UNIVERSIDADE FEEVALE - Colchão Inteligente
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UNIVERSIDADE FEEVALE - Colchão Inteligente
UNIVERSIDADE FEEVALE I CONFIGURAÇÃO DE COLCHÃO ORTOPÉDICO COM POLIURETANO AFERIDO POR ANÁLISE FOTOGRAMÉTRICA COMPUTADORIZADA NOVO HAMBURGO 2011 CONFIGURAÇÃO DE COLCHÃO ORTOPÉDICO COM POLIURETANO AFERIDO POR ANÁLISE FOTOGRAMÉTRICA COMPUTADORIZADA Dissertação apresentada como requisito para a obtenção do título de Mestre em Tecnologias de Materiais e Processos Industriais pela Universidade Feevale. Orientador: Prof. Dr. Ricardo Martins de Martins Novo Hamburgo 2011 III DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP) Rocha, André Fernando da Configuração de colchão ortopédico com poliuretano aferido por análise fotogramétrica computadorizada / André Fernando da Rocha. – 2011. 70 f. ; il. : 30 cm. Dissertação (Mestrado em Tecnologia de Materiais e Processos Industriais) – Feevale, Novo Hamburgo-RS, 2011. Inclui bibliografia. “Orientador: Prof. Dr. Ricardo Martins de Martins”. 1. Colchões – Coluna vertebral. Bibliotecária responsável: Tatiane Oliveira2.deColuna Oliveiravertebral – CRB 10/2012 Poliuretanos. 3. Distúrbios da postura. 4. Fotogramas. I. Título. CDU 616.711007.5:678.664 IV ANDRÉ F. ROCHA Dissertação de Mestrado do Curso de Tecnologia de Materiais e Processos Industriais, com título “Configuração de Colchão Ortopédico com Poliuretano Aferido por Análise Fotogramétrica Computadorizada”, submetido ao corpo docente da Universidade Feevale, como requisito necessário para obtenção do Grau de Mestre em Tecnologias de Materiais e Processos Industriais Aprovado por: Prof. Dr. Ricardo Martins de Martins (orientador) Universidade Feevale Prof. Dra. Jacinta Sidegum Renner Universidade Feevale Prof. Dr. Luiz Carlos Gertz ULBRA Novo Hamburgo, junho de 2011. V RESUMO O presente estudo visa a configuração de um modelo de colchão ortopédico com poliuretano que promova o devido alinhamento da coluna vertebral em decúbito lateral. Para a aferição do alinhamento vertebral elaborou-se um protocolo específico de análise fotogramétrica computadorizada comparativo entre a posição ortostática e a posição em decúbito lateral. Posteriormente utilizou-se os dados obtidos como parâmetro para a configuração de um modelo de colchão capaz de proporcionar o melhor alinhamento vertebral em decúbito lateral. Atualmente, para configurar o colchão, considera-se tão somente a relação massa/altura como critério de indicação da estrutura de apoio. Esse critério é inadequado devido a não homogeneidade da distribuição de pontos de pressão do corpo sobre a superfície do colchão e as variações de medidas antropométricas, tais como as medidas da distância bideltoideana e da distância bitrocantérica, que são críticas quanto ao alinhamento vertebral em decúbito lateral. Utilizou-se do protocolo proposto em dois indivíduos masculinos: indivíduo 1 com 27 anos, massa de 70 kg, altura de 1,75 m, distância bideltoideana de 44 cm e distância bitrocantérica de 33 cm; e indivíduo 2 com 29 anos, massa de 90 kg, altura de 1,76 m, distância bideltoideana de 49 cm e distância bitrocantérica de 37 cm. Através da aplicação do protocolo, foi possível configurar um modelo de colchão para o indivíduo 1 que proporcionou uma diminuição de 54,79 % no somatório das angulações obtidas em relação à posição ortostática e uma diferença de 15,4 o em comparação a um modelo de colchão convencional. Por sua vez, para o indivíduo 2, foi possível configurar um modelo de colchão que levou à diminuição de 26,3 % no somatório das angulações obtidas em relação à posição ortostática e redução de 27,7 o em comparação a um modelo de colchão convencional. Palavras-Chave: colchão, fotogrametria, postura VI ABSTRACT The present study aims at setting up a model with polyurethane mattress promotes proper alignment of the spine in lateral position. For the measurement of vertebral alignment produced a protocol-specific computerized photogrammetric analysis comparing the standing position and lateral position. Later we used the data as a parameter for setting a mattress model capable of providing the best in lateral spinal alignment. Currently, to set the mattress, it is simply the mass / height as a criterion for indication of the support structure. This criterion is inadequate due to non-uniform distribution of body pressure points on the surface of the mattress and the changes in anthropometric measures, such as measures of distance and distance bideltoideana bitrocantérica that are critical for alignment vertebral lateral position. We used the proposed protocol in two male subjects: Individual 1 to 27 years, weight 70 kg, height 1.75 m, a distance between the lateral edges of deltoids of 44 cm and a distance between the trochanters of the femurs of 33 cm and individual 2 with 29 years, mass 90 kg, height 1.76 m, a distance between the lateral edges of deltoids distance of 49 cm and a distance between the trochanters of the femurs of 37 cm. Through the application of the protocol was possible to set a mattress model for an individual who provided a decrease of 54,79% in the sum of the angles obtained in relation to the standing position and a difference of 15.4 o compared to the model of a mattress conventional. In turn, the individual second, it was possible to set up a model of mattress that led to a decrease of 26.32% in the sum of the angles obtained in relation to the standing position and the reduction of 27.7 o compared to a conventional mattress model. Key Words: mattress, photogrametry, posture VII ABREVIATURAS C7 IMC INMETRO Industrial L2 L5 mmHg NREM REM S2 SAPO T10 T5 – – – sétima vértebra cervical índice de massa corporal Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade – – – – – – – – – segunda vértebra lombar quinta vértebra lombar milímetros de mercúrio No Rapid Eyes Moviment (Sem Movimento Rápido dos Olhos) Rapid Eyes Moviment (Movimento Rápido dos Olhos) segunda vértebra sacral Software de Análise Postural décima vértebra torácica quinta vértebra torácica VIII LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Processo descontínuo convencional ....................................................... 18 Figura 2 – Processo convencional ........................................................................... 19 IX LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Etapas da formação da espuma flexível convencional .......................... 16 X LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Angulações obtidas em cada segmento da coluna vertebral nos respectivos modelos de colchão com o indivíduo 1 .................................................. 34 Tabela 2 - Angulações obtidas em cada segmento da coluna vertebral nos respectivos modelos de colchão com o indivíduo 2 .................................................. 35 XI LISTA DE APÊNDICES Apêndice A – coleta de dados .................................................................................. 57 XII SUMÁRIO INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 12 1 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................ 15 1.1 POLIURETANOS ............................................................................................... 15 1.1.2 Etapas da formação da espuma flexível convencional .............................. 16 1.1.3 Resiliência e viscoelasticidade .................................................................... 17 1.2 PROCESSOS DE FABRICAÇÃO DE ESPUMAS FLEXÍVEIS ........................... 17 1.2.1 Processo descontínuo convencional (caixote) ........................................... 18 1.2.2 Processo contínuo convencional ................................................................ 19 1.3 HISTÓRIA DOS COLCHÕES............................................................................. 20 1.4 DOR X SONO .................................................................................................... 21 1.5 POSTURA DEITADA X DOR ............................................................................. 23 1.6 POSTURA DEITADA X ALINHAMENTO VERTEBRAL...................................... 24 1.7 FOTOGRAMETRIA ............................................................................................ 26 2 MATERIAIS E MÉTODO ...................................................................................... 29 2.1 CAMPO DE ESTUDO ........................................................................................ 30 2.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA ............................................................................... 30 2.3 PROCEDIMENTOS PARA A COLETA DE DADOS ........................................... 31 2.3.1 Instrumentos para a coleta de dados .......................................................... 32 2.4 PROCEDIMENTO PARA ANÁLISE DOS DADOS ............................................. 32 3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS ...................................................... 34 3.1 ANÁLISE DOS RESULTADOS DO INDIVÍDUO 1 .............................................. 35 3.2 ANÁLISE DOS RESULTADOS DO INDIVÍDUO 2 .............................................. 40 CONSIDERAÇÕES ................................................................................................. 45 CONCLUSÃO .......................................................................................................... 47 ESTUDOS FUTUROS ............................................................................................. 48 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 49 APÊNDICES ............................................................................................................ 56 12 INTRODUÇÃO Estudos sobre a importância de um colchão na qualidade do sono e na preservação da saúde já existem há décadas (SUCKLING, 1957; DE KONINCK et al., 1983; PANKHURST; HORNE, 1994) e já está evidenciado que a mudança na superfície de apoio durante o período do sono altera as condições de dor e qualidade do mesmo (PRICE et al., 2003). A qualidade do sono é de suma importância para o ser humano, pois está diretamente relacionada com a sua qualidade de vida. O sono é descrito como uma necessidade física primordial para uma boa saúde e uma vida saudável, na qual há uma restauração física que protege o ser do desgaste natural das horas acordadas (MORCH; TONI, 2005). Sendo o sono um fenômeno de sobrevivência, ele está intrinsecamente relacionado à vida humana. Portanto, falar em qualidade de vida é falar em qualidade do sono, no seu sentido mais amplo, envolvendo seus estágios e sincronismos. A maioria das pessoas que dorme mal atualmente é por origem externa. Não só pela falta de ritmo próprio na vida, como no caso dos trabalhadores noturnos, mas também pela quebra do ritmo biológico dos trabalhadores diurnos, devido às perturbações sociais, cada vez maiores nas cidades (MARTINEZ et al., 2008). O colchão é um fator externo que pode interferir na qualidade de sono de um indivíduo. De acordo com a determinação do INMETRO, um colchão deve ser adequado ao biótipo (relação massa/altura) de cada pessoa; deve ser firme e flexível, isto é, ser confortável e ao mesmo tempo fornecer sustentação suficiente para suportar toda a massa do corpo sem ceder, proporcionando uma posição ortopedicamente correta que apóie o corpo e minimize os esforços musculares durante o repouso (BRASIL, 2011). Apesar de uma crescente consciência a respeito dos problemas de dores lombares, dorsais e cervicais relacionadas ao ato de dormir, a falta de uma eficiência na manutenção do alinhamento da coluna vertebral ainda é o que ocorre com os colchões que estão disponíveis no mercado. As propriedades físicas de um colchão, que determinam em grande parte as suas qualidades de apoio, precisam ser melhor discutidas. Assim, a real adequação de um colchão aos mais diversos biótipos, 13 proporcionando a melhor manutenção do alinhamento vertebral e o conforto em relação às articulações e proeminências ósseas, ainda é um assunto que necessita de solução prática. Para definir um colchão como ortopédico até o presente momento levam-se tão somente em consideração as prerrogativas de oferecer suporte adequado para a sustentação da massa corpórea e conforto para a acomodação das saliências ósseas, seja qual for a postura adotada. Todavia, é conhecido o fato de que o corpo humano não distribui sua massa de forma homogênea na postura deitada, principalmente quando ocorrem variações desta postura (NICOL; RUSTEBERG, 1993). Sendo assim, têm-se, além de biótipos variados, pontos de pressão variados de acordo com a postura adotada. Desta forma, não é aceitável que um colchão ofereça um mesmo suporte (densidade) para pontos de pressão diferentes. Além disso, como mensurar o quanto a coluna vertebral encontra-se alinhada (posição ortopedicamente correta) quando deitamos? Para a avaliação postural, já é validada uma metodologia chamada de fotogrametria computadorizada (IUNES et al., 2005). Trata-se de um método de captação de imagens digitais, que por sua vez são submetidas a cálculos para a aferição de ângulos. Ao considerar o problema de pesquisa, procurou-se averiguar a seguinte questão: é possível, com este método, elaborar um protocolo específico para a aferição do alinhamento vertebral em decúbito lateral, cujos resultados possam servir de referência para a confecção de colchões com real ação ortopédica/ergonômica? E é possível configurar um modelo de colchão que obtenha resultados satisfatórios de promoção do alinhamento vertebral em decúbito lateral? O objetivo geral da pesquisa foi elaborar uma metodologia científica através de um protocolo específico de avaliação por análise fotogramétrica computadorizada comparativo entre a postura em decúbito lateral com a postura ortostática e a sua utilização como parâmetro na configuração de colchões. Por sua vez, teve-se como objetivo específico configurar um modelo de colchão que proporcionasse um adequado alinhamento vertebral de acordo com as variáveis antropométricas de um indivíduo pré-selecionado, utilizando-se de materiais específicos já existentes no mercado. Esta dissertação está composta em três capítulos. No primeiro capítulo, tratar-se-á da revisão de literatura na qual constam informações sobre poliuretanos, 14 processos de fabricação de espumas flexíveis, história dos colchões, dor relacionada ao sono, a posição deitada em relação a dor, a posição deitada em relação ao alinhamento vertebral, e fotogrametria. O segundo capítulo versará sobre materiais e métodos utilizados nesta pesquisa, onde constam campo de estudo, população e amostra, procedimentos para a coleta de dados e procedimentos para a análise de dados. O terceiro capítulo focará a análise e discussão dos resultados onde constam a análise dos resultados dos indivíduos 1 e 2. Por fim, seguem as considerações, conclusão, estudos futuros, referências e anexos. 15 1 REVISÃO DA LITERATURA Para o melhor entendimento dos aspectos que envolvem um colchão e a sua relevância referente à qualidade de vida de um indivíduo, faz-se necessário uma revisão literária de temas como os poliuretanos, processos de fabricação de espumas flexíveis, a história dos colchões e as relações existentes entre dor e sono, posição deitada e dor, e posição deitada e alinhamento vertebral, entre outros. 1.1 POLIURETANOS Os poliuretanos (Pus) foram descobertos em 1937 por Otto Bayer. O desenvolvimento comercial dos PUs começou na Alemanha no final da década de 1930, inicialmente com a fabricação de espumas rígidas adesivos e tintas. Os PUs são normalmente sintetizados pela reação de um isocianato (di ou polifuncional) com um poliol e outros reagentes (agentes de cura ou extensores de cadeia), possuindo dois ou mais grupos reativos. As principais matérias primas empregadas na síntese de PUs são os isocianatos, polióis, formadores de ligações cruzadas, agentes de expansão, catalisadores, surfactantes, elementos antichama, cargas, aditivos, entre outros. Os isocianatos podem ser aromáticos, alifáticos, ciclo-alifáticos ou policíclicos. Por sua vez, os polióis podem ser poliéteres, poliésteres, ou ainda ter uma estrutura hidrocarbônica (Valter Dias Vilar, 2005). Cerca de 95% de todos os isocianatos consumidos são derivados do tolueno diisocianato (TDI) e do difenilmetano diisocianato (MDI) (Valter Dias Vilar, 2005). Os poliuretanos são sintetizados de uma forma muito simples, por uma reação de poliadição em etapas, basicamente a partir de compostos hidroxilados (OH) e isocianatos (NCO). O controle da densidade das espumas flexíveis é feito principalmente através das quantidades empregadas de água e agentes de expansão auxiliares, sendo usual pigmentar a espuma para identificar as diferentes densidades. O uso de água como agente de expansão resulta na formação de segmentos rígidos de poliuréia e consequente aumento da dureza da espuma. Os 16 agentes de expansão auxiliares (AEA), como o cloreto de metileno, acetona e CO2, são utilizados para a obtenção de espumas de baixa densidade mais macias (Valter Dias Vilar, 2005). 1.1.2 Etapas da formação da espuma flexível convencional As espumas viscoelásticas ou espumas com baixa resiliência com recuperação lenta são um tipo de espuma com resiliência menor que 20%, comparado com 40% para a espuma convencional e 60% para espumas de alta resiliência. Estas espumas encontram muitas aplicações especiais, por exemplo em colchões medicinais e outros mercados médicos, por causa do toque macio e sem igual, e devido à redução de pontos de tensão quando em contato com a pele. CURA E ETAPAS MISTURA tempo 0 CREME CRESCIMENTO 10 s dispersão fenômenos mudança das bolhas e físicos de cor reagentes aumento da viscosidade fenômenos colisões das reação água + isocianato cinéticos moléculas morfologia expansão das bolhas SUSPIRO 60 s PÓS CURA horas a dias aumento abertura das células do aumento do módulo suporte de carga reação poliol + isocianato e aumento do peso molecular formação ruptura da dos precipitação membrana domínios da poliuréia das rígidos células Quadro 1 – Etapas da formação da espuma flexível convencional Fonte: VILAR, 2005 difusão 17 1.1.3 Resiliência e viscoelasticidade Para a obtenção de espumas com alta resiliência são usados polióis poliéteres de maior massa molar, entre 4500 g/mol e 6000 g/mol, feitos com óxidos de propileno/etileno, com alto teor de hidroxilas primárias, e número de OH entre 28 e 38 mg de KOH/g (VILAR, 2005). Ao contrário, as espumas viscoelásticas são aquelas que possuem baixa resiliência (<20%), e retorno lento após a aplicação de tensão. As propriedades de viscoelasticidade são frequentemente obtidas usandose: polióis com menor massa equivalente (maior teor de hidroxilas), junto com os convencionais; misturas de polióis com polaridades muito diferentes, como polióis éster e éter; ou às vezes agentes amaciantes. O resultado principal é uma temperatura de transição vítrea do segmento flexível ligeiramente abaixo da temperatura ambiente, devido ao aumento da viscosidade interna, causando propriedades de viscoelasticidade na temperatura ambiente. Temperaturas elevadas reduzem o comportamento viscoelástico, transformando a espuma viscoelástica em uma espuma convencional macia. Temperaturas baixas tornam a espuma viscoelástica em uma espuma dura. 1.2 PROCESSOS DE FABRICAÇÃO DE ESPUMAS FLEXÍVEIS As espumas flexíveis em bloco são fabricadas, através de processos contínuos ou descontínuos, como um produto semi-acabado que é cortado nas dimensões e formas desejadas. Desde os anos 50, na América do Norte e na Europa, as espumas flexíveis em bloco vêm sendo fabricadas com a utilização de equipamentos de espumação contínua, caros e sofisticados. Por outro lado, equipamentos baratos de espumação descontínua (caixote) são os mais utilizados na América do Sul, Ásia e África, devido ao menor investimento e possibilidade de fabricação de pequenas quantidades de uma grande variedade de tipos de espuma (VILAR, 2005). 18 1.2.1 Processo descontínuo convencional (caixote) O processo descontínuo convencional (caixote) para fabricação de espumas flexíveis em blocos individuais é o mais utilizado no Brasil, e é um processo simples, econômico e semelhante ao procedimento usualmente empregado em laboratório. Possui as seguintes vantagens: 1) baixo custo de capital; 2) produção de pequenas quantidades de diferentes espumas; 3) são fábricas pequenas empregando mão-de-obra pouco especializada; 4) permite a fabricação de blocos retangulares e cilíndricos. Em contrapartida, apresenta as seguintes desvantagens: 1) menor produção que os processos contínuos; 2) perdas que podem chegar à 20% devido à pele grossa; 3) estrutura celular de menor qualidade; 4) variação das propriedades ao longo do bloco; 5) menor repetibilidade nas propriedades dos blocos. Neste processo, normalmente é feita a mistura da massa reagente em um vaso (misturador) dotado de agitação mecânica eficiente. Em seguida, é feita a transferência rápida para um recipiente maior (caixote), antes de ocorrer aumento significativo da viscosidade da mistura. É importante evitar a formação de bolhas de ar, durante o vazamento da mistura, pois poderá acarretar falhas na estrutura da espuma. O crescimento da espuma é normalmente feito em um caixote de madeira ou metal, com superfícies planas laterais articuladas, e coberto por um sistema de tampa móvel. Figura 1 – Processo descontínuo convencional Fonte: VILAR, 2005. a)Tanques de matérias-primas; b) Sistema de dosagem; c) Misturador; d) Painel de controle; e) Caixote; f) Tampa flutuante; g) Bloco de espuma 19 O procedimento típico é: 1) As quantidades calculadas de poliol, carga, agente de expansão auxiliar e corantes são misturadas em um vaso (misturador), sob agitação vigorosa (800 a 1200 rpm), por cerca de 1 minuto; 2) É feita a adição da ASA (mistura de água/silicone/amina) e continua-se agitando por 20 a 40 segundos; 3) O catalisador de octoato de estanho II é então adicionado e, depois de decorridos 15 a 30 segundos, coloca-se o TDI; 4) Decorridos cerca de 5 segundos após a adição do TDI, a agitação é interrompida e a massa vertida no caixote revestido com desmoldante; 5) O misturador é removido e a tampa do caixote abaixada; 6) Após o crescimento da espuma (cerca de 3 minutos), o caixote é aberto e o bloco de espuma é removido (VILAR, 2005). 1.2.2 Processo contínuo convencional O processo contínuo convencional é o mais antigo, porém, ainda bastante utilizado. É muito versátil e permite a produção de espumas de poliéter ou poliéster, com densidades desde 14 a 120 kg/m3. Longas correias são utilizadas na fabricação de blocos grandes, com uma produção de 6 a 8 m/min. Estas máquinas são grandes, caras e utilizadas quando a produção excede 15.000 t/a. As espumas não apresentam buracos e quando se opera com TDI sob alta pressão, são obtidas espumas com estrutura celular mais uniforme. Figura 2 – Processo convencional Fonte: Vilar, 2005 1) Plataforma dos operadores; 2) Alimentação do papel; 3) Bandeja de derramamento; 4) Transportador; 5) Matérias-primas; 6) Cabeça misturadora transversa; 7) Zona de creme; 8) Suspiro; 9) Bloco da espuma. O processo consiste em bombear, em vazões controladas, os reagentes através de uma cabeça misturadora de movimento transversal, sendo misturados e nucleados mecanicamente, sob alta ou baixa pressão, e distribuídos no fundo de um 20 leito horizontal que se move continuamente. Tal leito horizontal é constituído de uma longa esteira inclinada, com velocidade controlada, revestida no fundo por uma folha horizontal e lateralmente por folhas verticais de papel ou plásticos. Após uns poucos segundos, a massa reagente torna-se cremosa e em cerca de dois minutos a espuma cresce. A espuma é transportada por 4 a 6 minutos, para que se processe a cura, sendo cortada na sequência. Todavia, a distribuição uniforme da mistura reagente não é suficiente para a obtenção de blocos com seção transversal retangular. Durante o crescimento, os efeitos de arraste e resfriamento nas paredes laterais levam à obtenção de espuma, com uma seção transversal abaulada no topo. Isto implica perdas de até 20% durante o processo de corte da espuma (VILAR, 2005). 1.3 HISTÓRIA DOS COLCHÕES Com a revolução industrial, surgiu a mola de aço em espiral que foi primeiramente patenteada em 1857 para o uso em acentos de cadeiras. Heinrich Westphal, na Alemanha, foi reconhecido como o inventor do colchão de molas em 1871. Os colchões de mola começaram a ganhar mercado nos anos 20, mas só obtiveram êxito realmente após a segunda guerra mundial quando houve uma corrida pelas patentes em diferentes modelos de colchões. Ainda nos anos 50 houve um rápido desenvolvimento do mercado com as empresas licenciadas. Os lançamentos dos tamanhos King e Queen super-size causaram grande impacto no mercado. Pode-se dizer que em sua estrutura básica, o colchão de molas sofreu grandes mudanças desde sua invenção. A única coisa que permanece igual é o uso do aço, pois mesmo o revestimento que outrora era de algodão, hoje é feito predominantemente de espuma de poliuretano nos dois lados do colchão e cobertos com um tecido metalassé. Em 1881, em Sealy, Texas, uma pequena cidade fora de Houston, Daniel Haynes, fabricante de máquinas de descaroçar algodão, começou a fazer colchões estofados com algodão e vender para amigos e vizinhos. 21 Daniel Haynes inventou uma máquina que comprimia o algodão para o uso em colchões e 1889 conseguiu a patente sobre a invenção. Seu colchão ficou tão popular que ele vendeu direitos sobre patente a pessoas em outros mercados que também começaram a fabricar o produto que na época era conhecido como o "Colchão de Sealy". Mesmo nos anos 50 e 60 os colchões de algodão eram populares. O algodão mofava facilmente em climas quentes e úmidos até o advento do arcondicionado. Os colchões de algodão tendiam a ficar mais compactos e duros com o tempo ao contrário do colchão de molas que fica mais macio ao longo do tempo. A espuma era um subproduto das guerras. O Látex veio primeiro como resultado desesperado para substituir a borracha. A espuma de poliuretano se tornou um concorrente do látex em meados da década de 50, pois o látex era muito mais cara que o próprio colchão de molas. O poliuretano era mais barato que o látex, entretanto uma espuma de qualidade boa ainda era mais cara que um colchão de molas. No que se refere à espuma de poliuretano, a primeira empresa a produzir espumas no Brasil foi a antiga Orion, fundada entre os anos de 1958 ou 1959, localizada no Brás em São Paulo. Posteriormente, teve seu nome mudado para Trorion. Entre os pioneiros na espuma, podemos destacar ainda a Piraspuma e a Vulcan,ambas já desaparecidas (COLCHÃO COSTA RICA, 2011). 1.4 DOR X SONO Os seres humanos gastam em média um terço de suas vidas dormindo. O sono é uma situação complexa que ocorre periodicamente nos humanos. E é caracterizado como um estado fisiológico que pode ser alterado, mas não evitado. É um processo biológico natural do organismo e essencial à reparação e manutenção do equilíbrio bio-psico-social. O sono não é o resultado da diminuição da atividade do cérebro, e sim um estado diferenciado no qual o indivíduo pode ser acordado por estímulos sensoriais ou não (BEZERRA et al.,. 2011). O sono normal está estruturado em fases e estágios seguindo um padrão. Pode ser dividido em dois estados fisiológicos bem distintos, denominados fase de 22 sono REM (Movimentos Oculares Rápidos) e de sono NREM (Sem Movimentos Oculares Rápidos) e 5 estágios, sendo 4 estágios de sono NREM e 1 estágio de sono REM. O sono está bem organizado e estruturado em ciclos e o NREM corresponde a 75% do sono total. Quando uma pessoa entra no sono, ela o faz através dos estágios do NREM. O sono REM somente ocorre após um bom período de exclusivo sono NREM, repetindo-se algumas vezes até o despertar. É um período curto do sono, acompanhado de movimentos rápidos dos olhos e equivalem cerca de 25% do tempo total do sono. À medida que o indivíduo vai passando de um estágio a outro, o sono vai se aprofundando. No estágio 4, que é atingido em média 50 minutos após a pessoa adormecer, o indivíduo está totalmente relaxado e se encontra bastante insensível aos estímulos exteriores. Após alguns minutos no estágio 4, o sono volta os seus estágios, iniciando em ordem decrescente, estágio 4, estágio 3, estágio 2 e inicia o primeiro sono REM da noite. Este ciclo de oito estágios tem em média uma hora e meia do início do sono. Começando o segundo ciclo, após terminar o sono REM do primeiro ciclo, volta ao estágio crescente do SONO NREM, estágio 2, estágio 3, estágio 4 e para completar o ciclo em ordem decrescente até o sono REM. Em resumo: o sono se organiza em forma de ciclos. À medida que a pessoa fica mais descansada ao longo da noite, a duração do sono REM aumenta muito. Isto quer dizer que ao se sucederem os ciclos de sono, se gasta menos tempo nas fases do sono NREM e mais no sono REM. Cabe salientar que uma noite de sono possui, em média, 5 ciclos de sono (BEZERRA et al., 2011). A dor tem sido descrita como uma das principais causas de insônia, a qual 70% dos pacientes se queixam de problemas de sono (KRYGER; SHAPIRO, 1992; WOOTEN, 1994). A maioria dos estudos da dor e do sono, no entanto, tem como foco principal as doenças reumáticas, as quais a prevalência de distúrbios do sono tem sido relatada ser muito elevada e muitos dos sintomas diurnos nestes pacientes, tais como rigidez dor e fadiga, podem ter uma ligação estreita com o padrão de sono restaurador dissociado da doença (MOLDOFSKY, 1993). A dor provocada por uma lesão ou doença é o efeito líquido da ativação nociceptiva periférica e bioquímica de diferentes mecanismos fisiológicos e psicológicos que envolvem a maior parte do sistema nervoso central. 23 A dor pode influenciar o processo de sono e alterar esses parâmetros essenciais, assim como interagir com o curso de uma doença. Por outro lado, distúrbios do sono podem diminuir o limiar da dor (MOLDOFSKY et al., 1975), fazendo com que a relação dor e sono provavelmente reflita os diversos fatores patogênicos subjacentes a diferentes doenças. 1.5 POSTURA DEITADA X DOR A má acomodação do corpo sobre o colchão é um dos fatores que influencia negativamente a qualidade de sono das pessoas (PANKHURST; HORNE, 1994). Justifica-se considerar as lesões na coluna vertebral como um problema social, e que uma menor parcela da população (20%) não será confrontada com as mesmas. A dor lombar é frequentemente causada por sobrecarga na coluna vertebral (HAYNE, 1984). Por exemplo, no transporte de cargas pesadas, fazendose movimentos bruscos (MANNION; ADAMS; DOLAN, 2000) ou adotando uma postura incorreta durante muito tempo. Embora o repouso prolongado deva ser evitado (ERNST, 1991), é natural que o período do sono tenha um efeito de cura para a dor lombar (BEAUMONT; PAICE, 1992). Se a coluna vertebral tem uma diminuição da sobrecarga durante a noite e se for apoiada em sua forma natural, fisiológica, a musculatura deve ser capaz de se recuperar de suas atividades diárias (IDZIKOWSKI, 1999). O colchão ideal para as pessoas normais e saudáveis é aquele que possibilita apoiar a coluna vertebral humana, de modo a otimizar a distribuição de carga a fim de minimizar estresse (GRACOVETSKY; FARFAN, 1986; OLIVER; MIDDLEDITCH, 1991; PHEASANT, 1991). A água constitui 80 a 85 % de um disco intervertebral. Ao carregar a coluna vertebral, parte do fluido do disco intervertebral será perdida. Devido à desidratação do anel, um disco intervertebral perde entre 6 e 13% do fluido de seu núcleo quando a massa da coluna vertebral é sustentada durante quatro horas (HAEX, 2005). 24 Em uma posição horizontal, como é o caso durante o sono, os discos intervertebrais são descarregados e são capazes de recuperar fluido. Esse efeito faz com que os seres humanos possam alongar cerca de 1 cm durante o sono. Além disso, a pressão mais baixa permite um menor stress sobre as cartilagens nas articulações e que se obtenha também um melhor relaxamento muscular. As lesões do disco intervertebral e as suas consequências sobre os tecidos moles são responsáveis pela maior parte das lombalgias referidas ao deitarse. Como posturas prejudiciais podem ser produzidas por um colchão ineficiente ou até mesmo por posturas incorretas ao dormir, a coluna vertebral deve estar livre de maiores pressões durante o sono. Alterações posturais são necessárias para evitar uma sobrecarga de pressão dos tecidos moles e para evitar a rigidez muscular. Uma posição é regularmente modificada cerca de 20 vezes por noite. Embora necessárias, as alterações de postura têm de ser limitadas, pois as mesmas influenciam os consecutivos estágios do sono (BEZERRA et al., 2011). Os ciclos de sono estão fortemente relacionados a episódios de imobilidade, que ocorrem principalmente durante o sono NREM. A imobilidade geralmente começa no estágio 2 e termina no estágio 3 ou 4 do ciclo do sono. De repente, uma mudança induzida da posição pode causar uma descontinuidade desses estágios, que pode se caracterizar pela interrupção do sono prematuramente, tornando a pessoa inapta pela manhã. A estabilidade corporal não é garantida quando o colchão oscila em reação aos movimentos do corpo. Neste caso, a pessoa ao dormir precisará aplicar uma força muscular contínua a fim de obter a estabilização, resultando em grandes grupos musculares sob estresse permanente, acarretando, em última análise, a dor (HAEX, 2005). 1.6 POSTURA DEITADA X ALINHAMENTO VERTEBRAL Levando–se em consideração que, aproximadamente, 80% das pessoas adotam a postura em decúbito lateral para o repouso (GORDON et al., 2007), é de suma importância que seja considerada esta a postura principal para estudar a 25 biomecânica da coluna vertebral e os critérios que devam ser atendidos pelo colchão para a manutenção do alinhamento vertebral durante o repouso. Devido ao fato de que em decúbito lateral, a área da superfície de contato do corpo com o colchão é menor quando comparada com a postura em decúbito dorsal, e de que nesta postura a conformação corpórea proporciona que ocorram pontos de pico de pressão devido às proeminências ósseas do trocânter do fêmur e do acrômio, a distribuição da massa corpórea não é homogênea (NICOL; RUSTEBERG, 1993). Para que um colchão cumpra com sua função ergonômica, se faz necessário que ele absorva a pressão exercida nos pontos críticos (quadril e ombro), evitando, se possível, pressões acima de 32 mmHg nas quais ocorre a interrupção da circulação sanguínea (SEGOVIA et al. ,2001; GRUPO NACIONAL PARA EL ESTUDIO Y ASESORIAMIENTO EN ÚLCERA POR PRÉSION Y HERIDAS CRÓNICAS, 2000; FRUTOS, 2000) e ainda proporcione um suporte firme o suficiente para sustentar a massa da coluna vertebral. Existe um outro fator a ser considerado, que é a questão antropométrica. Imaginando uma linha reta que parta do ponto médio da distância bideltoideana até o ponto médio da distância bitrocantérica, e levando-se em consideração que estas duas distâncias diferem entre si (IIDA, 2005), sendo a distância bideltoideana maior nos homens, é imprescindível que o colchão permita um maior afundamento na região dos ombros a fim de compensar essa medida diferente. Contudo, existe um outro detalhe: a massa óssea na região da cintura pélvica é maior do que na cintura escapular. Isto nos leva a um paradoxo: fazer o segmento mais leve (cintura escapular) afundar mais do que o de maior massa (cintura pélvica). Tal fato nos faz pensar que um bloco de espuma de densidade única não atende a essa demanda. Uma vez que as dimensões corporais de distribuição de massa têm uma influência importante na posição da coluna vertebral em um colchão, cada pessoa deve ter um colchão adaptado individualmente para o sono. 26 1.7 FOTOGRAMETRIA Para a realização de análises dos desvios posturais, fisioterapeutas utilizam a avaliação postural, com a qual é possível identificar, tanto as alterações de cada segmento corporal específico, quanto às modificações nas estruturas globais do indivíduo (VERDERI, 2001). No entanto, existe a possibilidade de se utilizar outras maneiras de avaliar a postura global, fazendo-se uso de fotografias digitais (CASTRO; LOPES, 2003; SACCO et al., 2003; SACCO et al., 2007) ou instrumentos de medida (LEROUX, 2000; WILLNER, 1981; CHARRIÈRE; ROY, 1975; BRYANT et al., 1989; BARAÚNA et al., 2005; TEIXEIRA; CARVALHO, 2007; OHLEN et al., 1986; MELLIN, 1986; D’OSUALDO et al., 1997). A mensuração consiste na atribuição de qualidades ou quantidades às características, observações ou eventos específicos. Um dado é um fenômeno observável ou potencialmente observável; em outras palavras, um dado é um fato, e pode vir a ser um número se houver um instrumento apropriado para medir o fato (DURWARD et al., 2001). A utilização de softwares com manipulação de fotografias digitais é um dos recursos mais modernos de avaliação postural à disposição (SOUZA et al., 2009; MERCADANTE et al., 2005; PEREIRA, 2003; SILVA, 2005; SINGER et al., 1990; PORTAL DO PROJETO SOFTWARE PARA AVALIAÇÃO POSTURAL, 2004; NORMAND et al., 2007; HUYSMANS et al., 2006), permitindo uma quantificação objetiva em relação à identificação das alterações funcionais e estruturais do indivíduo. Entretanto, para a utilização desse recurso, é necessário estabelecer e demarcar pontos anatômicos como referência, utilizando-se marcadores de superfície sobre a pele (CASTRO, 2003; SACCO et al., 2003; SACCO et al., 2007; LEROUX et al., 2000; DOWNEY et al., 1999). A utilização desse recurso como método de avaliação ocorre por meio da palpação das proeminências ósseas, motivo pelo qual ser de suma importância uma correta palpação da estrutura óssea para a obtenção do sucesso na avaliação (HARLICK et al., 2007; HANELIN; YOUNG, 2009). A palpação dos processos espinhosos é o fator mais importante para que a avaliação obtenha resultados válidos e consistentes. 27 Avaliações de posturas por este método também podem ser realizadas na análise do alinhamento da coluna vertebral em decúbito lateral, visando estudar o efeito da superfície de apoio, como a densidade de um colchão (SAAD et al., 2004). A eficiência das avaliações fotogramétricas está diretamente ligada à manutenção da relação espacial entre as proeminências ósseas e os pontos marcados sobre a superfície da pele. Certamente, o movimento da pele pode deslocar o marcador de superfície em relação ao processo espinhoso representado, levando a análises errôneas. Para análise do alinhamento da coluna, é necessário que haja exatidão na identificação dos processos espinhosos, que é estabelecida através do método de palpação. Cabe saber se realmente a localização do processo espinhoso identificado pelo marcador de superfície através da palpação é condizente com o processo espinhoso vertebral avaliado. Podem ocorrer significativas diferenças relacionadas aos deslocamentos dos marcadores de superfície em comparação ao posicionamento do processo espinhoso entre as posições avaliadas para a maioria das vértebras que compõe a convexidade torácica. Isso ocorre devido ao movimento dos tecidos moles (ENGSBERG et al., 2008; MOGA, 2009; MÖRL; BLICKHAN, 2006) no momento em que o indivíduo movimenta-se da posição ortostática para a posição em decúbito lateral. Um dos tecidos moles é a pele, cuja propriedade viscoelástica, bem como a espessura, pode ser uma das responsáveis pelo deslocamento do marcador de superfície. Também cabe ressaltar que a região torácica não é composta somente por vértebras, mas pelas costelas e pelo esterno (MOORE, 1994; NEUMANN, 2006), formando o arcabouço torácico, cuja composição envolve também vários músculos que realizam o movimento de complacência torácica durante a respiração (PIVA et al., 1998). Assim, pressupõe-se que a elasticidade da pele e da caixa torácica juntamente com a troca de posição do indivíduo aumentem a mobilidade desta região, admitindo que os tecidos moles acompanhem a superfície durante a troca de posição, ocasionando um deslocamento do marcador de superfície. Deste modo, infere-se, a partir desse raciocínio que a palpação dos processos espinhosos deva acontecer na posição em que se deseja analisar o indivíduo, com o intuito de evitar a interferência da movimentação dos tecidos moles. 28 Já se verificou a correlação entre o marcador de superfície e os processos espinhosos das vértebras T1, T10, L3, S1, em posição estática e dinâmica. Evidenciou-se uma intensa perturbação na pele na saída da posição estática para a posição dinâmica ocasionando deslocamentos do marcador de superfície no sentido súpero-inferior e médio-lateral, sendo que os maiores deslocamentos ocorreram na região lombar (ENGSBERG et al., 2008). Esses dados novamente reforçam o pressuposto de que a palpação dos processos espinhosos deva ocorrer também na posição em que se deseja avaliar o indivíduo, não unicamente na posição de ortostase, evidenciando que o deslocamento do marcador de superfície na pele está intimamente relacionado à movimentação dos tecidos moles. Ao observar-se na literatura a existência de várias técnicas distintas de palpação das proeminências ósseas, é coerente afirmar que não há uma padronização, assim como não existem evidências de um padrão de referência no método de palpação espinhal devido à variabilidade da espécie humana (HARLICK et al., 2007; BILLIS et al., 2003). Entretanto, uma boa base científica e a habilidade do fisioterapeuta em identificar as saliências ósseas através da palpação indicam maior qualidade das medidas utilizadas em procedimentos de avaliação postural (SACCO et al., 2007). Desse modo, é importante que o profissional tenha conhecimento anatômico e morfológico do sistema músculo-esquelético. 29 2 MATERIAIS E MÉTODO O método utilizado para os cálculos dos ângulos foi desenvolvido pelo próprio autor. O presente estudo caracteriza-se por ser uma pesquisa aplicadaquantitativa-descritiva-experimental (PRODANOV; FREITAS, 2009), na qual, para a análise e discussão dos dados, foram realizados cálculos comparativos entre os indivíduos da amostra e a análise do comportamento biomecânico entre estes mesmos indivíduos e os respectivos colchões avaliados. Foram utilizados para testes comparativos sete modelos de colchões de solteiro, medindo 1,88 m x 0,88 m, sendo: 1- um modelo em molas do tipo Bonnel; 2- um modelo em espuma com 4 camadas de diferentes densidades; 3- um modelo com a base em poliestireno expandido recoberto por uma camada de espuma; 4- um modelo em espuma látex; 5- um modelo em molas do tipo Bonnel acrescido de uma camada de espuma revestida e costurada separadamente (pillow); 6- um modelo com a base em poliestireno acrescido de uma camada de espuma revestida e costurada separadamente (pillow); 7- um modelo configurado em poliestireno acrescido de uma camada de poliuretano com tipos diversos de espuma com altura, densidades e resiliência específicas, revestida e costurada separadamente (pillow), tendo por base os parâmetros antropométricos do indivíduo 1, isto é, a distribuição da pressão corporal conforme a biomecânica envolvida na adoção da postura em decúbito lateral. O modelo configurado para o indivíduo 2 é constituído em base de molas Bonnel acrescido de uma camada com tipos diversos de espuma com altura, densidades e resiliência específicas, revestida e costurada separadamente (pillow), também tendo por base os mesmos parâmetros antropométricos deste indivíduo. 30 2.1 CAMPO DE ESTUDO O campo de estudo foi um ambiente reservado destinado especificamente aos testes nas dependências de uma indústria de colchões na região do Vale dos Sinos. 2.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA A população do estudo envolveu os funcionários da empresa. A amostra do tipo não probabilística, por conveniência, foi constituída por dois indivíduos: indivíduo 1 com 27 anos, massa de 70 kg, altura de 1,75 m, distância bideltoideana de 44 cm e distância bitrocantérica de 33 cm; e indivíduo 2 com 29 anos, massa de 90 kg, altura de 1,76 m, distância bideltoideana de 49 cm e distância bitrocantérica de 37 cm. A seleção destes indivíduos como amostra deveu-se também a outros fatores como o IMC que permitiu a comparação entre um indivíduo dentro da normalidade (22,9 para o indivíduo 1) e outro com sobrepeso (29,05 para o indivíduo 2), o biotipo mais longelíneo e sem assimetrias posturais expressivas. O critério de excluir assimetrias posturais expressivas baseou-se no fato de ser discutível que em uma situação na qual fosse evidente uma escoliose acentuada, posicionando-se o tórax com a concavidade da curvatura escoliótica de encontro ao colchão, essa mesma curvatura tenderia ao endireitamento, levando a uma falsa ideia de correção e/ou melhoramento do alinhamento vertebral. O contrário também seria verdadeiro: posicionando-se o tórax com a convexidade de encontro ao colchão, essa mesma curvatura tenderia ao encurvamento maior. Desta forma, a escolha de tais indivíduos está de acordo com um estudo (ENGSBERG et al., 2008) que aponta que os fatores obesidade e as variações morfológicas na estrutura óssea do indivíduo podem constituir-se em variáveis intervenientes. 31 2.3 PROCEDIMENTOS PARA A COLETA DE DADOS O estudo recebeu, primeiramente, a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa. O protocolo da análise fotogramétrica computadorizada baseou-se na demarcação dos processos espinhosos de C7, T5, T10, L2, L5 e S2, sendo C, cervical; T, torácica; L, lombar; e S, sacral. Seguiu-se então a demarcação de cada indivíduo em posição ortostática, tendo as referências ósseas identificadas por processo de anatomia palpatória (TIXA, 2000; DUFOUR et al., 1989), segundo o protocolo desenvolvido e proposto, no qual consta a utilização de marcadores de pele com 2 cm de diâmetro. Efetuou-se, então, o primeiro registro fotográfico. A câmera fotográfica foi posicionada a 3,00 m de distância. Além da distância específica, outros dois fatores foram observados: 1- o eixo óptico estava perpendicular ao plano do objeto em estudo, evitando uma distorção da imagem; 2- o objeto analisado estava posicionado na região central da imagem, evitando o efeito de distorção periférica gerado pela diferença de diâmetros entre a periferia e o centro da lente da câmera. Em seguida, procedeu-se a retirada dos marcadores de pele e sua recolocação já com o indivíduo posicionado em decúbito lateral esquerdo com os membros inferiores semifletidos, os membros superiores também em semiflexão, com apoio de um travesseiro sob a cabeça e outro travesseiro entre os joelhos. O procedimento de remarcação tal qual fora descrito faz-se necessário, pois é de senso comum entre os pesquisadores que em cálculos angulares por fotogrametria, no movimento do segmento corporal ocorre uma modificação da relação espacial entre os marcadores de pele e a estrutura anatômica em questão. Isso pode ser atribuído devido ao fato de que durante um movimento de qualquer natureza, como o da mudança da posição ortostática para a posição em decúbito lateral, o movimento realizado pela pele, invariavelmente, não é proporcional ao movimento realizado pela estrutura anatômica em estudo (ENGSBERG et al., 2008; MOGA, 2009; REINSCHIMIDT et al., 1997). Após o devido reposicionamento e remarcação do indivíduo, fez-se a captura da segunda imagem. 32 2.3.1 Instrumentos para a coleta de dados Utilizaram-se para a demarcação dos pontos na pele marcadores de superfície com 2 cm de circunferência da cor branca. As imagens foram capturadas, empregando-se uma câmera digital semi-profissional Panasonic LUMIX - DMCFZ35PU-K com tripé. 2.4 PROCEDIMENTO PARA ANÁLISE DOS DADOS As imagens capturadas foram posteriormente transferidas a um software de cálculos angulares (SAPO), no qual foram calculados os ângulos formados pela reta traçada entre dois pontos de cada segmento em relação à linha do prumo, obtendose assim uma angulação para cada segmento (C7-T5, T5-T10, T10-L2, L2-L5 e L5S2). Adicionalmente, foram calculados os ângulos formados pela reta traçada entre dois pontos de cada segmento em relação aos pontos nivelados na borda da cama. Fez-se, então, a comparação dos ângulos encontrados em cada segmento em relação às duas posturas (ortostática e decúbito lateral). Como parâmetros comparativos entre as duas posturas, utilizou-se o somatório das angulações calculadas em cada segmento do protocolo proposto e a sua respectiva variação percentual. Entendendo-se que o alinhamento deva ser mantido em toda a extensão da coluna vertebral, não se fazendo distinção de qualquer segmento, foi considerado para a postura em ortostase a nomenclatura de “angulação à esquerda” e “angulação à direita” para indicar o sentido da inclinação de cada segmento. Na postura em decúbito lateral, utilizou-se a nomenclatura “inclinação em declive” e “inclinação em aclive” também para indicar o sentido da inclinação de cada segmento. Desta forma, uma “angulação à direita” da postura em ortostase traduz-se em uma “inclinação em aclive” quando em decúbito lateral esquerdo. Por sua vez, uma “angulação à esquerda” significa uma “inclinação em declive”. Desconsiderou-se para o somatório se a inclinação dos segmentos analisados era em declive ou aclive no sentido crânio-caudal, evitando assim que o valor absoluto de uma inclinação em aclive anulasse o valor absoluto de uma 33 inclinação em declive, e vice-versa. Este melhor alinhamento (menor somatório) caracteriza o melhor desempenho do colchão, pois cada segmento da coluna vertebral haverá de estar menos distante de um eixo considerado ideal. 34 3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS Os resultados e suas interpretações estarão divididos em duas partes, nas quais cada uma delas mencionará o respectivo indivíduo e o seu comportamento biomecânico em decúbito lateral sobre os modelos de colchão testados. Os valores obtidos referentes às angulações em cada segmento da coluna vertebral na posição em ortostase e em decúbito lateral sobre cada modelo de colchão conforme o protocolo proposto, assim como o somatório das angulações, sua variação e variação percentual constam nas Tabelas 1 e 2 a seguir. Tabela 1 - Angulações obtidas em cada segmento da coluna vertebral nos respectivos modelos de colchão com o indivíduo 1 Ângulo Ängulo Ângulo Angulo Ângulo Somatório Variação Variação L2-L5 L5-S2 Ângulos Somatório* % 4,4o ad 1,2o ad 1,2o ae 13,2o - - 6,7o id 1,3o ia 2,5o id 7,4o ia 21,5o 8,3 62,9 6,1o id 6,9o id 2,2o id 5,7o id 2,2o id 23,1o 9,9 75,0 6,2o id 6,3o id 1,5o ia 2,3o id 2,7o ia 19,0o 5,8 43,9 4,3o id 6,2o id 2,8o id 4,5o ia 4,0o ia 21,8o 7,9 65,2 0,9o id 5,5o id 4,6o id 2,3o ia 0,0o 13,3o 0,1 0,8 1,0o id 6,7o id 5,8o id 2,5o ia 0,0o 16,0o 2,8 21,2 0,9o id 3,1o id 0,0o 0,0o 2,1o id 6,1o - 7,1 - 54,8 C7-T5 Postura Ortostase Colchão Modelo 1 Colchão Modelo 2 Colchão Modelo 3 Colchão Modelo 4 Colchão Modelo 5 Colchão Modelo 6 Colchão Config T5- T10- T10 L2 6,0o ae 0,4o ad 3,6o id id=inclinação em declive, ia=inclinação em aclive, ae=angulação à esquerda e ad=angulação à direita * Variação do somatório dos ângulos dos colchões em relação à posição em ortostase. Fonte: Elaborado pelo autor. 35 Tabela 2 - Angulações obtidas em cada segmento da coluna vertebral nos respectivos modelos de colchão com o indivíduo 2 Ângulo Ängulo Ângulo Angulo Ângulo Somatório Variação Variação C7-T5 Postura Ortostase Colchão Modelo 1 Colchão Modelo 2 Colchão Modelo 3 Colchão Modelo 4 Colchão Modelo 5 Colchão Modelo 6 Colchão Config T5- T10- L2-L5 L5-S2 Ângulos Somatório % T10 L2 4,2o ae 0,1o ad 1,7o ad 3,8o ad 0,0o 9,8o - - 6,9o id 12,3o id 4,6o id 0,2o id 2,8o id 26,8o 17,0o 173,5 3,5o id 11,3o id 2,1o id 1,7o ia 0,0o 18,6o 8,8o 89,8 4,6o id 9,7o id 4,5o id 0,2o id 1,8o id 20,8o 11,0o 112,2 14,5o id 11,2o id 3,5o id 3,5o id 0,2o id 32,9o 23,1o 235,7 14,7o id 9,8o id 3,7o id 5,2o id 1,5o id 34,9o 25,1o 256,1 6,2o id 6,6o id 3,5o id 3,6o id 2,7o id 22,6o 12,8o 130,3 1,6o ia 3,2o id 2,0o id 0,2o ia 0,2o id 7,2o - 2,6o - 26,3 id=inclinação em declive, ia=inclinação em aclive, ae=angulação à esquerda e ad=angulação à direita Fonte: Elaborado pelo autor. 3.1 ANÁLISE DOS RESULTADOS DO INDIVÍDUO 1 No colchão de modelo 1, observou-se uma considerável inclinação em aclive do segmento L5-S2 (7,4o) e, subsequentemente a isso, uma inclinação em declive continuada desde o segmento L2-L5 até o segmento C7-T10. Esse comportamento biomecânico sugere que o suporte oferecido por este modelo de colchão na região lombar é excessivo, não permitindo o devido afundamento da mesma. Isto faz com que a região da cintura, que possui neste indivíduo uma medida visualmente menor que a medida da distância bitrocantérica, ao se dirigir no sentido de se apoiar no colchão, promova uma inclinação em declive no segmento L2-L5 e em aclive no segmento L5-S2. As inclinações em declive dos segmentos C7-T5, T5-T10 e T10-L2 36 ocorrem em consequência do não afundamento necessário da cintura escapular, conforme sua variação antropométrica em relação à cintura pélvica. Sendo o indivíduo do gênero masculino, a anatomia humana demonstra que a cintura pélvica possui ossos maiores e, naturalmente, com massa maior do que os ossos da cintura escapular. No entanto, a configuração óssea da cintura escapular faz com que esta ocupe uma maior área no sentido transversal do que a cintura pélvica. Considerando-se que, antropometricamente, os indivíduos em estudo possuem respectivamente uma diferença de 11 e 12 cm entre a as suas distâncias bideltoideanas e bitrocantéricas, sendo maiores as primeiras, é necessário que para exercer uma função ergonômica, mantendo o alinhamento vertebral em decúbito lateral, o colchão deve permitir um maior afundamento da cintura escapular em relação à cintura pélvica. Caso isso não ocorresse, os indivíduos possivelmente sofreriam um maior desconforto em razão das rotações vertebrais e, consequentemente, da hipóxia dos ligamentos longitudinais posteriores, que por sua vez, tornar-se-iam dolorosos, obrigando-os a se movimentar na cama, procurando uma melhor acomodação. Este episódio ocorrendo repetidas vezes durante o período de descanso provocaria a quebra do ciclo natural do sono, levando-os à sensação matinal de cansaço físico e mental. Se é necessário fazer com que um segmento corporal mais leve, porém maior em largura (cintura escapular), afunde mais do que um segmento com maior massa, porém menor em largura (cintura pélvica), tal fato nos faz concluir que uma superfície de apoio que ofereça a mesma resistência ao suporte em toda a sua área não atenderia à essa demanda. Se por um lado o suporte lombar oferecido por um colchão mais firme mantém o segmento lombar melhor alinhado e estabilizado, essa mesma firmeza não permite que ocorra o afundamento maior da cintura escapular que se faz necessário para compensar sua maior dimensão. Desta forma, ocorre uma inclinação em declive no sentido crânio-caudal. Esta inclinação será tanto maior quanto for a diferença entre as medidas bitrocantéricas e bideltoideanas, e, respectivamente, a massa de cada segmento. Este fato ficou evidenciado com o indivíduo 1 no colchão de modelo 2 que é constituído por 4 camadas de espuma, sendo que suas densidades variam de 26 a 45, no qual a sua configuração ocorre por uma ordem decrescente de densidades, partindo da camada inferior para as camadas superiores. Esse modelo de colchão é 37 mais firme do que os colchões convencionais com bloco de espuma único ou os modelos de molas. Sua firmeza é capaz, no caso de um indivíduo masculino, de sustentar de forma adequada a coluna lombar, de tal modo a permitir que o seu alinhamento seja razoável. Porém, justamente em razão desta mesma firmeza, a cintura pélvica, que neste caso necessitaria de um maior afundamento, acaba não sendo acomodada na posição adequada, gerando uma inclinação em declive no sentido crânio-caudal. O somatório das angulações deste modelo chegou a um aumento da inclinação em 23,1o com uma variação percentual de 75,0%, sendo o modelo a apresentar os maiores resultados de somatório das angulações e variação percentual. Torna-se evidente então que quanto maior a massa corpórea e as dimensões antropométricas de um indivíduo, maior será a inclinação lateral de sua coluna vertebral se for utilizado um colchão que tenha a preocupação maior em ser tão somente resistente à sua massa. Assim sendo, em um primeiro momento, um colchão mais firme pode ajudar a solucionar quadros de lombalgia. Entretanto, a médio prazo, a sensação de desconforto na região da cintura escapular é uma tendência a ser considerada. No tocante ao colchão de modelo 3, o mesmo é configurado com poliestireno expandido e recoberto por uma camada de espuma de densidade 33. Algumas empresas utilizam esta configuração como alternativa ao colchão de modelo 2 devido ao seu menor custo de produção. Para este modelo, obtiveram-se resultados semelhantes ao colchão de modelo 2 em seu somatório das angulações e variações percentuais, porém, com um comportamento biomecânico distinto, visto que ocorreram variações intercaladas nas inclinações em declive e em aclive. Houve um declive no segmento T5-T10 de 6,3o, seguido de um aclive em T10-L2 de 1,5o, voltando a ocorrer um declive em L2-L5 de 2,3o e novamente outro aclive em L5-S2 de 2,7o. Isto sugere uma pior acomodação da coluna vertebral devido a um maior número de rotações vertebrais ocasionadas. Quanto ao colchão de modelo 4 (látex), ocorreram resultados de aumento dos somatórios das angulações e da variação percentual nos dois indivíduos, porém com comportamentos biomecânicos distintos entre si. No indivíduo 1, houve inclinações tanto em declive quanto em aclive. Os segmentos C7-T5, T5-T10, T10L2 e L2-L5 apresentaram inclinações em declive de 4,3o, 6,2o, 2,8o e 4,5o, respectivamente. Já no segmento de L5-S2, houve uma inclinação em aclive de 4,0o. 38 O látex é caracteristicamente um material de maior densidade que as espumas convencionais. E os resultados demonstram exatamente uma reação biomecânica condizente com essa situação. Devido ao excesso de firmeza do látex, a região da cintura escapular não é afundada no sentido de compensar sua maior medida antropométrica em relação à medida do quadril, promovendo, desta forma, uma forte inclinação em declive no sentido crânio-caudal. Neste caso específico, as inclinações em aclive na região lombar não ocorreram por falta de suporte da mesma (o látex é suficientemente firme para isso), mas sim pelo fato de que ao não permitir praticamente nenhum afundamento da região pélvica, a diferença antropométrica da mesma em relação à circunferência da cintura provocou um aclive no sentido crânio-caudal desta região. No colchão de modelo 5 (molas + pillow), obtiveram-se resultados menores no somatório das angulações e na variação percentual em relação ao colchão de modelo 4. Porém, o comportamento biomecânico foi o mesmo, ocorrendo inclinações em declive nos segmentos de C7-T5 (0,9o), T5-T10 (5,5o) e T10-L2 (4,6o), uma inclinação em aclive no segmento L2-L5 (2,3o) e uma estabilização do segmento L5-S2. Estes resultados sugerem que esta configuração de colchão não permite um adequado afundamento da cintura escapular, sendo também firme além do necessário para a região lombar a ponto de causar uma inclinação em aclive na mesma. Por sua vez, o colchão de modelo 6 (poliestireno + pillow) apresentou resultados que evidenciaram inclinações em declive nos segmentos C7-T5 (6,2o) e T5-T10 (6,6o). Estas inclinações reforçam o entendimento sobre a necessidade de um afundamento maior da cintura escapular em relação à cintura pélvica devido às suas diferenças de medidas antropométricas. Os resultados obtidos da análise fotogramétrica do indivíduo 2 (Ver seção 4.2) confirmaram o mesmo padrão de reação biomecânica do indivíduo 1 frente aos materiais de suporte mais firme (ex.: colchão modelo 2). Todavia, devido ao seu sobrepeso (IMC= 29,05) e por característica antropométrica masculina sua massa gordurosa estar localizada de forma mais concentrada na região abdominal, suas reações biomecânicas frente aos materiais de menor capacidade de suporte apresentaram comportamento bem distinto. Quanto ao colchão configurado para o indivíduo 1, podem-se observar os melhores resultados obtidos entre todos os modelos, uma vez que considera-se 39 como melhor resultado um alinhamento com somatório igual a zero. Nessa situação, as estruturas anatômicas da coluna vertebral estariam em posição neutra livre de torções e tensões, sendo esta uma condição básica para a obtenção de um repouso reparador. Uma pequena inclinação em declive do segmento T5-T10 (3,1o) e no segmento L5-S2 (2,1o) é indicativo de que nestas regiões o colchão ainda possa ser modificado a fim de buscar um melhor desempenho. Mas o simples fato de que os resultados do somatório das angulações e da variação percentual terem sido menores em relação à posição em ortostase (- 7,1o e – 54,79%) demonstra a eficiência deste modelo no propósito de manter o alinhamento da coluna vertebral. Com estas referências, foram modulados dois colchões: para o indivíduo 1 com poliestireno e camadas de poliuretano de espessuras, comprimentos e densidades específicas, e para o indivíduo 2 com molas Bonnel e camadas de poliuretano também de espessuras, comprimentos e densidades específicas. Ambos tiveram suas camadas de poliuretano costuradas separadamente (pillow) com densidades específicas em regiões pré-determinadas do colchão (local de apoio dos ombros e quadris) afim de se encontrar angulações semelhantes nas duas posturas. O colchão do indivíduo 1 foi configurado da seguinte forma: uma camada de 20 cm de poliestireno expandido (isopor) acrescido de uma camada de poliuretano costurada separadamente (pillow). Esta camada, por sua vez, foi configurada com uma camada de poliuretano viscoelástico de densidade 60, com 60 cm de comprimento x 88 cm de largura x 7 cm de altura (espessura) e outra camada de poliuretano de densidade 33, com 140 cm de comprimento x 88 cm de largura x 7 cm de altura (espessura). O motivo para esta configuração baseia-se no fato que a massa corpórea total, e mais especificamente, a massa das cinturas escapular e pélvica, é perfeitamente sustentável por uma camada de poliuretano de 7 cm de altura (espessura). Sendo assim, a base de sustentação do colchão para este indivíduo poderia ser feita com qualquer material desde que o mesmo fosse resistente à carga da massa corpórea. Face ao exposto, optou-se então pelo material de menor custo. Já o pillow foi configurado em razão de a distância bideltoideana ser, em geral, maior do que a distância bitrocantérica (11 cm de diferença), permitindo, assim, um deslocamento de maior amplitude na direção vertical na região da cintura escapular. 40 Este deslocamento deveria ser, em princípio, de cerca de 5,5 cm (metade da diferença de medida entre as cinturas, uma vez que a coluna vertebral localiza-se na linha média da distância destas cinturas). Levando-se em consideração que uma camada de poliuretano de densidade 33 é o suficiente para sustentar a cintura pélvica deste indivíduo, a opção possível para que um material permitisse uma maior amplitude de deslocamento inferior da cintura escapular seria uma camada de poliuretano de densidade 28 ou uma camada de poliuretano viscoelástico de densidade 60. A opção pela camada de poliuretano viscoelástico deveu-se em virtude de seu comportamento mecânico ser mais favorável. Em razão de sua alta resiliência, este material é mais macio que as espumas convencionais de mesma densidade, possuindo maior suporte de carga (VILAR, 2005). Isto permite que a espuma ofereça uma maior amplitude de deslocamento vertical sem perder a capacidade de carga, não se deformando permanentemente. Assim, garante-se uma maior durabilidade do material. 3.2 ANÁLISE DOS RESULTADOS DO INDIVÍDUO 2 Em relação ao colchão de modelo 1 (molas), os resultados apontaram uma inclinação em declive em todos os segmentos analisados, sendo mais evidente em C7-T5 (6,9o), T5-T10 (12,3o) e T10-L2 (4,6o) em comparação aos segmentos de L2L5 (0,2o) e L5-S2 (2,8o). Este comportamento biomecânico se explica pelo fato de que mesmo sendo o colchão de molas um modelo com menor suporte de carga do que uma espuma de densidade 33, este não proporcionou o devido afundamento da cintura escapular como poderia ser esperado caso fosse simplesmente considerado uma relação direta de massa versus resistência por área. A razão para isso é que ao ser permitido pelo colchão um maior afundamento dos segmentos lombares, devido a não sustentação da massa corpórea nesta região, ocorre uma transmissão das forças de tração e compressão das molas para a região da cintura escapular. Tal comportamento se traduz em um efeito gangorra no colchão. 41 No colchão de modelo 2, os resultados apresentaram uma acentuada inclinação em declive crânio-caudal evidenciada no segmento T5-T10 (11,3o). Fato este já compreendido em decorrência do não afundamento da região da cintura escapular, que possui uma diferença considerável em sua medida antropométrica em relação à cintura pélvica. Percebe-se aqui que quanto maior a diferença das medidas antropométricas entre as regiões da cintura pélvica e cintura escapular, maior será a inclinação em valores absolutos. No colchão de modelo 3 (poliestireno), os resultados do somatório das angulações e da variação percentual foram menores quando comparados ao modelo 1 (molas) e maiores em relação ao modelo 2 (4 camadas de diferentes densidades), porém o comportamento biomecânico do indivíduo 2 foi similar a estes modelos. Ocorreram novamente inclinações em declive nos segmentos C7-T5 (4,6o), T5- T10 (9,7o) e T10-L2 (4,5o) devido ao não afundamento da cintura escapular. Desta forma, não ocorre a compensação da diferença antropométrica da mesma em relação à cintura pélvica. Em relação ao colchão de modelo 4 (látex), o comportamento biomecânico foi similar ao individuo 1. No entanto, por este apresentar uma massa maior na região pélvica em relação ao indivíduo 1, a firmeza do colchão foi suficiente para uma adequada estabilização deste segmento. Porém, seguindo as reações biomecânicas já evidenciadas anteriormente, a região da cintura escapular não provocou um afundamento adequado para a compensação da diferença da medida antropométrica em relação ao quadril, levando a uma forte inclinação em declive no sentido crânio-caudal. Percebe-se então que a propriedade ortopédica de um colchão não está associada simplesmente à quantificação de sua capacidade de suporte. Não se trata de ser um colchão capaz ou não de sustentar a massa que é apoiada em sua superfície, mas sim de aferir se um colchão oferece suporte na região lombar, onde a estabilização deste segmento é confrontada a uma massa corpórea maior, e se a região da cintura escapular é acomodada de tal forma a compensar sua diferença antropométrica. Quando analisado o indivíduo 2 em um colchão de molas (modelo 5) no qual a base de suporte é muito mais macia em razão da natureza física das próprias molas ainda acrescida de uma camada extra de espuma (pillow) também macia, os resultados evidenciaram o maior aumento do somatório das angulações e da 42 variação percentual entre todos os colchões. Seu excesso de maciez acentuou o afundamento da região da cintura pélvica (mais pesada), forçando a cintura escapular no sentido oposto (erguendo-a). Isto explica as grande diferenças de angulações entre os segmentos C7-T10 (14,7o) e L5-S2 (1,5o). Já no colchão de modelo 6 (poliestireno + pillow) , obtiveram-se resultados que podem ser considerados como intermediários entre os colchões de modelo 3 (poliestireno) e 1 (molas). As inclinações em declive apresentaram-se com maior evidência nos segmentos de C7-T5 (6,2o) e T5-T10 (6,6o), exibindo um comportamento biomecânico de acordo com uma superfície de apoio que não proporciona o devido afundamento da cintura escapular, tal qual nos modelos 3 e 1. Quanto ao colchão configurado, este apresentou uma redução de -2,6 o no somatório dos ângulos com uma variação percentual de -26,32%. Uma pequena inclinação em declive no segmento T5-T10 (3,2o) e no segmento T10-L2 (2,0o) indica a possibilidade de ajustes na configuração do colchão. Porém, os resultados evidenciam um melhor desempenho no comparativo aos outros modelos. O colchão do indivíduo 2 foi configurado da seguinte forma: uma base de 30 cm de altura em molas do tipo Bonnel acrescida de uma camada de poliuretano costurada separadamente (pillow). Esta camada (pillow) por sua vez, foi configurada com uma camada de poliuretano viscoelástico de densidade 60, com 60 cm de comprimento x 88 cm de largura x 7 cm de altura (espessura) e outra camada de poliuretano de densidade 45, com 140 cm de comprimento x 88 cm de largura x 7 cm de altura (espessura). A razão para esta configuração é atribuída à diferença antropométrica da distância bideltoideana ser maior em relação à distância bitrocantérica (12 cm de diferença) e acrescido do fato que este indivíduo tem maior massa corpórea do que o indivíduo 1. Com estas medidas, uma camada de poliuretano viscoelástico de densidade 60 e com 7 cm de altura (espessura) não seria suficiente para promover o alinhamento vertebral da região da cintura escapular. Fez-se necessária, então, a utilização de uma base em molas do tipo Bonnel, uma vez que estas permitem o acréscimo de uma pequena amplitude de deslocamento na direção vertical. Para compensar este deslocamento que ocorreria em todos os segmentos corpóreos, configurou-se o pillow com uma camada de poliuretano de densidade 45, com 140 cm de comprimento x 88 cm de largura x 7 cm de altura (espessura) para fornecer dar o devido suporte na região da cintura pélvica. E outra camada de poliuretano 43 viscoelástico de densidade 60, com 60 cm de comprimento x 88 cm de largura x 7 cm de altura (espessura) para a região da cintura escapular. Um fato interessante ocorrido foi que a configuração de colchão com camadas de poliuretano de diferentes densidades sobrepostas (modelo 2) é conhecida e difundida no mercado como “densidade progressiva”, possuindo variantes de rotulação de acordo com os mais diferentes fabricantes. E é atribuída à mesma a propriedade de ser a mais eficiente configuração de colchão com ação ortopédica e adaptável a todo e qualquer biotipo. No entanto, evidenciou-se pelos resultados que sua performance foi a que menos atendeu às necessidades de alinhamento vertebral do indivíduo 1. Outro dado que chama a atenção foi o resultado obtido pelo colchão de modelo 4, em ambos os indivíduos. O látex é um material de alta durabilidade e resistência quando utilizado em colchões. É um material industrialmente considerado de alto valor agregado e tem um forte apelo comercial. No entanto, assim como o colchão de modelo 2, mostrou resultados que não condizem com sua proposta de mercado. O colchão de modelo 3 para o indivíduo 1 e o colchão de modelo 5 para o indivíduo 2 podem ser considerados os mais contra-indicados para estes indivíduos, visto que o aumento do somatório das angulações e a alternância das inclinações sugerem que não está ocorrendo uma correta distribuição de carga, aumentando o estresse nas estruturas da coluna (GRACOVETSKY; FARFAN, 1986; OLIVER; MIDDLEDITCH, 1991; PHEASANT, 1991). Partindo desse raciocínio é que se projetou a configuração de um colchão que se adequasse ao biotipo de cada um dos indivíduos, proporcionando-lhes o melhor alinhamento vertebral possível. As modificações que resultaram nas configurações finais dos colchões desenvolvidos foram realizadas sobrepondo camadas de espumas com densidades específicas em áreas pré-determinadas. Ajustes foram sendo feitos conforme os resultados obtidos, tendo sido testadas espumas com variações de densidade entre 33 a 60, e em áreas que variaram de 0,35m2 a 1,12m2. Durante os testes, observou-se que modificações realizadas na região da cintura escapular alteravam os resultados do alinhamento vertebral na região da cintura pélvica e vice-versa. Tais fatos podem ser atribuídos à força de tração existente entre as estruturas anatômicas que formam a coluna vertebral e outras que se localizam em seu entorno, como ligamentos e músculos. 44 Essas dinâmicas de tração entre as estruturas anatômicas ao longo da coluna vertebral impedem que seja analisado o comportamento do alinhamento vertebral segmentadamente. Essa realidade torna viável, porém de complexa elaboração, um modelo matemático capaz de prever o comportamento da coluna vertebral de um indivíduo quando em decúbito lateral. Outros dois aspectos relativos ao método precisam ser considerados: a utilização de uma tecnologia de captação de imagens em 2D em detrimento da possibilidade da utilização de captação de imagens em 3D; e a limitação do modelo de cálculo elaborado pelo autor. A escolha por uma tecnologia de captação de imagens em 2D foi motivada por tratar-se da análise de uma situação estática e não da análise de um movimento. Os dados obtidos em 2D são suficientes para a mensuração do alinhamento da coluna vertebral em decúbito lateral e em ortostatismo, uma vez que as possíveis rotações da coluna vertebral ou de algum outro segmento corporal não interferem no cálculo comparativo entre duas retas. Dessa forma, a profundidade não é uma variável interveniente, sendo, então, desnecessária a utilização de imagens em 3D. Em relação ao método de cálculo elaborado pelo autor, suas limitações são referentes ao fato de que os resultados dos cálculos obtidos necessitam da interpretação de um profissional experiente e conhecedor da biomecânica da coluna vertebral, pois não são auto-explicativos. 45 CONSIDERAÇÕES Ainda faltam estudos abrangendo um número maior de indivíduos de ambos os sexos, afim de que desenvolvam-se configurações de colchões que atendam à toda diversidade de biotipos, e o aprofundamento dos estudos em relação ao comportamento biomecânico dos indivíduos em decúbito lateral frente aos mais diversos materiais. As variáveis intrínsecas ao corpo humano, como suas medidas antropométricas, sua biomecânica quando posicionado em decúbito lateral e as características físicas dos materiais utilizados, são inúmeras a tal ponto de serem necessários muitos estudos ainda mais aprofundados e específicos. Considerando-se a hipótese de utilizar-se um indivíduo do gênero feminino, teríamos diferenças significativas nas variações antropométricas e, consequentemente, um comportamento biomecânico diferente, assim como uma dinâmica de tração/compressão do material e tração entre as estruturas anatômicas diferenciadas. Um indivíduo feminino possui, via de regra, uma similaridade nas distâncias bideltoideanas e bitrocantéricas. Entretanto, as massas destes segmentos são diferentes entre si devido à conformação óssea da região dos quadris possuir massa substancialmente maior que a região dos ombros. Considerando-se então esta diferença significativa de massa entre a cintura pélvica e a cintura escapular, deve-se partir do mesmo raciocínio para a configuração de um colchão. Muito provavelmente com variações em menores proporções, mas ainda assim seguindo o princípio de resistências diferenciadas em cada região específica. Deve-se, no entanto, observar que apesar de as variações antropométricas dentro de uma população possuírem finitude, não seria viável tanto industrial quanto comercialmente individualizar a configuração de um modelo de colchão. O mais sensato é fazer uso do princípio ergonômico de descarte dos percentuais extremos ou, ainda melhor, utilizar faixas de variações das medidas antropométricas de massa, altura, distâncias bitrocantérica e bideltoideana. Mesmo sendo estas duas últimas fundamentais como parâmetro para o entendimento da biomecânica e do comportamento da coluna vertebral na posição em decúbito lateral, é preciso levar 46 em consideração que ocorre uma proporcionalidade das mesmas em relação à massa e estatura de um indivíduo. Exceções a esta situação seriam possíveis de ocorrer em um percentual menor da população desconsiderado pela abrangência do conceito ergonômico. Deste modo, pode-se formatar uma tabela com as combinações das variáveis antropométricas, elaborada e embasada cientificamente, como referência para a determinação da configuração de um modelo de colchão. A mesma estaria em contraposição à pura e simples consideração da relação de massa e estatura como referência, tal qual é proposto atualmente pelo INMETRO. A referida tabela é mais coerente para garantir a capacidade de suporte de um colchão, seu relativo conforto, mas em momento algum faz referência a dados que evidenciem o alinhamento vertebral ou a ação ortopédica e/ou ergonômica (BRASIL, 2011). Nada impede tecnicamente de se configurar um colchão que atenda à diversidade de biotipos de um casal. Para tanto, bastaria aplicar este protocolo em ambos os indivíduos e orientar a configuração de colchão a ser utilizada. Desta forma, um colchão de casal terá duas metades com configurações distintas adaptadas ao biotipo de cada indivíduo. Cabe ressaltar que o estudo foi feito utilizando de uma variedade limitada de materiais. A combinação destes materiais entre si ou até mesmo a busca por alternativas economicamente mais vantajosas tanto em termos financeiros quanto ecológicos ainda é alvo de futuros estudos, bem como a sua complementação no desenvolvimento de travesseiros, pois este é o utensílio que promove o suporte para a região cervical e cabeça. O mercado pode ser atendido, a partir de então, por um produto que possua em seu processo de desenvolvimento e fabricação um protocolo científico de aferição do alinhamento vertebral. Protocolo este que permitirá aos profissionais da área da saúde ter acesso a mais um subsídio para contribuir com o bem estar e recuperação do estado geral de saúde de seus clientes, contribuindo na promoção da qualidade de vida dos mesmos. 47 CONCLUSÃO O objetivo geral de elaborar uma metodologia científica através de um protocolo específico de avaliação por análise fotogramétrica computadorizada comparativo entre a postura em decúbito lateral com a postura ortostática e a sua utilização como parâmetro na configuração de colchões foi atingido. Este estudo demonstrou ser viável a utilização de um protocolo de fotogrametria computadorizada como instrumento de aferição do alinhamento da coluna vertebral em decúbito lateral. O mesmo fornece informações pertinentes que, quando utilizadas junto aos conhecimentos de anatomia humana, biomecânica da coluna vertebral, ergonomia e propriedades físicas de materiais, em particular o poliuretano, permite o entendimento do comportamento da coluna vertebral sobre um colchão. Em relação ao objetivo específico de configurar um modelo de colchão que proporcionasse um adequado alinhamento vertebral de acordo com as variáveis antropométricas de um indivíduo pré-selecionado, utilizando-se de materiais específicos já existentes no mercado, também foi atingido. Observou-se que, utilizando-se da metodologia desenvolvida, existe a possibilidade da configuração de um produto capaz de promover o melhor alinhamento possível da coluna vertebral em decúbito lateral, de tal modo que as estruturas anatômicas sofram uma menor sobrecarga de trações e compressões, diminuindo a probabilidade da ocorrência de um efeito causal de hipóxia, e consequentemente, dor. 48 ESTUDOS FUTUROS Diante dos resultados obtidos neste trabalho, fica a convicção da necessidade em dar prosseguimento ao estudo e aplicação da metodologia desenvolvida no aperfeiçoamento de colchões adequados aos mais variados biotipos. Existe também a possibilidade de aplicar esta metodologia no teste de novos materiais a serem utilizados na confecção de colchões, uma vez que a indústria está sempre em busca de alternativas economicamente viáveis e ecologicamente corretas. Todo e qualquer material pode ser testado e aferido por esta metodologia, bastando de agora em diante continuar com estudos que viabilizem industrial e comercialmente a inclusão de um novo modelo de produto, assim como seu novo processo de fabricação. Há ainda a possibilidade de introduzir esta metodologia como uma norma da ABNT e, de tal forma, adequar o mercado de colchões a um novo patamar de qualidade e performance de seus produtos. Já sendo tecnicamente viável a configuração de colchões adequados ao biotipo, nada mais justo que a população tenha acesso a um produto que auxilie na melhoria da qualidade de sono e, consequentemente, qualidade de vida. 49 REFERÊNCIAS BARAÚNA, MA et al. Validade e confiabilidade intra-indivíduo do cifolordômetro na avaliação da convexidade torácica. Rev. Bras. Fisiot, [s.l.], v. 9, n. 3, p. 319-325, 2005. BEAUMONT, B; PAICE, E., Back pain, Occas. Pap. R. Coll. Gen. Pract., [s.l.], v. 58, p. 36-38, 1992. BEZERRA, MLS et al. 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Angulações obtidas em cada segmento da coluna vertebral no modelo de colchão 1 com o indivíduo 1, bem como a imagem fotográfica da vista posterior do mesmo. Segmentos Angulações (o) C7-T5 3,6 T5-T10 6,7 0-L2 1,3 L2-L5 2,5 L5-S2 7,4 Vista posterior do indivíduo em decúbito lateral esquerdo. 59 Angulações obtidas em cada segmento da coluna vertebral no modelo de colchão 2 com o indivíduo 1, bem como a imagem fotográfica da vista posterior do mesmo. Segmentos Angulações (o) C7-T5 6,1 T5-T10 6,9 T10-L2 2,2 L2-L5 5,7 L5-S2 2,2 Vista posterior do indivíduo em decúbito lateral esquerdo. Angulações obtidas em cada segmento da coluna vertebral no modelo de colchão 3 com o indivíduo 1, bem como a imagem fotográfica da vista posterior do mesmo. Segmentos Angulações (o) C7-T5 6,2 T10 6,3 T10-L2 1,5 L2-L5 2,3 L5-S2 2,7 Vista posterior do indivíduo em decúbito lateral esquerdo. 60 Angulações obtidas em cada segmento da coluna vertebral no modelo de colchão 4 com o indivíduo 1, bem como a imagem fotográfica da vista posterior do mesmo. Segmentos Angulações (o) C7-T5 4,3 T5-T10 6,2 T10-L2 2,8 L2-L5 4,5 L5-S2 4,0 Vista posterior do indivíduo em decúbito lateral esquerdo. Angulações obtidas em cada segmento da coluna vertebral no modelo de colchão 5 com o indivíduo 1, bem como a imagem fotográfica da vista posterior do mesmo. Segmentos Angulações (o) C7-T5 0,9 T5-T10 5,5 T10-L2 4,6 L2-L5 2,3 L5-S2 0,0 Vista posterior do indivíduo em decúbito lateral esquerdo. 61 Angulações obtidas em cada segmento da coluna vertebral no modelo de colchão 6 com o indivíduo 1, bem como a imagem fotográfica da vista posterior do mesmo. Segmentos Angulações (o) C7-T5 1,0 T5-T10 6,7 T10-L2 5,8 L2-L5 2,5 L5-S2 0,0 Vista posterior do indivíduo em decúbito lateral esquerdo. Angulações obtidas em cada segmento da coluna vertebral no modelo de colchão configurado com o indivíduo 1, bem como a imagem fotográfica da vista posterior do mesmo. Segmentos Angulações (o) C7-T5 0,9 T5-T10 3,1 T10-L2 0,0 L2-L5 0,0 L5-S2 2,1 Vista posterior do indivíduo em decúbito lateral esquerdo. 62 Angulações obtidas em cada segmento da coluna vertebral na posição em ortostase do indivíduo 2, bem como a imagem fotográfica da vista posterior do mesmo. Segmentos Angulações (o) C7-T5 4,7 T5-T10 0,1 T10-L2 1,7 L2-L5 3,8 L5-S2 0,0 Vista posterior do indivíduo em ortostase. Angulações obtidas em cada segmento da coluna vertebral no modelo de colchão 1 com o indivíduo 2, bem como a imagem fotográfica da vista posterior do mesmo. Segmentos Angulações (o) C7-T5 6,9 T5-T10 12,3 T10-L2 4,6 L2-L5 0,2 L5-S2 2,8 Vista posterior do indivíduo em decúbito lateral esdquerdo. 63 Angulações obtidas em cada segmento da coluna vertebral no modelo de colchão 2 com o indivíduo 2, bem como a imagem fotográfica da vista posterior do mesmo. Segmentos Angulações (o) C7-T5 3,5 T5-T10 11,3 T10-L2 2,1 L2-L5 1,7 L5-S2 0,0 Vista posterior do indivíduo em decúbito lateral esquerdo. Angulações obtidas em cada segmento da coluna vertebral no modelo de colchão 3 com o indivíduo 2, bem como a imagem fotográfica da vista posterior do mesmo. Segmentos Angulações (o) C7-T5 4,6 T5-T10 9,7 T10-L2 4,5 L2-L5 0,2 L5-S2 1,8 Vista posterior do indivíduo em decúbito lateral esquerdo. 64 Angulações obtidas em cada segmento da coluna vertebral no modelo de colchão 4 com o indivíduo 2, bem como a imagem fotográfica da vista posterior do mesmo. Segmentos Angulações (o) C7-T5 14,5 T5-T10 11,2 T10-L2 3,5 L2-L5 3,5 L5-S2 0,2 Vista posterior do indivíduo em decúbito lateral esquerdo. Angulações obtidas em cada segmento da coluna vertebral no modelo de colchão 5 com o indivíduo 2, bem como a imagem fotográfica da vista posterior do mesmo. Segmentos Angulações (o) C7-T5 14,7 T5-T10 9,8 T10-L2 3,7 L2-L5 5,2 L5-S2 1,5 Vista posterior do indivíduo em decúbito lateral esquerdo. 65 Angulações obtidas em cada segmento da coluna vertebral no modelo de colchão 6 com o indivíduo 2, bem como a imagem fotográfica da vista posterior do mesmo. Segmentos Angulações (o) C7-T5 6,2 T5-T10 6,6 T10-L2 3,5 L2-L5 3,6 L5-S2 2,7 Vista posterior do indivíduo em decúbito lateral esquerdo. Angulações obtidas em cada segmento da coluna vertebral no modelo de colchão configurado com o indivíduo 2, bem como a imagem fotográfica da vista posterior do mesmo. Segmentos Angulações (o) C7-T5 1,6 T5-T10 3,2 T10-L2 2,0 L2-L5 0,2 L5-S2 0,2 Vista posterior do indivíduo em decúbito lateral esquerdo.