O JOGO DE XADREZ MODIFICA A ESCOLA

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O JOGO DE XADREZ MODIFICA A ESCOLA
Diálogos Acadêmicos - Revista Eletrônica da faculdade Semar/Unicastelo
O JOGO DE XADREZ MODIFICA A ESCOLA: Por que se deve
aprender xadrez e tê-lo como eixo integrador no currículo escolar?
Lays Pedro Angélico1.
Luciana Cristina Porfírio 2.
RESUMO
O presente estudo evidencia a importância do ensino sistemático do jogo de xadrez no
Ensino Básico, como eixo integrador do currículo escolar, na medida em que se constatou
que sua prática no cotidiano das escolas tem influenciado comportamentos em seus
praticantes, contribuindo de modo positivo para o desenvolvimento cognitivo de crianças e
adolescentes. Para tanto, ele foi concebido como eixo integrador do currículo escolar e não
como aparato extracurricular ou ludoterápico como freqüentemente ocorre em muitas
escolas. Neste trabalho desenvolvemos e destacamos a sua importância e a maneira como
ele influencia os demais campos do conhecimento. Para que possa desempenhar suas
múltiplas funções, o jogo de xadrez precisa ser inserido como uma disciplina regular do
currículo desde a educação infantil, o que exige, em contrapartida, a adequação das escolas
nos aspectos humanos, culturais, estruturais, físicos e materiais. A escolha e a formação
dos profissionais da escola terão que ser uma constante para que possam de modo coletivo
e permanente, discutir novas propostas para o trabalho com o jogo nestes moldes.
Palavras-Chave: Ensino; Currículo escolar; Formação do caráter; Desenvolvimento
cognitivo; Atividade Intelectual; Jogo de Xadrez.
THE CHESS GAME MODIFIES THE SCHOOL: Why if it must learn
chess and have it as axle integrator in the pertaining to school resume?
ABSTRACT
The present study it evidences the importance of the systematic education of the game of
chess in Basic school, as axle integrator of the pertaining to school resume, in the measure
where if it evidenced that its practical insertion in the daily one of the schools, has influenced
behaviors in its practitioners, contributing in positive way for the cognitive development of
children and adolescents. For in such a way, it was conceived as axle integrator of the
pertaining to school resume and not as extracurricular or ludoterápico apparatus, something
very frequent in the schools. But we develop and we detach its importance and the way here
as the game influences the too much fields of the knowledge. So that it can play its multiple
functions, the necessary game of chess to be inserted as one disciplines to regulate of the
resume since the infantile education, what it demands, on the other hand, the adequacy of
the schools in human, cultural, structural, physical and material the aspects. The choice and
the formation of the professionals of the school will have that to be a constant so that they
can in collective and permanent way, to argue new proposals for the work with the game in
these molds.
Key-words: Education; pertaining to school Resume; Formation of the character; cognitive
Development; Intellectual Activity; Game of Chess.
1
Pedagoga formada pela FNSA, professora efetiva da rede municipal de Sertãozinho na área de
Educação Infantil e fundamental. Especialização em psicopedagogia pela Semar-Unicastelo. e-mail:
[email protected]
2
Pedagoga, mestre em Educação Escolar pela Unesp-Araraquara. Doutoranda da FE-USP. Atua
como professora do ensino fundamental e Superior. E-mail: [email protected]
Publicação Quadrimestral - Volume 1 – Numero 1. Edição Outubro/Janeiro de 2010
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INTRODUÇÃO
O presente artigo é parte de um trabalho de conclusão de curso defendido
em dezembro de 2008 na Faculdade de Filosofia Nossa Senhora Aparecida
SEMAR/Unicastelo e buscou trazer a importância do Jogo de Xadrez como eixo
integrador do currículo na educação básica. Para tanto, apresentaram-se algumas
características deste jogo desde suas origens, modos de jogar até a explicitação de
como ele influencia e auxilia na aprendizagem dos conteúdos escolares.
A tirinha usada como epígrafe nesta pesquisa traz a tona uma das primeiras
questões que envolvem o jogo de xadrez, a sua associação com o desenvolvimento
da inteligência humana. Há mais de dois séculos, o alemão Johann Wolfgang
Goethe (1749-1832) definiu o xadrez como sendo um “excelente exercício mental” e,
desde então, vários estudos têm se ocupado de investigar a relação existente entre
este jogo e o desenvolvimento da inteligência humana. Na referida pesquisa,
entrevistas realizadas com enxadristas e professores permitiram confirmar nossas
hipóteses sobre sua importância na formação do caráter e no desenvolvimento da
inteligência das pessoas.
Muito se fala sobre o jogo de xadrez e seus usos na educação, mas sua
introdução no âmbito escolar exige a criação de algumas condições ainda não
existentes em boa parte das escolas. Isso porque, muitas o têm utilizado como
aparato extracurricular ou atividades ludoterápicas nas aulas de Educação Física.
Sem desconsiderar tais práticas, pretendemos aqui apresentar a sua utilização sob
um outro prisma.
Lasker (1999) acredita que a história da invenção do xadrez e de suas
migrações através da terra, por si só, já é interessante, porque quando conhecemos
as pessoas que foram apaixonadas por esse jogo, percebemos que somos muito
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parecidos com ela, compartilhamos com elas as mesmas emoções e criamos
vínculos identitários que são um reforço positivo no caráter humano. De acordo com
esse autor, não se sabe ao certo onde o xadrez começou, mas há muitas histórias,
mitos e lendas a seu respeito, o que nos permite fazer um sem número de
digressões.
Uma das histórias mais conhecidas sobre sua origem está descrita no livro
História do Xadrez de Edward Lasker, citado anteriormente, que atribuiu a invenção
do jogo a Sissa, um brâmane3 na corte do rajá indiano Balhait. Assim, essa história
teria sido contada, pela primeira vez há mais de mil anos e dizia que certo rei pediu
a um de seus sábios que criasse um jogo capaz de mostrar o valor de qualidades
como a prudência, a diligência, a visão e o conhecimento, como forma de se opor
aos sentidos fatalistas de um outro jogo, o nard (gamão) 4, cujos resultados eram
decididos pela sorte.
Sissa então, apresentou ao rei Kaíde um tabuleiro de xadrez, não muito
diferente do que conhecemos hoje, com quatro elementos que representavam o
exército indiano, explicando-lhe que havia escolhido a guerra como modelo para o
jogo porque ela era a escola mais eficiente no ensino e aprendizado de
determinados valores, tais como: o valor da decisão, do vigor, da persistência, da
ponderação e da coragem. O rei, diante de tanta complexidade, ficou encantado
com o jogo e ordenou que fosse preservado nos templos, considerando seus
princípios como o fundamento de toda justiça e sustentando que ele era o melhor
treinamento na arte da guerra.
3
Sacerdote indiano pertencia à casta mais alta da sociedade, em sentido literal, o termo significa
"aquele que realizou / tenta realizar Brahman - a divindade" e por isso, gozavam de posição muito
privilegiada independentemente da riqueza que possuíam. De acordo com informações obtidas na
enciclopédia wikipédia on-line, a maioria dos brâmanes ficou conhecida por praticarem um
vegetarianismo rígido, apesar de, atualmente, a prática ser baseada de acordo com a região.
Brâmanes agindo como padres, mas em poucas exceções, são vegetarianos.
4
Atribui-se a origem do jogo a civilização suméria, da Mesopotâmia. Já outros estudiosos afirmam
que este jogo teria sua origem no “Pachisi”, um jogo indiano. De qualquer forma, sua origem é muito
antiga. Suas regras obviamente, foram se modificando ao longo dos séculos. Mas nunca deixou de
encantar as gerações e as civilizações que o conheceram. Uma lenda indiana afirma que teria sido o
jogo inventado por um sábio de nome Caflan, e teria a seguinte simbologia: 24 flechas que
simbolizariam as horas do dia; 12 flechas de cada lado do tabuleiro, representando os 12 meses do
ano e os signos do zodíaco; 30 peças para os 30 dias do mês; dois dados representando o dia e a
noite e 7 (soma dos valores opostos de cada face de um dado) representando os dias da semana. As
informações foram extraídas do sitio: http://www.jogos.antigos.nom.br/gamao.asp (acesso em
12/12/2008).
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A partir daí, o rei teria lhe oferecido uma recompensa que ela escolheria de
livre arbítrio e Sissa teria pedido, diante da insistência do rei, a retribuição em grãos
de milho distribuídos sobre o tabuleiro de xadrez da seguinte forma: “na primeira
casa, um grão; na segunda, dois; na terceira, quatro; na quarta o dobro de quatro; e
assim por diante, até a última casa”. (Lasker, 1999, p.30).
Contudo, ao ordenar que o pedido fosse realizado o rei se surpreendeu, afinal
não seria possível realizar o pedido de Sissa, pois, antes mesmo de chegar na
trigésima casa, todo milho da Índia teria se esgotado, cobrindo a camada da Terra
com
uma
espessura
de
9
(nove)
polegadas.
O
número
exato
seria
18.446.744.073.709.551.615 (Dezoito Quintilhões, Quatrocentos e Quarenta e Seis
Quatrilhões, Setecentos e Quarenta e Quatro trilhões, Setenta e Três Bilhões,
Setecentos e Nove milhões, Quinhentos e Cinqüenta e Um Mil, Seiscentos e
Quinze) grãos de milho, ou 2 64 - 1. Desse modo, o rei ficou confuso, porque não
sabia o quê exatamente tinha que admirar a invenção do jogo ou a engenhosidade
do pedido de Sissa. (op.cit., p.30).
Lasker (1999) admite em sua obra que o jogo de xadrez possa datar do
século IV antes de Cristo5, embora a primeira menção ao xadrez feita na Literatura,
tenha sido mil anos mais tarde. Da Índia, até a Pérsia, da Arábia até a Europa, por
todo território asiático, o xadrez se estendeu através dos viajantes, embora tenha
sofrido algumas modificações em alguns pontos do Oriente. A rapidez com que o
xadrez penetrou na Europa foi realmente instigante, porque no fim do século XI, a
maior parte desse território já conhecia o jogo, embora, por muito tempo tenha
permanecido como um jogo das classes ociosas. Muitos foram às contribuições para
essa difusão do jogo no mundo.
“Era muito natural que os servos no castelo de um cavaleiro
medieval aprendessem o jogo com seu senhor e que soldados
mercenários adquirissem o mesmo conhecimento por ocasião das
Cruzadas, que os nobres organizavam de tempos em tempos a
fim de atenuar seu tédio”. (Op.cit. p. 59)
De qualquer modo, e independente de suas origens, o jogo de xadrez tem
múltiplos usos na educação escolar, entre as suas possibilidades, pode-se
acrescentar a sua apresentação aos alunos como tema transversal, enriquecendo
suas aprendizagens e permeando a prática educativa em diversas áreas ou mesmo
5
Esta teoria foi apresentada pela primeira vez por Donald M. Liddel (1937).
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inserindo-o como disciplina desde as séries iniciais. Em 20 de dezembro de 1996, a
Lei n. 9.394, conhecida estabeleceu as diretrizes e bases da educação nacional,
cujos artigos 26 e 27, incluem o xadrez nas escolas, na parte diversificada dos
currículos e também na parte consagrada à promoção do desporto.
O artigo 32 dispõe que o ensino fundamental terá por objetivo a formação
básica do cidadão a partir do desenvolvimento de sua capacidade de aprender,
tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, escrita e do cálculo, com
vistas a:
II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político,
da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a
sociedade;
III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em
vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de
atitudes e valores;
IV - o fortalecimento de vínculos de família, dos laços de
solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a
vida social.
Acreditamos que estes objetivos podem ser plenamente alcançados por
meio da inserção do jogo de xadrez como disciplina escolar, desde que implantada
no currículo desde as séries iniciais, começando ainda na Educação Infantil. Essa
eficácia do jogo de xadrez e a influência que tem sobre o desenvolvimento e
comportamento estudantil é algo que pode ser mensurado por pesquisas utilizadas
no campo das ciências cognitivas.
Há estudos que mostraram as etapas da formação da inteligência, a partir da
observação de grupos de crianças jogando xadrez e constatou-se que os avanços
obtidos nas diversas etapas seguiam ritmos diferentes. O xadrez, ao ser introduzido
na sala de aula, auxilia no desenvolvimento de autoconfiança, porque os alunos têm
a oportunidade de aprenderem o jogo, avançando gradativamente em suas
habilidades e melhorando suas estratégias e raciocínios. Ao se destacarem ou
perceberem que são capazes de exercer uma atividade dessa natureza, podem, de
modo paralelo, progredir em outras disciplinas escolares.
O XADREZ: O QUE É?
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Mas como é exatamente o jogo de xadrez? A resposta a essa pergunta,
pode ser encontrada na enciclopédia on-line Wikipédia 6que descreve o jogo para
aqueles que não o conhecem, nem as suas especificações. Trata-se de um jogo de
tabuleiro para dois jogadores. Um controlador das peças brancas e o outro das
peças pretas. O tabuleiro contém oito linhas e oito colunas, formando 64 (sessenta e
quatro) quadrados, sendo 32 (trinta e dois) claros e 32 (trinta e dois) escuros,
dispostos de modo alternados. Cada jogador possui 16 peças: oito peões, dois
cavalos, dois bispos, duas torres, um rei e uma dama (ou rainha, mais conhecido
pelos iniciantes), como mostra a figura 7.
Figura 1 – Posição Inicial das Peças
Cada tipo de peça possui um movimento característico. Quando uma peça
for movida para uma casa em que está localizada a peça adversária, esta última
será capturada. Assim, a peça a ser jogada move-se para casa do oponente, e a
peça do oponente é retirada do tabuleiro. O REI move-se ou captura peças em
qualquer sentido, uma casa de cada vez. Os reis nunca podem se tocar. Atenção: O
rei é a única peça que não pode ser capturada8.
A DAMA move-se ou captura em qualquer sentido, quantas casas quiserem
desde que seu caminho não esteja obstruído por alguma peça da mesma cor. A
TORRE move-se ou captura nas linhas e colunas (horizontal e vertical), seguindo
num único sentido em cada lance.
6
Informações retiradas de dicionário on-line http://pt.wikipedia.org/wiki/Xadrez .
Figura 1, extraída do site www.google.com.br/imagens, acessado em 28/10/2008.
8
Mais detalhes em Xeque e Xeque-Mate.
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O BISPO move-se ou captura pelas diagonais, seguindo num único sentido
em cada lance. Cada jogador tem dois bispos: um anda pelas casas pretas e outro
pelas casas brancas. O CAVALO é o único que salta sobre as peças (pretas ou
brancas). O movimento do cavalo assemelha-se à letra "L", formada por quatro
casas.
O PEÃO move-se para a casa à sua frente, desde que não esteja ocupada.
Ao ser movido pela primeira vez, cada peão pode andar uma ou duas casas. O peão
é a única peça que captura de maneira diferente do seu movimento. A captura é
feita sempre em diagonal, uma casa apenas. O peão nunca se move nem captura
para trás.
O objetivo do jogo é dar xeque-mate ao Rei adversário, que ocorre quando o
rei adversário está em xeque9 e não exista mais nenhum movimento a ser realizado
para escapar. O rei está em xeque sempre que é atacado por uma peça adversária;
o xeque deve ser defendido através da melhor das opções:
1. Capturar a peça que dá xeque,
2. Fugir com o rei para uma casa que não esteja sendo
atacada por peça adversária,
3. Interpor uma peça própria entre o rei e a peça que dá o
xeque.
Se nenhuma das alternativas for possível, o rei estará em posição de xeque10
mate , ou simplesmente, mate. Neste caso, a partida estará terminada, com a
vitória do enxadrista que deu o mate. Veja na figura
11
os exemplos de mate que
apresentamos:
9
Xeque: Lance no jogo do xadrez, que consiste em colocar o rei adversário em posição de ser
tomado na jogada seguinte, obrigando o adversário a efetuar uma jogada a contrariar esse ataque.
10
Xeque-mate: xeque (no jogo do xadrez) em que o rei não pode ser defendido por nenhuma outra
peça nem se mover para nenhuma outra casa, sem ser tomado por uma peça do adversário, o que
conclui a partida a favor deste.
11
Fonte: www.xadrezregional.com.br , acessado em 28/10/2008.
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Exemplo 1
Exemplo 2
O jogo também possui alguns movimentos conhecidos como especiais, são
eles: o ROQUE12, PROMOÇÃO13 e EN PASSANT14. Os exemplos do roque seguem
nas figuras abaixo:
Roque pequeno (antes).
Roque pequeno (depois)
Roque Grande (antes)
Roque Grande (depois)
O jogo de xadrez não é um jogo de azar, mas sim de um jogo de regras,
táticas e estratégias, muito conhecido pela complexidade de suas jogadas e daí,
Roque é o único lance que envolve o movimento de duas peças ao mesmo tempo: rei e torre. O
roque tem como objetivo colocar o rei em maior segurança e uma das torres em posição mais ativa.
Há dois tipos de roque: o pequeno e o grande.
13
Ocorre quando um peão chega à primeira linha do adversário, devendo ser imediatamente
substituído por dama, torre, bispo ou cavalo. A peça escolhida ocupara a casa em que o peão se
encontrava quando foi promovido.
14
(de passagem) é um tipo especial de captura feita somente pelos peões brancos que estiverem na
quinta linha ou pelos peões pretos que estiverem na quarta linha do tabuleiro.
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como mostrou a tirinha de Mauricio de Sousa, ele estar associado à inteligência.
Estima-se que o número de posições legais no xadrez é de aproximadamente 1.043,
porém o número de jogadas possíveis é incontável, uma vez que há
aproximadamente 170 Setilhões15 de maneiras de fazer os dez primeiros lances
numa partida de xadrez.
Retomando Lasker (1999) e a importância do jogo de xadrez para o
desenvolvimento da inteligência humana, destacamos a resposta de dois lideres
comerciais apaixonados pelo jogo de xadrez:
“Dois conhecidos líderes comerciais deram-me respostas quase
idênticas. Disseram que era porque o xadrez limitava o elemento
de sorte e acentuava a importância do planejamento. Um músico
escreveu que para ele o xadrez era como a própria vida: ensinavao a coordenar a razão com o instinto. Um matemático apreciava o
elemento estético do jogo; encontrava numa série de movimentos
sutis a mesma emoção que um belo teorema”. (op. cit. p.11)
Na realidade, não é preciso saber jogar xadrez para conhecer o fascínio que
ele exerce em vários aspectos. Estamos, contudo, querendo mostrar que esse jogo
tem muitas vantagens e merece ser inserido de modo sistematizado no ensino
escolar, mas cuja prática deve extrapolar os tradicionais campeonatos destinados
exclusivamente a treinar, competir, ganhar, este é um dos seus aspectos, mas
evidentemente, há outros.
AS CARACTERISTICAS DO JOGO E IMPLICAÇÕES NA PRÁTICA EDUCATIVA
E comum quando ouvimos falar em jogo de xadrez vir a nossa mente, a
imagem de duas pessoas sentadas e compenetradas diante de um tabuleiro que
está sendo minuciosamente analisado pelos jogadores, em volta só o silêncio, para
que haja concentração e os adversários possam escolher a melhor jogada e dar o
xeque-mate.
É devido a essa visão que costumamos imaginar o enxadrista como um ser
de capacidade intelectual elevada. Isso será verdade? Por que os jovens deveriam
aprender a praticá-lo? Apenas por esse motivo? A resposta a esse questionamento
será dada a partir da discussão das possibilidades que esse jogo mobiliza para
promover aprendizagens significativas.
15
Extraído de http://pt.wikipedia.org/wiki/Xadrez .
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Um simples jogo ou algo mais? É dessa forma que se inicia o levantamento
realizado por Llada (2003) destacando que esse jogo é unanimemente considerado
como uma forma de aprofundamento intelectual e uma poderosa ferramenta
educativa. Para ela, habilidades ligadas ao cálculo, a concentração, memorização,
responsabilidade, tomada de decisões, são algumas delas que o jogo de xadrez na
infância favorece.
Constatamos no decorrer deste trabalho que o jogo envolve a leitura e a
incorporação de regras, métodos e fundamentos que os orientam, seja a relação do
jogador com o jogo, seja pela relação entre jogadores cujas regras, precisam ser
seguidas para que o jogo se realize. Nesse sentido é um orientador de condutas que
precisam ser compartilhadas por todos os envolvidos, o que implica intervir na
formação do individuo tanto em uma dimensão individual quanto coletiva,
permanecendo ligados tanto à cognição (conhecimento) quanto ao afeto
(sentimentos), por meio da interação promovida entre os pares de jogadores.
A dimensão pessoal envolve esse aprendizado das regras e auxilia na
solução de problemas, no desenvolvimento da autonomia, criatividade, controle
sobre as emoções, principalmente a agressividade, a importância do planejar antes
de tomar as decisões, e no caso deste jogo em especial, a decisão mais acertada,
etc. Além destas o jogo também estimula alguns valores muito caro aos seres
humanos e fundamentais para a vida de qualquer estudante, entre as quais a
disciplina, a paciência e a responsabilidade.
Os Mestres Internacionais Toledo e Loureiro (2005)
16
ao citar Charles
Partos17 em jornal on-line da Federação Paulista de Xadrez, em setembro do citado
ano, afirmam que o aprendizado do xadrez deve ser levado as escolas porque
desenvolvem as habilidades de atenção e concentração, julgamento e planejamento;
imaginação e antecipação; memória; vontade de vencer, paciência e autocontrole;
espírito de decisão e coragem; lógica matemática, raciocínio analítico e sintético;
criatividade; inteligência; organização metódica do estudo e o interesse pelas
línguas estrangeiras.
É por isto que eles também defendem sua implantação dentro das escolas
desde que de modo sistemático, interdisciplinar e integrado ao currículo escolar,
16
Disponível em: http://www.fpx.com.br/mostracol.asp?colid=75
Mestre internacional e professor do Departamento da Instrução Pública do Cantão do Valais
(Suíça).
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inclusive como uma forma de atender os dispositivos postos na LDB/96, que o
integra ao currículo na parte diversificada como dito no inicio deste texto. Nesse
sentido, além de ser um eixo integrador do currículo escolar, consideramos o jogo
uma valiosa ferramenta para auxiliar os processos cognitivos, valorativos, éticos e
morais de nossos alunos.
Uma das queixas que mais afligem os educadores, ao menos aqueles
preocupados com o rendimento escolar dos seus alunos, é a dispersão sofrida pelos
alunos, que atualmente vivem num contexto social estimulante, carregado de
informações instantâneas (televisão, computadores, vídeos-game, propagandas de
rádio, outdoors, etc.)
18
, impedem que os jovens mantenham sua concentração em
alguma coisa por muito tempo. Desse modo, quando se deparam com atividades
que exigem esforço mental, muitos encontram problemas para realizar tais tarefas. O
xadrez de uma forma lúdica seria um excelente treinamento desta capacidade de se
concentrar, auxiliando os alunos no desenvolvimento da disciplina, entendida como
atividade intelectual ou motivação interior19, e tão necessária para o investimento nos
estudos.
Os jogos de estratégias, como o xadrez, aparecem ainda como um jogo que
favorece a capacidade de aceitação das regras, desenvolvimento da memória,
agilidade no raciocínio, o gosto pelo desafio e a construção de regras pessoais, que
possibilitam desenvolver as competências necessárias para a resolução de
problemas.
Ferreira (s/d. p.3) afirma que estes jogos “contribuem para o
desenvolvimento de capacidades matemáticas, aliando o raciocínio, a estratégia e a reflexão
com o desafio da competição de uma forma lúdica e os professores devem aproveitar isso
para otimizar as aprendizagens”.
Investigações sobre o efeito do jogo de xadrez em crianças revelam que os
jogadores de xadrez desenvolvem maior pensamento crítico, autoconfiança, autoestima, concentração, empatia e a capacidade de resolver problemas. Jogar xadrez
implica a utilização do pensamento lógico. Estudiosos como Ferreira, Jeffrey Chesin
(2003), fazem uma relação entre o raciocínio matemático e o jogar xadrez.
18
Ainda que existam muitas pessoas que defendam que esses estímulos audiovisuais sejam aliados no
desenvolvimento da inteligência, sabemos que não é bem assim, porque a maioria destes eletrônicos exige
apenas a memorização de uma série de comandos, exigindo apenas essa habilidade além da motora com as mãos,
como no caso do videogame.
19
Tal como definido por Helena Coharik Chamlian. A Disciplina: uma questão crucial na didática. Referencia
completa no final do artigo.
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“Os bons jogadores de xadrez são provavelmente bons alunos e
matemática ou qualquer situação que envolva a resolução de
problemas. No entanto, bons alunos de matemática não são
necessariamente bons jogadores de xadrez”. (p.4)
Os autores evidenciam que estudos realizados em diversos locais do
mundo, como no Canadá, por exemplo, buscam demonstrar que a utilização do
xadrez no ensino da lógica aumenta-se de 62% para 81% a capacidade de
resolução de problemas. Na Califórnia, em 1985, os estudos de George Stephenson,
revelaram que o desempenho dos estudantes melhora sensivelmente após vinte
dias de jogos de xadrez constatando os resultados que seguem:
Rendimento
Acadêmico
Comportamento
Esforço
Concentração
Auto-estima
55%
62%
59%
56%
55%
Na Venezuela relacionam a melhoria dos scores de QI após quatro meses e
meio de estudo sistemático de xadrez. A psicóloga Edelmira Garcia la Rosa (2003)
20
, responsável pelo programa de xadrez iniciado em 1980, desta a sua intervenção
na busca de melhorias do rendimento dos alunos, concluindo que “O xadrez
ensinado metodicamente constitui um sistema de estimulação intelectual capaz de
aumentar o Q.I. das crianças”, e, além disso, que “o aluno adquire através da
aprendizagem e prática enxadrística, um método de raciocínio e de organização das
relações abstratas e dos elementos simbólicos”. (p.1).
Ferreira (2003, p. 4) faz um trocadilho “o xadrez torna as crianças
inteligentes ou são as crianças inteligente que jogam xadrez?” e desse modo,
discute as possibilidades do jogo de xadrez ter contribuído para o QI dos estudantes,
afirmando que durante uma competição, só o fato de imaginar as possíveis posições
das peças, isto já traz para o cérebro humano, o desenvolvimento das capacidades
visuais e espaciais.
Experiências feitas por Joyce Brow (1981) em Nova Iorque constataram uma
melhora considerável no comportamento dos alunos – 60 % menos incidentes e
20
Disponível no sitio: www.ludus.esp.br (acesso em 28/10/2008)
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suspensões, melhoras significativas de até 50% no aproveitamento escolar. Assim, a
autora questionou-se por que o xadrez oportunizaria tais transformações? Pode-se
cogitar que deva ser pelo fato de ele favorecer uma atitude positiva do estudante em
relação ao jogo, desenvolvendo nele a capacidade de se concentrar além de lhe
garantir a aquisição de outros conhecimentos pelo desenvolvimento de habilidades
que acabam sendo incorporadas em suas atividades escolares.
De acordo com Goulart (2005) é na idade escolar que a criança necessita
agrupar-se para praticar várias atividades, sendo o jogo uma delas. Sabe-se que o
jogo é um instrumento altamente didático e muitos estudos discutem sua utilização
na educação. Porém, o xadrez, em especial, poderia ser trabalhado não só como um
suporte pedagógico, mas como uma disciplina regular e posta no currículo escolar
de base comum. Isto porque, normalmente ele é vinculado a atividades opcionais e
extracurriculares, mas, se eles proporcionam tantas competências, por que não
adequar esse jogo e torná-lo parte integrante do currículo? Como dissemos
anteriormente, desde a educação infantil, sua prática deve ser estimulada.
Mesmo que a proposta amplie a grade curricular das escolas, isto não
significa que outras disciplinas sejam prejudicadas, ao contrário, seriam beneficiadas
porque contribuiriam para melhorar o rendimento dos alunos em todas as outras.
Para Calmbach (s/d)
21
, a preocupação dos professores atualmente não é só
transmitir conteúdos, mas criar condições para que a autonomia, o pensamento
crítico e a capacidade de resolver problemas, que freqüentemente aparecem em
nosso cotidiano, sejam resolvidos e, é nesse ponto que o jogo de xadrez, inserido na
grade curricular desde os anos iniciais de escolarização pode contribuir e atuar.
Trindade (2007), diz ser considerável o valor pedagógico do jogo de xadrez
para promover a educação crítica e ativa da criança e do jovem, um aspecto tão
valorizado na educação moderna, contribuindo para o desenvolvimento cooperativo
e emocional de seus praticantes quando tem seu uso pedagógico-didático bem
orientado e conduzido, principalmente por profissionais especializados para
exercerem tal função. Informações obtidas no sitio do clube de xadrez
22
, e mesmo
nas entrevistas coletadas para o trabalho original, confirmam que o maior mérito
deste jogo consiste na progressão de cada aluno de acordo com seu ritmo,
21
22
Disponível em: www.apetx.org.br/aplicando_o_xadrez_escolar.htm (acesso em 31/07/2008).
Para acesso: www.clubedexadrez.com.br/portal/cxtoledo/artigo4.htm (acesso em 14/05/2008)
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respeitando individualidades e processos de aprendizagens que na realidade é uma
das teses mais cara da educação.
Piasse (2005), acredita que as escolas deveriam diversificar e ampliar suas
grades curriculares, introduzindo o jogo de xadrez, por exemplo, com vistas à
melhoria da educação e da formação dos alunos utilizando instrumentos de
aprofundamento das atividades intelectuais. Entretanto, reconhece que sua inserção
nos meios escolares requer preparo e domínio de todos os envolvidos, para que não
seja cometido o erro de fazê-lo como jogo, diversão, campeonatos, visando atrativos
financeiros e, portanto, diluindo os benefícios que sua prática, nos moldes
propostos, pode trazer.
Julião (2009) salienta que nesta busca por melhorias, o ensino de xadrez,
incorporado como disciplina regular, de modo sistemático surge como uma ótima
opção, unindo o espírito inovador das instituições educacionais e a forte imagem de
intelectualidade que esse esporte arte oferece. Para ele, a escola que adotar esta
idéia estará, com certeza, acrescentando em sua instituição um diferencial,
exercendo amplamente seu papel na sociedade e fazendo jus à sua função básica:
formar cidadãos, numa clara demonstração de responsabilidade educacional com
qualidade.
Pimenta (2008) aborda esse assunto e ressalta ser do conhecimento de
todos, que o xadrez vem a enriquecer não só o nível cultural dos indivíduos, mas
também várias outras capacidades apontadas, e uma outra, não menos essencial
para o convívio social, o aprendizado na vitória e na derrota, salientando que:
“O ensino e a prática do xadrez têm relevante importância
pedagógica, na medida em que tal procedimento implica, entre
outros, no exercício da sociabilidade, do raciocínio analítico e
sintético, da memória, da autoconfiança e da organização
metódica e estratégica do estudo. O jogador de xadrez,
constantemente exposto a situações em que precisa efetivamente
olhar, avaliar e entender a realidade pode mais facilmente,
aprender a planejar adequada e equilibradamente, a aceitar
pontos de vista diversos, a discutir questionários e compreender
limites e valores estabelecidos e a vivenciar a riqueza das
experiências de flexibilidade e reversibilidade de pensamentos e
posturas”. (op. cit. p.4)
Loureiro (2001), ao retratar o valor educativo do xadrez, discorre sobre as
habilidades especificas (imaginação, memória, visualização) e gerais (perseverança,
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capacidade de estudo, autoconhecimento, motivação, etc) geradas pela prática do
jogo. Pedagogicamente, o xadrez tem elevado conceito, fazendo parte do currículo
escolar básico e do aprimoramento complementar em dezenas de paises, entre eles:
Angola, Canadá, Cuba, Hungria, Israel, Iugoslávia, Alemanha, Tunísia, Rússia, entre
outros.
Retomando Calmbach (s/d) o xadrez escolar é uma matéria que ensina
técnicas de resolver problemas de grande complexidade, com a finalidade de
aprimorar a capacidade de raciocínio e contribuir para o aprendizado das matérias
de cunho cientifico e cultural. O xadrez estimula às crianças a solucionar problemas
e a passar maior parte do seu tempo jogando tranqüilamente, explicando que,
crianças que não ficariam por mais de quinze minutos quietas em uma sala de aula,
conseguem, de modo impressionante, permanecer durante horas envolvidas por
esse jogo:
“Desta forma o xadrez é um grande manancial
estimulador de pesquisa e do conhecimento e se encaixa
perfeitamente na concepção piagetiana a respeito dos
jogos de exercício e simbólico. Vygotsky e os cientistas
da escola russa, ao proporem a introdução do jogo nas
escolas mostraram quais são as características principais
que os jogos devem possuir para serem bons recursos
didáticos”. (op.cit. p. 3)
Podemos dizer que a psicologia proposta por Vygotsky acerca dos jogos e
sua utilização nas escolas se encaixam perfeitamente para xadrez porque confere
significados diferentes aos objetos utilizados. O tabuleiro representa o campo de
batalha e as peças os dois exércitos que se confrontarão e ainda oferece uma
situação imaginária em que o objetivo maior é conquistar o rei adversário, trazendo
algumas ações representativas da sociedade, tais como o respeito às regras, das
peças com movimentos diferentes e dos próprios jogadores que precisam aguardar
a sua vez de jogar, mesmo que isso leve um tempo por parte do outro que está
analisando para saber qual a melhor estratégia para vencer.
Christofoletti (2005) salienta que embora o jogo de xadrez, seja praticado em
duplas, cada um dos jogadores, deverá tomar uma decisão sobre a jogada de modo
individual, o que favorece autoconfiança na tomada de decisões. Mesmo nas
competições por equipe, cada jogador tem o seu tabuleiro, e não pode ser orientado
durante a partida, cabendo somente a ele tomar as decisões e arcar com os
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resultados. Afirma ainda, que vem aumentando a participação de crianças neste
jogo, com o apoio das escolas que oferecem este tipo de atividade, e diz que
quando bons hábitos são desenvolvidos desde a infância, e assimilados facilmente.
Muitas vezes as crianças não sabem utilizar a capacidade de análise, pois
não foram devidamente estimuladas para isso, a não ser pela via da memorização
mecânica. Dessa forma quando se deparam com textos diferentes, sentem-se
inseguras e tem muita dificuldade para encontrar as respostas. A contribuição do
jogo de xadrez nessa direção caminha principalmente para a educação matemática,
mas ela também promove estímulos para os outros campos do conhecimento.
Santos (2007, p.3.), defensor do ensino de xadrez nas escolas, cita um
trecho de Wilson da Silva
23
que diz ser o jogo de xadrez merecedor de crédito
porque “ensina as crianças o mais importante na solução de um problema, que é saber
olhar e entender a realidade que se apresenta”. [...]. Em tempos de conhecimentos
efêmeros permeados por esse contingente de informações instantâneas e
sobrepostas que quase não deixam espaço para a reflexão, concordamos com esse
autor, quando ele diz que o melhor que a escola pode fazer para seus alunos é
ajudá-los a organizar melhor seu pensamento, e acreditamos que isso possa ser
feito mediante a sistematização deste jogo como disciplina nas escolas.
Para entendermos melhor a implicação deste jogo no âmbito escolar,
consideramos importante mostrar uma tabela comparativa das características do
jogo e seus efeitos na escolarização elaborada por Wilson Silva, citado por Santos
(2003).
Característica do xadrez e suas implicações educativas.
Características do xadrez
Implicações
nos
aspectos
educacionais e de formação do
caráter
Fica-se concentrado e imóvel na cadeira
O desenvolvimento do autocontrole
psicofísico.
Fornecer um número
determinado tempo
de
movimentos
num Avaliação da estrutura do problema e
do tempo disponível
Desenvolvimento da capacidade de
Movimento das peças após exaustiva análise de
pensar
com
abrangência
e
lances
profundidade
23
Mestre em Educação pela UFPR e doutorando também em Educação pela UNICAMP.
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Após encontrar um lance, procurar outro melhor.
Tenacidade e empenho no progresso
contínuo
Partindo de uma posição a princípio igual,
Criatividade e imaginação
direcionar para uma conclusão brilhante
(combinação)
O resultado indica quem tinha o melhor plano
Respeito à opinião do interlocutor
Dentre as várias possibilidades, escolher uma Estímulo à tomada de decisões com
única, sem ajuda externa.
autonomia
Exercício do pensamento lógico,
Um movimento deve ser conseqüência lógica do autoconsistência
e
fluidez
de
anterior e deve apresentar o seguinte
raciocínio.
Fonte: http://br.geocities.com/cluberibeiraoclarensedexadrez/Xadrez_escola.html
Todos estes elementos podem ser preparados durante o aprendizado e a
prática do xadrez, para que possa contribuir na melhoria do desempenho das
crianças diante dos desafios escolares. Além disso, dada à realidade de muitas
escolas, principalmente as públicas, é preciso pensar que o xadrez é uma atividade
de baixo custo, que ajuda no desenvolvimento das habilidades mentais e promove a
incorporação de atitudes de respeito.
Sendo assim, o xadrez com certeza é um jogo que modifica a escola porque
promove sua cultura, desenvolvendo inúmeras habilidades e garantindo a aquisição
de conhecimentos não só em relação ao jogo, mas também a assimilação de outros,
vinculadas às matérias escolares e o próprio caráter dos alunos. Além disso, ele
também tem a vantagem de ajudar a diminuir a agressividade individual e, por este
motivo, pode contribuir para minimizar a violência na escola, estabelecendo vínculos
entre os conhecimentos e as experiências enxadrística e a vida cotidiana, individual
e social.
Por se uma atividade que facilita aprendizagens de outros conteúdos, muitas
atividades podem ser desenvolvidas devido às relações que mantém com os demais
conteúdos. Por exemplo, ligadas ao conteúdo de história, ao se narrar as próprias
histórias em torno do xadrez, a geografia, ao se pesquisar e apresentar a leitura
cartográfica de suas migrações ao longo dos continentes, ou ainda, o próprio estudo
do tabuleiro, relaciona-se a conteúdos de matemática e geometria.
Os benefícios de sua prática iniciam-se quando a criança passa a conhecer
e a exercitar o domínio do tabuleiro, o que resulta em ganhos para sua noção
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espaço-dimensional. Em seguida são apresentadas às peças, cada qual com suas
características
físicas,
seus
movimentos
e
papel
no
jogo,
auxiliando
o
desenvolvimento da memória e da concentração. O desenvolvimento do jogo, com a
integração das peças e os cálculos das jogadas exercitam o raciocínio lógico e a
imaginação.
Podemos afirmar que o xadrez ensinado metodicamente constitui um
sistema de estímulo intelectual capaz de aumentar o quociente de inteligência das
crianças, oferecendo aos participantes um método de raciocínio e de organização
das relações abstratas e dos elementos simbólicos. Essa forma sistemática passa
pela preparação das escolas envolvendo a adaptação das mesmas as estruturas
existentes. Para tanto, é preciso que o plano gestor da escola proponha de modo
coletivo essa inserção como disciplina, o que envolveria a capacitação dos
professores e coordenadores para acompanhar e planejar atividades da disciplina e
mesmo o ensino dos jogos, ministrados por profissionais especializados ou mesmo
enxadristas convidados.
Além destas adequações, também os recursos materiais, tais como a
aquisição e utilização do material didático dos professores e dos alunos,
armazenados em local adequado, bem como o próprio local onde as aulas irão
acontecer. Deve ser um espaço amplo, com quadro mural, mesas e jogos de peças,
relógios de xadrez em quantidade suficientes para atender os alunos da escola.
Para concluirmos essas breves considerações acerca das mudanças
promovidas pelo jogo de xadrez na cultura escolar e, apesar de pouco comum, em
textos desta natureza, optamos por terminar com um poema, feito por um estudante
do xadrez que traduzem, de algum modo, por que ele se torna tão significativo para
aqueles que o praticam.
O JOGO DE XADREZ
Azuir Filho24
24
Poesia de Homenagem ao Jogo de Xadrez pelo seu caráter humanizador que tira as pessoas da
pequenez e mediocridade fazendo-as pensar de modo mais elevado e com mais humildade. O Jogo
de Xadrez tem a ver com os Amigos, os Mestres os Sonhos, Utopias e Ideais.
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No Jogo há linda História, de razão,
sentido e finalidade.
É o saber, tradição e memória, a razão
e toda a dignidade.
Sabedoria que é importante, no amor
e honra que vai ficar.
O Jogo Xadrez é fascinante, reproduz
a vida e todo lutar.
No Jogo de Xadrez esta a Vida, e a
sua luta mais danada.
Tem toda gente e cada lida os
importantes e a peãozada.
Todo tempo é emocionante, pois tudo
se pode organizar.
O Jogo Xadrez é fascinante, reproduz
a vida e todo lutar.
Na vida do Rei o destino, ao morrer o
jogo tá terminado.
É um aviso para ter tino, e se vacilou
não será perdoado.
A Dama cuida do Rei governante, tem
maior movimentar.
O Jogo Xadrez é fascinante, reproduz
a vida e todo lutar.
Os Cavalos são poderosos, Grandes
forcas para decidir.
São destaques portentosos, faz o forte
mais forte se sentir.
Torre a fortaleza representante, nas
paralelas a controlar.
O Jogo Xadrez é fascinante, reproduz
a vida e todo lutar.
Bispos os Ministros invencíveis,
Ministérios fortificados.
Vão fazer coisas incríveis, sempre
serão recompensados.
Nas diagonais imperantes, fortes tão
grandes no avançar.
O Jogo Xadrez é fascinante, reproduz
a vida e todo lutar.
É um Jogo de Inteligência, um jogo do
mais Preparado.
De Beleza, Arte e Ciência, de quem
pode estar bem ligado.
Há um batalhar constante, com a
sabedoria a se destacar.
O Jogo Xadrez é fascinante, reproduz
a vida e todo lutar.
Nas peças a representação, do que
importa na Sociedade.
Pois tem elite e tem povão, e como
será sua continuidade.
O Mérito esta no semblante, que
revela a alma e o sonhar.
O Jogo Xadrez é fascinante, reproduz
a vida e todo lutar.
No Peão esta a simplicidade, a
humildes dos sacrificados.
Tem esperança de eternidade, em
Jesus e os Crucificados.
O Humilde se faz o gigante, no seu
sonho de irmão igualar.
O Jogo Xadrez é fascinante, reproduz
a vida e todo lutar.
Há mazelas pra restauração, e há
História de Felicidade.
Se Bem colocado um peão, vencer
qualquer majestade.
E o Peão neste instante, muda a
Sociedade e o caminhar.
O Jogo Xadrez é fascinante, reproduz
a vida e todo lutar.
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Edição Outubro/Janeiro de 2009
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