 1999, p.105) “agregado é um conjunto coerente de partículas primárias do solo com formas e tamanho definidos. Comportam-se, mecanicamente, como uma unidade estrutural”. A formação destes agregados depende da forma de como eles foram formados, ou seja, se ele foi formado pela influencia de tratores, maquinários agrícolas, de forma artificial, este então recebe o nome de torrão, já os agregados formados naturalmente recebem o nome de ped. Os agregados são descritos perante sua forma, tamanho e grau de desenvolvimento da estrutura presente em cada agregado. Assim os agregados podem ter a forma arredondada, angulosos ou laminares. Os agregados arredondados podem ter estrutura com forma granular, grumosa e poliédrica ou blocos subangulares, significando um meio poroso onde a água, o ar e a vida animal e vegetal circulam livremente e são estáveis em água, os agregados angulosos podem ter estrutura com forma poliédrica ou blocos angulares ou prismática, estes são compactos, restringem a atividade biológica e a vida animal, a água e o ar circulam facilmente, tal fato é agravado em horizontes arenosos, e por último os agregados com estrutura laminar, estes por sua vez impedem a circulação vertical da água, ar e vida, condicionando um desenvolvimento lateral das raízes, comuns em horizontes superficiais. As estruturas dos horizontes são caracterizadas com a presença, ou não de agregados, estruturas com agregados são classificados como estruturas fragmentares composto por estruturas prismáticas e estruturas colunares, e as estruturas sem a presença dos mesmos são classificados como estruturas contínuas dividido em estrutura maciça e em estrutura particular. Os agregados podem influenciar de forma direta no processo estrutural dos horizontes de um solo, sendo que as partículas dispersas darão a estas estruturas propicias ou não a uma boa sedimentação e fertilização do solo, comprovando as classificações citadas acima. 34 2.2.3 Porosidade A porosidade é uma característica muito importante no solo, pois ela é responsável pela transferência de sólidos líquido e gases no interior e da atividade biológica no interior do solo, ou seja, é a proporção que o solo vem sendo ocupada pelos poros, determinada em laboratórios e expressa em porcentagem, e são ocupados pela água e pelo ar. Esta é responsável pela retenção de mais ou menos água no solo. A porosidade pode ser definida em três tipos, a porosidade de alteração, a porosidade textural e a porosidade estrutural. Segundo Ruellan e Dosso (1993 apud GUERRA, SILVA, BOTELHO, 1999, p.109) a porosidade estrutural, em função da morfologia, pode ser dividida em três tipos: a porosidade tubular e cavitária, a porosidade fissural e a porosidade de empilhamento. Os poros de um solo recebem sua caracterização na descrição morfológica de acordo com seu tamanho e à sua quantidade: Tamanho de poros Classes Sem poros visíveis Muito pequenos Quantidade de poros Diâmetro Classes Descrição/Exemplo - Poucos Horizonte B de solos hidromórficos <1 mm Comuns Horizonte B de Argissolos com estrutura em blocos moderada a bem desenvolvida Pequenos 1-2 mm Médios 2-5 mm Grandes 5-10 mm Muito grandes >10 mm Muito Neossolos Quartzarênicos e Horizonte B de Latossolos Vermelhos QUADRO 02: Classes de Tamanho e Quantidade de Poros Fonte: Schneider, Klamt, Giasson, (2007, p.52) Os poros recebem outra classificação em função do diâmetro, que são os macro poros ou macroporosidade, correspondente a de circulação rápida da água e é de origem estrutural; e os micro poros ou microporosidade, correspondente a de 35 circulação lenta da água, podendo atender aos três tipos de porosidade: alteração, textural e estrutural. A sua quantidade e distribuição, estão intimamente associados a textura, teor de matéria orgânica e a estrutura do solo, ou seja, varia de solo para solo, em solos arenosos com pouca matéria orgânica a macroporosidade é predominante, já em solos de textura fina se encontra uma predominância da microporosidade, em solos mal estruturados os microporos são abundantes restringindo a macroporosidade, existem ainda os solos que apresentam distribuição adequada de macroporos e de microporos mostrando um certo equilíbrio para algum lado. 2.2.4 Feições Pedológicas Resultantes da movimentação e da transferência de matéria que se produzem dentro do solo, podendo ser estas organizações macro e microscópicas. Movimentações estas que podem ser de deposição de matéria, precipitação de elementos em solução, de animais e raízes, e da expansão de argila. Segundo Ruellan e Dosso (1993 apud GUERRA, SILVA, BOTELHO, 1999, p.111-112), as feições possuem vários tipos, mas eles classificam sendo quatro os principais tipos de feições pedológicas, classificadas da seguinte forma: a) revestimento ou cerosidade: são a expressão da movimentação de matéria dentro do solo. O revestimento pode ser de qualquer tipo, seja ele de argila, de calcário, férrico etc. Cerosidade refere-se apenas ao revestimento de argila, que são os revestimentos mais comuns; b) bandas: feições com espessura que varia de poucos milímetros a alguns centímetros, rica em argila, ferro ou matéria orgânica, chamadas de bandas onduladas e podem ser de dois tipos, as de acumulação e as de degradação e lavagem. c) nódulos: Segundo Ruellan e Dosso (1993 apud GUERRA, SILVA, BOTELHO, 1999, p.112), “nódulos são concentrações mais o menos esféricas, seja de elementos migrados em solução, seja de elementos residuais dessas migrações”. Nódulos são corpos cimentados, com composições que variam de materiais parecidos com os dos solos, e os 36 nódulos são descritos quanto a, - Quantidade: expressa em percentual do volume ocupado; - Tamanho: variam de milímetros a centimetros de diâmetro; - Dureza: friáveis ou muito duros; - Forma: esférica, irregular, alongada, angular, etc.; - Cor: cor externa e interna do nódulo; - Natureza: ferro-magnesiana, gibsita, carbonato de cálcio, etc. d) pedotubulos: volumes pedagógicos interpretados como resultados da atividade biológica animal, são mais abundantes nos horizontes superficiais, onde o material de preenchimento é diferente do material externo do poro. O transporte de matéria dentro do solo mostra o processo que os agregados estão sendo quebrados, dando disponibilidade para o transporte de tais partículas, transportes que estão evidentes não apenas no movimento de argila, mas também através do preenchimento dos poros, originando os pedotubulos. 2.2.5 Estabilidade dos Agregados Conjunto de partículas primárias com forma e tamanho definido é a estabilidade que esta ligada diretamente a dois fatores: consistência e estabilidade estrutural, identificados com a mão, utilizando o dedo polegar e indicador, ou seja, pressionando os agregados. Segundo Lemos e Santos (1996 apud GUERRA, SILVA, BOTELHO, 1999, p. 113), a consistência do solo varia em função da umidade, obedecendo ao estado de umidade de um agregado, ou seja, seca, úmida e molhada. O procedimento para caracterização é o esboroamento. a) seca: Consistência caracterizada pela dureza de um agregado: - Solta: material não coerente; - Macia: massa de solo frágil, e quebra sob pressão muito leve; - Ligeiramente Dura: fracamente resistente a pressão, quebra facilmente; - Dura: Moderadamente resistente, quebrado nas mãos, mas não entre os dedos; 37 - Muito Dura: Muito resistente, dificilmente quebrado nas mãos, mas não entre os dedos; - Extremamente Dura: Extremamente resistente, não pode ser quebrado nem com as mãos. b) úmida: Consistência caracteriza a friabilidade de um agregado: - Solta: material não coerente; - Muito Friável: Esboroa-se com leve pressão, e agrega-se posteriormente por compressão; - Friável: Esboroa-se com pressão moderada, agrega-se posteriormente; - Firme: Esboroa-se relativamente fácil, apresenta resistência perceptível; - Muito Firme: Necessita de pressão, apresenta elevada resistência; - Extremamente Firme: Necessita de pressão forte, agregado apenas se fragmenta. c) molhada: Consistência caracterizada pela plasticidade, determinada em campo à partir da modelagem de um cilindro ou um fio fino de sol, e pegajosidade, verifica-se sua aderência, capacidade que a massa de solo tem de aderir a outros objetos. Assim tem-se de acordo com a plasticidade: - Não Plástica: Não se forma nenhum fio ou cilindro; - Ligeiramente Plástica: Forma-se um fio facilmente deformável; - Plástica: Forma-se um fio, necessitando de pressão para deformá-lo; - Muito Plástica: Forma-se um fio, necessitando de muita pressão para deformá-lo. De acordo com sua pegajosidade: - Não Pegajosa: Após pressão, o material não adere aos dedos; - Ligeiramente Pegajosa: Após pressão, o material adere aos dedos, mas se solta de um posteriormente; - Pegajosa: Após pressão, o material adere a ambos os dedos, perceptível tendência a alongar-se e ao rompimento; - Muito Pegajosa: Após pressão, o material adere fortemente aos dedos, e alongam-se quando afastados. Sua estabilidade estrutural é uma medida de resistência de seus agregados, medidas estas que são obtidas em laboratórios através de imersão na água, quando mais bem estruturado, menor será a orientação de partículas e conseguintemente 38 menor será a força de coesão de adesão, nos diferentes tipos de umidade, apresentando consistência menor quando estiver desestruturado. 2.2.6 Cimentação Cimentação é o nome que se dá às ligações entre as partículas por agentes cimentante, formando um material coeso dentro de um horizonte. Segundo USDA(1993 apud SCHNEIDER, KLAMT, GIASSON, 2007, p.50), “o material pode apresentar-se fracamente cimentado (duro e quebradiço), fortemente cimentado (muito duro e quebradiço) ou endurecido(extremamente duro e quebradiço)”. Esta pode ser irreversível, quando a resistência não se altera ou altera muito pouco com o umedecimento, ou semi-reversivel onde há um abrandamento da resistência. Segundo USDA (1975 apud SCHNEIDER, KLAMT, GIASSON, 2007, p.51), “a cimentação somente é considerada como tal se uma amostra de material não se dispersa quando após seco ao ar é submergido em água por uma hora.” A presença de cimentação é um indicativo de processos e de ambientes pedogenéticos, essa característica é um dos critérios que permitem a identificação dos horizontes ou das camadas diagnosticadas, que por sua vez é um fator limitante para o desenvolvimento radicular das plantas e para a infiltração de água, reduzindo conseqüentemente a potencialidade de uso agrícola do solo. 2.2.7 Textura do Solo A textura do solo é a proporção relativa às diversas frações texturais que compõem a fração terra fina, as frações granulométricas são classificadas de acordo com o seu diâmetro, como a fração terra fina para partículas menores que 2 mm, e como cascalho para frações mais grosseiras com partículas maiores que 2 mm. Segundo Lemos e Santos (1996 apud SCHNEIDER, KLAMT, GIASSON, 2007, p. 36), os solos podem ser agrupados em 13 ou 12 classes texturais, respectivamente no Brasil e nos Estados Unidos. 39 FIGURA 02: Triângulo Textural Representando as Classes Texturais do Solo Fonte: http://coralx.ufsm.br/msrs/index.php/triangulo-textural-de-solos (acessado em 23/11/2010) Para estimar uma classe textural, utiliza-se o esboroamento entre os dedos, manipulando a amostra molhada e amassada, ela deve ser molhada para que haja dispersão e orientação das partículas do solo. O método baseia-se nas diversas sensações que a areia, silte e argila oferecem ao tato, provocadas pelas diferentes fragmentações granulométricas que compõem a fração terra fina do solo. O quadro a seguir define as sensações: 40 Fração Granulométrica Diâmetro da partícula (mm) Areia 2,0 - 0,05 Silte 0,05 - 0,002 Argila < 0,002 Sensação ao tato Sensação de aspereza. Não plástica e não pegajosa quando molhada; grãos simples quando seca. Sensação de sedosidade. Ligeiramente plástica e não pegajosa quando molhada. Sensação de sedosidade. Plástica e pegajosa quando molhada. QUADRO 03: Sensações de Tato Provocadas pelas Diferentes Frações Granulométricas que Compõem a Fração Terra Fina do Solo Fonte: Schneider, Klamt, Giasson (2007, p.38) O solo apresenta frações grosseiras que podem dificultar a estimativa da textura pelo tato, as frações grosseiras são o cascalho com diâmetro de 2 a 20 mm, calhau com diâmetro que varia de 20 mm a 20 cm, e matação com diâmetro superior a 20 cm. A textura condiciona os fatores de crescimento das plantas, por ter relação com a composição mineralógica, com a área superficial e com a porosidade, as propriedades morfológicas, físicas e químicas também estão relacionadas com a textura do solo. A textura influi na retenção movimentação, disponibilidade de água, arejamento, disponibilidade de nutrientes, resistência à penetração de raízes, e influi ainda em propriedades do solo relacionadas com a susceptibilidade à degradação. 2.3 Horizontes do Solo Horizontes do solo são camadas diferenciadas entre si pela sua espessura, cor, distribuição e arranjo das partículas sólidas e poros, pela distribuição de raízes ou por outras características. Seu desenvolvimento é um processo dinâmico, primeiro ocorre a alteração da rocha, formando uma camada de material não consolidado, sobre este se desenvolvem plantas e outros organismos vivos que incorporam material orgânico ao mesmo, resultando assim na formação de um horizonte superficial mineral escurecido, a partir deste, a deposição de resíduos vegetais ou animais origina a formação de outro horizonte, dependendo se o ambiente é hidromórfico ou não. 41 Observa-se que um horizonte pode ser originado pelas suas características, pelo seu perfil, pela quantidade de matéria orgânica, pelo ambiente que o mesmo é desenvolvido, ou pode ser originado ainda de outro horizonte. Para sua designação são utilizadas letras maiúsculas, minúsculas usadas como sufixos, indicando a presença de características subordinadas dos horizontes, e números arábicos podendo ser utilizados como prefixo, indicando descontinuidade do material de origem, e utilizados como sufixo, indicando subdivisões verticais dos horizontes ou camadas. 2.3.1 Horizontes Genéticos Principais São horizontes com características definidas, resultantes da ação de um ou mais processos pedogenéticos específicos, relacionados a seguir segundo EMBRAPA (1988, apud SCHNEIDER, KLAMT, GIASSON, 2007, p.22): a) horizonte O: horizonte O ou camada orgânica, situada sobre um horizonte mineral superficial, formado por resíduos vegetais, acumulados em condições de boa drenagem, podem ser bem decompostos ou pouco decompostos, ocorre principalmente sob vegetação florestal; b) horizonte H: horizonte orgânico ou camada superficial, originado pela acumulação de resíduos orgânicos em condições hidromóficas, apresentam estágios de decomposição variados; c) horizonte A: horizonte superficial mineral apresenta coloração escurecida pelo enriquecimento com material orgânico umidificado, encontrado sob os horizontes O ou H; d) horizonte E: horizonte mineral que apresenta máxima eluviação de argilas, sesquióxidos ou matéria orgânica, apresenta textura mais arenosa e coloração mais clara do que os outros; e) horizonte B: horizonte mineral formado sob um Horizonte A ou E, por alteração do material de origem, formação de argilominerais e em conjunção ou não com iluviação de argilominerais, sesquióxidos e matéria orgânica; f) horizonte C: horizonte ou camada mineral inconsolidado, pouco alterado 42 pela ação de organismos e que pode ou não corresponder ao material de origem, pode representar uma camada de areia quartzosa não alterada pedogeneticamente, diferente do material de origem, designando assim uma camada e não um horizonte genético principal; g) horizonte F: horizonte rico em ferro e/ou alumínio e pobre em matéria orgânica, fortemente cimentado, proveniente do endurecimento irreversível da plintita ou da transcolação de ferro e ou alumínio. Segundo Schneider, Klamt, Giasson, (2007, p. 23), ate 1984 a notação e definição de horizonte e camadas do Brasil era a mesma do Soil Survey Manuall. Porém em 1988 foram propostas modificações que derivam da nomenclatura internacional. No quadro a seguir equivalência dessas diferentes notações: Simbologia Atual (EMBRAPA, 1988) Simbologia anterior O, H A E O A1 A2 B C B2 C QUADRO 04: Equivalência da Simbologia para Notação de Horizontes Genéticos Principais Adotada a partir de 1988 com a Simbologia Anterior. Fonte: Schneider, Klamt, Giasson (2007, p. 23) 2.3.2 Horizontes Transicionais e Intermediários É um fato normal as características de dois ou mais horizontes transicionarem entre si, podendo resultar entre eles horizontes nos quais suas características se fundem em proporções variáveis, denominados horizontes transicionais, são representados pela junção das letras dos seus respectivos horizontes, onde, a primeira letra indica o horizonte principal ao qual o novo horizonte tem mais características desse horizonte principal. Pode ocorrer que partes de um horizonte seja identificáveis, mas misturadas dos horizontes principais adjacentes, criando assim, os horizontes intermediários 43 que podem ou não ser transicionais, no qual a primeira letra indica o horizonte principal que ocupa maior volume no horizonte intermediário. No quadro a seguir a equivalência desses horizontes transicionais: Simbologia Atual (EMBRAPA,1988) Simbologia anterior Horizontes de transição miscigenados AE AB, EB AC, CA BA, BE A3 AC B1 BC CB B3 Horizontes de transição mesclados O/A. A/O A/B A/C E/B B/E B/A B/C AB A&B B&A - QUADRO 05: Equivalência da Simbologia para Notação de Horizontes de Transição Adorada a partir de 1988 com a Simbologia Anterior. Fonte: Schneider, Klamt, Giasson (2007, p. 24) 2.3.3 Espessura dos Horizontes e Transição entre os Horizontes A medição da espessura de cada horizonte e a caracterização que separa os mesmos, segundo Schneider, Klamt, Giasson (2007) é determinada com o apoio de uma fita métrica colocada em posição vertical, ajustando se o zero com a superfície do solo, quando o mesmo não tiver horizontes orgânicos superficiais, ou com a transição entre os horizontes orgânicos superficiais e os minerais, sua espessura é medida de cima para baixo nos horizontes minerais, já nos horizontes orgânicos esta pode ser da base para cima, ou da superfície para baixo, esta última se ele for totalmente constituído de horizonte orgânico. A espessura como condicionadora da profundidade efetiva do solo é um 44 parâmetro fundamental na avaliação do potencial de uso do solo, vários sistemas usam limite de espessura e/ou profundidade como parâmetros de classificação taxonômica. As características morfológicas variam, de acordo com a espessura, nas quais elas graduam de um horizonte para outro, e esta recebe o nome de faixa de transição, por esta razão leva-se em conta a espessura da faixa que determina a nitidez ou o contraste da transição e a topografia da mesma. A transição pode ser indicativa de limitações, condicionando a uma elevada erodibilidade. A transição é avaliada quanto à forma e quanto á nitidez conforme os quadros a seguir. Classe Plana Ondulada Irregular Descontínua Definição Paralela à superfície do solo e com poucas irregularidades Apresenta ondulações, sendo essas mais largas que profundas Apresenta ondulações, sendo essas mais profundas que largas Um ou dois horizontes separados pela transição são descontínuos e a transição é interrompida QUADRO 06; Classificação da Forma ou Topografia de Separação entre os Horizontes. Fonte : Schneider, Klamt, Giasson (2007, p. 30) Classe Abrupta Clara Gradual Difusa Faixa de separação (cm) LEMOS E SANTOS (1996) < 2,5 2,5 - 7,5 7,5 - 12,5 > 12,5 USDA(1993) <2 2,0 - 5,0 5 – 15 > 15 QUADRO 07: Classificação da Nitidez do Contraste de separação entre os horizontes. Fonte : Schneider, Klamt, Giasson (2007, p. 30) 2.4 Fauna do Solo Quando se analisa uma porção de terra em sua própria mão, a primeira imagem que você tem daquela porção, é que ela não passa de um conjunto de partículas, que formam um aglomerado de terra, que ali o máximo que vai encontrar 45 são as raízes e animais visíveis a olho nu, mas isto é uma controvérsia, pois abaixo do solo que estamos pisando existe uma vida, esta quando analisada microscopicamente e detalhadamente revela que nesta porção existem materiais de origem mineral e outros com origem orgânicas. Esta vida propriamente dita ou microorganismos vivos, carregam com si as relações mais importantes, que conferem aos solos características dinâmicas, nessa porção de terra que esta sendo analisada prolifera uma população muito grande e diversificada de organismos vivos, de vários tamanhos, como bactérias, fungos e protozoários, em uma população nunca estimada, no qual supera bilhões de indivíduos por centímetro cúbico, exercendo um papel fundamental, a decomposição de restos orgânicos e formando compostos. Além destes microorganismos, temos também, as térmitas, minhocas e formigas, em populações extremamente menores, e que variam de uma região e/ou de um clima para outra, desempenhando o mesmo papel dos demais seres vivos presentes no solo, mas com uma característica significativa de movimentar o material presente no solo. Segundo Dokuchaev (1879, apud VARGAS; HUNGRIA, 1997) Ao apresentar os primeiros trabalhos desenvolvidos em terras russas, já destacava que os solos são resultantes da atividade combinada de organismos vivos e mortos (animais e plantas), material de origem, clima e relevo. A partir de 1881 o estudioso Darwin começou a apresentar estudos sobre o papel do microorganismos no solo, o que tempos depois começou-se a verificar que toda a fauna do solo não se restringia ao grupo dos anelídeos. Foi este desenvolvimento da pedologia que levou com que os pesquisadores, geólogos e pedólogos, estudassem de forma profunda o papel dos microorganismos nos processos pedogenéticos e no comportamento dinâmico do solo. 2.4.1 Classificações dos Organismos do Solo Os seres vivos são classificados atualmente em cinco Reinos (Monera, Protista, Plantae, Fungi, Animália), porem os organismos de vida livre presentes no 46 solo, são as Bactérias, Fungos, Algas, diversos integrantes do Reino Animália e os vírus presentes em células de outros organismos. No solo pode ser encontrada uma grande diversidade de microorganismos, seja ele de origem genética ou funcional, mas de acordo com literaturas, os dados disponíveis indicam divergências no número médio de indivíduos e na biomassa de animais do solo. De um modo geral e geneticamente, em um metro quadrado de solo sob condições de vegetação natural, pode ser encontrada centenas de milhões de bactérias e de nematóides, milhares de ácaros e de colêmbolos e centenas de minhocas, responsáveis pela criação do húmus, um material superficial e rico em matérias orgânicas. Estes números estão melhor apresentados no quadro a seguir. O quadro a seguir mostra a estimativa de números indivíduos e de biomassa de alguns organismos do solo. Quantidade estimada (indivíduos/m2) Biomassa estimada (g) Bactérias 1013 - 1014 10 - 102 Actinomicetos 1012 - 1013 10 - 102 Fungos 1010 - 1011 10 - 102 Nematóides 108 - 1010 0,1 - 10 Ácaros 1 - 3 x 105 0,1 - 10 0,5 - 2 x 105 0,5 - 10 Larvas de coleópteros 10 - 103 1 - 102 Larvas de Dípteros 10 - 103 0,5 - 10 Minhocas 1 - 5 x 102 0,1 - 1 x 102 Térmitas 102 - 105 0,05 - 50 Formigas 102 - 105 0,05 - 50 Organismos Colêmbolos QUADRO 08: Estimativa de Número de Indivíduos e de Biomassa de Alguns Organismos do Solo. Fonte: Vargas; Hungria, (1997, p. 368) A pedologia foi uma ciência desenvolvida para estudar os organismos constituintes do solo, seu estudo pode ser feito por grupos de organismos, por 47 grandes ciclos, considerando suas funções, ou ainda por grandes tipos de meio ambiente. Os organismos são divididos ainda de acordo com seu tamanho, ou são microrganismos ou macrorganismos. Porém um outro sistema baseado no tamanho dos organismos, arbitrado segundo uma base logarítmica, classificam os organismos em microfauna, mesofauna, macrofauna e megafauna, descritos no quadro a seguir: Grupos Tamanho Tipos de organismos incluídos Microfauna < 0,2 mm Protozoários e nematóides; inclui secundariamente, rotíferos, tardígrados, gastróticos e pequenos turbelários Mesofauna 0,2 mm a 4 mm Ácaros e colêmbolos; secundariamente, inclui proturos, dipluros, tisanuros, miriápodes e pequenos insetos Macrofauna 4 mm a 80 mm Anelídeos, térmitas, formigas, inclui, secundariamente, moluscos, crustáceos, aracnídeos Megafauna > 80 mm Répteis, batráquios, mamíferos como tatus e ratos QUADRO 09; Classificação Proposta por Bachilier (1978) e Berthelin et al. (1994), Baseada no Tamanho dos Organismos Definido em uma Escala Logarítmica. Fonte: Vargas; Hungria, 1997, p. 370. O principal objetivo desta classificação é facilitar o estudo dos animais do solo, contendo suas similaridades, e diferenças. 2.4.2 Ação da Fauna na Porosidade e no Comportamento Dinâmico do Solo A movimentação da macrofauna é a grande responsável pela criação da macroporosidade, embora seja uma pequena fração em termos quantitativos, quando se trata de porosidade total. Esses poros apresentam características e formas definidas pelos macrorganismos, por exemplo, as formigas e térmitas apresentam cavidades e pequenos túneis, podendo modificar a paisagem, e seus ninhos chegam a atingir dezenas de metros, já os anelídeos constroem galerias 48 praticamente vertical, facilitando a passagem de água, alguns autores chegam a afirmar que elas servem apenas como via de passagem de água, associando a velocidade de infiltração com o número de galerias. Segundo Vargas; Hungria (1997, p. 424) “pode-se afirmar que todos os poros do solo possuem função definida, seja em relação à circulação ou à retenção de água, seja em relação ao ar, seja ainda, em relação à penetração de raízes”. Segundo Edwards et al. (1993 apud VARGAS; HUNGRIA, 1997, p. 425) o estudo do efeito dos macroporos no fenômeno de transporte é freqüentemente desprezado por que esses grande poros representam uma pequena proporção da porosidade total e porque é muito difícil quantificar sua contribuição pois é necessário considerar seu comportamento não capilar e sua grande variabilidade espacial e temporal. Os organismos são de grande importância para a modificação do solo contribuindo para a aeração, facilidade da penetração da raiz, e na permeabilidade do solo. A permeabilidade é uma propriedade física, característica de um meio poroso, cuja metodologia para identificar essa propriedade é muitas vezes inexistente, e diante deste cenário, muitos autores supõem que ela pode ser estimada através de parâmetros morfológicos, existe atualmente duas linhas que auxiliam os pedólogos na estimativa de porosidade, uma que consiste em associar a um horizonte ou a um perfil pedológico, classes de condutividade hidráulica a partir do estudo de características facilmente identificáveis no terreno como a estrutura, a textura e a presença de bioporos, ou seja os bioporos freqüentemente são construídos pela macrofauna edáfica, chamada também de linha morfológica, uma outra linha denominada morfométrica consiste em distinguir os poros em relação a passagem de água, nesta linha são utilizadas técnicas de coloração e de micromorfologia de lâminas delgadas de amostras de solos que permitem evidenciar o tamanho e a morfologia dos poros, definindo-se classes de aptidão à circulação de água, por meio de modelos de interação entre os poros. Segundo Vargas; Hungria (1997) “de todo modo, embora persistam dificuldades metodológicas, é cada vez mais evidente a relação entre morfologia de bioporos, densidade de invertebrados e comportamento dinâmico do solo”. 49 2.5 Cobertura do Solo A principal característica de uma cobertura de solo, é o fato da mesma proteger o solo contra possíveis impactos diretos, tais como, exposição direta aos raios solares, exposição direta da chuva. O solo quando possui uma cobertura, auxilia no controle de enxurradas, na infiltração da água no solo, no controle de erosão, fazendo com que as raízes das plantas fixem nas partículas do solo, Umas das principais formas de cobertura de solo é a pastagem, pois a mesma e formada de gramíneas, de plantas herbáceas, e às vezes de árvores baixas. As gramíneas possuem características próprias, e pelo seu elevado número de espécies que chega a casa de seis mil espécies, e pela sua facilidade de se desenvolver em qualquer habitat, por produzir quase duas mil hastes por metro quadrado, desenvolvendo raízes finas e fundas, ricas em elementos nutritivos e em umidade, capazes de tolerar um pastoreio freqüente, por essas e outras características que elas são predominantes na cobertura do solo. Segundo Bertoni; Lombardi Neto, (2005, p.31) “outras importantes peculiaridades das gramíneas que contribuem para o seu valor como recurso natural, são: (a) sua capacidade de resistir a períodos irregulares de seca, vegetando bem em zonas de umidade limitada; (b) certas espécies anuais produzem bem num curto período de crescimento, quando as condições de umidade e temperatura são favoráveis; 9c) umas espécies podem vegetar bem em condições muito úmidas ou pantanais; (d) outras vegetam bem em solos alcalinos; (e) algumas têm a propriedade de enriquecer o solo e são utilizadas em sistemas de rotação de cultura, para restauração da fertilidade do solo.” O mau uso e a má distribuição do pastoreio na pastagem prejudicam o solo, fazendo aparecer áreas descobertas, nas quais aceleram o processo de erosão e conseqüentemente a superfície do solo é arrastada pela mesma tornando o solo descoberto menos fértil e incapaz de produzir, uma vez que a revegetação natural é bem lenta Quando a pastagem é totalmente levada, deixando o solo exposto intensamente a chuva e ao sol, o solo torna improdutível, pois seu nutrientes foram levados, e torna-se compacto for contato direto ao sol, e esta área desertificada 50 aumenta com o passar dos dias, chegando ao ponto de erosões em graus elevados, e sem condições de recuperação. 51 3 A ÁGUA NO PLANETA No planeta encontramos a água em seus três estados conhecidos: sólido, líquido e gasoso e estão em constantes transformações resultando no ciclo hidrológico. De acordo com POPP (1998, p. 133) “As temperaturas médias na superfície da Terra e em pequenas profundidades da crosta estão geralmente compreendidas entre 5º e 40ºC”, o que facilita encontrará-la em maior quantidade no seu estado líquido. Mesmo sendo um elemento fundamental para a manutenção da vida, a água pode servir como um transporte para a proliferação de doenças, caso esteja contaminada. Segundo Capucci et al. (2001, p. 09) Estima se que 1,2 bilhão de pessoas no mundo carecem de água potável e que 1,9 bilhão não dispõe de adequados serviços de saneamento. A falta de água potável e de saneamento básico provoca a morte de cerca de 4 milhões de crianças anualmente, vitimadas por doenças de veiculação hídrica como a cólera, a diarréia, etc. Existe uma grande quantidade de água no mundo, mas apenas uma pequena parte está de fácil acesso e em condições para o consumo humano conforme mostra a quadro a seguir: Localização ÁGUA SUPERFICIAL SUBSUPERFICIAL 15 Lagos de água doce 124,9 x 10 Lagos salgados e mares interiores 104,1 x10 Média nos Rios ÁGUA Volume de água (litros) Água vadosa Águas subterrâneas até 800 m de 0,009 15 11 x 10 % de água 0,008 15 0,0001 15 66,6 x 10 0,005 15 0,31 15 0,31 4.164 x 10 profundidade OUTROS LOCAIS Água subterrânea profunda Sob o estado sólido (geleiras) Atmosfera Oceano QUADRO 10 – Quantidade e Distribuição de Água na Terra Fonte: Geologia Geral, (1998, p. 134) 4.164 x 10 39.147 x 10 15 2,15 15 129,1 x 10 1.319.945 x 10 0,001 15 97,2 52 3.1 O Ciclo Hidrológico O ciclo hidrológico é o fenômeno fechado de circulação da água que ocorre entre a superfície terrestre e a atmosfera que é impulsionada pelo calor do sol, juntamente com a força da gravidade e a rotação terrestre (CARVALHO; SILVA, 2006). O processo inicia-se através do fornecimento de energia através do sol para elevar as águas superficiais (rios, mares, oceanos etc) para a atmosfera sendo esse processo chamado de precipitação. A força da gravidade faz com que a água condensada caia atingindo a superfície terrestre que chamamos de precipitação. Essa água pode reunir-se a linhas de água ocorrendo o escoamento superficial ou infiltrar no solo ou nas rochas ocorrendo o escoamento subterrâneo. Importante notarmos que nem toda água condensada que cai alcança a superfície, visto que uma parte pode evaporar antes de atingir o solo e outra parte é interceptada pelas vegetações voltando a evaporar também. A água infiltrada pode ser captada pela vegetação e volta a atmosfera através da evapotranspiração. Assim independente qual o caminho tomado pela água após a precipitação, de uma forma ou de outra ela retorna a atmosfera refazendo o processo, sendo assim considerado o ciclo hidrológico, variando apenas a velocidade de retorno, que é influenciada por diversos fatores como, por exemplo, a cobertura vegetal, a altitude, a topografia, a temperatura, a geologia etc. Apesar de parecer um método bem simples de forma contínua e com taxa constante, o ciclo hidrológico apresenta variações, apresentando um ciclo bastante aleatório com diferentes condições de espaço e tempo. Verifica-se que em determinando períodos parece que a natureza ultrapassa a quantidade de precipitação, sendo assim superior ao que a superfície terrestre consegue absorve ou até mesmo o que o escoamento superficial dos rios e mares conseguem suportar ocorrendo inundações, assim como existem períodos que parece que o ciclo parou por completo. E são através desses extremos, de seca e de enchente, que muitos projetos de engenharia hidráulica são adaptados com a finalidade de proteção de todo o sistema. 53 FIGURA 03 – Componentes do Ciclo Hidrológico Fonte: Carvalho, Silva (2006, p. 12) 3.2 A Precipitação Segundo Holtz (2007) pode-se definir precipitação como sendo toda água que é depositada na superfície terrestre sendo proveniente do vapor de água da atmosfera na forma de chuva, granizo, neblina, neve ou geada. O fenômeno da precipitação é o fator fundamental para a recarga de água na fase terrestre do ciclo hidrológico. Em se tratando de abastecimento de água na superfície terrestre, seja por escoamento superficial ou por percolação, a que possui maior significância é a precipitação através da chuva. De acordo com Holtz (2007) as outras formas de precipitação, granizo, neblina, neve e geada, pouco contribui para a vazão dos rios. A precipitação acaba sendo um fator importante em estudos de bacias hidrográficas visto que não sofre uma influência de alterações antrópicas diretas. 54 3.2.1 Formação da Precipitação e Tipos Segundo Holtz (2007, p. 7) “a atmosfera pode ser considerada como um vasto reservatório e um sistema de transporte e distribuição do vapor de água. Todas as transformações aí realizadas são à custa do calor recebido do Sol.” Assim com o acúmulo de vapores de água na atmosfera, o processo de condensação é devido a ascensão de massas de ar originado pela convecção térmica, o relevo ou a ação frontal de massas que causa um resfriamento nos vapores de ar formando as nuvens ou nevoeiros que com a presença de materiais particulados ou a presença de gelo, inicia-se o processo de formação das gotículas de água que com o auxilio da gravidade, cai na superfície terrestre na forma de chuva. De acordo com Holtz (2007), os tipos de precipitação variam de acordo com o motivo causador da ascensão das massas de ar, podendo ser Frontais, Orográficas ou Convectivas. As frontais são aquelas que ocorrem quando uma massa de ar relativamente aquecido flui em direção a uma massa de ar fria, forçando dessa forma subir. A superfície de separação entre as duas massas de ar é chamada de superfície frontal. As orográficas são aquelas em que as massas de ar transpõe uma barreira como montanhas e as convectivas são aquelas em que a massa de ar ocorre devido a uma diferença de temperatura na camada vizinha da atmosfera. Esse efeito gera tempestades e trovoadas de curta duração caracterizadas por fenômenos elétricos, rajadas de ventos fortes e forte precipitação em pequenas áreas. 3.2.2 Formas de Precipitação Após as gotas de chuva ou cristais de gelo são formados na atmosfera, ocorre a precipitação de diferentes formas de acordo com a temperatura e condições encontradas durante a queda das partículas. De acordo com Blair (1964) podemos identificá-las nas seguintes formas: a) chuvas: pode ser considerado como a umidade que cai em direção a superfície do solo em estado líquido; 55 b) neve: é formada devido a cristalização do vapor de água em temperatura abaixo de zero; c) granizo: é composto por pelotas arredondadas e duras de gelo ou a composição de gelo e neve compactas. Em alguns casos podem adquirir o tamanho de uma bola de tênis. Possui alto poder destrutivo; d) orvalho: O ar em contato com objetos sólidos que são melhores emissores de calor resfria ocorrendo à condensação da umidade do ar sobre essas superfícies ocorrendo o orvalho; e) geada: o processo de formação de geada é bem semelhante ao do orvalho só que o ar resfria em uma temperatura inferior a zero graus fazendo com que o vapor d’água passe diretamente do estado gasoso para o sólido formando cristais de gelo. 3.3 O Escoamento Superficial O escoamento superficial tem origem das precipitações, pois parte da água que chega a superfície terrestre, infiltra até chegar ao ponto de saturação do solo. Após atingir a sua capacidade de percolação, começa o escoamento superficial. Esse escoamento é de grande interesse para os estudiosos da área visto que muitos projetos são criados a fim de aproveitar essa água e elaborar proteções para os possíveis efeitos causados pelo seu deslocamento. A medida que as águas que chegam ao solo atinge pontos mais baixos, vão sendo criados microrrede de drenagem que vão aumentado com a ajuda da erosão até se formarem torrentes cuja duração está diretamente ligada a precipitação. As águas em que seu movimento depende do maior declive do terreno e é influenciada apenas pelos obstáculos existentes são chamadas de águas livres. Já os cursos de água que depende do escoamento superficial e da contribuição do lençol são chamadas de águas sujeitas. Todo esse conjunto de cursos d’água, seja pequenos córregos até a formação de rios principais são chamados de redes de drenagem, que são influenciadas diretamente pela forma como a água escoa. 56 3.3.1 Os Componentes do Escoamento A água proveniente principalmente de chuvas, possui quatro caminhos básicos para atingir os cursos d’água. São eles: o escoamento superficial, o escoamento subsuperficial (hipodérmicos), o escoamento subterrâneo e a precipitação direta sobre a superfície livre. Segundo Martins (2007) o escoamento superficial ocorre tempo depois do inicio da precipitação com a saturação do solo ou em superfície impermeável. O escoamento subsuperficial ocorre nas camadas superiores do solo sendo difícil separá-lo do escoamento superficial. O escoamento subterrâneo é o que contribui para o abastecimento do lençol freático de forma lenta, principalmente nos períodos de estiagem. O escoamento superficial após ser iniciado, vai aumentando até atingir um ponto de equilíbrio permanecendo assim enquanto estiver precipitando. Assim que acaba a precipitação ele tende a reduzir até cessar por completo. 3.3.2 O Coeficiente de Escoamento Superficial O coeficiente de escoamento superficial, também conhecida como coeficiente de Runoff ou coeficiente de deflúvio é definido como sendo a relação entre a quantidade total de água escoada com a quantidade total de água infiltrada. (CARVALHO; SILVA, 2006). C = volume total escoado volume total precipitado Conhecer esse coeficiente é importante para determinarmos o volume do escoamento superficial em um determinado ponto com diferentes níveis de precipitação desde que tenham a mesma duração. O coeficiente pode ser encontrado em relação ao um local especifico sendo uma chuva isolada ou em um determinado tempo em que varias chuvas 57 aconteceram. O quadro a seguir representa o coeficiente de escoamento superficial em relação ao tipo de solo, a declividade do terreno e a cobertura vegetal. Declividade (%) Solo Arenoso Solo Franco Solo Argiloso Florestas 0–5 0,10 0,30 0,40 5 – 10 0,25 0,35 0,50 10 – 30 0,30 0,50 0,60 Pastagens 0–5 0,10 0,30 0,40 5 – 10 0,15 0,35 0,55 10 – 30 0,20 0,40 0,60 Terras Cultivadas 0–5 0,30 0,50 0,60 5 – 10 0,40 0,60 0,70 10 – 30 0,50 0,70 0,80 QUADRO 11 – Coeficiente de Escoamento Superficial Fonte: Carvalho; Silva (2006, p. 98) 3.4 A Bacia Hidrográfica Segundo Martins (2007, p. 38) “bacia hidrográfica ou bacia de contribuição de uma seção de um curso de água é a área geográfica coletora de água de chuva que, escoando pela superfície do solo, atinge a seção considerada”. Dentro de uma bacia hidrográfica, de acordo com Martins (2007) podemos definir: a) vazão: é todo o volume de água escoado de acordo com uma unidade de tempo em um determinado curso de água. Essa vazão pode ser normais ou de inundação, sendo que a segunda é quando a capacidade normal de escoamento é ultrapassada; b) frequência: é o número de ocorrência da mesma vazão em um 58 determinado tempo; c) coeficiente de deflúvio: é a relação existente entre a quantidade de água precipitada e a quantidade de água escoada; d) tempo de concentração: é o tempo existente no período em que inicia-se a precipitação até a contribuição dessa água na seção de estudo; e) nível de água: é a altura atingida pelo nível de água em uma seção de acordo com uma determinada referência. FIGURA 04 – Esquema de Bacias Hidrográficas Fonte: Carvalho; Silva (2006, p. 16) De acordo com Cruciani (1976 apud CARVALHO; SILVA, 2006, p. 15) “definimos microbacia hidrográfica como sendo a área de formação natural, drenada por um curso d’água e seus afluentes, a montante de uma seção transversal considerada para aonde converge toda a água da área considerada”. É importante observar que não existe um tamanho especifico para a microbacia, dependendo apenas do objetivo do trabalho a ser realizado. 59 3.4.1 Divisores Os divisores de água são limites de cada bacia podendo ser divisor superficial ou topográfico ou divisor freático ou subterrâneo. O divisor subterrâneo é o mais difícil de ser visualizado sendo utilizado apenas em estudos mais complexos da hidrologia subterrânea. FIGURA 05 – Corte Transversal de Bacias Hidrográficas Fonte: CARVALHO; SILVA (2006, p. 17) 3.4.2 Classificação dos Cursos d’Água De acordo com a drenagem em uma bacia hidrográfica, os cursos d’águas podem ser classificados de acordo com seu escoamento, sendo eles: a) Perenes: são aqueles que possuem seu curso d’água durante todo o ano mesmo no período de seca; b) Intermitentes: são aqueles que mantêm seu curso d’água apenas nos períodos de chuva secando no período de estiagem; c) Efêmeros: são aqueles que mantêm seu curso d’água apenas durante ou logo após uma precipitação, mantendo seco nos demais períodos. 60 3.4.3 Sistema de Drenagem Segundo Carvalho; Silva (2006), o sistema de drenagem de uma bacia é composto por um rio principal e seus afluentes que de acordo com suas características definem a velocidade com que a água deixa a bacia hidrográfica. Seu padrão de drenagem é definido pelas estruturas geológicas da região, do clima, do tipo de solo e da topografia. Para delimitar a ordem dos cursos d’água e em conseqüência a ordem da bacia, basta classificá-los da seguinte forma: a) utilizar 1 nos cursos primários. b) no caso de uma união de dois cursos com a mesma ordem dá origem a um curso de ordem superior c) no caso de dois cursos com a ordem diferente, prevalece o de maior ordem; Para exemplificar a classificação da ordem da bacia hidrográfica e dos seus cursos d’águas, segue a figura: FIGURA 06 – Ordem dos Cursos d’Águas Fonte: Carvalho; Silva (2006, p. 21) 61 3.5 A Infiltração Segundo Martins (2007) definimos a infiltração como sendo um processo pelo qual a água penetra nas camadas do solo sob a ação da gravidade movendo-se pelos espaços vazios até atingir uma camada impermeável. 3.5.1 A Capacidade de Infiltração O solo possui uma taxa de absorção de água que varia de acordo com suas características, sendo elas a textura, ou seja o tamanho dos grãos que constitui o solo, a estrutura que é a agregação das partículas, a cobertura vegetal que auxilia no processo de infiltração e captação dessa água e demais estruturas biológicas que aumentam a capacidade de infiltração. A água infiltra em um solo até alcançar o limite de absorção, que tendo esse limite alcançado, inicia-se o processo de escoamento superficial. Assim se a intensidade da chuva for inferior a capacidade de absorção dessa água pela superfície terrestre, não teremos escoamento superficial. Conhecer a capacidade de infiltração é importante para o controle do escoamento de uma bacia hidrográfica e impedir o aparecimento de erosões. 3.5.2 A Velocidade de Infiltração Segundo Martins (2007, p. 44) a velocidade de infiltração “é a velocidade média de escoamento da água através de um solo saturado, determinada pela relação entre a quantidade de água que atravessa a unidade de área do material do solo e o tempo.” Assim segundo Carvalho; Silva (2006, p. 64) para que encontremos a velocidade de infiltração basta encontrar a razão entre a variação da infiltração acumulada ao longo de um determinado tempo. Quando uma precipitação atinge o solo com quantidade inferior do que a taxa 62 de infiltração, toda a água é infiltrada diminuindo assim a capacidade de infiltração. Com a continuação da precipitação, a taxa de infiltração passa a se igualar com a capacidade de infiltração passando a decrescer com o tempo tendendo a um valor constante caracterizado como condutividade hidráulica do solo saturado (k 0) conforme figura a seguir: FIGURA 07 - Variação da Velocidade de Infiltração com o Tempo Fonte: Carvalho; Silva (2006, p. 65) 3.5.3 Fases de Infiltração Após o contato da água precipitada com a superfície do solo inicia-se o processo de infiltração. Essa água infiltrada passa por fases do solo de acordo com a profundidade alcançada de acordo com a figura a seguir: 63 FIGURA 08 – Perfil de Umidade do Solo Durante a Infiltração Fonte: CARVALHO; SILVA (2006, p.60) Assim de acordo com Carvalho; Silva (2006) temos: a) zona de saturação: Como o próprio nome já diz é o ponto em que a umidade do solo é igual ao seu teor de saturação; b) zona de transição: região do solo com aproximadamente 5 cm de espessura em que a umidade diminui com o aumento da profundidade; c) zona de transmissão: região do solo em que acontece a transmissão da água. É caracterizada por uma pequena variação na quantidade da umidade de acordo com o espaço e o tempo; d) zona de umedecimento: seção do solo em que ocorre uma redução na quantidade de umidade com o aumento da profundidade; e) frente de umedecimento: é considerado como o limite em que é visível a movimentação da água no solo. Ocorre uma variação abrupta na umidade. Observamos que de acordo com que é depositada água no solo a frente de umedecimento vai ficando cada vez mais profunda atingindo ao ponto de quase se igualar a quantidade de umidade com a camada superficial. Quando isso acontece a taxa de infiltração vai reduzindo até ao ponto de ser tornar estável sendo chamada de taxa de infiltração estável. 64 3.5.4 Fatores Intervenientes Para que haja infiltração é necessário que o solo apresente algumas características que facilitem a percolação. Segundo Carvalho; Silva (2006; p. 67) podemos destacar: a) a umidade inicial do solo: se o solo estiver muito úmido, haverá uma taxa de percolação muito pequena. Assim quanto mais seco estiver o solo maior será sua taxa de percolação; b) carga hidráulica: quanto maior for a espessura da lâmina de água no solo maior será a taxa de infiltração; c) temperatura: com o aumento da temperatura há uma diminuição da viscosidade da água que facilita a infiltração; d) presença de fendas e canais biológicos: as aberturas no solo originadas de processos geológicos ou até mesmo de caráter biológico feitas pelas plantas e animais facilitam a infiltração da água visto que existe pouca resistência; e) compactação do solo: o grande fluxo de máquinas e animais no solo acaba produzindo uma camada compactada dificultando assim a capacidade de infiltração; f) compactação do solo pela ação da chuva: as gotas da chuva atingem o solo com uma velocidade muito grande compactando o solo. Essa compactação é cada vez maior com a redução da cobertura vegetal; g) cobertura Vegetal: As plantas têm a capacidade de aumentar a taxa de infiltração através do seu sistema radicular além de impedir que haja compactação do solo pelo efeito da chuva. A cobertura vegetal também auxilia na redução da velocidade do escoamento superficial aumentando assim o volume de água infiltrada. 3.6 Águas Subterrâneas No ciclo hidrológico, após a precipitação, parte da água infiltra e acaba por 65 ocupar espaços vazios no solo e nas rochas. Segundo POPP (1998, p. 134) esses vazios são classificados como espaços intersticiais dos grãos que são rochas sedimentadas e solos, fraturas ou vazios divisionares que são rochas ígneas e metamórficas, vazios de dissolução que são rochas calcárias e vazios vesiculares que são rochas ígneas vulcânicas. Duas propriedades importantes de uma rocha é a sua porosidade que é a capacidade de armazenar água e a permeabilidade que é a capacidade de armazenar e transmitir a água, sendo essa última importante para determinar um bom aquífero. Lembrando que nem sempre uma rocha com alta porosidade é permeável. Um exemplo de rocha porosa são as sedimentadas ou também conhecidas como rochas moles que possui um alto grau de porosidade, mas não são permeáveis ao contrário dos arenitos que são porosos e permeáveis. Já no caso na argila os poros são tão pequenos que acaba sendo considerado como impermeável, embora possam reter uma grande quantidade de água. Material Porosidade (cm/s) Permeabilidade (cm/s) Solos 50-60 Argila 45-55 10-9 – 10-6 Silte 40-50 10-6 – 10-4 Mistura de areia média e grossa 35-40 Areia Uniforme 30-40 Mistura de areia fina e média 30-35 10-5 – 10-3 Pedregulho 30-40 10-3 – 10-1 Pedregulho e areia 20-35 10-2 – 1 Arenito 10-20 Folheto 1-10 Calcário 1-10 QUADRO 12 – Variações de Porosidade Representativa para Materiais Sedimentares Fonte: Finkelstein (1970); Fetter (1994) (apud CAPUCCI et al., 2001, p.13) 66 3.6.1 O Conceito de Aquífero Segundo Capucci et al. (2001), defini-se aquífero como sendo formações rochosas ou camadas geológicas capazes de armazenar água de forma que sua extração é economicamente viável. Existem três tipos de aqüíferos: a) aquíferos granulares ou porosos: são aqueles em que a água flui entre as rochas sedimentares de estrutura granular; b) aquíferos fissurais: a água é armazenada em fraturas ou fendas de rochas cristalinas; c) aquíferos cárstico ou cavernoso: aqueles em que a água está presente em locais produzidos pela própria dissolução causada pela água. Segundo Capucci et al. (2001) quando o limite do aquífero coincide com o lençol freático dizemos que é um aquífero livre. Quando o aquífero encontra-se confinado entre duas camadas impermeáveis dizemos que é um aquífero confinado ou artesiano. Nesse caso a pressão local é maior que a pressão do meio ambiente. Os poços perfurados que encontram o aquífero confinado, são chamados de poços artesianos visto que seu nível de água está acima do lençol freático. FIGURA 09 – Tipos de Aquíferos Fonte: CAPUCCI et al. (2001, p. 14) 67 FIGURA 10 – Aquífero Livre Fonte: CAPUCCI et al. (2001, p. 14) FIGURA 11 – Aquífero Artesiano Fonte: CAPUCCI et al. (2001, p. 14) 68 3.6.2 Lençol Freático Ao infiltrar no solo, a água preenche gradualmente os poros saturando-o. A parte que é preenchida parcialmente é denominada zona de aeração enquanto a parte que é toda preenchida é chamada de zona de saturação. É na parte superior da zona não saturada que os vegetais retiram a água necessária para sua sobrevivência sendo assim denominada como zona de água no solo. É na zona saturada onde se encontra a água subterrânea propriamente dita. A parte superficial da zona saturada é chamada de lençol freático ou superfície freática sendo nela que a água contida nos poros encontra-se sob pressão atmosférica. (CAPUCCI et al. 2001) Em alguns casos, o fluxo de água subterrânea intercepta a superfície do terreno originando dessa forma uma nascente, sendo esse o início de um curso de água. 69 4 ATMOSFERA A Atmosfera constitui-se de uma camada de gases que envolvem a terra garantindo a sobrevivência de todos os seres vivos. Segundo Philippi (2005) essa camada de gases que envolvem o planeta terra é composta por uma mistura de gases, dos quais o nitrogênio e o oxigênio representam 99%. Com o resfriamento da crosta terrestre produzindo uma grande quantidade de gases e vapores, se iniciou sua formação, com uma parte dos vapores d'água foi formando as nuvens e precipitando-se sob a forma da chuva, enquanto a outra ia ficando suspensa na própria atmosfera. Os demais gases, originados da "queima" das rochas, também iam fazendo parte da atmosfera primitiva. Assim, transformou-se e compôs-se dos mais diferentes gases, como o gás carbônico, metano, nitrogênio, amônia e outros. Além de garantir a vida terrestre, a atmosfera também protege os organismos da exposição direta dos raios ultravioletas e retêm o oxigênio. 4.1 Camadas da Atmosfera A atmosfera é composta por cinco subdivisões também conhecidas como camadas, essas camadas têm uma extensão aproximada de 1000 km da superfície terrestre e sua distribuição é de forma irregular, cada uma tem certa distância da outra sem padrões. À medida que as camadas estão mais próximas da terra mais elas são densas, e por outro lado quanto mais se afasta mais ela se torna rarefeita com pouca quantidade de ar. Cada camada tem sua própria característica e papel. 4.1.1 Troposfera Segundo Braga (2002 apud PHILLIPI, 2005) a troposfera caracteriza-se como uma região onde a temperatura decresce com a altitude, cerca de 10 a 16 km, em 70 função da latitude considerando a época do ano. Compreende 90% da massa total atmosférica, é nela que residem todas as formas de vida do planeta. A troposfera é a camada mais próxima do solo, por um lado ele garante a vida terrestre e por outro é a primeira a ser atingida pela poluição. 4.1.2 Estratosfera Segundo Braga (2002 apud PHILLIPI, 2005) é na estratosfera que a temperatura aumenta com a altitude, estende-se a uma altura de 50 km, é nessa camada que se localiza a camada de ozônio. A estratosfera é a segunda camada da atmosfera, onde se localiza a camada de ozônio que garante a proteção contra os raios ultravioletas que são muito prejudiciais em grande escala de exposição para a vida terrestre. 4.1.3 Mesosfera Segundo Braga (2002 apud PHILLIPI, 2005) na mesosfera a curva de temperatura volta a cair com a altitude, registrando-se nela as menores temperaturas da atmosfera. De acordo com as características da mesosfera nota-se que quanto mais a distancia do solo menor a temperatura de cada camada da atmosfera. 4.1.4 Termosfera Segundo Braga (2002 apud PHILLIPI, 2005) a termosfera chamada também de ionosfera alcança aproximadamente até 190 km, sendo muito importante para a área de telecomunicações. A termosfera por sua distância terrestre é muito utilizada para a instalação de 71 satélites que garantem a comunicação entres os seres humanos, televisão, celulares, internet entre outros. 4.1.5 Exosfera Segundo Braga (2002 apud PHILLIPI, 2005) a exosfera é a última camada da atmosfera terrestre nela o ar é extremamente rarefeito, a temperatura apresenta grandes variações podendo atingir durante o dia 2000°C durante o dia e a noite 270°C. A exosfera tem muitas semelhanças com o deserto onde ocorro esse mesmo fenômeno de trocas bruscas de temperatura entre o dia e a noite. Substância Nitrogênio Oxigênio Argônio Dióxido de Carbono Hidrogênio Óxido Nitroso Ozônio Todos os demais Composição em volume 78,08% 20,95% 0,93% 0,0358% 0,00005% 0,00003% 0,000004% 0,004116% QUADRO 13 – Composição dos Gases na Atmosfera Fonte: Turco (1997 apud Philippi, 2005) 4.2 História da Poluição Atmosférica Muitos episódios ao longo da história foram marcantes no que se diz respeito à poluição atmosférica. A quantidade de poluentes emitidos era relativamente baixa, antes da Revolução Industrial eram emitidos os fumos em que era utilizado o fogo como forma de preparação de alimentos e para o aquecimento das habitações. Os pequenos negócios que existiam e que lançavam qualquer substância para a atmosfera eram insignificantes. Com a Revolução Industrial a questão da poluição muda por completo. 72 Começaram a ser produzidas grandes quantidades de poluentes que eram lançados para a atmosfera, desse modo como a produção de uma quantidade de resíduos sólidos e líquidos que eram lançados sem controle através de esgotos ou colocados em lixeiras. Logo após a Revolução foi pouco tempo para que começassem a perceber os efeitos desta poluição, envolvendo a área de saúde pública, produção de odores e uma imagem desagradável nas ruas. Na época nenhum órgão ou mesmo alguma autoridade se importava com a situação, já que isso implicaria em gastos com tratamentos de resíduos que iriam diminuir o lucro destas mesmas indústrias, a grande maioria ainda não tinha consciência ambiental. A questão que era ignorada pela maioria, começou a ser estudada, visto que os problemas se agravavam e era necessário encontrar soluções para os problemas de saúde pública e para os problemas relativos aos ecossistemas. Segundo Mendonça (2002) no ano de 1948, nos Estados Unidos, houve 1440 casos de mortes de pessoas afetadas por névoa poluída sem dissipação. Em 1952, Londres, durante um período de altíssima concentração de SO2 foram registrados quatro mil óbitos. Em várias grandes cidades como citado acima, devido ao vapor que a Revolução Industrial impulsionou-se sobre elas, foram muitas as mortes pelo descaso com a poluição que tomava conta de suas ruas, afetando toda a população. Segundo Calvert; Englund (1984 apud PHILIPPI, 2005) A atmosfera, enquanto recurso natural recebeu, ao longo da história do Planeta, concentrações de substâncias, nela lançadas, por processos induzidos pela própria natureza, tais como erupções vulcânicas, evaporação, ventos e tormentas, decomposição de vegetais e animais e incêndios florestais, entre outros. Porém, o crescimento dos espaços urbanos, associado ao aumento populacional e à dificuldade de suprir soluções na mesma velocidade do aparecimento de problemas decorrentes desse crescimento, elevou os níveis de poluição ambiental, como no caso da poluição atmosférica, de forma localizada e também global. O que se observa então é um processo de exaustão da capacidade de suporte dos ecossistemas, principalmente junto às regiões onde as aglomerações urbanas se instalaram, considerando que a capacidade de autodepuração desses sistemas é limitada, no tempo e espaço. A poluição atmosférica não está ligada somente em atividade humana, que envolve produção industrial e cotidiana, mais também em fenômenos naturais 73 causados por erupções, decomposições e incêndios por exemplo. Por um lado esses fenômenos naturais ocorrem com pouca freqüência visto que por outro lado em nossas atividades são cotidianas e repetitivas. 4.3 Poluentes Atmosféricos De acordo com Who (1999 apud PHILIPPI, 2005) são considerados poluentes atmosféricos quaisquer substâncias que, quando lançadas na atmosfera, podem resultar em concentrações que causem ou possam causar danos à saúde e ao meio ambiente. Segundo Guimarães (1992 apud PHILIPPI, 2005) Há vários poluentes encontrados na atmosfera que são provenientes de reações ocorridas nela própria, ou seja, “a atmosfera, por vezes, funciona como um recipiente que provê condições satisfatórias para que ocorram reações entre poluentes emitidos, resultando em outras substâncias que, muitas vezes, sequer são emitidas por qualquer fonte de poluição do ar, formando dessa forma os poluentes secundários”. Uma das reações que ocorre em uma atmosfera poluída é a reação fotoquímica, pela qual reagem óxidos de nitrogênio e hidrocarbonetos na presença de luz solar, resultando nos oxidantes fotoquímicos, que são tóxicos. A natureza por sua vez também polui a atmosfera, lógico, em escala insignificativa se comparando com as indústrias e veículos que circulam nas grandes cidades. 4.3.1 Impactos Causados nos Seres Humanos pela Poluição Atmosférica A poluição atmosférica causa muitos impactos na saúde humana, isso depende da incidência do nível de poluição e também os poluentes envolvidos. O maior problema enfrentado pelos seres humanos é em relação ao aparelho respiratório. O grau de poluição depende da localização inclusive topografica e metereologica, de acordo com esses fatores é que se pode medir a intensidade de 74 poluição em cada comunidade. Dentre os problemas com a saúde humana, a poluição atmosférica também acarreta fatores como o processo de abrasão que se define como um processo químico de deterioração de materiais. Segundo Guimarães (1992 apud PHILIPPI, 2005) O processo de abrasão é causado por partículas sólidas transportadas em altas velocidades, a deposição e remoção é causada por partículas sólidas e líquidas que se depositam sobre superficies, o ataque quimico pode causar, por exemplo, a destruição de superficies metálicas pela ação de névoas ácidas, a corrosão eletroquímica consiste no principal mecanismo de deterioração de materiais ferrosos. Outra alteração causada pela poluição atmosférica é a deterioração da visibilidade, onde ocorre a redução da visão o que aumenta o risco de acidentes em rodovias e também transporte aéreo. Segundo Guimarães (1992 apud PHILIPPI, 2005) essa redução de visibilidade ocorre em razão da presença de partículas sólidas e líquidas suspensas na atmosfera, que observem e dispersam a luz, e está relacionada com o tamanho, a concentração e as características físicas das partículas poluentes presentes. As pessoas que vivem em áreas urbanas principalmente em grandes cidades estão mais expostas aos ricos de saúde e também a acidentes por causa da falta de visibilidade. Com toda essa poluição a respiração torna-se cada vez mais difícil, respira-se pequenas partículas que vão direto para o pulmão causando sérios problemas com a formação de mucos. Ao longo tempo essa incidência de poluição na respiração tende-se piorar e se tornar uma doença ainda pior como um câncer. Essa poluição também afeta nosso sistema nervoso devido às intensas tosses e a diminuição de trocas gasosas. A relação de morbidade tem mostrado as doenças respiratórias com uma participação importante no conjunto de manifestações apresentadas. Os poluentes do ar também podem ter diversos efeitos como o ardimento e lacrimejamento dos olhas, visão embaçada, tontura, dor de cabeça, irritação na garganta, espirros alérgicos e tosse e diminuição de desempenho corporal. Os poluentes naturais que causam afeitos sobre a saúde humana são os aeroalérgicos que consistem basicamente de pólens, mas também incluem bactérias, mofos, póros, poeira de casa, fibras vegetais etc. Acima de 10% da população exposta é afetada por aeroalérgicos, sendo o principal efeito sobre a 75 saúde: rinite alérgica e/ou asma brônquica com alteração do tecido reversível. De acordo Who (1999 apud PHILIPPI, 2005) as partículas totais em suspensão provocam doenças respiratórias que podem causar câncer, provocam corrosão de materiais e destruição da flora. Além disso, podem causar incômodo, como, por exemplo, acúmulo de sujeira, interferência na luz solar, e também funcionam como superfície catalítica para reação de produtos químicos adsorvidos. Segundo Who (1999 apud PHILIPPI, 2005) ] No que se refere aos impactos na saúde pública, estudos realizados encontraram uma associação estatística positiva entre a concentração média de determinados poluentes, como partículas inaláveis, O³, SO², NO² e CO, e indicadores de mortalidade e morbidade. Por exemplo, os impactos do material particulado na saúde dependem do tamanho da partícula e de sua concentração, podendo variar durante o dia conforme as flutuações, e incluem efeitos agudos, como aumento de mortalidade diária e aumento nos atendimentos dos centros de serviços de saúde. Os efeitos à longo prazo também incluem aumento da mortalidade e morbidade respiratória, mas, há ainda poucos estudos sobre os efeitos do material particulado nesses casos. Estudos sobre material particulado estão sendo realizados para se medir a conseqüência gerada na saúde humana. A atual tendência no mundo é a de controlar a poluição através da qualidade do contaminante, ou seja, a sua toxidade. 4.3.2 Impactos Causados nos Vegetais pela Poluição Atmosférica A maioria das plantas são muito sensíveis a poluição, os poluentes são absorvidos com muita facilidade, de acordo com cada região e o grau de intensidade de poluição. Com essa poluição principalmente na agricultura é necessária a utilização de agrotóxicos o que aumenta mais ainda a poluição ambiental e se torna um ciclo de poluição infinito. De acordo com Calvert (1984 apud PHILIPPI, 2005) o efeito de poluentes atmosféricos sobre a vegetação pode ocorrer por meio de mecanismos como redução da penetração da luz (redução da capacidade fotossintetizante) por sedimentação de partículas nas folhas ou por interferência das partículas em suspensão na atmosfera; deposição de poluentes no solo, por sedimentação (partículas grosseiras) ou por carregamento provocado pelas chuvas (gases 76 dissolvidos e partículas finas), permitindo a penetração dos poluentes pelas raízes e alterando as condições do solo; penetração dos poluentes pelos estômatos das plantas, podendo interferir na troca de gases (O2 – CO2), promovida pelas plantas. Segundo Calvert (1984 apud PHILIPPI, 2005) Os efeitos resultantes são destruição do tecido foliar, clorose ou outras alterações na cor normal das folhas, interferindo na capacidade fotossintética, com alterações no crescimento e na produção das plantas, causando impactos, para a agricultura, o setor de floricultura, as áreas de proteção ambiental, entre outros. O fluoreto e o dióxido de enxofre podem, por exemplo, em determinadas concentrações e períodos de exposição, causar danos às plantas, cujos impactos variam conforme a sensibilidade de cada espécie, podendo provocar decréscimo na taxa de fotossíntese. 4.3.3 Impactos Causados nos Materiais pela Poluição Atmosférica Os poluentes do ar por sua grande quantidade de gases tóxicos podem corroer e escurecer metais, ressecar e quebrar borrachas, sujar roupas, móveis, prédios etc. Afetar na estrutura até de prédios e monumentos, descolorir vários tipos de materiais, enfraquecer algodão, lã e fibra de seda e destruir o naylon. Segundo Guimarães (1992 apud PHILIPPI, 2005, p. 165) De forma geral, partículas em suspensão são removidas da atmosfera por: remoção úmida pela precipitação; remoção seca pela sedimentação, remoção seca pela difusão ou impactação sobre a vegetação e as construções. Gases solúveis em água são removidos por remoção úmida pela precipitação; absorção ou reação na superfície terrestre; conversão em outros gases ou partículas; transporte para a atmosfera. Segundo Guimarães (1992 apud PHILIPPI, 2005, p. 165) os gases reativos, tais como o ozônio e o dióxido de enxofre, assim como os ácidos como nítrico e sulfúrico, são principalmente responsáveis por danificar tecidos, descolorir tingimentos, escurecer metais, enfraquecer a borracha, e erodir prédios. O material particulado é o principal responsável pela sujeira do nosso meio ambiente. 4.3.4 Impactos Causados no Tempo pela Poluição Atmosférica 77 A poluição do ar acarreta vários problemas como a diminuição da visibilidade, o que pode causar vários acidentes até mesmo no transporte aéreo. Em regiões litorâneas de serras, a poluição ofusca ainda mais a visão com o aumento da nebulosidade. Em grandes cidades com as atividades de muitas indústrias observa-se uma camada escura e cinzenta no céu de material particulado, o que para a saúde humana e para a manutenção da vida inclusive dos vegetais são muito preocupantes. De acordo com cada tonalidade dessa camada pode-se fazer um diagnóstico prévio sobre as características do poluente. Essa névoa cinzenta que cobre grandes cidades pode viajar quilômetros afetando cidades vizinhas e plantações, aumentando também as precipitações o que altera todas as características do ambiente por onde passa. Segundo Mendonça (2002) “a presença poluentes atmosféricos afeta também a saúde das plantas, provocando em muitos países a perda significativa de colheitas.” 4.4 Fenômenos Causados pela Poluição Atmosférica Devido a poluição atmosférica reagir em diversos ambientes e lugares ela tambem faz com que ocorra vários fenômenos nocivos para o vida terrestre. 4.4.1 Chuva Ácida Segundo Mendonça (2002) a chuva ácida é o resultado da combinação do hidrogênio presente na atmosfera com alguns poluentes emitidos a partir da queima do carvão, do petróleo e das atividades industriais. Os principais gases formadores da chuva ácida são o dióxido de enxofre e o dióxido de nitrogênio que por sua vez formam o ácido sulfúrico que é proveniente da queima de combustíveis fósseis e o ácido nítrico resultante de processos industriais que envolvem altas temperaturas. Essas chuvas ácidas podem se concentrarem com mais freqüência em 78 lugares onde haja maior atividade industrial, por exemplo, grandes centros urbanos com muitos automóveis. 4.4.2 Quebra do Ozônio Segundo Mendonça (2002) o ozônio é a camada que protege e envolve externamente a atmosfera, a cerce de 15 km da superfície terrestre, a camada de ozônio tem cerca de 30 km de espessura e protege a terra da ação dos raios ultravioleta do sol. Suas moléculas são formadas por três átomos de oxigênio, o que resulta num gás altamente oxidante e tóxico. Essa camada vem perdendo espessura a ganhando alguns buracos. A principal causa da redução da espessura da camada de ozônio são as grandes emissões de diversos compostos químicos lançados pelas indústrias principalmente os compostos de clorofluorcarbono mais conhecidos como CFC´s, esse mesmo reage com o ozônio assim o destruindo. 4.4.3 Efeito Estufa Segundo Mendonça (2002) o efeito estufa é um fenômeno natural cuja ocorrência remete à origem da atmosfera, ele decorre da interação de componentes da Troposfera com a energia emitida pela superfície terrestre ao se resfriar, e é um dos principais responsáveis pelo aquecimento do ar nessa capa atmosfera. O efeito estufa é o fenômeno mais notado pelos seres humanos, devido o aumento da temperatura sobre a superfície terrestre, a derrubada de florestas e o corte indevido de árvores contribui muito para que esse fenômeno se fortaleça e se torne cada vez mais devastador. 79 4.4.4 Inversão Térmica Segundo Mendonça (2002) acontece quando uma camada de ar frio se sobrepõe a uma camada de ar quente e impede o movimento ascendente do ar. Em situações normais o ar quente sobe e o ar frio desce já na inversão térmica o ar quente sobe durante o dia, mas a noite a superfície sofre um resfriamento rápido formando uma camada de ar frio abaixo da de ar quente. A camada de ar frio, mais densa e pesada, terá dificuldade para subir permanecendo próxima à superfície. Em grandes cidades onde há uma alta atividade industrial e uma grande frota de veículos a camada de ar frio começa a concentrar os poluentes, a fumaça fica presa e vai se acumulando com o passar dos dias, é raro ocorrer o fenômeno de inversão térmica em dias quentes, pelo fato do sol quando aquece a superfície e o ar carrega os poluentes. No inverno o clima fica propício para esse fenômeno, pois há um rápido resfriamento da superfície. Dentre essas diferentes etapas surge o chamado efeito smog. Segundo Rodrigues (2003) As condições geográficas e meteorológicas também são muito importantes para o agravamento ou diminuição do efeito da poluição do ar. O “Smog” define-se como uma combinação de fumo e de nevoeiro em áreas urbano-industriais, surge em situações de nevoeiro, a sua formação é favorecida pelos focos de poluição, que aumentam o número de núcleos de condensação (poeiras ou partículas diversas) na atmosfera saturada ou quase saturada. As conseqüências do Smog são a inversão térmica, ou seja, o aumento da temperatura durante o dia, e em condições de grande arrefecimento noturno, nas pessoas provoca diretamente asma, bronquite, problemas respiratórios e cardíacos e a grande concentração de fumos à superfície. 4.5 Fontes de Poluição do Ar De acordo com Malheiros (2000 apud Philippi, 2005) são considerados fontes de poluição do ar qualquer empreendimento, processo, equipamento, atividade que possa liberar ou emitir matéria ou energia para a atmosfera, de forma a torná-la poluída. A classificação das fontes de poluição do ar pode ser feita quanto à sua forma. 80 Segundo Malheiros (2000 apud Philippi, 2005) As fontes pontuais caracterizam-se como pontos como chaminés industriais, incineradores etc. As fontes tipo área são utilizadas para englobarem esse conjunto de pequenas fontes, emissões em conjunto como maquinas em indústrias, fontes móveis como veículos que circulam em grandes estradas entre outras. Já as fontes veiculares variam de acordo com a importância das emissões. Essas divisões de fontes poluidoras auxiliam a caracterização de acordo com a atividade exercida sendo ela industrial ou locomoção em veículos. As fontes de contaminação do ar vêm de várias fontes, como automóveis, indústrias, termoelétricas e também pelas emissões provocadas pelo seres humanos como incêndios. Segundo Who (1999 apud Philippi, 2005) os poluentes são normalmente classificados como primários ou secundários: 4.5.1 Poluentes Primários Segundo Who (1999 apud Philippi, 2005) são aqueles poluentes emitidos pelas fontes, por exemplo, emissões provenientes de de veículos movidos à gasolina que englobam o dióxido de carbono (CO2), a água (H2O), o monóxido de carbono (CO), os hidrocarbonetos (HC), entre outros, conforme a composição do combustível. Caracterizam outros poluentes primários o dióxido de enxofre (SO2), o metano (CH4), as mercaptanas, etc. Os poluentes primários são poluentes emitidos basicamente pelos veículos onde não pode-se avaliar o certo e a proporção de poluentes, pois, cada combustível com sua composição comporta-se de uma forma na combustão. Segundo a CETESB (2010) São padrões primários de qualidade do ar as concentrações de poluentes que, ultrapassadas, poderão afetar a saúde da população. Podem ser entendidos como níveis máximos toleráveis de concentração de poluentes atmosféricos, constituindo-se em metas de curto e médio prazo. 81 4.5.2 Poluentes Secundários Segundo Who (1999 apud Philippi, 2005) os poluentes secundários são aqueles não emitidos diretamente por fontes, porém, formados a partir de reações ocorridas na troposfera, como o ozônio (O3), dióxido de nitrogênio (NO2), o peroxiacetil (PAN). Classificação Material particulado Gases e vapores Descrição Partículas sólidas ou líquidas emitidas por fontes de poluição do ar, ou formadas na atmosfera, com tamanho variando na faixa de 0,01 a 100 µm (em diâmetro aerodinâmico equivalente) Poluentes na forma molecular Exemplos Poeiras: partículas sólidas, geralmente formadas por processo de desintegração mecânica; poeira de rua, pó de pedra, poeira de cimento etc. Fumos: partículas sólidas formadas por condensação ou sublimação de substancias gasosas; fumos de chumbo, de alumínio etc. Fumaça: partículas principalmente sólidas, provenientes da combustão de combustíveis fósseis ou madeira.. Monóxido de carbono, gás carbônico, dióxido de enxofre, ozônio, óxido de nitrogênio etc. Quadro 14 - Classificação dos Poluentes Atmosféricos Conforme Estado Físico Fonte: Who (1999 apud Philippi, 2005 p. 446) Segundo Guimarães (1992 apud Philippi, 2005) Há vários poluentes encontrados na atmosfera que são provenientes de reações ocorridas nela própriam ou seja, a atmosfera, por vezes, funciona como um recipiente que provê condições satisfatórias para que ocorram reações entre poluentes emitido, resultando em outras substâncias que, muitas vezes, sequer são emitidas por qualquer fonte de poluição do ar, formando dessa forma os poluentes secundários. Os poluentes secundários são muito perigosos, pois muitas das vezes são até desconhecidos pelo fato de formarem-se através de reações químicas de acordo com cada poluente. Segundo Guimarães (1992 apud Philippi, 2005) uma das reações que ocorrem em uma atmosfera poluída é a reação fotoquímica, pela qual reagem óxidos de nitrogênio e hidrocarbonetos na presença de luz solar, resultando 82 nos oxidantes fotoquímicos que são tóxicos. 4.6 Massas de Ar que Atuam no Brasil Segundo Mendonça (2002) o ar atmosférico esta sempre em movimento, na forma de massa de ar ou de vento. Se uma massa de ar possui características particulares de temperatura e umidade, torna-se responsável pelo tempo e, portanto, pelo clima de uma área. Dependendo da estação do ano, as massas avançam-se para o território brasileiro ou dele recuam. Seus avanços ou recuos irão determinar o clima. Assim podemos verificar que de acordo com o quadro a seguir, as massas de ar podem ser classificadas em Massa Equatorial (meã), Massa Equatorial Continental (mEc), Massa Tropical Atlântica (mTa), Massa Tropical Continental (mTc) e Massa Polar Atlântica (mPa), sendo essas responsáveis pelo clima da região. Massa Equatorial (mEa) Massa Equatorial Continental (mEc) Massa Tropical Atlântica (mTa) Massa Tropical Continental (mTc) Massa Polar Atlântica (mPa) Quente e úmida, dominado a parte litorânea da Amazônia e do Nordeste em alguns momentos do ano, têm seu centro de origem no Oceano Atlântico. Quente e úmida, com centro de origem na parte ocidental da Amazônia, que domina a porção noroeste da Amazônia durante quase todo o ano. Quente e úmida, originária do Oceano Atlântico nas imédiações do trópico de capricórnio, exerce enorme influência sobre a parte litorânea do Brasil. Quente e seca origina-se na depressão do Chaco e abrange uma área de atuação muito limitada, permanecendo em sua região de origem durante quase todo o ano. Fria e úmida forma-se nas porções do Oceano Atlântico próximas à Patagônia. Atua mais no inverno, quando entra no Brasil como uma frente fria, provocando chuvas e queda de temperatura. QUADRO 15 – Massas de Ar que Atuam no Brasil Fonte: Rita Mendoça (2002 p. 104) 83 FIGURA 12 – Massas de Ar no Brasil Fonte:http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://2.bp.blogspot.com Acesso em: 29/11/2010 . 4.7 Zoneamento no Controle da Poluição Atmosférica Segundo Philippi Jr. (2005) o zoneamento é uma medida muito importante, a falta de planejamento principalmente na parte de uso do solo pode resultar em conflitos de incompatibilidade em uma mesma área, onde misturam-se fontes emissoras de poluentes e receptores gerando grandes problemas a saúde pública e o planejamento territorial deve objetivar a localização adequada de fontes diretas de poluição do ar. Segundo Guimarães (1992 apud Philippi 2005, p. 181) O planejamento territorial deve priorizar o afastamento entre fontes significativas de poluição e receptores potenciais, de tal forma que forneça tempo e espaço para que os parâmetros meteorológicos se incumbam de diluir as emissões a baixas concentrações na atmosfera. Entre as várias aplicações do zoneamento no controle da poluição do ar se inclui: a proibição de certos tipos de fontes em 84 algumas áreas, fixação de faixas de proteção ambiental e sanitária, limitação do número de fontes de poluição por unidade de superfície, uso de condições meteorológicas apropriadas para dispersão de poluentes, a fim de fixar o horário em que certas operações e atividades são permitidas, regulamentação restritiva sobre o uso de matérias primas, combustíveis, operações e processos indústrias, restrição à localização de pólos de atração de fontes, tais como, aeroportos, shoppings, planejamento, construção e operação de sistemas viários de tráfego urbano para reduzir a emissão de veículos, inclusive com bloqueio de determinadas áreas. A escolha de áreas com características adequadas para a dispersão de poluentes é de suma importância como, por exemplo, bairros bem arborizados, de fácil acesso, com uma boa drenagem, lazer, estudo, compras, reduzindo espaços de conflito de uso entre as diversas atividades urbanas. 4.8 O Protocolo de Quioto O Protocolo de Quioto foi criado no intuito de reduzir os gazes poluentes que agravam o efeito estufa emitidos por indústrias, o protocolo de quioto é mais um programa de apoio internacional, iniciada pela “Toronto Conference on the Changing Armosphere” no Canadá em outubro de 1988, que até hoje está trabalhando contra os problemas que afetam o nosso planeta, no ano de 2010 o protocolo ou programa de apoio ganhou mais força, devido às centenas de problemas causados pelo aquecimento global, que ao certo grandes empresas e industrias, de certa forma são os verdadeiros responsáveis pela poluição do ar. O Protocolo de Quioto estabelece em seu contrato, principalmente com os países desenvolvidos a reduzirem a emissão de seus gases poluentes em pelo menos 5% em relação a outros períodos da década de 90, essa redução é de suma importância para a vida do planeta, os níveis de redução são devidamente diferenciados por países, dentre os trinta e oito mais responsáveis pelas mudanças climáticas, o Brasil ainda não recebeu sua meta de redução, mais é importante fazermos a nossa parte, pois as reduções devem acontecer em diversos setores das mais variadas atividades econômicas. Com a implantação do Protocolo de Quioto, a temperatura global vai ter uma redução significativa, entre 1,5 ºC e 5,9 ºC até meados de 2100, para isso depende 85 muito das negociações com grandes empresas e da conscientização do ser humano. Importante dizer que o protocolo de quioto incentiva e estabelece medidas para a substituição de produtos oriundos do petróleo por produtos que causem menos impacto, diante de muitas informações, os idealizadores do projeto estimam uma grande mudança ao nosso planeta, dando ao ser humano, melhores condições de vida e o mais importante, salvando nosso planeta. Segundo Rafael Pereira de Souza (2007) Surgido a partir do Protocolo de Kioto, em 1997, o mercado de crédito de carbono foi a forma encontrada pelas 189 nações signatárias para acelerar as metas de redução das emissões dos gases de efeito estufa. O objetivo final era chegar a níveis inferiores aos de 1990. É um sistema que funciona com a compra e venda de unidades correspondentes à redução da emissão de gases que causam o efeito estufa. Os créditos são obtidos com o corte das emissões por países ou empresas. Devido às exigências do protocolo de Quioto sugiram os créditos de carbono que se tornou um grande e bilionário mercado onde os países que ultrapassam seus limites de poluição pode adquirir esses créditos e terem o direito de poluírem dentro da lei. 4.9 Legislação Existem dois programas nacionais para a qualidade do ar lançados por resoluções do CONAMA. São eles: a) PROCONVE - (Resolução 018/86 do CONAMA, de 06.05.1986) - Programa Nacional de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores, objetivando a redução de emissões; b) PRONAR - (Resolução 005/89 do CONAMA, de 15.07.1989) - Programa Nacional de Controle da Qualidade do Ar, cujo objetivo é contribuir para a gestão ambiental e o desenvolvimento socioeconômico do país, estabelecendo padrões de qualidade do ar e padrões de emissão. Deve-se ressaltar ainda o monitoramento da qualidade do ar, ou seja, o controle da poluição atmosférica e conseqüentemente da qualidade do ar. Devendo ser amplamente divulgado, pois desta forma esclarecerá a sociedade sobre os 86 problemas de qualidade do ar e reforçará a consciência ecológica. 4.9.1 Legislação Aplicável Como o ar atmosférico é considerado como bem indispensável em nossas vidas, os problemas que o envolvem tornou-se um dos maiores focos de preocupação da legislação ambiental. Segundo a Constituição da República de 1988, em seu art. 23, VI, estabelece que a proteção ao meio ambiente e o combate à poluição em qualquer de suas formas - inclusive a atmosférica - é de competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. E, no art. 24, VI, prevê a competência concorrente da União, dos Estados e do Distrito Federal para legislar sobre a proteção do meio ambiente e controle da poluição. Aos Municípios, nesta matéria, cabe suplementar a legislação federal e a estadual no que couber, conforme dispõe o art. 30, 11. Mais adiante, o art. 225, caput, prevê que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, incluindo aqui o ar como suporte físico-químico, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e a coletividade o dever de defendê-lo. A Constituição estabeleceu ampla proteção ao ar atmosférico e punição a suas fontes principais de poluição com incentivos a fontes de energias limpas e a minimização do uso dos recursos não renováveis como o petróleo. 87 5 O PLANEJAMENTO URBANO Devido ao grande fluxo de pessoas nas cidades, principalmente nas grandes capitais, tornou-se necessário que desenvolvesse uma espécie de plano estratégico visando melhorar ou revitalizar certos aspectos dos centros urbanos, cujo objetivo é melhorar a qualidade de vida da população. O planejamento urbano nada mais é do que um processo de idealização, de criação e de desenvolvimento de soluções para os problemas que surgem diariamente nas cidades. Hoje a idéia de planejamento urbano ou plano diretor está sendo muito utilizada por nós com um significado muito vago. Segundo Villaça (2000) Ao longo desse período relativamente extenso, e tendo em vista a diversidade desses meios sociais, essas expressões sofreram certo desgaste, passaram a assumir distintos significados e mesmo adquirir um conteúdo muito vago. Num certo contexto, significa algo próximo de “traçado viário”. Na maioria das cidades, quando dizemos que é planejada, nos referimos a sua malha viária, tendo seu sistema viário mais planejado do que era em anos anteriores. Mas essa teoria seria muito bem aceita no final do século passado não se satisfazendo nos dias atuais. Segundo Villaça (2000) Que significado há em se dizer hoje que Brasília é uma cidade planejada? É forçoso reconhecer que o que significa “planejado” para Brasília de 1960 e do Plano Piloto, é totalmente diferente do que significa “planejado” para a Brasília de hoje, com cidades satélites explodindo à volta do Plano Piloto e uma urbanização de baixíssima qualidade se alastrando fora dos limites do Distrito Federal. 5.1 A História do Planejamento Urbano Após a revolução industrial, as cidades adaptaram-se ao fluxo populacional que surgia de forma a atender o seu crescimento. Surge então a idéia do modelo progressista que segundo Bertolucci [2006] 88 o modelo progressista baseia-se numa concepção de um indivíduo humano como tipo padronizado, independente do lugar do nível político ou do tempo onde está inserido. Setoriza a vida dos seus habitantes em morar, trabalhar, divertir-se e locomover-se. O modelo progressista trouxe um resultado negativo, mostrando uma cidade desvitalizante e desurbanizador, colocando o automóvel como o bem mais valorizado. Em novembro de 1933 uma Assembléia composta pelo Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM), elaborou uma carta chamada de Carta de Atenas (anexo A) em que se formularam soluções para os problemas arquitetônicos apresentando idéias modernas auxiliando assim a arquitetura. A má interpretação da Carta de Atenas, as cidades começaram a ser divididas em zonas que priorizavam as diferentes necessidades o homem, havendo então zona de moradias, de comércios, de recreação etc., havendo então a necessidade do ser humano de se locomover dando-se então importância exagerada as vias de circulação, especialmente para os automóveis (DIAS, 2005, apud BERTOLUCCI [2006]). A Carta de Atenas propõe um modelo mais culturalista com o objetivo de construir uma cidade mais humana. Segundo Choay (2003, apud BERTOLUCCI [2006]) “defende que o grupamento urbano não seja visto mais a partir da idéia do progresso, mas da cultura e, ideologicamente, opondo-se ao industrialismo e à definição de necessidade-tipo para um homem-tipo imaginário”. O novo modelo urbanista que tem origem da filosofia na história dos povoados se opôs a Carta de Atenas onde segundo Irazábal (2006, apud BERTOLUCCI [2006]) Os projetistas do Novo Urbanismo, ou Urbanismo Sustentável, estão a favor de comunidades pequenas e densas, com limites definidos e onde existia uma adequada mescla de funções que incorporem espaços de recreação, comerciais, institucionais e de serviço, em estreita vinculação com residências de vários tipos. A viagem para fora da vizinhança são minimizadas, reduzindo a dependência do carro e a contaminação e o consumo de energia que esta gera. A distância percorrida de um lugar a outro poderia ser feita a pé, e se podia chegar caminhando até as estações de transporte público (ônibus, trem, metrôs e outros, segundo o caso), que conectem com outras comunidades similares. Todas essas características propiciaram o caráter único do lugar e a sensação de pertencimento à comunidade do grupo de habitantes que ali vivem. A história do desenvolvimento das cidades esteve diretamente relacionada 89 com o desenvolvimento dos meios de locomoção que foram segundo Munford (1982, apud BERTOLUCCI [2006]) “o componente dinâmico da cidade, sem o qual ela não poderia ter se expandido em tamanho e produtividade, influenciando tanto na localização quanto nas suas características”. Podemos verificar que as primeiras cidades foram construídas nas proximidades dos mares visto que nessa época a embarcação era o principal meio de transporte. Em dias atuais, cada vez mais se busca o transporte motorizado individual que com o auxilio do favorecimento das vias públicas, cada vez mais é possível ser automóveis nas grandes cidades o que reduz o uso do transporte coletivo urbano pelos pedestres. Para conter toda essa demanda as cidades têm investido em meios de controlar essa frota através de vias expressas, alargamento das rodovias, semáforos, pontes etc., que direta ou indiretamente causa um impacto negativo ao meio ambiente. Segundo Ferraz et al. (2004, apud BERTOLUCCI [2006]) O transporte urbano pode ocasionar impactos negativos sobre o meio ambiente, como poluição sonora, poluição atmosférica, poluição visual e poluição do solo e das águas. A emissão de vários tipos de gases e partículas da atmosfera, pelos meios de transporte, contribui para a degradação ambiental e são extremamente prejudiciais a saúde. Essa contaminação do ar também traz prejuízos para a vegetação devido ao alto poder corrosivo de alguns elementos químicos. A busca de tecnologias de produção menos poluentes e de maior eficiência é interminável. Os projetos de racionalização e modernização de sistema de transporte urbano visam promover a justiça social a fim de diminuir a poluição do meio ambiente, bem como o congestionamento e acidentes de trânsito. Dessa forma, o transporte individual está inserido no meio populacional desde a criação até os dias atuais, trazendo uma comodidade para o seu usuário e um desafio a ser resolvido para o planejamento urbano e para o meio ambiente. 5.2 A Estrutura das Cidades Atualmente, o grande aglomerado de pessoas contribuem para gerar um intenso impacto ambiental devido a quantidade de recursos adquiridos e em conseqüência a quantidade de resíduo gerado.Essa realidade é ainda mais grave 90 nos centros urbanos com o aumento populacional devido ao crescimento natural e a migração de pessoas principalmente das áreas rurais ou pequenos povoados em busca de uma melhor qualidade de vida. As cidades acabaram por desenvolverem um importante papel, sendo responsáveis por gerarem emprego, moradia e demais serviços importantes para a sobrevivência do homem, mas acabam por fim não conseguirem atender toda a demanda trazendo como conseqüência o desemprego, os impactos ambientais, a escassez de serviços básicos. No Brasil, as cidades não conseguem acompanhar o planejamento dos problemas. Segundo Rodrigues [2007] Atualmente 80% da população brasileira é urbana. Nas grandes metrópoles como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife e Salvador, os dramas cotidianos aparecem. Desse modo, o planejamento urbano continua com limitações, na medida em que os problemas urbanos continuam. Mesmo com os avanços técnicos verificados, parece que o objetivo de implementar políticas urbanas capazes de cuidar dos problemas básicos das cidades não tem sido atingido. Hoje com a facilidade maior de se comunicarem, os representantes das esferas federais, estaduais e municipais estão munidos de informações que podem auxiliar no processo de tomada de decisão e passar uma resposta aos diversos problemas urbanos à sociedade. Mas esse excesso de informação acaba se tornando um problema a ser enfrentado pois existe a necessidade de analisar todos esses dados e transformá-los em um conhecimento útil de forma que possa ajudar nesse processo de decisão. Um método importante utilizado pelas cidades para conseguirem se estruturar é o Plano Diretor, que consiste em um conjunto de medidas e regras básicas que definem o que pode e o que não pode ser feito em uma cidade. Tem como objetivo unir prefeitura e sociedade de forma a buscarem uma direção para o crescimento visando uma cidade coletivamente construída em busca de uma melhorar qualidade de vida e preservar os recursos naturais. O resultado é transformado em uma lei municipal servindo então como direção para o desenvolvimento urbano. 91 5.2.1 O Cemitério no Planejamento Urbano No planejamento de uma cidade, vários projetos devem estar envolvidos e metas devem ser estabelecidas de acordo com o orçamento da cidade e em parceria com os Planos do Governo (PIRES; GARCIA, 2008). Dentre esses projetos encontram-se os cemitérios que, para minimizar os impactos gerados, leis, decretos e diversas normativas devem ser criados para a sua implantação. Os impactos causados por um cemitério variam desde contaminação do solo e águas subterrâneas a questões sociais com problemas estéticos urbanísticos e a exploração econômica e comercial das administradoras de serviços do setor que abusam das famílias, devido necessidade imédiata de enterrar seus mortos. Cabe ao órgão público providenciar a conservação e manutenção dos cemitérios e a melhoria na segurança visando diminuir o índice de criminalidade, que acaba acontecendo mesmo com poucos freqüentadores deste local, com o intuito de integrar esses locais a cidade. Por questões ambientais, o cemitério deve estar afastado dos centros urbanos, mas atualmente temos a incidência de vários cemitérios em meio a comércios, residências e demais locais com grande aglomeração de pessoas. Para evitar essa problemática, é necessário que no planejamento de uma cidade, as necrópoles já estejam inseridas em seu plano de desenvolvimento sendo estudadas por diversas áreas da gestão pública e apoiadas por estudos aprofundados, contidas no seu EIA/RIMA. 5.3 A História do Cemitério O sentido da palavra cemitério foi dado aos primeiros cristãos na qual se destinava na sepultura de seus mortos, prática essa que acontecia dentro das igrejas ou nos adros que são espaços externos abertos dessas igrejas. Mas, a partir do século XVIII, com o aumento do número de sepultamentos ficava cada vez mais difícil encontrar espaço para enterrar os mortos, além do fato desses locais tornarem insalubres, causando poluição e aparecimento de doenças. 92 Para tentar resolver o problema, o governo inglês criou uma lei em 1855, com o objetivo de regular os sepultamentos onde um dos principais temas era enterrar o corpo fora da área urbana obtendo um destino mais parecido com as normas sanitárias. Essa mudança fez com que os mortos fossem velados e enterrados em locais íntimos da família, fazendo com que essa prática trouxesse uma nova redefinição nos ritos e práticas do velório, ocorrendo também uma individualização da sepultura o que antes era privilégio apenas da nobreza e do clero. Para acompanhar esse novo sistema, a medicina também trouxe melhorias, a fim de sanar a preocupação da quantidade de mortos convivendo junto com os vivos, visto que acabavam por ocorrer o aparecimento do chorume, que são líquidos provenientes da decomposição dos corpos, além de mau-cheiro que influenciavam na saúde humana. Foi com essa preocupação dos médicos e com enterros precários que foram observados vapores saindo das sepulturas, modificando o ar da redondeza, causando algum tipo de doença para a população local, representando assim um perigo para os vivos. 5.3.1 O Cemitério no Brasil No Brasil, o inicio dos sepultamentos não foi tão diferente quanto no resto do mundo. A prática do enterro nas igrejas também fazia parte da cultura da época, sendo também destinados a alta nobreza e ao clero. Assim os mesmo problemas sanitários foram surgindo com o passar dos anos, ocasionando no aparecimento de doenças na população que viviam no entorno. Assim em meados do século XIX o Brasil enfrentava uma crise devido a precariedade do saneamento básico e com a falta de hospitais capazes de tratar a população. A falta de um cemitério adequado também foi um fator de grande importância para prejudicar ainda mais a vida dos brasileiros. A prática do sepultamento consistia em envolver o corpo em uma mortalha, que era um lençol ou uma túnica, sendo feito o transporte através de uma padiola, que era uma espécie tabuleiro retangular com um braço em cada canto, sendo 93 enterrado diretamente ao solo sem a utilização de caixão, o que aumentava ainda mais o risco de contaminação do solo. No Recife, os enterros aconteciam somente a noite, havendo uma procissão com tochas e recitações em voz alta. O objetivo do enterro ser a noite era apenas para aumentar a dramatização do ritual. Não havia nessa época prazo para enterrar o corpo sendo que esse permanecia vários dias na casa junto aos parentes iniciando assim o processo de decomposição. O mesmo acontecia no sepultamento, não havendo uma data certa para fechar a sepultura. Assim pessoas que eram enterradas dentro de igrejas acabava por exalar mal cheiro durante as missas. Em muitos casos o corpo estava em um grau de decomposição que escorriam líquidos durante a procissão caindo pelo caminho e nas pessoas que acompanhavam. Com a criação do cemitério nas cidades houve-se ainda o preconceito quanto à sua utilização, já que o local não era bem visto do ponto de vista religioso. Desse modo com a falta de espaço para o enterro, algumas catacumbas foram abertas antes do período de decomposição do corpo para que novos corpos fossem enterrados juntos, não havendo nenhum tipo de material se segurança a fim de reduzir a proliferação de possíveis doenças. A prática da utilização do cemitério ganhou força em 1811, três anos após a assinatura do tratado para a abertura dos portos, que acabou por ocasionar em mortos estrangeiros e não havia locais para enterrá-los. Mas foi a partir de 1849 com a epidemia de febre amarela, que houve uma utilização sistemática dos cemitérios mas agora com um objetivo de saúde. Em 1851, inicia-se as obras para a construção do cemitério chamado Senhor Bom Jesus da Redenção de Santo Amaro em Pernambuco, onde, além do caráter sanitário, foi criado um projeto paisagístico também de forma a dar uma visão melhor ao cemitério sendo usado também como local de encontro da alta nobreza, o que na época foi considerado o melhor cemitério já criado. 5.3.2 O Cemitério Atual Hoje os cemitérios visam um equilíbrio entre a preservação do meio ambiente 94 e a estética visual, transformando a visão do homem de cruzes e túmulos elevados, em locais discretos e o mais parecido possível com um parque ou jardim. A realidade e os conceitos atuais são diferentes daqueles do século XVIII. Os ritos de sepultamentos possuem prazos a fim de preservar a saúde e o bem estar das pessoas envolvidas e os cemitérios estão preparando-se cada vez mais para que possam atender as legislações vigentes. Mas existe uma grande diferença no atendimento dessa legislação, quando comparamos um cemitério com administração pública com o de administração particular. Atualmente poucas legislações regulamentando a implantação do cemitério e muito menos ainda a fiscalização do cumprimento da lei, visto que o maior descaso parte da iniciativa pública, cabendo-lhe a responsabilidade da fiscalização. Segundo Pacheco (1989), são nos cemitérios públicos que se encontram a maior quantidade de impactos ambientais, visto que são administrados de forma ineficiente. Um exemplo disso pode destacar a noticia do jornal da cidade de Goiânia, capital do estado de Goiás divulgada no dia 10 de maio de 2010, pela jornalista Maria José Sá: Os quatro cemitérios públicos de Goiânia não tem licença ambiental e não cumprem resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) de 3 de abril de 2003. A Resolução, que deverá ser atendida pelos cemitérios até dezembro deste ano, estabelece critérios mínimos a serem integralmente cumpridos, como forma de garantir a decomposição normal do corpo e proteger as águas subterrâneas da infiltração do Necrochorume. Logo, conclui-se que já houve uma mudança significativa desde a origem do cemitério até os dias atuais, mas há ainda muito por ser feito para atender a legislação mínima com o intuito de preservar o meio ambiente. 5.4 Legislação No Brasil existe uma falta de controle quanto à construção de cemitérios, onde a responsabilidade por parte do governo federal para com os estados, estes por sua vez responsabiliza os municípios e estes não possuem tecnologia suficiente 95 e muito menos interesse político (GORGULHO, 1999 apud ALMEIDA; MACÊDO, 2005). Com o intuito de resolver e normatizar a situação, o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) promulgou a resolução 335, de 3 de abril de 2003, que regulamentou o processo de licenciamento ambiental de cemitérios. A contaminação dos cemitérios possui uma legislação nova e poucos estudos ainda foram feitos comprovando os níveis de segurança para seus licenciamentos. Um exemplo está na resolução CONAMA 335, no artigo 5º, inciso I onde diz “o nível inferior das sepulturas deverá estar a uma distância de pelo menos um metro e meio acima do mais alto nível do lençol freático, medido no fim da estação das cheias”. Uma pesquisa realizada por Matos (2001 apud ALMEIDA; MACÊDO, 2005) comprovou que vírus foram transportados no mínimo 3,2 m da zona não saturada até alcançar o aquífero lembrando que não existem dados que comprove a quantidade de vírus que um corpo humano pode propagar após morto. A legislação também diz que, cemitérios operando em situação não compatível as normas deverão se adaptaram em um prazo máximo de 180 dias a contar da data de publicação da lei, que aconteceu em 2003, e temos exemplos de cemitérios que mesmo estando em 2010 ainda não regularizaram sua situação. Exemplos disso, já citado anteriormente, são os cemitérios públicos da cidade de Goiânia, que ainda não possuem a licença ambiental. Uma pesquisa realizada por SILVA (2000 apud ALMEIDA; MACÊDO, 2005) mostrou que em 600 cemitérios espalhados pelo Brasil, e alguns no exterior, apresentaram casos de contaminação, ou geraram algum tipo de poluição, destes 75% eram públicos e 25% eram particulares. Um problema a nível mundial, no que se diz respeito a cemitérios, é a falta de publicação de dados e trabalhos científicos com abrangência a esse tipo de estudo, o que prejudica a regulamentação da implantação visto que não possuem pesquisas para comprovar. Como a legislação é bastante nova, a população começou a se preocupar com o impacto que o cemitério pode causar em meio a cidade e a população que nela vive, tanto no caráter social quanto na questão de saúde, com possíveis disseminação de doenças, caso sejam utilizados águas contaminadas do local. 96 5.5 Impactos Ambientais Causados por Cemitérios Os impactos causados por cemitérios podem assumir uma proporção bastante significativa atingindo diretamente a saúde da população. Sabe-se que o homem sempre utilizou o solo para o descarte de seus resíduos, sejam eles orgânico ou inorgânicos, inclusive seu próprio corpo, que acaba por liberar substâncias orgânicas nocivas ao ser humano sendo repassados diretamente ao meio ambiente. Segundo Pacheco (1986) o impacto físico mais importante causado pela decomposição dos corpos está na contaminação das águas subterrâneas, por microorganismos, que são liberados e consequentemente a utilização dessa água pela população. O grande problema é devido ao fato dos aspectos geológico e hidrogeológico não serem levados em consideração na implantação do cemitério, o que ocasiona, em uma construção inadequada, um forte potencial de risco para as águas. Devido a constituição mineral, a função de intemperismo e de todo o conteúdo microbiológico, o solo possui a capacidade de degradar toda a matéria orgânica enterrada, de maneira discreta, sem que o homem possa visualizá-la, ocorrendo assim uma capacidade de depuração natural. Mas algumas medidas devem ser seguidas para que o solo consiga fazer essa depuração, sem que haja contaminação, sendo uma delas a distância entre o lençol freático e o material a ser decomposto. Os cemitérios podem ser considerados como fontes potenciais de contaminação das águas subterrâneas, pelo simples fato de possuírem uma infinidade de microorganismos que realizam a decomposição da matéria orgânica. Dentre a contaminação do meio ambiente podemos destacar alguns contaminantes em alto potencial como o necrochorume, que possui poluentes bastante perigosos em sua composição podendo levar o individuo a ter sérios problemas de saúde e a contaminação proveniente dos caixões e da preparação do corpo como o embalsamento que acaba por espalhar produtos químicos, junto ao solo como, por exemplo, o formol, que é aplicado no corpo, ou o verniz, utilizando na preparação do caixão. 97 FIGURA 13 – A Vulnerabilidade dos Cemitérios à Contaminação Ambiental Fonte: Revista Ciência Hoje, volume 44, nº 263, 2009. 5.5.1 O Necrochorume Depois de morto, o corpo humano passa por várias transformações, passando a ser um local onde se hospedam vários microorganismos sendo esses responsáveis por sua transformação. Nesse processo de mudança o corpo acaba por gerar, dentre outros, o necrochorume que segundo Pacheco (1989), é um líquido viscoso de cor acinzentada ou acastanhada com cheiro forte e fétido, com tendência a endurecer (polimerizável), rico em sais minerais e substâncias orgânicas degradáveis onde podemos destacar a cadaverina e a putrescina, duas aminas altamente tóxicas, também conhecidas como alcalóides cadavéricos. O necrochorume é constituído de 60% de água, 30% de sais minerais e 10% de substâncias orgânicas. A composição do corpo de um homem adulto de aproximadamente 70 kg, está relacionado no quadro 16. No caso da mulher situa-se entre um quarto e dois terços da composição do homem (MACÊDO, 2004 apud ALMEIDA; MACÊDO, 2005). 98 Substância Carbono Nitrogênio Cálcio Fósforo Enxofre Potássio Sódio Cloreto Magnésio Ferro Água Quantidade 16.000 g 1.800 g 1.100 g 500 g 140 g 140 g 100 g 95 g 19 g 4,2 g 70-74% QUADRO 16 – Composição Aproximada de um Corpo de um Homem de 70 Kg Fonte: ALMEIDA; MACÊDO, (2005) A decomposição dos corpos pode durar de alguns meses até a vários anos dependendo da ação ambiental local. Assim, a liberação do necrochorume pode alcançar as águas subterrâneas, pouco profundas, através da percolação ou com o auxílio da água da chuva, que infiltra nas covas, passando pelo corpo e carregando o material em decomposição para o lençol, podendo esses serem captados por poços escavados pela própria população no entorno causando sérios riscos à saúde. Outro risco que acompanha o necrochorume são os organismos patogênicos que estão presentes nos corpos de pessoas que faleceram devido a algum tipo de doença infecto-contagiosa, contendo, assim, vários tipos de vírus e/ou bactérias, agentes transmissores de doenças como a febre tifóide, paratifóide, hepatite infecciosa dentre outros. Segundo Bower (1978 apud ALMEIDA; MACÊDO, 2005) nas proximidades do cemitério de Berlim a água subterrânea captada, no período de 1863 a 1867, estava contaminada proliferando a febre tifóide. Aos redores do cemitério de Paris a água subterrânea captada estava malcheirosa e com um gosto adocicado, especialmente nas épocas quentes. No Brasil estudos realizados nos cemitérios de Vila Nova Cachoeirinha e Cemitério Vila Formosa, na cidade de São Paulo, comprovaram que os aqüíferos estão contaminados por vários microorganismos patogênicos provenientes do necrochorume (MATOS, 2000 apud ALMEIDA; MACÊDO, 2005). 99 Um dos problemas que mais agrava a contaminação dos mananciais de água subterrânea é a falta de jazigos nos cemitérios, deixando o caixão em contato direto com o solo, facilitando dessa forma, que a água proveniente da precipitação infiltre e passe pelos corpos levando o necrochorume para o solo. FIGURA 14 – Risco de Contaminação de Águas Subterrânea pelo Necrochorume Fonte: Revista Ciência Hoje, volume 44, nº 263, 2009. 5.5.2 Contaminação por Materiais que Compõem o Caixão e da Forma de Conservação dos Cadáveres Muitas substâncias podem ser utilizadas na preparação do corpo para a embalsamação, sendo que muitas delas são altamente poluentes. Devido a falta de normatização, as funerárias aplicam, por exemplo, o formol cuja concentração pode ultrapassar os 30%. Nestas substâncias estão incluídos o formaldeído, metanol, arsênico, solventes e vários metais pesados, sendo que os dois primeiros correspondem à maior porcentagem de substâncias químicas usadas em embalsamações durante os últimos 90 anos, sendo o arsênico muito utilizado no início do século passado (SILVA, 1998 apud ALMEIDA; MACÊDO, 2005). A técnica de tanatopraxia vem sendo utilizada, e que consiste apenas na maquiagem e restauração de partes do falecido, evitando a técnica da embalsamação, com o objetivo de apenas melhorar o aspecto do corpo, sendo prolongado por algumas horas. A composição química desses produtos é 100 desconhecida visto que são utilizados cosméticos, corantes e demais produtos. Os caixões também contribuem para a poluição visto que fazem parte da sua constituição substâncias de tingimento, colas, ferro e zinco, podendo aparecer, em alguns deste, a presença de metais pesados. Além disso, os caixões são feitos de madeira, sendo necessária, de acordo com a Revista Globo rural,uma árvore para a fabricação de um caixão para um adulto e partindo dessa proporção, de acordo com o IBGE no Brasil, no ano de 2007 houveram 96.511 mortes de pessoas adultas (acima de 18 anos), entende-se que, portanto, foram derrubadas a mesma quantidade em árvores. 5.6 A Saponificação Saponificação é um processo de transformação do corpo no qual a gordura presente no cadáver, através de processos químicos e da hidrólise, obtém uma composição similar aos sabões (FORBES et al., 2004, apud ABRÃO 2006). A saponificação acontece nas partes do corpo que contém maior quantidade de gordura e em seguida parte para as demais partes do corpo. O processo acontece quando o corpo está submergido em água parada ou de pouca corrente, quando está enterrado em solo argiloso ou úmido ou quando os cadáveres estão enterrados uns em contato com os outros (DIX 1987, FRANÇA 2001, GONZALO, 2005, apud ABRÃO, 2006). O processo de saponificação contribui para a lentidão no processo de decomposição do corpo, o que, por consequência, atrasa o processo de rotatividade das covas. 5.7 O Crematório A cremação é um rito funerário bastante antigo que consiste na queima do corpo humano e dos gases provenientes dessa queima. O local onde é realizado o processo da queima é chamado de crematório. 101 De acordo com Anjos (2006) o procedimento de cremação é adotado desde a Pré-história com o intuito de afastar os demais animais. Esse procedimento enfrenta uma questão religiosa, visto que os judeus e os mulçumanos proíbem essa prática. Após o rito do velório o caixão desce a uma partição subterrânea aonde todos os metais e marcapasso (se for o caso) são retirados juntamente como as partes de vidro e metal do caixão. O corpo aguarda em torno de 24 a 48 horas em uma geladeira com temperatura de aproximadamente 0º C. No forno crematório a forma de cremação é dividido em duas partes: a primeira é reservada para a queima do corpo e a segunda tem como função queimar os gases gerados. Essa câmara primária só é posta para funcionar quando a câmara secundaria atinge em torno de 500º C. A fumaça gerada no processo final é isenta de cor, cheiro e de agente poluentes. Após a queima, o que resta são apenas cinzas, sendo que um corpo adulto de aproximadamente 70 kg gera em torno de um quilo a um quilo e meio de cinzas, que após estarem frias, passa-se um imã por cima para retirar os possíveis metais que tenham ficado durante o processo de queima, e o processo é finalizado com a trituração das cinzas, de forma que os grãos fiquem totalmente uniformes. 102 6 A ENGENHARIA AMBIENTAL Segundo a Resolução do CONAMA 01/86 podemos definir impacto ambiental como sendo qualquer alteração física, química ou biológica que influencia o meio ambiente que tem como fator gerador qualquer forma de matéria ou energia que provém de atividades humanas que direta ou indiretamente afetam a saúde, segurança, bem estar da população, as atividades econômicas e sociais, a biota, as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente e/ou a qualidade dos recursos ambientais. Para diminuir ou até cessar os impactos negativos, alguns processos são necessários durante a instalação de um empreendimento como, por exemplo, o Estudo de Impacto Ambiental (EIA), o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) e a Avaliação de Impacto Ambiental (AIA). 6.1 O Monitoramento Ambiental No estudo de uma área degradada, o monitoramento ambiental é uma ferramenta muito importante que auxilia no controle dos recursos naturais, podendo administrá-los da melhor forma possível. Tem por objetivo oferecer ferramentas básicas para avaliar a presença de contaminantes podendo dessa forma iniciar o processo de recuperação. O monitoramento pode ser químico, bioacumulação, efeito biológico, saúde e ecossistema. a) monitoramento químico consiste na avaliação dos contaminantes químicos conhecidos de acordo com os parâmetros ambientais; b) monitoramento da bioacumulação consiste em avaliação dos contaminantes na biota ou no local de interesse conhecido como bioacumulação; c) monitoramento do efeito biológico consiste em avaliar os efeitos de uma contaminação determinando as primeiras alterações que nesse momento podem ser parcial ou totalmente reversível; d) monitoramento de saúde avalia os danos causados nos tecidos dos 103 organismos vivos ou o aparecimento de doenças irreversíveis; e) monitoramento de ecossistema avaliar a situação atual de um ecossistema tendo como critério toda a sua composição e sua diversidade de espécies dentre outros. 6.2 Avaliação de Impacto Ambiental (AIA), o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) A Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) é um instrumento de utilização na gestão do meio ambiente e nas legislações e políticas com o intuito de assegurar que um determinado empreendimento ou atividade que seja passível de impactos ambientais possam ser analisados, reduzindo ou até mesmo eliminando os impactos ambientais. Essa avaliação deve ser realizada através de uma equipe multidisciplinar a qual são apresentados todos os diagnósticos resultantes dessa atividade. O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) é um documento técnico que consiste em avaliar as das conseqüências do meio ambiente devido a instalação de uma atividade ou empreendimento. A avaliação é feita de forma imparcial de todas as atividades que podem causar algum tipo de impacto no meio ambiente tendo dessa forma como apresentar soluções mitigadoras. O Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) tem por objetivo apresentar as reflexões das conclusões do EIA ou AIA. Deve ser apresentado de forma objetiva e passível de ser entendida utilizando todos os mecanismos gráficos possíveis para melhorar o entendimento do projeto ou atividade. Todas essas ferramentas são normatizadas de acordo com legislações do CONAMA tendo por finalidade regulamentar e controlar os possíveis impactos causados por projetos ou atividades que de alguma forma venham gerar algum impacto no meio ambiente com o objetivo de liberar a licença ambiental. A licença ambiental requer uma serie de procedimentos que inclui até audiência pública para comunicar e discutir junto com a população interessada ou afetada a melhor forma de realização do projeto ou atividade. Na legislação do CONAMA 001/86 é citado todas as atividades que exige a 104 apresentação do EIA/RIMA, para que a licença possa ser liberada e o início de construção ou liberação dessas atividades seja realizado. Dentre esses elas podemos destacar as ferrovias, linhas de transmissão de energia acima de 230 kw, obras hidráulicas para a exploração de recursos hídricos, aterros sanitários, usinas de geração de energia acima de 10 MW, dentre outros. Mas é importante observar que para as atividades descritas nas normas é obrigatória a realização de um EIA/RIMA porém não impede que uma atividade que não esteja, seja obrigado a apresentar os estudos, cabendo ao órgão ambiental responsável a solicitação. 105 7 OBJETO DE ESTUDO O objeto de estudo consiste no cemitério Complexo Vale do Cerrado situado no município de Goiânia, capital do Estado de Goiás, onde foram realizadas visitas técnicas, avaliações, entrevistas de acordo com a proposta “Impactos Ambientais Causados por Cemitérios”. A finalidade do objeto de estudo é proporcionar uma solidez na construção de um conhecimento lógico e prático. Durante o período de estudo foram considerados parâmetros para os possíveis impactos que possam acontecer dentro de um cemitério. 7.1 A Cidade de Goiânia A cidade de Goiânia possui 77 anos, sendo fundada em 24 de outubro de 1933, quando surgiu a idéia de mudar a capital do Estado no ano de 1753, por Dom Marcos de Noronha, governador da província de Goiás, que queria transferir a capital de Vila Boa para a atual Pirenopólis. Em seguida, em 1830 o governador vigente propôs a mudança, para a região do Tocantins, próximo a Niquelândia. No início do século XIX, a capital do Estado passada por uma crise de estagnação, devido ao término do ciclo do ouro, e por consequência não se construía mais nenhum empreendimento ou até mesmo casa. Outro governador também tentou transferir a capital do estado em 1863 e, consequentemente, não obtendo sucesso. Somente após a revolução de 30, em 1933, que o interventor federal Pedro Ludovico Teixeira tomou as providências de transferir a capital do Estado da Cidade de Goiás, tornando realidade um sonho que durava 180 anos. Assim com o objetivo de acelerar o progresso e aumentar a ocupação do Centro Oeste, pessoas foram incentivadas a migrarem para a região central do país onde havia muita terra desocupada. Em 20 de dezembro de 1932, uma comissão foi criada para escolher o local para a construção a futura capital do Estado, sendo escolhido o sítio que ficava próximo ao povoado de Campinas, onde hoje é o bairro de Campinas. Em 1935, com o apoio de Atílio Corrêia Lima e, posteriormente, Armando de Godói, ambos 106 urbanistas, fica pronto o plano diretor da nova cidade. Na região sul foi instituído um bairro residencial, onde é o Setor Sul e na região norte surgiram as primeiras casas populares. Foram abertas as principais avenidas da cidade (Goiás, Tocantins e Araguaia) partindo da sede, do centro administrativo, na atual Praça Cívica. FOTO 01 – Avenida Goiás Fonte: Arquivo Pessoal (2002) FOTO 02 – Praça Cívica Fonte: Arquivo Pessoal (2010) 107 FOTO 03 – Vista Aérea da Cidade Fonte: Arquivo Pessoal (2010) 7.1.1 A Pedra Fundamental A pedra fundamental da cidade foi instalada em 03 de outubro de 1933, pelo interventor Pedro Ludovico Teixeira que visava homenagear os três anos do início da Revolução de 1930. O local escolhido foi a atual Praça Cívica onde fica o Palácio das Esmeraldas. Em 02 de agosto de 1935 um decreto assinado por Pedro Ludovico determinou que o Município de Goiânia, onde passou a residir, fosse a sede do Governo do Estado, ocorrendo sua efetivação da Capital do Estado, em 1937. 108 7.1.2 O Batismo Cultural O Batismo Cultural de Goiânia aconteceu somente em 5 de julho de 1942, sendo que do dia 1º ao dia 11, a cidade viveu um clima de festas, euforias, bailes e inúmeras inaugurações. Em 1950 a cidade já contava com inúmeras construções e vários prédios públicos. Entre 1940 e 1955 o crescimento foi considerado moderado para uma cidade que acabava de ser implantada, que foi aumentado consideravelmente, principalmente, com o início da construção de Brasília, devido ao processo migratório das diversas regiões do Brasil. Os surtos de crescimento populacional também foram influenciados com o aparecimento da ferrovia, a política de interiorização de Vargas e a inauguração da Usina do Rochedo, fazendo com que a cidade, antes projetada para 50 mil habitantes, contasse em 1960 com 150 mil habitantes. No final dos anos 90 a cidade já possuia grandes problemas, com o aparecimento de loteamentos irregulares e invasões, um fluxo migratório de estados próximos muito alto, aumentando os problemas sociais como o transporte urbano, a saúde, a moradia e a educação. Nesse período a cidade atingiu a marca de mais de um milhão de habitantes. 7.1.3 A Cidade Atual De acordo com o IBGE, a população atual de Goiânia ultrapassa um milhão e duzentos mil habitantes, mas mesmo assim a cidade guarda fortes referências em qualidade de vida, quando comparada as demais capitais brasileiras, fazendo com que a cidade receba vários empreendimentos imobiliários, principalmente os condomínios fechados. Os investimentos da iniciativa pública na preservação e melhoria do meio ambiente proporcionaram à cidade o título da capital com maior concentração de área verde por habitante. Mesmo com esse cenário a cidade enfrenta problemas crônicos, frutos de um crescimento desordenado. 109 Essa melhoria do meio ambiente reflete-se nos parques da cidade, onde podemos destacar o Bosque dos Buritis, sendo o parque central da cidade que abriga diversos tipos de plantas e animais, além do museu de arte de Goiânia, o Parque Vaca Brava, que se trata de um lago cercado por uma exuberante área verde localizado no setor Bueno, o Horto Florestal que abriga o Lago das Rosas e o Zoológico localizado no setor Oeste, o Parque Areião sendo o maior parque da parte central da cidade, composto por áreas de reflorestamento, lagos, uma vila ambiental, áreas para piqueniques, prática de esportes e longos passeios. FIGURA 15 – Bandeira de Goiânia Fonte: Prefeitura Municipal de Goiânia 110 FIGURA 16 – Brasão de Goiânia Fonte: Prefeitura Municipal de Goiânia 7.1.4 Os Cemitérios da Cidade A cidade possui quatro cemitérios públicos, sendo eles o cemitério Nossa Senhora de Santana, o cemitério Parque, o cemitério Vale da Paz e o cemitério Jardim da Saudade e três cemitérios particulares, sendo eles Jardim das Palmeiras, Parque Memorial e Vale do Cerrado. O cemitério Nossa Senhora de Santana é o mais antigo deles, construído em 1939, registrou seu primeiro sepultamento em dezembro de 1940, tendo atualmente mais de 50 mil corpos sepultados. No ano de 2000, o cemitério foi tombado como Patrimônio Histórico do Município. No cemitério Parque foi inaugurado em 1961, com uma área de aproximadamente três alqueires contendo atualmente mais de 210 mil corpos sepultados. O cemitério Vale da Paz, foi inaugurado em agosto de 1997, ocupando uma área de 290 mil metros quadrados, sua construção foi destinada a pessoas carentes e por isso não possui comercialização dos túmulos, atualmente 111 possui mais de 15 mil corpos sepultados. O cemitério Jardim da Saudade tem uma capacidade de 12 mil sepultamentos através do sistema de covas rasas, ou seja, o caixão diretamente no solo, com o objetivo de atender as famílias de baixa renda. O Jardim das Palmeiras foi o primeiro cemitério particular de Goiânia, seguido pelo Parque Memorial e o Complexo Vale do Cerrado, que é o objeto de estudo desse trabalho. 7.2 Complexo Vale do Cerrado Sendo o terceiro cemitério particular a ser inaugurado na cidade de Goiânia, o Complexo Vale do Cerrado foi criado de forma a ser o mais moderno empreendimento desse setor, com uma área de aproximadamente 350 mil metros quadrados localizado na GO – 060, km 7, na conhecida Rodovia dos Romeiros entre as cidades de Goiânia e Trindade, possuindo uma localização estratégica devido a facilidade de acesso. Sua estrutura foi projetada pelo conceituado arquiteto Ciro Lisita Arantes, trazendo uma solução moderna de estruturação arquitetônica e funcional. FOTO 04 – Complexo Vale do Cerrado Fonte: Arquivo Pessoal (2010) 112 O objetivo que o empreendimento busca manter é o equilíbrio entre o amparo às famílias neste momento de dor com a prática de um funeral, buscando a sustentabilidade e atuando de forma a manter a responsabilidade com o meio ambiente. 7.2.1 Dados Técnicos Foi criado em Goiânia, a empresa CPG empreendimentos S/A, contendo 6 acionistas, em 07 de julho de 2004, com o intuito de instalar, construir e explorar o ramo de cemitério, o que resultou em 4 de julho de 2008, na inauguração do Complexo Vale do Cerrado, tendo como diretor, o acionista Engenheiro Civil Guilherme Augusto Santana.. As idéias que estão sendo implantadas pelo atual diretor, visam à construção do cemitério no estilo parque e adaptados com a preocupação com a sustentabilidade ambiental. Cerca de 67 mil metros quadrados de sua área foram destinadas a averbação como reserva legal, o que acabou se tornando uma referência a todos os cemitérios do Brasil. A reserva legal tem como objetivo, melhorar a qualidade do ar da região e agregar ao cemitério, melhorando o aspecto do local. Para a composição dessa reserva, foram plantadas em torno de 67 mil mudas do cerrado e cerca de 6 mil mudas de demais espécies previamente estudas para se adaptar a região. É projeto da direção, fazer uma pista de caminhada ao redor dessa reserva e construir um local específicos para que as cinzas provenientes dos corpos cremados sejam depositadas, caso esta seja a vontade dos familiares. Em dois anos de funcionamento o cemitério já conta com aproximadamente 500 sepultamentos. O cemitério conta com o primeiro crematório da cidade, com capacidade para manter até seis corpos em sua câmara fria e gasta em torno de cinqüenta minutos para efetuar o processo de queima total, incluindo os gases liberados. Todo o processo é feito automaticamente, necessitando apenas de um operador para acionar o forno. 113 FOTO 05 – Entrada do Complexo Vale do Cerrado Fonte: Arquivo Pessoal (2010) 7.2.2 A Responsabilidade Ambiental Além da Reserva Legal implantada no complexo trazendo melhorias ambientais a região, o empreendimento também adota outras medidas que visam a implantação de sua responsabilidade com o meio ambiente trazendo benefícios a população. Na construção do complexo, toda a madeira utilizada é proveniente de áreas de reflorestamento e a aplicação de tecnologias que visam minimizar e até cessar os impactos ambientais causados pelo sepultamento ou cremação dos corpos. Durante a implantação, foi criado um Sistema de Gestão Ambiental através de uma equipe multidisciplinar que teve por objetivo buscar metas e soluções viáveis para a sustentabilidade garantindo dessa forma a funcionalidade de todo o sistema. Dentre essas medidas podemos destacar: a) para reduzir o uso de parafina durante o velório, a empresa optou pela implantação de velas elétricas de baixo custo, substituindo o gasto com velas; 114 FOTO 06 – Vela Elétrica Fonte: Arquivo Pessoal (2010) b) toda área construída do empreendimento teve como preocupação, o maior aproveitamento da luz solar, reduzindo assim o consumo da energia elétrica, com a instalação de vidros em diversas partes; FOTO 07 – Parede com Vidro para Aproveitar a Iluminação Solar Fonte: Arquivo Pessoal (2010) 115 c) com o intuito de incentivar o conhecimento das plantas, as áreas destinadas ao sepultamento são identificadas através das árvores do cerrado. A cada intervalo de 12 metros destinados a construção das valas, é deixado um espaço de 1 metro sem construção para que possa acontecer a percolação da água. As valas são totalmente vedadas impedindo assim que a água infiltrada passe pelo corpo levando os materiais contaminantes; FOTO 08 – Construção das Valas para Sepultamento Fonte: Arquivo Pessoal (2010) 116 FOTO 09 – Identificação da Quadra de Sepultamento com o Nome de uma Árvore do Cerrado Fonte: Arquivo Pessoal (2010) d) para incentivar a plantação das árvores do cerrado, o cemitério conta com uma viveiro que já abastece toda demanda interna e possui um projeto para fornecer as mudas para os consumidores externos; e) no futuro existe interesse por parte da administração em liberar a reserva em um parque aberto a visitação pública com equipamentos e entretenimento como, por exemplo, pistas de caminhada e trilhas; f) o cemitério conta com o primeiro crematório de Goiânia, com toda a tecnologia necessária para eliminar os riscos de contaminação do meio ambiente. O local conta com uma recepção, uma sala de despedida e sala de cremação, possuindo uma câmara fria e o forno. 117 FOTO 10 – Crematório Fonte: Arquivo Pessoal (2010) FOTO 11 – Câmara Fria para Armazenamento do Corpo Fonte: Arquivo pessoal (2010) 118 FOTO 12 – Forno para Cremação Fonte: Arquivo Pessoal (2010) 7.2.3 A Responsabilidade Social Além da preocupação com o meio ambiente, o complexo visa também adotar medidas e projetos que contribuem para a melhoria da qualidade de vida da população. O Complexo Vale do Cerrado, que lida constantemente com a dor e o sofrimento das pessoas, auxilia de forma a melhorar as dificuldades de cada pessoas com atitudes como: a) a Campanha Natal Feliz que tem por objetivo arrecadar brinquedos com o intuito de distribuí-los a crianças carentes de todo o estado; b) a doação de computadores para associações de moradores para que possam montar uma sala de informática e contribuir para a inclusão digital dessas pessoas; c) doação de materiais de construção as instituições religiosas da região sem 119 que se faça nenhuma distinção entre elas; d) diversos patrocínios para realização de atividades culturais na cidade com o objetivo de melhorar o contato das pessoas com a cultura; e) parcerias com a prefeitura de Goiânia e o Governo do Estado de Goiás para a instalação de passarelas e redutores de velocidade na GO – 060 reduzindo o número de óbitos que frequentemente acontecia nesse rodovia. Segundo o diretor do Complexo Vale do Cerrado Guilherme Augusto Santana, “o cemitério não deve ser um empreendimento que visa cuidar dos mortos e sim dos vivos”, e é trabalhando com essa filosofia que o empreendimento tem características físicas e a qualidade no atendimento por parte dos seus quase 100 funcionários que se compara a muitos hotéis. A implantação desse cemitério é apenas um projeto piloto. Possuem objetivo de estender o atendimento aos demais cemitérios espalhados pelo país, sejam eles públicos ou particulares, sendo responsáveis pela administração destes, fazendo todo o atendimento que os familiares precisam e merecem quando perdem um ente querido. 120 8 METODOLOGIA 8.1 Métodos de Abordagem Consideramos os métodos de abordagem de caráter mais geral do tema pesquisado, sendo eles que direcionam as etapas fundamentais para a realização da pesquisa. Dentre os métodos de abordagem utilizamos o dedutivo, já que partimos do pressuposto de que todas as premissas são verdadeiras, resultando em uma conclusão verdadeira. Como foi apresentado que o corpo humano no estado de decomposição lança toxinas que poluem o meio ambiente e que a falta de estudos e de métodos mitigadores resultam na contaminação do local. Assim, concluímos que os cemitérios devem adotar as medidas necessárias que evitem essa contaminação. 8.2 Métodos de Procedimento Os métodos de procedimento são as etapas mais concretas da investigação com o objetivo de explicar os fenômenos menos abstratos. Está relacionado com as fases da pesquisa. Para melhor abordar o assunto, utilizamos o método comparativo realizando uma espécie de confronto entre os elementos da legislação com os cemitérios vigentes e entre os próprios cemitérios e seus métodos de sepultamentos obtendo diferenças e semelhanças. 8.3 Nível de Pesquisa Pelos objetivos que adotamos em nosso estudo, utilizamos o nível de pesquisa descritiva permitindo uma análise mais profunda do problema em relação 121 aos aspectos sociais, econômicos, políticos, visando identificar, relatar e comparar os cemitérios além de estabelecer a relação desses com a legislação. A pesquisa descritiva preocupa-se em observar os fatos, registrá-los, analisá-lo, classificá-los e interpretá-los trazendo a realidade dos fatos à comunidade em geral. 8.4 Delineamento da Pesquisa Para que se realize uma pesquisa cientifica é necessário que adotemos uma maneira que servirá de condução para o estudo que consequentemente nos ajuda a obter os dados. Sendo assim o sistema de pesquisa utilizado foi o documental já que partimos de pesquisas de documentos bastante recentes e que não receberam um tratamento analítico. Como o tema ainda é bastante novo, poucas pesquisas técnicas sobre o assunto foram divulgadas e muitas experimentações ainda estão sendo realizadas para que possam ser comprovadas com exatidão as contaminações existentes. 8.5 Abordagem do Problema Para a realização da abordagem do problema, utilizamos o método qualitativo com o intuito de realizar análises mais profundas, fazendo o estudo da interação dos dados, compreendendo e classificando os processos, não sendo utilizados dados estatísticos como base do processo de análise. 8.6 População e Amostra Na pesquisa realizada nos preocupamos a entender os processos de decomposição do corpo humano que nesse caso, após ser enterrado libera o necrochorume que, em sua composição, contamina o ambiente. Assim apenas os 122 fatores ambientais locais é que vão determinar a maior ou menor facilidade dessa contaminação. Partindo desse principio a pesquisa envolveu toda a população existente no planeta, pois onde existe o ser humano, sempre existirá cadáveres, que devem receber alguma destinação. Mas como objeto pontual de estudo, o trabalho de pesquisa visou o cemitério Vale do Cerrado e a população que vive ao redor que, de certa forma, interagem com o local. A pesquisa principal consistiu em entrevistar o diretor do complexo Vale do Cerrado, o senhor Guilherme Augusto Santana, referente a construção, operação e manutenção do cemitério com relação ao meio ambiente. 8.7 Instrumentos de Pesquisa Os instrumentos de pesquisa são responsáveis para delinear o objeto de estudo de forma lógica e sistemática na coleta dos dados analisando-os e interpretando-os. Assim no trabalho realizado utilizamos como instrumento de pesquisa a observação, visto que foram realizadas visitas técnicas no local de estudo a fim de ver, ouvir e examinar todos os fatos, trazendo uma percepção direta dos acontecimentos sem que haja intermediadores. Para obtenção dos dados de forma real efetuamos uma entrevista (apêndice A) ao responsável direto pelo Complexo Vale do Cerrado, em uma forma de diálogo, buscando informações concretas ao trabalho estudado. 123 9 ANÁLISE DE RESULTADOS A pesquisa realizada constituiu em analisar os impactos ambientais que os cemitérios podem causar no solo, na água e no ar, desde os resíduos gerados dos corpos em decomposição até os componentes utilizados nos rito de sepultamento, como caixões e procedimentos de preparação do corpo. Como foi visto, o surgimento do cemitério foi por uma questão de saúde pública, não havendo ainda uma preocupação ambiental. Tal preocupação só veio acontecer em meados do século XX, devido aos impactos que os mesmos podem causar. A demora na elaboração e publicação da lei de licenciamento de cemitérios (CONAMA 335) que só veio acontecer em 2003, muitos cemitérios já foram tombados como patrimônio histórico e cultural, impossibilitando medidas para se adequarem à legislação. Podemos citar, como exemplo, o cemitério Nossa Senhora de Santana, onde encontra-se sepultado o corpo de Pedro Ludovico Teixeira, fundador do Município de Goiânia, no estado de Goiás. Na pesquisa, utilizamos como objeto de estudo o Complexo Vale do Cerrado, o qual apresenta uma proposta responsável do uso sustentável do solo, a qual deve ser seguida pelos demais cemitérios que foram implantados após a homologação da lei, não enquadrando às diretrizes exigidas pela legislação vigente. No projeto estrutural, foram definidas covas no sistema de gavetas, sendo seladas com concreto impedindo a contaminação pelo necrochorume em contato direto com o solo ou através da precipitação. O sistema foi criado de forma que, a cada conjunto de três gavetas, existem valas que facilitam a percolação da água no solo. Nas quadras destinadas ao sepultamento, existe uma preocupação ligada à educação ambiental, identificando tais quadras com nomes de árvores do cerrado através de placas informativas, que contem dados específicos sobre a espécie escolhida, e nessa quadra é plantada a espécie identificada, o que contribui para a disseminação do conhecimento. Como medida para facilitar a infiltração de águas nas áreas de sepultamento o Complexo adotou a medida de deixar um metro de intervalo entre as valas a cada 12 metros de área construída, tendo como objetivo o abastecimento do lençol e evitar o acúmulo de água. O Complexo Vale do Cerrado teve como objetivo melhorar o aspecto visual 124 diante da realidade de outros cemitérios, parte da área total foi destinada à criação de uma reserva legal com o intuito de melhorar a qualidade de vida, do ar, dentre outros e ajudar a mudar o conceito de que o cemitério, na realidade, serve apenas como local de sepultamento. No intuito de mitigar os impactos ambientais o cemitério adota medidas como a redução da geração de parafina, com a utilização de velas elétricas de baixo custo, a estrutura foi implantada para o máximo aproveitamento da luz solar, visando a economia de energia elétrica. Os estudos realizados mostraram que a prática da cremação auxilia na redução dos impactos causados pelos resíduos gerados pelo corpo humano, já que, o corpo se reduz a cinzas, consequentemente reduzindo significativamente o impacto ambiental, além dos gases que são gerados no processo de cremação serem totalmente queimados, não ocorrendo a poluição do ar e nem a poluição visual, pois a fumaça gerada é incolor. O cemitério de um modo geral, deve adotar medidas previstas pela legislação para não gerar impactos ambientais como, por exemplo, o método de cova rasa, ou seja, o sepultamento direto no solo sem a utilização de gavetas. Atitudes como a implantação de cemitérios com sistemas de jardins auxiliam a tornar o cemitério um “ambiente mais agradável” e adequadamente correto dentro da Política do Meio Ambiente. 125 10 DISCUSSÃO O tema abordado reflete sobre uma nova postura sócio-ambiental no desenvolvimento urbano, onde os processos visam minimizar os impactos causados no ar, na água ou no solo. Pela análise positiva dos resultados que o Complexo Vale do Cerrado apresenta na questão de um desenvolvimento sustentável, vale ressaltar que todas as medidas adotadas só tornam-se viáveis, a partir do ponto que exista uma consciência sócio-ambiental fomentada na gestão organizacional da empresa. Na questão do Complexo Vale do Cerrado esta consciência nasceu juntamente com o projeto inicial do empreendimento local. A inexistência de projetos e leis de incentivo ligadas às posturas sócioambientais tem gerado um cenário totalmente fechado e sem recursos para que novos e antigos empreendimentos busquem soluções para um desenvolvimento sustentável, partindo de técnicas mitigadoras para com os impactos causados. Podemos citar que para os cemitérios constituídos antes do ano de 2003, alcancem uma adequação ao novo processo de implementação de acordo com a lei em vigor seriam necessários altos investimentos, os quais poderão desencadear impactos sociais. Então, fica certo que, o impacto estudado e abordado no anteprojeto de um empreendimento, quando preciso for usar de suas técnicas de controle e monitoramento para com a ação da degradação, já teremos um cenário ecologicamente correto, economicamente viável e socialmente justo, partindo do princípio que os estudos buscam propostas e ações de controle que somarão no processo de recuperação de uma área impactada. Nem sempre os processos interligados dentro de um sistema único, são o reflexo de uma única idéia ambientalmente correta, podemos discutir a questão do uso das velas elétricas, que por um lado minimiza o impacto gerado pelo grande volume de parafina a qual é derivada do petróleo, recurso natural não renovável, e por outro lado, termos o consumo de energia, a qual parte do princípio de que sua produção depende do uso de outro recurso natural. A questão aborda que todo sistema busca não eliminar o impacto, e sim criar um ambiente equilibrado buscando qual ação pode evitar a geração de maior degradação do espaço em foco. O Complexo Vale do Cerrado mesmo apresentando seu programa de arborização e florestamento na área do complexo, mostra que o processo foi tardio 126 mesmo com parte da área preservada. Na implantação do empreendimento parte da vegetação natural foi perdida a qual vem sendo inserida através do programa de viveiro na geração de mudas nativas do cerrado local. Até que ponto pode-se afirmar que saídas para o não desmatamento são difíceis de serem tratadas quando confrontadas com o progresso. 127 11 CONSIDERAÇÕES FINAIS Durante todo levantamento bibliográfico e estudos realizados verificamos que os impactos ambientais causados por cemitérios aconteceram desde o início da formação das cidades. Mas observamos que, antes, a preocupação da população era apenas de caráter religioso, visando apenas o sepultamento do corpo. Aos poucos foram-se notando que era necessário modificar a prática realizada, de forma a se adaptar às exigências dos médicos e especialistas da época, pelo fato das decomposições de corpos trazerem problemas maiores do que apenas o mau cheiro, sendo uma questão de saúde pública. Com o surgimento de estudos e pesquisas da época, pode-se verificar que os processos provenientes dessa decomposição favoreciam ao surgimento de impactos ambientais que degradavam o solo, a água e o ar e acabavam, como consequência, retornando à população na forma de contaminação. Após o surgimento da lei de licenciamento ambiental, os cemitérios começaram a se adaptar às novas exigências e contribuirem para o equilíbrio sócio-ambiental. Verificamos nos estudos realizados que o Complexo Vale do Cerrado está sendo um dos primeiros a possuir, em seu planejamento, características que o está levando a ser um cemitério modelo para os demais, fazendo com que suas medidas sócio-ambientais e sócio-educativas venham a contribuir para a melhoria da qualidade de vida das pessoas que vivem no entorno desse empreendimento. Encontrar o ponto de equilíbrio ambiental não é uma tarefa fácil. Pesquisas devem ser feitas, estudos devem ser elaborados e, principalmente deve haver uma mudança por parte da população, em adotar medidas que ajudem ao meio ambiente. Sendo através dessas medidas que a sociedade, como um todo, começa reavaliar os processos que hoje permanecem inseridos provenientes de uma política consumista e que acreditava que os benefícios da natureza são infinitos. A partir do momento que entendermos que os recursos não renováveis estão se esgotando e que os renováveis necessitam de um tempo para que possam gerar novas fontes de uso, o equilíbrio ambiental começa a ser entendido e praticado trazendo como consequência à melhoria de vida da população. REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6502: Informação e documentação: citações em documentos: Apresentação. 1995. ALMEIDA, Adriano M., MACÊDO, Jorge Antônio Barros de. Parâmetros FísicoQuímicos de Caracterização da Contaminação do Lençol Freático por Necrochorume. 2005 12 f. Dissertação – Instituto Viana Júnior, Juiz de Fora, 2005. BRASIL. Constituição (1988) Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988 BERTOLUCCI, Liana M. Mayer. Planejamento Urbano do Século XXI: Cidade para o Homem ou para o Veículo?. [2006] 10 f. Dissertação (Graduação) – Faculdade Assis Gurgacz. Paraná, [2006]. BERTONI, José; LOMBARDI NETO, Francisco. Conservação do Solo. 5º ed. São Paulo: Ed. Icone. 355 p. CAPUCCI, Egmont. Poços Tubulares e Outras Captações de Águas Subterrâneas: Orientação aos Usuários. Rio de Janeiro: SEMADS, 2001. 70 p. CARVALHO, Daniel Fonseca de; SILVA, Leonardo Duarte Batista da. Hidrologia, 2006. Rio de Janeiro. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. 115 p.. COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE GOIÁS (CETESB). Índice de Qualidade do Ar. Disponível em http://www.cetesb.sp.gov.br/ar/ar_ indice_padroes.asp>. Acessado em 20 de nov.2010 CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (CONAMA). Resolução 01 de 23 de janeiro de 1986. Dispõe sobre os critérios básicos e diretrizes gerais para a avaliação de impacto ambiental. Seção 1, p. 2548-2549.1986 CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (CONAMA). Resolução 018 de 06 de maio de 1986. Dispõe sobre criação do programa de controle de poluição do ar por veículos automotores - PROCONVE. Seção 1, p. 8792-8795.1986 CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (CONAMA). Resolução 05 de 15 de junho de 1989. Instituir o Programa Nacional de Controle da Qualidade do Ar – PRONAR. Seção 1, p. 15048.1989 CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (CONAMA). Resolução 335 de 03 de abril de 2003. Dispõe sobre licenciamento ambiental de cemitérios. Seção 1, p. 9899. 2003 GUERRA, Antonio José Teixeira; SILVA, Antonio Soares; BOTELHO, Rosangela Garrido Machado. Erosão e Conservação dos Solos: Conceitos, Temas e Aplicações. Rio de Janeiro: Ed. Bertrand Brasil. 339 p. GUERRA, Antonio José Teixeira; CUNHA, Sandra Baptista da; Geomorfologia e Meio Ambiente. Rio de Janeiro: Ed. Bertrand Brasil. 1999. 372 p. 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Acessado em 18 nov. 2010 . APÊNDICE APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO VALE DO CERRADO 1. Qual a empresa proprietária do Complexo Vale do Cerrado? 2. Quantos sócios são donos da empresa? 3. Como surgiu a idéia de construir um cemitério? 4. Quantos funcionários compõem o Complexo? 5. Qual o total da área destinada para a construção? 6. Qual o total da área destinada à reserva legal? 7. Qual a meta a ser alcançada pelo Complexo Vale do Cerrado? 8. Porque foi utilizado o nome Complexo em vez de Cemitério? 9. Possui algum projeto de expansão? 10. Explique como é essa visão de mudar o conceito das pessoas sobre o cemitério. 11. Porque dessa estrutura tal inovadora para um cemitério? ANEXO