Perturbação Bipolar - Oficina de Psicologia
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Perturbação Bipolar - Oficina de Psicologia
No final do Workshop, os participantes deverão ser capazes de: Diferenciar as origens neurobiológicas e ambientais ligadas ao desenvolvimento da Perturbação Bipolar Descriminar as suas principais características, sintomas e comorbilidade Identificar obstáculos e especificidades em sessão neste tipo de perturbação Caracterizar e aplicar os contributos das abordagens Cognitivo Comportamental e do Mindfulness na conceptualização e intervenção na perturbação bipolar “ Estava a ver televisão 2ªf com a minha mãe depois de jantar. Comecei a ouvir a música alta do vizinho e, de repente, senti uma raiva enorme e incontrolável. A minha mãe percebeu… só me lembro que a seguir estava a arrombar a porta dele e a bater-lhe. Não sei quem sou.” Também designada por Psicose Maníaco-Depressiva Variações acentuadas e inesperadas do humor, com crises repetidas de tristeza (depressão) e euforia (mania) Como se algo muito poderoso tomasse controlo do cliente e o levasse a sentimentos extremos e esgotantes Tem uma tão grande influência que a sua autonomia e saúde física ficam seriamente comprometidas A bipolaridade causa um grande desgaste familiar e nas relações próximas, além de ativar estigmas sociais sobre saúde mental O primeiro episódio surge, normalmente, a partir de um evento stressor (perda de um familiar, acidente, desemprego). Em seguida, a perturbação “separa-se” do contexto de vida e ganha uma mecânica própria Nos homens, o primeiro episódio costuma ser maníaco e nas mulheres, depressivo É uma perturbação crónica e recorrente Mania • Humor elevado, delirante e irritável • Discurso rápido, em voz alta e sem sequência • Grandiosidade do próprio • Grande quantidade de ideias • Perda de peso • Hiperatividade • Comportamentos de risco (como condução, compras, consumo de substâncias, agressividade, sexualidade) • Distrações e esquecimentos • Menos horas de sono • Inicia subitamente e aumenta ao longo de dias Depressão • Após episódio maníaco • Humor depressivo, sem esperança e pessimista • Redução do prazer com a vida • Angústia, culpa e inutilidade • Preocupação excessiva com queixas físicas (como obstipação, dores de cabeça) • Cansaço intenso • Insónia ou hipersónia • Dificuldades de concentração e na tomada de decisões • Choro fácil ou vontade de chorar sem conseguir • Delírios e “vozes” depreciativas • Ideias e tentativas de suicídio • Agitação ou lentificação motora Estável Mania Depressão Biologia Perturbação Bipolar Ambiente 1) Neuroquímica 2) Hormonal 3) Genética Há alterações na concentração dos neurotransmissores: - Serotonina - Noradrenalina - Dopamina - Acetilcolina A desregulação do sistema adrenérgico-colinérgico é uma característica da perturbação bipolar A atividade do sistema imunológico está diminuída tanto na mania quanto na depressão. Costuma ocorrer uma grande atividade da TSH (hormona que estimula a tiróide) e uma reduçäo nos níveis das seguintes hormonas: - GH (hormona do crescimento) - FSH (hormona folículo-estimulante) - LH (hormona luteinizante) - Testosterona Se um dos pais é bipolar, o filho terá 25% a 50% de probabilidade de ser afetado Os parentes biológicos em primeiro grau de indivíduos com bipolar I têm índices elevados do mesmo tipo (4 a 24%), bipolar II (1 a 5%) e depressão major (3 a 24%) Se um dos pais apresenta a última, há 10 a 13% de probabilidade do filho apresentar uma perturbação do humor Se os dois pais são portadores do transtorno bipolar I, há 50 a 75% de hipótese do filho apresentar uma perturbação deste tipo Sintomas % clientes Atividade extrema 100 Humor elevado e grandioso 90 Baixa necessidade de sono 90 Verborréia 85 Pensamentos rápidos 80 Elevada auto-estima 75 Facilidade em se distrair 65 Impulso sexual aumentado 60 Irritabilidade 45 Sintomas psicóticos 40 Abuso de álcool 35 Sintomas % clientes Tristeza 86 Perda de energia 86 Dificuldade de concentração 79 Pensamentos negativos 64 Insónia 57 Apatia 57 Perda de peso 43 Choro fácil 43 Perda de apetite 36 Sintomas somáticos 36 Irritabilidade 29 Períodos depressivos e maníacos muito intensos. É a forma mais grave. Episódio Maníaco Simples Episódio Hipomaníaco mais recente Episodio Maníaco mais recente Episódio Misto mais recente Episódio Depressivo mais recente Episódio sem Especificação mais recente Períodos depressivos intensos mas períodos maníacos médios (hipomaníacos) Alternância de breves períodos depressivos com breves períodos de mania, pelo menos, 4 vezes num ano. Os períodos depressivos e maníacos ocorrem um a seguir ao outro ou simultaneamente. Difícil de diagnosticar e intervir. Os períodos depressivos e maníacos apresentam uma intensidade média de, pelo menos, 2 anos. Prevalência na população portuguesa: 1% 10 – 20% das pessoas apenas têm a fase maníaca O tipo I é recorrente - mais de 90% dos indivíduos que têm um episódio maníaco único terão futuros episódios Cerca de 60-70% dos episódios maníacos ocorrem imediatamente antes ou após um episódio depressivo A maioria das pessoas retoma um nível normal de funcionamento entre episódios enquanto alguns (20-30%) podem manter alguns problemas de estabilidade e funcionamento Suicídio entre 10% a 15% no Tipo I Estima-se que mais de metade tentem suicídio em algum ponto da sua vida (Chen & Dilsalver, 1996; Goodwin & Jamison, 1990) O número de suicídios é cerca de 15 vezes maior nos bipolares do que na população geral (Goodwin & Jamison, 1990). Dos adolescentes com episódios depressivos major recorrentes, cerca de 10-15% vão desenvolver perturbação bipolar O intervalo entre os episódios tende a diminuir com a idade As alterações no ciclo de sono/vigília tais como as que ocorrem durante as mudanças de fuso horário ou privação do sono, podem precipitar ou exacerbar um episódio maníaco, misto ou hipomaníaco Alguns famosos com bipolaridade: - Florbela Espanca - Kurt Cobain (Nirvana) - Ian Curtis (Joy Division) - Ernest Hemingway - Ludwig van Beethoven - Marilyn Monroe Mudança de estação Ciclo menstrual Gravidez e parto Infeções e viroses Mudança de habitação Prazos apertados no trabalho Demasiadas tarefas para concluir Álcool e outras substâncias Aproximadamente 60% dos clientes bipolares apresentam outras perturbações (McElroy et al., 2001) Álcool e consumo de substâncias: 17–64% Perturbações de Ansiedade (Perturbação de Pânico): 42% Perturbação Pós-Stress Traumático Fobia Social Ansiedade Generalizada POC PHDA Perturbação Borderline Enxaquecas Doenças da tiróide Diabetes Doenças cardíacas Doenças hepáticas Obesidade Erros mais comuns: 1) Considerar manifestações de bipolaridade reações normais a eventos exteriores 2) Incapacidade de detetar episódios maníacos e, principalmente, hipomaníacos 3) Em caso de perturbação bipolar com sintomas psicóticos, o cliente ser diagnosticado com esquizofrenia MDQ - The Mood Disorders Questionniare (Hirschfeld, 2002) consegue detetar à volta de 70% dos clientes bipolares e 90% dos que não têm a perturbação (Hirschfeld et al., 2000) “Sim” em 7 ou mais itens da questão 1 e “Sim” à questão 2 e “Problema moderado” ou “Problema sério” na questão 3 Dúvida no diagnóstico Resistência em aceitar uma perturbação crónica Estigma da doença mental Desconhecimento das características da perturbação pelo cliente e/ou família Dificuldade em antecipar crises Atribuições dos sintomas a fatores externos Baixa aderência à medicação Efeitos secundários desta Baixas competências interpessoais Remissão de sintomas (“já passou, não preciso de ajuda”) Ganhos secundários Aliança terapêutica (laço, tarefas e objetivos) Maior diretividade do terapeuta ao início Despistar comorbilidades Trabalho colaborativo Objetivos terapêuticos TPC Dar material escrito Envolver a família Atenção à ideação suicida (contactos e contratos) Controlar a perturbação e não o contrário Sessões variadas: numas trabalha-se a bipolaridade e noutras “a pessoa” Se o cliente estiver num episódio maníaco ou depressivo em sessão, estar preparado para o ajudar a regular e gerir “a onda” Reforçar sucessos Estar preparado para eventuais manifestações narcísicas, invalidantes ou agressivas do cliente Devido aos elevados níveis de tensão e cansaço que estes clientes apresentam, foco especial nas sensações do corpo e respetivo apaziguamento e relaxamento O acompanhamento psicoterapêutico individual, conjugal ou familiar é útil ao contribuir para a melhoria da qualidade de vida do cliente e das pessoas significativas Psicoeducar cliente e família quanto à bipolaridade, implicando todos no trabalho colaborativo pretendido Possibilitar o controlo, antecipação e regulação das fases da perturbação bipolar Fornecer estratégias práticas para lidar com os momentos de crise Favorecer a criação de uma rede social significativa, melhorando as competências interpessoais do cliente Criar objetivos de vida e possibilitar um dia-adia coerente e agradável O acompanhamento farmacológico é útil na fase maníaca (antipsicóticos, estabilizadores do humor ou hipnóticos) e/ou na fase depressiva (antidepressivos e ansiolíticos) É um importante auxílio do trabalho psicoterapêutico A prevenção é o segredo… Terapia Cognitivo Comportamental (CBT) Mindfulness Melhorar funcionamento global Identificar sinais de alerta Psicoeducação Prevenir recaídas Perceber e aderir à medicação Registo do humor Pensamento, emoção e comportamento (perspetivas alternativas, teste de realidade e reestruturação cognitiva) Pensamentos, crenças centrais/intermediárias e esquemas Antecedentes e consequentes Vantagens e desvantagens Distorções cognitivas Ideias irracionais Comunicação interpessoal (treino assertivo) Tpc Psicoeducação Dois contributos chave para a bipolaridade: 1) É mais fácil adicionar comportamentos positivos do que parar comportamentos negativos 2) Antes de se tentar ajudar o cliente a sentir-se melhor, ajudá-lo a deixar de aumentar o seu próprio mal A bipolaridade é uma dificuldade de máximo impacto no indivíduo e na família Explicar o seu funcionamento assim como formas de a regular tem um papel fundamental na criação de bem estar A metáfora do Termostato: é um instrumento que serve para manter a temperatura estável, constante e adapta-a a mudanças no exterior. De igual modo, o sistema límbico tem a função de manter o humor estável, constante e de reagir adaptativamente aos eventos exteriores Na bipolaridade está seriamente comprometido, contribuindo para os efeitos que vimos em cima Unidade I: consciência da perturbação 1. O que é a perturbação bipolar? 2. Origens e gatilhos 3. Sintomas I: mania e hipomania 4. Sintomas II: depressão e episódios mistos 5. Evolução e prognóstico Unidade II: aderência aos fármacos 1. Estabilizadores de humor, antidepressivos e antimaníacos 2. Níveis de estabilizadores de humor no plasma sanguíneo: lítio, carbamazepina e valproato 3. Gravidez e genética 4. Riscos associados à interrupção do tratamento Unidade III. Evitar o consumo de substâncias 1. Os riscos causados por substâncias psicoativas Unidade IV: deteção precoce de novos episódios 1. Antecipação de crises maníacas e hipomaníacas 2. Antecipação de crises depressivas e mistas 3. O que fazer quando uma nova fase é detetada? Unidade V: Hábitos regulares e regulação de stress 1. Planeamento de atividades e rotinas 2. Técnicas de gestão de stress 3. Estratégias e modelos de resolução de problemas Mania + Tempo Depressão - Contactar o terapeuta e verificar a medicação Aumentar o nº de horas de sono: dormir 3, 4 horas de sono será o suficiente para estabilizar uma crise se detetada a tempo Baixar o número de atividades e responsabilidades, fazendo apenas o prioritário em 6h (o resto do dia relaxar) Nunca fazer imensas atividades (como desporto) para gastar energia e levar à “exaustão”: será como apagar um fogo com gasolina! Reduzir estímulos: ambiente tranquilo, com pouco ruído, luz e pessoas Evitar bebidas estimulantes, alcoólicas assim como complexos multivitamínicos Limite os gastos e afaste os cartões de crédito durante, pelo menos, 48h Adie decisões importantes se suspeita que vai ter uma crise Não se permita a deixar o seu humor elevar-se “mais um pouco”: quanto maior a subida, maior é a queda! Contactar o terapeuta e verificar a medicação Dormir, no máximo, 8h: marcar várias atividades (manhã) e não dormir à tarde Fazer atividade física Adiar decisões importantes Não consumir substâncias para elevar o humor: horas depois, a depressão aumenta Colocar o pessimismo e negatividade em perspetiva: são “apenas” resultado de desequilíbrios no cérebro (observador imparcial ou outro significativo) Atenção aos horários: viver de dia e dormir de noite (fornecer e praticar estratégias para regular o sono) Psicólogo: __________ Tel: __________ Psiquiatra: __________ Tel: __________ ( Pessoas suporte: __________ __________ Tel: Tel: Outros significativos: __________ Tel: Para uma “alta”: 1) __________ 2) __________ 3) __________ Para uma “baixa”: 1) __________ 2) __________ 3) __________ ( às às ) ) (Colom et al., J. Clin. Psychiatry, 2003b) É o processo de atenção focada em que nos permitimos a observar, no momento presente, a nossa experiência interior (sensações, pensamentos e emoções) de forma relaxada, límpida e sem julgamento ou ação. Esta abordagem ajuda tanto na fase maníaca como na depressiva (mais difícil de regular apenas com medicação) Reduz a ansiedade e o stress do cliente (que são gatilhos para a crise) Aumenta a consciência e a capacidade do cliente em gerir pensamentos, emoções e sensações físicas Aumenta a sensibilidade para as mudanças de humor Aceitação, no momento presente, da perturbação e da incerteza que ela trás (não a contrariando o que só aumenta sintomas) Aquisição e prática de exercícios para autoregulação (maior bem-estar e comunicação com família) 1)Respiração 2)Imaginar uma sala com duas portas 3)Pensamentos entram por uma e saem pela outra 4)Rotular conforme sejam pensamentos maníacos (depressivos) ou não 5)Deixá-los um pouco na sala como se fossem breves visitantes 6)Acompanhar cada um à porta observando-o, sem reagindo e sem o contrariar (ou empurrar!) 7)Se algum pensamento provocar maior reação emocional, pensar que é apenas um pensamento. 8)Continuar até sentir distância emocional em que estes pensamentos deixam de ser relevantes. Dois simples exercícios para a bipolaridade… Stop and Step Back (não aja imediatamente. Pausa) Take a Breath (repare na sua respiração, inspirando e expirando) Observe (o que estou a pensar? E a sentir? Que palavras está a minha mente a dizer? São factos ou mera opinião? Descrições ou avaliações? Precisas ou erróneas? Construtivas ou destrutivas? Que distorções cognitivas estão presentes? Onde está a minha atenção focada? E que metáfora poderia usar para explicar esta situação?) Pull Back: Put in some Perspective (observe a situação de fora. Há outras formas de a ver? E o que diria outra pessoa desta situação? Que significado estou a dar a este acontecimento? Aqui e agora, em que medida é significativo para mim? Será a minha reacção proporcional a essa importância?) Practise what works (faça o que funcionar de acordo com os seus princípios e valores. Será eficaz? E que consequências terá para mim e para os outros? O que posso tirar de mais positivo desta situação?) Respire em verde (equilíbrio) Respire em vermelho (mania) Respire em azul (depressão) Obrigado!
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