ANDRADE, Camila A. de S.

Transcrição

ANDRADE, Camila A. de S.
Universidade Federal do
d Vale do São Francisco
Campus Serra da Capivara
Colegiado de Arqueologia e Preservação Patrimonial
CAMILA AMORIM DE SÁ ANDRADE
ESTRUTURAS DE FOGUEIRA DOS
S SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS DO PARQUE
NACIONAL SERRA
SE
DA CAPIVARA E ENTORNO.
São Raimundo Nonato – PI.
2010
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Universidade Federal do Vale do São Francisco
Curso de Graduação em Arqueologia e Preservação Patrimonial
CAMILA AMORIM DE SÁ ANDRADE
ESTRUTURAS DE FOGUEIRA DOS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS DO PARQUE NACIONAL DA
SERRA DA CAPIVARA E ENTORNO.
Monografia apresentada à Universidade Federal do Vale
do São Francisco como requisito para obtenção do título
de bacharel em Arqueologia e Preservação Patrimonial.
Orientador: Prof. MSc. Mauro Alexandre Farias Fontes.
São Raimundo Nonato – PI,
2010
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AGRADECIMENTOS
Ao Professor Mauro Alexandre Farias Fontes pela orientação e apoio neste trabalho.
Ao Dr. Fabio Parenti pelas críticas e sugestões a este trabalho e pelo exemplo de
conduta na pesquisa arqueológica.
A Msc. Giulia Aimola por compartilhar seus conhecimentos sobre o Sítio do Meio.
À Dr. Gisele Daltrine Felice pelas observações e incentivo.
À banca examinadora: Dr. Janaína Santos e Msc. Waldimir Maia Neto, pelas argüições
conferidas durante o exame de qualificação.
À Professora Msc. Fátima Barbosa pelo estímulo nas primeiras leituras sobre os restos
de combustão. Obrigada também pelo apoio, ao proporcionar minhas “idas” ao campo, durante a
graduação.
À Drª. Niéde Guidon por autorizar o acesso ao material de pesquisa.
À todos que formam a equipe Fumdham de pesquisas arqueológicas e ao pessoal da
equipe de escavação do PARNA Serra da Capivara. Agradeço também a: Bete Buco, Iranilde
Rodrigues, Evandro, Vanessa, Roxele, Eliene, Sirleide, Iva, Iderlan, Leandro e a todos do
laboratório de Geoprocessamento de Dados pela concessão do material utilizado neste trabalho.
Às Professoras Drª Gabriela Martín, Msc. Fátima Barbosa e Drª Daniela Cisneiros pela
orientação na Iniciação Científica. Aos professores: Msc. Arnaldo Magalhães, Drª Selma Passos,
Dr. José Bismark, Dr. Pedro Sanches, Msc. Guilherme Medeiros, Dr. Max Furrier pelo incentivo
ou colaboração em outras ocasiões.
Aos colegas da turma A2 de Arqueologia e Preservação Patrimonial da Univasf, pela
jornada de 4 anos ou mais.
À Leidiana e Giulia pela amizade e as caipirinhas. À Amanda, Fátima, Nayana, Joanny,
Michelle, de velhos e bons tempos.
Sâmara, Shirlene, Nívia e a tia Joana do beiju com carne e carinho.
Gênesis Naum, Poeta Maldito, Bruxulesco e inconformado com a pós-modernidade.
Antonio Carlos, “Pai” Orestes, Claudinho, Dirceu, Jaio”mala”, Lião, Bião, Ledja, Joyce,
Melk, Jonas, Itelmar (amore), Ellen, Caroline, Drica, Jarrier, Lucas, Thalison, Vinicius, Lívia,
Lucão e todos da Zabelê, Sol, Davi, Juninho, Marcelo, Netinho, Lorens, Tiala, Obidália,
Anelise,.......
À toda a galera sarada (bíceps, tríceps) das mudanças: Jack, Clebinho, Roberto
Bernardo, Leandro, Reuber, Pajé, entre outros. À Flávio André, Gabriel e Alexandre da repúbica
Barlavento e Isadora “desajuizada” querida e divertida, à família Almeida.
E finalmente, aos meus pais Francisco e Hilda. Ao querido Chao. A vovô José Victor de
Sá, (in memoriam) e Francelina. A todos da família Camará, obrigada pelo carinho!
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Para expressar o valor humano do fogo é preciso, parece, falar outra
linguagem que não a da utilidade. É preciso sentir que o fogo é um
bem guardado sob as cinzas.
Gaston Bachelard
Fragmentos de uma Poética do Fogo
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RESUMO
Este trabalho apresenta a classificação tipológica das estruturas de fogueira dos seguintes sítios
do Parque Nacional da Serra da Capivara e entorno: Toca do Sítio do Meio, Toca do Serrote do
Tenente Luís, Toca dos Coqueiros, Toca da Ema do Sítio do Braz I, Toca Nova do Inharé e Toca
do Deitado. A análise foi realizada em 57 estruturas de fogueira mediante a comparação da
morfologia no plano horizontal. Os registros de campo utilizados foram os desenhos
planimétricos de relevo de detalhe. O estudo baseou-se na classificação tipológica das
estruturas de fogueira da Toca do Boqueirão do Sítio da Pedra Furada. A análise resultou na
identificação de 5 tipos. A maior parte das fogueiras analisadas é do tipo 1 e à maioria das
estruturas datadas pertence à Fase cultural Serra Talhada 1 datada entre 10.500 - 8.000 anos
BP. Não foi possível associar todas as fogueiras as fases culturais estabelecidas para a Serra da
Capivara porque uma boa parte delas não é datada. Observamos que é necessária uma
sistematização e padronização da documentação sobre as fogueiras dos sítios arqueológicos do
Parque Nacional Serra da Capivara, e assim, o presente trabalho propõe a adoção de protocolos
de registro de campo e um modelo para base de dados das estruturas de fogueira.
Palavras-chave: Fogueira, Tipologia, Holoceno, Serra da Capivara.
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RÉSUMÉ
Ce travail présente la classification typologique des structures de foyers des suivants sites du
Parc National Serra da Capivara et alentours: Toca do Sitio do Meio, Toca do Serrote do Tenente
Luís, Toca dos Coqueiros, Toca da Ema do Sítio do Braz I, Toca Nova do Inharé e Toca do
Deitado. L'analyse de la morphologie, dans le plan horizontal, de 57 structures de foyers a été
réalisée. Les registres de terrain utilisés ont été les dessins planimétriques de détail. L'étude a
été basée sur la classification typologique des structures de foyers de la Toca Boqueirão do Sítio
da Pedra Furada. L'analyse a débouché sur l'identification de 5 types. La plupart des foyers
analysés sont de type 1 et la majorité des structures datéés appartient à la phase culturelle Serra
Talhada 1 comprise entre 10.500-8000 ans BP. Il a été impossible d'associer tous les foyers aux
phases culturelles définies pour la Serra da Capivara parce qu'une bonne partie d'entre eux ne
sont pas datés. Nous observons qu'il faut aboutir à une systématisation de la documentation sur
les foyers des sites archéologiques du Parc National Serra da Capivara, ce que le présent
document propose : l'adoption de protocoles de registres de terrain et un modèle de base de
données pour les structures de foyer.
MOTS CLÉ : Foyers, Typologie, Holocène, Serra da Capivara.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...............................................................................................................................10
1. O ESTUDO DAS ESTRUTURAS DE FOGUEIRA NA ARQUEOLOGIA.................................14
1.1 Breve histórico............................................................................................................14
1.2 Restos de combustão do pleistoceno inicial...............................................................14
1.3 O conceito arqueológico de fogueira..........................................................................15
1.4 O estudo das fogueiras pelas ciências auxiliares da arqueologia..............................17
1.5 Tipologia dos testemunhos de combustão.................................................................21
2. O PARQUE NACIONAL DA SERRA DA CAPIVARA..............................................................23
2.1 A Toca do Boqueirão do Sítio da Pedra Furada.........................................................25
2.1.1 Os restos de combustão.............................................................................25
2.1.2 A classificação tipológica das estruturas....................................................27
2.2 Toca do Sítio do Meio.................................................................................................34
2.3 Toca do Serrote do Tenente Luis...............................................................................37
2.4 Toca Nova do Inharé..................................................................................................39
2.5 Toca do Deitado..........................................................................................................40
2.6 Toca dos Coqueiros....................................................................................................41
2.7 Toca da Ema do Sítio do Brás I..................................................................................42
3. METODOLOGIA.......................................................................................................................44
3.1 Materiais e métodos...................................................................................................44
3.2 Critérios de classificação adotados............................................................................46
4. CLASSIFICAÇÃO TIPOLÓGICA DAS FOGUEIRAS..............................................................48
4.1 Dimensões da superfície das fogueiras.....................................................................52
4.2 Matéria-prima.............................................................................................................56
4.3 Datação......................................................................................................................62
CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................................................64
REFERÊNCIAS.............................................................................................................................68
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INTRODUÇÃO
No nordeste do Brasil, escavações arqueológicas desenvolvidas ao longo de quase
quarenta anos no Parque Nacional Serra da Capivara1 visaram num primeiro momento,
estabelecer o contexto crono-cultural da arte parietal. As pesquisas foram direcionadas
regularmente para o estudo dos instrumentos líticos, fósseis da fauna, cerâmica, grafismos
rupestres e da conservação das pinturas.
Figura 1: Localização do Parque Nacional Serra da Capivara. Fonte: Fumdham (2005).
Outros vestígios encontrados nesta região (como as fogueiras e boa parte dos restos
vegetais) carecem de mais pesquisas. Segundo Chaves (2002), por exemplo, o estudo do pólen
e dos esporos fornece importantes informações sobre os ambientes passados de um ponto de
vista dos paleoclimas e das paleovegetações.
As pesquisas sobre restos de combustão em sítios arqueológicos de outras regiões têm
proporcionado novas informações paleoecológicas e sobre a distribuição e a disponibilidade de
recursos vegetais nos diversos ambientes. Também têm fornecido dados a respeito das relações
de impacto das sociedades pré-históricas sobre o meio em que viveram, a flora manejada e as
plantas de que dispunham. “Os estudos antracológicos permitem uma avaliação, geralmente
bastante precisa, tanto da paleovegetação e das relações entre o homem e seu meio ambiente
como do impacto antrópico exercido” (SCHEEL-YBERT, 2004a, p. 4).
Localizado no sudeste do Piauí (Fig. 1) nos municípios de São Raimundo Nonato, Canto do Buriti, Coronel José
Dias e João Costa; entre as coordenadas 08º 26' 50'' e 08º 54' 23'' de latitude sul e 42º 19' 47'' e 42º 51'' de
longitude oeste; com 129.140 ha. In: Plano de Manejo do Parque Nacional Serra da Capivara, 1991.
1
10
Os restos de combustão além de permitirem inferências sobre dados ambientais são
úteis, sobretudo, quando se trata de auxiliar no esclarecimento de aspectos da vida cotidiana ou
cerimonial na pré-história, a dieta alimentar e a utilização do fogo relacionado aos aspectos
econômicos, tecnológicos ou ritualísticos.
No Parque Nacional Serra da Capivara tais pesquisas ainda são pouco realizadas.
Entretanto, toda a problemática sobre a Toca do Boqueirão do Sítio da Pedra Furada (sítio
referência para as pesquisas em pré-história realizadas na região) deu-se principalmente em
torno das estruturas de fogueira.
Tais estruturas junto com a indústria lítica tornaram-se motivo de crítica no meio
científico. Arqueólogos (MELTZER, et al 1996, p.353) partidários do paradigma do povoamento
recente das Américas alegaram que as fogueiras do pleistoceno não eram de origem antrópica e
que os artefatos líticos associados a tais estruturas seriam oriundos de lascamento natural;
proveniente de seixos do suporte sedimentar do estrato de conglomerado que compõe o abrigo.
Realizaram-se estudos com o objetivo de descartar a hipótese de que estas estruturas
fossem decorrentes de incêndios naturais (FELICE, 2002). Contudo, são necessárias mais
pesquisas para esclarecer a questão da origem desses fogos na pré-história.
Considerando as dificuldades relativas à conservação dos vestígios da presença
humana2 nas camadas do pleistoceno, não há o aproveitamento adequado das fogueiras na
pesquisa arqueológica regional, pois apesar das fogueiras constituírem um dos poucos artefatos
evidenciados em tais camadas é usado na maioria das vezes apenas como instrumento
cronológico, quando poderiam, além disso; serem utilizadas nas análises antracológicas3.
Apesar disso, realizou-se um estudo sobre tipologia com as estruturas da Toca do
Boqueirão do Sítio da Pedra Furada que constitui o modelo de classificação para as fogueiras do
Parque Nacional Serra da Capivara. A pesquisa demonstrou que a fogueira mais freqüente tem
base plana e apresenta seus elementos de composição espalhados pelo solo e/ou apoiados
entre si. Essa fogueira é a única que permanece ao longo de todas as fases culturais do sítio.
Também foram identificadas, apenas nas camadas do Holoceno, fogueiras com base escavada
em forma de bacia.
2
Um dos principais problemas que afetam a conservação de vestígios nos sítios da Serra da Capivara é a forte
acidez do solo, que não permite a conservação de restos orgânicos. Parenti (1996). Contudo, outros fatores como
erosão, problemas pós-deposicionais ou intemperismos químicos e biológicos, além da ação antrópica, interferem
nesse processo.
3 O problema do conhecimento da cobertura vegetal no Pleistoceno superior permanece aberto. Na Toca do
Boqueirão do Sítio da Pedra Furada foram coletadas amostras de carvão que possibilitaram as primeiras
observações antracológicas indicando que a flora dessa época era completamente diferente (Iannone, Com.
pessoal) apud Parenti (1996). Algumas amostras (como na Toca do Sítio do Meio) também foram coletadas. Veja:
La Salvia (2006, p. 125) e Pinheiro de Melo (2004, p. 51).
11
Na Toca do Sítio do Meio e na Toca do Perna I iniciaram-se estudos de identificação dos
tipos (PINHEIRO de MELO, 2004). Todavia, a classificação tipológica das fogueiras do Parque
Nacional Serra Capivara permaneceu restrita a estes sítios e a ampliação desta classificação
faz-se necessária, pois ainda desconhece-se a distribuição dos tipos encontrados em Pedra
Furada, nos outros sítios na região do Parque.
Esse trabalho, cujo objetivo é a classificação tipológica para outras fogueiras de sítios do
Parque Nacional Serra da Capivara e entorno irá investigar se os tipos mais freqüentes de
fogueiras encontrados na Toca do Boqueirão do Sítio da Pedra Furada são também os tipos
mais recorrentes em outros sítios arqueológicos, tais como: Toca do Sítio do Meio, Toca do
Serrote do Tenente Luís, Toca Nova do Inharé, Toca do Mulundu ou do Deitado, Toca dos
Coqueiros e a Toca da Ema do Sítio do Bráz I (Fig. 2).
A escolha de tais sítios decorreu do próprio fato destes terem apresentado estruturas de
fogueira com seus respectivos registros de campo e pelo fato de alguns sítios localizarem-se em
ambientes diferentes como, por exemplo, sítios da área cárstica, abrigos areníticos e ainda,
sítios onde foram encontrados enterramentos.
Utilizou-se como metodologia a comparação dos aspectos morfológicos e litológicos das
fogueiras dos sítios acima mencionados com as fogueiras da Toca do Boqueirão do Sítio da
Pedra Furada através dos desenhos de relevo4 de detalhe.
O trabalho estrutura-se da seguinte forma:
No primeiro capítulo há uma breve apresentação das pesquisas sobre fogueira no
âmbito da arqueologia. No segundo capítulo a caracterização arqueológica e contextualização
das pesquisas com estrutura de fogueira no Parque Nacional Serra da Capivara, além da
apresentação dos sítios estudados. O capítulo 3 trata da metodologia de análise utilizada. No
quarto capítulo é apresentada a classificação tipológica das fogueiras.
4
“A diferença de elevação máxima em uma área determinada” (BUTZER, 1989, p.53).
12
Figura 2: Localização dos sítios estudados no Parque Nacional Serra da Capivara. Fonte: Fumdham (2009).
13
1. O ESTUDO DAS ESTRUTURAS DE FOGUEIRA NA ARQUEOLOGIA.
1.1 Breve histórico.
De acordo com Perlès (1977) a pesquisa sobre restos de combustão na ciência
arqueológica é inicialmente marcada por três fases: a primeira pelo desenvolvimento do estudo
das fogueiras a partir do final do século XIX e meados do século XX na França: “Neste período,
um profundo interesse dos pré-historiadores pela etnografia, conduziu-os à busca nas
escavações, por provas de um modo de vida semelhante ao das populações não industrializadas
estudadas” (PERLÈS, 1977, p. 6).
A segunda fase é marcada pelo o abandono do enfoque “paleoetnológico” e os trabalhos
com fogueira passam a ser realizados sob a perspectiva arqueológica (PERLÈS, 1977).
A terceira fase acontece por volta da década de 1960, quando um maior interesse nos
problemas metodológicos surge com a New Archaeology. De acordo com Perlès (1977, p. 6) “a
generalização dos métodos estratigráficos propicia um melhoramento no estudo das estruturas
de habitação e dos testemunhos de combustão”. A análise das fogueiras ganha maior
importância e passa a ser realizada de forma mais cuidadosa.
1.2 Restos de combustão em jazidas do pleistoceno inicial.
Restos de materiais carbonizados também estão presentes em antigos testemunhos da
presença humana e; de fato, alguns pesquisadores relatam que vestígios de combustão5 foram
registrados em sítios pré-históricos com o Homo erectus, a cerca de um milhão e meio de anos
na África – (Nariokotome) e em (Zoukoudian6) na Ásia, há meio milhão de anos atrás (LEWIN,
1999; EIROA et al; 1999).
Apesar disso, tal presença não significa que estruturas de fogueira tenham sido
elaboradas sistematicamente, pois o debate em torno do domínio do fogo prossegue sem
Como por exemplo, pedras, carvões, cinzas, restos de alimentação carbonizados (FELICE, 2000).
Neste sítio foram encontrados no nível 10, nas escavações; ossos queimados, cinzas e outras evidências de fogo
tradicionalmente interpretadas como prova de que o Homo erectus fazia uso do fogo, porém, análises recentes
lançaram dúvidas sobre a intencionalidade desses fogos (ARSUAGA, 2005).
5
6
14
alcançar consenso. O importante aqui é ressaltar a durabilidade ou conservação dos restos de
combustão no registro arqueológico.
Em sítios onde foi encontrado o Homo Neanderthalensis, que apresenta datações que
vão desde 150.000 até 30.000 mil anos atrás, também foram registrados testemunhos de
combustão. Dois exemplos são: Kebara7, em Israel e Abric Romaní8, na Espanha. A presença de
tais vestígios nestes sítios é um dos motivos que tem implicado no discurso acerca das
“inovações evolutivas” da espécie, em direção a um status cada vez maior de humanidade.
O fato é que os sítios acima citados possuem datações bastante recuadas para restos
carbonizados, cujas características poderiam ser interpretadas como fogueiras, pressupondo
neste caso, o domínio do fogo ou pelo menos a tentativa.
Perlès (1977) em Préhistoire du feu [Pré-história do fogo] também aponta os principais
dados sobre testemunhos de combustão encontrados em jazidas arqueológicas do Paleolítico.
São mencionados alguns registros de estruturas de fogueira em sítios da Ásia, África e
principalmente da Europa datados desde o período glacial Mindel9, o que assegura a presença
das fogueiras e outros restos de combustão em sítios arqueológicos muito antigos e fortalece a
função crucial das fogueiras na pré-história.
1.3 O conceito arqueológico de fogueira.
Um dos principais problemas relativos ao estudo dos restos de combustão na
arqueologia são os conceitos utilizados. A fogueira enquanto artefato arqueológico classifica-se
também como estrutura. No entanto, a própria definição de estrutura arqueológica varia
demasiadamente.
Leroi-Gourhan dirigiu em 1972 o primeiro seminário realizado no Collège de France
dedicado à discussão a respeito das estruturas. Este arqueólogo reúne os principais
pesquisadores no assunto para discutirem diversas propostas de vocabulário organizadas
posteriormente em um tratado, onde um “vocabulário de espera” foi proposto.
7 “Neste sítio foram estudados restos de fogo formando conjuntos isolados, indicativos de verdadeiras fogueiras
produzidas pelos humanos” Arsuaga (2005, p. 293).
8 Segundo Arsuaga (2005, p. 293) “[...] muitas fogueiras foram escavadas pelo arqueólogo Eudald Carbonell neste
sítio, que teria sido ocupado pelo Homo Neanderthalensis.”
9 “Avanço glacial acompanhado pela formação da morena terminal, seguida pela formação da planície de lavagem
glacial” Suguio (1999, p. 42). Corresponde a um dos períodos glaciais estabelecidos para a Europa continental,
situado entre o Pleistoceno inferior (1,8 milhão a 780 mil anos atrás) e o Pleistoceno médio (780 mil a 127 mil anos
atrás) (BAHN, 1998; ARSUAGA, 2005).
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No léxico são sugeridas as definições que abrangem diferentes tipos de estrutura
arqueológica, entre as quais as de combustão. Por esse motivo, as classificações tipológicas e
os conceitos propostos para as fogueiras variaram conforme quem os aplicava. Esse cenário
configurava apenas o início das discussões em torno do tema.
Entre os diversos vestígios que compunham as estruturas arqueológicas havia as
estruturas de habitação, estruturas de combustão, fossas, buracos de poste, revestimentos do
solo, amontoados de dejetos, sepulturas, entre outros.
Prous (1992, p. 26) embora de maneira superficial, classifica as estruturas arqueológicas
como “um conjunto significativo de vestígios”. Também discute a noção de estrutura
arqueológica sob a perspectiva de que os vestígios quando aparecem isolados são considerados
apenas vestígios e quando aparecem associados a outros vestígios podem ser considerados
como estruturas.
O autor propõe a classificação das estruturas em “macroestrutura, estrutura média e
microestrutura”. As fogueiras juntamente com as lentes de resíduos queimados retirados pelo
homem - limpeza da fogueira - ou pela erosão - lixiviação - estariam classificadas entre as
microestruturas de combustão; enquanto que as macroestruturas corresponderiam a tudo aquilo
que se relaciona com a organização do território de uma mesma população; reunindo assim, os
conjuntos de sítios (PROUS, 1992, p. 27).
Já estrutura média classifica-se como a organização geral de um sítio para determinada
época; diferenciando entre si as áreas de preparação culinária, sepulcrais, de refugo, de
atividades estéticas, rituais, entre outras10.
Parenti (2001, p. 115) na classificação tipológica das fogueiras da Toca do Boqueirão do
Sítio da Pedra Furada propôs o conceito de estrutura (na qual estão incluídas as estruturas de
combustão) como solução metodológica durante as escavações naquele sítio, devido aos
possíveis problemas de interpretação das paleosuperfícies. Assim, estrutura define-se como “um
conjunto coerente de vestígios supostamente dispostos de forma intencional”. Seus critérios
basearam-se na densidade e contigüidade das estruturas, ou seja, “toda concentração (conjunto
de mais de três elementos contíguos) de blocos ou seixos”. E a contigüidade por sua vez definiuse pela “distância entre os elementos sendo inferior a sua maior dimensão”. O autor alerta ainda
para a “necessidade de se avaliar atentamente cada sítio em seu contexto” 11.
Contudo, Parenti (2001) não considera em seus critérios os restos de combustão onde
seixos e/ou blocos são ausentes, mas na Toca do Boqueirão da Pedra Furada existem
10
11
Id.
Id.
16
estruturas apenas com carvões e cinzas; ou seja, os tipos identificados e os desenhos dos restos
de combustão do Boqueirão da Pedra Furada são bem claros quanto à existência de fogueiras
caracterizadas pela ausência de seixos e blocos; tal qual o tipo A2, que corresponde à fogueira
plana sem pedras e, o tipo C1, correspondente à fogueira de base escavada (em forma de bacia)
que também não contém pedras em sua elaboração.
Neste trabalho utiliza-se o conceito de estrutura de Parenti (2001) com a ressalva de que
as estruturas que contém apenas carvões, cinzas ou até três elementos contíguos também
sejam consideradas como estrutura e; define-se fogueira como uma concentração de origem
antrópica, encontrada na matriz arqueológica, de restos carbonizados como lenha ou outra
matéria combustível à qual se lançou fogo12.
1.4 O estudo das fogueiras pelas ciências auxiliares da arqueologia.
O estudo atual das estruturas de combustão na arqueologia usa principalmente as
técnicas das ciências físicas e biológicas. Tais técnicas permitem extrair várias informações das
fogueiras para o aproveitamento na pesquisa paleoetnológica e paleoambiental. Assim, os dados
não se restringem apenas às datações, mas consideram o contexto arqueológico da fogueira e a
identificação taxonômica dos carvões, contribuindo nas interpretações dos sítios.
Apesar das técnicas radiocarbônicas13 serem as mais usadas para datar as fogueiras, a
Termoluminescência14 (TL) possibilita além da datação a medição da temperatura a que seixos,
blocos ou sedimento queimado estiveram submetidos no passado. A TL esclarece através da
identificação do grau de aquecimento das pedras das fogueiras, questões pertinentes à origem
antrópica ou natural dos resíduos de combustão e, por conseguinte, a identificação das falsas
estruturas15 de fogueira que se formam nos abrigos.
O problema da temperatura das pedras das fogueiras foi abordado por (BARBETTI et al,
1980 apud VALLADAS, 1981) quando os mesmos analisaram as propriedades magnéticas dos
óxidos de ferro incluídos nas pedras aquecidas provenientes de fogueiras magdalenenses16.
12
Os termos estrutura de fogueira, estrutura de combustão e fogões são usados como sinônimos.
Ver Bicho (2006, p. 237).
14 Id. (2006, p. 260).
15
Concentração de origem natural, de restos carbonizados encontrados na matriz arqueológica, que se assemelha
a fogueiras de origem antrópica ou outros vestígios de combustão elaborados intencionalmente.
16 Indústria lítica da Europa que caracteriza um dos períodos que dividem o Paleolítico Superior (entre 30 mil e 10
mil anos atrás) na Península Ibérica (ARSUAGA, 2005, p. 89).
13
17
Com relação à formação de falsas estruturas de fogueira nos abrigos, mesmo com o
aprimoramento das técnicas arqueológicas de registro de campo e da perspicácia com que é
feita a identificação das fogueiras; a validade das interpretações está sujeita a questões como:
os resíduos de combustão podem ser considerados ecofatos ou geofatos dependendo da sua
localização no contexto do sítio, ou ainda, de origem duvidosa, quando se trata de carvões
esparsos ou estruturas com sinais pouco claros de carbonização. Pode aliar-se a estas questões
a falta de informações sobre a origem da formação do registro arqueológico e da evolução
morfológica dos abrigos.
Sobre este último aspecto, a realização de estudos litológicos, segundo Meltzer (1996,
p.355) “poderia ser útil para se determinar a fonte, a intensidade, a duração e o ritmo dos
eventos específicos de desmoronamentos, grandes ou pequenos, ao longo da história do abrigo.
Isto também poderia oferecer um melhor contexto para se avaliar os possíveis artefatos e
estruturas nos depósitos”.
No processo de identificação de falsas estruturas, ou ainda, da identificação da
contemporaneidade das camadas das fogueiras, também seriam úteis as análises
micromorfológicas. “A micromorfologia de solos corresponde à análise microscópica de materiais
pedológicos ou de formações superficiais, efetuadas sobre lâminas delgadas, com o auxílio de
equipamentos óticos [...]. Consiste na observação dos constituintes sólidos desses materiais
quanto à sua natureza e seus arranjos espaciais, inclusive dos poros visíveis nessa escala.”
Castro (2007, p. 127).
Estas análises segundo Castro (2007) são importantes porque podem auxiliar também
na interpretação de mecanismos e processos de alteração e pedogênese, na dedução de
propriedades e comportamentos dos materiais e no prognóstico sobre sua evolução em
condições ambientais espontâneas.
Prous (1992, p.26) adverte, além disso, que “algumas estruturas são perceptíveis ainda
em campo durante as escavações, enquanto outras só o serão nas análises em laboratório,
principalmente na verificação planimétrica”.
Assim, no geral o consentimento dos restos carbonizados como antrópicos é atribuído
quanto à sua associação com outros vestígios da presença humana e também devido à sua
disposição aparentemente intencional no sítio. Sobre a demonstração de intencionalidade do
fogo, Barbetti (1986) apud Parenti (2001) determina que este seja um processo que leva 2
etapas: a primeira a prova de sua existência; a segunda, o testemunho de sua associação com
vestígios humanos.
18
Contudo, são as análises antracológicas que têm se constituído numa importante
ferramenta de conhecimento dos testemunhos de combustão. A antracologia17baseia-se na
identificação anatômica dos carvões (SCHEEL, et al 2006) e incrementa novos dados às
tradicionais classificações tipológicas, privilegiando em suas análises à função da fogueira,
enquanto que a tipologia privilegia o estudo da forma. Ainda que por dedução, hipóteses
funcionais também sejam propostas através da forma:
A função de uma fogueira pode também condicionar a forma da
mesma; se uma fogueira vai ser utilizada apenas para iluminação e
aquecimento, não existe a necessidade da colocação de pedras para
apoio. Porém quando a função principal é aquecer algo sobre o fogo
pode-se utilizar as pedras para apoio, como por exemplo, as pedras
de trempe (FELICE, 2000, p.).
Segundo Scheel et al (1996a) a antracologia auxilia a paleoecologia e a etnobotânica. A
primeira indica o tipo de vegetação existente no entorno do sítio durante a ocupação, enquanto a
segunda indica a relação que as populações não industrializadas mantêm com a vegetação,
como por exemplo, aquisição de material combustível para obtenção de calor e preparação de
alimentos ou ainda, utilização do fogo na confecção de artefatos de madeira: habitação,
utensílios, embarcações, entre outros.
Mas há uma preocupação com a quantidade e representatividade das amostras porque
para uma interpretação fidedigna da paleovegetação não é conveniente a coleta seletiva de
carvões, tal qual é feito em relação às coletas para datações.
As análises antracológicas de carvões oriundos de fogueiras, isto é – carvões em
concentração – proporcionam apenas uma representação parcial da paleovegetação, pois se
trata geralmente de madeira selecionada18que são mais profícuas em relação ao levantamento
de dados paleoetnológicos. Os carvões concentrados geralmente “são oriundos de fogueiras que
tenham tido uma curta utilização no tempo, ou cujo local tenha sido limpo antes da última
utilização, ou que esteja ainda relacionado a alguma construção, objeto ou mesmo uma atividade
especializada” 19. Já os carvões esparsos são provenientes à maioria de coletas na peneira.
Os carvões encontrados esparsos em meio aos sedimentos
proporcionam uma visão mais geral da vegetação existente na época
de ocupação do sítio, pois em princípio representariam muitas coletas
17“É o estudo e interpretação dos restos lenhosos carbonizados provenientes de solos ou de sítios arqueológicos”
(SCHEEL, GASPAR & YBERT, 1996a, 1996b apud SCHEEL 2004a, p. 3).
18
19
Este problema é abordado por Scheel (2004a).
Id.
19
diferentes de lenha, em várias áreas nos arredores do sítio e porque
também provêm de incêndios ou da limpeza sucessiva dos fogões ou
fogueiras (SCHEEL, et al 1996b, p.67).
Por isso uma das técnicas de coleta recomendadas é a flotação20. A flotação recupera
restos vegetais e outros materiais (carbonizados ou não) que são importantes para a pesquisa
de paleoetnobotânica.
Os estudos paleoetnobotânicos proporcionam dados acerca de vários aspectos culturais
dos grupos pré-históricos e é a prática mais corrente na escola americana, enquanto que na
Europa, principalmente na França a antracologia direciona-se mais para as análises
paleoambientais. No Brasil, tem-se direcionado para os dois aspectos: paleoetnobotânico e
paleoambiental e concentram-se nas regiões sul e sudeste, sendo boa parte em sambaquis de
Santa Catarina e Rio de Janeiro ou ainda; na região norte, em sítios da Amazônia (SCHEEL,
2003).
Há ainda uma integração da antracologia com os estudos pedológicos. No Brasil, foram
estabelecidos 543 perfis de solo que apresentaram horizontes com carvão vegetal. As maiores
concentrações estão na área do Pantanal, do rio Amazonas, na chapada de Ubajará, entre
Ceará e Piauí; nos maciços de Mata Atlântica degradada, no Espírito Santo e no litoral de
Pernambuco (LEPRUN & PEREIRA DOS SANTOS, 1994 apud SCHEEL et al, 1996a).
Entretanto faltam informações quanto à origem natural ou antrópica dos mesmos.
Por fim, a carpologia: “estudo dos frutos, sementes e partes florais ou vegetativas de
uma planta conservada em contexto arqueológico” (MENEZES, 2006, p.16), também
proporciona dados de interesse para o conhecimento dos restos de combustão. Nesta relação da
arqueologia e da paleoetnobotânica com as disciplinas auxiliares, Scheel et al (2003) reconhece
a necessidade de se estabelecerem vínculos de pesquisa com a antracologia, carpologia,
palinologia, dendrocronologia ou ainda, história ambiental e climatologia histórica.
Scheel (1996b). Embora segundo Bianchini (2008) não haja um procedimento de coleta sistemática de carvões
para as regiões tropicais.
20
20
1.5 Tipologia dos testemunhos de combustão.
Os primeiros estudos de classificação tipológica para estruturas de fogueira foram
desenvolvidos a partir de 1960 sob a orientação de Leroi-Gourhan, na França. Tais estudos
inseriam-se no contexto das pesquisas por ele desenvolvidas sobre os aspectos tecnológicos
das sociedades pré-históricas que visavam, sobretudo, compreender as regras subjacentes no
comportamento humano, expressadas através dos produtos culturais (LEROI-GOURHAN, 1981).
A partir da escola francesa, realizaram-se diversos estudos21 sobre identificação
tipológica de restos de combustão que apresentaram variações quanto à classificação dos tipos
de estruturas22.
Segundo Prous (1992, p. 59) “na tipologia os objetos são colocados em categorias
(tipos), que podem ser morfológicas (em função de sua forma), tecnológicas (em função da
fabricação), funcionais (finalidade dos artefatos)”. As pesquisas sobre classificação de estruturas
de combustão têm-se orientado a partir desses três aspectos, além do cronológico.
Os aspectos morfológicos compreendem: diâmetro, profundidade, espessura, entre
outros atributos23 que caracterizam a forma da fogueira. Os aspectos tecnológicos são
estudados no que diz respeito à matéria-prima utilizada e a forma de elaboração: petrografia,
buracos no solo, material combustível.
Outras pesquisas sobre aspectos técnicos relacionados à produção do fogo (BARBETTI
et al, 1980 apud VALLADAS, 1981) também foram empreendidas. Tais análises contribuíram
para o entendimento dos processos tecnológicos relacionados com a produção, controle e
utilização do fogo.
Quanto à função, a junção dos aspectos anteriores (morfologia, tecnologia e cronologia)
somada às análises realizadas pelas ciências auxiliares (antracologia, carpologia,
zooarqueologia, entre outras) e a associação com outros artefatos que as acompanham são
elementos cuja identificação contribui para determinação do uso ou função da fogueira.
Parenti (2001) apresenta uma revisão da literatura até 1990.
Eiroa et al (1999, p. 23) argumenta que "em função da definição de tipo, as tipologias tem se agrupado em torno
de distintas tendências que, em termos gerais, buscam a tipologia ideal apoiando-se em critérios diversos, porém,
parcialmente válidos todos eles. No fundo da questão subjaz certa falta de coerência na aplicação de uma norma
descritiva".
23 Atributos que pertencem a esfera experimental da arqueologia – a esfera da análise e classificação ou taxonomia
– (p.11) "Obviamente, os fatos ou dados arqueológicos mudam em função do que cada arqueólogo considera
"atributos significativos". Os atributos da maioria dos artefatos são quase infinitos" (CLARKE, 1984, p. 12).
21
22
21
Assim, para uma caracterização funcional definitiva das fogueiras deve-se considerar a
variabilidade24tipológica e a representação estatística das amostras; tal qual se compreende na
definição de Clarke (1984, p. 183) onde tipo é “uma população homogênea de artefatos que
compartilham uma série sistematicamente recorrente de estados de atributos dentro de um
conjunto politético dado”.
O autor complementa:
Ainda que um artefato tipo só coincida com um grupo de artefatos que
compartilham os mesmos propósitos; isso não significa
necessariamente que o padrão de utilização seja um traço necessário
e suficiente para a definição dos artefatos tipo; ao contrário, há
numerosos tipos de artefatos que compartilham uma utilização comum
e numerosos artefatos tipo único com múltiplos e diversos propósitos,
em contextos socioculturais diferentes (CLARKE, 1984, p.184).
A variabilidade relaciona-se também com os aspectos morfológicos ou tecnológicos e é
fundamental para a compreensão da funcionalidade implícita nos tipos e, que pode, muitas
vezes, diferir do padrão comumente atribuído ao uso ou função do vestígio.
Em Johnson (2000, p. 44) há um breve conceito de variabilidade e em Clarke (1984) o conceito de variabilidade é
discutido de forma precisa.
24
22
2. O PARQUE NACIONAL SERRA DA CAPIVARA
[...] esta região é uma fronteira entre duas grandes formações geológicas e o
pensamento daqueles que iniciaram o projeto, em 1970, foi que uma fronteira
reunia uma quantidade importante de ecossistemas, de diferenças ecológicas
que teriam permitido uma diversidade cultural que nos permitiria o estudo dos
registros rupestres, nosso interesse inicial.
Niède Guidon (1996).
Há quase 40 anos iniciaram-se as pesquisas arqueológicas na área e adjacências do
que hoje corresponde ao Parque Nacional da Serra da Capivara25. Importantes descobertas de
sítios arqueológicos situaram-no entre os locais mais promissores no tocante ao conhecimento
dos antigos habitantes da América. As escavações realizadas têm proporcionado uma seqüência
de datações abrangendo um período de ocupação humana até os dias atuais, que
provavelmente, teve início antes de 50.000 anos atrás BP26.
Guidon (1986) estabeleceu a primeira classificação sobre as ocupações humanas da
área de São Raimundo Nonato que sintetizam os dados, sobretudo, relacionados aos sítios do
Parque Nacional Serra da Capivara. Nesta classificação são agrupadas todas as informações
sobre o contexto arqueológico e estabelecidas três fases chamadas de:
Fase Pedra Furada;
Fase Serra da Capivara e;
Fase Serra Talhada;
Uma característica importante dessa primeira classificação para este trabalho,
especificamente, é a descrição detalhada das estruturas de combustão apresentada pela
arqueóloga:
Fase Pedra Furada: “a mais antiga fase cultural, cujos vestígios indicam duas atividades
principais: a prática da arte rupestre e o lascamento de pedras” (GUIDON, 1986, p. 138). Em
relação às fogueiras é mencionada a presença de grandes fogões estruturados com blocos
caídos, onde o fogo foi aceso numerosas vezes deixando na parte central, protegida pelos
blocos, grande quantidade de cinzas e carvões.
O material lítico era concentrado, preferencialmente em torno desses fogões, nos quais
dois forneceram datações para amostras de carvão pela técnica 14
¹4C que abrangem o período de
25 Declarado
26
pela UNESCO como Patrimônio Natural da Humanidade em 1994.
Parenti (1996a).
23
32.160 ± 1.000 anos BP (GIF 6653) a 17.000 ± 400 anos BP (GIF 5397). As fogueiras
sucessivas e a disposição dos líticos indicam que os abrigos eram freqüentados por pequenos
grupos, de maneira temporária, mas regular. 27
Na Fase Serra da Capivara: “[...] vários fogões em formato circular e circundados por
seixos, forneceram uma abundante amostragem de carvão. Outros fogões eram feitos utilizando
blocos caídos. Grandes fogueiras, sem estruturas construídas, continham cinzas e restos
vegetais parcialmente calcinados” (GUIDON, 1986, p. 139). Além disso, as sepulturas
apresentaram como material associado fogueiras acesas sobre si. As datações para esta fase
abrangem um período que vai de 12.200 ± 600 anos BP (GIF 4628) a 6.990 ± 70 anos BP (GIF
6148)28.
Já a Fase Serra Talhada é caracterizada por:
[...] pequenos fogões construídos com blocos caídos, fogões
cercados por seixos e blocos e cujo fundo era forrado por uma pedra
chata e ainda outros de tamanho maior eram formados por três ou
quatro blocos fincados no solo. Às vezes estes fogões foram
reutilizados e apresentam dois ou três “andares” de blocos. Fogões
triangulares formados por três pedras chatas fincadas ao chão
completam a lista de tipos de estruturas de combustão. Às vezes
fogueiras eram acesas sobre lajedos. [...] grandes depressões
elípticas, parcialmente circundadas por seixos e contendo cinzas,
carvões, vestígios de ossos e vegetais, estilhas e pequenas lascas de
sílex caracterizam o período final desta fase. Esses vestígios seriam
indicadores de uma freqüência mais assídua aos sítios. As datações
neste período vão de 8.050 ± 170 anos BP (GIF 4625) a 6.160 ± 130
anos BP (GIF 5863) (GUIDON, 1986, p.141).
Após as exaustivas escavações realizadas por Fabio Parenti sob coordenação de Niède
Guidon na Toca do Boqueirão do Sítio da Pedra Furada as fases de ocupação acima citadas
foram reagrupadas por Parenti (2001) que estabeleceu novas fases de ocupação para a região
da Serra da Capivara.
A classificação de Parenti (2001) constitui hoje o modelo de referência para os estudos
dos outros sítios arqueológicos pré-históricos da área porque a Toca do Boqueirão da Pedra
Furada apresentou uma sequência de datações radiocarbônicas que vai desde 48.000 ± 1.400
anos BP (LSM 9020) até cerca de 6.150 ± 60 anos BP (GIF 8108).
A classificação dos níveis de ocupação estabelecidos no sítio é a seguinte:
27
28
Id.
Id.
24
Fase Pedra Furada 1, que vai de 50.000 anos BP (GIF 9019) a 35.000 anos BP (GIF
9018);
Fase Pedra Furada 2, entre 32.160 anos BP (GIF 6653) e 25.000 anos BP (GIF 5398 e
GIF 5648);
Fase Pedra Furada 3, de 21.400 anos BP (GIF 6160) a 14.300 anos BP (GIF 6159);
Serra Talhada 1 entre 10.400 anos BP (GIF 5862) e 8.050 anos BP (GIF 4625) e;
Serra Talhada 2, entre 7.750 anos BP (GIF 6161) até 6.150 anos BP (GIF 8108).
Existe ainda a Fase Agreste que corresponde à ocupação mais recente da região, de
6.150 anos BP em diante (PARENTI, 2001, p.99).
2.1 A Toca do Boqueirão do Sítio da Pedra Furada.29
O sítio é um abrigo sob-rocha, com aproximadamente 75m de altura e largura de 70m.
Está situado no sopé da cuesta arenítica e em frente à planície pré-cambriana30. As
paredes de arenito são cobertas de pinturas rupestres, que na classificação regional pertencem
à Tradição Nordeste e Agreste.
2.1.1 Os restos de combustão.
Para cada uma das fases de ocupação do Boqueirão da Pedra Furada foi realizada
também uma caracterização das estruturas arqueológicas, isto é, o primeiro estudo detalhado
sobre as fogueiras em um sítio arqueológico do Parque Nacional Serra da Capivara, onde estas
foram agrupadas em tipos e relacionadas aos níveis de ocupação do sítio.
Esse trabalho foi apresentado por Parenti (1993) em sua tese de Doutoramento31 sobre
a Toca do Sítio do Boqueirão da Pedra Furada, que teve como um dos objetivos inserir o sítio
nas discussões sobre o antigo povoamento do continente americano.
29
Situado a 19m acima do nível do vale: 768817 de UTM L e 9022398 de UTM N (LA SALVIA, 2006, p. 80).
Martin (1999).
31 PARENTI, F. Le gisement quaternaire de la Toca do Boqueirão da Pedra Furada (Piauí, Brésil) dans le contexte
de la préhistoire américaine. Fouilles, stratigraphie, chronologie, évolution culturelle. (Thése de Doctorat) École des
Hautes Etude en Sciences Sociales - Paris, 1993.
30
25
Figura 3: Estrutura de fogueira da Toca do Boqueirão da Pedra Furada. Fonte: Fumdham (2009).
Um capítulo foi dedicado às estruturas arqueológicas, entre as quais, as estruturas de
fogueira (Fig. 3), as estruturas sem traços evidentes de combustão e outras não identificadas.
Foi estabelecida uma classificação tipológica para tais estruturas, cuja segregação
permitiu que as estruturas com restos de combustão fossem interpretadas como restos de fogos
de origem antrópica de acordo com o contexto nas quais foram encontradas. O autor afirma que
sua classificação não foi definitiva devido a insuficiência de dados para avançar na pesquisa,
pois “o objetivo principal – a função – não apresenta resultados, mas hipóteses” (PARENTI,
2001, p.112).
As estruturas de fogueira “evidentes” foram analisadas baseando-se, sobretudo, nos
trabalhos realizados pelo arqueólogo André Leroi-Gourhan. As fogueiras classificaram-se sob a
perspectiva morfológica e tecnológica32:
A classificação de todas as estruturas de combustão foi estabelecida a
partir de critérios morfológicos, sedimentológicos e litológicos [...]. O
critério principal da classificação fundamenta-se na presença de
restos (macroscópicos e, portanto, reconhecíveis no campo) de
combustão: cinzas, carvões, seixos avermelhados e/ou com fraturas
térmicas (PARENTI, 1996, p. 24).
Após as críticas sobre a origem antrópica ou natural dessas estruturas realizaram-se
diversas análises33 envolvendo os testemunhos de combustão e o material lítico: alguns seixos
32
33
Na concepção apresentada por Prous (1992).
Valladas (1999).
26
aquecidos provenientes das fogueiras foram submetidos ao teste de TL com o objetivo de
averiguar o grau de aquecimento atingido, assim como também para obtenção de datações para
os períodos não abarcados pela técnica
14
C.
Baseada nos métodos da arqueologia experimental realizou-se uma observação in situ
de uma fogueira acesa nas imediações do sítio, para analisar os efeitos térmicos da combustão
sobre as rochas (arenito, quartzo e quartzito) utilizadas na composição das fogueiras e o material
combustível disponível34.
Além disso, realizaram-se outros estudos no intuito de esclarecer a origem dos resíduos
de combustão. Felice (2000) comparou as estratigrafias (extra-sítio/intra-sítio) da Toca do
Boqueirão do Sítio da Pedra Furada e seu trabalho mostrou a ausência de carvão no entorno
imediato do sítio. A autora discutiu alguns pontos sobre a possibilidade de ocorrência de
incêndios naturais naquele ambiente e ressaltou a dificuldade de reconhecimento de tais
estruturas em campo:
Os vestígios das fogueiras pré-históricas podem ser bastante claros, quando
seus elementos estão bem preservados e encontram-se vários componentes
da fogueira como pedras, carvões, cinzas, restos de alimentação carbonizados,
porém; dependendo das condições ambientais e do tipo de fogueira, os
vestígios podem ser mínimos [...] Os carvões e as cinzas são extremamente
leves e podem ser facilmente transportados pela ação da água e do vento
dificultando a identificação de fogueiras principalmente àquelas em que pedras,
blocos e seixos não foram utilizados (FELICE, 2002, p.153).
Parenti (2001, p. 113) também discute algumas questões relativas às possibilidades de
ocorrência de incêndios naturais, principalmente no pleistoceno; onde argumenta que para haver
a propagação do fogo é necessária uma série de condições ambientais especificadas em seu
trabalho.
2.1.2 A classificação tipológica.
A classificação das fogueiras da Toca do Boqueirão do Sítio da Pedra Furada levou em
consideração, sobretudo a morfologia das fogueiras, isto é, a disposição dos elementos quanto à
superfície e a profundidade. Os desenhos de relevo de detalhe (na vertical) ou perfis das
34
Todo o procedimento está descrito em Parenti (2001, p.112).
27
estruturas foram fundamentais para identificar os tipos. A partir deles estabeleceu-se a primeira
categoria de separação das estruturas: o Grupo que foi dividido entre fogueiras planas ou “em
cuvette” (cavadas) e ainda, as estruturas sem vestígios evidentes de combustão.
Em seguida as fogueiras foram Descritas (segunda categoria) de acordo com os
elementos que as compunham e, finalmente separadas em Tipos (terceira categoria), a partir da
combinação dos elementos do Grupo com os elementos da Descrição, conforme o representado
na Figura 4 e no Quadro 1.
Figura 4: Esquema de classificação das fogueiras da Toca do Boqueirão da Pedra Furada.
A
B
C
D
E
Tipologia das estruturas da Toca do Boqueirão do Sítio da Pedra Furada
Grupo
Tipo
Descrição
Fogueira plana
A1
Elementos espalhados e apoiados
não bordada
A2
Simples no solo
A3
Simples, sobre rocha ou bloco.
Fogueira plana
B1
Suavemente côncava, elementos apoiados.
bordada
B2
Elementos apoiados
B3
Elementos verticais
Fogueira “em
C1
Simples
cuvette”
C2
Simples com blocos
C3
Elementos apoiados
C4
Elementos verticais
Estrutura sem
D1
Elementos contíguos
traços de
D2
Elementos separados
combustão
Estrutura de
E
atribuição
duvidosa
Quadro 1: Fonte: Parenti (2001, p. 160).
Para explicar a classificação tipológica das fogueiras do Boqueirão da Pedra Furada
fizeram-se algumas observações em relação às descrições estabelecidas por Parenti (2001, p.
160). Estas observações não modificam as descrições dos tipos classificados e visa uma
explanação mais detalhada das descrições (Quadro 1) e desenhos representativos (Fig. 5) de
cada tipo.
28
Figura 5: Desenho representativo da tipologia das estruturas do Boqueirão da Pedra Furada. Fonte:
Adaptado de Parenti (2001).
29
Procurou-se também com essas observações (Quadro 2 e 3) facilitar futuras
classificações das fogueiras em outros sítios do parque. O Quadro 2, abaixo, foi adaptado de
Parenti (2001, p. 160) e contém acréscimos em negrito na descrição das estruturas:
Observações sobre as fogueiras da Toca do Boqueirão da Pedra Furada.
A
Grupo
Fogueira plana
não bordada
B
Fogueira plana
bordada
C
Fogueira “em
cuvette”
(cavadas)
D
Estrutura sem
traços de
combustão
Estrutura de
atribuição
duvidosa
E
Tipo
A1
A2
A3
B1
B2
B3
C1
C2
C3
C4
D1
D2
Descrição
Elementos (pedras) espalhados e/ou apoiadas
Simples no solo (que não contém pedras)
Simples, sobre rocha ou bloco. (contém apenas cinzas e
carvões sobre um bloco ou placa)
Suavemente côncava, elementos (pedras) apoiados.
Elementos (pedras) apoiados
Elementos (pedras) verticais
Simples (que não contém pedras)
Simples com blocos (predominância de carvões e cinzas
contendo poucas pedras, 3 em média)
Elementos (pedras) apoiados
Elementos (pedras) verticais
Elementos contíguos
Elementos separados
E
Quadro 2: Adaptado de Parenti (2001, p. 160).
Quadro 3: Descrição detalhada da tipologia das fogueiras de Pedra Furada
As fogueiras do tipo A1 (planas e sem borda) são
descritas contendo elementos (pedras) espalhados e
apoiados. Entretanto, o mais adequado seria contém
elementos espalhados e/ou apoiados, já que nem
todas as fogueiras contêm pedras espalhadas e
apoiadas simultaneamente, havendo casos em que as
mesmas apresentam apenas elementos espalhados
(como essa ao lado).
O tipo A2 (fogueira plana e sem borda) descrito como
simples no solo, é uma fogueira sem pedras, onde só
há concentração de carvões e cinzas. Esse tipo tem
sido geralmente descrito nas escavações como
concentração de carvões.
30
Fogueira do tipo A3 (plana e sem borda), descrita como
simples sobre rocha ou bloco. Corresponde às
fogueiras onde só há ocorrência de um grande bloco
ou placa e principalmente de carvões e/ou cinzas
sob o mesmo.
O tipo B1 (fogueira plana com borda) é descrito como
suavemente côncavo e elementos (pedras) apoiados.
A fogueira do tipo B2 (plana com borda) é descrita
como elementos apoiados, ou seja, (pedras
apoiadas). A única característica que a distingue do
tipo B1 é a concavidade existente no solo.
O tipo B3 (fogueira plana com borda) é descrito como
elementos verticais, isto é, pedras verticalmente
apoiadas no solo.
Tipo C1 (“em cuvette”) descrito como simples, esse tipo
corresponde às fogueiras cuja base é escavada, ou
seja, são côncavas com formato de bacia. É chamada
de simples porque não contém blocos ou seixos em
sua composição, mas apenas carvões e/ou cinzas.
Estas fogueiras também foram denominadas de covas
ou bolsas no Sítio do Meio.
31
O tipo C2 (“em cuvette” cavada) é descrito como
simples com blocos, que corresponde à fogueira com
base escavada, mas que contém poucas pedras.
Também foi chamada de cova ou bolsa.Esse tipo
também tem sido denominado nas escavações como
concentração de carvões.
O tipo C3 (“em cuvette”) cavado é descrita como
elementos apoiados ou (pedras apoiadas). Também
foi chamado de cova ou bolsa.
Tipo C4 (“em cuvette” cavada) descrito como presença
de elementos verticais. Pedras em posição vertical.
Também foi descrito como cova ou bolsa.
O tipo D1 é descrito como elementos contíguos. Esse
tipo de estrutura não apresenta vestígios de combustão
e, portanto, não é utilizado neste trabalho.
O tipo D2 é descrito como elementos separados.
Também não apresenta traços de combustão e não é
utilizado para classificação das fogueiras neste
trabalho.
32
A Toca do Boqueirão da Pedra Furada apresentou um total de 156 estruturas
arqueológicas incluindo estruturas que não continham traços de combustão evidentes. São 86
estruturas do Pleistoceno e 70 do Holoceno (Quadro 4). Os tipos identificados por Parenti (2001)
foram 13 no total, distribuídos do seguinte modo pelas fases culturais do sítio:
Distribuição das estruturas de Pedra Furada pelas fases culturais
Tipo
PF1
PF2
PF3
ST1
ST2
AG
Total
A1
9
17
1
8
2
1
38
A2
3
1
3
15
3
A3
1
B1
B2
25
1
B3
1
2
1
3
1
7
9
3
3
3
19
1
4
C1
C2
1
C3
C4
5
12
12
3
4
3
3
1
1
D1
3
3
3
3
12
D2
1
15
6
3
25
E
2
2
Total
19
50
4
17
42
27
1
156
Quadro 4: Fonte: Parenti (2001, p. 116).
Alguns resultados desta classificação mostraram que “as fogueiras do tipo em cuvette se
limitam exclusivamente aos níveis holocênicos, principalmente o ST2 e que as estruturas sem
traços evidentes de combustão são mais freqüentes na fase PF2” (PARENTI, 2001, p. 117).
“O tipo A1 é o único em que se pode dizer que apresenta uma evolução durante toda a
sequência cultural. (PARENTI, 2001, p. 120).
Com relação às dimensões das superfícies “há uma progressiva redução da superfície a
partir dos níveis antigos: passa-se de 1,17 m² em PF1 a 0,45 m² em ST2” (PARENTI, 1996, p.
29).
Nas cuvettes, o menor tipo é o C1 e os tipos C2 e C3 apresentam as maiores
superfícies; por isso são consideradas diferentes quanto a função porque “os elementos de
contorno podem constituir um sistema de conservação de calor” (PARENTI, 2001, p.120).
33
Quanto a litologia as estruturas do Boqueirão da Pedra Furada são todas formadas por
pedras de arenito, quartzo e quartzito. Em algumas estruturas como a 19 e a 84 da fase PF3, a
quantidade de seixos é excessivamente alta. Já nos níveis do Holoceno a predominância é de
estruturas que comportam mais arenito.
2.2 A Toca do Sítio do Meio.35
Segundo Martin (1997, p. 99) a Toca do Sítio do Meio (Fig. 6) é um abrigo arenítico que
apresenta morfologia semelhante ao Boqueirão da Pedra Furada. Este sítio foi parcialmente
escavado
em
mais
de
seis
campanhas
que
aconteceram
nos
anos
de
1978/1980/1991/92/93/99/2000 e uma em 2010.
Figura 6: Toca do Sítio do Meio. Fonte: Fumdham (2009).
Os vestígios provenientes das escavações são principalmente: indústria lítica, estruturas
de fogueira (Fig. 7), pigmentos, blocos com marcas de uso, vestígios de micro-fauna e restos
35
770050 de UTM L e 9023206 de UTM N (LA SALVIA, 2006, p.92).
34
vegetais bastante fragmentados nas camadas do Holoceno. Também apresenta registros
gráficos nas paredes e um forno do período em que a região foi ocupada pelos maniçobeiros.
Pinheiro de Melo (2004) apresentou um estudo36envolvendo entre outros vestígios, as
estruturas de fogueira deste sítio com as estruturas da Toca do Perna I e da Toca do Boqueirão
do Sítio da Pedra Furada. Foi estabelecida uma classificação tipológica para as estruturas de
combustão baseada na tipologia de Parenti (2001).
Figura 7: Estruturas da Toca do Sítio do Meio delimitadas em vermelho. Fonte: Fumdham (2009).
Na análise de Pinheiro de Melo (2004) foram feitas algumas adaptações pelo fato de o
Sítio do Meio ter apresentado tipos de estruturas não evidenciadas em Pedra Furada. Encontrouse no Sítio do Meio um total de 57 estruturas e a análise das mesmas dividiu-as em duas
classes: as estruturas de fogueira, que somam 48 unidades e o restante, classificado como
oficina.
Pinheiro de Melo (2004, p. 141) considera estrutura “uma composição de elementos
relacionados entre si, de forma ordenada e, portanto, intencional. O conjunto dessas estruturas,
em cada nível de ocupação, forma um sistema onde cada uma delas pode ter funções
específicas”.
PINHEIRO de MELO, P. A transição do Pleistoceno ao Holoceno no Parque Nacional Serra da Capivara – Piauí –
Brasil: uma contribuição ao estudo sobre a antiguidade da presença humana no sudeste do Piauí. Tese (Doutorado
em História). Recife: UFPE, 2004.
36
35
Já as oficinas são “áreas de lascamento, onde foi encontrada de forma articulada, a
indústria lítica, a matéria bruta como seixos e blocos e em alguns casos, bigornas, onde, no
entanto, não há vestígios de carvão ou de combustão”. Pinheiro de Melo (2004, p. 141, grifo
nosso).
Além das fogueiras havia 24 manchas de combustão e alguns depósitos com cinzas e
carvões formados em decorrência da limpeza das fogueiras, demonstrando indícios de que parte
delas teria sido reutilizada.
A diferença fundamental entre a classificação tipológica estabelecida para a Toca do
Boqueirão do Sítio da Pedra Furada e a classificação feita por Pinheiro de Melo (2004) para o
Sítio do Meio (Quadro 5) é que esta última utiliza como critério de identificação dos tipos, os
vestígios que são encontrados associados às estruturas de combustão, como por exemplo, os
tipos Stonehenge e C.
Classificação tipológica das fogueiras do Sítio do Meio
Grupo
Tipo
A – Fogueiras
Planas
Subtipo
A1
A2
B – Fogueiras
Bordejadas
Fogueiras
construídas
Stonehenge
C
Fogueiras
cavadas
D – Covas ou
(bolsas)
B1
B2
-
-
D1
D2
D3
Descrição/características
Os elementos apresentam-se espalhados
assimetricamente e apoiados uns nos outros.
Circulares ou assimétricas, os elementos
encontram-se diretamente sobre o solo
arenoso.
Base ligeiramente cavada, com predominância
de elementos apoiados uns nos outros,
circulares ou assimétricas.
Circular com camadas de seixos.
Estrutura em forma elíptica contornada e
dividida por blocos arrumados verticalmente e
apoiados sobre uma grande lage de arenito.
Contém na parte interna carvões e uma
camada de seixos. No seu entorno há seixos
lascados e um bloco coberto por pigmento.
Pequena estrutura formando nicho e contendo
areia queimada com carvões, colar de contas
de sementes, ocre com marcas de raspagem e
dentes humanos. Encontra-se colada à base
da Stonehenge.
Covas simples circular.
Cova Assimétrica
Covas com elementos externos
circundantes, superpostos ou não.
Quadro 5: Fonte: Pinheiro de Melo (2004, p. 143).
36
A primeira divisão feita por Pinheiro de Melo (2004) classifica as estruturas de
combustão entre fogueiras cavadas e fogueiras construídas constituindo o Grupo, que em
Parenti é composto pelas divisões A, B, C, D e E.
O tipo em Parenti (2001) corresponde à somatória dos caracteres morfológicos do Grupo
com a Descrição. Em Pinheiro de Melo (2004) o tipo constitui uma subdivisão do Grupo em A, B,
Stonehenge, C e D.
Os subtipos foram estabelecidos através da soma de características dos tipos com a
descrição das fogueiras. Esses subtipos é o que corresponderia aos tipos classificados na Toca
do Boqueirão do Sítio da Pedra Furada.
Entretanto, apenas os subtipos A1 e B1 de Pinheiro de Melo (2004) apresentam
semelhança com a classificação das fogueiras de Pedra Furada. O grupo de fogueiras cavadas –
tipo D (covas ou bolsas) também mantém correlação com o Grupo C (fogueira “em cuvette”) do
Boqueirão da Pedra Furada.
Em decorrência das sucessivas escavações neste sítio, durante a retomada das
campanhas muitas fogueiras tiveram a numeração repetida, o que dificultou a interpretação dos
dados. O trabalho de reconstituição estratigráfica do sítio realizado por Aimola (2008) foi de
fundamental importância para realização desta análise. Analisou-se 15 fogueiras deste sítio.
2.3 Toca do Serrote do Tenente Luís.
É um abrigo sob rocha calcárea (Fig. 8) situado na Depressão Periférica do Médio São
Francisco, no Município de Coronel José Dias. Nesta área verificaram-se atividades ligadas à
extração da cal, processo que ocasionou graves problemas à preservação dos sítios
arqueológicos localizados nas proximidades. Vários blocos de calcário provenientes das
extrações foram encontrados nas imediações deste sítio.
As escavações iniciaram-se no ano de 2002 continuando nos anos de 2003 e 2005.
Foram abertas três trincheiras, posteriormente denominadas de setor 1 e 2. A escavação
iniciou-se por níveis naturais e seguiu por níveis artificiais com decapagens de 10 cm. O
sedimento classificado como argilo-arenoso apresentou grande quantidade de blocos, tanto de
calcário quanto de estalactites desprendidas das paredes da gruta.
37
Figura 8: Toca do Serrote do Tenente Luís. Fonte: Fumdham (2009).
Os vestígios evidenciados na Toca do Serrote do Tenente Luis foram: artefatos líticos,
ossos de megafauna, pintura rupestre, enterramentos e os restos de combustão.
Estes enterramentos foram classificados em duas categorias: primários, onde há o
sepultamento do corpo diretamente sobre o solo, em covas e; secundários, onde o sepultamento
foi realizado em urnas de cerâmica.
As datações para estes enterramentos variaram entre 920-930 anos BP (Ua-23386) em
dois dentes oriundos de um mesmo esqueleto e 365 anos BP (Ua-23386) para outro esqueleto.
Além de numerosos esqueletos humanos, também foram evidenciadas associados a estes
enterramentos várias estruturas de fogo, possivelmente utilizadas nos rituais de enterramento.
Conforme Kestering e Luz (2003), que escavaram o sítio, muitas cinzas concentradas
nas mesmas decapagens dos enterramentos indicam que as fogueiras eram mantidas acesas
por muitos dias. Contudo, na documentação das estruturas só havia três desenhadas. Trata-se
das fogueiras 1, 5 e 6 que foram analisadas neste trabalho.
Na decapagem 3, próximo às fogueiras 1 e 5 foi encontrado um crânio humano. As
fogueiras e o crânio continuaram a ser evidenciados na decapagem 4. E de acordo com os
arqueólogos, a fogueira 1 pode ter relação com o enterramento dos esqueletos humanos 1 e 2
encontrados no Setor 1:
“[...] a fogueira 1 evidenciada nas decapagens 03 e 04 era composta
de seixos de quartzito. Isso revela que os grupos humanos préhistóricos que utilizaram a Toca do Serrote do Tenente Luís tinham
tecnologia semelhante aos montadores de forno de calcário, no que
38
se refere à reação da rocha de calcário na presença de fogo. Quando
se lhe aplica fogo alto, a rocha de calcário fragmenta-se, provocando
estampido semelhante a uma arma de fogo, estilhaçando-a. Por esse
motivo os grupos humanos pré-históricos devem ter evitado utilizar
fragmentos de calcário nas estruturas de fogo. Então utilizaram seixos
de quartzito que apresentam maior estabilidade em situações de alta
temperatura de fogo. Isso explica porque a maior parte dos líticos (ou
boa parte dos líticos) encontrados na Toca são seixos de tamanho
relativamente grande. Eles devem ter sido predominantemente,
utilizados em estruturas de fogo que podem estar relacionadas com
rituais funerários no enterramento dos esqueletos encontrados.”
(KESTERING & LUZ, 2003, caderno de campo).
2.4 Toca Nova do Inharé.
É um abrigo sob rocha arenítica (Fig. 9) com coordenadas UTML 0751941 e UTMN
9047146, altitude de 408 m, na região da Serra Branca, no Parque Nacional Serra da Capivara.
No ano de 2005 foram realizadas escavações para obter dados paleoclimáticos e tentar
compreender o padrão de ocupação do espaço pelos homens pré-históricos. (GUIDON, et al
2007).
Figura 9: Toca Nova do Inharé. Fonte: Fumdham (2009).
Nas escavações coletou-se um fragmento de tronco carbonizado de 40 cm de diâmetro.
Este tronco foi datado em 7.330 ± 50 BP (BETA 213556).
39
No sítio foram identificadas três camadas de ocupação, uma mais recente, de cerca de
3.000 anos, outra entre 7.000 e 8.000 anos e a mais antiga entre 10.000 e 12.000 anos BP.
A decapagem 47 foi datada em 10.100 ± 60 BP (BETA 213555) sendo esta a datação
mais antiga para uma camada de ocupação na região da Serra Branca (GUIDON et al, 2007).
Outros vestígios evidenciados nas escavações foram: material lítico, 10 manchas com
restos de combustão
ão (Fig. 10) e 17 fogueiras estruturadas, das quais havia registro de campo de
6 fogueiras, que foram analisadas neste trabalho.
Figura 10: Madeira
adeira queimada da decapagem 38 Toca Nova do Inharé. Fonte: Fumdham (2009).
2.5 Toca do Deitado.
É um abrigo sob rocha
rocha (Fig. 11) com UTML 775998 e UTMN 9029729 no fundo do
Baixão da Vaca, um vale estreito que desemboca no Desfiladeiro da Capivara. Nas escavações
em 2001 foram evidenciadas várias estruturas de fogueira e material lítico. O sítio também
possui registros rupestres.
Figura 11:
11 Toca do Deitado. Fonte: Fumdham (2009).
40
Segundo Guidon (2002) trata-se de um acampamento utilizado temporariamente. As
fogueiras estavam nas zonas planas, próximas à parede pintada.
A Toca do Deitado apresenta particularidades em sua geomorfologia: o espaço livre
existente na área abrigada era muito reduzido, devido a inúmeras quedas de bloco. Neste sítio
foram analisadas 17 fogueiras, das quais 2 estão datadas respectivamente em 5.380 ± 50 anos
BP (BETA 163854) e 8.370 ± 60 anos BP (BETA 163855).
2.6 Toca dos Coqueiros.
A Toca dos Coqueiros é um abrigo sobre rocha arenítica (Fig. 12) situado num vale do
Parque Nacional Serra da Capivara, conhecido pelo nome de Baixão das Mulheres. Está
localizado na cidade de Coronel José Dias – PI; UTML 768076 e UTMN 9022106, na região da
Serra Talhada. O abrigo fica a 14m acima do vale e distante 50m. A inclinação da parede
rochosa é quase vertical, o que faz com que a área abrigada seja muito estreita.
Figura 12: Vista lateral da Toca dos Coqueiros. Fonte: Fumdham (2009).
41
Foram coletados materiais líticos, fauna, restos vegetais, cabelo, fogueiras estruturadas
e um sepultamento de um adulto datado de 9.870 ± 50 anos BP (BETA 109844). O esqueleto
estava em posição fetal, em decúbito lateral esquerdo, sobre um piso de lages.
Descobriu-se 10 fogueiras, das quais uma datada em 8.870 ± 60 anos BP (BETA
104572) e vastas áreas de combustão, das quais duas datadas respectivamente em: 7.490 ±
60BP (BETA 84410) e 7.410 ± BP (BETA 84409) (GUIDON, et al, 1998).
Contudo, na documentação do sítio encontrou-se apenas o desenho de 3 estruturas.
Trata-se das estruturas 1, 2 e 3, das quais duas estão datadas: a fogueira 1 (do setor 1) datada
em 5.230 ± 80 anos BP (BETA 148098) e a fogueira 2 (setor 2) datada em 8.870 ± 60 anos BP
(BETA 104572) que foram analisadas neste trabalho.
2.7 Toca da Ema do Sítio do Brás I.
A Toca da Ema do Sítio do Brás I (Fig. 13) é um abrigo sob rocha arenítica localizado no
município de Coronel José Dias, coordenadas UTM L 765259 e UTM N 9019798; situado na
média vertente da cuesta da Serra Talhada.
Figura 13: Toca da Ema do Sítio do Bráz I. Fonte: Fumdham (2009).
42
Este sítio passou por um processo de intensa desagregação das placas de arenito. Os
vestígios encontrados foram: artefatos líticos, cerâmica, micro-fauna, placas com gravuras e um
bloco de arenito utilizado como pilão.
O sítio foi dividido em dois setores: 1 e 2. No setor 2, na 1ª decapagem foi evidenciada a
Fogueira 1, próxima à parede, composta por blocos de arenito, fragmentos de siltito, carvão e 1
lasca de siltito. Na 2ª decapagem foi evidenciada a fogueira 5 composta por blocos de arenito e
placas de siltito decompostas em pó, com pigmento em cima e grandes lentes de carvão.
Com as decapagens seguintes surgiram próximo da parede as fogueiras 3 e 4. Ainda no
setor 2 foi evidenciada a fogueira 7, com material lítico no entorno e 3 fragmentos de cerâmica.
As fogueiras 8, 9 e 10 são caracterizadas por fragmentos de arenito, carvão, material lítico, siltito
e micro-fauna. As fogueiras 11, 12 e 13 apresentam apenas carvão espalhado e pequenos
fragmentos de arenito.
No setor 1 foram evidenciadas ainda as fogueiras 14, 15, 16 e 17 e também material
lítico, micro-fauna e carvão.
A fogueira 4 (13ª decapagem) foi datada em 8.160 ± 70 anos BP (BETA 148102). E a
fogueira 5 (4ª decapagem) datada em 4.760 ± 60 anos BP (BETA 148101).
As estruturas analisadas neste trabalho são as fogueiras 1, 2, 4, 6, 9, 10, 11, 12 e 13
além de outras pequenas áreas de combustão que são as fogueiras 3, 4, 8 e 9 que foram
denominadas de concentração de carvões durante as escavações.
Enfim, o número total de fogueiras analisadas neste trabalho é 57, das quais 15 são do
Sítio do Meio, 3 do Serrote do Tenente do Tenente Luís, 6 da Toca do Inharé, 17 da Toca do
Deitado, 3 da Toca dos Coqueiros e 13 da Toca da Ema do Sítio do Bráz I.
43
3. METODOLOGIA
“O registro deve ter prioridade sobre a escavação e, na escavação,
a pesquisa das estruturas deve predominar sobre a da estratigrafia. Por
paradoxais e talvez mesmo escandalosos que pareçam, estes princípios são
os únicos que garantem o respeito à matéria documentária, pois importa
menos ter visto do que ter anotado e possuir vinte mil síciles em ordem
cronológica do que uma única cabana revelada com todos os testemunhos
da existência dos homens de uma época. O paradoxo, aliás, é inexistente
porque um registro exaustivo implica que se tenha feito o esforço de procurar
compreender tudo e a dissecção precisa de estruturas superpostas garante
melhor a estratigrafia do que qualquer outro método”.
André Leroi-Gourhan (1981).
3.1 Materiais e métodos.
Este trabalho usou como parâmetros de pesquisa o estudo realizado com as estruturas
de fogueira da Toca do Boqueirão do Sítio da Pedra Furada. O mesmo consistiu numa tipologia
baseada na caracterização morfológica das fogueiras a partir dos desenhos (plano e perfil) de
relevo de detalhe, na identificação dos tipos de rocha e disposição destas na elaboração da
fogueira e na medição do tamanho da superfície.
Em decorrência da falta dos desenhos de relevo de detalhe dos perfis das fogueiras
estudadas37 não foi possível efetuar a classificação tipológica tal qual a do Boqueirão da Pedra
Furada, que é o objetivo do presente trabalho. Estes desenhos que estão ausentes nos sítios
estudados são os que informam a profundidade das fogueiras ou as informações que as
caracterizam como planas ou cavadas (em cuvette) no solo.
Então, devido à ausência dos elementos que as representam verticalmente identificou-se
o padrão morfológico das fogueiras apenas quanto à sua horizontalidade e estabeleceu-se uma
tipologia baseada na de Pedra Furada. Utilizou-se como critério a disposição dos elementos na
superfície das estruturas.
Para a realização da classificação adotou-se o seguinte procedimento:
37
Nos trabalhos de pós-graduação de Pinheiro de Melo (dissertação e tese) é mencionado que os desenhos de
perfil foram realizados, tanto para o Sítio do Meio quanto para a Toca do Perna I, contudo, em sua tese não consta
tais dados e também não foram encontrados nos registros de campo dos acervos pesquisados.
44
Levantamento de dados nos desenhos e em outros registros de campo como as
fotografias, planilhas topográficas, cadernos de campo, amostras coletadas, etiquetas, relatórios,
datações e as publicações sobre os sítios em estudo.
Padronização dos dados contidos nos desenhos de relevo de detalhe das estruturas em
uma tabela Excel (Anexo JJ) que poderá ser adaptada para um modelo de base de dados sobre
fogueiras a ser elaborado no software FileMaker. Nesta tabela constam as seguintes
informações sobre as fogueiras estudadas: nome do sítio, setor, decapagem, quadrícula,
datação, tipo, nome ou identificação da estrutura de fogueira, tamanho da superfície, quantidade
de blocos e seixos, número total de pedras, tipos de rocha, vestígios associados, pontos de
referência do desenho, elementos de composição da fogueira, número do plano, escala, data e
observações.
Medição das dimensões das estruturas, em metros quadrados através dos desenhos de
relevo de detalhe.
Identificação do número total de blocos, seixos e material lítico.
Classificação das fogueiras de acordo com os desenhos planimétricos das estruturas da
Toca do Boqueirão do Sítio da Pedra Furada.
Verificou-se ainda, a presença ou ausência de restos de combustão como: cinzas,
manchas de aquecimento ou carvões e a identificação do tipo de rocha.
Nem todas as fogueiras evidenciadas nos sítios estudados foram analisadas, pois: 1)
nem todas foram desenhadas; 2) alguns registros faltam informações como, por exemplo, a
escala em que foi desenhada, legenda, entre outros; 3) no que diz respeito à Toca do Sítio do
Meio foram desenhadas apenas as fogueiras do setor 2 e setor 4, nos quais foi possível
organizar a documentação.
Dessa forma, o número de fogueiras analisadas neste trabalho não corresponde ao
número total de fogueiras evidenciadas nas escavações destes sítios.
As estruturas analisadas foram desenhadas utilizando o software CorelDraw.
No total foram analisadas 57 estruturas de fogueira abrangendo 6 sítios: Toca do Sítio
do Meio, Toca do Serrote do Tenente Luís, Toca dos Coqueiros, Toca Nova do Inharé, Toca do
Deitado e Toca da Ema do Sítio do Bráz I.
45
3.2 Critérios de classificação adotados.
A classificação tipológica das 57 fogueiras analisadas neste trabalho baseou-se na
comparação da morfologia horizontal das fogueiras, que é representada pelo desenho
planimétrico de relevo de detalhe das estruturas.
Os tipos de estrutura D e E encontrados na Toca do Boqueirão do Sítio da Pedra Furada
não são utilizados neste trabalho porque se tratam de estruturas sem vestígios de combustão.
Por outro lado, identificou-se uma nova morfologia horizontal nas fogueiras analisadas.
Trata-se de fogueiras que apresentaram uma disposição dos elementos diferente dos já
classificados por Parenti (2001) em relação à planimetria. Todavia, como não sabemos se estas
estruturas são planas ou cavadas, pois também não foram desenhadas em perfil, é possível que
possam pertencer a um dos grupos já estabelecidos por Parenti (2001), ou seja, das planas ou
cavadas. Esse novo tipo identificado classificou-se como tipo 5 e é descrito como: elementos
situados entre grandes blocos.
Como a tipologia de Parenti (2001) tem no âmbito de cada grupo algumas morfologias
horizontais repetidas (e só é possível diferenciá-las através da profundidade); a alternativa
encontrada para a classificação neste trabalho foi reduzir (Quadro 6 e 7) a um só tipo, as
fogueiras que possuem morfologia horizontal repetida, o que pode ser verificado tanto nos
desenhos quanto na descrição dos tipos (Quadro 1 e Fig. 5) da Toca do Boqueirão do Sítio da
Pedra Furada. Assim o resultado da classificação foi o seguinte:
Os tipos A1, B1, B2 e C3 de Pedra Furada correspondem ao tipo 1 (um) porque tais
fogueiras possuem formas horizontais iguais. Os tipos A2 e C1 correspondem ao tipo 2 (dois)
porque ambos também possuem formas horizontais iguais, mesmo tratando-se de uma fogueira
plana e outra cavada. O tipo A3 corresponde ao tipo 3 (três). E o tipo C2 corresponde ao tipo 4
(quatro), porque nos dois casos trata-se de fogueiras com morfologia horizontal única nas
fogueiras de Pedra Furada.
O Tipo 5 (cinco) foi identificado em alguns dos sítios analisados e corresponde a um tipo
que possui forma horizontal diferente de todas morfologias horizontais dos tipos identificados em
na Toca do Boqueirão da Pedra Furada.
Tipos B3 e C4 ficaram fora da classificação. Estas fogueiras são descritas na Pedra
Furada como “elementos verticais” e neste trabalho, com o registro de campo das fogueiras, não
foi possível identificar se as pedras estariam ou não na vertical, uma vez que só dispunha-se de
desenhos horizontais.
46
Quadro 6 – Síntese da morfologia horizontal das fogueiras
Tipologia originalmente
Tipos de fogueira do Boqueirão
estabelecida para o Boqueirão da
da Pedra Furada que possui
Tipos resultantes a partir da morfologia
Pedra Furada apartir do
forma horizontal única ou
horizontal
(Grupo + Descrição)
semelhante.
A1
A2
A3
B1
B2
B3
C1
C2
C3
C4
Tipo A1, B1, B2 e C3
(formas semelhantes)
Tipo 1
Tipos A2 e C1
(formas semelhantes)
Tipo A3
(forma única)
Tipo 2
Tipo C2
(forma única)
Tipo 4
Tipo 3
Tipo 5
Quadro 7 – Tipologia a partir da forma horizontal da fogueira
Tipo 1
Elementos espalhados e/ou
apoiados. Apresentam pedras
espalhadas ou uma combinação
dos dois.
Tipo 2
Simples no solo corresponde à
fogueira sem pedras, onde só há
concentração de carvões e
cinzas. É descrito nas escavações
como concentração de carvões
Tipo 3
Simples sobre rocha ou bloco. São
as fogueiras onde há ocorrência
apenas de uma placa sobre ou sob
carvões e/ou cinzas.
Tipo 4
Simples com blocos. Há
predominância de carvões e
cinzas e contém poucas pedras.
Também é descrito nas escavações
como concentração de carvões.
Tipo 5
Elementos (pedras, carvões e
cinzas) situados entre grandes
blocos.
47
4. CLASSIFICAÇÃO TIPOLÓGICA DAS FOGUEIRAS.
“[...] os “tipos” são estados de síntese, característicos de uma época e de
uma cultura, enquanto o objetivo da análise morfológica é mobilizar os
elementos de descrição. A tipologia começa, portanto, no ponto em que a
análise morfológica oferece o meio de estabelecer o grau de validade dos
caracteres”.
André Leroi-Gourhan (1981)
A classificação tipológica das fogueiras baseou-se nas diferentes morfologias
apresentadas pelas estruturas no que diz respeito ao modo como os elementos que as
compõem estão arranjados, quanto a sua horizontalidade. Esse critério apóia-se na concepção
de Prous (1992) que afirma que os objetos podem ser agrupados tipologicamente em diversas
categorias em função de sua forma, em função da fabricação ou segundo a finalidade dos
artefatos.
A classificação resultou em 5 tipos de fogueira, porém, identificou-se apenas 3 tipos
(Quadro 8) de fogueira nos sítios estudados. Os tipos encontrados foram o 1, 4 e 5 (Gráfico 1),
sendo os tipos 2 e 3 ausentes em todas as fogueiras analisadas.
Quadro 8: Classificação tipológica das fogueiras
SÍTIO
Sítio do Meio
FOGUEIRA
TIPO
ANEXO
Fogueira 5 (1991)
5
T
Fogueira 6 (1991)
5
Fogueira 7 (1991)
4
Fogueira 8 (1991)
1
Fogueira 10 (1991)
5
Fogueira 1/18 (1992)
4
Fogueira 3 (1992)
1
Fogueira 10 (bolsa 4) (1992)
5
Bolsa 5 (1992)
5
Fogueira 1-2-3(1993)
1
Fogueira 2 (2000)
5
Fogueira 3 (2000)
5
Fogueira 4 (2000)
5
U
FF
B
V
FF
AA
X
Y
B
X
C
BB
48
Tenente Luís
Toca do Deitado
Fogueira 5 (2000)
5
Fogueira 6 (2000)
5
Fogueira 1
1
Fogueira 5
1
Fogueira 6
1
Fogueira 1
1
Fogueira 3
1
Concentração de carvão 1
(fogueirinha)
4
Fogueira 4
1
Fogueira 5
1
Fogueira 6
1
Fogueira 7
1
Fogueira 7 -13
1
Fogueira 8
1
Fogueira 11
5
Fogueira 12
5
Fogueira 13
1
Fogueira 14
1
Fogueira 15
1
Fogueira 16
1
Fogueira 17
5
Fogueira 18
1
Fogueira 1
1
Fogueira 2
Concentração de carvão 3
5
4
Fogueira 4
Concentração de carvão 4
1
4
Fogueira 6
1
Z
Z
D
D
D
H
E
GG
I
I
J
J
K
K
CC
BB
L
L
M
M
DD
N
P
EE
GG
Q
GG
P
GG
Concentração de carvão 8
4
Fogueira 9
1
Fogueira 10
1
Fogueira 11
1
Fogueira 12
1
Toca da Ema do Bráz I
Q
R
R
S
49
Fogueira 13
Concentração de carvão 9
1
4
Fogueira 1
1
Fogueira 2
1
Toca dos
Coqueiros
S
GG
O
N
P
Toca do Inharé
Fogueira 3
1
Fogueira 10
1
Fogueira 11
1
Fogueira 12
1
Fogueira 13
1
Fogueira 15
1
Fogueira 16
1
E
F
F
G
G
H
A distribuição geral dos tipos pelos sítios estudados:
Classificação geral das fogueiras
63%
Tipo 1
Tipo 4
Tipo 5
25%
12%
Gráfico 1: Classificação das fogueiras.
No Sítio do Meio analisou-se
analisou 15 fogueiras. A classificação neste sítio resultou na maioria
tipo 5 (Gráfico 2):
50
Sítio do Meio
Tipologia das fogueiras
67%
Tipo 1
13%
Tipo 4
Tipo 5
20%
Gráfico 2: Tipologia das fogueiras do Sítio do Meio.
Na Toca do Serrote do Tenente Luís e na Toca dos Coqueiros as três fogueiras
analisadas, em cada um, classificaram-se
classificaram como tipo 1; assim como na Toca Nova do Inharé as 6
fogueiras analisadas foram também tipo 1.
Já na Toca do Deitado (Gráfico 3) a classificação resultou no seguinte:
Toca do Deitado
Tipologia das fogueiras
76%
Tipo 1
Tipo 4
Tipo 5
6%
18%
Gráfico 3: Classificação tipológica das fogueiras da Toca do Deitado.
Na Toca da Ema do Sítio do Bráz I (Gráfico 4) a classificação
ificação das fogueiras resultou:
resultou
51
Toca da Ema do Sítio do Bráz I
Tipologia das fogueiras
8%
31%
Tipo 1
Tipo 4
61%
Tipo 5
Gráfico 4: Classificação tipológica das fogueiras da Toca da Ema do Sítio do Bráz I.
4.1 Dimensões da superfície
uperfície das fogueiras.
A disposição horizontal dos elementos sobre a superfície das fogueiras foi a principal
característica que permitiu a classificação tipológica. A quantidade de blocos e seixos que cada
estrutura contém ou mesmo a ausência destes determinou a caracterização dos elementos
contidos em cada em tipo. Todavia, em concordância a Parenti (2001) a correlação entre o
tamanho da superfície das fogueiras é totalmente independente da composição litológica.
A superfície é medida em metros quadrados e definida como a área compreendida do
interior da tangente
nte aos elementos mais externos, que pode ser tanto uma pedra quanto o limite
de uma mancha de cinzas que circunscreve as estruturas.
estruturas
Ainda segundo Parenti (2001, p. 119) “a definição da forma planimétrica das estruturas
em si mesma, não tem
em interesse algum, pois muitas estruturas do tipo D e E, por exemplo, não
apresentam delimitação clara no espaço, ao contrário das fogueiras bordadas e as cuvettes que
são geralmente elipsoidais ou semicirculares”. Contudo, neste trabalho foi a definição da forma
planimétrica ou horizontal das estruturas que permitiu a classificação tipológica das fogueiras.
Dessa forma a dimensão das superfícies das estruturas analisadas é a seguinte:
52
Gráfico 5: Superfície das fogueiras do Sítio do Meio.
Sítio do Meio (Gráfico 5) à maioria das fogueiras caracterizou-se com superfície entre 15
e 60 cm². Ultrapassam esses valores duas fogueiras.
Já os sítios nos quais se identificou apenas fogueiras com morfologia 1 apresentam
variações tanto em relação à superfície quanto ao número de pedras:
Na Toca do Serrote do Tenente Luís (Gráfico 6) a fogueira 5 formada por pedras de
calcário apresenta a maior superfície (mais de 2m²). Apesar da fragmentação da rocha em forma
de placas, típica do calcário, que poderia ter contribuído para o alargamento da superfície desta
fogueira, o que influenciou este resultado foi a área das cinzas que circunscreve a estrutura.
Gráfico 6: Superfície das fogueiras da Toca do Serrote do Tenente Luís.
As estruturas da Toca do Inharé (Gráfico 7) apresentaram superfície que varia entre 10 e
quase 60 cm². Na Toca dos Coqueiros (Gráfico 8) a superfície das fogueiras chegou a quase a
2m². Na Toca do Deitado (Gráfico 9) os dados mostram que a maior parte das fogueiras
apresenta superfície entre 10 e 60 cm².
53
Gráfico 7: Superfície das fogueiras da Toca do Inharé.
Gráfico 8: Superfície das fogueiras da Toca dos Coqueiros.
Gráfico 9: Superfície das fogueiras da Toca do Deitado.
A Toca da Ema do Sítio do Bráz I Gráfico 10) apresentou algumas fogueiras com a
menor superfície em relação a superfície das fogueiras de outros sítios, (10-30 cm²). Tais
estruturas são geralmente chamadas nas escavações de concentração de carvões.
54
Gráfico 10: Superfície das fogueiras da Toca da Ema do Sítio do Bráz I.
Com base nos dados mostrados acima podemos verificar que a superfície máxima das
fogueiras analisadas atingiu pouco mais de 2m², enquanto a superfície mínima chegou a 10 cm².
Os tipos que apresentaram a maior superfície foram: tipo 1 - devido a sua própria
disposição dos blocos espalhados e/ou apoiados e, algumas fogueiras do tipo 5. Todavia, à
maioria das fogueiras com morfologia 1 tem superfícies relativamente pequenas – entorno de 70
cm².
A menor fogueira é a de tipo 4. Mesmo assim, diversas fogueiras com outras formas
também apresentaram, às vezes, superfícies ora grandes, ora extremamente pequenas; como
por exemplo, o já citado tipo 1 que apresentou uma das maiores superfícies.
Quanto ao número de blocos, seixos e artefatos líticos encontrados por estrutura, a
quantidade máxima chegou a 250 em uma fogueira da Toca do Deitado. Os sítios que
apresentaram a maior quantidade de elementos por estrutura foram: o Sítio do Meio, a Toca da
Ema do Sítio do Bráz I e a Toca dos Coqueiros.
As fogueiras de tipo 1 e 5 são as que possuem a maior quantidade de elementos por
estrutura, assim como também o menor número de pedras.
No Boqueirão da Pedra Furada, a diminuição da superfície das estruturas é progressiva,
indo de 1,17 m² a quase 40 cm² da fase PF1 à fase ST2 e as estruturas do tipo A1 (Quadro 9)
são as únicas que apresentam uma evolução durante toda a seqüência cultural:
PF1
PF2
PF3
ST1
ST2
AG
Média
1,36
0,43
0,30
0,43
0,15
1,50
Distância tipos
0,36
0,34
-
0,39
0,03
-
Quadro 9: Superfície média em m² das fogueiras tipo A1 do BPF ao longo das fases culturais. Fonte: Parenti
(2001, p.120).
55
Na fase ST1 a superfície média das estruturas tipo A1 do Boqueirão da Pedra Furada é
de 43 a 39 cm². Nas fogueiras analisadas neste trabalho, as estruturas datadas na fase cultural
ST1, o valor da superfície é entorno de 47 cm².
Já as estruturas datadas na fase Agreste têm uma superfície média de 1,40 cm². E a
única estrutura pertencente ao nível PF3 tem superfície de 27 cm².
4.2 Matéria-prima.
Quanto a litologia as estruturas da Toca do Boqueirão do Sítio da Pedra Furada são
todas formadas por arenito, quartzo e quartzito. Em algumas estruturas como a 19 e 84 da fase
PF3, a quantidade de seixos é excessivamente alta. Já nos níveis do Holoceno a predominância
é de estruturas que comportam mais plaquetas ou blocos.
Nos sítios analisados a matéria-prima que compunha as fogueiras mudou conforme o
ambiente e a disponibilidade. Enquanto algumas fogueiras foram compostas principalmente de
arenito, outras o foram apenas com quartzo ou quartzito. Contudo, a maioria tinha ambos.
Em todos os abrigos as estruturas compunham-se de fragmentos de rochas de origem
do próprio suporte rochoso.
Assim nos abrigos areníticos, todas as estruturas onde há
composição de pedras na elaboração da fogueira, o arenito está presente.
Entretanto, em função dos desabamentos, não podemos afirmar que todas as pedras
encontradas nas fogueiras foram colocadas intencionalmente. Dessa forma, nos abrigos
areníticos há uma presença maior dessa rocha na composição das fogueiras, seguida do quartzo
e quartzito. E neste último caso, uma quantidade considerável do material pétreo existente no
entorno e no interior da própria estrutura é referente a artefatos líticos.
A Toca do Serrote do Tenente Luís – abrigo de calcário – foi o único que apresentou
fogueiras com indicação de utilização de matéria-prima externa ao abrigo, isto é, fogueiras
elaboradas apenas com quartzo e quartzito.
Os outros tipos de rocha que apareceram em menor quantidade nas fogueiras dos
abrigos areníticos foram o siltito, micaxisto e sílex.
No Sítio do Meio (Gráfico 11) as rochas utilizadas na composição das fogueiras são:
56
Gráfico 11: Tipos de rocha das fogueiras do Sítio do Meio.
Nas 15 fogueiras analisadas do Sítio do Meio foi identificado tanto o arenito quanto o
quartzo e somente em 4 havia siltito. Em todas constam instrumentos líticos. Outros vestígios
como ossos ou contas de colar também foram encontrados.
Excetuando-se os artefatos líticos que compunham estas fogueiras, a proporção geral de
blocos e seixos (Gráfico 12) utilizados na elaboração das estruturas é:
Gráfico 12: Relação entre a quantidade de blocos e seixos nas fogueiras do Sítio do Meio.
O tipo de rocha dominante nas fogueiras da Toca do Serrote do Tenente Luís é o
quartzito (Gráfico 13) devido à presença de artefatos líticos nas fogueiras. A origem do quartzo e
quartzito de tais estruturas é desconhecida.
57
Gráfico 13: Tipos de rocha das fogueiras da Toca do Serrote do Tenente Luís.
Todavia a relação entre o número de placas e seixos neste sítio é (Gráfico 14):
placas
Gráfico 14: Relação entre a quantidade de placas e seixos nas fogueiras da T. do S. do Tenente Luís.
Gráfico 15: Tipos de rocha das fogueiras da Toca do Inharé.
Os tipos de rocha evidenciados nas estruturas da Toca do Inharé (Gráfico 15)
foram o quartzo e em maior proporção o arenito. A diferença entre o número de blocos e
seixos é (Gráfico 16):
58
Gráfico 16: Relação entre a quantidade de blocos e seixos nas fogueiras da Toca do Inharé.
Todas as estruturas da Toca do Deitado são compostas por arenito e quartzo, mas,
algumas contêm outros tipos de rocha em pouquíssima quantidade que somam apenas 1% do
total (Gráfico 17). Estas outras rochas são fragmentos de sílex, siltito, conglomerado e micaxisto.
Foi, portanto, o sítio que apresentou maior diversidade de matéria-prima nas fogueiras.
Gráfico 17: Tipos de rocha das fogueiras da Toca do Deitado.
A relação entre o número de blocos e seixos é (Gráfico 18):
Gráfico 18: Relação entre a quantidade de blocos e seixos nas fogueiras da Toca do Deitado.
59
As rochas usadas na elaboração das fogueiras da Toca dos Coqueiros foram o
arenito e quartzo (Gráfico 19). Neste sítio houve muito desplacamento. Devido a isto, a
interpretação das fogueiras sugere que algumas possuem uma área superestimada em
relação às dimensões da superfície por causa da quantidade excessiva de blocos e
placas despreendidas da parede do abrigo misturando-se as pedras usadas na
elaboração das fogueiras. Não há muita diferença entre o número de blocos e seixos
utilizados na composição das estruturas (Gráfico 20).
Gráfico 19: Tipos de rocha das fogueiras da Toca dos Coqueiros.
Gráfico 20: Relação entre a quantidade de blocos e seixos nas fogueiras da Toca dos Coqueiros.
Os tipos de rocha das fogueiras da Toca da Ema do Sítio do Brás I são: arenito, quartzo
e o siltito (Gráfico 21). Neste sítio também foi encontrado o sílex, mas apenas um fragmento
associado a uma fogueira.
60
Gráfico 21: Tipos de rocha das fogueiras da Toca da Ema do Sítio do Bráz I.
A proporção de seixos e blocos utilizados (Gráfico 22) neste sítio é de:
Gráfico 22: Relação entre a quantidade de blocos e seixos nas fogueiras da T. da Ema do S. do Bráz I.
61
4.3 Datação.
As fogueiras datadas (Tabela 1) foram atribuídas às fases culturais da região do Parque
Nacional Serra da Capivara (Quadro 10). Contudo, neste trabalho não se interpreta que as
tipologias definidas a partir da forma horizontal das fogueiras sejam típicas de uma ou outra fase
cultural.
Tabela 1: Fogueiras datadas
Sítio
Fogueira
Datação
Fase
T. dos Coqueiros
Fog. 1
5.230 ± 80
AG
1
Beta 148098
T. dos Coqueiros
Fog. 2
8.870 ± 60
ST1
1
Beta 104572
T. do Deitado
Fog. 17
8.370 ± 60
ST1
5
Beta 163855
T. do Deitado
Fog. 18
5.380 ± 50
AG
1
Beta 163854
T. da Ema do Bráz I
Fog. 4
8.140 ± 70
ST1
1
Beta 148102
T. do Sítio do Meio
Fog. 8 (1991)
8.760 ± 100
ST1
1
GIF 8988
T. do Sítio do Meio
Fog. 10 (1991)
8.800 ± 60
ST1
5
Beta 47494
T. do Sítio do Meio
Fog. 1/18 (1992)
13.180 ± 130
PF3
4
LY 6094
T. do Sítio do Meio
Fog. 10 (bolsa 4) (1992)
9.400 ± 60
ST1
5
GIF 9027
T. do Sítio do Meio
Bolsa 5 (1992)
ST1
5
GIF 9408
9.270 ± 80
Tipo
Laboratório
9.110 ± 100
T. do Sítio do Meio
Fog. 5 (2000)
9.110 ± 60
GIF 9407
ST1
5
Beta148099
Quadro 10: A distribuição dos tipos pelas fases culturais
Tipo
PF1
PF2
PF3
1
ST1
3
ST2
AG
Total
2
2
3
4
5
Total
1
5
11
No que diz respeito a seqüencia de datações radiocarbônicas da Toca do Boqueirão da
Pedra Furada (que constitui o referencial para o estabelecimento das fases de ocupação da
62
região da Serra da Capivara) de acordo com Parenti (1996, p.48) “a estratigrafia do BPF mostra
interrupções que os demais sítios da região devem esclarecer”.
Neste sentido, uma destas datações: 13.180 ± 130 anos BP (LY 6094) que data a
fogueira 1/18 de (1992) da Toca do Sítio do Meio (Anexo FF) é de peculiar interesse, pois
corresponde a um dos intervalos ou hiatos (14.000 – 10.500) existente na sequência de
datações da Toca do Boqueirão do Sítio da Pedra Furada, onde segundo Parenti (2001, p.105)
não foram encontrados vestígios arqueológicos datáveis.
63
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os restos de combustão constituem uma excelente fonte de informações arqueológicas
tanto do ponto de vista cronológico quanto paleoambiental e paleoetnobotânico e deveriam ser
mais incluídos nas pesquisas arqueológicas regionais, que se concentram; sobretudo, no estudo
de outros vestígios da presença humana, tais como os artefatos líticos, cerâmicos ou os registros
rupestres.
No Parque Nacional Serra da Capivara à maioria dos sítios possui matriz arqueológica
ácida que não preserva muitos vestígios da presença humana; principalmente quando se trata
de camadas pleistocênicas. Todavia, as fogueiras são freqüentemente encontradas nas
escavações locais, ressaltando a importância desse vestígio no contexto arqueológico no que diz
respeito à sua conservação e sua condição de proporcionar dados sobre a utilização desses
abrigos pelo homem.
O objetivo deste trabalho foi realizar uma classificação tipológica para outras fogueiras
de sítios do Parque Nacional Serra da Capivara e entorno. Propomo-nos investigar se os tipos
mais freqüentes de fogueira encontrados na Toca do Boqueirão do Sítio da Pedra Furada seriam
também os tipos mais recorrentes em outros sítios arqueológicos na área do Parque Nacional
Serra da Capivara.
Com o material disponível foi possível determinar uma classificação tipológica das
fogueiras a partir da tipologia das estruturas da Toca do Boqueirão do Sítio da Pedra Furada
quanto a sua forma horizontal, que corresponde a:
Tipo 1 (fogueira que tem pedras espalhadas e/ou apoiadas umas nas outras);
Tipo 2 (fogueira sem pedras, onde só há carvões e cinzas concentrados);
Tipo 3 (fogueira com uma placa apenas, sobre ou sob carvões e/ou cinzas);
Tipo 4 (fogueira pequena que apresenta pouquíssimas pedras e carvões ou cinzas
concentradas).
Tipo 5 (fogueira elaborada entre grandes blocos rochosos).
Esta classificação a partir da forma horizontal das fogueiras constitui uma reunião de
elementos semelhantes que estas estruturas têm a princípio, sendo; portanto, um atributo
relevante como objeto de partida a uma futura classificação tipológica definitiva, que deverá
apoiar-se não só em elementos morfológicos ou litológicos, mas também em estudos
antracológicos que possam esclarecer os prováveis aspectos funcionais destas fogueiras.
64
Nos sítios analisados só foram verificadas fogueiras dos tipos 1, 4 e 5. Todavia, isso não
significa que os tipos de fogueira 2 e 3 não possam ser evidenciados em outros sítios do Parque.
Em todos os sítios analisados o tipo 1 foi o mais freqüente excetuando-se a Toca do
Sítio do Meio onde o tipo 5 prevaleceu. Provavelmente a causa da maior freqüência deste tipo de
fogueira neste sítio deve-se às inúmeras quedas de bloco que ocorreram a cerca de 8.000 e
13.000 anos BP38 ao longo da evolução morfológica do abrigo. Contudo, seriam necessários
estudos litológicos para confirmar essa hipótese.
Aliás, os estudos litológicos seriam de fundamental importância também para se
averiguar a taxa de deposição dos sedimentos nos abrigos. Estas informações esclareceriam,
por exemplo, as dúvidas quanto às pedras que se depositaram dentro ou no entorno das
fogueiras após o seu uso ou abandono, fazendo com que a quantidade de elementos
relacionados às fogueiras seja superestimada, o que gera uma interpretação inadequada das
paleosuperfícies por conta da presença de falsas estruturas de fogueira.
A formação dessas falsas estruturas está associada ao processo de formação e/ou
alteração do registro arqueológico. Questões como desabamentos, desplacamentos, lixiviação
do solo, transporte ou carreamento de pedras oriundo de intemperismos, ou até mesmo
processos pós-deposicionais antrópicos (processos culturais secundários39), provavelmente são
os fatores que originam as falsas estruturas. Assim, sugerimos a realização de estudos que
caracterizem as falsas estruturas e expliquem o processo de formação dessas falsas estruturas
nos abrigos areníticos da região.
Outra causa da interpretação ambígua das estruturas seriam os sucessivos
deslocamentos sofridos por estas em relação à profundidade. Tais deslocamentos prejudicam a
interpretação das estruturas no que diz respeito à contemporaneidade de suas camadas.
Sobre este aspecto, as datações e as análises micromorfológicas das camadas de
sedimento ou lentes de cinza da fogueira e de outros vestígios carbonizados podem esclarecer
tais deslocamentos. Tais estudos poderiam ser efetuados em outros abrigos do Parque em
futuras escavações que possibilite recolher as amostras necessárias para tais estudos.
As maiores superfícies de fogueira foram identificadas nos sítios em que há
enterramentos humanos; que são a Toca do Serrote do Tenente Luís e a Toca dos Coqueiros,
onde uma das fogueiras possui mais de 2m². Possivelmente estas estruturas que apresentam
áreas de combustão maiores poderiam ser um indicativo de utilização do fogo em rituais
38
8.800 ± 60 BP que corresponde a Fogueira 10, Setor 2, nível 1ª dec. /91, Carvão que data queda de blocos –
Etiqueta: 36094, Data Calibrada - 8007 – 7590, (BETA-47494) e; 13.100 ± 50 BP que corresponde a Fogueira 12
sacs - Dec.14 (segunda queda blocos), Etiqueta: 40581, Data Calibrada - 13901 – 13335, (GIF-9410).
39
Conceito de Stein, (2001, p. 39) apud Bicho, (2006, p. 382).
65
funerários. Também é possível que algumas das estruturas estudadas tenham sido
superestimadas quanto aos valores relativos à sua dimensão, em decorrência dos
desplacamentos ocorridos em alguns sítios, tal qual a Toca dos Coqueiros.
Não é possível afirmar em decorrência dos desplacamentos, que há uma preferência por
um tipo de matéria-prima especifica na elaboração das fogueiras, quanto aos tipos identificados,
pois verificou-se em todos os tipos de fogueira tanto o arenito quanto o quartzo. E possivelmente
boa parte do arenito é oriunda de desplacamentos.
Os resíduos arqueológicos de combustão de origem antrópica poderão preservar as
características morfológicas dependendo da intensidade dos processos tafonômicos, processos
pós-deposicionais e as condições ambientais pelos quais os sítios passam.
Percebemos com este trabalho que a definição da forma planimétrica da superfície das
fogueiras é importante não só para o estabelecimento de uma classificação tipológica dessas
estruturas, mas também é essencial para a compreensão da formação do registro arqueológico.
Um bom exemplo disso são as estruturas do tipo D e E da Toca do Boqueirão do Sítio da Pedra
Furada, que não apresentam delimitação clara no espaço e podem facilmente ser confundidas
com falsas estruturas de fogueira (aliás, a própria definição do tipo E é estrutura de atribuição
duvidosa).
A identificação da superfície das fogueiras representa, portanto, uma variante a mais na
caracterização das estruturas, das paleosuperfícies e no levantamento de dados concernentes à
formação do registro arqueológico dos abrigos.
Pesquisas paleoambientais poderão ajudar a esclarecer tanto a ocorrência de possíveis
paleoincêndios na região, quanto a formação de falsas estruturas de fogueira no interior dos
abrigos ocupados na pré-história, principalmente nos períodos onde a ocorrência carvões
associados ou não as concentrações de seixos ou blocos é menos intensa.
Mesmo que alguns materiais combustíveis sejam totalmente destruídos no processo de
queima; às vezes, poderão ser encontrados os blocos utilizados na montagem das estruturas ou
sedimentos queimados, que podem ser submetidos às análises de TL para obtenção de
datações ou averiguação do grau de aquecimento à qual foram submetidos no passado.
Dessa forma, sugerimos a sistematização dos dados das estruturas em campo e
laboratório através de base de dados e/ou protocolos de escavação (Anexos HH, II), pois é
fundamental para que se efetuem futuras análises. É necessária a padronização das
informações sobre coleta de amostras, desenho das estruturas e preenchimento de protocolos
de escavação e amostragem. É importante ainda discutir acerca da maneira como o registro das
estruturas vem acontecendo no Parque Nacional Serra da Capivara, pois para identificar os tipos
66
de fogueira encontrados na Toca do Boqueirão do Sítio da Pedra Furada, nos outros sítios, isto
é, tanto a superfície quanto a profundidade das estruturas, é necessário desenhar as fogueiras
no plano vertical. Como alternativa para o problema da verticalidade e do tempo que a mesma
requer para ser registrada através das técnicas tradicionais propõe-se o emprego de outras
técnicas de registro como o escaneamento ou digitalização das estruturas através de aparelho
de leitura ótica (scanner).
A fotografia não substitui o desenho, mas pode ser um elemento auxiliar de controle de
determinadas características, como por exemplo, a disposição das pedras ou a coloração das
manchas de cinza ou sedimento aquecido (Anexo KK).
Durante o processo de escavação o acompanhamento das decapagens das estruturas
através de protocolos de registro de dados se faz necessário. Recomenda-se a utilização da
ficha de estrutura e de coleta de amostras para as diferentes análises (antracológica, datação,
TL, entre outras) que irão variar de acordo com os objetivos de cada pesquisador.
Enfatizamos que a introdução de outros estudos sobre os restos carbonizados,
principalmente das análises antracológicas nos sítios arqueológicos do Parque Nacional Serra
da Capivara são altamente recomendáveis, levando-se em consideração as pesquisas que vêm
sendo desenvolvidas com fogueiras em sítios de outras regiões.
Esta pesquisa demonstrou que os grupos humanos que ocuparam os sítios
arqueológicos na região da Serra da Capivara possuíam domínio técnico na elaboração das
fogueiras, desde o pleistoceno superior, indicando também uma continuidade na técnica de
produção das estruturas arqueológicas e seu provável uso em diversas atividades cerimoniais e
cotidianas.
Verificamos que a abundância de material lítico presente nas estruturas analisadas e em
menor quantidade: ocre, ossos da fauna, restos cerâmicos, contas de colar, sugere o provável
uso destas fogueiras em atividades cotidianas como a modificação ou alteração de matériaprima. E que a associação destas fogueiras aos enterramentos humanos, indica um uso
cerimonial.
Enfim, quanto aos estudos sobre tipologia das estruturas arqueológicas, sobretudo do
ponto de vista das pesquisas ainda incipientes em relação às fogueiras na região do Parque
Nacional Serra da Capivara; advogamos que o conjunto de informações proporcionadas pelos
restos arqueológicos carbonizados oferece um dos aparatos ao esclarecimento de aspectos
relacionados ao desenvolvimento tecnológico de uso, manutenção e produção do fogo na préhistória do nordeste brasileiro, além da complementação dos dados paleoambientais nesta
região.
67
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71
ANEXO A – Legenda dos desenhos das estruturas.
72
ANEXO B – Desenhos das estruturas analisadas.
Tipo 1
Fogueira 8, setor 2 de 1991 - Toca do Sítio do Meio.
Fogueira 1 2 3, setor 4 de 1993 – Toca do Sítio do Meio.
73
ANEXO C – Desenhos das estruturas analisadas.
Tipo 1
Fogueira 3, setor 4 de 1992 - Toca do Sítio do Meio.
74
ANEXO D – Desenhos das estruturas analisadas.
Tipo 1
Fogueira 1 - Toca do Serrote do Tenente Luís.
Fogueira 5 - Toca do Serrote do Tenente Luís.
5 cm
Fogueira 6 - Toca do Serrote do Tenente Luís.
75
ANEXO E – Desenhos das estruturas analisadas.
Tipo 1
Fogueira 10 - Toca do Inharé.
Fogueira 3 - Toca do Deitado.
76
ANEXO F – Desenhos das estruturas analisadas.
Tipo 1
Fogueira 11 - Toca do Inharé.
Fogueira 12 - Toca do Inharé.
77
ANEXO G – Desenhos das estruturas analisadas.
Tipo 1
Fogueira 13 - Toca do Inharé.
Fogueira 15 - Toca do Inharé.
78
ANEXO H – Desenhos das estruturas analisadas.
Tipo 1
Fogueira 16 - Toca do Inharé.
Fogueira 1 - Toca do Deitado.
79
ANEXO I – Desenhos das estruturas analisadas.
Tipo 1
Fogueira 4 - Toca do Deitado.
Fogueira 5 - Toca do Deitado.
80
ANEXO J – Desenhos das estruturas analisadas.
Tipo 1
Fogueira 6 - Toca do Deitado.
Fogueira 7 - Toca do Deitado.
81
ANEXO K – Desenhos das estruturas analisadas.
Tipo 1
Fogueira 7-13 - Toca do Deitado.
Fogueira 8 - Toca do Deitado.
82
ANEXO L – Desenhos das estruturas analisadas.
Tipo 1
Fogueira 13 - Toca do Deitado.
Fogueira 14 - Toca do Deitado.
83
ANEXO M – Desenhos das estruturas analisadas.
Tipo 1
Fogueira 15 - Toca do Deitado.
Fogueira 16 - Toca do Deitado.
84
ANEXO N – Desenhos das estruturas analisadas.
Tipo 1
Fogueira 18 - Toca do Deitado.
Fogueira 2 - Toca dos Coqueiros.
85
ANEXO O – Desenhos das estruturas analisadas.
Tipo 1
Fogueira 1 - Toca dos Coqueiros.
86
ANEXO P – Desenhos das estruturas analisadas.
Tipo 1
Fogueira 3 - Toca dos Coqueiros.
Fogueira 1 - Toca da Ema do Sítio do Bráz I.
Fogueira 6 - Toca da Ema do Sítio do Bráz I.
87
ANEXO Q – Desenhos das estruturas analisadas.
Tipo 1
Fogueira 4 - Toca da Ema do Sítio do Bráz I.
Fogueira 9 - Toca da Ema do Sítio do Bráz I.
88
ANEXO R – Desenhos das estruturas analisadas.
Tipo 1
Fogueira 10 - Toca da Ema do Sítio do Bráz I.
Fogueira 11 - Toca da Ema do Sítio do Bráz I.
89
ANEXO S – Desenhos das estruturas analisadas.
Tipo 1
Fogueira 12 - Toca da Ema do Sítio do Bráz I.
Fogueira 13 - Toca da Ema do Sítio do Bráz I.
90
ANEXO T – Desenhos das estruturas analisadas.
Tipo 5
Fogueira 5, setor 4 de 1991 – Toca do Sítio do Meio.
91
ANEXO U – Desenhos das estruturas analisadas.
Tipo 5
Fogueira 6, setor 4 de 1991 - Toca do Sítio do Meio.
92
ANEXO V – Desenhos das estruturas analisadas.
Tipo 5
Fogueira 10, setor 2 de 1991 - Toca do Sítio do Meio.
93
ANEXO X – Desenhos das estruturas analisadas.
Tipo 5
Fogueira (Bolsa 4), setor 2 de 1992 – Toca do Sítio do Meio.
Fogueira 2, setor 4 de 2000 – Toca do Sítio do Meio.
94
ANEXO Y – Desenhos das estruturas analisadas.
Tipo 5
Fogueira Bolsa 5, setor 2 de 1992 – Toca do Sítio do Meio.
95
ANEXO Z – Desenhos das estruturas analisadas.
Tipo 5
Fogueira 5, setor 4 de 2000 - Toca do Sítio do Meio.
Fogueira 6, setor 4 de 2000 - Toca do Sítio do Meio.
96
ANEXO AA – Desenhos das estruturas analisadas.
Tipo 5
Fogueira 3, setor 4 de 2000 – Toca do Sítio do Meio.
97
ANEXO BB – Desenhos das estruturas analisadas.
Tipo 5
Fogueira 4, setor 4 de 2000 – Toca do Sítio do Meio.
Fogueira 12 - Toca do Deitado.
98
ANEXO CC – Desenhos das estruturas analisadas.
Tipo 5
Fogueira 11 - Toca do Deitado.
99
ANEXO DD – Desenhos das estruturas analisadas.
Tipo 5
Fogueira 17 - Toca do Deitado.
100
ANEXO EE – Desenhos das estruturas analisadas.
Tipo 5
Fogueira 2 - Toca da Ema do Sítio do Bráz I.
101
ANEXO FF – Desenhos das estruturas analisadas.
Tipo 4
Fogueira 7, setor 4 de 1991 - Toca do Sítio do Meio.
Fogueira 1-18, setor 2 de 1992 – Toca do Sítio do Meio.
Fogueira (Concentração de carvão 9) - Toca da Ema do Sítio do Bráz I.
102
ANEXO GG – Desenhos das estruturas analisadas.
Tipo 4
Fogueira (Concentração de carvão 1) - Toca do Deitado.
Fogueira (Concentração de carvão 3) - Toca da Ema do Sítio do Bráz I.
Fogueira (Concentração de carvão 4) - Toca da Ema do Sítio do Bráz I.
Fogueira (Concentração de carvão 8) - Toca da Ema do Sítio do Bráz I.
103
ANEXO HH – Protocolo (Amostra para análise de TL).
Ficha de Amostra
Sítio----------------------------------------------------------------------------- Data de amostragem-----/-----/----Setor----------------------------------------------------- Camada-------------------------------------------------------Nível----------------------------------------------------- Decapagem--------------------------------------------------Plano nº-------------Ponto topográfico ------------Pesquisador---------------------------------------------------
Amostra coletada:
Dentro da fogueira ( ) Fora da Fogueira ( )
Dias de exposição da amostra à luminosidade após o lançamento
Objetivo da análise
Datação ( )
Saber se foi aquecida ( )
Amostras associadas
Sedimento ( )
Carvão ( )
Osso ( )
Observações:
Pigmento ( )
Lítico ( )
Outra ( )
104
ANEXO II – Protocolo (para registro das estruturas de fogueira).
Ficha de Fogueira
Sítio--------------------------------------------------------------------Nº da fogueira-------------Setor-------------------- Nível----------------- Fase------------------- Camada -----------------Amostra Nº----------Data------/------/------- Pesquisador--------------------------------------Razões pelas quais foi reconhecida:
Área de cinzas muito marcada ( )
Concentração de carvões ( )
Estrutura ( )
Outra ( )
Dimensões:
Superfície
Descrição:
Tipo de estrutura:
Sedimento:
Distribuição dos restos queimados
Perturbação ()
Materiais arqueológicos associados:
Profundidade
Dentro da estrutura: ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Em volta: ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Fotografia:- -----------------------------------------------------------------------------------------Relevo Nº ---------------------Escala: 1/-------Observações:
Croquis-----------------------------------
105
106
ANEXO KK – Fogueira 4, Toca da Ema do Sítio do Bráz I representada em foto e desenho.
107

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