universidade federal do espírito santo centro de ciências jurídicas e

Transcrição

universidade federal do espírito santo centro de ciências jurídicas e
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS
DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
FABRÍCIA PAVESI HELMER
HINGRIDY FASSARELLA CALIARI
JUVENTUDE, POLÍTICAS SOCIAIS E MOVIMENTOS CULTURAIS LIGADOS À
MÚSICA (FUNK, REGGAE, HIP HOP E ROCK) NO MUNICÍPIO DE VITÓRIA:
UMA ANÁLISE DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE JUVENTUDE
VITÓRIA
2006
FABRÍCIA PAVESI HELMER
HINGRIDY FASSARELLA CALIARI
JUVENTUDE, POLÍTICAS SOCIAIS E MOVIMENTOS CULTURAIS LIGADOS À
MÚSICA (FUNK, REGGAE, HIP HOP E ROCK) NO MUNICÍPIO DE VITÓRIA:
UMA ANÁLISE DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE JUVENTUDE
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao Departamento de Serviço
Social da Universidade Federal do Espírito
Santo, como requisito para obtenção do
Grau de Bacharel em Serviço Social
Orientadora: Profª Drª Vania Maria Manfroi
VITÓRIA
2006
H478 j
HELMER, Fabrícia Pavesi
Juventude, políticas sociais e movimentos culturais ligados à música
(funk, reggae, hip hop e rock) no município de vitória: uma análise
das políticas públicas de juventude / Fabrícia Pavesi Helmer e
Hingridy Fassarella Caliari -2006.
236f
Orientadora: Profª Drª Vania Maria Manfroi
Trabalho de Conclusão de Curso - Universidade Federal do Espírito
Santo, Departamento de Serviço Social.
1 - Política Social e Juventude. 2 - Juventude. 3 - O Município
de Vitória. I - CALIARI, Hingridy Fassarella. II Universidade Federal
do Espírito Santo. Departamento de Serviço Social.
CDU 36 -053.6
FABRÍCIA PAVESI HELMER
HINGRIDY FASSARELLA CALIARI
JUVENTUDE, POLÍTICAS SOCIAIS E MOVIMENTOS CULTURAIS LIGADOS À
MÚSICA (FUNK, REGGAE, HIP HOP E ROCK) NO MUNICÍPIO DE VITÓRIA:
UMA ANÁLISE DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE JUVENTUDE
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Serviço Social
da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito para obtenção do Grau
de Bacharel em Serviço Social
Aprovada em 12 de julho de 2006
COMISSÃO EXAMINADORA
___________________________________________
Profª. Drª. Vania Maria Manfroi
Doutora em Serviço Social
Universidade Federal do Espírito Santo
Orientadora
__________________________________________
Profª. Juliana Iglesias Melim
Mestranda em Serviço Social
Universidade Federal do Espírito Santo
__________________________________________
Luiz Carlos Duarte Melo
Gerente de Promoção Social da Juventude
Prefeitura Municipal de Vitória
VITÓRIA
2006
Desconfiai do mais trivial,
na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é de hábito
como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada,
de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural
nada deve parecer impossível de mudar.
Bertold Brecht.
AGRADECIMENTOS
À Vânia por toda paciência, dedicação e compromisso no decorrer desses três anos
de orientação. Por toda compreensão, apoio e força. Seremos sempre gratas. Você
se tornou muito mais que uma professora para nós.
Ao NEJUP, que desde de 2003 tem nos possibilitado uma melhor formação
profissional e aos vários amigos e companheiros que construímos através desse
núcleo. Foi pelo nosso interesse por juventude que surgiu o NEJUP e será através
desse interesse que o NEJUP ficará pra sempre marcado nas nossas vidas.
À galera da Rádio Universitária que nos acolheu com muito carinho e atenção.
Aos entrevistados, aos jovens e aos gestores, que se colocaram à disposição e que
contribuíram muito para o nosso trabalho. Somos gratas pela disponibilidade e
confiança.
Aos amigos de turma, que ao longo desses quatro anos convivemos, rimos,
choramos, mas acima de tudo, aprendemos muito uns com os outros. Valeu turma!
Agradecemos a banca por ter aceitado o nosso convite e a disponibilidade da
Juliana e do Luiz.
Fabrícia Pavesi Helmer
Hingridy Fassarella Caliari
AGRADECIMENTOS
Primeiramente à minha mãe, Marlene, que compreendeu meus nervosismos,
ausências e preocupações, pelo apoio incondicional e pela ajuda, da forma que
podia, nesse processo.
Ao meu irmão Fabiano, que por muitas vezes teve que se conter em suas
brincadeiras de criança para que eu pudesse estudar. Desculpe-me pelas brigas.
Ao meu namorado Rafael, por compreender minhas ausências e o escasso tempo
que tínhamos para conviver.
À Quita e ao Frajola por sempre estarem dispostos a me alegrar nos momentos mais
difíceis.
Ao Luiz Duarte pela aposta e incentivo tanto no TCC quanto no estágio; e aos
companheiros da Juventude (PMV) pelos momentos felizes que vivemos naquela
sala "agitada".
À minha grande amiga Hingridy pelo companheirismo nos momentos tristes, felizes,
de angústias, de desabafo, de descontração e de alegrias. Obrigada por estar
comigo nesses quatro anos de vida acadêmica, repleto de noites de estudos, finais
de semana... Sou muito grata pela sua amizade que continuará, acredito, mesmo
após o término deste trabalho.
A todos os outros amigos que toleraram minhas preocupações e que torciam pela
concretização deste trabalho.
Aos professores e aos supervisores de todos os estágios que realizei por terem
contribuído para o meu crescimento intelectual e profissional.
Enfim, a todos que estiveram presentes e que de alguma forma contribuíram nessa
trajetória. Obrigada!
Fabrícia Pavesi Helmer
AGRADECIMENTOS
À Deus por todo o conforto nas horas difíceis. Por todas as amizades que fiz, por
esse caminho. Pelos sonhos que me possibilitou sonhar e pelas conquistas que tive.
À minha mãe que com toda sua doçura me suportou no extremo do meu stress.
Sempre com muito amor, acreditando em mim. Mãe essa conquista é mais sua do
que minha. Muito obrigada pela força e por todo investimento que você faz em mim.
Ao meu irmão por todas as vezes que deixou de jogar MU para que eu usasse o
computador, pelas vezes que me ajudou a transcrever fitas e por ter aturado meu
mau humor, valeu Hendricky, amo muito você.
À minha amiga, Fabrícia, que caminha comigo desde o primeiro período. Sempre me
dando apoio e suportando as minhas limitações. Fabrícia se tornou uma
companheira de vida, uma amiga que partilhei bons momentos e que espero poder
partilhar muitos mais.
Aos jovens do projeto Vencendo Com os Jovens por toda experiência e
conhecimento que trocamos.
Às companheiras de trabalho da PMVV, Scheila, Rosane e Rachel, que me
apoiaram e me deram força quando eu mais precisava, contribuindo para que eu me
tornasse uma profissional ética.
À todos os meus amigos que suportaram as minhas ausências e me apoiaram
durante todo esse processo.
Hingridy Fassarella Caliari
RESUMO
JUVENTUDE, POLÍTICAS PÚBLICAS E CULTURA NO MUNICÍPIO DE VITÓRIA:
UMA ANÁLISE DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE JUVENTUDE
Objetiva analisar a política de juventude de Vitória, de 2002 a 2006, ressaltando as
diferenças, continuidades e rupturas nesse processo, enfatizando a cultura, mais
especificamente, os movimentos musicais: hip hop, funk, reggae e rock. Realiza um
estudo histórico das políticas sociais no Brasil, incluindo a política de juventude.
Identifica os movimentos e grupos juvenis culturais ligados à música em Vitória e os
projetos, programas e políticas existentes no município, para assim perceber como
que os jovens inseridos nesses grupos avaliam a política de juventude do município.
Para se ter uma dimensão de como se processou as ações para juventude em
Vitória nós procuramos esboçar as concepções de juventude, de participação, os
orçamentos destinados para juventude, entre outros aspectos relevantes na análise
das ações destinada à juventude presentes na Prefeitura Municipal de Vitória desde
2002. Esta é uma pesquisa de caráter qualitativo, em que foram utilizadas
entrevistas semi-estruturadas realizadas com os jovens envolvidos com movimentos
culturais ligados à música, com gestores de política de juventude da Prefeitura
Municipal de Vitória das gestões 2000/2004 e 2004/2008 e uma entrevista coletiva
envolvendo os jovens. O presente trabalho constitui-se num prolongamento dos
estudos desenvolvidos no Núcleo de Estudos das Juventudes e Protagonismo
(NEJUP) do Departamento de Serviço Social. Podemos afirmar que houve um
avanço nas políticas de juventude do município de Vitória na gestão 2004/2008 e
que em Âmbito nacional também se processam discussões e ações relevantes.
Palavras-chave: Juventude; Política Social; hip hop; funk; reggae; rock.
LISTA DE GRÁFICOS
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1 - Homicídios por motivos conhecidos (2005).........................................99
GRÁFICO 2 - Nº. de projetos para Juventude feitos pela GPSJ desenvolvidos
intersetorialmente que envolvem cultura (2004/2008).............................................138
GRÁFICO 4 - Nº. de projetos para Juventude feitos pela GRJ desenvolvidos
intersetorialmente que envolvem cultura (2004/2008).............................................138
GRÁFICO 5 - Nº. de projetos para Juventude feitos pela Subcoordenadoria de
Valorização da Juventude que envolvem cultura (2000/2004)................................138
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 - Mortalidade por homicídio segundo sexo e idade no município de
Vitória (2004) .............................................................................................................99
TABELA 2 - Condição de ocupação e freqüência escolar - Jovens de 15 a 24 anos
(2000).......................................................................................................................100
TABELA 3 - Jovens de 15-24 anos no mercado de trabalho segundo atividade
(2000).......................................................................................................................100
TABELA 4 - Escolaridade da População de Vitória (2000).....................................101
TABELA 5 - Nº. de jovens inseridos em movimentos culturais ligados à música...103
TABELA 6 - Orçamento destinado à realização dos projetos na GPSJ ................114
LISTA DE FOTOGRAFIAS
Fotografia 1 - Disco de vinil do filme Beat Street.....................................................69
Fotografia 2 - Disco de vinil da primeira coletânea..................................................70
Fotografia 3 - Disco de vinil do Thaíde DJ Hum .....................................................70
Fotografia 4 - Disco de vinil da coletânea de Tributo a Zumbi, de Preto para preto
(ES) ..........................................................................................................................72
Fotografia 5 - Disco de vinil de James Brown ........................................................75
Fotografia 6 - Graffiti feito para o projeto Graffitaids..............................................113
Fotografia 7 - Apresentação de Mc's no projeto Graffitaids...................................113
Fotografia 8 - Apresentação de alguns dos elementos do hip hop: Break e
Graffiti......................................................................................................................113
LISTA DE SIGLAS
CLT - Consolidação das Leis do Trabalho.
CRJ - Centro de Referência da Juventude
DIEESE - Departamento Intersindical de Estudos Sócio-Econômicos
DJ - Disc Jockey
DST - Doenças Sexualmente Transmissíveis
ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente
ES - Espírito Santo
FGTS - Fundo de Garantia por Tempo de Serviço
FMI - Fundo Monetário Internacional
GPSJ - Gerência de Promoção Social da Juventude
GPSJ - Gerência de Promoção Social da Juventude
GRJ - Gerência de Relações com a Juventude
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
LDB - Lei de Diretrizes e Bases
LOAS - Lei orgânica da Assistência Social
MC - Mestre de Cerimônia
NEJUP - Núcleo de Estudos das Juventudes e Protagonismo
ONU - Organização das Nações Unidas
ONG - Organização Não Governamental
OMS - Organização Mundial da Saúde
POLIS - Instituto de estudos, formação e assessoria em políticas sociais
PMV - Prefeitura Municipal de Vitória
PNAD - A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
PNJ - Plano Nacional de Juventude
PROJOVEM - Programa Nacional de Inclusão de Jovens: Educação, Qualificação e
Ação Comunitária
PROUNI - Projeto Universidade para Todos
PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira
PT - Partido dos Trabalhadores
SEADE - Sistema Estadual de Análise de Dados
SEMAS - Secretaria Municipal de Assistência Social
SEMC - Secretaria Municipal de Cultura
SEMESP - Secretaria Municipal de Esportes
SEMSU - Secretaria Municipal de Segurança Urbana
SEMUS - Secretaria Municipal de Saúde
SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
SESC - Serviço Social de Aprendizagem Comercial
SESI - Serviço Social da Indústria
UNESCO - Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura
UNFPA - Fundo de População das Nações Unidas
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES INICIAIS...................................................................................14
CAPÍTULO 1 - POLÍTICA SOCIAL E JUVENTUDE................................................20
1.1 - POLÍTICA SOCIAL...........................................................................................20
1.2 - POLÍTICA SOCIAL DE JUVENTUDE: UM RESGATE HISTÓRICO................29
CAPÍTULO 2 - JUVENTUDE....................................................................................49
2.1 - JUVENTUDE NA CONTEMPORANEIDADE....................................................49
2.2 - MANIFESTAÇÕES CULTURAIS CONTEMPORÂNEAS.................................61
2.2.1 - HIP HOP................................................................................................65
2.2.2 - FUNK.....................................................................................................74
2.2.3 - ROCK.....................................................................................................85
2.2.4 - REGGAE................................................................................................90
CAPÍTULO 3 - O MUNICÍPIO DE VITÓRIA..............................................................98
3.1 - VITÓRIA: CONTEXTO SOCIAL, POLÍTICO E CULTURAL..............................98
3.2 - JUVENTUDE, POLÍTICAS PÚBLICAS E CULTURA NO MUNICÍPIO DE
VITÓRIA...................................................................................................................103
3.2.1
-
SUBCOORDENADORIA
DE
VALORIZAÇÃO
DA
JUVENTUDE
(2000/2004)......................................................................................................103
3.2.2 - GERÊNCIA DE RELAÇÕES COM A JUVENTUDE.............................107
3.2.3 - GERÊNCIA DE PROMOÇÃO SOCIAL DA JUVENTUDE....................110
3.2.4 - PODER PÚBLICO: CONCEPÇÕES E DESAFIOS..............................116
3.2.5 - JUVENTUDE: CONCEPÇÕES E DESAFIOS......................................128
CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................146
REFERÊNCIAS .......................................................................................................149
APÊNDICES............................................................................................................157
14
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O envolvimento com o tema ”juventude”, mediante inserção no Núcleo de Estudos
das Juventudes e Protagonismo (NEJUP), fez-nos perceber a escassez de
pesquisas aprofundadas voltadas para essa população na Grande Vitória.
O NEJUP surgiu, no ano de 2003, com o intuito de estudar o tema “juventudes” e
pesquisá-la, disponibilizando material para comunidade acadêmica e para população
em geral. Dentro do núcleo existem subdivisões para pesquisar profundamente
temas correlatos à juventude, como, por exemplo, o grupo do Sistema de Garantias
de direitos, de Políticas Sociais de Juventudes, do Movimento Nacional de Meninos
e Meninas de Rua, Como o Jovem aparece na Mídia Escrita Capixaba, entre outros.
Com a realização de entrevistas e pesquisas no âmbito do Sistema de Garantias de
direitos1 e de políticas sociais de Juventudes2, feitas pelos subgrupos em que
éramos inseridas, pudemos perceber concepções difusas de juventude, por parte
dos
profissionais
das
referidas
áreas.
Assim,
sentimos
necessidade
de
aprofundarmos as questões suscitadas nas duas pesquisas, analisando a relação
entre a concepção de juventude, do ponto de vista dos gestores e dos jovens e a
influência na formulação das políticas públicas.
No decorrer do nosso trabalho de pesquisa dentro do NEJUP no subgrupo Sistema
de Garantias, percebemos, também, o funcionamento de todo o Sistema de
Garantias de Direitos criado a partir do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)
em 1990. Porém, com a pesquisa detectamos que o Sistema de Garantias de
1
Entre os trabalhos apresentados em congressos e dos artigos publicados do subgrupo Sistema de
Garantias, estão: Juventude: entre a Doutrina da Situação Irregular e a Doutrina da Proteção Integral
(Seminário de Práticas em Serviço social, Vitória, 2005), Juventude: entre a Doutrina da Situação
Irregular e o ECA (Congresso Brasileiro de Sociologia, Belo Horizonte, 2005), A Concepção de
Juventude dos Atores do Sistema de Garantias – Vitória e Vila Velha (Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência, Fortaleza, 2005), entre outros.
2
Entre os trabalhos apresentados em congressos e dos artigos publicados do subgrupo Políticas
Sociais, estão: Concepções de Juventudes e Políticas Públicas: Uma Análise no Contexto do
Município de Vitória – ES (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Fortaleza, 2005),
Juventude e Protagonismo em Vitória, ES ( Congresso Latino Americano de Sociologia, Porto
Alegre, 2005), Concepções de Juventudes e Políticas Públicas: Uma Análise no contexto do
Município de Vitória-ES (Seminário de Práticas em Serviço Social, Vitória, 2005), entre outros.
direitos não atua de forma articulada, muitas vezes não reconhecendo o adolescente
e o jovem como portadores desses direitos.
De acordo com a pesquisa realizada pelo subgrupo de políticas públicas, estudamos
as concepções de protagonismo e juventude dos gestores da Secretaria de
Juventude do Município de Vitória, na gestão de 2000 a 2004. Naquele momento,
tendo em vista o conhecimento do perfil dos jovens de Vitória, foi encomendada pelo
município uma pesquisa qualitativa. Esta pesquisa concluiu que a juventude se
identificava como “Rock’n Roll e beijo na boca”, que os jovens eram apáticos
politicamente, sem perspectivas, que não se reconheciam como protagonistas na
sociedade e se auto-identificavam como “jovem do morro” e “jovem do asfalto”,
expressando as diferenças de classes3. Os trabalhos desenvolvidos pela secretaria
se pautaram em ações pontuais objetivando a integração da “juventude do asfalto” e
a “juventude do morro” através de shows e patrocínios aos grupos organizados,
deixando claro que como diz Camacho4 (2003), quem pensa que juventude é
problema faz suas ações chamando o jovem de problema.
A política de Juventude do município Vitória, passada a gestão 2000/2004, assume
uma nova fase, com concepções e ações diferenciadas.
Na Grande Vitória há pouca pesquisa aprofundada sobre juventude e não existem
produções que conjuguem os jovens inseridos em movimentos culturais com
políticas públicas. Nesse sentido, este trabalho busca analisar esta temática.
Na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) foram constatadas pesquisas
sobre juventude, uma delas é o da professora Luisa Mitiko Camacho que aborda a
questão do jovem na educação5.
As produções existentes tratam dos temas separadamente, não abrangendo o foco
que se pretende atingir.
3
Fragmento retirado do texto: Juventude e Protagonismo em Vitória (ES), CALIARI, et al,
apresentado no XXV Congresso Latino Americano de Sociologia (ALAS).
4
Conferência ministrada pela Profª Drª Luiza Mitiko Camacho, no 1º Seminário Temático realizado
pelo NEJUP, em Vitória, 12 de Agosto de 2003. Local: Salão Rosa – UFES, intitulado: MOVIMENTO
JUVENTUDE E EXPRESSÃO.
5
Essa pesquisa foi apresentada pela referida professora no Seminário organizado pelo NEJUP
intitulado Movimento, Juventude e Expressão em 12 de agosto de 2003.
Assim, tendo em vista que é constituído por lei que as crianças, os adolescentes e
os jovens têm direitos a políticas sociais básicas, esse trabalho tem como eixo
central a análise das políticas de juventude no município de Vitória sob a ótica dos
jovens inseridos em movimentos culturais, fazendo uma articulação com a visão dos
gestores. Este trabalho poderá contribuir na elaboração de políticas de juventude, já
que conhecerá a sua demanda.
A escolha pela análise dos movimentos culturais ligados à música, se deu ao fato de
que os movimentos juvenis tomam a forma de uma rede de diferentes grupos,
dispersos, fragmentados, imersos na vida diária. Eles são um laboratório no qual
novos modelos, formas de relacionamentos, pontos de vista alternativos são
testados e colocados em prática (MELUCCI, 1997). A cultura é um elemento de
sociabilidade e resistência, além de congregar jovens de acordo com suas
afinidades.
Além disso, pudemos perceber que a maioria dos projetos desenvolvidos, tanto na
gestão passada (2000/2004) como na atual (2004/2008), perpassam a ótica da
cultura. Os estilos musicais escolhidos foram hip hop, funk, reggae e rock. Essa
escolha foi feita mediante a constatação de que esses grupos congregam muitos
jovens e, são também esses jovens, os que mais participam de atividades políticas e
culturais do município.
Esse trabalho tem relevância social por pesquisar a percepção dos jovens acerca
das políticas de juventude de seu município, contribuindo para a população que
possuir interesse na política de juventude do município de Vitória. É relevante
também para os gestores de políticas públicas para juventude no que se refere à
constatação de como estão sendo percebidos pelos próprios usuários as suas
ações. Possui também relevância profissional, pois relaciona-se com o campo de
atuação dos assistentes sociais, tornando-se importante compreender como as
políticas públicas de juventude estão sendo percebidas pelos jovens. A relevância
científica aparece por se tratar de um tema que relaciona três elementos: jovem,
cultura e política pública que não foram pesquisados com esse enfoque.
O objetivo geral deste trabalho é analisar as políticas públicas de juventude no
município de Vitória no período de 2002 a 2006, contextualizando as mudanças e
continuidades e a percepção dos jovens envolvidos nos grupos musicais.
Para alcançar esse objetivo, identificamos os movimentos culturais ligados à música
compostos por jovens no município de Vitória; identificamos os programas e políticas
de juventude existentes no município de Vitória; pudemos perceber como os jovens
inseridos nos movimentos culturais ligados à música em Vitória avaliam a política de
juventude no município; analisamos como é percebido pelos jovens o acesso à
política de juventude no município de Vitória; buscamos perceber como se dá a
inserção dos jovens na elaboração, implementação e gestão das políticas de
juventude do município de Vitória; e analisamos também a concepção de juventude
dos gestores de políticas públicas de juventude do município de Vitória.
Para compreender e correlacionar os movimentos culturais da juventude com as
políticas de juventude geridas pelo município de Vitória, foi utilizada uma pesquisa
de caráter exploratório. Com uma abordagem qualitativa que é entendida como um
método em que se tem a pretensão de trabalhar com o significado atribuído pelos
sujeitos aos fatos, práticas e fenômenos sociais, ou seja, o método qualitativo faz a
observação de situações reais e cotidianas, buscando o significado da ação social
segundo a visão dos sujeitos pesquisados (ASSIS; DESLANDES, 2002).
O levantamento dos dados acerca da fundamentação teórica foi realizado utilizandose pesquisas bibliográficas que são compreendidas como um caminho que o
pesquisador pode optar para procurar as respostas do problema de pesquisa
(ANDRADE, 2001). Além da pesquisa documental, realizada via documentos da
gestão 2000/2004 e 2004/2008, dos programas nacionais como o Plano Nacional de
Juventude e o Estatuto da Criança e do Adolescente; da observação participante
através do NEJUP e da participação das Conferências Estadual e Nacional de
Juventude.
Utilizamos entrevistas semi-estruturadas para a coleta de dados visando conhecer
um pouco do universo que envolve os jovens inseridos em movimentos culturais, a
sua
percepção,
a
história
do
movimento
e
como
se
configura
na
contemporaneidade. Também utilizamos a entrevista semi-estruturada para
conhecer qual a concepção de juventude e participação que os gestores e
formuladores de políticas públicas para juventude possuem, assim como, quais os
projetos e políticas públicas para juventude existem no município e como são
formulados. Com as entrevistas também pudemos conhecer como está a relação do
poder público com os movimentos culturais em geral, através dos 4 (quatro) gestores
entrevistados. A percepção dos movimentos musicais de Vitória: do funk, do reggae,
do hip hop e do rock, e de como os jovens envolvidos com esses movimentos
pensam uma série de fatores que perpassam a questão da juventude foi conhecida
através dos 4 (quatro) jovens entrevistados. Esse tipo de entrevista foi escolhido
porque os roteiros são mais flexíveis e permitem que o informante tenha maior
liberdade no decorrer do processo.
Além das entrevistas individuais, foi utilizado, também, uma entrevista coletiva para
que fossem coletados dados com relação à avaliação da juventude inserida em
movimentos culturais a respeito das políticas de juventude do município de Vitória.
Participaram da entrevista coletiva 3 (três) jovens.
Para o registro dos dados das entrevistas foram utilizados gravadores e a
transcrição foi realizada na medida em que elas foram acontecendo. As fitas
transcritas foram eliminadas.
Na análise dos dados utilizamos a técnica de Análise de Conteúdo que é entendida
como
Um conjunto de técnicas de análise de comunicação visando obter, por
procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das
mensagens, indicadores quantitativos ou não que permitam a inferência de
conhecimentos relativos às condições de produção e recepção dessas
mensagens (BARDIN, 1985, p.62).
Em referência a procedimentos éticos utilizamos o termo de consentimento livre e
esclarecido - Resolução196– (BRASIL, 1996) que consiste no entendimento do
participante em relação a pesquisa, na sua concordância e no estabelecimento de
um contrato após explicação completa e pormenorizada sobre a natureza da
pesquisa, seus objetivos, métodos, benefícios previstos e o incômodo que possa
acarretar (ARAÚJO, 2003). Foram utilizados para as entrevistas semi-estruturadas
com os gestores, os formuladores e jovens (apêndice I) e para a entrevista coletiva
com os jovens inseridos em grupos culturais (apêndice II). Foram utilizadas também
declarações em que se legitima a concordância com a pesquisa (apêndice III).
Assim, para dar consistência à nossa pesquisa, no capítulo 1 abordamos
concepções teóricas de política social sob a ótica de diversos autores e como os
acontecimentos históricos, econômicos e sociais rebatem nas políticas sociais de um
modo geral. Destacamos, também, como foram se construindo as políticas sociais
para juventude, quais foram os determinantes e como se configuram na atualidade
essas políticas, incluindo o Plano Nacional de Juventude.
Já no capítulo 2 enfocamos as diversas concepções de juventude de acordo com
cada período histórico, verificando também as concepções de cada autor e de cada
organização que pesquisa o tema.
Além disso, buscamos expor também um
panorama de algumas situações que envolvem a juventude brasileira. Num segundo
tópico do capítulo abordamos a dimensão cultural da juventude, enfocando cada
movimento estudado sendo o hip hop, o funk, o reggae e o rock abrangendo sua
história e características, mesclando teoria com pesquisa empírica.
Na tentativa de articulação dos dados empíricos com o referencial teórico, no
capítulo 3, num primeiro momento realizamos uma análise do município de Vitória
quanto à organização social, política e cultural relacionando à população jovem.
Num segundo momento enfocamos as instâncias existentes para formulação de
políticas públicas para juventude da gestão passada (2000/2004) e da atual
(2004/2008) no que se refere ao objetivo, aos projetos desenvolvidos, ao orçamento
dentre outras coisas. Analisamos, também, sob a ótica dos gestores aspectos
relacionados à concepção de juventude, participação e demandas. Após essa
constatação, analisamos a visão dos jovens quanto ao acesso e a participação
nesses projetos e a análise geral desses atores quanto às políticas públicas para
juventude no município de Vitória.
Após isso, registramos nossas considerações finais acerca da pesquisa.
CAPÍTULO 1
POLÍTICA SOCIAL E JUVENTUDE
1.1 - POLÍTICA SOCIAL
Para compreender o debate atual que perpassa a política pública para juventude,
torna-se necessário fazer uma análise dos diversos conceitos existentes de política
pública enfocando a política social, entendendo-a no contexto brasileiro.
Considerando a política pública como uma ação de responsabilidade do Estado
destinada à população em geral, Pereira (1994) diz que
o termo público associado à política, não é uma referência exclusiva ao
Estado, como muitos pensam, mas sim à coisa pública, ou seja, de todos,
sob a égide de uma mesma lei e apoio de uma comunidade de interesses.
Portanto, embora as políticas públicas sejam reguladas e freqüentemente
providas pelo Estado, elas também englobam preferências, escolhas e
decisões privadas, podendo (e devendo) ser controladas pelos cidadãos.
Política pública expressa, assim, a conversão de decisões privadas em
decisões e ações públicas, que afetam a todos (PEREIRA, 1994, p.02).
Embora o termo “público” da política pública não se refira estritamente ao Estado e
sim à sociedade, é de dever daquele investir recursos para a implementação dessas
políticas, cabendo à população reivindicar e participar da elaboração das mesmas.
Assim, as políticas públicas podem ser classificadas como instrumentos que
deveriam concretizar demandas que emergem da sociedade através dos conselhos
de direitos, dos movimentos sociais de base ou mesmo dos partidos políticos,
representando, portanto, a interação do Estado com a sociedade no sentido da
construção de uma cidadania plena. Dessa forma,
para que exista uma política pública como tal, faz-se necessário, segundo
Bobbio, que uma situação determinada requeira solução por meio dos
instrumentos de ação política, ou seja, da ação que tem como finalidade a
formação de decisões coletivas que, uma vez tomadas, se convertam em
vinculadoras de toda a coletividade. Analisando essa afirmação [...],
qualquer situação que precise ser objeto de intervenção, mediante
decisões vinculadoras para toda a sociedade, necessitará, por força, ser
expressa como um problema político e, portanto, instalar-se na esfera
pública como um conflito ou demanda que afeta, de certa forma, a
convivência social, envolvendo atores sociais relevantes com capacidade
de exercer pressão sobre a agenda governamental, dentro da
institucionalidade vigente ou fora dela (ABAD, 2003, p. 15).
Com efeito, a população tem o direito e o dever de participar da agenda pública,
colocando suas demandas e cobrando soluções concretas de interesses públicos.
Nesse sentido, Leon (2003) alega que as políticas públicas são dirigidas e focadas
no intuito de solucionar problemas políticos, demandas de setores sociais com
visibilidade pública e capacidade de pressão, podendo influir na instalação de suas
demandas na agenda pública.
Assim, a política pública é entendida de forma ampla e abriga em seu conceito
várias subdivisões, dentre elas a política ambiental, a política econômica, a política
agrícola e a política social. Sendo a última o foco do nosso estudo, nos deteremos
apenas à discussão desta.
Vieira (1992) analisa as várias vertentes da política social. No liberalismo a política
social é entendida como a satisfação de certas necessidades não levadas em conta
pelo mercado capitalista. Já o método funcionalista encara a política social como
técnica destinada a adequar a realidade ao movimento natural da história. Opondose ao funcionalismo, o método materialista histórico e dialético analisa a política
social como sendo parte da estratégia da classe dominante, ou seja, da burguesia.
A política social é compreendida de diversas formas e analisada por vários autores,
dentre eles Pereira (1994). A autora salienta que a política social refere-se à
programa de ação que visa a "atender as necessidades sociais cuja resolução
ultrapassa a iniciativa privada, individual e espontânea, e requer decisão coletiva
regida e amparada por leis impessoais e objetivas, garantidoras de direitos”
(PEREIRA, 1994, p.01).
Para Mota (2006)6, política social é um mecanismo de intervenção e regulação do
Estado que surge com o desenvolvimento do capitalismo monopolista. É
determinada por um conjunto de necessidades econômicas, sociais e jurídicas
originadas das condições sobre as quais se desenvolveram historicamente as
relações entre capital e trabalho. Assim, as políticas sociais são expressões
6
Idéias retiradas do Seminário "Análise das políticas sociais no governo Lula" proferido por Ana
Elizabete Mota em 24 de março de 2006, na Universidade Federal do Espírito Santo.
concretas, de um lado, das lutas do trabalho pelo direito de existir e de sobreviver, e
de outro lado, pela necessidade que têm as classes dominantes e o Estado de
administrar as desigualdades que são inerentes ao desenvolvimento dessas
sociedades.
Outro conceito de política social é apresentado por Faleiros (1987). Para ele, esta é
encarada como uma gestão da força de trabalho que articula as pressões e
movimentos sociais dos operários com as formas de reprodução exigidas pela
valorização do capital e pela manipulação da ordem social.
Assim, segundo Faleiros (1987, p.55), “as medidas de política social só podem ser
entendidas dentro do contexto capitalista e de acordo com o movimento histórico
das transformações sociais dessas mesmas estruturas”. De acordo com o autor,
para analisar as políticas sociais deve-se considerar o movimento do capital, que
interfere na validação da força de trabalho como mercadoria e produtora da maisvalia.
Faleiros (1987) aborda, portanto, a existência de um traço contraditório das políticas
sociais implementadas pelo Estado. Segundo o autor, "quando o governo fala de
prioridades sociais aparece como o defensor das camadas populares, ao mesmo
tempo em que oculta a vinculação dessas medidas à estrutura econômica e à
acumulação de capital” (FALEIROS, 1987, p. 57).
Também para Leal (2004), as políticas sociais estão voltadas tanto para o controle e
dominação, quanto para o atendimento de determinadas demandas dos setores
subalternos das sociedades, reforçando o traço contraditório dessas políticas.
Segundo a autora,
ao brindar um conjunto de bens e serviços necessários para a
sobrevivência dos subalternos, o Estado busca reforçar a sua capacidade
de impor à sociedade, como um todo, os interesses políticos e sociais das
classes hegemônicas. Ao mesmo tempo, os subalternos introduzem, no
interior dos mesmos aparatos estatais, questões relevantes para os seus
interesses (YAZBEK apud LEAL, 2004, p. 152).
Bravo (2004) afirma que as políticas sociais, a partir de seu caráter contraditório,
devem ser usadas pelas classes subalternas como garantia de condições sociais de
vida dos trabalhadores e como uma forma de acumular forças para a conquista do
poder por parte dos trabalhadores organizados.
Vieira (1992) diz que a política social aparece no capitalismo construída por meio de
mobilizações operárias, ocorridas ao longo das primeiras revoluções industriais, não
tendo existido, portanto, política social desligada dos reclamos populares. Daí
aparece a dicotomia entre como surgiu a política social e como está sendo
manipulada.
Já Abad (2003) complementa o conceito dizendo que as políticas sociais têm como
encargo ideal a construção da cidadania social proporcionando condições para que
haja uma igualdade de direitos. Sua finalidade é apoiar a expansão da cidadania
retirando os obstáculos que impedem o seu pleno exercício.
Elaine Behring (2000) diz que é importante considerar a política social como síntese
de “múltiplas determinações”, superando os “reducionismos economicistas e
politicistas”. A autora aborda a política social sob dois pontos de vista, o
redistributivista e o marxista:
El redistributivismo viene a luz com la apuesta em la política social como
via de solución de la desigualdad, subdimensionando la naturaleza del
modo de producción capitalista, com su indisoluble unidad entre producción
y reproducción social, así como subvalorizando también la particularidad
brasileña (...) Es interessante notar que la critica marxiana de la economía
política, en la que existe uma unidad entre las esferas de producción e del
consumo no es absorbida. Algunos abordajes crean la seguiente situación:
recurren a categorias de la tradición marxista y al mismo tiempo trabajan
bajo um enfoque distributijvista-keynesiano, constituyendo um verdadero
ecleticismo (BEHRING, p. 170, 2000).
Assim, a política social no capitalismo não se funda em uma verdadeira
redistribuição de riqueza, atende ao mesmo tempo as necessidades do capital e do
trabalho, tornando-se um importante terreno de lutas de classe nesse contexto de
estagnação.
Portanto, a política pública social é vista como uma ação que emerge do Estado e
que vai além de qualquer projeto desenvolvido pela sociedade civil e pelo
empresariado, sendo garantida por leis, constituída como direito e elaborada com a
participação da população.
Porém, as políticas sociais geridas no Brasil, em sua maioria, não permitem o
exercício da cidadania no que tange à participação e não têm continuidade,
constituindo-se em políticas de governo e não em políticas de Estado. Além disso,
são medidas que geram resultados insatisfatórios devido, tanto a pouca seriedade
em que são propostas quanto ao curto tempo de durabilidade. Assim, as políticas
sociais se resumem a programas imediatistas e pontuais que, geralmente, não
promovem uma concreta mudança da realidade.
Essas características da política social brasileira podem ser observadas em outros
momentos históricos. Pereira (2000), por exemplo, faz uma subdvisão da história em
cinco períodos. Ela denomina “período laissefariano” aquele que compreende o
momento histórico anterior a 1930, onde a ação do Estado mediante as
necessidades básicas limitava-se a reparações emergenciais de problemas. As
políticas sociais mais enfocadas eram relativas ao trabalho e à previdência. É nessa
época que se tem a criação dos Departamentos Nacionais do Trabalho e da Saúde
em 1923 e da Lei Eloy Chaves.
O período seguinte ela conceitua como populista/desenvolvimentista. Num
determinado momento, as políticas sociais operavam como estratégia de um
governo populista, enfocando mais uma vez o trabalho. Verificou-se, dentre outras
coisas, a criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio; da Carteira do
Trabalho; da nova legislação sobre acidentes de trabalho; do Serviço Social da
Indústria (SESI); do Serviço Social de Aprendizagem Comercial (SESC); do Serviço
Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e a uma proposta de realizar reformas
de base reivindicadas pela sociedade.
Com relação à política educacional para juventude não poderia ser diferente. Nesse
momento histórico, o então presidente Getúlio Vargas, salientava a importância de
qualificar os jovens operários para promover o crescimento da indústria nacional. De
acordo com Vieira (1987), o governo investia também por meio do SENAI visando à
qualificação desses jovens. Vargas também assumiu a educação como direito de
cada indivíduo e dever do Estado, ao menos até o ensino médio (VIEIRA, 1987).
Verifica-se então, uma ênfase dada à educação para o trabalho.
Quanto ao ensino superior, para o mesmo autor, o referido governo salientou
também sua importância, para isso criou a Comissão de Aperfeiçoamento do
Pessoal de Nível Superior e estabeleceu o Sistema Federal de Ensino Superior.
Com isso, o governo visava à formação de cientistas capazes de elaborar novos
conhecimentos que colaborariam para a emancipação econômica do país7.
No período tido como “tecnocrático-militar” verificou-se uma supremacia do saber
técnico sobre a participação popular. Os direitos civis e políticos estavam cerceados.
A política social tornou-se uma mera extensão da política econômica. Tem-se a
criação do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), do Instituto Nacional
de Previdência Social (INPS), do Programa de Integração Social (PIS), entre outros.
As políticas sociais ainda vinculavam-se a propósitos de manutenção do poder da
elite. Somente depois alguns avanços civis e políticos foram notados com a
campanha das “Diretas Já” e posteriormente, concretizados com a Constituição
Federal de 1988.
Segundo Carvalho (2004), os governos militares repetiram a tática do Estado Novo
ampliarando os direitos sociais, ao mesmo tempo em que restringiam-se os direitos
políticos. O autor diz ainda que, o autoritarismo brasileiro pós 1930 sempre procurou
compensar a falta de liberdade política com o paternalismo social.
Por fim, Pereira (2000) conceitua o último período de “neoliberal”, quando assiste-se
a uma preocupação governamental apenas com a contenção do déficit público
deteriorando, de todas as formas, o sistema de proteção social anteriormente criado.
O período Neoliberal é caracterizado por corte nos gastos públicos com o social,
privatizações de empresas, desmonte da proteção social e dos direitos que
recentemente conquistamos na constituição de 1988. Os programas criados são
assistencialistas e seletivos. O que se viu foi o agravamento do desemprego e da
pobreza.
7
Embora o governo tenha dado ênfase ao ensino técnico e superior, deixou muito a desejar no que
tange a alfabetização da zona rural. Segundo Vieira (1987) faltavam instalações escolares,
professores habilitados, material didático e se for analisado que, nesse período, o país ainda era
predominantemente agrário, afastava-se do ensino primário bem mais que metade da população em
idade escolar devido às péssimas condições das estradas e ao transporte precário. Portanto, a
maioria da população não conseguia atingir o ensino técnico ou superior (VIEIRA, 1987).
Em países onde o Estado de Bem-estar, de acordo com Soares (2003), existiu de
forma incompleta ou não existiu, como é o caso do Brasil, os impactos do
neoliberalismo foram mais perversos. Há o desmonte de serviços conquistados e
uma proliferação de um sistema de seguros privados, como é o caso da saúde e da
educação.
O acordo realizado entre o Estado, o empresariado e os sindicatos na chamada
regulação Keynesiana da economia, possibilitou aos países em que foi
desenvolvido, uma ampliação do Estado no campo das políticas públicas,
implantando uma rede pública de serviços sociais como parte de uma estratégia
para reverter as crises do capitalismo gerados no pós-guerra (IAMAMOTO, 2004).
O bem-estar-social, segundo Faleiros (1987) ou Welfare State8, baseia-se nos
postulados do Estado como sendo neutro, da sociedade sendo representada pelo
consenso entre os homens e o Estado, visando a objetivos de justiça e igualdade
feita para alguns bens primários.
O padrão de desenvolvimento no mundo possibilitou os avanços e conquistas no
que diz respeito ao bem-estar social. Mas isso é visto principalmente nos países
conhecidos como desenvolvidos. Segundo Oliveira (1982), aqui no Brasil não é
possível observar esses avanços, pois não vivenciamos um estado de bem-estar
social e sim um "estado de mal-estar social".
No período de hegemonia do bem-estar-social na Europa, Hayek e vários outros
teóricos que compunham o pensamento liberal da época, em meados do século XX,
argumentaram que o novo igualitarismo promovido pelo bem-estar social, destruía a
liberdade dos cidadãos e a vitalidade da concorrência. Eles argumentavam que a
desigualdade era um valor positivo e isto foi sustentado por mais de 20 anos na
teoria liberal (ANDERSON, 1995).
O neoliberalismo nasceu logo após a II Guerra Mundial e foi caracterizado como
uma reação teórica e política contra o estado de bem-estar social. O texto de origem
da teoria liberal é de 1944, formulado por Hayek e intitulado “Caminho da Servidão”.
Este livro traduz uma forte corrente teórica que acreditava veementemente na
8
Resumidamente, o Welfare State ou Estado de Bem-Estar Social se caracteriza pela garantia de
Proteção Social, vista como direito e provida pelo Estado.
liberdade de mercado, sendo qualquer limitação encarada como letal à liberdade
econômica e política (ANDERSON, 1995).
Em 1979 na Inglaterra foi eleito o primeiro governo de claro posicionamento
neoliberal. Em 1980, Reagan assume a presidência dos Estados Unidos da América.
Logo no início ele tratou de disseminar as idéias liberais pelo continente Americano.
Em 1982, foi a vez da Alemanha, com o governo de Khol. Em 1983, a Dinamarca,
que possuía um modelo de bem-estar escandinavo, rendeu-se aos encantos do
neoliberalismo através do governo de direita de Schluter (ANDERSON, 1995).
Portanto, enquanto em âmbito mundial se vivia uma superação do estado de bemestar social, no Brasil aprovávamos a Constituição Federal de 88 e iniciávamos a
transição democrática.
No período de transição para a democracia liberal, as políticas sociais tornaram-se
centrais, como é percebido na Constituição de 1988. Para Pereira (2000),
os conceitos de direitos sociais, seguridade social, universalização,
equidade, descentralização político-administrativo, controle democrático,
mínimos sociais, dentre outros, passaram, de fato, a constituir categoriaschave norteadoras da constituição de um novo padrão de política social a
ser adotado no país. (PEREIRA, 2000, p. 152).
Portanto, a Constituição Federal de 1988 prevê vários avanços sociais que não se
encaixariam no ideário neoliberal, tais como: ampliação de direitos trabalhistas,
reconhecimento do princípio da participação popular na formulação das políticas e
no controle das ações em todos os níveis e reconhecimento da assistência social
como direito de cidadania (PEREIRA, 1996).
Assim, segundo Bravo (2004), no âmbito da década de 80, com a implementação da
nova Constituição Federal (1988), as políticas sociais foram incorporadas como
responsabilidade do Estado de acordo com as reivindicações das classes
trabalhadoras. Nesse período, a família é colocada como alvo dessas políticas, além
de afirmar os direitos da população infanto-juvenil, que, na década de 90, com o
Estatuto da Criança e do Adolescente ganham ainda mais respaldo.
No pós 88, a história brasileira é pavimentada com a ideologia liberal que aporta no
país na Era Collor, se consolida com Fernando Henrique Cardoso via Consenso de
Washington, Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional (FMI), fazendo surgir
privatização, desregulamentação do trabalho, abertura comercial, financiamento do
grande capital e corte dos gastos sociais9.
Na década de 90, pôde-se perceber o aprofundamento das desigualdades sociais e
um grande empobrecimento das famílias brasileiras. Foram redefinidas as relações
do Estado com o mercado e a sociedade civil. Assim, o Brasil passou a adotar os
princípios neoliberais de privatização do Estado e redução dos gastos sociais
(ALENCAR, 2004).
O governo de Fernando Henrique Cardoso inicia a reforma da previdência, cria a
comunidade solidária que vai de encontro à Lei Orgânica da Assistência Social
(LOAS), incentiva a proliferação de programas sociais voluntários e Organizações
Não Governamentais (ONG's), construindo uma cultura de que a questão social não
era de responsabilidade somente do Estado mas também da sociedade civil 10.
Novaes (2003) coloca que, no Brasil houve uma desresponsabilização do poder
público em relação à questão social e que, muitas vezes, os problemas são
transferidos para a responsabilidade individual. Para ela,
[...] na última década, ocorreu uma privatização das políticas públicas por
meio da idéia de focalizar um país que não universalizou quase nada [...].
Até agora foram feitas políticas minguadas, fragmentadas e de competição
entre as esferas de governo (o município compete com o estado e o estado
compete com a União). Não há sinergia nos programas sociais do governo
federal (NOVAES, 2003, p. 133).
Para os neoliberais, segundo Laurell (2002), o Estado só deve intervir para garantir
um mínimo para aliviar a pobreza e produzir serviços que o privado não pode prover.
Para a autora, essas políticas são de caráter assistencialista e com o intuito de evitar
que se gerem direitos. Para se inserir nesses programas, deve-se comprovar sua
condição de indigência. Dessa forma, essas políticas opõem-se à idéia da
universalidade, igualdade e gratuidade dos serviços sociais.
Nesse sentido, Bravo (2004) afirma que o processo de privatização rebate na
seguridade social e nas políticas referentes à infância, juventude e família, através
9
Idéias retiradas do Seminário "Análise das políticas sociais no governo Lula" proferido por Ana
Elizabete Mota em 24 de março de 2006, na Universidade Federal do Espírito Santo.
10
Idem.
da mercantilização da saúde e da previdência.
Vêem-se então programas
focalizados e o repasse de ações que eram de responsabilidade do Estado para a
sociedade civil, além da não consideração da assistência social como política
pública.
Nesse contexto é que surgem as políticas sociais de a Juventude.
1. 2- POLÍTICA SOCIAL DE JUVENTUDE: UM RESGATE HISTÓRICO
Na Idade Média havia certa imprecisão nas definições de criança, adolescente e
juventude. Nessa época, segundo Ariès (1973, p. 14), “subsistia a ambigüidade
entre a infância e a adolescência, de um lado, e aquela categoria que se dava o
nome de juventude, do outro”.
Na França, no começo do século XIV, os jovens pobres não tinham acesso à escola
e em decorrência disso não eram tidos como jovens, pois se misturavam aos adultos
para trabalhar.
A formulação das políticas até o século XVI, na França, segregava e excluía a
população pobre e dificultava o acesso às decisões sobre seu destino. Segundo
Ariès (1973), na França depois do século XVII, a educação passou a ser vista de
outra forma. A escola deixou de ser reservada aos clérigos para se tornar o
instrumento normal da iniciação social.
Esse reconhecimento da educação como necessária, ultrapassou séculos e países
chegando ao Brasil na Era Vargas, no século XX.
No Brasil, essa movimentação culminou na educação sendo reconhecida como
direito. Esse direito era resguardado pelo menos até o ensino médio, durante o
governo Vargas. Nesse período, houve uma ênfase dada à educação para o
trabalho, com investimentos no ensino superior e técnico devido ao processo de
industrialização que se iniciava. Esses jovens eram preparados para servir como
mão-de-obra nas indústrias (VIEIRA, 1987).
No Brasil, durante o século XX, as políticas públicas não deram ênfase à juventude.
Elas atendiam apenas à infância e a adolescência chegando apenas até os 18 anos.
Portanto, existiam poucas políticas públicas para juventude, o que existiam eram
ações para crianças e adolescentes que acabavam por favorecer uma parte da
juventude.
Essas políticas públicas para a população infanto-juvenil registradas no início do
século XX até a década de 1990, tinham como base um conceito de
criança/adolescente pobre como problema. Nesse sentido, as políticas públicas de
atendimento ao segmento infanto-juvenil eram pautadas num sistema médicojurídico-assistencial, tendo por objetivos a prevenção e a repressão.
As políticas desenvolvidas nesse momento tinham, ainda, um enfoque de que a
infância e a juventude pobre eram perigosas e tinham de ser tratadas com ações de
reabilitação e adaptação ao contexto de desenvolvimento que o país estava
atravessando nesse período, para que com isso não viessem a atrapalhar o referido
desenvolvimento e instaurar a “desordem”.
A crença de que na infância e na juventude estava o "futuro da nação", fazia com
que fosse necessário criar mecanismos de internação que isolassem a criança pobre
da família com o intuito de mantê-la em um caminho que resguardasse a "ordem".
Dessa forma, o Estado se sentia capaz de retirar as crianças das famílias pobres
com o discurso de que iria salvá-las do perigo que a pobreza representava naquele
momento. Assim, o Estado manteria as cidades em desenvolvimento "limpas" e teria
a possibilidade de formar trabalhadores alienados (RIZZINI, 1997).
Foi estabelecida uma aliança entre a Justiça e a Assistência no século XX que
contribuiu para originar a ação tutelar do Estado, legitimada pela criação de uma
instância regulatória da infância e da adolescência – o “Juízo de menores” - e por
uma legislação especial – o “Código de menores (Código de Mello Mattos)” criado
em 1927 (RIZZINI, 1997).
Essa justiça de “menores” no Brasil tinha por alvo a infância e adolescência pobre
que não vivia em uma família considerada habilitada a educá-la conforme os
padrões de moralidade vigentes na época. Assim, os filhos dos pobres, que
precisavam de intervenção judiciária devido a sua condição social, passaram a ser
identificados como “menores”, passíveis de receberem medidas de internação
(RIZZINI, 1997).
Até os 18 anos, essa população que era encontrada na rua, era encaminhada às
instituições de internação, não importando o contexto em que estava inserida. Já os
maiores de 18 anos eram levados para os presídios e casas de detenção, mesmo
sem terem cometido nenhum ato infracional (BRASIL, 1979).
A partir desse instante, passou a haver uma diferenciação entre criança e jovem, até
os 18 anos, e “menor”. A criança e o jovem, até os 18 anos, eram entendidos como
aqueles mantidos sob os cuidados da família, sendo reservada a cidadania. Já o
“menor” passou a significar aquele que era pobre, considerado potencialmente
perigoso e mantido sob a tutela do Estado, objeto de leis, medidas filantrópicas,
educativas, repressivas e programas assistenciais (RIZZINI, 1997).
O Juízo de “menores” inaugurou uma política de internação em estabelecimentos
criados ou reformados para atender à população específica dos “menores” material
e moralmente abandonados11 (RIZZINI, 1997).
O conceito de situação irregular do antigo código do menor apoiava a
triagem e, portanto o poder sobre o menor apreendido na rua. Os motivos
da apreensão eram os mais variados: ou porque se enquadravam na
definição de situação irregular-abandono, maus tratos, uso de drogas e
perambulação ou porque havia cometido infração. O critério de abandono
era muitas vezes usado de modo amplo. Por ele, “menores” carentes que
trabalhavam na rua para ajudar a família terminavam internados e
afastados dela (ZALUAR, 1994, p.137).
A Doutrina da Situação Irregular estava presente no Código de Mello Mattos (1927)
e no Código de Menores (1979). Esses códigos serviam de instrumentos de controle
social da infância e juventude, até os 18 anos, que eram sujeitas às omissões da
família, da sociedade e do Estado em seus direitos básicos.
Com esse estigma, a intenção era conter os “menores”, seja segregando-os, seja
adestrando-os para o trabalho (MARTINS, 2004). Passou-se a pensar na utilidade
desses sujeitos à nação como mão-de-obra para a indústria incipiente, para a
11
O abandono moral era ligado aos pobres e deveria ser combatido, pois a ele estavam associadas
as conseqüências indesejáveis como a vadiagem, a mendicância e outros comportamentos viciosos
que conduziriam à criminalidade e ao descontrole (RIZZINI, 1997).
agricultura e para a formação de um Estado forte e nacional. Nesse contexto, foram
criadas instituições visando à formação profissional dos internos como os patronatos
agrícolas para a formação de trabalhadores rurais. Porém, essa nova modalidade de
tratamento da população infanto-juvenil não abandonou totalmente as práticas
anteriores. O que pode ser notado é que houve uma passagem da repressão à
educação, para uma visão educativa e recuperativa, tendo como objetivos aproveitar
a mão-de-obra para o desenvolvimento nacional (RIZZINI, 1995).
É sob essa perspectiva que mais tarde, em meados do século XX, surgem os
chamados SENAC e SENAI, que, associados aos cursos profissionalizantes,
visavam à educação para o trabalho. O sistema “S”, como era chamado, capacitava
mão-de-obra juvenil para trabalhar nas várias indústrias que surgiram neste
momento. Essa era uma das poucas ações destinadas à juventude, senão a única,
mas que na verdade carregou consigo o interesse dos governantes em desenvolver
o país através das mãos fortes dos jovens.
Já na década de 1980 começaram a se destacar movimentos de resistência a esses
tratamentos destinados à população infanto-juvenil. Movimentos que visavam a
alterar as tradições históricas na área da infância e da juventude e mudar as formas
de atuação que eram exercidas pelas ações assistencialistas, coercitivas,
correcionais e rígidas (MARTINS, 2004).
Esses movimentos foram, em sua maioria, influenciados pela Convenção
Internacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (até os 18 anos). Segundo
Martins (2004),
essa convenção foi discutida a partir de 1978, quando a Polônia
apresentou às Nações Unidas a iniciativa de elaborar uma convenção
sobre os direitos da criança e do adolescente, que se pretendia aprovar no
ano seguinte, o Ano Internacional da Criança. A tarefa, entretanto, não era
simples. Foram necessários vários anos de estudos e reuniões para que
essa convenção fosse finalmente aprovada. E, embora ela tenha sido
assinada em 1989, pode-se observar no Brasil os efeitos de seus dez anos
de trabalho. A própria Assembléia Constituinte Brasileira incorpora, já em
1988, muito desse tratado (MARTINS, 2004, p. 198).
Na Constituição Federal de 1988 já se pode perceber uma prioridade dada à criança
e ao adolescente até os 18 anos. Nela começa-se a gestar uma política geracional
mais democrática e isenta de estigmas, predominantes anteriormente. Isso pode ser
verificado a partir do artigo 227, o qual determina que
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao
adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda a forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, 1988, art. 227).
É a partir do artigo 227 da Constituição Federal de 88 que se cria, sob a lei Federal
nº. 8.069 de 13 de julho de 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Nesse momento é observada uma mudança no foco de intervenção e de concepção
das políticas públicas destinadas a crianças e adolescentes. Antes essas políticas
geracionais eram baseadas na Doutrina da Situação Irregular, depois do ECA elas
passaram a ser desenvolvidas a partir da Doutrina da Proteção Integral,
considerando a população até os 18 anos, como portadora de direitos.
O ECA, considerado um avanço no plano teórico, assegura direitos à população
infanto-juvenil, antes inexistentes. Regulamenta, teoricamente, conquistas presentes
na Constituição de 88 e vem promovendo morosamente, uma revolução nas áreas
jurídica, social e política (LEAL 2004). Porém, mesmo considerado um avanço, o
ECA não dá cobertura à juventude, pois trata apenas da faixa etária de 0 a 18 anos.
Foi a partir da metade da década de 90 que o tema juventude começou a ganhar
visibilidade no Brasil. No entanto, apesar do enfoque dado à geração juvenil, as
ações desenvolvidas nesse período ainda tinham o jovem como problema,
realizando somente programas voltados para o combate de doenças sexualmente
transmissíveis, gravidez precoce, programas anti-drogas, de reabilitação para jovens
em conflito com a lei, entre outros (LEÃO, 2005).
Essa ênfase dada à juventude, no final do século XX, diz respeito a uma série de
fatores sócio-históricos que traduzem o contexto em que essa geração está inserida.
Portanto, contextualizar o mundo contemporâneo se torna essencial para
compreender a problemática que envolve a juventude brasileira. Nesse sentido, a
contemporaneidade é configurada por uma crise social e política do capitalismo, pela
reestruturação do processo produtivo levando ao desemprego estrutural. As novas
tecnologias produtivas e de comunicação criam a desterritorialização constante. Há
o descentramento dos Estados nacionais e a dependência crescente dos países
periféricos aos países centrais. O mundo se transformou num cassino financeiro,
hegemonizado pelo capital financeiro volátil12.
Crescem também os movimentos da extrema direita no mundo e com isso o perigo
de uma nova onda de intolerância política, étnica e racial, cujas conseqüências a
história já nos mostrou (MANFROI, 2000). Um exemplo disso, são as agitações
provocadas em São Paulo pelos “skinhead”, ou carecas, um grupo de jovens que se
achava de raça superior e tentou propagar uma nova fase do nazismo no Brasil,
pregando o combate a negros, judeus, homossexuais e nordestinos.
Uma realidade inegável é a da globalização econômica, política e cultural. Sistemas
de informação cada vez mais rápidos fazem transações econômicas de um país a
outro em instantes. As redes mundiais de comunicação fazem com que o universo
troque informações em minutos, quebrando a barreira das culturas (MANFROI,
2000). Isso tem uma ligação intrínseca a juventude, que está cada vez mais
participante
desses
espaços
virtuais,
influenciando,
até
mesmo,
nos
relacionamentos e redes de amizade dessa nova geração. A automação, os novos
processos produtivos levam ao desemprego estrutural, colocando-nos frente a uma
nova questão social ou a mesma questão social, mas com intensificação de alguns
fatores13.
Segundo Ianni (1996, p. 11), o processo de globalização
assinala a emergência da sociedade global, com uma totalidade
abrangente, complexa e contraditória. Uma realidade ainda pouco
conhecida, desafiando práticas e ideais, situações consolidadas e
12
13
CALIARI, et al, 2005. Anais do ALAS.
Vários autores colaboram para a teorização do discurso da Questão Social. No fim do século XX e
início do século XXI houve a intensificação de fatores relacionados ao cotidiano e aos problemas que
envolvem a população. Diante desse quadro, alguns autores abordam a possibilidade de existência
de uma nova Questão Social, com uma nova roupagem, outros autores dizem ainda que não existe
uma nova Questão Social, o que existe é o agravamento e a intensificação de fatores que envolvem
essa questão, que o fundamento dela continua sendo o mesmo, o capitalismo. Para Castel (1997) a
nova questão social hoje parece ser o questionamento da função integradora do trabalho na
sociedade”. Uma desmontagem desse sistema de proteção e garantias que foram vinculadas ao
emprego e uma desestabilização na ordem do trabalho, que repercute como uma espécie de choques
em diferentes setores da vida social para além do mundo do trabalho propriamente dito e que vem
atuando como agente desagregador do tecido social.
interpretações
imaginação.
sedimentadas,
formas
de
pensamento
e
vôos
da
Com a globalização dos processos produtivos das relações políticas, a questão
social também se globalizou. Houve alterações no mundo do trabalho: novas
técnicas e automação, flexibilização e o aumento da produtividade e a necessidade
cada vez de um número menor de trabalhadores. A questão social ressurge
recolocando em novos patamares a exclusão social. Como afirma Fontes (1995, p.
29), a exclusão social contemporânea é diversa,
tende a criar, internacionalmente, indivíduos inteiramente desnecessários
ao universo da produção econômica. Para eles, aparentemente, não há
mais possibilidade de integração ou reintegração no mundo do trabalho e
da alta tecnologia. Neste sentido, os novos excluídos parecem ser
descartáveis.
Um elemento que se destaca é a questão da cidadania que se torna cada vez mais
restrita a grupos, mesmo nos países centrais.
Há uma exclusão maciça internacional, com populações inteiras sendo
excluídas de toda e qualquer forma de cidadania, sendo excluídas inclusive
do direito de mudar de país. Se a cultura circula, novas barreiras
impeditivas (...) são erguidas (FONTES, 1995, p. 30)
No que concerne à população jovem, pode-se observar pelos dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)14, do censo 2000, que mais de 1/3 dos
jovens brasileiros são analfabetos ou não têm escolarização adequada.
Ou seja,
sem escolarização os jovens são excluídos do processo decisório no país, ficando a
cidadania, em segundo plano, enfraquecendo e desmobilizando a população juvenil.
Esse é um fator muito contraditório, pois enquanto o mundo se globaliza, as
juventudes locais não têm acesso nem a um livro, quanto mais a um computador.
Um motivo pelo qual os índices de analfabetismo e escolarização precária estão
altos é o fato dos jovens, devido ao seu contexto social, terem que entrar no mundo
do trabalho mais cedo, seja como forma de contribuir no orçamento familiar, ou seja,
sendo chefe de família. O IBGE mostra que 16.800.000 jovens trabalham e dentre
estes só 6.200.000 estudam. Comprovando que a juventude brasileira está
passando por um processo de educação para a subalternidade, assumindo os
14
Ver detalhes em www.ibge.com.br
subempregos, pois não tiveram oportunidade de estudar e escolher a profissão de
sua preferência, tendo, portanto, que "aceitar o que vier".
O Instituto de estudos, formação e assessoria em políticas sociais (POLIS) realizou
uma pesquisa, financiada pelo Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef),
com jovens moradores das sete cidades paulistas que compõem o grande ABC
paulista (Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Diadema,
Ribeirão Pires, Rio Grande da Serra e Mauá). Essa pesquisa aborda as dificuldades
que essa população encontra para se inserir num mercado de trabalho cada vez
mais competitivo. Revela ainda, seus projetos de vida e as expectativas de políticas
que propiciem seu desenvolvimento social e profissional (SOUTO, 2000).
Nessa pesquisa, mediante os relatos dos jovens, é mostrada que a precarização do
trabalho atinge a maioria dessa população. Grande parte deles trabalha sem carteira
assinada e desfrutam de poucos benefícios. Essa flexibilização das leis trabalhistas
atinge negativamente a auto-confiança desse jovem, que passa a uma posição de
submissão frente ao trabalho. Verifica-se, dessa forma, um retrocesso no que se
refere aos direitos trabalhistas conquistados (SOUTO, 2000).
Esse fato pode ser associado à França, que vive, em 2006, uma forte manifestação
da juventude que está vendo seus direitos trabalhistas serem extintos, na medida
em que, o governo decreta que o empregador poderá demitir sem justa causa, num
prazo de dois anos, jovens de até 26 anos que estiverem no programa primeiro
emprego. Essa população passa a reivindicar seus direitos frente a um governo que
insiste em negá-los. Os jovens alegam que esse decreto institui o fim das proteções
trabalhistas já conquistadas.
Segundo uma pesquisa nacional feita pelo Departamento Intersindical de Estudos
Sócio-Econômicos (Dieese)15 / Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) em
1998, metade do contingente de desempregados na mesma região era constituída
de jovens de até 24 anos.
15
Ver detalhes em http://www.dieese.org.br/ e http://www.seade.gov.br/
Assim, neste processo o tema da exclusão social torna-se relevante. A principal
conseqüência é o processo de precarização do trabalho. Segundo Castel (1997, p.
9), a exclusão social,
afeta principalmente os trabalhadores, e dentre eles os pouco qualificados,
mais do que os executivos, por exemplo, mas é preciso dizer que há
também um desemprego para os quadros superiores, quer dizer, que
ninguém escapa a essa reestabilização das situações de trabalho.
Usando como exemplo a França, Castel (1997) levanta três tendências relativas ao
trabalho, que assim classifica: desestabilização dos estáveis- “trabalhadores que
ocupavam uma posição sólida na divisão do trabalho clássica e que se encontram
ejetados dos circuitos produtivos"; instalação na precariedade- “alternâncias de
períodos de atividades, de desemprego, de trabalho temporário, de ajuda social”;
sobrantes- “pessoas que não têm lugar na sociedade, que não são integrados, e
talvez não sejam integráveis..." (CASTEL, 1997, p. 11).
Telles (1994) afirma que o Brasil é um país que ainda não conquistou patamares
mínimos de direitos e isso “dramatiza a questão social”. A autora fala ainda da atual
crise política do Estado. Para ela, esta
é uma crise que se mistura com a desorganização e destruição de instituições e
serviços públicos dos quais dependem grandemente as regularidades da vida social
e que converge em uma corrosão do sentido mesmo de ordem pública, do que são
expressão as evidências da deterioração de padrões societários, aí incluindo a
violência de todos os dias...(TELLES, 1994, p. 96).
A autora aponta também os desafios da sociedade contemporânea:

a sociedade brasileira vem se transformando rapidamente, criando espaços
heterogêneos, complexos e diferenciados cruzando transversalmente a estrutura
de classes, desfazendo identidades tradicionais e criando outras tantas, gerando
uma pluralidade de interesses e demandas nem sempre convergentes, quando
não conflitantes e excludentes (TELLES, 1994).

A sociedade brasileira é muito desigual e heterogênea na distribuição dos bens e
serviços, onde o Estado não consegue responder aos padrões mínimos de
cidadania. Criaram-se novos espaços de conflitos onde se redefinem as relações
entre o Estado, a sociedade e a economia por conta de transformações
econômicas e sociais que escapam a mecanismos institucionais de regulação e
ordenamento das relações sociais. Isso cria novos espaços de negociação
(TELLES, 1994).

As mudanças no mundo do trabalho e da tecnologia, em que a integração
precária no mercado de trabalho se sobrepõem ao bloqueio de perspectivas de
futuro e de perda de sentido de permanência à vida social, vêm construindo um
novo padrão de exclusão social (TELLES, 1994).
Segundo Hobsbawn (1992):
o "curto século XX" (1914-1990) terminou, mas tudo o que podemos
dizer do vigésimo primeiro é que terá que enfrentar pelo menos três
problemas que estão piorando: o crescimento do alargamento da distância
entre o mundo rico e o pobre(...); a ascensão do racismo e da xenofobia; e
a crise ecológica do globo que afetará a todos. As formas de lidar com
esses problemas ainda não são claras, mas a privatização e o mercado
livre não se incluem neles (HOBSBAWN, 1992, p.104).
[...]
Um outro aspecto a ser enfatizado é a rede de relações entre movimentos
diferenciados articulando a igualdade e a diferença, tomando como exemplo a
presença do movimento feminista, os movimentos de igualdade racial, o movimento
ecológico, os movimento culturais de afirmação de identidades, tal como o
movimento hip hop, que cria afirmação de novas redes de sociabilidade e de
afirmação de identidades e de denúncia social16. Nesse sentido, a juventude tem um
envolvimento ímpar e a sua representatividade é constante dentro desses
movimentos.
É nesse contexto de globalização, de precarização das relações de trabalho, de
exclusão social que se configura a sociedade contemporânea em que está inserida a
juventude brasileira. Devido à participação, ao envolvimento da juventude em
movimentos de contestação e das pressões exercidas sobre o Estado que na
década de 1990, foi dada mais ênfase a essa população.
É verificável, que antes da Constituição de 1988, o Brasil voltava sua política para os
pagantes e os não-pagantes, divididos por grupos como: gestantes, idosos, pessoas
com deficiência física ou portadores de cuidados especiais, crianças, entre outros.
Os jovens, não se encaixando nesses grupos, situava-se numa categoria transitória
– da infância para a idade adulta – cabendo a eles somente a garantia de
16
CALIARI, et al, 2005. Anais do ALAS.
instrumentos para a potencialização da sua força de trabalho quando fosse adulto
(COHN, 2004). Aliado a isso, está o fato de que historicamente e socialmente, a
juventude tem sido considerada uma fase de vida marcada por certa instabilidade
associada a determinados “problemas sociais” (SPOSITO; CARRANO, 2003).
Assim, também é perceptível que as ações públicas voltaram-se mais para a
adolescência e para aqueles que estão em processo de exclusão e privados de
direitos (a faixa etária que é compreendida pelo ECA). Nesse sentido, Spósito e
Carrano (2003) alertam que,
se tomadas exclusivamente pela idade cronológica e pelos limites da
maioridade legal, parte das políticas acaba por excluir um amplo conjunto
de indivíduos que atingem a maioridade, mas permanecem no campo
possível das ações, pois ainda efetivamente vivem a condição juvenil. De
outra parte, no conjunto das imagens não se considera que, além dos
segmentos em processo de exclusão, há uma inequívoca faixa de jovens
pobres, filhos de trabalhadores rurais e urbanos, os denominados setores
populares e segmentos oriundos de classes médias urbanas empobrecidas
que fazem parte da ampla maioria juvenil da sociedade brasileira e que
pode estar, ou não, no horizonte das ações públicas em decorrência de um
modo peculiar de concebê-los como sujeitos de direitos (SPÓSITO;
CARRANO, 2003, p.5)
Exemplificando concretamente essa discussão, existem alguns projetos que são
desenvolvidos pelo governo federal. São programas que estipulam uma determinada
idade para ingressar e para serem desligados, porém a maioria desses jovens
continua no campo possível dessas ações.
Entre
alguns
programas
federais
estão:
o
Programa
Agente
Jovem
de
Desenvolvimento Social e Humano, o Programa Nacional de Inclusão de Jovens:
Educação, Qualificação e Ação Comunitária (Projovem) e o Consórcio da Juventude.
Esses projetos, em sua maioria, são desenvolvidos a partir de Parcerias Público
Privadas (PPP's). Isso restringe a execução desses programas, por vários motivos,
entre eles a ineficiência no repasse das verbas de execução dos programas, a
parceria com organizações de fundos religiosos, a incerteza de continuidade da
parceria, entre outros fatores.
O programa Agente Jovem é um programa do governo federal que cobre jovens de
15 a 18 anos, onde são trabalhados eixos de ética, cidadania, saúde, meio ambiente
e cultura. Eles recebem uma bolsa de R$65,00 e realizam projetos de intervenção
nas suas comunidades. Nesse programa, quando o jovem atinge os 18 anos, é
automaticamente excluído17.
O Projovem também é um programa do governo federal destinado à jovens de 18 a
24 anos que já cursaram pelo menos até a 4ª série do ensino fundamental e ainda
não completaram a 8ª série. Esses jovens concluem o ensino fundamental em um
ano e ainda recebem uma qualificação profissional. Cada jovem recebe uma bolsa
de R$100,00 18.
Além desses, existe ainda o Consórcio da Juventude que abrange os jovens de 16 a
24 anos. O projeto tem o objetivo de capacitar os jovens para o trabalho, através de
vários cursos profissionalizantes, como corte e costura, produção de blocos para
construção civil, serigrafia entre outros. Além do curso, o jovem tem a oportunidade
de desenvolver um trabalho "voluntário" junto à comunidade, o que poderá gerar
uma bolsa de R$150,00.
Verificando esses programas nota-se que, alguns deles, além de serem focalizados
e fragmentados, possuem como parâmetro principal a faixa etária, o que exclui uma
grande parcela da juventude que não se enquadra nela, mas que continua no campo
legal das ações.
Complementando essa idéia, Cohn (2004) diz que,
[...] falar em políticas públicas para juventude implica falar em políticas que
garantam –se eficazes – o acesso a condições de vida e futuramente de
trabalho dignas a um quinto da população brasileira, vale dizer, 34 milhões
de jovens cidadãos (COHN, 2004, p. 168)
Segundo Abramo (1997), essa tematização da juventude pela ótica do problema
social é histórica. A juventude só passa a ser objeto de ação quando ameaça a
continuidade social. Assim, surgem programas para o enfrentamento desses
problemas sociais que afetam a juventude e passam a tomar os próprios jovens
como problemas devendo intervir para salvá-los e reintegrá-los à sociedade.
17
Projeto Centro de Referência para Juventude. O projeto pertence à Gerência de Promoção Social
da Juventude da Prefeitura Municipal de Vitória, elaborado em 2006 por Camila Lopes Taquetti,
Fabrícia Pavesi Helmer, Luiz C. Duarte Melo, Michela Ventorim, Rogério Araújo e Fabíola Demonel.
18
Idem
Além da concepção de juventude-problema, de faixa etária depois da adolescência,
surge também a concepção de que a juventude é portadora de direitos. Assim,
passaram a surgir iniciativas locais e nacionais como: secretarias, conselhos,
assessorias e programas que têm como tarefa o desafio de desenvolver políticas
que levem em conta as especificidades das juventudes brasileiras (FREITAS; PAPA,
2003).
Sob esse enfoque, algumas prefeituras e governos estaduais têm tentado formular
políticas específicas para esse segmento da população, envolvendo programas de
formação profissional e de oferecimento de serviços especiais de saúde, cultura e
lazer. Porém, a maioria desses programas trabalham apenas com aspectos
relacionados a "situações de risco", e "desvantagem social". Os aspectos
relacionados às práticas dos jovens com relação ao seu comportamento, cultura e
lazer são pouco enfocados (ALMEIDA, 2000).
Alguns diagnósticos, segundo Almeida (2000), mostram que as iniciativas existentes
que enfocam trabalho, cultura, lazer e esporte são fragmentadas com defasada
comunicação entre as esferas do governo, exprimindo o isolamento intersetorial.
A emergência do poder local na consolidação das ações para juventude é concreta e
assume um lugar de destaque. É um poderoso formulador e gestor, que conta até
mesmo com pesquisas que se propõe a elaborar um perfil dos programas
municipais. Uma dessas pesquisas demonstra que nessa instância não há
preocupação com a formação dos profissionais que atuam nesses projetos
prevalecendo ações sem acompanhamento e coordenação (LEÃO, 2005).
Um exemplo dessas ações locais é a instituída em Santo André (SP). A cidade é
conhecida pela variedade de grupos juvenis existentes. A partir de 1996, com a
gestão do PT foi verificado o esforço que o governo estava empreendendo no que
se refere ao desenvolvimento de projetos voltados para os jovens, por meio de
vários setores, dentre eles as Secretarias de Cultura, Esporte e Lazer, de Educação
e Formação Profissional e de Cidadania e Ação Social (ALMEIDA, 2000).
Na área da cultura, esporte e lazer podem ser citados vários projetos e ações que
foram elaboradas, como o Projeto Rock em Rua que disponibilizava toda estrutura
para que as bandas pudessem se apresentar dentro de uma agenda criada,
possibilitando a troca de experiências com outras bandas; o Parque da Juventude
que passou a ser um espaço mais apropriado para o encontro de diferentes culturas
juvenis do município; ações em torno do movimento hip hop; construção de uma
pista para a prática do skate para os inúmeros skatistas da região; peças teatrais
entre outras ações (ALMEIDA, 2000).
No que se refere à escolarização e educação formal, no final dos anos 90, foram
investidos recursos no setor educacional em nível municipal que combinavam ações
na área da educação formal com projetos alternativos para a formação
profissionalizante (ALMEIDA, 2000).
Na área da cidadania e ação social implantou-se o Centro de Referência para
Juventude (CRJ) que representa um espaço que favorece o acesso à informação, ao
conhecimento com a perspectiva de articular formas de expressão e buscar
soluções para as questões da juventude. São oferecidas oficinas de grafitagem,
expressão
corporal,
pintura,
interpretação
poética,
confecção
de
pipas,
musicalização, palestras e seminários sobre diversos temas (ALMEIDA, 2000).
O município de Santo André criou a Secretaria de Cidadania e Ação Social que se
encarregava de desenvolver programas que rompessem com ações assistencialistas
e individualistas. Criou-se também a Assessoria da Juventude para, dentre outras
coisas, implementar ações voltadas ao segmento jovem e apoiar grupos juvenis
organizados ou não, na cidade. (ALMEIDA, 2000).
Assim, tanto no plano regional como local surgem organismos públicos destinados a
articular ações no âmbito do poder executivo, visando à implantação de projetos de
ação para os jovens. Para Spósito (2003), esse fato decorre de compromissos
eleitorais de partidos que, através de sua militância juvenil, ou do movimento
estudantil, colocaram em sua plataforma política demandas do segmento jovem que
aspiravam por ações específicas destinadas a eles.
Assim, segundo a autora, esses organismos assumem o caráter de assessorias e,
em algumas situações, são criadas até mesmo secretarias de estado e
coordenadorias. Nesse foco estão localizados também os Conselhos de Juventude,
tanto municipais como estaduais, com formatos e funções diversas. No entanto,
essas instituições não estão presentes, ainda, em todos os estados e municípios
brasileiros. Ao analisar o motivo pelo qual se realizam ações, observa-se que essas
representações normativas ainda apresentam a idéia de superação dos problemas
vividos pelos jovens, sua situação de vulnerabilidade e, desse modo, estabelecem
como meta o combate a esses problemas.
Assim, Spósito e Carrano (2003, p. 28) admitem que parte significativa
[...] da vontade política de construção das ações públicas decorre do
reconhecimento dos problemas que afetam a juventude. Parte dessas
concepções de certa forma pode passar a considerar que o próprio jovem
se torna um problema para a sociedade e é sob essa ótica que o Poder
Público deve tratá-lo.
Portanto, é preciso ir além dessas doutrinas de segurança pública em que o jovem é
visto como problema e as ações destinadas a eles se resumem a adaptá-los à lógica
do sistema. Deve-se inscrever as políticas de juventude numa pauta ampliada de
direitos públicos de caráter universalista, o que pressupõe os jovens como sujeitos
portadores de autonomia, interlocutores ativos na formulação, execução e avaliação
das políticas a eles destinadas.
Até 2003, Spósito e Carrano (2003) identificaram 33 programas que incidem sobre a
juventude no âmbito Federal. Segundo eles, há pouco acúmulo teórico em torno
desta problemática, pois esses programas se destinam indistintamente a crianças,
adolescentes e jovens. Não levam em conta que crianças, adolescentes e jovens
possuem demandas diferentes.
O governo Lula vem, em seu mandato, dando destaque à questão juvenil. A idéia da
criação do Plano Nacional da Juventude surgiu juntamente com a instituição da
Comissão Especial destinada a acompanhar e a estudar propostas de Políticas
Públicas para a Juventude (CEJUVENT), criada por Ato da Presidência da Câmara
dos Deputados, em 7 de abril de 2003, por solicitação de Parlamentares de diversos
partidos19.
Os Parlamentares, integrantes da Comissão Especial, ao longo do ano de 2003 e no
1º Semestre de 2004, ouviram, num total de 33 audiências públicas, especialistas,
19
Cartilha de apresentação do Plano nacional de Juventude
gestores públicos e representantes da sociedade civil, no intuito de formular uma
proposta, em que, estivesse representada realmente as demandas da juventude.
Em 2003, alguns Parlamentares da Comissão viajaram à estudo para Espanha,
França e Portugal no intuito de tomar conhecimento da legislação daqueles países
e, principalmente, “da estrutura dos órgãos representativos da juventude como o
Conselho da Juventude e o Instituto da Juventude da Espanha, o Instituto da
Juventude da França e de Portugal".20
De 23 a 26 de setembro de 2003 foi realizado a comemoração da primeira semana
ed juventude do país, 21 estados brasileiros participaram e deram novos
encaminhamentos que foram incorporados a o relatório preliminar com várias
sugestões para o Plano Nacional de Juventude.
Este documento foi distribuído por todo o Brasil e no primeiro semestre de 2004
foram realizados encontros regionais em todas as capitais brasileiras. O objetivo era
formular uma carta-documento que legitimaria e aprimoraria a proposta legislativa
elaborada pela Comissão.
O ano de 2004 foi determinante para a consolidação do debate sobre a realidade da
juventude e para a identificação dos principais desafios. Além das contribuições
mencionadas, no âmbito do Executivo, foi constituído o Grupo de Trabalho
Interministerial da Juventude, composto por 19 ministérios e Secretarias: Casa Civil,
Cultura, Defesa, Desenvolvimento Agrário, Educação, Desenvolvimento Social e
Combate a Fome, Esportes, Fazenda, Justiça, Meio Ambiente, Planejamento,
Saúde, Turismo, Trabalho e Emprego, Direitos Humanos, Promoção da Igualdade,
Racial, Políticas para Mulheres e Gabinete de Segurança Institucional21.
Em 2004 foi criado um Projeto de Lei nº. 4530 que integra a idéia da criação do
Plano Nacional da Juventude (PNJ). Esse plano tem por um de seus objetivos
incorporar integralmente os jovens ao desenvolvimento do país, por meio
de uma política nacional de juventude voltada aos aspectos humanos,
sociais, culturais, educacionais, econômicos, desportivos, religiosos e
familiares (BRASIL, PL nº. 4530/04).
20
Idem
Ver mais detalhes em:
http://www.planalto.gov.br/SecGeral/juventude/arquivos_projovem/politicajuventude.htm
21
O PNJ possui como temáticas juvenis a emancipação juvenil; o bem-estar juvenil; o
desenvolvimento da cidadania e organização juvenil; o apoio à criatividade juvenil; a
equidade de oportunidades para jovens em condições de exclusão.
Possui ainda treze eixos, que são: o incentivo permanente à educação; a formação
para o trabalho e garantia de emprego e renda; promover a saúde integral do jovem;
incentivar o desporto, oportunizar o lazer e preservar o meio ambiente
ecologicamente equilibrado; a formação da cidadania; o protagonismo e organização
juvenil; o estímulo à produção cultural e acesso aos bens da cultura;
desenvolvimento
tecnológico
e
comunicação;
o
jovem
índio
e
o
jovem
afrodescendente; o jovem rural; o jovem portador de deficiência; o jovem
homossexual; a jovem mulher.
Cada eixo do PNJ foi discutido e avaliado em conferências realizadas em todo o
Brasil, inclusive na Conferência Estadual da Juventude do Espírito Santo 22, que
ocorreu em 11/03/2006, no Município de Vitória. Esta conferência tinha por objetivo
avaliar o PNJ e elaborar propostas para serem discutidas e revisadas em âmbito
nacional na Conferência Nacional de Juventude23 que foi realizada em 30 e
31/03/2006 em Brasília.
Porém, o grande envolvimento da juventude partidária e estudantil nesses locais de
incentivo à participação dos jovens, ocasionadas quase sempre por interesses
próprios, faz parte dos direitos à articulação política. No entanto, acabam por
intimidar jovens oriundos de outras instâncias a participar das decisões, interferindo,
portanto nos espaços destinados ao protagonismo juvenil.
Embora essa conferência do PNJ tenha dado ênfase, teoricamente, ao
protagonismo juvenil, a juventude não participou da elaboração do PNJ. No entanto,
não se pode minimizar a importância e a conquista que foi o PNJ para a categoria
juvenil, concretizando direitos e reivindicações históricas.
22
Pudemos participar in locus dessas discussões, pois estivemos representando o NEJUP.
Estivemos representando o NEJUP, em âmbito Nacional, o que nos possibilitou ver de perto as
relações de poder que envolveram a avaliação do PNJ.
23
Além de se pensar a política pública para juventude de uma forma participativa e
incentivadora do protagonismo juvenil, torna-se importante, também, articulá-la às
demais políticas públicas.
O PNJ foi uma das primeiras conquistas da juventude no governo do PT em âmbito
nacional, seguida da Secretaria Nacional de Juventude (2005) e do Conselho
Nacional de Juventude (2005). Foram Instituídos a partir da lei ordinária 11.129, de
30/06/2005, representando um ganho para a os jovens brasileiros24.
A criação da Secretaria Nacional de Juventude tem o objetivo de consolidar um
referencial institucional para o jovem no âmbito do Poder Executivo. Trata-se de uma
estrutura específica que coordenará e articulará as ações do governo desenvolvidas
nos Ministérios e Secretarias. A Secretaria Nacional da Juventude será vinculada à
Presidência da República, no âmbito da Secretaria-Geral25.
Com o intuito de institucionalizar formas de participação e diálogo permanentes, esta
lei ordinária cria também o Conselho Nacional de Juventude, composto por
representantes
governamentais,
organizações
juvenis,
organismos
não-
governamentais e personalidades reconhecidas pelo seu trabalho com jovens. Terá
a finalidade de propor diretrizes para ações voltadas à promoção de políticas
públicas para a juventude. O Conselho será um espaço importante de parceria entre
poder público e sociedade, para avaliar experiências nacionais e internacionais e
elaborar em conjunto, novas propostas de políticas públicas. Além disso, representa
a implementação de um instrumento democrático capaz de atender melhor as
demandas da juventude ainda poderá contribuir como apoio em âmbito estadual e
municipal na discussão de assuntos correlatos26.
Dessa forma, as políticas públicas de juventude, se não pensadas no marco das
políticas sociais e articuladas às políticas econômicas, serão incapazes de superar a
limitação de serem políticas de compensação social. Essas ações, que são ainda
muito compensatórias, não abrangem a todo o segmento juvenil. Afinal, a discussão
de juventude que necessita de política pública específica é muito recente no Brasil.
24
Ver mais detalhes em:
www.ibict.br/inclusaosocial/index.php?option=com_content&task=blogcategory&id=121&Itemid=219
25
Ver mais detalhes em: http://www.planalto.gov.br/ccivil/_Ato2004-2006/2005/Exm/EM-024-MPOCCV-SGPR-MTE-MEC-MDS.htm
26
Idem.
A América Latina, como um todo, possui ações e discussão de juventude mais
avançada que o Brasil27.
Assim, as políticas sociais não buscam, ainda, o resgate da cidadania, não
promovendo reais mudanças, tornando-se algo imediatista e paliativo.
Portanto, algumas ações ainda estão sendo implementadas não levando em conta a
discussão das questões das políticas públicas de, para e com28 as juventudes e não
respeitando a diversidade de direitos humanos dos jovens – sociais, civis, políticos e
culturais. O que se tem feito são programas isolados, políticas setoriais de ação local
no âmbito do Estado (CASTRO, 2004).
Para tanto, as políticas sociais destinadas aos jovens devem considerar a
diversidade da juventude. Existem jovens negros, homens, mulheres, portadores de
deficiências, com diferenças econômicas e culturais. Assim, portanto, são demandas
diferenciadas e é importante e essencial que a política pública reconheça essa
diversidade e crie ações que levem esses aspectos em questão.
Uma forma de atender aos anseios juvenis, seria estimular a participação dos jovens
na elaboração das políticas públicas geracionais, assim a própria geração teria a
oportunidade de mostrar seus interesses e de ser autor da sua história ou
protagonista, como melhor couber.
Essa discussão de participação na elaboração de políticas públicas é recente, ela
tem início em meados do século XX, antes não havia participação popular
incentivada pelo Estado (SOUZA, 2004).
Segundo a autora, apesar de nesse período ter se incentivado a participação, ela
tinha um caráter reacionário e não passava de uma estratégia governamental sem
objetivo de mudança estrutural, assumindo uma direção desejável para os moldes
capitalistas.
27
Isso foi percebido no Encontro Latino Americano de Sociologia, onde foram apresentadas
experiências de vários países da América Latina, com relação à juventude.
28
A discussão da política de, para e com a juventude se refere ao modo como ela é criada. De
juventudes refere-se às políticas públicas destinadas às juventudes, para juventudes são as políticas
públicas construídas sem a participação da categoria, já o com as juventudes se refere a uma forma
de participação e protagonismo juvenil na elaboração das políticas públicas.
Já na década de 70, a participação popular passa adquirir grandes proporções,
assumindo movimentos que tinham por objetivo a universalização dos direitos
sociais, a ampliação do conceito de cidadania e a interferência da sociedade no
aparelho estatal (SOUZA, 2004).
O movimento estudantil, sempre presente nas agitações populares, dando a sua
contribuição, faz ainda parte do cenário contemporâneo, apesar de ter assumido
nova forma, explicada pelo direcionamento econômico e político adotado pelo país
nas últimas décadas.
CAPÍTULO 2
JUVENTUDE
2.1 - JUVENTUDE NA CONTEMPORANEIDADE
Pensar a juventude apenas como faixa etária que vai dos 15 aos 24 anos ou dos 15
aos 29 anos é restringir o amplo significado que a juventude tem. Precisa-se
aprofundar a análise e a compreensão sobre significados, construções simbólicas e
as relações sociais estabelecidas pelos jovens. Segundo Castro e Abramovay (2005,
p.62) "a juventude é, ao mesmo tempo, um ciclo de vida com características próprias
e parte de um momento histórico".
Segundo Abramo (2005), a juventude é analisada tomando por base alguns
conceitos. Um deles é pensar a juventude como período preparatório sendo, então,
enfocada apenas como transição entre a infância e a idade adulta estabelecendo
políticas que visem à preparação ao mundo adulto. Essa concepção é verificada nos
anos 50, quando o jovem era preparado para tornar-se um adulto produtivo e
comprometido com o progresso nacional, portanto as políticas sociais, nesse
momento, giravam em torno da educação para o trabalho. Tudo isso articulado com
o ideal desenvolvimentista do período.
Numa segunda conceituação de juventude, esta é encarada como uma etapa
problemática, onde o jovem aparece a partir dos problemas que ameaçam a ordem
social e emergem questões relativas a comportamentos de risco e transgressão.
São elaboradas políticas que buscam incidir na diminuição do envolvimento dos
jovens com a violência (ABRAMO, 2005). Ligar o jovem à delinqüência também foi
um fato comum nos anos 50, quando esse tema passou a ser visto para além de
setores juvenis marginalizados. Os jovens de classe média também passaram a ser
vistos como potencialmente delinqüentes (somente pela condição etária), pois
mesmo possuindo alta renda e estando em condições de se ajustar ao mundo
adulto, passaram também a manifestar dificuldades de se adequar as normas da
sociedade. Dessa forma, havia uma interpretação de juventude como fase difícil e
problemática, isso fazia com que as culturas juvenis fossem encaradas como
antagônicas à sociedade adulta, como por exemplo, a “satanização” do rock’n’roll
(ABRAMO, 1997).
Nos anos 60, especialmente no pós-64, no Brasil, Abramo (1997) diz que, a
juventude apareceu como ameaçadora da ordem social nos planos político, cultural
e moral, por uma atitude de crítica à ordem estabelecida. A juventude era
considerada como uma categoria portadora da possibilidade de transformação, o
que para a sociedade se configurava no pânico da revolução. Esse medo significava
tanto um desconforto com a idéia de mudança, quanto uma preocupação com o não
enquadramento desses jovens, novamente, ao funcionamento “normal” da
sociedade, devido à própria recusa deles em se adequar à referida situação.
Assim, a juventude passou a ser tratada como um problema de segurança nacional.
O controle político e ideológico visava combater a efervescência política daquele
momento, já que a juventude vinha se manifestado através de vários movimentos e
ganhando maior visibilidade no cenário das lutas brasileiras, com: o movimento
estudantil e de oposição aos regimes autoritários, contra as tecnocracias e todas as
formas de dominação; o movimento pacifista; o movimento hippie; os movimentos
culturais que questionavam os padrões estabelecidos de comportamento (sexuais,
morais, de consumo); entre outros (ABRAMO, 1997).
Essa relação de perseguição e enfrentamento entre a juventude e o Estado se
tornou mais aguda nos anos 70 (ABRAMO, 1997).
Alguns fatos na História podem comprovar essa discussão. Um fato marcante foi o
movimento de 1968, que aconteceu com mais ênfase na França, quando estudantes
do país tomaram a Universidade Sorbone. No Brasil também foi possível presenciar
manifestações como essas em 68 também e no final da ditadura.
Weber (1999) analisa esse movimento, para ele o movimento começou
anteriormente a 1968 na Califórnia e no Japão, disseminou-se pela Europa
Ocidental, Oriental e por parte da América latina. Para ele, o maio de 1968 se
desdobrou até 1977, não cobrindo apenas um ano e sim mais de uma década.
Representou a rejeição de toda forma de poder baseada na força, e na coerção.
No Brasil, o movimento lutava contra a absoluta ausência de liberdade política,
social e cultural que eram características do regime militar.
Foram movimentos importantes que demonstraram a força política contestadora dos
estudantes e jovens.
Assim, essa juventude que, de acordo com Abramo (1997), anos 60 era considerada
como “rebelde”, foi reelaborada e assimilada de uma forma positiva. Assim,
atualmente, temos a visão de que, nessa época, existiu uma geração idealista,
generosa, criativa, que ousou sonhar e se comprometer com a mudança social.
Dessa forma, criou-se, um modelo de jovem que tem o idealismo, a inovação e a
utopia como características essenciais dessa categoria etária.
Também nos anos 1980, a conceituação de juventude como ameaçadora da ordem
social aparece, porém vem revestida de mais significados. Segundo Moreira (2005),
a partir dessa década, o Estado passa a se preocupar também com os segmentos
juvenis socialmente marginalizados, as chamadas “gangues”29 ou “galeras”30. Daí é
que surge a ênfase na relação entre juventude/drogas e juventude/violência. A
maioria das iniciativas desse período visava normatizar e disciplinar tais relações.
Nesse momento, aquelas características essenciais da juventude, que aparecem
depois da reelaboração dos anos 60, passam a não mais existir, dando lugar a uma
juventude individualista, consumista, conservadora e indiferente aos assuntos
públicos. Segundo pesquisa realizada por Abramo (1997) a juventude aparece em
1980 como depositária de medo e nega o seu papel como fonte de mudança.
Como afirma Mische (1997), antes do golpe militar as universidades eram palco de
movimentações e reivindicações juvenis e do próprio movimento estudantil, no
entanto, nas décadas após o golpe, as universidades já não se constituíam como os
centros da vida cultural e política juvenil.
29
“Nos EUA, as gangues possuem décadas de história e tem grande importância na organização da
vida coletiva das cidades. Configuram-se como um elemento característico da divisão do espaço
urbano, que historicamente tem suscitado conflitos violentos de caráter notadamente étnico [...] No
Brasil, a palavra gangue tem sido utilizada genericamente para designar um grupo de jovens, um
conjunto de companheiros e também uma organização juvenil ligada à delinqüência” (ABRAMOVAY
et al, 1999).
30
Galera: “é definida como um grupo de amigos que se reúne para se divertir, para curtir, estando
sempre prontos para proteger e defender uns aos outros” (Idem).
Assim, a juventude dos anos 80, segundo Abramo (1997), vai aparecer para alguns
como patológica e diferente da dos anos 60 e 70. É vista como incapaz de resistir ou
oferecer alternativas às tendências inscritas no sistema social. O individualismo e a
falta de idealismo passam a ser vistos como problemas para a possibilidade de
mudança do sistema.
Percebe-se então, segundo Abramo (1997), que a juventude enfocada nos anos
1960 e 1970 era de classe média, empenhados em propostas de mudança. Já a
juventude, que é enfocada a partir dos anos 1980 é aquela pobre, que aparece nas
ruas dividida entre o hedonismo e a violência.
Dessa forma, são entendimentos diferentes, pois em um determinado momento
aparecem jovens politizados e comprometidos com questões relativas aos
problemas que envolvem a sociedade, portanto ameaçadores à “ordem” que o
regime ditatorial tentava impor e, em outro momento, aparecem jovens envolvidos
na criminalidade, vistos como ameaçadores da ”ordem” social.
A juventude dos anos 90 toma visibilidade a partir de inúmeras figuras juvenis nas
ruas, envolvidas em diversos tipos de ações individuais e coletivas (ABRAMO,
1997).
Há também, segundo Abramo (2005), a conceituação do jovem como ator
estratégico do desenvolvimento, quando eles são vistos como importantes para a
formação de capital humano e social para enfrentar os problemas de exclusão social
que ameaçam grandes contingentes de jovens. Isso explica alguns programas como
o Agente Jovem já elencado anteriormente.
Embora essa tematização da juventude como problema pareça estar enraizada na
história brasileira, surge, segundo a autora, a concepção de que a juventude é
sujeita de direitos e deixa de ser definida por sua incompletude ou desvios.
Porém não se pode afirmar que essa tematização negativa de juventude ainda não
seja usada. Ela comumente é associada a questões como drogas, violência e
delinqüência. Os principais estigmas atribuídos à juventude estão associados à
negação de direitos básicos como educação, cultura, esporte, lazer, participação
política, trabalho, entre outros.
Assim, para que seja eliminado esse estigma é preciso garantir efetivamente os
direitos e incentivar a participação dessa juventude nas mais diversas instâncias.
Nessa incursão, pode-se notar que muitas concepções podem ser ainda fixadas.
Diferentes autores e projetos expõem suas teorias a respeito.
A Organização das Nações Unidas (ONU) conceitua a juventude como a fase que
vai dos 15 aos 24 anos. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) divide a
juventude em dois períodos, o período da adolescência e o da Juventude. Para essa
organização, a adolescência começa aos 15 anos porque consideram que, com
essa idade a pessoa já terá alcançado um nível de escolaridade que lhe permitirá o
acesso ao mercado de trabalho. Assim, consideram que a juventude começa aos 20
porque nessa idade começa-se uma nova fase da vida que se estende até os 24
anos (MARTINS, 2002).
A Organização Mundial da Saúde (OMS) também circunscreve cronologicamente
que a adolescência corresponde dos 10 aos 19 anos e a Juventude dos 15 aos 24
anos. Sob essa análise, a OMS desdobra esses conceitos identificando os
adolescentes jovens como os que possuem de 15 a 19 anos e os adultos jovens dos
20 aos 24 anos (BRASIL, 2003).
Essa tendência de compreensão de juventude como fase da vida se diversifica
dependendo do país em que ela é conceituada: no Brasil, jovem é aquele que possui
entre 15 e 29 anos, na Itália, jovem é aquele que tem até 28 anos e no Japão, a
juventude chega até os 33 anos. Dessa forma, se quisermos pensar políticas
públicas para juventude temos de saber que toda política ou ação voltada para
juventude parte de uma concepção31.
Portanto, pensar juventude somente como faixa etária é negar os vários aspectos
que envolvem essa população. É então restringir um amplo significado, o que
influencia até mesmo nas ações que envolvem a juventude, diminuindo a área de
abrangência das políticas, dos programas e dos projetos.
31
Idéia transmitida por Luísa Mitiko Camacho no Seminário organizado pelo NEJUP intitulado
Movimento, Juventude e Expressão em 12 de agosto de 2003.
Para Groppo (2000), a juventude é conceituada como uma categoria social e algo
mais que uma faixa etária. Tomando-a como uma categoria social, a juventude se
torna uma representação sócio-cultural e uma situação social (GROPPO, 2000).
Porém:
Originada da cultura e da sociedade ocidental, capitalista, burguesa, liberal
etc.do século XIX, a nossa concepção de juventude ainda é marcada por
caracteres definidores e legitimadores cientificistas, baseados em uma
noção evolucionista do ser humano e das coisas. Ou seja, uma concepção
em que o ser humano é pensado como um indivíduo que, biológica, mental
e socialmente, evolui da fase infantil a fase adulta, sendo a juventude uma
fase intermediária. (GROPPO, 2000, p.271).
Assim, a juventude não é conceituada apenas por limites etários, mas também por
representações simbólicas e situações sociais, vividas com muita diversidade no
cotidiano, devido à sua relação com outras situações sociais, às diferenças culturais,
espaciais, étnicas e de gênero. Faz-se então necessário compreender a juventude
em suas relações, nos espaços e contextos onde está inserida. Compreender
também a partir das suas manifestações e modos de vida analisando suas
potencialidades e contradições que a realidade impõe (GROPPO, 2000).
O Projeto juventude32, do Instituto Cidadania, define a juventude como uma fase
marcada por processos de desenvolvimento, inserção social e definição de
identidades. A condição juvenil, segundo esse projeto, não pode ser considerada
apenas como preparação para a fase adulta, embora envolva processos
fundamentais de formação.
Os jovens, segundo o referido projeto, são sujeitos com necessidades,
potencialidades e demandas singulares em relação a outros segmentos etários.
Abramo e Venturi (2000) afirmam que existem duas idéias que costumam estar
presentes em concepções modernas de juventude: a primeira consiste em
considerá-la uma fase de passagem do período de dependência, que caracterizaria
a infância e a posterior autonomia adulta e a segunda é a que atribui aos jovens uma
32
Programas de estudos, pesquisas, discussões e seminários que ocorreram em vários estados,
promovidos pelo Instituto Cidadania, entre agosto de 2003 e maio de 2004. Esse projeto deu origem a
12 publicações, incluindo três livros: Juventude sociedade - trabalho educação, cultura e participação;
Retratos da juventude brasileira – análise de uma pesquisa nacional e Trajetórias juvenis – narrativas
de participação.
predisposição natural para a rebeldia, como se fossem portadores de uma essência
revolucionária.
Segundo os autores, a concepção de juventude como passagem, parte do
reconhecimento de que se trata de um período de transformações e, por isso, de
definições de identidade. Sugere-se que tal momento de transição deva ser centrado
na preparação para a vida futura, sobretudo via formação escolar, de modo a
garantir uma adequada inserção na vida social, sob rígido controle dos adultos para
que as buscas e inquietações não levem a “desvios”.
Para Durston (apud STROPASOLAS, 2005), a fase da juventude é uma gradual
transição até a completa inserção nos papéis adultos em todas as sociedades. Para
ele, a juventude vai desde o término da puberdade até a constituição do casal e de
um lar.
Já Kehl (2004, p.90) afirma que o conceito de juventude na atualidade é bem
elástico: dos 18 aos 40 anos, todos os adultos são jovens. Para ela, se pensada por
esse enfoque, "a juventude é um estado de espírito, é um jeito de corpo, é um sinal
de saúde e disposição, é um perfil consumidor, uma fatia do mercado, onde todos
querem se incluir".
Outras reflexões sobre juventude estão baseadas em definições do que é
considerado “ser jovem”, sem problematizar o significado relativo à sua inserção em
contextos sociais concretos. A sociologia funcionalista, por exemplo, analisa a
juventude como um momento de transição no ciclo de vida da infância para a
maturidade, que corresponde a um momento específico e dramático de socialização
em que os indivíduos processam a sua integridade e se tornam membros da
sociedade (ABRAMO, 1997).
As concepções de juventude vistas, dessa forma, trabalham com uma categoria de
juventude universal, homogênea e abstrata incorporando uma visão puramente de
etapas evolutivas. Além disso, muitas análises sociais têm privilegiado uma tônica
negativa acerca da juventude, analisando esta como desviante e associando isso,
na maioria das vezes, à imagem de famílias ditas ‘desestruturadas’ (QUIROGA,
2001).
Segundo Carneiro (apud STROPASOLAS, 2005, p.5), os jovens, geralmente, são
classificados em "categorias intermediárias
sem receber uma
qualificação
específica: são os 'estudantes', no caso dos de origem urbana, ou os 'filhos dos
agricultores', no caso de origem rural". Dessa forma, segundo a autora, essa
população fica esperando a maioridade para se tornar visível.
Essas concepções, no entanto, são insuficientes para se fazer qualquer diagnóstico
ou consideração sobre os jovens no Brasil de hoje, posto que a maioria deles não
tem condições de se ver livre de obrigações e compromissos de ordem econômica e
familiar, estando longe de ter sua vida centrada na vida escolar (ABRAMO;
VENTURI, 2000).
Assim, essa visão, quase sempre tem um foco moral, em que, a real preocupação
está na coesão moral da sociedade e com a integridade moral do indivíduo. O jovem
passa a ser visto como futuro membro dessa sociedade (ABRAMO, 1997).
A juventude pode ser considerada também como uma idéia construída social e
culturalmente e dependendo do contexto, chega-se a uma idéia de juventude
diferente. Entra nessa definição a classe social, o local onde vive, se é zona rural ou
urbana33.
Há também uma diversidade de movimentos e grupos que evidenciam a dificuldade
de se ter o conceito de população jovem de forma padronizada ou uniforme. Devido
a isso se torna conveniente dizer “juventudes” e não “juventude”, uma vez que deve
ser levada em conta a questão racial, de gênero e cultural34.
Novaes (2002), assim como Camacho, diz que muitas vezes refere-se à juventude
como se existisse um ciclo universal da vida, ou seja, como se em todas as
sociedades as diversas etapas da vida fossem demarcadas da mesma maneira.
Mesmo pertencentes à uma mesma época, os jovens diferem entre si. Entre os
jovens brasileiros, há diferenças no que tange às classes sociais, relações de
gênero, estilos de vida, locais de moradia, entre outras especificidades. Desse
33
Idéia transmitida por Luísa Mitiko Camacho no Seminário organizado pelo NEJUP intitulado
Movimento, Juventude e Expressão em 12 de agosto de 2003.
34
Idem.
modo, pensar a juventude no singular se torna algo vazio, é preciso considerar todos
esses aspectos e afirmar a existência de Juventudes e não apenas juventude.
A autora afirma ainda que, biologicamente, o jovem é aquele que está mais
predisposto à vida, tem gosto por aventura, tem maior curiosidade pelo novo, tendo
assim, uma propensão aos aspectos revolucionários. Porém, segundo ela, se
pensarmos nos aspectos históricos e temporais podemos perceber que existem
diversas juventudes que convivem num mesmo tempo e espaço social.
Para Novaes (2003), falar de juventude na literatura e na história é falar de riscos,
transgressões, aventuras, necessidade de adrenalina e violência. Nessa faixa etária,
os limites são testados porque, segundo a autora, considera-se que os jovens, no
que se refere ao biológico, estão mais longe da morte, porém é a geração que mais
fala em morte. Torna-se, então, um paradoxo, pois amplia-se o tempo de "ser jovem"
em relação às gerações anteriores mas também alarga-se o sentimento de
vulnerabilidade frente à morte.
Historicamente, é a partir da segunda metade da década de 1990 que o tema da
juventude começou a ganhar projeção e complexidade no espaço público brasileiro.
Nesse mesmo período, aumentava-se a proporção de jovens de 15 a 24 anos
afetados pelo aprofundamento das desigualdades econômico-sociais, os quais eram
identificados como problema. Esses fatores foram causados principalmente, pela
crise econômica e social que o país e a América Latina enfrentaram nos anos de
1980 e 1990. Essa crise gerou o aumento da exclusão dos jovens brasileiros e a
diminuição de oportunidades, que por sua vez, geraram o aumento do tráfico de
entorpecentes e a exploração sexual infanto-juvenil (BRASIL, 2003).
Apesar dessa concepção de problema, surge o reconhecimento de que a juventude
é algo além da adolescência nos limites etários e nas questões que as caracterizam.
Assim, as ações a ela dirigidas exigem outra lógica, para além das concebidas para
crianças e adolescentes (FREITAS;PAPA, 2003).
Segundo Abramo (2003, p. 220), a concepção de juventude na sociedade moderna
é definida como
um momento de preparação para um exercício futuro da cidadania, dada
pela condição de adulto, quando as pessoas podem e devem assumir
integralmente as funções sociais, inclusive as produtivas e reprodutivas,
com todos os deveres e direitos implicados na participação social. Tal
preparação deve ser realizada em espaços separados do mundo produtivo,
do mundo adulto, da algavaria social, e esse espaço é, por excelência [...] a
escola.
Porém, a condição juvenil sofreu grandes transformações nas últimas décadas, o
que torna inviável, considerar hoje a juventude apenas como uma etapa de
preparação para vida adulta. Essa geração ganhou contornos diferentes. Não é mais
definida exclusivamente pela condição estudantil, mas também pela inserção no
mundo do trabalho, na vida afetiva/sexual, na produção cultural, na participação
social, entre outros.
Nesse sentido, os jovens passam a ter a necessidade de ocupar espaços além da
escola. Segundo Abramo (2003, p.223), eles "tendem a ir para as ruas, para os
espaços públicos, para se socializarem, buscar novas referências, expressar-se,
para formatar suas identidades em confronto e interlocução com os outros".
A juventude tem sido vista nos mais diversos meios como uma população propícia
para simbolizar aspectos da contemporaneidade. Como experiência geracional, a
juventude aparece como uma projeção da sociedade. Segundo Stropasolas (2005),
o jovem passa a ser aquele sobre o qual a sociedade investe suas crenças, suas
esperanças. Passa a ser um elemento de renovação, mas, ao mesmo tempo, pode
representar uma ameaça.
Diante dessas concepções, acreditamos que a juventude é um segmento que possui
diferenças e singularidades. Dentro de uma discussão aprimorada por seminários
realizados no NEJUP, pudemos perceber que se torna mais conveniente abordar
“juventudes” e não “juventude”, já que devemos ressaltar as especificidades, o que
depende do espaço, tempo, condições sociais, econômicas, políticas e culturais dos
jovens. Dessa forma, a juventude é algo muito além da concepção de faixa etária.
Os processos constitutivos da condição juvenil se fazem de modo diferenciado,
segundo as desigualdades de classe, renda familiar, região do país, condição de
moradia (rural ou urbana, no centro ou na periferia), de etnia e gênero. São
diferenças que irão resultar em distintas formas de inserção, desenvolvimento e
participação.
As Juventudes, na contemporaneidade, estão lutando para serem consideradas
como portadoras de direitos, com demandas diferenciadas. Portanto, as ações
destinadas a essa geração devem ressaltar as necessidades que diferenciam o
jovem da criança e do adolescente, como a sexualidade, o mercado de trabalho, a
política, o envolvimento na comunidade, a cultura, o lazer. Todos esses eixos trazem
aspectos novos e diferenciados, quando relacionados à juventude.
Neste século, a população jovem tem crescido, de acordo com o Fundo de
População das Nações Unidas (UNFPA), dos 191 países membros da ONU, o Brasil
é o 5º com maior percentagem de jovens na sua população, ficando atrás da China,
Índia, Estados Unidos e Indonésia. Mais de 85% dos jovens do mundo vivem em
países em desenvolvimento, sendo o Brasil o responsável por cerca de 50% da
população jovem da América Latina e 80% do Cone Sul.
Hoje, a população juvenil brasileira corresponde a 34 milhões de pessoas. Alguns
dados estatísticos descrevem situações que perpassam atualmente essa expressiva
parcela da população.
Segundo o último Censo do IBGE em 2000, 50% dos jovens se declararam brancos
e 48% negros e pardos. E de acordo com a UNFPA, cerca de 14,7% da população
de 15 anos é analfabeta no Brasil (PROJETO JUVENTUDE, 2004).
Quanto ao mercado de trabalho, segundo dados do IBGE, cerca de 3,7 milhões de
jovens estavam sem trabalho em 2001, representando 47% do total de
desempregados no Brasil. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD)
de 2001 mostrou que, dentre os jovens de 15 a 24 anos, 21% apenas estudam; 5%
estudam e procuram emprego; 19% estudam e trabalham; 35% apenas trabalham;
6% não estudam e procuram emprego e 14% não estudam, não trabalham e nem
procuram emprego. Ou seja, 45% dos jovens estudam, enquanto 65% estão no
mercado de trabalho, sendo 54% ocupados e 11% procurando emprego. Além disso,
dos jovens que trabalham, 78% são assalariados, porém 40,5% estão na situação
de informalidade (PROJETO JUVENTUDE, 2004).
Segundo o Projeto Juventude (2004), o desemprego é maior para os jovens negros,
cerca de 23,8%, contra 16,4% para brancos, é maior também para jovens do sexo
feminino (22,2%) do que para jovens do sexo masculino (14,5%). É superior também
o índice de desemprego entre os jovens de famílias mais pobres (26,8%), cuja renda
per capita é inferior a meio salário mínimo.
Quanto à educação, entre os jovens de 20 a 24 anos, 75% já estão no mercado de
trabalho e apenas 28% ainda estudam. Segundo o Projeto Juventude (2004), uma
parte desses jovens sai da escola por terem concluído os graus considerados
básicos da formação escolar, apenas 36,4% concluem o ensino médio e 3,6%
chegam à universidade.
Um outro indicador é a taxa de mortalidade da juventude e suas principais causas.
Segundo pesquisa da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência
e a Cultura (Unesco), no Brasil em 2002, a taxa de homicídios na população jovem
foi de 54,5 para cada 100 mil habitantes. Na população masculina de 15 a 24 anos,
as principais causas estão relacionadas à atividade laboral, a disparos de arma de
fogo e a acidentes de trânsito. Na população feminina, as violências físicas e
sexuais são os eventos mais freqüentes (BRASIL, 2003).
Segundo Censo de 2000, cerca de 84% ou 28,4 milhões de jovens vivem em área
urbana, sendo 31% ou 10,4 milhões em regiões metropolitanas. Apenas 16% vivem
em áreas rurais, o que equivale a 5,5 milhões de jovens.
Desse modo, é importante enfocar a população jovem em suas especificidades,
respeitando suas formas de viver e interpretar o mundo, considerá-la no tempo e no
espaço em que são inseridas essas juventudes. A juventude é singular com relação
a outros momentos da vida e, ao mesmo tempo é diversificada internamente
fazendo com que assuma contornos diferentes (PROJETO JUVENTUDE, 2004).
Como pôde ser percebida, a juventude é uma população expressiva em números e
em demandas por políticas públicas. É uma geração que convive com inúmeras
dificuldades no que se refere às expressões da questão social. Necessitam de
educação, saúde, trabalho, habitação, lazer, cultura e todas as políticas básicas que
o sistema atual não provê, ou o faz com ineficiência. É um grande contingente que
demanda por políticas direcionadas às áreas específicas. Assim aparecem as
juventudes na contemporaneidade. Através de suas dificuldades, de suas
organizações, mobilizações por melhorias vêm aparecer como demandatária de
políticas públicas.
2.2 - MANIFESTAÇÕES CULTURAIS CONTEMPORÂNEAS
A dimensão cultural da juventude na contemporaneidade se modificou, trazendo à
cena novas manifestações culturais. A juventude vem assumindo novos movimentos
e novas organizações, como o hip hop, o funk, entre outros, que expressam a
denúncia social, a própria condição de vida e o dia-a-dia da juventude da periferia
brasileira. No entanto, apesar desses dois gêneros terem origens ligadas à periferia,
eles vão assumindo outros espaços juvenis.
Assim como aborda Herschmann (apud GORCZEVSKI, p. 3, 2003), a chamada crise
da modernidade e a mundialização levaram a população mundial a assistir, nas
últimas décadas, ao que esse autor afirmou ser a “emergência de novos sujeitos
sociais (de inúmeras culturas minoritárias) e a crescente presença das pluralidades”.
Edgar Morin (apud GORCZEVSKI, 2003) afirmou que, a cultura adolescente juvenil
é ambivalente: participa da cultura de massas que é a do conjunto da sociedade e
ao mesmo tempo procura diferenciar-se.
Para Glória Diógenes (apud GORCZEVSKI, p. 4, 2003), o investimento na diferença,
aliado ao “ [...] desejo de impactar, de provocar contrastes, marcas definidoras de
existência social, é o que parece mobilizar a juventude nos anos 90”.
Assim,
podemos observar que alguns fenômenos urbanos juvenis começaram a tomar a
cena das grandes cidades brasileiras, principalmente a partir dos anos 90. No
entanto, já existiam embriões desses fenômenos no final dos anos 80,
especialmente em grandes cidades brasileiras, como São Paulo e Rio de Janeiro,
quando os movimentos juvenis também causavam impactos.
Portanto, assim como afirma Dayrell (1999), os jovens se reúnem em torno de
diferentes expressões culturais como a música, a dança, o teatro, dentre outras, e
tornam visíveis através do corpo, das roupas e de comportamentos próprios, as
diferentes formas de se expressar e de se colocar diante do mundo. Um exemplo
são os punks, que segundo Abromovay et al (1999), fazem parte de um universo
juvenil,
buscam
estabelecer
referências
culturais
mediante
um
estilo
de
contraposição ao sistema, através de manifestações situadas no campo do lazer, do
consumo, da mídia e da criação cultural.
Dayrell (1999, p.2) afirma ainda que “o mundo da cultura aparece como um espaço
privilegiado de práticas, representações, símbolos e rituais no qual os jovens
buscam demarcar uma identidade juvenil”.
Assim também acontece com a música, como disse o jovem 01 [...] aqui no Brasil é
que as pessoas encaram a música somente como um entretenimento, e na verdade
não é essa a missão da música, a música é cultura [...].
Quando o entrevistado aborda a questão da música dizendo que ela é cultura, ele
chama a atenção para o poder de identificação com o estilo que pode ser
expressado, explorado e representado, através da música. Dessa forma, os gêneros
musicais de preferência do jovem representam, quase que uma forma de expressar
a identidade assumida pelo jovem. Assim, podemos citar o movimento Hip hop,
como exemplo, que expressa rituais juvenis e se utiliza da música também como
uma força de transformação e de identificação de estilo, no modo de falar e de se
vestir.
Assim, a música também se torna um elemento importante de socialização e ao
mesmo tempo de lazer, que está presente em quase todos os espaços juvenis.
Vitória, a capital do Espírito Santo (ES), tem uma grande diversidade de bandas
juvenis.
A juventude capixaba se destaca por sua produção musical. Existem jovens ligados
ao movimento hip hop, ao funk, ao reggae, ao rock, entre outros. Assim como afirma
o jovem 01.
[...] o ES é um estado riquíssimo na cultura e poucas pessoas conhecem, [...] a
imensidão cultural que existe aqui dentro, porque são várias expressões [...] O ES é
um estado pequeno que tem muita diversidade cultural, você vê que a gente tem
representante em todos os gêneros musicais com qualidade e com quantidade[...].
Segundo alguns jovens entrevistados participantes de movimentos culturais ligados
à música, o termo música significa uma variedade de coisas.
A música representa mais, assim, um prazer, um hobby, porque estamos há pouco
tempo e a gente não encara, por enquanto, como uma profissão. Por enquanto, não
sei no futuro, assim. Mas [...] a gente se dedica muito, está fazendo música própria,
corre atrás de show, assim, ela representa mais essa parte do prazer, mas lógico,
mesmo sendo prazer, a gente leva com muito esforço, se dedicando de verdade
(jovem 05).
Eu considero a música como vida interior, [...], algo que não tem como fugir, para
mim, não tem como fugir. A música é essencial na minha vida, sempre foi, desde
criança sempre tive o dom da música, por parte de pai e mãe. E agora eu estou
estudando a música, me aprofundando mais e compreendo que é uma das maiores
artes, uma das maiores expressões artísticas que o ser humano tem, e que através
de uma música dá para se evoluir muito a mente e poder conquistar outros
caminhos (Jovem 07).
Na minha vida assim, desde os sete anos, desde que eu me entendo por gente,
assim, sempre fez parte, desde a primeira nota do violão, até os primeiros acordes
do teclado. O único trabalho que eu vejo que pode influenciar alguém, a realmente
alguma coisa assim [...] Todo trabalho tem o seu valor, mas a música, cara, tipo
assim, um cara pode ser um advogado e curtir música, um músico pode não curtir
ser advogado. Pode influenciar mesmo. Acho que é isso aí para mim, cara. E ao
mesmo tempo é o meu trabalho, onde eu coloco toda minha dedicação, meu
conhecimento, onde eu estou sempre aprendendo (jovem 6).
Segundo o Dayrell (1999), um outro aspecto a ser salientado é a dimensão da
escolha do gênero musical a ser seguido. O autor realizou uma pesquisa em Belo
Horizonte com três grupos diferentes, sendo eles: o Processo Hip hop, o “Máscara
Negra” e o grupo “Raiz Negra”. Com a pesquisa, o autor constatou, inicialmente, que
todos os jovens aderem ao estilo como consumidores do gênero musical. A
passagem para a condição de produtores significou para todos um processo e
envolvimento gradativo. Significa dizer, portanto, que a escolha e a adesão ao estilo
musical são frutos de uma complexa trama na qual estão presentes os
determinantes sociais, mas também a expressão da subjetividade.
Nesse sentido, a música é a atividade que mais envolve e mobiliza os jovens, o
autor afirma que
Muitos deles deixam de ser simples fruidores e passam também a ser
produtores, formando grupos musicais das mais diversas tendências,
compondo, apresentando-se em festas e eventos, criando novas formas de
mobilizar os recursos culturais da sociedade atual além da lógica estreita
do mercado (DAYRELL, p.2, 1999).
Entre os jovens, a música é o produto cultural mais consumido e, em torno dela,
criam-se grupos musicais de estilos diversos, entre eles o funk, o hip hop, o reggae
e o rock, que vão ganhar destaque neste trabalho.
A escolha por esses quatro estilos musicais (hip hop, funk, reggae e rock) se deu
pelo fato de serem ritmos mais característicos da juventude, cujas bandas possuem,
em sua maioria, muitos jovens. Um outro fator está relacionado à mensagem que é
transmitida pelas músicas. Os quatro estilos diferenciam-se, porém, geralmente,
trazem uma mensagem que está relacionada ao cotidiano do país, do estado, do
município. Suas letras acabam tendo um papel político, de denúncia, mesmo que
fazendo isso de formas diferenciadas, assim como será falado especificamente em
cada gênero.
Apesar dessas várias representações juvenis ganharem destaque neste trabalho,
cada um tem a sua peculiaridade, como, por exemplo, o rock, que é um estilo
musical não muito contemporâneo, com origem nos anos 60, que, apesar de ser um
símbolo antigo de rebeldia, embala o século XXI com muita força, unindo gerações e
conciliando indústria cultural com produção alternativa. O reggae também é um
estilo musical mais antigo, que começa a ganhar espaço no Brasil por volta da
década de 1960. Enquanto, o funk e o hip hop, no Brasil, fazem parte da expressão
contemporânea dos jovens da periferia.
Porém, o elemento unificador é a origem desses ritmos. Segundo o jovem 01, toda
base musical é africana. O rock, o hip hop, a música eletrônica, o reggae, o funk
todos esses gêneros sofreram influências dos ritmos africanos.
Dessa forma, esses movimentos culturais juvenis vêm, no espaço urbano, sendo
rodeados pelas concepções e visões de mundo da grande mídia, que se encontra
sempre por perto associando a juventude à criminalidade, à baderna, enfim,
enfatizando a existência de uma juventude alienada e despolitizada. Assim, a mídia
vem manifestando seu poder de agendar discursos, recebendo-os e disseminandoos, mas ao mesmo tempo, também produz seus próprios discursos, que,
conseqüentemente, interferem no processo social e cultural da sociedade.
Para melhor entendimento dos movimentos culturais, procuraremos descrevê-los
enfocando sua trajetória e peculiaridades. Trataremos a seguir do Hip hop, do Funk,
do Rock e do Reggae.
2.2.1 - HIP HOP
Minha mão pequena bate no vidro do carro
No braço se destacam as queimaduras de cigarro
A chuva forte ensopa a camisa o short
Qualquer dia a pneumonia me faz tossir até a morte
Uma moeda, um passe me livra do inferno,
Me faz chegar em casa e não apanhar de fio de ferro
O meu playground não tem balança, escorregador
Só mãe vadia perguntando quanto você ganhou
Jogando na minha cara que tento me abortar
Que tomou umas 5 injeções pra me tirar
Quando eu era nenê tento me vender uma pa de vez
Quase fui criado por um casal inglês
Olho roxo, escoriação, porra, que foi que eu fiz?
Pra em vez de tá brincando tá colecionando cicatriz
Porque não pensou antes de abrir as pernas,
Filho não nasce pra sofrer não pede pra vir pra Terra.
Minha goma é suja, louça sem lavar,
Seringa usada, camisinha em todo lugar
Cabelo despenteado, bafo de aguardente `
É raro quando ela escova os dentes
Várias armas dos outros muquiadas no teto
Na pia mosquitos, baratas, disputam os restos
Cenário ideal pra chocar a UNICEF,
Habitat natural onde os assassinos crescem
Eu não queria Playstation nem bicicleta,
Só ouvir a palavra filho da boca dela
Ouvir o grito da janela A comida tá pronta,
Não ser espancado pra ficar no farol a noite toda
Qualquer um ora pra Deus pra pedir que ele ajude
A ter dinheiro,felicidade, saúde
Eu oro pra pedir coragem e ódio em dobro
Pra amarrar minha mãe na cama por querosene e meter fogo
Outro dia a infância dominou meu coração,
Gastei o dinheiro que eu ganhei com um album do Timão
Queria ser criança normal que ninguém pune,
Que pula amarelinha, joga bolinha de gude
Cansei de só olhar o parquinho ali perto,
Senti inveja dos moleque fazendo castelo
Foda-se se eu vou morrer por isso,
Obrigado meu Deus por um dia de Sorriso
A noite as costas arderam no coro da cinta,
Tacou minha cabeça no chão
Batia, Batia, me fez engolir figurinha por figurinha
Espetou meu corpo inteiro com uma faca de cozinha
Olhei pro teto vi as armas num pacote,
Subi na mesa catei logo a Glock
Mãe, devia te matar mas não sou igual você,
Invés de me sujar com seu sangue eu prefiro morrer....
(Facção Central)
O hip hop é um movimento que se processa nas discussões permanentes entre
seus integrantes, alimentada por informações recolhidas de todos os lugares, bem
como por atitudes marcadas pela irreverência e, muitas vezes, pelas controvérsias
que dela resultam. Criando alternativas e disseminando informações, destacando-as
e recriando-as com as suas histórias de vida, produzem e, muitas vezes,
reproduzem atitudes e artefatos, que traduzem o cotidiano (GORCZEVSKI, 2003).
Em sua maioria, as letras das músicas expressam a realidade da periferia, que
quase sempre é violenta, injusta e desigual. Faz uma denúncia do sistema e explora,
de forma crítica, a realidade através da música, da dança e das artes plásticas.
O hip hop possui uma forma peculiar de sociabilidade entre seus membros. O
movimento se forma de acordo com o interesse e a afinidade dos jovens e se
desenvolve conforme a vontade do grupo. Um movimento que tem sua origem nas
periferias, representa o contexto social e expressa nas letras das músicas, nas
danças e nas atividades plásticas, o descontentamento com o sistema e com a
exclusão social. Apresentam uma crítica social elaborada e expressam o sentimento
de pertencer à sociedade, de participar e reivindicar direitos. (ABRAMOVAY et al,
1999).
O hip hop no Brasil, é uma expressão sócio-cultural formada por quatro elementos: o
Break que representa o corpo através da dança; o graffiti que é a expressão da arte,
o meio de comunicação; o MC que é o mestre de cerimônia que canta o rap e o DJ
que desenvolve o som instrumental para o B. boy desenvolver o break, e para o MC.
Segundo o jovem 04, os quatro elementos podem cair para o lado profissional.
O DJ hoje se torna um sonoplasta para rádio, televisão. No break ele se torna um
coreógrafo, um dançarino. O Rapper vocalista é um cantor, um letrista, aquelas
coisas todas. O graffiteiro é a arte plástica, é ali que está exposta a idéia do cara,
conforme os olhos vai tirar uma interpretação (Jovem 04).
O Rap, cantado pelo MC, é um dos elementos do hip hop, segundo Dayrell (1999,
p.12), possui uma origem ligada à música negra americana, que incorporou “a
sonoridade africana, baseada no ritmo e na tradição oral”. Esse ritmo é herdeiro
direto do soul.
o rap surgiu, [...] como mais uma reação da tradição black. Ele surge junto
a outras linguagens artísticas, como a das artes plásticas, a do graffiti, da
dança – o break – e da discotecagem – o DJ. Juntas tornaram-se os pilares
da cultura hip hop, fazendo da rua, o espaço privilegiado da expressão
cultural dos jovens pobres. O rap, palavra formada pelas iniciais da
expressão rhythm and poetry (ritmo e poesia), tem como fonte de produção
e apropriação musical, sendo a música composta pela seleção e
combinação de partes de faixas já gravadas, a fim de produzir uma nova
música. ‘Mixando’ os mais variados estilos black music, o rap cria um som
próprio pesado e arrastado, reduzido ao mínimo, no qual são utilizados
apenas a bateria, scratch (giro do disco sob a agulha em sentido contrário)
e voz. Mais tarde, essa técnica seria enriquecida com o surgimento do
sampler. Desde então, o rap aparece como um gênero musical que articula
a tradição ancestral africana com a moderna tecnologia, produzindo um
discurso de denúncia da injustiça e da opressão a partir do seu
enraizamento nos guetos negros urbanos (DAYRELL, p.12, 1999).
De acordo com Abromovay et al (1999), o DJ é considerado o principal componente
do grupo e, em geral, é um rapaz alto e forte. Os grupos de rappers tentam se
profissionalizar na área da música, sendo que a maioria realiza shows e alguns
deles chegam a gravar os seus próprios CDs.
Segundo o MC Garcia, presente em seminário35 realizado pelo NEJUP em 2003, há
uma controvérsia quanto à origem do rap. Embora seja de praxe associá-lo aos
Estados Unidos, foi um jamaicano, Kool Herc, que iniciou com o rap. Ele foi para os
Estados Unidos e começou a tocar nos chamados guetos norte-americanos,
utilizando sua voz junto ao instrumental.
Segundo o jovem 04, a raiz principal do hip hop começou nos anos 50 nas ruas de
Kingliston, na Jamaica, onde o Kool Herc utilizava a parte instrumental das músicas
da época e juntavam às palavras de ordem relacionadas à questão social,
econômica e política da Jamaica.
Na década de 60 existiam os sound systems, que eram uma espécie de trio elétrico,
em que a população ouvia as músicas jamaicanas, rolando através dos toaster, que
eram parecidos com os Mestres de cerimônias (MC’s) de hoje. As músicas, nesse
período já alimentavam certa indignação e assumiam letras de denúncia social.36
No início da década de 1970, com o aprofundamento da crise econômica e política
que assolava a ilha do Caribe, vários jamaicanos migraram para o continente norteamericano, com eles foi Kool Herc, responsável por, junto com Afrika Bambaataa,
disseminar o novo estilo musical, o ritmo e a poesia (o rap), nos Estados Unidos da
América e lá se formou o movimento hip hop37.
O período que corresponde à raiz do hip hop coincide com a guerra do Vietnã.
Nessa época haviam muitos protestos pois os soldados negros eram obrigados a
irem para o Vietnã.
Então aquela cultura de segregação norte-americana fazia com que o jovem negro
fosse para os campos de batalha, e então eles começaram a fazer protestos,
35
Vitória, 12 de Agosto de 2003. Local: Salão Rosa – UFES, 1º Seminário promovido pelo NEJUP –
Núcleo de Estudos sobre as Juventudes e Protagonismo, intitulado: MOVIMENTO JUVENTUDE E
EXPRESSÃO. Debatedores presentes: Drª Luiza M. Camacho (Pedagogia), Sandro (Movimento
Underground) e MC Garcia (Movimento Hip hop).
36
Ver mais detalhes em www.dancaderua.com.br/historia.
37
Idem
imitando movimentos de soldados caindo mortos, na dança, e nessa mesma época
também, o graffiti começou a sair da pichação e fazer uma arte criticando a questão
da guerra, das pessoas que estavam morrendo no Vietnã e a letra começou a falar
da guerra do Vietnã, do contraste, da divisão, então o hip hop começou daí. Então já
tinha a formação do DJ que era o cara que ia tocar, então na hora que fosse dançar
tinha o DJ, na hora que fosse graffitar tinha o DJ, na hora que fosse falar as palavras
de ordem nas ruas (jovem 04).
Algumas pessoas afirmam que o termo hip hop foi criado em meados de 1968 por
Afrika Bambaataa. Ele teria se inspirado em dois movimentos cíclicos, ou seja, um
deles estava na forma pela qual se transmitia a cultura dos guetos americanos, o
outro estava justamente na forma de dançar popular na época, que era saltar (hop)
movimentando os quadris (hip)38
O hip hop veio para o Brasil no estilo funk (funk music) com a banda “Sugarhill
Gang”. Depois veio o Planet Rock por Afrika Bambaataa. Segundo o entrevistado, o
filme Beat Street também foi um dos responsáveis pela disseminação do hip hop no
Brasil.
Fotografia 1 - Disco de vinil do filme Beat Street
Fonte: Jovem 04
38
Ver mais detalhes em www.dancaderua.com.br/historia.
Chegou um filme chamado Beat street, que era a onda do break, chegou a parte um
e parte dois [...] então a juventude negra brasileira, ouvindo essas músicas quando
ia aos bailes funks e chegando esses filmes, a assimilação é rápida. Esse mesmo
filme passou em todos os cinemas do Brasil, de Manaus a Porto Alegre, tanto de Rio
Branco a Natal, tanto do Espírito Santo a Brasília, Campo Grande, todas as capitais
cercando o Brasil de um lado a outro. Então, de um mesmo local que antes tocava o
estilo funk music, tocou essas músicas, passou esses filmes e obviamente passou a
ter esses curiosos (jovem 04).
Segundo o entrevistado, logo após surgiu Kurtis Blow com a música The breaks
explorando a forma e dançar - o break.
Assim, no Brasil, a difusão do hip hop remonta aos anos 1980, quando houve uma
proliferação da chamada break dance, uma dança que foi um elemento importante
para o crescimento do movimento no Brasil. Segundo o jovem 04, no Brasil, existem
alguns pioneiros no hip hop como Nelson Triunfo. Ele e outros b. boys se reuniam
para dançar break no metrô de São Bento, em São Paulo. Assim, que se teve início
o hip hop no Brasil, na década de 80 (Jovem 04).
Segundo jovem 04, o Brasil, depois dos EUA, é o país onde mais se produz e
consome hip hop e é o único país do mundo que tem a raiz 100% do hip hop.
Existem algumas coletâneas, fonogramas que registram esse histórico. Pepeu foi o
primeiro a gravar um fonograma no Brasil. A primeira coletânea denominou-se hip
hop e cultura de rua. Depois surgiu Thaíde Dj Hum e mais tarde o Racionais MC's.
Fotografia 2 - Disco de vinil da primeira coletânea
Fonte: Jovem 04
Fotografia 3 - Disco de vinil do Thaíde DJ Hum
Fonte: Jovem 04
Aí o negócio estourou. Viram que não era só cantar, só dançar, não era só graffitar,
tem um lado social, cultural, o lado de conversar que é o mais importante (jovem 04).
Para Gorczevski (2003), o hip hop é uma cultura considerada emergente e vem se
expressando através de uma rede quase subterrânea, dentro da qual se podem
traçar múltiplos percursos.
O mesmo autor diz ainda que, conquistar a visibilidade através do hip hop, para os
jovens das periferias, tornou-se a possibilidade de não repetir os caminhos de seus
pais, em sua maioria, operários remanescentes do período pós-industrial ou já
desempregados, e/ou inseridos em atividades informais.
No Brasil, o rap, vem se destacando na divulgação da cultura de rua. Em uma
pesquisa apresentada por Gorczevski (2003), no Congresso Brasileiro de Ciências
da Comunicação, constatou-se que os jovens apresentam, como ponto de referência
para as suas conexões com o hip hop, o surgimento do grupo “Racionais MC’s” no
cenário nacional.
Para Gorczevski (2003), os Racionais MC’s são considerados os radicais do
Movimento Rap. Mano Brown, uma das referências dessa vertente do hip hop
paulista, ganhou notoriedade com o seu grupo, que não aparece em determinadas
emissoras de televisão e, mesmo assim, vende milhares de CDs.
Existem autores, como Sérgio Martins (apud GORCZEVSKI, 2003), que afirmam que
os rappers ignoram a grande mídia, assim, como ela procura mantê-los à distância,
mas isso não provoca complicações, já que o rap não precisa da grande mídia para
se afirmar como movimento e para disseminar o que produz.
No Espírito Santo, o hip hop chegou em 1984. Os pioneiros no estado são
Renegrado Jorge, Sagaz entre outros. Em 1997 foi gravada a coletânea de Tributo
a Zumbi, de preto para preto. Enfocando mais o break, havia o Paulo Black e o
Cyborg que também eram graffiteiros, assim como Sagaz e Eric Brow (Jovem 04).
Fotografia 4 - Disco de vinil da coletânea de
Tributo a Zumbi, de preto para preto (ES)
Fonte: Jovem 04
Os pioneiros, segundo o jovem 04, são Suspeitos na Mira, Negritude Ativa,
Renegrado Jorge e Observadores. Existem ainda o Mente Ativa, Resistente e o
Garcia. Esses grupos, segundo o entrevistado são os que têm compromisso com o
movimento hip hop.
Eu vejo essa turma aí que têm compromisso com a cultura, eles sabem que eles tem
uma responsabilidade, tem pessoas que ouvem muito o que eles fazem (jovem 04).
Para o jovem 04, o Estado tem grupos que tem a preocupação com a qualidade do
hip hop, de seguir o que o movimento determina.
O ES é um dos estados que tem a melhor qualidade em hip hop, os discos
produzidos no ES são um dos melhores do Brasil. A pouca condição que nós temos
é a condição financeira. A questão de qualidade da letra, de levada, nós temos
prêmios a nível Brasil [...], os caras são conhecidos pelo Brasil à fora, muito
reconhecimento, nós temos mais fama fora do que aqui dentro do Estado (jovem
04).
Para o jovem 04, a principal mensagem que o hip hop busca transmitir é a
informação.
Assim, o hip hop apresenta predominantemente um caráter de indignação acerca
das transformações sociais, da questão social, da política e do abuso de autoridade,
o que, de certa forma, não faz parte dos assuntos de interesse da grande mídia.
Para MC Garcia39, o hip hop americano é, em sua maioria, diferente do brasileiro,
pois é um gênero musical, que possui hoje, um caráter comercial e, algumas vezes,
machista. Garcia recitou um verso que expõe bem esse estilo: “... o que você quer?
Dólar, dólar? Grita, grita!”, “... cachorra, cachorra, dê-me aquilo e toma, toma...”.
O MC Garcia40 diz ainda que o rap brasileiro traz letras que causam impacto aos
ouvidos, sobre o contexto sócio-político do país, ele diz que o hip hop pode ser
considerado uma ideologia para contribuir para melhorias no nível da distribuição de
renda. Dessa forma, o rap é uma arma de reivindicação.
O hip hop, segundo Dayrell (1999), procura ter um conteúdo poético, tende a refletir
o lugar social concreto onde cada jovem se situa e a forma como elabora suas
vivências, numa postura de denúncia das condições em que vive: a violência, as
drogas, o crime, a falta de perspectivas. Mas também cantam a amizade, o espaço
onde moram, o desejo de um ‘mundo perfeito’, a paz e o amor.
Dessa forma, o jovem 02 diz haver um quinto elemento dentro do movimento hip
hop.
O quinto elemento que está chegando aí, poderia-se dizer que é o lado social do hip
hop, além de tudo isso, o hip hop trabalha muito em prol do social, do bem comum,
está sempre voltado para esse lado, através de suas músicas, danças, das pinturas,
está surgindo o lado social. Tem a dança, o rap, a arte plástica, o DJ e o lado social
agora (jovem 02).
Além dos grupos citados pelo jovem 04, existem outros grupos de rap em Vitória,
entre eles estão: Virtude Periférica, Som da Rua, entre outros41.
Um exemplo de rap capixaba é o do grupo “Virtude Periférica”, o “Eu só Lamento”,
composto por Piuí:
39
Vitória, 12 de Agosto de 2003. Local: Salão Rosa – UFES, 1º Seminário promovido pelo NEJUP –
Núcleo de Estudos sobre as Juventudes e Protagonismo, intitulado: MOVIMENTO JUVENTUDE E
EXPRESSÃO. Debatedores presentes: Drª Luiza M. Camacho (Pedagogia), Sandro (Movimento
Underground) e MC Garcia (Movimento Hip hop).
40
Idem.
41
Projeto Rede Jovem da Gerência de Promoção Social da Juventude.
Só lamento, moleque ao relento de onze zuado, sozinho, largado, esquecido, jogado
na nóia, tramóia macabra, maconha e birita, doidão de larica no pó ou na zica,
fumando a brita torrada na lata, na noite gelada, em meio a calada, frio da
madrugada, moleque de rua boiando na vala, cantou pneu, a sirene acendeu, mas o
medo venceu e ninguém viu nada, começa a vingança, inicia a matança, o diabo
carrega, a droga faz regra na selva de pedra, transformando em merda quem era
criança, e o ódio domina, é tempo de chacina e carnificina, cabeça vazia virando
oficina, tão linda a criança se arma, se cansa, o exército do mal faz recrutamento.
Em Vitória, existem vários graffiteiros como: Sagaz, Piuí e Fagundes. Alguns
graffiteiros, rappers e B. boys42 participam de alguns encontros como o Graffitaids,
além de organizarem e estarem presentes em alguns outros projetos como a Feira
da Paz43 .
Assim, o hip hop, segundo Gorczevski (2003), trata-se de uma cultura de rua que
vem se desenvolvendo como um dispositivo que se movimenta, fazendo circular a
informação, abrindo novas linhas de possibilidades, investindo na autonomia das
comunidades e vem estabelecendo importantes alianças com setores da cultura e
da política regional e nacional nesse frágil, desigual e violento tecido social. Os hip
hoppers se vêem, portanto, segundo Dayrell (1999), como ‘porta-vozes’ da periferia.
Alguns deles atribuem a “missão” de problematizar a realidade em que vivem, já que
é um fator de identificação do estilo. Assim eles acreditam que podem contribuir para
a formação de opinião da sociedade.
2.2.2 - FUNK
A origem do funk é, segundo Dayrell (1999), a mesma do hip hop, ou seja, a música
negra americana misturada à sonoridade africana. O autor diz ainda que o funk é
herdeiro direto do soul que, serviu de trilha sonora para os movimentos civis
americanos da década de 1960 e foi símbolo da consciência negra, porém perdeu
as características revolucionárias com a sua massificação. O funk radicalizou o soul,
empregando ritmos mais marcados e arranjos mais agressivos, mas o funk também
sofreu um processo de comercialização, com a remoção de sua base cultural.
42
43
Aqueles que desenvolvem o Break.
Dados retirados da experiência como estagiária da Gerência de Promoção Social da Juventude.
Assim, segundo o jovem 02, o funk originou-se na década de 60 com James Brown.
Fotografia 5 - Disco de vinil do James Brown
Fonte: Jovem 04
O funk original veio de lá [...] a galera que trouxe de lá foi que começou a fazer uns
sons parecidos com James Brown [...] Como vem lá da África, lá da Jamaica com
África Bambaataa, que começou com hip hop, esses elementos de sons, começou a
galera a ser influenciada, os negros levaram o som lá pro lado, lá pros Estados
Unidos e começou a divulgar na Europa, veio o James Brown e começou a
desenvolver o funk, aí pra cá, quem pegou essa referência foi Jorge Ben Jor,
Cassiano, Tim Maia, que começou a fazer o funk, na década de 80 como já estava
rolando aqueles "Miamis" de Steve Bee, o próprio África Bambaataa, já estava nos
bailes funks do Rio, e não tinha esse funk ainda, esses batidões que tem hoje, o
funk carioca que você vê (Jovem 02).
No Brasil, de acordo com Dayrell (1999) a difusão do funk, remonta aos anos 1970,
quando há uma efervescência dos chamados bailes black nas periferias dos grandes
centros urbanos. Através da black music americana, principalmente do soul e do
funk, milhares de jovens dançavam e se encontraram nos bailes de finais de
semana, uma alternativa de lazer até então inexistente.
Esses bailes tiveram início, segundo Guimarães (1998), no Canecão, Rio de Janeiro,
reunindo dançarinos provenientes de diferentes bairros das várias áreas da cidade,
no entanto, com a prioridade dada pelo Canecão à música popular brasileira, o Funk
teve que procurar outro lugar, tendo portanto se disseminado na periferia, nas
favelas, nos clubes do subúrbio.
No Espírito Santo, o funk chegou a partir de meados da década de 80, através dos
cariocas. Existiam os chamados "bailes charmes". Já haviam alguns DJs como DJ
Nenenzão, DJ Tropeço, DJ Marroger. A partir da década de 90 já haviam os MCs
Marcinho e Boreu, Ricardo e Teto, Jeffinho e Flavinho, Mickei Pacalolo. O primeiro
MC capixaba foi o MC Flavinho, que já tocava em programas de funk como o Top
Mix da rádio Litoral, enquanto só passavam os MCs do Rio como o MC Galo e
Cidinho e Doca (Jovem 02).
O funk desenvolveu-se, portanto, por jovens de uma mesma origem social: pobres e
negros, na sua maioria. Ele continua apresentando algumas semelhanças, fiéis à
sua origem, tendo como base as batidas, a utilização da aparelhagem eletrônica e a
prática da apropriação musical.
É importante ressaltar que o funk original é o funk de James Brown, do Tim Maia.
Esse que está mais em evidência hoje é um derivado, é o funk carioca, o popular
"pancadão". O funk na acepção antiga não é o que existe hoje. Eles se diferem
quanto ao ritmo, quanto ao posicionamento ideológico. Sendo a primeira geração
engajada no conceito de negritude e com o ritmo mais parecido com o soul music
(Tim Maia, Sandra de Sá) e a segunda geração (Tati Quebra-Barraco, Bonde do
Tigrão, etc) é mais solta e com valores ideológicos mais dispersos, quase sempre
ligados ao posicionamentos da relação entre mulher e homem.44
O Funk possui algumas vertentes como: Miami Bass ou Batidão, Rap Melô,
Montagem, Charm, Melody, Mid Back, Rasteiro e Proibidão.
O jovem 04 fala sobre o funk comumente tocado na atualidade.
Esse ritmo só é conhecido como funk no Rio de Janeiro e no ES, em São Paulo se
você falar funk vão te jogar aquilo do passado, em Belo Horizonte é a mesma coisa,
no Nordeste, no sul do país é a mesma coisa, no Rio de Janeiro eles já vão te jogar
o pancadão. Então, nós capixabas, quando falamos funk falamos errado, estamos
sendo questionados, sendo motivos de riso (Jovem 04).
44
Ver detalhes em http://www.buscamp3.com.br/texts_columns_readbr.asp?id=32&id_usr=4
De acordo com o jovem 04, esse ritmo - pancadão - teve como principal criador o DJ
Malboro que fez algumas traduções de um disco chamado Funk Brasil mixado em
1990, compondo os chamados melôs.
Segundo Guimarães (1998) os bailes foram se aproximando das áreas faveladas e
sendo ligados e associados à violência. Isso pode ser relacionado ao enfoque que a
mídia passou a dar. Os bailes funks e a juventude que os freqüentam vêm sendo
estereotipados e criminalizados de forma sistemática e recorrente em discursos e
ações públicas e no discurso das populações, que são formulados, em grande parte,
através das concepções adotadas pela mídia. Isso resulta em projetos e, às vezes,
em exigências de intensificação dos processos repressivos.
Um exemplo disso foi o que ocorreu por volta de 2004, quando um representante do
poder público, tentou proibir os bailes funks no Espírito Santo, por achar os bailes
um local de proliferação de violência. No entanto, sua ação apesar de ter sido
apoiada por grande parte da população não foi totalmente concretizada porque os
jovens que freqüentam os bailes resistiram.
O jovem 02 comentou sobre a questão referindo-se ao bailes que fecharam.
Na época estavam fechando porque acharam droga, e estavam tendo umas mortes
e já foram logo e fecharam. Só o que ficou foi o Náutico, o Rio Branco está querendo
voltar, está correndo atrás... O rio Branco era o baile corredor. As mortes
aconteciam, mas não era ali. Está tudo caminhando muito junto, o funk e o samba
vem do gueto mesmo, música de preto, do morro, da favela, então aquilo ali convive
tudo com o crime, com as drogas, dali é o porta voz deles, eles são o porta voz da
favela, então eles também querem ter voz na sociedade, então as vezes que eles
estão ali para se expressar é o mundo em volta deles que eles têm, das favelas e
tal.
Esses movimentos juvenis contemporâneos, de origem periférica, como o funk, são
enxergados por parte da sociedade como violentos e ligados à marginalidade. Esse
estigma se deve ao fato do funk ser um movimento que se origina de negros,
pobres, moradores das periferias. Além disso, suas músicas que expressam a
realidade deles, que muitas vezes é violenta. Porém, é importante destacar que sua
origem reporta à periferia, mas na contemporaneidade, o ritmo tem atingido todas as
regiões e classes sociais.
Quanto à mensagem transmitida pelo funk é interessante trazer em cena que o funk
original, aquele do início, segundo o jovem 02, falava das questões cotidianas, de
violência, da realidade na favela, do dia-a-dia, do crime, das drogas. Hoje o que se
tem é um estilo de funk (o pancadão) enfocando o lado do erotismo.
Podemos dizer que, de acordo com Dayrell (1999), o funk é parte de determinado
estilo de vida juvenil, uma forma de identificação que contribui para que esses
jovens possam vivenciar e se afirmar como sujeitos.
Uma pesquisa realizada pelo autor com a dupla Flavinho e Maninho, a dupla Marcos
e Fred, e o grupo Os Cazuza, concluiu que, aderir ao funk, para esses jovens
significa uma escolha, condicionada pela própria condição juvenil e o campo de
possibilidades com os quais se deparam. Os fatores de inserção ao mundo do funk
são parecidos com os do rap: a atração pelo ritmo e pela dança e a inexistência de
maiores pré-requisitos para a produção musical.
Segundo Abramovay et al (1999) a música funk (pancadão), diferentemente da
música rap, em sua maioria não tem muito sentido em si mesma, cumprindo o seu
papel efetivo como meio de animação nos bailes. Os temas abordados têm ligação
com o universo das vivências juvenis, sendo comum abordarem as relações
afetivas, a descrição de bailes e sua animação ou temas que dizem respeito a
situações ocorridas na cidade, além da exaltação das diferentes galeras 45.
Um exemplo de funk (funk melody) que é muito tocado nas rádios é “Glamourosa
Rainha do Funk”, do MC Marcinho:
“Glamourosa, rainha do funk
Poderosa, olhar de diamante
Nos envolve, nos facina, agita o salão
45
Galera é um termo resultado de um estudo francês, que designa por sua vez, um grupo de jovens
amigos que se reúne para se divertir, estando sempre prontos para proteger e defender uns aos
outros (ABRAMOVAY et al, 1999).
Balança gostoso, requebrando até o chão
Se quiser falar de amor, fale com o Marcinho
Vou te lambuzar, te encher de carinho
Em matéria de amor todos me conhecem bem
Vou fazer tu vibrar no meu estilo vai-e-vêm
Minha gatita doida vou te dar beijo na boca,
Beijar teu corpo inteiro, te deixar muito louca
Vêm, vêm dançar, impine o seu popozão
Remexe gostoso e vai descendo até o chão
Glamourosa, rainha do funk
Poderosa, olhar de diamante
Nos envolve, nos facina, agita o salão
Balança gostoso requebrando até o chão
Pretinha, moreninha, russa e loirinha
Me deixa doidinho quando dança a tremidinha
O funk do meu Rio se espalhou pelo Brasil
Até quem não gostava quando ouviu não resistiu
Mulheres saradas, lindas, deslumbrantes
Corpo de sereia, olhar bem excitante
Se tu não curte o funk pode vê tá de bobeira
Bote uma beca esperta e se junte a massa funkeira
Glamourosa, rainha do funk
Poderosa, olhar de diamante
Nos envolve, nos facina, agita o salão
Balança gostoso requebrando até o chão”
(MC Marcinho)
Esse exemplo de funk já é o funk carioca. Porém, existem outros que estão ligados
mais ao enfoque dado quando o funk surgiu, ou seja, músicas que retratavam mais a
violência que era cometida nas periferias. Era um funk que tinha uma mensagem
crítica a passar. Como exemplo, temos um trecho da música "rap do silva" composto
por Bob Rum:
Mas naquela triste esquina
Um sujeito apareceu
Com a cara amarrada
Sua mão estava um breu
Carregava um ferro
Em uma de suas mãos
Apertou o gatilho
Sem dar qualquer explicação
E o pobre do nosso amigo
Que foi pro baile curtir
Hoje com sua familia
Ele não irá dormir
(Bob Rum)
Um dos primeiros raps que surgiram no Rio de Janeiro foi o Rap da felicidade que
denunciava a violência nas favelas. Depois desses, começaram a repercutir pelo
Brasil esse ritmo.
Eu só quero é ser feliz
Andar tranqüilamente na favela onde eu nasci, é
E poder me orgulhar
E ter a consciência Que o pobre tem o seu lugar .
Minha cara autoridade, já não sei o que fazer
Com tanta violência eu sinto medo de viver
Pois moro na favela e sou muito desrespeitado
A tristeza e a alegria aqui caminham lado a lado
Eu faço uma oração para uma santa protetora
Mas sou interrompido a tiros de metralhadora
Enquanto os ricos moram numa casa grande e bela
O pobre é humilhado e esculachado na favela
Já não agüento mais essa onda de violência
Só peço à autoridade um pouco mais de competência
Diversão hoje em dia não podemos nem pensar
Pois até lá no baile eles vêm nos humilhar
Ficar lá na praça, que era tudo tão normal
Agora virou moda a violência no local
Pessoas inocentes, que não têm nada a ver
Estão perdendo hoje o seu direito de viver
Nunca vi cartão postal em que se destaque uma favela
Só vejo paisagem muito linda e muito bela
Quem vai pro exterior da favela sente saudade
O gringo vem aqui e não conhece a realidade
Vai pra Zona Sul pra conhecer água de coco
E pobre na favela, passando sufoco
Trocaram a presidência, uma nova esperança
Sofri na tempestade, agora eu quero a bonança
O povo tem a força, só precisa descobrir
Se eles lá não fazem nada, faremos tudo daqui.
(Cidinho e Doca)
Pra se ouvir o funk e dançar, normalmente os jovens procuram um local que eles
nomearam de “baile”. Na atualidade existem três tipos de bailes funk
“baile de corredor”, “baile normal”, e “baile de comunidade”. Entre o “baile
normal” e o “de corredor”, a diferença reside na articulação entre o binômio
espaço e tempo para o confronto. No primeiro, ele é controlado e limitado
mais severamente pelos organizadores. No segundo, como assinalou um
DJ, “a briga é organizada”, isto é, o baile é dividido em territórios, para que
as galeras se confrontem abertamente. Nos dois tipos de bailes existem
também as áreas consideradas neutras (acesso a bares, por exemplo).
Diferentemente das modalidades anteriores, no baile “de comunidade”,
esses confrontos simplesmente não existem (CECCHETTO, p. 146, 1998).
Segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas46, as galeras funks cariocas se
subdividem no que diz respeito aos bailes que freqüentam. Com essa pesquisa,
chegou-se a uma conclusão pertinente: nos bailes de comunidade, aqueles
realizados nas periferias, não acontecem confrontos entre galeras nem qualquer
conflito interno. No ‘baile de comunidade’, são realizados concursos entre as galeras
de ‘comandos amigos’, é o baile da ‘união’. Paradoxalmente, a segurança é
proporcionada pelos grupos armados do tráfico que ocupam as comunidades
pobres. Combinando a estrutura de torneios esportivos com algumas atividades das
escolas de samba, os festivais incluem competições de várias naturezas: 'o melhor
DJ’, ‘disputa de pênaltis’, ‘a rainha do baile’, ‘o melhor rap’, o melhor ‘grito’ ou striptease, entre outros”. As galeras vencedoras ficam conhecidas pelos desempenhos
nos concursos, e um dos prêmios mais cobiçados coletivamente é ganhar um baile a
ser realizado na comunidade vencedora.
Já no caso do “baile de corredor” e do “baile normal”47, a relação é bem diferente. No
“baile de corredor”, os confrontos são intermináveis, sem que se possa saber
exatamente quem são os vencedores e os vencidos, numa luta vale-tudo. Nesse
baile, os funkeiros dançam ao mesmo tempo em que lutam.
Pode-se dizer, segundo Cecchetto (1998) que, o objetivo da galera no baile funk “de
corredor” é a invasão do território rival. No “corredor”, os grupos rivais dirigem sua
atenção uns para os outros e cuidam para que seu “pedaço” não seja invadido pelos
“alemães48”. Mas, existem espaços neutros como os bares, onde não há problemas
de invasão de território. Através das brigas e dos confrontos, os jovens
representados nesses espaços pelas galeras, expressam valores culturais
importantes, como honra masculina, solidariedade grupal e condutas morais.
46
Ver pesquisa completa em: CECCHETTO, F.R. Galeras funk cariocas: os bailes e a constituição do
ethos guerreiro. IN: ZALUAR, A.; ALVITO, M. (org). Um século de favela. Fundação Getúlio Vargas:
São Paulo, 1998. p. 145-165.
47
Idem.
48
Alemães referem-se aos que não são amigos daquele grupo.
O ‘bonde’ é um termo utilizado pelos integrantes de galeras para designar a reunião
ou aliança com galeras amigas. O rito de entrada do bonde no baile reafirma a
importância da galera perante as outras. Somente depois de entoarem seus gritos,
percorrendo seu território, é que começam a lutar. Um exemplo de grito de guerra é:
“tropa de elite, osso duro de roer, favela é o bonde do mal (...), ah ah, uh uh, somos
os capetas do Pilar, quem não correr, vamos quebrar” (CECCHETTO, p.151, 1998).
Muitas vezes o objetivo passa a ser a destruição dos oponentes, inclusive por meio
de armas de fogo, nas saídas dos bailes ou quando esses grupos se encontram em
locais públicos como praias, praças, ruas, ônibus e shoppings da cidade. Um exintegrante de galera atualmente tentando a carreira de MC, revela na pesquisa
realizada por Ceccheto (1998), que as mortes de funkeiros ocorrem pela disputa de
poder, que ultrapassa os bailes, e resultam de vingança, ou seja, do circuito
interminável da reciprocidade negativa: uma galera é considerada inimiga quando
alguém é morto.
Em Vitória, os locais em que acontecem os bailes são o Clube Náutico e o Ibiza. O
Rio Branco e a quadra da Novo Império fecharam.
Outra pesquisa49 realizada também com as galeras funk cariocas, tem o objetivo de
estudar a imagem dos funkeiros na imprensa, não pretendendo afirmar que os
funkeiros não são violentos, mas tentando repensar as falas e atitudes desses
jovens por outra ótica, além daquela apresentada pela parte policial dos jornais.
Herschmann (2000), diz que associar, quase que automaticamente os bailes funk à
violência,
diz
respeito
a
uma
proliferação
de
dados
sobre
crimes,
na
contemporaneidade, que a grande mídia propaga e tenta associar invariavelmente à
violência, à pobreza e à criminalidade.
Assim, Herschmann (2000), completa dizendo que a violência no Brasil representa
uma certa exposição da insatisfação perante uma estrutura autoritária e clientelista
que promove sistematicamente a exclusão social em um país, no qual o modelo
político tradicional, através de um sistema jurídico clientelista, só é capaz de punir as
49
HERSCHMANN, M. As imagens das galeras funk na imprensa. In: PEREIRA, C.A.M.(org.)
Linguagens da Violência. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2000, pp 163-196.
camadas menos favorecidas da população. Podemos, assim perceber a violência
como uma forma de ”resposta” concreta da sociedade.
Entre 1992 e 1993, segundo Herschmann (2000), quando houve uma onda de
“arrastões” na cidade do Rio de Janeiro e isso significou uma “ameaça à ordem”, a
prefeitura, começou a dar maior atenção à galera funk, criou-se até mesmo, um
projeto intitulado “Riofunk” , que procurava promover o lazer e a vida cultural desse
segmento social. No entanto, apesar desses acontecimentos terem gerado uma
reação do poder público, esse não era o objetivo das galeras funk. Eles
simplesmente estavam reproduzindo o ritual de embate que ocorre nos bailes. Eles
não pretendiam causar pânico ou mesmo assaltar banhistas.
Os funkeiros são regularmente igualados a criminosos. No entanto, eles são apenas
um grupo de jovens que se reúne com o objetivo de realizar atividades ligadas ao
lazer, como ir à praia, dançar, cantar, namorar, enfim. Embora, alguns membros
desse segmento estejam, às vezes, cometendo pequenos delitos e alguns também
participem de atos criminosos, isso não é um fato passível de generalizações.
No entanto, a grande mídia, na medida em que abriu espaço para o funk
(pancadão), logo o associou à criminalidade, igualando os funkeiros à criminosos.
No que diz respeito aos artigos, uma pesquisa realizada com 125 artigos 50 sobre o
funk, publicados nos jornais: O Globo, Jornal do Brasil, O Dia e Folha de São Paulo,
mostra-nos que o funk praticamente não existia na mídia antes dos acontecimentos
de 1992. No entanto, esses artigos estavam, na maioria das vezes, nas partes
policiais dos jornais. Esse episódio pode ser dividido em duas etapas, no decorrer do
verão de 1992/93, quando havia uma intrínseca relação entre funk e violência devido
aos arrastões ocorridos no Rio e depois de 1996, quando o funk passou a ser visto
como uma expressão cultural e assumir um segmento de mercado significativo.
Assim, depois de 1996 o funk (pancadão) passou a invadir as rádios de todo o país.
Saiu da periferia e tomou conta, inclusive, das boates dos grandes centros urbanos.
A mídia se encarregou de disseminar um estilo de funk comercial, o pancadão, que
canta a relação machista, a violência, as relações afetivas, o sexo, entre outros,
possuindo várias vertentes em torno do ritmo.
50
Idem.
Em Vitória, em virtude desse rumo que o funk tomou, o jovem 02 diz que aqui não
existe movimento funk organizado.
O ideal do movimento funk é através, pelo menos, da música você passar,
aproveitar a oportunidade da mensagem, do espaço que você tem, de um canal de
expressão, de passar uma mensagem pedagógica, ensinar alguma coisa, se você
puder retratar alguma coisa, relembrar, tocar o jovem para que ele saiba que tem o
poder de mudar o seu futuro, o seu destino, está na mão dele. Ele só precisa saber
disso, porque às vezes ele não sabe disso, que ele tem esse poder [...] isso hoje em
dia é difícil, a essência mesmo são poucos que partem para esse lado.
Segundo o jovem 02, em escala nacional, existem alguns MCs. No Rio de Janeiro
existem o Mr Catra, Cidinho e Doca, Duda, Galo. Em São Paulo conta-se com MC
barriga e o MC Primo. Em Vitória existem o MC do Charme que é de São Pedro, o
Chuck 22, o Jeffinho, o Popaye, o Segal. Mas mesmo tendo representantes do funk
aqui no Estado, segundo ele, há uma maior valorização pelos MCs cariocas do que
os capixabas.
Para o jovem 02 dá para aliar o funk com o hip hop.
Quando eu vou num baile eu sempre mesclo: hip hop e funk. Eu acho que é um
paralelo, hip hop dá para passar mais mensagens, você canta mais rápido, fala mais
coisas, explica outras coisas.
Segundo o jovem 04, há algumas rádios que têm programas especializados de funk.
Na antena 1, a programação dela é 80% funk, sábado à noite tem também o Tribuna
Flash Back, é uma programação de qualidade, tanto é que foi votada a melhor
época da música no mundo que foi os anos 70 e 80 que tocava o original funk. É
tanto que os caras têm que lá buscar essas músicas para ressuscitar, para dar
continuidade aos sucessos. É tanto que se você quer fazer hip hop ele é todo
sampreado em cima do original funk, o dance, estão fazendo reedições 2006, 2005
tudo de 1984, 1982.
Dessa forma, percebe-se que é importante diferenciar o funk original, que é aquele
que transmite uma mensagem crítica, e o funk carioca, ou o pancadão, que é aquele
que expõe mais a questão do erotismo. Sem esquecer também das outras variadas
vertentes que circulam por esse ritmo.
2.2.3 – ROCK
O rock é um movimento não muito recente, de meados do século XX, que vem
arrastando milhões de jovens com sua música contagiante. O rock pressupõe troca,
ou melhor, a integração da banda com o público, procurando estimulá-lo a sair da
sua convencional passividade perante os fatos. Por isso, dançar é fundamental.
Como diz Chacon (1982) “se não houver reação corpórea quente, não há rock”.
Segundo Chacon (1982), o rock é antes de tudo, o som. A chamada “música de
protesto” não é rock, pois dominado pela necessidade de passar uma mensagem
política, ela coloca pra segundo plano o arranjo do som para se ater à letra. O autor
dá o exemplo de “Prá não dizer que não falei das flores” de Geraldo Vandré, grande
ênfase na letra e capaz de mover multidões, mas pobre na melodia e na harmonia.
No entanto, há controvérsia. Nós que não somos profundos conhecedores de rock
podemos citar inúmeras músicas que transmitem muito mais que uma boa “balada”,
como por exemplo, “Sunday Bloody Sunday”, do U2, que aborda questões de
conflitos religiosos que se passava em 1983 aproximadamente, existem, também,
rocks brasileiros que causam impacto e referem-se a questões relevantes como
“Que país é esse” do “Legião Urbana”, “Terras de Gigantes” ou “Somos quem
podemos ser” do “Engenheiros do Hawai”, entre vários outros.
Que País é Este
Nas favelas, no Senado
Sujeira pra todo lado
Ninguém respeita a Constituicão
Mas todos acreditam no futuro da nação
Que país é este
No Amazonas, no Araguaia iaia, na Baixada Fluminense
Mato Grosso, nas Minas Gerais e no Nordeste tudo em paz
Na morte eu descanso mas o sangue anda solto
Manchando os papéis, documentos fiéis
Ao descanso do patrão
Terceiro mundo se for
Piada no exterior
Mas o Brasil vai ficar rico
Vamos faturar um milhão
Quando vendermos todas as almas
Dos nossos índios num leilão
(Legião Urbana)
No entanto, definir o rock é uma tarefa árdua, se num primeiro momento, como diz
Chacon (1982) ele estava mais associado ao som, aos movimentos corpóreos, num
segundo estágio ele exige uma explicação mais social. Talvez seja mais fácil
conceituar o rock a partir do seu mercado consumidor. Majoritariamente, os
consumidores do rock, como diz o autor, é o público que vai da primeira mesada ao
primeiro salário.
Hoje, fica difícil utilizar tal afirmação. As gerações se misturam ao falar de rock. Os
pais e os filhos ouvem bandas como Rolling Stones, Scorpions, U2, entre outras. O
rock deixa de ser aquele ritmo de protesto juvenil, para se tornar uma forma de lazer
mais passiva, que congrega gerações.
Portanto, o rock é considerado um dos ritmos mais agitados que se conhece nas
sociedades modernas, ele foi buscar esse elemento libertador, físico, no rhythym
and blues norte americano.
Chacon (1982) diz que o rock se formou a partir de três campos musicais que eram
suficientemente distintos para determinar público e estilos diversos são, a pop
music, o rhythym and blues e a country and western music. Segundo ele, o rock
aumentou a fluidez desses três campos recolhendo elementos e determinando um
estilo próprio.
A pop music representava a herança branca conservadora, que se glorificava pela
vitória na II Guerra Mundial, apoiava-se no que sobrava das grandes bandas, que
nada mais eram do que reprodutoras dos padrões adultos, como Frank Sinatra,
Andy Williams e Matt Monro. O rhythym and blues é a vertente negra do rock, é nele
que encontraremos quase que exclusivamente as origens do rock. Reprimidos pela
sociedade, era através da música e da dança que a mão-de-obra negra se
refugiava. Já a country and western music, é talvez o mais isolado dos três, é a
versão branca do sofrimento dos camponeses. É um estilo pouco penetrado pela
música negra e pelo pop, mas que tem um peso razoável no interior dos Estados
Unidos da América. Possui uma característica popular de dor, resistência passiva e
lamento, podendo atingir um tom mais critico e de protesto (CHACON, 1982).
De acordo com Chacon (1982), embora o rock tenha origens nesses três ritmos foi
no rhythym and blues que ele mais se inspirou. Foi da música negra que veio a raiz
do rock . O autor diz que, Bill Haley acabou se tornando o pai do rock. No entanto
Bill era gordo e velho e o rock precisava de uma energia jovem e sensual, assim
surgiu Elvis Presley, que foi considerado o branco que cantava como um negro.
Logo depois surgiram, a partir da década de 50, outros grandes nomes como:
McCartney, Mick Jagger, Chuck Berry, entre outros. Assim o rock assumiu como
base a música negra, porém isso não foi um fato causador mais inspirador das
formas que aquele rock assumiria.
O rock, então, em meados do século XX, começa a ganhar o mundo, se alastra pela
Inglaterra nos nomes de Gerry and Pacmakers, Freddie and the Dreamers, Rony
Storm and the Hurricanes, e muitos outros. Pouco tempo depois grandes bandas
como os Beatles e os Rolling Stones, surgem no mercado do rock.
The Beatles foi uma banda formada em Liverpool, Inglaterra, no final da década de
1950. Na primeira metade da década posterior, obtiveram notoriedade até hoje
inédita para uma banda de rock, com o lançamento de uma série de compactos de
sucesso, tais como Love me do (1962), She Loves You e I Want To Hold Your Hand
(1963), entre outros. Os "garotos de Liverpool", como eram chamados John Lennon,
Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr, não apenas arrastaram multidões a
seus shows, mas também influenciaram as vestimentas, os cortes de cabelo e a
forma de ser dos jovens daquela geração. Foi esse sucesso estrondoso que inspirou
a criação do termo beatlemania51.
Os Rolling Stones estão entre as bandas mais antigas ainda em atividade. Ao lado
dos Beatles, o Rolling Stones foi a banda mais importante da chamada Invasão
51
Ver mais deyalhes em: http://pt.wikipedia.org/wiki/The_Beatles.
Britânica ocorrida nos anos 60, que colocou diversos artistas ingleses nas paradas
norte-americanas. Formado em 1962 por Mick Jagger, Keith Richards, Brian Jones,
Bill Wyman e Charlie Watts, o grupo calcava sua sonoridade no blues, e surgia como
uma opção mais “malvada” aos bem-comportados Beatles. Em mais de 40 anos de
carreira, hits como "Satisfaction", "Start Me Up", "Sympathy for the Devil", "Jumping
Jack Flash", "Miss You" e "Angie" fizeram dos Stones uma das mais conhecidas
bandas do rock mundial52.
Segundo Chacon (1982) o rock é muito mais que um estilo de música, ele se tornou
uma maneira de ser, uma ótica da realidade, uma forma de comportamento. De
acordo com o autor, o rock se define pelo seu público, que não sendo uniforme, por
variar individual e coletivamente, exige do rock a mesma polimorfia. Ele diz ainda
que por ser o rock uma mercadoria, inscrita no modo de produção capitalista, setor
ideológico ou de lazer se caracteriza, por isso, de acordo com a vontade do público
que quer ouvi-lo.
Sobre essa não uniformidade, o jovem 03 aborda a questão da mensagem a ser
passada com a música. Segundo jovem 03, o rock não possui uma mensagem em
comum entre seus inúmeros estilos. Assim, cada estilo tem seu protesto, sua
mensagem, seu conteúdo, é muito diversificado.
Tem bandas que falam sobre Deus, sobre religião, tem bandas que não falam nada,
falam besteiras, mas tem muita banda de punk rock que protestam alguma coisa,
fala sobre política, enfim, até o próprio relacionamento entre as pessoas, acho que
cada banda, cada grupo, cada pessoa, tem o seu protesto de um jeito, fala sobre
alguma situação (Jovem 03).
Assim como o funk, o rock perdeu um pouco o sentido que tinha quando foi criado.
O rock quando começou tinha umas letras protestando alguma coisa, acabou que foi
tornando uma coisa um pouco diferente hoje, tem rock que você tem bandas aí que
escrevem sobrem amor, acho que escrever sobre romance, essas coisas é muito
fácil, então a pessoa escreve põe uma guitarra em cima, “ta lá, uma banda de rock”,
tem sim rock pra dançar, o pessoal faz rock pra se divertir [...], não vejo como
52
Ver mais detalhes em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Rolling_Stones
problema, mas o rock em si não é só pra isso. Acho não, não é. Tem muito rock que
não quer protestar, você pode ter o direito de não querer falar nada, não passar
mensagem, simplesmente tocar (Jovem 03).
Devido à mensagem que possuía, em meados do século XX, o Rock, era encarado
com o “bicho papão”. As famílias conservadoras repeliam este estilo novo de
música. Eram inconcebíveis as roupas, as gírias, o pensamento que o rock
despertou nos seus ouvintes. O gênero era símbolo de rebeldia e representava o
conflito de gerações.
Vale lembrar que nessa época o jovem ainda não representava mercado
consumidor, tendo, portanto, que ouvir os mesmos discos e ver os mesmos filmes
que seus pais. Foi somente depois da II grande Guerra Mundial que surgiu o que
hoje conhecemos por “cultura jovem”. O abismo que separa as gerações, pais e
filhos, foi gradativamente desaparecendo. Hoje o rock já faz parte do universo juvenil
assim como do “mundo adulto”53.
Em uma entrevista de Lobão, dada à revista Bravo 54, ele diz que o rock foi capaz,
até mesmo, de modificar o conceito de juventude, abrindo um novo espaço para as
manifestações da geração.
Em Vitória existem várias bandas de rock entre elas estão Spaço Restrito, Dublin,
Xamã do Raul, Os pedrero, Dead Fish, Muqueca Di Rato, entre outras.
Cinqüenta anos de rock e ele assume hoje vários estilos, os que tem ligação com a
música erudita e os corais, foram classificados como rock-progressivo, mas existem
ainda o Trash metal, o Heavy Metal, o New Metal, o Hard Core, o Punk Rock,
Emotional Hardcore (EMO), Melódico Metal, Power Metal, Folk Metal, Viking Metal,
Death Metal, Black Metal, Gore, Splatter, Doom Metal, Write Metal, Grunge, entre
outros.
Assim, explicando melhor essa diversidade de vertentes, o jovem 03, enumera os
estilos mais comuns.
53
54
Revista Bravo, Fevereiro de 2006, Stones e U2 no Brasil, n° 102.
Idem.
Dentro do rock você tem o metal, que é o heavy metal e dentro do metal você tem o
White metal, que é o metal cristão, que fala sobre religião, sobre Deus. Tem o trash
metal, que é aquele metal mais “pedrera”, gritado, tem o metal gospel. Aí fora do
metal tem o hard rock, tem punk rock, dentro dele tem o punk rock mais é
“novayorkino” que é mais político, mais protestando alguma coisa, e tem o punk rock
mais californiano, que tem mais melodia e fala mais sobre amor ou alguma outra
coisa assim. Hoje tem muito esse lance do EMO, do hard core EMO, é o hard core
só que falando mais de amor, falando sobre a menina que deixou o cara, o cara que
sofre por amor, então tem muitos estilos dentro do rock.
Segundo o jovem 03, os locais de apresentação das bandas estão bastante
escassos também. Existia o Camburi Vídeo que era bastante freqüentado, o Praia
Tênis Clube que já está fechando de novo. Em Vitória o que se tem são festivais em
escolas, eventos no bar do Simpsom localizado no Centro e alguns shows, porém,
de bandas nacionais e internacionais, não existindo, portanto, muito espaço para as
bandas da capital.
2.2.4 - REGGAE
O Reggae, assim como o Rock, não é um estilo musical muito recente. Como o hip
hop, o reggae surgiu na ilha caribenha da Jamaica. Foi entre seus guetos que se
propagou esse estilo musical.
Seu surgimento está relacionado aos negros africanos, escravos, da colônia Inglesa
Jamaica, que trouxeram ritmo e história para este novo estilo que estava pra nascer.
Ele é derivado da música negra. No período em que a escravidão ainda existia, os
negros foram trabalhar em diversos países, dentre eles a Jamaica, e com eles
levaram as músicas que foram sofrendo mutações conforme a influência que sofriam
de acordo com as especificidades dos países, da tecnologia, dos novos
instrumentos (Jovem 01).
O reggae tem uma relação muito grande com movimentos religiosos, filosóficos e
políticos, como o rastafari55, que representam notáveis esforços humanos de
construção e reconstrução da dignidade, do destino e da cultura de um povo.
Nos anos 40, o mento, que é uma das formas musicais nativas da Jamaica, começa
a sofrer influências da Rhythym’n blues norte americana, via rádio, surge então um
ritmo mais pesado com metais, o Ska. Nos anos 50 e 60 ela vai evoluindo e
sofrendo influência da Soul Music dos anos 60. Com a ascendência de instrumentos
eletrônicos como a guitarra e o baixo e de uma nova realidade social e política de
independência a partir de 1962, na Jamaica, foi se moldando o famoso reggae56.
No final dos anos 60, uma outra geração de músicos passa a tentar novos jeitos de
tocar o Ska e o Rock steady. Sempre atentos aos cânticos rastafari, que puxavam
para o lado africano, enfatizando a repetição rítmica, ou assumidamente ligada ao
movimento, com a pressão social em alta voltagem nas ruas, essa nova geração de
músicos contribuiu para o surgimento do ritmo reggae (Jovem 01).
O som é uma mistura de vários estilos e gêneros musicais como: a música folclórica
jamaicana, os ritmos africanos levados pelos negros escravos, o Ska, o Calipso, o
Mento, entre outros.
O jovem 01 sintetiza o nascimento do ritmo, segundo ele:
[...] na década de 60, assim, na Jamaica, os jamaicanos escutavam as músicas que
vinham do sul dos Estados Unidos, que era o folk, o gospel e o Rhythym’n blues ,
que é um percussor do Blues e do Jazz, com muita voz, um coral de vozes, com
contrabaixo [...] .Então as pessoas escutavam na rádio esses ritmos e misturavam
com o que elas criavam ali, e assim criou o rock steady, que é o percussor do
reggae, o mento, o ska e o reggae foi daí que surgiu. O rock steady é como se fosse
uma música de baile, ela é mais lenta, tocada por muitos músicos, praticamente uma
orquestra, tem sopro, piano, uma música muito complexa de se fazer, precisa de
muita gente. O Ska é uma música um pouco mais rápida, [...] a guitarra que marca o
55
Rastafari é uma religião que, segundo jovem 01, é de origem Indonésia, que disseminava a
existência de um Deus negro e pregava o consumo da maconha como forma de libertação e de
pensamento. Ao longo dos tempos esses valores foram se perdendo.
56
Ver mais detalhes em: www.reggaevale.com.br/historiadoreggae.htm
ritmo do ska e ela é bem ritmada, ela é um pouco mais rápida e dançante. O mento
é uma música que é uma mistura das duas, uma música pra dançar agarradinho, e
não era uma música lenta e as pessoas dançavam agarradinho.
Alguns músicos mais velhos diziam que o nome reggae, antes denominado reggay,
queria dizer “coisa de rua”, “sem importância” ou “íntima”.
Na década de 1960, começaram a surgir grandes nomes do reggae como, Derloy
Wilson, Bob Andy, Burning Espear, entre outros. O reggae chegou ao auge em 1970
com grande aceitação mundial, através de músicas como “No womam no Cry” e de
cantores que ficaram na história como Bob Marley e Jimmy Cliff (Jovem 01).
Para o jovem 01 a primeira pessoa que pronunciou a palavra reggae num palco foi
Toots que tem um projeto até hoje que chama Toots and the Maytals.
É um cara muito importante pra música jamaicana, foi um dos percussores do
reggae, e é conhecido no mundo inteiro (jovem 01)
Segundo o jovem 01, o maior expoente do reggae no mundo é Bob Marley que
ultrapassou as fronteiras da Jamaica. Aos 16 anos ele já cantava mento e rock
steady.
Foi descoberto pelos produtores da época, de um estúdio lá da Jamaica e foi uma
das grandes revelações do reggae, ele gravou na Jamaica e foi prá Inglaterra pra
mixar e masterizar o álbum dele. Lá ele conheceu um tal de Cris Blackwell, que era
um produtor musical da época, que realmente deu um caráter mais pop pra música
dele [...] e fez realmente o trabalho dele ficar mais plausível pra galera que não
conhecia o reggae, na época, então tinha que dá um caráter mais pop pra música do
Bob, que era muito tosca [...] a música do Bob foi parar no ouvido de Eric Clapton
que era um “blues man” muito famoso na época , uma das grandes revelações da
música norte americana. [...] E chamou o Bob Marley pra fazer uma turnê com ele
nos Estados Unidos. Essa turnê que lançou o Bob para o mundo, fez dele muito
famoso. Da metade da turnê pra frente ele já fazia mais sucesso que o Eric Clapton.
[...] ele começou a pegar fama pelas letras pelo contexto do rastafarianismo, da
maconha, dessa coisa toda da ilegalidade, gerava notícia isso né? O cabelo
rastafari, o visual diferenciado isso tudo foi chamando a atenção da mídia, e ele ficou
muito famoso e explodiu pro mundo da música. Até hoje ele representa 60% do
mercado fonográfico do reggae no mundo, é Bob Marley que vende, depois de muito
tempo de morto (jovem 01).
Bob era tido como um representante do povo negro, não só em relação à música,
mas como uma filosofia também.
Assim, segundo o jovem 01, são observados uma seqüência de acontecimentos
mundiais do povo negro, como o black panters que era contra o apartheid57 e lutava
pelos direitos dos negros. Esses acontecimentos foram surgindo após a abolição
dos escravos.
Depois do fim da abolição aquele povo negro teve chance de falar, mas ainda estava
ali, o racismo estava presente de uma forma muito clara, e de alguma forma, a
cultura foi uma forma de expressar isso, a música, o reggae, o hip hop, entendeu?
então foi uma série de acontecimentos (jovem 01).
No Brasil, a região que mais incorporou o estilo reggae foi o nordeste. No estado do
Maranhão são comuns festas regadas ao som do reggae. Músicos como Gilberto Gil
e Jorge Ben Jor foram influenciados pelo estilo musical jamaicano.
O primeiro grande registro de reggae foi na voz de Gilberto Gil, acredito, né?[...] ele
regravou “No womam no cry”. O Jimmy Cliff até hoje mora em Salvador, uma época
do ano, ele reside aqui no Brasil. É um cara que também foi o primeiro grande
expoente do reggae no Brasil, nem foi o Bob Marley, acredito, foi o Jimmy Cliff, ele
fez uma música que participou de uma novela, há muito tempo atrás, isso na novela
da globo (jovem 01).
Várias bandas de rock gravaram reggae, como o “Paralamas do Sucesso” e “Titãs”.
Em 1990, surgem inúmeras bandas brasileiras de reggae como: “Cidade Negra”,
“Alma D’Jem”, “Tribo de Jah” e “Nativus”. Assim, o reggae foi se configurando no
57
“Apartheid ("vida separada") é uma palavra africânder adotada legalmente em 1948 na África do
Sul, para designar um regime segundo o qual os brancos detinham o poder e os povos restantes
eram obrigados a viver separadamente, de acordo com regras que os impediam de ser verdadeiros
cidadãos. Este regime foi abolido por Frederik de Klerk em 1990 e, finalmente em 1994 eleições livres
foram realizadas” (ver mais em http://pt.wikipedia.org/wiki/Apartheid)
país recebendo em cada região um tratamento diferenciado e possuindo
características regionais.
O reggae sempre esteve presente, sempre influenciou muito no Brasil, eu acho que
o reggae tem uma coisa muito forte com as praias e pelo litoral imenso que nós
temos aqui né? [...] O surfista e o reggae sempre se misturaram muito. Até pelo uso
da maconha mesmo né? O surfista sempre gostou da droga. E o reggae, de certa
forma, fez apologia, por falar de rastafarianismo. Prega que pode ser usado de uma
forma religiosa, não é pra fumar maconha a toa, né? Tinha um contexto, mas isso foi
desvirtuado e as pessoas entenderam que pregava o uso da maconha, mas na
verdade não é isso (jovem 01).
No Espírito Santo também há uma forte presença do reggae. Ele sempre esteve
presente nos meios midiáticos.
Desde 1993 [...] na rádio universitária, já existia um programa específico de reggae,
que se chamava “reggae e companhia” [...]. Hoje nas rádios existem três programas
de reggae: o “Beco”, o “Cidade do Reggae” e o “Brasil Jamaica” , são específicos de
reggae, a gente tem 12 horas de reggae na programação das rádios do Espírito
Santo. E a banda mais antiga de reggae que tem aqui, que toca até hoje é a banda
“Salvação”, tem onze anos de carreira, ela é de Vila Velha (Jovem 01).
O Estado conta outras bandas como: “Herança”, “Lion Jump”, “Soldado Imperial”,
“Alma Rasta”, “Radio Experienzia”, “Kayana Roots”, “Guerreiros”, entre outras.
A influência do reggae aqui, acho que foi do reggae mesmo, de ouvir os programas
de rádio e conhecer um pouco mais o reggae, as pessoas se influenciaram e
começaram a montar bandas de reggae e gostaram do gênero, porque o reggae
aqui é muito puro, eu posso dizer assim, e é único, o reggae que a gente faz no
Espírito Santo não tem em nenhum outro lugar do Brasil, não é parecido com o
reggae do Cidade Negra [...]. É o reggae do Espírito Santo, é característico (Jovem
01).
No Estado, o reggae recebe a contribuição do congo em suas músicas fazendo um
ritmo único, não presenciado em nenhum outro estado brasileiro.
O Casaca misturou com Congo, o Manimal também misturou com congo, é (...) o
Guerreiros mistura com congo, com Jongo, com capoeira, ele mistura com as
influências africanas que eles têm aqui, porque o Espírito Santo é um estado
riquíssimo na cultura e poucas pessoas conhecem, assim, a imensidão cultural que
existe aqui dentro, porque são várias expressões, são vários tipos de tambores, tem
tambor de maracatu, de jongo, de congo, [...] e são diferentes, tem timbres
diferentes, são maneiras de tocar diferentes, isso tudo se mistura no reggae daqui,
com certeza, e forma a característica única.[...] O reggae do Espírito Santo, é um
reggae que eu considero assim, acima da média, de muito boa qualidade, entendeu,
até exportação mesmo (Jovem 01).
Em Vitória, as bandas de reggae estão se reunindo e está se configurando o
Movimento do Reggae Capixaba - MORC. É o reggae organizado. Segundo jovem
01, o poder público e as empresas privadas vão participar de forma a ajudar na
logística, com o som, transporte, dinheiro, vai ser autônomo.
Na verdade a gente complementa o papel do Estado, a gente chega onde o Estado
não chega, nas comunidades carentes, através da cultura, que é um movimento
muito legítimo. (Jovem 01)
Eles estão projetando várias iniciativas.
Tem uma série de projetos tem “o reggae na escola”, que é levar pras escolas
públicas o reggae, tem “o reggae na praça”, que é fazer shows abertos de reggae
nas comunidades carentes, fazer oficina de tambor, oficina de cabelo afro, oficina de
artesanato, e aí vai, falar sobre cultura negra, sobre a história do reggae, contar um
pouco de como surgiu, qual são os ideais, essa coisa toda né?(Jovem 01).
O reggae possui temáticas relacionadas ao meio ambiente, a realidade e ao
contexto social e também pode falar de amor.
As letras das músicas de reggae retratam a situação social, cultural e ambiental. Um
exemplo é a letra da música escrita por Elias Santos, da banda Lion Jump,
denominada Falso poder:
Cada dia que passa inventam uma coisa nova
Tentam superar o poder de Deus
Cada dia que passa novas tecnologias, a procura do poder
Não vê que destrói a si mesmo e a natureza
Destrói a natureza e a si mesmo
Pense nos seus "mulequinhos" lá na escola, sem ter nada a ver com isso
Eu não quero olhar pro céu, e ver a natureza ir embora
Por você, a natureza ir embora, por você, por você
Quanto mais eles constroem, mais eles destroem
E ninguém percebe, ninguém quer saber
Tecnologia quem não vai querer
Eles com suas máquinas, ordens e poder, um falso poder
A Babilônia é suja, a babilônia é suja.
(Elias Santos)
O reggae procura abordar, como verificado na música acima problemas que são
relacionados ao sistema que se vive, enfocando mais a área ligada ao meio
ambiente.
O reggae sempre teve muito atrelado à ecologia, como eu falei, ele sempre andou
junto com o pessoal do surf né? Preservação das praias, do meio ambiente [...] O
nego ta brigando por petróleo e a próxima briga vai ser pelo o quê? Pela água, a
água um dia vai acabar e as pessoas vão querer de alguma forma, ter essa água e o
Brasil vai sofrer com isso, pode ter certeza, e o reggae já está falando isso, já está
falando já tem um tempo, e assim como está falando nisso, está falando das praias,
da poluição, que são coisas que muita gente passa batido né? (Jovem 01)
Assim como no funk e no hip hop, o reggae faz uma denúncia da realidade social.
Os integrantes das bandas, em sua maioria, vivem um contexto social bastante
complexo e procuram retratá-lo em suas músicas.
É um movimento muito legítimo, porque afinal de contas a maioria dos integrantes
das bandas de reggae são da periferia, são pessoas pobres, [...] é média baixa a
classe, né? a grande maioria, são pessoas que vivem aquela realidade que cantam
né? E tão lá no dia-a-dia, convivem com a violência do morro, do tráfico de drogas,
né? da discriminação, do racismo, então, eles sentem isso na pele realmente
(Jovem 01).
Além das temáticas que estão presentes nas músicas, o reggae possui outras
características que demarcam o ritmo. Normalmente é representado pelas cores
verde, amarelo, vermelho e preto.
O verde representa a riqueza das matas, se eu não me engano, da Etiópia, o
amarelo é a riqueza mineral né? O ouro que foi explorado e o pessoal rancou lá das
terras lá da África, o preto é a cor da população e o vermelho é o sangue derramado
nessa luta né? Contra a escravidão [...] essa coisa toda que a gente já sabe da
história. Então, todo mundo que bate os olhos nessas cores juntas fala: “olha o
reggae”, né? É um elemento muito forte e característico do reggae, isso está
presente em tocas, em camisas, tem um elemento pra diferenciar também que é o
cabelo rastafari, que também é um elemento da cultura afro, que ta associado ao
reggae, que é uma coisa natural (Jovem 01).
O reggae tem se expandido aqui no Estado. Atualmente existem cadastradas 25
bandas de reggae.
Dessas 25 eu diria que, no mínimo, 15 tem uma qualidade pra tocar em qualquer
rádio no Brasil, as outras não têm porque não são maduras o suficiente, ainda estão
começando, são novos projetos, e vão ter daqui a um ano, dois anos, entendeu, se
tiver continuidade o trabalho vai alcançar esse nível também (Jovem 01).
Pode-se verificar que o reggae tem marcado presença em diversos meios.
Procurando sempre levar uma mensagem que enfoque a realidade que se vive
também. Enfatizam o meio ambiente, questões relacionadas a essa temática que
acabam perpassando outras. Desse modo, a música e o reggae em si, acabam se
transformando numa forma de se refletir a realidade.
CAPÍTULO 3
O MUNICÍPIO DE VITÓRIA
3.1. VITÓRIA: CONTEXTO SOCIAL, POLÍTICO E CULTURAL
O município de Vitória é a capital do estado do Espírito Santo. Possui, atualmente,
313.312 habitantes distribuídos em 93 Km². Dessa população, 84.080 são jovens de
15-29 anos58. Vitória está em 1º lugar no ranking estadual com o maior Índice de
Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) que está em 0,856.
Em sua organização urbana estão presentes ocupações irregulares nos morros,
decorrentes de uma situação geral da urbanização iniciada na primeira metade do
século XX devido à industrialização, quando o país e, especificamente, o estado
deixa de ser exclusivamente agro-exportador e passa a contar com as indústrias
também, fazendo com que existisse um fluxo migratório do campo para a cidade. A
cidade, por sua vez, não comportava esse crescente número de pessoas, então a
alternativa encontrada pela população foi recorrer às áreas mais altas.
Vitória, como diversas cidades do país que possuem um contingente populacional
expressivo, abriga alguns problemas, um deles é o crescente aumento da violência.
Entre os jovens, segundo o Mapa da Violência III da Unesco (2002), as maiores
causas das mortes são as externas, dentre eles os homicídios, com cerca de 70%.
Esse mapa identificou Vitória como a segunda capital com o maior índice de
homicídios em 2000.
Segundo dados da Secretaria Municipal de Segurança Urbana (SEMSU), o ano de
2004 registrou um dos maiores índices de mortes por homicídios no município de
Vitória. Esse índice foi liderado por jovens de 15 a 24 anos, seguido pela faixa de 25
a 34 anos, sendo a maioria do sexo masculino, conforme tabela abaixo:
58
Dados do IBGE projeção para 2006.
TABELA 1
Mortalidade por homicídio segundo sexo e idade no município de Vitória
(2004)
Faixa Etária
< 1 Ano
1-4 Anos
5-14 Anos
15-24 Anos
25-34 Anos
35-44 Anos
45-54 Anos
55-64 Anos
> 65 Anos
Total
Masculino
0
0
3
60
57
25
7
4
0
156
Feminino
0
0
2
7
2
2
0
0
0
13
Total
0
0
5
67
59
27
7
4
0
169
Fonte: SEMSU/DAI/VE-Sistema de Informações Sobre Mortalidade
A Secretaria Municipal de Segurança Urbana (SEMSU) realizou uma pesquisa
utilizando dados da Polícia Civil procurando detectar os índices de homicídios por
causa conhecida, ficando da seguinte forma:
GRÁFICO 1
Homicídios por motivos conhecidos
(2005)
4% 4%
13%
49%
13%
17%
Entorpecentes
Vingança
Ação Policial
Discussão
Passional
Vias de fato
Fonte: SEMSU- PMV
Alguns dados também mostram como está a situação escolar dos jovens de Vitória
relacionado ao trabalho:
TABELA 2
Condição de ocupação e freqüência escolar - Jovens de 15 a 24 anos
(2000)
Não trabalha
Trabalha
Procura Trabalho
Total
Freqüenta escola
18.779
11.021
6.552
36.352
Não freqüenta escola
5.004
14.236
4.844
24.084
Total
23.783
25.257
11.396
60.436
Fonte: IBGE - Microdados censo 2000
Conforme a tabela acima, o desemprego também atinge aos jovens, tendo um índice
bastante expressivo.
Esses jovens que trabalham podem ser classificados de acordo com a atividade
desenvolvida:
TABELA 3
Jovens de 15-24 anos no mercado de trabalho segundo atividade
(2000)
Atividade
Agricultura, pecuária, silvicultura e exploração florestal
Pesca
Indústrias extrativas
Indústrias de transformação
Produção e distribuição de eletricidade, gás e água
Construção
Comércio, reparação de veículos automotores,
objetos pessoais
e domésticos
Alojamento
e alimentação
Transporte, armazenagem e comunicações
Intermediação financeira
Atividades imobiliárias, aluguéis e serviços prestados às
empresas
Administração
pública, defesa e seguridade social
Educação
Saúde e serviços sociais
Outros serviços coletivos, sociais e pessoais
Serviços domésticos
Atividades mal especificadas
Total
Fonte: IBGE - Microdados censo 2000
Total de
jovens
154
61
202
2.151
163
1.585
5.815
1.514
1.254
499
2.700
1.619
1.656
1.480
1.357
2.740
307
25.257
%
0,6
0,2
0,8
8,5
0,6
6,3
23,0
6,0
5,0
2,0
10,7
6,4
6,6
5,9
5,4
10,9
1,2
100
De uma maneira geral, a população de Vitória, incluindo os jovens, pode ser
analisada conforme a escolaridade. Segundo dados do IBGE do censo de 2000, a
população é assim estratificada:
TABELA 4
Escolaridade da População de Vitória (2000)
Faixa
Etária
Não sabe
ler e
escrever
Sabe ler e
escrever
com menos
de 4 anos de
estudo
Sabe ler e
escrever com
alfabetização
de adultos
Analfabetos e
alfabetizados
com menos de 4
anos de estudo
Total da
população de
15 anos e
mais
15 a 17
anos
18 a 24
anos
25 a 39
anos
40 a 59
anos
60 a 64
anos
65 anos
e mais
204
575
-
779
17.640
456
1.556
-
2.013
42.496
1.630
3.630
11
5.271
70.150
3.191
5.192
43
8.427
64.690
853
1.239
22
2.114
8.036
2.753
3.787
55
6.596
18.108
9.087
15.979
131
25.200
221.030
Total
Fonte: IBGE - Microdados censo 2000
Como se pode perceber, problemas como esses demandam por políticas públicas.
Com relação à população jovem, o fato não é diferente.
Essa juventude, em determinados períodos da história do país, esteve presente por
meio de manifestações e protestos. Buscando demarcar sua identidade, seja através
dos movimentos sociais ou culturais.
Em Vitória, no mês de julho de 2005 ocorreu um importante movimento contra o
aumento das passagens de ônibus. Estudantes da UFES e CEFETES lideraram o
movimento contra o ilegal aumento da tarifa. Mesmo havendo uma lei que impedia o
aumento do preço da passagem mais de uma vez em um só ano, a Ceturb estava
fixa na idéia do aumento. Os estudantes reivindicaram, porém foram surpreendidos
pela polícia que tentou coibir o movimento com diversos artifícios, como bombas de
efeito moral e balas de borracha, que feriu um estudante e o deixou com graves
ferimentos nas costas. O desfecho do movimento ocorreu mais tarde. Mas isso não
se deu de forma rápida e pacífica, foi através de muita discussão com o governo que
a Ceturb, conseguindo incentivos fiscais, a construção de novos terminais e da
reforma dos terminais antigos, aceitou as reivindicações propostas pelos
estudantes59.
Porém, mesmo diante de tal jogo político, pode-se perceber que a juventude
procurou se mobilizar para reivindicar seus direitos e de modo geral as
manifestações atingiram o objetivo que era o não aumento das passagens.
No âmbito cultural, a juventude também tem dado suas contribuições.
Em Vitória, existem diversas bandas e grupos que se reúnem mediante afinidade
pelo gênero, habilidade, como forma de socialização, contestação e protesto ou por
divertimento.
De acordo com a Gerência de Promoção Social da Juventude, existem bandas e
grupos de variados gêneros musicais: funk, rock, reggae, forró, rap, pagode e
percussão. Além do estilo musical podem ser encontrados jovens que desenvolvem
atividades ligadas às artes plásticas (graffiti), a dança (break, dança de rua), artes
circenses, entre outros.
A tabela apresenta uma sistematização do número de jovens envolvidos em grupos
culturais de funk, rap, reggae e rock'n roll que procuraram a Gerência de Promoção
Social da Juventude:
59
A Ceturb aumentou a passagem intramunicipal de R$1,60 para R$1,70 e diminuiu a intermunicipal
de R$1,80 para R$1,70, portanto a empresa só teve ganhos com a negociação feita com o governo e
ainda conteve as manifestações juvenis.
TABELA 5
Nº. de jovens inseridos em movimentos culturais ligados à música
Estilo Musical
Número de jovens
identificados
Funk
40
Rap
45
Reggae
40
Rock'n roll
10
Esses jovens se dividem pela cidade. Às vezes se torna difícil demarcar o bairro de
origem de determinado grupo, pois seus integrantes nem sempre são do mesmo
local/bairro.
Mediante esse contexto é que abordaremos a visão desses grupos de jovens
envolvidos com os movimentos culturais ligados à música e dos gestores que
participaram da implementação dos espaços de discussão de política de juventude
na prefeitura de Vitória.
3.2. JUVENTUDE, POLÍTICAS PÚBLICAS E CULTURA NO MUNICÍPIO DE
VITÓRIA
3.2.1 SUBCOORDENADORIA DE VALORIZAÇÃO DA JUVENTUDE (2000/2004)
No que se refere à política pública, a primeira ação articulada para Juventude em
Vitória surgiu em 2002. Foi criada a Subcoordenadoria de Valorização da
Juventude60, sendo uma das primeiras iniciativas do país para atender à juventude.
60
O nome Subcoordenadoria de Valorização da Juventude foi substituído algumas vezes ao longo do
texto por Secretaria, pois o gestor 01 alega que a Subcoordenadoria tinha status de Secretaria,
fazendo despachos diretos com o prefeito.
Já havia o projeto Agente Jovem do Governo Federal desde 1999, com inicialmente
100 jovens. Porém, esse projeto não foi incorporado pela Subcoordenadoria de
Valorização da Juventude que era ligada diretamente ao gabinete, ficando a cargo
da Secretaria Municipal de Assistência Social (SEMAS).
A Subcoordenadoria fazia parte de um projeto político da gestão pública de Vitória
de 2000/2004 que era liderado pelo PSDB.
Essa iniciativa tinha o objetivo de
estruturar uma política de juventude que integrasse as diversas ações que já eram
realizadas para o público de 18 a 30 anos, e também para elaborar projetos que
possibilitassem o acesso à educação, à justiça, à saúde, ao trabalho e à cidadania,
encontrando na juventude suas demandas.
O NEJUP realizou uma pesquisa onde foi detectado que o objetivo dessa
Subcoordenadoria era de fazer ações para a juventude de acordo com a sua
demanda. Para conhecer as demandas da juventude, foi encomendada pelo
município uma pesquisa qualitativa que foi realizada pelo Instituto Futura. Essa
pesquisa constatou que a juventude se encontrava distante das questões políticas e
não se via como segmento organizado.61
A Subcoordenadoria teve como público alvo, segundo o gestor 01:
A faixa etária de 18 a 30 anos. Por que de 18 a 30anos? [...] Primeiro, porque na
Secretaria de Ação Social nossa eles têm trabalhos que eles fazem, inclusive com o
agente Jovem, que é um programa do governo federal que trabalha com jovens até
os 17 anos e 11 meses [...] você trabalha com jovem até 17 anos e 11 meses, aí
com 17 anos e 11 meses você diz pra ele “ó até logo, tchau!”, quer dizer se ele
estava na marginalidade e ele tinha ali como se integrar, aí quando chega aos 17
anos e 11 meses, ele fala “pô legal os cara adoçaram minha boca e agora me
deixaram de novo”, e ele acaba voltando pra marginalidade. [...] Quer dizer a
secretaria de juventude tem que pegar esse cara a partir de 17 anos e 11 meses, ou
seja, 18 anos e tem que se bolar alguma coisa aí para ter uma continuidade. Bom, é,
por conta disso. A gente resolveu pegar a partir dos dezoito anos, e por que até 30?
Primeiro por aquela razão de que nos partidos políticos, os jovens até 30 anos ainda
estão discutindo política de juventude, então espera-se que, se você quer pegar um
61
Idéia retirada do texto apresentado no XXV Congresso Latino Americano de Sociologia (ALAS)
jovem com 18 anos e fazer com que ele vá se aprimorando, né. Você espera que ele
chega aos 30 anos já conscientizado politicamente e, portanto, participando da vida
política da cidade,[...]
Essa Subcoordenadoria elaborou alguns projetos como: o Terra Jovem, a Comissão
da Juventude, o Juventude em Debate, e o Juventude Acontece em Vitória 62.
O Terra Jovem possuía como objetivo proporcionar, por intermédio da música,
conhecimentos que possibilitasse à juventude - moradora das áreas do Projeto Terra
- construir e exercitar sua cidadania, além de estimular a manifestação da sua
criatividade artística.
A Comissão da Juventude tinha o objetivo de ser um espaço em que os jovens
apresentariam, discutiriam e votariam projetos de interesse da juventude da Cidade,
a serem encaminhados às secretarias municipais. Teve caráter consultivo.
O Juventude em Debate pretendia proporcionar ao jovem oportunidades de
participar como agente transformador da realidade de Vitória colaborando nas ações
da Prefeitura. Visava promover a discussão de temas atuais pertinentes às Políticas
Públicas para Juventude, nas instituições de ensino das redes pública e privada do
município.
O Juventude Acontece em Vitória visava apoiar e divulgar atividades culturais,
esportivas, políticas ou sociais, desenvolvidas pela ou para a juventude do município
de Vitória, com o intuito de aproximar os jovens da Capital, a fim de entender seus
gostos e demandas para melhor atendê-los.
Existia também o Câmara Jovem, que tinha o objetivo de discutir com a juventude
da capital sobre as suas demandas. Possuía caráter deliberativo. Este projeto foi um
dos poucos que realmente chegou a ser instituído pela Subcoordenadoria, no
entanto, ele não aparece como ação, pois segundo o gestor 01, esse projeto
fracassou.
No entanto, essas políticas, que em sua maioria não foram implantadas, não fazem
parte do objetivo da Subcoordenadoria, o gestor 01 deixa isso muito claro.
62
Ver mais detalhes em: www.vitoria.es.gov.br/juventude/juv_historia.htm.
O Luiz Paulo disse “olha nós vamos criar uma secretaria mas a finalidade não pode
ser como a gente diz ‘fim’ ”, ela não foi criada prá fazer ações, ela foi criada pra
buscar na juventude as demandas e pra levar pra juventude essas ações que são
feitas na prefeitura como uma coisa integrada e única.
Para se desenvolver o trabalho na Subcoordenadoria, o então prefeito destinou
R$80.000,00 por ano para essa finalidade. Esse orçamento ficou aprovado conforme
lei municipal através do Plano Plurianual até 2005 (PPA). O PPA é definido durante
o primeiro ano de mandato de uma administração e começa a valer no ano seguinte
e vigora até o primeiro ano do mandato do próximo prefeito eleito. Assim, é no PPA
que se define os objetivos gerais da administração, abordando a realidade concreta
do município, as metas de ação que vão aplicar esses objetivos à realidade, e as
despesas que se pretende fazer para a concretização do plano63.
Esse orçamento representava, naquele período, cerca de 0,0025% do orçamento
total do município que era na base de R$342.000.000,00, segundo o gestor 01.
Portanto, esse orçamento não representava quase nada dos gastos públicos com a
juventude. O gestor 01 explica o que era feito com restrito orçamento.
Primeiro a gente viu ao longo do tempo que não tem necessidade. Por exemplo, o
ano passado desses 80 mil nós não usamos quase nada. Porque os eventos todos
que a gente faz aqui, as ações que são desenvolvidas aqui são por exemplo:
debates nas escolas, você não gasta dinheiro [...] o nosso papel acaba sendo muito
de articulação mesmo e aí você não precisa gastar muito dinheiro. Nós gastamos
com o Camburi Fest Gospel, vocês já viram? Acontece lá na praia de Camburi,
então lá tem 30 mil jovens. Esse é um evento que já há três anos a secretaria
patrocina, isso custa quanto? Uns 10 mil, vê que a gente quase não gasta.
Esse fator do pouco orçamento não interferia no trabalho realizado pela equipe
porque, segundo o gestor 01, a Subcoordenadoria desenvolvia atividades “meio”.
Portanto, ela não realizava atividades diretamente com a população, sendo assim
tinha período que o orçamento até sobrava.
63
Cartilha da Prefeitura Municipal de Vitória – Orçamento Participativo 2006 – Uma Prática
Democrática.
A Subcoordenadoria de Valorização da Juventude existiu entre os anos 2002 e
2004. Fazia parte da proposta política do PSDB que girava em torno da questão
cultural e de lazer.
3.2.2 - GERÊNCIA DE RELAÇÕES COM A JUVENTUDE (2004/2008)
Com o fim do mandato do PSDB, a Subcoordenadoria de Valorização da Juventude
foi extinta, surgindo em seu lugar, em 2005, no governo do PT a Gerência de
Relações com a Juventude que faz parte da Secretaria de Coordenação Política
(SECOP), e a Gerência de Promoção Social da Juventude.
A Gerência de Relações com a Juventude (GRJ) é muito parecida com a
Subcoordenadoria de Valorização da Juventude da gestão 2000/2004, podendo até
mesmo representar a continuidade da política exercida na gestão 2000/2004.
Já que o papel da GRJ é articular políticas, então o gestor 03 nos mostra como está
a situação do conselho de juventude no Município de Vitória.
Nós estamos em fase de maturação. Temos que fazer algumas conversas porque
temos que ver como vão funcionar os conselhos junto do congresso. Aí é um outro
problema porque [...] eu não acho bacana você ter o congresso da juventude, o
conselho municipal da juventude, a conferência municipal da juventude... O
congresso da juventude decide o Orçamento Participativo64 (OP) da juventude e a
conferência municipal da juventude vai decidir o que? A gente vai fazer conferência
para discutir, para debater, para educar a juventude? Vocês estão entendendo? Ou
essa conferência da juventude também vai decidir como vai ser gasto o dinheiro do
OP? Você tem de tomar decisão. Não adianta você ter muitas esferas de discussão
se não você perde a finalidade, as finalidades, as atribuições se misturam. Então
64
Orçamento participativo pode ser conceituado como força inicial de transformação social, uma
instituição democrática e uma instituição de elaboração de políticas públicas (WAMPLER, B.
Orçamento Participativo: uma explicação para as amplas variações nos resultados. In: ARVITZER, L
e NAVARRO, Z (org). A inovação democrática no Brasil. São Paulo: Cortez, p.61-89, 2003). Em
Vitória, a discussão do Orçamento Participativo segue alguns passos: assembléia de bairro e
assembléias setoriais, seminários regionais de capacitação. Congresso da cidade e Conselho do
Orçamento Participativo (Cartilha da Prefeitura Municipal de Vitória – Orçamento Participativo 2006 –
Uma Prática Democrática)
tem que tomar uma definição sobre isso. Então é o quê? Conferência, congresso,
conselho65? Você vai ter que dar atribuição para cada um desses espaços.
O que se pode perceber na fala do gestor 03 é que se torna importante discutir e
entender qual seria o melhor espaço de participação, o que teria maior capacidade
de atender as demandas da juventude e principalmente, qual se adequaria melhor
as realidades do município de Vitória.
A Gerência de Relações com a Juventude (GRS) também tem propostas de alguns
projetos destinados à juventude, apesar de não ser uma atribuição específica dessa
gerência, como afirmou o gestor 03 da PMV.
Se você for pegar o organograma da Prefeitura, as atribuições com a nova reforma
administrativa, essa gerência não tem essa finalidade. Nós fizemos, pelo fato de
que, quando foi apresentado o OP da Juventude (Vitória é hoje, a única cidade do
Brasil que separa 3% do orçamento de investimentos da administração para
políticas públicas para Juventude). Nós só tínhamos, se não me engano, o
orçamento na faixa de 146 milhões, 3% aí, vamos arredondar, vai para 4 milhões e
alguma coisa, nós só tínhamos 600 e poucos mil onerados pra utilizar esse
orçamento. Nós sentimos necessidade de trabalhar algumas idéias para utilizar esse
recurso, se não ficaria muito feio pra cidade, né, a gente tem um recurso que não é
utilizado. Então quer dizer, a gente criou projetos para utilizar esses recursos que
estavam disponíveis. Então, por isso nós temos projetos para cidade, relacionados,
obviamente, à juventude.
O entrevistado enumerou alguns projetos que estavam desenvolvendo em interface
com outras secretarias como o "No rock", o “Funk legal” entre outros. Da Gerência
existem os projetos “rock na garagem” e o “cartão jovem”.
[...] A idéia do rock na garagem é um espaço público que a prefeitura vai estabelecer
para as bandas estarem sábados e domingos de 2 as 10. As bandas de garagem
65
Conselhos são espaços decisórios de partilha de poder entre atores governamentais e sociais
coletivos. São espaços de discussão coletiva, explicitação de interesses e negociação. (TEIXEIRA,
E.C. Conselhos de políticas públicas: efetivamente uma nova institucionalidade participativa?. In:
CARVALHO, M.C.A.A; TEIXEIRA, A.C. (org). Conselhos Gestores de políticas públicas. São
Paulo: Polis, 2000.)
vão fazer seu cadastro e vão tocar para apresentar seu trabalho e, de certa forma, a
gente vai criando um espaço para o jovem na cidade.[...] O cartão jovem [...] é uma
remuneração mensal para um grupo de 1000 jovens durante um ano para ele utilizar
em eventos esportivos e culturais (Gestor 03).
Além desses projetos tem ainda o Câmara Jovem que é um projeto muito parecido
com o desenvolvido pela Subcoordenadoria da gestão 2000/2004.
A câmara jovem, espaço, provavelmente direcionado aos estudantes de escolas
públicas. A gente entende que é uma idéia de consciência política, de deixar a
gurizada participar, com simulações de eleições, projetos e propostas. Junto com a
Secretaria Municipal de Cidadania estamos trabalhando a confecção de algumas
cartilhas temáticas para serem distribuídas nas escolas sobre os diversos temas,
são cartilhas por eixos temáticos, sendo direcionados para juventude (Gestor 03).
Esses projetos: o "No rock", o “Funk legal”, o “rock na garagem” e o “cartão jovem”
ainda não foram concretizados em decorrência da espera pela liberação dos
recursos.
O que a gente conseguiu fazer, que não depende de dinheiro, foi a Câmara técnica
de políticas públicas para juventude do município. O que é, justamente, fazer uma
integração entre todos os gestores de políticas públicas para juventude da
administração. O momento que a gente vai conversar, discutir, encaminhar. Isso a
gente conseguiu fazer. É importante porque você tem que assimilar que [...]
juventude é um tema que faz interface com várias secretarias, então tem que ter
transversalidade e tendo transversalidade, dá oportunidade dos outros participarem
também das decisões, então a gente conseguiu caminhar muito bem. (Gestor 03).
É importante ressaltar também que essa gerência não tem o objetivo de implementar
projetos, como o gestor 03 afirmou acima. É uma gerência com funções “meio” e
não “fim”, assim como a Subcoordenadoria de Valorização da Juventude da gestão
2000/2004.
3.2.3 - GERÊNCIA DE PROMOÇÃO SOCIAL DA JUVENTUDE (2004/2008)
Dentro SEMAS, foi criada a Gerência de Promoção Social da Juventude (GPSJ), no
ano de 2005 juntamente com a GRJ (que fica dentro da SECOP) e faz parte do
plano de governo do PT, proposto para a gestão 2004/2008.
O público alvo da GPSJ, segundo o gestor 02, segue o Plano Nacional da Juventude
[...] a gente está tentando seguir o Plano Nacional de Juventude (PNJ) de 15 a 29
anos. A gente tinha uma discussão de 15 a 24 anos, mas como o PNJ traz essa
questão de 15 a 29 anos a gente está tentando não fugir a essa discussão, porque
tudo daí pra frente, que vier de juventude vai ser de 15 a 29 anos. Então a gente não
pode ficar fora do processo [...]
Com relação ao orçamento destinado às políticas de juventude o gestor 02 diz ter
sido uma vitória o aumento dos recursos.
É uma grande conquista, a nossa maior conquista foi no orçamento, é como se a
gente tivesses saído de um orçamento próprio de R$ 50 mil e fosse para R$500 mil.
Então é uma conquista. Essa questão de fazer interlocução com a juventude, você
abre muitas frentes, não tem jeito, aí você vai se legitimando e a juventude vai vindo
e essa coisa vai acontecendo e você vai justificando, e todo mundo vai percebendo
é como se fosse uma bola de neve [...] Essa verba vem pela ação social. Nós
conseguimos até mais que os outros programas que tinham dotação específica. Mas
isso tudo é uma conquista, não teve uma estratégia, foi a própria juventude vindo,
ocupando esse espaço, marcando e fazendo uma pressão.
Na GPSJ são desenvolvidos muitos projetos alguns de âmbito Federal, como o
Agente Jovem que abrange jovens de 15 a 17 anos. Nesse ano de 2006 existem
600 Agentes Jovens. Mesmo sendo um projeto federal existem convênios com
instituições da cidade para a disponibilização de material de consumo, espaço para
realizar os grupos e pagamento de alguns instrutores e orientadores sociais.
Essa gerência, de acordo com sua atribuição, também cria seus próprios programas.
Um deles é o programa Odomodê que trabalha questões da igualdade racial,
através de oficinas como a de percussão, de sexualidade, além de possuírem uma
banda de percussão.
Existe também o “Rede Jovem” que busca identificar e mobilizar os jovens em suas
diversas atividades. Esse projeto é o responsável por identificar os segmentos e
articulá-los. É o suporte para a implantação de um projeto futuro, o Centro de
Referência da Juventude (CRJ).
Seguindo o modelo de Santo André, a GPSJ está pretendendo implantar um CRJ
em Vitória que dentre outras coisas, vai procurar ser um espaço que alie formação,
convivência e mobilização social. Pretende respeitar e valorizar a diversidade das
juventudes, sendo um espaço de expressão para os diversos coletivos juvenis,
criando canais de participação e interlocução66.
O projeto possui como objetivo geral ser um espaço privilegiado de práticas e
representações onde os jovens poderão demarcar uma identidade juvenil e ser
também um espaço de convivência, participação e formação. Para se alcançar esse
objetivo, o CRJ pretende, dentre outras coisas, criar canais de participação e de
interlocução com a juventude local; desenvolver ações de formação e capacitação
profissional voltadas para inserção no mercado de trabalho e geração de renda e
estimular o jovem a compreender melhor sua realidade social, criando possibilidades
para que atue como sujeito na ressignificação desta realidade.
O CRJ pretende trabalhar seguindo as linhas: educação e informação, comunicação
e mídia, qualificação e inserção no mercado de trabalho, mobilização, informação e
integração da Juventude, promoção da saúde, defesa de direitos, arte e cultura e
ações de esporte e lazer.
Segundo o gestor 02, todos esses projetos se desdobram.
Cada projeto desse se desdobra muito, por exemplo, o Agente Jovem já tem quatro
convênios de fortalecimento da arte, da cultura, convênio para que os jovens façam
música, teatro, artes plásticas, por exemplo, a gente tenta se relacionar com
66
Projeto Centro de Referência para Juventude. O projeto pertence à Gerência de Juventude da
Prefeitura Municipal de Vitória elaborado em março de 2006 por Camila Lopes Taquetti, Fabrícia
Pavesi Helmer, Michela Ventorim, Luiz Carlos Duarte Melo e Rogério Araújo.
segmentos da cidade, com hip hop, quarta reggae, agora a gente está tentando se
aproximar. Então o Rede Jovem, também, faz uma série de interlocuções com a
cidade [...].
Existem também projetos intersetoriais como o Cine Kbça desenvolvido pela
GPSJJ/SEMAS e pela Secretaria Municipal de Saúde (SEMUS) que visa levar um
cineclube à juventude de Vitória que tem acesso limitado às grandes salas de
cinema, além de estimular a reflexão e mobilizar os jovens para serem
multiplicadores em suas comunidades. As sessões são realizadas em escolas
públicas e são discutidos temas como sexualidade, igualdade racial, desigualdade
social, violência urbana, criminalidade, entre outras temáticas
67
. A escolha pelos
filmes se dá por meio de levantamentos ou por escolha própria dos monitores do
Cine Kbça.
Eles tentam levantar os filmes, eles vão às escolas e tentam levantar os filmes que
os jovens querem, algumas vezes é legal é uma metodologia que eles perseguem. A
outra proposta, eles mesmos propõem (Gestor 02).
Um segundo projeto intersetorial é o “Graffitaids” desenvolvido pela Nação hip hop,
pela GPSJ e pela coordenação Municipal de DST/Aids que promove discussões
sobre prevenção de DST/Aids utilizando o graffiti como instrumento de expressão.
O último Graffitaids ocorreu em dezembro de 2005, contou com diversas atividades:
estandes da Associação Capixaba de Redução de Danos (ACARD), estandes com
graffiti, apresentações musicais e artísticas, entre outros.
67
Idem.
Fotografia 6 - Graffiti feito para o projeto Graffitaids
Fonte: GPSJ
Fotografia 7 - Apresentação de Mc's no projeto Graffitaids
Fonte: GPSJ
Fotografia 8 - Apresentação de alguns dos elementos
do hip hop: Break e Graffiti
Fonte: GPSJ
Um terceiro projeto é o risco social em parceria com a SEMAS/SEMUS e Secretaria
Municipal de Educação (SEME). É uma estratégia de Prevenção das DST/Aids, da
violência e do Uso Indevido de Drogas entre Crianças, Adolescentes e Jovens. Esse
projeto promove capacitações de multiplicadores para prevenção, encontros de
sensibilização das lideranças comunitárias, entre outras ações para a juventude.
Tem equipe multidisciplinar e trabalha com os princípios da intersetorialidade,
parcerias, enfoque no sujeito/ator, protagonismo juvenil, participação democrática,
respeito à diversidade e às diferenças, integração e descentralização das ações e
inserção na realidade comunitária68.
Por fim, existe também o comitê Vitória da Paz feito em parceria com a Secretaria de
Segurança Urbana. Possui como objetivo proporcionar a criação de um movimento
organizado com lideranças da comunidade, que, através de ações criativas e
educativas, otimize seus próprios recursos, estabeleça parcerias, fortaleça sua
capacidade de identificar problemas e direcionar respostas e afirme a cultura da paz
e não-violência nos 8 bairros com maior índice de homicídios. Esses são alguns
projetos dentre outros que existem com parceria entre as secretarias
69
.
Para a realização desses projetos, a GPSJ conta com um orçamento que vem via
Assistência Social. A estruturação dessas políticas se faz mediante esses
orçamentos, conforme a tabela:
TABELA 6
Orçamento destinado à realização dos projetos na GPSJ
Projetos
Orçamento (R$)
Centro de Referência da Juventude
240 mil
Núcleos Afros da Juventude (Odomodê)
80 mil
Inclusão Social da Juventude (Agente Jovem, Cine Kbça, 500 mil
Rede Jovem)
68
69
Idem
Idem
Além dos projetos e programas apresentado pela GPSJ, existem também outros
projetos direcionados para juventude nas demais secretarias, que trabalham a
intersetorialidade. O gestor 02 fala um pouco sobre a Secretaria de Cultura.
[...] a cultura nesse ano já está começando a se aproximar da juventude no conjunto
da cidade. A cultura no ano de 2005, ainda estava se apropriando disso, porque ela
ficou muito presa em ver shows, eventos. Não tinha uma coisa mais vinculada às
comunidades, de chegar a esses jovens lá na comunidade. E agora eu acho que ela
já está se aproximando mais.
Na Secretaria Municipal de Cultura (SEMC) também existem alguns projetos
destinados à juventude, segundo o gestor 04, os projetos em que há,
majoritariamente, jovens são: Orquestra Jovem e Festival de Música Jovem. A
SEMC também desenvolve um projeto denominado Circuito Cultural que, mesmo
não tendo como alvo único a juventude abrange uma grande parte dela. O Circuito
Cultural promove cursos pra as comunidades de diferentes regiões administrativas.
Um grande número de jovens procuram esses cursos. São cursos de produção e
gestão cultural, oficina de vídeo, teatro, entre outros. Além das atividades
desenvolvidas na Escola de Teatro e dança FAFI e de eventos que procuram
integrar os grupos de pagode, funk, axé, hip hop, entre outros, que também acabam
por englobar a juventude, apesar de não ser direcionado a esta.
Tem um projeto chamado Circuito Cultural, onde tenta identificar os talentos da
comunidade, tenta fazer uma reunião com a comunidade, ver o que a comunidade
quer, depois ela tenta fazer um cadastro desses talentos, uma coisa importante,
colocam eles para tocar, porque isso dá visibilidade. É projeto da secretaria de
cultura, que eu acho bacana, 80% do público é a juventude (Gestor 02).
Na Secretaria de Educação (SEME) há outros projetos como o Escola Aberta que
promove ações nas áreas de educação, cultura, esporte e trabalho, visando
transformar espaços públicos escolares em alternativas de aprendizagem, lazer e
cidadania nos finais de semana; e a Educação de Jovens e Adultos (EJA) que
promove a escolarização de jovens e adultos.
Há também o ProJovem que é um projeto federal mas é gerenciado pela SEME 70.
Ele é destinado a jovens de 18 a 24 anos que ainda não completaram o ensino
fundamental, tendo feito no mínimo até a 4ª série completa. Além de receberem
escolarização, os jovens têm ainda uma profissionalização na área de metal
mecânica, cultura, entre outras. O ProJovem possui mais de 700 jovens. Possui
duas Estações Juventude: a primeira conta com núcleos nas Escolas Otacílio Lomba
em Maruípe, Irmã Jacinta localizada no Romão e Adão Benezath em Goiabeiras; e a
segunda tem seus núcleos no Sambão do Povo em Santo Antônio e na Escola
Tancredo Neves, em São Pedro.
Na Secretaria Municipal de Esportes (SEMESP) existe o projeto jogos comunitários
que está levando esporte para a juventude nos bairros da periferia. Na Secretaria
Municipal de Cidadania há o atendimento de vítimas de violência de gênero que
compreende a faixa etária da juventude também.
3.2.4 - PODER PÚBLICO: CONCEPÇÕES E DESAFIOS
Nas eleições de 2004, o Partido dos Trabalhadores (PT) passa a administrar o
município de Vitória, ao passo que nacionalmente, o PT também está à frente do
poder executivo com Luiz Inácio Lula da Silva.
Em nível nacional foi devido a um conjunto de fatores sociais, políticos e econômicos
que se começou a dar ênfase às políticas públicas direcionadas à população juvenil
a partir da década de 90. Conforme elencado anteriormente, mediante um contexto
de precarização do trabalho, globalização e exclusão social, a população jovem
começou a participar de movimentos de contestação ao atual sistema imposto.
Pode-se associar a esses fatores o aumento da violência entre os jovens, o que
também influenciou esse processo. Portanto, pode-se verificar o início de uma
atenção voltada à juventude.
Assim, depois da existência de muitos anos de políticas públicas esparsas e não
específicas para a juventude, em 2004, o tema juventude ganha destaque com o
70
Idem
projeto de Lei Nº. 4530 para a criação do Plano Nacional da Juventude (PNJ).
Discussões se processam acerca desse tema. Assim, gestam-se propostas do PT
para a juventude relacionadas à educação, trabalho, saúde, desporto, cidadania,
protagonismo e organização, produção cultural, desenvolvimento tecnológico, entre
outros.
Muitas discussões envolveram o projeto de lei. Em 2006 foram realizadas nos
estados e em nível nacional, conferências para a avaliação do Projeto. Cada estado
contou com a participação de um Deputado Federal. No caso do Espírito Santo a
Deputada Rose de Freitas que teve a incumbência de organizar e mobilizar a
juventude capixaba para as conferências71. Aconteceu uma conferência Estadual,
mas não teve mobilização municipal. Foram eleitos delegados que representaram a
juventude capixaba e suas aspirações em Brasília, para complementação do projeto
de lei do Plano Nacional da Juventude.
O gestor 02 diz um pouco de como foi a participação na elaboração do Plano
Nacional de Juventude aqui no ES e ressalta a sua importância.
Acho também que nos estados poderia ter uma mobilização maior, acho por
exemplo, aqui no estado só tem uma deputada e ela não tem uma interlocução local.
Isso pode ser uma característica do nosso estado, eu não tenho uma dimensão de
como está se articulando nos outros estados, especificamente [...]. Aqui no estado
eu acho que não houve um amplo debate, poucos segmentos tem noção dessa
formatação do plano e tal, mas isso não inviabiliza não. Acho que, de qualquer
forma, é um começo, é uma iniciativa importante inclusive. Porque, por exemplo, se
o plano estabelece conselhos a nível federal, a nível estadual, a nível municipal [...],
estabelece fundos, estabelece um estatuto, isso tudo tem uma repercussão depois,
eu acho que a juventude pode mesmo entrando na participação atrasada ela pode
decidir, pode ter espaço de decisão importante.
O gestor 03 aborda a importância do Plano Nacional de Juventude também.
71
A conferência estadual ocorreu no CEFETES no dia 11 de março onde estivemos presentes e a
conferência nacional que ocorreu nos dias 30 e 31 de março em Brasília onde Hingridy foi como
delegada.
[...] acho um avanço a secretaria nacional de juventude, o plano nacional da
juventude (PNJ) que a gente discutiu em Brasília no final de março. Estão tocando
pautas importantes, algumas inclusive que nós devemos copiar o que estão fazendo.
O PNJ é um avanço, é um debate importante, não foi o que muitos esperavam, mas
o debate foi feito. Isso é importante.
O PNJ é considerado um avanço, pois traz questões relevantes de gênero, diferença
racial, entre outros. No entanto, algumas críticas envolvem o contexto de precária
articulação e de elaboração em que foi realizado o PNJ e a falta de envolvimentos
dos Deputados Federais com tal projeto nos estados. Isso foi observado de um
modo geral, em quase todos os estados representados, já que tivemos a
oportunidade de estarmos presentes na conferência realizada em Brasília, em março
de 2006.
Nesse contexto de formulação de Políticas Públicas para Juventude, então, criou-se
a Gerência de Promoção Social da Juventude (GPSJ), que é responsável pelo
gerenciamento de programas federais destinados à juventude e construção de
outras políticas sociais destinadas à mesma. Além da Gerência de Relações com a
Juventude (GRJ) que fica encarregada da articulação e integração dos projetos na
administração e que representa uma certa continuidade da Subcoordenadoria de
Valorização da Juventude da gestão 2000/2004.
Podem ser verificadas muitas diferenças entre a Subcoordenadoria de Valorização
da Juventude do governo PSDB e a Gerência de Relações com a Juventude (GRJ)
e a Gerência de Promoção Social da Juventude (GPSJ) do PT. Essas diferenças se
processam até mesmo pelas propostas dos partidos e pelas ações que foram
engendradas. As ações da primeira enfocavam mais a questão do lazer e do
conhecimento das demandas. Já a GPSJ, conseguiu demarcar seus projetos e
áreas de atuação mais diversificadas, não enfocando apenas um ponto, mas
tentando abranger ao máximo as demandas que a juventude apresentava.
De acordo com o gestor 01 o objetivo da subcoordenadoria (gestão 2000/2004) era
fixar a secretaria de juventude na cidade, pra que as pessoas possam entender que
existe uma secretaria municipal para juventude, que é possível fazer políticas
públicas para juventude [...] a idéia é que até o fim da gestão municipal a gente
conseguisse fazer com que a secretaria de juventude fosse parte do processo já da
cidade, e a gente entende que já conseguiu cumprir com esse papel.
Sobre essa questão, o gestor 02 expõe um pouco sobre essa Secretaria de
Juventude da Gestão 2000/2004.
[...] ela não era uma secretaria institucionalmente instalada. Ela não tinha legalidade.
Então quando veio a nova administração ela não estava no quadro da PMV. [...] Ela
tinha algumas iniciativas de interlocução sim, talvez isso se perdeu no finalzinho, por
questões políticas até que acabou perdendo um pouquinho, mais eles tiveram
algumas iniciativas de manter uma interlocução, talvez um pouco assim, com um
olhar muito mais de cooptação, talvez, isso fez uma diferenciação.
A Subcoordenadoria de Valorização da Juventude foi substituída na gestão
2004/2008 por dois espaços responsáveis pelas políticas de juventude do município
de Vitória: a GRJ e a GPSJ. Dentre esses dois espaços, o que mais parece com a
política realizada na gestão anterior, representando aí um continuidade, é a GRJ.
Isso pode ser observado quando o gestor 03 diz o objetivo da GRJ.
A Gerência de Relações com a Juventude da Prefeitura Municipal de Vitória tem
como prioridade fazer a interlocução com diversos setores da secretaria da esfera
municipal, sobre o tema juventude e sobre os projetos e programas para juventude
que a Prefeitura for implementar. Então, para não ser prolixo, nós somos aqueles
que, teoricamente, fazem a integração dos projetos na administração.
Tanto o gestor 01, quanto o gestor 03, dizem, respectivamente, que a
Subcoordenadoria de Valorização da Juventude e a GRJ são espaços de política
“meio”, ficando as ações, portanto, somente na articulação. No entanto, a gestão
2004/2008 teve a preocupação de criar um outro espaço capaz de formular e
implementar política de juventude no município que é a GPSJ, que seria chamado
de política “fim”.
A GPSJ foi criada em 2005, tentando aí ser um canal de interlocução com essa
juventude da capital. Porque o que que acontece, essa juventude não tinha muito
essa interlocução com o poder público, o poder público automaticamente não tinha
com a juventude. Então essa gerência, foi criada mais para tentar estabelecer esse
canal e aí visualizar um pouco de quais seriam as demandas e formular algumas
políticas para juventude (gestor 02).
Mesmo apresentando algumas poucas semelhanças, a gestão 2000/2004 e a gestão
2004/2008, têm diferenças relevantes, em se tratando de política de juventude,
como, por exemplo, a concepção de juventude que a equipe adota.
Um fator que interfere na direção e na forma das ações é a concepção de juventude
que os formuladores e gestores desses projetos têm. De acordo com Camacho
(2003)72, "para pensar políticas públicas para juventude temos de saber que toda
política ou ação voltada para juventude parte de uma concepção".
O gestor 01, representante da Subcoordenadoria de Valorização da Juventude,
aborda a concepção de juventude que permeou o trabalho deles e diz que foi
através da pesquisa encomendada pelo Instituto Futura que ele chegou à presente
conclusão:
Eu vou te dar a definição que eles mesmos deram na pesquisa futura, que saiu
como a frase que define a juventude de Vitória “eu quero rock’n roll e beijo na boca”.
É isso, daí você pode tirar as conclusões que você quiser. A conclusão que eu tiro é
o seguinte que, é o que eu falei no início, é uma juventude completamente perdida,
apática, não sabe o que quer da vida, sem perspectiva de futuro, quanto mais “Vital”
tiver na cidade melhor, quanto mais “rock” pra beija na boca tiver melhor [...]
Juventude é a melhor fase da nossa vida, é a fase que você já não é mais criança,
mas não é adulto. Que você ainda se apaixona, acredita no amor. Você fala ”vou
encontrar a minha princesa encantada”, as mulheres “vou encontrar o meu príncipe
encantado”, nós vamos casar, quero encontrar a pessoa que eu vou ficar o resto da
minha vida.
72
Fala ministrada pela Profª Drª Luiza Mitiko Camacho, no 1º Seminário Temático realizado pelo
NEJUP, em Vitória, 12 de Agosto de 2003. Local: Salão Rosa – UFES, intitulado: MOVIMENTO
JUVENTUDE E EXPRESSÃO.
A concepção adotada pela gestão 2000/2004 expressa as políticas realizadas no
período, ela traduz o que a Subcoordenadoria achava relevante fazer naquele
momento para a juventude da capital. Essa concepção de juventude parte do que
Quiroga (2001) afirma ser uma concepção universal, homogênea e abstrata de
juventude.
Com relação à concepção de juventude apresentada pela gestão 2004/2008 é bem
diferente da abordada pela gestão 2000/2004. Diferencia-se ainda entre a da equipe,
respectivamente, do gestor 02 e do gestor 03.
[...] juventude é um segmento social contextualizado no espaço, no tempo e deve
ser considerado como sujeito de direitos [...] não existe uma juventude. A juventude
tem uma diversidade, se caracteriza transversalmente por essa questão de raça,
gênero, sexo, etnia [...] acaba tendo diversas juventudes no cenário [...] hoje a
equipe, tem essa compreensão de que juventude é um sujeito de direitos, jovem não
é problema, mas sim, é uma diversidade, ele tem umas características próprias, de
se colocar, faz parte do processo. E aí eu acho que hoje a gente tem uma equipe
muito legal de trabalho, isso faz uma diferença enorme no nosso departamento.
(gestor 02).
[...] juventude é uma faixa etária, não um estado de espírito, mas uma faixa que está
em transição, com problemas dos mais diversos, sejam psicológicos, de inclusão na
sociedade, na busca por emprego, da sua identificação social (gestor 03).
O conceito de juventude abordado pelo gestor 02 tem relação com os conceitos
apresentado por Spósito, Groppo, Camacho, entre outros autores que abordam a
questão da pluralidade presente na juventude. Já o gestor 03 se aproxima do
contexto expresso por Durston que qualifica a juventude pela faixa etária em que ela
está inserida, significando uma transição para outro estado, que seria a vida adulta.
Uma outra concepção que aparece é o do gestor 04.
Juventude, é a faixa de idade entre 15 à 25 anos que traz consigo novas inovações
sociais, Culturais e Políticas.
Essa concepção também enfoca o que Quiroga (2001) diz ser a incorporação de
uma visão puramente de etapas evolutivas.
O gestor 01 após abordar a concepção de juventude, descreve as “políticas
públicas” realizadas por eles. Para ficar melhor entendido vale voltar à concepção de
política social adotada no capítulo 1, em que esta é entendida como uma ação que
emerge do Estado e que vai além de qualquer projeto desenvolvido pela sociedade
civil e pelo empresariado, sendo garantida por leis, constituída como direito e
elaborada com a participação da população.
O jovem vem até gente e diz “olha eu tenho esse projeto você nos apóia?” e agente
dentro de uma política pré-estabelecida a gente apóia, claro que não é qualquer
coisa. Tem cara que chega aqui e diz “nós temos um projeto aqui, nós queremos
levar 30 estudantes para Curitiba, você banca o ônibus?”. Não isso não, a gente não
entende isso como política pública [...] então, agora os caras do hip hop, ou os
próprios evangélicos, que chegaram com uma demanda, eles são protagonistas.
Eles querem fazer o Camburi Fest Gospel, eles chegam aqui com a demanda, a
gente fala: ”poxa legal, isso é um política cultural para jovens e tal”, a gente ajuda
(Gestor 01).
Com esse relato é possível perceber que, o que a Subcoordenadoria realizava não
era política pública em seu sentido concreto. Eram medidas esparsas e
fragmentadas.
Cada gestão faz referência à forma de participação que a própria gestão acredita,
isso é observado quando o gestor 01 diz o motivo do fracasso do projeto Câmara
Jovem.
O “Câmara Jovem” faz parte dos poucos projetos que a Subcoordenadoria
conseguiu implementar na sua gestão, como citado anteriormente. Ele era um
projeto relevante, mas segundo o entrevistado, não deu certo devido à forma com
que foi organizado. Ele era um projeto de caráter deliberativo em que a juventude
tinha voz e isso, segundo o gestor 01, provocou confusões.
Nós fizemos um projeto aqui chamado câmara jovem. Porque a idéia era essa, você
ter representantes de todos os segmentos da juventude, de todas as regiões e tal
[...] Foi um fracasso, um fiasco [...] Porque os caras como são líderes, os caras pô,
agora eu estou lá, no conselho da juventude, no câmara jovem, não sei que, porque
agora eu faço e aconteço, agora eu quero ser candidato a vereador, eu quero ser
isso, quero ser aquilo, aí os caras começaram a quebrar pau entre eles [...]. Então
não tem jeito, o que eu acho que pode ser feito é você ter um fórum, um conselho
que seja consultivo e não deliberativo, quer dizer, é um conselho que, olha vamos
nos reunir aqui as lideranças e o secretário diz “eu quero ouvir vocês”, mas quem
toma a decisão sou eu, porque quem teve o mandato do prefeito sou eu, e quem
tem o mandato do povo pra fazer alguma coisa é o prefeito. Então na democracia é
isso, né, a população elegeu o Luiz Paulo pra durante quatro anos ele tomar conta
dos rumos da cidade, e ele faz na medida do possível as discussões, mas ele sabe
qual é o orçamento e ele sabe, ele tem as idéias dele do que ele acha que tem que
ser feito em Vitória (Gestor 01).
Essa forma com que o gestor 01 aborda a questão da participação está presente em
outros trechos de sua fala.
Não tem como. Bom, não tem como participar da construção [...] quem que eu
poderia reunir pra discutir o que fazer? Até pode mais isso, sei lá, a gente ia ficar
dois, três anos é parados aí pra discutir, discutindo, discutindo, porque esse negócio
é complicado [...]. Não existe uma coisa assim, “atenção população está aberto o
período de palpites para”, isso não acontece [...]. Eu também não posso, como
agente público, sair dizendo "olha vocês aí, vamos fomentar, vocês agora serão
protagonistas de uma ação assim, assim, assado”, e eles vão dizer “olha, estou feliz
da vida, a prefeitura disse que eu sou protagonista”, entendeu. É a visão que eu
tenho da coisa, eu não tenho como fomentar isso, eu tenho como respeitar.
A concepção de participação se choca com a única demanda percebida pela gestão
2000/2004 como sendo legítima da juventude, que é o protagonismo.
A única coisa que eu consigo sentir que eu poderia dizer é que existe, não seria uma
demanda é uma necessidade talvez, de todo jovem independente do grupo que seja
de ser protagonista, talvez o protagonismo seja a única coisa hoje que ligue essa
juventude toda (Gestor 01).
Porém, esse mesmo gestor, entende o protagonismo como sendo:
[...] só um conceito. Não vejo como uma coisa que possa ser trabalhada. Eu diria o
seguinte, que o protagonismo é uma coisa que deve ser respeitada, não trabalhar.
Quer dizer, essa palavra protagonista vem do teatro. Você fala “quem são os
protagonistas dessa peça?” Ou seja, quem são as pessoas que representam aquela
peça, que desenvolvem aquela peça. Quando você fala que o jovem tem que ser
protagonista das ações que são voltadas pra ele eu acho que isso é uma coisa, que
nós como agentes públicos temos mais que respeitar do que fomentar.
Contrastando com a gestão 2000/2004 que não achava possível a implementação
de uma ação mais participativa, a gestão 2004/2008 tentou, desde o início, envolver
a juventude. Como pode ser observado no levantamento feito para se conhecer a
demanda da juventude. O gestor 02 explica como ele acha que deve ser um trabalho
participativo com a juventude.
A idéia é que você pode fazer uma interlocução, mas não tentando cooptar, tentando
estimular, empoderar, buscando estimular a autonomia desses jovens, agora, com
certeza você tem que trabalhar isso tudo ao mesmo tempo. Assim, nós ao mesmo
tempo que tentamos criar canais de participação, empoderar esses jovens, nós
também tentamos criar espaços de visibilidade para esses jovens [...].Eles não
podem ser apenas usuários do serviço, eles têm que decidir (Gestor 02).
Mesmo com esses projetos elencados, alguns jovens ainda não têm acesso a eles.
Alguns não têm conhecimento dos projetos, o que pode ser justificado pelo fato de
das políticas de Juventude não estarem completamente estruturadas no sentido da
abrangência que se pretende atingir.
Em experiência como estagiária da GPSJ, pode-se perceber que o corpo técnico
das secretarias, da gestão 2004/2008, se interagem no interior de cada uma. Os
projetos feitos intersetorialmente procuram estimular a interação no que se refere à
coleta de dados, formulação do projeto e avaliação da ação.
Isso pôde ser percebido também na fala do gestor 03, quando ele coloca a criação
da câmara técnica, que são representantes de várias secretarias discutindo ações
para juventude.
[...] a câmara técnica que faz interfaces, foi criada para fazer o debate interno das
políticas é composto de quase 40 pessoas. Então, acho que estamos caminhando
bem, para caminharmos melhor é o desfeche do orçamento, a SEMAS tem 240 mil
para terminar o Centro de Referência para Juventude, a gente com recurso para
fazer o resto que foi proposto no OP da Juventude, a gente vai bem [...]
Os recursos humanos das secretarias e gerências são diversificados. Na GPSJ,
existem dois cargos comissionados; quatro efetivos sendo uma assistente social,
uma coordenadora de ações do protagonismo juvenil, um coordenador do CRJ e
uma assistente administrativa; dois contratados da área de psicologia; e nove
estagiários sendo seis de serviço social, um de psicologia, um de economia e um de
ciências sociais. Já na GRJ existem 2 cargos comissionados, sendo um de Gerente
e o outro de Assessor de Capacitação e Desenvolvimento e três estagiários.
Como verificado, a maior parte do corpo técnico possui contrato temporário
(incluindo estagiários). Essa especificidade das relações de trabalho, às vezes
prejudica a continuidade dos projetos, pois finalizando um contrato, um novo deve
ser firmado para dar continuidade às ações. Essa descontinuidade pode ocasionar
perda de foco, de articulação.
Isso pode ser caracterizado nas políticas de governo, ou seja, aquelas que
permanecem em uma administração pública, mas que, não são garantidas por lei,
representando uma descontinuidade. Ao contrário das políticas de estado, em que
independente do governo, ela tem legitimidade jurídica capaz de amparar sua
continuidade. As políticas de Estado sustentam-se num consenso que ultrapassa os
governos73, são as chamadas políticas públicas de ações afirmativas.
As políticas de governo têm perpassado a realidade brasileira na maioria das
gestões. Esse fato pode acontecer devido a vários fatores, dentre eles, às ideologias
partidárias.
73
Cruz, C.H.B. A gestão estratégica do conhecimento. Folha de São Paulo - Tendências e
Debates-8/5/2003.
Na Subcoordenadoria de Valorização da Juventude (gestão 200/2004) existiam
somente cargos comissionados, pois segundo o gestor 01, isso evitaria muita
burocracia, o que explica também porque Subcoordenadoria e não Secretaria de
Juventude.
Quando foi feita a lei na câmara [...] pra você criar uma coordenadoria, você teria
que fazer, a gente teria que ter um plano de cargos e salários, a gente teria que ter o
remanejamento de funcionários efetivos da prefeitura, os concursados, pra atuar
naquela coordenadoria ou secretaria, como prefeito não queria fazer isso, ele queria
só ter cargos comissionados, que são onze cargos comissionados, ele falou “não, só
quero ter cargo comissionado”, até pra gente ter uma agilidade maior, no trânsito, se
quiser depois fundir isso com alguma coisa, fica um negócio mais fácil.
Com relação ao levantamento das demandas da juventude cada gestão teve uma
metodologia diferenciada. Na gestão 2000/2004, foi feita uma pesquisa pelo Instituto
Futura, ele explica que foi difícil identificar a demanda da juventude de Vitória.
Segundo o gestor 01,
Não tem como te dizer “olha a demanda da juventude de Vitória é essa”, porque
como eu te falei, a própria juventude de Vitória não se enxerga como um segmento
da sociedade [...] Foi até difícil identificar nesses jovens que demandas específicas a
gente teria neles, porque as demandas que eles colocaram eram demandas de
qualquer cidadão, sei lá, é a questão do desemprego, querendo um transporte
melhor, querendo segurança, querendo saúde. Isso não é uma coisa específica dos
jovens, qualquer cidadão quer isso tudo.
Já o gestor 02 da gestão 2004/2008 diz que as demandas foram tiradas do primeiro
OP de juventude realizado na cidade.
O OP da Juventude foi uma iniciativa da Secretaria Municipal de Planejamento que
teve início em julho de 2005.
Em 2005, a Prefeitura passou a disponibilizar 3% do orçamento para o segmento
jovem, sendo o OP uma forma de se discutir como seria gasto esse dinheiro. Os
jovens teriam contato com os instrumentos de planejamento como a Lei de Diretrizes
Orçamentárias (LDO), o Plano Plurianual (PPA) e a Lei Orçamentária Anual
(LOA) 74.
Os entrevistados 2 e 3 dizem que o OP é discutido em Congressos da Juventude,
onde é votado como vai ser utilizado o recurso e que secretaria vai ficar responsável
por tal gerenciamento.
Por exemplo, um programa que tem interface com a saúde. O recurso não vai para a
saúde. A saúde vai executar esse recurso, só que a gente monta uma equipe com
outros setores para encaminhar essa idéia. Essa é a metodologia (gestor 03).
O orçamento da juventude identificou um pouco a demanda da juventude por
formação profissional, por formação profissional mais consistente, eles querem
formação não do tipo, rápida, alguma coisa que dê subsídio. [...] Acho que uma
política também para os jovens de 15 a 24 anos não pode estar desagregada de
forma alguma à forma profissional. Você tem que ter olhar da participação, da
interlocução, eles não podem ser apenas usuários do serviço, eles têm que decidir,
mas geralmente nunca está desagregada da formação profissional, a demanda de
formação é muito grande [...] outra questão que apareceu muito em termos de
demanda da juventude foi a ampliação de espaços de lazer, acesso a cultura,
espaços culturais, como teatro, acho que isso foi o que mais compareceu como
demanda da juventude [...] Até achei que não apareceu com tanta freqüência a
questão da violência [...] talvez a violência esteja embutida neste processo, mas ela
não apareceu, assim, claramente, isso foi uma questão que eu percebi (gestor 02).
Uma questão importante, que representa a diferenciação entre as duas gestões é o
orçamento destinado à juventude. A Prefeitura Municipal de Vitória, que tinha um
orçamento de R$ 80.000, na gestão 2000/2004, segundo o gestor 1, passa a contar
com um orçamento de R$ 500.000, na gestão 2004/2008, segundo o gestor 02.
Assim, GPSJ possui um orçamento diferenciado, até mesmo porque possui muitos
projetos em desenvolvimento por se tratar de uma Gerência de "política fim".
Portanto, mediante essa análise, fica muito clara a diferenciação entre as visões dos
quatro Gestores, tanto de concepções, quanto de trabalho desenvolvido. No entanto,
74
Ver mais em www.vitoria.es.gov.br.
há uma semelhança entre a Subcoordenadoria da gestão 2000/2004 e a GRJ da
gestão 2004/2008, no que tange ao enfoque dados nos projetos e nos objetivos a
serem cumpridos. Dessa forma, pode-se dizer que surgiram dois espaços para se
discutir política de juventude na PMV que é a GPSJ e a GRJ, porém apenas um
espaço inovou no que se refere ao objetivo e a própria forma de atuação, se
comparada à gestão anterior. Para melhor compreensão seguiremos tratando as
visões da própria juventude da capital sobre política no município, cultura, demanda,
entre outros aspectos.
3.2.5 - JUVENTUDE: CONCEPÇÕES E DESAFIOS
Mediante entrevistas com os jovens inseridos em movimentos musicais pôde-se
detectar alguns problemas gerais da juventude brasileira. Ricas foram as análises e
experiências apresentadas pelos jovens, a qual tentaremos reproduzir aqui.
Um dos problemas identificado por vários jovens foi a violência. Um dos
entrevistados ao ser perguntado sobre os principais problemas da juventude hoje,
identifica a violência. Ele analisa o tema da seguinte forma:
Eu acho que a culpa disso é a elite, a elite intelectual, que são os empresários, os
políticos, os donos de grandes empresas, donos de mídia, porque eles têm, assim,
antes do Brasil ser república eles tinham todo o formato de como o Brasil deveria
ser, que no caso era todo voltado para a Europa, o sistema brasileiro é todo voltado
ao sistema europeu e inclusive a gente já foi Estados Unidos no Brasil. Eu acho que
essa exclusão geral, tanto na educação, cultura, lazer, saúde, saneamento básico.
Isso aí é o que mais dificulta a inclusão social dos jovens, Por exemplo, no meu
bairro, eu vejo pessoas, crianças de doze anos matando, vendendo droga, querendo
derrubar o dono da boca para tomar o lugar dele. Eu sento e converso com eles
para entender o que eles sentem, por que eles estão com aquela energia negativa
junto com eles. É muito simples, exclusão social de tudo, de tudo. Até de ter um pai,
uma mãe. De acordar de manhã e tomar um café, de comer um pão. Eu acho que
isso aí dificulta muito, você chegar num gueto como esse e falar "vamos fazer uma
orquestra de tambores", ou então "vamos fazer um documentário da vida de vocês",
é muito difícil, eles vão olhar, assim, e vão rir, rir, porque eles não têm essa
concepção de cultura, não têm (Jovem 07).
Outro jovem identifica na mesma perspectiva do jovem 07, que a sociedade
brasileira é desigual e fruto do capitalismo.
"Pô" tem muita gente passando fome, que não tem onde morar, "pô" tipo assim, é
um país capitalista, beneficia poucos, é uma frase que todo mundo sabe, beneficia
poucos e prejudica muitos. Uma criança morrer de fome num país rico, tipo assim,
que tem condições de plantar, quantas e quantas vezes mais que o número de
pessoas, é revoltante [...]. É difícil falar, também não pode se justificar totalmente o
Estado. Realmente é muito difícil administrar. Só no Brasil são mais ou menos 180
milhões de pessoas, é muita gente, é muito difícil administrar. Mas tipo, lógico, tem
corrupção? Tem. Tem como melhorar a administração? Tem, mas é algo difícil
também, muito difícil (Jovem 05).
Um jovem exemplifica a relação entre violência, juventude e drogas vivenciada na
periferia de São Paulo:
Eu passei um tempo em São Paulo, por exemplo, e quem comanda o morro são
moleques de 16,17 anos, você não acredita. Pega as buchas assim... e coloca tudo
em cima da cama, na frente da mãe, separa tudo, assim. Assim, tipo, você está
fazendo um som e nego passa, trepado e tudo moleque, que comanda assim. Essa
coisa da exclusão social, né cara, a diferença mesmo, "pô" vê um cara mais
arrumadinho na rua assim, já fala "playboy", "playboy". Rola mesmo esse negócio
assim (Jovem 06).
Já na periferia de Vitória, o Jovem 07 relata um acontecimento que retrata como a
questão das drogas e da violência está presente na realidade da periferia se
tornando um fato comum entre eles.
Teve um que me ofereceu cocaína, assim, de uns 16 anos, assim. Estava com um
papelote que tinha ganhado de um traficante do bairro. E por eu não usar ele achou
estranho: "pô" você não usa? Eu não aceitei, falei que não usava [...]. Aí teve um
outro rapaz que perguntou se eu já tinha atirado em alguém. Aí se você nunca atirou
em ninguém, ou não anda armado você é "um comédia", um otário. Para um bairro
chegar a esse ponto, eu acho que há uma máquina muito grande por trás,
maquinado para que eles continuem naquela vida, sustentando a vida desses que
estão aqui manipulando eles (Jovem 07).
Um outro jovem analisa que o contexto social baseado no consumismo acaba
provocando a situação de violência, relação com a prática de delitos e com as
drogas:
Esse lance de querer ter... por valores nessa sociedade, eu acredito que deve ter
uma coisa, assim, maior...Porque, "pô" é errado roubar, é fora da lei, todo mundo
sabe, mas a vontade dele ter, por exemplo, um tênis , cordão de prata, é maior que
isso, entendeu? Tanto é que ele vai lá e rouba. Tanto é que para ele ter dinheiro, ele
sabe que vender droga, é "pô" assim, ilegal, tanto é que tem polícia atrás dele, mas
como ele vai ter dinheiro para conseguir o que ele quer? Vender droga! {...] Se você
vê um cara com um tênis de uma marca boa, o cara, tipo, uma pessoa pobre, não
tem dinheiro nem para comer direito, aí vê o cara com um tênis, ali assim, ele sabe
que ele não pode ter, é uma distância enorme para ele poder comprar, isso estimula,
incita a violência. "Pô", eu queria ter, como eu vou ter, como? (Jovem 05).
Outro jovem analisa a mídia como um responsável pelo consumismo presente na
sociedade capitalista:
Eu acho que a mídia interfere, no lance de se consumir também. Por exemplo, a
mídia coloca produtos que a maioria dos brasileiros nunca vai ter condições. A
maioria nunca tem condições de comprar o que a mídia expõe. Desde criança até os
últimos dias da vida a mídia tem aquele produto para vender, mostrar para você, as
vezes você nem precisa daquilo, mas a mídia está ali dizendo que você precisa. Eu
acho que isso atrapalha muito. Essa mídia errada. Eu acho que mídia é um setor
público para ser usado pra comunidade, a favor da comunidade [...]. Ela se tornou
um objeto de manipulação, por exemplo, uma propaganda de um carro de 50 mil
reais, na mídia, um tênis de 400, 500 reais. Pra quem será que eles estão
mostrando isso? Num país que a toda hora está mostrando São Paulo, Rio de
Janeiro explodindo, Espírito Santo explodindo, aí eles continuam mostrando esse
espírito de consumismo, porque não faz uma propaganda positiva, algo positivo
(Jovem 07).
A fala abaixo representa um sentimento dos jovens perante a sociedade do
consumo:
A gente não é mais humano, nós somos consumidores (Jovem 07).
Pode-se notar, então, que os jovens entrevistados apresentam uma análise crítica
da realidade na qual estão inseridos, essa conclusão pode ser inferida pelos
depoimentos acima, bem como os demais que expressam aqui sua experiência de
vida.
O jovem enfoca a importância do conhecimento da realidade social e como a mídia
pode ser um espaço de manipulação, mas também um canal de informação sobre a
realidade:
Eu acho essencial isso, assim, "pô", você estudar e saber, tipo assim, interpretar o
que está acontecendo no mundo para não ser manipulado, porque a mídia manipula
mesmo, tipo assim, ela esconde a realidade, assim tem até uns programas
interessantes que fogem a essa regra, por exemplo tem o da, esqueci o nome
dela..., a Regina Casé, ela mostra a periferia, mostra as condições, que nem aquele
MC Marcinho, mostra... tipo, como é um show dele, como ele organiza, como ele
está divulgando. Isso é legal, está mostrando a periferia, mas fora isso, parece que
está tudo bem, mas não está tudo bem (Jovem 05).
Dois jovens analisam a relação entre a inserção na prática de venda de drogas e
sua relação com a família, na medida em que essa se torna também para a família
uma forma de remuneração, de aquisição de renda:
Por isso que as mães não falam nada, porque é o sustento da casa (Jovem 06).
É uma forma de sustentar a casa também, já que a renda delas é menor, assim, por
ser mulher também, e por ser difícil conseguir um emprego que remunere bem
(Jovem 05).
Dentro da realidade social analisada pelos jovens, a família surge como um dos
desafios cotidianos das relações sociais concretas:
O que eu tenho visto na minha comunidade mesmo, a maior necessidade é de uma
família concreta, que não tem uma família, o que mais falta na periferia é família. A
maioria não tem pai, não tem mãe, ou não conheceu. A estrutura familiar antes de
tudo, o que está mais faltando (Jovem 07).
Assim, as configurações familiares contemporâneas são percebidas na sua
negatividade expressando a necessidade de um outro pensar sobre as relações
familiares.
Existem outras questões que os jovens expõem como fatos que ocorrem no dia a dia
da periferia e que acabam se tornando um problema. Eles relatam a questão da
ação dos policiais e da situação da segurança pública.
Dando exemplo de outros estados, o Jovem 05 coloca sua opinião:
Eu acho que tipo assim, [...]. Por exemplo, no Rio de Janeiro, São Paulo, a polícia é
muito bem treinada assim, mas muitas pessoas aderem ao crime... tipo assim, eles
vão, sobem o morro, fazem uma operação lá, mataram três pessoas. Mas quantas
pessoas estão querendo entrar no mudo do crime? Lá, mataram três no dia, mas
tem muito mais. A pessoa, é fato, ganha mais dinheiro no mundo do crime, ganha
mais, bem mais, se você procura um emprego normal, legal, entre as normas
constitucionais,[...] vai ganhar um salário mínimo, no crime não, você vai ganhar
R$1000,00, R$1500,00 dependendo do que você fizer.[...] A polícia, em muitas
regiões é boa, mas tem muita gente querendo, tem muita gente no crime, é muito
difícil controlar,[...] ser polícia é difícil porque,[...] eles têm famílias, eles temem por
isso. Os bandidos não, se eles morrerem, é claro que um vai sentir falta do outro
assim, mas são substituíveis, porque lá é uma pessoa a mais que está atirando. [...].
Praticamente todo dia tem que subir para fazer uma operação, já o bandido não, [...]
eles falavam que ficavam felizes "nossa consegui", mataram um policial, é difícil,
falar de segurança pública é difícil, "pô", você pega o exemplo de São Paulo,
semana passada, domingo, dia das mães, foram praticamente todas as cadeias que
se rebelaram. Como que pode isso? Que segurança é essa, cara? Tipo assim, eles
estão presos e eles conseguiram se comunicar para todo mundo fazer uma rebelião
em massa (Jovem 05).
Especificamente de Vitória, os jovens colocam como os policiais agem. Ao contrário
da função que seria trazer segurança para a população, muitas vezes, os policiais
fazem exatamente o contrário, segundo os jovens.
Eu acho que os policiais [...] não têm um treinamento adequado para poder enfrentar
os bandidos, porque realmente os bandidos são muito bem treinados e eles, assim,
não tem nada para perder, no mundo do crime [...] Eu acho que essa violência que
eles transmitem fora, eles pegam dentro do quartel, seus superiores, passam para
eles [...]. Eles também são vítimas, infelizmente eles são vítimas, porque a
segurança nacional é falida. Porque num país onde se usa o próprio exército, que é
para lutar contra força exterior, coloca o exército para lutar contra os próprios
brasileiros, eu acho que isso é muito triste para segurança nacional. Em Vitória, eu
já vi policiais recebendo dinheiro de morros de Vitória, de traficantes para poder não
prender os caras [...] Assim, você ver, em plena luz do dia um policial negociando
com bandido, na frente assim de qualquer um (Jovem 07).
Você está em sua casa e do nada vem polícia e começa um tiroteio, por isso que eu
falo, a segurança pública não é eficaz, é uma coisa muito difícil de se controlar
também, aí, "pô", como a pessoa vai se sentir segura se está lá na casa dela, está
assistindo jogo de futebol e ai “Tuf Tuf” começa a atirar, todo mundo abaixa, tem
medo de sair para rua, porque tem bandido, isso é segurança para a periferia? [...]
Tem gente que tem mais medo de policial do que de bandido (Jovem 05).
Na periferia, a polícia pode ser o herói ou o bandido, policial na periferia é aquele
que sempre está matando os bandidos e até vira candidato a político e tal, a política
dele é acabar com os bandidos do bairro. [...] As pessoas tem medo, mas se eles
forem para lá, tipo assim, para fazer uma varredura, eles viram heróis, candidatamse a deputado estadual ou federal e eles ganham. Só que infelizmente se eles forem
chegar na periferia como anjinho, como santo, até os bandidos matam, a própria
comunidade, até jogam pedra na viatura. [...] Eu acho que se tanto a população e a
polícia não se respeitar, há esse desequilíbrio (Jovem 07).
O Jovem 07 enfoca a questão relacionando com a política:
Se o ministério da justiça investir mesmo em segurança pública, investir mesmo, [...]
não investem, o que eles fazem é tornar a polícia mais violenta, isso é investir?
Deixar a polícia mais violenta. Se entrar um partido de direita no ano que vem vocês
vão ver o que é violência policial. Se entrar realmente um partido de extrema direita
vai ser um novo golpe militar, vai botar a polícia mais armada, realmente perigosa,
mais violenta, porque qual a culpa disso? O bandido. O bandido está descendo o
morro, assaltando (Jovem 07).
Um outro jovem faz um contraste entre a tradicional revista (o popular "baculejo")
feita pelos policiais em Vitória e em São Paulo:
Aqui em Vitória [...], até as vezes que eu tomei "uns baculejos" nas ruas é normal,
procedimento da polícia. Todas às vezes, depende do seu verbo né cara, você vai
falar com o cara normal. Mostra seus documentos, normal, eu nunca fui maltratado
assim pela polícia. Mesmo com o cabelo enrolado, barba, tatuado. Mas fugindo de
Vitória e indo lá para São Paulo, lá na favela, a população tinha medo da rota. Tipo,
a rota subia o morro assim, nego ficava "bolado", porque a rota estava no morro. Se
tivesse sem documento, por exemplo, você pode estar na esquina da sua casa. Diz
a lenda que, nunca vi, eles esfregam até a cara no muro, se não for muito com sua
cara. Então rola assim uma insegurança (Jovem 06).
Essas questões estão presentes no dia a dia dos jovens, demarcando suas visões
de mundo e mostrando a necessidade de se ter discussões e ações efetivas acerca
do tema.
Os jovens avaliam alguns projetos do governo federal realizado nos municípios. Um
deles comenta a respeito do Agente Jovem. Para ele, o projeto é uma boa iniciativa.
Eu acho que o governo tem que ter uma noção que, independente se mora na
periferia, ou bairro nobre, tem que ver que aquele cidadão que paga imposto, que
tem necessidades como cidadão, deveria ver se ele está ali realmente botando a
educação para essas pessoas, independente da igualdade que cada um recebe, ele
tem que ter uma noção de que são seres humanos que eles estão representando e
que futuramente serão essas pessoas que estarão administrando o país. Se o
governo não pensar dessa forma vai ficar difícil. Independente do setor (Jovem 07).
O que esse jovem traz, nos remete ao que foi discutido no capítulo 1, quando
expomos que as políticas públicas, em sua maioria, são focalizadas e rigidamente
restritas a uma parcela da população, conforme a idade, a renda familiar também. O
que se verifica é a exclusão, muitas vezes, de uma grande parcela da população
que não se encaixa nos parâmetros, mas que dependem desses projetos. Pois
assim como diz Spósito e Carrano (2003, p.05), "se tomadas exclusivamente pela
idade cronológica [...], parte das políticas acabam por excluir um conjunto de
indivíduos que [...] permanecem no campo possível das ações".
Uma outra questão lembrada pelos jovens é a política de cotas. Entre os jovens, as
opiniões são diversas.
Acho que esse lance de cotas é um racismo. Eu sou a favor da cota, mas não da
maneira que estão mostrando (Jovem 07).
Eles colocam que o ensino é tão fraco, então para escola pública, mas ao negro
não. Tem a mesma capacidade. Embora seja um povo que sofreu mesmo [...], foi
escravizado, merece, merece, mas... (Jovem 06).
Outro jovem expõe sua opinião do que deveria ser feito para funcionar a política de
cotas.
Eu acho que as cotas podem se dar de duas formas: ou por renda, ou por escola
pública, por exemplo, uma coisa é mais ou menos parecida com a outra, mas tipo
assim, por renda você tem como fraudar, pegar o dinheiro que você ganha, por
exemplo, um profissional autônomo, dá para ele registrar que ele ganha menos e o
filho dele vai ser beneficiado. É inegável, hoje, que o ensino público é inferior ao
privado, então dar cotas é uma forma da pessoa escola pública conseguir entrar na
universidade. O que eu percebi na prova desse ano da UFES que eu fiz, eu percebi
que ela não é tão difícil [...]. Uma pessoa de escola pública dava para responder se
fosse engajado politicamente, eu acho que o governo está olhando mais esse lado
agora, não está deixando tudo para a gente, tanto é que se está discutindo isso. As
cotas, tem muita gente contra, é óbvio, mas a maioria das pessoas que são contra
não pertencem a parte beneficiada, porque vai dificultar para eles, mas como um
estudante de escola pública vai entrar na universidade, por exemplo, no curso de
engenharia? Medicina? É um curso muito difícil e se passar, e o ensino público do
jeito que está [...], a pessoa que entra num curso desses é uma pessoa muito
esforçada e tem alguém ajudando, tem uma pessoa na família que é o alicerce dela
(Jovem 05).
Um outro projeto é o ProUni (Programa Universidade pra Todos). Da mesma forma
que a política de cotas, os jovens se dividem em contra ou a favor dessa política.
Eu vejo isso como um avanço [...]. De facilitar a entrada de quem não tem condições
de estar na faculdade privada, até mesmo tempo de estar aqui na UFES. É iniciativa
imediata, eu acho. (Jovem 07)
Eu não sei como funciona o ProUni [...] Se aproveitasse mais a universidade, por
exemplo, criando mais prédios, aproveitando mais horários, os cursos que são só de
manhã, criar a tarde e a noite, contratar mais professores, eu acho que daria mais
resultado. Com o dinheiro que se investe você poderia dar oportunidades a mais
alunos. Mas é uma coisa que está ajudando pessoas de baixa renda também, "pô"
tenho amigos que conseguiram entrar na faculdade por esse modo. Por exemplo,
medicina, que é um curso muito caro, acho que é 100%. Eu não sei quantos por
centos direito assim. É um projeto bom, mas tem como fazer um outro melhor [...].
Por que, tipo, se pensar antes, dificilmente uma pessoa poderia entrar numa
universidade, o pobre. Porque não teria condições de pagar, só se tivesse alguns
programas, tem o FIES75 [...], tem programas que deixam você pagar depois que
terminar o curso, só por meio disso. Mas fora isso, como você vai entrar sendo que a
renda familiar é baixa, como você vai diminuí-la mais ainda. Tem que pagar, luz,
telefone [...] tem que comprar comida, a despesa é alta, aumentar com faculdade,
não tem só gasto com a mensalidade, tem que comprar livro, tem que se deslocar,
comprar vale transporte. É uma forma imediata de solucionar, solucionar não,
amenizar, há projetos melhores (Jovem 05).
Outro projeto lembrado, que também é federal, é o Escola Aberta. Todos disseram
conhecer e o jovem 06 ressalta a experiência que teve nesse projeto em outro
estado:
75
Programa de Financiamento Estudantil
Logo que surgiu esse projeto, nós estávamos em São Paulo, a gente pegou o
trabalho. Começo foi lá em São Paulo mesmo, a gente colocou para funcionar lá e ia
com a banda no sábado, a gente fazia todo sábado lá, ensinava os moleques a
pintar, eu faço umas artes plásticas, mesmo não sendo formado em nada, faço
umas doideiras, e ficávamos amarradões o dia todo na escola ensinando, tocando,
jogando basquete.
O Jovem 05 também relata uma experiência que teve nesse projeto realizado em
Vitória:
O Escola Aberta estimula o jovem a ir à escola no sábado e participar, por exemplo,
a gente já fez um show nesse projeto, aí, "pô", dá bastante gente, assim, fica
interagindo, chamaram várias bandas, que não são profissionais, mas que treinam e
estão mostrando o trabalho deles.
Fazendo uma correlação com as respostas que dizem respeito às demandas de
juventude apresentada pelos gestores, podemos concluir que, na visão dos próprios
jovens as demandas são similares às apresentadas pela gestão 2004/2008,
A educação para qualquer um tem que está acima de tudo. Educação, mas
educação mesmo. É a criança ter vontade de ir para escola estudar [...] (Jovem 07).
Eu penso que muita cultura, teatro, praça, coisas assim, desse tipo, muita cultura
mesmo. Não se vê mais dança, essas coisas assim. Acho que falta cultura para os
jovens (Jovem 06).
Falta cultura, falta, por exemplo, estar promovendo esportes, estar tipo, fazendo
teatro, coisas assim (Jovem 05).
Na fala dos jovens aparece a questão da educação, da cultura, do lazer, do esporte,
mas quando nós falamos que existe no município um espaço para se elaborar
políticas de juventude, desde de 2002, capaz de tentar suprir essas demandas, parte
dos jovens disseram não conhecer.
Um dado interessante é que os jovens entrevistados são envolvidos com
movimentos musicais, sejam bandas, programas de rádio, entre outros. Ou seja,
estão diretamente ligados a atividades culturais no município de Vitória e os projetos
realizados tanto pela Subcoordenadoria de Valorização da Juventude quanto pela
GPSJ e pela GRJ, em sua maioria, são projetos ligados à cultura:
GRÁFICO 2
Nº de projetos para juventude feitos pela
GPSJ ou intersetorialmente que envolvem
cultura (2004/2008)
GRÁFICO 3
Nº de projetos para Juventude feitos pela
GRJ ou intersetorialmente que envolvem
cultura (2004/2008)
20,0%
46,20%
53,80%
80,0%
Cultura
Outras temáticas
Cultura
Outras temáticas
GRÁFICO 4
Nº de projetos para Juventude feitos pela
Subcoordenadoria de Valorização da Juventude
que envolvem cultura (2000/2004)
25,0%
75,0%
Cultura
Outras temáticas
Fonte: Gráficos elaborados baseados nas entrevistas com os gestores
De acordo com as entrevistas feitas com os jovens inseridos em movimentos
culturais ligados à música, pode-se constatar que, dentre os sete entrevistados, três
desconhecem esses espaços de formulação de políticas públicas para juventude no
poder público.
Mesmo sendo a cultura o enfoque mais dado aos projetos destinados às juventudes,
na avaliação de alguns entrevistados precisa melhorar essa relação entre poder
público e a cultura.
Há muito descaso, a gente faz tudo mais pela música. [...] Não tem retorno
financeiro, infelizmente não tem [...] Eu acho esse estado é muito rico, por estar
posicionado perto do mar e perto de grandes metrópoles, como Rio de Janeiro, São
Paulo, Minas Gerais, regiões do Nordeste como Bahia também, acho que isso
possibilita muito o setor cultural do nosso estado crescer através desses estados
que estão próximos à gente. Eu acho que o que é mais satisfatório é você transmitir
toda cultura do Brasil através do Espírito Santo, mostrar algo diferente, novo. E o
Espírito Santo tem essa capacidade pra mostrar através da gente que está aqui
lutando (Jovem 07).
É um descaso pelo que a música pode proporcionar pra juventude, por exemplo,
projetos de inclusão social, assim, são importantíssimos, estar estimulando o jovem
a fazer uma coisa diferente. É um descaso você se identificar e não poder mostrar o
seu trabalho, assim, várias vezes. É mais por prazer mesmo, não é nem assim, por
benefício financeiro "ah, você é músico porque ganha muito dinheiro", não tem essa
idéia aqui no estado, pela conjuntura. (Jovem 05).
Eu vejo que é muito precário, entendeu, muito elitizado, muita panelinha, a cultura
não chega aonde ela tem que chegar na verdade (Jovem 01).
Olha, eu vejo poucos incentivos da prefeitura, mas não para, pros gêneros, pro rock,
pro reggae, eu vejo alguns poucos eventos que abrangem todo mundo, às vezes
eles fazem um show, sei lá, antigamente tinha muitos shows lá na praia de Camburi
que ia banda de reggae, de rock, grupos de hip hop, mas não tinha nada específico
pro rock, acho que o rock é meio mal visto ainda, acho que sim, principalmente o
pessoal do hard core, do punk rock, o pessoal vê muito como, “ah são doidões, são
arruaceiros, são anarquistas”, ah sei lá, tem muito preconceito ainda, tem uma visão
meio, sei lá, deturpada ainda (Jovem 03).
O jovem 03 complementa dizendo que há pouco espaço para as bandas de rock na
capital no Espírito Santo.
[...] pouquíssimas bandas têm um certo espaço pra mostrar o seu trabalho,
principalmente em Vitória, porque não tem muito espaço pra show , né [...] Aqui em
Vitória não tem, não tem apoio de ninguém. Quando tem show são amigos que se
juntam e tiram dinheiro do próprio bolso pra organizar e, muitas vezes, tomam
prejuízo e continuam fazendo show. Acho que o pouco que tem hoje é graças às
pessoas que continuam investindo e querendo manter essa cena de rock, mas ainda
é muito pouco, acho que deveria ter mais espaço, a prefeitura, não sei, talvez
poderia incentivar mais, acho que seria legal, bacana.
Alguns jovens colocam seus pontos de vista com relação ao trabalho realizado para
juventude em Vitória.
Pela quantidade de recursos que o país tem, eu acho que é uma iniciativa meio que,
mesmo sendo fraca tem uma intenção boa. Eu acho ainda muito fraco, mas é uma
iniciativa. Em geral, pela gravidade do problema é muito fraco. Porque, tipo assim,
incluir essas crianças de comunidades carentes dentro do projeto é uma coisa, eles
virão, mas fazer com que eles continuem num projeto que é o mais difícil. Segurar o
jovem nesses projetos é uma problemática que deveria ser mais bem trabalhada
(Jovem 07).
Falta cultura, projetos melhores [...] já das bandas, eu acho que falta mesmo um
apoio, assim, deveriam ser feito mais movimentos culturais [...] realmente um
movimento capixaba, acho que tem muita coisa ainda [...] (Jovem 06).
Eu avalio de forma positiva. Tem muita gente trabalhando, pra ver se conserta a
exclusão social através da cultura, acredito que tem muitos projetos importantes. [...]
(Jovem 07).
Olha, é o seguinte, agora está tendo uma reunião, [...] na prefeitura, no
Departamento de Juventude, [...] a galera está vendo isso aí, estão fazendo um
Centro de Referência para Juventude (CRJ), [...] a galera senta lá, bola algumas leis
em prol do jovem [...] Achei boa a idéia, mas a discussão está começando a surgir
agora [...] Tem umas discussões boas, [...] debate estava bom, algumas coisas
sobre público, universidade pública, do espaço de cotas, assim, eu fui lá para
representar o funk, vamos ver o que vai ser daqui para frente agora, mas fora esse
projeto do CRJ, o que tem assim na PMV faz alguns eventos [...]. O que eu participei
da PMV foi esse do Graffitaids, assim, mas sem ganhar nada, tipo voluntário,
divulgação. Mas só que eu acho assim, quando tem esses trabalhos, esses projetos
das prefeituras, esses eventos, tinham que se buscar de alguma forma, a galera que
está trabalhando ali, pelo menos ajuda de custo, alguma coisa, porque isso é
incentivar o trabalho não remunerado e a gente não quer isso. Isso é incentivar de
alguma forma, então o voluntariado (Jovem 02).
Nesse momento, o jovem 02 toca em um assunto importante, que é a remuneração.
Ele aborda que já trabalhou algumas vezes na PMV, em eventos, e que não foi
remunerado. Portanto, pode-se discutir até aonde esses projetos vinculados à PMV
querem ou pretendem realmente emancipar a juventude.
Existe também uma relação estabelecida entre música como trabalho, que muitas
vezes deixa de existir. Sendo a música encarada só como diversão, como lazer.
Assim, os jovens afirmam que, apesar de ser também um lazer, a música perpassa e
tem relação com a condição financeira, muitos músicos deixam sua carreira por não
ter incentivo financeiro, não receberem por seu trabalho ou receberem muito mal por
ele.
Com relação a isso, o jovem 02, colabora mais uma vez dizendo como é
complicado pra ele desenvolver trabalhos voluntários.
[...] você vai trabalhar, chega um momento que você quer fazer as coisas você faz
por prazer, por lazer, por hobby, vai cantar, se divertir, só que chega um tempo que
você desgasta e perde noite de sono, vai para longe, fica cansado e já que está te
fazendo isso, você tem que receber por isso, para você pagar suas contas. Então
você vive disso, se você quer viver intensamente, agente tem que estudar, que com
certeza é fundamental e trabalhar no que a gente gosta porque senão mais a frente
a gente vai ser infeliz e não vai saber o porquê.
Com relação à mídia as opiniões divergem, alguns grupos têm espaço na mídia
capixaba outros não. O jovem 07 diz que o reggae tem contribuição e incentivo da
mídia.
[...] a mídia que tem aqui, não tem em outros estados. O meio de divulgação que
tem aqui, a facilidade que se tem, não se vê em outros estados, não. Inclusive, em
São Paulo tem que pagar pra rolar a música e aqui não tem isso. Inclusive tem
várias pessoas que me perguntam se a gente paga para poder passar nossas
músicas no rádio, como rola com freqüência. Isso aí é o que mais fortalece as
bandas, saber que tem mídia para poder mostrar o trabalho.
Já o funk capixaba, segundo o jovem 02, não tem apoio da mídia, das rádios.
Segundo o entrevistado, o que é valorizado aqui é o funk carioca.
[...] o cara do Rio vem e é digerido muito mais fácil, o cara faz o baile aí, esse que
canta Bolete "quer bolete", vem aí faz três shows e vai embora aí com 60 mil. [...].
Esses caras do Rio não fazem esse sucesso no Rio, só aqui que fazem, eles vêm
pra cá e estoura, "pô, lá em Vitória é que é a mina". Aqui a rádio não interessa,
principalmente, o principal apoio que a gente poderia ter para ganhar alguma coisa
era rádio que poderia ajudar, mas não [...].
Com relação ao apoio que os outros estados dão aos músicos locais, o jovem 04 diz
sua opinião, frisando que muitos músicos capixabas acabam concorrendo e
ganhando prêmios em outros estados.
O apoio público é o seguinte, [...] a lei Chico Prego né, muitos nem sabe quem foi
Chico Prego, mas a lei já prestigiou dois trabalhos capixabas, até dos Suspeitos na
Mira para fazer uma nova tiragem também teve a Lei Rubem Braga, que até que
enfim que eles aceitaram um trabalho de um grupo aqui. Vários trabalhos foram
protocolados lá para conseguir verba.
O jovem 01 também aborda a questão do incentivo, via leis, para cultura capixaba.
A gente vê que nem a iniciativa privada nem a pública [...] não apóia muito eventos
culturais, até porque não existe uma legislação que incentive o apoio da empresa
privada. Por exemplo, no Rio de Janeiro, qualquer empresa que apóie um evento
cultural tem desconto no ICMS, direto, entendeu. Então, poderiam ser criadas,
ferramentas para que esse apoio cultural fosse muito mais amplo aqui no estado.
Engraçado, o seguinte, o ES é um estado pequeno que tem muita diversidade
cultural, você vê que a gente tem representante em todos os gêneros musicais e
com qualidade e com quantidade.
Em tom de ironia, o jovem 04, diz o que pensa a respeito do dinheiro que é gasto
com cultura no estado.
É melhor a gente promover Vital, cultura de outros estados no ES, pagar corrida de
carro que gasta 2, 3 milhões por dois dias de corrida automobilística. Não sei pra
quê. Custo altíssimo. Poderia fazer ginásio, centros culturais, com esse dinheiro
todo. Quanto neguinho que ia largar a situação difícil, mas não, para quê né?
Com relação à falta de apoio, o jovem 01 comenta, completando como está se
dando a organização do reggae em Vitória.
Não tivemos apoio do poder público. Na verdade a gente está se organizando, de
forma efetiva e legítima pra gente correr atrás disso aí, não só do poder público, mas
também de empresas privadas, porque o reggae sempre foi muito criminalizado né?
Sempre foi visto como uma coisa meio suja né cara, porque até o visual rastafari
incomoda as pessoas [...].
O jovem 01, continua, dizendo que já fez eventos importantes no Espírito Santo e
que não recebia apoio governamental.
Eu já fiz eventos, já levei pé-no-lixo, Manimal, Casaca, Java Roots, Comando Kaia,
Salvação, e outras bandas, pro primeiro festival de música capixaba em São
Mateus, chamado “Ilha Beach”, junto com Marcelinho que é um produtor local, lá de
São Mateus. A gente fez esse festival, que misturou rock, reggae, música eletrônica,
tudo no mesmo ambiente, sem apoio de ninguém.
Quanto a isso alguns jovens propõem soluções. Segundo o jovem 06, o que deve
ser feito para melhorar o quadro é:
Misturar mesmo todas as culturas em todos os lugares, massificar a mensagem, o
que é, o projeto é sobre o quê, vamos falar disso, seja de rock, seja teatro, seja
poesia, seja o que for, massificar mesmo.
Outro jovem usa um exemplo do que estão fazendo em outros estados e defende a
idéia para ser implantado aqui.
No Rio de Janeiro eles estão trabalhando muito em cima de levar para os morros,
periferias o lance de produzir um curta metragem, a partir daí podem ampliar outras
áreas, no setor cultural, pode ser um balet, uma dança afro, uma aula de história
musical, curta metragem, acho que o ES pode começar a trabalhar em cima disso aí
também. Para poder realmente tirar e dar motivo de sair daquele mundo que eles
estão vivendo. Se não trabalhar em cima de vários fatores fica difícil. [...]. Incluir a
criança na música clássica daria uma visão mais forte para o indivíduo, ela envolve
um meio de estudo onde o aluno [...] vai ficar ali, voltado para aquilo ali, ou seja, a
partir do momento que ele está se desenvolvendo com a música clássica, o
pensamento, a conduta dele vai melhorar, porque se realmente ele se identificar
com a música clássica, o projeto fizer com que ele se identifique, ele vai ficar porque
ele sabe que se ele não se dedicar, não vai conseguir [...]. Eu vi isso em São Paulo,
eles fizeram num acampamento dos sem-terra. Fizeram uma orquestra com pessoas
que moram lá no interior, imagina com pessoas que moram aqui? [...]. Isso não é
utópico é construir uma sociedade mais igualitária. Eu moro no gueto, por isso que
estou falando isso, não é por que uma pessoa mora no gueto que ela não pode
escutar música clássica (Jovem 07).
Alguns jovens complementam, dizendo concretamente, o que acham que poderia
contribuir com a cultura do município de Vitória.
Eu penso num projeto na Praia de Camburi, por exemplo, com um palco montado ali
permanente, um palco montado e sempre no final da tarde assim, uma banda ou
outra estar lá fazendo um som, para atrair o pessoal de Vitória lá na Praia de
Camburi que já está acabada, então a gente tem que fazer alguma coisa para
levantar um pouquinho. Já seria um bom incentivo: um palco exclusivo para as
bandas capixabas, um palco grande, por exemplo [...] (Jovem 06).
Acho que incentivo aos músicos, quem está envolvido com a arte, poder sair só da
música. Acho que falta esse incentivo também. Por exemplo, eu queria fazer uma
faculdade de música, ou um curso de literatura, filosofia, filmagem, sei lá, alguma
coisa assim que não seja só música [...]. As pessoas querem, mas não têm
oportunidade, se alguém der acesso e essa oportunidade seria outra sociedade que
estaríamos construindo. Isso não seria utopia. [...]. É aproximar, quem está em alto
risco, aproximar para que elas tenham acesso, a questão maior é essa fazer com
que elas tenham acesso (Jovem 07).
Fazendo esses projetos mais específicos para trabalhar a juventude, por exemplo,
seria mais fácil lidar assim. Se você trabalha envolvendo tudo, se você quer
trabalhar a juventude, mas não só a juventude, mas, por exemplo, você quer
trabalhar a juventude que quer ter futuro, quando se tornarem adultos vão estar
representando uma parte da sociedade importante, tratar todas as pessoas com
respeito e cuidar delas, de uma maneira específica quando se pode, por exemplo,
estimulando a cultura, estudos [...]. (Jovem 05).
[...] Da prefeitura estar estimulando shows na Praia de Camburi é uma idéia. Tentar
complementar é fazendo uma faculdade de música [...] (Jovem 05).
De acordo com os jovens faltam ações do poder público tentando incluir todas as
culturas e resgatando e revitalizando a cultura local. Concordam que o estado conta
com uma rica variedade de cultura e o que falta são incentivos por parte do poder
público.
De acordo com os jovens, as políticas devem buscar abranger a população jovem
em sua amplitude. O que há, na opinião deles, são muitas políticas que não
conseguiram, ainda, abarcar toda a juventude, apenas uma parcela.
As falas dos jovens reforçam muito a importância da cultura e da música como forma
de contribuição da sociabilidade, promover a cidadania frente a uma sociedade que
exclui grande parte da população.
A partir da análise das falas dos jovens, vê-se a necessidade de criar canais efetivos
de comunicação, que é um processo lento, porém percebe-se que há, na atual
gestão, um debate sobre o tema e que precisa ter os jovens como os verdadeiros
protagonistas desse debate. O que se percebe, também é um redimensionamento
claro nas ações de políticas voltadas à juventude no município, rompendo com a
visão anterior de que não era possível promover a participação efetiva da juventude.
O que nossa pesquisa mostra é que os jovens são capazes de ir muito além,
inclusive propondo ações e soluções para problemas e demandas da geração.
Percebe-se que há um canal de comunicação que pode ser potencializado pelo
poder público e, que, na atual gestão, nesse sentido, estão sendo pensados, porém
há a necessidade de definição desses canais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante das experiências vividas e dos dados coletados no presente trabalho é
possível concluir que, em se tratando da política de juventude em âmbito
nacional, é inegável o seu avanço, mesmo às vezes não tendo como articular
muito bem com os estados e municípios as ações a serem desenvolvidas. Mas
essa questão faz parte de uma relação macro, desencadeada pela rápida
descentralização das políticas desenvolvidas no Brasil, sem qualificação técnica
e orçamentária capaz de tal atribuição. Essa situação resulta numa certa
confusão entre as funções das três esferas de governos, não se tendo clareza do
papel a ser desenvolvido por cada uma na elaboração de uma política.
Esse avanço é observado na implementação do Plano Nacional de Juventude
(2004), na conquista do Conselho Nacional de Juventude (2005) e da Secretaria
Nacional de Juventude (2005), pois essas ações acabam por oferecer um apoio
aos
estados
e
municípios
na
implementação
dos
seus
instrumentos
democráticos.
Já em se tratando do âmbito local, o município de Vitória teve um avanço em
relação às políticas de juventude.
A gestão anterior que não enxergava a
participação da população como efetiva e legítima, e onde se tinha somente um
espaço de articulação das ações existentes no município, com um orçamento de
R$ 80.000, por ano. Já na atual gestão instaura-se como efetivo o orçamento de
3% para o OP da juventude, além de deliberar a participação efetiva dos jovens e
de disponibilizar dois espaços de articulação de política de juventude: um com
caráter de continuidade da gestão anterior, que seria mais de articulação das
ações e outro com uma preocupação mais real de implementação de programas
e projetos.
Apesar de existir um avanço na política de juventude do município de Vitória, ela
ainda não tem efetiva participação dos jovens, mesmo porque os próprios jovens
ainda não sabem que existe um espaço pra se discutir política de juventude no
município. São quatro anos de representação (em gestões diferentes) desse
espaço e ainda não se tem uma participação significativa que represente
realmente a vontade coletiva dos jovens moradores de Vitória.
Um fator importante a ser apontado é a questão da interlocução das ações
destinadas às juventudes com as demais áreas como educação, cultura, saúde,
enfim, a visão da juventude como um todo. Na Prefeitura de Vitória pôde ser visto
a preocupação com essa questão e até mesmo a tentativa de elaboração de
projetos intersetoriais.
Com relação às estratégias de participação e de elaboração das políticas no
município, foi observada uma certa preocupação, por parte dos gestores, de
superar a segmentação das políticas sociais focalizadas, como é o caso da
juventude. Isso é visto quando há articulação com as demais secretarias e então
a elaboração de projetos mais amplos, que envolvem a saúde, a educação, a
cultura e o esporte.
As ações das Gerências e da Subcoordenadoria de Valorização da Juventude,
em sua maioria, são ligadas à área da cultura, ressaltando como a
representatividade cultural é presente e importante no universo juvenil. No
entanto, a demanda dos jovens entrevistados continua sendo a cultura, ou seja,
os projetos desenvolvidos por esses espaços não estão ainda, abrangendo aos
jovens como um todo.
A juventude de Vitória tem um poder de organização muito grande. No decorrer
das entrevistas foi possível perceber, que mesmo diante das dificuldades e da
falta de apoio do poder público, muitas vezes, os jovens se organizam, fazem
shows, projetos e acabam disseminando a cultura capixaba por conta própria.
Assim, muitas vezes as ações se restringem aos programas federais executados
pelo município ou por ações que englobam os grupos que são organizados e que
têm acesso ao espaço de juventude do município, no caso da presente gestão
seria a Gerência de Promoção Social da Juventude e a Gerência de Relações
com a Juventude. Vimos na nossa pesquisa que, embora seja dada uma ênfase
e uma visibilidade maior ao hip hop pelo conteúdo político de suas letras e pelas
suas formas de organização, podemos dizer que todos os jovens aqui
entrevistados e participantes de outros movimentos musicais expressam opiniões
políticas e possuem, também, suas formas de organização. O hip hop, têm uma
ligação mais intrínseca com política, com o social, enfim, participam mais nas
questões municipais, isso é observado desde a gestão 2000/2004.
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ZALUAR, A. Cidadãos Não Vão ao Paraíso. São Paulo: Editora Escuta, 1994.
APÊNDICES
Apêndice I
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO DO PARTICIPANTE
O Sr.
, RG
,
domiciliado em
foi convidado (a) a participar de
pesquisa de caráter acadêmico, realizada por alunas do curso de Graduação em
Serviço Social da Universidade Federal do Espírito Santo. A pesquisa tem por
objetivo analisar as políticas públicas de juventude no município de Vitória no
período de 2002 a 2006, contextualizando as mudanças e continuidades e a
percepção dos jovens envolvidos nos grupos musicais.
A participação nesta pesquisa não proporcionará ao participante qualquer tipo de
compensação ou remuneração. A colaboração com a pesquisa é voluntária, estando
sempre resguardadas a privacidade e integridade social, moral física e psicológica.
A entrevista terá o áudio gravado em fita para ser transcrito e transformado em
documento a ser analisado pelo participante para verificar sua autenticidade. O
participante terá acesso aos dados a qualquer momento e as fitas da entrevista
serão destruídas ao final da pesquisa. É resguardado ao participante o direito de
desistir da participação desta pesquisa a qualquer momento e caso isso ocorra as
informações concedidas não serão utilizadas.
Os resultados da pesquisa deverão ser publicizados para os estudantes, assistentes
sociais e comunidade em geral. Na apresentação dos resultados, apenas serão
identificados os (as) participantes que o permitirem através de declaração.
Fabricia Pavesi Helmer
Hingridy Fassarella Caliari
Declaro que estou ciente dos objetivos desta pesquisa e em acordo com este termo,
concordo em participar da mesma.
Vitória, ______de _________de 2006
Fabrícia Pavesi Helmer: 3229-3352/8812-4679; e-mail: [email protected]
Hingridy Fassarella Caliari: 3340-0768/92542711; e-mail: [email protected]
Apêndice II
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE
A pesquisa tem por objetivo analisar as políticas públicas de juventude no município
de Vitória no período de 2002 a 2006, contextualizando as mudanças e
continuidades e a percepção dos jovens envolvidos nos grupos musicais.
A participação nesta pesquisa não proporcionará ao participante qualquer tipo de
compensação ou remuneração. A colaboração com a pesquisa é voluntária, estando
sempre resguardadas a privacidade e integridade social, moral física e psicológica.
A entrevista coletiva será filmada e terá o áudio gravado em fita para ser transcrito e
transformado em documento a ser analisado pelo participante para verificar sua
autenticidade. Os resultados da pesquisa deverão ser publicizados para os
estudantes, assistentes sociais e comunidade em geral.
Declaro que estou ciente dos objetivos desta pesquisa e em acordo com este termo,
concordo em participar da mesma.
Nome
Assinatura
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Vitória, ______de _________de 2006
Fabrícia Pavesi Helmer: 3229-3352/8812-4679; e-mail: [email protected]
Hingridy Fassarella Caliari: 3340-0768/9254-2711; e-mail: [email protected]
Apêndice III
DECLARAÇÃO
Eu
,portador do RG
, estando
ciente através de assinatura de consentimento livre e esclarecido, dos objetivos
desta pesquisa, declaro que concordo com minha identificação na elaboração da
mesma.
Vitória, ______de _________de 2006
Fabrícia Pavesi Helmer: 3229-3352/8812-4679; e-mail: [email protected]
Hingridy Fassarella Caliari: 3340-0768/92542711; e-mail: [email protected]
APÊNDICE IV
Roteiros de entrevistas

Roteiro de Entrevista Para Gestores (1)
1. Qual a concepção de juventude para você?
2. Quais são as demandas da juventude em Vitória?
3. Como foi o processo para se detectar essas demandas?
4. Quais os programas e projetos da PMV na área de Juventude?
5. Qual é o orçamento destinado à juventude?
6. Como é a relação entre os técnicos? Como é feito o planejamento das ações
e programas?
7. Os jovens participam do planejamento? Como?
8. Na sua opinião, qual é a maior dificuldade encontrada em termos de gestão
das políticas públicas de juventude?
9. Como a PMV investe na cultura destinada aos jovens do município?
10. Que tipos de programas existem nessa área?
11. No município está havendo alguma movimentação para a criação do conselho
de juventude?

Roteiro de Entrevista Para Gestores (2)
12. Qual a concepção de juventude para você?
13. Quais são as demandas da juventude em Vitória?
14. Como foi o processo para se detectar essas demandas?
15. Quais os programas e projetos da PMV na área de Juventude?
16. Qual é o orçamento destinado à juventude?
17. Como é a relação entre os técnicos? Como é feito o planejamento das ações
e programas?
18. Os jovens participam do planejamento? Como?
19. Na sua opinião, qual é a maior dificuldade encontrada em termos de gestão
das políticas públicas de juventude?
20. Como a PMV investe na cultura destinada aos jovens do município?
21. Que tipos de programas existem nessa área?
22. No município está havendo alguma movimentação para a criação do conselho
de juventude?
23. Como está sendo a articulação com o conselho e a secretaria Nacional de
juventude?
24. O que você acha do Plano Nacional de Juventude?

Roteiro de Entrevista para Gestores (3)
1. Qual a concepção de juventude para você?
2. Qual o perfil cultural da juventude de Vitória?
3. Quais tipos de grupos existem?
4. Os grupos são incorporados aos projetos?
5. Como a PMV investe na cultura destinada aos jovens do município?
6. Quais os projetos da secretaria para a juventude?

Roteiro para entrevista coletiva
1-
Qual a importância da música para você e para a sociedade?
2-
Quais são os maiores problemas da juventude hoje?
3-
Como são tratados os movimentos culturais no poder público?
4-
Como avaliam a política social para juventude no município de Vitória.

Roteiro de Entrevista (hip hop)
1. Como se formou o hip hop, o que surgiu primeiro entre os elementos? E
onde?
2. Como foi aqui no Brasil?
3. E no Espírito santo? Como foi o surgimento?
4. Quais os grupos de hip hop que existem em Vitória? Quem foi o pioneiro?
5. O movimento hip hop possui alguma relação com a secretaria de cultura, ou
poder público?
6. Como você avalia atualmente o movimento hip hop?
7. Qual a mensagem que o hip hop tenta transmitir?

Roteiro de Entrevista (funk)
8. Como se formou o funk?
9. Como foi aqui no Brasil?
10. E no Espírito santo? Como foi o surgimento?
11. Quais os grupos de funk que existem em Vitória? Quem foi o pioneiro?
12. O movimento funk possui alguma relação com a secretaria de cultura, ou
poder público?
13. Como você avalia atualmente o funk?
14. Qual a mensagem que o funk tenta transmitir?

Roteiro de Entrevista (Rock)
15. Como se formou o Rock?
16. Como foi aqui no Brasil?
17. E no Espírito santo? Como foi o surgimento?
18. Quais os grupos de rock que existem em Vitória?
19. O movimento rock possui alguma relação com a secretaria de cultura, ou
poder público?
20. Como você avalia atualmente o rock?
21. Qual a mensagem que o rock tenta transmitir?

Roteiro de Entrevista (Reggae)
22. Como se formou o movimento reggae?
23. Como foi aqui no Brasil?
24. E no Espírito santo?
25. Você pode nos falar como é a relação de vocês do programa Beco do
Reggae com o setor público?
26. Possuem também alguma relação com a secretaria de cultura?
27. Como você avalia atualmente o movimento reggae?
28. O poder público tem dado alguma contribuição favorável ao movimento
reggae em geral? Qual a sua avaliação?
APÊNDICE V
ENTREVISTAS
15/07/2004
Gestor 01
Subcoordenadoria de Valorização da Juventude
[...] atuo nesta área de juventude já desde 15 anos de idade. Eu estou com 34 então são quase
vinte, são dezenove anos, eu sou de São Paulo e fui pra Brasília, lá em Brasília que eu tive
uma atuação grande. Comecei a minha vida com política de juventude lá em Brasília, mas
sempre no movimento estudantil, então eu fui presidente do DCE do CUB , faculdade de
Brasília, aí a gente invadiu a tesouraria do CUB e tal, por causa de pagamento de
mensalidade, de lei de mensalidade e tal teve muita discussão sobre isso, ainda tava se
discutindo a LDB, aí eu fui expulso do CUB e fui convidado pra ir, quer dizer, fui convidado
não, me fizeram ir pra UDF, que é uma outra faculdade que tinha lá, a gente negociou e tal aí
eu consegui entrar lá, mas com o compromisso que eu não ia fazer movimento estudantil lá.
Seis meses depois eu já era presidente do DCE então eu acabei e com isso o estudado da gente
vai atrasando e tal.
Nesse período logo depois deve a gestão política do impeachment do Collor e na gestão
seguinte que foi o congresso de Goiânia, quando foi eleito Fernando Gusmão, eu fui eleito o
vice presidente da região centro-oeste da UNE. Naquela época eu já via o seguinte: primeiro,
toda vez que se discutia qualquer movimento político de juventude, só se falava de
movimento estudantil, você não tinha política social de juventude, você tinha política
estudantil. Então a gente começou a discutir isso naquela época. Pra mim foi um pouco difícil
por que Brasília é uma cidade que tem características completamente diferentes, pelo Brasil a
fora. Você não consegue ter muito essa relação de jovens que são carentes e têm um tipo de
demanda e jovens que não estão excluídos e que têm acesso à universidade, à escola, enfim.
Lá é muito distante. Então você acaba tendo envolvimento só no movimento estudantil
mesmo.
Aí vim pra cá, depois vim pra Vitória e resolvi terminar meus estudos. Fui pra FDV. Terminei
lá a faculdade. Lá também eu fui presidente da secretaria do DCE, mas terminei os meus
estudos.
E conversando com o Luis Paulo (o nosso prefeito) a gente, já no começo do segundo
mandato dele, a gente começou a discutir: “Luis Paulo como é que a gente faz, pra trabalhar
com os jovens aqui da cidade, e tal, a gente vê lá como é a demanda”.
Eu queria falar um negócio da minha época da UNE, que é o seguinte: eu percebia que,
sempre que tinham as movimentações, Vitória, o Espírito Santo, nunca tava incluído nesse
cenário. Tanto que os vices, tinham os vices regionais, no nordeste eram cinco diretores, e
tinha uma diretoria que era Bahia e Espírito Santo e sempre o diretor era da Bahia, né, isso é
histórico na UNE. Sempre o diretor era da Bahia e cuidava da Bahia e do Espírito Santo. Quer
dizer o Espírito Santo era meio relegado ao segundo plano nesse processo.
Então, eu conversei com o Luis Paulo e a gente chegou a conclusão que precisava dar uma
movimentada nos jovens aqui do estado. Então a competência do Luis Paulo era aqui em
Vitória, então vamos começar por Vitória, né.
Aí ele me pediu pra fazer o primeiro estudo, levantasse o que tinha de juventude, quais eram
as demandas e tal. Aí veio o nosso primeiro problema, quer dizer, tipo, nós contratamos o
Instituto Futura, que fez uma pesquisa qualitativa, com os jovens da cidade, em três regiões,
dividiu a cidade em classe alta, média e baixa. E aí o resultado dessa pesquisa era algo que foi
algo mais ou menos esperado.
Quer dizer, a juventude é completamente apática com relação às questões da política, as
questões econômicas, em relação às instituições, né. E um negócio interessante, a juventude
não se via mais como, ela não se vê mais como algo único na sociedade. Como uma categoria
na sociedade, o próprio jovem não se reconhece mais como era na época da ditadura no
Brasil, né. Em que os jovens né, existia a juventude brasileira, se reunia, fazia grandes
congressos, ia pra rua, quer dizer essa coisa de ter acabado o inimigo comum que era a
ditadura, de ter entrado a coisa da internet, que você tem acesso, que você fica em casa e tem
acesso ao mundo inteiro, então acho que começou a desmobilizar. Aí então hoje a juventude
não se vê hoje como um seguimento na sociedade. Então foi até difícil identificar nesses
jovens que demandas específicas a gente teria neles. Por que as demandas que eles colocaram
eram demandas de qualquer cidadão, sei lá, é a questão do desemprego, querendo um
transporte melhor, querendo segurança, querendo saúde. Isso não é uma coisa específica dos
jovens, qualquer cidadão quer isso tudo.
Então de qualquer maneira, a gente chegou à conclusão que até por essa razão era melhor, era
importante a gente criar um órgão na prefeitura que pudesse, é, primeiro dar uma articulada
nas ações que já existem para juventude, aí vem aquilo que a gente tava comentando. Citando
a área da saúde, por exemplo, na Secretaria de Saúde eles fazem trabalhos que dizem respeito
à juventude. Por exemplo, questão da conscientização sobre gravidez na adolescência, é, a
questão do DST AIDS, a questão do combate às drogas, isso tudo tem a ver com jovens, a
Secretaria de Cultura, ela faz cultura também para os jovens, a Secretaria de Esportes ela
trabalha muito com os jovens, só que cada um trabalha de um jeito e as ações não são
articuladas para que o jovem diga olha nós temos ali uma, algo que é feito pra ra nós, por
conta disso.
O Luis Paulo disse “olha nós vamos criar uma secretaria mais a finalidade não pode ser como
a gente diz “fim”, ela não foi criada pra fazer ações, ela foi criada pra buscar na juventude as
demandas e pra levar pra juventude essas ações que são feitas na prefeitura como uma coisa
integrada e única.
Então ficou estabelecido que até o final da gestão de Luis Paulo, nossa missão seria fixar a
secretaria de juventude na cidade, pra que as pessoas possam entender que existe uma
secretaria municipal para juventude, que é possível fazer políticas públicas para juventude,
para que isso tenha, que não seja uma coisa de um prefeito só, que chegou e falou: “Ó criei a
secretaria de juventude” e que o próximo venha e diga “Ó eu não quero mais esse negócio”, a
idéia é que até o fim da gestão municipal a gente conseguisse fazer com que a Secretaria de
Juventude fosse parte do processo já da cidade, e a gente entende que já conseguiu cumprir
com esse papel.
No segundo mandato do Luis Paulo foi um pouco complexo, por que nós pegamos um pedaço
do governo José Ignácio, com essa problemática toda que teve aí. Então, não houve muito
repasse de recurso do governo de estado pra o governo municipal, então muita coisa que se
pensava fazer, não pode se fazer por que não tinha dinheiro. Aí a questão da gente poder dá
uma “avançada” um pouco mais aí na Secretaria de Juventude, também não pode acontecer.
Mas a missão que nos foi dada até o final, a gente entende que já cumpriu. Hoje a Secretaria
de Juventude, ela ta fixada na cidade, todos os candidatos a prefeito tem uma área de
juventude, nos seus programas de governo, em todos, em todos não, mais vários candidatos a
vereadores que eu conheço tão também nos seus panfletinhos falando de juventude. Quer
dizer esse negocio é um loucura.
1. Adquiriu espaço?
É adquiriu espaço, quer dizer agora precisa que né. A gente agora vai passar por um período,
daqui até o final da eleição, que você, tem muita coisa que fica parada que a gente tem que ter
expectativa de que o próximo prefeito mantenha o espaço da Secretaria de Juventude e que
agora a gente possa dar um salto de qualidade. Pra quem vier já possa dar um salto de
qualidade em cima disso que a gente fez.
E um dos objetivos que também a gente propôs. Uma das metas que a gente propôs trabalhar,
era de fazer a aproximação da chamada “juventude do asfalto” com a “juventude dos morros”.
Por que existe esse distanciamento e a gente tem uma série de projetos, que a gente faz,
tentando fazer essa integração. Mas a gente não conseguiu fazer isso, é um projeto mais
demorado, mas a gente tem várias ações que conduzem pelo menos a isso.
2. O que é a juventude para secretaria? Vocês têm uma faixa etária pra trabalhar?
A gente trabalha com a faixa etária de 18 a 30 anos. Por que de 18 a 30anos?
Por que isso é um problema. A UNESCO, acho que trabalha, acho que com 16 a 24. A
pastoral da juventude trabalha, também, acho que 16 a 24. Tem gente que trabalha, os partidos
políticos trabalham de 16 a 30. Por que a gente estabeleceu de 18 a 30? Primeiro por que na
Secretaria de Ação Social, nossa, eles têm trabalhos que eles fazem, inclusive com o agente
Jovem, que é um programa do governo federal, que trabalha com jovens até os 17 anos e 11
meses.
Então quer dizer, o jovem já tem um trabalho feito na Ação Social. Tem um problema que eu
sempre discuto, você trabalha com o jovem até 17 anos e 11 meses, aí com 17 anos e 11
meses você diz pra ele “ó até logo, tchau”, quer dizer, se ele tava na marginalidade e ele tinha
alí como se integrar, aí quando chega aos 17 anos e 11 meses, ele fala: “pô legal os cara
adoçaram minha boca e agora me deixaram de novo”, e ele acaba voltando pra marginalidade.
Então pra você ter uma seqüência nisso daí eu acho que a próxima gestão tem que fazer, tem
que pegar e fazer, tem que ter umas continuidades nisso. Quer dizer a Secretaria de Juventude
tem que pegar esse cara a partir de 17 anos e 11 meses, ou seja 18 anos e tem que se bolar
alguma coisa aí para ter uma continuidade. Bom, e, por conta disso a gente resolveu pegar a
partir dos dezoito anos, e por que até 30? Primeiro por aquela razão de que nos partidos
políticos, os jovens até 30 anos ainda estão discutindo política de juventude. Então espera-se
que, se você quer pegar um jovem com 18 anos e fazer com que ele vá se aprimorando, né,
você espera que ele chegue aos 30 anos já conscientizado politicamente e portanto
participando da vida política da cidade. Portanto discutindo essas coisas, portanto vai até 30
anos. E também por que você tem muito jovem de 28, 29 anos que tá terminando a faculdade,
uma grande quantidade. Que ta terminando a faculdade está começando a entrar no mercado
profissional, então pela mesma lógica de você pegar o cara até, você também não trabalhar
com o cara até os 25 anos e depois diz “ó tchau”. Precisa ter uma certa continuidade, no
processo, até o cara atingi a vida adulta começar a trabalhar, entrar no mercado de trabalho,
que aí um outro problema sério pra se discutir é o tal do mercado de trabalho. Se fala, fala,
mas tudo em tese, tudo na teoria, por que efetivamente não tem mais, por que o mercado de
trabalho ta muito reduzido.
3. Você já falou como surgiu a demanda, agora eu queria que você ressaltasse como é o
perfil da juventude de Vitória, hoje a partir do levantamento que vocês fizeram?
Putz, eu vou te dar a definição que eles mesmos deram na pesquisa futura, que saiu como a
frase que define a juventude de Vitória “eu quero rock’n roll e beijo na boca”. É isso daí, você
pode tirar as conclusões que você quiser. A conclusão que eu tiro é o seguinte: que é o que eu
falei no início, é uma juventude completamente perdida, apática, não sabe o que quer da vida,
sem perspectiva de futuro, quanto mais “Vital” tiver na cidade melhor, quanto mais “rock”
pra beija na boca tiver melhor, e ainda tem o problema aí que parece que na cidade de Vitória
tem muito mais mulher do que homem então vocês vejam só o que é beijar na boca, coisinha
boa.
[...] Mas, então, é isso tem uma questão interessante, que é o seguinte. Bom aí, olha só o
jovem dos morros, de classe baixa ele é muito mais consciente do que o jovem de classe
média de classe mais alta. Claro que isso tudo tem a ver com a própria condição de vida dele.
O cara quando tem menos recurso, depende de transporte coletivo, muitas das vezes, ele sai
de casa pra procurar emprego e não tem dinheiro nem pra pagar o ônibus,né. O ônibus custa
R$ 1 e pouco e ele não tem R$ 1 e pouco, tem que pedir emprestado pro vizinho. Fica
devendo. Então, acaba que o jovem de classe baixa ele tem uma consciência muito maior que
o jovem de classe alta, e aqui em Vitória isso fica muito nítido. Aqui a cidade é uma ilha,
você tem morros no centro da ilha e em volta você tem classe média, classe média alta, isso
que a gente chama “juventude do asfalto” e “juventude do morro”. E nesse caso essa
característica da juventude de Vitória ela tem e é bem latente isso, você tem o “jovem do
morro”, mais consciente do que - mais consciente não significa que ele é consciente ele é um
pouco mais consciente, vamos dizer, socialmente falando, politicamente eu acho que não,
mais socialmente, economicamente, falando que o cara é um pouco mais preocupado com o
futuro - um pouco mais preocupado em estar discutindo com a prefeitura essas coisas, do que
o “jovem do asfalto”. O “jovem do asfalto” é puro rock e beijo na boca, não quer saber, “ah
vamos fazer um debate sobre política”, “ah Deus me livre, vou deixar de ir pra praia pra ficar
discutindo política“. Já com os “morros” você consegue fazer isso melhor, você consegue
mobilizar o pessoal, sentar, conversar, trocar idéia, pegar sugestões.
4. Vocês conseguem, a secretaria consegue identificar hoje quais são os problemas da
juventude, dentro do município de Vitória? Quais são as necessidades mais presentes
dentro do município?
Olha, a única necessidade que eu vejo como, que eu poderia dizer, que chega pra gente como
se fosse uma demanda da juventude, como um grupo social de dentro da sociedade, (se eu
tiver falando besteira, vocês aí que são da área)
A única demanda que eu vejo é essa necessidade de debater, aí vocês falaram de
protagonismo né. Eu sinto que os jovens, eles têm, aqui em Vitória ele tem isso, ele tem essa
vontade de ser protagonista, ele quer, ele até mesmo. Aí falando dessa juventude que a gente
consegue chegar, organizar, discutir, eles topam discutir, eles têm uma série de idéias na
cabeça, mas eles querem ser os protagonistas das ações, eles querem ser os atores principais.
O jovem não quer que chega com nada, se chegar com qualquer coisa imposta ele não topa,
aqui em Vitória isso é muito presente, né então, a gente tem que chegar. Sente alguma
dificuldade quando a gente faz debates, agente vai conduzindo de uma maneira que as idéias
surjam deles alí, entendeu, sintam que eles que estão produzindo aquilo, eles que estão
dizendo como é que tem que ser feito. Claro que eu acho que tudo tem que ser mais ou menos.
A gente fala que você não pode fazer “políticas públicas para juventude” nem “políticas
públicas de juventude”, você tem que fazer “políticas públicas com a juventude”. Por que o
jovem tem que ser protagonista ele tem que dizer a forma como ele quer, da forma que ele
quer, mas ele tem que saber que tudo tem limites, tem responsabilidades, existe um
orçamento, que existem regras, essas coisas, não pode ser só da cabeça dele. Então a gente
fala muito assim fazer políticas públicas com a juventude. Agora tirando esse tipo de
demanda, francamente, eu não consigo enxergar. Não tem como te dizer “olha a demanda da
juventude de Vitória é essa”, por que como eu te falei a própria juventude de Vitória não se
enxerga como um seguimento da sociedade. Então quer dizer, você tem demandas
particulares, você tem por exemplo grupos, grupos de skatistas, eles têm as demandas deles,
eles querem que o prefeito faça rampas de skates pra eles, pistas não sei aonde e tal. Você tem
o pessoal, os graffiteiros, eles querem que a gente coloque, faça eventos mensais que eles
possam graffitar um paredão qualquer e passam fazer lá o show deles de hip hop. O
movimento de hip hop na comunidade envolve os graffiteiros, os DJ, os rapper. Entendeu?
Então, você tem nichos né, muito específicos, e esses nichos têm demandas muito
particulares, com desejos deles de realizar as coisas deles ali. Mas como juventude organizada
isso não existe. A única coisa que eu consigo sentir que eu poderia dizer é que existe, não
seria uma demanda é uma necessidade talvez, de todo jovem independente do grupo que seja
de ser protagonista. Talvez o protagonismo seja a única coisa hoje que ligue essa juventude
toda. Ou seja, quem quiser trabalhar com juventude não pode esquecer desse conceito de
protagonista, de trabalhar dessa forma, respeitando o jovem como protagonista do assunto.
Mais vai ter que seguimentar, você não consegue trabalhar com a juventude como um todo. E
é difícil isso, por que você, difícil, por exemplo, falando de políticas públicas, é difícil você
ter num órgão público recurso suficiente pra segmentar assim, entendeu? “Chama aê os caras
do skate, agora chama os caras do funk, os caras do hip hop, agora chama o pessoal do
esporte”, entendeu? E atender a demanda de todos é complicada, por outro lado você também
não consegue juntar os caras, falar “olha vamos buscar o que seja comum a todos?”, tem eu
acho que tem, mas eles não tem isso como demanda, é o que falo, emprego por exemplo. O
primeiro emprego é uma discussão que diz respeito a todos os jovens. No entanto eu acho que
isso, os grupos todos deviam se organizar pra discutir “olha é como é que é a questão”. Mas
só que, o jovem, não ta muito preocupado lá com o futuro dele, ta até muito desesperançoso,
até por tudo que ele vê aí, né, “eu vô ficar me preocupando”, então ele quer sabe, a fuga dele
alí é fazer aula de skate dele, “que discutir emprego, primeiro emprego”, sabe? Acha que isso
é um troço que tem que deixar lá pra frente. Uma pena, por que, se a gente conseguisse fazer
com que todo mundo discutisse isso agora, né, a gente conseguiria ta preparando e si
preparando, ta preparando o ambiente e nos preparando par um ambiente melhor.
5. No início você chegou a comentar, a gente queria saber se existe alguma lei que
ampara a existência da secretaria?
Sim, ela é criada dentro da estrutura organizacional da prefeitura, né. Quando começou o
mandato do prefeito municipal foi feita a alteração no organograma. Todo prefeito cria ou
acaba com secretarias e reformula. Então, existe a lei aprovada pela câmara de vereadores,
mas só que essa é uma lei que ela pode ser, quer dizer o próximo prefeito pode chegar e dizer:
“olha eu não quero mais Secretaria de Juventude e não quero mais Secretaria de Saúde”. Seria
um absurdo não ter Secretaria de Saúde, mas ele pode fazer isso, qualquer Secretaria, ele pode
fundir, ele pode dizer o agora eu quero fazer saúde e serviço social junto, sei lá. Ele acaba
com a Secretaria de Saúde, com a Secretaria de Ação Social e cria uma secretaria só, com as
duas coisas juntas.
6. Ele tem essas flexibilidade?
Tem. Assim como acontece com os Ministérios antigamente. Você tinha os Ministérios da
Fazenda e do Planejamento, se eu não me engano o Collor juntou tudo num Ministério só, que
é o Ministério da Economia, que foi A Zélia Cardoso de Melo até que foi ministra. Aí depois
eu não lembro se foi o Itamar ou o Fernando Henrique que desmembrou de novo, acho que foi
Itamar, até que o Fernando Henrique foi Ministro da Fazenda. Mais ou menos isso, não
lembro, mas então, isso é possível. Tem o amparo legal sim, ela é, na realidade, aqui na
prefeitura você tem é, as chamadas Secretarias “meios”, o que que é uma Secretaria “fim”.
Por exemplo a Secretaria de Saúde ela faz ações diretas pra população, a Secretaria de
Planejamento não. A Secretaria de Planejamento é chamada “meio” e não “fim”. Quer dizer,
ela não faz ações diretamente pra população, ela planeja coisas pras outras secretarias, né,
como vai ser gasto o orçamento, e etc e tal. A nossa Secretaria é uma Secretaria “meio”. Aqui
na prefeitura as Secretarias “meio” têm o nome de Coordenadorias, tem status de Secretaria,
mas tem o nome de Coordenadoria, então você tem a Coordenadoria de Planejamento
Estratégico, Coordenadoria de Comunicação, Coordenadoria de Governo, Coordenadoria de
Juventude, entendeu? Com status de Secretaria.
7. A gente leu isso no site, se eu não me engano lá ta Subcoordenadoria?
Ta Subcoordenadoria, por uma simples razão. Quando foi feita a lei na câmara você. Pra você
criar uma coordenadoria você teria que fazer, a gente teria que ter um plano de cargos e
salários, a gente teria que ter o remanejamento de funcionário efetivos da prefeitura, os
concursados, pra atuar naquela Coordenadoria ou Secretaria. Como o prefeito não queria fazer
isso, ele queria só ter cargos comissionados, que são onze cargos comissionados, ele falou:
“não, só quero ter cargo comissionado”, até pra gente ter uma agilidade maior no transito, se
quiser depois fundir isso com alguma coisa, fica um negócio mais fácil. Você não tem aquela
obrigação de ter funcionário, então deu-se o nome de Subcoordenadoria, ligada a
Coordenadoria de Governo, mas com status de Secretaria. Então quer dizer, o status de
Coordenadoria seria a Secretaria “meio”. Então quer dizer os meus despachos são diretos com
o prefeito.
8. Então não tem essa coisa da secretaria ser vinculada, ter uma hierarquia?
Não, ela é só estruturalmente, mas o status dela é de Secretaria, então a gente tem despacho
direto com o prefeito, nas reuniões do secretariado to sempre presente.
9. Quando você fala das verbas, que fica difícil atender a juventude tão segmentada,
qual o orçamento da juventude, qual a porcentagem?
É dentro do orçamento a gente tem, por ano, pra usar dentro do PPA R$80,000 poucos mil
reais , eu não me lembro.
10. Mas isso é quantos por cento do montante geral dos recursos do município?
Ah, é muito pouco, vamos fazer as contas rapidinho. O orçamento da prefeitura de Vitória, se
eu não me engano, é R$ 352.000.000 ou R$ 342.000.000, agora eu não me lembro. Mas
digamos que seja 350 milhões, 80 mil dá quantos por cento? Se fosse 10% seria 35 milhões,
1% seria 3 milhões e meio, 0,1% 350 mil, 0,001 seria 35 mil, 80 mil dá 0,002% do
orçamento. Quer dizer não é nada, mas isso a gente. Primeiro a gente viu ao longo do tempo
que não tem necessidade. Por exemplo: o ano passado desses 80 mil nós não usamos quase
nada. Por que os eventos todos que a gente faz aqui, as ações que sãos desenvolvidas aqui são
por exemplo: debates nas escolas, você não gasta dinheiro, por exemplo, quando a gente vai
fazer evento com a juventude, por exemplo, alguma coisa do hip hop, é fizeram um evento lá
em Andorinhas, eles mesmos já tinham conseguido patrocínio, pro palco, pro som, aí outras
Secretarias entram fazendo outras ações também. Então quer dizer, o nosso papel acaba sendo
muito de articulação mesmo e aí você não precisa gastar muito dinheiro. Nós gastamos com o
Camburi fest Gospel, não se vocês já viram, acontece lá na praia de Camburi, então lá tem 30
mil jovens. Esse é um evento que já ha três anos a secretaria patrocina, isso custa quanto? Uns
10 mil, vê que a gente quase não gasta.
11. Então o que se faz com esse recurso?
O orçamento é anual, então você tem é quando sobra recurso, na realidade não sobra por que,
“puta”, pra eu explicar orçamento pra vocês. O dinheiro da prefeitura é um só, você não tem,
ele não fica, uma conta pra cada Secretaria. Não é isso. O caixa é um só, né. Então você tem
lá uma Secretaria que estava previsto gastar 110 mil, gastou 10 mil e sobrou 100, esses 100
mil você pode remanejar pra outra coisa. Então o prefeito ele vai definir de acordo com as
prioridades dele, é.
Teve um ano, por exemplo, que faltou recurso. Tinha mais coisas pra gente fazer e aí a
Secretaria da Fazenda falou: “ó não deu por que o prefeito definiu prioridades, fez um
remanejamento no orçamento e esse resto de recursos que vocês tinham foi remanejado pra
outra coisa”. Claro que isso é aprovado sempre na câmara e então é um negócio legal, mas
depende muito do prefeito, se o cara fala: “pô, tem 110 mil lá pra juventude, mas eu to
achando que esse ano a prioridade é a juventude”, então aí a gente faz as estratégias de
governo.
12. Então essa questão do orçamento, o PPA é até 2005, então vocês tem uma proposta
orçamentária até 2005?
É por que quem faz o orçamento do ano que vem é a atual gestão. Por que o orçamento tem
que ser aprovado até outubro, novembro e o próximo prefeito só assume em janeiro. Quer
dizer, essa gestão é que faz o orçamento pro ano que vem. O problema que o Lula falou
quando ele assumiu, que ele tava pegando orçamento feito pelo governo Fernando Henrique,
no primeiro ano, que ele só poderia a partir do segundo ano, que aí ele ia definir aonde ele ia
investir o dinheiro essa coisa e tal. Claro que, quando o prefeito elege um sucessor é uma
facilidade, por que daí, é uma equipe que já vem trabalhando com aquele orçamento que foi
feito, já o sucessor, já vem sabendo que vai trabalhar com aquilo. Se entrar a oposição aí não,
quer dizer o cara vai pegar o orçamento do prefeito que ele discorda, vai ter que passar um
ano convivendo com aquilo, pra depois ele passar a fazer as prioridades dele, entendeu, aí eles
vão fazer o PPA de 2005 até sei lá até 2009, entendeu.
13. Dentro do planejamento da secretaria, a população participa de quais vão ser as
ações?
Não, por que você não tem como fazer isso. Não tem como. Bom não tem como participar da
construção. Por que se você vai, quem que eu poderia reunir pra discutir o que fazer? Até
pode mais isso, sei lá, agente ia ficar dois, três anos é parados aí pra discutir, discutindo,
discutindo, por que esse negócio é complicado. Eu acho o seguinte, como a nossa missão era
até o final da gestão municipal a gente fixar.
A gente tem um projeto aqui chamado “juventude em debate”, que a gente tem feito debates
nas escolas, disso aí os alunos falam muito, por que agente faz nas comunidades também, a
gente fez alí no morro São Benedito, fomos lá no meio do morro, lá numa igrejinha, que tinha
lá, reunimos os jovens que tinha lá, foi um negócio interessante. Como a gente passou uma
ficha de presença lá, que tinha, telefone, RG, CPF, 100% dos jovens perguntaram pra gente o
que era RG, eles não sabiam. Tem gente alí que nunca viu vaso sanitário antes, só pra vocês
terem uma idéia. Mora em Vitória e não sabe o que é um vaso sanitário. Quando o “Projeto
Terra” fez as casa aqui no morro do (não lembrou nome), teve gente que quando entrou na
casa, viu o vaso sanitário perguntou se era tanque de lavar roupa. Isso aqui em vitória, em
pleno século XXI, agora você imagina como o Brasil tá. Mas bom, enfim, então assim eu não
tenho.
A gente estabeleceu até o fim da gestão municipal, a gente precisa fixar a Secretaria de
Juventude e nessas discussões, com as escolas e as comunidades a gente tá tirando as
demandas, nestes grupos e tal. Nós estamos tirando essas demandas, pra gente passar pra
próxima gestão pra quem vier e falar: “olha você não precisa ficar aê discutindo com a
juventude por que a gente já fez esse processo tá aqui o que a juventude espera”, então, a
partir de agora você tem que dar um salto de verdade, você precisa começar a implantar
algumas coisas. Por que aí.
14. Você disse que quando há esse debate vocês levantam demandas pra daí construir,
pra atender...
Só um minutinho, deixa eu explicar, a gente vai na comunidade com cuidado pra não criar
expectativa. O prefeito sempre dá essa orientação. Pra você buscar demanda, pó, “ah eu vim
aqui saber o que vocês querem”, “pô eu quero emprego amanha”, “mas eu não tenho”, “então
pra que você veio perguntar?” Então, a gente tem sempre esse cuidado de tentar entender o
que está acontecendo alí, sem criar muita expectativa, por que tem coisas que a gente não
realiza.
15. Pra lidar com essa questão da expectativa, como é a questão da tomada de decisão?
Olha, a gente vai fazer esse programa, atender essa demanda nesse momento? Longo
prazo? curto prazo? como é a questão da tomada de decisão?
Na verdade a gente não tira, a gente não extrai muita demanda concreta, muito objetiva,
conversa, faz trabalhos, conversa com as lideranças, no caso das escolas, conversa antes com
a diretora da escola, conversa com os professores. Então esses jovens, quando eles vão
conhecer o trabalho da Secretaria, ouvir algumas coisas, eles já vão com uma expectativa
diferente, eles sabem que a gente não está ali pra dizer que vamos fazer isso ou aquilo. Nós
tivemos um projeto que infelizmente por questões de recurso não avançou, foi um projeto que
a gente tava fazendo dentro do “Projeto Terra”, chamado “Terra Jovem”, que era de nós junto
com a Subsecretaria de Trabalho e Geração de Renda e a Secretaria de Cultura. Era pegar os
jovens dos morros, vários jovens, que iam se inscrever e tal, eles iam ter a parte lúdica que era
fazer música, ou dança, ou capoeira, enfim, tinha algumas atividades lúdicas e eles iam é
paralelamente a isso, pra fazer as atividades lúdicas eles seriam obrigados a freqüentar as
aulas da SubGER - Geração e Renda - pra aprender algum ofício. Só que muito preocupado
com essa questão de você criar expectativa e não consegui atender a demanda, nós sempre.
Como é que a gente ia fazer, a gente ia dar treinamento de ofícios que o mercado tivesse
precisando. Então o que que é? É ter uma parceria da prefeitura com a FINDES, com a SEOP,
com a CAPES, “FINDES o que vocês precisam?”, “Nós estamos precisando de mão de obra
de pedreiro’, por exemplo, ‘então ta bom, quantos pedreiros vocês se comprometem a
contratar se a gente treinar?” “a gente se compromete a contratar 20 pedreiros”. Então ia ter
20 vagas pra pedreiro, entendeu? Quer dizer. Pra gente chegar a quantidades de vagas pra
oferecer ia depender da demanda, justamente pra você não treinar o cara e dizer olha “eu te
trinei, e o cara vai pro mercado e não encontra nada”, por que na segunda vez que você fizer
isso, ele fala que não quer mais, ele vai dizer “não. Sai prá lá prefeito, já me treinou duas
vezes e eu não consegui nada, vou perder tempo de novo, treinando o que?”. Então, esse
projeto foi muito bem montado, foi pro BNDS, ele aprovou, só que foi justamente nessa
transição do governo Fernando Henrique pro governo Lula. Quando o governo Lula assumiu
eles seguraram os recursos, não só pro “Terra Jovem”, não, pra todo o “Projeto Terra”
também. O “Projeto Terra” tá parado até hoje por que o BNDS não mandou novos recursos,
por que ninguém sabe [...]
16. Existe comunicação entre os projetos federais, estaduais e municipais? Poderia falar
também da relação entre as secretarias?
Na realidade, mais ou menos. Outro dia eu fui convidado pra dar uma palestra sobre políticas
para juventude lá em Curitiba. Eu fui lá falei e tal, os caras tomaram conhecimento. Por
exemplo, teve agora uma discussão com o Congresso Nacional sobre políticas públicas pra
juventude que o governo federal quer implantar e nós não fomos convidados, e não
convidaram por conta disso, por diferença partidária, mesmo. Na minha opinião é besteira,
por que, você não tá discutindo política partidária, você tá discutindo política prá juventude.
Quer dizer a gente teve experiência aqui, quer dizer vamos discutir.
17. Quer dizer que em âmbito federal não existe política de juventude?
Eles tão querendo montar, mas ainda não tem.
E a nível estadual?
A nível estadual também não tem. Tem também um ensaio que a Secretaria de Ação Social
está fazendo, então a Secretária a Vera Nacif, está tentando aí fazer um trabalho, eles até me
chamaram, eu tive uma reunião com eles e com o Instituto Perseu Abramo , lá de são Paulo.
Ela veio aqui a gente bateu um papo, ela tem um trabalho muito legal nessa área, mas é um
instituto não é um órgão público do governo federal , nem estadual, nem municipal, é uma
ONG né. Então tem assim, não tem, tem coisas isoladas e eu não sei por que, por exemplo:
quando o governo resolveu falar da intenção de fazer políticas públicas para juventude do
governo federal, eles me chamaram aí eu fui lá pra Esplanada, cheguei na solenidade, mas na
hora de discutir efetivamente.
18. E os projetos como o Agente Jovem que vem de cima pra baixo, como é a relação?
Mas esse sempre vai ser o problema, que me parece que hoje tem uma discussão boa na
tentativa de resolver isso. O governo federal, o cara fica lá no Ministério, lá em Brasília,
pensando no Brasil, faz um projetinho modelo pra distribuir, esquecendo das particularidades
regionais. Então eu acho que essas lógica tem que ser invertida, a gente tem que municipalizar
mais, sabe? O país, por exemplo, essa questão do primeiro emprego, por que não deixar os
municípios discutirem como é que podem resolver isso pra depois chegar a uma proposta para
o governo federal? Vem o torço de cima pra baixo, resultado: não funciona direito. O SUS
funciona, o Agente Jovem funciona, mas são programas que levam anos ai, os caras tem que
ir ajustando, até o negócio começar a funcionar. Então, eu concordo com você tem que
inverter essa lógica. O Cristóvão Buarque que foi ministro da educação, foi governador de
Brasília, ele falava muito nisso , ele tem até um livro chamado “Revolução das Prioridades”.
Precisa, aqui no Brasil, a gente precisa mudar essa lógica toda. Como é que você vai fazer
uma política nacional de segurança? Quem sabe o que Vitória precisa é o prefeito daqui, ele tá
acostumado no dia-a-dia discutir. Então, a gente precisa de tantos policiais, o plano de ação
tem que ser esse, tem que ser aquele, tem que ter o apoio do governo federal, claro, por que o
município não tem recurso suficiente pra fazer.
Existe uma associação de prefeitos do país, até o Luis Paulo foi presidente dela, agora ele
saiu, acabou o mandato dele que foi eleito no lugar dele foi o Marcelo Deda. Esses caras se
reúnem, é a Frente Nacional de Prefeitos, eles se reúnem umas vez a cada três meses e fazem
excelentes debates, né, trocam muitas informações. O governo podia aproveitar isso aí e falar:
“Olha queríamos fazer o programa Primeiro Emprego aí, juntos”. Então pedi pra Frente
Nacional de Prefeitos fazer essa discussão, cada prefeito vai pros grupos de jovens do seu
município, discute isso. Não, os caras resolveram fazer um, tanto que não funcionou, a gente
nem sabe quando que vem, pra quem vem.
19. Antes a gente tinha perguntado da elaboração, da implementação dos projetos, existe
algum canal que a população em geral participa desses momentos da política? Das
iniciativas da prefeitura de Vitória para com a juventude?
Eu acho o seguinte, não, talvez. Por exemplo, o pessoal do hip hop, eles chegam até a gente,
eles sabendo da existência da Secretaria, eles vem trazem os projetos deles, a gente senta
discute, vê a viabilidade econômica disso, se agente não tem recurso, a gente vai atrás de
alguma Secretaria que vá bancar, mas enfim, eles vem até a gente. Agora assim, não existe
uma coisa assim, “atenção população está aberto o período de palpites para”, isso não
acontece.
20. Uma coisa pra ficar mais específico, o conselho de juventude? Seria um exemplo de
canal de participação.
Nós temos essa experiência. Nós fizemos um projeto aqui chamado câmara jovem. Por que, a
idéia era essa, você ter representantes de todos os segmentos da juventude, de todas as regiões
e tal, discutindo como se fosse os vereadores, como se fosse o conselho e dali sair propostas e
tal. Foi um fracasso um fiasco, por isso eu não faço questão de dizer. Isso vai ficar, registrado,
eu quero que fique registrado nos anais aí, pra que ninguém cometa mais esse erro, por que
virou um, uma guerra de lideranças, um negócio fora do comum.
Por que? Por que os caras como são líderes, os caras pô: “agora eu to lá, no conselho da
juventude, no câmara jovem, não sei que, por que agora eu faço e aconteço, agora eu quero
ser candidato a vereador, eu quero ser isso, quero ser aquilo”, aí os caras começaram a
quebrar pau entre eles. Que um apresentava uma idéia e ao invés de discutir e votar, um
grupinho se reunia e dizia: “não por que fulano é candidato a vereador , pelo partido tal, nós
não podemos aprovar esse projeto”, não sei o que, então, nem se discutia, nem se aprovava.
Então foi um negócio [...] aí nós acabamos com o projeto.
Isso é, isso não quer dizer que um conselho não possa funcionar, mas pelo menos no formato
que gente fez não funcionou. Entendeu?
21. A experiência testada em Vitória não teve...
É talvez pelo fato de ter sido líderes, e aí os caras com cabeça um pouco mais voltada pra
política e tal, pode ter sido um erro, mas, eu pergunto o seguinte: se você não vai chamar um
líder de um grupo você vai chamar quem? O que eu posso fazer é: “skatistas, quem é o
representante de vocês?” E eles tem que dizer é o fulano, portanto, se eles disserem é o fulano
aquele cara automaticamente é, aquele cara naturalmente ele é liderança ali daquele grupo, ele
fala por eles. Então não tem jeito, o que eu acho que pode ser feito é você ter um fórum, um
conselho que seja consultivo e não deliberativo. Quer dizer, é um conselho que, olha vamos
nos reunir aqui as lideranças e o secretário diz: “eu quero ouvir vocês”, mas quem toma a
decisão sou eu, por que quem teve o mandato do prefeito sou eu, e quem tem o mandato do
povo pra fazer alguma coisa é o prefeito, né. Então na democracia é isso, né. A população
elegeu o Luis Paulo pra durante quatro anos ele tomar conta dos rumos da cidade, e ele faz na
medida do possível as discussões. Mas ele sabe qual é o orçamento e ele sabe, ele tem as
idéias dele do que ele acha que tem que ser feito em Vitória. A população depois de quatro
anos pode dizer: “olha, você não fez nada que nos agradasse”, e elegeu uma posição. Isso é
democracia, ou a população fala: ”você foi um bom prefeito, fez muitas coisas que me
agradou e eu quero botar você de novo”. Da mesma forma, o prefeito passa uma parte desse
mandato pros seus secretários e o prefeito tem todo o direito de dizer: ”“olha secretário você
não está fazendo as coisas que você deveria fazer, da maneira que eu acho que deveria fazer,
ou pelo menos da maneira que nós combinamos e você vai ser trocado”. Ele vai tirar você e
vai colocar outro. Então funciona um pouco assim.
Mas eu acho que é legal você ter um conselho que você possa estar ouvindo. Provavelmente
todas as Secretarias tem algum conselho, que discute e tal. Mas tem que ser consultivo, se for
deliberativo, pelo menos nessa questão de juventude, é muita briga, achei que não foi uma
experiência legal.
22. Você falou um pouco a respeito do protagonismo. Que a grande preocupação do
jovem em Vitória é ser protagonista, dentro da secretaria existe preocupação em
trabalhar com o protagonismo? existe alguma ação voltada pra esse propósito?
Não, não por que esse negócio de protagonismo é só um conceito, né. Não vejo como uma
coisa que possa ser trabalhada. Eu diria o seguinte, que o protagonismo é uma coisa que deve
ser respeitada, não trabalhar. Quer dizer, essa palavra protagonista vem do teatro. Você fala:
“quem são os protagonistas dessa peça?” ou seja, quem são as pessoas que representam aquela
peça, que desenvolvem aquela peça. Quando você fala que o jovem tem que ser protagonista
das ações que são voltadas pra ele, eu acho que isso é uma coisa, que nós como agentes
públicos temos, mais que respeitar do que fomentar, eu não sei. Isso pra mim é um pouco
confuso. Talvez vocês tenham até estudado isso e poderiam me ajudar. Mas, por que o
seguinte, você pega esse grupo de hip hop, eles são um grupo de hip hop, automaticamente
eles são os protagonistas ali do hip hop. O que nós enquanto agentes públicos podemos fazer?
Quando eles chegam até a gente dizendo que querem fazer um evento de hip hop, que querem
recurso, a gente tem que respeitar o protagonismo deles, ou seja, não quero dizer que “nós
vamos dar dinheiro pra vocês fazerem o evento, mas você não pode cantar com aquela voz
falando, você tem que cantar, cantando, você não pode fazer “nheque”, “nheque” com o disco,
tem que deixar ele tocar” eu não poço fazer isso. Se eu estivesse fazendo isso eu não estaria
respeitando o jovem como protagonista daquela ação.
Agora eu também não posso como agente público sair dizendo ”olha vocês aí, vamos
fomentar, vocês agora serão protagonistas de uma ação assim, assim, assado”, e eles vão
dizer: “olha, estou feliz da vida, a prefeitura disse que eu sou protagonista”, entendeu. É a
visão que eu tenho da coisa, eu não tenho como fomentar isso, eu tenho como respeitar.
Juventude é a melhor fase da nossa vida, é a fase que você já não é mais criança, mas não é
adulto. Que você ainda se apaixona, acredita no amor. Você fala ”vou encontrar a minha
princesa encantada”, as mulheres “vou encontrar o meu príncipe encantado”, nós vamos casar,
quero encontrar a pessoa que eu vou ficar o resto da minha vida [...].
23. A gente tava falando da questão do protagonismo, então o jovem fica como receptor
do programa? Ele fica em que faze de dentro da atitude da secretaria de juventude?
O espaço do jovem é qual? Por que a política em si ela tem as suas fases,
implementação, gestão, avaliação?
Não, sim, “caramba”, mas olha, só eu acho que você não entendeu nada que eu falei ou eu
falei tudo errado. (desligou o gravador).
Se a gente fosse uma Secretaria “fim”, agente diria: “jovem estam aqui os projetos que nós
temos pra você”, mas não, é o contrário. O jovem vem até gente e diz: “olha eu tenho esse
projeto você nos apóia?”. A gente, dentro de uma política pré-estabelecida a gente apóia, claro
que não é qualquer coisa. Tem cara que chega aqui e diz: “nós temos um projeto aqui, nós
queremos levar 30 estudantes para Curitiba, você banca o ônibus?”, não isso não, a gente não
entende isso como política pública. Se vocês estão pretendendo ir para algum congresso pedir
patrocínio (risos) já sabe que aqui não é o caminho. Então, agora os caras do hip hop, ou os
próprio evangélicos, que chegaram com uma demanda, eles são protagonistas, eles querem
fazer o Camburi Fest Gospel, eles chegam aqui com a demanda, a gente fala: “Poxa legal, isso
é um política cultural para jovens e tal”. A gente ajuda, se tiver dinheiro a gente coloca, se
tiver viabilidade no nosso orçamento a gente dá dinheiro, se precisar pegar apoio de outras
(desliga o gravador).
24. A questão da avaliação, como você poderia, enquanto secretário, estar avaliando essa
política de atendimento de juventude no município? Como você avalia?
Eu avalio que o objetivo que a gente queria foi atingido e agora precisa avançar.
25. Na verdade o principal objetivo de vocês era...
Era implementar, construir e fixar isso na população. A gente diz que, tanto internamente a
prefeitura, todos os órgãos hoje sabem que existe a secretaria de juventude, enxergam como
importante ter, para ajudar a fazer as articulações, como a sociedade lá fora também, quer vê
que existe um canal que pode discutir. Agora, tem muita coisa pra ser feita, pra ser pensada
elaborada, pra ser pensada, mas que infelizmente já não vai ser comigo, então o próximo que
vier agora.
O próximo prefeito tem que ver quais são as pretensões do cara, a política do cara, a gente vai
passar. Quer dizer o próximo Secretário de Juventude que vier a gente vai entregar tudo
redondinho: “olha nós já fizemos essas e essas discussões, com esses e esses grupos, o que a
gente tirou foi isso, as experiências que deram errado foram essas, tem o projeto ‘Terra
Jovem’ que na hora que chegar o recurso vocês podem tocar”. Então o cara vai ter isso, eu
acredito que depois da eleição o dinheiro venha e aí o cara já pode aproveitar [...]
12/04/2006
Gestor 02
Gerência da Juventude do município de Vitória.
1. Qual a concepção que você tem de juventude? O que você pensa ser juventude?
Eu acho que juventude é um segmento social contextualizado no espaço, no tempo e deve ser
considerado como sujeito de direitos.
Acho que também não existe uma juventude. A juventude tem uma diversidade, se caracteriza
transversalmente por essa questão de raça, gênero, sexo, etnia. Eu acho que você acaba tendo
diversas juventudes no cenário.
Acho que a juventude, bom é mais ou menos isso.
2. Quais são as demandas de juventude aqui no Município de Vitória?
A demanda de juventude posso tirar mais ou menos pelo Orçamento Participativo (OP) da
juventude que nós tivemos no ano passado, assim, tentando contextualizar a partir daí, falando
de uma coisa solta eu não consigo.
O orçamento da juventude identificou um pouco a demanda da juventude por formação
profissional, por formação profissional mais consistente, eles querem formação não do tipo,
rápida, alguma coisa que dê subsídio.
Eles também tem muita preocupação com a perspectiva de futuro. Por que assim é difícil falar
de juventude, a juventude que a gente mais atende aqui, esses segmentos. Mas acho que essa
perspectiva de juventude ultrapassa todas as categorias, as classes sociais. Também
percebemos um pouco, quando, a gente vê essa preocupação da juventude da periferia, por
exemplo, que compareceu muito foi a questão de formação, mas por exemplo, demandas por
curso de pré-vestibular, outra questão que aparece muito em termos de demanda da juventude
foi muito a ampliação de espaços de laser, acesso a cultura, espaços culturais, como teatro,
acho que isso foi o que mais compareceu como demanda da juventude.
Então essa questão da formação, perspectiva de cultura, acesso a espaços de lazer, de teatro e
eles estão muito preocupados com a qualidade da educação também.
3. Como foi que detectada essa demanda da juventude? Mas você falou que foi via OP?
Foi, nós fizemos oito fóruns, no ano passado, 2005, exatamente querendo identificar qual a
demanda da juventude e eles participaram e a gente perguntou e foi pontuando. Tentei falar
pra vocês o que eu percebi com mais freqüência.
Até achei que não apareceu com tanta freqüência a questão da violência, é uma coisa que eu
percebi que a preocupação deles está muito na questão de falta de perspectiva, que a
juventude hoje vê, a sociedade, eles não sabem muito o que vai ser o amanhã, então isso
preocupa muito. Em termos de perspectiva profissional, por exemplo, talvez a violência esteja
embutida neste processo, mas ela não apareceu, assim, claramente, isso foi uma questão que
eu percebi.
4. E aqui na Prefeitura Municipal de Vitória (PMV), quais são os programas e projetos
destinados à juventude?
È de dentro da Secretaria de Promoção Social. Essa gerencia foi criada em 2005, tentando aí
ser um canal de interlocução com essa juventude da capital. Por que o que que acontece, essa
juventude não tinha muito essa interlocução com o poder público, o poder público
automaticamente não tinha com a juventude. Então essa gerência foi criada mais para tentar
estabelecer esse canal e aí visualizar um pouco de quais seriam as demandas e formular
algumas políticas para juventude.
5. Na gestão passada teve uma secretaria não teve?
Teve, mais ela automaticamente foi, ela não era uma secretaria institucionalmente instalada,
ela não tinha legalidade, então quando veio a nova administração ela não estava no quadro da
PMV.
E assim, eu participei também da gestão passada e ela tinha algumas iniciativas de
interlocução sim, talvez isso se perdeu no finalzinho, por questões políticas até que acabou
perdendo um pouquinho mais eles tiveram algumas iniciativas de manter uma interlocução.
Talvez um pouco assim, com uma olhar muito mais de cooptação, talvez , isso fez uma
diferenciação. Por que a idéia é que você pode fazer uma interlocução, mas não tentando
cooptar, tentando estimular, empoderar, buscando estimular a autonomia desses jovens, agora,
com certeza você tem que trabalhar isso tudo ao mesmo tempo, assim, nós ao mesmo tempo
que tentamos criar canais de participação, empoderar esses jovens, nós também tentam criar
espaços de visibilidade para esses jovens, que os jovens da periferia se fortalecem muito com
a questão da auto-estima deles, e criar canais de visibilidade e geração de renda é um
caminho. Então eu acho que são três pontos fundamentais, eu acho: um é criar espaços de
participação, outro é criar espaços de visibilidade e outro é criar espaços de geração de renda.
Principalmente para esse público que não tem acesso a essa visibilidade. Você pega esses
grupos populares que são grupos culturais, que dançam, cantam, fazem teatro, poesia, eles tão
lá, invisíveis praticamente, só se tornam visíveis, quando estão no crime, ou então na
marginalidade, ou pega numa arma, mas quando eles produzem essa questão cultural eles
praticamente ficam no anonimato. Então, um dos espaços é esse, tem várias ações uma é dar
visibilidade outra é criar espaços de participação através de fóruns, mesmo, igual ao OP, que
tem essa missão e o outro é você tentar criar espaços de geração de renda. Por que por
exemplo, quando esses grupos entram no cenário da cidade, nos eventos da cidade, esses
grupos nunca entram, geralmente são os grupos mais famosos, quando vocês criam espaços
para eles participarem eles ganham a renda deles. Então essa também é uma missão. Outra
coisa de geração de renda é quando você trabalha com formação, faz uma política também de
formação profissional que possa inserir esses jovens no mercado de trabalho.
Acho que uma política também para os jovens de 15 à 24 anos não pode estar desagregada de
forma alguma à forma profissional. Você tem que ter olhar da participação, da interlocução,
eles não podem ser apenas usuários do serviço, eles tem que decidir, mas geralmente nunca
está desagregada da formação profissional, a demanda de formação é muito grande, né? São
muitos jovens de 15 a 29 anos que tem famílias, né?
6. Mas vocês tem programas Federais e Municipais, não tem? Quais são eles?
Temos, em termos de programas a gente praticamente tem assim quatro grandes programas e
projetos aí considerados.
Tem o programa “Agente Jovem”, que são jovens de 15 à 17 anos. Temos o programa
“Odomodê” que é um programa de inclusão da juventude afrodes-cendente, que aí pega de 15
a 29 anos, que é a perspectiva, a gente está tentando seguir o Plano Nacional de Juventude
(PNJ) de 15 a 29 anos, A gente tinha uma discussão de 15 a 24 anos, mas como o PNJ traz
essa questão de 15 à 29 anos a gente está tentando não fugir a essa discussão, por que tudo daí
pra frente, que vier de juventude vai ser de 15 a 29 anos. Então a gente não pode ficar fora do
processo e aí o que acontece [...] temos o “Cine Kbça’ que é um cineclube itinerante, que é
uma grande estratégia de interlocução com a juventude local, interlocução e também de
formação [...] o Cine Kbça é um cinema itinerante que utiliza essa questão dos filmes,
principalmente filmes nacionais, e levanta debate com os jovens, é uma estratégia que deu
muito certo [...] e temos agora o “Rede Jovem” que mais ou menos é um projeto que tenta
identificar, se articular e mobilizar a juventude local. Por exemplo, se a gente está construindo
um fórum, o “Rede Jovem”, que é o responsável por identificar esses segmentos e articular. O
“Rede Jovem” é um grande suporte para implantação de um projeto que a gente está tendo
agora, que é o “Centro de Referência de Juventude”. Então, por exemplo como é que o
“Centro de Referencia” vai se implantado? Com certeza os jovens vão ter que ter uma decisão
importante, uma participação importante no processo de formação desse “Centro de
Referência”, quem vai articular aí é o “Rede Jovem”, como? É uma grande questão: vai fazer
plenárias regionais? Vai chamar por segmentos? Chamar por segmentos evangélicos,
skatistas, pode ser todos também, não só esses que eu estou falando, vamos chamar os
segmentos dos projetos já estabelecidos? “Pró-jovem”, “Agente Jovem”, “Escola Aberta”,
também é uma estratégia. A gente vai criar diversas estratégias para trazer esses jovens pra
tentar contribuir e não só contribuir. A gente não tem ainda muita clareza ainda do modelo de
gestão do “Centro de Referência”, a gente quer que a PMV tenha uma gestão direta, que ela
execute. Ma como é que o jovem vai participar? Ele vai participar com a elaboração? Mas
como é que ele faz o acompanhamento? Quer dizer, vai ter um conselho consultivo? Não sei.
A formatação vai ter que ser construída aí.
7. Vocês tão pegando de exemplo algum centro que já foi construído no país?
É, a gente vai lá fazer uma visita lá em Diadema, pra ver como que lá funciona. Diadema tem
não só um “Centro de Referencia”, mas é um Município que onde teve uma redução muito
grande da violência, então o “Centro e Referência”, com certeza, é parte de um conjunto todo
da prefeitura, do Município também.
A gente tem outras inspirações, por exemplo, eu acho que a Ação Educativa, o Observatório
da Juventude, lá na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), o Observatório do
Jovem, lá na UFF(Universidade Federal Fluminense) é uma referência também, eu acho que
tem algumas experiências que já trabalham, discutem um pouco dessa questão da juventude e
a gente tem tentado trazer um pouco pra discutir.
8. Os projetos são basicamente esses então?
É, são basicamente esses, mas cada projeto desse se desdobra muito, por exemplo, o “Agente
Jovem” já tem quatro convênios de fortalecimento da arte, da cultura, convênio para que os
jovens façam música, teatro, artes plásticas. Por exemplo, a gente tenta se relacionar com
segmentos da cidade, com Hip Hop, quarta reagge, agora a gente esta tentando se aproximar.
Então o “Rede Jovem”, também, faz uma série de interlocução com a cidade, por que se não
assim, não dá pra ter uma dimensão do que a gente faz. È por que a gente não colocou no
papel o que agente faz por que se fossemos colocar a gente ficaria assustadíssimo com o que a
gente já fez até hoje de interlocução. Quando a gente começou, até o ano passado, esses
fóruns de juventude, ainda foi muito inicial. A gente fez o fórum, uma experiência importante,
mas não atingimos 1/3 dos segmentos juvenis que a gente tem contato hoje. Se o fórum fosse
feito hoje ele teria uma outra característica, hoje a gente já conseguiu atingir um pouco desses
segmentos, como? Qual a estratégia? Essa é uma grande questão. Estratégia de atingir a
juventude é uma coisa complicada. Por que você cria espaços para a juventude chegar, cria-se
canais, mas você tem que criar uma vinculação com eles também, isso é uma coisa cotidiana,
você vai trazendo os jovens eles vão participando aos poucos, né? Não tem assim, você vai
trazer todo o seguimento, você vai trazer tudo de vez, “ah, vamos fazer um fórum juntando
todo mundo” . A questão é: de que lugar você está falando? (...) Por exemplo, vão fazer um
fórum e trazer todos os segmentos, por que poder público, assim, não é representativo, quando
é com a juventude aí é que ele não é mesmo. Por que a juventude se mobiliza independente do
poder público e o poder público não tem essa credibilidade, essa legitimidade de chamar o
jovem, assim, “vamos fazer um fórum com 1000 jovens e todos os segmentos?”, isso é uma
fantasia. É uma demanda muito mais do poder público, de quem está propondo ou é uma
incompreensão do lugar, de que lugar você está falando? Você tem que falar de um lugar que
você tenha legitimidade e essa legitimidade ela é construída nessa relação com a juventude.
Por exemplo, a gente tenta chegar, vamos chegar nos movimentos lá da Curva da Jurema? da
periferia? então a gente monta os núcleos na periferia, vamos chegar no Agente Jovem?
Chegar na classe social? O “Cine Kbça” é uma estratégia de você [...] na verdade é como se
fosse uma construção e aos poucos essa juventude vai chegando e aí um dia você vai fazer um
fórum com 1000 jovens [...] Então do lugar que você fala é muito importante. Por que se não
você se perde, você pensa em 1000 jovens e não chega nem 10 e você acaba se frustrando,
pensando que não deu conta, mas não é assim não. Por que, se você não tiver uma dimensão
da onde você está falando. Se você não tiver uma interlocução, uma credibilidade, você não
consegue falar, isso independe de ser a juventude ou não, quando é a juventude aí é que ela se
movimenta independente do poder público mesmo.
Você vê um campeonato de Skate organizado pelos jovens, dá 250 jovens, 300 jovens, que
nem nunca apareceram aqui na PMV, e se a PMV aparece, ela até atrapalha o movimento.
Então tem essas questões, né.
9. A gente queria saber também com relação ao orçamento que você falou, a juventude
tem orçamento próprio, né, quanto que é?
É uma grande conquista, a nossa maior conquista foi no orçamento. É como se a gente tivesse
saído de um orçamento próprio de R$ 50 mil e fosse para R$500 mil. Então é uma conquista.
Essa questão de fazer interlocução com a juventude, você abre muitas frentes, não tem jeito.
Aí você vai se legitimando e a juventude vai vindo e essa coisa vai acontecendo e você vai
justificando, e todo mundo vai percebendo é como se fosse uma bola de neve. O ano passado
a gente fez um movimento que não foi muito grande, mas saímos de um orçamento que não
tinha nada pra juventude praticamente, só tinha a verba federal, do “Agente Jovem” ,e a
contra partida do Agente Jovem que a prefeitura é obrigada, então não conta né? isso era
obrigação. Nós construímos um orçamento próprio de quase R$ 500 mil, pra trabalhar com
esses projetos todos.
10. E era dotação própria?
Essa verba vem pela ação social, nós conseguimos até mais que os outros programas que tinha
dotação específica. Mas isso tudo é uma conquista, não teve uma estratégia, foi a própria
juventude vindo, ocupando esse espaço, marcando e fazendo uma pressão.
11. Como é a relação dos técnicos com a juventude? E como é feito o planejamentos dos
projetos que você citou?
O nosso departamento não tem nenhuma parede. A primeira coisa era essa. E todos os jovens
que quiserem chegar eles podem, é um espaço onde os jovens têm acesso. No início foi até
difícil, pelas características de roupas, de comportamento, por que às vezes ele chega falando
alto e então destoava um pouco do conjunto da Secretaria, mas depois eles tiveram que se
acostumar com essa questão. E aí o jovem tem acesso, assim muitos técnicos assistentes
sociais, psicólogos, ou mesmo do ensino médio, eles se assustavam um pouquinho. Primeiro
por que o jovem tem acesso, entrava e sentava no computador, muitos técnicos até saíram, por
que não foram se adaptando, não conseguiram perceber, é a relação de poder. Como é que
aquele jovem chega, senta no computador, aquele jovem fala alto, boné pra lá pra cá, cabelo
pra cima, muita gente ficou incomodado de mais, alguns profissionais pediram pra sair e
alguns nós tivemos que conversar com eles. Mas, assim, hoje a equipe, tem essa compreensão
de que juventude é um sujeito de direitos, jovem não é problema, mas sim, é uma diversidade,
ele tem umas características próprias, de se colocar, faz parte do processo. E aí eu acho que
hoje a gente tem uma equipe muito legal de trabalho, isso faz uma diferença enorme no nosso
departamento. Desde os estagiários, eles se envolvem, não importa o dia, se é final de semana,
se não é. Então eles se envolvem muito. Aí os jovens se identificam. Aí passa também por
uma identificação do trabalho.
Por exemplo, a gente tem uma grande dificuldade quando entra um profissional aqui, de
serviço social então, aí é uma loucura ,rsrsrssr.
12. Por que?
Por que, achar um profissional de serviço social que vai pra esse departamento é caso
raríssimo. A gente fica pensando, por que aqui é totalmente diferente. Por que o jovem tem
acesso ao espaço, os profissionais ficam desesperados, porque eles chegam e sentam no
computador, são muitos jovens de vez, alguns falam alto, outros xingam.
E outra coisa, a gente tenta trabalhar com essa diversidade, por exemplo, a gente traz os
negros, os homossexuais, então, se você tiver um nível mais elevado de preconceito, você tem
dificuldade, não tem jeito. São exatamente com esses jovens que a gente tem que trabalhar. O
que eu sinto no nosso departamento tem duas características básicas que permeiam alí: uma é
a questão do compromisso, nós não temos compromisso com horário, nós temos compromisso
com a juventude, então qualquer pessoa que não tenha compromisso ela destoa, por que? Por
que não tem paredes, ela não tem como se esconder. Outra coisa, a gente não tem muito nível
de preconceito. Quer dizer, não é que nós não temos preconceito, mas nós tentamos, a todo
tempo, desconstruir o preconceito racial, sexual, essa questão toda. Portanto, qualquer pessoa
que tenha muito preconceito a nível sexual, racial, como não tem parede novamente, quando
ela vai falar ela destoa do conjunto, aí ela aos poucos vai se excluindo. Então esse exercício
de minimizar os preconceitos e de correr atrás do compromisso é uma coisa que não é falada,
mas ela permeia o departamento. Aí, tem técnico que fica desesperado, por que a gente tenta
problematizar o movimento funk, por que a gente acha expressivamente um movimento
fortíssimo, que dá espaço aos jovens da periferia, que dá muito emprego a esses jovens, dá
perspectiva, dá visibilidade. Quer dizer, olha os olhos. Imagina se o técnico que entrar ali
achar o funk um movimento de negros que fala só sacanagem, ele vai ficar doido. Por que
essa não é a discussão que a gente tem. Aí essa é uma discussão que eu acho que faz a
diferença. Então não é qualquer profissional que chega ali e se depara, às vezes ele fica
desesperado. A questão da droga a gente discuti, a gente não quer saber de preconceito não.
13. E como é feito o planejamento mesmo? Citando o exemplo do Cine Kbeça que você
acabou de falar, o planejamento é feito com a juventude ou não?
Olha só, aí é uma conquista né? Esse é um grande desafio, o desafio está aí. Bom, no Cine
Kbeça eles tentam, mas não é fácil não. Eles tentam levantar os filmes, eles vão às escolas e
tentam levantar os filmes que os jovens querem, algumas vezes é legal é uma metodologia
que eles perseguem. A outra proposta, eles mesmos propõe. Então algumas vezes eles tentam
levantar os filmes e outra vezes eles ditam os filmes. Só que o que você esta falando é a
questão do protagonismo. É muito difícil o protagonismo, transformar o outro em
protagonista não é uma coisa macro, é uma coisa micro, é nas micro relações. Por exemplo,
no “Agente Jovem”, como é que o jovem participa? é uma coisa a perseguir. Como é que você
cria o espaço para o jovem decidir nas cidades? Você estimula o jovem a participar dos
conselhos? Conselho da criança e do Adolescente?
Por exemplo, o agente jovem estava num espaço escuro, eles ficaram um mês falando, nossa
que lugar horrível, então eu fiquei pensando, será que o jovem está usando o espaço ou a
gente vai revitalizar esse espaço com o jovem? Então, isso que é a questão do protagonismo,
se o espaço esta escuro, como você implica o jovem na resolução do problema? A discussão
é, se você implica o jovem na decisão do problema? No processo? Não é no processo, é no
planejamento do processo. É uma coisa difícil, mas a gente está tentando perseguir. É uma
visão de mundo construtiva, né? Você tem que ter uma visão de mundo construtivista, vamos
dizer, onde você possibilite ao outro se tornar sujeito, mas isso não é uma coisa mecânica, é
uma filosofia de vida, em cada técnica, cada programa tem que fazer o exercício diário disso.
Isso não é uma coisa que se fala só. Isso é um exercício cotidiano. Por mais que você tente ser
construtivista, você não é construtivista aqui, isso é uma filosofia de vida. Portanto você
enquanto profissional, enquanto programa, você tem que ter uma prática construtivista aqui,
na sua casa e isso é muito difícil, no seu quotidiano. O protagonismo não é uma coisa que
brota, não é uma coisa que sai do ar, é um exercício, você persegue ele.
Você tenta criar canais, por exemplo, a Secretaria de Juventude, Subsecretaria, da gestão
passada, criou uma estratégia linda, uma Câmara Técnica de Juventude, onde tinha diversos
segmentos, que mais que esse canal de participação? Mas, tinha uma prática extremamente
autoritária, então você pode trazer o cara na participação até na bolinha de gude, assim, não
precisa ser uma coisa complicada, esse é um exercício que você persegue como uma filosofia
de vida. Assim, então a gente tenta exercitar, e você precisa refletir sobre a prática, pra fazer
isso. O que a gente está tentando fazer é o seguinte: olha só, um canal importante que a gente
está tentando fazer é estabelecer uma metodologia que cada programa desse tem que ter um
dia de grupo de estudo, isso é uma diretriz por que o que vai fazer chegar lá (...) como você
falou o Cine Kbeça permite aos jovens participar do planejamento? Algumas vezes, mas pra
se tornar uma filosofia desse programa os próprios profissionais tem que mergulhar no
planejamento entre eles, tem que ter um dia de estudo. Esse dia que vai dar credibilidade, dar
sustentação pra perceber, os jovens lá estão sendo mais tutelados? Ou eles estão sendo mais
protagonistas? Por que isso é como se fosse uma coisa a perseguir não é uma coisa
estabelecida. Então uma estratégia que a gente está adotando é que tenha um dia de estudo,
pra reflexão da prática, aí uma das questões é essa que você está colocando, qual é a proposta
teórico-metologica? Que tipo de sujeito eu quero formar com aquela ação? Um sujeito mais
passivo? Um sujeito mais participativo? Ah eu quero mais participativo? Então como é que ta
sendo a [...] A mesma coisa você pode pensar dos programas de família, qual é o programa de
família onde as famílias decidem? Participam do processo de decisão? De planejamento? É
mais ou menos isso, mas o que garante isso é o espaço de reflexão da prática, por que esse
espaço de estudo e reflexão da prática é que vai garantir essa reflexão de um espaço mais
participativo, uma metodologia mais participativa.
14. E quanto à gestão das políticas públicas, na sua opinião, qual a maior dificuldade
encontrada?
A especificamente, uma das dificuldade, em relação à juventude, é a compreensão social, é a
representação social sobre a juventude, que é juventude enquanto problema, acho que é o
jovem percebido, principalmente em comunidades periféricas, enquanto um bandido
impotencial. Então em termos de implementação das políticas em nível macro, eu acho que é
essa representação social da juventude. Essa representação social da juventude faz com que
você acabe tutelando o jovem, ou tendo uma visão mais “policialesca” do jovem. Então o
jovem, visto mais como um problema de ordem social, onde precisa de intervenção ou
policial ou tutelada, isso faz com que você não crie uma compreensão que respeite esse jovem
enquanto sujeito de direitos. Crie canais de fato legítimos. E aí quando você cria canal, você
tenta cooptar o jovem, se não cria canal onde você só estimule a participação, onde você traga
o jovem, para que ele seja de fato alguém que decida. Mas você ou quer cooptar ou você quer
tutelar esse jovem, então essas representações sociais são um grande impedimento disso. Os
espaços criados para juventude no poder público geralmente, não tem orçamento, quer dizer,
as administrações acabam fingindo que estão fazendo. Ou são atreladas a prática política,
atrelada a partidos, jovens que vem do movimento estudantil, que entra em determinado
segmento, ou pra se projetar e já ser candidato ou pra fortalecer outro candidato, então essas
instâncias burocráticas são sempre montadas nessa perspectiva de juventude, sem uma
interlocução de fato com a juventude da cidade.
Internamente aqui na prefeitura, o grande entrave, para a execução de políticas públicas,
talvez, seja a morosidade do poder público em responder né. Hoje uma jovem falou assim
“vem cá mais vocês definiram no OP apoiar o pré-vestibular popular né? Pois é, mais está
muito devagar, sabe por que? Nós estamos no mês de abril, nós já montamos o pré-vestibular
vamos começar terça-feira e vocês ainda não se mobilizaram” então eu acho que assim, a
lentidão do poder público para responder as demandas é u ma grande questão, é um fato que
impede a execução.
15. Com relação às ações destinadas a cultura como está a questão na PMV?
Eu acho que a cultura nesse ano já está, começando a se aproximar da juventude no conjunto
da cidade. A cultura no ano de 2005, ainda estava se apropriando disso, por que ela ficou
muito presa em ver shows, eventos, não tinha uma coisa mais vinculada às comunidades, de
chegar a esses jovens lá na comunidade. E agora eu acho que ela já está se aproximando mais.
16. E agora como ela está investindo mais?
Agora, por exemplo, tem um projeto chamado “Circuito Cultural”, onde tenta identificar os
talentos da comunidade, tenta fazer uma reunião com a comunidade, ver o que a comunidade
quer, depois ela tenta fazer um cadastro desses talentos, uma coisa importante, colocam eles
para tocar, por que isso dá visibilidade. É projeto da secretaria de cultura, que eu acho bacana,
80% do público é a juventude.
17. E quanto ao conselho de juventude, está havendo alguma movimentação para
criação dele?
Sim, a partir da discussão do PNJ, a gente já começou a pensar nessa discussão do conselho.
Agora a gente quer seguir mais ou menos a formatação que a Secretaria Nacional está
conduzindo.
18. O que você acha do PNJ?
Acho que é o ponta-pé inicial, acho que é o início de uma caminhada. Assim, não podemos
pensar que em nível muito macro, ele vai construir muito, que a participação seja tão efetiva.
Por que exige muito recurso. Eu acho que eles tão fazendo até um exercício de trazer esses
segmentos. Acho também que nos estados poderia ter uma mobilização maior, acho por
exemplo, aqui no estado só tem uma deputada e ela não tem uma interlocução local. Isso pode
ser uma característica do nosso estado, eu não tenho uma dimensão de como está se
articulando nos outros estados, especificamente. Como é que isto esta acontecendo? Se está
havendo mobilização? Especificamente aqui no estado eu acho que não houve um amplo
debate, poucos segmentos tem noção dessa formatação do plano e tal, mas isso não viabiliza
não. Acho que de qualquer forma é um começo, é uma iniciativa importante inclusive. Por
que, por exemplo, se o plano estabelece conselhos a nível federal, a nível estadual, a nível
municipal, já é uma grande [...] estabelece fundos, estabelece um estatuto, isso tudo tem uma
repercussão depois, eu acho que a juventude pode, mesmo entrando na participação atrasada,
ela pode decidir, pode ter espaço de decisão importante. Então apesar de ter sido feito de uma
forma meio contraditória, sem um grau de participação elevado, mas ela ainda tem espaço
para entrar aí no processo.
26/04/2006
Gestor 03
Secretaria de Coordenação Política
1. Qual a atribuição da Gerência de Relações com a Juventude?
A Gerência de Relações com a Juventude, da Prefeitura Municipal de Vitória, tem como
prioridade, fazer a interlocução com os diversos setores da secretaria de esfera municipal,
sobre o tema juventude e sobre os projetos e programas para juventude que a Prefeitura for
implementar. Então, para não ser prolixo, nós somos aqueles que, teoricamente, fazem a
integração dos projetos na administração.
2. Vocês têm alguma relação com a Gerência de Juventude? Vocês trabalham junto?
O "departamento de Juventude" é um espaço da "Secretaria de Ação Social". Tem diversas
finalidades, entre elas, gerenciar os programas federais e a construção de alguns programas
que dizem respeito as políticas públicas para Juventude. A diferença da gente para o
departamento é que o departamento, acho que é mais um espaço da política “fim”, nós somos
a política “meio”. Quem mais bate na questão dos programas, da administração, seria o
"departamento de políticas de juventude", gerência agora né? da "Secretaria de Ação Social".
Algumas coisas nós temos conversado juntos, avançamos em algumas e tal. O debate do
Orçamento Participativo (OP) foi feito em parceria. Inclusive nós procuramos ajudar em
algum espaço que foi deixado pelo vácuo de 240 mil reais do orçamento, sendo do Centro de
Referência da Juventude (CRJ), estamos tentando trabalhar isso. Então... podemos dizer que
existe parceria sim, no sentido de encaminhar as políticas para o município.
3. Mas vocês têm projetos também?
Acabou que ficou uma coisa, meio que, não uma atribuição específica nossa fazer projeto.
Não é. Se você for pegar o organograma da Prefeitura, as atribuições, com a nova reforma
administrativa, essa gerência não tem essa finalidade. Nós fizemos, pelo fato de que, quando
foi apresentado o OP da Juventude (Vitória é hoje, a única cidade do Brasil que separa 3% do
orçamento de investimentos da administração para políticas públicas para Juventude), nós só
tínhamos, se não me engano, o orçamento na faixa de 146 milhões, 3% aí, vamos arredondar,
vai para 4 milhões e alguma coisa, nós só tínhamos 600 e poucos mil onerados pra utilizar
esse orçamento. Nós sentimos necessidade de trabalhar algumas idéias para utilizar esse
recurso, se não ficaria muito feito pra cidade, né, a gente tem um recurso que não é utilizado.
Então quer dizer, a gente criou projetos para utilizar esses recursos que estavam disponíveis.
Então, por isso, nós temos projetos para cidade, relacionados, obviamente, a juventude.
4. Vocês concretizaram algum projeto?
O que é que acontece. Nós começamos a caminhar muitos projetos com algumas secretarias
que faziam interface, que tinham afinidade com determinado projeto, por exemplo, nós
fizemos um projeto chamado programa "No Rock". Que é um programa que iria fazer
interface nas boates e tal, para gravidez na adolescência, DST/AIDS, violência juvenil, é uma
coisa bem ampla e envolvia a Secretaria de Saúde e a de Cidadania. Então nós começamos a
construir o programa, uma coisa de todo mundo, porque não nos interessa ter paternidade de
idéias, nosso interesse é trabalhar pela cidade, pelo município, compromisso com a
administração do prefeito João Coser. Nós queremos que ela dê certo, então, nós temos o
problema pra implementação da disponibilização dos recursos do orçamento participativo,
que nós não conseguimos ainda utilizar esses recursos. Foi feita uma mudança na equipe de
planejamento. A Secretaria de Planejamento não existe mais, agora é Secretaria de Gestão
Estratégica e a gente teve alguns problemas com a metodologia do orçamento participativo,
tanto é que, inclusive a SEMAS (Departamento da Juventude) ficou sem os 240 mil reais para
fazer o CRJ. Então a gente tem que resolver esse problema do Orçamento com a
administração para tocar os projetos. Na verdade, o que a gente conseguiu fazer, que não
depende de dinheiro, foi a Câmara técnica de políticas públicas para juventude do município.
O que é, justamente, fazer uma integração entre todos os gestores de políticas públicas para
juventude da administração, o momento que a gente vai conversar, discutir, encaminhar. Isso
a gente conseguiu fazer. É importante porque você tem que assimilar que política pública para
juventude,... juventude é um tema que faz interface com várias secretarias, então tem que ter
transversalidade e tendo transversalidade, dá oportunidade dos outros participarem também
das decisões, então a gente conseguiu caminhar muito bem. Outra coisa que a gente está,
acredito agora que nesse próximo mês a gente conclui, é criar um espaço com outros setores
da sociedade civil para discutir o tema de políticas públicas para juventude. Quais são esses
setores: Secretarias do Estado relacionadas ao tema juventude, Polícia Militar, Federal,
Ministério Público Federal, Estadual, Juizado de "menor", a gente quer trabalhar a concepção
de juventude dessas pessoas. A gente acredita que existem conceitos ultrapassados e que
precisam ser modificados. Por exemplo, o Juizado de "menores" ele tem uma visão
equivocada de juventude. O próprio Ministério Público, o promotor, quando vai agir num
caso de violência juvenil, a forma com que ele lida com esse problema é uma forma muito
complexa, difícil de entender como gestor de política. A gente acha que tem o papel de estar
mudando a concepção dessas pessoas e como fazer? Seria um fórum para gente discutir com
esses setores políticas públicas para Juventude, a própria ação da Polícia Militar, que às vezes
é uma ação exagerada, não tem a compreensão do problema que aquele jovem passa, para ele
estar cometendo aquele tipo de atividade, e joga muito a questão pro lado da marginalidade,
como se fosse uma pessoa a margem da sociedade, uma afronta a sociedade, mas não tem a
concepção de que a sociedade é que criou condição para isso e aquilo. Tenta trabalhar isso
para acabar, tenta trabalhar essa questão da violência policial, de jovens, que é muito
eminente na cidade de Vitória.
5. Qual a sua concepção, sua visão de juventude?
Minha visão de juventude parte do princípio de que juventude é uma faixa etária, não um
estado de espírito, mas uma faixa que está em transição, com problemas dos mais diversos,
sejam psicológicos, de inclusão na sociedade, na busca por emprego, da sua identificação
social. Então partindo desse pressuposto, inclusive, o jovem acaba sendo um alvo do
capitalismo, da estrutura capitalista pra consumo, essa problemática que o jovem [...] existe. A
gente tem que entender que, diante dessa problemática, até de opressão que o jovem passa, a
gente precisa perceber, para trabalhar com políticas públicas que, independentemente da gente
achar similaridades dos problemas que a juventude vive, um deles é essa questão da transição
da idade, é [...], outra coisa é que a gente tem várias juventudes, né? A gente tem de trabalhar
com a concepção de que a juventude, ela não é única. Ela tem singularidades, tem coisa que
são singulares também, a juventude do baile funk, que tem aquele espaço social, aquele gueto;
a juventude da boate, que de certa forma tem um gueto; a juventude do hip hop já tem outro
espaço. Então você tem que trabalhar a concepção, ela tem que trazer um pouco esse período
de transição e também do espaço que a juventude se insere. Trazer que a juventude é um alvo
dos meios de comunicação, consumismo, então você tem que construir todo um aparato para
você, na hora de conceber as políticas públicas, estar entrando em cada um desses espaços.
Não sei se eu fui muito claro. Mas eu penso que, enfim, não existe uma juventude única,
existem diversas juventudes.
Isso inclusive redobra o nosso trabalho, porque você tem que diferenciar políticas, nós
estamos com a proposta do funk legal, um projeto muito legal, que é um projeto que além de
trazer consciência sobre diversos temas com aqueles que freqüentam o baile funk, é também
desmistificar o preconceito de quem freqüenta o baile funk sofre na sociedade, "que é o cara
que não presta, só tem briga, sexo liberado", é um idéia que, de certa forma, não pode ser
tratada assim. Se você for parar pensar, as boates que a classe média, que a gente freqüenta,
também tem tantos problemas como tem o baile funk. Só que, como o baile funk é uma
representação da sociedade, de um estrato social em condições de, talvez de marginalidade,
uma condição desfavorável, ela é tratada dessa forma, de forma preconceituosa.
6. Quais são as demandas da Juventude? Como vocês fizeram? Na verdade antes, eu
queria que você falasse um pouco com relação a esses projetos que você falou, que tem
vários projetos que a gerência de vocês fazem e falou que está implementando mesmo só
o da câmara técnica. E falou também que existem vários projetos, no caso esses projetos
como foi a elaboração deles? vocês utilizaram participação? Como foi, como vocês
trabalham a participação juvenil na gerência?
A gente pode dizer que os projetos nasceram de duas formas. Essa gerência começou em 23
de março de 2005, o dia em que foi criada, não era gerência ainda, era assessoria de
juventude, ligada ao gabinete do prefeito. Então, naquele momento, nosso papel era de
representação institucional. Os representantes do gabinete do prefeito, isto fazia relações com
grêmios estudantis, DCE, então era uma relação extremamente política das demandas que
existem nessas instituições junto à administração municipal.
E quando nós vimos a necessidade de passar além disso, e repito, isso surgiu quando no OP
da juventude, nós fomos trabalhar experiências existentes no resto do país, o que cada um
estava fazendo, o que estava dando certo, e vamos pesquisar. Ficamos basicamente duas
semanas reclusos, fora da administração, lendo, assim, coisas ao extremo, a primeira semana
mais de estudos, a segunda semana mais para tentar trabalhar, enfim, assim se deu essas
coisas, a gente foi buscar referências, a gente não teve propósito de querer inventar a roda.
Fomos ver como funciona para tentar adequar à nossa realidade. Num segundo momento, nós
trabalhamos em cima das propostas que surgiram nos congressos de juventude. Foram
realizados congressos em cada regional da cidade.
A cidade é dividida em regional, nelas surgiram demandas que foram agrupadas, essas
demandas a serem votadas no OP da juventude. Acontece que muitas dessas demandas eram
superficiais, algumas inexeqüíveis, porque, não cabiam para a administração municipal fazer.
Ou algumas muito direcionadas, "construção da quadra no meu bairro". Então a gente não
podia trabalhar dessa forma. Pegamos algumas idéias e trabalhamos para estar buscando a
construção de programas.
7.Mas como você pode dizer qual a demanda da juventude de Vitória? Você tem como
tirar um perfil da demanda?
Olha, não vou dizer para você a demanda, posso falar qual o nosso maior desafio. Nosso
maior desafio é com a outra ilha de Vitória. O prefeito João Coser, durante a campanha
eleitoral, discutia esse impasse que Vitória era duas ilhas, então, o objetivo nosso é construir
políticas que diminuam essas diferenças, obviamente, a maioria dessas políticas são
direcionadas a regiões de Grande Santo Antônio, Grande São Pedro. Esses espaços onde a
gente tem maior risco social. Então as políticas estão mais focadas, o que não quer dizer que
nós não temos políticas para toda cidade. Existem políticas para toda cidade, mas nós temos
que trabalhar onde o problema é maior, até para diminuir essa dificuldade. O objetivo é acabar
com as duas cidades, mas agente sabe que não vai poder fazer, então vamos diminuir um
pouco esses índices negativos da outra Vitória.
8. Você já falou também do orçamento, né, que são 3%. Vai direto ou via Ação Social?
A gente trabalha isso da seguinte forma, esse recurso, o projeto é discutido no congresso da
juventude e votado lá, para ser utilizado esse recurso, uma vez que essa idéia foi votada e
discutida, você identifica a secretaria afim. Por exemplo, um programa que tem interface com
a saúde. O recurso não vai para a saúde. A saúde vai executar esse recurso, só que a gente
monta uma equipe com outros setores para encaminhar essa idéia. Essa é a metodologia.
9. Então são 3% para a juventude como um todo? Não importando se o programa vai
sair da gerência, da secretaria de saúde...?
É preciso então fazer uma observação. São 3% para a juventude, mas é ela quem decide como
esse recurso vai ser gasto, senão a gente pode ter a idéia do seguinte: "construção da quadra
esportiva Grande Maruípe" atende a juventude? Atende, mas não saiu do OP da juventude.
Entendeu? São duas coisas diferentes. A administração faz políticas para juventude
independentemente dos recursos destinados só para o OP. Os 3% são só para o OP, são
votados e é decidido seu gasto [...].
10. E esse OP que teve agora, vocês conseguiram realizar?
Fizemos. Nós estamos com problemas no orçamento. Já respondi [...]. Mas acredito que, até a
primeira quinzena de junho nós já temos um start para caminhar as coisas, os projetos já estão
basicamente prontos. A gente agora vai executar. Momento da execução e essa execução
começa quando a Secretaria da Gestão Estratégica virar e falar: "olha está Ok. O recurso pode
ser utilizado". Aí é a parte da execução. Você deve entender que, como estudantes de serviço
social, para você fazer um projeto você tem de fazer alguns estudos, se referenciar e a gente
aqui é fazer muita reunião. A gente aqui não tem, não faz idéia de que o projeto é da Gerência
de Juventude. É do município de Vitória. Então a gente senta com a Saúde, com a SEMAS,
para a gente construir junto os projetos e dividir tarefas. Então você tem um prazo de
maturação para construir projeto também.
A gente aqui, como gerência, foi instituída de fato em janeiro, as atribuições específicas como
gerência e tal [...] O que falta mesmo é resolver a situação do orçamento mesmo e ir para a
execução, do que precisa utilizar de recurso.
11. Você está vendo alguma movimentação para a criação do conselho municipal da
juventude?
Pois é. Qual é a questão do conselho municipal de juventude? A atribuição da criação dos
conselhos, conferências, etc, é da gerência de relações com a Juventude. É nossa. Porém a
gente está com problemas de concepção do que vem a ser o conselho municipal de juventude.
A gente tem visto experiências em vários estados do Brasil. Qual é o nosso medo? A gente
está buscando o melhor mecanismo para a construção do conselho para que seja um espaço
que represente de fato a juventude do município. A gente não quer que seja uma instância
político-partidária. Então a gente está tentando inventar a roda, a gente está vendo como
incluir a maior parcela dos movimentos sociais para que isso não vire um espaço políticopartidário. As pessoas dos partidos políticos podem participar? Até devem, mas é o conselho
que não pode se resumir a isso. Mas, a gente acredita que, a gente, vai caminhar para a
construção do conselho sim.
O que traz alguma dificuldade, porque você vai entender que a concepção do conselho de
juventude, vai esbarrar em outro problema: a prefeitura de Vitória tem um organismo
chamado Congresso de juventude para discutir o OP, então você vai ter que criar um
mecanismo de como o conselho vai se relacionar com isso, quais serão as interferências entre
um e o outro. Porque o conselho tem uma atribuição. Ele pode ter uma atribuição deliberativa
desse orçamento, mas, isso vai ser uma decisão de governo. De repente tirar essa atribuição
dos congressos e jogar para os conselhos, é uma decisão que não cabe a gente, é uma decisão
do prefeito. A gente entende que o conselho deve existir sim e a gente vai caminhar para uma
forma que o conselho seja uma representação bacana dos movimentos sociais.
12. Vocês estão trabalhando ainda com isso?
Nós estamos em fase de maturação. Temos que fazer algumas conversas, porque, temos que
ver como vai funcionar os conselhos junto do congresso. Aí é um outro problema, porque, [...]
eu não acho bacana você ter o Congresso da Juventude, o Conselho Municipal da Juventude, a
Conferência Municipal da Juventude... O Congresso da Juventude decide o OP da juventude e
a Conferenciam Municipal da Juventude vai decidir o que? A gente vai fazer Conferência
para discutir, para debater, para educar a juventude? Vocês estão entendendo? Ou essa
Conferência da Juventude também vai decidir como vai ser gasto o dinheiro do OP? Você tem
de tomar decisão, não adianta você ter muitas esferas de discussão se não você perde a
finalidade, as finalidades, as atribuições se misturam. Então tem que tomar uma definição
sobre isso. Então é o que, Conferência, Congresso, Conselho? Você vai ter que dar atribuição
para cada um desses espaços. E obviamente se você cria esses espaços com pouca
representatividade você vai criar para quê? Pra dizer que existe? Para dar uma satisfação para
a sociedade? Você tem que criar um espaço que tenha condições para caminhar políticas. O
congresso de juventude está dando conta disso, por enquanto.
13. Como está a relação de vocês com o Conselho Nacional e a Secretaria Nacional de
Juventude?
A nossa relação é até uma relação de amizade, porque nós conhecemos as pessoas que estão
lá, já conhecíamos antes de serem secretários, o Beto Cury, antes de estarem na Secretaria
Nacional de Juventude. É uma relação institucional de pegar informações, trocar dados. A
Secretaria Nacional tem um problema, ela está ligada à Secretaria Geral da União. A
Secretaria Nacional [...] aqui nós fazemos relação com os secretários. Imagine você que fazer
integração de política com secretário já é difícil, porque, obviamente, os secretários querem
mostrar seus serviços para a comunidade. Isso é bom? É mais acaba atrapalhando, porque os
espaços, às vezes não se abrem como deveriam para a gente fazer transversalidade. Esse é o
maior problema da gestão de políticas públicas no Brasil, é a transversalidade real, é você ver
fluir, entendeu, você ver o entendimento dos secretários municipais, estaduais, ministros, que
esse tema é de extrema relevância para a sociedade brasileira, não é? É uma faixa de
desempregados, de 15-24 anos, os índices de violência, os jovens que estão morrendo cada
vez mais cedo, a população carcerária, juvenil, na maioria negra, isso é um problema. Temos
que fazer um momento de sensibilização ao extremo, desses cabeças, para que eles vejam, de
fato, que a juventude deve ser tratada de modo especial, e ai você tem de buscar
transversalidade, porque você fazendo isso, você ganha mais um aliado para você ter recurso
para gestar política, porque não adianta você ter só programa, se você não tem recurso, você
não toca. Eu acho que a secretaria nacional de juventude passa por esse problema. Imagine
você que a relação deles são com ministros. Um deputado federal, que é da base do governo
não consegue conversar com ministro. Imagine a dificuldade deles de conversar com
ministros para tocar política. Então, o trabalho deles é dobradíssimo, que exige [...] Mas acho
um avanço a Secretaria Nacional de Juventude, o Plano Nacional da Juventude (PNJ) que a
gente discutiu em Brasília no final de março. Estão tocando pautas importantes, algumas
inclusive que nós devemos copiar o que estão fazendo. O PNJ é um avanço, é um debate
importante, não foi o que muitos esperavam, mas o debate foi feito. Isso é importante.
14. Só para fechar, assim [...] queria saber se além do funk legal que você citou, há
algum projeto da gerência ligado à cultura?
O que acontece, agente tem um controle de tudo o que todos estão fazendo na administração
sobre juventude. Basicamente tudo. Eu estou falando aqui pela administração, quero deixar
isso claro, né. Como representante institucional da administração no que se refere à juventude.
A gente tem o entendimento de que, e eu conversava isso com um aluno de ciências sociais da
UFES, que ação não precisa ser especificamente da gerência de relações da juventude. Ela
pode ser da SEMCID (Secretaria Municipal de Cidadania), SEMC (Secretaria Municipal de
Cultura), isso é política do governo e o prefeito João Coser tem muita sensibilidade para
discutir o tema juventude. Acho que isso está claro, todas as secretarias, em sua maioria, têm
programas voltados para a juventude. A gente tem os jogos comunitários, da secretaria de
esportes, que está levando esporte para a juventude nos bairros numa forma legal, bacana.
Tem muito mais. Talvez seria interessante, se tivéssemos condições de fazer, um relatório
para encaminhar para vocês para não ter que estar falando tudo isso aqui. Você tem da SEMC,
o circuito cultural, é um programa da secretaria, mas você de repente tem um programa que
surgiu no OP da juventude, que é o cartão jovem, que é uma remuneração mensal para um
grupo de 1000 jovens durante um ano para ele utilizar em eventos esportivos e culturais.
Estamos discutindo agora a metodologia para ver como esse jovem não vai pegar esse
dinheiro e vai gastar com outra coisa que não seja cultura ou esporte, mas é uma idéia. Tem
também a idéia do rock na garagem que a prefeitura vai estabelecer um espaço público para as
bandas estarem... sábados e domingos de 2 as 10, as bandas de garagem vão fazer seu
cadastro e vão tocar para apresentar seu trabalho e, de certa forma, a gente vai criando um
espaço para o jovem na cidade. A gente espera que, com a criação da Fábrica 747, nós
estaremos lá junto, que é para dar a possibilidade de quem mexe com música , não tem
espaço, estúdio, possa utilizar isso .
15. Esses são aqui da gerência?
São da gerência. Tem o cartão jovem, rock na garagem, estúdio e tal, são coisas que nós
estamos tocando aqui. Na segurança pública você tem a idéia do Comitê da Paz, que faz essa
interface dessa discussão da violência juvenil de uma forma importante, tem o protagonismo
estudantil na Secretaria Municipal de Educação que vai discutir a idéia dos grêmios junto com
a gente, você tem propostas da Secretaria de Educação de criar pré vestibular e curso pré
técnico, a SEMCID estabelece uma aço que atende vítimas de violência de gênero, da faixa
etária da juventude também, trabalha a questão do amparo a pessoas que são discriminadas, os
homossexuais.
A Cultura também trabalha com a idéia da orquestra juvenil.
Na SEMAS você tem programas para trabalhar o adolescente em conflito com a lei, estou
dizendo políticas que a administração está realizando. O agente Jovem da SEMAS que é de
recurso federal. A SEMAS também, parece que está fazendo o cine cabeça, enfim não vou
tocar em muita coisa porque muita coisa vocês conversaram com o Luiz lá na SMAS. O
festival social e cultural da juventude que vai ser realizado lá na UFES, estamos dependendo
agora de um acerto com o reitor porque vamos precisar utilizar o espaço da universidade.
Vamos ter oficinas, workshop, mesa de debate, grupo de trabalho, música, teatro, vai ser um
movimento grande e algumas dessa idéias... Vai ter debate sobre juventude, cultura, vai ser
uma coisa grandiosa para discutir juventude. Existem algumas experiências exitosas no Brasil,
Pernambuco teve uma maravilhosa com 46 mil jovens, um negócio de outro mundo, nós não
vamos conseguir isso, pelo menos agora, até mesmo por causa dos recursos, eles gastaram lá
800 mil reais, tiveram apoio da Petrobrás, Unicef, a hidrelétrica do Rio São Francisco, que é
essa empresa estatal que apoiou eles. Mas agente espera fazer alguma coisa nesse molde. O
que eles fizeram lá foi um sonho, a gente quer fazer igualzinho. Trazer as pessoas para
discutir juventude, abrir espaço para o autonomismo, quem quiser criar um grupo temático
que no programa não vai ter, vai criar. A gente vai discutir o Pré-fórum no festival para ver o
que a sociedade quer, para todo mundo falar o que quer, o que acha, para gente contemplar ao
máximo os segmentos sociais. Algumas das coisas essa gerência faz, e algumas coisas que
estão previstas para serem executas assim que nós conseguimos criar os tramites do
orçamento municipal. Essa gerência acompanha os projetos que estão sendo tocados na
administração e deixa o prefeito informado do que esta acontecendo aqui. Essa gerência
acompanha os índices relacionados à juventude com algumas instâncias como: DATASUS,
IBGE, nos mantemos informados com relação a isso. Essa gerência vai construir dento da
câmara de vereadores parceria com alguns vereadores. A frente parlamentar jovem, dentro da
câmara, que a gente entende que o apoio dos vereadores é importante, como já existe da
câmara federal, deputado federal [...], Reginaldo Lopes [...] e outros se não fossem o trabalho
deles nós não estaríamos discutindo o PNJ no congresso. A gente pensa em criar um plano
municipal e até de propor mais além, sair dessa gerência a proposta para criação do plano
estadual de juventude. Algumas idéias que será: a câmara de políticas públicas de juventude
diferente da câmara técnica.
A câmara de políticas públicas, seria o espaço para discutir com o ministério publico,
conforme tinha dito para vocês antes, de conscientização, discussão de concepção. A câmara
jovem, espaço, provavelmente direcionado aos estudantes de escolas públicas. A gente
entende que é uma idéia de consciência política, de deixar a gurizada participar, com
simulações de eleições, projetos propostas. Junto com a SEMCID estamos trabalhando a
confecção de algumas cartilhas temáticas para serem distribuídas nas escolas sobre os
diversos temas, são cartilhas por eixos temáticos, sendo direcionados para juventude.
16. Existem prazos para elaborar esse projetos?
Estamos esperando o orçamento sair para mandarmos para a gráfica fazer. Os grêmios livres
nas escolas que a gente acredita que seja importante para os jovens de escolas municipais
estarem montando os grêmios, como espaço de reivindicação, cidadania da juventude [...] isso
já falei [...].
Existe uma idéia, que, se não me engano, é até a Gisele que está trabalhando, o projeto de
criar os módulos juvenis, caso agente acabe com o congresso da juventude para uma outra
etapa que seria a conferência. Se isso acontecer agente vai começar a fazer discussões, montar
grupos de discussão nas regionais. Para se ter o máximo possível de protagonismo juvenil de
possibilitar que a juventude construa e desenhe programas pra a cidade.
Estaremos trabalhando junto com a SETGER (Secretaria de Trabalho e Geração de Renda)
para montar algumas oficinas de empreendedorismo nas universidades públicas e privadas
com o entendimento de que as pessoas saem das universidades sem saber o que fazer, diploma
de baixo do braço... a gente acha importante.
Parceria com o SEBRAE para formar empreendedores, trabalhar também com a economia
solidária. É isso. Redução de danos, está sendo trabalhado com a Secretaria de Saúde. Ela tem
muita coisa legal na área de juventude, em redução de danos, tem CPTT (Centro de Prevenção
e Tratamento aos Toxicômanos) que trabalha com toxicômanos, parte de educação para as
escolas da rede municipal. Eu posso dizer que a administração de Vitória tem muita ação na
área da juventude. O município está sensível a isso, a câmara técnica que faz interfaces, foi
criada para fazer o debate interno das políticas é composto de quase 40 pessoas, então acho
que estamos caminhando bem, para caminharmos melhor é o desfeche do orçamento, a
SEMAS tem 240 mil para terminar o CRJ, a gente com recurso para fazer o resto que foi
proposto no OP da Juventude, a gente vai bem, se você for colocar ação para saúde, a
administração tem ação para saúde, para cultura. Na juventude, esporte na juventude a
administração tem também, mostra espaços para juventude praticar, mas fornece dinâmicas de
interação para os jogos comunitários, cidadania a administração também tem programas para
o jovem negro, homossexual, que da assistência, jovem mulher também, então eu não vejo em
que a administração deixa de atingir espaço da juventude. Na violência nós estamos
trabalhando, tem a SEMSU tem proposta de programas efetivos nesse sentido [...] a gente tem
agora de aprimorar. Políticas públicas pra juventude de Vitória na prefeitura existem. Temos
que aprimorar, mas agente está fazendo bastante coisa, minha avaliação. Não sei a de vocês.
Espero que vocês saiam daqui acreditando que a prefeitura faz e realmente faz, coloco-me a
disposição para fazer um apanhado, a gente pode está imprimindo para vocês o que cada
secretaria tem feito e infelizmente, a prefeitura de Vitória não tem o papel de distribuição de
renda, se tivesse a gente poderia com muito mais qualidade realizar os programas na cidade e
diminuir muito as desigualdades, mas, nós não podemos fazer isso então, a gente faz aquilo
que a administração local pode fazer.
Tem o Projovem que é do governo federal [...] que a administração executa. Eu acho que é
isso.
03/05/2006
Gestor 04
Secretaria de Cultura
1. Qual a concepção de juventude para você?
Juventude, é a faixa de idade entre 15 à 25 anos que traz consigo novas inovações sociais,
Culturais e Políticas. Juventude me traz em mente, força de atuação, força de vontade e ideais
de mudar o mundo.
2. Qual o perfil cultural da juventude de Vitória?
A Secretaria de Cultura não tem um perfil fixo de identidade da Juventude capixaba.Primeiro
por que a identidade cultural dessa faixa etária é algo sempre em transformação, e até
mesmo por que a juventude é muito diversificada.Entretanto, penso ser importante realizar o
perfil sócio-cultural de Vitória
3. Quais tipos de grupos existem?
Temos Jovens que participam de atividades culturais na Escola de Teatro e Dança FAFI,
Grupos musicais que se apresentam em eventos da Secretaria (Pagode, Funk, Axé, Hip-Hop...
dentre outros).
Temos Jovens participando do Projeto “Circuito Cultural de Vitória” ( Desenvolvimento de
atividades Multi-culturais voltadas para a formação, produção e a circulação. Promovendo a
inclusão social por meio do fomento de expressões artísticas dos locais ).
4. Os grupos são incorporados aos projetos?
Sim. Na escola de Teatro e Dança FAFI, as turmas são divididas por idade, logo temos turmas
específicas para Juventude.
No Projeto “Circuito Cultural de Vitória”, foi firmada interface entre Secretarias, e a
Secretaria de Cultura e Secretaria de Ação Social, através da Promoção da Juventude, foram
oportunizadas vagas para duas oficinas do circuito (Gestão e Produção Cultural e Produção de
Vídeo Comunitário).
Além das outras oficinas oferecidas diretamente para este público
5. Como a PMV investe na cultura destinada aos jovens do município?
Dentro da Secretaria de Cultura, como já foi respondido anteriormente os investimentos são
feitos dentro dos projetos e programas como um todo, claro que cada secretaria tem sua
especificidade e programas voltados para a Juventude, o que sugerimos , você entrevistar as
demais secretarias. Exemplo: Ação Social, Trabalho e Geração de Renda, Saúde, Esporte
dentre outras.
6. Quais os projetos da secretaria para a juventude?
Os Jovens são inseridos à todo momento em todas as ações da Secretaria de Cultura.Mas
dentro do plano previsto pelo Prefeito para a Secretaria de Cultura está: Orquestra Jovem eo
Festival de Música Jovem.
10/05/2005
Jovem 01
Reggae
1. Qual a história do reggae? Como ele surgiu no mundo?
O reggae, ele deriva da música negra. Assim, toda base musical, na verdade ela é africana.
Não tem como a gente falar de música, o rock, a música eletrônica, o hip hop, todos esses
gêneros, eles surgiram na África. Na verdade as canções eram religiosas, né? Na África, o
Nyabinghi, que era chamado, são as batidas do coração, é uma batida mais forte e uma mais
lenta, ritmada como se fosse a pulsação do coração, isso aí eles acreditavam que atraía a deusa
Naya. Nyabinghi é a batida da deusa Naya, no caso. Então era um cântico religioso que era
um coro de voz e a batida do tambor. Isso deu origem a muitas, muitas coisas, porque os
negros foram levados da África, como escravos pro resto do mundo para trabalhar como
escravos na Europa, América do Norte, América do Sul e com eles foram a cultura, a música,
e a música originou uma série de mutações porque ela sofreu a influência da cultura local, das
novas tecnologias, né, de novos instrumentos, novos estúdios, isso estourou, surgiram esses
ritmos todos que a gente vê hoje. E o reggae não foi diferente, os negros foram levados pra
Jamaica, pra trabalhar de forma escrava na lavoura de açúcar. Porém, na Jamaica aconteceu
uma coisa interessante, lá tinha muita mata e muito rio, muita corredeira e a mata muito
fechada e acabava que os negros fugiam e se escondiam na mata e depois matavam os
senhores feudais e as pessoas que eram proprietárias das terras, e expulsaram os brancos da
Jamaica. Você vê até hoje que a Jamaica é predominantemente negra.
E com isso a cultura se influenciou um pouco, mas não muito, então na década de 60, assim,
na Jamaica os jamaicanos escutavam as músicas que vinham do sul dos Estados Unidos, que
era o folk, o gospel e o rhythym and blues que é um percussor do Blues e do Jazz, com muita
voz, um coral de vozes, com contrabaixo, fica falando e tal, piano e o folk é aquela música,
percussora do sertanejo americano, vamos dizer assim, isso influenciou as pessoas, porque
elas escutavam a rádio AM, né pegava na Jamaica, então as pessoas escutavam na rádio esses
ritmos e misturavam com o que elas criavam ali, e assim criou o, rock steady, que é o
percussor do reggae, o mento, o ska e o reggae foi daí que surgiu. O Rock steady é como se
fosse uma música de baile, ela é mais lenta, tocada por muitos músicos, praticamente uma
orquestra, tem sopro, piano, uma música muito complexa de se fazer, precisa de muita gente.
O Ska é uma música um pouco mais rápida, ela tem uma marcação que dá tchec, tchec, tchec
(...) a guitarra que marca o ritmo do ska e ela é bem ritmada, ela é um pouco mais rápida e
dançante.
O mento é uma música que é uma mistura das duas, uma música pra dançar agarradinho, é
não era uma música lenta e as pessoas dançavam agarradinho.
E o reggae surgiu, dizem, reza a lenda, que foi um verão muito quente, as pessoas tocando
ska, e a batida ao invés de fica tchec, tchec, tchec, foi tcheeec, tcheeec, tcheeec, diminuiu o bit
dela a freqüência dela, né a batida dela. Então criou-se o reggae.
A palavra reggae, a primeira pessoa que pronunciou essa palavra no palco foi Toots, que tem
um projeto até hoje que chama toots and the maytals. Ele é um grammy do ano retrasado, se
eu não me engano, é o grammy americano de música. É um cara muito importante pra música
jamaicana, foi um dos percussores do reggae, e é conhecido no mundo inteiro, já gravou com
grandes nomes como Pato Panton, outro nomes que agora eu não me lembro. Ele foi a
primeira pessoa que pronunciou a palavra reggae, realmente, no palco, e daí reggae deu
origem a outros tipos de gêneros. O maior expoente do reggae no mundo é o Bob Marley. Foi
a pessoa que realmente ultrapassou as fronteiras da Jamaica e expandiu pro resto do mundo.
De que forma?
Ele foi descoberto aos dezesseis anos, ele já cantava mento, ele cantava rock steady, no
começo da carreira dele, ele tem até algumas músicas que são daí, “dancing shows” é um
exemplo, tem outras também que representam essa fase inicial da carreira dele. Depois ele
mudou um pouco e ele que foi o percussor do reggae né? Foi ele que fez parte do começo, não
foi o primeiro, mas, fez parte do começo do reggae e foi o maior expoente.
Ele era filho de um soldado inglês com uma jamaicana, então era um pai branco e uma mãe
negra. Na sua adolescência ele foi trabalhar nos Estados Unidos e sofreu muita influência da
música americana também. E quando ele voltou pra Jamaica ele trabalhou em uma indústria
automotiva, sofreu um acidente e quase ficou cego, quase perdeu o dedo, não lembro direito o
que foi, sei que isso desmotivou ele a trabalhar com esse negócio de indústria e voltar pra
Jamaica. Quando ele voltou, pegou a finco a música, tomou como profissão e foi gravar. Foi
descoberto pelos produtores da época, de um estúdio lá, da Jamaica, e foi uma das grandes
revelações do reggae, ele foi gravou na Jamaica e foi pra Inglaterra pra mixar e masterizar o
álbum dele. Lá ele conheceu um tal de Cris Blackwell, que era um produtor musical da época,
que realmente deu um caráter mais pop pra música dele, botou uma guitarra, contratou uns
outros músicos da Inglaterra pra gravarem com Bob e fez realmente o trabalho dele ficar mais
plausível pra galera que não conhecia o reggae, na época, então tinha que dá um caráter mais
pop pra música do Bob, que era muito tosca, era um reggae muito root, então tinha que ficar
um pouco mais parecido com o rock, ele deu uma puxada mais pro folk, que eu falei. Ele
caracterizou a música do Bob colocando outros elementos de outros gêneros, pra misturar pra
galera entender um pouco mais o reggae.
A música do Bob foi parar no ouvido de Eric Clapton que era um blues man muito famoso na
época , uma das grandes revelações da música norte americana. Ele escutou e ficou doido com
aquele negócio, contratempo, o reggae principalmente, a característica do reggae é o
contratempo, muito percurssivo também, e com isso, ele conheceu a música do Bob e falou
“não eu quero gravar” e gravou a música. E chamou o Bob Marley pra fazer uma turnê com
ele nos estados unidos com ele. Essa turnê que lançou o Bob pro mundo, fez dele muito
famoso. Da metade da turnê pra frente ele já fazia mais sucesso que o Eric Clapton, ele abria
os shows né? Era turnê os dois juntos, ele começou a pegar fama pelas letras pelo contexto do
rastafarianismo, da maconha, dessa coisa toda da ilegalidade, gerava notícia isso né? A gente
que trabalha com jornalismo sabe que essas coisas geram notícias, o cabelo rastafari, o visual
diferenciado isso tudo foi chamando a atenção da mídia, e ele ficou muito famoso e explodiu
pro mundo da música, e até hoje ele representa 60% do mercado fonográfico do reggae no
mundo é Bob Marley que vende, depois de muito tempo de morto né?
2. Teve influência do rastafari?
A religião rastafari da Etiópia, né? Eles acreditam que existe um príncipe que é reencarnação
de deus eles acreditam numa bíblia negra [...] que é uma bíblia que diz que deus era negro, diz
que a ganja, que a maconha, é uma evolução espiritual, que quando você fuma você fica mais
perto das entidades divinas. Tem uma série de outras coisas.
Marcos Garve, na verdade, que foi o grande influenciador de Bob Marley nesse negócio de
rastafarianismo. Ele era um negro ativo na Jamaica, pregava a religião, ele criou até uma
companhia naval pra pegar todos os negros que foram levados por forma escrava, pra voltar
pras origens pra África, e Bob Marley cantava isso nas músicas dele “Back to my roots”, de
volta as minhas raízes, que ele pregava a volta dos negros pra Jamaica, o fortalecimento da
comunidade negra, o respeito mundial com os negros, esse negócio da desigualdade social.
Ele foi ativo na política do país dele, ele uniu as duas maiores forças rivais políticas da
Jamaica, existia uma guerra civil na época, ele no palco fez os dois darem as mãos, tem várias
passagens de Bob. Ele foi baleado, sofreu uma tentativa de assassinato, foi morar na Inglaterra
durante um tempo, depois não conseguiu e voltou pra Jamaica. Então a história dele passa
pela política, pela religião, não fica só no âmbito musical, ele era muito ativo, e a música dele
era muito politizada, pra você ter uma idéia, dizem, que na Jamaica, no começo da carreira
dele, ele tinha uma mensagem tão poderosa que às vezes ele tinha tantos fanáticos e
seguidores, as pessoas gostavam tanto do Bob Marley, que chegavam na rádio com o vinil do
Bob Marley e pediam pra tocar, se o cara falava: “não vou tocar isso aqui não”. Eles
ameaçavam o cara, bater no cara, de quebrar o equipamento dele, se não tocasse a música do
Bob, porque não tem esse negócio de não vai tocar, tem que tocar porque a música é do povo
negro é aqui a nossa mensagem. Eles acreditavam fielmente que aquilo ali era o que todo
mundo deveria escutar e entender que ali era a representatividade do povo negro. Então ele
tem essa conotação essa força, que não é só musical, é filosófica, política, né? De ser um
representante do povo negro, um orgulhoso da raça que ele era, entendeu? Então muito
parecido também com James Brown , na época, “say laugh that black and proud”, fale alto
sou preto e orgulhoso, tinha também, na América, surgiu também, um pouco depois, o black
panters, que é o movimento negro também, que era ativista, que era contra o apartheid, que
lutava pelos direitos dos negros. Isso tudo foi uma época, uma seqüência de acontecimentos
mundiais do povo negro, depois do fim da abolição aquele povo negro teve chance de falar,
mas ainda tava ali, o racismo estava presente de uma forma muito clara, e tive que de alguma
forma, a cultura foi uma forma de expressar isso, a música, o reggae, o hip hop, entendeu?
Então foi uma série de acontecimentos.
3. Como o reggae chegou aqui no Brasil?
Bem, aqui no Brasil o primeiro grande registro de reggae foi na voz de Gilberto Gil, acredito,
né? Que ele regravou “No womam no cry”. O Jimmy Cliff até hoje mora em salvador uma
época do ano, ele reside aqui no Brasil. É um cara que também foi o primeiro grande expoente
do reggae no Brasil, nem foi o Bob Marley, acredito, foi o Jimmy Cliff, ele fez uma música
que participou de uma novela, há muito tempo atrás isso, na novela da globo. E o Gilberto
Gil, né? Vale lembrar que várias bandas ditas de rock gravaram muitos reggaes no começo da
carreira, Paralamas do Sucesso, Titãs, né? Eles beberam diretamente dessa fonte,
“...marinheiro, marinheiro quem te ensinou a nadar?...”. Isso é um reggae, o “Beco” dos
Paralamas do Sucesso, é um reggae “Marvim” do Titãs, aquela música “marvim agora é só
você...”, isso tudo é reggae. Pois é e as pessoas nem sabiam que era reggae, elas curtiam
como se fosse rock, até hoje, muitas pessoas entendem isso como rock. O reggae sempre
esteve presente, sempre influenciou muito Brasil, eu acho que o reggae tem uma coisa muito
forte com as praias, e pelo litoral imenso que nós temos aqui né? Tem o negócio dos surfistas,
o surfista e o reggae sempre se misturaram muito. Até pelo uso da maconha mesmo né? O
surfista sempre gostou da droga. E o reggae, de certa forma, fez apologia, por falar de
rastafarianismo. Prega que pode ser usado de uma forma religiosa, não é pra fumar maconha a
toa, né? Tinha um contexto, mas isso foi desvirtuado e as pessoas entenderam que pregava o
uso da maconha, mas na verdade não é isso. Mas eu acredito que foi por aí. Que eu me
lembre. Dizem que a primeira pessoa que fez um reggae nacional foi um tal de Fábio Matos lá
em Brasília, há cinqüenta anos atrás ele compôs um reggae, só que eu não tenho essa música e
nunca nem escutei ela, mas já ouvi falar nesse nome, como sendo a primeira pessoa que fez
um reggae no Brasil.
4. Aqui no Espírito Santo? Como foi? Sofreu influência de algum movimento?
Aqui no Espírito Santo, é curioso que, o reggae sempre teve uma representatividade muito
grande nos meios midiáticos, nos meios de comunicação. Desde 1993, aqui na rádio
universitária, já existia um programa específico de reggae, que se chamava “reggae e
companhia”, e o apresentador era Castelo Filho, hoje o diretor da rádio, [...] até chegou a
apresentar algumas vezes esse programa. Então são 13 anos que existe o reggae nas rádios do
Espírito Santo, esse programa durou acho que uns dois anos, logo depois surgiu o “Brasil
Jamaica”, que até hoje no ar, tem 10 anos de programa já, ele saiu da rádio universitária, foi
pra rádio Cidade e aqui foi criado um outro programa chamado “Vitória Reggae”,
apresentação do Serjão do Lordose pra leão e de Alexandre Lima do Manimal, que são duas
pessoas que não trabalham com reggae diretamente na música, o Alexandre sim né? Ele está
até gravando um CD de reggae com a “Rádio Experiência”, que é a banda dela, mas o Serjão,
não, sempre fez rock e apresentava um programa de reggae e apresentou durante um ano mais
ou menos o “Vitória Reggae” e logo depois surgiu o “Beco do Reggae” [...] na rádio
Universitária também que já tem seis anos, lá na Cidade surgiu o “Cidadedade Reggae” e
antes, junto com o “Vitória Reggae” surgiu também o “Transa Reggae”, na rádio transamérica
que era apresentado pelo Eduardo “Bombril”. Então, pra você ver, hoje nas rádios existem
três programas de reggae: “Beco”, o “Cidade do Reggae” e o “Brasil Jamaica” , são
específicos de reggae, a gente tem 12 horas de reggae na programação das rádios do Espírito
Santo. E a banda mais antiga de reggae que tem aqui, que toca até hoje é a banda “Salvação”,
tem onze anos de carreira, ela é de Vila Velha. Tinha uma outra banda reggae, agora eu não
vou lembrar o nome, que fez parte de uma coleção que se chamava ouriço, da boate Ouriço lá
de Guarapari, é o Junior Boca que foi o baixista do Java Roots, tocava e cantava nessa banda
de reggae, foi a segunda banda de reggae que teve aqui.
A influência do reggae aqui, acho que foi do reggae mesmo, de ouvir os programas de rádio e
conhecer um pouco mais o reggae, as pessoas se influenciaram e começaram a montar bandas
de reggae e gostaram do gênero, porque o reggae aqui é muito puro, eu posso dizer assim, e é
único, o reggae que a gente faz no Espírito Santo não tem em nenhum outro lugar do Brasil,
não é parecido com o reggae do Cidade Negra, não é parecido com o reggae do [...] entendeu?
É o reggae do Espírito Santo, é característico.
5. O reggae quando vai pras regiões ele assume um pouco da região não é?
Instrumentos locais né? Isso aparece aqui também?
Também. Ué? Aqui o Casaca misturou com Congo, o Manimal também misturou com congo,
é (...) o Guerreiros mistura com congo, com Jongo, com capoeira, ele mistura com as
influências africanas que eles tem aqui, porque o Espírito Santo é um estado riquíssimo na
cultura e poucas pessoas conhecem, assim, a imensidão cultural que existe aqui dentro,
porque são várias expressões, são vários tipos de tambores, tem tambor de maracatu, de
jongo, de congo,de (...) e são diferentes, tem timbres diferentes, são maneiras de tocar
diferentes, isso tudo se mistura no reggae daqui, com certeza, e forma a característica única.
Porque no Espírito Santo são várias comunidades de quilombos que existem, então a
influência negra é muito grande aqui, então até por isso o reggae daqui é muito roots, o reggae
do ES, é um reggae que eu considero assim, acima da média, de muito boa qualidade,
entendeu, até exportação mesmo.
6. Quais as principais bandas daqui? De Vitória?
Pô várias, de Vitória são várias. Guerreiros, Kayana Roots, Alma Rasta, é daqui de Vitória
né? Eu não tenho certeza da onde são, porque tem muita banda espalhada, assim, Serra, Vila
Velha, e com alguns componentes de Vila Velha, outros da Serra, outros de Vitória também,
entendeu? Herança, Soldado Imperial, Lion Jump.
7. Com relação a apoio do poder público. Vocês já tiveram algum?
Não tivemos apoio do poder público. Na verdade a gente está se organizando né? De forma
efetiva e legítima pra gente correr atrás disso aí, não só do poder público, mas também de
empresas privadas, porque o reggae sempre foi muito discriminalizado né? Sempre foi visto
como uma coisa meio suja né cara, porque até o visual rastafari incomoda as pessoas né? O
cabelo embolado né? E muitas pessoas ignoram, muitas vezes, e até desrespeitam né? Pô eu
tenho um exemplo claro, [...] ele é negro, rastafari e estudou na faculdade comigo, quando a
gente ia entrando no portão da faculdade, eu e ele conversando um do lado do outro, a gente
passou pela guarita o vigia, depois que a gente andou uns cinco metros, ele começou a
gritar:“ei você vai aonde?”, você vai aonde, no singular né? O [...] olhou pra trás eu olhei pra
trás aí o [...] perguntou: "você ta falando comigo?”. “É você mesmo”. “Está doido rapaz eu
estudo aqui”, “Espera aí rapaz, volta aqui”. Ou seja, pra mim ele nem pediu nada, porque eu
sou branco não tenho cabelo rastafari nem nada, mas ele como é né? Então, e o mais
engraçado era que o vigia era negro, então pra você ver, o racismo está presente até entre os
negros né? Ele é tão difundido na nossa cultura de uma forma tão é, como é que a gente
fala..., de uma forma tão disfarçada, é em forma de piada, em forma de frases feitas, como: “a
coisa vai ficar preta”, “seu passado é negro”, então essas coisas todas assim, elas entram no
nosso subconsciente que a gente nem percebe, às vezes, a gente faz sem perceber que está
fazendo.
8. E nessa questão desse movimento que vocês estão organizando, o MORC, né? O
poder público também não tem participação?
Não, está participando de forma ...
9. Só da discussão né? De dentro assim, vai ter voz dentro do movimento?
Não, o movimento é coisa à parte, é o reggae organizado, o poder público e as empresas
privadas vão participar de forma a ajudar na logística, com o som, transporte, dinheiro, vai ser
autônomo, uma OSCIP, que é, nada mais é que uma legislação mais atual da ONG, que é uma
instituição privada com interesses públicos, né? Na verdade a gente complementa o papel do
Estado, a gente chega onde o Estado não chega, nas comunidades carentes, através da cultura,
que é um movimento muito legítimo, porque afinal de contas, a maioria dos integrantes das
bandas de reggae são da periferia, são pessoas pobres, que não tem uma condição de vida [...]
é média, baixa classe, né? A grande maioria, são pessoas que vivem aquela realidade que
cantam né? E estão lá no dia a dia, convivem com a violência do morro, do tráfico de drogas,
né? Da discriminação do racismo, então, eles sentem isso na pele realmente, então nada mais
legítimo do que a gente fazer algo pelo reggae, por essas pessoas, e pela comunidade que
essas pessoas estão inseridas. Então tem uma série de projetos, tem “o reggae na escola”, que
é levar pras escolas públicas o reggae, tem “o reggae na praça”, que é fazer shows abertos de
reggae nas comunidades carentes, fazer oficina de tambor, oficina de cabelo afro, oficina de
artesanato, e aí vai, falar sobre cultura negra, sobre a historia do reggae, contar um pouco de
como surgiu, qual são os ideais, essa coisa toda né?
10. O reggae como movimento, tem algum elemento como hip hop tem o grafite, o break,
tem uma outra ramificação além da música? Tem um artesanato, alguma coisa
assim?
É isso tudo que eu falei existe, né? O reggae tem uma coisa muito característica que são as
cores, né? O verde, o amarelo, o vermelho e o preto. O verde representa a riqueza das matas,
se eu não me engano, da Etiópia, o amarelo é a riqueza mineral né? O ouro que foi explorado
e o pessoal arrancou lá das terras lá da África , o preto é a cor da população e o vermelho é o
sangue derramado nessa luta né? Contra a escravidão, o feudalismo, essa coisa toda que a
gente já sabe da história. Então, todo mundo que bate os olhos nessas cores juntas fala: “olha
o reggae”, né? É um elemento muito forte e característico do reggae, isso está presente em
tocas, em camisas, tem um elemento pra diferenciar também, que é o cabelo rastafari, que
também é um elemento da cultura afro, que está associado ao reggae, que é uma coisa natural,
que as pessoas falam: “pô, como é que você faz esse cabelo?”. Ninguém faz o cabelo, o
cabelo já é assim, se deixar crescer ele embola e fica daquele jeito, cabelo de quem é negro,
que tem o cabelo crespo realmente, é muitas pessoas brancas hoje fazem né? Apropriam-se
daquilo e embolam o cabelo com cera de abelha, uma série de coisas né, pra ficar embolado,
mas quem é realmente negro, né? Afro descendente, se você deixar o cabelo crescer ele já
embola naturalmente, né?
E fora isso tem todo esse lance que eu falei que o reggae sempre teve muito atrelado à
ecologia, como eu falei, ele sempre andou junto com o pessoal do surf né? Preservação das
praias do meio ambiente, o Seu Jorge mesmo, que não é reggeiro, tem um reggae que fala,
“tinha uma água”, que fala, que a gente vai viver uma outra guerra no futuro, que quando
acabar a água nos países desenvolvidos eles vão buscar aonde? O Brasil é o país que tem o
maior lençol de água potável do mundo, então, ele aborda isso na música dele, e é uma coisa
muito prematura e muito real, que é uma verdade entendeu? O "nego" está brigando por
petróleo e a próxima briga vai ser pelo o que? Pela água, a água um dia vai acabar e as
pessoas vão querer de alguma forma, ter essa água e o Brasil vai sofrer com isso, pode ter
certeza, e o reggae já ta falando isso, já ta falando já tem um tempo, e assim como está
falando nisso, está falando das praias, da poluição, que são coisas que muita gente passa
batido né? É porque, o que eu vejo aqui no Brasil é que as pessoas encaram a música somente
como um entretenimento, e na verdade não é essa a missão da música, a música é cultura né?
A gente não vê no Brasil, igual a gente vê na Europa, nos Estados Unidos, a platéia sentada
calada, pra assistir um concerto de reggae de repente, não. Aqui no Brasil, é pra azarar as
gatinhas, vai pelo “rock”, não vai pela música, e não deveria ser assim, deveria ser ao
contrário, porque o reggae tem uma mensagem muito forte pra passar através da música e as
pessoas deveriam escutar mais e entender o que está sendo cantado ali, não simplesmente
curtir o verde, amarelo, preto, vermelho, a ganja, e as gatinhas, não é essa a moral da história,
né?
11. E com relação à política de cultura daqui de Vitória, como é que você vê? Você acha
que há apoio?
Não, eu vejo que é muito precário, entendeu, muito elitizado, muita panelinha, a cultura não
chega aonde ela tem que chegar na verdade. Igual eu te falei eu tenho seis anos de estrada,
tem seis anos que eu faço evento, tem seis anos que faço a rádio universitária, tem seis anos
que eu trabalho em prol da cultura e não é só do reggae não. Eu já fiz eventos já levei pé-nolixo, Manimal, Casaca, Java Roots, Comando Kaia, Salvação, e outras bandas, pro primeiro
festival de música capixaba em São Mateus, chamado “Ilha Beach”, junto com Marcelinho
que é um produtor local lá de São Mateus, a gente fez esse festival, que misturou rock, reggae,
música eletrônica, tudo no mesmo ambiente, sem apoio de ninguém. Já trabalhei com outros
eventos também, já fiz parte de um projeto do yahoo, precursor, onde tinha Lordose, Pé-dolixo, Manimal, Dead Fish e outras bandas mais, também sem apoio de ninguém, e trabalhei
em várias outras situações de produção assim, dia D, e outras coisas mais, e eu via assim que
o apoio era precário é a gente tem que brigar muito pra ganhar muito pouco, entendeu, e não
deveria ser assim, igual eu te falei, eu não to aqui querendo que ninguém me sustente, eu já to
a seis anos aqui fazendo isso, eu só quero um reconhecimento do meu trabalho. O que eu faço
pela cultura, eu que falo pelo beco e pela minha produção. É porque eu já perdi muito
dinheiro produzindo evento, porque o evento custava quarenta mil e eu não tinha nem um
centavo de patrocínio de apoio de ninguém, nem pra pagar o som, nem pra pagar um
transporte, nada, nada, nada, nada, pra ajudar na divulgação, nada, nada, nada. Nunca tive
isso.
12. Você sozinho ou enquanto Beco do Reggae?
Eu sozinho, enquanto beco do reggae, mas quem organiza os eventos sou eu mesmo, o [...],
não trabalha muito nessa área de eventos não. A área de eventos quem faz sou eu mesmo. Eu
tive um azar de, um ano no aniversário do Beco, choveu, tava marcado pra sexta feira eu tinha
2500 ingressos vendidos e eu tive que cancelar o show e tive que passar pro domingo, tinha
três bandas de fora, e duas delas tiveram que viajar fazer show em outro lugar e voltar. Isso
onerou minha produção mais 10.000 além dos gastos que eu já tinha me comprometido a
fazer então, tomei um prejuízo de 20.000 nesse evento, em um evento. Porque não tinha o
apoio de ninguém, não tem nenhum patrocínio. Já fiz eventos com patrocínio mas sempre
muito pequeno e sempre o patrocínio era assim, cervejaria, é essas bebidas tipo “Ice Off”
“Smirnoff Ice”, esses tipos de patrocínios, é coisa pequena, sempre cinco, seis mil de
patrocínio. A gente vê que nem a iniciativa privada, nem a pública, não não apóia muito
eventos culturais, até porque não existe uma legislação que incentive o apoio da empresa
privada, por exemplo, no Rio de Janeiro, qualquer empresa que apóie um evento cultural tem
desconto no ICMS, direto, entendeu. Então, poderia ser criado, ferramentas para que esse
apoio cultural fosse muito mais amplo aqui no estado. Engraçado, o seguinte, o ES é um
estado pequeno que tem muita diversidade cultural, você vê que a gente tem representante em
todos os gêneros musicais e com qualidade e com quantidade. Eu falo pelo reggae, tem 25
bandas cadastradas de reggae aqui no ES, e dessas 25 eu diria que no mínimo 15 tem uma
qualidade pra tocar em qualquer rádio no Brasil, as outras não têm porque não maduras o
suficiente, ainda estão começando, são novos projetos, e vão ter daqui a um ano, dois anos,
entendeu, se tiver continuidade o trabalho vão alcançar esse nível também.
07- 06- 06
Jovem 02
Funk
1. Eu gostaria que você falasse um pouquinho do funk, aonde ele surgiu? Como ele
surgiu? Quem foram os primeiros representantes?
O funk vem mais da época dá década de 60, por aí, com James Brow, por que na época
mesmo [...]o funk original veio de lá [...] a galera que trouxe de lá foi que começou a fazer uns
sons parecidos com James Brow, que tava, que vem [...] primeiramente, né? Como vem lá da
África, lá da Jamaica com África Bambaataa, que começou com hip hop, então quando esses
elementos de sons, começou a galera a ser influenciada. Quando os negros levaram o som lá
pro lado, lá pros Estados Unidos e começou a divulgar na Europa, veio o James Brow e
começou a desenvolver o funk, daí pra cá, quem pegou essa referência foi Jorge Ben,
Cassiano, Tim Maia, que começou a fazer o funk, na década de 80 como já tava rolando
aqueles Miamis de Steve Bee, o próprio África Bambaataa, já tava nos bailes funks do Rio, e
não tinha esse funk ainda. Esse batidão que tem hoje, o funk carioca que você vê. Colibri que
tá na moda agora, entre outros, num tinha. Aí começou a se desenvolver nas favelas mesmo,
com os primeiros DJ: DJ Malboro, a equipe Furacão 2000, que foram os primeiros que
faziam os bailes lá, Pop Rio, que isso rolava os “bailes charmes” os “bailes black” que rolava
uns sons tipo hip hop, a galera dançava um break.
Em 80 veio esse funk e que até hoje ele tá. Por que o seguinte, o funk, esse funk carioca, ele é
originalmente brasileiro mesmo, ele surgiu. O funk original, mesmo é esse funk do James
Brow, do Tim Maia, desses sons que a gente costuma ouvir, esse é um funk verdadeiro. Esse
de agora é um derivado, é mais um “Miami”, na verdade, não é um funk mesmo, isso que a
gente escuta aí na rádio, nesses programas de TV que está um inferno o tempo todo aí, é isso é
mais um “Miami”.
2. Mas a origem é de onde mesmo? É da Jamaica?
Não. Assim, você puxando as referências, assim, tem um pouco de cada, vem da Jamaica,
vem mesmo, assim, dos guetos americanos.
3. E é parecido com o Hip Hop?
É. Surge na mesma época, porque assim, puxando lá trás na época da escravidão, os negros
eram reprimidos, não podiam fazer nada, nem cantar. Então, só que, com o tempo eles
cantavam só hinos de louvor quando estavam trabalhando e nisso eles sempre se
comunicavam com os cânticos e nisso os senhores viam que eles produziam mais,
trabalhavam mais quando eles estavam cantando, daí foi que começaram a deixar eles
cantarem. Foi quando mais para frente eles começaram a entrar nas igrejas, faziam vários
cânticos, então tudo hoje, a música ela vem do negro, o rock, o jazz, o blues, o reggae, o hip
hop, tudo começa a surgir nessa época. O hip hop, e junto com o funk vem o “Miami”, que é o
mesmo que tocava já tocava nos bailes funk, mas não era hip hop, mas surgiu tudo mesmo na
época. Por isso é que em alguns lugares o hip hop e o funk se combinam. Aqui até então, mais
ou menos, ainda rola um pouco de preconceito, a galera não gosta muito do funk, tem um
visual assim... próprio pelo que a mídia já criou com o funk, antigamente falava sobre
violência, agora sobre erotismo, o sexo, essas coisas. Mas, ele vem mesmo dos Estados
Unidos, mas quando formou James Brow estourou, foi, por ai, em 60...
4. E para cá veio mais ou menos em que década?
Foi em 80, por aí né. Mais ou menos, não tenho certo, mais ou menos. Ele chega no Brasil,
chegou no Rio e logo depois chega para cá. Tantos pioneiros ainda da galera aí que surgiu
aqui no funk, hip hop, tem o Jorgão, Renegrado Jorge, tem até um programa aqui na UFES.
5. Eu queria que você falasse assim, das bandas, dos grupos de funk que tem aqui em
Vitória que você conhece.
De grupo de funk, assim no Estado eu conheço tem o Mc do Charme, que é de São Pedro,
Resistência, tem o Jeffinho Faraó que é daqui de Vitória também, tem o Segal, Mc Segal, tem
o Chuck 22, tem [...] os que lembro são esses, porque é o seguinte, aqui está difícil "pra
caramba", aqui no estado para você fazer um som, gravar uma música, qualquer coisa
envolvida para o lado da arte, é difícil o apoio e o incentivo. Então aqui, você vê o seguinte,
aqui o funk é totalmente carioca, a referência é carioca, o que toca nas rádios aqui é tudo
carioca, então o pessoal da rádio chega, coloca o que quer e estoura. Escolhe a música,
estoura a música depois o cara faz o baile ai e ganha dinheiro. Então fica difícil, então desde o
começo que é assim, ai a galera desanima, tinham muitos Mcs bons "pra caramba" em
Vitória. Mas aí a galera desanimou, foi pra outro mundo, foi trabalhar, desiludiu, eu estou
desde 97, mais ou menos, parei uns três anos ou quatro porque eu fui fazer a faculdade e
voltei agora, então é difícil, a galera não tem muita motivação para fazer, pra chegar e tentar
um apoio pra gravar um CD de funk, de repente até aquela Lei Rubem Braga.
6. Ai então você falou um pouquinho do Espírito Santo né, foi o Renegrado que
participou do Hip Hop, e como começou o funk aqui no estado, quando ele veio, com
quem ele veio?
O pessoal mesmo quando surgiu [...] tinha os bailes charmes, essa época tinha o Dj Nenenzão,
Dj Tropeço, quem mais nessa época [...] Dj Marroger, são os que já começam a fazer a
discotecagem, a tocar. Inclusive os primeiros Mcs que eu lembro... tem o Marcinho e Boreu,
tem Ricardo e Teto, são os primeiro Mcs que começaram a fazer um som aqui, não tem muito
tempo não, aqui no estado mesmo foi na década de 90, [...] 95, 94 é foi na década de 90, no
comecinho assim, que a galera começou a se interessar pelo funk, a gravar. Tinha até uns
programas, tinha um baile da quadra da novo império, no canal 10, a bandeirantes - TV
capixaba, tinha império do funk era um programa de TV que os Mcs capixabas iam lá e se
apresentavam. Era uma febre igual hoje, vai e volta assim [...].
7. Mas igual você falou de vários grupos [...] Mas a influência veio como assim, foi
influência do Rio de Janeiro, ou a influência do Rio de Janeiro veio depois, o início
assim, como foi?
Desde o princípio, como eu falei, foi do Rio de Janeiro, vem, até hoje.
8. É esse funk erotizado?
É, assim no começo não. No começo, quando o funk chegou, logo que ele começou a tocar
nas favelas, nos baile e tal, ele falava mais da realidade da favela, do dia-a-dia, falava do
crime, da violência, das drogas, enfim, então até na época, tinha o Didi, tinha o rap do Pirão,
foi um dos primeiros que tocou "Ô, alô Pirão, alô, alô, boa" [...]
9. Era daqui?
Era no Rio. Um dos primeiros raps que começaram a tocar nessa época ai foi esse, que falava
da violência do baile. Então ele começou a explodir o funk, a estourar nas rádios, o rap da
felicidade, os mais famosos começaram a estourar, ai, mais o lado da violência, cantavam o
dia-a-dia, o que eles se espelhavam. A mídia “caiu de pau matando" porque o funk estava
tomando a juventude, estavam usando drogas, falando de arma, ai passou esse tempo tal e
voltou agora com outra cara, com mais o erotismo, ai a mídia está (enfocando mais esse
lado...). Mas o erotismo sempre esteve presente, mas nunca foi tão destacado, antes era
destacado na violência, hoje eles estão destacando o erotismo. O erotismo você tem no
reggae, no forró, no axé, você quer mais que no Axé, o Vital que tem aí. O preconceito
mesmo. A sociedade não sabe o que fazer com sua juventude e arruma alguma coisa para
jogar a culpa.
10. Mas o que você acha que o funk quer passar com a música, você acha que tem uma
mensagem? Qual é a mensagem?
Com certeza. Aqui não tem um movimento funk em prol de alguma coisa social, mas o ideal
do movimento funk é o seguinte, através pelo menos da música você passar, aproveitar a
oportunidade da mensagem, do espaço que você tem de um canal de expressão, de passar uma
mensagem pedagógica, ensinar alguma coisa, se você puder retratar alguma coisa, relembrar,
tocar o jovem para que ele saiba que tem o poder de mudar o seu futuro, o seu destino, está na
mão dele. Ele só precisa saber disso, porque às vezes ele não sabe disso, que ele tem esse
poder. A mídia não sabe lidar com o jovem, a mídia faz uma propaganda de droga, não tem
efeito porque ela não acerta o público alvo, o jovem. O jovem que usa droga ele não se vê na
televisão, ele não sabe. Só fala dos malefícios da droga, mas não fala dos benefícios.
A música é uma coisa gostosa que vem, dançante, o jovem gosta vai pro baile, se diverte e
sem querer as mensagens vai assimilando de uma forma.
11. É a mensagem do dia-a-dia mesmo?
É mais para esse lado, mas isso hoje em dia é difícil, a essência mesmo são poucos que
partem para esse lado.
12. Mas aqui no ES tem algum de funk de essência assim?
Olha, eu faço funk desde o princípio, falando sobre as realidades. Logo que eu comecei eu
peguei experiência, a gente cria na verdade, vai pega uma referência aqui e ali e faz um
arranjo diferente, juntando tudo. Então pegamos outros, eu escrevia mais assim de favela, de
droga, contava história de uma amigo que, de repente morreu, mas com o tempo eu fui
pegando mais o discurso político e social. Hoje minhas músicas são todas assim, políticosocial, fala sobre governo, porque que está faltando a merenda e eu quero meus direitos, quero
oportunidades, quero meus direitos. O Jeffinho está vindo mais para esse lado agora, ele não
era tanto para esse lado, está vindo mais agora. Tem o Uniel que está parado, mas tem umas
músicas boas, uns discursos fortes, ele é de Santa Marta. Mas mesmo essa galera mesmo, os
que estão na correria mesmo, é o Jeffinho e eu, tem o Chuck agora que aborda mais o lado de
facção, de comando vermelho, terceiro comando, de crime mesmo, que é uma linha muito
forte, que tem um público, apologia mesmo ao crime e as drogas, tem muito [...].
13. Em âmbito nacional assim, tem alguns que você pode destacar do funk de origem
mesmo?
Tem, tem o Mr Catra, tem o próprio Cidinho e Doca, o Duda do antigo Uni Duda, tem o MC
Galo - da Rocinha "ô Lelê, ô lalá, a rocinha pede a paz...". Já ouviu? Tem em São Paulo
também, o hip hop é forte lá também, tem o MC Barriga que até pouco tempo [...], você já
ouviu? você gosta de funk? Do Mc Barriga tem aquele "Õ mãe, capacidade de premonição"
[...], Já ouviu? É de São Paulo esse. Tem o primo também "Diretoria tá de pé, é "nóis" mané,
olha a revolta do moleque sofredor". Essa galera de São Paulo é boa para caramba, eles fazem
música e os caras do Rio catam as músicas de São Paulo e lançam tudo aqui. Tem um pessoal
tão fissurado, no Rio, que já sabe que a música é do cara de São Paulo. Porque ela chegou
aqui, o Primo deixou o CD comigo e com Jeffinho, a gente passou pros caras da rádio e os
caras tocaram. Mas depois no Rio veio a versão carioca copiada do cara e estourou no cara,
quem estourou foi a do cara.
14. Porque o forte mesmo do funk é no Rio, né?
É no rio. Tanto que o nome desse funk que a galera fala é funk carioca. A denominação que
acharam para ele é funk carioca, porque não tem em nenhum lugar.
15. Por que, o funk carioca é o que, é o funk erotizado ou o funk do batidão?
Não, o funk carioca é a batida, aquela batida não tem em nenhum lugar do mundo, ela foi
criada aqui. O “Miami” ela saiu esse som, que não tem em lugar nenhum, é daqui. Tem agora
a Bia que pegou os batidões do tamborzão e fez um funk mesmo, um amigo meu veio de
Portugal e disse que lá está um inferno, uma febre, os caras tocarem pancadão nas boates.
Porque é uma música eletrônica.
16. É mas aqui até que está também né? Tem sempre nas boates o funk também.
Já está tocando.
17. É, mas sem ser esse estilo funk carioca assim, você conhece alguns outros grupos que
tocam mais da origem norte-americana. Você citou no início Tim Maia, foram esses?
O que puxou, o que vem mais para esse lado desse funk mesmo são esses caras já renomados
mesmo, os pioneiros que trouxeram para cá é o Tim Maia, o Cassiano, o que faz um som mais
para esse lado, com banda, fazendo um funk com banda tem o antigo Farofa Carioca, que
tinha o seu Jorge [...] O Mr Catra também faz, às vezes, um vocal com banda, vai num baile,
[...] fez um Show em Guarapari e fez um "funkão" com a banda, usou bateria, guitarra, baixo,
porque a essência é a mesma, o eletrônico muda algumas coisas, então quando você joga para
bateria, fica aquele "funkão" mesmo só que com acústico.
18. E os lugares que vocês se reúnem em Vitória? Lugares que vocês costumam tocar
aqui em Vitória?
Em Vitória tem o “clube Náutico Brasil”, tinha o “Rio Branco”, que por burocracia, papelada,
violência e outras coisas, fechou, a “quadra da Novo Império” fechou, os existentes hoje são o
“Clube Náutico”, o “Ibiza” ainda rola algumas festas de funk. Em Vitória só. Em Vila Velha
tem o “Cobilândia Futebol Clube”, tem a “Next”, que é uma boate que no domingo é funk.
Tem outra que está começando, de vez em quando tem lá, a estação verde, uma casa nova.
Que eu me lembre são esses, que ainda têm hoje são esses.
19. Não sei se você respondeu, quem foi o grupo pioneiro do funk aqui, você consegue
lembrar?
Não lembro. Eu estava conversando esses dias com Jeffinho, a gente citou um monte de
nome, que eu me lembro são esses. Mickei Pacalolo, Ricardo e Teto, o Jeffinho é logo do
começo, eu quando curtia o funk, já ouvia o Jeffinho e Flavinho num baile. Era uma dupla
Jeffinho e Flavinho. Eles começaram até com uma música de um escândalo de um pastor da
igreja universal que roubou a galera, aí eles fizeram uma música falando disso, aí eu ainda
ouvia, mas antes deles tem um ainda que eu não me lembro agora. Mc Klebinho, é de Vila
Velha, Ilha da Jussara. Esses são os primeiro Klebinho e Mickei Pacalolo. São do começo
mesmo, os primeiro que começaram a cantar funk, subir no palco, foi essa galera, esses dois
aí, que eu me recordo.
20. Eu queria saber também, você chegou até falar no início assim, que vocês não tem
muito apoio assim do poder público, como seria assim essa relação que você acha que
tem do funk com o poder público?Tem apoio?
Não tem apoio, se você ver, os bailes que tinham estão todos fechados. Os que eles
conseguiram fechar, eles fecharam. Então, é o que eu falo, eu não sigo a um movimento, por
exemplo, para mim, o movimento funk ele tem que ser em prol de algo, um bem comum para
quem está ali, quem está seguindo ali, não só para eles, mas para a juventude principalmente,
mas só que não tem essa articulação aqui, principalmente vindo do Rio essas referências então
a galera só tem um, os caras do Rio são os famosos. Então no dia que fechou os bailes, o
presidente da associação funkeira é o Edson Ricardo, seria até interessante você trocar uma
idéia com ele, ele é um cara que está sempre [...] ele é de Vitória, vou ver se consigo o contato
dele para você. Ele é o presidente da massa funkeira aqui, então ele é que corre atrás disso, ele
é quem vai lá reclamar. Já fizeram protestos, pegaram trio elétrico, juntou a galera de funkeiro
e de Mcs para ir cantando e fazer o protesto para reabrir os bailes.
21. Porque eu lembro, não sei se foi em 2003, 2004 que tinha um político querendo
fechar os bailes funks daqui de Vitória, você lembra?
Lembro, era um Juiz, ele quem fecha geralmente mesmo. Na época estavam fechando porque
acharam droga, e estavam tendo umas mortes e já foram logo e fecharam. Só o que ficou foi o
“Náutico”, o “Rio Branco” está querendo voltar, está correndo atrás [...] O rio Branco era o
baile corredor, já ouviu falar? Lá não tinha como não ter. A galera ia pra lá mesmo. Mas
ficava ali. As mortes aconteciam, mas não era ali. Está tudo caminhando muito junto, as
músicas vem mesmo, o funk e o samba, vem do gueto mesmo, música de preto, do morro, da
favela, então aquilo ali convive tudo com o crime, com as drogas, dali é o porta voz deles,
eles são o porta voz da favela. Então eles também querem ter voz na sociedade, então as vezes
que eles estão ali para se expressar é o mundo em volta deles que eles têm, das favelas e tal.
Por isso que eu acho que a galera tem muito preconceito contra o funk, contra o favelado, que
você vê na rua um funkeiro, a pessoa tem até um olhar diferente, de baderna. Mas o pior é que
é verdade, às vezes quando tem um funk em determinados lugares, sai confusão, você está
entendendo? Não sei por que. A gente foi tocar ali no ginásio da UFES, uma festa de plaboy,
de pessoas de classe média alta, a galera no rock e rolou um funk lá, a galera incorporou,
brigou foi feio pra caramba, a gente teve que acabar, a gente nem terminou de fazer e fomos
embora. Foi aqui dentro da UFES, aqui dentro, porque a galera que vai ali para o “Náutico”
você vê o pessoal funkeiro e vê muito plaboy, gente de classe média alta está invadindo. Você
vai no “Náutico”, sexta feira vai ter aqui no “Ibiza”. Fiquei sabendo que no “Ibiza” está tendo
muito corredor, muita briga. No “Náutico” é mais tranqüilo, tem gente bonita. O clima está
assim agora, eles começam a aumentar os ingressos e a galera mesmo que é do morro fica
mais privada de ir, eles estão, tipo, selecionando as pessoas, botando mais essas pessoas que
tem dinheiro.
Ai perde a origem.
É, por exemplo, a gente foi fazer um show na “Convento”. Pra mim não é um baile funk, para
mim foi uma festa que rolou, uma apresentação. A galera mesmo pega e faz tipo uma cópia do
baile funk, o baile funk para mim é aquele é lá dentro da favela. A gente vai lá em Marcílio de
Noronha toca,r lá e chega lá, é um negócio pequenininho, um cubículo, gente estranha
mesmo, pode ter até bandido, foragido. A gente chega lá, maior respeito, sobe no palco canta
a galera se amarra, canto um hip hop, faço free style, que a gente faz estilo livre, não vem do
hip hop que é a rima na hora, a gente faz e improvisa na hora. E agora que a galera descobriu
isso e começou a partir agora para esse lado. Os shows agora estão com duelo de rima na
hora. Estão vindo uns caras do Rio para fazer duelo de rima na hora.
Igual o duelo que teve de quatro Mcs.
É vai ter esse final de semana, só que é o seguinte, o que a galera está ficando meio, assim,
revoltada, é o seguinte, como sempre essa influência do Rio. A galera aqui dentro de Vitória
tem muito rimador bom, muito melhor que esses caras ai e a galera está vendo agora se
consegue articular alguma coisa, já está acontecendo alguns eventos de batalha, porque a
gente começou as batalhas assim, no hip hop, eu e Jeffinho a gente sempre fazia rima,
improvisava na hora, sem profissionalismo, brincando mesmo. Então quando a gente
começou a fazer uns shows de hip hop a uns dois anos atrás, o Cristiano do beco do Reggae,
ele se formou comigo, a gente fez trabalho junto, a gente vivia sempre junto, então como tinha
mais acesso aqui na rádio, as produções, a gente começou a fazer um hip hop, ele começou a
falar que a gente rimava e tal, o movimento aqui, a galera, não tinham muitas pessoas que
rimavam. Teve um evento beneficente lá em Andorinhas, a gente foi lá, participou, o pessoal
foi e desafiou a gente, e agente foi e se jogou na rima e tal, ai desse dia começou a ter batalha
no “Balladas”, eu já fui campeão de um, da última batalha que teve no “Balladas”, na curva
do Saldanha eu fui campeão de free style. Aí foi o seguinte, eu descobri, não é minha praia.
Porque na batalha de free style, você chega, você tem 45 minutos para improvisar, fazer na
hora, só que a galera chega e parte mais para o lado ofensivo, agredindo, as vezes falam
coisas desagradáveis. Pô, passa do limite, os caras falam "fica só aqui em cima", mas não fica,
o cara chega, fala da sua mulher, da sua mãe, e a galera lá de baixo na maior “vibe”, maior
gritaria, êêê. Aí eu vi que isso não é para mim. Eu estou no projeto do Alexandre Lima, da
banda Radio Experienzia, a gente praticou só rima mesmo, falar de coisas boas, a gente vai
num lugar, a banda toca, ai eu entro e falo da galera curtindo, pra galera ver que está rimando
na hora mesmo, fala de coisas boas, fala que está bancando o evento, fala de mim, fala de
tudo mesmo, o que vir na hora. Isso agora, eu estou divulgando mais esse lado da rima
mesmo, improviso, quando eu vou num bale eu sempre mesclo: hip hop e funk. Eu acho que é
um paralelo, hip hop dá para passar mais mensagens, você canta mais rápido, fala mais coisas,
explicar outras coisas. Tem uma música que eu canto um pouco mesmo da cultura negra,
porque que a princesa Isabel assinou a Lei Áurea, essas coisas. Eu abordo mais esse lado, eu
sou totalmente contra o racismo, o preconceito contra homossexual, cor, contra qualquer
coisa. Totalmente contra.
22. É só você ou normalmente os Mcs tem essa relação com o hip hop?
Está começando a ter agora.
23. Porque eles têm um pouco de preconceito devido ao funk erotizado...
É, tem. O movimento hip hop tem. Ele esteve com agente, quando a gente chegou, [...] com
preconceito. Quando ficou sabendo, de Andorinhas que a gente foi para rimar, a gente se
lançou foi no Parque Moscoso, no Graffitaids, no primeiro Graffitaids, na semana contra a
AIDS, a gente participou, foi um evento beneficente, então foi o seguinte, quando a gente se
apresentou, a gente vem do funk, a gente nunca fez um show nem nada, a galera do hip hop se
juntou, a gente foi e fez um show. Só que a galera se amarrou, a pessoa que estava lá e não era
do movimento gostou do som e a galera ficou assim "pô, essa galera do funk chegou agora
pegaram as bases do hip hop e mandaram “benzaço'". Pô, a galera pirou, mas por dentro eles
não aceitaram, ficavam rindo, foi aí que eles desafiaram a gente para rimar. Pra humilhar
agente na frente da galera: "Ah, vamos humilhar os ". Foi só que eles se deram mal, os que
desafiaram né, eles perderam. A gente chegou, ganhou, foi aí que eles viram que não tinha né,
alguns hoje a gente faz trabalhos juntos, o André que é do Irmandade SA, e a gente já se
encontrou em batalhas, e hoje a gente faz trabalhos juntos, produz algumas músicas juntos,
produzimos na casa do hip hop e funk também, ele já está, de tanto andar com a gente, comigo
e Jeffinho. Ele está mais lá agora, está tendo uma certa mesclagem, está se juntando mais
agora, mas tem alguns que são ainda, você está entendendo, resistente. Não aceitou ainda
completamente a idéia não, de ta nos dois, ou sei lá, oo fica no funk ou fica no hip hop, ou se
o free style, fica no funk, então como já me falaram. Falei não, vamos fazer os dois, eu me
apresento, faço de hip hop e faço de funk, faço dos dois, se quiser contratar um [...]
24. Você já chegou a falar do Graffitaids que é um projeto da Prefeitura de Vitória, eu
queria saber se vocês participam, porque quando eu falei do poder público você
falou que não investe...
É não tem.
25. Mas fora o Graffitaids, vocês já chegaram a participar de outros projetos da
prefeitura? Vocês conhecem que tem um espaço de juventude na prefeitura?
Olha, é o seguinte, agora está tendo uma reunião, hoje são sete né, amanhã oito, vai ter uma
reunião na prefeitura, no Departamento de Juventude, que está tendo... tem até umas duas
meninas lá do Serviço Social, também, não sei eu só fui lá uma vez. A galera está vendo isso
aí, estão fazendo um Centro de Referência para Juventude (CRJ), bom isso aí já [...] a galera
senta lá, bolar algumas leis em prol do jovem.
26. E vocês estão participando?
Eu estou participando.
Achei boa a idéia, mas a discussão está começando a surgir agora, porque na primeira reunião
teve algumas abordagens principais, alguns temas para serem discutidos nas outras reuniões.
A reunião era uma parte boa, só que tinham algumas pessoas que não tinham aparecido, foi
dar uma recapitulada e o tempo é curto. Tem umas discussões boas, como a Pandora que é do
movimento hip hop que estava lá e também uma outra menina do serviço social, as duas
começaram a entrar em conflito. O debate estava bom, algumas coisas sobre público,
universidade pública, do espaço de cotas, assim, eu fui lá para representar o funk, vamos ver o
que vai ser daqui para frente agora, mas fora esse projeto do CRJ, o que tem assim na PMV
faz alguns eventos, igual o Luiz que trabalha no Departamento da Juventude. O que eu
participei da PMV foi esse do Graffitaids, assim, mas sem ganhar nada, tipo voluntário,
divulgação. Mas só que eu acho assim, quando tem esses trabalhos, esses projetos da
prefeituras, esses eventos, tinha que se buscar de alguma forma, a galera que está trabalhando
ali, pelo menos ajuda de custo, alguma coisa, porque isso é incentivar o trabalho não
remunerado e a gente não quer isso. Isso é incentivar de alguma forma, então de voluntariado
e voluntário [...] não rola mais. Os primeiros a gente participou, assim, estava falando com
Luiz, e ele "Olha, vai ter alguns eventos e a gente vai te chamar para cantar ", só que eu não
tenho carteira de músico, não tirei, então pra fechar um cachê e tal teria que ter [...] Projeto
mesmo da prefeitura que eu participei foi esse, o Graffitaids, teve outro no Parque Moscoso...
27. Mas você acha que depois que você começou a entrar no hip hop também, isso abriu
as portas, você acha que é mais difícil o funk entrar no espaço público e ter essa
interlocução com o espaço público, é mais complicado que o hip hop?
É mais complicado um pouco porque ele é cercado de muito preconceito.
28. Você acha que tem mais preconceito pro lado do funk que pro hip hop?
Com certeza, o hip hop não tem nem tanto porque gringo faz muito sucesso. Então através
dali as pessoas as galera curtem o hip hop e as pessoas sabem que do hip hop, e começam a
curtir alguns mesmo de essência como MV Bill, que é do Rio, Racionais, de São Paulo, agora
o funk é muito queimado coitado, antigamente logo que eu conheci, falei: “vou parar de
cantar”. Porque é o seguinte, vou cantar o cara que está me levando, que era o cara da rádio
que nem convém citar o nome também, só pegava a grana e a gente nunca recebia. Então a
gente fazia três, quatro, cinco shows por noite, na sexta, dois no sábado, um no domingo, era
assim todo final de semana mas a gente nunca via o dinheiro, ai a gente começou a tocar na
rádio, arrumamos um empresário, beleza, o empresário vai vender nosso show. Vendia mas
também ficava com o dinheiro e aí desanima, foi ai que eu parei, dei uma parada e quando eu
dei essa parada eu via o funk tão queimado que eu tinha até vergonha de falar que eu cantava
funk. Eu tinha desistido disso. Porque dá motivação, você vai trabalhar, chega um momento
que você quer fazer as coisas você faz por prazer, por lazer, por hobby, você vai cantar, se
divertir, só que chega um tempo que você desgasta e perde noite de sono, vai para longe, fica
cansado e já que está te fazendo isso você tem que receber por isso, para você pagar suas
contas, então você vive disso, se você quer viver intensamente agente tem que estudar, que
com certeza é fundamental e trabalhar no que a gente gosta por que senão, mais a frente, a
gente vai ser infeliz e não vai saber o porquê. Quando encontrei o Jeffinho, quando a gente
voltou, a gente conversava muito nos shows antigamente, época de 98, a gente não se batia.
Então nessa época, 2000, que eu comecei a estudar, conhecer pessoas novas, alí também meu
leque abriu, pessoas de vários lugares, de várias tribos, muita gente junta, muita gente com
novas idéias, então eu fui passando a ter outra visão, visão que eu teria um dom, um talento de
cantar e escrever,. Então foi aí que eu perdi o medo de ser um funkeiro, não falo que eu sou
um funkeiro, sei lá, de repente apresentar. Não falo que sou funkeiro porque eu não escuto
funk, eu curto funk quando eu vou ao baile, às vezes eu curto alguma coisa porque não tem
como você fugir, onde você vai está rolando funk, se é o que está na moda, não sei se é o
nome das pessoas, se é o músico, o que as pessoas gostam. Mas eu não vivo no baile,
antigamente sim, eu era um funkeiro, porque para mim funkeiro é aquele bitolado, sem visão
para nada, ele só curte o funk, se você mostrar para ele um jazz ele não sabe nem o que é, você
pega uma banda de rock, o cara não sabe nem o que é, então você coloca para ele ouvir ele
não vai nem gostar, eu, por exemplo, quando um professor me deu um CD com músicas
variadas, caribenhas, mexicanas, então quando eu ouvi eu odiei, mas quando eu fui ouvindo,
devagar e eu vi o seguinte, a gente tem que aprender a gostar das coisas, não é só assim,
funkeiro mesmo abitolado ele não está disposto a isso, só curte o funk mesmo. Tem aquelas
gírias dele "é nóis", "já é ", e fica tipo aquele gueto né, um gueto mais fechado que tem os
mesmo, para mim esses são os , eu canto funk, mas estou no hip hop, estou lá na curva da
Jurema, na quarta reggae com as bandas de reggae, faço participação também ao vivo na
rima.
29. Mas você canta funk?
Canto funk e hip hop, rap, né, porque hip hop é o movimento.
30. Essa participação da prefeitura você começou a sentir ela agora ou desde a antiga
secretaria vocês já participavam de alguma forma, porque existia uma secretaria de
juventude na gestão passada, você chegou a participar lá também?
Não.
31. Mas você sabia que existia?
Não, não sabia. A gente imagina que num estado tem que trabalhar todos os lados, a
sociedade em si [...] Como agora estão buscando mesmo, ver o que está faltando, o que pode
ser feito para ajudar em alguma coisa a juventude, porque está difícil. Mas o que eu conheço,
no hip hop eu entrei agora, a uns dois anos, é recente, foi nessa minha migrada para o hip hop
que eu conheci a prefeitura, conheci o Luiz, [...] então quando eu fui tocar ele estava sempre
presente nesses eventos beneficentes, ele me viu e me convidou para participar, eu estou
começando a participar, [...] pelo que eu sinto ela está tentando ajudar.
32. Sem ser da "secretaria de juventude", tem a secretaria de cultura, vocês vem tendo
algum apoio deles?
Não, eu não vejo. Para mim, os apoios que você tem mesmo é isso aí, conversa, mas não sai.
O que ajuda mesmo é o dinheiro para liberar alguma coisa, mas não sai nada. Esse evento aí,
semana toda, no parque Moscoso, Feira da Paz, semana da paz...Todos esses eventos, desde
que começou eu participo, o primeiro graffitaids que teve eu participei, que foi a Pandora, o
Sagaz, articularam junto com a prefeitura, não sei, eu participei, no segundo graffitaids eu
participei, foi lá dentro do Parque Moscoso, na concha, teve o natal sem fome, foi em
Andorinhas, a gente também fez. O que eu vejo é isso aí, esse que ia ter eu não sei, "mixou".
Ia ter a galera, o hip hop, o funk, o reggae, rima na hora, dança, teatro. Não sei se era tudo
voluntário porque o Sagaz falou que tinha uma grana que ia ser liberada, acho que foi isso,
não soltaram o dinheiro.
33. Existe alguns outros elementos no funk igual existe no hip hop, igual quando a gente
foi falar do reggae que tem alguns elementos como a cor do reggae, vermelho, preto,
verde e amarelo, ele falou isso com a gente.
É porque o reggae vem mais do rastafarismo, e essa coisa, mas o funk aqui não tem essa
identificação, de uma bandeira, dando um exemplo, de um tipo de cor, ideal, tem isso que eu
te falei, o princípio ativo do funk é o mesmo do hip hop, por isso, que eu estou juntando, em
prol de alguma coisa boa, social, despertar o jovem para que ele tenha poder de mudar seu
destino. O hip hop, tem quatro elementos: o graffiti, o break, o rap e o DJ/MC, e agora a
galera está falando que o quinto elemento que está chegando aí, poderia-se dizer que é o lado
social do hip hop, além de tudo isso, o hip hop trabalha muito em prol do social, do bem
comum, está sempre voltado para esse lado, através de suas músicas, danças, das pinturas,
está surgindo o lado social. Tem a dança, o rap, a arte plástica, o DJ e o lado social agora. O
MV Bill, por exemplo, é um cara inteligentíssimo, cara representante da ONG, cara fundador
da CUFA (Central Única das Favelas), tem o Marcelinho aqui também, você poderia
entrevistar alguém também da CUFA, Marcelinho é da CUFA. É de Bela Aurora, Marcelinho
é um cara gente boa, é um dos pioneiros. Do funk, não tem tanta informação, o funk em
Vitória não tem uma história, tem história por lógica, dessa que eu te contei, que veio dessa
época junto década de 90, os daqui começaram a fazer música, mas chegou antes aqui através
dos cariocas, alguns ouvindo os cariocas começaram a cantar, ai não tiveram espaço, não tem
mais um mercado, você não consegue mais se sustentar, você chega e coloca um som na rádio
e não consegue chegar e lá e ficar tocando, na rádio é só "Jabá" mesmo, só quer lançar de
quem elas têm interesse só.
34. E aquele senhor que você falou que é do movimento funk Edson Ricardo, vocês
chegam a ter reuniões, ou não, está bem separado assim?
Olha não sei se eles se reúnem, eu não sou integrado com a galera de movimento, no
movimento hip hop eu participo, a minha ajuda está sendo essa, posso participar, pelo menos
com minha presença física para conversar, debater, ou para fazer um show. Às vezes tiver que
liberar um cachê de graça, beleza, minha participação é essa, mas eu não ando muito assim
agarrado no movimento, porque ele ainda não se olhou para dentro, não vê os conflitos, os
preconceitos, então não me enquadro nisso, então eu faço o meu trabalho, gosto muito de hip
hop e de funk, faço meus shows, mas, independente disso, de estar convivendo. Pra falar a
verdade, se o movimento funk vai para um lado, eu vou para o outro, está entendendo?
Fecharam o baile, ai foram fazer uns protestos, chamaram os Mcs, aí foram chamar a gente o
Jeffinho e eu para gente ir lá no trio elétrico cantar, fazer o protesto para voltar os bailes, pô
dessa forma eu não vou não, se quiser vocês chamam a galera do Rio. Porque na hora de
tocar, fazer sucesso são os caras do Rio, e o público também curte e idolatra os caras, são
poucos que gostam do nosso trabalho.
35. Quais aos os programas de rádio que tem aqui de Vitória?
Tinha o “Tropical jovem Mix”, que agora não é mais, mas tem ainda, camuflou, mudou o
nome, e está em outro horário que era de 17h as 19h, e tinha o “litoral top mix”, acho que era
isso, agora também eu acho que tem ainda. O funk deu uma parada, saiu das rádios, isso é
antigo desde que começou mesmo o funk, tocava só o "Miame", música americana, ai teve
uma época que parou, por causa de muita confusão saiu da rádio, ai agora, o Netinho, filho do
Antário Neto, se formou comigo também, tinha muito amigo, a gente cresceu assim. Então
devido influência dos amigos e agora está lá na rádio também, tem um respeito na rádio, ele
voltou com o funk, agora parou devido a muita música de erotismo, sexo e muita gente
ligando da cadeia, querendo passar “catuque” ao vivo, “catuque” é mandar abraço, recado. E
os caras estavam mandando das cadeias. Paulo Hartung fez uma reunião com a Gazeta,
Litoral, pessoal da rádio e pediu para eles tirarem os programas do ar, foi aí que tirou, só que
deu uma camuflada.
36. Só que ainda tem programa de funk?
Tem, mas mudou um pouco a cara
37. Nesses programas vocês aparecem?
Não aparecem. Quando aparece é o Jeffinho e eu. Toca um, toca outro ou toca os dois. Os que
têm mais respaldo, mais respeito assim pelos próprios que fazem a mídia aqui, tem respeito,
sabe do nosso trabalho, mas fora isso não cara. Não interessa, o cara do Rio vem e é digerido
muito mais fácil, o cara faz o baile aí, esse que canta Bolete "quer bolete", vem aí faz três
shows e vai embora aí com 60 mil, uma vez num show só fez 30 mil, os cara não querem nem
vir mais por cachê, vem por bilheteria. Lá no Rio, na época que tinha Gorila e Preto que
cantava a dança do gorila, antigamente, logo que saiu aquele funk Brasil, tinha a dança da
cabeça. Esses caras do Rio não fazem esse sucesso no Rio, só aqui que fazem, eles vêm pra cá
e estoura, "pô, lá em Vitória é que é a mina". Aqui a rádio não interessa, principalmente, o
principal apoio que a gente poderia ter para ganhar alguma coisa era rádio que poderia ajudar,
mas não, você ver o seguinte, corrompe. O cara estudou comigo, e não segura mais essa onda,
a rádio para mim tem que passar um pouco de cultura, informação para as pessoas, não só,
entendeu, alienar as pessoas, você vai escutar uma rádio tropical, litoral, nada contra que
escute, para pelo menos dê opção, tem opção de escolher outra rádio. Igual as pessoas
falavam "Ah, o controle é democrático, é só você mudar de canal". Não é nada, só tem
porcaria, os canais que oferecem para a gente: globo, SBT [...] só tem porcaria, o único que
salva é a TV cultura, que ninguém assiste, a galera também não sabe curtir as coisas boas.
38. Tem as rádios jovens como transamérica que agora acabou mas, tem a jovem pan, a
cidade, que não tem espaço para funk.
Não tem, quando entra são os mais populares mesmo, ai quando vira febre mesmo entra. De
alguma forma dão um jeito. Porque antigamente eu lembro que ainda até tocava, passava
Claudinho e Bochecha e tal, mas hoje não passa mais, porque também, o público das cidades,
a galera é mais segmentada, a galera é mais, fechada, eu creio assim, que essas rádios são as
melhores assim, que nos é oferecido aqui. A tropical e litoral não dá né, axé o tempo inteiro,
pagode, não passa nada de bom, só passa sobre novela, porque o rádio acompanha, vira trilha
sonora da dona de casa, está em casa, ouvindo o rádio, até mais que a TV, porque a TV ela
tem que está vendo, o rádio não, ela ouve as coisas, imagina, a pessoas fica o dia inteiro. Eu
também não culpo as pessoas de ouvirem isso, porque não tem informação, a outra
informação oferecida é da televisão, você vê um jornal as informações já saíram a muito
tempo, a internet é o tempo todo, é informação o tempo inteiro, e a gente não consegue
acompanhar as informações não. Ai a galera tem uma cabeça mais fechada assim, igual o
funkeiro, só curte funk, por isso mesmo, não tem outras referências, não tem acesso a outras
músicas, livros, teatro, revista, jornal, as informações estão ai, vem a televisão e fala. Uns
90% da população só tem informação através da televisão, por isso a galera é meio assim,
fechado. Igual o mito da caverna, preso lá, sem saber o que existe no mundo. Igual Matrix, na
matéria de filosofia a gente fez um trabalho analogia de Matrix com o mito da caverna.
O Mc Flavinho saiu na primeira coletânea com o rap Ilha da Jussara daqui, do “Top Mix” que
era da litoral, "Sou da Ilha da Jussara...". é verdade foi o primeiro capixaba foi o Flavinho, já
tocava na rádio quando só passava funk do Rio, Mc Galo, Cidinho e Doca, o Flavinho era o
único que tocava, o primeiro mesmo.
O primeiro a fazer um rap, um funk capixaba, o primeiro Mc capixaba foi o Mc Flavinho.
12/06/2006
Jovem 03
Rock
1. A gente queria saber um pouco sobre como surgiu o Rock no mundo.
No mundo, olha pelo pouco que eu conheço assim, que eu estudei, assim, e procurei saber, o
rock começou em 1950 com Littler Richard, Chuck Berry, pessoal que foi muito
influenciados pelo blues que na época o pessoal que começou a fazer rock era meio que
criticado, era recriminado era o rock era mal visto , era como, era feito por pessoas rebeldes,
marginais, então não tinha tanta importância e foi acabando dando grande importância nos
tempos atuais. Assim, antigamente muita gente não dava tanto valor quanto o rock tem hoje.
2. Então começou nos EUA?
Isso,começou nos Estados Unidos,em 1950, não sei ao certo se foi com Littler Richard ou
Chuck Berry, cada um tem uma versão da história, mas eu ouvi falar muito sobre essas duas
versões.
3. E aqui no Brasil, quando chegou? Com quem chegou?
Não sei dizer, mas tem muitas histórias que dizem que já tinham muitas pessoas no Brasil, em
1950, fazendo rock, não tipo, 1950 e 1960, mas não tem nada que comprove , “ah começou
com essa pessoa ou esse grupo”.
4. E aqui no Espírito Santo você sabe alguma coisa de quando começou?
Não, também não.
5. Você sabe dizer o nome de algumas bandas que tem hoje aqui?
Olha dentro do hard core eu conheço várias bandas, tem o “Muqueca Di Rato”, tem “Os
Pedrero”, que é bem próximo do hard core, na verdade se misturam os estilos, de hard core, a
punk rock, a EMO, na verdade o rock tem vários subgêneros.
6. Você tem como falar desses subgêneros?
Tenho. Se você for generalizar você pode falar que tudo é rock. Mas dentro do rock você tem
o metal, que é o heavy metal e dentro do metal você tem o White metal, que é metal cristão,
que fala sobre religião, sobre Deus, tem o trash metal, que é aquele metal mais podrera,
gritado, tam o metal gospel, que tem uma diferença pra esse White metal, que eu não sei.
Aí fora do metal tem, hard rock, tem hard core, tem punk rock, dentro do punk rock tem o
punk rock mais é “novayorkino” que é mais político, mais protestando alguma coisa, e tem o
punk rock mais “californiano”, que tem mais melodia e fala mais sobre amor ou alguma outra
coisa assim. Hoje, muito tem esse lance do EMO, do hard core EMO, que até meio polêmico
falar sobre isso, muita gente gosta, esse subgênero é o hard core só que falando mais de amor,
falando sobre a menina que deixou o cara, o cara que sofre por amor. Então tem muitos estilos
dentro do rock que às vezes até confunde um com outro, fica meio confuso e tem muita coisa
mesmo, não dá nem pra falar muito.
7. E você sabe quando começou a surgir esse monte de subgêneros?
Olha, pra mim, o próprio metal tem várias diferenças, vários subgêneros, eu vejo isso tudo
como metal. A partir de um certo tempo as pessoas foram diferenciando. Foi surgindo o new
Metal com influencia do hip hop, rap, mas muita gente já me falou que existia isso, só que
não tinha essa classificação, as pessoas com o tempo foram classificando como subgêneros
diferentes.
8. E isso é daqui do Brasil ou vem dos Estado Unidos também?
Vem dos Estado Unidos, a maioria das coisas vem dos Estados Unidos, o Rock os subgêneros,
todos são de lá. Todas as bandas aqui são muito influenciadas por bandas de fora.
9. E aqui no Espírito Santo onde vocês costumam se reunir? Onde normalmente tem
shows de rock?
Hoje em dia não tem muito espaço pra rock no Espírito Santo. Antigamente existia o
“Camburi Vídeo” em Jardim da Penha, que era muito freqüentado e por todos os estilos de
rock, tinha show de metal, show de punk rock de tudo. Tinha o “Praia Tênis Clube” também,
que de um tempo pra cá começou a trazer bandas, mas parece que ta fechando de novo. Hoje
ainda tem o “Entre Amigos” lá em Vila Velha, que é um dos poucos lugares que restou assim,
que tem banda se apresentando. Tem um pessoal lá do Centro também, é o pessoal do
“Milícia”, não sei, acho que é um grupo religioso, eles se encontram sempre, eles moram num
apartamento lá e parece que todos os finais de semana tem um show lá. Eles pegam bandas de
White metal, metal cristão e fazem eventos lá, eu nunca fui assim, já passei em frente, fiquei
sabendo que tava tendo um show , mas nunca entrei não. O pessoal de lá é bastante unido,
assim, quando tem show vem gente de Vila Velha, de Cariacia, todo mundo pra lá, isso que
eu acho legal no rock, assim, o público é muito fiel, eles vão atrás onde tem, eu acho bacana
isso.
10. Aqui em Vitória então não tem mais lugares?
Não tem, quando acontece é algum festival de escola, então não é um rock pago é um evento
que geralmente as bandas que tocam são bandas de alunos da escola. Bandas contratadas pra
tocar agora em Vitória só show muito grande, por exemplo, no “Álvares Cabral” que vem
banda internacional, como veio “Sepultura”, “Angra”, agora em Vitória é muito raro, você
tem o bar do “Simpson”, que às vezes rola show, mas é um bar pequeno, são shows pequenos,
por que é um lugar pequeno, não cabe muita gente, então estrutura aqui no estado,
principalmente aqui em Vitória não tem muito.
11. Você falou que vocês são unidos quando tem show o pessoal vem de fora, e vocês
costumam se reunir? Tipo o hip hop e o reggae que fazem reuniões pra discutir
coisas do gênero mesmo, da música, e vocês costumam se reunir assim?
Olha, não dá forma como se reúne o pessoal do hip hop do reggae, por que eles estão muito
mais ligados a movimentos culturais, e o rock já não tem tanto disso, acho que poderia ter. O
que acontece são eventos que o pessoal organiza pra beneficiar alguma instituição, alguma
ONG, alguma coisa assim, eu mesmo já organizei um show no “Camburi Clube”, que é um
outro lugar que tinha show em Vitória, há muito tempo atrás em 2001, 2002, e agente
arrecadou alimento não perecível pra dar pra ACACCI. Então eu acho que o pessoal do rock,
o máximo que acontece aqui em Vitória é isso, é um show beneficente que o pessoal vai,
participa, doa alimento e pra doar pra essas instituições. Mas acho que no hip hop e no rap o
pessoal é muito mais unido com essa coisa de promove comunidade carente, ajuda o pessoal
de lá, já no rock não tem tanto.
12. E com relação ao poder público, a Prefeitura aqui de Vitória, a Secretaria de
Cultura, por exemplo, você vê algum incentivo com relação ao movimento de vocês?
Ao gênero?
Olha eu vejo poucos incentivos da prefeitura, mas não para, pros gêneros, pro rock, pro
reggae, eu vejo alguns poucos eventos que abrangem todo mundo. Às vezes eles fazem um
show, sei lá, antigamente tinha muitos shows lá na praia de Camburi que ia banda de reggae,
de rock, grupos de hip hop, mas não tinha nada específico pro rock, acho que o rock é meio
mal visto ainda, acho que sim, principalmente o pessoal do hard core, do punk rock, o pessoal
vê muito como, “ah são doidões, são arruaceiros, são anarquistas”, ah sei lá, tem muito
preconceito ainda, tem uma visão meio, sei lá, deturpada ainda.
13. E você sabia que existe aqui na prefeitura de Vitória um espaço para a juventude?
Um departamento?
Não, não sabia fiquei sabendo na conversa que a gente teve agora pouco.
14. O que o rock de um modo geral quer transmitir nas letras das músicas?
Tudo, acho que tem bandas que falam sobre Deus, sobre religião, tem bandas que não falam
nada, falam besteiras, no caso por exemplo dos “Mamonas Assassinas”, num chega a ser uma
banda de rock, eles pegavam e tocavam um pouquinho de cada estilo, mas eles falavam coisas
engraçadas, coisas cotidianas, né, um som bem humorado. Mas tem banda, tem muita banda
de punk rock que protestam alguma coisa, sabe falando sobre política, enfim, até o próprio
relacionamento entre as pessoas, acho que cada banda, cada grupo, cada pessoa, tem o seu
protesto de um jeito, fala sobre alguma situação.
15. Então não tem assim um corrente que segue? Tipo o hip hop fala mais sobre o di-adia da periferia, o reggae fala mais da natureza, das praias então o rock fala mais de
tudo mesmo, cada um segue o seu estilo, ainda mais por que tem vários subgrupos?
Isso, o hip hop você não tem muitos subgêneros, você não tem um tipo de hip hop diferente
do outro tipo, geralmente eles são bem poucos, eu não sei se tem, mais se tiver são poucos e
bem próximos. Já o rock é muito separado, é muito enraizado, assim. Então cada um segue
meio o seu estilo, o seu protesto, o seu conteúdo, a mensagem que quer passar.
16. Como você avalia o rock aqui em Vitória? As bandas que existem aqui?
Eu acho que tem muita banda boa, mas às vezes essas bandas não tem espaço pra mostrar o
trabalho, então acaba ficando meio oculto. Às vezes a pessoa não conhecia, a gente tem o
exemplo aí do “Dead Fish”, que ta em São Paulo, agora. Eles assinaram com gravadora
grande então tão se dando bem, assim, é exceção a regra, pouquíssimas bandas tem um certo
espaço pra mostrar o seu trabalho, principalmente em Vitória, por que não tem muito espaço
pra show , né. Você vê em São Paulo, além de São Paulo ser muito maior né. Mas mesmo
assim tem lugares específicos pra shows, então o pessoal vai. Aqui em Vitória não tem, não
tem apoio de ninguém quando tem show são amigos que se juntam e tiram dinheiro do
próprio bolso pra organizar e muitas vezes tomam prejuízo e continuam fazendo show, acho
que o pouco que tem hoje é graças às pessoas que continuam investindo e querendo manter
essa cena de rock, mas ainda é muito pouco, acho que deveria ter mais espaço, a prefeitura,
não sei, talvez poderia incentivar mais, acho que seria legal, bacana.
17. Ultimamente tá tendo, assim, uma explosão de bandas de rock, principalmente em
São Paulo, como você avalia assim em âmbito nacional?
É hoje em dia tem muita abanda nova surgindo, principalmente de rock, assim, você vê muita
banda nova, ainda mais agora com Internet, hoje com Internet mais acessível pra todo mundo
- ainda não é pra todo mundo mais tem muito mais gente com acesso à Internet - fica mais
fácil, uma banda pode gravar o seu material em casa e botar lá na Internet, tem os sites
especializados pra isso, então, com MSN a pessoa manda música de um que vai pra outro,
então fica mais fácil pra banda divulgar e ser conhecida. Esse é um dos fatores que eu acho,
na minha opinião, que ajuda bastante.
E dentro do rock, do hard core, acho que isso é maior, por que é muito mais fácil montar uma
banda de rock do que uma banda de reggae, por exemplo, por que no rock você pega uma
guitarra, um baixo, uma bateria e um vocal, principalmente quando as bandas são desse hard
core mais agressivo, “tosco” que é conhecido, que é gritado, então você pega uma pessoa pra
gritar, uma pessoa que escreva e vai protestando, vai escrevendo as suas letras, vai cantando.
Então é mais fácil de você montar uma banda assim, também por isso muita banda acaba, às
vezes por ser tão fácil você montar uma banda e começar a tocar, pode juntar nós três aqui e
montar uma banda, mas não dá certo e amanhã já acabou.
Agora banda que, as bandas que eu admiro, são as bandas que começam com um propósito, e
tão aí tocando, sempre mantendo o seu estilo. São bandas que não se vendem pra gravadoras,
o que acontece muito. Não culpo também quem assina um contrato com gravadora pra ganhar
o seu dinheiro de uma forma, por exemplo, o próprio “Casaca”, eles começaram com um
estilo, o congo deles misturado com rock, todo mundo aqui no Espírito Santo começou a
gostar, só que eles foram pra “Soni” e começaram a mudar o estilo, você vê o lance mais pop
começando a entrar, acabando que “Casaca” hoje nem faz tanto show. Eu não culpo eles que
assinaram esses contratos, por que “pô”, você que vive de música tem que sustentar sua
família, ter seu dinheiro no final do mês. Então muita gente fica com aquela coisa, não vou ter
grandes pretensões por que, eu comecei assim e quero terminar assim, acho que cada um tem
seus motivos pra tomar suas decisões, eu particularmente não concordo, não vou falar que não
faria, mas eu tenho a intenção de não fazer.
18. Vocês têm uma mensagem assim que o hard core tenta passar?
A gente não passa uma mensagem específica.
19. O rock é só pra dançar mesmo? Por que tem um livro sobre o rock, em que o autor
fala que, o rock não foi feito pra pensar nas letras foi feito pra dançar, o que você
acha? Aí eu pensei, será que se um “roqueiro” ouvisse isso ele iria ficar satisfeito? De
que o rock é feito só pra dançar? Como é pra você?
Olha eu não concordo muito com essa visão não, até por que o rock começou, assim como hip
hop, começou ele tinha uma letras protestando alguma coisa, acabou que foi tornando uma
coisa um pouco diferente hoje. Tem rock que você, sei lá tem bandas aí que escrevem sobrem
amor, acho que escrever sobre romance essas coisas é muito fácil, então a pessoa escreve põe
uma guitarra em cima, “ta lá, uma banda de rock”, tem sim rock pra dançar, o pessoal faz rock
pra se divertir, tem o próprio “Mamonas Assassinas”, não sei se é um bom exemplo de uma
banda de rock, mais eles faziam, as letras eram engraçadas, era humor, então pode ter esse
sentido, não vejo como problema, mas o rock em si não é só pra isso. Acho não, não é. Tem
muito rock que não quer protestar, você pode ter o direito de não querer falar nada, não passar
mensagem, simplesmente tocar, mais tem muitas bandas que, a formação os integrantes são
ótimos músicos, mais eles não sabem compor alguma coisa então eles dão muito mais valor à
melodia, aquela coisa da música e não pensam muito em colocar alguma letra pra protestar
alguma coisa, não sei, é uma opção deles. Eu não acho errado. E não vejo o rock como só pra
dançar, pode ser a visão do autor do livro mais eu não concordo.
11/06/06
Jovem 04
Hip Hop
Sou produtor, faço voz, letrista, historiador e também faço parte da cultura hip hop em seus
quatro elementos, desde sua criação e conhecimento dela aqui no país. O ES foi um dos
estados em que o hip hop começou a se movimentar por igual, igual as outras unidades da
federação. Quando o hip hop começou no Brasil ele começou em todos os estados ao mesmo
tempo. O Espírito Santo tinha como representante eu, tinha na época Geraldo Cobra, tinha
Paulo Black, era o cara que fazia break, tinha Cyborg juntamente com Sagaz que fazia o
graffiti, eu comecei com letra e DJ e assim nós viemos seguindo desde 1985 para cá.
1.
O hip hop tem quatro elementos, como o hip hop surgiu e qual dos quatro
elementos surgiu primeiro, se surgiu primeiro, se teve isso?
São os quatro elementos atuais hoje, mas o primórdio do hip hop, a raiz principal, ele
começou nos anos 50 nas ruas de Kingliston, na Jamaica, tinha o Kool Herc e o Jaburu Mayer
e o Kool Herc era o cidadão que tinha uma escada, ele subia na escada e o Jaburu ficava
tocando, as vezes o jaburu subia, que jogava mais pesado e ficava falando a palavra de
ordem, a questão social, econômica, política da Jamaica da época, desigualdade que existe até
hoje no nosso país e acredito que na Jamaica também exista. Os caras começaram assim, a
falar palavras de ordem, o que é certo, o que é errado, nós temos que lutar, que correr atrás, e
enquanto isso um deles estava tocando e pegava aquela parte do instrumental da música, da
música mais famosa da época, pegava só o instrumental, numa das oitavas, eles ficavam
falando palavras de ordem, então quando acabava aquela oitava, ele soltava do outro disco,
eram dois discos iguais, ficavam no mesmo amplificador, então acabava a parte da música,
tum, soltava outra, voltava, quando acabava a outra, soltava e assim, em cima daquilo ali
formava a palavra de ordem. Essa é a raiz.
Aí depois, não sei o que aconteceu, por questões econômicas talvez, o Kool Herc foi por EUA
e chegando lá ele conheceu o Fila Fresh, inclusive tem até o primeiro disco deles que eu
mostrarei depois. Conheceu o Kool Herc, o Fila Fresh era do Brookling, e depois conheceu o
do Queens que era o África Bambaataa. O Kool Herc, o África Bambaataa e tinha mais outro
também, que esses três caras começaram a dividir os hip hop do Brooking, do Queens e no
Bronks que era outro bairro Nova Yorquino onde existia uma grande comunidade negra e a
cultura black music estava surgindo, o rock, finalizando a cultura do rock e já estava vindo o
... eles consumiam muito o blues do sul dos EUA e de Chicago, e começou a fazer as junções
para fazer as bases, ai foi que começou a raiz do hip hop, ai na mesma época estava
acontecendo a guerra do Vietnã, aonde havia muitos protestos, pois a maioria dos soldados
americanos que foram para o Vietnã eram negros, porque naquela época eles eram obrigados
a servirem ao exército. Então aquela cultura de segregação norte-americana fazia com que o
jovem negro fosse para os campos de batalha, e então eles começaram a fazer protestos,
imitando movimentos de soldados caindo mortos, na dança, e nessa mesma época também, o
graffiti começou a sair da pichação e fazer uma arte criticando a questão da guerra, dos
mortos que eram caras desses bairros que estavam morrendo no Vietnã e a letra começou a
falar da guerra do Vietnã, do contraste, da divisão, então o hip hop começou dai. Então já
tinha a formação do DJ que era o cara que ia tocar, então na hora que fosse dançar tinha o DJ,
na hora que fosse graffitar tinha o DJ, na hora que fosse falar as palavras de ordem nas ruas
desses bairros... Essa é a base original do hip hop, a base e discutida, criticada, e hoje em dia
os caras falam, na época já se cantava o hip hop, como se cantava o hip hop...?
2.
Você falou do contexto mundial, a gente queria saber como surgiu aqui no Brasil.
Como veio para cá, quem trouxe...? Chegaram os quatro elementos juntos, o hip hop
formado já, chegou o rap primeiro, você sabe?
Olha no Brasil aconteceu o seguinte, essa ação comercial norte americana, você sabe que
depois da África, o Brasil é o país que tem mais negros, entendeu, então, o comercial, a
questão cultural norte americana, se bateu nos EUA, o próximo local é o Brasil, isso é de
praxe. Porque, do mesmo jeito que nossa cultura negra está toda sendo puxada pelos EUA,
atualmente o exemplo maior , o maior cantor de rap do momento que é o..., esqueci, ah, eu
tenho o disco deles depois eu mostro para vocês, é do produtor brasileiro Sérgio Mendes,
acho que é. Ele pegou um clássico do samba brasileiro e colocou com o hip hop norte
americano cantando, e esse cara dos EUA é um cara que hoje está vendendo 50 milhões de
cópias pelo mundo a fora. Então, quando eles começaram a fazer esse tipo de música lá, na
época tocava o funk music no Brasil, então o hip hop veio no estilo funk com a banda
Sugarhill Gang , essa mesma banda foi a primeira banda a tomar o primeiro processo por
questão de plágio, porque na época tinha uma banda Chiq com os produtores Bernardo e
Eduards Guinerorges que eles produziram aquela good times, uma música que estourou pelo
mundo a fora e a base dessa música, o Sugarhill Gang pegou para pra fazer o melô do
tagarela, foi o primeiro fonograma gravado pelo mundo a fora sobre o hip hop e de quinze
minutos que tem a música, de dia e de noite é o nome da música, então essa música quando
chegou ao Brasil, chamou a atenção para caramba, que estilo é esse, o que é aquilo e logo em
seguida veio o Planet Rock, feito por África Bambaataa, me lembrei, Soul Sonic Force, que
era um outro pessoal (...). Já estava tocando Sugarhill Gang, estava tocando também o Planet
rock produzido pelo África Bambaataa. Ai depois chegou um filme chamado Beat street, que
era a onda do break, chegou a parte um e parte dois, depois chegou o break dance, então a
juventude negra brasileira, ouvindo essas músicas quando ia aos bailes funks e chegando esses
filmes, a assimilação é rápida, então esse mesmo filme passou em todos os cinemas do Brasil,
de Manaus a Porto Alegre, tanto de Rio Branco a Natal, tanto do Espírito Santo a Brasília,
Campo Grande, todas as capitais cercando o Brasil de um lado a outro. Então, de um mesmo
local que antes tocava o estilo funk music, tocou essas músicas, passou esses filmes e
obviamente passou a ter esses curiosos, ai dali, logo me seguido veio o Kuts Brown cantando
a música The Breaks, ele aproveitou a situação, já que não tem um estilo para se dançar, já
que não se sabe o estilo dessa maneira de cantar, então vai ser o break, que é o quebra, a
pessoas fazerem os movimentos pra lá e para cá e ai vai o som, ai assim que começou a se
solidificar pelo país e é o que é hoje, depois dos EUA é o país que mais se produz e consome
em hip hop e é o único país do mundo que tem a raiz 100% do hip hop, os EUA já tem, mas já
está contaminada, aqui no país, graças a Deus ainda não contaminou ainda, igual ao funk
porque é errado vocês chamarem o estilo de música carioca de funk, abrindo aspas aqui,
passou a ser conhecido por causa de que, antes tocava koll the kender. Eu faço meus bee gees,
aí só com os originais funk music - James Brown, George Clinton, eles são os reais do funk
norte americano, tocavam no Brasil tinha o Jorge Ben, conhecido como Jorge Ben Jor, tinha o
Carlos Café, tinha Hildo, o Cassiano, Tim Maia, grande percurssor dessa situação toda tocava
essa galera toda junta, nos bailes, estilo funk, feito nos EUA. Depois do Blues, depois do Soul,
veio o funk, nesses locais que tocavam o funk, os caras tiravam essas músicas norte
americanas e as brasileiras desse estilo e começaram a tocar uma batida só de grave, e as
letras vem falando de mulher, da noite que ele passou com a mulher, que a mulher era boa,
que fazia, o que não fazia, transava bem, não transava bem, dava bem, só sacanagem, só
estava pensando no carrão e na grana que ele ganhava. Então, temos um infeliz cidadão
chamado Malboro, eu já cheguei a falar isso para ele, pode colocar na entrevista que não tem
problema, porque, na minha opinião, o que ele fez para a juventude brasileira foi péssimo,
para a questão bancária dele foi ótimo né, ele comecei com aquele negócio de melô da aranha,
melô disso, melô daquilo traduzindo o que os norte americanos faziam em Miami, mais ali na
parte do norte de Miami, Pampano, onde se gravava esses tipos de música e também passaram
a ser proibidos em alguns estados norte americanos a execução delas, get loving crill, se vocês
ouvirem verão que eles foram proibidos de cantar de certos estados. Então esse cara começou
a produzir essa tradução aqui no país, obviamente quando você pega um povo que tem uma
cultura limitada como a nossa, que a nossa educação é a TV que nos dá, partiu pra pornografia
é fácil de assimilar, aí os caras assimilam, a garotada se assimilou. Então, quando os caras que
estudavam música, os historiadores viram para onde esta situação estava indo, já começaram a
pensar, daqui a uns dez anos você vai ver, vai ficar uma porcaria que esse tal de funk vai
tomar conta, chamaram de funk porque era o original local onde se tocava funk e então vamos
chamar isso de funk também, só é conhecido como funk no Rio de Janeiro e no ES, em São
Paulo se você falar funk vão te jogar aquilo do passado, em Belo Horizonte é a mesma coisa,
no Nordeste, no sul do país é a mesma coisa, no Rio de Janeiro eles já vão te jogar o
Pancadão. Então, nós capixabas, quando falamos funk falamos errado, estamos sendo
questionados, sendo motivos de riso.
3.
Qual é a maneira?
A maneira é falar o pancadão.
4.
E tem alguém que toca o funk de origem, de raiz hoje?
Tem, eu toco nos bailes, aqui na rádio, tem programas especializados. A antena 1, a
programação dela é 80% funk, sábado a noite tem também o Tribuna Flash Back, é uma
programação de qualidade, tanto é que foi votado a melhor época da música no mundo que foi
os anos 70 e 80 que tocava o original funk. É tanto que os caras tem que lá buscar essas
músicas para ressuscitar para dar continuidade aos sucessos. É tanto que se você quer fazer
hip hop ele é todo sampreado em cima do original funk, o dance, ...estão fazendo reedições
2006, 2005 tudo de 1984, 1982. Essa é a história do funk, não é...alguns falam "aquilo é
porcaria de um cara que não tem responsabilidade", porque essa cultura que vem, você pega
um jovem que curte baile funk, que está na minha faixa de idade e paga esses caras que
começaram a curtir esse pancadão de 10 anos para cá, nós temos nossa questão social... o que
acontece no complexo do alemão, na Rocinha, na periferia, na parte baixa, e o que está
acontecendo no ES e em outros estados que aderiram a isso aí. Vocês duas por exemplo,
quantos anos vocês lutaram para ter o direito da mulher e hoje em dia o cara faz uma música
chamando vocês de cachorra, rebolar o popozão, se tornaram um produto de consumo e está o
pessoal nos bailes funk, sendo que a mulher é a mais agredida nesse tipo de letra e pela
questão da desinformação ela apóia esse tipo de situação, e só um ser humano, só uma pessoa
se deu bem nessa situação, pegar da geração dele em diante, tudo que estava em volta dele
apodreceu, eu já falei isso.
5.
Então o criador do pancadão foi o Malboro?
Ele foi o principal criador, ele começou a fazer a tradução num disco chamado Funk Brasil,
mixado em 1990, que vinha até uma música cantada por aquela mulher, uma "escraxada", até
ia pousar para playboy agora, como é o nome dela, a "velhona", já foi apresentadora, fala
palavrão pra caramba, Dercy Gonçalves, ridícula essa mulher, deveria se tocar, está certo que
não tem idade para gente ter moral, ela fez o rap da aranha, "que sua cobra quer comer minha
aranha", pensa bem, o que você espera, e assim vem, eu tenho esses discos guardados para
gente ter fundamento, então é dali em diante. Aí dessa época tinha caras como Nelson
Triunfo, como Times Dj que são os percussores, os primatas do hip hop no Brasil que
começaram o Nelson Criusque que saiu do Nordeste do Brasil e foi para São Paulo, que
sofreu preconceito por ser nordestino, pernambucano, aquele sotaque mesmo de nordestino,
ficava essa briga toda, junto ele e outros breaks o Black Spring por exemplo, lá no metrô de
São Bento criaram a primeira cril de break, os primeiros caras a dançar break no metrô de São
Bento, ali começou a raiz, eu achei legal porque eu estava lá, eu vi os caras começarem, ai em
algumas vezes a gente tinha que sair correndo porque a polícia chegava e descia a porrada,
batia em todo mundo.
6.
Era quando isso ?
Década de 80. Lá os caras apanhavam por causa disso. Eram perseguidos e então eles saíram
do metrô de São Bento (SP) e iam para... Ai eu me lembro que nós estávamos lá e a polícia
chegou e deu um pau em todo mundo. Ai nós fomos para o Vale do Anhagabaú, perto do
terminal dos correios. Vamos fazer nossa roda aqui, colocava a música e começava a dançar.
A polícia chegava e tome cacete. Então a gente procurou um lugar para aquilo ali, então os
moleques de rua estavam ali, os bandidos que estavam nas ruas por sobrevivência começou a
ficar ali, então os caras confundiam, "pô os caras estão se juntando para fazer roubo", não
cara, estavam tentando conversar com os caras, porque na América os caras se reuniam para
falar em cima da base. Então o break foi o primeiro movimento do hip hop no Brasil
7.
Em que década?
Década de 80, começo da década de 80, 79... essa situação começou no Brasil e no mundo,
depois é que começou essa situação.
8.
Aí quem começou, assim, a fazer música aqui no Brasil?
O primeiro cara a gravar um fonograma no Brasil, cantar, gravar, foi o Pepeu. Então, depois
do Pepeu, tem uma coletânea que depois a gente pode mostrar, pela data vocês podem tirar
uma idéia, veio o Pepeu, ai depois gravaram uma coletânea, a primeira é hip hop e cultura de
rua, depois tem outra coletânea, aí vem o Thaíde lançando o primeiro trabalho, Thaíde Dj
Hum. Aí, em meados dos anos 80, 86, 87, vem os Racionais, aí o negócio estourou. Viram
que o negócio não era só cantar, só dançar, não era só graffitar, tem um lado social, cultural, o
lado de conversar que é o mais importante. Agora, hoje em dia, se reconhece o hip hop como
questão cultural com finalidade profissional, que todos os quatro elementos caem para o lado
profissional. O DJ hoje se torna um sonoplasta, tanto para rádio, TV. O break ele se torna um
coreógrafo, um dançarino. O Rapper vocalista é um cantor, um letrista, aquelas coisas todas.
O graffiteiro é a arte plástica, é ali que está exposto a idéia do cara, tirar , conforme os olhos
vai tirar uma interpretação. Então essa cultura cai para esse lado, no ES ainda há um
preconceito muito grande com isso, ainda acha que é negócio de preto favelado que não tem
nada o que fazer. No Brasil, até que agora os caras estão começando a engolir isso, mas agora
nós começamos a ter um outro desafio que é não deixar o hip hop cair para porcaria, que os
caras estão fazendo, tocando em boate, rebolar, fazendo hip core, noitada do hip hop, lual de
hip hop onde os caras estão lá fumando, bebendo, cheirando, transando...
9.
Como ele veio para o ES?
Como eu falei. Bom eu já estava tocando aqui, então tinha um cara conhecido como Pulo
Black, ele era pipoqueiro lá no cine de São Luiz, lá no Centro de Vitória, ai ficava eu e ele lá
conversando, ai a gente comprava os discos escondido porque a gente ficava com vergonha,
porque os caras falavam "que jeito doido dos caras cantarem, ninguém entende nada, nem dá
para ouvir direito", a gente tinha medo, a maneira da levada eu gostava e ele gostava, aí
quando chegava um disco, dois discos que a gravadora falava "ah, se você for comprar esse
tem que comprar esse também, então empurrava para os donos de discoteca, como a discoteca
do Golias que foi aparecer primeiro, então quando eu comprava ficava na minha e quando eu
descobri que tinha um acara que também comprava que era esse Paulo Black e ele comprava e
ficava com vergonha de mostrar e eu a mesma coisa, até que um dia ele me chamou e falou
um cara que canta de uma maneira muito louca, muito maneira, e foi que a gente começou a
ouvir aquelas coisas.
Aí eu fui pra São Paulo, ver quando estava passando esses filmes aqui e daí nós fomos
contaminando, dois, três, quatro, que foi indo e em uma época eu fiz uma base só
instrumental, fiz uma letra e cantei, eu tinha um programa na rádio tropical na época, ai a
galera gostou, o programa era de funk, original funk.
10.
Em que ano foi isso?
Isso foi em 84.
11.
E como era o nome do programa?
Tropical Jovem Mix. Eu tenho esse instrumental até hoje, Tem muita gente que tem essas
músicas e eu não tenho, gravadas em lugar nenhum lá me casa. Um dia um cara me ligou e
disse, "O meu irmão, eu tenho os negócios aqui que eu gostaria de vender, as suas primeiras
músicas e suas primeiras coisas que foram gravadas". Ai eu falei "ah, meu irmão... rsrs". Você
pega e eu gravo de novo e ele disse: "é mas você não tem mais o mesmo timbre de voz, a
levada não é mais a mesma". Então a gente gravou isso aí e estamos mandando para os
museus, colecionadores, porque a gente criou uma legião de colecionadores, e assim, fomos
seguindo, reunião e em 1997 gravamos o zumbizão como é conhecido o apelido do nosso
vinil, ai gravamos a coletânea de Tributo a Zumbi de preto para preto.
12.
Foi o primeiro?
Foi o primeiro.
13.
Foi você e o Paulo Black?
Não, aí já era eu e mais uma turma que veio, porque Paulo Black só estava preocupado em
dançar, foi ele que segurou o break junto com Cyborg que era break e graffiteiro. Aí tinham
três caras que tomavam conta do break e do graffiti que era o Cyborg, Paulo Black e Sagaz do
Suspeitos na Mira. E o Brown estava vindo, estava entrando no nosso meio, o Eric Brown.
Vocês já conversaram com ele?
Não, só com Sagaz.
Sagaz é primórdio, ele não gosta que chamam ele de jurássico.
14.
Você podia falar para gente o nome dos grupos daqui de Vitória que você
conhece.
Vou citar os de hip hop mesmo, sem ser aqueles que estão ali por causa de moda, não.
Negritude Ativa, Suspeitos na Mira, Observadores, Mente ativa, Garcia, ele é um cantor de
rap, uma questão original rap são só esses daí, o resto, eu vejo assim, ah porque está legal,
maneiro, mas na época que é pra lutar mesmo pro rap estar existindo ninguém apareceu. Se
tivesse num momento de ser de forró, misturado com lambada e esfregar a bunda na parede,
os caras estavam dentro também. São pessoas que assim que acabar essa onda do hip hop eles
não vão mais existir. Então nosso medo é desses caras que tem poder de falar, de mudar e eles
mudarem a coisa e fazer com que aconteceu com o rock que não é mais suas raízes, como
aconteceu com o funk, que não é mais aquilo, quase acontece com o Jazz, só não aconteceu
porque o Jazz ainda é muito pesado, ainda está muito enraizado, tem uns caras que faz mas
não vira né, como aconteceu com o Blues, com o samba brasileiro. Tem umas pessoas que
querem ganhar dinheiro, quer estar na fama, que vai "comer" mulher, sei lá, estraga tudo. Eu
vejo essa turma aí que tem compromisso com a cultura, eles sabem que eles tem uma
responsabilidade, tem pessoas que ouvem muito o que eles fazem, por exemplo, os Suspeitos
na Mira, não tem só aquela garotada que ouve, encarcerados, pessoal do bairro deles não. Tem
uma gurizada, jovens, todos. O Negritude ativa é a mesma coisa. Essa turma tem também o
Resistente de São Pedro que tem um trabalho muito legal. São só esses que eu posso falar.
15.
Esses foram os pioneiros?
Pioneiros aqui em Vitória foram os Suspeitos na Miar, o Negritude Ativa, Eu e observadores.
Começamos uma cultura hip hop no ES e graças a Deus ninguém morreu anda, está todo
mundo na corrida.
16.
Quando a gente fala de rap, hip hop assim a gente não fala só de gênero musical,
a gente fala de um movimento, então como vocês se reúnem, como é a relação de um
grupo para o outro?
A relação entre um grupo e outro, todos nós temos um objetivo único que é a cultura hip hop,
melhorar, discutir, e há um quebra pau do caramba entre a gente, não é fácil não. São caras de
idéia, então quer dizer, se eu lançar uma idéia a minha idéia vai ser questionada, não vai ser
aceita, então quando você tem pessoas que não ficam assim "Ah, vamos fazer isso"? "Ah,
vamos embora!", então se tiver isso aí, as coisas não têm andamento. Há umas "tretas
ferradas" entre nós, mas há um respeito, há uma discussão em cima do assunto. Na reunião de
hip hop o que mais se ouve é palavrão. E briga, defende a idéia dele, briga com a idéia dele...
a reunião de hip hop é muito mais político do que você estar fazendo votação de lei num
congresso.
17.
E quando são essas reuniões?
Essa reunião as vezes acontece, quando é chamada, mês em mês, de dois em dois meses, ou
as vezes os caras vem para a rádio e o pau quebra aqui.
É sempre em local diferente?
Depende da situação de passagem de cada um, um dia fomos ao terminal de Laranjeiras fazer
uma reunião, "puta que pariu", o segurança pediu para a gente sair, então quer dizer, o ES,
tirando meu trabalho, nós estamos tão preocupados com a qualidade em o hip hop seguir o
que ele determina. O ES é um dos estados que tem a melhor qualidade em hip hop, os discos
produzidos no ES são um dos melhores do Brasil. A pouca condição que nós temos é a
condição financeira. A questão de qualidade da letra, de levada, nós temos prêmios a nível
Brasil, esses quatro grupos que eu citei, os caras são conhecidos pelo Brasil a fora, muito
reconhecimento, nós temos mais fama fora do que aqui dentro do Estado. Eu fiz um
videoclipe que foi premiado na França, Espanha, passou na MTV, passa até hoje, aquela
falação toda, aquela coisa toda. Os suspeitos na Mira, o último trabalho saiu agora, o trabalho
dos caras é fantástico, o negritude ativa é aquele grupo que manda a real mesmo, na tora, luta
contra as desigualdades sociais e raciais principalmente, que o que pega mesmo na a levada
dos caras, pode falar "ah, isso não existe mais", então se não existe, então eu paro de cantar,
então...
18.
Qual a mensagem que o Hip hop passa, o que ele determina?
Bem, claro se há críticas, tem que ter solução, a solução é a informação. A informação é a
solução para tudo, não só para o negro, mas para nosso país principalmente, você que é
branca, você não sabe da nossa história, mas nós sabemos da sua. Eu sei que o alemão veio
para o Brasil e o italiano veio para o Brasil, eles tiveram terras, fizeram cotas de terra, foram
bem recebidos e você sabe que nós fomos escravos e em 13 de maio, a princesa Isabel,
boazinha que estava tomando conta do Brasil nos libertou. Mas, pô, meu filho está
aprendendo isso na escola, mas quer dizer, a maior briga dentro do movimento é não deixar os
meninos serem contaminados com essa história fajuta, tem que falar que veio um inglês, que
falou com a princesa, "ó vamos ter uma reunião com os latifundiários e falar com eles para
libertar a negrada toda porque nós estamos em época de revolução industrial e nós temos
produtos de última qualidade para vender e o clero e a burguesia que são as classes
dominantes no Brasil é pouco, os escravos são maiores, liberta os caras, dá salário para eles,
monta um armazém dentro do lugar de vocês que você não vai gastar mais com capataz, com
alimentação, com moradia, e deixa os caras pegar para viver". Hoje, o resultado são as
favelas, como resultado disso temos os mendigos que você pode ver que 90% são negros, as
crianças abandonadas do ventre livre também, isso são resultados, e os caras ainda lutam para
que isso continue. Agora o negro está ali livre, ele não tem mais as correntes, só tem a questão
social que barra ele de comprar, a mídia branca fica assim: comprar, compra, mas o negão
compra a TV, mas não consegue comprar o que a TV manda, "ah, não tem não, vamos partir
para o estilo sobrevivência", o maior come o menor, desde a época antes de Cristo, os
gigantes dominavam os pequenos devido a força física, então o cara se arma e vai para a
captura, pro dinheiro para comer, para comprar aquele carro bonito, tudo que vocês mandam
eu comprar, se eu não tenho informação, vocês não vão me dar emprego, vocês me tiraram a
maneira de aprender também, ai que está o hip hop explicando essas cosias, tudo que eu estou
falando para você são coisas de letras, os caras do ES, é o hip hop que fala que a situação
acontece por causa disso, já falava do funk um tempo atrás, sete, oito anos atrás que era só pra
criticar aquela situação ali e está acontecendo o que está acontecendo hoje, é isso.
19.
Como é a relação do hip hop com o poder público?tipo secretaria de cultura,
vocês tem alguns apoio?
Dependendo da política, de quem for se candidatar nós temos apoio, mas tem que apoiar eles,
mas se for para apoiar esse tipo de coisa, só se for um que tenha compromisso social.
Não, eu não estou nem falando de apoio de político, apoio público, secretarias...
O apoio público é o seguinte, se você colocar hoje, tem projetos social, alei Chico Prego né,
muitos nem sabe quem foi Chico Prego, mas a lei já prestigiou dois trabalhos capixabas, até
dos Suspeitos na Mira para fazer uma nova tiragem também teve a Lei Rubem Braga, que até
que enfim que eles aceitaram um trabalho de um grupo aqui. Vários trabalhos foram
protocolados lá para conseguir verba e os caras não deixaram passar.
20.
E com relação a PMV, a secretaria daqui mesmo, ou então a secretaria de
juventude que a gente tem aqui, você conhece o trabalho deles?
Conheço o trabalho deles sim, tanto que a secretaria eles devem muito ao hip hop porque nós
fizemos bandeira para os caras, nós queríamos um espaço para colocar o hip hop nas escolas,
nos CAJUNs, na parte assim, de manhã a criança estuda e de tarde ela vai aprender a cultura
hip hop, até hoje esse projeto não saiu. Não tem cunho político, então não tem interesse pros
caras, mas a gente está esperando a nova eleição com o pessoal, o hip hop é um pessoal que
tem uma mente fotográfica, lembra de tudo, já vi pessoas subindo em palco falando "pô, você
se lembra da eleição passada, o cara... não ele tem que lembrar" e todo mundo ouvindo... os
caras têm uma mente muito boa para lembrar. Nós não fazemos parte daqueles brasileiros que
esquecem não, estamos calmos, 2008 está chegando, certo, ai nos vamos lembrá-los, porque
na hora que precisou, a gente falou por caras, o papel dos partidos de esquerda tem é o que
nós pregamos, só que os caras entraram e então não tem... eles estão uns 90% um pé lá outro é
cá e olhe lá. É melhor a gente promover Vital, cultura de outros estados no ES, pagar corrida
de carro que gastar 2, 3 milhões por dois dias de corrida automobilística não sei para o quê,
custo altíssimo, poderia fazer ginásio, centro culturais, com esse dinheiro todo, quanto
neguinho que ia largar a situação difícil, mas não, para que? Né.
21.
E aquele projeto Graffitaids?
Eu ouvir falar, o graffitaids foge um pouco, é mesma coisa que pegar os alunos de artes da
UFES e fazer isso, eles tem que conhecer o hip hop para depois fazer isso, ai ia ser show de
bola, um formato da UFES conhecendo o hip hop, fazendo graffiti, fazendo arte, ai sim, é o
que tem que acontecer. Se sair um cara daqui com o conhecimento na maneira de falar de
levar, didática, quantas crianças vão pegar e deixar de partir para outro lado, porque na
periferia a gentes só conhece um lado, vivo ou morto e salve-se quem puder, conhece?
20/05/2006
Jovem 05, 06, 07
Jovens inseridos em movimentos musicais
1- Então a gente podia começar assim, a primeira pergunta é sobre a música, o que é a
música para vocês dentro do gênero que vocês atuam, né, no rock, no reggae. Como
vocês definiriam o que é música, a importância dela.
Jovem 05 - Bom, assim para mim, a música representa mais, assim, um prazer, um hobby,
porque estamos há pouco tempo e a gente não encara, por enquanto, como uma profissão. Por
enquanto, não sei no futuro, assim. Mas, é tipo, a gente se dedica muito, está fazendo música
própria, corre atrás de show, assim, ela representa mais essa parte do prazer, mas lógico,
mesmo sendo prazer, a gente leva com muito esforço, se dedicando de verdade. É uma pena
que a gente não encontra muitas oportunidades de estar mostrando o nosso trabalho, mas a
gente, sempre quando tem oportunidade, a gente está fazendo show. Pelo menos eu considero
assim.
Jovem 07 - Eu considero a música como vida interior, como eu estava falando para você, algo
que não tem como fugir, para mim, não tem como fugir. A música é essencial na minha vida,
sempre foi, desde criança, sempre tive o dom da música, por parte de pai e mãe. E agora eu
estou estudando a música, me aprofundando mais e compreendo que é uma das maiores artes,
uma das maiores expressões artísticas que o ser humano tem, e que através de uma música dá
para se evoluir muito a mente e poder conquistar outros caminhos.
Jovem 06 - É isso mesmo, eu penso que, na minha vida assim, desde os sete anos, desde que
eu me entendo por gente, assim, sempre fez parte, desde a primeira nota do violão, até os
primeiros acordes do teclado. O único trabalho que eu vejo que pode influenciar alguém, a
realmente alguma coisa assim, sei lá, a música é um instrumento assim.. Todo trabalho tem o
seu valor, mas a música, cara, tipo assim, um cara pode ser um advogado e curtir música, um
músico pode não curtir ser advogado. Pode influenciar mesmo. Acho que é isso aí para mim,
cara. E ao mesmo tempo é o meu trabalho, onde eu coloco toda minha dedicação, meu
conhecimento, onde eu estou sempre aprendendo.
2- Como que vocês acham que os movimentos culturais, tipo, os ligados à música
também, as bandas, são tratadas pelo poder público?
Jovem 06 - O poder público. As bandas capixabas?
Os movimentos culturais em geral. Pode falar das bandas.
Jovem 06 - Dos movimentos culturais eu não posso dizer muito, agora já das bandas, eu acho
que falta mesmo um apoio, assim, deveriam ser feito mais movimentos culturais, como
bandas, realmente um movimento capixaba, acho que tem muita coisa ainda, não é só banda
não.
Jovem 07 - Acredito que, há muito descaso, a gente faz tudo mais pela música, envolvido
com a música, com a arte no Espírito Santo. Porque não tem retorno financeiro, infelizmente
não tem. Mas a gente tem oportunidade de estar mostrando o nosso trabalho e o que este
estado proporciona para a gente assim, assim, em relação à cultura. Eu acho esse estado muito
rico, por estar posicionado perto do mar e perto de grandes metrópoles, como Rio de Janeiro,
São Paulo, Minas Gerais, regiões do Nordeste como Bahia também, acho que isso possibilita
muito o setor cultural do nosso estado crescer através desses estados que estão próximos a
gente. Eu acho que o que é mais satisfatório é você transmitir toda cultura do Brasil através do
Espírito Santo, mostrar algo diferente, novo. E o Espírito Santo tem essa capacidade pra
mostrar através da gente que está aqui lutando.
Jovem 05 - Eu concordo com você porque, na verdade, é um descaso pelo que a música pode
proporcionar pra juventude, por exemplo, projetos de inclusão social, assim, são
importantíssimos, estar estimulando o jovem a fazer uma coisa diferente, assim, "pô", estar
tentando fugir das drogas, por exemplo. Acho que a Prefeitura Municipal mesmo tem
projetos, por exemplo, em escolas nos sábados, até me esqueci o nome do projeto, que
estimula... Projeto Escola Aberta, estimula o jovem a ir à escola no sábado e participar, por
exemplo, a gente já fez um show nesse projeto, aí, "pô", dá bastante gente, assim, fica
interagindo, chamaram várias bandas, que não são profissionais, mas que treinam e estão
mostrando o trabalho deles. Esses projetos são geralmente voltados para pessoas de baixa
renda. Achei interessante, mas é como ele falou, na verdade é um descaso você se identificar e
não poder mostrar o seu trabalho, assim, várias vezes. É mais por prazer mesmo, não é nem
assim, por benefício financeiro "ah, você é músico porque ganha muito dinheiro", "pô", não
tem essa idéia aqui no estado, pela conjuntura. Eu acho muito interessante como ele falou da
família dele, tem influência da família, o pai e a mãe são músicos, ai tipo assim, é mais por
uma questão de prazer, falta muito ainda para crescer, conquistar essa parte de música,
movimento cultural, eu acho que é uma parte que pode crescer bastante.
3- Como é a relação com a mídia, por exemplo, tem os que estão a bastante tempo e
outros que estão começando agora, como é essa relação com a mídia local, por exemplo?
Jovem 07 - Pelo que eu acho, a mídia que tem aqui, não tem em outros estados. O meio de
divulgação que tem aqui, a facilidade que se tem, não se vê em outros estados não. Inclusive
em São Paulo tem que pagar pra rolar a música e aqui não tem isso. Inclusive tem várias
pessoas que me perguntam se a gente paga para poder passar nossas músicas no rádio, como
rola com freqüência. Isso aí é o que mais fortalece as bandas, saber que tem mídia para poder
mostrar o trabalho. Eu acho.
Jovem 06 - A Litoral e Tropical, por exemplo, elas cobram, tem que pagar um jabá lá. Mas
tem muita rádio que te ajuda, assim, que te fortalece. Vai muito da sua conversa também, do
seu conteúdo. Assim, a televisão também. Se tivesse mesmo uma força por trás assim, ai seria
melhor, bem melhor.
4- Qual o tipo de incentivo vocês acham que deveria dar, na área do movimento musical
que vocês fazem, que tipo de incentivo?
Jovem 06 - Acho eu um incentivo bacana. Por exemplo, eu penso num projeto na Praia de
Camburi, por exemplo, com um palco montado ali permanente, um palco montado e sempre
no final da tarde assim, uma banda ou outra estar lá fazendo um som, para atrair o pessoal de
Vitória lá na Praia de Camburi que já está acabada, então a gente tem que fazer alguma coisa
para levantar um pouquinho. Já seria um bom incentivo: um palco exclusivo para as bandas
capixabas, um palco grande, por exemplo. Bacana, com som.
Jovem 07 - Acho que incentivo aos músicos, quem está envolvido com a arte, poder sair só da
música. Acho que falta esse incentivo também. Por exemplo, eu queria fazer uma faculdade
de música, ou um curso de literatura, filosofia, filmagem, sei lá, alguma coisa assim que não
seja só música. Fora a banda de reggae eu tenho um projeto que estou levando para a
secretaria de cultura, que assim, visa fazer uma orquestra de tambor em locais de alto risco
social, só que o acesso que eu estou querendo ter ao meio de cultura escrita, áudio, no Espírito
Santo, folclore mesmo, eu não estou conseguindo, está muito difícil. Eu estou tendo que ir em
um lugar ali e outro aqui, outro aqui, sabendo que tem um lugar específico para eu ter acesso,
mas eu não tenho verba para poder copiar tudo que eu estou precisando, tanto em áudio,
quanto em escrita, acho que isso prejudica muito a gente sair da música assim, não ficar só na
música. Isso prejudica muito. Mas mesmo assim eu não penso em desistir não.
Jovem 05 - Igual ele falou, da prefeitura estar estimulando shows na Praia de Camburi é uma
idéia. Tentar complementar, é, fazendo uma faculdade de música, é, é legal, assim. Agora em
mente eu não tenho nenhuma idéia, assim, interessante. Mas assim, achei o que eles disseram,
assim, aplicável, não é tão difícil assim. Ajudaria bastante.
5- No geral, assim, quais seriam os maiores problemas da nossa juventude? Nós?
Jovem 07 - "Pô", eu penso que, eu mora na periferia, no gueto, [...] o meu bairro era
considerado o bairro mais violento do Brasil, ou seja, eu acho que a culpa disso é a elite, a
elite intelectual, que são os empresários , os políticos, os donos de grandes empresas, donos
de mídia, porque eles têm assim, antes do Brasil ser República eles tinham todo o formato de
como o Brasil deveria ser, que no caso era todo voltado para a Europa, o sistema brasileiro é
todo voltado ao sistema europeu e inclusive a gente já foi Estados Unidos no Brasil. Eu acho
que essa exclusão geral, tanto na educação, cultura, lazer, saúde, saneamento básico, isso aí é
o que mais dificulta a inclusão social dos jovens, Por exemplo, no meu bairro, eu vejo
pessoas, crianças de doze anos matando, vendendo droga, querendo derrubar o dono da boca
para tomar o lugar dele. Eu sento e converso com eles para entender o que eles sentem, o que
eles estão com aquela energia negativa junto com eles, é muito simples, exclusão social de
tudo, de tudo. Até de ter um pai, uma mãe, de acordar de manhã e tomar um café, de comer
um pão. Eu acho que isso aí dificulta muito você chegar num gueto como esse e fala "vamos
fazer uma orquestra de tambores", ou então "vamos fazer um documentário da vida de vocês",
é muito difícil, eles vão olhar assim e vão rir, rir, porque eles não tem essa concepção de
cultura, não tem.
Jovem 06 - Eu passei um tempo em São Paulo, por exemplo, e quem comanda o morro são
moleques de 16,17 anos, você não acredita. Pega as buchas assim... e coloca tudo em cima da
cama, na frente da mãe, separa tudo assim. Assim, tipo, você está fazendo um som e nego
passa, trepado e tudo moleque, que comanda assim. Essa coisa da exclusão social, né cara, a
diferença mesmo, "pô" vê um cara mais arrumadinho na rua assim, já ... "playboy",
"playboy".. Rola mesmo esse negócio assim. Eu acho assim....
Jovem 07 - É, por exemplo, eu estava no meu bairro andando assim com eles, porque eu
estou querendo meter o projeto dentro dos bairros mais carentes, mesmo [...] Aí para tentar,
assim, buscar eles, o projeto antes de estar pronto, já conquistar eles. Ai... na minha pesquisa,
só que eles nem sabem que eu estava fazendo uma pesquisa com eles. Teve um que me
ofereceu cocaína, assim, de uns 16 anos assim, estava com um papelote que tinha ganhado de
um traficante do bairro. E por eu não usar ele achou estranho. "pô" você não usa, eu não
aceitei, falei que não usava e ele "pô" você não usa. Ai teve um outro rapaz que perguntou se
eu já tinha atirado me alguém. Ai se você nunca atirou em ninguém, ou não nada armado você
é um comédia, um otário. Para um bairro chegar a esse ponto, eu acho que há uma máquina
muito grande por trás, maquinado para que eles continuem naquela vida, sustentando a vida
desses que estão aqui manipulando eles. Se não tivermos a visão da música para transformar,
de mostrar para eles que existe uma mão por cima, manipulando eles.
Jovem 06 - É abafado, É abafado, sempre vai se sobressair a música que fala abrobrinha. Se
se sobressair a música que fala alguma coisa de verdade, as pessoas vão passar a ter
consciência e passam a questionar.
Jovem 05 - Aí tipo, elas vêm alguma pessoa mais arrumada assim, na rua e chama de
playboy, por exemplo, eu acho que é inerente do ser humano, toda pessoa quer o que, se ver
uma pessoa melhor que você, por exemplo, financeiramente, ela tem essa mentalidade, pessoa
de baixa renda também. Você vai querer ter aquilo também. Se você vê um cara com um tênis
de uma marca boa, o cara, tipo, uma pessoa pobre, não tem dinheiro nem para comer direito,
ai, "pô", vê o cara com um tênis, ali assim, ela sabe que ela não pode ter, é uma distância
enorme para ela poder comprar, isso estimula, incita a violência. "pô", eu queria ter, como eu
vou ter, como?
Esse lance de querer ter por valores nessa sociedade, eu acredito que deve ter uma coisa,
assim, maior...Porque, "pô" é errado roubar, é fora da lei, todo mundo sabe, mas, "pô", a
vontade dele ter, por exemplo, um tênis , cordão de prata, é maior que isso, entendeu? Tanto é
que ele vai lá e rouba. Tanto é que para ele ter dinheiro, ele sabe que vender droga, é "pô"
assim, ilegal, tanto é que tem polícia atrás dele, mas como ele vai ter dinheiro para conseguir
o que ele quer? vender droga!
Jovem 06 - Por isso que as mães não falam nada, porque é o sustento da casa.
Jovem 05 - É uma forma de sustentar a casa também, já que a renda delas é menor, assim, por
ser mulher também, e por ser difícil conseguir um emprego que remunere bem.
6- Assim, vocês citaram caso de São Paulo e Serra, e aqui em Vitória, assim, vocês
acham que a demanda da juventude é a mesma, dessa concepção geral que vocês deram,
como está em Vitória?
Jovem 07 - Eu acho que a diferença é que aqui é capital, mas se for olhar pelo geral, assim, os
jovens, crianças está a mesma coisa.
Jovem 06 - Complicado cara, isso tem em todo lugar né cara. Não tem diferença.
Jovem 07 - Periferia é periferia em todo lugar, em qualquer região.
Jovem 06 - Do jeito que está, a falta de amor, vamos dizer assim, o desamor que rola mesmo,
não se vê muita coisa na televisão incentivando, vê mendigo no lugar de mendigo e gente rica
no lugar de gente rica, é assim que a gente vê, cara, sempre com os seus padrões separados,
"saco"
Jovem 07 - Eu acho que a mídia interfere, no lance de se consumir também. Por exemplo, a
mídia coloca produtos que a maioria dos brasileiros nunca vão ter condições. A maioria nunca
tem condições de comprar o que a mídia expõe. Desde criança até os últimos dias da vida a
mídia tem a aquele produto para vender, mostrar para você, as vezes você nem precisa
daquilo, mas a mídia está ali dizendo que você precisa. Eu acho que isso atrapalha muito, essa
mídia errada. Eu acho que mídia é um setor público para ser usado pra comunidade, a favor da
comunidade e não tem sido isso que a mídia vem mostrando a muito tempo. Ela se tornou um
objeto de manipulação, por exemplo, uma propaganda de um carro de 50 mil reais, na mídia,
"pô", um tênis de 400, 500 reais. Pra quem será que eles estão mostrando isso? Num país que
a toda hora está mostrando São Paulo, Rio de Janeiro explodindo, Espírito Santo explodindo,
aí eles continuam mostrando esse espírito de consumismo, porque não faz uma propaganda
positiva, algo positivo.
Jovem 06 - Precisa de uma propaganda de amor, muita mesmo, na televisão. Muita
propaganda de conscientização para lembrar que você é humano, né "cara". Você não é uma
máquina.
Jovem 07 - A gente não é mais humano, nós somos consumidores.
7 - Então o problema geral assim, vocês acham que é a exclusão social?
Vocês acham que existem problemas específicos da juventude ou acham que a juventude
tem os mesmo problemas e não existiriam problemas específicos da juventude? A
exclusão social seria um problema da juventude ou teriam alguma coisa que seria
específico da juventude hoje, que a gente poderia dizer. O poder público poder pensar
ações para juventude porque é uma coisa específica, algum problema que seja específico,
porque exclusão social é um problema... Claro que atinge a juventude, mas existiria um
específico, ou vocês acham tem alguma... Vocês até já falaram, mas como é que essa
exclusão social incide sobre a juventude? Vocês já falaram: a violência... Então teria,
assim, alguma coisa mais específica.
Jovem 06 - Específico da juventude...
Jovem 07 - Eu acredito que a educação para qualquer um tem que está acima de tudo.
Educação mas educação mesmo. É criança ter vontade de ir para escola estudar, eu agradeço a
Deus por ter tido isso desde criança, de gostar de estudar, até hoje gosto muito, acho que isso
é uma coisa que dá pra colocar dentro de todo mundo.
Jovem 05 - Eu posso estar errado, não tenho tanta experiência assim. Acho que, muita gente
não leva o estudo tão a sério, depois quer assim, obter benefícios assim, se não leva os estudos
tão a sério. Igual a música, você se dedica, praticamente diariamente, e a pessoa está lá, não
estuda, só vai a escola, faz os exercícios e quer ser assim uma pessoa grande
profissionalmente, da mesma forma que a música, se você quer ser um bom músico, você vai
ter que estudar muito. Na periferia é a mesma coisa, em alguma coisa que puxa, a educação
não é levada tão a sério. "Pô", a educação é essencial, é essencial. Mas como fazer a
juventude dar mais atenção a esse lado, à educação. Talvez não seja a forma certa o que eles
estão fazendo, o governo, mas tem que se ver esse lado também. A educação é essencial, é ai,
tipo, que você vai pegar seus valores, formar sua opinião. Eu acho essencial isso, assim, "pô",
você estudar e saber, tipo assim, interpretar o que está acontecendo no mundo para não ser
manipulado porque a mídia manipula mesmo, tipo assim, ela esconde a realidade, assim tem
até uns programas interessantes que fogem a essa regra, por exemplo, tem o da, esqueci o
nome dela..., a Regina Casé, ela mostra a periferia, mostra as condições que nem aquele MC
Marcinho, mostra como é um show dele, como ele organiza, como ele está divulgando. Isso é
legal, está mostrando a periferia, mas fora isso, parece que está tudo bem, mas não está tudo
bem, "pô" tem muita gente passando fome, que não tem onde morar, "pô" tipo assim, é um
país capitalista, beneficia poucos, é uma frase que todo sabe, beneficia poucos e, tipo assim,
prejudica muitos. Uma criança morrer de fome num país rico, tipo assim, que tem condições
de plantar, quantas e quantas vezes mais que o número de pessoas, é revoltante. Tem até o que
o Didi falou na televisão, porque eu assisto televisão, "pô" não tem nem como, por exemplo, a
menina chegou para mãe dela e falou assim "Mãe, no seu tem pão?". "Pô" ela morreu,
criança..."Pô", eu fico chocado, foi no Nordeste isso que ele contou. É difícil falar, também
não pode se justificar totalmente o Estado. Realmente é muito difícil administrar. Só no Brasil
são mais ou menos 180 milhões de pessoas, é muita gente, é muito difícil administrar. Mas
tipo, lógico, tem corrupção? Tem. Tem como melhorar a administração? Tem, mas é algo
difícil também, muito difícil.
8 - Mas assim, a gente falou dos problemas, que ficou um pouquinho difícil, de repente,
quais as demandas da juventude, vocês acham?
Jovem 07 - Não entendi a pergunta?
Qual a demanda, o que vocês acham que a juventude está querendo? Sei lá, as
necessidades da juventude hoje. Ao invés de falar de problema, falar as necessidades...
Jovem 07 - O que eu tenho visto na minha comunidade mesmo, a maior necessidade é de uma
família concreta, que não tem uma família, o que mais falta na periferia é família. A maioria
não tem pai, não tem mãe, ou não conheceu, a estrutura familiar antes de tudo, o que está mais
faltando.
Jovem 06 - Eu penso que muita cultura, teatro, praça, coisas assim, desse tipo, muita cultura
mesmo. Não se vê mais essas coisas assim, dança, essas coisas assim. Acho que falta cultura
para os jovens.
Jovem 05 - Eu acho assim, considerando essa juventude de baixa renda, "pô", com estrutura
familiar..., falta cultura, falta, por exemplo, estar promovendo esportes, estar tipo, fazendo
teatro, coisas assim. Mas eu acho difícil para eu falar porque eu não convivo tanto igual a
eles, eu não tenho contato tão direto.
Mas enquanto jovem. Você pode falar como você mesmo.
Jovem 05 - Ah,... não sei, nunca pensei nisso, entendeu. Eu não estou com nenhuma idéia
agora.
9 - Bom agente já falou da avaliação da política de cultura, o que vocês acharam, mas no
geral, as políticas direcionadas a juventude, as políticas sociais, como vocês avaliam
como isso é tratado aqui em Vitória? Todas as áreas.
Jovem 07 - Eu avalio de forma positiva. Tem muita gente trabalhando, pra ver se conserte a
exclusão social através da cultura, acredito que tem muitos projetos importantes, tenho certeza
que daqui a uns 5, 10 anos, a secretaria da cultura, o ministério da cultura apoiando vai
melhorar muita coisa.
Você está vendo um comprometimento?
Jovem 07 - Sim.
10 - Mas só na área da cultura, e como estão as políticas nas outras áreas?
Jovem 07 - Por exemplo, as outras áreas?
Educação, esporte...
Jovem 07 - Educação, em geral é um problema extremamente sério, o fato de o Brasil ter
trabalhado muito a educação, assim mesmo, lá pela segunda metade do século XX, porque até
então o Brasil era um país extremamente rural, ainda vivemos, exportação. Então eu acho que
esse lance da educação no Brasil foi muito tardia em comparação aos países que tem 2000
anos de cultura. Acho que vai demorar muito pra cultura, pra educação brasileira melhorar...
Jovem 05 - A educação, pra ela realmente fazer efeito, os investimentos que o governo faz,
realmente demora bastante, tento é que a grande discussão é essa: cota, assim de escola
pública, ai todo mundo fala "vamos investir na educação pública para ficar no nível da
privada", pode-se mexer, mas vai demorar, não é um negócio instantâneo. Tem que se fazer....
Jovem 07 - Acho que esse lance de cotas é um racismo.
Jovem 06 - Principalmente para negros né.
Jovem 07 - Eu sou a favor da cota, mas não da maneira que estão mostrando.
Jovem 06 - Eles colocam que o ensino é tão fraco, então para escola pública, mas ao negro
não. Tem a mesma capacidade. Embora seja um povo que sofreu mesmo, "pô", sofreu [...]
mesmo, foi escravizado, merece, mercê, mas...
Jovem 05 - Eu acho que as cotas podem se dar de duas formas: ou por renda, ou por escola
pública, por exemplo, uma coisa é mais ou menos parecida com a outra, mas tipo assim, por
renda você tem como fraudar, pegar o dinheiro que você ganha, por exemplo, um profissional
autônomo, dá para ele registrar que ele ganha menos e o filho dele vai ser beneficiado. É
inegável hoje que o ensino público é inferior ao privado, então dar cotas, é uma forma da
pessoa escola pública conseguir entrar na universidade. O que eu percebi na prova desse ano
da UFES que eu fiz, eu percebi que ela não é tão difícil. Por exemplo, as perguntas de
geografia, 2ª fase, elas não foram tão difíceis dava para quem está acompanhando responder.
Uma pessoa de escola pública dava para responder se fosse engajado politicamente, eu acho
que o governo está olhando mais esse lado agora, não está deixando tudo para a gente, tanto é
que se está discutindo isso. Tem muita gente contra, é óbvio, mas a maioria das pessoas que
são contra pertencem a parte beneficiada, porque vai dificultar para eles, mas como um
estudante de escola pública vai entrar, na universidade, por exemplo, no curso de engenharia?
Medicina? É um curso muito difícil e se passar, e o ensino público do jeito que está,
dificilmente, a pessoa que entra no curso desses é uma pessoa muito esforçada e tem alguém
ajudando, tem uma pessoa na família que é o alicerce dela, "ó, você tem que continuar
fazendo isso, tem exemplos assim que é possível alcançar, aí estimula a pessoa, por isso eu
acho que tem que ter cotas, por enquanto tem, mas lógico, acho de 50% porque se não vai
prejudicar, a pessoa de escola particular que passa em curso difícil, nossa tem que estudar
muito, não é fácil passar me vestibular, tanto é que a maioria das pessoas não passam, de
escola pública e privada também, as vezes, fazem um investimento gigantesco na pessoa e
"pô", não passou. Outra questão, cota para negro eu não sou a favor também não, mas dando
essa cota pra escola pública automaticamente você também está dando oportunidade para os
negros porque a maioria da população negra é de baixa renda ai é que eles poderão entrar sem
prejudicar o branco de classe pobre. Se você dá condição pro negro, o negro pobre pode entrar
e o branco pobre de escola pública? Não vai conseguir entendeu, engloba isso tudo. Acho que
até fugi um pouco do que estamos falando, mas pode continuar.
11- E o Prouni? Vocês conhecem?
Jovem 06 - É o Pré Vestibular?
É um governo incentivar a dar bolsas a alunos da rede particular
Jovem 07 - Eu vejo isso como um avanço.
Jovem 05 - Eu não sei como funciona o ProUni, ao sei se o governo tem que pagar, é o
governo que paga para a faculdade então? É um gasto imenso, deve ser imenso! Tipo, se
aproveitasse mais a universidade, por exemplo, criando mais prédios, aproveitando mais
horários, os cursos que são só de manhã, criar a tarde e a noite, contrata mais professores, eu
acho que daria mais resultado. Com o dinheiro que se investe você poderia dar oportunidades
a mais alunos. Mas é uma coisa que está ajudando pessoas de baixa renda também, "pô" tenho
amigos que conseguiram entrar na faculdade por esse modo. Por exemplo, medicina, que é um
curso muito caro, acho que é 100% parece. Eu não sei quantos por centos direito assim. É um
projeto bom, mas tem como fazer um outro melhor.
12-Vocês que falaram que é um avanço, em que sentido?
Jovem 07 - De facilitar a entrada de quem não tem condições de estar na faculdade privada,
até mesmo tempo de estar aqui na UFES.
Jovem 06 - Por enquanto é bom,
Jovem 07 - É iniciativa imediata, eu acho.
Jovem 06 - já que a educação na escola pública não está "filé". Então vamos disfarçar
fazendo isso, dando um "dichavo".
Jovem 07 - Não olho como disfarce, eu olho como uma maneira imediata.
Jovem 06 - Solução imediata.
Jovem 07 - Não é o certo ainda, mas dá pra agüentar os trancos.
Jovem 05 - Por que tipo, se pensar antes, dificilmente uma pessoa poderia entrar numa
universidade, o pobre. Porque não teria condições de pagar, só se tivesse alguns programas,
tem o FIES que eles falam, tem programas que deixam você pagar depois que terminar o
curso, só por meio disso. Mas fora isso, como você vai entrar sendo que a renda familiar é
baixa, como você vai diminuí-la mais ainda. Tem que pagar, luz, telefone, energia, não já
falei, tem que comprar comida, "pô", a despesa é alta, aumentar com faculdade, "pô" não tem
só gasto com a mensalidade, tem que comprar livro, tem que se deslocar, comprara vale
transporte,. É uma forma imediata de solucionar, solucionar não, amenizar, há projetos
melhores.
(Primo do Jovem 05) - Eu acho que é importante, no caso se pegar desde o começo, assim, o
ensino fundamental, o cara da escola pública, eu estudei em escola pública até o ensino
fundamental, oitava série, morava em cidade do interior, eu nunca tive noção do que que era o
vestibular, nunca um professor chegou para mim e falou, ate porque, na época só tria UFES
ou particular, agora está tendo o FIES e ProUni. O governo além de pagar 100%, tem muitos
alunos, que pegam, o governo paga os 100? Mas eles não têm condições nem de ir a
faculdade, então o governa dá uma bolsa, auxilia para que o aluno conseguir se manter na
faculdade. Eles deveriam tentar buscar, o s professores de escola pública incentivar mais os
alunos a questão da faculdade, do ensino superior. Vai ser preciso, hoje em dia quem não tem
o ensino superior hoje aqui já está bem para trás, deveria ser feito sim, acho o ProUni muito
bom.
Não tem incentivo assim
(Primo do Jovem 05) - É não tem, acho uma coisa muito assim...Fica um negócio muito
básico, meio complicado, eu acho. Ai explode aquela bomba, terceiro ano, o cara não tem
nem noção do que é, acho que tem que explicar o projeto, acho isso importante.
Jovem 05 - Um outro ponto importante, que tem aqui no estado é o Universidade para todos,
o cursinho assim, acho também bastante legal, conheço várias pessoas aqui fazendo e algumas
que passaram também. Eu falei várias que fizeram e algumas que passaram porque eu não
falo que é, vai passar a grande parte, é uma minoria que passa, todos os cursinhos assim,
independente de qualquer que seja, é legal, tem bastante gente que faz. Com ele você pode
passar você tem oportunidade de passar e se você estudar tem como competir com quem está
no seu nível, escola pública, então na verdade, não é melhor nem pior que eles, mas o que vai
definir é o seu desempenho ao longo dos anos porque escola pública, acho que tem diferenças
em algumas cidades de interior são mais fracas que as daqui de Vitória, mas tem como você
entrar, não vai ser uma limitação, "pô" se você estudar, se dedicar, nem se você não conseguir
em uma entrar, mas continuar praticando você vai conseguir fazer e melhor coisa é de graça,
por isso eu acho que o Universidade para todos é um pré vestibular que tem como você passar
no Vestibular e alguma coisa que é alcançável para estudantes de escola pública, alcançável
não, é só é para gente de escola pública, mesmo aqueles que tiveram uma base boa. A base é
formada ao longo dos anos, ela não, é em um ano, é aos poucos que você vai adquirindo
conhecimentos. Igual na música, você está lá, você não quer do nada ser o melhor músico de
todos, e um desenvolvimento, você vai se aperfeiçoando, estudando, praticando.
13- E nas outras, como vocês avaliam as outras políticas sociais, a educação que vocês
falaram, a saúde, esporte? Vitória, assim, segurança pública?
Jovem 06 - Polícia, guarda municipal....Eu acho que está melhorando, embora eu acho que
tem alguns policiais, pessoas que abusam de seu poder, tem uns problemas, eu vejo com uma
melhora assim...
Jovem 07 - Eu acho que os policiais são, eles sofrem muito no Brasil, Espírito Santo, ele não
tem um treinamento adequado para poder enfrentar os bandidos, porque realmente os
bandidos são muito bem treinados e eles, assim, não tem nada para perder, no mundo do
crime [...] eu acho que essa violência que eles transmitem fora, eles pegam dentro do quartel,
seus superiores, passam para eles, eu acho que eles já saem lá de dentro como um Pit bull
preso, três dias com fome, se soltar eles. Eles também são vítimas, infelizmente eles são
vítimas, porque a segurança nacional....falida. Porque num país onde se usa o próprio exército
que é para lutar contra força exterior, coloca o exército para lutar contra os próprios
brasileiros, eu acho que isso é muito triste para segurança nacional. Em Vitória, eu espero que
isso não seja mostrado para a segurança pública, porque eu já vi policiais recebendo dinheiro
de morros de Vitória, de traficantes para poder não prender os caras,
Jovem 06 - Corrupção né cara
Jovem 07 - Infelizmente eu estava no lugar errado e na hora errada, estava trabalhando,
passei, infelizmente eu vi, eu acho isso extremamente negativo para o nosso estado, para
nossa capital. Assim, você ver, em plena luz do as um policial negociando com bandido, na
frente assim de qualquer um.
Jovem 06 - É muito ruim
Jovem 07 - Mas eu acho que, eu acho não, eu tenho certeza, que a segurança do Estado, aqui
de Vitória já foi extremamente mais violenta do que é hoje em dia, com o esquadrão da morte
e tal.
Jovem 05 - Eu acho que tipo assim, depende de que região se considera. Por exemplo, no Rio
de Janeiro, São Paulo, a polícia é muito bem treinada assim, mas muitas pessoas aderem ao
crime... tipo assim, eles vão, sobem o morro, faz uma operação lá, mataram três pessoas, mas
quantas pessoas estão querendo entrar no mudo do crime, lá, mataram três no dia, mas tem
muito mais. A pessoa, é fato, ganha mais dinheiro no mundo do crime, ganha mais, bem mais,
se você procura um emprego normal, legal, entre as normas constitucionais, você vai lá, vai
ganhar um salário mínimo, no crime não, você vai ganhar1000 reais, 1500 dependendo do que
você fizer, depende muito, a polícia, em muitas regiões é boa, mas tem muita gente querendo,
tem muita gente no crime, é muito difícil controlar, e igual você falou, ser polícia é difícil
porque, a polícia, igual ele falou, eles têm famílias, eles temem por isso, os bandidos não, se
eles morrerem, é claro que um vai sentir falta do outro assim, mas são substituíveis, porque lá
é uma pessoa a mais que está atirando. Eu vi um documentário, até esqueci onde que vi, eu i
na escola onde estudava, ai falando dos policiais, que fizeram uma operação e depois fizeram
uma entrevista com eles, "depois que mata uma pessoa como você se sente"? "Bom eu me
sinto normal, eu não vou ser hipócrita em dizer que me sinto mal, que não durmo a noite,
para mim é uma coisa normal". Isso eles fazem todos os dias, praticamente todo dia tem que
subir para fazer uma operação, já o bandido não, bandido ele falava que ficavam felizes
"nossa consegui", mataram um policial, é difícil, falar de segurança pública é difícil, "pô",
você pega o exemplo de São Paulo, semana passada, domingo, dia das mães, foram
praticamente todas as cadeias que se rebelaram. Como que pode isso? Que segurança é essa,
cara? Tipo assim, eles estão presos e eles conseguiram se comunicar para todo mundo fazer
uma rebelião em massa, tipo assim, rebelião em massa, todo mundo no Estado de São Paulo,
assim grande parte, como que pode? Que segurança e essa? Ai é complicado falar de
segurança, é complicado, mas também tipo, é complicado administrar nossa cidade, é muito
difícil não tem como falar, você está mexendo com gente, você não sabe o que a outra pessoa
esta pensando, o que ela vai fazer, "pô", uma pessoa ela facilmente engana, posso falar uma
coisa aqui e você acreditar, mas é verdade? Até que se prove o contrário é verdade e você vai
acreditar, então é muito fácil manipular assim, tem gente que tem o dom mas, a mídia tem
disso... É complicado mexer com sociedade, acho que a segurança está deixando, é outra área
que deixa a desejar e é muito difícil de ser controlada, "pô" tem corrupção também, estamos
mexendo com gente, "pô" policiais que recebem dinheiro para não poder...mostram
reportagens de policiais que combinam com o bandido "ó tal dia você me entrega, por
exemplo, 10 Kg de droga, para dizer que eu consegui pegar alguma coisa, " está sendo
eficaz?Está sendo eficaz? Isso é ilegal, não pode cara. É fora da lei vender droga assim...
Jovem 07 - Se o ministério da justiça investir mesmo em segurança pública, investir mesmo,
Jovem 05 - Eles investem.
Jovem 07 - Não, não investem, o que eles fazem é tornar a policia mais violenta, isso é
investir? Deixar a policia mais violenta. Se entrar um partido de direita no ano que vem vocês
vão ver o que é violência policial. Se entrar realmente um partido de extrema direita vai ser
um novo golpe militar, vai botar a polícia mais armada, realmente perigosa, mais violenta,
porque qual a culpa disso? O bandido. O bandido está descendo o morro, assaltando.
Acho que poderia tirar um pouco esse enfoque, pensar um pouquinho a questão da
polícia na periferia, porque estamos falando da relação bandido x polícia, mas a
população da periferia, como é tratada pela polícia? Como é a vivência de vocês. você há
falou de um situação específica, mas como é isso, eu não sei o que é uma operação de
periferia se eu não morar lá. Tenho alunas que moram na periferia que quando a polícia
faz uma operação o que ela tem que fazer é se esconder em baixo da cama, lugar onde
seja seguro porque todos estão sofrendo a situação, poderíamos pensar um pouquinho
como a população que vive na periferia sente essa relação com a polícia, já até se falou
aqui que a polícia não é tão brutal. Poderia falar um pouco sobre isso.
Jovem 06 - Aqui em Vitória eu penso que não é mesmo, até as vezes que eu tomei "uns
baculejos" nas ruas é normal, procedimento da polícia. Todas às vezes, depende do seu verbo
né cara, você vai falar com o cara normal né. Mostra seus documentos, normal, eu nunca fui
maltratado assim pela polícia. Mesmo com o cabelo enrolado, barba, tatuado... Mas fugindo
se Vitória e indo lá para São Paulo, lá na favela, a população tinha medo da rota. Tipo, a rota
subia o morro assim, nego ficava "bolado", porque a rota estava no morro. Se tivesse sem
documento por exemplo, você pode estar na esquina da sua casa. Diz a lenda que, nunca vi,
eles esfregam até a cara no muro, se não for muito com sua cara. Então rola assim uma
insegurança. Mas para mim, no meu caso todos os procedimentos policiais que me
aconteceram assim, não maltrataram assim, foram tranqüilos. Também porque eu nunca dei
motivo assim, vai muito da pessoa.
Jovem 05 - É difícil falar desse processo porque a gente não convive com eles, mas imagina
como é ruim porque você está em sua casa e do nada vem policia e começa um tiroteio, por
isso que eu falo, a segurança pública não é eficaz, é uma coisa muito difícil de se controlar
também, ai "pô" como a pessoa vai se sentir segura se está lá na casa dela, está assistindo jogo
de futebol e ai Tuf Tuf começa a atirar todo mundo abaixa, tem medo de sair para rua porque
tem bandido...isso é segurança para a periferia? Ali é onde mora bastante gente, é uma região
onde tem bastante gente, não tem segurança. "pô", todo mundo tem medo de bandido, [...]
mas tem gente tem mais medo de policial do que de bandido.
Jovem 07 - Na periferia, a polícia pode ser o herói ou o bandido, policial na periferia é aquele
que sempre está matando os bandidos e até vira candidato a político e tal, a política dele é
acabar com os bandidos do bairro. Só que tem o policial bandido que é aquele que invade as
casas sem mandato, sem prova, entra, por exemplo, minha avó foi agredida por um policial
civil, ela tem 74 anos e pode explicar muito bem, entraram lá em cada sem mandato e
agrediram ela, deram uma cotovelada nela, só que ela não tinha nada a ver com a confusão,
entraram sem mandato. É isso que eu vejo, as pessoas têm medo, mas se eles forem para lá,
tipo assim, para fazer uma varredura, eles viram heróis, candidatam-se a deputado estadual ou
federal e eles ganham. Só que infelizmente se eles forem chegar na periferia como anjinho,
como santo até os bandidos matam, a própria comunidade até jogam pedra na viatura. Quando
eu era moleque tinham pessoas no meu bairro que quando passava a viatura eles jogavam
pedra e saiam correndo. Eu acho que se tanto a população e a polícia não se respeitar, há esse
desequilíbrio.
14- Só mais uma questão, acho que como a gente tem uma gerência de juventude, vocês
poderiam falar um pouco.
Jovem 07 - Um departamento de juventude voltado para...?
15 - Um departamento nas prefeituras, um setor de juventude.Um espaço que faça
política. Para direcionar as políticas específicas para juventude Vocês conhecem? Existe
em Vitória, Cariacica.... Serra está construindo agora.
Jovem 07 - Qual é o daqui de Vitória. É o que está lá na prefeitura de Vitória?
É.
16- Vocês conhecem?
Jovem 07 - Conheço.
17- Qual a avaliação que vocês fazem?
Jovem 06 - Eu não conheço.
A minha visão pela quantidade de recursos que o país tem, eu acho que é uma iniciativa meio
que, mesmo sendo fraca tem uma intenção boa. Eu acho ainda muito fraco, mas é uma
iniciativa. Em geral, pela gravidade do problema é muito fraco. Porque, tipo assim, incluir
essas crianças de comunidades carentes dentro do projeto é uma coisa, eles virão mas fazer
com que eles continuem num projeto que é o mais difícil. Segurar o jovem nesses projetos é
uma problemática que deveria ser mais bem trabalhada
18- De que forma?
Jovem 07 - Elaborando projetos melhores
19- Isso justamente a gente queria saber qual a demanda da juventude, o que ela quer,
aí pode-se fazer algo em cima disso.
Jovem 06 - E você como jovem o que você quer?
A gente queria saber de vocês.
Jovem 06 - Falta cultura, o que você disse agora também, projetos melhores né cara.
Jovem 07 - Mais elaborados.
Jovem 05 - lá no museu capixaba do negro, eles dão aula de bateria.
Jovem 07 - Aquilo ali é uma faixada, nem conta como centro cultural do Estado. Para mim,
aquilo ali é uma palhaçada. No Rio de Janeiro eles estão trabalhando muito em ima de levar
para os morros, periferias o lance de produzir um curta metragem, a partir daí podem ampliar
outras áreas, no setor cultural, pode ser um balet, uma dança afro, uma aula de tória musical,
curta metragem, acho que o ES pode começar a trabalhar em cima disso aí também. Para
poder realmente tirar e dar motivo de sair daquele mundo que eles estão vivendo. Se não
trabalhar em cima de vários fatores fica difícil. Por exemplo, eu trabalhei em cima do hip hop,
graffit, mas e os que não querem se envolver com o hip hop?
Jovem 06 - Misturar mesmo todas as culturas em todos os lugares, massificar a mensagem, o
que é, o projeto é sobre o quê, vamos falar disso, seja de rock, seja teatro, seja poesia, seja o
que for, massificar mesmo.
Jovem 07 - Incluir a criança na música clássica daria uma visão mais forte para o indivíduo,
ela envolve um meio de estudo onde o aluno, no caso que está estudando a música ele vai
ficar ali, voltado para aquilo ali, ou seja a partir do momento que ele está se desenvolvendo
com a música clássica, o pensamento, a conduta dele vai melhorar, porque se realmente ele se
identificar com a música clássica, o projeto fizer com que ele se identifique, ele vai ficar
porque ele sabe que se ele não se dedicar ele não vai conseguir.
Jovem 06 - É difícil
Jovem 07 -Não é não. Eu vi isso em São Paulo eles fizeram num acampamento dos sem-terra.
Fizeram uma orquestra com pessoas que moram lá no interior, imagina com pessoas que
moram aqui.
Jovem 06 - Tem que ter apoio.
Jovem 07 - Justamente isso que eu estou falando. Tem que rolar esse apoio. Eu acho a música
clássica esta na vida de todo mundo, não tem como. Todo mundo cresce ouvindo música
clássica me novela, filme...
Jovem 06 - Desenho animado: Tom e Jerry...
Jovem 07 - Então todo mundo gosta de música clássica, de um jeito ou de outro. Toda pessoa
que ouve música clássica ela se dedica muito.
Jovem 05 - Eu também acho que, quem vai fazer música clássica, vai ter muita gente, mas
não vai englobar todo mundo...
Jovem 07 - Por isso é que tem que ter vários segmentos, não só a música clássica, orquestra
de congo, de jongo.
Jovem 05 - Outra coisa, eu acho que é muito difícil fazer um projeto assim que englobe tudo
porque o jovem, é aquela questão de você se habituar com aquela coisa. Você convive com a
violência, a gente se habituou com aquilo, vai ser uma coisa normal para ele. Tipo assim, eu
não bebo, nem cerveja, mas eu convivo com gente que bebe na minha idade, para eles é
normal. Bom, você anda com um grupo de tipo assim onde todo mundo usa maconha, para
esse grupo usar maconha é normal, tipo assim, ai eu acho que é... fazer um projeto que
englobe tudo sendo que a realidade deles é outra, aqui você convive com a violência, você
tem um amigo que faz tráfico e você vê que está ganhando dinheiro, ai todo mundo quer ir
para o tráfico e ai acaba entrando. É difícil, fazendo isso, tem resultado, mas não tem como
acabar.
Jovem 07 - Como assim não tem como acabar
Jovem 05 - É um poder muito forte, acabar com a violência. É utópico.
Jovem 07 - Isso não é utópico é construir uma sociedade mais igualitária. Eu moro no gueto,
por isso que estou falando isso, não é que uma pessoa mora no gueto que ela não pode escutar
música clássica.
Jovem 05 - Concordo...
Jovem 07 - As pessoas querem, mas não tem oportunidade, se alguém der acesso e essa
oportunidade seria outra sociedade que estaríamos construindo. Isso não seria utopia.
Jovem 05 - Concordo, mas englobar todo mundo...
Jovem 07 - Não é englobar todo mundo, É aproximar, quem está em alto risco, aproximar
para que elas tenham acesso, a questão maior é essa fazer com que elas tenham acesso.
Jovem 05 - Concordo, acho que se deve fazer isso.
Jovem 06 - Eu penso que investimento tem que ocorrer na educação. Tipo a escola deveria
entrar horário de sete horas da manhã e sair cinco horas da tarde, estudar tudo cara.
Jovem 07 - Mas para isso acontecer tem que ter uma renda com relação ao setor público bem
maior do que é investido.
Jovem 06 - Está em cada esquina um com Sax outro com violão...
Jovem 07 - Para uma criança ficar de 7 às 17 horas na escola tem que ter um investimento
muito grande.
Jovem 06 - Porque a parada não pode ser enjoativa, deve ser descontraída. Deve ter prazer de
ficar na escola.Tem que ter um canto para descansar tem que ter tudo, cara.
Jovem 05 - Percebe-se a diferença pela religião. Se uma sociedade é religiosa, dificilmente
vai cometer crimes. A religiosidade de uma sociedade é importante por isso também. Mas aí
acho que não cabe ao governo essa parte. Você percebe a diferença de cada religião. Tem
gente que é tão ligado a religião que vai a igreja praticamente todos os dias, acha absurdo
beber assim, sair, quanto mais fazer mal a uma pessoa tipo matar. Acho que toquei num
exemplo assim que foge aos padrões...
Jovem 07 - Você falou que religião não tem nada a ver com política?
Jovem 05 - Não, eu falei que não cabe ao Estado está envolvendo a religiosidade da pessoa.
Jovem 07 - E porque não? Se as pessoas se orgulham do convento da penha que foi
construído aqui.
Jovem 05 - A religiosidade é algo que meio privado, não é da sociedade.
Jovem 07 - Mas tem vários pastores, padres que são políticos, porque que não pode...
Mas acho que ele falou que não é que a política pode se envolver com a religião, não
deve estimular a religião.
Jovem 05 - Não cabe ao Estado. Você pode, lógico, ser representante da comunidade, não
cabe ao estado porque ele vai ser imparcial primeiro, envolver a religiosidade. Assim, tem
várias igrejas, não deve ser atribuição do Estado assim. Ele tem mais atribuições também.
Mas acho que não cabe ao Estado.
Jovem 07 - A religião é individual você quis dizer.
Jovem 06 - Não vai levantar uma bandeira só, né cara. Tipo assim, vou levantar a bandeira da
religião X. Acho que isso não é bacana, né cara.
20- Vocês têm mais algum comentário, porque nosso objetivo era pensar política social
para juventude, se existe, se tem necessidade de existir. Vocês querem falar mais alguma
coisa sobre isso, tudo o que vocês falaram foi extremamente rico, vocês trouxeram
dimensões bastante importantes e a gente vai poder enriquecer bastante o trabalho das
meninas. O que vocês acham sobre isso, pode ser nacional, local...Se vocês conhecerem
algumas políticas se não, não há problema então. Vocês não conhecem nenhum projeto?
Jovem 05 - Eu conheço alguns projetos assim, tem o escola aberta.
Jovem 06 - Inclusive logo que surgiu esse projeto, nós estávamos em São Paulo, a gente
pegou o trabalho, o começo foi lá em São Paulo mesmo, a gente colocou para funcionar lá e ia
com a banda no sábado, a gente fazia todo sábado lá, ensinava os moleques a pintar, eu faço
umas artes plásticas, mesmo não sendo formado em nada faço umas doideiras, e ficávamos
amarradão o dia todo na escola ensinando, tocando, jogando basquete.
Jovem 05 - Tem outro projeto que não é só da juventude aqui mesmo de Vitória, é o ação
global, é um projeto que vai as comunidades carentes, olha, cuida um pouco da saúde, há
dentistas lá, você olha de qual grupo sanguíneo você é, tem como você tirar carteira de
identidade, trabalho. São projetos que não são só da juventude, é global.
Assim tem o ProJovem
Jovem 06 - O que é, eu não conheço.
O projovem é para jovens de 18 a 24 anos que ainda não completaram o ensino
fundamental de 5ª a 8ª série.
21- Vocês não conhecem?
O Agente jovem..
Jovem 07 - Eu conheço mais essa parte do Agente Jovem. Aquelas crianças que estão mais
em risco social. Bom incentivo, boa iniciativa. Só que eu acho que o governo tem que ter uma
noção que, dependente se mora na periferia, ou bairro nobre, tem que ver que aquele cidadão
que paga imposto, que tem necessidades como cidadão, deveria ver se ele está ali realmente
botando a educação para essas pessoas, independente da igualdade que cada um recebe, ele
tem que ter uma noção de que são seres humanos que eles estão representando e que
futuramente serão essas pessoas que estarão administrando o país. Se o governo não pensar
dessa forma vai ficar difícil. Independente do setor
Jovem 05 - Fazendo esses projetos mais específicos para trabalhar a juventude, por exemplo,
seria mais fácil lidar assim. Se você trabalha envolvendo tudo, se você quer trabalhar a
juventude, mas não só a juventude, mas, por exemplo, você quer trabalhar a juventude que
quer ter futuro, quando se tornarem adultos vão estar representando uma parte da sociedade
importante, tratar todas as pessoas com respeito e cuidar delas, de uma maneira específica
quando se pode, por exemplo, estimulando a cultura, estudos, "pô", esse projeto do ProUni,
das cotas é uma forma de estimular você a estudar, se não fosse dessa forma como ela
conseguiria, isso tudo envolve assim.
Jovem 07 - Acho que em relação a educação, pode ser ate algo subjetivo o que eu vou falar
agora, mas acho que a educação poderia ser voltado realmente para a educação. A pessoa ir
para a escola para aprender. A maioria vai para a universidade só para pegar diploma, arranjar
emprego, acho que não, a gente tem que adquirir primeiro o conhecimento e através do
conhecimento adquirir o diploma. Tem que trabalhar muito esse lado, de buscar o
conhecimento, para atingir outros caminhos. Eu já fiz pré vestibular, tenho amigos que são
professores, a maioria, realmente está estudando para poder pegar o diploma, não estão nem ai
para o conhecimento, de 10 apenas 4 realmente estão em busca do conhecimento e através
dele estar em busca de outras coisas assim. A maioria só pensa em si mesmo, posso estar
errado, mas é uma coisa subjetiva que eu falei.

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