RTP: O seu a seu dono - Sindicato dos Jornalistas

Transcrição

RTP: O seu a seu dono - Sindicato dos Jornalistas
RTP: O SEU A SEU DONO
Sabe-se: uma mentira mil vezes repetida tem fortes possibilidades de passar a ser verdade.Vem isto a
propósito da RTP e das mil coisas que dela se têm dito. Algumas com verdade e muitas, mas mesmo
muitas, com despudorada falsidade e/ou leviandade e ignorância.
Resultado: para muita gente, e provavelmente até para a maioria dos portugueses, a RTP hoje
-
é um sorvedouro de dinheiros públicos
tem muito pessoal a mais
paga salários milionários aos seus trabalhadores
quase ninguém a vê
a sua programação é igual à das privadas
Nada mais falso, porém - por muito surpreendente e impopular que seja afirmá-lo. Mas tentarei, de uma
forma simples e serena, demonstrar por que razão o afirmo
Sorvedouro de dinheiros públicos
Na RTP, como em qualquer empresa pública ou privada, o gastar demasiado depende
do que se produz. Portanto, antes de se afirmar que a RTP se transformou num
sorvedouro de dinheiros públicos, é preciso saber que serviços o accionista - ou seja, o
Estado via governo(s) eleito(s) - determina que ela preste.
Vejamos apenas algumas alíneas do “caderno de encargos” da RTP:
a)
b)
c)
d)
e)
Ter no ar seis canais – que em 2001 transmitiram 46.887 horas de programação
(mais de 128 horas por dia, todos os dias)
Dois desses canais – RTP 1 e RTP 2 – são generalistas e complementares, emitindo
para o espaço continental português. No entanto, a sua programação alimenta em
cerca de 80% as grelhas dos outros quatro canais: RTP Madeira, RTP Açores, RTP
Internacional e RTP África. Gratuitamente, claro
Mesmo assim, os canais regionais da Madeira e Açores custam cerca de 3 milhões
de contos/ano à empresa RTP. De sublinhar no entanto que em 2001 estes dois
canais regionais tiveram uma produção própria significativa: 2.047 horas no Funchal
e 1374 horas em Ponta Delgada, Angra e Faial
Os dois canais internacionais – RTPi e RTP África, este último com delegações nas
cinco capitais dos PALOP - custam à empresa à volta de 4,5 milhões de contos/ano,
em grande parte (cerca de metade) destinados ao aluguer de satélites. De realçar que
também estes canais tiveram uma produção própria significativa no ano passado:
2.149 horas a RTPi e 1.769 a RTP África, neste caso em grande parte como
resultado de intercâmbio com estações africanas. De salientar que quer a RTP 1 quer
a RTP 2 utilizaram nos seus principais noticiários muitos dos trabalhos efectuados
pela informação da RTP África
Acresce que a RTP África – a estação mais vista nos Palop – desempenhou um
inestimável papel no conhecimento recíproco dos cinco países, no relacionamento
Portugal-África e na divulgação da língua e cultura portuguesas neste continente.
Além de ter prestado relevantes serviços às populações locais. Exemplos concretos
- noticiários diários de 30 minutos sobre a actualidade dos Palop’s
- programa diário “Fórum” ( por onde passaram numerosas figuras de destaque
dos cinco para discutir livremente os mais variados temas)
- cobertura de eleições ( dando voz a todos os candidatos)
1
- cobertura de acontecimentos como o golpe militar de Nino Vieira na Guiné
ou cheias em Moçambique
- transmissões de competições desportivas dos Palop’s
- transmissões de espectáculos musicais em Angola, Moçambique e Cabo
Verde
f)
g)
h)
i)
j)
k)
l)
m)
n)
o)
A empresa RTP tem também a obrigação de produzir informação regional no
Continente: sete delegações emitem diariamente sete noticiários simultâneos e
executam trabalhos agendados para os noticiários nacionais. Estas delegações
custam 1,5 milhões de contos/ano sem contar com os custos acrescidos nas
estruturas de Lisboa e Porto
Por decisão do Governo, o canal 1 é difundido nas regiões autónomas e só isso custa
à empresa RTP 450 mil contos/ano
Também por determinação governamental, a RTP não se limita a conceder tempo de
antena às confissões religiosas, como determina o contrato de concessão – paga
ainda 400 mil contos/ano a uma empresa da Igreja Católica que produz os programas
para todas os credos
O teletexto e a legendagem para deficientes auditivos - dois outros serviços que está
obrigada a prestar – custam anualmente 210 mil contos
Para transmitir futebol – coisa que os portugueses não dispensam e não
compreenderiam que a sua estação pública não o fizesse, como muito bem sabem os
actuais governantes do país – a RTP paga anualmente pelos respectivos direitos: 1,2
milhões de contos pelos jogos da Liga dos Campeões Europeus; cerca de 1 milhão
pelos 33 jogos em directo da 1ª Liga; 50 mil contos por cada jogo da selecção
nacional senior – sem falar nos direitos de jogos de selecções de outras categorias e
dos desafios da Taça UEFA. E aos direitos acresce o custo de produção e emissão,
sempre na ordem dos vários milhares de contos...
Enquanto serviço público, a RTP não se limita ao futebol e transmite igualmente
provas internacionais de outras modalidades onde estão representadas equipas
nacionais – como foi o caso, em 2001, dos campeonatos mundiais de hóquei em
patins (na Argentina), de atletismo em pista coberta e de ciclismo em estrada, estes
em Lisboa e em que foi “host broadcaster”
Por obrigação legal, a RTP contribui anualmente com cerca de um milhão de contos
para apoio à indústria cinematográfica, via ICAM (4% da publicidade cobrada pela
RTP, mais o pagamento de pelo menos 20% do orçamento dos projectos aprovados
por aquele Instituto. Publicidade à parte, só nos três últimos anos a RTP pagou ao
ICAM um pouco mais de 1,5 milhões de cntos)
Também por obrigação legal, a RTP desembolsou, até 2001, 300 mil contos/ano
para a Fundação do Desporto
Para conservação e actualização dos seus arquivos – um património único de valor
inestimável – a empresa despende 800 mil contos/ano
Por quantificar ficam, entre muitos outros itens, os gastos da empresa com a Expo
98, as transmissões da transição em Macau e a cobertura dos acontecimentos em
Timor. Para já não falar na sua participação na Sport TV e na NTV – tudo por
imposição governamental
Resumindo: só pelo que se consegue quantificar nesta pequena amostra, a RTP gasta, obrigatória e
anualmente, 13,5 milhões de contos. Se a isto se acrescentar os cerca 9 milhões de contos anuais de juros
sobre empréstimos pedidos à banca (tal endividamento resulta em grande parte do não pagamento da
totalidade das insuficientes indemnizações compensatórias a que o Governo está obrigado – com o
requinte desse mesmo Governo passar cartas de conforto para os bancos concederem os empréstimos...)
temos aqui 22,5 milhões de contos. E por referir fica, obviamente, o grosso dos custos do funcionamento
de uma empresa com a dimensão e o papel da RTP
- telecomunicações ( à volta de 6,5 milhões de contos/ano)
- compra e manutenção do caríssimo material técnico
- aparelho administrativo
- salários dos trabalhadores da casa
- conteúdos dos canais 1 e 2 (que alimentam, como vimos, os outros quatro canais).
Para se ter uma ideia dos montantes envolvidos, e de acordo com dados tornados
2
públicos por Arons de Carvalho, uma novela portuguesa de boa qualidade com mais de
100 episódios ronda um milhão de contos; uma série de ficção de época como “O
Conde de Abranhos”, 200 mil contos; uma peça de teatro gravada ao vivo, 15 mil
contos; cada Telejornal, 1000 a 1.500/dia só em custos de directos e deslocações;
qualquer filme de boa qualidade perto de 10 mil contos (a TVI pagou 80 mil contos
para transmitir o “Titanic” e a SIC pagou cerca de 90 mil contos para transmitir cada
jogo da Taça de Portugal – a televisão é sempre muito cara, seja SP ou não)
Comparar é preciso
Contudo, para podermos ter uma ideia minimamente justa sobre o que a RTP, enquanto empresa de
Serviço Público de Televisão, gasta aos contribuintes portugueses, é absolutamente essencial podermos
comparar com o que se passa nas outras empresas de SPT na Europa .
Alberto Arons de Carvalho, ex-secretário de Estado da Comunicação Social, no seu recente livro
intitulado “Valerá a pena desmenti-los?” ( fundamental não só para conhecer números que são
seguramente correctos, mas também para se ter uma ideia aproximada dos tremendos, incompreensíveis e
indesculpáveis erros que os governos do eng. Guterres cometeram nesta área) diz preto no branco: “Entre
1996 e 2001 a RTP recebeu do Estado 128,75 milhões de contos, dos quais 89,25 milhões a título de
indemnizações compensatórias e 39,5 milhões em dotações de capital ou outros financiamentos. Se
tivermos em conta o custo efectivo do serviço público, de acordo com o Contrato de Concessão que, em
nome do Governo, assinei conjuntamente com o Secretário de Estado do Tesouro e Finanças, a RTP
deveria ter recebido 168,44 milhões de contos. Sublinho que esta verba não inclui os juros da dívida da
RTP (...). Se assim não fosse, os números rondariam os 200 milhões de contos, o que significa um subfinanciamento da RTP de cerca de 60 a 70 milhões de contos, entre 1996 e 2001. Desde 1998, mas com
efeitos a partir de 1993, na verba da indemnização compensatória havia ainda que descontar o IVA a
pagar ao Estado, o que a atirava para montantes ainda mais baixos ”.
Temos pois, palavra de governante, que a RTP recebeu do Estado, em seis anos, 128,75 milhões de
contos menos IVA. Isto é, em média, menos de 20 milhões/ano. E assim foi vivendo a empresa
portuguesa de serviço público – com seis canais no ar e aquela catrefada de obrigações resultantes do
contrato de concessão... E ainda por cima os governos socialistas acabaram com a pub no Canal 2 e
reduziram-na para 7,5 minutos/hora na RTP1, o que significou menos três milhões de contos/ano para a
RTP. Mais um tempito e as receitas de publicidade serviriam apenas para pagar o serviço da dívida...
Façamos agora uma leve comparação com os outros países europeus, onde o financiamento do SPT
conhece várias formas, sendo contudo a taxa a mais generalizada. Em valores absolutos, os montantes de
financiamento público, incluindo os valores da colecta da taxa, são os seguintes (verbas em milhões de
contos relativos ao ano 2000, citadas por Arons de Carvalho): Alemanha, 1145, Grã-Bretanha 804, França
252, Itália 262, Holanda 90, Áustria 120, Suíça 142, Suécia 78, Dinamarca 71, Polónia 62, Turquia 51,
Croácia 22, República Checa 17 – e por aí fora...
Diz ainda o ex-governante socialista: “É evidente que estas verbas impressionam se as compararmos com
os montantes de financiamento público recebidos pela RTP, que oscilaram nos últimos anos entre os 14 e
os 24 milhões”. O que é verdade.
E para quem tiver mais curiosidade, aqui deixo igualmente um quadro divulgado pela UER, onde se pode
ver o valor da taxa anual de rádio-televisão, por lar, em 27 países europeus
3
Redevance radio-télévision par ménage ( 2000 ) – en EUR
Pays
TV
Radio
64,5
Radio + TV
220,6
AT (Autriche)
BE (Belgique)
189,7
BG (Bulgarie)
CH (Suisse)
CZ (République Tchéque)

177,9
25,6

106,7
1
253
57,7
37,4



173,3
253

165,2
114,4
172,8




HR (Croatie)
HU (Hongrie)
IE (Irlande)

28,6
88,8
63,9
78,9
IS (Islande)
IT (Italie)
LT (Lituane)
236,8


101,5


338,3
90,8





49,8

198,1



11,5
16,6

35,4


37,3
126,1
8

DE (Allemagne)
DK (Danemark)
ES (Espagne)
FI (Finlande)
FR (France)
GB (Royaume-Uni)
LV (Lettonie)
MK (“ l´ex-République
Macédoine”)
NL (Pays-Bas)
NO (Norvège)
PL (Pologne)
PT (Portugal)
RO (Roumanie)
SE (Suède)
SI (Slovénie)
SK (République Slovaque)
Source : EBU-UER-ISN
yougoslave
de


13,7
185,7
20,15

Porém, uma comparação rigorosa implica saber qual a percentagem do PIB gasta por cada país no
financiamento do SPT – e aí também Portugal fica 49% aquém da média europeia . De acordo com um
trabalho de Pedro Braumann, “se as indemnizações compensatórias portuguesas correspondessem ao
nível médio comunitário registado para o ano de 2000, o montante a atribuir à RTP em 2001 atingiria
cerca de 43,6 milhões de contos”
Mas para a comparação ser ainda mais eficaz, dever-se-á perguntar quantas estações europeias de serviço
público têm seis canais e tantas obrigações como a RTP. Para ajudar, diremos que nenhum país de
dimensão semelhante à nossa tem um canal internacional que seja. E para se ter uma ideia concreta do
número de canais públicos existentes em cada país europeu no ano 2001, e também qual o tipo de
financiamento dos canais hertzianos, aqui fica um quadro publicado pelo Observatório Europeu do
Audiovisual. Em 33 países do nosso continente apenas quatro têm só um canal de serviço público
(Islândia, Estónia, Letónia e Malta)...
4
Canais Publicos Nacionais na Europa – 2001
(Fonte Observatório do Audiovisual)
Áustria
Bélgica
Bulgária
2
4
2
Canais
Cabo/Satélite/M
MDS
2
4
0
Suiça
Chipre
Rep Checa
3
2
2
0
1
0
Taxa/Pub
Taxa
Taxa/Pub
Alemanha
Dinamarca
Estónia
2
2
1
22
1
0
Taxa/Pub
Taxa/Pub
Publicidade
(2)
(3)
Espanha
Finlândia
França
2
3
4
20
1
5
Gov/Pub
Taxa
Taxa/Pub
(4)
Grã-Bretanha
Grécia
Hungria
3
3
1
13
2
2
Taxa
Gov/Pub
Taxa/Pub
Irlanda
Islândia
Itália
3
1
3
0
0
13
Taxa/Pub
Taxa/Pub
Taxa/Pub
Lituânia
Luxemburgo
Letónia
1
0
2
0
0
0
Gov/Pub
Macedónia
Malta
Holanda
3
1
3
0
0
2
Taxa/Pub
Publicidade
Taxa/Pub
Noruega
Polónia
Portugal
2
4
2
1
1
2
Taxa
Taxa/Pub
Gov/Pub
Roménia
Rússia
Suécia
2
3
2
1
0
9
Gov/Taxa/Pub
Gov/Pub
Taxa
País
Canais
Hertzianos
Financiamento
dos canais hertz
Taxa/Pub
Taxa/Pub
Gov/Pub
Observações
(1)
(5)
(6)
Taxa/Pub
(7)
Eslovénia
3
0
Taxa/Pub
Rep Eslovaca
2
0
Gov/Taxa/Pub
Turquia
4
2
Gov/Pub
(1) 2 na comunidade francófona e 2 na flamenga
(2) muitos canais regionais têm implantação quase nacional
(3) o 1º canal não tem publicidade
(4) dos 20,7 são da RTVE e os restantes de conteúdo regional
(5) Arte e La Cinquième não têm publicidade, recebendo dotações do Governo
(6) Distribuição hertziana terrestre dos canais ingleses
(7) 12 canais regionais públicos
(Para os mais sensíveis que falam do caso da Dinamarca - que está a avançar para a
privatização do seu canal 2 - , convém lembrar três pequenos pormenores: esse país
tem actualmente três canais de SP; o acordo feito pelo executivo liberal-conservador
com o Partido de Extrema Direita prevê que o processo de privatização comece ainda
5
este ano mas só se conclua em 2006; trata-se de um caso isolado e não de uma
tendência europeia)
Pessoal e salários
Muito se tem especulado igualmente com o número de trabalhadores da RTP. A tónica dominante é que
televisão pública tem trabalhadores a mais, chegando os defensores desta tese ao despudor de fazer
comparações com a SIC e a TVI – esquecendo-se, naturalmente, de comparar o que faz o SPT e o que
fazem as privadas. Do lado contrário o máximo que se ouve dizer é que ainda está por efectuar um
levantamento sério da situação, podendo acontecer que nuns sectores haja realmente gente a mais e
noutros gente a menos.
Sem entrar nessa discussão, limito-me apenas a chamar a atenção para dois aspectos: é preciso ter em
conta as tarefas a que a RTP está obrigada por contrato e é indispensável comparar a empresa portuguesa
com as outras que na Europa são igualmente de SP. O resultado, acreditem, é simpático
Number of Personnel by Organisation
(EBU Statistics Network - Strategic Information Service)
Market
Organisation
Permanent
Heads
Freelance
Heads
Other
Heads
Total
Heads
21937
3630
20767
214
6204
3892
9779
8915
2254
5255
4947
622
24813
8885
26665
214
8337
4362
9779
9420
Large Markets
Germany
United Kingdom
France
Italy
Spain
ARD
ZDF
BBC
S4C
FRANCE TV
Radio France
RAI
RTVE
951
2133
470
505
Medium / Small Markets
Netherlands
Belgium FL
Belgium FR
Greece
Austria
Portugal
Switzerland
Ireland
Monaco
Vatican
Market
The Dutch public broadcasting system consists of 34 companies and it
therefore difficult to establish personal figures.
VRT
2561
385
2946
RTBF
2425
348
2773
ERT
ORF
2627
1667
4294
RDP
1033
1033
RTP
2298
2298
SRG-SSR
4753
959
5712
RTE
2134
65
2199
TMC
120
120
Radio Vaticana
417
417
Organisation
Permanent
Heads
Freelance
Heads
Other
Heads
Total
Heads
1853
204
122
2814
593
749
107
132
2179
3005
3695
700
Nordic / Scandinavian Markets
Sweden
Denmark
Sveriges Radio AB
Sveriges TV AB
Danmarks Radio
TV2 DK
6
Finland
Norway
Iceland
MTV3
Yleisradio Oy
NRK
TV2 Norge AS
RUV
511
3941
3585
376
354
32
510
42
63
123
543
4451
3585
541
417
Central / Eastern Markets
Poland
Romania
Czech Rep.
Hungary
Bulgaria
Lithuania
Slovakia
Croatia
Latvia
Slovenia
Estonia
Macedonia
Polskie Radio S.A..
Telewizja Polska S.A.
SROP.
SR TV
Ceská Televize
Ceský Rozhlas
MAGYAR RADIO
MTV
BNR
BNT
LNRTV
TVSLO
Radio Slov
HRTV
Latvijas Radio
“Latvijas Televizija”
RTV SLO
Eesti Raadio
Eesti Televisioon
MKRTV
1649
6689
2571
2556
2878
1527
1550
1593
1634
2300
1198
2274
1186
3505
311
622
2231
307
409
1658
5000
726
470
1051
89
24
2623
3663
57
902
312
8281
570
158
260
163
63
685
58
4
17
6649
6689
3297
3026
3929
1616
1574
4216
1634
5963
1255
3234
1498
11786
881
780
2491
474
472
2360
Mediterranean Markets
Turkey
Morocco
Algeria
Israel
Malta
TRT
RTM
ENR Sonore
EP TD Algérienne
Rashut HaShidur
PBS
8171
2304
1421
1148
1832
202
70
187
260
490
253
9
8171
2374
1608
1408
2322
464
NB. Data show in italics is of 1999.
Entremos agora na tão badalada questão dos salários milionários: está fora de questão que num punhado
de casos há manifesto exagero. Que infelizmente não é de agora – já vem de há muitos anos... Mesmo
assim, também aqui não é possível falar seriamente de salários sem comparar com o que cada um faz e
respectivos resultados. Mas como o exemplo vem de cima, o que me arrepia é ver vencimentos e
mordomias de administradores, que nalguns casos são, sem sombra de dúvida mas com muito pecado,
verdadeiramente globais... E já nem falo do simbolismo, em tempo de crise, dos carros topo de gama,
Jaguares incluídos.
Porém, e isso é que importante e quase sempre deliberadamente esquecido, os salários da esmagadora
maioria dos trabalhadores estão muito longe de serem milionários. E em muitíssimos casos nem se
aproximam da bitola em vigor nas empresas privadas do sector. Mas para se poder ter uma ideia correcta
o melhor é ver o pequeno quadro elaborado e tornado público pela Comissão de Trabalhadores. Sem
referir nomes
Vencimentos mensais na RTP
7
Vencimentos
Número de Trabalhadores
Até 1.000 €
343
de 1.001 a 2.000 €
980
de 2.001 a 3.000 €
316
de 3.001 a 4.000 €
111
de 4.001 a 5.000 €
30
72,6% dos trabalhadores
53,8%
17,33
18,8%
de 5.001 a 7.000 €
20
de 7.001 a 10.000 €
15
de 10.001 a 15.000 €
mais de 40.000 €
7
1
Até 1.000
de 1.001 a 2.000
de 2.001 a 3.000
de 3.001 a 4.000
de 4.001 a 5.000
de 5.001 a 7.000
de 7.001 a 10.000
de 10.001 a 15.000
mais de 40.000
Audiências e programação
Outra das mentiras repetidas é que ninguém vê a RTP. Claro que o SPT tem vindo a perder audiências
desde que o monopólio acabou – mas isso era inevitável. O que talvez fosse possível, e seguramente era e
é desejável, é que a queda não fosse tão acentuada. Aí cometeram-se nos últimos anos erros graves, mas
também não se pode ignorar que a ofensiva das privadas foi brutal e o recurso ao lixo televisivo – sempre
com grandes audiências garantidas – foi sistemático e avassalador. De qualquer modo convém sublinhar
que os dois canais públicos neste momento estão com audiências diárias médias entre os 25 e os 28 %,
numa altura em que a SIC e a TVI andam entre os 30 e os 35% – o que é perfeitamente aceitável.
Podendo e devendo a empresa pública, no entanto, esforçar-se para apresentar à população uma
programação de maior qualidade e popularidade, cumprindo uma das obrigações do SPT – regular o
mercado nivelando-o por cima.
Quanto à programação da RTP, pedra de toque de toda e qualquer discussão séria sobre SPT, toda a gente
parece estar de acordo: é preciso delinear uma verdadeira estratégia de programação de serviço público e
melhorar os conteúdos. Só que para isso é absolutamente indispensável que o governo defina que serviço
público quer e diga quanto pode pagar. Diga e pague mesmo. A indústria dos conteúdos televisivos,
sabe-se de ciência certa, é cara - e sem ovos não se fazem omoletes. E se Portugal, dado o nível sóciocultural da sua população ( a que diariamente consome mais horas de TV e a que menos lê na Europa)
precisa de um bom serviço público de televisão!
Porém, e olhando para o que existe, a verdade é que não se pode dizer de boa fé que a programação da
RTP é semelhante à das estações privadas. Nada mais falso. Vejamos.
Em primeiro lugar: só por aquilo que os dois canais nacionais não exibem e as privadas põe no ar em
quantidades industriais (reality shows e telenovelas de qualidade mais do que duvidosa) a RTP já é bem
diferente.
Em segundo lugar: embora não tenha tradução em grandes audiências, a empresa pública exibe
diariamente nos dois canais nacionais o que as privadas nem cheiram. Exemplos? Eis alguns dos muitos e
muitos que se podem dar
1. A estação pública, nos seus canais generalistas, é aquela que, de longe, oferece mais informação aos
portugueses
Quatro telejornais nos dois canais nacionais (Jornal da Tarde, Telejornal, 24 Horas
e Jornal 2)
Um programa informativo matinal de três horas, no Canal 1 (Bom Dia Portugal)
8
-
-
Sete noticiários diários regionais no continente, em simultâneo e durante meia hora,
em janelas abertas no Canal
“Jornal África”, na RTP2, uma vez por semana, para as populações africanas
residentes em Portugal
Transmissões integrais e directas do Parlamento (em 2001 tivemos a interpelação
ao governo, comemorações do 25 de Abril, debates mensais com o Primeiro
Ministro, jogos de Cidadania, moção de censura, debates sobre o estado da nação,
sobre o Orçamento Rectificativo, sobre a Defesa Nacional e sobre o Orçamento
Geral do Estado)
Durante as eleições presidenciais só na RTP houve um debate televisivo com todos
os candidatos
Durante as eleições autárquicas só na RTP, nomeadamente nas emissões regionais,
foi possível ouvir os principais candidatos dos diversos concelhos
Programas de Grande Informação (Maria Elisa, Judite de Sousa)
Um programa semanal sobre as actividades da Assembleia da República, chamado
“Parlamento”
Um jornal diário de carácter cultural: “Acontece”
2 – A RTP é, de longe, a maior sala de cinema português – em 2001 exibiu 52 filmes nacionais, dos quais
45 eram co-produções suas
3 – É a única estação portuguesa que dedica regularmente um espaço para as curtas metragens
4- É o maior estádio do país – para além do futebol profissional a RTP, nos seus dois canais nacionais,
cobre com regularidade, muitas vezes em directo, cerca de 20 modalidades desportivas. Quem não se
lembra dos jogos de hóquei em patins, dos campeonatos de atletismo, das provas de ciclismo, dos jogos
de basquete e vólei, das provas de natação em que estão envolvidas as cores de clubes ou selecções
nacionais?
5 – Só na estação pública há linguagem gestual e teletexto e espaço regular para programas da
Universidade Aberta e das confissões religiosas
6 – Só a RTP tem dedicado espaço e dinheiro para produção e emissão de séries de época relativas a
factos históricos portugueses, como foi o caso de “Ballet Rose”, “Volfrâmio, ou a Febre do Ouro Negro”,
“Alves dos Reis” ou “O Processo dos Távoras”
7 – Programas como “Horizontes da Memória” (onde o prof. José Hermano Saraiva aborda aspectos
inéditos do nosso passado histórico), “Planeta Azul” ( sobre temas ecológicos), “Bombordo” (magazine
informativo dedicado ao mar), “2001” e “2010”(informação especializada sobre novas tecnologias de
informação e multimedia), “Livres e Iguais” (discussão, à luz da lei vigente, de temas variados com
personalidades públicas ), ”Dinheiro Vivo” (questões relacionadas com a economia), “Por Outro Lado”
(espaço único de conversa informal e tranqüila), “Artes e Letras”, “Artes do Palco”, “Sinais dos Tempos”,
“O Lugar da História”,
“Encontros de África”, “Retratos” (documentários biográficos sobre
personalidades que se destacaram na sociedade portuguesa), “O Trabalho” (uma visão sobre diversas
profissões, focando o dia-a-dia e a importância dos seus profissionais), as conversas com grandes
personalidades mundiais efectuadas por Mário Soares e ... fico-me por aqui que a prosa já vai longa
Claro que também há programas na RTP que nunca deveriam ter lugar numa estação de serviço público –
mas o que não é admissível é que se queira pôr a tónica no mau que a RTP tem e ainda por cima se
compare isso com o bom que as privadas produzem (e era o que faltava que a SIC e a TVI não tivessem
bons programas). Mas isso é batota.
Em jeito de conclusão
Em conclusão: na RTP como em tudo na vida, o seu a seu dono. Não se pode ser preso por ter cão e por
não ter. Não se pode puxar logo da pistola quando se ouve falar na RTP. Não se pode disparar primeiro e
perguntar depois quem vem lá – ou de outro modo, não se pode decidir e só depois estudar a situação.
Não se pode comparar o mau da pública com o bom das privadas. Não se pode discutir a estação pública
sem comparar com as estações congéneres do espaço europeu onde estamos inseridos – a não ser que a
UE seja encarada apenas como fonte de subsídios...
Contudo, ninguém de bom senso pode esperar que a situação da RTP continue na mesma – uma
reestruturação profunda é absolutamente necessária, é preciso acabar com os negócios ilícitos feitos
dentro e à volta da RTP, pôr ponto final nas situações de privilégio que se encontrem, sensibilizar os
numerosos sindicatos que representam os trabalhadores da casa para relações laborais sérias e realistas,
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nomear uma administração capaz que seja premiada ou penalizada conforme os resultados. Mas tudo tem
que ser feito com serenidade, defendendo um serviço público de televisão cada vez mais forte e nunca
contra os trabalhadores que, de resto, na sua esmagadora maioria, apoiam inequivocamente essa tão
ansiada reestruturação. E não se esqueça nunca que a culpa da situação da RTP é fundamentalmente dos
partidos políticos que estiveram no poder nos últimos anos (28 administrações desde o 25 de Abril,
nomeadas sabe Deus como e com que objectivos! Se fôssemos analisar os perfis dos nomeados ao longo
destes últimos anos, os seus conhecimentos na área da indústria do audiovisual e da informação, as suas
ligações aos poderes político e económico e o que foi a sua actuação - a que tristes conclusões
chegaríamos...). E como os trabalhadores não têm lepra, aqui se reproduz um texto/panfleto que apareceu
recentemente e tem de ser entendido à luz da luta que, com muita angústia e revolta, vêm desenvolvendo
exemplarmente
Não fomos nós, os trabalhadores da RTP
... que abolimos a taxa de televisão
.... que vendemos os emissores a preços de saldo
.... que retiramos parte da publicidade do Canal 1
... que retiramos toda a publicidade do Canal 2
... que não cumprimos o “contrato de concessão”
.... que não pagámos as indemnizações compensatórias
.... que escolhemos os gestores para a RTP
.... que criámos a Portugal Global
.... que autonomizámos a FO.CO
.... que gerimos mal a TV Guia
.... que gerimos mal a RTC
.... que fizemos o contrato desastroso com a Pararede
... que criámos a Viver Portugal
A radiografia aí fica: o seu a seu a seu dono, hoje. Quanto à poeira que anda no ar, amanhã logo se verá
como assentará
Ribeiro Cardoso
PS: este texto foi escrito na primeira semana de Junho com um único objectivo – contribuir, ainda que de
uma forma modesta, para que a RTP, no seu formato actual, não seja, como tem sido, o bombo da festa
de todos os “especialistas” da nossa praça em SPT. Quanto ao número de canais e conteúdos que um SPT
deve possuir num país como Portugal, isso são outros contos. Que passam, inelutavelmente, pelo digital e
pelos temáticos.
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