Brincando com a criatividade

Transcrição

Brincando com a criatividade
Revista Especial de Educação Física – Edição Digital nº. 2 – 2005
Anais do IV Simpósio de Estratégias de Ensino em Educação/Educação Física Escolar – 7 a 9 de dezembro – 2004
BRINCANDO COM A CRIATIVIDADE
Professora Maria Aparecida da Silva Moura
E.M. Prof. Ladário Teixeira - [email protected]
Marília das Graças Nascimento Maruyama
E. M. Profª. Stella Saraiva Peano UDI - [email protected]
Resumo
O presente trabalho tem como finalidade descrever uma estratégia de ensino implementada com os alunos do PROGRAMA BÁSICO LEGAL ENSINO
ALTERNATIVO, de 1ª a 3ª série, da Escola Municipal Prof. Ladário Teixeira, da Rede Pública de Ensino de Uberlândia, situada na Rua. Acre s/n.º. no bairro Nossa
Senhora das Graça. É consenso que “as atividades lúdicas integraram-se ao cotidiano das pessoas sob várias formas, sejam elas individuais ou coletivas, sempre
obedecendo ao espírito e à necessidade cultural de cada época. Nesse contexto, podemos evidenciar que dentro das atividades de lazer, vivenciadas especialmente na idade
infantil, a brincadeira e o jogo tornam-se significativos no momento em que deixam de ser meio para atingir um fim qualquer, sendo sua importância percebida em todos os
tempos por apresentar-se como fator essencial na construção da personalidade da criança” (ARAUJO,1992:13). Dessa forma a estratégia tem como objetivo promover um
processo de construção individual e coletiva, onde os alunos transformam materiais aparentemente inutilizáveis em brinquedos, brincadeiras e jogos, exercitando assim o
seu poder criador por meio de atividades lúdicas, ao mesmo tempo em que se estimula a cooperação num processo prazeroso e significativo. Este trabalho foi desenvolvido
com crianças portadoras de necessidades educacionais especiais.
Introdução
A Escola Municipal Prof. Ladário Teixeira, situa-se na rua Acre s/n. no bairro N.S. Das Graças, região da periferia do município de
Uberlândia, Minas Gerais. Fundada em 1994, a escola foi construída para atender à demanda educacional do bairro e, também, da comunidade
no entorno, pois nessa época a carência de escolas na região era bastante significativa. A população atendida é, predominantemente, constituída
pelas classes média, média baixa e baixa. No que diz respeito à área de Educação Física, constitui-se por uma equipe de cinco professores, sendo
que, uma trabalha com psicomotricidade, por estar envolvida em um projeto especifico de atendimento a crianças portadoras de necessidades
educacionais especiais, outros dois exercem função administrativa na escola e os demais são contratados temporariamente. A primeira série
conta com uma média de 28 alunos por sala, da segunda a quarta séries, há uma média de 32 alunos e da quinta à oitava séries, uma média de 35
alunos.
Para ministrar as aulas do componente curricular, contamos, além das salas de aula, com uma sala de vídeo totalmente equipada, uma
biblioteca com acervo muito limitado no que diz respeito ao conteúdo especifico da área, uma quadra coberta, com arquibancadas, e vestiários,
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que é utilizada para as aulas de Educação Física. Conta, também, com uma área aberta, com piso de cimento e sem marcação, com duas traves
que permitem a realização de esportes e um quiosque com piso de cimento e cobertura de telha de barro.
Contando com o apoio integral de uma direção eleita democraticamente, exercendo seu segundo mandato administrativo, pode-se afirmar
que a equipe de Educação Física da escola conta com um bom relacionamento profissional, ainda que com dificuldades para organizar um
processo ampliado e permanente de planejamento coletivo da área, na escola, devido, dentre outros motivos, a divergências sobre a importância
desta ação no contexto escolar.
Ressaltamos que os professores que trabalham no turno vespertino têm oportunidade de planejar juntos tendo em vista que seus horários
de módulos são coincidentes. O mesmo não acontece com grupo como um todo. Nesse contexto, reconhecemos que a ausência de espaço para o
planejamento coletivo dos professores de Educação Física, na escola, é um dos fatores que contribui para a fragmentação do trabalho em equipe.
Entretanto, uma parte dos membros dessa equipe vem organizando e desenvolvendo o projeto político-pedagógico, procurando refletir
criticamente a Educação Física e desenvolvendo Estratégias de Ensino orientadas por uma perspectiva Emancipatória de Educação. A
construção desse projeto vem sendo materializada de acordo com as Diretrizes Básicas de Ensino da Educação Física elaboradas coletivamente
entre os educadores da RME/UDI, ESEBA/UFU e da FAEFI/UFU, seguida de sua colocação em prática por meio de uma sistemática de
formação continuada de professores, denominada Planejamento Coletivo do Trabalho Pedagógico - PCTP/EF (DBCE/EF/PMU/SME, 2003).
Fundamentado na perspectiva de intervenção político-pedagógica, que se encontra em constante processo de aprimoramento, o objetivo
do presente trabalho é apresentar uma Estratégia de Ensino da Educação Física Escolar desenvolvida com 36 alunos do PROGRAMA BÁSICO
LEGAL ENSINO ALTERNATIVO, de primeira a terceira série do Ensino Fundamental, no ano de 2003, orientada para promover a
transformação de materiais aparentemente inutilizáveis em brinquedos, exercitando assim a criatividade da criança, por meio de atividades
lúdicas, estimulando, também, a cooperação e o trabalho coletivo, da imaginação criadora capaz de resignificar a aprendizagem, despertando a
auto-estima e construindo um aprendizado prazeroso significativo
A respeito dos aspectos cognitivo, físico, afetivo e comunicativo das criança envolvidas neste programa vale ressaltar que sua faixa etária nem
sempre corresponde ao desenvolvimento cognitivo esperado para tal idade.
Com a finalidade de orientar a construção da presente Estratégia de Ensino, utilizamos como referência pedagógica a Zona de
Desenvolvimento da Criança, contidas nas Diretrizes Básicas de Ensino da Educação Física Escolar da RME/UDI, na qual se encontram os
alunos alvo das ZONA 2 (1ª e 2ª séries do Ensino Fundamental) e ZONA 3 (3ªe 4ª séries do Ensino Fundamental), com algumas adaptações de
acordo com as necessidades dessas crianças.
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SEQUENCIADOR DE AULAS E AVANÇO PROGRAMÁTICO
OBJETIVOS DA ESTRATÉGIA DE
NÚMERO
AVANÇO PROGRAMÁTICO
ENSINO
AULAS
Objetivo Geral:
TOTAL:
o aluno:
ƒ
ƒ
Transformará materiais aparentemente
inutilizáveis em brinquedos, exercitando a
sua criatividade, por meio atividades
lúdicas,
estimulando,
também,
a
cooperação e o trabalho coletivo,
usando a sua imaginação a fim de
resignificar a aprendizagem, elevando
assim a sua auto-estima, construindo um
aprendizado prazeroso significativo.
Refletirá se o material reciclável
apresentado poderá ser útil.
ƒ Criará jogos e/ou brincadeiras utilizando o
material.
ƒ Fará o registro gráfico dos jogos e /ou
brincadeiras
Criará coletivamente brinquedos ou jogos,
utilizando as garrafas descartáveis
ƒ Confeccionará os brinquedos
ƒ Realizará uma exposição dos materiais
confeccionados
.
O8
Preparação:
Dez a doze garrafas descartáveis de refrigerante.
Aulas: (02)
ƒ O professor apresentará aos alunos o material descartável e questionará se
esse material poderá ser útil.
Respostas das crianças: “serve para guardar água na geladeira”, “jogar boliche,”
”pirâmide”, “tiro ao alvo”, “jogar futebol usando a garrafa como bola”, “ser
colocada em cima do padrão de energia para diminuir a conta”
ƒ
ƒ
As respostas dos alunos serão registradas no quadro, pelo professor, e
discutidas, com a finalidade de definir coletivamente o que poderá ser
construído com esse material
Descida ao pátio para vivenciar as atividades criadas pelos alunos. (sempre
que necessário haverá a intervenção da professora, buscando com isso um
melhor aproveitamento da atividade).
ƒ
No pátio: jogaram boliche equilibrando uma garrafa sobre ao outra.
Vivenciarão:
ƒ jogo de estafeta usando as garrafas para montar uma pirâmide e derrubá-las,
usando as partes do corpo (cabeça, braços, e pés).
ƒ Numa formação de duplas quicar a bola por cima da garrafa (obstáculo).
ƒ Tiro ao alvo, usando garrafas como alvo e, também, como objeto para
arremesso.
ƒ Equilibrar a garrafa sobre a mão e andar sobre o paralelepípedo
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ƒ
ƒ
ƒ
ƒ
Estafeta: tampar e destampar a garrafa.
Saltar as garrafas ( salto em distância e altura).
Chutar a garrafa (cada criança deve correr e chutar a garrafa para ver quem
consegue arremessar mais longe).
Acertar a garrafa dentro de um balde, colocado no chão a uma certa distância.
ƒ
Ao finalizar a aula, os alunos retornam à sala, recebem folhas sulfite para o
registro gráfico que, posteriormente, será utilizado na exposição na sala de
aula.
ƒ
Pedir aos alunos que tragam para a aula garrafas descartáveis ( duas por
aluno).
Preparação:
ƒ Recolher os materiais trazidos pelas crianças
ƒ Providenciar os materiais restantes, necessários para realizar a construção dos
brinquedos e jogos.
Aulas: (06)
ƒ Os alunos confeccionarão os brinquedos com a ajuda da professora ,
utilizando garrafas descartáveis , durex colorido, barbante, fio de nylon,
tesoura, fita lacre, fita adesiva, folha sulfite, canetinha, cola, papel crepom, fio
de cobre, lacre de lata de alumínio.
ƒ
Com os brinquedos prontos, farão a exposição, que será visitada pelos colegas,
bem como pela comunidade escolar e demais servidores da escola.
Nota: vale ressaltar que o atendimento às crianças é feito em pequenos grupos de
no máximo 04 (quatro) alunos, pelo fato de elas serem portadoras de necessidades
educacionais especiais
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Considerações gerais.
A realização deste trabalho foi viabilizada pela expectativa de buscar-se uma linguagem simples e direta, capaz de demonstrar a
influência da brincadeira e do jogo na vida da criança e na sua relação com as atividades desenvolvidas sob a ótica da psicomotricidade,
evidenciando o significado e o papel do brincadeira/jogo como elemento motivador e enriquecedor das experiências e das descobertas feitas
pelas crianças.
Nessa perspectiva buscamos usar materiais que, pela facilidade de aquisição e manuseio, permitissem estimular o poder criador das
crianças com o recurso da sua imaginação, possibilitando, assim, a construção de jogos, brinquedos e brincadeiras, dos quais todos os alunos
pudessem participar, além de permitir uma vivência compartilhada, desde a construção até a exposição dos resultados, possibilitando assim,
que tais elementos culturais tornem-se uma alternativa lúdica para o dia-a-dia, na escola e fora dela, de uma forma alternativa pela reciclagem de
materiais.
A exposição dos trabalhos construídos possibilitou a observação e o registro de vários brinquedos criativamente desenhados, tais como:
montanha russa, avião, helicóptero, telefone sem fio, boneca, bilboquê, vai-e-vêm, bolsa, ampulheta, barco, pega bola, joga bola, biloqueiro, jogo
de boliches e outros.
Referências Bibliográficas
ARAUJO, V.C. O jogo no contexto da Educação Psicomotora. São Paulo: Cortez, 1992.
DBCE/EF/PMU/SME. Diretrizes Básicas Curriculares do Ensino da Educação Física. Uberlândia: PMU/SME/CEMEPE, 2003.
Endereço Para correspondência: Rua Estevão Monteiro, 371 – Bairro Custódio Pereira. CEP. 38405-198, Uberlândia, MG.
Eixo Temático: Jogo.
Recurso Multimídia: Retroprojetor.
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