Abrantes - Instituto Politécnico de Tomar

Transcrição

Abrantes - Instituto Politécnico de Tomar
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www.esta.ipt.pt
D i r e c to r a : H á l i a co s ta s a n to s
www.nyb.pt
GERIMOS COMPETÊNCIAS
O 1.º prémio do concurso nacional de execução do logotipo para comemoração dos
750 anos do Foral de Estremoz foi atribuído a
Nuno Miguel Baptista, do curso de Design e
Tecnologias das Artes Gráficas do IPT.
N.º 16 . Ano 6 . terça-Feira, 11 de março de 2008
Hália costa santos
- Empreendimento inovador em Abrantes
Clínica sénior e
residência assistida
para idosos com
poder de compra
São 60 milhões de euros de investimento e 57 mil m2 de construção.
Tudo isto para dotar Abrantes de um complexo médico e social,
que vai dar emprego a 500 pessoas. Para além de cuidados de
saúde para a terceira idade, este projecto, de um grupo francês,
P7
assume outras valências, incluindo uma creche.
- Tejo
Barragem em discussão
Constância não aceita “nem a submersão
nem o emparedamento da vila”. Abrantes
é “contra a barragem”, mas admite ponderar
a sua posição. Neste caso, as compensações
pelos prejuízos seriam decisivas. Vila Nova da Barquinha continua serena. O debate
em torno da construção da barragem de Almourol está lançado. Se ela for construída
em Abrantes, perde-se todo o investimento
feito no açude e no aquapolis, duas obras
que pretendiam mudar a vida e a imagem
da cidade.
P4
P4a7
Especial
Religião
P 16 a 20
- Entroncamento
Museu Ferroviário preserva património
A primeira aposta do Museu Nacional
Ferroviário é dirigida às crianças e o grande objectivo é tornar-se um pólo de atracção e
de desenvolvimento para o turismo cultural.
Tudo começou quando um engenheiro, funcionário da CP, decidiu guardar, em antigas
cocheiras e oficinas desactivadas, material
ferroviário que considerava ser de excepção.
Hoje em dia, a Fundação que deu origem ao
Museu é muito mais do que um espaço de
exposições, tendo já nove núcleos espalhados
P 22
pelo país.
- Futebol
- Abrantes
Verão quente no AFC
A extinção do clube de futebol com maior
projecção no concelho de Abrantes, no final
desta época, é uma forte possibilidade. A grave
crise financeira e os processos em tribunal que
impedem o clube de inscrever jogadores podem
ditar o fim de uma equipa que teve uma ascensão
•
•
•
•
•
Abrantes
Alferrarede
F. Zêzere
Leiria
Tomar
Embora os últimos tempos da Igreja Católica estejam associados a alguma dificuldade em
cativar jovens, vários são os mais novos que participam , com toda a vontade, nas actividades
religiosas. E os dois mil anos de História não fazem esta fé parar no tempo. O padre Luís Batista tem 80 anos, vive no Sardoal, e defende a educação sexual nas escolas. O padre Américo
Casado, do Rossio ao Sul do Tejo, acredita que um programa de rádio, uma história contada
na Internet ou até mesmo uma aula de hidroginástica podem fazer a diferença.
Cultura com pouco público
meteórica à II Divisão Nacional. Embora admita
esta hipótese, Alberto Lopes, presidente da equipa abrantina, acredita na recuperação do clube
e pretende criar uma imagem mais positiva em
torno do AFC.
P 12 e 13
perto de si
Abrantes tem uma sala de espectáculos
e várias associações que promovem
espectáculos, exposições, debates e outras
iniciativas no campo cultural. Mas a verdade
é que todos se queixam da falta de público.
Não será só nesta cidade que o problema exis-
te, mas aqui a preocupação não se esconde.
Os promotores das iniciativas reflectem e
procuram respostas. Haverá falta de divulgação? Haverá falta de coordenação? Como
se podem criar novos hábitos?
P 21
| ESTA JORNAL • 11 de Março de 2008
esta
J O R N A L
E statuto
Editorial
ESTAJornal associa-se ao ’07 Encontro de Comunicação
e dito r ial
Hália Costa Santos
Há uma coisa que os jovens de hoje não podem ignorar: os
empregos não caem do céu e a batalha por um lugar ao sol,
profissionalmente falando, é cada vez mais difícil. Há 15
anos era relativamente fácil entrar e ficar num jornal, numa
rádio, ou mesmo numa televisão. Verdade seja dita, nem
era preciso ser extremamente bom. Bastava ser dedicado,
ter aparecido na hora certa e mostrar alguma vontade
de trabalhar. Depois, houve um tempo em que só os que
davam provas de ser muito bons acabavam por ficar. Hoje,
já quase não há lugar para os extremamente bons.
Embora o jornalismo comece a ser quase uma
miragem para muitos jovens que sonham com a
profissão, o panorama mediático precisa, de uma
forma geral, de gente com sangue novo. E é por isso
que esses jovens não podem abandonar o seu sonho.
Se o fizerem, perdemos todos. E é por isso, também,
que o ESTAJornal continua a ser um espelho daquilo
que os alunos desta instituição são capazes de fazer,
sendo que a edição dos textos é praticamente inexistente: o que aqui se lê é o que os alunos propõem e
escrevem.
Mas esta edição do ESTAJornal assinala, também,
uma outra forma de mostrar capacidades: o ’07
Encontro de Comunicação. E associa-se ao evento,
saindo na mesma altura. Os alunos empenharam-se
na sua organização, desde a obtenção de patrocínios
até à produção da II Gala Comic Awards. Aquilo que
acontecer entre 11 e 13 de Março, na ESTA, será
fruto da iniciativa dos estudantes de Comunicação
Social.
Há 15 anos podia haver mais emprego no campo do
jornalismo. Mas agora há mais estímulos para que as
coisas se façam com criatividade e entusiasmo, quer
na comunicação social, quer na comunicação empresarial. Pelo menos, essa é a prática da ESTA, com as
provas que estão à vista.
•
O ESTA é um jornal de Escola, de pendor
assumidamente regional, mas que nem
por isso abdica da dimensão de um órgão
de grande informação ou da ambição de
conquistar o público para além do meio
universitário.
•
O ESTA Jornal adopta como lema e
norma critérios de rigor, de absoluta
independência e de pluralismo dos
pontos de vista a que dá expressão.
•
O ESTA Jornal aposta, por isso, numa
informação plural e diversificada,
procurando abordar os mais diversos
campos de actividade numa atitude
de criatividade e de abertura perante a
sociedade e o Mundo.
•
O ESTA Jornal considera como parte da
sua missão contribuir para a formação
de uma opinião pública informada,
emancipada e interveniente - condição
fundamental da democracia e de uma
sociedade aberta e tolerante.
•
A democracia participativa e entendida
para além da sua dimensão meramente
institucional, o pluralismo, a abertura e a
tolerância são os valores primaciais em
que se alicerça a atitude do ESTA Jornal
perante o Mundo.
•
O ESTA Jornal considera-se responsável
única e exclusivamente perante a ambição
e a exigência dos seus redactores, alunos
do Curso de Comunicação Social da Escola
Superior de Tecnologia de Abrantes e
perante o público a que se dirige.
O ESTA Jornal está por isso plenamente
disponível e empenhado com os leitores,
comprometendo-se a manter canais
de comunicação abertos com quantos
connosco queriam partilhar as suas ideias
e inquietações.
esta
J O R N A L
Fundado a 13 de Janeiro de 2003
propriedade da escola superior de
tecnologia de abrantes
Morada: Rua 17 de agosto de 1808
direc tora: Hália Costa Santos
redacç ão: adriana fonseca, ana marta
sénica, andré canoa, catarina véstia,
cátia godinho, fábio car valho, fernanda
mendes, joão car valho, laetitia
rodrigues, liliano pucarinho, marco
santos, nelson ferreira, noélia barradas,
nuno jesus, rui rodrigues, tânia branco,
tânia rosa, tiago lopes, valter marques,
vítor madeira
Revisão: Sandra Barata
Departamento comercial: ana neves,
catarina machado e diana cordeiro
Projec to gráfico e paginaç ão: joão pereira
Colaboradores: ana mafalda, ivo tavares,
impressão: gráfica do instituto
politécnico de tomar
helena car valho, nuno viegas, tânia
pissarra (gabinete de comunicação do
tiragem: 5000 exemplares
2200-370 abrantes
telefone: 241361169
fax: 241361175
E-mail: [email protected]
museu de arte pré-histórica de mação)
tânia matos (Gabinete de comunicação
do ipt)
11 de Março de 2008 • ESTA JORNAL | OPINIÃO
O Satânico Romântico
O
Cátia Godinho
A Cultura do Futebol
João Carvalho
“
Hoje em
dia o
futebol é
uma espécie
de cultura
S
erá futebol sinónimo de cultura? Será que as multidões que se
juntam em cafés, estádios e lares
podem ser consideradas como
parte de um ritual de cultura
massificada?
Hoje em dia assiste-se a uma mudança
no sentido da cultura e os valores que esta
“
nde está a irreverência do
Senhor Marylin Manson?
Se há uns anos tínhamos o
reverendo Manson satânico
com um olho de vidro e sem
umas costelas, agora temos um Manson
romântico a tentar ser mau, quando não
passa de um divorciado apaixonado por
uma jovem a quem dedica os seus temas.
Brian Warner, ex-jornalista, começou
por criar polémica nos Spooky Kids,
banda de adolescentes revoltados com o
mundo e adoradores de um Diabo que
nunca conheceram, tendo depois criado
os Marylin Manson e adoptado o mesmo
nome para si.
Antigamente os Marylin Manson metiam medo no seu grande mundo de
metal industrial, tecnicamente bem feito
e com histórias revoltantes que atraíam
o público. O senhor que tirou o olho
e meteu um de vidro, que tirou umas
costelas para fazer sexo oral a si próprio
e que atirava baldes de porcaria aos seus
fãs nos concertos, provocando a euforia
suportava parecem estar a ser alterados.
Vejamos, pois, o exemplo do Euro 2004,
que provocou uma onda de solidariedade e
união junto do povo português. Facilmente
confundimos como uma cultura de massas
que aproximou uma nação e melhorou a
sua auto-estima, apesar de os índices de
satisfação nacional estarem bastante baixos. É em termos culturais uma actividade
bastante importante na nossa sociedade,
provoca conversa, troca de opiniões, em
certos casos desenvolve o intelectual do
indivíduo social.
Não será que o facto de o pai levar o
filho a ver o seu ídolo de futebol todos os
domingos provoca uma união familiar? O
futebol hoje em dia tem uma importância
tremenda no que diz respeito à união familiar, ao divertimento, à distracção e até
mesmo à influência no dia-a-dia. Futebol
não é exactamente sinónimo de cultura,
mas consegue juntar aglomerados de população antes e depois de cada jogo, que seguem sempre um ritual inconscientemente
estipulado, o beber da cervejinha e o comer
do petisco, para discutir ou analisar o que
se passa no mundo futebolístico.
Futebol é, assim, nos dias que correm,
uma cultura massificada, um ritual cultural,
todos gostam de futebol, todos respeitam
o que o envolve e todos se deixam influenciar por ele. Quem até hoje não perdeu
tempo para ver, falar, comentar, criticar,
esta actividade desportiva? Sejam os golos
que marcam, sejam as transferências mal
feitas, seja a hegemonia de um determinado
clube, seja o dinheiro mal gasto por causa
do futebol, seja a obsessão futebolística por
parte da população masculina que desagrada as mulheres. Hoje em dia o futebol
é uma espécie de cultura que unes nações,
famílias, adeptos, e pessoas desconhecidas
entre elas, é um mundo de paixão social e
cultural…
Começa-se por ser
monstro e
acaba-se
no belo
de todos, hoje é um eterno romântico que
tem uma lente de contacto, que tem todas
as costelas que lhe pertencem e que atira
algo minimamente limpo ao seu público,
azedando os seus mais acérrimos fãs e
agradando a adolescentes revoltados com
o amor… “Don’t break my heart and I
won’t break your heart shaped glasses!”
Continua com as suas pinturas de
guerra, os seus actos eróticos em público
aumentam, mas já não chocam ninguém.
E as notícias sobre ele já não de assédios
a homens ou espectáculos absurdos, mas
sim sobre o divórcio, os seus quadros de
pintura e o seu novo romance.
O mundo do metal é enorme, mas não
é preciso conquistar um lugar no pódio
dizendo que se é satânico e depois virar
um “cachorrinho romântico” para atrair
ainda mais gente, e mostrar “ ei!, eu mudei, agora sou bonzinho!”.
O seu metal industrial quase minimalista nos dias de hoje está quase em
toques de rock gótico e o seu satanismo
deve ter escorregado por águas desconhecidas de uma ambição já conseguida.
E assim vai o metal…
Começa-se por ser o monstro e acabase por se tornar no belo.
Esperamos por novos acontecimentos do Reverendo Satânico Romântico,
quase já uma novela na música, pode-se
dizer…” Não percam os próximos episódios que nós também não!”
“Tabaqueando”
a questão
“
André Canoa
Tudo isto
pode ser
paradoxal
A
nova Lei do tabaco entrou
em vigor em 2008. A medida parece-me sensata e
digo-o sem qualquer tipo
de fundamentalismo. Este
conjunto de regras visa essencialmente
reduzir o consumo de tabaco na nossa
sociedade, na tentativa de que espaços
públicos fechados e inóspitos se tornem
co-habitados democraticamente, de forma
a agradar a fumadores e não-fumadores.
Ninguém imaginaria que uma substância
que apareceu 1000 A.C nas sociedades
indígenas da América Central, em rituais
mágico-religiosos e com o objectivo de
purificar, contemplar, proteger e fortalecer ímpetos guerreiros, viria a ser tão
popular.
A nível económico o Estado vai ressentir-se, pois a receita do tabaco vai baixar
e convém lembrar que 80% do preço de
venda ao público de um maço de tabaco
reverte a favor dos cofres do Estado sob
forma de imposto. Tudo isto pode ser
paradoxal porque a longo prazo o Estado
pode reduzir gastos com a saúde dos portugueses. Outra fonte de receita do Estado
provém das coimas por não cumprimento
da lei. Para indivíduos que fumem em
locais públicos proibidos, o cigarro poderá ficar entre 50 a 750 euros. Já para
os proprietários dos estabelecimentos
privados e órgãos directivos de serviços
de administração pública a sanção pode
ir de 50 a 1000 euros. A ASAE irá ser o
órgão fiscalizador.
Polémicas paralelas surgem devido à
Lei do Tabaco. Será que a produtividade
do país irá ser ainda mais sacrificada em
detrimento do tempo que o operário irá
perder para fumar o seu “cigarrito”? E
qual o critério para definir as condições
exactas de ventilação dos espaços públicos? O tempo responderá a estas e outras
questões e só depois podemos concluir
se o ser humano é afinal um animal facilmente ajustável às circunstâncias.
| ESTA JORNAL • 11 de Março de 2008
INVESTIGAÇÃO
Barragem de Almourol causa polémica
Ainda por construir e já a meter água!
A construção da barragem de Almourol foi anunciada em Outubro de 2007, quando o Plano Nacional de Barragens com Elevado
Potencial Hidroeléctrico (PNBEPH) foi apresentado publicamente. Corria tudo bem, até a Imprensa regional e nacional ter começado
a noticiar as intenções do Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional. A população
entrou em pânico. Pouco se sabia, é verdade; mas esse pouco era assustador.
Adriana Fonseca
e Tiago Lopes
Nem para a frente para trás. Foi o
Castelo de Almourol que baptizou o
projecto de barragem. Ali tão perto,
Vila Nova da Barquinha continuou
serena. A barragem, que ainda não
passa de um esboço em papel, traria
mudanças significativas à vida de
todos os populares, mas por lá a
vida segue tranquila. É mais fácil
encontrar quem fale das lendas de
D. Raimiro do que quem se preocupe com a possível barragem.
Na imprensa local, as notícias
saem a conta gotas. O jornal Novo
Almourol limitou-se a publicar os
comunicados das Câmaras Municipais de Constância e de Abrantes.
“O assunto não interessa a muitos
e os nossos recursos são escassos”,
explica Cidália Delgado, chefe de
redacção da publicação.
A Câmara Municipal de Vila Nova da Barquinha seguiu o exemplo
dos populares. Do executivo camarário não houve qualquer resposta, por falta de disponibilidade na
agenda do presidente. Mais difícil
foi descobrir onde pára o vereador
Manuel Maria Ferreira Honório,
com responsabilidades nas áreas
de Obras Municipais e Gestão e
Administração das Águas.
Aqui não!
Perto de Vila Nova da Barquinha,
em Constância, as notícias que vão
chegando da barragem têm tido
outras reacções. A população está
preocupada com os efeitos negativos da eventual construção do empreendimento. São poucos, raros
mesmo, aqueles que são a favor do
projecto do Governo.
Para a Câmara Municipal de
Constância, a resposta é simples:
“Não é aceitável construir-se a barragem a montante de Almourol e a
jusante de Constância”. Quem o diz
é Rui Manuel Ferreira, vereador do
executivo com responsabilidades
nos pelouros Águas e Saneamento,
Turismo e Divulgação e Desenvolvimento Económico. O autarca
declara mesmo que “isso é ponto
assente”: “A nossa oposição é permanente e radical”.
“Em termos económicos e paisagísticos seria um desastre para
Constância”, completa Rui Manuel
Ferreira. O sol esconde-se entre as
frestas da janela, para ouvir o vereador afiançar que a edilidade de
Constância não aceita “nem a submersão, nem o emparedamento da
vila”. Qualquer uma das hipóteses
“está fora de questão”. O vereador
de Constância respira e avança com
mais um argumento: “Destruindo a
Opiniões há muitas
Ponto de situação, até ao momento. Está prevista a construção de uma barragem
na região que fica entre Almourol e Abrantes, sendo mais provável a sua localização a montante de Constância. A Câmara Municipal de Vila Nova da Barquinha
segue a sua vida normalmente. A Câmara Municipal de Constância não aceita
que se pondere outro tipo de localização. A Câmara Municipal de Abrantes está
contra, mas poderá ficar a favor se forem respondidos os desafios que lançou ao
Governo, no sentido de a cidade ser recompensada pelas consequências negativas causadas pela eventual construção da barragem.
Então, mas quem é que está por detrás deste projecto? Apontemos três entidades: Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento
Regional (MAOTDR); Instituto da Água (INAG) e Consultores de Engenharia e
Ambiente (COBA). Das três entidades envolvidas, somente uma se mostrou
disponível a ceder os devidos esclarecimentos. Paulo Machado, técnico do INAG,
desconhecia as polémicas levantadas em torno do estudo, adiantando que este
“ainda será completado por um relatório sobre o Impacto Ambiental, no qual
as Câmaras se poderão pronunciar sobre todas as questões”. Todas, desde que
relacionadas com o Ambiente. Logo, nem todas as questões terão uma resposta.
Cada um terá que levar a água ao seu moinho como conseguir.
O técnico do INAG não se mostrou surpreso por existirem já estudos datados de
1967, lembrando mesmo que “todas as localizações previstas já tinham sido
anteriormente referenciadas” E acrescenta: “Não vejo polémica nisso”. Diferente
malha urbana da vila, destruímos a
nossa capacidade económica”.
Todavia, a construir-se a barragem “a montante de Constância, a
situação altera-se completamente”,
informa o vereador. O ambiente
quente da sala obriga a uma pausa
para se respirar. Bebe-se um pouco de água, de outras barragens,
opinião tem José Gomes, arqueólogo e Director do Centro de Incubação Arqueológica de Vila Nova da Barquinha (CIAR), que vê nestes estudos apenas um “agitar
de águas para afastar a atenção”. Na sua opinião, “é tudo conversa da treta”.
Segundo José Gomes, “há sítios arqueológicos que estão à beira do rio e são
importantes para o conhecimento da região”. Sem papas na língua, aceitou falar
da barragem enquanto almoçava. Se para Abrantes o açude é uma preocupação,
para o director do CIAR “o açude é uma implicação menor” uma vez que, se se
montou, “também se desmonta”. José Gomes vai mais longe, dizendo que “se
Abrantes queria ter um espelho de água, com a barragem fica com ele”.
Neste xadrez político, as peças têm-se distribuído pelo tabuleiro, para o que
promete ser um jogo de forças. A Câmara de Vila Nova da Barquinha assiste a
tudo impávida e serena. A Câmara de Constância mostra-se intransigente. A
montante da vila poema tudo bem; a jusante nem com parecer divino. A Câmara
de Abrantes diz um ‘não’, que pode virar ‘sim’.
O COBA lava as mãos. O INAG, segundo um funcionário que não se quis identificar,
ainda não tem a localização final definida. Para o arqueólogo e director do CIAR
“nem esta nem as outras barragens serão construídas”, tudo não passa de um
encobrimento para “pensarmos nestas, enquanto eles pensam noutras que vão
construir noutros sítios mais problemáticos”. Só uma coisa é certa, muita água
ainda vai correr até a barragem de Almourol, ou de Abrantes, ter um destino
certo. Se é que o vai ter!
e a conversa segue. Esta segunda
localização “é altamente benéfica
para o Município de Constância”.
Mesmo sem estudos que o comprovem, Rui Manuel Ferreira afirma: “É essa a visão que temos. Só
que benéfica não é o mesmo que
perfeita.” Mesmo que se construa
a barragem a montante de Cons-
tância, a Câmara Municipal deixa
o alerta: “Há aspectos que temos
que acautelar”.
Vende-se fatos de mergulho
Se Constância tem aspectos a
acautelar, caso a barragem se construa a montante da vila, Abrantes
não se fica nada atrás. Aliás, esta
DR
Abrantes. O presidente da Câmara, Nelson de Carvalho, está “céptico em relação à construção da barragem”
segunda localização, para o projectado empreendimento, deixou a
cidade florida nervosa. Os efeitos
negativos da construção da barragem florescem, à medida que os
estudos avançam. Estão por descobrir vantagens significativas para o concelho, caso a barragem se
construa.
Em sessão pública de esclarecimento, a Câmara de Abrantes tomou uma quase posição. Se, por um
lado, a Câmara abrantina assumiu
que era “contra a barragem, porque terá impactos muito duros em
relação aos quais não conseguimos
antecipar propostas de resolução”,
por outro lado, admitiu também
a “possibilidade de ponderar a sua
posição”, caso surjam compensações
para os referidos impactos.
E que impactos serão esses?
Ocupação de mais de 1000 hectares de áreas de terrenos agrícolas
altamente produtivos. Maior vulnerabilidade da zona ribeirinha
da cidade face às variações de caudal do rio. Inundação parcial das
infra-estruturas de saneamento
e abastecimento de água em Rio
de Moinhos e Cidade de Abrantes
(encosta Sul). Submersão parcial
das infra-estruturas de acessibilidade a Rio de Moinhos (EN3), ao
Rossio e a S. Miguel do Rio Torto
(EN 118). Destruição dos equipamentos do Aquapolis e do açude,
recentemente inaugurado. E inundação de áreas urbanas de Rio de
Moinhos, Rossio ao Sul do Tejo e
Barreiras do Tejo.
Abrantes, que não se quer ver
transformada na Veneza portuguesa, irá exigir muitas explicações
ao Governo. Nelson de Carvalho,
presidente do executivo abrantino,
deixa o repto de que “não há nada
como sermos claros, desde muito
cedo, em relação a esta matéria”.
Claros têm sido os populares em
manifestar-se contra a construção
do projecto, até porque muitos não
percebem qual a respectiva utilidade.
Seguindo a onda popular, Nelson
de Carvalho afirma ser “céptico
em relação à construção da barragem”. Quem também não bateu
palmas à ideia da barragem foi o
projectista do açude, a trabalhar
para o Grupo LENA. O autor da
obra que custou 3.150.096€ interpôs uma providência cautelar em
tribunal, por estarem em causa os
seus direitos de autor, caso a barragem seja construída e o açude
fique submerso.
Além do mais, “o Aquapolis é um
projecto do qual não abdicamos”,
adverte o presidente da Câmara.
Mas, a construir-se a barragem, o
Aquapolis será sempre afectado.
11 de Março de 2008• ESTA JORNAL | INVESTIGAÇÃO
Rosa Casaco
deixa pasta
verde em lugar
seguro
Passaram dois anos após a morte de António Rosa Casaco. Para trás
ficaram memórias por contar e a certeza de uma entrega pessoal
completa, por parte de Rosa Casaco, à Polícia de Intervenção
e Defesa do Estado (PIDE). Ameaçou vários políticos e chefes
de Estado graças a uma pasta que juntaria, durante anos,
documentos comprometedores para muitas indivíduos.
Talvez fosse apenas uma estratégia, que até pode nunca
ter existido. O conteúdo da pasta verde continua a ser uma
incógnita, o seu paradeiro é agora revelado.
Texto: Noélia Barradas, Liliano Pucarinho e Valter Marques
Ilustração: Helena Carvalho
Junto ao coreto verde da pequena freguesia
de Rossio ao Sul do Tejo, em Abrantes, moram
memórias de quem privou com Rosa Casaco.
Não falamos de memórias de um ex-agente
da PIDE, mas de um educado, e sempre sorridente, indivíduo comum.
Rosa Casaco nasceu no Ribatejo, passando a
sua adolescência entre brincadeiras que eram
comuns a muitas outras crianças no ano de
1920. Maria, sua irmã, descreve-o como “um
amigo do peito, sempre muito atencioso”. E
revela que a família nunca se incomodou com
o facto de António Casaco ter escolhido a
profissão de agente de defesa do Estado, no dia
12 de Janeiro de 1937. Entenderam-no como
um escape à pobreza da altura e à necessidade
de vingar na vida.
Logo no primeiro ano em que ingressou na
PIDE, Casaco terá participado no interrogatório do militante do PCP, Almeida Martins,
que quatro dias depois deu entrada na morgue,
com as unhas queimadas, equimoses e costelas
fracturadas. A irmã do ex-agente continua
certa de que “ele não era má pessoa”.
Foi na década de quarenta que António
Rosa Casaco viria a integrar a brigada de segurança de Oliveira Salazar. Apadrinhou um
dos seus filhos e foi convidado, anos depois,
para fotografar o mesmo com a jornalista
Christine Garnier.
Acusado de chefiar a brigada que levou
ao assassínio de Humberto Delgado, Casaco
responde em entrevista, no ano de 1998, ao
Expresso, que “o seu relacionamento com o
caso foi meramente casual”, não adiantando,
porém, pormenores. “Morrerei de consciência
tranquila designadamente em relação ao único
crime de que me acusam - e de que não fui o
autor material, nem o mentor - nada me pesa
excepto os desgostos da vida e a pulhice dos
homens” – conclui indignado.
Em resposta aos acontecimentos, Casaco
publica o Livro “Servi a pátria e acreditei no
regime”, apenas com 4.000 exemplares.
Pelo 25 de Abril, Rosa Casaco encontrava-se
no Porto, sendo obrigado a fugir por pertencer
à antiga Direcção Geral de Segurança (DGS).
Num camião, foi conduzido com outros membros da DGS em direcção à cidade de Braga.
Obrigados a abandonar a viatura, ainda em
movimento, escaparam ao castigo que lhes era
tido como certo: a prisão. Espanha serviu de
refúgio para quase todos os ‘fugitivos’. António
Casaco seguiu viagem de Palma de Maiorca
para o Brasil, onde passou o resto da sua vida
ao lado da sua esposa, enquanto esperava que
os mandatos internacionais, que pendiam
sobre si, prescrevessem. Com ele, durante
estas viagens, transportaria bens pessoais e
uma pasta, que se tornaria num trunfo valioso
para os anos que se anteviam.
Uma pasta, verde
Foram mais de 30 anos ao serviço da Polícia
de Vigilância e Defesa do Estado (PVDE).
Tempo suficiente para guardar e juntar documentação relativa a movimentações e transferências de dinheiros do Estado, para outros
países. Registos que foram meticulosamente
organizados em diversos dossiers, que viriam a
integrar, segundo Casaco escreve no seu livro,
uma única pasta. Uma pasta verde.
Joana Prôa, sobrinha-neta de António Casaco, conta-nos o afastamento do ex-agente em
relação à sua família. Nunca manteve grande
contacto com o seu tio-avô, apenas “uma ou
duas vezes, num ou outro almoço”. Apesar de
ele fazer algumas “visitas pontuais”. Casaco
“nunca se mostrou pessoa para falar muito nos
assuntos da PIDE” nem da sua vida, enquanto
‘fugitivo’. Joana acabou por tomar conhecimento da pasta apenas através da imprensa, assim
como aconteceu com a irmã do ex-agente.
No livro de memórias de Casaco escrevemse linhas que garantem o orgulho de servir a
pátria. Nesse documento encontramos um
capítulo dedicado à pasta que guardaria consigo e que, com a qual, revelaria ao país os
corruptos e os interesses de diversos políticos
da altura.
Pasta perdida, pasta encontrada
Tempos houve em que ninguém poria a
vista nesses documentos. Casaco escreve em
memória que perdeu o dossier num Galeão.
Esta palavra levantou várias dúvidas. Galeão
seria um barco? Um espaço físico? Um local
especial? Um nome pessoal?
Não chega a revelar por entre ‘que águas se
perdeu’ a pasta. Chegou mesmo a pensar que
a teria perdido
para sempre.
Para além de
documentos
importantes,
fotografias,
um ou outro
cachimbo estaria dentro dela,
guardada por
um código secreto, que nem
a sua esposa
conhecia. Fez
estrada e mar
até ao Brasil.
Certo dia, a
pasta voltou
a aparecer,
em sua casa,
num canto escondido da sua sala. Diz
que apareceu misteriosamente.
A fechadura não teria sido violada e todo o
seu conteúdo parecia estar intacto, justamente
como ele o colocou da última vez. Para seu
espanto, admite a possibilidade de alguém ter
podido copiar o seu material de ‘chantagem’.
“Hoje esta mala já não existe por estar velha, como eu, mas ainda cheio de vitalidade e
com a cabeça lúcida e fria, e as minhas ricas
pastas, estão num lugar seguro. Recordações
são objectos e coisas que relembram pessoas
e factos da vida, mesmo quando esta já está
morta. Lembranças de gentes mortas, vivas, de
animais, de episódios, de glórias, de misérias.
A mala que me apareceu inesperadamente
fez-me recordar terras onde labutei, gente de
alto coturno com quem privei directamente ou
apenas através de documentos comprometedores para vários ‘cavalheiros.” - relembra Rosa
Casaco em páginas do livro “Servi a pátria e
acreditei no regime”.
António Rosa só desmistifica o carácter de
alguns desses documentos. Todo o seu conteúdo hoje é conhecido, mas não divulgado pelas
autoridades legais. Em investigação, conseguimos perceber que a pasta realmente existe e
está ao alcance de algumas pessoas. Dentro en-
contramse registos
de transferências
bancárias, sendo uma
delas a de
um político que
enviava
casualmente para França,
para um
banco situado na
Rua Murilo, 100
milhões de
dólares que ‘roubava’ ao Estado português e os tornava seus. Durou dois
anos este sistema, garante Casaco.
Paradeiro da pasta
Chegámos a Lisboa, tendo antes passado
por Espanha, Brasil, Moçambique e Abrantes.
Antes da sua morte Casaco decidiu ofertar a
pasta. Se com os documentos todos que se
propunha apresentar, nunca o saberemos.
Muitos podem ter sido eliminados, pelo próprio, resguardando assim muitas pessoas e
deixando muita conversa em aberto.
António Rosa Casaco nunca se deixou agarrar pelas mãos da polícia e talvez nunca tivesse
querido que os seus documentos pessoais se
tornassem públicos. Não todos. A Torre do
Tombo, de Lisboa, alberga hoje a maior colecção de estórias e história do nosso país. Nela
se encontra também a pasta de Rosa Casaco.
Apenas sob consulta por quem de direito e
respectivos familiares directos.
Apagam-se memórias de um ex-agente
da PIDE que fez questão de nunca se deixar
intimidar por uma polícia, que ele próprio
chefiou. Passaram-se anos à procura de uma
mala, de uma pasta, de dossiers. Curioso é
que a sua sobrinha, hoje, vende-as. Nenhuma
é verde.
| ESTA JORNAL • 11 de Março de 2008
IPT
Plano Estratégico do IPT apresentado em sessão pública
“Ambição em relação ao futuro”
gabinete de comuicação do IPT
A equipa que produziu o Plano
Estratégico para o Instituto Politécnico de Tomar (IPT), liderada pelo
professor Augusto Mateus, defende
que nos próximos anos esta instituição deve produzir uma “mudança de
paradigma”, mas acrescenta que esta
“não deve ser feita com ruptura”. Na
cerimónia de apresentação pública do documento, esteve também
presente o secretário de Estado do
Ensino Superior, Manuel Heitor.
Definindo uma metodologia a
aplicar até 2013, o principal autor
do Plano Estratégico reconhece
que o IPT é “uma instituição dinâmica, mais forte do que outras
instituições que o sistema integra”.
Por isso, Augusto Mateus sugere
que o IPT consolide o que fez até
aqui, assumindo, a partir de agora, “desafios e oportunidades que
têm a ver com a região”. O antigo
ministro diz mesmo que, para o Politécnico de Tomar, é fundamental
encontrar “uma nova relação com as
empresas”, sobretudo com “as mais
organizadas e mais competitivas”
contribuindo, assim, para a criação
de riqueza.
Augusto Mateus evidencia que o
Médio Tejo é “uma região de intermediação entre Portugal e Espanha e
Proposta. Augusto Mateus (ao centro) sugere que o IPT assuma desafios “que têm a ver com a regiaõ”
entre Lisboa e o segundo pólo do país”
e que o IPT pode tirar proveito desta
situação estratégica. Aliás, o professor
entende que esta instituição tem de
tornar-se imprescindível no processo
de desenvolvimento da região.
Em termos de ensino, o documento mostra que o IPT enfrenta
desafios específicos do sector, nomeadamente a preocupação de “ensinar
Divulgação
Congresso de
Desenvolvimento
Regional em Tomar
O Instituto Politécnico de Tomar
(IPT) vai ser palco, nos dias 4 e 5 de
Julho, do 14º Congresso Anual da
Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Regional (APDR).
Simultaneamente, e à semelhança do
que aconteceu no ano passado, o evento conjuga-se com o 2º Congresso de
Gestão e Conservação da Natureza.
O tema do encontro parte do reconhecimento de que, crescentemente,
o desenvolvimento dos territórios que
compõem um país é um processo
económico, social e político que está
muito dependente da qualidade e
“espessura” das instituições que estão
no território. Segundo a organização
do evento, destas espera-se que sejam
capazes de assumir a responsabilidade de concepção, implementação e
avaliação das políticas de desenvolvimento, proporcionando condições
de sustentabilidade económica, ambiental e financeira.
A iniciativa conta com o apoio científico e logístico do Departamento de
Território, Arqueologia e Património
da Escola Superior de Tecnologia de
Tomar do Instituto Politécnico de
Tomar (IPT) e reúne a colaboração
de outras sociedades científicas,
como a Associação Portuguesa de
Economia Agrária (APDEA) ou da
Sociedade Portuguesa de Estudos
Rurais (SPER).
O prazo para entrega de propostas
de comunicações termina a 14 de
Março ([email protected]) e os
respectivos resumos podem ser apresentados em português, espanhol ou
inglês. As comunicações aceites com
base nos resumos devem ser enviadas
à organização até 30 de Maio.
Neste momento está já disponível
uma lista provisória de 14 sessões
paralelas:
1. Desenvolvimento, Administração
e Governança Local
2. Cidades criativas, cultura e estratégia territorial
3. Economia pública local e desenvolvimento
4.Governança e desenvolvimento rural
5. Relações transfronteiriças, modelos de governança e desenvolvimento
6. Inovação, empreendorismo e território
7. Mobilidade urbana, transportes e
desenvolvimento sustentável
8. A alta velocidade, o novo aeroporto e o desenvolvimento regional
em Portugal
9. A gestão e conservação da natureza
no contexto regional e local
10. Turismo, património e sustentabilidade local
11. Ordenamento do território, planeamento e políticas de solos em
Portugal
12. A problemática dos territórios de
baixa densidade
13. Recursos da Natureza e desenvolvimento
14. Métodos e indicadores regionais
e locais.
Mais informações podem ser obtidas no site http://www.apdr.pt/congresso/2008
e aprender com métodos diferentes”.
Para além disso, Augusto Mateus e
a sua equipa sugerem a necessidade de o IPT aumentar os produtos
oferecidos, ao mesmo tempo que
dizem ser necessário “acabar com
certos cursos, reformular outros e
consolidar os cursos-chave”. Ou seja,
o fundamental, para o IPT, será “travar uma batalha para ter cursos de
referência a nível regional, nacional
e internacional”.
Outro dos caminhos que o IPT,
segundo o Plano Estratégico, deverá
seguir é, inevitavelmente, a criação
de receitas. Como? “Com uma estrutura mais magra, com menos recursos, com mais investigação e com
mais eficiência”. Tudo isto poderá
ser feito, segundo Augusto Mateus,
com “ambição em relação ao futuro”,
numa “lógica de utopia no sentido
construtivo”.
O secretário de Estado do Ensino
Superior, que teve contacto com o
documento, pela primeira vez, na
altura da sua apresentação, evidenciou a vontade manifestada pelo IPT
no sentido de evoluir. O responsável
ministerial lembrou que “as reformas fazem-se porque são precisas”
e acrescentou que “a maturidade
de uma instituição está ligada à sua
capacidade de se especializar”. Na
cerimónia estiveram presentes, para
além de alunos, docentes e funcionários, várias autoridades militares,
civis e religiosas.
Semana da Qualificação e Competitividade
Abrantes aproveita
as suas sinergias
Várias agentes ligados à educação e
ao mundo empresarial associaram-se
à Câmara Municipal de Abrantes para
organizar a “Semana da Qualificação e Competitividade”. Entre 2 e 6
de Abril, a cidade será palco de um
vasto conjunto de actividades que
pretendem tratar temas considerados
“nucleares” em termos de desenvolvimento.
Os pontos altos da iniciativa serão
a finalização da implementação do
programa “MOCHO XXI” e a inauguração do “Centro de Ciência e Tecnologia Alimentar”, mais uma infraestrutura que integrará o Tecnopolo
do Vale do Tejo. Simultaneamente,
estão previstos diversos workshops
temáticos, ateliers de formação, conferências e exposições relacionadas
com a ciência e com a tecnologia. Entre outras actividades, a ESTA organiza a conferência dedicada ao tema
“A procura do primeiro emprego” e
debates sobre as profissões da moda e
as profissões em vias de extinção.
Nelson de Carvalho, presidente da
Câmara de Abrantes, explicou, em
conferência de imprensa realizada
a 11 de Fevereiro, que a Semana da
Qualificação e da Competitividade
resulta de uma “parceria extrema-
mente interessante, que envolve a
Câmara Municipal de Abrantes, a
Escola Superior de Tecnologia de
Abrantes (ESTA), a Tagus Valley, a
Rede Social e as associações que a
compõem, assim como as escolas e
agrupamentos de escolas do concelho”. O autarca lembrou que a competitividade “não é uma coisa que o
Estado ou a Câmara Municipal possa
fazer se não envolver as entidades
que contam”.
De acordo com a vereadora Isilda
Jana, esta iniciativa partiu “da constatação, feita no âmbito da Rede Social,
de que nos planos de actividades de
várias instituições existiam semanas
da educação, da formação, do empreendedorismo”. Perante este facto,
a Rede Social convocou vários parceiros para preparar algo em conjunto,
juntando de sinergias.
A II Feira de Empreendedorismo,
organizada pela ESTA, e a “INOV.
ACÇÃO 2008 – Feira de Inovação”,
organizada pela TagusValley, são
dois dos pontos altos da iniciativa.
No que respeita à primeira Feira da
Inovação, a vereadora Maria do Céu
Albuquerque adiantou que se dirige
a um público-alvo jovem.T.B.
11 de Março de 2008• ESTA JORNAL | NEGÓCIOS
Abrantes acolhe investimento
de 60 milhões de euros
Aprovado empreendimento com clínica sénior destinado a utentes do Norte da Europa
DR
muito significativo para a cidade, para
o concelho e para a região, do ponto
de vista da animação económica, do
turismo e da fixação de quadros especializados”, reforça.
No que concerne a prazos e a formalidades para o avanço da obra, o
autarca ressalva que “mesmo com as
habituais diligências e procedimentos
destes projectos, que não dependem
só da Câmara Municipal de Abrantes”,
o investidor tem tudo em andamento
para avançar com o projecto o mais
rapidamente possível”, conclui Nelson
de Carvalho.
Nuno Jesus
A cidade de Abrantes está na rota
de mais um grande investimento. Foi
aprovado pela Câmara Municipal de
Abrantes, a 13 de Maio, deste ano, a
construção de um grande empreendimento na cidade, destinado a uma
clínica sénior com residência assistida. O investimento é liderado pelo
Grupo Existance e ronda 60 milhões
de euros.
O local escolhido para a edificação
do complexo é a encosta localizada
entre o quartel dos Bombeiros Municipais de Abrantes e a zona do Lidl,
em Abrantes. Um projecto com uma
área de construção de 57 mil metros
quadrados, que comporta um edifício
central, onze edifícios de apoio, três
piscinas, restaurante, boutiques e outros serviços de apoio, como berçário,
manicure, entre outros.
Destinado a cuidados de saúde à
terceira idade, prevê-se que esta unidade crie 500 postos de trabalho directos, entre serviços gerais e quadros
especializados na área médica. Serão
prestados cuidados como reeducação
funcional (Fisioterapia), cuidados
continuados, e acompanhamento e
tratamentos em doenças como o Alzeimer Parkinson e ainda valências
de geriatria e psiquiatria.
O público-alvo desta aposta do
conceituado grupo francês é, sobretudo, oriundo do Norte da Europa.
Este projecto de grande dimensão,
foi aprovado por unanimidade pela
autarquia abrantina, em reunião do
executivo municipal. Segue-se agora
um prazo de 90 dias para que o grupo investidor entregue o projecto de
Terreno. Numa zona central, será construído o empreendimento que “vai transformar a imagem da cidade”
arquitectura e mais 60 para aprovação
dos projectos de especialidade.
Abrantes “na rota do turismo
do Norte da Europa”
Nelson de Carvalho explica que
este projecto “é um investimento
para construir um complexo médico social”, destinado “a aposentados com poder de compra que
procuram zonas mais propícias para
terem uma boa vida, durante a sua
reforma”. O presidente da Câmara Municipal de Abrantes assinala
que “este empreendimento pretende
dar-lhes condições de vida assistida,
do ponto de vista clínico, de cuida-
dos de saúde e do seu bem-estar”.
O autarca ressalva que se trata de
“um investimento muito significativo:
cerca de 60 milhões de euros, numa
zona da cidade que é importante. Digamos, que não é uma zona longe,
metida num sítio qualquer. É uma
zona que fica dentro da cidade”.
Este empreendimento “significa
também o crescimento da cidade e
um conjunto de cerca dois mil novos clientes / utilizadores /cidadãos,
residentes a maior parte do tempo
em Abrantes”, refere. “As próprias
famílias virão visitá-los, com alguma
regularidade, de acordo com aquilo
que é expectável”, relembra o autarca.
Uma situação que na sua óptica vai
gerar “um conjunto de fluxos interessantes, de cidadãos do Norte da
Europa”. Nelson de Carvalho sublinha que, com este projecto, Abrantes
fica “na rota de turismo do Norte da
Europa”.
Para além do emprego que o “Ofélia Club” vai gerar, o edil destaca que o
investimento “vai transformar a imagem da cidade e a sua atractividade”,
salientando também o impacto que
um empreendimento desta natureza
tem na cidade. Nomeadamente no
comércio e serviços “com o conjunto
de pessoas que ali vão viver e trabalhar. Creio que é um investimento
Terrenos de construção
transformados em clínica
Os cerca de 10 hectares que este complexo vai ocupar já estavam
devidamente licenciados para zona
de construção, onde se previa a edificação de 315 apartamentos e 57
lojas. A informação é adiantada por
Jorge Dias, proprietário de 75 mil
metros de terreno vendidos ao grupo
investidor para viabilizar a obra. O
restante terreno envolvido, pertença
da Câmara Municipal de Abrantes,
foi também negociado pelo Grupo
Existance.
Jorge Dias refere que foi “uma das
pessoas” que desempenhou um papel
activo na vinda deste empreendimento para Abrantes, “em conjunto com
a Remax do Entroncamento”. Explica
que já havia um projecto de construção aprovado pela Câmara, mas que,
após alguns meses de negociações
com o grupo francês, foi alterado, “no
sentido de se poder avançar com esta
grande obra e um projecto que vai
trazer gente, riqueza e vai desenvolver
bastante o concelho e a região”.
Fazer negócios em português
Na imprensa portuguesa, quando se juntam as palavras Economia e Portugal, pensa-se sempre em Tragédia e Crise. O ESTAJornal foi
à procura de dados que contrariassem esta tendência e eis que os encontrámos. O relatório da Organização Internacional Económica
“Doing Business”, para 2008, traz notícias positivas sobre o clima dos negócios em Portugal.
Tiago Lopes
O Doing Business (em português,
Fazendo Negócios) é uma Organização Internacional Económica que
tem por finalidade avaliar o clima de
negócios em 178 países. Através de
estudos comparados, esta Organização
Internacional faz projecções anuais,
que podem servir para avaliar o comportamento das economias mundiais.
O Doing Business conta com a participação de mais de mil profissionais
espalhados por todo o globo.
Portugal é um dos países que consta dos relatórios anuais do Doing Business. Para 2008 prevê-se que o país
seja a 37ª economia mundial, onde será mais fácil realizar negócios. Bem à
frente da economia italiana, somente
em 53º lugar, ou da economia grega,
que se queda pelo 100º posto, em 178
possíveis. Neste aspecto, a Cidade-Estado de Singapura lidera a tabela.
Portugal surge no 38º lugar, quando
o Doing Business se refere a “Começar
um Negócio”, o que representa uma
queda de duas posições em relação a
2007, ano em que o país estava em 36º.
Mesmo assim, Portugal está à frente
de países como a Alemanha, em 71º
lugar, ou a Áustria, em 83º lugar; para
não falar da Grécia em 152º lugar. A
Austrália é o país onde será mais fácil
“Começar um Negócio” em 2008.
No indicador “Concluir um Negócio”, a nação lusitana aparece em 20º
lugar, embora em 2007 surgisse em
19º. É mais fácil “Concluir um Negócio” em Portugal, do que em Itália (25º
lugar), Alemanha (29º lugar), França
(32º lugar) e Grécia (38º lugar). O
primeiro lugar, deste indicador, vai
para o Japão. É curioso vermos que,
segundo o relatório de 2008, seja mais
fácil concluir um negócio em Portugal, do que começá-lo.
Em todos os indicadores, que
são analisados, a pior performance portuguesa é no que se refere à
“Empregabilidade”. Portugal manteve inalterada, em 2008, a posição
que tinha em 2007: 157º lugar. Até
a Grécia ultrapassa Portugal, classificada em 142º. O primeiro lugar
é repartido ex-aequo pelos Estados
Unidos da América, Ilhas Marshall
e Singapura.
No reverso da medalha, Portugal
surge em 33º lugar quando toca a
“Proteger Investidores”, muito embora em 2007 surgisse em 32º lugar.
A Itália queda-se pelo 51º lugar; a
França pelo 64º posto e a Alemanha
surge apenas na 83ª posição. Neste
parâmetro o ouro vai para a Nova
Zelândia. O relatório completo, de
cada uma das 178 Nações estudadas,
pode ser encontrado em: www.doingbusiness.org.
| ESTA JORNAL • 11 de Março de 2008
REGIÃO
Homem Pré-Histórico
no Reino Unido
Pedro Cura, arqueólogo do Museu de Arte Pré-Histórica de Mação, veste a pele
de homem da pré-história do Vale do Ocreza e dá vida a Andakatu
arquivo do museu de arte pré-histórica de mação
Rocha, e pela coordenadora dos Serviços Educativos do Museu, Sara Cura.
Saldanha Rocha explica que acompanhou o Andakatu a Cambridge porque
é “uma experiência enriquecedora, para
além de apresentarmos um projecto
que fizemos nascer, fizemos todos os
contactos com um quadro científico
de renome.”
Andakatu fez uma demonstração de
como se faziam utensílios e tintas para
Tânia Pissarra*
O Projecto Didáctico Andakatu,
Educação pelas Artes e Património, do
Museu de Arte Pré-Histórica de Mação,
foi apresentado no Museu de Arqueologia e Antropologia da Universidade
de Cambridge, no Reino Unido, na
semana de 7 a 13 de Fevereiro.
Depois de recebido em Espanha e no
Brasil, a presença de Andakatu no Reino
Unido deveu-se a um convite feito no
âmbito do Seminário de Museografia e
Didáctica. Segundo o director científico
do Museu de Mação, Luiz Oosterbeek,
“o Andakatu foi apresentado na Universidade de Cambridge, numa colaboração com aquela prestigiada instituição.
Foi muito útil trocar impressões com os
nossos colegas, e desta forma ir aperfeiçoando este modelo de ensino e
divulgação da ciência e tecnologia através da arqueologia.”
Pedro Cura, que veste a pele de Andakatu, fez-se acompanhar pelos alunos do
mestrado e doutoramento a decorrer
no Museu de Mação, bem como por
Luiz Oosterbeek, pelo presidente da
Câmara Municipal de Mação, Saldanha
PUB
Projecto. A apresentação, em Cambridge, comprovou que a fórmula de sensibilização patrimonial funciona
as pinturas rupestres na Pré-História.
Esta foi feita durante todo o dia 9 e contou com um público bastante receptivo,
no qual se inseriam crianças e adultos,
entre os quais, a presidente da Câmara
de Cambridge, Jenny Bailley.
No dia 12, Andakatu fez uma sessão
especial para os estudantes de Arqueologia da Universidade de Cambridge,
o que permitiu uma interacção, não
só ao nível da troca de experiências
com os serviços educativos do Museu de Arqueologia e Antropologia,
como também ao nível científico. “O
envolvimento das pessoas foi muito
importante, reforçando a ideia de que
o projecto funciona, acabando também
por surgir oportunidades como o contacto com estudantes de Arqueologia,
com os quais tive o prazer de trocar
impressões” – ressalva Pedro Cura.
Este projecto tem obtido resultados
muito positivos por parte do público ao
qual é apresentado, tanto em Portugal,
como além fronteiras. Para Sara Cura, a
experiência em Cambridge foi “muito
importante”, não só pela divulgação
do trabalho, mas também pela “comprovação de que a fórmula de comunicação e sensibilização patrimonial e
artística encontra grande receptividade,
independentemente do tipo de público”. Esta responsável salienta ainda as
vantagens deste tipo de intercâmbio:
“Trocámos experiências com os colegas
dos serviços educativos do Museu de
Arqueologia e Antropologia da Universidade e regressámos a Mação cheios de
ideias novas!”
*Museu de Arte Pré-Histórica de Mação
11 de Março de 2008• ESTA JORNAL | REGIÃO
José Gil Serôdio, o primeiro presidente de uma jovem freguesia
“O meu orgulho é a Meia Via”
José Gil Serôdio (PS) foi o primeiro a agarrar as rédeas da freguesia de Meia Via, criada em 2001. O
presidente diz que a freguesia é já urbana e que “as obras mais marcantes” ainda vêm a caminho.
fabio car valho
Fábio Carvalho
Como é ser o primeiro presidente da Junta de
uma nova freguesia?
Primeiro, é gratificante na medida em que eu
entendi que a Meia Via necessitava mesmo de ser
freguesia. Ser o primeiro presidente não aconteceu
de uma maneira muito pensada, aconteceu quase
por acidente. Mas, com aquilo que eu pensava
da Meia Via, com aquilo que era necessário fazer, com aquilo que se tem feito, para mim tem
sido um óptimo trabalho. Tem sido uma óptima
experiência e, em certa medida, é algo que vem
preencher alguns campos daquilo que me faltava
aprender, também.
E por que razão a Meia Via necessitava de
ser freguesia?
A Meia Via necessitava de ser freguesia como todas as terras que, quando estão a cair
praticamente no esquecimento e no marasmo,
precisam de alguma coisa que as faça renascer,
que as faça desenvolver e que as projecte no futuro. A Meia Via, nos últimos anos, vinha sendo
praticamente esquecida pela Câmara de Torres
Novas. A partir do momento em que a Meia Via
se tornou freguesia, foi elevada administrativamente e tornou-se num centro de querer ser
diferente, de se querer projectar, de se querer
desenvolver. Como resultado, praticamente
desde 2002 que a Meia
km2. Isto quer dizer
Via tem estado sempre
que a Meia Via é uma
em obras. Hoje podefreguesia urbana e isso,
mos apreciar isto na
para nós Meiavienses,
medida em que os
é bom. A passagem de
arruamentos da Meia
uma freguesia rural,
Via estão praticamenque é Santiago, para
te desfeitos, mas ao
uma freguesia urbana,
mesmo tempo isso é
que é a Meia Via, já nos
bom porque vai agora
veio dar um aumento
iniciar-se uma fase de
da população escolar:
reconstrução. Tudo
vai haver a construção
indica que a Meia Via
de uma nova escola feivai ser e vai ficar bonita de raiz, um centro
ta e de, certa maneira,
educativo da Meia Via.
invejável em termos
Porque a freguesia se
de freguesias do conestá a desenvolver e é
celho.
uma das poucas, retiComo se constrói
rando a de Riachos e
uma freguesia?
as freguesias da cidade,
A Meia Via é uma
onde neste momento
freguesia construída a
há um aumento de popartir de uma anterior José Gil Serôdio. “Uma óptima experiência”
pulação.
freguesia, a de Santiago.
Qual o balanço que faz
A Meia Via é uma freguesia que tem alguma coisa destes primeiros anos de vida da Meia Via como
de particular em relação ao resto do concelho, por- freguesia?
que a nossa freguesia tem um índice populacional
Como todas as coisas que nascem, atravessou
de 500 pessoas por km2, enquanto que o nosso um período difícil. Mas estou convencido que,
concelho praticamente tem 100/120 pessoas por no fim destes dois mandatos, ao fim de oito anos
Cemitério de Santa Catarina, em Abrantes, permite um “ambiente mais sereno”
Todos iguais no momento da morte
TÂNIA bRANCO
Tânia Branco
Foram precisos quase três anos para que o Cemitério de Santa Catarina, em Abrantes, cumprisse
as suas funções. A população mostrou reservas,
por se tratar de um cemitério simples, com relva
e sem símbolos religiosos. O objectivo é conter
a expansão indefinida em termos de terreno e,
por outro lado, adoptar “uma nova postura face
à vida e à morte”.
Inaugurado em 9 de Fevereiro de 2005, o cemitério de Santa Catarina, em Abrantes, recebeu o
seu primeiro defunto em Novembro de 2007, por
vontade expressa do mesmo. Hoje, quem a ele se
desloca pode ver recortados na relva 22 rectângulos, que correspondem ao número daqueles que
nele se encontram sepultados, numa área relvada
que encobre 166 covais, e que irá ser expandida à
medida que for necessário.
Foram exactamente esses simples rectângulos e
a ausência dos símbolos religiosos que, ao início,
causaram reservas à população. Pina da Costa,
vereador da Câmara de Abrantes, afirma que
“existem várias razões” para a opção que foi feita,
nomeadamente uma questão de espaço e uma
questão de mentalidade.
Pina da Costa explica que “o tipo de cemitério
mato permite um ambiente
um pouco mais sereno e de
relação com a natureza.”
Para além destas razões,
o vereador aponta ainda razões técnicas, pois “é uma
abordagem totalmente diferente, visto que se trata de
um cemitério com decomposição aeróbia”, que inclui
um sistema de drenagem de
afluentes e de circulação de
ar que permite a decomposição mais rápida.
Quanto à dimensão do
Simplicidade. Relva predomina neste novo conceito de cemitério cemitério, o responsável
autárquico adianta que “já
tradicional tem um consumo de terreno que já não se encontra em preparação um concurso para
é comportável, pois existe sempre a expectativa um novo talhão, com outros tantos covais, para
da família em adquirir o coval, o que leva a que, que o cemitério fique na totalidade com 300/350
com o passar do tempo, seja necessário ampliar covais disponíveis”. Ou seja, “o cemitério irá ser
constantemente os cemitérios”. O novo cemitério, expandido à medida que for necessário”.
pelas características que tem, “pretende ser uma
Segundo Pina da Costa, “a filosofia subjacenresposta à necessidade de conter um pouco a te a este cemitério é uma filosofia democrática,
expansão indefinida dos mesmos”. Por outro lado, pois procura-se aqui uma certa horizontalidade
continua o autarca, “é também uma nova postura no enfrentar da morte, não existindo, por isso,
frente à vida e à morte”. Na sua opinião, “este for- diferenciações”. Existe uma pedra modelo para
como freguesia, a Meia Via está em condições de
ombrear com as freguesias mais desenvolvidas do
concelho. Isso é muito importante para nós, Meiavienses. Vem-nos dar ânimo e um certo orgulho de
continuar a nossa freguesia. Espero que nos anos
que virão, novos presidentes e novas maneiras de
encarar o futuro apareçam na Meia Via e eu farei
todo o gosto de acompanhar e ajudar.
E que projectos gostaria de ver ainda realizados na freguesia de Meia Via?
A Meia Via vai ser sujeita, num futuro
muito próximo, a duas realizações que vão
continuar a alteração que até agora se tem
verificado na nossa freguesia: a transformação da estrada nacional nº3 em avenida, tal
como a avenida Andrade Corvo em Torres
Novas, e que vai ligar o Nicho dos Riachos
ao Entroncamento; e a transformação da
estrada da Sapeira em avenida, criando-se
uma zona de desenvolvimento entre a Meia
Via e Torres Novas.
Qual a obra que mais se orgulha de ter realizados durante os seus dois mandatos?
Eu não me orgulho de fazer obras, o meu orgulho é a Meia Via. Penso que as obras marcantes
ainda não estão feitas. Primeiro foi preciso organizar administrativamente e criar o espírito de
freguesia de Meia Via. As obras marcantes vão
aparecer em breve.
Quando deixar a presidência da Junta de
Freguesia em que mãos gostaria de a deixar?
Eu gostava de deixar a Junta de Freguesia nas
mãos de um Meiaviense convicto e que ame a
nossa terra de maneira a poder fazê-la desenvolver-se. Pode ser qualquer Meiaviense, independentemente do partido a que possa pertencer,
desde que seja um amante da nossa terra e que
queira desenvolvê-la sem nenhum cinismo, só
por gostar dela, mais nada.
inscrições identificadoras de cada coval e um
espaço próprio para flores, mas apenas simbólico. Durante a primeira e a segunda semanas, a
autarquia permite que sejam colocadas flores por
cima da campa. “A partir dessa altura são retiradas,
pois acabam por perder qualidade, dando mau
aspecto” – remata o vereador.
Quando questionado sobre a possível criação
de um crematório junto ao cemitério de Santa
Catarina, o vereador afirma que “o que existem
são contactos com outros municípios para que se
consiga aqui um crematório regional”.
Uma das críticas que a população faz ao novo
cemitério é o facto de estar fora do centro da cidade. O Cemitério de Santa Catarina fica junto ao
Parque de S. Lourenço. O vereador admite que seja
uma problema para algumas pessoas e a Câmara
está consciente do problema. “Embora fosse fácil
lá colocar transportes públicos, não existe número
suficiente de utilizadores”- explica o vereador.
Pina da Costa sublinha a sua satisfação por
se verificar que as pessoas idosas começam a ter
uma maior receptividade por aquele formato de
cemitério. É exactamente essa receptividade que
transmite o abrantino Manuel Brites Vieira: “Foi
muito bom terem construído o Cemitério de Santa
Catarina, pois apesar de distante encontra-se bem
situado”. Gosta do formato e da ideia subjacente,
até porque já visitou outros cemitérios do mesmo
género em outros países, como no Brasil. Quanto
à reacção inicial deste novo cemitério, Manuel
Vieira acredita que a maioria das pessoas “já o
está a aceitar bem”.
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Café
Portugal
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Praça Raimundo Soares
10 | ESTA JORNAL • 11 de Março de 2008
ACTIVIDADES
João Gomes reconhece que as grutas não são atraentes para a maioria das pessoas
“É preciso gostar de calma”
João Gomes, 28 anos de idade, espeleólogo amador, tesoureiro e associado do Centro de Estudos e
Protecção do Património da Região de Tomar (C.E.P.P.R.T.), partilha as suas experiências e revela os riscos
e as dificuldades desta actividade, desconhecida pela maioria das pessoas.
d.r.
Laetitia Rodrigues
O que é a espeleologia?
A espeleologia trata-se da exploração de grutas, cavidades subterrâneas e cavidades no subsolo. É uma
área um pouco mais diversificada
do que propriamente a exploração.
Também tem em conta a vida, ou
seja, a parte biológica do subsolo e
a formação geológica.
Fazem mesmo estudos ou é mais
exploração para conhecer?
No nosso centro não temos biólogos, o que fazemos é por hobby.
Fazemos exploração para conhecer
novas cavidades. Quando conhecemos uma cavidade nova, fazemos
também, por vezes, topografia de
grutas. A topografia é uma espécie
de mapa de uma gruta. É muito trabalhoso e não temos equipamento
de topo para o fazer. Mesmo assim,
no centro de estudos já temos alguns
mapas de grutas feitos por nós.
Como é que têm acesso a informação sobre as grutas que existem?
Existem muitas grutas na zona
que já são conhecidas; a informação passa de pessoa para pessoa.
Existem associações pelo país inteiro. Quando uma gruta é descoberta, normalmente a informação
é divulgada. Se calhar, há muitas
que não o são, mas as grutas mais
simples acabam por ser divulgadas.
E quando o são, fazem-se muitas
expedições.
me lembrei de
fazer um ensaio
antes de ir para
baixo. Depois, na
parte da subida,
tive problemas.
Houve um colega
que também não
tinha o equipamento adequado,
e um outro teve
de descer 40 metros para conseguir entregar uma
peça que é para
fazer a subida. Só
para fazer aquela
subida levámos
cerca de cinco
horas. Éramos
quatro elementos.
Foi um dia muito
longo.
Normalmente
João Gomes. “As grutas são frias, húmidas e têm lama” vão em grupo.
Nunca houve
ninguém que se
Qual foi a experiência que mais tivesse aventurado a ir sozinho?
Não, não. É pouco aconselhável
o marcou?
Não há nenhuma situação que fazer isso. Quando se vai para uma
me tenha marcado particularmente, gruta convém sempre irem pelo
mas lembro-me que a última explo- menos duas, três pessoas, no míração que fiz foi a uma gruta que se nimo.
chama Algar da Lomba, que fica na
Esta actividade tem muitos risregião de Minde: foi o poço mais cos?
fundo que visitámos e tem cerca de
Sim. Uma gruta não é propria90 metros. Já não fazia exploração mente o sítio mais indicado para ter
desse tipo havia muito tempo. Para acidentes. Primeiro, porque há muialém disso, fiquei com equipamento tas zonas de difícil acesso. Existem
que normalmente não utilizo e não grutas que não são aquilo que ima-
ginamos. Para quem já visitou, por
exemplo, a Serra d’Aire, que é uma
gruta bastante conhecida do nosso
país, entra lá de elevador, anda por
lá a pé e é impecável. Mas a maior
parte das grutas que nós temos são
grutas em que as pessoas têm de
rastejar e em certas zonas temos
que passar por buracos onde cabe
um coelho e pouco mais. Se existir
um problema qualquer, socorrer é
muito complicado.
Existe algum programa de formações para espeleologia?
Sim. Existe a Federação Portuguesa de Espeleologia, que anualmente faz uns cursos de nível I, II e
III. Eu tenho um curso nível II. Essa
formação é a única.
Pensa que a espeleologia está
muito ou pouco divulgada no
nosso país?
Não existe muita divulgação,
porque não existem muitas grutas.
As zonas de grutas normalmente
são zonas rochosas calcárias e no,
nosso país, não existem muitas. E
as grutas que existem não são muito
atractivas. Para fazer espeleologia é
preciso gostar de calma e também
um bocadinho de dedicação. Não é
uma coisa que atraia muitos jovens,
só inicialmente. Há muita gente que
Numa gruta,
socorrer é
complicado
no início gostaria de conhecer uma
gruta, mas depois chega lá dentro e
o clima é terrível: as grutas são frias,
húmidas, têm lama e uma quantidade de coisas que normalmente as
pessoas não gostam.
Já assistiu a alguma situação
complicada?
Existem pessoas que sofrem de
claustrofobia e meterem-se em grutas é mau, porque podem entrar em
pânico. Mas normalmente faz-se
uma preparação cá fora. Se é uma
pessoa que gosta de fazer escalada,
rappel ou actividades desse tipo
no exterior, que não são de risco
mas são radicais, em princípio, entra dentro de uma gruta e não tem
grandes problemas.
Quanto ao financiamento para
essas actividades. A associação
tem algum protocolo com associações ou outras instituições?
A nossa associação não tem fins
lucrativos. Pagamos quotas e é só
com esse dinheiro que nos governamos, ao fim e ao cabo. Temos outra
parte que é dedicada à protecção
do património da região de Tomar,
e essa parte acaba por subsidiar alguma coisa.
Qual pensa ser o motivo para
que não haja incentivos para essa
actividade?
O IPJ financia muitas actividades para jovens. Mas, para isso, os
jovens têm de aderir, participar. E à
partida a espeleologia não é uma actividade que atrai, e há outra coisa:
não se pode pôr um jovem a fazer
exploração a uma gruta, como habitualmente fazemos, utilizando o
apoio de cordas, fazendo escaladas
e coisas do género. É preciso uma
fase de formação. Para fazer isso, ou
nós damos formação ou temos de
arranjar forma de a pessoa o fazer.
Além do mais, o equipamento que
utilizamos é muito caro. É equipamento específico para espeleologia,
não é equipamento usual de escalada nem rappel. Algumas peças sim,
mas a maior parte não.
Columbofilia
“ Um voo cheio de sonhos e de esperança”
Fábio Carvalho
Portugal está no topo da columbofilia internacional, pois o modelo
do nosso país é aquele que está mais
bem organizado no ponto de vista
administrativo, desportivo e social.
Somos o único país com o cartão de
proprietário do pombo com leitura
óptica e, ainda, com todos os pombos
recenseados, sendo a única federação
que sabe o número dos seus pombos
a fim de os conseguir localizar através
de um sistema por GPS.
Portugal é também pioneiro a implantar pombais nas escolas, em lares
de idosos, como forma de combater
a solidão, assim como em centros de
tratamentos para a tóxico-dependência e em centros para portadores de deficiência física. Para além
disso, o actual presidente da Federação Columbófila Internacional é
português.
A columbofilia, que significa a
utilização do pombo-correio como
atleta, é praticada em Portugal por
mais de 16 mil famílias e, por isso,
considera-se a segunda modalidade
no nosso país com mais praticantes.
Sendo um atleta, é necessário que o
pombo-correio seja acompanhado
do ponto de vista técnico, científico
e veterinário.
Para muitos, esta modalidade desportiva passa ainda por despercebida.
José Tereso é o presidente da Federação Portuguesa de Columbofilia
e, actualmente, também presidente
Fábio car valho
Atletas . Os pombos-correio são acompanhados tecnica e veterinariamente
da Federação Columbófila Internacional. Na sua opinião, o maior problema da columbofilia em Portugal
é exactamente as pessoas não terem
conhecimento desta actividade nem
das características do pombo-correio.
Por isso, passar essa mesma informação é uma das grandes prioridades da
Federação Portuguesa.
José Tereso explica que a grande dificuldade é a confusão que as pessoas,
“por falta de cultura” fazem entre o
pombo-correio e os outros pombos:
“O pombo da cidade é considerado
um rato, um animal que não é bem
visto e que pode trazer algum risco.
Não é um animal desejável, enquanto
que o pombo-correio tem características completamente. diferentes.”
Os pombos
são como uma
segunda família
Por isso, José Tereso costuma dizer
que “ se o cão é o mais fiel amigo do
homem, o pombo-correio é o animal
mais fiel da família, pois solto a mais
de 1000 quilómetros regressa a casa
no mesmo dia.”
José Maurício de Carvalho, columbófilo há mais de trinta anos, considera os seus pombos como não só
amigos, mas também como uma parte de si mesmo: foi ele que os criou,
educou, treinou, jogou e adoptou
como uma segunda família que, dia
após dia, tem de proteger e valorizar.
José Maurício diz conhecer todos
os seus pombos ao ponto de saber o
que dizem e o que sentem. Em dia de
prova, enquanto espera o regresso dos
seus “amigos”, vem à mistura um conjunto de sensações, nervoso, paixão,
ternura e compreensão. Quando o
atleta regressa a casa sem ajudas e por
mérito próprio, ultrapassando todo o
tipo de dificuldades, e privações até
do próprio homem, está alcançado o
sonho de qualquer columbófilo.
11 de Março de 2008 • ESTA JORNAL | 11
ACTIVIDADES
Rotary Club de Abrantes
“Dar de si antes de pensar em si”
Clubes de Profissionais para servir os outros. Assim se definem os Rotary Clubes, mas este é apenas o ponto de partida para um
vasto conjunto de projectos. O que os seus membros pretendem é, olhando para cada comunidade, verificar como e onde é que
podem ser úteis. Bolsas de estudo e apoio na construção de lares para deficientes são apenas dois exemplos do que faz o Rotary de
Abrantes.
tania branco
Tânia Branco
Alguns beneficiários
Uma roda dentada com 24 dentes.
Este símbolo, de acordo com João
Graça Vieira, membro do clube Rotário Abrantino, significa que “os
membros rotários, ao integrarem este
movimento, têm de estar disponíveis
para todas as funções que lhes sejam
atribuídas”. Significa, também, “que
a qualquer hora do dia está a ocorrer
uma reunião Rotária no Mundo”.
Esta roda é o símbolo dos 32.000
Rotary Clubs e dos seus 1,2 milhões
de rotarianos dispersos por 200 países. Entre esses países está Portugal e
entre os Rotary Clubs nacionais está
o Rotary Club de Abrantes.
Todos os membros do Movimento
Rotário são pessoas que desempenham diferentes funções na sociedade
(médicos, enfermeiros, empresários,
entre outras), pois o Rotary é “um
Clube de Profissionais”. Esses profissionais entram para o clube através
de proposta de um outro membro
rotário e, depois disso, adquirem uma
classificação Rotária, de acordo com
a sua função na sociedade.
Os membros rotários, os clubes
Rotários, a Fundação Rotária Portuguesa, a Rotary Foundation e o Rotary Internacional têm por objectivo
trabalhar em função da comunidade,
ou seja, desenvolvem projectos a nível
local, nacional e/ou internacional, de
modo a obter apoio para projectos
necessários à comunidade.
Os rotários encaram a sua missão
como algo que nunca está terminado,
pois o seu lema é “ Dar de si antes de
pensar em si”, e o seu trabalho é sempre desenvolvido de modo a permitir
oportunidades de servir os outros.
Cada clube rotário empenha-se nos
seus próprios projectos, nos projectos
internacionais e nacionais. O Rotary
Club de Abrantes é um desses clubes Rotários, que no caso português
integra um dos dois distritos (1960)
que compõem a Fundação Rotária
Portuguesa, coordenando os clubes
portugueses e que foi criada com autorização do Rotary Internacional.
“Todos os meses o movimento tem
um tema que obriga os seus membros
a pensar na vida de uma forma menos
anárquica e mais ordenada”. É assim
que João Graça Vieira explica ao ESTAJornal o funcionamento do Rotary
Club de Abrantes. As declarações surgem no local onde ocorrem os encontros dos rotários abrantinos, um local
calmo, colorido e aconchegante.
Foi também num ambiente calmo
que, no passado mês de Outubro,
dedicado ao tema “Serviços”, o Rotary Club de Abrantes homenageou
Paulo Pereira da Silva, administrador
do Grupo Renova, pois considerou
que este é um exemplo a seguir. No
entanto, esta não é a única acção de-
Os projectos são bons, mais quais os resultados?
Fazendo um intervalo nos seus estudos, Andreia
Bernardo, de 19 anos, explica que a bolsa a que
teve acesso, há já dois anos, através do Rotary
Club de Abrantes foi “benéfica”. A jovem conta que,
sem este apoio, não poderia ter tido explicações de
matemática, explicações essas que lhe permitiram
“concluir os estudos no secundário”. Actualmente
este auxílio permite-lhe “pagar algumasdespesas
universitárias”. Para além do seu caso, Andreia
Bernardo evidencia o trabalho do Rotary, sublinhando que “proporciona uma grande ajuda a
muitos alunos, pois graças a eles muitos alunos
ultrapassam as suas dificuldades financeiras”.
Humberto Lopes, presidente da Direcção do CRIA,
também evidencia o apoio recebido: “A angariação
de fundos feita pelo Rotary, através do projecto
“Encontros em Cadouços”, permitiu-nos adquirir
o equipamento que se encontra na lavandaria do
Lar Residencial e tal facto trouxe bons benefícios
para a o centro.” Quanto à acção que o Rotary
promoveu, Humberto Lopes afirma que, enquanto
presidente da direcção, recebe “muito bem esta
acção e gostaria de ver mais acções deste género”.
No entanto, reconhece que as outras instituições
também devem ser apoiadas.
Distnção. O presidente do Rotary Club de Abrantes, José Luís Silva, entrega prémio a Paulo P. da Silva (à esquerda)
senvolvida por este clube.
Foi no mesmo sítio onde ocorreu
a homenagem que, em conversa com
José Luís Silva e João Graça Vieira,
dois membros do movimento rotário Abrantino, ficámos a saber que os
projectos desenvolvidos pelo clube
surgem durante as reuniões que se realizam semanalmente. Esses projectos
são definidos de acordo com as necessidades que os membros rotarianos
verificam na comunidade envolvente,
estando alguns deles relacionados com
o tema do mês rotário. As actividades
são desenvolvidas de forma a que haja
aceitação por parte da comunidade,
para que o clube posteriormente possa
desenvolvê-los e aplicá-los.
Entre outras acções, o Rotary Club
de Abrantes tem custeado, através de
fundos recolhidos, rastreios à visão
realizados às crianças do 1º ciclo nos
concelhos de Abrantes e Mação, tem
apoiado projectos anuais do Centro
de Recuperação Infantil de Abrantes
(CRIA) e a obra do Cónego José da
Graça. Simultaneamente, tem promovido a concessão de bolsas patrocinadas e outros apoios a jovens
estudantes. Dentro do próprio Rotary,
tem apoiado outros Clubes, como foi
o caso do Club Rotário de Moçambique, na Beira, que necessitava de
material para arranjar escolas, através
do envio de carteiras para os alunos.
Para além disso, todos os anos este clube leva a cabo um projecto de
apoio à comunidade que se designa
por “Encontros em Cadouços”, onde o
clube apresenta um projecto que lhe foi
proposto e que é de importância significativa para a instituição proponente,
tendo em vista obter apoios . Exemplos
do sucesso desta iniciativa foram os
fundos já obtidos para o equipamento
do Lar Residencial do CRIA e para a
estufa do Projecto Homem.
José Luís Silva e João Graça Vieira
vêem as reuniões rotárias como algo
benéfico, pois são momentos ricos em
pontos de vista e em formas de actuar,
o que lhes permite desfrutar de um
ambiente de companheirismo e sair
engrandecidos e fortalecidos para o
seu dia-a-dia. Além disso, para José
Luís Silva, o convívio de três gerações
distintas ajuda-os a respeitar, a aprender, a defender convicções e a ceder,
pois o objectivo de todos é comum:
servir os outros.
“Rotary foundation, fundação rotária
portuguesa e rotary internacional
O Rotary Club de Abrantes integra
duas outras grandes instituições: a
Rotary Foundation e o Rotary Internacional.
A Rotary Foundation gere todos
os clubes Rotários e coordena o movimento rotário a nível Universal,
fazendo com que as normas deste
movimento sejam iguais em todos os
locais e coordenando projectos a nível
internacional. Além disso, tem por
objectivo capacitar os rotarianos para
que possam promover a boa vontade,
a paz e a compreensão mundial, por
meio de apoio a iniciativas de melhoria
da saúde, da educação e do combate à pobreza. Por não ter fins lucrativos, a
Fundação Rotária não pode prescin-
dir das contribuições de pessoas que
acreditam no seu trabalho em prol de
um mundo melhor.
Quanto à Fundação Rotária Portuguesa, esta também se destina à concretização do Ideal de Servir, que constitui
a base do Movimento Rotário. Para
além disso, e visto que esta fundação
apenas engloba os movimentos rotários nacionais, promove actividades de
serviço em benefício das populações
residentes em Portugal, sobretudo a
nível da educação, da ciência, da cultura, e com carácter social, através da
concessão de auxílios e incentivos, tais
como subsídios, bolsas e prémios, sem
prejuízo de outras iniciativas que o seu
Conselho de Administração delibere.
Por sua vez, o Rotary Club Internacional, tal como cada Rotary Club, tem
por objectivo servir ao próximo, difundir os altos padrões étnicos e promover a boa vontade, paz e compreensão
mundial por meio da consolidação de
boas relações entre líderes profissionais, empresariais e comunitários. Já
no seu segundo século de prestação
de serviços, o Rotary Internacional definiu em 2007 o seu Plano estratégico
07/10, onde apresenta as suas prioridades: erradicar a poliomielite; aprimorar
o reconhecimento interno e externo e
a imagem pública do Rotary; aumentar a capacidade do Rotary; prestar
serviços; expandir a quantidade e a
qualidade do quadro social em todo
o mundo; enfatizar o compromisso
do Rotary com os serviços profissionais; maximizar a formação e treino
de líderes no Rotary Internacional; e
implementar integralmente o plano
estratégico de modo a garantir continuidade e consistência na organização.
Estes projectos estão programados a
nível internacional e destinam-se a
todos os clubes rotários.
Para além destes projectos, há a
destacar que o Rotary Internacional
é parceiro de referência das Nações
Unidas (ONU), da Organização Mundial da saúde (ONS) e da Unicef, tendo
sido por estes organismos reconhecido
como uma das maiores ONG’S do
mundo. T.B.
12 | ESTA JORNAL • 11 de Março de 2008
DESPORTO
Presidente do Abrantes Futebol Clube (AFC) aborda as dificuldades do clube e o risco deste poder fechar
“Este vai ser o Verão mais
quente da história do AFC”
Alberto Lopes, em entrevista ao ESTAJornal, revela alguns dos contornos da crise do clube mais representativo do concelho
de Abrantes, numa altura em que se tem ventilado a possibilidade do Abrantes Futebol Clube se extinguir no final desta
época. Num discurso pacifista e de esperança, o responsável revela que é possível reabilitar o clube, mantendo-o no patamar
em que se encontra.
Tiago lopes
Nuno Jesus
Como é que é a sua ligação ao
Abrantes Futebol Clube?
O Abrantes Futebol Clube - AFC foi
fundado em 1999. Acompanhei o clube
desde esse primeiro momento, sou o
sócio número 63. Desde o início que me
foi pedida a minha colaboração, mais
em termos de logística, de fornecimento de refeições ao clube. Disponibilizeime, como um fã incondicional deste
projecto, e assisti a praticamente todos
os jogos da equipa. Provavelmente, nestes anos de existência do clube, faltei a
meia dúzia de jogos. Acho que os vi
quase todos. No Barro Vermelho, em
S. Miguel e por esse País fora.
Tentei sempre não fazer parte dos
corpos sociais, e só em 2003 é que
aceitei pertencer à direcção. Devido à
minha vida profissional, entendia que
podia dar um grande contributo, estando por fora, a apoiar noutras questões
que os directores, por vezes não têm
tanto tempo. Andei sempre a fugir com
o rabo à seringa. Em 2003, pediram-me
para fazer uma reunião no meu restaurante… Não percebi qual seria a intenção. No fim da reunião, faltava uma
pessoa para vice-presidente adjunto,
para fechar a lista candidata às eleições
do biénio 2003 / 2005. Quando me chamaram à mesa e me confrontaram com
esse facto, acabei por aceitar participar
nessa lista que veio a ser sufragada, em
Assembleia Geral. E diga-se, também
tinha vontade de participar mais por
dentro neste projecto.
Mais tarde, o que o levou a aceitar
o desafio de presidir ao Abrantes Futebol clube, funções que mantém, ao
fim destes anos?
Foi uma sucessão natural porque
era vice-presidente adjunto. O presidente do clube era o senhor Alfredo
Santos, com quem tinha uma relação
muito próxima e muito boa. Pela sua
lisura, pela sua forma de estar e pela sua
correcção foi das pessoas que mais me
marcaram no Abrantes, pela positiva.
Eu era o único vice-presidente adjunto.
Por motivos de saúde,o senhor Alfredo
Santos teve de abdicar da presidência e
pediu-me para eu assumir. Fui proposto
em Assembleia Geral aos sócios, foi
aprovado e assumi a presidência nessa
altura, portanto o meu primeiro mandato foi em 2003 / 2005.
Contudo, a sua presidência acabou
por se estender até hoje…
A minha presidência tem-se pro-
Alberto Lopes. “Acredito que todas as pessoas que passaram pelo AFC tentaram fazer sempre o melhor pelo clube”
longado porque o associativismo está
numa crise cada vez mais profunda.
As pessoas não estão muito disponíveis para abdicarem da vida delas para
causas de onde não se retiram proveitos.
E eu não ando no futebol à procura de
qualquer proveito político, financeiro
ou que quer que seja.
O futebol ainda é considerado um
“trampolim” para chegar a outros
fins, a “outros palcos”?
Há pessoas que têm ambições políticas e o futebol, por vezes, é um trampolim para as alcançarem. Há outras
que, quando o futebol ganha uma determinada dimensão, é um negócio
apetecível e andam no futebol porque
pretendem lucrar com isso. Eu ando
no futebol porque é quase uma missão,
este trabalho que estou a desenvolver à
frente do AFC, e gostava de concluir
esta missão com sucesso. Luto todos
os dias para que isso aconteça.
Era expectável que o clube chegasse
à grave situação financeira em que se
encontra hoje?
Uma das coisas que me motivou a
continuar à frente do clube foi saber que
o caminho que o clube tinha de trilhar,
era, necessariamente, outro que não
aquele que tinha percorrido até à época
2003 / 2004. Porque um clube com os
gastos que o AFC tinha, para o nosso
tecido empresarial e os apoios com que
podíamos contar, era insustentável o
clube ser gerido da forma como era.
Obviamente que estando por dentro
desde o princípio, provavelmente deveria ter tido outra postura e ter feito
força para que as coisas tomassem o
rumo que tomaram. E quando estamos
inseridos numa direcção ou à frente de
um clube ou outra associação, há uma
coisa que é muito importante que é o
espírito de solidariedade entre os vários membros de uma direcção. E tem
sido sempre isso que tem acontecido
nas direcções do AFC, salvo situações
pontuais. Por vezes, apesar de discordarmos nas reuniões destas questões
que, obviamente, eram discutidas, não
adoptámos posições de ruptura dentro
da estrutura da direcção. Mas, se isso
tivesse acontecido, provavelmente, o
clube, hoje, não estaria a passar pelas
dificuldades em que está.
Estas dificuldades não serão o
resultado de alguns passos dados,
maiores que as pernas?
São, sobretudo, fruto de uma ascensão meteórica que o clube teve, que foi
um caso ímpar em Portugal. Nenhum
clube, em tão poucos anos, desde a sua
fundação, conseguiu chegar tão depressa à II Divisão. Há uma frase que
me foi dita por uma pessoa, há cerca
de dois anos atrás. Uma pessoa que
me incentivava a continuar à frente do
clube e que dizia: «Foram importantes
as pessoas que estiveram à frente do
clube até à chegada do Alberto. Percorreram o caminho que era preciso
para levar o clube à II Divisão. Agora,
é importante uma pessoa com o seu
perfil para dar sustentabilidade ao clu-
be neste patamar, que é aqui que nós
pensamos que o AFC deve estar. Nem
abaixo, nem acima!» -Penso que é uma
ideia correcta. Agora, discordo é dos
custos que teve chegarmos tão depressa
à II Divisão Nacional. Cada pessoa tem
a sua forma de gerir o clube e eu não
tenho desculpas, seja de que tipo for,
porque estava por dentro de todos os
problemas do AFC. E como assumi,
dominava todos os dossiers, conheço
todos os problemas, todas as dívidas,
conheço todos os que são credores do
AFC. Se decidi assumir a minha recandidatura é porque sabia que podia
resolver os problemas. Por vezes, as
coisas não correm da forma como nós
planeamos, há sempre coisas que nos
falham. Não nos podemos esquecer
que o AFC é um clube que vive única e
exclusivamente de terceiros. Em termos
de receitas próprias, o clube não tem
sustentabilidade nenhuma. Tem só os
sócios, cada vez são menos e as pessoas
cada vez têm mais dificuldade em cum-
11 de Março de 2008• ESTA JORNAL | 13
DESPORTO
prir com o pagamento das quotas. As
receitas de bilheteira são cada vez mais
reduzidas. Ainda no último jogo, em
Penalva do Castelo, um campo que
estava sempre cheio, nem cem pessoas
tinha. É uma crise geral, nacional, e não
só do Abrantes. Assumo que conhecia
todos os problemas e sinto-me ainda
com capacidade para os resolver.
Fala-se em 200 mil euros de dívida
ao fisco e 80 mil euros a atletas, que
impedem o clube de inscrever novos
jogadores. De forma objectiva, qual
foi a origem ou quais os motivos para
esta crise?
A crise é pública. Assumimos numa
reunião de direcção, há pouco tempo,
que até ao fim da época não iríamos
tocar mais em questões sensíveis, nem
tecer qualquer comentário a esse respeito. E essas são as questões mais sensíveis
da vida do clube. A única coisa que eu
posso dizer é que acredito que todas
as pessoas que até hoje passaram pelo
AFC, tentaram fazer sempre o melhor
pelo clube. Não vou apontar o dedo
a ninguém. Já chega de andarmos a
bater uns nos outros, de apontarmos os
dedos uns aos outros e a sacudir a água
do capote. Cada um tem a sua quotaparte de responsabilidade. E eu também
tenho alguma. No final desta época,
pretendemos fazer uma auditoria ao
clube, vamos torná-la pública e de uma
vez por todas acabar com a discussão
pública dos problemas do AFC.
Mas reconhece que há problemas,
que há dívidas e bastante elevadas?
Isso é público e nós não o escondemos. Eu fui o primeiro a denunciá-lo.
Agora, como disse, não quero voltar a
falar dessa questão, que é muito sensível
e nos tem causado bastantes prejuízos,
até junto de patrocinadores. Temos de
começar a trabalhar uma imagem positiva em torno do AFC e não a transmitir
uma imagem de um clube sem controlo, sem futuro, sem sustentabilidade.
Daqui para a frente vamos trabalhar
para criar uma imagem positiva do
Abrantes e não falar do clube de uma
forma depreciativa.
Quando pedi para me identificar
qual o problema do AFC, não me referia a pessoas. Para encerrar o assunto,
no fundo, qual foi o grande problema
do Abrantes para que se chegasse a
esta insustentabilidade?
Se calhar, foi ganhar muitas vezes.
Teve sempre boas equipas, com valor
acima dos campeonatos onde jogámos
e por isso subiu sempre. Por vezes, somos surpreendidos com questões que
nos parecem tão pequenas, mas que
são tão importantes… Quando se faz
a planificação de uma época, há que ter
em consideração aspectos que, amiúde, se tornam surpresas desagradáveis.
Recordo-me, quando estávamos na III
Divisão Nacional e subimos, o objectivo
inicial apontava para a manutenção. Foi
aprovada uma tabela de prémios de jogo.
Mas a própria direcção não acreditava
que a equipa subisse logo à II Divisão.
A tabela previa, salvo erro, que nas
últimas seis jornadas, se o clube andasse nos lugares de promoção, os
prémios duplicavam ou triplicavam.
O que aconteceu? – A equipa ganhou
os jogos todos até ao fim do campeonato. Tinha-se orçamentado gastar uma
determinada verba que acabou por
triplicar. Saiu pelo positivo na questão
da promoção à II Divisão, mas teve os
custos que teve. Não se contava que a
equipa ganhasse tantos jogos. Foi um
incentivo que resultou. Diz-se que no
futebol é bom haver ordenados baixos e
incentivos altos, em termos de prémios
de jogo. E isso resultou, mas se bem
me recordo, nessa época, pagou-se à
volta de oito mil euros. Um valor muito
grande para um clube com as possibilidades dos AFC. Mas estamos cá. E
os problemas vão-se resolvendo aos
poucos. Nós, nas duas últimas épocas
temos vindo a resolver as situações de
alguns jogadores. Falta-nos resolver
as que dizem respeito à equipa que foi
desmantelada em 2005. E daí para a
frente o AFC já vai ser um clube visto
com outros olhos e com outras perspectivas de futuro.
Quais são as medidas a implementar para resolver esta crise em que o
clube está mergulhado?
Nós definimos uma estratégia já na
inscrever a equipa. Mas, fomos obrigados a aceitar as condições que eles nos
impuseram. Ora, tínhamos consciência,
e eles também foram alertados para isso,
que eram muitos processos, sendo que
nós tínhamos pagar de 300 a 500 euros
por mês, a cada um. Um somatório de
16 vezes esses valores, dá uma quantia
incomportável. Mas fomos obrigados a
assumir esse compromisso para poder
inscrever a equipa. Não cumprimos e
eles agora voltaram a colocar-nos novos
impedimentos. A nossa palavra já está
completamente gasta. A credibilidade já é pouca e a capacidade negocial
pouquíssima.
A mensagem que tentei passar aos
atletas é que é importante aceitarem o
pagamento faseado de quantias pequenas, por mês, ou por época, de uma forma mais suave. Há atletas com quantias
O orçamento desta época já foi positivo. Nós temos de proveitos garantidos 274 mil euros. O orçamento desta
época tem um saldo positivo de cerca
de 70 mil euros. Porque temos de orçamento 307 mil euros, deste valor, 33,6
% são para amortizar passivo (103 mil
euros) e em termos de custos, 204 mil
euros (custos directos e indirectos).
Portanto, é um orçamento positivo. Há
esta herança do passivo que continua a
atrofiar a gestão da tesouraria do clube,
porque são dívidas, todas elas, de curto
prazo.
A única dívida de curto prazo que
conseguimos transformar em dívida
de médio prazo, foi a dívida ao Estado,
que temos vindo a pagar com algum
atraso, mas a cumprir dentro das nossas
possibilidades. E a prova disso é que
nunca mais tivemos uma penhora do
Tiago Lopes
“O AFC, mesmo
com esta crise,
é um clube
apetecível
para muitos
empresários de
futebol”
“Temos de
orçamento
307 mil euros,
33,6 % são para
amortizar passivo
(103 mil euros),
204 mil euros
(custos directos
e indirectos)
e proveitos
garantidos de 274
mil euros”
outra época de fazer parcerias com empresários, no sentido de reduzir custos,
mas também já chegámos à conclusão
que o caminho não pode ser só este.
Exige-nos mais; exige mais estratégias;
exige mais parcerias e nós trabalhamos
todos os dias à procura de soluções para
resolver os problemas do AFC.
Nestas últimas semanas veio a público a possibilidade do AFC fechar
portas. Essa é uma situação que está
em cima da mesa?
É uma situação que está em cima
da mesa. Quando o disse a um órgão
de comunicação social, não o disse de
forma leviana. Tem o sentido da responsabilidade que as palavras têm de
ter. Este vai ser o Verão mais quente
da história do AFC. A equipa que saiu
em 2005, acabou o campeonato com
quatro meses de salários em atraso.
Quando fomos inscrever a equipa para
a época 2005 / 06, já tínhamos uma
série de impedimentos. Negociámos
um plano de pagamentos com esses
jogadores que meteram processos em
tribunal contra o clube, para podermos
“Há um clube de topo da Superliga interessado em que o Abrantes seja seu
clube satélite”
a receber, na ordem dos 40 mil euros. Se
nos exigirem o pagamento da totalidade da dívida, de uma só vez, não temos
capacidade para resolver o problema e
o AFC pode não participar no Campeonato da II Divisão Nacional.
Até que ponto é que esse pode ser
um cenário?
É um risco e é um cenário que pode vir a acontecer, num futuro muito
próximo. Quais são as alternativas que
nos restam? Ou inscrevemos o clube
nos distritais ou formamos um novo
clube. Com este alerta só quis sensibilizar as pessoas para a necessidade de
perceberem a gravidade da situação
e para nos darem espaço para podermos negociar. Agora, é uma situação
que pode perfeitamente acontecer, no
próximo Verão. Mas como é óbvio, não
é esse o nosso desejo. Nós queremos é
resolver os problemas do clube, que ele
continue durante muitos anos e cada
vez com mais vitalidade.
Se não fossem os problemas do
passado o clube neste momento era
rentável?
Estado, em relação ao incumprimento
do acordo que temos com o fisco. Se
conseguíssemos arranjar um investidor
que nos garantisse a verba necessária
para resolver todos estes problemas que
estão em tribunal, só por si, não resolvia
todos estes problemas do clube. O clube
não pode ter só uma estratégia de curto
prazo. O Abrantes tem de encontrar
uma linha, um rumo para o futuro que
nós sabemos qual é. Não passa só por
estas parcerias com empresários… temos tudo definido, temos negociações
em curso no sentido de, resolvendo
estes problemas, o AFC possa ser um
clube com um futuro risonho.
Qual é a relação do AFC com a cidade, adeptos, empresas e instituições?
Temos aquelas pessoas que nunca
viraram as costas ao AFC, aqueles sócios, alguns até pequenos comerciantes
que não vivem tão desafogados mas
que pontualmente vão colaborando
connosco e nos ajudam a resolver alguns problemas. Temos a realidade
das empresas que nos vão apoiando,
ano após ano, e que continuam a acre-
ditar em nós. Mas também com esta
divisão interna que houve no AFC,
também houve muitas pessoas, muitos
sócios que viraram as costas ao clube.
Não conseguimos ainda recuperar
essas pessoas e essas empresas para o
Abrantes…
Temos tido alguma culpa, porque
também temos cuidado pouco da imagem do clube. Estamos agora a trabalhar
com uma empresa que nos vai trabalhar
essa vertente para passar uma imagem
mais positiva, para podermos ter uma
maior capacidade negocial perante as
empresas. O concelho de Abrantes vive
agora uma grande expansão, ao nível de
investimentos, e também nesse aspecto
estamos a preparar o futuro. Vamos
começar a trabalhar de uma forma
mais séria e mais afincada a imagem do
clube. Queremos outra imagem, com
outros rumos de actuação a nível de
visibilidade do clube, para avançarmos
depois para um plano de patrocínios
mais eficaz para a próxima época. Penso
que as pessoas vão voltar a acreditar no
Abrantes e a estar connosco. Apesar de
tudo, não nos podemos queixar muito,
porque conseguir este valor de patrocínios como conseguimos, é muito bom
na nossa realidade. Mas também temos
consciência que com um trabalho mais
incisivo poderemos alcançar valores
substancialmente mais altos e é para
isso que estamos a trabalhar.
É difícil fazer futurologia, mas como gostaria de ver o AFC daqui a
dez anos?
São muitos anos! Desejo que daqui
a dez anos o Abrantes esteja na II Divisão Nacional. Nem abaixo, nem acima.
Penso que é um bom patamar para o
AFC estar. Se os próximos tempos forem positivos e se conseguirmos resolver esta série de problemas que temos,
o clube tem um potencial tremendo.
Abrantes está no centro do País, com
uma rede viária brutal. Os acessos a
Lisboa e ao Porto são extremamente
fáceis… A globalização do futebol está no seu auge e somos confrontados
todos os dias com oferta de jogadores
em condições extremamente vantajosas
para o clube. O AFC, mesmo com esta
crise, é um clube apetecível para muitos
empresários de futebol. E nesse aspecto,
já trabalhamos com os melhores empresários portugueses.
O próximo ano vai ser decisivo.
Se o AFC conseguir inscrever a sua
equipa na II Divisão, se conseguirmos
passar uma mensagem positiva para
a sociedade civil, para o meio empresarial, para tudo o que nos rodeia, o
Abrantes tem todas as condições para,
muito brevemente, ser um clube com
uma estabilidade tremenda e com um
grande futuro.
Temos sido contactados por grandes
clubes, até por clubes estrangeiros para
possíveis parcerias – a tal globalização
que eu falava. Há um clube brasileiro – o Vasco da Gama – que esteve
cá há pouco tempo a falar connosco
que tem interesse em que o Abrantes seja um receptor dos jogadores
da formação deles. Há também um
clube português, de topo da Superliga,
interessado em que o Abrantes seja
seu clube satélite, onde possam colocar jogadores a rodar. Estamos a criar
condições, se conseguirmos inscrever
a equipa, estão reunidas as condições
para inscrevermos uma equipa com
valor, não digo a custo zero, mas por
valores reduzidíssimos.
14 | ESTA JORNAL • 11 de Março de 2008
DESPORTO
Tuning, uma forma de estar na vida
Nelson Ferreira
Tuning para muitos é uma palavra quase desconhecida, para outros é uma paixão. Tuning é a arte
de modificar o carro, tornando-o
mais personalizado, mais seguro,
mais bonito, diferente do original e
único. O Tuning é aplicável a praticamente todos os componentes de
um carro: jantes, pneus, suspensão,
motor, interior, carroçaria, sistema de escape, instalação áudio e
outros.
Muitos de nós já ouvimos falar,
já vimos revistas nas bancas, já nos
cruzámos na estrada com “carros
um pouco estranhos”, como algumas pessoas os consideram, mas
não sabemos o que é realmente,
e em que consiste. Existem também aqueles que levantam ecos
de discórdia, afirmando que não
é nada mais que um desperdício
de dinheiro.
Para Pedro Estrela, 27 anos, e
José Vasco, 33 anos, o Tuning é uma
paixão, pois há já vários anos que
são seguidores, e têm ambos carros
modificados. Em conversa com o
EstaJornal revelam que ainda se
recordam perfeitamente
das primeiras
revis-
tas que compraram há alguns
anos atrás. Nessa altura ainda não
tinham carro, o Tuning era ainda
pouco conhecido e os acessórios
disponíveis eram de fraca qualidade. José Vasco afirma que “antigamente havia muito a ideia de
querer ter um carro diferente, mas
por vezes a qualidade e o bom gosto
pelos pormenores ficavam esquecidos”.
Pedro Estrela, possuidor de um
Peugeot 206 HDI, de 2000, quando
questionado acerca da vertente do
Tuning que mais gosta, responde
prontamente: “A que mais me entusiasma é a estética, embora também
considere a vertente do som muito
interessante”. Já José Vasco, dono
de um Peugeot 106 Rallye, de 1996,
revela-se adepto de todas as vertentes que o Tuning engloba: “Na
minha opinião, um dos factores
determinantes é a cor, a estética e a
atenção aos pequenos pormenores,
que por vezes são esquecidos, mas
que fazem toda a diferença”.
O Tuning, para além do bom
gosto, exige também algum investimento, pois na preparação dos
carros, por vezes, são investidos
alguns milhares de euros. Algumas
coisas têm mudado, visto que nos
últimos anos começaram a surgir
cada vez mais empresas especializadas na venda
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Estamos no Ensino há mais de 50 anos
e aplicação de acessórios Tuning.
Quando confrontado com esta realidade, José Vasco considera que
“o Tuning é uma realidade, e tem
que ser encarado como tal, pois
neste momento é um negócio que
movimenta milhares e milhares
de contos”.
Actualmente, o gosto pelo Tuning
melhorou e existe um maior nível
de profissionalismo conjugado com
um maior e melhor nível de oferta
do que acontecia há alguns anos
atrás. No entanto, investimento é
essencial na arte do Tuning, e quando questionados se irão continuar
a investir no seu carro, os testemunhos de Pedro e José são bem
esclarecedores. Ambos consideram
essencial, mas focam, também, um
ponto muito importante que é a
relação existente entre o gosto e o
investimento. Estas são duas características essenciais, para quem
gosta de Tuning. “Continuo, e continuarei a investir, dentro de certos
limites, embora neste momento
tenha um pouco mais de cuidado com as presentes leis” – revela
Pedro. A opinião de José é muito
semelhante: “Continuarei a investir, pois há sempre coisas a
melhorar”.
Valorizar a
cor, a estética
e os pequenos
pormenores
São várias as concentrações de
Tuning que decorrem ao longo do
ano quer a nível nacional, quer internacional. Em Portugal, neste
momento, o ponto alto das concentrações é o Maxi Tuning Show
que decorre em Santarém e o Braga Tuning Show. Nestes encontros
reúnem-se amantes do Tuning de
todas as zonas do país, e por vezes até de países vizinhos, onde
demonstram os seus veículos e as
correspondentes transformações
que lhes efectuaram. Uns apenas
pelo convívio, outros também na
esperança de verem o seu carro
entre os premiados.
José Vasco e Pedro Estrela já
ganharam prémios, visto que participam em várias concentrações
há já alguns anos, onde, para além
dos prémios, ganharam também
bons amigos. “Já ganhei e é bom,
pois ficamos a saber que o nosso
gosto e trabalho desenvolvido é
reconhecido” – revela José Vasco.
Para Pedro, receber um prémio
é especial, e o mais especial foi o
primeiro. “O primeiro é sempre o
primeiro”.
Já na fase final da conversa,
e enquanto os seus carros eram
fotografados, o ESTAJornal confrontou-os se estes seriam ou não
capazes de vender o carro, e por
que quantia estariam dispostos a
negociar. Reagiram de uma forma
que não deixa dúvidas acerca da
enorme paixão que têm pelos seus
carros. Para Pedro “é complicado
pensar em vender o carro, se não
gostasse tanto do carro já o poderia
ter vendido”. José também hesita:
“Vender o carro...? Dificilmente,
pois o carro para mim tem um valor inestimável”.
Podemos concluir que gosto por
automóveis, imaginação e algum
investimento são os ingredientes
necessários para que da receita resulte um belo trabalho de Tuning.
A avaliar pelos testemunhos, facilmente concordamos que o Tuning
é, simplesmente, uma forma
de estar na vida!
11 de Março de 2008 • ESTA JORNAL | 15
DESPORTO
“Um treinador tem de ser um líder de grupo”
Filipe Gomes, treinador de futebol com 13 anos de carreira e com passagem por clubes como o Sport Abrantes e Benfica, Grupo
Desportivo Alcaravela, Abrantes Futebol Clube, Alferrarede e Tramagal fala da sua actividade, lembrando que os jogos implicam
“muita luta e muito trabalho”.
Vítor Madeira
Actualmente qual é, para si, a situação do
futebol regional?
Uma situação que já conheceu bons momentos, que já atravessou períodos mais difíceis,
com calendários largos, muitas equipas e pouca
qualidade. Neste momento, com a reformulação
dos calendários e dos quadros competitivos,
penso que existe mais qualidade, pois os campeonatos possuem menos equipas e existe uma
triagem das melhores, o que se traduz numa
maior competitividade.
Qual foi o clube que lhe deu mais prazer
treinar?
Todos os clubes me deram grande prazer,
desde o Sport Abrantes e Benfica, que era uma
condição diferente pois era futebol de formação,
o que me permitiu fazer muitas experiências ao
clube da cidade, até ao Abrantes Futebol Cube,
porque fomos campeões e tínhamos uma excelente equipa. O Alferrarede é um clube que
Filipe Gomes. “É essencial vencer”
Cidade de Ourém recebe
2ª jornada do Campeonato
Nacional de Enduro
Nelson Ferreira
Ourém recebeu, no fim-de-semana de 16 e 17
de Fevereiro, a segunda jornada do Campeonato
Nacional de Enduro. Trata-se de uma competição
de motociclismo que tem por base provas de resistência e regularidade em terreno variado.
Com um ambiente fantástico, a prova contou
com a presença de mais de uma centena de pilotos.
Organizada pelo Natureza Motor Clube, a prova
contou com um percurso de 55 quilómetros,
semelhante à prova que acolheu a caravana do
Mundial da especialidade em 2005. No sábado foram percorridas três voltas e outras quatro ficaram
para domingo. Com seis horas de prova em cada
um dos dias, os pilotos deram o seu melhor nas
várias etapas que constituíram a prova.
Esta prova contou com a presença de pilotos
conhecidos, como Hélder Rodrigues, Ruben Faria
e Luís Ferreira, entre outros, e com alguns menos
conhecidos, mas que se esforçam ao máximo para
demonstrar o seu valor.
Apesar do mau tempo que se fez sentir, o público compareceu. Quer as áreas especiais, quer as
zonas de assistência, concentradas na localidade de
Escandarão, eram de fácil acesso ao público, que
se encontrava distribuído pelos locais de melhor
visibilidade, vibrando com a passagem dos pilotos.
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me diz muito, pois fui lá praticante de futebol,
fui campeão e depois voltei lá como treinador,
onde passei três épocas muito boas. Esta última
temporada, no Tramagal, foi especial, pois é um
clube que sempre me ficou na memória, desde
pequeno, porque foi desse clube que vi, ao vivo,
os primeiros jogos dos campeonatos nacionais,
com grande tradição, mas que atravessa uma
fase bastante difícil.
Que tácticas utiliza no balneário para vincar a sua posição?
Acima de tudo, um treinador tem de ser um
líder de grupo e tem de ser um bom gestor desse
mesmo grupo. Mas existem sempre algumas
situações que têm de ser ponderadas. A constituição do próprio grupo, que tem de ter, além
das capacidades e qualidades para jogar futebol,
homens com H grande. Penso que, com o decorrer do tempo, com o conhecimento mútuo entre
treinador e jogador, se vão criando relações de
amizade e de confiança. E é essa mesma confiança que vai estabelecendo regras e que vai ditando
a coesão dos balneários. Quando os problemas
surgem, temos de resolvê-los com frontalidade,
sendo verdadeiros, não tendo medo de dizer
com receio que o jogador fique melindrado. Há
que discutir os problemas com frontalidade para
que mais tarde não venhamos a ter o volta-face
da moeda. Isso é uma característica que qualquer
treinador tem de possuir. Depois, penso que é
igualmente essencial vencer. Isto transmite uma
maior unidade, uma maior solidariedade entre
os atletas e assim é mais fácil gerir.
Tem alguma superstição ou ritual que faça
antes de cada jogo?
Não há superstições. Quando nós trabalhamos durante a semana, chegamos à hora do
jogo e pouco mais temos a acrescentar. Acima
de tudo, um alerta final para as dificuldades que
vamos enfrentar, um apelar a uma entrega e a
uma capacidade de luta enorme, pois os jogos
também são muita luta e muito trabalho. Lógico que existem sempre pequenas tendências
como o benzer ou agradecer estar ali, mas não
é superstição, é uma forma de estar, quer no
futebol quer na própria vida.
nelson ferreira
Muitos foram aqueles que iam acompanhando a
prova nas várias etapas, de forma a seguirem os
seus pilotos favoritos.
Uma das principais novidades desta prova foi
a entrada da gasolina BP Ultimate como patrocinador oficial do campeonato. A partir de agora, a
empresa terá uma zona de abastecimento junto a
cada parque fechado, onde será possível aos pilotos
comprar gasolina a preços especiais, para além de
poderem usufruir da BP Ultimate de 100 octanas.
É de realçar que, devido à chuva que se fez sentir
no domingo, surgiram dificuldades extra para
todo o pelotão, tendo desistido mais de 40% dos
concorrentes.
Tomás Neves e Luís Ferreira
vencem nas suas categorias
No que diz respeito aos vencedores, Tomás
Neves venceu a classe 250 4T, deixando o segundo
classificado a mais de dois minutos em ambos os
dias. Luís Ferreira, aos comandos de uma Yamaha
WR 450 F, venceu na sua categoria, deixando o
segundo classificado a mais de três minutos, nos
dois dias de competição. Nas classes reservadas aos
iniciados da modalidade, a equipa da VODAFONE dominou por completo.
Este foi, sem dúvida, um fim-de-semana em
grande para os amantes dos desportos motorizados da zona centro do país, que tiveram a possi-
Exibição. Apesar do mau tempo, o público marcou presença em vários locais da prova
bilidade de observar o desempenho em prova de
pilotos conhecidos a nível nacional e internacional.
Com o barulho dos motores como ruído de fundo,
Ourém foi palco de mais uma das espectaculares
jornadas que compõem o Campeonato Nacional
de Enduro.
A próxima jornada terá lugar em Góis, a 22 de
Março, prova organizada pelo Góis Moto Clube.
Até lá, resta aos adeptos recordar os bons momentos ocorridos na cidade de Ourém, que vai
consagrando o seu lugar de destaque neste tipo
de provas.
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16 | ESTA JORNAL • 11 de Março de 2008
RELIGIÃO
O que está por detrás da motivação dos mais novos?
Os jovens e a Igreja
Joana, Mónica, Valter e Nuno fazem parte de uma nova geração que lida frequentemente com a Igreja. Prescindem muitas vezes de
fazer aquilo que gostam para ajudar «na casa do Senhor». Fazem múltiplas actividades e não estão arrependidos da vida que levam.
Deitam-se depois de uma noite na discoteca e no dia seguinte são capazes de estar na missa. Cantam, lêem, tocam instrumentos, e
são ajudantes do Padre na Eucaristia.
D.R.
André Lopes
Eram cinco horas da tarde quando
Valter Marques abriu as portas da
Igreja do Penhascoso para mais um
dia de catequese. Com 21 anos é um
dos poucos jovens que estão ligados à
Igreja de qualquer maneira, seja lendo
na Eucaristia, sendo acólito, fazendo
parte do coro ou, como é o seu caso,
sendo catequista.
Valter Marques vai todos os domingos à missa, estuda Comunicação
Social, gosta de festivais de música, organiza procissões e vai à discoteca. Este
jovem é de Mação, tem características
de um jovem comum, mas tem práticas
que cada vez menos jovens seguem.
“Quando via a minha Paróquia pouco
dinamizada, pensei que podia fazer algo
para inverter a situação” – refere Valter,
no fim da catequese, numa quarta-feira.
Tudo começou quando, no Penhascoso, Mação, a falta de catequistas se
fez notar; Valter foi convidado e não
hesitou em aceitar. Foi o primeiro passo
da sua ligação à Igreja. Desde os seis
anos, quando entrou para a catequese,
que nunca mais deixou de ir à missa.
Nunca foi obrigado pela família até
porque os seus pais, como refere, “não
frequentavam muito a Igreja”.
Numa Paróquia vizinha, em Alcaravela, existe um grupo de jovens que
uma vez por mês anima a missa dominical. Segundo um dos seus membros,
Mónica Serras, de 20 anos, “é uma forma de tentar cativar mais pessoas para
a Igreja”. E o objectivo é claro: “Procuramos chamar para o nosso grupo jovens
que não estão ligados à Igreja”. O grupo
é, neste momento, constituído por 16
pessoas, e teve o seu início há quatro
anos. Quando a maior parte dos jovens
findou a catequese, e apercebendo-se de
que podia fazer algo para dinamizar a
missa de Domingo, juntaram-se para
formar o grupo. “Muitas vezes também
somos convidados para irmos cantar a
casamentos” – anuncia Mónica. Outro
dos seus membros, Joana Aires, lamenta que os rapazes não estejam muito
receptivos a este tipo de iniciativas, isto
porque no grupo só há três rapazes.
Esta jovem de 22 anos associa o facto
de haver poucos rapazes a frequentar as
Igrejas com um certo preconceito: “Os
rapazes não são muito bem vistos pelos
outros rapazes, e por vezes são vítimas
de algumas piadas de mau gosto.” Esta
ideia é comprovada por Valter, que muitas vezes procura esconder a sua ligação
à Igreja. A razão é simples: “Não somos
bem vistos e as piadas de mau gosto são
constantes.”
Assim como no caso do Valter, também João do Carmo é o único jovem
que participa nas actividades da Igreja
no Sardoal. Sempre que pode, este estudante de Medicina canta o Salmo
(compilação de diversas colecções an-
Valter Marques
Diocese Leiria-Fátima. Durante seis meses vários jovens aliam-se em reflexões em busca de uma vocação
tigas de cânticos) na missa. João explica
a sua ligação com a Igreja: “O facto de os
meus pais serem catequistas sempre me
levou a ter uma relação próxima com a
Igreja.” Estudante em Coimbra, procura
não perder os hábitos religiosos, por
isso, mesmo que fique na cidade do
Mondego ao fim-de-semana não deixa
de ir à missa. “É como uma necessidade”, afirma de forma peremptória.
Maior abertura para
cativar mais jovens
Quando se entra numa Igreja é notório que a maior parte das pessoas
pertence a uma faixa etária acima dos
50 anos. Segundo dados do Patriarcado
de Lisboa, a percentagem de praticantes
religiosos com 55 anos ou mais passou
de 38.7%, em 1991, para 47.9%, actualmente. Amândio Mateus, Padre do
Penhascoso, não desmente este facto,
mas diz que se deve não só ao desinte-
resse dos jovens, mas também ao envelhecimento da população. Para inverter
esta situação, este Padre considera que é
necessário que haja uma maior flexibilidade da Igreja. “Uma maior abertura
à discussão de certos assuntos, mas é
preciso também quebrar alguns tabus
da sociedade”, clarifica. A falta de vocação põe uma crise no seio da Igreja.
Todos os anos, “o número de padres
que deixam de exercer o Sacerdócio é
superior ao número de padres que são
ordenados”, anuncia o Padre com uma
visível tristeza no rosto.
Quando questionado sobre a razão de não seguir o Sacerdócio, Valter
Marques admite que em causa estaria a
perda de liberdade e o facto de não estar
de acordo com algumas ideias da Igreja.
“É necessário alterar comportamentos”,
aponta Valter. Já João do Carmo refere
que pretende continuar a dinamizar e
ajudar no que puder a sua paróquia,
mas que ser Padre nunca foi um dos
seus objectivos. Na sua opinião, podese ser útil à Igreja de outras formas que
não passam pelo sacerdócio.
Evangelizar através da música
Nos grandes centros urbanos a situação é diferente. Em Rio de Mouro, Sintra, todos os sábados à tarde um grupo
de 30 pessoas junta-se “para dar um ar
mais jovial à missa”. Manuel Gonçalves,
coordenador do coro, explica a razão
de ser destes encontros: “Para que nós
próprios nos sintamos bem na casa do
Senhor”. Djambê, órgão, flauta transversal e guitarra são os instrumentos
tocados pelos jovens, maioritariamente
são do sexo feminino, com idades compreendidas entre os 15 e os 30 anos.
Com a Igreja lotada de pessoas, o
Padre da Reboleira, Amadora, dá início
a mais uma missa/missão. Aqui procura-se fazer a evangelização através da
música, de forma a atrair mais jovens
para a missa, aproximando-os da Igreja.
“A música é uma das formas que atrai
muitos dos nossos jovens, possibilitando mais envolvimento, mais trabalho
pastoral e melhor aprofundamento da
Fé”, afirma Filomena Dias, professora
de música, e quem coordena o grupo
que todos os Domingos torna a missa
“mais leve e viva”.
Relações de proximidade levaram
Filomena a convidar Nuno Mendes, de
22 anos, para tocar órgão na Eucaristia.
“Toco órgão desde os 14 anos, quando
recebi o convite da Filomena ainda ponderei, mas ela consegui-me dar a volta
e hoje não me sinto arrependido, antes
pelo contrário, é com grande prazer
que aqui estou” – revela o músico com
um sorriso na cara. No grupo não há
um número certo de pessoas. Virgínia
Lopes tende a organizar (mentalmente)
o Domingo para que possa ir à missa à
Reboleira. Normalmente acorda mais
cedo neste dia da semana para estar
na missa das dez horas. Se se atrasar
Filomena poderá ir à missa das 11h30.
Para esta senhora de 53 anos, “é uma
alegria ver tantos jovens empenhados”.
E reconhece as diferenças: “A missa tem
outra alma, ganha uma nova vida.”
Na diocese de Leiria–Fátima criouse um grupo para o acompanhamento de jovens no percurso de discernimento sobre o seu lugar na Igreja.
Durante seis meses vários jovens entre os 20 e os 30 anos aliam-se para
secções reflexivas em busca de uma
vocação. “Quer-se que, apoiados na
palavra de Deus, os jovens percebam
qual o seu lugar dentro da Igreja”,
esclarece o Padre Gonçalo Dinis, coordenador do grupo. “Havendo muitos catequistas jovens nas paróquias,
é preciso apostar na formação dos
mesmos”, finaliza o Padre.
Cada vez mais afastada dos jovens,
a Igreja Católica terá de fazer algo
para inverter a situação. A solução
passará pelos próprios jovens e por
mudanças de mentalidade por parte
da instituição. Para estes jovens, haverá um longo caminho a percorrer.
O que nos espera o futuro?
11 de Março de 2008 • ESTA JORNAL | 17
RELIGIÃO
Padre Luís Batista, de 80 anos, fala da Igreja Católica e de temas como a eutanásia e a catequese
“A cadeira de educação sexual
devia existir nas escolas”
O Padre Luís Batista acabou de fazer 80 anos, mas nem por isso deixa de ajudar os outros. Sempre preocupado com a sua
formação, usa a Internet para pesquisar. Foi o primeiro Sacerdote ordenado no Seminário de Portalegre e, durante a sua vida,
percorreu várias paróquias. Quis o destino que, por problemas de saúde, deixasse a vida Paroquial e regressasse à Paróquia que o
viu nascer, Sardoal, onde reside há oito anos, em casa de uma irmã.
D.R.
André Lopes
Actualmente como é que passa o seu diaa-dia?
Agora estou numa fase de não responsabilidade paroquial, porque estou gasto, cansado
por doença. No aspecto neuro-psíquico, cansei-me um bocado, o que fez com que eu não
pudesse assumir responsabilidades. Passei por
um período grave em 1999, altura em que o
médico neurologista me aconselhou que não era
conveniente que eu voltasse à vida paroquial, a
assumir responsabilidades, tão depressa. Agora
a minha situação é de ir passando o tempo e ir
ajudando os colegas porque está no nosso espírito sacerdotal. Uma pessoa não pode deixar
de colaborar, fazer aquilo que pode.
Qual acha que é a razão de haver cada vez
menos pessoas nas Igrejas?
Eu tenho a impressão que é o materialismo
dos nossos dias. Na vida Sacerdotal uma pessoa
tem de se entregar mais ao sobrenatural, à causa
religiosa. Embora agora as Dioceses estejam
organizadas de tal maneira que os Sacerdotes
tenham o indispensável para viver, que não
passem por crises económicas.
O que acha que é necessário para mudar a
mentalidade das pessoas?
O que é mais necessário é que as pessoas
adquiram formação suficiente para descobrir
quem é Jesus Cristo, do ponto de vista Cristão-Católico, que é o caso dos Baptizados Católicos que estão na Igreja fundada por Jesus
Cristo. Quando se conhece alguém e se sabe
que Ele é digno da nossa amizade, que nos
ama verdadeiramente e que é amigo autêntico,
nós sentimo-nos atraídos e conquistados por
Ele, é a conquista da amizade. Na medida em
que cada pessoa descubra Jesus Cristo tal qual
Ele é, certamente, que se deixa seduzir e não é
capaz de viver sem Ele. Aqui, há um problema
na catequese, o das pessoas. A catequese dos
nossos dias, das crianças e dos adolescentes,
vai-se fazendo, mas a catequese dos adultos
está muito desprezada e descuidada. E como os
adultos são responsáveis pelos filhos…
Concorda com a necessidade de haver uma
disciplina de Religião e Moral nas escolas?
Eu acho que sim, dando liberdade a todas as
outras religiões. Há um número considerável de
Cristão-Católicos que existem no país e isso deve
ser considerado. O Governo está para servir a
nação, tem de ser um Governo de tal maneira
independente que compreenda e veja que a
sociedade precisa de se orientar e conduzir, do
ponto de vista da fé, segundo os motivos de fé
que orientam cada um. Hoje fala-se bastante da
liberdade de opção religiosa, onde todos têm
lugar. Claro que se Portugal é um país que se diz
Católico, eu entendo que desse ponto de vista as
coisas devam continuar a ter a sua assistência,
o seu acompanhamento, inclusivamente nas
escolas, em Religião e Moral.
Padre Luís Batista. “A vida tem sempre um valor mesmo quando se está gravemente doente”
A Igreja precisa de mudar de mentalidades?
A Igreja no essencial não pode mudar. Do
ponto de vista disciplinar, a Igreja devia actualizar-se mais, mas temos que compreender que
a Igreja está espalhada pelo mundo inteiro e
que encontra muitas culturas, modos de viver
bastante diversificados. Dada a amplitude
e a extensão geográfica em que a Igreja se
movimenta, não será tão fácil actualizar a própria disciplina eclesiástica assim tão depressa
quanto isso. A Igreja é bastante prudente e
verá sempre com muita
ponderação, com calma, para não precipitar
as coisas. Mas por isso
mesmo também há a dificuldade e o problema
de às vezes não cami-
nhar tão depressa como devia. É o que me
parece e nalgumas coisas podia caminhar um
pouco mais depressa.
Como vê a relação que o Estado tem com
a Igreja?
O Estado tem o seu âmbito, o seu próprio
mundo. A Igreja também. Contudo, do ponto
de vista social, a Igreja tem uma palavra a dizer
a respeito da sociedade. E o Estado embora se
diga laico, claro e independente a nível religioso, tem também de defender os princípios
de ordem natural e as leis naturais para que a
própria sociedade não
seja prejudicada e possa
orientar-se e conduzir-se
por aquilo que for sempre melhor. Convém que
o Estado esteja dentro
das situações concretas
A catequese dos
adultos está muito
desprezada
do país para o levar e conduzir nos caminhos
da paz, da promoção, da valorização humana,
no que diz respeito aos vários aspectos como
o ensino e tantas outras coisas. O nosso país
está em crise, há uma série de problemas que é
preciso ultrapassar e isso é da responsabilidade
do Estado. A Igreja também tem uma palavra
a dizer, o que não quer dizer que os nossos
Bispos às vezes não devessem ser mais activos,
influentes em determinados aspectos.
Quando fala, na Igreja ser mais activa, acha
que deve interferir em assuntos fracturantes,
como o aborto e a eutanásia?
Com certeza, a Igreja defende a vida como
primeira realidade. A vida é primária, indispensável, embora saibamos que há situações
em que a própria medicina aconselha a que
possa haver intervenções. Essas vidas vêm
com uma mal formação de tal maneira que
também não haveria condições para poderem
viver, sobreviver ou até mesmo viverem uma
vida capaz de ser humano. Nesse aspecto, a
defesa da vida é indispensável. A Igreja tem
referido imensas vezes e continua a fazê-lo em
relação à eutanásia. A vida tem sempre valor
mesmo quando se está gravemente doente.
Contudo, há aqueles casos extremos em que
as pessoas já estão inconscientes, em coma
durante algum tempo e nestes casos estão já
mais a sobreviver inconscientemente do que
num estado de consciência. E nessas situações
limites era preferível desligar as máquinas e se
por ventura a pessoa espiar…
Cada caso é um caso…
Sim, não podemos generalizar e defender
a eutanásia. A Igreja não defende a eutanásia
de maneira nenhuma. Até que o próprio sofrimento foi valorizado por Jesus Cristo ao vir a
este mundo através do Seu testemunho deu a
Sua vida por nós, morrendo na cruz e sofrendo
a sua paixão e morte. A partir desse momento,
o sofrimento passou a ter um sentido redentor
e salvador e trouxe um novo sentido ao próprio
sofrimento e para os Cristão-Católicos. O sofrimento temporário deste mundo é um valor que
nos enriquece para a eternidade.
É a favor da educação sexual nas escolas?
Sem dúvida que sim, convém é dar uma
educação de tal maneira abrangente que não
leve só a adolescência ou a juventude através
do preservativo, mas que sejam educados no
autêntico valor humano, da sua dignidade e
valorização humana e do valor da vida. E isso
é que tem falhado bastante. Os educadores,
nas escolas, de uma maneira geral não estão
formados, falta-lhes esse aspecto da formação
humana para defenderem a vida e ajudar os
jovens a compreender que afinal foi confiada
uma missão importante ao homem e à mulher
e que não é só a procura imediata do prazer. Eles
compreendem que está nas suas mãos a própria
dignidade humana e que por isso tem que haver
uma formação abrangente, é absolutamente
necessário e tem falhado.
18 | ESTA JORNAL • 11 de Março de 2008
RELIGIÃO
fernanda mendes
Padre Américo Casado. Um padre contemporâneo que defende a
adaptação da mensagem de Jesus às circunstâncias actuais.
Das novas tecnologias se faz a fé
Sem discursos de púlpito, o Padre Américo Casado rompe com o tradicional conservadorismo da igreja. A longa experiência, cerca
de 40 nos, na área da Comunicação, que trouxe de Macau, leva-o a acreditar que existem outros caminhos que podem conduzir à
evangelização. Um programa de rádio, uma história contada na Internet ou até mesmo uma aula de hidroginástica podem fazer a
diferença numa sociedade onde “há muitos católicos, mas poucos cristãos”.
Fernanda Mendes
Quando chegou a Abrantes, movia-o o objectivo de criar uma espécie de filial do projecto que desenvolveu em Macau. Conseguiu?
A intenção não era propriamente
essa. Quando o Centro Diocesano
de Comunicação Social nasceu, em
Macau, o projecto implicava a actividade em todo o tipo de comunicação
social: audiovisual e escrita. Em Portugal, a ideia era continuar o projecto
em alguns ramos, de um modo particular no audiovisual, sobretudo na
parte de rádio, através da colaboração
com as rádios locais. Hoje, mantemos uma pequena colaboração com
a Rádio Tágide e, sobretudo, com a
nova rádio que nasceu em Fátima, a
“Canção Nova”.
Nesses apontamentos, eu sou fiel
àquilo que fazia em Macau. A partir
de um pedaço da vida e das histórias
que acontecem, boas ou más, com um
pouco de música, produzo momentos
que não são apenas para leigos. É um
programa um pouco mais elaborado,
dando a visão cristã, porque senão
não faria qualquer sentido iniciar
uma actividade dessas.
A partir de uma insistência do falecido Papa João Paulo II, sobre a
necessidade de a Igreja estar presente
no capítulo da Internet, a “Domus
Mundi”, cujo objectivo é a promoção
humana e a evangelização, promove
estas iniciativas, incluindo também
a passagem de algum cinema nas
nossas instalações, no Rossio. Claro que, nesse aspecto, não tem nada
a ver com aquilo que fazíamos em
Macau, onde tínhamos cinema comercial. Tínhamos e temos, porque
os Chineses continuaram com esse
trabalho. Aqui em Abrantes, são sessões de carácter formativo e religioso.
Passamos os filmes em DVD, numa
sala preparada para o efeito. É um
espaço vocacionado para as crianças, mas, também, para as pessoas
adultas, sobretudo quando estejam
integradas em qualquer grupo e desde
que seja fácil congregá-las, reuni-las e
chamá-las. Não é uma actividade de
rotina. É pontual e tem o objectivo
de dar alguma formação humana
às pessoas.
Afinal, o que é a “Domus Mundi”
- Casa do Mundo?
Para além dos apontamentos nas
rádios, nós desenvolvemos também
uma página na Internet - www.domusmundi.org - em duas línguas:
Português e Chinês. A Internet é um
veículo de comunicação de tal maneira potente que quem tiver acesso pode ouvir uma emissão ou ver
um programa, em qualquer parte
do mundo. A ideia de criar a página
aqui aconteceu porque, infelizmente,
na China ainda não é possível dispor
da liberdade suficiente para trabalhar
à vontade. Já todos ouvimos relatos de
páginas que são bloqueadas.
A página, em chinês, é feita por
chineses, nossos colaboradores. Dois
vivem no Canadá, uma outra reside
na Mongólia e há ainda um outro
que está em Macau. Como vê, não
precisam de estar cá para a fazer. O
servidor tem sede em Hong Kong,
mas a página consta como sendo feita a partir do Rossio ao Sul do Tejo.
Que tenhamos conhecimento, nunca houve qualquer interferência ou
problema, pelo que gostaríamos que
continuasse e tivesse mais diversidade
de conteúdos, mas não é fácil encontrar colaboradores.
Nesta questão da Internet, eu poderia citar uma frase da Bíblia, do
Profeta Isaías, que diz: “ Os caminhos
de Deus não são os nossos, nem os
nossos são os de Deus”. Portanto, eu
diria que Deus se serve de tudo, ou
melhor, até de uma página da Internet, para chegar às pessoas.
Quanto ao feedback das nossas ac-
tividades, eu diria, tal como S. Paulo,
que nós não nos preocupamos com
a colheita, temos que nos preocupar
é com o semear. A colheita, alguém a
há-de fazer. Qualquer actividade feita
por cristãos tem que ter esse cunho:
procurar passar a mensagem de Jesus
Cristo aos outros. Os Salesianos, por
exemplo, fazem isso, através do desporto e de outras actividades. Aqui
também procuramos que seja assim:
evangelizar através de actividades
que promovam a interacção. Não
temos que fazer, necessariamente,
sermões ou homilias a toda a hora.
Nesse campo, eu sou muito claro: temos que passar a mensagem de Jesus,
adaptando-nos às circunstâncias em
que temos que trabalhar.
Os seus colegas não o criticam
por essa sua forma tão aberta de
pensar?
Eu não lhes dou ocasião para
me criticarem. Por um lado, eu sou
aberto, mas, por outro, sou capaz de
11 de Março de 2008 • ESTA JORNAL | 19
RELIGIÃO
respeitar o “fechamento” das outras
pessoas. Falando com um colega, ou
qualquer outra pessoa, se verifico que
não produz efeito algum, é preferível
não falar. Se quem me está a ouvir
não percebe a minha visão, não vale
a pena estar a perder tempo. Se não
houver, da parte do outro, uma certa
abertura, eu estar a chatear, passe a
expressão, creio que não dá resultado.
Nós, os sacerdotes, cometemos
muitas vezes esse erro de querer convencer as pessoas de que nós é que
estamos correctos e que elas é que estão erradas. Isso nunca dá resultado.
Se queremos alcançar alguma coisa
é, através de uma conversa informal,
levar as pessoas a dizerem: “Se calhar
o senhor até tem razão”. Se não convencemos, não vale a pena ir por esse
caminho. Não resulta.
O Centro já está plenamente integrado na comunidade local?
É difícil responder a essa pergunta.
Nós nunca fazemos 100% daquilo
que poderíamos. Mas, daquilo que
me vai chegando, de um modo geral,
as pessoas gostam do que aqui se faz,
embora haja quem não goste, como
em tudo.
A aprendizagem religiosa é feita
como todas as outras: faz-se, passo a
passo. Nós quando aprendemos a ler,
começamos por aprender as letras,
depois aprendemos a juntá-las. Na
música é a mesma coisa. Por que é
que não há-de ser assim também na
formação espiritual?
O que eu noto é que nós, muitas
vezes, partimos da presunção de que
as pessoas têm conhecimentos que, de
facto, não têm. Nesse campo, posso
dar o exemplo de certos políticos que
falam, falam, mas as pessoas não percebem aquilo que eles estão a dizer.
Falam muito bem, mas não passa
disso.
No campo da religião é a mesma
coisa. Por exemplo, eu faço uma
homilia de dez minutos e parto do
pressuposto que as pessoas percebem
tudo aquilo que eu disse. Ora, isso
não é sempre necessariamente verdade. Eu estive 12 anos num seminário a
aprofundar um determinado número
de assuntos. Estar a pretender que
uma pessoa, que não tem a mesma
formação, entenda as conclusões a
que eu chego, depois de tantos anos
de aprofundamento e de estudo, não
pode ser assim. Nós não podemos
partir do pressuposto de que as pessoas entendem. Digo nós, os sacerdotes,
mas isso também se aplica a políticos,
a jornalistas, etc.
Financeiramente, como é que este
projecto subsiste?
Apoia-se nas economias realizadas
em Macau, durante 40 anos. Além
disso, quando se deu a transferência da Administração de Macau, de
Portugal para a China, foi entregue
ao último Governador um “bolo”
financeiro que ele poderia distribuir
por quem quisesse. Acontece que o
fernanda mendes
Perfil
O Padre Américo Casado é um
homem singular. Natural de
Bemposta de Trás-os-Montes, aos
12 anos estava em Macau onde
fez o seminário. Licenciou-se em
Teologia em Leiria, foi ordenado
no Porto e regressou a Macau
em 1971, onde dirigiu um jornal
diocesano. Estudou Comunicação
Social em Roma, passo importante
para o desafio de difundir a
evangelização através do Centro
Diocesano de Comunicação
Social de Macau, cuja actividade
começou em 75. Apadrinhado
pela Diocese de Macau, o
Centro funcionou como uma
verdadeira empresa, chegando a
dar trabalho a 50 funcionários.
Em 1993 regressa a Portugal e
instala-se numa antiga quinta
de missionários da Consolata, no
Rossio ao Sul do Tejo, onde cria
uma espécie de filial do projecto
de Macau. Com o conceito de
comunicação sempre presente,
a “Casa do Mundo”, que o Padre
Américo gere conjuntamente com
duas Irmãs – a Irmã Pia e a Irmã
Deolinda - ocupa-se de outras
actividades, sempre viradas para a
transmissão dos valores humanos:
aulas de hidroginástica; sessões
de cinema; aulas de Internet;
actividades para crianças.
Verdadeiro poliglota, o Padre
Américo fala sete línguas:
italiano, espanhol, francês,
inglês, mandarim e, claro,
latim e português.
É um padre contemporâneo.
Gosta de futebol, snooker e ténis.
Prefere a música clássica mas não
subestima o talento de vozes
comerciais como as de Paulo Gonzo
ou Dulce Pontes, por exemplo.
No campo da literatura, prefere os
clássicos: Eça de Queirós, Camilo
Castelo Branco, Aquilino Ribeiro
ou Miguel Torga, entre outros.
Comunicador nato, diz não
ser grande consumidor de
comunicação social. Rádio,
confessa, ouve pouco. Acompanha
a actualidades pelos jornais e
pela Internet. Quanto a produtos
televisivos, gostaria de ver mais
vezes programas como “Câmara
Clara” ou “Prós e Contras”, mas a
transmissão tardia fá-lo muita vez
desistir e resignar-se à evidência
do merecido descanso.
Deus serve-se de tudo, até
de uma página da Internet,
para chegar às pessoas.
Há uma coisa que me
espantou no jornalismo
português: a preocupação
do jornalista em aparecer.
Nós, os sacerdotes,
cometemos muitas
vezes esse erro de querer
convencer as pessoas de
que nós é que estamos
correctos e que elas é que
estão erradas. Isso nunca dá
resultado.
Governador era um dos apreciadores
do trabalho do Centro Diocesano dos
Meios de Comunicação Social, pelo
que entendeu ser um caso em que
deveria atribuir uma boa fatia desse
dinheiro, porque ele sabia que vindo
para Portugal, nós iríamos procurar
continuar a actividade. Essa “fatia” vai
dando, até dar. Quando não houver
mais nada, vamos ter que parar.
Depois de ter regressado a Portugal já voltou a Macau. Como é que
a China está a tratar um território
que já foi nosso?
Aquilo que já havia deixaram estar,
mas começaram a construir tanta coisa que agora está muito descaracterizado, exceptuando os monumentos
que estão classificados pela UNESCO.
Há gente, carros e casinos a mais. Há
tudo a mais. Até 2015 o Governo tem
um programa para instalação de 25
casinos. É um exagero! Isso arrasta
miséria social e moral e exploração
humana. Fiquei desiludido!
Que opinião é que tem da Comunicação Social Portuguesa?
As pessoas julgam que comunicam melhor quando têm muita
abundância de palavras, ou quando
podem brilhar. Há uma coisa que me
espantou no jornalismo português: a
preocupação do jornalista em aparecer. Fazem uma notícia, que às vezes
não vale nada, e lá estão eles, cinco,
seis minutos, com a cara para que
toda a gente os veja e os conheça. A
preocupação do comunicador deve
ser dizer alguma coisa de maneira
a que as pessoas percebam. Agora,
se eu me sirvo da comunicação para
me promover a mim próprio, para
subir na carreira, estou a afastar-me
da essência do Jornalismo.
Eu gostaria de ver os jornalistas a
falarem para as pessoas que têm à sua
frente, que não são apenas os professores das universidades, os políticos
ou os colegas jornalistas, mas sim o
povo simples. Este prefere ver o reality
show ou a telenovela, que no fundo
é mais fácil de perceber do que um
programa de informação. Não é que
não se deva também formar, mas a
verdade é que, quando não percebem
o que os programas informativos pretendem transmitir, procuram outros
produtos televisivos.
No jornalismo de proximidade,
acha que a imprensa regional está
a cumprir a sua missão?
Estão talvez mais próximos do povo
mas, às vezes, dá-me a impressão que
lhes falta um pouco da aprendizagem
daquilo que é a linguagem dos meios
de comunicação social. Por exemplo: a linguagem da comunicação
social não pode ser a linguagem que
eu utilizo numa homilia. Mas estão,
de facto, mais próximos do povo. E,
se não fosse essa proximidade, talvez
já tivessem acabado. A verdade é que
eles continuam a sair e as pessoas
continuam a pagar religiosamente a
sua assinatura.
E quanto às publicações ligadas
à Igreja?
Eu estava a referir-me a essas também. É muito difícil ultrapassar essa
dificuldade, porque quem está à frente desses títulos são, geralmente, ou
sacerdotes ou pessoas que utilizam
muito amadorismo e que não têm
preparação específica para essa tarefa.
Por isso, têm alguma dificuldade em
se adaptar.
20 | ESTA JORNAL • 11 de Março de 2008
RELIGIÃO
Quando outros pagam as
nossas promessas
A Igreja Católica vê o cumprimento de promessas como um agradecimento. Decerto também terá as suas promessas. Mas quando
transportamos essa promessa para o Divino, muito fica por dizer. Hoje criaram-se meios para que cumpra as suas promessas, sem
sair de casa. Basta um telefonema e um cheque com cobertura.
Liliano Pucarinho
Não haja dúvidas. Nem sempre encontramos
indivíduos que possam cumprir livremente tudo
o que prometem. A Igreja Católica prevê que as
promessas feitas ao Altíssimo sejam cumpridas
como um agradecimento aos dons concedidos,
ou favor que tanto desejavam.
Há quem não olhe a meios nem a distâncias.
Maria de Jesus, nome fictício, diz cumprir sempre aquilo a que se compromete. “Uma vez fiz
uma promessa de ir a pé desde a Covilhã, onde
mora a minha filha, até Compostela. E fiz. Sem
a ajuda de Deus não teria conseguido cumprir”
– diz Maria, confiante.
Estas promessas acarretam mais do que um
peso na consciência, são transportadas para o
exterior do indíviduo e levadas ao extremo por
muitos. No Santuário de Fátima encontrámos
Bruno Elias, que avança ajoelhado com a filha
de três meses nos braços. Em resposta à pergunta, porque o faz, conta que acredita no poder do
Altíssimo. E acrescenta: “A fé é sempre o meu
maior encosto”. Não duvida que o pagamento
desta promessa, que o fará sangrar dos joelhos
durante a árdua tarefa, lhe trará mais felicidade
e que afirmará a sua fé.
Saiba que, na maior parte dos casos, são
promessas relacionadas com doenças e com o
desejo de progressão na vida. A Igreja Católica,
de acordo com o Bispo de Leiria-Fátima, Dom
António Marto, vê o cumprimento de promessas como “um acto que deve ser realizado
pelo mesmo”.
Cumpra-me aquilo que prometi
Acamados, doentes, pessoas com incapacidades físicas pertencem ao “grupo” dos que
mais prometem. E como cumpre um acamado
uma promessa a que tenha estabelecido prazo? Se não se pode deslocar da sua habitação,
como cumpriria a promessa, por exemplo, de
caminhar até Fátima? È neste sentido que encontramos anúncios em jornais diários que
publicitam cumprimentos de promessas. Como
é o caso de Carlos Ferreira, um anunciante que
promete fazer o caminho necessário, a troco
de dinheiro.
O primeiro pagador de promessas a ser conhecido em notícias foi Carlos Gil, técnico de
informática. Com um sítio na Internet, disponibiliza a informação necessária para ser
contratado. Em três línguas, torna possível, à
maioria dos visitantes, a contratação anónima
por parte de outrém.
Carlos Gil intitula-se como um pagador de
promessas idêntico ao que existiria na Idade
Média. Nessa era, “este tipo de actividade era
bastante comum”, como refere. Apenas diz limitar-se a retomar a tradição. Não aceita, porém,
qualquer promessa que
envolva um esforço físico demasiado pesado,
pois encara a caminhada
como um percurso de
reflexão espiritual.
Carlos Gil não vê a sua
actividade como algo negativo, porque “quando
uma pessoa despende do
seu dinheiro, está a prescindir do seu trabalho e
da comodidade que essa quantia lhe poderia
trazer. Está a dispensar
o fruto do seu trabalho,
pagando o tempo de outra pessoa, explica.
O técnico de informática mostra-se preparado para cumprir
qualquer promessa que
seja solicitada, seja “um
devoto do Brasil, de Angola, de Moçambique, de
Timor” ou de qualquer outra parte do mundo.
“Qualquer um pode entrar em contacto comigo” – disponibiliza-se Carlos Gil.
Perguntará como este peregrino comprova
que cumpriu a sua promessa. Carlos diz ter
criado “um género de certificado”. Trata-se de
“um diploma com o nome da pessoa que vai
carimbando em todas a Juntas de Freguesias,
Igrejas ou, não havendo, cafés e outras entidades. O último carimbo é sempre o do destino”.
Reconhece que este “diploma” é apenas uma
recordação e que realmente não comprova
nada . “Vale o que vale”, admite o pagador de
promessas.
Com aproximadamente 2.500 euros qualquer pessoa poderá usufruir deste serviço. O
pagamento é feito através da Internet ou por
transferência interbancária. A razão desta
quantia é sempre o dinheiro que Carlos Gil
não ganha por deixar
de trabalhar nos dias em
que vai pagar a promessa. “Como trabalho por
horas, o cliente apenas
me pagará aquilo que
eu iria perder, porque
também não quero diminuir o meu nível de
vida” – esclarece o pagador de promessas.
Carlos Gil faz-se
acompanhar sempre do
seu cajado, que o ajuda a
enfrentar terrenos mais
íngremes. Com uma
mochila, onde transporta uma ou duas mudas
de roupa, água e comida,
enfrenta os caminhos
sempre por seu pé.
A condenação da actividade
A Igreja Católica interpreta este tipo de
actividade como um acto comercial, apesar
de ser usual na Idade Média. Dom António
Marto responde através do seu vigário, Padre
Jorge Guarda, que, na “perspectiva da Igreja
Católica, a actividade de Carlos Gil não se
enquadra numa verdadeira atitude de fé cristã,
nem da parte de quem fez a promessa, nem da
parte de quem se propõe ganhar dinheiro para
a cumprir. “A promessa implica uma relação
pessoal com Deus, vivida na fé. É cumprida
como sinal de gratidão por um benefício recebido do Alto”.
No que consideram um possível acto de solidariedade, a Igreja Católica, ainda nas palavras
do Padre Jorge Guarda, garante que “poderia haver era um acto de solidariedade, ou melhor, de
caridade e comunhão, da parte de alguém que
aceitaria acompanhar o fiel no cumprimento
da sua promessa”. E esclarece: “Neste caso, o
acompanhante faria também ele um acto de fé,
que certamente o enriqueceria espiritualmente,
mas não do ponto de vista material. Ganhar
dinheiro para cumprir uma promessa pode não
passar de um acto comercial, de prestação de
um serviço, a troco de um pagamento.”
Na opinião de Patrícia Mendes, 45 anos,
catequista, as promessas não devem ser feitas se
não somos capazes de as cumprir: “As pessoas
que acreditam em Deus e a Ele lhe prometem,
devem elas cumprir o que estipularam. O sacrifício tem de ser sempre nosso. Não temos de
sacrificar ninguém, ou pagar para isso.”
A Igreja continua a não dar crédito a esta
actividade, considerando que são “pessoas que
apenas pretendem ganhar dinheiro”. Quem já
solicitou os serviços de Carlos Gil não se sente incomodado por o ter feito, apesar de não
quererem mostrar a sua identidade. Se se trata
de uma actividade com futuro, ainda será cedo
para o escrever. 11 de Março de 2008• ESTA JORNAL | 21
CULTURA
Crise cultural
em Abrantes?
rui rodrigues
Os agentes culturais de Abrantes queixam-se
da falta de público e da falta de uma sala de
espectáculos mais pequena do que o Cine-Teatro
S. Pedro. Existe, também, o reconhecimento de
falta de coordenação ao nível do agendamento
dos eventos. Apesar de todas as críticas, as
iniciativas continuam. Na esperança de melhores
dias culturais.
Rui Rodrigues
A Câmara Municipal de Abrantes
anunciou no seu site a criação do futuro
espaço museológico do Museu Ibérico
de Arqueologia e Arte no Convento S.
Domingos, ao qual se juntará a colecção da pintora Maria Lucília Moita e
também a colecção do escultor Charles
de Almeida. Desta forma, Abrantes irá
ganhar mais um espaço cultural, com
características multifacetadas. Com a
criação de mais este espaço, a cidade
diversifica a sua oferta cultural.
Este pode muito bem ser o momento
para ver o que se passa com a cultura
em Abrantes. Para o fazer, nada melhor
do que ouvir quem produz cultura nesta
cidade. Os agentes culturais concordam
que a crise que a cultura atravessa é a
nível nacional e tem as mais variadas
origens e razões. Todos eles reconhecem que, na vida actual, há mais preocupações com as questões do dia-a-dia,
tal como diz Maximo Esposito, pintor
e dono da escola de pintura ‘Il Pittore
Italiano’:“As pessoas estão empenhadas
nos assuntos práticos como pagar a
casa, pagar o carro e levar os meninos
para a escola.” Como resultado, “a parte
cultural é posta na lista das opções muito em baixo”. Francisco Lopes, director
da biblioteca municipal António Botto,
em Abrantes, concorda com a ideia de
que “há um deficit de cultura a nível
nacional”.
Apesar de ser uma constatação generalizável ao resto do país, Pedro Sena
Nunes, realizador que esteve no Cine
Teatro S. Pedro em Novembro do ano
passado, no âmbito da apresentação
do seu documentário “ Elogio ao ½ “,
considerou uma sorte o Espalhafitas
conseguir juntar cerca de 20 a 30 pessoas em sessões de cinema. E lembrou
que em Lisboa os cine-clubes nem isso
conseguem, o que mostra a extensão do
problema a nível nacional.
Paula Dias, da Galeria Municipal de
Abrantes, chama a atenção para “a falta
de ensino das artes no ensino obrigatório” e admite que esta realidade possa
ser responsável pela falta de interesse
pela cultura. A vereadora da Cultura da autarquia abrantina, Isilda Jana,
reconhece que as pessoas “não estão
habituadas a consumir produtos culturais, embora haja muitas associações
culturais e haja muitas actividades”.
Apesar da existência de oferta cultural, os principais protagonistas deste
sector admitem que há outros problemas. Um deles, refere a directora do
Orfeão de Abrantes, Elisabete Furtado,
é o facto de que “a maior parte das pessoas não são da cidade”, são de aldeias
em redor e, “chega o fim-de-semana,
chega à sexta-feira, e saem”. Por isso, e
como normalmente os espectáculos são
ao fim-de-semana, não têm público.
Outro dos aspectos, apontado por
Helena Bandos, da direcção do Grupo
de Teatro Palha de Abrantes, é que faz
falta “uma agenda cultural mais acutilante a nível de publicidade dos espectáculos”. Tal como refere Maria de Lurdes,
vice-presidente da Associação Palha
de Abrantes e dirigente da Associação Espalhafitas, “há um deficit muito
grande ao nível da publicidade, seja ela
nos jornais locais, nas rádios locais, nos
cartazes e nos outdors locais”.
Os principais agentes culturais de
Abrantes parecem estar de acordo na
ideia de que há pouca divulgação dos
espectáculos e das actividades culturais.
Mas Isilda Jana tem uma outra visão: “A
agenda cultural tem uma tiragem de
6.000 exemplares, onde vem a programação, temos uma lista de e-mails que
enviamos para as pessoas, temos uma lista enorme de SMS onde são divulgados
os espectáculos. Temos esta divulgação
no centro histórico e nos hipermercados”. Embora entendendo que “a divulgação nunca é suficiente”, a vereadora
lembra que “quando as pessoas querem
ver um espectáculo aparecem lá todas,
porque as pessoas estão despertas para
determinadas coisas…”.
Outro problema referido pelos protagonistas da cultura de Abrantes é o
tamanho da sala do Cine Teatro S.Pedro
que, com os seus perto de 500 lugares,
é considerada enorme. Helena Bandos
diz mesmo que o espaço “não permite
‘aquecer’”, exceptuando quando se trata
de espectáculos que envolvam caras
conhecidas. Ou seja, faz falta uma sala
mais pequena, tendo em conta o número de pessoas que assiste à maioria dos
espectáculos. Segundo Elisabete Furtado, para o Orfeão seria bom ter uma
sala com 50 lugares. Já Helena Bandos
defende que, para o grupo de teatro, a
sala óptima teria 150 lugares. Segundo
Isilda Jana, este é um problema que
será resolvido em breve, em virtude da
saída do Ballet, o que permitirá o uso da
sala polivalente para outras actividades.
Isilda Jana reconhece que a inexistência
de uma sala com outras características
tem originado a que, até esta altura, a
Câmara tenha evitado “muitas vezes os
espectáculos de música clássica porque,
de facto, o cine-teatro não é uma sala
para isso”.
Cine-teatro. Os promoteres de cultura, de Abrantes, defendem a existência de salas de espectáculo mais pequenas
Para Francisco Lopes, há outro problema que é de programação: “Há períodos em que não há nada e, depois, há
uns dias da semana cheios de espectáculos e andamos aqui todos admirados,
num meio pequeno. Parecemos uns
tontinhos, não conversamos uns com
os outros …”. Para este responsável pela
Biblioteca, parte da solução de alguns
dos problemas no campo da cultura seria resolvido se os diferentes produtores
culturais conhecessem o seu público tal
como fez a Biblioteca: “Temos estudos
de utilizador que fizemos para perceber
essas dinâmicas”. E acrescenta que “uma
questão essencial para o sucesso das
actividades, do ponto de vista do público, é que elas sejam promovidas em
parcerias com outras entidades”.
Maria de Lurdes concorda com a
ideia de Francisco Lopes porque, dessa
forma, criava-se, “um plano cultural
para a cidade, onde tu és a biblioteca, tu
és a galeria, nós somos o cinema”. Para
Isilda Jana, o resultado desta forma de
trabalhar seria “uma maior interacção
entre os vários produtores culturais
”, permitindo que os espectáculos
fossem mais direccionados para diferentes públicos, com gostos e interesse
diferentes, em vez dos espectáculos
de massas. Para isso, Francisco Lopes
propõe que “os agentes culturais da
cidade conversem uns com os outros na
altura em que se inicia o ciclo da gestão”,
permitindo a criação de uma rede que
trabalharia de uma forma coordenada,
maximizando desta forma esforços e
meios, assim como criando públicos.
A vereadora Isilda Jana lembra que,
perante este panorama, “curiosamente”, há público para dança: “Penso que
as escolas de dança, que têm existido,
têm feito um bom trabalho, têm pelo
menos formado público e vemos isso
com os espectáculos de dança. Também
há algum público para teatro, mas o
pior de tudo é a música, sobretudo a
música de câmara … Nós temos quatro bandas filarmónicas no concelho,
que têm associadas escolas de música,
temos a escola de música do Orfeão,
temos o Orfeão de Abrantes, temos o
Cant’Abrantes, existem diversos grupos
associados à música, mas o que é um
facto é que não formam público…”.
A vereadora refere ainda o exemplo
do Espalhafitas, “que tem estado a fazer
um excelente trabalho há vários anos
consecutivos, nomeadamente com as
escolas, e que tem uma programação
regular”. Pelo trabalho que desenvolve, nesta altura, “devia ter muito mais
público mas, de facto, o que se vê é o
contrário. É um contra senso.”
Mesmo perante todas estas dificuldades e problemas apontados, muitos dos
agentes culturais têm planos e projectos
para o futuro. Para Elisabete Furtado,
o seu projecto a longo prazo é formar
públicos de jovens pais, para que mais
tarde os futuros jovens se venham a
transformar em público da música,
da música clássica, da música erudita,
e de outras. Para Maria de Lurdes, os
projectos futuros passam pela realização de um filme de animação em
Constância e outro no Sardoal, assim
como pelo arquivo de imagem baseado
em pequenos documentários.
Apesar das dificuldades, é generalizado o reconhecimento do apoio
e da abertura por parte da Câmara
Municipal de Abrantes, em particular
do seu departamento da cultura, para
as diferentes actividades culturais na
cidade. No entanto, é reconhecido
que muitos dos problemas estão relacionados com os meios, com o facto
de trabalharem sozinhos e também
devido à crise que a cultura atravessa
a nível nacional. Sendo que uma das
muitas formas para combater a falta
de público em algumas actividades
culturais, passará pelo trabalho em
rede e em conjunto.
O futuro dirá que forma o futuro
Museu Ibérico de Arqueologia e Arte
irá usar para atrair públicos e de que
forma isso irá ajudar os restantes agentes culturais de Abrantes, nesta crise
cultural.
22 | ESTA JORNAL • 11 de Março de 2008
CULTURA
Fundação Museu Nacional Ferroviário Armando Ginestal Machado
Um espaço
virado para
o futuro
Tânia branco
O Museu Nacional Ferroviário, naturalmente
situado no Entroncamento, é uma das vertentes da
Fundação Museu Nacional Ferroviário. Com nove
núcleos espalhados pelo país, esta fundação dedicase a variadas actividades, destacando-se as que se
direccionam para os mais novos. O objectivo final
é o de se constituir como um pólo de atracção e
desenvolvimento para o turismo cultural.
Tânia branco
Tânia Branco
A ideia da criação de um Museu
Nacional Ferroviário já data de
1961. No entanto, apenas em 2005,
com a criação da Fundação Museu
Nacional Ferroviário (FMNF), foi
possível avançar com o projecto. O
Museu Nacional Ferroviário foi, assim, inaugurado em Abril de 2007, e
acolheu a sua primeira exposição a
18 de Maio do mesmo ano.
Actualmente podemos encontrar
no museu o comboio comemorativo
dos 150 anos dos caminhos-de-ferro
em Portugal, assim como a exposição
“Olhares sobre os caminhos-de-ferro”. No entanto, e uma vez que se
trata de um museu poli-nucleado
(constituído por uma secção central
e nove núcleos), as actividades são
variadas.
Uma das principais apostas do
Museu Nacional Ferroviário vai
no sentido de fazer parte da rede
dos museus Ciência Viva. Este
é um claro sinal da especial
atenção que se
pretende ar aos
mais novos. Para já, os mais
pequenos têm à
sua disposição
toda a informação necessária para
compreenderem as exposições. Simultaneamente, o Museu Nacional
Ferroviário promove a acção “Pais
ao Museu”, acções com escolas e com
outros grupos. Pretendendo cativar
os públicos mais jovens, está também a ser preparado um teatro de
fantoches para as crianças.
objecto é mais interessante que o
anterior.
A sua criação ficou a dever-se à
necessidade da existência de um
museu que preserve, promova e garanta o acesso público à história dos
caminhos-de-ferro e do transporte
ferroviário em Portugal. No entanto,
a ideia da construção do museu não
é nova, pois o Engenheiro Armando Ginestal Machado, funcionário
da CP, começou por guardar, em
antigas cocheiras e oficinas desactivadas, material ferroviário que
considerava ser de excepção e que
deu origem aos nove núcleos museológicos espalhados pelo país, e
que constituem parte do museu.
Segundo Rita Pereira, coordenadora do Serviço Educativo, o Museu
Ferroviário tem por missão “a preservação, divulgação e promoção
do património ferroviário nacional,
pretendendo constituir-se como
um pólo de atracção e desenvolvimento para o turismo cultural, contribuindo para
a qualificação
territorial, desenvolvimento
económico, social e cultural da
região centro.”
Para além de
ter como competência gerir
este espaço, a FMNF tem outras
funções. Nelas se incluem: a criação
de um centro de documentação e de
um arquivo no domínio da História
dos Caminhos-de-ferro; a promoção
da investigação científica, histórica e
antropológica dos Caminho-de-ferro (em cooperação com entidades de
ensino e unidades de investigação); a
edição e publicação de obras relacionadas com o património histórico,
cultural e tecnológico ferroviário; a
dinamização de programas de voluntariado devidamente enquadrados
nos fins da FMNF; a realização de
conferências, colóquios, seminários
e outras actividades sobre o transporte ferroviário; a instituição de
prémios e a gestão e atribuição de
O Museu está
a preparar
um teatro de
fantoches
Preservar a história
dos caminhos-de-ferro
Situado no Entroncamento, local
que ficou na história devido aos caminhos-de ferro, o Museu Nacional
Ferroviário iniciou a sua actividade
em 2007. O espaço, bastante acolhedor e atractivo, desperta os sentidos
ao longo de toda a visita, pois cada
Tânia branco
Espólio. Armando Ginestal Machado reuniu, em antigas cocheiras e oficinas desactivadas, material de excepção
bolsas de investigação; o intercâmbio
com instituições congéneres nacionais e estrangeiras que prossigam
actividades afins; a divulgação de
linhas históricas e a colaboração com
operadores de transporte ferroviário
no respectivo desenvolvimento; e
a divulgação técnico-científica no
âmbito do desenvolvimento da ferrovia.
Quanto aos restantes núcleos, Rita
Pereira explica que cada um “é dinamizado de igual forma, mas de
acordo com as suas especificidades”.
Actualmente a FMNF tem procurado
estabelecer protocolos com as Câmaras Municipais onde se encontram os
respectivos núcleos, com o objectivo
de “desenvolver uma gestão partilhada”. No entanto, apenas os núcleos de
Arco de Baúlhe e Chaves já estão nes-
te sistema. As respectivas autarquias
“garantem a sua abertura ao público,
sendo da responsabilidade da FMNF
a manutenção do espólio, a criação de
actividades e a gestão de conteúdos”
– adianta Rita Pereira.
No que respeita a horários, o
Museu Nacional Ferroviário abre
as portas durante a semana, à tarde,
e também ao fim de semana. Nas
manhãs de segunda a sexta-feira, o
espaço está reservado para visitas
de grupos, previamente marcadas.
Quanto ao futuro, Rita Pereira afirma: “Pensando no projecto global, é
natural que os horários sejam adaptados às necessidades e ofertas do
museu, procurando alongar os horários o mais possível, como aliás se
tem discutido e proposto em todos
os museus.”
Locomotivas
De acordo com Rita Pereira, “a Rotunda de Locomotivas é o elemento
mais característico do Depósito a
Vapor, uma antiga “cocheira de locomotivas”. A estrutura em questão
servia para combinar a orientação
das locomotivas e colocá-las na via
adequada, estando todas as vias da
rotunda a confluir para a placa giratória e esta, por sua vez, conectada
ao depósito com as vias da estação.
Este é um dos projectos do museu,
ou seja, reconstruir a antiga “Rotunda
das Locomotivas” demolida em 1974.
Neste espaço irão estar expostas 13
(treze) locomotivas, verdadeiras peças
emblemáticas da história ferroviária
portuguesa.
Uma aposta no serviço educativo
Recentemente foi criado pela
Fundação o Serviço Educativo,
que tem por objectivo “despertar
o interesse da comunidade local
para este património, procurando
acrescentar ao seu sentido cívico
uma necessária consciência para
a sua preservação e fruição.” De
acordo com a sua responsável, Rita
Pereira, “as crianças são os futuros
responsáveis e usufruidores do património” e, por isso, “a primeira
aposta será dirigida a elas”.
A necessidade da criação deste
serviço deveu-se ao facto de ser
“imperativo o contacto e uma íntima relação com as escolas do concelho, centros de dia, entre outras
organizações, impulsionando a
aquisição de novos conhecimentos,
a descoberta da função e do significado dos objectos do passado, de
forma a aprender a respeitar o seu
valor histórico, reconhecendo, por
fim, a necessidade de os preservar
no futuro”. Para além disso, e tal
como acontece em todos os museus, a Fundação pretende que “a
visita ajude a alimentar os interesses
culturais das crianças/jovens e nelas
criar o gosto por aprender através
do contacto com objectos reais – as
colecções”.
Para além disso, a Fundação
pretende desenvolver material de
suporte às visitas à exposição permanente, criar guiões técnicos e temáticos, dirigidos aos diferentes graus
de ensino e relacionando o maior
número de temáticas escolares com
a ferrovia.
T.B.
11 de Março de 2008 • ESTA JORNAL | 23
CULTURA
Ricardo Narciso, baterista dos Perfect Sin
“Os pecados estão por toda a parte”
Num universo onde os músicos parecem só querer recriar as suas influências em vez de criar algo de novo, os Perfect Sin destacamse no seu rock com vertentes à volta do metal e grunge. A propósito do lançamento do Ep,Schema, Ricardo Narciso, baterista
do colectivo, mais conhecido como Opiate, fala da banda: “Basicamente fazemos o som que gostamos sem qualquer tipo de
barreiras”.
ana mafalda
Cátia Godinho
Como descreve o percurso da
banda Perfect Sin?
Os Perfect Sin iniciaram-se em 2003.
A ideia partiu do vocalista, Cláudio. Nós
os dois já pertenciamos a uma banda de
covers e a dada altura começámos a ter
mais vontade de fazer originais. Dessa
ideia começámos à procura de pessoal.
No princípio éramos só eu e ele, ainda
fizemos um ou dois temas na guitarra.
Entretanto, começou a aparecer pessoal
e tudo se foi desenvolvendo.
De onde surgiu o nome Perfect
Sin?
Quando achámos que a banda estava
completa e já tínhamos o projecto em
andamento, cada elemento da banda
deu dois nomes, um bocado ao acaso.
Escolhemos o nome que mais nos agradou. Tentámos decidir tudo democraticamente, e foi isso… Perfect Sin.
Mas tem algum significado interior, alguma mitologia como tantas
outras bandas de metal adaptam?
Este foi o nome que agradou principalmente ao vocalista. Não queria entrar em grandes mitologias. Acho que
é um nome óbvio, Perfect Sin - Pecado
Perfeito. Nós vivemos numa sociedade
em que os pecados estão por toda a
parte, quem é que não os comete? Mas
não nos devemos limitar, cada pessoa
deve ter a sua interpretação, seja das
músicas, seja do nome da banda.
Qual o objectivo da banda?
O nosso objectivo é poder e conseguir continuar a fazer aquilo que nós
mais gostamos, acreditando que um
dia poderemos adoptar a música como
profissão, conseguindo viver disso. Outro objectivo é levar a nossa música ao
Ricardo Narciso (cima à direita). “O resultado do EP, SCHEMA é bem bom”
máximo de países possíveis.
Acha que estão a ser bem aceites
no meio musical?
O percurso, embora lento, tem sido
bom, porque começámos a ter notoriedade especialmente depois de
termos editado o nosso primeiro Ep,
Schema, que nos tem ajudado a dar a
conhecer o nosso som. No meio underground todas as ajudas são bem
vindas, mas acho que as coisas estão
num bom caminho.
Visto que são uma banda de metal
grunge deverão ser mais bem aceites
do que bandas de black ou death metal. Visto que até têm influências de
bandas como Nirvana e Tool…
Sim, é um som mais abrangente. Eu
não consideraria isto bem ‘metal’, acho
que o som é resultado não só das influ-
ências, como também da maneira de ver
aquilo que nos rodeia. É o resultado da
maneira de ver dos quatro elementos, da
percepção de cada um. Não nos limitamos a fazer este ou aquele tipo de som,
basicamente fazemos o som que gostamos sem qualquer tipo de barreiras.
Pensam no vosso público, mas gostam de se expandir sem pensar demasiado nas editoras. Centram-se mais
em vocês e no vosso público, é isso?
Sim. Nós, em primeiro lugar, queremos continuar a gostar daquilo que
fazemos. Se houver pessoas que gostam e têm o mesmo prazer que nós em
ouvir o nosso som, sendo possível criar
uma partilha de emoções, ainda bem,
espero que isso aconteça sempre.
A interacção com o público nos
vossos concertos é positiva?
Tem sido uma evolução positiva
nesse aspecto. Nós também vamos
ganhando mais experiência, quanto mais tocamos, mais aprendemos.
Notamos que o público tem aderido
bem na generalidade, mas também
depende dos sítios onde tocamos.
Qual foi até agora o vosso melhor
concerto?
Há sempre aquele concerto que
corre melhor ou pior, mas não fazemos distinções a nível de locais ou público. Tanto podemos tocar para 500
como para cinco pessoas. Acho que
deve ser assim com todas as bandas,
não se deve fazer distinções.
Como surgiu a oportunidade de
gravar este EP, SCHEMA?
A oportunidade veio por entremeio
de um amigo nosso, que é baterista
dos W.A.K.O. Nós andávamos com a
intenção de gravar um Ep, ele propôs
ajudar-nos, por ter os meios necessá-
rios, e nós aceitámos partir para essa
experiência. O resultado é bem bom.
O que é que querem transmitir
às pessoas com as vossas letras e
músicas?
Nesta parte quem responderia melhor seria o vocalista, o Vírus, pois a
maioria das letras são escritas por ele.
Mas o objectivo, além de criar emoções nas pessoas, é fazer as pessoas
pensarem um pouco, dependendo do
tema. Espero que as pessoas não absorvam só os sentimentos de raiva ou
revolta, mas que pensem também.
Qual a sua música favorita neste
Ep?
Isso é como perguntar qual dos meus
seis filhos gosto mais! Gosto de todas de
forma igual. Num dia em que tenha concerto, dependendo do estado de espírito,
determinada música consegue causarme mais aquele arrepio, aquela sensação
de euforia, ou então uma música mais
calma pode me significar mais. É uma
questão bastante sensitiva.
Já partilharam o palco com alguma banda influente?
Já tocámos com várias bandas amigas incluindo W.A.K.O, Ashes, Hyubris
que já são mais reconhecidos. Já foram
alguns concertos a nível nacional, mas
ainda não houve aquela grande banda
para abrirmos o espectáculo.
Existem planos futuros? Quais?
Existem planos, mas ainda estão
guardados. Nós ainda estamos na
fase de divulgação do Ep, andamos
a tentar expandirmo-nos. Já temos
contactos com editoras internacionais, mas primeiro temos que tratar
do registo de material para o divulgar,
após registar continuaremos a enviar
o Ep para várias editoras.
Editora de Santarém aposta nas vendas online
marco santos
A OuTLoud Music, uma editora de
música criada por um grupo de amigos,
em Santarém, abriu portas em Dezembro. Concluídos todos os trâmites legais
para a constituição da empresa, fizeram
a festa de lançamento do projecto na
discoteca QB, em Almeirim.
João Casaca e Luís Martins (ex-Silence4), que constituem o “departamento de música e produção musical”,
foram quem primeiro equacionou o
projecto, “numa esplanada, no princípio do ano. “O mais difícil foram
mesmo as questões burocráticas”, explica a relações públicas da editora,
Sandra Loureiro.
No pequeno estúdio que possuem
estão a produzir e a gravar os temas dos
álbuns de três bandas: Os Twilight e os
Vulture (as bandas de Luís Martins e João
Casaca) que têm uma sonoridade Rock /
Alternativo e os Lágrima, uma banda de
Hip Hop, originária de Loulé.
A editora aposta na venda online dos
Avaliação. O grupo que constitui a editora promete ouvir todas as maquetas de apresentação com atenção
álbuns, que devem integrar, a curto prazo, os principais sites de venda como o
iTunes ou o rhapsody. As vendas online
irão, posteriormente, suportar a edição
dos CDs em suporte tradicional. “São
necessários 1500 euros para produzir
cerca de mil CDs”, explica João Calouro,
responsável pelo site.
A venda dos álbuns online potencia
também a troca dos ficheiros Mp3 entre
os utilizadores, facto que o grupo de
jovens empresários não considera ne-
gativo. “A troca ajuda a tornar as bandas
mais conhecidas e o passa-a-palavra é
muito importante neste meio”, sublinha
João Caroulo.
Quando funcionava apenas há duas
semanas, a editora tinha já recebido maquetas de todo o país. O grupo promete
“ouvir sempre todas as músicas com
atenção”. A avaliação do potencial das
bandas é feita por Luís Martins e João
Casaca, que traça o perfil das bandas
pretendidas pela editora: “Queremos
bandas que soem diferente sem cair
no experimentalismo, que tenham
personalidade própria, que acreditem
e se esforcem”.
Com os meios disponíveis, humanos e físicos, a editora escalabitana tem
capacidade para produzir três álbuns
em simultâneo. Pode ser encontrada
em http://www.outloudmusic.net. As
instalações da empresa estão na Rua Pedro Santarém, por detrás da tradicional
taberna “O Quinzena”. M.S.
24 | ESTA JORNAL • 11 de Março de 2008
CULTURA
Estreia nacional da peça de teatro “O Clube das Divorciadas”
“Obrigado
Santarém”
DR
O Teatro Sá da Bandeira , em Santarém, foi palco da
estreia nacional da peça “O Clube das Divorciadas”.
Uma comédiade Alil Vardar, com encenação de
Joaquim Nicolau. A casa esteve sempre cheia.
Catarina Véstia
A peça está quase a começar. Os escalabitanos ocupam os seus lugares sem
demora. Após quatro sessões o público
ainda está sedento de teatro. Na régie
sente-se a azáfama. Todos ocupam os
seus lugares para que nada falhe durante o espectáculo. Ouve-se um telemóvel
a tocar, mas não se pense que alguém na
plateia se esqueceu de desligar o aparelho, é mesmo o início da peça.
“O Clube das Divorciadas” conta a
história de três mulheres que vão dividir um apartamento. Carlota Francisca
da Bernarda de Alcoforado (Marina
Albuquerque) é uma burguesa que,
após o divórcio, se muda para a cidade.
Não conseguindo suportar os custos
do apartamento sozinha, decide alugar
os outros quartos. A única condição
que impõe é que as candidatas saibam
pronunciar o seu nome correctamente.
A primeira inquilina a aparecer é Rosalinda (José Raposo), uma mulher de
Bragança, camponesa, nada habituada
à vida citadina. Fanny (Sylvie Dias) é
uma jovem inglesa, muito bonita e
elegante, maluca e não muito dotada
de inteligência, que irá dividir o apartamento com as outras duas personagens. Juntas, estas três mulheres irão
viver várias peripécias na demanda
de vencer o divórcio.
Ao longo de toda a peça as risadas
são constantes. Ora porque saltou um
sapato, ora porque Rosalinda caiu.
Mas o teatro é assim mesmo, feito
de improvisos e do contacto com o
público, que vai respondendo com
gargalhadas constantes.
No final do espectáculo seguem-se
os aplausos da praxe. José Raposo
agradece a Santarém por todas as
sessões terem esgotado.
O feedback do público não poderia
ser melhor. Luís Pires achou a peça
muito divertida, e a iniciativa bastante boa: “É pena é haver poucas”.
A mesma opinião é partilhada por
Jacinta Antunes, que acrescenta que
esta peça traz também uma mensagem às divorciadas. Questionada
sobre o que pensa desta iniciativa,
Jacinta afirmou: “Eu acho que em
todas as pequenas aldeias em que
não podem chegar aquelas grandes
peças de teatro, estas pequenas vêm
preencher a grande lacuna que há no
nosso país que é falta de cultura. As
pequenas aldeias também precisam
de cultura”.
Próximos
espectáculos
27 de Março às 21h30 - Teatro José
Lúcio da Silva, Leiria
28 e 29 de Março às 21h30 - CineTeatro Avenida, Castelo Branco
Joaquim Nicolau, encenador de “O Clube das divorciadas”
“Há bastante teatro em Portugal”
“O Clube das Divorciadas” foi um êxito em Santarém, a todos os níveis.
A opção de estrear a peça nesta cidade foi deliberada. Para além dos apoios
do poder local, Joaquim Nicolau, o encenador, refere o carinho
e o entusiasmo como que a equipa foi recebida pela população.
Catarina Véstia
A peça “O Clube das divorciadas” teve a sua estreia nacional em
Santarém. Porque escolheram esta
cidade?
Escolhemos Santarém porque
faz parte de uma estratégia de certa
maneira imposta por mim. Neste
momento eu estou interessado em
fazer os meus trabalhos de produção
e de encenação fora dos grandes cen-
tros. É uma inovação para mim, uma
necessidade de o trabalho se concluir
de outra maneira. É também uma
estratégia artística e económica,
porque eu não vou precisar de estar
em Lisboa numa sala à espera que o
espectáculo faça êxito, eu tento fazer
êxito já com público que está de certa
maneira mais sedento de espectáculos que o púbico das grandes cidades.
Os públicos das grandes cidades têm
um poder de escolha muito maior.
Ao contrário do que as pessoas jul-
gam, há bastante teatro em Portugal,
há bastantes salas de teatro e há uma
oferta muito grande.
Esta estratégia é uma forma de
aculturar o país?
Claro, aliás o país tem esse grave
problema. O teatro, depois do 25 de
Abril, acentuou-se numa capacidade
de querer mostrar uma intelectualidade, o que eu acho totalmente errado. O teatro existe porque existem
pessoas. Toda a expressão dramática
de qualquer ser humano é passível
de ser teatralizada. Nós somos preconceituosos, nós temos problemas e
temos atitudes medíocres em relação
a nós próprios, não gostamos muito de nós. Eu gosto muito de mim,
gosto do meu país, gosto do meu
folclore, gosto da minha pronúncia,
das minhas gentes, gosto do teatro
que eu faço,
O que pensa que faz falta no nosso
país para que tenhamos uma melhor
cultura?
As pessoas gostarem mais delas
e gostarem mais daquilo que nós
somos. Se tiverem essa responsabilidade e esse desejo, para perceberem, de uma vez por todas, que
o problema português não é um
problema económico. Não podemos inventar que venha ouro da lua.
Portugal é um país pequeno com
poucos recursos naturais. Nós somos aquilo que somos. Temos é que
melhorar. O problema português
é um problema cultural, ou seja,
nem é um problema de educação,
é mesmo um problema cultural.
Exemplo disso é que eu continuo
com um programa no ar que é “Os
Malucos do Riso” com grandes audiências. Fico contente por ser um
programa meu, mas por outro fico
triste porque algo está errado. É
bom que as pessoas pensem nisso.
Como artista tenho de reflectir que
algo vai mal no reino quando um
programa como “Os Malucos do
Riso”, “Batanetes”, novelas e afins
continuam com grandes audiências. Nós só temos de decidir se
11 de Março de 2008 • ESTA JORNAL | 25
CULTURA
Os três actores da peça falam sobre a experiência e sobre as personagens
O público quer
peças ligeiras
José Fragoso faz um balanço bastante positivo da estreia, em Santarém, da peça “Clube das Divorciadas”: “Foi fantástico, foi uma adesão
maravilhosa.” Para este actor, que é
também produtor da peça, a receita
do sucesso é simples e baseia-se
na constatação de que “o público
está cada vez mais ávido de peças
ligeiras, ou seja, que divirtam, que
entretenham e que não ‘façam pensar muito’.”
Talvez por ser a segunda peça de
Sylvie Dias, esta actriz sublinha o
facto de terem
José Fragoso, que é também produtor da peça juntamente com Joaquim Nicolau, frisa que a iniciativa
de estrear a peça em Santarém e depois fazer uma tournée pelo país não
é uma decisão que seja tomada com
frequência. E acrescenta: “Essas decisões deviam partir de quem manda, deviam partir do poder central
e local, mas infelizmente não existe
essa atitude.” Quanto à tournée que
entretanto percorre o país, e “depois
desta reacção dos escalabitanos”,
Jo s é
iv o ta vares
esgotado a lotação
da casa nos quatro dias em que levaram a peça à cena, tendo ainda que
fazer uma sessão extra. E é por isso
que faz um balanço “excelente” da
experiência. Marina Albuquerque
admite, até, que o público de Santarém pudesse encher a sala mais
vezes, porque quem viu reagiu bem.
“Acho que as pessoas gostaram
imenso, em termos da comicidade
do espectáculo, da maneira de isto
ser feito.”
Fragoso não ficou com dúvidas: “De certeza que por esse país
inteiro, os portugueses vão rir muito nestes próximos meses. Tenho a
certeza absoluta.”
Para Sylvie Dias, esta é a primeira
tournée que faz e as vantagens por
ela encontradas são muitas. Desde
conhecer pessoas diferentes, ter noção da gastronomia de diferentes
sítios até ver as reacções dos públicos em sítios diferentes. “O bom
disto é que nunca é igual. Cada dia
é diferente e isso é sempre bom.” E
queremos ser América Latina ou
Europa. Se queremos ser América
Latina, então estamos bem, estamos
no caminho certo.
Teve algum apoio por parte do
poder local para a estreia da peça?
Tive, e isso faz parte da minha
estratégia. Não venho só para Santarém porque é geograficamente giro,
apesar de eu ter uma relação com
Santarém muito próxima e muito íntima. Tenho mais facilidade em obter
apoios do poder local. Santarém está
pejada de cartazes, de pequenos car-
Nuno viegas
para que as coisas corram bem, a
jovem actriz vai estar “agarrada” ao
seu objecto de superstição, um anel
com um golfinho que nunca larga.
Os três actores de “Clube de Divorciadas” estão plenamente satisfeitos com as personagens que
encarnaram. Sylvie Dias desempenha o papel de uma mulher “completamente doida, maluca, muito
bonita, e muito elegante”, e o que
mais gosta na personagem é “quando ela tem aqueles ataques
de loucura, quando ela faz
de gata assanhada”. Já Marina Albuquerque vestiu a
pele de uma mulher que
vive bem com o divórcio
e sente-se bem com a personagem: “Gosto da alegria dela, da positividade
dela. Porque enquanto as
outras duas personagens
estão muito tristes por
estarem divorciadas, a
minha não.”
E o que faz um actor
numa peça que só tem
papéis femininos? José Fragoso conta que já fez de mulher várias vezes.
“Esta matrafona que eu faço, é uma
mulher buçal, rural (no sentido de
trabalhadora no campo). Se fosse feita por uma actriz estava-se a
gozar com a condição da mulher,
enquanto que sendo feita por um
homem está salvaguardada essa
parte. As mulheres quando estão a
ver dizem logo ‘isto é assim porque
é um homem que está a fazer, é ele
aquele matrafão, uma mulher nunca
seria assim’. Portanto há essa defesa
da condição feminina.”.
tazes nas lojas, e sou eu que faço isso,
dou a cara, falo com as pessoas. As
pessoas gostam de nos ver, gostam
da aproximação com o artista e isso
faz com que as pessoas venham. É
lógico que tive apoio não só do poder
local, mas também apoios para o
cenário, que é caríssimo.
Qual é o balanço que faz deste
fim-de-semana?
O balanço é positivíssimo a todos
os níveis: ao nível artístico, pessoal,
económico.
É actor e encenador. Qual das duas
vertentes gosta mais?
Sem dúvida: encenador. Eu sou
actor por conveniência. Em tudo
aquilo que faço seja cinema, teatro, televisão, sou mesmo actor por
conveniência. Se puder trabalhar
como encenador, trabalho sempre.
Trabalhei muitos anos como director
de actores nas novelas, se bem que
a direcção de actores não é bem a
mesma coisa, encenar é construir
uma obra. Dirigir actores é, de certa
maneira, preparar o actor, não estou
a construir uma obra em si.
Os protagonistas
Joaquim Nicolau
é actor, encenador e director
de actores. Iniciou a sua actividade no teatro em 1982, no
Curso de Teatro do Grupo de
Campolide. Como encenador, estreou em Outubro de
2004 a peça “Palhaço de Mim
Mesmo”. No cinema, participa como actor em vários
filmes: Guiné, Cinco dias,
cinco noites, Zona J, Um Tiro
no Escuro, para mencionar
apenas alguns. Participou
em várias novelas e séries,
de que podemos destacar:
A Banqueira do Povo, Malucos do Riso, Pensão Estrela, Os Campeões, Filhos do Vento,
Capitão Roby, Médico de Família, A Loja do Camilo, Super Pai, SOS
Crianças, Jardins Proibidos, Anjo Selvagem, Coração Malandro, Ana
e os Sete, Saber Amar, Inspector Max, Maré Alta, Baía das Mulheres e
Quando os Lobos Uivam.
José Raposo
actor português, nasceu a 3 de
Fevereiro de 1963. Possuidor
de uma vasta carreira iniciouse no teatro infantil, em 1981.
Fez teatro de revista onde podemos destacar: Ó Troilaré, Ó
Troilará, Tem a Palavra a Revista ou O Estádio da Nação. No
teatro musical, participou em
Annie de Thomas Meehan.
Integrou o elenco de várias
telenovelas (Ballet Rose,
Médico de Família, Pensão
Estrela, O Posto, O Cacilheiro
do Amor, Conta-me como foi,
Resistirei) e de alguns telefilmes. Participou ainda em vários filmes como: Sapatos Pretos,
Noite Escura, Filme da Treta, Corrupção, Call Girl.
Marina
Albuquerque
actriz portuguesa, integrou
o elenco de várias séries e
novelas portuguesas, entre
elas: Malucos do Riso, Ana e
os Sete, Maré Alta, Morangos
com Açúcar, Inspector Max, A
minha família é uma animação, Médico de Família, Ballet
Rose, entre outras. No teatro
já interpretou várias peças.
Podemos destacar: Confissões de mulheres dos 30, O
Principezinho, Filodemo,
ABC da Mulher e Shakers.
Sylvie Dias
actriz e modelo portuguesa,
nasceu a 14 de Junho de 1979.
Na área da moda venceu, em
1995, o Elite model Look, e depois disso fez vários desfiles:
Fill moda, Moda Lisboa, Portugal Fashion, Máxima Novos
talentos. Como actriz participou no elenco de algumas
séries e novelas, tais como: O
Bairro da fonte, A Senhora das
Águas, Morangos com Açúcar, Maré Alta, Mistura Fina,
Inspector Max, Ecoman. No
cinema integrou o elenco
de O Crime do Padre Amaro
e Julgamento. Estreou-se em teatro em 2006 com a peça
Acredita estou possuída.
fotos de Nuno viegas
26 | ESTA JORNAL • 11 de Março de 2008
CULTURA
Idosos do Cartaxo levam
peça ao Centro Cultural
marco santos
Marco Santos
Um grupo de 19 homens e mulheres, dos 57 aos 79 anos, apresentou,
no início de Janeiro, a peça de teatro
“Renascer”, no Centro Cultural do
Cartaxo. O grupo, que não tinha
qualquer experiência de palco, integra o clube de Teatro do programa “Viver mais, Viver melhor”, da
Câmara Municipal. A este programa podem pertencer os munícipes
do Cartaxo que tenham entre 50
e 80 anos. Os participantes têm à
sua disposição sessões de ginástica,
caminhadas, actividades aquáticas,
pintura, teatro, culinária, artes decorativas, jardinagem, informática
e bordados. O teatro foi introduzido
no ano de 2007.
A encenadora foi escolhida entre
os colegas pela experiência prévia
que tinha com o teatro. Fátima Xavier começou a fazer teatro aos oito
anos e esteve ligada durante 30 ao
Grupo de Teatro Amador Marcelino Mesquita, do Cartaxo. Tem 58
anos, é catequista, e tem experiência como encenadora de crianças e
adolescentes. A escolha da peça a
Espectáculo. “Correu tudo pelo melhor e os espectadores foram satisfeitos para casa”, garante a encenadora
representar esteve também a cargo
de Fátima, com a decisão final a ser
tomada em grupo. “Nunca tinha
trabalhado com adultos, mas tinha
Torres Novas
de encontrar uma peça que fosse
fácil de decorar, daí termos recorrido às rimas. Ao mesmo tempo
queria um texto que transmitisse
uma mensagem e esta peça tem isso
tudo” – afirma.
O trabalho foi intenso, com ensaios
todos os dias na semana que antece-
deu o espectáculo, mas, de acordo
com a encenadora, “correu tudo pelo
melhor e os espectadores foram satisfeitos para casa”. As maiores dificuldades foram nas rotinas de palco, que só
puderam ser experimentadas no dia
anterior ao espectáculo, explica.
Celeste Idália, reformada, com 75
anos, conta que o teatro, como as
outras actividades em que participa,
lhe ocupam o tempo criado pela reforma de auxiliar de acção educativa.
Já para Evelina Gaspar, com 61 anos,
o teatro foi sempre uma paixão que
apenas tinha tido possibilidade de
experimentar em pequenos eventos.
A sexagenária participa no projecto
camarário desde o seu início, há sete
anos. Maria Eugénia é a mais idosa
do grupo. Com 79 anos, inscreveuse no clube de teatro porque já tinha
tido algumas experiências de teatro
agradáveis no Inatel. Já Aureleana
Campanacho afirma que, aos 61 anos,
encontrou finalmente uma maneira
de a fazer perder a timidez: subir para
o palco.
Jeanine Steuve é belga, mas vive
no Cartaxo desde 1963, altura em
que casou com um português. Ainda
mantém o sotaque porque o francês
é a língua que se fala lá em casa. A
vontade de representar já a acompanhava há anos, mas nunca tinha tido
a oportunidade de a pôr em prática.
Esta era a oportunidade que esperava:
“Quando soube desde clube, fui logo
inscrever-me!”
“Renascer” tem regresso assegurado aos palcos de Centro Cultural do
Cartaxo, segundo a encenadora, mas
ainda sem data marcada.
tânia rosa
A riqueza de
um concelho
Tânia Rosa
Num cantinho, junto ao Mercado
Municipal de Torres Novas, com vista
e som das águas do rio Almonda, há
uma loja cheia de cor, magia e diversidade: a Loja do Artesanato. Ocupando a loja nº 17 do edifício do mercado,
este projecto resulta da vontade dos
responsáveis pela autarquia. O objectivo é que as pessoas, que residem ou
visitem o concelho, conheçam a magia das artes tradicionais. Para além
da venda, a formação nestas áreas faz
também parte do projecto.
Segundo António Ferreira, responsável pela Loja do Artesanato, por
parte do Turismo, a ideia inicial era
disponibilizar peças realizadas à mão,
pois é assim que entendem que deve
ser o verdadeiro artesanato: trabalhar
a matéria-prima desde a origem, até
chegar ao produto final, como é o
exemplo do trabalho dos oleiros.
Actualmente estão inscritos cerca de
70 artesãos. Para se garantir padrões de
qualidade, inovação e originalidade,
os respectivos trabalhos têm de passar
por uma comissão de avaliação. E as
opções de escolha são variadas: barro, madeira, artes decorativas, vidro,
bijutaria, pinturas, tecido, rendas, res-
tauração de móveis, pinturas, arranjos
florais secos, trapilho, e até trabalhos
elaborados através da reciclagem de
embalagens usadas, que se transformam, por exemplo, em malas.
A Câmara Municipal cede o espaço
da loja aos artesãos a título praticamente gratuito, visto que apenas cada
um tem de pagar à câmara 12 euros
por ano, que são essencialmente para
as despesas básicas, como água e luz.
Mas esta iniciativa passa também pela
produção de peças originais e por
descobrir onde está quem possa pôr
em prática toda esta arte. António
Ferreira descreve este projecto como
sendo a divulgação e desenvolvimento de artesanato do concelho, o que
conduz ao desenvolvimento rural de
forma a valorizar-se a sua cultura.
A responsável pela loja, Helena Rodrigues, também movida pelo gosto
pelo artesanato, afirma que a gestão da
mesma “tem de ser feita de forma independente”, seguindo-se regras transparentes, no sentido de se evitar que
os próprios artesãos não se envolvam
muito no atendimento ao público, de
forma a não induzirem a compra das
suas peças. É por isso que, de 2ª a 6ª
feira, está na loja uma funcionária que
não é artesã. Ao sábado o atendimento
Regras. Cada artesão só pode ter na loja 15 peças de cada vez e os preços são estipulados pelos próprios autores
é feito pelos artesãos, que se organizam
segundo uma escala.
Outra das regras é que cada artesão
só pode ter na loja 15 peças em simultâneo, que são revezadas mais ou
menos de três em três meses, se não
se venderem, com o objectivo de se
diversificar e de não cansar a própria
imagem da loja. O preço de cada peça
é estipulado pelo próprio autor.
Cristina Teixeira, uma das artesãs
desta loja, garante que o valor pedido
não paga toda a dedicação e tempo
que lhe depositam. Para além disso,
considera que a localização da loja não
é muito favorável à sua divulgação.
Apesar de já participarem em feiras
nacionais e internacionais, os artesãos
de Torres Novas ainda têm dificuldade
em vender as suas peças e em divulgálas. Cristina afirma que a loja “não tem
muitos visitantes e que não se vende
muito”, à excepção da época natalícia.
A Câmara de Torres Novas continua
a apostar no artesanato, tendo também
em vista projectos relativos à formação,
realizando cursos e indo às escolas para
incentivar os mais novos para este mun-
do. Os responsáveis pretendem que o
artesanato se passe a direccionar no sentido das preocupações ambientais, como
a reutilização do que a natureza fornece,
aproveitando-a da melhor forma.
Associados à Loja de Artesanato
existem ainda outros projectos em
vista. Um deles é a realização de parcerias com escolas que, por exemplo,
leccionam cursos de vitrinismo, como
a Escola Profissional de Torres Novas,
proporcionando a oportunidade de
os alunos praticarem a sua futura
profissão.
11 de Março de 2008• ESTA JORNAL | 27
CRIATIVIDADE
Beijos ao
Rio Tejo
A
o longe, vejo-te, Lisboa. O
cheiro penetrante do iodo
invade os meus sentidos e
o perturbante som do rio
incomoda os meus pensamentos. Cidade de sete colinas, empilhada por tanta arquitectura que
durante décadas a quis domar… em vão.
Cidade à beira mar estendida, o Tejo percorre suas margens e enche o seu
caudal de histórias. Cacilheiros traçam
caminhos de espuma branca, trazendo
consigo, quase por ritual, espampanantes
e desajeitadas gaivotas que teimam em
penetrar os seus gritinhos estridentes
nos meus ouvidos, que nem loucas atrás
dos peixes que foram volvidos pela força
das turbinas.
No céu recorto-te em mil pedaços, meu
rio. O teu azul penetra no meu olhar, e os
pequenos e discretos raios de sol obrigamme a cerrar os olhos, mas não penetra em
todos os meus sentidos.
Tenho as mãos húmidas da terra, e as
unhas sujas do suco de clorofila desta relva
selvagem, filha das chuvas de Inverno.
Vagueio por meios pensamentos e distraio-me ao ver-te em mim. Tenho as
mãos roxas do frio, o nariz gelado que
mal consigo respirar, bafadas de ar quente
saem da minha boca como se de pequeninas nuvens brancas se tratassem. Mais
uma vez, aqui sentada na outra margem,
de frente para a mais bela cidade que nos
uniu, recordo-me de ti. Recordo-me das
Primaveras, Verões, Outonos, e dos Invernos. Verão! Estação saborosa essa!
Todos os Verões eram motivo de alegria.
O cheiro doce e intenso das flores era
electrizado pela nossa alegria. Tão electrizantes como os risos estridentes da Tia
Zulmira! Lembras-te? Os seus risos eram
contagiantes… e mal compreendidos pelo avô Gaspar que morria de vergonha,
sempre que a tia se deixava levar pelo
humor. Os seus olhos castanhos amêndoa,
grandes e redondinhos como avelãs, quase
escondidinhos pelas rugas de tantos sóis
de lavoura, ganhavam expressão. Ecoavam quase como assustados, em jeito
repreensivo, parecendo implorar que a
tia parasse.
Parecia um homem carrancudo e
amargurado. Não fora sempre assim. A
perda da avó Gertrudes fê-lo silencioso.
Tal como os seus pensamentos. Era bom
observador. De poucas falas. Mas quando
falava, eram certo e ordem! As suas mãos
mostravam bem o árduo trabalho do campo; vingado pelas artroses dos seus dedos
que ganharam a curvatura da enxada.
A mesa da casa do avô Gaspar e da avó
Gertrudes tinha sempre lugar para mais
um. Até para as bisbilhoteiras da aldeia.
Passavam o dia a falar mal de toda a gente.
Havia quem dissesse que até defronte ao
espelho criticavam (uma boa forma de aliviar as tensões criadas pelos mexericos!).
Era o jeito delas e assim ficaram.
Os dias quentes de férias de Verão eram
passados entre culturas de tomates, pimentos e morangos que a avó pedia para
colher. As minhas saias andavam sempre
sarapintadas de pequenas nódoas vermelhas. O cheiro doce das laranjas inundava
as cestas de fruta. Davam um colorido
fresco à cozinha bem velhinha. Todos os
dias, acordava como que em hipnose, com
o aroma intenso do café de cevada que
fumegava das chávenas de esmalte e com
o pão fresco no saco bordado de borboletas amarelas e verdes que o padeiro Sr.
Firmino trazia ainda o sol espreguiçava.
De lenço à cabeça, a avó dava-me um
carinho e um beijo na testa, como que
um ritual. O avô já havia ido há muito
para o campo.
Enquanto aguardava pelo seu regresso,
ficava na horta. Um pequeno quintal,
em que as culturas estavam alinhadas e
minuciosamente cultivadas. De um lado
batatas, do outro cenouras, de outro cebolas, tudo muito bem distribuído e dedicadamente tratado. Estreitos regos de água
talhados por sacholas atravessavam toda a
horta. Ao centro estava uma barraquinha
de madeira, improvisada pelo pai, depois
das chuvas do Inverno passado.
Passava as minhas tardes acompanhada
pelo burro Jeropiga, o galo Toni sempre de
peito erguido e cores garridas, um verdadeiro conde de galinheiro, e o Saraiva um
cão rafeiro. O Saraiva era o companheiro
de passeios do avô, que preferia a minha
Conto de Ana Marta Sénica
companhia nas férias. O grande segredo
eram os pedaços de queijo, embrulhados
em guardanapo de pano que roubava da
mesa do pequeno-almoço, bem escondidinho na minha mala de traçar ao ombro.
Um truque, que o avô nunca descobriu,
ou fingiu nunca saber.
A horta não era muito longe da porta.
Dali via-se a fachada da casa caiada. Tinha
um branco tão intenso que magoava os
olhos ao sol do meio-dia. Os seus rodapés
eram amarelo vivo. Tão vivos como as
giestas que colhia todas as tardes para
decorar a jarra da mesinha do quintal.
A sua cor era tão agreste que enaltecia o
vermelho tijolo das bilhas de barro.
As janelinhas estreitas feitas de madeira estavam secas e brotavam bolsas
de resina; o avô dizia que era bom sinal.
A madeira era de qualidade. Ali tudo era
de qualidade! Até a sombra feita pelo limoeiro e macieira no quintal dos avós era
de qualidade.
Bem ao fim da tarde, quando o céu
se assemelhava a uma tela preenchida
de laranjas quentes, verdes campestres
e azuis celestiais, o vento fazia-se sentir.
Uma leve brisa torneava nossa pele, dando
sinais de que o tempo iria arrefecer. O céu
permanecia naquele encanto campesino
digno de um quadro intemporal.
Da rua ouvia-se o estalar da lenha na
lareira, sinal de que se preparava o jantar.
Couves, feijão e um pedaço de toucinho
faziam as delícias de quem vivia na cidade
devorando bifes, hambúrgueres e batatas
fritas. Depois de jantar, ajudava a arrumar
as loiças e outros tarecos e saía com o avô.
De mão dada, levava-me até ao café. Ali
o mundo era dos homens. Entre grandes
cigarradas, baralhos de cartas e o tilintar
das peças de dominó a miudagem juntavase na rua a brincar à apanhada e à pataca.
“Um, dois, três, é agora a tua vez!” – gritavam bem alto. Eu corria bem rápido,
mas nunca o suficiente para escapar aos
rapazes mais velhos e velozes que eu. Perdi
a conta ao número de vezes que ficava a
apanhar. Perguntava-lhes até quanto tinha
de contar. Respondiam: “ Conta todas
as estrelas que vires no céu!”. Claro que
ficava minutos, que mais pareciam horas
à espera para os apanhar.
Assim se passavam as semanas. Manhãs, tardes, noites eram como o jogo da
apanhada… passavam a correr. Mas havia
um dia que era muito especial, o último.
O dia dos meus anos!
Neste dia, em contraste com os outros,
o sono era irrompido não pelo café, mas
pela algazarra que se sentia no quintal.
Barulhos se ouviam do outro lado da janela. Logo pela manhã, os meus pais, tios
e primos vinham ver os meus avós, e claro,
festejar os meus oito anos. “Parabéns, meu
amor! Morria de saudades tuas!” – o meu
pai abraçava-me com tanta força, como se
quisesse recuperar em cinco minutos dois
meses de distância. Traziam todos os anos
o carro carregado de doces e embrulhos, a
maioria deles nem faziam falta; outros, já
nem idade tinha para brincar com eles.
Enquanto os homens ficavam na sala a
conversar, envoltos de nicotina e outros
monóxidos, as mulheres ficavam a tratar
da cozinha, eu e os meus primos íamos
brincar com o
Jeropiga, o Toni e o Saraiva. Passávamos
assim toda a tarde. Perto do entardecer
digno do quadro intemporal, gritos ao
longe ouviam-se chamar os nossos nomes.
Eram horas de jantar e de cortar o bolo. A
mesa ganhava brilho e eu sentia-me em
êxtase por ter a família reunida e feliz.
Mas pela primeira vez senti que algo não
estava bem. O jantar deu-se quase que
em silêncio. O avô estava taciturno e mal
elevava os olhos. A avó Gertrudes parecia
inquieta e passou a janta a perguntar se
alguém queria repetir. Em mim inundava
a vontade de perguntar o que se passava,
mas de certeza que me iriam mandar calar.
No meio de tanto suspense, envolta no
som dos talheres a bater nos pratos que
mais soavam a uma orquestra desafinada
e sem rumo, a tia Zulmira atreveu-se a
contar uma boa piada, que fez estremecer
pulmões e barrigas até aos mais carrancudos. Meus olhos vidraram com o bolo.
Era simples, rectangular, minuciosamente
decorado pelas oito velinhas cor-de-rosa
e um “feliz aniversário” às costas dum
pequeno burrinho que fazia lembrar o
Jeropiga.
Continuação no próximo número
Terça-Feira, 11 de Março de 2008
DO OUTRO LADO DA HISTÓRIA
Tiago Lopes
O seu irmão D. João faleceria quatro
dias depois. A subida ao trono solteiro,
fez com que uma das primeiras preocupações da Casa Real fosse encontrar
noiva para o jovem monarca. A honra
caberia a D. Maria Pia de Sabóia, filha
do Rei Vítor Manuel II, de Itália. Durante a procura, a Rainha Vitória da GrãBretanha fez pressão para que D. Luís
acedesse a casar com D. Maria Teresa,
Arquiduquesa da Áustria.
Nos primeiros anos do seu reinado
(1862-1863) D. Luís I escreveu ao seu
amigo Óscar, Príncipe da Suécia, contando-lhe como definia o seu papel de
monarca: “Não digo que um Rei deva
ser volúvel, mas devemos compreender
bem as conjunturas em benefício da
felicidade do Estado”. Nos anos subsequentes manteria a correspondência
regular com a Rainha Vitória. Em Outubro de 1863, numa carta enviada (em
francês) à Rainha Vitória, o monarca
defendia que: “Amo o meu povo como
a uma família”.
D. Luís I seria o primeiro e, até ao
momento, único Rei a tornar o Palácio da Ajuda residência oficial do Rei,
em detrimento do Palácio das Necessidades, onde o monarca nascera. Isto
porque o povo, por culpa da morte dos
dois infantes e do Rei D. Pedro V em
1861, suspeitava de envenenamento e
conspirações. Para garantir que o Rei D.
Luís ficaria em segurança, mudou-se a
residência oficial do monarca.
Mais, muito mais, há para dizer do
reinado de D. Luís I, mas ficamo-nos
por aqui. Conhecemos um pouco melhor o homem, que se tornaria Rei, sob
o cognome de O Popular. Em 28 anos de
governação, D. Luís veria formarem-se
17 governos. Um número pequeno, se
pensarmos que em 16 anos de I República (1910-1826) se formariam perto
de 50 governos. Dá que pensar!
projectos, quer na área do jornalismo
e do audiovisual, quer no campo da
comunicação empresarial. Paralelamente, estão previstas apresentações
de livros e um casting para pivots de
noticiários televisivos. Nesta ocasião, a
ESTA abre as suas portas ao público em
geral para que, sem qualquer encargo,
todos possam ver uma exposição de
Previsões por Tiago Lopes
Rá (Deus do Sol)
16 de Julho a 15 de Agosto
Carta: Lua
Excelente momento para iniciar uma nova relação amorosa.
Dedique mais tempo aos seus amigos. Cuidado com os excessos,
no que toca à sua alimentação! Olhe o físico!
Neit (Deusa da Caça)
16 de Agosto a 15 de Setembro
Carta: Progresso
Este será um período positivo para investir na sua carreira. Acredite
nas suas potencialidades e prove, a si e aos outros, que é capaz de
fazer mais e melhor. Força!
Maat (Deusa da Verdade)
16 de Setembro a 15 de Outubro
Carta: Louco
O começo de 2008 ficou aquém das expectativas dos nativos de
Maat. Só que isso não é razão para desistir tão facilmente! Controle
os seus nervos e as variações de humor…
Osíris (Deus da Renovação)
16 de Outubro a 15 de Novembro
Carta: Lavrador
O trabalho que teve nos últimos dias irá, finalmente, surtir
efeitos. Mime mais a sua cara-metade. Tente dar atenção aos seus
familiares. Deixe de ser pessimista. Sorria.
Hator (Deusa da Adivinhação)
16 de Novembro a 15 de Dezembro
Carta: Condescendência
Perdoar é divino, mas perdoar sem olhar é um erro. Não deixe
impunes todos os que o/a fazem sofrer. Não exija do/a seu/sua
companheiro/a o que também não pode dar!
Anúbis (Guardião dos Mortos)
16 de Dezembro a 15 de Janeiro
Carta: Pensamento
’07 Encontro
de Comunicação
A sétima edição do Encontro de
Comunicação da ESTA decorre entre
11 e 13 de Março, assumindo como
tema genérico a “Comunicação Espectáculo” e adoptando um formato
inovador. Para além das sessões mais
tradicionais neste tipo de eventos – como é o caso das conferências – o ’07
Encontro aposta na apresentação de
J O R N A L
►► ►
D. Luís,
Rei dos Portugueses
Antes de seguirmos com mais alguns
caracteres sobre a vida e governação de
D. Luís I, tenho que pedir desculpas aos
caros leitores. Nestas coisas de darmos
opinião, todos podemos errar e foi o
que aconteceu. Não são seguramente trinta e seis monarcas, mas trinta e
quatro. E donde veio a confusão? Na
lista de reis, que serviu para efectuar
a contagem, estavam o nome de dois
putativos regentes: D. Leonor Telles e
D. António, Prior do Crato. Feitos os
esclarecimentos, avancemos.
O ano de 1861 seria de má memória
para o nosso Lipipi. Dos seis irmãos que
estavam vivos, três morreriam nesse
ano. D. Fernando, com 15 anos de idade,
faleceria em Novembro; D. Pedro V,
Rei de Portugal, com 24 anos de vida e
quase 8 anos de reinado, morreria em
Dezembro. O último mês de 1861 levaria ainda o infante D. João, com apenas
19 anos de vida.
D. Luís I seria aclamado 32º Rei de
Portugal, a 22 de Dezembro de 1861.
esta
Os nativos de Anúbis têm razões para estarem descontentes com
2007 e com o começo de 2008, mas isso não é razão para discutir
com toda a gente. Tenha mais calma.
Bastet (Deusa Gato)
16 de Janeiro a 15 de Fevereiro
Carta: Roda da Fortuna
fotografia (que está patente durante
os três dias do Encontro) e para que
possam assistir a uma sessão de vídeos, agendada para o final da tarde do
dia 12 de Março. O momento alto em
termos de criatividade será a II Gala
Comic Awards, no dia 13 de Março
à noite, também aberta à população
(mediante aquisição de bilhete).
Momento ímpar para começar novos negócios e para investir
capitais. É verdade que este é um ano de risco, mas lá diz o famoso
ditado: “Quem não arrisca…”
Tauret (Deusa da Fertilidade)
15 de Fevereiro a 15 de Março
Carta: Autoridade
Impor uma vontade não é tarefa fácil especialmente para os
nativos de Tauret, que detestam elevar a voz. Mas se não se
impuser verá que vai ficar para trás. Não permita isso!
Sekhmet (Deusa da Guerra)
16 de Março a 15 de Abril
Carta: Comunhão
A vida a dois faz-se de partilha de momentos positivos e negativos.
Se está à procura de uma relação, só para ser feliz esqueça. Amar é
saber rir e saber chorar! Conforme-se.
Media Partners
Ptah (Criador Universal)
16 de Abril a 15 de Maio
Carta: Suma Sacerdotisa
Os nativos de Ptah terão que provar, nas próximas semanas, o seu
valor como criadores intelectuais. Não se menospreze perante os
outros. Olhe que tem muito para dar… Acredite!
Tot (Deus da Escrita)
16 de Maio a 15 de Junho
Carta: Azar
Os nativos de Tot mantêm a carta. Um claro sinal que as mudanças
estão a surtir efeitos positivos. Ter um espírito aberto revelar-se-á
um trunfo nas próximas semanas.
Ísis (Deusa da Magia)
16 de Junho a 15 de Julho
Carta: Rivalidade
Ser bom tem destas coisas! Brigar e discutir não é aconselhável,
mas, por vezes, é inevitável. Argua contra os que não acreditam
que é capaz. Olhe em seu redor para encontrar o amor!