- Grupo Marista

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- Grupo Marista
RUMO AO BICENTENÁRIO
maristas
2017
um novo começo
2014|2015
Montagne
Movimento Champagnat
da
Família Marista
Caderno Formativo
do Movimento Champagnat da Família Marista
Família MaristaVolume 1
Movimento Champagnat
da
Movimento Champagnat
da
Família Marista
2015|201
Fourviè
PROVÍNCIA MARISTA DO BRASIL CENTRO-SUL/GRUPO MARISTA
Provincial
Ir. Joaquim Sperandio
Vice-Provincial
Ir. Benê Oliveira
Coordenador Provincial do MChFM
Dércio Angelo Berti
SETOR DE VIDA CONSAGRADA E LAICATO
Diretor
Ir. Benê Oliveira
Caderno Formativo 1
Movimento Champagnat da Família Marista
Edição 1/2015
Coordenação
Dércio Angelo Berti
Supervisão
João Luis Fedel Gonçalves
Copidesque
Ana Tereza Naspolini e Marcia dos Santos.
Colaboração
Cátia Maria Silva Vieira Berti, José André de Azevedo, Ir. Ivo Strobino, Ir. Alvanei
A. Santana Finamor, Ascânio João Sedrez (Chico), Diogo Luiz Santana Galline,
Ernesto Sienna, Cesar Leandro Ribeiro, Rosana da Silva Alves, João Luis Fedel
Gonçalves, Simone Marie Perotta, Josmari Pauzer e João Ricardo Nishiura (Johnny)
Produção
Diretoria de Marketing e Comunicação
Projeto gráfico e diagramação
Sem Dublê
Revisão
Capitular
RUMO
RUMO AO
AO BICENTENÁRIO
BICENTENÁRIO
maristas
maristas
2017
2017
2014|2015
Montagne
um
um novo
novo ccomeço
omeço
2015|201
Fourviè
RUMO AO BICENTENÁRIO
2014|2015
maristas
Montagne
2017
um novo começo
Movimento Champagnat
da
Família Marista
Caderno Formativo
do Movimento Champagnat da Família Marista
Família MaristaVolume 1
Movimento Champagnat
da
Movimento Champagnat
da
Família Marista
2015|201
Fourviè
A ORIGEM DE UM SONHO
Em 28 de outubro de 1816, no vilarejo de Le Palais, pertencente ao município de Le Bessat, na região do Monte Pilat, França, Marcelino assiste
um jovem de 17 anos, João Batista Montagne, gravemente enfermo. Ao
falar com ele, percebe que o jovem não conhece nada sobre Deus nem de
seu amor por Jesus Cristo. Durante algumas horas de conversa, instrui-o sobre o essencial da fé, o consola e lhe dá o Sacramento da Unção dos
Enfermos. Em seguida vai visitar outro enfermo nas redondezas e, ao
regressar, fica sabendo que o jovem Montagne havia morrido. Esse acontecimento o compromete seriamente em sua ideia de fundar uma comunidade de Irmãos que atendesse às crianças e aos jovens na educação e
evangelização.
“Marcelino ouviu o grito da marginalização rural. Soube enxergar as
necessidades e voltar-se, corpo e alma, para remediá-las.” Soube sondar
os corações, escutar com ouvido atento e preocupar-se com os valores
humanos. Em seu coração ardia o desejo de iluminar e melhorar a educação, de tornar Jesus Cristo conhecido e amado, de inspirar as pessoas
a enxergar um significado maior nas próprias vidas. Aliás, esta era sua
obra, via sentido em tudo o que fazia.
No dia 2 de janeiro de 1817, Marcelino Champagnat, com mais dois jovens, com os quais já havia falado sobre o assunto de viver como religiosos e educar as crianças, funda a Congregação dos Irmãos Maristas. João
Maria Granjon tinha 23 anos e João Batista Audras, 15. Marcelino os leva
a uma casa alugada, instrui-os e divide o tempo entre oração, estudo e
trabalho manual.
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Caderno Formativo do MChFM | V.1
Marcelino soube formar seus discípulos. Desses jovens camponeses
quase analfabetos fez, em poucos anos e quase sem recursos, pedagogos
intuitivos, com a capacidade de gostar das pessoas, trabalhar por elas,
esquecendo-se de si mesmos e viver apaixonadamente um ideal para o
Senhor e para os outros. Marcelino Champagnat, extremamente ousado
para sua época, um visionário vibrante pela sua causa, exemplo de força e fidelidade ao trabalho, um homem de fé, um homem de oração, de
espiritualidade marcante e de muito amor pelas crianças e jovens, dizia
sempre: “Para bem educar uma criança, é preciso ter, em primeiro lugar,
amor por ela”. Com o amor e a fé, superou os limites de seu tempo e encontrou o sentido para sua missão.
E nós, Maristas de Champagnat, não seria o mesmo caminho que agora estamos chamados a refazer, deixando-nos interpelar profundamente pela situação dos jovens de hoje? Qual é o nosso papel como cristãos,
educadores, fraternos e fraternas e seguidores de Champagnat no atual
contexto em que vivemos? O que faria São Marcelino Champagnat com
os problemas dos jovens de hoje?
Tudo de que precisamos é amor. “O amor é a força mais abstrata, e
também a mais potente que há no mundo”, afirmava Gandhi. A obra de
São Marcelino Champagnat é uma obra de amor. Necessitamos da mesma vibração, ousadia, simplicidade, humildade e zelo para levar avante
essa obra. Cada um fazendo sua parte, começando pelas nossas famílias,
nossos trabalhos, junto das pessoas que nos relacionamos, ajudando
concretamente os mais necessitados. Afinal “um dos segredos da vida é
que tudo o que realmente vale a pena fazer é o que fazemos pelos outros”,
disse o escritor Lewis Carroll.
Caderno Formativo do MChFM | V.1
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apresentação
Entre as fraternidades do MChFM da PMBCS, pode-se sentir o processo da caminhada, a vibração e o entusiasmo de seus integrantes. É
momento oportuno de crescimento e de amadurecimento na vocação laical Marista e no sentido de adesão ao movimento e ao carisma de Champagnat.
Isso não é só um movimento local. O Secretariado dos Leigos do Instituto Marista solicitou às Províncias a revitalização do Movimento Champagnat. Em atenção a esse pedido, a Umbrasil coordenou a construção do
Plano Nacional de Formação para o MChFM.
Em vista disso, a Coordenação Provincial do Movimento pensou em
três Cadernos Formativos. Cada caderno será lançado, anualmente, nos
próximos três anos, coincidindo com a preparação do Bicentenário de
Fundação da Instituição Marista.
Este é o primeiro, que passa a circular nos primeiros meses do ano
de 2015; o segundo caderno, em 2016 e o terceiro, em 2017. Os temas propostos pelos cadernos seguirão a estrutura do PNF, ou seja, em três dimensões, com seus conteúdos nucleares (Humana, Cristã e Marista) e com
foco num tema específico para cada ano. O primeiro volume tem o tema
MISSÃO; o segundo, SOCIEDADE DE MARIA e o terceiro volume,
MÍSTICA. Uma excelente preparação para celebrarmos os 200 anos de
fundação Marista, abertos a um Novo Começo, como diz nosso Superior-Geral, Émili Turu.
Os textos deste primeiro volume foram preparados por pessoas com
capacidade técnica, mas também com envolvimento com o carisma Marista. Além disso, os temas seguem as orientações do Plano de Formação
da Umbrasil e do Secretariado de Leigos.
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Caderno Formativo do MChFM | V.1
O presente caderno é um canal que pode ajudar você e a grande Família de Fraternidades a construir um mundo melhor inspirado em Jesus:
“Onde dois ou mais estiverem reunidos, eu estarei no meio deles”. É bom
lembrar as palavras do Ir. Joaquim Panini: “Se vocês se reunirem para
conversar, já valeu o sonho de Champagnat”.
O que se espera é que estes textos ajudem a transformar os corações
de quem deseja uma libertação profunda de paradigmas e conceitos velhos e enraizados, que, muitas vezes, cegam. Ele quer despertar o que há
de mais belo: o ser humano e suas escolhas, que, quando tomadas com
consciência e praticadas com autonomia, levam ao verdadeiro sentido da
vida.
Não há tempo a perder. Unamos nossos corações em favor das crianças e dos jovens pobres, em auxílio à terra que grita e pede socorro, concretizando cotidianamente o apostolado sustentável.
O sonho de Champagnat continua no Movimento, no qual a vida pulsa
e evolui num contínuo crescimento e na busca da aprendizagem, que leva
à transformação. Ser Marista de Champagnat dentro do Movimento nos
leva a querer conhecer melhor nossa vocação para realizá-la em profundidade, em nós, nas relações que estabelecemos, no mundo e na intimidade de nosso Deus.
Por isso, use o conhecimento contido neste caderno para sentir mais e
justificar menos, e pensar o suficiente para evoluir enquanto ser divino,
que é uma centelha de luz e que para ela voltará.
Caderno Formativo do MChFM | V.1
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introdução
A árvore do bambu leva cinco anos para se desenvolver e afundar suas
raízes, antes de brotar do solo. Mas quando isso acontece, seu tronco logo
aponta para as alturas e migra em direção à luz com admirável rapidez e
determinação.
Assim também ocorreu com o MChFM. Nos seus 25 anos de consolidação, ampliou o número de Fraternidades em todo o mundo e tornou-se
fonte de vitalidade do carisma de Champagnat, em sua missão de “Tornar Cristo conhecido e amado por meio da educação cristã das crianças
e jovens, particularmente dos mais necessitados” (Constituições, art. 2),
e da espiritualidade Marista, que é o modo próprio dos Irmãos e Leigos
Maristas viverem e cumprir a missão.
O MChFM já tem sua raiz forte, e seu tronco está preparado para vir
fora. Agora é momento de retomar o processo, de ver suas forças e lacunas e de apontar para o novo, como está pedindo o Instituto Marista.
Um passo importante nesse processo de renovação foi o Encontro Nacional de Multiplicadores, realizado em fevereiro de 2010, em Brasilândia,
onde se buscou discutir e esboçar um Plano Nacional de Formação para
o MChFM. Chegou-se à construção de quatro linhas norteadoras para os
processos de formação do Movimento em todas as Fraternidades do país:
o carisma de Champagnat como dom do Espírito para Irmãos, Leigos e
Leigas; protagonismo e autonomia do Leigo(a); espírito de família na vivência comunitária e formação nas dimensões humana, cristã e Marista.
Nesse mesmo ano, foi criada na PMBCS a Equipe Provincial do
MChFM, junto ao Setor de Vida Consagrada e Laicato. Ir. Joaquim Panini foi designado Assessor Provincial e Dércio Angelo Berti, Coordenador
Provincial do MChFM.
Neste momento, já havia o Secretariado de Leigos no Instituto e o Plano Nacional de Formação. Com isso, a presença de Leigos e Leigas como
elementos propositivos de inclusão no processo de formação ganham lateralidade suficiente para a nova caminhada.
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Caderno Formativo do MChFM | V.1
Os Cadernos Formativos vêm para consolidar o processo de formação
e ajudar os fraternos a crescer como Leigo e Leiga no mundo Marista e
como membros da Igreja Católica de forma participativa e protagonista
dessa nova história.
O MChFM reúne pessoas comprometidas em viver a fé cristã à luz do
Carisma de Champagnat. O Movimento é essencialmente caraterizado
pela espiritualidade, vivência e partilha. Portanto, essas características
devem ser respeitadas e cultivadas na metodologia do processo formativo:
• Oração: fazemos uso da leitura orante da Bíblia.
• Reflexão (estudo): aprofundamos temas que nos ajudam na caminhada à luz da fé cristã.
• Convivência: vivemos como fraternos e fraternas, e isso inclui o lazer, a confraternização, a amizade, a presença, enfim, valores que
fortalecem a partilha em comunidade.
• Apostolado: nosso compromisso pessoal e coletivo se expressa na vida
em família, na profissão, na comunidade eclesial e em outros espaços.
Um dos aspectos importantes é a compreensão de nossa espiritualidade Marista. Ir. André Lanfrey, especialista em patrimônio Marista,
afirma que há quatro características fundamentais da espiritualidade de
Marcelino. Ela é teocêntrica, cristocêntrica, marial e apostólica:
• Teocêntrica porque sempre Champagnat se preocupou em reconhecer o caráter absolutamente transcendente de Deus. A glória de
Deus é a base da consagração dos padres Maristas em Fourvière e o
compromisso dos primeiros Irmãos em 1826.
• Cristocêntrica porque em toda vida de Champagnat e dos primeiros
Irmãos Jesus era o centro de tudo. Presépio, Cruz, Altar, os grandes
pregadores do amor de Deus. Daí o lema: “Tudo a Jesus por Maria,
tudo a Maria para Jesus”.
Caderno Formativo do MChFM | V.1
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introdução
• Marial pois, para Champagnat, Maria é o “recurso habitual” e a
“primeira superiora”: “Ela fez tudo entre nós”.
• Apostólica pois a glória de Deus, e para tornar Cristo conhecido e
amado, supõe uma “ação missionária urgente e universal” e como
repetia muitas vezes Champagnat: “Todas as dioceses do mundo
entram nos nossos planos”.
A Leiga e o Leigo Marista carregam uma tripla identidade: é cristão
por ser membro da Igreja; é Marista por ser membro da congregação
fundada por São Marcelino Champagnat; é irmão por ser membro de um
instituto laical e não clerical.
Esses elementos, entre outros, ajudam a dar os fundamentos da formação que este caderno se propõe a oferecer. Cabe agora a cada Fraternidade estabelecer seu caminho formativo e fazer o melhor uso desse
material. Para isso, abaixo se encontra uma sugestão de organização dos
encontros. Bom trabalho a todos.
PASSOS PARA OS ENCONTROS FORMATIVOS
Antes do encontro: o(a) animador(a) deverá orientar previamente os
fraternos e fraternas para que estes venham com a leitura do texto de
estudo já realizada.
Coordenação: deve ser feita pelo anfitrião, isto é, a família que acolhe o grupo para o encontro, sob a orientação do(a) animador(a) e Irmão
assessor.
Registro em ata: o(a) ateiro(a) registra as ideias e sugestões que os participantes do grupo fizerem ao longo da reunião e envia a ata ao representante regional, de preferência uma semana após a realização do encontro.
Duração: é preferível que o encontro gire em torno de uma hora e vinte minutos, e mais 40 minutos de convivência (partilha do lanche).
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Caderno Formativo do MChFM | V.1
Roteiro: a abertura (com duração de 30 minutos) antecede e prepara
o encontro formativo e contém quatro passos:
• Meditação 3-5-3: trata-se de uma técnica que ajuda as pessoas a
entrar na mesma frequência e mudar o estado de vibração. O 3-5-3
quer dizer três respirações profundas, cinco minutos de mente vazia e mais três respirações profundas. Primeiro, de olhos abertos,
fixa-se um ponto e se fazem três respirações profundas. Depois,
fecham-se os olhos e se permanece cinco minutos sem pensar em
nada (imagina-se uma tela branca ou azul na mente). Se vierem
pensamentos, deve-se usar a expressão “desapega”. Por último, ao
sinal do(a) animador(a), abrir os olhos e fazer mais três respirações
profundas.
• Leitura do calendário religioso (apenas ler)
• Leitura da ata anterior
• Exercício da leitura orante da Bíblia. Três perguntas orientam a leitura: O que o texto diz? O que o texto me diz? Como o texto me faz agir?
• Provocação que vem da vida (5 min.): sugere-se um texto do patrimônio espiritual Marista relacionado com o tema.
• Estudo do texto (45 min.): reflexão partilhada entre os fraternos
sobre o tema do encontro, com base nas perguntas que estão no final do texto.
• Convivência (40 min.): após uma hora e vinte minutos de reunião,
segue a comensalidade, com a partilha do lanche e conversa informal.
• Despedida: o grupo precisa estar atento para não extrapolar no
tempo, tendo em conta as necessidades das famílias.
Caderno Formativo do MChFM | V.1
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orientações
ORIENTAÇÕES aos Irmãos Assessores e
Animadores(as) das Fraternidades
Seguem algumas orientações aos Irmãos assessores e fraternos(as)
animadores(as), para que possam conduzir com eficiência e tranquilidade o processo formativo junto às suas fraternidades.
FRATERNIDADE
É composta por um grupo de Leigos e Leigas, que se reúnem para partilhar vida, espiritualidade e missão Maristas. O grupo se torna uma Fraternidade quando preenche os seguintes requisitos:
• conhecimento e prática do projeto de Vida;
• frequência de seus membros às reuniões;
• participação em eventos regionais e provinciais promovidos pela
Coordenação ou pelas Fraternidades do MChFM;
• reconhecimento, depois de alguns anos de caminhada, pelo Conselho Provincial, por meio de um ato formal, mediante solicitação ao
Coordenador Provincial do MChFM;
• definição do orçamento das despesas necessárias à manutenção de
suas atividades (viagens, encontros de estudo, retiros etc.), devendo
criar meios próprios para autossustentação.
IRMÃO ASSESSOR DA FRATERNIDADE
A indicação do Irmão assessor será realizada em comum acordo com o
Irmão Provincial, o Coordenador Provincial e a Comunidade local.
Compete ao Irmão assessor da Fraternidade:
• participar das reuniões da fraternidade;
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Caderno Formativo do MChFM | V.1
• ser presença discreta do Instituto e do carisma Marista junto aos
membros da Fraternidade;
• aproximar a Fraternidade da comunidade religiosa local;
• subsidiar o animador no processo formativo e na caminhada espiritual dos membros da Fraternidade;
• favorecer o protagonismo e a autonomia dos membros da Fraternidade.
ANIMADOR(A)
A Fraternidade escolhe um de seus membros para ser o(a) animador(a)
por três anos, de acordo com o mandato do Superior Provincial. No caso
de seu impedimento, a Fraternidade deverá escolher outro animador
para completar o mandato corrente.
A escolha do novo animador ocorre no início do segundo semestre do
último ano do triênio, sendo que as atividades terão início a partir de janeiro do ano seguinte. Um animador pode ser reeleito uma única vez,
chegando a um período de coordenação ininterrupta de no máximo seis
anos.
Para que possa ser eleito novamente pela Fraternidade, é necessário
que haja, no mínimo, o intervalo de um triênio entre o último período de
animação e o novo.
Compete ao animador da Fraternidade:
• preparar previamente a reunião, levando o material necessário
para o bom desempenho desta;
• ajudar o grupo a manter o foco nas atividades propostas e no cumprimento dos horários definidos para cada atividade;
Caderno Formativo do MChFM | V.1
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encontro 1
• conciliar e promover reflexões agregadoras;
• seguir a pauta e manter as decisões do grupo em funcionamento;
• promover oportunidade para que todos participem ativamente da
reunião;
• favorecer o processo formativo dos membros da Fraternidade e vivência do carisma Marista.
FRATERNO(A)
O Leigo ou a Leiga que deseja se tornara membro de uma Fraternidade
deve seguir os procedimentos estabelecidos pela instância responsável
pelo MChFM na Província, de acordo com o documento Projeto de Vida
do MChFM.
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Caderno Formativo do MChFM | V.1
Caderno Formativo do MChFM | V.1
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encontro 1
Tema: VERDADE E REALIDADE
ABERTURA (30 min.)
• Meditação 3-5-3
• Leitura do calendário religioso
• leitura da ata
• Leitura orante da Bíblia (Jo 8, 31-38). O que o texto diz?
O que o texto me diz? Como o texto me faz agir?
>> PROVOCAÇÃO QUE VEM DA VIDA
O fato citado a seguir é tratado pelos pesquisadores e estudiosos dos
temas Maristas com certa reserva, por parecer lendário, correspondendo
à necessidade de “mitificar” Marcelino, mostrando-o destinado à santidade desde seu nascimento. Entretanto, no processo canônico de sua canonização, há o relato de dez testemunhas que, sob juramento, afirmam
terem ouvido a narração desse fato da boca da própria mãe de Marcelino:
Embora amasse com ternura todos os filhos, (Maria Chirat, a mãe) tinha
afeição especial pelo pequeno Marcelino, não por ser o filho caçula, mas por
pressentir o que ele seria mais tarde. Esse pressentimento foi confirmado por
um sinal, que pode ser considerado sobrenatural, e prenunciava os desígnios
de Deus sobre a criança e o bem que, por meio dela, queria fazer à sua Igreja.
Várias vezes, ao aproximar-se do berço em que dormia o nenê, ela percebeu
uma chama luminosa que parecia lhe sair do peito e, após rodear-lhe a cabeça,
elevava-se e se espalhava pelo quarto. Esse fato impressionou-a causando-lhe
medo e admiração, e não duvidou mais de que o céu tivesse para a criança planos de misericórdia, desconhecidos por ela, mas com os quais devia colaborar,
educando-o de modo todo particular na piedade.
(Biografia oficial de Marcelino Champagnat, 1ª parte, cap. I, p. 3)
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Caderno Formativo do MChFM | V.1
>> TEXTO PARA ESTUDO
QUAL MEU PROPÓSITO DE VIDA? —
“O PINTASSILGO E AS RÃS”
Num lugar muito longe daqui, havia um poço fundo, abandonado e escuro
que alguém cavara, muitos e muitos anos atrás, não se sabe bem para quê. Lá
dentro se alojou um bando de rãs. As primeiras a entrar pensaram que aquele
era um local bom de se viver, protegido, úmido, gostoso. De um pulo, caíram lá
dentro. Só que não perceberam que pular no buraco é fácil, o difícil é pular para
fora dele. O poço era fundo demais e elas nunca mais puderam sair. Ficaram
vivendo lá dentro. Casaram-se, tiveram filhos, multiplicaram-se. As mais velhas ainda se lembravam da beleza do mundo de fora e morriam de saudades.
Contavam estórias para seus filhos e netos.
[...]
A vida, lá dentro, era como a vida em todo lugar. Havia as rãs fortes e truculentas. Elas mandavam nas outras que eram fracas e tinham de obedecer e
trabalhar dobrado. Os insetos mais gostosos iam sempre para as mais fortes. As
rãs oprimidas achavam, com toda a razão, que isto era uma injustiça. E, por
isso mesmo, preparavam-se para uma grande revolução que poria fim a esse
estado de coisas. Quando a classe dominante fosse derrubada, a vida no fundo
do poço ficaria democrática e os insetos seriam distribuídos com justiça.
[...]
Aconteceu, entretanto, que um pintassilgo que voava por ali viu a boca do
poço. Ficou curioso e resolveu investigar. Baixou o voo e entrou nas profundezas. Qual não foi a sua surpresa ao descobrir as rãs! Mas, mais perplexas
ficaram elas ante a presença daquela estranha criatura. A simples presença
do pintassilgo punha em questão todas as teorias sobre o mundo, pois que dele
não havia registro algum em seus arquivos históricos. O pintassilgo morreu de
Caderno Formativo do MChFM | V.1
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encontro 1
dó ao ver as pobres rãs, prisioneiras daquele buraco fétido e escuro, sem nada
saber do lindo mundo que havia fora do poço. Como é que elas podiam viver
ali dentro, sem nunca pensar em sair? Claro que para se planejar sair é preciso
acreditar que existe um “lá fora”. Mas as rãs sabiam que um “lá fora” não existia, pois os limites do seu buraco eram os limites do universo.
O pintassilgo resolveu contar-lhes como era o mundo de fora. E se pôs a cantar furiosamente. Queria ajudar as pobres rãs...
[...]
As rãs ficaram em polvorosa e logo se dividiram.
Algumas acreditaram e começaram a imaginar como seria lá fora. Ficaram
mais alegres e até mesmo mais bonitas. Coaxaram canções novas. E começaram a fazer planos para a fuga do poço.
Desinteressaram-se das esperanças políticas antigas.
— Não, não queremos democratizar o fundo do poço. Queremos é sair dele...
Preferimos ser gente simples lá fora, onde tudo é bonito, a ser elite dominando
aqui dentro, onde tudo é escuro e fedido...
As outras fecharam a cara e coaxavam mais grosso ainda. Não acreditaram...
O pintassilgo resolveu, então, trazer provas do que dizia. Chamou abelhas,
com mel. Convidou borboletas coloridas. Trouxe flores perfumadas...
Mas tudo foi inútil para os que não queriam acreditar.
— Este bicho é um grande enganador, diziam. Sabemos que estas coisas não
existem. Aprendemos em nossas escolas... O rei reuniu seus generais e ponderou que as ideias do pintassilgo eram politicamente perigosas. As rãs estavam
perdendo o interesse pelo trabalho. Produziam menos. Com isto havia menos
recursos para as despesas do Estado, especialmente uma ferrovia que se pre18
Caderno Formativo do MChFM | V.1
tendia construir, ligando um lado do poço ao outro. Trabalhavam menos, coaxavam mais. Claro que as palavras do pintassilgo só podiam ser mentiras deslavadas, intrigas da oposição...
Os revolucionários, igualmente, puseram o pintassilgo de quarentena, pois
o seu canto enfraquecia politicamente as rãs dominadas, que agora estavam
mais interessadas em sair que em revolucionar o poço.
As rãs intelectuais, por sua vez, se puseram a fazer a análise filosófica, ideológica e psicanalítica da fala do pintassilgo.
[...]
O manifesto das rãs foi acolhido unanimemente tanto pelos líderes da direita como pelos líderes da esquerda, pois, para além de suas discordâncias conjunturais, estava seu compromisso comum com o bem-estar e a tranquilidade
da família ranal.
Por ocasião da próxima visita do pintassilgo, ele foi preso, acusado de enganador do povo, morto, empalhado e exposto no Museu de História.
Quanto às rãs, foram para sempre proibidas de coaxar as canções que o pintassilgo lhes ensinara. Um aluninho-rã, que visitava o museu, perguntou à sua professora:
— Que é aquilo, professora?
— É um pintassilgo, ela respondeu.
— E que coisas estranhas são aquelas nas suas costas?, ele perguntou.
— São asas...
— E para que servem?, ele insistiu.
— Para voar...
Caderno Formativo do MChFM | V.1
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encontro 1
— E nós voamos?
— Não, respondeu a professora. Nós não voamos. Nós pulamos...
— E não seria melhor voar?
A professora compreendeu então, com um discreto sorriso, que um
pintassilgo, mesmo empalhado, nunca seria esquecido.
ALVES, Rubem. Estórias de Bichos. São Paulo: Loyola, 1989. p. 28-32
>> PERGUNTAS PARA APROFUNDAMENTO
1. Com base no texto “O pintassilgo e as rãs”, conceitue realidade e verdade.
2. Assim como as rãs e o pintassilgo, julgamos e somos julgados com
base em nossos paradigmas, conceitos e regras, por conhecermos
parte de uma realidade. De que forma podemos vivenciar a verdade oferecida por Jesus e reproduzida, com firmeza e amorosidade,
por Marcelino Champagnat?
3. As rãs “não perceberam que pular no buraco é fácil, o difícil é pular
para fora dele”. De que forma nossos encontros de Fraternidade podem nos ajudar a sair “dos buracos” oferecidos pela sociedade hoje?
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Caderno Formativo do MChFM | V.1
Caderno Formativo do MChFM | V.1
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encontro 2
Tema: O REINO DE DEUS
ABERTURA (30 min.)
• Meditação 3-5-3
• Leitura do calendário religioso
• leitura da ata
• Leitura orante da Bíblia (Mt 13, 31-33). O que o texto diz?
O que o texto me diz? Como o texto me faz agir?
>> PROVOCAÇÃO QUE VEM DA VIDA
No documento Missão Educativa Marista – um projeto para o nosso tempo, encontramos o propósito da Missão para a qual Marcelino e nós somos chamados a realizar:
• Para Marcelino Champagnat, o núcleo da Missão é “fazer Jesus Cristo conhecido e amado”. Ele considerava a educação como um meio para levar
as crianças e os jovens à experiência de fé pessoal e de fazê-los “bons
cristãos e virtuosos cidadãos”. (Missão Educativa Marista nº 69)
• Nós, como seus discípulos, assumimos a mesma Missão, inicialmente ajudando as crianças e os jovens, sem nos importar com a fé que professam
ou a etapa da sua busca espiritual, a tornarem-se pessoas integradas e de
esperança, com profundo sentido de responsabilidade social para transformar o mundo ao seu redor. Ajudar a crescer em humanidade é parte
integrante do processo de evangelização. Os Educadores Maristas, promovendo os valores evangélicos por meio das nossas iniciativas, participam da Missão de construir o Reino de Deus aqui e agora. (Missão
Educativa Marista nº 70)
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Caderno Formativo do MChFM | V.1
• Desejamos ainda mais, entretanto. Inspirados pelas palavras de Marcelino Champagnat “Não posso ver uma criança sem sentir vontade de lhe
ensinar o catecismo, de fazê-la compreender quanto Jesus Cristo a ama”,
apresentamos Jesus às crianças e aos jovens como uma pessoa real, que
eles podem conhecer, amar e seguir. (Missão Educativa Marista nº 71)
>> TEXTO PARA ESTUDO
QUAL O PROPÓSITO DE JESUS?
De imediato, podemos responder a essa questão de maneira contundente: anunciar o Reino de Deus, revelando quem é o Pai. “Quem me vê, vê o
Pai” (Jo 14:9), dizia Jesus. Ao se fazer humano, revela ao próprio humano
seu destino. Com pequenas ações, revela e manifesta o Reino e o amor de
seu Pai pela humanidade.
As ações de Jesus e toda sua mensagem, realizadas sempre dentro das
dimensões do Reino de Deus, expressam a iminente aproximação do Reino, com a consequente conversão.
Jesus não nos fornece uma definição do que seja o Reino de Deus. Isto
é interessante, pois toda definição e conceituação apresentam limites e
fechamentos. Quando Jesus fala do Reino, sempre o faz usando o recurso da parábola (Cf. Mt 13:1-51). Assim, Ele afirma que o Reino se parece, é
semelhante, é como... Por meio dessas parábolas, Jesus manifesta o significado de Reino de Deus como a presença redentora do Pai, realizada pelo
Filho-Jesus. Falar em parábolas é a forma que Jesus encontra de se comunicar com quem ainda não lhe tinha sido dado a conhecer o mistério do
Reino dos Céus (Cf. Mt 13:10-17).
Faz parte de seu propósito anunciar, entre muitas outras, a dimensão
temporal e geográfica do Reinado de Deus. Para isso, nos diz que o Reino
está próximo, já está presente (Cf. Lc 17:21), já está no meio de nós, está na
Caderno Formativo do MChFM | V.1
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encontro 2
realidade humana, é permanente. Minhas palavras não passarão (Lc 21:33),
não é deste mundo (Jo 18:36), é inabalável (Hb 12:28) e tem uma dimensão
futura. Esse Reino acontecerá de forma plena quando cessarem os sofrimentos (Cf. Mt 11:5) e quando a morte for suplantada (Cf. Lc 20:36).
As contradições aparentes nesses modos de dizer o Reino são próprias
do mistério que é esse Reino. O Reino e Reinado de Deus são, portanto, mistérios, que encerram dentro de si a certeza de que já estamos em
Deus! É a síntese do amor do Pai por nós que se realiza em seu plano de
salvação, por meio de Jesus Cristo.
Para mostrar a presença do Reinado, Jesus desencadeia uma série de
práticas que liberta as pessoas e promove a comunhão. A descoberta do
Reino nos leva, imprescindivelmente, à mudança da relação fraterna,
exige mudanças nas estruturas sociais e políticas. Tal sociedade nova,
que se inicia à semelhança de um grão de mostarda (Cf. Mt 13:31-32), é
inaugurada pelo novo modo de os discípulos começarem a viver a vida
de Deus
A exigência para os que querem participar desse Reino é a conversão,
o arrependimento. Não é apenas uma mudança de mente, mas realização
de um modo de vida evangélico. Ou seja, é mudança do próprio eu, conversão das próprias estruturas existenciais. Em síntese, o Reino de Deus
não consiste em palavras, mas em poder, amor e mansidão (Cor 1:20-21). Viver
o Reino é viver as bem-aventuranças (Mt 5:1-12), as obras de misericórdia
(Mt 25:34-40), o cântico de Maria (Lc 1:46-55).
>> PERGUNTAS PARA APROFUNDAMENTO
1. O que é o Reino de Deus?
2. Quando vivemos o Reino de Deus?
3. O que Jesus espera de seus discípulos?
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Caderno Formativo do MChFM | V.1
Caderno Formativo do MChFM | V.1
25
encontro 3
Tema: TORNAR JESUS CRISTO
CONHECIDO E AMADO!
ABERTURA (30 min.)
• Meditação 3-5-3
• Leitura do calendário religioso
• leitura da ata
• Leitura orante da Bíblia (Mt 18, 1-7). O que o texto diz?
O que o texto me diz? Como o texto me faz agir?
>> PROVOCAÇÃO QUE VEM DA VIDA
No ano de 1812, Marcelino era seminarista e frequentava o Seminário
Menor da cidade de Verrières. Era seu último ano ali, pois a partir do ano
seguinte iria para o Seminário Maior, na cidade de Lião. Nos primeiros
anos como seminarista, não tinha se saído bem nos estudos e tivera um
comportamento medíocre, associando-se ao grupo dos “bagunceiros”,
que procuravam se destacar pelas fanfarronices, uma vez que não conseguiam se manifestar pelos estudos. Entretanto, Marcelino evoluiu muito ao longo dos sete anos em que passou em Verrières, progredindo nos
estudos, no comportamento e na piedade. Tinha se firmado na vocação.
Sua piedade e ação apostólica entre os colegas, encorajando os desanimados, progrediam a olhos vistos. É daquele ano, 1812, que temos o mais antigo documento autografado de Marcelino, correspondendo a resoluções
pessoais que anotou em sua caderneta. Eis uma parte delas:
Meu Senhor e meu Deus! Prometo não mais vos ofender; fazer atos de fé, esperança, caridade, e outros semelhantes, sempre que me lembrar disso; nunca
26
Caderno Formativo do MChFM | V.1
voltar ao botequim a não ser por necessidade; evitar as más companhias. Em
suma, prometo nada fazer contra o vosso serviço; mas, pelo contrário, quero
dar bom exemplo, levar os outros à prática da virtude, conforme minhas possibilidades; ensinar aos ignorantes vossas leis divinas; dedicar-me tanto aos
pobres quanto aos ricos. Fazei, Divino Salvador, que eu cumpra fielmente as
resoluções que acabo de tomar.
(Resoluções de Retiro. Anotações do dia 19 de janeiro de 1812)
>> TEXTO PARA ESTUDO
QUAL O PROPÓSITO DE MARCELINO CHAMPAGNAT?
Em geral, nosso conhecimento sobre Marcelino Champagnat se resume em saber que é o fundador do Instituto Marista; que realizou esse
feito em seu primeiro ano de sacerdócio, quando atuava no município de
La Valla, no interior da França, no início do século XIX; que tinha muita devoção para com Nossa Senhora, a quem chamava de Boa Mãe; que
construiu uma grande casa central, chamada L´Hermitage e que sua fundação Marista chegou ao seu bicentenário de fundação. Com esses dados,
temos a ideia de que sabemos tudo a respeito dele e de seu sonho de criar
um instituto dedicado à educação de crianças e jovens, atualmente presente em mais de 70 países. Entretanto, cabe-nos perguntar: O que houve
antes, para motivá-lo a investir sua vida nesse projeto? Qual foi seu propósito nisso tudo? Seu projeto de vida? Seu sonho de felicidade?
Não esqueçamos o fato de que ele era jovem quando iniciou a obra Marista e que, como qualquer jovem, tinha sonhos de ser feliz, tinha projetos
de realização pessoal. E foi com base nos sonhos vividos na juventude
que Marcelino estabeleceu, aos poucos, seu propósito de vida. Também
não devemos esquecer que houve evolução nos propósitos de Marcelino,
o que é normal numa pessoa humana. Isso nos mostra que seu grande
projeto não lhe caiu pronto do céu, mas foi se tornando claro à medida
Caderno Formativo do MChFM | V.1
27
encontro 3
que ele se deixava interpelar pelos acontecimentos da vida. Recordemos
brevemente três decisões, ou melhor, três expressões de Marcelino que
indicam propósitos de vida.
O primeiro propósito que temos de Marcelino, conforme se pode ler
na biografia oficial, é sua manifestação por ocasião do episódio da frustração na escola, quando viu o professor esbofetear um aluno: “Não piso
mais na escola; não quero mais saber de estudar!”. Devia estar com onze
ou doze anos. Trocou a escola pelos trabalhos na roça. Mas o episódio da
escola e a frase que pronunciou amadureceram nele um propósito maior:
“Esse tipo de escola, com tais métodos pedagógicos brutais, não quero
nem saber! Vou trabalhar por algo melhor”. E, realmente, fez algo bem
melhor, pois, mais tarde, esteve à frente de quase 50 escolas bem-sucedidas e muito disputadas.
Um segundo propósito a ser acentuado é a insistente afirmação de
Marcelino para o grupo de colegas seminaristas que projetavam a futura
Sociedade de Maria: “A Sociedade deve contar também com um ramo de
Irmãos para a catequese, para as missões e para a educação das crianças e dos jovens”. Conforme o registro na biografia oficial de Marcelino,
essa insistência junto aos colegas fez com que eles lhe dissessem um dia:
“Encarregue-se, pois, você, do ramo dos Irmãos!”. O propósito de Marcelino de iniciar o ramo de Irmãos ficou bem explícito no episódio do jovem
Montagne, quando saiu-lhe, do fundo da alma, o grito angustiado: “Precisamos de Irmãos, precisamos de Irmãos!”.
Poderíamos dizer que um terceiro propósito foi a ambição que transcreveu em algumas de suas cartas: “Todas as dioceses do mundo entram
em nossos planos!” Desejava realizar o bem, com seus Irmãos, em toda
parte, onde quer que lhe abrissem as portas, isto é, em toda a Igreja. Naquela época ele já tinha propósitos de internacionalidade, de missão ad
gentes. É como se dissesse: “Onde houver juventude sedenta de Deus, lá
quero que estejam disponíveis os meus Maristas, para realizar o bem.
28
Caderno Formativo do MChFM | V.1
Por isso, sua grande aspiração: “Precisamos de Irmãos; precisamos de
Maristas para atuar na educação, na missão, na evangelização!”.
Essas aspirações que foram surgindo ao longo de sua vida brotavam
de um grande objetivo que ardia em seu coração. Qual foi ele? É fácil concluir, resumindo, que:
• sua intuição, no Seminário, ao exclamar que precisavam de Irmãos
para a catequese, para a escola e para as missões;
• sua angústia no episódio do jovem Montagne, dando-se conta de
que milhares de outros jovens morriam sem terem conhecimento
de Deus e sem um sentido para a própria vida, por falta de catequistas e educadores;
• sua incansável dedicação na formação e no acompanhamento dos
Irmãos como educadores da juventude;
• seu empenho e zelo pela Oceania;
• sua utopia em estabelecer a construção de L’Hermitage, a abertura
de inúmeras escolas e o envio de missionários para a obra Marista
em todas as dioceses do mundo;
• tudo era motivado por um objetivo bem claro, seu grande propósito
de vida, objetivo que transmitiu para os Maristas como lema e ideal:
TORNAR JESUS CRISTO CONHECIDO E AMADO!
PERGUNTAS PARA APROFUNDAMENTO
1. O que aparece como novidade para mim neste texto?
2. O que na vida de Champagnat ilumina minha história?
3. O que na vida de Champagnat me incentiva a ter um projeto de vida
cristã mais autêntico?
Caderno Formativo do MChFM | V.1
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encontro 4
Tema: PROJETO DE VIDA
ABERTURA (30 min.)
• Meditação 3-5-3
• Leitura do calendário religioso
• leitura da ata
• Leitura orante da Bíblia (Atos 9, 1-31). O que o texto diz?
O que o texto me diz? Como o texto me faz agir?
>> PROVOCAÇÃO QUE VEM DA VIDA
No mês de março de 1822, aconteceu o episódio dos oito postulantes,
aquele grupo de candidatos que, juntos, se apresentaram ao padre Champagnat, em La Valla, pedindo para serem aceitos na Congregação. O Fundador, surpreso, submeteu-os a várias provações para discernir sua vocação. Eis como um desses candidatos, mais tarde, narrou as provações
pelas quais passaram e a decisão vocacional firme que os sustentava:
Não tinham razão de desconfiar tanto de nós e de suspeitar das razões que
nos moviam. Se fossem humanas as nossas motivações, não teríamos ficado um
só dia. Quem nos seguraria numa casa onde só víamos pobreza, onde dormíamos num celeiro, onde a cama era só um pouco de capim seco? Onde tínhamos
como alimentos alguns legumes e um pouco de pão que se esfarelava todo e onde
a bebida era somente água? Numa casa onde, de manhã à noite, éramos ocupados em trabalhos braçais penosos, cujo único salário eram algumas repreensões
ou castigos, que devíamos aceitar com profundo respeito? Se nos perguntarem,
agora, o que poderia nos agradar numa situação tão contrária à natureza, o
que nos apegava tanto à Congregação, responderei: foi a devoção que ela professava à Virgem Maria. No dia seguinte de nossa chegada, o Pe. Champagnat
30
Caderno Formativo do MChFM | V.1
entregou um terço a cada um, falou-nos, várias vezes, de Maria Santíssima,
naquele tom persuasivo que lhe era tão natural, e narrou-nos alguns fatos que
mostravam sinais da proteção da divina Mãe. As coisas maravilhosas que nosso bom Padre nos contava de Maria calaram tão profundamente na alma de
todos nós que nada no mundo teria conseguido afastar-nos da nossa vocação.
(Biografia oficial de Marcelino Champagnat, 1ª parte, cap. IX, p. 95)
>> TEXTO PARA ESTUDO
VOCAÇÃO: SENTIR-SE CHAMADO À VIDA E AO AMOR
Ao abordar o tema vocação, temos clara compreensão de que se trata
de estado de vida: assim dizemos Irmãos, Irmãs, Sacerdotes, Casados, Vocacionados a Leigo/a Marista. Será somente isso? Ou o entendimento de
vocação transcende essa definição?
Refletir sobre vocação nos leva a pensar, em primeiro lugar, que ela
é um chamado. “Chamei-te pelo nome, tomei-te pela mão e te modelei”
(Is 42,6 e 43,1). Ora, se é um chamado, deve-se dar a ele uma resposta,
discernida à luz das inspirações do Espírito Santo. “Sim, quero!”, “Não,
não é para mim!” Os que dão resposta positiva logo percebem que o desenvolvimento de sua vocação exige um plano de ação pessoal para que
se cumpra o projeto de Deus. Assim, pela vocação e com base em nossa
resposta, somos convidados a associar vocação a Projeto de Vida, projeto
este, que visa responder ao chamado à Vida e ao Amor. Seja qual for o
estado de vida que assumirmos, Vida e Amor são o grande projeto que
Deus espera que realizemos. Uma vida feliz, plena, solidária, realizada...
A maneira como vivemos determina nossa relação com as pessoas,
com a sociedade e com o mundo, com Deus. Somos convidados a viver a
Vida em Plenitude! “Viver e não ter a vergonha de ser feliz, cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz!”, como diz o poeta.
Caderno Formativo do MChFM | V.1
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encontro 4
Como fazer um Projeto de Vida? Pode ser
alterado? O que justificaria uma mudança?
A palavra projeto significa etimologicamente “ação de lançar para a
frente, de se estender”. Assim sendo, um Projeto de Vida, como todo projeto, vislumbra o futuro, um “já, mas ainda não”, um hoje-amanhã que
“reserva” novas perspectivas. Assim, todo projeto tem a característica de
ser flexível, mutável, adaptável, aperfeiçoado. Isso requer um mínimo de
planejamento: estar atento ao momento de mudar, saber o que se quer,
avaliar como chegar aos objetivos. É estar sempre em atitude de busca,
pois a vida e o amor são exigentes.
Há diversos meios para se elaborar um projeto.
Destacamos aqui três momentos desafiadores:
1. Reconhecer-se — É preciso olhar para dentro de nós mesmos, encarar nossos medos, os próprios limites, nossas forças, potencialidades e pormo-nos a caminho.
2. Fazer transição (olhar o novo, ter clareza no olhar) — É muito
fácil viciar o olhar. Em geral, olhamos o que acontece conosco e com
aqueles que estão ao nosso lado com um olhar cansado, viciado, ou
seja, pensamos ver o que já conhecemos; e nosso olhar se torna medíocre, pequeno, sem brilho, sem perspectiva. O grande convite é o
de acolhermos o novo em nossas vidas com entusiasmo, alegria, com
brilho nos olhos, como sendo a “grande novidade”. É preciso “deixar
as escamas que estão sobre os olhos caírem” (Atos 1,18). Assim, teremos clareza no olhar.
3. Reconstruir — Podemos refazer nossas vidas todos os dias. Faz
parte da vocação certa ânsia por buscar mais e mais. Não podemos
ficar apegados ao que nos deixa pequenos. Somos chamados a ser
grandes. Temos vocação para o infinito.
As perspectivas e projeções povoam nossas vidas. Não prevemos o
que pode acontecer. Sabemos o dia de nosso nascimento e algumas ou32
Caderno Formativo do MChFM | V.1
tras datas. Contudo, entre o nascer e o morrer tudo pode acontecer. E,
nesse espaço-tempo, há vários outros momentos.
“Há momentos em que a vida é teia frágil e fina como
os fios trabalhados no tear. Há momentos em que os laços
com a vida são tênues, diluídos como as cores esmaecidas. [...] Há momentos de luminosidade, brilho, prazer
e alegria. Há momentos de neblina, escuridão, tristeza e
dor”. (Madalena Freire, 92-93).
Tais momentos nos levam a encarar a vida com mais seriedade, naturalidade, alegria... desde que estejamos abertos ao novo, aos desafios que
nos projetam rumo ao desconhecido.
Mesmo assim, a vida nos reserva surpresas, ora boas, ora não muito
agradáveis. Contudo, cabe a nós decidir o que fazer com as situações que
ela nos impõe. É importante se dar conta de que somos convidados a recomeçar a cada dia, que nossa vida não está acabada, que amanhã posso
ser melhor que hoje. Em outras palavras, que nossa vocação não está realizada, que, como projeto de Deus, somos sempre inacabados.
“A resposta está em nossas mãos”. Nós é que determinamos para onde
e como devemos ir. Tomemos, pois, as rédeas da vida e sigamos o caminho, sempre. É nossa vocação!
O projeto de nossas vidas — de vida feliz — se faz ao longo do caminho
e no encontro com as pessoas.
>> PERGUNTAS PARA APROFUNDAMENTO
1. Que sentido tem para você refletir sobre projeto de vida?
2. Algum acontecimento em sua vida (pessoal ou familiar) provocou
mudanças em seu modo de agir/modo de ser?
3. Qual a relação entre vocação e projeto de vida?
Caderno Formativo do MChFM | V.1
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encontro 5
Tema: EDUCAR(-SE) NO AMOR,
PELO AMOR, PARA O AMOR!
ABERTURA (30 min.)
• Meditação 3-5-3
• Leitura do calendário religioso
• leitura da ata
• Leitura orante da Bíblia (Lc 2, 39-52). O que o texto diz?
O que o texto me diz? Como o texto me faz agir?
>> PROVOCAÇÃO QUE VEM DA VIDA
Irmão Sylvestre (Félix Tamet) foi um dos primeiros Irmãos no tempo de Champagnat, tendo convivido durante 9 anos com o Fundador. No
final de sua vida (faleceu em 1887), escreveu suas recordações sobre o
Fundador e os primeiros Irmãos, com várias considerações sobre a Congregação. Eis uma delas:
Faço agora outra reflexão. Não será verdade que, em sua misericórdia, Deus
teria inspirado ao padre Champagnat a fundação da Congregação exatamente
para o tempo em que estamos vivendo? Com efeito, nunca se viu a juventude
exposta a tão grandes perigos como agora. As escolas sem Deus, que aparecem
por toda a parte, nada mais são do que locais onde há libertinagem desenfreada, insubordinação audaciosa e crimes hediondos. Se, desde seu nascimento, o
ser humano traz em si a semente dos vícios, o que não se tornará essa juventude
exposta a toda a sorte de más doutrinas, levada ao mal pelos piores exemplos,
excitada por vergonhosa concupiscência? Que tipo de juventude sairá dessas
escolas ateias? É verdade que ensinam certa moral, disfarçada sob o adjetivo
de cívica. Entretanto, no fundo, não passa de imoralidade camuflada e total34
Caderno Formativo do MChFM | V.1
mente pagã. Quem amparará tais jovens nos combates que precisarão travar
contra si próprios, tendo apenas essa pretensa moral?
Sem as luzes do Evangelho para guiá-los, sem a graça que lhes dá fortaleza
para vencer? Quem os ajudará, quando os maus deste mundo lhes apresentarem a taça encantada dos prazeres, cheias de venenos mortíferos? Os jornais já
estão noticiando essa geração ignóbil e feroz, fruto das escolas públicas; escolas
de onde o governo baniu o ensino de Deus e retirou a imagem da cruz, sinal
sagrado que ajudou a civilizar os povos bárbaros! Aí está contra quem a Congregação do padre Champagnat foi chamada a lutar.
(Irmão Sylvestre: Relatos sobre Marcelino Champagnat, p. 251)
>> TEXTO PARA ESTUDO
MISSÃO EDUCATIVA MARISTA
Nosso vínculo com a Missão Marista convida-nos a pensar sobre Marcelino Champagnat e sobre as propostas que ele, há quase 200 anos, lançou para os Irmãos e, hoje, fortemente, também para as Leigas e os Leigos Maristas.
O desejo deste nosso encontro é exatamente este: como nossa condição de fraternas e fraternos nos permite conhecer e viver essa especialíssima Missão Marista?
Além de destacar os fundamentos dessa maneira de ser no mundo,
refletiremos juntos sobre as consequências dessa resposta que demos ao
chamado de Deus para sermos Maristas.
Rapidamente retomemos a síntese de nossa Missão, descrita com muitos outros detalhes no nosso documento norteador Missão Educativa Marista — um projeto para nosso tempo”1:
1
Missão Educativa Marista — um projeto para nosso tempo. 3. ed. São Paulo: Simar, 2003.
Caderno Formativo do MChFM | V.1
35
encontro 5
Quem é o Marista? Quem somos nós?
Somos discípulos de Marcelino. Apaixonados por Deus como
Champagnat, seguimos a vida cristã, buscando imitar suas virtudes.
Irmãos e Leigos(as), juntos na Missão, somos chamados a difundir
o carisma Marista, em ações distintas e complementares, na Igreja e no
mundo.
O coração sem fronteiras de Marcelino nos convida a estarmos entre
os jovens, especialmente entre os mais abandonados. Estes são a
nossa prioridade. Fiéis ao movimento iniciado por Marcelino, buscamos
os esquecidos, em todos os cenários.
Somos semeadores da Boa Nova. O Evangelho é projeto de vida
para toda pessoa humana; nossa atuação como Maristas exigirá plantar
essa semente, dentro e fora das nossas paredes.
Marcelino nos legou um estilo Marista próprio, o estilo que caracteriza nossa forma de educar e aprender. Entre outras marcas dessa
ação, estão a simplicidade e o cuidado amoroso (“Antes de tudo, é preciso
amar...”). Educamos e aprendemos não só na instituição escolar, estamos
em outras estruturas de educação. No Grupo Marista, por exemplo, temos escolas, universidades, hospitais, obras sociais, meios de comunicação, editoras, casas para encontros e retiros...
Nossa missão encerra uma profissão de fé no que há de vir. Sabemos,
no entanto, que o futuro exige nosso empenho, dedicação e muito trabalho. Por isso, olhamos para o futuro com audácia e esperança.
Com esses ingredientes fundamentais, já nos damos conta da responsabilidade assumida ao nos identificarmos como Maristas de Champagnat. Não é possível seguir esse caminho sem a graça de Deus e a nossa
corresponsabilidade.
36
Caderno Formativo do MChFM | V.1
O texto da Missão Educativa Marista é ainda o grande documento norteador da vida de todos os Maristas de Champagnat. Como todos os dons
do Espírito, o carisma Marista responde aos contextos novos e, assim,
recebemos a graça de um texto forte e desafiador para a vida das Leigas
e dos Leigos Maristas. O Em torno da mesma Mesa2 vem para ajudar-nos
no discernimento, planejamento e na prática de nossa Missão, como participantes ativos na obra de Champagnat. Buscamos na carta final deste
documento algumas pistas importantíssimas para viver com mais coerência, profundidade e produtividade os nossos compromissos Maristas.
Assim, nos empenhamos para:
4. Evangelizarmos as crianças e os jovens, acolhendo e considerando seus contextos ricos e exigentes.
5. Trabalharmos pela justiça, por um mundo onde todos caibam e
que se assegure a dignidade de cada pessoa.
6. Educarmos para o diálogo, para a reciprocidade, pelo respeito
ao que o outro é, para construirmos um mundo de iguais e diferentes.
7. Acolhermos o Espírito de Deus, em busca da unidade, no diálogo com as outras Igrejas Cristãs e com as outras religiões.
8. Difundirmos e cultivarmos uma nova relação com a obra da
criação, numa atitude de maravilhar-se, buscando a sustentabilidade do planeta.
Somos, portanto, herdeiros de uma obra de amor, pelo amor e para o
amor. Marcelino nos pede que façamos tudo com esta marca. Nossas famílias e nossas comunidades precisam perceber que os frutos de nossa vida e
trabalho como Maristas só virão se vivermos no AMOR, em sintonia com
o Deus-Amor, que nos chama a viver o amor perseverante e cotidiano.
2
Em torno da mesma mesa: a vocação dos leigos maristas de Champagnat. Org. A.M. Estaún. Brasília:
UMBRASIL, 2010.
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encontro 5
Quando nos damos conta da beleza e da responsabilidade que assumimos em nossa Missão como Maristas de Champagnat, recorremos a
Deus na oração e acolhemos o conselho de nosso Santo Fundador em seu
testamento espiritual: “Perseverai fielmente no santo exercício da presença de Deus, alma da oração, da meditação e de todas as virtudes. (...)
Sede fiéis à vossa vocação, amai-a e perseverai nela corajosamente”.3
Que nosso empenho, dedicação e oração, vividos no amor, sejam acolhidos por Deus e que nossas Fraternidades do MChFM sejam caminhos
para nosso aprofundamento na Missão Marista e nosso aperfeiçoamento
como pessoas que buscam ser plenamente humanas.
>> PERGUNTAS PARA APROFUNDAMENTO
1. Nossa Fraternidade tem sido ocasião propícia para conhecermos
melhor e nos prepararmos para a vivência da Missão Marista, com
base em nossa realidade local?
2. Que entendemos por “Para bem educar as crianças é preciso, antes
de tudo, amá-las, e amá-las todas igualmente”? Se as pessoas são diferentes, se as necessidades de cada um são específicas, é justo “amar
a todos igualmente”?
3. Como cada um de nós tem buscado responder à condição de Missionário Marista?
3
38
Cf. “Testamento Espiritual do Padre Marcelino Champagnat”, in Constituições e Estatutos dos Irmãos
Maristas das Escolas, Roma, 1993.
Caderno Formativo do MChFM | V.1
Caderno Formativo do MChFM | V.1
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encontro 6
Tema: CRIANÇAS E JOVENS EMPOBRECIDOS
ABERTURA (30 min.)
• Meditação 3-5-3
• Leitura do calendário religioso
• leitura da ata
• Leitura orante da Bíblia (Mt 19, 13-15). O que o texto diz?
O que o texto me diz? Como o texto me faz agir?
>> PROVOCAÇÃO QUE VEM DA VIDA
No tempo de Champagnat, a partir de 1833, os Irmãos começaram a
dirigir uma escola na cidade de Peaugres. No ano de 1837, passaram a
surgir boatos de que os Irmãos deveriam deixar a escola, por causa de
implicações do Vigário-Geral da Diocese de Viviers, a qual pertencia à
cidade de Peaugres. Na ocasião, o Sr. Vallas, prefeito da cidade, totalmente favorável aos Irmãos, em virtude do bem que realizavam em favor das
crianças e dos jovens, escreveu um carta ao padre Champagnat, suplicando que não retirasse os Irmãos, mantendo a escola. Eis um trecho de
sua carta:
O ano escolar acaba de terminar. É dever meu, neste momento, como representante dos habitantes deste município, vir depor aos vossos pés as nossas
homenagens e agradecimentos, homenagens e agradecimentos que vos são devidos a título mui justo, porquanto, desde a chegada dos Irmãos, só tivemos que
nos felicitar pela sua presença e pelos benefícios sem conta que nos asseguram,
benefícios tanto espirituais como corporais.
Com efeito, os meninos submetidos à sua direção fazem progressos rápidos,
o que não se observou antes, com os professores leigos que os precederam. A
40
Caderno Formativo do MChFM | V.1
mudança é fruto dos princípios sólidos que eles se esforçam em inculcar e do
bom método que seguem no ensino. Pastores alertas, no meio do rebanho sem
experiência, protegem os alunos contra o vício e os dirigem à virtude pelas suas
atenções e bons exemplos. Mestres experimentados, cercam-nos de cuidados,
encorajam-nos e estimulam-nos com zelo e afeição. (...) Os meus subordinados
amam-nos; os meninos submetidos ao seu ensino respeitam-nos; os vizinhos procuram-nos, de modo que, se vierdes a fechar a escola, todo mundo ficará na aflição. É por esses motivos, senhor, que venho, ainda este ano, rogar-vos, em nome
dos meus administradores, que tenhais a bondade de não retirar os Irmãos (...)
(Carta ao padre Champagnat, do Sr. Vallas, prefeito de Peaugres, dia
1º outubro de 1838)
>> TEXTO PARA ESTUDO
PROMOÇÃO E DEFESA DOS DIREITOS
DE CRIANÇAS E JOVENS
Introduzindo o tema, tomemos o Artigo 227 de nossa Constituição Federal, de 1988: “É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar
à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à
saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura,
à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-la a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade ou opressão”. Esse princípio de
proteção integral é fortalecido, entre outros documentos, pela Declaração
dos Direitos da Criança (ONU, 1989) e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, 1990).
Falar sobre promoção e defesa dos direitos de crianças e jovens é uma
oportunidade para rememorar as origens Maristas, atualizando-a diante dos desafios contemporâneos do Instituto. O contato de Champagnat
com aquele jovem moribundo à beira da morte (Montagne), que não saCaderno Formativo do MChFM | V.1
41
encontro 6
bia ler, escrever e desconhecia a existência de Deus, tocou profundamente sua vida, a ponto de se comover ao imaginar quantos outros também
estariam naquela mesma situação de abandono e ignorância.
Um dos apelos do XXI Capítulo Geral foi o de ser “presença fortemente significativa entre crianças e jovens pobres”4. Nas atas desse capítulo,
o Superior-Geral menciona o desafio de tornarmo-nos “especialistas em
evangelização e na defesa dos direitos de crianças e jovens”5. Interessante
perceber que em momento algum o Ir. Émili direcionou sua fala como exclusividade de uma ou outra área do Instituto, o que significa que existe
uma corresponsabilidade de todos os Maristas nesta causa, independente da vinculação ou atuação profissional.
É premissa da Congregação que as crianças e os jovens tenham a garantia de uma vida digna, com seus direitos assegurados e reconhecimento como sujeitos de direito. Afinal, são percebidos como Imago Dei,
isto é, imagem e semelhança de Deus. E, se são reflexos do Pai Criador,
são merecedores de respeito e valor. Ademais, Cristo afirmou que “cada
vez que fizestes algo a um desses meus irmãos mais pequeninos, foi a
mim que o fizestes” (Mt 25:40).
É necessário, nos dias atuais, avançar corajosamente para a área da
defesa dos direitos das crianças e dos jovens, ampliando a atuação com
um maior número de pessoas e novos espaços. Trata-se de estar junto a
todas as infâncias e juventudes, desejando ir para além daquelas já promovidas. O Ir. Émili Turu conclama a todos a avançar por esse audacioso campo de missão: “Estivemos comprometidos, desde a nossa origem,
na defesa dos direitos das crianças e jovens por meio de nosso serviço
educacional. Hoje, entendemos que é preciso fazer essa defesa de maneira mais estrutural e política, procurando intervir lá onde se tomam as
4
5
42
Conclusões do XXI Capítulo Geral. Disponível em <http://www.champagnat.org/shared/21Capitolo/documentos/
DOCXXI_PT.pdf>
Disponível em <http://fms.it/shared/21Capitolo/documentos/actas_pt.pdf> , p. 216
Caderno Formativo do MChFM | V.1
decisões que podem mudar as estruturas que geram ou perpetuam as
violações desses direitos”6.
Uma das maneiras que o Instituto encontrou, para dar uma resposta
ao apelo do Ir. Émili e torná-lo realidade, em esfera mundial, dá-se com
a Fundação Marista para Solidariedade Internacional (FMSI). Nos níveis nacional, estadual e municipal, há diversos espaços de participação,
como em conselhos, conferências, audiências públicas, movimentos sociais e outros.
Dentro das Unidades Maristas, há o incentivo para que os adolescentes
e jovens exerçam suas lideranças a favor da promoção e defesa dos direitos. Isso ocorre sobremaneira por meio da Pastoral Juvenil (PJM)7 e nos
Centros Sociais, uma vez que atuam na perspectiva da educação para a
solidariedade e na formação para o exercício da cidadania plena. Garante-se, assim, uma cultura de justiça e de equidade, refletindo no agir humano um estilo de vida compromissado com o bem comum. Segundo o Papa
Francisco, “embora um pouco desgastada e, por vezes, até mal interpretada, a palavra solidariedade significa muito mais do que alguns atos esporádicos de generosidade; supõe a criação de uma nova mentalidade que
pense em termos de comunidade, de prioridade da vida de todos sobre
a apropriação dos bens por parte de alguns”8. Formar para a cidadania
tem como justificativa desenvolver na criança e no jovem as competências
necessárias ao bom desempenho como pessoas e como profissionais, favorecendo o êxodo do estado alienante que a sociedade os coloca.
Esse engajamento vem ao encontro de um apelo do Instituto, para
que nos convertamos “em peritos e defensores dos direitos das crianças
e jovens de maneira valente e profética, nos espaços onde são definidas
as políticas públicas”9. É mais que uma demanda da Congregação; trata6
7
8
9
Circular Deu-nos o nome de Maria, p. 52
ara saber mais, acessar <www.pjmgrupomarista.org.br>
Papa Francisco. Evangelii Gaudium, n. 188, p.114.
Conselhos de Juventude: mais que uma conquista, um direito!, p. 15
Caderno Formativo do MChFM | V.1
43
encontro 6
-se de um compromisso evangélico: pessoal, eclesial e social. É realizar
a missão cristã de ser “sal da terra e luz do mundo”10. É “pegar a própria
cruz e seguir Cristo”11. É “satisfazer acima de tudo as exigências da justiça, para não oferecer como dom da caridade aquilo que já é devido por
justiça”12. É “ver o mundo com os olhos das crianças e jovens pobres e, assim, mudar nossos corações e atitudes”13. É “desafiar as políticas sociais,
econômicas, culturais e religiosas que oprimem as crianças e os jovens”14.
É ir ao encontro dos jovens Montagne de hoje e agir como um autêntico
Marista de Champagnat!
>> PERGUNTAS PARA APROFUNDAMENTO
1. De acordo com o Superior-Geral, nas conclusões do XXI Capítulo
Geral, “ir para uma nova terra supõe estarmos prontos para a mobilidade, para o desprendimento e para assumir um itinerário de conversão tanto pessoal como institucional”. De que o MChFM precisa
se desprender para poder avançar por esse importante campo de
missão dos direitos das crianças e dos jovens?
2. De que maneira nossa fraternidade pode se envolver concretamente
com a promoção e defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes?
3. O Catecismo da Igreja Católica diz que não se deve “oferecer como
dom de caridade aquilo que já é devido por justiça”. O que se pode
entender nesta citação, na perspectiva da garantia dos direitos?
10
11
12
13
14
44
Mt 5:13
Lc 9:23
Catecismo da Igreja Católica, n. 2466
XXI Capítulo Geral, p. 25
XXI Capítulo Geral, p. 15
Caderno Formativo do MChFM | V.1
Caderno Formativo do MChFM | V.1
45
encontro 7
Tema: DIGNIDADE HUMANA:
COMPROMISSO CRISTÃO
ABERTURA (30 min.)
• Meditação 3-5-3
• Leitura do calendário religioso
• leitura da ata
• Leitura orante da Bíblia (Mt 25, 34-40). O que o texto diz?
O que o texto me diz? Como o texto me faz agir?
>> PROVOCAÇÃO QUE VEM DA VIDA
A preocupação de Champagnat com a educação cristã dos jovens e das
crianças, em seu tempo, preparando Irmãos educadores e catequistas e com
eles abrindo 48 escolas, já era um forte indício de comprometimento sociopolítico. Além de angustiar-se com a insuficiente formação, condoía-se com
a pobreza material das pessoas indigentes com as quais se encontrava:
Quando coadjutor em Lavalla, encontrou certo número de pais, pobres e negligentes, que deixavam os filhos na ignorância das verdades da fé, não os enviando nem à escola nem ao catecismo. Reuniu essas crianças e trouxe-as para
a casa dos Irmãos e ele mesmo se encarregou de dar-lhes comida e roupa. No
primeiro ano eram doze. Nos anos seguintes o número foi crescendo e continuou
recebendo-os enquanto foi possível alojá-los na casa. Sua bondade não se restringia às crianças. Todos os pobres da paróquia saíram ganhando. Nenhum
deixava de ser atendido. A uns arranjava pão. A outros, roupas e agasalhos.
Mandava preparar comida adequada para os doentes e designava dois Irmãos
para assisti-los durante a noite. Um dia chamaram-no para um doente. Apressa-
46
Caderno Formativo do MChFM | V.1
-se em visitá-lo e encontra um infeliz coberto de chagas, na maior miséria, tendo
apenas alguns trapos a cobrir-lhes a nudez e as úlceras. Profundamente movido
de compaixão à vista de tantas dores e tanta miséria, dirige-lhe, primeiramente,
palavras de conforto. Depois, corre para casa, chama o Irmão ecônomo e ordena-lhe que leve imediatamente colchão, lençóis e cobertores ao infeliz que acabara
de visitar. — Mas, Padre, não temos nenhum colchão sobrando. — Como! Não
encontra nenhum colchão na casa? — Não, nenhum. Deve lembrar-se que dei o
último faz alguns dias. — Pois bem! Retire o colchão da minha cama e leve-o agora mesmo ao pobre homem. Muitas vezes aconteceu-lhe despojar-se desta forma
para assistir os indigentes ou fornecer a seus Irmãos aquilo que lhes faltava.
(Biografia oficial de Marcelino Champagnat, 2ª parte, cap. XXI, p. 476)
>> TEXTO PARA ESTUDO
SOLIDARIEDADE E COMPROMETIMENTO SOCIOPOLÍTICO
Comecemos resumindo um período da história para contextualizar a
reflexão deste encontro.
O surgimento da Revolução Industrial na Europa, nos séculos XVII e
XVIII, causou o aparecimento de uma classe numerosa de proletariados,
ex-camponeses, agora operários — homens, mulheres e crianças — trabalhando de 12 a 16 horas por dia, 7 dias por semana, tendo uma expectativa de vida em torno dos 35 anos.
O Papa Leão XIII, inspirado por muitos bispos e padres de vários países que denunciavam o infortúnio e a miséria dessa classe operária, respondeu às emergentes desigualdades sociais, que aviltavam (ignoravam)
a dignidade humana, com a publicação, em maio de 1891, da Encíclica
Rerum Novarum (Das Coisas Novas), que deu início à sistematização das
reflexões da Igreja sobre as questões sociais. Ao conjunto destes ensinamentos (compêndio) dá-se o nome de Doutrina Social da Igreja (DSI)15. A
DSI ilumina com luz evangélica a consciência humana para que, diante
15 Conforme chamou Pio XI na Encíclica QuadragesimoAnno, em 1941.
Caderno Formativo do MChFM | V.1
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encontro 7
das tensões sociais, os cristãos tenham um agir coerente entre fé e vida,
entre fé professada e fé praticada, tendo em vista uma sociedade mais
igualitária e solidária.
Dentre os princípios essenciais dos ensinamentos da Igreja, destaca-se o da dignidade humana, por ser o fundamento dos demais. Para certos sistemas políticos e econômicos, o ser humano só tem valor quando
visto sob o aspecto do coletivo social, enquanto força produtiva.
A dignidade humana, aqui, é entendida à luz da fé, em que o ser humano é reconhecido como imagem e semelhança de Deus e, por isso, sua
vida deve ser potencializada, respeitada e preservada. Nosso sentido de
dignidade cresce à medida que investimos na promoção do outro.
Desta preocupação humanitária, a DSI se abre em duas vertentes:
denúncia e anúncio. Anúncio da verdade sobre o homem e dos compromissos deles derivados. Denúncia das injustiças que violentam esta verdade sobre o homem16, inspirando o cultivo de pensamentos e projetos
de amor, de justiça, de liberdade e de paz, infundindo no coração dos homens a carga de sentido e de libertação do Evangelho, de modo a promover uma sociedade à medida do homem porque à medida de Cristo 17.
Ao criar o ser humano, Deus lhe confere uma “dignidade sublime, que
tem as suas raízes na ligação íntima que o une ao seu Criador: no homem,
brilha um reflexo da própria realidade de Deus”18. Deus tomou o cuidado de preparar tudo para receber a melhor de suas criações19: o homem.
Um bom hospedeiro “não introduz seu convidado senão após ter arrumado tudo para a refeição, arranjado e decorado suficientemente a casa e
a mesa; então, pronta a ceia, traz o convidado”20. Da mesma forma, Deus,
16
17
18
19
20
48
CDSI, Compêndio de Doutrina Social da Igreja, n. 81.
CDSI, Compêndio de Doutrina Social da Igreja, n. 63.
Papa João Paulo II, Evangelium Vitae, n. 34.
KONINGS, Johan; ZILLES, Urbano (Org.). Religião e Cristianismo. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1997. p. 186.
NISSA, Gregório. A criação do homem. cc.2-5, p. 44, 132-137; SC. 6, apud, FOLCH GOMES, Cirilo. Antologia
dos santos padres: páginas seletas dos antigos escritores eclesiásticos. São Paulo: Paulinas, 3. ed. 1979. p. 265.
Caderno Formativo do MChFM | V.1
com a dedicação de um pai amoroso, cuidou para que tudo estivesse à
altura de nossa dignidade. Fomos criados com o cuidado do Divino artesão, que sabe equilibrar a fecundidade da água com a carência da terra21,
imprimindo em cada ser humano normas de “igualdade, solidariedade e
dignidade de ser humano feito a imagem e semelhança de Deus. Assim,
depois de contemplar a obra humana, que adornava e dava sentido ao
restante de sua criação, Deus viu que tudo ‘era muito bom’”22 e “é difícil imaginar conceito mais elevado de dignidade humana”23 do que este:
“Deus viu tudo o que tinha feito: e era muito bom” (Gn 1:31).
O Instituto Marista, do qual fazemos parte por opção, alinhado aos
ensinamentos da Igreja, proporciona o desenvolvimento de alunos, colaboradores, Leigas, Leigos e Irmãos pautado por valores éticos, cristãos e
Maristas inerentes e essenciais ao cuidado com a dignidade humana, tais
como a verdade, a liberdade, a fidelidade, a justiça e o amor24. Atende,
assim, à sua missão de oferecer formação integral que promova a vida
humana e a construção da verdadeira civilização do amor25. Amor não
reduzido a um sentimentalismo assistencialista, mas cristalizado na concretude de experiências de resgate e promoção humana, principalmente
de crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social.
>> PERGUNTAS PARA APROFUNDAMENTO
1. Temos consciência de nossa dignidade humana?
2. Denunciamos as injustiças que violentam a dignidade humana?
3. Estamos comprometidos em cultivar e anunciar projetos de amor,
justiça, liberdade e paz?
21
22
23
24
25
FLORES, J. H. P. Formação de discípulos. São Paulo: Loyola, 1996. p. 96.
Conforme Gn 1:31.
KONINGS, Johan; ZILLES, Urbano (Org.). Religião e Cristianismo. Porto Alegre: EDIPUCRS,1997. p. 186.
Concílio Vaticano II, Constituição Gaudiumetspes, n. 265-266.
Tema cunhado pelo Papa Paulo VI, em 1975.
Caderno Formativo do MChFM | V.1
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encontro 8
Tema: VIVER EM COMUNIDADE
ABERTURA (30 min.)
• Meditação 3-5-3
• Leitura do calendário religioso
• leitura da ata
• Leitura orante da Bíblia (Atos 2, 41-47). O que o texto diz?
O que o texto me diz? Como o texto me faz agir?
>> PROVOCAÇÃO QUE VEM DA VIDA
Gesto surpreendente de Marcelino, mostrando sua dedicação e amor
aos Irmãos, aconteceu em 1818, quando decidiu deixar a Casa Paroquial,
onde, como sacerdote, tinha o direito aos serviços de uma empregada que
cuidava da roupa, da limpeza da casa e do preparo das refeições. Deixou
aquele status para ir morar com os primeiros Irmãos na humilde casa de
La Valla, onde todo o serviço era feito por eles mesmos. Humildade e pedagogia da presença. Ensinar mais com a vida e com os exemplos do que
com palavras. Eis um episódio narrado pelo Irmão Sylvestre:
Sendo impossível relatar aqui os episódios da sua vida que revelam a prática dessa virtude, por serem numerosos, permitam-me relatar pelo menos um
deles, do qual eu mesmo fui testemunha. Certo dia, de carruagem, com ele e
alguns coirmãos, estávamos indo para a cidade de La Côte-Saint-André. Outro
sacerdote também havia embarcado na carruagem e tomara lugar ao lado de
Champagnat. Edificado com o recolhimento dos Irmãos e desconhecendo o colega sacerdote ao seu lado, perguntou-lhe em voz baixa quem eram aqueles Irmãos, no banco da frente, com os quais se deparava pela primeira vez. Respondeu-lhe: “São Irmãos que se ocupam da instrução da juventude”. Então quis
50
Caderno Formativo do MChFM | V.1
saber quem era o fundador. Resposta: “Não se sabe muita coisa. Trata-se de
uma Sociedade que se formou pouco a pouco graças ao desvelo de certo coadjutor de paróquia, que reuniu alguns jovens aos quais, depois, outros se foram
juntando”. Ao perceber que nossos olhares se dirigiam para o padre Champagnat, ele compreendeu a razão daquela resposta evasiva. Disse-lhe: “Está bem;
não vamos ferir a modéstia”. Depois, ao ver o embaraço em que sua pergunta
colocara o Fundador, mudou de conversa.
(Irmão Sylvestre: Relatos sobre Marcelino Champagnat, p. 290)
>> TEXTO PARA ESTUDO
SER IGREJA, SENTIR-SE IGREJA
O primeiro Catecismo da Igreja Católica (CIC) foi aprovado pelo Papa
São Pio V, após o Concílio de Trento, realizado de 1545 a 1563. O Catecismo atual foi entregue aos fiéis de todo o mundo, no dia 11 de outubro de
1992, pelo Papa São João Paulo II, que o apresentou como “texto de referência” para uma catequese renovada nas fontes vivas da fé.
O Catecismo da Igreja Católica, portanto, apresenta uma ampla e profunda reflexão sobre a Igreja. Concebe-a, como pré-figurada no Antigo
Testamento, com o significado de “convocação”, plenamente fundada em
Cristo e manifestada ao mundo em Pentecostes.
A palavra “convocação” nos remete diretamente à ideia de
“assembleia”26, “convocada” por Deus e reunida para viver em comunhão com Ele27.
A primeira grande convocação é a própria criação do mundo, a criação
da vida. A resposta positiva do ser humano, representada biblicamente por Abel, é garantia da primeira aliança já estabelecida. Essa aliança,
26 CIC 752
27 CIC 751
Caderno Formativo do MChFM | V.1
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encontro 8
contudo, não é ainda definitiva. Será rompida pelo pecado. No entanto,
pela misericórdia divina, será renovada, inicialmente na figuração de
Noé; posteriormente com Abraão e Moisés. A Igreja aqui presente é peregrina, em exílio, ainda não completa. Avança buscando sua plenitude,
sua consumação na glória celeste28.
Somente com Cristo se dará a Nova e Eterna Aliança, aquela que jamais
será rompida, pois que o próprio Deus, ao assumir nossa carne, responde
por nós e nos torna uma só realidade com Ele. Dessa forma, o Catecismo
afirma que a Igreja, outrora presente no Antigo Testamento e descrita em
metáforas, é fundada em Cristo, pelo dom total da cruz: “Foi do lado de
Cristo adormecido na cruz que nasceu o sacramento admirável de toda a
Igreja”29. De fato, em Cristo, a Igreja nasce de braços abertos, pronta a acolher a todos. Nasce, também, sob o cuidado e proteção de Maria, a quem
Cristo na mesma cruz a confiou: “Mulher, eis aí teu filho. Filho, eis aí tua
Mãe” (Jo 19:26). Essa realidade é sublime, essencial e permanente.
A Igreja de Cristo, como toda ação de Deus, é eterna. Perpetua-se e
atualiza-se no tempo e no espaço. Por isso, em Pentecostes, pelo dom do
Espírito Santo, essa mesma Igreja é manifestada ao mundo30. É, portanto, missionária, vocacionada a estar no mundo para servir a todos, sem
distinção, em vista da consolidação do Projeto de Deus — seu Reino.
Uma vez apresentada ao mundo, a Igreja, nos primeiros séculos do
cristianismo, ganhou características que justificaram sua sublime vocação. Foi aberta a todos, sobretudo aos simples e pobres. Foi perseguida e,
pela dispersão de seus membros, esteve em constante expansão, em estado de missão. Foi caracterizada pela pregação seguida do testemunho de
vida; foi a Igreja da comunhão, da partilha, da fidelidade aos apóstolos;
foi pobre, simples, perseverante e ardentemente mística.
28 CIC 769
29 CIC 766
30 CIC 767-768
52
Caderno Formativo do MChFM | V.1
Durante os séculos que se seguiram, essa mesma Igreja passou a sofrer muitas influências do poder temporal. A chamada Idade Média foi
caracterizada por fatos que mantiveram a Igreja Santa, Católica, Apostólica e Una, todavia marcada por fatos que a expuseram como pecadora,
dividida e infiel. Após o predomínio dessa cultura medieval, os novos
tempos da modernidade (séc. XVI-XIX) trouxeram à Igreja um novo desafio, o do diálogo com a nova sociedade que se configurava. Esse diálogo
tomou forma elaborada no século XX, mais precisamente com o grande evento do Concílio Vaticano II, convocado pelo Papa São João XXIII
e levado a termo por Paulo VI (1962 a 1965). A partir deste Concílio, a
Igreja reconhece no mundo todos os significativos avanços no campo da
cultura, das ciências, do campo social em geral. Podem ser promotores
da vida. Ao mesmo tempo, a Igreja torna-se mais atualizada a ponto de
estabelecer críticas proféticas consistentes à sociedade atual. Propõe,
com coragem e ousadia, o Cristo como único caminho seguro que revela
o “homem a si mesmo e descobre-lhe a sua vocação sublime”31.
Cinquenta anos se passaram desde esse magnânimo acontecimento. O
mundo e a Igreja ainda o estão assimilando. Há muito que se fazer.
Um dos frutos mais sublimes desse Concílio foi o de tornar evidente a
vocação de cada batizado como protagonista no processo de evangelização. O batismo é o sacramento referencial. Cada cristão é um “novo Cristo”, chamado a evangelizar. Diante dessa “novidade”, foram edificadas
escolas de formação na fé, para os Leigos, e criados espaços de vida comunitária para o alimento da fé e da missão laical. O Movimento Champagnat da Família Marista, inserido no coração do Instituto Marista, é
um exemplo vivo dessa nova forma de ser Igreja, de caminhar juntos, de
ser protagonista.
31 Gaudium et Spes 22
Caderno Formativo do MChFM | V.1
53
encontro 8
>> PERGUNTAS PARA APROFUNDAMENTO
1. Sentimo-nos Igreja, chamados por Cristo para viver plenamente o
Projeto de Deus – o seu Reino? De que forma percebemos essa realidade?
2. A Igreja nos primeiros séculos foi marcada pela vida fraterna, de
partilha e perdão. Ainda podemos ver nos dias de hoje essas mesmas
características? Partilhemos.
3. O Concílio Vaticano II nos pede para adotarmos uma vida de formação na fé e de vida em comunidade. De que forma podemos responder a esse apelo?
54
Caderno Formativo do MChFM | V.1
Caderno Formativo do MChFM | V.1
55
encontro 9
Tema: A ALEGRIA DA MISSÃO
ABERTURA (30 min.)
• Meditação 3-5-3
• Leitura do calendário religioso
• leitura da ata
• Leitura orante da Bíblia (Is 61, 1-3). O que o texto diz?
O que o texto me diz? Como o texto me faz agir?
>> PROVOCAÇÃO QUE VEM DA VIDA
O Irmão Sylvestre, que conviveu com o padre Champagnat durante
nove anos, pelo final de sua vida escreveu recordações sobre o Fundador
e os primeiros Irmãos, preenchendo doze cadernetas com anotações. Eis
um trecho sobre o espírito missionário de Marcelino:
Quando viu partir o primeiro grupo de missionários, enviados pela Sociedade de Maria para a evangelização dos povos selvagens da Polinésia, Champagnat sentiu grande desejo de acompanhá-los. Comunicou seus sentimentos
ao padre Colin. Este, admirando-lhe o zelo, fez-lhe compreender que sua missão
não era evangelizar os infiéis diretamente, mas formar apóstolos para tal missão. O padre Champagnat não insistiu, achando não ser digno de tal favor. Em
sua humildade, dizia: “Não me querem para isso porque sabem que não presto
para nada”. Em compensação, esmerava-se na tarefa de preparar bons Irmãos
para as missões; pedia que rezássemos muito pelo bom êxito das missões. Nas
palestras, ao nos falar disso, dizia que devíamos agradecer ao Senhor a graça
concedida à Sociedade de Maria de evangelizar os povos longínquos, pois, por
causa desta obra de misericórdia espiritual, muitas bênçãos seriam derramadas sobre o Instituto. Ele nos assegurava que haveria mártires nas missões e
56
Caderno Formativo do MChFM | V.1
que gostaria de ser um deles. Considerava obrigação nossa rezar muito pela
salvação dos povos da Polinésia, pois tinha sido a Santíssima Virgem que encarregara a Sociedade de Maria de trabalhar pela conversão deles.
(Irmão Sylvestre: Relatos sobre Marcelino Champagnat, p 209)
>> TEXTO PARA ESTUDO
CHAMADOS A SER DISCÍPULOS E MISSIONÁRIOS
“A Alegria da Missão” é o tema do Ano Missionário, lançado na Arquidiocese de Curitiba, em 2015. Ele vem responder a um apelo feito pelo
Papa Francisco, que pede uma renovação missionária a toda a Igreja.
Este tema pode ajudar a Igreja a refletir sobre a missão que recebemos
desde o Batismo. A missão da Igreja é evangelizar, como nos diz o Documento de Aparecida32, e a evangelização atual acontece muito mais pelo
testemunho pessoal que por quaisquer outros meios. A nova evangelização, que tanto São João Paulo II propunha à Igreja, hoje se dá concretamente pelo testemunho de experiência pessoal com Cristo, que nos leva a
sermos discípulos — seguidores e posteriormente, missionários.
O Documento de Aparecida (n. 29) nos lembra que a Igreja “deseja
que a alegria que recebemos no encontro com Jesus Cristo, a quem reconhecemos como Filho de Deus encarnado e redentor, chegue a todos os
homens e mulheres feridos pelas adversidades”. O documento insiste:
“A alegria do discípulo é antídoto frente a um mundo aterrorizado pelo
futuro e pela violência e pelo ódio. A alegria do discípulo não é um sentimento de bem-estar egoísta, mas uma certeza que brota da fé, que serena
o coração a capacita para anunciar a boa nova do amor de Deus”.
A missão da Igreja é evangelizar e a missão de todo cristão, a partir de
uma experiência profunda com Jesus Cristo, é tornar-se discípulo/missionário.
32 CNBB, Documento de Aparecida, cap. 1, p. 21-25.
Caderno Formativo do MChFM | V.1
57
encontro 9
E quais seriam as características de um discípulo/missionário de Jesus Cristo? Poderíamos responder que a atitude missionária é assumir
as atitudes do próprio Cristo, frente às situações diversas que a vida nos
propõe. E poderíamos perguntar, ainda: Quais eram as atitudes do Cristo? Sempre foram atitudes de acolhimento, escuta, presença, resgate humano, instrução, entrega, cura, fúria sadia, indignação... e poderíamos
continuar enumerando muito mais.
O Papa Francisco, em uma de suas homilias explicando a Exortação
Apostólica “A alegria do Evangelho” destaca dez características/atitudes
de um missionário. São elas: simplicidade, afeto, humildade, fortaleza, liberdade, colegialidade, oração, profundidade, serviço e coerência. Viver
estas características é um desafio individual e comunitário.
O Papa apela para que comunitariamente tenhamos uma Igreja com
rosto missionário. Que saia de suas comodidades paroquiais e vá ao encontro das pessoas. Este rosto missionário mostra uma Igreja mais aberta, próxima das pessoas, capaz de sair de si para ir ao encontro do outro
por caminhos novos. Esta é a profecia viva para o nosso tempo.
A Exortação insiste na força da palavra “alegria”. A alegria do Evangelho contagia! É alegria que enche o coração de vida! Talvez a insistência
do tema alegria se dê pela “tristeza individualista” com que o consumismo ameaça marcar nossas vidas. A tristeza e a falta de sentido existencial têm feito presença na vida de muitas pessoas, inclusive de nossas
comunidades. Resgatar a alegria de viver e a alegria de servir na missão
é o convite feito por Cristo que o Papa Francisco tanto insiste em repetir.
Ele também nos convida para “uma nova etapa evangelizadora”. Propõe,
assim, uma reforma da Igreja na perspectiva de ser missionária. Neste
contexto, a palavra que mais se nos impõe e chama a atenção é “missão”
(“missionária”), que ele usa para qualificar a Igreja e o que ela precisa ser
e fazer. Reafirma aquilo que os papas anteriores tinham dito: que a atividade missionária representa o máximo desafio para a Igreja; é o “paradig58
Caderno Formativo do MChFM | V.1
ma de toda a obra da Igreja”, sendo necessário passar “de uma pastoral
de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária”33.
A Campanha da Fraternidade de 2015 também nos convida ao serviço:
“Eu vim para servir34.
O convite vem de todos os lados, como flechas do Espírito, para que nos
tornemos verdadeiros discípulos/missionários. O Cristo nos deu o exemplo e seu propósito foi sempre o de levar mais vida a todas as pessoas.
O chamado a sermos discípulos e missionários de Cristo nos vem pelo
Batismo.
No Antigo Testamento era comum ungir os sacerdotes, reis e profetas.
Também Cristo foi ungido pelo Espírito Santo de um modo muito especial. No Batismo, também nós somos ungidos. Por esta unção nos tornamos raça eleita com Cristo, reis (rainhas), sacerdotes (sacerdotisas) e
profetas (profetisas) (Pedro 2:9-10). Profetas, porque devemos anunciar
à humanidade, por palavras e exemplos de vida, a salvação em Cristo. E
mais: somos ungidos pelo Espírito Santo para anunciar a boa nova, proclamar a liberdade aos cativos, a consolar os tristes.
>> PERGUNTAS PARA APROFUNDAMENTO
1. Sinto-me discípulo de Jesus Cristo?
2. Como se dá hoje concretamente minha missionariedade?
3. Como Fraternidade Marista, o que temos feito para melhorar a sociedade em que vivemos?
33 Papa Francisco, em Evangelli Gaudeum, 15
34 CNBB. Texto-base da Campanha da Fraternidade 2015. Introdução.
Caderno Formativo do MChFM | V.1
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encontro 9
Tema: UM CORAÇÃO SEM FRONTEIRAS
ABERTURA (30 min.)
• Meditação 3-5-3
• Leitura do calendário religioso
• leitura da ata
• Leitura orante da Bíblia (Lc 9, 57-58; 10, 1-6). O que o texto diz?
O que o texto me diz? Como o texto me faz agir?
>> PROVOCAÇÃO QUE VEM DA VIDA
Tornou-se paradigmática a frase de Marcelino: “Todas as dioceses do
mundo entram em nossos planos!”. Na época, apesar de que a Congregação
fosse apenas de direito diocesano (aprovada para a Diocese de Lião), o Fundador recebia pedidos de abertura de escolas em outras dioceses. Por isso,
seu entusiasmo e sua necessidade de acertos contratuais com essas outras
dioceses. Podemos encontrar a frase de Marcelino em duas de suas cartas:
Excelência, eu não quis abrir este estabelecimento sem V. Excia. estar a par.
Pensei também que para fechá-lo era bom prevenir V. Excia. Quanto aos demais estabelecimentos que temos em sua diocese, se V. Excia. houver por bem
continuar a dispensar-nos sua benevolência, estamos dispostos, por nossa
parte, a continuar sustentando-os, como também a abrir outros assim que as
circunstâncias o permitam. Todas as dioceses do mundo entram em nossos planos. Quando os respectivos senhores bispos quiserem chamar-nos, acorreremos
pressurosos em seu auxílio, pois sempre nos consideraremos súditos seus muito
humildes e obedientes.
(Carta ao Bispo de Grenoble, Dom Philibert de Bruillard. Doc. 93. Fevereiro de 1837)
60
Caderno Formativo do MChFM | V.1
Estou muito contente por podermos servir aos interesses de V. Excia. e fazer
prosperar a escola que nos foi confiada. Só peço uma coisa: que sejam cumpridas as condições estipuladas em nosso prospecto e contrato, pois é de bom
coração que faremos tudo quanto estiver ao nosso alcance para corresponder
ao zelo de V. Excia. e à benevolência com que honra nossa Sociedade. Todas
as dioceses do mundo entram em nossos planos. Consideraremos dever nosso
acorrer pressurosos em auxílio dos senhores bispos, sempre que nos honrarem
com seu convite.
Queira aceitar os sentimentos de profundo respeito e elevada consideração,
com os quais tenho a honra de ser, de V. Excia., mui humilde o obediente servidor, Champagnat, sup. I. M.
(Carta ao Bispo de Autun, Dom BénigneTroussetd´Héricourt. Doc.
112. Maio de 1837)
>> TEXTO PARA ESTUDO
OS MARISTAS NO MUNDO
O primeiro grupo de missionários Maristas, entre os quais três Irmãos, zarpou para a Oceania em 26 de dezembro de 1836. Dois meses
depois, em carta ao bispo Bruillard, padre Marcelino Champagnat escreveu a célebre frase: “Todas as dioceses do mundo entram em nossos
planos”35. Sua morte em 1840 não lhe permitiu ver os significativos passos que o Instituto iria fazer em todas as direções. Até o final do século
XIX, todos os continentes tinham sido alcançados pelo ardor Marista de
educação da infância e juventude: Inglaterra (1852), África do Sul (1867),
Líbano (1868) e Canadá (1885). No Brasil, os primeiros Irmãos chegaram
em 1889.
Foi, no entanto, um fato adverso que deu ao Instituto Marista um impulso definitivo na direção de todos os povos. Em 1903 os Irmãos foram
35 M. Champagnat, Cartas, n. 93.
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expulsos da França, com outros religiosos. A maioria seguiu para outras
terras, dando início a muitas obras e permitindo uma rápida expansão.
Desde o início, o Movimento Champagnat da Família Marista
(MChFM), que nasceu como resposta aos apelos que chegavam de todas as partes do planeta36, assumiu sua vocação internacional. São mais
de 260 fraternidades, organizadas por províncias e regiões. O resultado
é significativo: o carisma Marista está espalhado em 79 países e reúne
milhares de pessoas, crianças, jovens e adultos, em torno do sonho de
Champagnat.
Coração sem fronteira
Esse foi o lema da canonização de Marcelino Champagnat, em 1989.
Ele nunca saiu da França e, no entanto, é chamado de “coração sem fronteiras”. Essa atitude é a esperada de todos os Maristas, sejam Irmãos,
Leigas ou Leigos.
O Instituto, nos anos seguintes à canonização, aprofundou o sentido
de sua internacionalidade. Foram criadas várias comissões e organismos
internacionais, as províncias se organizaram em regiões, iniciou-se o
projeto Missão Ad Gentes37. Em 2013, Ir. Émili Turu renovou o convite
para que Irmãos, Leigas e Leigos se disponham ao serviço missionário:
“Trata-se de continuar a alargar nosso coração até as dimensões do mundo, e a comprometer-nos, de certo modo, para que nosso querido Instituto, já próximo do bicentenário de sua fundação, seja cada dia mais
plenamente internacional e intercultural”38.
36 Howard, C. O Movimento Champagnat da Família Marista: uma graça para todos. Circulares dos Superiores
Gerais, vol. XXIX, 15 de outubro de 1991.
37 Ver carta enviada pelo Ir. Séan Sammon aos Irmãos, em 2 de janeiro de 2006, convidando-os a participar
do projeto.
38 TURU, É. Até os Confins da Terra: colaboração missionária internacional. Carta do Superior-Geral, de 2
de janeiro de 2013.
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Outro movimento importante foi a realização até agora de duas Assembleias Internacionais da Missão Marista (AIMM). A primeira em
Mendes, em 2007, reuniu pela primeira vez em igualdade numérica Irmãos, Leigas e Leigos de todas as partes, para experimentar essa comunhão que nos une e que alimenta nosso agir. Na segunda, em Nairóbi,
no Quênia, em 2014, os participantes reconheceram que estavam ali por
dom de Deus: “na diversidade de nossas vocações (Leigas, Leigos, Irmãs
e Irmãos), de nossas línguas, nacionalidades e culturas, de nossas histórias e idades”39.
consciência da internacionalidade
O XXI Capítulo Geral coloca como um dos critérios para se pensar os
novos horizontes do Instituto a consciência da internacionalidade. O que
isso significa? Propomos aprofundar isso em quatro momentos:
1. Sentir-se parte de um carisma que está presente no mundo todo, em
diferentes culturas, de variados modos de atuação. É importante
dar-se conta de que o MChFM vai além da minha fraternidade, da
minha província, do meu país.
2. Abrir-se ao outro, que é diverso de mim e do meu grupo. Essa atitude
requer grande despojamento, pois, em geral, reconhecemos a diferença, mas continuamos achando nosso jeito, nossa cultura, nossa
forma de ser e de agir melhores que o do outro. A consciência da
internacionalidade modifica a maneira como vemos e, consequentemente, como agimos em relação a quem é diferente de nós.
3. Adotar o que a Assembleia de Nairóbi chamou de “dinâmicas inter”
(internacionalidade, interculturalidade, inter-religiosidade, intercongregacionalidade, intereclesialidade). “Dinâmica” quer dizer um
jeito de ser, de pensar, de fazer. Ser “inter” é abrir-se para interações,
39 Mensagem da II Assembleia Internacional da Missão Marista. Nairóbi, 16-27 de setembro de 2014.
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para novas conexões, para o diferente. Seu grupo, por exemplo, pode
estabelecer relações com outros grupos, com outras igrejas, com outras culturas.
4. Partir para uma nova terra. Seguramente não é para todos, mas por
que não? Irmãos, Leigas e Leigos já deixaram seu mundinho para se
abrir a outras experiências, muitas vezes longe da própria terra. Irmão Émili Turu nos lembra de qual é o rosto da Igreja que queremos
construir como Maristas: “A Igreja de rosto mariano, que desejamos
construir, é aquela que segue Maria e, depressa, põe-se a caminho.
Uma Igreja descalça que, como Maria, tem seus pés empoeirados”40.
Nisso seguimos Jesus, que acolheu a todos, foi na direção dos mais
vulneráveis e pediu que seus discípulos e discípulas fizessem o mesmo.
>> PERGUNTAS PARA APROFUNDAMENTO
1. Sentimos que nossa fraternidade faz parte de um grupo maior, internacional, presente em diferentes culturas? Como isso me afeta
realmente?
2. Sou aberto ao outro, ao diferente, ao que não pensa do meu jeito?
3. Como sua fraternidade pode desenvolver o sentido de missionariedade?
40 Até os Confins da Terra, p. 9.
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ANEXO 1
Modelo de Ata para a Reunião da Fraternidade
>
ATA DE REUNIÃO DA FRATERNIDADE
Movimento Champagnat
da
Família Marista
Fraternidade:
Ata número:
Data: Horário: Local:
Champagnat
Presentes na reunião: Movimento
da
Família Marista
Movimento Champagnat
da
Animador(a):
Ateiro(a):
66
Família Marista
Movimento Champagnat
da
Família Marista
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Oração (texto bíblico):
Reflexão (assunto do estudo):
Desenvolvimento da reunião (como se realizou? Relatar ideias e
atitudes de mudança):
Local e horário da próxima reunião:
Anexo de fotos do encontro:
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aNEXO 2
Dimensões e conteúdos nucleares do Plano
Nacional de Formação do MChFM, proposto >
pela UMBRASIL.
DIMENSÕES CONTEÚDO NUCLEARES
Formação Humana
Constituição do sujeito
Formação de Personalidade
Desenvolvimento Humano
Atividade e Sexualidade
Relações interpessoais
HUMANA
Vida Comunitária
Família
Solidariedade e Comprometimento
Sociopolítico
Direitos Humanos
Liderança
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FÉ E ESPIRITUALIDADE
Conceito de Espiritualidade
Dimensão espiritual da vida humana
Espiritualidade sacramental
Surgimento de Jesus Cristo
Fundamentos da fé cristã
Ciência e fé
Ética cristã
CRISTÃ
Valores cristãos
Comunidade Cristã
Apostolado
Participação eclesial
Família
Relação entre Fraternidades
e Comunidades religiosas maristas
Eclesidade
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aNEXO 2
ORIGENS MARISTAS/ HISTÓRIA E FUNDAÇÃO
Vida de Champagnat
Sociedade de Maria
Contexto histórico, social, politico e religioso do
tempo de Champagnat
Primeiros Irmãos e Fundação do Instituto
A Instituição Marista
MARISTA
Expansão e presença mundial
História do Brasil Marista
História do Brasil marista
História das Províncias
A Vocação e identidade marista
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ORIGENS MARISTAS/ HISTÓRIA E FUNDAÇÃO
A vocação e identidade comuns de Irmãos e Leigos e
Leigas à luz do batismo
A vocação e a identidade do Irmão como consagrado
A vocação e a identidade do leigo e leiga Cristão na
igreja
A vocação e a identidade comum do Irmão e do Leigo
e Leiga geradas pelo carisma marista
MARISTA
Graus de presença e adesão ao Instituto Marista
O carisma Marista
Conceitos de Carisma, espiritualidade e missão
Espiritualidade Marista
Missão marista
Vida e missão compartilhada de Irmãos
Leigos e Leigas
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REFERÊNCIAS
ALVES, Rubem. Estórias de bichos. São Paulo: Loyola, 1989.
BLOG Plantando o verde e o verbo. Disponível em: <http://plantandooverdeeoverbo.blogspot.com.br/>.
BOFF, Leonardo. Do iceberg à Arca de Noé. O nascimento de uma ética
planetária. Rio de Janeiro: Garamond, 2002.
_____. Saber cuidar. 10. ed. São Paulo: Vozes, 2004.
MORIN, Edgar. A Via para o futuro da humanidade. Rio de Janeiro:
Bertand Brasil, 2013.
CNBB. Texto-base da Campanha da Fraternidade 2015.
CONCÍLIO VATICANO II. Constituição Gaudium et spes.
ESTAÚN, Antonio. Pedagogia da presença Marista. Curitiba, Grupo
Marista, 2014.
FLORES, J. H. P. Formação de discípulos. São Paulo: Loyola, 1996.
FURET, João Batista. Vida de São Marcelino José Bento Champagnat.
São Paulo: Edições Loyola, 1999.
HOWARD, Charles. Projeto de vida – o movimento Champagnat da
família Marista. In: Boletim Marista. Roma: FMS, n. 57, 2013
INSTITUTO dos Irmãos Maristas. Água da rocha: espiritualidade Marista. Roma, 2007.
_____. Em torno da mesma mesa: a vocação dos Leigos Maristas de Champagnat. Roma, 2009.
LIBÂNIO, João Batista. Qual o futuro do Cristianismo? São Paulo: Paulus, 2006.
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MISSÃO Educativa Marista: um projeto para nosso tempo. 3. ed. São
Paulo: SIMAR, 2003.
PAGOLA, José Antonio. Jesus, aproximação histórica. São Paulo: Vozes,
2010.
PAPA Francisco. Evangelii Gaudium — sobre o anúncio do Evangelho
no mundo atual, 2013.
PAPA João Paulo II, Evangelium Vitae.
ROSS, Marie-Paul. A sexualidade dos jovens: pequeno manual para
pais e educadores. 1. ed. São Paulo: Paulinas, 2014.
_____. Atravessar as provações. 1. ed. São Paulo: Paulinas, 2013.
_____. Por uma sexualidade plena. 1. ed. São Paulo: Paulinas 2014.
SAMMON, S. Tornar Jesus Cristo conhecido e amado, Circular, 2006.
_____. Uma Revolução do Coração, Circular, 2003.
_____. Uma Maravilhosos companheiros, Circular, 2005.
TESTAMENTO Espiritual do Padre Marcelino Champagnat. In:
Constituições e estatutos dos Irmãos Maristas das Escolas, Roma, 1993.
TURÚ, Emili. Deu-nos o nome de Maria, Circular, 2012.
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ANOTAÇÕES/COMENTÁRIOS/OBSERVAÇÕES
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ANOTAÇÕES/COMENTÁRIOS/OBSERVAÇÕES
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77
ANOTAÇÕES/COMENTÁRIOS/OBSERVAÇÕES
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