Universo Nórdico: Hamer, Kaurismäki, Alfredson e os dinamarqueses

Transcrição

Universo Nórdico: Hamer, Kaurismäki, Alfredson e os dinamarqueses
PORTO ALEGRE, SEGUNDA-FEIRA, 21/1/2013 | ZERO HORA
SegundoCaderno
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Um roteiro pelo cinema dos anos 2000 em oito regiões que merecem a nossa atenção | Por Daniel Feix | [email protected]
FILMES DA MSOTRA, DIVULGAÇÃO
UNIVERSO NÓRDICO
Bem depois de Ingmar
Bergman, muito além do
Dogma 95: na terceira
parte do especial sobre as
melhores cinematografias
do século 21, que ZH
apresenta ao longo de oito
segundas-feiras até o fim
de fevereiro, conheça um
pouco mais da produção de
Suécia, Noruega, Finlândia
e Dinamarca que transcende
os seus maiores clichês –
e mantém a região no topo
do cinema universal.
“Deixa Ela Entrar”, de Tomas Alfredson
W
O calor
do norte
oody Allen já afirmou
que viver vale a pena,
entre outras poucas coisas,por causa do cinema
sueco.Ele tinha Ingmar
Bergman em mente,mas uma cinematografia não se faz notar apenas por um
nome (ou uma geração),ainda que se
trate do maior cineasta do mundo.
A produção da Suécia,neste século
21,até ecoa a obra de seu diretor mais
icônico.Mas faz mais sentido abordá-la
por sua diversidade.De lá vêm exercícios
de gênero os mais diversos,de comédias
como Jalla! Jalla! (de Josef Fares) e Elling
(Petter Næss) até a obra-prima do terror
Deixa Ela Entrar (Tomas Alfredson),
passando por misturas inusitadas como
o thriller cômico-musical Sound of Noise
(Ola Simonsson e Johannes Nilsson) e
o híbrido de animação e live action a la
Robert Zemeckis Metropia (Tarik Saleh).
Nikolaj Arcel e Niels Oplev,respectivamente roteirista e diretor da adaptação de
Os Homens que Não Amavam as Mulheres,
já são realidades para além da trilogia
Millennium: é Arcel quem dirige O Amante da Rainha,indicado ao Oscar de filme
estrangeiro deste ano – competição que
também conta com o norueguês Kon-Tiki,
de Joachim Ronning e Espen Sandberg.
A unidade em meio a esse universo
está na dramaturgia que esconde seus
conflitos sob a aparente frieza das relações.São assim os dramas do norueguês
Bent Hamer (de Factotum,adaptação de
Bukowski) e do finlandês Aki Kaurismäki
(do fabular O Porto),ambos presentes no
Top 10 ao lado com longas luminares em
sua sombria construção de figuras socialmente deslocadas – os protagonistas de
Caro Sr. Horten (de Hamer) e O Homem
sem Passado (de Kaurismäki).
É essa intensidade dramática que
potencializa as explosões de violência nos
filmes de Nicolas Winding Refn (de Bronson) e o desejo de libertação recorrente na
obra de Lukas Moodysson (Bem-Vindos).
Hoje,os dois desenvolvem carreiras internacionais calcadas,respectivamente,em
longas como Drive e Mammoth.
Em caminhos completamente diferentes de ambos,e ainda assim distintos entre
si como o inverno da Islândia e o verão
do Mediterrâneo,estão o norueguês Hans
Petter Moland (do melodrama redentor
UmaVida Nova),o sueco Roy Andersson
(de doideiras como Vocês, os Vivos) e o
dinamarquês Mads Matthiesen (de Teddy
Bear,espécie de O Lutador escandinavo).
Falando em Dinamarca: pós-anos 2000,
é profícua a oferta de bom cinema no país
do Dogma 95.O ótimo momento deve
muito ao amadurecimento da geração
que chamou a atenção,na década de 1990,
com sua proposta radical e marqueteira de
um cinema ultranaturalista e falsamente
não autoral.As fronteiras do país já foram
ultrapassadas por LarsVon Trier,Thomas
Vinterberg,Lone Scherfig e Susanne Bier,
hoje autores de longas realizados em
Hollywood,na França e na Grã-Bretanha,
mas foi com produções dinamarquesas
que eles alcançaram um Oscar (Em um
Mundo Melhor,de Bier),uma Palma de
Ouro (Dançando no Escuro,deVon Trier),
outros três troféus em Cannes (A Caça,
deVinterberg) e outros quatro em Berlim
(Italiano para Principiantes,de Scherfig).
Tudo após a alvorada do novo milênio.
Não fosse o princípio de não repetir
diretores no Top 10 ao lado,seria (ainda
mais) árdua a tarefa de reduzir a 10 a lista
de bons filmes da região no período.
10
| top
| filmes
■ Canções do Segundo Andar
De Roy Andersson (Suécia, 2000)
■ O Homem sem Passado
De Aki Kaurismäki (Finlândia, 2002)
■ Para Sempre Lilya
De Lukas Moodysson (Suécia, 2002)
■ Dogville
De Lars Von Trier (Dinamarca, 2003)
■ Brothers
De Susanne Bier (Dinamarca, 2004)
■ Caro Sr. Horten
De Bent Hamer (Noruega, 2007)
■ Deixa Ela Entrar
De Tomas Alfredson (Suécia, 2008)
■ O Guerreiro Silencioso
De Nicolas Winding Refn (Dinamarca, 2009)
■ Submarino
De Thomas Vinterberg (Dinamarca, 2010)
■ Headhunters
De Morten Tyldum (Noruega, 2011)