O SER ARTETERAPEUTA A construção da identidade de uma

Transcrição

O SER ARTETERAPEUTA A construção da identidade de uma
UnP – UNIVERSIDADE POTIGUAR
ALQUIMY ART
Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação Lato Sensu
Especialização em Arteterapia
O SER ARTETERAPEUTA
A construção da identidade de uma arteterapeuta
Maura Helena De Carli
São Paulo
2005
MAURA HELENA DE CARLI
O SER ARTETERAPEUTA
A construção da identidade de uma arteterapeuta
Monografia apresentada à Universidade Potiguar,
RN e ao Alquimy Art, de São Paulo, como parte dos
requisitos para obtenção do título de Especialista em
Arteterapia.
Orientadora: Profª. MsC. Maria Beatriz Ribolla.
São Paulo
2005
DE CARLI, Maura Helena
O SER ARTETERAPEUTA - A construção da identidade de uma arteterapeuta. / Maura
Helena De Carli. São Paulo: [s.n], 2005.
42 p.
Orientadora: Profª. MsC. Maria Beatriz Ribolla.
Monografia: (Especialização em Arteterapia) – UnP / Universidade de Potiguar – (RN)
Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação Lato Sensu e Alquimy Art (SP), 2005.
1. Arteterapia
2. Arteterapeuta
UnP – UNIVERSIDADE POTIGUAR
ALQUIMY ART
Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação Lato Sensu
O SER ARTETERAPEUTA
A construção da identidade de uma arteterapeuta
Monografia apresentada pela aluna Maura Helena De Carli ao Curso de Especialização em
Arteterapia em __/ __/ _____ e recebendo a avaliação da Banca Examinadora constituída
pelos Professores:
Profª. MsC. Maria Beatriz Ribolla, Orientadora.
Profª. Dra. Cristina Dias Allessandrini, Coordenadora da Especialização.
Profª. MsC. Deolinda Florim Fabietti, Coordenadora da Especialização.
A Deus.
Aos meus pais, irmãs e filho amado.
AGRADECIMENTOS

À Profa. Dra. Cristina Dias Allessandrini, professora e coordenadora do curso de
formação, pelo profissionalismo, bom humor e tolerância;

À Mestre Deolinda Fabietti, professora e coordenadora do curso de formação, pelo
cuidado, afeto, companheirismo e profissionalismo, possibilitando-me acreditar na minha
capacidade e encontrar novos caminhos;

À Profa. MsC. Maria Beatriz Ribolla, minha orientadora nesta monografia;

Aos professores do Alquimy Art em São Paulo, que permitiram por meio de suas
disciplinas, meu autoconhecimento e a compreensão do mundo mágico da Arteterapia.

À Priscila, Marisa, Fernanda, Vera, Myrian, Naomi, Claudinéia, Lea, Sônia, Sueli, Silene,
Luana, Juliana, colegas do curso de formação, pelo acolhimento, companheirismo e pela
oportunidade de podermos chorar e rirmos juntas, respeitando as diferenças e
singularidades de cada um.

Ao Jodi, pela acolhida e incentivo que me possibilitaram ir até o fim.
"As coisas não acontecem por acaso, tudo possui o seu motivo, o seu
porquê e têm a sua hora".
QUANDO ME AMEI DE VERDADE
(Macmillan,2003)
Quando me amei de verdade,
Pude compreender
Que em qualquer circunstância,
eu estava no lugar certo,na hora certa.
Então pude relaxar.
Quando me amei de verdade,
pude perceber que o
sofrimento emocional é um sinal
de que estou indo contra a minha verdade.
Quando me amei de verdade,
parei de desejar que a minha vida
fosse diferente e comecei a ver
que tudo o que acontece contribui
para o meu crescimento.
Quando me amei de verdade,
comecei a perceber como
é ofensivo tentar forçar alguma coisa
ou alguém que ainda não está preparado
- inclusive eu mesma.
Quando me amei de verdade,
comecei a me livrar de tudo
que não fosse saudável.
Isso quer dizer: pessoas, tarefas,
crenças e - qualquer coisa que
me pusesse pra baixo.
Minha razão chamou isso de egoísmo.
Mas hoje eu sei que é amor-próprio.
Quando me amei de verdade,
deixei de temer meu tempo livre
e desisti de fazer planos.
Hoje faço o que acho certo
e no meu próprio ritmo.
Como isso é bom!
Quando me amei de verdade,
desisti de querer ter sempre razão,
e com isso errei muito menos vezes.
Quando me amei de verdade,
desisti de ficar revivendo o passado
e de me preocupar com o futuro.
Isso me mantém no presente,
que é onde a vida acontece.
Quando me amei de verdade,
percebi que a minha mente
pode me atormentar e me decepcionar.
Mas quando eu a coloco
a serviço do meu coração,
ela se torna uma grande e valiosa aliada.
RESUMO
De Carli, Maura Helena. O Ser Arteterapeuta - A construção da identidade de uma
arteterapeuta. São Paulo, 42p. Monografia (Pós-Graduação Lato Sensu) UnP – Universidade
Potiguar, RN, e Alquimy Art, SP, 2005.
O tema desta monografia é a construção da identidade do arteterapeuta. Aborda as
considerações sobre o que é ser terapeuta, a identidade da Arteterapia e qual a identidade do
arteterapeuta. Por meio da figura mitológica de Kíron, traz-nos a importância do
autoconhecimento como elemento essencial para a construção do Ser Terapeuta e, portanto
para exercer o papel de “curador”. Descreve um trabalho desenvolvido com pacientes de uma
instituição para dependentes químicos que possibilita ver a ação dos instrumentos
arteterapêuticos. Certifica que a Arteterapia, ao permitir que o indivíduo projete na arte seu
íntimo, promove a cura por meio da conscientização.
Palavras-chave: Ser Terapeuta - Arteterapia – Curador.
ABSTRACT
De Carli, Maura Helena. The Art Therapist Being - the construction of the Art Therapist
identity. São Paulo, 42p. Monografia (Pós-Graduação Lato Sensu) UnP – Universidade
Potiguar, RN, e Alquimy Art, SP, 2005.
The subject of this monograph is the building up of the art therapist identity. It highlights
considerations related to what defines an art therapist, what is Art Therapy and what should
be the identity of an art therapist. Through the myth of Kíron, it brings us the importance of
self-acknowledge as an essential element for the construction of the therapist Being and
therefore for the role of healing. It describes a work developed with a group of interns in an
institution for drug-addicted people, making it possible to check the action of art therapeutic
means. It testifies that Art Therapy, when allowing individual to project his internal issues in
art works, provides healing through consciousness.
Keywords: Therapist Being – Art Therapy – Healer. -
SUMÁRIO
Agradecimentos........................................................................................... 05
Resumo......................................................................................................... 07
Abstract........................................................................................................ 08
I. INTRODUÇÃO
Minha História........................................................................................ 13
II. O CURADOR FERIDO........................................................................ 16
2.1. O mito................................................................................................ 16
2.2. O curador em busca de si mesmo.................................................... 17
III. O SER TERAPEUTA.......................................................................... 19
IV. QUAL A IDENTIDADE DA ARTETERAPIA................................. 21
V. IDENTIDADE PROFISSIONAL DE UM ARTETERAPEUTA...... 24
VI. EXPERIÊNCIAS EM ARTETERAPIA............................................ 26
6.1. Relato de uma Oficina...................................................................... 28
VII. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................. 40
VIII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................ 41
ANEXO A – Os Doze Passos...................................................................... 42
Tempo para tudo
Eclesiastes 3; 1-8
Tudo neste mundo tem seu tempo;
cada coisa tem sua ocasião.
Há um tempo de nascer e tempo de morrer;
tempo de plantar e tempo de arrancar;
tempo de matar e tempo de curar;
tempo de derrubar e tempo de construir.
Há tempo de ficar triste e tempo de se alegrar;
tempo de chorar e tempo de dançar;
tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntá-las;
tempo de abraçar e tempo de afastar.
Há tempo de procurar e tempo de perder;
tempo de economizar e tempo de desperdiçar;
tempo de rasgar e tempo de remendar;
tempo de ficar calado e tempo de falar.
Há tempo de amar e tempo de odiar;
tempo de guerra e tempo de paz..
O Fio e os Tempos
Rubia A. Dantés
Existe um fio que me guia o tempo inteiro... desde que cheguei aqui até hoje...
Eu posso sentir uma linha tênue, que está sempre presente, ligando os acontecimentos da
minha vida... Invisível... mas presente... como uma respiração que a gente às vezes nem
percebe mas quando falta... falta a vida.
Esse fio que cruza a minha história com riscos cada vez mais nítidos... tem uma inteligência
viva que pulsa e que se faz sentir sempre que eu percebo o plano acontecendo...
Nesse fio imperceptível aos olhos que não sejam os do coração... corre um fluido que traz as
informações que me levam pra aqui... e pra ali...
Ora são fios de Sol ora são fios de Lua... Um mesmo fio com dois lados aparentemente
opostos...
Nas dores parece que perco o fio e quero sumir de mim... Mas por um momento de eternidade
eu reconheço o fio me chamando e vou...
Vou no fio da Lua...
Com o fio prateado da Tecelã das Marés eu percorro o lado escuro da noite... é um fio
misterioso que me leva por caminhos de olhar pra dentro... mergulhar nos oceanos profundos
e buscar nas cavernas mais escondidas o alimento da vida...
Lá eu fico quieta dentro de mim como no útero da criação... É só olhar em silêncio e descobrir
do que é tecida a dor...
Quando me permito ir além da dor eu percebo as emanações da dor... descubro o curador
ferido no território da dor... e dessas emanações de riqueza infinita colho a substância que
tece as criações... começo a aprender que posso passar pela dor sem ser levada por ela...
Quanto mais profundo é o tempo da Lua... mais rica é matéria prima paras criações do tempo
do Sol...
Carregada e imantada das soluções nas idéias eu posso sentir o chamado do Sol... e então
seguir esse fio em um novo amanhecer...
O fio do Sol é dourado e ilumina o caminho... tudo fica mais claro no tempo de seguir esse fio
radiante...
É o fio do Sol que nos guia a trazer pra fora em pedaços de realidade tudo aquilo que foi
gerado em energia no tempo da Lua...
Não tem um fio que seja melhor ou pior... Os dois se complementam... se alternam... se atraem
e se encantam porque no encontro liberam a criação...
É por isso que eu sei que tem um fio que cruza o meu destino... e é por esse fio que eu vou
fluindo... às vezes banhada de Sol... às vezes escondida de Lua... mas sempre vou...
Abandono as máscaras e mergulho nos caminhos sagrados e escondidos da Lua... para que
nos tempos de Sol os frutos sejam vibrantes e verdadeiros, porque são metades profundos de
Lua e metade brilhantes de Sol...
13
I - INTRODUÇÃO
Minha Trajetória
Lembro que desde adolescente ficava observando o comportamento das pessoas.
Interessava-me muito saber como as coisas aconteciam.
Era a terceira de quatro filhos, de família de descendência italiana e de doutrina
católica. Minha família ensinou-me a estudar, a ser uma boa pessoa, honesta e trabalhadora.
Procurava sempre estar ajudando aos outros. Se eu estava fazendo bem aos outros eu deveria
ser uma pessoa boa e de valor. Mas atrás de minha aparência útil externa existia uma autoimagem pobre. Via a mim mesma como imperfeita, como uma mulher feia, ruiva e burra.
Muito tímida e quieta, era também brava. Havia um profundo medo interior: um lugar grande
e vazio dentro de mim. Eu não estava bem, estava carente de ser, carente de amor. Mas meio
desligada, fui empurrando a vida com a “barriga”.
Como morávamos em Camargo, vila do interior de município de Marau-RS, não
tínhamos acesso a psicólogos e além do mais, isto era para pessoas loucas. Fui crescendo,
vivendo e deixando de viver por causa dos meus conflitos.
No primeiro ano de faculdade (1983) meu irmão mais velho o único homem dos
irmãos, veio a falecer em um acidente de trânsito. Fiquei me questionando o porquê. Era um
jovem de 24 anos feliz, alegre e sempre brincando... Pensei: “Por que não fui eu?”
Graduei-me Bacharel em Desenho e Plástica pela Universidade de Passo Fundo (UPF)
e paralelamente ao curso universitário estudava canto e instrumentos musicais.
Durante o curso, meus trabalhos plásticos já expressavam inconscientemente minhas
angústias, temores, dores, raiva que se percebia nitidamente em cada pincelada e nas cores
usadas. Foi minha fase negra. Figuras humanas com face esquerda dos rostos esfaceladas,
tinta suja, espessa e pegajosa.
Com 24 anos e já formada, nos mudamos para Vila Maria e minha mãe entrou em
depressão profunda. Aí tive o primeiro contato com a psicoterapia.
Desde lá não parei mais de fazer análise e vários tipos de terapia. Sentia muita
necessidade de me conhecer e aprender como a mente humana funcionava.
Depois de formada, continuei o atelier de pintura da UPF, e sem perceber, expressava
nas minhas pinturas tudo que trabalhava em análise. Isto era muito mágico para mim.
14
Casei quando completei vinte e oito anos e meu filho nasceu dois anos depois. Num
acidente com uma arma de fogo, no quarto mês de gravidez, uma bala atingiu meu corpo, no
chakra do plexo solar, perfurando o intestino em vários lugares e se alojando atrás do útero.
Sofri uma cirurgia de emergência e depois de quinze dias, mais duas cirurgias foram feitas
para tentar acabar com uma infecção.
Nunca pensei em morrer, mas ao ver que tinha sido atingida pelo tiro me desesperei e
temi pela vida de meu filho.1 Ao confrontar-me com a morte não pensava em mais nada a não
ser curar-me e que meu filho também pudesse sobreviver e ter saúde perfeita, pois ambos
estávamos com risco de vida.
Durante esse período trabalhava como professora de educação artística no ensino
fundamental e médio em Vila Maria. Cursei uma pós-graduação de arte-educação pela UPF.
Em paralelo, comecei a reger coros. Apaixonei-me pelo canto e a sua possibilidade de
trabalhar com a emoção.
Fiquei casada por dez anos e depois me separei. Sentia que o acordo do casamento,
aquele que fica nas entrelinhas, não tinha sido cumprido: a doação total para manter um lar,
uma família. Houve falta de reciprocidade. Um engano.
Ahrons (1998) aponta que é comum as famílias em conflito perceberem o divórcio
como uma caminho de libertação e solução mágica de todos os problemas familiares. O
divórcio, do meu ponto de vista, foi uma decisão trabalhada, mas um tanto traumática. Do
ponto de vista psicológico, ele foi um aborto ou, talvez, uma fuga para sobreviver ao ambiente
ruim em que vivia. Do ponto de vista social e da doutrina religiosa causou impacto diante da
pequena cidade onde moro.
Nesse período fiquei com início de depressão e com síndrome de pânico, o que me
levou a terapias diversas como uma experiência com renascimento por meio da respiração,
regressões pelo método da Abordagem Direta do Inconsciente (ADI)2, terapias de Reiki,
massoterapia, regressões a vidas passadas e terapia mensal. Também li muito neste período.
Durante dez anos trabalhei como professora de Educação Artística. Hoje não estou
mais em sala de aula. Faz dezesseis anos que trabalho como regente de coros com
adolescentes até a terceira idade.
1
Ao relembrar e escrever sobre este fato, passei muito mal e fiquei três semanas sem voltar a redigir este
trabalho.
2
Método desenvolvido pela psicóloga gaúcha Renate Jost de Moraes. “Este processo atua tecnicamente através
do questionamento, onde o próprio paciente, sem que perca a consciência, é levado a atingir o inconsciente em
seus conteúdos puros, não sendo necessária portanto, a análise interpretativa dos sintomas”. Mais informações
disponível em: www.fundasinum.org.br/tipter.htm.
15
Quando comecei a trabalhar com o canto percebi como ele age no emocional do ser
humano. E, no meu trabalho busco, além da música, desenvolver a alma da pessoa. Com o
propósito de buscar técnicas que auxiliassem o meu trabalho, iniciei, em 2002, uma pósgraduação de especialização em Arteterapia em São Paulo, que estou concluindo este ano.
Sempre senti a necessidade de poder ajudar as pessoas (e me ajudar também).
Culturalmente eu esperava (inconscientemente) que ajudando a curar os outros eu estaria me
curando também. Contudo, as vivências proporcionadas pelos diferentes módulos do curso
fizeram-me perceber que desconhecendo ser uma "curadora ferida", era muito mais fácil para
eu trabalhar com a dor do outro, sem o desconforto de ver minhas próprias feridas, sentir a
minha própria dor, raiva, ressentimento ou sentimento de ser uma vítima.
A partir daí comecei a refletir sobre a construção da identidade profissional do
arteterapeuta, e resolvi tornar essa reflexão o objetivo desta monografia.
Para tanto, iniciei por este breve relato autobiográfico sobre a minha história, pois o
percebo como essencial para o entendimento de minha concepção sobre o que significa
“ajudar o outro” e de como os processos de transformação influenciam na construção do Ser
Terapeuta.
Descrevo, a seguir, o mito de Kíron sobre o curador ferido, que nos ensina que para ser
um arteterapeuta temos que conhecer nossas próprias feridas, para termos um olhar amoroso
por nós mesmos e pelos outros.
Pontuo alguns conceitos que definem o Ser Terapeuta e seu universo prático e teórico, a
partir do qual tento estabelecer minha identidade como arteterapeuta e questiono os novos
caminhos a percorrer.
Por fim apresento minha experiência no estágio supervisionado realizado com um grupo
de dependentes na Fazenda Esperança, em Casca, cidade do Rio Grande do Sul, que serviu
como laboratório para minha prática em atelier, a partir do qual pude comprovar por meio das
experiências vividas, a função terapêutica do processo da Arteterapia.
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II - O Curador Ferido
Quíron ou Kíron - Simboliza o guia interno que nos ajuda a obter a cura para os
males da alma. Tem extrema relação com as rejeições, onde quer que esteja colocado no
mapa.3
2.1. O mito
Na mitologia grega, Kíron era um centauro, metade homem-metade cavalo, filho da
união ilícita entre o deus grego imortal Cronos (Saturno), que tomou a forma de um cavalo, e
uma mortal, a ninfa do mar Filira. Era neto de Urano (Céu) e Gaia (Terra), meio-irmão de
Zeus (Júpiter). Era também um imortal, portanto em parte divino, em parte animal. Rejeitado
pela mãe, horrorizada com sua aparência e, abandonado pelo pai, a rejeição parental foi sua
primeira ferida.
Foi acolhido e educado por Apolo (Sol) e Artemis (Lua) e recebeu deles os
ensinamentos que o tornaram um grande sábio. Estudou uma ampla variedade de assuntos
desde artes, música, poesia, filosofia, lógica, ciência, ética, artes marciais, artes divinatórias e
profecias, incluindo astrologia.
Seu lado animal deu-lhe sabedoria terrena e proximidade com a natureza. Conhecendo
as propriedades medicinais das ervas, ele praticava a cura e a naturopatia. Sua fama como
sábio espalhou-se e tornou-se um mestre e educador para muitos filhos de deuses e mortais,
iniciou terapeutas, músicos, magos e guerreiros, incluindo Orfeu, Asclépios, Hércules, Jasão,
Aquiles.
“Kíron preparava as pessoas para serem heróis, ensinando não apenas métodos de
sobrevivência, mas valores culturais e éticos, o que os tornava aptos a servirem seus países
ou de um todo maior do qual fizessem parte”. (SASPORTAS apud XAVIER, 2001).
3
Disponível em: <http://www.holoalternativo.com/Pesquisaquiron.html
17
Foi acidentalmente ferido na coxa, (aqui há várias versões, desde a coxa até o pé, mas
de qualquer forma em seu lado animal) por Hércules, um de seus alunos, com uma seta
envenenada com o sangue da tenebrosa Hidra de Lerna. O veneno era tão potente que fez uma
ferida incurável, até mesmo para a medicina de Kíron. Não morreu por ser um imortal, mas
sofreu terrivelmente, até que por meio de um pacto com o titã Prometeu (que havia sido
castigado por Zeus por ter roubado o fogo dos deuses e entregue aos homens e estava
acorrentado a uma montanha, bicado eternamente no fígado por abutres) Kíron renunciou à
sua imortalidade, tomando o lugar de Prometeu e descendo ao Hades. E assim ambos
libertaram-se de seus sofrimentos. Kíron foi tirado de lá, e então, transformado por Zeus na
constelação do Centauro, em reconhecimento às suas muitas realizações positivas e, para
desta posição elevada, poder ser uma inspiração visível para toda a humanidade. (XAVIER,
2001).
Kíron, por passar por vários sofrimentos e, mesmo tendo se tornado mestre nas artes
curativas, jamais conseguiu tratar de sua própria ferida. Por isso, era conhecido como o
“curador ferido”.
2. 2. O curador em busca de si mesmo
Um curador com necessidade de cura...
Freqüentemente ouvimos que estudantes de psicologia buscam por intermédio da
escolha da profissão a cura de seus próprios problemas, a sua cura interior.
Na verdade muitos, senão todos nós, fomos conduzidos a esta arte de cura pelo nosso
próprio profundo desejo de cura. Sim, queremos ajudar e estar a serviço do outro, mas
também queremos nos curar.
Quando minha professora falou pela primeira vez sobre o "curador ferido" não
consegui entender muito bem. Depois compreendi como é. Todos nós em profissões de
socorro e cura, estamos feridos.
Isto é um problema? Penso que sim, quando nossas feridas são inconscientes e
rejeitadas.
Tenho ouvido que, estatisticamente, o meio mais efetivo de ajudar alcoólatras é o
Programa dos Doze Passos (ANEXO A), utilizado pelos Alcoólatras Anônimos. Estou certa
de que o sucesso deles vem de muitos fatores e tenho certeza que um destes fatores é que os
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participantes enxergam a si mesmos como curadores feridos. Eles reconhecem a sua dor,
trabalham com ela e podem dizer, “esta é a minha experiência”.
O conhecimento deles não vem somente de suas cabeças ou mesmo de seus corações,
mas de viverem os seus próprios conflitos. Isto é o que eles oferecem uns aos outros - a sua
própria vulnerabilidade.
Cheguei a compreender esta vulnerabilidade como o poder do curador ferido. É a
minha ferida e minha própria jornada de cura que me dá substância para oferecer àqueles a
quem tenho o privilégio de ajudar. Aceitando a minha luta com meus próprios lugares vazios
e de dúvidas me dá alguma coisa para ensinar, para compartilhar. Quando aceito a minha
própria ferida, sou capaz de me conectar com os outros a partir de um lugar de humildade e
solidariedade.
Penso que todos sabemos que o melhor ensinamento é por meio do exemplo. Cheguei
a amar o conceito de Curador Ferido - aqueles dentre nós que têm algum dom de cura também
estão precisando de cura.
A importância de estudar a identidade pessoal de uma terapeuta se justifica na medida
em que na psicoterapia um dos temas tabu tem sido justamente os sentimentos do terapeuta. E
a sua tematização, quando ocorre, se dá no espaço da terapia individual. Na realidade, entendo
que o terapeuta é um curador ferido tanto quanto o é o seu cliente, e ele merece ser tematizado
tanto quanto o seu cliente.
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III - O Ser Terapeuta
ORAÇÃO DA SERENIDADE
"Senhor, me conceda a Coragem para mudar
as coisas que eu posso mudar, (Urano)
A Serenidade para aceitar
as coisas que eu não posso mudar, (Saturno)
E a Sabedoria para discernir a diferença". (Kíron)
(O’BRIEN apud XAVIER, 2001)
"Quem sou eu para estar aqui trabalhando com estas pessoas?
O que eu estou fazendo aqui?”
Durante um dos encontros com o grupo de dependentes químicos e álcool no meu
estágio na Fazenda Esperança de Casca – (RS), enquanto eles trabalhavam, questionei-me
sobre o que estava fazendo. Tive vontade de sair para não mais voltar.
Parei e observei: “Quem são estas pessoas? Não as conheço, nem sei seus nomes. O
que elas buscam aqui na Arteterapia? O que elas esperam de mim? O que eu posso dar a
elas?”
Socorro!
Drogados, alcoólatras, depressivos. São o que temos vergonha, o que a sociedade
esconde, não aceita, marginaliza.
São, na maioria, indivíduos sem recursos financeiros, sem estudo, de várias idades.
Observo.
São seres humanos, abandonados em sua própria desgraça. São doentes viciados. São
o lado podre dos que se acham “normais”.
O que eu busco?
Sou fascinada pelo comportamento humano e observo os outros por meio de um olhar
curioso e amoroso.
O que eles buscam?
Alguém que olhe para eles, que os escute, que olhe em seus olhos, que os façam
perceber que são seres humanos e que podem ter dignidade como tal.
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Como ajudar a pessoa que está na sua frente, no atelier terapêutico, a melhorar, a
sarar, a se curar, a se autoconhecer?
Primeiramente, como terapeutas, precisamos entender que essa pessoa a qual
chamamos de cliente, é um espelho nosso. Espelho no sentido místico. Isso quer dizer que ela
está refletindo aspectos nossos, que precisariam ser trabalhados, para podermos devolver para
a pessoa, um reflexo de luz. Um terapeuta consciente oferece naturalmente ao cliente
referenciais positivos. (BOOG, s/d)
Devemos olhar para nós mesmos, ver nosso interior. O que está obscuro e o que deve
ser iluminado. O que precisamos fazer para buscar o nosso “eu”.
Ser terapeuta é também saber olhar o outro, ter a capacidade de entrar na pessoa e
perceber quais as questões que necessitam ser trabalhadas.
O amor é essencial neste caminho. Precisamos ter amorosidade, aceitação e comunhão
com o ser humano com quem estamos trabalhando. Tudo dentro de limites saudáveis.
É bom observar também o que a pessoa com quem estamos trabalhando provoca em
nós, pois se consegue dicas importantes sobre ela observando nosso interior.
Precisamos constantemente estar atualizados, e saber sobre o que estamos falando.
Saber que nem sempre nós podemos ajudar a outra pessoa; que, às vezes, ela não quer
ser ajudada. Aí precisamos trabalhar a nossa onipotência de querer “salvar” os outros.
O ser terapeuta expressa a idéia de gerar alguma mudança, algum movimento no
sentido de melhorar a qualidade de vida de pessoas em sofrimento. Muitas teorias buscam
compreender a questão da mudança, o que é fundamental acontecer para que haja movimento,
para que a terapia aconteça.
Bateson tem uma destas definições, em minha opinião, das mais interessantes: o
terapeuta tem de dizer ou fazer algo que contenha diferença. Esta diferença, para que seja útil,
não pode afastar-se demasiado da realidade do paciente, pois seria rejeitada. Trata-se de uma
diferença sutil, de um toque criativo que acrescente esperança e conduza à mudança. Nisto se
diferenciam os terapeutas, entre os verdadeiramente talentosos, que acrescentam algo
realmente novo e os que repetem fórmulas, burocraticamente. (apud PRADO, 2003). Uma
boa terapia modifica o paciente e também o terapeuta, sendo sempre uma construção conjunta
que acrescenta riqueza de vida a ambos.
21
IV – QUAL A IDENTIDADE DA ARTETERAPIA?
Entre 1925 e 1940, na Suíça, Haushka, em colaboração com Wegmand e Steiner
lançaram os fundamentos de um caminho terapêutico por meio da utilização da arte, em
estreita ligação com a medicina, e contaram com a experiência de algumas grandes artistas da
época. Mais duas pioneiras no trabalho com a arte foram Naumburg e Canne, ambas ligadas à
Arte-Educação e à Arteterapia. (ANDRADE, 2000).
O uso da arte em terapia, segundo Ciornai, explica-se pelo fato de a arte ter,
[...] a característica capacidade de expressar concomitantemente uma
multiplicidade de níveis de significado, mostra-se capaz de expressar a
complexidade humana, em seus conteúdos conscientes, inconscientes e
quase-conscientes, revelando-se um recurso poderoso e eficaz. (1994, apud
ALLESSANDRINI, 1996, p. 32).
Ao pesquisar o trabalho da Dra. Nise da Silveira, médica psiquiátrica, vemos que ela
destaca “o fazer com emoção”. Nas oficinas de trabalho da seção de terapia ocupacional do
hospital de Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro, ela estudou as obras feitas com argila,
tinta, movimento, música e dramatização dos pacientes psiquiátricos lá internados. Buscou
respaldo na teoria de Jung, para tentar compreender o universo dessas pessoas colocadas à
margem da sociedade. (ANDRADE, 2000).
A Arteterapia é utilizada em instituições de Reabilitação Física como a Associação à
Criança Defeituosa (AACD), em Deficiência Mental como na Associação de Pais e Amigos
do Excepcional (APAE), em Hospitais Psiquiátricos como Juqueri e Pinel, Hospital das
Clínicas, em Hospitais de Clínicas Gerais como clínica de queimados e mutilados, em setores
de doenças degenerativas como câncer, AIDS, Esclerose Múltipla, Alzeimer, etc.
Profissionais da área da Saúde - médicos, psicólogos e terapeutas de maneira geral têm compreendido, de maneira crescente, como a Arteterapia pode acelerar e potencializar o
crescimento do indivíduo e os seus processos de recuperação, sejam eles físicos, mentais ou
emocionais.
Por meio de linguagens como o desenho de formas e a aquarela, a Arteterapia
possibilita estimular e fortalecer as forças criativas, melhorar a auto-estima, enfrentar
bloqueios emocionais, favorecendo o autoconhecimento e cultivando a expressão da
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individualidade. É um elemento valioso por dar acesso direto ao inconsciente aflorando por
intermédio de símbolos e insights. (PHILIPPINI, 2000).
Assim a Arteterapia tem sido cada vez mais aplicada como um recurso facilitador do
processo de cura nas mais diferentes manifestações de doenças - depressões, escleroses ou
câncer. É também muito útil para pessoas que buscam o autoconhecimento e o
autodesenvolvimento, sendo importante esclarecer que nenhum conhecimento técnicoartístico prévio é exigido do cliente.
Através de cores, formas, ritmos e movimentos, a pessoa reaprende a
expressar seus sentimentos de maneira estruturada, possibilitando a ação
direta do EU no mundo. Assim é possível resgatar todo o potencial criativo e
curativo da arte. (HAUSKA, s/d, paginação irregular).
Existem controvérsias a respeito do papel desempenhado pela Arteterapia como
método autônomo ou arte como instrumento auxiliar de outros métodos terapêuticos. Mas
segundo Andrade (2000) o campo da aplicação da Arteterapia vem aumentando,
ultrapassando os limites clínicos propriamente ditos e assim, permitindo uma independência e
uma influência maior, como uma força educacional e terapêutica em um sentido até
psicoprofilático em estabelecimentos não psiquiátricos.
O artista não é uma pessoa dotada de livre arbítrio que persegue seus próprios
objetivos, mas alguém que permite à arte realizar seus propósitos através dele. Como ser
humano, ele pode ter humores, desejos e metas próprias, mas como Artista ele é 'homem' num
sentido mais sublime ele é um homem coletivo alguém que carrega e molda a vida psíquica
inconsciente da humanidade. (JUNG, 2002).
Dentro da minha formação em Desenho e Plástica e agora concluindo a especialização
em Arteterapia observo que cada atividade, cada material, cada cor, forma, movimento, som
têm uma possibilidade de atuação no sujeito: no rolo de barbante, a percepção e integração de
espaço; nas cores, a harmonização efetiva, emocional; na modelagem, a estimulação tátil, o
trabalho muscular, a estruturação postural assim como a capacidade de concretizar e de
planejar.
A técnica do desenho, inicialmente utilizada apenas projetivamente, tem na terapia
pela arte papel de desenvolver a esfera cognitiva, o logus, além da capacidade de abstração.
Os fios (lãs, barbantes, linhas) utilizados no bordado, no tricô, no crochê, na tecelagem
permitem o fortalecimento e a reeducação do pensamento.
23
A imagem sonora faz entrar em contato com seu eu mais profundo e cria, segundo as
diferentes melodias, ritmos que, segundo a orientação terapêutica, equilibraram e
harmonizaram o sujeito.
A dança, além de sua excelência na projeção das imagens internas permite a
exploração e o uso adequado do espaço.
Podemos ainda usar tintas, lápis, pincéis, sons, cera de abelha, argila, papéis,
coreografias, partituras.
Onde se dá a Arteterapia?
A vantagem do processo arteterapêutico é que ele se realiza em um ambiente
totalmente informal, num atelier de arte onde tapete, almofadas e materiais artísticos
substituem o divã.
“Construir, manter, cuidar e ampliar espaços acolhedores ao processo criativo para
que as subjetividades imagéticas, tenham vez e voz e, deste modo, cada um possa se
reconhecer em sua própria produção expressiva [...]” (PHILIPPINI, 2000, p. 29)
No decorrer do processo arteterapêutico quem cria é o cliente. O arteterapeuta deve
colocar sua crítica estética de lado e procurar “cuidar” e compreender cada ser humano,
olhando-o como um ser único, tentando convidá-lo a experimentar as diversas expressões
artísticas, a escolher o seu próprio material e assim propiciar que a obra ocorra como um
produto expressivo de conteúdos internos de seu cliente.
24
V – IDENTIDADE PROFISSIONAL DE UM ARTETERAPEUTA
Quando falamos em identidade profissional de um arteterapeuta, logo nos remetemos a
características técnicas que o constituem e, quando falamos em identidade pessoal, nos
remetemos às características humanas e à sua personalidade. Entretanto, do meu ponto de
vista, ao tematizar a identidade profissional de uma arteterapeuta, ou seja, de alguém que
trabalha com a transformação e mudança de seres humanos, temos que falar principalmente
das suas características humanas.
Ser terapeuta ou ser alguém que acompanha o outro na caminhada da vida parece ser
uma tarefa honrosa e gratificante, mas, um tanto difícil. Não é sem sentido que poucos se
propõem a esta tarefa e, aqueles que o fazem, muitas vezes se culpam pelo que fizeram ou
deixaram de fazer.
Quais são as habilidades ou características que qualificam um arteterapeuta?
Precisará o arteterapeuta aprofundar a pesquisa nas linguagens plásticas, que se recicla
e se renova constantemente, podendo assim ajudar no desbloqueio dos processos psicológicos
de seus clientes, possibilitando a eles a transformação por meio de sua produção imagética.
Considerando-se que um dos facilitadores do processo criativo é sua própria
expressão, o terapeuta deverá ser capaz de conhecer e manejar bem as
múltiplas modalidades expressivas [...] é importante ainda o arteterapeuta ter
uma boa bagagem sobre teorias da criatividade. (PHILIPPINI, 2000, p. 27).
E mais, boa fundamentação teórica, prática expressiva ampla e variada, estágio
supervisionado e o processo terapêutico do próprio indivíduo, como aborda Philippini ao se
referir à questão ética do trabalho terapêutico ao dizer que “é inaceitável que um
arteterapeuta, ou qualquer outro terapeuta, aventure-se ao trabalho terapêutico sem o
essencial suporte de sua própria terapia, seja individual ou grupal” (2000, p.30)
Além disto, há a necessidade de experiência de vida, do reconhecimento pelo
arteterapeuta de sua personalidade, a capacidade intelectual, a empatia ou simpatia, a
dedicação, o amor ao próximo e à vida, a solidariedade, a compaixão.
Podemos observar muitas dessas características na vida de Gandhi e Madre Tereza de
Calcutá, que se dedicaram a ajudar o ser humano, até mesmo em detrimento das suas
necessidades individuais.
25
Acredito que a capacidade de ajudar o outro depende da sensibilidade de perceber a
pessoa que está diante de si, como Kíron, que por meio da dor de sua ferida incurável, lhe foi
permitido estar aberto à dor do outro.
Por intermédio deste mito podemos compreender que passar por um processo de dor e,
principalmente, de cura é o que pode habilitar um ser humano a cuidar da dor de outro ser
humano.
No processo de cura encontramos os nossos recursos para enfrentar a dor e, por meio
desta descoberta, podemos nos habilitar a ajudar o outro a encontrar os seus próprios recursos.
Sobre o tema Jung em “A Prática da Psicoterapia” afirma que “ninguém pode levar
ninguém além do lugar onde conseguiu chegar, e por isto ressalta a importância da análise
didática” (1986, apud PHILIPPINI, 2000, p. 30).
Na realidade, entendo que o arteterapeuta é um curador ferido tanto quanto a pessoa
que está fazendo Arteterapia e ele merece ser cuidado o tanto quanto, pois “não poderá ser
produtivo como terapeuta, se não estiver em contínuo processo de ver-se, rever-se, ouvir-se, e
desvelar-se...” (PHILIPPINI, 2000, p. 30).
26
VI – EXPERIÊNCIAS EM ARTETERAPIA
Neste capítulo faço uma reflexão do meu trabalho de estágio no atelier de Arteterapia
da Fazenda Esperança, São Rafael da cidade de Casca, no Rio Grande do Sul4.
A instituição tem como meta a recuperação de dependentes que queiram se livrar das
drogas, álcool e cigarro. A terapia é muita Espiritualidade por meio da palavra de Jesus e o
trabalho comunitário na própria Fazenda. É fundamentada no amor a Deus e ao próximo,
proporcionando um Retorno à Vida.
São aceitos homens de 14 a 70 anos, desde que venham com uma carta de intenção
que desejam se tratar. A maioria é de classe média e baixa oriunda de todo Brasil e alguns do
exterior. A instituição abriga normalmente de 50 a 60 homens.
O recuperando tem um ano para se considerar apto a voltar para a sociedade, curado.
Muitos não agüentam este tempo, ou ficam um pouco e acham que já é o suficiente, voltam
para casa e acabam recaindo.
Ao pedir para fazer estágio na Fazenda, a proposta do trabalho arteterapêutico foi bem
recebida. Para montar o atelier cederam uma sala ampla com armários, mesa e cadeiras.
Colocamos um grande tapete no chão e colchões para sentar. O material plástico foi doado
por algumas entidades e por mim.
Foi formado um grupo inicial de 10 pessoas de 18 a 46 anos. Um grupo grande devido
à freqüência instável deles.
Os encontros seguiram o formato das Oficinas Criativas® (ALLESSANDRINI, 1996)
que possuem como diretriz uma seqüência básica, estruturante de uma proposta a ser
construída.
As etapas são:
1º - Sensibilização: momento em que o sujeito estabelece contato com o trabalho que será
iniciado e tem como objetivo seu contato com seu mundo interno. Momento em que o sujeito
se abre para a experiência que há por vir.
4
Informações disponíveis em : <http://www.fazenda.org.br/>.
27
2º - Expressão Livre: quando se podem explorar possíveis meios de concretizar, em um ir e
vir de movimentos que surgem naturalmente.
3º - Elaborar a Expressão: redimensionamento ainda em um nível não-verbal e da arte.
Observar por um novo ângulo o que amplia as significações.
4º - Transposição de Linguagem: passar os novos conteúdos para uma nova linguagem,
priorizando o uso da palavra como mediador, ou seja, pedir para que o sujeito escreva o que
vivenciou. O que evocou internamente. Algo é aprendido, per si, nessa ação.
5º - Avaliação: conclusão por meio da recomposição das etapas processuais, que permite que
o aprendizado se torne consciente.
Assim, como aponta Allessandrini,
A oficina é um lugar que deve favorecer a criação, [...] em um fazer mais
concreto e vivenciado” (1996, p. 46), [de modo que] uma disponibilidade
nova e diferenciada [...] emerge do ser e [...] canaliza seus recursos
cognitivos internos para um re-fazer transformador. Os conteúdos que se
apresentam estão intimamente ligados à experiência já vivida pelo sujeito e
possuem um papel simbólico importante. (1996, p. 32).
A seguir, descreveremos um encontro que foi muito significante e ilustra o poder do
trabalho em um atelier arteterapêutico.
28
6. 1 – Relato de uma oficina
Neste encontro, o grupo era constituído por cinco participantes, com idades entre 23 e
45 anos, sendo que para alguns, era a sua primeira experiência em nosso trabalho com a
Arteterapia.
A proposta daquele encontro era a de trabalhar com os olhos vendados. Começamos
com a etapa da sensibilização que foi composta de vários exercícios que tinham por objetivo
possibilitar o estabelecimento do contato com seu mundo interior.
No primeiro momento foi feito um alongamento e trabalhamos o relaxamento por
meio da respiração. (Figura 1)
Figura 1: Alongamento e relaxamento.
29
Figura 2: Aterramento com música indígena bem ritmada, dançando pela sala.
Figura 3: Trocando a música para um ritmo um pouco mais lento foi usada uma venda nos olhos dos
rapazes. Foi pedido para andar pela sala explorando os sentidos, por meio do toque, percebendo
formas, contornos e cheiros.
30
Figura 4: Ainda vendados, pediu-se que procurassem os papéis que estavam no chão, sentassem sobre
eles, a fim de perceber a superfície e a textura dos mesmos.
Figura 5 e 6: Com giz colorido desenharam livremente o que estavam sentindo.
31
Figura 7: Desenho com giz colorido.
Figura 8: Foi pedido que tirassem a venda dos olhos e pegassem tinta guache e pincel para passar
sobre os traços que fizeram anteriormente no papel.
32
Após este trabalho foram fornecidas pranchas, papel e caneta para que anotassem o que foi
sentido e observado durante todo o trabalho e o resultado final.
A última etapa é a de verbalizar para os colegas o que observaram, fazendo o processo de
conscientização de tudo que foi apreendido no trabalho.
Os relatos sobre os trabalhos foram feitos por escrito e posteriormente lidos e explicados.
Parte do trabalho de F.
Relato de F.
Aqui tem uma estrada que tem um rato. No meio do espaço tem uma cruz, algumas árvores e
uma serpente.
O que significa isto pra mim?
Esta estrada é o caminho correto que eu devo seguir e tem uma cruz protegendo, que é a cruz
que me protege desde que eu vim pra este mundo. O rato significa a mentira, é astuto, rápido,
traiçoeiro. A serpente também é coisa ruim. Tudo isso envolta desta estrada que tem bastante
corpos, são os corpos das pessoas que eu magoei.
Eu tenho as armas pra conseguir vencer esta estrada. Nesta estrada também tem uma mosca,
ela sobrevoa coisa podre, se eu continuar neste caminho, a mosca sempre vai estar me
rodeando. Estes outros riscos são os vários caminhos que eu posso seguir.
33
Figura 10: Parte do trabalho de F.
Continuação do relato de F.
As montanhas significam obstáculos que eu vou ter que vencer. Por trás dos obstáculos
também tem nuvens que significa neblina. Atrás desta neblina existe a maconha a droga o
erro. Se eu conseguir passar por estes obstáculos, esta neblina, vou achar uma flor onde vou
encontrar a felicidade, alegria.
O sol que está iluminando tudo o que estou fazendo, ele está voltado pra mim.
Uma casa destruída, com porta e janelas abertas pra mim, e o meu nome está dentro desta
casa. Meu nome foi manchado dentro desta casa, mas agora estou em terra firme, onde posso
pisar e caminhar com segurança. Nesta terra firme também existem trevas, vício, erros e a flor
da felicidade esta bem no centro.
Ester riscos são os caminhos errados que eu segui em toda a minha vida, e só uma estrada é
que é a correta.
Amém eu gostei deste trabalho.
34
Trabalho de N.
Relato de N.
Meu trabalho não me diz muito e diz muito. Fiz um contorno do sol de três cores, meio irreal.
Com choque nas três cores e nos traços. Não sei o significado das cores, mas seria assim
como se fosse a minha vida, bem atrapalhada mesmo.
O acabamento que dei aí mostra que eu to no caminho certo e que um dia o sol vai brilhar pra
mim, me dando uma esperança de uma vida melhor. Eu vou conseguir enfrentar as minhas
barreiras e dificuldades. O sol vai brilhar como uma nova vida, o seu centro esta bem
iluminado.
Trabalho e relato de J.
Pra mim eu estou vendo um horizonte lindo e era isso que eu queria e “eu quero”.
Quando estava desenhando me lembrei faz tempo que estou longe de minha família.
Aqui nos já estamos num horizonte e eu quero ir bem além do horizonte.
Minha família eu representei como se estivessem no céu e o meu objetivo e estar junto deles,
só depende de mim, não me deixar afetar pelas barreiras, fazer tudo certo e eu vou chegar lá.
35
Trabalho e relato de P.
Eu procurei escrever
conforme
eu
fui
desenhando.
Então o que passou pela
minha mente foi que eu
precisava deste clima
diferente, som gostoso, a
tradição indígena e que
tudo isso poderia ser
loucura.
Depois procurei fazer
realmente o que se pedia.
Tocar, sentir, procurando
identificar o que estava
tocando
de
olhos
fechados. Procurei o
papel, sentei em cima e
comecei a sentir o papel,
ver os seus limites, sentir
o giz e comecei a
desenhar no clima da
musica, procurei não
deixar a minha mente me
guiar. Andei por retas,
círculos,
curvas,
tentando preencher todo
o espaço do papel.
Percebi que desenhei
com as duas mãos tanto
na minha frente como
atrás, procurando sentir
uma coisa de cada vez.
Quando
comecei
a
desenhar
foi
uma
sensação
diferente,
deixei-me fluir com se estivesse flutuando.
Procurando dar sentido ao que havia surgido, usei as cores traçando os trajetos que percorri,
em cima do giz que foi marcado no papel. A cor vermelha preenchi com tinta na cor amarela,
o giz azul com a cor preta.
A pintura lembra a educação artística, lembra minha mãe que era professora de educação
artística e hoje é falecida.
Não me envergonho do que desenhei, não tenho o dom da pintura, mas através deste momento
pude me lembrar dela sem entrar em crises porque foi uma lembrança boa. Foi um momento
muito especial pra mim.
Percebo através dos traços uma sensação de turbulência. Me senti bem como se estivesse
flutuando. Procurei unir as sensações. A pintura lembra bastante minha mãe.
36
Trabalho e relato de A.
Eu percebo que tenho bastante
defeitos, falhas de controle,
fantástica forma de liberdade,
constância, insegurança, liderança,
contingência,
força
espiritual,
fixação, paranóia de tocar alguém,
sem saber quem é, ou quem era.
Vejo aqui meu coração dividido,
parte de meu coração é totalmente
emotivo, um lado vermelho e a
outra parte azul. Estou agora
enquadrado, preso neste quadrado,
não posso mais fazer o que eu fazia
antes. Este V dentro do quadrado
significa vínculo, eu tenho um
vínculo com este quadrado, nesta
prisão que eu me coloquei.
Tentei de todas as formas, de todos
os meios. Procurei em todos os
caminhos que eu imaginava entre
as encruzilhadas.
Também tem um espermatozóide
aqui buscando a vida.
Aqui tem um peixe significando
vida mas também simbolizando a AIDS, isso é realmente interessante a aplicação dele. Eu
estou em busca da vida aqui.
Esta seta me ligou a este lugar preso que no momento eu me encontro. Eu estou preso aqui.
Me sinto preso. Não tenho liberdade de expressão, eu sinto que tem muito pouco amarelo no
meu trabalho, não tem muito brilho, e eu gosto de brilhar, gosto de liderança, eu quero ser o
centro.
Eu tenho espírito de liderança, o poder pra mim é muito importante, então eu sempre tive o
coração dilacerado, praticamente pela família.
O errado por sentir e tocar, o abraço. Mesmo tendo este coração partido eu procuro ser
imparcial. Muito pouco amarelo, pouco brilho devido ao meu sofrimento porque estou dentro
daquele quadrado.
Sempre, desde os onze anos de idade sai de casa, nunca mais retornei, sempre fiz por mim.
Construí um verdadeiro império e destruí com as drogas.
Os caminhos aqui que a gente vê é o caminho da promiscuidade, confusão e tudo isso em
volta do meu coração, onde esta o maior sofrimento.
Vejo um rosto aqui no meio do coração, que tem muito sofrimento, parece um rosto que não
tem sexo, mas parece mais masculino. Falta de atenção de meu pai. Minha mãe sempre foi
uma pessoa muito omissa. A omissão eu acho que é o pior pecado contra uma criança.
Vim pra cá pela razão para me curar. Este V pode significar além de vínculo, verdade vitória.
Neste quadrado também posso perceber através deste vínculo, que eu sou limitado, não sou
tão especial como eu pensava, existem outras pessoas em volta, que eu não sou diferente de
ninguém que eu sou igual a todos.
Aqui é difícil também no sentido religioso, fico dividido, sou judeu e fica difícil numa igreja
apostólica romana totalmente virtuada a santuários, imagens. A minha razão age muito pouco.
37
Trabalho e relato de J.
Primeiramente
trabalhar
com os olhos vendados dá
uma
sensação
de
curiosidade daquilo que
você está fazendo. Por
outro lado eu não gosto
porque me lembrou de um
fato do passado não muito
boa, num acidente de carro
bati no pára-brisa e fiquei
mais de 4 meses sem
enxergar; então eu já estava
sentindo aquela angústia
que eu estava aquele
tempo. Fiz o desenho
rápido pra poder tirar a
venda. Tentei trabalhar
com as duas mão no
desenho.
Consegui
identificar um sol, uma lua
no meio deste sol e desta
lua saiu uma estrela de seis
pontas. Eu vejo este sol
lançando várias energias, a
lua também e eu consigo
me sentir bem com estas
energias, mas no meio
destas
energias
tem
também o vermelho que seriam energias negativas. Deu pra perceber que agora eu tenho mais
energias positivas a minha volta que energias negativas que eu tinha antes, as coisas ruins que
me rodeavam, mas mesmo assim elas ainda estão em volta, estão tentando penetrar nas
energias positivas. A estrela de 6 pontas eu vejo ela como aquela que a gente faz os pedidos,
felicidade e alegria em cada ponta dela. E vc pensa nas seis coisas todos os dias. O sol
lançando a energias mais forte energia de luta de não desistir, de resistência e a lua uma
energia mais calma, paciência. Mesmo assim têm as energias negativas sempre em volta e eu
acho que sempre vou ter que lutar contra elas, os obstáculos, provações.
38
Continuação do relato de J.
O sol está parecido com um olho, um olho sujo de sangue, não vejo ele como um olho normal,
um olho com dor, machucado.
O significado da lua dizem que é a deusa mãe o sol o pai. A estrela eu, o filhinho da mamãe.
Os raios do sol protegendo a lua e a estrela, a lua também em relação ao sol.
Eu me meu pai nunca tivemos uma relação próxima, talvez pela profissão dele que era
caminhoneiro, senti muita falta dele. Hoje estou me aproximando dele.
O sol com o interior vermelho tem muito sofrimento dentro dele. Meu pai não teve amor dos
pais dele e agora não consegue dar amor.Ele tá perdendo a visão direita com um glaucoma e
tem diabetes.O problema é que eu não via, eu não via isso daí. Sempre que tinha um problema
em casa, saia quebrando tudo e ia direto pro boteco, tomava umas canha forte, fumava uns,
enlouquecia a cabeça. Nem tô né... Hoje quando você vê a realidade de uma outra forma, esta
realidade que eu não via antes. Não queria nem saber, que se danem. Agora me sinto às vezes
arrependido das coisas que fiz, ou podia ter feito diferente. Sei que agora é tarde, mas nunca é
tarde pra corrigir o erro. Muitas coisas ficaram machucadas que não vão cicatrizar. Eu estou
tentando agora fazer minha recuperação, sei o que quero aqui dentro, o que quero dar agora
pra ele é dar a alegria que eu não dei. Em compensação agora vem outros problemas, meu pai
com diabetes, sem enxergar com um olho, vejo na fisionomia dele que já está mais abatido,
surrado, mais vivido, cansado. Daqui em diante quero dar só alegria pra ele, dar um abraço
nele e dizer que eu amo ele. Procuro ficar mais abraçado com ele, coisa que não fazia estou
fazendo agora.
39
No processo desenvolvido durante as Oficinas Criativas, pude observar cada um dos
participantes no seu sentir, criar e expressar, reconstruindo o seu ser por meio da Arteterapia.
A experiência artística, expressão da alma e da percepção que o homem tem
do mundo, apresenta-se como recurso importante para ampliar a
aprendizagem daquele que se relaciona como o outro, e aprende a partir
desta relação. (ALLESSANDRINI, 1996, p. 30).
Pude admirar o reencontro da essência de suas almas ao descobrirem que não são
pessoas más; observá-los brincando como crianças, esquecendo suas dores; vibrar junto com
eles quando de seus insights, quando entendiam algo sobre suas vidas; ver que foram amados
- cada um de seu modo -, e que podem ser amados e também amar.
Por meio da Arteterapia aprendi e ensinei, e percebi o quanto é importante seguir na
tarefa da “descoberta de um caminho novo”.
40
VII – CONSIDERAÇÕES FINAIS
É muito difícil concluir este trabalho, pois ele é apenas o começo de uma trajetória. A
minha identidade de arteterapeuta é um processo que está em construção e sujeito a
mudanças. Sei que novos cursos serão buscados, sei que outras pessoas irão contribuir para
minha formação.
Ao participarmos ativamente das oficinas de Arteterapia, desenvolvemos aprendizagens
importantes para o nosso autoconhecimento. Sair da rotina do dia-a-dia por meio do fazer
artístico nos proporciona uma entrega para o nosso mundo interior, conhecendo caminhos
obscuros e entendendo o que acontece em nosso exterior.
Somos seres criadores e na Arteterapia nos entregamos e conseguimos ver a nós
mesmos e ao mundo. Abrimos novos caminhos.
Chego ao final desta monografia, com a certeza de que trabalhar o meu
autoconhecimento e ajudar outras pessoas pela Arteterapia é um caminho longo e prazeroso a
ser trilhado.
41
VIII - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AHRONS, C. R. O bom divórcio: como manter a família unida quando o casamento termina.
Rio de Janeiro: Objetiva (s/d.); Albom, 1998.
____________. Oficina criativa e psicopedagogia. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1996.
ANDRADE, Liomar Quinto. Terapias expressivas. São Paulo: Vetor, 2000.
BOOG, Cristiane – A Tarefa do Terapeuta. Disponível em: <[email protected]>
<http://www.saguaro.com.br>. Acesso em: 10 de maio de 2005, às 01:03:06h.
DANTÉS,
Rubia
A.
O
Fio
e
os
Tempos.
<http://vidanova.terra.com.br/conteudo/conteudo.asp?id=2707>.
Disponível
em:
HAUSHKA, Margarethe. Terapêutica Artística In: Boletim Higiene Social. N. 8. São Paulo:
Clínica Tobias, 2004.
JUNG, Carl Gustav. A prática da psicoterapia. 8ª ed. São Paulo: Editora Vozes, 2002.
MCMILLEN, Kim & MCMILLEN, Alison. Quando me amei de verdade. [s.l.]: Sextante,
2003.
OS DOZE PASSOS. Disponível em: <http://www.aasobriedade.com/>.
PHILIPPINI, Angela. Cartografias da Coragem: rotas em Arteterapia. 1ª ed. agosto. Rio de
Janeiro: Pomar, 2000.
PRADO, Luiz Carlos - O ser terapeuta – 1ª ed. Porto Alegre: Editora Luiz Carlos Prado,
2003.
XAVIER, Eliana. Pesquisa sobre Quíron para o Grupo de Estudos Eixo 39- Abril, 2001.
Disponível em:< http://www.holoalternativo.com/Pesquisaquiro.html >.
42
ANEXO A
OS DOZE PASSOS DE AA - ALCOÓLICOS ANÔNIMOS
1. Admitimos que éramos impotentes perante o álcool - que tínhamos perdido o domínio sobre
nossas vidas.
2. Viemos a acreditar que um Poder Superior a nós mesmos poderia devolver-nos à sanidade.
3. Decidimos entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidados de Deus, na forma em que O
concebíamos.
4. Fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos.
5. Admitimos perante Deus, perante nós mesmos e perante outro ser humano, a natureza exata
de nossas falhas.
6. Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses defeitos de caráter.
7. Humildemente rogamos a Ele que nos livrasse de nossas imperfeições.
8. Fizemos uma relação de todas as pessoas a quem tínhamos prejudicado e nos dispusemos a
reparar os danos a elas causados.
9. Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas, sempre que possível, salvo
quando fazê-las significasse prejudicá-las ou a outrem.
10. Continuamos fazendo o inventário pessoal e quando estávamos errados, nós o admitíamos
prontamente.
11. Procuramos, através da prece e da meditação, melhorar nosso contato consciente com
Deus, na forma em que O concebíamos, rogando apenas o conhecimento de Sua vontade em
relação a nós, e forças para realizar essa vontade.
12. Tendo experimentado um despertar espiritual, graças a estes Passos, procuramos transmitir
esta mensagem aos alcoólicos e praticar estes princípios em todas as nossas atividades.

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