Como produzimos conclusões científicas?
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Como produzimos conclusões científicas?
Como produzimos conclusões científicas? Introdução à metodologia científica O que é o método científico? Observar fenômenos, interpretar fatos e levantar hipóteses fazem parte do método científico. ET assistindo jogo de futebol Observado: O zagueiro comete falta agressiva e derruba o atacante Hipótese: O objetivo é matar o humano que carrega a bola Observado: O atacante erra a tentativa de efeito e manda a bola na torcida Hipótese: O objetivo é mandar a bola o mais longe possível Após algum tempo observando a partida e depois de vários palpites errados, o extraterrestre provavelmente compreenderia a maior parte das regras do nosso futebol. O ET e o cientista Da mesma forma que o ET assistindo ao jogo de futebol, em ciência partimos da observação e procuramos entender fenômenos naturais. Uma diferença importante: não somos expectadores passivos da natureza; interagimos com ela por meio de experimentos. Hipóteses e previsões • A partir de uma hipótese, podemos gerar previsões (se... então...). • Essas previsões direcionam a coleta de dados na pesquisa científica. Um exemplo: observação de comportamento de predação • Predador: o esgana-gata (Gasterosteus aculeatus) é um peixe nativo do norte da Europa, norte da Ásia e América do norte. • Presa: a pulga d’água (Daphnia sp.) é um pequeno (0.2 a 5 mm) crustáceo aquático. Tempo até primeira predação • Situação A: 2 peixes em um tanque com daphnias => primeira predação em 21.3 s => períodos sem movimentação num intervalo de 10 min (6s, 2s, 10s, 4s, 8s, 11s) • Situação B: 4 peixes em um tanque com daphnias. => primeira predação em 16 s => períodos sem movimentação num intervalo de 10 min (4s, 2s, 3s, 8s, 3s, 6s, 4s) Tempo até primeira predação • Situação C: 1 peixe em um tanque com daphnias => primeira predação em 42.5 s => períodos sem movimentação num intervalo de 10 min (14s, 3s, 3s, 12s, 2s, 21s) • Situação D: 10 peixes em um tanque com daphnias => primeira predação em 8 s => períodos sem movimentação num intervalo de 10 min (4s, 3s, 6s, 10s, 2s, 2s, 5s) Tempo até primeira predação Avaliação preliminar (busca de um padrão): • a primeira captura ocorre mais rapidamente quando há mais peixes no tanque (1 peixe = 42,5s; 2 peixes = 21,3s; 4 peixes = 16s; 10 peixes = 8s) • o tempo sem mobilidade tende a ser maior quando há menos peixes no tanque (1 peixe = 55s; 2 peixes = 41s; 4 peixes = 30s; 10 peixes = 32s) Tempo até primeira predação • Observação: O tempo para a primeira predação tende a ser menor quando mais peixes estão no tanque. • Hipótese: Em grupo, os peixes sentem-se mais seguros e gastam menos tempo vigilantes contra predadores, sobrando mais tempo para partirem para predação. • Previsão: A taxa de alimentação individual irá aumentar quanto maior for o número de peixes no tanque. Outra hipótese possível: por causa de competição intraespecífica, os peixes são mais rápidos ao capturar suas presas quando em grupo do que quando sozinhos, sem competidores. Tempo até primeira predação • Observação: A quantidade de tempo sem movimentação na água tende a diminuir quando mais peixes estão no tanque. • Hipótese: Ausência de movimento reflete vigilância contra predadores. Em grupo, os peixes sentem-se mais seguros e gastam menos tempo vigilantes. • Previsão: O tempo sem movimento irá diminuir em grupos mais numerosos de peixes, mas irá aumentar para grupos de qualquer número se os peixes forem alarmados. Outra hipótese possível: na ausência de competidores, os peixes podem dar-se ao luxo de despender mais tempo escolhendo a presa que lhe pareça mais viável. Previsões => teste “planejar” o experimento: • Dividir em grupos experimentais para comparação – ex. A: grupo 1= peixes alarmados e grupo 2 = peixes não alarmados; ex. B: grupo 1 = peixes que comem presas pequenas, grupo 2 = presas médias, grupo 3 = presas grandes • Mensurar as variáveis – ex: como medir os períodos sem movimento? • Escolha de intervenções similares à situação natural – ex.: como escolher o estímulo de alarme a ser usado no experimento? Processo científico • As previsões derivadas de hipóteses direcionam o delineamento de experimentos para testar as hipóteses; • Como resultado do teste, as hipóteses podem ser rejeitadas, provisoriamente aceitas ou modificadas a fim de gerar outras hipóteses testáveis; • Os resultados e conclusões são apresentados em comunicações científicas. Comunicações científicas • Oral: congressos, simpósios, conferências; • Escrita: artigo científico publicado em periódico com revisão por pares – 5 sessões principais que reproduzem os passos da pesquisa. => Dados não são apresentados brutos, mas sim sintetizados sob a forma de gráficos, tabelas e resultados de análises estatísticas. Será que percebemos o mundo igualmente? Projeto de investigação Fato – Hipótese – Teoria • Fato: uma verdade conhecida por experiência ou observação; • Hipótese: uma proposição testável que procura explicar a ocorrência de um ou mais fenômenos; • Teoria: um conjunto coerente de proposições que explica uma classe de fenômenos. É suportada por conjunto de evidências e pode ser usada para prever observações futuras. Falhas no método científico? • Cientistas são seres humanos: medos, “crenças”, interesses pessoais etc. – dados fraudados, dados guardados etc. • Mas será que o fato de o cientista ser falível torna a ciência falível? – a longo prazo não. Artigo de Stanley Temple (Science,1977) Calvária: árvore nas Ilhas Maurício; maior população = 13 indivíduos com + de 300 anos de idade; semente com casca muito grossa. Dodô: pássaro extinto em 1680. Moela muito poderosa seria capaz de triturar casca dessa semente. Hipótese: extinção do dodô teria impedido a germinação de novos indivíduos de calvária, condenando mais uma espécie à extinção. Experimento realizado por Temple: • 17 sementes ingeridas por perus = 3 sementes que germinaram PROBLEMAS: • não colocou 17 sementes no solo diretamente; • perus esmagaram 40% das sementes, mas dodôs eram 3 vezes maiores. Mas... trabalhos publicados em 1941 e 1946: (a) as sementes da Calvaria germinam mesmo sem abrasão na sua casca, pois racha após tempo no solo; (b) dodôs comiam mesmo sementes de calvária?; (c) em 1991, novo censo populacional apontou maior número de calvárias. Uma hipótese nada vale se os fatos não a sustentarem. http://www.improbable.com http://retractionwatch.wordpress.com/