continuamente - monikagryczynska

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continuamente - monikagryczynska
AS CATARATAS DO IGUAÇU
Era madrugada... O so l despontava e seus raios reflet iam-se nas gotículas de orvalho depositadas nas fo lhagens da floresta próxima; pareciam faíscas de diamantes
dispersas pelos gênios brejeiros da mata. Ouvia-se ao longe
o ribo mbar das Cataratas do Iguaçu. A névoa fina levantava-se acima do despenhadeiro e cobria as águas turbulentas.
Uma revoada de andorinhas surgiu da floresta próxima e
em vôos rasantes sobre as águas tomava seu banho mat inal.
O rio Iguaçu é um dos mais importantes afluentes do
rio Paraná. O no me Iguaçu significa “água grande”em língua da nação guarani. Na atual região das Três Fronteiras –
Brasil, Argent ina e Paraguai – a natureza é o mais exuberante espetáculo. A beleza da paisagem está no imenso volume de água do rio Paraná que corre entre os paredões
talhados a pique, e das matas que o cercam. É uma paisagem digna de um quadro de artista-pintor.
Antes de engrossar as águas do rio Paraná, o Iguaçu
forma as “Cataratas do Iguaçu”. Após uma ampla curva e
das corredeiras, o rio Iguaçu lança as águas num desfiladeiro apelidado de “Garganta do Diabo”.o mais majestoso e
impressionante de todos eles. Este é dividido pela linha de
fronteira entre o Brasil e Argent ina. Os seus 275 saltos se
precipitam de uma altura média de 80 metros, num indomável turbilhão de água que rola dos despenhadeiros ao
largo de 2,7 km do Rio Iguaçu.
Uma garoa fina envo lve o panorama, forma-se o arco-íris quando a luz do sol incide sobre a densa névoa. É
um espetáculo maravilho so da natureza. O melhor ponto de
observação das Cataratas está no lado brasileiro; pode-se
aproximar do desfiladeiro passando sobre uma passarela
acima das águas. As Cataratas ficam a 27 quilô metros da
cidade de Foz do Iguaçu, com acesso por estrada asfaltada
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e ônibus de linha. É o maior referencial turístico da cidade,
e por merecimento as “Cataratas do Iguaçu”, foram classificadas co mo umas das sete maravilhas da natureza, entre
tantas outras que concorreram ao título (ano 2011).
As Cataratas foram descobertas e registradas por
Don Álvar Nuñez Cabeza de Vaca, no ano 1542, que deno minou as majestosas quedas d´água “Salto de Santa Maria”.Don Álvar liderou uma expedição com 250 homens, no
caminho entre o litoral de Santa Catarina, onde desembarcou com seus ho mens do navio vindo da Espanha. Os espanhó is estavam sob o comando de um fidalgo de envergadura quase lendária. Enveredando pelos sertões do Paraná
através do ramal da Estrada do Peabirú, Don Álvar dirigiase à Assunció n no Paraguai, onde devia tomar posse co mo
adelantado (governador) da província do Rio da Prata.
Com privilegiada situação geográfica, o município e
a cidade de Foz do Iguaçu têm em suas belezas naturais o
maior atrativo. A cidade está situada na região da tríplice
fronteira, junto à divisa do Brasil com a Argent ina e Paraguai. Foz do Iguaçu é uma cidade pioneira, conta com acentuada diversidade étnica, resultado de um passado de disputas territoriais entre argentinos e paraguaios, que ocupava m
a região e do afluxo de um grande número de estrangeiros e
brasileiros de outras regiões do país.
Fo i preciso o Brasil entrar em guerra co m o Paraguai em 1865, para se lembrar daquelas terras de ninguém,
que estavam abandonadas a mercê da exploração estrangeira. A região estava nas mãos de paraguaios e argentinos que
atravessavam o rio Paraná como si não houvesse diferença
entre os dois lados do rio Paraná e improvisavam nas barrancas brasileiras portos para o embarque de erva-mate e
madeira nativa. Em 1889, o governo imperial mandou estabelecer uma co lônia militar em Foz do Iguaçu, para assegurar a soberania brasileira sobre aquela região.
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No entanto, só por volta de 1974, a cidade de Foz
do Iguaçu entrou em efervescência co m a notícia da construção de uma grande usina hidrelétrica no rio Paraná. Logo
fo i observado um mo vimento invulgar na cidade.Via-se a
afluência de gente estranha por todas as ruas. A razão desse alvoroço era a construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu. Haveria muito trabalho e emprego para milhares de pessoas. Esses migrantes vinham de todos os recantos do país e
do exterior, embalados pelo sonho de vida melhor.
Fo i a part ir do inicio das obras da Usina de Itaipu,
que a economia da cidade cresceu. Em cerca de uma década
a população quintuplicou. Instalou-se um co mércio próspero e atualmente conta com o terceiro maior parque hoteleiro
do país. Cresceu o turismo de compras, devido a área de
livre co mércio na vizinha Ciudad del Este, no lado paraguaio, com acesso pela Ponte Internacio nal da Amizade,
inaugurada em 1965, que possui a extensão de 552 metros e
vão livre de 303 metros.
A Usina de Itaipu, o segundo maior co mplexo hidrelétrico do mundo, atrás apenas de hidrelétrica das “Três
Gargantas” da China, é um espetáculo de rara beleza que
atrai turistas do mundo todo. O trecho do rio Paraná escolhido para a construção da barragem faz fronteira com o
Brasil e o Paraguai. Os presidentes do Brasil, Ernesto Geisel e Alfredo Stroessner do Paraguai, assinaram a ata da
constituição da Companhia Hidrelétrica de Itaipu em 17 de
maio de 1974. Cinco meses depo is è assinado o acordo para
a construção da Usina Hidrelétrica Binacio nal de Itaipu.
Os fantásticos Saltos das Sete Quedas no rio Paraná,
em Guaira, que contavam co m 19 saltos e desnível total de
115 metros, foram inundados pelo lago da Usina. Quando
foram fechadas as co mportas de Itaipu, os Saltos desapareceram em 15 dias, restam apenas lembranças e imagens
históricas. Os majestosos Saltos das Sete Quedas e suas
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águas revo ltas ficavam a 190 quilô metros de distância da
grande Usina que co meçou a ser construída a partir de 17
de outubro de 1974.
A construção da hidrelétrica paraguaio-brasileira de
Itaipu no rio Paraná, representou uma verdadeira revo lução
na econo mia do Paraguai que, entre 1977 e 1980 cresceu ao
ritmo de 11,4% ao ano. A Usina fo i inaugurada em 5 de
novembro de 1982, pelos presidentes do Brasil João Figueiredo e do Paraguai Alfredo Stroessner. A desaceleração das obras de Itaipu a partir de 1982, deixou desempregados os 15 mil operários paraguaios e brasileiros que trabalhavam na usina.A recessão na Argent ina levou ao adiamento das obras das hidrelétricas paraguaio-argent inas de
Corpus e Yaciretá, também no Rio Paraná, as represas vão
alagar parte das terras em território argentino e paraguaio.
O interesse despertado pelo crescimento da cidade
de Foz do Iguaçu, que oferecia ótimas oportunidades de
trabalho, comércio e empreendimentos diversos, houve uma
grande afluência de migrantes, famílias procedentes de outros estados brasileiros, principalmente do sul do país.
Osvaldo Meneguini e Amália eram pequenos proprietários em Cruz Alta no Rio Grande do Sul. Tinham três
filhas, Luisa, Mariana e Eliana. As meninas criaram-se
ajudando a mãe nos afazeres do mést icos. As três estudaram
na esco la em Cruz Alta, município onde a família morava e
cult ivava uma pequena gleba de terra. As jovens irmãs freqüentavam co m os pais as missas de do mingo na igreja da
cidade e algumas festas da co munidade, lugar onde conheceram os seus futuros maridos.
Casaram cedo. No início de 1980 a filha mais velha
Luisa casou com Alo ís io Weissler, logo Mariana desposou
Giovani Pazinatto e em seguida Eliana contraiu núpcias
com Conrado Ritter.Os três moços eram filhos de famílias
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de proprietários rurais, gaúchos de Santo Ângelo. Os jovens
casais estavam com cabeças cheias de planos para o futuro,
projetos cuja possibilidade discut iam entre si.
Influenciados pela onda migratória na direção do
sudoeste do Paraná, os cunhados: Conrado, Aloísio e Giovani, pequenos agricultores , sem grandes oportunidades na
terra natal, resolveram mudar-se para aquela região no começo de 1981. Alo ísio co mprou um terreno na cidade de
Foz do Iguaçu onde construiu um pensionato para estudantes que, Luisa sua esposa administrava co m co mpetência.
Conrado Ritter e Eliana sua jo vem esposa, passara m
a residir no Paraguai, no departamento de Alt o Paraná.
Conrado adquiriu 500 hectares de terra, com prestações e m
lo ngo prazo, por um preço acessível, co m incent ivo da Secretaria da Agricultura do governo paraguaio, onde passou
a cult ivar so ja e milho.Toda a produção era transportada
por caminhões e exportada via porto de Paranaguá.
Na fazenda construiu uma bela casa e ali criou seus
cinco filho s.O primogênito Álvaro recebeu o no me em homenagem à Álvar Nuñez Cabeza de Vaca, o aventureiro
espanho l que descobriu as Cataratas do Iguaçu. Talvez influenciado pela história quixotesca do ho mônimo, Álvaro
tinha a natureza inquieta, arrojada e apaixo nada pela aventura, sempre se envo lvia em brigas e confusão.
Giovani Pazinatto e Mariana mudaram-se para a região de Marechal Cândido Rondon, no Paraná, onde adquiriu 400 hectares de terra fért il para o cult ivo de soja, milho,
trigo e fumo.Deixou 100 hectares de floresta nativa co mo
reserva natural.Também criava gado e suíno s. Construiu
uma só lida propriedade, com residência ampla e confortável. Havia muito espaço para criar seus quatro filhos, o menino primogênito que bat izara de Rodrigo e três meninas às
quais dera os nomes de: Graziela, Franciéle e Denise.
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Todas as esperanças o pai depositara no filho homem. Queria que fosse valente e corajoso como os gaúchos
tendem a ser, mas Rodrigo era tímido e sonhador. Desde os
anos de infância seu sonho mais querido era o de viajar. Era
interessado pela natureza, ficava horas, reclinado, com u m
ar vago, numa at itude reflexiva, aco mpanhando o comportamento das formigas, que em fila, carregavam fo lhas mais
pesadas que elas para o ninho no subterrâneo; observava
atentamente o crescimento das plantas,o vôo e o canto dos
pássaros. Ficava encantado com os enxames de borboletas
mo narca em sua sazonal migração,quando milhões delas
pousavam nas árvores cobrindo os galhos, para descansar
da longa jornada que realizaram procedentes de países de
clima frio. As fronteiras guardavam para ele algo de misterioso. Tudo para ele era um enigma digno de ser estudado.
Aos seis anos Rodrigo entrou para a escola local. A
esco la era um ant igo e vasto casarão com salas de teto e
paredes desbotadas e um grande porão sombrio. Das janelas
da esco la, avistava-se o córrego Dois Irmãos, ondulante e
silencioso, com suas margens povoadas de goiabeiras silvestres. Durante o recreio, no calor do verão, os menino s
fugiam da classe para enfiar os pés na água fria do rio que
deslizava em cascatas sobre as pedras escuras. Disputava m
entre si para apanhar as frutas maduras das go iabeiras.
Mas só a esco la já era um terreno de imensas perspectivas para o infante Rodrigo. Tudo possuía a possibilidade de mistério. O laboratório de Física, onde não deixavam entrar os pequenos, era cheio de instrumentos deslumbrantes, de copos, medidas, cubos e esquadros. A biblioteca estava sempre fechada para os menores, pois não havia
livros específicos para eles. Os filhos dos colonos não gostavam de ler, preferiam as brincadeiras grosseiras.
Sem dúvida, o lugar de maior fascínio era o misterioso porão da escola. Havia ali um co mpleto silêncio e
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obscuridade. Dava para sent ir na memória o odor da umidade do esconderijo, da sensação de sepultura que emanava
do subterrâneo. Os meninos iluminavam o ambiente com
velas e brincavam de guerra. Guerreavam no grande porão
fechado, jogando uns contra os outros pelotas feitas de argila grudenta, mas co mo doía um desses pelotaços.Antes de
entrar na sala da escola tiravam dos bo lsos essas temíveis
armas.Os vencedores amarravam os prisio neiros nas velhas
colunas. O pequeno Rodrigo tinha pouca destreza, nenhuma
força e muito pouca astúcia. Sempre levava a pior parte.
Quando estava no segundo ano do primário, ocorreu-lhe a idéia maluca, de levar o chapéu de plástico verde
que pertencia ao seu pai, assim co mo sua capa de náilo n, o
farolete que emit ia luz verde e vermelha, co isas que para
ele t inham grande fascínio. Levar essas co isas para a esco la
e pavonear-se co m elas era o seu sonho. Desta vez chovia
torrencialmente e nada mais oportuno do que levar o chapéu de plást ico verde, que parecia um papagaio.
Apenas entrou no pátio da esco la onde corriam como do idos trezentos garotos, o vento fez voar o chapéu como um pássaro. Rodrigo e alguns meninos o perseguiram,
mas quando estavam para pegá-lo voava de novo, entre
assobios e uivo s ensurdecedores dos alunos, gritos que ouvira jamais. O chapéu verde sumiu. Nunca mais vo ltou a
vê-lo, apesar de procurar com insistência pelos arredores.
Estas recordações vieram-lhe co m o tempo. Lembrava-se dos deliciosos sonhos, bo linhos fritos passados e m
açúcar e canela que sua avó fazia e distribuía às crianças
que brincavam co m ele na rua, ao entardecer. També m
lembrava dos fatos pequenos que tiveram importância para
ele, co mo a primeira aventura erótica. Em frente da sua
casa moravam duas garotas que continuamente lançavamlhe o lhares que o extasiavam. Tudo que ele tinha de tímido
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e reservado, elas tinham precocemente demais, a audácia e
a sem-vergonhice se insinuavam co m gestos e palavrões.
Certa vez, Rodrigo estava parado na porta da casa e
disfarçando tratava de observá-las. Uma delas segurava nas
mãos alguma co isa que o interessou. Ele aproximo u-se com
cautela e elas lhe mo straram um ninho de passarinho silvestre, tecido de musgo e plumas, que continha do is pequenininhos e maravilhosos ovinhos azuis. Quando ele quis pegá-lo, uma delas disse que primeiro ele devia deixá-las mexerem nas suas roupas.
Ele tremeu de medo e fugiu rapidamente, perseguido pelas jo vens ninfas que seguravam alto o troféu precioso. Na perseguição o menino entrou por uma ruela que saia
num paio l vazio, um antigo celeiro que pertencia ao seu pai.
As assaltantes conseguiram alcançá-lo e começaram a tirar
as suas calças, quando no corredor se ouviram os passos do
seu pai. Assustadas elas deixaram cair o ninho e os maravilhosos ovinhos azuis se espat ifaram no chão do seleiro. As
assaltantes e a vít ima escondidas debaixo de caixas vazias
continham a respiração. As garotas fugiram sem serem vistas, enquanto o pequeno Rodrigo fo i descoberto pelo pai,
assustado e chorando desesperadamente.
Havia num dos quartos da casa um baú com guardados misteriosos. No fundo, entre outras coisas, repousava
um maravilhoso papagaio de papel de seda vermelha, ainda
com a linha, pronto para ser empinado. Um dia quando a
mãe remexia aquela arca sagrada Rodrigo debruçou-se e
caiu dentro, de cabeça, quando tentava alcançar o papagaio.
Não conseguiu apanhá-lo, ainda levou uma reprimenda e
alguns puxões de orelha da mãe.
Quando fo i crescendo ele abria a arca secretamente.
Havia ali uma co leção de leques preciosos e intocáveis,
sugerindo amores ocultos, de tempos remotos. Essa história
de amor o fascinou e ele teve a curiosidade em desvendá-la.
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Entre tantas outras coisas misteriosas, estava um pacote
amarrado com fita rosa, que cont inha centenas de cartões
postais, todos endereçados para Amanda Franciscatto por
alguém que só os rubricava.
Esses cartões eram maravilho sos. Eram retratos de
artistas famo sas daquela época, com trajes suntuosos, cobertas de jó ias, co lares de brilhantes e penteados elaborados. Também t inha vistas de castelos, cidades e paisagens
de países lo ngínquos. Durante muito tempo, Rodrigo se
satisfazia só em admirar as figuras e paisagens.
Mas na medida em que fo i crescendo fo i lendo aquelas mensagens de amor escritas numa caprichada caligrafia. Aquelas linhas eram portadoras de uma arrebatadora paixão. Eram enviadas de todos os lugares do mundo por
este viajante desconhecido. Estavam cheias de frases deslumbrantes, de paixão e audácia enamorada. O garoto começou, também, a enamorar-se do personagem de Amanda
Franciscatto. Ele a imaginava co mo uma atriz bela e orgulhosa, coberta com jó ias esplendorosas. Mas como estes
cartões postais t inham chegado ao baú da sua mãe?Por mais
que pensasse nunca conseguiu desvendar esse mistério.
Passavam os anos, e co m a idade Rodrigo co meçou
a se interessar pelos livros. Lia tudo. Desde aventuras de
Dom Quixote de lá Mancha, às viagens fantásticas de Julio
Verne, sugerindo fatos cient íficos e obras geográficas, de
uma engenhosa inventiva, interessante e ao mesmo tempo
instrutiva e profét ica. Ro mances de Jorge Amado e de Érico
Veríssimo. As leituras levavam seu espírito às regiões dos
sonhos. Empo lgado ele vivia os personagens dos livros. O
hábito de ler despertou nele o desejo de viajar e a curiosidade em conhecer outros países.
Surgira o primeiro amor. Ingênuo, secreto, que se
desenrolou em cartas enviadas à Vanessa. Essa jovem era
filha do padeiro, e um estudante de fora, perdido de amor
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por ela, pediu a Rodrigo para que escrevesse as suas cartas
de amor. Certa vez ao encontrar-se com a co legial, ela perguntou-lhe se era ele o namorado dela e autor das cartas
que lhe enviava. Rodrigo ficou constrangido, mas lhe disse
a verdade. Então ela lhe deu uma caixa de bo mbons de chocolate, que ele não comeu, guardou-a como um tesouro. O
jo vem estrangeiro apaixo nado das cartas, foi ignorado e
esquecido no coração de Vanessa.
Quando Rodrigo era um ado lescente de 14 anos,
tendo terminado o curso fundamental na esco la de Marechal Cândido Rondon, o pai reso lveu mandá-lo estudar em
Foz do Iguaçu. Seus tios Alo ísio e Luisa, sua esposa, possuíam um pensio nato para estudantes na cidade. Rodrigo e
seu primo Álvaro, que morava no Paraguai, iriam hospedarse na pensão da tia Luisa e estudar no Co légio Marista. Matriculados antecipadamente no Co légio, eles chegaram co m
os pais na época do inicio das aulas. Foram aco lhidos carinhosamente pela t ia Luisa e seu marido, e alo jados confortavelmente os dois no mesmo quarto.
No outro dia de manhã, após uma no ite bem dormida, descansados, foram conhecer os arredores do pensio nato, onde iriam passar os seus próximo s quatro anos. Nos
seus cérebros de ado lescentes, principalmente de Álvaro,
que tinha espírito aventureiro, intuiu uma vida cheia de
emoções. Não muito longe das cercanias da cidade, Rodrigo divisou a grande floresta tropical. Imaginou as maravilhas que poderia descobrir no seu interior. Com certeza na
primeira oportunidade iria explorar essa natureza fantástica.
Também chamou a sua atenção o ribo mbar das águas nas
Cataratas do Iguaçu que se ouvia ao longe. Estava encantado com o lugar e a estupenda ocasião de conhecer tudo.
Na região do Extremo Oeste Paranaense encontra-se
uma das mais importantes florestas subtropicais do mundo,
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preservadas no Parque Nacional do Iguaçu, criado em 1939,
pelo presidente Getúlio Vargas. É uma considerável área
de conservação ambiental, destinada à preservação e proteção da fauna e da flora e das pitorescas paisagens. O Parque
protege toda a bacia do Rio Floriano, um dos afluentes do
Rio Iguaçu, cujas nascentes ficam no seu interior. O Parque
Nacional tem uma área de 185.262,20 hectares de floresta
nat iva, que se estende margeando a estrada BR 277.
No lado brasileiro confina co m 14 município s: - de
Foz do Iguaçu, Medianeira, Matelândia, Céu Azul, São
Miguel do Iguaçu, Santa Terezinha de Itaipu, Santa Tereza
do Oeste, Capitão Leônidas Marques, Capanema e Serranópolis do Iguaçu. Vai além, atravessa o Rio Iguaçu e avança
pelo território argentino so mando-se ao Parque Nacio na l
Iguazú em Mis io nes, na Argent ina. A área total de ambo s
os parques nacio nais, brasileiro e argent ino, compõe uma
área total de cerca de 250 mil hectares de floresta subtropical e fauna protegida.
Na parte leste do Parque Nacio nal crescem espécies
da Floresta com Araucária, co mo o angico-branco, aroeira,
bracat inga, canela, cedro, louro-pardo, mandiocão, pessegueiro-bravo, erva-mate e remanescentes do pinheiro-doparaná (Araucária angustifó lia).
Já a Floresta do Rio Paraná e a que apresenta a
maior biodiversidade por hectare com espécies como angico-branco, aroeira, canafistula, canela-guaicá, cedro, louro,
marfim, pessegueiro-bravo, ipê roxo, timbaúva, palmitojuçara, palmeiras, timbó, esporão-de-galo, agulheiro, ervamate (Ilex paraguariensis), e remanescentes de imbuia e
peroba-vermelha. Além de arbustos de frutas nativas co mo
pitanga, arat icum, guabiroba, araçá, jaracat iá e tarumã. Dispersos pelas margens dos rios encontram-se agrupamentos
densos de taquara e pacova e as mais diversas espécies de
cipós e arbustos, num emaranhado de galhos e fo lhagens.
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O Parque Nacio nal do Iguaçu tombado pela Unesco
em 1984 co mo Patrimô nio da Humanidade, abriga as Cataratas do Iguaçu. Sob orientação de guias e dos fiscais do
Inst ituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade,
turistas do mundo todo visitam as cachoeiras e divertem-se
percorrendo o Parque. A aventura pode começar com caminhada pelas trilhas da floresta ou pilotando um barco a motor enfrentando a corrida contra a correnteza em direção as
Cataratas.
Álvaro e Rodrigo, os dois primos e amigos inseparáveis, jovens estudantes, cheio s de entusiasmo resolvera m
um dia gazear a aula do colégio, em Foz do Iguaçu, onde
estudavam, para conhecer as cachoeiras e a mata do Parque
Nacional. Viver essa fascinante aventura seria para eles
adrenalina pura. Acordaram de madrugada e silenciosamente, entraram na despensa da casa para preparar o lanche e
providenciar outros apetrechos para a proeza programada.
Em seguida, cuidadosamente, escapuliram do pensio nato da
tia Luisa, sem serem vistos.
Rodrigo levava às costas a mochila que continha o
lanche, açúcar, uma chaleirinha de alumínio, um farolete de
pilha, uma lamparina a gás, um canivete grande e afiado,
chave de fenda, fósforos, o aparelho celular e GPS e a caixinha de medicamentos. Álvaro carregava uma pequena
barraca, para o caso de precisarem perno itar na mata.
Sem avisar ninguém, correndo, foram direto ao
ponto de ônibus, que os levaria e a outros turistas brasileiros e estrangeiros, madrugadores, rumo às Cataratas. Após
um percurso de 27 quilô metros, o ônibus estacio nou no
ponto final do trajeto. Os passageiros desceram do colet ivo,
e em grupos ficaram co mentando, deslumbrados co m o
fantástico panorama que contemplavam.
- Vamos deixar a mo chila e a barraca guardadas no
escritório da empresa de transporte. Em seguida iremo s
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conhecer a cachoeira - disse Álvaro, já livre da carga saiu
correndo dando cambalhotas rindo, eufórico.
- Espere por mim, primo fo minha – chamou Rodrigo, que sempre estava atrasado.
Entre o trovejar das quedas d`água e o nevoeiro que
se levantava dos abismos, os dois caminharam pela passarela que os levava próximo aos precipícios da “Garganta do
Diabo”.Curiosos chegaram perto, até o final da ponte, loca l
onde podiam apreciar as numerosas quedas d`água.
- È um espetáculo maravilho so, mas muito perigoso
– gritou Rodrigo, por entre o eco das águas trovejantes.
- Vamos embora, já vimos às famo sas Cataratas, ou
vai querer mergulhar nessas águas turbulentas? Nem tente,
pois é morte certa - comentou Álvaro.
Asso mbrados co m a cena deslumbrante, grandiosa e
amedrontadora, com o cabelo e a roupa mo lhada pelo chuvisco das cachoeiras, vo ltaram correndo pela passarela. Os
rapazes estavam exaltados e o fegantes. Sentaram à beira do
caminho para descansar, depois buscaram os pertences que
tinham deixado no escritório da firma. Já mais tranqüilos os
dois amigos comeram os sanduíches que trouxeram para o
desjejum. Terminada a refeição, Rodrigo sugeriu:
- Vamos procurar um barco e subir o rio Iguaçu, até
a primeira trilha que aparecer na beira do rio em direção à
floresta do Parque Nacional. Vamos explorá-lo.
- Finalmente realizaremos o nosso sonho, com certeza será uma experiência fantást ica – disse Álvaro.
Naquela hora matutina os bosques nat ivos do Parque
estavam silencio sos, não havia aragem e sussurro nenhum,
a mata ainda estava dormindo. Dominados pela emoção da
aventura, sem pensar nos perigos que tal proeza apresentava, os dois jo vens se puseram a caminho do rio.
Encontraram um barco solitário amarrado a um toco de árvore. Soltaram as cordas e o empurraram em dire13
ção ao rio; embarcaram e ligaram o motor, o barco começou a subir a correnteza. De repente a embarcação começou a rodopiar e deslizar rumo às cachoeiras. Estavam em
grande perigo, podiam ser arrastados e engolidos pelos despenhadeiros.
- Pegue outro remo e ajude direcio nar o barco para a
margem, senão iremos parar no precipício – gritou Álvaro
desesperado, remando vigorosamente.
Fo i co m dificuldade que, conjugando os esforços
conseguiram levar o barco para junto da margem onde ficou amarrado. Superada a situação crítica, já tranqüilos, os
jo vens pularam para a terra firme e seguiram pela trilha que
levava à densa, emaranhada e silenciosa mata nativa. Dos
rumores da campina tinham ficado apenas o fresco ramalhar das árvores e o rouco perene das corredeiras que rolavam as águas turbulentas por entre os penhascos íngremes.
No caminho da floresta afundam os pés em fo lhagens mortas, estalam os ramos secos, os gigantescos cipós
alçam sua enrolada estatura. O silêncio da mata é amedrontador. A natureza ali produzia uma espécie de embriaguez.
Assustado, um bando de gralhas azuis de peito branco levanta vôo na floresta úmida. As gralhas cruzam, revoam e
pousam nos verdes galhos de uma frondosa caneleira, esses
belo s pássaros tornaram-se o símbo lo do Paraná. E logo
dum ninho soam o pipilar dos filhotes e o grasnido do macho chamando a companheira.
O que os atraía mais eram os pássaros, a variedade e
a beleza da sua plumagem. Também era asso mbroso encontrarem arrastando-se pelos troncos podres e galhos os
grandes besouros negros, fortes, vaidosos, escuros e reluzentes co mo uma lâmina polida. São os gigantes dos insetos. Era de assustar ao vê-los de perto, nos troncos de árvores e nos galhos de pitangueiras. A carapaça deles é muito
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forte, pode-se pisar neles co m os pés que não se parte, com
sua grande dureza defensiva não precisavam de veneno.
Entra pelas narinas o aroma acre, selvagem, do louro e da canela. As touceiras de bro mélias hirsutas e os emaranhados de cipós espinescentes interceptam o passo. É um
mundo vertical, um viveiro de pássaros, uma mult idão de
insetos. Empo leirado numa árvore o sabiá entoa seu canto
mavioso; o tucano preto de peito vermelho, voa de um galho para outro exibindo seu enorme bico amarelo.O besouro
marrom co m reflexos dourados sai do meio da grama e
lhes lança seu odor fét ido de estrume. Assustada com a presença humana uma lagartixa foge pelos galhos da figueira.
Sem perceber Rodrigo esbarra numa touceira, ali e m
cima de uma fo lha pousava uma lagarta-de-fogo, taturana
urticante de pelo s amarelo-vermelhos eriçados, que queima
como fogo, ele retira rapidamente o braço sentindo a dor da
queimadura. Logo se formou um vergão vermelho na pele.
Rodrigo lembrou-se que o remédio para aliviar a dor da
lesão é amônia, que a urina contém. Vira-se para o lado e
colhe o liquido num copinho plást ico. Derrama em cima da
queimadura e a dor logo passa. Agora atentos passam lo nge
da moita de urtigas cujas fo lhas também queimam muito.
Álvaro tropeça em uma pedra e, escavando na cavidade descoberta surge uma imensa aranha de pelos dourados, grande como um caranguejo, imó vel, os encara co m
olhos fixos, depo is desaparece no capinzal. Aco lá os macacos pulam de galho em galho guinchando ruidosamente.
Ouve-se ao longe o urro da onça pintada, que solit ária ronda pela mata. Há vinte anos atrás havia mais de ce m
onças vivendo no parque, hoje existem apenas dez animais,
os homens exterminaram a espécie. Passa correndo, grunhindo uma vara de porcos selvagens (javalis), o cachaço
na frente e as fêmeas co m os leitãozinhos corriam atrás.
Para proteger-se do ataque perigoso e mortal, Álvaro e Ro15
drigo subiram em um tronco alto de árvore, até ver os porcos longe dali.
Na passagem os jo vens cruzam um bosque de samambaias muito mais alto que um ho mem, ao tocá-las de
leve, elas deixam cair nos rostos lágrimas de seus olhos
verdes frios, e assim que eles passam, elas se inclinam e
balançam por muito tempo roçando seus leques no chão da
floresta. No alto das árvores, como gotas das artérias da
selva mágica se inclinam os cálices rubros das orquídeas.
Flores e mais flores semeadas pela margem do caminho. Marias-sem-vergonha mult ico loridas, begônias
vermelhas e amarelas e lírios-brancos do brejo enfeitam a
trilha.Vio letas singelas,timidamente expõem suas pétalas
debaixo da grama. No meio da trilha jazia um tronco podre,
coberto de cogumelos pretos, brancos e amarelos, parecendo orelhas atentas ouvindo os ecos secretos da floresta.
Orquídeas de várias espécies e plantas parasitas tingem de cores o casco caído. Outras plantas exploradoras,
introduzem suas raízes e so ltam os brotos no tronco apodrecido. A barba-de-velho, bro meliácea herbácea, epífit a, de
fo lhas miúdas e flores vio láceas empresta suas barbas cinzentas ao tronco de árvore, deteriorado, de vísceras expostas, deitado como um cadáver no chão da floresta.
Veloz, uma cobra cascavel sai das entranhas podres
do tronco, como uma emanação, como si do tronco morto
nascesse sua alma. Agita a cauda produzindo o som de guizos, está raivosa, ameaçando, pois invadiram seu habitat.
Depois atenta e desaparece rápido no meio do matagal. Ao
lo nge se ouve o mugido do rebanho de antas pastando perto do rio. O eco da floresta repete os lat idos da mat ilha de
cães selvagens na perseguição do veado-campeiro.
Cada árvore que se levanta sobre o tapete da selva
secular e secreta e cada galho de suas fo lhagens, linear,
encrespado, ramoso, enrolado, cada um com seu estilo dife16
rente, como si fosse recortado por uma tesoura divina, de
mo vimentos infinitos. O universo vegetal sussurra apenas
até a tempestade pôr em ação toda a música terrestre. Pois o
silêncio é a lei destas paragens.
A trilha coberta de capim e a falta de orientação dificultam a caminhada dos jovens estudantes. Encontram u m
barranco; em baixo a água transparente de um córrego desliza em cascatas sobre o leito pedregoso. Dançando entre a
água e a luz voa um enxame de borboletas azuis, de cor
pura como o céu. Sutil a raposa cessa de beber água e observa os viandantes, depois segue seu caminho. Um roedor
atravessa a trilha fugindo do lagarto. Ouve-se o estalar das
fo lhas secas, o lagarto corre rápido batendo a cauda, leva
uma codorna na boca, presa que acabara de caçar, desta vez
o camundongo fo i poupado.
Os jovens aventureiros são saudados pelas infinit as
margaridinhas da margem do caminho, que inclinam as
cabecinhas amarelas à sua passagem. Co mo pesquisadores
atentos e compenetrados, estavam extasiados, observavam a
vida que acontecia à sua volta. Distraídos na contemplação
da natureza não viram que estava entardecendo, o sol infiltrava seus últ imo s raios por entre a folhagem da floresta e
as so mbras envo lviam a mata. Era preciso procurar um lugar seguro para pernoitar. Ao saírem de casa, não lhes ocorreu a idéia de que podiam se perder na floresta e seria necessário perno itar, com segurança, pois havia muitos animais ferozes na mata.
- Primo! Está escurecendo! Vamos logo armar a barraca, pode ser perto daquele riacho que atravessamos há
pouco, ali existe uma clareira – sugeriu Rodrigo.
- Espero que seja um lugar seguro – disse Álvaro.
- Então mãos à obra, primo - convidou Rodrigo.
Voltaram até a clareira próxima do córrego, Rodrigo
colocou a mochila em cima de um toco caído, e fo i ajudar
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o Álvaro a desprender a barraca dos ombros.Com a colaboração dos dois em pouco tempo ficou mo ntado o abrigo.
Agora precisavam arrumar gravetos, acender o fogo para
ferver a água para o café. Essa empreitada não foi difíc il,
pois havia muita lenha e fo lhas secas no chão. Precisava m
agir co m cuidado, pois qualquer faísca poderia ocasionar
um incêndio na floresta.
A lenha crepitava em chamas alegres, Rodrigo pôs
água na chaleira e colocou-a no fogo, em cima de duas pedras Não demorou muito e o café estava pronto, e só fo i
saboreá-lo acompanhado dos sanduíches que por sorte trouxeram na mochila. Depo is tomaram banho no riacho, lavaram as meias, camisetas e as cuecas no córrego, dependuraram nos galhos para secar, perto da barraca. Estavam tão
atarefados que não viram um bando de macacos, que curiosos, os espreitava de cima das árvores.
Antes de deitar utilizaram os maravilhosos inventos
da tecnologia moderna: um GPS e o celular. Infelizmente o
celular não funcionou, estava longe da torre, mas pelo GPS
puderam se orientar, o aparelho informou onde se encontravam, indicou todas as coordenadas. Amanhã podiam seguir
a diretriz e sairiam na BR 277,próximo à Matelândia.Foram
dormir tranqüilos, deixaram o fogo aceso alimentado co m
tocos de árvore, servia para espantar os animais selvagens.
Ao clarear do dia, os dois jo vens ouviram guinchos
estridentes e correrias perto do abrigo. Amedrontados e
curiosos, foram espiar pela fresta da lona. Oh! Asso mbro.
Era um bando de macacos que se divert ia co m as roupas
que estavam dependuradas nos galhos. Puxavam entre s i
disputando a roupa. Brincavam co m as meias passando de
um para outro; um macaco enfiou a camiseta na cabeça e
gritava desesperado por não conseguir t irá-la, outro vestiu
a cueca com as duas pernas juntas, cambaleou, caiu, tentou
caminhar e não o conseguindo começou a gritar e rasgá-la.
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- Vamos espantar os macacos e resgatar o que sobrou da nossa roupa – gritou Álvaro.
- Precisamos pegar galhos fortes para expulsá-los,
porque são capazes de nos enfrentar – sugeriu Rodrigo.
Procuraram as varas fortes e co m elas bateram nos
símio s procurando recuperar as roupas que ainda sobraram.
Fo i um embate tumultuado. Finalmente os animais se retiraram, guinchando e brigando fugiram para as árvores. Deixaram as peças de roupa em frangalho s. Os jovens precisaram se contentar com o que restou.
- Agora está na hora de levantar o acampamento,
ajude-me Álvaro a juntar os pertences - chamou Rodrigo.
- Sobrou ainda alguma co isa na mochila para comermos antes de partir? – perguntou Álvaro, que sempre
estava com fo me.
- Só tem um sanduíche, então vamos reparti-lo. Comeremos frutos maduros de araticum para completar.
Após essa parca refeição, partiram pela trilha na direção indicada pelo GPS. Cansados e com fo me, após 4
horas de caminhada saíram na rodovia BR 277, próximo á
Matelândia.
- Vamos sentar na sombra daquele frondoso imbuzeiro para descansar e esperar o ônibus de linha que va i
levar-nos de volta para Foz do Iguaçu – sugeriu Rodrigo.
- Você já imaginou que bronca vamo s levar da tia
Luisa por sumirmos por dois dias sem avisar? – lembrou
Álvaro preocupado.
- Isto se o tio Alo ísio não comunicou nosso sumiço
a nossos pais - comentou Rodrigo.
- Agora é tarde, e só esperar para ver o que vem pela frente, coragem meu primo – comentou Álvaro.
O ônibus estava chegando, Rodrigo acenou com a
mão. O ônibus parou e os do is jo vens embarcaram. Chegaram a Foz ao entardecer. Tia Luisa recebeu-os preocupada.
19
- Por onde andaram meus garotos irresponsáveis?recriminou a tia Luisa.
- Tia não se preocupe, estamos de vo lta sãos e salvos, mas co m muita fo me. Depo is explicaremos tudo - contemporizou Rodrigo.
Depois de bem alimentados e descansados relataram
com entusiasmo, sem deixar de fantasiar um pouco, toda a
aventura vivida nesses do is dias de andanças pelo Parque
Nacional do Iguaçu. Nem pensavam nas conseqüências do
seu ato impensado. A proeza custou-lhes a reprimenda dos
mestres e 3 dias de suspensão no colégio onde estudavam.
Mas pelos co legas eram vistos como heró is. Não se cansavam de co mentar a façanha que viveram naquela floresta.
Mas passada a exaltação trataram de recuperar as aulas e o
tempo perdido. Pois ainda faltavam alguns meses para o
término das aulas e o começo das férias esco lares, tão esperadas por todos os alunos.
Começava o ano de 2002. Álvaro ia co mpletar 20
anos e Rodrigo estava co m 19 anos. Tinham concluído o
curso médio no Colégio Marista, com dist inção. Agora
ansiavam por boas e divert idas férias. Resolveram ir primeiro para a fazenda do pai de Rodrigo, em Marechal Cândido Rondon. A propriedade fica próxima ao Porto Mendes, na Represa de Itaipu. O lago possui belas praias, onde
aos domingos e feriados se aglo meram mult idões de turistas
para o banho no lago, bronzeamento na areia, ou prática de
diversas modalidades de esporte.
Os jovens podiam usufruir as prolongadas férias para se divertir no lago, pescar, cavalgar pela fazenda ou simplesmente dormir em baixo das frondosas mangueiras.Certo
dia feriado foram até o lago. A praia estava lotada. Famílias
com crianças, meninos e meninas ado lescentes que se divert iam jogando vô lei de praia, peteca ou bola.
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No meio da turma estavam duas belas garotas da
mesma idade, e amigas inseparáveis Daniela e Ângela. A
primeira era loura de olhos azuis, o cabelo encaracolado
caindo em cachos pelo pescoço, esbelta, parecia um biscuit
(boneca de porcelana), Daniela era descendente de alemães.
Ângela era alta e esguia, de pele clara, o lhos cor de mel e
cabelos castanhos longos esvoaçando ao vento, era um
belo tipo lat ino.
Os primo s Álvaro e Rodrigo, jovens saudáveis,
cheio s de vigor, com adrenalina a flor da pele, estavam parados na praia observando as duas jovens jogando vôlei,
quando a bo la tocada por Ângela fo i parar no meio deles.
Na posse da bola aproximaram-se, um pouco receosos.
- Oi! Sou Álvaro e esse é meu primo Rodrigo, podemos participar do jogo com vocês? – arriscou Álvaro.
- Sim! Será ótima oportunidade de fazermos novas
amizades. Eu sou Ângela, essa é minha amiga Daniela. Venham, faremos duplas e vamo s ver quem ganha! Aviso que
nós somos boas nesse jogo - convidou Ângela.
Passaram a tarde jogando e se divert indo na prainha.
Combinaram um encontro para o dia seguinte. Daniela encontrou afinidades co m Álvaro, já Rodrigo ficou mais afim
de Ângela. Fo i uma atração mútua. Trocaram números de
telefo ne e e-mail. Naquela noite foram ouvir música nu m
barzinho. Os do is casais cont inuaram a se encontrar, de dia
na prainha, e à no ite freqüentavam os barzinho s da cidade
ou iam ao cinema. A amizade entre eles fo i se consolidando.
Passados alguns dias de fo lgança, uma tarde ao jantar, Giovani pai de Rodrigo, lembrou-se da promessa feita
a Conrado e a Eliana, pais de Álvaro, de que a família
toda iria passar alguns dias na fazenda do casal, no departamento de Alto Paraná, no Paraguai. Era uma belíssima
propriedade de 500 hectares, toda cult ivada co m soja e milho.Conrado possuía mais 1000 hectares de terra com flo21
resta tropical e campos no Gran Chaco, onde criava gado.
Além de investir no país, Conrado atuava no mercado imobiliário e optou por morar em Ciudad del Este, num condomínio fechado.
- Menino s!O que me dizem de passar alguns dias na
fazenda do tio Conrado? Os pais de Álvaro devem estar
com saudades dele – lembrou Giovani.
- Será maravilho so, vamos nos divert ir muito - responderam ambos - Quando vamos?
- Iremos assim que eu me co municar co m Conrado,
portanto, dependerá da disponibilidade do seu tempo e m
receber a nossa visita - informou Giovani.
Portanto, todos aguardavam ansiosos a confirmação
do dia da viagem para o Paraguai.
REPÚBLICA DO PARAGUAI
Paraguai é um país sem litoral, situado no centrosul da América do Sul, ocupa o centro da bacia do Rio da
Prata. A parte leste consiste em terrenos ondulados, com
colinas arborizadas, cobertas por florestas tropicais e pastagens férteis. É a que apresenta a maior produção agríco la.
Além do cult ivo da soja e milho principais produtos de exportação, plantam-se trigo, algodão e tabaco.
No oeste fica o Gran Chaco, uma grande área pantanosa, uma planície baixa (alt itude máxima de 100 metros)
coberta por densas matas de arbustos, entremeada por formações herbáceas e grupos de palmeiras, mais para o oeste
predomina uma mirrada formação de acácias, mimosas e
palmeiras, interrompida por manchas de grosseira vegetação herbácea. Praticamente desabitada e que forma 2 /3 do
país. A região do Chaco é o santuário zoológico para inúmeras espécies de mamíferos, répteis, pássaros e insetos.
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O território paraguaio é dividido em duas regiões
pelo rio Paraguai. O contraste entre uma e outra pode ser
percebido logo. A oriental suavemente ondulada acha-se
recoberta por bosques. A ocidental (ou chaquenha) revela
apenas uma vegetação esparsa e seu so lo erodido, semiárido, oferece menos possibilidade de cult ivo.
É ocupada por criadores de gado. A criação de gado
tem sido uma at ividade básica desde os primórdio s da colonização. De modo geral, a part ir da margem ocidental do
rio Paraguai, o Gran Chaco é apenas uma planície chata,
abso lutamente uniforme, sem qualquer desnível importante,
e torna-se mais seco à medida que avança para oeste, apresentando algumas áreas desért icas a noroeste.
Desde a época pré-colo mbiana Paraguai era habit ado por tribos de índios guaranis, que até ho je marcam forte
presença no país. Viviam da agricultura, quando em 1530, a
região começa a ser co lonizada pelos espanhó is. Assunção,
a atual capital, é a principal base da colônia no século XVI.
A part ir de 1630, para proteger os guaranis da escravidão,
os padres jesuítas constroem cerca de 30 missões onde estabelecem uma sociedade organizada e auto-suficiente.
Ao longo do século XVII, caçadores de escravos espanhó is e portugueses atacam as missões, mas encontram
forte resistência dos índios. Co m a expulsão dos jesuítas de
Portugal e do Brasil em 1759, os guaranis são massacrados,
e as missões são pilhadas e partilhadas pelos colonizadores.
Co m uma população de 6,2 milhões de habitantes
(2008), a atual co mposição demográfica do Paraguai inclu i
95 % de mest iços de guaranis e espanhóis, tendo apenas
3% de índios guaranis puros. É um país bilíngüe, tendo
como idio mas oficiais o espanho l e o guarani.
O êxodo brasileiro rumo ao Paraguai, intensificado a
partir da década de 1970, fo i conseqüência indireta da guerra da Tríplice Aliança formada há 130 anos por Brasil, Ar23
gent ina e Uruguai, contra o Paraguai. Para obter uma saída
para o mar, o Paraguai entra em guerra, em 1870, contra a
Tríplice Aliança. O conflito deixou marcas do lorosas e profundas na população do país. Durante a guerra, todo paraguaio capaz fo i co locado em serviço ativo, formaram-se
batalhões co mpletos de mulheres e regimentos de menino s
entre doze e quinze anos de idade.
Paraguai é derrotado em 1875, co m o terrível saldo
de 2/3 da população dizimada. Só ficaram vivo s velho s,
mulheres e crianças. Devastado pela guerra, as culturas tinham sido destruídas e os rebanhos haviam desaparecido.
Até os arquivos históricos paraguaios foram confiscados
pelos vencedores, e estão sendo reclamados pelos donos.
Com o terrível resultado de toda a população adulta
masculina exterminada o país ficou sem mão-de-obra produtiva. O Paraguai tem so lo fért il e possuí grandes espaços
vazio s e a partir da década de 1970, iniciou-se um lento
processo de migração de milhares de agricultores brasileiros vindos dos Estados de São Paulo, Paraná, Minas Gerais
e principalmente do Nordeste, que foram atraídos pelas
promessas de terras férteis e baratas, oferecidas pelo governo do presidente paraguaio general Alfredo Stroessner.
Os imigrantes passaram a ocupar as terras paraguaias, com a formação de fazendas dedicadas à agricultura
e a pecuária.Uma legião de brasileiros desbravou praticamente toda a faixa de fronteira co m o Paraguai alcançando
as margens da Represa da Usina Hidrelétrica de Itaipu.
A fert ilidade do solo e o preço barato passaram a atrair um número crescente de fazendeiros e pequenos agricultores. A maior parte das empresas e dos co lonos estrangeiros se concentra na fronteira co m o Brasil, numa faixa
territorial de 2.000 km² Os produtores agropecuários derrubaram importantes extensões de florestas e bosques com a
conseqüente destruição de habitat de espécies animais e
24
aves. Calcula-se que o número de brasileiros assentados nos
departamentos fronteiriços se situe em 300 mil pessoas, são
chamados de “ brasiguaios”.
Depois de co lonizar uma das mais promissoras regiões do país, esses brasileiros, sentem-se agora como invasores na terra em que vivem há 20 ou 30 anos Os mais expressivos enclaves brasileiros concentram-se em município s
do Departamento de Alto Paraná, Canindeyú e Amambay,
fronteiriços aos estados do Paraná e Mato Grosso do Sul..
E numa dessas co lônias da fronteira, em Porto Índio, no município de Mbaracayú, grande produtor de soja,
milho e trigo, que vem ocorrendo os mais graves conflitos
entre “brasiguaio s” e camponeses paraguaios. Os sem-terra
paraguaios invadem e ocupam as terras produtivas dos
“brasiguaios”.
Em agosto de 2008, o ex-bispo católico Fernando
Lugo elege-se presidente do Paraguai. Uma das propostas
de campanha de Lugo é apresentada e discut ida. É o polemico projeto de lei que estabelece “As Zonas de Segurança
nas Fronteiras”numa faixa de 30 quilô metros, fato que provocou insegurança nos agricultores “brasiguaios”.
Terminado o curso médio, os dois primos foram tentar o vest ibular na Universidade Federal em Curit iba. Álvaro pretendia o curso de Jornalis mo e Ciências Sociais, depois faria mestrado em Antropologia. Iria tentar fazer os
dois cursos ao mesmo tempo. Rodrigo optou pelo curso de
Bio logia, pretendia fazer mestrado em Eco logia. Estudaram
com afinco e passaram no vest ibular co m dist inção, foram
admit idos nos cursos esco lhidos. Freqüentaram a Faculdade durante os anos seguintes, estudando com persistência
em jornada dupla, para conseguir os diplo mas.
Num final de ano em que desfrutavam das férias na
fazenda dos pais de Álvaro, no Paraguai, ouviram uma no25
ticia assustadora, pela televisão. No dia 26 de dezembro de
2004, aconteceu um vio lento choque entre as placas tectônicas Indiana-australiana e Eurasiática no Oceano Índico.O
abalo sísmico provocou a formação de ondas gigantescas
ou tsunamis que at ingiram a costa sul da África, o litoral da
Índia, do Bangladesh e de Mianmar, além das ilhas da Indonésia. Deixou cerca de 260 mil mortos em 11 nações, a
maior parte das vít imas se encontrava na província de Aceh
na ilha de Sumatra, próxima do epicentro do terremoto.
Esse acontecimento despertou grande interesse dos
dois estudantes, principalmente de Álvaro, jornalista, que
possuía vocação aventureira.Rodrigo tinha talento e paciência de pesquisador,entusiasmou-se perante a ocasião de estudar os danos causados no meio ambiente pelo cataclismo.
- Rodrigo! Ai está a oportunidade de vermos e avaliarmos os estragos do terremoto e do tsunami nos países
atingidos – comentou Álvaro.
- Seria uma ótima ocasião, mas é uma pena, pois ainda temos obrigações a cumprir na Faculdade. E temos
ainda o mestrado pela frente. Mas não fiquemos decepcionados, pois aparecerão outras oportunidades de viajar e
conhecer o mundo – ponderou Rodrigo, pensat ivo.
Decorridos os quatro anos em que os do is primos
cursaram a Faculdade, finalmente chegou o dia da formatura. Álvaro recebeu o diplo ma de jornalista e antropólogo e
Rodrigo como bió logo e pesquisador, especialista em gestão ambiental. No dia da formatura os pais de Álvaro e de
Rodrigo, deixando os seus múlt iplo s afazeres nas respect ivas fazendas, co mpareceram à festa. A felicidade deles era
imensa, pois co mo não tiveram oportunidade de estudar,
viram seus sonhos realizados pelos filho s, formados e m
cursos superiores.
No entanto, mais do is anos transcorreram até os dois
primos concluírem os mestrados nas especialidades preten26
didos. Durante os oito anos, isto é, todo o tempo em que
estudaram na faculdade em Curit iba correspondiam-se co m
as jovens Daniela e Ângela pelo celular ou mandavam mensagens pelo e-mail. Nas férias da Faculdade viajavam para
a casa da família onde eram recebidos carinhosamente pelos pais. Suas amigas Daniela e Ângela saudosas da companhia e boa conversa ansiavam pela vo lta dos primos.
O ult imo ano trouxe grande surpresa para o jornalista Álvaro. A sua bela e admirável Daniela, tendo se formado em Direito na faculdade em São Paulo, arrumou ali u m
bo m emprego e um novo amor. O pretendente logo a pediu
em casamento, pedido que ela aceitou. Convidou Álvaro e
Rodrigo para serem seus padrinhos de casamento.
Ângela, jo vem exuberante em alegria e beleza, esperava pelo Rodrigo enquanto estudava Psico logia na Faculdade em Cascavel. Eles se amavam verdadeiramente, mas o
casamento, por enquanto, não estava nos planos de Rodrigo. Ele e o primo Álvaro, aventureiro por natureza, pretendiam viajar para conhecer o mundo. Esperavam que aparecesse uma proposta de trabalho na sua especialidade nu m
país estrangeiro.
ILHAS DO CARIBE
A oportunidade surgiu por ocasião da grande catástrofe em 12 de janeiro de 2010. A co lisão das placas: tectônicas Caribenha e do Pacífico ocasionou um vio lento terremoto de magnitude 8 na escala Richter, que abalou a ilha
Hispanio la at ingindo principalmente a parte oeste ocupada
por Haiti, no Mar do Caribe. Devastou a fértil e pitoresca
região e deixou em ruínas a capital Porto Príncipe. Morreram 230 mil pessoas e milhares ficaram desabrigadas, se m
teto, sem alimento e sem saber para onde ir. Após o terremoto quase todos os habitantes capazes, ho mens e mulhe27
res, tomados pela coragem e espírito de solidariedade, mais
ainda, em pro l da própria sobrevivência, entregaram-se ao
trabalho exaust ivo, quase sobre-humano de salvar vidas,
removendo vít imas dos escombros com ajuda do exercito.
A Doutora Zilda Arns, fundadora e coordenadora internacional da Pastoral da Criança, e da Pastoral da Pessoa
Idosa. Formada em medicina pela UFPR, aprofundou-se na
estudo da saúde pública, pediatria e sanitarismo, visando a
salvar crianças pobres da mortalidade infant il, da desnutrição e da vio lência em seu contexto familiar e comunitário.
Zilda Arns encontrava-se em Porto Príncipe e m
missão humanitária. Na ocasião do terremoto, pouco depois
de proferir uma palestra na igreja, para cerca de 150 pessoas, enquanto conversava co m os religiosos, de repente a
terra começou a tremer. O país fo i abalado por um terríve l
cataclismo. No desabamento da igreja a Doutora Zilda fo i
atingida diretamente na cabeça quando o teto caiu. Ela morreu na hora. Com profundo pesar da população local, seu
corpo fo i trasladado para o Brasil, onde fo i sepultado.
O Caribe é co m freqüência citado como o Mediterrâneo da América, ambos são mares cercados por terras e
ilhas e quase que idênt icos em tamanho. Ambos foram
importantes historicamente, mas aí terminam as semelhanças entre os dois grandes mares. As terras que costeiam o
Mediterrâneo deram origem a muitas civilizações notáveis e
a três grandes religiões, enquanto que das mais famosas
grandes civilizações indígenas que viveram no Caribe foram: a maia na península de Yucatán e a asteca na América
Central. Viveram ali ainda as civilizações dos arauaques,
dos caraíbas, e as africanas.
Mas o que o Caribe de fato oferece, é um mar de beleza tropical, um conjunto de ilhas inigualável e uma série
variada de nacio nalidades que as conquistou e ocupou. As
ilhas exibem praias enso laradas de areias brancas e águas
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azuis cristalinas que são sua gloria, no entanto, os furacões
são seu inferno. A região do Caribe é seguidamente cenário
das mais vio lentas manifestações da natureza, como os
grandes terremotos que abalam as ilhas e os vio lentos furacões que são gerados ao largo da costa da África e chegam
rugindo, atravessando o Atlânt ico Sul com fúria demo níaca.
Em todos os verões, um conjunto destes monstros
vem promover a desordem entre as ilhas, algumas vezes
deixando de lado por completo a terra atingindo só o mar,
em outros anos devastando tudo que estava em seu caminho, arrancando árvores, derrubando casas, matando animais e milhares de pessoas. Algumas ilhas menores são
destruídas com freqüência maior.
A ilha de Hispanio la ou Quisqueya co mo a chamavam seus povoadores originais arauaques e tainos. O navegador genovês Cristóvão Colombo chegou à ilha em 1492,
bat izou-a de Hispanio la, em respeito ao rei espanho l, a serviço do qual estava navegando. Estabeleceu uma co lônia
agríco la na costa atlânt ica e escravizou os nativos. No fim
do século XVI, os indígenas estão quase todos exterminados, e subst ituídos por mão-de-obra escrava africana,.nas
plantações de cana-de-açúcar.A ilha se torna uma das maiores produtoras de açúcar das Américas entre 1570 e 1630.
Em 1697, a parte oeste da ilha onde fica o Hait i é
cedida à França que importa milhares de escravos africanos
para as lavouras de cana-de-açúcar. Em 1791, os franceses
têm até meio milhão de escravos, o maior contingente de
mão-de-obra escrava africana. Os negros da nação Daomé
(Benim) constituem a maioria. Eles levaram consigo os
velho s deuses africanos e as práticas religiosas como o vodu, semelhante ao candomblé, embora a religião oficia l
fosse o crist ianis mo.
Apesar de o francês ser o idio ma oficial, a língua
mais usada é o crioulo. O Hait i possui 96 % da população
29
predominantemente negra, co m um pequeno grupo de mestiços que forma a elite do país. A maioria dos dominicanos
e hait inianos são negros ou descendentes da mis cigenação
de europeus franceses e espanhóis co m escravos africanos.
A ilha Hispanio la, se divide atualmente em duas repúblicas, o Haiti que ocupa 1/3 da ilha no lado oeste, os 2/3
no leste é ocupada pela República Dominicana, tendo como
capital Santo Domingo.O país conquista a independência
em 1821, vo lta a ser anexada à Espanha em 1861 e reconquista a independência quatro anos depo is.É ocupado militarmente pelos EUA, entre 1916 e 1924.
O Hait i conquista a independência em 28 de novembro de 1803, e passa ser a primeira república negra do
mundo, mas é o país mais pobre das Américas. É seguidamente açoitado e devastado por tempestades tropicais e
furacões seguidos de inundações, que deixam centenas de
mortos e milhares de desabrigados. Desde a independência
o país suportou dois séculos de instabilidade, disputas pelo
poder, revoltas e golpes de estado com assassinatos, inaugurando um regime de terror, com governos autoritários,
corruptos e conseqüente pobreza endêmica.
Em 2004, eclode no Hait i uma rebelião armada contra o governo.A ONU aprova o envio de uma força internacional para controlar a situação, com 3,5 mil so ldados dos
EUA, da França, do Chile e do Canadá. O Brasil contribu i
com a maior parcela da Missão de Estabilização das Nações
Unidas no Hait i. Em 2008, a missão reúne 47 países e tem
9008 soldados e policiais, dos quais 1.250 são brasileiros.
No terremoto de 12 de janeiro de 2010, no Hait i
morreram aproximadamente 150 soldados brasileiros, entre
as inúmeras vít imas, que logo foram subst ituídos por novo
contingente. Na remessa das novas tropas, foram convidados pelo governo brasileiro, os pós-graduados pela UFPR,
30
Álvaro como jornalista e Rodrigo, bió logo especializado
em engenharia do meio ambiente.
Sedentos de aventura aceitaram de imediato a proposta para integrarem a co missão de co laboradores vo luntários, tendo como uma das principais finalidades a avaliação do impacto ambiental que afetou o país. Álvaro como
jornalista e observador em repassar reportagens confiáveis
sobre o terremoto que destruiu a cidade-capital Porto Príncipe. Para convocar a ajuda humanitária e est imular as doações material e financeira dos países ricos do mundo. Mandou farto material para a rede BBC de Londres para avaliação. A diretoria do jornal gostou das reportagens e no meou-o como seu colaborador.
Assim que o avião militar em que viajavam pousou
na ilha, Álvaro e Rodrigo foram recebidos pelo comandante
militar local. Após as apresentações,ele os informou da
necessidade em procurarem hospedagem nalgum hotel, na
cidade de Santo Domingo, capital do país vizinho , a República Do minicana, que pouco ou quase nada havia sofrido
com o cataclismo, no entanto a cidade de Porto Príncipe
estava destruída.
Entre centenas de pessoas que ajudavam a socorrer
os acidentados no meio das ruínas, estava um homem de
meia idade, empenhado a prestar socorro às vít imas cuidadosamente ajudando a t irá-las dos esco mbros. Enquanto os
dois brasileiros procuravam um me io de transporte que os
levasse à Santo Domingo, aproximou-se deles aquele senhor de meia idade, de cabelos grisalhos e semblante bondoso.Estava com o rosto e roupas empoeiradas de reboco.
- Sou Pierre Dubois, proprietário no vale do Cibao,
no país vizinho. Ouvi vocês indagar procurando um transporte para passageiros. Estou indo para minha casa que fica
a 400 quilô metros daqui, próxima à cidade de Santo Domingo. São quase 5 horas de viagem. Se quiserem aprovei31
tar a carona os levo até lá. Peguem as suas bagagens e as
coloquem na caminho nete.
- Muito prazer em conhecê-lo, senhor Dubois, sou
Álvaro Ritter, esse é meu primo Rodrigo Pazinatto, somos
brasileiros, fazemos parte da comissão de ajuda humanitária
vo luntária. Será um grande favor se nos levar no seu veículo. Pois está um tanto difícil de conseguir, no mo mento,
qualquer meio de transporte – comentou Álvaro.
Levando nas mãos o estojo do microcomputador
portátil (notebook), dirigiram-se os três até o veículo Mitsubishi L 200 - 4/4, uma caminho nete de cor preta, com
vidros escuros, que estava estacionada a duas quadras do
local. Um motorista negro esperava no vo lante. Ele gent ilmente abriu a porta do carro para os passageiros e os ajudou
a colocar o cinto de segurança. Assim que todos estava m
confortavelmente acomodados ele virou-se para o patrão e
perguntou:
- Para onde vamo s senhor!
- Vamos para Santo Domingo, dirija co m cuidado,
pois lo ngo trecho do asfalto da estrada está danificado,
cheio de fendas profundas e perigosas - observou Dubo is.
Chegaram ao dest ino já tarde da no ite. Viajara m
quase em silencio, po is todos estavam muito cansados. Na
recepção do hotel “Barcelo na”, Pierre Dubo is apresentou
os dois brasileiros:
- Álvaro Ritter e Rodrigo Pazinatto, brasileiros. São
meus amigos, trate-os bem - recomendou ao recepcionista.
– Agora vocês meus jo vens, tratem de jantar e tenham um bo m descanso, eu vou embora, mas amanhã virei
buscá-los para darmos cont inuidade no resgate das vít imas
do cataclismo, co m certeza tem muita gente viva embaixo
dos escombros – comentou o bondoso Dubois.
Assim, no outro dia ao amanhecer o mensageiro do
hotel bateu na porta do quarto dos moços.
32
- Vim avisar que o senhor Dubo is está os esperando
no salão de café.
- Comunique-lhe, por favor, que sem demora vamos
descer - respondeu Álvaro, e voltando-se para o amigo
disse - apressa-te Rodrigo, o homem está esperando.
Após o desjejum embarcaram na caminho nete e seguiram rumo ao Porto Príncipe onde iam enfrentar mais u m
dia exaustivo. De fato, chegando lá encontraram um grande
tumulto, gemidos, pedidos de socorro e choro de crianças
perdidas das suas mães. Era preciso arregaçar as mangas.
Pierre Dubo is não esperou ser convocado, fo i atender o grito de socorro vindo de uma casa que desabava. Não
viu o perigo que o ameaçava. Uma viga de cimento desprendia-se do andar de cima e ia at ingi-lo na cabeça.Os
moços que o acompanhavam não esperaram o desfecho
mortal, Álvaro correu e com força sobrenatural desviou a
viga fatal, Rodrigo por sua vez arrastou Dubois para fora da
área perigosa.
- Salvaram-me a vida, meus amigos, se não fosse a
rapidez, a força e a coragem de vocês, agora eu estaria morto, esmagado pela viga de cimento, no entanto, saí apenas
com alguns arranhões no corpo e um grande susto – falo u
comovido Pierre Dubo is, abraçando-os.
Álvaro estava co m vinte e o ito anos, era dotado de
um vigor físico, verdadeiramente excepcio nal, de estatura
elevada, tinha o mbros largos e notável musculatura. Já o
Rodrigo era um garboso jovem, um tanto tímido e comedido, de vinte e sete anos, alto e esbelto, de cabelos louroescuros, olhos expressivos e sorriso cheio de franqueza.
Apesar da experiência traumát ica recentemente vivida o trio não se deixou abater; cont inuaram trabalhando
removendo esco mbros e salvando vidas de adultos e crianças. Já era bastante tarde quando Pierre Dubo is convidou os
dois moços para juntos retornarem a Santo Domingo.No
33
lo ngo percurso da viagem de vo lta, já bastante familiarizados, o senhor Dubo is co meçou a relatar a história da sua
vinda para as terras da ilha de Hispanio la.
- Estou hoje co m 60 anos, e já se passaram 30 anos
que vivo na ilha. Sou de origem francesa e pertenço a uma
família de armadores de Havre. Logo depois da morte do
meu pai e de minha mãe, deixei o Havre para ir se estabelecer na ilha de Hispanio la.Co m a herança que me coubera
comprei terras incultas e graças a várias inovações agríco las
e novos processos mecânicos, introduzidos por mim nos
engenhos de açúcar, consegui uma fortuna notável.
- Hispanio la é uma grande ilha no Mar do Caribe,
ostenta um perfil mo ntanhoso, tem numerosas praias de
areias brancas cheias de fileiras de altas palmeiras, que
dançam as fo lhas sob a brisa tropical. A Cordilheira Central cruza o território da ilha desde o noroeste até o sudeste.
As montanhas estão cobertas por florestas densas.O Caribe
fo i povoado por espanhó is, muitos deles novos conversos à
religião católica romana, que fugiam da execução em praça
pública na fogueira durante a Inquis ição como hereges, ou
da grande expulsão dos judeus da Espanha em 1492.
- Entre as cordilheiras Central e Setentrional de terreno montanhoso, coberto por uma vegetação de maravilhosas árvores tropicais e regado por muitos riachos encachoeirados encontra-se o fért il vale de Cibao.Seu índice
pluvio métrico anual era exatamente o necessário para o
crescimento da cana-de-açúcar, do café, e de uma variedade
de frutas tropicais desconhecidos na Europa, especialmente
as delicio sas mangas e bananas.
- Espalhadas pelas mo ntanhas baixas havia inúmeras
áreas planas ideais para plantações, das quais t inha be m
mais de mil, cada uma delas capaz de fazer a fortuna de seu
feliz proprietário. É neste vale de terras muito férteis que se
situam as minhas vastas propriedades.
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- Sem falsa modést ia, sou considerado como o mais
prospero proprietário da ilha, e minha fortuna aumenta dia a
dia pela cultura de cana-de-açúcar, do café, do algodão e
pela criação de gado. Aqui se trabalha duro desde o amanhecer até à no ite. Eu pessoalmente administro a maior
parte do trabalho nas usinas e a exportação do açúcar.
- A mão de obra nos canaviais é de creo les, descendentes de escravos africanos, ho je contratados e pagos pelo
seu trabalho. Antigamente os escravos vinham para as ilhas
do Caribe num navio negreiro espanho l, co mprados nu m
entreposto português na costa africana. Muitos escravos
morriam nos navios antes de chegarem ao destino, os vivos
eram vendidos em leilões na praça pública. Levados pelos
fazendeiros para as plantações de cana-de-açúcar, de café, e
de algodão onde eram tratados como animais de carga.
- Por qualquer deslize recebiam cast igos corporais.
Levados ao Pelourinho, o patíbulo da cidade, onde se aço itavam os infratores da lei do patrão, com um chicote de
couro cru com farpas de ferro na ponta. Os instrumentos de
tortura usados eram: o potro, o cepo, a coleira de madeira
ou gargalheira, as bo las de ferro presas às pernas por correntes para que não pudessem fugir. Em 1791, o general
Toussaint L´Ouverture ex-escravo, comandou a revo lta dos
negros que conseguiram a abo lição da escravidão em 1794.
- Assim, inteiramente absorvido pelo trabalho e pelos meus negócios, durante a sucessão dos anos eu não tive
tempo para procurar uma esposa, um verdadeiro amor. Os
fazendeiros da minha época t inham em redor de si um harém com belas serviçais negras e mulatas, mas os meus
envo lvimentos amorosos com algumas delas eram apenas
distrações passageiras. Eu me contentava co m aquela vida
desco mpromissada, que me deixava o coração livre e intacta a minha independência.
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- Depois de chegar aos 38 anos comecei a sent ir um
vazio no coração. Reconheci a necessidade de uma afeição
verdadeira, durável, que não fosse apenas sensual e ter-meia casado para const ituir família, co m uma moça filha de
um fazendeiro amigo meu, se precisamente nessa época,
não se tivesse apaixo nado por uma formosa mulata que
exercia o cargo de governanta da minha casa, e que desde
então se tornara minha companheira e amiga inseparável.
- A mulata chamava-se Carmem. Era uma excelente
criatura, meiga, dedicada e de sentimentos afetuosos puros,
mas sem ambições, nunca pretendera ser minha esposa legítima. Nessa situação ambígua vivi co m ela por seis anos, no
fim dos quais reconhecendo a dedicação e o amor que tinha
por mim casei-me co m ela no cartório local, numa cerimônia discreta. Da minha ligação com Carmem nasceram três
filhas: Jeane, Caroline e Anette.Com o casamento civil legitimei a situação da mãe e das meninas.
- As minhas filhas, falam corretamente quatro línguas: francês, espanho l, inglês e o crio le.Tem uma excelente educação universitária e musical e sabem pintar quadros
maravilhosos. Jeane está com 20 anos, Caroline com 18 e a
caçula Anette com 16. Para mim, um pai coruja que as ama
com ternura, as três são igualmente belas.O fino e delicado
talhe dos seus semblantes recorda a pureza das estátuas
gregas, acrescentando a beleza da cor de bronze das suas
peles, faz delas as moças mais cobiçadas da ilha.
Dubo is absorto, concentrado nos seus pensamentos,
sem noção do tempo, discorria sobre a sua vida numa voz
mo nótona, mesclada de certa angúst ia, quase sussurrando,
como se falasse consigo mesmo, sem perceber que revelava
fatos de sua existência a pessoas desconhecidas. Falou nu m
delírio míst ico, de sonâmbula indiferença por muitas horas,
durante a viagem. Parecia haver perdido qualquer contato
com o mundo exterior. Enfim, quando chegaram ao destino
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parece que o fazendeiro Dubo is despertou do estado de êxtase de que parecia estar possuído.
- Perdoem-me rapazes se me excedi na minha confissão, foi apenas um desabafo, por favor, esqueçam o que
ouviram - disse ele encabulado.
- Senhor Dubois, o senhor não nós deve explicações.
Não ouvimos nada, não lembramo s de nada – disse Álvaro.
- Para sinceramente desculparem pelo meu maçante
e inconveniente monó logo no retorno à Santo Domingo,
peço que aceitem meu convite para jantar em minha casa
amanhã. Mandarei meu motorista buscá-los na cidade.
- Agradecemos a gent ileza do convite, não faltaremos, salvo se houver algum obstáculo imprevisto, que nós
force a faltar – respondeu Rodrigo.
Os do is jovens chegaram na hora combinada. Caminharam pela larga alameda até o saguão da mansão.A casa
de inspiração grega, era retangular, de dois andares, rodeada de colunas. Com uma varanda no térreo e uma sacada
coberta no andar superior que circundava os quatro lados,
com cô modos lumino sos e assoalhos de mogno, pintados
em cores pastéis. A sala estava enfeitada co m flo res, e iluminada co m tantas lâmpadas que a no ite era clara como o
dia. Ramos floridos de buganvílias rosa-lilás desciam da
sacada, enroscando-se nos pilares.
Foram recebidos na porta por um mordomo negro,
vestido com uniforme branco de linho co m galõ es dourados, que os conduziu até à sala de jantar da herdade onde o
fazendeiro reunia a família. A peça principal daquela sala
era uma magistral cadeira de carvalho, co m um encosto
todo entalhado e dois braços maciços que fazia com que
qualquer um que a ocupasse parecesse um alt ivo e respeitável nobre. E m redor da mesa viam-se sentadas cinco pessoas: Pierre Dubo is, sua esposa Carmem e as três filhas do
casal: Jeane, Caroline e a caçula Anette. Dubois interrom37
peu a conversa e o lhou para a porta, que acabava de abrirse. Seu semblante alegrou-se.
- Entrem meus caros amigos e sintam-se à vontade.
Por favor, tomem os seus lugares a mesa – convidou o fazendeiro Dubo is.
Álvaro sentou no lugar reservado, ao lado da bela
Jeane, cujas faces enrubesceram e seus grandes olhos negros tornaram-se brilhantes. Rodrigo ocupou o lugar ao
lado da fascinante Caro line.Durante o jantar a conversa
transcorreu amena entre os convidados e os donos da casa.
Fo i servido um aprimorado jantar regado a bom vinho francês, para a sobremesa havia frutas tropicais.
Rodrigo adorou a conversa co m a Caroline que mo strou ser muito inteligente e com largo conhecimento, desde
as difíceis condições de trabalho nas plantações de cana-deaçúcar e algodão nas fazendas locais, o problema da pobreza extrema nos meios rurais do país, o alto grau de analfabet ismo e a exclusão do povo à educação e assistência médica. O convidado escutava co m atenção e ocasionalmente
comentava o assunto.
O resultado desse encontro, foi que Rodrigo apaixonou-se pela exuberante Caroline. Admirando-a pela sua
eloqüência, amou-a co m todo o ardor da juventude, e mais
intensamente ainda pelo fato de ser ele por natureza t ímido
e reservado, concentrava em si próprio as chamas que lhe
abrasavam o coração. Nem por um instante veio-lhe à mente a namorada Ângela, que suspirava por ele no Brasil.
O pai observou o encantamento dos dois. Os olhos
negros de Caro line brilhavam co m o fogo da paixão. Falava co m arrebatamento fixando seus olhos nos dele.Ficara m
assim extasiados, enamorados, esquecendo que estavam na
companhia dos pais e demais pessoas da família.
Enquanto isso Álvaro e Jeane, conversavam entre s i
sem deixar de incluir no diálogo Pierre Dubo is e Carme m
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sua esposa. A conversação versou sobre a catástrofe que
atingiu o Hait i, destacando a prioridade em retornar no dia
seguinte ao país vizinho, para dar continuidade ao trabalho.
Assim que o casal ficou só à mesa, o fazendeiro comentou com a esposa, esboçando um sorriso discreto:
- É um simpát ico moço, esse Rodrigo, um excelente
caráter, uma alma cheia de sent imentos bons e elevados.
Fo i também excelente a impressão que em mim produziu a
figura e o comportamento do moço Álvaro. Eles são gente
da melhor estirpe.Confesso que seriam ótimos maridos para
nossas filhas Jeane e Caroline. Reparou como trocam o lhares carinhosos entre si?.
Por fim, atravessando o salão, foram tomar café na
varanda da mansão, abrigada pela so mbra de árvores seculares. As horas passaram co m rapidez numa conversação
amena.Já era tarde da noite quando Álvaro lembrou:
- É chegado o mo mento da despedida, pedimo s licença para nós retirarmos. Amanhã e ainda durante muitos
dias ficaremos trabalhando em Porto Príncipe até concluirmos o nosso trabalho. Neste ínterim não deixaremos de
visitar o amigo e sua distinta família. A sua amizade senhor
Dubo is nos honra muito.
- Eu e minha família so mos gratos por conhecê-los
– retribuiu o fazendeiro Dubois.- Voltem sempre.
- Terminada a nossa tarefa retornaremos ao Brasil,
mas vamo s sempre nos lembrar com profunda saudade de
que longe do nosso país, achamos na família de um bondoso francês a mais cordial e afetuosa hospitalidade. Jamais
há de se apagar da nossa memória a lembrança dos que tão
generosamente nós receberam aqui e pensaremo s sempre
com gratidão e afeto na família Dubo is - disse Rodrigo.
Em seguida o jovem t irou do bolso um pequeno estojo forrado de veludo azul. Cont inha três anéis de prata
ant iga trabalhados de forma extravagante co m desenhos de
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delicados hieróglifos, cada um incrustado com uma péro la
negra. Deviam fazer parte dalgum conjunto de colar e bracelete, usados pelas damas egípcias da alta sociedade.
- Estes anéis têm o valor atribuído pelos arqueólogos, como relíquias do ant igo Egito. Foram achados nas
explorações feitas no fundo do rio Nilo, próximo à Alexandria. Uma superst ição afirma que estes anéis dão felicidade
às pessoas que os usem – comentou Álvaro
Rodrigo pegou um anel da caixinha e dirigiu-se à
Caroline, e Álvaro pegando outro anel aproximou-se de
Jeane, ambas estenderam a mão esquerda para receber a
jó ia. Anette, a menina ado lescente, recebeu o terceiro anel.
- Em no me da grat idão oferecemos à vocês estas
prendas, esperamos que estes anéis, de fato, lhes dêem a
ventura, conforme diz a tradição popular- falou Rodrigo.
- Em meu no me, e em no me das minhas filhas, lhes
agradeço uma tão delicada e afetuosa fineza – disse Dubo is,
e estendeu os braços, estreitando-os afetuosamente
- Está na hora de partirmos – disse Rodrigo, dirigindo um o lhar triste em direção à Caroline que, pálida, co m
os olhos negros marejados olhava para Rodrigo, demonstrando grande carinho.
- Meu motorista Roque, vai levá-los até o hotel e
amanhã bem cedo irá apanhá-los e conduzi-los até o aeroporto de Santo Domingo. Eu irei para Porto Príncipe, meu
dever me ordena a dar andamento ao projeto de reconstrução da cidade e socorrer as pessoas at ingidas pela catástrofe
– declarou Pierre Dubois. O ho mem era considerado por
todos um grande filantropo.
- Aceitaremos de bo m grado a sua oferta e agradecemos pela gent ileza – disse Álvaro e com o lhar para os
lados procurou a presença da formosa Jane.
Puseram-se a caminho através do parque em grupos,
que seguiu em direção a caminho nete. A alguns passos,
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caminhavam Álvaro e Jeane murmurando promessas, atrás
iam Rodrigo e Caro line de mãos dadas, aco mpanhando-os a
alguns passos atrás estavam Dubo is e Carmem. Iam silenciosos absortos em pensamento comum, sent indo uma tristeza profunda pela iminente e inevitável separação.
- Adeus, até breve – exclamaram os rapazes acenando com as mãos de dentro do veículo já em mo vimento.
Todas as pessoas da família Dubo is ficaram em pé,
imó veis, seguindo com os olhos a caminho nete até sumir na
curva do caminho. Durante o tempo que permaneceram na
ilha Hispanio la, os dois moços foram recebidos muito afetuosamente pela família do rico proprietário do vale do Cibao, na República Do minicana. Ali deixaram seus corações
e duas jovens enamoradas. Será que voltariam algum dia?.
Depois do terremoto de 12 de janeiro de 2010, uma
grande epidemia de có lera alastrou-se na região central de
Hait i. Para isso contribuíram as más condições de higiene
nos abrigos, muito lixo espalhado por toda parte e os esgotos a céu aberto que contaminaram os reservatórios de água
potável e os rios do país. As populações da área rural foram os mais at ingidos, morreram mais de 1.250 pessoas e
milhares estão expostos ao contagio. Mais uma vez a calamidade at ingia o país mais pobre da América Lat ina.
Álvaro e Rodrigo estavam no saguão do aeroporto
de Santo Domingo. Já fizeram o chek-in, iam embarcar no
avião que os levaria de retorno ao Brasil, quando Álvaro
sentiu que alguém bat ia nas suas costas. Ele virou-se rapidamente e fo i grande a sua surpresa ao deparar-se co m
Gerson Albuquerque, um amigo e co lega da Faculdade de
Jornalismo e Antropologia em Curit iba.
- Gerson! Que surpresa! O que faz por aqui? – perguntou Álvaro, abraçando o amigo - Rodrigo! Venha ver
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quem está aqui! - Ele fo i ao bar tomar um cafezinho, vamos até lá encontrá-lo – convidou Álvaro.
- Agora explique para nós, porque está aqui e para
onde vai? - interrogou Rodrigo.
- Estou indo para a Jamaica, o meu avião fez escala
em Santo Domingo, e fo i um acaso que nos reuniu aqui.
Mas vocês aonde vão?- perguntou Gerson.
- Estamos retornando para o Brasil, já completamos
o nosso trabalho aqui - respondeu Álvaro.
- Imploro para vocês mudarem de rumo. Vamos
comigo para a Jamaica. Vamo s conhecer o país, banhar-se
nas suas águas tépidas, desfrutar das belíssimas praias, conhecer as lindas jamaicanas e ouvir o reggae, música popular de origem jamaicana, nos barzinhos. Em três vai ser
mais divert ido. Por favor! Não pensem mais, troquem as
passagens e vamo s para Jamaica - insist ia Gerson.
- O que você acha Rodrigo?- Perguntou Álvaro.
- Eu topo, se você topar – respondeu Rodrigo, entusiasmado.
- Então vamos suspender as passagens para o Brasil
e comprar para a Jamaica, que é muito perto daqui, é apenas
260 km distante do Haiti – aprovou o outro.
Dirigiram-se ao balcão da Co mpanhia Aérea TransJamaica Air Services e co mpraram as passagens. No trajeto
curto, que durou aproximadamente meia hora estavam desembarcando no aeroporto de Kingston na Jamaica.
Ainda no aeroporto foram ao balcão de informações
aos turistas. Um funcio nário negro, de no me Patrick, muito
gent il e atencioso, falando inglês, perguntou-lhes o quê e
quanto queriam saber sobre o seu país.
- Tudo que puder nos informar, desde a localização,
seu povo, sua história e geografia e principalmente locais
de diversão. Eu e Álvaro somos pesquisadores e jornalistas,
Rodrigo é bió logo e ambientalista - confirmou Gerson 42
Viemo s para conhecer o país.Mas primeiro indique para nos
um bo m hotel e restaurante, depois trataremos da diversão.
- Posso lhes garant ir que encontrarão excelentes hotéis e bons restaurantes, pois a metade da renda nacional é
proveniente de turistas como vocês, atraídos pelas belezas
naturais do país e pelo conforto da uma das melhores redes
hoteleiras do Caribe, e os divertimentos são para todos os
gostos. Há maravilhosas praias, lindas garotas e cassino
para os arrojados jogadores – informou Patrick.
Combinaram de encontrar-se depois do plantão de
Patrick, na sala de estar do hotel “Xaimaca” indicado pelo
guia. Sentados comodamente em vo lta da mesa do bar, tomando um copo de cerveja gelada aco mpanhada de aperitivo de camarão crocante, esperavam Patrick, que não demorou a chegar. Puxou a cadeira e sentou-se à mesa pedindo uma cerveja bem gelada. Desdobrou o mapa e começou
a desfiar a história de Jamaica.
- Cristóvão Colombo chegou à ilha de Jamaica e m
1494. Jamaica é a terceira maior ilha do Caribe, na América
Central. Tem 10.991 km² de região montanhosa e clima
tropical. No leste, o terreno eleva-se para formar as densamente arborizadas Montanhas Azuis, local onde se refugiavam os escravos fugit ivos das fazendas. Há na ilha vários
mananciais e fontes termais em suas luxuriantes florestas.
Vastos pântanos impenetráveis e encostas de rochedos inescaláveis. Aquela ilha fora desenhada e criada por uma natureza enlouquecida.
- A região era habitada desde tempos imemoriais pelos pacíficos índios arauaques, que se dedicavam à caça e a
pesca, plantavam mandioca, abóbora e milho, e com cantos
e danças cultuavam seus deuses. Moravam em choupanas
cobertas com fo lhas de palmeira. O canto e a dança era m
elementos importantes da cultura arauaque, adoravam ídolos, mas acreditavam em um só Deus, criador de toda a na43
tureza. Foram dizimados pelos colonizadores espanhó is por
não aceitarem sua religião e não se adaptarem ao trabalho
escravo nas lavouras de café e cana-de-açúcar.
- Desde o ano de 1568, navio s negreiros co mandados por piratas ingleses, espanhó is, franceses ou portugueses, partiam co m suas frotas, singrando os mares, dirigiam-se à costa oeste da África, mais precisamente à Costa
do Marfim, Benin e Ango la que era o entreposto de venda
de escravos. Capturados nas matas natais eram levados para
o coração do Caribe, onde eram vendidos de ilha em ilha
para os fazendeiros espanhó is. Piratas aventureiros, a escoria do mundo, atacava os navio s negreiros tentando roubar
os escravos que transportavam. Eram travadas vio lentas
batalhas pela posse da carga valio sa; nos porões dos navio s
se amontoavam até 500 escravos em condições miseráveis.
- Os colonizadores compraram escravos africanos
para iniciar o cult ivo de cana-de-açúcar e algodão. No decorrer do tempo quase meio milhão de africanos foram embarcados a força nos navios negreiros, trazidos para as ilhas
do Caribe e vendidos em escala crescente por traficantes
para os fazendeiros, para trabalhar nas plantações. Eles eram a grande massa trabalhadora na economia co lonial.
- Ao longo do século XVI, as fazendas e os engenhos de cana-de-açúcar se espalham por diversas ilhas do
Caribe, inclusive na América do Sul, principalmente, em
grande escala, no norte do Brasil. O mercado europeu estava ávido por açúcar. Jamaica apesar de ser uma ilha mo ntanhosa possuía vales co m solo apropriado para o cult ivo de
cana-de-açúcar e facilidade para comprar escravos. As ilhas
de Jamaica, Hispanho la e Cuba passam a ser centros no
Caribe da cultura canavieira. Os proprietários das grandes
plantações sustentavam a posição de maior prestigio no
escalão das castas na sociedade caribenha.
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- Grandes invest imentos são feitos pelos ricos donos
de engenhos de açúcar. Mansões e casas em est ilo espanho l
são construídas nas ilhas. O palacete do fazendeiro Nunes
de Balboa y Carvalhal era de tijo lo e madeiras nobres, co m
uma entrada ampla para a carruagem, pát io calçado de paralelepípedos, uma fo nte de água revest ida de azulejos portugueses e sacadas arejadas co m grades de ferro batido, cobertas de trepadeiras perfumadas.
- Os móveis e adornos eram todos adquiridos e m
Paris. Cada família era uma sociedade patriarcal, numerosa
e fechada, que se misturava apenas co m outras do seu
mesmo nível. Possuíam a seu serviço inúmeros escravos
negros e escravas de todas as idades, na cozinha, faxineiras,
lavadeiras, amas de leite, e exército deles trabalhando nas
lavouras de cana-de-açúcar e de café.
- Circulavam relatos pavorosos sobre a escravidão
nas Ant ilhas e nas Américas. Os fazendeiros locais asseguravam que as atrocidades nas ilhas eram pura invenção dos
negros. A crueldade era malvista e inconveniente perante o
clero humanista. Mas todas as aparências indicavam claramente o aspecto vergonhoso e desumano da prática da escravidão em todas as ilhas do Caribe e nas Américas, até
que houve uma rebelião dos escravos negros e os revo ltosos
conseguiram a abo lição da escravidão em 1833.
- Em certa ocasião, anos atrás, numa plataforma nas
proximidades do porto em Kingston, na Jamaica, estavam à
venda quatro escravos adultos e um menino nu, de uns do is
ou três anos. Os interessados examinavam os dentes deles
para calcular a idade, o branco dos olhos para verificar o
estado da saúde, e o ânus para assegurar de que não estava
tapado com estopa, o truque mais comum para dissimular a
disenteria. Uma senhora de certa idade, protegendo-se do
sol co m uma so mbrinha de seda, pesava co m sua mão enlu-
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vada os genitais de um dos ho mens. Procurava um negro
saudável, forte, bom reprodutor.
- A única mulher do lote de escravos apertava a criança nua contra seu corpo e implorava a um casal de compradores que não os separassem, que seu filho era esperto e
obediente, dizia que ela era ainda jo vem, boa reprodutora,
havia t ido vários filhos e cont inuava sendo muito fért il.
Pois era costume separar os filho s pequenos das mães escravas, para que não se ocupassem co m eles, sua obrigação
era trabalhar arduamente e cuidar dos filhos das suas donas. Com freqüência os recém-nascidos eram vendidos.
- A negra Faust ina fo i co mprada junto com o filho,
pela fazendeira Margareth Morgan e seu marido Will, donos da plantação “Esmeralda”, de cana-de-açúcar. Após
concluir a compra da escrava, o casal levou-a e ao menino
para sua fazenda. Ela ia servir como criada particular de
Margareth, e o menino Peter seria o criado de recados e
para exercer pequenos serviços. Foi lhes dada para moradia
uma cabana próxima à casa grande.
- Na mata escurecia cedo sob a densa cúpula das árvores e amanhecia tarde por causa da neblina enredada nas
samambaias, nos meses de calor escaldante fust igados por
furações tropicais.Á tarde quando o céu era impenetráve l
manto negro ouviam-se apenas o assobio incessante dos
canaviais, o murmúrio das so mbras dentro da casa e, as
vezes a vibração secreta de tambores distantes.
- Naquele verde profundo das matas, de repente,
surgiam pinceladas de cores; o enorme bico amarelo e alaranjado de um tucano, penas iridescentes de papagaios e
araras, flores tropicais penduradas nos galhos. Havia água
por todos os lados, riachos, charcos, córregos, chuva, cascatas cristalinas atravessadas por arco-íris, que caiam do céu e
se perdiam debaixo de uma massa densa de samambaias
brilhantes de gotículas do orvalho mat inal.
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- A cabana da negra Faust ina era mais ampla do que
parecia ser por fora. Muito organizada, cada co isa em seu
lugar preciso, escura, mas bem vent ilada. O mo biliário era
esplendido comparado ao de outros escravos: uma mesa de
tábuas, um armário descascado, um baú enferrujado, várias
caixas que os escravos da fazenda haviam lhe dado para
guardar seus poucos pertences e os remédios, e uma coleção de panelas de barro para suas cozeduras.
- Folhas secas e palha de milho rasgada em t iras,
cobertas com um pano xadrez e um cobertor fino seca-poço
de algodão, serviam de cama para ela e seu menino. Do
teto de fo lhas de palmeira pendiam ramos secos, punhados
de ervas, répteis dissecados, penas, colares de contas, sementes, búzio s e outras coisas necessárias para a sua ciência. Faust ina era uma experiente curandeira e sacerdotisa
vodu, ela dirija as cerimô nias rituais. Os negros das fazendas vizinhas a identificaram e proveram de apetrechos necessários para a prática dos rituais do vodu e da cura.
- Nesse mo mento a silhueta da negra Faust ina passou pelo pátio iluminado pelo luar e pelas tochas que mantinham acesas de no ite para a vigilância. O o lhar do capataz
dos escravos a seguiu. O patrão a chamou com um assobio
e, um instante depois, ela se apresentou na varanda, tão
silenciosa co mo um gato.Vestia uma saia preta, desbotada
e remendada, mas bem feita, e um engenhoso turbante co m
vários nós que acrescentava um palmo à sua altura.
- Era uma mulher esbelta, de seio s proeminentes,
olhos puxados de pálpebras adormecidas e pupilas douradas, co m uma graça natural e mo vimentos precisos e elást icos. Irradiava uma energia poderosa, que os homens sent iam na pele. Haviam contado ao patrão a respeito das cerimô nias vodu em que os sacerdotes bebiam sangue de animais sacrificados,o demônio aparecia em pessoa para copular com as mulheres pela frente e com os ho mens por trás.
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- Isso é verdade Faust ina? - perguntou o patrão Will.
- Não é verdade, patrão! – respondeu com firmeza.
Vodu é a designação comum às divindades de Daomé (Benin) na África. O culto é de origem jejé-dao meana, praticado nas Ant ilhas, principalmente no Hait i e Jamaica e que
combina elementos de possessão e magia, co m influências
cristãs. Porque o senhor Will não vai verificar pessoalmente
um desses rituais? Verá que não tem nada de extraordinário, e apenas uma prática religio sa.
- Um dia, o fazendeiro Will, depo is de ficar as horas mais quentes da tarde mergulhado no torpor da sesta, fo i
visitar a curandeira, por pura curiosidade, ocultando o propósito verdadeiro, que era de averiguar o comportamento
real dos negros nos cultos. Encontrou a escrava Faust ina
sentada numa cadeira velha, de vime, diante da porta de sua
cabana arruinada pelas últ imas tempestades, cantarolando
num dialeto banto, enquanto separava fo lhas de um ramo
seco e as colocava sobre um pano.
- Estava tão concentrada na tarefa, que não o viu até
ele parar na frente dela. Deu mostras de que ia se levantar
mas o fazendeiro deteve-a co m um gesto.A escrava o fereceu-lhe água. Will bebeu do is go les de uma cabaça, esperou
alguns minutos até recuperar o fô lego e, quando se sent iu
mais aliviado, fo i observar de perto o altar, onde havia imagens feitas de pedra-sabão e de gesso, de deuses africanos
e de santos cristãos, oferendas de flores de papel, pedaços
de batata-doce, um dedal com água, um cálice de aguardente e charutos de tabaco para os loas.
- A cruz não era cristã, representava as encruzilhadas, mas não teve dúvidas de que a estatua de gesso pintado
era da Virgem Maria.O fazendeiro estendeu uma das mãos
para pegar o sagrado asson do vodu, uma cabaça pintada
com símbo lo s, colocada sobre um bastão, decorada co m
contas e cheia de ossinhos de um defunto recém-nascido,
48
mas se conteve a tempo. Ninguém devia tocá-lo sem a permissão do seu dono. A escrava Faust ina era, de fato, uma
sacerdotisa co mpetente e respeitada pela co munidade negra.
Ela não tirou os olhos de seu trabalho met iculo so e também
não o convidou para sentar porque não tinha cadeira.
- Era difícil calcular a idade de Faust ina, ela t inha o
rosto liso sem rugas, mas o corpo esbelto maltratado, seus
braços eram magros, as mãos ásperas, os seios salientava m
da blusa co mo pequenos mamões. Tinha a pele negra, reluzente, o nariz reto e largo na base, os lábios grossos, olhos
cor de azeitona, e o olhar firme de líder. Cobria a cabeça
com um turbante colorido, sob o qual se adivinhava a massa
abundante dos cabelos carapinha.
- Com a convivência diária entre Margareth e a escrava Faust ina surgiu uma inusitada amizade e tolerância da
dona com a serva. Margareth era uma mulher meiga, caridosa, de sent imentos nobres, compadecia-se do sofrimento
dos escravos, portanto, assim que teve conhecimento da
aptidão inata da escrava co mo curandeira, conhecedora das
mezinhas caseiras, incent ivou e liberou-a para que ajudasse
o frei Baltazar no atendimento ao seu rebanho.
- Faust ina levantava antes do amanhecer, quando o
frei Baltazar já estava rezando fazia um bom tempo, e o
acompanhava à cadeia, ao hospital, ao asilo de loucos, ao
orfanato e a algumas casas particulares para dar comunhão
aos anciãos e doentes acamados.O dia inteiro, sob o sol ou
chuva, a figura mirrada do frei co m sua bat ina marrom e
sua barba emaranhada circulava pela cidade e vilarejos.
- Era visto nas mansões dos ricos e em barracos miseráveis dos escravos, nos conventos e nos bordéis, pedindo
esmo la no mercado e nos cafés, oferecendo pão aos mendigos mut ilados e água aos operários cansados, sempre seguidos por uma leva de cães famélicos. Nunca se esquecia de
conso lar os castigados pelo infortúnio e os doentes em hos49
pitais. A negra Faust ina sempre o acompanhava onde fosse.
O padre Baltazar t inha o mesmo o lhar doce de cachorro
grande e cheiro a alho, usava a mesma bat ina surrada, imunda, sua cruz de madeira, e sua barba lo nga de profeta.
- Ao entardecer, voltavam para a choupana de Faustina, onde os aguardava a freira Lucinda, co m água e sabão
para se lavarem antes de se alimentarem. Faustina colocava
os pés de mo lho no balde co m água morna e sal, enquanto
o padre Baltazar atuava co mo árbitro, resolvia pendengas e
dissipava animosidades entre os negros e capatazes. À no ite, o piedoso padre se cobria co m um cobertor roído pelas
traças, e munido de uma lamparina, saia co m a escrava
Faust ina para se meter com a ralé mais perigosa. Os delinqüentes o toleravam, porque respondia aos palavrões com
bênçãos sarcásticas, e ninguém conseguia int imidá-lo.
- Não chegava com a intenção de condenar nem co m
o propósito de salvar almas, mas para fazer curativos e m
esfaqueados, separar gente vio lenta que agredia bêbados
contumazes, impedir suicídios, socorrer mulheres espancadas, reco lher cadáveres e arrastar crianças abandonadas
para o orfanato da freira Lucinda. Se por ignorância algum
bandido se atrevia a agredi-lo, cem punhos se levantava m
para ensinar ao forasteiro quem era o padre Baltazar.
- Entrava no Mercado de Escravos, o pior antro de
depravação da cidade portuária de Kingston, protegido por
sua inalterável inocência e sua auréo la de bondade. Ali se
aglo meravam, em espeluncas de jogo e bordéis, os remadores de barcos, traficantes, piratas, cafetões, meretrizes, desertores da polícia, marinheiros de fo lga, ladrões e assassinos. Faust ina aterrorizada caminhava entre a lama, vômito,
excremento e ratos, agarrada ao hábito do padre, invocando
Jesus em voz alta e Olorum em silêncio, enquanto o padre
saboreava o prazer do perigo. “Jesus vela por nós irmã
Faust ina”,garant ia-lhe feliz. Ao fim de uma semana de an50
dança a escrava t inha os pés em chagas e as costas quebradas, mas jamais reclamava.
- O casal Will Morgan e Margareth eram felizes no
casamento. Suas plantações de cana-de-açúcar produzia m
muita riqueza, e o casal vivia confortavelmente. Mas havia
uma so mbra que empanava a sua felicidade. Eles desejava m
ardentemente ter um filho. Margareth já estava beirando os
quarenta anos, logo seria tarde demais. Mesmo tendo adotado o pequeno escravo Peter ela não estava feliz. Certo dia
sonhou que estava grávida. Será que era verdade? Co m o
passar dos dias o sonho se confirmou, ela realmente estava
esperando um filho. A gravidez prosseguiu tranqüila até o
dia do parto. Naquele dia Margareth amanheceu com muitas dores. As contrações eram freqüentes, o parto anunciava-se muito trabalhoso, difícil. E la so fria muito.
- No seu desespero de dor mandou chamar a escrava
Faust ina. Ela saberia o que fazer, já que era parteira, tinha
feito vir ao mundo muitas crianças naquela comunidade.
Faust ina, co mo se adivinhasse estava esperando, pronta,
com seu vest ido cerimo nial branco, a saco la de remédios,
seus co lares e o chocalho de cuia (asson). Sem fazer perguntas, dirigiu-se para a casa, subiu pela varanda para o
quarto onde estava Margareth deitada na cama, pálida, gemendo e contorcendo-se de dor e desespero.
- Na entrada do quarto, Faustina que na verdade era
sacerdotisa do vodu e vidente, viu o Anjo da Morte e fo i
sacudida por um calafrio, mas não recuou. Cumprimentou-o
com uma reverência agitando a cuia (asson) com chocalhar
de ossinhos e lhe pediu permissão para se aproximar da
cama da parturiente. O deus dos cemit érios e das encruzilhadas, co m seu rosto branco de caveira e chapéu negro, se
afastou, convidando-a a se aproximar da moribunda, que
ofegava co mo um peixe fora da água, encharcada de suor,
com os olhos vermelho s de terror, lutando com seu corpo.
51
- A curandeira colocou em seu pescoço um de seus
colares de sementes e búzios e lhe disse algumas palavras
de consolo. Depois se virou para o espetro da Morte, acendeu um charuto e o agitou, enchendo o ambiente de fumaça,
depois desenhou um circulo de giz em torno da cama e começou a rodar com passos de dança, apontando os quatro
cantos da casa com o chocalho de ossinhos (asson).
- Concluída sua saudação aos espíritos, fez um alt ar
com vários objetos sagrados que tirou do saco, colocou
oferendas de rum e pedrinhas, e por últ imo sentou-se aos
pés da cama, pronta para negociar co m o Anjo da Morte.
Ambos se entregaram a um prolongado regateio em linguagem ioruba, tão denso e veloz que não se entendia nada.
Discutiam, irritavam-se, riam, enquanto ela fumava o charuto e soprava a fumaça. Por fim chegaram a um acordo.
- Ela se dirigiu para a porta fechada, abriu-a e, com
profunda reverência, despediu o Anjo da Morte, que saiu
voando. Faust ina agradecendo em oração aos deuses pelas
vidas salvas, rapidamente se vo ltou para Margareth, que
fazia os último s esforços para o parto e recebeu nas mãos
uma criança viva e saudável. O pai (fazendeiro Will) assistiu a tudo fascinado, nunca t inha visto algo parecido. Intrigado e cheio de curiosidade, resolveu estudar o vodu.
- Comentava-se co m freqüência que os escravos
vindos da África estavam introduzindo o vodu na região,
aquele temível culto africano; presenciavam as danças estranhas dos negros à no ite nas praças. Antes era só barulho
de tambores, canto e muito rebolado, mas agora havia uma
bruxa que dançava possessa co m uma cobra lo nga e gorda
enroscada no corpo, metade dos participantes entrava e m
transe.
- Era preciso ver o espetáculo grotesco de homens e
mulheres espumando pela boca com os olhos revirados, os
mesmos que depo is se arrastavam para trás dos arbustos
52
para se atracarem co mo animais no cio. Aquelas pessoas
adoravam uma mistura de deuses africanos, santos católicos, a natureza, os planetas e um lugar chamado Daomé.
- O co mércio de escravos negros entre a África, o
Caribe e o Brasil, ocorre ao longo do período colonial e até
o final do século XIX. Dominado pelos portugueses, espanhó is, ingleses, ho landeses e franceses, o tráfico existe desde o século XV. Entre 1550 e 1850, chegam ao Brasil cerca
de 3,5 milhões de cat ivos, trazidos do continente africano,
especialmente da Guiné, Costa de Marfim, Mali, Congo,
Ango la, Moçambique e Benin (Daomé). Diferente de outros
países, a escravidão no Brasil só fo i extinta em 1888.
- O Mar do Caribe tomou o nome dos caraíbas, povos indígenas que, à chegada dos colonizadores europeus,
habitavam as Pequenas Ant ilhas, a região das Guianas e o
litoral centro-americano. Os espanhó is do minaram o Mar
do Caribe co m seus navios transportando o ouro e a prata
extraídos das ricas minas no Peru, Bolívia e em outras terras americanas. O depósito central para esses tesouros era o
Porto de Cartagena na Co lombia, quando eram carregados
em navio s que os transportavam para o porto de Sevilha na
Espanha. Nas Salinas de Cumaná na Venezuela, os espanhó is se abasteciam de sal, que era levado para Europa..
- A Jamaica serve de base estratégica para o combate dos corsários e piratas britânicos contra a Espanha, na
América. Depo is de ter descoberto o Caribe, no final do
século XV, a Espanha se apoderou de muitas ilhas, mas a
Grã-Bretanha, a França e Holanda também reclamaram a
sua parte, combateram entre si, do minaram e exploraram as
ilhas no mar do Caribe.
- A ilha de Jamaica fo i colônia espanho la de 1509 a
1655, quando fo i tomada pelos ingleses.No decorrer dos
séculos XVIII e XIX, ela é palco de insurreições ant iescravagistas e ant ico loniais.Apo iada na mo nocultura açucareira,
53
o país so fre e empobrece co m a abo lição da escravatura em
1833, e com o fim dos privilégios aduaneiros ao país. O
empobrecimento da população gera inquietação social por
várias décadas. Vio lentos confrontos entre as tropas do governo e a gangue de Coke, jamaicano, acusado de chefiar
uma rede internacio nal de drogas e armas.
- Os ingleses do minaram a ilha de Jamaica até agosto de 1962, data em que lhe fo i concedida a independência, mas o país passou a fazer parte do Commo nwealth.O
governo atual da ilha é mo narquia parlamentarista, tendo
como chefe de Estado a rainha Elisabeth II, do Reino Unido, representada pelo governador Patrick Allen (2009).
- Jamaica possui 2,7 milhões de habitantes (2010),
sendo 90% da sua população descendente de escravos africanos. Fala-se o inglês (oficial) o inglês creo le e dialetos
africanos. Conserva 31,3 % de florestas naturais. A cultura
do país é marcada pela música do estilo reggae lançada por
Bob Marley co mo Slave Driver, e pelo movimento rastafari, que é uma autent ica religião negra. O rastafarianismo é
relat ivo à seita religiosa dos jamaicanos e de outros povos
de origem negra africana das ilhas caribenhas, que crêe m
no retorno dos negros à África, usam cabelos rastafári e
fumam pango (maconha) como preceito religioso.
- Em setembro de 1988 a Jamaica fo i devastada pelo
furacão Gilberth,o pior deste século, causando enormes
perdas de vidas e deixando sem abrigo 20% da população.A
Jamaica exporta bauxita e tem no turismo sua principal fo nte de receitas externas.O desemprego e o tráfico de drogas
contribuem para o aumento da vio lência no país, com altas
taxas de ho micídios.
Álvaro e Rodrigo no retorno de Jamaica e de Hait i
para o Brasil viajaram no avião do exercito brasileiro. O
país que deixaram marcou-os com tristes recordações, no
54
entanto, a vizinha República Do minicana deu-lhes grande
alegria e co mpensação, com a valio sa amizade do fazendeiro Dubois e sua família, co m que foram agraciados.
Os dois jo vens seguiram imediatamente para a casa
dos seus pais.Foram recebidos com alegria na casa paterna,
e mais carinhosamente pelas garotas Ângela e Daniela, suas
eternas apaixonadas. Mereciam um pro longado descanso, e
diversão que seria oferecido pela família e pelo s amigos.
Mas não era isso que satisfazia e aquietava a alma dos primos.Seu espírito aventureiro os inst igava a cont inuar a viajar pelo mundo. Eles sonhavam em ir para o Chile, um país
maravilhoso, com praias paradisíacas e vinhos excelentes.
- Quando pensa ser a época oportuna de realizar a
nossa viagem para o Chile? - perguntou Rodrigo ao seu
primo Álvaro.
- Assim que reso lvermos a questão financeira, pois
dependemos da boa vontade dos nossos pais - disse Álvaro.
Após as férias bem aproveitadas, a inquietude voltou a invadir o coração dos dois primos aventureiros. Com
a interferência das respect ivas mães, os pais liberaram os
cartões de credito para subsidiar as despesas. Os jovens ia m
fazer a viagem sonhada aos confins do misterioso Chile,
queriam conhecer desde a fronteira norte na divisa co m o
Peru até Patagônia e Punta Arenas, no extremo sul.
REPÚBLICA DO CHILE.
Estando tudo programado, Álvaro e Rodrigo embarcaram no avião de passageiros da companhia chilena Lan
Airlines em Foz do Iguaçu com destino à Sant iago, capita l
do Chile. O vôo seguiu seu curso tranqüilo, co m pequenas
turbulências na travessia da Cordilheira dos Andes. Após 2
horas e meia o avião pousou no aeroporto de Los Cerrillos
em Sant iago, às seis horas da manhã. Álvaro e Rodrigo
55
depois de liberarem os passaportes e a bagagem, seguira m
para o hotel ”El Nacio nal”, no centro da cidade.
O apartamento já estava reservado. Tomarem u m
banho e se dirigiram ao restaurante para o desjejum, aliás,
servido com grande variedade de pães, bo los, queijos, salames, frutas e sucos, tudo da melhor qualidade. Descansaram à tarde e à no ite saíram para conhecer Sant iago, cidade
de clima ameno, de tipo mediterrâneo, que convidava para
um passeio. Foram conhecer a vida noturna, os bares, teatros e os cinemas. Voltaram tarde da noite, entusiasmados.
No dia seguinte após o desjejum, Rodrigo sugeriu:
- Para conhecermos melhor a cidade e tudo que ela
oferece à viageiros, devemo s primeiro comprar um guia de
Sant iago e um mapa geral do Chile, para podermos viajar e
conhecer todo esse país de configuração territorial incrível.
- Bem lembrado primo, então vamos procurar uma
banca de jornal ou agencia de turismo onde nos informaremos melhor – decidiu Álvaro.
Tendo encontrado e adquirido a publicação destinada a orientá-los na viagem pelas diversas regiões do Chile,
os dois amigos voltaram para o hotel traçar o melhor it inerário a seguir. Para isso estenderam o mapa sobre a mesa.
- Chile é um país do sudoeste da América do Sul,
encravado entre a Cordilheira dos Andes e o Oceano Pacífico. Com 756.102 km² possui o mais estreito território do
mundo, a largura máxima é de 175 quilô metros e a mínima
de 25 quilô metros, para uma extensão de 4.230 quilô metros, de norte a sul. Chile tem 16,8 milhões (2008) de habitantes, sendo a Região Central a mais populosa – comentou
Álvaro ao ler as primeiras informações que constavam no
exemplar do guia turíst ico.
O roteiro planejado pelos do is pesquisadores constava primeiramente em conhecer a cidade de Santiago, depois seguiriam para Região Norte, às minas de cobre de
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Antofagasta, de Copiapó, de Calama e Tocopilla no deserto
de Atacama, o lugar mais seco do planeta com 50°Celsius
de calor durante o dia, caindo para 15°graus negativos durante a no ite. Explorariam sucessivamente as regiões, cidades e vilarejos da costa e do interior. Em últ ima etapa viajariam até o Cabo Horn, a últ ima fronteira no extremo sul,
com as vast idões geladas e inóspitas da Patagônia chilena.
Depois de uma no ite bem dormida, ainda bocejando
e se espreguiçando os dois passaram a planejar o dia.
- Vamos conhecer primeiro a cidade de Santiago –
sugeriu Rodrigo.
- Então levante logo seu preguiçoso, pois não viemos aqui para dormir – replicou Álvaro.
Dirigiram-se logo para o salão do café para o desjejum. Depo is de bem alimentados saíram em visit a à cidade,
levados por um guia turíst ico contratado. Os visitantes ficaram entusiasmados com a beleza da cidade.O guia Diego,
moço bem-falante, bastante instruído acerca da história e
das características do país natal fo i explicando:
- A cidade de Sant iago, capital interna de um país
todo litorâneo, encontra-se numa posição geográfica excepcional: a meio caminho dos extremos norte e sul do país,
diferentes pelas riquezas e ocupações do solo, e numa distância intermediária entre a costa do Pacífico e a Cordilheira dos Andes. A cidade localiza-se no vale do rio Mapocho,
afluente do Maipu, numa larga planície a cerca de 600 m
de alt itude.
- Ali num verdadeiro anfit eatro rodeado por montanhas, o espanho l Pedro de Valdivia fundou a primeira vila
de Sant iago em 1541. A nova cidade fo i muitas vezes atacada pelos índio s araucanos os verdadeiros donos da terra,
os colonizadores espanhó is se viram obrigados a estabelecer ao sul do rio Bío-Bío (o mais importante curso de água
chileno), o Território da Frontera, que durante mais de três
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séculos constituiu uma verdadeira zona militar de limit es
estáveis, respeitada pelos co lonizadores.O sul é controlado
pelos índios araucanos ou mapuches.
- Analisando a fixação de grande aglo meração urbana so mando 5.720.000 pessoas (2010), e mais de 54% de
indústrias do país, Sant iago enfrenta presentemente graves
problemas de circulação e de poluição atmosférica. Os ventos dominantes levam para o centro da cidade uma espessa
camada de poluentes provenientes das indústrias localizadas nos bairros do sudoeste. A cidade tem o traçado em
forma de tabuleiro de xadrez, com ruas e avenidas entremeadas por largas praças arborizadas.
- A Avenida Bernardo O´Higgins, no centro de Santiago, é um bo m exemplo do surpreendente crescimento da
capital. Destaca-se o majestoso edifício do Palácio de la
Moneda, a tradicio nal sede do governo chileno. A “Posada
del Corregidor“, esta casa que data do século XVIII, constitui um dos poucos edifício s co loniais da capital não destruídos por terremotos A Praça Andrés Bello, co m o arco de
entrada para o parque do Cerro de Santa Lucia, exatamente
o local de fundação da capital chilena.
- Poucas são as construções da cidade que lembra m
o período colonial, po is quase todas foram destruídas por
terremotos muito freqüentes nessa região.Vários trechos
oferecem paisagens tipicamente européias, em contraste
com os modernos edifício s e avenidas.Como na maioria dos
países da América Lat ina, inclusive no Brasil, as grandes
cidades convergem para si famílias que deixam os campos
para viver nas cidades.Essa população, sem qualificação
profissio nal para que possa ser absorvida na industria, cria
então as favelas, um problema urbaníst ico que tem desafiado várias administrações, tanto municipais co mo estaduais.
- Vejo que, vocês estrangeiros, observam extasiados
a paisagem em redor, principalmente as altas mo ntanhas
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que circundam a cidade - comentou Diego. - Nesta região,
em muitos aspectos, a peculiar zona andina destaca-se como uma barreira abrupta. Os vulcões San José e Maipo ultrapassam os 5.000 m.de altura e de tempos em tempos entram em erupção vomitando fogo e cinzas.
- A Cordilheira dos Andes surgiu há 23,5 milhõ es de
anos atrás, na Época do Mioceno, ocasionada pelo choque
das placas tectônicas do Pacífico co m a Sul-americana.. É
uma longa cadeia de mo ntanhas que domina a costa oeste
da América do Sul, co m 7.500 quilô metros de extensão.
Dist inguem-se os Andes da Patagônia, do Chile, do Peru e
da Co lô mbia. Os Andes do Chile tem o ponto mais alto no
Ojo del Salado de 6.863 m, também a Co lô mbia tem os
cumes mais elevados que ultrapassam as neves perpétuas e
numerosos vulcões em at ividade
- Os tremores de terra são muito freqüentes em toda
extensão da cadeia dos Andes. O ponto culminante é o pico
Aconcágua co m 7.010 m, há ainda muitos outros cimos
elevados, alguns co m vulcões em atividade. O pico Ilampu
de 6.500 m, o Chimborazo de 6.310 m, o Cotopaxi de
5.960 m, o Llullaillaco de 6.723 m, o Cerro Mercedário de
6.770 m,.o Tupungato de 6.800 m.e muitos outros. Se vocês
observssem de 10 mil metros de altura, numa viagem de
avião, desvendariam um fantástico panorama de picos elevados da Cordilheira cobertos de neve. O sopé das mo ntanhas está coberto de coníferas e abetos.
- Acima das nuvens e por entre os montes voa soberano o condor, o seu vôo ultrapassa os mais elevados cumes dos Andes. Ave de grande porte tem até 1,30 m de
comprimento e 3 metros de envergadura, penas de co loração escura e colar branco no pescoço, é um verdadeiro fóssil vivo, do tempo dos dinossauros. Alimenta-se de animais
mortos e congelados durante o inverno e da caça de pequenos animais, co mo coelhos, ratos e cobras.
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Os do is primo s escutavam co m a maior atenção a
explanação que fazia o inteligente e instruído guia. Ele fo i
dissertando sobre a conjuntura original do país costeiro.
- As outras cidades do Chile são bem mais modestas. Valparaíso com mais de 280.000 habitantes, é um importante porto do Pacífico e um grande centro industrial.
Valparaíso situa-se próxima de Sant iago. Somente estão
separados pelas mo ntanhas de cumes escarpados, em cujos
cimos se levantam co mo obeliscos grandes cactos espinhosos, hostis e floridos.
- Algo indefinível distancia Valparaíso de Sant iago.
Sant iago é uma cidade cercada por seus muros de montanhas co m picos cobertos de neve. Valparaíso, ao contrário,
abre suas portas ao mar infinito, aos gritos das gaivotas, aos
olhos dos turistas.A cidade se desenvo lveu às margens de
ampla e formosa baía conquistando as co linas que a circundam. Além disso, é o maior porto importador do país e dos
maiores no volume de exportações.
- Pequenos mundos de Valparaíso, abandonados
sem razão e sem tempo, como caixotes vazios jogados no
fundo de um velho armazém, que não se sabe de onde vieram e o que traziam. Talvez nesse do mínio secreto, as almas de Valparaíso ficaram presas para sempre. A liberdade
perdida das vagas do mar no vendaval da tormenta que ruge
e corcoveia. O mar de cada um, ameaçador e misterioso,
um so m inco mpreensível, uma agitação solitária que se
tornou névoa e espuma dos nossos sonhos. Nas excêntricas
vidas que descobri, me surpreendeu o grande apego que
mant inham com o porto livre, desafiador.
- No sopé das montanhas prospera a miséria aos
borbotões frenéticos de casebres e estreitas ruelas. Mas
nem todos alcançaram as co linas e as encostas dos morros
para o trabalho do campo. Apenas guardaram na lembrança
o seu próprio desejo, o fragmento do mar.Os guindastes, os
60
embarcadouros, absorveram a mão-de-obra dos ho mens
marcados no corpo e nas faces encovadas, pela pobreza e
felicidade fugaz das bodegas e prostíbulos.
- Valparaíso às vezes se sacode co mo uma baleia ferida, gira no ar, cambaleia, agoniza, morre e ressuscita. Aqui cada cidadão guarda na sua memória o terremoto. Cada
pessoa é um heró i antes de nascer. Porque na memória do
porto está gravado esse descalabro, essa catástrofe, o tremor
de terra que se anuncia co m um rugido rouco das profundezas, co mo si uma civilização subterrânea se pusesse a sibilar suas máquinas e a repicar os sino s enterrados, para avisar as pessoas que tudo está no fim.É um est igma de medo
que vive colado no coração da cidade
- Às vezes quando os muros, os sobrados e os telhados das casas da cidade e das redondezas já caíram, os homens e os animais pararam de correr, a gritar e a berrar. Aí
tudo começa impercept ivelmente por um vago movimento
no mar, as ondas que dormiam despertam lentamente. Depois do silêncio, quando já tudo parecia quieto e morto, sai
do mar, como últ imo fantasma, a tsunami, a grande onda, a
imensa mão verde que, alt íssima e ameaçadora, sobe como
uma torre de vingança varrendo a vida e tudo que está ao
seu alcance. Invade e destrói a cidade, terras e vinhedos.
- Esse pavor é um medo cósmico, uma instantânea e
grande insegurança, de um universo que desaba, desmorona
e se desfaz co mo tantos sonhos. A alma entre os sonhos se
comunica co m as profundas raízes da sua força terrestre.
Num grande tremor não tem para onde correr, porque os
deuses fugiram, as majestosas igrejas se converteram e m
mo nturos de ruínas trituradas. A terra treme. A poeira que
levanta das casas que desmoronam, pouco a pouco desaparece e os sobreviventes ficam sozinhos com seus mortos,
com centenas de mortos, sem saber por que ficaram vivo s.
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- Nas proximidades de Valparaiso,o balneário Viña
del Mar goza de clima ameno, de tipo mediterrâneo.Hoje,
florescente, com 290.000 habitantes, atrai visit antes das
mais diversas nacio nalidades, é a mais concorrida estação
balneária do Pacífico sul.A alegria dos turistas contagia a
cidade,que também sofre as conseqüências dos terremotos.
- Antofagasta com cerca de 300 mil habitantes, a
capital do deserto de Atacama, é também o maior centro
chileno produtor de cobre e nitratos, conta com um porto
unido por ferrovias co m a Bo lívia e a Argent ina. Mas funções análogas estão se desenvo lvendo em rit mo crescente
nos portos de Iquique e Arica no norte do país. De lá parte
a ferrovia que une o Pacífico com La Paz, a capital da Bolívia. O norte do Chile é ocupado pelos índio s atacamas até o
século XV, quando passa ao domínio dos incas.
- Para se traçar um quadro geral da situação econômica chilena é necessário levar em conta a extensão lat itudinal do país, ao norte fica a zona desért ica do Atacama,
riquíssima em minerais; ao centro, a fért il região de clima
mediterrâneo; ao sul as florestas, a pesca e as jazidas de
petróleo.Chile é internacio nalmente conhecido por sua riqueza em minerais, e na realidade, junto com a agricultura,
a mineração constitui a base econômica do país.
- A cultura das vinhas nas vizinhanças de Sant iago
foram introduzidas em 1851, a região é um dos importantes
produtores de vinhos excelentes, que são exportados para
o mundo todo. Vocês não deixem de saboreá-lo, tem para
todos os gostos, vale a pena experimentar - comentou Diego – aproveitando a ocasião convido-os para um jantar,
num restaurante típico, para saborear a comida chilena a
base de peixes e camarão, regada a bom vinho.
- Além dos recursos naturais o país conta co m uma
indústria próspera. Com a exclusão da Federação Russa, o
Chile é o terceiro produtor mundial de cobre. De fato, este
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metal é encontrado em todo o território nacional, co mo
também o minério de ferro.A produção agríco la compõe-se
de trigo, aveia, milho, arroz, batata, maçãs, cítricos, fumo e
vinhos. A florestal fornece madeira serrada de carvalho, de
pináceas, araucária e compensados (aglo merados) de pinus.
- Existe em larga escala a criação de bovinos, cuja
excelente carne é exportada, bem co mo a lã e a carne de
ovinos e caprinos, criados nas pastagens costeiras e nos
campos da Patagônia. Nos vales andino s criam-se lhamas e
alpacas. A at ividade pesqueira const itui outro recurso de
inegável importância para a nação chilena. A pesca é muito
abundante, graças à extensão do seu litoral.
Por muitos dias, acompanhados pelo excelente guia
Diego, os dois pesquisadores brasileiros percorreram os
lugares históricos, de construções em est ilo barroco, dos
fins do século XVI aos meados do século XVIII, as poucas
edificações que resist iram aos tremores de terra freqüentes
nessa região. Não podiam deixar de conhecer o famoso e
concorrido balneário de Vinã del Mar, aproveitaram as suas
águas tépidas e as areias brancas. Regalaram-se com os
excelentes pratos elaborados a base de peixes e mariscos.
Rodrigo e Álvaro escutavam atenciosamente a explanação que fazia o seu guia turístico Diego a respeito do
Chile e da sua gente. Foram por ele incent ivados para prosseguirem na sua busca do mundo, por eles, desconhecido.
- Aqui termina minha tarefa, portanto devo deixálos, meus amigos! – disse Diego - desejo à vocês uma boa
viagem, de muita sat isfação pessoal e aventura.
- Nós é que te agradecemos pela presteza co m que
nós atendeu e orientou, esperamos retribuir algum dia
quando visitares o Brasil, deixamos co m você o nosso endereço e o telefo ne. Serás bem-vindo - disse Rodrigo.
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Depois de despedir-se de Diego, continuaram a viagem para Talcahuano e Concepció n, ao sul do Chile. Naqueles dias, sem aviso, algo terrível aconteceu na região.
- Houve a co lisão das placas tectônicas de Nazca
com a Sul-americana, no dia 27 de fevereiro de 2010. A
cidade de Concepció n situada no litoral chileno foi abalada
por um vio lento terremoto de 8,8 graus na escala Richter,
que arrasou a cidade. Em seguida ondas gigantescas cobriram as praias num catastrófico tsunami, cujas águas varreram o litoral destruindo casas, ruas, parques e florestas com
grande impacto ambiental. Morreram 450 pessoas e milhares ficaram desabrigadas ou desaparecidas Foi um desastre
de caos inimaginável. O país precisava de socorro urgente.
Logo depois, nos dias dois de março e nove de setembro de 2010, houve mais terremotos de 6,1 graus na
escala Richter, com epicentro a 35 km da costa, próximo à
Concepció n..O cataclismo trouxe graves problemas e prejuízos nos seus principais recursos que são a pesca e as indústrias químicas e metalúrgicas alimentadas pelas grandes
jazidas de andracito (submarinas), carvão fóssil de Arauco e
Concepció n. Destruindo a próspera indústria de laminados
de pinus, e as grandes plantações próximas à cidade.
As duas cidades visitadas anteriormente pelos brasileiros, foram vit imas dos grandes tremores de terra. No dia
dois de janeiro de 2011, novamente a Região Central do
Chile, fo i abalada por um terremoto de 7,1 graus na escala
Richter, com epicentro a 450 km da costa, no Pacífico.
- Por sorte nós já tínhamos saído de Concepción
quando se deu o grande abalo. O hotel que nos havia hospedado ruiu com o terremoto – comentou Rodrigo.
- Imagine primo o grande perigo que estava nos ameaçando. Deus nos protegeu e estamos aqui sãos e salvos,
precisamos avisar nossos pais, no Brasil, que estamos bem,
não corremos nenhum risco – lembrou Álvaro.
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Mas para cont inuar a jornada de aventuras, o que
lhes despertava maior curiosidade era conhecer a Região da
Frontera. Portanto, no outro dia se dirigiram a estação de
trem, compraram duas passagens co m dest ino à pequena
cidade de Temuco. Minutos depois, co m grande apito, ruidosamente o trem chegou à estação.Uma avalanche de gente, empurrando-se subiu na co mposição.
Os dois primos entraram no trem co m dificuldade e
colocaram as malas nas prateleiras de cima, e sentaram comodamente nos bancos. Ouviu-se um apito agudo e o combo io começou a rodar. Rodrigo cochilou co m o embalo do
trem, enquanto que Álvaro, com inst into de jornalista,
entabulou conversa co m um jo vem estudante chileno que
viajava em frente ao seu assento. O rapaz apresentava as
feições de verdadeiro crio lo, de tez acobreada e cabelo s
pretos, lisos, típico da miscigenação entre espanhó is e indígenas araucanos (mapuche).
- Você é da região de Temuco ? Qual é o seu no me?
- perguntou Álvaro.
- Meu no me é Fernando, sou desta região, estou
vo ltando em férias para a casa de meu pai.Estudo na Universidade Federal em Sant iago.Estou cursando o terceiro
ano de geologia. Vocês para onde vão? Co mo se chamam?
- O meu no me é Álvaro, este é meu primo Rodrigo,
somos brasileiros,em viagem de estudo e turismo no Chile.
Fernando, Rodrigo e Álvaro conversaram a viage m
toda, trocando idéias sobre experiências, divergindo às vezes, mas ao final da viagem já se tornaram grandes amigos.
Fernando explicava a situação da região sul do país:
- Ao sul encontram-se as cidades de Temuco, Osorno e Valdivia, e já em plena Patagônia, quase no extremo
meridional, ergue-se Punta Arenas, co m mais de 100 mil
habitantes, que deve sua prosperidade ao fato de ter-se tornado importante centro petrolífero. Na Patagônia chilena os
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grandes rebanhos ovinos const ituem um dos recursos básicos da região. No extremo sul vivem os índios fueguinos e
os patagões, que se dedicam à caça, à pesca e ao pastoreio.
- Para se traçar um quadro geral da situação econômica chilena é necessário levar em conta a extensão lat itudinal do país, ao norte fica a zona desért ica do Atacama,
riquíssima em minerais; ao centro, a fért il região de clima
mediterrâneo; ao sul as florestas, a pesca e as jazidas de
petróleo.Chile é internacio nalmente conhecido por sua riqueza em minerais, e na realidade, junto com a agricultura,
a mineração constitui a base econô mica do país- descrevia o
estudante chileno, entusiasmado.
- Vocês aceitariam se os convidasse para passar alguns dias na casa de meu pai, situada num bairro de Temuco? Eu ficaria muito feliz em conviver co m me us novos
amigos e lhes asseguro que meu pai vai adorar deveras, ele
gosta de hospedar pessoas, ainda mais se tratando de meus
amigos brasileiros – convidou com insistência Fernando.
- Que me diz primo, aceitamos o convite?- perguntou Álvaro dirigindo-se ao Rodrigo.
- Sim! Aceitamo s co m prazer. O amigo Fernando
tem certeza que não vamo s causar nenhum transtorno á sua
família?- preocupou-se Rodrigo.
- E claro que não, a família toda vai ficar feliz –
respondeu o estudante.
Fernando fazia parte de uma grande família, morava
com seu pai Don Rodolfo, sua mãe Consuelo, quatro irmãos
e duas irmãs, numa casa enorme nos arredores da cidade. É
difíc il imaginar uma casa co mo a de Don Rodolfo Rivera,
casa t ípica de fronteira, de há sessenta anos atrás. Estas casas pioneiras tinham algo de acampamento de exploradores.
Ao entrar se viam, co locados num canto, barris co m
aguardente co m canecos de alumínio em cima, chaleiras e
panelas enfumaçadas dependuradas acima do fogão de pe66
dra, arreios de montaria e outros objetos indescrit íveis, amo ntoados nos cantos ou dependurados nas paredes.
A casa estava inacabada, continuava com algumas
tábuas da parede despregadas, o telhado inco mpleto, o piso
de madeira bruta. Falava-se sempre em continuar a construção, mas sempre ficava só nos planos. As casas das famílias
vizinhas se co municavam pelos fundos dos pátios, quando
se trocava revistas, panelas ou emprestava um copo de açúcar ou sal,se precisasse até remédios, capa ou guarda-chuva.
Don Rodolfo, chileno de cabelos brancos, era o patriarca desta família. Seus filhos eram do tipo criolo, pareciam-se co m a mãe Consuelo, uma índia mapuche. Essa
família nunca t inha dinheiro, pois o que ganhavam empregavam na compra de estalagens e açougues, que os filho s
administravam sem grande dedicação e acabavam falidos, e
ficavam tão pobres como antes.
O fazendeiro sempre sonhou em mandar seus filhos
para a Universidade em Sant iago. Conseguiu mandar um, o
primogênito Fernando, que agora voltava em férias trazendo dois amigos brasileiros. A família estava feliz pela vo lta
do filho e ansiosa em conhecer esses estrangeiros.
Na casa de Don Rodolfo sempre se celebravam os
grandes datas fest ivas. Agora se ia co memorar o aniversário de Fernando. Em toda a festa havia peru recheado, cabrito assado no espeto, leitão no forno, raiz de mandioca
cosida e sobremesa de doce de leite. O patriarca sentava à
cabeceira da mesa interminável, co m sua esposa dona Consuelo, rodeada dos filho s so lteiros, dos casados e noras.
Detrás deles ficava desfraldada uma grande bandeira chilena. Dependuradas sobre a parede da sala estavam as fotografias antigas dos pais e dos avós de Don Rodolfo.
Nesta casa havia também um salão onde se aglo meravam as crianças, netos do patriarca. Uma mesa comprida
ocupava o salão onde era servida a co mida no meio de uma
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grande algazarra. Os so fás e outros móveis ficavam cobertos com grandes lençóis brancos, protegidos das mãozinhas
sujas de gordura, da batalha de ossos at irados na brincadeira depois do almoço.Cães disputavam os restos da comida.
Don Rodolfo gostava de contar a história desta terra,
a conquista do sul do Chile, as guerras co m os mapuches.
Depois do almoço fest ivo realizado em co memoração ao
aniversário de Fernando e em ho menagem aos visitantes, o
chefe da família pediu licença para narrar os fatos notáveis,
outros corriqueiros ocorridos na vida do povo desta região.
Todos os comensais sentados em vo lta da mesa
prestaram a maior atenção na narrat iva do patriarca:
- Começarei por falar, sobre os dias e anos da minha
mocidade. O personagem inesquecível dessa época fo i a
chuva. A grande chuva austral que caia co mo uma catarata,
desde os céus cinzentos do Cabo Horn até a Frontera. Nessa
fronteira, o autêntico Far West chileno, nasce a vida, a terra, o frio e a chuva. Por muito que tenho andado parece que
se perdeu essa arte de chover que exercia um poder terríve l
e sutil em minha Araucânia natal.
- Chovia meses inteiros, anos inteiros. A chuva caia
em torrentes como grandes filetes de vidro que se quebravam em est ilhaços e batiam em ondas transparentes contra
os telhados e janelas das casas. Os barcos que saiam ao
mar, dific ilmente vo ltavam ao porto naquele oceano de inverno. Essa chuva gelada do sul da América não dava trégua não amainava nunca. A chuva austral tem paciência e
continua sem fim caindo do céu cinzento.
- Em frente da minha casa a rua se convertia em u m
imenso mar de lama. Através da chuva vi, pela janela, que
uma carroça encalhou no meio da rua. O camponês, de agasalho preto de nylo n, chicoteava os bo is que empacaram, e
não tem mais forças para enfrentar a chuva e o barro. Desafiando a chuva e o frio as pessoas iam ao trabalho. Os guar68
da-chuvas o vento carregava. As roupas e os sapatos encharcavam. Ficou na minha lembrança a visão das camisas
e calças mo lhadas secando no fogão, e muitos sapatos evaporando como pequenas locomotivas.
- Logo vinham às inundações, que atingiam os povoados nas baixadas, perto do rio, onde vivia a gente pobre.Também às vezes, sem aviso, a terra rugia e tremia temerosa. Outras vezes, na cordilheira dos Andes surgia u m
penacho de fumaça, era o vulcão Lhaima que despertava.
- Temuco era um povoado pioneiro, desses pequenos vilarejo s co m um mo vimentado comércio, ostentava
lo jas de ferragens, sapatarias e lo jas de roupa. Como os
mapuches eram analfabetos, as casa de ferragens co locavam placas indicat ivas nas ruas. Numa placa desenhava m
um imenso serrote, noutra uma panela gigantesca, um cadeado ciclópico, uma co lher enorme, um grande calção listrado. Adiante, nas sapatarias uma bota colossal.
- Se Temuco era a mais avançada na vida chilena
dos territórios do sul do Chile, isto significava uma lo nga
história de sangue.No rasto dos conquistadores espanhó is,
depois de trezentos anos de luta, os araucanos se retirara m
até aquelas regiões geladas. Mas os espanhó is cont inuara m
o que se chamou de “pacificação de Araucânia”, isto quer
dizer, a continuação de uma guerra a fogo e sangue, para
desapropriar os índios das suas terras. Contra os mapuches
todo o tipo de arma fo i usado.
- Ciladas com t iroteio de carabinas, incêndios das
palhoças e logo se empregou a lei e o álcool. Os advogados
se fizeram especialistas em desapropriação de suas terras, o
juiz os condenava quando protestavam, o padre os ameaçava com o fogo do inferno. E por fim o álcool conseguiu o
aniquilamento de uma raça soberba cujas proezas, valent ia
e orgulho ficaram gravados em estrofes, de poetas e escrito-
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res de Araucânia. Ficou a lembrança da luta de sangue pela
sobrevivência dos mapuches e de Temuco.
Depois de discorrer sobre os fatos importantes da
vida desta região Don Rodolfo ficou ensimesmado, triste.
Retirou-se para a varanda, sentou numa cadeira de embalo
para fumar. T irou do bolso um pedaço de fumo de corda e
começou a cortá-lo em tirinhas finas, esfregou-o bem na
palma da mão; pegou uma palha de milho passou a faca até
alisá-la bem, cortou um pedaço conveniente e enro lou o
cigarro, fez tudo com a maior pachorra, como um ritual.
Procurou o fósforo e acendeu o cigarro. Absorto, acompanhava o ziguezague da fumaça subindo para o ar.
O filho Fernando atencioso com os hospedes amigos
convidou-os para assist irem a um espetáculo inédito que
acontecia na selva. Antes da tarde toda a caravana se achava reunida na margem da floresta. O naturalista Rodrigo e
seu amigo Álvaro puseram-se a caminho, aco mpanhando o
grupo de caçadores. Chegara o mo mento em que os pesquisadores deviam ir ocupar as co mpetentes posições para
poder observar co m atenção a esse fato inco mum. No interior do bosque o solo estava juncado de fo lhas secas que
escondiam co mpletamente os sinais que poderiam denunciar a passagem de panteras ou de qualquer outro anima l
selvagem, de pequeno ou grande porte.
- Não obstante isso precisamo s estar atentos e precavidos co m qualquer surpresa, po is esses animais são feras
perigosas – avisou o guia.
Ao vasculhar melhor ficou evidente a existência dos
vestígio s de patas sobre o terreno úmido, deduzindo-se que
dois casais de panteras negras iam todas as noites beber
água em um regato oculto no meio dos arbustos, que se
encontravam na margem oposta do curso do rio.Em geral as
panteras negras não atacam o ho mem sem provocação, salvo quando a isso a impele a fo me, mas quando se vê ataca70
da, não recua nunca, defende-se furiosamente até o últ imo
sopro de vida, e torna-se tanto mais perigosa quando ferida,
é verdade que possui um prodigioso vigor e uma agilidade
inco mparável.
Uma cena curiosa apresentou-se aos olhos dos expectadores. Logo que chegaram a pequena distância da
margem do rio os observadores atravessaram por entre uma
grupo de pequenas árvores. O caminho era muito acidentado e o grupo se achava agora na parte mais elevada. Daquele ponto avistava-se na margem oposta uma pequena
clareira coberta de relva e de raros arbustos.
- Daqui poderão assist ir a uma cena inco mum – disse o orientador que conduzia o grupo.
- As panteras negras vão ter facilidade em pressentir
a nossa presença, pois o vento sopra do nosso lado - comentou um dos caçadores, que levava uma carabina a tiraco lo.
- Cuidei de mandar cortar grandes ramos de valeriana e jogá-las sobre a grama da clareira – informou o guia da
expedição.
- Em todo caso não deixarão de vir beber água porquanto o cheiro de valeriana terá o efeito de lhes excitar a
sede – comentou o primeiro guia.
Entre as numerosas variedades de valeriana, espécies de ervas perenes, que fornecem droga proveniente das
raízes e que tem uso clássico na medicina, existe uma a que
vulgarmente se dá o nome de erva dos gatos, em razão das
suas propriedades que são realmente singulares. O cheiro
fortíssimo da valeriana cortada recente, exerce em todos os
animais da raça felina uma atração irresist ível. As onças, as
panteras negras, o jaguar e o próprio gato domést ico, rola m
durante horas inteiras em vo luptuoso delírio por sobre os
ramos de valeriana cortada. Parece que ficam embriagados.
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De súbito ouviu-se no interior da floresta uma espécie de bramido que assustou os pássaros e os macacos, que
subiram pelos galhos das árvores guinchando ruidosamente.
Aquele rugido fez estremecer a co mit iva e alertou a sua
atenção. Decorreram uns cinco minutos, depois se fez ouvir
um segundo rugido, mais formidável ainda do que o primeiro e que parecia mais perto, ainda ressoaram nos ares dois
novos bramidos, já próximo s, seguidos de uns miaus roucos que denunciavam a presença a uma distância curta, de
dois pares de panteras negras.
De repente ressoaram nos ares uns uivos de prazer.
O fortíssimo cheiro de valeriana causava nos animais felinos uma espécie de embriaguez. Durante um momento os
dois casais de panteras negras pararam co mo de comu m
acordo,espreguiçando-se, estendendo-se sobre a grama como cobras, batendo com as caudas sobre os flancos co m
vio lência. Depo is so ltando novos rugidos de expressão estranha e singular, lançaram-se com fúria sobre os ramos de
valeriana dispersos sobre a grama.
Produziu-se uma cena extraordinária e quase indescrit ível. Os quatro felinos arrastavam-se sobre a erva, ao
mesmo tempo em que soltavam gritos interrompidos, ora
meio abafados co mo um gemido, ora estridentes como um
apelo.Davam pulos a uma altura incrível, fazendo caprichosas piruetas à maneira dos palhaços nos circos, e voltavam a
rolar de novo sobre os ramos odoríferos, lançando nos ares
uns murmúrios semelhantes aos que soltam sobre os telhados os gatos no cio. Era um espetáculo único, nunca visto.
As feras mordiam-se, lutavam, entrelaçavam-se rugindo de novo. Agora, porém os seus bramidos nada tinha m
de ferozes, eram indecisos, como gemidos, lânguidos como
suspiros. E pouco a pouco, a agitação nervosa dos felino s
ébrios acalmou-se por efeito da sua própria vio lência. As
feras estendidas sobre os ramos de valeriana e ofegantes,
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permaneceram imó veis durante algum tempo. Depois se
ergueram vagarosamente, arrastaram-se até a água, com as
bocas escancaradas, as línguas de fora, os olhos esbugalhados com as pupilas relampejantes. Pareciam estar drogadas.
O grupo de observadores e os caçadores retiraramse em silêncio para não despertar a atenção das feras.
- De fato é um espetáculo fora do comum, nunca
imaginei assist ir a um comportamento animal tão chocante
- comentou Álvaro, dirigindo-se a Fernando.
Don Rodolfo vendo o grande interesse dos dois jovens seus hóspedes, em pesquisa, pôs a sua disposição toda
a infra-estrutura de que necessitassem para a realização dos
estudos pretendidos na região. A ajuda fortuita do patriarca
deu-lhes a oportunidade de aprofundar-se nas experiências.
As explorações da natureza, que o ambientalista e
estudioso da flora e fauna Rodrigo e seu amigo Álvaro faziam, enchiam de curiosidade os membros daquela família.
Eles começaram a interessar-se em suas descobertas, largavam-se pela selva adentro, com maior destreza e conhecimento;eles encontravam e traziam-lhes tesouros inacreditáveis. Achavam lindas orquídeas de cores e perfumes estonteantes, estranhos cipós parasitas, cactos minúsculos, flores
exóticas, e tudo isso depositavam nas mãos de Rodrigo.
Havia um peão que se chamava Fredão, segundo
seus conhecidos o ho mem era um perigoso bandido. Tinha
duas grandes cicatrizes no seu rosto mulato, uma era a linha
vert ical feita por uma faca afiada e a outra o seu sorriso
triste, horizontal, cheio de simpat ia e safadeza.
Esse Fredão trazia para o Rodrigo enormes aranhas
peludas, as mais peçonhentas, chamadas de viúvas negras.
Filhotes de coruja, ovinhos minúsculos de co libri, jabut is de
carapaça alta, uma vez descobriu o mais deslumbrante besouro dourado.Não sei se alguém viu algo parecido. Era
um relâmpago vest ido de arco-íris. Nuances de vermelho,
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vio leta, verde e amarelo cint ilavam na sua couraça.Como
um raio escapou das mãos de Álvaro e voltou para a selva.
Nem Fredão, que era especialista nessa arte, pode
achá-lo no meio dos paus podres e da fo lhagem do chão
úmido da floresta. Rodrigo nunca se esqueceu daquele achado deslumbrante, tampouco esqueceu Fredão. Seus amigos lhe contaram da sua morte, ele viajava na plataforma do
trem e caiu num precipício. O trem se deteve, acharam-no,
mas já era um só amontoado de ossos e sangue.
A vizinhança toda admirava e co mentava o trabalho
de pesquisa dos dois brasileiros, e mais ainda curiosos pelos
notebooks que levavam consigo, onde anotavam tudo. Dias
depois veio um convite para assist irem uma debulha de
cereais, trigo e milho, numa fazenda bastante lo nge dali.
Seria uma boa oportunidade para ambos os estudiosos,
principalmente para Álvaro, jornalista e antropólogo. Poderia observar e estudar as características sócio-culturais dessa co munidade, co mo costumes, crenças, co mportamento
das pessoas e seu trabalho.
- Gostamos da idéia, vamos co m certeza – aprovaram em uníssono.
Seria uma aventura irem sozinhos, adivinhando os
caminho s por aquelas serranias. Imaginavam que se por
acaso se perdessem haveria alguém para auxiliá-los. Montados em bons cavalos, Rodrigo e Álvaro subiram as mo ntanhas, afastando-se da vila. Seguiam pela trilha do bosque,
os cavalos trotando por entre as centenárias árvores de ramagens verde-escuras, as fo lhas co m gotículas de orvalho
brilhavam ao sol da manhã que surgia no horizonte.
As colossais samambaias do sul do Chile eram tão
altas que podiam passar por baixo dos seus ramos sem tocá-las, homens e seus cavalos. Quando por acaso algu m
deles roçava nelas, dispersavam sobre os viajantes uma
rajada de chuva refrescante.
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Cavalgaram o dia todo. A tarde começou a cair palmo a palmo. De repente cruzou os ares, um so m indefinível, rouco, como o lamento de um desconhecido pássaro
selvagem. Alguma águia ou condor dos Andes, deteve seu
vôo no céu crepuscular,batendo as enormes azas negras,
observava a presença de seres estranhos aquele meio. Cães
selvagens de pelagem ruiva, velozes, cruzavam o caminho
uivando e ladrando, seguidos por desconhecidos habitantes
da floresta misteriosa.
Álvaro e Rodrigo reconheceram que se t inham perdido na imensidão da selva andina. A escuridão da no ite e a
floresta os amedrontavam e enchia-os de terror. Até ali não
encontraram ninguém, de repente, um único solitário viajante cruzou o seu caminho. Ao se aproximarem verificaram que se tratava de um desses camponeses miseráveis, de
poncho surrado, montado num cavalo desnutrido.
- Olá amigo, poderia nos ajudar?- perguntou Álvaro.
- De que necessitam?- atendeu o camponês.
- Estamos indo para a fazenda de Don Hernandez,
acho que nos perdemos no meio dessa mata fechada, podia
nos indicar o caminho certo? – pediu Rodrigo.
- Vocês não chegarão à fazenda dos Hernandez essa
no ite, estão muito longe. Conheço cada canto dessa região,
sei o lugar exato onde nos encontramos – informo u ele.
- Sabe amigo, não gostaríamo s de perno itar na mata,
ao relento, peço-lhe que nos indique um lugar onde podemos descansar até o amanhecer – solicitou Álvaro.
- Sigam por duas léguas uma pequena trilha que sai
no meio de uma clareira. De lá enxergarão luzes de uma
casa grande de madeira de dois pisos - indicou o camponês.
- É um hotel? – perguntou Rodrigo.
- Não, jovem. São três senhoras francesas, madeireiras, que vivem aqui desde há trinta anos. Recebem os vis i-
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tantes muito gentilmente. São muito simpát icas, vão recebêlos co m toda cortesia, tenho certeza - argumentou .
- Agradecemos pelo conselho – finalizou Álvaro.
O camponês se despediu e fo i trotando no seu cavalo esquálido. Os dois primos cont inuaram cavalgando pelo
caminho estreito, como almas penadas. Uma lua virginal,
de luz prateada, começava surgir no céu estrelado. Cerca
das nove horas da no ite avistaram as luzes da casa. Apressaram os cavalo s antes que se fechassem os portões. Passaram pela porteira da propriedade, contornando as toras de
madeira cortada e montanhas de serragem. Aproximaram-se
da porta de entrada, pintada de branco, daquela casa perdida
na so lidão da floresta.
Rodrigo bateu palmas e chamou na porta.
- Alô!Tem alguém aí? Precisamos de abrigo.
Passaram-se alguns minutos, os viajantes pensara m
que não havia ninguém, quando surgiu uma senhora de cabelo s brancos, esbelta e enlutada. Examinou-os com os olhos severos e entreabriu a porta para perguntar:
- Quem são vocês, o que desejam? – disse numa voz
fraca de fantasma.
- Somos pesquisadores brasileiros, estamos a caminho da fazenda de Don Hernandez assist ir à debulha de
cereais pela trilhadeira, máquina que separa o grão de trigo
ou de milho da palha do cereal. É no ite fechada, nós estamos cansados e perdidos nessa imensa floresta. Disseramnos que as senhoras são muito hospitaleiras e bondosas.
Somente precisamo s co mer e dormir nalgum canto. Ao amanhecer seguiremos o caminho para a fazenda.
- Entrem por favor,estão em vossa casa – convidou.
Abriu a porta e os levou a um salão escuro, e ela
mesma acendeu as lâmpadas de ó leo de parafina. A sala
cheirava a umidade. Grandes cortinas de seda vermelha
cobriam os altos janelões. Aquele salão era de um outro
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tempo, indefinível e inquietante como um sonho. A nostálgica dama de cabelo s grisalhos, vest ida de luto, se movia
sem que se ouvissem seus passos, arrumando com as mãos
uma co isa ou outra, um álbum, um porta-retrato, um leque,
daqui para lá, dentro de maior silêncio.
Não demorou muito e entraram na sala mais duas
senhoras, parecidas co m a primeira, na aparência e no vestuário. Perguntaram sobre o nosso país o sobre as pesquisas
que estávamos fazendo. Disseram que t inham nascido em
Avignon na França, vieram para o Chile ainda crianças,
com seus pais e avós, na época da colonização.
Todos estavam mortos havia muito tempo. Restaram
elas três. Acostumaram-se a chuva austral, ao vento gelado,
ao soar da lâmina da serra-de-fita, aos montes de serragens
da serraria, ao contato dos poucos camponeses rudes e as
criadas mapuches. Após a morte dos pais decidiram ficar
ali, cont inuar o trabalho deles. Era a única casa naquele
ermo de selva e montanhas de cumes íngremes.
Naquele instante entrou uma criada índia e sussurrou algo ao ouvido da senhora mais velha. Saímos pelo s
corredores gelados, para a sala de jantar. Ficamo s atônitos.
No meio da sala, uma mesa coberta com toalha alva, bordada, iluminada co m candelabros de prata, estava aquele banquete surpreendente,digno de príncipes.Eles estavam desgrenhados, cansados e empoeirados.Ficaram desconcertados, não estávam preparados para esta faustosa refeição.
A conversa fo i se alo ngando para aqueles tempos
remotos, longe daquela no ite repleta de milhões de insetos,
coaxar de rãs e o piar do mocho. Do seu esconderijo, o canto do pássaro noturno soava co mo um oboé. De longe se
ouviu o urro de uma pantera. Os cavalos ficaram inquietos,
correndo pelo curral e relinchando, amedrontados escavavam a terra com as patas.
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- Não se preocupem co m os anima is, as panteras
não vão chegar perto da casa, deixamo s vigias com espingardas para proteger a propriedade - disse uma das damas.
Já era tarde da no ite quando os hóspedes foram
dormir, exaustos caíram na cama co mo uma pedra. Clareava o dia e um dos serviçais encilhou os seus cavalos. Tomaram um copo de café co m leite e agradecidos despediramse das damas francesas. Durante horas trotaram pela trilha
da floresta, até que avistaram a fazenda de Don Hernandez.
Muito tempo depois, os dois brasile iros ainda lembravam da acolhida nobre das damas francesas.
- Qual teria sido o destino dessas três mulheres corajosas, desterradas no meio da floresta virgem? Talvez a
selva devorasse aquelas vidas e aqueles salões que nos acolheram tão generosamente numa no ite assustadora, nos limites da Cordilheira dos Andes, de serras intransponíveis e
mais so litárias do mundo - perguntavam-se os dois amigos.
Chegaram ao acampamento dos Hernandez antes do
meio-dia.O dono veio recebê-los meio intrigado e desconfiado, pois não eram conhecidos por essas bandas.
- Viemos assist ir a debulha de cereais, informados
por Don Rodolfo Rivera, seu vizinho - explicou Álvaro.
- Sejam bem-vindos na nossa fazenda, quem é amigo de Don Rodolfo é meu amigo também – disse Don Higino Hernandez, e deu-lhes um abraço de estalar os ossos.
Foram recebidos por todos, alegremente, com demonstrações de amizade e entusiasmo. Havia um so l esplendido, e
o ar era um diamante bruto que fazia refulgir as pedras das
mo ntanhas.
Don Herandez co m muita gentileza explicava:
- Antes de aparecer a debulhadeira co m motor a óleo
diesel, a debulha de trigo, milho e aveia, se fazia na eira
batendo co m mangual (utensílio próprio feito de dois paus
de madeira ligados por uma correia de couro, sendo um
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curto e grosso e outro comprido e delgado que servia de
cabo).Também se fazia co m a força animal, os cavalo s trotando em cima dos montes de cereal estendido no chão,
abaixo de gritos de condutores. A palha amarela já sem os
grãos era retirada e se acumulava em mo ntanhas douradas.
- aTudo em redor eram atividade e bulíc io. Sacos de
aniagem que chegavam logo se enchiam de grãos maduros.
Mulheres que cozinhavam em panelões enormes a co mida
para os trabalhadores na trilha; cavalo s que rinchavam e se
esco iceavam, se mordiam; cachorros que ladravam se m
razão nenhuma, crianças que corriam e caiam como se fossem grãos do milho, a cada instante tinham de ser socorridas e retiradas da proximidade das patas dos cavalos.
Os Hernandez eram uma tribo original. Os ho mens
andavam desgrenhados e barbudos, em mangas de camisa,
com revó lver e punhal no cinturão. Estavam sempre sujos
de óleo, de poeira, de palha do cereal, de barro ou mo lhados
até os ossos pela chuva. Pais, filhos, t ios, sobrinhos, primos, todos tinham a mesma aparência.
Permaneciam horas inteiras ocupados debaixo de
um motor, em cima de um telhado ou montados em cima
da maquina debulhadeira.Conversavam pouco, e quando o
faziam falavam co m gracejo s.Quando se desentendiam pareciam uma tempestade marinha, enfurecidos, vinham arrasando tudo que encontravam pela frente.Eram também os
primeiros no churrasco de boi assado em pleno campo, nas
garrafas de vinho tinto e nos cantos lamentosos acompanhados por guitarras e acordeons. Eram ho mens rudes, incultos, crias da Frontera, gente a ser estudada.
Todo esse aglo merado de pessoas, de comportamento, de vida e de costumes estranhos era um material interessante para ser analisado pelo antropólogo e jornalista Álvaro.A riqueza das florestas, a fauna animal da região, de aves
e miríades de insetos, era uma rica fonte para a pesquisa
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de campo, na qual mergulhou o ambientalista e bió logo
Rodrigo.Portanto, os dois não perderam tempo,observara m
e anotaram tudo nos seus notebooks, que levavam consigo.
Depois do trabalho da trilhagem, do so l abrasador,
do churrasco, das canções, do cansaço, deviam preparar-se
para dormir.Os casais e as moças so lteiras se acomodava m
no chão forrado de palha de trigo, dentro do acampamento
construído de tabuas recém-lascadas. Enquanto os rapazes
dormiriam no enorme pátio, onde caberia o povoado inteiro, coberto de montanhas de palha de trigo.
Para os dois estudiosos brasileiros tudo isso era novidade, co m a qual não sabiam lidar. Co locaram os sapatos
em baixo do feixe de trigo que devia servi-lhes de travesseiro. Tiraram a roupa e se enrolaram nos ponchos, afundando-se nas mo ntanhas de palha.Deitaram lo nge dos outros,
que imediatamente dormiram e começaram a roncar. Rodrigo e Álvaro ficaram conversando muito tempo, deitados
de costas olhando o céu estrelado. Adormeceram depois.
Rodrigo despertou de repente porque alguma co isa
se aproximava dele. Um corpo estranho se movia debaixo
da palha, podia-ser um cachorro, raposa ou cobra jibó ia. Ele
estava assustado, com medo. Álvaro dormia pro fundamente. Esse algo se aproximava mansamente, ouvia-se o ruído
da palha esmagada pelo corpo que rastejava. O rapaz estava tenso e alerta, esperando...
Pensou em gritar, pedir socorro. Mas ficou imó vel.
Sent iu uma respiração em cima da cabeça. De repente uma
mão grande, rúst ica, mas uma mão de mulher passou sobre
seu rosto, sobre os olhos, acarinhando-os com doçura. Logo
uma boca ávida se co lou na dele e o corpo da mulher se
apertou contra o dele.
As mãos do rapaz procuraram o corpo e acariciara m
o cabelo em tranças, uma testa lisa e o lhos de pálpebras
cerradas. Depois seguiram buscando os seios opulentos e
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firmes, as nádegas redondas e as pernas que o entrelaçavam. Desceu a mão mais embaixo. Encontrou o que procurava. Pouco a pouco o medo se transformou em prazer intenso. Nenhum som saiu daquela boca anônima. Co mo é
difíc il fazer amor sem produzir ruído em uma mo ntanha de
palha, tendo doze homens dormindo próximo dali. Mas
tudo pode ser feito quando se tem o máximo de cuidado.
Mais tarde, a desconhecida adormeceu perto do parceiro da no ite de amor. Ele ficou preocupado, pois logo
amanheceria e os primeiros trabalhadores veriam a mulher
nua deitada perto dele.Logo adormeceu profundamente, e
quando despertou estendeu o braço a procura da mulher,
sobressaltado, so mente encontrou o lugar dela ainda morno. Ela havia ido embora. Os pássaros já co meçavam a cantar, e logo a selva toda se encheu de gorjeios. Um apito do
motor e homens e mulheres co meçaram a chegar e ocuparse junto da trilhadeira, ou colhendo feixes de trigo no
campo. O novo dia co meçava fervilhante.
Ao almoço, reuniram-se ao redor da mesa improvisada feita de largas tábuas. Rodrigo olhava de soslaio enquanto comia, procurando entre as mulheres a que poderia
ser a vis itante noturna. Entretanto, umas eram um tanto
idosas, outras demasiado novinhas, muitas eram magras e
delgadas co mo sardinhas. Ele procurava uma mulher forte,
de grandes seio s, de quadris avantajados e tranças longas.
De repente entrou uma senhora que trazia um pedaço de carne assada para seu marido, um dos Hernandez.
Esta sim, podia ser. Ao contemplá-la do extremo da mesa,
notou que aquela formosa mulher de co mpridas tranças,
lançava-lhe um olhar rápido e sorria co m sorriso disfarçado.
O desejo reacendeu-se novamente no corpo de Rodrigo.
Mas esta era uma aventura muito perigosa, soava a morte..
Chamou para longe dali o primo Álvaro e confidenciou-lhe a prazerosa, mas arriscada experiência noturna.
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- Gostaria de repetir, si ela topasse – disse ele.
- Você é louco, não abuse da sorte, isto é morte certa, vamos embora daqui sem demora, ho je mesmo – advertiu sensatamente Álvaro.
Despediram-se do clã dos Hernandez que, so lícitos
pediram para que ficassem mais alguns dias.
- Alguma coisa os desagradou? – perguntou um deles - podem falar que agora mesmo corrigiremos a falha.
- Não é nada disso, estamos felizes e agradecidos
pela amistosa acolhida. Mas precisamos vo ltar para Santiago. Partiremos amanhã à no ite, de volta para o Brasil, onde
nos aguarda ansio samente, a nossa família.
Chegaram já tarde da no ite na estância de Don Rodolfo Rivera. Não os esperavam tão depressa de volta, mas
o filho Fernando ficou feliz e recebeu-os de braços abertos.
Ao ser informado que em seguida partiriam para o Brasil
ficou decepcionado. Ele tinha planejado que, juntos faria m
uma viagem para o deserto do Atacama, no norte do país,
onde acontecera uma catástrofe. O estudante de geologia,
Fernando, contou-lhes então a história remota do Chile.
- Todo o território do Chile, inclusive o deserto de
Atacama situado no norte, há 150 milhões de anos atrás,
estava no fundo do mar. Fato confirmado pela presença e
análise de rochas do mineral gipsita (gesso) encontradas
esparsas pelo so lo desértico, provenientes do leito oceânico
de até quatro mil metros de profundidade, onde se forma.
- Há 20 milhões de anos a Placa do Pacífico (convergente), mais densa e mais pesada, agindo como uma
lâmina, num processo chamado de subdução, deslizou para
baixo da placa Sul-Americana. Na vio lenta colisão provocou o enrugamento da crosta terrestre elevando-a quatro mil
metros para cima, formando a Cordilheira dos Andes. A
bizarra configuração do território e a desigualdade do clima
chileno, devem-se principalmente a formação dos Andes.
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- No litoral do deserto acumulam-se mo ntanhas de
sal. Talvez o segredo do início da vida na terra esconde-se
dentro dessas pedras de sal, na forma de co lônias de minúsculos microorganismo s verdes. O sal tem a faculdade de
reter gotas de água no seu interior, onde proliferam os microorganismos. A vida é imprevis ível, pode-se adaptar aos
mais extremos climas e rigorosas condições da terra.
- Na secura do deserto, onde não chove há 50 anos,
só é encontrada água a 60 metros de profundidade. Existe
magma em ebulição abaixo do solo do Atacama, dando
origem aos gêiseres que brotam nos lagos salgados. A corrente de Humbo ldt procedente da Antártica conserva a água
do oceano em 13 graus centígrados no litoral chileno, temperatura ideal para a vida marinha, principalmente de pingüins, que povoam o litoral. Há onze mil anos, no fim da
últ ima Era do Gelo, havia ocupação humana no Atacama,
foram achados fósseis humanos mumificados no deserto.
A exposição minuciosa das informações feitas pelo
futuro geólogo Fernando, despertou o interesse dos pesquisadores. Era uma ocasião excelente para o Álvaro, que como jornalista divulgaria a noticia da calamidade, acompanhando o desenro lar dos fatos in loco. Álvaro não pensou
muito.Não perderia essa oportunidade de reportar para a
BBC e se destacar no cenário jornalíst ico internacional.
- Nesse caso viajaremos para o Atacama – concordou Rodrigo – veremos o que realmente sucedeu e ajudaremos no que for possível.
A catástrofe aconteceu no dia cinco de agosto de
2010 em Copiapó no deserto de Atacama. A mina de cobre
São José, desmoronou e 33 mineiros ficaram soterrados a
uma profundidade de 622 metros. Foram empregados os
mais ingentes esforços para o resgate de todos os ho mens
com vida. Só após 70 dias soterrado, fo i recuperado o últ i-
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mo mineiro.Foram acertadas as providências tomadas pelo
governo chileno no salvamento das vítimas da tragédia.
Na mult idão de observadores, curiosos, jornalistas e
repórteres que vieram cobrir o desmoronamento na mina
de cobre São José, Rodrigo e Álvaro conheceram pessoas
importantes e influentes na polít ica do país, entre eles ministros e governadores, inclusive o presidente do Chile Sebastián Piñera (desde 2010).
O ministro do Meio Ambiente do Chile interessouse pelo trabalho dos jovens, conversou com eles durante
várias horas, e na despedida comentou que fo i embaixador
na Indonésia. Referiu-se ao país co m entusiasmo , disse exist ir ali um meio ambiente peculiar para ser estudado. Indicou-lhes lugares e no mes a quem poderiam recorrer no
caso de necessidade. Incent ivou-os para que continuassem
nas pesquisas sobre os países e terras ainda desconhecidos.
- Viagem e usufruam a aventura maravilho sa que a
vida lhes oferece - disse-lhes o ministro, abraçando-os.
Após permanecerem por dois meses no Atacama,
acompanhando o trabalho e o desfecho final da tragédia, os
jo vens brasileiros vo ltaram para Sant iago e embarcaram no
avião da Companhia Tam de vo lta para o Brasil.
Álvaro e Rodrigo estavam de regresso em casa dos
pais, que os receberam co m alegria e carinho.Parecia que
estavam sonhando, ainda não acreditavam que realmente
estavam de vo lta, após quase um ano de ausência.
- Esperamos que agora fiquem por mais tempo em
casa – disse Gio vani, pai de Rodrigo. Está na hora de assentarem o juízo e começarem a trabalhar de verdade.
- Está bem, meu pai! Ficamo s por alguns dias e m
casa, mas por favor não corte nossos cartões de crédito,
pois pretendemo s viajar para o remoto arquipélago da Indonésia, explorar a diversificada flora e fauna da região,
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experiência que será para nós um importante grau de promoção e conhecimento – pediu com so licitude Rodrigo.
- Estou de acordo, se isso for para elevar seu aprendizado. Mas é preciso também a anuência do tio Conrado,
pai de Álvaro - esclareceu Giovani.
- Isso não será difícil – observou Álvaro.
Ouvindo isso Rodrigo abriu os braços, mostrando
que o espírito livre e aventureiro não esmorecera neles, mas
ao contrário, ganharam asas para voar e abarcar o mundo.
PARIS MOSTRA SEUS SEGREDOS
Assim, passados alguns dias em férias na fazenda do
pai, no Paraguai, Álvaro retornou para a casa do tio, e junto
com Rodrigo elaboraram o roteiro da viagem para a Indonésia. Após minucio sos preparativos e recomendações da
família, viajaram de navio pelo rio Paraná, embarcando e m
Puerto Iguazú, no território argent ino, seguindo até Posadas
e rio abaixo até o porto de Montevidéu no Rio da Prata.
Chegando a Montevidéu procuraram uma agencia
de viagens e adquiriram duas passagens em camarote de
primeira classe, num transat lânt ico de passageiros, que ia
zarpar no outro dia rumo à Lisboa. À hora marcada subiram a bordo do navio e depois de localizarem suas cabines,
misturaram-se aos viajantes. Álvaro com espírito crit ico de
jornalista fez uma classificação rápida das moças, passageiras que passeavam pelo convés. As que assediavam os homens de imediato, e as que se sujeitavam a esperar para
serem procuradas por eles.
Esta fórmula nem sempre funcio nava, mas ele t inha
toda classe de recursos para conquistar a atenção das mulheres. Quando aparecia no convés um par de jovens interessantes, Álvaro tomava a mão de Rodrigo e fingia observar suas linhas com gestos misteriosos. Na segunda vo lta,
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as moças entre risos, paravam, e pediam para que lesse seu
destino.Nesse mo mento ele pegava nas suas mãos e acariciando-as delicadamente. Profet izava-lhes uma visit a ao nosso camarote. Assim, co m o poder da artimanha, Álvaro e
Rodrigo divert iram-se a valer.
Para o Rodrigo que era retraído, a viagem apresentava-se enfadonha, triste, mas de repente como por milagre,
transformou-se numa experiência alegre e prazerosa. Deixou de ver o mundo melancó lico, monótono o oceano Atlânt ico, para só ver os olhos negros, a silhueta e o talhe
soberbo de uma jo vem brasileira, que subiu a bordo no porto do Rio de Janeiro, com seus pais e irmãos. Com sua presença radiosa o so l brilhou para ele. A linda jovem era
Claudia Menezes de Castro. Viajava em férias com a família. Rodrigo tomou coragem se aproximou e apresentou-se:
- Rodrigo Pazinatto, paranaense; eu e meu primo
Álvaro, que é jornalista, estamos viajando a trabalho para
Indonésia. Eu estudo o meio ambiente, sou bió logo.
- É uma sat isfação conhecê-lo Rodrigo, sou Cláudia,
estudante de geologia. Podemos ser bons amigos, trocar
idéias e experiências.
Cláudia era tão bela quanto culta e inteligente. Diariamente, durante a viagem no mar, um procurava a companhia do outro para conversarem e se divert irem. Freqüentavam juntos a piscina do navio, jogos, restaurantes, teatro,
cinema e salões de dança. A viagem transcorreu num clima
de amizade, alegria e camaradagem.
O grande transtorno fo i quando chegaram à Lisboa,
onde a família Menezes ia desembarcar.Rodrigo ficou triste
com a separação, pois no seu coração românt ico começou a
brotar a semente do amor pela linda morena carioca. Despediram-se com um abraço afetuoso e promessas de se comunicarem sempre.
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O navio se deteve em Lisboa, capital alegre de Portugal, com seus pescadores vendendo peixe na rua, com as
lo jas mo vimentadas que enchiam os o lhos de encanto. No
pequeno hotel do centro onde os nossos viajantes se hospedaram a co mida era delic iosa. Eram servidas diversas qualidades de pescados, camarões, mariscos, cozido de bacalhau e um delicio so Arroz de Braga. Grandes bandejas co m
frutas da época ornamentavam as mesas.
As casas co loridas alinhadas ao longo das ruas ao
lado de velho s palácios co m rebuscados arcos nas portas e
janelas. Ali também se encontravam as imensas catedrais,
como casca de ovo vazia, donde Deus há século s se retirara
para morar em outras igrejas. Viam-se as casas de jogo que
funcio navam dentro de velhos castelos. A mult idão de gente infant ilmente curiosa bisbilhotando pelas ruas da Prata e
do Ouro, onde se vendiam jó ias verdadeiras, junto a perfeitas imitações, de bijuteria italiana.
Do museu Imperial saiu o fantasma da rainha Dona
Maria I “A Louca”, caminhando solene pelas ruas de pedra,
seguida por centenas de crianças de rua, barulhentas, assombradas, com os cabelos eriçados, os olhos pasmos contemplando essa visão fantasmagórica. Era a Lisboa do tempo do Império que se apresentava ao turista estupefato.
Álvaro e Rodrigo tinham planejado a passagem pela França, portanto, não podiam ficar muito tempo em Portugal. Mas o acaso colocou-os numa surpreendente armadilha. Ao deter-se para assist ir o desfile do fantasma da rainha, Rodrigo avistou Cláudia parada a seu lado.
- Que surpresa Cláudia! Você também por aqui? –
exclamou feliz.
- Estou apreciando o inaudito espetáculo da rainha
louca encenado para turistas – respondeu a moça – vocês
resolveram ficar alguns dias em Portugal? Ótimo ! Se assim
for posso ser o seu guia turíst ico para conhecerem a cidade,
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sua história e a do país, pois sou versada nesse assunto –
continuou entusiasmada.
- Está bem! Então vamos procurar um barzinho, sentaremos á mesa, pediremos refrigerante com aperit ivo de
camarões fritos, crocantes, ou vão preferir algum outro petisco salgado? Talvez um sorvete? – perguntou Álvaro.
- Eu prefiro um sorvete de chocolate – disse a moça.
Após saborear o sorvete, Claudia estendeu o mapa
de Portugal na mesinha do bar e iniciou a narrat iva descrevendo a geografia do território, entremeando com a história
do país e das suas cidades.
- Portugal é um dos mais ant igos Estados europeus,
ocupa uma estreita faixa de terra, cerca de 92.152 km², na
parte ocidental da Península Ibérica.Possui 10,7 milhões de
habitantes (em 2010). Limitado ao norte e a leste pela Espanha, abre-se para o At lânt ico com quase 850 km de litoral. A estrutura geológica do território português é a mesma
da Península Ibérica; é base de rochas antigas, resistentes,
aplainadas e recobertas por sedimentos marinhos da Era
Mesozóica, há cerca de 180 milhões de anos.
Cerca de 120 milhões de anos depo is, na Era Cenozóica essa base rochosa so freu grandes fraturas e levantamentos, ocasionados pela co lisão da Placa Tectônica Africana co m a Placa da Eurásia, que deu origem às formações
mo ntanhosas da Península, co mo também da grande parte
das montanhas da Europa.
- Desde a Ant iguidade Portugal fo i habitado pelos
lusitanos, povo originário do nordeste da península Ibérica
que se estabeleceu na região entre os rios Douro e o Tejo.
No primeiro século da Era Cristã foram incorporados ao
Império Ro mano com o no me de Província de Lusitânia.
No século V d.C. foi a península Ibérica invadida por hordas bárbaras da Ásia Central.Chegaram álanos, suevos,
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vândalo s, a que se seguiram os visigodos, que conseguira m
assenhorear-se de todo o território peninsular.
- Mais tarde, no século VIII d.C. passou para o domínio dos árabes, tribos muçulmanas do Norte da África.
No século XI, começa a reconquista do território lusitano,
que culminaram cem anos mais tarde com a expulsão dos
árabes. Portugal co meçou um período de grande desenvo lvimento econômico que teve seu apogeu nos séculos XV e
XVI, época das grandes expedições marít imas e da formação de um vasto império co lonial, que incluía o Brasil, a
conquista de vários territórios na África e no Oriente.
- Como conseqüência de uma série de disputas dinásticas, Portugal caiu nas mãos de Filipe II, rei da Espanha
até o ano de 1688. A união com a Espanha fez declinar o
poderio de Portugal. Atualmente o país divide-se em duas
partes: uma cont inental ibérica e outra insular, que co mpreende os arquipélagos dos Açores e da Madeira. No país
cult iva-se trigo, milho, uva e o liveiras.No vale do Douro, a
principal região viníco la do país estendem-se vinhedos cultivados em terraços.Produz vinhos de excelente qualidade.
- As maiores cidades da Beira Litoral localizam-se
na faixa litorânea. Nesta área encontra-se Co imbra, sede da
mais antiga e famosa universidade do país. A Universidade
de Coimbra fo i fundada pelo rei Dom Dinis em 1288. Para
o grande centro instalado na cidade acorreram estudantes de
todas as partes do país e do exterior.
- Évora, cidade milenária, é o coração do Alentejo.
Seu casario branco estende-se pelo topo da elevação que
domina os horizontes largos do planalto. Extensos olivais e
campos cult ivados antecedem as muralhas que cercam a
cidade desde a Idade Média; fundada por Julio César. Dentre os inúmeros mo numentos romanos construídos na cidade destaca-se o Templo de Diana, uma das mais belas obras
de arte greco-romanas. Lado a lado com eles erguem-se
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palácio s e so lares no estilo manuelino, de amplos pátios,
janelas e portais de linhas elegantes, testemunho de que
Évora fo i, por muito tempo, a sede da corte portuguesa. A
Universidade de Évora fo i fundada em 1537 que, junto co m
a de Coimbra eram as únicas que Portugal teria até 1911.
- Lisboa, fo i fundada pelos fenícios, grandes navegadores. Ant iga cidade romana, visigoda e moura, sempre
teve sua vida ligada à at ividade co mercial, em virtude da
excelente localização – próxima do mar, dominando o extenso estuário do rio Tejo. Com as grandes navegações e
descobertas do século XV e XVI, tornou-se o maior centro
mundial de comércio de especiarias trazidas do Oriente.
- Atualmente, a metrópole de amplas avenidas, muitas dominadas por monumentos históricos, concentra o comércio em bairros e nas de no mes pitorescos, como a Rua
do Ouro e Rua da Prata. Possui importantes museus, a Universidade de Lisboa, Biblioteca Nacio nal, o Arquivo da
Torre do Tombo, Torre de Belém, Mosteiro dos Jerônimos.
- Hoje muito pouco resta do esplendor atingido pela
cidade em seu período áureo, em conseqüência dum terremoto devastador, seguido de um maremoto e de incêndio
de vários dias, que praticamente a destruiu em 1755, no
qual morreram mais de 70 mil pessoas. Fo i reconstruída no
reinado de Dom José I, pelo ministro marquês de Pombal.
- Em dezembro de 1999, Portugal perde o últ imo
resquício de seu outrora vasto Império Co lonial, com a devo lução do enclave de Macau para a China.
- Situadas a poucos quilô metros de Lisboa, as praias
da Costa do Sol diferenciam-se umas das outras, embora
estejam bastante próximas. Nos balneários de Carcavelo s,
Parede, São Pedro, Estoril, Cascais e Guincho, existem inúmeros hotéis e restaurantes de alta categoria, que oferecem todo o conforto aos milhares de turistas que as freqüentam o ano todo. Destaca-se a praia de Estoril, que está
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entre os mais famosos balneários de Portugal, dispõe de um
célebre cassino para os turistas que o visitam.
Depois de discorrer por longo tempo, sobre a geografia e história de Portugal, suas belas praias, cidades e sua
gente, Cláudia sugeriu aos dois moços, ouvintes atentos,
como que suspensos nas suas palavras, uma visita à famosa
praia de Estoril, para conhecerem in loco essa maravilha.
- Sairemos de manhã, para passar o dia na praia.
.Para não se tornar muito monótono convidarei minha amiga, estudante portuguesa Alexandra Soares Bicalho, ela é
muito alegre e co municat iva, vai ser uma ótima companhia
- propôs Cláudia.
- Aceitamo s co m sat isfação, então está combinado,
vamo s à praia de Estoril amanhã – afirmaram os dois.
Rodrigo e Álvaro, animados com o passeio, levantaram cedo. Após o desjejum desceram para a recepção onde
eram esperados pela Cláudia e sua amiga Alexandra.
- Apresento-lhes a minha dileta amiga Alexandra.
Alexandra esse é Rodrigo, bió logo, minha alma gêmea, e
esse é Álvaro o mais belo e atencio so jornalista brasile iro –
disse gracejando Claudia.
Seguiram num automóvel esportivo, vermelho, com
teto solar, de propriedade de Alexandra. Ela fo i dirigindo o
veículo. Sentado a seu lado estava Álvaro. Cláudia e Rodrigo estavam no assento traseiro. Durante a viagem de dez
quilô metros, por rodovia larga, asfaltada, de muito movimento, foram conversando e se conhecendo. Logo surgiu
no horizonte uma visão magnífica do mar azul do balneário.
Hospedaram-se numa aprazível pousada. Não perderam tempo, logo se dirigiram para a praia que já estava lotada. O mar estava sereno, as ondas rolando tranqüilas uma
após a outra, havia so l e o céu estava azul. Nada melhor
para se aproveitar o dia.
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O dois casais de jo vens se divertiram muito. Mergulharam, nadaram apostando a rapidez, praticaram o surf,
deslizando corajosamente nas altas ondas de pé sobre uma
prancha, depois já cansados da água saíram para jogar vôle i
de praia. Em seguida foram descansar em baixo de um
grande guarda-sol. Quando a fo me apertou deliciaram-se
com sanduíches de atum co m alface, aco mpanhado de refrigerante, depois de que, foram dormir em redes na varanda da pousada.
Quando a noite chegou resolveram perno itar em Estoril. Claudia telefo nou aos pais avisando-os da sua resolução. Á no ite foram a uma boate famosa, a mais freqüentada,
onde dançaram reggae o rit mo jamaicano e o funk no auge
da moda, também a música eletrônica co m os famosos DJs.
Voltaram á Lisboa na manhã do dia seguinte, os pais não
lhes fizeram cobranças nem recriminações, pois conhecia m
as filhas, elas eram moças modernas, inteligentes, tinha m
seus pontos de vista sobre a vida. Passaram-se mais do is
dias de passeios pela cidade de Lisboa. Cláudia e Alexandra
fizeram-lhes agradável co mpanhia.
- Chegou o dia de seguirmos viagem para a França,
onde vamos tomar o avião direto para a Indonésia, o destino
programado para nossos estudos e pesquisas – disse Álvaro.
- Sentiremos muito a falta de vocês, nossas amigas
inesquecíveis. Vamos levar uma marcante e saudosa lembrança dos dias que passamo s juntos- comentou Rodrigo Prometo que telefo narei sempre para ouvir a sua suave voz,
Cláudia - falou emocio nado. (Nem por um minuto sequer
lembrou-se da apaixonada Ângela que o esperava em Marechal Cândido Rondon).
Álvaro e Rodrigo despediram-se das jo vens no saguão da estação rodoviária de Lisboa. Seguiram para França de ônibus, num veículo de prime ira classe, com ar condicio nado e outras benesses, entre franceses, espanhó is,
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italianos, argent inos, brasileiros, chilenos, todos sentados
em po ltronas confortáveis, protegidos co m cintos de segurança. O ônibus rodava macio por estradas largas, asfaltadas, com dest ino à Paris, entre montanhas, atravessando
túneis ou margeando o litoral mediterrâneo.
Saindo de Lisboa ao entardecer, o ônibus passou em
Madri à no ite, por Barcelona de madrugada, onde parou
para o café da manhã, depo is seguiu pela Costa Brava. Á
direita vislumbrava-se o mar azul e a esquerda as mo ntanhas Pirineus. O ônibus entrou em Perpignan, cidade já no
solo francês, onde se deteve para o almoço. Tomou o rumo
de Montpellier, parou em Avignon, cidade-sede do papado
francês de 1309 a 1377, durante 68 anos. O rei da França
Filipe IV aprisio nou o papa romano Bonifácio VIII, e nomeou em seu lugar Clemente V, papa francês. Os passageiros puderam visitar o ant igo e suntuoso Palácio dos Papas,
em Avignon, também as suas masmorras que eram utilizadas como prisões polít icas, a construção é considerada como um dos maiores castelos feudais do mundo.
A viagem prosseguiu, com rápida passagem pela
cidade de Marselha (ant iga Massilia), grande porto comercial, fundado em 600 a.C.pelos foceus, mercadores gregos.
Os passageiros tiveram a oportunidade de conhecer os famosos balneários de St. Tropez, St. Raphael, Cannes e Nice, na Côte d´Azur (Costa Azul), co m praias artificiais,
feitas de pedra ant iga, cercadas, com entrada reservada e
paga, onde desfilam celebridades do mundo todo.Desde
tempos remotos as praias do Mediterrâneo, de clima ameno, recebem grande número de turistas estrangeiros.
O ônibus seguiu para Lyo n, deteve-se em Bourges
por meia hora, e rodou por mais 200 km aproximadamente,
para deixá-los na estação rodoviária Central de Paris. Assim
como todos os passageiros do ônibus, os do is brasileiros
estavam exaustos, portanto, foram procurar um hotel para
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se hospedar e descansar, até conseguirem a autorização
(visto) do consulado e a passagem para a Indonésia.
O dia amanheceu nublado e chuvoso. Mas nem a
chuva e nem as rajadas de vento conseguiram atrapalhar a
grande festa cívica que se realizava, em ho menagem a Nicolas Sarkozy, presidente da França. Logo ao alvorecer, a
cidade fo i acordada por uma ensurdecedora explosão de
fogos de artifício, seguida pela salva de canhões disparada
das fortalezas situadas nos arredores da cidade.
No bar próximo ao hotel onde os brasileiros se hospedaram conheceram os primeiros hindus, vest idos de túnicas brancas longas, que desciam até os calcanhares. Adiante, a vizinha de mesa, uma indiana, com uma cobra de estimação enro lada ao colo, tomava co m melancó lica vagareza
um café-expresso. Eram as excentricidades de Paris.
A co lônia sul-americana dispersou-se pela cidade.
Freqüentavam baladas nos bairros boêmios de Montmatre,
vestidos a moda punk, co m os cabelos eriçados em modelos
estranhos, presos ao alto com go malina, ou cabeças totalmente raspadas, tatuadas em figuras ou arabescos esquis itos. Alguns co m o corpo todo tatuado inclusive braços e
pernas.Bebiam whisky misturado com cocaína, fumava m
haxixe e dançavam ao som de música funk, eletrônica, que
não oferecia nada melodioso, só repetia sempre o mesmo
ritmo tumtum...tumtum...tumtum...
Os dançarinos se divert iam, esperando uma oportunidade para armar uma confusão e brigar co m meio mundo.
Um argentino encrenqueiro fo i levado por quatro vigilantes
do clube, passando por cima das mesas e fo i jogado no
meio da rua. A ninguém agradava essa vio lência contra
nossos vizinho s de Buenos Aires, que ficavam com as roupas rasgadas, os cabelos desgrenhados, os bo lsos vazio s e a
credibilidade afetada.
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De repente surgiu das sombras de Paris, esse mecenas chileno chamado Don Rafael Pepito Garcia, famoso por
sua prodigalidade. Esse herói, caído do céu, queria nos festejar, e conduziu-nos a uma casa noturna de bie lo-russos,
chamada “Boate Belarus”.As paredes do salão estavam decoradas com quadros de paisagens do Mar Báltico e das
florestas de Minsk.Num instante nos vimo s rodeados de
falsos cossacos vest idos com trajes típicos de camponeses
russos dançando o louco rit mo cossaco ao som da balalaica.
Fo mos apresentados a Wassily Braguis,o dono da
boate, que parecia o ult imo dos russos em decadência. De
pequena estatura, de barbicha, frágil, de faces e nariz vermelhos, bebia vodka e dava saltos imitando os dançarinos
cossacos das estepes de Ucrânia. Indicou para nos uma mesa perto dos músicos, mandou vir bebida e companhia feminina. Vieram duas mulheres louras, de grossas tranças e
maquiagem excessiva. Imitação de moças ucranianas.
- Champanha1Sirvam mais champanha para todos!
Pedia constantemente o nosso anfitrião chileno, enquanto
bebia, co m a taça na mão dava passos e pulo s no rit mo da
dança russa. Inesperadamente desabou o nosso milio nário
chileno em baixo da mesa e caiu num sono profundo, como
cadáver exangue de um russo esmagado por um urso.
Um tremor gelado nos percorreu os ossos, pois o
ho mem não acordava com compressas de gelo, nem co m
frascos de amoníaco encostadas ao seu nariz..Vendo o nosso desesperado recurso, todas as bailarinas e os pseudocossacos se evadiram, menos uma.moça. Nos bo lsos do
nosso anfitrião encontramos somente um talão de cheques,
que nas condições cadavéricas que se encontrava não poderia assiná-lo.
O dono da boate exigiu o pagamento imediato de
toda a despesa.. Fechou a porta de saída para que ninguém
fugisse. Só pudemos salvar-nos da prisão, deixando como
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garant ia o nosso passaporte diplo mát ico. Saímos co m o
nosso milio nário chileno desmaiado às costas. Custou-nos
grande esforço colocá-lo no táxi, e deixá-lo no seu faustoso
hotel. Deixamo-lo nos braços de dois imensos porteiros de
librés vermelhas, que o carregaram co mo se leva a um almirante caído da ponte do seu navio.
No táxi nos esperava a moça da boate, a única que
não nos abandonou no nosso infortúnio. Convidamo-la para
tomar sopa de cebola da madrugada na taberna próxima.
Compramos-lhe um bouquê de flores na floricultura. Abraçamo-la e beijamos em reconhecimento à sua conduta bondosa. Reconhecemo s, com reserva, que tinha certo atrativo.
Não era bonita nem feia, o que a salvava era o belo nariz
arrebitado das parisienses. Então a convidamos para o nosso modesto hotel.
Não teve nenhum escrúpulo em nos aco mpanhar. A
moça entrou no quarto com Álvaro. Rodrigo caiu exausto
na cama; dormia pro fundamente quando sentiu que algué m
o acordava. Abriu os olhos e viu seu primo Álvaro, parado,
com o semblante um tanto perturbado, estranho.
- Acontece alguma coisa - disse. Essa mulher tem
algo excepcio nal, insó lito, que não consigo entender. Tens
de experimentá-la, agora.
Poucos minutos depois a desconhecida, sono lenta e
despudorada, esgueirou-se para dentro dos lençó is de Rodrigo, que ao fazer amor com ela comprovou o seu misterioso dom. Era algo indescrit ível que brotava de dentro dela,
que remontava à origem do prazer, ao nascimento de uma
onda, a explosão de um vulcão, ao segredo original. Álvaro
tinha razão. A sensação que sent iram era inco mparável.
No dia seguinte, no intervalo do desjejum Álvaro
sussurrou ao ouvido do primo.- Se não deixarmos já esta
mulher, a nossa viagem vai fracassar. Co m sorte não nau-
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fragamos no mar, mas vamo s naufragar no delírio do insondável do sexo.
Decidiram dar-lhe alguns presentes, flores, chocolates e a metade do dinheiro que lhes restava. Ela confessou
que não trabalhava naquele cabaré russo, que era primeira
vez que fo i até lá.Tomaram um táxi e a deixaram num bairro distante. Despediram-se dela co m beijos. A mo ça estava
desorientada, mas sorridente. Nunca mais a viram.
Álvaro e Rodrigo na visita que fizeram a Quartier
Lat in, conheceram o Doutor Salviano Duarte Madureira,
brasileiro, exilado polít ico na França, PhD em Ciências
Sociais e Língua Portuguesa, que lecio nava na Faculdade
de Letras e Ciências na Sorbonne. Fo i uma ótima oportunidade, pois o professor conhecia Paris onde morava e trabalhava, já havia quinze anos. O mestre estava feliz pelo ensejo de contato com compatriotas, logo se ofereceu como guia
deles na cidade, inclusive no país.
Com o mapa da França na mão e outro da cidade de
Paris, doutor Salviano discorria co m conhecimento profundo do assunto.
- A presença do ho mem no território francês remonta há 35.000 a.C. Durante milênios, grupos nômades de
Neanderthais vagavam ao longo dos grandes vales e planícies, vivendo do extrativismo e da caça. Em meio a esses
grupos com cont ínuos deslocamentos estava o homem de
Cro-Magnon que se espalhou para as regiões norte e leste,
viveu na Europa e no Oriente Próximo entre 230 e 30 mil
anos atrás. Foram encontrados na França vários sít ios habitados por esses povos pré-históricos, cavernas e grutas no
Vale Vézére como a de Lascaux, e Pech Merle, com desenhos rupestres de touros, mamutes, cavalos e humanos.
- Milhares de anos se passaram até que as invasões
de povos guerreiros, vindos do leste, provocassem grande
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dispersão desses núcleos primit ivos. No século IX a.C. tribos célt icas instalam-se na Gália, atual território francês.O
Imperador romano Júlio César derrota os gauleses e conquista a região em 58 a.C.Os ro manos do minam a Gália até
o final do século quando a região é invadida por tribos bárbaras de francos.
- No final do século V a.C., sob o comando de Clovis I, os francos conquistam todo o país. No século IX, d.C.
Carlos Magno torna-se imperador do Império Romanogermánico que abrange as atuais França e Alemanha. E m
987, Hugo Capeto foi o primeiro rei da dinast ia dos Capetos
a governar a França. Durante o século XVI, guerras religiosas entre católicos e huguenotes sacodem o país.
- Luis XIV, conquista em 1643 a 1715, a primazia
polít ica e militar para a França em toda a Europa continental, cria um Império Ultramarino e estabelece uma monarquia abso luta. Guerras desastrosas e a incapacidade do rei
Luis XVI, de enfrentar a crise financeira do Estado desencadeiam a Revo lução Francesa em 1789 e a conseqüente
tomada da Bast ilha pela população parisiense.
- Em 1792 nasce a 1ª República Francesa. O rei Luis
XVI, e a rainha Maria Antonieta, condenados por traição,
são executados na guilhot ina em 1793. Os líderes polít icos
revo lucio nários, Maximilien de Robespierre, Jean Paul Marat e Georges Jacques Danton e demais jacobinos impõe m
“O Período do Terror”. Foi uma perseguição e carnificina
geral contra os opositores do regime.
Em 1794, Robespierre é deposto, sentenciado e morto na guilhot ina, e co m ele muitos outros revolucionários.
Um go lpe militar do general Napo leão Bonaparte, nascido
na ilha de Córsega, toma o poder como Cônsul. Recupera a
estabilidade polít ica em 1799. Em 1804, Bonaparte se faz
coroar imperador da França. Seu governo é ditatorial e centralizador, com polít icas de forte expansio nismo.
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- As guerras napo leônicas assustaram os reis e a aristocracia européia, que se uniram contra a França Revo lucionária. Napo leão perde a campanha da Rússia em 1814 e
é obrigado a abdicar. Exila-se na ilha de Elba, mas vo lta
para a França à frente de um grande exercito. Napoleão é
derrotado por tropas inglesas e austríacas na Batalha de
Waterloo em 1815, é preso e deportado para a ilha de Santa
Helena no oceano Atlânt ico, onde morre em 1821, supostamente envenenado.
- O território da França apresenta três fachadas marítimas, a leste voltado para o Atlânt ico, a noroeste para o
Canal da Mancha e o Mar do Norte, ao sul o Mediterrâneo.
Possui 2700 km de costa. De fronteiras relat ivamente ant igas, correspondentes, em geral, a acidentes naturais, como
as grandes cadeias dos Alpes e dos Pirineus, e o curso do
rio Reno. Apenas um trecho setentrional fo i demarcado a
partir de fatos polít icos e históricos.
- As principais cidades da França estão: a capital Paris, Lyo n, Lille, Toulose, Le Havre, Rouen, Marselha, Nice,
Nantes, Estrasburgo, Bordeux, algumas delas importantes
portos marít imo s. Com uma população continental de 62,6
milhões de habitantes (em 2010). Possui nove Territórios
Ultramarinos: Guiana Francesa, Guadalupe, Ilhas Wallis e
Futuna, Mart inica, Mayotte, Nova Caledônia, Polinésia
Francesa, Reunião, Saint-Pierre e Miquelo n. A Ilha de Córsega formada na Era Terciária no Mediterrâneo, tem 8.681
km² é um departamento da França.
O porto de Nice na costa mediterrânea é dominado
pela co lina, sobre qual restam alguns poucos vestígio s da
cidade e do castelo do século XII. Nice, a principal cidade
da Costa Azul (Cote d´Azur) estende-se pela ampla baia
dos Anjos. Sua magnífica posição e clima ameno contribuíram para que se tornasse uma das mais procuradas Estações
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de Inverno e no mais famoso balneário e centro de turismo
em toda orla mediterrânea.
- Situada a margem do rio Sena a cidade de Paris,
possui 9.904.000 habitantes (em 2010) (aglo meração urbana).Vislumbra-se um ambiente pitoresco nas proximidades
da Catedral de Notre Dame ao longo das margens do Sena,
onde se localizam as bancas dos vendedores de quadros,
cartões postais, quinquilharias, lembranças e exposição de
livros; margeando o rio se posicio nam os pintores de quadros com seus cavaletes, que com arte fixam na tela as belas paisagens da cidade.
- França está em primeiro lugar de países mais visitados do mundo. Recebe anualmente cerca de 30 milhões
de turistas. A cidade de Paris possui grandes museus de
arte, de ciências e de indústrias, faculdades e escolas superiores, ricas bibliotecas e arquivos públicos. A cidade abriga importante patrimô nio histórico com destaque para o
museu d´Orsay e o Palácio do Louvre, antiga residência
real e hoje um dos maiores museus do mundo, com co leções de relíquias do mundo todo, principalmente do Egito.
Monumentos, como a magnífica catedral de Notre Dame,
com a construção iniciada em 1196, levaram 200 anos para
ser concluída.
- Entre tantas outras atrações está a Praça da Concórdia, uma das mais famo sas de Paris. À esquerda da praça, estendem-se os Jardins das Tulherias, à direit a estão os
Champs-Elysées, ao centro da Praça ergue-se o Grande
Obelisco que, até 1833, ficava na entrada do Templo de
Luxor, no Egito. No alto, à direita, a grande esplanada do
Palácio dos Inválidos e o Panteão onde se encontra o túmulo de Napo leão Bonaparte. A Place Vendô me, a Place de
l´Etoille, ho je Place de Gaulle a grande artéria dos ChampsElysées.
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- Ao centro, onde convergem doze grandes avenidas, ergue-se o Arco do Triunfo, comemorativo às vitórias
napo leônicas. Sob o Arco está o Túmulo do Soldado Desconhecido. A majestosa Torre Eiffel, os Jardins do Carrossel e da Estrela, Porta de São Dinis e São Mart inho e os
magníficos Jardins de Luxemburgo. No centro, encontra-se
a Place du Teatre Français, ou Place du Ópera, onde se situa
a Ópera de Paris e o antigo Grand Hotel Du Louvre.
- No Quartier Lat in, se concentra a vida cultural da
cidade. Ai está instalada a Universidade de Paris, a de Sorbonne fundada em 1225 co mo Faculdade de Teologia, atualmente é a sede da Academia de Paris, das Faculdades de
Letras e de Ciências e da Escola de Altos Estudos. Estão ai
situadas a maior parte das faculdades e institutos superiores
de Paris.Também o bairro boêmio de Mont matre, Montparnasse, La Rotonda, La Do me, Le Pigalle, La Coupolle, o
Moullin Rouge que são o grande atrativo para os turistas.
- Há aproximadamente 20 quilô metros de distância
de Paris encontra-se o magnífico Palácio e Jardins do Grande e Pequeno Trianon, co m a Galeria dos Espelhos. O
grande salão possui as paredes e o teto revestido de espelhos. Era um espetáculo deslumbrante visto em dias de festa
e bailes da corte O Palácio de Versalhes fo i construído por
Luis XIV, em 1661 a 1682, para residência real.
- O majestoso castelo de Chambord no vale do Loire, fo i construído no século XVI, por Francisco I. Nessa
região existem outros castelos magníficos, como os de Ambo ise, Chenouceaux, Blo is, Chinou.O Castelo de Fontainebleau situado no vale do Loire é um dos mais famosos do
país. Reconstruído por ordem de Francisco I, em 1528, tornou-se a residência favorita de muitos soberanos franceses,
inclusive Napo leão I. Os castelos são uma das grandes atrações turíst icas da França.
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- Construído em 1994, o túnel ferroviário sob o Canal da Mancha liga a França ao Reino Unido. Paris é servida pelos aeroportos de Orly e de Charles de Gaulle. Trens
bala e metrôs modernos percorrem e ligam à cidade e subúrbios de Paris às outras cidades do interior.
- Se for da vontade de vocês podemos dar um giro
pela cidade de Paris, também pelo Vale do Loire, visitar os
palácio s e museus – ofereceu-se o Dr. Salviano.
- Estamos sensibilizados com a sua atenção Professor, e já que está com tempo disponível, gostaríamos de
conhecer a vida noturna da cidade – disse Álvaro.
- Por coincidência, recebi três convites do consulado
brasileiro que está oferecendo uma recepção, com banquete
e baile nos salões da embaixada, em co memoração a Sete
de Setembro, gostariam de me acompanhar?- convidou ele.
- Ótima idéia! Aceitamo s sim - respondeu entusiasmado Rodrigo.
- Então nos encontraremos as vinte-e-uma hora, no
saguão do hotel - confirmou Álvaro.
Reuniram-se na hora combinada e seguiram para a
festa. No baile do consulado, Álvaro conheceu mademo iselle Margueritte Champtercier. De um canto do pretensioso
salão avistou uma jo vem esbelta, de pele queimada pelo so l
da praia. Coroada por farta cabeleira lo ira que destacava
ainda mais a cor morena do seu corpo. Trajava um vest ido
branco longo, de alçinha bordada com strass, o grande decote deixava entrever os seus seios lindamente modelados.
Álvaro dist inguiu-a de imediato no meio da multidão do salão de baile, e, pela primeira vez, se sentiu inadequado àquele meio. Seu traje de turista não combinava co m
aquele ambiente sofist icado. Mas o seu perfil jo vem e atraente o recomendava. Ele estava fascinado co m a moça. Pediu ao mestre Dr. Salviano, para que o apresentasse a encantadora criatura que o atraia tanto.
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O Dr. Salviano era conhecido naqueles salões e aproveitando uma ocasião favorável aproximou-se do grupo.
- Meu caro Salviano, que prazer em encontrar-lo,
queria mesmo conversar cont igo – exclamou Pierre Maurice, pai da jo vem Margueritte, abraçando o mestre.
- Quero te apresentar meus novos amigos brasileiros, Rodrigo e Álvaro – falou o Professor.
- É um prazer imenso conhecê-los. Estive no Rio de
Janeiro recentemente, adorei a cidade, ah, principalmente as
mulheres brasileiras, são lindíssimas e muito calientes disse rindo Pierre Maurice - mas estava me esquecendo,
venha até aqui Margueritte, quero te apresentar estes dois
jo vens brasileiros. Rodrigo é bió logo e ambientalista e Álvaro jornalista, estudioso em socio logia. Estão de passage m
pela França. Você terá muito assunto a debater com eles.
Ela deixou o grupo de amigas e aproximou-se do
pai, lançando um o lhar sedutor para o jornalista. Álvaro era
um rapaz alto, de corpo atlét ico e de ombros largos, um
rosto viril de feições harmo niosas, a pele bronzeada e olhos
acinzentados, perspicazes. Tinha uma expressão risonha
nos lábios fino s. Margueritte gostou da sua forma de falar
sem rodeios e de olhá-la co mo se a despisse, provocando
nela um formigamento que descia pela espinha.
Haviam já chegado umas dez ou doze celebridades
femininas do mundo artíst ico. Os músicos começaram a
tocar e os pares saíram rodopiando pelo salão.
Álvaro dirigiu-se para Margueritte e convidou-a para dançar. Saíram de mãos dadas e misturaram-se aos pares
dançantes. Dist inguiam-se de outros dançarinos pelo rit mo
harmo nioso e a graça dos passos que executavam. Quando a
música cessou Álvaro conduziu o seu par para junto do pai.
- Estas luzes e a música alta produzem um calor insuportável. A no ite está linda, porque não vamos dar uma
vo lta pelo jardim e respirar ar puro?- sugeriu Margueritte.
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- É uma ótima idéia – assent iu o moço, radiante.
Apo iada no braço dele caminharam vagarosamente
pela lo nga avenida de t ílias, brilhantemente iluminada.
Chegaram assim ao vasto terraço que dominava o rio Sena.
Nos bancos de pedra à beira do rio estavam sentados diversos casais. Havia um banco livre onde o casal de jo vens
sentara. Ficaram em silêncio por alguns minutos.
Álvaro não estava acostumado a expressar admiração e falar de sent imentos a mulheres bonitas e inteligentes,
e pela primeira vez na vida experimentava uma timidez,
que junto a sua emoção, lhe paralisava a palavra. Colocou
a sua mão em cima da mão dela. Ela retirou-a mansamente.
Margueritte vendo a indecisão do companheiro iniciou a conversa.
- Quero dizer-lhe que estamos unidos por uma simpatia recíproca. Isso é muito bo m. Então sejamo s amigos,
mas exclusivamente amigos, nada mais que isso, pois sou
compro met ida, amo e sou noiva do estudante de engenharia
Jacques Raymo nd, que se forma este ano, logo vamos nos
casar. Hoje ele se encontra em Londres, está fazendo estágio numa firma inglesa, só estará de volta no final do ano.
- Desculpe-me a ousadia, mas fo i muito bom a gente
se conhecer. Amigos então? - implorou Álvaro.
Voltaram ao salão de baile. Dançaram e se divertiram a no ite toda. Ambos reconheceram que t inham afinidade de idéias e de gostos.Assim se deu início a uma longa e
sólida amizade que haveria de uni-lo s no decorrer dos anos.
Era domingo...
Nas andanças por Paris, Dr Salviano levou nossos
exploradores para conhecerem o Mercado das Pulgas. Lugar invulgar onde se vendia ou trocava, de tudo. Desde discos de vinil, gramo fones ant igos, roupa usada, sapatos, os
mais diversos móveis, eletrodomést icos, máquinas de es104
crever ant igas, livros, leptops usados, aves e filhotes de
cães e gatos. Gaio las co m pássaros exóticos. Diversas bancas de frutas e verduras. Nesse mercado vendiam-se frituras
de comida apimentada, espetinhos de carne de origem duvidosa, feitos na hora em fogareiros armados na rua.
Espalhava-se no mercado a mult idão ruidosa dos
compradores, vendedores, pregadores e embusteiros. Malabaristas, acrobatas e músicos de rua, andarilhos e mendigos
esmo lando, jovens hippies tatuados tocando vio lão, freiras
regateando com o judeu o preço de uma imagem de santo,
de alabastro. Era uma balburdia total, via-se de tudo, e ouvia-se demais. Os mais exóticos panoramas desfilavam diante dos olhos dos freqüentadores.
Uma mulher chamou a atenção dos nossos visitantes. Era uma jovem de semblante expressivo, olhos grandes
e negros como noite sem luar, sobrancelhas espessas e be m
delineadas, lábio s polpudos e o nariz levemente arrebitado.
Os contornos da boca fechada lhe davam um ar sério e enigmát ico. O pescoço era longo e delgado enfeitado por
diversos colares de contas coloridas. Os cabelos negros
tinha-os presos numa longa trança jogada no ombro esquerdo.O corpo de curvas levemente acentuadas, revelava quadris ondulantes ao caminhar. O vest ido de tecido branco
leve, decotado, de saia godê curta, mostrava as pernas roliças,que lhe dava um ar de graça juvenil.O conjunto era belo
e sensual, revelava uma pessoa insinuante, segura de si.
- Quem é ela, como se chama? - Rodrigo perguntou
ao homem que estava próximo dele.
- Você não a conhece? Ora, é Vio lette a atriz, a jovem mais linda e popular do teatro amador de Paris.
Rodrigo observava de longe a jovem Vio lette, a moça de perfil grego, em pleno Mercado das Pulgas, em meio
a gritaria dos vendedores e ao aglo merado de pessoas, onde
num teatro improvisado se exibia um sujeito de bigodes
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enormes, co m o corpo tatuado de arabescos, enquanto um
menino, anunciava aos gritos suas virtudes como o maior
mágico da França. Quando o mágico solicitou um vo luntário do público, Vio lette abriu passagem entre os curiosos e
subiu ao palco co m um sorriso lindo, saudou os presentes
com seu leque aberto. Parecia uma deusa flutuando no ar.
Obedecendo as instruções do ilusio nista Vio lette se
enco lheu dentro de um baú pintado com símbo lo s egípcios.
O pregoeiro, um menino de dez anos fantasiado de mouro,
fechou a tampa do baú com do is cadeados. Entregou as
chaves a um espectador. O mágico fez alguns passos co m
sua capa de seda vermelha e em seguida chamou um vo luntário para abrir os cadeados.
Ao levantar a tampa do baú, viu-se que a garota já
não estava dentro, porem, mo mentos depois, um rufar de
tambores anunciou sua prodigio sa aparição atrás do público. Todos se viraram para admirar, boquiabertos, a garota
que havia se materializado do nada, e se abanava co m o
leque, sentada numa poltrona com as pernas cruzadas.
Rodrigo percebeu que não poderia arrancar do seu
pensamento aquela jo vem fascinante. Estava obcecado por
ela. Precisou fazer um esforço para voltar à realidade e se
dar conta de que estava no mercado rodeado de gente, junto
com seu primo Álvaro ao lado.Tentando se controlar aspirou fundo. Estava ansio so para se aproximar daquela deslumbrante criatura. Todos os olhos estavam cravados nela.
Por entre a mult idão, a cotoveladas, chegou perto da moça
que se afastava dali depressa. Alcançando-a fez a parar com
forte pressão no braço.
- Donde saiu essa ninfa esplêndida? –perguntou-lhe.
Ela vo ltou-se com o lhar rancoroso para ver que m
havia atrapalhado a sua rápida retirada.
- Quem é o ousado que está me inco modando? perguntou a moça com voz ríspida.
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- Sou eu, um estrangeiro de passagem por Paris, estou fascinado por sua beleza. Por favor, fale co migo por um
mo mento. Diga-me pelo menos o seu nome – pediu ele.
- Vio lette Parment ier, francesa, vinte anos, trabalho
como vendedora no magazine de vestuário, setor feminino,
na Galeria La-Fayette. Nas horas vagas sou atriz de teatro
mambembe. Alguma objeção ? Mais alguma informação,
senhor Rodrigo? Está sat isfeito? Agora me deixe ir em paz,
pois meu marido está me esperando.
E a ninfa sedutora se fo i com passos rápidos. Rodrigo ficou ali parado, estupefato e decepcionado.
Depois de conhecerem um pouco da França, os nossos exploradores resolveram continuar a viagem por mar.
Seria mais interessante e melhor aproveitada, pois conheceriam mais detalhadamente os países onde o navio atracasse.
Para isso dirigiram-se a agencia de viagens marítimas e
compraram duas passagens co m direito a cabine dupla, de
primeira classe. Passaram no consulado para atualizar os
passaportes e os vistos de entrada para os países que pretendiam visitar.
A CAMINHO DO EXTREMO ORIENTE
Álvaro e Rodrigo despediram se do Dr Salviano e de
Margueritte Champtercier e de seu pai que os trataram tão
gent ilmente. Foram de trem até o porto de Marselha onde
embarcaram no navio de passageiros “Amart ya Sen” indiano, que os levaria pelo mundo desconhecido. A grande aventura estava os esperando no outro lado do mundo.
Nunca esqueceram o trem que os levou a Marselha,
carregado como uma cesta de frutas exóticas, de gente confusa, estudantes, camponeses e marinheiros com vio lões e
sanfonas, dedilhando e cantando em coro canções desafina-
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das, pelos vagões. Marselha os fascinou com seu romantismo de cidade ant iga e o novo setor comercial.
O Velho Porto coalhado de barcos com velas enfunadas, luxuosos iates dos armadores e de ricos empresários,
grandes navios esperando a carga no cais do porto, e outros
que levavam passageiros e a pequena burguesia rodeada de
sua família, que emigrava para ocupar os postos nos lo ngínquos territórios franceses do Pacifico. Marinheiros bêbados caminhavam se equilibrando a procura do seu navio.
Álvaro e Rodrigo embarcaram ao amanhecer. O navio estava lotado de passageiros de mais variadas origens,
franceses, ingleses, alemães, portugueses, indianos, chineses e mest iços negros. O Mar Mediterrâneo se fo i abrindo à
vista dos viajantes, com seus portos repletos de barcos e
navio s co m mercadoria a ser descarregada, seus tapetes
persas expostos nos bazares, vendedores e traficantes disputando os compradores, com mercados fervilhantes de pessoas e animais, atravancando o espaço.
O navio “Amartya Sen”, de bandeira indiana, navegou pelo Mediterrâneo tomando a direção de Port Said no
Egito, prosseguiu por 168 km pelo Canal de Suez até alcançar o Mar Vermelho, navegou costeando o litoral do
Egito, Sudão, Etiópia e Eritréia, para atracar no cais do porto de Djibut i, para reabastecimento. Rodrigo e Álvaro desceram do navio para espairecer e conhecer a cidade.
Djibut i è um dos menores países da África. Por sua
posição privilegiada na saída do Mar Vermelho para o golfo
de Aden e o Mar da Arábia, tornou-se centro internacio na l
de combate ao terrorismo e à pirataria. A região do atual
Djibut i, era habitada nos primórdios por tribos nômades de
origem árabe. País desért ico possui uma vegetação que se
resume a arbustos e espinheiros do deserto. Aqui, os nô mades pastores de cabras e camelos lutam para sobreviver.
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Localizado na região do Chifre da África, o Djibut i é u m
dos mais quentes e áridos países do planeta.
O ambiente do porto e da cidade impressio na. As
areias escaldantes pisadas tantas vezes pelas negras esculturais, co m cestas de frutas sobre a cabeça. Elas caminhavam
leves, ondulando os quadris, a cabeça erguida firme, o traseiro empinado, o peito desafiante. Pareciam potrancas refinadas, nenhuma mulher branca consegue andar assim.
Havia as choças miseráveis das populações primit ivas, co m
crianças nuas, esquelét icas, brincando nas ruas.
As biroscas caindo aos pedaços, onde se vendia m
gêneros de primeira necessidade; os cafés iluminados por
uma luz vert ical e fantasmagórica, onde serviam chá preto
da Índia, gelado com rodelas de limão e bebidas alcoólicas.
Convertido ao islamis mo no século IX, o país torna-se colô nia da França em 1862. Obtém a independência em 1977,
com o nome de Djibut i. É abalado por conflitos religiosos e
raciais, entre as etnias afar do norte e do oeste, ligados à
população etíope, e issa, de origem so mali, no sul.
Durante a viagem, os rudes marinheiros orientais
observavam curiosos os notebook dos dois brasileiros e lhes
pediam para digitarem cartas de amor para suas no ivas,
esposas ou namoradas que ficaram nos portos da França, ou
em Goa ou Calcutá, na Índia. Recorriam às palavras meigas, doces e amorosas.
No fundo não lhes interessava o assunto, mas que
fossem escritas no computador. Enviavam mensagens singelas, cheias de amor e ternura.Após dias de viagem tranqüila o “Amartya Sen” lançou âncora no porto de Calicute
na Índia, para desembarcar a carga, para depois continuar a
navegar rumo ao porto de Colombo na República Democrática Socialista de Sri Lanka (Antigo Ceilão).
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REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DE SRI LANKA.
Álvaro e Rodrigo já estavam cansados da lo nga viagem pelo mar, estavam ansio sos para chegar à Indonésia.
Mas co mo o navio ia deixá-los no porto de Colombo, resolveram ficar por alguns dias na cidade, conhecer a região,
se inteirar da sua história, da sua gente, da fauna e da flora
e principalmente começar as pesquisas, para cuja finalidade
faziam esta viagem. Procuraram uma agencia de turismo
para organizar melhor as suas buscas.
- O senhor poderia indicar uma pessoa bastante conhecedora do país, para servir de guia para nós? - perguntou Álvaro ao funcio nário da agencia de turismo.
- Sim! Temos gente especializada para aco mpanhar
os turistas. A jovem Chandrika fará o trabalho para vocês.
De imediato adquiriram um mapa da ilha e contrataram a guia turística Chandrika, que falava fluentemente o
inglês.Hospedaram-se numa pensão recomendada pela guia,
e no outro dia cedo se puseram em campo. A guia muito
bem informada, já os estava esperando no saguão da hospedaria. Começou abrindo o mapa e explicando-lhes a geografia do país, em seguida expôs a história, muito antiga, po is
teve início no século VI a.C.
- O território da República de Sri Lanka está localizado no oceano Índico, a cerca 50 km da costa sudeste da
Índia. É formado por uma ilha em forma de pêra, cuja costa
noroeste acha-se separada do sudeste do Deccan pelas águas do golfo de Mannar e do Estreito de Palk. O rosário de
ilhas existente estabelece uma ligação natural entre o Sri
Lanka e o subcont inente indiano. A ilha é const ituída por
um fragmento do bloco peninsular próximo, com a qual tem
em co mum a constituição geológica. Calcários de diversas
idades cobrem de modo descontinuo as rochas mais antigas.
110
Terras miocênicas permeáveis (do período Terciário) surgem ao norte, na plana e árida península de Jaffna.
- Foi habitada em épocas remotas pelos australó ides
(povos autóctones das ilhas do Pacifico).A ilha de Sri Lanka sofreu uma invasão de povos arianos do norte da Índia
nos fins do século VI a.C. e começo do V a.C. Estes podem
ser considerados como autênticos antepassados dos atuais
cingaleses. Limitando seu estabelecimento às zonas setentrionais, estes povos de agricultores que já conheciam o
ferro, conquistaram a hegemo nia a part ir de Anuradapura, a
primeira capital nacio nal de Ceilão (Sri Lanka.).
- No século III a.C.o budismo é introduzido no país
pelo rei Tissa e logo é adotado maciçamente pela população. E então que o pensamento e os ensinamentos budistas
se insinuam nos fundamentos básicos da civilização cingalesa. A influência do clero budista transparece nas estruturas da administração, da econo mia e da cultura. As múlt iplas incursões de povos do norte da Índia trazem numerosa
comunidade tâmil ao país. Em 1018, o comandante indiano
Rajendra Cho la conquista Ceilão.
- Em 1505, os portugueses chegam á Sri Lanka e
dominam a econo mia do país por 135 anos, de Colombo até
Jaffna. A partir do século XVII, entretanto, chegam os holandeses e obtém a hegemo nia do comércio exterior. As
rivalidades entre Inglaterra e Holanda resultam na cessão de
Sri Lanka à coroa inglesa, em 1802. Foi incorporada ao
Império Britânico, com o no me de Ceilão.Os britânicos
começam a exploração colonial da ilha em grande escala,
desmatando maciçamente as novas terras para a ampliação
da agricultura de plantation, nos vales e planícies, iniciada
pelos ho landeses.
- Ceilão é uma das mais belas ilhas do mundo. Durante todo o século XIX, as transformações econômicas
produzidas pela co lonização britânica causaram profundas
111
repercussões sociais. Os ingleses se instalaram em seus
bairros próprios e nos clubes rodeados por uma mult idão de
artistas, construtores,ceramistas, arqueó logos, tecelões, escravos indígenas e mo nges de túnicas cor de açafrão escultores de imensos deuses talhados nas mo ntanhas de pedra.
- Os tesouros culturais e arqueo lógicos eram escavados das magníficas cidades ant igas que a selva havia engolido, Anuradhapura e Po lonaruwa. Portentosas esculturas
de pedra milenária, de jaspe e granito, colunas de mármore,
e estátuas de deuses eram transportadas, bem embaladas,
para Brit ish Museum de Londres, onde estão até hoje.
- Ceilão fornecia para os ingleses o chá mais fino do
mundo. Nessa sociedade elit ista os ingleses ocupavam o
alto da pirâmide social e viviam em grandes e ricas mansões com jardins, e se divert iam em elegantes clubes de
Colo mbo. Mais abaixo se situava a população budista e
muçulmana de cingaleses co mposta de muitos milhões de
pessoas. E bem mais abaixo na escala social, pessoas que
recebiam o mais baixo salário pago pelo trabalho, somavam-se milhões de indígenas, todos eles do sul do país, de
língua tâmil e religião hindu.
- Embora a ilha tenha apenas 4.000 km de extensão
norte-sul e so mente 250 km no sent ido leste-oeste, Sri Lanka oferece grande variedade de paisagens, possui um território plano, recoberto de florestas tropicais com variada
flora, animais e pássaros próprios da região tropical. Possui
uma zona mo ntanhosa central. O clima é quente no norte e
equatorial no sul. Destaca-se na produção de pedras preciosas e chá, produto do qual é o maior exportador mundial.
- Em Ceilão havia ruas inteiras dedicadas ao ópio.
Eram verdadeiros lugares sagrados. Os fumantes se deitavam sobre o assoalho irregular. Não havia nenhum luxo,
nem tapetes, nem co lchões, eram tábuas nuas sem pintura,
cachimbo s de bambu e travesseiros de seda chinesa. Reina112
va no recinto um ar de decoro e austeridade que não exist ia
nos templos. As pessoas narcotizadas pelo ópio, adormecidas, não faziam nenhum mo vimento e nem ruído.
Os do is jo vens brasileiros, ansiosos por novas emoções, resolveram experimentar fumar um cachimbo de ópio.
Adquiriram-no de um velho traficante e instalaram-se no
chão de taboa, tendo como apoio uma almo fada chinesa.Com o ritual costumeiro começaram a tragar a fumaça
do narcótico. Após o uso passaram mal, sent iram náuseas
que subiram pela espinha dorsal até o cérebro, sent ira m
aversão à luz e a existência. Depo is dessa infeliz experiência nunca mais voltaram a usar o ópio ou outras drogas.
- Sri Lanka é um dos principais centros turíst icos da
Ásia. Recebe anualmente cerca de 500.000 mil visitantes,
atraídos pelos fest ivais budistas, pelos mo numentos antigos
e cidades sagradas de Anuradhapura e de Kandy, pelas antigas cidades de Polonnaruwa e de Sygiriya, a Reserva Florestal Sinharaja, as fortificações de Galle e o Templo Dourado de Dambulla, pelas inúmeras grutas, pela beleza natural do país e pelas exóticas mulheres.
- Também são importantes para a economia do país,
o cult ivo de arroz e a extração da borracha, coco e cacau.
Aos grandes empórios do co mércio litorâneo mant idos pelos árabes e portugueses, exportadores de pérolas, marfim e
especiarias, sucederam-se no século XIX, as cidades portuárias que possuíam contato com agricultura comercial.
- Sri Lanka possui uma área de 65.610 km² e uma
população de 20,4 milhõ es (2010).O governo socialista
tem co mo presidente Mahinda Rajapakse reeleito em 2010.
Os cingaleses, de religião budista são 74% da população e
uma minoria de 16 % de tâmeis segue o hinduísmo. É usado o idio ma cingalês sinhala, tâmil (o ficiais) e inglês.
O porto e a cidade de Co lo mbo, capital do país é
uma importante escala marít ima asiát ica, possui 681.000
113
habitantes (aglo meração urbana). Aproximadamente 15 %
dos habitantes vivem em centros urbanos. Colônia inglesa
desde 1802, Sri Lanka, que significa ”ilha resplandecente”,
conquista a independência em 1948. A história recente do
Sri Lanka é marcada pelo confronto entre cingaleses (majoritários) e os 3 milhões de tâmeis. A nação se recupera de
uma lo nga guerra civil, que durou 26 anos, iniciada e m
1983 e só fo i encerrada em 2009.
Andando pela costa da ilha chegaram a assist ir u m
espetáculo inco mum “o banho dos elefantes”. De repente da
água tranqüila do rio surgiu um esquisito fungo cinza, que
logo se converteu em serpente, depois em imensa cabeça,
por últ imo em mo ntanha co m lo ngas presas. Eram vistos
centenas de animais, tomando seu banho tranquilamente.
Nenhum país do mundo tinha ou tem tantos elefantes executando trabalhos pesados nas estradas. Era assombroso vêlos cruzando com sua carga de toros de madeira de u m
lado a outro, como laboriosos e grandes trabalhadores.
- Em certa época, os elefantes se haviam propagado
em excesso em um determinado distrito e começaram a
invadir casas e lavouras. Por meses, ao longo do rio, os
camponeses - co m tochas de fogo, com fogueiras e tambores – foram agrupando os rebanhos selvagens e os empurrando a um canto da mata. De noite e de dia as fogueiras e o
som dos tambores perturbaram os grandes anima is que se
mo viam com lent idão para o noroeste da ilha.
- Ali foram cercados. Um imenso rebanho com cerca de quinhentos elefantes. Então os grandes machos se
reuniram num circulo fechado decididos a proteger as fêmeas e os filhotes. Era comovedora sua defesa e sua organização. Lançavam um chamado angust iado, espécie de
mugido e no desespero arrancavam co m raiz as árvores
próximas, tentando intimidar os seus capturadores.
114
- Então, montando dois grandes elefantes do mesticados entraram os domadores. A parelha do mest icada chegava perto do animal prisio neiro, golpeava-o com sua
tromba e ajudava a imo bilizá-lo. Então, os caçadores amarravam uma das patas traseiras com grossas cordas a u m
tronco de árvore bem resistente. Durante cinco dias, os elefantes ficavam sem co mida e sem água, no final, alimentados pelos domadores, um por um esses possantes animais
foram submet idos e do mest icados. Aprenderam a obedecer
e estavam prontos para serem usados nos trabalhos pesados.
Os elefantes asiát icos são os de mais fácil do mest icação.
Chandrika, um belo t ipo de mulher cingalesa, acompanhou os dois brasileiros pelos lugares mais importantes e
interessantes do país e da cidade de Co lombo. Extremamente atenciosa durante todo o tempo em que eles lá permaneceram, teceu eloqüentes elogios á beleza da sua terra.
- Façam o possível de vo ltar para cá após a visita às
ilhas da Indonésia. Reco mendo-lhes que procurem no balcão de informações aos turistas no aeroporto de Jacarta, em
Java, pela agente Megavati que é minha amiga, é uma pessoa bem informada e eficiente como guia turíst ico – informou a jovem cingalesa.
REPÚBLICA DA INDONÉSIA.
Ao desembarcar no aeroporto de Jacarta os dois
pesquisadores brasileiros seguiram as instruções da guia
cingalesa Chandrika e se dirigiram ao balcão de informações, onde foram atendidos por uma bela jo vem malaia.
- Em que posso ajudá-los – perguntou solícita.
- Fomos instruídos por sua amiga Chandrika da cidade de Co lo mbo, em Sri Lanka, para procurá-la. Vamos
precisar de um profissio nal para nos acompanhar e orientar
115
na cidade e em todas as ilhas da Indonésia que pretendemos
conhecer - explicou Rodrigo.
- Podemos conversar a respeito, assim que eu for liberada do meu turno no trabalho – respondeu a moça.
- Então só nos resta esperar.
Os dois viajantes se dirigiram ao restaurante para
um lanche, enquanto aguardavam a guia Megawati.
- Tenho uma proposta a dar a vocês, como eu não
posso acompanhá-los em viagem pelas ilhas, indico-lhes
meu amigo Michael Tehani, uma excelente pessoa, formado
na faculdade de turismo, será um bo m guia para vocês e
está disponível para aco mpanhá-los de imediato. Vou chamá-lo agora – disse Megawati - e dirigiu-se à sala anexa.
Voltou acompanhada de Michael, jo vem duns vinte
e oito anos, tipo malaio, de sorriso permanente nos lábios,
irradiando simpat ia, bem-apessoado, de óculos escuros e
roupa esportiva. Depo is das apresentações, combinaram o
tempo e a remuneração sobre os serviços a prestar como
guia. Após estar tudo de acordo foram descansar no hotel
“Diplo math”, situado no centro da cidade, o mais indicado
pelos agentes de turismo. Após o desjejum co meçaram o
tour pela cidade, acompanhados pelo guia Michael.
- A cidade de Jacarta, capital da Indonésia, possui
uma população de 9.125.000 (aglo meração urbana), (e m
2010), está localizada às margens da baia do seu no me, no
ponto onde o rio Tjiliwong desemboca no mar de Java. Em
1619, o almirante holandês Van der Broek, fundou em Java,
o forte de Batávia, no lugar onde se erguia o ant igo povoado de Jacarta. Ficou designado para a sede da Companhia
Holandesa das Índias Orientais, que logo estendeu seu domínio sobre os principados e sultanatos vizinhos.
- Em 1699, Jacarta sofreu um devastador terremoto
e a erupção do vulcão Salak, cujas cinzas cobriram toda a
116
região periférica da cidade, que se converteu numa comunidade doente, com gente em situação de desespero. No começo do século XIX, o marechal ho landês Daendels mandou destruir as muralhas ant igas da cidade e construir u m
novo núcleo urbano em Weltevreden.
- Em 1945, se const ituiu a República Independente
da Indonésia. A ant iga cidade de Batávia, agora Jacarta, se
converteu em capital da República da Indonésia em 1950.
Na cidade dist inguem-se três setores: a cidade ant iga, nos
ambos os lados do rio, unida por canais; a cidade moderna
( Weltevreden), em terra firme, co m a larga e suntuosa
Avenida Djala m Djponegoro, e Tandjungpriok, subúrbio
portuário da capital.
- A cidade de Jacarta (ex-Batávia), polariza a atividade polít ica de uma nação composta por um grupo de
17.508 ilhas (6.000 desabitadas) espalhadas ao lo ngo 5.000
km, do Leste a Oeste e 2.000 km de Norte a Sul. É o mais
extenso arquipélago do planeta, com a área aproximada de
1.890.754 km². É a quarta nação mais populosa do mundo,
com 232,5 milhõ es (2010) de habitantes. Idio ma oficial é o
indonésio bahasa, são usadas também línguas regionais,
entre as principais está o javanês.
Durante muitos dias, aco mpanhados pelo guia Michael,os do is pesquisadores visitaram museus, teatros, mesquitas, igrejas católicas romanas, templo s budistas e hinduístas. Assist iram a danças fo lclóricas. Terminada a visitação
a lugares interessantes de Jacarta, foram descansar no hotel
onde estavam hospedados. No outro dia de manhã, o guia
Michael, entusiasmado com o interesse dos dois moços
estrangeiros, quanto a história e as belezas naturais do seu
país, esperava-os no saguão do hotel.
- Como passaram a no ite? Estou ansio so em continuar a mostrar-lhes as atrações da nossa cidade – falou Mi-
117
chael e abraçou-os amistosamente. Estão dispostos a ouvir
a minha explanação? Procurarei ser o mais claro possível.
- Oh! Sim! - respondeu Rodrigo - mal posso esperar.
Então se sentaram à uma mesa no bar do hotel, o
guia desdobrou o mapa da cidade, co mo também um outro,
o do Arquipélago da Indonésia. Enumerava as ilhas mais
interessantes e dignas de serem visitadas.
- Situados em um dos maiores cruzamentos do
mundo, os países do Arquipélago de Sonda e do Sudeste
Asiático tem uma história que remonta aos primórdios da
humanidade. Quanto a formação da população, a Indonésia
tem alguns dos vest ígios arqueo lógicos mais ant igos do
Homo sapiens. Os indícios da presença do “Ho mem de Java”, datados do Pleistoceno Médio, foram encontrados no
vale do Solo, no centro de Java. No vale do rio Brantas,
existem indício s do Homo sapiens no Sudeste Asiático,
com civilizações de 40.000 mil a.C.
- Java é, provavelmente, a pátria de uma das mais
primit ivas raças humanas. A atual parece ser originaria das
migrações malaias que chegaram a Java e Sumatra por volta
de 4000 a.C. provenientes do Sudeste Asiát ico. Vieram ao
Arquipélago em sucessivas ondas migratórias. A maioria
dos indonésios é descendente de povos de línguas austronésias, cujo idio ma provém do protoaustronésio, o que indica
que sua origem é provável de Formosa (Taiwan). Os melanésios são os grupos de população mais importante do país,
que habitam a parte central da Indonésia.
- A maior parte está formada por elemento malaio,
ou indonésio co m diversas variedades, entre elas se destacam os sondaneses, os javaneses, os bataks, os chineses, os
malaios, os dayaks, os toalas, os balineses, e os alfures. Ao
seu lado figuram os emigrantes asiát icos (chineses e japoneses) e europeus.Os asiát icos tem uma grande importância,
118
pelo papel que desempenham na vida econômica do país.
Entre os europeus, cuja aclimatação tem sido muito difícil
destacam-se os ho landeses, ingleses e alemães.
- No aspecto polít ico, essa contribuição étnica provocou a fundação de vários sultanatos nas ilhas, que governaram o país até a chegada de europeus e que depois abaixo
de um regime autônomo, subsist iram durante muit o tempo.
- A diversidade racial, a mult idão de povos e as imigrações estrangeiras explicam a grande variedade lingüíst ica da Indonésia. No país coexistem mais de 300 etnias nat ivas, que falam mais de 700 línguas e dialetos.Os idio mas
mais importantes do arquipélago são: o malaio bahasa e o
javanês. Importância considerável tem o chinês, holandês e
inglês. A maior etnia é a javanesa, que é o grupo dominante
do ponto de vista polít ico e cultural.
- A Indonésia é a maior nação islâmica do planeta,
com 207 milhõ es de muçulmanos. Também há minorias
importantes de cristãos nas ilhas Molucas e hinduístas na
ilha de Bali. Existem minorias de pagãos que praticam o
animismo. A diversidade de povos cria conflitos étnicos e
religiosos que ameaçam a integridade do País.
- A co mplexa mistura racial da Indonésia de ho je é
o resultado de duas ondas de invasores da Ásia e do Pacífico. No inicio da Era Cristã, o país esteve sob a influência da
civilização indiana, do hinduísmo e do budismo. No século
XII, entretanto, essas influências foram substituídas pela do
islamis mo trazida por mercadores de Gujarat i, hindus convert idos ao Islã pelos persas, que se tornou religião dominante. No ano de 1170, fo i o apogeu do reino de Srivijaya
em Java, sob a dinastia Shailendra.
- A civilização indu-indonésia at ingiu seu esplendor
no século XIV, a Idade de Ouro do Império de Majapahit,
quando o reino se estendia para leste, além de Java, Bali,
Sumatra e Bornéu, em contato comercial e cultural co m a
119
China.Sobre este fundo étnico chinês, as invasões hindus e
semitas muçulmanos contribuíram para o processo da formação da população da Indonésia.
- Na época dos grandes descobrimentos geográficos
dos séculos XV e XVI, os produtos exóticos do Oriente, as
famosas especiarias produzidas nas ilhas Mo lucas, “Ilhas
das Especiarias” co mo canela, açafrão, cravo, pimenta-doreino, noz-moscada,baunilha, co minho e outros produtos da
culinária, para os grandes mercados europeus, const ituíra m
um poderoso incent ivo para os navegantes portugueses,
com numerosas expedições na sua busca.Num transcurso de
poucos anos a maior parte da Indonésia caiu em poder da
Corte de Lisboa. Seguindo a rota das especiarias, os portugueses apareceram nas Ilhas Mo lucas e Ilhas do Mar de
Banda em 1512.
- Os holandeses co meçaram negociar com eles e m
1599. De Batávia seu quartel-general, os ho landeses controlavam as Mo lucas e as ilhas Banda, isto e, as Ilhas das Especiarias. A crescente demanda na Europa pelas especiarias
e pela pimenta levou as potências marít imas a procurar o
comércio direto com as ilhas que as produziam, abrindo
caminho para o trabalho missio nário cristão, mas também
para os traficantes, piratas, criminosos e aventureiros.
- Durante os séculos XVII e XVIII, a Indonésia se
transformou num campo de rivalidades entre espanhó is,
portugueses, holandeses e ingleses, que criaram suas próprias co mpanhias. Essas companhias introduziram nas ilhas
os cultivos co merciais de café e cana-de-açúcar, os quais
começaram a dar excelentes resultados econômicos.
- Em 1602, vários grupos mercant is fundaram a
Companhia Ho landesa das Índias Orientais. A expansão
territorial holandesa em Java co meçou com a tentativa frustrada do sultão Ajung de Mataram de conquistar a Batávia.
Após sua morte em 1646, a Co mpanhia Ho landesa, ao in120
tervir nas disputas sucessórias, tornou-se a maior força política na ilha, controlando as casas reinantes e pagando dívidas em troca de cessão de territórios. A manutenção do monopólio comercial fo i parte vital nessa expansão.
- Era a vez de a co lonização ho landesa assumir o
controle da Indonésia, domínio esse que só se interrompeu
com a II Guerra Mundial, quando os japoneses ocuparam as
ilhas. Os ho landeses administraram seu magnífic o Império
colonial em regime de Co mpanhia concessio nária monopolizadora de todas as atividades econô micas, desde 1602 a
1800, em cujo ano decidiram converter aquele em monopólio estatal. Em 1800, Ho landa fo i conquistada por Napoleão
Bonaparte, e a Indonésia passou ao domínio da França até
o ano de 1811. Em 1825, iniciou-se a revo lta dos indonésios contra os holandeses, a chamada “Guerra de Java”.
- A parir de 1830, o imperador Guilherme I, da Holanda, desejo so de tirar o máximo proveito econômico de
suas co lônias, autorizou o governador ho landês da Indonésia, Van der Broek, a implantar até as últ imas conseqüências o sistema de cultuurtelsel, ou cult ivo forçado das lavouras de cana-de-açúcar, café, chá e borracha. A produção
aumentou vertiginosamente e impulsio nou a prosperidade
de Holanda,com sacrifíc io e exploração do trabalho indígena, da mão-de-obra chinesa, malaia e demais imigrantes.
- Em 1945, co m a transferência por parte da Holanda da soberania sobre os territórios que formavam as ant igas Índias Orientais Holandesas, nascia a República da Indonésia. Após a rendição japonesa em 1949, os líderes nacionalistas proclamam a independência, sob a liderança de
Sukarno. A Ho landa reconhece a separação depois de quatro anos de conflitos. O país é organizado em Estados com
alto grau de autonomia, mas em 1950 Sukarno centraliza o
poder. Em 1965, as Forças Armadas sufocam tentativa de
121
golpe de militares ligados ao Partido Comunista Indonésio,
deixa um saldo de dezenas de milhares de mortos.
- Em 1966, Sukarno é forçado a transferir o poder
aos militares. O general Suharto é declarado presidente e m
1968, e instala a ditadura no país. A expansão da economia
é abalada em 1997, pela crise financeira no Sudeste Asiát ico e o governo recorre ao FMI, para um emprést imo de 42
bilhões de dó lares. Em 1998, a Indonésia fo i abalada por
vio lentos protestos da população contra a crise econô mica e
a corrupção; a repressão policial deixa mais de mil mortos
e o ditador Suharto é forçado a renunciar. Com a queda da
ditadura de Suharto os choques étnico-religiosos e movimentos separatistas ganham intensidade na Indonésia.
Após as emoções daquele dia, Rodrigo e Álvaro já
cansados, foram refazer as energias no restaurante típico
malaio. Fo i uma feliz surpresa o cardápio de pratos exóticos
apresentado. Deliciaram-se co m a co mida extravagante, da
qual nunca tinham saboreado. No outro dia de manhã, Michael Tehani, Rodrigo e Álvaro, estavam sentados confortavelmente à mesa na sala de estar do hotel, bebericando
uma água de coco gelada, diretamente da fruta.
- Para enriquecer suas pesquisas vou lhes contar
uma lenda que é repassada pela tradição popular, fala sobre
o desaparecido Continente de Lemúria. Essa história pode
ter autenticidade ou não, mas cont inua na memória do povo
ant igo. Também falarei da formação do Arquipélago de
Sonda ou Arquipélago Malaio (Indonésia), conhecidos pelo
no me geográfico de Insulindia, sua geografia, sua história,
a cultura de sua gente desde os primórdios – propôs o guia.
- Por favor, informe tudo que for importante para
nossa pesquisa – respondeu o jornalista Álvaro.
- Nesse caso, irei contar desde o início - disse Michael e co meçou a narrativa:
122
- Como deve ser do seu conhecimento, mas sempre
é bo m recordar que, a Teoria atualmente aceita é de que,
desde a Era Pré-Cambriana (Primária) até a Era Mesozóica
(Secundária), portanto há 250 milhões de anos atrás, todos
os continentes estavam reunidos em um único bloco chamado Pangéia (do grego, toda a terra). Há 200 milhões de
anos atrás Pangéia co meça a se fragmentar, formando dois
subcontinentes, Laurásia e Gondwana..
- No Período Cretáceo, há 135 milhões de anos atrás, no continente de Gondwana surgem fendas profundas
na estrutura da Terra que separam América do Sul, a África e a Índia iniciando a formação dos Oceanos Atlânt ico e
Índico. Na separação das placas tectônicas a expansão do
assoalho marít imo propiciou a ampliação, do já extenso
Oceano Pacífico (antigo Mar de Pantalassa).
- A investigação e a pesquisa cient ífica podem apresentar excelentes subsídio s para os geó logos, arqueólogos,
geofísicos, antropólogos e historiadores que se interessa m
pela história de Lemúria. Existe a hipótese de que, centenas de milhões de anos atrás, no Oceano Índico, uma ruptura surgiu na rocha basált ica que const ituía o leito do oceano. Formou-se na conjunção das placas Indo-australiana e
Euro-asiática, numa linha que se estendia por mais de 5 mil
km, de nordeste para sudeste. Ocasionada por convulsões
da crosta terrestre ocorrera a grande fratura na estrutura
básica da Terra e por ali co meçou a vazar rocha fervente.
- Às vezes se passavam mil anos, dez mil anos, antes que ocorresse nova erupção do material fervente. Em
outras ocasiões, as pressões gigantescas se acumulavam por
baixo da ruptura e depois se projetavam co m vio lência extrema arremessando magma para cima elevando a altura da
terra submersa. Camada após camada de rocha derretida ia
vazando, sibilando ao contato da água do mar, deslizando
pelos lados das pequenas elevações em formação, escorren123
do pelas encostas das mo ntanhas submersas, aderindo ao
que emergira antes, constituindo a base para a que viria.
- Submerso por quase 40 milhões de anos, o vulcão
subterrâneo, sibilou, rugiu, arrotou e expeliu rocha derretida
através dos mesmo s vazamentos do núcleo da Terra.Ao
escapar da prisão interna, entrou em contato com a água fria
do oceano. No mesmo instante a rocha quente explodiu em
cinzas que começaram a conso lidar-se. Nessa ocasião, o
primordial Mar de Pantalassa assinalou que novas terras
estavam nascendo. Formava-se lentamente o grande continente de Lemúria, que passou a integrar o sul da África, o
Deccan na Índia, o Sudeste Asiático, a Austrália e a Antártica, estendendo-se até a costa dos atuais cont inentes da
América do Norte e da América do Sul.
- Naquela época toda a Terra era constantemente sacudida, vio lentamente, por terremotos e pelas erupções dos
milhares de vulcões que ali exist iam. A lava fervente cobriu
toda a crosta terrestre, que assim cont inuou por milhares de
anos. Terremotos são manifestações de deslizamento ocorrido nas falhas geológicas. A maior parte ocorre nas bordas
das placas tectônicas. A placa do Pacífico é a maior placa
oceânica, com cerca de 70 milhões de km².
- Num incalculável número de tempo geológico o
clima da Terra mudou milhares de vezes, de calor extremo,
passava para o frio rigoroso. Certa época o gelo desceu do
Árt ico cobrindo os continentes, por 10 mil anos seguidos.
Seu peso e sua força desgastaram as rochas formando vales,
planícies e mo ntanhas. Passada a Era do Gelo o clima aqueceu novamente e as geleiras derreteram. Co m o gigantesco
acúmulo de água das geleiras o nível dos Oceanos se elevou drasticamente submergindo a maior parte das terras de
Lemúria. Há indícios de que muitos espaços abertos, hoje
preenchidos por oceanos, já foram ocupados por continentes existentes no passado.
124
- Há mais ou menos 90 mil anos atrás, durante o Período Quaternário, o continente de Lemúria que estava unido à oeste da América do Norte, ao sul da Ásia, ao Deccan
na Índia e ao sul da África, sofria grandes cataclismos, co m
transformações repent inas e de grande amplitude da crosta
terrestre, com bruscas mudanças climát icas,de grandes secas e glaciações.Com as inundações, as terras baixas tornaram-se alagadiças e afundavam vagarosamente no mar, o
suficiente, para se tornarem um grupo de ilhas pantanosas.
- Por milhares de anos Lemúria continuava afundando lentamente, forçando seus habitantes a se deslocare m
para terras asiát icas, africanas e australianas. Consta que o
continente era habitado por uma civilização com elevado
grau de desenvo lvimento. Muitas partes do continente submergiram, deixando a Lemúria bem menor.O afundamento
total ocorreu há mais ou menos dez mil anos a.C. quase no
final da Era Glacial.
- Tragado pelas águas do Oceano Índico o Continente deixou evidentes testemunhos geo lógicos, no Sul da
Índia, no Sudeste Asiát ico e nos arquipélagos que surgiram
depois do cataclismo, co mo o Arquipélago das Filipinas, do
Japão, as Ilhas do Arquipélago de Sonda e a Península da
Malásia. O grupo de ilhas da Nova Zelândia e os milhares
de outras ilhas grandes e pequenas esparsas pelos Oceanos
Pacífico e Indico, muitas são picos de mo ntanhas do continente submerso.
- Com a pressão gigantesca das placas tectônicas,
formou-se a cordilheira mesoceânica, submarina, com a
extensão de 70.000 km, dando vo lta ao globo, cujos cumes
elevam-se a seis mil metros desde o leito do oceano. Pelos
10 mil anos seguintes sob o impacto dos vulcões foram
surgindo, uma a uma, as inúmeras ilhas do Pacífico. As
ilhas Orientais estão se expandindo num ciclo interminável.
O Circulo do Fogo do Pacífico marca seu surgimento e de125
saparecimento; um novo vulcão impele seu cone acima da
superfície da ilha.
- A vida reapareceu nas ilhas que surgiram do fundo
do mar. As primeiras formas vivas a chegarem eram insignificantes, quase invis íveis, liquens e musgos. Esses fragmentos se fixaram, foram se expandindo, desgastando as
rochas, formando o solo. Um dos dias mais importantes na
história das ilhas de Sonda ocorreu quando uma ave chegou
do leste, trazendo nas penas emaranhadas a semente de uma
árvore. Empoleirada numa pedra a ave bicou a semente até
desprendê-la das penas. A semente caiu no so lo e, com o
tempo uma árvore cresceu. Outra ave aliviou suas entranhas
e deixou sementes de bambu. As sementes nasceram e se
espalharam formando grandes touceiras de bambuzais.
- Nesse tempo já exist ia, nos continentes distantes,
como Índia, China e Austrália, uma sociedade vegetal e
animal devidamente estabelecida co mposta de árvores, animais, pássaros, répteis e insetos. Algumas dessas formas
aproveitando o rebaixamento das águas do mar, em épocas
da glaciação, empreenderam jornadas exploratórias através
das pontes terrestres, desde seu habitat nativo, até as ilhas
do Arquipélago Indonésio. Os répteis chegaram rastejando
pelos pântanos úmidos, em manadas vieram os elefantes e
tigres, pulando de uma mo ita de terra firme para outra chegaram os macacos. Veio também um fest ival de pássaros.
- No encalço dos animais vieram os homens, do norte da Índia, Birmânia e da China. Os caçadores das Filipinas chegaram em canoas feitas de bambu, e muitos deles
pelas pontes terrestres.Quando o gelo veio e se fo i, fez co m
que as águas do Grande Pacífico se elevassem novamente,
submergindo a cadeia de planaltos em 20 a 500m de profundidade.Co m isso fechou-se a passagem terrestre que
ligava Ceilão, a Península da Malásia e os Arquipélagos da
Indonésia e das Filipinas com o continente asiático.
126
- As plantas, animais e insetos aventureiros que haviam alcançado as ilhas mais ant igas a nordeste, tivera m
tempo suficiente para se deslocarem para as terras mais
novas em outras ilhas. Podia levar muito tempo para uma
relva co mpletar sua jornada pelo arquipélago. Arvores e
trepadeiras, samambaias, palmeiras, bambus e capim fora m
se introduzindo pelas ilhas, enquanto, os vulcões, ainda
explodiam co m vio lência pelo arquipélago indonésio.
- Por tempo indeterminado se desenrolou a grande
odisséia do surgimento e consolidação das ilhas do Arquipélago da Indonésia, da Malásia, das Filipinas, do Japão e
demais ilhas, impuls io nados pelos vulcões que circundam o
Oceano Pacífico. Existe cerca de 550 vulcões at ivos,sendo
452 vulcões numa área conhecida co mo o Circulo do Fogo
do Pacífico. As ilhas ao longo da ruptura no leito do oceano
eram um paraíso, se elevando do mar em penhascos abruptos e imensos picos rochosos. Continham baías profundas,
praias com areias reluzentes margeadas por palmeiras esbeltas. As ondas impetuosas lambiam as suas orlas.
Empo lgado, o guia Michael passou a discorrer sobre a geografia e história de época recente, relat iva ao Arquipélago da Indonésia.
- Indonésia, conhecida também co m os no mes geográficos de ilhas de Sonda ou Arquipélago Malaio , compreende a vasta extensão de terras banhadas pelos Oceanos
Pacífico e Índico, que se estende do Sudeste da Ásia até
Papua (ex-Irian Jaya ). Compõe-se das ilhas do Arquipélago de Sonda (Indonésia), sendo as principais: Sumatra,
Bornéu, Java, Bali, Lombok, Sumbava, Sumba, Flores,
Papua, Nova Guiné, Célebes, Mo lucas, Cômodo e milhares
de ilhas menores dispersas pelo oceano Índico e Pacífico.
- A República da Indonésia tem fronteiras terrestres
com a Malásia (na ilha de Bornéu) com Papua Nova Guiné
(na ilha de Papua) e co m Timor-Leste; marít imas co m as
127
Filipinas, Malásia, Cingapura, Palau, Austrália e com o
estado indiano de Andaman e Nicobar.
- As ilhas do maior arquipélago do mundo ficam na
plataforma de dois arcos continentais. A cadeia sul das ilhas
de Sumatra a Timor, incluindo Bornéu, forma a parte do
arco de Sonda, uma extensão do continente asiático, submerso numa grande área. As Mo lucas do Norte e a Nova
Guiné ficam no arco de Sahul, uma extensão a norte do
continente australiano. Entre os arcos, Sulavesi e as Mo lucas do Sul formam o topo das ilhas de cadeias suboceânicas
de montanhas flanqueadas por fossas co m até 5.500m de
profundidade.
- Todas as principais ilhas da Indonésia são montanhosas: Sumatra , Java e as ilhas Sonda formam um arco
contendo 200 vulcões, muitos dos quais estão ativos. Em
Sumatra, juntamente com 10 vulcões ativos, há um número
de lagos de ant igas crateras, como o lago Toba, a uma alt itude de 900m. O relevo montanhoso das ilhas ostenta centenas de vulcões. A ilha de Java, extremamente povoada,
tem uma extensa cadeia contendo 70 vulcões at ivos, e mais
de 130 apenas adormecidos.
- O Arquipélago da Indonésia está situado no encontro das placas tectônicas Indo-australiana e Euro-asiát ica,
isto é, no Circulo de Fogo, portanto está sujeita à grandes
abalo s sís micos e vulcões. No terremoto de 9,3 na escala
Richter, em 26 de dezembro de 2004, a Indonésia fo i o país
mais at ingido pelas ondas gigantescas (tsunamis) que devastaram o sul da Ásia. O número de mortos e desaparecidos na Indonésia e em 11 nações do Oceano Índico é calculado em cerca de 260 mil. A maior parte das vít imas
(160.080) se encontrava na província de Banda Aceh na
ilha de Sumatra, a mais próxima do epicentro do terremoto.
- O forte furacão devastou e inundou a localidade de
Aceh.Isso acontecia seguidamente e ninguém se preocupa128
va demais co m as ruas transformadas em canais, com a água suja rolando pelos pát ios. A vida seguia co mo sempre,
só que mo lhada. Mas naquele ano fat ídico de 2004, a catástrofe fo i imensa, os atingidos foram milhares, até os mortos
emergiram de suas covas, flutuando num caldo de barro
vermelho, e se viram expostos à indignidade de perder os
ossos nas bocas de cães vadios.
- Na ilha de Banda Aceh, as ondas do tsunami chegaram à altura de 10 metros, arrancando os telhados das
casas, destruindo e levando tudo, árvores, móveis, máquinas. Assim que o mar se aquietou, vários homens arranjaram um trabalho transportando gente nas costas de um ponto a outro, enquanto algumas crianças, sobreviventes, se
divertiam rolando nas poças de água barrenta, cheia de
lixo, de imundície.
- Em 2006 o país é at ingido por duas catástrofes de
grandes proporções. Em maio, um terremoto ao sul da ilha
de Java causa a morte de pelo menos 6 mil pessoas, além de
desalo jar quase 2 milhões de indonésio s. Dois meses depois, um tsunami at inge o litoral de Java, deixando mais de
mil mortos e desaparecidos. Outro terremoto, este de 7,6
pontos na escala Richter atinge a costa da ilha de Sumatra
no fim de setembro de 2010. Há pelo menos 1,1 mil mortos,
além de 450 mil pessoas desalo jadas.
- Na maior parte das ilhas, os cursos dos rios são
caudalosos e de curta extensão, devido sua configuração.
Em Sumatra destacam-se os rios Kampar, o Indragini, o
Djambi e o Moeri, navegáveis em grandes trechos de seu
curso. Difere das outras ilhas indonésias pela abundância de
receptores e vales lacustres.. O maior receptor é o lago Toba, situado no lado setentrional. O espelho de suas águas se
acha a 906m acima do nível do mar, mede 100 km de co mprimento, 25 km de largura e 450m de profundidade. Seu
emissor e o rio Asahan, também há abundantes lagunas
129
pantanosas. Os rios de Java, co mo o Solo e o Brantas, tem
menos importância. Em Bornéu sobressaem, o rio Kapuas,
o Barito e o Makahan, caudalosos e de longo curso.
- O interesse que no panorama internacio nal tem a
Indonésia apó ia-se no solo, na abundância de seus recursos
naturais e na estratégica situação entre a Ásia e Oceania, e a
influência positiva que exerce dentro do bloco afro-asiát ico.
- O subso lo do Arquipélago encerra a maior reserva
de petróleo do Extremo Oriente. Os depósitos se situa m
principalmente nas ilhas de Sumatra e Bornéu e em menor
quant idade na ilha de Java. A produção indonésia de petróleo refinado equivale a algo de 2% da oferta mundial. Também é rico em estanho, carvão, manganês e bauxita. Os
principais portos indonésios são Jacarta, Semarang, Surubaya em Java e Palembang em Sumatra.
- A Indonésia é um país tropical e sua prosperidade
provém da agricultura intensiva, que produz para exportação, nas grandes fazendas administradas pelo critério industrial. As culturas preferidas é a borracha, a cana-de-açúcar,
o café, chá, tabaco, coco, cacau e a quinina, co mo també m
soja e amendo im. O arroz e milho são culturas destinadas
para o consumo local, bem co mo a mandioca e as frutas.
- Nas ilhas de Sonda abunda a cinchona a árvore da
quina de cuja casca se obtém um dos mais poderosos e eficazes febrífugos, a quinina, usado no combate à malária.
Pelo que se refere a alimentação humana, a pesca tem na
Indonésia um incent ivo maior do que a agricultura. Tanto
na costa como em águas doces do interior constitui uma
fo nte de riqueza de grandes benefício s.
- O patrimô nio florestal da Indonésia é imenso, abrange 48,8 % da superfície territorial. Entre as espécies
destacam-se a teca, árvore de grande porte (Tectona grandis) excelente para construção de navios, as árvores de
tinta (índigo fera t inctoria), de resina, madeiras de constru130
ção e o bambu. As florestas nat ivas estão povoadas por diversidade de animais e pássaros No oeste, a flora e a fauna
são característ icas do Sudeste Asiát ico, com florestas tropicais onde vivem elefantes, tigres e crocodilos. Já a região
leste, se assemelha a Oceania. A ilha de Papua apresenta
espaços naturais tropicais, onde vivem cangurus, papagaios
e cacatuas e outras espécies de animais e pássaros.
- Em Bornéu encontram-se imensos sistemas de
cavernas formadas pela lava dos vulcões, também cavadas
pelas ondas vio lentas do mar, são habitadas por milhares de
morcegos; há rios subterrâneos e grandes extensões de florestas tropicais. Plantas e flores originais povoam as selvas,
bem co mo animais e aves de plumagem esplêndida.
- O clima equatorial uniforme, cálido e úmido explica a exuberância da vegetação da Indonésia. No Arquipélago abundam os bosques de madeiras preciosas, milhares de
esguias palme iras e o alt íssimo e precioso bambu. Do ponto
de vista físico, Indonésia constitui um prolongamento do
continente asiát ico. Envo lta por um imenso circulo formado
por cordilheiras vulcânicas, rodeada por uma zona de formação ant iga integrada pelas ilhas de Bornéu e Célebes.
Em geral, o Arquipélago é de formação bastante recente.
- No estreito de Sonda, entre Sumatra e Java, a tristemente famo sa erupção do super vulcão Krakatoa do monte Perbuatan supostamente ext into, que entrou em erupção
em 27 e agosto de 1883, custou a vida de cerca de 36 mil
pessoas. A sucessão de erupções e explosões durou 22 horas. Foram as mais vio lentas erupções que a História registra. Grande parte da ilha desapareceu embaixo das ondas a
uma profundidade de 500 metros.
- Java está constituída, co mo Sumatra, por uma cadeia vulcânica que se superpõe a formações mais ant igas,
nela se encontra sinais de at ividade plutônica recente. A
cadeia montanhosa de Java é mais descont ínua e não encer131
ra os extensos planaltos que se encontra em Sumatra. De
toda maneira, a grande elevação de suas crateras determina
a altura do nível médio da ilha em 500 metros.
- A ondulação montanhosa do arquipélago indonésio
mostra freqüentes vest ígios das agitadas forças internas,
que em alguns pontos se encontram em plena atividade. A
paisagem, co m vulcanismo adormecido ou em fase de paroxismo erupt ivo, parece um símbo lo da oposição da Natureza ao total domínio do Planeta pelo ho mem.Os cones vulcânicos do Tenguer,do Semeru, do Bromo e do Batok, estão em atividade, lançando fogo e cinzas em suas erupções.
- No generoso manto vegetal da Indonésia se destaca a paisagem do interior de Sumatra, com os terraços escalo nados onde se cult ivam o arroz. Pode se avaliar a influência do clima equatorial (a linha do equador atravessa, entre
outras, as ilhas de Sumatra, Bornéu e Célebes) e a natureza
vulcânica do solo no viço da vegetação.
- As plantas da Indonésia são de uma exuberância
extraordinária. Exemplo de como podem crescer as samambaias que alcançam até 18 metros de altura. Assim
como vicejam ramos de bambu que chegam a alcançar 10
metros de comprimento. Sumatra, possui uma baixa densidade populacio nal e mais áreas intactas, uma deslumbrante
flora e fauna, plantas originárias e espécies raras.
- Quanto a característ ica da vegetação Indonésia, esta pode considerar-se co mo de transição, todavia com indiscutível diferença entre as floras índica e australiana.Essa
exuberância está condicio nada por um clima uniforme,
quente e úmido.Onde a terra não é cult ivada a selva densa
cobre tudo, com sua intrincada mescla de ramos de plantas
arborescentes e herbáceas.
- Nas regiões costeiras e nas planícies predomina m
emaranhados manguezais e uma imensa variedade de palmeiras. Entre elas destacam-se os coqueiros, a palmeira do
132
azeite e a palmeira do açúcar que proporciona só lidas fibras
têxteis.Os rizó foros de casca rica em tanino e a imensa variedade de palmáceas, a palmeira do sagu alimento rico e m
amido, subst ituto do arroz, e a palmeira rotim base do mobiliário indígena. Nos cimos das mo ntanhas e nas proximidades das crateras, os arbustos, grama e matagais rasos
subst ituem os bosques.
- Nas espécies mais característ icas da Indonésia
destaca-se a gramínea gigantesca conhecida como bambu,
de grande importância na econo mia indígena. Há grande
variedade de plantas trepadeiras e parasitas da selva. Entre
outras, as diversas espécies de Fícus co m exemplares gigantescos, de tão grande crescimento das ramagens que, co m
freqüência chegam a afogar até as maiores espécies da floresta, depois de envo lvê-los em uma verdadeira rede de
troncos e raízes. A fo lhagem do cipó acaba so mbreando a
árvore que, por falta de luz, finalmente morre.
- Na fauna se observam co m mais vivos detalhes as
característ icas indonésias de zona de transição entre a Índia
e a Austrália. As espécies asiát icas de paquidermes, são o
elefante, o búfalo, o hipopótamo e a anta, que encontram-se
em Sumatra e Bornéu, mas não existem em Java e nas demais ilhas. Nas primeiras existe o rinoceronte de dois cornos. Os grandes felinos tigres e panteras que são numerosos
na Índia e nas ilhas ocidentais, não existem nas orientais.
- Os macacos tão variados na Sumatra como na Índia, são menos numerosos em espécies ao aproximar-se da
Austrália. Nas florestas de Bornéu e de Sumatra vive o
macaco orangotango (do malaio = o ho mem da floresta).
Na parte oriental aparecem curiosas espécies do mundo
australiano co mo equidna, ornitorrinco e marsupiais co mo
canguru, que não existem no ocidente.O conjunto das espécies de aves da Indonésia é riquíssimo, principalmente nas
Molucas, onde se encontra a famosa e bela Ave do Paraí133
so.Há também um mundo de répteis e de insetos, numa
variedade extraordinária.
Após a rica explanação sobre os milhares de ilhas do
arquipélago da Indonésia, pelo guia Michael Tehani, os
pesquisadores brasileiros Rodrigo e Álvaro ficaram entusiasmados em conhecer algumas ilhas in loco. Sumatra, Bornéu, Java, Bali, Mo lucas, aqueles no mes e paisagens exóticas, a viagem costeando vulcões, atravessando selvas e
mo ntanhas que escondiam maravilhas, tesouros, aves, feras,
povos ant iqüíssimo s de estranhos costumes, deuses bárbaros. Vales estreitos cercados de morros e encostas rochosas
em cujos cumes as águias riscavam círculos. Todas essas
informações est imulavam a sua imaginação.
Para começar viajariam em primeiro lugar pela ilha
de Sumatra Fo i contratado um do mador de elefantes, experiente em expedições pela selva e mo ntanhas indonésias.
Levava co m ele cinco indígenas, e quatro elefantes, três
seriam para mo ntaria e um para levar os suprimentos e barracas. Saíram no outro dia logo ao amanhecer.
De inicio embrenharam-se pela selva fechada, trotando por trilhas estreitas, saíram na encosta de um vulcão
ext into. O terreno de uma mo notonia deprimente, era salpicado de penhascos de lava endurecida, e coberto de arbustos baixos esmagados pela força do vento, revestido por
uma grama grossa, curta e dura. A terra ressecada e granulosa, era de cor escura, coberta por cinza vulcânica. Não
havia água em parte alguma. Algumas lagart ixas espantadas
fugiam para esconder-se por entre as fendas das pedras.
O caminho estreito recebia sombra suficiente das
árvores baixas para proteger os viajantes do sol ofuscante,
mas a umidade era tão grande que eles transpiravam profusamente. A roupa fina de Rodrigo ficava úmida a maior
parte do tempo, e embora Álvaro viajasse co m a camisa
134
aberta, o tecido do calção estava encharcado. Sempre que
chegavam a uma aldeia qualquer, dentre as várias que encontraram ao lo ngo do caminho, em meio a uma clareira,
estavam mais do que sedentos e ansiosos para encontrar um
córrego de água fresca para mit igar a sede que os devorava.
Quando saíram da região da floresta baixa, vira m
estender-se, até muito longe diante deles, as enormes campinas muito planas, interrompidas apenas ocasionalmente
por grupos solitários de árvores raquít icas. O sol caia a
prumo sobre suas cabeças descobertas. Para não ficare m
com inso lação protegeram-se com turbantes a moda hindu.
Dai para frente seria uma questão de sorte. Esse caminho com grande trânsito em épocas passadas, agora era
usado só pelos nativos. Ouviram sons de tambores ao longe,
ou seriam trovoadas da tempestade que se aproximava? De
repente o vento começou a soprar forte, rugir entre os galhos das árvores, rolando as nuvens escuras para lo nge, co m
trovões prolongados, surdos, às vezes um raio riscava o céu
e iluminava o interior compacto da floresta por um segundo, mas não caiu uma só gota de chuva.
Os elefantes penetravam decididos pelas trilhas apertadas através daquela selva fechada, cheia de perigosas
armadilhas, co m cobras venenosas enroscadas em galho s
de árvores imitando cascas, de panteras atentas à espreita de
presas, de pântanos movediços coalhados de crocodilos
com as bocarras abertas a espera da vít ima, e pior ainda,
afligidos por miríades de insetos.Os viajantes não encontraram água potável para matar a sede, dos homens e anima is.
O mais so frido da expedição foram os mosquit inhos
pólvora que se enfiavam, persistentes, nos olhos e na boca,
e as mutucas azuis, grandes e zumbidoras que atacavam dia
e no ite, com picadas do loridas. Os temporais que, às vezes
caiam nas suas cabeças, deixando-os encharcados e espalhando pelo chão poças escorregadias de água, lama, fo lhas
135
e árvores caídas, e o desconforto dos acampamentos feitos
de bambu, que os indígenas mo ntavam à noite, para dormir
ao Deus dará, depois de co mer uma lasca de carne de búfalo seca ou uma tigela de sopa de mandioca. Os índios mascavam fo lhas de ipadu para matar a sede.
Observando a natureza à sua vo lta, os pesquisadores, ficaram maravilhados co m a variedade, o tamanho e a
beleza das borboletas que voavam pelas cercanias da trilha
e nas margens dos brejos. Havia milhares delas, de todas as
formas e cores e os seus vôos graciosos com os reflexos de
luz que emit iam quando voavam ou quando pousavam nalguma fo lha, deslumbravam o ar com nuances de delicadeza.
Ficaram surpresos co m a quant idade de orquídeas penduradas nas grandes árvores irradiando as cores deslumbrantes e
refinadas, iluminando o espaço circundante.
Borboletas e orquídeas proliferavam na região tanto
como os mosquitos e os morcegos que vinham à noite sugar
o sangue dos cachorros, dos búfalos e dos cavalo s. Durante
o percurso viram bandos de papagaio s e cacatuas, de macaquinhos bagunceiros, muitos tipos de pássaros e iguanas
cujas peles rugosas se confundiam co m os galhos e troncos
em que aderiam. Na floresta tropical viam-se grupos iso lados de várias espécies de primatas, inclusive algumas dezenas de orangotangos, pulando co m destreza de um galho
para outro por entre a fo lhagem de altas árvores, olhando
com curiosidade e ameaça a presença do homem.
A paisagem toda era admirável, de ecossistemas únicos, portanto, não havia referências, tudo se confundia,
era igual, parecia-lhes estarem sempre no mesmo lugar,
como nos pesadelo s.Tinham uma vaga idéia da distância,
mas não podiam calcular quantas horas deveriam andar até
chegar ao povoado dos nativos, onde pretendiam acampar.
Aqueles selvagens ainda não tinham saído da Idade
da Pedra. Michael e seus aco mpanhantes t inham que expli136
car porque vinham, a esses chefes tribais seminus, tatuados
e emplumados, às vezes co m espinho enfiado nas orelhas,
no nariz e na testa. Às vezes co m funis de carriço nos falos.Receberam os excursionistas um tanto desconfiados.
A excursão que empreendiam por aquelas terras estranhas e exuberantes, de nat ivos tão idosos quanto a paisagem, alguns dos quais falavam entre si o malaio antigo.
Chegaram à aldeia malaia quando a no ite já estava caindo.
Veio-lhes ao encontro, o chefe do clã, um indivíduo idoso
de aspecto estranho, com o corpo tatuado. O feit iceiro e os
ho mens que o acompanhavam receberam-nos amavelmente.
Ofereceram o jantar composto de carne de búfalo
assada na fogueira que crepitava no meio do terreiro e
mandioca cozida. O chefe o fereceu cauim, bebida fermentada de raiz de mandioca, servida em casca de coco. Depois, sentados ao redor do fogo, o velho cacique acendeu
um cigarro e começou a contar a história do seu povo.
- Desde o início do século XV, época que é lembrada e repassada por nossos anciãos, as ilhas do Arquipélago
da Indonésia foram invadidas, exploradas e espoliadas;
primeiro, pelos navegantes portugueses na busca de especiarias abundantes nessas terras, e em seguida, em 1602,
vieram os co lonizadores ho landeses que assumiram o controle total sobre as nossas terras, sobre as riquezas naturais,
as florestas abundantes em seringueiras e madeiras preciosas, e pior ainda, pela exploração da mão-de-obra indígena,
em regime de escravidão, nas plantações de cana-deaçúcar, café, chá, tabaco, cacau, arroz e na árdua colheita da
seiva de seringueira na selva.
- Os nat ivos conviviam co m a injustiça e a vio lência, e logo aprenderam uma lição, que não há fera mais
sanguinária que o ser humano. A aldeia deles parecia habitada por autômatos, que perambulavam à luz do dia entre
dezenas de cabanas de pau a pique, com tetos cônicos de
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fo lha de palmeira, sem rumo, sem saber para onde ir, como
se t ivesse caído uma maldição sobre a aldeia transformando
seus habitantes em fantasmas. Eram índios e índias da aldeia co m cicatrizes nas costas, nas nádegas e nas coxas,
algumas co m vest ígios frescos e marcas de sangue co mo se
as chicotadas tivessem acontecido recente. Eles se perguntavam co m que direito àqueles estrangeiros tinham vindo
escravizá-los, explorá-los e maltratá-los.
- Às vezes apareciam na plantação membros de alguma Organização Humanitária, pastoral ou leiga, que condoídos do sofrimento dos indígenas pediam explicações
para a razão desses maus tratos. No acampamento da nossa
aldeia eram recebidos por Mark Rudolf Matelief, administrador da Companhia co lonizadora holandesa.
- Ele era um ho mem alto, vestido de branco, calçava botas de cano alto, usava chapéu panamá, falava o inglês
fluente. Via-se de longe, por sua barba e bigodes bem aparados, suas mãos finas, que aqui, na selva, no meio da plantação de seringueiras, ele não estava no seu elemento, que
era um ho mem de escritório. Não se parecia em nada co m
um carrasco. Perguntado, ele se negava a explicar qualquer
detalhe, ou simplesmente culpava os próprios nat ivos.
- Ora, que pergunta intencio nal é essa, pois saiba m
que na maior parte das vezes eles próprios fazem essas cicatrizes. Têm ritos de iniciação bastante bárbaros nas tribos.
Também fazem furos nas orelhas, no rosto, nos lábio s, no
nariz, para enfiar anéis, dente de animais, penas de pássaros, enfeite de madeira, ou outro tipo de adorno - respondeu
aos missio nários o administrador holandês Mark.
- Dos depósitos de látex vinha um cheiro rançoso e
penetrante, oleagino so, parecido co m o de plantas e fo lhas
em deco mposição, cheiro que dava náuseas. Cada aldeia
tinha obrigações precisas impostas pelos co lonizadores.
Entregar cotas semanais de mant imentos – arroz, aves do138
mésticas, carne de búfalo, de porcos selvagens, de cabras e
patos, para alimentar as autoridades, chefes, guardas, a
guarnição policial e os peões que abriam estradas, ruas,
faziam pontes, instalavam postes telegráficos e construía m
casas. Além disso, a aldeia precisava entregar, no mínimo,
30 quilo s de látex co lhido por eles, a cada três meses, e m
cestos de fibras vegetais tecidos pelos próprios indígenas.
Fornecer ho mens, gratuitamente, para o trabalho nas fazendas de cult ivo de cana-de-açúcar, café e cereais.
- Os cast igos por não cumprir essas obrigações variavam. Se entregassem menos mantimentos ou borracha, a
pena era de 20 a 50 chicotadas ou mais, aplicadas pelo capataz da fazenda. Muitos dos castigados sangravam muito e
morriam. Os nat ivos que fugiam para as mo ntanhas sacrificavam a família, porque, nesse caso, suas mulheres e filho s
ficavam como reféns e eram chicoteados e condenados ao
suplicio da fo me e sede em cadeias superlotadas.Muitas
vezes as crianças e mulheres eram vendidas para mercadores de escravos ambulantes, que faziam tráfico de escravos
às escondidas das autoridades, para que, co m o dinheiro
arrecadado a aldeia pudesse cumprir a obrigação perante a
administração da Companhia.
- Certo dia, como o povoado, já muito reduzido, não
conseguiu co mpletar a últ ima cota de mant imentos, borracha e madeira, nem ceder o número de braços para as lavouras que as autoridades ho landesas exigiam, veio u m
destacamento de policiais; ao vê-los, o povoado inteiro fugiu para a floresta. Com a pro messa do chefe dos policiais,
que se vo ltassem não lhes aconteceria nada, eles vo ltaram.
Mas, assim que chegaram de vo lta, os soldados pularam e m
cima deles. Homens e mulheres foram amarrados nas árvores e chicoteados. Seus corpos lanhados pelo chicote dos
policiais, ficaram co m cicatrizes vermelhas co mo serpentes
rasgando as costas, as nádegas e as pernas.
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- Muitos indígenas eram marcados co m as iniciais
da Companhia dona da concessão, com o marcador em
fogo e às vezes a faca, co mo as vacas, os cavalo s e os porcos, para que não fugissem nem fossem roubados por outros seringueiros. Aqui se cometiam abusos que horrorizavam um ser civilizado. Era usado o cepo de torturas, que
consist ia de uma armação de madeira e cordas em que o
indígena condenado era introduzido e apertado, de cócoras,
não podia mexer os braços e nem as pernas. Era atormentado ajustando-se as barras de madeira até o limite, ou suspendendo-o no ar. A dor era horrível.
- A Companhia praticava a escravidão.Conseguia
seus seringueiros e trabalhadores para as fazendas co m as
caçadas aos indígenas nas aldeias, as quais muitas vezes
eram incendiadas, então os bandidos armados capturavam
ho mens, mulheres e crianças e os levavam para os seringais, onde os exploravam de forma cruel.Não se pagava m
salário, os índios não recebiam um centavo pelo trabalho.
- Recebiam do armazém da Co mpanhia as ferramentas para a coleta da borracha, facas para as incisões nas seringueiras, latas para o látex, cestas para juntar as bo las da
borracha, calções e camisas rústicos, chapéus de palha, carne seca, farinha de mandioca e algum outro mant imento.
Os preços do que recebiam era determinado pela Companhia, de maneira que o índio est ivesse devendo e trabalhasse o resto da vida para pagar a dívida.
- Os nat ivos estavam aterrorizados, aquelas aldeias
viviam na antecâmara do verdadeiro inferno. A raiz de todas as co isas horríveis que aconteciam aqui, era a ambição
desmedida dos colonizadores, sobre a fartura de riquezas
como a borracha “o ouro negro”, que para a desgraça do
seu povo, as florestas de Bornéu, Sumatra, Java e demais
ilhas da Indonésia possuíam em abundância. Essas riquezas
eram a maldição que se abateu sobre aquela gente desven140
turada. Era a cobiça, nua e crua, que sempre esteve arraigada na natureza do homem. A maldade que o envenena
está em todos os lugares onde haja seres humanos.
- Por que esses indígenas não tentaram se rebelar? A
verdade é que eles não tinham perspectiva, nem condições,
pois suas lanças e flechas, mesmo envenenadas, tacapes e
zarabatanas se revelavam inúteis nas ocasiões de enfrentar
os colonizadores que eram respaldados por armas de fogo.
Rebelavam-se sim, muitos jovens e velho s, guerreiros, comet iam suicídio em grupos. Porque, viam-se co mpelidos a
desesperança, quando o sistema de exploração era tão extremo, destruía os espíritos antes dos corpos.
- A vio lência de que eles eram vít imas aniquilava a
sua vontade de resistência, o espírito de sobreviver, transformando os indígenas em autômatos paralisados pela confusão e pelo terror. Muitos não entendiam o que estava
acontecendo, como uma conseqüência da maldade de homens concretos e específicos, mas co mo um cataclis mo
vindo dos céus, uma maldição dos deuses, um castigo divino contra o qual não tinham escapatória.
- É inconcebível que a co lonização efetuada pelos
europeus, ditos cristãos civilizados, nas Américas do Norte,
Central e do Sul, na África, Índia, Ásia, no Arquipélago da
Indonésia, na Austrália e nos milhares de ilhas, com truculência conseguiram anular o espírito dos nativos, submetêlos a servidão, quando não, com doenças e álcool exterminar tribos inteiras.
- Assim vergonhosamente, se desempenhou nas suas
colônias a toda poderosa e culta Inglaterra.Também a Bélgica, Portugal, Espanha, Alemanha, Ho landa, França, que
dominaram, exploraram e dizimaram os povos nativos dos
países ocupados, em no me do progresso e com a justificat iva da expansão da religião cristã, impondo aos indígenas, à
força, o deus que eles não conheciam e não queriam.
141
Relatando com a voz embargada os tristes fatos do
passado recente do seu povo, o idoso cacique malaio deixou
cair lágrimas sofridas pelo rosto enrugado.
Já passava da meia no ite quando os pesquisadores
foram descansar em redes armadas dentro da cabana.
- Poderíamos amanhã ir conhecer o Jardim Botânico e o Zoológico, próximo à Medán - sugeriu o guia.
- É uma ótima idéia – admit iu Rodrigo.
Em Sumatra, na localidade de Medán, foram visit ar
o Jardim Botânico, que estava bastante abandonado. Sem
conservação o mato tomou conta das calçadas e as diversas
espécies de árvores nat ivas e exóticas, que sem poda, soltaram ramos desordenadamente, abafando o ambiente, que
em outros tempos devia ser belo.Já cansados de caminhar,
sentaram-se embaixo de uma imensa árvore. Aqui tudo era
arejado e fresco, a vida respirava tranqüila e poderosa.
As gigantescas árvores elevavam seus troncos retos,
lisos e prateados até cem metros de altura. Eram da variedade de Eucaliptus Regnas. Um perfume penetrante emanava no ar. Destacava-se entre outras plantas a gigantesca
flor Titanarus. A so lenidade verde do Jardim Botânico, a
infinita variedade de fo lhas, o emaranhado dos cipós, as
orquídeas que surgiam co mo estrelas co loridas entre as folhagens, o grito dos papagaios (guacamayo s) e o chiado dos
macacos, toda essa orquestração de diferentes facções, desenvo lveu um ambiente míst ico.
Adentrando pelo caminho do parque, depararam
com o Jardim Zoológico, onde um orangotango macho,
adulto, preso numa gaio la de ferro, forçava as grades tentando sair. Batia no peito peludo com as duas mãos possantes, irado, rugia tristemente. O macaco orangotango vive
nas florestas de Bornéu e Sumatra. Movimenta-se pulando
de um galho de árvore a outro. Constrói abrigos nas árvo142
res, que parecem ninhos. Alimenta-se principalmente de
frutos. Não se adapta ao cativeiro, morre logo, de tristeza,
no estado selvagem vive de 15 a 30 anos.
Noutra jaula, se debatendo, tentando libertar-se da
prisão, estava uma pantera negra, saudosa da selva nativa.
As marcas douradas da sua pele negra, sedosa, pareciam u m
fragmento da no ite estrelada, uma corrente magnética que
se agitava sem cessar, um vulcão negro e elást ico querendo
arrasar o mundo. Um dínamo de energia pura que ondulava,
ora miava co m voz last imosa, outras vezes rugia com rancor, dirigindo às pessoas do is o lhos amarelo s, certeiros como punhais, que lançavam um fulgor inquis it ivo, pois não
entendiam a prisão nem o gênero humano.
Na gaio la ao lado estava o pássaro lira, fosforescente e colérico, esplendido em sua beleza de ave recém-saída
do paraíso. Dezenas de gaio las com pássaros de todas as
espécies estavam esparsas pelo Jardim Zoológico, assim
como de animais selvagens, girafas, camelos, leões, zebras.
Os excursio nistas demoraram-se dois dias na aldeia
indígena, fo i quando assist iram a rituais religiosos conduzidos pelo pajé, dedicados aos antigos deuses, com sacrifício de animais, cantos e danças das mulheres e homens da
tribo, embalados por chás e charutos de ervas alucinógenas.
Os pesquisadores, observando os velhos costumes e
tradições ainda em prática pelos indígenas, se deram conta
de que a civilização e a religião imposta pelos colo nizadores eram uma farsa, aceitas co m cautela pelos nativos como
obrigação e eram praticadas pelo medo de represálias, po is
que, os indígenas continuavam cultuando seus velhos deuses e respeitando as suas ant igas tradições, às ocultas.
Depois de visitarem as escuras cavernas e vulcões
ext intos de Sumatra, os pesquisadores e sua comit iva, já
bastante cansados, resolveram vo ltar para a cidade de Jacar-
143
ta, e repousar alguns dias no Raffles Hotel, que oferecia
serviço cinco estrelas. Piscina aquecida, sauna, spa, Fitness.
O bufê do restaurante era majestoso. Entrava no salão de refeições uma procissão de dez a quinze garçons, que
iam desfilando entre as mesas co m suas bandejas cheias de
iguarias, o ferecendo-as aos co mensais. Cada uma dessas
bandejas trazia um manjar diferente. Sobre uma base de
arroz vinha uma especialidade: de pescados exóticos, ovas
de peixe de sabor indecifrável, vegetais estranhos, frangos e
carnes insó litas, mo luscos, ostras, filés de cobra e insetos
crocantes, guloseimas dos mais diferentes sabores.
Os nossos pesquisadores experimentaram um pouco,
de cada iguaria o ferecida. Alguns pratos agradaram o seu
paladar, outros eles não conseguiram engo lir. Satisfeita a
sua curiosidade e a fo me, saíram caminhando pela calçada.
Entretanto, o seu interesse em conhecer a capital os
levou a sair para ver o que se passava na cidade à no ite. Os
locais de má reputação atraem como moscas para o mel, e
Jacarta abria sua boca noturna para os dois pesquisadores,
ocasião oportuna, já que Álvaro era um jornalista, com
pouco dinheiro e com curiosidade imensa.
Entraram num ou outro desses grandes cabarés. Era
no ite de meio de semana e estavam vazio s. Era deprimente
ver aquelas imensas pistas de dança, construídas para que
bailassem centenas de pares, onde não dançava ninguém.
Apenas dúzias de garçons esperavam próximos aos balcões,
ansiosos pelas gorjetas que não viriam. Nas esquinas surgiam esquelét icas russas e orientais, que bocejando pedia m
que as convidassem a tomar champanhe.
Assim percorreram seis ou sete cabarés, lugares de
perdição e pecado, onde o único que se realmente perdia era
o tempo e o dinheiro..Já era tarde e precisavam vo ltar ao
hotel, que havia ficado longe, detrás dos emaranhados becos do porto.Tomaram um jinricksha cada um (carrinho
144
leve de duas rodas puxado por um homem a pé). Não estavam acostumados a esse transporte de cavalos humanos.
Aqueles chineses trotaram sem descanso durante longa distância. Co meçara a chover e a chuva aumentava cada vez
mais, os condutores dos jinrickshas pararam seus carrinhos.
Cobriram cuidadosamente com lo na impermeável a frente
dos carrinhos para que a chuva não mo lhasse as roupas dos
estrangeiros.
- Que povo tão educado e cuidadoso. Não é de graça
que passaram do is mil anos de cultura - agradecidos, pensavam os dois viajantes, cada um no seu assento volante.
No entanto, algo começou a inquietá-los. Não enxergavam nada detrás das lo nas abaixadas, mas ouviam,
apesar das precauções tomadas e da tela est icada, a voz dos
condutores que emit iam uma espécie de assobio. Aos ruídos
dos seus pés descalços, se juntaram outros ruídos rítmicos
de pés descalços que corriam pela calçada mo lhada.
De repente, silenciou o barulho dos pés, sinal de
que o calçamento tinha terminado. Com certeza viajávamo s
agora por terrenos baldios fora da cidade. De súbito, os dois
jinrickshas se detiveram.Os condutores desataram com destreza as lonas que nos protegiam da chuva. Não havia ne m
sombra de gente, nem casa, naquele subúrbio desabitado.
Da condução ao lado,Álvaro olhou o primo, desconcertado.
- Money! Money!- repetiam co m voz calma os sete
chineses que rodeavam os dois passageiros
Rodrigo esboçou um gesto como se buscasse uma
arma no bo lso da calça, e isso bastou para que ambos recebessem um go lpe na nuca.. Rodrigo caiu de costas, porém
um dos atacantes lhe segurou a cabeça no ar para impedir o
choque no solo duro; suavemente deixaram os do is estendidos sobre a terra mo lhada.
Tiraram-lhes as roupas deixando-os nus. Remexeram rapidamente os bo lsos das calças, das camisas, das
145
jaquetas, sapatos, cuecas, procuraram dinheiro até nas gravatas, demo nstrando uma destreza de malabaristas. Não
deixaram nem um pedacinho de roupa sem vasculhar, ne m
um centavo do pouco e único dinheiro que lhes restava.
Isso sim, era a gent ileza tradicio nal dos ladrões chineses ;
mas, respeitaram os papeis e passaportes dos dois pesquisadores estrangeiros e não levaram as suas roupas. Fugiram
rapidamente levando os jinrickhas.
- Mas que falta de sorte! - exclamou Rodrigo desolado - Vá confiar nesses malditos chineses.
- Ainda bem que não levaram as nossas roupas, de
que maneira iríamo s vo ltar ao hotel? Se aparecêssemos nus,
com certeza íamos ser presos - comentou Álvaro rindo.
Quando se viram sozinhos naquele ermo, caminharam em direção das luzes que se viam à distância. Encontraram centenas de chineses noturnos, mas honrados. Nenhu m
deles sabia falar francês ou inglês, mas todos quiseram ajudá-los a sair daquela triste situação e os guiaram à cidade.
Após as peripécias noturnas por que passaram, os
dois aventureiros brasileiros foram descansar no hotel.
- Gostariam de conhecer um lugar fora do comum,
um ambiente singular? – perguntou-lhes o guia Michael,
quando estavam sentados à mesa do café mat inal.
- Mas é claro! - aplaudiu de imediato Álvaro.
No outro dia á tarde saíram para visitar o estranho
Templo da Serpente nos subúrbios da cidade de Bandung,
próximo à Jacarta. A curiosidade espicaçava os seus ânimos. Despertou neles um grande interesse pelo que ia m
encontrar de surpreendente, naquele país míst ico.
Dirigiram-se para as cercanias de Bandung. Numa
clareira, próximo a um denso bosque de bambus, de galhos,
brotos e cipós emaranhados, de dificílimo acesso, encontraram um edifício baixo, escuro, coberto de telhas, carcomido
pelas chuvas tropicais, entre espessas fo lhagens de plátanos.
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Havia um forte odor de umidade e bo lor. A visão incríve l
daquele templo, deixou o trio surpreso.Quando entraram no
recinto não enxergaram nada na penumbra que reinava no
espaço todo. Sentiram um acentuado aroma de incenso, e
acolá alguma co isa que se mo via.
Era uma serpente que se desenro lava e se espreguiçava. Pouco a pouco notaram que exist iam muit as outras.
Logo observaram que talvez sejam dezenas, mais tarde viram que exist iam centenas ou mesmo milhares de serpentes.
Havia pequenas cobras enroscadas nos candelabros, verdeclaro e escuras, metálicas e lo ngas, todas pareciam adormecidas e saciadas.Por toda parte se via t igelas de fina porcelana, algumas cheias de leite, outras repletas de ovos.
As serpentes não olham e não vêem as pessoas que
passam pelos corredores estreitos do templo, roçando-as.
Elas estão sobre as suas cabeças grudadas no teto dourado,
dormem na alvenaria, se enroscam nos altares.Está també m
ai a temível víbora de Russell, engo lindo um ovo, perto de
uma dezena de mortíferas cobras-coral,cujos anéis de cor
escarlate anunciam o veneno instantâneo.Dist inguiram vários grandes pítons, víboras de Gabão, mambas, najas, cobras-rei, serpentes verdes, cinza, azuis, negras, rastejando
tranquilamente pelo piso. Tudo num silêncio total.
De quando em quando um bonzo (sacerdote budista) vestido com túnica cor de açafrão, atravessa o corredor.
A brilhante cor da sua vest imenta, parecia uma serpente a
mais, deslizando, movendo-se preguiçosamente em busca
de um ovo ou uma t igela cheia de leite.Ele é o homem que
cuida e abastece de alimento esse lugar estranho. Os visitantes se dirigiram a ele para saciar sua curiosidade.
- Alguém trouxe essas cobras para cá? Co mo se acostumaram? – perguntou Álvaro.
A essas perguntas o bonzo respondeu co m um sorriso, dizendo que as cobras vieram sozinhas, e irão embora
147
quando lhes dê vontade. O certo é que as portas estão abertas e não tem grades ou vidros que as obrigue a ficar no
templo. São esses estranhos fatos que dão o ar de mist icismo ao Extremo Oriente – informou ainda o velho sacerdote.
Perplexos com o espetáculo que presenciaram, os
pesquisadores saíram do templo meio zonzos. No caminho
de vo lta à cidade, depararam na curva da estrada com uma
colossal estátua de Buda. Elas estavam em toda parte. Severas, aprumadas, carco midas pelas intempéries, com u m
dourado desgastado, como si o ar o tivesse consumido. Aparecem nas faces, nas dobras da túnica, nos cotovelos e
umbigo, na boca e no sorriso ambíguo, pequenas marcas de
fungos, porosidades e manchas de excrementos de aves.
Permanecem aí as imensas estátuas de quarenta metros de altura, de pedra cinza ou granito pálido, algumas
estão deitadas entre as sussurrantes fo lhagens. Adormecidas
ou despertas, ali ficaram por cem anos, por mil anos ou
muito mais tempo. Inesperadas, surgem nalgum recanto da
selva de alguma circundante plataforma. Sua fisionomia é
suave, co m uma ambigüidade metafísica, de desejo de deitar-se ou de ir-se. Esse sorriso enigmát ico de pedra dura,
perpétuo, a quem sorri, a quem sobre a terra sangrenta?
Passaram por ali camponeses que fugiam da perseguição da polícia co lonial, os guardas de incêndio florestal,
guerreiros indígenas mascarados, falsos sacerdotes e turistas ganancio sos. No entanto, as estátuas de Buda se mant iveram no seu lugar, a imensa pedra de joelhos dobrados,
com as fraldas da túnica de pedra, com seu o lhar perdido,
mas contudo existente, inteiramente inumana, mas de alguma forma também humana, em alguma contradição estatuária sendo ou não sendo deus, sendo ou não sendo pedra,
está exposto à chuva, tempestades e de dejetos de pássaros.
- Isto nos leva a reflet ir nos agoniados Cristos ocidentais, que herdamos, co m chagas e cicatrizes de sofri148
mento, no olor de vela e de incenso, nas esculturas de santos adoradas em todas as igrejas – comentou Rodrigo.
- Esse Cristo também duvidou entre ser ho mem ou
deus. Se fosse ho mem poderia aproximar-se mais dos que
sofrem, dos condenados, dos paralít icos e dos avarentos, da
gente de igreja e dos que rodeiam as igrejas, para ensinarlhes a caridade e o amor ao próximo – considerou Álvaro.
- Os escultores e pintores o dotaram de horríveis
chagas, tanto que essa expressão dolorosa tornou a religião
cristã, religião de padecimento. Assim, quem peca sofre e
aquele que não peca também so fre. Portanto viver é sofrer,
sem que haja nenhuma escapatória - reflet iu Rodrigo.
- Religião, é um tema de difícil consenso entre as
pessoas - concluiu a respeito o jornalista Álvaro.
O guia Michael escutou atentamente as opiniõ es
dos dois jovens ocidentais e, como era praticante da fé budista deu o seu parecer, dizendo:
- Aqui não, aqui a paz chegou à pedra. Os antigos
escultores se rebelaram contra os cânones da dor e estes
Budas, co lossais, obesos, com pés de deuses gigantes, trazem na face um sorriso de pedra, que é genuinamente humano, sem tanto sofrimento. Deles emana um odor, não a
recintos mortos, não a sacrist ias e teias de aranha, mas a
espaços verdes e a rajadas suaves de brisa, que trazem penas de aves, fo lhas e pó len da infinita selva javanesa. O
silêncio e a paz celest ial se derramam nesses recintos.
Os pesquisadores brasileiros seguiram o caminho,
passando defronte de um grande portão de ferro enferrujado. Era a entrada do extenso parque de um domínio feudal.
Na porta da velha mansão se det iveram. Surpresos, vira m
estátuas de mármore e co lunas quebradas, que jaziam caídas entre a fo lhagem do jardim. O abandono, o vento cortante que soprava, fazia co m que a so lidão do lugar ficasse
mais acentuada. Ante esse quadro desolador, os turistas
149
sentiram-se agoniados. Estas eram ruínas do palácio de
algum marajá malaio que a selva estava engo lindo.
- Que visão deprimente é essa ruína. Deve ter custado uma imensa fortuna para construí-lo, trabalho, sacrifício
e vidas de centenas de escravos. Hoje é apenas deso lação.
Onde está o poderoso e orgulhoso marajá, dono desse castelo ? Não lhe valeram de nada a riqueza e o poder, não conseguiu enganar a morte. Com certeza está debaixo de sete
palmos de terra ou seu corpo fo i cremado - comentou tristemente Álvaro, olhando ao redor.
Os três caminharam de vo lta, por entre trilhas estreitas da mata virgem até a margem do rio Brantas. Aqui se
descortinou um quadro impressio nante. Na beira do rio estava-se efetuando um funeral hindu, de cremação. Colocado
em cima de uma pilha de lenha acesa estava um ataúde barato. Monges murmuravam frases rituais em sânscrito.
Alguns músicos vest idos com túnicas de cor laranja
salmodiavam ou sopravam músicas tristes em inst rumentos
estranhos. A lenha se apagava e era preciso reavivar a chama co m fósforos. No entanto, o rio corria indiferente dentro
de suas margens. O céu do Oriente, eternamente azul, demo nstrava também uma abso luta impassibilidade, uma infinita indiferença perante aquele triste funeral so litário.
De vo lta ao hotel, por sugestão de Michael elaboraram uma vis ita à Ilha de Bali. Álvaro fo i co mprar os bilhetes de barco para travessia até o porto de Singaraja.
- Bali e uma ilha situada no Arquipélago de Sonda
entre as ilhas de Java e de Lo mbock, a 3 km de distância
de Java. É um dest ino turístico mundial, pela beleza de suas
praias, de areia branca no sul, e areia preta vulcânica no
norte do país. A característ ica fundamental de Bali é o turismo que é a fonte principal de receita da ilha. As suas
praias paradisíacas são a sua ident idade, que atraem milha-
150
res de visitantes cada ano - comentou Michael, cont inuando
a sua narrativa.
- A sua população majoritária professa a religião
hindu, se bem que existem comunidades muçulmanas e
cristãs na ilha. Possui portos de Singaraja, Denpasar, Sinury, Ubud, que são as suas cidades principais, cada uma
delas co m as suas característ icas próprias. Ubud é considerada como a capital da arte e cultura, e destino de numerosos artistas a nível internacio nal. Na ilha é destaque a importante a reserva natural do Parque Nacional de Bali Barat.
Chegaram à cidade de tarde. Logo lhes chamou a atenção um aglo merado de gente ruidosa. Eram homens de
túnicas e turbantes brancos e mulheres co m o corpo e o
rosto vendados co m burca preta, levando crianças ao co lo.
Na praça central reunia-se uma mult idão. Era uma comemoração muçulmana. Tinham demarcado um espaço no
centro da rua onde ardia uma fogueira, ao redor estava m
esparramadas grossas camadas de brasas acesas.
Foram chegando curiosos para assist ir ao espetáculo inaudito. O calor das brasas enrubescia as suas faces.
Uma levíssima camada de cinzas cobria as brasas ardentes,
quando apareceu um personagem estranho. Com o rosto
pintado de branco e vermelho, chegou carregado nos ombros de quatro homens, também vest idos co m trajes vermelhos. Abaixaram-no até o chão, fo i quando ele começou a
caminhar cambaleando sobre as brasas quentes, invocando
em voz alta - Allá! Allá! - Enquanto caminhava.
A grande mult idão devorava extasiada essa cena,
enquanto o faquir percorria incó lume a grande extensão de
brasas acesas. Então saiu um ho mem da mult idão, tirou as
sandálias e co m os pés nus fez o mesmo trajeto do faquir.
Após isso, seguiu-o uma interminável fila de vo luntários a
márt ires. Alguns se det iveram na metade do caminho para
afundar melhor os pés no brasido aos gritos de - Allá!Allá!151
Gest iculando horrivelmente, virava o rosto agoniado para o
céu. Outros levavam os filhos nos braços. Ninguém se
queimava, ou talvez se queimasse, mas não sent ia.
- Que costumes estranhos têm esse povo – comentou
Rodrigo - sentindo calafrio passando-lhe pelo corpo.
Os dois excursio nistas brasileiros acompanhados do
guia seguiram em frente, ainda chocados com o quadro
asso mbroso que presenciaram. Michael cont inuou informando os brasileiros:
- Adiante, no lugar sagrado para os hindus, se eleva
o templo de Kali, a deusa da morte. Vamos entrar os três,
misturados às centenas de peregrinos que chegaram desde
as mais lo ngínquas províncias javanesas, para receber a
graça da deusa. As pessoas amedrontadas, lívidas, esfarrapadas, são empurradas aos montes pelos brâmanes para o
templo, que a cada passo cobram por alguma co isa.
- A deusa Kali é uma das consortes mais poderosas
e terrificantes de Shiva, se apresenta como uma figura de
face escura e olhos brancos. Segura uma espada para decepar cabeças; de sua boca sai uma língua vermelha de do is
metros que goteja o sangue das vít imas. Tem uma saia de
braços decepados e uma serpente enrolada em torno do pescoço. De suas orelhas e do seu pescoço caem colares de
crânios e emblemas da morte. Kali é a mais amedrontadora
das deusas do panteão hindu.
Michael cont inua contar a história espantosa de Kali, a deusa hindu da morte.
- Num certo mo mento, os sacerdotes levantam u m
dos sete véus da deusa hedio nda, execrável, e quando o
levantam soa um ensurdecedor golpe de gongo, como para
desabar o mundo. Os peregrinos caem de joelho s, saúdam a
deusa co m as mãos juntas, tocam o chão com a fonte, e
seguem se dirigindo para o próximo véu. Os brâmanes os
fazem convergir para o pát io dos sacrifíc ios, onde são de152
capitadas cabras com um só golpe de machado. Os sacerdotes cobram novos tributos.Os balidos dos animais feridos
são abafados pelo go lpe de gongo. As paredes de cal do
templo absorvem o sangue que esguichou e salpicou até o
teto. Os peregrinos pagam co m suas últ imas moedas antes
de serem despachados e empurrados para a rua.
- As mult idões dormem noite após noite nas cabanas improvisadas nas margens das estradas que levam às
imediações de Singaraja, em Bali. A situação se repete em
todos os arredores das cidades e vilarejos da Indonésia. Ali
eles nascem, vivem e morrem. Não há casas, pão ou remédios. Fo i em tais condições miseráveis que deixou seu império colonial, a civilizada e orgulhosa Holanda, depois de
explorá-la até o âmago.Despediu-se dos seus ant igos súditos sem deixar-lhes esco las, nem indústrias, nem moradias,
nem hospitais, apenas miséria, prisões, montanhas de garrafas vazias de whisky e de coca-cola.Sobrou só lixo e pobreza - falou co m tristeza Michael,que conhecia a sit uação do
país a fundo- apesar disso há muita coisa bonita para se ver.
- A Indonésia tradicio nal apresenta riquíssimas manifestações fo lclóricas, onde ocupa lugar de destaque a música sensual e simbó lica interpretada por conjuntos formados por vários músicos, que acompanha a maioria das danças nat ivas. A perpetuação das tradições motiva belas cerimô nias, executadas pelos dançarinos de Bali, co m graciosos
gestos e poesia, na dança e cantos. Muitas danças da ilha de
Bali interpretadas por moças jovens ricamente vestidas,
adquire majestosa plast icidade co m os est ilizados movimentos que dão vida a um relato. As apresentações das
danças fo lclóricas são o grande atrativo turístico.
- Muito proveitosa fo i a visita dos pesquisadores
brasileiros aos patrimô nios naturais e culturais da humanidade, preservados pelo governo da Indonésia, como o conjunto de Templo s Budistas de Borobodur (Java, construído
153
por reis Shailendra em 800 d.C), o Parque Nacional Ujung
Kulo n, os Parques Nacionais de Komodo e de Lorentz, os
Templos Hinduístas de Prambanan, o Sit io Arqueológico
dos Primeiros Ho mens de Sangiran, inclusive o patrimônio
das florestas tropicais de Sumatra, grutas naturais, crateras
de vulcões ext intos, praias, museus e jardins zoológicos.
REPÚBLICA DE CINGAPURA
Certa tarde, o bió logo Rodrigo e o jornalista Álvaro
estavam sentados à mesa do bar do Hotel Diplo math e m
Jacarta, tomando um refresco na co mpanhia do guia Michael Tehani, então resolveram analisar o progresso das pesquisas realizadas até esta data. O resultado foi posit ivo.
Haviam viajado e conhecido grande parte da Indonésia.
Ficou muita co isa ainda para se ver na ilha, mas decidira m
viajar até a cidade de Kuala Lumpur, capital da Malásia.
- Caro amigo Michael, você poderia nos aco mpanhar na excursão pela Malásia?- perguntou Álvaro.
- Com grande satisfação, desde que acertemos o valor da minha co mpensação – respondeu Michael co m u m
sorriso velado nos lábio s, fazendo jus a sua índo le oriental.
No outro dia de manhã foram até o aeroporto de Jacarta e no primeiro vôo da Companhia Malásia Airlaines
Sistem, embarcaram co m dest ino à cidade malaia. A distância entre as duas capitais não era lo nga, aproximadamente
1200 km, e a viagem demorou cerca de uma hora e meia.
No entanto, a viagem não estaria perfeita se deixassem de conhecer a muito próxima de Kuala Lumpur, a
próspera Cidade-Estado de Cingapura. Ficava a 300 km de
distância, podia-se viajar em confortáveis ônibus de linha.
Então resolveram não desperdiçar essa ocasião e visitá-la,
mesmo que ligeiramente. Contrariando a expectativa, após
breve passeio pela magnífica cidade ficaram encantados.
154
A República de Cingapura é uma ilha de 699 km²,
situada no extremo sul da Península da Malásia, mede 42
km de leste a oeste e 22,5 km de norte a sul. A CidadeEstado de Cingapura liga-se à península malaia pelo cana l
marít imo de Johore (de 2 km de largura), cujas águas são
consideradas internacio nais. Sua localização torna-a uma
importante base naval e aérea. A cidade está assentada ao
largo da baia de Keppel, que const itui um porto natural.
Cingapura fo i fundada co mo uma co lônia e porto de
comércio livre, no inicio do século XIX, pelo administrador
colonial inglês sir Stanford Raffles. Desempenhou um papel de destaque no co mércio da borracha e do estanho malaio. Co lônia inglesa até 1959, Cingapura é ho je uma República de 4,8 milhões de habitantes (2010), é uma CidadeEstado asiát ica líder,com um dos mais altos níveis de vida.
As línguas faladas são, o malaio, mandarim, tâmil,
inglês. A religião professada é geralmente crença popular
chinesa (39,2%), islamismo, budismo, crist ianismo e hinduísmo.Os chineses constituem parte majoritária da população
da Republica de Cingapura (76%).Muitos deles habitam e m
barcos especiais - sampanas - e vivem ao redor do porto.
A economia se baseia nos serviços bancários e portuários, no turismo e na indústria de alta tecno logia. A cidade é líder mundial em biotecno logia,está incluída entre os
Tigres Asiát icos.Principais produtos exportados: látex, produtos petrolíferos, maquinaria, têxteis, café e especiarias.
A ilha de Cingapura é em grande parte plana, co m
um centro de colinas. A formação da ilha é o resultado do
afloramento de calcários e rochas metamórficas que condicionaram sua estrutura orográfica Também são assinaladas
rochas mesozóicas, recobertas por substâncias aluviais. As
costas são baixas e pantanosas, e em alguns trechos inacessíveis. Com limitados recursos de água potável, esta é trazi-
155
da do país malaio. O canal de Johore Strait é cruzado por
uma ponte que liga a Malásia a Cingapura.
Cingapura é um dos maiores portos de trânsito e dos
maiores aeroportos do sudoeste asiát ico. Em 1965, Cingapura tornou-se um Estado independente dentro da Co munidade Britânica (Co mmo nwealt h), criada em 1931, formada por 53 países, alguns ricos outros pobres.
FEDERAÇÃO DA MALÁSIA
Durante o dia todo percorreram a Cidade-Estado de
Cingapura, admirando a bela arquitetura colonial do casario
construído pelos ingleses, o teatro municipal, as praças floridas e bem cuidadas, e as largas avenidas. Tomaram o chá
inglês, co m torta de chocolate, numa das várias confeitarias
situadas no setor comercial. Já era tarde avançada quando
seguiram de ônibus de vo lta à Kuala Lumpur.
- Valeu a pena o nosso cansaço para visitar Cingapura. É uma bela cidade que merece ser visit ada. Oferece
múlt iplas diversões - comentou Rodrigo, entusiasmado.
- Daqui em diante não vamos perder tempo com diversões, dediquemos-nos à pesquisa que é a finalidade da
nossa viagem. – observou o jornalista Álvaro.
Michael Tehani iniciou a explanação sobre Malásia:
- A Federação da Malásia criada a 16 de setembro
de 1963, fo i formada pelos ant igos Estados malaios e territórios britânicos da ilha de Bornéu setentrional ( Sarawak e
Sabah). Localizada no Sudeste Asiático, Malásia possui
uma área de 329.847 km² e uma população de 27,9 milhões
(2010).de malaios,chineses e indianos.
- O idio ma oficial é o malaio bahasa, mas falam-se
línguas austronésias, o chinês, inglês e o tâmil. A religião
predominante é o islamismo sunita (53%). O governo é
uma mo narquia parlamentar, tendo como chefe de Estado o
156
rei Tuanku Mizan Zainal Abidin ibni al-Marhum (desde
2006). Capital Kuala Lumpur (1.519.000), outras cidades
George Town (Penang), Kelang, Ipoh, Johore Baharu, Petaling Jaya,Kuantan, Málaca,Langkawi, Seremban, Alor Star.
- A Federação constitui o extremo meridio nal da
Península de Malásia, acha-se separada da ilha de Sumatra
a oeste, pelo estreito de Málaca, e ao norte confina co m
Tailândia e Mianmar (Birmânia), a leste co m o Mar da China Meridio nal. O sul da Península da Malásia é acidentado
por montanhas granít icas, continuação das cordilheiras
indo-chinesas que apresentam entre si, sobre ambos os lados, extensas planícies aluviais.
- As unidades federadas de Sarawak e Sabah, situadas na ilha de Bornéu (Kalimantan) a 700 km da costa,
fazem limite co m o sultanato de Brunei, país encravado
entre a Malásia insular e o mar do Sul da China. Suas característ icas fís icas são bastante diferenciadas, apesar de estarem situadas numa mesma região geográfica, constituída de
exuberantes florestas tropicais mo ntanhosas.
- A ilha de Bornéu é bastante montanhosa, const itui
um prolongamento do continente asiát ico, fazendo parte da
Plataforma de Sonda. Nos limites entre Sarawak e Bornéu
indonésio, surgem cadeias de mo ntanhas que remo ntam a
Período Terciário, formadas destacadamente de rochas cristalinas xistosas, de arenitos e argila. No norte se encontra a
cordilheira central, co m grande massa de formações cristalinas, e depósitos sedimentares do Paleozóico, onde se encontram fósseis jurássicos.
- Uma série de cadeias corre em direção NorteNordeste deixando em Sarawak amplos planaltos costeiros.
Já a costa setentrional é relat ivamente acidentada, com bons
portos naturais. A de Sarawak é baixa, coberta de manguezais e lagoas arenosas, os únicos portos utilizáveis estão
encravados em estuários de rios. Na Península de Malásia a
157
costa ocidental que dá o nome ao Estreito é baixa, formada
por mangues, praias e baías iso ladas.
- A península malaia ostenta o prolongamento das
cadeias mo ntanhosas do núcleo central do Sudeste Asiát ico.
A afluência de enormes massas granít icas causou a formação de um relevo montanhoso, que contorna a península de
norte a sul. A cadeia de mo ntanhas Bilauktaung, mais importante por sua extensão e altura, corta ao meio a Malásia
peninsular. Alonga-se por cerca de 400 km, desde a fronteira sul tailandesa até o Estado de Perak.A oeste da península
ocorrem maciços verticais de centenas de metros de altura.
Neles são encontradas grutas naturais de gigantescas proporções, cravadas em altas encostas de onde se descortina m
grandes vales e planícies.
- Durante milhares de anos, sucessivas levas de populações provenientes do interior da Ásia atravessaram a
Malásia para at ingir a Indonésia, a Melanésia e mesmo Madagascar, junto à África. Inicialmente, tornou-se um pólo de
atração em virtude do ouro que abundava em seu território.
- A Malásia englo ba várias nações, todas gozando
de grande individualidade e autonomia. Essa diversidade è
acentuada pela situação peculiar de seu território, dividido
em duas faixas de terra – uma insular (na ilha de Bornéu) e
outra continental - separada entre si pelo mar da China. Seu
setor continental limita-se, ao norte, com a Tailândia e, ao
sul, co m a Cidade-Estado de Cingapura, situada na ponta
sul da Península Malaia, e a oeste com Estreito de Málaca.
- Com sua intrincada mescla de raças e religiões, a
Federação da Malásia se assemelha a um mundo em miniatura, pois a Malásia é muçulmana, budista, hindu, cristã,
taoísta e animista, lá convivem malaios, thai indochineses,
pangan co m caracteres negróides, sakai, indígenas, europeus, dayakes, muruts, dusuns e bajaus, para citar apenas
algumas raças e tribos.
158
- A diversidade física e humana que caracteriza a
Federação da Malásia transformou-a num verdadeiro mosaico étnico-cultural. Neste, as co munidades mais representativas são as dos malaios 50%, os chineses totalizam 30%
da população e constituem o segundo grupo étnico do país.
Os 20% restantes compõe-se de indianos, paquistaneses e
em proporções mais reduzidas encontram-se os nativos,
descendentes dos primeiros habitantes, que se estabeleceram na Península Malaia há dezenas de milhares de anos.
- As aldeias dos nativos dayaks podem ser encontradas em todo o território do Estado de Sarawak.. Primit ivo s
habitantes da região, os dayaks conservam até hoje costumes milenares. Vivem em grandes cabanas co munitárias, e
sua organização social é baseada em matriarcado. Os habitantes originais da Península da Malásia e dos Estados de
Bornéu, Sarawak e Sabah formavam co munidades aborígines e nat ivas das florestas.
- Ao longo do segundo milênio a.C. houve a emigração para as atuais Malásia, Indonésia e Filipinas de povos provenientes do interior da Ásia. Esses povos introduziram técnicas metalúrgicas e agríco las, em part icular para o
cult ivo do arroz. O reino indiano de Funan, fundado junto
ao rio Mekong no século I d.C. se estendeu no século V à
parte oriental da península malaia, onde surgiram muitos
outros estados budistas que negociavam co m a China.
- No século II d.C. formaram-se alguns pequenos
sultanatos dominados por dinast ias indianas. Entre eles figurava o primeiro reino budista, Langkasuka, cujo território
correspondia ao atual Estado de Kedah, fronteiriço à Tailândia. No século VIII, o reino de Srivijaya de Sumatra
estendeu seu domínio sobre uma vasta região da península
malaia. Sob a égide deste império foram fundadas as cidades de Málaca e Cingapura (1402) que se tornaram os mais
prósperos centros da região peninsular.
159
- Em 1414, o príncipe Parameswara, da dinast ia Srivijaya, converteu-se ao islamismo e acelerou a penetração
muçulmana na Malásia. A atual Malásia é herdeira do império marít imo muçulmano estabelecido no inicio do século
XV, em subst ituição a principados sob influência indiana.
Portugueses, ho landeses e ingleses se fixam na região entre
o século XVI e XVIII.
- Em 1641, a península caiu em poder dos holandeses que, desalo jando os portugueses, passaram a controlar a
economia da região através da Co mpanhia das Índias Orientais. Os ho landeses exerceram domínio abso luto até fins
do século XVIII.A partir dessa época passaram a enfrentar
a concorrência da Co mpanhia das Índias Britânicas.U m
tratado assinado em 1824, garantiu o controle da Indonésia
aos holandeses, enquanto a Malásia fo i deixada em mãos
britânicas.
- O país ficou sob do minação inglesa até 1957
quando se torna independente, com no me de Federação da
Malásia. Na década 1970 ocorrem conflitos étnicos causados pelo ressent imento da maioria malaia em relação à minoria chinesa, que domina a econo mia e controla a maior
parte das empresas comerciais e industriais.
- A capital Kuala Lumpur (desde 1963), fo i fundada
por buscadores chineses de estanho ás margens do Rio
Klo ng. A cidade é um conglo merado de influências islâmicas, britânicas e malaias. Modernos edifícios comerciais
alternam-se co m velho s casarões dos ant igos bairros que se
situavam no centro.A cidade está dotada de magníficas avenidas, praças e jardins, entre elas estão a Sulaiman Road
e a Estação Central da Estrada de Ferro, a cidade possu i
ainda diversos e interessantes museus.
- A Malásia abriga diversos patrimônio s naturais e
culturais, co mo o Parque de Kinabalu, em Sabah, Parque
160
Nacional de Gunung Mulu, em Sarawak, cidades históricas
de Málaca e George Town (Penang) no estreito de Málaca.
- O porto mantém um at ivo comercio de exportação
de estanho, caucho, ferro, azeite de coco, de palma, copra e
madeiras precio sas. A pesca contribui grandemente para a
alimentação local. A exploração de estanho e borracha fizeram da Malásia um país privilegiado entre os seus vizinho s
do Sudeste Asiát ico. O solo malaio é também rico em petróleo, ouro bauxita e ferro. Cult ivam-se arroz, cereais, batata e mandioca.
- Em Sarawak há petróleo e depósitos de carvão.
Dois terços do território peninsular da Malásia são cobertos
por bosques, ricos em espécies preciosas, entre eles a seringueira, alcanfor, diversas espécies de palmeiras, quinina e
cinamo mo. Abundam os bambuzais que se aglo meram próximos aos cursos dos rios. Em Selangor são assinaladas
jazidas de linhita (carvão fóssil da Era Mesozóica).
No oeste da península localizam-se as maiores jazidas de estanho do país. O país cresce aceleradamente e se
torna um dos Tigres Asiát icos (paises da região com econo mia de ponta).
Favorecida pela natureza e intensamente explorada
durante a ocupação britânica, a Federação da Malásia ocupa ho je um lugar privilegiado entre os países subdesenvo lvidos. Entre suas fo ntes de riqueza se destaca o estanho, do
qual é o primeiro produtor mundial.
- Possui uma florescente indústria de co mponentes
eletrônicos e elétricos, aliment ícia, química, produtos de
madeira, de borracha, refino de petróleo e fábricas de veículos. O so lo malaio é rico em petróleo, ouro, bauxit a, ferro e
madeira. Cult iva-se arroz em larga escala, inclusive para
exportação. Cereais, batata, mandioca para o consumo local.
161
A GRANDE PENÍNSULA DA INDOCHINA.
Os dois pesquisadores brasileiros ouviram histórias
interessantes sobre a Península da Indochina, relatadas pelos estudiosos malaios. Narrativas fantásticas que lhes cativaram o espírito, então tiveram grande curiosidade em conhecer os paises da grande Península, já que estavam muito
próximos do seu território. A região era povoada por complexos de templos budistas, indicando os principais centros
polít icos, em Pagan, Angkor e Java Central, e sít ios préhistóricos das civilizações mon, thai, birmanesas e malaias.
A história remota dos países do Sudeste Asiát ico era
de fato fascinante, e não havia nenhum argumento que os
dissuadisse de conhecê-los in loco. Seriam cinco países a
serem visit ados, já que t inham acabado de conhecer as
principais cidades e os portos da Federação da Malásia.
Os primos Álvaro e Rodrigo, resolveram telefo nar
para seus pais no Brasil, po is estavam em dúvida quanto a
permissão em cont inuarem a viagem de estudos pelos países do Sudeste Asiát ico.
- Alô pai! Aqui quem fala é o Rodrigo, estamos e m
Kuala Lumpur na Malásia, eu e Álvaro pedimo s-lhes autorização para cont inuarmos a viagem de pesquisas, també m
a aprovação do custeio das despesas. Estamos muito perto
dos países asiát icos e seria muito proveitoso conhecê-los.
- Tudo bem! Podem continuar o trabalho na região
indicada, mas logo que terminarem o projeto em questão,
vo ltem para casa, todos nós estamos co m muita saudade –
respondeu Gio vani, pai de Rodrigo. Hoje mesmo vou repassar a notícia ao pai e a família de Álvaro.
Indicado por Michael Tehani fo i contratado como
guia turíst ico um estudioso malaio de Kuala Lumpur, de
no me Mahathir Ibrahim, de 45 anos, aposentado. Fo i professor de história e geografia na Faculdade local, portanto
162
seria um ótimo orientador. Acertada a remuneração pelo
trabalho, ele aco mpanhou os dois brasileiros na viagem de
avião co m destino à Yangum, ant iga capital da Birmânia
(Mianmar).
Chegaram à cidade já tarde da no ite e logo trataram
de hospedar-se em um bo m hotel, co m diária co mpleta. No
café da manhã, o guia Mahathir expôs o melhor it inerário
que deveria ser seguido durante os próximo s dias.Aquele
era um mo mento singular para os dois brasile iros, pois
recomeçava naquele dia, a nova e empo lgante aventura das
suas vidas. O guia iniciou a exposição do longo it inerário:
- Situados em um dos maiores cruzamentos do
mundo, os países do Sudeste Asiát ico tem uma história que
remonta aos primórdios da humanidade. A Indochina é uma
grande península situada no Sudeste da Ásia, entre a Índia e
a China, limitada ao sul pelo Go lfo de Bengala, Golfo da
Tailândia (Sião) e o Mar da China Meridio nal.
Banhada pelos rios Irrawaddy, Saluen, Sittang, Menam, Rio Vermelho e o Mekong o grande rio da Indochina. Mekong percorre 4425 quilô metros, desde a sua nascente na cadeia Tangula no Tibet, atravessa Yunan, Laos
que separa da Tailândia, o Camboja, passa em Vietnã e deságua no Mar da China, formando um espaçoso delta de
múlt iplos braços.
- A Indochina co mpreende a República da União de
Mianmar (Birmânia), o Reino de Tailândia, a República de
Laos, o Reino de Cambo ja, a República Socialista do Vietnã. Diversas culturas dos Períodos paleo lít ico e mesolít ico
foram identificadas na região como a do Vietnã, Tailândia e
Malásia. Sít ios de cavernas primit ivas foram escavados e m
Sumatra, Bornéu, Cambo ja e na Caverna Spirit no norte da
Tailândia. O Sudeste Asiático abrigava culturas flo rescentes
que usavam bronze e ferro antes de sent ir as influências
indiana e chinesa nos séculos II ou III a.C.
163
- O caráter singular da civilização do Sudeste Asiático nunca fo i suprimido, ao contrário o milênio seguinte
testemunhou a assimilação de influências para produzir na
área sociedades dist intas.O primeiro uso do bronze na região deve ter ocorrido na Tailândia Central, talvez 3000 a.C
chegando em Bornéu e Palawan em 500 a.C.No século VII,
pequenos templos hindus foram erigidos no baixo Cambo ja,
em Angkor Borei e no centro de Java.
- Rotas primit ivas de co mércio parecem ter ligado a
Índia ao sul da Birmânia (Mianmar) centro e sul do Sião
(Tailândia), baixo Cambo ja e sul do Vietnã, onde uma ant iga cidade portuária fo i escavada em Oc Eo (século III). Nos
séculos V e VI surgiram imagens budistas e tabuletas votivas, além das primeiras inscrições em sânscrito.
- Outros templos primit ivos, budistas, foram escavados no sul da Birmânia. Em 802, Jayaxarman II, estabelece o reinado de Angkor no Cambo ja. Em 1150, é construído o maior templo hindu de Angkor, e até o ano de 1180,
o reino atinge sua extensão máxima, quando sucumbe aos
ataques dos povos thai em 1369, e fo i abandonada.
- Em 939, Vietnã torna-se independente da China.
Os chineses não reconquistaram as ant igas províncias, apesar de invasões em 1075 e 1285. Ali, surgiu um reino autoint itulado Daí Viet, que se expandiu em direção ao sul e
absorveu o reino de Champa anexando a capital Vijaya e m
1471. Em 1500, os padrões modernos de cultura e organização polít ica estavam co meçando a emergir, co m a expansão do islamismo nas ilhas e do budismo theravada no continente. O Vietnã permanecia fiel ao confucionis mo e budismo mahayana.
- Os países do Sudeste Asiát ico, tornaram-se centros
de construção de templos e produziram co mplexos, tais
como Borobodur e Prambanan na Java Central, Angkor no
Cambo ja e Pagan em Mianmar, nos séculos VIII a XIII.
164
Palembang, centro de cultura sânscrita, a sudeste de Sumatra, emergiu no século VII, como capital do império marítimo de Srivijaya.
Atualmente o Sudeste Asiát ico está com a economia
fortemente apoiada no setor eletroeletrônico, que vem se
recuperando da crise financeira iniciada na região e disseminada por todo o mundo em 1997.
REPÚBLICA DA UNIÃO DE MIANMAR
- Nesse contexto, vocês vão entender melhor a geografia e a história do Sudeste Asiát ico se percorrer em primeiro lugar a antiga Birmânia, que desde o ano de 1989,
passou a chamar-se República da União de Mianmar - esclareceu o professor malaio.
- O país, encravado entre a Índia e a China, desponta no extremo oriental do Golfo de Bengala, fazendo parte,
na sua porção mais meridio nal de uma faixa de terra muito
estreita (70 a 80 km de largura), que constitui a porção birmanesa da Península de Malásia.
- O território da Birmânia encontra-se na formação
da área geológica que remonta a Era Terciária, quando ai
exist ia um go lfo do mar. Das águas desse ant igo golfo emergia uma ilha, que foi desaparecendo à medida que o mar
retrocedia empurrado por lavas vulcânicas. A enorme massa de argila e areia fo i posteriormente, recoberta pelos aluviões dos grandes rios, Irrawaddy e Sittang. Essa região é
de vital importância para a econo mia birmanesa, pois contém ricas jazidas de petróleo.
- A porção sul dessa bacia central está dividida e m
duas regiões pelos mo ntes Pegu. Assim, a leste correm as
águas do rio Sittang (560 km), e, a oeste, as do Irrawaddy
(2250 km). As duas bacias hidrográficas unem-se na zona
165
central do país, onde se estende a ampla planície de Mandalay, a área mais rica, fért il e povoada da Birmânia.
- Seu litoral é recortado por golfos e ilhas, e ao longo da costa noroeste separando as bacias do Brahmaputra e
do Chindwin, ergue-se a cordilheira Patkai (3826 m). Juntamente com os montes Arakam Yo ma (3053 m), que representam seu prolongamento natural na vertente sul, formam um arco de mais de 1000 km de co mprimento. Os
sistemas Patkai e Arakan constituem baluarte quase intransponível, dificultando as co municações entre Mianmar
e seus vizinho s, Índia (Assam) e Bangladesh.
- O país é cercado na fronteira norte e oeste por cadeias de mo ntanhas cujo ponto culminante e o vulcão Hkakabo Razi de 5.881 m de altura, que formam uma gigantesca ferradura. Encerrado nesta barreira mo ntanhosa estão o
território central, que abriga a maior parte dos campos e da
população. O rio Saluen, cortando profundas gargantas no
planalto de Shan e nos montes Kumo n, a leste separa a
estreita costa de Tenasserin do golfo de Sião.
- Igual faixa costeira estende-se a oeste entre a baia
de Bengala e a cadeia de montanhas Arakan Yoma Os
grandes reservatórios de água representados por essas cordilheiras dão origem ao maior rio birmanês, o Irrawaddy e
seu afluente o Chindwin.No centro ficam as terras baixas e
a bacia do rio Irrawaddy que deságua no Mar Andaman por
um grande delta. O local, de aspecto plano e pantanoso,
abriga as maiores culturas de arroz do mundo.
- Vales férteis predominam na maior parte da região
onde há intensa at ividade agríco la, com destaque para o
cult ivo de arroz e da papoula. O país lidera a produção de
hero ína e ópio junto com o Afeganistão. A produção rizícola ultrapassa e garante dois terços das exportações do país.
Outros cult ivos de subsistência e industriais são representados pela cana-de-açúcar, o amendo im, gergelim, algodão,
166
milho, trigo, tabaco e a amoreira que permite uma notável
produção de seda natural.
- A pecuária tem um bom desenvo lvimento, embora
a carne não se dest ine ao consumo, que é proibido pela religião budista. Os animais, bovinos e búfalos são empregados
no trabalho do campo. Os elefantes são empregados nas
zonas de exploração florestal para o arraste de troncos de
madeira. A fauna birmanesa pertence a sub-região indochinesa riquíssima em antropóides, feras selvagens, rinocerontes, elefantes, nas montanhas vive o urso negro do
Himalaia. Aves, répteis e insetos há uma variedade enorme,
assim como peixes e mo luscos abundam nos rios.
- A Birmânia abriga densas florestas (32,2 milhõ es
de hectares) com uma variada flora, que se diferenciam e m
função do volume de chuvas e das oscilações térmicas regionais. Nas regiões em que as chuvas são abundantes cresce
a selva tropical verde-escura, onde prosperam as grandes
árvores de madeira nobre, como ébano, teca, rododendro,
com também bambus e palmeiras.
- Nas florestas próximas ao mar encontram-se a teca e o pinkado “a árvore de ferro” empregado especialmente como dormente de estradas de ferro. O planalt o oriental,
de savana, menos úmido, possui a vegetação arbórea mais
pobre. Entre outras reservas florestais de Mianmar,destacase a grande Reserva Bago Yoma Forest.
- Densa floresta virgem estende-se ao longo das
margens do baixo Sittang, que junto com seus afluentes
formam pântanos parcialmente cobertos por arbustos e
grama. As florestas estão povoadas de grandes manadas de
búfalos selvagens, elefantes, ursos, javalis e grande variedade de macacos, escondidos nas partes mais profundas da
mata. Nos pântanos vivem rinocerontes, crocodilos e serpentes.
167
- Mianmar possui uma área de 676.577 km² e uma
população de 50,5 milhões, co mposta de 70% de birmaneses, 30% de chineses e outras diferentes etnias. A língua
oficial é o birmanês, mas falam-se também dialetos regionais. O mo n é uma língua da família austro-asiát ica falada
em Mianmar e na Tailândia. Embora o budismo theravada
seja a religião oficial, professada por 85% da população, as
tribos montanhesas são em geral animistas.
- Nas civilizações asiát icas o surgimento do budismo const ituiu um fato transcendental. Pela primeira vez as
mult idões ouvem os prementes clamores em favor de uma
sociedade humilde, que vive em clara oposição com a estrutura vertical preconizada pelo bramanis mo. A expansão do
budismo assiste um dos mo mentos mais interessantes da
história asiát ica, e a imagem evocadora de seu fundador,
Buda, ainda continua impressio nando as massas.
- Os povos que congregam a República da União de
Mianmar representam os mais variados grupos étnicos e
culturais. Há indício s no país, de ocupação humana que
remontam pelo menos há 10 mil anos a.C.O primeiro grupo
humano que teria habitado a região fo i ident ific ado como
pertencente a uma raça australó ide-asiát ica.
- Um desses povos migrantes era o dos nagas, nome
dado ao conjunto de tribos que viviam a nordeste da Índia,
nas Co linas Naga, no Estado de Assam, situado entre Bangladesh e Mianmar. Essas tribos falavam diferentes dialetos, o nagali, o tibetano ou birmanês.Os nagas um povo de
origem branca, de pele escura fo i a primeira raça a chegar à
Índia, por volta de 30.000 anos atrás, vindos da Birmânia.
- Esse povo que emigrava da Índia para seu país de
origem, a Birmânia, habitara no passado longínquo a região
de Burma (Mandalay). Diz a lenda que os povos nagas eram remanescentes da catástrofe que submergiu o continente de Lemúria no oceano Pacífico, durante o Período
168
Quaternário. Inscrições em tabuletas, que recuam ao século
VI a.C. demonstram a existência remota de civilizações
avançadas na Birmânia e regiões do Sudeste Asiático. Todavia, a constante migração de povos do norte para o sul e
das montanhas para a costa, suas fusões e suas guerras tornam difícil estabelecer suas relações até o século XI.
- Já em época histórica, se estabeleceram na região
levas de indianos procedentes do norte da Índia. Um desses
povos, o dos pyus, fundou um reino que perdurou do século
III ao IX, a sua capital ficava na cidade de Sriksetra (hoje
Prome), que se situa no vale do baixo Irrawaddy “o Rio dos
Elefantes”, principal artéria do país.
- O Irrawaddy forma-se na Alta Birmânia pela união
dos rios Mali e Nmai, cruza o país em sent ido longitudinal,
assegurando sua unidade. Dos seus 2250 km de extensão,
1600 km são navegáveis. O vale do Irrawaddy e do Chindwin, seu grande tributário, e do pouco menor rio Sittang,
constituem o coração do país, rico e bem irrigado.
- A população atual descende de tribos mo ngó is do
grupo shan, que criaram um Estado unificado em 1044,
com a fundação da dinastia Pagan por Anawratha, introdutor do budismo no país. A capital Pagan fo i saqueada por
invasores mongó is no final do século XIII.A dinastia dura
até 1287, quando a Birmânia é invadida pelos mongóis de
Kublai Khan.
- Em 1826, a Inglaterra que havia do minado a Índia,
anexou ao império hindu às regiões birmanesas de Arakan e
Tenasserim. E m 1852, fo i anexado o resto do território birmanês, que ficou sob o domínio inglês até 1886. Durante a
II Guerra Mundial, Birmânia é ocupada pelos japoneses. O
fim do conflito est imula o movimento nacio nalista. O país
torna-se uma república independente em 1948.A federação
deno mina-se, República da União de Myanmar-Naingngan-
169
Daw, composta por Birmânia, os Estados de Karen, Kayah,
Shan e Kachin, e o território autônomo de Chin.
- Um go lpe militar em 1962 levou ao poder o general U Ne Win, que governou por 26 anos e renunciou pressionado pelos grupos civis em 1988. Em 1992 se instalou
uma ditadura militar chefiada pelo general Than Shwe. A
Junta Militar é acusada de vio lação dos direitos humanos e
corrupção. Mianmar é alvo de sanções internacio nais.
- A cidade e porto de Yangun (4.348.000, aglo meração urbana) (2010), antiga capital, encravada na marge m
esquerda do rio do mesmo nome. Situada a 35 km do Oceano Índico é sem dúvida um dos maiores e mais mo vimentados portos do Sudeste da Ásia, localiza-se no delta do
Irrawaddy. Fo i fundada pelo rei Alaungpaya em 1755.
- Yangun é uma cidade mo numental, entre cujos edifíc ios t ípicos destacam-se o Pagode de Shwe-Dagon, que
domina a metrópole e é centro de peregrinação do país. É
considerado como um dos maiores e mais ricos templos
budistas. Construído sobre uma colina a 6 km da cidade é
rodeado de numerosos pequenos pagodes. Suas origens
remontam ao século VI a.C.
- No Grande Pagode de Ouro ou Shwe-Dagon, célebre santuário budista, está uma das maiores estátuas de
Buda. O conjunto de edifícios sofreu várias ampliações,
entre os séculos XV e XVIII. A cúpula principal alcança
107 m de altura e é toda recoberta de ouro, tendo como arremate um glo bo de diamantes.
- Mandalay (Burma) (1.034.000 habitantes e m
2010), é centro geográfico do país, situado às margens do
Alto Irrawaddy, região de terras férteis, tendo o arroz como
principal fonte de riquezas. Fo i capital do país até 1886,
quando caiu nas mãos inglesas. Importante centro religio so
budista, com numerosos pagodes, sendo um deles com setecentas torres de surpreendente arquitetura barroca.
170
- A cidade histórica de. Pegu (Bago), capital do
reino Mon (1369), fo i importante centro do budismo. Os
mo ns se rebelaram em 1740 e elegeram seu próprio rei. A
conquista da capital Ava, em 1752, trouxe à cena o dirigente birmanês, Alaungpaya, que derrotou os mons e seus aliados franceses. A cidade de Pegu ostenta a maior estatua de
Buda existente no mundo, com 60 m de co mprimento por
19 m de altura.
- Distante 300 km de Yangun, ant iga capital, e 3,2
km a oeste da ant iga cidade de Pyinmana, fo i construída
Nay Pyi Taw, (a Sede do Rei), a nova capital do país, inaugurada em 06 de novembro de 2005. Elaborada com rica
arquitetura e esmerado planejamento, para comportar setores dist intos: - administrativo, legislat ivo, sede do governo,
setores de serviços, hoteleiro, comércio, transporte, etc.
com largas avenidas, parques e jardins.
- Nay Pyi Taw é uma cidade planejada, moderna,
abriga uma população de 1.024.000 (em 2010) pessoas.
Outras cidades históricas birmanesas, dignas a serem visitadas são: Mandalay, Moulmein, Myitkyina, Pyé (Prome),
Myingyan, Bassein, Henzada, Pegu, Sittwe (Akyab).
REINO DA TAILÂNDIA.
Depois de conhecer as principais cidades de Mianmar, seus misteriosos templos dedicados a Buda, os Sít ios
Arqueo lógicos em Mandalay, Pegú, Prome, Moulmein e
Yangum, e se inteirarem das tradições milenares birmanesas, os dois pesquisadores brasileiros, acompanhados pelo
professor Mahathir Ibrahim, dirigiram-se para o aeroporto
de Nay Pyi Taw. Compraram passagens da linha aérea
Burma Airways Corporation com destino à Bangkok, capital da Tailândia, país situado na Península da Indochina.
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O avião pousou no aeroporto Don Muang em Bangkok às quinze horas da tarde. O percurso de aproximadamente 800 km, levou uma hora de vôo. Assim que desembarcaram logo foram apresentar os passaportes na alfândega
e retirar as bagagens. Liberados, os três turistas se dirigiram
para um hotel confortável, reco mendado pelo agente de
turismo do aeroporto de Bangkok, senhor Chuan.
Após um descanso de uma hora, e reforço do lauto
lanche servido no apartamento, os três saíram para conhecer
a cidade. O professor Mahathir já conhecia Bangkok, portanto não teve dificuldade em orientar os brasileiros, expondo-lhes os atrativos da capital e por conseguint e, do país
que visitavam, protagonista desta história fascinante.
- Localizada no Sudeste Asiát ico a Tailândia (terra
dos thais), que até 1939, era conhecida pelo no me legendário de Reino de Sião.Ocupa a parte central da Península da
Indochina, estendendo-se até a Península da Malásia.Os
relevos da parte noroeste dessa região prosseguem na cordilheira de Bilauktaung, nos limites com a Birmânia, até a
ilha de Phuket.Ao sul do ist mo de Kra, que representa o
ponto mais estreito da península de Malásia, a Tailândia
ocupa o território em toda sua largura, com costa para o
mar da China meridio nal e o oceano Índico.
- O norte e o oeste são zonas mo ntanhosas, de onde
descem do planalto central os rios Ping e Yo m que juntos
formam o rio Menam de 1200 km de extensão; seus inúmeros afluentes irrigam o so lo fértil da região central, desemboca no golfo do Sião através de um delta co m amplos braços. O grande rio Mekong nasce no Himalaia, possui uma
bacia fluvial de 810.000 km² , seus múlt iplos afluentes do
lado direito irrigam as grandes plantações de arroz do país ;
o Mekong nos seus 800 km que percorre na área fronteiriça, separa a Tailândia de Laos.
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- As pesquisas arqueo lógicas indicam que o território que hoje é a Tailândia fo i povoado há pelo menos 20
mil anos a.C. Há indício s do cult ivo do arroz nessas planícies desde 6.000 anos a.C. É até hoje o principal produto
agríco la do país. Sít ios neo lít icos e do inicio da Idade do
Bronze (3.000 a.C.) indicam a existência de culturas desenvo lvidas nas terras baixas já no século VII a.C.
- Povos naga t ibetano-birmaneses estabeleceram-se
na região antes da Era Cristã e posteriormente, no século
VI, houve a invasão dos hindus, que trouxeram consigo
elementos culturais que mo ldaram profundamente a feição
da Tailândia atual. Foram descobertas antigas imagens budistas e hindus com inscrições sânscritas. Por fim, no século
IX, o território fo i invadido pelos lao-thais,originários da
região sudoeste da China que se instalaram na região da
atual Tailândia e adotaram o budismo, acrescentando influências chinesas à cultura local.
- O reino de Sião (Tailândia) passou a ter ident idade
polít ica so mente a partir do século XII, quando o povo thai
ocupou a região que vai do vale do Brahmaputra até o mar
da China, e do Yang-tsê ao golfo de Sião, fixando sua capital em Ayutthaya, no vale do rio Menam. Por vo lta do século XIII, os povos thais se expandiram para o sul conquistando os mons de Dwarawati e at ingindo a península malaio-tailandesa.Estabeleceram sua hegemo nia sobre os populações primit ivas da região, formadas por vários grupos
étnicos dist intos, os mons, khmers e indonésios, estes já no
extremo sul, na península da Malásia.Ayutthaya tornou-se
poderoso reino thai no século XV, absorvendo Sukhothai.
- O estabelecimento da capital dos povos thai e m
Ayutthaya perdurou de 1282 até 1767, quando a cidade fo i
destruída pelos birmaneses que invadiram a região.A nova
capital do reino fo i então edificada na região de Thon Buri,
situada frente à atual capital Bangkok, mais próxima, por173
tanto, do delta do Menam e do mar. Recentemente (2011),
as chuvas de mo nções alagaram grande parte do país, a cidade de Ayuttaya ficou encoberta pelas águas do rio Menam, deixando milhares de pessoas sem lar. As chuvas de
mo nções são periódicas, típicas do Sul e do Sudeste da Ásia. Na época do verão o vento sopra do mar para o continente e no inverno sopra do continente para o mar.
- No século XIX, os reis tailandeses Mongkut e
Chulalo ngkorn impedem que o país se transforme em co lônia européia.O Sião iniciou o seu contato com povos europeus no século XVI, durante o apogeu do reino Ayutthaya.
A grande potência marít ima da época, Portugal, fo i a primeira a estabelecer tratados comerciais co m os tailandeses.
Uma nova mo narquia fo i estabelecida em 1782, o general
Chao Pya Shakri (Rama I), expulsou os birmaneses do país
e transferiu a capital do reino para Bangkok, estabeleceu a
dinastia Shakri até ho je reinante. A mo narquia abso lut ista
termina em 1932, quando um golpe de Estado instala u m
regime const itucional.
- Em 1938, através de sucessivos golpes de Estado,
o controle do país passou às mãos de uma casta militar, sob
o comando de Luang Pibul Songgram. A nova polít ica estabelecida levou a Tailândia a aliar-se aos japoneses durante a Segunda Guerra Mundial, permit indo a passagem de
tropas que invadiram Malásia, Cingapura e Birmânia, desapontando as antigas potências aliadas.
- Seguem-se quatro décadas de regime militar, intercalados por breves períodos de democracia. Desde 1946,
o chefe de Estado é o rei Bhumido l Adulyadej (Rama IX).
Em Bangkok, embarcações reais desfilam pelo rio Menam,
por ocasião das festas nacio nais. Em 1997, após um período
de forte crescimento econômico a Tailândia entra em crise.
A partir de 2006, o país vive uma grave crise polít ica.
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- A área do atual Reino da Tailândia é de 513.116
km² co m uma população de 68,1 milhões (2010).O idio ma
oficial é o thai, mas fala-se o chinês e o malaio .Religião
oficial do país é o budismo theravada, professado por 86 %
da população. A nacio nalidade tailandesa se compõe de
maioria de thais 75%, chineses 14%, forte proporção de
tibeto-birmaneses e de vários grupos étnicos ( lao , lu, lo lo,
mo n, cambo janos e malaios).
- Os recursos econômicos da Tailândia consistem
principalmente da exportação de arroz que representa m
20% do total. O arroz é o seu principal produto agríco la, é
a base da alimentação tailandesa.O seu cult ivo ocupa mais
de 60% das áreas aptas para o plant io. Emprega três quartos
da mão-de-obra nacio nal. Em segundo lugar aparece a borracha co m 13%.Seguem-se em importância os cult ivos de
milho, chá, mandioca, fumo, algodão, amendo im, cana-deaçúcar, juta, coco. A Tailândia é o 3º produtor mundial de
estanho, principal riqueza mineral do país.
- Ainda no setor primário, destacam-se a pecuária e
a pesca.Criam-se bovinos, búfalos, suínos, aves.A atividade
pesqueira emprega abundante mão-de-obra, sobretudo no
golfo de Sião.O pescado é o segundo elemento básico da
alimentação tailandesa. Também há a indústria de seda e m
Bangkok. A seda tailandesa apresenta lindas cores e uma
qualidade superior.
- A abundância de chuvas é responsável pela farta
vegetação natural do país. Florestas do tipo equatorial, ricas
em espécies, cobrem o sul e o sudeste da Tailândia.Ao norte, onde o clima é cont inental estende-se a floresta com u m
número menor de espécies, de dimensões mais reduzidas.
Essas florestas representavam 70% do manto arbóreo tailandês. Fornecem madeira para construção, lenha e carvão
vegetal. A espécie mais notável que prospera nesse meio é a
teca. Exportam-se madeiras nobres, inclusive a teca.
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- Os elefantes são usados tradicionalmente para arrastar os troncos pesados na exploração florestal dos bosques tailandeses. Treinados especialmente para a tarefa,
removem toros que chegam a pesar duas toneladas. Esses
paquidermes, porém, são ho je uma espécie em extinção. O
patrimônio florestal tailandês tem sido explorado intensamente e de modo irracio nal durante séculos, o que tem diminuído muito o total da superfície ainda coberta por florestas.Nas regiões onde as árvores foram cortadas cresce
uma mata baixa co m abundância de bambus.
- Os muitos templos budistas, ricamente decorados,
atraem milhares de visitantes ao país.A capital da Tailândia
a cidade de Bangkok abriga 6.976.000 habitantes (aglo meração urbana,em 2010). Bangkok destaca-se em todos os
aspectos das demais cidades da Tailândia. O oriente ant igo
marca os monumentos históricos e religio sos, o colorido da
população, o trânsito fluvial.No meio disto prosperam elementos de uma civilização e de uma época diversas: o ativo
aeroporto de Don Muang, os bairros modernos que vira m
seus tradicio nais canais fluviais serem transformados e m
amplas avenidas, as construções atuais, no entanto, conservam a feliz inspiração do estilo khmer.
- As outras cidades de importância histórica sit uam-se, muitas delas, ao lo ngo do rio Menam, como a cidade antiga de Ayutthaya,Thon Buri, Lop Buri, Sukhothai,e
outras espalhadas pelo país situadas à margem dos rios,
entre elas Chon Buri, Samut Prakan, Nonthaburi, Ban
Chang, Nakhon Ratchasima, Hat Yai, Thungyai-Huai, Udon Thani. e Chiang Mai.
- Entretanto, 75% da população vivem em povoados, que são típicos da paisagem siamesa. As sedes de províncias, mesmo, não passam de pequenos povoados. O tipo
mais co mum dessas aglo merações humanas é o povoadorua, ao longo de um rio, de uma estrada, de um canal ou de
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uma ferrovia, estendendo-se, às vezes, por diversos quilômetros. As construções nesses povoados-rua são geralmente
feitos em palafitas, constituem casas-dormitórios. Os históricos pagodes tailandeses também costumam indicar centros de povoados.
Os dois pesquisadores brasileiros, extenuados pelas
visitas aos espetaculares e misteriosos templo s hindus e
budistas tailandeses, em Bangkok e outras regiões do país,
pelas excursões às cidades históricas de Sukhothai e de Ayutthaya, ao Sit io Arqueológico Ban Chiang, e ao complexo florestal Dong Phaya yen-Khao Yai.Agradeceram ao
guia turíst ico, professor Mahathir Ibraim, que os conduziu,
com tanta sabedoria e gent ileza, indicando-lhes as opções
adequadas para adquirir o máximo de conhecimento sobre
os lugares visitados, subsídio valioso para suas pesquisas.
Tendo concluído o roteiro planejado vo ltaram para a
cidade de Bangkok, de onde dariam seguimento à viage m
projetada. O professor voltou para sua cidade, Kuala Lumpur, e eles se dirigiram ao aeroporto de Don Muang onde
adquiriram as passagens aéreas para Phno m Penh, capita l
do Reino do Cambo ja.
REINO DO CAMBOJA.
Rodrigo e Álvaro, impregnados de curiosidade, chegaram à Phno m Penh, capital de Cambo ja, cidade co m
1.466.000 habitantes, pelo movimentado aeroporto de Pochentong. No avião da companhia Air Kampuchea que os
trouxe ao país, a maioria dos passageiros eram turistas estrangeiros, que vinham visitar os ant igos templo s e as ruínas de Angkor. Na verdade o país todo era um grande museu de ant iguidades a serem apreciadas. Por sorte a língua
francesa era a que mais se ouvia falar, e eles a entendiam.
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O Cambo ja, é famoso tanto cultural co mo polit icamente. No noroeste se localiza o Sitio Arqueológico de
Angkor Wat e Angkor Thom, que tem o maior conjunto de
edifícios religiosos do mundo, relíquias do Império HinduKhmer (802 d.C.a 1432), classificados co mo patrimô nio da
humanidade.Esses mo numentos são a grande atração turística. Uma das primeiras regiões visitadas pelos turistas recentemente chegados, inclusive pelos pesquisadores Rodrigo e Álvaro que se dirigiram às ruínas de Angkor. Os dois
se embrenharam pela área dos templos tomada pela floresta.
No meio da mult idão que visitava as ruínas se movia um personagem muito estranho. Era um homem alto,
tão magro que parecia uma vara de bambu. Sua pele era
escura, seus ossos proeminentes e seus olhos oblíquos e
cint ilantes, ardiam co mo brasas acesas. A barba branca longa chegava-lhe ao peito.Calçava sandálias de t iras, a túnica
de cor açafrão que lhe caia sobre o corpo lembrava o hábito
dos monges budistas, que, caminhando de casa em casa
como mendigos, de quando em quando, apareciam nos povoados pobres, usando poucos utensílios, apenas a pequena
bo lsa para esmo las, e preso à cintura o recipiente para receber o alimento doado por alguém e o cantil co m água.
Era impossível saber sua idade, sua procedência, sua
história, mas algo havia em seu aspecto tranqüilo , em seus
costumes frugais que atraia as pessoas à sua vo lta. Apareceu de improviso, sozinho, a pé, coberto pelo pó do caminho. Sua alta silhueta destacava-se na luz do dia enquanto
atravessava no meio dos turistas, a grandes passos, co m
uma espécie de urgência. Veio direto ao encontro de Álvaro
e Rodrigo, que o olharam surpresos.
- São estrangeiros? Turistas ou pesquisadores? Se
precisarem de guia o fereço-lhes os meus serviços - falou
com voz humilde, inclinando a cabeça.
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- O senhor poderia fazer esse favor acompanhandonos pelo país? Quanto custaria? - perguntou Rodrigo.
- Veremos depois co m calma; o importante e que eu
consiga informá-los a respeito da história remota e da presente do nosso país, que lhes asseguro ser muito interresante e será proveitosa para suas pesquisas - respondeu o monge. Em seguida tirou do embornal que levava a tiracolo, um
mapa e uma enciclopédia. Desdobrou o mapa e indicando
com o dedo a região que ora estavam co meçou a narrativa:
- Cambo ja herdou seu nome de um rishi (sábio) de
quem os reis cambo janos se proclamaram descendentes, o
grande sábio Cambu Svayambhuva. O primeiro reino do
Cambo ja era conhecido, nos textos chineses, co mo Fu-nan
e fo i fundado por povos Mon e Khmer que emigraram do
norte no século I d.C. Em 245, enviados chineses visitaram
Fu-nan, primeiro Estado importante do Sudeste Asiát ico.
As fontes chinesas indicam a existência de pelo menos do is
reinos cambo janos que eram fieis ao reino de Java situado
na ilha de Java e Sumatra.
- Do princípio da Era Cristã até o século VI, o Cambo ja fez parte do reino de Fu-nan, formado por imigrantes
de cultura hinduísta que originaram o grupo khmer.Quando
o reino de Fu-nan se desagregou, no século VI, a hegemonia se deslocou para o reino de Kambuja,que conseguiu
estender seu domínio por toda a região de Fu-nan. No século IX, os guerreiros khmers reconquistaram o país. Seu
líder, Jayaxarman II, fo i o primeiro rei de Camboja, reinou
de 802 a 850, fo i o criador do reino de Angkor. O reino de
templos fo i unificado sob Angkor no século IX a XIV.
- A cidade de Angkor fo i fundada ao norte do lago
Tonlé Sap, por seu sucessor Yasavarman I, em 889-900, da
qual restam (após cerca de 1.100 anos), ainda majestosas
ruínas. O magnífico templo de Angkor, construído no século XII, por ordem do rei Suryavarman II, tem suas constru179
ções concêntricas que ocupam 1.950.000 m² e fazem dele o
maior templo do mundo. À entrada de Beng Mealea, a pequena distância de Angkor, fica o templo construído no
século XIII.A região dos templo s cambo janos Preah Vihear,
na fronteira co m a Tailândia, é alvo de disputa entre os dois
países, após ter sido declarada patrimô nio da humanidade.
Caminhando co m dificuldade pelas trilhas tortuosas
da mata saíram numa clareira, ali avistaram surpresos um
cenário admirável. Lá estavam os grandes templos diante
deles e inúmeras estelas cheias de hieróglifos, e também
belo s palácios, mas nenhum deles era totalmente visível,
pois os seres humanos haviam abandonado a região fazia
quase dois mil anos, deixando a floresta livre para se apoderar do lugar; que agora não passava de uma vasta co leção
de ruínas enterradas sob um mar de árvores, raízes retorcidas, cipós e trepadeiras avançando sob os escombros.
O grupo passou algumas horas perambulando entre
os destroços que escondiam os mo numentos, quando vira m
no meio da mata algo espetacular. Uma gigantesca figueira
com os galhos estendidos como enormes braços, dominava
um templo khmer, com suas poderosas raízes fincadas na
estrutura de pedras do monumento, num abraço hercúleo. A
semente da árvore trazida pelo vento brotou no meio da
argamassa, desenvolveu-se e tomou conta da construção. O
santuário se conservou quase intacto, escondido entre a
luxuriante vegetação da floresta tropical.
- A magnificência dos templo s e dos mo numentos
de Angkor expressa a natureza particular do reino khmer,
uma mo narquia teocrática na qual o rei-deus det inha todos
os poderes de forma abso luta. O reino khmer atingiu seu
apogeu em torno dos séculos IX a XIII, quando controlava
toda a Indochina, expandiu uma at ividade artíst ica sem precedentes no Sudeste asiát ico, sobretudo em arquitetura e em
escultura, conhecida co m o no me de cultura khmer, uma
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das relíquias mais impressio nantes desta cultura é o Pagode
de Angkor.
- A estrutura polít ica centralizada e a crescente influência do budismo estariam, nos século s seguintes, entre
as causas da sua decadência. Os governantes não se dão
conta de que as civilizações se desenvo lvem, chegam ao
apogeu e na cobiça de mais poder, entram em declínio e
muitas desaparecem.
- O território cambo jano fo i invadido pelos povos
dos países vizinho s, Tailândia e Vietnã. Em 1394, depois
que o povo thai conquistou uma vez mais Angkor, os khmers abandonaram a cidade, e sua capital é transferida para
Phno m Penh. Por mais de 400 anos, o reino de Cambo ja fo i
alternadamente conquistado por tailandeses e vietnamitas,
até que em 1863, o rei cambo jano Norodom aceitou para
seu país o status de protetorado francês, esperando que os
franceses o protegessem da Tailândia e do Vietnã. No ano
de 1864, Cambo ja passou de protetorado à colônia francesa.
Ficou sob o domínio francês durante quase cem anos, desde
1863 até 1954, quando se tornou Estado independente.
- Com a queda do príncipe Norodom Sihanouk, em
1970, a monarquia fo i abo lida e instaurou-se a república. O
príncipe deposto, porém, iniciou uma luta de reconquista do
trono de Cambo ja. Seguiram-se anos de lutas polít icas internas, e o envo lvimento do Cambo ja na guerra do Vietnã
conduziu em 1975, a tomada do poder pelo Khmer Vermelho (comunistas), sob a liderança de Pol Pot. A organização
de esquerda deslocou milhões de pessoas para o campo, e
perseguiu a população mais instruída, a elite econômica e a
oposição ao governo.O regime caiu em 1998, época em que
Pol Pot morreu. A nação estava devastada e pobre, se m
nenhuma infra-estrutura econômica.
- O Reino de Cambo ja é uma mo narquia parlamentar, tendo como chefe de Estado o rei Norodom Sihamo ni
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(desde 2004) O país possui uma população de 15,1 milhões
(2010) com a co mposição de grupos étnicos, khmers 85%,
há também grupos chams, vietnamitas, malaios, chineses,
birmaneses, indonésios. Os khmer têm a pele escura, são de
estatura elevada, fortemente mest içados com indonésios.
Dominaram até o século XVII, o vale inferior do Mekong.
-A língua o ficial do país é o khmer, porém no comércio usa-se também o francês. A religião predominante é
o budismo theravada, mesclado com o brahmanismo, o animismo e o culto aos antepassados.Na sociedade khmer os
sacerdotes têm uma situação social privilegiada. Os malaio s
e chams prat icam a religião muçulmana.
- O Reino de Camboja possui uma área de 181.035
km², sua capital é a cidade de Phno m Penh co m 1.466.000
habitantes (2.007), situada na confluência dos riosTonléSap e de Mekong. As cidades principais são Phnom Penh,
Batambang, Ko mpo mg Cham, Sihanoukville, Ko mpong
Thom. Seu porto principal é Sihanoukville no golfo de Sião, e o porto de Phno m Penh no Mekong.Cambo ja faz
fronteira ao Norte com Laos e Tailândia, a Oeste com Tailândia, a Leste com Vietnã, e à Sudeste com Golfo do Sião.
- Dois elementos morfo lógicos bem definidos caracterizam o território cambo jano: a depressão central atravessada pelo rio Mekong, e a orla mo ntanhosa. Esta compreende varias cordilheiras e planaltos. A noroeste na fronteira co m a Tailândia, estende-se o planalto de Khorat, a
Cordilheira do Elefante, os montes Cardamo mos, o Kirirom. Erguendo-se abruptamente entre o interior e a costa,
contribuem para iso lar o litoral do resto do país.
- Contrastando com a orla mo ntanhosa, a grande depressão interior forma uma espécie de bacia e ocupa três
quartas partes do Cambo ja. É uma zona situada a poucos
metros cima do nível do mar, mas que apresenta elevações
em vários pontos, em particular na região central dos lagos,
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no Grande Lago ou Tonlé Sap e Pequeno Lago.Numerosos
cursos de água atravessam a planície pantanosa, convergindo para o Grande Lago, de 150 km de co mprimento e 35
km de largura.
- A planície de Phno m Penh é um pouco mais elevada, banhada pelo Mekong e pelo Bassac, braço ocidenta l
do Mekong, e pelo Tonlé Sap, emissário do Grande Lago.
Esta planície é pontilhada de lagoas. A faixa costeira de 450
km de extensão é formada por um conjunto de planícies
mais ou menos pantanosas. De modo geral, o clima do
Cambo ja é tropical, quente e úmido, mas nas planícies chega a ser árido. Nas montanhas da faixa meridio nal, mais
regadas, abundam os bosques tropicais, de teca, pimenteira,
cardamo mo, a árvore de resina e de laca, das quais restam
ainda no país 59,2% ao todo.
- Já nas zonas regularmente inundadas das planícies
predominam as plantas baixas e aquát icas, e nas elevações
bosques pouco desenvo lvidos. A fauna que vive nas florestas tropicais é da mesma espécie que povoa a Índia, de t igres, leopardos, rinocerontes, elefantes, bo is selvagens,
macacos, crocodilos e serpentes. O búfalo é um animal destinado para o trabalho típico na região dos arrozais.
- O rio Mekong nasce nas geleiras do Tibet, nos cumes do monte Cho mo Lhari a 7.313 m de altura, tem 4.425
km de co mprimento, é o grande rio do Cambo ja e um dos
maiores da Ásia. Suas águas brotam nas alturas do Himalaia, em diversos regatos que se juntam formando o rio, o
qual durante o trajeto apresenta várias grandes quedas, somente tornando-se navegável a part ir de Luang Prabang
no Laos. Seu delta, no Vietnã, é a terra de cultura do arroz
por excelência.
- Em meados de junho, as neves derretidas do Tibet
e as chuvas que caem sobre as montanhas da China e do
Laos co meçam a inflar o curso do Mekong. Então o seu
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leito torna-se quatro vezes mais alto e seu nível alcança 12
metros acima do usual. A enorme massa de água submerge
o país, mas não provoca catástrofes. Cerca de 20.000 km²
ficam cobertos pela água, da qual emergem as aldeias construídas sobre palafitas ou assentadas também em palafitas
nas margens elevadas dos rios.
- O Mekong atravessa o Cambo ja, num curso de
500 km e deságua por um largo delta no sul do Vietnã, no
Mar da China Meridio nal, deixando uma vasta camada de
limo, extremamente importante para a cultura do arroz É
um rio caudalo so, com mais de 14 m de profundidade. Na
época das cheias as águas do Mekong penetram pelos canais construídos entre as casas inundando e fert ilizando o
solo. Além disso, as inundações trazem grandes quant idades de peixe, que const ituem um co mponente básico da
alimentação dos cambo janos.
- Dada a abso luta relevância das at ividades agrícolas, 87% da população cambo jana vive nos campos, agrupada em aldeias, em pequenas casas que se elevam acima
do solo sobre palafitas, a fim de proteger-se das inundações.
A produção agríco la consiste principalmente em arroz que
ocupa quase 80% da área cult ivada. Cambo ja e a Tailândia
sugerem o cult ivo do arroz já em 6.000 a.C. Os arrozais se
estendem quase ininterruptos pela planície de Phno m Penh
e pela zona dos lagos, em particular nos arredores da cidade
de Battambang. Phno m-Penh é o centro artesanal da seda,
onde são fabricados tradicio nalmente tecidos primorosos e
de grande aceitação no mundo ocidental.
- Ao lado da agricultura prospera a pecuária. Há
considerável criação de bovinos, suínos e búfalos, a maioria
para exportação, pois os cambo janos não conso mem carne
que é proibida pela religião budista, assim, a dieta da população é constituída prat icamente de arroz e peixe. O Cambo ja é a mais rica região do Sudeste Asiát ico em peixe de
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água doce. Existem grandes plantações de seringueira,
muito importante para as exportações.
- É cult ivado também o milho, feijão, soja, gergelim, pimenta, fumo, mandioca, batata-doce, amendo im,
cítricos, se cult ivam também a cana-de-açúcar, e a palmeira
açucareira. O único minério explorado é o fosfato, industrializado em fábricas estatais. O Cambo ja exporta essencialmente arroz, borracha, madeira e gado. Importa, sobretudo,
produtos industrializados.
- O grande Lago Tonlé Sap, situado no centro do país, fornece a maior parte do peixe para a população. Os pescadores constroem suas moradias em cima de grandes barcos de madeira, que flutuam sobre o lago. Nessas casas
eles moram co m suas famílias, pescam e vivem durante
toda a vida.Durante as chuvas das mo nções quando as águas do lago sobem, eles são obrigados a deslocar suas cabanas para lugares mais seguros. O sonho desses pescadores é possuir uma casa em terra firme, na beira do rio.
- O principal problema ambiental é a devastação ocasio nada por produtos químicos (agente laranja), desfolhantes espalhados nas florestas do Camboja, do Laos e do
Vietnã, pelo exército norte-americano, durante a Guerra do
Vietnã (1959 a 1975). Pela explosão de bo mbas e minas
jogadas durante a guerra, que ainda ho je mut ilam ou mata m
a população do meio rural. O mesmo problema causou a
perda de aproximadamente três quartos da fauna do país.
- Analisando bem chegamos à conclusão, de que todas as guerras são injust ificáveis. As guerras de conquista
da Ant iguidade, as Cruzadas, todas as guerras Religiosas, a
Primeira e a Segunda Guerra Mundial, a do Vietnã, do Iraque, do Afeganistão, as guerras tribais da África e a recente
guerra do petróleo na Líbia.
O que ocorre de fato é a torpe manipulação moral
por parte de uma liderança gananciosa sem consciência e
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nenhum escrúpulo. Sem avaliar o aniquilamento de milhões de pessoas nessas sórdidas desavenças. Pessoas que
tiveram o infortúnio de terem nascido na época atual, e m
que os antigos valores estão morrendo, indubitavelmente
sem chance de serem recuperados - opinou tristemente o
mo nge budista.
Despediu-se dos pesquisadores com uma inclinação
de cabeça, dizendo - Sugiro-lhes para que, no Campus da
Universidade de Vient iane procurem pelo professor Suliya
Nosowam,ele poderá orientá-los na vis ita à Laos, o país seguinte a ser percorrido,desejo-lhes uma viagem proveitosa.
REPÚBLICA
LAOS.
POPULAR
DEMOCRÁTICA
DO
A despedida e o comentário final do monge budista
encheram de tristeza os nossos viajantes. Mas não podia m
desanimar, pois estavam perto de terminar a tarefa que se
impuseram. O trabalho se balizava nas pesquisas sobre o
Sudeste Asiát ico, portanto, iam prosseguir a viagem até o
próximo país. Dirigiram-se ao aeroporto de Pochentong
(Phno m Penh), para comprar as passagens de avião que os
levaria à cidade de Vient iane, capital de Laos.
Embarcaram no avião às seis horas da manhã.O dia
estava claro e o céu azul. O vôo teve a duração de duas
horas, emocionantes, pois voaram sobre regiões de montanhas, rios e imensas florestas. No aeroporto, entre os passageiros, desfilavam vários militares de uniformes azuis e
quepes vermelhos. Rodrigo e Álvaro passaram na alfândega
para liberar as bagagens, em seguida tomaram um táxi que
os levou ao hotel “Luang” situado no centro da cidade.
No outro dia, já descansados da viagem, se dirigiram ao Campus da Universidade de Vient iane a procura do
professor Sulyia Nosowam. Não demorou e logo lhes fo i
186
apresentado o Bió logo indicado pelo monge budista. Por
sorte o professor dominava a língua inglesa perfeitamente,
portanto, não fo i difícil entender-se co m ele. Era um homem de meia idade, magro e alto, de origem chinesa, e
como tal estava sempre de sorriso nos lábios.
- Estamos em viagem de estudos sobre o Sudeste
Asiático – informou Álvaro – o senhor poderia acompanhar-nos nessas pesquisas?
- Gosto desse trabalho, de pronto aceito a proposta
de orientá-los nas visitas de conhecimento sobre o país.
Começaremos pela geografia de Laos, depois iremos explicando a história da região. Estou em férias, portanto, nada
me dará tanto prazer como acompanhá-los. Sobre a remuneração falaremos depois - disse o professor Sulyia.
- O território do Laos se estende por uma superfície
de 236.800 km², limitando-se a leste com o Vietnã, a oeste
com a Tailândia e a noroeste com Mianmar (Birmânia), ao
norte com a China e ao sul co m o Cambo ja. O Alto Laos é
mo ntanhoso, constituindo um pro longamento do Yunan
chinês e do planalto birmanês do Shan É de estrutura complexa e agitada, de aspecto mais jo vem. Pertence ao embasamento antigo, como a cordilheira do Vietnã, mas te m
sofrido fortemente, na Era Terciária, as pressões dos dobramentos do Himalaia, a base primit iva tem-se elevado
novamente cinco cent ímetros por ano.
- Ao Norte o maciço do Alto Laos alcança as maiores alt itudes, superiores a 2000 m e alterna as cadeias escarpadas com cumes agudos, fendas e vales encaixados.
Nos Montes de Luang Prabang, o maciço de Pou-Koum
(2100m), e uma grande estrutura de rochas vulcânicas co m
direção Nordeste-Sudoeste, que forma fronteira com a Tailândia. Das mo ntanhas do Noroeste e do planalto de Xiangkhoang, o país estende-se para Sudeste, seguindo a linha da
Cordilheira Ananít ica, que culmina co m Atouat (2500 m).
187
- No Laos há o predomínio de planaltos elevados
com formações cristalinas e arenitos, que caem suavemente
para Oeste ao encontro da vasta e fértil planíc ie inundada
pelo Mekong. Uma larga faixa de quase 800 km que proporciona a única terra baixa para a agricultura de subsistência, o intenso cult ivo de arroz, de milho, vegetais, café e
algodão. As regiões de terrenos aluviais planos, que ocupam os baixios a margem dos rios, co mo, em Luang Prabang, que se pro longa em 600 km ao longo do Mekong, e a
meridional a margem de Cambo ya, são os centros vitais
desse país pobre e montanhoso.
- Vários rios cruzam o país para ocidente desde a
Cordilheira do Alto Laos até o rio Mekong, que forma a
fronteira oeste. Os acentuados relevos desta região apresentam numerosos vales por onde correm cursos de água que
confluem para o Mekong, cuja bacia se situa em grande
parte em território laociano, atravessa o país em cerca de
1.800 km, dos seus 4500 km de curso.Nasce nas mo ntanhas
do Tibet, ao entrar em Laos atravessa uma série de gargantas selvagens e corre pelas planícies e vales alargando seu
leito, quando forma trechos navegáveis separados por seções de cachoeiras, devidas aos desníveis provocados pelo
levantamento do terreno ondeante, acidentado. Seu caudal é
abundante, se alimenta das neves t ibetanas e das chuvas de
mo nções de verão.
- A presença humana no Laos data de tempos préhistóricos, mas a formação de uma nacio nalidade laociana é
um fenô meno relativamente recente. O território da atual
República do Laos fo i invadido a partir do século IV, pelos
mo ns e os khmers. Os diversos reino s que floresceram começam a ser suplantados pelos povos de origem chinesa
dos ramos thai e lao no co meço do século XIII, em virtude
das invasões mongó is na China.Organizados em tribos e
miscigenados, deram origem aos laocianos. Mas, logo após
188
sua instalação no primit ivo território do Laos, sofreram por
muito tempo a dominação dos khmers do Cambo ja.
- Tendo sido a terra do reino (século XIV) de Lang
Xang (o Reino de Um Milhão de Elefantes), governado
pelo príncipe Fa-Naum, os laos chegaram a formar um reino independente, com a capital em Luang Prabang. Nos
séculos seguintes, o pequeno reino enfrentou as ambições
dos vizinhos mais poderosos como Birmânia, Tailândia,
Cambo ja e Vietnã, que o dominaram alternadamente. Apesar disto, no começo do século XVII, sob o reinado de
Suliya Vongsa, o Laos conheceu um lo ngo período de paz.
Mas co m a morte deste soberano, em 1664, o reino acabou
dividido em três principados rivais, que guerrearam entre s i
e acabaram do minados pela Tailândia, até o século XVIII.
- As agressões dos vizinho s mais poderosos tem sido um fato constante em sua vida. A França depois de impor sua hegemo nia sobre o Vietnã e o Cambo ja, dominou
também o Laos, que em 1883 se tornou um protetorado
francês, incorporado á Indochina francesa. Atrasado, dividido e desorganizado o Laos viveu os anos da dominação
francesa sem possibilidade de recuperação, e só com o fim
da Segunda Guerra Mundial alcançou a independência e m
1953, dentro da União Francesa. Fo i disputado em combate
por realistas, comunistas e conservadores desde 1964.
- Em 1964, a Força Aérea americana, já profundamente envo lvida na Guerra do Vietnã, co meçou a bo mbardear a faixa oriental do território, controlada por Pathet Lao
(Laos Livre, do minado pelo partido co munista).Os americanos construíram aviões especializados para bombardear
as nuvens co m produtos químicos (Projeto Cumulus), (na
chamada “Trilha de Ho Chi Minh”) provocando chuvas
torrenciais e ampliando por três meses a mais as chuvas de
mo nções, formando lodaçais nas estradas, com o fim de
impedir o abastecimento dos guerrilheiros Vietcongs.
189
- Outras conseqüências da guerra agravaram ainda
mais a situação, como o grande número de refugiados que
abandonaram suas aldeias e plantações. As devastações
provocadas pelos desfo lhantes (agente laranja) jogados nas
florestas pelos bo mbardeiros americanos provocaram danos
incalculáveis nos territórios do Laos, Cambo ja e Vietnã.
- Além das desvantagens de um território montanhoso, alongado e sem saída para o mar, o Laos tem enfrentado
conflitos polít icos tão graves que praticamente ainda não
lhe permit iram nenhum mo mento de paz, é o país mais pobre da região. Na década de 70, o orçamento laociano chega apresentar um déficit de mais de 50%, coberto pela ajuda
americana, mais do que obrigatória co mo reparação parcia l
dos danos causados durante a guerra. Os conflitos internos
e a guerra do Vietnã conduziram a econo mia do Laos a uma
situação catastrófica. As sucessivas invasões e lutas contribuíram para que a nação seja uma das mais pobres da Ásia.
Em 1975, é instaurado no Laos um regime comunista (modelo chinês) sob a presidência de Kayso ne Pho mvihan.
- Pouco favorecido por sua posição geográfica e
marginalizado durante a ocupação francesa, o Laos carece
quase que totalmente da infra-estrutura básica. Sua economia é tipicamente de subsistência, baseada numa agricultura que ainda não ultrapassou o estágio da exploração familiar e à qual se dedica mais de 80% da população. No entanto, a produção do arroz não chega a cobrir as necessidades
de consumo.
- Os laocianos vivem em aldeias agrupadas em torno de um templo budista. Junto ao povoado encontram-se
os campos cult ivados co m arroz, cana-de-açúcar e milho.
Além do arroz os laocianos plantam mandioca, batata e
legumes. Quanto às agriculturas industriais, assume importância o café. As exportações são const ituídas pelo estanho,
190
madeira, café, resinas, couros, peles, látex. São importantes
ainda o algodão, fumo, amendo im, chá e o cardamomo.
- Merece ser citado também o cult ivo ilegal da papoula (Papaver) para produção do ópio e heroína, praticado
por tribos montanhesas nas fronteiras da Tailândia e Mianmar e controlado por traficantes e contrabandistas. O Laos é
o terceiro produtor de ópio do mundo. A pesca fluvial proporciona, depois do arroz, o segundo elemento mais importante na alimentação do povo laociano.
- Com uma população de 6,4 milhões (2010), Laos
não apresenta ho mogeneidade étnica. Os laosianos co mpõem 50 % da população, thais 20 %, futeus, miaos, mongues, vietnamitas, chineses, indianos e paquistaneses 30 %
O idio ma oficial é o laosiano, mas é falado o francês, chinês
e línguas regio nais. Professam o budis mo theravada 50,4 %
da população, crenças tradicio nais 44,6 %, outros 5 %
(2010). A República Democrát ica de Laos é governada por
um regime co munista, tendo como presidente Choummaly
Sayasone (desde 2006). A capital do país é a cidade de
Vient iane (745.000 aglo meração urbana, 2007), cidades
Luang Prabang, Savannakhét, Pakxé , Xam Neua.
- Devido a seu iso lamento, o país conserva tradições muito ant igas. Em festas religio sas, elefantes enfeitados desfilam por ruas da capital Vient iane. O transporte de
pessoas é feito por sambor, veículos derivados de bicicletas ou de antigas motos. O sambor subst ituiu o tradicio na l
jinriquixá, amplamente ut ilizado nos países do Extremo
Oriente, onde as leves cadeirinhas eram puxadas por um
ho mem a pé. Laos possui importante patrimô nio da humanidade co mo o templo de Vat Phou, a cidade de Luang
Prabang e os ant igos povoados da época do Império Khmer,
em Champassak.
Os pesquisadores brasileiros tendo percorrido as
cidades mais importantes de Laos e seus atrativos turíst icos,
191
a nação governada pelo regime comunista de linha chinesa,
encontraram dificuldade em loco mover-se de uma região
para outra, pela configuração do terreno de montanhas e
densas florestas. Seu intuito era estudar a vida nas comunidades e aldeias do país então deram por encerrada a visita.
Na seqüência ficaram interessados em ver como se vivia no
país vizinho, Vietnã, também governado pelo mesmo regime co munista. Portanto, voltaram à capital de Laos a cidade de Vient iane e, por conseguinte ao seu aeroporto, para
comprar as passagens aéreas para Hanó i, capital do Vietnã.
- Professor Sulyia, estamos muito gratos pelas preciosas informações que deu a nós a respeito de Laos. O
senhor aceitaria prolongar a sua eficiente atuação e guiarnos, inclusive no Vietnã? – propôs Álvaro.
- Aceito de bom grado, gostei da aprazível co mpanhia e de trabalhar com vocês – respondeu o professor, e
apertou a mão dos dois em aprovação.
REPÚBLICA SOCIALISTA DO VIETNÃ
Viajaram para Hanói, o jornalista Álvaro, o bió logo
Rodrigo e o professor de Biologia da Universidade de Vientiane, Sulyia Nosowam, que conhecia profundamente Vietnã, pois tinha residido no país quando criança e depois visitado diversas vezes. A distancia entre as duas capitais era
cerca de 600 km, portanto levaria mais ou menos uma hora
de viagem. Chegaram a Hanó i á tarde, hospedando-se no
aprazível “Hotel Saigon”, de administração estatal, lugar
preferido dos estrangeiros que vinham ao país.
- Começaremos as visitas pelo s mo numentos, teatros, ruas antigas e bares da cidade de Hanó i, que são quase
todos de influência chinesa - informou o professor Sulyia.
- A população atual do país é de 89 milhõ es
(2010). A capital da República do Vietnã, a cidade de Ha192
nó i, está situada a 130 km do mar, na margem direita do
Rio Vermelho. É centro cultural mais importante do Vietnã.
Tem sido também a capital histórica do país; em 1882 de
Thonkin; em 1887 da Indochina Francesa; e desde 1976 da
República Socialista do Vietnã.
- A capital Hanó i possui importantes indústrias: de
tecidos, algodão e seda, cerâmica, metalurgia, cimento, aliment ícia, so ja, vidro, madeira, construção naval etc. A
cidade já exist ia antes da invasão dos chineses e suas origens se perdem no passado, possui uma população de
2.814.000 (aglo merações urbanas) (2010). Comunica-se por
estrada de ferro com o porto nacional de Haiphong (população 1.970.000), a cidade situa-se a 25 km da costa, serve
de entrada para o Yunnan chinês, que o une a outro canal.
Aeroportos principais: Gia Lam (Hanó i);Vinh; Dong Hoi.
- Cidade Ho Chi Minh Cit y ex-Saigon (6.167.000)
(aglo meração urbana), (2010) é a maior e a mais populosa
metrópole do país. Situada à margem do rio Saigon, se encontra a 80 km do mar, é ligada por um canal com o delta
do Mekong, Saigon era um ant igo povoado, chamado Ben
Nghe, cresceu co m a chegada dos franceses a partir de
1859.A cidade é um centro comercial muito movimentado,
passou de um povoado tranqüilo de pescadores a uma grande metrópole, com largas ruas e avenidas, cortadas em ângulo reto, belos edifícios públicos e privados, e inumeráveis
parques e jardins. Aeroporto principal Tan Son Nhut a 5 km
de Saigon. Na cidade de Da Nang (Tourane) e de Hué.
- Possui estaleiros navais, fábricas de produtos aliment ícios e uma próspera indústria têxt il. A cidade enfrenta
graves problemas sociais, co mo conseqüência da guerra que
devastou a região e deslocou para lá milhares de refugiados.
Cho Lon é o principal centro industrial do Vietnã, está ligado administrativamente a Saigon co m a qual fo rma uma
193
área metropolitana. Seu porto moderno, bem equipado, exporta arroz, copra e borracha.
- O Vietnã situa-se no ângulo direito da península da
Indochina, em forma de arco côncavo de frente ao Golfo de
Tonkhin. Faz fronteira, a oeste, com o Laos e Cambo ja, a
leste com o Golfo de Tonkhin e o Mar da China Meridional, ao norte com a China e a sudoeste com o Golfo do Sião
(Tailândia). Possui um território longo e estreito com área
de 329,315 km². Com uma espinha dorsal mo ntanhosa, se
estende por 1.500 km ao longo do litoral do Mar da China
Meridio nal, desde a fronteira co m a China ao norte, até o
Golfo da Tailândia no extremo sul.
- As característ icas predo minantes da região, é o litoral baixo, recortado e com ilhas, maciços mo ntanhosos ao
norte, Cordilheira Annamita a oeste, planícies costeiras de
Tonkhin ao centro a leste e o delta do Rio Mekong, ao sul.
Os maciços do norte pertencem à Época Primária; na Era
Terciária so freram pressões dos dobramentos do Himalaia,
ocasionando a renovação de formas. O embasame nto antigo
fo i levantado de novo com o acúmulo e a cobertura co m
sedimentos, que vo ltaram a enrugar-se, intercalando entre si
pequenas planícies de terrenos aluviais.
- As planícies do litoral são obras das enxurradas e
dos conseqüentes depósitos aluviais do Song-koi ou Rio
Vermelho e seus afluentes, e das torrentes que descem dos
planaltos de Laos. Os maciços do Norte são complexos e
escarpados. Alternam picos agudos e vales estreitos. O FanSi-Pan (3178 m) é o cume mais alto do território de Vietnã.
- A porção Sudoeste do país se acha acidentada pela
Cordilheira Annamita que corre paralela à costa, formada
por uma série de maciços mais ou menos largos, separados
por passagens estreitas, que se inclina m co m mais amplitude em direção ao Laos meridional. Os mo ntes annamitas
são formados por xistos cristalino s e rochas metamórficas.
194
O granito é abundante na parte meridional, enquanto na
setentrional há formações calcárias da Era Primária.
- As co municações entre Vietnã e Laos são difíceis;
o Col-Um-gia, a “Porta de Laos” a so mente 412 m de altura, tem sido a passagem tradicional desde o lit oral até o
planalto laosiano. A linha do litoral é baixa e pantanosa, se
exclui so mente uma extensão, desde a fronteira chinesa até
a baía de Alo ng, onde várias baías abrigam bo ns portos.
Situado na zona tropical, o Vietnã é um país de clima
quente e chuvoso. Sob a influência das monções, suas estações se dist inguem entre si mais pelo regime das chuvas do
que pela variação da temperatura.
- Predominam as florestas tropicais e a rede hidrográfica é muito rica. Os rios principais são: Song-koi ou Rio
Vermelho, ao norte, tem suas nascentes no planalto de
Yunnan, na China, a 2.000 m de alt itude, percorre 1.200
km dos quais 670 em território vietnamita. A 150 km do
mar une-se co m os rios, Negro e Claro. Desemboca no Go lfo de Tonkhin, formando, antes, um grande delta. É um dos
mais pródigos rios do mundo, pois chega a levar 7 a 8 kg
de limo por m³ de água. Este limo, que apresenta uma cor
avermelhada lhe confere o nome. As planícies tonkinesas
são ricas em agricultura, suas terras estão cobertas por arrozais, regadas pelas águas do Rio Vermelho.
- O território do Vietnã é banhado pelos rios Krong,
Da Rang, Ma, Ca, Ba, Hau Giang, Dong Nai, San, Srepok,
e o Mekong, que nasce nos mo ntes Tangulha no Tibet,
atravessa várias províncias chinesas, faz fronteira entre Mianmar e Laos e entre este país e Tailândia, atravessa o
Cambo ja, penetra no território vietnamit a onde seu curso é
de apenas 220 km, de um total de 4500 km de extensão.
- O Mekong está dividido em dois braços - o Tien
Giang e o Bassac - cujas águas se espalham por uma rede
de canais, que terminam em nove braços secundários, de195
no minados Nove Dragões pelos vietnamitas. Forma uma
bacia fluvial de 810.000 km², desemboca no Mar da China
Meridio nal, em um amplo delta que abrange uma área de
cerca de 600 km, a qual cresce cont inuamente devido aos
depósitos de aluvião transportados pelo grande rio.
- Os vietnamitas, de pele amarela e de olhos oblíquos, são duros e resistentes, trabalhadores esforçados na
agricultura e bons operários na indústria. Formam o grupo
étnico predominante, correspondendo a 88% da população,
no entanto, grupos montanheses, co mpostos por várias etnias do sul da Ásia – han, thai, khmer, mong, meo, miao, yao,
mo i, formam o restante. Eles conservam usos, tradições,
métodos do cultivo da terra e formas de organização sociais co mpletamente distintos dos vietnamitas. Existe uma
importante colônia de chineses.
- A religião principal e o budismo, 50% da população professa essa crença, mas há também adeptos do taoísmo, do confucionis mo e minorias católicas. O regime
comunista que vigora atualmente desestruturou estas crenças tradicio nais. O idio ma o ficial é o vietnamita, mas os
diferentes grupos étnicos que vivem nas mo ntanhas fala m
suas línguas próprias. As principais são o cham, khmer e o
rhade, mas fala-se também o francês, inglês e o chinês.
- Vietnã significa “Viets (uma etnia do sul)”, no antigo idio ma annamita. Os atuais vietnamit as surgiram entre
o Neolít ico e a Idade do Bronze, como resultado da miscigenação de grupos étnicos mongó licos e indonésios, instalaram-se na Península da Indochina por volta do século III
a.C. Mas fo i so mente no ano 208 a.C. que se estruturou a
organização social estável, que passou à história com o nome de Reino de Nam Viet. Entretanto, a vida desse reino fo i
efêmera, pois em 111 a.C. ele fo i conquistado pelo imperador chinês Wou Ti, da dinast ia dos Han O do mínio chinês
196
perdurou por mais de dez século s, até o ano de 939, quando uma revo lta põe fim à ocupação chinesa.
- O país alterna, a partir desta data, períodos de independência co m outros em que é vassalo da China. Entre
os vários reinos da região, os mais importantes são o de
Anã, que inclui o golfo de Tonkhin até o centro da Península. Os Cham se estabeleceram na região central do território e fundaram o reino de Champa. No sul, na região do
delta do Mekong, fundaram-se o reino do Fu-Nan, que deu
origem ao reino dos Khmer, ascendentes diretos dos cambo janos. No século XII, rechaçaram os mongó is de GêngisKhan e seu neto Kublai Khan, quando estes dominavam o
mundo asiát ico. No século XVIII, expulsaram os khmers.
- Mudanças polít icas nos séculos XIV e XV, foram
seguidas de avanços religiosos e culturais. No Vietnã assistiu-se ao fortalecimento da sabedoria confucio nis ta, apesar
da repetida tentativa chinesa de reconquista sob a dinast ia
Ming. A influência cultural chinesa limita-se ao Vietnã,
mas sob os Ming o sistema de relações tributárias fo i reat ivado e fortalecido. O almirante Heng Ho, muçulmano, fez
várias viagens aos mares do sul.
- Em 1511, quando os europeus tomaram Málaca, o
Sudeste Asiát ico já assumia o padrão moderno de culturas e
nações. Em 1558, o Reino de Anã divide-se, enquanto os
governantes de Champa mantêm o controle sobre o delta do
rio Mekong, no sul. O Reino de Anã unifica-se novamente
em 1802, e a partir da sua capital Hué, abarca todo Vietnã.
- Hué, a antiga capital do Império Anamit a,está localizada ás margens do Huong Giang (rio dos Perfumes), a
15 km do mar. Fo i importante centro polít ico e cultural.
Possui a cidadela, co m as fortificações construídas no século XIX. Nesta área estão situados, o palácio, os templos, os
ministérios e outros edifícios públicos. Nas proximidades
da cidade estão os túmulos dos imperadores, que se desta197
cam pela sua beleza e suntuosidade. Os sinais da guerra
podem ser vistos nos danos causados aos antigos monumentos. Conta com importantes instalações especializadas
na fabricação de objetos artíst icos de vidro e marfim.
- Em 1884, forma-se a União da Indochina, que reúne sob o jugo colonial francês, a Cochinchina, Anã, Tonkhin e Cambo ja. Mais tarde o Laos também passa a fazer
parte da União. Em 1954, foram firmados acordos que est ipulavam a ret irada dos franceses e a realização de eleições
gerais. Em 1960, organizações hostis ao regime de Ngo
Dinh Diem, instalado pelos Estados Unidos, em Saigon, se
uniram na Frente de Libertação Nacional, conhecidos como
Vietcongs, os guerrilheiros.
- Iniciou-se a resistência contra os sucessivos governos militares de Saigon e, sobretudo contra os Estados
Unidos que os apoiavam, orientavam e armavam.Os Estados Unidos se envo lveram no conflito em 14 de dezembro
de 1961, por determinação do presidente John Kennedy.
Após o assassinato de Kennedy em 1963, o presidente Lyndon Johnson, que o sucedeu, envia mais tropas para combater os Vietcongs, cujo número chegou a 580 mil soldados
americanos em 1969.
- O mundo fo i unânime na condenação da interferência militar dos Estados Unidos no Sudeste Asiático. Pela
carnific ina que acarretou, pela dimensão de insanidade que
adquiriu, pela truculenta convocação de combatentes, pela
discutível necessidade de ter sido ela iniciada, pela hostilidade e desprezo com que os veteranos eram recebidos de
vo lta à pátria.Pois, a maioria dos so ldados vo ltavam viciados em drogas, mut ilados, doentes, alienados e aterrorizados com os fantasmas de crueldade da guerra.
”Todas as guerras são produzidas pelas mentes insanas de psicopatas movidos pela ambição e desejo de poder”
198
A opinião pública americana se havia co locado
contra a guerra no Sudeste Asiát ico e protestado com veemência contra seu prosseguimento. A guerra que Kennedy
começou e Richard Nixon encerrou, assinando o acordo de
paz co m o Vietnã, em 23 de janeiro de 1973,difundiu as
drogas alucinógenas co mo LSD, o ópio, heroína e maconha, nos Estados Unidos. A data de 14 de dezembro de
2011 marcou os 50 anos do fim da Guerra do Vietnã, mas o
tráfico e o vicio de drogas continua sendo o grande problema americano e também do mundo atual.
- Vietnã ainda so fre as conseqüências dos mais de
15 anos de Guerra (1959 a 1975) e da ação dos Estados
Unidos no conflito. A selva que os helicópteros norteamericanos sobrevoavam explodia no fogo do napalm.
Com as bo mbas incendiárias foram destruídas grandes áreas
agríco las e de florestas, ainda não recuperadas. Os aviõescaças jogaram contra o Vietnã, toneladas de bo mbas, armas
químicas e bacterio lógicas. Os Estados Unidos gastaram
mais de 150 bilhões de dó lares, destruíram 70% de todos os
povoados do Norte.
- Os bo mbardeios norte-americanos, com o desfolhante químico “agente laranja” e do napalm, inutilizara m
mais de 10 milhões de hectares de terra. Os artefatos militares não detonados, como as minas, ainda const ituem u m
grave problema para o país.Co m a ret irada dos EUA, os
Vietcongs ocupam Saigon em 1975, pondo fim à guerra.
As guerras são produzidas por mentes insanas de psicopatas
mo vidos pela ambição, desejo de poder e glória.
- Suas reservas florestais, embora tenham sido grandemente prejudicadas pela guerra ainda ocupam 39,7 % do
território (2005). A vegetação ao norte alterna-se, nas montanhas crescem abetos e nas zonas mais baixas viceja m
bosques tropicais co m teca e ébano.Também aparecem zonas de savanas, onde crescem ervas típicas, altas e duras, e
199
regiões, mais extensas, ocupadas por várias espécies de
árvores, como pinheiros, palmeiras, seringueiras e bambus.
- Ao sul existem zonas dist intas de vegetação. Na
cordilheira annamit a as espécies florestais são muito diversas, encontra-se a teca, bambu, bananeira, palme iras, árvores de laca, de azeite e coníferas co mo pinus.
- A fauna é semelhante a do Laos setentrional e participa das característ icas regionais chinesas. O búfalo e o
zebu são utilizados como animais de tração nos arrozais; o
elefante no transporte de cargas pesadas, onde faltam pontes, os sofridos paquidermes cruzam os rios levando pessoas e cargas. O porco, as aves e peixes co mo alimentação,
constituem a fauna doméstica do Sudeste Asiát ico.
- Embora seja rica em todo o país, a fauna florestal
é condicio nada pelo t ipo de vegetação existente. Na região
das matas e savanas vivem lebres, cabras, veados e javalis.
Nas florestas densas e áreas pantanosas, habitam macacos,
tigres, panteras, elefantes, crocodilos e serpentes. Os rios
abundam em peixes, que, co mo o arroz é o alimento principal da população.
- No tocante às riquezas do subso lo, Vietnã possui
minas de carvão, zinco, chumbo, estanho, ferro, cromo,
fosfato e gás, além do petróleo existente na plataforma continental. Isto explica a industrialização acelerada da região
Norte. Os recursos minerais do Vietnã são muito grandes e
estão concentrados principalmente na região de Tonkhin.
- Em 2 de julho de 1976, o Vietnã é o ficialmente reunificado sob o regime comunista, com a deno minação de
República Socialista do Vietnã. Como o país é essencialmente de economia agríco la, não apresenta muitos centros
urbanos. A aldeia é a forma típica de estabelecimento humano. O regime socialista não alterou o caráter agríco la da
economia, po is 80% dos trabalhadores continuam dedicados a atividades agríco las.
200
- A revo lução socialista alterou as estruturas agrárias
e industriais, assim co mo as relações de trabalho.Dentro de
seu programa para diversificar a econo mia do país o governo pede para todos cidadãos do Vietnã, trabalho e cooperação.Com o apoio e o estímulo o ferecidos pelos órgãos oficiais, a pesca e o aproveitamento dos recursos florestais
também apresentaram grande incremento.As terras foram
redistribuídas e todo setor manufatureiro socializ ado.A redistribuição da terra fo i aco mpanhada da formação de cooperativas agríco las,que receberam grande apo io do governo.
- Os resultados da nova po lít ica agrária podem ser
avaliados pela grande produção do arroz, a mais importante. O progresso da agricultura vietnamita fo i devido menos
à introdução de novas técnicas e à mecanização da lavoura
do que ao emprego disciplinado de métodos tradicio nais, no
intenso cult ivo do arroz, na produção da borracha, do café,
chá, algodão e dos tubérculos. Também a soja é uma das
leguminosas muito cult ivadas, devido ao seu grande valor
aliment ício.
- A crise financeira no Sudeste Asiát ico atinge o Vietnã em 1998, co m queda acentuada na cotação do dongue,
moeda do país. Em 2005, o primeiro ministro Phan Va n
Khai faz a primeira visita de um governante vietnamita aos
EUA desde o fim da Guerra do Vietnã. Em 2006, a Assembléia Nacio nal elege Nguyen Minh Triet presidente do
país, que é favorável à ampliação da abertura econômica.
- O Vietnã possui importantes patrimônio s culturais
como o Complexo de Monumentos de Hué, e patrimônio s
naturais no Arquipélago de Fai Tsi Long.
O guia, professor de Bio logia Sulyia Nosowan,
discorreu sobre a geografia e a história do Vietnã com o
critério de um sábio e clareza de um mestre conhecedor
da nação. Conduziu, orientou e ident ificou cada região do
país, as cidades, monumentos, rios e lugares sagrados, que
201
inspiraram admiração e respeito nos pesquisadores brasileiros, pelo que significam na memória do povo vietnamita.
Rodrigo como bió logo e ambientalista estudou a
fauna e a flora dos países visit ados, registrou tudo no seu
computador, para depois escrever um livro descrevendo as
pesquisas feitas e as aventuras da memorável viagem. Álvaro, como jornalista e antropólogo designado pela rede
inglesa BBC, fazia a cobertura dos acontecimentos e enviava o material para a matriz.
Tinham vis itado inúmeras cidades, museus, igrejas,
templos antigos e suas ruínas, monumentos históricos, rios,
florestas, aldeias indígenas, plantações, visto cavernas inacessíveis cheias de morcegos, examinaram elementos primit ivos só existentes no Arquipélago Indonésio e na Península Malaia. Peixes exóticos, gigantescos, nos rios dos países do Sudeste Asiát ico. Os dois já estavam fat igados com
as viagens e aventuras que viveram. Certa manhã Rodrigo
despertou com o toque do telefone; ficou surpreso quando
ouviu a voz de Gio vani Pazinatto, que o convocava para
urgente regresso ao país.
- Alguma co isa grave aconteceu, pai?- perguntou
Rodrigo, alarmado com o chamado do pai.
- Não aconteceu nada de preocupante. Mas eu concluí que um ho mem deve viver na sua pátria, na sua terra,
que se desenraizado o ser humano sofre uma frustração que
de uma maneira ou outra entorpece a luz da sua mente e da
sua alma.Entendo que vocês estão trabalhando, estudando
outras culturas, mas eu e sua mãe estamos preocupados.
Peço-te, volte para casa filho! – so licitou pesaroso Giovani.
- Pai! Durante esse tempo, longe de vocês, eu reconheci que não poderia viver senão na minha própria terra,
não poderia viver sem sent ir meus pés e minhas mãos trabalhando-a com carinho ; meus o lhos contemplando a beleza
dos nossos rios e das nossas florestas. Apesar de estar lon202
ge, prisio neiro dos meus sonhos, pesquisando em ilhas de
um arquipélago distante, em países desconhecidos, ainda
assim, ouço a sua voz, isto mais aguça a minha saudade –
comentou o filho, aflito.
Após avaliarem o resultado da pesquisa, trabalho a
que se propuseram, Rodrigo e Álvaro reso lveram vo ltar
para casa. Despediram-se afetuosamente do guia, fechara m
a conta do hotel e se dirigiram ao aeroporto de Tan Son
Nhut em Ho Chi Minh (ex-Saigon) onde adquiriram as passagens no avião da Tam, que os levaria de vo lta ao Brasil.
203
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
ALLENDE, Isabel – A Ilha Sob o Mar – Editora Bertrand
Brasil -2010 – Rio de Janeiro- 476 pag.
ALMANAQUE Abril 1997 a 2012 - São Paulo - Editora
Abril S.A.
DICIONÁRIO Enciclopédico Lello Universal - Porto - Portugal - Editora Lello e Irmãos -1946 – 4 volumes.
ENCICLOPÉDIA Delta de Ciências Naturais – Rio de Janeiro –Editora Delta S.A -1968 - 1310 pag. – 6 volumes.
ENCICLOPÉDIA do Mundo Contemporâneo - Publifo lha –
Editora Terceiro Milênio -1999 - Rio de Janeiro - 627 pag.
ENCICLOPÉDIA Mundial de Geografia Ilustrada – Editora
Abril S.A Cultural – São Paulo – 1973 - 19 fascículos.
FOLHA de São Paulo – At las da História do Mundo – São
Paulo – Editado por Geoffrey Parker – 4ª edição - 1995 320 pag..
FOLHA de São Paulo – At las Geográfico Mundial - Publicado por Times Books -1994 –São Paulo – 184 pag.
GAZETA do Povo – Brasiguaios – jornal, edição outubro
2008 - Curit iba - PR.
GEOGRÁPHICA – At las Ilustrado do Mundo – Edição
Portuguesa Dinalivro – Lisboa – Portugal – 2005 – 610 pag.
INSTITUTO Galach de Libreria y Ediciones – Arquipélago
de Sonda e Sudeste Asiático – Barcelona – Espanha – 1968.
MICHENER, James – Caribe (vo lume 2 ) - Editora Record
– 1996 - Rio de Janeiro – 514 pag.
NERUDA, Pablo Fundació n – Confieso Que He Vivido –
Pechuén Editores – Providência – Sant iago – Chile – 2007.
472 pag.
O ESTADO do Paraná – Brasiguaio s - jornal, edição agosto
1999 – Curit iba - PR.
204
SUMÁRIO.
Cataratas do Iguaçu
03
República do Paraguai
22
Ilhas do Caribe
27
República do Chile
55
Paris revela seus segredos
85
A caminho do Extremo Oriente
107
República do Sri Lanka
109
República da Indonésia
115
República de Cingapura
154
Federação da Malásia
156
A Grande Península da Indochina
161
República da União de Mianmar
165
Reino da Tailândia
171
Reino de Cambo ja
177
República Democrática de Laos
186
República Socialista de Vietnã
192
205
(Para a capa do livro)
UM OLHAR SOBRE O MUNDO
( colocar uma vista bonita das Cataratas do Iguaçu)
MONIKA GRYCZYNSKA
Curit iba, janeiro de 2012
206
207

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