1 - Noção de comportamento aditivo

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1 - Noção de comportamento aditivo
Módulo Nº 4 – COMPORTAMENTOS ADITIVOS
1 - Noção de comportamento aditivo
Entende-se por comportamento aditivo ou dependência, qualquer atividade,
substância, objeto ou comportamento que se tornou o centro ou foco principal
da vida de alguém e afasta/exclui essa pessoa de outras atividades ou prejudicaa física, mental ou socialmente.
As dependências físicas de diversos produtos químicos como o álcool ou as
drogas e a dependência psicológica de atividades como o jogo compulsivo, o
sexo, o trabalho, o exercício físico, as compras, a comida, … são igualmente
patológicas e devastadoras para quem delas sofre.
O processo de dependência é uma síndrome de características psicológicas e
comportamentais que se expressa em cada indivíduo de forma particular mas
que exibe uma impressionante semelhança entre sujeitos dependentes,
independentemente das suas circunstâncias específicas e vícios particulares.
Características comuns nos sujeitos com comportamento aditivo:
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Baixa auto-estima e depressão;
Obsessão evidente: atribuição de uma importância excessiva a uma
determinada substância (ex: álcool) ou actividade/comportamento (ex:
jogar computador, fazer compras);
Pensamento direcionado apenas para aquele objecto, atividade ou
substância (não consegue pensar em mais nada);
Psicopatologia Geral – Módulo 4 – Comportamentos aditivos
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Imunes às consequências adversas do seu comportamento e resistência
à sua modificação;
Persistência, inflexibilidade e repetição de um determinado
comportamento;
Um conjunto de defesas psicológicas que não deixam o sujeito
reconhecer e admitir o problema (negação) e levam-no a ocultar a
continuação do processo de dependência;
Sintomas de abstinência: irritabilidade, ansiedade, agitação, perda de
controlo;
Dificuldades nas relações interpessoais: quebra no desempenho
profissional, problemas com amigos, familiares, colegas de trabalho;
Baixa auto-estima e depressão.
Tratamento:
Consoante o tipo e grau de dependência poderá ser necessária a intervenção de
uma equipa multidisciplinar ou apenas de um acompanhamento psicológico
(psicoterapia) individual.
Se tivermos conhecimento de familiares ou amigos viciados numa substância,
atividade, objecto ou comportamento anómalo, devemos aconselhá-los a
procurar ajuda.
Exemplos:
Vejamos alguns exemplos de comportamentos aditivos e compulsivos:
Transtornos alimentares
Os transtornos alimentares constituem uma
verdadeira "epidemia" que assola sociedades
industrializadas e desenvolvidas acometendo,
sobretudo, adolescentes e adultos jovens. Vivemos
em uma sociedade na qual existe o culto da magreza.
Assim, comer, um comportamento universalmente
tido como agradável, torna-se alvo de preocupação de
muitas pessoas. Como usufruir deste prazer sem
sentir-se fora dos padrões sociais de saúde e beleza?
Quais serão os sintomas dessa epidemia emocional?
De um modo geral, o pensamento doentio das
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pessoas portadoras dessas patologias caracteriza-se por uma obsessão pela
perfeição do corpo. Na realidade, trata-se de uma "epidemia de culto ao corpo".
Essa "epidemia" multiplica-se numa população patologicamente preocupada
com a perfeição do corpo e que está afetada por alterações psíquicas
caracterizadas por distúrbios da auto-imagem, ou seja, uma representação
pessoal incorreta do esquema corporal. A incidência dos transtornos
alimentares tem aumentado de forma preocupante e já começa a alarmar
especialistas médicos, sociólogos, autoridades sanitárias. Esta busca obsessiva
da perfeição do corpo tem várias formas de se manifestar. Existem os
transtornos alimentares mais tradicionais, que são a anorexia e bulimia nervosa,
mas existem outros relacionados com a denominada "cultura do esbelto" –
exercício físico em exagero, cirurgias plásticas, …
Todos estes transtornos alimentares compartilham alguns sintomas, tais como o
desejo de um corpo perfeito e a distorção da imagem corporal diante do
espelho. Isto ocorre porque nas últimas décadas, ser fisicamente perfeito temse convertido num dos objetivos principais (e estupidamente frívolos) das
sociedades desenvolvidas. É uma meta imposta por novos modelos de vida, nos
quais o aspeto físico parece ser o único sinónimo válido de êxito, felicidade e,
inclusive, saúde.
Compulsão patológica para o jogo
O jogo pode tornar-se uma grande fonte de prazer, podendo
vir a ser a única forma de prazer para algumas pessoas. O jogo
patológico é um comportamento recorrente e persistente,
que perturba os projetos pessoais, familiares e/ou
ocupacionais. A pessoa com esse transtorno mantém uma
preocupação constante com o jogo: planear a próxima jogada
ou pensar em modos de obter dinheiro para jogar tornam-se
o objectivo fulcral dos jogadores compulsivos. Estes afirmam
estar mais em busca de "ação" do que de dinheiro. Ora, devido a essa procura
de ação, apostas ou riscos cada vez maiores podem ser necessários para
continuar, produzindo o nível de excitação desejado.
Os indivíduos que sofrem deste tipo de dependência, continuam a jogar apesar
de repetidos esforços no sentido de controlar, reduzir ou cessar o
comportamento.
Estão sempre na expectativa de ganhar, como foi conseguido anteriormente.
Existe ainda uma sensação especial no comportamento de risco, o que ocupa a
mente do jogador, fazendo com que passe a repetir o comportamento
(dependência). O jogador compulsivo costuma tornar-se inconsequente,
gastando aquilo que não tem, perdendo a noção de realidade. A síndrome de
abstinência pode estar presente.
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O comprador compulsivo
Assim como os demais comportamentos compulsivos ou
aditivos, o comprador compulsivo é, praticamente, um
dependente do comportamento de comprar, precisando
fazê-lo sem limites para se sentir bem, pelo menos bem
naquele momento (para depois arrepender-se).
O comprador compulsivo acaba por consumir coisas pelo
fato de consumir e não pela necessidade do objeto que é
consumido. Ir ao shopping sem realizar algumas compras
parece tornar-se quase impossível. Muitas vezes sente-se culpado, porém, como
em qualquer comportamento aditivo, o mais comum é perder o controlo da
situação. Entretanto, é fundamental diferenciar o simples hábito de comprar do
comportamento compulsivo para as compras. Comprar por impulso, mas não
por compulsão, é adquirir um bem por sentir uma atração instantânea pelo
produto, seja por causa da embalagem, do preço ou do apelo publicitário.
Essas pessoas impulsivas pelas compras cometem ‘pequenas loucuras’ ao passar
pelos corredores dos supermercados. Leva-se um iogurte ou um pacote de
bolachas a mais. Já o compulsivo vai às compras como um viciado que sai de
casa para jogar ou à procura de drogas, e a compulsão acaba por ser uma
atitude que exclui logo o prazer pela aquisição do novo produto.
Trabalhar compulsivamente
Com o objetivo de vencer profissionalmente, ganhar dinheiro,
sobressair socialmente, tem sido glorificado pelo sistema
cultural que a pessoa procure dar o melhor de si
trabalhando. O trabalho pode ser utilizado como uma
ocupação mental capaz de tomar o espaço de outros
sentimentos ou pensamentos mais difíceis de serem vivenciados. Quando
a atividade funciona como uma forma de esconder-se, fugir ou não ter que
sentir ou pensar noutros problemas, a atividade de trabalhar pode tornar-se
compulsiva, aditiva.
Neste caso, o trabalho perde sua função natural, passando a ser prejudicial ao
bem estar físico, familiar, psicológico e social do indivíduo. Na compulsão pelo
trabalho a pessoa vai de casa para o trabalho, do trabalho para a casa, excluindo
da sua vida as opções do lazer, as pausas nos fins-de-semana, o convívio
descontraído com a família, etc. A pessoa com uma compulsão pelo trabalho
frequentemente exige dos outros o mesmo ritmo que tem para si, costuma
criticar demasiado esses outros, exige perfeição, dedicação e devoção ao
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trabalho, tal como elas próprias se comportam. E o próprio compulsivo para o
trabalho sofre com sua situação.
Normalmente são pessoas severas, isoladas, inflexíveis, perfecionistas, amargas
e exageradamente “realistas”. Por causa destas características, os workaholics
racionalizam tudo na vida, ocultam os seus próprios sentimentos, têm um
contato mínimo com eles próprios e mantêm abafados seus conflitos íntimos.
Para essas pessoas o trabalho é o seu escudo protetor e, melhor que isso, tratase de uma atitude fortemente enaltecida pelos valores sociais.
Mas, na realidade, o workaholic também sofre, normalmente é um insatisfeito
consigo mesmo, alimenta a fantasia de ser poderoso e reconhecido pelos seus
‘méritos’. Na verdade, toda essa voracidade para o trabalho pode estar a
colmatar sentimentos de angústia por se considerar um pai omisso ou uma mãe
ausente, um companheiro fugidio, etc.
Atividade Física Compulsiva
A escravidão a que as pessoas das sociedades civilizadas
se submetem quanto aos padrões de beleza tem sido um
dos fatores socioculturais associados ao incremento da
incidência do comportamento compulsivo para a prática
de exercícios. É hábito que o ser humano moderno esteja
moderadamente preocupado com seu corpo, sem que essa
preocupação se converta numa obsessão. Mas, alguns
complexos por se estar em desacordo com os padrões
desejáveis, podem levar à obsessão pela beleza física e
perfeição.
Inicialmente a atividade física pode proporcionar prazer, relaxar, fazer com que
a pessoa se sinta mais saudável e bonita. Este comportamento liberta
substâncias no nosso cérebro, as endorfinas, responsáveis pelo prazer e bemestar. Mas quando isso se transforma num comportamento compulsivo,
exercitar-se em excesso pode dar origem a problemas de saúde, atingindo as
articulações, o aparelho respiratório e o coração.
A atividade física compulsiva deve ser considerada um transtorno obsessivocompulsivo, tanto pela obsessão pela musculatura, como pela compulsão pelos
exercícios e ingestão de substâncias que aumentam a massa muscular. Existe,
também, uma fragrante distorção da imagem corporal, por parte das pessoas
‘viciadas no ginásio’.
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Didaticamente podemos dizer que existe uma grande semelhança entre
comportamentos compulsivos e dependência química: a angústia
provocada pela ausência, os sintomas emocionais da abstinência, tais
como tremores, sudorese, taquicardia, etc., o caráter compulsivo e
repetitivo, a importância que essa atitude ocupa na vida da pessoa, o
comprometimento na qualidade da vida familiar, profissional, afetiva e
social. É assim que, por exemplo, o ato de jogar tem praticamente o
mesmo papel que a droga, ou álcool, a cocaína e outras substâncias
psicoativas.
O sistema emocional pode ficar comprometido quando se apresenta um
comportamento compulsivo constante, comprometendo a realização
satisfatória de outras atividades da vida da pessoa e proporcionando
sofrimento significativo em outros aspectos.
Questões:
1 – Quando uma substância, como o tabaco, uma actividade, como as compras,
um objecto, como o computador, ou um comportamento, como comer
desenfreadamente, se tornou o centro principal da vida de alguém e afasta essa
pessoa de outras atividades ou prejudica-a física, mental ou socialmente,
dizemos que essa pessoa tem um comportamento _____________________ .
2 – Leia os tópicos relativos às características do comportamento aditivo.
Conhece alguém cujo comportamento se enquadre nesta tipologia?
Em caso afirmativo, descreva o comportamento dessa pessoa. Em caso
negativo, ficcione uma qualquer adição e elenque alguns comportamentos
inerentes à mesma.
3 – “Nas últimas décadas, ser fisicamente perfeito tem- se convertido num dos
objetivos principais (e estupidamente frívolos) das sociedades desenvolvidas. É
uma meta imposta por novos modelos de vida, nos quais o aspeto físico parece
ser o único sinónimo válido de êxito, felicidade e, inclusive, saúde.”
- Concorda com a afirmação? Na sua experiência quotidiana, e no contato que
estabelece com outros jovens, constata os fatos descritos acima? Justifique.
4 – “(…) apostas ou riscos cada vez maiores podem ser necessários para
continuar, produzindo o nível de excitação desejado.”
- Tente encontrar uma explicação para o comportamento acima referido.
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5 – Que conflitos interiores podem tentar ser ocultados através do trabalho ou
do estudo compulsivo? Recorra a exemplos para ilustrar a sua resposta.
6 – Inicie o seu portefólio na disciplina de Psicopatologia Geral.
Poderá:
 elaborar uma reflexão pessoal sobre os comportamentos aditivos
estudados;
 fazer uma pesquisa na internet de textos sobre a temática e incluir no
seu dossiê (com testemunhos/relatos na 1ª pessoa);
 fazer uma simples recolha de imagens e comentar as mesmas;
 recolher o testemunho de um amigo, conhecido, familiar, que sofra
deste tipo de transtorno psicológico;
 Outro(s).
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