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Fenasan 2009: expositores reafirmam o evento como a maior Feira de Saneamento na AL !
Cabeçalho
Ano X - Nº 32 - Janeiro/Fevereiro/Março 2009 x Impressa em papel reciclado
Entrevista
Prof. Pacheco Jordão
O Prof. Pacheco Jordão, da UFRJ, destaca
a importância do reaproveitamento do
lodo /com
uso| benéfico.
Janeiro / fevereiro
Março
2009
e muito mais...
>> Artigos técnicos sobre o universo
dos Lodos
>> Homenagem a um ícone da Sabesp
>> “Causos” conta a 2ª parte dos
“Pássaros Perdidos”
Saneas
1
Cabeçalho
12, 13 e 14 de agosto de 2009
Pavilhão Amarelo do Expo Center Norte, São Paulo, SP
e
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a
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t
n
e
t
Sus
ção
aliza
caminho para univers biental
do saneamento am
Participe do maior evento de saneamento
e meio ambiente da América Latina.
A FENASAN 2009 e o XX Encontro Técnico AESABESP, promovidos pela AESABESP,
confirmam o sucesso de 20 anos de existência. Em sua 20a edição, o evento contará
com mais de 150 empresas expositoras, um público visitante altamente especializado
estimado em 12.000 profissionais, 3.200 congressistas e palestrantes renomados.
Faça parte deste grande evento. Participe!
Temário do XX Encontro Técnico AESABESP
• Água e reuso
• Águas subterrâneas
• Aplicações de softwares no saneamento e meio ambiente
• Automação de sistemas de saneamento
• Desenvolvimento de produtos e materiais
• Eficiência energética
• Gestão ambiental
• Gestão de perdas
• inovações tecnológicas
• Legislação do setor de saneamento
• Manutenção e energia
• Meio ambiente
• Mudanças climáticas
• Recursos hídricos
• Resíduos sólidos
• Saúde pública
• Sistemas de abastecimento de água
• Sistemas de coleta e tratamento de efluentes
Informações
www.fenasan.com.br
Fone / Fax: 11 3871 3626 - [email protected]
REALizAção
PAtRocínio
Fenasan: 13h às 20h
Encontro Técnico AESABESP: 9h às 17h
LocAL
oRGAnizAção
AESABESP
Associação dos Engenheiros da Sabesp
APoio
2
Saneas
Seção São Paulo
Janeiro / Fevereiro / MArço
|
2009
Editorial
Uma atenção especial
para o Lodo de ETAs e ETEs
O principal tema desta edição aborda aspectos
muito discutíveis dentro do setor de saneamento: a
geração, o tratamento e as implicações da disposição
final dos lodos de Estações de Tratamento de Águas
(ETA’s) e Estações de Tratamento de Esgotos (ETE’s),
gerados no processo de tratamento de água e esgoto.
Por um lado estes resíduos são considerados fontes pontuais de poluição, mas por outro, podem ser
meios alternativos para a otimização de processos nos
setores agrícolas, da construção civil, entre outros. Todavia, desde 2006, existe uma Resolução do Governo
Federal, por meio do Conama (Conselho Nacional do
Meio Ambiente), que apresenta uma série de exigências para a utilização do lodo gerado nas Estações de
Tratamento; aliás, muito difíceis de serem cumpridas
pelas pequenas Estações, em função do pouco volume gerado. E este parecer é avaliado por uma das
maiores autoridades no assunto, o professor da Escola
Politécnica da USP (Universidade de São Paulo), Pedro
Além Sobrinho, na sessão “Ponto de Vista”.
Outra questão polêmica é o surgimento no mercado de vários produtos biológicos para tratamento
de efluentes, experiência que, apesar de não ser uma
novidade, ainda apresentam resultados duvidosos
em sua concepção final. Em nossa sessão “Visão de
Mercado”, ela é defendida como uma grande evolu-
Janeiro / fevereiro / Março
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2009
ção para a indústria e saneamento básico, pela bióloga Mara Salvador.
E como Tratamento de Lodo de ETAs e ETEs é sobretudo uma questão ambiental, o próprio superintendente de Meio Ambiente da Sabesp, Eng. Wanderley Paganini, que também é docente da Faculdade de
Saúde Pública da Universidade de São Paulo, discorre
sobre como esse processo é desenvolvido dentro da
Companhia Estadual de Saneamento Básico do Estado de São Paulo.
Para completar o quadro de ilustres conhecedores
desse tema, o nosso entrevistado é o Prof. Dr. Eduardo
Pacheco Jordão, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que foi um dos palestrantes no nosso Seminário
“Ano Internacional do Saneamento e a Macrometrópole ” , evento realizado no ano de 2008 em conjunto
com o Instituto de Engenharia. Aproveitamos a oportunidade para distribuir , dentro da Revista Sâneas,
o encarte do “Seminário Nacional Sobre Tratamento,
Disposição e Usos Benéficos de Lodos de Estações de
Tratamento de Água”, que foi coordenado pela Eng.
Prof. Dra. Dione Mari Morita, da Escola Politécnica da
USP e vice-diretora do Departamento de Engenharia
Civil do Instituto de Engenharia de São Paulo.
O aspecto cotidiano e humanizado do setor também está reforçado nesta Revista pelas duas sessões
detentoras de muito sucesso entre os nossos leitores:
a “Causos do Saneamento”, que conta a segunda e
última parte de uma adoção de passarinhos numa
unidade da Sabesp, e a “Palavra de Amigo”, que homenageia um dos colegas mais prestigiados dentro
do saneamento paulista, o “meu irmão” Mario Pero
Tinoco.
Tenho certeza que todos os leitores integrados
ao setor encontrarão uma leitura útil e agradável
nesta edição.
Um grande abraço,
Eng. Luiz Narimatsu
Presidente da AESabesp
Saneas
3
Índice
Expediente
Saneas é uma publicação técnica bimestral da Associação dos
Engenheiros da Sabesp
DIRETORIA EXECUTIVA
Presidente - Luiz Yukishigue Narimatsu
Vice-Presidente - Pérsio Faulim de Menezes
1º Secretário - Nizar Qbar
2º Secretário - Ivo Nicolielo Antunes Junior
1º Tesoureiro - Luciomar Santos Werneck
2º Tesoureiro - Nélson Luiz Stábile
08 Lodos de
matéria tema
ETEs eETAs
Entrevista
5 Eduardo Pacheco Jordão
7 Ponto de vista
Impactos na Resolução 375 do Conama sobre
pequenas ETEs
matéria sabesp
13 Alternativas para a disposição final de Lodos de ETAs
e ETEs
visão de mercado
20 Produtos biológicos em tratamentos de efluentes:
solução econômica e amiga do ambiente
artigo técnico
22 Uso de biossólidos na produção de mudas para
reflorestamento de áreas degradadas
28 Compostagem através de leiras revolvidas da ETE
Limoeiro/Presidente Prudente como alternativa de
tratamento do lodo
45 Reciclagem de lodo de estação de tratamento
de água para remoção de fósforo de efluente de
sistema de lodos ativados
fenasan 2009
51 XX Encontro Técnico AESabesp e Fenasan 2009
“causos” do saneamento
53 O caso do Quero-Quero II: “O Sequestro”
palavra de amigo
54 Ao grande amigo Mário Tinoco
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Saneas
DIRETORIA ADJUNTA
Diretor de Marketing - Carlos Alberto de Carvalho
Diretor Cultural - Olavo Alberto Prates Sachs
Diretor de Esportes - Gilberto Margarido Bonifácio
Diretor de Pólos - José Carlos Vilela
Diretora Social - Cecília Takahashi Votta
Diretor Técnico - Choji Ohara
CONSELHO DELIBERATIVO
Aram Kemechian, Carlos Alberto de Carvalho, Choji Ohara, Gert
Wolgang Kaminski, Gilberto Margarido Bonifácio, Helieder Rosa
Zanelli, José Carlos Vilela, Ivan Norberto Borghi, Luis Américo Magri,
Marcos Clébio de Paula, Nélson César Menetti, Olavo Alberto Prates
Sachs, Ovanir Marchenta Filho, Sérgio Eduardo Nadur e Valter Katsume
Hiraichi
CONSELHO FISCAL
José Marcio Carioca, Gilberto Alves Martins e Paulo
Eugênio de Carvalho Corrêa
Pólos da Região Metropolitana de São Paulo - RMSP
Coordenador - Aram Kemechian
Costa Carvalho e Centro - Maria Aparecida S.P. dos Santos
Leste - Luis Eduardo Pires Regadas
Norte - Robson Fontes da Costa
Oeste - Evandro Nunes de Oliveira
Ponte Pequena - Mercedino Carneiro Filho
Sul - Paulo Ivan Morelli Fransceschi
Pólos AESABESP Regionais
Coordenador - Helieder Rosa Zanelli
Baixada Santista - Ovanir Marchenta Filho
Botucatu - Osvaldo Ribeiro Júnior
Franca - Marcos Marcelino de Andrade Cason
Itapetininga - Rubens Calazans Filho
Lins - Marco Aurélio Saraiva Chakur
Presidente Prudente - Robinson José de Oliveira Patricio
Vale do Paraíba - José Galvão F. Rangel de Carvalho
CONSELHO EDITORIAL - Jornal AESabesp
Sonia Regina Rodrigues (Coordenadora)
FUNDO EDITORIAL
Silvana de Almeida Nogueira (Coordenadora)
Antonio Soares Pereto, Dione Mari Morita, Luiz Narimatsu, Maria Lúcia
da Silva Andrade, Milton Tsutiya, Miriam Moreira Bocchiglieri
Coordenador do site: Luis Américo Magri
JORNALISTA RESPONSÁVEL
Maria Lúcia da Silva Andrade - MTb.16081
Assistente de Redação: Walter Prandi
Foto de Capa: Odair Faria
PROJETO VISUAL GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO
Neopix Design
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www.neopixdesign.com.br
Associação dos Engenheiros da Sabesp
Rua 13 de maio, 1642, casa 1
Bela Vista - 01327-002 - São Paulo/SP
Fone: (11) 3284 6420 - 3263 0484
Fax: (11) 3141 9041
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Janeiro / Fevereiro / MArço
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2009
Entrevista
Eduardo Pacheco Jordão
Eduardo
Pacheco Jordão
é Doutor em
Engenharia,
Professor
Associado da
POLI-UFRJ
(Universidade
Federal do Rio de
Janeiro), autor
do livro clássico
“Tratamento
de Esgotos
Domésticos”
(com 10 mil
cópias vendidas)
e consultor de
grandes projetos
de estações
de tratamento
na América
Latina, de planos
diretores de
esgoto e de lodo,
e de empresas de
saneamento.
Para o Prof. Jordão da UFRJ:
Uso benéfico do lodo traria
ganhos ambientais
Saneas: Em sua vasta experiência no setor, o
senhor poderia nos descrever como era a visão
dos engenheiros que atuavam na área de saneamento com relação aos resíduos gerados nas
estações de tratamento de água e de esgoto?
Eduardo Pacheco Jordão: Antigamente a questão do destino final do lodo não era preocupação primordial dos projetistas e operadores de
estações de tratamento. Os lodos de ETAs eram
devolvidos diretamente aos rios, e os lodos de
ETEs levados a aterros sanitários, em geral após
passarem por leitos de secagem, sem um maior
estudo econômico e ambiental.
Saneas: Qual a sua opinião sobre a Resolução CONAMA no 375, de 29 de agosto de
2006, que define critérios e procedimentos
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para o uso agrícola de lodos de estações de
tratamento de esgoto?
Eduardo Pacheco Jordão: Creio que a Resolução é muito exigente em vários pontos, e pode
chegar a inviabilizar a ótima solução de aproveitamento agrícola dos biosólidos.
Saneas: Em linhas gerais, o que está sendo
feito, atualmente, com os lodos de ETAs e
ETEs em outros países?
Eduardo Pacheco Jordão: Em países adiantados
existem duas preocupações: o reaproveitamento
do lodo com uso benéfico, e a redução do volume do lodo, empregando nesse caso sistemas
industriais de evaporação da água, como os secadores de lodo, ou sistemas industriais de queima do lodo, como incineradores. São sistemas
Saneas
5
Entrevista
“para uma Região
Metropolitana tão
grande como é o caso
de São Paulo, todas as
possibilidades devem ser
avaliadas, inclusive as
tecnologias emergentes
que dentro de alguns
anos estarão sendo
plenamente aplicadas.”
industriais, de custo elevado, e seu emprego deve ser
feito após criterioso estudo econômico. Existem ainda
vários outros processos em pesquisa ou estudo para
atender de forma adequada esta importante questão
da redução de volume e destino final do lodo.
Saneas: Quais as soluções que o senhor sugere
para os lodos de ETEs e ETAs gerados na Região
Metropolitana de São Paulo?
Eduardo Pacheco Jordão: É difícil sugerir sem ter
dados reais do volume produzido, locais de disposição final e possibilidades de uso benéfico, como em
agricultura, na construção civil como agregados leves de concreto, aproveitamento em áreas de reflorestamento, etc. Há cerca de 30 anos atrás a própria
Sabesp realizou um importante estudo de produção
de agregado leve para construção civil, construindo e
operando uma unidade piloto de demonstração, que
na época mostrou-se de custo muito elevado. Talvez
hoje esta situação tenha se modificado.
O lodo gerado na RMSP deverá certamente ter seu
volume reduzido para economia de transporte, e as
possibilidades de aproveitamento ou de simples lançamento final deverão ser estudadas sob uma ótica de
melhor rendimento econômico e proteção ambiental.
Há muitas vezes possibilidades de destino final que
vem a ser simples, e por isto mesmo deixam de ser
estudadas com maior aprofundamento: seria o caso
de se verificar a possibilidade de recuperação de áreas
degradadas, o uso em áreas florestais onde o manejo
econômico se mostra importante, etc.
6
Saneas
Eu diria que para uma Região Metropolitana tão
grande como é o caso de São Paulo, todas as possibilidades devem ser avaliadas, inclusive as tecnologias
emergentes que dentro de alguns anos estarão sendo
plenamente aplicadas e poderão vir a ser de interesse
para nossa economia de escala.
Saneas: Há uma tendência internacional à redução
da geração e ao uso benéfico de lodos. No Brasil,
quais são os obstáculos a este uso benéfico?
Eduardo Pacheco Jordão: Não diria que há uma
tendência internacional à redução da geração de lodos, mas um receio muito grande em relação ao seu
aproveitamento em agricultura. No Brasil, como ainda
fazemos muito pouco aproveitamento agrícola, não
creio que exista este receio. Mas já é tempo de se
mostrar à populaçao que podemos aproveitar o lodo
como um rico biosólido, transformando um resíduo
do tratamento em matéria que irá trazer benefícios e
redução de custos, além dos ganhos ambientais. Nesse sentido é necessário uma campanha na mídia sobre
os benefícios desse aproveitamento de biosólidos.
Saneas: Qual é o destino comum do lodos de ETAs
e ETEs no território brasileiro?
Eduardo Pacheco Jordão: Tipicamente os lodos de
ETAS vinham sendo devolvidos aos rios, e em muitos
casos ainda tem sido prática. Os lodos de ETEs são em
maior parte lançados em aterros sanitários, o que é
uma pena, pois podem ser aproveitados com vantagem como biosólidos.
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Ponto de vista
pedro alem sobrinho
Pedro Alem
Sobrinho é
engenheiro civil
pela Escola de
Engenharia
de São Carlos/
USP, mestre em
Public Health
Engineering pela
Universidade de
Newcastle Upon
Tyne (Inglaterra),
mestre em Saúde
Pública e doutor
em Engenharia
Hidráulica e
Sanitária pela
Universidade de
São Paulo.
Atualmente, é
Professor Titular
da Universidade
de São Paulo.
Possui vários
trabalhos
publicados
sobre o tema
“Tratamento de
esgoto sanitário”,
em periódicos
nacionais e
internacionais.
Impactos na Resolução 375 do
Conama sobre pequenas ETEs
O Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) instituiu a Resolução nº 375, de 29 de
agosto de 2006, que define critérios e procedimentos para o uso agrícola de lodos de esgotos,
gerados em Estações de Tratamento de Esgoto
Sanitário. Todavia, mesmo sendo um instrumento importante para disciplinar a reciclagem
agrícola de lodos no país, as exigências nela
contidas, se não chegam a inviabilizar o funcionamento de pequenas estações, que tratam
somente esgoto doméstico, dificultam bastante
a sua operacionalização, uma vez que os custos
envolvidos na caracterização e no monitoramento são muito elevados.
Segundo a norma, cada lote de lodo deve ser
caracterizado de acordo com aspectos de potencial agronômico; de substâncias inorgânicas
e orgânicas potencialmente tóxicas; de indicadores bacteriológicos e agentes patogênicos e
de estabilidade. O número total de parâmetros a
serem determinados é de 62, incluindo os teores
de dioxinas e furanos e vírus entéricos. No Brasil,
há poucos laboratórios que possuem capacidade
para realizar estas determinações dentro dos limites recomendados pela norma e com grau de
incerteza aceitável. Além da caracterização, deve-se fazer o monitoramento do lodo e do solo
onde ele foi aplicado, resultando na obrigação de
realização de mais algumas análises.
Quanto à patogenicidade, a norma classifica
o lodo em A ou B. A primeira classe é bem mais
restritiva com relação aos limites para coliformes
termotolerantes e helmintos e inclui restrições
para vírus entéricos e ausência de Salmonella em
dez gramas de sólidos totais. A norma menciona
também no parágrafo 1º do artigo 11: “Decorridos 5 anos a partir da data de publicação desta
Resolução, somente será permitida a aplicação
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de lodo de esgoto ou produto derivado classe A,
exceto sejam propostos novos critérios ou limites
baseados em estudos de avaliação de risco e dados epidemiológicos nacionais, que demonstrem
a segurança do uso do lodo de esgoto Classe B” e
no parágrafo 2º deste mesmo artigo: “As UGLs Unidades Geradoras de Lodo - terão, após a data
de publicação desta Resolução, 18 meses para se
adequarem a esta Resolução”. Nesta questão, é
interessante observar que embora a norma indique a calagem como um processo necessário
para obtenção de lodo tipo B, resultados preliminares de estudos usando a secagem em estufa
agrícola de lodo com cal têm indicado que ele
pode alcançar a classe A. No entanto, estas pesquisas ainda precisam ser aprofundadas.
Outra tecnologia de remoção de patógenos
para obtenção de lodo classe A é a secagem térmica, mas, nas pequenas estações de tratamento, ela não é praticável economicamente.
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7
Matéria tema
Lodo
um ponto de
alerta no universo
do saneamento.
Se por um lado, o processo de crescimento econômico do Brasil
demandou a implantação de políticas governamentais para
o setor de saneamento básico, propiciando uma infraestrutura que melhorou a vida da população; por outro, os
próprios processos de tratamento de água e esgotos são
considerados fontes pontuais de poluição, por gerarem
lodo.
O tratamento e a disposição final dos lodos formam
um quadro preocupante, face ao grande volume
gerado, à dificuldade em se encontrar locais de
disposição, aos crescentes custos de transporte
e disposição e aos impactos ambientais.
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Saneas
Portanto, qualquer decisão sobre o
destino final mais apropriado para estes
resíduos depende de sua caracterização,
avaliação e minimização dos riscos de
contaminação ao meio ambiente e
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ao homem.
Matéria tema
Para entender a importância da destinação do
lodo, vamos partir para uma visão bem ampla: a do
Planeta Terra. Segundo dados da ONU (Organização
das Nações Unidas), sua área total é de aproximadamente 510 milhões de quilômetros quadrados, sendo
que 149 milhões de km2 são de terra e 361 milhões de
km2 são de água.
Desse total de água, apenas 2,5% é doce. Os rios,
lagos e reservatórios de onde a humanidade retira o
que consome só correspondem a 0,26% desse percentual. De acordo com as estimativas mundiais, 10%
da utilização da água vão para o abastecimento público, 23% para a indústria e 67% para a agricultura.
No Brasil, de acordo com a divisão adotada pela
Secretaria de Recursos Hídricos do Ministério do Meio
Ambiente, são oito as suas grandes bacias hidrográficas: a do rio Amazonas, a do rio Tocantins, as do
Atlântico Sul, trechos Norte e Nordeste, a do rio São
Francisco, as do Atlântico Sul, trecho Leste, a do rio Paraná,
a do rio Paraguai, e
as do Atlântico
Sul, trecho
Sudeste.
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Temos a maior reserva de água doce da Terra, equivalente a 12% do total mundial. Porém, principalmente
nas regiões mais pobres, os recursos hídricos são limitados e explorados de forma predatória, gerando
despejo da alta carga de poluentes.
A degradação dos rios que atravessam as grandes
cidades do País é apontada como um dos maiores
problemas ambientais brasileiros. Tanto que soluções
para recuperação de leitos, que obtiveram êxitos em
outros países, ganham cada vez mais espaço na mídia,
como apresentação de alternativas para a minimização dessa problemática. Mas para se conseguir soluções de recuperação, o procedimento mais indicado
é a coleta e tratamento de esgotos, que geralmente
são lançados in natura nos rios. Tal procedimento
ameniza a deterioração dos mananciais, posto que
reduz a sua carga de poluentes e gera, como produto final, um resíduo rico em matéria orgânica e
nutrientes, denominado lodo, mas
que também necessita de
tratamento uma
adequada disposição final.
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Matéria tema
O lado útil do lodo
A definição mais básica do lodo de esgoto é que se
trata de um resíduo semi-sólido, predominantemente
orgânico, com teores variáveis de componentes inorgânicos, provenientes do tratamento de águas residuárias domiciliares ou industriais. A sua composição
variada é devido à origem e ao tipo de tratamento
que está sendo utilizado. De acordo com Camargo &
Bettiol (2000), as formas mais utilizadas para o aproveitamento ou disposição final do lodo são: disposição
em aterro sanitário; reúso industrial, como produção
de agregado leve, fabricação de tijolos e cerâmica e
produção de cimento; conversão em óleo combustível; recuperação de solos em áreas degradadas e
de mineração e pode ter como fim o uso agrícola e
florestal através da aplicação direta no solo, compostagem e solo sintético. Todavia, a utilização para fim
agrícola e florestal apresenta-se como uma das mais
convenientes, pois, como o lodo é rico em matéria orgânica e em macro e micronutrientes para as plantas,
é amplamente recomendado como condicionador de
solo. Entre os nutrientes advindos do lodo, destacamse como os mais relevantes o nitrogênio e o fósforo.
Nitrogênio (N)
O Nitrogênio (N) é o componente principal
da atmosfera terrestre (78,1% em volume).
O elemento está presente na composição de
substâncias excretadas pelos animais, usualmente na forma de uréia e ácido úrico;
nos dejetos presentes no esgoto e em alguns efluentes industriais, tais como matadouros, curtumes, indústrias farmacêuticas,
etc. É encontrado nas formas inorgânicas,
como nitritos, nitratos e nitrogênio amoniacal e orgânicas, constituindo proteínas,
aminoácidos, aminoaçúcares, amidos, etc.
Daí o fato de seu alto valor econômico,
como elemento proveniente do lodo.
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Saneas
Fósforo (P)
Devido a sua reatividade, o fósforo não é
encontrado nativo na natureza, porém forma parte de numerosos minerais. O ácido
fosfórico concentrado é importante para a
agricultura, já que forma os fosfatos empregados para a produção de fertilizantes.
Os fosfatos também são usados para a
fabricação de fogos, bombas, cristais, lâmpadas e na produção de aço e bronze. A
sua projeção no lodo geralmente vem dos
dejetos domésticos, detergentes que utilizam fosfatos como aditivos e efluentes
industriais.
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Matéria tema
De acordo com Lake (1987), “quando o teor de um
determinado metal num resíduo é menor ou igual ao
teor do mesmo metal no solo, pode-se inferir que o
resíduo não apresente potencial de contaminação.
Entretanto, o autor ressalta que, quando se trata de
resíduos orgânicos, a mineralização da matéria orgânica, que poderá ocorrer após a disposição no solo,
tenderá a aumentar os riscos de contaminação”.
Dessa forma, constatada a presença de nutrientes e
metais pesados na composição do lodo de esgoto, o
seu emprego como condicionador de solo pode trazer
vantagens, por promover a reciclagem de nutrientes e
melhoria da fertilidade do solo; mas também pode se
traduzir em prejuízos, se houver formação de nitratos
e acúmulo de metais pesados em plantas.
Outra questão peculiar no tratamento de lodo é a
presença de patógenos, cuja origem geralmente se dá
em razão do material fecal contido no esgoto. Portanto, as características epidemiológicas da população
local e dos efluentes lançados na rede coletora definem os tipos de vírus, fungos, bactérias e parasitas.
O Governo Federal, por meio do Conama - Conselho Nacional do Meio Ambiente - criou a resolução
de nº 375, de 29 de agosto de 2006, a qual dispõe
de parâmetros para a utilização do lodo de esgoto.
Para a caracterização do lodo e monitoramento de
sua qualidade durante a aplicação agrícola, devem ser
determinados parâmetros agronômicos, inorgânicos
e orgânicos, além da deteminação da concentração
de patógenos, sendo estes últimos importantes para
classificação do lodo em A ou B.
A partir da data que essa Resolução foi instituída, as estações de tratamento têm um prazo de 5
anos, portanto até 29 de agosto de 2011, para demonstrar que o lodo classe B pode ser utilizado para a
agricultura. Caso contrário, deverão cumprir todas as
exigências para a classe A, o que será bastante difícil
para pequenas ETEs, pois exigirão a instalação equipamentos tais como secadores térmicos, pasteurizadores, etc para atender a norma. Mas, de qualquer
forma, uma análise séria e compatível com os nossos
recursos é um instrumento constantemente necessário à disposição final do lodo, para que este resíduo
seja mais do que uma preocupação ou um alerta: uma
solução e uma alternativa de otimização dos recursos
ambientais.
quando se trata de resíduos orgânicos,
a mineralização da matéria orgânica, que
poderá ocorrer após a disposição
no solo, tenderá a aumentar os
riscos de contaminação.
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Saneas
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Matéria tema
Lodo de Estações de
Tratamento de Água
Richter (2001) considera que lodo de estação de
tratamento de água é o resíduo constituído de água e
sólidos em suspensão originalmente contidos na fonte de abastecimento, acrescidos de produtos resultantes dos reagentes aplicados à água nos processos de
tratamento, bem como suas impurezas.
Os lodos formados por hidróxidos de alumínio e
ferro são de difícil adensamento e desaguamento,
sendo necessário o seu pré-condicionamento, antes
de serem submetidos a esses processos. Por isso, uma
prática comum nestas ETAs é o uso de polímeros, sejam eles catiônicos, aniônicos ou não iônicos.
Os descartes de
resíduos de ETAs
Também provenientes das Estações de Tratamento
de Água (ETAs), os descartes de resíduos nos rios têm
contribuído para deterioração da qualidade das águas
dos mananciais, principalmente em regiões onde há
escassez dos recursos hídricos.
Embora não seja um problema recente, o efeito da
disposição inadequada dos resíduos sólidos gerados
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Saneas
em ETAs no meio ambiente tem-se mostrado extremamente danoso, especialmente nos grandes centros
urbanos, seja pelo aumento da quantidade de sólidos
e da turbidez em corpos d’água, ou seja pelo aumento
da sua toxicidade que, por sua vez, pode comprometer a estabilidade da vida aquática.
Nos processos convencionais de tratamento de
água, os resíduos são gerados basicamente nos decantadores ou, eventualmente, em flotadores e nas
operações de lavagem dos filtros. Cada linha geradora
de resíduos apresenta características distintas em termos de vazão e concentração de sólidos, razões pelas
quais diferentes concepções de tratamento devem ser
consideradas.
Experiências em países do 1º mundo atestam que
o lançamento destes resíduos nos corpos d’água não
vem sendo realizado e tem-se incentivado a minimização, o reúso e a reciclagem, em virtude de legislações mais rigorosas de controle da poluição e desperdício, inclusive com relação ao descarte de 2 a 6% do
volume de água produzido numa Estação de Tratamento de Água em atividades de lavagem dos filtros e
descargas dos decantadores.
Fontes de consulta: ETEC-Diadema, Fundação
Oswaldo Cruz, IFET – Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia (Gestão Ambiental), Portal do
Ministério do Meio Ambiente, Wikipédia.
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2009
matéria sabesp
Wanderley Paganini
Alternativas para a disposição final
de lodos de estações de tratamento de
água e estações de tratamento de esgotos
Geração e destinação dos
resíduos gerados pela
atividade humana
A população mundial hoje ultrapassa 6 bilhões
de pessoas. Com os elevados índices de crescimento
populacional esperados para os próximos 90 anos,
estima-se que ultrapassaremos a casa dos 10 bilhões
de habitantes no planeta.
A atividade humana e industrial, a intensa exploração dos recursos naturais e a quantidade de resíduos a serem gerados, certamente atingirá proporções
gigantescas se não houver uma radical mudança nos
hábitos de consumo das pessoas, na utilização racional dos recursos e no uso benéfico dos resíduos.
Em relação aos impactos ao meio ambiente, a destinação final desses resíduos é objeto de muita preocupação, merecendo especial atenção o lodo gerado
pelos serviços de saneamento, que sem dúvida alguma
será um dos grandes problemas ambientais a serem
enfrentados nos próximos anos. Porém, adotando-se
uma visão bem realista, constata-se que em relação à
disposição final de lodos, o amanhã já chegou!
A universalização dos serviços de
saneamento no Brasil e as
demandas ambientais
A prestação dos serviços de saneamento no Brasil
ainda é bastante deficitária. A população atendida com
abastecimento de água é de 91,9%, conforme os dados do IBGE, 2007¹. Em relação aos serviços de esgotos,
68,7% da população têm seus esgotos coletados (IBGE,
2007)¹ e apenas 34,3% da população é contemplada
com tratamento de esgotos (SNIS, 2007)².
O Governo Federal, em 2007, anunciou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), prevendo investimentos de R$ 40 bilhões em saneamento básico
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matéria sabesp
até 2010. Desse montante, até julho de 2008 foram
contratados R$ 19 bilhões para iniciativas nas modalidades abastecimento de água, esgotamento sanitário, saneamento integrado, manejo de águas pluviais,
manejo de resíduos sólidos, dentre outros³. O Ministério das Cidades declarou que o déficit de saneamento
no País necessita de investimentos de R$ 9 bilhões
anuais, em 20 anos, para que a universalização dos
serviços seja concluída4.
Temos um longo caminho a percorrer. Não é aceitável que haja morte por diarréia no País nos níveis
hoje verificados. Segundo a Organização Mundial da
Saúde, 6% de todas as doenças são causadas por consumo de água inadequada, falta de coleta de esgoto
e de higiene5. De acordo com dados do IBGE, 2006,
a taxa nacional de mortalidade infantil sofreu uma
queda de 44,9% em 16 anos. O Caderno Brasil 2008
da UNICEF “Situação Mundial da Infância” atribui esse
fator a uma série de melhorias nas condições de vida e
na atenção à saúde da criança, em relação a questões
como segurança alimentar e nutricional, saneamento
básico, vacinação e outros6.
Esses dados são alguns indicadores da real necessidade de se investir em saneamento, tendo como
foco a universalização do atendimento.
A prestação dos serviços de saneamento requer
uma progressividade, conceito já consagrado, derivado de uma tendência observada nos países desenvolvidos, que considera necessário ter-se sempre em
conta uma escala de prioridades.
Fornecer água, a prioridade zero. Depois coletar
os esgotos, ação sanitária de âmbito local, com comprovada eficácia em termos de melhoria da saúde pública. Só então, tratar e dispor os esgotos, uma ação
ambiental, de âmbito regional.
Ainda que a universalização do atendimento obedeça a uma escala de prioridades, não é possível isolar
a questão da destinação dos lodos gerados. Tratar a
água e os esgotos e dispor o lodo gerado adequadamente são parte integrante desse processo.
A universalização trará ao Brasil problemas ainda
mais representativos quanto à destinação final dos
lodos, se não forem buscadas soluções adequadas.
Múltiplas soluções para
disposição final do lodo:
questão de segurança
operacional e tecnológica
14
Saneas
A busca de alternativas para viabilizar a disposição
final dos lodos gerados em estações de tratamento
de água - ETAs e estações de tratamento de esgotos
- ETEs, tem sido foco de inúmeras pesquisas desenvolvidas das mais variadas formas: em bancadas, em
pilotos e em escala real.
Esses resíduos são produzidos em grande volume,
e ainda assim, a maioria das plantas de tratamento
em operação no país não contempla adequadamente
o destino final do lodo. A disposição final desses resíduos requer cuidados específicos de modo a garantir
a proteção ao meio ambiente e à saúde pública.
Devolver aos mananciais o lodo resultante do tratamento de água é procedimento inadequado do ponto de vista ambiental, operacional e legal. Da mesma
forma, o lodo das estações de tratamento de esgotos
não pode ser disposto no ambiente sem a realização
de estudos prévios, buscando a destinação final mais
apropriada, reduzindo os possíveis impactos ambientais decorrentes de uma disposição final inadequada.
O que não falta ao homem é criatividade e capacidade para o desenvolvimento de tecnologias. As
possibilidades para a destinação de lodos são muitas.
E todas elas devem ser avaliadas e consideradas.
Essas múltiplas alternativas para destinação final
de lodo são justificadas pelo fato de que é necessário
evitar situações de dependência tecnológica, estratégica ou logística, fator de alto risco em qualquer
atividade, especialmente na prestação de serviços
públicos de saneamento, onde a geração de lodo é
diária e elevada. Deste modo, a operação segura dos
sistemas de abastecimento de água e de esgotamento sanitário requer alternativas múltiplas disponíveis
para a destinação dos lodos gerados. A dependência
de um único setor ou de uma única alternativa é um
risco indesejável.
Para ilustrar essa afirmação pode-se fazer um paralelo com situação ocorrida em relação à adição de
fluor nas águas de abastecimento público. Estudos
desenvolvidos apontaram que o ácido fluossilícico,
um subproduto resultante do processo de fabricação
de ácido fluorídrico (usado na produção de sais fluorados, gases refrigerantes, defensivos agrícolas, detergentes, teflon, etc), era uma substância que atendia às
necessidades para o processo de fluoretação da água.
Não foi preciso muito tempo para que a indústria mudasse de postura, passando a considerar esse “rejeito”
como “produto”, aumentando os preços, gerando inú-
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matéria sabesp
meras inseguranças quanto ao seu fornecimento para
o saneamento.
A tendência atual aponta para os chamados “usos
benéficos do lodo”. A própria denominação já é por si
um atrativo. Nada pode ser melhor do que possibilitar
o uso benéfico de um resíduo, seja ele qual for. Não
resta dúvida. Mas não é admissível deixar que essa
destinação de resíduos se torne um monopólio, especialmente nos casos em que prioritariamente o objetivo é o de gerar lucro financeiro.
Disposição final do lodo de ETA
Estudos recentemente desenvolvidos apontam
que no Estado de São Paulo o processamento dos lodos de estações de tratamento de água na indústria
cerâmica consiste num cenário promissor para a sua
destinação, seja pela viabilidade técnica e ambiental,
seja pela capacidade de absorção do lodo gerado pelas cerâmicas. Merece atenção. Não é alternativa a ser
desprezada, mas não pode ser considerada como a
única opção para esta disposição final.
Outras destinações de lodo de ETA estão em estudo e algumas têm se mostrado igualmente adequadas, como o seu emprego para fechamento de valas
e para a recuperação de áreas degradadas. Quando
resolvidas e implantadas essas múltiplas alternativas,
Wanderley da Silva Paganini junto ao presidente da AESabesp,
Luiz Narimatsu, no lançamento do seu livro na Fenasan 2008
“A Identidade de um rio de contrastes: o Tietê e seus
múltiplos usos.”
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então estará em equacionamento a questão da disposição final desses resíduos.
Ainda em relação ao lodo de ETA, o seu tratamento em ETEs é assunto que gera polêmica. Discute-se
que as novas ETAs devam possuir unidades específicas
para o processamento do lodo. Por se tratar de um
material predominantemente inorgânico, não é degradado na ETE, o que confere a esse procedimento
a característica de transferência e não de disposição
final do resíduo. Questiona-se o fato de que o lodo é
concentrado na ETA, diluído no sistema de coleta e interceptação e novamente concentrado na ETE7. É fato.
Mas num cenário como o da Região Metropolitana de
São Paulo – RMSP e nos grandes centros, ainda que
com os possíveis inconvenientes mencionados, essa
prática pode ser a melhor alternativa apresentada. A
condição teórica ideal seria o lançamento direto na
fase sólida das ETEs, mas não há estrutura disponibilizada para o transporte exclusivo do lodo até esse
ponto (lododuto). A execução de obras desse porte
também pode causar impactos ambientais de grandes
proporções.
Caso típico de grande parte das ETAs em operação em áreas fortemente urbanizadas é a limitação
para a realização do tratamento do lodo na própria
planta, em função da ausência de espaço físico e de
Wanderley da Silva Paganini é engenheiro
civil pela UNESP de Bauru/SP, engenheiro sanitarista, mestre e doutor em Saúde Pública pela
Faculdade de Saúde Pública da Universidade
de São Paulo - USP, livre-docente em Saneamento Básico e Ambiental pela Faculdade de
Saúde Pública da USP. Funcionário da SABESP
desde Janeiro de 1980, atuou como Assistente
Executivo da Diretoria do Interior e da Diretoria
de Sistemas Regionais da SABESP, foi Superintendente Regional da Unidade de Negócio do
Médio Tietê e atualmente é o Superintendente
de Gestão Ambiental da Diretoria de Tecnologia,
Empreendimentos e Meio Ambiente da SABESP e
Professor Associado do Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública
da USP. É autor de diversos artigos científicos
publicados no Brasil e no exterior nas revistas
especializadas. É autor dos livros “A identidade
de um rio de contrastes: o Tietê e seus múltiplos
usos” e “Disposição de Esgotos no Solo”.
Saneas
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sua localização geográfica, muitas vezes desfavorável
à circulação de caminhões para transporte de lodo no
entorno da estação.
Ressalta-se também que o recebimento de lodo de
ETA em ETE é comumente realizado em todo o mundo, principalmente nos Estados Unidos e na Europa
(Tsutiya, 2001)8, com resultados bastante satisfatórios e promissores.
Vários estudos realizados pela Sabesp também
apontam que o recebimento de lodo de ETA em ETE,
do ponto de vista técnico e operacional, é plenamente
viável, configurando-se numa boa opção a ser considerada para a disposição desses lodos.
A comunidade técnico-científica recomenda a
avaliação dessa prática, de maneira isolada e criteriosa, caso-a-caso, ressaltando que para o processo
de lodos ativados, a principal limitação se refere à digestão do lodo.
Ensaios de bancada desenvolvidos na RMSP para
avaliar a atividade metanogênica do lodo, simulando
o recebimento de lodo de ETA em digestores de ETE,
mostraram que não houve indícios de inibição dos
processos anaeróbios para as condições avaliadas.
Outros experimentos já apontaram para um efetivo aumento na eficiência de remoção de Fósforo
Total, o que pode representar um ganho ambiental
significativo, em decorrência dessa prática.
Outros aspectos favoráveis a se considerar nos
processos de disposição do lodo de ETA em ETE se referem à possibilidade de:
■■ Redução de consumo de materiais de tratamento
para o desaguamento do lodo
■■ Aumento na remoção de matéria orgânica no decantador primário, aumentando a capacidade da
ETE na fase secundária
■■ Minimização de investimentos e custos operacionais
■■ Aproveitamento da mão de obra especializada da
operação da ETE.
Ressalta-se que a Lei Estadual nº 12.3009 de 16
de março de 2006 em seu Artigo 6º, inciso II, classifica
os lodos gerados em ETEs e ETAs como resíduos sólidos, não permitindo o seu lançamento em “sistemas
de redes de drenagem de águas pluviais, de esgotos,
de eletricidade, de telecomunicações e assemelhados”
(Artigo 14, inciso V). O texto da lei pode gerar interpretações diversas.
A Sabesp também está estudando em conjunto
16
Saneas
com a Prefeitura Municipal de São Paulo, a possibilidade de mistura do lodo de ETA com resíduo sólido
inerte, oriundo da construção civil, para recuperação
de áreas degradadas, erosões e cavas de mineração.
Disposição final do lodo de ETE
Um dos grandes problemas ambientais verificado
nos grandes centros e em cidades de médio porte se
refere à disposição final do lodo gerado pelos sistemas
de tratamento de esgotos. Seja qual for a alternativa
adotada para o tratamento, todos os processos conhecidos geram lodo, seja em regime constante, seja
em batelada, ainda que se trate de uma “batelada de
20 anos”, como é o caso do tratamento por lagoas
de estabilização, tecnologia que digere e armazena o
lodo por períodos de aproximadamente 20 anos, mas
que também demanda destinação final.
Quanto maior o sistema de tratamento, maior é
a dificuldade para dispor o lodo gerado. A disposição
dos resíduos em aterros é uma solução que pode se
esgotar em função do tempo, do porte da ETE e das
características locais.
A co-disposição de lodos em aterros, também é alternativa frágil. Recentemente foi noticiado que 1 em
cada 3 aterros sanitários de cidades do Estado de São
Paulo com mais de 100 mil habitantes está com a vida
útil “esgotada”. (Jornal O Estado de São Paulo, 2009)10
Várias alternativas de disposição estão em estudo
e em operação. Dentre elas podemos mencionar:
■■ Disposição de lodo no solo para fins agrícolas
■■ Compostagem
■■ Condicionadores de solo
■■ Co-incineração com resíduos sólidos domésticos
■■ Co-processamento em indústria de cimento
■■ Aterros exclusivos
Legislação e normatização para a
utilização agrícola do lodo de ETE
O lodo de ETE é bastante indicado para disposição no solo, sendo uma substância rica em matéria
orgânica e nitrogênio, além de outros elementos que
podem ser considerados micro-nutrientes para as
plantas, como é o caso de alguns metais.
A disposição do lodo no solo tem sido objeto de
vários estudos. Acumulamos também alguma experiência em escala real, e o lodo gerado em sistemas
de tratamento de esgotos sanitários já foi classificado
como produto e obteve a certificação do Ministério
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matéria sabesp
da Agricultura, possibilitando sua utilização agrícola
como condicionador de solo.
A legislação específica, no entanto, é bastante restritiva. A Resolução Conama 375/0611 define critérios
e procedimentos para o uso do lodo na agricultura. A
referida Resolução estabelece que para essa prática, é
imprescindível o processamento do lodo em Unidades
de Gerenciamento de Lodo - UGLs, que deverão receber, processar, caracterizar, transportar, destinar e
monitorar os efeitos ambientais, agronômicos e sanitários de sua aplicação em área agrícola.
Atualmente, no âmbito estadual, encontra-se em
fase de discussão junto ao órgão ambiental, o procedimento para a obtenção do licenciamento de UGLs.
Esse processo de licenciamento não poderá se tornar
outro agente limitante da disposição do lodo na agricultura, que já é pouco utilizada em virtude das elevadas exigências de qualidade requeridas, ressaltandose que a própria UGL já é por si mesma, uma exigência
bastante restritiva.
Não é aceitável que, sob a ótica do controle da
poluição, a utilização agrícola do lodo se torne uma
alternativa remota de disposição final. É preciso trabalhar no sentido de viabilizar o aproveitamento dos
benefícios advindos dessa prática, largamente utilizada desde tempos remotos, e que nos dias atuais
é sustentada por estudos e critérios que introduzem
segurança a esse procedimento.
Gestão pública integrada dos
resíduos
A disposição do lodo em aterros sanitários é alternativa que também gera inúmeras discussões. Para as
prestadoras de serviços de saneamento, ter dentre as
opções de destinação final do lodo um aterro sanitário em condições de recebimento, confere segurança
ao processo operacional, uma vez que esses aterros
são unidades projetadas para minimizar os impactos
ambientais, utilizando os princípios da engenharia em
sua concepção.
A redução da utilização de aterros para destinação
de resíduos e a busca por alternativas ambientalmente adequadas e sustentáveis para o seu tratamento e
destinação final, configuram-se como uma tendên-
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cia mundial. Porém, existe um importante fator a ser
considerado no caso do saneamento, que se refere à
produção de chorume pelos aterros e de lodo pelas
ETEs, e à necessidade de se dar o tratamento adequado a esses resíduos.
Uma alternativa oportuna é a modalidade de troca
de “chorume por lodo” entre as estações de tratamento de esgotos e os aterros sanitários. Essa prática pode
representar ganhos operacionais, ambientais, econômicos e operacionais significativos, desde que praticados
a partir de critérios técnicos e legais específicos.
A co-disposição de lodo com o lixo urbano é atualmente a principal destinação dada ao lodo gerado na
Região Metropolitana de São Paulo. O chorume gerado
nos aterros é encaminhado para as estações da Sabesp.
O sistema público de tratamento possui uma boa
flexibilidade no tratamento em virtude da grande
diluição do chorume pelos esgotos sanitários. Desta
forma, há um grau para o qual o chorume afluente
pode ser admitido sem perturbar o processo de tratamento de esgotos em andamento. Vários autores
têm determinado experimentalmente a proporção de
chorume que pode ser tolerada numa ETE sem causar
a deterioração da qualidade do efluente da ETE.
Em vista disso, considera-se recomendável a realização de estudos de viabilidade de “troca de chorume por lodo”, considerando as cargas provenientes
do chorume nos projetos de estações de tratamento
de esgotos e contemplando o recebimento dos lodos
das ETEs na concepção dos aterros. Esta também deve
ser uma das múltiplas soluções a serem consideradas.
Esses estudos irão possibilitar que se tenha uma
visão abrangente e integrada do saneamento, transformando efetivamente o chamado “ciclo do saneamento” em um “ciclo virtuoso”.
Evolução tecnológica, política
ambiental e planejamento
urbano
Para o equacionamento da disposição final de lodos ainda temos muito a aprender. As universidades
e institutos de pesquisa precisam desenvolver estudos de bancada, buscando a evolução tecnológica.
Também precisam estimular as operadoras e agências
Filtro Prensa
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matéria sabesp
ambientais à pesquisa operacional, voltada para a
adoção de tecnologias diversificadas e adequadas aos
diversos ambientes que compõem o estado e o país.
Não existe solução única para o destino final dos
lodos de ETAs e ETEs, já é uma lição aprendida! O que
se deve buscar, sem dúvida alguma, são soluções múltiplas que suportem em conjunto e com longevidade a destinação final e os usos benéficos dos lodos.
Trata-se de mudança de postura e de posicionamento
técnico e até jurídico-legal.
Ainda que os aterros sanitários se configurem
numa alternativa de disposição final ambientalmente segura, é ilusão acreditar que eles sejam a solução
única e definitiva para o problema.
As soluções diversificadas e múltiplas nos levarão
a condições de independência tecnológica e principalmente de versatilidade e flexibilidade operacional.
Uma lição antiga que já deveríamos ter aprendido
com o dito popular: ”não se deve carregar todos os
ovos em um único cesto”!
A Política de Meio Ambiente vigente na Sabesp
está voltada para direcionar a atuação da Empresa
considerando o meio ambiente de forma sistêmica,
a partir da adoção de uma série de novas condutas,
visando a utilização sustentável dos insumos naturais
e energéticos.
Porém, não é o bastante. O encaminhamento da
questão ambiental só irá atingir patamares mais elevados a partir da articulação entre os vários setores de
desenvolvimento urbano, e a destinação dos resíduos
gerados pela atividade humana é um fator chave para
o planejamento ambiental e a gestão das cidades.
Essa integração é fundamental para a promoção
gradativa de melhorias ambientais, de saúde e de qualidade de vida, contribuindo também para a responsável,
eficiente e eficaz prestação de serviços públicos.
Referências consultadas
Visão Geral da Prestação de Serviços. Brasília, 2009.
3. BRASIL. PNUD. Entrevista. “Falta de regras prejudica
o Brasil”. Disponível em <http://www.pnud.org.br>.
Acesso em 2009, abr.
4. PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Wiki. Comitê de Organização da Informação. Disponível em: <http://wikicoi.
planalto.gov.br/coi/Acesso_Direto/EmDestaque/Temas/Saneamento_set08.pdf>. Acesso em: abr, 2009.
5. Um planeta em busca de água potável. O Estado de
São Paulo. São Paulo, 2008 mar 20. Caderno Especial, p. H1.
6. BRASIL UNICEF. Fundo das Nações Unidas para a Infância. Situação Mundial da Infância 2008. Caderno
Brasil. Brasil (DF), janeiro de 2008. Disponível em
<http://www.unicef.org/brazil/pt/cadernobrasil2008.
pdf>. Acesso em: abr, 2009.
7. INSTITUTO DE ENGENHARIA. Relatório de conclusões.
Lodos de estações de tratamento de água. Morita,
D.M. (red.). São Paulo, 2008
8. TSUTIYA,M.T. Seminário sobre disposição de lodos.
Transporte de Lodo de ETA em Coletores de Esgoto de Franca. Sabesp, dezembro, 2006. [Documento
Interno].
9. SÃO PAULO (Estado). Lei Estadual nº 12.300 de 16 de
março de 2006 Institui a Política Estadual de Resíduos
Sólidos e define princípios e diretrizes. Diário Oficial
do Estado de São Paulo, São Paulo, 17.mar.06.
10.TOMAZELA. J.M. 1 em cada 3 aterros sanitários do interior de São Paulo está esgotado. O Estado de São Paulo.
São Paulo, 2009 mar 15. Cidades – Metrópole, p. C4.
11.BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Resolução CONAMA nº375 de 17 de março de 2005. Dispõe sobre a
classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece
as condições e padrões de lançamento de efluentes, e
dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 18 mar. 2005.
1. BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e
Gestão. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
– IBGE. Síntese de Indicadores Sociais. Uma Análise
das Condições de Vida da População Brasileira. Rio
de Janeiro, 2008.[Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios 2007].
2. BRASIL. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional
de Saneamento AMBIENTAL. Programa de Modernização do Setor Saneamento – PMSS. Diagnóstico dos
Serviços de Água e Esgotos – 2007. Parte 1. Texto.
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Visão de mercado
Celso Schneider & Mara Salvador
Produtos biológicos em tratamentos
de efluentes: solução econômica e
amiga do ambiente
Celso Schneider
é Diretor Técnico
da SuperBac, com
atuação nos setores
de desenvolvimento dos produtos e
novas aplicações
e de análise dos
tratamentos. Há
mais de 16 anos na
área, já atuou como
consultor de tratamentos de efluente
na America do Sul,
America Central e
Ásia. E-mail:
[email protected]
Indústrias de vários segmentos podem se beneficiar de produtos
de qualidade, aplicados de maneira correta e customizada
Os produtos biológicos para tratamento
de efluentes representam uma grande evolução para a indústria e saneamento básico. Eles
evoluíram e a forma de aplicá-los também. Nos
últimos cinco anos, houve avanços expressivos
na concentração de microorganismos existentes nestes produtos - nos melhores do mercado,
a concentração é superior a 3 bilhões de UFCs
por grama. É relevante também a quantidade
de microorganismos que entra em atividade
com o desenvolvimento dos micronutrientes praticamente a totalidade da concentração de
bactérias fica ativa, garantindo uma ação mais
eficaz nos sistemas.
A confiabilidade na aplicação aumenta porque avança a previsibilidade de crescimento dos
microorganismos puros, assim como a atuação
dos mesmos, o que eleva a eficiência e reduz
custos das estações de tratamento. Os produtos,
com atuação pontual e contínua, possibilitam
reduções significativas do lodo descartado pelas
ETEs. A quantidade de lodo pode cair em 50%,
reduzindo os custos de descarte do lodo. A aplicação dos produtos, também chamados de remediadores, aumenta a capacidade de operação
em cerca de 30%, pelo crescimento da atividade
biológica proporcionada pela melhor qualidade
da biota. Além destas vantagens, o uso dos pro-
Mara Eliza
Pereira Salvador é
gerente ambiental
da Lequip, bióloga
especialista em
Poluição Ambiental, pela Universidade de São Paulo
(USP). Atuou por
20 anos na Cetesb,
onde “desenvolveu
e implementou
ferramentas para
avaliação da qualidade das águas
do Estado de São
Paulo, tornando-se
uma das autoras
do Índice de Preservação da Vida
Aquática (IVA)”. Email: mara.eliza@
lequip.com.br
20
Saneas
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2009
Visão de mercado
dutos biológicos pode ainda reduzir a necessidade de
energia elétrica, eliminar camadas de gorduras e óleos
e melhorar atividade e queimas de gás em bioreatores,
solucionando diversos problemas das plantas de tratamento ou efluentes de difícil degradação.
O aumento na eficiência de redução de carga orgânica está sempre presente, porém em ETEs que já
tenham uma grande eficiência neste item o uso dos
produtos tem maior vantagem na redução de outros
parâmetros e custos.
O cuidado na escolha, porém, é fundamental, uma
vez que nem todos os produtos existentes no mercado
têm qualidade. É preciso ter laudos comprobatórios
de concentrações de microorganismos, de ausência
de patogenias e toxicidade, além do suporte técnico
oferecido pela empresa fornecedora, aliás a aplicação
correta é uma das chaves do sucesso na aplicação dos
remediadores biológicos, e somente técnicos capacitados podem prover a melhor maneira de utilização
destes produtos. Produtos e profissionais confiáveis
produzem resultados esperados e positivos.
A questão do custo deve ser objeto de atenção: se
o produto não funcionar de maneira otimizada e adequada, ele já terá custado caro. A solução do produto
biológico é vantajosa desde que resolva efetivamente
o problema. Desta forma, então, a questão não é comparar o custo por quilo, mas considerar o aumento de
competitividade que os produtos gerarão no processo
como um todo. Outro fator fundamental é que os produtos específicos, produzidos para cada tipo de efluente
e solução, conferem períodos mais curtos de adaptação
aos sistemas, assim como menores tempos de resposta
às necessidades e alterações das condições.
Pode-se concluir que os produtos biológicos
alcançaram um estágio de muita importância nos
sistemas de tratamentos de efluentes, possibilitando correções, reduções de parâmetros e economia.
Porém é preciso ter cuidado na escolha e utilização,
para que a tecnologia traga apenas vantagens aos
tratamentos e ao meio ambiente.
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artigo técnico
Uso de biossólidos na produção de
mudas para reflorestamento de
áreas degradadas
Olavo Alberto Prates Sachs
Engenheiro Sanitarista pela Faculdade de Ciências Tecnológicas da PUC – Campinas (1985). Pós-Graduação
em Engenharia de Segurança do Trabalho pela FAAP (1990). MBA pelo Instituto de Tecnologia MAUA (2003).
Mestre em Tecnologia Ambiental pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo – IPT (2005). Professor
do curso de Engenharia e Segurança do Trabalho da UNICAMP, desde 1992. Engenheiro especialista da SABESP desde 1986, com experiência nas áreas de planejamento, projeto, operação, administrativa e manutenção, trabalhando atualmente na Divisão de Operação de Água Oeste – MOEG e Diretor Cultural da AESabesp
nas gestões 2005/2007 e 2007/2009.
O presente trabalho é um resumo da dissertação de mestrado apresentada por mim no curso de
Tecnologia Ambiental do IPT cujo tema foi “Uso de
biossólidos na produção de Cytharexyllum myrianthum Cham. (pau-viola) e foi formulado a partir da
necessidade de elaboração de estudos no Brasil com
alto grau de confiabilidade, que apresentem soluções
para a utilização de lodo provenientes de Estações de
Tratamento de Esgoto - ETE.
Por intermédio de consultas a revisões bibliográficas, foram pesquisados artigos sobre a utilização do
biossólido como substrato ou condicionador de solo
para as mais variadas culturas. Vale ressaltar que para
realização deste trabalho foi imprescindível a colaboração do biólogo Mauricio Alexandre Mennella da
MA, responsável pelo viveiro de mudas utilizado, da
Companhia de Saneamento Básico do Estado de São
Paulo – SABESP, localizado na Reserva Florestal (RF)
do Morro Grande, pertencente ao município de Cotia,
na Região Metropolitana de São Paulo – RMSP, onde
foram feitos estudos dos efeitos do uso de biossólidos
na cultura de Cytharexyllum myrianthum ou pauviola, com 252 amostras distribuídas em 6 tratamentos com diferentes porcentagens de biossólido (0%,
25%, 50% e 75%), na composição volumétrica do
solo utilizado, mais tratamentos com nutrientes e hú-
22
Saneas
mus, sendo as evoluções dos ensaios acompanhadas
ao longo de um determinado tempo por intermédio
de medidas e pesagens executadas nas plantas, além
de análises de parâmetros físico-químicos dos solos,
húmus e biossólidos que forneceram subsídios para
analisar os resultados.
Os otimos resultados obtidos com o uso de biossólido para esta espécie de planta, nas concentrações de
(25%,50% e 75%), levam a acreditar que esta é uma
alternativa viável a disposição final de lodos, desde
que sejam tomadas as medidas legais exigidas.
1. Uso Agrícola do Biossólido
Como todo assunto polêmico, a seguir, o estudo
apresentará sínteses de artigos a favor e contra a prática do uso agrícola do lodo de esgoto ou biossólido
como alternativa de disposição final deste resíduo
desde que tomados seus devidos cuidados, em substituição aos aterros sanitários, que está se tornando
um assunto que tem gerado inúmeros experimentos,
e estes alimentados vários livros, teses, dissertações,
artigos em sites, revistas técnicas que serão sintetizados neste item.
“A disposição do biossólido em aterros sanitários,
de forma contínua e em grande quantidade, diminuiu
rapidamente a vida útil destes locais... atualmente
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artigo técnico
existe uma tendência mundial em se priorizar alternativas que promovam a reciclagem do lodo” (ROCHA, GONÇALVES, MOURA, 2004, p.624).
Exemplos em São Paulo e no Paraná apontam para
a viabilidade do uso agrícola do biossólido, como condicionador físico e químico de solos usados em cultivos agrícolas e florestais.
“O biossólido é usado em cultivos florestais em
vários países, principalmente em regiões temperadas.
Em países tropicais, seu uso ainda é restrito e pouco
estudado. No Estado de São Paulo, vastas áreas destinadas às florestas poderiam absorver grande parte do
biossólodo produzido nas ETE’s.” (ROCHA, GONÇALVES, MOURA, 2004, p.624).
Poggiani (2003) coordena estudos junto a Escola
Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – ESALQ –
USP, que utilizaram lodos de ETE na forma de torta
proveniente da ETE – Barueri (BAR) e pellets da ETE
– São Miguel (SM) que estão sendo testados na Estação Experimental de Itatinga – SP, em plantações de
Pinus e Eucalyptus, com ótimos resultados.
Bettiol (2000) comenta que o biossólido de esgoto
é um resíduo obtido na estação de tratamento de esgoto e devido a isto devemos tomar um cuidado especial
com o uso indiscriminado deste lodo como adubo para
a lavoura, pois como o próprio autor comentou no Seminário Gestão, Impacto e Usos de Resíduos no CREASP (2003), “a agricultura não é a latrina do mundo”.
Melo et al. (2005) fez estudos em culturas de café
e milho utilizando biossólido oriundo da ETE – Barueri,
mais Latossolo Vermelho-Escuro e Latossolo Roxo, durante o período de 1997 a 2004, obtendo resultados promissores mesmo em solos mais pobres em nutrientes.
Também segundo Marchioni Junior (1998), as doses de lodo de esgoto proporcionaram aumento na
produção de colmos de cana-de-açucar e a produção
mais alta foi observada quando se aplicou 160 Mg ha1
. A redução da adubação mineral em 50% provocou
aumento de produção de colmos, em relação à adubação mineral completa. Já a aplicação de 80 Mg ha-1
de lodo de esgoto teve efeito semelhante à adubação
mineral completa.
A pesquisa com a utilização de lodo de ETEs, segundo Costa (2001), em mamoeiro é uma abordagem
inédita, principalmente por se tratar de uma cultura
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comercial de grande expressão no Espírito Santo, e
que esta sendo cultivada em solos de tabuleiros que
são, em sua maioria, arenosos, com baixos teores de
matéria orgânica e pobres em nutrientes. A diferença
visual na coloração das folhas (mais verdes), devido
ao nitrogênio presente no lodo de esgoto, e o crescimento das plantas em relação às outras testemunhas
que não receberam concentrações variáveis de biossólidos foi significativo.
Berton et al. (2005) elaborou projetos do uso de
biossólido em bananicultura no Vale do Ribeira e em
plantações de pupunha no litoral norte do Estado de
São Paulo no período de 2001 a 2004 e para ambas as
culturas mesmo com doses elevadas de biossólido, não
foram observados fatores negativos nem na qualidade
nem no crescimento e desenvolvimento das plantas.
Bettiol (2002) afirma que o lodo de esgoto é utilizado como fertilizante em culturas de cana de açúcar,
milho, feijão, sorgo, soja, arroz, girassol e eucalipto. Por
ser rico em matéria orgânica, reduz a quantidade de
fungos causadores de pragas. Porém, o lodo não deve
ser usado em hortaliças e tubérculos, pois as culturas
teriam contato direto com o material aplicado.
Comparini (2005), apresentou o “case” do biossólido chamado SABESFERTIL, produzido na ETE – Franca
e que obteve registro no Ministério da Agricultura e
do Abastecimento sob o nº SP – 09599 00001 – 0, em
29 de outubro de 1999, como condicionador de solo.
Toda a atual produção do SABESFERTIL é utilizada
em culturas de café (92%), milho e citrus nas cidades
de Franca, Pedregulho, Ribeirão Corrente, Patrocínio
Paulista, Restinga, Cristais Paulista, Jeriquara, Itirapuã
e São João da Boa Vista.
Também temos informações de que o lodo desidratado na ETE de Jundiaí esta sendo utilizado em
plantações de cana de açúcar na região de Capivari/
SP, com muito sucesso, pois como sabemos o mesmo
é rico em nitrogênio e fósforo, elementos essências
para um bom desenvolvimento das plantações.
McCann (2002) revela que outros países além dos
Estados Unidos e Europa estão preocupados com o
que eles chamam de “Sludge: a global concern”, ou
seja, lodo de esgoto uma preocupação global, visando
sua utilização, relegando a um segundo plano os devidos cuidados legais na utilização dos mesmos.
Saneas
23
artigo técnico
O artigo apresenta exemplos bem sucedidos no Brasil, Egito, Yemen, Taiwan e Turquia, no que diz respeito à
utilização deste produto em culturas agrícolas, mas alerta para a necessidade do controle dos metais pesados.
Análises das amostras devem ser constantemente coletadas para determinarmos macronutrientes e
principalmente evitar que metais pesados como Arsênio, Cádmio, Chumbo, Mercúrio, Níquel, Selênio, Cromo e Zinco, tenham parâmetros superiores aos limites
de concentração de lodo permitidos para aplicação
por mg/kg segundo a Standars for the Use and Disposal of Sewage Sludge e NSSS – Pesquisa Nacional de
Lodos de ETE nos EUA.
O CONAMA através de suas resoluções 380 de 31
de outubro de 2006 que retifica a resolução CONAMA
nº375/06 – Define critérios e procedimentos para o
uso agrícola de lodos de esgoto gerados em estações
de tratamento de esgoto sanitário e seus produtos
derivados, e da outras providências.
2. Escolha das mudas
Entre as espécies de mudas florestais nativas
existentes no viveiro, foi escolhida a de pau-viola ou
Cytharexyllum myrianthum (Foto 1), da família ver-
Foto 1 -Mudas de Cytharexyllum myrianthum ( pau-viola).
Fonte: Próprio autor, (2004).
24
Saneas
benácea, que é uma espécie pioneira de pleno sol e
crescimento rápido, que possibilitou um ensaio em
curto espaço de tempo.
A Cytharexyllum myrianthum, também conhecida,
segundo Lorenzi (2002), como pau-viola, tucaneiro
(SC), pau-de-viola (SP), tucaneira, jacareúba, bagade-tucano, pombeiro, tarumã e tarumã-branco.
3. Desenvolvimento do ensaio e
seus substratos
3.1. Biossólidos
A proposta deste projeto baseia-se em um subproduto do lodo obtido por intermédio de um processo de secagem térmica, produzido no secador térmico
existente dentro da Estação de Tratamento de Esgoto
de São Miguel - SM que transforma a torta de lodo
proveniente da Estação de Tratamento de Esgoto de
Barueri – BAR, com aproximadamente 30% de material sólido (MS), em pellets, (Foto 2) com circunferência média de 4 a 6 mm e MS em torno de 95%.
A capacidade atual de produção de pellets da ETESM é da ordem de 20 t/dia.
Foto 2 - Detalhe dos pellets de biossólido com diâmetro de 4 a 6
mm. Fonte: Próprio autor, (2005).
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artigo técnico
3.2 Terra de subsolo
Terra de subsolo também chamada de terra de barranco, muito utilizada nos viveiros de mudas da companhia, proveniente da região de Atibaia/SP cujas análises
das características físicas e químicas foram executadas
3.3 Húmus de minhoca
Húmus de minhoca, rico em micronutrientes é
conhecido como um dos mais antigos adubos de
origem orgânica, utilizado na agricultura para melhorar as características do solo para o desenvolvimento das plantas.
3.4 Dados meteorológicos
Segundo Minami (1995) as condições ambientais afetam as funções fisiológicas até a formação
folhas e podem inibir ou reduzir o pleno funcionamento das mesmas.
Dados levantados das médias mensais das temperaturas do ar, referentes ao ano de 2004, período
do experimento, foram obtidos junto a Estação Meteorológica da Universidade de São Paulo, no Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas, Seção Técnica de Serviços Meteorológicos,
localizada no bairro Água Funda na zona sul de São
Paulo, ponto este o mais próximo do local do ensaio
em situado em Cotia.
3.5 Tratos culturais das mudas
As mudas foram dispostas aleatoriamente nos
canteiros a pleno sol e irrigadas através de microaspersores diariamente, até atingir a capacidade de
campo. As plantas daninhas foram eliminadas manualmente, através da monda e eliminação das folhas
basais senescentes (toalete) a cada 2 meses. As pragas foram controladas através da aplicação em pulverização de defensivos agrícolas. Para evitar danos
às mudas numa eventual geada, tomou-se o cuidados de cobrir os canteiros com filmes transparentes
de polietileno, nas noites de maior probabilidade de
ocorrência do fenômeno.
3.6 Composição dos substratos
Foram formulados seis substratos considerando
o uso do biossólido, terra de subsolo – TS e húmus
de minhoca, sendo, que se constituíram nos seguintes tratamentos:
Tratamento 1 (T1) composto por 97,5% de terra
Foto 3 - Vista dos tratamentos de 1 a 6.
Fonte: Próprio autor,
(2004).
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artigo técnico
Figura 4.
Médias observadas em função do tempo para as variáveis (comprimento raiz, diâmetro caule, altura da planta, massa seca da raiz, massa
seca da folha, massa seca do caule, massa seca da parte aérea da planta e massa seca total), para cada tratamento, na espécie Cytharexyllum myrianthum, IPT, São Paulo, SP.
Sendo:
T1- composto por 97,5% de terra de subsolo (TS), 2,5% de húmus de minhoca, correção do pH e adubação.
T2 -, 25% de biossólido – BIO, (em forma de pellets, a 95% de material sólido – MS) e 75% de TS;
T3 -, 50% de BIO e 50% de TS;
T4 - 75% de BIO e 25% de TS;
T5 – terra de subsolo (TS); e
T6 - 50% de húmus e 50% TS.
de subsolo (TS), 2,5% de húmus de minhoca, correção do pH e adubação.
Obs: Segundo a formulação de Raij et al. (1997),
fez-se a correção de pH do substrato do T1 com aplicação de 110 g de calcário dolomítico com PRNT de
100% e incorporação de 35 g de cloreto de potássio e 77 g de superfosfato simples para cada 0,2 m3
terra de subsolo.
Tratamento 2 (T2), 25% de biossólido – BIO, (em
forma de pellets, a 95% de material sólido – MS) e
75% de TS;
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Saneas
Tratamento 3 (T3), 50% de BIO e 50% de TS;
Tratamento 4 (T4), 75% de BIO e 25% de TS;
Tratamento 5 (T5), só utilizando TS; e
Tratamento 6 – T6, 50% de húmus e 50% TS.
Em cada tratamento foram utilizadas mudas de
pau-viola, provenientes da estufa nº 1, existente no
viveiro, onde foram semeadas em bandejas de poliestireno com 128 células piramidais, contento o substrato comercial marca Plantmax Florestal.
O experimento teve início em 14/05/2003, com
mudas de aproximadamente 5 meses de idade. Foram
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artigo técnico
transplantadas em saquinhos plásticos de polietileno
de cor preta com dimensões de 20 cm de altura e 12
cm de diâmetro e capacidade de 1 L.
Estes recipientes foram distribuídos em um canteiro, composto de 40 mudas de pau-vióla, Cytharexyllum myrianthum.
A seguir as plantas foram separadas em 6 tratamentos enfileirados com os seguintes cuidados
quanto à manutenção:
■■ canteiros posicionados a pleno sol;
■■ irrigação diária;
■■ controle manual de plantas daninhas (monda);
■■ aplicação de defensivos adequados para controle
de pragas;
■■ dança das plantas e “toalete” a cada 2 meses; e
■■ quando necessário, cobertura das plantas com telado para prevenir danos contra geada.
Segundo Mantovi, Baldoni e Toberi (2004), os efeitos dos usos de esgoto a longo prazo em comparação
com o fertilizante mineral, comprova que o biossóliodo traz maiores benefícios mas pode causar efeitos
negativos na qualidade da água devido as grandes
quantidades de P e na constituição do solo com a
acumulação de Zn.
Por sua vez o trabalho de Oliver; McLaughin e Merrington (2004), trazem os estudos comparativos dos
elementos presentes nos biossólidos utilizados ao redor das grandes cidades australianas, durante dezoito
anos de 1983 a 2001, que apresentaram melhoras significativas nas concentrações de metais pesados, com
reduções de até 60% devido a melhora na qualidade
dos efluentes das industrias, graças a uma política de
indústrias mais limpas que poluem menos.
4.Discussões finais
De acordo com as observações experimentais e as
análises dos resultados obtidos, podem ser apresentadas as seguintes conclusões e recomendações:
■■ O lodo de esgoto ou biossólido (BIO), de acordo com
os resultados de campo e laboratoriais, finalizados
com os ensaios de massa seca, dos tratamentos T3
(50% BIO + 50% TS) e T4 (75% BIO + 25% TS), que
mostrou um potencial positivo e promissor como
a melhor alternativa a substituição dos fertilizantes comerciais, agrícolas/florestais para a espécie
Cytharexyllum myrianthum.
■■ O uso de biossólido em viveiros de mudas e áreas
de reflorestamento é uma alternativa viável a disposição final de lodos, desde que sejam tomadas
todas as medidas legais exigidas.
■■ São recomendáveis a elaboração de novos estudos,
com outras espécies de plantas nativas, para confirmar a total eficácia do substrato em questão. Além
de uma ampla divulgação dos seus resultados perante a sociedade científica, governo e a comunidade,
disseminando o uso do biossólido, um resíduo sólido
que se tornou uma matéria prima de alta qualidade,
um fertilizante ecologicamente correto.
■■ Os substratos com as menores produções em todas
as variáveis consideradas foram aqueles formulados somente com subsolo (T5) e subsolo com correção e adubação (T1).
■■ Os substratos que apresentaram os melhores resultados, foram aqueles formulados com biossólidos
nas proporções de 25% de biossólido com 75% de
terra de subsolo, 50% de biossólido com 50% de
terra de subsolo e o com 75% de biossólido com
25% de terra de subsolo.
Embora neste trabalho não tenha sido executado
um ensaio da viabilidade econômica do produto, Trigueiro e Guerrini (2003), no seu estudo comentam que
quando comparando as quantidades de adubo utilizadas nos tratamentos com biossólidos e com o substrato comercial Multiplant para a produção das mudas,
obteve-se uma economia de fertilizantes da ordem de
64% para o eucalipto e 12,5% para o pinus quando
as mudas foram produzidas com biossolidos. Sugere-se
maiores estudos sobre a disponibilização dos nutrientes
contidos no biossólido, de forma a se atender as reais
necessidades das plantas durante sua fase de viveiro,
para que, assim, possam ser estabelecidos índices ainda
maiores de economia de fertilizantes. Este, talvez, seja
o maior atrativo ao usar biossólido como componente
em substratos para produção de mudas, sem considerar
o enorme benefício ambiental.
Segundo Dias (1998), o uso de biossólido na agricultura brasileira requer uma regulamentação para
seu uso, de maneira similar como é feito, nos Estados
Unidos e Comunidade Européia. Como esses produtos
são fertilizantes orgânicos excelentes, a regulamentação visando proteção ambiental, não precisa abordar
os biossólidos sob esse prisma, visto que tais produtos, submetem a legislação específica do Ministério da
Agricultura. Por outro lado resta a questão dos metais
pesados, patógenos, transporte e outras questões específica ao assunto. A melhor alternativa parece ser a
consulta a modelos de regulamentação adotada em
países desenvolvidos, que tem décadas de experiência,
complementada pela experiência brasileira.
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5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
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Artigo técnico
COMPOSTAGEM ATRAVÉS DE LEIRAS REVOLVIDAS
DA ETE LIMOEIRO/PRESIDENTE PRUDENTE COMO
ALTERNATIVA DE TRATAMENTO DO LODO
Marcelo Kenji Miki (1)
Engenheiro civil pela Escola Politécnica da USP/EPUSP e Mestre em Engenharia Hidráulica pela e Sanitária
pela EPUSP. Engenheiro do Departamento de Controle Sanitário Ambiental/ROA da Diretoria de Sistemas
Regionais - R.
Júlio Chizzolini Júnior
Engenheiro civil do Setor de Produção de Água e Tratamento de Esgotos de Presidente Prudente/RBRP9, responsável pela operação da ETE Limoeiro em Presidente Prudente.
Fernando Carvalho Oliveira
Engenheiro agrônomo, Mestre e Doutor pela ESALQ/USP.
Jonas Jacob Chiaradia
Engenheiro agrônomo, Mestre pela Universidade Federal de Lavras/UFLA e Doutor pela ESALQ/USP.
Endereço(1): Av. do Estado, nº 561, Unidade ROA, Prédio 3 - Bairro Bom Retiro - São Paulo - SP - CEP: 01107900 - Brasil - Tel: +55 (11) 3388-7497 - Fax: +55 (11) 3388-7477 - e-mail: [email protected]
INTRODUÇÃO
A ETE Limoeiro, localizada no município de Presidente Prudente, foi inaugurada em 2004 e desde então vem buscando soluções relativas ao lodo.
A questão do tratamento e disposição final do
lodo não foi devidamente equacionada. O atual tratamento do lodo através de estabilização com cal resulta num produto muito fluido e de difícil manipulação. Para que o lodo seja manipulável, são necessárias
novas extensões de área para realizar esta secagem
adicional e que não foram previstas em projeto.
Devido a esta falha na técnica com a calagem,
vários esforços vêm sendo realizados de forma a se
estudar a compostagem como alternativa de tratamento do lodo para disposição final agrícola.
Este estudo veio somar estes esforços de forma a
aprofundar na questão de parâmetros operacionais e
de projeto, de forma a subsidiar o processo de escolha
de alternativas de tratamento de lodo.
1 OBJETIVO
Avaliar a compostagem como alternativa de tratamento do lodo da ETE Limoeiro, tomando como parâmetro de comparação o método atual de calagem.
28
Saneas
Esta avaliação foi feita com base em resultados
de ensaios piloto com o lodo da ETE Limoeiro em
campo experimental.
2 ALTERNATIVAS DE DISPOSIÇÃO FINAL
DO LODO DE ETE
A disposição final do lodo de ETE é uma tarefa freqüentemente desprezada na etapa de planejamento
e a sua devida adequação só é feita na etapa operação propriamente dita, levando a muitas dificuldades
logísticas. Antigamente na etapa de projeto de uma
ETE, a solução de disposição final do lodo limitava-se
a uma flecha e um caminhão.
Sabe-se hoje que a fase sólida de uma ETE é responsável por 40% dos custos de investimento, 50% dos
custos operacionais e 90% dos problemas operacionais,
conforme VESILIND (1980) apud SPELLMAN (1997).
A dificuldade da definição da disposição final esbarra
também na dificuldade de se prever a qualidade do lodo
e a inexistência de caracterização deste lodo, não sendo
possível checar a possibilidade de disposição agrícola.
Desta forma, a primeira opção a ser levada em conta na etapa de projeto para disposição final do lodo
deveria ser a utilização de aterro sanitário. Sabe-se, no
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Artigo técnico
entanto, que muitos municípios do Estado de São Paulo
não possuem aterros sanitários, o que inviabilizaria esta
alternativa. Caberia desta maneira a adoção de aterros
exclusivos para resolver a solução do problema de lodos
na fase inicial de operação da ETE. Em segunda etapa,
buscar-se-iam soluções que privilegiassem a reutilização, como por exemplo, o uso agrícola.
Para o problema de lodo da ETE Limoeiro, a etapa
de curto prazo escolhida foi a implantação do aterro
exclusivo de lodo. Em paralelo, estuda-se a viabilidade
técnica e econômica de utilização agrícola do lodo.
Para realizar este uso agrícola, o lodo deve sofrer um
processo de tratamento, que pode ser tanto a compostagem como a estabilização química com cal.
Tanto um tipo de tratamento como outro dependem ainda de estudos mais aprofundados para tornálo operacional.
Este estudo procurou aprofundar mais especificamente a compostagem como alternativa de tratamento do lodo para a ETE Limoeiro.
3.1 GENERALIDADES SOBRE
A COMPOSTAGEM
De acordo com GOLUEKE (1977) apud SPINOSA; VESILIND (2001) a compostagem é um método controlado
de decomposição biológica dos componentes orgânicos
do lodo em determinadas condições e cujo produto
final pode ser manipulado, estocado e/ou aplicado ao
solo sem afetar de forma adversa o meio ambiente.
De acordo com WEF (1996), os principais objetivos
da compostagem são:
■■ Conversão biológica da matéria orgânica putrescível numa forma estabilizada;
■■ Destruição de patógenos. O calor gerado durante
a compostagem resulta numa desinfecção (e não
esterilização) do produto final.
■■ Redução da massa total de lodo através da remoção de água e sólidos voláteis (embora a introdução de um agente estruturante feita para facilitar
o processo de compostagem possa resultar num
volume maior que o original de lodo);
■■ Produção de produto final utilizável.
KROGMANN (2001), autor do capítulo de compostagem de SPINOSA; VESILIND (2001), cita as vantagens e desvantagens deste processo, conforme tabela
3.1. A maior vantagem da compostagem é a obtenção
de um produto final de uso imediato, ou, após esto-
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cagem, ser utilizado como condicionador de solo, ou
como substrato de planta.
Tabela 3.1: Vantagens e desvantagens do processo de compostagem em relação a outros tratamentos de lodo
Vantagens
Desvantagens
Produto final estocável
Necessita de um teor de sólidos do
lodo entre 18 a 30%
Produto final com potencial Necessita agentes estruturantes
para venda
Pode ser combinado com Pode necessitar de grandes áreas
outros processos
Baixos custos comparados Altos custos em comparação com a
com a incineração
aplicação direta no solo
Potencial geração de bioaerosóis
Potencial geração de maus odores
Cabe em primeiro lugar definir certos conceitos
utilizados na agronomia, de modo possibilitar uma
visão mais clara do processo aos profissionais pertencentes a engenharia sanitária.
Os produtos derivados de lodo de ETE (como por
exemplo, lodo compostado e lodo estabilizado com
cal) são categorizados como fertilizantes, de acordo
com a Instrução Normativa/IN nº 23, 31/08/2005,
publicada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento – MAPA.
No artigo 1º, do Anexo I, da IN 23, tem-se a seguinte definição:
■■ fertilizante orgânico: produto de natureza fundamentalmente orgânica, obtido por processo físico,
químico, físico-químico ou bioquímico, natural ou
controlado, a partir de matérias-primas de origem industrial, urbana ou rural, vegetal ou animal, enriquecido ou não de nutrientes minerais;
E mais adiante no inciso d:
■■ lodo de esgoto: fertilizante orgânico composto,
proveniente do sistema de tratamento de esgotos
sanitários, que resulte em produto de utilização
segura na agricultura, atendendo aos limites estabelecidos para contaminantes;
No artigo 2º, do Anexo I, da IN 23, cita-se que os
fertilizantes orgânicos são classificados de acordo com
as matérias primas utilizadas. E no inciso IV temos:
■■ Classe “D”: fertilizante orgânico que, em sua produção,
utiliza qualquer quantidade de matéria-prima oriunda do tratamento de despejos sanitários, resultando
em produto de utilização segura na agricultura.
Saneas
29
Artigo técnico
Antes destas definições, o lodo de esgoto recaía na
definição de corretivo, como foi o caso do registro do
biossólido de Franca, realizado em 1999 e documentado em TSUTIYA (2001). A definição atual de fertilizante
pode dar a falsa idéia de que o lodo de esgoto possui
todos os nutrientes necessários para o desenvolvimento das plantas, erro este que não ocorria quando o lodo
era categorizado como condicionador de solo.
Ainda segundo KROGMANN (2001), os custos de
investimento e de operação podem ser maiores ou
menores que outras formas de tratamento e disposição final. As maiores desvantagens da compostagem
de lodo são o possível aumento de volume devido
ao acréscimo de agentes estruturantes e emissões
de maus odores e bioaerosóis (partículas com bactérias, fungos ou vírus). Devido à adição de agentes
estruturantes, o volume do composto final pode ser
o mesmo ou mesmo maior que o volume original de
lodo. Agentes estruturantes, como o cavaco de madeira, são misturados com o lodo de forma a ajustar
as propriedades da mistura. A adição de um agente
estruturante pode ser cara caso não haja outros resíduos disponíveis, como por exemplo, podas de árvore.
Outra desvantagem da compostagem é a necessidade
de grandes áreas para a sua implantação.
3.2 PROCESSO DE COMPOSTAGEM
Na compostagem, adiciona-se ao lodo um material, conhecido com o nome de agente estruturante.
Na realidade este termo não exprime completamente
a sua função, pois além de proporcionar uma estrutura à mistura com o lodo, este material tem a função
de adicionar carbono para ajustar o balanço de energia e a relação carbono/nitrogênio (C/N).
De acordo com KROGMANN (2001), a compostagem pode processar todos os tipos de lodo. No entanto, a compostagem de um lodo não digerido tem
maiores chances de desprender maus odores do que
a compostagem de um lodo digerido e aproximadamente 40% a mais de área de pátio de processo. Por
outro lado, um lodo não digerido irá produzir muito
mais calor e conseqüentemente um teor de sólidos
final mais alto. Durante o processo de compostagem,
os microorganismos degradam a matéria orgânica do
lodo e, numa menor proporção, do agente estruturante. Os produtos finais da degradação aeróbica são
em sua maioria água, dióxido de carbono, biomassa
(microrganismos) e o composto estabilizado.
30
Saneas
De acordo com METCALF & EDDY (2003), aproximadamente 20 a 30% dos sólidos voláteis são convertidos em dióxido de carbono e água. À medida que
a matéria orgânica no lodo se decompõe, o composto
atinge temperaturas na faixa de pasteurização (50
a 70ºC) e conseqüentemente destruindo os organismos patogênicos. Na compostagem, a destruição de
matéria orgânica em conjunto com a produção de
ácido húmico produz o composto final estabilizado.
Os microorganismos envolvidos recaem em três categorias: bactérias, actinomicetos (particular grupo de
bactérias) e fungos. Embora a inter-relação destas populações microbiológicas não seja totalmente entendida, a atividade bacteriana aparenta ser responsável
pela decomposição de proteínas, lipídios e gorduras
a temperaturas termofílicas, assim como também
pela maior parte do calor gerado. Os fungos e actinomicetos estão também presentes nas fases mesofílica (abaixo de 40ºC) e termofílica (acima de 40ºC)
da compostagem e aparentemente são responsáveis
pela destruição de compostos orgânicos complexos e
a celulose fornecida na forma de agente estruturante.
Durante o processo de compostagem, são observados
3 estágios de atividade a associado à temperatura:
mesofílica, termofílica e maturação conforme ilustrado na figura 3.1. No estágio inicial mesofílico, a
temperatura na pilha de compostagem sobe da temperatura ambiente a aproximadamente 40ºC com o
surgimento de fungos e bactérias produtoras de ácidos. A medida que a temperatura da massa de composto sobe para a região termofílica de 40 a 70 ºC,
estes microrganismos dão lugar às bactérias termofílicas, actinomicetos e fungos termofílicos. É na faixa
termofílica de temperatura que ocorre a máxima degradação e estabilização de matéria orgânica. A fase
de maturação caracteriza-se pela redução da atividade microbiana e a troca dos organismos termofílicos
pelos fungos e bactérias mesofílicas. Durante a fase
de maturação, ocorrerá uma evaporação adicional de
água do composto, assim como o pH se estabilizará e
se completará a formação de ácido húmico.
A descrição do processo de compostagem a seguir
também foi retirada de METCALF & EDDY (2003).
A maior parte das operações de compostagem segue as seguintes etapas: 1) pré-processamento através
da mistura do lodo desidratado com agente estruturante; 2) decomposição a alta taxa através da aeração
da pilha de composto tanto por adição de ar como por
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Artigo técnico
Figura 3.1: Fases durante a compostagem relatadas em função da respiração de dióxido de carbono e temperatura
revolvimento mecânico; 3) recuperação de agente estruturante (no final da decomposição de alta taxa ou
na fase de maturação, se praticável); 4) maturação e
estocagem, que permite uma maior estabilização e
uma diminuição da temperatura do composto; 5) pósprocessamento através de gradeamento para remoção
de material não degradável como metais e plásticos ou
ainda trituração para redução de tamanho e 6) disposição final. Algumas vezes, uma porção do produto final
retorna para a etapa de pré-processamento para condicionar a mistura do composto.
O estágio de decomposição a alta taxa vêm sofrendo melhorias de engenharia e de controle de
processo devido à necessidade de redução de odores,
suprimento de maiores taxas de aeração e manutenção de controle de processo. O processo de maturação
sofre menor atenção da engenharia, menor controle e
também pequena consideração nos projetos. De acordo com HAUG (1993) apud METCALF & EDDY (2003), a
maturação é parte integrante de um projeto de compostagem e da operação, e a produção de um composto bem maturado depende destas considerações.
Os principais métodos de compostagem nos EUA
são classificados como agitado ou estático. No método
agitado, o material a ser compostado é agitado periodicamente para a introdução de oxigênio, para o controle de temperatura e para misturar o material e obter
Janeiro / fevereiro / Março
|
2009
um produto uniforme. No método estático, o material a
ser compostado permanece parado e o ar é succionado
através dele. A leira revolvida é o método mais comum
do tipo agitado, enquanto a pilha estática é o método
mais comum do tipo estático. Também há compostagem
em reatores fechados com registro de propriedade.
De acordo com VESILIND (2003), o termo maturação refere-se à conversão dos componentes rapidamente biodegradáveis do lodo e do agente estruturante em substâncias similares ao húmus do solo
que se decompõe de forma devagar. Um composto
sem a adequada maturação irá se reaquecer e gerar
odores na estocagem sob nova adição de água. Também pode inibir a germinação de sementes através da
geração de ácidos orgânicos e inibir o crescimento de
plantas através da remoção de nitrogênio a medida
que se decompõe.
De acordo com PEREIRA NETO (2000), cita que a
prática do uso de composto não maturado a partir de
lixo doméstico tem levado a compostagem a grande descrédito, pois acreditam, erroneamente, ser este
um problema associado ao uso de composto orgânico proveniente da fração orgânica do lixo urbano.
Na verdade, qualquer composto não maturado leva à
produção de toxinas no solo, o que inibe a germinação
de sementes e atrofia as plântulas, leva à liberação de
amônia (que é tóxica aos vegetais) e pode provocar
Saneas
31
Artigo técnico
uma redução bioquímica do nitrogênio do solo, etc.
Ou seja, o composto não maturado só trará malefícios
aos solos e plantas.
3.3 PARÂMETROS DE PROJETO
DE COMPOSTAGEM COM LEIRAS
REVOLVIDAS
Dentre os sistemas existentes de compostagem,
damos destaque para o sistema de leiras revolvidas
devido à maior experiência prática no Brasil. Foram
realizados alguns testes de leira estática com o lodo
de São José dos Campos, mas os testes não se mostraram promissores devido a grande quantidade de
agente estruturante a ser incorporado.
De acordo com METCALF & EDDY (2003), neste método as leiras são revolvidas e misturadas durante o
período de compostagem. Sob condições típicas operacionais, a leira é revolvida no mínimo 5 vezes enquanto a temperatura é mantida em temperatura igual ou
maior a 55ºC. Numa leira de compostagem, as condições aeróbicas são difíceis de serem mantidas ao longo
da seção da leira. Desta forma, a atividade microbiana
dentro da pilha pode ser aeróbia, facultativa, anaeróbia,
ou várias combinações, dependendo da freqüência de
revolvimento da leira. O revolvimento da leira normalmente é acompanhado do desprendimento de odores.
O desprendimento de maus odores ocorre tipicamente
quando são desenvolvidas condições predominantemente anaeróbias dentro da leira. Para realizar a mistura do lodo com o agente estruturante são necessários
equipamentos especialmente desenvolvidos para esta
função. Em alguns casos, as operações de leira revolvidas são feitas de forma coberta.
Os parâmetros de projeto e de operação para leira
revolvida são apresentados a seguir.
Leiras de 1 a 2 m de altura e 2 a 4,5 m de largura
de base;*
Tempo de detenção de 21 a 28 dias;*
Tempo de cura: 30 dias**,
Revolvimento mínimo de 5 vezes;*
Temperatura acima de 55 º C,*
Teor de sólidos inicial da mistura: 40 a 45%;**
* Fonte: Wastewater engineering, Metcalf and Eddy, 2003.
** Fonte: Wastewater treatment plant design, Vesilind,
WEF, IWA, 2003.
De acordo com WEF (1998) o teor de sólidos inicial
da mistura de lodo com o agente estruturante numa
faixa de 40 a 45%.
32
Saneas
3.4 VARIÁVEIS OPERACIONAIS
As principais variáveis operacionais de um processo de compostagem por leira revolvida são: umidade
resultante, aeração da pilha, temperatura, relação C/N
e pH (faixa ótima entre 7 e 8).
De acordo com KROGMANN (2001), a umidade
é essencial para o processo de decomposição, pois a
maior parte da atividade microbiana ocorre nas finas
camadas de líquido situada sobre a superfície das
partículas. Os microrganismos absorvem os nutrientes dissolvidos oriundo do substrato do composto.
Durante o processo de compostagem, o conteúdo
mínimo de umidade depende das demandas dos microorganismos pela água, onde a máxima umidade
para compostagem é determinada pela competição
entre ar e água nos poros (suprimento de O2). A faixa mínima de umidade requerida para a degradação
microbiológica ocorrer situa-se entre 12 a 25%. De
acordo com a WEF (1995), a umidade inicial da mistura de lodo com agente estruturante deve se situar
entre 55 a 60%.
De acordo com KROGMANN (2001), a aeração,
além de fornecer oxigênio, tem a função de secar o
composto e controlar a temperatura, que pode ser
prejudicial aos microrganismos, caso não for controlada. No começo do processo de compostagem, a
alta taxa de degradação resulta numa alta demanda
de oxigênio comparada com a demanda média. Uma
maior oxigenação pode ser obtida através uma freqüência maior de revolvimento da leira.
De acordo com KROGMANN (2001), a maior parte
dos experimentos concluiu que a temperatura ótima
de compostagem na fase de alta degradação é de
aproximadamente 55ºC. Em temperaturas acima de
60ºC, a diversidade de microrganismos é extremamente reduzida. A 70ºC a atividade microbiológica
total é aproximadamente de 10 -15% da atividade a
60ºC. Já entre 75 a 80ºC, não há atividade biológica
significativa. Durante a maturação, a temperatura é
baixa. Por exemplo, a temperatura ótima para nitrificação ocorre em aproximadamente 30 ºC.
De acordo com KROGMANN (2001), a quantidade
de nutrientes necessários para a compostagem depende da composição química dos microorganismos decompositores e doa elementos adicionais que são envolvidos no metabolismo. Com exceção do nitrogênio,
os resíduos normalmente contém macro-nutrientes o
suficiente incluindo carbono, compostos sulfurosos,
Janeiro / Fevereiro / MArço
|
2009
Artigo técnico
Teor de sólidos do lodo
desidratado (%)
Teor de sólidos do Agente
estruturante (%)
Proporção Volumétrica de agente estruturante / lodo desidratado
Função do Teor de Sólidos do lodo desidratado
16
55
3,3
18
55
3,02
20
55
2,75
22
55
2,47
24
55
2,2
55
1,92
26
Função do Teor de Sólidos do agente estruturante
20
45
8,33
20
50
4,17
20
55
2,75
20
60
2,08
Tabela 3.1: Cálculo da proporção de agente estruturante e lodo desidratado
Premissas:
Teor de sólidos da mistura: 40%
Massa específica da mistura: 978,95 kg/m3
Massa específica do agente estruturante: 474,64 kg/m3
Esta tabela aplica-se para uma pilha estática utilizando-se cavacos de madeira. A extrapolação para maiores teores
de sólidos pode levar a uma insuficiência de material agregante de forma a proporcionar porosidade.
Fonte: WEF (1998)
Resíduo
estruturante
pH
% água
SF/ST (%)
P%
N%
C%
C/N
Resíduos de
podas de árvore
6,9
30
9
0,09
1,1
51
46
Bagaço de cana
de açúcar
3,7
20-40
3
0,1
0,20
47
235
Serragem de
madeira
8,0
30
2
0,50
0,10
49
490
Sabugo de
milho
7,5
10
7
0,30
0,40
46
115
Palha de trigo
7,5
6
5
0,50
0,50
43
86
Cascas de café
5,1
10
5
0,08
1,20
46
38
Tabela 3.2: Características de alguns resíduos vegetais utilizados como agentes estruturantes na compostagem do lodo
Fonte: PROSAB (1999) apud Silva et Fernandes, 1998; Fernandes et Soares, 1992; Fernandes et al, 1988
Parâmetro
Baixo
Médio
Alto
Altura (m)
0,9
1,4
2,1
Base (m)
3,7
4,3
7,0
Volume por comprimento (m3/m)
2,3
3,1
8,8
Relação superfície/volume (m3/m2)
2,6
1,6
0,8
Tabela 3.3: Comparação entre dimensões das leiras e áreas necessárias para a compostagem, pelo sistema de leira reviradas
Fonte: PROSAB (1999) apud Hay et al, 1985.
Janeiro / fevereiro / Março
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2009
Saneas
33
Artigo técnico
enxofre, fósforo, potássio, magnésio, cálcio, e micronutrientes para manter o processo de compostagem.
No começo do processo de compostagem a relação de
C/N deve se situar entre 20:1 a 30:1. Muitas vezes a
relação C/N é negligenciada. Uma relação C/N muito
alta diminui a velocidade de degradação microbiana
e uma relação C/N muito baixa resulta no desprendimento de amônia. O método mais importante de
controle desta relação é através da variação da composição de agente estruturante e lodo.
4 ENSAIOS UTILIZADOS
Para checar os valores citados na literatura, foi
realizado um teste piloto de forma a obter dados
operacionais e assim confrontá-los com os de literatura de forma a poder se estabelecer parâmetros
específicos de projeto para o caso da ETE Limoeiro
de Presidente Prudente.
4.1 LODO
O lodo utilizado foi gerado na ETE Limoeiro do município de Presidente Prudente e cujo fluxograma está
apresentado na figura 4.1. O lodo é do tipo secundário,
gerado no tanque de aeração de um sistema de lodos
ativados. No sistema existente não há decantador primário e nem digestor anaeróbio de lodo. De forma a
tornar o lodo menos agressivo, a ETE está operando
com uma idade de lodo mais alta que a proposta originalmente em projeto, em torno de 18 dias.
Para efeitos de dimensionamento, a produção de
lodo adotada será de 9,2 t em base seca por dia. Este
horizonte refere-se à ampliação de recebimento de
vazão da ETE Limoeiro de 478 L/s prevista para chegar
neste ano de 2008. Foi adotado como regime operacional a idade de lodo de 12 dias.
Adotando-se um teor de sólidos da torta de 16%
e massa específica de 1,1 t/m3, teremos uma produção
de lodo de 57,5 t/dia ou 52,3 m3/dia.
4.2 BAGAÇO DE CANA
O bagaço de cana utilizado possuía as seguintes
características:
Massa específica: 0,2 t/m3
Teor de sólidos: 70%;
4.3 TESTE PILOTO EM JUNDIAÍ DE
SISTEMA DE LEIRAS REVOLVIDAS
A metodologia operacional adotada para a realização do teste de compostagem foi a seguinte.
Estabeleceu-se uma proporção inicial de volumétrica de bagaço/lodo. A proporção inicial adota foi próxima de 1:1, o que levou a anaerobiose após 2 horas.
A segunda proporção volumétrica estabelecida foi de
2:1 e iniciou-se o acompanhamento e monitoramento.
No dia da mistura de lodo com bagaço de cana,
foi revolvida a pilha duas vezes por período (manhã
e tarde).
No 2º dia, a mistura foi revolvida por duas vezes,
uma de manhã e outra no período final da tarde.
Do 3º dia até o 5º dia o composto foi revolvido
apenas uma vez ao dia.
A partir do 6º dia até o 11º dia, o revolvimento foi
feito uma vez por dia em dias alternados.
A partir do 12º dia em seguida, o revolvimento
ocorreu uma vez por semana para deixar maturar.
Figura 4.1: fluxograma da ETE Limoeiro
34
Saneas
Janeiro / Fevereiro / MArço
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2009
Artigo técnico
4.3.1DADOS INICIAIS
■■
a) Caracterização do lodo
Parâmetro
Unidade (1)
pH
Valor
6,9
■■
Umidade, a 60 - 65ºC
% (m/m)
83,9
■■
Sólidos Totais
% (m/m)
16,1
■■
Sólidos Voláteis
% (m/m)
65,8
■■
Carbono orgânico
g de C/kg
386
Nitrogênio Kjeldahl
g de N/kg
48,5
■■
Nitrogênio, amoniacal
mg de N/kg
313
■■
Nitrogênio, nitrato-nitrito
mg de N /kg
11,9
■■
Alumínio
mg de Al/kg
9240
Arsênio
mg de As/kg
<0,5(2)
Bário
mg de Ba/kg
461
Boro
mg de B/kg
10,3
Cádmio
mg de Cd/kg
<0,5(2)
Cálcio
g de Ca/kg
5,2
Chumbo
mg de Pb/kg
4,7
Cobre
mg de Cu/kg
194
Cromo
mg de Cr/kg
572
Enxofre
g de S/kg
9,0
Ferro
mg de Fe/kg
12720
Fósforo
g de P/kg
10,0
Magnésio
g de MG/kg
2,3
Manganês
mg de Mn/kg
78,8
Mercúrio
mg de Hg/kg
<0,5(2)
Molibdênio
mg de Mo/kg
0,8
Níquel
mg de Ni/kg
29,6
Potássio
mg de K/kg
3350
Selênio
mg de Se/kg
<0,5(2)
Sódio
mg de Na/kg
817
Zinco
mg de Zn/kg
534
■■
■■
■■
■■
■■
■■
■■
■■
■■
■■
b) Lodo
massa inicial: 15,5 t;
volume inicial: 14,1 m3
teor de sólidos: 16%;
SF/ST: 34,2%;
massa específica: 1,1 kg/L;
massa seca inicial: 2,5 t;
c) Bagaço de Cana
Características:
massa específica: 0,2 kg/L;
teor de sólidos: 70%
Para proporção aproximada de 1:1
massa total: 3,2 t;
volume: 16 m3;
Janeiro / fevereiro / Março
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2009
massa seca inicial: 2,2 t;
Para esta proporção o teste não deu prosseguimento.
Para proporção aproximada de 1: 2
massa total: 5,2 t;
volume: 26 m3;
massa seca inicial: 3,6 t;
Proporção volumétrica: 26/14,10 = 1,8 bagaço/
lodo;
Proporção em massa: 3 lodo/bagaço;
Proporção em massa seca: 1,4 bagaço/lodo
Leira Resultante de 1,1 de altura com 3,0 m de base,
largura do topo superior de 0,8 m e comprimento
de 16 m, conforme ilustrado na figura 3.2.
4.3.2DADOS FINAIS
■■
■■
■■
■■
■■
tempo de processamento: 30 dias
massa resultante final de composto: 6,576 toneladas (base úmida);
teor de sólidos final: 70%;
massa específica do composto: 0,5 t/m3;
volume final de composto: 13,2 m3;
De forma resumida, apresentamos a seguir a tabela
4.2 com os volumes e massas envolvidas no teste piloto.
Figura 4.2: Seção da leira inicial formada
- Volume da Leira de Composto (Lodo + Bagaço)
(3,0 + 0,8) x (1,10/2) x 16 = 33,4 m3
- Cálculo da massa específica resultante da mistura inicial de lodo
mais bagaço:
Massa total: 15,5 + 5,2 = 20,7 t
Massa específica da mistura inicial: 20,7/33,4 = 0,6 t / m3
Saneas
35
Artigo técnico
Tabela 4.3: Monitoramento de temperatura na leira
Item
Massa espe- Teor de Volume Massa
cífica (t/m3)
Sólidos (m3)
(t)
(%)
Massa
seca (t)
Lodo
1,1
original
16%
14,1
15,5
2,5
Bagaço
d e
cana
0,2
70%
26
5,2
3,6
C o m - 0,6
posto
inicial
30%
33,4
20,7
6,1
C o m - 0,5
posto
final
70%
13,2
6,6
4,6
Tabela 4.2: Quadro resumo de massas e volumes envolvidos
na compostagem
36
Saneas
4.3.3DADOS DE MONITORAMENTO DE
TEMPERATURA
O monitoramento da temperatura da leira foi feito
em três seções e em cada seção em três pontos. Os
dados monitorados estão apresentados na Tabela 4.3.
5 ANÁLISE DOS RESULTADOS
5.1 ATENDIMENTO AOS CRITÉRIOS
DE REDUÇÃO DE ATRATIVIDADE DE
VETORES E REDUÇÃO ADICIONAL DE
PATÓGENOS
A Resolução CONAMA nº 375 (29/08/2006) e sua
respectiva alteração, CONAMA nº 380 (31/10/2006)
estabelecem as condições aceitas de redução adicional de patógenos (necessários para a obtenção de lodos de esgoto ou produto derivado tipo A) e redução
da atratividade de vetores.
Janeiro / Fevereiro / MArço
|
2009
Artigo técnico
Para compostagem por leiras revolvidas têm-se
condições específicas estabelecidas nestas resoluções.
Para a redução de atratividade de vetores, tem-se
a seguinte condição:
“critério 5 - relacionado à compostagem ou outro
processo aeróbio: durante o processo, a temperatura
deve ser mantida acima de 40º C por pelo menos 14
dias. A temperatura média durante este período deve
ser maior que 45°C”.
Para a redução adicional de patógenos, tem-se a
seguinte condição:
“compostagem confinada ou em leiras aeradas
(3 dias a 55ºC no mínimo) ou com revolvimento das
leiras (15 dias a 55ºC no mínimo, com revolvimento
mecânico da leira durante pelo menos 5 dias ao longo
dos 15 do processo);
O critério de redução de atratividade de vetores
foi atendido através da constatação de uma temperatura média na leira acima de 45ºC do 2º ao 26º dia
durante 25 dias.
O critério de redução de adicional de patógenos
foi atendido através da constatação de uma temperatura média na leira acima de 45ºC do 3º ao 22º dia
durante 20 dias.
A fase mesofílica (acima de 40 ºC) foi extremamente rápida, ocorrendo em menos de 12 horas da montagem da leira. Até o fim do experimento a temperatura
permaneceu na fase termofílica (acima de 40ºC).
Desta forma, o processo adotado atendeu aos critérios estabelecidos pela Resolução CONAMA.
Um aspecto que merece ser levantado refere-se à
ênfase dada a questão de higienização do composto
pela Resolução nº 375 (29/08/2006) e a total ausência
de requisito operacional na questão de maturação do
composto. Se for levada em conta apenas a etapa de
higienização, a demanda de área será menor em relação à demanda conjunta de higienização e maturação. No entanto esta demanda não chega a ser o dobro da área, conforme vai ser calculado mais a frente.
Na fase de maturação, parte da matéria orgânica já
terá sido convertida em gás carbônico, diminuindose o volume e as pilhas podem ser feitas com alturas
bem maiores que as da fase de higienização.
5.2 CHECAGEM DA PROPORÇÃO C/N
A relação C/N deve ficar entre 20 a 30%. A checagem foi feita tanto para a proporção volumétrica
(lodo/bagaço) inicial de 1: 1 como de 1: 2.
Janeiro / fevereiro / Março
|
2009
a) proporção volumétrica aproximada de 1: 1
Lodo: C = 38,60%; N = 4,85%
Bagaço de Cana: C = 45,30%; N = 0,30%;
Massa seca de lodo (t) = 16% x 15,5 t = 2,5 t
Massa seca de bagaço de cana (t) = 70% x 3,2 = 2,2 t
C/N = (2,5 x 38,60% + 2,2 x 45,30%) / (2,5 x 4,85%
+ 2,2 x 0,30%) = 15
Ou seja, a proporção de 1:1 não atendeu ao critério C/N.
b) proporção volumétrica aproximada de 1 (lodo):2
(bagaço)
Massa seca de lodo (t) = 16% x 15,5 t = 2,5 t
Massa seca de bagaço de cana (t) = 70% x 5,2 = 3,6 t
C/N = (2,5x 38,60% + 3,6 x 45,30%) / (2,5 x 4,85%
+ 3,6 x 0,30%) = 20
O valor de C/N de 20% foi bem no limite inferior
da faixa recomendável. Podemos considerar aceito,
pois a operação foi satisfatória com relação à temperatura atingida na leira.
Outra questão interessante a ser abordada é a
influência do teor de sólidos na proporção C/N, para
uma mesma proporção volumétrica de bagaço/lodo.
Caso a fase de desidratação de lodo apresentasse
valores maiores ou menores que o desempenho atual de 16% de teor de sólidos da centrífuga, podemos
calcular, para uma mesma proporção volumétrica de
bagaço/lodo, os diferentes valores de C/N.
Podemos observar que a relação C/N fica prejudicada quanto maior for o teor de sólidos do lodo original.
Ou seja, quanto maior o teor de sólidos do lodo original,
maior será a dosagem de bagaço de cana em proporção
volumétrica, de modo a preservar a relação C/N.
Por outro deve-se ressaltar que há um limite operacional do baixo teor de sólidos do lodo de forma a
resultar numa pilha com aeração. Para o teor de sólidos
de 16% foi ainda possível montar uma pilha aerada.
5.3 CHECAGEM DO TEOR DE
SÓLIDOS DA MISTURA INICIAL DE
LODO DESIDRATADO + AGENTE
ESTRUTURANTE
O teor de sólidos da mistura resultante deve ser
entre 55 e 65%. A checagem também foi feita tanto
para a proporção volumétrica (lodo/bagaço) inicial de
1: 1 como de 1: 2.
a) proporção volumétrica aproximada de 1: 1
massa inicial de lodo: 15,5 t
massa seca de lodo: 2,5 t
Saneas
37
Artigo técnico
teor de sólidos do lodo: 16%
massa de bagaço: 3,2 t
massa seca de bagaço: 2,2 t
teor de sólidos do bagaço: 70%
massa total de lodo e bagaço: 18,7 t
massa seca de lodo e bagaço: 4,7 t
teor de sólidos da mistura de lodo e bagaço: 4,7/18,7
= 25%
Não atendeu ao critério de teor de sólidos entre 45 a 40.
b) proporção volumétrica aproximada de 1: 2
massa inicial de lodo: 15,5 t
massa seca de lodo: 2,5 t
teor de sólidos do lodo: 16%
massa de bagaço: 5,2 t
massa seca de bagaço: 3,6 t
teor de sólidos do bagaço: 70%
massa total de lodo e bagaço: 15,5 + 5,2 = 20,7 t
massa seca de lodo e bagaço: 2,5 + 3,6 = 6,1 t
teor de sólidos da mistura de lodo e bagaço: 6,1/20,7
= 29%
De acordo com o critério de umidade, o teor de
sólidos da mistura de 29% não atendeu a faixa recomendada de teor de sólidos entre 45 a 40%. No
entanto, este teor de sólidos baixo não prejudicou o
processo de compostagem e possibilitou uma estrutura na pilha com a criação de poros suficientes para
permitir a aeração. Isto foi devido ao tipo de agente
estruturante utilizado (bagaço de cana), bem como do
adequado ajuste da máquina de revolvimento de leira
e sua adequada operação.
Podemos considerar, para este caso, que a relação
C/N seria o fator mais limitante que a o teor de sólidos
da mistura inicial resultante.
5.4 AUMENTO OU DIMINUIÇÃO
DO VOLUME E DA MASSA NA
COMPOSTAGEM
Desconsiderando a ocorrência de mudanças significativas de massa e volume na fase de maturação,
podemos analisar os dados somente nesta fase de higienização a favor da segurança.
O processo de compostagem apesar de incorporar uma significativa parcela de sólidos secos ao lodo,
não leva necessariamente a um aumento de volume
ou de massa no produto final. Durante o processo de
compostagem, ocorrem simultaneamente a perda de
água (ou umidade) e de sólidos através da digestão da
matéria orgânica com geração de gás carbônico.
38
Saneas
Cabe observar que este balanço de massa foi específico para o lodo da ETE Limoeiro, que é um lodo
do tipo secundário e digerido de forma precária. Este
tipo de lodo é um dos mais difíceis de manipulação
de processo. A alta proporção de SV/ST do lodo da
ETE Limoeiro de 65,8% tem como conseqüência uma
desidratação de lodo menos eficiente devido a alta
proporção de água intra-celular. Esta estabilização
deficiente também gera problemas de alta atração de
vetores e odores, levando à necessidade de uma estabilização deste lodo.
Por outro lado esta mesma deficiência de estabilização favoreceu a alta reatividade do lodo com o
bagaço de cana, levando-se a atingir altas temperaturas num curto espaço de tempo, significativa perda de
massa em base seca e grande perda de umidade.
6 AVALIAÇÃO DE CUSTOS
OPERACIONAIS E DE INVESTIMENTO
Neste item iremos avaliar os custos operacionais e
de investimento para a alternativa de compostagem e
de estabilização com cal.
6.1 INVESTIMENTOS NECESSÁRIOS
PARA COMPOSTAGEM
Para a leira inicial admitiremos as mesmas dimensões obtidas no teste piloto, ou seja, altura de 1,10 m,
base de 3,0 m e topo com largura de 0,8 m. Admitiremos que cada leira terá 200 m.
- Comprimento da leira: 200 m;
- Volume total de 1 leira: (3,0 + 0,8)/2 * 1,10 * 200 =
418 m3 por leira;
- áreas de borda: 10 m cabeceira;
- teor de sólidos do lodo: 16%;
- produção de lodo: 57,5 t/dia ou 52,3 m3/dia;
- Proporção volumétrica de bagaço de cana por lodo
desidratado: 2;
- teor de umidade do bagaço de cana: 30% (ou 70%
de teor de sólidos);
- massa específica do bagaço de cana: 200 kg/m3;
- tempo de compostagem/higienização: 28 dias;
- Bagaço de cana: C = 45,30%; N = 0,30%;
- Lodo: C = 38,60%; N = 4,85%;
- tempo de maturação: 28 dias;
- Produção semanal de lodo: 7 x 52,3 m3/dia = 366,1
m3/semana x 1,1 t/m3 = 402,71 t/semana;
- Necessidade semanal de bagaço de cana: 2 x 366,1
m3 = 732,2 m3/semana;
Janeiro / Fevereiro / MArço
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2009
Artigo técnico
- Massa semanal de bagaço: 732,2 m3 x 0,2 t/m3 =
146,4 t/semana;
- Adotando-se a massa específica da mistura inicial
igual a 0,6 t/m3, tem-se:
Massa total inicial de lodo e bagaço por semana:
402,71 + 146,4 = 549,11 t por semana
Volume total inicial de lodo mais bagaço por semana:
549,11/ 0,6 = 915,18 m3
915,18/418 = 2,2 leiras por semana ou aproximadamente 2 leiras por semana
Área Coberta para etapa de higienização da
compostagem
Comprimento: 200 m;
Largura: 8*3,0m + 7*0,5 = 27,5 m
Área total: 200 x 27,5 = 5500 m2;
Como as coberturas são modulares, escolheremos
um tipo de módulo de forma a determinar a quantidade de módulos.
Módulo (200 m)
Módulos de: 12,8 m de largura x 5,2 m altura livre e
200 m de comprimento;
Para a compostagem adotaremos inicialmente 4 módulos de 200 m de comprimento.
Módulos de: 12,8 m de largura x 5,2 m altura livre e
200 m de comprimento;
Largura total do pátio: 4 x 12,8 m = 51,2 m
Largura necessária para etapa de higienização: 8 pilhas x 3,0 m por pilha + 7 entre pilhas x 0,5 m entre
pilhas = 27,5 m
Durante o processo de compostagem ao longo de
28 dias, irá ocorrer a transformação da matéria orgânica do lodo em gás carbônico e água. Assumindo que
ocorrerá uma redução de volume igual ao que ocorreu no experimento piloto, teremos um novo volume
final para maturação:
- Volume inicial de lodo + bagaço de cana por semana: 798,7 m3
- Redução de 40% em volume;
- Volume final de lodo + bagaço de cana por semana:
319,5 m3
- Volume final de lodo + bagaço de cana em 4 semanas: 1278 m3
Considerando uma pilha de maturação com base
de 12m, base menor de 3,2 m, altura de 4,4 m e 200
m de comprimento teremos:
- volume da pilha de maturação: (12+3,2) x (4,4/2) x
200 = 6688 m3;
Janeiro / fevereiro / Março
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2009
- volume final do composto calculado de 1278 m3;
- como há um volume sobrando devido a incorporação
de mais 1 módulo, podemos utilizar esta área excedente
para aumentar o período de maturação ou ainda utilizar
esta área para estocar agente estruturante.
Para 4 módulos a largura total é de:
L = 12,8m x 4 unidades = 51,2 m;
L1 = largura necessária para higienização = 8 x 3 + 7
x 0,5 = 27,5 m;
L2 = largura necessária para maturação = 12 m;
Espaço entre L1 e L2 = 0,5 m;
Borda Lateral = 51,2 -27,5 – 12 – 0,5 = 11,2 m ou
5,6m de cada lado;
Cobertura do pátio de compostagem: R$ 67 / m2
Área útil de m2 = 200 x 4 x 12,8 = 10.240 m2
Custo de cobertura: 10.240 m2 x R$67/m2 = R$
686.080
Para a operação das máquinas e dos caminhões,
necessita-se uma borda lateral. Para as extremidades
superior e inferior, recomenda-se uma borda de 10,0
m e para as faixas laterais uma borda de 7,0 m.
Também se necessita prever uma área de estocagem para o bagaço de cana, o que pode ser uma faixa
lateral de 200 m por 15 m, totalizando 2500 mm2.
6.2 CUSTOS DE AGENTE ESTRUTURANTE
E DE TRANSPORTE FINAL PARA
COMPOSTAGEM
Produção diária de lodo: 57,5 t/dia ou 52,3 m3/dia;
Necessidade diária de bagaço de cana: 2 x 52,3 =
104,6 m3/dia ou 21 t/dia;
Adotando-se uma redução aproximada de 15% em
relação ao volume original de lodo temos:
Volume de composto: 0,85 x 52,3 = 44,5 m3/dia x 30
= 1335 m3/mês
Massa específica do composto = 0,5 t/m3;
Massa de composto: 667,5 t/mês
Conforme levantamentos preliminares na região de
Presidente Prudente, o preço do bagaço de cana é de
R$ 15/m3.
O custo diário de bagaço de cana será de:
Custo diário de bagaço de cana: 104,6 m3 x R$ 15/m3
= R$ 1569/dia
Custo mensal de bagaço de cana =R$ 47.070/mês
Foi feito um levantamento do custo de transporte
do composto para uma propriedade localizada a 60
km da ETE. O preço de mercado para o transporte de
Saneas
39
Artigo técnico
composto com uma massa específica de 0,5 t/m3 é de
R$ 0,20/km.m3. Para uma distância de 60 km resulta
em R$ 12/m3 de composto.
O custo diário de transporte de composto será de:
Custo diário de transporte de composto: 1335 m3/
mês x R$12/ m3 = R$ 16.020/mês.
6.3 CUSTO DE DOSAGEM E
TRANSPORTE FINAL DA
ESTABILIZAÇÃO COM CAL
Produção diária de lodo: 57,5 t/dia ou 52,3 m3/dia;
Produção diária de lodo em massa seca: 16% x 57,5 t/
dia = 9,2 t/dia
Dosagem de 40% de cal;
Pureza da cal: 90%
Preço da cal: R$ 0,37/kg
Teor de sólidos final após 60 dias: 50%
Massa específica após 60 dias: 1,2 t/m3
Massa diária de cal utilizada: 9,2 t x 40% = 3,7 t de
cal pura = 4,1 t de cal/dia
Massa seca total inicial: 9,2 t + 4,1 t = 13,3 t/dia
Custo diário da cal: 4,1 t/dia x R$370/t = R$ 1517 por
dia = R$ 45.510 por mês
Transporte diário de lodo + cal
Massa final após 60 dias a 20%, conforme PEGORINI
ET AL( 2006): 13,3/0,20 = 66,5 toneladas por dia ou
1995 t/mês ou 1813 m3/mês
O custo de transporte de lodo até uma propriedade agrícola é de R$ 0,42/m3 km, conforme último
contrato estabelecido na ETE Limoeiro. Para uma propriedade localizada a uma distância de 60 km, teremos um preço de R$ 25,20/m3.
Custo do transporte por mês:
= 1813 m3/mês x R$25,20/m3 = R$ 45.687,60
por mês
6.4 INVESTIMENTO PARA
REVOLVIMENTO DO LODO COM CAL
Para tornar o lodo manipulável necessita-se dispor este lodo em estufa e provocar periodicamente
um revolvimento.
Foi feito uma tentativa de revolver o lodo com
cal através do equipamento enleirador. Ao se dispor
o lodo no pátio, o lodo apresentou uma consistência muito fluida e com extrema dificuldade de formar
pilhas. A lâmina de lodo formada foi extremamente
baixa, demandando muita área para manipulação.
40
Saneas
Uma possível explicação para a ocorrência deste
lodo extremamente fluido pode ser dada à reação de
um material extremamente úmido com uma grande
quantidade de cal, o que poderia levar à incorporação
de uma grande quantidade de gases devido a reação
exotérmica. Ou seja, a fluidez do lodo calado seria inicialmente devido a quantidade de gases dissolvidos
na massa de lodo mais cal.
Esta fluidez excessiva dificulta a manipulação deste
lodo da ETE Limoeiro. Há a necessidade de se pesquisar
novas formas de tornar este lodo mais manipulável.
Uma alternativa de curto prazo para o pós-tratamento do lodo com cal é a disposição temporária
no aterro exclusivo de resíduos da ETE Limoeiro (em
forma de lagoas), de forma a permitir a um aumento
no teor de sólidos e torná-lo mais manipulável.
Apesar de, na prática, não se conseguir realizar
este revolvimento com o equipamento enleirador, iremos adotar uma espessura de lodo no pátio de 30 cm
para efeitos comparativos. O tempo de detenção a ser
adotado será de 60 dias.
De acordo com o IAP a área necessária para estocagem de lodo deve ser dimensionada em função da
capacidade de empilhamento do material. Podem ser
utilizados como parâmetros de projeto:
■■ Para biossólidos que tenham “comportamento semelhante ao de sólidos” (teor de ST igual ou superior a 40%): 1,50 a 0,80 m3 de biossólidos/m2 de
área de armazenagem;
■■ Para biossólidos na forma pastosa (teor de ST superior a 10% e inferior a 30%) recomenda-se 0,80
a 0,40 m3 de biossólidos / m2 de pátio;
■■ Para os “biossólidos mais líquidos” (teor de ST <
10%) o projeto deverá definir especificamente a
forma de armazenagem a ser adotada.
Desta forma a área necessária será de:
- teor de sólidos inicial da mistura lodo + cal: = (13,3)/
(57,5+4,1) = 21,5%;
- Massa inicial de lodo + cal: (57,5 + 4,1) = 61,6 t/dia;
- Volume inicial de lodo + cal: (61,6/1,1) = 56 m3/dia;
- área necessária: (56 m3/dia) x 60 dias/0,30 m = 11.200
m2;
Custo estimativo do pátio de calagem:. 11.200 m2
x R$ 67 / m2 = R$750.400;
Janeiro / Fevereiro / MArço
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2009
Artigo técnico
6.5 CUSTOS OPERACIONAIS
DOS EQUIPAMENTOS
Não foi possível a obtenção dos custos operacionais de equipamentos para as operações de revolvimento do lodo para compostagem e para a calagem.
A operação dos equipamentos para compostagem
está bem dominada quanto à questão operacional,
devido à realização dos testes piloto. Já o revolvimento do lodo com cal, ainda permanecem sérias dúvidas
quanto a sua operação devido à falta de dados práticos e confiáveis.
A hipótese que iremos adotar é de que ambos os
custos estejam na mesma ordem de grandeza, não
prevalecendo nem uma nem outra solução.
Para efeitos de estimativa iremos adotar um preço
de R$ 30.000/mês para o enleirador e o revolvedor do
lodo com cal.
Este preço é aproximadamente uma vez e meia o
preço de aluguel de um trator com pá carregadeira,
que hoje está em R$ 20.000/mês.
6.6 CUSTOS OPERACIONAIS DE
TRANSPORTE INTERNO
Para calcular os custos operacionais de transporte
interno, devemos retornar aos volumes originais de
lodo produzido na desidratação e o lodo imediatamente estabilizado com cal. O transporte interno refere-se
ao transporte do lodo gerado na desidratação até o
pátio de compostagem ou de secagem adicional. No
caso da estabilização com cal, há uma incorporação
de massa logo após a desidratação neste local.
O transporte do local de desidratação até o pátio
coberto deverá ser feito com os caminhões do tipo toco,
que possuem uma capacidade volumétrica de m3.
Para a compostagem o volume a ser considerado
no transporte interno será o próprio volume original
de lodo produzido. Ou seja, o volume será de 52,3 m3/
dia ou 1569 m3/mês.
Na Sabesp, o preço de transporte interno está em
R$1,43/m3 para uma distância de 150 m e de R$ 5,11/
m3 para uma distância de 1500 m. A distância aproximada entre a desidratação de lodo e o pátio de manejo de lodo para compostagem ou secagem adicional
é de 500 m.
Fazendo-se uma interpolação chegamos no preço
de R$ 2,38/m3. Para efeitos de cálculo iremos considerar um preço de R$ 2,50/m3.
Janeiro / fevereiro / Março
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2009
Custo total do transporte interno para compostagem = R$ 2,50/m3 x 1569 m3/mês = R$3922,50 /mês
Para a estabilização com cal, o volume a ser considerado será o do lodo original produzido mais a dosagem de cal. Para efeitos de cálculo, iremos adotar que
o teor de sólidos após a dosagem de cal irá passar de
16% para 21,5 % e não haverá alteração significativa
de massa específica.
Dosagem de 40% de cal;
Pureza da cal: 90%
Teor de sólidos imediatamente após a dosagem:
21,5%
Massa específica após dosagem: 1,1 t/m3
Massa diária de cal utilizada: 9,2 t x 40% = 3,68 t de
cal pura = 4,1 t de cal/dia
Massa inicial de lodo + cal: (57,5 + 4,1) = 61,6 t/
dia;
Produção diária de lodo: 56 m3/dia ou 1680 m3/mês;
Custo total do transporte interno para calagem = R$
2,50/m3 x 1680 m3/mês = R$4200/mês
6.7 CUSTOS DE MONITORAMENTO
Produção mensal de composto: 667,5 t/mês
Teor de sólidos do composto de 70%
Produção de composto em base seca: 467,25 t/mês
ou 5607 t/ano
Produção mensal de lodo estabilizado com cal: 1995
t/mês ou 1813 m3/mês
Teor de sólidos do lodo estabilizado com cal de 20%
Produção de lodo estabilizado com cal em base seca:
399 t/mês ou 4788 t/ano
Tanto para um caso como para outro, a produção
de lodo de esgoto ou produto derivado se situará na
faixa de monitoramento bimestral estabelecida no
Art. 10 da Resolução CONAMA nº 375 (29/08/2006).
O monitoramento do lodo deve incluir os seguintes aspectos:
- potencial agronômico;
- substâncias inorgânicas e orgânicas potencialmente
tóxicas;
- indicadores bacteriológicos e agentes patogênicos;
- estabilidade.
Para o monitoramento do solo, para a produção
estimada da ETE Limoeiro prevemos uma quantidade
aproximada de 10 amostras por ano, o que totalizaria
um custo de R$37.550/ano.
Saneas
41
Artigo técnico
6.7 RESUMO DE CUSTOS
Para o horizonte de projeto de Q = 478 L/s
(2008), temos:
- produção original de lodo: 57,5 t/dia ou 53,5 m3/dia,
com 16% de teor de sólidos;
Na tabela 6.8 a seguir apresentamos um resumo
dos custos para posterior discussão.
7 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Para o caso da ETE Limoeiro de Presidente Prudente, a compostagem apresentou vantagens econômicas em relação à estabilização com cal.
Para a cobertura do pátio, não houve uma diferença significativa de praticamente o dobro do preço
de investimento da alternativa da estabilização da cal
sobre a compostagem. Há ainda o problema de não se
saber se esta cobertura seria o suficiente para realizar
a secagem adicional do lodo com cal, devido à falta de
parâmetros de projeto confiáveis.
Tendo em conta uma possível deficiência de argumentação devido a falta de uma informação técnica,
podemos comparar os outros custos de forma a buscar outros embasamentos.
Com relação aos transportes do produto final, quer
seja interno como externo, a compostagem também
apresentou vantagens. O custo de transporte total
(interno e externo) para compostagem resultou em
R$ 19.942,50 por mês e para a estabilização com cal
resultou em R$ 49.887,6 por mês, ou seja, o transporte de lodo com cal representou 2,5 vezes o transporte
de composto.
Já em relação ao custo de agentes adicionados (cal
e bagaço de cana), não houve diferença significativa.
Os outros custos foram iguais, como monitoramento de lodo, solo, e aluguel de equipamentos.
Esta vantagem da compostagem sobre a calagem
para o caso da ETE Limoeiro foi influenciada pela questão geográfica favorável, próximo a centros produtores
de bagaço de cana e centros receptadores do composto
e também devido ao tipo de lodo produzido. O lodo
do tipo secundário resulta numa desidratação com alta
umidade e uma proporção alta de SV/ST, favorecendo
que se alcance altas temperaturas por um longo período e conseqüentemente significativa perda de massa.
A metodologia adotada para dimensionamento do
pátio de compostagem baseou-se nos resultados práticos obtidos em escala piloto e devidamente otimizados, com o menor consumo de agente estruturante.
42
Saneas
Há outros fatores de difícil estimativa, mas que
merecem ser citados de forma a embasar a solução
adotada de compostagem para a ETE Limoeiro.
A compostagem descrita para a ETE Limoeiro ainda
é passível de uma otimização operacional. Por exemplo,
na questão do transporte do composto até a propriedade agrícola, pode-se vislumbrar uma possível eliminação deste custo, a exemplo do que ocorreu com
o emblemático caso de Franca, aonde os agricultores
vinham até a ETE para buscar o lodo para as plantações
de café. Como o composto possui um valor agregado
maior, esta é uma possibilidade bem factível.
Ainda em relação ao transporte, a própria carreta
que leva o bagaço de cana poderia ser aproveitada
para levar o composto já produzido para a propriedade
agrícola. Pelo menos em 50% das viagens de bagaço
de cana até a ETE, estaria aberta esta possibilidade de
aproveitamento de viagens, pois a proporção de bagaço
de cana para lodo original é de 2:1. Nas estimativas de
cálculo, por segurança não se considerou este cenário,
devido à necessidade de um acerto logístico.
Em relação à aplicação agrícola há várias implicações logísticas a seguir listadas entre a adoção do
composto versus o lodo estabilizado com cal. O composto apresenta uma condição bem mais favorável de
manipulação, sendo perfeitamente assimilado pelos
implementos agrícolas disponíveis. Já o lodo estabilizado com cal esta utilização ainda é incerta, sendo
necessário o desenvolvimento de implementos agrícolas. Na ETE Belém do Paraná, a companhia de saneamento foi obrigada a comprar equipamentos para
se fazer a disposição agrícola do lodo estabilizado
com cal. Esta facilidade de manipulação do composto
favorece ainda mais a atratividade deste produto, de
forma a potencializar que o agricultor venha a buscar
o composto na própria ETE.
A utilização de um lodo estabilizado com cal também poderia limitar a aplicação numa determinada
área agrícola devido à maciça contribuição de cálcio no
solo. Isto poderia levar a ampliar as extensões de terra
para disposição final em relação à compostagem.
8 RECOMENDAÇÕES E CONCLUSÕES
Para a realização de um projeto de compostagem
recomenda-se, sempre que possível, a realização de
ensaios piloto com o lodo existente ou similar ao que
vai ser produzido na ETE conjuntamente com o agente estruturante da região. Isto possibilitará a execução
Janeiro / Fevereiro / MArço
|
2009
Artigo técnico
de um projeto com dados mais próximos da realidade
e evitará potenciais ociosidades ou limitações.
Deve-se observar que na fase de maturação alguns aspectos levam a um dimensionamento do pátio
diferente na fase de higienização, dos quais podemos
citar: menor volume de composto nesta fase devido
à conversão da matéria orgânica em gás carbônico e
água; teor de sólidos do composto mais alto devido ao
aumento da temperatura no interior da pilhar; alturas
maiores da pilha de maturação devido às propriedades do composto mais seco. Optou-se por incluir explicitamente a fase de maturação de forma a garantir
a viabilidade até a disposição final no solo propriamente dita. Caso o dimensionamento do processo
de compostagem se limitasse tão somente ao atendimento da legislação, a fase de maturação poderia
ser descartada, pois a ênfase presente na lei refere-se
à higienização do composto. Cabe recomendar ainda
qual seria o tempo mínimo de maturação adequado
de forma a não prejudicar o solo devido a liberação de
substâncias deletérias e conseqüentemente diminuir
o tamanho do galpão e custos operacionais.
A montagem inicial da leira mostrou-se crítica no
processo, pois a partir daí que se criam condições para
o desenvolvimento dos microrganismos responsáveis
pela degradação da matéria orgânica. Para que isto
ocorra é necessário que se criem condições de porosidade suficiente na leira de modo a torná-la predominantemente aeróbia. Uma umidade excessiva da mistura de lodo e agente estruturante pode inviabilizar
estas condições aeróbias. Outros fatores operacionais
que influenciam este desenvolvimento aeróbio inicial
são referentes ao equipamento enleirador. Para o caso
do teste piloto realizado, o equipamento enleirador
utilizado foi objeto de vários ajustes e possibilitou a
execução de uma leira adequada. Outra consideração
importante nesta fase inicial refere-se a um maior
número de revolvimentos do equipamento enleirador
na mistura inicial, propiciando uma estrutura devidamente porosa que permitiu a sua aeração.
O processo de compostagem apesar de incorporar uma significativa parcela de sólidos secos ao lodo,
não leva necessariamente a um aumento de volume
ou de massa no produto final. Para o estudo realizado
houve uma redução de 58% de massa em relação a
quantidade original de lodo.
Uma das maiores críticas em relação à compostagem refere-se à geração de maus odores, ocasio-
Janeiro / fevereiro / Março
|
2009
nados principalmente devido a falhas operacionais.
PEREIRA NETO (2000), relatou que um dos principais
entraves na operação de usinas de compostagem de
lixo no país é a falta de mão de obra capacitada e
raramente encontra-se coordenando uma usina de
compostagem, pessoas especializadas ou treinadas
para tal função. Recomenda-se que a operação de
compostagem seja devidamente coordenada por um
profissional treinado e capacitado, caso este tipo de
tratamento seja o escolhido para a ETE Limoeiro.
O agente estruturante escolhido para a compostagem do lodo da ETE Limoeiro foi o bagaço de cana.
Este material ainda é considerado resíduo em muitas
regiões, no entanto, há indícios de que algumas usinas
vêm desenvolvendo tecnologias de reaproveitamento
deste bagaço de cana para geração de energia elétrica.
Recomenda-se sempre a busca permanente de outros
agentes estruturantes de forma a tornar a solução dependente de uma única matéria prima. Pode-se recomendar, por exemplo, a utilização de podas de árvores
oriundas do trabalho das prefeituras municipais como
agente estruturante. Para isto tornar-se operacional,
deve-se disponibilizar uma máquina trituradora para
tornar as podas de árvores em agente estruturante.
Os agentes estruturantes utilizados em compostagem são gerados de forma sazonal. Por outro lado a
produção de lodo é contínua e dificilmente pode ser
acumulada por muitos meses. É muito difícil estimar
a compatibilização entre a demanda e a oferta, devido
a esta sazonalidade e também devido a possibilidade
de se trabalhar com diferentes agentes estruturantes.
Esta sazonalidade pode levar a custos operacionais
flutuantes. A prática desta compostagem poderá fornecer subsídios locais para checar se esta viabilidade
econômica se sustentará.
As características do lodo da ETE Limoeiro de alta
umidade e de alta proporção de SV/ST tornaram a
compostagem uma alternativa interessante de tratamento do lodo. Uma recomendação que pode ser derivada das observações deste trabalho é checar num
sistema de lodos ativados convencional (decantador
primário, tanque de aeração, decantador secundário
e digestor anaeróbio de lodo), a influência de “bypass” do lodo secundário nos digestores. Este lodo
secundário seria então misturado ao lodo primário
(que permaneceria um tempo maior de degradação
no digestor anaeróbio de lodo) e seguiria daí para a
desidratação. Acredita-se que estes sólidos voláteis do
Saneas
43
Artigo técnico
lodo secundário favoreceriam o desenvolvimento de
bactérias termofílicas na compostagem e conseqüentemente favorecendo a destruição de organismos patogênicos. No entanto, deveria se fazer a checagem
das dosagens de agente estruturante em função do
teor de sólidos da torta resultante da mistura de um
lodo secundário com o lodo primário digerido. E partir
daí fazer o balanço econômico de uma possível vantagem econômica.
Independente de a solução ser de estabilização
com cal ou compostagem é necessário a instalação
de um galpão de processamento de lodo. Para o caso
da ETE Limoeiro, o galpão de compostagem resultou
numa menor área, sendo a opção adotada para o
tratamento do lodo.
Apesar da compostagem para ETE Limoeiro ser
mais atraente, recomenda-se um desenvolvimento
técnico em escala real para tornar o lodo estabilizado
com cal mais manipulável. Uma alternativa de curto
prazo para o pós-tratamento do lodo com cal é a disposição temporária no aterro exclusivo de resíduos da
ETE Limoeiro (em forma de lagoas), de forma a permi-
tir a um aumento no teor de sólidos e torná-lo mais
manipulável. Recomenda-se realizar este tipo de póstratamento de lodo com cal e checar as condições de
secagem adicional, bem como estudar formas de se
retirar o lodo destas lagoas de forma a não comprometer a integridade física das lagoas, principalmente
o fundo com impermeabilização. Desta forma haveria
uma flexibilidade operacional de se trabalhar com um
material ou outro, e não se criar uma dependência
para uma única solução.
A solução de tratamento de lodo através da compostagem possui o atrativo ambiental de se dar um
destino adequado para 2 tipos de resíduos (lodo e
agente estruturante). Já a estabilização de lodo com cal,
utiliza-se um material nobre para realizar o tratamento
do resíduo/lodo. Deste ponto de vista, a estabilização
com cal é menos atrativa do que a compostagem. Na
compostagem, o processo de mistura de 2 resíduos leva
necessariamente a uma diminuição na massa final. Já
na estabilização com cal, o que ocorre de fato é um
aumento na massa final de resíduos.
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O presente trabalho foi desenvolvido com o objetivo de avaliar a possibilidade e a eficiência de remoção
de fósforo do efluente de um sistema convencional
de lodos ativados (Estação de Tratamento de Esgotos
de Barueri) pelo lodo de uma estação de tratamento
de água, que utiliza sulfato de alumínio como coagulante (Estação de Tratamento de Água do Alto Cotia).
Para o desenvolvimento prático da pesquisa, foram
realizados testes de bancada, variando o tempo de
permanência do lodo nos decantadores, a dosagem
de lodo, o pH da mistura, o tempo de contato e o
tempo de sedimentação. Os ensaios foram realizados
com lodo sem e com polímero. Obteve-se até 100%
de remoção de fósforo solúvel (concentração inicial
de 2,9 mg P/L), em pH de 4,5 a 6,5 com dosagem de 37
mg lodo/L, tempo de mistura de 15 minutos a 40 s-1
de gradiente, tempo de sedimentação de 30 minutos,
tempo de permanência do lodo no decantador de 80
dias, sem polímero. Nestas condições, a concentração
de fósforo do efluente tratado foi de 0,01mg P/L. Os
resultados obtidos no presente trabalho sinalizam
uma alternativa tecnológica, que pode vir a ser utilizada em projetos sustentáveis, em que as estações
de tratamento de esgotos e estações de tratamento
de água sejam planejadas de forma integrada, con-
Janeiro / fevereiro / Março
|
2009
siderando o reaproveitamento e encaminhamento
do lodo de ETA como insumo a ser utilizado no fim
do processo de tratamento de esgotos para remoção
de fósforo do efluente final, em consonância com os
conceitos de produção mais limpa.
1. INTRODUÇÃO
A importância da remoção de nutrientes no tratamento de esgotos fundamenta-se na proteção
à qualidade das águas de rios e reservatórios e por
conseqüência, à biota delas dependente. Os nutrientes, principalmente nitrogênio e fósforo, por constituírem-se em complemento nutricional usado pelos
organismos aquáticos, são capazes de desencadear o
fenômeno da eutrofização, caracterizado pelo crescimento excessivo de plantas aquáticas e proliferação
de organismos com predominância de grupos algais,
que causam graves conseqüências para o meio ambiente e à saúde pública.
O fósforo é considerado como o nutriente de maior
importância nos fenômenos de eutrofização e têm
sido o foco de atenções para a melhoria da qualidade
dos corpos d’água, pois este elemento é considerado
fator limitante ao desencadeamento das florações de
algas, uma vez que, sendo fornecido por fontes iden-
Saneas
45
Artigo técnico
tificáveis, naturais ou principalmente artificiais, pode
melhor ser controlado, enquanto que o nitrogênio,
como pode ser metabolizado por algumas espécies de
algas a partir do ar atmosférico, é de difícil controle
(THOMANN; MUELLER, 1987, CARMICAEL et al 2001;
CHORUS & BARTRAM,1999; HOSPER, 1998; MAASDAM, et al 1998; MOSS, 1998; REEDERS et al, 1998;
VAN DUI et al,1998; WHO, 2003).
As conseqüências da eutrofização, para as empresas de saneamento básico, resultam em elevados custos operacionais, tanto para a adequação da água de
abastecimento como para a resolução de problemas
nas estações de tratamento de água (ETAs), decorrentes das florações de algas.
Alguns problemas operacionais detectados na
operação de tratamento de águas de mananciais eutrofizados referem-se à maior ocorrência de entupimento dos filtros e a conseqüente necessidade de aumento de lavagens e de utilização de carvão ativado
para remoção de gosto e odor; pré-cloração devido
às maiores concentrações de matéria orgânica, o que
leva à formação de compostos precursores de trihalometanos - uma séria ameaça à saúde pública, por
suas características carcinogênicas (MAASDAM, et
al 1998; MOSS, 1998; HOSPER, 1998; REEDERS et al,
1998; VAN DUI et al,1998; TUNDISI, 2005).
Segundo Agujaro (2002), os problemas desencadeados com a eutrofização dos corpos hídricos pelo
lançamento de nutrientes, levam à proliferação e predominância de grupos algais tóxicos, como o das cianobactérias. Apresenta-se na Figura 1 uma foto ilustrativa de um trecho da represa Billings eutrofizado.
Figura 1 – Foto Aérea da Represa Billings - Braço do Rio Grande
46
Saneas
O problema torna-se especialmente preocupante,
em face da potencialidade de produção e liberação
de substâncias tóxicas destes organismos ao meio,
com graves conseqüências para o meio ambiente e
à saúde pública.
Algumas destas cianotoxinas ocasionam a morte
de mamíferos por parada respiratória após poucos
minutos de exposição, e têm sido identificadas como
alcalóides ou organofosforados neurotóxicos. Outras
atuam com menor velocidade e são identificadas
como peptídeos ou alcalóides hepatotóxicos (CRUZ et
al, 2002). Estas toxinas são de difícil remoção e por
sua característica de persistência, podem estar presentes na água mesmo após tratamento, o que pode
agravar seus efeitos crônicos, reduzindo a qualidade e
as possibilidades de usos (MORITA, 2004).
Com base nesses conceitos, a remoção de fósforo
de efluentes de estações de tratamento de esgotos
deve ser avaliada à luz de soluções tecnológicas e
economicamente viáveis para o enfrentamento dos
problemas ambientais, tanto em relação à disposição
do lodo de estação de tratamento de água (ETA) como
do lançamento de esgotos tratados.
O meio científico reconhece as vantagens da remoção biológica de fósforo em relação ao tratamento físico-químico (EKAMA, G.A.et al 1984; WENTZEL,
M.C et al 1990, 1991; EL-BESTAWY, E et al 2005; VAN
HANDEL ; MARAIS 1999). No entanto, se por um lado,
o primeiro é considerado o melhor método em relação aos custos/benefícios, por outro lado, no descarte
de lodo de estações de tratamento de água ETA são
desprezadas toneladas de produtos químicos, que poderiam ser recicladas e utilizadas como insumo para
remoção de fósforo por tratamento físico-químico,
com vantagens econômicas, já que os lodos gerados
em ETAS têm elevado potencial para remoção de fósforo por adsorção, próprio de sua composição química baseada em óxidos e hidróxidos de ferro e alumínio e de sua estrutura amorfa, uma característica que
aumenta a área superficial dos sais de alumínio em
comparação com a forma cristalina. De modo geral,
os pesquisadores têm considerado que os processos
de retenção de fósforo englobam os mecanismos de
adsorção e precipitação, sendo os óxidos e hidróxidos
de alumínio e de ferro os principais responsáveis por
esses processos. (STUM, 1992; BASTA, 1996; GALLIMORE et al., 1999; ELLIOT et al 2002; REIS, 2002).
Dessa forma, essa pesquisa teve por objetivo avaliar a possibilidade técnica de utilização de lodo de
ETA para remover fósforo do efluente final de estações de tratamento de esgoto (ETE), e apresentar uma
contribuição que possa vir a ser utilizada em projetos
Janeiro / Fevereiro / MArço
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2009
Artigo técnico
futuros, de forma que esse subproduto das ETAs entre
na ETE no fim do processo secundário, como insumo
para remoção de fósforo do efluente final, em consonância com os conceitos de produção mais limpa.
2 – OBJETIVOS
A presente pesquisa foi desenvolvida tendo por
objetivo avaliar a possibilidade de remoção de fósforo
do efluente de um sistema de tratamento biológico
de esgotos convencional por lodos ativados pelo lodo
de uma estação de tratamento de água, que utiliza
sulfato de alumínio como coagulante;
3 – MATERIAIS E MÉTODOS
Para o desenvolvimento prático da pesquisa, empregou-se o lodo da Estação de Tratamento Convencional de Água do Alto Cotia, que utiliza sulfato de
alumínio como coagulante, e o efluente da ETE Barueri, sistema convencional de lodos ativados, ambas
localizadas na Região Metropolitana de São Paulo
(RMSP), Brasil.
O lodo da ETA foi caracterizado segundo os seguintes parâmetros: pH, fósforo solúvel e total, sólidos
totais, alumínio, cádmio, chumbo, cobre, mercúrio e
zinco. A coleta com amostrador de fundo, a preservação das amostras e as técnicas analíticas empregadas
foram as preconizadas no APHA; AWWA; WEF (2002).
Além das análises físico-químicas, foram realizados
ensaios de difratometria e fluorescência de raios-X
no Laboratório de Caracterização Mineralógica do
Departamento de Engenharia de Minas e Petróleo da
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.
No primeiro ensaio, a amostra de lodo, seca a 103
± 2oC até peso constante, foi quarteada para obtenção de uma fração de aproximadamente 20 g. Em seguida, foi reduzida granulometricamente para aproximadamente mesh 200 (74 m) e uma alíquota entre 1
a 3 g foi compactada em uma cavidade de 27 mm de
diâmetro por 2,5 mm de profundidade de um suporte
metálico. Posteriormente, foi introduzida no difratômetro marca Philips, modelo MPD 1.880. A identificação das fases cristalinas foi feita por comparação do
difratograma da amostra com o banco de dados do
ICDD – International Centre for Diffraction Data.
A metodologia do ensaio de fluorescência de
raios-X incluiu as etapas de secagem e quarteamento
da amostra para obtenção de uma fração de aproximadamente 50 g; redução granulométrica para aproximadamente mesh 400 (37 m); compactação do pó
em prensa de 20 t e introdução da amostra compactada no equipamento de fluorescência de raios-X.
Para a caracterização do efluente da ETE, foram
Janeiro / fevereiro / Março
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2009
realizadas análises para a determinação dos seguintes
parâmetros: DBO, fósforo total e solúvel, cádmio, chumbo, cobre, cromo, ferro total e solúvel, manganês total,
mercúrio, zinco, série nitrogenada, sulfato e sulfeto.
As amostras foram compostas de 24 horas e coletadas com amostrador automático, preservadas
e analisadas seguindo os procedimentos do APHA;
AWWA; WEF (2002). Após a caracterização do lodo
e do efluente, foram realizados testes de jarros para
avaliação da remoção de fósforo. Para estes ensaios,
foram adicionadas dosagens variadas de lodo nos jarros de dois litros de volume útil (figura 2), ajustados
os valores de pH, misturados os conteúdos a 40 s-1
de gradiente durante diferentes tempos de mistura e
deixados em repouso para sedimentação. Decorridos
os tempos pré-estabelecidos de sedimentação, foram
coletadas amostras dos sobrenadantes e determinadas as concentrações de fósforo solúvel, através
do método do ácido ascórbico, constante no APHA;
AWWA; WEF (2002)
As condições operacionais avaliadas foram:
Figura 2 – Fotografia do equipamento do jar test utilizado nos
ensaios de remoção de fósforo com lodo de ETA
· Dosagens de lodo: 27, 29, 37, 39, 40, 52, 63, 65,
73, 80, 91, 100, 103, 109, 180, 213 mg/L;
· pH: 4,0 a 7,0;
· tempo de permanência do lodo no decantador
da ETA: 7, 14, 21, 30, 40, 44, 80, 94 dias;
· tempo de mistura: 15, 30, 240 minutos;
· tempo de sedimentação: 15, 30, 60, 240 minutos.
· Gradiente de velocidade: a 40 s-1
Os testes foram feitos com lodo com e sem polímero.
Saneas
47
Artigo técnico
4. RESULTADOS
4.1 CARACTERÍSTICAS DO LODO DA
ETA DO ALTO COTIA
Os resultados obtidos na caracterização das amostras de lodo dos decantadores da ETA do Alto Cotia
são mostrados na tabela 4-1. Estes foram comparados
com as características dos lodos de outras estações de
tratamento de água brasileiras, que utilizam o sulfato
de alumínio como coagulante.
Dos resultados mostrados na tabela 4-1, verifica-se que há uma ampla faixa de variação para
cada parâmetro.
Segundo AWWA (1990), esta característica está
relacionada à operação da ETA e às características
da água bruta, que variam sazonalmente, tendo sido
verificados que nos períodos de chuvas, os parâmetros de controle de qualidade de água, como turbidez, apresentam elevados valores, relacionados com
o escoamento superficial. Em conseqüência, são utilizadas maiores dosagens de sulfato de alumínio, que
repercute em elevadas faixas de valores para vários
parâmetros, sobressaindo-se o alumínio e os sólidos.
Nesses períodos de chuva, é acrescentado ao tratamento, polímero aniônico como auxiliar de floculação, que também contribui para diferenças nas características do lodo. Durante o período de estiagem,
a qualidade da água, em relação à turbidez, melhora
significativamente e, em conseqüência, são utilizadas
menores dosagens de produtos químicos.
Em relação ao fósforo, as grandes variações podem
ser decorrentes do tempo de permanência do lodo no
decantador na época da amostragem, a exemplo das
concentrações de fósforo total encontradas no lodo
de 2 a 20 mg/L, que correspondem a lodos com idades
de 45 e 150 dias, respectivamente.
A difração de raios X mostrou que os minerais presentes no lodo da ETA são: a caulinita, o quartzo e a
gibbsita. A fluorescência indicou a predominância de
Al2O3, Fe2O3 e SiO2. Estas características influenciam
na absorção do fósforo no lodo.
4.2 – CARACTERÍSTICAS DO
EFLUENTE FINAL DA ETE BARUERI
Na Tabela 4-2, são mostrados os valores médios dos
diversos parâmetros determinados no efluente final da
ETE Barueri no período da investigação experimental.
De acordo com a tabela 4 -2, nitratos, nitritos, sulfatos e sulfetos, presentes no efluente da ETE Barueri,
poderiam competir com o fósforo solúvel pelos sítios
ativos do lodo da ETA, conforme mencionado por
Stumm (1992). Entretanto, Urano; Tachikawa (1991)
concluíram que esta influência só acontece em elevadas concentrações de sulfato e nitrato.
Tabela 4-1
Características físico-químicas do lodo da ETA Alto Cotia e
comparação com os valores encontrados na revisão bibliográfica.
Parâmetros
Unidade
ETA Alto Cotia(1) (2005)
Dados de literatura(2)
pH
U pH
5,8 a 6,1
5,8 a 7,6
Sólidos Totais
mg/L
1.114 a 25.826
1.100 a 81.575
Alumínio
mgAl/kg
40.000 a 63.689
1.700 a 171.769
Cádmio
mgCd/L
0,01 a 0,02
0,01 a 0,14
Chumbo
mgPb/L
<0,01
0,50 a 2,66
Cobre
mgCu/L
0,1 a 0,7
0,06 a 2,06
Mercúrio
(µgHg/L)
0,6 a 1,3
0,10 a 1,30
Zinco
mgZn/L
0,1 a 0,9
0,10 a 4,25
Fósforo Total
mgP/L
2 a 20
2 a 34
Fósforo Solúvel
mgP/L
0,01 a 6,0
0,01 a 6,0
(1) Média das análises realizadas em 2005
(2) Cordeiro (1993); Andrade (2005).
48
Saneas
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2009
Artigo técnico
Tabela 4-3 – Resultados dos ensaios de remoção de fósforo solúvel do efluente da ETE Barueri, com
diferentes dosagens de lodo de ETA e diversas condições operacionais
Dosagem
de lodo
(mg/L)
Tempo de permanência do lodo no
decantador (dias)
Tempo de mistura
(minutos)
Tempo de
sedimentação
(minutos)
Presença de
polímero no lodo
Melhores valores de pH
obtidos por batelada de
ensaios
Máxima % de
remoção de fósforo
27
40
15
30
SIM
5,0
17
29
94
30
30
SIM
6,0; 7,0
21
37
80
15
15
NÃO
4,5; 5,0; 5,5
99
37
80
15
30
NÃO
4,5; 5,0; 5,5; 6,5
100
37
80
15
60
NÃO
4,5; 5,0; 5,5; 6,5
100
37
80
15
240
NÃO
4,5; 5,0; 5,5; 6,5
100
37
80
30
15
NÃO
4,5; 6,5
71
37
80
30
30
NÃO
4,5; 5,0; 5,5; 6,0
69
37
80
30
60
NÃO
5,0
70
37
80
30
240
NÃO
5,0
72
40
40
15
30
SIM
4,0
15
39
94
30
30
SIM
4,0; 5,0; 6,0
16
52
94
15
30
NÃO
6,0
56
52
94
30
30
SIM
7,0
29
52
40
15
30
SIM
7,0
23
63
94
30
30
SIM
7,0
45
65
40
15
30
SIM
5,0
85
73
94
30
30
SIM
7,0
46
80
40
15
30
SIM
6,0
57
91
40
15
30
SIM
6,0
77
100
7
30
30
NÃO
4,0
19
100
14
30
30
NÃO
4,0
24
100
21
30
30
NÃO
4,0
26
100
30
30
30
NÃO
4,0
46
100
44
30
30
NÃO
4,0
66
100
44
240
30
NÃO
4,0
100
103
40
15
30
SIM
7,0
56
109
94
30
30
SIM
7,0
44
180
94
30
30
SIM
6,0; 7,0
51
213
94
30
30
SIM
5,0; 6,0;7,0
78
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2009
Saneas
49
Artigo técnico
Tabela 4-2
Características do esgoto bruto e efluente tratado
da ETE Barueri no período estudado
Parâmetro
Afluente
Efluente
298
53
Fósforo total
7
3
Cádmio (µg Cd/L)
6
4
Chumbo (µg Pb/L)
20
10
Cobre total (µg Cu/L)
166
39
Cromo6+ (µg Cr6+/L)
5
2
Ferro total (mg Fe/L)
4,4
0,6
Ferro Solúvel (µg Fe/L)
450
120
Manganês total (µg Mn/L)
103
60
2
1
Zinco (µg Zn/L)
470
112
NTK (mg N/L)
59
20
Nitrogênio amoniacal
(mg N-NH3/L)
45
18
Nitrato (µg N-NO3-/L)
32
5740
Nitrito (µg N-NO2 -/L)
29
2300
Sulfato (mg SO42-/L)
66
56
Sulfeto (mg S2-/L)
5
2
DBO
Mercúrio (µg Hg/L)
Cornwell et al (1987) verificaram reduções de
43% na concentração de fósforo em uma ETE após
o lançamento de lodo de ETA, que utilizava sulfato
de alumínio como coagulante primário. Neste experimento, realizado em escala real, o lodo foi lançado
diretamente na entrada de uma ETE, onde o fósforo está presente tanto na forma solúvel quanto na
forma orgânica. Os pesquisadores observaram que a
concentração de fósforo total diminuiu de 7 para 4
mgP/L. Provavelmente, esta redução se deve à parcela
solúvel e não à orgânica.
Segundo Galarneau e Gehr (1999), no Canadá, a
maioria das estações de tratamento de esgotos remove
fósforo por tratamento físico químico com sulfato de
alumínio e cloreto férrico. Devido ao fato de que várias
ETEs no Quebec recebem lodo de ETA para tratamento
conjunto com os esgotos domésticos e industriais, têm
sido verificado, em algumas destas estações, que os padrões de lançamento para fósforo têm sido atendidos,
sem adição de produtos químicos ou melhoria no tratamento biológico para remoção de fósforo.
Harri et al (2003), em experimento realizado em
ETEs na Suécia, observaram aumento dos níveis de
reduções de fósforo de 47 % para 57%, após recebimento de lodo de ETA na ETE, apesar de não ter ficado
totalmente esclarecido se esse aumento na remoção
era devido exclusivamente ao lodo de ETA ou a efeitos
remanescentes de uma aplicação anterior de sulfato
férrico em dosagens elevadas.
5. CONCLUSÕES
4.3 – REMOÇÃO DE FÓSFORO DO
EFLUENTE DA ETE PELO LODO DA ETA
Foram realizados 180 testes, visando otimizar as
condições operacionais de forma a se obter as melhores eficiências de remoção de fósforo. Na Tabela 4-3 são
mostrados os resultados obtidos nos vários ensaios.
A tabela 4-3 indica que o lodo da ETA Alto Cotia
remove fósforo do efluente da ETE Barueri. Mostra,
ainda, que a máxima remoção foi obtida com 37 mg/L
de lodo, 15 minutos de mistura, pH de 4,5 a 6,5, tempo de sedimentação de 30 minutos, a 40 s-1 de gradiente, lodo sem polímero e tempo de permanência
do lodo no decantador de 80 dias. Esta alta remoção
se justifica pelo fato do fósforo estar predominantemente na forma solúvel no efluente da ETE.
Os resultados obtidos no presente trabalho corroboram com os encontrados pelos seguintes autores:
50
Saneas
As conclusões obtidas nesta pesquisa, para as condições operacionais estudadas, foram:
1. No descarte de lodo de estações de tratamento
de água – ETAs, que utilizam sulfato de alumínio, são
desprezadas toneladas de produtos químicos, que poderiam ser recicladas e utilizadas como insumo para
remoção de fósforo de efluentes de estações de tratamento de esgotos (ETEs);
2. Entre as 180 diferentes condições operacionais
estudadas na presente pesquisa, a melhor eficiência
de remoção de fósforo do efluente da ETE Barueri foi
de 100% (concentração de fósforo inicial de 2,9 mg/L),
com tempo de permanência do lodo no decantador
da ETA do Alto Cotia de 80 dias, valores de pH entre
4,5 a 6,5, tempo de mistura de 15 minutos, tempo de
sedimentação de 30 minutos a 40 s-1 de gradiente e
sem a utilização de polímero na coagulação/floculação da água bruta.
Janeiro / Fevereiro / MArço
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2009
Fenasan 2009
XX Encontro Técnico AESabesp e
Fenasan 2009
Expositores Já Lotam A Área De Todo O Pavilhão Amarelo Do Expo Center Norte
Promovidos há 20 anos pela Associação dos Engenheiros da Sabesp, o XX Encontro Técnico AESabesp e
Fenasan 2009 (Feira Nacional de Saneamento e Meio
Ambiente), considerada a maior exposição técnicamercadológica do setor na América Latina, serão realizados em 12, 13 e 14 de agosto.
O espaço de exposição do amplo Pavilhão Amarelo
do Expo Center Norte, em São Paulo – SP, está praticamente lotado, com um grande número de expositores,
geralmente empresas fabricantes de equipamentos para
o setor, criadoras de programas de desenvolvimento da
área, prestadoras de serviços e de demais segmentos
complementares à esfera do saneamento.
O clima é de otimismo, apesar do quadro econômico recessivo, uma vez que o saneamento é um setor
que resiste à crise e conta com altos investimentos para
atender a demanda de mercado: um aporte de R$ 7
bilhões, até 2010, para se manter a universalização no
fornecimento de água tratada e chegar a 84% na coleta
e esgoto, nos 367 municípios atendidos pela Sabesp.
Além da área da Feira, os Auditórios do Pavilhão
serão permanentemente ocupados pela realização
do XX Encontro Técnico da AESabesp, que já conta
com mais de 100 trabalhos inscritos, de autorias de
docentes de universidades, de técnicos de Companhias de Saneamento de todo o País e de empresas
fornecedores de peças, equipamentos e serviços de
saneamento e meio ambiente, que abordarão como
principais assuntos: regulação do setor, eficiência
operacional, recuperação de áreas degradadas e novas tecnologias.
Ainda estão previstas palestras institucionais e
cinco mesas redondas, com abordagem sobre os temas: “Equilíbrio entre o capitalismo e sustentabilidade numa empresa - cases bem sucedidos”; “Sustentabilidade nas contratações de projetos, equipamentos
e obras”; “Estratégias para implementação das metas
do milênio e do consumo de água”; “ A Parceria Pública Privada (PPP) como alternativa para a universalização do saneamento básico no Brasil - apresentação
de cases” e “Regulação do setor de saneamento na
atualidade”.
Estima-se a presença de 13.000 visitantes na Feira,
cuja entrada é gratuita, e 3.000 participantes no Encontro Técnico, cujos valores para a freqüência são:
Valores de inscrição do XX Encontro Técnico
Até 30/06
A partir de
01/07
Associados e autores
de trabalho
95,00
110,00
Congressistas
300,00
350,00
Estudantes
150,00
170,00
Categoria
Obs.: associado AESABESP autor de trabalho é isento.
Limitado a uma isenção por trabalho inscrito.
O XX Encontro Técnico AESabesp e Fenasan 2009
ainda contam com os apoios institucionais das respectivas entidades integradas ao setor: AAPS, ABAR,
ABAS, ABES, ABESCO, ABEE, ABETRE, ABCON, ABGE,
ABIMAQ, ABIQUIM, ABMACO, ABNT, ABPE, ABRAMPA,
ABRATT, AECESP, AIDIS, AEAARP,ANA, ASEC, CREA,
CRQ-IV, FIESP, SINAENCO, SEESP e Saneamento Básico, o Site.
Informações
www.fenasan.com.br
e
d
a
d
i
l
i
b
a
t
n
e
Sust
alização
rs
e
iv
n
u
ra
a
p
o
h
in
m
ca
ntal
do saneamento ambie
Janeiro / fevereiro / Março
|
2009
Saneas
51
120
16m
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Imbil - Indústria e Manutenção
12mde Bombas ITA
Imefer Industrial e Mercantil de Ferragens
²
Imperveg Poliuretano Vegetal
12m
Interativa Indústria, Comércio e Representações
²
Interlab Distribuidora de Produtos Científicos
12m
²
Invel Comércio Indústria e Participações
2m
ITT Brasil Equipamentos para Bombeamento e Tratamento de Água e
Efluentes
Kaeser Compressores do Brasil
Kanaflex Indústria de Plásticos
Kemwater Brasil
KSB Bombas Hidráulicas
Krieger Metalúrgica Ind. e Comércio
74m
Lamon Produtos
²
Máquinas Agrícolas Jacto
Mark Grundfos
Marte Balanças e Aparelhos de Precisão
Masterserv - Controle de Erosão e Comércio
Mission Ruber do Brasil
Multi Conexões Indústria e Comércio
N. Mello Comércio de Máquinas Hidráulicas
Netzsch do Brasil Indústria e Comércio
Niagara Comercial
Nivetec Instrumentação e Controle
Nunes Oliveira Máquinas e Ferramentas
Parkson do Brasil
Planthae Consultoria em Normas Técnicas
Perenne Equipamentos e Sistemas de Água
Tentcamom do Brasil
Pieralisi do Brasil
Plastimax Indústria e Comércio
Planthae Consultoria em Normas Técnicas
Poly Easy do Brasil Indústria e Comércio
Proacqua Processos de Saneamento de Efluentes e Comércio
Prominas Brasil Equipamentos
Restor Comércio e Manutenção de Equipamentos Eletromecânicos
Robuschi Pumps and Blowers
Saint - Gobain Canalização
Sampla do Brasil Indústria e Comércio de Correias
Sanemais Ind. e Com. de Tubos e Conexões
Schneider Eletric Brasil
Sondamar Poços Artesianos
Stocktotal Telecomunicações
SMV Válvulas Industriais
Sondamar Poços Artesianos
Sondeq Indústria de Sondas e Equipamentos
Soft Brasil Automação
Sparsol Indústria e Comércio de Equipamentos Industriais
SVS Selos Mecânicos
Tecniplás Tubos e Conexões
Tecnomedição Sistemas de Medição
Tigre Tubos e Conexões
Uziseal Comércio Reparos de Peças Industriais
Vibropac Indústria e Comércio de Equipamentos
Vika Controls Comércio de Instrumentos e Sistemas
Wam do Brasil Equipamentos Industriais
Wasserlink Comercial
Wastec Brasil Comércio de Produtos Químicos
Weatherford Indústria e Comércio
Weir do Brasil
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110
7
3m
Equipamento, com a Ilha Sindesan (Sindicado Nacional das Indústrias
de Equipamentos para Saneamento Básico), formada por um “pool”
de empresas que atendem o setor de saneamento.
ABS Indústria de Bombas Centrífugas
Acquasan Equipamentos para Tratamento de Água e Efluentes
Aerzen do Brasil
Ag Solve Monitoramento Ambiental
Albrecht Equipamentos Industriais
Allonda Comercial de Geossintéticos
Ambientais
Organização
Amanco Brasil
Amitech Brasil Tubos
Aquamec Equipamentos
Aquablue Produtos para Tratamento de Águas
Acquasan Equipamentos para Tratamento de Água e Efluentes
AVK Válvulas do Brasil
BBL Engenharia Construção e Comércio Ltda.
B&F Dias Indústria e Comércio
Bermad Brasil Importação e Exportação
Bombas Leão
Brasbom Comercial Importação e Exportação
Bugatti Brasil Válvulas
Caravela Ambiental Comércio de Equipamentos
Centroprojekt do Brasil
CMR4 Engenharia e Comércio Ltda. - Caetano Tubos
Coester Automação
Comercial Marwil
Conexões Especiais do Brasil
Continuum Chemical Latin América
C.R.I. Bombas Hidráulicas
Danfoss do Brasil Indústria e Comércio
De Nora do Brasil
Degrémont Tratamento de Águas
Digitrol Indústria e Comércio
Dinatécnica Indústria e Comércio
Dositec Bombas Equipamentos e Acessórios
Ebara Indústrias e Comércio
Ebro Stafsjö do Brasil Importação e Exportação de Válvulas
Ecosan Equipamentos para Saneamento
Edra Saneamento Básico Indústria e Comércio
Eletrônica Santerno Indústria e Comércio
Emec Brasil Sist. Tratamento de Água
Emicol Eletro Eletrônica
Enmac Engenharia de Materiais Compostos
Environquip Engenharia de Sistemas Ambientais Ltda.
ESA Eletrotécnica Santo Amaro
Exatta Precisão em Dosagem
Famac Indústria de Máquinas
Fernco do Brasil
FGS Brasil Indústria e Comércio
Fluid Feeder Indústria e Comércio
GE Fanuc do Brasil
GEA Sistemas de Resfriamento
Getesi Indústria de Equipamentos Eletrônicos e Sistemas
Glass Ind. e Com. de Bombas Centrífugas e Equipamentos
Gratt Indústria de Máquinas
Guarujá Equipamentos para Saneamento
Helmut Mauell do Brasil
Hidroductil Tubos e Conexões
Hidrosul -Máquinas Hidráulicas Hidrosul
Hidro Solo Indústria e Comércio
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²
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• Sabesp – Companhia de Saneamento Básico do Estado de ao Paulo
sc.
• Abimaq – Associação Brasileira de Indústria de Máquinas e
o pavilhão (colunas,etc.).
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8
“causos” do saneamento
O caso do Quero-Quero II: “O Sequestro”
por Edson Santana Borges
Quem leu meu artigo na edição anterior, sabe que
contei a história do quero-quero, um pássaro que
escolheu como residência o centro do tão disputado
campo de futebol que ficava na regional da Mooca,
sobre um reservatório, em 1991.
Desculpe-me o leitor, mas vou continuar falando
daquele tempo.
Imagine na Sabesp de hoje as equipes operacionais indo para a rua, no seu dia a dia, com o uniforme
rasgado, viaturas velhas quebrando a todo momento,
sem ferramentas nem equipamentos, contratos terceirizados sendo cancelados, almoxarifados vazios,
treinamento zero, e o pior, aliás consequência de
tudo, desmotivação geral dos funcionários.
Pesadelo? Não. Era um pouco de nossa realidade
no início da década de 90. Por inconformismo, resolvemos agir.
Com intenso trabalho do Engº Joaquim Hornink
Filho, começamos a pesquisar ferramentas e equipamentos para o saneamento, aqui e em outros países, que devagar fomos introduzindo no dia a dia da
antiga Regional Mooca, com a participação integral
dos funcionários daquela unidade. Na verdade, eles
tiveram total participação na implantação de tudo. Os
resultados foram fantásticos!
Diante disso, elaboramos um plano de trabalho
para propagar as inovações às outras unidades da
RMSP, agora, já com apoio da nova Diretoria Metropolitana (M). Então, sobre o reservatório da Mooca, foi
erguida uma grande tenda. As empresas que participaram do desenvolvimento das ferramentas e equipamentos, ali montaram seus estandes, ao mesmo tempo em que funcionários das outras unidades faziam
visitas e recebiam treinamentos para utilização dessas
novidades. Foi a primeira “Feira Técnica” realizada na
Sabesp por uma unidade operacional!
Enquanto o evento transcorria, os filhotes de queroquero passeavam sobre o gramado do campo de futebol.
Um funcionário de uma das empresas expositoras
também se encantou com os bichinhos, só que fez a
Janeiro / fevereiro / Março
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2009
grande bobagem de querer levar um deles para casa.
Cuidadosamente, preparou uma caixa e, em um final de
tarde, sem que ninguém visse, embalou o filhote.
Coitado! Não sabia de uma coisa – assim como os
funcionários da Mooca brigavam para mudar a situação em que a regional se encontrava, com grande
demonstração de amor ao que faziam, os pais QueroQuero também sabem brigar por seus filhotes. Isso
tudo, sem contar do apego dos funcionários da área
aos verdadeiros “Mascotinhos” da Regional.
Os pais passaram a dar “rasantes” sobre a lona da
tenda, exatamente onde o filhote se encontrava, e a
fazer um escândalo tão grande que era impossível, a
todos os presentes não perceberem que alguma coisa
de errado estava acontecendo.
Em minutos, funcionários da Mooca vasculhavam
o estande indicado pelos pais zelosos. Lá estava ele.
Uma boa reprimenda no autor do sequestro, que
desapareceu da área, e a volta do filhote para o convívio dos pais. Alegria geral!
E foi assim que o autor do sequestro aprendeu que
ninguém mexe com aquilo, ou aquele, que os outros
amam e fica impune.
Saneas
53
Palavra de amigo
Ao grande amigo Mário Tinoco
Por Renato Traballi Veneziani
Nesses vinte e sete anos de Sabesp e nessa atual
fase de despedidas, na qual alguns dos nossos grandes e velhos amigos estão entrando em um processo
de retirada, eu não poderia deixar de falar de um profissional, do qual tenho a honra de estar ao seu lado
no dia a dia. Trata-se do Eng. Mário Pero Tinoco, que
há mais de vinte anos entrou na empresa, aqui em
São José dos Campos, onde conquistou vários cargos
até chegar a Diretor de Planejamento. É bom ressaltar
que, dentro de toda história da Sabesp, o Mário foi o
único funcionário que continuou sua vida profissional
dentro da Companhia após ter ocupado um cargo de
diretoria. Hoje, ele é Engenheiro na área de Manutenção do Vale do Paraíba.
Este nosso grande amigo, seja no seu tamanho físico ou no seu coração de ouro, diariamente nos traz
uma lição de vida e de amizade. Para muitos que o rodeiam na Sabesp, ele é um orientador, um articulador
e principalmente um conselheiro, sempre pronto para
nos dar apoio em nossos momentos de conflitos profissionais e principalmente pessoais, com a habilidade
ímpar de nos conduzir a uma nova visão, dentro de
um horizonte maior e com mais felicidade.
Além disso tudo que ele representa aqui para os
amigos do Vale do Paraíba, Mário hoje é Delegado
Sindical, Diretor do Sindicato dos Engenheiros, membro da Diretoria da subseção ABES do Vale do Paraíba,
Conselheiro do CREA e representante da Sabesp no
comitê de Bacia do Rio Paraíba do Sul. Ele é tão polivalente, que ainda tenho certeza que me esqueci de
algo, mas posso afirmar que é extremamente atuante
em todas as representações citadas, sempre defendendo os interesses da nossa categoria e jamais o seu
interesse pessoal.
Agora é hora de falar um pouco do seu “ombro
amigo”, espaço onde compartilhamos nossos momentos de angústia, tristezas, alegrias e geralmente procuramos ajuda, uma palavra de carinho e, sobretudo uma
orientação, coisas preciosas que nunca são negadas.
Vocês podem perceber que eu me refiro ao Mário
54
Saneas
não só como meu amigo, mas sim como amigo de todos, algumas vezes até como o nosso Pai, pois é assim
que sinto na convivência diária com este ser iluminado, na qual não há segredos... Imaginem vocês que
não temos segredos pessoais e profissionais. Bonito
né? Coisa de Deus...
Também quero falar um pouco do vovô Mário, por
saber o quanto os valores familiares são importantes
para ele, que é um alucinado pelos seus filhos e netos,
principalmente pelo netinho Breno, que está fazendo
com que ele se aposente da Sabesp e de nós. Mas ele
também tem um carinho especial pelo seu outro neto,
Isaías, bem como pela sua amada Carminha, companheira de longo tempo, que junto com ele se dedicam
de corpo e alma para o bem estar da sua família.
Então, é isso, meu grande amigo! O pouco que
escrevo é de coração e feito com muita emoção, na
certeza de que a sua ausência na convivência diária nos fará uma enorme falta. Contudo, desejo-lhe
muita felicidade nesta nova etapa da sua vida. Com
nós, ficarão registrados os seus grandes ensinamentos, que jamais serão esquecidos. Garanto que serei
um batalhador para que nunca morra essa amizade,
harmonia e a cumplicidade, implantada por você, que
é um homem de grande valor para mim e acredito que
para todos que te conheceram na Sabesp.
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