Edição em português de março e abril de 2010
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Edição em português de março e abril de 2010
Brazilian Journal of Physical Therapy ISSN 1413-3555 Rev Bras Fisioter, São Carlos, v. 14, n. 2, p. 91-181, mar./abr. 2010 © Revista Brasileira de Fisioterapia Associação Brasileira de Editores Científicos Journal affiliated with the A B E C ISSN 1413-3555 Rev. Bras. Fisioter., São Carlos, v. 14 n. 2 INFORMAÇÕES BÁSICAS A Revista Brasileira de Fisioterapia/ Brazilian Journal of Physical Therapy é o veículo da Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-Graduação em Fisioterapia (ABRAPG-Ft). Publicada a partir de 1996, a Revista adota o processo de revisão por especialistas (peer review), sendo que cada artigo somente é publicado apenas após a aceitação dos revisores, mantidos no anonimato. Os editores não assumem nenhuma responsabilidade por danos a pessoas ou propriedades que possam ser causados por uso das idéias, técnicas ou procedimentos contidos no material publicado nesta revista. A submissão de artigos pressupõe que estes artigos, com exceção dos resumos ampliados, não tenham sido publicados anteriormente, nem submetidos a qualquer outra publicação. O título abreviado da revista é Rev. Bras. Fisioter., forma que deve ser usada em bibliografias, notas de rodapé, referências e legendas bibliográficas. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida ou transmitida, por qualquer meio, seja eletrônico, mecânico ou fotocópia sem expressa autorização dos editores. MISSÃO: publicar artigos científicos relativos ao objeto básico de estudo e campo de atuação profissional da Fisioterapia, veiculando estudos básicos e aplicados sobre a prevenção e tratamento das disfunções de movimento. BASIC INFORMATION The Revista Brasileira de Fisioterapia/ Brazilian Journal of Physical Therapy is published by the Brazilian Association for Research and Graduate studies in Physical Therapy. Published since 1996, the Brazilian Journal of Physical Therapy adopts a peer review process. Each article is only published after it is accepted by the reviewers, who are maintained anonymous during the process. The editors accept no responsibility for damage to people or property, which may have been caused by the use of ideas, techniques or procedures described in the material published by this journal. The submission of articles presupposes that these articles, with the exception of extended summaries, have not been previously published elsewhere, nor submitted to any other publication. The abbreviated title of the journal is Rev. Bras. Fisioter., and this must be used in references, footnotes and bibliographic legends. No part of this publication can be reproduced or transmitted by any media, be it electronic, mechanical or photocopy, without the express authorization of the editors. MISSION: to publish scientific articles related to the areas of study and professional activity in Physical Therapy, specially basic and applied research on the prevention and treatment of movement disorders. Indexada nos seguintes bancos de dados/ Indexed in the following databases: MEDLINE (National Library of Medicine), CINAHL, CSA, EMcare, JCR (Journal Citation Reports), LILACS, LATINDEX, Periódica, SciELO, SciSearch (Science Citation Index Expanded), Scopus and SPORTDiscus Endereço para contato/ Contact adress: Revista Brasileira de Fisioterapia/ Brazilian Journal of Physical Therapy, UFSCar, Rod. Washington Luís, Km 235, Caixa Postal 676, CEP 13565-905, São Carlos, SP - Brasil Tel/Fax: +55(16) 3351-8755; E-mail: [email protected] Suporte Técnico - Administrativo/ Technical - Administrative Support: Ana Paula de Luca, Daiane Rossi and Leonor A. Saidel Aizza Produção Editorial/ Editorial Production: Zeppelini Editorial, Rua Dr. César, 530, Cj. 1308, Santana, São Paulo, SP Tel/Fax: (11) 2978-6686; www.zeppelini.com.br Printed in acid free paper Assinatura: consulte o site/Subscription: see web site www.rbf-bjpt.org.br Revista Brasileira de Fisioterapia (Brazilian Journal of Physical Therapy)/Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-Graduação em Fisioterapia. v. 1, n. 1 (1996). – São Carlos: 1996. v. 14, n. 2 (mar./abr. 2010). Bimestral Sumários em Inglês e Português ISSN 1413-3555 1. Fisioterapia/periódicos I. Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-Graduação em Fisioterapia. Revisão/Review Librarian: Dormélia Pereira Cazella CRB 8/4334 ii Sumário / Summary ISSN 1413-3555 Rev Bras Fisioter, São Carlos, v. 14, n. 2, p. 91-181, mar./abr. 2010 © Revista Brasileira de Fisioterapia EDITORIAL v Enfim, estamos no MEDLINE! At last, we are in the MEDLINE! Sérgio Teixeira Fonseca, Tania de Fátima Salvini ARTIGOS ORIGINAIS/ORIGINAL ARTICLES 91 Efeitos negativos da insuficiência renal crônica sobre a função pulmonar e a capacidade funcional Negative effects of chronic kidney failure on lung function and functional capacity Juliana L. Cury, Antonio F. Brunetto, Ricardo D. Aydos 99 Correlação entre classificação clínica CEAP e qualidade de vida na doença venosa crônica Relationship between quality of life and the CEAP clinical classification in chronic venous disease Regina M. F. Moura, Gabriela S. Gonçalves, Túlio P. Navarro, Raquel R. Britto, Rosangela C. Dias 106 Controle autonômico da frequência cardíaca de pacientes com doenças cardiorrespiratórias crônicas e indivíduos saudáveis em repouso e durante a manobra de acentuação da arritmia sinusal respiratória Autonomic control of heart rate in patients with chronic cardiorespiratory disease and in healthy participants at rest and during a respiratory sinus arrhythmia maneuver Michel S. Reis, Ana P. Deus, Rodrigo P. Simões, Isabela A. V. Aniceto, Aparecida M. Catai, Audrey Borghi-Silva 114 Análise histológica em tecido epitelial sadio de ratos Wistar (in vivo) irradiados com diferentes intensidades do ultrassom Histological analysis of healthy epithelium of Wistar rats in vivo irradiated with different intensities of therapeutic ultrasound Daiane M. De Bem, Carlos D. Maciel, José A. Zuanon, Carlos B. Neto, Nivaldo A. Parizotto 121 Validade concorrente da versão brasileira do SRS-22r com o Br-SF-36 Concurrent validity of the brazilian version of SRS-22r with Br-SF-36 Giselle C. L. Rosanova, Bruna S. Gabriel, Paula M. F. Camarini, Priscila E. S. Gianini, Daniel M. Coelho, Anamaria S. Oliveira. 127 Effect of continuous positive airway pressure on fluid absorption among patients with pleural effusion due to tuberculosis Efeito da pressão positiva nas vias aéreas sobre a absorção do derrame pleural em pacientes devido à tuberculose Juliana F. Oliveira, Fernanda C. Q. Mello, Rosana S. Rodrigues, Ana L. Boechat,Marcus B. Conde, Sara L. S. Menezes 133 Análise quantitativa do tratamento da escoliose idiopática com o método Klapp por meio da biofotogrametria computadorizada Quantitative photogrammetric analysis of the Klapp method for treating idiopathic scoliosis Denise H. Iunes, Maria B. B. Cecílio, Marina A. Dozza, Polyanna R. Almeida 141 Análise comportamental de recém-nascidos pré-termos incluídos em um programa de estimulação tátil-cinestésica durante a internação hospitalar Behavioral analysis of preterm neonates included in a tactile and kinesthetic stimulation program during hospitalization Andréia M. Ferreira, Niélsy H. P. Bergamasco 149 Fatores associados ao retorno ao trabalho após um trauma de mão: uma abordagem qualiquantitativa Factors associated with return to work following a hand injury: a qualitative/quantitative approach Lúcia H. A. Cabral, Rosana F. Sampaio, Iêda M. Figueiredo, Marisa C. Mancini 158 Análise eletromiográfica da pré-ativação muscular induzida por exercício monoarticular Electromyographic analyses of muscle pre-activation induced by single joint exercise Valdinar A. R. Júnior, Martim Bottaro, Maria C. C. Pereira, Marcelino M. Andrade, Paulo R. W. P. Júnior, Jake C. Carmo 166 Versão brasileira da Avaliação Sensorial de Nottingham: validade, concordância e confiabilidade Brazilian version of the Nottingham Sensory Assessment: validity, agreement and reliability Daniela H. F. Lima, Ana P. Queiroz, Geovana De Salvo, Simone M. Yoneyama, Telma D. Oberg, Núbia M. F. V. Lima iii 175 Concordância e confiabilidade de dois métodos não-invasivos para a avaliação da amplitude de movimento cervical em adultos jovens Agreement and reliability of two non-invasive methods for assessing cervical range of motion among young adults Lidiane L. Florêncio, Patrícia A. Pereira, Elaine R. T. Silva, Kátia S. Pegoretti, Maria C. Gonçalves, Débora Bevilaqua-Grossi ÍNDICE/INDEX INSTRUÇÕES GERAIS AOS AUTORES/GENERAL INSTRUCTIONS TO AUTHORS iv ISSN 1413-3555 EDITORIAL Rev Bras Fisioter, São Carlos, v. 14, n. 2, p. v-vi, mar./abr. 2010 © Revista Brasileira de Fisioterapia Enfim, estamos no MEDLINE! At last, we are in the MEDLINE! A Revista Brasileira de Fisioterapia (RBF), publicada pela Associação Brasileira de Pós-Graduação e Pesquisa em Fisioterapia (ABRAPG-FT), agrega, em diversas funções, docentes de universidades brasileiras envolvidos na Pós-Graduação em Fisioterapia e Ciências da Reabilitação. Historicamente, a RBF veio, por meio da ação de diversos docentes do curso de Fisioterapia da Universidade Federal de São Carlos, preencher uma grande lacuna existente em 1996 devido à ausência de revistas científicas de edição e circulação nacional na área de Fisioterapia. Os procedimentos criteriosos adotados para a publicação de artigos científicos, desde a sua primeira edição, garantiram-lhe reconhecimento nacional pela comunidade científica. Com o crescimento da Pós-Graduação nas áreas de Fisioterapia e Ciências da Reabilitação e com o apoio de diversas instituições de ensino brasileiras, ocorreu um aumento significativo da qualidade da revista, assim como dos artigos publicados. Esse processo resultou na aprovação da indexação da Revista Brasileira de Fisioterapia pela Base SciELO (02/06/2006), a qual atualmente processa os dados e artigos da RBF em sua base . A indexação na SciELO em 2006, sob a liderança da Professora Helenice Jane Cote Gil Coury, foi um dos marcos importantes da sua história . Em 2007, fomos informados que a Elsevier Bibliographic Databases havia selecionado a RBF para ser incluída nas bases Scopus e EMCare a partir de 2008 e, ainda no final de 2007, recebemos a notícia da inclusão da RBF nas bases Science Citation Expanded (Web of Science) e Journal Citation Reports/Science Edition (ISI da Thomson Scientific). Por meio dessas inclusões, a RBF tornou-se o primeiro periódico da área na América Latina a atingir esse nível de indexação. Devido à sua posição estratégica para o desenvolvimento dos cursos de Pós- Graduação da área no Brasil, a RBF tem recebido apoio integral dos pesquisadores que compõem seu corpo editorial e de diversas instituições de ensino, tais como a Universidade Federal de Minas Gerais, a Universidade Federal de São Carlos, a Universidade de São Paulo e a Universidade Nove de Julho. Além disso, a RBF tem sido apoiada financeiramente por diversas agências estaduais e federais de fomento, tais como CNPq, CAPES, FAPESP e FAPEMIG. Esses apoios têm sido complementados com verbas de assinatura e pelo financiamento dado pelo Conselho Regional de Fisioterapia da terceira região (CREFITO-3). Graças a isso, tem sido possível promover um crescimento expressivo na qualidade da RBF. Como resultado do esforço individual de editores, membros do corpo editorial, revisores e autores e dos apoios institucionais recebidos, o número e a qualidade dos artigos enviados à RBF têm crescido enormemente nos últimos anos. O aumento do número de manuscritos submetidos à RBF e da qualidade dos artigos publicados vem v Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):v-vi. contribuindo para que ela seja cada vez mais reconhecida internacionalmente. No sentido de concretizar essa projeção internacional, os editores da revista submeteram-na, em março de 2009, à indexação na base de dados MEDLINE/PubMed. Essa foi a nossa terceira submissão iniciada em 2004. Há exatamente um ano após o envio de nossa última solicitação, estamos hoje honrados em informar a toda comunidade que vem nos apoiando que o Literature Selection Technical Review Committee da National Library of Medicine, formado por autoridades internacionais na área de Biomedicina, selecionou a Revista Brasileira de Fisioterapia (Brazilian Journal of Physical Therapy) para ser indexada e incluída na base de dados MEDLINE. Assim, todos os artigos publicados pela RBF, a partir de 2010, poderão ser encontrados em buscas realizadas na base PubMed. Esse passo, essencial para a internacionalização e aumento da citação da RBF, coloca a nossa revista entre as mais importantes da área no mundo. Essa conquista não poderia ser obtida sem o envolvimento de todos aqueles que dedicaram seu tempo à revista. Dessa forma, dedicamos essa vitória à equipe da secretaria da RBF, aos autores, aos editores que nos antecederam, aos editores de área e corpo editorial, aos revisores, bem como ao CREFITO-3, às instituições de ensino e agências de fomento que acreditaram que é possível fazer uma revista de nível internacional no Brasil. Parabéns a toda área, pois essa é uma conquista para ser celebrada. Sérgio Teixeira Fonseca Tania de Fátima Salvini vi Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):v-vi. ISSN 1413-3555 ARTIGO ORIGINAL Rev Bras Fisioter, São Carlos, v. 14, n. 2, p. 91-8, mar./abr. 2010 © Revista Brasileira de Fisioterapia Efeitos negativos da insuficiência renal crônica sobre a função pulmonar e a capacidade funcional Negative effects of chronic kidney failure on lung function and functional capacity Juliana L. Cury1, Antonio F. Brunetto2†, Ricardo D. Aydos3 Resumo Objetivo: Avaliar a função pulmonar e a capacidade funcional em pacientes com insuficiência renal crônica (IRC) em hemodiálise e em pacientes após transplante renal. Métodos: Foram avaliados 72 indivíduos, sendo 32 pacientes com IRC em hemodiálise (GD) há mais de 6 meses, 10 pacientes transplantados renais (GT) há, pelo menos, 6 meses e 30 sujeitos saudáveis para grupo controle (GC). Todos os grupos foram avaliados utilizando espirometria, pressões inspiratória (PImax) e expiratória (PEmax) máximas e teste da caminhada em seis minutos (TC6min). Para análise estatística, foi utilizado o programa SPSS 12.0, com nível mínimo de significância <0,05. Resultados: Foram encontrados resultados estatisticamente significativos (p<0,01) para: diminuição da função pulmonar no GD para Capacidade vital forçada (CVF), Volume expirado forçado (VEF1), Ventilação voluntária máxima (VVM), Capacidade vital (CV), PImax, PEmax e, para o GT, diminuição do VEF1 e VVM, quando comparados ao GC (ANOVA uma via/post hoc Fischer); associação (qui-quadrado) entre diminuição da PImax e pertencer ao GD (=ג0,5, p<0,001); menor desempenho no TC6min no GD e GT (p<0,01) quando comparados ao GC (ANOVA uma via/post hoc Fischer). Encontrou-se correlação significativa (coeficiente de Pearson) entre PImax e PEmax (r=0,752, P<0,01). Conclusões: Pode-se concluir que existem alterações na capacidade funcional e na função pulmonar do paciente com IRC em hemodiálise, as quais são indicativas de prejuízos funcionais que não se apresentam completamente revertidos no paciente transplantado renal. Palavras-chave: hemodiálise; transplante renal; espirometria; músculos respiratórios; capacidade funcional. Abstract Objective: To evaluate lung function and functional capacity in patients with chronic kidney failure (CKF) undergoing dialysis and in patients after kidney transplant. Methods: Seventy-two participants were evaluated: 32 patients with CKF on dialysis (DG) for at least six months, ten patients who had kidney transplants (TG) at least six months earlier, and 30 healthy subjects as a control group (CG). All groups were evaluated using spirometry, with maximum inspiratory pressure (MIP) and maximum expiratory pressure (MEP), and using the six-minute walking test (6MWT). The SPSS 12.0 software was used for statistical analysis, with a minimum significance level of <0.05. Results: There was a decreased lung function in the DG for FVC, FEV1, MVV, VC, MIP and MEP, and decreased FEV1 and MVV in the TG compared to the CG (one-way ANOVA/Fisher’s post-hoc; p<0.01). There was also an association (chi-square) between decreased MIP and belonging to the DG (=ג0.5, p<0.001), between lower performance in the 6MWT for the DG and TG (p<0.01) compared to the CG (one-way ANOVA/Fisher’s post-hoc), and between MIP and MEP (Pearson’s coefficient; r=0.752; p<0.01). Conclusions: Patients with CKF undergoing dialysis showed impaired functional capacity and lung function that were not completely reverted in the kidney transplant patients. Key words: dialysis; kidney transplant; spirometry; respiratory muscles; functional capacity. Recebido: 13/03/08 – Revisado: 31/03/09 – Aceito: 18/08/09 1 Departamento de Fisioterapia, Centro Universitário da Grande Dourados (UNIGRAN), Dourados (MS), Brasil 2 Departamento de Fisioterapia, Universidade Estadual de Londrina (UEL), Londrina ( PR), Brasil 3 Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), Campo Grande (MS), Brasil † In Memorian Correspondência para: Juliana Loprete Cury, Rua Antônio de Carvalho, 2.535, COHAFABA 3º Plano, CEP 79826-250, Dourados (MS), Brasil, email: [email protected] 91 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):91-8. Juliana L. Cury, Antonio F. Brunetto†, Ricardo D. Aydos Introdução A insuficiência renal crônica (IRC) é uma condição patológica irreversível caracterizada pela perda da capacidade de manutenção da homeostase pelos rins. Os rins regulam funções vitais do organismo como equilíbrio hídrico, ácido-básico e eletrolítico, participando de funções hormonais e regulação da pressão arterial. O paciente com IRC necessita de terapia dialítica, como hemodiálise e diálise peritoneal para sobrevivência, pois elas substituem parcialmente a função dos rins comprometidos, enquanto o paciente aguarda uma solução definitiva mediante transplante renal, se possível1. O número de pacientes portadores de IRC vem crescendo nos últimos anos. Em 1994, o Brasil tinha 24.000 pacientes mantidos em programa dialítico2 . Em 2004, dados mundiais mostram os Estados Unidos, o Japão e o Brasil como os três primeiros em número de pacientes com IRC; sendo que o Brasil apresentava mais de 58.000 casos. Em termos mundiais, espera-se um salto de 1.371.000 pacientes em diálise em 2004 para mais de 2.000.0000 de pacientes em 2010, evidenciando um aumento na prevalência dessa doença2,3. O paciente com IRC em diálise pode desenvolver disfunções em vários sistemas, como muscular, ósseo, cardiovascular, metabólico e respiratório. O sistema muscular é gravemente afetado, e existem diversos fatores causais inter-relacionados no desenvolvimento dos problemas musculares nos pacientes com IRC. Dentre eles, destacam-se a diminuição da ingestão protéico-calórica, atrofia muscular por desuso e desbalanço protéico muscular, que afetam principalmente as fibras musculares tipo II; redução do leito vascular e capilar; presença de calcificação intravascular e diminuição do fluxo sanguíneo local. Esses resultados fazem parte da patogenia da miopatia urêmica e são comumente descritos na literatura para músculos esqueléticos como deltoide, quadríceps e abdominais4-9. Os músculos responsáveis pelo ato respiratório, como diafragma, intercostais, entre outros, são classificados como músculos esqueléticos e podem apresentar diminuição das propriedades de força e endurance muscular decorrente da miopatia urêmica. Alguns autores10 estudaram o comprometimento da uremia no músculo diafragma e concluíram que existe perda da força com a uremia severa. O déficit ventilatório decorrente desse comprometimento na musculatura respiratória, associado a outros comprometimentos teciduais pulmonares, compromete a função desse sistema, contribuindo para a diminuição da capacidade pulmonar11,12. São encontradas outras complicações do tecido pulmonar nos pacientes com IRC, tais como: edema pulmonar, derrame pleural (principalmente no paciente terminal com IRC), fibrose e calcificação pulmonar e pleural, hipertensão pulmonar, diminuição do fluxo sanguíneo capilar pulmonar e hipoxemia13,14. Existem 92 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):91-8. ainda déficits no fornecimento de O2 para os músculos em consequência da diminuição da microcirculação periférica, diminuição da síntese de ATP muscular por deficiências na utilização de carboidratos, indícios de resistência à insulina e alterações das enzimas glicolíticas e redução da oxidação dos ácidos graxos15-17. Algumas alterações encontradas no paciente com IRC em diálise também são observadas em pacientes transplantados, mesmo depois de restabelecida a função renal. Essas alterações podem ser atribuídas, em parte, à terapia imunossupressora que comumente utiliza corticosteroides, sendo tal medicamento associado com diminuição da síntese e aumento do catabolismo protéico, podendo dificultar o retorno completo das funções do paciente transplantado renal18-20. Com base no exposto, as modificações encontradas nos sistemas muscular, metabólico, circulatório e pulmonar podem estar envolvidas de forma direta na diminuição da função pulmonar e na capacidade funcional do paciente com IRC e aparentam não estar totalmente revertidas após o transplante renal. Não se sabe ao certo qual o fator que mais agride a capacidade funcional desses pacientes. Destaca-se, como hipóteses deste estudo, que as complicações musculares da IRC afetam de forma significativa a musculatura respiratória, prejudicando a função pulmonar e a capacidade funcional dos pacientes em hemodiálise e que as alterações pulmonares e de capacidade funcional estão presentes nos pacientes mesmo após o transplante renal. Os métodos de avaliação da função pulmonar por meio de espirometria e pressões respiratórias máximas e da capacidade funcional por meio de teste da caminhada em seis minutos (TC6min) possibilitam uma análise precisa e de fácil uso clínico dos componentes parenquimatosos, de via aérea, de bomba muscular respiratória e desempenho funcional circulatório e metabólico desses pacientes. O objetivo deste estudo foi avaliar a função pulmonar e a capacidade funcional do paciente com IRC em hemodiálise e em transplantados renais. Materiais e métodos Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CEP/UNIGRAN) do Centro Universitário da Grande Dourados, sob parecer número 010/2006. Foi realizado um estudo observacional transversal no período de julho a novembro de 2006, no qual foram analisados todos os 72 indivíduos, entre 24 e 71 anos, que realizavam hemodiálise e os que constavam da lista de transplantados renais de uma cidade do interior do Mato Grosso do Sul (MS). Todos os avaliados participaram voluntariamente do estudo e assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, elaborado de acordo com a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde/Ministério da Saúde. Efeitos negativos da IRC na função pulmonar e na capacidade de exercício Não foram incluídos 28 sujeitos que apresentaram histórico de tabagismo ou ex-tabagistas há menos de 5 anos, hipertensão descontrolada, doença cardíaca isquêmica recente (3 meses ou menos), angina instável, arritmias cardíacas graves, doenças ortopédicas limitantes da atividade física, doenças respiratórias e neurológicas. Os indivíduos foram divididos em 3 grupos: grupo diálise (GD), grupo transplante (GT) e grupo controle (GC). Para o GD, foram incluídos todos os 32 pacientes com IRC (27 homens e 5 mulheres) que realizavam hemodiálise regularmente há pelo menos 6 meses, estáveis clinicamente, sem anemia e sob acompanhamento médico. Esse grupo apresentou dois sujeitos ex-tabagistas há mais de 10 anos. O GT foi composto por 10 indivíduos (9 homens e 1 mulher) que haviam se submetido ao transplante renal há pelo menos 6 meses, estáveis sob ponto de vista clínico e cirúrgico e também sob acompanhamento clínico regular. Para compor o GC, foram avaliados 30 indivíduos saudáveis escolhidos por conveniência, da mesma faixa etária e gênero dos outros dois grupos e obedecendo aos mesmos critérios de não inclusão. Todos os indivíduos realizaram avaliação funcional para os seguintes parâmetros: função pulmonar (espirometria e força muscular respiratória) e capacidade funcional. Todos os testes foram realizados por avaliador devidamente treinado. Para o GD, as avaliações foram realizadas no segundo e no terceiro dia de hemodiálise na semana (quarta e sexta ou quinta e sábado)21. A avaliação da função pulmonar foi realizada utilizando-se a espirometria, que seguiu os critérios estabelecidos pela American Thoracic Society22, com valores de referência descritos por Knudson et al.23. A interpretação dos testes seguiu as orientações das diretrizes para testes de função pulmonar publicadas pela Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia24. Para teste, foi utilizado o espirômetro (Cosmed/PonyMicroQuark/Pavona di Albano/Rome/Italy), sendo obtidos os seguintes parâmetros: capacidade vital forçada (CVF), volume expirado forçado no primeiro segundo (VEF1), índice de Tüffenau (VEF1/CVF%), fluxo expiratório forçado 25%-75% (FEF25%-75%), pico de fluxo expiratório (PEF), ventilação voluntária máxima (VVM) realizada de maneira direta, capacidade vital (CV), volume corrente (VC) e volume minuto (VM). Foram consideradas apenas as provas reprodutíveis com variação inferior a 5%, e foi selecionado o maior valor para estudo. A força muscular respiratória foi avaliada por meio do teste de pressões respiratórias máximas, seguindo protocolo de Black e Hyatt25. Foram avaliadas as PImax e PEmax dos sujeitos, utilizando um manovacuômetro analógico (Comercial Médica/ M120/São Paulo/SP/Brasil). As mensurações foram realizadas por 3 vezes ou até que o valor se tornasse reprodutível, e foi considerado para estudo o maior valor obtido. Os valores de referência para população normal seguiram os descritos por Neder et al.26 para a população brasileira. Os valores de PImax foram classificados de acordo com o valor de risco para complicações pós-operatórias, proposto por Bellinetti e Thomson27, como menor ou igual a 75% do previsto e maior que 75% do previsto. Para avaliação da capacidade funcional, foi realizado o TC6min, validado por Guyatt et al.28 para pacientes com insuficiência cardíaca com valores de referência descritos por Troosters, Gosselink e Decramer. O teste foi realizado em um corredor de 30 metros, amplo e ventilado, sendo que os pacientes foram incentivados com frases padronizadas a cada minuto. Juntamente com o teste, foram realizadas as mensurações dos sinais vitais para acompanhamento do desempenho do paciente: frequência cardíaca (FC), pressão arterial sistólica (PAS) e diastólica (PAD), frequência respiratória (FR) e o valor da dispneia referida pelo indivíduo por meio da visualização da escala de Borg no início (i) e no final ( f) do teste30. Os resultados estão demonstrados em média (desvio-padrão) com nível de significância <0,05. Para comparação dos grupos nos parâmetros com distribuição normal, utilizou-se ANOVA de uma via com teste post hoc LSD de Fischer (Least Significant Difference). Para os parâmetros que apresentaram distribuição não normal, utilizou-se teste de Kruskall-Wallis com post hoc Mann-Whitney (utilizado apenas no parâmetro peso). Para correlação, utilizou-se o coeficiente de correlação de Pearson, pois as variáveis correlacionadas apresentaram distribuição normal. Utilizou-se teste do qui-quadrado para associação de grupos e variáveis. Para análise estatística, utilizou-se o programa SPSS 12.0. Resultados Pode-se observar na Tabela 1 que os grupos são homogêneos, apresentando diferença apenas quanto ao parâmetro peso, no qual o GD apresentou-se inferior aos demais grupos. Observa-se, nos resultados obtidos na espirometria (Tabela 2), que existem diferenças entre os grupos para os parâmetros avaliados. O GD apresentou menores valores para CVF, VEF1, VVM, PImax, e PEmax, e o GT, menores valores pra VEF1 e VVM, quando comparados com GC. É interessante Tabela 1. Características dos sujeitos. Idade (anos) Peso (Kg) Altura (m) IMC (Kg/m2) Diálise Transplante Controle (n=32) (n=10) (n=30) 43,91 (2,32) 50,4 (2,79) 48,4 (2,6) 65,93 (2,2) 75,27 (5,18) 71,78 (2,23) 1,67 (0,01) 1,71 (0,02) 1,67 (0,01) 23,67 (0,69) 25,87 (1,61) 25,68 (0,78) p-valor 0,26 0,05* 0,4 0,15 * Kruskal-Wallis p<0,05 entre os grupos: X2=6,215, gl=2, p=0,045. GC>GD (p=0,031 Mann-Whitney). 93 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):91-8. Juliana L. Cury, Antonio F. Brunetto†, Ricardo D. Aydos Tabela 2. Resultados da função pulmonar nos três grupos. Diálise Transplante Controle p-valor (n=32) (n=10) (n=30) CVF (%prev) 91,17 (2,88) 94,81 (4,33) 104,33 (2,17) <0,01 * VEF1(%prev) 91,13 (3,17) 97,98 (4,54) 110,03 (2,69) <0,01 * VEF1/CVF% (%prev) 100,06 (1,65) 101,57 (2,34) 104,43 (2,2) 0,26 FEF25-75% (%prev) 95,43 (5,5) 104, 19 (7,02) 109,86 (6,23) 0,2 PEF (L/s) 7,47 (0,32) 8,25 (0,44) 6,69 (0,44) 0,09 VVM (%prev) 82,05 (3,52) 93,17 (5,46) 118,37 (4,39) <0,01 * PImax (cm H2O) 67,19 (4,1) 87,0 (5,1) 94,13 (3,5) <0,01 * PEmax (cm H2O) 76,25 (5,06) 89,2 (6,1) 107,6 (4,59) <0,01 * * ANOVA p<0,01 entre os grupos - post hoc LSD de Fischer (Least Significant Difference); CVF (F2,69=6,777, p=0,002 – LSD GC>GD p=0,001); VEF1: (F2,69=10,592, p<0,001 – LSD GC>GD p<0,001, GC>GT p=0,046); VVM: (F2,69= 22,613, p<0,001 - LSD GC>GD p<0,001, GC>GT p=0,002); PImax (cm H2O): (F2,69=13,527, p<0,001 - LSD GT>GD p=0,010, GC>GD p<0,001); PEmax (cm H2O): (F2,69=11,182, p<0,001 - LSD GC>GD p<0,001). Tabela 3. Resultados do teste de caminhada em 6 minutos. TC6min (m) FCi (bpm) FCf (bpm) FRi (cpm) FRf (cpm) PASi (mm Hg) PASf (mm Hg) PADi (mm Hg) PADf (mm Hg) Borgi Borgf Diálise (n=32) 434,69 (13,25) 81,88 (2,21) 99,0 (3,67) 18,44 (0,49) 22,5 (0,71) 144,38 (3,2) 152,66 (4,15) 92,81 (2,74) 92,5 (2,91) 1,06 (0,04) 1,88 (0,26) Transplante Controle p-valor (n=10) (n=30) 456,9 (18,06) 502,53 (8,01) <0,01** 76,9 (4,54) 74,77 (2,25) 0,09 88,9 (5,1) 95,1 (2,24) 0,25 17,30 (0,79) 16,4 (0,59) 0,03* 24,1 (0,82) 21,43 (0,73) 0,16 132,5 (5,54) 116,5 (2,29) <0,01** 145,0 (5,22) 131,83 (2,94) <0,01** 84,5 (2,83) 75,0 (1,9) <0,01** 82,0 (3,27) 77,5 (1,71) <0,01** 1,1 (0,1) 1,0 (0,0) 0,3 2,2 (0,36) 1,33 (0,15) 0,09 *ANOVA p<0,05, **ANOVA p<0,01 entre os grupos - post hoc LSD de Fischer (Least Significant Difference); TCP6min: (F2,69=9,612, p<0,001 - LSD GC>GD p<0,001, GC>GT p=0,045); FCi: (2,492, p=0,09); FCf: (1,402, p=0,253); FRi: (F2,69=3,738, p=0,029 - LSD GD>GC p=0,008); FRf: (1,892, p=0,158); PASi: (F2,69=23,753, p<0,001 - LSD GD>GT p=0,043, GD>GC p<0,001); PASf: (F2,69=8,620, p<0,001 - LSD GD>GC p<0,001); PADi: (F2,69=14,976, p<0,001 - LSD GD>GC p<0,001, GT>GC p=0,046); PADf: (F2,69=10,365, p<0,001 - LSD GD>GT p=0,031, GD>GC p<0,001); Borgi: (1,243, p=0,295); Borgf: (2,546, p=0,086). notar que os parâmetros CVF e VVM apresentaram valores dentro da normalidade (média>80% previsto) nos três grupos. Quando se classificou a espirometria dos sujeitos dos três grupos em função ventilatória normal e distúrbios obstrutivos, restritivos e mistos, observou-se apenas um caso de distúrbio misto no GD (ex-tabagista há 11 anos), sete casos de distúrbio restritivo no GD e um caso de distúrbio restritivo no GT. Os demais indivíduos apresentavam função ventilatória normal. Na avaliação da força muscular respiratória (Tabela 2, Figuras 1 e 2), observaram-se menores valores para a PImax e PEmax no grupo GD quando comparado com o GC. O GD também apresentou menor valor para PImax quando comparado com o GT., porém esse grupo apresentou tendência de a PImax ser menor que a do GC. A PEmax apresentou menor valor apenas para o GD, quando comparado com o GC, porém com uma tendência para o GT também ser menor em relação ao GC. A classificação da força muscular inspiratória em relação à porcentagem do previsto mostrou que 78,1% dos sujeitos do GD, 50% dos sujeitos do GT e 20% dos sujeitos do GC apresentaram valores iguais ou menores que 75% do previsto. Esse resultado apresenta significância estatística no teste do qui-quadrado (X2=20,93, gl=2, p<0,001) e força de associação de 50% (=ג0,5, p<0,001), quando se analisa a PImax como variável dependente, estando, portanto, os indivíduos do GD com maiores chances de apresentarem força muscular inspiratória menor que a população em geral. A capacidade funcional foi menor tanto para o GD quanto para o GT, quando comparados com o GC (Tabela 3). Quando analisados os valores da distância total percorrida em cada grupo, observou-se que, no GD, apenas 3, 15,63% caminharam mais que 500 metros, comparados com 56,67% do GC que caminharam mais que 500 metros (valor esperado como mínimo para a normalidade nos autores que citam esse teste)31. Tais resultados não foram significativos para associação no * 150 * 180 PEmax (% previsto) PImax (% previsto) 150 100 50 120 90 60 30 † 0 GD 0 GT GC *GC>GD (p<0,001) e † GT>GD (p=0,008). Figura 1. Variação da PImax (%previsto) entre os 3 grupos. 94 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):91-8. GD GT GC *GC>GD (p<0,001). Figura 2. Variação da PEmax (%previsto) entre os 3 grupos. Efeitos negativos da IRC na função pulmonar e na capacidade de exercício teste qui-quadrado, mas pôde-se observar uma tendência de os indivíduos com IRC caminharem menos que o esperado para a população geral. Isso pode ser melhor evidenciado quando o resultado do TC6min foi comparado com os valores de referência30. Encontrou-se diferença significativa entre os grupos no teste ANOVA (p<0,0001), sendo as diferenças entre GC>GD (LSD p<0,001) e GC>GT (LSD p<0,05), sendo a média do TC6min no GD de 56,9% do previsto; no GT, de 62,3% do previsto e, no CG, de 70,2% do previsto. Observou-se correlação positiva entre CVF e Pimax (r=0,310; p<0,05), CVF e PEmax (r=0,332;p<0,05), VVM e Pimax (r=0,463; p<0,001), VVM e PEmax (r=0,430; p<0,001), PImax e PEmax (r=0,752 com p<0,001) (Figura 3). Houve correlação entre a CVF e o TC6min (r=0,355, p=0,046) e entre a CVF e a VVM (r=0,469, p=0,007) apenas no GD. Discussão Neste estudo, pode-se observar que o GD apresentou piores resultados para função pulmonar (CVF, VEF1, VVM, PImax e PEmax) e capacidade funcional (TC6min), quando comparado com GC. Destaca-se que o pior resultado encontrado para o GD foi a significativa diminuição da força muscular inspiratória e sua correlação com a perda proporcional da força muscular expiratória. O GT também apresentou resultados inferiores para função pulmonar (VVM e PImax) e capacidade funcional (TC6min), quando comparado com o GC. Chamam a atenção os resultados de correlação positiva entre força muscular respiratória (PImax e PEmax) e os parâmetros volumétricos (CVF) e de funcionamento global do sistema respiratório (VVM) nos grupos estudados, sugerindo que o parâmetro força muscular é o componente principal e que mais influenciou no prejuízo da função pulmonar dos pacientes em hemodiálise e transplantados renais. Os mecanismos propostos para explicar os piores resultados do componente volumétrico, definido pela diminuição da CVF e índice VEF1/CVF% dentro da normalidade24, com tendência de os sujeitos apresentarem distúrbios restritivos, encontrados neste estudo não estão totalmente esclarecidos na literatura, mas os autores propõem como principais distúrbios associados a esses resultados: edema pulmonar crônico e, muitas vezes, subclínico, diminuição da albumina sérica com consequente desequilíbrio hídrico e protéico na microcirculação, fibrose intersticial e calcificações do parênquima pulmonar e árvore brônquica, infecções de repetição, alveolite e fibrose por corticoterapia nos pacientes em imunossupressão em uso desse medicamento. Estudos que avaliam a função pulmonar de pacientes com IRC em diálise e após transplante renal descrevem resultados similares aos encontrados neste estudo e auxiliam a explicar os mecanismos de lesão14,31-33. = GD; = GT; Δ = GC Figura 3. Correlação entre PImax e PEmax (r=0,752; p<0,01). Um dos primeiros estudos a demonstrar o comportamento da função pulmonar no paciente com IRC em várias fases de evolução da doença foi realizado por Bush e Gabriel34. Esses autores estudaram 80 pacientes, sendo 20 pacientes com IRC sob tratamento clínico apenas (pré-diálise), 20 pacientes em diálise peritoneal ambulatorial contínua (DPAC), 20 pacientes em hemodiálise e 20 pacientes transplantados renais. Avaliaram os parâmetros CVF, VEF1, VEF1/CVF%, PEF, CPT (capacidade pulmonar total) e VR (volume residual) como parâmetros espirometicos e difusão de CO (monóxido de carbono). Encontraram valores dentro da normalidade para o grupo pré-diálise; pequena redução nos parâmetros espirometricos e grande redução na difusão de CO nos pacientes em DPAC; pequena redução nos parâmetros espirometricos, mas com aumento do VR, no grupo hemodiálise e valores espirométricos dentro da normalidade para o grupo pós-transplante, porém com diminuição da CPT, difusão de CO e o menor valor do VR. Não encontraram correlação entre os parâmetros da função pulmonar com os exames bioquímicos, duração e severidade da IRC. Outro componente que está diminuído no GD e no GT, na avaliação espirométrica, é a VVM. Os 3 grupos encontram-se dentro do limite de normalidade (>80% do previsto), porém com menores valores quando comparados com o GC, mostrando que o paciente com IRC em hemodiálise e o paciente transplantado renal apresentam limitação na sua capacidade ventilatória. Encontrou-se apenas um relato desse parâmetro na avaliação da função pulmonar35 em pacientes com IRC, porém o autor não comparou o valor obtido com valores de normalidade. Também foi encontrada correlação entre VVM e CVF no GD, sugerindo que a redução da VVM aparece naqueles indivíduos que tem menor CVF. Isso pode ser mais um fator indicativo do efeito negativo da diminuição do volume pulmonar, mesmo ainda dentro dos limites da normalidade, podendo levar um prejuízo funcional ao indivíduo com IRC. 95 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):91-8. Juliana L. Cury, Antonio F. Brunetto†, Ricardo D. Aydos A diminuição da força muscular tanto inspiratória quanto expiratória encontrada nos grupos GD e GT demonstra que a IRC afeta de forma significativa os músculos respiratórios, tanto inspiratórios quanto expiratórios. Isso pode ser interpretado pela correlação positiva encontrada entre PImax e PEmax, mostrando que a força muscular respiratória está diminuída de forma global e que o paciente tem uma queda linear dos dois componentes (inspiratório e expiratório) e, mesmo após o transplante renal, o paciente não parece recuperar totalmente a força muscular respiratória, revelando que outros fatores além da uremia mantêm o déficit muscular nessa população. Os fatores causais relacionados com a diminuição do componente força muscular respiratória são descritos na literatura como sendo decorrentes dos mecanismos causais da miopatia urêmica. Eles incluem diminuição da massa muscular (área de secção transversa, principalmente das fibras tipo II) encontrada em estudos em cobaias e humanos, diminuição do metabolismo oxidativo, diminuição da síntese protéica muscular e diminuição da concentração plasmática de cálcio6-10. Para os pacientes transplantados, acredita-se que o uso de corticoterapia imunossupressora dificulta a recuperação das fibras musculares após o transplante renal por causar diminuição da síntese protéica muscular e prejudicar o metabolismo oxidativo18-20. Outros fatores, como a faixa etária da população, o sedentarismo e a não existência de programas de reabilitação empregados de forma sistemática para o paciente transplantado renal no Brasil, podem levar o indivíduo a permanecer com déficits que podem ter influências negativas no seu prognóstico funcional. Alguns autores relatam avaliação dos músculos respiratórios em pacientes com IRC. Gómez-Fernández et al.36 foram uns dos primeiros autores a relatar a avaliação das pressões respiratórias máximas nessa população. Eles avaliaram pacientes com IRC que realizavam DPAC e encontraram diminuição da PImax nos pacientes com IRC (59,6% do previsto), quando comparados com controles (82,7% do previsto). Outros autores14,33,35 também encontraram resultados similares aos encontrados neste estudo. Todos concordam com o fato de que a diminuição da força muscular respiratória existe, e a patogenia dessa condição é similar à que ocorre na musculatura periférica. Os resultados do TC6m neste estudo demonstraram que os indivíduos do GD e do GT obtiveram piores resultados, quando comparados com os do GC. Oh-Park et al.37 avaliaram o TC6min e relataram que os indivíduos com IRC andavam menos que o considerado normal, sendo a média de 405 metros para pacientes em hemodiálise, valor pouco inferior aos encontrados neste estudo. Becker-Cohen et al.38 avaliaram o TC6min em crianças e adultos jovens com IRC que realizaram transplante renal e que ainda permaneciam em hemodiálise. Encontraram valores dentro da normalidade e, apesar de não haver valores 96 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):91-8. preditivos específicos para crianças, eles verificaram que elas andavam, em média, apenas 100 metros a menos que os adultos avaliados, considerando-se tal resultado como normal. A diminuição da capacidade funcional é de causa multifatorial, incluindo problemas cardiovasculares, respiratórios e musculares, nos quais as capacidades de captar, transportar e utilizar o O2 podem estar prejudicadas. No presente estudo, verificou-se que o componente que apresentou maior prejuízo e, dessa forma, influência negativa sobre a capacidade funcional, foi o da função pulmonar, com correlação positiva entre a CVF e a capacidade funcional no GD, sugerindo que mesmo uma pequena redução da CVF pode influenciar o desempenho desses indivíduos no teste da capacidade funcional, apesar de os valores da CVF estarem dentro dos parâmetros de normalidade. Outro fator não avaliado neste estudo, mas de interesse funcional, é que pacientes com IRC podem apresentar redução no consumo de O2 (VO2)4, como descrito por Sietsema et al.39, que demonstraram, em seu estudo, que valores de consumo de O2 máximo maiores que 17.5 mL/min/kg são preditores fortes e importantes de sobrevida em pacientes com IRC, indicando que a avaliação da capacidade funcional é essencial no acompanhamento de pacientes com IRC. O TC6min fornece medidas importantes para acompanhar a evolução do paciente no decorrer da doença e também para avaliar os benefícios de programas de reabilitação desenvolvidos nestes indivíduos. Apesar de tal teste ainda ser pouco empregado na avaliação do paciente com IRC, e essa doença não constar das indicações do TC6min descritas pela American Thoracic Society30, os resultados do TC6min podem ser utilizados de maneira prática pelo fisioterapeuta que atua em unidades de hemodiálise e centros de atendimento a pacientes transplantados renais. Isso é reforçado no estudo de Reboredo et al.40, que avaliaram a capacidade funcional pelo TC6min e correlacionaram com teste cardiopulmonar, concluindo que ele pode ser utilizado como forma de avaliação para pacientes com IRC. Com relação às características antropométricas da população estudada, observou-se que a amostra é homogênea para os parâmetros idade, altura e IMC. Encontrou-se diferença significativa em relação ao peso. Apesar de não ser proposta de este estudo avaliar o estado nutricional, verificou-se que a média dos grupos se encontra dentro da faixa de normalidade para o IMC. Esse resultado é positivo, pois o baixo peso é um fator de pior prognóstico para doenças crônicas, e o sobrepeso um fator de risco para doenças cardiovasculares41. Algumas dificuldades foram encontradas para a realização dos testes, pois os sujeitos com IRC (grupo GD) apresentam limitações e complicações após a sessão de hemodiálise que dificultaram a realização de todos os testes funcionais. Não foi possível equiparar o número de sujeitos do GT com os demais grupos, pois esses indivíduos não aderiram ao projeto em sua Efeitos negativos da IRC na função pulmonar e na capacidade de exercício maioria, dificultando uma homogeneidade maior entre os grupos avaliados. Conclusões Analisando os resultados, pode-se concluir que a força muscular respiratória, a função pulmonar e a capacidade funcional para pacientes com IRC em hemodiálise e transplantados renais apresentam valores inferiores aos da população em geral; sendo que os pacientes em hemodiálise possuem um maior comprometimento da função muscular e pulmonar quando comparados aos transplantados renais. Com base nas correlações encontradas entre a força muscular respiratória e os parâmetros CVF e VVM, infere-se que a força muscular é o componente respiratório estudado mais afetado no indivíduo com IRC. Referências bibliográficas 1. Parmar MS. 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Os pacientes foram classificados quanto à severidade da DVC pela classificação clínica da Clinical manifestations, Etiologic factors, Anatomic distribuition of disease, Pathophysiologic findings (CEAP) e agrupados em: CEAP 1, 2, 3 (menos comprometidos clinicamente) e CEAP 4, 5, 6 (mais comprometidos clinicamente). A QV foi avaliada pelo questionário SF-36. Para comparação dos escores do SF-36 entre os grupos foi utilizado o teste Mann-Whitney U e para verificar associação entre QV e CEAP, o coeficiente de correlação de Spearman. Foi considerada diferença estatisticamente significativa p<0,05. O programa estatístico SPSS, versão 16.0 foi utilizado para as análises. Resultados: 74% da amostra eram mulheres e a média de idade foi significativamente maior (p<0,001) entre os indivíduos CEAP 4, 5, 6 (56,610,3) do que entre os CEAP 1, 2, 3 (40,610,7). Todos os domínios do Componente Saúde Física (CSF) do SF-36 apresentaram escores significativamente menores no grupo CEAP 4, 5, 6 (p<0,05), representando maior comprometimento físico e funcional. Apenas os domínios do CSF apresentaram correlação negativa e estatisticamente significativa com a CEAP. Conclusões: Os aspectos físicos e funcionais foram mais comprometidos, sobretudo nas formas mais graves da DVC. Estes achados podem contribuir para melhor compreensão dos efeitos da DVC na QV e melhor direcionamento das intervenções terapêuticas nessa população. Palavras-chave: qualidade de vida; insuficiência venosa; fisioterapia. Abstract Objectives: To evaluate the quality of life (QOL) of patients with chronic venous disease (CVD) and to analyze the relationship between QOL and disease severity. Methods: This was a cross-sectional study with a convenience sample of 50 participants with a diagnosis of CVD. The participants were classified according to disease severity using the CEAP clinical classification (Clinical manifestations, Etiological factors, Anatomical distribution of disease, Pathophysiological findings). They were then divided into two groups: CEAP 1, 2 and 3 (less clinically compromised) and CEAP 4, 5 and 6 (more clinically compromised). QOL was evaluated using the SF-36 questionnaire. The Mann-Whitney U test was used to compare the SF-36 scores between the groups. The Spearman correlation was used to evaluate the association between QOL and the CEAP. Differences were considered statistically significant with p < 0.05. The SPSS statistical software version 16.0 was used for the analyses. Results: Seventy-four percent of the sample was female. The mean age was significantly higher (p<0.001) among participants classified as CEAP 4, 5 and 6 (56.610.3) than among those classified as CEAP 1, 2 and 3 (40.610.7). All the domains of the physical component of the SF-36 presented significantly lower scores in the CEAP 4, 5 and 6 group (p<0.05), thus showing greater physical and functional impairment. Only the domains of the physical component presented statistically significant negative correlations with the CEAP. Conclusions: The physical and functional characteristics were more impaired, especially in the more severe forms of CVD. These findings may contribute to a better understanding of the effects of CVD on QOL and better management of therapeutic interventions in this population. Key words: quality of life; venous insufficiency; physical therapy. Recebido: 23/06/2008 – Revisado: 08/12/2008 – Aceito: 09/06/2009 1 Centro Universitário Newton Paiva, Belo Horizonte (MG), Brasil 2 Fisioterapeuta 3 Hospital Municipal Odilon Behrens (HOB), Belo Horizonte (MG), Brasil 4 Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte (MG), Brasil Correspondência para: Regina Márcia Faria de Moura, Rua Nascimento Gurgel, 21/1503, Belo Horizonte (MG), Brasil, e-mail: [email protected] 99 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):99-105. Regina M. F. Moura, Gabriela S. Gonçalves, Túlio P. Navarro, Raquel R. Britto, Rosangela C. Dias Introdução A Qualidade de Vida (QV) é um construto subjetivo que envolve autopercepção, composto por múltiplas dimensões positivas, negativas e bidirecionais, como função física, bem estar emocional e social1. A avaliação da QV tem sido considerada um importante critério de avaliação do impacto das doenças crônicas no cotidiano das pessoas e da efetividade de tratamentos e intervenções na área da saúde2,3. A Doença Venosa Crônica de membros inferiores (DVC) é definida como uma disfunção no sistema venoso decorrente da hipertensão venosa, a qual é causada por incompetência valvular e/ou obstrução do fluxo venoso. Essa anormalidade venosa pode ser congênita ou adquirida, podendo acometer tanto o sistema venoso superficial como o profundo4-6. As manifestações clínicas decorrentes da DVC podem ser classificadas com base na classificação Clinical manifestations, Etiologic factors, Anatomic distribuition of disease, Pathophysiologic findings (CEAP). De acordo com essa classificação, os sinais clínicos são categorizados em sete classes, sendo: Classe C0 - sinais de doença venosa não visíveis e não palpáveis; Classe C1 - telangectasias ou veias reticulares; Classe C2 - veias varicosas; Classe C3 - edema; Classe C4 - alterações da pele e tecido subcutâneo decorrentes da doença venosa (4a – pigmentação ou eczema e 4b – lipodermatoesclerose ou atrofia branca); Classe C5 - alterações de pele com úlcera cicatrizada e Classe C6 - alterações de pele com úlcera ativa6. Os sinais como veias varicosas, edema, alterações tróficas da pele e úlcera e os sintomas como dor, câimbras, prurido e sensação de pernas pesadas, queimação e latejamento são frequentemente associados às limitações nas atividades de vida diária e no desempenho funcional, além de alterações psicológicas e mudanças na percepção do estado de saúde5,7-11. A DVC é uma doença que apresenta alta prevalência, morbidade e cronicidade 5,12-15. Em estudos epidemiológicos brasileiros foram evidenciados dados relacionados à prevalência da DVC em 35,5% da população, sendo 1,5% de úlcera varicosa aberta ou cicatrizada16 e à incidência de 50% da DVC entre mulheres17. Além disso, foi observado que o envelhecimento, o número de gestações e o sexo feminino são importantes fatores de risco para o desenvolvimento da doença e suas complicações16,17. O impacto negativo da DVC na QV é referido por alguns autores9,12-14, particularmente em relação aos domínios dor, função física e mobilidade. A depressão e o isolamento social também são reportados como manifestações decorrentes da DVC, sobretudo no estágio mais avançado da doença, caracterizado pela presença da úlcera varicosa não cicatrizada7,18. 100 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):99-105. A avaliação da QV é um modo de análise de aspectos que merecem ser considerados como saúde física, estado psicológico, nível de independência, relações sociais, crenças pessoais, relação com as características do ambiente, função cognitiva, função sexual, produtividade no trabalho, percepção de doença, dor, autoestima, imagem corporal e sono. As informações sobre QV têm sido incluídas tanto como indicadores para avaliação da eficácia, eficiência e impacto de determinados tratamentos, quanto na comparação entre procedimentos para controle de problemas de saúde. A avaliação da QV na prática clínica é, portanto, uma ferramenta importante, particularmente como uma variável de desfecho capaz de verificar o impacto da doença e de seu tratamento na vida do indivíduo2,19-22. Na maioria das vezes, os efeitos de intervenções terapêuticas e da própria doença em pacientes com DVC têm sido baseados apenas em resultados clínicos (testes laboratoriais, sinais e sintomas, exames por imagem) e essas medidas não são capazes de mensurar a percepção que o indivíduo tem da sua doença e qual o seu impacto na QV, tornando-se necessária a utilização de outros instrumentos para realização de uma avaliação mais integral5,20,22. A etiologia, o diagnóstico e o tratamento da DVC têm sido bastante estudados, porém, a magnitude do impacto das manifestações clínicas dessa doença na QV e nos aspectos funcionais ainda necessita de análises mais aprofundadas, visto que uma visão mais abrangente de como a doença influencia a vida do indivíduo permite uma abordagem terapêutica mais direcionada e consequentemente mais eficiente4,5. Portanto, o objetivo deste estudo foi avaliar a QV na DVC e analisar a correlação entre QV e severidade da doença. Materiais e métodos Trata-se de estudo observacional, transversal, realizado no ambulatório de angiologia e cirurgia vascular do Hospital Odilon Behrens - Belo Horizonte/ MG – Brasil, no período de agosto de 2006 a abril de 2007. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Odilon Behrens (parecer nº 83/2006). Todos os participantes assinaram termo de consentimento livre e esclarecido após receberem informações sobre o estudo. Foram avaliados pacientes com idade superior ou igual a 18 anos, sem restrições quanto ao sexo e que tinham diagnóstico de DVC. Indivíduos com insuficiência renal crônica, insuficiência cardíaca congestiva descompensada, doença pulmonar obstrutiva crônica, comprometimento de raiz nervosa lombar, doença arterial periférica (índice tornozelo-braço > 0,9), Correlação entre DVC e QV osteoartrite de joelhos, quadris e tornozelos e linfedema em membros inferiores foram excluídos do estudo. Inicialmente foram coletados os dados demográficos e, em seguida, os membros inferiores foram examinados, estando os mesmos na posição ortostática, sempre por um mesmo examinador treinado e capacitado que, por inspeção visual, classificou os membros inferiores de acordo com a gravidade da DVC, utilizando a classificação clínica da CEAP23,24. No caso dos dois membros inferiores serem acometidos pela DVC, foi considerado o de maior escore da classificação clínica CEAP. Neste estudo, os participantes foram divididos em dois grupos de acordo com a classificação clínica CEAP, sendo um grupo composto por pacientes menos comprometidos clinicamente pela DVC (classes 1, 2 e 3) e outro grupo composto de pacientes mais comprometidos clinicamente (classes 4, que incluiu os indivíduos classificados como 4a e 4b, 5 e 6). Após coleta dos dados demográficos e clínicos, os pacientes responderam ao questionário Medical Outcomes Study Short-form 36 (SF-36), versão em português25. Trata-se de um questionário genérico cuja validade já foi testada na população com DVC, evidenciando bons resultados5. É composto de 36 questões agrupadas em oito domínios, sendo quatro relacionados à saúde física (capacidade funcional, aspecto físico, dor e estado geral da saúde) e quatro relacionados à saúde mental (vitalidade, aspecto social, aspecto emocional, saúde mental). Apresenta um escore final que varia de zero a 100, sendo que, quanto maior o escore obtido, melhor a percepção que o indivíduo tem em relação à sua QV25. A média dos escores dos domínios relacionados à saúde física representou o escore do CSF, e a média dos escores dos domínios relacionados à saúde mental representou o escore do Componente de Saúde Mental (CSM). O questionário foi aplicado na forma de entrevista por dois entrevistadores devidamente treinados que tinham ciência da classificação clínica CEAP dos pacientes. A confiabilidade interexaminadores do SF-36 foi avaliada mediante aplicação do questionário em 12 pacientes pelos dois examinadores, em dois momentos distintos, com intervalo de tempo entre uma entrevista e outra de sete dias. O coeficiente de correlação intraclasse (ICC) foi utilizado para avaliar a correspondência entre as medidas feitas pelos dois examinadores. O ICC observado foi de 0,80 para o CSM e de 0,88 para o CSF do questionário SF-36, indicando adequada concordância26. Análise estatística Os dados foram expressos em média desvio-padrão, mediana e valores mínimos e máximos. O teste de normalidade Shapiro-Wilk foi utilizado para verificar a distribuição dos dados. Para comparação das médias das idades entre os pacientes CEAP 1, 2 e 3 e CEAP 4, 5 e 6, foi utilizado o teste t de Student para amostras independentes. Para comparação dos escores obtidos no questionário SF-36, foi utilizado o teste de Mann-Whitney U. Para verificar associação entre o CSF e o CSM do questionário SF-36 e a classificação clínica CEAP, foi utilizado coeficiente de correlação de Spearman. Foi considerada diferença estatisticamente significativa quando p<0,0526. O programa estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 16.0 foi utilizado para as análises. Resultados Foram selecionados 50 pacientes, sendo 37 mulheres (74%) e 13 homens (26%), com idade variando entre 26 e 74 anos (52,412,5 anos). Todos os participantes eram residentes na região metropolitana de Belo Horizonte e frequentaram o serviço de Cirurgia Vascular de um hospital geral da capital para tratamento da doença venosa. Nenhum participante foi excluído do estudo. Os dados clínicos e demográficos estão representados na Tabela 1. Tabela 1. Dados clínicos e demográficos da amostra. Variáveis Sexo Masculino Feminino Idade (anos) médiaDP (mínimo-máximo) Escolaridade (anos) Sem escolaridade 1–7 8 ou + Duração da doença (anos) médiaDP (mínimo-máximo) Doenças associadas HAS HAS + outra doença Nenhuma Outras Uso de meia elástica Sim Não História familiar de DVC Sim Não Não souberam responder Cirurgia venosa prévia Sim Não CEAP 1, 2 e 3 CEAP 4, 5 e 6 Total 5 8 13 8 29 37 40,610,7 (26-60) 56,610,3 (27-74) 52,412,5 (26-74) 0 9 4 7,87,3 (1-28) 4 21 12 17,011,2 (1-44) 4 30 16 14,611,0 (1-44) 1 0 12 0 20 5 11 1 21 5 13 1 11 2 17 20 28 22 11 1 1 26 4 7 37 5 8 4 9 21 16 25 25 DP=desvio-padrão; HAS=Hipertensão arterial sistêmica. 101 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):99-105. Regina M. F. Moura, Gabriela S. Gonçalves, Túlio P. Navarro, Raquel R. Britto, Rosangela C. Dias Com relação à idade e à classificação CEAP, observou-se uma média de idade entre os indivíduos agrupados na CEAP 4, 5 e 6 (56,610,3 anos) significativamente maior (p<0,001) do que entre os indivíduos CEAP 1, 2 e 3 (40,610,7 anos). A maioria dos indivíduos (68%) tinha, no máximo, sete anos de estudo, e a doença associada mais prevalente foi a hipertensão arterial sistêmica (42%). Com relação à história familiar, 74% dos indivíduos relataram casos de DVC na família, e 50% relataram cirurgias venosas prévias. Os indivíduos CEAP 4, 5 e 6 apresentaram uma média de anos de evolução da doença (17,0 anos) superior aos indivíduos CEAP 1, 2 e 3 (7,8 anos). Foi observada diferença estatisticamente significativa entre os escores do CSF (p=0,001) do questionário SF-36 entre os indivíduos CEAP 1, 2 e 3 e os CEAP 4, 5 e 6. Já em relação ao CSM, o mesmo não foi observado (p=0,56). Quando a comparação foi feita por domínio, observou-se diferença significativa entre os grupos para todos os domínios do CSF e apenas para um domínio do CSM, o domínio de saúde mental (Tabela 2). Considerando o CSF do SF-36 e a classificação CEAP, observou-se correlação negativa e estatisticamente significativa (p>0,001; r=-0,479). O mesmo não foi observado com o CSM (p=0,055; r=-0,273). Dentre os domínios do CSF, todos 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 87,15 90 86 56,87 47 Escore CSF Escore CSM 43 CEAP4 CEAP5 CEAP6 Dados representados pela mediana. Figura 1. Escores do CSF e CSM do SF-36 dos pacientes CEAP 4, 5 e 6. os domínios apresentaram correlação negativa e significativa com a CEAP: aspecto físico (p=0,015; r=-0,342), dor (p=0,038; r=-0,294), capacidade funcional (p<0,001; r=-0,479) e estado geral de saúde (p=0,047; r=-0,282). Dentre os domínios do CSM, apenas o domínio saúde mental apresentou correlação estatisticamente significativa com a CEAP (p=0,031 ; r=-0,306). Quando foi avaliado apenas o grupo dos pacientes mais comprometidos clinicamente (CEAP 4, 5 e 6) em relação aos escores do CSF e do CSM do questionário SF-36, foram observados maiores escores, sobretudo do CSF, à medida que a doença se agrava (Figura 1). Discussão Os resultados deste estudo demonstraram uma associação negativa e significativa entre QV e a classificação CEAP. Os pacientes que apresentaram os piores escores no questionário SF-36, tanto nos domínios relacionados à saúde física quanto aos relacionados à saúde mental, foram aqueles pertencentes à CEAP 4, 5 e 6. Cabe ressaltar que os achados da maioria dos autores que investigaram a relação entre QV e DVC9,13,14,27,28 evidenciam também uma piora da QV à medida que a doença se agrava. A população mais severamente acometida pela DVC apresentou média de idade significativamente superior à média dos pacientes menos acometidos. Embora a DVC não seja uma doença restrita à população idosa, vários estudos têm evidenciado que sua prevalência, sobretudo nas formas mais graves, aumenta com a idade7,29,30. No presente estudo, os pacientes mais gravemente acometidos pela DVC foram aqueles com idade mais avançada. Heit et al.29, em estudo populacional realizado na cidade de Omsted (EUA), observaram uma maior incidência de úlceras varicosas na população idosa quando comparada com população não idosa, e outro Tabela 2. Classificação CEAP e escores do questionário SF-36. Questionário SF-36 Aspecto físico Dor Capacidade funcional Estado geral de saúde Aspecto social Vitalidade Saúde mental Aspecto emocional Componente de saúde Mental Componente de saúde Física Classificação CEAP Classes 1, 2 e 3 Classes 4, 5 e 6 100,0 (0–100) 50,0 (0-100) 72,0 (24-100) 42,0 (0-100) 80,0 (60-95) 40,0 (0-100) 87,0(30-100) 57,0 (0-92) 75,0 (50-100) 62,5 (12,5-100) 75,0 (20-100) 45,0 (5-92) 84,0 (32-100) 68,0 (16-100) 100 (0-100) 66,6 (0-100) 76,7 (28,6-100) 48,3 (8,6-96,5) 83,2 (31-93) 47,0 (6,2-97,5) Dados representados pela mediana e (valor mínimo–valor máximo). *Significância estatística (p<0,05). 102 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):99-105. Valor de p 0,017* 0,001* 0,001* 0,048* 0,147 0,159 0,032* 0,157 0,056 0,001* Correlação entre DVC e QV estudo também de base populacional realizado na região do sul da Itália evidenciou uma prevalência de 30% de DVC entre os indivíduos idosos30. No Brasil, existem poucos dados epidemiológicos relacionados a DVC. Maffei et al.16 em estudo realizado na cidade de Botucatu-SP, observaram aumento da prevalência da DVC, principalmente as formas mais graves da doença, nos grupos de indivíduos com idade superior a 50 anos16. Do total da amostra, 74% eram do sexo feminino. A maioria dos estudos epidemiológicos realizados com a população com DVC evidencia uma maior prevalência da doença nos indivíduos do sexo feminino em relação aos do sexo masculino16,17. O fator sexo feminino também tem sido apontado como importante fator de risco para a DVC7,21. Os domínios relacionados à saúde física e saúde mental do SF-36 estão associados a aspectos físicos/funcionais e sociais/ emocionais, respectivamente25. Apesar de existir relato na literatura de isolamento social e de alterações psicológicas4, os resultados deste estudo evidenciaram associação inversa entre todos domínios do CSF do questionário SF-36 e a classificação clínica CEAP e de apenas um domínio do CSM. Apesar de tais associações terem sido de baixa magnitude, ou seja, os valores de r encontrados foram menores que 0,50, elas foram significativas (p<0,05), indicando que realmente há um maior comprometimento de aspectos físicos/funcionais do que sociais/ mentais na população estudada, porém a força dessa associação não foi tão intensa. Estudos de base populacional investigaram a influência da DVC na QV12-14,28, e os resultados encontrados vão ao encontro dos achados do presente estudo. Kurz et al.12 em um estudo multicêntrico, avaliaram a QV de 1135 pacientes com doença venosa, sendo o SF-36 um dos instrumentos utilizados. Os autores observaram que os escores dos domínios relacionados à saúde física foram menores nos indivíduos com maior comprometimento venoso (CEAP 4, 5 e 6), não sendo encontrada diferença significativa dos escores nos domínios de saúde mental entre os grupos de indivíduos mais e menos acometidos12, o que também ocorreu no presente estudo. Corroborando esses achados, Kaplan et al.13 também encontraram uma associação entre QV e gravidade da DVC ao avaliarem 2.404 indivíduos, com idade de 40 e 79 anos, por meio do questionário SF-36 e por uma classificação do comprometimento venoso análoga à classificação CEAP. Os resultados desse estudo também mostraram uma associação negativa significativa entre os domínios do CSF do SF-36 e a doença venosa, mas não entre os domínios do CSM. Contudo, os autores acreditam que a influência da DVC sobre os domínios que envolvem o CSM não deve ser descartada e discutem a possibilidade de as questões que compõem os domínios de saúde mental do SF-36 não serem sensíveis o suficiente para detectar alterações na população com DVC13. Em outro estudo de base populacional, Kahn et al.28 investigaram a associação entre QV e DVC em 1.531 pacientes e encontraram resultados similares, pois os escores dos domínios do CSF foram significativamente menores nos indivíduos com maior classificação CEAP, entretanto o mesmo não foi observado em relação aos domínios de saúde mental. Cabe ressaltar que a avaliação da QV depende da interpretação emocional que cada indivíduo faz dos fatos e eventos e está intimamente relacionada à percepção subjetiva dos acontecimentos e condições de vida. A presença de uma doença como a DVC de mesma classificação clínica, por exemplo, pode não significar o mesmo para dois indivíduos diferentes, e as perdas funcionais decorrentes dessa doença podem ter importâncias emocionais e sociais diferentes para cada indivíduo2. Andreozzi et al.14 observaram um importante comprometimento da QV da população com DVC, sobretudo em relação aos domínios do CSF do SF-36 em pacientes classes 4, 5 e 6. O grupo de pacientes com classificação CEAP 4 apresentou um comprometimento maior dos domínios relacionados à saúde mental do que à saúde física e apresentou, também, piores escores no SF-36 quando comparados aos pacientes com classificação clínica CEAP 5 e 6. Os autores acreditam que pacientes com úlcera aberta (classe 6) ou cicatrizada (classe 5), que já se encontram na fase mais avançada da doença, adaptaram-se progressivamente às condições impostas pela DVC14. No presente estudo, se observarem os resultados dos escores do SF-36 dos pacientes CEAP 4, 5 e 6 em separado, constataram-se escores maiores à medida que a doença se agrava, ou seja, existe uma tendência de que pacientes com as formas mais avançadas da doença apresentem uma pior percepção de sua QV, sobretudo quando se consideram os domínios relacionados ao CSF do SF-36. Apesar de instrumentos genéricos, como é o caso do SF-36, refletirem o impacto de uma doença sobre aspectos gerais da saúde e terem a vantagem de permitir comparação de indivíduos com diferentes patologias, eles são menos sensíveis para explorar os efeitos da doença na QV em um indivíduo ou população com uma patologia específica13,20. Possivelmente a inclusão de instrumentos específicos para avaliação poderia ser mais sensível na identificação do real impacto da doença na QV da população20 com DVC. Os sintomas decorrentes da DVC também podem influenciar diretamente a QV5, porém sua presença, intensidade e duração não foram avaliadas no presente estudo. A presença de sintomas como latejamento, prurido, dor e câimbras estão associados às limitações nas atividades de vida diária e no desempenho funcional, além de alterações psicológicas e mudanças na percepção do estado de saúde5,7-11. Além dos sintomas, outros aspectos 103 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):99-105. Regina M. F. Moura, Gabriela S. Gonçalves, Túlio P. Navarro, Raquel R. Britto, Rosangela C. Dias que necessitam ser mais bem investigados nessa população são as limitações físicas e funcionais geradas pela DVC e como tais alterações poderiam influenciar a QV. Conclusão Indivíduos com DVC têm um prejuízo na QV, principalmente aqueles que apresentam acometimento venoso mais grave (CEAP 4, 5 e 6). Os aspectos físicos e funcionais foram os mais acometidos na população estudada, porém não se pode descartar a possibilidade de aspectos emocionais também estarem comprometidos. A avaliação da QV de pacientes com DVC é frequentemente negligenciada pelos profissionais que lidam com essa população. É importante ressaltar que tal avaliação pode fornecer informações importantes em relação às limitações impostas pela doença na vida do indivíduo, as quais, muitas vezes, não podem ser obtidas em uma avaliação tradicional, além de poder direcionar o profissional para a melhor abordagem terapêutica. References 1. 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ISSN 1413-3555 Rev Bras Fisioter, São Carlos, v. 14, n. 2, p. 106-13, mar./abr. 2010 © Revista Brasileira de Fisioterapia ARTIGO ORIGINAL Controle autonômico da frequência cardíaca de pacientes com doenças cardiorrespiratórias crônicas e indivíduos saudáveis em repouso e durante a manobra de acentuação da arritmia sinusal respiratória Autonomic control of heart rate in patients with chronic cardiorespiratory disease and in healthy participants at rest and during a respiratory sinus arrhythmia maneuver Michel S. Reis, Ana P. Deus, Rodrigo P. Simões, Isabela A. V. Aniceto, Aparecida M. Catai, Audrey Borghi-Silva Resumo Objetivo: Avaliar a modulação autonômica da frequência cardíaca (FC) em repouso, na postura supina e durante a manobra de acentuação da arritmia sinusal respiratória (M-ASR) de pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) ou com insuficiência cardíaca crônica (ICC). Métodos: Vinte e oito homens foram subdivididos em três grupos: 10 com DPOC (GD) e 699 anos; 9 com ICC (GI) e 628 anos; e 9 saudáveis (GC) com 645 anos. Em repouso, os intervalos R-R a partir do sinal eletrocardiográfico foram obtidos nas seguintes situações: 1) 15 minutos na posição supina e 2) 4 minutos durante M-ASR na posição supina. Os dados foram analisados nos domínios do tempo (índices RMSSD e SDNN) e da frequência. Durante M-ASR, foram calculadas a razão expiração/inspiração (E/I) e a diferença inspiração/expiração (ΔIE). Resultados: Os principais achados mostraram que os pacientes com ICC apresentaram menores valores de RMSSD (12,22,6 vs 20,46,5), BFab (99,272,7 vs 305,3208,9) e AFun (53,429,9 vs 178,9113,1) quando comparados ao controle. Além disso, a banda de BFab foi significantemente reduzida no grupo DPOC quando comparado ao controle (133,8145,5 vs 305,3208,9). Adicionalmente, pacientes com ICC e DPOC mostraram menor razão E/I (1,10,06 vs 1,20,1 e 1,10,03 vs 1,20,1) e ΔIE (7,03,5 vs 12,70,1 e 4,91,6 vs 12,70,1), respectivamente, comparados ao GC durante a M-ASR. Conclusão: Os resultados deste estudo sugerem que tanto a DPOC como a ICC produzem impacto negativo sobre o controle autonômico da FC. Artigo registrado no Australian New Zealand Clinical Trials Registry (ANZCTR) sob o número: ACTRN12609000467235 Palavras-chaves: doença pulmonar obstrutiva crônica; insuficiência cardíaca crônica; controle autonômico da frequência cardíaca; arritmia sinusal respiratória. Abstract Objective: To evaluate the autonomic modulation of heart rate (HR) at rest in the supine position and during a respiratory sinus arrhythmia maneuver (M-RSA) among participants with chronic obstructive pulmonary disease (COPD) or with chronic heart failure (CHF). Methods: Twentyeight men were divided into three groups: ten with COPD, aged 699 years; nine with CHF, aged 628 years; and nine healthy participants aged 645 years (controls). At rest, the R-R interval of the electrocardiographic signal was obtained in the following situations: 1) 15 min in the supine position; and 2) 4 min during M-RSA in the supine position. The data were analyzed in the time domain (RMSSD and SDNN indices) and the frequency domain (LFab and HFab). During M-RSA, the expiratory/inspiratory ratio (E/I) and the inspiratory/expiratory difference (ΔIE) were calculated. Results: The main findings showed that the CHF patients presented lower RMSSD (12.22.6 vs. 20.46.5), LFab (99.272.7 vs. 305.3208.9) and HFab (53.429.9 vs. 178.9113.1), compared with the controls. The LFab band was significantly lower in the COPD group than in the controls (133.8145.5 vs. 305.3208.9). Additionally, both CHF patients and COPD patients showed lower E/I ratios (1.10.06 vs. 1.20.1 and 1.10.03 vs. 1.20.1) and ΔIE values (7.03.5 vs. 12.70.1 and 4.91.6 vs. 12.70.1), respectively, compared with the controls during M-RSA. Conclusion: The results from this study suggest that both COPD and CHF have a negative impact on the autonomic control of heart rate. Article registered on the Australian New Zealand Clinical Trials Registry (ANZCTR) under the number: ACTRN12609000467235 Key words: chronic obstructive pulmonary disease; chronic heart failure; autonomic control of heart rate; respiratory sinus arrhythmia. Recebido: 02/09/2008 – Revisado: 09/02/2009 – Aceito: 26/05/2009 Laboratório de Fisioterapia Cardiorrespiratória, Núcleo de Pesquisa em Exercício Físico, Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), São Carlos, SP, Brasil. Correspondência para: Audrey Borghi Silva, Laboratório de Fisioterapia Cardiorrespiratória, Núcleo de Pesquisa em Exercício Físico, Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Rodovia Washington Luis, Km 235, Bairro Monjolinho, CEP 13565-905, São Carlos (SP), Brasil, e-mail: [email protected]. 106 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):106-13. VFC de pacientes com doenças cardiorrespiratórias crônicas Introdução Tem sido descrito que doenças cardiorrespiratórias crônicas provocam desajustes do balanço simpato-vagal sobre o controle da frequência cardíaca (FC)1-3. Na doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), a coexistência da limitação ao fluxo expiratório e da perda do recuo elástico do pulmão ocasiona progressivamente modificações do padrão respiratório, dos volumes e capacidades pulmonares. Nesse sentido, uma série de ajustes hemodinâmicos ocorre, sobretudo, no controle autonômico da frequência cardíaca para manutenção da homeostase4. No entanto, ainda há inconsistência sobre as modificações da modulação autonômica da FC de pacientes com DPOC. Alguns autores têm observado que esses indivíduos apresentam redução da variabilidade da frequência cardíaca (VFC) pela observação dos índices do domínio do tempo; porém, os valores da análise espectral têm revelado, curiosamente, predomínio da ação vagal (refletindo a hiperatividade vagal observada nas vias aéreas)5-8. Em contraste, outros autores9,10 têm observado aumento da atividade simpática no controle da FC, embora concordem com a redução da VFC ocorrida na DPOC. Com relação à insuficiência cardíaca crônica (ICC), a reduzida fração de ejeção produz significante impacto sobre o sistema respiratório, levando a fenômenos congestivos. Assim, por intermédio da hiperatividade simpática e menor ação vagal, ocorre aumento da FC e vasoconstrição de capilares e veias com redistribuição do fluxo11. Musialik-Lydka, Sreidniawa e Pasyk12, Tulppo e Huikuri13 e Rosen et al.14 sugerem a predominância da atividade simpática sobre o nodo sinusal. Por outro lado, van de Borne et al.15, Ponikowski et al.16 e Mortara et al.17 observaram o desequilíbrio simpato-vagal do controle autonômico da FC sem evidenciar hiperatividade simpática. O controle autonômico da FC também é modulado pelos ciclos respiratórios. Durante a respiração espontânea, ocorre interação sincrônica entre a fase inspiratória e o aumento da FC devido à retirada vagal e entre a fase expiratória e a redução da FC, pela retomada da atividade vagal no nodo sinusal18. Esse fenômeno é chamado de arritmia sinusal respiratória (ASR), a qual é caracterizada pelas oscilações fisiológicas da FC em sincronismo com a respiração19,20. Em condições experimentais, a ASR pode ser acentuada por meio de manobras respiratórias controladas (M-ASR). A partir do processamento dos valores de FC e dos iR-R – intervalo das ondas R no eletrocardiograma (ECG) - é possível extrair os índices da M-ASR, que refletem o efeito modulatório da respiração, essencialmente provocado pelo eferente parassimpático sobre o nodo sinusal21. Uma vez que a análise da VFC tem sido de grande valia no prognóstico de inúmeras doenças cardiorrespiratórias crônicas, a análise da interação dos ciclos respiratórios e das oscilações periódicas da FC por meio dessa manobra pode também fornecer importante índice prognóstico. Nesse sentido, seria lícito supor que certas disfunções que provoquem alterações nos ciclos respiratórios podem produzir indiretamente modificações autonômicas da FC. Diante dessas considerações, os objetivos deste estudo foram avaliar a modulação autonômica da FC em repouso, na postura supina e durante a M-ASR de pacientes com DPOC ou com ICC e de indivíduos saudáveis. Materiais e métodos Estudo observacional transversal com três grupos. Sujeitos Foram recrutados indivíduos com os seguintes perfis: 1) pacientes com DPOC de moderada a grave e volume expiratório forçado no 1s (VEF1) <60% do predito (GOLD Scientific Committee, 2001), estáveis clinicamente e na ausência de exacerbações agudas da doença, ex-tabagistas, não etilistas, que não realizassem programa de treinamento físico regular nos últimos seis meses e que apresentassem sintomas de dispneia aos pequenos e médios esforços; 2) indivíduos com ICC documentada nos últimos seis meses, com ecocardiografia, apresentando fração de ejeção (FE) do ventrículo esquerdo <50% e classificação de I a III da doença, segundo New York Heart Association (NYHA)22, sem episódios de hospitalização no último mês, não tabagistas, não etilistas, que não apresentassem DPOC (VEF1/CVF>70% e VEF1>70% do predito), angina instável ao repouso ou história de infarto do miocárdio nos últimos seis meses e, adicionalmente, 3) indivíduos aparentemente saudáveis que serviram como controle foram triados a partir da avaliação clínica. Todos os voluntários foram submetidos à avaliação clínica (história clínica atual e pregressa, antecedentes familiares, hábitos de vida, exames físicos) com o cardiologista, pneumologista ou clínico geral; avaliação fisioterapêutica (avaliação postural e provas musculares); avaliação da dispneia por meio da escala desenvolvida pelo Conselho Britânico de Pesquisas Médicas Modificadas (medical research council - MRC)23 para os pacientes com DPOC e da classificação da NYHA22 para os ICC; exames laboratoriais (hemograma completo, triglicérides, colesterol total e frações, urina tipo I, acido úrico, creatinina e uréia); espirometria; eletrocardiograma (ECG) de 12 derivações e teste ergométrico incremental máximo ou sintoma limitado. Foram excluídos os indivíduos que não apresentavam estabilidade clínica, que apresentavam alteração eletrocardiográfica que impossibilitasse a coleta da VFC, que não aceitaram participar do estudo e os que não contemplavam os critérios de inclusão listados acima. 107 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):106-13. Michel S. Reis, Ana P. Deus, Rodrigo P. Simões, Isabela A. V. Aniceto, Aparecida M. Catai, Audrey Borghi-Silva. Os voluntários foram informados a respeito dos procedimentos experimentais a que seriam submetidos e assinaram o termo de consentimento pós-informado de participação na pesquisa. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de São Carlos sob parecer nº 238/2005. Medicações Os pacientes com DPOC utilizavam rotineiramente broncodilatadores de curta duração (n=10) e de longa duração (n=6). Por outro lado, todos os portadores de ICC faziam uso de beta-bloqueador (n=9), furosemida (n=3), digoxina (n=5), nitratos (n=2), inibidor da enzima conversora de angiotensina (n=6) e ácido acetilsalisílico (n=2). Espirometria As provas de função pulmonar foram realizadas por meio do aparelho da marca Vitalograph (modelo Hand Held 2120, Ennis, Ireland). Foram realizadas as manobras de capacidade vital lenta (CVL) e de capacidade vital forçada (CVF) para determinar o VEF1 e a razão VEF1/CVF. Os procedimentos técnicos, critérios de aceitabilidade e reprodutibilidade foram realizados segundo as normas recomendadas pela American Thoracic Society24. Procedimento experimental A pesquisa foi realizada em um laboratório climatizado com temperatura entre 22ºC e 24ºC e umidade relativa do ar entre 50% e 60%, no mesmo período do dia (entre 8horas e 12horas). Os voluntários foram familiarizados com o ambiente experimental e com os experimentadores. Para a véspera e no dia do teste, cada voluntário recebeu orientações para evitar consumo de bebidas estimulantes, não realizar atividade física 24horas antes dos testes, realizar refeições leves e ter uma noite de sono adequada (pelo menos 8 horas). Inicialmente os voluntários foram mantidos por aproximadamente 10 minutos em repouso na posição supina para que a FC atingisse valores basais. Posteriormente, o ECG e a FC instantânea foram coletados durante 15 minutos nessa posição. Em sequência, a coleta foi repetida durante a realização da M-ASR na mesma posição na seguinte ordem: 1 minuto em repouso, com respiração espontânea; 4 minutos, realizando a M-ASR e 1 minuto final, em repouso. Durante a M-ASR, os voluntários foram orientados a realizar uma série de inspirações e expirações profundas e lentas, variando o volume pulmonar desde a capacidade pulmonar total (inspiração máxima) até o volume residual (expiração máxima), de tal forma que cada 108 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):106-13. ciclo respiratório fosse executado em 10 segundos, sendo 5 segundos de inspiração e 5 segundos de expiração, totalizando de cinco a seis ciclos respiratórios por minuto, em que se espera obter a máxima ASR21. Os pacientes também foram orientados a controlar sua frequência respiratória pelo tempo em um relógio de ponteiros; ao mesmo tempo, o experimentador, por meio da tela de captação do ECG no monitor do computador, dava feedback positivo se os ciclos correspondiam ao previamente estabelecido. Ao término da manobra, o paciente foi instruído a respirar espontaneamente, ficando em repouso por um período de 1 minuto. Durante todos os procedimentos experimentais, os participantes foram monitorizados na derivação MC5. O sinal do ECG foi obtido a partir do monitor cardíaco de um canal (TC 500, Ecafix, São Paulo, SP, Brasil) e processado por meio de um conversor analógico digital Lab. PC+ (National Instruments, Co, Austin, TX, EUA), que constitui uma interface entre o monitor cardíaco e o microcomputador (Pentium III). A FC foi obtida e calculada a partir dos intervalos entre os iR-R do ECG, que foram registrados com uma frequência de amostragem de 500Hz e armazenados por um software específico25. Análise dos dados A VFC foi analisada nos domínios do tempo e da frequência por meio de uma rotina específica desenvolvida no aplicativo MatLab (versão 6.1.450 Release 12,1). A seleção do trecho de análise das condições de repouso supina foi realizada por meio da inspeção visual da distribuição dos iR-R (ms) no período de 15 minutos, em que se selecionava o período com maior estabilidade do sinal e que apresentasse uma frequência de amostragem de, no mínimo, 256 pontos conforme preconizada pelo Task Force1. Os ruídos provocados por batimentos ectópicos, alterações do ritmo cardíaco ou por interferências no sinal foram eliminados manualmente, considerando que poderiam interferir na análise e interpretação dos dados. A análise no domínio do tempo foi realizada a partir dos índices RMSSD (ms) e SDNN (ms)1,26. Já a análise no domínio da frequência consistiu na aplicação da transformada rápida de Fourier (FFT) com o janelamento dos iR-R da série temporal pelo método de Hanning e interpolação spline cúbica. Por meio da aplicação desse modelo, foram identificadas a densidade espectral total (DET) e suas três bandas de frequência: muito baixa frequência (MBF), baixa frequência (BF) e alta frequência (AF)1,26. Esses componentes foram determinados em valores absolutos (ms2) e normalizados (un), obtidos pela divisão do componente espectral em questão pela DET, subtraída do componente de MBF e multiplicada por 100. Adicionalmente, os componentes foram expressos como a razão entre as bandas de baixa e alta frequência (razão BF/AF), que reflete o balanço simpato-vagal. VFC de pacientes com doenças cardiorrespiratórias crônicas As análises no domínio do tempo e da frequência também foram realizadas nos iR-R adquiridos durante a realização da M-ASR. Em seguida, por meio de uma outra rotina especifica, também desenvolvida no aplicativo MatLab, foram calculados os índices da FC e dos iR-R obtidos a partir da M-ASR27: razão expiração/inspiração(E/I) – média dos maiores valores de iR-R obtidos durante a fase expiratória dividido pelas médias dos menores valores iR-R da fase inspiratória da M-ASR e a diferença inspiração-expiração (ΔIE) – diferença entre a média dos maiores valores de FC obtidos na fase inspiratória e a média dos menores valores de FC na fase expiratória da M-ASR. Análise estatística Para a aplicação dos testes estatísticos, os dados foram transformados em logaritmos decimais. Nesse sentido, foram utilizados testes estatísticos paramétricos, uma vez que os dados apresentaram distribuição normal (teste Shapiro-Wilk) e homogeneidade das variâncias (teste de Levene). Nas comparações intergrupos (DPOC vs ICC vs Controle) foi utilizado ANOVA one-way com post-hoc de Tukey. As análises foram realizadas no software SPSS Release 10.0.1 (1999) com nível de significância estabelecido de p<0,05. Resultados Vinte e oito voluntários foram estudados sendo: 10 pacientes com DPOC (GD); 9 pacientes com ICC (GI) e 9 indivíduos Tabela 1. Características demográficas, antropométricas e clínicas dos grupos estudados. Variavéis Demográficas / Antropométricas Idade (anos) Estatura (m) Massa corporal (kg) IMC (kg/m²) Ecocardiografia FE (%) Espirometria VEF1 (% predito) VEF1/FVC Características Clínicas SpO2 (%) FR (rpm) GD (N=10) GI (N=9) GC (N=9) 699 1.670.08 649.0 233.3 627 1.680.06 698.5 253.1 645 1.710.05 756.3* 251.2 --- 416 --* 4111 5912 809 8211 9120 1017* 923 154 962 144 961* 123 Valores em média e desvio-padrão. GD=grupo DPOC; GI=grupo ICC; GC=grupo controle; IMC=índice de massa corporal; FE= fração de ejeção do ventrículo esquerdo; VEF1=volume expiratório forçado no 1 s; VEF1/CFV=relação volume expiratório forçado no 1 s e capacidade vital forçada; SpO2=saturação periférica de oxigênio; FR=frequência respiratória em respirações por minuto (rpm). * p<0,05=GD vs GC; (ANOVA one-way com post-hoc de Tukey). controle (GC). A Tabela 1 apresenta os dados referentes às características demográficas, antropométricas e clínicas em repouso dos voluntários estudados. Não foram observadas diferenças significativas entre os grupos para as medidas antropométricas. No entanto, o GD apresentou valores significativamente menores que o GC para a massa corporal, embora os indivíduos fossem classificados como eutróficos28. Os pacientes com DPOC apresentavam estágio moderado da doença (Estágio IIb)29. Adicionalmente, o VEF1 e a razão VEF1/CVF foram significativamente menores que o GC (p<0,05). A capacidade funcional do GD pela escala MRC revelou que os voluntários pertenciam às classes I (N=1), II (N=3) e III (N=6). O GI foi composto por pacientes com disfunção sistólica de etiologia idiopática (N=5) em decorrência de infarto do miocárdio (N=4) e com classe funcional I (N=2), II (N=4) e III (N=3) pela NYHA22. De acordo com as escalas MRC e NYHA para classe funcional, o GD e o GI apresentaram similaridades no grau de dispneia, isto é, limitação para realizar atividades de vida diária que requerem pequenos e médios esforços. Adicionalmente, a SpO2 foi menor no GD que no GC (p<0,05), no entanto GD e GI não diferiram entre si (Tabela 1). Com relação aos índices de VFC na condição de repouso (Tabela 2), observou-se que o GD apresentou menores valores absolutos da BF quando comparado ao GC (p<0,05). Já o GI mostrou menores valores de RMSSD, BFab e de AFab que o GC (p<0,05). Entre o GD e o GI não foram observadas diferenças significativas. Nas comparações durante a M-ASR (Tabela 3), o GD e o GI apresentaram menores valores da razão E/I e do Tabela 2. Comparação dos valores da variabilidade da frequência cardíaca dos grupos estudados, analisados nos domínios do tempo e da frequência durante a condição de repouso. Domínio do tempo FC (bpm) iR-R (ms) RMSSD (ms) SDNN (ms) Domínio da Frequência BFab (ms2) AFab (ms2) BFun AFun BF/AF GD (n=10) GI (n=9) GC (n=9) 7312 838122 17,76,1 23,29,2 647 878119 12,22,6 18,44,5 689 900116 20,46,5† 30,29,1 133,845,5 114,398,3 0,503 0,50,3 2,34,1 99,272,7 53,429,9 0,60,4 0,40,2 2,11,6 305,3208,9*† 178,9113,1† 0,60,2 0,40,2 2,21,7 Valores em média e desvio-padrão. GD=grupo DPOC; GI=grupo ICC; GC=grupo controle; FC=frequência cardíaca; iR-R= intervalos entre as ondas R do ECG; SDNN=desvio-padrão dos iR-R; RMSSD=raiz quadrada da média das diferenças sucessivas ao quadrado entre os iR-R adjacentes; BFab=baixa frequência absoluta; AFab=alta frequência absoluta; BFun= baixa frequência normalizada; AFun=alta frequência normalizada. † p<0,05=GI vs GC e * p<0,05=GD vs GC (ANOVA one-way com post-hoc de Tukey). 109 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):106-13. Michel S. Reis, Ana P. Deus, Rodrigo P. Simões, Isabela A. V. Aniceto, Aparecida M. Catai, Audrey Borghi-Silva. Tabela 3. Comparação dos valores da variabilidade da frequência cardíaca e dos índices da frequência cardíaca e dos intervalos R-R dos grupos estudados, analisados durante a manobra de acentuação da arritmia sinusal respiratória (M-ASR). GD (n=10) GI (n=9) GC (n=9) Domínio do tempo Razão E/I 1,10,06 1,10,03 1,20,1*† ΔIE (bpm) 7,03,5 4,91,6 12,74,2*† RMSSD (ms) 18,315,6 17,64,1 43,527,9*† SDNN (ms) 32,121,2 28,210,1 63,829,1*† Domínio da Frequência 1052,71538,3 463,2403,4 3551,23581,2*† BFab (ms2) 2 AFab (ms ) 93,9153,8 65,337,4 626,8906,8*† BFun 0,90,03 0,70,2 0,80,07 AFun 0,80,03 0,20,2 0,20,07 BF/AF 15,915,3 9,211,1 11,37,5 Valores em média e desvio-padrão. GD=grupo DPOC; GI=grupo ICC; GC=grupo controle; Razão E/I=razão entre a média dos maiores valores dos intervalos R-R obtidos durante a fase expiratória e a média dos menores valores dos iR-R da fase inspiratória da M-ASR; ΔIE=diferença entre a média dos maiores valores de FC obtidos durante a fase inspiratória e a média dos menores valores de FC durante a fase expiratória da M-ASR; RMSSD=raiz quadrada da média das diferenças sucessivas ao quadrado entre os iR-R adjacentes dividido pelo número de iR-R menos um; SDNN=desvio-padrão dos iR-R; BFab=baixa frequência absoluta; AFab=alta frequência absoluta; BFun=baixa frequência normalizada; AFun=alta frequência normalizada. * p<0,05=GD vs GC; † p<0,05=GI vs GC (ANOVA oneway com post-hoc de Tukey). IE quando comparados ao GC (p<0,05). Para os índices da VFC na M-ASR no domínio do tempo, os pacientes do GD e do GI apresentaram valores significativamente menores do RMSSD e do SDNN que o GC. Da mesma forma, no domínio da frequência, o GD e o GI apresentaram valores menores da BFab e AFab comparativamente ao GC (p<0,05). Adicionalmente, a Figura 1 ilustra o comportamento espectral de um indivíduo representativo de cada grupo. O GD e o GI apresentaram menores valores da densidade espectral total em comparação ao GC. Discussão Os principais achados do nosso estudo mostraram que tanto os pacientes com DPOC como os com ICC apresentaram alterações da modulação autonômica da FC em repouso e durante a M-ASR quando comparados a indivíduos aparentemente saudáveis pareados pela idade. Impacto das doenças cardiorrespiratórias na VFC em repouso Neste estudo, os pacientes com DPOC apresentaram reduzida atividade simpática quando comparados ao controle. Alguns autores8,30 têm observado que tanto a atividade simpática 110 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):106-13. quanto a parassimpática estão reduzidas na DPOC . Em contraste, Volterrani et al.7 observaram que pacientes com DPOC apresentaram maiores valores da banda de AF (un), refletindo em aumento da atividade parassimpática sobre o controle da FC. Esses autores consideram que os achados possam estar relacionados à broncoconstrição e, consequentemente, à redução do VEF1 apresentada por esses pacientes. No entanto, no estudo de Volterrani et al.7, algumas características metodológicas que diferem do nosso estudo podem ter influenciado os resultados. Os voluntários do grupo DPOC desses autores7 apresentavam uma faixa-etária ampla (31 a 68 anos), com um grande número de indivíduos jovens e com diagnóstico de asma; portanto, possivelmente, já apresentavam resposta vagal exacerbada. Nossos resultados são similares aos reportados por Chen, Chen e Kuoa9, que evidenciaram redução da atividade simpática em pacientes com DPOC. No presente estudo, os pacientes com ICC também apresentaram redução significativa da VFC quando comparados ao grupo controle, com reduzida atividade simpática e parassimpática. Esses achados corroboram os de outros autores que também observaram redução dos índices no domínio do tempo em pacientes com ICC31. De acordo com os nossos achados, Saul et al.32 observaram que pacientes com ICC congestiva apresentavam redução de todas as bandas de frequência em relação ao grupo saudável com características antropométricas e idades semelhantes. Guzetti et al.31 observaram que pacientes com ICC apresentaram redução dos índices no domínio do tempo e menores valores da banda BF quando comparados aos indivíduos saudáveis, refletindo em menor atividade simpática. Por outro lado, outros autores15-17 têm relatado que a VFC de pacientes com ICC está reduzida, com predominância da atividade simpática. Esses autores sugerem que a hiperatividade simpática no controle da FC é reflexo das modificações compensatórias do sistema autonômico provocadas pela evolução da doença, as quais têm por finalidade garantir a homeostasia com o aumento adequado do débito cardíaco. Neste estudo, encontrou-se redução tanto da atividade simpática quanto da parassimpática sobre o nodo sinusal, possivelmente relacionadas às alterações regulatórias dos centros autonômicos12, à sensibilidade dos quimioceptores13 ou ao padrão respiratório marcado por oscilações periódicas apresentadas por esses pacientes14. Entretanto, torna-se importante salientar que nossos achados foram observados nos valores absolutos da banda de BF que sofre influência das bandas de MBF, associadas aos sistemas de controle autonômico de longa duração. Adicionalmente, os pacientes com ICC envolvidos neste trabalho mantiveram o tratamento medicamentoso. A ação dos ß-bloqueadores33 sobre os receptores do nodo sinusal, dos VFC de pacientes com doenças cardiorrespiratórias crônicas Considerações metodológicas O presente estudo apresentou algumas limitações. Inicialmente, em relação aos pacientes envolvidos no estudo, grupos com maior número de participantes seria ideal; no entanto, devido aos rígidos critérios de exclusão, não foi possível permitir uma amostra mais ampla, uma vez que em ambas as doenças podem coexistir alterações respiratórias e cardiovasculares associadas. Adicionalmente, considera-se que a realização de um exame de ecocardiografia entre os pacientes com DPOC seria importante para a exclusão da coexistência de cor pulmonale ou insuficiência cardíaca direita, bem como a gasometria arterial para caracterizar os pacientes com DPOC hipoxêmicos ou hipercapneicos. Da mesma forma, a mensuração e o controle do volume corrente durante a respiração controlada, os quais 10000 9000 Densidade espectral total (ms 2) Com relação aos índices da FC e dos iR-R obtidos com MASR, observou-se que tanto os portadores de DPOC quanto os pacientes com ICC apresentaram resposta parassimpática reduzida comparativamente aos indivíduos controles. Os resultados corroboram outros achados da literatura que têm demonstrado que pacientes com DPOC35,36 e ICC32 apresentam redução significativa da ASR em comparação a voluntários saudáveis. No entanto, não foi encontrado nenhum estudo prévio que comparasse os índices de VFC e da ASR em ambas as patologias. As variáveis relacionadas à VFC analisadas no domínio do tempo (RMSSD e SDNN) e da frequência (BFab e AFab) revelaram que os pacientes com DPOC e ICC apresentavam menor VFC que os indivíduos do GC. A ASR, produto da interação entre os sistemas respiratório e cardiovascular, sofre influência da frequência respiratória e do volume corrente37. Em nosso estudo, como a frequência respiratória foi controlada durante M-ASR, acredita-se que esses menores valores dos índices da ASR estejam possivelmente relacionados ao volume corrente reduzido, fortalecendo ainda mais nossa especulação de que a redução da VFC observada nos pacientes de ambos os grupos possa estar relacionada às alterações da complacência pulmonar e à resposta dos receptores de estiramentos pulmonares. A 8000 7000 6000 5000 4000 3000 2000 1000 0 B Densidade espectral total (ms 2) Impacto das doenças cardiorrepiratórias nos índices de VFC durante a M-ASR não foram realizadas neste estudo, poderiam contribuir para a consolidação e interpretação dos resultados encontrados no presente estudo. Por fim, a avaliação da função pulmonar 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0.4 0.45 0.5 0 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0.4 0.45 0.5 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 Frequência (Hz) 0.35 0.4 0.45 10000 9000 8000 7000 6000 5000 4000 3000 2000 1000 C 10000 9000 Densidade espectral total (ms 2) digitálicos34 sobre as bombas de sódio e potássio do miocárdio e dos inibidores da enzima conversora de angiotensina favorecem a regulação autonômica do coração, atenuando a hiperatividade simpática e, dessa forma, podem ter influenciado nossos resultados. 8000 7000 6000 5000 4000 3000 2000 1000 0 0 0.5 Figura 1. Ilustração da densidade espectral de potência (ms2) obtida pelo modelo autorregressivo de Yule-Walker durante a manobra de acentuação da arritmia sinusal respiratória de três voluntários representativos. Em (A), paciente com doença pulmonar obstrutiva crônica; (B) paciente com insuficiência cardíaca crônica; e (C) indivíduo controle. 111 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):106-13. Michel S. Reis, Ana P. Deus, Rodrigo P. Simões, Isabela A. V. Aniceto, Aparecida M. Catai, Audrey Borghi-Silva. completa (volumes estáticos) seria de especial relevância na avaliação dos pacientes, no entanto tais mensurações envolvem equipamentos de alto custo. Relevância clínica O controle autonômico é um dos principais meios de ajuste dos sistemas orgânicos em resposta a mudanças posturais, físicas; sobre estresse ou durante o exercício físico; em condições de saúde e em coexistência de patologias. Nesse sentido, o conhecimento das variações autonômicas da frequência cardíaca em indivíduos com patologias cardiorrespiratórias contribui para uma avaliação fisioterapêutica mais adequada, para a prescrição de programas de reabilitação bem como para os efeitos de diferentes intervenções para a Fisioterapia. Conclusão Em conclusão, os resultados deste estudo sugerem que pacientes portadores de DPOC ou ICC apresentam modificação no controle autonômico da FC, com atividades simpática e/ou parassimpática reduzidas, quando comparados aos indivíduos saudáveis devido à integração cardiorrespiratória de ambas as patologias. Além disso, tanto a DPOC quanto a ICC mostraram resposta atenuada frente à acentuação da atividade parassimpática durante a M-ASR. Agradecimentos Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq: Proc. 478799/2003-9). Referências bibliográficas 1. Task force of european society of cardiology the North American society of pacing electrophysiology. Heart rate variability: standards of measurement, physiological interpretation, and clinical use. Circulation. 1996;93(5):1043-65. 2. Sztajzel J. Heart rate variability: a noninvasive electrocardiographic method to measure the autonomic nervous system. Swiss Med Wkly. 2004;134:514-22. 3. 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Sabe-se que diante de uma escassa literatura sobre efeitos do US em tecidos sadios, muitos profissionais fisioterapeutas acabam realizando aplicações infundadas de métodos e parâmetros. Objetivo: Avaliar possíveis alterações histológicas e morfométricas do tecido sadio in vivo de ratos Wistar irradiados com diferentes intensidades de US. Métodos: Trinta ratos da linhagem Wistar, distribuídos aleatoriamente em cinco grupos de seis animais cada foram tratados na região dorsal do lado direito numa área de 4cm2. O lado esquerdo serviu como controle. O tratamento foi feito durante quatro dias com 2 minutos de irradiação. Verificou-se a intensidade de saída com dosímetro de precisão antes das aplicações. Analisou-se a histologia e a morfometria por meio do software Image Tool. Resultados: Observou-se um discreto infiltrado inflamatório e adelgaçamento das fibras da derme, principalmente dos grupos irradiados com 1.5 e 2W/cm2. Notou-se também um aumento na espessura da epiderme nas amostras dos animais irradiados. Para avaliar os resultados quantitativos, utilizou-se como análise estatística ANOVA one way e o teste post hoc de Tukey. Na espessura da epiderme, obtiveram-se diferenças significativas entre grupo controle e os grupos irradiados com 1.0, 1.5 e 2.0W/cm2. Conclusão: Sob ação do US nas doses maiores houve alterações na epiderme e derme, respectivamente, o aumento da espessura e proliferação com adelgaçamento das fibras colágenas, o que alerta para possíveis implicações do uso do US em estética. Palavras-chave: ultrassom terapêutico; dosimetria; efeitos colaterais; danos teciduais. Abstract Background: Ultrasound (US) is a widely used and studied resource for physical therapy treatments. Given the scarcity of studies on the effects of US on healthy tissue, many physical therapy professionals make unfounded decisions regarding its methods and parameters of application. Objectives: The possible histological and morphometric changes in the healthy tissue of Wistar rats in vivo irradiated with different intensities of US were evaluated. Methods: Thirty Wistar rats, randomly distributed among five groups of six animals each, were treated on the right side of the dorsal region, over an area of 4 cm2. The left side served as a control. The treatment was applied over a four-day period, with two mins. of daily irradiation. The output intensity was checked using a precision dosimeter before the applications. Histological and morphometric analyses were performed using the Image Tool software. Results: There were slight inflammatory infiltration and thinning of the dermis fibers, particularly in the groups irradiated with 1.5 and 2 W/cm2. There was also thickening of the epidermis in the samples from the irradiated animals. To evaluate the quantitative results, the statistical analyses consisted of one-way ANOVAs with the post-hoc Tukey tests. There were significant differences in epidermis thicknesses between the control group and the groups irradiated with 1.0, 1.5 and 2.0 W/cm2. Conclusions: Higher doses of US produced changes in the epidermis and dermis, i.e. increased thickness and collagen fiber thinning and proliferation, respectively. These results serve as a warning of the possible implications of therapeutic ultrasound use in esthetics. Key words: Therapeutic ultrasound; dosimetry; side effects; tissue damage. Recebido: 28/10/08 – Revisado: 25/03/09 – Aceito: 22/06/09 1 Programa de Pós-Graduação Interunidades em Bioengenharia, Escola Engenharia de São Carlos (EESC), Universidade de São Paulo (USP), São Carlos (SP), Brasil 2 Departamento de Engenharia Elétrica, EESC, USP 3 Departamento de Patologia, Faculdade de Odontologia, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Araraquara (SP), Brasil 4 Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), São Carlos (SP), Brasil Correspondência para: Nivaldo Antonio Parizotto, Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de São Carlos(UFSCar), Via Washington Luiz, Km 235, CEP 13.565-905, São Carlos (SP) Brasil, e-mail: [email protected] 114 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):114-20. Ultrassom e pele Introdução Sistema tegumentar A energia ultrassônica é um dos recursos físicos amplamente utilizado nos tratamentos de fisioterapia, estéticos e de diagnósticos médicos1. Vários pesquisadores evidenciaram o aumento da síntese de colágeno pela aplicação do ultrassom (US), acelerando assim a cicatrização tecidual em diversos tipos de lesões2. Com a estimulação do US em células que produzem colágeno tipo I e II com diferentes intensidades, Tsai et al.3 comprovou um aumento significativo na síntese das mesmas quando comparadas com as do grupo controle. Iwashina et al.4 pesquisaram o estímulo do US pulsado com diferentes intensidades nas células in vitro do disco intervertebral de coelhos (7.5 até 120 mW/cm2) média espacial e média temporal (ISATA, spatial average temporal average intensity), constataram aumento significativo da síntese de colágeno pelas células do disco intervertebral. Esse resultado foi observado também nos grupos irradiados com menores intensidades. Por outro lado, há uma escassa literatura sobre os efeitos do US em tecidos sadios, condição básica dos tratamentos estéticos5, como também em muitos desses efeitos terapêuticos aplicados clinicamente, ainda não se sabe claramente quais são os mecanismos de ação6. Gonçalves et al.7 estudaram o risco potencial do US nas terapias dermatológicas, estéticas e suas implicações no sistema cardiovascular. Demonstraram alterações dos parâmetros hemodinâmicos; níveis de lipídios e glicose séricos, além de produzir atenuação da vasodilatação induzida por adenosina, um possível fator para a presença de riscos cardiovasculares. Pesquisando a indução do US na desgranulação dos mastócitos da pele5, observou-se a ocorrência de lesão nas células dos mastócitos quando aplicado com intensidade de 3,0W/cm2. Em outra abordagem, Valentini, Maciel e Parizotto8 estudaram a calibragem dos aparelhos de US, evidenciando a importância da conformidade dos equipamentos de US terapêutico com a NBR-IEC 1689. Neste estudo foram apresentados relatos de que os aparelhos de US no Brasil e no mundo não atendem às especificações dos parâmetros pedidos pela norma. Dessa forma, torna-se preocupante a popularização e a crescente procura do uso do US nos tratamentos estéticos. Sabe-se que em tratamentos estéticos são utilizadas intensidades mais altas (2,5 a 3,0 W/cm2) em maior número de aplicações. Esses fatores combinados podem aumentar o risco de lesão tecidual. A principal motivação do presente estudo foi a hipótese dos possíveis riscos das aplicações do US nos tratamentos estéticos. O objetivo desta pesquisa foi avaliar histologicamente possíveis alterações do tecido sadio in vivo de ratos Wistar irradiados com diferentes intensidades, analisando os cortes histológicos de forma qualitativa e quantitativa. O sistema tegumentar é formado pela epiderme e derme. A primeira é constituída por células epiteliais chamadas de queratinócitos que são produzidas na camada basal, e a derme é responsável pela resistência e elasticidade da pele9, (Figura 1). Sabe-se que as camadas da pele são avasculares, com isso, a única forma de nutrição é feita por difusão através dos leitos capilares da derme, que se apresenta bem vascularizada9. Na camada basal, ocorre uma constante renovação celular, com intensa atividade mitótica. Essas células sofrem diferenciação, sendo empurradas para a camada espinhosa e lúcida até chegarem à epiderme. Tais células formam de quatro a seis camadas sobrepostas de queratinócitos, conferindo uma resistência mecânica à epiderme. Na camada granular, são sintetizadas substâncias que asseguram a coesão ao estrato córneo. A camada córnea é a mais externa, constituída por células anucleadas e achatadas chamadas de corneócitos10 (Figura 1). Ultrassom A terapia ultrassônica caracteriza-se por apresentar vibrações mecânicas de alta frequência, acima de 20 KHz11. A principal forma de propagação da onda sonora no tecido biológico é longitudinal, em que as partículas vibram paralelamente à direção de propagação da onda12. Conforme Hedrick, Hykes e Starchman13, a onda se propaga à medida que sofre alterações de pressão, ocorrem regiões de alta pressão (maior compressão) e regiões de baixa pressão (rarefação). O campo acústico do US, na parte mais próxima do transdutor, chamada de zona Cada número representa uma camada da epiderme, que será especificada com seu respectivo nome; 1- Camada Córnea, 2- Camada Lúcida, 3- Camada Granulosa, 4Camada Espinhosa, 5- Camada Basal ou Germinativa. Da camada basal até a córnea, as células passam pelo processo de diferenciação. A derme está especificada pela chave. Figura 1. Mostra um tecido epitelial normal sem alterações. Ao lado, encontram-se as seis camadas da epiderme. 115 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):114-20. Daiane M. De Bem, Carlos D. Maciel, José A. Zuanon, Carlos B. Neto, Nivaldo A. Parizotto Fresnel, apresenta-se como um feixe bem irregular, com picos espaciais e temporais de energia. À medida que o feixe se afasta do transdutor, começa a ter um comportamento mais regular, chamado de campo distante ou zona Fraunhofer13. Diante disso, sabe-se que os tratamentos de fisioterapia são realizados no campo próximo, o que dificulta mensurar o comportamento da onda no tecido biológico. Materiais e métodos Tabela 1. Separação dos grupos para realização do experimento com suas respectivas intensidades e frequências utilizadas. Grupo I II III IV V LE Controle Controle Controle Controle Controle LD Sham Experimental Experimental Experimental Experimental I(W/cm2) 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 LE representa a região denominada de controle; LD é a região experimental. Figura 2. Região dorsal tricotomizada com a marcação da respectiva área a ser estudada. Figura 3. Equipamentos utilizados para aferição das diferentes intensidades de cada grupo mais o equipamento de US utilizado no experimento. 116 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):114-20. Utilizou-se um total de 30 ratos (Rattus norvegicus: var. albinus, Rodentia, mammalia), adultos, da linhagem Wistar, machos, com uma massa corporal de 195,06 g20,9. No presente estudo, os animais foram distribuídos aleatoriamente em cinco grupos de seis animais. Cada grupo foi irradiado com diferente intensidade, conforme a Tabela 1. O local escolhido para a realização das aplicações do US foi a região dorsal (Figura 2), sendo dividida em duas partes; lado esquerdo (LE) controle do próprio animal e lado direito (LD) experimental. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) sob protocolo número 007/2008. Inicialmente os animais passaram pelo processo de adaptação com o pesquisador durante uma semana a fim de evitar um nível de estresse elevado e assegurando uma confiabilidade nos resultados do trabalho. Logo após, os animais foram colocados na cuba, onde foram anestesiados com éter etílico para realização da tricotomia digital da região a ser tratada (Figura 2). Durante dois dias, foi simulado o tratamento – com o US desligado – com o objetivo de adaptar os animais ao procedimento. O tratamento foi realizado durante quatro dias consecutivos, com duração de 2 minutos de irradiação em uma área de 4cm2. O aparelho de US utilizado foi da marca BIOSET, Sonacel Expert, de frequência 3 MHz (Figura 3). Antes de cada aplicação, foram realizados testes de aferição em cada grupo a fim de se obter maior precisão das diferentes intensidades irradiadas. Para isso, foi utilizado um dosímetro de precisão (balança), ULTRASOUND POWER METER UPT-1 MODEL (Figura 3), para determinar a intensidade média espaço-temporal. Após a quarta aplicação do tratamento, os animais foram anestesiados por meio da combinação de cetamina ® (35 mg/ Kg) e xilazina ® (4 mg/Kg), injetada de forma intramuscular na coxa. Em seguida, deu-se início à retirada do tecido da região dorsal, epiderme e derme. Os animais ainda anestesiados foram submetidos à eutanásia com guilhotina por um profissional treinado. Após a coleta, as amostras foram colocadas nos cassetes com papel filtro e mergulhadas em formaldeído 10% não tamponado por 24 horas. Passaram pela tramitação padrão para obtenção dos cortes histológicos incluídos em parafina e posteriormente corados com Hematoxilina-Eosina (HE). Os cortes histológicos foram analisados microscopicamente de forma qualitativa a fim de avaliar comparativamente a estrutura do tecido epitelial no grupo controle e experimental. Ultrassom e pele Essas análises foram realizadas no laboratório de Odontologia de Fisiologia e Patologia da Universidade Estadual de São Paulo (UNESP), Araraquara (SP), Brasil. Para obtenção das imagens histológicas foi utilizado o microscópio Olympus BX51 e a câmera digital da marca Olympus Camedia C-5060, 5.1 mega pixels. Para obtenção das medidas da espessura da epiderme de cada uma das amostras, foi realizada uma análise quantitativa das imagens dos cortes histológicos, utilizando o software UTHSCSA Image Tool14. O software foi calibrado utilizando-se a imagem de uma régua fotografada no mesmo aumento, e todas as imagens foram analisadas mediante essa calibração. Foram realizadas quatro medidas da espessura da epiderme em regiões aleatórias. Tal procedimento foi feito nas seis amostras de cada grupo, obtendo-se 120 medidas para cada lado (LE e LD). Os resultados de cada grupo foram submetidos à análise estatística por meio do teste de variância ANOVA one way com nível de significância de 1% e complementado com o post hoc de Tukey, para verificar a existência de diferenças significantes entre as médias dos grupos. A análise dos dados quantitativos foi realizada com a biblioteca de estatística do Excel e o programa Bioestat 3.0. tendência ao aumento progressivo da espessura da epiderme quando correlacionado com as intensidades utilizadas em cada grupo. Constata-se que ocorre uma saturação desse aumento após 1W/cm2, levando a um patamar com doses superiores. Discussão A alta intensidade utilizada em tratamentos estéticos é uma das principais preocupações deste estudo. Sabe-se que A B C D E F Resultados Resultados qualitativos Os cortes histológicos foram observados ao microscópio por um patologista experiente, e foram constatadas alterações teciduais nos cortes das amostras irradiadas com US. A Figura 4 mostra os cortes histológicos dos grupos III, IV e V. As imagens da esquerda (A, C e E) são as amostras controle de cada um dos grupos. As imagens da direita (B, D e F) são as amostras dos grupos experimentais. No grupo II irradiado com 0,5W/cm2, não houve alteração. As alterações foram visíveis a partir das amostras irradiadas com 1W/cm2, quando comparadas com o controle. Observa-se aumento na espessura da epiderme, infiltrado inflamatório e uma proliferação das fibras colágenas, que se apresentam menores e adelgaçadas. Resultados quantitativos O teste ANOVA indicou haver diferença entre os grupos estudados. O teste de Tukey indicou que o grupo I possui a menor média na espessura da epiderme (29,25μm6,53), quando comparado com os grupos III (40,62μm9,49), IV (45,32μm9,43) e V (43,91μm9,55), e as diferenças foram significativas (p0,01). Esses dados mostraram que os grupos irradiados com intensidades mais elevadas apresentaram as maiores médias. Observa-se, na Figura 5, uma Figura 4. Em A - Mostra o corte histológico da amostra do grupo III, que não recebeu irradiação LE. O tecido encontra-se normal, sem alterações, com um aumento de 200x. O triângulo serve para comparar as fibras dos grupos controle e experimental. Em B - Mostra o corte histológico da amostra do grupo III ,irradiado com 1,0 W/cm2 LD, com aumento de 200x. O tecido encontra-se com alterações, as pontas de setas indicam aumento da espessura da epiderme, e o triângulo indica adelgaçamento das fibras. Em C - Mostra o corte histológico da amostra do grupo IV, (controle) LE. Em D - Mostra o corte histológico da amostra do grupo IV, LD, irradiado com 1,5 W/cm2. Observou-se aumento na espessura da epiderme indicado apenas com pontas de flecha, o adelgaçamento das fibras na região da derme marcado com triângulos e um discreto infiltrado inflamatório representado pelas flechas inteiras, quando comparado com as figuras do grupo controle LE. Em E - Mostra o corte histológico da amostra do grupo V, LE (controle), o tecido encontra-se sem alteração, com aumento de 200x. Em F - Mostra o corte histológico da amostra do grupo V, LD irradiado com intensidade de 2,0 W/cm2, apresentando as mesmas alterações do corte dos grupos III e IV, LD. 117 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):114-20. Medidas da Espessura da Epiderme em μm Daiane M. De Bem, Carlos D. Maciel, José A. Zuanon, Carlos B. Neto, Nivaldo A. Parizotto 68 58 48 38 28 10 GI GII GIII GIV GV Grupo I (sham), Grupo II (0,5 W/cm2), Grupo III (1,0 W/cm2), Grupo IV (1,5 W/cm2) e Grupo V (2,0 W/cm2). *Grupos que apresentaram diferenças significativas das médias (p0,01). Figura 5. Gráfico Box-Plot mostrando a diferença das médias das medidas da espessura da epiderme em μm de cada grupo, com desviopadrão e valores de máximos e mínimos. o US é utilizado com muita frequência nas clínicas para fins terapêuticos e estéticos. Entretanto, pesquisas revelam dados infundados referentes à intensidade, tempo de exposição e às condições de calibragem dos aparelhos de US15. Guirro et al.16 pesquisou a intensidade acústica média temporal e média espacial dos aparelhos de US utilizados nas clínicas da cidade de Piracicaba, com o objetivo de analisar se haveria alguma diferença entre a intensidade que o painel do equipamento registra e a intensidade distribuída do transdutor. Este estudo mostrou que a maioria dos equipamentos emitiam energia acima de 30%, ultrapassando o valor das especificações propostas pela norma. Noutro estudo, observou-se que um terço dos equipamentos de US estavam fora dos padrões, reduzindo a confiabilidade na aplicação e nos resultados17. Preocupado em avaliar o efeito e o risco potencial do US em altas intensidades no sistema venoso, Araújo et al.18 realizou aplicações na veia auricular de coelhos. Constatou-se que, com intensidade de 3W/cm2, no modo contínuo, houve a indução de trombose venosa e um aumento dos linfócitos de forma significativa, podendo ser observada macroscopicamente por apresentar edema, eritema e calor. As imagens do trabalho evidenciam lesão na parede vascular com extravasamento de células. Diante dos resultados obtidos no presente estudo, sugere-se que a aplicação do US também tinha gerado alterações no tecido epitelial sadio de ratos Wistar. Obteve-se um notório aumento na espessura da epiderme. Isso provavelmente ocorreu por estímulo na mitose das células da camada basal da epiderme. As evidências encontradas nos resultados apresentaram uma relação com o trabalho realizado por Silva19, que 118 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):114-20. avaliou o efeito do US pulsado na atividade mitótica androgênica das células de Leydig. Ele constatou um aumento na velocidade do ciclo celular. Tais evidências mostraram o papel da camada proliferativa da epiderme no processo de renovação celular, susceptível à influência da energia do US. Boucaud et al.20 encontraram alterações no tecido epitelial. Eles pesquisaram o efeito biológico que o US pode causar com a fonoforese. As amostras de pele in vitro que foram irradiadas acima de 2,5 W/cm2 apresentaram lesão. Esses autores realizaram estudos em tecido epitelial de ratos in vivo e constataram lesões mais profundas, entre as quais necrose capilar e muscular. Tais dados corroboram os achados deste trabalho. Conforme a análise histológica do presente estudo, também foram observadas alterações das fibras colágenas localizadas na região da derme nas amostras irradiadas a partir de 1W/cm2. Isso leva a considerar o adelgaçamento das fibras como um mecanismo de proliferação de fibras colágenas, levando a apresentar no local fibras mais jovens e com grande probabilidade de redução da resistência mecânica deste tecido. Resultados parecidos foram constatados no trabalho realizado por Visnardi21, que pesquisou o efeito do US de baixa intensidade em colágeno da pele sadia de ratos e mostrou, por meio da análise de birrefringência textural (intrínsica), que houve uma desorganização das fibras colágenas, principalmente na camada mais profunda da derme. Outra alteração tecidual observada neste estudo foi a presença de um discreto infiltrado inflamatório abaixo da epiderme das amostras irradiadas acima de 1W/cm2, o que pode estar relacionado com o aumento da temperatura tecidual local. Esse aumento de temperatura pode se relacionar ao comportamento do campo acústico do US que se apresenta de forma irregular. Essa irregularidade pode apresentar picos de intensidade, resultando em maior aquecimento em algumas regiões do tecido. Neste trabalho, as biópsias foram realizadas no mesmo dia após a última aplicação do US. Com isso, pode-se considerar que as alterações obtidas do tecido epitelial são de um caráter mais agudo. No entanto, é importante salientar que elas ocorreram com apenas quatro dias de aplicação. Já nos tratamentos estéticos, geralmente são realizadas mais de 20 sessões com intensidades bastante altas (nas faixas entre 2,5 à 3,0W/cm2), maiores do que as utilizadas neste trabalho. Conforme os resultados morfométricos apresentados na Figura 5, observou-se um aumento linear em relação às medidas da espessura da epiderme até a intensidade de 1,0W/cm2. Nos grupos irradiados com 1,5 e 2,0W/cm2, esse aumento foi mantido. Aparentemente houve uma resposta máxima de mitose nas células da camada basal, resultando em espessuras semelhantes ao final dos quatro dias de tratamento. Em um trabalho de revisão de literatura sobre Ultrassom e pele dosimetria do US22, os autores relatam que as altas dosagens, como 1,5 e 2,0W/cm2, podem ser menos efetivas do que as doses baixas. Além disso, os autores chamam a atenção para o fato de que nas aplicações clínicas se observam evidências de que as altas intensidades não são tão eficientes. Diante disso, sugerem que os profissionais preferencialmente utilizem subdoses ao invés de superdosagens, por serem mais efetivas e oferecerem menor risco de lesão. Além de apresentar uma escassa literatura sobre efeitos do US no tecido sadio, não se sabe bem ao certo que fatores causam essas modificações no tecido biológico. A maioria dos efeitos atribuídos ao tratamento ultrassônico são dependentes de mediadores químicos cujos mecanismos de ação no tecido biológico não são bem conhecidos. Existem muitas divergências na literatura23, portanto, sugere-se, com os resultados deste estudo, que haja uma grande precaução no uso do US, especialmente nos tratamentos estéticos, em que as doses são elevadas, com risco de ocasionar lesões, algumas delas internas, cujas consequências podem aparecer tardiamente. Conclusão O presente estudo experimental demonstra que o US contínuo (de 3MHz, com aplicações de 2 minutos de duração e nas intensidades acima de 1W/cm2 até 2W/cm2) no tecido epitelial sadio de ratos Wistar provocou alterações no tecido biológico. Tais alterações se caracterizaram por um aumento significativo na espessura da epiderme, presença de um discreto infiltrado inflamatório abaixo da epiderme e também uma alteração das fibras colágenas, tornando-as mais delgadas e numerosas. Portanto, tornam-se relevantes maiores estudos do US aplicado em tecidos sadios, para avaliar as possíveis alterações morfológicas e bioquímicas, além disso, o estudo dos mecanismos de ação que estariam gerando tais modificações, por meio de diferentes técnicas. Cuidados são importantes na aplicação do US. Sugerem-se estudos que observem os efeitos a longo prazo das aplicações de US, a fim de verificar se as alterações permanecem e qual a aparência que elas apresentam após um período mais prolongado de tratamento. Referências bibliográficas 1. Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT. Ultra-som sistemas de fisioterapia: prescrições para desempenho e métodos de medição na faixa de freqüência de 0,5 MHz a 5 MHz. Rio de Janeiro: ABNT; 1998. 2. Dyson M. Mechanisms involved in therapeutic ultrasound. Physiotherapy. 1987;73:116-20. 3. Tsai WC, Pang JHS, Hsu CC, Chu NK, Lin MS, Hu CF. Ultrasound stimulation of types I and III collagen expression of tendon cell and upregulation of transforming growth factor . J Orthop Res. 2006;24(6):1310-6. 4. Iwashina T, Mochida J, Miyazaki T, Watanabe T, Iwabuchi S, Ando K, et al. Low-intensity pulsed ultrasound stimulates cell proliferation and proteoglycan production in rabbit intervertebral disc cells cultured in alginate. 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Efeito da estimulação ultrasônica sobre a espermatogênese de ratos pré-púberes e adultos. Estudo experimental [dissertação]. São Carlos (SP): Universidade de São Paulo; 2007. 119 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):114-20. Daiane M. De Bem, Carlos D. Maciel, José A. Zuanon, Carlos B. Neto, Nivaldo A. Parizotto 20. Boucaud A, Montharu J, Machet L, Arbeille B, Machet MC, Patat F, et al. Clinical, histologic and electron microscopy study of skin exposed to lowfrequency ultrasound. Anat Rec. 2001;264(1):114-9. 22. Blume K, Matsudo E, Lopes MS, Lopes LG. Dosimetria proposta para o tratamento por ultra-som – uma revisão de literatura. Fisioter Mov. 2005;18(3):55-64. 21. Visnardi AR. Efeito do ultra-som de baixa intensidade no colágeno da pele sadia de ratos [dissertação]. São Carlos (SP): Universidade de São Paulo; 2007. 23. Lopes LG, Bertolini SMMG, Martins ER, Gewehr P, Lopes MS. Análise morfométrica de tecido muscular de coelhos submetido a ultra-som pulsado e contínuo de 1 MHz. Fisioter Pesqui. 2005;12(3):15-21. 120 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):114-20. ISSN 1413-3555 ARTIGO ORIGINAL Rev Bras Fisioter, São Carlos, v. 14, n. 2, p. 121-6, mar./abr. 2010 © Revista Brasileira de Fisioterapia Validade concorrente da versão brasileira do SRS-22r com o Br-SF-36 Concurrent validity of the brazilian version of SRS-22r with Br-SF-36 Giselle C. L. Rosanova, Bruna S. Gabriel, Paula M. F. Camarini, Priscila E. S. Gianini, Daniel M. Coelho, Anamaria S. Oliveira Resumo Contextualização: A validade concorrente, relevante na adaptação transcultural, refere-se à relação entre o desempenho do instrumento de interesse e o desempenho de instrumento semelhante com validade conhecida. Objetivo: Realizar a validação concorrente da versão brasileira do questionário revisado da Scoliosis Research Society (Br-SRS-22r) com a versão brasileira do Short Form-36 (Br-SF-36). Métodos: Foram selecionados 54 pacientes com escoliose idiopática com média de 19,9 anos (7,7) e curvaturas com média de 31,6° (20,5° graus) Cobb, variando entre 10º e 92º. Os questionários tiveram seus resultados convertidos em escores, e a análise estatística correlacionou os domínios concorrentes utilizando o cálculo de coeficiente de Spearman. Resultados: Os domínios de melhor correlação foram função do Br-SRS-22r com função física do Br-SF-36 (r=0,83) e dor do Br-SRS-22r com dor do Br-SF-36 (r=0,86). Entretanto, os domínios autoimagem e satisfação com o tratamento do Br-SRS-22r apresentaram baixa correlação com seus domínios concorrentes do Br-SF-36. Discussão: Houve uma correlação satisfatória entre os questionários, sendo que as melhores correlações indicam maior semelhança nos parâmetros avaliados entre os respectivos instrumentos. As melhores correlações foram as dos domínios função e dor, não ocorrendo em saúde mental, possivelmente devido às dificuldades de interpretação de suas questões no Br-SF-36. Para os domínios autoimagem e satisfação com o tratamento do Br-SRS-22r, a correlação é pouco satisfatória por não serem especificamente abordados pelo SF-36. Conclusão: A versão brasileira do SRS-22r apresentou resultados satisfatórios para a validação concorrente com o Br-SF-36, sendo considerada válida para a versão adaptada à cultura brasileira. Palavras-chave: escoliose; questionário; qualidade de vida; validade. Abstract Background: An important parameter in cross-cultural adaptations, and concurrent validity are the relationships between the performance of an instrument of interest and the performance of a similar instrument with known validity. Objective: To determine the concurrent validity of the Brazilian version of the revised questionnaire of the Scoliosis Research Society (Br-SRS-22r) and the Brazilian version of the Short-Form-36 questionnaire (SF-36). Methods: Fifty-four patients with idiopathic scoliosis were selected. The mean age was 19.9 yrs. (7.7) and the mean Cobb angle of curvature was 31.6° (20.5°), ranging from 10º to 92º. The results from each questionnaire were converted into scores and, in the statistical analyses, the relationships between the concurrent domains were analyzed using Spearman’s correlation coefficient. Results: The best correlations were found between the function and pain domains: function in the Br-SRS-22r and physical function in the Br-SF-36 (r=0.83); pain in the Br-SRS-22r and pain in the Br-SF-36 (r=0.86). However, the domains of self-image and satisfaction with treatment with the Br-SRS-22r showed moderate and poor correlations with their corresponding domains in the Br-SF-36. There were moderate correlations between the questionnaires, with the best correlations showing greater similarity in the evaluated parameters between the respective instruments. Unlike the function and pain domains, the mental health domains did not have a good correlations, possibly because of difficulties in interpreting of the questions in the Br-SF-36. For the selfimage and satisfaction domains, the correlations were moderate and poor because these topics were not specifically covered by the SF-36. Conclusions: The Brazilian version of the SRS-22r demonstrated moderate concurrent validity results in relation to the Br-SF-36, and this version adapted for the Brazilian culture was deemed valid. Key words: scoliosis; questionnaire; quality of life; validity. Recebido: 08/11/2008 – Revisado: 11/06/2009 – Aceito: 06/08/2009 Departamento de Biomecânica, Medicina e Reabilitação do Aparelho Locomotor, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo (FMRP/USP), Ribeirão Preto (SP), Brasil Correspondência para: Anamaria Siriani de Oliveira, Av. Bandeirantes, 3.900, Prédio Central, CEP 14049-900, Ribeirão Preto (SP), Brasil, email: [email protected]. 121 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):121-6. Giselle C. L. Rosanova, Bruna S. Gabriel, Paula M. F. Camarini, Priscila E. S. Gianini, Daniel M. Coelho, Anamaria S. Oliveira Introdução A escoliose é uma afecção da coluna vertebral definida como uma deformidade em curva no plano ântero-posterior, maior de 10º no ângulo de Cobb, associada à rotação vertebral1. Dos indivíduos entre 10 e 16 anos, de 2 a 4% apresentam escoliose idiopática1,2, sendo que a maioria afetada pertence ao sexo feminino3,4. Além disso, a progressão da curva escoliótica apresenta-se maior em indivíduos do sexo feminino e que não atingiram a maturidade sexual e em curvas com ângulo maior que 30º 1,4. A escoliose e seu tratamento apresentam grande impacto na qualidade de vida dos pacientes, havendo diferenças culturais em sua percepção5,7. Ela pode acarretar disfunções físicas e psicossociais5,8 que, por sua vez, interferem na percepção de saúde e na satisfação com o tratamento do paciente9. Os distúrbios psicológicos afetam a qualidade de vida do paciente5 e estão associados a fatores de risco como sexo, idade, tratamento e nível socioeconômico, sendo que o perfil mais afetado é representado pelo grupo feminino tratado com colete após os 16 anos10. Estudos demonstram que as mulheres são as mais afetadas no aspecto de autoimagem, principalmente na adolescência10-12, mesmo para a população saudável3. Por outro lado, indivíduos do sexo masculino com escoliose têm uma pior percepção de sua saúde10 e apresentam maior índice de insatisfação com tratamento13,14. Mais importante que os graus de curvatura, a satisfação com o tratamento relatada pelo paciente tem se mostrado mais eficaz para a avaliação da eficácia do método escolhido9,8,15. Definir critérios que quantifiquem essa percepção subjetiva pode guiar as condutas dos profissionais de saúde, baseando-se no perfil do paciente, e auxiliar na indicação da abordagem a submetê-lo, visando a preservar a adesão ao tratamento e seu bem estar psicossocial16-21. Observando-se a importância clínica da avaliação da condição pelo próprio paciente, têm-se desenvolvido instrumentos que quantifiquem essa percepção15,22. A adaptação de um questionário que avalie a qualidade de vida ao uso multinacional não só envolve uma tradução para outras línguas como também uma adaptação para cada cultura. A eficiência de questionários como este é determinada por seus índices psicométricos, ou seja, o resultado da aplicação de medidas ou parâmetros psicométricos que fundamentalmente se referem à fidedignidade e à validade do instrumento18,23,24. A medida de validade de um questionário consiste na capacidade de um instrumento de medir o que ele pretende. Durante o processo de validação transcultural de um questionário, é utilizada a validade concorrente, que consiste na comparação de domínios correspondentes entre um questionário 122 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):121-6. já validado e aquele a ser validado18. Como o Short-Form-36 (SF-36) se trata de um questionário não-específico para uma determinada condição, ele tem sido o mais utilizado como parâmetro de comparação para a validação concorrente de vários outros questionários condição-específicos ou gerais18,25. Dentre os específicos para as condições da coluna, está o Revised Scoliosis Research Society-22 (SRS-22r), aplicado em pacientes com escoliose idiopática26-28, cuja condição e tratamento têm grande impacto na qualidade de vida29. O SRS-22r foi criado e revisado com o objetivo de avaliar esse impacto a partir do ponto de vista do próprio paciente28. A versão revisada é formada por 22 questões distribuídas em cinco domínios: função/atividade (FA), dor (D), autoimagem/aparência (AA), saúde mental (SM) e satisfação com o tratamento (ST), cujos escores variam de 1 a 5, sendo 5 a melhor condição de saúde18,25,28, e já foi submetido ao processo de validação tanto para a versão original18 como para as versões turca30, espanhola27, japonesa31 e chinesa20. O SF-36 é um questionário não-específico, utilizado em pacientes com condições como diabetes32, hipertensão arterial pulmonar33, dor lombar34, entre outras. Ele é composto por 36 questões, distribuídas em oito domínios: função física (FF), aspecto físico (AF), índice de dor (ID), percepções de saúde geral (PSG), vitalidade (V), função social (FS), aspecto emocional (AE) e índice de saúde mental (IM). Os escores são normalizados de 0 a 100, sendo 100 a melhor condição de saúde18,25. No estudo de Asher et al.18 para validação concorrente do SRS-22, os autores concluíram que o SF-36 pode não ser capaz de capturar domínios que são mais específicos e relevantes para a percepção de qualidade de vida de pacientes com escoliose. Além disso, a versão completa do SF-36 é muito longa, possui perguntas complexas para serem interpretadas, não apresenta domínio correspondente à autoimagem e é relativamente mais complexa para se obter a pontuação total. Visto que o SRS-22r é um questionário importante para a avaliação do impacto da qualidade de vida do portador de escoliose idiopática e tem sido utilizado na literatura científica de circulação internacional, o objetivo deste estudo foi realizar a validação concorrente da versão brasileira do questionário SRS-22r (Br-SRS-22r) com a versão brasileira do SF-36 (BrSF-36)35, a fim de proceder a mais uma etapa da validação da versão nacional adaptada à cultura brasileira. Materiais e métodos Foram selecionados 54 pacientes do setor de ortopedia do serviço público de saúde de nível terciário e serviço para pacientes conveniados de nível secundário, sendo 47 do sexo feminino e sete do sexo masculino, com média de idade de 19,9 (7,7) anos36 e diagnóstico médico de escoliose idiopática, Validade concorrente do Br-SRS-22r com o Br-SF-36 apresentando curvaturas de valores médios de 31,6 (20,5) graus Cobb, variando entre 10º e 92º 37. Diferentes níveis de comprometimento foram incluídos para compor uma amostra capaz de estabelecer a validade do questionário para pacientes tão distintos quanto os acompanhados apenas por tratamento conservador e os em período pós-cirúrgico tardio, havendo também voluntários com curvas ainda não estabilizadas. Indivíduos analfabetos, com doença neurológica ou que não apresentavam escoliose idiopática não foram incluídos na amostra. Todos os voluntários e seus responsáveis foram esclarecidos a respeito do procedimento do estudo e assinaram um termo formal de consentimento livre e esclarecido para a participação no estudo. O termo foi elaborado segundo a resolução 196 de 10 de outubro de 1996 do Conselho Nacional da Saúde e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos do HC-FMRP, processo HCRP n° 9853/2005. Procedimentos Os questionários Br-SRS-22r e Br-SF-3635 foram apresentados e explicados aos pacientes, que foram instruídos a responder a eles sem auxílio dos acompanhantes e do pesquisador, de acordo com suas versões originais18,28,35, pois ambos são autoadministráveis. Após o preenchimento dos questionários, os voluntários foram questionados sobre prováveis dificuldades encontradas no autopreenchimento, sendo excluídos cinco voluntários do estudo (9,26%), cujas respostas foram influenciadas pelo acompanhante. do Br-SRS-22r com a forma breve do Br-SF-36, como demonstrado na Tabela 2. Os domínios que apresentaram melhor correlação foram função do Br-SRS-22r com função física do Br-SF-36 (r=0,83) e dor do Br-SRS-22r com dor do Br-SF-36 (r=0,86). O domínio saúde mental do Br-SRS-22r apresentou moderada correlação quando comparado aos domínios vitalidade (r=0,57) e saúde mental (r=0,57) do Br-SF-36. Entretanto, os domínios autoimagem e satisfação com o tratamento do Br-SRS-22r apresentaram baixa correlação com seus domínios correspondentes do Br-SF-36. Discussão Os resultados encontrados neste estudo provaram a validade concorrente da versão brasileira do SRS-22r com o Br-SF-36. As melhores correlações indicam uma maior equivalência nos parâmetros avaliados entre os respectivos instrumentos, o que foi encontrado principalmente nos domínios função, variando de moderada a excelente, e dor, variando de boa a excelente. Resultado semelhante foi encontrado em outros estudos, como os de Asher et al.18, Cheung et al.20, Alanay et al.30 e Hashimoto et al.31. Entretanto, o domínio saúde mental apresentou os valores mais baixos de correlação com o domínio correspondente no Br-SF-36, função social. Isso pode ser devido ao fato de muitos pacientes terem encontrado dificuldades na interpretação das questões referentes a esse domínio no Br-SF-36 durante as coletas dos dados18. A correlação entre o domínio autoimagem do Br-SRS22r e os domínios correspondentes no Br-SF-36 foi pouco Análise dos dados e estatística Os domínios de cada um dos questionários utilizados foram correlacionados e disponibilizados na Tabela 1. Cada questionário teve seus resultados convertidos em escores de acordo com o valor estabelecido para cada opção18. Para possibilitar esta comparação, os escores do Br-SRS-22r foram normalizados de acordo com a pontuação do Br-SF-36. O cálculo do Coeficiente de Correlação de Spearman foi aplicado para avaliar a validade concorrente dos domínios com nível de significância de 95%. A correlação foi considerada excelente para valores entre 1,00 e 0,75; boa para valores entre 0,50 e 0,75; moderada para valores entre 0,25 e 0,50 e baixa para valores entre 0,25 e 038. Tabela 1. Domínios do Br-SRS-22r e domínios relevantes da forma breve do Br-SF-36 correlacionados neste estudo. Domínio do Br-SRS-22r Função/atividade Dor Autoimagem/aparência Saúde mental Resultados A validade concorrente foi determinada a partir do Coeficiente de Spearman por comparação dos domínios relevantes Satisfação com o tratamento Domínio do Br-SF-36 Aspecto físico Função física Índice de dor Percepções de saúde geral Índice de dor Aspecto físico Função física Percepções de saúde geral Função social Função física Índice de saúde mental Função social Vitalidade Função física Aspecto físico Índice de dor Percepções de saúde geral 123 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):121-6. Giselle C. L. Rosanova, Bruna S. Gabriel, Paula M. F. Camarini, Priscila E. S. Gianini, Daniel M. Coelho, Anamaria S. Oliveira Tabela 2. Coeficientes de correlação de Spearman obtidos entre os domínios do Br-SRS-22r e a forma breve do Br-SF-36, com p valor. Domínio do Br-SRS-22r Função/atividade Dor Autoimagem/aparência Saúde mental Satisfação com o tratamento Domínio do Br-SF-36 Função física Aspecto físico Índice de dor Percepções de saúde geral Índice de dor Aspecto físico Função física Percepções de saúde geral Função social Função física Índice de saúde mental Função social Vitalidade Função física Aspecto físico Índice de dor Percepções de saúde geral satisfatória: percepções de saúde geral; função social e função física, assim como foi para a versão original em inglês validada por Asher et al.18. Segundo os autores, essa menor correlação acontece porque o SF-36 não aborda esse quesito por não ser um questionário específico para condições que afetam a estética corporal, quesito relevante no impacto da qualidade de vida de portadores de escoliose. O mesmo ocorreu para a relativa menor correlação encontrada no domínio satisfação com o tratamento, que não possui domínio concorrente no Br-SF-36, refletindo uma pobre correlação intrínseca entre os domínios20,30. Apesar de visar à abrangência de uma variedade populacional para a validação, alguns fatores, como idade e ângulo de Cobb, podem ter influenciado os resultados devido, respectivamente, à dificuldade de compreensão dos instrumentos36 e ao grau de disfunção física e psicossocial acarretado pela escoliose8. Na entrevista pós-preenchimento e na análise dos questionários, observou-se a presença de 11,11% de questionários do Br-SF-36 com dados incompletos, o que revelou dificuldades do preenchimento autoadministrado da ferramenta. Esse aspecto pode indicar uma importante vantagem do Br-SRS-22r sobre o Br-SF-36 com relação à compreensão do instrumento e obtenção dos dados de pacientes com escoliose idiopática, assim como relataram anteriormente Berven et al.39. 124 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):121-6. Coef. Spearman 0,83 0,64 0,72 0,49 0,86 0,74 0,69 0,40 0,34 0,39 0,57 0,39 0,57 0,27 0,09 0,28 0,07 p valor <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 0,003 0,012 0,005 <0,001 0,004 <0,001 0,073 0,528 0,060 0,597 Correlação Excelente Boa Boa Moderada Excelente Boa Boa Moderada Moderada Moderada Boa Moderada Boa Moderada Baixa Moderada Baixa As questões 5, 8 e 11 do Br-SRS-22r apresentaram dificuldades de interpretação por parte de 1,85% dos voluntários. No entanto, Ciconelli et al.35 sugerem que tais dificuldades só sejam consideradas passíveis de justificar alteração ou reformulação das questões quando elas excedem perda ou resposta incompleta em 15% do número total de voluntários do estudo, podendo o referido resultado ter acontecido ao acaso nesta amostra. Embora o questionário tenha sido concorrentemente validado para uma população urbana de serviço público e privado, os sujeitos são todos oriundos de apenas uma região do país e, considerando a diversidade cultural do Brasil, a aplicabilidade deste questionário em outras regiões é desconhecida e pode ser novamente testada, como já foi sugerido para outras versões do questionário, como a chinesa e a original em língua inglesa18,20. Conclusão A versão brasileira do SRS-22r apresentou resultados satisfatórios para a validação concorrente com o Br-SF-36. Considerando a análise estatística que correlacionou os instrumentos e a importância da aplicação do Br-SRS-22r em voluntários com escoliose, a versão brasileira do SRS-22r pode ser considerada válida e adaptada para a cultura do Brasil, em especial da região sudeste. Validade concorrente do Br-SRS-22r com o Br-SF-36 Referências bibliográficas 1. Reamy BV, Slakey JB. Adolescent idiopathic scoliosis: review and current concepts. Am Fam Physician. 2001;64(1):111-6. 2. Roach JW. Adolescent idiopathic scoliosis. Orthop Clin North Am. 1999;30(3):353-65. 3. Payne WK 3rd, Ogilvie JW, Resnick MD, Kane RL, Transfeldt EE, Blum RW. Does scoliosis have a psychological impact and does gender make a difference? Spine (Phila Pa 1976). 1997;22(12):1380-4. 4. Soucacos PN, Zacharis K, Soultanis K, Gelalis J, Xenakis T, Beris AE. Risk factors for idiopathic scoliosis: review of a 6-year prospective study. Orthopedics. 2000;23(8):833-8. 5. 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The most common type is pulmonary TB, and the most prevalent form of extra-pulmonary disease among HIV-negative patients is pleural disease. Objective: The objective of the present study was to determine the effect of continuous positive airway pressure (CPAP) on fluid absorption among patients with pleural effusion due to TB. Methods: Twenty patients were randomized into two groups. The interventional group (n=10) received CPAP three times a week during the initial four weeks of anti-TB treatment, and the control group (n=10) received anti-TB drugs only. The primary endpoint was the volume of pleural fluid after four weeks of treatment. Both groups were submitted to thoracic computed tomography using threedimensional image reconstruction. The Mann-Whitney test for independent samples and the Wilcoxon paired samples test were used for statistical analysis. The normal distribution samples were analyzed using the unpaired t test. Results: The reduction of pleural effusion volume was significantly greater in the intervention group (83.5%SD 3.6) than in the control group (36.9%SD 2.9; p<0.001), and the final dyspnea index was lower in the Intervention group than in the control group (p=0.002). Conclusion: Our findings indicate that CPAP during the first month of TB treatment accelerates the absorption of pleural effusion, however, additional studies are needed to confirm these findings and evaluate the impact of CPAP on pleural sequelae after the end of anti-TB treatment. Article registered in the Clinical Trials under the number NCT00560521. Key words: physical therapy; pleural effusion; continuous positive airway pressure; pleural tuberculosis. Resumo Contextualização: A tuberculose (TB) permanece como um importante problema de saúde pública no mundo. A forma mais comum de apresentação é a pulmonar e, em pacientes soronegativos, a forma de doença extrapulmonar mais prevalente é a pleural. Objetivo: O objetivo deste estudo foi determinar o efeito da pressão positiva contínua em vias aéreas (CPAP) na absorção do derrame pleural em pacientes com tuberculose. Métodos: Vinte pacientes foram randomizados em dois grupos. O grupo intervenção (n=10) recebeu CPAP três vezes por semana durante as quatro primeiras semanas do tratamento anti-TB, e o grupo controle (n=10) recebeu somente droga anti-TB. O ponto final de avaliação foi o volume de líquido pleural após quatro semanas de tratamento. Ambos os grupos foram submetidos à tomografia computadorizada, usando a reconstrução tridimensional (3D) da imagem. A análise estatística foi realizada por meio do teste de Mann-Whitney para amostras independentes e Wilcoxon para amostras pareadas, e as que apresentaram distribuição normal foram analisadas por meio do teste t de Student não pareado. Resultados: A redução do volume de derrame pleural foi significativamente maior no grupo intervenção (83,5%DP 3,6) que no grupo controle (36,9%DP 2,9) (p<0,001), e o índice de dispnéia final foi menor no grupo CPAP que no grupo controle (p=0,002). Conclusão: Tais achados indicam que a CPAP, durante o primeiro mês de tratamento anti-TB, acelera a absorção do derrame pleural, no entanto estudos adicionais são necessários para confirmar estes achados e avaliar o impacto da CPAP na sequela pleural após o término do tratamento anti-TB. Artigo registrado no Clinical Trials sob o número NCT00560521. Palavras-chave: fisioterapia; derrame pleural; pressão positiva contínua em vias aéreas; tuberculose pleural. Received: 10/11/2008 – Revised: 06/03/2009 – Accepted: 15/04/2009 1 Centro Universitário Augusto Motta (UNISUAM), Rio de Janeiro (RJ), Brazil 2 Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro (RJ), Brazil Correspondence to: Sara L. S. de Menezes, Hospital Clementino Fraga Filho (HUCFF), Rua Professor Rodolpho Paulo Rocco, 255 – 8º andar, CEP 21941-913, Rio de Janeiro (RJ), Brazil, e-mail: [email protected] 127 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):127-32. Juliana F. Oliveira, Fernanda C. Q. Mello, Rosana S. Rodrigues, Ana L. Boechat, Marcus B. Conde, Sara L. S. Menezes Introduction For over a decade the World Health Organization (WHO) has declared tuberculosis (TB) a global emergency. According to the 2004 WHO estimate, two billion people are infected by Mycobacterium tuberculosis worldwide. Among these, eight million will develop the disease and 2 million will die each year1. In the city of Rio de Janeiro (Brazil), there were 9789 new cases of TB reported in 2004, with 15% of cases exhibiting extra-pulmonary disease, 46% of which were pleural TB2. Pleural TB is the consequence of a delayed-type hypersensitivity reaction in response to the rupture of a subpleural focus of Mycobacterium tuberculosis infection3. The main clinical finding is pleural effusion and its diagnosis should be considered in any patient with an exudative effusion4. Although small/ moderate in size in most cases, among those patients with larger volume, a restrictive ventilatory functional disturbance can occur with moderate reduction in pulmonary volume and compliance, as well as variations in gas exchange, reduction in oxygen partial pressure (PaO2) and increase in carbon dioxide partial pressure (PaCO2)5,6. A clinically relevant factor in the treatment of patients with TB-related pleural effusion is the degree of respiratory discomfort7. Brazil’s national TB program recommends standard treatment with rifampin and isoniazid for six months, in addition to pyrazinamide during the first two months of treatment for all cases of pleural TB with the following aims: (1) to prevent the subsequent development of active pulmonary TB, (2) to relieve symptoms and (3) to prevent pleural sequelae (pleural fibrosis)8. Despite the lack of published evidence regarding the effectiveness of continuous positive airway pressure (CPAP) on pleural effusion absorption during pleural TB treatment, it has been used as an adjuvant treatment9,10. The aim of the present study was to determine the efficacy of CPAP on fluid absorption among patients with pleural effusion due to TB. Methods The present study prospectively recruited patients age 18 years or older with a confirmed diagnosis of pleural TB effusion between December 1, 2005 and March 31, 2007. All patients were initially evaluated at two hospitals (Hospital Cardoso Fontes and Hospital Universitário Antonio Pedro in Rio de Janeiro, Brazil). At both hospitals, patients underwent a chest radiograph with posterior, anterior and lateral decubitus views, thoracocentesis and pleural biopsy with a Cope needle. Pleural fluid and two pleural fragments were stained with Ziehl-Neelsen stain and cultured in Lowenstein-Jensen 128 Rev Bras Fisioter. 2009;14(2):127-32. medium. Three other fragments were stained with hematoxylin and eosin. The volume of pleural fluid withdrawn ranged from 50 to 80 mL. Diagnosis of pleural TB was based on the growth of Mycobacterium tuberculosis in pleural fluid and/or pleural fragment or the presence of granulomas in the histopathology study of the pleural fragment. Patients with confirmed diagnosis of pleural TB were invited to take part in the study. Before initiating anti-TB treatment, subjects who signed the informed consent form were randomized to an intervention group or to a control group using computer generated blocks in groups of two. The mean age of the control group was 39.517.63 while the intervention group was 42.513.53. Subjects from both groups were submitted to a thoracic Computed Tomography (CT) scan at Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) of Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brazil (UFRJ) before starting treatment and after four weeks of treatment. Patients assigned to the intervention group received CPAP in addition to standard anti-TB treatment. CPAP was carried out by a single physical therapist, three times a week, using positive end-expiratory pressure (PEEP) of 10 cmH2O for 30 minutes through a flow generator (CriticalMed®, Rio de Janeiro, Brazil) and a silicone face mask (Dinatech®), in a sitting position for four weeks, respiratory rate, arterial blood pressure, oxygen saturation and heart rate were measured at minute 15 and immediately after application. Dyspnea was evaluated before and after treatment through a Modified Borg Scale11. Both groups received standard TB treatment with rifampin and isoniazid for six months, with the addition of pyrazinamide during the first two months of treatment3. Anti-TB drug ingestion was monitored in both groups through daily phone contact. Furthermore, a pill count was carried out by the nurse technician who supplied the patients with the tablets weekly. Two radiologists specifically trained for the present study were blinded to group allocation and used a technique validated for this purpose12. The radiologists analyzed the volume of pleural fluid through a thoracic CT scan using a dual-slice helical scanner (General Electric Medical Systems, Hispeed Fx/i model 2263139-127) with axial plane slices of 1 mm collimation, in deep inspiration, 10 mm feed, 5 slices, pitch 2, kV 130 and mAs 60, filter 41 mm for mediastinal and 70 mm for pulmonary parenchyma. The hypo dense area with fluid was contoured (Figure 1A), and the images generated were post-processed (1B and 1C) using Somavision version 6.1 Workstation for three-dimensional (3D) reconstruction and Somavision version 10.2 for volume inspection. The primary endpoint of the study was the volume of pleural fluid after four weeks of treatment. The CT scans were examined in the mediastinal window with the Non-invasive ventilation on TB pleural effusion following parameters: 450 HU (Hounsfield units; window) and 20 HU (level). Patients were excluded from the study if they did not take the standard anti-TB medications for 2 days or if they did not come to one of the CPAP sessions or radiological evaluations. The variables that did not present normal distribution and/or homogeneity of variances were analyzed with the Mann-Whitney test for independent samples and the Wilcoxon test for paired samples. Those presenting normal distribution were analyzed with the unpaired t test. Differences were considered significant if p0.05. The sample size was based on type I error with alpha 5%, power 80% and estimate difference of 30%. It was calculated through the following equation n=[Z √ P0 (1 – P0) + Z √ Pa (1 – Pa) ]2 / (P0 - Pa)2. Informed written consent was obtained from all participants, and the study was approved by the Institutional Regulatory Board (IRB) of Hospital Universitário Clementino Fraga Filho of Universidade Federal do Rio de Janeiro under number 033/04. Discussion Our study showed a significant reduction in pleural effusion size in the intervention group (83.5%) after 4 weeks of treatment compared with the control group (36.9%SD 2.9; p<0.001). Fifty percent of patients with pleural TB develop pleural thickening one year after treatment with anti-TB drugs, and the prevention of pleural fibrosis is one of the goals of TB treatment13. The faster reduction in pleural effusion volume might be associated with a lower rate of pleural fibrosis14. In fact, a recent randomized controlled study with 52 patients showed that the intrapleural administration of a hyaluronatebased gel (HAbg) resulted in significantly faster fluid absorption and significantly less pleural thickening at three months15. Although respiratory physical therapy in patients with pleural Table 1. Baseline characteristics. Control group Intervention group (n=10) (n=10) Sex Results Twenty patients were screened and invited to take part in the study. Twenty patients were included and had endpoints evaluated. All strains were tested and were non-resistant to rifampin and isoniazid. Our laboratory does not perform sensitivity testing for pyrazinamide. No patients were excluded from the study. The baseline characteristics of the study sample are shown in Table 1. The mean age and sex were nearly identical in the two groups. There was no significant difference in the location of the pleural effusion and size. There were no adverse effects associated with the use of CPAP. Table 2 shows that the relative variation between the initial and final (after 4 weeks of treatment) pleural fluid volume was significantly greater in the intervention group (83.5%3.6) than in the control group (36.9%2.9; p<0.001) suggesting that CPAP accelerated the speed of fluid absorption. At the beginning of the study, the dyspnea index did not differ between groups (Table 1), but after 4 weeks of treatment it was significantly lower in the intervention group, with a median of 0 (0-1), than in the control group, with a median of 2.0 (0-2; p=0.002). There was no significant difference between the groups regarding cardiac and respiratory frequency values, arterial pressure and peripheral oxygen saturation (SpO2). Figure 2 shows the reconstruction of the initial pleural effusion volume in 3D. Figure 3, shows the final volume of a patient from the CPAP group. Figure 4 is a reconstruction of the initial pleural effusion volume in 3D, and Figure 5, the final volume of a patient from the control group. Male Female Age (mean standard deviation) Location of pleural effusion Right Left Bilateral TB diagnosis Positive culture for M tb (pleural fragment) Histopathologic finding of granuloma (pleural fragment) Sites of disease Pleura Lung + Pleura p valor 0.31 7 3 39.517.63 8 2 42.513.53 0.34 0.5 6 3 1 5 5 0 2 3 8 7 4 6 5 5 0.31 0.33 Table 2. Pleural effusion volume and Modified Borg Scale rating before and after four weeks of treatment in the control group and in the intervention group. Control group (n=10) Intervention group p value (n=10) Volume (mL) Initial 275.4 (73.8-1360.8) 401.9 (97.6-1503.4) Final 170.6 (49.6-801.1) 50.9 (19.6-271.6) Relative variation (%) 36.92.9 83.53.6 Modified Borg Scale Initial 2.5 (1-4) 3.0 (1-4) Final 2.0 (0-2) 0 (0-1) 0.35 0.01 0.001 0.39 0.002 *Data presented as meanstandard deviation (SD) or median. 129 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):127-32. Juliana F. Oliveira, Fernanda C. Q. Mello, Rosana S. Rodrigues, Ana L. Boechat, Marcus B. Conde, Sara L. S. Menezes Figure 1. Reconstruction in three-dimensional (3D) imaging. A) Manual marking of pleural effusion. B) Evaluation of pleural effusion volume through volumetric analysis. C) Reconstruction in 3D imaging. Figure 2. 3D reconstruction of the initial pleural effusion volume of an intervention group patient. A) Evaluation of pleural effusion volume through volumetric analysis. B) Reconstruction in 3D imaging. Figure 3. 3D reconstruction of the final pleural effusion volume of an intervention group patient. A) Evaluation of pleural effusion volume through volumetric analysis. B) Reconstruction in 3D imaging. effusion due to TB is not part of the standard treatment, it has been reported by some authors that increasing the speed of fluid absorption decreased pleural thickening9,10,16. Vandevenne et al.17 associated respiratory physical therapy as an adjuvant in the treatment of residual pleural TB effusion after thoracocentesis. Thirteen patients did diaphragm exercises in addition to pharmacological treatment twice a day, for two weeks. This considerably improved the ventilation on the side with pleural effusion as well as respiratory volume, measured by 133 xenon (Xe133) inhalation-perfusion scintigraphy. As anti-TB drug therapy is the appropriate approach for treating pleural TB18, the inclusion of CPAP at the beginning of treatment might be helpful, mainly to those patients in which pleural effusion is causing respiratory discomfort. Although CPAP is normally considered a hospital-based, high technology intervention, its use requires low-cost equipment. Moreover, CPAP is broadly available in outpatient health care 130 Rev Bras Fisioter. 2009;14(2):127-32. Figure 4. 3D reconstruction of the initial pleural effusion volume of a control group patient. A) Evaluation of pleural effusion volume through volumetric analysis. B) Reconstruction in 3D imaging. Figure 5. 3D reconstruction of the final pleural effusion volume of a control group patient. A) Evaluation of pleural effusion volume through volumetric analysis. B) Reconstruction in 3D imaging. units and in home care environments, as well as in hospitals19. Additional evaluation is necessary in order to demonstrate its cost-effectiveness. Furthermore, complications associated with the use of non-invasive positive pressure are uncommon. Clinically significant gastric inflation is rare at a pressure of less than 30 cmH2O, and aspiration of gastric contents has a very low incidence (5% or less). Local complications such as skin abrasions - due to the contact with the mask - and conjunctivitis are more common (incidence of 15%), yet potentially avoidable and easily treatable20-23. In the present study no adverse effects of CPAP were observed, however this may be due to the small sample size. We used thoracic CT with 3D reconstruction to address several questions regarding the accuracy and precision of thoracic radiography24,25 and ultrasonography26 in the measurement of pleural effusion volume. For this reason, a workstation was utilized, as it is necessary for the transformation of the axial image into a volumetric image. This has been considered the gold standard for the evaluation of pleural effusion volume27-30. A possible study limitation is the fact that TB treatment was not administered under Direct Observed Treatment Short Course (DOTS) strategy31,32. However, as both groups were monitored regarding drug ingestion and as they did not present with well known risk factors for treatment default (addiction to drugs, street dwelling, psychiatric disease, previous anti-TB treatment default), this fact likely did not influence our Non-invasive ventilation on TB pleural effusion results. Moreover, an exclusion criterion was the interruption of anti-TB medication for more than 2 days. Despite the small sample size, it was possible to demonstrate a significant effect of CPAP on the reduction of TB-related pleural effusion volume in the first four weeks of anti-TB treatment. However, further studies with larger sample sizes are necessary to further investigate a few issues, such as the patient’s tolerance to the procedure, adverse effects of CPAP and implications of rapid involution of pleural effusion on quality of life. Thoracic image evaluation is also needed at the end of the six months of treatment and twelve months after the diagnosis in order to evaluate the impact of CPAP on reducing pleural sequelae. In conclusion, our findings suggest that the addition of CPAP to standard TB therapy during the initial phase of treatment is associated with accelerated fluid absorption in patients with pleural TB. References 1. World Health Organization [homepage na internet]. Global tuberculosis control: surveillance, planning, financing. Geneva: World Health Organization (WHO); [atualizada em 2004; acesso em 13 Mar 2006]. Disponível em: http://www.who.int/tb/publications/globalreport/2004. 15. Zhou A, Guo L, Tang L. 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Geneva: World Health Organization; 2005. 132 Rev Bras Fisioter. 2009;14(2):127-32. ISSN 1413-3555 ARTIGO ORIGINAL Rev Bras Fisioter, São Carlos, v. 14, n. 2, p. 133-40, mar./abr. 2010 © Revista Brasileira de Fisioterapia Análise quantitativa do tratamento da escoliose idiopática com o método Klapp por meio da biofotogrametria computadorizada Quantitative photogrammetric analysis of the Klapp method for treating idiopathic scoliosis Denise H. Iunes1, Maria B. B. Cecílio2, Marina A. Dozza3, Polyanna R. Almeida3 Resumo Introdução: Poucos trabalhos comprovam a eficácia das técnicas fisioterapêuticas para o tratamento da escoliose. Objetivo: Analisar . a eficácia do Método Klapp no tratamento das escolioses por meio do estudo quantitativo pela biofotogrametria computadorizada Métodos: Dezesseis indivíduos com média de idade de 152,61 anos, portadores de escoliose idiopática, foram tratados com o método Klapp. Para análise dos resultados do tratamento, todos foram fotografados antes e após o tratamento, seguindo uma padronização fotográfica. Todas as fotografias foram analisadas quantitativamente por um mesmo experimentador, utilizando o software ALCimagem 2000. A análise estatística foi realizada, utilizando-se a o teste-t pareado com nível de significância de 5%. Resultados: Os resultados apontam para a melhora após o tratamento dos ângulos agromioclaviculares (AC–p=0,00) e esternoclavicular (EC–p=0,01), que avaliam a simetria dos ombros, e para o ângulo que avalia o triângulo de Tales esquerdo, (ΔTe–p=0,02). Em termos de flexibilidade, houve melhora dos ângulos tibiotársicos (ATT–p=0,01) e coxofemoral (CF–p=0,00). Não houve modificações das curvaturas vertebrais e nem melhora no posicionamento da cabeça, apenas na curvatura lombar, avaliada pelo ângulo lordose lombar (LL–p=0,00), sofreu modificação com o tratamento. Conclusão: O método Klapp foi uma técnica terapêutica eficaz para tratar as assimetrias de tronco e a flexibilidade. Não foi eficaz para assimetrias da pelve, modificações da posição da cabeça, da lordose cervical e cifose torácica. Palavras-Chave: postura; fotogrametria; fisioterapia; escoliose. Abstract Introduction: Few studies have proved that physical therapy techniques are efficient in the treatment of scoliosis. Objective: To analyze the efficiency of the Klapp method for the treatment of scoliosis, through a quantitative analysis using computerized biophotogrammetry. Methods: Sixteen participants of a mean age of 152.61 yrs. with idiopathic scoliosis were treated using the Klapp method. To analyze the results from the treatment, they were all of photographed before and after the treatments, following a standardized photographic method. All of the photographs were analyzed quantitatively by the same examiner using the ALCimagem 2000 software. The statistical analyses were performed using the paired t-test with a significance level of 5%. Results: The treatments showed improvements in the angles which evaluated the symmetry of the shoulders, i.e. the acromioclavicular joint angle (AJ; p=0.00) and sternoclavicular joint angle (SJ; p=0.01). There were also improvements in the angle that evaluated the left Thales triangle (ΔT; p=0.02). Regarding flexibility, there were improvements in the tibiotarsal angle (TTA; p=0.01) and in the hip joint angles (HJA; p=0.00). There were no changes in the vertebral curvatures and nor improvements in head positioning. Only the lumbar curvature, evaluated by the lumbar lordosis angle (LL; p=0.00), changed after the treatments. Conclusions: The Klapp method was an efficient therapeutic technique for treating asymmetries of the trunk and improving its flexibility. However, it was not efficient for pelvic asymmetry modifications in head positioning, cervical lordosis or thoracic kyphosis. Key words: posture; photogrammetry; physical therapy; scoliosis. Recebido: 27/11/08 – Revisado: 22/05/09 – Aceito: 25/06/09 1 Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL), Alfenas (MG), Brasil 2 Departamento de Fisioterapia, Universidade José do Rosário Velano (UNIFENAS), Alfenas (MG), Brasil 3 Fisioterapeuta Correspondência para: Denise Hollanda Iunes, Rua Professor Carvalho Junior, 53/901, Centro, CEP 37.130-000, Alfenas (MG), Brasil, e-mail: [email protected] 133 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):133-40. Denise H. Iunes, Maria B. B. Cecílio, Marina A. Dozza, Polyanna R. Almeida Introdução A estrutura e a função do corpo proporcionam todas as potencialidades para obter e manter a boa postura. A postura pode ser influenciada por hábitos errados que produzem maior tensão sobre as estruturas de suporte, e quando ocorre um desequilíbrio do corpo sobre sua base de suporte, dando origem aos desvios posturais1-6. A escoliose é um desses desvios posturais da coluna vertebral, caracterizado por uma curvatura lateral no plano frontal associado ou não à rotação dos corpos vertebrais nos planos axial e sagital7-12, é de múltiplas etiologias, sendo significante se mede mais de 10 graus5,7,9,13-18. Seu desenvolvimento pode ocorrer desde a infância e se agravar na adolescência, por isso deve ser tratada o mais precocemente possível, pois, após o término do crescimento vertebral, a probabilidade de correção é menor6,11,15,17,19. É uma condição potencialmente progressiva9,10. Sua progressão está relacionada ao sexo, idade de surgimento e grau da curvatura ou seja, o sexo feminino, o surgimento mais precoce da curvatura e o maior grau dela favorecem maior evolução12,20,21. Quando detectada na adolescência, dependendo do grau de sua curvatura, o tipo de tratamento conservador escolhido é a utilização de coletes que, segundo Vasiliadis, Grivas e Gkoltsiou22, pode comprometer a qualidade de vida desse jovem. A fisioterapia consiste em outra forma de tratamento conservador que pode ou não ser associada ao uso do colete. No entanto, a literatura pouco se refere, de maneira reprodutível, aos resultados de tratamento fisioterápico nessa patologia16,19, faltam evidências do resultado do tratamento conservador19,23. Dos vários métodos fisioterapêuticos citados para o tratamento da escoliose, encontram-se: Reeducação Postural Global (RPG)7,16,19, Isostreching2,11,24, Osteopatia11, Cadeias Musculares25, Pilates23 e o método Klapp14,26-28. No entanto, quase não se encontram trabalhos científicos avaliando, principalmente de forma quantitativa, os resultados dessas técnicas. Tradicionalmente, o diagnóstico clínico da escoliose e o acompanhamento dos resultados de tratamento têm sido realizados por meio de exames radiológicos, que permitem quantificar a curvatura. Contudo, o uso de radiografias expõe a população aos efeitos da radiação, envolve um custo e nem sempre o profissional tem disponível esse exame6. Desse modo, as avaliações posturais nas quais os indivíduos são submetidos a testes não invasivos tornam-se uma opção viável para estudos das alterações da postura corporal em populações6,29. A desvantagem da avaliação postural visual é sua pouca confiabilidade e sua utilização de forma qualitativa30. Dessa forma, a biofotogrametria computadorizada é um dos instrumentos de avaliação quantitativos que permite avaliar a evolução e o resultado dos tratamentos, sendo comprovada sua confiabilidade em trabalhos anteriores29,31. 134 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):133-40. O método Klapp é uma técnica antiga que é utilizada na prática clínica e, no entanto, pouco pesquisada13,14,26,27. Consiste em alongamento e fortalecimento da musculatura do tronco por meio de posições em gatas e joelhos semelhantes aos quadrúpedes. Esse método foi criado por Rudolph Klapp em 1940. Ele estudou e observou que os quadrúpedes não apresentavam escoliose, enquanto os humanos, pela ação da gravidade na posição bípede, desenvolviam essa patologia14,26-28. O objetivo desta pesquisa foi analisar a eficácia do Método Klapp no tratamento das escolioses por meio do estudo quantitativo pela biofotogrametria computadorizada. Materiais e métodos Amostra Foram avaliados e tratados 16 pacientes da Clínica de Fisioterapia do Hospital Universitário Alzira Velano, UNIFENAS, com média de idade de 152,61 anos, média de peso de 48,4812,36 Kg e média de estatura de 1,580,09 m, sendo três do sexo masculino e 13 do sexo feminino. Os voluntários foram escolhidos aleatoriamente desde que portassem escoliose idiopática e relatassem estar em bom estado geral. Foram excluídos voluntários com problemas cardiorrespiratórios, neurológicos, deformidades graves, fratura de coluna e implantes metálicos, idosos e aqueles com relato de dores crônicas nos joelhos. Todos os voluntários receberam informações para a participação no projeto e assinaram um termo de consentimento formal de acordo com a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Esse resultado foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa envolvendo seres humanos da Universidade de Alfenas – UNIFENAS, no 08/2007. Avaliação do voluntário Inicialmente e ao término do tratamento, foi feito um registro fotográfico de cada voluntário, utilizando uma câmera digital (SONY cyber-shot 5.1 megapixels). Foram adotados todos os cuidados metodológicos que se devem ter ao utilizar a fotografia32, tais como: padronização do posicionamento do voluntário e da máquina fotográfica, posicionamento da câmera sobre tripé nivelado e sempre colocada paralelamente ao chão. Não foi utilizado o zoom para evitar distorções. Todas as fotografias foram realizadas pelo mesmo examinador32. Foram realizados registros de todo o corpo nos planos frontal anterior e posterior, no plano sagital com o voluntário ereto e com flexão anterior de tronco. Todos os voluntários estavam trajando biquíni ou calção de banho, sendo os Método Klapp no tratamento da escoliose idiopática pontos anatômicos marcados bilateralmente no corpo para servir como referência para traçar os ângulos avaliados: articulação esternoclavicular, articulação acromioclavicular, espinha ilíaca ântero-superior (EIAS), tuberosidade da tíbia, processos espinhosos de C4, C7, T7, T12, L3, L5, ângulos inferiores da escápula, espinha ilíaca póstero-superior (EIPS), trocânter maior, cabeça da fíbula, maléolo lateral, tuberosidade da diáfise distal do 5º metatarso (Figura 1). Todos os pontos anatômicos foram marcados sempre pelo mesmo examinador com etiquetas autoadesivas brancas de 0,9 mm de diâmetro para os pontos visualizados nos planos frontal anterior e posterior e com hastes cilíndricas plásticas de cor laranja de 3,5 cm, presas por fita adesiva dupla face nos pontos visualizados no plano sagital. Os pontos anatômicos utilizados neste estudo foram sugeridos em estudos prévios29,31. Os voluntários foram posicionados a 15 cm da parede, distância fixa marcada por um retângulo em etil vinil acetato (EVA) de 15 cm de largura, 60 cm de comprimento e 5 cm de espessura. Outro retângulo de EVA, de 7,5 cm de largura, foi colocado entre os pés dos voluntários para mantê-los na postura padrão. A máquina fotográfica foi colocada a uma distância de 2,4m do voluntário, enquanto o tripé foi posicionado a uma altura de 1,0m do chão29. Técnica realizada no tratamento da escoliose Todos os voluntários foram tratados com o método Klapp, com a sequência dos seguintes exercícios: relaxamento, engatinhar perto do chão, deslizamento horizontal, deslizamento lateral, engatinhar lateral, arco grande, virar o braço e grande curva14,26,27 (Figuras 2 e 3). Para a realização do exercício de relaxamento, o voluntário encontrava-se em decúbito dorsal, com semiflexão do quadril e joelhos e com as palmas da mão em cima da região diafragmática anterior. Foi utilizada uma respiração profunda e lenta para que o sujeito pudesse diminuir as tensões e preocupações. Os demais exercícios foram realizados com o voluntário em posição de gatas e joelhos, semelhante aos quadrúpedes. Foi utilizado comando verbal com ritmo de voz exato, seguro e com bom volume, e constantes correções da coluna14,26,27. No exercício de “engatinhar perto do chão”, o voluntário estava apoiado nos cotovelos a 90º, os dedos e mãos direcionados para frente, a cabeça erguida, quadril e joelhos a 90º e realizava movimentos de hipercifose torácica e hiperlordose lombar14,26,27 (Figura 2). No exercício de “deslizamento horizontal”, o voluntário de gatas, com o quadril e joelho a 90º de flexão, era solicitado a estender o tronco e os membros superiores à frente sem tocar os cotovelos no chão, a manter a cabeça erguida e a manter a distância entre as mãos igual à largura dos ombros14,26,27 (Figura 2). Após esse exercício, solicitava-se ao voluntário deslizar o tronco e os membros superiores em direção ao lado convexo da escoliose, o que consiste no exercício de “deslizamento lateral”14,26,27 (Figura 2). AC=acrômio clavicular; ΔTd=triângulo de Talles direito; ΔTe=triângulo de Talles esquerdo; AS=ângulo das espinhas ilíacas ântero-superiores; AJd=angulação do joelho direito; AJe=(angulação do joelho esquerdo; IE=ângulo inferior da escápula; OS=ângulo das espinhas ilíacas póstero-superiores; PC=protrusão da cabeça; LC=lordose cervical; CT=cifose torácica; LL=lordose lombar; FJ=flexo de joelho; ATT=ângulo tíbio társico; Adaptada de Iunes29. Figura 1. Ângulos avaliados na vista anterior, posterior e sagital direito. 135 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):133-40. Denise H. Iunes, Maria B. B. Cecílio, Marina A. Dozza, Polyanna R. Almeida No exercício “engatinhar lateral”, o voluntário ficava na posição quadrúpede, com as mãos direcionadas interiormente, levando para frente o membro superior e para trás o membro inferior do lado da concavidade, a cabeça era mantida rodada para o lado da convexidade14,26,27 (Figura 3). No exercício “arco grande”, o voluntário também na posição quadrúpede, estendia o membro superior e o membro inferior do lado côncavo em diagonal. O joelho e o cotovelo contralateral eram mantidos aproximados14,26,27 (Figura 3). No exercício seguinte, “virar o braço”, o voluntário novamente na posição de gatas, com membro superior do lado côncavo em extensão e abdução de 90º, realizava uma rotação do tronco acompanhado da cabeça também em direção ao lado da concavidade14,26,27 (Figura 3). Finalmente, no último exercício “grande curva”, o voluntário de gatas realizava uma extensão do membro superior e do inferior do lado da concavidade14,26,27 (Figura 3). Os atendimentos foram realizados em grupo, sendo dois grupos com cinco voluntários e um com seis voluntários. O atendimento foi realizado por um mesmo terapeuta. Cada postura foi mantida por 8 minutos, num tempo total de terapia de 70 minutos, duas vezes por semana, por 20 sessões. Para que o voluntário conseguisse se manter nas posturas sem compensações, o comando verbal do terapeuta era essencial para solicitar correções e sustentação da postura. Análise da postura pré e pós-tratamento Todas as fotografias da postura antes e após o tratamento foram analisadas utilizando o software ALCimagem-2000, sempre pelo mesmo examinador. Para as fotografias dos planos frontal anterior e posterior, a análise foi realizada comparando a simetria do dímero direito com a do dímero esquerdo por meio dos ângulos entre as articulações esternoclavicular (EC), acromioclaviculares (AC), espinhas ilíacas ântero-superiores (AS), tuberosidade da tíbia (TT), ângulos inferiores da escápula (IE), espinha ilíaca póstero-superior (PS)29. Para as fotografias no plano sagital, com o voluntário ereto, inicialmente foi traçado o fio de prumo a partir do marcador de 1 2 1) postura de engatinhar perto do chão; 2) deslizamento horizontal; 3) deslizamento lateral. Figura 2. Exercícios de Klapp. 136 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):133-40. EVA. colocado no chão. Em seguida, foram traçadas linhas dos pontos de C4 , T7 , L3. Depois, foram analisados os ângulos de protrusão da cabeça (PC), lordose cervical (LC), cifose torácica (CT), lordose lombar (LL), ângulo flexo de joelho (FJ) que já tiveram sua confiabilidade testada em estudo anterior26. Para as fotografias nesse plano, com o voluntário realizando flexão de tronco, foram analisados os ângulos: coxofemoral (CF), formado pela intersecção da reta que unia EIAS ao trocânter maior e a reta traçada da cabeça da fíbula ao trocânter maior29; Whistance (W), formado pela intersecção da reta que unia EIAS ao trocânter maior e a reta traçada do processo espinhoso de C7 a EIAS31; ângulo tibiotársico (ATT), formado pela intersecção da reta que unia a cabeça da fíbula ao maléolo lateral e a reta traçada do maléolo lateral até a tuberosidade da diáfise distal do 5º metatarso29. Ao terminar de traçar os ângulos, o programa já apresentava a medida em graus. Cada medida foi repetida três vezes e utilizada a média delas para análise estatística. Análise estatística A análise estatística foi realizada comparando-se as medidas quantitativas dos ângulos analisados antes e depois do tratamento, sendo que, das medidas pós-tratamento, foram subtraídos valores relativos a duas vezes o erro-padrão descrito por Iunes et al.29. Segundo esses autores, ao posicionar o indivíduo duas vezes para análise quantitativa postural, a segunda medida é diferente da primeira devido a erros de posicionamento, erros de demarcação do corpo, mesmo utilizando toda padronização estipulada pela análise fotogramétrica. Por isso, para minimizar esses erros, foram subtraídos, da medida pós-tratamento, os valores de duas vezes o erro-padrão29. Apenas os erros-padrão dos ângulos W e CF foram descritos por Ferreira et al.24. Foi utilizado o teste-t pareado com nível de significância de 0,05. Resultados Os resultados quantitativos das avaliações (anterior e posterior ao tratamento) foram comparados por meio da análise 3 Método Klapp no tratamento da escoliose idiopática estatística das medidas dos ângulos encontrados em todos os 16 voluntários. Os resultados apontam para a melhora após o tratamento, ou seja, a média de valores após o tratamento foi estatisticamente diferente em relação à média antes do tratamento para os ângulos acromioclaviculares AC (p=0,00) e esternoclavicular EC (p=0,01), que avaliam a simetria dos ombros, e para o ângulo triângulo de Tales esquerdo (ΔTe-p=0,02) (Tabela 1). Os ângulos ΔTd, que medem o triângulo de Tales direito; espinhas ilíacas AS e espinha ilíaca PS, que verificam simetria da pelve e do ângulo inferior da escápula (IE-p=0,13) não foram modificados estatisticamente com o tratamento, ou seja, mantiveram-se iguais. Em termos de flexibilidade, houve uma melhora observada pelo ângulo ATT (p=0,01) e CF (p=0,00), no entanto o ângulo W (p=0,05) não apresentou melhora relevante em 20 sessões. Quanto às curvaturas vertebrais avaliadas pelos ângulos LC, CT, LL, apenas o ângulo LL sofreu modificação com o tratamento (p=0,00), havendo uma tendência à diminuição do mesmo. O ângulo de PC também foi modificado com o tratamento (p=0,01). Em relação ao alinhamento dos joelhos, no plano sagital, avaliado pelo ângulo FJ (p=0,29), também não houve modificações, ou seja, o Método Klapp não interferiu nesse aspecto, no entanto, houve modificações no alinhamento dos joelhos no plano frontal anterior, observado pelos ângulos AJd (p=0,00) e AJe (p=0,01). 4 5 7 4) postura de engatinhar lateral; 5) arco grande; 6) virando o braço; 7) grande curva. Figura 3. Exercícios de Klapp. Tabela 1. Média dos resultados angulares antes (X Pré) e após o tratamento (X Pós). Posição Ângulo Anterior Discussão As alterações posturais em crianças têm sido diagnosticadas cada vez mais precocemente. Essas alterações, na fase de estirão de crescimento, estão relacionadas às posturas inadequadas18, e dados epidemiológicos apontam para alta prevalência delas6. Em trabalho anteriormente descrito5, foram avaliadas 132 crianças na idade de 7 a 10 anos, e encontraram-se médias significativas de alterações posturais, entre elas, a escoliose. A alta incidência de alterações posturais em idade escolar também foi descrita por Martelli e Traebert18, que avaliaram 344 escolares de 10 a 16 anos, e por Desth et al.6, que avaliou 495 jovens entre 14 e 18 anos. Um dos caminhos para estudar as alterações posturais é por meio da análise postural quantitativa, em que os desvios são numericamente quantificados34. É importante que a eficácia das técnicas fisioterápicas seja comprovada18,23, e uma das formas de se realizar essa comprovação é a quantificação das alterações posturais e dos resultados dos tratamentos, 6 Posterior Sagital Rolamento X Pré X Pos p-valor AC 2,29 1,27 0,00* EC 2,60 1,66 0,01* 0,11 AS 2,44 1,82 ΔTd 11,26 10,19 0,05 ΔTe 14,00 12,78 0,02* Aje 176,58 175,76 0,01* Ajd 175,38 176,29 0,00* IE 3,07 2,36 0,13 PS 3,30 2,06 0,06 PC 53,31 50,32 0,01* LC 32,33 30,78 0,52 CT 87,36 84,97 0,30 LL 48,20 39,82 0,00* 0,29 FJ 172,50 172,03 ATT 131,06 128,60 0,01* W 158,34 153,23 0,05 CF 131,76 120,41 0,00* * p<0,05-teste t pareado; ATT=ângulo tibiotársico; AC=ângulo acromioclavicular; AJd=alinhamento do joelho direito; AJe=alinhamento do joelho esquerdo; AS=ângulo da espinha ilíaca ântero superior; CF=ângulo coxofemoral; EC=ângulo esternoclavicular, IE=ângulo inferior da escápula; PS=ângulo espinha ilíaca póstero superior; ΔTd=triângulo de Talles direito; ΔTe=triângulo de Talles esquerdo; W=ângulo de Whistance ; FJ=ângulo de flexão de joelho. 137 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):133-40. Denise H. Iunes, Maria B. B. Cecílio, Marina A. Dozza, Polyanna R. Almeida o que não é comumente utilizado nas escolas e clínicas de fisioterapia34. A escoliose é uma deformidade postural que produz uma diminuição da força muscular nos músculos extensores lombares quando comparados com os dos indivíduos sem escoliose10. O método Klapp é uma forma de tratamento em que são utilizadas posturas assimétricas de alongamento e permite também trabalhar o fortalecimento dessa musculatura14,26,27. Não foram encontradas publicações em que se utilizou o método Klapp, apenas dois trabalhos de conclusão de curso em que foram atendidos poucos pacientes com tal método, os quais foram avaliados com controle radiográfico26,27. Desses trabalhos, Góis Junior26 tratou três pacientes utilizando a referida técnica em 10, 20 e 30 sessões, respectivamente, para cada paciente. No controle radiográfico, observou que, nas curvaturas lombares, a melhora foi significativa, mas não apresentou resultados na escoliose torácica. Já Ribeiro e Ribeiro27 trataram seis voluntários com 20 sessões de exercícios de Klapp e eles obtiveram redução da curvatura torácica, também avaliados radiograficamente. Neste trabalho, conseguiu-se maior número de voluntários, 16, e assim, como nos trabalhos anteriormente escritos, também obtiveram-se melhores resultados nas assimetrias torácicas, verificadas pelos ângulos AC e EC e ΔTe, apesar de se usar outra técnica de avaliação quantitativa ( fotogrametria). O fato de o método utilizar posturas assimétricas de membros superiores e inferiores, enfatizando o alongamento do lado côncavo da escoliose, pode favorecer a melhora das assimetrias. Considerando-se que a maioria dos voluntários encontrava-se em idade de crescimento, a manutenção das assimetrias nos ângulos ΔTd, IE, espinhas ilíacas AS e espinha ilíaca PS pode ser considerada satisfatória, uma vez que as assimetrias não evoluíram. Foram encontrados outros trabalhos que avaliaram o resultado de outras técnicas no tratamento da escoliose. A osteopatia associada ao isostretching foi empregada por Oliveiras e Souza11 para tratar seis pacientes com escoliose, cujos resultados foram avaliados por fotografia, mas de forma qualitativa. Eles relatam que essas técnicas foram eficazes na melhora das cadeias inspiratórias ântero-interna do quadril e posterior, ainda afirmaram melhora nas assimetrias, mas não demonstraram esses resultados no trabalho. A técnica isostretching também foi utilizada em outro trabalho2 para tratar dois pacientes com escoliose, sendo que apenas um deles teve redução da curvatura avaliada por radiografia, no entanto ambos tiveram melhora da cifose torácica. Monte-Raso et al.24 também utilizaram a técnica isostretching para tratar 12 voluntários com alterações posturais, 138 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):133-40. entre elas, a escoliose. Esses autores relatam que essa técnica não foi eficaz no tratamento de assimetrias. A utilização de posturas de alongamentos isotônicos excêntricos foi feita por Molina e Camargo16 para tratar nove crianças de 9 a 15 anos. Acompanharam os resultados do tratamento por meio de testes de flexibilidade e radiografias. Como resultados, encontraram diminuição da dor e diminuição da curva escoliótica, avaliada pelo ângulo de Cobb. Essa mesma técnica foi empregada por Marques19 para tratar a escolise de uma jovem e, após 30 sessões, houve uma diminuição de 10º na curvatura avaliada por radiografia. Rosário et al.35 compararam a utilização do alongamento global, pela técnica de RPG, com a utilização do alongamento segmentar passivo e autopassivo dos músculos que compõem a cadeia muscular posterior. Observaram que a melhora da flexibilidade da musculatura da cadeia posterior em indivíduos sem lesões musculoesqueléticas, com a utilização das duas técnicas de alongamento, foram semelhantes. Fernández-de-Las-Peñas et al.36 também observaram melhora da flexibilidade, avaliada pelo grau de flexão lombar, em indivíduos com espondilite anquilosante, tanto utilizando a técnica de RPG quanto alongamentos segmentares. No entanto, em um estudo posterior dos mesmos autores37, avaliando os resultados da mobilidade nos mesmos pacientes após um ano de tratamento, no grupo de pacientes com espondilite anquilosante que recebeu tratamento com técnica de RPG, a manutenção da mobilidade a longo prazo foi melhor. Neste estudo, o Método Klapp foi eficaz na melhora da cadeia posterior, porque houve modificações na flexibilidade após o tratamento nos ângulos CF (p=0,00) e ATT (p=0,01). Apenas o ângulo Whistance não foi significativo W (p=0,05). Esses resultados não eram esperados, uma vez que a técnica não trabalha com alongamentos que utilizam posturas com flexão do ângulo CF, como as técnicas de isostretching e a RPG. No entanto, o fato de manter os membros inferiores e superiores homolaterais em extensão favorece o alongamento em cadeia muscular. Em relação às curvaturas, só houve modificação da LL, mas, em compensação, as assimetrias de tronco diminuíram, e as da pelve mantiveram-se. Outra consideração é que, nos trabalhos que utilizaram o isostretching, foram realizadas 30 sessões ou mais. Com o Klapp, foram realizadas 20 sessões, e encontrou-se diminuição nas assimetrias torácicas e manutenção nas assimetrias de pelve. São necessários mais trabalhos com esse método, com maior número de sessões, para verificar se os resultados na pelve melhorariam ou se a técnica é mais eficaz na torácica. Método Klapp no tratamento da escoliose idiopática Em relação ao posicionamento da cabeça, o resultado não foi satisfatório com essa técnica porque o tratamento predispôs a uma diminuição do ângulo de protrusão PC, ou seja, a cabeça apresentou uma tendência a maior anteriorização. Talvez tenha que se dar maior ênfase ao comando verbal de manutenção do posicionamento da coluna cervical e cabeça. Sugere-se para pesquisas futuras que o método Klapp seja aplicado com maior número de sessões e com o mesmo tempo de tratamento para melhor correção das compensações posturais. Apesar de ser um método pouco divulgado cientificamente, é utilizado com certa frequência em alguns serviços e, pela facilidade de ser utilizado em pequenos grupos, pode ser um método vantajoso em serviços em que atendimentos individualizados não são possíveis pelo volume de pacientes. No entanto, é um método que apresenta dificuldades em ser aplicado em pacientes com mais idade e problemas no joelho porque as posturas ajoelhadas são mantidas por tempo prolongado. Conclusão De acordo com a metodologia proposta, observou-se que o método Klapp foi uma técnica terapêutica mais eficaz para tratar as assimetrias de tronco em comparação com a de pelve. Obtiveram-se resultados relevantes para melhorar a flexibilidade e a lordose lombar. Para as demais curvaturas vertebrais e o posicionamento da cabeça, o Klapp não demonstrou bons resultados, não sendo também eficaz para trabalhar o alinhamento de joelhos no plano sagital. Agradecimento À Universidade José do Rosário Velano, pela concessão da bolsa de Iniciação Científica (PROBIC/UNIFENAS), a qual foi de grande valia para o desenvolvimento deste estudo. Referências bibliográficas 1. Amantéa DV, Novaes AP, Campolongo GD, Barros TP. A importância da avaliação postural do paciente com disfunção da articulação temporomandibular. Acta Ortop Bras. 2004;12(3):155-9. 10. Bassani E, Candotti CT, Pasini M, Melo M, La Torre M. Avaliação da ativação neuromuscular em indivíduos com escoliose através da eletromiografia de superfície. Rev Bras Fisioter. 2008;12(1):13-9. 2. Beloube DP, Costa SRM, Barros Junior EA, Oliveira RJDP. O método isostretching nas disfunções posturais. Fisioter Bras. 2004;4(1):73-5. 11. Oliveiras AP, Souza DE. Tratamento fisioterapêutico em escoliose através das técnicas de isostrecthing e manipulações osteopáticas. Ter Man. 2004;2(3):104-13. 3. Berbel AM, Nery CAS. 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One-year follow-up of two exercise interventions for the management of patients with ankylosing spondylitis: a randomized controlled trial. Am J Phys Med Rehabil. 2006;85(7):559-67. 140 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):133-40. ISSN 1413-3555 ARTIGO ORIGINAL Rev Bras Fisioter, São Carlos, v. 14, n. 2, p. 141-8, mar./abr. 2010 © Revista Brasileira de Fisioterapia Análise comportamental de recém-nascidos pré-termos incluídos em um programa de estimulação tátil-cinestésica durante a internação hospitalar Behavioral analysis of preterm neonates included in a tactile and kinesthetic stimulation program during hospitalization Andréia M. Ferreira, Niélsy H. P. Bergamasco Resumo Objetivo: Avaliar o efeito da estimulação tátil-cinestésica na evolução do padrão comportamental e clínico de recém-nascidos prétermos (RNPT) durante o período de internação hospitalar. Métodos: Trinta e dois RNPT, com peso ao nascimento inferior a 2.500 gramas, clinicamente estáveis e destituídos de asfixia perinatal importante foram divididos em 16 bebês do grupo controle (GC) e 16 do experimental (GE). Foram coletados dados da evolução clínica a partir dos registros hospitalares e da avaliação comportamental por meio de filmagens semanais de oito minutos, desde a inclusão do RNPT na amostra até a alta hospitalar. Resultados: Tendência a redução do tempo de internação hospitalar, aumento do ganho de peso diário e predominância de comportamentos auto-organizados (respiração regular, estado de alerta, tônus equilibrado, posturas mistas, movimentação coordenada, movimentos de mão na face, sucção, preensão, apoio) para os RNPT do GE. A análise comparativa das idades pós-conceptuais divididas em intervalos (I - 31 a 33 semanas 6/7; II - 34 a 36 semanas 6/7; e III - 37 a 39 semanas 6/7) ressaltou, no aspecto motor, um tônus equilibrado e movimentação voluntária coordenada para os três períodos, maior permanência em posturas mistas (intervalo I) ou em flexão (intervalo II) e a obtenção de respiração mais regular na faixa etária I do GE. Conclusão: Destaque da estimulação tátil-cinestésica como método de intervenção durante o período de internação hospitalar, contribuindo para a auto-organização e regulação comportamental de RNPT. Artigo registrado no Australian New Zealand Clinical Trials Registry (ANZCTR) sob o número ACTRN12610000133033. Palavras-chave: recém-nascido prematuro; estimulação; desenvolvimento infantil; análise do comportamento. Abstract Objective: To evaluate the effect of tactile and kinesthetic stimulation on behavioral and clinical development in preterm neonates while still in the hospital. Methods: Thirty-two clinically stable preterm infants weighing <2500 grams, with no significant perinatal asphyxia, were allocated to two groups: a control group (CG) in which no intervention was made (n=16) and a study group (SG) in which the newborn infants received tactile and kinesthetic stimulation (n=16). Data on the infants’ clinical progress were collected from medical charts and behavioral evaluations by means of a series of weekly, eight-minute films recorded from the time of inclusion into the study until hospital discharge. Results: There was a trend towards a shorter duration of hospital stay, increased daily weight gain and a predominance of self-regulated behavior (regular breathing, state of alertness, balanced tonus, a range of postures, coordinated movements, hand-to-face movement control, suction, grip, support) in infants in the SG. With respect to motor control, comparative analysis of postconceptional ages according to age-bracket (I - 31-33 weeks 6/7; II - 34-36 weeks 6/7; and III - 37-39 weeks 6/7) revealed balanced tonus and coordinated voluntary movements in all three periods, a longer time spent in a range of postures (age bracket I) or in flexion (age bracket II) and more regular breathing in age bracket I in the SG. Conclusion: In the hospital, tactile and kinesthetic stimulation was shown to have a positive effect, contributing towards adjustment and self-regulation of behavior in the preterm newborn infant. Article registered in the Australian New Zealand Clinical Trials Registry (ANZCTR) under the number ACTRN12610000133033. Key words: preterm neonates; stimulation; child development; behavioral analysis. Recebido: 28/01/2009 – Revisado: 21/05/2009 – Aceito: 09/06/2009 Departamento de Psicologia Experimental, Programa de Neurociências e Comportamento, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo (USP), São Paulo (SP), Brasil Correspondência para: Andréia Menandro Ferreira, Rua Cônego Valadão, 1.539, Apto 53, Gopouva, CEP 07040-000, Guarulhos (SP), Brasil, e-mail: [email protected] Apoio Financeiro: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). 141 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):141-8. Andréia M. Ferreira, Niélsy H. P. Bergamasco Introdução O nascimento prematuro, quando associado ao baixo peso, denota desenvolvimento diferenciado caracterizado por um maior desvio e atraso em diversas áreas, sendo as morbidades neurológica, sensorial e funcional crescentes conforme a diminuição do peso ao nascer1,2. Diferenças quanto à época de recebimento de inputs sensoriais parecem modificar a conectividade e a estrutura do córtex cerebral, justificando o desempenho neurofuncional insatisfatório de crianças prematuras em tarefas relacionadas a processos cerebrais complexos, como os de atenção e autorregulação3. Pesquisas sobre a implantação de programas de cuidados designados ao bebê prematuro, visando diminuir componentes ambientais estressores e promover um contexto mais favorável ao seu desenvolvimento durante o período de internação hospitalar, têm sido efetuadas4-6. As propostas de intervenção levam em conta a rotina de cuidados diários fornecidos ao prematuro, seja pela equipe multiprofissional de saúde, seja pelos próprios pais do bebê, tendo como principal meta um ambiente extrauterino adequado a um sistema fisiológico ainda imaturo. Tal propósito requer um meio sensorialmente modificado capaz de produzir respostas comportamentais mais estáveis e, portanto, compatíveis com o período crítico de desenvolvimento cerebral de recém-nascidos prematuramente7. Como a responsividade do recém-nascido (RN) à estimulação tátil nos primeiros dias de vida é maior do que qualquer outra modalidade sensorial, além de o crescimento e a maturação cerebral dependerem de neurotransmissores responsivos ao contato e à estimulação tátil gentil8; destaca-se a estimulação tátil-cinestésica, dentre as possíveis intervenções aplicadas, como medida eficaz para acelerar o ganho de peso diário e reduzir o tempo de internação hospitalar em crianças prematuras9,10. Em um dos estudos realizados, os autores verificaram os efeitos da estimulação tátil no desenvolvimento de cinco crianças prematuras com baixo peso ao nascer. As crianças tocadas se apresentaram mais ativas, com rápido ganho de peso e fisicamente mais saudáveis em termos de crescimento e desenvolvimento motor11. Recém-nascidos pré-termos extremos que receberam estimulação tátil-cinestésica por 15 minutos, três vezes ao dia, durante dez dias consecutivos, demonstraram maior ganho de peso, permanência em estado de alerta e padrões maduros quanto ao aspecto motor, de habituação e orientação na escala de avaliação de Brazelton. Além disso, as crianças experimentais se apresentaram em acompanhamentos “follow-up”, com crescimento e desenvolvimento superiores àquelas não estimuladas12. Apesar dos vários benefícios apontados pelos estudos da área, ainda não há consenso a respeito dos mecanismos responsáveis pela melhora clínica e comportamental observada, 142 Rev Bras Fisioter. 2009;14(2):141-8. ou sobre qual regime de intervenção específico seria mais adequado para cada situação, segundo idade gestacional ou peso ao nascimento8,13. As respostas emitidas pela criança, momento a momento, antes, durante e após a intervenção, corresponderiam, talvez, ao meio mais confiável e seguro de se adequar os estímulos à tolerância do bebê, classificando-os em adequados ou excessivos13 pela emissão de comportamentos de aproximação ou retraimento14, respectivamente. Aliar essa linguagem corporal do RN ao contexto em que ela ocorre, ou seja, durante manipulações de rotina, procedimentos dolorosos ou nas interações com pais e equipe, parece ser o meio mais apropriado de se saber quando e como intervir com riscos cada vez menores para o desenvolvimento. Dessa forma, a presente pesquisa objetivou estudar o desenvolvimento comportamental e clínico de recém-nascidos pré-termos, com baixo risco de sequelas neurológicas, sujeitos a um programa de estimulação tátilcinestésica durante o período de internação hospitalar, em um berçário de cuidados intermediários. Materiais e métodos Em uma triagem inicial, 40 recém-nascidos pré-termos (RNPTs) com peso ao nascimento inferior a 2.500 gramas, índice de Apgar no 5˚ minuto igual ou superior a 6 e clinicamente estáveis foram selecionados. Entretanto, oito bebês foram excluídos devido à presença de um ou mais dos seguintes critérios: disfunção visual e/ou auditiva; diagnóstico de anormalidade neurológica evidenciada por ultrassom craniano; instabilidade clínica; curto período de tempo de internação hospitalar e nãoconsentimento dos pais. Os bebês selecionados procederam de um berçário de médio risco, onde foram coletados os dados clínicos, a avaliação comportamental e aplicada a estimulação tátil-cinestésica. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (registro n 393/03), e os pais ou responsáveis pelo RNPT assinaram previamente o termo de consentimento livre e esclarecido, autorizando a participação no estudo. Inicialmente, foram coletados os dados pertinentes ao grupo controle (GC); em seguida, os do grupo experimental (GE), o que evitou possíveis miscigenações dos grupos e uma postura antiética para com os pais e bebês controles. Os dados clínicos da mãe e do RNPT foram obtidos dos prontuários, sendo preenchido um roteiro de anamnese, contendo informações importantes sobre a gestação e nascimento, tais como pré-natal; idade gestacional (IG) a partir da data da última menstruação ou método Capurro ou exame de ultrassonografia precoce; peso; Apgar e causa da prematuridade. A evolução do Estimulação tátil-cinestésica em RNPT peso diário e o número total de dias de internação, assim como as idades cronológicas correspondentes e as eventuais modificações no quadro clínico geral dos bebês, passaram a ser registrados em uma ficha de acompanhamento para cada sujeito. A avaliação comportamental adotada foi adaptada do Manual para a Observação Naturalística do Comportamento de Neonatos a Termos ou Pré-termos15, que engloba os principais subsistemas ou capacidades do RNPT, como autônomo (respiração, sinais viscerais e espasmos), motor (tônus muscular e postura predominante), dos estados de consciência (sono profundo, leve, sonolento, alerta inativo, ativo e choro) e de atenção-interação social (aproximação e evitação), sendo esses comportamentos registrados em porcentagem de tempo ou frequência de ocorrência, o que possibilitou a quantificação da observação comportamental e a posterior aplicação dos testes estatísticos. Para isso, os RNPTs dos grupos controle e experimental foram filmados durante 8 minutos initerruptos, a cada semana pós-conceptual, até a alta hospitalar, sendo válida para os bebês do GE a filmagem realizada após uma semana do início da aplicação do protocolo de intervenção. Uma câmera de vídeo (Panasonic NV – RJ28 Optical Zoom 23) foi utilizada, estando o RNPT somente de fralda, em supino na incubadora, berço comum ou aquecido, dependendo do local onde estava alojado no berçário e, preferencialmente, uma hora antes da mamada seguinte. Eventualmente, era necessário o auxílio de um aquecedor portátil da unidade para manter o RN aquecido, e o manuseio, por parte do pesquisador, era evitado. Posteriormente, as fitas gravadas foram visualizadas, e o registro dos comportamentos realizado de modo cursivo em períodos de 30 segundos, ou seja, por meio da paralisação do vídeo (tecla “pause/still”) a cada intervalo para permitir a transcrição completa dos dados comportamentais. Os dados comportamentais foram comparados tanto em conjunto, nos grupos, quanto por meio de intervalos predefinidos de idades pós-conceptuais: intervalo I: de 31 a 33 semanas 6/7; II: de 34 a 36 semanas 6/7, e III: de 37 a 39 semanas 6/7, com intuito de se observarem diferenças comportamentais ou a evolução desses comportamentos em intervalos cronológicos menores. A fim de minimizar os erros de mensuração dos comportamentos observados, verificou-se a concordância inter e intraobservadores dos registros por meio da observação das filmagens de cinco RNPT em duas fases distintas, a saber: a primeira, em que foi calculado o índice de concordância (IC) interexaminador e, após um período de um mês, a segunda fase, para o cálculo do IC intraexaminador, tendo atingido ambos os índices valores considerados satisfatórios, acima de 80%. O protocolo de estimulação tátil-cinestésica foi aplicado aos RNPTs do GE e consistiu em quatro ou cinco intervenções semanais, com duração de 5 a 15 minutos cada, de acordo com os limiares individuais de estimulação de cada bebê, privilegiando o estado de alerta. A estimulação tátil consistiu em toques suaves, lentos e contínuos9,16,17, de sequência não-rígida, com direção céfalo-caudal no tronco e proximal para distal nos membros, procurando conter o RNPT em supino ou decúbito lateral. Já estimulação cinestésica envolveu mobilizações lentas dos membros em flexão e extensão, a exploração manual pelo bebê por diferentes partes do seu corpo e o posicionamento adequado em decúbito lateral ou ventral, com o auxílio de rolos de tecido colocados estrategicamente em formato de ninho1,18-20. Na análise estatística, utilizou-se o teste de Mann Whitney para a comparação dos dados quantitativos obtidos a partir de amostras independentes do GC e GE e o teste de igualdade de duas proporções com a finalidade de se comparar a proporção de respostas das variáveis qualitativas. Para toda a análise dos resultados, foi adotado nível de significância de 0,05. Resultados Os grupos controle e experimental constaram de 16 RNPTs cada, distribuídos em 5 do sexo feminino e 11 do masculino para o GC, contra 9 e 7 do GE, respectivamente. As médias de idade gestacional e peso ao nascimento para o GE foram de 33,38 (1,9) semanas e 1910,31 (300,86) gramas e para GC, de 33,28 (2,1) semanas (p=0,88) e 1872,81 (407,85) gramas (p=0,985). Tanto as características descritivas da amostra quanto as variáveis clínicas não foram estatisticamente significativas, conforme demonstra a Tabela 1. Entretanto, ocorreu para o grupo de intervenção uma tendência à redução do número total de dias de internação hospitalar (13,448,57) em relação ao GC (18,1913,8; p=0,355), além de um aumento do ganho de peso diário (6,0913,33 g) no GE, em comparação ao GC (4,5326,66 g, p=0,851). Dentre os resultados pertinentes à avaliação comportamental conjunta das idades cronológicas (Tabela 2), destacou-se para o GE maior porcentagem de tempo em respiração regular (p=0,002), no subsistema autônomo e em estado de alerta ativo (p=0,036), no subsistema estados de consciência. No aspecto motor, o GE permaneceu mais tempo em posturas mistas (p=0,013), com tônus equilibrado (p<0,001), enquanto, para o GC, foi predominante a postura extensora (p=0,001), em hipotonia (p<0,001), conforme demonstra a Figura 1. Além disso, na comparação das médias obtidas para item movimentação voluntária, os RNPTs do grupo de intervenção realizaram movimentos mais coordenados, com frequência média de ocorrência de 4,76 (3,94), comparada a 1,12 (1,86) para GC (p<0,001), além de um número maior de movimentos de mão na face, sucção, preensão e apoio (média=10,85,48 para GE e 7,195,66 para GC, com p=0,013). No subsistema atenção-interação social, os comportamentos de aproximação e evitação não exibiram 143 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):141-8. Andréia M. Ferreira, Niélsy H. P. Bergamasco III - p=0,043) e hipotonia para I (p=0,014) e II (p=0,0017) do GC. Houve maior porcentagem de tempo gasto em posturas mistas (média 7532,39 para GE e 28,8535,68 para GC, p=0,008) no intervalo I e em flexão (média 30,6835,73 para GE e 8,638,63 para GC, p=0,012) no intervalo II do GE, além da significante ocorrência de movimentação coordenada para todas as idades (I - p=0,001; II - p=0,027; III - p=0,044) do grupo com estimulação tátil-cinestésica. No aspecto autônomo, ocorreu respiração diferenças significantes entre os grupos. Em geral, a média do GE (3,645,32) para os de aproximação foi superior ao GC (1,743,74), enquanto os de evitação não foram manifestados pelo GE, e a média de ocorrência para o GC foi de 0,76 (2,05). A Figura 2 mostra a análise da avaliação comportamental mediante a abordagem das idades pós-conceptuais divididas em intervalos, que resultou no subsistema motor em tônus equilibrado para os três intervalos do GE (I - p=0,007; II - p=0,003; Tabela 1. Dados descritivos da amostra e resultados clínicos. Características Sexo Feminino Masculino Idade gestacional (sem): média (DP) Peso ao nascimento (g): média (DP) Apgar (mediana) 1˚ minuto 5˚ minuto 10˚ minuto Classificação do PN BP MBP Classificação PN em relação IG AIG PIG Tempo de internação (dias): média (DP) Ganho de peso diário (g): média (DP) GC GE p-valor 5 11 33,28 (2,1) 1872,81 (407,85) 9 7 33,38 (1,9) 1910,31 (300,86) 0,154 0,154 0,88 0,985 9 9 10 8 9 9 0,268 0,383 0,032* 12 4 15 1 0,144 0,144 11 5 18,19 (13,8) 4,53 (26,66) 14 2 13,44 (8,57) 6,08 (13,33) 0,2 0,2 0,355 0,851 Sem=semanas; g=gramas; DP=desvio-padrão; PN=peso ao nascimento; BP=baixo peso; MBP=muito baixo peso; IG=idade gestacional; AIG=adequado para a IG; PIG=pequeno para a IG; GC=grupo controle; GE=grupo experimental. 100 * 80 60 * 40 20 0 Hipotonia Hipertonia 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Equilibrado B Porcentagem de Tempo Porcentagem de Tempo A * * Intervalo I Intervalo II Intervalo III B 80 70 60 50 40 30 20 10 0 * * Extensão Flexão Controle Ambos Experimental Figura 1. Comparação entre as médias de porcentagem de tempo para os itens tônus muscular (A) e postura predominante (B) entre os grupos controle e experimental. 144 Rev Bras Fisioter. 2009;14(2):141-8. Porcentagem de Tempo Porcentagem de Tempo A 80 60 40 20 0 * Intervalo I * Intervalo II Controle Experimental * Intervalo III Figura 2. Comparação entre as médias de porcentagem de tempo para os itens hipotonia (A) e tônus equilibrado (B) entre os grupos controle e experimental. Estimulação tátil-cinestésica em RNPT regular principalmente para os RNPTs do GE pertencentes ao intervalo II (p=0,008), enquanto os demais subsistemas, estados de consciência e atenção-interação social, não apresentaram diferenças significativas. Discussão O aspecto clínico e comportamental de RNPTs que receberam estimulação tátil-cinestésica, durante o período de internação hospitalar, foram avaliados na presente pesquisa. A maioria dos estudos demonstrou melhoras nas medidas clínicas relacionadas tanto ao ganho de peso quanto na redução do período de internação hospitalar8,9,11,21-24. Os resultados deste estudo apontaram uma tendência à redução do tempo de internação e aumento do ganho de peso diário para os RNPTs do grupo estimulado sem, porém, significância estatística. Uma revisão atual sobre o assunto incluiu 14 estudos randomizados, cujos RNPTs ou crianças de baixo peso foram massageados por aproximadamente 15 minutos, de três a quatro Tabela 2. Resultados comportamentais para os grupos controle (GC) e experimental (GE). Avaliação comportamental IC (sem) Respiração regular (%) Respiração irregular (%) Hipotonia (%) Hipertonia (%) Equilibrado (%) Postura extensão (%) Postura flexão (%) Ambas posturas (%) Movimentação coordenada (f) Movimentação descoordenada (f) Movimentos Mão face/apoio (f) Sono profundo (%) Sono leve (%) Sonolento (%) Alerta inativo (%) Alerta ativo (%) Choro (%) Atenção/Interação Aproximação (f) Atenção/Interação Evitação (f) GC GE GC GE GC GE GC GE GC GE GC GE GC GE GC GE GC GE GC GE GC GE GC GE GC GE GC GE GC GE GC GE GC GE GC GE GC GE GC GE Média (DP) 34 4/7 (1,99) 34 5/7 (2,09) 61,61 (42,36) 91,5 (21,72) 38,39 (42,36) 8,5 (21,72) 54,17 (42,94) 14,25 (30,96) 19,64 (22,66) 11,25 (15,83) 26,19 (39,32) 74,5 (31,51) 46,58 (40,46) 17,75 (20,23) 11,76 (28,46) 18 (27,74) 41,67 (37,36) 64,25 (30,06) 1,12 (1,86) 4,76 (3,94) 4,36 (4,51) 2,64 (2,75) 7,19 (5,66) 10,80 (5,48) 14,29 (29,42) 4,75 (18,34) 59,38 (42,24) 48,75 (43,9) 5,95 (12,95) 7,5 (11,83) 8,78 (19,91) 16 (26,4) 8,93 (18,58) 21,75 (30,47) 2,68 (8,53) 1,25 (4,03) 1,74 (3,74) 3,64 (5,32) 0,76 (2,05) 0 (0) Mediana 35 34 87,5 100 12,5 0 71,88 0 9,38 6,25 0 93,75 46,88 6,25 0 0 31,25 75 0 4 2,5 2 6,5 13 0 0 75 62,5 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 p-valor 0,844 0,002* 0,002* <0,001* 0,108 <0,001* 0,001* 0,384 0,013* <0,001* 0,09 0,013* 0,15 0,33 0,627 0,209 0,036* 0,435 0,091 0,068 Sem=semanas; %=porcentagem de tempo; f=frequência de ocorrência; DP=desvio-padrão. 145 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):141-8. Andréia M. Ferreira, Niélsy H. P. Bergamasco vezes ao dia, de cinco a dez dias, encontrando um aumento do ganho de peso de 5 gramas e uma redução da permanência hospitalar de 4,5 dias8. Entretanto, diferenças metodológicas entre os trabalhos realizados tornaram os resultados inconsistentes e a efetividade da intervenção questionável, por exemplo, número variável de crianças estudadas, quantidade de estimulações, o tempo total de cada uma delas, além de tipos diferentes de estímulos (toques leves a intensos) aplicados pela equipe ou pais. No presente estudo, além da amostra de RNPTs ter sido pequena também ocorreram variações quanto ao tempo de estimulação, de acordo com os limiares individuais dos RNPTs, e à quantidade total de sessões realizadas para cada criança, visto que a intervenção aconteceu desde a estabilidade clínica até a alta hospitalar. Esses fatores dificultaram a padronização adequada da estimulação, contribuindo para a ausência de significância entre os resultados clínicos encontrados. No aspecto comportamental, muitos estudos observaram o comportamento prematuro como forma de avaliação das intervenções empregadas, sejam elas compostas por simples posicionamentos ou programas mais completos de cuidados com o desenvolvimento4,18,19. As respostas emitidas pela criança sugerem a autorregulação por meio de uma postura mais contida em flexão, com movimentos organizados de mão na face/boca, sucção, preensão de objetos ou apoio de membros, enquanto os comportamentos estressantes podem ser representados por movimentos desorganizados, em extensão, hipotonia19,25. A fim de analisar o nível de estresse em recém-nascidos saudáveis submetidos à estimulação tátil ou a duas das seguintes combinações de estímulos: tátil, visual, auditivo e vestibular, pesquisadores coletaram amostras salivares e quantificaram seu nível de cortisol. O grupo de RNs sujeitos apenas à estimulação tátil apresentou importante aumento do cortisol, enquanto o grupo com estimulação multissensorial exibiu um declínio da taxa desse hormônio, sugerindo a preferência dos RNs pela combinação de estímulos, tal como a tátil-cinestésica26. A estimulação tátil-cinestésica vem acompanhada de melhoras na atividade motora, demonstráveis pela variabilidade de movimentos, sucção, permanência em estado de alerta e menor hipotonia10,12,21,27,28. Na análise conjunta das idades cronológicas, o GE permaneceu mais tempo em estado de alerta, respiração regular, posturas mistas, com tônus equilibrado, movimentação voluntária coordenada, exibindo movimentos de mão na face, sucção, preensão e apoio, enquanto o GC apresentou respiração irregular, extensão e hipotonia por mais tempo. Na subdivisão dos grupos, o estimulado apresentou tônus equilibrado, movimentação coordenada nos três intervalos, predomínio de posturas mistas no intervalo I e em flexão no intervalo II, enquanto o GC exibiu hipotonia significativa nos intervalos I e II. Esses resultados do grupo total ou nos intervalos das idades cronológicas estão de acordo com outros estudos que também observaram 146 Rev Bras Fisioter. 2009;14(2):141-8. padrões motores mais maduros dentre as crianças estimuladas; além de hipotonia e postura extensora nos RNPTs controles11,12. Devido à imaturidade do sistema neuromotor, o tônus muscular do pré-termo pode ser naturalmente menor após o nascimento, seguindo períodos distintos de mielinização das vias motoras descendentes e desenvolvimento caudo-cefálico, além de poder sofrer influências externas por meio da manutenção postural com predomínio extensor20. No desenvolvimento, o RNPT com 34 semanas de idade gestacional pode apresentar flexão dos membros inferiores na altura dos quadris e joelhos, braços mantidos em extensão e relativamente hipotônicos (postura de “rã”), evoluindo a partir da 36ª semana, com aumento do tônus flexor nas extremidades29. No intervalo II (de 34 a 36 6/7 semanas), portanto, poder-se-ia supor a presença de hipotonia com postura mista em flexão e extensão de membros, conforme vivenciado pelo GC. Na verdade, observou-se um GE com padrão postural misto desde o intervalo I (de 31 a 33 6/7 semanas) e em flexão, com tônus propenso ao equilíbrio no intervalo II. Antes de 32 semanas pós-conceptuais, a movimentação do prematuro é ampla e rápida, sendo, a partir de então, gradativamente modificada rumo a movimentos mais fletidos, lentos e moderados dos membros30. Tal padrão coordenado esteve presente nos RNPTs do GE em todas as fases avaliadas, enquanto o GC exibiu movimentação voluntária descoordenada mais frequente, embora de maneira não significativa. No aspecto autônomo, observou-se respiração regular no intervalo II do GE, enquanto os demais subsistemas, estados de consciência e atenção-interação social, não apresentaram diferenças importantes. Em geral, o grupo não estimulado permaneceu mais em estado de baixo despertar e o estimulado em estados de alerta ativo e inativo, conforme descrito anteriormente por outros estudos8,12. A qualidade das respostas comportamentais emitidas pela criança frente aos estímulos é fortemente dependente do estado em que se encontra e de eventos internos e externos, tais como tempo transcorrido após a última mamada, sono, dor, barulho, luz e temperatura13. Nesse aspecto, apesar da atenção concedida ao ambiente e manipulações da equipe, anteriores à avaliação comportamental, nem todos esses eventos puderam ser devidamente controlados. Dessa forma, os RNPTs permaneceram vulneráveis a estímulos inerentes ao berçário, que talvez tenham concorrido com a intervenção tátil-cinestésica ou mascarado aspectos comportamentais importantes, como os estados de consciência e interação social. No estudo em foco, embora as condições experimentais não tenham sido totalmente viáveis, alguns padrões comportamentais se afirmaram em ambas as análises (conjunta e intervalada) dos grupos, como um tônus equilibrado, posturas mistas ou em flexão e movimentação coordenada para Estimulação tátil-cinestésica em RNPT os RNPTs estimulados. É verdade que outros subsistemas não se destacaram igualmente ao motor, mas, na abordagem geral dos grupos, observaram-se também respiração regular e a predominância do alerta ativo nos bebês estimulados. Em conformidade com os estudos da área, é possível concluir que a estimulação tátil-cinestésica se destacou como método de intervenção no desenvolvimento comportamental de RNPTs por meio da demonstração de padrões motores mais maduros e comportamentos mais regulados e organizados. Entretanto, outras pesquisas multidisciplinares no campo da intervenção em prematuros são necessárias, visando avaliar a evolução clínica, comportamental e o desenvolvimento neuro-psico-motor a longo prazo, para que se possa contribuir de maneira efetiva na melhora da qualidade de vida precoce e futura dessas crianças. Referências bibliográficas 1. Bregman J. Developmental outcome in very low birthweight infants. Current status and future trends. Pediatr Clin North Am. 1998;45(3):673-90. 2. Vohr BR, Wright LL, Dusick AM, Mele L, Verter J, Steichen JJ, et al. Neurodevelopmental and functional outcomes of extremely low birth weight infants in the national institute of child health and human development neonatal research network. Pediatrics. 2000;105(6): 1216-26. 3. Als H. Neurobehavioral development of the preterm infant. In: Fanaroff AA, Martin RJ, editors. Neonatal – perinatal medicine diseases of the fetus and infant. St Louis: Mosby-Year Book; 1997. p. 964-90. 4. 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A análise quantitativa utilizou um banco de dados com informações sociodemográficas, funcionais e clínicas referentes a 35 indivíduos, classificados em dois grupos (retornou/não retornou ao trabalho). Foi conduzida análise multivariada, utilizando o algoritmo CART (Classification and Regression Tree) para avaliar o valor preditivo de quatro modelos, identificando trabalhadores que retornaram ou não ao trabalho. A partir dos resultados da análise estatística, foi elaborado um roteiro semiestruturado para as entrevistas que foram realizadas com sete trabalhadores selecionados aleatoriamente da amostra. Resultados: Dos 35 trabalhadores que participaram deste estudo, 30 retornaram e cinco não retornaram ao trabalho. A maioria era do sexo masculino, com média de idade de 37 anos, casada e de baixa escolaridade. As variáveis com maior força preditiva foram força de preensão, escores do desempenho ocupacional, categoria ocupacional e idade. O estudo qualitativo confirmou a natureza multifatorial do retorno ao trabalho, demonstrando que a presença de um profissional para acompanhar o processo, alguns ajustes no posto e no horário de trabalho, possibilitando uma continuidade do tratamento, e o auxílio-acidente podem contribuir para o sucesso do retorno. Conclusões: Este estudo evidenciou a complexidade do retorno ao trabalho de trabalhadores com lesão de mão, apontando vários fatores associados a esse desfecho e a importância de uma avaliação individualizada, centrada no trabalhador. Palavras-chave: retorno ao trabalho; acidente de trabalho; trauma de mão. Abstract Objectives: To describe workers who returned to work after a hand injury and to analyze the factors associated with this outcome three years after discharge from rehabilitation. Methods: An observational, cross-sectional study was carried out with triangulation of quantitative and qualitative methods. The quantitative analysis used a database with sociodemographic, functional and clinical information on 35 individuals who were classified into two groups (return/no return to work). Multivariate analysis was conducted using the CART (Classification and Regression Tree) algorithm to assess the predictive value of four models, thereby identifying workers who had returned or not returned to work. Using the results from the statistical analysis, a semi-structured form was prepared for interviews, which were conducted with seven workers randomly selected from the sample. Results: Out of the 35 workers who participated in this study, 30 returned and five did not return to work. The majority were male, married and of low educational level, and the mean age was 37 years. The variables with the greatest predictive power were grip strength, occupational performance scores, occupational category and age. The qualitative analysis confirmed the multifactorial nature of the return to work and demonstrated that the presence of a professional to follow-up the process, adjustments to the workstation and working hours (to enable treatment continuity) and also accident benefits may contribute to a successful return. Conclusions: This study showed the complexity of the return to work by workers with hand injuries, highlighting a number of factors associated with this outcome and the importance of individualized assessment centered on the worker. Key words: return to work; work accident; hand trauma. Recebido: 16/02/2009 – Revisado: 10/06/2009 – Aceito: 06/08/2009 1 Hospital Maria Amélia Lins, Reabilitação de Mão, Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (FHEMIG), Belo Horizonte (MG), Brasil 2 Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte (MG), Brasil. 3 Departamento de Terapia Ocupacional, Universidade Federal de Minas Gerias (UFMG), Belo Horizonte (MG), Brasil Correspondência para: Rosana Ferreira Sampaio, Departamento de Fisioterapia, Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Universidade de Minas Gerias (UFMG), Avenida Antônio Carlos, 6.627, Campus Pampulha, CEP 31270-010, Belo Horizonte (MG), Brasil, e-mail: [email protected] 149 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):149-57. Lúcia H. A. Cabral, Rosana F. Sampaio, Iêda M. Figueiredo, Marisa C. Mancini Introdução Os acidentes de trabalho têm sido apontados como uma das principais causas de afastamento de trabalhadores do campo produtivo e constituem um importante problema de saúde pública no Brasil e no mundo1. Longos períodos de absenteísmo podem ter graves implicações econômicas e sociais tanto para o trabalhador quanto para a sociedade. Por isso, a reintegração ao trabalho tem sido considerada um importante parâmetro quando se analisa o impacto desses acidentes na vida dos trabalhadores2,3. No período de 1999 a 2003, foram registrados, no Brasil, 1.875.190 acidentes de trabalho; desses, 72.020 levaram à incapacidade permanente4. Em 2005, do total de acidentes registrados, 26,2% foram lesões ao nível do punho, mão e dedos. Considerando apenas os acidentes típicos, isto é, aqueles que ocorrem no local de trabalho, as partes do corpo mais acometidas foram os dedos (29,3%) e as mãos (9,5%)5. Os traumatismos de mão atingem pessoas na faixa etária produtiva, e qualquer lesão, por menor que seja, leva a um grau de incapacidade que pode limitar o indivíduo na realização de atividades laborais e cotidianas. Um estudo longitudinal acompanhou acidentados no trabalho durante cinco anos, demonstrando que os traumas de mão causaram metade dos casos de incapacidade permanente6. Outros estudos7,8 verificaram que 26% dos pacientes com lesão de mão tiveram alguma restrição permanente para o trabalho na data da alta e que esses traumas têm maior impacto no trabalho do que nas atividades de vida diária. A literatura aponta para a necessidade de se avançar no entendimento do processo de retorno ao trabalho (RT). Fatores macroestruturais, como o aumento dos custos com cuidados à saúde, os baixos índices de emprego de pessoas com incapacidade e o pouco conhecimento da repercussão tardia dos acidentes justificam essa necessidade9. Além disso, uma definição dos fatores que interferem no RT de trabalhadores que sofreram um trauma pode colaborar para o entendimento desse processo, assim como auxiliar o profissional na tomada de decisões clínicas. Na atual proposta da Organização de Saúde (OMS) para classificar funcionalidade e incapacidade humana – a Classificação Internacional de Funcionalidades, Incapacidade e Saúde (CIF) – a participação do indivíduo na força de trabalho é um tema importante porque se relaciona diretamente com a saúde. O esquema da CIF coloca o trabalho como um fator externo que pode influenciar a funcionalidade nos três níveis: estrutura e função do corpo, atividade e participação, podendo também atuar nos aspectos pessoais, como motivação e satisfação. Da mesma forma, o trabalho pode ser influenciado pela funcionalidade e pelos fatores pessoais. De acordo com o modelo da 150 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):149-57. CIF, não é somente o trabalho que interfere na participação do trabalhador no ambiente de trabalho. Fatores externos, como ambiente doméstico, lazer e suporte social podem agir como barreiras ou facilitadores na participação no trabalho10. Características psicológicas e clínicas do trabalhador, aspectos econômicos e fatores organizacionais, psicossociais e físicos do local de trabalho vêm sendo apontados como associados ao RT9,11,12. No entanto, ainda não é possível predizer, de maneira acurada, quais trabalhadores com trauma recente vão desenvolver incapacidade crônica. Uma explicação para isso seria a variabilidade nos métodos de pesquisa, no diagnóstico, no tipo e gravidade da lesão, bem como na apresentação dos resultados. Um estudo demonstrou que a avaliação subjetiva dos pacientes em relação à gravidade do acidente, à sua capacidade de enfrentamento e às possíveis consequências do acidente no trabalho foi mais preditiva do tempo de afastamento do que a gravidade da doença. Esses autores sugerem a utilização de modelos que incorporem variáveis clínicas e interpretações subjetivas dos trabalhadores sobre seu processo de RT com o objetivo de melhor predizer esse desfecho13. Em 2004, foi realizado um estudo longitudinal no Setor de Reabilitação de Mão do Hospital Maria Amélia Lins, Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais/Brasil, que teve como objetivo documentar os resultados da reabilitação em pacientes acidentados de trabalho com lesões traumáticas da mão14. Os resultados apontaram para a necessidade de se analisar a situação desses trabalhadores em relação à reintegração no trabalho. A complexidade do tema justifica a busca por um maior aprofundamento das questões relacionadas ao RT, principalmente neste momento em que se discute, no Brasil, a redefinição dos modelos assistenciais voltados à reabilitação de trabalhadores adoecidos. Para tanto, este estudo teve como objetivos descrever os trabalhadores que retornaram ao trabalho após um trauma de mão e analisar os fatores que se associaram a esse desfecho após três anos de alta da reabilitação. Materiais e métodos Foi realizado um estudo observacional, de corte transversal, com abordagem quantitativa e qualitativa. Para alcançar os objetivos propostos, foi utilizada a triangulação de métodos, que trata da inserção de múltiplas técnicas, observadores e métodos de pesquisa para ampliar as referências e os olhares sobre o objeto investigado15. Para a análise quantitativa, foi empregado o banco de dados de Figueiredo, que continha informações referentes a 42 indivíduos14. A amostra foi descrita quanto a sexo, idade, estado civil, nível de escolaridade, situação trabalhista, tipo de acidente, ocupação, lado acometido, dominância, agente Retorno ao trabalho após trauma de mão causador, diagnóstico, tempo de exercício da atividade profissional e tempo de reabilitação. A força de preensão foi mensurada na data da alta da reabilitação pelo dinamômetro Jamar, da marca Sammons Preston Inc., e para a avaliação do desempenho ocupacional foi usado o Canadian Occupational Performance Measure (COPM)16. Três anos depois de concluída a reabilitação, foi possível obter contato telefônico com 35 trabalhadores, quando foi solicitada informação sobre a sua situação com relação ao trabalho. A análise estatística consistiu inicialmente na descrição das variáveis estudadas. Medidas de tendência central (média) e de dispersão (desvio-padrão) das variáveis quantitativas foram descritas segundo o RT. Foi empregado o teste de Levene para verificar a igualdade das variâncias da força de preensão no lado acometido e não-acometido, e o teste t para amostras independentes para avaliar a diferença entre grupos referentes ao RT e à força de preensão. O teste não-paramétrico de Mann-Whitney U foi usado na comparação dos grupos em relação às variáveis quantitativas, e o teste exato de Fischer, para as variáveis nominais. Em todas as análises, foi considerado um =0,05. Posteriormente, foi conduzida análise multivariada por meio da árvore de decisão CART (Classification and Regression Tree)17, com o objetivo de se avaliar a força de predição de quatro modelos, identificando os indivíduos que retornaram ou não ao trabalho. Foi adotado um valor mínimo de 0,01 como critério de exclusão das variáveis em cada modelo, e a classificação cruzada foi realizada para verificação do ajuste dos modelos. O ajuste do modelo final foi avaliado por meio da estimativa de risco, que identifica os casos que foram incorretamente classificados. Os pacotes estatísticos SPSS 12.0 e Answertree 2.0 foram utilizados. A variável resposta foi definida como retorno ao trabalho (sim/não), e as variáveis preditivas foram divididas em quatro modelos: • Modelo 1: foram utilizadas todas as variáveis preditivas; • Modelo 2: variáveis demográficas e ocupacionais (sexo, idade, nível de escolaridade, estado civil, categoria ocupacional e tempo em que está exercendo a atividade profissional); • Modelo 3: variáveis funcionais ( força de preensão do lado acometido, escore COPM-desempenho, escore COPMsatisfação); • Modelo 4: variáveis clínicas (diagnóstico, lesão da mão dominante, tipo de acidente, classificação do agente causador e tempo de reabilitação). A partir dos resultados da análise estatística, foi elaborado um roteiro semiestruturado para as entrevistas. Foram selecionados de forma aleatória sete trabalhadores para a realização das entrevistas individuais, que foram registradas em gravador e transcritas na íntegra, tornando-se um documento e base de dados para a análise. A análise qualitativa consistiu em decompor o texto, separar componentes e utilizar somente o que foi compatível com o objeto de estudo18. A análise de conteúdo foi o método escolhido e consistiu na ordenação, classificação e análise final da informação19. Foram definidas as unidades temáticas, observando as três etapas sugeridas por Bardin20. As entrevistas possibilitaram o processo de categorização por meio do agrupamento de respostas por afinidade específica, permitindo a organização temática dos resultados. Os temas mais relevantes foram priorizados e organizados em categorias. Todos os entrevistados assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido antes da realização das entrevistas. Esta pesquisa foi autorizada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (COEP/UFMG), sob o Parecer ETIC 011/06. Resultados Dos 35 trabalhadores que participaram deste estudo, 30 retornaram e cinco não retornaram ao trabalho. A maioria era do sexo masculino (85,7%), com média de idade de 37 anos (DP=11,87), casada (57,1%) e de baixa escolaridade, ou seja, não completaram o ensino fundamental (54,3%). As ocupações mais frequentes foram de trabalhadores da produção de bens e serviços industriais (65,7%) e trabalhadores do comércio/serviços (20%). Os acidentes de trabalho típicos somaram 94,3% do total, sendo que somente 65,7% dos trabalhadores exerciam trabalho formal. Os diagnósticos mais frequentes foram as lesões tendinosas (37,1%), fraturas (22,9%), seguidas das lesões nervosas (14,3%) e esmagamentos (14,3%). As máquinas e o material perfuro-cortante foram os principais agentes causadores das lesões, com 54,3% e 22,9%, respectivamente. Em um pouco mais da metade dos casos, o lado não-dominante foi o mais acometido (54,3%). A força de preensão do lado acometido obteve uma média de 27 kgf (DP=10,24) no grupo que voltou a trabalhar e 13 kgf (DP=7,17) no grupo que não voltou ao trabalho (p=0,008). O lado não-acometido apresentou uma média de força de preensão de 41 kgf (DP=11,13) no grupo que retornou e de 36 kgf (DP=13,22) no grupo que não retornou (p=0,387). O Teste Exato de Fisher demonstrou uma associação entre a categoria ocupacional e o RT (p=0,013). Dos 30 trabalhadores que retornaram ao trabalho, 21 eram da produção de bens/ serviços industriais, sete eram trabalhadores do comércio/serviços e dois pertenciam a outra categoria ocupacional. Não foi encontrada diferença entre os dois grupos com relação às variáveis idade, tempo de exercício da atividade profissional, tempo de reabilitação, COPM-satisfação e COPM-desempenho. 151 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):149-57. Lúcia H. A. Cabral, Rosana F. Sampaio, Iêda M. Figueiredo, Marisa C. Mancini As medianas do tempo de exercício da atividade profissional e do tempo de reabilitação dos trabalhadores que retornaram ao trabalho foram de 60 meses e de 54 dias, respectivamente. Considerando as mesmas variáveis no grupo que não retornou ao trabalho, encontrou-se uma mediana de 180 meses para o tempo de exercício da atividade profissional (p=0,180) e 63 dias para o tempo de reabilitação (p=0,811). Os escores do COPM-desempenho e COPM-satisfação obtidos no momento da alta da reabilitação no grupo dos que retornaram ao trabalho tiveram uma média de 7,92 (DP=1,99) e de 7,56 (DP=2,31), respectivamente. No grupo que não retornou, a média dos escores do COPM-desempenho foi de 7 (DP=1,63; p=0,131) e do COPM-satisfação com o desempenho de 7 (DP=1,80; p=0,374). Análise multivariada Foi realizada a análise multivariada por meio da árvore de decisão com algoritmo CART, considerando como resposta o RT e como variáveis preditivas todas as variáveis do modelo 1. Pela análise da Figura 1, percebe-se que os fatores que se mostraram associados ao RT foram: força de preensão, escore COPM-satisfação, categoria ocupacional e idade. A força de preensão aparece como a variável que mais fortemente prediz o RT. Do total de 27 trabalhadores com força de preensão >15,83 kgf, observa-se que 26 que atuam em serviços de reparação/ manutenção, produção de bens/serviços industriais e serviços administrativos retornaram ao trabalho em 100% dos casos. Entre os trabalhadores que possuíam força de preensão 15,83 kgf, retornaram ao trabalho aqueles que apresentaram escore do COPM-satisfação superior a 9,5. Os trabalhadores que apresentavam força de preensão 15,83, escore COPM-satisfação 9,5 e que tinham idade superior a 30,5 anos não retornaram. Na Figura 2, a análise com algoritmo CART foi realizada considerando como resposta o RT e como variáveis preditivas apenas as variáveis demográficas e ocupacionais. As variáveis que identificaram o maior número de trabalhadores que retornaram ao trabalho (n=25) foram tempo de exercício da atividade profissional 174 meses e categoria ocupacional composta de trabalhadores dos serviços administrativos, comércio/serviços, serviços industriais e outros. Na Figura 3, observa-se que a força de preensão aparece novamente como a principal variável que prediz o retorno ao trabalho. O melhor percurso da árvore de decisão foi força de preensão >15,83 kgf e escore COPM-desempenho >6,6 (n=23). Na Figura 4, percebe-se que os fatores clínicos que se mostraram associados ao retorno ao trabalho foram agente causador, tipo de lesão e tempo de reabilitação. O agente causador foi a variável clínica com maior força preditiva. É importante destacar que todos os modelos mostraram um bom ajuste, apresentando estimativa de risco baixa, o que indica que as informações foram classificadas corretamente na maioria dos casos. A classificação cruzada apresentou modelos estáveis, com risco estimado por esse método muito próximo ao do modelo final, o que também indica um bom ajuste dos modelos. Análise qualitativa Durante as entrevistas, foi possível evidenciar a multiplicidade de fatores que interferem no RT. Os trabalhadores Retorno ao trabalho Cat. % Sim 85,71 Não 14,29 Total (100,00) n 30 5 35 Força de preensão Improvement=0,0756 <=15,83 Cat. % Sim 50,00 Não 50,00 Total (22,86) >15,83 Cat. % n Sim 96,30 26 Não 3,70 1 Total (77,14) 27 n 4 4 8 Categoria Ocupacional Improvement= 0,0550 Escore COPM Satisfação Improvement=0,0381 <=9,5 Cat. % Sim 33,33 Não 66,67 Total (17,14) >9,5 n 2 4 6 Serviços Administrativos; Comércio e Serviços; Produção de bens e Serviços industriais Cat. % n Sim 100,00 2 Não 0,00 0 Total (5,71) 2 Cat. % n Sim 100,00 26 Não 0,00 0 Total (74,29) 26 Cat. % Sim 0,00 Não 100,00 Total (2,86) n 0 1 1 Idade (em anos) Improvement=0,0381 <=30,5 Cat. % Sim 66,67 Não 33,33 Total (8,57) >30,5 n 2 1 3 Cat. % Sim 0,00 Não 100,00 Total (8,57) n 0 3 0 * Estimativa de risco 0,03 (SE=0,03)–97% informações corretas; Classificação cruzada: modelo final–risco estimado (risco-0,10; SE=0,08). Figura 1. Modelo 1) Árvore de decisão, algoritmo CART para o retorno ao trabalho, considerando todas as variáveis preditivas. 152 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):149-57. Retorno ao trabalho após trauma de mão Retorno ao trabalho Cat. % Sim 85,71 Não 14,29 Total (100,00) n 30 5 35 Tempo que está exercendo a atividade (em meses) Improvement=0,0319 >174 <=174 Cat. % Sim 92,59 Não 7,41 Total (77,14) n 25 2 27 Cat. % Sim 62,50 Não 37,50 Total (22,86) n 5 3 8 Nível de Escolaridade Improvement=0,0255 Serviços de reparação e manutenção Cat. % Sim 0,00 Não 100,00 Total (2,86) 2° Grau Completo Serviços Administrativos; Comércio e Serviços; Produção de bens e Serviços industriais; Outros n 0 1 1 Cat. % Sim 96,15 Não 3,85 Total (74,29) n 25 1 26 Cat. % Sim 0,00 Não 100,00 Total (2,86) 1° Grau Completo; Analfabeto; 1° Grau Incompleto n 0 1 1 Cat. % Sim 71,43 Não 28,57 Total (20,00) n 5 2 7 Estado Civil Improvement= 0,0340 Casado; Separado Outro Cat. % Sim 0,00 Não 100,00 Total (2,86) n 0 1 1 Cat. % Sim 83,33 Não 16,67 Total (17,14) n 5 1 6 Sexo Improvement=0,0190 Feminino Cat. % Sim 50,00 Não 50,00 Total (5,71) Masculino n 1 1 2 Cat. % n Sim 100,00 4 Não 0,00 0 Total (11,43) 4 * Estimativa de risco 0,06 (SE=0,04)–94% informações corretas; Classificação cruzada: modelo final–risco estimado (risco-0,15; SE=0,08). Figura 2. Modelo 2) Árvore de decisão, com algoritmo CART para o retorno ao trabalho, considerando as variáveis demográficas e ocupacionais. Retorno ao trabalho Cat. % Sim 85,71 Não 14,29 Total (100,00) n 30 5 35 Força de preensão Improvement=0,0756 <=15,83 Cat. % Sim 50,00 Não 50,00 Total (22,86) >15,83 Cat. % n Sim 96,30 26 Não 3,70 1 Total (77,14) 27 n 4 4 8 Escore COPM Desempenho Improvement=0,0122 Escore COPM Desempenho Improvement=0,0381 <=9,5 Cat. % Sim 33,33 Não 66,67 Total (17,14) >9,5 n 2 4 6 Cat. % n Sim 100,00 2 Não 0,00 0 Total (5,71) 2 <=6,6 Cat. % Sim 75,00 Não 25,00 Total (11,43) >6,6 n 3 0 4 Cat. % n Sim 100,00 23 Não 0,00 0 Total (65,71) 23 Escore COPM Satisfação Improvement=0,0381 <=6,2 Cat. % Sim 66,67 Não 33,33 Total (8,57) >6,2 n 2 1 3 Cat. % Sim 0,00 Não 100,00 Total (8,57) n 0 3 3 * Estimativa de risco 0,06 (SE=0,04)–94% informações corretas; Classificação cruzada: modelo final–risco estimado (risco-0,25; SE=0,07). Figura 3. Modelo 3) Árvore de decisão, algoritmo CART para o retorno ao trabalho, considerando as variáveis funcionais. demonstraram o desejo de voltar à atividade produtiva, demostrando que isso ajudou na superação de suas limitações funcionais. “Eu acho que a vontade era maior, né? De voltar a trabalhar” (W1). “[...] eu já não aguentava mais ( ficar sem trabalhar) e tinha dor” (W2). A importância e o significado do trabalho foram destacados em vários relatos. “O trabalho faz falta!” (W2). “Eu gosto de ter uma ocupação, de estar fazendo alguma coisa, estar sendo útil em alguma coisa” (W3). 153 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):149-57. Lúcia H. A. Cabral, Rosana F. Sampaio, Iêda M. Figueiredo, Marisa C. Mancini Retorno ao trabalho Cat. % n Sim 85,71 30 Não 14,29 5 Total (100,00) 35 Classificação do agente causador Improvement=0,0514 Impacto sofrido por objeto fixo, projetado ou que cai Cat. % Sim 33,33 Não 66,67 Total (8,57) Acidentes de Trânsito; Queda; Explosão; Máquinas; Objetos Cortantes Cat. % Sim 90,63 Não 9,38 Total (91,43) n 1 2 3 n 29 3 32 Tipo de lesão Improvement=0,0182 Esmagamento; Fratura; Amputação Lesão de tendão; Lesão de Nervo Cat. % n Sim 80,00 12 Não 20,00 3 Total (42,86) 15 Cat. % n Sim 100,00 17 Não 20,00 0 Total (48,57) 17 Tempo de Reabilitação (em dias) Improvement=0,0392 <=65 Cat. % Sim 57,14 Não 42,86 Total (20,00) >65 n 4 3 7 Cat. % n Sim 100,00 8 Não 0,00 0 Total (22,86) 8 * Estimativa de risco 0,11 (SE=0,05)–89% informações corretas; Classificação cruzada: modelo final–risco estimado (risco-0,17; SE=0,06). Figura 4. Modelo 4): Árvore de decisão, algoritmo CART para o retorno ao trabalho, considerando as variáveis clínicas. A força de preensão também emergiu como um fator associado ao RT, já que muitos explicitaram as dificuldades encontradas na realização de atividades que requerem força: “[...] eu não tava com firmeza pra segurar, tipo pra bater o martelo” (W5). Em consequência, alguma adequação no trabalho foi necessária. No entanto, essas dificuldades não impediram o exercício da atividade profissional, uma vez que os trabalhadores desenvolveram estratégias para superação do problema: “[...] é uma dificuldade que dá pra resolver com o auxílio dessa aqui (da outra mão), dá pra resolver” (W1). Outras dificuldades encontradas na época do RT foram dor durante a execução das tarefas, rigidez articular e limitação da amplitude de movimento. “[...] tava doendo pra fazer força... a força diminuiu um pouco, né?” (W4). “Os dedos não fecham, então limitou muito a força da mão” (W3). Atividades que requerem muito esforço também foram apontadas como difíceis de executar. “Eu não dava conta de pegar peça pesada, entendeu?” (W4). Alguns trabalhadores destacaram que a lesão na mão dominante também dificultou a volta ao trabalho: “[...] a outra mão a gente dá um jeitinho, essa aqui é essencial, precisa pra tudo!” (W2). Algumas limitações no desempenho das tarefas de autocuidado e lazer também emergiram, mas o trabalho apareceu como a dimensão mais comprometida. Outros fatores apontados como barreiras para o RT foram o medo de um novo acidente, medo de demissão, tempo de afastamento e atitude de descaso dos colegas e da empresa. Por outro lado, o apoio da empresa e dos colegas bem como uma adequação da tarefa facilitaram a volta ao trabalho de alguns dos entrevistados. “Fiquei lá fazendo o que eu achava que dava pra fazer. O que não dava, eu deixava de lado, pra outra pessoa fazer. Eles entenderam” (W6). 154 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):149-57. Não houve consenso em relação à possibilidade de aposentaria por invalidez. Alguns trabalhadores preferiram continuar exercendo algum tipo de atividade profissional, mesmo com limitações funcionais. “Eu ia ter uma renda pra me sustentar, mas só que eu não ia ficar à toa, eu ia trabalhar porque parado eu não fico [...] eu fico igual a bicho preso numa jaula” (W5), enquanto outros apontaram que a aposentadoria poderia ser uma solução para a ameaça do desemprego. “Mas só de ser pai de família você já fica preocupado de ficar desempregado. Eu ia passar dificuldade demais, né? [...] Aposentar ia resolver esse problema” (W7). “O mercado de trabalho é exigente e preconceituoso” (W3). Os entrevistados sugeriram que uma boa acolhida da empresa e dos colegas, a presença de um profissional para auxiliar no início do processo, uma mudança temporária de setor, a flexibilização do horário para permitir continuidade do tratamento, uma adaptação da função às dificuldades no desempenho e o auxílio-acidente podem contribuir para um retorno ao trabalho bem-sucedido. Discussão Este estudo evidenciou a natureza multifatorial do RT de trabalhadores com trauma de mão de origem ocupacional. A utilização da triangulação dos métodos quantitativo e qualitativo possibilitou uma complementaridade de informações e permitiu uma visão mais ampla do tema. Apesar de a maioria dos participantes desse estudo ter retornado ao trabalho, uma parcela ainda permanece afastada, evidenciando a repercussão negativa desse desfecho na vida dos trabalhadores. A amostra estudada assemelha-se àquela Retorno ao trabalho após trauma de mão encontrada na literatura internacional sobre trauma de mão no trabalho, em que se observa a predominância de homens jovens, casados e de baixa escolaridade21. A homogeneidade da amostra estudada quanto às características sociodemográficas dificultou a análise, não sendo possível explorar a validade preditiva das variáveis escolaridade, estado civil e sexo no RT. A literatura mostra que trabalhadores com maior nível de escolaridade têm mais chance de mudar de trabalho ou emprego comparados àqueles em desvantagem educacional. Uma explicação para o baixo potencial de sucesso na reinserção de pessoas com menor escolaridade é que uma pior qualificação técnica dificulta a alocação em novos tipos de trabalho11. Somado a isso, esses trabalhadores tendem a sofrer lesões mais graves e de difícil recuperação, tais como amputações ou esmagamentos22. Menor tempo de exercício da atividade profissional associou-se ao RT em algumas categorias ocupacionais, sendo que um fator que poderia explicar esse tempo é a variável idade. Selander et al.11 sugerem que o RT é facilitado nos mais jovens por causa de sua melhor saúde e motivação, além de sua valorização no mercado de trabalho. A literatura aponta para a gravidade das lesões de mão de origem ocupacional, demonstrando que elas demandam maior tempo de tratamento e de absenteísmo e resultam em níveis de incapacidade maiores do que em outras condições23. Este estudo evidenciou que, em casos de lesão complexa de mão no trabalho, maior tempo de reabilitação associou-se positivamente ao RT. Quando isso ocorre, o profissional de reabilitação pode acompanhar o desenvolvimento do trabalhador ao longo do processo, intervindo de acordo com as necessidades apresentadas em cada fase. Embora este estudo tenha encontrado forte associação entre força de preensão e RT, tanto na análise bivariada quanto na multivariada, essa associação não pode ser considerada definitiva. A literatura aponta a força de preensão como um indicador de função do membro superior24; entretanto, não há consenso sobre a quantidade mínima de força necessária para o exercício da atividade profissional. Um estudo sugeriu que pelo menos 9 kgf de força de preensão, medida pelo Dinamômetro Jamar, é necessário na realização da maioria das atividades de vida diária25. No entanto, Rice, Leonard e Carter26 reportaram que menos de 9 kgf foi suficiente para o uso funcional da mão e consideraram que a medida da força de preensão por si só é insuficiente para predizer função da mão. Nesta pesquisa, observou-se que determinadas categorias ocupacionais (trabalhadores dos serviços de reparação/manutenção, da produção de bens/serviços industriais e dos serviços administrativos) precisaram de uma força de preensão maior que 15 kgf para retornar ao trabalho. Esse ponto de corte mais elevado, comparado com a literatura, poderia ser explicado pelo tipo de atividade profissional da amostra, na qual grande parte dos trabalhadores pertence ao setor secundário, em que as tarefas requerem uso de força. É possível que um indivíduo apresente força insuficiente para executar alguma tarefa mesmo quando sua força de preensão é considerada normal27. As entrevistas confirmaram a importância da força de preensão e do desempenho ocupacional no RT e a relação dessas variáveis com a categoria ocupacional. Trabalhadores manuais relataram sentir dificuldades na realização do trabalho em razão da diminuição de força na mão. Um estudo confirmou essa associação, demonstrando que trabalhadores manuais apresentaram um tempo mais longo de absenteísmo e, portanto, dificuldade para retornar aos seus postos de trabalho28. A análise multivariada demonstrou que maior satisfação dos trabalhadores em relação ao desempenho ocupacional associou-se ao RT. Um estudo29 evidenciou que a satisfação do indivíduo é preditora de desfechos clínicos graças à sua importância na adesão ao tratamento. A melhora da satisfação e dos desfechos clínicos positivos tem sido associada à realização de abordagens de intervenção que incorporam as preferências do indivíduo no processo de reabilitação30. Portanto, espera-se que o profissional de reabilitação escolha intervenções centradas na percepção dos trabalhadores sobre suas dificuldades no desempenho ocupacional. O desempenho ocupacional autorrelatado também aparece associado com o RT, indicando a importância da percepção do trabalhador nesse desfecho. As entrevistas demonstraram que vários fatores podem interferir no desempenho ocupacional, como a capacidade adaptativa do trabalhador ao ambiente de trabalho. Na presença de limitações funcionais, alguns trabalhadores relataram ter mudado sua forma de trabalhar para permitir um retorno mais adaptativo. Krause, Dasinger e Neuhauser9 realizaram uma revisão de literatura e verificaram que a utilização de programas de modificação do trabalho facilitou a readaptação, tanto em temporalidade quanto em permanência. Considera-se que implementar estratégias de modificação do trabalho poderia ser uma boa alternativa para ajudar os trabalhadores a minimizarem a incapacidade mediante o uso de suas potencialidades. O relato dos trabalhadores indicou alguns fatores que não foram evidenciados no estudo quantitativo: a importância do trabalho e o significado da incapacidade. Mesmo com limitações funcionais, os trabalhadores destacaram seu desejo de voltar a trabalhar. Sampaio31 argumenta que o absenteísmo reforça para o trabalhador a extensão da sua incapacidade, principalmente pela perda do seu papel social dado pelo trabalho. Os trabalhadores confirmaram as evidências de que o sucesso no RT não implica necessariamente a completa recuperação de uma lesão12. Especialmente a percepção de dor, a força de preensão e a incapacidade funcional melhoraram nos 155 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):149-57. Lúcia H. A. Cabral, Rosana F. Sampaio, Iêda M. Figueiredo, Marisa C. Mancini primeiros meses após o retorno às atividades ocupacionais. A necessidade de acompanhamento e de suporte aos trabalhadores durante a volta ao trabalho também ficou evidente, sendo o medo de uma nova lesão sempre destacado. Segundo os trabalhadores, características da organização do trabalho, como problemas em relação aos colegas e elevadas exigências nas tarefas, dificultaram a readaptação. Eles apontaram que relações interpessoais saudáveis e uma boa acolhida no ambiente de trabalho facilitaram seu reingresso. A instabilidade do mercado de trabalho brasileiro e a pouca oferta de emprego também foram apontadas como motivos de insegurança e medo. A implementação de políticas públicas que deem incentivos fiscais e técnicos às empresas e a reestruturação dos serviços de reabilitação profissional brasileiros podem ser uma saída no sentido de facilitar o retorno e a manutenção dos trabalhadores acidentados no mercado de trabalho. Os resultados apresentados vão de encontro ao estudo de Young et al.32 que apontam o RT como um fenômeno dinâmico, que envolve várias fases, incluindo aquelas referentes à adaptação do trabalhador ao trabalho. Esta pesquisa, em que pesem algumas limitações, como o número de sujeitos e a sua transversalidade, traz informações sobre a complexidade e a relevância desse tema, podendo auxiliar as pessoas envolvidas com as políticas e a gestão de programas de saúde do trabalhador. Considerando que o trabalho é central para a vida e que a experiência acumulada na atividade de trabalho é algo individual e insubstituível, espera-se contribuir para a mudança de um modelo de cuidado que tenha como foco o indivíduo em sua singularidade. Isso implica a adoção de novos modelos teóricos e a ampliação do diálogo com os trabalhadores, de modo que as soluções sejam encontradas conjuntamente. Referências bibliográficas 1. Santana V, Maia AP, Carvalho C, Luz G. Acidentes de trabalho não-fatais: diferenças de gênero e tipo de contrato de trabalho. Cad Saúde Publica. 2003;19(2):481-93. 10. World Health Organization. Internacional classification of functioning, disability and health (ICF). 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Carmo1 Resumo Objetivo: Verificar se a execução de um exercício monoarticular de baixa intensidade para os extensores do joelho é uma estratégia eficaz para aumentar o número de unidades motoras recrutadas no músculo vasto lateral durante a realização de um exercício multiarticular subsequente. Métodos: Nove sujeitos saudáveis do sexo masculino (23,333,46 anos) foram submetidos a rotinas de treinamento nas quais os exercícios cadeira extensora e leg press 45° eram realizados em sequência. Na rotina de baixa intensidade (R30), foram realizadas 15 extensões unilaterais de joelho, seguidas de 15 repetições de leg press 45° com cargas de 30% e 60% de uma repetição máxima (1-RM), respectivamente. Na rotina de alta intensidade (R60), a mesma sequência foi executada, porém a carga dos dois movimentos foi de 60% de 1-RM. Uma série simples de 15 repetições leg press 45° com carga de 60% de 1-RM foi utilizada como exercício controle (RC). A eletromiografia de superfície foi registrada no músculo vasto lateral por meio de um arranjo linear de eletrodos. O valor RMS foi calculado para cada repetição do leg press 45° e, a partir desses resultados, foram calculadas regressões lineares. As inclinações das retas obtidas foram então normalizadas pelos coeficientes lineares das equações de regressão e comparadas por meio da ANOVA de um fator para medidas repetidas. Resultados: As inclinações observadas na rotina RC foram significativamente inferiores às de R30 e às de R60 (p<0,05). Conclusões: Os resultados indicaram um recrutamento mais efetivo de unidades motoras nas rotinas de exercício multiarticular precedidas de exercício monoarticular. Artigo registrado na Australian New Zealand Clinical Trials Registry (ANZCTR) sob o número ACTRN12609000413224. Palavras-chave: treinamento resistido; ordem de exercícios; eletromiografia. Abstract Objective: To investigate whether performing a low-intensity, single-joint exercises for knee extensors was an efficient strategy for increasing the number of motor units recruited in the vastus lateralis muscle during a subsequent multi-joint exercises. Methods: Nine healthy male participants (23.333.46 yrs) underwent bouts of exercise in which knee extension and 45°, and leg press exercises were performed in sequence. In the low-intensity bout (R30), 15 unilateral knee extensions were performed, followed by 15 repetitions of the leg presses at 30% and 60% of one maximum repetition load (1-MR), respectively. In the high-intensity bout (R60), the same sequence was performed, but the applied load was 60% of 1-MR for both exercises. A single set of 15 repetitions of the leg press at 60% of 1-MR was performed as a control exercise (CR). The surface electromyographic signals of the vastus lateralis muscle were recorded by means of a linear electrode array. The root mean square (RMS) values were determined for each repetition of the leg press, and linear regressions were calculated from these results. The slopes of the straight lines obtained were then normalized using the linear coefficients of the regression equations and compared using one-way ANOVAs for repeated measures. Results: The slopes observed in the CR were significantly lower than those in the R30 and R60 (p<0.05). Conclusions: The results indicated that the recruitment of motor units was more effective when a single-joint exercise preceded the multi-joint exercise. Article registered in the Australian New Zealand Clinical Trials Registry (ANZCTR) under the number ACTRN12609000413224. Key words: resistance training; exercise order; electromyography. Recebido: 17/02/2009 – Revisado: 20/05/2009 – Aceito: 30/06/2009 1 Faculdade de Educação Física, Universidade de Brasília (FEF UnB), Brasília (DF), Brasil 2 Departamento de Engenharia Eletrônica, Universidade de Brasília (UnB), Gama (DF), Brasil Correspondência para: Valdinar de Araújo Rocha Júnior, QND 59 casa 34, Taguatinga (DF), CEP 72120-590, Brazil, email: [email protected] 158 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):158-65. Pré-ativação muscular induzida por exercício monoarticular Introdução Materiais e métodos A ordem de execução dos exercícios é fator de extrema relevância na prescrição do treinamento resistido1-4. Encadear os movimentos de forma que a sequência de estímulos proporcione uma melhor resposta da musculatura trabalhada é o objetivo almejado por profissionais que empregam o exercício resistido para a melhoria do desempenho e para a reabilitação. A realização de um exercício monoarticular imediatamente seguido por um exercício multiarticular, ambos para uma mesma musculatura, é uma prática comum no treinamento resistido2,4-6. O pressuposto para a adoção dessa sequência é que, nos exercícios multiarticulares, os músculos pequenos fadigam mais rapidamente que os músculos de grande volume5. Dessa forma, o tríceps braquial, por exemplo, perderia sua capacidade contrátil antes que o exercício supino pudesse levar o músculo peitoral maior até seu limite máximo de trabalho7. Esse fato poderia comprometer os efeitos do exercício sobre os maiores grupamentos, pois exercitar a musculatura até a fadiga tem apresentado benefícios para o ganho de força e hipertrofia muscular8. Os escassos estudos que avaliaram as implicações da sequência de exercícios monoarticular / multiarticular sugerem que esse tipo de encadeamento pode apresentar resultados inexpressivos e mesmo contraproducentes no que concerne ao recrutamento de unidades motoras2,5. No entanto, as análises realizadas sobre esse encadeamento de exercícios parecem ter explorado apenas combinações nas quais são empregadas cargas elevadas tanto no exercício monoarticular quanto no multiarticular. Em contrações com baixa sobrecarga, não há o recrutamento de todas as unidades motoras disponíveis e, à medida que a fadiga se instaura, novas unidades motoras são recrutadas para compensar a falência das inicialmente solicitadas9-14. Dessa forma, é plausível raciocinar que a aplicação de intensidades moderadas no exercício monoarticular possa impor um recrutamento adicional de unidades motoras do músculo pré-fatigado durante o exercício multiarticular, sem, contudo, ativar mecanismos inibitórios que limitam a atividade muscular em esforços extenuantes. Embora estratégias como essas não tenham sido avaliadas em estudos anteriores, elas podem ser bastante proveitosas em situações de reabilitação e treinamento de indivíduos acometidos por enfermidades ou limitações que impossibilitem o emprego de sobrecarga elevada. Portanto, o objetivo do presente estudo foi verificar se a realização prévia de um exercício monoarticular de baixa intensidade para os extensores do joelho corresponde a um estímulo eficiente para aumentar o número de unidades motoras recrutadas no músculo vasto lateral durante a execução de um exercício multiarticular subsequente. Amostra A amostra foi composta por nove voluntários saudáveis do sexo masculino, com idade média de 23,333,46 anos, massa corporal média de 75,688,10 kg, estatura média de 1,760,66 m, índice de massa corporal médio de 24,472,19 kg/m2. Todos praticavam exercícios resistidos com uma frequência mínima de três vezes por semana há pelo menos um ano e não relataram interrupções superiores a seis semanas nos últimos 12 meses de treino. Antes da realização dos testes, os voluntários responderam ao Questionário de Prontidão para Atividade Física15 (Physical Activity Readiness Questionnaire–PAR-Q) da Sociedade Canadense de Fisiologia do Exercício. Caso o PAR-Q apontasse a necessidade de avaliação médica para a prática de atividade física, o voluntário era impedido de participar da pesquisa. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília – FS/UnB (parecer n°. 131/2007), e os participantes assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, no qual eram descritos os objetivos, os possíveis riscos e desconfortos e os métodos utilizados na pesquisa. Verificação das cargas de trabalho As cargas do protocolo experimental foram definidas com base no teste de uma repetição máxima (1-RM)16. O objetivo desse teste foi determinar a carga máxima suportada na execução de um único movimento correto dos exercícios leg press 45º (Vitally, Brasil) e cadeira extensora (Gervasport Fitness Equipment, Espanha). Como os equipamentos utilizados no experimento apresentavam limitações na sobrecarga disponível para determinação de 1-RM dos exercícios propostos, convencionou-se a execução unilateral dos testes no membro inferior relatado como dominante pelo voluntário. No leg press 45°, os sujeitos iniciavam o exercício com o joelho em completa extensão e executavam uma contração excêntrica de quadríceps até que a articulação atingisse 80° de flexão. Esse ângulo era delimitado por uma fita elástica sustentada sobre o participante (Figura 1-A). O voluntário tinha o objetivo de flexionar o joelho até que sua coxa tocasse a fita e, em seguida, retornar à posição inicial. Para a calibração da amplitude de movimento no leg press 45°, foi utilizado um goniômetro (Modelo T.K.K-1216, Grécia). Na cadeira extensora, o sujeito começava o movimento com o joelho flexionado a 80°, ângulo delimitado pela própria regulagem do aparelho, realizava uma extensão completa e retomava a angulação inicial. 159 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):158-65. Valdinar A. R. Júnior, Martim Bottaro, Maria C. C. Pereira, Marcelino M. Andrade, Paulo R. W. P. Júnior, Jake C. Carmo Figura 1. Fita elástica delimitando a amplitude de flexão do joelho em 80° durante a execução do exercício leg press 45° (A). Plataforma de pesos do equipamento leg press 45° sem a sobrecarga adicional de anilhas (B). A ordem de execução dos testes de 1-RM foi alternada entre os participantes para garantir a aleatoriedade na realização do experimento. Os testes começavam sempre com a realização de um aquecimento de cinco minutos em bicicleta ergométrica (Ergo-Fit - Ergo Cycle, Alemanha). A intensidade desse aquecimento era definida pelo próprio participante, que tinha a orientação de manter uma cadência confortável. Finalizado o aquecimento na bicicleta ergométrica, os sujeitos complementavam a preparação para o teste com uma série de oito repetições no primeiro exercício sorteado. Kraemer e Fry16 sugerem que esse aquecimento específico seja realizado com cargas de 40% a 50% da carga 1-RM prevista pelo voluntário. No entanto, como os participantes não tinham referências sobre o peso suportado para a execução unilateral dos exercícios propostos, optou-se, com base em testes preliminares, pela intensidade de 10% do peso relatado pelo indivíduo para a execução bilateral dos exercícios em sua rotina de treino. Concluídos os procedimentos de aquecimento, os voluntários repousavam por um minuto, e a carga do equipamento era incrementada para a determinação de 1-RM16. Caso o sujeito não conseguisse completar uma repetição correta ou suportasse a execução de duas repetições na primeira tentativa, a sobrecarga era ajustada, e uma nova oportunidade era concedida após cinco minutos de descanso16. Em um único dia, eram permitidas até cinco tentativas para cada exercício. Após um intervalo de 20 minutos, o sujeito realizava uma nova série de preparação para a realização do teste no segundo aparelho. Assim como no primeiro exercício, essa série consistia na execução de oito repetições com a intensidade de 10% da carga bilateral reportada pelo voluntário. Novamente, o sujeito repousava por um minuto e a carga era incrementada para a mensuração de 1-RM. 160 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):158-65. Um treinamento para o controle da velocidade de execução foi realizado após os testes de carga. Nesse treino, os voluntários realizavam uma série de dez repetições em cada aparelho na cadência de dois segundos para fase concêntrica e dois segundos para fase excêntrica do movimento. Um metrônomo digital (Seiko - D20-440, China), com ritmo de 30 batimentos por minuto, ditava a velocidade de execução. Os sujeitos eram orientados a sincronizar o sinal sonoro do metrônomo com o início e fim de cada fase. A sobrecarga utilizada nesse treinamento foi equivalente a 60% do peso obtido no teste de carga1,7, e o intervalo entre os aparelhos variou entre seis e oito minutos1,7, de acordo com a necessidade do participante para uma execução satisfatória da série. Uma segunda bateria de testes de força (teste e reteste) foi realizada para a confirmação das cargas estabelecidas no primeiro dia. Para tanto, foi respeitado um período mínimo de 48 horas e máximo de 72 horas entre as sessões. Nessa segunda ocasião, a ordem de execução dos exercícios foi invertida. Caso fossem observadas discrepâncias nos resultados obtidos nos dois dias de testes de carga, o maior valor era considerado para a realização do experimento. Procedimento experimental O procedimento experimental consistiu na realização de duas rotinas de exercícios nas quais a cadeira extensora e o leg press 45° foram combinados em diferentes intensidades. A rotina de pré-ativação com exercício monoarticular de baixa intensidade (R30) era composta de uma série de 15 repetições de cadeira extensora, com carga de 30% de 1-RM, imediatamente seguida de uma série de 15 repetições de leg press 45°, com 60% de 1-RM. A rotina de pré-ativação com exercício monoarticular de alta intensidade (R60) foi semelhante à rotina anterior, porém as 15 repetições da cadeira extensora foram realizadas com carga de 60% de 1-RM. Uma terceira rotina, denominada rotina controle (RC), também foi realizada e teve como objetivo registrar a atividade muscular no exercício multiarticular sem a prévia realização do exercício monoarticular. Dessa forma, a rotina RC foi constituída apenas de uma série simples de 15 repetições do leg press 45° com 60% de 1-RM. A intensidade de 60% de 1-RM foi empregada no procedimento experimental por ser o mínimo sugerido na literatura para ganhos de força e hipertrofia1,7,17. Além disso, essa sobrecarga moderada permitiu aos sujeitos um controle mais apurado da técnica de movimento e velocidade de execução. Na rotina R30, o valor de 30% de 1-RM para o exercício monoarticular foi adotado por estar associado a uma baixa produção de metabólitos18, o que, em tese, acarretaria menor atuação dos mecanismos de inibição da atividade muscular no exercício multiarticular subsequente. O número de 15 Pré-ativação muscular induzida por exercício monoarticular repetições foi determinado com base em testes preliminares nos quais ficou constatado que esse volume forneceria uma quantidade satisfatória de dados para o cálculo das regressões lineares utilizado no processamento de dados. As rotinas do procedimento experimental (R30, R60 e RC) foram realizadas por todos os sujeitos, em dias diferentes e com um intervalo de 48 a 96 horas entre elas. Assim, como nos testes de carga, os exercícios foram realizados no membro inferior dominante, e a ordem de execução das rotinas foi alternada entre os participantes para garantir a aleatoriedade na realização do experimento. A amplitude articular delimitada e a execução dos exercícios foram os mesmos descritos para os testes de 1-RM, e a cadência anteriormente estabelecida também foi respeitada. Durante o experimento, dois avaliadores com experiência em treinamento resistido fiscalizavam a obediência a esses critérios. A violação de algum aspecto estabelecido no protocolo de teste determinava a interrupção do experimento. Nas rotinas R30 e R60, o tempo de transição entre a cadeira extensora e o leg press 45° não excedeu 40 segundos para nenhum dos sujeitos analisados. Eletromiografia Os sinais eletromiográficos foram registrados no músculo vasto lateral durante a execução do exercício leg press 45° das rotinas R30, R60 e RC. A instrumentação utilizada na coleta dos sinais mioelétricos foi o eletromiógrafo EMG-16 (Ot Bioelettronica, Itália). Esse equipamento possui ganho de até 50000 V/V, nível de ruído de 1 V (com referência à entrada), filtragem analógica passa-faixa de 10 Hz a 500 Hz e razão de rejeição do modo comum de 96 dB. A frequência de amostragem adotada foi de 2048 Hz, e o ganho de tensão foi regulado para 2000 V/V. O eletromiógrafo foi conectado a um microcomputador portátil (Toshiba Satellite - A105-S4114, China) por meio de uma placa conversora analógica-digital PCMCIA de 12 bits (National Instruments - DAQ6045E, EUA). Após a remoção de pelos e assepsia da pele com um algodão embebido em álcool, um arranjo linear de 16 eletrodos rígidos (LISiN – Ot Bioelettronica, Itália) com barras de prata clorada de 5 x 1 mm e distância intereletródica de 5 mm foi posicionado sobre o vasto lateral dos participantes para mapear o ventre muscular e localizar as regiões de boa propagação dos potenciais de ação, conforme procedimento descrito em estudos anteriores19-21. Em protocolos experimentais abordando contrações dinâmicas, as mudanças na posição articular correspondem a um elemento crítico durante o mapeamento, pois as zonas de inervação e regiões tendíneas deslocam-se sob a pele e geram sinais de baixa qualidade22. Desse modo, as regiões de boa condutividade foram localizadas em contrações isométricas de dez segundos, durante as quais os sujeitos permaneciam com o joelho flexionado num ângulo de 100°. Essa angulação foi aferida com um goniômetro (T.K.K - 1216, Grécia), e os voluntários sustentavam uma carga de 11,56 kg, referente à massa da plataforma de pesos do equipamento leg press 45° sem a sobrecarga adicional de anilhas (Figura 1 - B). O mapeamento muscular foi realizado apenas no primeiro dia de teste, e uma marca na coxa do voluntário foi delineada com uma caneta de alta fixação (Faber Castel - Pilot 2.0 mm Az, Brasil), garantindo o mesmo posicionamento nos testes subsequentes. Na área demarcada sobre o músculo vasto lateral, foi fixado um arranjo linear flexível de oito eletrodos (LISiN – Ot Bioelettronica, Itália) para o registro dos sinais durante as contrações dinâmicas. Esse arranjo possui as mesmas dimensões que o eletrodo rígido, e sua aderência na pele foi garantida por uma espuma biadesiva que contém orifícios para a inserção de gel condutor, o que o torna menos sensível ao artefato de movimento23. Trinta micro-litros de gel eram depositados em cada fenda por uma micropipeta (High Tech Lab - HTL Monocanal, Brasil). Processamento dos sinais Dos sete sinais eletromiográficos diferenciais obtidos em cada série de leg press 45° (R30, R60 e RC) foi selecionado um canal diferencial para o cálculo do valor root mean square (RMS). O mesmo canal diferencial foi analisado nas três situações experimentais a fim de proporcionar maior confiabilidade na análise dos sinais. Um sincronizador (trigger), desenvolvido no Laboratório de Processamento de Sinais Biológicos, foi adaptado ao leg press 45º para sinalizar, durante as contrações dinâmicas, o instante em que o joelho atingia 100° de flexão, ângulo articular em que foi encontrado sinal eletromiográfico de maior amplitude e melhor qualidade no músculo vasto lateral. Esse sincronizador gerava um pulso elétrico de aproximadamente 1,5 V de amplitude, que era digitalizado simultaneamente com os sinais captados pelos eletrodos. Janelas retangulares de 512 amostras (250 ms) foram recortadas em torno dos pulsos gerados pelo sincronizador que indicavam a fase concêntrica de cada repetição do leg press 45º. Como o início e o final das séries foram os períodos mais susceptíveis a erros de execução do exercício e possíveis violações da cadência do movimento, as janelas do primeiro e último movimento concêntrico de todas as séries foram descartadas das análises. Os recortes e todos os demais processamentos dos sinais foram feitos por rotinas específicas desenvolvidas no aplicativo computacional Matlab 6.5 (Mathworks – Natick, EUA). A partir do valor RMS estimado nas janelas de cada repetição, foram calculadas regressões lineares para verificar o comportamento da amplitude do sinal eletromiográfico ao longo da execução do leg press 45° em R30, R60 e RC. As inclinações das retas de regressão (coeficiente angular da equação calculada) foram normalizadas por seus valores iniciais (coeficiente linear 161 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):158-65. Valdinar A. R. Júnior, Martim Bottaro, Maria C. C. Pereira, Marcelino M. Andrade, Paulo R. W. P. Júnior, Jake C. Carmo Tabela 1. Comparação entre o crescimento percentual médio do valor RMS durante as repetições de leg press 45°. Inclinações normalizadas* das retas de regressão dos valores RMS (%) 4,493 ,44† 3,962,60† 1,841,31 R30 R60 RC Crescimento percentual médio do valor RMS * Coeficientes angulares normalizados pelos coeficientes lineares das equações de regressão; R30=rotina de pré-ativação com exercício monoarticular de baixa intensidade; R60=rotina de pré-ativação com exercício monoarticular de alta intensidade; RC=exercício controle sem pré-ativação; †ANOVA de um fator para medidas repetidas–R30 e R60 vs. RC (p<0,05). 100,00 90,00 80,00 70,00 60,00 50,00 40,00 30,00 20,00 10,00 0,00 um fator para medidas repetidas. Em caso de diferenças significativas, o teste post hoc Least Significant Difference (LSD) foi novamente aplicado para indicar os valores divergentes. Antes da utilização do teste t-Student pareado e da ANOVA de um fator para medidas repetidas, a normalidade dos dados foi verificada por meio do teste Kolmogorov-Smirnov. Em todas as análises, foi adotado um nível de significância de p<0,05. O tratamento estatístico foi realizado pelo software Statiscal Package for the Social Sciences (SPSS 13.0 - LEAD Technologies, EUA). Resultados R30* R60* C 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 Repetições R30=rotina de pré-ativação com exercício monoarticular de baixa intensidade; R60=rotina de pré-ativação com exercício monoarticular de alta intensidade; RC=exercício controle sem pré-ativação; *ANOVA de um fator para medidas repetidas–R30 e R60 vs. RC (p<0,05). Figura 2. Retas de regressão dos valores RMS no exercício leg press 45°, representando o crescimento percentual médio da amplitude do sinal eletromiográfico durante as rotinas (R30, R60 e RC) – retas normalizadas pelos coeficientes lineares das equações de regressão. da equação), isto é, foram divididas pelos valores das retas no instante em que elas interceptam o eixo das ordenadas24. Após a normalização, as inclinações foram expressas em termos percentuais para representar a taxa de crescimento do valor RMS durante as rotinas avaliadas. Análise estatística O coeficiente de correlação intraclasse (CCI) foi utilizado para verificar a reprodutibilidade dos testes de 1-RM realizados no leg press 45º e na cadeira extensora. Como nem todos os sujeitos conseguiram completar as 15 repetições inicialmente propostas para os exercícios avaliados, uma ANOVA de um fator para medidas repetidas e o teste post hoc Least Significant Difference (LSD) foram empregados para verificar se houve diferenças no número de repetições executadas no leg press 45º em R30, R60 e RC. A comparação entre número de repetições da cadeira extensora de R30 e R60 foi feita por meio do teste t-Student pareado. As inclinações normalizadas das retas de regressão de R30, R60 e RC também foram comparadas por meio da ANOVA de 162 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):158-65. As cargas de 1-RM mensuradas no primeiro dia de teste no leg press 45° (120,6729,80 kg) não apresentaram diferença significativa (r=0,96) em relação às cargas obtidas no reteste (120,0027,85 kg). Da mesma forma, não foram encontradas diferenças significativas (r=0,90) entre o teste e o reteste na cadeira extensora (90,0010,97 kg vs. 87,3110,50 kg). Após as extensões de joelho com alta intensidade na rotina R60, a quantidade de repetições executadas no leg press 45º (12,331,94) foi inferior à registrada na rotina RC (14,890,33; p=0,01), porém não houve diferença significativa em relação ao número de repetições da rotina R30 (13,891,45; p=0,09). A comparação entre o número de repetições do exercício leg press 45º da rotina R30 e RC também não apresentou diferença significativa (p=0,07). No exercício cadeira extensora, os voluntários suportaram um maior número de extensões de joelho na rotina R30 (14,890,33) que na rotina R60 (12,891,83; p=0,01). As inclinações das retas de regressão dos valores RMS estão apresentadas em termos percentuais na Tabela 1. Os valores das inclinações normalizadas de RC foram inferiores aos de R30 (p=0,049) e aos de R60 (p=0,04), o que sugere um recrutamento de unidades motoras mais efetivo nas rotinas cujo exercício monoarticular precedeu o multiarticular. Não foram observadas diferenças significativas entre as inclinações registradas nas rotinas R30 e R60. A Figura 2 ilustra o crescimento percentual médio normalizado do valor RMS registrado nas rotinas estudadas. Houve crescimento percentual médio de 67,36% e 59,46% nos valores RMS registrados durante as rotinas R30 e R60, respectivamente. O crescimento percentual médio observado ao longo da rotina RC foi de apenas 27,61%. Discussão Os valores positivos observados nas inclinações das retas de regressão do RMS indicam um aumento progressivo no número de unidades motoras recrutadas no músculo vasto Pré-ativação muscular induzida por exercício monoarticular lateral em todas as séries de leg press 45° analisadas. Esse padrão crescente na intensidade do sinal eletromiográfico diverge dos relatos de Augustsson et al.5, que avaliaram a resposta da musculatura dos membros inferiores em uma combinação de exercícios semelhante à implementada na presente investigação. Em decorrência da pré-fadiga do quadríceps pela realização das extensões de joelho, Augustsson et al.5 reportaram uma diminuição na amplitude do sinal eletromiográfico do reto femoral e do vasto lateral durante a execução do leg press. Apesar de, nesse estudo, o glúteo máximo não ter apresentado aumento na amplitude do sinal eletromiográfico, os autores especulam que outros músculos como os adutores e gastrocnêmios, cujas atividades não foram monitoradas, possam ter compensado a queda de desempenho da musculatura anterior da coxa. Recentemente, nosso grupo investigou a influência de uma série de exercício monoarticular antes de uma série de exercício multiarticular de membros superiores2. Nesse estudo, 13 sujeitos foram submetidos a uma série de supino reto (multiarticular) com e sem prévia realização do exercício crucifixo em máquina (monoarticular). Diferentemente dos resultados obtidos na presente investigação, não foi registrada maior atividade elétrica do peitoral maior e do deltoide anterior, músculos exauridos com a realização do movimento monoarticular. Em contrapartida, o tríceps braquial, que não foi solicitado no exercício monoarticular, apresentou um aumento da amplitude do sinal eletromiográfico no exercício supino reto após a fadiga dos demais motores primários. A divergência entre os resultados da presente investigação e os observados nos estudos anteriores pode ser atribuída à intensidade aplicada nos exercícios. As séries de 10-RM, avaliadas nos experimentos de Augustsson et al.5 e Gentil et al.2, representam intensidades significativamente superiores a séries executadas com 30% e 60% de 1-RM25. Essa sobrecarga elevada suscita maior produção de metabólitos18,26 e, consequentemente, provoca maior ativação de receptores musculares sensíveis a perturbações bioquímicas, como os aferentes dos grupos III e IV, os fusos musculares e os órgãos tendinosos de Golgi27-29. Visto que essas estruturas geram um feedback sensorial que reduz a capacidade de recrutamento de unidades motoras30, é possível que a amplitude do sinal eletromiográfico registrada nos exercícios multiarticulares analisados por Augustsson et al.5 e Gentil et al.2 tenha apresentado valores reduzidos em função de mecanismos inibitórios desencadeados ainda nos exercícios monoarticulares. Diferentemente desses resultados, as sobrecargas moderadas empregadas no exercício monoarticular deste experimento parece não prejudicar o recrutamento de unidades motoras no exercício multiarticular. Ainda que essa intensidade moderada possa não ter demandado maior participação de músculos acessórios, como observado no experimento de Gentil et al.2, a avaliação de apenas um dos extensores do joelho inviabiliza conclusões a esse respeito. A definição inicial de 15 repetições para todas as séries de cadeira extensora e leg press 45° teve o objetivo de tornar robusta a análise dos sinais e o tratamento estatístico. Nas investigações anteriores sobre a ordem de exercícios2,3,5, foi observada uma redução expressiva na quantidade de repetições executadas no exercício multiarticular, o que impôs aos pesquisadores a comparação de um número diferente de amostras coletadas nas situações experimentais propostas. Apesar de alguns sujeitos não terem suportado as 15 repetições previstas no protocolo experimental, estatisticamente a diferença em média menor que três repetições não invalida o cálculo da regressão linear aplicado, tampouco o procedimento de normalização utilizado. As maiores taxas de variação na amplitude do valor RMS de R30 e R60 em relação às de RC indicam que uma repetição de leg press 45º, após a realização da cadeira extensora nas intensidades avaliadas neste estudo, passa a recrutar mais fibras musculares que uma repetição desse mesmo exercício em uma série simples. Embora haja uma tendência de maior recrutamento com a aplicação de uma sobrecarga de menor intensidade, a inexistência de diferença entre R30 e R60 indicou igual eficiência do exercício monoarticular realizado com 30 e 60% de 1-RM para posterior ativação do músculo vasto lateral no exercício multiarticular. Kukulka e Clamann31 e Masakado32 relatam que pequenos músculos são capazes de recrutar a grande maioria de suas unidades motoras em intensidades de 50% da máxima contração voluntária isométrica e, superado esse limiar, ocorre a modulação da produção de força pela frequência de disparo dos potenciais de ação. No entanto, em grandes grupos musculares, o principal dispositivo para a variação da tensão é o recrutamento de unidades motoras. Somente com cargas superiores a 90% da máxima contração voluntária isométrica é observado o recrutamento da maior parte das fibras de grandes músculos como os dos membros inferiores32. Dessa forma, é possível que uma quantidade considerável de fibras do músculo vasto lateral, por exemplo, não sofra estímulo algum durante a execução de um exercício como o leg press 45º, ainda que, nesse movimento, sejam empregadas cargas relativamente altas. Como somente as fibras que são recrutadas no treinamento estão sujeitas às adaptações fisiológicas7, a execução prévia de exercícios monoarticulares com cargas de 30% e 60% de 1-RM pode tornar os exercícios multiarticulares mais proveitosos para ganhos de força e hipertrofia muscular, pois uma maior quantidade de unidades motoras passa a ser estimulada com a implementação dessa estratégia. 163 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):158-65. Valdinar A. R. Júnior, Martim Bottaro, Maria C. C. Pereira, Marcelino M. Andrade, Paulo R. W. P. Júnior, Jake C. Carmo Em situações de reabilitação e treinamento para grupos que demandem cuidados especiais, a execução prévia de exercícios monoarticulares com 30% de 1-RM pode ser mais recomendada. Essa intensidade mostrou-se tão eficiente quanto a carga de 60% de 1-RM para aumentar a quantidade de unidades motoras recrutadas no movimento multiarticular e proporciona melhor controle na técnica de execução dos exercícios, o que acaba por reduzir a probabilidade de lesão e sobretreinamento em grupamentos musculares debilitados33. Conclusão A realização do exercício cadeira extensora com sobrecargas de 30% e 60% de 1-RM provocou um aumento na amplitude do sinal eletromiográfico registrada no exercício leg press 45º executado em sequência. Esse resultado aponta uma efetividade da pré-ativação realizada por meio de exercício monoarticular de intensidade leve a moderada para o aumento do número de unidades motoras recrutadas em um exercício multiarticular subsequente. Referências bibliográficas 1. Kraemer WJ, Adams K, Cafarelli E, Dudley GA, Dooly C, Feigenbaum MS, et al. American college of sports medicine position stand. Progression models in resistance training for healthy adults. 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ISSN 1413-3555 Rev Bras Fisioter, São Carlos, v. 14, n. 2, p. 166-74, mar./abr. 2010 © Revista Brasileira de Fisioterapia ARTIGO ORIGINAL Versão brasileira da Avaliação Sensorial de Nottingham: validade, concordância e confiabilidade Brazilian version of the Nottingham Sensory Assessment: validity, agreement and reliability Daniela H. F. Lima1, Ana P. Queiroz1, Geovana De Salvo1, Simone M. Yoneyama2, Telma D. Oberg3, Núbia M. F. V. Lima3 Resumo Objetivo: Verificar a concordância inter e intraexaminador, validade construtiva e consistência interna da versão brasileira do instrumento Nottingham Sensory Assessment para hemiparéticos após acidente vascular encefálico (AVE). Métodos: O instrumento foi traduzido para língua portuguesa com base na sua versão original em Inglês por um tradutor bilíngue e, posteriormente, revertido para a língua inglesa. Vinte e um hemiparéticos foram avaliados por dois examinadores pela Avaliação Sensorial de Nottingham para pacientes pós-AVE (ASN) e pelo Protocolo de Desempenho Físico de Fugl-Meyer (FM). Resultados: Foi encontrada correlação entre os instrumentos FM e ASN (0,752); excelente consistência interna da ASN (0,86); excelentes coeficientes de concordância interexaminador e intraexaminador para todos os itens da ASN, exceto temperatura e efeito teto significativo para ASN e FM. Conclusão: A versão brasileira da Nottingham Sensory Assessment cumpriu os critérios de concordância, consistência interna e validade concorrente, sendo um instrumento de rápida e fácil aplicação, podendo ser utilizada nos ambulatórios de neuroreabilitação para avaliar a função sensorial pós-AVE. O efeito teto significativo da ASN não limita seu uso, tendo em vista que, para os mesmos pacientes, o Protocolo de Fugl-Meyer também revelou efeito teto. Palavras-chave: acidente cerebral vascular; avaliação da deficiência; testes de validade; sensação; reabilitação. Abstract Objectives: To investigate the inter-rater and intra-rater reliability, construct validity and internal consistency of the Brazilian version of the Nottingham Sensory Assessment for Stroke Patients (NSA). Methods: The instrument was translated into Portuguese from its original in English by a bilingual translator and was then back-translated into English. Twenty-one hemiparetics were evaluated by two examiners using the NSA and the Fugl-Meyer Assessment (FMA) of physical performance. Results: Significant correlation were found between the FMA and the NSA (r=0.752). The NSA showed excellent internal consistency (0.86), and there were acceptable inter- and intra-rater reliability for all items of the NSA, except temperature. Significant ceiling effects were found for the NSA and the FMA. Conclusions: The Brazilian version of the NSA met the criteria for agreement, internal consistency and concurrent validity. It was quick and easy to apply, and it could be used within clinical practice in neuro-rehabilitation outpatient clinics to assess sensory functions following stroke. The significant ceiling effect for the NSA did not limit its use, given that for the same patients, the FMA also showed ceiling effects. Key words: stroke; disability evaluation; validity tests; sensation; rehabilitation. Recebido: 05/05/2009 – Revisado: 15/07/2009 – Aceito: 06/08/2009 1 Programa de Pós-graduação em Fisioterapia Neurológica Adulto, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas (SP), Brasil. 2 Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), São Paulo (SP), Brasil. 3 Serviço de Fisioterapia e Terapia Ocupacional do Hospital de Clínicas da UNICAMP e Departamento de Neurologia da Faculdade de Ciências Médicas, UNICAMP, Campinas (SP), Brasil. Correspondência para: Daniela Helena da Fonseca Lima, Rua Adelaide dos Santos Barreira, 312, Jd Chapadão, Campinas (SP), CEP 13070-007, Brasil, email: danihfl@yahoo.com.br 166 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):166-74. Avaliação Sensorial de Nottingham: validade, concordância e confiabilidade Introdução Os déficits sensoriais atingem cerca de 60% dos pacientes acometidos por Acidente Vascular Encefálico (AVE)1. De acordo com Sterzi et al.2, a sensação somática é alterada em 37% dos pacientes com lesão no hemisfério direito e em 25% dos pacientes com lesão no hemisfério esquerdo. As consequências mais evidentes do déficit somatossensorial são alterações no reconhecimento tátil e na manipulação dos objetos, perigo de queimaduras ou outros ferimentos no membro sem percepção sensorial, alteração motora do membro afetado, déficits em controlar o nível da força da mão durante a preensão e alterações na marcha2-7. O córtex motor está relacionado ao processamento sensorial durante a execução de tarefas motoras1. Duas das principais funções da sensação cutânea da mão são obter informação sobre o ambiente durante tarefas de exploração e fornecer o feedback para habilidades de precisão durante tarefas de preensão e manipulação1,6,8-10. O déficit sensorial no membro inferior pode trazer prejuízos à marcha, pois leva à diminuição da fase de balanço, na velocidade e na simetria do passo11. A função sensorial é reconhecida como precursora da recuperação do movimento e da atividade funcional3,12. Sabe-se que os déficits somatossensoriais têm uma influência significante nas atividades diárias. Pacientes com perda sensorial e motora possuem um pior prognóstico do que pacientes apenas com déficit motor, pois o distúrbio somatossensorial exerce efeito negativo no resultado funcional dos pacientes com hemiplegia e prolonga o tratamento de reabilitação3,10. Sommerfield e von Arbin13 avaliaram a sensibilidade dolorosa e tátil de hemiparéticos na fase aguda e encontraram 40% dos pacientes com disfunção sensorial, concluindo-se que função sensorial normal estava relacionada ao alto desempenho funcional e ao menor tempo de internação hospitalar. A avaliação sensorial é realizada por 80% dos profissionais da saúde3, todavia muitos pesquisadores a consideram difícil de ser executada e cansativa, principalmente porque é comumente realizada ao final de todos os testes motores. A avaliação sensorial em hemiparéticos tem sido realizada por meio de potenciais evocados somatossensoriais14 ou escalas funcionais. Para o uso destas últimas, os terapeutas devem se preocupar e considerar a validade e confiabilidade dos instrumentos utilizados nos seus exames clínicos, tendo em vista que existem formas não padronizadas de avaliação sensorial, muitas das quais não fornecem uma base adequada para informar diagnósticos e monitorar ganhos dos programas da reabilitação sensorial1,10,11,15. De acordo com Lyden e Hantson16, os atributos de instrumento ideal para avaliação pós-AVE consistem em aplicação rápida e fácil; simplicidade e ausência de ambiguidade; apresentar validade concorrente; confiabilidade; demonstrar apropriada consistência interna e reprodutibilidade inter e intraexaminadores; mostrar imunidade às influências da idade, sexo, língua, classe social, profissão ou nível educacional do paciente e possuir faixa de pontuação que evite dificuldades em pontuar mínimas mudanças clínicas. Na literatura, o uso de instrumentos clínicos para avaliação sensorial é pouco documentado e não foram encontrados, na literatura, pesquisa, instrumentos validados e exclusivos para avaliação sensorial para esta população no Brasil. Carey, Oke e Matyas5 criou o teste de senso de posição do membro, confirmando sua confiabilidade e utilidade na avaliação proprioceptiva do punho de hemiparéticos. Posteriormente, Dannenbaum et al.10 elaboraram duas avaliações da função sensorial da mão desta população. Em 2002, o instrumento Rivermead Assessment of Somatosensory Performance foi elaborado para mensuração da função sensorial em hemiparéticos e apresentou bons coeficientes de confiabilidade intra e interexaminador, contudo exige equipamento registrado comercialmente para sua realização1. Em 2006, foi elaborado o instrumento Hand Active Sensation Test, que avalia a identificação de pesos e texturas por hemiparéticos, contudo limita-se à avaliação da mão e não engloba a sensação térmica e estereognosia17. A subescala sensibilidade do Protocolo de Desempenho Físico de Fugl-Meyer (FM) aborda a extereocepção e propriocepção de membros superiores e inferiores e possui alta confiabilidade interexaminador e consistência interna, porém mostrou alto efeito teto e de pobre a moderada confiabilidade para o item extereocepção18. A Nottingham Sensory Assessment foi elaborada na Inglaterra, em 1991, por Lincoln et al.19, com o objetivo de identificar os déficits sensoriais pós-AVE e monitorar sua recuperação. Trata-se de um instrumento de avaliação das modalidades sensoriais protopáticas e epicríticas, o qual revelou boa confiabilidade intraexaminador, porém pobre confiabilidade interexaminador após avaliação de hemiparéticos. Dessa forma, em 1998, o mesmo foi submetido à redução de itens e a novo exame de confiabilidade no seu país de origem, e foram encontrados níveis aceitáveis de confiabilidade interexaminador20. A Nottingham Sensory Assessment diferencia-se das demais medidas de avaliação sensorial, pois testa todos os segmentos corporais e não exige materiais de alto custo para sua aplicação. Este estudo tem o objetivo de traduzir a Nottingham Sensory Assessment, resultando em Avaliação Sensorial de Nottingham (ASN), e verificar sua confiabilidade, concordância, consistência interna e validade concorrente em hemiparéticos pós-AVE. Materiais e métodos Foi realizado estudo prospectivo no Ambulatório de Fisioterapia e Terapia Ocupacional do Hospital de Clínicas da 167 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):166-74. Daniela H. F. Lima, Ana P. Queiroz, Geovana De Salvo, Simone M. Yoneyama, Telma D. Oberg, Núbia M. F. V. Lima Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP (número 996/2007). O estudo de validação da ASN foi permitido pelos autores do instrumento20 pela concessão do mesmo e do respectivo manual, preservando seus direitos autorais. Foram recrutados pacientes com hemiparesia secundária por AVE a partir da lista de pacientes assistidos pelo Ambulatório de Fisioterapia e Terapia Ocupacional. Os critérios de inclusão adotados foram idade superior a 18 anos; ambos os sexos; AVE unilateral isquêmico ou hemorrágico com tempo de icto maior que seis meses. Foram incluídos pacientes alfabetizados. Foram excluídos da pesquisa indivíduos com distúrbios sensitivos secundários por outras doenças; aqueles com limitações da fala e/ou incapazes de compreender instruções simples; indivíduos com distúrbios cognitivos graves; indivíduos com AVE cerebelar e portadores de Diabetes Mellitus e/ ou neuropatias periféricas. Os pacientes ou familiares assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido. Caso não fosse possível testar algum segmento, foi conferida pontuação de 4 a 10 para as subescalas: (4) incapaz de detectar pressão, (5) motivos físicos, por exemplo, deficiência motora que impede localização tátil, (6) incapaz de acessar devido à vestimenta, (7) problemas de comunicação, (8) problemas cognitivos, (9) dor ou tônus elevado, (10) sonolência ou incapacidade de concentração 7. O Protocolo de FM21 mensura a recuperação sensóriomotora na hemiparesia por meio das subescalas função motora de extremidade superior, inferior, mobilidade passiva, dor, sensibilidade e equilíbrio. Cada item é pontuado de 0 a 2, e, quanto menor a pontuação, maior o comprometimento sensório-motor do paciente. Trata-se de um instrumento validado internacionalmente, traduzido para a língua portuguesa e mostrou altos coeficientes de confiabilidade em hemiparéticos brasileiros21. A subescala sensibilidade do Protocolo de FM compreende extereocepção (toque leve em braço, palma da mão, coxa e planta do pé) e propriocepção (articulações do membro superior e inferior) e sua pontuação varia de 0 a 8 para extereocepção e de 0 a 16 para propriocepção. Os pacientes foram avaliados pelas subescalas motora e sensibilidade da FM para categorização do seu comprometimento sensório-motor. Instrumentos de medida Tradução do instrumento A ASN possui quatro subescalas e 20 itens (Anexo 1). As subescalas são sensação tátil, propriocepção, estereognosia e discriminação entre dois pontos. A ASN identifica os déficits sensoriais na face, tronco, ombro, cotovelo, punho, mão, joelho, tornozelo e pé. Cada item da subescala sensação tátil (toque leve, pressão, picada, temperatura, localização tátil nos dois hemicorpos e toque bilateral simultâneo) pode ser pontuado de 0 a 2, que representam anestesia tátil e sensação tátil normal, respectivamente. A pontuação total para o hemicorpo não afetado varia de 0 a 90 e para o afetado de 0 a 108. A subescala propriocepção da ASN avalia execução do movimento, sua direção e a posição articular de segmentos apenas do hemicorpo afetado. Cada item é pontuado de 0 (propriocepção ausente) a 3 (propriocepção normal), com pontuação total que varia de 0 a 21. Os segmentos face, tronco e pé não são avaliados por essa subescala de acordo com a forma original. A subescala estereognosia da ASN afere o reconhecimento de 11 objetos pelo hemicorpo afetado, podendo ser pontuada de 0 (astereognosia) a 2 (estereognosia normal) e com pontuação total de 0 a 22. Os objetos exigidos por esta subescala são utilizados em atividades de vida diária. A subescala discriminação entre dois pontos foi testada no dedo indicador e região tenar, e cada parte recebeu pontuação de 0 (tato discriminativo ausente) a 2 ( função normal), com escore total de 0 a 4. A ASN e seu manual foram traduzidos para língua portuguesa com base na sua versão original em inglês por um tradutor bilíngue e posteriormente revertido para a língua inglesa por um segundo tradutor. Este último comparou a versão original à versão em Inglês resultante da tradução reversa, corrigiu os conflitos de interpretação e realizou as adaptações culturais com auxílio de um fisioterapeuta experiente em neuroreabilitação22. Participantes 168 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):166-74. Materiais De acordo com exigência da ASN, devem ser utilizados para avaliação da sensação tátil: bola de algodão, monofilamento (cor verde), dois tubos de ensaio contendo água quente ou gelada e talco. Para mensuração da estereognosia devem ser usadas: moedas de R$ 0,01, 0,10 e 1,00, caneta esferográfica, lápis, pente, tesoura, esponja, flanela, xícara e copo, e, para o teste de discriminação entre dois pontos, usa-se o compasso. Procedimento Os examinadores eram profissionais fisioterapeutas que realizaram separadamente o treinamento teórico-prático visando padronização dos critérios da ASN por meio do uso do manual da mesma e de seminários realizados por um fisioterapeuta Avaliação Sensorial de Nottingham: validade, concordância e confiabilidade experiente que estabeleceu contato com a pesquisadora e criadora do instrumento. Posteriormente, a ASN foi aplicada em três hemiparéticos que não participaram da amostra da pesquisa. Os pacientes da amostra foram avaliados pela ASN por dois examinadores, simultaneamente, e não houve acesso à avaliação do outro terapeuta. Foi realizado reteste pelo examinador 2 após período de 3 a 7 dias. A Figura 1 exibe o procedimento do estudo. A ordem de aplicação da ASN foi: sensação tátil, estereognosia, propriocepção e discriminação entre dois pontos. Durante a avaliação, os pacientes foram solicitados a usar venda e poderiam retirá-la entre os testes ou em caso de desconforto. A sensação tátil foi examinada nos dois hemicorpos, em ordem variável. Os pacientes foram avaliados com a menor quantidade de vestimenta, de preferência com short, quando permitido por eles. Órteses ou meias elásticas foram removidas para a avaliação. Um terceiro examinador aplicou o Protocolo de FM no primeiro dia de avaliação. Os pacientes foram examinados no Ambulatório de Fisioterapia e Terapia Ocupacional no período vespertino. Análise estatística Foi realizada a análise descritiva das variáveis numéricas e categóricas da amostra. Foram calculados os efeitos teto e solo (ceilling effect/ floor effect) das subescalas da ASN e da subescala sensibilidade do Protocolo de FM – a porcentagem dos escores que se agrupam nas pontuações superiores e inferiores, respectivamente. Valores maiores que 20% são considerados significantes. Existência de alto efeito teto indica a limitação da capacidade de um instrumento na discriminação dos indivíduos23. O grau de confiabilidade de um instrumento pode ser obtido mensurando-se a concordância entre resultados oriundos de diferentes examinadores em sua aplicação aos mesmos pacientes24. A concordância interexaminador e intraexaminador (reteste) foi verificada nos domínios da ASN e em sua pontuação do hemicorpo afetado pelo Coeficiente de Correlação Intraclasse (CCI): CCI<0,40 – concordância fraca, CCI de 0.4–0,75–concordância moderada e CCI>0,75 alta concordância25. Foi realizada a análise de Bland-Altman por meio de gráficos da soma das quatro subescalas da ASN, cuja finalidade é avaliar o grau de concordância interexaminador e intraexaminador, considerando-se as diferenças dos escores e suas médias26. A consistência interna foi avaliada por meio do Alfa de Cronbach, e valores acima de 0.70 indicam alta consistência interna27. Foi realizada a correlação item-total da ASN, sendo o escore superior a 0.4 considerado satisfatório28. A correlação entre os instrumentos de medida foi realizada pelo Coeficiente de Correlação de Pearson (r). O nível de significância adotado para as análises foi de 5%. Foi utilizado o programa estatístico SPSS 15.0 para Windows. Resultados Os dados demográficos e a categorização do comprometimento sensitivo e motor estão resumidos na Tabela 1. Participaram do estudo 21 pacientes hemiparéticos cuja média de idade foi de 49,47 (13,64), sendo que um deles apresentava mais de 60 anos. O grau de recuperação motora e sensitiva corresponde a 54% e 67% da função máxima, respectivamente, PACIENTES COM HEMIPARESIA SECUNDÁRIA A AVE Critérios de inclusão SIM Aplicação da ASN por 2 examinadores: 1. Sensação tátil 2. Propriocepção 3. Estereognosia 4. Discriminação entre 2 pontos NÃO Aplicação do instrumento FM Exclusão Após 3 a 7 dias: Reteste da ASN por 1 examinador Figura 1. Fluxograma do estudo. Tabela 1. Dados demográficos e nível de comprometimento. sensório-motor (n=21). Variáveis Idade (anos) Sexo (F/M) Tipo de AVE (H/I) Tempo de AVE (meses) FM Motora FM Sensibilidade Exterocepção Propriocepção Avaliação Sensorial de Nottingham Sensibilidade tátil (hemicorpo não afetado) Sensibilidade tátil (hemicorpo afetado) Propriocepção Estereognosia Discriminação entre 2 pontos Média DP [mín; máx] 49,4713,64 [21;78] 8 (38,1%)/13 (61,9%) 4 (19%)/17 (81%) 40,2332,35 [6;116] 54,0919,21 [24;88] 16,235,43 [8;24] 5,141,68 [3;8] 11,283,82 [4;16] 90 98,6112,5 [59;108] 14,953,89 [8;21] 10,8510,27 [0;22] 1,281,45 [0;4] F=feminino; M=masculino; AVE=acidente vascular encefálico; H=hemorrágico; I=isquêmico; FM=protocolo de desempenho físico de Fugl-Meyer. 169 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):166-74. Daniela H. F. Lima, Ana P. Queiroz, Geovana De Salvo, Simone M. Yoneyama, Telma D. Oberg, Núbia M. F. V. Lima Tabela 2. A concordância interexaminador por meio do coeficiente de correlação intraclasse. Itens da ASN CCI Toque leve Pressão Picada Temperatura Loc. tátil Toque bilateral Propriocepção Moeda 1 centavo Moeda 10 centavos Moeda 1 real Caneta Lápis Pente Tesoura Esponja Flanela Xícara Copo Disc. palma Disc. dedo 0,998 1,000 1,000 0,804 0,890 1,000 0,997 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000 0,976 1,000 1,000 1,000 0,974 0,953 1,000 Intervalo de confiança (IC) de 95% 0,995;0,999 1,000;1,000 1,000;1,000 0,578;0,916 0,750;0,954 1,000;1,000 0,994;0,999 1,000;1,000 1,000;1,000 1,000;1,000 1,000;1,000 1,000;1,000 1,000;1,000 0,941;0,990 1,000;1,000 1,000;1,000 1,000;1,000 0,937;0,989 0,889;0,981 1,000;1,000 p-valor Correlação item-total <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 0,79 0,82 0,88 0,199 0,362 0,341 0,334 0,64 0,64 0,64 0,509 0,575 0,515 0,582 0,64 0,599 0,692 0,638 0,431 0,616 n=21; CCI=coeficiente de correlação intraclasse; ASN=avaliação sensorial de Nottingham; Loc. tátil=localização tátil; Disc=discriminação entre 2 pontos. Tabela 3. A concordância intraexaminador por meio do coeficiente de correlação intraclasse. Itens da ASN CCI Intervalo de confiança (IC) de 95% p-valor Toque leve 0,901 0,776;0,959 <0,01 Pressão 0,988 0,971;0,995 <0,01 Picada 0,907 0,786;0,961 <0,01 -0,070 -0,479;0,363 <0,622 Loc. tátil 0,863 0,693;0,942 <0,01 Toque bilateral Propriocepção 0,976 0,933 0,943;0,990 0,843;0,972 <0,01 <0,01 Moeda 1 centavo 1,000 1,000;1,000 <0,01 Moeda 10 centavos 0,977 0,943;0,990 <0,01 Moeda 1 real 1,000 1,000;1,000 <0,01 Caneta 0,909 0,790;0,962 <0,01 Temperatura Lápis 0,974 0,937;0,989 <0,01 Pente 0,977 0,944;0,990 <0,01 Tesoura 1,000 1,000;1,000 <0,01 Esponja 0,888 0,745;0,953 <0,01 Flanela 1,000 1,000;1,000 <0,01 Xícara 0,975 0,941;0,990 <0,01 Copo 0,949 0,874;0,979 <0,01 Disc. palma 0,855 0,677;0,939 <0,01 Disc. Dedo 1,000 1,000;1,000 <0,01 n=21; CCI= coeficiente de correlação intraclasse; ASN=avaliação sensorial de Nottingham; Loc. tátil=localização tátil; Disc=discriminação entre 2 pontos. 170 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):166-74. pelo Protocolo de FM. De acordo com os escores dos nove pontos corporais da ASN, os pacientes atingiram 91,3% do escore de sensação tátil, 71% da propriocepção, 49,3% da estereognosia e 32% da discriminação entre dois pontos. Não foram encontrados distúrbios sensoriais táteis no hemicorpo contralateral à hemiparesia. Nenhum paciente obteve escore máximo em todas as subescalas da ASN. Foi encontrado efeito teto de 66% para subescala sensibilidade tátil da ASN, de 38% para subescala estereognosia da ASN e de 28% para a subescala sensibilidade do Protocolo de FM; efeito solo de 42% para a subescala discriminação de dois pontos da ASN e ausência de efeitos solo/teto para a subescala propriocepção da ASN. Houve correlação entre a subescala sensibilidade do FM e escore total da ASN (r=0.708, p<0.001). Não foi encontrada correlação entre as subescalas da ASN e a subescala motora do Protocolo de FM, bem como não houve correlação entre as seções motora e sensitiva do Protocolo de FM nesta amostra (r=-0,035, p=0,882). Foi encontrada alta consistência interna para a ASN (0.86). A correlação item-total foi satisfatória em 16 itens da ASN (Tabela 2). Foi observado excelente coeficiente de concordância interexaminador em todos os itens da ASN (Tabelas 2 e 3). Encontrou-se alta concordância intraexaminador (reteste) nos itens da ASN, exceto para o item temperatura. A Figura 2 mostra análise Bland-Altman para concordância interexaminador e revela desvio de -0.33 e intervalo de confiança de [-1.89; 1.22]. A Avaliação Sensorial de Nottingham: validade, concordância e confiabilidade No presente estudo, a versão brasileira da ASN mostrou alta consistência interna, validade concorrente e altos níveis de concordância inter e intraexaminador em todos os itens da escala, exceto para temperatura na concordância intraexaminador. Lincoln, Jackson e Adams20 realizaram o estudo de concordância desse instrumento em 27 hemiparéticos e encontraram que os itens toque leve, pressão e a subescala propriocepção apresentaram os melhores coeficientes de concordância, ao passo que a picada e temperatura foram os menos confiáveis. A avaliação da sensação térmica pela ASN foi apontada como não confiável por Lincoln, Jackson e Adams20. A sensibilidade térmica é pouco explorada pelos instrumentos de medida sensorial em ambulatórios, possivelmente pela pouca disponibilidade de recursos padronizados que causem hiper ou hipotermia. A temperatura da água não foi definida pelos autores da ASN, o que pode afetar os resultados no exame. Além disso, as variações da temperatura do ambiente podem interferir na avaliação da sensação térmica nos pacientes, contudo nossos pacientes foram avaliados no mesmo período do dia e no mesmo ambiente. Em 2006, Stolk-Hornsveld et al.29 realizaram a segunda revisão da ASN – com a eliminação do item temperatura, modificação do teste de sensibilidade dolorosa e padronização dos testes propriocepção e tato discriminativo – e submeteram a nova versão ao exame de confiabilidade em 18 pacientes. Os autores encontraram altos coeficientes de confiabilidade inter e intraexaminador e retiraram a subescala tato discriminativo do instrumento devido a sua dificuldade de reprodução. Não se encontrou dificuldade para execução deste último teste neste estudo. O único instrumento de medida disponível e validado no Brasil que mensura a sensibilidade em hemiparéticos é o Protocolo de FM21. Esse instrumento possui duas subescalas – sensibilidade exteroceptiva e proprioceptiva. Em contrapartida, a ASN abrange sensação tátil, propriocepção, estereognosia e discriminação entre dois pontos, identificando os déficits sensoriais na região da face, tronco, ombro, cotovelo, mão, joelho, tornozelo e pé nos dois hemicorpos, revelando-se instrumento mais completo para investigação dos déficits Concordância Interexaminador da ASN 2 Diferença E1, E2 Discussão sensoriais. A subescala propriocepção da ASN avalia a execução do movimento, sua direção e posição articular (cinestesia e artroestesia), e o Protocolo de FM, por sua vez, avalia somente a quantidade de acertos da posição articular final, ou seja, artroestesia. Sabendo que a estereognosia é um componente chave na recuperação da função do membro superior, Gaubert e Mockett30 verificaram a confiabilidade interexaminador da subescala estereognosia da ASN em 20 pacientes pós-AVE na fase aguda, 0 -2 -4 100 150 200 250 300 Média E1, E2 E1=Examinador 1; E2=Examinador 2. Figura 2. Análise Bland-Altman para concordância interexaminador do escore da ASN. Concordância Intraexaminador da ASN 5 Diferença E2, E2r Figura 3 mostra a mesma análise para a concordância entre os escores do examinador 2 (intraexaminador ou reteste) e houve desvio de -1.33 e intervalo de confiança de [-6.64; 3.97]. Houve boa concordância inter e intraexaminador, já que a maioria dos pares das medidas encontra-se dentro do limite esperado de concordância. 0 -5 -10 100 150 200 250 300 Média E2, E2r E2=Examinador 2; E2r=Reteste do examinador 2. Figura 3. Análise Bland-Altman para concordância intraexaminador do escore da ASN. 171 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):166-74. Daniela H. F. Lima, Ana P. Queiroz, Geovana De Salvo, Simone M. Yoneyama, Telma D. Oberg, Núbia M. F. V. Lima sendo verificado que a subescala possui de moderada a alta confiabilidade e poderia ser incorporada como uma medida de monitoração da evolução dos pacientes acometidos por AVE, confirmando os nossos achados. Todavia, encontrou-se dificuldade em avaliar a estereognosia em pacientes com quadro de espasticidade distal e déficit motor preênsil, sendo necessário posicionar e mover o objeto na palma da mão parética. Alguns pacientes confundiram os valores das moedas, principalmente entre R$ 0,01 e 0,10, bem como nomearam a flanela como pano/toalha. Apesar de a subescala estereognosia permitir a referência de itens similares aos testados (por exemplo, a flanela pode ser identificada como pano ou toalha de rosto), Gaubert e Mockett30 assinalam que essa ambiguidade deveria ser destacada por meio da inclusão de escore intermediário nesta subescala (escore 2) – escolhido quando da indicação de nomes de objetos com características semelhantes ao objeto em avaliação – e o escore 3 se destinaria à função normal. O toque leve e propriocepção são as modalidades sensoriais mais testadas pelos terapeutas31. Connell, Lincoln e Radford32 apontaram que a estereognosia e a propriocepção são mais prejudicadas que a sensação tátil em hemiparéticos avaliados pela ASN, dado confirmado pelos nossos achados, contudo o maior déficit ocorreu para discriminação entre dois pontos. Os autores encontram 17% de pacientes com distúrbios sensoriais no hemicorpo ipsilateral à lesão cerebral, contudo não se encontrou alteração sensitiva neste hemicorpo na nossa amostra. Para a avaliação da localização tátil, é exigido o uso do membro contralateral na indicação do ponto de teste sensorial. No caso de pacientes com espasticidade ou paresia significativas de membro superior foi pontuado escore 5 e, quando os pacientes possuíam afasia ou disartria, foi dado escore 7. A ASN não oferece estratégias alternativas, como indicação verbal do segmento examinado em caso de distúrbios motores que impeçam a localização tátil. O efeito teto encontrado nas subescalas sensibilidade tátil e estereognosia e efeito solo da subescala discriminação entre dois pontos parecem fatores limitantes do uso do instrumento. Contudo, houve também efeito teto da subescala sensibilidade do Protocolo de FM, como já documentado em estudo anterior18. O significante efeito teto das subescalas da ASN pode ter ocorrido devido à amostra ser composta por hemiparéticos crônicos com déficits predominantemente motores, o que não permite a confirmação da limitação da ASN em discriminar os déficits desses pacientes. 172 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):166-74. Entre as limitações do estudo, também se encontram a ausência de avaliação da sensibilidade vibratória, o pequeno número de pacientes e a dificuldade na mensuração os déficits sensoriais em pacientes com distúrbios graves de fala, linguagem ou cognitivos. A amostra com apenas um paciente acima de 60 anos minimizou a possibilidade da influência de sinais de envelhecimento, entre eles, deterioração da sensibilidade vibratória, tátil e dolorosa e diminuição da velocidade de condução do nervo periférico33, o que poderia interferir nos resultados do instrumento. A ASN sofreu adaptações quanto aos materiais de uso, pois foram usadas moedas do real e tubo de ensaio apenas com água gelada para avaliação da sensibilidade térmica. A ASN foi aplicada por nossos examinadores em aproximadamente 20 minutos, mostrando-se um instrumento prático e relativamente rápido para avaliação dos distúrbios sensoriais de hemiparéticos. A duração da aplicação do Protocolo de FM foi de 20 minutos. Além de fornecer um padrão determinado para identificar os déficits, a ASN é um procedimento barato e de fácil aplicação. O baixo custo dos materiais exigidos pela ASN favorece a sua aplicação em ambulatórios de reabilitação neurológica. Sugere-se exame de confiabilidade em amostra maior de hemiparéticos nas fases aguda e subaguda pós-AVE, a fim de estabelecer a validade e estabilidade temporal das suas subescalas. O uso de instrumentos de medida validados e confiáveis apresenta grande relevância clínica, pois viabiliza a definição do perfil sensorial e a criação de protocolos de reabilitação sensorial em diferentes estágios de recuperação pós-AVE. Conclusões A versão brasileira da Nottingham Sensory Assessment apresentou excelentes coeficientes de concordância intra e interexaminador para todos os itens, exceto para o item temperatura. Também foi verificada alta consistência interna e confirmada a validade concorrente do instrumento. A ASN é um instrumento de rápida e fácil aplicação, podendo ser utilizada na prática clínica nos ambulatórios de neuroreabilitação para avaliar a sensação tátil, propriocepção, estereognosia e discriminação entre dois pontos em hemiparéticos pós-AVE. O efeito teto significativo da ASN não limita seu uso, tendo em vista que, para os mesmos pacientes, o Protocolo de FM também revelou efeito teto. A ASN e seu manual de aplicação encontram-se disponíveis pelo e-mail: [email protected]. Avaliação Sensorial de Nottingham: validade, concordância e confiabilidade Referências bibliográficas 1. Winward CE, Halligan PW, Wade DT. The rivermead assessment of somatosensory performance (RASP): standardization and reliability data. Clin Rehabil. 2002;16(5):523-33. 2. Sterzi R, Bottini G, Celani MG, Righetti E, Lamassa M, Ricci S, et al. Hemianopia, hemianesthesia and hemiplegia after right and left hemisphere damage. A hemispheric difference. J Neurol Neurosurg Psychiatry. 1993;56(3):308-10. 3. Winward CE, Halligan PW, Wade DT. Current practice and clinical relevance of somatosensory assessment after stroke. Clin Rehabil. 1999;13(1):48-55. 4. Carey LM. Somatosensory loss after stroke. Critical Reviews in Physical & Rehabilitation Medicine. 1995;7:51-91. 5. Carey LM, Oke LE, Matyas TA. Impaired limb position sense after stroke: a quantitative test for clinical use. 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Anexo 1 Avaliação sensorial de Nottingham (Lincoln et al.19) Nome: ____________________________________________________ Data do AVE: _____/_____/_____ Idade:______________________ Tel(s): (____) ____________________ Tipo do AVE (H/I): _____________ Examinador: ________________________________________________ Data da avaliação: ____/____/____ ( ) Direito ( ) Esquerdo ( ) Sim Lado do corpo afetado: Presença de edema: Regiões do corpo Face Tronco Ombro Cotovelo Punho Mão Quadril Joelho Tornozelo Pé Toque leve D E Pressão D E ( ) Nenhum ( ) Ambos ( ) Não Se AMBOS, lado avaliado: _______ Se sim, onde? ________________ Sensação Tátil Picada Temperatura D E D E Localização tátil Toque bilateral simultâneo D E Propriocepção Estereognosia Moeda de R$ 0,01 Moeda de R$ 0,10 Moeda de R$ 1 Caneta esferográfica Lápis Pente Tesoura Esponja Flanela Xícara Copo Discriminação entre dois pontos mm Palma da mão Pontuação mm Pontas dos dedos Pontuação Sensação Tátil e Estereognosia 0: Ausente 1: Alterado 2: Normal 4 a 9: Não testável Propriocepção 0: Ausente 1: Execução do movimento (direção errada) 2: Direção do movimento (>10°) 3: Normal ou posição articular <10° 4 a 9: Não testável Discriminação entre 2 pontos 0: Ausente 1: >3mm dedos e >8 mm mão 2: <3mm dedos e <8 mm mão 4 a 9: Não testável Comentários: (por exemplo: edema ou palidez presente, meias de compressão, presença de reflexos). 174 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):166-74. Pontuação ISSN 1413-3555 ARTIGO ORIGINAL Rev Bras Fisioter, São Carlos, v. 14, n. 2, p. 175-81, mar./abr. 2010 © Revista Brasileira de Fisioterapia Concordância e confiabilidade de dois métodos não-invasivos para a avaliação da amplitude de movimento cervical em adultos jovens Agreement and reliability of two non-invasive methods for assessing cervical range of motion among young adults Lidiane L. Florêncio, Patrícia A. Pereira, Elaine R. T. Silva, Kátia S. Pegoretti, Maria C. Gonçalves, Débora Bevilaqua-Grossi Resumo Contextualização: A amplitude de movimento (ADM) cervical é fundamental na avaliação funcional e na intervenção fisioterapêutica. O Cervical Range of Motion (CROM) destaca-se por ser um método confiável, não invasivo e de fácil manuseio, porém de alto custo. Na prática clínica, opta-se por aparelhos mais acessíveis, como o Flexímetro, cuja confiabilidade ainda não foi adequadamente testada para o segmento cervical. Objetivos: Comparar o Flexímetro com o CROM na análise da ADM cervical e verificar a confiabilidade intra e interexaminadores de ambas as ferramentas. Métodos: Os movimentos cervicais de flexão, extensão, inclinação lateral e rotação foram mensurados, com ambas as ferramentas, por três examinadores em 20 indivíduos jovens, do sexo feminino, assintomáticos. A análise estatística foi realizada pelo Coeficiente de Correlação Intraclasse (ICC). Resultados: A concordância entre as ferramentas foi considerada moderada nos movimentos de flexão e rotação esquerda (0,71;0,58) e excelente nos demais movimentos (0,76-0,87). A confiabilidade intraexaminadores com o CROM foi moderada para os movimentos de flexão e rotação direita (0,70; 0,69) e excelente para os demais movimentos (0,79-0,88); com o Flexímetro, foi excelente para inclinação e rotação direita (0,80; 0,77) e moderada para os demais movimentos (0,69-0,75). A confiabilidade interexaminadores com o CROM foi excelente em todos os movimentos (0,760,93) e, com o Flexímetro, foi moderada para os movimentos de rotação direita e esquerda (0,66; 0,75) e excelente para os demais movimentos (0,81-0,88). Conclusões: Os valores obtidos na avaliação da ADM cervical feita pelo Flexímetro concordam com aqueles mensurados pelo CROM. Além disso, ambas as ferramentas apresentam confiabilidades aceitáveis para a prática clínica. Palavras-chave: ADM cervical; avaliação; confiabilidade; CROM; flexímetro. Abstract Background: Cervical range of motion (CROM) is a fundamental component of the functional evaluation in physical therapy interventions. The CROM device stands out as a reliable, non-invasive and easy-to-use method, but it is a very expensive tool. In clinical practice, more affordable tools such as Fleximeters are preferred. However, the reliability of Fleximeters for the cervical spine has not been adequately tested. Objectives: To compare the Fleximeters and the CROM device for the analysis of CROM, and to investigate the intra- and inter-examiner reliability of both tools. Methods: Cervical movements (flexion, extension, lateral flexion and rotation) were assessed in 20 asymptomatic young women by three examiners using both tools. The statistical analyses were performed using the intra-class correlation coefficient (ICC). Results: The agreement between the tools was considered moderate for flexion and left rotation (0.71; 0.58) and excellent for all of the other movements (0.76-0.87). The intra-examiner reliability for the CROM device was moderate for flexion and right rotation (0.70; 0.69) and excellent for all of the other movements (0.79-0.88). For the Fleximeter, the agreement was excellent for inclination and right rotation (0.80; 0.77) and moderate for all of the other movements (0.69-0.75). The inter-examiner reliability for the CROM device was excellent for all movements (0.76-0.93) and for the Fleximeter, it was moderate for right and left rotation (0.66; 0.75) and excellent for all of the other movements (0.81-0.88). Conclusions: There was agreement between the CROM assessments using the Fleximeter and the CROM device. Furthermore, both devices showed acceptable reliability for clinical practice. Key words: cervical range of motion; assessment; reliability; CROM; Fleximeter. Recebido: 09/11/09 – Revisado: 21/05/09 – Aceito: 06/08/09 Departamento de Biomecânica, Medicina e Reabilitação do Aparelho Locomotor, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo (FMRP-USP), Ribeirão Preto (SP), Brasil Correspondência para: Débora Bevilaqua Grossi, Av. Bandeirantes, 3.900, CEP 14049-900, Ribeirão Preto (SP), Brasil, e-mail: [email protected] Parte do material foi apresentado em forma de pôster no 16º SIICUSP. 175 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):175-81. Lidiane L. Florêncio, Patrícia A. Pereira, Elaine R. T. Silva, Kátia S. Pegoretti, Maria C. Gonçalves, Débora Bevilaqua-Grossi Introdução A avaliação da amplitude de movimento (ADM) da coluna cervical, bastante utilizada na prática fisioterapêutica1, é um importante instrumento para diagnosticar disfunções musculoesqueléticas2, analisar a progressão das doenças3, avaliar o efeito de diferentes tratamentos4 e acompanhar a evolução do paciente durante a reabilitação1,5-7. A limitação da ADM cervical pode indicar disfunções osteomioarticulares, dores no pescoço de origem traumática ou idiopática8,9, cefaleia8,10-12 ou alguma disfunção na articulação temporomandibular e na musculatura mastigatória12-14. Durante a análise da ADM cervical, deve-se considerar a existência da variabilidade natural entre os indivíduos, assim como os fatores que influenciam essa variabilidade, como gênero, idade e a natureza do movimento, passivo ou ativo1 . Por exemplo, as mulheres apresentam maior amplitude em relação aos homens12,15-19, e o envelhecimento provoca diminuição da ADM13,19-21 em aproximadamente 5° por década22. Há uma necessidade de se obterem medidas quantitativas, objetivas e confiáveis para a avaliação fisioterapêutica. No entanto, a coluna cervical apresenta uma maior complexidade devido aos movimentos associados da coluna torácica alta e do ombro12,13 e à ausência de marcações anatômicas precisas nessa região18,23. Para que a ADM possa ser medida com precisão, é imprescindível que ela seja avaliada por métodos e ferramentas confiáveis, não-invasivos e que possam ser reproduzidas por diferentes avaliadores2,24; além disso, é desejável que seja de fácil aplicação e que proporcione dados clinicamente precisos e significantes1,25. Apesar da diversidade de instrumentos citados na literatura para a avaliação da ADM, não existe consenso entre os profissionais em relação a qual método seria o mais indicado8,11,26 e qual o protocolo a ser seguido8. O método considerado “padrão ouro” na literatura é a radiografia; no entanto, trata-se de um instrumento pouco prático para a clínica; pois, considerando a necessidade das reavaliações, implicará na exposição excessiva dos pacientes à radiação e no custo constante para pacientes e serviços de saúde15,25,27,28. Há uma grande variedade de métodos não-invasivos disponíveis, como a estimativa visual, o goniômetro, o inclinômetro, o potenciômetro, tecnologias de bússolas, de vídeo e eletromagnéticas. Porém, para a maioria deles, a reprodutibilidade intra e interexaminadores não foi adequadamente testada29. O aparelho Cervical Range of Motion (CROM) é um goniômetro capaz de mensurar a ADM de flexão, extensão, inclinação e rotação da coluna cervical por meio de três inclinômetros30. Tem a vantagem de registrá-la em todos os planos sem a necessidade de marcações anatômicas e do reposicionamento do aparelho durante toda a avaliação31. Tousignant et al.7,18,31 realizaram a validação dessa ferramenta em pacientes sintomáticos e 176 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):175-81. assintomáticos, comparando-a com a técnica radiográfica7,18 nos movimentos de flexoextensão e inclinação e com o OPTOTRAK31 (sistema não-invasivo de mensuração por meio da incidência de luz infravermelha) no movimento de rotação, e foram encontrados índices de confiabilidade excelentes (0,82-0,98). Youdas, Carey e Garret32 demonstraram os índices de Coeficientes de Correlação Intraclasse (ICC) variando entre 0,73 e 0,95 em grupos sintomáticos; dados similares foram encontrados por Capuano-Pucci et al.33 em grupos assintomáticos. Bevilaqua-Grossi et al.10 avaliaram uma população feminina com migrânea e relataram uma confiabilidade intraexaminadores que variou entre 0.79 e 0.99 e uma confiabilidade interexaminadores que variou entre 0.68 e 0.95. Diferentemente dos outros instrumentos, trata-se de um método cuja confiabilidade está bem estabelecida na literatura, já que diversos estudos demonstraram ICC variando entre bom e excelente7,10,18,29-33. No entanto, o CROM é pouco utilizado, pois é um equipamento importado com custo elevado. O aparelho mais comumente utilizado na prática fisioterapêutica é o Flexímetro, um goniômetro gravidade-dependente de baixo custo e de fácil manuseio que avalia a ADM de diversas articulações. Sua confiabilidade para a avaliação da ADM cervical ainda não foi perfeitamente estabelecida. Lima et al.34 avaliaram apenas dois movimentos da coluna cervical e demonstraram valores de ICC excelente (0,79) e moderado (0,55) para rotação e inclinação, respectivamente. Não foram encontrados, na literatura, estudos que comparam esse instrumento a outra técnica de avaliação da ADM cervical. A hipótese deste estudo é que o Flexímetro seria capaz de reproduzir os valores obtidos pelo CROM, o que indicaria que tal ferramenta é fidedigna para a prática clínica. Portanto, os objetivos foram verificar a concordância entre as medidas de ADM cervical obtidas com o CROM e com o Flexímetro e, adicionalmente, verificar a confiabilidade intra e interexaminadores de ambas as ferramentas. Materiais e métodos Foram avaliados, aleatoriamente, 20 voluntários do sexo feminino, com média de idade 22 anos (2), assintomáticos. Os três avaliadores participantes do estudo foram treinados previamente em cada técnica por um período de seis horas semanais por duas semanas. Os critérios de exclusão foram ter idade menor que 18 anos e apresentar história de trauma, cirurgia ou qualquer outra disfunção da região cervical. As voluntárias foram orientadas a sentar com os pés apoiados no chão, joelho e tornozelo a 90o de flexão, apoiar as mãos sobre as coxas e manter-se em posição relaxada, sendo esta considerada Concordância e confiabilidade de dois métodos não-invasivos para a avaliação da amplitude de movimento cervical a posição inicial do indivíduo. Em seguida, um treino de familiarização foi realizado a fim de apresentar os aparelhos e orientar a voluntária quanto aos movimentos compensatórios, sendo eles corrigidos durante a realização ativa dos seis movimentos avaliados ( flexão, extensão, inclinação lateral direita, inclinação lateral esquerda, rotação direita e rotação esquerda). Os aparelhos utilizados foram o CROM (Figura 1) e o Flexímetro (Figura 2). O primeiro, desenvolvido pela Performance Attainement Associates (Roseville, MN), mede a ADM de flexão, extensão, inclinação lateral e rotação da coluna cervical por meio de três inclinômetros, cujas escalas variam de dois em dois graus. Esses inclinômetros estão fixados em uma armação semelhante a um óculos: um, no plano frontal, para inclinação lateral; outro, no plano sagital, para flexoextensão e o terceiro, no plano transverso, para rotação. Dois deles são gravidadedependentes (o frontal e o sagital) e o transverso é magnéticodependente. Um colar magnético é colocado no voluntário para se que possa medir a rotação20. O Flexímetro, desenvolvido e fabricado no Brasil, sob patente do Instituto Code de Pesquisa34, consiste em um inclinômetro gravidade-dependente, cuja escala é de um grau, preso a uma fita de velcro. Ao final de cada movimento, o aparelho deve ser reposicionado. Todos os movimentos são medidos com o voluntário sentado, exceto os movimentos de rotação, nos quais ele deve ficar em decúbito dorsal, com os ombros alinhados com a extremidade da maca. Para que o indivíduo não fique inseguro, o examinador deve apoiar uma das mãos na região occipital, porém não deve interferir no movimento ativo do voluntário34. Tal exceção deve-se à necessidade de posicionar o aparelho em uma posição favorável à atuação da força da gravidade. Os movimentos de flexão, extensão, inclinação lateral e rotação foram avaliados por três diferentes examinadores com o CROM e o Flexímetro, aleatorizados por uma sequência numérica escolhida pelo próprio voluntário. Para cada movimento, foram feitas três repetições, das quais obteve-se a média. Não houve intervalo entre as avaliações. Todo o procedimento anteriormente descrito foi repetido no intervalo de uma semana para testar a confiabilidade intraexaminador. Todos os procedimentos realizados no presente estudo foram aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto - SP e da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, conforme parecer número 5230/2008 e todos os voluntários assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido. Análise estatística A comparação dos dois métodos foi feita pelo ICC, que verifica o grau de correlação entre as medidas de cada classe35. Quanto mais próximo o coeficiente estiver de 1, maior a correlação. A concordância entre as ferramentas foi classificada, de Figura 1. Cervical Range of Motion (CROM, Performance Attainment Associates, T Paul, MN USA) no plano frontal (A) e no plano sagital (B). Figura 2. Flexímetro (ICP) no plano frontal (A) e no plano sagital (B). acordo com os valores de ICC, como sendo pobre (<0,4), moderada (0,4-0,75) ou excelente (>0.75)36. O intervalo de confiança utilizado foi de 95% . Para cada ferramenta, obteve-se ainda a confiabilidade intra- e interexaminadores pelo ICC com o programa SPSS 10.0 para Windows. Para o cálculo das confiabilidades, foi utilizada a média das três medidas obtidas para cada movimento durante a avaliação. A confiabilidade intraexaminador mede a precisão de um aparelho quando utilizado mais de uma vez pelo mesmo examinador, já que a ferramenta ideal não deve dar resultados diferentes se a ADM de fato não sofreu mudanças37. A confiabilidade interexaminadores mede a precisão do método quando ele é utilizado em uma mesma situação por diferentes examinadores, já que a leitura de uma ferramenta não deve variar de observador para observador37. A classificação das confiabilidades será a mesma utilizada na comparação das ferramentas descritas anteriormente. Resultados Concordância entre as medidas obtidas com o CROM e com o Flexímetro Os valores do ICC foram 0,82; 0,71; 0,87; 0,83; 0,76; e 0,58 para os movimentos de extensão, flexão, inclinação lateral direita, inclinação lateral esquerda, rotação direita e rotação esquerda, 177 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):175-81. Lidiane L. Florêncio, Patrícia A. Pereira, Elaine R. T. Silva, Kátia S. Pegoretti, Maria C. Gonçalves, Débora Bevilaqua-Grossi respectivamente (Tabela 1). Tais valores indicam uma concordância excelente para a maioria dos movimentos, exceto para flexão e rotação esquerda, os quais apresentam concordância moderada. Confiabilidade intra e interexaminadores A confiabilidade intraexaminadores dos valores obtidos com o CROM foi considerada excelente para os movimentos de Tabela 1. Concordância entre o Cervical Range of Motion e o Flexímetro obtida por meio do Coeficiente de Correlação Intraclasse (ICC). Movimento Extensão Flexão Inclinação direita Inclinação esquerda Rotação direita Rotação esquerda ICC n=20 0,82 0,71 0,87 0,83 0,76 0,58 Erropadrão 0,06 0,08 0,04 0,05 0,07 0,10 Intervalo de confiança 95% Inferior Superior 0,71 0,92 0,56 0,86 0,79 0,95 0,73 0,93 0,62 0,89 0,39 0,77 ICC=Coeficiente de correlação intraclasse; CROM=Cervical Range of Motion. extensão, inclinação lateral direita, inclinação lateral esquerda e rotação esquerda e moderada para os movimentos de flexão e rotação direita (Tabela 2). Para os valores obtidos com o Flexímetro, a confiabilidade intraexaminadores foi considerada excelente para os movimentos de inclinação lateral direita e rotação direita e moderada para os demais movimentos cervicais avaliados (Tabela 2). Na confiabilidade interexaminadores dos valores obtidos com o CROM, observaram-se valores excelentes para todos os movimentos cervicais avaliados (Tabela 3). Já para os valores obtidos com o Flexímetro, a confiabilidade interexaminadores foi considerada excelente para os movimentos de extensão, flexão, inclinação lateral direita e inclinação lateral esquerda e moderada para os movimentos de rotação direita e rotação esquerda (Tabela 3). Discussão O CROM é uma ferramenta validada, precisa e de fácil aplicação; no entanto, tem a desvantagem de ter um custo elevado Tabela 2. Confiabilidade intraexaminador obtida por meio do ICC. Ferramenta CROM Flexímetro Movimento Extensão Flexão Inclinação direita Inclinação esquerda Rotação direita Rotação esquerda Extensão Flexão Inclinação direita Inclinação esquerda Rotação direita Rotação esquerda ICC/intra n=20 0,81 0,70 0,88 0,81 0,69 0,79 0,75 0,69 0,80 0,72 0,77 0,69 Erro-padrão 0,06 0,08 0,04 0,06 0,08 0,06 0,07 0,08 0,06 0,08 0,07 0,08 Intervalo de confiança 95% Inferior Superior 0,69 0,92 0,55 0,86 0,80 0,95 0,69 0,92 0,53 0,85 0,67 0,91 0,61 0,89 0,54 0,85 0,69 0,92 0,57 0,87 0,64 0,90 0,53 0,85 CROM=Cervical Range of Motion; ICC=Coeficiente de Correlação Interclasse. Tabela 3. Confiabilidade interexaminadores obtida por meio do ICC. Ferramenta CROM Flexímetro Movimento Extensão Flexão Inclinação direita Inclinação esquerda Rotação direita Rotação esquerda Extensão Flexão Inclinação direita Inclinação esquerda Rotação direita Rotação esquerda CROM=Cervical Range of Motion; ICC=Coeficiente de Correlação Interclasse. 178 Rev Bras Fisioter. 2010;14(2):175-81. ICC/ inter n=20 0,91 0,85 0,93 0,89 0,76 0,81 0,88 0,84 0,85 0,81 0,66 0,75 Erro-padrão 0,03 0,08 0,03 0,04 0,07 0,05 0,05 0,06 0,06 0,07 0,09 0,08 Intervalo de Confiança 95% Inferior Superior 0,86 0,97 0,76 0,94 0,89 0,98 0,81 0,96 0,63 0,90 0,70 0,92 0,80 0,95 0,74 0,93 0,75 0,94 0,70 0,92 0,49 0,83 0,61 0,89 Concordância e confiabilidade de dois métodos não-invasivos para a avaliação da amplitude de movimento cervical e ser utilizado exclusivamente na mensuração da ADM cervical. Já o Flexímetro, com valor mais acessível, é capaz de mensurar a ADM de diversas articulações; porém, há a necessidade de ser reposicionado a cada mensuração, o que pode se tornar um fator de alteração da medida. Na comparação entre as duas ferramentas, observou-se que há uma concordância excelente para a maioria dos movimentos cervicais. Tais resultados indicam que as medidas obtidas na avaliação cervical com o CROM são equivalentes àquelas obtidas com o Flexímetro, confirmando a possibilidade de utilização do Flexímetro como substituto do CROM na prática clínica. Os resultados do presente estudo demonstraram que a mensuração realizada pelo CROM apresenta uma confiabilidade intraexaminador excelente para a maioria dos movimentos cervicais, sendo moderada apenas para os movimentos de flexão e rotação direita. Já na confiabilidade interexaminadores para essa mesma ferramenta, verificaram-se valores excelentes para todos os movimentos cervicais avaliados. Tais resultados concordam com os dados descritos por Cappuano-Pucci et al.33, que verificaram uma confiabilidade intraexaminador que variou entre 0.63-0.90, classificada entre moderada e excelente, e uma confiabilidade interexaminadores que variou entre 0.80-0.87, classificada como excelente. O CROM é, portanto, um instrumento de medida da ADM cervical confiável. Na avaliação realizada com o Flexímetro, a confiabilidade intraexaminador foi considerada moderada para a maioria dos movimentos cervicais, exceto para os valores de inclinação lateral direita e rotação direita, considerados excelentes. A confiabilidade interexaminadores foi considerada moderada apenas para os movimentos de rotação direita e esquerda, para os demais movimentos foi classificada como excelente. Tais resultados não concordam com os valores encontrados por Lima et al.34, que relataram uma confiabilidade excelente para a rotação e moderada para a inclinação. Uma probabilidade para o conflito dos resultados pode ser o tipo da amostra, pois, embora ambas as populações estudadas tenham sido assintomáticas, no estudo de Lima et al.34, foram avaliadas diferentes faixas etárias dentro de um mesmo grupo, variável essa que pode influenciar a ADM. Portanto, considerando os valores de ICC para confiabilidade intra e interexaminadores, o Flexímetro é um instrumento cuja utilização pode ser também recomendada para a avaliação da amplitude cervical. Por fim, pode-se afirmar que, já que a confiabilidade encontrada para ambas as ferramentas utilizadas foi classificada entre moderada e excelente (0,66-0,88), seu uso é recomendado para a análise de ADM cervical. O estudo da confiabilidade de instrumentos como esses é útil não apenas para a melhor padronização nas pesquisas, mas para orientar os fisioterapeutas quanto à validade da utilização desses instrumentos na sua prática clínica. O Flexímetro, além de mais barato e acessível, ainda pode ser utilizado para a avaliação de outros segmentos corporais, diferente do CROM, que possui uma excelente confiabilidade, mas não pode ser utilizado para outros fins. Uma limitação deste estudo é que avaliar indivíduos assintomáticos não garante que a confiabilidade das ferramentas obtida seja reproduzida ao se avaliarem indivíduos com alguma disfunção no segmento cervical. Portanto, são necessários mais estudos sobre a confiabilidade do Flexímetro, uma vez que há pouca informação disponível na avaliação de populações sintomáticas. Conclusões Os resultados deste estudo demonstraram que os valores obtidos na avaliação da ADM cervical feita pelo Flexímetro concordam com os valores obtidos com o CROM. Além disso, ambas as ferramentas apresentaram confiabilidade intra e interexaminadores que variou entre moderada e excelente, o que comprova sua indicação para o uso na prática clínica. Referências bibliográficas 1. Agarwal S, Allison GT, Singer KP. Reliability of the spin-T cervical goniometer measuring cervical range of motion in asymptomatic indian population. J Manipulative Physiol Ther. 2005;28(7):487-92. 2. Mannion AF, Klein GN, Dvorak J, Lanz C. 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Carmo CONTROLE MOTOR, COMPORTAMENTO E MOTRICIDADE/ MOTOR CONTROL, BEHAVIOR AND MOTOR FUNCTION 141 Análise comportamental de recém-nascidos pré-termos incluídos em um programa de estimulação tátil-cinestésica durante a internação hospitalar Behavioral analysis of preterm neonates included in a tactile and kinesthetic stimulation program during hospitalization Andréia M. Ferreira, Niélsy H. P. Bergamasco FISIOTERAPIA NAS CONDIÇÕES CARDIOVASCULARES E RESPIRATÓRIAS/ PHYSICAL THERAPY FOR CARDIOVASCULAR AND RESPIRATORY CONDITIONS 106 Controle autonômico da frequência cardíaca de pacientes com doenças cardiorrespiratórias crônicas e indivíduos saudáveis em repouso e durante a manobra de acentuação da arritmia sinusal respiratória Autonomic control of heart rate in patients with chronic cardiorespiratory disease and in healthy participants at rest and during a respiratory sinus arrhythmia maneuver Michel S. Reis, Ana P. Deus, Rodrigo P. Simões, Isabela A. V. Aniceto, Aparecida M. Catai, Audrey Borghi-Silva 99 Correlação entre classificação clínica CEAP e qualidade de vida na doença venosa crônica Relationship between quality of life and the CEAP clinical classification in chronic venous disease Regina M. F. Moura, Gabriela S. Gonçalves, Túlio P. Navarro, Raquel R. Britto, Rosangela C. Dias 91 Efeitos negativos da insuficiência renal crônica sobre a função pulmonar e a capacidade funcional Negative effects of chronic kidney failure on lung function and functional capacity Juliana L. Cury, Antonio F. Brunetto, Ricardo D. Aydos 127 Effect of continuous positive airway pressure on fluid absorption among patients with pleural effusion due to tuberculosis Efeito da pressão positiva nas vias aéreas sobre a absorção do derrame pleural em pacientes devido à tuberculose Juliana F. Oliveira, Fernanda C. Q. Mello, Rosana S. Rodrigues, Ana L. Boechat, Marcus B. Conde, Sara L. S. Menezes FISIOTERAPIA NAS CONDIÇÕES MUSCULOESQUELÉTICAS/ PHYSICAL THERAPY FOR MUSCULOSKELETAL CONDITIONS 133 Análise quantitativa do tratamento da escoliose idiopática com o método Klapp por meio da biofotogrametria computadorizada Quantitative photogrammetric analysis of the Klapp method for treating idiopathic scoliosis Denise H. Iunes, Maria B. B. Cecílio, Marina A. Dozza, Polyanna R. Almeida 149 Fatores associados ao retorno ao trabalho após um trauma de mão: uma abordagem qualiquantitativa Factors associated with return to work following a hand injury: a qualitative/quantitative approach Lúcia H. A. Cabral, Rosana F. Sampaio, Iêda M. Figueiredo, Marisa C. Mancini 121 Validade concorrente da versão brasileira do SRS-22r com o Br-SF-36 Concurrent validity of the brazilian version of SRS-22r with Br-SF-36 Giselle C. L. Rosanova, Bruna S. Gabriel, Paula M. F. Camarini, Priscila E. S. Gianini, Daniel M. Coelho, Anamaria S. Oliveira. FISIOTERAPIA NAS CONDIÇÕES NEUROLÓGICAS/ PHYSICAL THERAPY FOR NEUROLOGICAL CONDITIONS 166 Versão brasileira da Avaliação Sensorial de Nottingham: validade, concordância e confiabilidade Brazilian version of the Nottingham Sensory Assessment: validity, agreement and reliability Daniela H. F. Lima, Ana P. Queiroz, Geovana De Salvo, Simone M. Yoneyama, Telma D. Oberg, Núbia M. F. V. Lima RECURSOS TERAPÊUTICOS FÍSICOS E NATURAIS/ PHYSICAL AND NATURAL THERAPEUTIC RESOURCES 114 Análise histológica em tecido epitelial sadio de ratos Wistar (in vivo) irradiados com diferentes intensidades do ultrassom Histological analysis of healthy epithelium of Wistar rats in vivo irradiated with different intensities of therapeutic ultrasound Daiane M. De Bem, Carlos D. Maciel, José A. Zuanon, Carlos B. Neto, Nivaldo A. Parizotto REGISTRO/ANÁLISE DO MOVIMENTO/ RECORDING/ANALYSIS OF MOVEMENTS 175 Concordância e confiabilidade de dois métodos não-invasivos para a avaliação da amplitude de movimento cervical em adultos jovens Agreement and reliability of two non-invasive methods for assessing cervical range of motion among young adults Lidiane L. Florêncio, Patrícia A. Pereira, Elaine R. T. Silva, Kátia S. Pegoretti, Maria C. Gonçalves, Débora Bevilaqua-Grossi INSTRUÇÕES GERAIS AOS AUTORES ABRIL 2009 Para submissão de manuscrito (preferencialmente em inglês) consulte NORMAS EDITORIAIS no website: <http://www.scielo.br/ revistas/rbfis/pinstruc.htm>. Informações gerais A submissão dos manuscritos deverá ser efetuada por via eletrônica, no site <http://www.scielo.br/rbfis> e implica que o trabalho não tenha sido publicado e não esteja sob consideração para publicação em outro periódico. Quando parte do material já tiver sido apresentada em uma comunicação preliminar, em Simpósio, Congresso, etc., deve ser citada como nota de rodapé na página de título, e uma cópia do texto da apresentação deve acompanhar a submissão do manuscrito. Os artigos submetidos e aceitos em português serão traduzidos para o inglês por tradutores da Revista Brasileira de Fisioterapia/Brazilian Journal of Physical Therapy (RBF/BJPT). Os artigos submetidos e aceitos em inglês também serão encaminhados aos revisores de inglês da RBF/ BJPT para revisão final. Por decisão do Conselho Editorial, os autores serão responsáveis pelo pagamento dos custos de tradução ou de revisão do inglês dos manuscritos aceitos. No sentido de reduzir os custos para os autores, a RBF/BJPT poderá subsidiar, de acordo com sua disponibilidade orçamentária, até 50% dos custos de tradução ou revisão. Forma e preparação dos manuscritos A RBF/BJPT aceita, no máximo, 6 (seis) autores em um manuscrito. O manuscrito deve ser escrito preferencialmente em inglês e pode conter até 3.500 palavras (excluindo Resumo/Abstract, Referências, Figuras, Tabelas e Anexos). Estudos de Caso não devem ultrapassar 1.600 palavras, excluindo Resumo/Abstract, Referências, Figuras, Tabelas e Anexos. Ao submeter um manuscrito para publicação, os autores devem enviar, por via eletrônica, como documento(s) suplementar(es): 1) Carta de encaminhamento do material, contendo as seguintes informações: a) Nomes completos dos autores; b) Tipo e área principal do artigo (ver OBJETIVOS, ESCOPO E POLÍTICA); c) Número e nome da Instituição que emitiu o parecer do Comitê de Ética para pesquisas em seres humanos e para os experimentos em animais. Para as pesquisas em seres humanos, incluir também uma declaração de que foi obtido o Termo de Consentimento dos participantes do estudo; d) Conforme descritos em OBJETIVOS, ESCOPO E POLÍTICA, os manuscritos com resultados relativos aos ensaios clínicos deverão apresentar número de identificação, que deverá ser registrado no final do Resumo/Abstract. (Sugestão de site para registro: <http://www.anzctr.org.au/Survey/UserQuestion.aspx>); 2) Declaração de responsabilidade de conflitos de interesse. Os autores devem declarar a existência ou não de eventuais conflitos de interesse (profissionais, financeiros e benefícios diretos e indiretos) que possam influenciar os resultados da pesquisa; 3) Declaração assinada por todos os autores, com o número de CPF, indicando a responsabilidade pelo conteúdo do manuscrito e transferência de direitos autorais (copyright) para a RBF/BJPT, caso o artigo venha a ser aceito pelos Editores. Os modelos da carta de encaminhamento e das declarações encontram-se disponíveis no site da RBF/BJPT: http://www.rbf-bjpt.org.br. É de responsabilidade dos autores a eliminação de todas as informações (exceto na página do título e identificação) que possam identificar a origem ou autoria do artigo. Formato do manuscrito O manuscrito deve ser elaborado com todas as páginas numeradas consecutivamente na margem superior direita, com início na página de título. Os Artigos Originais devem ser estruturados conforme sequência abaixo: Página de título e identificação (1ª. página) A página de identificação deve conter os seguintes dados: a) Título do manuscrito em letras maiúsculas; b) Autor: nome e sobrenome de cada autor em letras maiúsculas, sem titulação, seguidos por número sobrescrito (expoente), identificando a afiliação institucional/vínculo (Unidade/ Instituição/ Cidade/ Estado/ País); para mais de um autor, separar por vírgula; c) Nome e endereço completo. É de responsabilidade do autor correspondente manter atualizado o endereço e e-mail para contatos; d) Título para as páginas do artigo: indicar um título curto, em Português e em Inglês, para ser usado no cabeçalho das páginas do artigo, não excedendo 60 caracteres; e) Palavras-chave: termos de indexação ou palavras-chave (máximo seis), em Português e em Inglês. A RBF/BJPT recomenda o uso do DeCS – Descritores em Ciências da Saúde para consulta aos termos de indexação (palavras-chave) a serem utilizados no artigo <http://decs.bvs.br/>. Resumo/Abstract Uma exposição concisa, que não exceda 250 palavras em um único parágrafo, em português (Resumo) e em Inglês (Abstract) deve ser escrita e colocada logo após a página de título. Notas de rodapé e abreviações não definidas não devem ser usadas. Se for preciso citar uma referência, a citação completa deve ser feita dentro do resumo. O Resumo e o Abstract devem ser apresentados em formato estruturado, incluindo os seguintes itens separadamente: Contextualização (Background), Objetivos (Objectives), Métodos (Methods), Resultados (Results) e Conclusões (Conclusions). Corpo do texto: Introdução, Materiais e Métodos, Resultados e Discussão Incluir, em itens destacados: Introdução: deve informar sobre o objeto investigado e conter os objetivos da investigação, suas relações com outros trabalhos da área e os motivos que levaram o(s) autor(es) a empreender a pesquisa. Materiais e Métodos: descrever de modo a permitir que o trabalho possa ser inteiramente repetido por outros pesquisadores. Incluir todas as informações necessárias – ou fazer referências a artigos publicados em outras revistas científicas – para permitir a replicabilidade dos dados coletados. Recomenda-se fortemente que estudos de intervenção apresentem grupo controle e, quando possível, aleatorização da amostra. Resultados: devem ser apresentados de forma breve e concisa. Tabelas, Figuras e Anexos podem ser incluídos quando necessários para garantir melhor e mais efetiva compreensão dos dados. Discussão: o objetivo da discussão é interpretar os resultados e relacioná-los aos conhecimentos já existentes e disponíveis, principalmente àqueles que foram indicados na Introdução do trabalho. As informações dadas anteriormente no texto podem ser citadas, mas não devem ser repetidas em detalhes na discussão. Os artigos de Revisão Sistemática e Metanálises devem incluir uma seção que descreva os métodos empregados para localizar, selecionar, obter, classificar e sintetizar as informações. Agradecimentos Quando apropriados, os agradecimentos poderão ser incluídos, de forma concisa, no final do texto, antes das Referências Bibliográficas, especificando: assistências técnicas, subvenções para a pesquisa e bolsa de estudo e colaboração de pessoas que merecem reconhecimento (aconselhamento e assistência). Os autores são responsáveis pela obtenção da permissão documentada das pessoas cujos nomes constam dos Agradecimentos. Referências Bibliográficas O número recomendado é de, no mínimo, 50 (cinquenta) referências bibliográficas para Artigo de Revisão; 30 (trinta) referências bibliográficas para Artigo Original, Metanálise, Revisão Sistemática e Metodológico. Para Estudos de Caso recomenda-se, no máximo, 10 (dez) referências bibliográficas. As referências bibliográficas devem ser organizadas em sequência numérica, de acordo com a ordem em que forem mencionadas pela primeira vez no texto, seguindo os Requisitos Uniformizados para Manuscritos Submetidos a Jornais Biomédicos, elaborados pelo Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas – ICMJE <http://www.icmje.org/index.html>. Os títulos de periódicos devem ser referidos de forma abreviada, de acordo com a List of Journals do Index Medicus <http://www. index-medicus.com>. As revistas não indexadas não deverão ter seus nomes abreviados. As citações das referências bibliográficas devem ser mencionadas no texto em números sobrescritos (expoente), sem datas. A exatidão das referências bibliográficas constantes no manuscrito e a correta citação no texto são de responsabilidade do(s) autor(es) do manuscrito. (Ver exemplos no site: <http://www.nlm.nih.gov/bsd/uniform_requirements.html>). Tabelas, Figuras e Anexos As Tabelas, Figuras e Anexos são limitados a 5 (cinco) no total. Tabelas: devem incluir apenas os dados imprescindíveis, evitando-se tabelas muito longas, e devem ser numeradas, consecutivamente, com algarismos arábicos e inseridas no final do texto. Título descritivo e legendas devem torná-las compreensíveis, sem necessidade de consulta ao texto do artigo. Não devem ser formatadas com marcadores horizontais nem verticais, apenas necessitam de linhas horizontais para a separação de suas seções principais. Devem ser usados parágrafos ou recuos e espaços verticais e horizontais para agrupar os dados. Figuras: as Figuras não devem repetir os dados já descritos nas Tabelas. Todas devem ser citadas e devem ser numeradas, consecutivamente, em arábico, na ordem em que aparecem no texto. Não é recomendado o uso de cores. As legendas devem torná-las compreensíveis, sem necessidade de consulta ao texto. Digitar todas as legendas em espaço duplo e explicar todos os símbolos e abreviações. Usar letras em caixa-alta (A, B, C, etc.) para identificar as partes individuais de figuras múltiplas. Se possível, todos os símbolos devem aparecer nas legendas; entretanto, símbolos para identificação de curvas em um gráfico podem ser incluídos no corpo de uma figura, desde que isso não dificulte a análise dos dados. Em relação à arte final, todas as Figuras devem estar no formato .tiff. Figuras de baixa qualidade podem resultar em atrasos na aceitação e publicação do artigo. As Tabelas, Figuras e Anexos publicados em outras revistas ou livros devem conter as respectivas referências e o consentimento, por escrito, do autor ou editores. Para artigos submetidos em língua portuguesa, um conjunto adicional em inglês das Tabelas, Figuras, Anexos e suas respectivas legendas deve ser anexado como documento suplementar. Notas de Rodapé As notas de rodapé do texto, se imprescindíveis, devem ser numeradas consecutivamente em sobrescrito no manuscrito e escritas em folha separada, colocada no final do texto. GENERAL INSTRUCTIONS TO AUTHORS APRIL 2009 For manuscript submission (preferably in English), please see EDITORIAL RULES <http://www.scielo.br/revistas/rbfis/iinstruc.htm>. General information The submission of manuscripts must be made through the website http://www.scielo.br/rbfis and implies that the work has neither been published nor is under consideration for publication in another journal. If part of the material has already been presented in a preliminary communication, in a Symposium or Congress, etc., this should be cited as a footnote on the title page and a copy of this communication must accompany the submission of the manuscript. Articles submitted and accepted in Portuguese should be translated into English by Revista Brasileira de Fisioterapia/Brazilian Journal of Physical Therapy (RBF/BJPT) translators. Articles submitted and accepted in English must also be forwarded to RBF/BJPT English reviewers for final revision. As determined by the Editorial Board, the authors are responsible for the costs of English translation and revision of the accepted manuscripts. The RBF/BJPT may subsidize the cost of this process by up to 50%, according to the availability of funds. Form and preparation of manuscripts The RBF/BJPT accepts up to 6 (six) authors in one manuscript. Manuscripts must be submitted preferably in English and must contain up to 3500 words (excluding Abstract, References, Figures, Tables and Appendices). Case Studies must not exceed 1600 words, excluding Abstract, References, Figures, Tables and Appendices. When submitting manuscripts for publication, the authors must forward the following supplementary documents by post or online: 1) Cover letter containing the following information: a) Full name of each of the authors; b) Article type and the main field (see OBJECTIVES, SCOPE AND POLICY); c) Approval number and name of the Institution that gave the Ethics Committee approval for research on humans and experiments on animals. For research on humans, also include a declaration that written consent was obtained from the individuals who participated in the study; d) As described in the OBJECTIVES, SCOPE AND POLICY, manuscripts with results related to clinical trials must include the identification number at the end of the Abstract (Suggested registration website: www.anzctr.org.au/Survey/UserQuestion.aspx); 2) Conflict of interest statement. The authors must disclose any possible conflicts of interest (professional, financial and direct and indirect benefits) that might have influenced research results; 3) A declaration signed by all of the authors stating that they are responsible for the content of the manuscript and that they will transfer copyrights to the RBF/BJPT, should the article be accepted by the Editors. Cover letter and declaration templates are available online at http://www.rbf-bjpt.org.br. Authors must remove all information (except in the title and identification page) that may identify the source or authorship of the article. Manuscript formatting The manuscript must be prepared with all the pages numbered consecutively on the right-hand side of the top margin, starting with the title page. The original articles must be structured in the following order: Title page and Identification (1st page) The identification page must contain the following data: a) Title of the manuscript in capital letters; b) Author: first name and surname of each author, in capital letters, without titles, followed by superscript numbers to identify their institutional affiliation (Unit/Institution/City/State/Country). For more than one author, separate using commas; c) Full name and address. It is the corresponding author’s responsibility to keep the contact address and e-mail up to date for contact; d) Running head for the pages of the article: indicate a short title in Portuguese and in English to be used in the header on each page of the article, not exceeding 60 characters in length; e) Key words: a list of indexing terms or key words (no more than six) in Portuguese and English. The RBF/BJPT recommends the use of HSDe – Health Sciences Descriptors to consult the indexing terms or key words to be used in the article (http://decs.bvs.br/). Abstract A concise presentation not exceeding 250 words in a single paragraph, in Portuguese (Resumo) and English (Abstract) must be inserted immediately after the title page. Footnotes and undefined abbreviations must not be included. If a reference must be cited, the full citation must be included in the abstract. The abstract must be written in structured format, including the following items separately: Background, Objectives, Methods, Results and Conclusions. Body of the text: Introduction, Methods, Results and Discussion Include the following as highlighted item: Introduction: This should give information on the subject of investigation and contain the objectives of the investigation, how it relates to other studies in the same field and the reasons that led the author(s) to follow this line of research; Methods: These should be described in detail so that other researchers can repeat the entire study. All the necessary information should be included (or reference should be made to articles already published in other scientific journals) to allow the replication of the collected data. It is strongly recommended that intervention studies present control groups and, when possible, randomization of the sample. Results: These should be presented briefly and concisely. Tables, Figures and Appendices can be included when necessary to ensure better and more effective comprehension of the data. Discussion: The purpose of the discussion is to interpret the results and relate them to existing and available knowledge, especially the knowledge already indicated in the Introduction of the study. Information given earlier in the text may be cited, but should not be repeated in detail in the Discussion. Systematic Review and Meta-analysis articles must include a section that describes the methods employed for locating, selecting, obtaining, classifying and synthesizing information. Acknowledgements When appropriate, brief acknowledgements can be included at the end of the text and before the References, specifying technical assistance, financial support for the research, study grants, and collaboration from individuals who deserve recognition (counseling and assistance). The authors are responsible for obtaining permission in writing from the individuals whose names appear in the Acknowledgements; References The recommended number of references is at least 50 references for review articles; 30 references for original articles, meta-analyses, systematic reviews and methodological articles. For case studies, no more than 10 references are recommended. References should be organized in numerical order of first appearance in the text, following the Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals, drawn up by the International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE - http://www.icmje. org/index.html). Journal titles should be referred to in abbreviated form, in accordance with the List of Journals of Index Medicus (http://www.index- medicus.com). Non-indexed journals should not have their names abbreviated. Citations should be mentioned in the text as superscript numbers, without dates. The accuracy of the references appearing in the manuscript and their correct citation in the text are the responsibility of the authors of the manuscript. (See examples in the website: http://www.nlm.nih.gov/bsd/uniform_requirements.html). Tables, Figures and Appendices The tables, figures and appendices are limited to a total of five. Tables: must include only indispensable data and must not be excessively long. The tables should be numbered consecutively using Arabic numerals and should be inserted at the end of the text. Descriptive titles and legends must make the tables intelligible without the need to refer to the text of the article. The tables should not be formatted with horizontal or vertical markers; only horizontal lines are needed to separate their main sections. Paragraphs or indentations and vertical and horizontal spaces should be used to group the data. Figures: must not repeat the data described in the Tables. All figures must be cited and numbered consecutively using Arabic numerals in the order in which they appear in the text. The use of color is not recommended. The legends should make the figures intelligible, with no need to refer to the text. They must be double spaced and explain all symbols and abbreviations. Use uppercase letters (A, B, C, etc.) to identify the individual parts of multiple figures. When possible, all the symbols should appear in the legends. However, symbols identifying curves in a graph can be included in the body of the figure, provided this does not hinder the analysis of the data. With regard to final artwork, all figures must be in .tiff format. Poor-quality figures may result in delays in the acceptance and publication of the article. Tables, figures and appendices published in other journals or books must include the respective references and written consent from the authors or editors. For articles submitted in Portuguese, an additional set of tables, figures and appendices with English legends must be included as a supplementary document. Footnotes If absolutely necessary, footnotes should be consecutively numbered as superscripts in the manuscript and placed on a separate page after the references. PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA REABILITAÇÃO MESTRADO E DOUTORADO Recomendado pela CAPES – Conceito 5 O Programa de Pós-graduação em Ciências da Reabilitação tem como base a perspectiva apresentada no modelo proposto pela Organização Mundial de Saúde e propõe que as dissertações e trabalhos científicos desenvolvidos estejam relacionados com o desempenho funcional humano. Com a utilização de um modelo internacional, espera-se estimular o desenvolvimento de pesquisas que possam contribuir para uma melhor compreensão do processo de função e disfunção humana, contribuir para a organização da informação e estimular a produção científica numa estrutura conceitual mundialmente reconhecida. O Programa de Pós-graduação em Ciências da Reabilitação tem como objetivo tanto formar como aprofundar o conhecimento profissional e acadêmico, possibilitando ao aluno desenvolver habilidades para a condução de pesquisas na área de desempenho funcional humano. O programa conta com parcerias nacionais e internacionais sedimentadas, e os seus laboratórios de pesquisa contam com equipamentos de ponta para o desenvolvimento de estudos na área de Ciências da Reabilitação. Maiores informações Fone/Fax: (31) 3409-4781 www.eef.ufmg.br/mreab Universidade Federal de São Carlos Programa de Pós Graduação em Fisioterapia - PPGFt Coordenador: Prof. Dr. Maurício Jamami Vice-Coordenadora: Prof.ª Dr.ª Stela M. Mattiello G. Rosa Apresentação do Programa O Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia (PPGFt) - Nível Mestrado e Doutorado Stricto Sensu tem como área de concentração "Processos de Avaliação e Intervenção em Fisioterapia". O Mestrado foi criado em 18/10/1996 pela Universidade Federal de São Carlos (São Carlos-SP) e recomendado pela CAPES em 19/12/1996. O Doutorado foi recomendado em 14/12/2001. Ambos os cursos foram os primeiros criados na área de Fisioterapia no país. Este programa tem como objetivo oferecer condições acadêmicas necessárias para que o aluno adquira um repertório teórico e metodológico, tornando-se apto a exercer as atividades de docente de nível universitário e iniciá-lo na carreira de pesquisador. Linhas de Pesquisas: Instrumentação e Análise Cinesiológica e Biomecânica do Movimento Processos Básicos, Desenvolvimento e Recuperação Funcional do Sistema Nervoso Central Processos de Avaliação e Intervenção em Fisioterapia Cardiovascular e Respiratória Processos de Avaliação e Intervenção em Fisioterapia do Sistema Músculo-Esquelético Recomendado pela CAPES – conceito 5 Informações Rod. Washington Luiz, Km 235. São Carlos - SP. CEP 13.565-905 - Cx Postal 676. Fone: (16) 3351-8448 Email: [email protected] Secretaria da Pós-Graduação: localiza-se na rua das Suindaras no prédio do CCBS, 2º andar, Área Norte. Site: WWW.ufscar.br/~ppgft