Recomendados também - Gazeta Valeparaibana

Transcrição

Recomendados também - Gazeta Valeparaibana
Ano VIII - Edição 101 - Abril 2016
Distribuição Gratuita
RECICLE INFORMAÇÃO: Passe este jornal para outro leitor ou indique o site
Vale do Paraíba Paulista - Litoral Norte Paulista - Região Serrana da Mantiqueira - Região Bragantina - Região Alto do Tietê
-
Boa música Brasileira
Cultura
Educação
Cidadania
Sustentabilidade Social
1º de Abril o dia da mentira e o dia em que as nuvens negras
tomaram conta da consciência cidadão do Brasil. Uma data
que não devemos esquecer.
Agora também no seu
www.culturaonlinebrasil.net
Baixe o aplicativo IOS
Recomendados também
Página 9
Página 2
O ESTADO BRASILEIRO
Página 4
Contra o Ódio:
a Arte.
Estado é por si só é
um mal necessário
Vivemos um tempo aqui neste
para grupos humanosso querido Brasil em que o
nos, mas o discurso
ódio está se manifestando explide igualdade e libercitamente.
dade tem influenciado nosso País na
tentativa de padronizar as formas de pensamentos e essa censura
Página 12
“politicamente correta” tem sido a evolução natural da nossa sociedade e tem gerado o seguinte
pensamento entre todos: se você pensa diferente Quem é que vigia o vigia?
Página 16
e é oposto às tendências, então querem que se
Neste período histórico do Brasil, as pessoas escale para não "contaminar" outras pessoas.
MÊS DE ABRIL
tão testemunhando mais uma das crises políticas
brasileiras. A atual crise é considerada por alO Princípio da primavera em PORTUGAL
guns ou muitos como uma das mais graves da
história do país.
Página 3
Todo dia era dia de Índio...
Leia também:
Página 5
Exercício da cidadania requer
aprendizagem e prática
E muito mais... Confira!
Página 10
Sim. Antes da chegada dos portugueses
ao Brasil, a terra era O BRASIL NUNCA FOI UMA COLÔNIA!
PARTE II
somente deles. Aqui
habitavam diversas
“A expansão portuguesa não foi, nem fruto do
tribos, diversos poacaso, nem um feito político da Coroa ou de corvos indígenas, com
tesão esforçados, antes a missão de uma Ordem
seus costumes e sua
iniciática.”
cultura. O contato
com os brancos fez
com que muitos desses povos perdessem a sua
identidade, morressem por causa das doenças e
Página 15
por conta das lutas que travavam com os brancos, muitos foram escravizados e povos inteiros
Capitalismo e democracia
dizimados.
na Europa
www.culturaonlinebrasil.net /// CULTURAonline BRASIL /// www.culturaonlinebr.org
Abril 2016
Página 2
Gazeta Valeparaibana
Editorial
O ESTADO BRASILEIRO
Estado é por si só é um mal necessário para grupos humanos, mas
o discurso de igualdade e liberdade tem influenciado nosso País na
tentativa de padronizar as formas de pensamentos e essa censura
“politicamente correta” tem sido a evolução natural da nossa sociedade e tem gerado o seguinte pensamento entre todos: se você
pensa diferente e é oposto às tendências, então querem que se cale para não "contaminar" outras pessoas.
Embora a democracia deva ser transparente e beneficiar o povo, há muito tempo está formado
por pessoas interessadas em manter seus cargos e atingir seus objetivos atuando como vendedores da ordem social e tendo os cidadãos como alvos e meta de faturamento o que favorece
senão a eles mesmos.
Da mesma forma que o comércio, o Estado "fabrica" produtos da melhor e pior qualidade e para
os menos favorecidos oferecem sempre o de menor qualidade e isso, chama-se jogo de interesses. Esse não é nosso pior momento, mas, ainda poderá ser, pois a sociedade sempre suportou
o que agora está insuportável e a corrupção se assolou cada vez mais, apoiada em tiranos e em
um povo que tem sido “cego-surdo-mudo”, mas, que agora querem gritar!
Por que não temos uma boa educação se temos professores "formados"? Pelo simples fato de
nossas escolas não serem bem geridas e não ter a participação da comunidade de acordo com
seus próprios valores e necessidades.
Precisamos de pessoas que pensem e não se esqueçam de onde vieram e com liberdade de agir
e pensar pode fazer a diferença, desde que ajam não em benefício próprio, mas atentos e cobrando sempre do Estado, quer seja da direita ou da esquerda, sem vendar os olhos para que
quando desvendados não comecem a agir como baderneiros cujas consequências são discórdias ofensivas, revoluções e quebras institucionais.
O Estado e os "mais aptos" tem à mão o moralismo, mérito e prosperidade e os "exclusos" coletivismo ineficiente e decadência e isso nos trouxe a um momento onde quem tem dinheiro só ganha e quem não tem, por necessidade“gasta”.
Pagamos muitos impostos, a duras penas, em cima do que consumimos e olha que o “povão”
não sonega. Mas, é também preocupante a maneira de aceitar o “jeitinho brasileiro” que parece
ser a única salvação, mas, no entanto, não precisaria agir dessa forma se soubesse cobrar o que
lhe é de direito e devido.
O Estado não tem que prometer e sim trabalhar em prol de todos que acreditaram nele e não
cercear a liberdade, induzindo o cidadão a assumir uma postura de direita ou de esquerda sem
que saiba realmente o que está acontecendo. Não basta somente informação é preciso que haja
educação, formação e conhecimento através da boa escola com todos os direitos e recursos necessários para que isso aconteça.
É necessário persistir na ética e incorporá-la, pois o errado é errado e o certo ainda continua sendo certo dentro da educação moral. É preciso insistir na punição a quem tiver que ser punido seja
qual for a classe social ou patamar que esteja o contraventor.
No final, quando deveria haver reflexão, veem-se manifestações acaloradas com profusão de
sons, num momento trágico, sempre com o velho pensamento de que Deus ainda é brasileiro e,
cujos problemas, certamente seriam mais bem resolvidos se a Nação estivesse unida e sóbria.
Gabriel Garcia Marques
O amor é eterno enquanto
dura.
(Só vim falar ao telefone).
Sempre falei que
envelhecemos mais rápido
nos retratos do que na vida
real.
(Boa viagem, senhor
presidente).
“A ilusão não se come” –
disse ela. “Não se come,
mas alimenta”, replicou o
coronel.
Voltarão – disse – A vergonha tem memória ruim.
(A hora ruim).
… lembrou-se de um velho
provérbio espanhol: “que
Deus não nos dê o que somos capazes de suportar”.
Cuide do seu coração… você está apodrecendo vivo.
(Cem anos de solidão).
Genha Auga – jornalista – MTB: 15.320
Rádio web
CULTURAonline Brasil
NOVOS HORÁRIOS e NOVOS PROGRAMAS
Prestigie, divulgue, acesse, junte-se a nós !
A Rádio web CULTURAonline Brasil, prioriza a Educação, a boa Música Nacional e programas de interesse
geral sobre sustentabilidade social, cidadania nas temáticas: Educação, Escola, Professor , Família e Sociedade.
Uma rádio onde o professor é valorizado e tem voz e, onde a Educação se discute num debate aberto, crítico
e livre. Mas com responsabilidade!
Acessível no link: www.culturaonlinebrasil.net
CONHEÇA - BAIXE
www.gazetavaleparaibana.com
Os artigos publicados são responsabilidade de seus autores, não refletindo necessariamente a opinião da Gazeta Valeparaibana
IMPORTANTE
Todas as matérias, reportagens,
fotos e demais conteúdos são de
inteira responsabilidade dos colaboradores que assinam as matérias,
podendo seus conteúdos não corresponderem à opinião deste projeto nem deste Jornal.
A Gazeta Valeparaibana é um jornal mensal gratuito distribuído mensalmente para
download
Editor: Filipe de Sousa - FENAI 1142/09-J
CULTURAonline BRASIL
Ajude-nos a manter este projeto por apenas R$ 2,00 mensal
Email: [email protected]
Gazeta Valeparaibana
e
CULTURAonline BRASIL
Juntas, a serviço da
Educação e da divulgação da
CULTURA Nacional
Abril 2016
Página 3
Gazeta Valeparaibana
Povos indígenas
Todo dia era dia de Índio...
Sim. Antes da chegada dos portugueses ao Brasil, a
terra era somente deles. Aqui habitavam diversas tribos, diversos povos indígenas, com seus costumes e
sua cultura. O contato com os brancos fez com que
muitos desses povos perdessem a sua identidade,
morressem por causa das doenças e por conta das
lutas que travavam com os brancos, muitos foram escravizados e povos inteiros dizimados. Acredita-se
que por volta do ano de 1500, quando os portugueses
aqui chegaram o número de índios ficava entre 1 e 5
milhões. Entre as diversas tribos existentes, duas se
destacavam mais, os Tupis e os Guaranis, que tiveram um contato mais intenso com o
homem branco. Atualmente os índios brasileiros somam em torno de 900 mil segundo o
censo do IBGE de 2010. São mais de 240 povos que se encontram em áreas rurais e cidades espalhados por todos os cantos desse nosso imenso país.
Verdade que temos um dia especial para comemorarmos o dia do Índio, assim como temos outras datas que comemoram outros povos também. No Brasil esse dia é celebrado
em 19 de abril, dia em que ocorreu o primeiro Congresso Indigenista Interamericano no
México em 1940. Interamericano porque tratou da situação dos povos indígenas na América do Norte, do Sul e na América Central. Um dia para celebrar os povos indígenas serve para que todos percebam e valorizem a importância da cultura indígena, para que esses povos sejam respeitados e recebam os incentivos e a atenção devida do Estado e
das pessoas em geral. Essa data passou oficialmente a fazer parte do nosso calendário
por um decreto-lei do então Presidente Getúlio Vargas no ano de 1943.
Então, termos um dia para comemorar é bom, porque nos faz agir, pensar e nos torna
mais atuantes. Celebrar a data é necessário para que essa conscientização exista, visto
que ainda são marginalizados e excluídos. Faz-se necessário também para preservar a
cultura indígena e o respeito que esses povos merecem, por tudo que nos foi passado,
ensinado, por toda a sabedoria e respeito que possuem pela terra, pelos animais e pela
vida.
Alguns perguntam de quem é o Brasil, e aproveitam a data que se aproxima para travar
esse debate.
Dos índios que habitavam essas terras? Dos portugueses que descobriram esse território? Quem já não ouviu dizer que o Brasil é dos índios que já aqui estavam quando ele foi
descoberto pelos portugueses. Que depois da chegada deles, o que restou foram esses
poucos índios que hoje se encontram espalhados por aí. Acredito que o Brasil é de todos
os brasileiros. Somos um país miscigenado, índios, negros, brancos, mulatos, amarelos,
enfim, somos a soma de todos esses grupos, de todas essas raças. Formamos a nação
Brasileira que é única e possui uma multiculturalidade ímpar. Somos esse país que é de
todos os cidadãos brasileiros. Somos um povo alegre, aberto para o mundo e segundo
nossa Constituição Federal, sem distinção de cor, raça, credo ou sexo. Um Estado laico,
mestiço e bonito por natureza. Somos todos brasileiros, não somos índios, mestiços, negros, brancos ou mulatos apenas, somos a nação brasileira.
Verdade que temos um dia especial para comemorarmos o dia do Índio, pela importância
que eles tem, pela contribuição e pelo legado, por suas lutas e conquistas, mas devíamos ter um dia especial chamado dia dos Brasileiros. Porque ser brasileiro não é só alegria futebol e carnaval, mas um povo que luta, que sonha, que se orgulha, e também sente vergonha. Ser brasileiro é ter medo de sair de casa, ter vergonha da roubalheira, do
mau uso do dinheiro público, é ter vergonha dos políticos que nos representam, é querer
uma educação de qualidade, saúde que funcione, é ter participação cidadã, querer um
país melhor, cuidar dos nossos idosos, das nossas crianças, do futuro dos nossos jovens.
É querer emprego para todos, menos miséria e menos fome. Ser brasileiro é ter orgulho
também! Dos nossos cantores/compositores, artistas, escritores maravilhosos, pintores,
cientistas,, é ter orgulho da nossa natureza exuberante, da nossa alegria que insiste em
não se perder, da esperança que não nos deixa apesar de tudo. É ter orgulho dessa multiculturalidade, das tradições de cada estado, dos costumes, das artes, da música, dos
sotaques, das cores. O Brasil de todas as raças, cores amores e dissabores, dos índios,
dos brancos e dos negros, de quem nasceu aqui e de quem escolheu esse país para viver.
Então, comemorar o dia do índio é importante, mas não esquecendo que antes de tudo
eles são brasileiros. Somos todos brasileiros lutando pela igualdade na desigualdade.
Mariene Hildebrando
Especialista em Direitos Humanos
Email: [email protected]
Calendário
Principais datas comemorativas
01 - Dia da Mentira
02 - Dia Internacional do Livro Infantil
07 - Dia do Jornalista
- Dia Mundial da Saúde
08 - Dia Mundial do Combate ao Câncer
- Dia Nacional do Sistema Braille
11 - Dia da Escola de Samba
13 - Dia do Hino Nacional Brasileiro
13 - Dia do Jovem
- Dia da Carta Régia
15 - Dia Nacional da Conservação do Solo
18 - Dia de Monteiro Lobato
- Dia do Amigo
19 - Dia do Índio
21 - Tiradentes
- Dia da Latinidade
22 - Descobrimento do Brasil
- Dia da terra
- Dia da Comunidade Luso-Brasileira
23 - Dia Mundial do Livro
28 - Dia da Educação
- Dia da Sogra
30 - Dia Nacional da Mulher
Joaquim José da Silva Xavier
Apelido: Tiradentes
Nascido: 12 - 11 - 1746
Falecido: 21 Abril 1792
Gênero: masculino
Nacionalidade: brasileira
Profissão: dentista, ativista (patriota), militar
Signo do zodíaco: Escorpião
EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA
A educação para a cidadania significa
fazer de cada pessoa um agente de
transformação social, por meio de uma
práxis pedagógica e filosófica: uma
reflexão/ação dos homens sobre o
mundo para transformá-lo.
Este é um dos objetivo do
Jornal
Gazeta Valeparaibana
www.culturaonlinebrasil.net /// CULTURAonline BRASIL /// www.culturaonlinebr.org
Abril 2016
Página 4
Gazeta Valeparaibana
Fala maestro
Contra o Ódio: a Arte.
sagem forte durante este tempo todo inspirou
inúmeras outras obras de arte. Óperas, balés,
música incidental, filmes, canções e música
Vivemos um tempo aqui neste nosso querido
simplesmente surgiram inspiradas na tragédia
Brasil em que o ódio está se manifestando
do bardo inglês. Sempre impregnadas de uma
explicitamente. A polarização das ideias, a
forte emoção.
rivalidade exacerbada, a falta de amor, de
compaixão me fizeram lembrar de uma históEu, particularmente, dentro do campo musical
ria que foi escrita no final do séc. XVI, ou seja
tenho três preferidas: uma abertura, uma ópehá mais de 400 anos. Uma tragédia imortalira e um balé.
zada por aquele que é até hoje considerado o
mestre absoluto do Teatro, William ShakespeTchaikovsky, um compositor russo que viveu
are, autor inglês que viveu entre 1564 e 1616.
entre 1840 e 1893. Do período romântico da
música. Romeu e Julieta, uma AberturaRomeu e Julieta. A Tragédia se difere do DraFantasia, é uma obra instrumental de aproxima na medida em que os personagens somadamente 20 min. de duração. Não descrefrem por causa do destino, ou por forças ave a história exatamente mas mostra duas
lheias às suas próprias. Já no Drama os perideias principais com o “peso da tragédia” paisonagens sofrem as consequências de seus
rando o tempo todo. A primeira ideia é o conpróprios atos. Romeu e Julieta são dois adoflito entre as famílias e a segunda o amor enlescentes pertencentes a famílias rivais dentro
tre os jovens. Na seção do conflito a orquesda cidade de Verona, na Itália. Essas famílias
tra simula algo como uma luta de espadas imse odeiam sem saber muito o porquê. Os jopressionante e é interrompida pela melodia
vens das famílias lutam nas ruas, fazem promaravilhosa do tema de amor. Inesquecível.
vocações, são como duas “gangues" que desE isso vai se alternando até que a tragédia
tilam um ódio secular.
finalmente vence… Aqui está um link para
quem quiser ouví-la no YouTube:
Num baile a fantasia organizado pelos pais de
https://youtu.be/ZxOtYNf-eWE
Julieta, Romeu e seus amigos entram disfarçados só para se divertir dentro da casa do
Prokofiev, foi um outro compositor russo que
“inimigo”. Romeu então conhece Julieta e os
viveu um pouco depois, entre 1891 e 1953.
dois se apaixonam dando origem a toda conEntre 1935 e 1940, o compositor recebeu a
fusão. Em menos de um dia eles conseguem
difícil tarefa de musicar a história dos amanencontros furtivos, entre eles a famosa cena
tes de Verona para um balé. Romeu e Juliedo balcão onde Romeu embaixo da varanda
ta, balé em 3 atos. Entre as tantas dificuldado quarto de Julieta.
des estaria a de escrever um final que fosse
coreografável (pudesse ser transformado em
O casal procura Frei Lourenço, que luta pela
dança) já que os amantes na história original
paz entre as famílias, para que ele realize o
não se encontram vivos no mesmo momento.
casamento à revelia dos pais. Enquanto isso
Ele acertou o final na segunda versão do balé
a família de Julieta prepara o casamento dese ele até hoje é encenado com sucesso no
sa com Páris para a mesma noite. A menina,
mundo inteiro. Lindo do começo ao fim o balé
desesperada, procura o frei para que ele o
consegue se adaptar à dramaturgia (maneira
ajude. Ele dá a Julieta uma poção que a faria
de se construir a peça de teatro e seus persoparecer morta, mas, ela se reanimaria tempos
nagens para que a história fique compreensídepois. O tempo suficiente para que ela fosse
vel) de Shakespeare e deixa bastante em evicolocada em uma tumba onde Romeu a espedencia a parte violenta da narrativa. Num balé
raria acordar.
onde somente se dança e nenhuma palavra é
dita ele consegue emocionar até os mais duFrei Lourenço escreve uma carta a Romeu
ros espectadores.
explicando o plano, mas essa carta nunca
chega ao jovem apaixonado. Julieta toma a
Um exemplo do balé completo:
poção antes do casamento e cai desacordahttps://youtu.be/uwpZcae8tsw
da. Os parentes a têm como morta e fazem o
Uma das cenas mais bonitas pra quem não
funeral, como o Frei previra. Mas Romeu,
quer assistir a tudo! A dança dos cavaleiros
sem saber do plano, se desespera. Assim que
dentro do baile de mascaras.
o cortejo sai da tumba ele entra, beija Julieta
https://youtu.be/MDHc40aT_AY
e se mata. Logo depois ela acorda, encontra
E a última cena:
Romeu morto e acaba se matando também.
https://youtu.be/wt8Z8uQFV14
Uma morte comovente de dois jovens apaixoGounod, foi um compositor francês que viveu
nados vítimas do ódio entre as famílias.
entre 1818 e 1893. Gounod escreveu sua ópera Roméo et Juliette, em 1867. Diferente
Esse texto foi escrito há mais de 400 anos e
de Prokofiev, Gounod centra sua versão no
continua sendo atual. Com sua força e men-
relacionamento entre os jovens, diminuindo a
parte das brigas entre as famílias. Uma versão um pouco mais adequada para cantores.
Essa ópera é famosa por ter quatro duetos
entre os protagonistas, fato bem raro no gênero. É sutil e delicada do começo ao fim. Vale a pena assistir e se emocionar com a história musicada por um gênio. Mais uma vez o
final é um desafio. Difícil terminar a ópera
sem um dueto. A solução encontrada foi retardar a morte de Romeu, para que eles tenham
um encontro antes da morte. Genial.
Aqui a cena final: https://youtu.be/
w87OkQH3_hk
Há outras versões maravilhosas desta história, posso citar o musical West SideStory, de
Bernstein, também as duas versões cinematográficas mais famosas: Romeu e Julieta de
Zefirelli(1968) e Romeu + Juliet, de B. Luhrman, com Leonardo di Caprio (1996).
Em todas elas podemos sentir na alma e no
coração o estrago que o ódio pode trazer na
vida das pessoas. O último trecho da peça
original diz numa tradução livre:
Uma triste paz essa manhã nos traz;
O sol, por tristeza, não mostrará sua face;
Vão, portanto, conversar sobre estes tristes
acontecimentos;
Alguns serão perdoados, outro punidos…
Pois nunca houve uma história mais triste
Que esta de Julieta e seu Romeu
Eu gostaria que todos nós refletíssemos através desta triste história, escrita há mais de
400 anos, e lutássemos para se acabe com o
ódio entre famílias, entre grupos, entre nações, entre ideais e conseguíssemos com isso fazer do mundo um lugar melhor.
Já nos advertia Shakespeare e ele foi lembrado e louvado por tantos outros artistas. Acho
que devemos fazer a nossa parte.
Da minha parte farei sempre arte.
A Arte contra o ódio.
Luís Gustavo Petri é regente, compositor, arranjador e
pianista. Fundador da Orquestra Sinfônica Municipal
de Santos. Diretor musical
da Cia. de Ópera Curta criada e dirigida por Cleber Papa e Rosana Caramaschi. É
frequente convidado a reger as mais importantes orquestras brasileiras, e em sua carreira além de concertos importantes, participações em shows, peças de teatro e musicais.
Se a música é o alimento do amor não parem de tocar. Dêem-me música em excesso; tanta que, depois
de saciar, mate de náusea o apetite.
William Shakespeare
www.culturaonlinebrasil.net /// CULTURAonline BRASIL /// www.culturaonlinebr.org
Abril 2016
Página 5
Gazeta Valeparaibana
Cidadania
firmação, para o cidadão, de que a solução democratização do Brasil, considerando
encontrada satisfaz o problema social enfren- questões políticas e econômicas; para, ao
tado.
final, levantar algumas hipóteses sobre a esPara Mendes a questão da cidadania está, petacularização da cidadania e a transformahoje, mais vinculada a uma relação de con- ção dos cidadãos em plateias para projetos
sumo do que a um processo de formação de de poder de políticos profissionais, principalpersonalidade. "Quando a pessoa vai fazer mente na fase brasileira atual.
um documento no Poupatempo, ela pega um
pedaço de papel e, com este ato, se considera um pouco mais cidadã. Mas cidadania não
é isso: é viver em harmonia com o outro,
transformar princípios e valores em atitudes
que não beneficiam só interesses individuais,
mas interesses coletivos. Por exemplo, eu
varro a rua para evitar que o lixo se acumule
e prejudique tanto a mim quanto aos meus
vizinhos", explica.
Exercício da cidadania requer
aprendizagem e prática
Transformar princípios e valores em atitudes
que beneficiam toda a sociedade é um exemplo de cidadania
Atitudes como não jogar lixo na rua, dar lugar
ao idoso em meios de transporte coletivo e
esperar que as pessoas saiam do metrô antes de entrar são questões corriqueiras na
vida da população que se encaixam perfeitamente na concepção de cidadania pretendida
pelo cientista jurídico Ovídio Jairo Rodrigues
Mendes. "No entanto, pela correria diária, essas atitudes não são observadas e acabam
por se tornar problemas sociais. E a cidadania requer aprendizagem e prática, sob pena
de funcionar como mero rótulo", destaca.
Segundo o pesquisador, a concepção de cidadania adquire seu formato de acordo com
o problema a afligir a comunidade. O jurista
argumenta que "talvez por isso seja tão difícil
ser cidadão, principalmente em um país de
tradição democrática recente como o Brasil e
onde a educação formal não é valorada como elemento fundamental na diferenciação
entre 'súdito' [aquele que simplesmente segue a vontade do governante] e 'cidadão' [capacidade para procurar e agir de maneira
mais autônoma possível em prol de interesses próprios, limitado tão somente pelo ordenamento legal e pelo respeito ao bem comum]".
A pesquisa de Mendes não teve a intenção
de limitar-se à doutrina jurídicas (teorias de
direito) e à jurisprudência (decisões do tribunais). O foco foi direcionado para "buscar uma maneira de elaborar uma teoria que o público comum e não só cientistas jurídicos ou
pessoas esclarecidas se identificassem para
Mendes estudou o tema em sua dissertação uma conceituação do que seja cidadania".
de mestrado " Concepção da Cidadania", apresentada em 2010 na Faculdade de Direito Para realizar o estudo, o cientista jurídico
(FD) da USP. De acordo com o cientista jurí- considerou diferentes tipos de narrativa sobre
dico, simbolicamente, comportar-se como ci- a conceituação de cidadania nas teoria dos
dadão implica em quatro momentos: o surgi- filósofos Aristóteles, Thomas Hobbes e Jeanmento do problema social (questões que afe- Jacques Rousseau; passando a uma análise
tam a comunidade), entendimento e análise das transformações sofridas pela concepção
lógica desta questão, procura racional de u- do termo no pós-independência no Brasil Imma solução adequada para o caso, e a con- pério, no Estado Novo e no processo de re-
Porque precisamos fazer a Reforma
Política no Brasil?
Seus impostos merecem boa administração. Bons políticos não vem do nada. Para que existam bons políticos
Segundo o pesquisador, o estudo não intenciona julgar as sociedades dos teóricos pesquisados e suas concepções de cidadania,
mas sim apenas tê-las como modelo-padrão
para a formação de um conceito baseado em
valores e princípios simples de vida em sociedade, como o respeito ao outro e o respeito
à liberdade.
Mendes assinala que a concepção de cidadania para não ser apenas formal, requer a
capacidade de a pessoa dispor de objetivos
racionalmente possíveis de como tornar concretos seus ideais. "Como toda regra, a formulação teórica de uma concepção de cidadania tem como primeiro passo a intuição para a identificação de regras sobre o assunto
dentro da Constituição ou de leis inferiores,
tornando a sua definição mais palpável ou
palatável ao cidadão comum ", diz.
Visão egocêntrica de mundo
O pesquisador, no entanto, não se limita a
questões individuais. "Muitas decisões governamentais não privilegiam a sociedade como
um todo, mas o interesse de setores da população", conta. Ele cita o atual discurso de
muitos meios de comunicação, sobre diversos acontecimentos cotidianos, como acidentes, enchentes, crimes. "Esse discurso valese de argumentações opinativas e não da
lógica, e só acabam por inflamar a teia de
queixas e reclamações vazias. Assim, os
'cidadãos' reclamam da ausência do Estado
porque precisam encontrar um culpado pois
pagam impostos e, por isso, devem ser servidos; enquanto que, do outro lado, o Estado
se defende das reclamações, acusando os
cidadãos de serem os provocadores para todas as desgraças cotidianas", destaca.
Da redação
para administrar o país, toda a sociedade precisa colaborar para que eles possam
nascer e terem sucesso.
É preciso um sistema eleitoral moderno para melhorar a qualidade da política. Os
políticos "tradicionais" tem horror à reforma política, porque ela pode mudar a situação atual onde eles usam e manipulam o eleitor e são pouco cobrados !
DESIGUALDADES
Os contrastes sociais são responsáveis por todas as desigualdades raciais, étnicas e interculturais. Mesmo em tempos pós emancipação
quem tem muita melanina, na maioria das vezes, é olhado de canto, é temido. Julgado e culpado. Prostrado à marginalização e banalidade.
Jogado à sorte do destino. É triste ver que muitos são obrigados a sobreviver com pouca coisa, enquanto poucos riem e fazem de tudo um
circo, vivendo bem e muito bem, "com muitas coisas"
O problema da desigualdade social não é a falta de dinheiro para muitos, e sim o excesso na mão de poucos.
www.culturaonlinebrasil.net /// CULTURAonline BRASIL /// www.culturaonlinebr.org
Abril 2016
Página 6
Gazeta Valeparaibana
Política
Radicalização Política
Um lado tem a mídia. O outro lado também,
mas sempre contra.
Um lado tem o senso comum, assimilável facilmente. O outro lado tem a análise a exigir esforço intelectual.
Um lado importou seu discurso de laboratórios
estrangeiros de interferência sociopolítica. O
outro lado gerou o seu a partir do debate.
Um lado tem o taxista tagarela, soldado incansável do senso comum. A dona na fila de banco e o que ela viu na televisão. A massa de
manobra nadando fácil na direção que a mídia
Por: Rogério Marcus quer. O outro lado tem o estudante, o profissional, o professor cansado de enxugar o gelo
da ignorância, de nadar contra a corrente da
Estou farto de ler sobre o tal processo de radi- burrice, de corrigir imprecisões ou cortar a cacalização "de ambos os lados". A radicalização beça da mentira que logo a repõe com mais
existe, mas não provém "de ambos os lados". duas ou três.
Comparemos.
Um lado tem o familiar inculto, agressivo, abuUm lado publica um texto sensato e razoável. sivo, gritalhão e sem memória. O outro lado já
Algumas dezenas, com sorte centenas, de se retirou da mesa pra evitar o mal estar.
compartilhamentos. O outro lado publica boa- Um lado tem soluções brutais, simplórias e rátos, calúnias, mentiras óbvias. Dezenas de mi- pidas para os bodes expiatórios que a mídia
lhares de compartilhamentos.
grande o fez acreditar serem os problemas da
Um lado distribui adesivos na eleição, para sociedade. O outro lado se debruça sobre a
quem quiser aderi-los. O outro lado cola seus complexidade sem apelo emocional e sem míadesivos nos passantes e hostiliza quem não dia do que realmente é problema.
os quiser, chegando mesmo a agredir quem Um lado racionaliza a defesa violenta de suas
estiver usando outros adesivos.
idéias porque as tomou como suas. O outro
Um lado ensina suas crianças a agredir e trau- tomou as suas idéias por suas depois de usar
matizar crianças que estiverem com uma cami- a razão.
sa vermelha, ainda que da Suíça. O outro lado Um lado vê televisão, o outro lê livros.
nem mesmo concebe dizer a seus filhos que
agridam crianças posando com a Polícia Mili- Um lado tem fetiches com a imagética militar.
O outro lado milita pela via civil.
tar.
Um lado agride um cadeirante por estar fazen- Um lado é emoção, mas racionaliza. O outro
do campanha para o outro lado. O outro lado lado é razão, embora se emocione.
gestou, embalou, debateu e praticou o concei- Um lado dá carteirada no cinema, o outro lado
to de acessibilidade nas gestões públicas.
vê bons filmes.
Um lado agride um cachorro porque sua dona Um lado descobriu a corrupção ontem. O outro
o enfeitou com um lenço vermelho. Houvesse lado sempre a combateu.
correlato do outro lado, e veríamos fotos e víUm lado é machista, o outro não.
deos de tucanos torturados nas redes sociais.
Um lado é racista, o outro não.
Um lado xinga, berra, escreve em CAIXA ALTA, personaliza o debate. O outro lado argu- Um lado é o que o ser humano sempre foi, o
menta, e por isso mesmo é menos popular e outro lado é trabalho interno e superação rumo
a uma nova etapa civilizatória.
acessível.
Um lado é o menino mimado, o dono da bola. Pra um lado é fácil, pro outro é difícil.
Não aceita o resultado das urnas e quer a dita- Então não.
dura de volta. O outro lado se criou sob a ditaNão é um conflito só de lados, horizontal, mas
dura, lutando contra ela.
de comportamentos, vertical.
Um lado pretende sequestrar como símbolo
seu a bandeira nacional que o outro lado de- Então fora com a "isenção" do discurso do
fende de fato ao militar causas que seu anta- "ambos os lados". Abaixo o discurso fácil do
"ambos os lados".
gonista desconhece ou repudia.
Nelson Rodrigues
Falta ao virtuoso a feérica, a irisada, a
multicolorida variedade do vigarista.
Hoje é muito difícil não ser canalha. Todas
as pressões trabalham para o nosso aviltamento pessoal e coletivo.
Hoje, o sujeito prefere que lhe xinguem a
mãe e não o chamem de reacionário.
Invejo a burrice, porque é eterna.
Jovens: envelheçam rapidamente!.
Muitas vezes é a falta de caráter que decide uma partida. Não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos…
Na mulher, certas idades constituem,
digamos assim, um afrodisíaco eficacíssimo. Por exemplo:- 14 anos!
Nada nos humilha mais do que a coragem
alheia.
Não acredito em honestidade sem acidez,
sem dieta e sem úlcera.
Não admito censura nem de Jesus Cristo.
Não damos importância ao beijo na boca.
E, no entanto, o verdadeiro defloramento é
o primeiro beijo na boca. A verdadeira
posse é o beijo na boca, e repito: – é o
beijo na boca que faz do casal o ser único,
definitivo. Tudo mais é tão secundário, tão
frágil, tão irreal.
Não existe família sem adúltera.
Não há nada que fazer pelo ser humano:o
homem já fracassou.
Não se apresse em perdoar. A misericórdia também corrompe.
Nem toda mulher gosta de apanhar. Só as
normais.
Nossa ficção é cega para o cio nacional.
Por exemplo: não há, na obra do Guimarães Rosa, uma só curra.
Nunca a mulher foi menos amada do que
em nossos dias.
www.culturaonlinebrasil.net /// CULTURAonline BRASIL /// www.culturaonlinebr.org
Abril 2016
Página 7
Gazeta Valeparaibana
Contos, Poesias e Crônicas
MARIAS
Se fosses eleger uma Maria, qual delas escolheria?
- A que sofreu por seu único e santo filho
entregue a Deus para morrer na cruz.
- Oh! Virgem Maria! -
VIDAS POR UM FIO
Genha Auga
- Maria Madalena que os homens amaram na
calada da noite e a quem o povo apedrejou
quando a Jesus se juntou.
Vidas são ligadas por um fio.
- Ou Maria Bonita que soldados degolaram para por fim ao cangaço de Lampião que ela tanto amou.
Não! Por vários fios agora.
- Maria lavadeira que a vida inteira, sem cansaço roupa lavou e a quem o sol a pele avermelhou.
Contada nessa última versão...
U.T.I. – Unidade de Terapia Intensiva – última morada.
Os fios que ligam o aparelho por onde respira.
Fio do acesso injetado na veia para sobreviver.
Fio que o alimenta pela sonda gástrica.
E a morte ronda incansavelmente puxando-o a cada dia, tentando tirar-lhe ora a respiração, ora as batidas do coração.
Pensamentos que não podem mais serem compartilhados...
Essa sombra maléfica e indesejável o puxa para levá-lo e se agarrando a um fio de vida,
puxando ao contrário tentando ficar,assim, devagarinho, esgotando suas forças irá vencer
e partirás.
- Poderia ser Maria que os passos de Joãozinho seguiu e a maldade conheceu na bruxa
que quase a engoliu.
- Maria Antonieta, rainha da França, forte em
sua trajetória e assim sua história se deu.
- Ou, Maria dos prazeres – que de luxúrias viveu com homens que em seu corpo deleitaram
-se e acalentaram problemas sem fim.
- Seria Maria Sem-Vergonha mal falada e por
sua beleza cobiçada pelas princesas nos jardins.
-Três Marias de fama universal pelas águas do
“Velho Chico” -abriu se a porta para o céu e lá
ficaram num encanto e magia -
Mas, não se preocupe porque do outro lado do fio está um “Ser” maior que a morte a esperá-lo e então, “Ele”, sem mazelas, o libertará.
- Maria Bethânia, Maria Rita, Maria das Graças! As famosas Marias dos nossos dias.
Nessa nova morada, não haverá dúvidas e nem medos, descobrirá que a morte é somente
a ponte inevitável para ir de encontro a um lugar reservado, escolhido por anjos que seguiram seus passos aqui na terra e que recompensarão com amor, todo sofrimento que passou.
Seja qual for a Maria, haverá nela o olhar do
cansaço e de luta, ventre rasgado pela
continuação da vida na Terra. Haverá nelas o
amor entre Deus e o Diabo!Servirão como
mães – amigas – prostitutas – virgens e
amantes.
Acabada a dor e através da luz divina,continuarão olhando pelos seus que aqui ficaram.
Amém!
Assim se doarão e todas terão seu homem,
como destino.
Faço um pedido a Deus que o tem agora:
Qual dessas Marias o homem escolheria?
- Permita, por favor, que essa pessoa tão amada, que exemplo e saudade deixou não se
desprenda do único fio que restou e nos une que é o fio do amor...
Deus é quem sabe – segredo dele e das
Marias...
GENHA AUGA
Escrevo como se estivesse dormindo e sonhando: as frases desconexas
como no sonho. É difícil ,estando acordado, sonhar livremente nos meus
remotos mistérios.
Clarice Lispector
www.culturaonlinebrasil.net /// CULTURAonline BRASIL /// www.culturaonlinebr.org
Abril 2016
Página 8
Gazeta Valeparaibana
Estrangeirismos
Ladrão era chamado de “amigo do alheio”. Para dinheiro,
havia a palavra mango, que acredito ter sido importada do
lunfardo, a gíria dos malandros de Buenos Aires. Mas falavase também uma palavra vinda do francês, que até mesmo os
caipiras mais renhidos usavam, pronunciando corretamente
“larjan”, que deriva de l’argent (a prata, o dinheiro). Mas ainda há quem use prata: “Custou cem pratas”. E outra pouco
lembrada hoje era cobre. “Aquele carro velho eu passei nos
cobres”.
Ludopédio e muito mais
Chato, cricri e zung-zung
POR: Mouzar Benedito.
Imagine alguém contando essa historinha: “Depois de receber uma premagem, o ludâmbulo desligou o lucivelo, colocou
o focale, chamou o cinesíforo e foi ao local da runimol de que
teve notícia por um amigo alvissareiro”.
Assim seria contada essa historinha se se tivesse adotado a
proposta de Antônio Castro Lopes, filólogo que viveu de 1827
a 1901 e, entre os vários livros que publicou, um de 1889,
chama-se “Neologismos indispensáveis e barbarismos dispensáveis”, e tem essas palavras todas. Ele odiava o que
hoje chamaríamos de imperialismo cultural que impunha um
vocabulário cheio de vocábulos estrangeiros para nós. Na
época, os fãs dos estrangeirismos (que ele chamava de barbarismos) tinham o francês como língua inspiradora, assim
como os gringófilos de hoje adoram o inglês. Só que há uma
diferença: os barbarismos que ele citava eram em grande
parte palavras novas, sem equivalentes em português. Hoje,
substituem palavras do português, que funcionam muito bem,
por outras do inglês, e neste caso são desnecessárias.
Bom, mas voltemos à historinha. Os neologismos que ele
propôs, como ludâmbulo, focalo e cinesíforo não pegaram.
Então podemos contar hoje a mesma historinha assim:
“Depois de receber uma massagem, o turista desligou o abajur, colocou o cachecol, chamou o motorista e foi ao local da
avalanche de que teve notícia por um amigo repórter”. Acho
muito estranho nessas palavras a proposta de usar
“alvissareiro” em vez de repórter. Alvíssaras é uma palavra
sempre relacionada a boas notícias, o que não é bem o caso
da maioria do que ouvimos ou lemos dos repórteres.
Volto ao Castro Neves. Ele criou um monte de neologismos,
inspirados no latim e no grego, propondo banir as palavras
importadas. Mas quase nenhuma pegou. Duas que sei que
são usadas: cardápio, em vez do francês menu, e, menos
usada, convescote em vez de piquenique.
Agora algumas que não pegaram, além das citadas na historinha: preconício no lugar de reclame (palavra que já não
usamos hoje – foi substituída por anúncio, propaganda ou
publicidade), nasóculos no lugar de pincenê (óculos sem
hastes que se prendem ao nariz por uma mola – não se usa
mais nem o dito-cujo nem a palavra), ancenúbio (nuance),
castelete (chalé), joalheira (bijuteria), entrosagem
(engrenagem) e vanaplauso (claque). Chofer, derivada do
francês “chauffeur” foi nome de uma profissão por muito tempo, até cair em desuso de vez, mas não substituída pelo cinesíforo que ele propôs, virou motorista. Ou, no caso de
competições, piloto. Por falar nisso, já citei o carro de praça,
expressão substituída por táxi. Quem conduzia o carro de
praça era o chofer de praça, o atual taxista.
É atribuída a Castro Neves, também, a criação do neologismo ludopédio, que não pegou, para substituir futebol. Mas
não sei se é dele mesmo ou de outra pessoa. Em 1889, época da publicação do livro “Neologismos…”, pelo menos, não
havia futebol por aqui. E em 1901, quando morreu ainda era
uma novidade.
No guichê do banco, a moça me pediu que digitasse a senha
do cartão. Perguntei: “Os seis algarismos ou só quatro?”. Ela
fez cara de espanto. E brinquei: “Epa! Usar a palavra algarismo é coisa de velho, né? Entrega a idade da gente. Vocês
usam dígito”. Ela sorriu: “Até que gostei. Vou usar também”.
Saí do banco pensando num monte de palavras que ninguém
mais usa. Alguém ainda fala da repartição em que trabalha?
E do ordenado que recebe?
Algumas palavras, com certeza, jovens nem imaginam o que
significam. Carapina, por exemplo, que vem do tupi e era
usada como sinônimo de carpinteiro. Ceroula, ninguém mais
usa: nem a vestimenta nem a palavra. Assim como capote,
que virou sobretudo e agora ninguém mais usa. Nunca mais
vi ninguém de sobretudo, nestas terras tropicais – em países
de clima frio, usam. – E correia em vez de cinto ou cinta?
Nunca mais ouvi.
A palavra “chato” está aí, presente no dia a dia, mas houve
uma época em que criaram uma outra para um chato mais
chato, um chato que incomoda até o chato. E a palavra era
cricri: esse seria o nome do bichinho que daria nos pelos
públicos do chato. E nos pelos púbicos do cricri, segundo
inventaram depois, teria o zung-zung. O chato do chato do
chato. Vai ser chato!…
Alguém aí ainda fala carro de praça? Nem mesmo nos confins do interior, onde ninguém usava a palavra táxi.
E falando em praça, quem entrava na polícia dizia que sentou praça.
Custoso era coisa difícil de se fazer. Marmota é um bicho
que a gente vê em filmes sobre animais, mas antes era também o mesmo que palerma, bobalhão.
Campear, originalmente, era procurar algo (geralmente a
cavalo) no campo ou no mato, mas usava-se essa palavra
como sinônimo de procurar qualquer coisa em qualquer lugar.
Algumas palavras ainda usadas, mas raramente, como é o
caso de frugal (simples), que hoje parece sofisticada, e merendar (lanchar), que, ao contrário, parece coisa de caipira.
No futebol, a bola costumava ser chamada de pelota, e a
chuteira, na gíria, às vezes era chamada de chanca, que
originalmente é um calçado com sola de madeira, o mesmo
que tamanco (aliás, quem usa tamanco hoje em dia?).
A molecada gostava era da fuzarca (bagunça) e de arremedar ou remedar (imitar) os adultos. E as mães ainda adulavam (paparicavam) os pestinhas.
Não sei se era para diferenciar do sentido político, mas para
o vermelho usava-se a palavra encarnado. Coisa que entrava
na moda de maneira forte e rápida, uma moda ostensiva do
momento, era coqueluche. Algumas pessoas, em vez de
Falando em futebol, no início e pelo menos até a década de
pedir “por favor”, pediam “por obséquio”.
1950, o palavreado em inglês era dominante. Sobraram a
própria palavra futebol (de football), pênalti (de penalty), driPara negar de forma radical uma coisa dita sobre ele ou algo ble (de dribbling) e gol (de goal). No meu tempo de criança,
parecido, falava-se bravo: “É uma pinóia!”. Agora imaginem a no interior mineiro, ainda se falava córner no lugar de escanmúsica de Roberto Carlos: “De agora em diante, eu vou mo- teio, e no rádio ouvíamos falar do “escore” em vez de placar.
dificar o meu modo de vida…”. Não daria certo usar Havia ainda quem chamasse goleiro pelo nome inglês, adap“doravante” com o sentido de “de agora em diante”. Quem tado: goalkeeper, que pelos confins do Brasil pronunciava-se
fala doravante? E já que citei Roberto Carlos, uma gíria femi- golquipa ou golquipe (na roça, gorquipe). Os zagueiros de
nina dos tempos da Jovem Guarda, para falar que um sujeito hoje eram beques, os laterais “alf” (não sei se era assim que
era bonito: “Ele é um pão”. Aí alguns que não estavam nessa se escrevia), mas no interior pronunciavam arfe ou arfo. Arfo
categoria começaram a gozar: “É mesmo. Pra ser bom, o esquerdo e arfo direito. No meio de campo recuado, o centepão tem que ser fresco”.
rarfo…
Outros nacionalismos
Lima Barreto, em seu genial “O triste fim de Policarpo Quaresma” tinha nesse personagem um nacionalista extremo,
que propunha algo mais radical: a adoção do tupi como língua do Brasil.
Há alguns anos, o então deputado Aldo Rebelo propôs uma
lei que, se adotada, redundaria em multa para quem usasse
estrangeirismos desnecessariamente. Levou pancada de
todo lado. Uma vez, encontrei um assessor dele e brinquei
(mas até que não era tão brincadeira assim) propondo algo
diferente: que se cobrasse taxas pelo uso de estrangeirismos
desnecessários.
Dei um exemplo: já existiam centros comerciais no Brasil,
antes de um deles, o Iguatemi (em São Paulo) ser criado
com o nome Shopping Center. Era preciso adotar esse nome? Acredito que não. Então que se cobrasse uma taxa anual, por metro quadrado, para manter a denominação shopping center, ou simplesmente shopping. E cada loja dentro
dele, se adotasse nomes estrangeiros também, pagaria mais
uma taxa por metro quadrado. Dupla tributação! Daria uma
baita renda, não? Só na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro,
seria arrecadado dinheiro suficiente para os governos nadarem na grana.
Muitas palavras do nosso cotidiano “antigo” foram excluídas
para dar lugar a outras, em inglês, como citei lá em cima. A
primeira que me lembro, e que na época me irritava, foi o
insight. Usávamos aqui a palavra estalo, com o mesmo sentido, mas um certo pessoal achava mais chique falar em inglês.
E vieram os sanduíches… hot-dog (no início traduzido, cachorro-quente), hamburger, cheeseburger, chese-egg, sendo
que o cheese (queijo) acabou virando X: X-burguer… Faço
um parêntese para me lembrar de uma vez que estava na
periferia de Osasco, nos anos 1980, numa padaria, e um
sujeitinho metido a besta pediu um “pão com egg”. O chapeiro ficou olhando pra ele sem entender e ele ainda esnobou:
“Você é burro? Não entende? É aquilo ali”… e mostrou um
ovo pra ele.
Ah, agora com a onda de imitação de gringos, até a carrocinha de cachorro-quente perdeu a vez. Agora veículos maiores, exibidos, ostentam o nome food-truck e não se limitam a
vender sanduíches (tá aí outro estrangeirismo: vem do inglês
– da Inglaterra mesmo – sandwich).
E vieram os computadores, a internet… Claro, muitas palavras usadas nessas coisas não existiam antes, foram criadas. E como a criação foi em terras de língua inglesa, normal
que se esparramem com esses nomes, adaptando-se aos
vernáculos ou não. Mas há exageros, né? Ninguém apaga
mais nada, deleta. Não baixa arquivos, faz download. Até
imprimir já perde a vez para printar.
Para terminar, penso sempre – com aprovação – nos nomes
de certos países e cidades que só são aportuguesados porque herdamos dos portugueses, mais ciosos da importância
do vernáculo do que nós brasileiros. Com a mania brasileira
de querer falar os nomes de países e cidades como se estivéssemos falando na língua deles, ou em inglês, acredito
que logo vão abandonar nomes adaptados pelos portugueses e macaquear os gringos, falando empombado em London, England, Germany, Sweden, Swiss, Endland, Nederland…
Só quero ver, se resolverem falar de acordo com a língua do
próprio país e não do nome dado a ele em inglês, como vão
se enrolar para falar da Hungria (Magyarország, em húngaro), do Iêmen (Al-Jumhuriyya Al-Yamaniyya), do Reino da
Dinamarca (Kongeriget Danmark), da Croácia (Hrvatska) e
da já citada Suécia que em inglês é Sweden, mas, em sueco,
o Reino da Suécia é Konungariket Sverigee. Mas sei que não
há esse risco: a língua padrão é o inglês, de preferência falado com sotaque dos Estados Unidos.
Aliás, muitos já falam América para se referir aos Estados
Unidos, como se só lá fosse América. E até sonham ser colonizados pelos “americanos”. Já eu preferiria que devolvêssemos o Brasil aos índios e nos adaptássemos a eles. Falaríamos línguas da família tupi-guarani, do macro-jê, aruaque,
tikuna, tukano, aruaque, ianomâmi, baniwa, bororo…
Viva Policarpo Quaresma! Rê-rê…
www.culturaonlinebrasil.net /// CULTURAonline BRASIL /// www.culturaonlinebr.org
Abril 2016
Página 9
Gazeta Valeparaibana
Educação em debate
Pagamento, a partir de 1/06/2016, aos professores de educação infantil da parcela final da
equiparação salarial com os professores da
educação básica.
Pagamento, a partir de 1/06/2016, da alteração da carga horária aos professores.
O debito em atraso referente aos itens 1 e 2
será quitado parceladamente, segundo as negociações que devem ocorrer com a Comissão Permanente de Negociação.
Manutenção da data base para maio/2016.
Garantia ICV-DIEESE.
Manutenção de todas as gratificações concedidas aos servidores anteriormente à edição
do Decreto.
Manutenção do decreto 33226, desde que não
contrarie o que foi acordado diante do TRT.
Abono do dia 15/03 e compensação do dia
21/03, com critérios a serem estabelecidos pela Comissão Permanente de Negociação.
Os Servidores de Guarulhos mais uma vez
foram afetados pela má gestão dos recursos
públicos e pela ingerência do seu prefeito. A
bola da vez foi o Decreto municipal nº 33226
de 25/02 que estabelece medidas de racionalização dos gastos públicos com pessoal.
Pois bem, a princípio o decreto parece ser
bem intencionado, uma vez que o município
passa por diversos problemas financeiros e
realmente precisa de algum tipo de reforma,
entretanto, uma leitura mais atenta e uma breve articulação com outras informações nos
permitem a refletir um pouco mais a fundo.
Basicamente o decreto estabelece a suspensão de contratação de pessoal (sobretudo os
comissionados), criação de novos cargos, licença de interesse particular, licença prêmio,
ampliação de carga horária, horas extras e designações para funções gratificadas, além de
estabelecer o corte de 20% dos cargos comissionados.
Como foi dito anteriormente o decreto não deveria causar estranheza, uma vez que o município realmente atravessa um período difícil,
porém, há que se ressaltar que o próprio poder executivo contratou funcionários comissionados no final de 2015 e fez nova contratação
após a apresentação deste mesmo decreto.
Ora, como o poder executivo baixa um decreto
e não cumpre o que ele mesmo baixou? Qual
é a função desses funcionários comissionados? Será que essa contenção de custos com
todas as forças e a contratação desses comissionados tem alguma relação com as eleições
municipais que se aproximam?
O fato é que o decreto citado prejudica imediatamente os servidores da Educação. Professores, diretores, vice-diretores, coordenadores,
cozinheiras e pessoal de secretaria, seriam os
primeiros afetados por essa medida. Maiores
explicações sobre essa construção da greve
dos servidores de Guarulhos e do decreto
22332/16 você pode encontrar no YouTube,
no canal do Programa E Agora José? Em que
realizamos uma grande entrevista com as professoras Viviane Lourenço da Silva, Paula Geraldelli e Sara Santana, que representaram o
Sindicato dos Trabalhadores da Administração
Pública (STAP).
Os servidores (principalmente da educação)
deflagraram então a greve que iniciou e terminou no dia 21/03/2016. Sim, isso mesmo, um
dia em greve. Mas o que houve com que acabasse em um dia.
No decorrer deste dia de greve, os servidores
foram para as ruas protestar contra o decreto.
Outro grupo formado pelo sindicato e por outros representantes dos servidores tiveram uma reunião com o TRT para tratar das negociações. A ata da reunião está publicada no jornal Guarulhos web (http://goo.gl/MoIpG0) e
também nas páginas do STAP e da Prefeitura.
Após o fim da greve, vários servidores se manifestaram pelas redes sociais demonstrando
sua indignação com o fim da greve. Entretanto, do ponto de vista estratégico de uma negociação, é preciso ter sangue frio, já que não é
fácil negociar com o poder público.
Minha experiência com o poder público
(sobretudo na área da educação) me permite
afirmar que os servidores de Guarulhos aceitaram a luz no fim do túnel que foi apresentado. Também seria imprudente que o prefeito
prometesse aquilo que claramente não poderia cumprir (ainda que isso foi feito durante sua
campanha eleitoral). De qualquer forma, posso compartilhar com o leitor minha experiência
com o Governo do Estado de São Paulo, que
em 2015 realizamos 92 dias em greve sem
que houvesse absolutamente nenhuma proposta. E assim foi, 92 dias em greve, sem proposta e sem reajuste (inclusive considerando
o dissídio) desde então. Os professores da
rede pública paulista já partem para o segundo ano sem absolutamente nada de reajuste
salarial.
Voltando ao caso dos servidores de Guarulhos, após a reunião com o TRT houve uma
outra assembleia, com os ânimos acirrados,e
foi decidido que a greve acabaria. A maioria
votou e a maioria ganhou. Do ponto de vista
estratégico, garantir mais 2 ou 3 dias em greve seria inviável, uma vez que o movimento
perderia sua força e a prefeitura não precisaria
mais ceder a nenhum ponto reivindicado.
A insatisfação daqueles que se manifestaram
contra está presente, principalmente, no fato
de a Prefeitura não retirar o Decreto. De qualquer forma, pelo pouco que entendo, vejo que
os direitos foram garantidos, e a jornada do
professor será paga. Ai fica a pergunta: e se o
prefeito retirasse o decreto, ele não abriria uma brecha para poder contratar mais comissionados?
Lições que aprendemos com a greve dos Servidores:
Se não concorda com o que é decidido em
assembleia, participe da assembleia.
Fazer greve não significa ficar em casa assistindo TV. Fazer greve é atuar em diferentes
frentes para trazer a público as discussões sobre o movimento da greve e para pressionar o
governo para negociar.
Entenda que negociar significa ceder. Cada
um cede um pouco de cada lado para que no
final haja o mínimo de consenso.
Se o governo não cumprir com o que foi acordado, volta-se à rua para cobrar o que é de
responsabilidade de cada um acordado diante
do TRT.
Participar de uma greve não é fácil. Os conflitos que se estabelecem são múltiplos. É preciso convencer a comunidade, os colegas de
trabalho e até os membros da própria família.
Os ânimos se acirram e os conflitos acontecem. De qualquer forma, entendemos que é
preciso que haja uniformidade, discussões coletivas e participação ativa. Diferentemente do
que houve no ano passado com os professores da rede pública estadual de São Paulo, os
servidores de Guarulhos demonstraram uma
grande força para fazer valer a sua voz. Que
sirva de lição para o próximo prefeito que vier.
Ivan Claudio Guedes
Geógrafo e Pedagogo.
[email protected]
O que ficou acordado entre o STAP e a Prefeitura?
www.culturaonlinebrasil.net /// CULTURAonline BRASIL /// www.culturaonlinebr.org
Abril 2016
Página 10
Gazeta Valeparaibana
Cultura simbólica (artigo continuado)
O BRASIL NUNCA FOI UMA COLÔNIA!
PARTE II
“A expansão portuguesa não foi, nem fruto
do acaso, nem um feito político da Coroa ou
de cortesão esforçados, antes a missão de
uma Ordem iniciática.”
Manuel J. Gandra
Barbara Freitag (in: Capitais migrantes e poderes peregrinos, 2009, p.43) cita a obra de
Nestor Goulart Reis Filho e seus colaboradores Beatriz Piccolato Siqueira Bueno e Paulo
Júlio Valentino Bruna (Imagens das vilas e
cidades do Brasil colonial, 2001) que reescreve a formação da sociedade colonial alertando para um fato inédito ou pouco conhecido:
Poucos sabem que quase todas as vilas e cidades mais antigas tiveram muros e portas,
como grandes fortalezas. Poucos sabem também que muitas delas foram traçadas por engenheiros militares e tinham formas geométricas regulares. E muito poucos tiveram notícias sobre as aulas de Arquitetura Militar, que
formaram esses engenheiros e partir de 1696,
inicialmente na Bahia e em Pernambuco e,
depois, também no Rio de Janeiro e no Pará.
Freitag afirma que os estudiosos do período
colonial negligenciaram o estudo das cidades
do período colonial, disseminando a crença
de que os portugueses teriam sido
“semeadores” sem projeto e racionalidade de
ocupação territorial na ocupação do espaço
urbano brasileiro: “já começa a haver consenso entre pesquisadores brasileiros e portugueses de que havia uma atividade planejadora regular do mundo luso-brasileiro nos
tempos de colônia”.
À parte as providenciais “negligências”, tanto
Freitag quanto Reis Filho alertam para uma
“atividade planejadora regular” da Coroa no
período colonial. Tal planejamento evidencia
as características “militares” das cidades da
“colônia”, corroborando a tese das feitorias
(futuras vilas e cidades) como “colônias” militares, de Tito Lívio, o que incita, evidentemente, a ampliar o olhar sobre a forma de administração da Coroa.
Quanto a isto, é pertinente perguntar sobre a
origem e razão do “caráter militar” desse planejamento, porque, o argumento que se assenta sobre a idéia de “defesa” do território
comunga uma visão reducionista do assunto.
Isto porque, é consabido que Portugal não foi
um império de conquista, portanto, o número
de homens em armas era bastante reduzido.
Ademais, é deveras sintomático o fato de ter
sido a Ordem de Cristo a autora, patrocinadora e mentora dos Descobrimentos Portugueses, autêntica sucessora da Ordem do Templo de Portugal, esta, de consabido cariz militar e monástico. A Ordem do Templo foi uma
cavalaria espiritual à conquista do mundo. A
sua fama militar e monástica tem uma vertente exterior e uma vertente individual, contemplativa, ascética. Portanto, o testemunho militar deve ser consoante a missão assumida
pela milícia templária. Concerne investigar
criteriosamente o quanto da missão templária
foi transposta (e se o foi e como) para o povoamento e formação do Brasil. Some-se a isso
a relevante questão de a Ordem de Cristo ter
exercido uma influência notável no povoamento e na formação do Brasil e, de ser o
Brasil patrimônio da Ordem de Cristo, e não
da Coroa Portuguesa:
reservando para si a soberania. Foram tão
rápidos os seus progressos e tão consideráveis as suas aquisições, que, mesmo em vida
do Infante, a prudência exigiu outros contratos. Em vez da propriedade dos países adquiridos, que volveu à Coroa, concederam-lhes a
jurisdição civil, certa superioridade militar, os
dízimos e a jurisdição eclesiástica, com o consentimento dos papas. Anos depois, a boa
política pediu que a supremacia de uma Ordem, tão rica e poderosa, fosse para sempre
anexada à pessoa do rei, como de feito se
conseguiu. Desde o cabo Bojador, onde tiveram princípio estas descobertas, não era permitida a navegação a navio algum português
que não hasteasse a bandeira da Ordem; além deste cabo os portugueses não usavam
outra” (Abade Correia da Serra. Os verdadeiros sucessores dos templários e o seu estado
em 1805. In: Cadernos da Tradição. Lisboa:
Hugin, 2000, p.59-70). O rei de que se trata
foi D. João III. Tal política coincide com o início da decadência nacional propiciada pelo
enfraquecimento da Ordem de Cristo, motivada pela supracitada reforma, conduzida por
frei António de Lisboa, a mando do rei D. João III, em 1529, que mandou incendiar e destruir todos os documentos respeitantes à Ordem de Cristo.
“D. João II, rei de Portugal, e o rei de Castela
assinam o Tratado de Tordesilhas, em 07 de
Junho de 1494[…] E assim, seis anos antes
da viagem de Pedro Álvares Cabral, já Portugal reivindicava a posse da terra do Brasil,
para o patrimônio da Ordem de Cristo, segundo as bulas anteriores dos Papas D. Martinho
V., D. Nicolau V e D. Calixto III, porque os
descobrimentos portugueses eram custeados
pelas rendas da Ordem de Cavalaria de Nosso Senhor Jesus Cristo, isto é, a Ordem de Manuel J. Gandra (in: O Projecto Templário e
o Evangelho Português, 2013, p. 24), deCristo[…]
monstra que, ao contrário, Portugal assumiu,
Traçada a fronteira ideal das terras pertenem nome da Ordem do Templo, um comprocentes a Castela e das terras adjudicadas à
misso ecumênico, interrompido (ou adulteraOrdem de Cristo, pelo Tratado de Tordesido) pelo incensado D. João II, que depois de
lhas, em 1494, quatro anos mais tarde, em
assassinar o Grão-Mestre da Ordem de Cristo
1498, Duarte Pacheco Pereira, mandado por
assume para si esse cargo, bem como, a juD. Manuel I, cruza o Atlântico de norte a sul,
risdição sobre o rico patrimônio da Ordem,
para localizar geograficamente o patrimônio
subvertendo a missão da milícia templária:
ultramarino da Ordem de Cristo, no novo continente e chega até o cabo de Santo Agosti- “Recordo que foi o mesmo monarca que, pela
nho, no litoral do atual Estado da Paraíba. E o sua própria mão, assassinou o Grã-Mestre da
Papa Calixto III, pela Bula de 13 de março de Ordem de Cristo (seu cunhado), certamente,
1455, “declarara inerentes ao mestrado da porque este não tencionava abdicar daquilo
Ordem de Cristo em Portugal a administração que, até do ponto de vista canônico, constituíe padroado das terras adquiridas e por adqui- a o cerne moral e religioso da Milícia.
rir, desde o Cabo Bojador até à Índia (Ásia) e Além disso, D. João II promoveu, em 1485, a
Xisto IV confirmara ao rei D. João II (de Portu- reforma do brasão real. A chamada operação
gal) as bulas de seus predecessores”(Cf. de endireitar o escudo (i. e., os escudetes das
Francisco Adolpho de Varnhagen. “História ilhargas) terá subvertido irremediavelmente o
Geral do Brasil”, T. 1- p.69).
significado das peças que empunham as arO diagnóstico acima separa as jurisdições
pertencentes à Ordem de Cristo das da Coroa
Portuguesa (igualmente, lança luz sobre o
Pacto do Padroado e sobre o fato de a maioria dos reis portugueses – de 19 dos 34- terem
sido excomungados pela Igreja de Roma, o
que rebate a verdade aceita da absoluta catolicidade de Portugal!). É consabido o fato de
no ano de 1420, o Infante D. Henrique, duque
de Viseu, filho de D. João I, foi colocado à
frente da Ordem de Cristo. Todos reconhecem neste nome o autor das descobertas e
das colônias europeias; o que menos se sabe
fora de Portugal, é que estas descobertas eram feitas à custa desta Ordem e em seu proveito. Os reis de Portugal, para animar estes
cavaleiros, lhe concederam a princípio a propriedade dos países que poderiam adquirir,
mas nacionais, as quais na sua configuração
original representavam a Alma do Mundo, de
acordo com Plotino: os três escudetes superiores voltados para a Inteligência (ou seja, para o interior) e o do meio e o inferior, voltados
para a matéria (i. e., para o exterior). Ao preceder assim, D. João II terá entregue ao Corpo do Mundo a direção do destino nacional,
transformando-o, doravante, numa mera
questão de “Secos e Molhados.
POR: Loryel Rocha
CONTINUA NA
PRÓXIMA EDIÇÃO
Os artigos publicados são responsabilidade de seus autores, não refletindo necessariamente a opinião da Gazeta Valeparaibana
www.culturaonlinebrasil.net /// CULTURAonline BRASIL /// www.culturaonlinebr.org
Abril 2016
Página 11
Gazeta Valeparaibana
Dia da mentira
mo uma forma de evidenciar que a verdade
sempre aparece.
A comemoração do 1 de abril se espalhou
pelo o mundo, ficando conhecida como o
dia da mentira. “Poisson d’avril” é o nome
recebido na França e na Itália esse dia é
conhecido como “pesce d’aprile”, ambos
significando peixe de abril. E você, já enganou alguém hoje? Seja criativo, mas cuidado com o que vai dizer, uma mentira bem
Tradicionalmente, 1 de abril é considerado contada pode se transformar numa falsa
o dia da mentira. Você sabe por quê?
verdade, com consequências imprevisíveis.
São muitas as explicações para o 1 de abril ter se transformado no dia da mentira ou dia dos bobos. De acordo com uma VERDADE
versão, a brincadeira surgiu na França do
século XVI. Nessa época, o ano novo era
A porta da verdade estava aberta,
comemorado dia 25 de março e as festividades só terminavam no dia 1 de abril. mas só deixava passar
Quando em 1564, o rei Carlos IX da França meia pessoa de cada vez.
adotou o calendário gregoriano e determinou que o ano novo seria comemorado no
dia 1 de janeiro. Zombadores passaram a Assim não era possível atingir toda a
ridicularizar o dia 1 de abril, enviando pre- verdade,
sentes esquisitos e convites para festas
porque a meia pessoa que entrava
que não existiam.
só trazia o perfil de meia verdade.
Outras justificam o dia da mentira com a
ideia de que a data foi inspirada E sua segunda metade
na natureza, que costumava enganar as voltava igualmente com meio perfil.
pessoas na virada de março para abril com
mudanças climáticas repentinas. Ao serem E os meios perfis não coincidiam.
feitas de bobas pelo tempo, as pessoas resolveram também adotar a brincadeira.
Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
No Brasil, o primeiro a adotar a brincadeira
Chegaram ao lugar luminoso
foi o periódico “A Mentira”, em 1º de abril
de 1848. O informativo transmitiu a notícia onde a verdade esplendia seus fogos.
sobre o falecimento de D. Pedro, fato que Era dividida em metades
não havia acontecido e só desmentiu no dia
diferentes uma da outra.
seguinte.
No imaginário de crianças e adultos, a
mentira está associada à figura de Pinóquio, personagem que apareceu pela primeira vez em 1883, no romance As aventuras de Pinóquio, escrito pelo italiano Carlo
Collodi. Depois de inúmeras adaptações, o
personagem foi imortalizado no filme homônimo de Wall Disney. Toda vez que o boneco de madeira mente seu nariz cresce, co-
Chegou-se a discutir qual a metade mais
bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.
Carlos Drummond de Andrade
As pessoas que falam muito, mentem sempre, porque acabam esgotando seu estoque de verdades.
Millôr Fernandes
****
As verdades podem ser nuas - mas as mentiras precisam de estar
vestidas.
Textos Judaicos
****
As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as
mentiras.
Friedrich Nietzsche
FRASES SOBRE MENTIRAS
E MENTIROSOS
1º de Abril
Xiquote: “Não é difícil dizer sempre a verdade;
difícil é conseguir que sempre nos acreditem”.
***
Bernardo Pereira de Vasconcellos: “A verdade
é a mentira muitas vezes repetidas”.
***
Adolf Hitler: “As grandes massas cairão mais
facilmente numa grande mentira do que numa
mentirinha”.
***
Camilo Castello Branco: “A verdade é às vezes
mais inverossímil que a ficção”.
***
Lucille Ball: “O segredo para permanecer jovem
é viver honestamente, comer devagar e mentir a
idade”.
***
Camilo Castello Branco, de novo: “A verdade é
algumas vezes o escolho de um romance”.
***
Florbela Espanca: “Quem disser que pode amar alguém durante a vida inteira é porque
mente”.
***
Benjamin Disraeli: “Há três espécies de mentiras: mentiras, mentiras deslavadas e estatísticas”.
***
Leon Kaseff: “Na conquista da verdade, não existem vencedores nem vencidos, mas, apenas,
convencidos”.
***
Humberto de Campos: “Em literatura, e em moral, repete-se o fenômeno: a verdade, nua, é,
pela sua uniformidade, fatigante, enfadonha, fastidiosa”.
***
José Américo: “Há muitas formas de dizer a
verdade. E talvez a mais persuasiva seja a que
tem a experiência da mentira”.
***
Pereira da Silva: “As verdades de quase dois
mil anos caducam como as senhoras respeitáveis de mais de cem”.
***
www.culturaonlinebrasil.net /// CULTURAonline BRASIL /// www.culturaonlinebr.org
Abril 2016
Página 12
Gazeta Valeparaibana
Brasil - Política
Quem é que vigia o vigia?
Neste período histórico do Brasil, as pessoas
estão testemunhando mais uma das crises
políticas brasileiras. A atual crise é considerada por alguns ou muitos como uma das mais
graves da história do país.
Caro leitor e cara leitora. Muitos acham que o
problema se restringe ao PT, que remover a
Dilma da presidência e forçar a extinção do
PT, tudo vai ser limpo. Outros que foram beneficiados ou testemunharam benefícios aos
menos favorecidos da sociedade defendem a
Dilma e o Lula, estão indignados com o que
estão vendo acontecer. A minha interpretação
da realidade política brasileira é assim. O Lula, a Dilma, os políticos petistas em geral, não
vão viver para sempre. O Aécio Neves e o
pessoal do PSDB também não. O Eduardo
Cunha, o Renan Calheiros, o Michel Temer e
o pessoal do PMDB também não. São todos
efêmeros. Essa geração de políticos vai passar, e outras gerações virão. Então, eu entendo que a sociedade civil brasileira podia se
apegar menos a partidos e a personalidades
políticas, e se atentar ao verdadeiro problema
da política brasileira, que é o sistema no qual
o Brasil funciona. As pessoas que estão contra a Dilma e as pessoas que defendem a Dilma não vão conseguir chegar a um consenso,
a um acordo que satisfaça ambas as partes.
Isso ficou claro para mim. A sociedade vai
permanecer dividida e, o lado que tiver mais
força vai prevalecer. E no futuro, o filme vai
ser um remake do atual, ou seja, o mesmo
filme com atores diferentes.
A sociedade, as pessoas deviam parar para
pensar melhor, para refletir. Por que tais coisas conseguem acontecer no Brasil? Onde é
que está a falha? Ou as falhas? O problema é
cultural? É econômico? É religioso? Quais
são as causas? Identificadas as causas, a so-
ciedade devia procurar soluções, recursos,
métodos, algo que impeça “a história se repetir”. Petrolão, Lava Jato, Mensalão... já está
impregnada na história do Brasil. Não há como apagar isso da História brasileira. A corrupção é um defeito moral do ser humano,
não há como extinguir a corrupção em absoluto. Tem gente honesta, mas tem gente que
não vê motivos para ser honesta. E isso é
mundial, não é só no Brasil. Eu acredito que
uma fiscalização mais rigorosa ajudará a reduzir muito o problema da corrupção. O Poder
Público que, em nome da sociedade, fiscaliza
o Governo é o Legislativo. Nos Municípios é a
Câmara dos Vereadores. Nos Estados é a Assembléia Legislativa e a nível federal é o Congresso Nacional. Isso, nós já sabemos. Mas,
quem vigia os vigias? Quem monitora o funcionamento do Legislativo? Quem fiscaliza o
fiscal?
Muitos dizem que é obrigação do eleitor fiscalizar o eleito. Muitos outros dizem que o eleitor não tem tempo e nem recursos para isso,
tem que trabalhar, tem família para cuidar,
contas para pagar, etc. Eu tenho algumas idéias para compartilhar. Uma, o Ombudsman
é uma pessoa encarregada pelo Estado de
defender os direitos dos cidadãos, recebendo
e investigando queixas e denúncias de abuso
de poder ou de mau serviço por parte de funcionários ou instituições públicas. Nas empresas, indivíduo encarregado do estabelecimento de um canal de comunicação entre
consumidores, empregados e diretores. O povo brasileiro precisa de magistrados tipo ombudsman para atuar no Poder Legislativo. Outra, o Ministério Público Eleitoral passar a ter,
em nome dos eleitores, poder de processar
criminalmente os legisladores eleitos em pleno mandato. Outra, a criação de uma imprensa especializada em política ligada à Justiça
Eleitoral e ao Ministério Público Eleitoral. É
claro que não servem a Globo, o SBT, a
Band, a Record, etc. Tem que ser imprensa
pública. Outra, o Recall Político. Outra, membros do STF e outros tribunais deixarem de
ser escolhidos pelo Executivo e Legislativo. O
Judiciário deve ser um Poder totalmente independente dos outros dois.
Eu sei que não vou alcançar duzentos milhões de brasileiros, mas quem lê o que eu
escrevo, eu desejo que esse reflita no que escrevo. Que pense a respeito. Talvez o leitor
ou a leitora tenha idéias melhores do que as
minhas. O real problema político do Brasil está na sociedade, e é a sociedade que precisa
ser transformada. O político brasileiro é um
reflexo da sociedade brasileira. A sociedade
precisa se conscientizar de que mudanças
profundas e amplas são necessárias. São
muitos os detalhes a serem corrigidos. Não
adianta a sociedade ficar brigando por causa
de PT e PSDB, por causa de pessoas que ocupam cargos políticos, que tal contenda não
vai promover mudanças. Nenhum governo,
independente de partido, vai conseguir agradar todos os membros da sociedade. Um governo que tenta promover mudanças acaba
tendo que afrontar interesses de gente que
está satisfeita com o status quo, e isso gera
inimizades e conflitos, disputas. Quem é beneficiado pelo atual não quer novidades, não
quer mudança. Então, toda tentativa de mudança vai sempre encontrar resistência de
quem está sendo beneficiado pelo atual. E,
quem não está sendo beneficiado, vai sempre
querer que as coisas mudem, que o sistema
mude, por querer passar a ser beneficiado.
João Paulo E. Barros
Conhecimento
A história do patrimônio da Igreja Católica
No século 7, a Igreja já era a maior proprietária de terras do Ocidente. Hoje,
a Santa Sé opera no vermelho, mas é dona de um patrimônio bilionário e
alvo de denúncias de corrupção
POR: Eduardo Szklarz
O alerta faz sentido. A Igreja sempre penou para lidar com sua riqueza de
forma equilibrada. Com o agravante de que vários líderes não foram tão escrupulosos como Leão XIII. No século 11, por exemplo, o papa Bento IX
vendeu o cargo por 680 kg de ouro. Foi condenado por simonia (o comércio
de sacramentos e postos eclesiásticos) em 1049. Apenas no século 20, a
Igreja começou a contratar profissionais para administrar suas finanças mas volta e meia surge um escândalo. O grande alvo das denúncias tem
sido o Banco do Vaticano, que já foi acusado de participar de esquemas de
propina de políticos e até de lavagem de dinheiro para a máfia. Em setembro de 2010, as autoridades italianas colocaram sob suspeita 30 milhões de
dólares depositados numa conta. Em resposta, o papa Bento XVI criou a
Autoridade de Informação Financeira - uma espécie de cão de guarda, que
chega com a função de prevenir delitos e garantir mais transparência aos
negócios papais. Há pelo menos uma década, a Santa Sé tem um orçamento deficitário.
O papa Leão XIII controlava de perto as finanças da Santa Sé. Tanto que
guardava o dinheiro, o ouro e as joias do papado dentro de uma arca de
ferro debaixo de sua cama. Quando ele morreu, em 1903, foi um deus nos
acuda: ninguém sabia onde estava o baú. O pânico aumentou quando os
empregados do Vaticano protestaram por melhores salários - os membros
da Guarda Suíça até ameaçaram renunciar. Os assessores encontraram
apenas 82 mil liras e joias. Mal dava para cobrir 10% do custo do conclave
que tinha eleito o novo papa, Pio X. A agrura só terminou um mês depois,
quando o monsenhor Nazareno Marzolini se apresentou com o cofre. Ele
explicou que havia recebido instruções para demorar a entregar o dinheiro "Quando Pedro precisou pagar o imposto do templo, Jesus fez um milagre
de modo a lembrar ao novo papa que ele deveria administrar bem o patri- para ele. Desde então, os papas têm rezado por milagres para conseguir
seus objetivos", diz o padre Thomas J. Reese, autor de O Vaticano por Denmônio da Santa Sé.
tro.
www.culturaonlinebrasil.net /// CULTURAonline BRASIL /// www.culturaonlinebr.org
Abril 2016
Página 13
Gazeta Valeparaibana
Justiça - Brasil
Observações sobre o Judiciário
Por Marcelo Barbosa
dio na rotina de um Estado dito “inchado” e
”ineficiente”. Um leviatã consumidor de excessivas verbas públicas. Cuja principal esfera
de atividade – a prestação da justiça – deveria ser resolvida por mecanismos de intermediação (e conciliação) de demandas, sempre
preservada a autonomia de vontade das partes envolvidas em litígios. Nessa chave de
compreensão, era melhor que o judiciário ou
não existisse – utopia inalcançável até na ótica dos discípulos de Friedman – ou pelo menos, ocupasse um papel bem menor na vida
social.
Claro, essa descrição do pensamento tucano
em relação ao judiciário – exposta aqui em
tom de caricatura – não encontra abrigo na
realidade. Para fins práticos, os neoliberais
buscam cooptar a justiça*. A indicação dos
nomes dos ministros a compor os quadros do
STF representa o evento culminante dessas
práticas. Mas, não o único. Pois, desde os
seus níveis elementares, a magistratura, refletindo a origem de classe de seus agentes –
e com as naturais dissidências progressistas
ou conservadoras – vai sendo adestrada para
viabilizar um impasse: a reprodução de um
regime de liberdades políticas sem correspondência no plano da luta pela igualdade social.
Isto é, progressistas (na média), em matéria
de costumes, direito de minorias, descriminalização das drogas leves, entre outros tópicos, os juízes costumam a ser conservadores
na preservação dos direitos de propriedade
(no que caminham a contrário sentido da
Constituição de 1988, carta comprometida
com a noção de caráter social do direito de
propriedade.)
Numa democracia representativa, assentada
sobre um sistema de tripartição de poderes,
cabe ao judiciário exercer uma função estabilizadora do sistema político. Em importante
medida porque seus membros desfrutam de
vitaliciedade nos cargos. Isto é, não estão sujeitos à ação das maiorias de ocasião que,
por vezes, empolgam o executivo e o legislativo. Nessa modelagem, a que o Brasil aderiu
desde antes do advento da Constituição de
1988, os agentes públicos do Judiciário guardam fidelidade ao Estado e não aos governos, tornando a instituição menos permeável
à pressão econômica, política e social. Ou
pelo menos em teoria, deveria ser assim.
Mas, não vem sendo. Com o recrudescimento
da luta política – sinalizadora do conflito de
classes – as disputas em curso na sociedade,
cada vez mais, se veem transferidas para o
interior do aparelho de Estado, atingindo, em
cheio, o judiciário e os corpos públicos oriundos de outros poderes, mas com os quais se
Esses mecanismos de formação de um penrelaciona, entre os quais a Polícia Federal e o
samento hegemônico nos quadros do judiciáMP.
rio – marcados, repita-se, pelo uso de ferramentas de cooptação – serviu sem abalos,
Por óbvio, não parece possível – e nem reco- até a irrupção do esgarçamento social abrigamendável – “blindar” os tribunais de tudo a- do nos protestos de 2013. Desde então, ao
quilo que acontece no mundo à sua volta. Ma- que tudo indica, vai se verificando – e as prágistrados também têm direito de opinião. So- ticas do juiz Moro o comprovam – um enfrafrem influência das ideologias de centro, es- quecimento do compromisso da magistratura
querda e direita em estoque na sociedade. É com preservação dos direitos e garantias indiinevitável, inclusive, que acabem expressan- viduais e coletivas. As informações veiculado essas preferências em suas sentenças e das nas mídias, tanto nas redes sociais quandespachos. Só não podem (conforme ocorre, to nas cadeias monopolistas de informação,
ao momento), ser recrutados pela política par- atestam o declínio da observância aos princítidária, pois isso corrói os alicerces da Repú- pios da inocência presumida, do acesso ao
blica.
habeas corpus, da obediência à competência
territorial, vistos na qualidade de estorvos à
Infelizmente, por motivos diametralmente dis- prestação da justiça e subterfúgios para betintos, o comportamento perante o judiciário neficiar “a impunidade” (sic). Na narrativa da
das duas parcelas mais influentes da esquer- linha dura judiciária, em face do crescimento
da e da direita, no país, agrava esses fenô- endêmico da corrupção, só resta apelar à
menos de partidarização.
Providência e confiar no envio à Terra de uma
personalidade ou de várias personalidades
Expressão presumível dos interesses de justiceiras encarregadas de “passar a limpo o
grande capital, exibindo nítida filiação à ideo- país” (sic). Um enredo gasto e responsável
logia neoliberal, o PSDB trata, em sua matriz pela entrada na cena da vida pública brasileidoutrinária, o judiciário como mais um episó- ra de personagens no figurino de um Collor
de Mello ou de um Janio Quadros. E que agora serve de senha para o exibicionismo autoritário de parcelas do Ministério Público.
Por sua vez, a esquerda, principalmente aquela ocupante do poder (ou seja, o Partido
dos Trabalhadores e seus aliados), mesmo
após a sua condução ao governo Federal, jamais se deu ao trabalho de desmontar os mecanismos de cooptação. Pelo contrário, intentou colocar esse processo a seu serviço. Não
agiu assim por oportunismo. Em seu corpo
teórico de fundação, o PT, coerente com certa vulgarização do marxismo, concebia o judiciário e o direito dentro do estatuto de superestrutura da ditadura de classe burguesa. Um
espaço da dominação estamental dado, de
antemão, por perdido, em vista do conservadorismo congênito das instituições jurídicas.
Caberia buscar o realismo, portanto. Reduzir
os interesses do executivo à tomada de decisões que provocassem impacto direto no governo, sobretudo as de natureza orçamentária, mas sem nunca adotar uma agenda de
objetivos de longo prazo para o judiciário.
Mesmo quando resolveram fixar objetivos menos imediatos em relação à administração da
justiça, as iniciativas dos governos do PT objetivaram apenas promover as expectativas
da população em relação aos tribunais: ou
seja, criação de mecanismos de controle externo do judiciário, diminuição da morosidade
nos processo ou democratização do acesso à
prestação jurisdicional, para mencionar as ações mais rumorosas. O aspecto da formação
valores capazes de orientar a prática dos magistrados no rumo do aprofundamento da democracia e da igualdade – temas que servem
de coluna vertebral da Constituição de 1988 –
permaneceu intocado. O vácuo da necessária
politização do judiciário foi ocupado pela propaganda partidária.
A resultante de tais processos? O risco do
poder judiciário continuar rumando – à marcha batida – para assumir, no presente e no
futuro, o papel desempenhado pelas Forças
Armadas no passado: o de veículo de insatisfação permanente das camadas médias, operador da desestabilização da democracia.
* O método da cooptação remete a uma herança das velhas elites territoriais, ainda ativas porém em franca decadência, presentes
em boa parte, na estrutura do PMDB.
Marcelo Barbosa é advogado, doutor em Literatura Comparada pela UERJ e diretorcoordenador do Instituto Casa Grande e autor, entre outros, de “A Nação se concebe por
ciência e arte – três momentos do ensaio de
interpretação do Brasil no século XIX”
O juiz não é nomeado para fazer favores com a justiça, mas para julgar segundo as leis.
Platão
www.culturaonlinebrasil.net /// CULTURAonline BRASIL /// www.culturaonlinebr.org
Abril 2016
Página 14
Gazeta Valeparaibana
Um conto (matéria continuada)
Ao fundo uma oliveira (Parte I)
POR: Joel Neto
Lisboa
[email protected]
Por muitas vidas que vivesse a seu lado, aquela
mulher jamais compreenderia o que significava
para o seu homem que agradecessem por ele que lhe afagassem a cabeça e depois sorrissem
nas suas costas para o cavalheiro do outro lado
da barricada, com um trejeito cúmplice de quem
diz: "Não ligue"
Agora que José voltava a olhá-lo, estacionado
sem glória sob o toldo azul do talho, o Volkswagen não lhe parecia tão brilhante como o imaginara nos muitos anos em que o vira passar, lento,
imperial e nas mãos de outro, durante as intermináveis tardes de domingo da cidade. Sentado ao
volante de um Renault 5 creme, com o jornal aberto a toda a largura do pára-brisas, um homem
pode ser especialmente obsessivo nos seus rituais de ciúme - mas assim que adquire o objecto
do seu desejo, seja maior ou menor a engenharia
financeira envolvida, metade do prazer morreu
com o sonho. Ali, visto da janela, às cavalitas do
passeio e com carros dos vários tamanhos a toda
a extensão do seu horizonte, o Golf vermelho, o
carro de todos os seus desejos, parecia-lhe um
automóvel absolutamente normal - os faróis efeminados, um rabo farto de preta velha e umas rodas fininhas de bicicleta, esmagando-se sob o peso daquela estrutura arredondada de metal e vidros foscos. Tinha ainda o ar gordo de um sargento do exército, o semblante sério e autoritário dos
homens poderosos, mas era como se a estrada
lhe fugisse debaixo dos pés, deixando-o ali muito
nu, com as calças na mão, perante um pelotão
histérico que escarnece do seu ridículo.
Então o vulto de Edite cresceu no peitoril da janela, muito devagar, e José chegou-se para trás a
vê-la caminhar - primeiro apenas a nuca acima do
parapeito, meneando em esforço por entre os caixotes do lixo, depois o pescoço ressequido, as
costas curvadas, enfim as pernas tortas insinuando-se sem vergonha sob a saia castanha encontrada nalgum cartão antigo do quarto de arrumos.
Trinta e oito anos haviam passado sobre o dia em
que se juntara àquela mulher, oferecendo-lhe uma
aliança de ouro e duas juras de amor eterno, e o
mínimo que se podia dizer era que Edite envelhecera - envelhecera no aspecto e envelhecera nos
modos, mas envelhecera sobretudo na maneira
desesperada como, subitamente, decidira recupe-
rar uma juventude que há muito a abandonara. O
pior, possivelmente, teria sido a partida dos filhos,
os sucessivos casamentos, mas havia de certeza
algo mais - tinha de haver mais. O cabelo pintado
de caju, a constante vontade de partir, a condescendência perante as mais variadas aberrações
dos tempos - tinha de haver muito mais por detrás
da inesperada reviravolta no comportamento daquela mulher boa e incapaz de um desejo, de uma altercação, de uma falta, e José sentia que a
partir de algum momento haviam começado ambos a viver em comprimentos de onda muito próprios, muito diferentes, encontrando-se às refeições para trocar os silêncios da idade e afastando
-se à noite nas bordas opostas da cama.
nome intacto, continuava a ser o José que uma
noite lhe aparecera junto a uma marcha de Lisboa, atestado de brilhantina e declamando promessas de rebentar com o mundo, passear com ela
sobre os seus escombros e depois plantar-lhe um
manjerico à beira-Tejo. Um José, sim, um homem
igual a tantos outros, um vendedor de chocolates
que escolhera a mulher numa noite de Santo António - mas ainda assim o toiro vigoroso que despia a camisa por um pobre com frio e dava a vida
em troca da sua palavra, afiando ele próprio a guilhotina ao verdugo, se preciso fosse.
E, ao pensá-lo, José voltou a sentir vontade de
partir, partir de novo e novamente, cerrando os
dentes às fotografias com a promessa de que
- Então, vamos embora? - cantou Edite, de volta nunca mais voltaria. Meteu o polegar ao intercoao intercomunicador do prédio, atestado o Golf de municador e disse:
velharias e desnecessidades para viagem tão cur- - Já vou.
ta.
E depois desceu, sem remorsos.
José rodou o trinco, pegou na mala grande, penA estrada é larga, e, visto de longe, o Volkswagen
durou ao ombro o saco da Singer e deu uma últiGolf parece ainda mais raquítico do que sob o tolma olhadela pelo corredor. E, ao olhar aquela divido azul do talho - pouco mais do que um carrinho
são exígua, o seu tecto carunchoso e as molduras
avançando devagar na faixa direita da via, assusbarrocas que adornavam as fotografias nas paretado com os camiões de exteriores e as comitivas
des, sentiu o peito inundar-se-lhe de saudade de Estado que o ultrapassam velozes, quase o
uma saudade imensa, não do que ficava, mas de
fazendo rodopiar sobre si próprio.
abandoná-lo uma e outra vez, repetida e repetidamente, até que da sua ligação àquelas coisas e Desconcentrado, esforçando-se por destacar a
àquelas pessoas não restasse mais do que uma sua própria importância ao volante de um carro
breve memória, um daguerreótipo esbatido como novo em folha, para mais inacessível à maioria
as imagens fortuitas da primeira infância. Ali esta- dos homens da sua condição, José desentendeuva toda a sua vida: por aquela porta entrara um se com o sistema de pagamento de portagens e
dia com Edite ao colo, naquele hall o abraçara foi parar ao guichet do concessionário da autotrês vezes uma parteira desdentada, congratulan- estrada, de boina na mão, muito tremente, menos
do-o pelo nascimento dos filhos, ali tinham chora- em respeito pelo trabalho dos outros do que endo os cinco pelo encerramento da fábrica de cho- vergonhado da sua própria velhice. O funcionário,
colates, ali haviam entoado juntos um cântico de pode dizer-se, foi simpático. Recebeu-o com um
vitória por causa de um cinco-mais-um no Totolo- boa-tarde solidário, comentou vagamente a queda
to, mais tarde consumado num prémio desconso- da ponte, trezentos quilómetros acima, e falou por
lado que mal dera para substituir as canalizações momentos das sucessivas comitivas de Estado
da cozinha - ali estava a sua vida e o que noutras que continuavam a passar na estrada e dos corcircunstâncias ela poderia ter sido, a sua história e pos que não havia maneira de aparecerem no rio
respectiva negação, lado a lado, melodia e contra- e de Deus que permanecia dormindo no Céu. Decanto afinadas pela mesma tónica, para não en- pois deu a volta ao balcão e apontou o telheiro
esverdeado que se estendia ao longo das dez pisvergonhar o maestro.
tas da via:
Edite, impaciente, voltou a premir a campainha.
- Para a próxima, tem de parar em frente à caixa
- José?! Vamos embora!
amarela, carregar no botão e agarrar num cartãoEra curioso como ela o dizia: "José", as duas síla- zinho que ela lhe vai dar. Depois, à saída da autobas muito bem torneadas, como mandava a anti- estrada, entrega o cartãozinho ao portageiro e
ga instrução primária. Para muitos, ele não fora paga o valor correspondente.
nunca mais do que "Zé", quando muito um "Zé
CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO
Manel", mas para aquela mulher conservava o
Mantido o texto original em português de Portugal
Numa sociedade movida à dinheiro e hipocrisia, encontramos pessoas
propensas aos mais diversos rumos incluindo-se a devassidão.
Cuidado com quem andas, pois tua companhia sumariza quem és.
Não tenha medo de lutar pelo que acredita, apenas seja você mesmo nos
mais divergentes momentos que possam surgir. Fazendo isto, certamente
afetará os que estão à tua volta que não gostam do que veem. Saberão
fazer a triagem do joio e do trigo. Só tome cuidado com o lado com que
ficará, pois uma escolha errada pode te afetar drasticamente.
Pense no seu futuro. Sua escolha hoje, será o seu futuro amanhã.
Seja feliz, haja com honestidade sempre.
Mas acima de tudo, cuidado com o que te tornarás!
Filipe de Sousa
www.culturaonlinebrasil.net /// CULTURAonline BRASIL /// www.culturaonlinebr.org
Abril 2016
Página 15
Gazeta Valeparaibana
EUROPA hoje e ontem (artigo continuado)
Por: Michael Löwy
Sociólogo, é nascido no Brasil, formado
em Ciências Sociais na Universidade de
São Paulo, e vive em Paris desde 1969.
Diretor emérito de pesquisas do Centre
National de la Recherche Scientifique
(CNRS). Homenageado, em 1994, com a
medalha de prata do CNRS em Ciências
Sociais, é autor de Walter Benjamin: aviso
de incêndio (2005), Lucien Goldmann ou a
dialética da totalidade (2009), A teoria da
revolução no jovem Marx (2012) e
organizador de Revoluções (2009) e
Capitalismo como religião (2013), de
Walter Benjamin
Capitalismo e democracia
na Europa
PARTE IV
A ELAS tinha libertado dezenas de aldeias e
se tornado um governo paralelo,
administrando diversas partes do país, onde o
Estado literalmente desaparecia. Em inícios
de 1943, Aris Velouchiotis foi convocado pelo
Comitê Central (CC) do PC grego, que o
acusou de “levar adiante uma guerra de
classes” (e não uma guerra nacional) e de
“exterminar os proprietários feudais”, assim
como de provocar o confronto militar com a
EDES do general Zervas: Velouchiotis foi
“posto sob o controle” do CC. No mesmo ano,
a agonizante Internacional Comunista
(dissolvida por Stalin em 1943) criticava o
líder comunista iugoslavo Tito por “conferir
um caráter comunista ao movimento de
resistência”.
O movimento popular de luta antinazista, no
entanto, ganhou seu próprio impulso e
dinâmica. Em Atenas, a 20/21 de dezembro
de 1942, os operários em greve eram 40 mil.
Eles participaram no dia seguinte de uma
mobilização de rua convocada pela EAM. Em
fevereiro do ano seguinte, greves e
manifestações urbanas conseguiram impedir
o deslocamento de mão de obra grega para a
Alemanha; os funcionários públicos chegaram
a obter um aumento de salários. As forças
ocupantes alemãs e os colaboracionistas
ficaram rodeados nas cidades pelas
“fortalezas vermelhas” das periferias, onde as
tropas e milícias nazistas só conseguiam
realizar pequenas operações, retirando-se de
imediato. Já havia 40 mil andartes nas
montanhas e nas zonas rurais. O prestigioso
coronel Sophoulis, escolhido pelos ingleses
para unificar a “resistência nacional
antinazista” em concorrência com a EAMELAS, capturado por Aris Velouchiotis foi
convencido por este, e se passou com 700
oficiais gregos, armas e bagagens, para a
EAM. A 18 de abril de 1944, nas montanhas,
o PC grego (EKK) constituiu um “Comitê
Político de Libertação Nacional” (PEEA) com
caráter de governo provisório, sob o controle
do próprio PC.
vinda de tropas britânicas e a submissão dos
seus homens ao comando do general inglês
Ronald Scobie. No país vizinho ao norte,
diante da iminência da derrota nazista na
Europa, a Liga Comunista da Iugoslávia,
liderada por Josip Broz-Tito, tornou a colocar
no tapete político internacional a questão da
unidade política dos países dos Bálcãs. A
URSS se interpôs nesse objetivo, contrário
aos acordos celebrados pelo Kremlin com os
EUA e Inglaterra em Yalta e Potsdam,
preanunciando o conflito e a ruptura StalinTito de 1948. Em geral, a colaboração da
burocracia do Kremlin com os imperialismos
“aliados” foi decisiva para desarmar os
elementos de guerra civil com que o segundo
conflito mundial culminou em vários países da
Europa, que possuíam um potencial
suscetível de envolver todo o continente.[8]
Foi a intervenção política do Kremlin, através
das direções dos partidos comunistas, ou
diretamente, a que permitiu o desarmamento
dos partigiani italianos, que tinham
participado decisivamente da derrubada da
ditadura de Mussolini, assim como a
desmobilização e desarmamento das forças
guerrilheiras (maquis) da resistência
antinazista francesa.
Na Grécia, diversamente, a resistência
antinazista chegou a se desdobrar em guerra
civil revolucionária: “A revolução grega de
dezembro de 1944, apesar do controle total
do país pelas tropas da ELAS, foi esmagada
pela intervenção das tropas britânicas, depois
da capitulação dos dirigentes stalinistas da
ELAS que devolveram as armas, aplicando as
diretivas de Stalin de unificação das forças
patrióticas numa Frente Nacional”.[9] A
medida foi parte de um acordo internacional
da URSS com as potências ocidentais: “As
decisões de Yalta sobre a organização
interna dos países da Europa oriental se
inspiravam na fórmula de Frentes Nacionais
(Frentes Patrióticas, Frentes Populares)
lançadas pela URSS e aprovada pelos
ocidentais durante a guerra… A aliança anglo
-americana-soviética devia se desdobrar em
cada nação europeia em uma aliança das
forças políticas, dos comunistas até a direita
nacional antialemã”.[10] Pouco antes da
entrada das forças inglesas em Atenas, o
PEEA se reuniu com os representantes do
governo monárquico no exílio; em que pese o
descontentamento dos chefes andartes e do
próprio CC do KKE, sob a pressão dos
enviados ingleses e da missão soviética
encabeçada pelo coronel Popov, o PEEA
capitulou diante das exigências hegemônicas
do governo grego no exílio.
Na Grécia, o acordo aliado revelou de cara
seu caráter completamente reacionário: “Em
Atenas, o Exército Britânico, ainda em guerra
com a Alemanha, abriu fogo (e deu armas
aos elementos locais que haviam colaborado
com os nazistas para que também o
fizessem) sobre uma multidão de civis que
manifestava a favor dos partisans. Para
Depois da retirada alemã, no entanto, a ELAS colocar de novo o rei grego no poder e
manteve seus 50 mil guerrilheiros armados manter o comunismo à distância, Churchill
fora da capital e, em maio de 1944, aceitou a mudou as alianças para passar a estar do
lado dos apoiadores de Hitler, contra aqueles
que haviam sido seus aliados contra ele.
Quando 28 civis foram assassinados em
Atenas, a responsabilidade não foi dos
nazistas, mas dos ingleses… ‘Ainda consigo
ver muito claramente, não me esqueci’, afirma
Titos Patríkios. ‘A Polícia de Atenas disparou
sobre a multidão, do telhado do Parlamento,
na Praça Syntagma. Os jovens homens e
mulheres jaziam em poças de sangue, toda a
gente corria escada abaixo, tomada de
choque, em pânico total’. ‘Eu estava
profundamente convicto de que venceríamos
(os nazistas)’: a vitória não chegou nesse dia,
Grécia, libertada do Reich de Hitler havia
umas meras seis semanas, estava agora a
caminho de uma sangrenta guerra civil…
“O poeta recorda, cada cena, cada disparo, o
que aconteceu na praça principal da vida
política grega, na manhã de 3 de dezembro
de 1944. A multidão levava bandeiras gregas,
norte-americanas, inglesas e soviéticas, e
gritava ‘Viva Churchill, Viva Roosevelt, Viva
Stálin’. Vinte e oito civis, na maioria jovens,
foram mortos e centenas foram feridos.
‘Pensávamos que seria uma manifestação
como qualquer outra. O nosso trabalho do
costume. Ninguém esperava um banho de
sangue’. A lógica dos ingleses era pérfida e
brutal: o primeiro-ministro Winston Churchill
considerava que a influência do Partido
Comunista no movimento de resistência que
ele próprio apoiara durante a guerra (a Frente
de Libertação Nacional, EAM) se fortalecera
mais do que ele havia calculado, o suficiente
para prejudicar seu plano de colocar de novo
o rei grego no poder e manter o comunismo à
distância. Portanto mudou as alianças para
passar a estar ao lado dos apoiadores de
Hitler”.
Os acordos de Yalta e Potsdam tiveram por
objetivo fundamental fornecer o quadro legal
para a política contrarrevolucionária das
potências capitalistas e da burocracia da
URSS: “Depois do ataque nazista à URSS, o
problema das esferas de influência foi posto
sobre a mesa, desde o primeiro momento,
nas negociações entre os ‘três grandes’ e,
também desde o primeiro momento, foi
acompanhado
da
intensificação
propagandística acerca dos objetivos reais
perseguidos pelos ‘três’”.[12] Os acordos
previam as seguintes “taxas de influência” por
país para os aliados ocidentais e para a
URSS, respectivamente: Hungria: 50%-50%;
Iugoslávia: 50%-50%; Romênia: 10%-90%;
Bulgária: 25%-75%; Grécia: 90%-10%.
Grécia ficava reservada para o imperialismo
inglês, como potencial plataforma de ataque
militar ao Oriente Médio, dividido ainda em
mandatos britânico e francês, obtidos depois
da Primeira Guerra Mundial. As pretensões
do imperialismo norte-americano ao aceitar a
Europa Oriental como uma zona de influência
soviética ainda não eram claras. E tampouco
as de Stalin.
CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO
www.culturaonlinebrasil.net /// CULTURAonline BRASIL /// www.culturaonlinebr.org
Abril 2016
Sustentabilidade Social e Ambiental - Educação - Reflorestamento - Desenvolvimento Sustentável - Cidadania
Edição nº. 101
Ano VIII
MÊS DE ABRIL
O Princípio da primavera em PORTUGAL
Lembramos a Revolução de 25 de Abril, denominada por alguns Revolução dos Cravos,
refere-se a um período da história de Portugal
resultante de um movimento social, ocorrido a
25 de Abril de 1974, que depôs o regime ditatorial do Estado Novo, vigente desde 1933, e
iniciou um processo que viria a terminar com
a implantação de um regime primaveril e democrático com a entrada em vigor da nova
Constituição a 25 de abril de 1976, com uma
forte orientação socialista na sua origem.
Esta acção foi liderada por um movimento militar, o Movimento das Forças Armadas
(MFA), que era composto na sua maior parte
por capitães que tinham participado na Guerra Colonial e que tiveram o apoio de oficiais
milicianos. Este movimento surgiu por volta
de 1973, baseando-se inicialmente em reivindicações corporativistas como a luta pelo
prestígio das forças armadas, acabando por
atingir o regime político em vigor. Com reduzido poderio militar e com uma adesão em
massa da população ao movimento, a resistência do regime foi praticamente inexistente
e infrutífera, registando-se apenas 4 civis
mortos e 45 feridos em Lisboa pelas balas da
P.I.D.E – D.G.S.
nário Em Curso), marcado por manifestações,
ocupações, governos provisórios, nacionalizações e confrontos militares que, terminaram
com o 25 de Novembro de 1975.
lhos da população que viveram os acontecimentos, nas facções extremas do espectro
político e nas pessoas politicamente mais empenhadas. A análise refere-se apenas às diviEstabilizada a conjuntura política, prossegui- sões entre estes estratos sociais.
ram os trabalhos da Assembleia Constituinte Extremam-se entre eles os pontos de vista
para a nova constituição democrática, que dominantes na sociedade portuguesa em reentrou em vigor no dia 25 de Abril de 1976, o lação ao 25 de abril. Quase todos reconhemesmo dia das primeiras eleições legislativas cem, de uma forma ou de outra, que a revoluda nova República. Na sequência destes e- ção de Abril representou um grande salto no
ventos foi instituído em Portugal um feriado desenvolvimento político-social do país.
nacional no dia 25 de Abril, denominado coÀ esquerda, pensa-se que o espírito inicial da
mo "Dia da Liberdade".
revolução se perdeu. O PCP lamenta que não
Assim, todos os anos se comemora pro todo se tenha ido mais longe e que muitas das
o país esta data, principalmente nas localida- chamadas "conquistas da revolução" se tedes com maior ímpeto anti-fascista.
nham perdido. Os sectores mais conservadores de direita tendem a lamentar o que se
EM ALMADA
passou. De uma forma geral, uns e outros laHomenagem aos resistentes antifascistas, as mentam a forma como a descolonização foi
comemorações da Revolução dos Cravos têm feita. A direita lamenta as nacionalizações no
início na Praça do MFA, onde se depositam período imediato ao 25 de abril de 1974, afircoroas de flores junto ao monumento «Os mando que a revolução agravou o crescimenPerseguidos»..
to de uma economia já então fraca. A esquerA assinalar a Revolução dos Cravos, André da defende que a o agravamento da situação
Santos & Mob Ensemble trazem «O Barco económica do país é consequente de medidas então programadas que não foram aplicaAzul»
das ou que foram desfeitas pelos governos
Os Norma D'alma sobem ao palco do Teatro- posteriores a 1975, desfeitas as utopias da
Estúdio António Assunção em celebração da construção de um socialismo democrático.
Revolução de Abril.
Hoje em Portugal, comparado com muitos ouExposição «E Agora Somos Nós - As lutas tros países espalhados pelo mundo, vive-se
estudantis nos anos de 1960 e 1990» O fio num ambiente de paz com muito sol e belos
condutor desta exposição é a resistência e a mares para espraiar , mas infelizmente tanto
reivindicação, como uma acção colectiva, an- pela esquerda ou direita política é somente
tes e depois de 1974, com particular destaque corrupção, malabarismos, artimanhas, fraupara os períodos de maior contestação – dé- des á sombra de uma Europa governada por
cadas de 1960 e de 1990.
quem não tem capacidade de governar os
Recordo que neste dia de 25 de Abril de 1974 seus próprios governos mas que impõe condio povo português colocava cravos vermelhos ções governativas “ na casa dos outros” isto
nas espingardas dos militares, estes ficavam é, os povos dos países mais pequenos e euestupefactos porque o povo é sereno, mas ropeus que paguem a crise semeada pelo poeste acto não foi mais do que imitar a acção der dos banqueiros.
espontânea de Celeste Caeiro que trabalha- Como tal?
va num restaurante na Rua Braancamp de
QUE VENHA UM NOVO 25 DE ABRIL,
Lisboa, que iniciou a distribuição dos cravos
mas sem cravos.
vermelhos pelos populares que os ofereceram aos soldados. Por isso se chama ao 25
de Abril de 74 a "Revolução dos Cravos" e
não de sangue.
O movimento confiou a direção do País à
Junta de Salvação Nacional, que assumiu os
poderes dos órgãos do Estado. A 15 de maio
de 1974, o General António de Spínola foi nomeado Presidente da República. O cargo de
primeiro-ministro seria atribuído a Adelino da
Palma Carlos.] Seguiu-se um período de Com o decorrer das décadas faço um balanço
grande agitação social, política e militar co- desta revolução e concluo que a revolução
nhecido como o PREC (Processo Revolucio- dos Cravos continua a dividir a sociedade
portuguesa, sobretudo nos estratos mais ve-
Autor: Alberto Blanquet
Portugal
Mantido o texto original em português de Portugal
www.culturaonlinebrasil.net /// CULTURAonline BRASIL /// www.culturaonlinebr.org

Documentos relacionados