Abrantes - Instituto Politécnico de Tomar
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PUB www.esta.ipt.pt D i r e c to r a : H á l i a co s ta s a n to s www.nyb.pt GERIMOS COMPETÊNCIAS O 1.º prémio do concurso nacional de execução do logotipo para comemoração dos 750 anos do Foral de Estremoz foi atribuído a Nuno Miguel Baptista, do curso de Design e Tecnologias das Artes Gráficas do IPT. N.º 16 . Ano 6 . terça-Feira, 11 de março de 2008 Hália costa santos - Empreendimento inovador em Abrantes Clínica sénior e residência assistida para idosos com poder de compra São 60 milhões de euros de investimento e 57 mil m2 de construção. Tudo isto para dotar Abrantes de um complexo médico e social, que vai dar emprego a 500 pessoas. Para além de cuidados de saúde para a terceira idade, este projecto, de um grupo francês, P7 assume outras valências, incluindo uma creche. - Tejo Barragem em discussão Constância não aceita “nem a submersão nem o emparedamento da vila”. Abrantes é “contra a barragem”, mas admite ponderar a sua posição. Neste caso, as compensações pelos prejuízos seriam decisivas. Vila Nova da Barquinha continua serena. O debate em torno da construção da barragem de Almourol está lançado. Se ela for construída em Abrantes, perde-se todo o investimento feito no açude e no aquapolis, duas obras que pretendiam mudar a vida e a imagem da cidade. P4 P4a7 Especial Religião P 16 a 20 - Entroncamento Museu Ferroviário preserva património A primeira aposta do Museu Nacional Ferroviário é dirigida às crianças e o grande objectivo é tornar-se um pólo de atracção e de desenvolvimento para o turismo cultural. Tudo começou quando um engenheiro, funcionário da CP, decidiu guardar, em antigas cocheiras e oficinas desactivadas, material ferroviário que considerava ser de excepção. Hoje em dia, a Fundação que deu origem ao Museu é muito mais do que um espaço de exposições, tendo já nove núcleos espalhados P 22 pelo país. - Futebol - Abrantes Verão quente no AFC A extinção do clube de futebol com maior projecção no concelho de Abrantes, no final desta época, é uma forte possibilidade. A grave crise financeira e os processos em tribunal que impedem o clube de inscrever jogadores podem ditar o fim de uma equipa que teve uma ascensão • • • • • Abrantes Alferrarede F. Zêzere Leiria Tomar Embora os últimos tempos da Igreja Católica estejam associados a alguma dificuldade em cativar jovens, vários são os mais novos que participam , com toda a vontade, nas actividades religiosas. E os dois mil anos de História não fazem esta fé parar no tempo. O padre Luís Batista tem 80 anos, vive no Sardoal, e defende a educação sexual nas escolas. O padre Américo Casado, do Rossio ao Sul do Tejo, acredita que um programa de rádio, uma história contada na Internet ou até mesmo uma aula de hidroginástica podem fazer a diferença. Cultura com pouco público meteórica à II Divisão Nacional. Embora admita esta hipótese, Alberto Lopes, presidente da equipa abrantina, acredita na recuperação do clube e pretende criar uma imagem mais positiva em torno do AFC. P 12 e 13 perto de si Abrantes tem uma sala de espectáculos e várias associações que promovem espectáculos, exposições, debates e outras iniciativas no campo cultural. Mas a verdade é que todos se queixam da falta de público. Não será só nesta cidade que o problema exis- te, mas aqui a preocupação não se esconde. Os promotores das iniciativas reflectem e procuram respostas. Haverá falta de divulgação? Haverá falta de coordenação? Como se podem criar novos hábitos? P 21 | ESTA JORNAL • 11 de Março de 2008 esta J O R N A L E statuto Editorial ESTAJornal associa-se ao ’07 Encontro de Comunicação e dito r ial Hália Costa Santos Há uma coisa que os jovens de hoje não podem ignorar: os empregos não caem do céu e a batalha por um lugar ao sol, profissionalmente falando, é cada vez mais difícil. Há 15 anos era relativamente fácil entrar e ficar num jornal, numa rádio, ou mesmo numa televisão. Verdade seja dita, nem era preciso ser extremamente bom. Bastava ser dedicado, ter aparecido na hora certa e mostrar alguma vontade de trabalhar. Depois, houve um tempo em que só os que davam provas de ser muito bons acabavam por ficar. Hoje, já quase não há lugar para os extremamente bons. Embora o jornalismo comece a ser quase uma miragem para muitos jovens que sonham com a profissão, o panorama mediático precisa, de uma forma geral, de gente com sangue novo. E é por isso que esses jovens não podem abandonar o seu sonho. Se o fizerem, perdemos todos. E é por isso, também, que o ESTAJornal continua a ser um espelho daquilo que os alunos desta instituição são capazes de fazer, sendo que a edição dos textos é praticamente inexistente: o que aqui se lê é o que os alunos propõem e escrevem. Mas esta edição do ESTAJornal assinala, também, uma outra forma de mostrar capacidades: o ’07 Encontro de Comunicação. E associa-se ao evento, saindo na mesma altura. Os alunos empenharam-se na sua organização, desde a obtenção de patrocínios até à produção da II Gala Comic Awards. Aquilo que acontecer entre 11 e 13 de Março, na ESTA, será fruto da iniciativa dos estudantes de Comunicação Social. Há 15 anos podia haver mais emprego no campo do jornalismo. Mas agora há mais estímulos para que as coisas se façam com criatividade e entusiasmo, quer na comunicação social, quer na comunicação empresarial. Pelo menos, essa é a prática da ESTA, com as provas que estão à vista. • O ESTA é um jornal de Escola, de pendor assumidamente regional, mas que nem por isso abdica da dimensão de um órgão de grande informação ou da ambição de conquistar o público para além do meio universitário. • O ESTA Jornal adopta como lema e norma critérios de rigor, de absoluta independência e de pluralismo dos pontos de vista a que dá expressão. • O ESTA Jornal aposta, por isso, numa informação plural e diversificada, procurando abordar os mais diversos campos de actividade numa atitude de criatividade e de abertura perante a sociedade e o Mundo. • O ESTA Jornal considera como parte da sua missão contribuir para a formação de uma opinião pública informada, emancipada e interveniente - condição fundamental da democracia e de uma sociedade aberta e tolerante. • A democracia participativa e entendida para além da sua dimensão meramente institucional, o pluralismo, a abertura e a tolerância são os valores primaciais em que se alicerça a atitude do ESTA Jornal perante o Mundo. • O ESTA Jornal considera-se responsável única e exclusivamente perante a ambição e a exigência dos seus redactores, alunos do Curso de Comunicação Social da Escola Superior de Tecnologia de Abrantes e perante o público a que se dirige. O ESTA Jornal está por isso plenamente disponível e empenhado com os leitores, comprometendo-se a manter canais de comunicação abertos com quantos connosco queriam partilhar as suas ideias e inquietações. esta J O R N A L Fundado a 13 de Janeiro de 2003 propriedade da escola superior de tecnologia de abrantes Morada: Rua 17 de agosto de 1808 direc tora: Hália Costa Santos redacç ão: adriana fonseca, ana marta sénica, andré canoa, catarina véstia, cátia godinho, fábio car valho, fernanda mendes, joão car valho, laetitia rodrigues, liliano pucarinho, marco santos, nelson ferreira, noélia barradas, nuno jesus, rui rodrigues, tânia branco, tânia rosa, tiago lopes, valter marques, vítor madeira Revisão: Sandra Barata Departamento comercial: ana neves, catarina machado e diana cordeiro Projec to gráfico e paginaç ão: joão pereira Colaboradores: ana mafalda, ivo tavares, impressão: gráfica do instituto politécnico de tomar helena car valho, nuno viegas, tânia pissarra (gabinete de comunicação do tiragem: 5000 exemplares 2200-370 abrantes telefone: 241361169 fax: 241361175 E-mail: [email protected] museu de arte pré-histórica de mação) tânia matos (Gabinete de comunicação do ipt) 11 de Março de 2008 • ESTA JORNAL | OPINIÃO O Satânico Romântico O Cátia Godinho A Cultura do Futebol João Carvalho “ Hoje em dia o futebol é uma espécie de cultura S erá futebol sinónimo de cultura? Será que as multidões que se juntam em cafés, estádios e lares podem ser consideradas como parte de um ritual de cultura massificada? Hoje em dia assiste-se a uma mudança no sentido da cultura e os valores que esta “ nde está a irreverência do Senhor Marylin Manson? Se há uns anos tínhamos o reverendo Manson satânico com um olho de vidro e sem umas costelas, agora temos um Manson romântico a tentar ser mau, quando não passa de um divorciado apaixonado por uma jovem a quem dedica os seus temas. Brian Warner, ex-jornalista, começou por criar polémica nos Spooky Kids, banda de adolescentes revoltados com o mundo e adoradores de um Diabo que nunca conheceram, tendo depois criado os Marylin Manson e adoptado o mesmo nome para si. Antigamente os Marylin Manson metiam medo no seu grande mundo de metal industrial, tecnicamente bem feito e com histórias revoltantes que atraíam o público. O senhor que tirou o olho e meteu um de vidro, que tirou umas costelas para fazer sexo oral a si próprio e que atirava baldes de porcaria aos seus fãs nos concertos, provocando a euforia suportava parecem estar a ser alterados. Vejamos, pois, o exemplo do Euro 2004, que provocou uma onda de solidariedade e união junto do povo português. Facilmente confundimos como uma cultura de massas que aproximou uma nação e melhorou a sua auto-estima, apesar de os índices de satisfação nacional estarem bastante baixos. É em termos culturais uma actividade bastante importante na nossa sociedade, provoca conversa, troca de opiniões, em certos casos desenvolve o intelectual do indivíduo social. Não será que o facto de o pai levar o filho a ver o seu ídolo de futebol todos os domingos provoca uma união familiar? O futebol hoje em dia tem uma importância tremenda no que diz respeito à união familiar, ao divertimento, à distracção e até mesmo à influência no dia-a-dia. Futebol não é exactamente sinónimo de cultura, mas consegue juntar aglomerados de população antes e depois de cada jogo, que seguem sempre um ritual inconscientemente estipulado, o beber da cervejinha e o comer do petisco, para discutir ou analisar o que se passa no mundo futebolístico. Futebol é, assim, nos dias que correm, uma cultura massificada, um ritual cultural, todos gostam de futebol, todos respeitam o que o envolve e todos se deixam influenciar por ele. Quem até hoje não perdeu tempo para ver, falar, comentar, criticar, esta actividade desportiva? Sejam os golos que marcam, sejam as transferências mal feitas, seja a hegemonia de um determinado clube, seja o dinheiro mal gasto por causa do futebol, seja a obsessão futebolística por parte da população masculina que desagrada as mulheres. Hoje em dia o futebol é uma espécie de cultura que unes nações, famílias, adeptos, e pessoas desconhecidas entre elas, é um mundo de paixão social e cultural… Começa-se por ser monstro e acaba-se no belo de todos, hoje é um eterno romântico que tem uma lente de contacto, que tem todas as costelas que lhe pertencem e que atira algo minimamente limpo ao seu público, azedando os seus mais acérrimos fãs e agradando a adolescentes revoltados com o amor… “Don’t break my heart and I won’t break your heart shaped glasses!” Continua com as suas pinturas de guerra, os seus actos eróticos em público aumentam, mas já não chocam ninguém. E as notícias sobre ele já não de assédios a homens ou espectáculos absurdos, mas sim sobre o divórcio, os seus quadros de pintura e o seu novo romance. O mundo do metal é enorme, mas não é preciso conquistar um lugar no pódio dizendo que se é satânico e depois virar um “cachorrinho romântico” para atrair ainda mais gente, e mostrar “ ei!, eu mudei, agora sou bonzinho!”. O seu metal industrial quase minimalista nos dias de hoje está quase em toques de rock gótico e o seu satanismo deve ter escorregado por águas desconhecidas de uma ambição já conseguida. E assim vai o metal… Começa-se por ser o monstro e acabase por se tornar no belo. Esperamos por novos acontecimentos do Reverendo Satânico Romântico, quase já uma novela na música, pode-se dizer…” Não percam os próximos episódios que nós também não!” “Tabaqueando” a questão “ André Canoa Tudo isto pode ser paradoxal A nova Lei do tabaco entrou em vigor em 2008. A medida parece-me sensata e digo-o sem qualquer tipo de fundamentalismo. Este conjunto de regras visa essencialmente reduzir o consumo de tabaco na nossa sociedade, na tentativa de que espaços públicos fechados e inóspitos se tornem co-habitados democraticamente, de forma a agradar a fumadores e não-fumadores. Ninguém imaginaria que uma substância que apareceu 1000 A.C nas sociedades indígenas da América Central, em rituais mágico-religiosos e com o objectivo de purificar, contemplar, proteger e fortalecer ímpetos guerreiros, viria a ser tão popular. A nível económico o Estado vai ressentir-se, pois a receita do tabaco vai baixar e convém lembrar que 80% do preço de venda ao público de um maço de tabaco reverte a favor dos cofres do Estado sob forma de imposto. Tudo isto pode ser paradoxal porque a longo prazo o Estado pode reduzir gastos com a saúde dos portugueses. Outra fonte de receita do Estado provém das coimas por não cumprimento da lei. Para indivíduos que fumem em locais públicos proibidos, o cigarro poderá ficar entre 50 a 750 euros. Já para os proprietários dos estabelecimentos privados e órgãos directivos de serviços de administração pública a sanção pode ir de 50 a 1000 euros. A ASAE irá ser o órgão fiscalizador. Polémicas paralelas surgem devido à Lei do Tabaco. Será que a produtividade do país irá ser ainda mais sacrificada em detrimento do tempo que o operário irá perder para fumar o seu “cigarrito”? E qual o critério para definir as condições exactas de ventilação dos espaços públicos? O tempo responderá a estas e outras questões e só depois podemos concluir se o ser humano é afinal um animal facilmente ajustável às circunstâncias. | ESTA JORNAL • 11 de Março de 2008 INVESTIGAÇÃO Barragem de Almourol causa polémica Ainda por construir e já a meter água! A construção da barragem de Almourol foi anunciada em Outubro de 2007, quando o Plano Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hidroeléctrico (PNBEPH) foi apresentado publicamente. Corria tudo bem, até a Imprensa regional e nacional ter começado a noticiar as intenções do Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional. A população entrou em pânico. Pouco se sabia, é verdade; mas esse pouco era assustador. Adriana Fonseca e Tiago Lopes Nem para a frente para trás. Foi o Castelo de Almourol que baptizou o projecto de barragem. Ali tão perto, Vila Nova da Barquinha continuou serena. A barragem, que ainda não passa de um esboço em papel, traria mudanças significativas à vida de todos os populares, mas por lá a vida segue tranquila. É mais fácil encontrar quem fale das lendas de D. Raimiro do que quem se preocupe com a possível barragem. Na imprensa local, as notícias saem a conta gotas. O jornal Novo Almourol limitou-se a publicar os comunicados das Câmaras Municipais de Constância e de Abrantes. “O assunto não interessa a muitos e os nossos recursos são escassos”, explica Cidália Delgado, chefe de redacção da publicação. A Câmara Municipal de Vila Nova da Barquinha seguiu o exemplo dos populares. Do executivo camarário não houve qualquer resposta, por falta de disponibilidade na agenda do presidente. Mais difícil foi descobrir onde pára o vereador Manuel Maria Ferreira Honório, com responsabilidades nas áreas de Obras Municipais e Gestão e Administração das Águas. Aqui não! Perto de Vila Nova da Barquinha, em Constância, as notícias que vão chegando da barragem têm tido outras reacções. A população está preocupada com os efeitos negativos da eventual construção do empreendimento. São poucos, raros mesmo, aqueles que são a favor do projecto do Governo. Para a Câmara Municipal de Constância, a resposta é simples: “Não é aceitável construir-se a barragem a montante de Almourol e a jusante de Constância”. Quem o diz é Rui Manuel Ferreira, vereador do executivo com responsabilidades nos pelouros Águas e Saneamento, Turismo e Divulgação e Desenvolvimento Económico. O autarca declara mesmo que “isso é ponto assente”: “A nossa oposição é permanente e radical”. “Em termos económicos e paisagísticos seria um desastre para Constância”, completa Rui Manuel Ferreira. O sol esconde-se entre as frestas da janela, para ouvir o vereador afiançar que a edilidade de Constância não aceita “nem a submersão, nem o emparedamento da vila”. Qualquer uma das hipóteses “está fora de questão”. O vereador de Constância respira e avança com mais um argumento: “Destruindo a Opiniões há muitas Ponto de situação, até ao momento. Está prevista a construção de uma barragem na região que fica entre Almourol e Abrantes, sendo mais provável a sua localização a montante de Constância. A Câmara Municipal de Vila Nova da Barquinha segue a sua vida normalmente. A Câmara Municipal de Constância não aceita que se pondere outro tipo de localização. A Câmara Municipal de Abrantes está contra, mas poderá ficar a favor se forem respondidos os desafios que lançou ao Governo, no sentido de a cidade ser recompensada pelas consequências negativas causadas pela eventual construção da barragem. Então, mas quem é que está por detrás deste projecto? Apontemos três entidades: Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional (MAOTDR); Instituto da Água (INAG) e Consultores de Engenharia e Ambiente (COBA). Das três entidades envolvidas, somente uma se mostrou disponível a ceder os devidos esclarecimentos. Paulo Machado, técnico do INAG, desconhecia as polémicas levantadas em torno do estudo, adiantando que este “ainda será completado por um relatório sobre o Impacto Ambiental, no qual as Câmaras se poderão pronunciar sobre todas as questões”. Todas, desde que relacionadas com o Ambiente. Logo, nem todas as questões terão uma resposta. Cada um terá que levar a água ao seu moinho como conseguir. O técnico do INAG não se mostrou surpreso por existirem já estudos datados de 1967, lembrando mesmo que “todas as localizações previstas já tinham sido anteriormente referenciadas” E acrescenta: “Não vejo polémica nisso”. Diferente malha urbana da vila, destruímos a nossa capacidade económica”. Todavia, a construir-se a barragem “a montante de Constância, a situação altera-se completamente”, informa o vereador. O ambiente quente da sala obriga a uma pausa para se respirar. Bebe-se um pouco de água, de outras barragens, opinião tem José Gomes, arqueólogo e Director do Centro de Incubação Arqueológica de Vila Nova da Barquinha (CIAR), que vê nestes estudos apenas um “agitar de águas para afastar a atenção”. Na sua opinião, “é tudo conversa da treta”. Segundo José Gomes, “há sítios arqueológicos que estão à beira do rio e são importantes para o conhecimento da região”. Sem papas na língua, aceitou falar da barragem enquanto almoçava. Se para Abrantes o açude é uma preocupação, para o director do CIAR “o açude é uma implicação menor” uma vez que, se se montou, “também se desmonta”. José Gomes vai mais longe, dizendo que “se Abrantes queria ter um espelho de água, com a barragem fica com ele”. Neste xadrez político, as peças têm-se distribuído pelo tabuleiro, para o que promete ser um jogo de forças. A Câmara de Vila Nova da Barquinha assiste a tudo impávida e serena. A Câmara de Constância mostra-se intransigente. A montante da vila poema tudo bem; a jusante nem com parecer divino. A Câmara de Abrantes diz um ‘não’, que pode virar ‘sim’. O COBA lava as mãos. O INAG, segundo um funcionário que não se quis identificar, ainda não tem a localização final definida. Para o arqueólogo e director do CIAR “nem esta nem as outras barragens serão construídas”, tudo não passa de um encobrimento para “pensarmos nestas, enquanto eles pensam noutras que vão construir noutros sítios mais problemáticos”. Só uma coisa é certa, muita água ainda vai correr até a barragem de Almourol, ou de Abrantes, ter um destino certo. Se é que o vai ter! e a conversa segue. Esta segunda localização “é altamente benéfica para o Município de Constância”. Mesmo sem estudos que o comprovem, Rui Manuel Ferreira afirma: “É essa a visão que temos. Só que benéfica não é o mesmo que perfeita.” Mesmo que se construa a barragem a montante de Cons- tância, a Câmara Municipal deixa o alerta: “Há aspectos que temos que acautelar”. Vende-se fatos de mergulho Se Constância tem aspectos a acautelar, caso a barragem se construa a montante da vila, Abrantes não se fica nada atrás. Aliás, esta DR Abrantes. O presidente da Câmara, Nelson de Carvalho, está “céptico em relação à construção da barragem” segunda localização, para o projectado empreendimento, deixou a cidade florida nervosa. Os efeitos negativos da construção da barragem florescem, à medida que os estudos avançam. Estão por descobrir vantagens significativas para o concelho, caso a barragem se construa. Em sessão pública de esclarecimento, a Câmara de Abrantes tomou uma quase posição. Se, por um lado, a Câmara abrantina assumiu que era “contra a barragem, porque terá impactos muito duros em relação aos quais não conseguimos antecipar propostas de resolução”, por outro lado, admitiu também a “possibilidade de ponderar a sua posição”, caso surjam compensações para os referidos impactos. E que impactos serão esses? Ocupação de mais de 1000 hectares de áreas de terrenos agrícolas altamente produtivos. Maior vulnerabilidade da zona ribeirinha da cidade face às variações de caudal do rio. Inundação parcial das infra-estruturas de saneamento e abastecimento de água em Rio de Moinhos e Cidade de Abrantes (encosta Sul). Submersão parcial das infra-estruturas de acessibilidade a Rio de Moinhos (EN3), ao Rossio e a S. Miguel do Rio Torto (EN 118). Destruição dos equipamentos do Aquapolis e do açude, recentemente inaugurado. E inundação de áreas urbanas de Rio de Moinhos, Rossio ao Sul do Tejo e Barreiras do Tejo. Abrantes, que não se quer ver transformada na Veneza portuguesa, irá exigir muitas explicações ao Governo. Nelson de Carvalho, presidente do executivo abrantino, deixa o repto de que “não há nada como sermos claros, desde muito cedo, em relação a esta matéria”. Claros têm sido os populares em manifestar-se contra a construção do projecto, até porque muitos não percebem qual a respectiva utilidade. Seguindo a onda popular, Nelson de Carvalho afirma ser “céptico em relação à construção da barragem”. Quem também não bateu palmas à ideia da barragem foi o projectista do açude, a trabalhar para o Grupo LENA. O autor da obra que custou 3.150.096€ interpôs uma providência cautelar em tribunal, por estarem em causa os seus direitos de autor, caso a barragem seja construída e o açude fique submerso. Além do mais, “o Aquapolis é um projecto do qual não abdicamos”, adverte o presidente da Câmara. Mas, a construir-se a barragem, o Aquapolis será sempre afectado. 11 de Março de 2008• ESTA JORNAL | INVESTIGAÇÃO Rosa Casaco deixa pasta verde em lugar seguro Passaram dois anos após a morte de António Rosa Casaco. Para trás ficaram memórias por contar e a certeza de uma entrega pessoal completa, por parte de Rosa Casaco, à Polícia de Intervenção e Defesa do Estado (PIDE). Ameaçou vários políticos e chefes de Estado graças a uma pasta que juntaria, durante anos, documentos comprometedores para muitas indivíduos. Talvez fosse apenas uma estratégia, que até pode nunca ter existido. O conteúdo da pasta verde continua a ser uma incógnita, o seu paradeiro é agora revelado. Texto: Noélia Barradas, Liliano Pucarinho e Valter Marques Ilustração: Helena Carvalho Junto ao coreto verde da pequena freguesia de Rossio ao Sul do Tejo, em Abrantes, moram memórias de quem privou com Rosa Casaco. Não falamos de memórias de um ex-agente da PIDE, mas de um educado, e sempre sorridente, indivíduo comum. Rosa Casaco nasceu no Ribatejo, passando a sua adolescência entre brincadeiras que eram comuns a muitas outras crianças no ano de 1920. Maria, sua irmã, descreve-o como “um amigo do peito, sempre muito atencioso”. E revela que a família nunca se incomodou com o facto de António Casaco ter escolhido a profissão de agente de defesa do Estado, no dia 12 de Janeiro de 1937. Entenderam-no como um escape à pobreza da altura e à necessidade de vingar na vida. Logo no primeiro ano em que ingressou na PIDE, Casaco terá participado no interrogatório do militante do PCP, Almeida Martins, que quatro dias depois deu entrada na morgue, com as unhas queimadas, equimoses e costelas fracturadas. A irmã do ex-agente continua certa de que “ele não era má pessoa”. Foi na década de quarenta que António Rosa Casaco viria a integrar a brigada de segurança de Oliveira Salazar. Apadrinhou um dos seus filhos e foi convidado, anos depois, para fotografar o mesmo com a jornalista Christine Garnier. Acusado de chefiar a brigada que levou ao assassínio de Humberto Delgado, Casaco responde em entrevista, no ano de 1998, ao Expresso, que “o seu relacionamento com o caso foi meramente casual”, não adiantando, porém, pormenores. “Morrerei de consciência tranquila designadamente em relação ao único crime de que me acusam - e de que não fui o autor material, nem o mentor - nada me pesa excepto os desgostos da vida e a pulhice dos homens” – conclui indignado. Em resposta aos acontecimentos, Casaco publica o Livro “Servi a pátria e acreditei no regime”, apenas com 4.000 exemplares. Pelo 25 de Abril, Rosa Casaco encontrava-se no Porto, sendo obrigado a fugir por pertencer à antiga Direcção Geral de Segurança (DGS). Num camião, foi conduzido com outros membros da DGS em direcção à cidade de Braga. Obrigados a abandonar a viatura, ainda em movimento, escaparam ao castigo que lhes era tido como certo: a prisão. Espanha serviu de refúgio para quase todos os ‘fugitivos’. António Casaco seguiu viagem de Palma de Maiorca para o Brasil, onde passou o resto da sua vida ao lado da sua esposa, enquanto esperava que os mandatos internacionais, que pendiam sobre si, prescrevessem. Com ele, durante estas viagens, transportaria bens pessoais e uma pasta, que se tornaria num trunfo valioso para os anos que se anteviam. Uma pasta, verde Foram mais de 30 anos ao serviço da Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PVDE). Tempo suficiente para guardar e juntar documentação relativa a movimentações e transferências de dinheiros do Estado, para outros países. Registos que foram meticulosamente organizados em diversos dossiers, que viriam a integrar, segundo Casaco escreve no seu livro, uma única pasta. Uma pasta verde. Joana Prôa, sobrinha-neta de António Casaco, conta-nos o afastamento do ex-agente em relação à sua família. Nunca manteve grande contacto com o seu tio-avô, apenas “uma ou duas vezes, num ou outro almoço”. Apesar de ele fazer algumas “visitas pontuais”. Casaco “nunca se mostrou pessoa para falar muito nos assuntos da PIDE” nem da sua vida, enquanto ‘fugitivo’. Joana acabou por tomar conhecimento da pasta apenas através da imprensa, assim como aconteceu com a irmã do ex-agente. No livro de memórias de Casaco escrevemse linhas que garantem o orgulho de servir a pátria. Nesse documento encontramos um capítulo dedicado à pasta que guardaria consigo e que, com a qual, revelaria ao país os corruptos e os interesses de diversos políticos da altura. Pasta perdida, pasta encontrada Tempos houve em que ninguém poria a vista nesses documentos. Casaco escreve em memória que perdeu o dossier num Galeão. Esta palavra levantou várias dúvidas. Galeão seria um barco? Um espaço físico? Um local especial? Um nome pessoal? Não chega a revelar por entre ‘que águas se perdeu’ a pasta. Chegou mesmo a pensar que a teria perdido para sempre. Para além de documentos importantes, fotografias, um ou outro cachimbo estaria dentro dela, guardada por um código secreto, que nem a sua esposa conhecia. Fez estrada e mar até ao Brasil. Certo dia, a pasta voltou a aparecer, em sua casa, num canto escondido da sua sala. Diz que apareceu misteriosamente. A fechadura não teria sido violada e todo o seu conteúdo parecia estar intacto, justamente como ele o colocou da última vez. Para seu espanto, admite a possibilidade de alguém ter podido copiar o seu material de ‘chantagem’. “Hoje esta mala já não existe por estar velha, como eu, mas ainda cheio de vitalidade e com a cabeça lúcida e fria, e as minhas ricas pastas, estão num lugar seguro. Recordações são objectos e coisas que relembram pessoas e factos da vida, mesmo quando esta já está morta. Lembranças de gentes mortas, vivas, de animais, de episódios, de glórias, de misérias. A mala que me apareceu inesperadamente fez-me recordar terras onde labutei, gente de alto coturno com quem privei directamente ou apenas através de documentos comprometedores para vários ‘cavalheiros.” - relembra Rosa Casaco em páginas do livro “Servi a pátria e acreditei no regime”. António Rosa só desmistifica o carácter de alguns desses documentos. Todo o seu conteúdo hoje é conhecido, mas não divulgado pelas autoridades legais. Em investigação, conseguimos perceber que a pasta realmente existe e está ao alcance de algumas pessoas. Dentro en- contramse registos de transferências bancárias, sendo uma delas a de um político que enviava casualmente para França, para um banco situado na Rua Murilo, 100 milhões de dólares que ‘roubava’ ao Estado português e os tornava seus. Durou dois anos este sistema, garante Casaco. Paradeiro da pasta Chegámos a Lisboa, tendo antes passado por Espanha, Brasil, Moçambique e Abrantes. Antes da sua morte Casaco decidiu ofertar a pasta. Se com os documentos todos que se propunha apresentar, nunca o saberemos. Muitos podem ter sido eliminados, pelo próprio, resguardando assim muitas pessoas e deixando muita conversa em aberto. António Rosa Casaco nunca se deixou agarrar pelas mãos da polícia e talvez nunca tivesse querido que os seus documentos pessoais se tornassem públicos. Não todos. A Torre do Tombo, de Lisboa, alberga hoje a maior colecção de estórias e história do nosso país. Nela se encontra também a pasta de Rosa Casaco. Apenas sob consulta por quem de direito e respectivos familiares directos. Apagam-se memórias de um ex-agente da PIDE que fez questão de nunca se deixar intimidar por uma polícia, que ele próprio chefiou. Passaram-se anos à procura de uma mala, de uma pasta, de dossiers. Curioso é que a sua sobrinha, hoje, vende-as. Nenhuma é verde. | ESTA JORNAL • 11 de Março de 2008 IPT Plano Estratégico do IPT apresentado em sessão pública “Ambição em relação ao futuro” gabinete de comuicação do IPT A equipa que produziu o Plano Estratégico para o Instituto Politécnico de Tomar (IPT), liderada pelo professor Augusto Mateus, defende que nos próximos anos esta instituição deve produzir uma “mudança de paradigma”, mas acrescenta que esta “não deve ser feita com ruptura”. Na cerimónia de apresentação pública do documento, esteve também presente o secretário de Estado do Ensino Superior, Manuel Heitor. Definindo uma metodologia a aplicar até 2013, o principal autor do Plano Estratégico reconhece que o IPT é “uma instituição dinâmica, mais forte do que outras instituições que o sistema integra”. Por isso, Augusto Mateus sugere que o IPT consolide o que fez até aqui, assumindo, a partir de agora, “desafios e oportunidades que têm a ver com a região”. O antigo ministro diz mesmo que, para o Politécnico de Tomar, é fundamental encontrar “uma nova relação com as empresas”, sobretudo com “as mais organizadas e mais competitivas” contribuindo, assim, para a criação de riqueza. Augusto Mateus evidencia que o Médio Tejo é “uma região de intermediação entre Portugal e Espanha e Proposta. Augusto Mateus (ao centro) sugere que o IPT assuma desafios “que têm a ver com a regiaõ” entre Lisboa e o segundo pólo do país” e que o IPT pode tirar proveito desta situação estratégica. Aliás, o professor entende que esta instituição tem de tornar-se imprescindível no processo de desenvolvimento da região. Em termos de ensino, o documento mostra que o IPT enfrenta desafios específicos do sector, nomeadamente a preocupação de “ensinar Divulgação Congresso de Desenvolvimento Regional em Tomar O Instituto Politécnico de Tomar (IPT) vai ser palco, nos dias 4 e 5 de Julho, do 14º Congresso Anual da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Regional (APDR). Simultaneamente, e à semelhança do que aconteceu no ano passado, o evento conjuga-se com o 2º Congresso de Gestão e Conservação da Natureza. O tema do encontro parte do reconhecimento de que, crescentemente, o desenvolvimento dos territórios que compõem um país é um processo económico, social e político que está muito dependente da qualidade e “espessura” das instituições que estão no território. Segundo a organização do evento, destas espera-se que sejam capazes de assumir a responsabilidade de concepção, implementação e avaliação das políticas de desenvolvimento, proporcionando condições de sustentabilidade económica, ambiental e financeira. A iniciativa conta com o apoio científico e logístico do Departamento de Território, Arqueologia e Património da Escola Superior de Tecnologia de Tomar do Instituto Politécnico de Tomar (IPT) e reúne a colaboração de outras sociedades científicas, como a Associação Portuguesa de Economia Agrária (APDEA) ou da Sociedade Portuguesa de Estudos Rurais (SPER). O prazo para entrega de propostas de comunicações termina a 14 de Março ([email protected]) e os respectivos resumos podem ser apresentados em português, espanhol ou inglês. As comunicações aceites com base nos resumos devem ser enviadas à organização até 30 de Maio. Neste momento está já disponível uma lista provisória de 14 sessões paralelas: 1. Desenvolvimento, Administração e Governança Local 2. Cidades criativas, cultura e estratégia territorial 3. Economia pública local e desenvolvimento 4.Governança e desenvolvimento rural 5. Relações transfronteiriças, modelos de governança e desenvolvimento 6. Inovação, empreendorismo e território 7. Mobilidade urbana, transportes e desenvolvimento sustentável 8. A alta velocidade, o novo aeroporto e o desenvolvimento regional em Portugal 9. A gestão e conservação da natureza no contexto regional e local 10. Turismo, património e sustentabilidade local 11. Ordenamento do território, planeamento e políticas de solos em Portugal 12. A problemática dos territórios de baixa densidade 13. Recursos da Natureza e desenvolvimento 14. Métodos e indicadores regionais e locais. Mais informações podem ser obtidas no site http://www.apdr.pt/congresso/2008 e aprender com métodos diferentes”. Para além disso, Augusto Mateus e a sua equipa sugerem a necessidade de o IPT aumentar os produtos oferecidos, ao mesmo tempo que dizem ser necessário “acabar com certos cursos, reformular outros e consolidar os cursos-chave”. Ou seja, o fundamental, para o IPT, será “travar uma batalha para ter cursos de referência a nível regional, nacional e internacional”. Outro dos caminhos que o IPT, segundo o Plano Estratégico, deverá seguir é, inevitavelmente, a criação de receitas. Como? “Com uma estrutura mais magra, com menos recursos, com mais investigação e com mais eficiência”. Tudo isto poderá ser feito, segundo Augusto Mateus, com “ambição em relação ao futuro”, numa “lógica de utopia no sentido construtivo”. O secretário de Estado do Ensino Superior, que teve contacto com o documento, pela primeira vez, na altura da sua apresentação, evidenciou a vontade manifestada pelo IPT no sentido de evoluir. O responsável ministerial lembrou que “as reformas fazem-se porque são precisas” e acrescentou que “a maturidade de uma instituição está ligada à sua capacidade de se especializar”. Na cerimónia estiveram presentes, para além de alunos, docentes e funcionários, várias autoridades militares, civis e religiosas. Semana da Qualificação e Competitividade Abrantes aproveita as suas sinergias Várias agentes ligados à educação e ao mundo empresarial associaram-se à Câmara Municipal de Abrantes para organizar a “Semana da Qualificação e Competitividade”. Entre 2 e 6 de Abril, a cidade será palco de um vasto conjunto de actividades que pretendem tratar temas considerados “nucleares” em termos de desenvolvimento. Os pontos altos da iniciativa serão a finalização da implementação do programa “MOCHO XXI” e a inauguração do “Centro de Ciência e Tecnologia Alimentar”, mais uma infraestrutura que integrará o Tecnopolo do Vale do Tejo. Simultaneamente, estão previstos diversos workshops temáticos, ateliers de formação, conferências e exposições relacionadas com a ciência e com a tecnologia. Entre outras actividades, a ESTA organiza a conferência dedicada ao tema “A procura do primeiro emprego” e debates sobre as profissões da moda e as profissões em vias de extinção. Nelson de Carvalho, presidente da Câmara de Abrantes, explicou, em conferência de imprensa realizada a 11 de Fevereiro, que a Semana da Qualificação e da Competitividade resulta de uma “parceria extrema- mente interessante, que envolve a Câmara Municipal de Abrantes, a Escola Superior de Tecnologia de Abrantes (ESTA), a Tagus Valley, a Rede Social e as associações que a compõem, assim como as escolas e agrupamentos de escolas do concelho”. O autarca lembrou que a competitividade “não é uma coisa que o Estado ou a Câmara Municipal possa fazer se não envolver as entidades que contam”. De acordo com a vereadora Isilda Jana, esta iniciativa partiu “da constatação, feita no âmbito da Rede Social, de que nos planos de actividades de várias instituições existiam semanas da educação, da formação, do empreendedorismo”. Perante este facto, a Rede Social convocou vários parceiros para preparar algo em conjunto, juntando de sinergias. A II Feira de Empreendedorismo, organizada pela ESTA, e a “INOV. ACÇÃO 2008 – Feira de Inovação”, organizada pela TagusValley, são dois dos pontos altos da iniciativa. No que respeita à primeira Feira da Inovação, a vereadora Maria do Céu Albuquerque adiantou que se dirige a um público-alvo jovem.T.B. 11 de Março de 2008• ESTA JORNAL | NEGÓCIOS Abrantes acolhe investimento de 60 milhões de euros Aprovado empreendimento com clínica sénior destinado a utentes do Norte da Europa DR muito significativo para a cidade, para o concelho e para a região, do ponto de vista da animação económica, do turismo e da fixação de quadros especializados”, reforça. No que concerne a prazos e a formalidades para o avanço da obra, o autarca ressalva que “mesmo com as habituais diligências e procedimentos destes projectos, que não dependem só da Câmara Municipal de Abrantes”, o investidor tem tudo em andamento para avançar com o projecto o mais rapidamente possível”, conclui Nelson de Carvalho. Nuno Jesus A cidade de Abrantes está na rota de mais um grande investimento. Foi aprovado pela Câmara Municipal de Abrantes, a 13 de Maio, deste ano, a construção de um grande empreendimento na cidade, destinado a uma clínica sénior com residência assistida. O investimento é liderado pelo Grupo Existance e ronda 60 milhões de euros. O local escolhido para a edificação do complexo é a encosta localizada entre o quartel dos Bombeiros Municipais de Abrantes e a zona do Lidl, em Abrantes. Um projecto com uma área de construção de 57 mil metros quadrados, que comporta um edifício central, onze edifícios de apoio, três piscinas, restaurante, boutiques e outros serviços de apoio, como berçário, manicure, entre outros. Destinado a cuidados de saúde à terceira idade, prevê-se que esta unidade crie 500 postos de trabalho directos, entre serviços gerais e quadros especializados na área médica. Serão prestados cuidados como reeducação funcional (Fisioterapia), cuidados continuados, e acompanhamento e tratamentos em doenças como o Alzeimer Parkinson e ainda valências de geriatria e psiquiatria. O público-alvo desta aposta do conceituado grupo francês é, sobretudo, oriundo do Norte da Europa. Este projecto de grande dimensão, foi aprovado por unanimidade pela autarquia abrantina, em reunião do executivo municipal. Segue-se agora um prazo de 90 dias para que o grupo investidor entregue o projecto de Terreno. Numa zona central, será construído o empreendimento que “vai transformar a imagem da cidade” arquitectura e mais 60 para aprovação dos projectos de especialidade. Abrantes “na rota do turismo do Norte da Europa” Nelson de Carvalho explica que este projecto “é um investimento para construir um complexo médico social”, destinado “a aposentados com poder de compra que procuram zonas mais propícias para terem uma boa vida, durante a sua reforma”. O presidente da Câmara Municipal de Abrantes assinala que “este empreendimento pretende dar-lhes condições de vida assistida, do ponto de vista clínico, de cuida- dos de saúde e do seu bem-estar”. O autarca ressalva que se trata de “um investimento muito significativo: cerca de 60 milhões de euros, numa zona da cidade que é importante. Digamos, que não é uma zona longe, metida num sítio qualquer. É uma zona que fica dentro da cidade”. Este empreendimento “significa também o crescimento da cidade e um conjunto de cerca dois mil novos clientes / utilizadores /cidadãos, residentes a maior parte do tempo em Abrantes”, refere. “As próprias famílias virão visitá-los, com alguma regularidade, de acordo com aquilo que é expectável”, relembra o autarca. Uma situação que na sua óptica vai gerar “um conjunto de fluxos interessantes, de cidadãos do Norte da Europa”. Nelson de Carvalho sublinha que, com este projecto, Abrantes fica “na rota de turismo do Norte da Europa”. Para além do emprego que o “Ofélia Club” vai gerar, o edil destaca que o investimento “vai transformar a imagem da cidade e a sua atractividade”, salientando também o impacto que um empreendimento desta natureza tem na cidade. Nomeadamente no comércio e serviços “com o conjunto de pessoas que ali vão viver e trabalhar. Creio que é um investimento Terrenos de construção transformados em clínica Os cerca de 10 hectares que este complexo vai ocupar já estavam devidamente licenciados para zona de construção, onde se previa a edificação de 315 apartamentos e 57 lojas. A informação é adiantada por Jorge Dias, proprietário de 75 mil metros de terreno vendidos ao grupo investidor para viabilizar a obra. O restante terreno envolvido, pertença da Câmara Municipal de Abrantes, foi também negociado pelo Grupo Existance. Jorge Dias refere que foi “uma das pessoas” que desempenhou um papel activo na vinda deste empreendimento para Abrantes, “em conjunto com a Remax do Entroncamento”. Explica que já havia um projecto de construção aprovado pela Câmara, mas que, após alguns meses de negociações com o grupo francês, foi alterado, “no sentido de se poder avançar com esta grande obra e um projecto que vai trazer gente, riqueza e vai desenvolver bastante o concelho e a região”. Fazer negócios em português Na imprensa portuguesa, quando se juntam as palavras Economia e Portugal, pensa-se sempre em Tragédia e Crise. O ESTAJornal foi à procura de dados que contrariassem esta tendência e eis que os encontrámos. O relatório da Organização Internacional Económica “Doing Business”, para 2008, traz notícias positivas sobre o clima dos negócios em Portugal. Tiago Lopes O Doing Business (em português, Fazendo Negócios) é uma Organização Internacional Económica que tem por finalidade avaliar o clima de negócios em 178 países. Através de estudos comparados, esta Organização Internacional faz projecções anuais, que podem servir para avaliar o comportamento das economias mundiais. O Doing Business conta com a participação de mais de mil profissionais espalhados por todo o globo. Portugal é um dos países que consta dos relatórios anuais do Doing Business. Para 2008 prevê-se que o país seja a 37ª economia mundial, onde será mais fácil realizar negócios. Bem à frente da economia italiana, somente em 53º lugar, ou da economia grega, que se queda pelo 100º posto, em 178 possíveis. Neste aspecto, a Cidade-Estado de Singapura lidera a tabela. Portugal surge no 38º lugar, quando o Doing Business se refere a “Começar um Negócio”, o que representa uma queda de duas posições em relação a 2007, ano em que o país estava em 36º. Mesmo assim, Portugal está à frente de países como a Alemanha, em 71º lugar, ou a Áustria, em 83º lugar; para não falar da Grécia em 152º lugar. A Austrália é o país onde será mais fácil “Começar um Negócio” em 2008. No indicador “Concluir um Negócio”, a nação lusitana aparece em 20º lugar, embora em 2007 surgisse em 19º. É mais fácil “Concluir um Negócio” em Portugal, do que em Itália (25º lugar), Alemanha (29º lugar), França (32º lugar) e Grécia (38º lugar). O primeiro lugar, deste indicador, vai para o Japão. É curioso vermos que, segundo o relatório de 2008, seja mais fácil concluir um negócio em Portugal, do que começá-lo. Em todos os indicadores, que são analisados, a pior performance portuguesa é no que se refere à “Empregabilidade”. Portugal manteve inalterada, em 2008, a posição que tinha em 2007: 157º lugar. Até a Grécia ultrapassa Portugal, classificada em 142º. O primeiro lugar é repartido ex-aequo pelos Estados Unidos da América, Ilhas Marshall e Singapura. No reverso da medalha, Portugal surge em 33º lugar quando toca a “Proteger Investidores”, muito embora em 2007 surgisse em 32º lugar. A Itália queda-se pelo 51º lugar; a França pelo 64º posto e a Alemanha surge apenas na 83ª posição. Neste parâmetro o ouro vai para a Nova Zelândia. O relatório completo, de cada uma das 178 Nações estudadas, pode ser encontrado em: www.doingbusiness.org. | ESTA JORNAL • 11 de Março de 2008 REGIÃO Homem Pré-Histórico no Reino Unido Pedro Cura, arqueólogo do Museu de Arte Pré-Histórica de Mação, veste a pele de homem da pré-história do Vale do Ocreza e dá vida a Andakatu arquivo do museu de arte pré-histórica de mação Rocha, e pela coordenadora dos Serviços Educativos do Museu, Sara Cura. Saldanha Rocha explica que acompanhou o Andakatu a Cambridge porque é “uma experiência enriquecedora, para além de apresentarmos um projecto que fizemos nascer, fizemos todos os contactos com um quadro científico de renome.” Andakatu fez uma demonstração de como se faziam utensílios e tintas para Tânia Pissarra* O Projecto Didáctico Andakatu, Educação pelas Artes e Património, do Museu de Arte Pré-Histórica de Mação, foi apresentado no Museu de Arqueologia e Antropologia da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, na semana de 7 a 13 de Fevereiro. Depois de recebido em Espanha e no Brasil, a presença de Andakatu no Reino Unido deveu-se a um convite feito no âmbito do Seminário de Museografia e Didáctica. Segundo o director científico do Museu de Mação, Luiz Oosterbeek, “o Andakatu foi apresentado na Universidade de Cambridge, numa colaboração com aquela prestigiada instituição. Foi muito útil trocar impressões com os nossos colegas, e desta forma ir aperfeiçoando este modelo de ensino e divulgação da ciência e tecnologia através da arqueologia.” Pedro Cura, que veste a pele de Andakatu, fez-se acompanhar pelos alunos do mestrado e doutoramento a decorrer no Museu de Mação, bem como por Luiz Oosterbeek, pelo presidente da Câmara Municipal de Mação, Saldanha PUB Projecto. A apresentação, em Cambridge, comprovou que a fórmula de sensibilização patrimonial funciona as pinturas rupestres na Pré-História. Esta foi feita durante todo o dia 9 e contou com um público bastante receptivo, no qual se inseriam crianças e adultos, entre os quais, a presidente da Câmara de Cambridge, Jenny Bailley. No dia 12, Andakatu fez uma sessão especial para os estudantes de Arqueologia da Universidade de Cambridge, o que permitiu uma interacção, não só ao nível da troca de experiências com os serviços educativos do Museu de Arqueologia e Antropologia, como também ao nível científico. “O envolvimento das pessoas foi muito importante, reforçando a ideia de que o projecto funciona, acabando também por surgir oportunidades como o contacto com estudantes de Arqueologia, com os quais tive o prazer de trocar impressões” – ressalva Pedro Cura. Este projecto tem obtido resultados muito positivos por parte do público ao qual é apresentado, tanto em Portugal, como além fronteiras. Para Sara Cura, a experiência em Cambridge foi “muito importante”, não só pela divulgação do trabalho, mas também pela “comprovação de que a fórmula de comunicação e sensibilização patrimonial e artística encontra grande receptividade, independentemente do tipo de público”. Esta responsável salienta ainda as vantagens deste tipo de intercâmbio: “Trocámos experiências com os colegas dos serviços educativos do Museu de Arqueologia e Antropologia da Universidade e regressámos a Mação cheios de ideias novas!” *Museu de Arte Pré-Histórica de Mação 11 de Março de 2008• ESTA JORNAL | REGIÃO José Gil Serôdio, o primeiro presidente de uma jovem freguesia “O meu orgulho é a Meia Via” José Gil Serôdio (PS) foi o primeiro a agarrar as rédeas da freguesia de Meia Via, criada em 2001. O presidente diz que a freguesia é já urbana e que “as obras mais marcantes” ainda vêm a caminho. fabio car valho Fábio Carvalho Como é ser o primeiro presidente da Junta de uma nova freguesia? Primeiro, é gratificante na medida em que eu entendi que a Meia Via necessitava mesmo de ser freguesia. Ser o primeiro presidente não aconteceu de uma maneira muito pensada, aconteceu quase por acidente. Mas, com aquilo que eu pensava da Meia Via, com aquilo que era necessário fazer, com aquilo que se tem feito, para mim tem sido um óptimo trabalho. Tem sido uma óptima experiência e, em certa medida, é algo que vem preencher alguns campos daquilo que me faltava aprender, também. E por que razão a Meia Via necessitava de ser freguesia? A Meia Via necessitava de ser freguesia como todas as terras que, quando estão a cair praticamente no esquecimento e no marasmo, precisam de alguma coisa que as faça renascer, que as faça desenvolver e que as projecte no futuro. A Meia Via, nos últimos anos, vinha sendo praticamente esquecida pela Câmara de Torres Novas. A partir do momento em que a Meia Via se tornou freguesia, foi elevada administrativamente e tornou-se num centro de querer ser diferente, de se querer projectar, de se querer desenvolver. Como resultado, praticamente desde 2002 que a Meia km2. Isto quer dizer Via tem estado sempre que a Meia Via é uma em obras. Hoje podefreguesia urbana e isso, mos apreciar isto na para nós Meiavienses, medida em que os é bom. A passagem de arruamentos da Meia uma freguesia rural, Via estão praticamenque é Santiago, para te desfeitos, mas ao uma freguesia urbana, mesmo tempo isso é que é a Meia Via, já nos bom porque vai agora veio dar um aumento iniciar-se uma fase de da população escolar: reconstrução. Tudo vai haver a construção indica que a Meia Via de uma nova escola feivai ser e vai ficar bonita de raiz, um centro ta e de, certa maneira, educativo da Meia Via. invejável em termos Porque a freguesia se de freguesias do conestá a desenvolver e é celho. uma das poucas, retiComo se constrói rando a de Riachos e uma freguesia? as freguesias da cidade, A Meia Via é uma onde neste momento freguesia construída a há um aumento de popartir de uma anterior José Gil Serôdio. “Uma óptima experiência” pulação. freguesia, a de Santiago. Qual o balanço que faz A Meia Via é uma freguesia que tem alguma coisa destes primeiros anos de vida da Meia Via como de particular em relação ao resto do concelho, por- freguesia? que a nossa freguesia tem um índice populacional Como todas as coisas que nascem, atravessou de 500 pessoas por km2, enquanto que o nosso um período difícil. Mas estou convencido que, concelho praticamente tem 100/120 pessoas por no fim destes dois mandatos, ao fim de oito anos Cemitério de Santa Catarina, em Abrantes, permite um “ambiente mais sereno” Todos iguais no momento da morte TÂNIA bRANCO Tânia Branco Foram precisos quase três anos para que o Cemitério de Santa Catarina, em Abrantes, cumprisse as suas funções. A população mostrou reservas, por se tratar de um cemitério simples, com relva e sem símbolos religiosos. O objectivo é conter a expansão indefinida em termos de terreno e, por outro lado, adoptar “uma nova postura face à vida e à morte”. Inaugurado em 9 de Fevereiro de 2005, o cemitério de Santa Catarina, em Abrantes, recebeu o seu primeiro defunto em Novembro de 2007, por vontade expressa do mesmo. Hoje, quem a ele se desloca pode ver recortados na relva 22 rectângulos, que correspondem ao número daqueles que nele se encontram sepultados, numa área relvada que encobre 166 covais, e que irá ser expandida à medida que for necessário. Foram exactamente esses simples rectângulos e a ausência dos símbolos religiosos que, ao início, causaram reservas à população. Pina da Costa, vereador da Câmara de Abrantes, afirma que “existem várias razões” para a opção que foi feita, nomeadamente uma questão de espaço e uma questão de mentalidade. Pina da Costa explica que “o tipo de cemitério mato permite um ambiente um pouco mais sereno e de relação com a natureza.” Para além destas razões, o vereador aponta ainda razões técnicas, pois “é uma abordagem totalmente diferente, visto que se trata de um cemitério com decomposição aeróbia”, que inclui um sistema de drenagem de afluentes e de circulação de ar que permite a decomposição mais rápida. Quanto à dimensão do Simplicidade. Relva predomina neste novo conceito de cemitério cemitério, o responsável autárquico adianta que “já tradicional tem um consumo de terreno que já não se encontra em preparação um concurso para é comportável, pois existe sempre a expectativa um novo talhão, com outros tantos covais, para da família em adquirir o coval, o que leva a que, que o cemitério fique na totalidade com 300/350 com o passar do tempo, seja necessário ampliar covais disponíveis”. Ou seja, “o cemitério irá ser constantemente os cemitérios”. O novo cemitério, expandido à medida que for necessário”. pelas características que tem, “pretende ser uma Segundo Pina da Costa, “a filosofia subjacenresposta à necessidade de conter um pouco a te a este cemitério é uma filosofia democrática, expansão indefinida dos mesmos”. Por outro lado, pois procura-se aqui uma certa horizontalidade continua o autarca, “é também uma nova postura no enfrentar da morte, não existindo, por isso, frente à vida e à morte”. Na sua opinião, “este for- diferenciações”. Existe uma pedra modelo para como freguesia, a Meia Via está em condições de ombrear com as freguesias mais desenvolvidas do concelho. Isso é muito importante para nós, Meiavienses. Vem-nos dar ânimo e um certo orgulho de continuar a nossa freguesia. Espero que nos anos que virão, novos presidentes e novas maneiras de encarar o futuro apareçam na Meia Via e eu farei todo o gosto de acompanhar e ajudar. E que projectos gostaria de ver ainda realizados na freguesia de Meia Via? A Meia Via vai ser sujeita, num futuro muito próximo, a duas realizações que vão continuar a alteração que até agora se tem verificado na nossa freguesia: a transformação da estrada nacional nº3 em avenida, tal como a avenida Andrade Corvo em Torres Novas, e que vai ligar o Nicho dos Riachos ao Entroncamento; e a transformação da estrada da Sapeira em avenida, criando-se uma zona de desenvolvimento entre a Meia Via e Torres Novas. Qual a obra que mais se orgulha de ter realizados durante os seus dois mandatos? Eu não me orgulho de fazer obras, o meu orgulho é a Meia Via. Penso que as obras marcantes ainda não estão feitas. Primeiro foi preciso organizar administrativamente e criar o espírito de freguesia de Meia Via. As obras marcantes vão aparecer em breve. Quando deixar a presidência da Junta de Freguesia em que mãos gostaria de a deixar? Eu gostava de deixar a Junta de Freguesia nas mãos de um Meiaviense convicto e que ame a nossa terra de maneira a poder fazê-la desenvolver-se. Pode ser qualquer Meiaviense, independentemente do partido a que possa pertencer, desde que seja um amante da nossa terra e que queira desenvolvê-la sem nenhum cinismo, só por gostar dela, mais nada. inscrições identificadoras de cada coval e um espaço próprio para flores, mas apenas simbólico. Durante a primeira e a segunda semanas, a autarquia permite que sejam colocadas flores por cima da campa. “A partir dessa altura são retiradas, pois acabam por perder qualidade, dando mau aspecto” – remata o vereador. Quando questionado sobre a possível criação de um crematório junto ao cemitério de Santa Catarina, o vereador afirma que “o que existem são contactos com outros municípios para que se consiga aqui um crematório regional”. Uma das críticas que a população faz ao novo cemitério é o facto de estar fora do centro da cidade. O Cemitério de Santa Catarina fica junto ao Parque de S. Lourenço. O vereador admite que seja uma problema para algumas pessoas e a Câmara está consciente do problema. “Embora fosse fácil lá colocar transportes públicos, não existe número suficiente de utilizadores”- explica o vereador. Pina da Costa sublinha a sua satisfação por se verificar que as pessoas idosas começam a ter uma maior receptividade por aquele formato de cemitério. É exactamente essa receptividade que transmite o abrantino Manuel Brites Vieira: “Foi muito bom terem construído o Cemitério de Santa Catarina, pois apesar de distante encontra-se bem situado”. Gosta do formato e da ideia subjacente, até porque já visitou outros cemitérios do mesmo género em outros países, como no Brasil. Quanto à reacção inicial deste novo cemitério, Manuel Vieira acredita que a maioria das pessoas “já o está a aceitar bem”. PUB Café Portugal ~ Praça Raimundo Soares 10 | ESTA JORNAL • 11 de Março de 2008 ACTIVIDADES João Gomes reconhece que as grutas não são atraentes para a maioria das pessoas “É preciso gostar de calma” João Gomes, 28 anos de idade, espeleólogo amador, tesoureiro e associado do Centro de Estudos e Protecção do Património da Região de Tomar (C.E.P.P.R.T.), partilha as suas experiências e revela os riscos e as dificuldades desta actividade, desconhecida pela maioria das pessoas. d.r. Laetitia Rodrigues O que é a espeleologia? A espeleologia trata-se da exploração de grutas, cavidades subterrâneas e cavidades no subsolo. É uma área um pouco mais diversificada do que propriamente a exploração. Também tem em conta a vida, ou seja, a parte biológica do subsolo e a formação geológica. Fazem mesmo estudos ou é mais exploração para conhecer? No nosso centro não temos biólogos, o que fazemos é por hobby. Fazemos exploração para conhecer novas cavidades. Quando conhecemos uma cavidade nova, fazemos também, por vezes, topografia de grutas. A topografia é uma espécie de mapa de uma gruta. É muito trabalhoso e não temos equipamento de topo para o fazer. Mesmo assim, no centro de estudos já temos alguns mapas de grutas feitos por nós. Como é que têm acesso a informação sobre as grutas que existem? Existem muitas grutas na zona que já são conhecidas; a informação passa de pessoa para pessoa. Existem associações pelo país inteiro. Quando uma gruta é descoberta, normalmente a informação é divulgada. Se calhar, há muitas que não o são, mas as grutas mais simples acabam por ser divulgadas. E quando o são, fazem-se muitas expedições. me lembrei de fazer um ensaio antes de ir para baixo. Depois, na parte da subida, tive problemas. Houve um colega que também não tinha o equipamento adequado, e um outro teve de descer 40 metros para conseguir entregar uma peça que é para fazer a subida. Só para fazer aquela subida levámos cerca de cinco horas. Éramos quatro elementos. Foi um dia muito longo. Normalmente João Gomes. “As grutas são frias, húmidas e têm lama” vão em grupo. Nunca houve ninguém que se Qual foi a experiência que mais tivesse aventurado a ir sozinho? Não, não. É pouco aconselhável o marcou? Não há nenhuma situação que fazer isso. Quando se vai para uma me tenha marcado particularmente, gruta convém sempre irem pelo mas lembro-me que a última explo- menos duas, três pessoas, no míração que fiz foi a uma gruta que se nimo. chama Algar da Lomba, que fica na Esta actividade tem muitos risregião de Minde: foi o poço mais cos? fundo que visitámos e tem cerca de Sim. Uma gruta não é propria90 metros. Já não fazia exploração mente o sítio mais indicado para ter desse tipo havia muito tempo. Para acidentes. Primeiro, porque há muialém disso, fiquei com equipamento tas zonas de difícil acesso. Existem que normalmente não utilizo e não grutas que não são aquilo que ima- ginamos. Para quem já visitou, por exemplo, a Serra d’Aire, que é uma gruta bastante conhecida do nosso país, entra lá de elevador, anda por lá a pé e é impecável. Mas a maior parte das grutas que nós temos são grutas em que as pessoas têm de rastejar e em certas zonas temos que passar por buracos onde cabe um coelho e pouco mais. Se existir um problema qualquer, socorrer é muito complicado. Existe algum programa de formações para espeleologia? Sim. Existe a Federação Portuguesa de Espeleologia, que anualmente faz uns cursos de nível I, II e III. Eu tenho um curso nível II. Essa formação é a única. Pensa que a espeleologia está muito ou pouco divulgada no nosso país? Não existe muita divulgação, porque não existem muitas grutas. As zonas de grutas normalmente são zonas rochosas calcárias e no, nosso país, não existem muitas. E as grutas que existem não são muito atractivas. Para fazer espeleologia é preciso gostar de calma e também um bocadinho de dedicação. Não é uma coisa que atraia muitos jovens, só inicialmente. Há muita gente que Numa gruta, socorrer é complicado no início gostaria de conhecer uma gruta, mas depois chega lá dentro e o clima é terrível: as grutas são frias, húmidas, têm lama e uma quantidade de coisas que normalmente as pessoas não gostam. Já assistiu a alguma situação complicada? Existem pessoas que sofrem de claustrofobia e meterem-se em grutas é mau, porque podem entrar em pânico. Mas normalmente faz-se uma preparação cá fora. Se é uma pessoa que gosta de fazer escalada, rappel ou actividades desse tipo no exterior, que não são de risco mas são radicais, em princípio, entra dentro de uma gruta e não tem grandes problemas. Quanto ao financiamento para essas actividades. A associação tem algum protocolo com associações ou outras instituições? A nossa associação não tem fins lucrativos. Pagamos quotas e é só com esse dinheiro que nos governamos, ao fim e ao cabo. Temos outra parte que é dedicada à protecção do património da região de Tomar, e essa parte acaba por subsidiar alguma coisa. Qual pensa ser o motivo para que não haja incentivos para essa actividade? O IPJ financia muitas actividades para jovens. Mas, para isso, os jovens têm de aderir, participar. E à partida a espeleologia não é uma actividade que atrai, e há outra coisa: não se pode pôr um jovem a fazer exploração a uma gruta, como habitualmente fazemos, utilizando o apoio de cordas, fazendo escaladas e coisas do género. É preciso uma fase de formação. Para fazer isso, ou nós damos formação ou temos de arranjar forma de a pessoa o fazer. Além do mais, o equipamento que utilizamos é muito caro. É equipamento específico para espeleologia, não é equipamento usual de escalada nem rappel. Algumas peças sim, mas a maior parte não. Columbofilia “ Um voo cheio de sonhos e de esperança” Fábio Carvalho Portugal está no topo da columbofilia internacional, pois o modelo do nosso país é aquele que está mais bem organizado no ponto de vista administrativo, desportivo e social. Somos o único país com o cartão de proprietário do pombo com leitura óptica e, ainda, com todos os pombos recenseados, sendo a única federação que sabe o número dos seus pombos a fim de os conseguir localizar através de um sistema por GPS. Portugal é também pioneiro a implantar pombais nas escolas, em lares de idosos, como forma de combater a solidão, assim como em centros de tratamentos para a tóxico-dependência e em centros para portadores de deficiência física. Para além disso, o actual presidente da Federação Columbófila Internacional é português. A columbofilia, que significa a utilização do pombo-correio como atleta, é praticada em Portugal por mais de 16 mil famílias e, por isso, considera-se a segunda modalidade no nosso país com mais praticantes. Sendo um atleta, é necessário que o pombo-correio seja acompanhado do ponto de vista técnico, científico e veterinário. Para muitos, esta modalidade desportiva passa ainda por despercebida. José Tereso é o presidente da Federação Portuguesa de Columbofilia e, actualmente, também presidente Fábio car valho Atletas . Os pombos-correio são acompanhados tecnica e veterinariamente da Federação Columbófila Internacional. Na sua opinião, o maior problema da columbofilia em Portugal é exactamente as pessoas não terem conhecimento desta actividade nem das características do pombo-correio. Por isso, passar essa mesma informação é uma das grandes prioridades da Federação Portuguesa. José Tereso explica que a grande dificuldade é a confusão que as pessoas, “por falta de cultura” fazem entre o pombo-correio e os outros pombos: “O pombo da cidade é considerado um rato, um animal que não é bem visto e que pode trazer algum risco. Não é um animal desejável, enquanto que o pombo-correio tem características completamente. diferentes.” Os pombos são como uma segunda família Por isso, José Tereso costuma dizer que “ se o cão é o mais fiel amigo do homem, o pombo-correio é o animal mais fiel da família, pois solto a mais de 1000 quilómetros regressa a casa no mesmo dia.” José Maurício de Carvalho, columbófilo há mais de trinta anos, considera os seus pombos como não só amigos, mas também como uma parte de si mesmo: foi ele que os criou, educou, treinou, jogou e adoptou como uma segunda família que, dia após dia, tem de proteger e valorizar. José Maurício diz conhecer todos os seus pombos ao ponto de saber o que dizem e o que sentem. Em dia de prova, enquanto espera o regresso dos seus “amigos”, vem à mistura um conjunto de sensações, nervoso, paixão, ternura e compreensão. Quando o atleta regressa a casa sem ajudas e por mérito próprio, ultrapassando todo o tipo de dificuldades, e privações até do próprio homem, está alcançado o sonho de qualquer columbófilo. 11 de Março de 2008 • ESTA JORNAL | 11 ACTIVIDADES Rotary Club de Abrantes “Dar de si antes de pensar em si” Clubes de Profissionais para servir os outros. Assim se definem os Rotary Clubes, mas este é apenas o ponto de partida para um vasto conjunto de projectos. O que os seus membros pretendem é, olhando para cada comunidade, verificar como e onde é que podem ser úteis. Bolsas de estudo e apoio na construção de lares para deficientes são apenas dois exemplos do que faz o Rotary de Abrantes. tania branco Tânia Branco Alguns beneficiários Uma roda dentada com 24 dentes. Este símbolo, de acordo com João Graça Vieira, membro do clube Rotário Abrantino, significa que “os membros rotários, ao integrarem este movimento, têm de estar disponíveis para todas as funções que lhes sejam atribuídas”. Significa, também, “que a qualquer hora do dia está a ocorrer uma reunião Rotária no Mundo”. Esta roda é o símbolo dos 32.000 Rotary Clubs e dos seus 1,2 milhões de rotarianos dispersos por 200 países. Entre esses países está Portugal e entre os Rotary Clubs nacionais está o Rotary Club de Abrantes. Todos os membros do Movimento Rotário são pessoas que desempenham diferentes funções na sociedade (médicos, enfermeiros, empresários, entre outras), pois o Rotary é “um Clube de Profissionais”. Esses profissionais entram para o clube através de proposta de um outro membro rotário e, depois disso, adquirem uma classificação Rotária, de acordo com a sua função na sociedade. Os membros rotários, os clubes Rotários, a Fundação Rotária Portuguesa, a Rotary Foundation e o Rotary Internacional têm por objectivo trabalhar em função da comunidade, ou seja, desenvolvem projectos a nível local, nacional e/ou internacional, de modo a obter apoio para projectos necessários à comunidade. Os rotários encaram a sua missão como algo que nunca está terminado, pois o seu lema é “ Dar de si antes de pensar em si”, e o seu trabalho é sempre desenvolvido de modo a permitir oportunidades de servir os outros. Cada clube rotário empenha-se nos seus próprios projectos, nos projectos internacionais e nacionais. O Rotary Club de Abrantes é um desses clubes Rotários, que no caso português integra um dos dois distritos (1960) que compõem a Fundação Rotária Portuguesa, coordenando os clubes portugueses e que foi criada com autorização do Rotary Internacional. “Todos os meses o movimento tem um tema que obriga os seus membros a pensar na vida de uma forma menos anárquica e mais ordenada”. É assim que João Graça Vieira explica ao ESTAJornal o funcionamento do Rotary Club de Abrantes. As declarações surgem no local onde ocorrem os encontros dos rotários abrantinos, um local calmo, colorido e aconchegante. Foi também num ambiente calmo que, no passado mês de Outubro, dedicado ao tema “Serviços”, o Rotary Club de Abrantes homenageou Paulo Pereira da Silva, administrador do Grupo Renova, pois considerou que este é um exemplo a seguir. No entanto, esta não é a única acção de- Os projectos são bons, mais quais os resultados? Fazendo um intervalo nos seus estudos, Andreia Bernardo, de 19 anos, explica que a bolsa a que teve acesso, há já dois anos, através do Rotary Club de Abrantes foi “benéfica”. A jovem conta que, sem este apoio, não poderia ter tido explicações de matemática, explicações essas que lhe permitiram “concluir os estudos no secundário”. Actualmente este auxílio permite-lhe “pagar algumasdespesas universitárias”. Para além do seu caso, Andreia Bernardo evidencia o trabalho do Rotary, sublinhando que “proporciona uma grande ajuda a muitos alunos, pois graças a eles muitos alunos ultrapassam as suas dificuldades financeiras”. Humberto Lopes, presidente da Direcção do CRIA, também evidencia o apoio recebido: “A angariação de fundos feita pelo Rotary, através do projecto “Encontros em Cadouços”, permitiu-nos adquirir o equipamento que se encontra na lavandaria do Lar Residencial e tal facto trouxe bons benefícios para a o centro.” Quanto à acção que o Rotary promoveu, Humberto Lopes afirma que, enquanto presidente da direcção, recebe “muito bem esta acção e gostaria de ver mais acções deste género”. No entanto, reconhece que as outras instituições também devem ser apoiadas. Distnção. O presidente do Rotary Club de Abrantes, José Luís Silva, entrega prémio a Paulo P. da Silva (à esquerda) senvolvida por este clube. Foi no mesmo sítio onde ocorreu a homenagem que, em conversa com José Luís Silva e João Graça Vieira, dois membros do movimento rotário Abrantino, ficámos a saber que os projectos desenvolvidos pelo clube surgem durante as reuniões que se realizam semanalmente. Esses projectos são definidos de acordo com as necessidades que os membros rotarianos verificam na comunidade envolvente, estando alguns deles relacionados com o tema do mês rotário. As actividades são desenvolvidas de forma a que haja aceitação por parte da comunidade, para que o clube posteriormente possa desenvolvê-los e aplicá-los. Entre outras acções, o Rotary Club de Abrantes tem custeado, através de fundos recolhidos, rastreios à visão realizados às crianças do 1º ciclo nos concelhos de Abrantes e Mação, tem apoiado projectos anuais do Centro de Recuperação Infantil de Abrantes (CRIA) e a obra do Cónego José da Graça. Simultaneamente, tem promovido a concessão de bolsas patrocinadas e outros apoios a jovens estudantes. Dentro do próprio Rotary, tem apoiado outros Clubes, como foi o caso do Club Rotário de Moçambique, na Beira, que necessitava de material para arranjar escolas, através do envio de carteiras para os alunos. Para além disso, todos os anos este clube leva a cabo um projecto de apoio à comunidade que se designa por “Encontros em Cadouços”, onde o clube apresenta um projecto que lhe foi proposto e que é de importância significativa para a instituição proponente, tendo em vista obter apoios . Exemplos do sucesso desta iniciativa foram os fundos já obtidos para o equipamento do Lar Residencial do CRIA e para a estufa do Projecto Homem. José Luís Silva e João Graça Vieira vêem as reuniões rotárias como algo benéfico, pois são momentos ricos em pontos de vista e em formas de actuar, o que lhes permite desfrutar de um ambiente de companheirismo e sair engrandecidos e fortalecidos para o seu dia-a-dia. Além disso, para José Luís Silva, o convívio de três gerações distintas ajuda-os a respeitar, a aprender, a defender convicções e a ceder, pois o objectivo de todos é comum: servir os outros. “Rotary foundation, fundação rotária portuguesa e rotary internacional O Rotary Club de Abrantes integra duas outras grandes instituições: a Rotary Foundation e o Rotary Internacional. A Rotary Foundation gere todos os clubes Rotários e coordena o movimento rotário a nível Universal, fazendo com que as normas deste movimento sejam iguais em todos os locais e coordenando projectos a nível internacional. Além disso, tem por objectivo capacitar os rotarianos para que possam promover a boa vontade, a paz e a compreensão mundial, por meio de apoio a iniciativas de melhoria da saúde, da educação e do combate à pobreza. Por não ter fins lucrativos, a Fundação Rotária não pode prescin- dir das contribuições de pessoas que acreditam no seu trabalho em prol de um mundo melhor. Quanto à Fundação Rotária Portuguesa, esta também se destina à concretização do Ideal de Servir, que constitui a base do Movimento Rotário. Para além disso, e visto que esta fundação apenas engloba os movimentos rotários nacionais, promove actividades de serviço em benefício das populações residentes em Portugal, sobretudo a nível da educação, da ciência, da cultura, e com carácter social, através da concessão de auxílios e incentivos, tais como subsídios, bolsas e prémios, sem prejuízo de outras iniciativas que o seu Conselho de Administração delibere. Por sua vez, o Rotary Club Internacional, tal como cada Rotary Club, tem por objectivo servir ao próximo, difundir os altos padrões étnicos e promover a boa vontade, paz e compreensão mundial por meio da consolidação de boas relações entre líderes profissionais, empresariais e comunitários. Já no seu segundo século de prestação de serviços, o Rotary Internacional definiu em 2007 o seu Plano estratégico 07/10, onde apresenta as suas prioridades: erradicar a poliomielite; aprimorar o reconhecimento interno e externo e a imagem pública do Rotary; aumentar a capacidade do Rotary; prestar serviços; expandir a quantidade e a qualidade do quadro social em todo o mundo; enfatizar o compromisso do Rotary com os serviços profissionais; maximizar a formação e treino de líderes no Rotary Internacional; e implementar integralmente o plano estratégico de modo a garantir continuidade e consistência na organização. Estes projectos estão programados a nível internacional e destinam-se a todos os clubes rotários. Para além destes projectos, há a destacar que o Rotary Internacional é parceiro de referência das Nações Unidas (ONU), da Organização Mundial da saúde (ONS) e da Unicef, tendo sido por estes organismos reconhecido como uma das maiores ONG’S do mundo. T.B. 12 | ESTA JORNAL • 11 de Março de 2008 DESPORTO Presidente do Abrantes Futebol Clube (AFC) aborda as dificuldades do clube e o risco deste poder fechar “Este vai ser o Verão mais quente da história do AFC” Alberto Lopes, em entrevista ao ESTAJornal, revela alguns dos contornos da crise do clube mais representativo do concelho de Abrantes, numa altura em que se tem ventilado a possibilidade do Abrantes Futebol Clube se extinguir no final desta época. Num discurso pacifista e de esperança, o responsável revela que é possível reabilitar o clube, mantendo-o no patamar em que se encontra. Tiago lopes Nuno Jesus Como é que é a sua ligação ao Abrantes Futebol Clube? O Abrantes Futebol Clube - AFC foi fundado em 1999. Acompanhei o clube desde esse primeiro momento, sou o sócio número 63. Desde o início que me foi pedida a minha colaboração, mais em termos de logística, de fornecimento de refeições ao clube. Disponibilizeime, como um fã incondicional deste projecto, e assisti a praticamente todos os jogos da equipa. Provavelmente, nestes anos de existência do clube, faltei a meia dúzia de jogos. Acho que os vi quase todos. No Barro Vermelho, em S. Miguel e por esse País fora. Tentei sempre não fazer parte dos corpos sociais, e só em 2003 é que aceitei pertencer à direcção. Devido à minha vida profissional, entendia que podia dar um grande contributo, estando por fora, a apoiar noutras questões que os directores, por vezes não têm tanto tempo. Andei sempre a fugir com o rabo à seringa. Em 2003, pediram-me para fazer uma reunião no meu restaurante… Não percebi qual seria a intenção. No fim da reunião, faltava uma pessoa para vice-presidente adjunto, para fechar a lista candidata às eleições do biénio 2003 / 2005. Quando me chamaram à mesa e me confrontaram com esse facto, acabei por aceitar participar nessa lista que veio a ser sufragada, em Assembleia Geral. E diga-se, também tinha vontade de participar mais por dentro neste projecto. Mais tarde, o que o levou a aceitar o desafio de presidir ao Abrantes Futebol clube, funções que mantém, ao fim destes anos? Foi uma sucessão natural porque era vice-presidente adjunto. O presidente do clube era o senhor Alfredo Santos, com quem tinha uma relação muito próxima e muito boa. Pela sua lisura, pela sua forma de estar e pela sua correcção foi das pessoas que mais me marcaram no Abrantes, pela positiva. Eu era o único vice-presidente adjunto. Por motivos de saúde,o senhor Alfredo Santos teve de abdicar da presidência e pediu-me para eu assumir. Fui proposto em Assembleia Geral aos sócios, foi aprovado e assumi a presidência nessa altura, portanto o meu primeiro mandato foi em 2003 / 2005. Contudo, a sua presidência acabou por se estender até hoje… A minha presidência tem-se pro- Alberto Lopes. “Acredito que todas as pessoas que passaram pelo AFC tentaram fazer sempre o melhor pelo clube” longado porque o associativismo está numa crise cada vez mais profunda. As pessoas não estão muito disponíveis para abdicarem da vida delas para causas de onde não se retiram proveitos. E eu não ando no futebol à procura de qualquer proveito político, financeiro ou que quer que seja. O futebol ainda é considerado um “trampolim” para chegar a outros fins, a “outros palcos”? Há pessoas que têm ambições políticas e o futebol, por vezes, é um trampolim para as alcançarem. Há outras que, quando o futebol ganha uma determinada dimensão, é um negócio apetecível e andam no futebol porque pretendem lucrar com isso. Eu ando no futebol porque é quase uma missão, este trabalho que estou a desenvolver à frente do AFC, e gostava de concluir esta missão com sucesso. Luto todos os dias para que isso aconteça. Era expectável que o clube chegasse à grave situação financeira em que se encontra hoje? Uma das coisas que me motivou a continuar à frente do clube foi saber que o caminho que o clube tinha de trilhar, era, necessariamente, outro que não aquele que tinha percorrido até à época 2003 / 2004. Porque um clube com os gastos que o AFC tinha, para o nosso tecido empresarial e os apoios com que podíamos contar, era insustentável o clube ser gerido da forma como era. Obviamente que estando por dentro desde o princípio, provavelmente deveria ter tido outra postura e ter feito força para que as coisas tomassem o rumo que tomaram. E quando estamos inseridos numa direcção ou à frente de um clube ou outra associação, há uma coisa que é muito importante que é o espírito de solidariedade entre os vários membros de uma direcção. E tem sido sempre isso que tem acontecido nas direcções do AFC, salvo situações pontuais. Por vezes, apesar de discordarmos nas reuniões destas questões que, obviamente, eram discutidas, não adoptámos posições de ruptura dentro da estrutura da direcção. Mas, se isso tivesse acontecido, provavelmente, o clube, hoje, não estaria a passar pelas dificuldades em que está. Estas dificuldades não serão o resultado de alguns passos dados, maiores que as pernas? São, sobretudo, fruto de uma ascensão meteórica que o clube teve, que foi um caso ímpar em Portugal. Nenhum clube, em tão poucos anos, desde a sua fundação, conseguiu chegar tão depressa à II Divisão. Há uma frase que me foi dita por uma pessoa, há cerca de dois anos atrás. Uma pessoa que me incentivava a continuar à frente do clube e que dizia: «Foram importantes as pessoas que estiveram à frente do clube até à chegada do Alberto. Percorreram o caminho que era preciso para levar o clube à II Divisão. Agora, é importante uma pessoa com o seu perfil para dar sustentabilidade ao clu- be neste patamar, que é aqui que nós pensamos que o AFC deve estar. Nem abaixo, nem acima!» -Penso que é uma ideia correcta. Agora, discordo é dos custos que teve chegarmos tão depressa à II Divisão Nacional. Cada pessoa tem a sua forma de gerir o clube e eu não tenho desculpas, seja de que tipo for, porque estava por dentro de todos os problemas do AFC. E como assumi, dominava todos os dossiers, conheço todos os problemas, todas as dívidas, conheço todos os que são credores do AFC. Se decidi assumir a minha recandidatura é porque sabia que podia resolver os problemas. Por vezes, as coisas não correm da forma como nós planeamos, há sempre coisas que nos falham. Não nos podemos esquecer que o AFC é um clube que vive única e exclusivamente de terceiros. Em termos de receitas próprias, o clube não tem sustentabilidade nenhuma. Tem só os sócios, cada vez são menos e as pessoas cada vez têm mais dificuldade em cum- 11 de Março de 2008• ESTA JORNAL | 13 DESPORTO prir com o pagamento das quotas. As receitas de bilheteira são cada vez mais reduzidas. Ainda no último jogo, em Penalva do Castelo, um campo que estava sempre cheio, nem cem pessoas tinha. É uma crise geral, nacional, e não só do Abrantes. Assumo que conhecia todos os problemas e sinto-me ainda com capacidade para os resolver. Fala-se em 200 mil euros de dívida ao fisco e 80 mil euros a atletas, que impedem o clube de inscrever novos jogadores. De forma objectiva, qual foi a origem ou quais os motivos para esta crise? A crise é pública. Assumimos numa reunião de direcção, há pouco tempo, que até ao fim da época não iríamos tocar mais em questões sensíveis, nem tecer qualquer comentário a esse respeito. E essas são as questões mais sensíveis da vida do clube. A única coisa que eu posso dizer é que acredito que todas as pessoas que até hoje passaram pelo AFC, tentaram fazer sempre o melhor pelo clube. Não vou apontar o dedo a ninguém. Já chega de andarmos a bater uns nos outros, de apontarmos os dedos uns aos outros e a sacudir a água do capote. Cada um tem a sua quotaparte de responsabilidade. E eu também tenho alguma. No final desta época, pretendemos fazer uma auditoria ao clube, vamos torná-la pública e de uma vez por todas acabar com a discussão pública dos problemas do AFC. Mas reconhece que há problemas, que há dívidas e bastante elevadas? Isso é público e nós não o escondemos. Eu fui o primeiro a denunciá-lo. Agora, como disse, não quero voltar a falar dessa questão, que é muito sensível e nos tem causado bastantes prejuízos, até junto de patrocinadores. Temos de começar a trabalhar uma imagem positiva em torno do AFC e não a transmitir uma imagem de um clube sem controlo, sem futuro, sem sustentabilidade. Daqui para a frente vamos trabalhar para criar uma imagem positiva do Abrantes e não falar do clube de uma forma depreciativa. Quando pedi para me identificar qual o problema do AFC, não me referia a pessoas. Para encerrar o assunto, no fundo, qual foi o grande problema do Abrantes para que se chegasse a esta insustentabilidade? Se calhar, foi ganhar muitas vezes. Teve sempre boas equipas, com valor acima dos campeonatos onde jogámos e por isso subiu sempre. Por vezes, somos surpreendidos com questões que nos parecem tão pequenas, mas que são tão importantes… Quando se faz a planificação de uma época, há que ter em consideração aspectos que, amiúde, se tornam surpresas desagradáveis. Recordo-me, quando estávamos na III Divisão Nacional e subimos, o objectivo inicial apontava para a manutenção. Foi aprovada uma tabela de prémios de jogo. Mas a própria direcção não acreditava que a equipa subisse logo à II Divisão. A tabela previa, salvo erro, que nas últimas seis jornadas, se o clube andasse nos lugares de promoção, os prémios duplicavam ou triplicavam. O que aconteceu? – A equipa ganhou os jogos todos até ao fim do campeonato. Tinha-se orçamentado gastar uma determinada verba que acabou por triplicar. Saiu pelo positivo na questão da promoção à II Divisão, mas teve os custos que teve. Não se contava que a equipa ganhasse tantos jogos. Foi um incentivo que resultou. Diz-se que no futebol é bom haver ordenados baixos e incentivos altos, em termos de prémios de jogo. E isso resultou, mas se bem me recordo, nessa época, pagou-se à volta de oito mil euros. Um valor muito grande para um clube com as possibilidades dos AFC. Mas estamos cá. E os problemas vão-se resolvendo aos poucos. Nós, nas duas últimas épocas temos vindo a resolver as situações de alguns jogadores. Falta-nos resolver as que dizem respeito à equipa que foi desmantelada em 2005. E daí para a frente o AFC já vai ser um clube visto com outros olhos e com outras perspectivas de futuro. Quais são as medidas a implementar para resolver esta crise em que o clube está mergulhado? Nós definimos uma estratégia já na inscrever a equipa. Mas, fomos obrigados a aceitar as condições que eles nos impuseram. Ora, tínhamos consciência, e eles também foram alertados para isso, que eram muitos processos, sendo que nós tínhamos pagar de 300 a 500 euros por mês, a cada um. Um somatório de 16 vezes esses valores, dá uma quantia incomportável. Mas fomos obrigados a assumir esse compromisso para poder inscrever a equipa. Não cumprimos e eles agora voltaram a colocar-nos novos impedimentos. A nossa palavra já está completamente gasta. A credibilidade já é pouca e a capacidade negocial pouquíssima. A mensagem que tentei passar aos atletas é que é importante aceitarem o pagamento faseado de quantias pequenas, por mês, ou por época, de uma forma mais suave. Há atletas com quantias O orçamento desta época já foi positivo. Nós temos de proveitos garantidos 274 mil euros. O orçamento desta época tem um saldo positivo de cerca de 70 mil euros. Porque temos de orçamento 307 mil euros, deste valor, 33,6 % são para amortizar passivo (103 mil euros) e em termos de custos, 204 mil euros (custos directos e indirectos). Portanto, é um orçamento positivo. Há esta herança do passivo que continua a atrofiar a gestão da tesouraria do clube, porque são dívidas, todas elas, de curto prazo. A única dívida de curto prazo que conseguimos transformar em dívida de médio prazo, foi a dívida ao Estado, que temos vindo a pagar com algum atraso, mas a cumprir dentro das nossas possibilidades. E a prova disso é que nunca mais tivemos uma penhora do Tiago Lopes “O AFC, mesmo com esta crise, é um clube apetecível para muitos empresários de futebol” “Temos de orçamento 307 mil euros, 33,6 % são para amortizar passivo (103 mil euros), 204 mil euros (custos directos e indirectos) e proveitos garantidos de 274 mil euros” outra época de fazer parcerias com empresários, no sentido de reduzir custos, mas também já chegámos à conclusão que o caminho não pode ser só este. Exige-nos mais; exige mais estratégias; exige mais parcerias e nós trabalhamos todos os dias à procura de soluções para resolver os problemas do AFC. Nestas últimas semanas veio a público a possibilidade do AFC fechar portas. Essa é uma situação que está em cima da mesa? É uma situação que está em cima da mesa. Quando o disse a um órgão de comunicação social, não o disse de forma leviana. Tem o sentido da responsabilidade que as palavras têm de ter. Este vai ser o Verão mais quente da história do AFC. A equipa que saiu em 2005, acabou o campeonato com quatro meses de salários em atraso. Quando fomos inscrever a equipa para a época 2005 / 06, já tínhamos uma série de impedimentos. Negociámos um plano de pagamentos com esses jogadores que meteram processos em tribunal contra o clube, para podermos “Há um clube de topo da Superliga interessado em que o Abrantes seja seu clube satélite” a receber, na ordem dos 40 mil euros. Se nos exigirem o pagamento da totalidade da dívida, de uma só vez, não temos capacidade para resolver o problema e o AFC pode não participar no Campeonato da II Divisão Nacional. Até que ponto é que esse pode ser um cenário? É um risco e é um cenário que pode vir a acontecer, num futuro muito próximo. Quais são as alternativas que nos restam? Ou inscrevemos o clube nos distritais ou formamos um novo clube. Com este alerta só quis sensibilizar as pessoas para a necessidade de perceberem a gravidade da situação e para nos darem espaço para podermos negociar. Agora, é uma situação que pode perfeitamente acontecer, no próximo Verão. Mas como é óbvio, não é esse o nosso desejo. Nós queremos é resolver os problemas do clube, que ele continue durante muitos anos e cada vez com mais vitalidade. Se não fossem os problemas do passado o clube neste momento era rentável? Estado, em relação ao incumprimento do acordo que temos com o fisco. Se conseguíssemos arranjar um investidor que nos garantisse a verba necessária para resolver todos estes problemas que estão em tribunal, só por si, não resolvia todos estes problemas do clube. O clube não pode ter só uma estratégia de curto prazo. O Abrantes tem de encontrar uma linha, um rumo para o futuro que nós sabemos qual é. Não passa só por estas parcerias com empresários… temos tudo definido, temos negociações em curso no sentido de, resolvendo estes problemas, o AFC possa ser um clube com um futuro risonho. Qual é a relação do AFC com a cidade, adeptos, empresas e instituições? Temos aquelas pessoas que nunca viraram as costas ao AFC, aqueles sócios, alguns até pequenos comerciantes que não vivem tão desafogados mas que pontualmente vão colaborando connosco e nos ajudam a resolver alguns problemas. Temos a realidade das empresas que nos vão apoiando, ano após ano, e que continuam a acre- ditar em nós. Mas também com esta divisão interna que houve no AFC, também houve muitas pessoas, muitos sócios que viraram as costas ao clube. Não conseguimos ainda recuperar essas pessoas e essas empresas para o Abrantes… Temos tido alguma culpa, porque também temos cuidado pouco da imagem do clube. Estamos agora a trabalhar com uma empresa que nos vai trabalhar essa vertente para passar uma imagem mais positiva, para podermos ter uma maior capacidade negocial perante as empresas. O concelho de Abrantes vive agora uma grande expansão, ao nível de investimentos, e também nesse aspecto estamos a preparar o futuro. Vamos começar a trabalhar de uma forma mais séria e mais afincada a imagem do clube. Queremos outra imagem, com outros rumos de actuação a nível de visibilidade do clube, para avançarmos depois para um plano de patrocínios mais eficaz para a próxima época. Penso que as pessoas vão voltar a acreditar no Abrantes e a estar connosco. Apesar de tudo, não nos podemos queixar muito, porque conseguir este valor de patrocínios como conseguimos, é muito bom na nossa realidade. Mas também temos consciência que com um trabalho mais incisivo poderemos alcançar valores substancialmente mais altos e é para isso que estamos a trabalhar. É difícil fazer futurologia, mas como gostaria de ver o AFC daqui a dez anos? São muitos anos! Desejo que daqui a dez anos o Abrantes esteja na II Divisão Nacional. Nem abaixo, nem acima. Penso que é um bom patamar para o AFC estar. Se os próximos tempos forem positivos e se conseguirmos resolver esta série de problemas que temos, o clube tem um potencial tremendo. Abrantes está no centro do País, com uma rede viária brutal. Os acessos a Lisboa e ao Porto são extremamente fáceis… A globalização do futebol está no seu auge e somos confrontados todos os dias com oferta de jogadores em condições extremamente vantajosas para o clube. O AFC, mesmo com esta crise, é um clube apetecível para muitos empresários de futebol. E nesse aspecto, já trabalhamos com os melhores empresários portugueses. O próximo ano vai ser decisivo. Se o AFC conseguir inscrever a sua equipa na II Divisão, se conseguirmos passar uma mensagem positiva para a sociedade civil, para o meio empresarial, para tudo o que nos rodeia, o Abrantes tem todas as condições para, muito brevemente, ser um clube com uma estabilidade tremenda e com um grande futuro. Temos sido contactados por grandes clubes, até por clubes estrangeiros para possíveis parcerias – a tal globalização que eu falava. Há um clube brasileiro – o Vasco da Gama – que esteve cá há pouco tempo a falar connosco que tem interesse em que o Abrantes seja um receptor dos jogadores da formação deles. Há também um clube português, de topo da Superliga, interessado em que o Abrantes seja seu clube satélite, onde possam colocar jogadores a rodar. Estamos a criar condições, se conseguirmos inscrever a equipa, estão reunidas as condições para inscrevermos uma equipa com valor, não digo a custo zero, mas por valores reduzidíssimos. 14 | ESTA JORNAL • 11 de Março de 2008 DESPORTO Tuning, uma forma de estar na vida Nelson Ferreira Tuning para muitos é uma palavra quase desconhecida, para outros é uma paixão. Tuning é a arte de modificar o carro, tornando-o mais personalizado, mais seguro, mais bonito, diferente do original e único. O Tuning é aplicável a praticamente todos os componentes de um carro: jantes, pneus, suspensão, motor, interior, carroçaria, sistema de escape, instalação áudio e outros. Muitos de nós já ouvimos falar, já vimos revistas nas bancas, já nos cruzámos na estrada com “carros um pouco estranhos”, como algumas pessoas os consideram, mas não sabemos o que é realmente, e em que consiste. Existem também aqueles que levantam ecos de discórdia, afirmando que não é nada mais que um desperdício de dinheiro. Para Pedro Estrela, 27 anos, e José Vasco, 33 anos, o Tuning é uma paixão, pois há já vários anos que são seguidores, e têm ambos carros modificados. Em conversa com o EstaJornal revelam que ainda se recordam perfeitamente das primeiras revis- tas que compraram há alguns anos atrás. Nessa altura ainda não tinham carro, o Tuning era ainda pouco conhecido e os acessórios disponíveis eram de fraca qualidade. José Vasco afirma que “antigamente havia muito a ideia de querer ter um carro diferente, mas por vezes a qualidade e o bom gosto pelos pormenores ficavam esquecidos”. Pedro Estrela, possuidor de um Peugeot 206 HDI, de 2000, quando questionado acerca da vertente do Tuning que mais gosta, responde prontamente: “A que mais me entusiasma é a estética, embora também considere a vertente do som muito interessante”. Já José Vasco, dono de um Peugeot 106 Rallye, de 1996, revela-se adepto de todas as vertentes que o Tuning engloba: “Na minha opinião, um dos factores determinantes é a cor, a estética e a atenção aos pequenos pormenores, que por vezes são esquecidos, mas que fazem toda a diferença”. O Tuning, para além do bom gosto, exige também algum investimento, pois na preparação dos carros, por vezes, são investidos alguns milhares de euros. Algumas coisas têm mudado, visto que nos últimos anos começaram a surgir cada vez mais empresas especializadas na venda PUB Estamos no Ensino há mais de 50 anos e aplicação de acessórios Tuning. Quando confrontado com esta realidade, José Vasco considera que “o Tuning é uma realidade, e tem que ser encarado como tal, pois neste momento é um negócio que movimenta milhares e milhares de contos”. Actualmente, o gosto pelo Tuning melhorou e existe um maior nível de profissionalismo conjugado com um maior e melhor nível de oferta do que acontecia há alguns anos atrás. No entanto, investimento é essencial na arte do Tuning, e quando questionados se irão continuar a investir no seu carro, os testemunhos de Pedro e José são bem esclarecedores. Ambos consideram essencial, mas focam, também, um ponto muito importante que é a relação existente entre o gosto e o investimento. Estas são duas características essenciais, para quem gosta de Tuning. “Continuo, e continuarei a investir, dentro de certos limites, embora neste momento tenha um pouco mais de cuidado com as presentes leis” – revela Pedro. A opinião de José é muito semelhante: “Continuarei a investir, pois há sempre coisas a melhorar”. Valorizar a cor, a estética e os pequenos pormenores São várias as concentrações de Tuning que decorrem ao longo do ano quer a nível nacional, quer internacional. Em Portugal, neste momento, o ponto alto das concentrações é o Maxi Tuning Show que decorre em Santarém e o Braga Tuning Show. Nestes encontros reúnem-se amantes do Tuning de todas as zonas do país, e por vezes até de países vizinhos, onde demonstram os seus veículos e as correspondentes transformações que lhes efectuaram. Uns apenas pelo convívio, outros também na esperança de verem o seu carro entre os premiados. José Vasco e Pedro Estrela já ganharam prémios, visto que participam em várias concentrações há já alguns anos, onde, para além dos prémios, ganharam também bons amigos. “Já ganhei e é bom, pois ficamos a saber que o nosso gosto e trabalho desenvolvido é reconhecido” – revela José Vasco. Para Pedro, receber um prémio é especial, e o mais especial foi o primeiro. “O primeiro é sempre o primeiro”. Já na fase final da conversa, e enquanto os seus carros eram fotografados, o ESTAJornal confrontou-os se estes seriam ou não capazes de vender o carro, e por que quantia estariam dispostos a negociar. Reagiram de uma forma que não deixa dúvidas acerca da enorme paixão que têm pelos seus carros. Para Pedro “é complicado pensar em vender o carro, se não gostasse tanto do carro já o poderia ter vendido”. José também hesita: “Vender o carro...? Dificilmente, pois o carro para mim tem um valor inestimável”. Podemos concluir que gosto por automóveis, imaginação e algum investimento são os ingredientes necessários para que da receita resulte um belo trabalho de Tuning. A avaliar pelos testemunhos, facilmente concordamos que o Tuning é, simplesmente, uma forma de estar na vida! 11 de Março de 2008 • ESTA JORNAL | 15 DESPORTO “Um treinador tem de ser um líder de grupo” Filipe Gomes, treinador de futebol com 13 anos de carreira e com passagem por clubes como o Sport Abrantes e Benfica, Grupo Desportivo Alcaravela, Abrantes Futebol Clube, Alferrarede e Tramagal fala da sua actividade, lembrando que os jogos implicam “muita luta e muito trabalho”. Vítor Madeira Actualmente qual é, para si, a situação do futebol regional? Uma situação que já conheceu bons momentos, que já atravessou períodos mais difíceis, com calendários largos, muitas equipas e pouca qualidade. Neste momento, com a reformulação dos calendários e dos quadros competitivos, penso que existe mais qualidade, pois os campeonatos possuem menos equipas e existe uma triagem das melhores, o que se traduz numa maior competitividade. Qual foi o clube que lhe deu mais prazer treinar? Todos os clubes me deram grande prazer, desde o Sport Abrantes e Benfica, que era uma condição diferente pois era futebol de formação, o que me permitiu fazer muitas experiências ao clube da cidade, até ao Abrantes Futebol Cube, porque fomos campeões e tínhamos uma excelente equipa. O Alferrarede é um clube que Filipe Gomes. “É essencial vencer” Cidade de Ourém recebe 2ª jornada do Campeonato Nacional de Enduro Nelson Ferreira Ourém recebeu, no fim-de-semana de 16 e 17 de Fevereiro, a segunda jornada do Campeonato Nacional de Enduro. Trata-se de uma competição de motociclismo que tem por base provas de resistência e regularidade em terreno variado. Com um ambiente fantástico, a prova contou com a presença de mais de uma centena de pilotos. Organizada pelo Natureza Motor Clube, a prova contou com um percurso de 55 quilómetros, semelhante à prova que acolheu a caravana do Mundial da especialidade em 2005. No sábado foram percorridas três voltas e outras quatro ficaram para domingo. Com seis horas de prova em cada um dos dias, os pilotos deram o seu melhor nas várias etapas que constituíram a prova. Esta prova contou com a presença de pilotos conhecidos, como Hélder Rodrigues, Ruben Faria e Luís Ferreira, entre outros, e com alguns menos conhecidos, mas que se esforçam ao máximo para demonstrar o seu valor. Apesar do mau tempo que se fez sentir, o público compareceu. Quer as áreas especiais, quer as zonas de assistência, concentradas na localidade de Escandarão, eram de fácil acesso ao público, que se encontrava distribuído pelos locais de melhor visibilidade, vibrando com a passagem dos pilotos. HiperMed Representação de Material Médico, Lda. Praça Barão da Batalha, 40 – 1º 2200-365 Abrantes Tel: 241 362 369 Fax: 241 377 101 www.hipermed.pt E-mail: [email protected] Brocas, Implantes, Endo Mecanizada, Suturas, Branqueamento, Instrumental Clínico e Cirúrgico, Compósitos, etc. me diz muito, pois fui lá praticante de futebol, fui campeão e depois voltei lá como treinador, onde passei três épocas muito boas. Esta última temporada, no Tramagal, foi especial, pois é um clube que sempre me ficou na memória, desde pequeno, porque foi desse clube que vi, ao vivo, os primeiros jogos dos campeonatos nacionais, com grande tradição, mas que atravessa uma fase bastante difícil. Que tácticas utiliza no balneário para vincar a sua posição? Acima de tudo, um treinador tem de ser um líder de grupo e tem de ser um bom gestor desse mesmo grupo. Mas existem sempre algumas situações que têm de ser ponderadas. A constituição do próprio grupo, que tem de ter, além das capacidades e qualidades para jogar futebol, homens com H grande. Penso que, com o decorrer do tempo, com o conhecimento mútuo entre treinador e jogador, se vão criando relações de amizade e de confiança. E é essa mesma confiança que vai estabelecendo regras e que vai ditando a coesão dos balneários. Quando os problemas surgem, temos de resolvê-los com frontalidade, sendo verdadeiros, não tendo medo de dizer com receio que o jogador fique melindrado. Há que discutir os problemas com frontalidade para que mais tarde não venhamos a ter o volta-face da moeda. Isso é uma característica que qualquer treinador tem de possuir. Depois, penso que é igualmente essencial vencer. Isto transmite uma maior unidade, uma maior solidariedade entre os atletas e assim é mais fácil gerir. Tem alguma superstição ou ritual que faça antes de cada jogo? Não há superstições. Quando nós trabalhamos durante a semana, chegamos à hora do jogo e pouco mais temos a acrescentar. Acima de tudo, um alerta final para as dificuldades que vamos enfrentar, um apelar a uma entrega e a uma capacidade de luta enorme, pois os jogos também são muita luta e muito trabalho. Lógico que existem sempre pequenas tendências como o benzer ou agradecer estar ali, mas não é superstição, é uma forma de estar, quer no futebol quer na própria vida. nelson ferreira Muitos foram aqueles que iam acompanhando a prova nas várias etapas, de forma a seguirem os seus pilotos favoritos. Uma das principais novidades desta prova foi a entrada da gasolina BP Ultimate como patrocinador oficial do campeonato. A partir de agora, a empresa terá uma zona de abastecimento junto a cada parque fechado, onde será possível aos pilotos comprar gasolina a preços especiais, para além de poderem usufruir da BP Ultimate de 100 octanas. É de realçar que, devido à chuva que se fez sentir no domingo, surgiram dificuldades extra para todo o pelotão, tendo desistido mais de 40% dos concorrentes. Tomás Neves e Luís Ferreira vencem nas suas categorias No que diz respeito aos vencedores, Tomás Neves venceu a classe 250 4T, deixando o segundo classificado a mais de dois minutos em ambos os dias. Luís Ferreira, aos comandos de uma Yamaha WR 450 F, venceu na sua categoria, deixando o segundo classificado a mais de três minutos, nos dois dias de competição. Nas classes reservadas aos iniciados da modalidade, a equipa da VODAFONE dominou por completo. Este foi, sem dúvida, um fim-de-semana em grande para os amantes dos desportos motorizados da zona centro do país, que tiveram a possi- Exibição. Apesar do mau tempo, o público marcou presença em vários locais da prova bilidade de observar o desempenho em prova de pilotos conhecidos a nível nacional e internacional. Com o barulho dos motores como ruído de fundo, Ourém foi palco de mais uma das espectaculares jornadas que compõem o Campeonato Nacional de Enduro. A próxima jornada terá lugar em Góis, a 22 de Março, prova organizada pelo Góis Moto Clube. Até lá, resta aos adeptos recordar os bons momentos ocorridos na cidade de Ourém, que vai consagrando o seu lugar de destaque neste tipo de provas. PUB 16 | ESTA JORNAL • 11 de Março de 2008 RELIGIÃO O que está por detrás da motivação dos mais novos? Os jovens e a Igreja Joana, Mónica, Valter e Nuno fazem parte de uma nova geração que lida frequentemente com a Igreja. Prescindem muitas vezes de fazer aquilo que gostam para ajudar «na casa do Senhor». Fazem múltiplas actividades e não estão arrependidos da vida que levam. Deitam-se depois de uma noite na discoteca e no dia seguinte são capazes de estar na missa. Cantam, lêem, tocam instrumentos, e são ajudantes do Padre na Eucaristia. D.R. André Lopes Eram cinco horas da tarde quando Valter Marques abriu as portas da Igreja do Penhascoso para mais um dia de catequese. Com 21 anos é um dos poucos jovens que estão ligados à Igreja de qualquer maneira, seja lendo na Eucaristia, sendo acólito, fazendo parte do coro ou, como é o seu caso, sendo catequista. Valter Marques vai todos os domingos à missa, estuda Comunicação Social, gosta de festivais de música, organiza procissões e vai à discoteca. Este jovem é de Mação, tem características de um jovem comum, mas tem práticas que cada vez menos jovens seguem. “Quando via a minha Paróquia pouco dinamizada, pensei que podia fazer algo para inverter a situação” – refere Valter, no fim da catequese, numa quarta-feira. Tudo começou quando, no Penhascoso, Mação, a falta de catequistas se fez notar; Valter foi convidado e não hesitou em aceitar. Foi o primeiro passo da sua ligação à Igreja. Desde os seis anos, quando entrou para a catequese, que nunca mais deixou de ir à missa. Nunca foi obrigado pela família até porque os seus pais, como refere, “não frequentavam muito a Igreja”. Numa Paróquia vizinha, em Alcaravela, existe um grupo de jovens que uma vez por mês anima a missa dominical. Segundo um dos seus membros, Mónica Serras, de 20 anos, “é uma forma de tentar cativar mais pessoas para a Igreja”. E o objectivo é claro: “Procuramos chamar para o nosso grupo jovens que não estão ligados à Igreja”. O grupo é, neste momento, constituído por 16 pessoas, e teve o seu início há quatro anos. Quando a maior parte dos jovens findou a catequese, e apercebendo-se de que podia fazer algo para dinamizar a missa de Domingo, juntaram-se para formar o grupo. “Muitas vezes também somos convidados para irmos cantar a casamentos” – anuncia Mónica. Outro dos seus membros, Joana Aires, lamenta que os rapazes não estejam muito receptivos a este tipo de iniciativas, isto porque no grupo só há três rapazes. Esta jovem de 22 anos associa o facto de haver poucos rapazes a frequentar as Igrejas com um certo preconceito: “Os rapazes não são muito bem vistos pelos outros rapazes, e por vezes são vítimas de algumas piadas de mau gosto.” Esta ideia é comprovada por Valter, que muitas vezes procura esconder a sua ligação à Igreja. A razão é simples: “Não somos bem vistos e as piadas de mau gosto são constantes.” Assim como no caso do Valter, também João do Carmo é o único jovem que participa nas actividades da Igreja no Sardoal. Sempre que pode, este estudante de Medicina canta o Salmo (compilação de diversas colecções an- Valter Marques Diocese Leiria-Fátima. Durante seis meses vários jovens aliam-se em reflexões em busca de uma vocação tigas de cânticos) na missa. João explica a sua ligação com a Igreja: “O facto de os meus pais serem catequistas sempre me levou a ter uma relação próxima com a Igreja.” Estudante em Coimbra, procura não perder os hábitos religiosos, por isso, mesmo que fique na cidade do Mondego ao fim-de-semana não deixa de ir à missa. “É como uma necessidade”, afirma de forma peremptória. Maior abertura para cativar mais jovens Quando se entra numa Igreja é notório que a maior parte das pessoas pertence a uma faixa etária acima dos 50 anos. Segundo dados do Patriarcado de Lisboa, a percentagem de praticantes religiosos com 55 anos ou mais passou de 38.7%, em 1991, para 47.9%, actualmente. Amândio Mateus, Padre do Penhascoso, não desmente este facto, mas diz que se deve não só ao desinte- resse dos jovens, mas também ao envelhecimento da população. Para inverter esta situação, este Padre considera que é necessário que haja uma maior flexibilidade da Igreja. “Uma maior abertura à discussão de certos assuntos, mas é preciso também quebrar alguns tabus da sociedade”, clarifica. A falta de vocação põe uma crise no seio da Igreja. Todos os anos, “o número de padres que deixam de exercer o Sacerdócio é superior ao número de padres que são ordenados”, anuncia o Padre com uma visível tristeza no rosto. Quando questionado sobre a razão de não seguir o Sacerdócio, Valter Marques admite que em causa estaria a perda de liberdade e o facto de não estar de acordo com algumas ideias da Igreja. “É necessário alterar comportamentos”, aponta Valter. Já João do Carmo refere que pretende continuar a dinamizar e ajudar no que puder a sua paróquia, mas que ser Padre nunca foi um dos seus objectivos. Na sua opinião, podese ser útil à Igreja de outras formas que não passam pelo sacerdócio. Evangelizar através da música Nos grandes centros urbanos a situação é diferente. Em Rio de Mouro, Sintra, todos os sábados à tarde um grupo de 30 pessoas junta-se “para dar um ar mais jovial à missa”. Manuel Gonçalves, coordenador do coro, explica a razão de ser destes encontros: “Para que nós próprios nos sintamos bem na casa do Senhor”. Djambê, órgão, flauta transversal e guitarra são os instrumentos tocados pelos jovens, maioritariamente são do sexo feminino, com idades compreendidas entre os 15 e os 30 anos. Com a Igreja lotada de pessoas, o Padre da Reboleira, Amadora, dá início a mais uma missa/missão. Aqui procura-se fazer a evangelização através da música, de forma a atrair mais jovens para a missa, aproximando-os da Igreja. “A música é uma das formas que atrai muitos dos nossos jovens, possibilitando mais envolvimento, mais trabalho pastoral e melhor aprofundamento da Fé”, afirma Filomena Dias, professora de música, e quem coordena o grupo que todos os Domingos torna a missa “mais leve e viva”. Relações de proximidade levaram Filomena a convidar Nuno Mendes, de 22 anos, para tocar órgão na Eucaristia. “Toco órgão desde os 14 anos, quando recebi o convite da Filomena ainda ponderei, mas ela consegui-me dar a volta e hoje não me sinto arrependido, antes pelo contrário, é com grande prazer que aqui estou” – revela o músico com um sorriso na cara. No grupo não há um número certo de pessoas. Virgínia Lopes tende a organizar (mentalmente) o Domingo para que possa ir à missa à Reboleira. Normalmente acorda mais cedo neste dia da semana para estar na missa das dez horas. Se se atrasar Filomena poderá ir à missa das 11h30. Para esta senhora de 53 anos, “é uma alegria ver tantos jovens empenhados”. E reconhece as diferenças: “A missa tem outra alma, ganha uma nova vida.” Na diocese de Leiria–Fátima criouse um grupo para o acompanhamento de jovens no percurso de discernimento sobre o seu lugar na Igreja. Durante seis meses vários jovens entre os 20 e os 30 anos aliam-se para secções reflexivas em busca de uma vocação. “Quer-se que, apoiados na palavra de Deus, os jovens percebam qual o seu lugar dentro da Igreja”, esclarece o Padre Gonçalo Dinis, coordenador do grupo. “Havendo muitos catequistas jovens nas paróquias, é preciso apostar na formação dos mesmos”, finaliza o Padre. Cada vez mais afastada dos jovens, a Igreja Católica terá de fazer algo para inverter a situação. A solução passará pelos próprios jovens e por mudanças de mentalidade por parte da instituição. Para estes jovens, haverá um longo caminho a percorrer. O que nos espera o futuro? 11 de Março de 2008 • ESTA JORNAL | 17 RELIGIÃO Padre Luís Batista, de 80 anos, fala da Igreja Católica e de temas como a eutanásia e a catequese “A cadeira de educação sexual devia existir nas escolas” O Padre Luís Batista acabou de fazer 80 anos, mas nem por isso deixa de ajudar os outros. Sempre preocupado com a sua formação, usa a Internet para pesquisar. Foi o primeiro Sacerdote ordenado no Seminário de Portalegre e, durante a sua vida, percorreu várias paróquias. Quis o destino que, por problemas de saúde, deixasse a vida Paroquial e regressasse à Paróquia que o viu nascer, Sardoal, onde reside há oito anos, em casa de uma irmã. D.R. André Lopes Actualmente como é que passa o seu diaa-dia? Agora estou numa fase de não responsabilidade paroquial, porque estou gasto, cansado por doença. No aspecto neuro-psíquico, cansei-me um bocado, o que fez com que eu não pudesse assumir responsabilidades. Passei por um período grave em 1999, altura em que o médico neurologista me aconselhou que não era conveniente que eu voltasse à vida paroquial, a assumir responsabilidades, tão depressa. Agora a minha situação é de ir passando o tempo e ir ajudando os colegas porque está no nosso espírito sacerdotal. Uma pessoa não pode deixar de colaborar, fazer aquilo que pode. Qual acha que é a razão de haver cada vez menos pessoas nas Igrejas? Eu tenho a impressão que é o materialismo dos nossos dias. Na vida Sacerdotal uma pessoa tem de se entregar mais ao sobrenatural, à causa religiosa. Embora agora as Dioceses estejam organizadas de tal maneira que os Sacerdotes tenham o indispensável para viver, que não passem por crises económicas. O que acha que é necessário para mudar a mentalidade das pessoas? O que é mais necessário é que as pessoas adquiram formação suficiente para descobrir quem é Jesus Cristo, do ponto de vista Cristão-Católico, que é o caso dos Baptizados Católicos que estão na Igreja fundada por Jesus Cristo. Quando se conhece alguém e se sabe que Ele é digno da nossa amizade, que nos ama verdadeiramente e que é amigo autêntico, nós sentimo-nos atraídos e conquistados por Ele, é a conquista da amizade. Na medida em que cada pessoa descubra Jesus Cristo tal qual Ele é, certamente, que se deixa seduzir e não é capaz de viver sem Ele. Aqui, há um problema na catequese, o das pessoas. A catequese dos nossos dias, das crianças e dos adolescentes, vai-se fazendo, mas a catequese dos adultos está muito desprezada e descuidada. E como os adultos são responsáveis pelos filhos… Concorda com a necessidade de haver uma disciplina de Religião e Moral nas escolas? Eu acho que sim, dando liberdade a todas as outras religiões. Há um número considerável de Cristão-Católicos que existem no país e isso deve ser considerado. O Governo está para servir a nação, tem de ser um Governo de tal maneira independente que compreenda e veja que a sociedade precisa de se orientar e conduzir, do ponto de vista da fé, segundo os motivos de fé que orientam cada um. Hoje fala-se bastante da liberdade de opção religiosa, onde todos têm lugar. Claro que se Portugal é um país que se diz Católico, eu entendo que desse ponto de vista as coisas devam continuar a ter a sua assistência, o seu acompanhamento, inclusivamente nas escolas, em Religião e Moral. Padre Luís Batista. “A vida tem sempre um valor mesmo quando se está gravemente doente” A Igreja precisa de mudar de mentalidades? A Igreja no essencial não pode mudar. Do ponto de vista disciplinar, a Igreja devia actualizar-se mais, mas temos que compreender que a Igreja está espalhada pelo mundo inteiro e que encontra muitas culturas, modos de viver bastante diversificados. Dada a amplitude e a extensão geográfica em que a Igreja se movimenta, não será tão fácil actualizar a própria disciplina eclesiástica assim tão depressa quanto isso. A Igreja é bastante prudente e verá sempre com muita ponderação, com calma, para não precipitar as coisas. Mas por isso mesmo também há a dificuldade e o problema de às vezes não cami- nhar tão depressa como devia. É o que me parece e nalgumas coisas podia caminhar um pouco mais depressa. Como vê a relação que o Estado tem com a Igreja? O Estado tem o seu âmbito, o seu próprio mundo. A Igreja também. Contudo, do ponto de vista social, a Igreja tem uma palavra a dizer a respeito da sociedade. E o Estado embora se diga laico, claro e independente a nível religioso, tem também de defender os princípios de ordem natural e as leis naturais para que a própria sociedade não seja prejudicada e possa orientar-se e conduzir-se por aquilo que for sempre melhor. Convém que o Estado esteja dentro das situações concretas A catequese dos adultos está muito desprezada do país para o levar e conduzir nos caminhos da paz, da promoção, da valorização humana, no que diz respeito aos vários aspectos como o ensino e tantas outras coisas. O nosso país está em crise, há uma série de problemas que é preciso ultrapassar e isso é da responsabilidade do Estado. A Igreja também tem uma palavra a dizer, o que não quer dizer que os nossos Bispos às vezes não devessem ser mais activos, influentes em determinados aspectos. Quando fala, na Igreja ser mais activa, acha que deve interferir em assuntos fracturantes, como o aborto e a eutanásia? Com certeza, a Igreja defende a vida como primeira realidade. A vida é primária, indispensável, embora saibamos que há situações em que a própria medicina aconselha a que possa haver intervenções. Essas vidas vêm com uma mal formação de tal maneira que também não haveria condições para poderem viver, sobreviver ou até mesmo viverem uma vida capaz de ser humano. Nesse aspecto, a defesa da vida é indispensável. A Igreja tem referido imensas vezes e continua a fazê-lo em relação à eutanásia. A vida tem sempre valor mesmo quando se está gravemente doente. Contudo, há aqueles casos extremos em que as pessoas já estão inconscientes, em coma durante algum tempo e nestes casos estão já mais a sobreviver inconscientemente do que num estado de consciência. E nessas situações limites era preferível desligar as máquinas e se por ventura a pessoa espiar… Cada caso é um caso… Sim, não podemos generalizar e defender a eutanásia. A Igreja não defende a eutanásia de maneira nenhuma. Até que o próprio sofrimento foi valorizado por Jesus Cristo ao vir a este mundo através do Seu testemunho deu a Sua vida por nós, morrendo na cruz e sofrendo a sua paixão e morte. A partir desse momento, o sofrimento passou a ter um sentido redentor e salvador e trouxe um novo sentido ao próprio sofrimento e para os Cristão-Católicos. O sofrimento temporário deste mundo é um valor que nos enriquece para a eternidade. É a favor da educação sexual nas escolas? Sem dúvida que sim, convém é dar uma educação de tal maneira abrangente que não leve só a adolescência ou a juventude através do preservativo, mas que sejam educados no autêntico valor humano, da sua dignidade e valorização humana e do valor da vida. E isso é que tem falhado bastante. Os educadores, nas escolas, de uma maneira geral não estão formados, falta-lhes esse aspecto da formação humana para defenderem a vida e ajudar os jovens a compreender que afinal foi confiada uma missão importante ao homem e à mulher e que não é só a procura imediata do prazer. Eles compreendem que está nas suas mãos a própria dignidade humana e que por isso tem que haver uma formação abrangente, é absolutamente necessário e tem falhado. 18 | ESTA JORNAL • 11 de Março de 2008 RELIGIÃO fernanda mendes Padre Américo Casado. Um padre contemporâneo que defende a adaptação da mensagem de Jesus às circunstâncias actuais. Das novas tecnologias se faz a fé Sem discursos de púlpito, o Padre Américo Casado rompe com o tradicional conservadorismo da igreja. A longa experiência, cerca de 40 nos, na área da Comunicação, que trouxe de Macau, leva-o a acreditar que existem outros caminhos que podem conduzir à evangelização. Um programa de rádio, uma história contada na Internet ou até mesmo uma aula de hidroginástica podem fazer a diferença numa sociedade onde “há muitos católicos, mas poucos cristãos”. Fernanda Mendes Quando chegou a Abrantes, movia-o o objectivo de criar uma espécie de filial do projecto que desenvolveu em Macau. Conseguiu? A intenção não era propriamente essa. Quando o Centro Diocesano de Comunicação Social nasceu, em Macau, o projecto implicava a actividade em todo o tipo de comunicação social: audiovisual e escrita. Em Portugal, a ideia era continuar o projecto em alguns ramos, de um modo particular no audiovisual, sobretudo na parte de rádio, através da colaboração com as rádios locais. Hoje, mantemos uma pequena colaboração com a Rádio Tágide e, sobretudo, com a nova rádio que nasceu em Fátima, a “Canção Nova”. Nesses apontamentos, eu sou fiel àquilo que fazia em Macau. A partir de um pedaço da vida e das histórias que acontecem, boas ou más, com um pouco de música, produzo momentos que não são apenas para leigos. É um programa um pouco mais elaborado, dando a visão cristã, porque senão não faria qualquer sentido iniciar uma actividade dessas. A partir de uma insistência do falecido Papa João Paulo II, sobre a necessidade de a Igreja estar presente no capítulo da Internet, a “Domus Mundi”, cujo objectivo é a promoção humana e a evangelização, promove estas iniciativas, incluindo também a passagem de algum cinema nas nossas instalações, no Rossio. Claro que, nesse aspecto, não tem nada a ver com aquilo que fazíamos em Macau, onde tínhamos cinema comercial. Tínhamos e temos, porque os Chineses continuaram com esse trabalho. Aqui em Abrantes, são sessões de carácter formativo e religioso. Passamos os filmes em DVD, numa sala preparada para o efeito. É um espaço vocacionado para as crianças, mas, também, para as pessoas adultas, sobretudo quando estejam integradas em qualquer grupo e desde que seja fácil congregá-las, reuni-las e chamá-las. Não é uma actividade de rotina. É pontual e tem o objectivo de dar alguma formação humana às pessoas. Afinal, o que é a “Domus Mundi” - Casa do Mundo? Para além dos apontamentos nas rádios, nós desenvolvemos também uma página na Internet - www.domusmundi.org - em duas línguas: Português e Chinês. A Internet é um veículo de comunicação de tal maneira potente que quem tiver acesso pode ouvir uma emissão ou ver um programa, em qualquer parte do mundo. A ideia de criar a página aqui aconteceu porque, infelizmente, na China ainda não é possível dispor da liberdade suficiente para trabalhar à vontade. Já todos ouvimos relatos de páginas que são bloqueadas. A página, em chinês, é feita por chineses, nossos colaboradores. Dois vivem no Canadá, uma outra reside na Mongólia e há ainda um outro que está em Macau. Como vê, não precisam de estar cá para a fazer. O servidor tem sede em Hong Kong, mas a página consta como sendo feita a partir do Rossio ao Sul do Tejo. Que tenhamos conhecimento, nunca houve qualquer interferência ou problema, pelo que gostaríamos que continuasse e tivesse mais diversidade de conteúdos, mas não é fácil encontrar colaboradores. Nesta questão da Internet, eu poderia citar uma frase da Bíblia, do Profeta Isaías, que diz: “ Os caminhos de Deus não são os nossos, nem os nossos são os de Deus”. Portanto, eu diria que Deus se serve de tudo, ou melhor, até de uma página da Internet, para chegar às pessoas. Quanto ao feedback das nossas ac- tividades, eu diria, tal como S. Paulo, que nós não nos preocupamos com a colheita, temos que nos preocupar é com o semear. A colheita, alguém a há-de fazer. Qualquer actividade feita por cristãos tem que ter esse cunho: procurar passar a mensagem de Jesus Cristo aos outros. Os Salesianos, por exemplo, fazem isso, através do desporto e de outras actividades. Aqui também procuramos que seja assim: evangelizar através de actividades que promovam a interacção. Não temos que fazer, necessariamente, sermões ou homilias a toda a hora. Nesse campo, eu sou muito claro: temos que passar a mensagem de Jesus, adaptando-nos às circunstâncias em que temos que trabalhar. Os seus colegas não o criticam por essa sua forma tão aberta de pensar? Eu não lhes dou ocasião para me criticarem. Por um lado, eu sou aberto, mas, por outro, sou capaz de 11 de Março de 2008 • ESTA JORNAL | 19 RELIGIÃO respeitar o “fechamento” das outras pessoas. Falando com um colega, ou qualquer outra pessoa, se verifico que não produz efeito algum, é preferível não falar. Se quem me está a ouvir não percebe a minha visão, não vale a pena estar a perder tempo. Se não houver, da parte do outro, uma certa abertura, eu estar a chatear, passe a expressão, creio que não dá resultado. Nós, os sacerdotes, cometemos muitas vezes esse erro de querer convencer as pessoas de que nós é que estamos correctos e que elas é que estão erradas. Isso nunca dá resultado. Se queremos alcançar alguma coisa é, através de uma conversa informal, levar as pessoas a dizerem: “Se calhar o senhor até tem razão”. Se não convencemos, não vale a pena ir por esse caminho. Não resulta. O Centro já está plenamente integrado na comunidade local? É difícil responder a essa pergunta. Nós nunca fazemos 100% daquilo que poderíamos. Mas, daquilo que me vai chegando, de um modo geral, as pessoas gostam do que aqui se faz, embora haja quem não goste, como em tudo. A aprendizagem religiosa é feita como todas as outras: faz-se, passo a passo. Nós quando aprendemos a ler, começamos por aprender as letras, depois aprendemos a juntá-las. Na música é a mesma coisa. Por que é que não há-de ser assim também na formação espiritual? O que eu noto é que nós, muitas vezes, partimos da presunção de que as pessoas têm conhecimentos que, de facto, não têm. Nesse campo, posso dar o exemplo de certos políticos que falam, falam, mas as pessoas não percebem aquilo que eles estão a dizer. Falam muito bem, mas não passa disso. No campo da religião é a mesma coisa. Por exemplo, eu faço uma homilia de dez minutos e parto do pressuposto que as pessoas percebem tudo aquilo que eu disse. Ora, isso não é sempre necessariamente verdade. Eu estive 12 anos num seminário a aprofundar um determinado número de assuntos. Estar a pretender que uma pessoa, que não tem a mesma formação, entenda as conclusões a que eu chego, depois de tantos anos de aprofundamento e de estudo, não pode ser assim. Nós não podemos partir do pressuposto de que as pessoas entendem. Digo nós, os sacerdotes, mas isso também se aplica a políticos, a jornalistas, etc. Financeiramente, como é que este projecto subsiste? Apoia-se nas economias realizadas em Macau, durante 40 anos. Além disso, quando se deu a transferência da Administração de Macau, de Portugal para a China, foi entregue ao último Governador um “bolo” financeiro que ele poderia distribuir por quem quisesse. Acontece que o fernanda mendes Perfil O Padre Américo Casado é um homem singular. Natural de Bemposta de Trás-os-Montes, aos 12 anos estava em Macau onde fez o seminário. Licenciou-se em Teologia em Leiria, foi ordenado no Porto e regressou a Macau em 1971, onde dirigiu um jornal diocesano. Estudou Comunicação Social em Roma, passo importante para o desafio de difundir a evangelização através do Centro Diocesano de Comunicação Social de Macau, cuja actividade começou em 75. Apadrinhado pela Diocese de Macau, o Centro funcionou como uma verdadeira empresa, chegando a dar trabalho a 50 funcionários. Em 1993 regressa a Portugal e instala-se numa antiga quinta de missionários da Consolata, no Rossio ao Sul do Tejo, onde cria uma espécie de filial do projecto de Macau. Com o conceito de comunicação sempre presente, a “Casa do Mundo”, que o Padre Américo gere conjuntamente com duas Irmãs – a Irmã Pia e a Irmã Deolinda - ocupa-se de outras actividades, sempre viradas para a transmissão dos valores humanos: aulas de hidroginástica; sessões de cinema; aulas de Internet; actividades para crianças. Verdadeiro poliglota, o Padre Américo fala sete línguas: italiano, espanhol, francês, inglês, mandarim e, claro, latim e português. É um padre contemporâneo. Gosta de futebol, snooker e ténis. Prefere a música clássica mas não subestima o talento de vozes comerciais como as de Paulo Gonzo ou Dulce Pontes, por exemplo. No campo da literatura, prefere os clássicos: Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco, Aquilino Ribeiro ou Miguel Torga, entre outros. Comunicador nato, diz não ser grande consumidor de comunicação social. Rádio, confessa, ouve pouco. Acompanha a actualidades pelos jornais e pela Internet. Quanto a produtos televisivos, gostaria de ver mais vezes programas como “Câmara Clara” ou “Prós e Contras”, mas a transmissão tardia fá-lo muita vez desistir e resignar-se à evidência do merecido descanso. Deus serve-se de tudo, até de uma página da Internet, para chegar às pessoas. Há uma coisa que me espantou no jornalismo português: a preocupação do jornalista em aparecer. Nós, os sacerdotes, cometemos muitas vezes esse erro de querer convencer as pessoas de que nós é que estamos correctos e que elas é que estão erradas. Isso nunca dá resultado. Governador era um dos apreciadores do trabalho do Centro Diocesano dos Meios de Comunicação Social, pelo que entendeu ser um caso em que deveria atribuir uma boa fatia desse dinheiro, porque ele sabia que vindo para Portugal, nós iríamos procurar continuar a actividade. Essa “fatia” vai dando, até dar. Quando não houver mais nada, vamos ter que parar. Depois de ter regressado a Portugal já voltou a Macau. Como é que a China está a tratar um território que já foi nosso? Aquilo que já havia deixaram estar, mas começaram a construir tanta coisa que agora está muito descaracterizado, exceptuando os monumentos que estão classificados pela UNESCO. Há gente, carros e casinos a mais. Há tudo a mais. Até 2015 o Governo tem um programa para instalação de 25 casinos. É um exagero! Isso arrasta miséria social e moral e exploração humana. Fiquei desiludido! Que opinião é que tem da Comunicação Social Portuguesa? As pessoas julgam que comunicam melhor quando têm muita abundância de palavras, ou quando podem brilhar. Há uma coisa que me espantou no jornalismo português: a preocupação do jornalista em aparecer. Fazem uma notícia, que às vezes não vale nada, e lá estão eles, cinco, seis minutos, com a cara para que toda a gente os veja e os conheça. A preocupação do comunicador deve ser dizer alguma coisa de maneira a que as pessoas percebam. Agora, se eu me sirvo da comunicação para me promover a mim próprio, para subir na carreira, estou a afastar-me da essência do Jornalismo. Eu gostaria de ver os jornalistas a falarem para as pessoas que têm à sua frente, que não são apenas os professores das universidades, os políticos ou os colegas jornalistas, mas sim o povo simples. Este prefere ver o reality show ou a telenovela, que no fundo é mais fácil de perceber do que um programa de informação. Não é que não se deva também formar, mas a verdade é que, quando não percebem o que os programas informativos pretendem transmitir, procuram outros produtos televisivos. No jornalismo de proximidade, acha que a imprensa regional está a cumprir a sua missão? Estão talvez mais próximos do povo mas, às vezes, dá-me a impressão que lhes falta um pouco da aprendizagem daquilo que é a linguagem dos meios de comunicação social. Por exemplo: a linguagem da comunicação social não pode ser a linguagem que eu utilizo numa homilia. Mas estão, de facto, mais próximos do povo. E, se não fosse essa proximidade, talvez já tivessem acabado. A verdade é que eles continuam a sair e as pessoas continuam a pagar religiosamente a sua assinatura. E quanto às publicações ligadas à Igreja? Eu estava a referir-me a essas também. É muito difícil ultrapassar essa dificuldade, porque quem está à frente desses títulos são, geralmente, ou sacerdotes ou pessoas que utilizam muito amadorismo e que não têm preparação específica para essa tarefa. Por isso, têm alguma dificuldade em se adaptar. 20 | ESTA JORNAL • 11 de Março de 2008 RELIGIÃO Quando outros pagam as nossas promessas A Igreja Católica vê o cumprimento de promessas como um agradecimento. Decerto também terá as suas promessas. Mas quando transportamos essa promessa para o Divino, muito fica por dizer. Hoje criaram-se meios para que cumpra as suas promessas, sem sair de casa. Basta um telefonema e um cheque com cobertura. Liliano Pucarinho Não haja dúvidas. Nem sempre encontramos indivíduos que possam cumprir livremente tudo o que prometem. A Igreja Católica prevê que as promessas feitas ao Altíssimo sejam cumpridas como um agradecimento aos dons concedidos, ou favor que tanto desejavam. Há quem não olhe a meios nem a distâncias. Maria de Jesus, nome fictício, diz cumprir sempre aquilo a que se compromete. “Uma vez fiz uma promessa de ir a pé desde a Covilhã, onde mora a minha filha, até Compostela. E fiz. Sem a ajuda de Deus não teria conseguido cumprir” – diz Maria, confiante. Estas promessas acarretam mais do que um peso na consciência, são transportadas para o exterior do indíviduo e levadas ao extremo por muitos. No Santuário de Fátima encontrámos Bruno Elias, que avança ajoelhado com a filha de três meses nos braços. Em resposta à pergunta, porque o faz, conta que acredita no poder do Altíssimo. E acrescenta: “A fé é sempre o meu maior encosto”. Não duvida que o pagamento desta promessa, que o fará sangrar dos joelhos durante a árdua tarefa, lhe trará mais felicidade e que afirmará a sua fé. Saiba que, na maior parte dos casos, são promessas relacionadas com doenças e com o desejo de progressão na vida. A Igreja Católica, de acordo com o Bispo de Leiria-Fátima, Dom António Marto, vê o cumprimento de promessas como “um acto que deve ser realizado pelo mesmo”. Cumpra-me aquilo que prometi Acamados, doentes, pessoas com incapacidades físicas pertencem ao “grupo” dos que mais prometem. E como cumpre um acamado uma promessa a que tenha estabelecido prazo? Se não se pode deslocar da sua habitação, como cumpriria a promessa, por exemplo, de caminhar até Fátima? È neste sentido que encontramos anúncios em jornais diários que publicitam cumprimentos de promessas. Como é o caso de Carlos Ferreira, um anunciante que promete fazer o caminho necessário, a troco de dinheiro. O primeiro pagador de promessas a ser conhecido em notícias foi Carlos Gil, técnico de informática. Com um sítio na Internet, disponibiliza a informação necessária para ser contratado. Em três línguas, torna possível, à maioria dos visitantes, a contratação anónima por parte de outrém. Carlos Gil intitula-se como um pagador de promessas idêntico ao que existiria na Idade Média. Nessa era, “este tipo de actividade era bastante comum”, como refere. Apenas diz limitar-se a retomar a tradição. Não aceita, porém, qualquer promessa que envolva um esforço físico demasiado pesado, pois encara a caminhada como um percurso de reflexão espiritual. Carlos Gil não vê a sua actividade como algo negativo, porque “quando uma pessoa despende do seu dinheiro, está a prescindir do seu trabalho e da comodidade que essa quantia lhe poderia trazer. Está a dispensar o fruto do seu trabalho, pagando o tempo de outra pessoa, explica. O técnico de informática mostra-se preparado para cumprir qualquer promessa que seja solicitada, seja “um devoto do Brasil, de Angola, de Moçambique, de Timor” ou de qualquer outra parte do mundo. “Qualquer um pode entrar em contacto comigo” – disponibiliza-se Carlos Gil. Perguntará como este peregrino comprova que cumpriu a sua promessa. Carlos diz ter criado “um género de certificado”. Trata-se de “um diploma com o nome da pessoa que vai carimbando em todas a Juntas de Freguesias, Igrejas ou, não havendo, cafés e outras entidades. O último carimbo é sempre o do destino”. Reconhece que este “diploma” é apenas uma recordação e que realmente não comprova nada . “Vale o que vale”, admite o pagador de promessas. Com aproximadamente 2.500 euros qualquer pessoa poderá usufruir deste serviço. O pagamento é feito através da Internet ou por transferência interbancária. A razão desta quantia é sempre o dinheiro que Carlos Gil não ganha por deixar de trabalhar nos dias em que vai pagar a promessa. “Como trabalho por horas, o cliente apenas me pagará aquilo que eu iria perder, porque também não quero diminuir o meu nível de vida” – esclarece o pagador de promessas. Carlos Gil faz-se acompanhar sempre do seu cajado, que o ajuda a enfrentar terrenos mais íngremes. Com uma mochila, onde transporta uma ou duas mudas de roupa, água e comida, enfrenta os caminhos sempre por seu pé. A condenação da actividade A Igreja Católica interpreta este tipo de actividade como um acto comercial, apesar de ser usual na Idade Média. Dom António Marto responde através do seu vigário, Padre Jorge Guarda, que, na “perspectiva da Igreja Católica, a actividade de Carlos Gil não se enquadra numa verdadeira atitude de fé cristã, nem da parte de quem fez a promessa, nem da parte de quem se propõe ganhar dinheiro para a cumprir. “A promessa implica uma relação pessoal com Deus, vivida na fé. É cumprida como sinal de gratidão por um benefício recebido do Alto”. No que consideram um possível acto de solidariedade, a Igreja Católica, ainda nas palavras do Padre Jorge Guarda, garante que “poderia haver era um acto de solidariedade, ou melhor, de caridade e comunhão, da parte de alguém que aceitaria acompanhar o fiel no cumprimento da sua promessa”. E esclarece: “Neste caso, o acompanhante faria também ele um acto de fé, que certamente o enriqueceria espiritualmente, mas não do ponto de vista material. Ganhar dinheiro para cumprir uma promessa pode não passar de um acto comercial, de prestação de um serviço, a troco de um pagamento.” Na opinião de Patrícia Mendes, 45 anos, catequista, as promessas não devem ser feitas se não somos capazes de as cumprir: “As pessoas que acreditam em Deus e a Ele lhe prometem, devem elas cumprir o que estipularam. O sacrifício tem de ser sempre nosso. Não temos de sacrificar ninguém, ou pagar para isso.” A Igreja continua a não dar crédito a esta actividade, considerando que são “pessoas que apenas pretendem ganhar dinheiro”. Quem já solicitou os serviços de Carlos Gil não se sente incomodado por o ter feito, apesar de não quererem mostrar a sua identidade. Se se trata de uma actividade com futuro, ainda será cedo para o escrever. 11 de Março de 2008• ESTA JORNAL | 21 CULTURA Crise cultural em Abrantes? rui rodrigues Os agentes culturais de Abrantes queixam-se da falta de público e da falta de uma sala de espectáculos mais pequena do que o Cine-Teatro S. Pedro. Existe, também, o reconhecimento de falta de coordenação ao nível do agendamento dos eventos. Apesar de todas as críticas, as iniciativas continuam. Na esperança de melhores dias culturais. Rui Rodrigues A Câmara Municipal de Abrantes anunciou no seu site a criação do futuro espaço museológico do Museu Ibérico de Arqueologia e Arte no Convento S. Domingos, ao qual se juntará a colecção da pintora Maria Lucília Moita e também a colecção do escultor Charles de Almeida. Desta forma, Abrantes irá ganhar mais um espaço cultural, com características multifacetadas. Com a criação de mais este espaço, a cidade diversifica a sua oferta cultural. Este pode muito bem ser o momento para ver o que se passa com a cultura em Abrantes. Para o fazer, nada melhor do que ouvir quem produz cultura nesta cidade. Os agentes culturais concordam que a crise que a cultura atravessa é a nível nacional e tem as mais variadas origens e razões. Todos eles reconhecem que, na vida actual, há mais preocupações com as questões do dia-a-dia, tal como diz Maximo Esposito, pintor e dono da escola de pintura ‘Il Pittore Italiano’:“As pessoas estão empenhadas nos assuntos práticos como pagar a casa, pagar o carro e levar os meninos para a escola.” Como resultado, “a parte cultural é posta na lista das opções muito em baixo”. Francisco Lopes, director da biblioteca municipal António Botto, em Abrantes, concorda com a ideia de que “há um deficit de cultura a nível nacional”. Apesar de ser uma constatação generalizável ao resto do país, Pedro Sena Nunes, realizador que esteve no Cine Teatro S. Pedro em Novembro do ano passado, no âmbito da apresentação do seu documentário “ Elogio ao ½ “, considerou uma sorte o Espalhafitas conseguir juntar cerca de 20 a 30 pessoas em sessões de cinema. E lembrou que em Lisboa os cine-clubes nem isso conseguem, o que mostra a extensão do problema a nível nacional. Paula Dias, da Galeria Municipal de Abrantes, chama a atenção para “a falta de ensino das artes no ensino obrigatório” e admite que esta realidade possa ser responsável pela falta de interesse pela cultura. A vereadora da Cultura da autarquia abrantina, Isilda Jana, reconhece que as pessoas “não estão habituadas a consumir produtos culturais, embora haja muitas associações culturais e haja muitas actividades”. Apesar da existência de oferta cultural, os principais protagonistas deste sector admitem que há outros problemas. Um deles, refere a directora do Orfeão de Abrantes, Elisabete Furtado, é o facto de que “a maior parte das pessoas não são da cidade”, são de aldeias em redor e, “chega o fim-de-semana, chega à sexta-feira, e saem”. Por isso, e como normalmente os espectáculos são ao fim-de-semana, não têm público. Outro dos aspectos, apontado por Helena Bandos, da direcção do Grupo de Teatro Palha de Abrantes, é que faz falta “uma agenda cultural mais acutilante a nível de publicidade dos espectáculos”. Tal como refere Maria de Lurdes, vice-presidente da Associação Palha de Abrantes e dirigente da Associação Espalhafitas, “há um deficit muito grande ao nível da publicidade, seja ela nos jornais locais, nas rádios locais, nos cartazes e nos outdors locais”. Os principais agentes culturais de Abrantes parecem estar de acordo na ideia de que há pouca divulgação dos espectáculos e das actividades culturais. Mas Isilda Jana tem uma outra visão: “A agenda cultural tem uma tiragem de 6.000 exemplares, onde vem a programação, temos uma lista de e-mails que enviamos para as pessoas, temos uma lista enorme de SMS onde são divulgados os espectáculos. Temos esta divulgação no centro histórico e nos hipermercados”. Embora entendendo que “a divulgação nunca é suficiente”, a vereadora lembra que “quando as pessoas querem ver um espectáculo aparecem lá todas, porque as pessoas estão despertas para determinadas coisas…”. Outro problema referido pelos protagonistas da cultura de Abrantes é o tamanho da sala do Cine Teatro S.Pedro que, com os seus perto de 500 lugares, é considerada enorme. Helena Bandos diz mesmo que o espaço “não permite ‘aquecer’”, exceptuando quando se trata de espectáculos que envolvam caras conhecidas. Ou seja, faz falta uma sala mais pequena, tendo em conta o número de pessoas que assiste à maioria dos espectáculos. Segundo Elisabete Furtado, para o Orfeão seria bom ter uma sala com 50 lugares. Já Helena Bandos defende que, para o grupo de teatro, a sala óptima teria 150 lugares. Segundo Isilda Jana, este é um problema que será resolvido em breve, em virtude da saída do Ballet, o que permitirá o uso da sala polivalente para outras actividades. Isilda Jana reconhece que a inexistência de uma sala com outras características tem originado a que, até esta altura, a Câmara tenha evitado “muitas vezes os espectáculos de música clássica porque, de facto, o cine-teatro não é uma sala para isso”. Cine-teatro. Os promoteres de cultura, de Abrantes, defendem a existência de salas de espectáculo mais pequenas Para Francisco Lopes, há outro problema que é de programação: “Há períodos em que não há nada e, depois, há uns dias da semana cheios de espectáculos e andamos aqui todos admirados, num meio pequeno. Parecemos uns tontinhos, não conversamos uns com os outros …”. Para este responsável pela Biblioteca, parte da solução de alguns dos problemas no campo da cultura seria resolvido se os diferentes produtores culturais conhecessem o seu público tal como fez a Biblioteca: “Temos estudos de utilizador que fizemos para perceber essas dinâmicas”. E acrescenta que “uma questão essencial para o sucesso das actividades, do ponto de vista do público, é que elas sejam promovidas em parcerias com outras entidades”. Maria de Lurdes concorda com a ideia de Francisco Lopes porque, dessa forma, criava-se, “um plano cultural para a cidade, onde tu és a biblioteca, tu és a galeria, nós somos o cinema”. Para Isilda Jana, o resultado desta forma de trabalhar seria “uma maior interacção entre os vários produtores culturais ”, permitindo que os espectáculos fossem mais direccionados para diferentes públicos, com gostos e interesse diferentes, em vez dos espectáculos de massas. Para isso, Francisco Lopes propõe que “os agentes culturais da cidade conversem uns com os outros na altura em que se inicia o ciclo da gestão”, permitindo a criação de uma rede que trabalharia de uma forma coordenada, maximizando desta forma esforços e meios, assim como criando públicos. A vereadora Isilda Jana lembra que, perante este panorama, “curiosamente”, há público para dança: “Penso que as escolas de dança, que têm existido, têm feito um bom trabalho, têm pelo menos formado público e vemos isso com os espectáculos de dança. Também há algum público para teatro, mas o pior de tudo é a música, sobretudo a música de câmara … Nós temos quatro bandas filarmónicas no concelho, que têm associadas escolas de música, temos a escola de música do Orfeão, temos o Orfeão de Abrantes, temos o Cant’Abrantes, existem diversos grupos associados à música, mas o que é um facto é que não formam público…”. A vereadora refere ainda o exemplo do Espalhafitas, “que tem estado a fazer um excelente trabalho há vários anos consecutivos, nomeadamente com as escolas, e que tem uma programação regular”. Pelo trabalho que desenvolve, nesta altura, “devia ter muito mais público mas, de facto, o que se vê é o contrário. É um contra senso.” Mesmo perante todas estas dificuldades e problemas apontados, muitos dos agentes culturais têm planos e projectos para o futuro. Para Elisabete Furtado, o seu projecto a longo prazo é formar públicos de jovens pais, para que mais tarde os futuros jovens se venham a transformar em público da música, da música clássica, da música erudita, e de outras. Para Maria de Lurdes, os projectos futuros passam pela realização de um filme de animação em Constância e outro no Sardoal, assim como pelo arquivo de imagem baseado em pequenos documentários. Apesar das dificuldades, é generalizado o reconhecimento do apoio e da abertura por parte da Câmara Municipal de Abrantes, em particular do seu departamento da cultura, para as diferentes actividades culturais na cidade. No entanto, é reconhecido que muitos dos problemas estão relacionados com os meios, com o facto de trabalharem sozinhos e também devido à crise que a cultura atravessa a nível nacional. Sendo que uma das muitas formas para combater a falta de público em algumas actividades culturais, passará pelo trabalho em rede e em conjunto. O futuro dirá que forma o futuro Museu Ibérico de Arqueologia e Arte irá usar para atrair públicos e de que forma isso irá ajudar os restantes agentes culturais de Abrantes, nesta crise cultural. 22 | ESTA JORNAL • 11 de Março de 2008 CULTURA Fundação Museu Nacional Ferroviário Armando Ginestal Machado Um espaço virado para o futuro Tânia branco O Museu Nacional Ferroviário, naturalmente situado no Entroncamento, é uma das vertentes da Fundação Museu Nacional Ferroviário. Com nove núcleos espalhados pelo país, esta fundação dedicase a variadas actividades, destacando-se as que se direccionam para os mais novos. O objectivo final é o de se constituir como um pólo de atracção e desenvolvimento para o turismo cultural. Tânia branco Tânia Branco A ideia da criação de um Museu Nacional Ferroviário já data de 1961. No entanto, apenas em 2005, com a criação da Fundação Museu Nacional Ferroviário (FMNF), foi possível avançar com o projecto. O Museu Nacional Ferroviário foi, assim, inaugurado em Abril de 2007, e acolheu a sua primeira exposição a 18 de Maio do mesmo ano. Actualmente podemos encontrar no museu o comboio comemorativo dos 150 anos dos caminhos-de-ferro em Portugal, assim como a exposição “Olhares sobre os caminhos-de-ferro”. No entanto, e uma vez que se trata de um museu poli-nucleado (constituído por uma secção central e nove núcleos), as actividades são variadas. Uma das principais apostas do Museu Nacional Ferroviário vai no sentido de fazer parte da rede dos museus Ciência Viva. Este é um claro sinal da especial atenção que se pretende ar aos mais novos. Para já, os mais pequenos têm à sua disposição toda a informação necessária para compreenderem as exposições. Simultaneamente, o Museu Nacional Ferroviário promove a acção “Pais ao Museu”, acções com escolas e com outros grupos. Pretendendo cativar os públicos mais jovens, está também a ser preparado um teatro de fantoches para as crianças. objecto é mais interessante que o anterior. A sua criação ficou a dever-se à necessidade da existência de um museu que preserve, promova e garanta o acesso público à história dos caminhos-de-ferro e do transporte ferroviário em Portugal. No entanto, a ideia da construção do museu não é nova, pois o Engenheiro Armando Ginestal Machado, funcionário da CP, começou por guardar, em antigas cocheiras e oficinas desactivadas, material ferroviário que considerava ser de excepção e que deu origem aos nove núcleos museológicos espalhados pelo país, e que constituem parte do museu. Segundo Rita Pereira, coordenadora do Serviço Educativo, o Museu Ferroviário tem por missão “a preservação, divulgação e promoção do património ferroviário nacional, pretendendo constituir-se como um pólo de atracção e desenvolvimento para o turismo cultural, contribuindo para a qualificação territorial, desenvolvimento económico, social e cultural da região centro.” Para além de ter como competência gerir este espaço, a FMNF tem outras funções. Nelas se incluem: a criação de um centro de documentação e de um arquivo no domínio da História dos Caminhos-de-ferro; a promoção da investigação científica, histórica e antropológica dos Caminho-de-ferro (em cooperação com entidades de ensino e unidades de investigação); a edição e publicação de obras relacionadas com o património histórico, cultural e tecnológico ferroviário; a dinamização de programas de voluntariado devidamente enquadrados nos fins da FMNF; a realização de conferências, colóquios, seminários e outras actividades sobre o transporte ferroviário; a instituição de prémios e a gestão e atribuição de O Museu está a preparar um teatro de fantoches Preservar a história dos caminhos-de-ferro Situado no Entroncamento, local que ficou na história devido aos caminhos-de ferro, o Museu Nacional Ferroviário iniciou a sua actividade em 2007. O espaço, bastante acolhedor e atractivo, desperta os sentidos ao longo de toda a visita, pois cada Tânia branco Espólio. Armando Ginestal Machado reuniu, em antigas cocheiras e oficinas desactivadas, material de excepção bolsas de investigação; o intercâmbio com instituições congéneres nacionais e estrangeiras que prossigam actividades afins; a divulgação de linhas históricas e a colaboração com operadores de transporte ferroviário no respectivo desenvolvimento; e a divulgação técnico-científica no âmbito do desenvolvimento da ferrovia. Quanto aos restantes núcleos, Rita Pereira explica que cada um “é dinamizado de igual forma, mas de acordo com as suas especificidades”. Actualmente a FMNF tem procurado estabelecer protocolos com as Câmaras Municipais onde se encontram os respectivos núcleos, com o objectivo de “desenvolver uma gestão partilhada”. No entanto, apenas os núcleos de Arco de Baúlhe e Chaves já estão nes- te sistema. As respectivas autarquias “garantem a sua abertura ao público, sendo da responsabilidade da FMNF a manutenção do espólio, a criação de actividades e a gestão de conteúdos” – adianta Rita Pereira. No que respeita a horários, o Museu Nacional Ferroviário abre as portas durante a semana, à tarde, e também ao fim de semana. Nas manhãs de segunda a sexta-feira, o espaço está reservado para visitas de grupos, previamente marcadas. Quanto ao futuro, Rita Pereira afirma: “Pensando no projecto global, é natural que os horários sejam adaptados às necessidades e ofertas do museu, procurando alongar os horários o mais possível, como aliás se tem discutido e proposto em todos os museus.” Locomotivas De acordo com Rita Pereira, “a Rotunda de Locomotivas é o elemento mais característico do Depósito a Vapor, uma antiga “cocheira de locomotivas”. A estrutura em questão servia para combinar a orientação das locomotivas e colocá-las na via adequada, estando todas as vias da rotunda a confluir para a placa giratória e esta, por sua vez, conectada ao depósito com as vias da estação. Este é um dos projectos do museu, ou seja, reconstruir a antiga “Rotunda das Locomotivas” demolida em 1974. Neste espaço irão estar expostas 13 (treze) locomotivas, verdadeiras peças emblemáticas da história ferroviária portuguesa. Uma aposta no serviço educativo Recentemente foi criado pela Fundação o Serviço Educativo, que tem por objectivo “despertar o interesse da comunidade local para este património, procurando acrescentar ao seu sentido cívico uma necessária consciência para a sua preservação e fruição.” De acordo com a sua responsável, Rita Pereira, “as crianças são os futuros responsáveis e usufruidores do património” e, por isso, “a primeira aposta será dirigida a elas”. A necessidade da criação deste serviço deveu-se ao facto de ser “imperativo o contacto e uma íntima relação com as escolas do concelho, centros de dia, entre outras organizações, impulsionando a aquisição de novos conhecimentos, a descoberta da função e do significado dos objectos do passado, de forma a aprender a respeitar o seu valor histórico, reconhecendo, por fim, a necessidade de os preservar no futuro”. Para além disso, e tal como acontece em todos os museus, a Fundação pretende que “a visita ajude a alimentar os interesses culturais das crianças/jovens e nelas criar o gosto por aprender através do contacto com objectos reais – as colecções”. Para além disso, a Fundação pretende desenvolver material de suporte às visitas à exposição permanente, criar guiões técnicos e temáticos, dirigidos aos diferentes graus de ensino e relacionando o maior número de temáticas escolares com a ferrovia. T.B. 11 de Março de 2008 • ESTA JORNAL | 23 CULTURA Ricardo Narciso, baterista dos Perfect Sin “Os pecados estão por toda a parte” Num universo onde os músicos parecem só querer recriar as suas influências em vez de criar algo de novo, os Perfect Sin destacamse no seu rock com vertentes à volta do metal e grunge. A propósito do lançamento do Ep,Schema, Ricardo Narciso, baterista do colectivo, mais conhecido como Opiate, fala da banda: “Basicamente fazemos o som que gostamos sem qualquer tipo de barreiras”. ana mafalda Cátia Godinho Como descreve o percurso da banda Perfect Sin? Os Perfect Sin iniciaram-se em 2003. A ideia partiu do vocalista, Cláudio. Nós os dois já pertenciamos a uma banda de covers e a dada altura começámos a ter mais vontade de fazer originais. Dessa ideia começámos à procura de pessoal. No princípio éramos só eu e ele, ainda fizemos um ou dois temas na guitarra. Entretanto, começou a aparecer pessoal e tudo se foi desenvolvendo. De onde surgiu o nome Perfect Sin? Quando achámos que a banda estava completa e já tínhamos o projecto em andamento, cada elemento da banda deu dois nomes, um bocado ao acaso. Escolhemos o nome que mais nos agradou. Tentámos decidir tudo democraticamente, e foi isso… Perfect Sin. Mas tem algum significado interior, alguma mitologia como tantas outras bandas de metal adaptam? Este foi o nome que agradou principalmente ao vocalista. Não queria entrar em grandes mitologias. Acho que é um nome óbvio, Perfect Sin - Pecado Perfeito. Nós vivemos numa sociedade em que os pecados estão por toda a parte, quem é que não os comete? Mas não nos devemos limitar, cada pessoa deve ter a sua interpretação, seja das músicas, seja do nome da banda. Qual o objectivo da banda? O nosso objectivo é poder e conseguir continuar a fazer aquilo que nós mais gostamos, acreditando que um dia poderemos adoptar a música como profissão, conseguindo viver disso. Outro objectivo é levar a nossa música ao Ricardo Narciso (cima à direita). “O resultado do EP, SCHEMA é bem bom” máximo de países possíveis. Acha que estão a ser bem aceites no meio musical? O percurso, embora lento, tem sido bom, porque começámos a ter notoriedade especialmente depois de termos editado o nosso primeiro Ep, Schema, que nos tem ajudado a dar a conhecer o nosso som. No meio underground todas as ajudas são bem vindas, mas acho que as coisas estão num bom caminho. Visto que são uma banda de metal grunge deverão ser mais bem aceites do que bandas de black ou death metal. Visto que até têm influências de bandas como Nirvana e Tool… Sim, é um som mais abrangente. Eu não consideraria isto bem ‘metal’, acho que o som é resultado não só das influ- ências, como também da maneira de ver aquilo que nos rodeia. É o resultado da maneira de ver dos quatro elementos, da percepção de cada um. Não nos limitamos a fazer este ou aquele tipo de som, basicamente fazemos o som que gostamos sem qualquer tipo de barreiras. Pensam no vosso público, mas gostam de se expandir sem pensar demasiado nas editoras. Centram-se mais em vocês e no vosso público, é isso? Sim. Nós, em primeiro lugar, queremos continuar a gostar daquilo que fazemos. Se houver pessoas que gostam e têm o mesmo prazer que nós em ouvir o nosso som, sendo possível criar uma partilha de emoções, ainda bem, espero que isso aconteça sempre. A interacção com o público nos vossos concertos é positiva? Tem sido uma evolução positiva nesse aspecto. Nós também vamos ganhando mais experiência, quanto mais tocamos, mais aprendemos. Notamos que o público tem aderido bem na generalidade, mas também depende dos sítios onde tocamos. Qual foi até agora o vosso melhor concerto? Há sempre aquele concerto que corre melhor ou pior, mas não fazemos distinções a nível de locais ou público. Tanto podemos tocar para 500 como para cinco pessoas. Acho que deve ser assim com todas as bandas, não se deve fazer distinções. Como surgiu a oportunidade de gravar este EP, SCHEMA? A oportunidade veio por entremeio de um amigo nosso, que é baterista dos W.A.K.O. Nós andávamos com a intenção de gravar um Ep, ele propôs ajudar-nos, por ter os meios necessá- rios, e nós aceitámos partir para essa experiência. O resultado é bem bom. O que é que querem transmitir às pessoas com as vossas letras e músicas? Nesta parte quem responderia melhor seria o vocalista, o Vírus, pois a maioria das letras são escritas por ele. Mas o objectivo, além de criar emoções nas pessoas, é fazer as pessoas pensarem um pouco, dependendo do tema. Espero que as pessoas não absorvam só os sentimentos de raiva ou revolta, mas que pensem também. Qual a sua música favorita neste Ep? Isso é como perguntar qual dos meus seis filhos gosto mais! Gosto de todas de forma igual. Num dia em que tenha concerto, dependendo do estado de espírito, determinada música consegue causarme mais aquele arrepio, aquela sensação de euforia, ou então uma música mais calma pode me significar mais. É uma questão bastante sensitiva. Já partilharam o palco com alguma banda influente? Já tocámos com várias bandas amigas incluindo W.A.K.O, Ashes, Hyubris que já são mais reconhecidos. Já foram alguns concertos a nível nacional, mas ainda não houve aquela grande banda para abrirmos o espectáculo. Existem planos futuros? Quais? Existem planos, mas ainda estão guardados. Nós ainda estamos na fase de divulgação do Ep, andamos a tentar expandirmo-nos. Já temos contactos com editoras internacionais, mas primeiro temos que tratar do registo de material para o divulgar, após registar continuaremos a enviar o Ep para várias editoras. Editora de Santarém aposta nas vendas online marco santos A OuTLoud Music, uma editora de música criada por um grupo de amigos, em Santarém, abriu portas em Dezembro. Concluídos todos os trâmites legais para a constituição da empresa, fizeram a festa de lançamento do projecto na discoteca QB, em Almeirim. João Casaca e Luís Martins (ex-Silence4), que constituem o “departamento de música e produção musical”, foram quem primeiro equacionou o projecto, “numa esplanada, no princípio do ano. “O mais difícil foram mesmo as questões burocráticas”, explica a relações públicas da editora, Sandra Loureiro. No pequeno estúdio que possuem estão a produzir e a gravar os temas dos álbuns de três bandas: Os Twilight e os Vulture (as bandas de Luís Martins e João Casaca) que têm uma sonoridade Rock / Alternativo e os Lágrima, uma banda de Hip Hop, originária de Loulé. A editora aposta na venda online dos Avaliação. O grupo que constitui a editora promete ouvir todas as maquetas de apresentação com atenção álbuns, que devem integrar, a curto prazo, os principais sites de venda como o iTunes ou o rhapsody. As vendas online irão, posteriormente, suportar a edição dos CDs em suporte tradicional. “São necessários 1500 euros para produzir cerca de mil CDs”, explica João Calouro, responsável pelo site. A venda dos álbuns online potencia também a troca dos ficheiros Mp3 entre os utilizadores, facto que o grupo de jovens empresários não considera ne- gativo. “A troca ajuda a tornar as bandas mais conhecidas e o passa-a-palavra é muito importante neste meio”, sublinha João Caroulo. Quando funcionava apenas há duas semanas, a editora tinha já recebido maquetas de todo o país. O grupo promete “ouvir sempre todas as músicas com atenção”. A avaliação do potencial das bandas é feita por Luís Martins e João Casaca, que traça o perfil das bandas pretendidas pela editora: “Queremos bandas que soem diferente sem cair no experimentalismo, que tenham personalidade própria, que acreditem e se esforcem”. Com os meios disponíveis, humanos e físicos, a editora escalabitana tem capacidade para produzir três álbuns em simultâneo. Pode ser encontrada em http://www.outloudmusic.net. As instalações da empresa estão na Rua Pedro Santarém, por detrás da tradicional taberna “O Quinzena”. M.S. 24 | ESTA JORNAL • 11 de Março de 2008 CULTURA Estreia nacional da peça de teatro “O Clube das Divorciadas” “Obrigado Santarém” DR O Teatro Sá da Bandeira , em Santarém, foi palco da estreia nacional da peça “O Clube das Divorciadas”. Uma comédiade Alil Vardar, com encenação de Joaquim Nicolau. A casa esteve sempre cheia. Catarina Véstia A peça está quase a começar. Os escalabitanos ocupam os seus lugares sem demora. Após quatro sessões o público ainda está sedento de teatro. Na régie sente-se a azáfama. Todos ocupam os seus lugares para que nada falhe durante o espectáculo. Ouve-se um telemóvel a tocar, mas não se pense que alguém na plateia se esqueceu de desligar o aparelho, é mesmo o início da peça. “O Clube das Divorciadas” conta a história de três mulheres que vão dividir um apartamento. Carlota Francisca da Bernarda de Alcoforado (Marina Albuquerque) é uma burguesa que, após o divórcio, se muda para a cidade. Não conseguindo suportar os custos do apartamento sozinha, decide alugar os outros quartos. A única condição que impõe é que as candidatas saibam pronunciar o seu nome correctamente. A primeira inquilina a aparecer é Rosalinda (José Raposo), uma mulher de Bragança, camponesa, nada habituada à vida citadina. Fanny (Sylvie Dias) é uma jovem inglesa, muito bonita e elegante, maluca e não muito dotada de inteligência, que irá dividir o apartamento com as outras duas personagens. Juntas, estas três mulheres irão viver várias peripécias na demanda de vencer o divórcio. Ao longo de toda a peça as risadas são constantes. Ora porque saltou um sapato, ora porque Rosalinda caiu. Mas o teatro é assim mesmo, feito de improvisos e do contacto com o público, que vai respondendo com gargalhadas constantes. No final do espectáculo seguem-se os aplausos da praxe. José Raposo agradece a Santarém por todas as sessões terem esgotado. O feedback do público não poderia ser melhor. Luís Pires achou a peça muito divertida, e a iniciativa bastante boa: “É pena é haver poucas”. A mesma opinião é partilhada por Jacinta Antunes, que acrescenta que esta peça traz também uma mensagem às divorciadas. Questionada sobre o que pensa desta iniciativa, Jacinta afirmou: “Eu acho que em todas as pequenas aldeias em que não podem chegar aquelas grandes peças de teatro, estas pequenas vêm preencher a grande lacuna que há no nosso país que é falta de cultura. As pequenas aldeias também precisam de cultura”. Próximos espectáculos 27 de Março às 21h30 - Teatro José Lúcio da Silva, Leiria 28 e 29 de Março às 21h30 - CineTeatro Avenida, Castelo Branco Joaquim Nicolau, encenador de “O Clube das divorciadas” “Há bastante teatro em Portugal” “O Clube das Divorciadas” foi um êxito em Santarém, a todos os níveis. A opção de estrear a peça nesta cidade foi deliberada. Para além dos apoios do poder local, Joaquim Nicolau, o encenador, refere o carinho e o entusiasmo como que a equipa foi recebida pela população. Catarina Véstia A peça “O Clube das divorciadas” teve a sua estreia nacional em Santarém. Porque escolheram esta cidade? Escolhemos Santarém porque faz parte de uma estratégia de certa maneira imposta por mim. Neste momento eu estou interessado em fazer os meus trabalhos de produção e de encenação fora dos grandes cen- tros. É uma inovação para mim, uma necessidade de o trabalho se concluir de outra maneira. É também uma estratégia artística e económica, porque eu não vou precisar de estar em Lisboa numa sala à espera que o espectáculo faça êxito, eu tento fazer êxito já com público que está de certa maneira mais sedento de espectáculos que o púbico das grandes cidades. Os públicos das grandes cidades têm um poder de escolha muito maior. Ao contrário do que as pessoas jul- gam, há bastante teatro em Portugal, há bastantes salas de teatro e há uma oferta muito grande. Esta estratégia é uma forma de aculturar o país? Claro, aliás o país tem esse grave problema. O teatro, depois do 25 de Abril, acentuou-se numa capacidade de querer mostrar uma intelectualidade, o que eu acho totalmente errado. O teatro existe porque existem pessoas. Toda a expressão dramática de qualquer ser humano é passível de ser teatralizada. Nós somos preconceituosos, nós temos problemas e temos atitudes medíocres em relação a nós próprios, não gostamos muito de nós. Eu gosto muito de mim, gosto do meu país, gosto do meu folclore, gosto da minha pronúncia, das minhas gentes, gosto do teatro que eu faço, O que pensa que faz falta no nosso país para que tenhamos uma melhor cultura? As pessoas gostarem mais delas e gostarem mais daquilo que nós somos. Se tiverem essa responsabilidade e esse desejo, para perceberem, de uma vez por todas, que o problema português não é um problema económico. Não podemos inventar que venha ouro da lua. Portugal é um país pequeno com poucos recursos naturais. Nós somos aquilo que somos. Temos é que melhorar. O problema português é um problema cultural, ou seja, nem é um problema de educação, é mesmo um problema cultural. Exemplo disso é que eu continuo com um programa no ar que é “Os Malucos do Riso” com grandes audiências. Fico contente por ser um programa meu, mas por outro fico triste porque algo está errado. É bom que as pessoas pensem nisso. Como artista tenho de reflectir que algo vai mal no reino quando um programa como “Os Malucos do Riso”, “Batanetes”, novelas e afins continuam com grandes audiências. Nós só temos de decidir se 11 de Março de 2008 • ESTA JORNAL | 25 CULTURA Os três actores da peça falam sobre a experiência e sobre as personagens O público quer peças ligeiras José Fragoso faz um balanço bastante positivo da estreia, em Santarém, da peça “Clube das Divorciadas”: “Foi fantástico, foi uma adesão maravilhosa.” Para este actor, que é também produtor da peça, a receita do sucesso é simples e baseia-se na constatação de que “o público está cada vez mais ávido de peças ligeiras, ou seja, que divirtam, que entretenham e que não ‘façam pensar muito’.” Talvez por ser a segunda peça de Sylvie Dias, esta actriz sublinha o facto de terem José Fragoso, que é também produtor da peça juntamente com Joaquim Nicolau, frisa que a iniciativa de estrear a peça em Santarém e depois fazer uma tournée pelo país não é uma decisão que seja tomada com frequência. E acrescenta: “Essas decisões deviam partir de quem manda, deviam partir do poder central e local, mas infelizmente não existe essa atitude.” Quanto à tournée que entretanto percorre o país, e “depois desta reacção dos escalabitanos”, Jo s é iv o ta vares esgotado a lotação da casa nos quatro dias em que levaram a peça à cena, tendo ainda que fazer uma sessão extra. E é por isso que faz um balanço “excelente” da experiência. Marina Albuquerque admite, até, que o público de Santarém pudesse encher a sala mais vezes, porque quem viu reagiu bem. “Acho que as pessoas gostaram imenso, em termos da comicidade do espectáculo, da maneira de isto ser feito.” Fragoso não ficou com dúvidas: “De certeza que por esse país inteiro, os portugueses vão rir muito nestes próximos meses. Tenho a certeza absoluta.” Para Sylvie Dias, esta é a primeira tournée que faz e as vantagens por ela encontradas são muitas. Desde conhecer pessoas diferentes, ter noção da gastronomia de diferentes sítios até ver as reacções dos públicos em sítios diferentes. “O bom disto é que nunca é igual. Cada dia é diferente e isso é sempre bom.” E queremos ser América Latina ou Europa. Se queremos ser América Latina, então estamos bem, estamos no caminho certo. Teve algum apoio por parte do poder local para a estreia da peça? Tive, e isso faz parte da minha estratégia. Não venho só para Santarém porque é geograficamente giro, apesar de eu ter uma relação com Santarém muito próxima e muito íntima. Tenho mais facilidade em obter apoios do poder local. Santarém está pejada de cartazes, de pequenos car- Nuno viegas para que as coisas corram bem, a jovem actriz vai estar “agarrada” ao seu objecto de superstição, um anel com um golfinho que nunca larga. Os três actores de “Clube de Divorciadas” estão plenamente satisfeitos com as personagens que encarnaram. Sylvie Dias desempenha o papel de uma mulher “completamente doida, maluca, muito bonita, e muito elegante”, e o que mais gosta na personagem é “quando ela tem aqueles ataques de loucura, quando ela faz de gata assanhada”. Já Marina Albuquerque vestiu a pele de uma mulher que vive bem com o divórcio e sente-se bem com a personagem: “Gosto da alegria dela, da positividade dela. Porque enquanto as outras duas personagens estão muito tristes por estarem divorciadas, a minha não.” E o que faz um actor numa peça que só tem papéis femininos? José Fragoso conta que já fez de mulher várias vezes. “Esta matrafona que eu faço, é uma mulher buçal, rural (no sentido de trabalhadora no campo). Se fosse feita por uma actriz estava-se a gozar com a condição da mulher, enquanto que sendo feita por um homem está salvaguardada essa parte. As mulheres quando estão a ver dizem logo ‘isto é assim porque é um homem que está a fazer, é ele aquele matrafão, uma mulher nunca seria assim’. Portanto há essa defesa da condição feminina.”. tazes nas lojas, e sou eu que faço isso, dou a cara, falo com as pessoas. As pessoas gostam de nos ver, gostam da aproximação com o artista e isso faz com que as pessoas venham. É lógico que tive apoio não só do poder local, mas também apoios para o cenário, que é caríssimo. Qual é o balanço que faz deste fim-de-semana? O balanço é positivíssimo a todos os níveis: ao nível artístico, pessoal, económico. É actor e encenador. Qual das duas vertentes gosta mais? Sem dúvida: encenador. Eu sou actor por conveniência. Em tudo aquilo que faço seja cinema, teatro, televisão, sou mesmo actor por conveniência. Se puder trabalhar como encenador, trabalho sempre. Trabalhei muitos anos como director de actores nas novelas, se bem que a direcção de actores não é bem a mesma coisa, encenar é construir uma obra. Dirigir actores é, de certa maneira, preparar o actor, não estou a construir uma obra em si. Os protagonistas Joaquim Nicolau é actor, encenador e director de actores. Iniciou a sua actividade no teatro em 1982, no Curso de Teatro do Grupo de Campolide. Como encenador, estreou em Outubro de 2004 a peça “Palhaço de Mim Mesmo”. No cinema, participa como actor em vários filmes: Guiné, Cinco dias, cinco noites, Zona J, Um Tiro no Escuro, para mencionar apenas alguns. Participou em várias novelas e séries, de que podemos destacar: A Banqueira do Povo, Malucos do Riso, Pensão Estrela, Os Campeões, Filhos do Vento, Capitão Roby, Médico de Família, A Loja do Camilo, Super Pai, SOS Crianças, Jardins Proibidos, Anjo Selvagem, Coração Malandro, Ana e os Sete, Saber Amar, Inspector Max, Maré Alta, Baía das Mulheres e Quando os Lobos Uivam. José Raposo actor português, nasceu a 3 de Fevereiro de 1963. Possuidor de uma vasta carreira iniciouse no teatro infantil, em 1981. Fez teatro de revista onde podemos destacar: Ó Troilaré, Ó Troilará, Tem a Palavra a Revista ou O Estádio da Nação. No teatro musical, participou em Annie de Thomas Meehan. Integrou o elenco de várias telenovelas (Ballet Rose, Médico de Família, Pensão Estrela, O Posto, O Cacilheiro do Amor, Conta-me como foi, Resistirei) e de alguns telefilmes. Participou ainda em vários filmes como: Sapatos Pretos, Noite Escura, Filme da Treta, Corrupção, Call Girl. Marina Albuquerque actriz portuguesa, integrou o elenco de várias séries e novelas portuguesas, entre elas: Malucos do Riso, Ana e os Sete, Maré Alta, Morangos com Açúcar, Inspector Max, A minha família é uma animação, Médico de Família, Ballet Rose, entre outras. No teatro já interpretou várias peças. Podemos destacar: Confissões de mulheres dos 30, O Principezinho, Filodemo, ABC da Mulher e Shakers. Sylvie Dias actriz e modelo portuguesa, nasceu a 14 de Junho de 1979. Na área da moda venceu, em 1995, o Elite model Look, e depois disso fez vários desfiles: Fill moda, Moda Lisboa, Portugal Fashion, Máxima Novos talentos. Como actriz participou no elenco de algumas séries e novelas, tais como: O Bairro da fonte, A Senhora das Águas, Morangos com Açúcar, Maré Alta, Mistura Fina, Inspector Max, Ecoman. No cinema integrou o elenco de O Crime do Padre Amaro e Julgamento. Estreou-se em teatro em 2006 com a peça Acredita estou possuída. fotos de Nuno viegas 26 | ESTA JORNAL • 11 de Março de 2008 CULTURA Idosos do Cartaxo levam peça ao Centro Cultural marco santos Marco Santos Um grupo de 19 homens e mulheres, dos 57 aos 79 anos, apresentou, no início de Janeiro, a peça de teatro “Renascer”, no Centro Cultural do Cartaxo. O grupo, que não tinha qualquer experiência de palco, integra o clube de Teatro do programa “Viver mais, Viver melhor”, da Câmara Municipal. A este programa podem pertencer os munícipes do Cartaxo que tenham entre 50 e 80 anos. Os participantes têm à sua disposição sessões de ginástica, caminhadas, actividades aquáticas, pintura, teatro, culinária, artes decorativas, jardinagem, informática e bordados. O teatro foi introduzido no ano de 2007. A encenadora foi escolhida entre os colegas pela experiência prévia que tinha com o teatro. Fátima Xavier começou a fazer teatro aos oito anos e esteve ligada durante 30 ao Grupo de Teatro Amador Marcelino Mesquita, do Cartaxo. Tem 58 anos, é catequista, e tem experiência como encenadora de crianças e adolescentes. A escolha da peça a Espectáculo. “Correu tudo pelo melhor e os espectadores foram satisfeitos para casa”, garante a encenadora representar esteve também a cargo de Fátima, com a decisão final a ser tomada em grupo. “Nunca tinha trabalhado com adultos, mas tinha Torres Novas de encontrar uma peça que fosse fácil de decorar, daí termos recorrido às rimas. Ao mesmo tempo queria um texto que transmitisse uma mensagem e esta peça tem isso tudo” – afirma. O trabalho foi intenso, com ensaios todos os dias na semana que antece- deu o espectáculo, mas, de acordo com a encenadora, “correu tudo pelo melhor e os espectadores foram satisfeitos para casa”. As maiores dificuldades foram nas rotinas de palco, que só puderam ser experimentadas no dia anterior ao espectáculo, explica. Celeste Idália, reformada, com 75 anos, conta que o teatro, como as outras actividades em que participa, lhe ocupam o tempo criado pela reforma de auxiliar de acção educativa. Já para Evelina Gaspar, com 61 anos, o teatro foi sempre uma paixão que apenas tinha tido possibilidade de experimentar em pequenos eventos. A sexagenária participa no projecto camarário desde o seu início, há sete anos. Maria Eugénia é a mais idosa do grupo. Com 79 anos, inscreveuse no clube de teatro porque já tinha tido algumas experiências de teatro agradáveis no Inatel. Já Aureleana Campanacho afirma que, aos 61 anos, encontrou finalmente uma maneira de a fazer perder a timidez: subir para o palco. Jeanine Steuve é belga, mas vive no Cartaxo desde 1963, altura em que casou com um português. Ainda mantém o sotaque porque o francês é a língua que se fala lá em casa. A vontade de representar já a acompanhava há anos, mas nunca tinha tido a oportunidade de a pôr em prática. Esta era a oportunidade que esperava: “Quando soube desde clube, fui logo inscrever-me!” “Renascer” tem regresso assegurado aos palcos de Centro Cultural do Cartaxo, segundo a encenadora, mas ainda sem data marcada. tânia rosa A riqueza de um concelho Tânia Rosa Num cantinho, junto ao Mercado Municipal de Torres Novas, com vista e som das águas do rio Almonda, há uma loja cheia de cor, magia e diversidade: a Loja do Artesanato. Ocupando a loja nº 17 do edifício do mercado, este projecto resulta da vontade dos responsáveis pela autarquia. O objectivo é que as pessoas, que residem ou visitem o concelho, conheçam a magia das artes tradicionais. Para além da venda, a formação nestas áreas faz também parte do projecto. Segundo António Ferreira, responsável pela Loja do Artesanato, por parte do Turismo, a ideia inicial era disponibilizar peças realizadas à mão, pois é assim que entendem que deve ser o verdadeiro artesanato: trabalhar a matéria-prima desde a origem, até chegar ao produto final, como é o exemplo do trabalho dos oleiros. Actualmente estão inscritos cerca de 70 artesãos. Para se garantir padrões de qualidade, inovação e originalidade, os respectivos trabalhos têm de passar por uma comissão de avaliação. E as opções de escolha são variadas: barro, madeira, artes decorativas, vidro, bijutaria, pinturas, tecido, rendas, res- tauração de móveis, pinturas, arranjos florais secos, trapilho, e até trabalhos elaborados através da reciclagem de embalagens usadas, que se transformam, por exemplo, em malas. A Câmara Municipal cede o espaço da loja aos artesãos a título praticamente gratuito, visto que apenas cada um tem de pagar à câmara 12 euros por ano, que são essencialmente para as despesas básicas, como água e luz. Mas esta iniciativa passa também pela produção de peças originais e por descobrir onde está quem possa pôr em prática toda esta arte. António Ferreira descreve este projecto como sendo a divulgação e desenvolvimento de artesanato do concelho, o que conduz ao desenvolvimento rural de forma a valorizar-se a sua cultura. A responsável pela loja, Helena Rodrigues, também movida pelo gosto pelo artesanato, afirma que a gestão da mesma “tem de ser feita de forma independente”, seguindo-se regras transparentes, no sentido de se evitar que os próprios artesãos não se envolvam muito no atendimento ao público, de forma a não induzirem a compra das suas peças. É por isso que, de 2ª a 6ª feira, está na loja uma funcionária que não é artesã. Ao sábado o atendimento Regras. Cada artesão só pode ter na loja 15 peças de cada vez e os preços são estipulados pelos próprios autores é feito pelos artesãos, que se organizam segundo uma escala. Outra das regras é que cada artesão só pode ter na loja 15 peças em simultâneo, que são revezadas mais ou menos de três em três meses, se não se venderem, com o objectivo de se diversificar e de não cansar a própria imagem da loja. O preço de cada peça é estipulado pelo próprio autor. Cristina Teixeira, uma das artesãs desta loja, garante que o valor pedido não paga toda a dedicação e tempo que lhe depositam. Para além disso, considera que a localização da loja não é muito favorável à sua divulgação. Apesar de já participarem em feiras nacionais e internacionais, os artesãos de Torres Novas ainda têm dificuldade em vender as suas peças e em divulgálas. Cristina afirma que a loja “não tem muitos visitantes e que não se vende muito”, à excepção da época natalícia. A Câmara de Torres Novas continua a apostar no artesanato, tendo também em vista projectos relativos à formação, realizando cursos e indo às escolas para incentivar os mais novos para este mun- do. Os responsáveis pretendem que o artesanato se passe a direccionar no sentido das preocupações ambientais, como a reutilização do que a natureza fornece, aproveitando-a da melhor forma. Associados à Loja de Artesanato existem ainda outros projectos em vista. Um deles é a realização de parcerias com escolas que, por exemplo, leccionam cursos de vitrinismo, como a Escola Profissional de Torres Novas, proporcionando a oportunidade de os alunos praticarem a sua futura profissão. 11 de Março de 2008• ESTA JORNAL | 27 CRIATIVIDADE Beijos ao Rio Tejo A o longe, vejo-te, Lisboa. O cheiro penetrante do iodo invade os meus sentidos e o perturbante som do rio incomoda os meus pensamentos. Cidade de sete colinas, empilhada por tanta arquitectura que durante décadas a quis domar… em vão. Cidade à beira mar estendida, o Tejo percorre suas margens e enche o seu caudal de histórias. Cacilheiros traçam caminhos de espuma branca, trazendo consigo, quase por ritual, espampanantes e desajeitadas gaivotas que teimam em penetrar os seus gritinhos estridentes nos meus ouvidos, que nem loucas atrás dos peixes que foram volvidos pela força das turbinas. No céu recorto-te em mil pedaços, meu rio. O teu azul penetra no meu olhar, e os pequenos e discretos raios de sol obrigamme a cerrar os olhos, mas não penetra em todos os meus sentidos. Tenho as mãos húmidas da terra, e as unhas sujas do suco de clorofila desta relva selvagem, filha das chuvas de Inverno. Vagueio por meios pensamentos e distraio-me ao ver-te em mim. Tenho as mãos roxas do frio, o nariz gelado que mal consigo respirar, bafadas de ar quente saem da minha boca como se de pequeninas nuvens brancas se tratassem. Mais uma vez, aqui sentada na outra margem, de frente para a mais bela cidade que nos uniu, recordo-me de ti. Recordo-me das Primaveras, Verões, Outonos, e dos Invernos. Verão! Estação saborosa essa! Todos os Verões eram motivo de alegria. O cheiro doce e intenso das flores era electrizado pela nossa alegria. Tão electrizantes como os risos estridentes da Tia Zulmira! Lembras-te? Os seus risos eram contagiantes… e mal compreendidos pelo avô Gaspar que morria de vergonha, sempre que a tia se deixava levar pelo humor. Os seus olhos castanhos amêndoa, grandes e redondinhos como avelãs, quase escondidinhos pelas rugas de tantos sóis de lavoura, ganhavam expressão. Ecoavam quase como assustados, em jeito repreensivo, parecendo implorar que a tia parasse. Parecia um homem carrancudo e amargurado. Não fora sempre assim. A perda da avó Gertrudes fê-lo silencioso. Tal como os seus pensamentos. Era bom observador. De poucas falas. Mas quando falava, eram certo e ordem! As suas mãos mostravam bem o árduo trabalho do campo; vingado pelas artroses dos seus dedos que ganharam a curvatura da enxada. A mesa da casa do avô Gaspar e da avó Gertrudes tinha sempre lugar para mais um. Até para as bisbilhoteiras da aldeia. Passavam o dia a falar mal de toda a gente. Havia quem dissesse que até defronte ao espelho criticavam (uma boa forma de aliviar as tensões criadas pelos mexericos!). Era o jeito delas e assim ficaram. Os dias quentes de férias de Verão eram passados entre culturas de tomates, pimentos e morangos que a avó pedia para colher. As minhas saias andavam sempre sarapintadas de pequenas nódoas vermelhas. O cheiro doce das laranjas inundava as cestas de fruta. Davam um colorido fresco à cozinha bem velhinha. Todos os dias, acordava como que em hipnose, com o aroma intenso do café de cevada que fumegava das chávenas de esmalte e com o pão fresco no saco bordado de borboletas amarelas e verdes que o padeiro Sr. Firmino trazia ainda o sol espreguiçava. De lenço à cabeça, a avó dava-me um carinho e um beijo na testa, como que um ritual. O avô já havia ido há muito para o campo. Enquanto aguardava pelo seu regresso, ficava na horta. Um pequeno quintal, em que as culturas estavam alinhadas e minuciosamente cultivadas. De um lado batatas, do outro cenouras, de outro cebolas, tudo muito bem distribuído e dedicadamente tratado. Estreitos regos de água talhados por sacholas atravessavam toda a horta. Ao centro estava uma barraquinha de madeira, improvisada pelo pai, depois das chuvas do Inverno passado. Passava as minhas tardes acompanhada pelo burro Jeropiga, o galo Toni sempre de peito erguido e cores garridas, um verdadeiro conde de galinheiro, e o Saraiva um cão rafeiro. O Saraiva era o companheiro de passeios do avô, que preferia a minha Conto de Ana Marta Sénica companhia nas férias. O grande segredo eram os pedaços de queijo, embrulhados em guardanapo de pano que roubava da mesa do pequeno-almoço, bem escondidinho na minha mala de traçar ao ombro. Um truque, que o avô nunca descobriu, ou fingiu nunca saber. A horta não era muito longe da porta. Dali via-se a fachada da casa caiada. Tinha um branco tão intenso que magoava os olhos ao sol do meio-dia. Os seus rodapés eram amarelo vivo. Tão vivos como as giestas que colhia todas as tardes para decorar a jarra da mesinha do quintal. A sua cor era tão agreste que enaltecia o vermelho tijolo das bilhas de barro. As janelinhas estreitas feitas de madeira estavam secas e brotavam bolsas de resina; o avô dizia que era bom sinal. A madeira era de qualidade. Ali tudo era de qualidade! Até a sombra feita pelo limoeiro e macieira no quintal dos avós era de qualidade. Bem ao fim da tarde, quando o céu se assemelhava a uma tela preenchida de laranjas quentes, verdes campestres e azuis celestiais, o vento fazia-se sentir. Uma leve brisa torneava nossa pele, dando sinais de que o tempo iria arrefecer. O céu permanecia naquele encanto campesino digno de um quadro intemporal. Da rua ouvia-se o estalar da lenha na lareira, sinal de que se preparava o jantar. Couves, feijão e um pedaço de toucinho faziam as delícias de quem vivia na cidade devorando bifes, hambúrgueres e batatas fritas. Depois de jantar, ajudava a arrumar as loiças e outros tarecos e saía com o avô. De mão dada, levava-me até ao café. Ali o mundo era dos homens. Entre grandes cigarradas, baralhos de cartas e o tilintar das peças de dominó a miudagem juntavase na rua a brincar à apanhada e à pataca. “Um, dois, três, é agora a tua vez!” – gritavam bem alto. Eu corria bem rápido, mas nunca o suficiente para escapar aos rapazes mais velhos e velozes que eu. Perdi a conta ao número de vezes que ficava a apanhar. Perguntava-lhes até quanto tinha de contar. Respondiam: “ Conta todas as estrelas que vires no céu!”. Claro que ficava minutos, que mais pareciam horas à espera para os apanhar. Assim se passavam as semanas. Manhãs, tardes, noites eram como o jogo da apanhada… passavam a correr. Mas havia um dia que era muito especial, o último. O dia dos meus anos! Neste dia, em contraste com os outros, o sono era irrompido não pelo café, mas pela algazarra que se sentia no quintal. Barulhos se ouviam do outro lado da janela. Logo pela manhã, os meus pais, tios e primos vinham ver os meus avós, e claro, festejar os meus oito anos. “Parabéns, meu amor! Morria de saudades tuas!” – o meu pai abraçava-me com tanta força, como se quisesse recuperar em cinco minutos dois meses de distância. Traziam todos os anos o carro carregado de doces e embrulhos, a maioria deles nem faziam falta; outros, já nem idade tinha para brincar com eles. Enquanto os homens ficavam na sala a conversar, envoltos de nicotina e outros monóxidos, as mulheres ficavam a tratar da cozinha, eu e os meus primos íamos brincar com o Jeropiga, o Toni e o Saraiva. Passávamos assim toda a tarde. Perto do entardecer digno do quadro intemporal, gritos ao longe ouviam-se chamar os nossos nomes. Eram horas de jantar e de cortar o bolo. A mesa ganhava brilho e eu sentia-me em êxtase por ter a família reunida e feliz. Mas pela primeira vez senti que algo não estava bem. O jantar deu-se quase que em silêncio. O avô estava taciturno e mal elevava os olhos. A avó Gertrudes parecia inquieta e passou a janta a perguntar se alguém queria repetir. Em mim inundava a vontade de perguntar o que se passava, mas de certeza que me iriam mandar calar. No meio de tanto suspense, envolta no som dos talheres a bater nos pratos que mais soavam a uma orquestra desafinada e sem rumo, a tia Zulmira atreveu-se a contar uma boa piada, que fez estremecer pulmões e barrigas até aos mais carrancudos. Meus olhos vidraram com o bolo. Era simples, rectangular, minuciosamente decorado pelas oito velinhas cor-de-rosa e um “feliz aniversário” às costas dum pequeno burrinho que fazia lembrar o Jeropiga. Continuação no próximo número Terça-Feira, 11 de Março de 2008 DO OUTRO LADO DA HISTÓRIA Tiago Lopes O seu irmão D. João faleceria quatro dias depois. A subida ao trono solteiro, fez com que uma das primeiras preocupações da Casa Real fosse encontrar noiva para o jovem monarca. A honra caberia a D. Maria Pia de Sabóia, filha do Rei Vítor Manuel II, de Itália. Durante a procura, a Rainha Vitória da GrãBretanha fez pressão para que D. Luís acedesse a casar com D. Maria Teresa, Arquiduquesa da Áustria. Nos primeiros anos do seu reinado (1862-1863) D. Luís I escreveu ao seu amigo Óscar, Príncipe da Suécia, contando-lhe como definia o seu papel de monarca: “Não digo que um Rei deva ser volúvel, mas devemos compreender bem as conjunturas em benefício da felicidade do Estado”. Nos anos subsequentes manteria a correspondência regular com a Rainha Vitória. Em Outubro de 1863, numa carta enviada (em francês) à Rainha Vitória, o monarca defendia que: “Amo o meu povo como a uma família”. D. Luís I seria o primeiro e, até ao momento, único Rei a tornar o Palácio da Ajuda residência oficial do Rei, em detrimento do Palácio das Necessidades, onde o monarca nascera. Isto porque o povo, por culpa da morte dos dois infantes e do Rei D. Pedro V em 1861, suspeitava de envenenamento e conspirações. Para garantir que o Rei D. Luís ficaria em segurança, mudou-se a residência oficial do monarca. Mais, muito mais, há para dizer do reinado de D. Luís I, mas ficamo-nos por aqui. Conhecemos um pouco melhor o homem, que se tornaria Rei, sob o cognome de O Popular. Em 28 anos de governação, D. Luís veria formarem-se 17 governos. Um número pequeno, se pensarmos que em 16 anos de I República (1910-1826) se formariam perto de 50 governos. Dá que pensar! projectos, quer na área do jornalismo e do audiovisual, quer no campo da comunicação empresarial. Paralelamente, estão previstas apresentações de livros e um casting para pivots de noticiários televisivos. Nesta ocasião, a ESTA abre as suas portas ao público em geral para que, sem qualquer encargo, todos possam ver uma exposição de Previsões por Tiago Lopes Rá (Deus do Sol) 16 de Julho a 15 de Agosto Carta: Lua Excelente momento para iniciar uma nova relação amorosa. Dedique mais tempo aos seus amigos. Cuidado com os excessos, no que toca à sua alimentação! Olhe o físico! Neit (Deusa da Caça) 16 de Agosto a 15 de Setembro Carta: Progresso Este será um período positivo para investir na sua carreira. Acredite nas suas potencialidades e prove, a si e aos outros, que é capaz de fazer mais e melhor. Força! Maat (Deusa da Verdade) 16 de Setembro a 15 de Outubro Carta: Louco O começo de 2008 ficou aquém das expectativas dos nativos de Maat. Só que isso não é razão para desistir tão facilmente! Controle os seus nervos e as variações de humor… Osíris (Deus da Renovação) 16 de Outubro a 15 de Novembro Carta: Lavrador O trabalho que teve nos últimos dias irá, finalmente, surtir efeitos. Mime mais a sua cara-metade. Tente dar atenção aos seus familiares. Deixe de ser pessimista. Sorria. Hator (Deusa da Adivinhação) 16 de Novembro a 15 de Dezembro Carta: Condescendência Perdoar é divino, mas perdoar sem olhar é um erro. Não deixe impunes todos os que o/a fazem sofrer. Não exija do/a seu/sua companheiro/a o que também não pode dar! Anúbis (Guardião dos Mortos) 16 de Dezembro a 15 de Janeiro Carta: Pensamento ’07 Encontro de Comunicação A sétima edição do Encontro de Comunicação da ESTA decorre entre 11 e 13 de Março, assumindo como tema genérico a “Comunicação Espectáculo” e adoptando um formato inovador. Para além das sessões mais tradicionais neste tipo de eventos – como é o caso das conferências – o ’07 Encontro aposta na apresentação de J O R N A L ►► ► D. Luís, Rei dos Portugueses Antes de seguirmos com mais alguns caracteres sobre a vida e governação de D. Luís I, tenho que pedir desculpas aos caros leitores. Nestas coisas de darmos opinião, todos podemos errar e foi o que aconteceu. Não são seguramente trinta e seis monarcas, mas trinta e quatro. E donde veio a confusão? Na lista de reis, que serviu para efectuar a contagem, estavam o nome de dois putativos regentes: D. Leonor Telles e D. António, Prior do Crato. Feitos os esclarecimentos, avancemos. O ano de 1861 seria de má memória para o nosso Lipipi. Dos seis irmãos que estavam vivos, três morreriam nesse ano. D. Fernando, com 15 anos de idade, faleceria em Novembro; D. Pedro V, Rei de Portugal, com 24 anos de vida e quase 8 anos de reinado, morreria em Dezembro. O último mês de 1861 levaria ainda o infante D. João, com apenas 19 anos de vida. D. Luís I seria aclamado 32º Rei de Portugal, a 22 de Dezembro de 1861. esta Os nativos de Anúbis têm razões para estarem descontentes com 2007 e com o começo de 2008, mas isso não é razão para discutir com toda a gente. Tenha mais calma. Bastet (Deusa Gato) 16 de Janeiro a 15 de Fevereiro Carta: Roda da Fortuna fotografia (que está patente durante os três dias do Encontro) e para que possam assistir a uma sessão de vídeos, agendada para o final da tarde do dia 12 de Março. O momento alto em termos de criatividade será a II Gala Comic Awards, no dia 13 de Março à noite, também aberta à população (mediante aquisição de bilhete). Momento ímpar para começar novos negócios e para investir capitais. É verdade que este é um ano de risco, mas lá diz o famoso ditado: “Quem não arrisca…” Tauret (Deusa da Fertilidade) 15 de Fevereiro a 15 de Março Carta: Autoridade Impor uma vontade não é tarefa fácil especialmente para os nativos de Tauret, que detestam elevar a voz. Mas se não se impuser verá que vai ficar para trás. Não permita isso! Sekhmet (Deusa da Guerra) 16 de Março a 15 de Abril Carta: Comunhão A vida a dois faz-se de partilha de momentos positivos e negativos. Se está à procura de uma relação, só para ser feliz esqueça. Amar é saber rir e saber chorar! Conforme-se. Media Partners Ptah (Criador Universal) 16 de Abril a 15 de Maio Carta: Suma Sacerdotisa Os nativos de Ptah terão que provar, nas próximas semanas, o seu valor como criadores intelectuais. Não se menospreze perante os outros. Olhe que tem muito para dar… Acredite! Tot (Deus da Escrita) 16 de Maio a 15 de Junho Carta: Azar Os nativos de Tot mantêm a carta. Um claro sinal que as mudanças estão a surtir efeitos positivos. Ter um espírito aberto revelar-se-á um trunfo nas próximas semanas. Ísis (Deusa da Magia) 16 de Junho a 15 de Julho Carta: Rivalidade Ser bom tem destas coisas! Brigar e discutir não é aconselhável, mas, por vezes, é inevitável. Argua contra os que não acreditam que é capaz. Olhe em seu redor para encontrar o amor!