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Programa "um computador por aluno" | Iêda Maria Ribeiro dos Santos Castro
v.2,nº. 1, 2016
PROGRAMA “UM COMPUTADOR POR ALUNO”: o que falhou?
"A COMPUTER PER STUDENT": what went wrong?
PROGRAMA “UN ORDENADOR POR ALUMNO”: ¿lo qué fracasó?
Iêda Maria Ribeiro dos Santos Castro
[email protected]
Maria Eliana Alves Lima
[email protected]
RESUMO: Esse artigo tem por finalidade analisar o Programa UM COMPUTADOR POR ALUNO, promovido
pelo Governo Federal. Para tanto, foi realizada uma revisão bibliográfica para apoiar a análise dos avanços e
limitações na implementação da proposta. Por um lado, constata-se a relevância do programa, no sentido
de instrumentalizar os alunos com materiais inovadores para processos de aprendizagem. Porém, por outro
lado, identifica-se um conjunto expressivo de limitações e dificuldades na sua implementação. Este estudo
permite inferir que o programa não alcançou ainda objetivos básicos como envolvimento efetivo da gestão
das escolas dentro de uma visão participativa, a organização do trabalho pedagógico, inserindo a utilização
das Tecnologias da Informação e da Comunicação como recurso didático. Observa-se que a insuficiência
de resultados positivos apresenta-se como reflexoda faltade infraestruturadas escolas para efetivarem o
programa, e da dificuldade dos docentes em incorporar essa nova dinâmica nas atividades pedagógicas.
Palavras-chave: Projeto UCA. Inclusão digital.
_____________________________
Artigo recebido em março de 2016
Aprovado em abril de 2016
TICs e EaD em Foco., São Luís, v.2 n.1, nov./abr. 2016
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ABSTRACT: This article aims to analyze the program a COMPUTER PER STUDENT, promoted by the Federal
Government. It was conducted a literature review to support the analysis of the progress and constraints in
the implementation of the proposal. On the other hand, the relevance of the program, aimed at providing
students with innovative materials for learning processes However, on the other hand, identifies a significant
set of limitations and difficulties in its implementation. This study allows to infer that the program did not
achieve even basic goals as effective involvement of the management of schools within a participative
vision, the Organization of pedagogical work by the use of information and communication technologies
as an educational resource. It is observed that the lack of positive results as a reflection of the lack of school
infrastructure to actualize the program, and the difficulty of teachers in incorporating this new dynamic in
pedagogical activities.
Keywords: UCA Project. Digital inclusion.
Resumen: Ese artículo tiene por finalidad analisar el Programa UN ORDENADOR POR ALUMNO, promovido
por el Gobierno Federal. Para tanto, fue realizada una revisión bibliográfica para apoyar ción de la propuesta.
Por un lado, se constata la relevancia del programa, en el sentido de instrumentalizar los almunos con
materiales imnovadores para procesos de aprendizaje. Pero, por otro lado, se identifica un conjunto
expresivo de limitaciones y dificultades en su implementación. Este estudio permite inferir que el programa
no alcanzó aún objetivos básicos como envolvimiento efectivo de la gestión de las escuelas dentro de una
visión participativa, la organización del trabajo pedagógico, inserindo la utilización de las Tecnologías de
la Información y de la Comunicación como recurso didáctico. Se observa que la insuficiencia de resultados
positivos se presenta como reflejo de la falta de infraestructura de las escuelas para efectivaren el programa,
y de la dificuldad de los docientes en incorporar esa nueva dinámica en las actividades pedagógicas.
Palabras-llave: Proyeto UCA. Inclusión digital.
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INTRODUÇÃO
A tecnologia está presente no cotidiano social e interfere e afeta o modo de viver, de se relacionar e,
principalmente, de aprender. As mudanças ocasionadas com o advento das Tecnologias da Informação e da
Comunicação (TIC’s) exigem políticas e ações que possam promover a educação digital e, por conseguinte, o uso de
computadores no cotidiano pedagógico da escola. Segundo Demoly, Wisnievsky e Eder (2010, p. 117): "A inclusão
digital tem sido anunciada como a maior prioridade entre as políticas públicas com as metas de prover por meio da
universalização do acesso a serviços oferecidos pela internet, fomentar a criação de uma sociedade digital e criar
condições de empregabilidade".
A inclusão digital é um fator relevante, sendo fundamental que professores e alunos sejam preparados
para o uso desses computadores, adequando-os ao sistema escolar e conscientizando-os da importância da
TIC.
Assim Vieira, Almeida e Alonso (2003, p.11) reforçam a ideia de que:
A tecnologia assume o papel de ferramenta de comunicação e busca de informações e,
sobretudo, de instrumento que induz a uma nova relação com o conhecimento devido a suas
características de registro, recuperação e atualização instantânea de informações, acesso à base
de dados multimidiáticos disponíveis na internet, comunicação multidirecional, representação
do conhecimento em textos ou hipertextos e desenvolvimento de produções colaborativas.
Nesse sentido, o computador é um importante recurso pedagógico, estimulando uma nova postura
do papel. Emerge, assim, uma nova proposta pedagógica, na qual o professor assume a função de mediador
da aprendizagem, guiando o aluno no uso da tecnologia e viabilizando descobertas inusitadas no universo
educacional.
Nesse cenário, insere-se o Projeto UCA: Um Computador por Aluno (PROUCA), tendo como meta
contemplar cada estudante da rede pública com um computador portátil, em busca de qualidade na
educação pública brasileira.Segundo a página da web do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
(FNDE) (2014, p. 1):
O Projeto Um Computador por Aluno (PROUCA) foi implantado com o objetivo de intensificar
as Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC) nas escolas, por meio da distribuição de
computadores portáteis aos alunos da rede pública de ensino. Foi um projeto que complementou
as ações do MEC, referentes a tecnologias na educação, em especial os laboratórios de informática,
produção e disponibilização de objetivos educacionais na internet dentro do ProInfo Integrado
que promove o uso pedagógico da informática na rede pública de ensino fundamental e médio.
Sendo assim, o uso do computador na educação faz com que surjam novas possibilidades para
professores e alunos. Vale ressaltar que sua utilização no processo pedagógico torna-se um desafio para os
professores, pois esses devem se apropriar dessa nova linguagem e incluir no planejamento dos processos
de ensino e de aprendizagem.
Assim, é fundamental, para o uso adequado das TIC’s, a formação docente para a utilização do
laptop. Justifica-se essa afirmação, considerando que os professores são responsáveis em dinamizar e inovar
práticas pedagógicas que possibilitem estratégias para utilização da tecnologia. Entretanto, foi possível
identificar frequentes críticas ao PROUCA, as quais foram relatadas através de sites de notícias. Surgem,
então, questionamentos, a saber: Como foi o processo de implementação do PROUCA nas escolas? Quais os
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avanços e limitações do Projeto? O que falhou no Projeto UCA?
Diante do exposto, esse trabalho tem por objetivo apresentar as falhas da implantação do Projeto
UCA nas escolas. Assim, foi realizada uma pesquisa bibliográfica em sites que permitiram reunir diferentes
contribuições aos avanços e limitações do referido projeto.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 ORIGEM DO PROJETO UCA
Conforme informações no site de notícias da Educação Pública (2014), em 2005, o Presidente Lula
teve um encontro com o Presidente Nicholas Negroponte, do Instituto de Tecnologia de Massachussets
(MIT), um dos centros de ensino e pesquisa mais importantes do mundo na área de engenharia e tecnologia.
Foi apresentado ao governo brasileiro o Projeto OLPC - One Laptop per Child (Um Computador por Criança),
criado sem fins lucrativos, tendo como proposta principal: desenvolver, produzir e distribuir laptops de
baixo custo, com configurações diferenciadas e específicas, para alunos de países em desenvolvimento. Para
tanto, foi apresentado ao Projeto um laptop (o “XO”), de baixo custo, com ferramentas básicas de software.
(MENEZES, 2012).
Assim, no mesmo ano, o governo brasileiro estabeleceu um Comitê Gestor para discutir com o
MIT a viabilidade da implantação do Projeto. Em 2007, realizou-se o lançamento oficial do programa “Um
Computador por Aluno”, no qual foram realizados vários experimentos com os protótipos do XO, em quatro
escolas de cidades brasileiras: São Paulo, Porto Alegre, Palmas e Brasília.
Conforme o Ministério da Educação e Cultura:
Para a fase dos experimentos, chamados de pré-pilotos, três fabricantes de equipamentos doaram
ao Governo Federal três modelos de laptops . A Intel doou o modelo Classmate para as escolas de
Palmas/TO e Pirai/RJ. A OLPC doou o modelo XO para as escolas de Porto Alegre/RS e São Paulo/
SP. A empresa Indiana Encore doou o modelo Mobilis para escola de Brasília/DF (BRASIL, 2010).
Para aderir ao programa, o Governo do Estado, através da Secretaria de Estado da Educação (SEED),
providenciou toda a infraestrutura e segurança nas escolas, para que o projeto se tornasse uma referência
(BRASIL, 2010).
Foram detalhados alguns princípios a serem seguidos pelo Projeto UCA:
Mobilidade – A mobilidade poderá romper com o conceito de utilização pedagógica de
equipamentos fixos de informática em um único ambiente, oportunizando a aquisição de novos
conhecimentos a partir do uso de computadores portáteis em outros ambientes dentro e fora da
escola. A mobilidade também deverá considerar a possibilidade de uso do equipamento na casa
dos estudantes, desde que atendidos os requisitos mínimos definidos pela comunidade escolar,
visando garantir a integridade física do estudante. Entretanto, será necessária a realização
de estudos que comprovem os reais benefícios pedagógicos, advindos da mobilidade dos
equipamentos.
Conectividade – Os computadores portáteis deverão possuir interface de comunicação de rede
sem fio, de modo que a utilização conjunta com o pressuposto da mobilidade possa expandir o
uso dentro e fora da escola, capaz de promover a conectividade de forma eficiente e abrangente
tanto na escola como na comunidade de entorno.
Baixo custo dos equipamentos - A característica de baixo custo dos equipamentos,
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principalmente daqueles que estarão, de fato, nas mãos dos estudantes e professores, é condição
primordial para a aquisição de uma grande quantidade de unidades, contribuindo para o conceito
de um computador por estudante.
Utilização para atividades pedagógicas – Prioritariamente, os equipamentos deverão ser
utilizados para atender às atividades pedagógicas e de gestão da escola. Acessibilidade –
Deverão ser observados aspectos de acessibilidade, permitindo a adaptação ou instalação de
recursos (softwares e periféricos) que garantam e facilitem o uso por portadores de deficiência,
de modo a estar em conformidade com o Decreto 5.296 de 02/12/2004, de regulamentação das
leis que tratam da acessibilidade.
Uso de software livre – Em concordância com a diretriz do Governo Federal, que fomenta o
uso do software livre, tanto o sistema operacional quanto os aplicativos a serem distribuídos
junto com os equipamentos deverão ser livres e de código aberto. Idioma em Português do
Brasil – Partindo-se do pressuposto que os equipamentos serão utilizados na rede pública de
ensino da Educação Básica do Brasil, torna-se fundamental que o idioma utilizado nas interfaces
de hardware e software, nos manuais técnicos e demais documentos de uso, seja o Português do
Brasil. (BRASIL, 2007).
2.2 O PROJETO UCA
O Projeto UCA foi criado em dezembro de 2009, através da Medida nº 472, convertida na Lei nº
12.249, de 11 de junho de 2010 (BRASIL, 2010a). Segundo o MEC, esse projeto tem o objetivo de:
[...] promover a inclusão digital nas escolas das redes públicas de ensino federal, estadual,
distrital, municipal ou nas escolas sem fins lucrativos de atendimento a pessoas com deficiência,
mediante a aquisição e a utilização de soluções de informática, constituídas de equipamentos de
informática, de programas de computador (software) neles instalados e de suporte e assistência
técnica, necessários ao seu funcionamento (BRASIL, 2010a).
Os dispositivos que tratam do PROUCA:
Art. 6º Fica criado o Programa Um Computador por Aluno - PROUCA e instituído o Regime Especial
para Aquisição de Computadores para Uso Educacional - RECOMPE, nos termos e condições
estabelecidos nos arts. 7º a 14 desta Lei.
Art. 7º O PROUCA tem o objetivo de promover a inclusão digital nas escolas das redes públicas
de ensino federal, estadual, distrital, municipal ou nas escolas sem fins lucrativos de atendimento
a pessoas com deficiência, mediante a aquisição e a utilização de soluções de informática,
constituídas de equipamentos de informática, de programas de computador (software) neles
instalados e de suporte e assistência (BRASIL, 2010a).
Após a publicação da Lei, o PROUCA teve início de uma nova fase – o Projeto Piloto:
Em 2010, o UCA entra em sua fase 2, denominada Piloto. Essa etapa abrangerá cerca de 300
escolas públicas pertencentes às redes de ensino estaduais e municipais, distribuídas em todas
as unidades da federação e selecionadas mediante critérios acordados com o Conselho Nacional
de Secretários Estaduais de Educação (CONSED), a União Nacional dos Dirigentes Municipais de
Educação (UNDIME), a 11ª Secretaria de Educação a Distância do Ministério da Educação (SEED/
MEC) e a Presidência da República (BRASIL, 2010).
Entretanto, foram feitas diversas críticas à execução do PROUCA, no sentido de não ter alcançado as
metas propostas e de ter cometido falhas de implantação (GASPARI, 2012; ZMOGINSKI, 2011; BATISTA, 2011;
MARQUES, 2009).
O PROUCA em 2010 anunciou que entregaria a 300 escolas computadores e que os docentes iriam
desenvolver atividades com os alunos beneficiados pelo programa, passando assim por uma formação que
se daria em três níveis, envolvendo escolas, universidades, Secretarias de Educação e o Núcleo de Tecnologia
Educacional (BRASIL, 2010).
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A equipe da SEED inclui, no seu planejamento do Piloto, várias diretrizes, a saber: para receber seus
computadores, as escolas devem passar por infraestrutura adequada; assim como deve ser feita a formação
dos professores. Segundo as páginas da web do PROUCA, podem-se constatar intensas atividades. Mas,
em 2010, o Programa se estabilizou, constando apenas como última notícia a conversão da lei da Medida
Provisória 472 de 15/12/2009 (BRASIL, 2010).
Ainda convém lembrar, que entre julho e dezembro de 2010, sem nenhum documento oficial, o
PROUCA passou a ser denominado como UCA-TOTAL.
Por iniciativa dos governos Federal, Estaduais e Municipais, o projeto será replicado em seis
municípios brasileiros, que terão todas as suas escolas atendidas, as quais são chamadas de
UCA Total. Os municípios selecionados são: Barra dos Coqueiros/SE; Caetés/PE; Santa Cecília do
Pavão/PR; São João da Ponta/PA; Terenos/MS; Tiradentes/MG. (BRASIL, [2010?]) (grifo nosso).
2.3 PROBLEMAS DO PROUCA
Alguns autores, em 2009, apontavam dificuldades na implementação do PROUCA. Segundo a
Federação Nacional das Empresas de Informática (FENAINFO) (2014), o MEC iria lançar um edital para que
as redes de ensino pudessem adquirir tablets de baixo custo. Mas, segundo informações da página da web
da FENAINFO, o governo federal precisa resolver problemas ocasionados mediante a implementação do
Projeto UCA, entre elas, falta da banda larga nas escolas, de infraestrutura básica e de apoio de prefeituras e
estados. De acordo com as informações disponibilizadas na página da FENAINFO:
O equipamento que tinha potencial para transformar o projeto pedagógico se tornou mero
coadjuvante em função das dificuldades estruturais. A banda larga é lenta e não suporta um
grande número de acessos simultâneos. Por isso as turmas precisam fazer um “rodízio” e os
computadores passam a maior parte do tempo trancados dentro do armário. Em algumas
turmas os alunos só usam a máquina uma vez por semana. Além da internet lenta, outra falha
estrutural dificulta o uso dos laptops: falta de local adequado nas salas de aula para guardar
os equipamentos. No projeto original, cada sala seria equipada com armários específicos para
acomodar os computadores. Mas os móveis nunca chegaram e por isso a escola armazena quase
metade dos equipamentos recebidos em um armário que fica no laboratório e tem cadeados
para garantir que os aparelhos não sejam furtados. Com isso, as máquinas que eram para ser de
uso individual são dividas pelas turmas do turno da manhã e da tarde.
Freire (2009) aponta algumas dificuldades na implementação do PROUCA:
Mesmo com todo esse arcabouço dirigido à formação dos professores, na prática isso não se
concretiza. Ou seja, na pesquisa de campo realizada na Escola X, muitos professores têm
despreparo profissional e reclamam da falta de um projeto pedagógico que possa facilitar o uso
do computador, bem ao contrário do que se afirma em tese. Essa situação confirma a hipótese
deste trabalho, na qual os professores precisam repensar sua formação no sentido de poder
atender às demandas dos alunos, pois eles ainda não estão preparados para essa nova ferramenta
educacional.
O autor supracitado avaliou a implementação em uma escola do Distrito Federal, onde identificou
problemas de uso pedagógico do computador, relacionado com a capacitação dos professores:
Um aspecto que merece atenção dos docentes ao utilizar o laptop em sala de aula é afacilidade
para a dispersão. Às vezes, os alunos não pesquisam o que foi proposto, perdem tempo com
brincadeiras ou comentários pouco significativos. [...] É necessário que os professores sintamse confortáveis para utilizar os computadores em sala de aula. Ou seja, conhecê-los, dominálos e avaliá-los, criando novas formas de aplicação em suas práticas pedagógicas, de forma a
enriquecê-las. [...] Apesar de estar previsto na proposta que os computadores portáteis podem
ser levados para a casa dos estudantes, na fase piloto no DF, isso não ocorreu. A direção da escola
ainda não elaborou uma estratégia de como viabilizar essa possibilidade, de forma a garantir que
o equipamento retorne à escola.
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Em adição, Freire (2009) destacou que a equipe do SEED teve um significativo apoio do Núcleo de
Tecnologia de Brasília (NTE) do Programa Nacional de Tecnologia na Educação do Ministério de Educação
(PROINFO-MEC), que acompanhou cada etapa da implantação do projeto piloto.
Em 2010, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) relatou problemas de implantação, vez
que a oferta da internet era deficiente e não conseguia atender a comunidade, atribuindo ao Estado a
responsabilidade de prover a conexão necessária. Na pesquisa realizada na página da web de artigo escrito
por Ventura (2012), foi relatado o caso de uma Escola Municipal Jocymara Falchi Jorge em Guarulhos (SP),
que diz o seguinte:
Os computadores chegaram na escola e, em princípio, foi um susto, ninguém sabia o que seria,
conta a coordenadora pedagógica Andreia Gomes da Costa, destacando as dificuldades que
tiveram de ser superadas para implantação do projeto. Não tinha computador na escola, então
não tinha onde guardar direito, não tinha como carregar tantos computadores de uma vez.
Relatou ainda o autor acima que como não tinha onde guardar os computadores, tempos depois
eles foram roubados. O MEC imediatamente enviou outros computadores e armários com cadeados. Os
professores entraram no programa de capacitação, fornecido pela Universidade de São Paulo (USP), e alguns
professores passaram a entender melhor essa tecnologia.
Entretanto, segundo Ventura (2012):
[...] entre os 33 professores, alguns não queriam lidar com a nova tecnologia. Ana Lúcia Pires,
professora com 29 anos de experiência, diz à Agência Brasil: “Quando veio o programa para a
gente, eu quis ir embora da escola. Porque eu nunca tinha mexido [com computador], me
apavorei. Não tinha noção do que me esperava.” Uma pesquisa já mostrou que a maioria dos
professores ainda sabe menos sobre computador e internet que os alunos. (Grifo do autor).
No entanto, dando continuidade ao relato de Ventura (2012), “a internet é muito lenta e não aguentava
muitos acessos”, tornando-se, assim, uma experiência frustrante na escola.
Batista (2011) apontou outro problema das falhas na implementação do PROUCA, o qual se refere ao
fato de o computador ser utilizado como forma de gratificação por tarefas realizadas. Nesses casos, os alunos
apenas acessavam jogos on-line (quando possível) ou jogos educacionais que havia no laptop.
Batista (2011) relatou ainda:
É preciso que o mesmo Estado que proporcionou tal experiência a essas escolas mantenha seu
apoio ao programa, pois o sentimento de muitos educadores é que esse, como muitos outros
programas, veio de forma imposta e, depois de inserido na escola, foi deixado de lado. Será
necessário que o poder público continue a olhar para essas escolas, mantendo-as e suprindo
as demandas que o programa gerou após sua implementação. Quanto ao objetivo de incluir
digitalmente, [...] tem sido pouco alcançado na execução do programa. O computador ainda tem
sido muito utilizado como forma de premiação diversa e pouco tem se preocupado com os reais
sentidos do que é o uso para a inclusão social de crianças e adolescentes. Para os pesquisados,
o programa não tem se efetivado enquanto concretização de seus objetivos. O programa ainda
se efetiva em um ou outro objetivo, mas não ocorre como o pensado, possibilitando aos seus
alunos as condições de, a partir do uso do laptop, estudar, aprender, construir conhecimento. [...]
Assim, ficou evidente que a inclusão digital, proposta pelo programa, não ocorre de forma
satisfatória. E que para isso ocorrer, serão necessárias modificações na forma de execução do
programa, bem como uma maior atenção das instituições responsáveis pela implementação do
PROUCA. (grifo nosso).
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Adicionalmente, o autor supracitado relatou problemas nas instalações elétricas (as quais eram
precárias), ausência de locais adequados para guardar e transportar os computadores, a banda de Internet
que era insuficiente e a falta de suporte técnico qualificado para os computadores e para os professores.
Com a extinção da SEED, a maioria de seus programas passou a ser vinculada à Secretaria de Educação
Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI). Porém, o Projeto UCA foi transferido para o
Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
Em 2012, o MEC passou por uma reestruturação e apesar da página da web dos Laptops Educacionais
continuar ativa no FNDE, não se encontram mais que breves referências do PROUCA. Na página, constam
apenas questionamentos pontuais, perguntas e respostas de escolas e professores que reclamam de
problemas de implementação.
Nos municípios no quais foi implantado o UCA TOTAL, no estado de Sergipe, para alunos e professores
da rede pública (estadual e municipal), foi apresentado um Relatório de Avaliação de Impacto do Estágio de
Implementação do Projeto, em que se destacam os primeiros resultados alcançados pelo programa.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vive-se em uma era de mudanças, na qual são acolhidas as tecnologias digitais, transformando-as
em cultura. Nesse contexto, insere-se o Projeto UCA, pois diante do que foi exposto, o referido programa do
governo federal apresentou um número significativo de limitações e lacunas que inviabilizou a adequada
implementação nas escolas.
Com base na revisão bibliográfica realizada nesse estudo, é possível inferir que se perdeu muito
tempo para estruturar o Projeto UCA. As ações e metas foram elaboradas em 2005, mas a implementação no
cenário educativo somente ocorreu em 2009 com a entrega dos computadores aos alunos.
Com as mudanças estruturais do MEC, a SEED foi extinta e seus programas repartidos em vários
setores do MEC, não sendo possível identificar nas pesquisas realizadas se houve ou não mudanças na
operacionalização do referido Programa. Entretanto, através da revisão bibliográfica, observam-se as
inúmeras falhas e lacunas que foram apresentadas, desde o planejamento inicial da proposta.
Nas pesquisas realizadas, foi possível observar que os equipamentos que chegavam à escola, com o
objetivo transformar o projeto pedagógico, tornaram-se apenas um coadjuvante, pois as ações de inclusão
digital nas escolas são fundamentais, não só no que tange aos equipamentos, mas também quanto à
parte da logística, manutenção, infraestrutura elétrica e a falta de conectividade que acaba por gerar uma
desmotivação nos professores e alunos. A Internet lenta, que não suportava um grande números de acesso,
dificultou, ou pode-se afirmar, inviabilizou a correta e adequada implementação dos referidos recursos. Essa
afirmação está apoiada nos inúmeros registros de alunos e professores envolvidos no PROUCA.
Além disso, conclui-se que não compete tão somente às escolas aderirem as propostas do governo
federal. É fundamental o envolvimento dos docentes através da adequada formação deles para a inserção
de novas práticas pedagógicas, caso contrário, o avanço inicialmente pretendido torna-se um fracasso. É
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necessário entender o papel da escola mediante a educação na era digital, pois os alunos chegam na sala de
aula com a expectativa de ter aulas mais interativas e dinâmicas.
Vive-se na era da tecnologia, em que a forma de aprender mudou e com a implantação do UCA nas
escolas, percebe-se que uma das falhas é a falta de formação dos docentes no uso desses equipamentos,
sendo extremamente necessária a formação. Portanto, é necessária a formação docente, para que possam
ser desenvolvidas práticas pedagógicas indo ao encontro das necessidades do aluno. Entretanto, com as
dificuldades relatadas em algumas escolas de problemas com a conectividade, oscilação de rede elétrica, o
acesso à internet era insuficiente e com essas dificuldades geraram desmotivação nos professores.
Ao fim da realização deste trabalho, verificou-se que, realmente na maioria das escolas, houve falhas
na implantação do Projeto UCA, pois as escolas deveriam primeiro adequar sua infraestrutura e iniciar a
formação dos professores para o recebimento dos laptops. Ademais, a falta de estabilidade da rede repercutiu
de forma negativa na implantação desse projeto.
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BIOGRAFIA DAS AUTORAS
Iêda Maria Ribeiro dos Santos Castro - Mestranda em Gestão da Educação-Universidade Fernando Pessoa
-Portugual, Especialista em Ensino a Distância - Universidade Católica Dom Bosco UCDB (2013). Possui
graduação em Tecnologia em Informática - Universidade CEUMA (2005).
Maria Eliana Alves Lima -
Doutoranda em Ciências da Educação pela universidade Lusófona de
Humanidades e Tecnologias, Portugal. Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal do Maranhão
(2003) e Mestre em Saúde e Ambiente também pela mesma instituição (2006). Possui especialização em
Tecnologia Educacional pela PUC-Rio (2010) e atualmente é aluna de especialização em Gestão Pública, pela
UEMA. É concursada como Especialista em Educação pela SEDUC (2005) e como Professora pela SEMED de
São Luís (2002).
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TICs e EaD em Foco., São Luís, v.2 n.1, nov./abr. 2016
Programa "um computador por aluno" | Iêda Maria Ribeiro dos Santos Castro
v.2,nº. 1, 2016
TICs e EaD em Foco., São Luís, v.2 n.1, nov./abr. 2016
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v.2,nº. 1, 2016
Programa "um computador por aluno" | Iêda Maria Ribeiro dos Santos Castro
TICs e EaD em Foco., São Luís, v.2 n.1, nov./abr. 2016

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