ANÁLISE DO CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA EM UM

Transcrição

ANÁLISE DO CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA EM UM
ANÁLISE DO CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA EM UM PROCESSO DE
BENEFICIAMENTO TÊXTIL
Stephanie Sousa Lodron, SENAI/CETIQT, [email protected]
Daniel Quaresma, SENAI/CETIQT, [email protected]
Resumo
O setor de beneficiamento têxtil possui um custo de energia elétrica que geralmente é rateado do
custo total, por isso não se consegue ter a precisão do custo de energia elétrica relativo ao processo.
Dentro deste contexto, o objetivo deste trabalho é analisar o consumo de energia elétrica, quantificar
este custo em um processo de beneficiamento têxtil e verificar em qual temperatura um corante
reativo, numa determinada tonalidade, apresenta maior força colorística (rendimento do corante). Os
processos de beneficiamento - cozinhamento e alvejamento simultâneo e tingimento foram realizados
em escala piloto para medição dos parâmetros elétricos. Para medição de parâmetros colorimétricos,
foram feitos tingimentos em escala laboratorial para verificar a força colorística. Ao final destes foi
possível concluir que o rendimento do corante influenciava mais no custo de produção que o próprio
consumo de energia elétrica.
Palavras-chave
Parâmetros elétricos; Beneficiamento têxtil; Força colorística.
1. Introdução
Segundo Gabrielli (2008), se considerarmos que hoje no mundo 86% da energia
consumida tem origem fóssil e não renovável, melhorar a eficiência energética
significa poupar recursos para as próximas gerações.
Atualmente, os maiores
consumidores de energia elétrica no país são os setores industriais, residenciais e
comerciais. No caso da indústria têxtil, seus maiores custos, além do consumo
energético, são com as matérias primas e a mão de obra, sendo que dentro do
contexto de energia os maiores consumidores são a infraestrutura da fiação e as
operações no acabamento (EPE, 2011; RECET et al., 2007).
Dentro deste contexto, este trabalho tem como objetivo analisar o consumo
energético (o comportamento ao longo do processo) e quantificar o custo de energia
1
elétrica em um processo de beneficiamento têxtil primário (cozinhamento e
alvejamento simultâneo), além do processo de tingimento.
2. Materiais e Métodos
Este trabalho foi desenvolvido no SENAI/CETIQT e foi necessário utilizar
aproximadamente 20 kg de malha de algodão 100% com estrutura meia-malha.
Sendo este tecido separado em 4 amostras de aproximadamente 5 kg para ser
utilizado no processo de beneficiamento primário e assim verificar a reprodutibilidade
do processo.
Todo o beneficiamento do tecido foi realizado no equipamento Jet IMATEC
(overflow), com uma relação de banho (RB) de 1:20. Sendo desumidificado numa
centrífuga industrial SUZUKI e seco numa secadora industrial SUZUKI. Para a
medição dos parâmetros elétricos foi utilizado um medidor específico modelo CW240
da Yokogowa, equipamento do projeto SIMORAMACO. Após realizar os ensaios de
tingimentos no laboratório e as medições colorimétricas no espectrofotômetro, foram
realizados os tingimentos no equipamento piloto (overflow). Para os tingimentos
foram utilizados aproximadamente 2 kg de malha para cada processo repetidos por
3 vezes em cada temperatura diferente. Posteriormente, para remover o excesso de
água do tecido e o residual de umidade utilizou-se a centrífuga e a secadora.
3. Resultados
Através da análise gráfica, foi possível verificar a reprodutibilidade dos processos de
tingimento (a 40°C, 60°C e 80°C), que foram realizados 3 vezes cada, em dias
distintos. O desvio apresentado pode ser justificado pela variação da potência da
rede elétrica e pela aproximação do peso do material, que gera uma diferença no
volume do banho (variação na RB), além de alterar as quantidades dos produtos
utilizados no processo.
Com relação a centrífuga o tempo de processo do tecido foi muito pequeno, de
aproximadamente de 5 minutos, e devido a problemas na medição não foi possível
utilizar os dados destas medições. Assim, optamos por utilizar a potência nominal da
máquina que é de 2,2 kW.
2
Através da secadora foi possível verificar que a energia reativa permaneceu próxima
de zero ao longo do tempo, isto porque o aquecimento é realizado através de
resistência elétrica e esta máquina tem uma capacidade maior de carga de produto.
O tempo de processo do cozinhamento e alvejamento simultâneo, e as lavagens
necessárias para a remoção dos produtos utilizados foi de 185 minutos. Já com
relação ao tempo do tingimento a 40°C foi de 207 minutos, enquanto que o de 60°C
e 80°C 177 minutos. Ao analisarmos o processo a 60°C podemos verificar que a
diferença de temperatura entre o processo a 40°C e 60°C, provocaram uma redução
de cerca de 30 minutos no tempo total do processo. Com relação ao processo de
80°C podemos verificar que só há alteração da temperatura em relação ao de 60°C,
o que eleva o consumo de vapor utilizado no processo.
A tarifa utilizada para calcular o custo do processo, foi verificada na conta de energia
elétrica do SENAI/CETIQT. Como os processos foram feitos entre os meses de
agosto a novembro, selecionou-se a conta do mês de outubro de 2011 para
observar a tarifa paga. A instituição de ensino faz parte da classe comercial do
subgrupo A4 do tipo de fornecimento A4-verde. Nesta classe a conta de luz é
separada pelo consumo no horário de ponta entre 17:30 e 20:30 e no horário fora de
ponta.
A tabela 3 apresenta o consumo em kWh por máquina e a tabela 4 encontra-se a
tabela com os valores das tarifas (horário de ponta e fora de ponta), bem como o
custo de energia elétrica de cada processo por kg (R$/kg) tanto no horário de ponta
como no horário fora de ponta. Isto nos permite verificar que no horário de ponta a
energia elétrica custa quase oito vezes mais do que no horário fora de ponta.
Tabela 1 – o consumo em kWh por máquina
kWh por máquina
Processo
Cozinhamento Alvejamento (C/A)
Tingimento 40°C (T)
Tingimento a 60°C e 80°C(T)
Centrífuga (C
Secadora (S
Overflow
C/A
4,02
T
C
S
4,97
4,03
0,18
11,25
3
Tabela 2 - custo de cada processo em R$/kg no horário de ponta e fora de ponta
Composição
Consumo ponta (R$ 1,86)
Consumo ponta (R$ 1,86)
Fora de ponta (R$ 0,24)
Fora de ponta (R$ 0,24)
C/A
R$/kg
1,50
1,50
0,19
0,19
T(40°C)
R$/kg
4,62
0,60
-
T(60°C e
80°C) R$/ kg
3,75
0,48
Centrífuga
R$/kg
0,17
0,17
0,02
0,02
Secadora
R$/kg
4,18
4,18
0,54
0,54
Total
Parcial R$/kg
10,47
9,60
1,35
1,23
Com relação a força colorística (% App. Str.), a média das amostra a 60°C foi de
44,18% e com relação a 80°C foi de 18,89%. Assim, conclui-se que o redimento a
60°C foi menor cerca de 56% em relação ao processo de 40°C e que o de 80°C foi
81% menor. Para chegar à conclusão de qual é o melhor processo em relação ao
custo do corante e de energia elétrica, contactou-se com um representante de venda
de corantes similares ao empregado no estudo, cujo valor verificado foi de R$
25,00/kg.
4. Considerações finais
Através dos resultados obtidos e das análises de dados foi possível observar que o
consumo de energia elétrica, nos processos de 60ºC/80ºC tiveram um custo menor
que o processo de 40°C. Considerando que o quilo do corante reativo é de R$
25,00, em relação ao corante o processo de 40°C obteve resultados melhores que
os processos de 60°C/80°C, e para fazer os processos a 60°C e a 80°C seria
consumido mais corante por causa do baixo rendimento colorístico na temperatura
de tingimento mais elevada. O vapor não foi analisado neste trabalho, mas a
necessidade de vapor para elevar a temperatura à 40°C é menor em relação aos
processos de 60°C/80°C. Dessa forma, há um indicativo em apontar o processo à
temperatura de 40°C, como sendo melhor entre os três processos analisados.
Para trabalhos futuros fica como recomendação um estudo que além de quantificar o
custo elétrico e do corante, quantifique também o consumo e o custo do vapor
utilizado no processo, para chegar a um custo total do processo.
4
Agradecimentos
Agradeço a instituição SENAI/CETIQT, pelo apoio financeiro e aos professores e
funcionários Gil Lucido, Alexandre Azevedo, Marcos Lima, Ronaldo Souza, Rogério
e aos ex-alunos Henrique Emrich, Eduardo Habitzreuter, Renato Medeiros e Fagner
Rodrigues.
Referências
GABRIELLI, José Sérgio. Petrobras: Eficiência Energética. Disponível em:
<http://www.hotsitespetrobras.com.br/petrobrasmagazine/Edicoes/Edicao55/pt/Eficie
nciaEnergetica/EficienciaEnergetica.html#ConteinerGeral>. Acesso em: 14 maio
2011.
RECET (Ed.). Renovare: Guia de boas práticas de medidas de utilização racional de
energia e energia renováveis. Portugal: RECET, 2007. 100 p.
RESENDE, Ignacio. Dieta para reduzir custos com energia elétrica: conceitos
gerais. Rio de Janeiro: Studio Digital, 2004.
5