Revista Arautos do Evangelho
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Revista Arautos do Evangelho
Aprovações pontifícias e condecoração papal Ano XI _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 1 Nº 76 - Setembro 2009 26/08/2009 09:55:26 Nova agência católica de notícias na web Alegria, rapidez, objetividade. Estas são as promessas da Gaudium Press. Visite hoje mesmo www.gaudiumpress.org Gaudium Press almeja ser um moderno instrumento de mídia que leve ao público notícias com profissionalismo e rapidez. Com representantes em diversas partes do mundo, garante a atualidade, minuto a minuto, de fatos relevantes da Igreja e temas afins. Vamos caminhar juntos! _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 2 26/08/2009 09:55:28 SumáriO Flashes de Fátima Boletim da Campanha “O Meu Imaculado Coração Triunfará!” Ano XI nº 76 - Setembro 2009 Director: Manuel Silvio de Abreu Almeida Conselho de redacção: Guy Gabriel de Ridder, Juliane Vasconcelos A. Campos, Luis Alberto Blanco Cortés, Mariana Morazzani Arráiz, Severiano Antonio de Oliveira Escrevem os leitores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 Aprovações pontifícias e condecoração papal (Editorial) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 Arautos no mundo ...................... 30 Jesus e eu somos um A voz do Papa – Cristo é o “Bispo das almas” ........................ 6 Comentário ao Evangelho – Uma sociedade marcada pela inocência Editor: Associação dos Custódios de Maria R. Dr. António Cândido, 16 1050-076 Lisboa I.C.S./D.R. nº 120.975 Dep. Legal nº 112719/97 Tel: 212 338 950 / Fax: 212 338 959 ...................... www.arautos.pt / www.arautos.org.br E-mail: [email protected] ...................... Cardeal Franc Rodé comemora aprovações pontifícias 10 ...................... 32 A palavra dos Pastores – Somos chamados com urgência à Missão ...................... 36 Aconteceu na Igreja e no mundo 18 ...................... 39 Assinatura anual: 24 euros Com a colaboração da Associação Privada Internacional de Fiéis de Direito Pontifício ARAUTOS DO EVANGELHO Impressão e acabamento: Pozzoni - Istituto Veneto de Arti Grafiche S.p.A. Via L. Einaudi, 12 36040 Brendola (VI) Os artigos desta revista poderão ser reproduzidos, desde que se indique a fonte e se envie cópia à Redacção. O conteúdo das matérias assinadas é da responsabilidade dos respectivos autores. Membro da Associação de Imprensa de Inspiração Cristã Tiragem: 40.000 exemplares _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 3 Palavras de agradecimento de Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP ...................... 22 Homilia do Cardeal Rodé – Olhar para a História com olhos celestes ...................... 24 Cardeal Franc Rodé abençoa a Casa-Generalícia de Regina Virginum ...................... 28 História para crianças... Um prodigioso esquecimento ...................... 44 Os santos de cada dia ...................... Entrevista “Palavras que mudaram o mundo” ...................... 46 48 26/08/2009 09:55:40 E SCREVEM SENSO DE FÉ NA IGREJA Escrevo para agradecer pelo lindíssimo número de junho da revista Arautos do Evangelho. Fico sempre muito bem impressionado ao recebê-la, não somente com seus artigos, como também pela atenção e cuidado tomados em sua publicação. Realmente, esta é uma obra de Fé e amor. O que nela mais impressiona talvez seja o senso de Fé na Igreja — suave, mas ao mesmo tempo sólido como uma rocha — que motiva cada artigo. E este senso é obviamente o que motiva as inumeráveis vocações jovens que se vê nas fotos do seminário: um farol de esperança, de que tanto precisamos. Pe. Chris Findlay-Wilson Pároco de Nossa Senhora de Todas as Nações Londres – Inglaterra LUZ QUE ESCLARECE NOSSOS PENSAMENTOS Somos assinantes desta revista desde o seu primeiro número. Consideramo-la excelente veículo de comunicação e de formação nos meios católicos, pois estamos num mundo em que há muita informação e pouca formação. Na confusão das mentes em que vivemos, a revista Arautos do Evangelho é uma luz que esclarece nossos pensamentos. Sua linguagem agradável, clara e coerente, atrai leitores de todas as idades. Seus artigos enriquecedores são acessíveis a qualquer nível de educação e cultura. Em seus escritos transparecem frutos de muitos estudos e reflexões, sempre alicerçados em princípios católicos. 4 OS LEITORES Nos círculos de nossas amizades, só ouvimos elogios desta magnífica revista. Muitos usam seus artigos para a catequese, outros para alguma exposição escolar, e muitos outros para meditar e rezar; e também para se atualizar com as notícias da Igreja. Além da voz do Vigário de Cristo e dos excelentes artigos dos Bispos e padres, destacamos os artigos do Mons. João S. Clá Dias. Seus comentários sobre os Evangelhos são sempre recheados com citações de Doutores e Santos da Igreja e percebe-se que sua exposição nasce de uma profunda reflexão e densidade de pensamentos. Quem — ao fim da leitura de seus santos ensinamentos — não tiraria alguma lição de vida e proveito espiritual para suas almas? Outra coisa que nos chama a atenção, também, são os jovens redatores desta revista. Ainda em sua curta idade, como já escrevem bem! Podemos deduzir que a formação que os Arautos do Evangelho dão a estes jovens é a melhor possível. Antônio Nobuhiro e Luiza Nakagawa Bom Jesus dos Perdões – SP FAZEM MUITO BEM AO ESPÍRITO Quero agradecer profundamente o generoso envio da revista Arautos do Evangelho. Ela me enche de alegria e é minha mais agradável companheira durante o período que me detenho em assimilar suas leituras sempre interessantes, profundas e bem apresentadas. Fazem-me muito bem ao espírito e me acompanham com sabedoria nesta etapa de minha vida em que o Senhor, por meio da enfermidade, me solicita uma renúncia mais profunda. Ofereço minhas orações para a querida família dos Arautos do Evangelho. Irmã Lucy Sanchez, FMM Casa das Irmãs Enfermas San Felipe – Chile ADMIRO E ACOMPANHO A REVISTA HÁ MUITO TEMPO Fico muito grato pelo bem que faz esta revista Arautos do Evangelho. Há muito tempo que a admiro e acompanho, quase desde o seu começo, com meu irmão franciscano, o Cardeal Hummes. Espero poder receber sempre nossa querida, alentadora e linda revista. Frei Rafael Arcos Gallardo Fraternidade Franciscana de Belalcázar Córdoba – Espanha UM HOMEM TODO FEITO DE FÉ E DE AMOR A DEUS Leio todos os meses, com avidez e em primeiro lugar, o comentário ao Evangelho, escrito pelo Mons. João Scognamiglio Clá Dias. Vê-se que é um homem todo feito de fé e de amor a Deus, e vive o que escreve. De vez em quando vejo pela TV Arautos suas homilias, já que não tenho dificuldade com o idioma, pois vivo em uma cidade fronteiriça com o Brasil. São palavras cheias de sabedoria e de fé. Mons. João Clá é um verdadeiro pastor de almas, pois transmite com profundidade e contagiante entusiasmo os ensinamentos tão simples, mas tão belos, do Evangelho. Através da revista, informo-me também do trabalho desenvolvido pelos Arautos em todo o mundo e rezo para ter oportunidade de conhecer sua maravilhosa igreja da Virgem do Rosário, em São Paulo. Catalina Sosa Ferreira Rivera – Uruguai CONSELHOS QUE ME ENCHEM O ESPÍRITO Quero agradecer-lhes por sua revista, que recebo a cada mês em meu lar e que me enche o espírito com lindas histórias e conselhos, os quais tenho procurado pôr em prática, junto a outros irmãos. Dayse Judith Gutiérrez de León Guayaquil – Equador Flashes de Fátima · Setembro 2009 _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 4 26/08/2009 09:55:45 Editorial APROVAÇÕES PONTIFÍCIAS E CONDECORAÇÃO PAPAL N cias e es pontifí Aprovaçõ ção papal condecora o 2009 Ano XI Setembr Nº 76 - Mons. João Clá cumprimenta o Cardeal Rodé durante a Missa de Ação de Graças (Foto: Sérgio Miyazaki) osso Senhor Jesus Cristo, ao dizer que as portas do inferno não prevaleceriam contra a Igreja, (cf. Mt 16, 18), não prometeu somente que ela perduraria até o fim dos tempos, mas também que estaria sempre crescendo e Se aperfeiçoando a cada momento pela ação do Espírito Santo. A Igreja é imortal. Ela não pode ficar oculta debaixo do alqueire nem desaparecer. Sempre existirá, sempre será visível, sempre terá manifestações, fulgores e vigores novos, porque é o próprio Corpo Místico de Cristo e Templo do Espírito Santo. Um dos indícios dessa exuberância vital é a grande multiplicidade de carismas, regras, constituições, estilos, objetivos e espiritualidades que o Paráclito suscita ao longo dos séculos, com uma diversidade e riqueza que, longe de quebrar a unidade eclesial, a fortalecem, revigoram, impulsionam e até mesmo sustentam. Bem assinalou essa realidade o Papa Bento XVI, numa celebração para membros dos Movimentos Eclesiais: “Se consideramos a história, se olhamos esta assembleia aqui na Praça de São Pedro, então compreendemos como Ele suscita sempre novas dádivas; observamos como são diferentes os órgãos que Ele cria; e como, sempre de novo, age corporalmente. No entanto, nele a multiplicidade e a unidade caminham juntas” (Homilia durante a celebração das Primeiras Vésperas de Pentecostes, 3/6/2006). Com efeito, no plurissecular florescimento de uma plêiade de famílias religiosas discerne-se uma das melhores provas da generosidade com a qual Nosso Senhor cumpre a promessa feita a Pedro. Desde que São Paulo Eremita se retirara ao deserto, tornando-se o primeiro anacoreta do cristianismo por volta do ano 250 da nossa era, até as mais recentes fundações ocorridas no terceiro milênio, os Institutos de Vida Consagrada, as Sociedades de Vida Apostólica e os Institutos Seculares foram sempre um importante esteio para a Igreja e um sinal de sua vitalidade. Verdadeiros reservatórios de oração, contemplação e penitência, de um lado; e de outro, dedicada e renovada força missionária. * * * Nascidas dentro da grande família dos Arautos do Evangelho, foram recentemente reconhecidas pelo Santo Padre como de direito pontifício duas Sociedades de Vida Apostólica: Virgo Flos Carmeli, clerical, e Regina Virginum, feminina. Para comemorar solenemente junto com os Arautos esse grande dom, o Emmo. Cardeal Franc Rodé, Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, quis viajar até o Brasil e presidir a Missa de Ação de Graças. Paternalmente, escolheu ele a data dessa Eucaristia de forma a coincidir com o aniversário do fundador dos Arautos do Evangelho, Mons. João Scognamiglio Clá Dias, a quem trouxe um presente do Papa: a condecoração Pro Ecclesia et Pontifice. Essa dupla aprovação introduz a Associação dos Arautos do Evangelho no âmago do Corpo Místico de Cristo, a instituição divina que durará pelos séculos dos séculos. E reforça-os na convicção de que tudo quanto na Igreja há de santidade, de autoridade, de virtude sobrenatural está subordinado, condicionado, dependente da união à Cátedra de Pedro. Setembro 2009 · Flashes EDT_RAE93_Portugal_76_.indd 5 de Fátima 5 26/08/2009 10:12:40 A VOZ DO PAPA Cristo é o “Bispo das almas” O verdadeiro Pastor, relembra o Santo Padre, deve não apenas alimentar o seu rebanho com a Palavra, mas defendê-lo contra os lobos e preservar a unidade. Para isto, acentua, o Pastor precisa viver a experiência da Fé e tornar-se um modelo para as suas ovelhas. D irijo a todos a minha saudação cordial com as palavras do Apóstolo junto de cujo túmulo nos encontramos: “Graça e paz vos sejam dadas em abundância” (I Pd 1, 2). Saúdo, em particular, os Membros da Delegação do Patriarcado ecumênico de Constantinopla e os numerosos Metropolitas que hoje recebem o Pálio. Na coleta deste dia solene pedimos ao Senhor “que a Igreja siga sempre o ensinamento dos Apóstolos dos quais recebeu o primeiro anúncio da Fé”. O pedido que fazemos a Deus interpela ao mesmo tempo a nós mesmos: seguimos nós os ensinamentos dos grandes Apóstolos fundadores? Conhecemolos verdadeiramente? No Ano Paulino, que se concluiu ontem, procuramos ouvi-lo de maneira nova, a ele que é “mestre das nações”, e assim aprender de novo o alfabeto da Fé. Procuramos reconhecer com Paulo e mediante Paulo o Cristo, e desta forma encontrar o caminho para a reta via cristã. Pedro fala aos Pastores de todas as gerações No cânone do Novo Testamento, além das Cartas de São Paulo, há 6 também duas Cartas sob o nome de São Pedro. A primeira delas conclui-se explicitamente com uma saudação de Roma, mas que está sob o nome apocalíptico de cobertura de Babilônia: “Saúdavos a coeleita que vive na Babilônia...” (5, 13). Ao chamar a Igreja de Roma a “coeleita”, insere-a na grande comunidade de todas as Igrejas locais — na comunidade de todos os que Deus reuniu, para que na “Babilônia” do tempo deste mundo construam o seu Povo e façam entrar Deus na História. A primeira Carta de São Pedro é uma saudação dirigida de Roma a toda a Cristandade de todos os tempos. Ela convida-nos a escutar “o ensinamento dos Apóstolos”, que nos indica o caminho para a vida. Esta Carta é um texto muito rico, que provém do coração e toca o coração. O seu centro é — como poderia ser diversamente? — a figura de Cristo, que é ilustrado como Aquele que sofre e que ama, como Crucificado e Ressuscitado: “quando O insultavam, não insultava, e, sofrendo, não ameaçava... Pelas suas chagas fostes curados” (I Pd 2, 23s). Partindo do centro que é Cristo, a Carta constitui depois tam- bém uma introdução aos Sacramentos cristãos fundamentais do Batismo e da Eucaristia e um discurso dirigido aos sacerdotes, no qual Pedro se qualifica como copresbítero com eles. Ele fala aos Pastores de todas as gerações como aquele que foi pessoalmente encarregado pelo Senhor de apascentar as suas ovelhas e assim recebeu de modo particular um mandato sacerdotal. Cristo é o protótipo de todos os ministérios episcopais e sacerdotais Que nos diz, portanto, São Pedro — precisamente no Ano Sacerdotal — sobre a tarefa do sacerdote? Antes de tudo, ele compreende o ministério sacerdotal totalmente a partir de Cristo. Chama Cristo o “pastor e guarda das... almas” (2, 25). Onde a tradução italiana fala de “guarda”, o texto grego usa a palavra episcopos (Bispo). Mais à frente, Cristo é qualificado como o Pastor supremo: archipoimen (5, 4). Surpreende que Pedro chame o próprio Cristo Bispo — Bispo das almas. O que pretende dizer com isto? Na palavra grega episcopos está contido o verbo “ver”; por isso foi traduzida como “guarda”, ou se- Flashes de Fátima · Setembro 2009 _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 6 26/08/2009 09:56:06 O Pastor deve tornar-se modelo do rebanho Assim a palavra “Bispo” aproxima-se muito da palavra “pastor”, aliás, os dois conceitos tornam-se intercambiáveis. É tarefa do pastor apascentar e guardar o rebanho, e conduzi-lo às pastagens justas. Apascentar o rebanho significa preocupar-se por que as ovelhas encontrem o alimento justo, que seja saciada a sua fome e satisfeita a sua sede. Fora da metáfora, isto significa: a palavra de Deus é o alimento do qual o homem precisa. Tornar sempre de novo presente a palavra de Deus, e assim alimentar os homens, é a tarefa do Pastor reto. E ele deve saber também resistir aos inimigos, aos lobos. Deve preceder, indicar o caminho, conservar a unidade do rebanho. Pedro, no seu discurso aos presbíteros, evidencia ainda um aspecto muito importante. Não é suficiente falar. Os Pastores devem tornar-se “modelos do rebanho” (5, 3). A palavra de Deus é transposta do passado para o presente, quando é vivida. É maravilhoso ver como nos santos a palavra de Deus se torna uma palavra dirigida ao nosso tempo. Em figuras como Francisco e depois de novo como Padre Pio e muitos outros, Cristo tornou-se deveras contemporâneo da sua geração, saiu do passado e entrou no presente. Isto significa ser Pastor — modelo do rebanho: viver a Palavra agora, na grande comunidade da santa Igreja. L'Osservatore Romano ja, “vigilante”. Mas certamente não se quer indicar uma vigilância externa, como convém talvez a um guarda da prisão. Ao contrário, indica-se um ver do alto — um ver a partir da altura de Deus. Um ver na perspectiva de Deus é um ver do amor que deseja servir o outro, deseja ajudá-lo a tornar-se deveras ele mesmo. Cristo é o “Bispo das almas”, diznos Pedro. Isto significa: Ele vê-nos na perspectiva de Deus. Olhando a partir de Deus, tem-se uma visão de conjunto, veem-se tanto os perigos como as esperanças e as possibilidades. Na perspectiva de Deus vê-se a essência, vê-se o homem interior. Se Cristo é o Bispo das almas, o objetivo é evitar que a alma no homem se empobreça, é fazer com que o homem não perca a sua essência, a capacidade para a verdade e para o amor. Fazer com que ele conheça Deus; que não se perca em becos sem saída; que não se perca no isolamento, mas permaneça aberto a todos. Jesus, o “Bispo das almas”, é o protótipo de todos os ministérios episcopais e sacerdotais. Ser Bispo, ser sacerdote significa nesta perspectiva: assumir a posição de Cristo. Pensar, ver e agir a partir da Sua posição elevada. A partir dEle estar à disposição dos homens, para que encontrem a vida. “Ser Bispo, ser sacerdote significa assumir a posição de Cristo. Pensar, ver e agir a partir da Sua posição elevada” A Fé cristã é uma esperança que se funda na racionalidade Gostaria de chamar de novo a atenção muito brevemente sobre outras duas afirmações da primeira Carta de São Pedro, que se referem a nós de modo especial, neste nosso tempo. Antes de tudo, a frase hoje novamente descoberta, com base na qual os teólogos medievais compreenderam a sua tarefa, a tarefa do teólogo: “venerai sempre Cristo Senhor nos vossos corações e estai sempre prontos a responder a todo aquele que vos perguntar a razão da vossa esperança” (3, 15). A Fé cristã é esperança. Abre o caminho rumo ao futuro. E é uma esperança que possui racionalidade; uma esperança cuja razão podemos e devemos expor. A Fé provém da Razão eterna que entrou no nosso mundo e nos mostrou o verdadeiro Deus. Vai além da capacidade própria da nossa razão, assim como o amor vê mais do que a simples inteligência. Mas a Fé fala à razão e no confronto dialético pode prevalecer sobre a razão. Não a contradiz, mas caminha a par com ela e, ao mesmo tempo, conduz além dela — introduz na Razão maior de Deus. Como Pastores do nosso tempo, temos a tarefa de sermos os primeiros a compreender a razão da Fé. A tarefa de não deixar que ela seja simplesmente uma tradição, mas de a reconhecer como resposta às nossas perguntas. A Fé exige a nossa participação racional, que se aprofunda e se purifica numa partilha de amor. Faz parte dos nossos deveres como Pastores penetrar a Fé com o pensamento Setembro 2009 · Flashes _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 7 de Fátima 7 26/08/2009 09:56:07 para sermos capazes de demonstrar a razão da nossa esperança no debate do nosso tempo. Contudo, o pensar — mesmo se tão necessário — sozinho não é suficiente. Assim como falar, sozinho, não é suficiente. Para o Pastor, a Fé não pode permanecer teoria: deve ser vida Na sua catequese batismal e eucarística no segundo capítulo da sua Carta, Pedro faz alusão ao Salmo usado na Igreja antiga no contexto da comunhão, isto é, ao versículo que diz: “Saboreai e vede como é bom o Senhor” (Sl 33, 9; I Pd 2, 3). Só o saborear conduz ao ver. Pensamos nos discípulos de Emaús: só na comunhão convival com Jesus, só na fração do pão se abrem os seus olhos. Só na comunhão com o Senhor deveras experimentada eles se tornam videntes. Isto é válido para todos nós: além do pensar e do falar, precisamos da experiência da Fé; da relação vital com Jesus Cristo. A Fé não deve permanecer teoria: deve ser vida. Se no Sacramento encontramos o Senhor; se na oração falamos com Ele; se nas decisões cotidianas aderimos a Cristo — então “vemos” cada vez mais como Ele é bom. Então experimentamos que é muito bom estar com Ele. Desta certeza vivida deriva depois a capacidade de comunicar a Fé aos outros de modo credível. O Cura d’Ars não era um grande pensador. Mas ele “saboreava” o Senhor. Vivia com Ele até nas pequenezas da vida cotidiana e nas grandes exigências do ministério pastoral. Deste modo tornou-se “um que vê”. Tinha saboreado, e por isso sabia que o Senhor é bom. Rezemos ao Senhor a fim de que nos conceda este saborear e assim possamos tornar-nos testemunhas credíveis da esperança que está em nós. Sem a cura das almas não pode haver salvação para a humanidade Por fim, gostaria de fazer notar ainda uma pequena, mas importante palavra de São Pedro. Logo no começo da Carta ele diz que a meta da nossa Fé é a salvação das almas (cf. 1, 9). No mundo da linguagem e do pensamento da atual Cristandade, esta é uma afirmação estranha, para alguns talvez seja até escandalosa. fotos: L'Osservatore Romano Na Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, o Papa Bento XVI entregou o pálio a 34 novos Arcebispos, dentre eles quatro brasileiros: Dom Orani João Tempesta, Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ); Dom Gil Antônio Moreira, Arcebispo de Juiz de Fora (MG); Dom Sérgio da Rocha, Arcebispo de Teresina (PI), e Dom Maurício Grotto de Camargo, Arcebispo de Botucatu (SP) 8 Flashes de Fátima · Setembro 2009 _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 8 26/08/2009 09:56:11 A “ditadura do relativismo” E stimados irmãos e irmãs, 150 anos após a morte do Santo Cura d’Ars, não são menos exigentes os desafios da sociedade hodierna. Pelo contrário, talvez sejam mais complexos. Se havia naquela época a “ditadura do racionalismo”, hoje se verifica em muitos ambientes uma espécie de “ditadura do relativismo”. Uma e outra apresentam respostas inadequadas à justa procura do homem, de usar plenamente a própria razão como elemento distintivo e constitutivo da sua identidade. O racionalismo foi inadequado porque não tomou em consideração os limites humanos, e pretendeu ele- A palavra “alma” caiu em descrédito. Diz-se que isto levaria a uma divisão do homem em espírito e em físico, em alma e corpo, enquanto na realidade ele seria uma unidade indivisível. Além disso, “a salvação das almas” como meta da Fé parece indicar um cristianismo individualista, uma perda de responsabilidade pelo mundo no seu conjunto, na sua corporeidade e na sua materialidade. Mas de tudo isto nada se encontra na Carta de São Pedro. O zelo pelo testemunho a favor da esperança, a responsabilidade pelos outros caracterizam todo o texto. Para compreender a palavra sobre a salvação das almas como meta da Fé, devemos partir de outro lado. É verdade que a falta de cuidado das almas, o empobrecer-se do homem interior, não destrói apenas o indivíduo, mas ameaça o destino da humanidade no seu conjunto. Sem a cura das almas, sem o restabelecimento do homem a partir de dentro, não pode haver uma salvação para a humanidade. São Pedro qualifica a verdadeira doença das almas, para nossa surpresa, como ignorância, ou seja, como não-conhecimento de Deus. Quem var a razão ao nível de única medida de todas as coisas, transformando-a numa deusa. O relativismo contemporâneo ofende a razão, porque chega a afirmar que o ser humano não pode conhecer com certeza nada que esteja além do campo científico positivo. Hoje porém, como naquele tempo, o homem, “mendicante de significado e de conclusão”, procura incessantemente respostas exaustivas às questões de fundo que não cessa de pôr-se. (Excerto da Audiência Geral de 5/8/2009 – Tradução: Arautos do Evangelho) não conhece Deus, quem pelo menos não O procura sinceramente, permanece fora da vida (cf. I Pd 1, 14). Mais uma palavra da Carta pode sernos útil para compreender melhor a fórmula “salvação das almas”: “Purificai as vossas almas com a obediência à verdade” (cf. 1, 22). É a obediência à verdade que purifica a alma. E conviver com a mentira polui-a. A obediência à verdade começa com as pequenas verdades da vida cotidiana, que com frequência podem ser cansativas e dolorosas. Esta obediência alarga-se depois até à obediência incondicionada face à própria Verdade que é Cristo. Esta obediência torna-nos não só puros, mas sobretudo também livres para o serviço a Cristo e assim à salvação do mundo, que tem sempre o seu início na purificação obediente da própria alma mediante a verdade. Só podemos indicar o caminho para a verdade se nós próprios — em obediência e paciência — nos deixarmos purificar pela verdade. Sede Pastores justos a exemplo de Cristo Dirijo-me agora a vós, queridos Irmãos no episcopado, que neste momento recebereis da minha mão o Pálio. Foi tecido com a lã dos cordeiros que o Papa abençoa na festa de Santa Inês. Deste modo ele recorda os cordeiros e as ovelhas de Cristo, que o Senhor ressuscitado confiou a Pedro com a tarefa de os apascentar (cf. Jo 21, 15-18). Recorda o rebanho de Jesus Cristo, que vós, queridos Irmãos, deveis apascentar em comunhão com Pedro. Recorda-nos o próprio Cristo, que como Bom Pastor carregou sobre os seus ombros a ovelha tresmalhada, a humanidade, para reconduzi-la à casa. Recorda-nos o fato de que Ele, o Pastor supremo, quis fazer-Se Ele mesmo Cordeiro, para assumir a partir de dentro o destino de todos nós; para nos reconduzir e curar a partir de dentro. Rezemos ao Senhor a fim de que nos conceda ser a Seu exemplo Pastores justos, “não constrangidos, mas de boa vontade... como apraz a Deus... com ânimo generoso... modelos do rebanho” (cf. I Pd 5, 2s). Amém. (Homilia na Missa de imposição do pálio aos novos Arcebispos, 29/6/2009) Todos os direitos sobre os documentos pontifícios estão reservados à Libreria Editrice Vaticana. A íntegra dos documentos acima pode ser encontrada em www.vatican.va Setembro 2009 · Flashes _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 9 de Fátima 9 26/08/2009 09:56:13 Vitral da Igreja de St. Patrick, Roxbury (Estados Unidos) a EVANGELHO A “Tendo partido dali, atravessaram a Galileia. Não queria, porém, que ninguém o soubesse. 31 E ensinava os seus discípulos: ‘O Filho do homem será entregue nas mãos dos homens, e matá-Lo-ão; e ressuscitará três dias depois de sua morte’. 32 Mas não entendiam estas palavras; e tinham medo de Lhe perguntar. 33 Em seguida, voltaram para Cafarnaum. Quando já estava em casa, Jesus perguntoulhes: ‘De que faláveis pelo caminho?’. 34 Mas Gustavo Kralj 30 10 eles calaram-se, porque pelo caminho haviam discutido entre si qual deles seria o maior. 35 Sentando-Se, chamou os Doze e disse-lhes: ‘Se alguém quer ser o primeiro, seja o último de todos e o servo de todos’. 36 E tomando um menino, colocou-o no meio deles; abraçou-o e disse-lhes: 37 ‘Todo o que recebe um destes meninos em Meu nome, a Mim é que recebe; e todo o que recebe a Mim, não Me recebe, mas Aquele que Me enviou’” (Mc 9, 30-37). Flashes de Fátima · Setembro 2009 _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 10 26/08/2009 09:56:18 COMENTÁRIO AO EVANGELHO – XXV DOMINGO DO TEMPO COMUM Uma sociedade marcada pela inocência Estando com Seus discípulos na Galileia, o Divino Mestre lhes fala de perseguições, morte e ressurreição, em contraposição à ideia de um Messias meramente humano, restaurador do poder temporal de Israel. Diante deles abre-se um panorama inteiramente novo: humildade, desapego e serviço serão as características de quem quiser exercer a autoridade segundo o espírito de Jesus. Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP I – A SOCIEDADE HUMANA NO PARAÍSO Uma sociedade que se desenvolvesse no Paraíso Terrestre, composta por uma humanidade em estado de justiça original, seria regida pela graça divina e favorecida por dons preternaturais e sobrenaturais concedidos por Deus. Nela reinariam a plena harmonia e o total entendimento entre os homens, sem inveja nem rivalidades. Cada qual admiraria a virtude dos outros, alegrando-se com eles e desejando-lhes a maior santidade possível. Aconteceu, contudo, que o homem pecou e foi expulso do Paraíso. Despojada dos dons de que gozavam nossos primeiros pais, a humanidade ficou sujeita à doença, à morte, ao desequilíbrio psíquico e a tantas outras mazelas. Mais grave ainda, a alma perdeu o dom da integridade, pelo qual dominava a concupiscência e mantinha as paixões em perfeita ordem.1 Sem este dom, elas entraram em ebulição, tornando necessária ao ser humano uma contínua luta interior para poder governá-las. A inocência entrou em estado de beligerância para se preservar do pecado. A causa mais profunda das dissensões Consequências dessa desordem são a inveja e as rivalidades, principal cau- sa, por sua vez, das rixas e dissensões. Pois, como afirma o Apóstolo São Tiago na segunda leitura deste 25º Domingo do Tempo Comum, “onde há inveja e rivalidade, aí estão as desordens e toda espécie de obras más” (Tg 3, 16). Com efeito, é a inveja um dos vícios mais perniciosos. Quem por ela se deixa levar, não conhece a felicidade. O invejoso está sempre se comparando com os outros, e quando se depara com quem o supera em qualquer ponto, logo se pergunta: “Por que ele é mais e eu menos? Por que ele tem e eu não?”. Essa atitude torna ácida e amargurada a sua vida, causando toda espécie de dissabores e, por vezes, até de mal-estar físico. Setembro 2009 · Flashes _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 11 de Fátima 11 26/08/2009 09:56:21 Gustavo Kralj Durante o trajeto, o Divino Mestre instruía os discípulos por meio do convívio, dando-lhes a conhecer tudo quanto ouvira do Pai Vitral da Igreja de St. Patrick, Roxbury (Estados Unidos) Deste “por que” — proveniente em última análise do orgulho — decorrem os males todos. Bem claramente o aponta São Tiago: “De onde vêm as guerras? De onde vêm as brigas entre vós? Não vêm, justamente, das paixões que estão em conflito dentro de vós?” (Tg 4, 1). Quanta luta trava o homem hoje, por exemplo, para obter mais dinheiro, mais poder ou mais prestígio, recorrendo muitas vezes a meios ilícitos ou até criminosos! Em quantas misérias morais cai ele, para atingir esse objetivo! Contudo, mesmo tendo acumulado imensa fortuna, ou galgado o suprassumo do poder, nunca estará satisfeito. Sempre quererá mais, porque a alma humana é insaciável, por natureza, uma vez que é feita para o infinito, para o absoluto, para o eterno.2 Daí conclui São Tiago: “Cobiçais, mas não conseguis ter. Matais e cultivais inveja, mas não conseguis êxito. Brigais e fazeis guerra, mas não conseguis possuir” (Tg 4, 2). Enorme esforço faz o homem ganancioso para obter algo que, em vez de trazer-lhe a felicidade, o fará perder a paz de alma! 12 Para vencer e recuperar o equilíbrio de alma há apenas um caminho: abraçar as vias da santidade Portanto, o Reino de Deus prosperará nesta terra na medida em que houver entre os homens almas santas, faróis de virtude e de inocência a iluminar o caminho da humanidade. Será o Reino da inocência, à imagem do Inocente por excelência, Nosso Senhor Jesus Cristo. Teremos, assim, a realização mais próxima possível da civilização paradisíaca. É esta uma das importantes lições a tirar do rico Evangelho deste domingo. A santidade faz recuperar o equilíbrio perdido Para vencer as paixões desregradas e recuperar o equilíbrio de alma perdido por causa do pecado, há apenas um caminho: abraçar as vias da santidade. Na luta constante contra as próprias paixões, procurando submetê-las à Lei Divina, irá o homem restaurando a inocência primitiva, e, com isso, suas reações de alma se tornarão cada vez mais semelhantes àquelas que teria no Paraíso. O que ali lhe seria fácil, custalhe agora, nesta terra de exílio, grande esforço, dura luta interior e muita ascese, acompanhados do indispensável auxílio da graça. Pois sem esta nenhum homem é capaz de dominar a tremenda ebulição das próprias paixões. II – DUAS MENTALIDADES EM ENTRECHOQUE “Tendo partido dali, atravessaram a Galileia. Não queria, porém, que ninguém o soubesse”. 30 Após descer do monte Tabor e exorcizar um menino possesso, diante de numerosa multidão, Jesus dirigiu-se à Galileia. Quis fazer a viagem discretamente, só com os mais próximos, porque ao longo do caminho “ensinava os Seus discípulos”.3 O Evangelista deixa aqui transparecer a divina pedagogia de Jesus. Ele instruía os discípulos durante o trajeto, por meio do convívio. Não lhes ensinava a filosofia dos gregos, Flashes de Fátima · Setembro 2009 _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 12 26/08/2009 09:56:23 nem a doutrina dos mestres de Israel. Abria-lhes os segredos de Seu Divino Coração, dava-lhes a conhecer tudo quanto ouvira do Pai (cf. Jo 15, 15). Jesus prepara os Apóstolos para a provação Do sublime episódio ocorrido no Tabor — ao qual só assistiram Pedro, Tiago e João —, nada havia transpirado. Entretanto, os outros Apóstolos, vendo aqueles três tão radiantes e cheios de luz, muito provavelmente percebiam que algo de grandioso devia ter acontecido. Sem dúvida, estavam curiosos, talvez aflitos, para saber o que sucedera. Quiçá pensassem, segundo seus critérios mundanos, que o Senhor tivesse revelado algum ousado plano para a conquista do poder e havia, portanto, necessidade de se guardar rigoroso segredo. A ideia da restauração de um reino temporal que desse aos israelitas um domínio sobre os demais povos estava tão arraigada nos judeus daquele tempo — portanto, também nos seguidores de Jesus —, que após a Ressurreição ainda houve quem Lhe perguntasse: “Senhor, é agora que ides restaurar o reino de Israel?” (At 1, 6). Aos poucos, pacientemente, o Mestre ia retificando essa visualização mundana e materialista de Seus discípulos. O próprio fato de deslocar-Se com eles sem que ninguém o soubesse correspondia a esse objetivo. Jesus desejava estar a sós com os Apóstolos para formá-los e preparálos para as difíceis provações futuras. “E ensinava os Seus discípulos: ‘O Filho do homem será entregue nas mãos dos homens, e matá-Lo-ão; e ressuscitará três dias depois de Sua morte’”. 31 Anunciando Sua Paixão e morte, Jesus punha diante dos Doze o amargor da prova e da perseguição. Ora, “nada repugnava mais aos judeus que a ideia de um Messias sofre- dor e vítima”, afirma Didon.4 Eles esperavam com avidez a glória, o triunfo de Israel, uma paz e prosperidade de séculos ou até de milênios... Ou seja, aspiravam a uma eternidade de gozo terreno. Davam-se conta os Apóstolos, sem dúvida, de que Jesus estava criando uma instituição para dar continuidade à Sua Obra. Percebiam também que Ele os ia formando para, em determinado momento, cada qual exercer um importante papel. Continuavam, entretanto, tomados pela ideia equivocada de um reino terreno, e sua preocupação era justamente saber quem ocuparia os altos cargos nessa nova organização. Assim o assinala Didon, ao comentar as rivalidades que se levanta- Davam-se conta os Apóstolos, de que Jesus estava criando uma instituição para dar continuidade à Sua obra vam entre eles: “Pedro tinha sido designado como chefe; Tiago e João pareciam gozar de certa predileção. Ora, estas preferências manifestas não deixavam de despertar entre os outros algum ciúme e inveja. [...] Daí as disputas azedas, as rivalidades, as ofensas, as feridas de amor próprio”.5 Nesse clima de ambição e de delírio de mando dos Seus discípulos, Nosso Senhor os está pacientemente preparando para não sucumbirem à terrível provação que se aproximava. “Mas não entendiam estas palavras; e tinham medo de Lhe perguntar”. 32 Não era a primeira vez que o Messias anunciava Sua Paixão e Ressur- reição aos Apóstolos. Estes, porém, tão distantes estavam de tais cogitações, que nem sequer Pedro, Tiago e João, testemunhas privilegiadas da Transfiguração, entenderam o que Ele lhes quis dizer. Ao descer do Monte Tabor, o Senhor já os havia alertado para nada contarem “até que o Filho do homem tivesse ressurgido dos mortos” (Mc 9, 9). Entretanto, ignoravam o sentido dessas palavras, pois discutiam entre si o que significaria “ser ressuscitado dentre os mortos” (Mc 9, 10). Bem aponta o Crisóstomo “quão pouco compreendiam os discípulos o sentido da clara predição da morte do Senhor. Inclusive depois de todos esses milagres reveladores, após essa singular revelação de identidade de Jesus por parte da voz celeste, e depois da predição explícita de Sua morte e Ressurreição, continuavam eles sem entender o mais importante e estavam preocupados por sua própria ansiedade”.6 De sua parte, o padre Lagrange assim analisa esta passagem: “Os discípulos continuam não compreendendo. O que menos convinha ao Messias era a Paixão; o que menos se entendia da doutrina de Jesus ainda era a necessidade do sofrimento. Quando o Mestre disto falou pela primeira vez, Pedro protestou, mas foi vivamente repreendido (cf. Mc 8, 31); na segunda, eles mudaram de assunto (cf. Mc 9, 11); agora eles não ousam sequer perguntar”.7 Sua mentalidade estava em choque com Nosso Senhor Ora, se os discípulos não compreendiam o que o Mestre lhes dizia, qual a razão de terem medo de perguntar? Jesus sempre os tratara com uma bondade inefável e Setembro 2009 · Flashes _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 13 de Fátima 13 26/08/2009 09:56:24 a ocasião não podia ser mais propícia, estando eles a sós com o Mestre. Era tão fácil, sobretudo naquele momento de intimidade, pedir-Lhe um esclarecimento! Havia para isso uma profunda razão psicológica. A perspectiva da morte do seu Mestre ia contra todos os planos de projeção social, de solução política e econômica que eles almejavam. Significava a destruição do castelo de ilusões que os israelitas montaram a respeito do Messias: o de um homem capacíssimo, cheio de dons para libertar do domínio romano o Povo Eleito e projetá-lo acima dos outros povos. Os Apóstolos percebiam que a mentalidade deles estava em choque com a de Nosso Senhor. O Mestre ensinava uma doutrina que eles, no fundo dos seus corações, não desejavam ouvir. A resposta de Jesus podia tornar clara demais essa dissonância, colocando-os na obrigação de mudar de mentalidade, o que de todo eles não queriam. Bem observa o padre Tuya a este propósito: “Eles sabem que as predições do Mestre se cumprem. Têm um pressentimento em relação àquele programa sombrio — para Jesus e para eles — e evitam insistir sobre ele”.8 O homem, segundo nos ensina a filosofia tomista, nunca pratica o mal enquanto mal; sempre procura justificá-lo, dando-lhe uma aparência de bem.9 E no espírito dos discípulos, duas ideias contraditórias entravam em conflito: a do autêntico Messias, que lhes falava de per- Os Apóstolos percebiam que a mentalidade deles estava em choque com a de Nosso Senhor seguições, morte e Ressurreição, e a de um Messias meramente humano, restaurador do poder temporal de Israel. Eles então racionalizavam para justificar a ideia errada na qual insistiam em acreditar. O receio de romper os alicerces dessa mentalidade política e terrena os fazia ter medo de perguntar. “Em seguida, voltaram para Cafarnaum. Quando já estava em casa, Jesus perguntoulhes: ‘De que faláveis pelo caminho?’. 34 Mas eles calaramse, porque pelo caminho haviam discutido entre si qual deles seria o maior”. 33 Sabia Cristo perfeitamente de qual assunto os Apóstolos trataram ao longo do percurso. À incômoda indagação, porém, eles ficaram calados, envergonhados de dizer ao Mestre que o tema de sua conversa havia sido uma egoística disputa de primazia pessoal. O seu silêncio já era um meio reconhecimento da falta cometida, da qual eles tinham certa consciência, como afirma o Cardeal Gomá: “Sua conduta está em flagrante oposição com o sentir do Mestre, e estão confusos diante dEle”.10 No mesmo sentido se pronunciam comentaristas da Companhia de Jesus: “O silêncio dos discípulos perante a pergunta do Mestre é muito psicológico. Sentem-se, sem dúvida, conscientes de que suas aspirações não encontrariam aprovação”.11 Um novo conceito de autoridade “Sentando-se, chamou os Doze e disse-lhes: ‘Se alguém quer ser o primeiro, seja o último de todos e o servo de todos’”. 35 Gustavo Kralj Anunciando sua Paixão e morte, Jesus punha diante dos Doze o amargor da prova e da perseguição “Jesus Flagelado” - Convento dos padres dominicanos, Salvador (BA) 14 O Mestre conhecia bem aqueles que escolhera, pois, conforme comenta o padre Lagrange, Ele “não Flashes de Fátima · Setembro 2009 _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 14 26/08/2009 09:56:25 se espanta com a preocupação dos discípulos, nem contesta o princípio da hierarquia, mas insinua o espírito novo do qual deve estar animado quem tem cargo de direção. Há certamente aqui a previsão de outra ordem de coisas”.12 Com Suas palavras, Jesus não condena o desejo de obter a primazia, mas põe uma condição: para ser o primeiro, é preciso ser “o último de todos e o servo de todos”. Essa afirmação abria um panorama completamente novo para os Apóstolos, os quais compartilhavam do conceito de autoridade comum e corrente naquela época: quem é mais forte, mais capaz, mais inteligente, mais rico, ou mais esperto, esse manda e os outros obedecem. Perante essa visão, Nosso Senhor declara qual é a regra de governo que deverá vigorar na Era Cristã: “O novo Reino que quero instaurar não será como os reinos da terra. O que deve animar Meus discípulos não é o espírito de ambição, a procura das grandezas. Pelo contrário, a primeira condição, a condição fundamental, para almejar o primeiro posto no Reino messiânico é a humildade, o menosprezo das honras, o desinteresse de quem se esquece de si mesmo para dedicar-se ao serviço dos irmãos”.13 Humildade, menosprezo das honras, desinteresse por si mesmo e dedicação aos irmãos: são estas as características de quem deve mandar de acordo com o espírito de Jesus. É a precedência da virtude e da inocência na sociedade. Nada mais oposto à ira, à inveja e às rivalidades que tanto atormentam o homem depois do pecado original! A esse respeito, transcreve o padre Maldonado expressivo comentário do Bispo e mártir São Cipriano: “Com Sua resposta, cortou Jesus qualquer emulação e extirpou toda ocasião e pretexto da mordaz inveja. Não é lícito ao discípulo de Cristo ter essas rivalidades e invejas, nem pode existir entre nós peleja para sobressair-se, pois aprendemos que o caminho para a primazia é a humildade”.14 Convém notar, por fim, que Jesus “sentou-Se” antes de fazer esta solene declaração, “como para julgar no Seu Tribunal e ensinar aos Apóstolos, da Sua Cátedra, algo grave e importante que merecia ser dito não de pé e como que de passagem, mas sentado e de propósito, com plena advertência e consideração”.15 O verdadeiro discípulo precisa apresentar-se sem qualquer pretensão, admirando as qualidades alheias III – GOVERNAR EM FUNÇÃO DA INOCÊNCIA “E tomando um menino, colocou-o no meio deles; abraçou-o...”. 36 Comentam extensamente os exegetas este episódio no qual Jesus chama para junto de si uma criança, relacionando-o com a narração de São Lucas, que no final do seu relato reproduz estas palavras do Salvador: “Pois quem dentre vós for o menor, esse será grande” (Lc 9, 48). As crianças estão isentas de inveja e vanglória Ressalta-se, em geral, como o Divino Mestre serve-Se deste eloquente recurso pedagógico para fazer ver aos discípulos, cegos pelo desejo de supremacia, a necessidade de serem simples e humildes. Pois, como observa o Crisóstomo, “o menino está isento de inveja, de vanglória e de qualquer ambição de primazia”.16 Por sua vez, Beda o Venerável ressalta o quanto Deus tem em alta es- tima a virtude da humildade: “Pelo qual, ou simplesmente aconselha aos que querem ser os primeiros que recebam, em honra dEle, os pobres de Cristo, ou que sejam como meninos, a fim de conservarem a simplicidade sem arrogância, a caridade sem inveja e a dedicação sem ira. O fato de abraçar o menino significa que os humildes são dignos de Seu abraço e de Seu amor”.17 Mostra assim Jesus, neste episódio, quanto o verdadeiro discípulo não deve estar preocupado se será, ou não, maltratado, esquecido, posto de lado. Ele precisa apresentar-se sem qualquer pretensão, nem orgulho, mas, pelo contrário, admirando as qualidades alheias. Quem assim age será o primeiro a receber a misericórdia de Deus. Aquele que se tem por último e se considera o menor será quem mais recebe da Divina Providência. Pode-se conjecturar a profunda perplexidade dos Doze naquele momento. Queriam eles ocupar posição de destaque, Jesus aponta-lhes a necessidade de procurar o último lugar. Aspiravam a um reino messiânico glorioso, Jesus alerta-os sobre Sua Paixão e morte na Cruz... O choque de mentalidades vaise tornando cada vez mais patente. Porém, tudo é dito com doçura, sem acrimônia, no momento oportuno, de forma a que as divinas palavras do Mestre penetrem beneficamente nos espíritos. Manifesta Ele aqui, uma vez mais, a admirável e delicada arte de corrigir, que servirá de modelo a todos quantos tiverem o encargo da direção das almas. Jesus externa seu amor por quem jamais pecou “...e disselhes: 37 ‘Todo o que recebe um destes meninos em Meu nome, a Setembro 2009 · Flashes _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 15 de Fátima 15 26/08/2009 09:56:26 Gustavo Kralj Mim é que recebe; e todo o que recebe a Mim, não Me recebe, mas Aquele que Me enviou’”. Nessa perspectiva, lembra Maldonado que São Marcos “aduz esta razão em lugar da conclusão posta por São Mateus: Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e vos tornardes como crianças, não entrareis no Reino dos Céus. Prova-se implicitamente esta conclusão com o que diz aqui São Marcos, que ninguém entrará no Reino de Deus se não for semelhante a Deus. Nenhuma coisa manchada poderá entrar naquela cidade (como escreve São João no Apocalipse, 21, 27). Não podeis ser semelhantes a Deus se não O recebeis; e não O podeis receber se não Me recebeis, a Mim que fui enviado pelo Pai. E não Me podeis receber se não recebeis em Meu nome os meninos e não vos assemelhais a eles. Portanto, se não vos converterdes e vos tornardes como meninos, não entrareis no Reino dos Céus”.21 Embora os Evangelistas sejam muito sintéticos ao narrar esta passagem, podemos bem imaginar o quanto Nosso Senhor deve ter-Se demorado com esse menino, fazendo belíssimas considerações sobre a infância. Podemos supor também com quanto ardor elogiou sua humildade e desprendimento, pondo em realce as virtudes próprias a quem jamais pecou. Transparece assim, neste último versículo do Evangelho hoje comentado, todo o amor de Jesus pela inocência, representada na criança por Ele abraçada. Esse menino — o futuro mártir Santo Inácio Santa Maria Madalena amou o Divino Mestre de Antioquia, segundo refere a ponto de ser venerada como a primeira das Eusébio de Cesareia18 — simVirgens na ladainha de Todos os Santos boliza a pessoa que se entre“Santa Maria Madalena” por Francisco Brea - Museu Uma nova forma de ga a Deus, sem reservas nem Palazzo Rosso, Gênova (Itália) governar e se relacionar racionalizações, com reta intenção. De acordo com o espírito do EvanEm uma sociedade Cristo é modelo de inocente, engelho, pouco antes declarado pelo Diquanto Homem, e a Inocência em esvino Mestre, quem quiser ter autorimarcada pela sência, enquanto Deus. Ele chama dade deve estar disposto a servir. Jeinocência, a para junto a Si aquela criança porsus acaba de ensinar aos Apóstolos esque, como ensina São Leão Magno, sa verdade, chocando inteiramente a autoridade deve “ama a infância, mestra de humildade, mentalidade pagã que dominava os governar o súdito norma de inocência, modelo de manseus espíritos, segundo a qual se deve sidão. Cristo ama a infância, sobre a os outros à base da força. como quem governa dominar qual quer modelados os costumes dos Em uma sociedade marcada peadultos, e à qual quer reconduzida a la inocência, a autoridade deve gouma criança idade senil; e leva a seguir seu humilde vernar o súdito como quem goverexemplo àqueles que depois eleva ao centa: ‘E todo o que recebe a Mim, na uma criança. Ela não tem delírios Reino eterno”.19 não Me recebe, mas Aquele que Me en- de mando; é despretensiosa, flexíSobre este versículo, comenta o viou’, etc., querendo ser considerado vel e humilde; está sempre à disposição dos outros. Sendo ela tenra e fráCrisóstomo: “E acrescenta ‘em Meu em grau igual ao de Seu Pai”.20 nome’ para que os discípulos, guia“Todo o que recebe um destes me- gil, pede ser conduzida com carinho e dos pela razão, adquiram em nome de ninos em Meu nome, a Mim é que re- afeto. E, para isso, o governante tem Cristo a virtude que o menino pratica cebe”. Jesus mostra-se assim igual ao de se pôr ao serviço dos seus suborguiado pela natureza. Entretanto, pa- Pai, indicando, ao mesmo tempo, que dinados, criando um regime que busra não se pensar que Ele se referia só quem recebe o inocente, o afaga e o que mais atrair do que impor, procuàquele menino quando ensinava que protege, abraça na realidade ao pró- rando despertar neles o entusiasmo pela prática do bem. Ele era honrado nos meninos, acres- prio Deus. 16 Flashes de Fátima · Setembro 2009 _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 16 26/08/2009 09:56:27 IV – O BEM MAIS PRECIOSO QUE O HOMEM PODE RECEBER Preservar a inocência batismal — ou recuperá-la, caso tenha tido a desgraça de perdê-la — deve ser a meta de todo cristão. Porque quem a possui conserva na alma Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai e o Espírito Santo. A inocência é o bem mais precioso que o homem pode receber. A união com a Santíssima Trindade de quem jamais pecou outorga-lhe uma autoridade que nem o poder, nem o dinheiro, nem as manobras diplomáticas são capazes de conceder. Em sua primitiva inocência, o homem era inerrante, pois como ensina São Tomás: “Não era possível, enquanto durasse a inocência, que o intelecto humano desse sua aquiescência a al“Como toda a integridade do estado harmônico de que acabamos de falar era produzida pela submissão da vontade humana a Deus, resultou da subtração da vontade humana a essa submissão divina uma alteração da submissão perfeita das potências inferiores à razão, e do corpo à alma. Em consequência, o homem sentiu no apetite sensitivo inferior os movimentos desordenados da concupiscência, da cólera e das outras paixões estranhas à ordem da razão, e mesmo contrárias à razão, envolvendo-a nas trevas, na maior parte das vezes, e perturbando-a em suas faculdades” (SÃO TOMÁS DE AQUINO. Compêndio de Teologia. c. 192). 3 Cf. AQUINO, São Tomás de. Suma Teológica. I-II, q. 2 e 3. Cf. MALDONADO, SJ, Pe. Juan de. Comentarios a los cuatro Evangelios – II San Marcos y San Lu- Devemos envidar todos os esforços para manter sem pecado a nossa alma, ainda que seja necessário sacrificar a própria vida cas. Madrid: BAC, 1951, p. 146. 1 2 gum erro como se fosse verdade”.22 De forma análoga, o homem que mantém sua inocência batismal será infalível na medida que em se deixe guiar pela graça, pelas virtudes infusas e os dons do Espírito Santo. Assim o afirma o padre Garrigou-Lagrange: “Na 4 DIDON, Henri, OP. Jesus Cristo. Porto: Liv. Int. de Ernesto Chardron, 1895, V. 2, p. 227. 5 Idem, p. 228. 6 Apud ODEN, Thomas C. e HALL, Cristopher A. La Biblia comentada por los Padres de la Iglesia – Nuevo Testamento 2 San Marcos. Madrid: Ciudad Nueva, 2000, p. 184. 7 8 9 11 LAGRANGE, OP, P. M.J. Evangile selon Saint Marc. 5. ed. Paris: Gabalda et Fils, 1929, p. 244. TUYA, OP, Pe. Manuel de. Biblia Comentada – II Evangelios. BAC: Madrid, 1964, p. 695. Cf. AQUINO, São Tomás de. Suma Teológica. I-II q. 78, a. 1. 10 GOMÁ Y TOMÁS, Card. Isidro. El Evangelio explicado. Barcelona: Rafael Casulleras, 1930, V. 3, p. 83. 12 ordem da graça, a fé infusa faz-nos aderir à palavra divina e ao que esta exprime. […] Enquanto os sábios dissertam longamente e levantam todo tipo de hipóteses, Deus faz Sua obra naqueles que têm o coração puro”.23 Devemos, portanto, envidar todos os esforços para manter sem pecado a nossa alma, ainda que seja necessário, para isto, sacrificar a própria vida. E se, por infelicidade, tivermos perdido a inocência batismal, empenhemo-nos ao máximo em recuperá-la, como o fez Santa Maria Madalena, através de um ardente amor ao Divino Mestre. E tanto amou que se assemelhou ao Amado a ponto de ser venerada como a primeira das virgens na ladainha de todos os Santos. La Sagrada Escritura. Texto y comentarios por Profesores de la Compañía de Jesus. Nuevo Testamento.– Evangelios. Madrid: BAC, 1961, Vol. 1, p. 450. LAGRANGE, OP, P. M.J. Op. cit., p. 244-245. 13 DEHAULT. L’Evangile expliqué, défendu, médité – tome troisième. Paris: Lethielleux, 1867, p. 290. 14 MALDONADO. Op. cit., p. 151. 15 Idem, ibidem. 16 JUAN CRISÓSTOMO, San. Homilías sobre el Evangelio de Mateo, hom. 58, 3. 17 BEDA, São. In Marci Evangelium Expositio, l. 3, c. 9: PL 92, 0224. 18 Cf. DEHAUT, Op. cit., p. 290. 19 LEÃO MAGNO, São. Sermones in præcupuis totius anni festivitatibus ad romanam plebem habiti. Serm. 37, c. 3: PL 54, 0258. 20 BEDA, São. Op. cit., PL 92, 0225. 21 MALDONADO. Op. cit., p. 152-153. 22 AQUINO, São Tomás de. Suma Teológica. I, q. 94, a. 4. 23 GARRIGOU-LAGRANGE, OP, P. Réginald Marie. El sentido común. La filosofía del ser y las fórmulas dogmáticas. Buenos Aires: DEDEBEC y Ediciones Desclée, De Brouwer, 1945, p. 340-344. Setembro 2009 · Flashes _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 17 de Fátima 17 26/08/2009 09:56:28 Sérgio Miyazaki Cardeal Franc Rodé co Uma nova era na história dos Arautos foi aberta pelo Cardeal Franc Rodé, vindo especialmente de Roma para comemorar a aprovação pontifícia de duas Sociedades de Vida Apostólica: “Virgo Flos Carmeli” e “Regina Virginum”. “O s Arautos do Evangelho puderam experimentar de maneira inesquecível “como é bom, como é agradável os irmãos morarem juntos” (Sl 132, 1) com o pai! No dia 15 de agosto, Solenidade da Assunção da Virgem Maria, veio especialmente de Roma o Cardeal Franc Rodé para comemorar a aprovação pontifícia das duas Sociedades de Vida Apostólica surgidas no seio dessa Associação: Virgo Flos Carmeli (clerical) e Regina Virginum (feminina). Aniversário do fundador A data foi escolhida pelo Cardeal para coincidir com o aniversário de Mons. João Scognamiglio Clá Dias, fundador de ambas as Sociedades, a quem trazia uma surpresa. O Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica presidiu a Celebração Eucarística festiva na Igreja de Nossa Senhora do Rosário, anexa ao Seminário internacional dos Arautos, situado na Grande São Paulo. No final, entregou a Mons. João a Medalha Pro Ecclesia et Pontifice, outorgada pelo Papa Bento 18 XVI, o qual — disse Sua Eminência — “quis premiar vossos méritos”. dades de Vida Apostólica aprovadas (32 masculinas e 12 femininas). Sociedades de Vida Apostólica A paternalidade de um príncipe da Igreja As Sociedades de Vida Apostólica surgiram no século XVI. A primeira delas aprovada na História da Igreja foi a Congregação do Oratório, fundada por São Felipe Néri, em 1575. Ele pediu ao Papa Gregório XIII que a família religiosa por ele organizada não fosse obrigada a assumir nenhuma das formas jurídicas anteriormente estabelecidas. Na sua Congregação, os membros “não deviam estar vinculados por votos ou promessas, mas o único vínculo deveria ser o amor”.1 Como nos explica o Anuário Pontifício,2 muitos fundadores de famílias religiosas utilizaram as fórmulas jurídicas já existentes. Outros, como São Felipe Néri, criaram novas formas. Este é o caso também dos Arautos do Evangelho, com as duas Sociedades de Vida Apostólica aprovadas neste ano: Virgo Flos Carmeli (clerical) e Regina Virginum (feminina). É a fecunda ação do Espírito Santo enriquecendo a Igreja ao longo dos séculos com novos carismas. Até dezembro de 2008, segundo o Anuário Pontifício, havia 44 Socie- Em sua homilia — transcrita adiante — o Cardeal Rodé comoveu o público pela paternalidade manifestada para com os Arautos, cujo carisma manifesta admirar e compreender a fundo. Com seu porte digno, aliado à afabilidade no trato, cativou todos quantos dele se aproximaram. Uma autêntica figura de príncipe da Igreja, e de pai e protetor dos pequenos. A solenidade da cerimônia litúrgica, as calorosas palavras dirigidas pelo Cardeal ao fundador dos Arautos, a beleza dos cantos, o esplendor do templo sagrado, tudo contribuiu para tonificar o espírito católico dos assistentes e dar-lhes a convicção de que se abria uma nova era na história dos Arautos do Evangelho. 1 G. SCHWAIGER. La Vita Religiosa dalle origini ai nostri giorni. Milano: 1997, p. 335. 2 Annuario Pontificio. Città del Vaticano: 2007, p. 1943-1944. Flashes de Fátima · Setembro 2009 _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 18 26/08/2009 09:56:32 Ivan Tefel Héctor Matos dé comemora aprovações pontifícias Setembro 2009 · Flashes _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 19 de Fátima 19 26/08/2009 09:56:40 Gustavo Kralj Ivan Tefel César Díez Sérgio Miyazaki Quarenta sacerdotes concelebraram a Missa presidida por Sua Eminência o Cardeal Rodé. O Cardeal Franc Rodé ladeado por Monsenhor Blaž Jezeršek, seu secretário pessoal, e Monsenhor Franci Petrič, diretor do semanário católico “Družina” (A Família), de Liubliana (Eslovênia). 20 No final, Sua Eminência entregou a Mons. João Sconamiglio Clá Dias a Medalha “Pro Ecclesia et Pontifice”, outorgada pelo Papa Bento XVI. Flashes de Fátima · Setembro 2009 _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 20 26/08/2009 09:56:48 César Díez Sois da estirpe dos heróis e dos santos Calorosas palavras do Cardeal Franc Rodé a Mons. João Scognamiglio Clá Dias, na entrega da medalha “Pro Ecclesia et Pontifice”. N o momento de vos entregar a condecoração com a qual o Santo Padre quis premiar vossos méritos, vêm-me à mente as palavras de São Bernardo, no início de seu tratado De laude novæ militiæ: “Faz algum tempo que se difunde a notícia de que um novo gênero de cavalaria apareceu no mundo”. Essas palavras podem ser aplicadas ao momento presente. Com efeito, graças a Vossa Excelência, surgiu uma nova cavalaria não secular, mas religio- sa, com um novo ideal de santidade e um heroico empenho pela Igreja. Neste empreendimento, nascido em vosso nobre coração, não podemos deixar de ver uma graça particular dada à Igreja, um ato da Divina Providência em vista das necessidades do mundo de hoje. O ideal que propondes àqueles que são vossos é o de seguir a Cristo no grande movimento dos Arautos do Evangelho, com radicalismo evangélico, “combatendo sem trégua — como diz São Bernardo — uma dupla batalha, seja contra a carne e o sangue, seja contra os espíritos malignos do mundo invisível”. Obrigado, Monsenhor, por vosso nobre empenho, obrigado por vossa santa audácia, obrigado por vosso amor apaixonado pela Igreja, obrigado pelo esplêndido exemplo de vossa vida. Vós sois da estirpe dos heróis e dos santos! Héctor Matos Testemunho sobre os Arautos Em declarações à TV Arautos, o Cardeal Franc Rodé referiu-se a esta Associação como “uma nova grande família religiosa que nasceu na Igreja, graças ao gênio do Monsenhor João”. C onheci os Arautos do Evangelho inicialmente na Eslovênia, quando era Arcebispo de Liubliana, e depois, evidentemente, quando cheguei a Roma, como Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica. O que me impressionou muito foi, para começar, a personalidade do fundador e superior geral, o Mons. João Scognamiglio Clá Dias. É uma pessoa extraordinária, um carisma manifesto e, sobretudo, creio eu, um grande organizador e um homem capaz de levar atrás de si tantos jovens. Ontem estivemos no Centro de Formação das Moças, estes dias estou aqui no Tabor, onde vivem centenas de rapazes, e vejo o entusiasmo, a ale- gria de ser cristãos, a alegria de pertencer à Igreja e de servir ao Reino de Cristo. Tudo isso faz parte do carisma dos Arautos do Evangelho. Em Roma, cerca de 15 estudantes arautos estão se preparando para serem, mais tarde, professores aqui no Tabor, na Faculdade de Teologia. Os Arautos do Evangelho representam para mim a novidade que se manifesta nos últimos anos na Igreja: um grande dinamismo apostólico, um grande amor à Igreja, uma grande fidelidade ao Papa e à Santa Sé. Aqui não se tergiversa, aqui não há nenhuma tentação de se desviar da doutrina reta e sã da Igreja, e os Arautos do Evangelho estão provando isso todos os dias. O que me im- pressiona também é a disciplina. Aqui existe ordem, disciplina, vontade de trabalhar e de fazer algo por Cristo e pela Igreja. Ademais, o que é raro no mundo de hoje, o culto da beleza na expressão mais alta e mais nobre da palavra: a Liturgia, os cantos, a orquestra, todo o comportamento dos Arautos do Evangelho é extremamente nobre, distinto, grande, belo! Sinto-me feliz de poder dar hoje meu testemunho sobre os Arautos do Evangelho, com grande otimismo para o futuro. É uma nova grande família religiosa que nasceu na Igreja, graças ao gênio do Mons. João, e que seguramente tem um grande porvir na Igreja, para o bem do Reino de Deus. Setembro 2009 · Flashes _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 21 de Fátima 21 26/08/2009 09:56:55 EXCERTOS DAS PALAVRAS DE AGRADECIMENTO DE MONS. JOÃO SCOGNAMIGLIO CLÁ DIAS, EP Momento histórico para os Arautos Ao agradecer a honrosa condecoração recebida do Papa Bento XVI, bem como as palavras e a paternal dedicação do Cardeal Franc Rodé, Mons. João Scognamiglio Clá Dias mostra quanto esses acontecimentos marcarão a fundo a história dos Arautos do Evangelho. A medalha Pro Ecclesia et Pontifice vem para mim, e para as Sociedades de Vida Apostólica que temos a honra de conduzir, num momento muito oportuno. Ela nos enche de alegria porque no sermão de Vossa Eminência ficou patente um ponto muito ressaltado do nosso carisma, que é a devoção a Nossa Senhora. Temos um empenho total de uma entrega completa em relação a Ela. E o sermão de Vossa Eminência não poderia ser mais lógico e cheio de sa- 22 bedoria, no referente a esse dado fundamental. Um Arcebispo heroico O Cardeal acaba de falar do heroísmo de outros que aqui se encontram no dia de hoje. Porém, ele mesmo foi um grande herói porque nasceu e se desenvolveu sob regime comunista, na Eslovênia, sofrendo perseguições. Tem um irmão, Andrej Rodé, que foi mártir do comunismo. Ele próprio, Cardeal, teve de sair do país. Quando regressou, o fez co- mo Arcebispo de Liubliana. Ali, ele enfrentou todas as dificuldades, deixando a bandeira da Igreja Católica Apostólica Romana, não só elevada, mas sobretudo com um brilho que ela não tinha antes de nosso Eminentíssimo Cardeal ter governado essa Arquidiocese. Carisma para conhecer e conduzir as almas Ele tem um carisma para conhecer e conduzir as almas, ou seja, o discernimento dos espíritos. O carisma é Flashes de Fátima · Setembro 2009 _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 22 26/08/2009 09:56:59 César Díez Uma palavra sobre a nossa devoção ao Papa Além do dito a respeito do Cardeal, é indispensável dedicar umas palavras à Cátedra de Pedro, da qual me vem esta honrosa medalha. Eu fui formado por um líder católico do Brasil, Plinio Corrêa de Oliveira, que, entre muitas outras virtudes, ensinou-me a amar o Papa. Em um artigo no Legionário, na época órgão oficioso da Arquidiocese de São Paulo, ele externa de forma belíssima o que está no meu coração e no de todos os Arautos a respeito do Papa: “Tudo quanto na Igreja há de santidade, de autoridade, de virtude sobrenatural, tudo isto — mas absolutamente tudo sem exceção, nem condição, nem restrição — está subordinado, condicionado, dependente da união à Cátedra de Pedro. As instituições mais sagradas, as obras mais veneráveis, as tradições mais santas, as pessoas mais conspícuas, tudo enfim que mais genuína e altamente possa exprimir o Catolicismo e ornar a Igreja de Deus, tudo isto se torna nulo, estéril, digno do fogo eterno e da ira de Deus, se separado do Sumo Pontífice. Conhecemos a parábola da videira e dos sarmentos. Nessa parábola, a vi- “Tudo quanto na Igreja há de santidade, de autoridade, de virtude sobrenatural está subordinado, condicionado, dependente da união à Cátedra de Pedro” _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 23 Sergio Miyazaki uma dádiva gratis data por Deus com vistas a beneficiar terceiros. E tenho observado o quanto o nosso Cardeal é assistido pelo Espírito Santo, na sua função de Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, o quanto ele analisa e sabe pesar as coisas. Ele tem as fórmulas perfeitas. É um homem de passos firmes, mas macios, de mãos também muito enérgicas, mas cheias de suavidade, e sabe resolver situações com uma categoria única. “As palavras de Vossa Eminência e todo o carinho manifestado nesta ocasião marcarão a fundo a história dos Arautos do Evangelho” deira é Nosso Senhor Jesus Cristo, os sarmentos são os fiéis. Mas como Nosso Senhor Se ligou de modo indissolúvel à Cátedra Romana, pode-se dizer com toda segurança que a parábola seria verdadeira entendendo-se a videira como a Santa Sé, e os sarmentos como as várias dioceses, paróquias, Ordens Religiosas, instituições particulares, famílias, povos e pessoas que constituem a Igreja e a Cristandade. Isto tudo só será verdadeiramente fecundo na medida em que estiver em íntima, calorosa, incondicional união com a Cátedra de São Pedro”.1 O amor a Cristo e ao Papa se confundem Continua ele: “‘Incondicional’, dissemos, e com razão. Em moral, não há condicionalismos legítimos. Tudo está subordinado à grande e essencial condição de servir a Deus. Mas, uma vez que o Santo Padre é infalível, a união a seu infalível magistério só pode ser incondicional. “Por isto, é sinal de condição de vigor espiritual, uma extrema susceptibilidade, uma vibratilidade delicadíssima e vivaz dos fiéis por tudo quanto diga respeito à segurança, glória e tranquilidade do Romano Pontífice. Depois do amor a Deus, é este o mais al- to dos amores que a Religião nos ensina. Um e outro amor se confundem até. Quando Santa Joana d’Arc foi interrogada por seus perseguidores que queriam matá-la, e que para isto procuravam fazê-la cair em algum erro teológico, por meio de perguntas capciosas, ela respondeu: ‘Quanto a Cristo e à Igreja, para mim são uma só coisa’. E nós podemos dizer: ‘Para nós, entre o Papa e Jesus Cristo não há diferença’. Tudo o que diga respeito ao Papa diz respeito direta, íntima, indissoluvelmente, a Jesus Cristo”.2 A presença do Cardeal nos une mais ao Papa De fato, estamos inteiramente unidos ao Papa. Esta medalha é símbolo dessa união, e para mim tem um grande valor. Porém, mais do que esta condecoração, faz-me sentir a união com o Santo Padre a pessoa deste Cardeal posto pela Providência em nosso caminho. Cardeal, nós sabemos, vem do latim de cardo, cardinis, que significa gonzo, dobradiça. A porta gira, abre e fecha em dobradiças e o termo “cardeal” tem origem nesta imagem: os cardeais são as “dobradiças” que ligam o mundo ao Papa. Por isso, as palavras de Vossa Eminência e todo o carinho manifestado nesta ocasião, esta cerimônia, a medalha Pro Ecclesia et Pontifice, marcarão a fundo a história dos Arautos do Evangelho, da Sociedade Virgo Flos Carmeli, da Sociedade Regina Virginum e de outras instituições que surgirem no futuro. Na base de tudo isso está a figura de nosso queridíssimo Cardeal. O nosso coração tem gravado por dentro, indelevelmente, o nome de Franc Rodé! 1 CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. A Guerra e o Corpo Místico. In: O Legionário, 16/4/1944. 2 Ibidem. Setembro 2009 · Flashes de Fátima 23 26/08/2009 09:57:03 HOMILIA NA SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DA BEM-AVENTURADA VIRGEM MARIA Olhar para a História com olhos celestes Neste dia dedicado a Maria, damos graças ao Pai pela aprovação pontifícia das duas Sociedades de Vida Apostólica emanadas dos Arautos do Evangelho. E pelo aniversário de seu fundador, Mons. João Scognamiglio Clá Dias, instrumento dócil e clarividente do Espírito Santo, por meio de quem a grande família dos Arautos do Evangelho foi doada à Igreja universal. Cardeal Franc Rodé, CM Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica E stamos reunidos nesta grandiosa Igreja de Nossa Senhora do Rosário para celebrar a solenidade da Assunção ao Céu da Bem-aventurada Virgem Maria, a festa da Mãe, a definitiva glorificação de Maria, Mãe de Cristo, Mãe da Igreja, Mãe de todos os homens, Mãe terníssima de cada um de nós. Sentimentos de exultação, de maravilhamento, de ternura e de devoção, sentimentos de fidelidade e de devoção, nos enchem o coração neste dia, porque Refulge a Rainha, à direita do Senhor. O Papa Pio XII, na Constituição Apostólica Munificentissimus Deus, que pronunciava, declarava e definia o dogma da Assunção ao Céu da Bem-aventurada Virgem Maria em alma e corpo, assim escrevia: “Imaculada na Sua concepção, sempre virgem na Sua maternidade divina, generosa 24 companheira do divino Redentor, que obteve triunfo completo sobre o pecado e suas consequências, alcançou por fim, como suprema coroa dos seus privilégios, que fosse preservada da corrupção do sepulcro, e que, à semelhança de seu divino Filho, vencida a morte, fosse levada em corpo e alma ao Céu, onde refulge como Rainha à direita do seu Filho, Rei imortal dos séculos”.1 Damos graças pelas duas sociedades e pelo fundador Neste dia, inteiramente dedicado a Maria, temos o júbilo de dar graças ao Pai de toda misericórdia pelos dons de bondade que Ele nos prodigalizou com tanta plenitude: o reconhecimento de direito pontifício da Sociedade de Vida Apostólica clerical Virgo Flos Carmeli e da Sociedade de Vida Apostólica feminina Regina Virginum, primícias da Asso- ciação internacional dos Arautos do Evangelho; e o aniversário do caríssimo Monsenhor João Scognamiglio Clá Dias, instrumento dócil e clarividente do Espírito Santo, por meio de quem a grande família dos Arautos do Evangelho foi doada à Igreja universal. Para ele vão minhas calorosas saudações, minhas afetuosas felicitações, o agradecimento em meu nome pessoal e no da Igreja inteira e, também, no de todos vós que neste momento constituem como que uma coroa de filhos amadíssimos, por ele gerados na Fé. Damos graças, sobretudo, ao Senhor, por seu amor de predileção, por todas as qualidades com as quais Ele o tem agraciado. Monsenhor João, por haver sido um ouvinte atento daquilo que o Espírito diz à Igreja — em particular a esta santa Igreja que está no Brasil — por sua Flashes de Fátima · Setembro 2009 _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 24 26/08/2009 09:57:07 Darío Iallorenzi “O vosso fundador tem sido para vós como é o Senhor: pai e mãe! Ele vos acolheu e fez crescer no amor, na descoberta e no viver a vossa vocação específica” perseverança em seguir a inspiração divina, por sua atenta e primorosa orientação e por seu paterno empenho em plantar, regar, fazer crescer e germinar na Igreja esta grande família dos Arautos do Evangelho, o vosso fundador tem sido para vós como é o Senhor: pai e mãe! Ele vos acolheu e fez crescer no amor, na descoberta e no viver a vossa vocação específica. Sinto-me particularmente feliz por estar aqui convosco, participando desta festa de família, e presidir a esta Eucaristia para agradecer ao Senhor todos os Seus benefícios. Maria conduzirá a bom termo a nossa salvação Hoje festejamos, pois, a Solenidade da Assunção de Maria, a Mãe de Jesus: esta festa nos torna presente, melhor diria que nos torna atual, a visão do “Céu”. Hoje olhamos para o Céu com os olhos límpidos de Maria, por meio de seu olhar virginal, de sua pureza esponsal, de sua beleza inigualável. Contemplamos o Céu em Maria, para nos fazermos fiéis discípulos de Seu Filho. Nós O contemplamos nAquela que foi Mulher sempre aberta à presença de Deus, à Sua ação na própria vida e na história do homem. Fixemos o olhar em Maria: aprendamos a ter fome e sede de Deus. Esse Deus, que primeiramente A amou, tornou-A também capaz de doar-Se sem reservas a Seu plano salvífico. Aprendamos com Ela a estarmos disponíveis e a ser generosos ao acolher o desígnio de Deus para a nossa vida. Roguemos a Maria que interceda por nós para que, como Ela, peregrina da Fé e Virgem do caminho, possamos conservar nossa união com o Senhor em todas as circunstâncias, e até sob o peso da Cruz (cf. LG 58). Ajoelhemo-nos com fé viva a meditar o mistério da Mãe do Filho de Deus, que hoje foi levada ao Céu. “Nossa rainha nos precedeu — cantava São Bernardo —, nos precedeu e foi recebida com tal júbilo que nós, seus pequenos servos, seguimos com fidelidade nossa rainha, clamando: ‘Atrai-nos para Vós, correremos atrás do aroma de vossos perfumes’. A caminho, na terra do nosso exílio, enviamos antes de nós uma advogada que, na qualidade de Mãe do Juiz e de Mãe misericordiosa, conduzirá a bom termo, com sua oração eficaz, nossa salvação”.2 Monsenhor João tem vos ensinado a olhar para a História com olhos celestes Maria é a Mulher forte na Fé. É a Mulher do silêncio, que reza e adora o desígnio do Pai, que leva ao colo o mistério de amor. Maria é a Mulher de grande coração, incapaz de dizer não a quem se lhe dirige com coração simples, bom e puro, por qualquer necessidade e penúria. Mas não pensemos que para Ela foi fácil penetrar no mistério: “Ela resguardou sua promessa de fidelidade dentro de um espaço de incompreensibilidade – escrevia Romano Guardini. […] Ela era o portal para o santo futuro”. 3 “Por isso — sublinha o Papa Bento XVI — pode ser a Mãe de toda consolação e de toda ajuda, uma Mãe à qual, em qualquer necessidade, todos podem dirigir-se na sua própria debilidade e no seu próprio pecado, porque Ela tudo compreende e para todos constitui a força aberta da bondade criativa. [...] Mediante o ser e o sentir juntamente com Deus, seu coração alargou-se. Nela a bondade de Deus se aproximou e se aproxima muito de nós. Assim, Maria está diante de nós como sinal de consolação, de encorajamento e de esperança. Ela se dirige a nós, dizendo: ‘Tenha a coragem de ousar com Deus! Tente! Não tenha medo dEle! Tenha a coragem de arriscar com a fé! Tenha a coragem de arriscar com a bondade! Tenha a coragem de arriscar com o coração puro! Comprometa-se com Deus, e então verá que precisamente assim a sua vida vai se tornar ampla e iluminada, não tediosa, mas repleta de surpresas infinitas, porque a bondade infinita de Deus jamais se esgota!”.4 Monsenhor João tem tido esta coragem, a coragem de “apostar a própria vida” por Cristo e pelo Evangelho. A coragem de arriscar tudo por tudo, com confiança ilimitada no Senhor da Misericórdia e de Sua Mãe Maria. E tem experimentado na sua própria pessoa que a bondade de Deus não se exaure nunca, é plena de surpresas. Essas surpresas têm os olhos, a face e o coração de cada um de vós, seus filhos e filhas amadíssimos. Nestes anos, ele tem ensinado a cada um de vós a olhar para a História com olhos celestes, como Maria. Setembro 2009 · Flashes _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 25 de Fátima 25 26/08/2009 09:57:12 A beleza insiste hoje em ser reconhecida Em Maria vemos o exemplo de uma humanidade nova Que Beleza, então, salvará o mundo? — perguntava o jovem moribundo ao príncipe Myskin de Dostoié vski.7 É uma só a resposta cristã: o Amor é a verdadeira beleza, que supera todas as harmonias das formas perfeitas. A beleza de Maria é a beleza da santidade e da graça, que, depois de Cristo, nEla atingem o vértice. João Maria Vianney, o Santo Cura d’Ars, que recordamos de modo especial neste ano sacerdotal, dizia: “Deus podia haver criado um mundo mais belo, mas não podia dar vida a uma criatura mais bela que Maria”. É beleza interior, feita de luzes, de harmonia, de correspondência perfeita entre a realidade e a imagem que Deus tinha idealizado ao criar a mulher. É Eva em todo o seu esplendor e perfeição, a nova Eva. Olhemos para Maria. Veremos a beleza, a plenitude, a realização perfeita da pessoa humana. NEla a graça de Cristo nos mostra quem somos. A Virgem Mãe projeta sobre o caminho da humanidade uma grande esperança. A figura da Bem-aventurada Virgem Maria nos faz ver que uma criatura humana pode atingir a beleza da perfeição cristã, abrindo-se à ação do Dario Iallorenzi E cada um de nós tem o dever de dar aos irmãos e às irmãs, que compartilham o nosso caminho, um olhar celeste; tem a missão de dar uma visão de esperança a este nosso mundo o qual, muitas vezes, olha lastimavelmente para baixo, permanecendo sem ideais, sem sonhos, e voltado para si mesmo. O desejo de felicidade, a sede de justiça, a necessidade de amor parecem ser sistematicamente frustrados pela infidelidade, pela fragilidade, pela mediocridade. A harmonia e a beleza são profanadas pela violência, pelo sofrimento e pelas divisões. Contatos sem relações, quereres sem desejos, emoções sem sentimentos, esperas sem esperança. As trevas parecem crescer hoje até a exasperação. Aparentemente, o mundo de hoje perdeu todo traço do Verdadeiro, do Bem, do Belo. Dizia Simone Weil que “a beleza está para as coisas como a santidade está para a alma”.5 Mas, no mundo de hoje, há demasiadas situa- ções humanas, espirituais e culturais que, pelo contrário, são feias (portanto, o contrário de belas); são, pois, os sinais da desarmonia, da dilaceração e da fratura. A beleza de Maria, a pureza e a simplicidade de seu Magnificat, que ouvimos ressoar durante a leitura do Evangelho, parecem perdidos. Mas talvez, sobretudo agora, a Beleza se faz presente e insiste em ser reconhecida por corações e olhos atentos, por aqueles que, obstinadamente, a buscam e sofrem com sua ausência. O teólogo suíço Hans Urs von Balthasar escrevia: “em um mundo sem beleza, também o bem perdeu sua força de atração, a evidência de seu dever-serrealizado. […] Em um mundo que não mais se crê capaz de afirmar o belo, os argumentos em favor da verdade esgotaram sua força de conclusão lógica”.6 “Damos graças a Deus por todas as qualidades com as quais tem agraciado Monsenhor João, por haver sido um ouvinte atento daquilo que o Espírito diz à Igreja, por sua perseverança em seguir a inspiração divina” 26 Flashes de Fátima · Setembro 2009 _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 26 26/08/2009 09:57:16 Súplica final “Estrela radiosa do Oriente; aurora que precede o sol; dia que não conhece a noite”,8 “dulcíssima Mãe e virgem Maria, que gerou a morte da morte, a vida do homem, o perdão dos pecados, a bem-aventurança de todos os justos”,9 vimos hoje até Vós, depositando a Vossos pés os males que nos oprimem, seguros de encontrar em Vosso coração de Mãe compreensão e perdão, encorajamento e conforto. Nós Vos confiamos, ó Maria, nossas alegrias e nossas dores, as esperas e as desilusões, os projetos e as esperanças. Acolhei os propósitos de pureza, de altruísmo, de coerência, que guardamos no coração, e obtende para as vontades frágeis o dom da coragem e da perseverança. Nós vos confiamos, ó Rainha Assunta ao Céu, a família, pequena Igreja na qual se desenvolve a fé das novas gerações, e todos os Arautos do Evangelho. Defendei-os das insídias às quais os expõe a mentalidade contemporânea, muitas vezes estranha Héctor Matos Espírito Santo e colaborando com a graça de Deus. Em Maria, portanto, vemos o exemplo de uma humanidade nova, redimida que, com a luz de sua beleza não contaminada pelo pecado, ilumina nosso caminho de vida cristã em meio a não poucos obstáculos e dificuldades. Assim, devemos abraçar, com o olhar, o horizonte inteiro no qual somos chamados a habitar, como discípulos de Jesus Cristo: de um lado, não podemos ficar contemplando o céu, mas de outro, não podemos deixar de ver nossa história, nossas cidades, nossos irmãos, nossas vidas com os olhos cheios de Deus, com os olhos repletos de Sua beleza. A Virgem Assunta ao Céu se torna, então, nossa porta privilegiada para o “santo futuro”. Ela é a plenitude da humanidade. Contemplando Maria e sua beleza, vemos nossa história com olhos celestes, plenos de Deus. “Nós Vos confiamos, ó Rainha dos Apóstolos, Mons. João Scognamiglio Clá Dias, vosso devoto cavaleiro; dai-lhe renovado ardor apostólico, e toda riqueza de bênçãos de Vosso Divino Filho” (Sua Eminência durante a homilia; à sua direita, Mons. Blaž Jezeršek, seu secretário pessoal) aos valores do Evangelho, e ajudaios a realizar na vivência concreta do cotidiano o desígnio maravilhoso que Deus tem para eles. Nós Vos confiamos Virgo Flos Carmeli e Regina Virginum, estas duas plantinhas da vinha do Senhor, que levam o Vosso nome. Vós, a Toda Bela, a Toda Santa, a Toda Pia, obtende que estes Vossos filhos possam fazer a experiência de Deus Beleza e Amor, para, como Vós, serem um reflexo vivo dEle, neste mundo. Nós Vos confiamos, ó Rainha dos Apóstolos, o Monsenhor João Scognamiglio Clá Dias, vosso devoto cavaleiro; dai-lhe renovado ardor apostólico, e toda riqueza de bênçãos de Vosso Divino Filho. Nós vos confiamos, por fim, a Igreja, que torna presente o mistério do Verbo encarnado, morto e ressuscitado pela salvação do homem. Estendei sobre ela o Vosso manto e protegei-a de todo perigo. Vós, Estrela da manhã, sede sempre para ela a guia segura. Amém. 1 PIO XII. Const. Ap. Munificentissus Deus qua fidei dogma definitur Deiparam Virginem Mariam corpore et anima fuisse ad cælestem gloriam assumptam. 1 novembre 1950: AAS 42(1950), p. 753-771. 2 BERNARDO DI CHIARAVALLE. Omelia sull’Assunzione della Beata Vergine Maria 1, 1-2. 3 R. GUARDINI. La Madre del Signore. Una lettera. Brescia: Morcelliana, 19972, p. 29. 4 BENEDETTO XVI. Omelia nel quarantesimo anniversario della conclusione del Concilio Ecumenico Vaticano II, 8 dicembre 2005. 5 Cf. S.WEIL. Pensieri disordinati sull’amore di Dio. Vicenza, 1982, p. 44. 6 H. U. von BALTHASAR. Gloria. Milano: Jaca Book, 1985, V. I, p. 10-12. 7 F. M. DOSTOIÉVSKI. L’Idiota. 8 PIETRO IL VENERABILE. Poemi, (371). 9 GOFFREDO DI VENDÔME. Omelia per ogni festa della beata Maria, Madre di Dio (354). Setembro 2009 · Flashes _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 27 de Fátima 27 26/08/2009 09:57:22 Gustavo Kralj Héctor Matos Sérgio Miyazaki Sérgio Miyazaki Gustavo Kralj Acompanhado por Mons. João Scognamiglio Clá Dias, fundador da instituição, o Cardeal Rodé conheceu as várias dependências antes de presidir a Eucaristia comemorativa na Igreja de Nossa Senhora do Carmo. 28 Flashes de Fátima · Setembro 2009 _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 28 26/08/2009 09:57:30 Gustavo Kralj Cardeal Rodé abençoa a Casa-Generalícia de Regina Virginum A Héctor Matos s jovens arautos da Sociedade de Vida Apostólica Regina Virginum tiveram um luminoso marco em sua história com a bênção de sua Casa-Generalícia pelo Cardeal Franc Rodé, Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, no último dia 14 de agosto. Amplas instalações da Casa-Generalícia Situada em Caieiras, na Grande São Paulo, as amplas instalações proporcionam condições privilegiadas para um melhor desenvolvimento da vida comunitária, dos estudos e da formação espiritual das centenas de jovens, segundo o carisma dos Arautos do Evangelho, para o serviço da maior glória de Deus e bem do próximo. Será o centro de irradiação das atividades da Sociedade de Vida Apostólica Regina Virginum nos mais de 70 países onde atuam os Arautos. O Cardeal percorre as instalações Acompanhado por Mons. João Scognamiglio Clá Dias, fundador da instituição, o Cardeal Rodé conheDr. Fábio de Salles Meirelles, presidente da FAESP, cumprimenta o Cardeal Rodé ceu as várias dependências, felicitando os Arautos do Evangelho por mais este significativo passo. A superiora do instituto, M. Mariana Morazzani Arráiz, e várias das religiosas explicaram para o Cardeal a finalidade de cada uma das salas e os diversos aspectos do governo da instituição. Missa comemorativa Em seguida, S. Ema. presidiu a Eucaristia na bela Igreja de Nossa Senhora do Carmo, anexa à CasaGeneralícia, e que foi inaugurada em 21 de abril do corrente. Concelebraram Mons. João Scognamiglio Clá Dias, fundador da Sociedade de Vida Apostólica Regina Virginum; Mons. Blaž Jezeršek, secretário pessoal do Cardeal; Mons. Franci Petrič, Diretor do semanário católico “Družina” (A Família), de Liubliana (Eslovênia); bem como diversos sacerdotes arautos. Mais de 600 membros ou aspirantes da Sociedade Regina Virginum participaram da Eucaristia. Setembro 2009 · Flashes _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 29 de Fátima 29 26/08/2009 09:57:37 E Sérgio Miyazaki Dario Iallorenzi m tocante cerimônia, no último dia 20 de julho, festa de Santo Elias profeta, na Igreja Nossa Senhora do Rosário, do seminário internacional dos Arautos do Evangelho, Dom José Maria Pinheiro, Bispo de Bragança Paulista, ordenou 14 sacerdotes e 10 diáconos pertencentes à Sociedade de Vida Apostólica Virgo Flos Carmeli. Procedem eles de vários países: Argentina, Colômbia, Canadá, Costa Rica, Espanha e Portugal, além do Brasil. Concelebraram a Eucaristia Dom Benedito Beni dos Santos, Bispo de Lorena, Monsenhor João Scognamigio Clá Dias, fundador e presidente geral dos Arautos do Evangelho e outros 50 sacerdotes. Ivan Tefel D. José Maria Pinheiro ordena sacerdotes e diáconos 30 Flashes de Fátima · Setembro 2009 _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 30 26/08/2009 09:57:49 Fotos: Sergio Miyazaki / Gustavo Kralj Julho, mês de Congressos “O nde dois ou três estão reunidos em Meu nome, aí estou Eu no meio deles” (Mt 18, 20), ensina Nosso Senhor. Esta foi a experiência que tiveram os participantes de dois congressos promovidos pelos Arautos do Evangelho nas dependências anexas ao seminário desta Associação, na Grande São Paulo. Congresso do Setor Feminino Do VIII Congresso do Setor Feminino dos Arautos, de 16 a 19 de julho, participaram mais de 500 jovens, provenientes de nove países. Iniciava-se o dia com a Missa na Igreja de Nossa Senhora do Rosário, seguida de bênção do Santíssimo Sacramento. Durante todo o evento, o Santíssimo ficou exposto em adoração permanente, inclusive durante a noite, atraindo à oração as jovens congressistas. A programação em torno do tema “O pecado e a graça” foi atraente e variada, alternando-se palestras ilustradas com peças teatrais e projeções de vídeos, terços processionais, cantos e círculos de estudo. O animado convívio favoreceu um maior conhecimento do carisma dos Arautos do Evangelho, possibilitando, assim, o discernimento da própria vocação. Como de costume, houve batizados, primeiras comunhões e crismas. O encerramento deu-se com uma solene Missa presidida pelo Presidente Geral dos Arautos, Mons. João S. Clá Dias, que manifestou grande contentamento com o fervor das jovens e estimulou-as à perseverança na vida de piedade. Congresso de Cooperadores No mesmo espírito de devoção a Jesus Eucarístico e à Sua Santíssima Mãe, realizou-se de 24 a 26 de ju- lho o VI Congresso Internacional dos Cooperadores dos Arautos do Evangelho, reunindo 700 participantes de 13 países. Em ambiente de benquerença mútua e entusiasmo, puderam os congressistas aprofundar seus conhecimento da moral católica, exposta em palestras ilustradas com peças teatrais e debatida em animados círculos de estudos. O ato mais importante de cada dia era a Santa Missa, seguida da Adoração eucarística. Tatiane Lacerda, de Montes Claros (MG), bem exprimiu o sentimento geral, nestas palavras: “Aqui nos congressos enchemos o coração de graças, transformamos nossos pensamentos, nos reabastecemos de fé e amor, e recebemos luzes para enfrentar nossos problemas do dia-a-dia. É realmente um local de formação espiritual para cada um de nós”. Setembro 2009 · Flashes _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 31 de Fátima 31 26/08/2009 09:57:59 BEATA DINA BÉLANGER Jesus e eu somos um No início do século XX, uma alma escolhida por Deus amou tanto a perfeição que se fez um só com Aquele que, sendo um com o Pai, é perfeito como Ele mesmo o é. Elisabeth Veronica MacDonald A pós a Encarnação do Filho de Deus, muitas almas generosas buscaram a sublime forma de união com Jesus Cristo que consiste em procurar viver nEle para que Ele viva em nós (cf. Jo 15, 4). São Paulo, o Apóstolo dos Gentios, que convivera durante três anos com Nosso Senhor, levou essa devoção a um grau tão perfeito que pôde afirmar: “Eu vivo, mas já não sou eu, é Cristo que vive em mim” (Gal 2, 20). Já no século XIX, um advogado de Lyon, regressando de Ars, na França, após ter ouvido apenas um sermão de São João Maria Vianney, deu testemunho da união do humilde pároco com Cristo usando expressivas palavras: “Vi Deus num homem!”. E no início do século passado, uma alma de escol, Maria Margarida Dina Adelaide Bélanger — a primeira canadense da cidade de Quebec a ser proclamada bem-aventurada pela Igreja — procurava descrever sua disposição interior dizendo: “Jesus e eu não somos mais dois. Somos um: somente Jesus. Ele faz uso das minhas faculdades, dos meus sentidos, dos meus 32 membros. É Ele quem pensa, age, reza, olha, fala, anda, escreve, ensina: numa palavra é Ele quem vive...”.1 Dina almejou intensamente essa união. Conhecer em profundidade a Beata Dina Bélanger é, pois, descortinar novos aspectos de Cristo Jesus. Nesse íntimo convívio da criatura com o Criador, Dina desaparece e Ele refulge em toda a Sua glória. Ela passa a ser como um abajur que difunde discreta e suavemente a luz de Cristo, ou como um vitral que a tamisa e reveste de cores belamente adaptadas para a sensibilidade humana. “Meu dever agora, e minha ocupação na eternidade, até o fim dos tempos, é e será o de irradiar Jesus para todas as almas, por meio da Santíssima Virgem”. A tal ponto ela se tornou uma com Cristo, que Ele próprio, a chamou afetuosamente de “Meu pequeno Eu mesmo”. Jesus quer sua Autobiografia Dina teria passado despercebida se sua superiora não tivesse discernido os favores de Deus para com ela. “Você deve escrever a sua vida, minha querida irmã”, disse-lhe. É por is- so que temos sua Autobiografia, “uma das mais perfeitas joias da literatura espiritual do século XX”, segundo o teólogo carmelita, padre François-Marie Léthel. Para Dina, escrever sobre si própria constituía um verdadeiro ato de heroísmo: “Falar continuamente de mim mesma, e repetir o pronome ‘eu’, que preferiria ver abolido para sempre... Oh!”. Mas obedeceu, a ponto de encher com sua esmerada caligrafia vários cadernos que a superiora guardava cuidadosamente. Certa vez, Nosso Senhor lhe confidenciou: “Você fará bem por meio de seus escritos”. E assim foi. Dina falava com Cristo com familiaridade, e ao anotar Suas sagradas palavras não o fazia visando apenas o próprio benefício, mas também o dos sacerdotes, dos religiosos e de toda a humanidade. A infância de Dina Bélanger Os primeiros anos de Dina se desenrolaram na atmosfera tranquila de uma família franco-canadense de muita fé. Nasceu no distrito de SaintRoch, da cidade de Quebec, e foi batizada no próprio dia de seu nascimen- Flashes de Fátima · Setembro 2009 _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 32 26/08/2009 09:58:01 to, a 30 de abril de 1897, com o nome de Maria Margarida Dina Adelaide. Seu único irmão morreu aos três meses de idade. A partir desse momento, seus pais concentraram nela todo o seu afeto e cuidados. Sobre esse período de sua vida, Dina escreveu: “O que teria sido de mim se tivesse sido deixada à mercê do meu orgulho, minha obstinação, meus caprichos e minhas traquinagens injustificáveis?”. Serafina, sua mãe, levava-a sempre à igreja e em suas visitas aos pobres. Ela gostava muito de cantar para a filha, o que levou a menina, naturalmente dotada de senso artístico, a ter paixão pela música. O pai, Otávio, era contabilista. Talvez tenha sido dele que Dina herdou sua precisão ao expressar-se e a forma metódica de cumprir seus deveres. Resoluções e metas de vida Ao longo de sua vida, Dina tomou numerosas resoluções e as cumpriu eximiamente. Quando era estudante, proclamou: “Prefiro a morte a corromper-me”. No postulado, sua meta foi: “Se começar, comece com perfeição”. E na vida religiosa visava “amar e sofrer”. Como fizera Teresa de Lisieux, poucos anos antes, ela tomou a firme resolução de ser “uma santa”. E, para guiarse nesse caminho, adaptou o princípio de Santo Agostinho ama et quod vis fac (ama e faze o que queres), transformando-o no lema que caracterizou toda a sua espiritualidade: “Amar e deixar-se conduzir por Jesus e Maria”. Com efeito, foi pelas mãos da Virgem Santíssima que aos 13 anos consagrou-se a Jesus Cristo como escrava de amor, segundo o método ensinado por São Luís Maria Grignion de Montfort. Na oração inicial de sua Autobiografia, ela agradece a Nosso Senhor tudo quanto Ele lhe concedeu por meio de Sua Mãe Santíssima: “Sem exceção alguma, Vós me concedestes vossas graças por meio de Maria, Vossa e minha bondosa Mãe, a quem “Jesus e eu não somos mais dois. Somos um: somente Jesus. Ele faz uso das minhas faculdades, dos meus sentidos, dos meus membros” Dina Bélanger, aos 14 anos de idade quero tanto! E é meu desejo constante deixá-La agir livremente em minha vida, para promover Vossa obra em mim”. Lutas de alma e oferecimento como vítima Quando chegou o tempo dos estudos, Dina entrou para o Colégio Bellevue, um internato religioso dirigido pelas irmãs de Notre Dame, no qual sua primeira oração a Jesus foi: “Que eu nunca Vos ofenda nem com o menor pecado venial voluntário, durante minha permanência aqui”. Lá começaram as lutas que, devido à sua índole tímida e reservada, teria de travar durante toda sua vida. “Eu procurava sorrir para todo mundo, mas quanto preferiria estar sozinha!” Por ocasião de uma visita da mãe, ela lhe confidenciou essa dificuldade: “Mamãe, não é brincadeira viver com outras pessoas!”. Dina conta com toda simplicidade que na primeira sexta-feira do mês de outubro de 1911, enquanto as estudantes se dirigiam à capela para fazer uma visita ao Santíssimo Sacramento, ela consagrou sua virgindade a Nosso Senhor. Foi também por essa época que se ofereceu como vítima de amor: “Mal ouvira falar dessa doação de si mesmo, conhecida como o oferecimento heroico, eu já me ofereci; abandonei-me inteiramente à vontade de Jesus, como sua vítima”. Inflamada pelo desejo de entregar a vida, estava certa de que lhe seria dada a graça do martírio do amor. Ainda naquela época, antes de tornar-se religiosa, adotou uma “regra de vida”, com hora certa para as orações matutina e vespertina, comunhão, rosário, meditação e confissão semanal. E deixou ao Divino Artesão de sua alma a tarefa de guiá-la em segredo. Assim que soube do início da 1ª Guerra Mundial, em 1914, ofereceu-se uma vez mais a Nosso Senhor, de corpo e alma, em espírito de reparação e de amor: “Fiquei aflita, sobretudo, pelo perigo moral que ameaçava o mundo”. Estudos em Nova York Depois de ter terminado os estudos no internato, já com 16 anos, voltou a viver em sua casa. Seus pais decidiram que deveria continuar com o estudo da música, que iniciara em pequena. Esta arte lhe aproximava de Deus e oferecia-Lhe cada uma de suas notas ao piano como um ato de amor, constituindo para ela uma verdadeira oração, pois seu coração pertencia somente a Deus. Alguns meses mais tarde, pediu ao diretor espiritual para entrar no convento das Irmãs de Notre Dame, de Villa-Maria, mas foi aconselhada a adiar sua decisão pela negativa dos pais. Cumpria as obrigações sociais com dignidade, dava concertos, apesar destes lhe custarem um esforço enorme, e chegou a ser uma pianista de certo renome. Sempre teve um verdadeiro amor ao próximo, sendo muito sensível à cortesia e ao bom Setembro 2009 · Flashes _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 33 de Fátima 33 26/08/2009 09:58:05 tinha-se aprofundado e sua consciência permanecia sem mancha alguma: “Tive de seguir a moda e seus caprichos no que dizia respeito às cores e tecidos, mas evitei vigorosamente as suas exigências extravagantes e culposas”. Caminho de perfeição e vida religiosa Quando Dina retornou de Nova York, contava com 21 anos. Nos quatro anos que transcorreram até sua entrada na vida religiosa, em 1921, os quais passou na casa de seus pais, rezou muito e passou por tremendas aridezes de alma. Continuou um curso de harmonia por correspondência no Conservatório de Nova York e seguia com os concertos musicais. Gostava muito da música. Mas a vida contemplativa lhe encantava e esse contraste da vida do mundo com suas aspirações lhe provavam a alma. Às vezes podia ouvir a voz de Cristo no fundo do seu coração, mas ficava incerta, com receio de estar sendo vítima de alguma ilusão; depois, porém, se tranquilizava: “Eu notava que Jesus só me falava ao coração quando tudo estava absolutamente calmo”. Em uma ocasião, Nosso Senhor mostrou-lhe um caminho cheio de espinhos pelo qual Ele tinha passado, manifestando o desejo de que ela O seguisse. Para ajudá-la, deu-lhe Sua Mãe Santíssima. Quando soube que Santa Margarida Maria havia feito um voto de perfeição, Dina imediatamente tomou a resolução de fazer em todas as ocasiões o que era o mais perfeito, embora não tivesse autorização para se obrigar por um voto formal. “Parecia-me que fazer algo menos perfeito seria sinal de um amor tíbio”, escreveu ela. Diante da dúvida sobre qual comunidade religiosa deveria escolher, o próprio Jesus lhe comunicou: “Quero que você entre na Congregação das Religiosas de Jesus e Maria”. Tinha sido fundada na França, em 1818, por Santa Claudine Thévenet, dedicada à educação das jovens. Ali foi recebida como noviça em 15 de fevereiro de 1922, adotando o nome de Maria Santa Cecília de Roma. Em 15 de agosto de 1923 fez a profissão religiosa, recebendo a incumbência de ensinar a arte musical para as alunas da Congregação. Grandes experiências místicas Antes de entrar na plena alegria da união com Cristo, nos albores da sua vocação, ela tinha sentido o tormento da “noite escura da alma”. Entretanto, nesse período de prova- Fotos: François Boulay e Darío Iallorenzi trato. Mas no fundo sempre pensava em seu desejo de ser religiosa. Surgiu-lhe, então, uma boa oportunidade de aperfeiçoar, num Conservatório de Nova York, seus estudos de piano, harmonia e composição. A oferta era tentadora:“Gostei do plano, pois apreciava apaixonadamente a arte e a beleza. E sempre almejei a perfeição.” Seus pais duvidaram, mas aconselhados pelo pároco que insistia nisso consentiram, pensando que seria uma boa experiência para sua formação e, de 1916 a 1918, ela estudou nos Estados Unidos. Sendo do Canadá francês, teve dificuldades para se comunicar em inglês, mas encontrou conforto na música, já que o piano tem o mesmo som em qualquer país... Vivia na residência Nossa Senhora da Paz, dirigida pelas religiosas de Jesus-Maria, e estudava bastante no Conservatório, sentindo forte atração pela harmonia musical, matéria que mais gostava. Ao término dessa experiência em Nova York, seu relacionamento com Nosso Senhor As ruas da cidade de Quebec conservam ainda hoje, em boa medida, o aspecto da época em que viveu Dina Bélanger 34 Flashes de Fátima · Setembro 2009 _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 34 26/08/2009 09:58:19 ções fortaleceu-se sua vocação e recebeu diversas graças, entre as quais a de um rompimento tão profundo com seu passado, que ela se sentia como se tivesse morrido e nascido novamente. Nos primeiros tempos de sua vida de religiosa, Dina recebeu por duas vezes uma singular graça de amor: numa experiência mística, ela “viu” Jesus levar seu coração e deixar o dEle em seu lugar. Depois, já professa, ela “viu” mais uma vez Jesus mostrar-lhe seu coração, que Ele havia levado para Si, queimá-lo todo no altar de Seu amor, bem como ela mesma, e soprar sobre as cinzas, fazendo-as desaparecer, e ficando Ele próprio em seu lugar. Jesus avisou-lhe ainda que ela morreria em 15 de agosto de 1924, exatamente um ano depois de sua profissão. Quando chegou esse dia, ela não morreu fisicamente, mas Ele deu-lhe a entender que misticamente havia morrido para este mundo e sua união eterna com Ele tinha começado. Em 3 de outubro desse mesmo ano, foi-lhe permitido fazer o tão almejado voto de perfeição. Numa linda formulação, prometeu a Jesus fazer, em qualquer circunstância, tudo do modo mais perfeito, nos pensamentos, desejos, palavras e ações. Ela se entregou a Deus com confiança e com plena consciência de sua própria fragilidade. É Cristo que vive e fala em Dina Depois dessa data, tendo Dina “desaparecido”, é somente a voz de Cristo que domina sua autobiografia. Ele lhe fala com uma ternura tocante e nela encontra a maior receptividade possível. Certo dia, na festa do Nome de Jesus — que ela considerava a sua festa, uma vez que tinha sido substituída por Cristo — escrevia: “Desde o meio-dia, o meu doce Mestre me tem atraído a Si com uma ternura inefável... Depois do meu exame de consciência, notei que estava gozando da presença sensível de Jesus. E Ele me disse deli- seu amor: “Meu Coração está tão transbordante de amor pelas almas que já não consegue mais segurar as torrentes de graças que Eu gostaria de derramar sobre elas: mas a maioria das almas não quer ter nada a ver com o meu amor...”. “As almas ficam tristes na medida em que se distanciam de Deus. O grande desejo do meu Pai, e o meu, é de ver todas as almas felizes, ainda nesta terra”. Um cântico de amor “Minha ocupação na eternidade, até o fim dos tempos, é e será o de irradiar Jesus para todas as almas, por meio da Santíssima Virgem” cadamente: ‘Em honra da minha festa!’ Oh! Quanto eu gostaria poder pôr em palavras a doçura de Jesus!”. Muitas vezes, antes de entregar-lhe Seu cálice ou Sua cruz, para que ela sofresse com Ele, pedia o consentimento dela com Sua costumeira gentileza: “Aceita?”. De um modo que a deixava sem palavras de tanto amor: “O sofrimento de meu Coração é o martírio do amor; e é isto, minha pequena esposa, que estou lhe dando”. Jesus falava-lhe da necessidade de que seus sacerdotes tenham uma perfeita vida interior: “Meus sacerdotes... Oh! Quanto os quero! Eu os chamo a serem outros Cristos, a serem réplicas minhas. [...] Ofereça a meu Pai, por meus sacerdotes, o espírito de oração do Meu Coração, o Meu espírito de oração, a perfeita união do meu Coração com Ele. Isto é o que falta à maioria dos meus sacerdotes: espírito de oração e uma intensa vida interior. [...] Demasiados religiosos e almas sacerdotais não compreendem que os sacrifícios que lhes peço são chamas de amor que vão se desprendendo de meu Divino Coração para os arrastar e santificar seu humano coração”. Pela pena de Dina, Jesus se manifestava à humanidade, esquecida de Dina faleceu no dia 4 de setembro de 1929, apenas sete meses antes de completar a “idade perfeita”, em que Cristo entregou Sua vida por nós na Cruz: 33 anos. Nos sofrimentos da enfermidade que a levou à morte — a tuberculose —, Jesus aceitou seu oferecimento como vítima, colhendo-a em tão jovem idade. Em seus últimos escritos, de julho de 1929, num “cântico de amor”, Nosso Senhor abraça, por meio dela, a humanidade inteira: “Nenhuma invocação responde melhor do que esta ao imenso desejo de meu Coração Eucarístico de reinar nas almas: ‘Coração Eucarístico de Jesus, venha o Vosso reino, pelo Imaculado Coração de Maria’. E ao meu infinito desejo de comunicar minhas graças às almas, nenhuma invocação responde melhor do que esta: ‘Coração Eucarístico de Jesus, abrasado de amor por nós, abrasai nossos corações de amor a Vós’”. * * * A Irmã Maria Santa Cecília de Roma foi beatificada em 20 de março de 1993, por João Paulo II, e seus restos mortais repousam na nova capela da comunidade de Sillery, em Quebec. 1 Todas as citações em itálico, entre aspas, foram extraídas de BÉLANGER, Dina. Autobiography. Edition revised and update. 3a. ed. Atelier Rouge: Quebec, 1997. Setembro 2009 · Flashes _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 35 de Fátima 35 26/08/2009 09:58:23 A PALAVRA DOS PASTORES Somos chamados com urgência à Missão “Não podemos nem desencorajar-nos nem ter medo da sociedade atual nem simplesmente condená-la. É preciso salvá-la!”, afirma Dom Cláudio Hummes, em carta dirigida aos sacerdotes do mundo inteiro, por ocasião da festa de São João Maria Vianney. Cardeal Cláudio Hummes, OFM Prefeito da Congregação para o Clero A atual cultura ocidental dominante, sempre mais difundida em todo o mundo, através da mídia global e da mobilidade humana, também nos países de outras culturas, apresenta novos desafios, não pouco empenhativos, para a evangelização. Trata-se de uma cultura marcada profundamente por um relativismo que recusa toda afirmação de uma verdade absoluta e transcendente e, em consequência, arruína também os fundamentos da moral e se fecha à Religião. Dessa forma, perde-se a paixão pela verdade, relegada a uma “paixão inútil”. Jesus Cristo, no entanto, apresenta-Se como a Verdade, o Logos universal, a Razão que ilumina e explica tudo o que existe. O relativismo, ademais, vem acompanhado de um subjetivismo individualista, que põe no centro de tudo o próprio ego. Por fim, chega-se ao niilismo, se36 gundo o qual não há nada nem ninguém pelo qual vale a pena investir a própria inteira vida e, portanto, a vida humana carece de um verdadeiro sentido. A cultura dominante leva à descristianização Todavia, é preciso reconhecer que a atual cultura dominante, pós-moderna, traz consigo um grande e verdadeiro progresso científico e tecnológico, que fascina o ser humano, principalmente os jovens. O uso deste progresso, infelizmente, não tem sempre como escopo principal o bem do homem e de todos os homens. Falta-lhe um humanismo integral, capaz de dar-lhe seu verdadeiro sentido e finalidade. Poderíamos referir-nos ainda a outros aspectos dessa cultura: consumismo, libertinagem, cultura do espetáculo e do corpo. Não se pode, porém, não frisar que tudo isso produz um laicismo, que não quer a Religião, faz de tudo para enfraquecê-la ou, ao menos, relegá-la à vida particular das pessoas. Essa cultura produz uma descristianização, por demais visível, na maioria dos países cristãos, especialmente no Ocidente. O número das vocações sacerdotais caiu. Diminuiu também o número dos presbíteros, seja pela falta de vocações, seja pelo influxo do ambiente cultural em que vivem. Tais circunstâncias poderiam conduzir-nos à tentação de um pessimismo desencorajante, que condena o mundo atual, e induzir-nos à retirada para a defensiva, nas trincheiras da resistência. Cristo quer salvar a todos Jesus Cristo, ao invés, afirma: “Eu não vim para julgar o mundo, mas para salvá-lo” (Jo 12, 47). Não podemos nem desencorajar-nos nem ter medo Flashes de Fátima · Setembro 2009 _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 36 26/08/2009 09:58:39 da sociedade atual nem simplesmente condená-la. É preciso salvá-la! Cada cultura humana, também a atual, pode ser evangelizada. Em cada cultura há “sementes do Verbo”, como aberturas para o Evangelho. Certamente, também na nossa atual cultura. Sem dúvida, também os assim chamados “pós-cristãos” poderiam ser tocados e reabrir-se, caso fossem levados a um verdadeiro encontro pessoal e comunitário com a pessoa de Jesus Cristo vivo. Em tal encontro, cada pessoa humana de boa vontade pode, por Ele, ser alcançada. Ele ama a todos e bate à porta de todos, porque quer salvar a todos, sem exceção. Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida, para todos. É o único mediador entre Deus e os homens. Não podemos ter medo Caríssimos Presbíteros, nós, pastores, nos tempos de hoje, somos chamados com urgência à missão, seja “ad gentes”, seja nas regiões dos países cristãos, onde tantos batizados afastaram-se da participação em nossas comunidades ou, até mesmo, perderam a fé. Não podemos ter medo nem permanecer quietos em casa. O Senhor disse a seus discípulos: “Por que tendes medo, homens fracos na fé?” (Mt 8, 26). “Não se acende uma lâmpada e se coloca debaixo do alqueire, mas no candieiro, para que ilumine a todos os que estão na casa” (Mt 5, 15). “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16, 15). “Eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt 28, 20). Não lançaremos a semente da Palavra de Deus apenas da janela de nossa casa paroquial, mas sairemos ao campo aberto da nossa sociedade, a começar pelos pobres, para chegar também a todas as camadas e instituições sociais. Iremos visitar as famílias, todas as pessoas, principalmente os batizados que se afastaram. Nosso povo quer sentir a proximidade da sua Igreja. Nós o faremos, indo à nossa sociedade com alegria e entusiasmo, certos da presença do Senhor conosco na missão e certos de que Ele baterá à porta dos corações aos quais O anunciarmos. (Carta aos Presbíteros, 1/8/2009 – Texto original em http://www.annussacerdotalis.org) A santidade é sempre atual Deixemos ressoar em nossos corações, com fidelidade quase obstinada, o sim de Maria: o seu “para tudo” e “para sempre”, que constituem a medida verdadeira de nossa existência sacerdotal. Dom Mauro Piacenza Secretário da Congregação para o Clero C aros Coirmãos no Sacerdócio, nesta ditosa celebração do 150º aniversário do nascimento para o Céu de São João Batista Maria Vianney (4 de agosto de 1859-2009), tenho o prazer de lhes dirigir meus renovados votos de um bom Ano Sacerdotal! O Cura d’Ars destaca-se diante de nós como exemplo excelso de santidade sacerdotal, não vivida mediante especiais obras de caráter extraordinário, mas na fidelidade cotidiana do exercício do ministério. Tendo-se transformado em modelo e “farol” para a França do início do século XIX e para a Igreja inteira, de todos os tempos e lugares, o Santo Cura é, para cada um de nós, fonte de consolação e de esperança, até mesmo em meio a um certo “cansaço” que nos pode acometer em nosso sacerdócio. Sua dedicação é um estímulo para nossa alegre doação a Cristo e aos irmãos, de modo que o ministério seja sempre um reflexo luminoso da consagração de que deriva o próprio mandato apostólico e, nele, toda e qualquer fecundidade pastoral! Setembro 2009 · Flashes _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 37 de Fátima 37 26/08/2009 09:58:41 A PALAVRA DOS PASTORES Sérgio Hollmann Que seu amor a Cristo, cheio também de uma afeição extremamente humana e sincera, seja para nós um encorajamento a que nos “apaixonemos” cada vez mais profundamente pelo “nosso Jesus”: que Ele seja o olhar que buscamos pela manhã, a consolação que nos acompanha à noite, a memória e a companhia de cada respiro do dia. Viver apaixonados pelo Senhor, a exemplo de São João Maria Vianney, significa conseguir manter sempre elevada a propensão missionária, tornando-nos, de modo progressivo, mas real, imagens vivas do Bom Pastor e daquele que proclama ao mundo: “Eis o Cordeiro de Deus”. Que o verdadeiro “arrebatamento” espiritual do Cura d’Ars na celebração da Santa Missa seja para cada um de nós um convite explícito a que tenhamos sempre consciência plena do grande dom que nos foi confiado, dom que nos faz cantar com as palavras de Santo Ambrósio: “...Que nós, elevados a tal dignidade, a ponto de consagrar o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, possamos todos ter a esperança da Vossa Misericórdia!”. Que sua dedicação heroica ao confessionário, alimentada por um “Viver apaixonados pelo Senhor, a exemplo de São João Maria Vianney, significa conseguir manter sempre elevada a propensão missionária” Afresco da Basílica de Ars-sur-Formans, França espírito expiatório verdadeiro e pela consciência de ter sido chamado a participar da “substituição vicária” do único Sumo Sacerdote, instiguenos a voltar a descobrir a beleza e a APOSTOLADO MARIA RAINHA necessidade da celebração do Sacramento da Reconciliação, também para nós, sacerdotes. Tal Sacramento, bem sabemos, é um espaço de contemplação real das obras maravilhosas de Deus nas almas que Ele delicadamente fascina, conduz e converte. Tolher-se desse “espetáculo maravilhoso” é uma privação irreparável e injusta, não apenas para os fiéis, mas também para o próprio ministério, que se alimenta da estupefação provocada pelo milagre que se repete cada vez que a liberdade humana diz “sim!” a Deus! Que, enfim, o amor filial e repleto de comoventes gestos de atenção do Santo Cura d’Ars pela Bem-aventurada Virgem Maria, a quem não hesitou consagrar-se, com toda a sua paróquia, seja um estímulo a que nós, neste Ano Sacerdotal e sempre, deixemos ressoar em nosso coração de padres, com uma fidelidade quase obstinada, o sim de Maria: o seu “para tudo” e “para sempre”, que constituem a única medida verdadeira de nossa existência sacerdotal. DO (Reflexões do Arcebispo Secretário, 4/8/2009 – Texto original em http:// www.annussacerdotalis.org) ORATÓRIO DOS CORAÇÕES RECEBA O ORATÓRIO DO IMACULADO CORAÇÃO DE MARIA EM SUA CASA, UM DIA POR MÊS. SEJA TAMBÉM UM COORDENADOR DESTE APOSTOLADO E ORGANIZE A SUA PEREGRINAÇÃO PELAS CASAS DA SUA VIZINHANÇA. É MUITO FÁCIL. ENTRE EM CONTACTO CONNOSCO POR: TEL.: 212 389 596 - FAX.: 212 362 299 RUA DR. ANTÓNIO CÁNDIDO, 16 - 1050-076 - LISBOA E-MAIL: [email protected] 38 Flashes de Fátima · Setembro 2009 PPT_DomClaudio_RAE93_Portugal_76_.indd 38 26/08/2009 12:26:26 Novos diáconos da Comunidade Canção Nova O Arcebispo de Palmas (TO), Dom Alberto Taveira Corrêa, ordenou em 12 de julho cinco novos diáconos da Comunidade Canção Nova, durante cerimônia realizada na sede dessa instituição eclesial, localizada em Cachoeira Paulista (SP). Em sua homilia, o Bispo focalizou a missão do diácono e do sacerdote, ressaltando que eles não são ordenados para si mesmos, mas para “servir a Igreja nos pobres, nos pequenos, na pregação da Palavra e na Eucaristia”. No final, os neodiáconos agradeceram a todos que fizeram parte de sua história vocacional, sobretudo ao fundador da Comunidade, Mons. Jonas Abib. Primeira TV católica via cabo no Paquistão CNBB – Catholic TV é o nome do primeiro canal televisivo católico via cabo no Paquistão. A iniciativa é da paróquia São Francisco de Lahore, com o apoio do padre capuchinho Morris Jalal, que também é diretor do canal. Segundo padre Jalal, a iniciativa “pode contribuir para construir e reforçar uma sociedade pacífica e tolerante” no Paquistão. A Catholic TV oferece uma programação rica e articulada: filmes cristãos, documentários sobre atividades nas paróquias das arquidioceses, entrevistas, música religiosa, a oração do terço, perguntas sobre a Bíblia e as Santas Missas dominicais ao vivo. www.padrebruno.altervista.org/ O Arcebispo de Lahore, Dom Lawrence Saldanha, entusiasta da iniciativa, afirmou: “Este novo canal católico produziu bons resultados em tempo muito breve, apesar dos poucos recursos, conseguindo chegar não somente aos nossos paroquianos, mas também a um público mais vasto”. Vice-reitor do “Angelicum” nomeado consultor da Congregação para a Doutrina da Fé O Santo Padre nomeou em 23 de junho o sacerdote dominicano Bruno Alessio Esposito consultor da Congregação para a Doutrina da Fé. Nascido em Terracina, na Itália, em 1959, Frei Bruno é vice-reitor da Pontifícia Universidade San Tommaso d’Aquino, de Roma, e decano da Faculdade de Direito Canônico da mesma instituição, conhecida também como Angelicum. Com a missão de promover e proteger a doutrina e a moral em todo o mundo católico, a Congregação para a Doutrina da Fé se compõe atualmente de 23 membros que são assistidos por um colégio de 33 consultores, peritos nas diversas disciplinas eclesiásticas, escolhidos pelo Papa entre os professores das Universidades Pontifícias romanas. Nova sede do Observatório Astronômico do Vaticano A fim de dotá-lo do necessário espaço para abrigar seu rico acervo, o Observatório Astronômico da Santa Sé foi transferido do Palácio Apostólico de Castelgandolfo para as amplas instalações de um antigo mosteiro na vizinha cidade de Albano. Além de uma valiosa coleção de meteoritos, a instituição possui uma biblioteca com mais de 20 mil livros, entre os quais se destacam obras de Nicolau Copérnico, Galileu Galilei e Isaac Newton. O Observatório Astronômico do Vaticano é uma das mais antigas instituições do gênero. Suas raízes se remontam a 1578, ano em que o Papa Gregório XIII erigiu a Torre dos Ventos e convidou os astrônomos e matemáticos do Colégio Romano a prepararem a reforma do Calendário, promulgada quatro anos depois. Em 1891, a Specola Vaticana — nome pelo qual tornou-se conhecido — foi oficialmente refundada pelo Papa Leão XIII. Dirigido atualmente pelo jesuíta argentino Pe. José Gabriel Funes, o Observatório Astronômico do Vaticano organiza periodicamente encontros internacionais de especialistas, cursos de verão e atividades de pesquisas científicas. Suas principais tarefas de investigação astronômica são realizadas no Monte Graham, Arizona (EUA). Arcebispo português na Cúria Romana Bento XVI nomeou o Arcebispo português Manuel Monteiro de Castro, de 71 anos, como novo Secretário da Congregação para os Bispos, na Cúria Romana. O prelado, natural de Santa Eufémia (perto de Guimarães), é doutorado em Direito Canónico e desempenhava desde 2000 o cargo de Núncio Apostólico em Espanha e Andorra. Setembro 2009 · Flashes _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 39 de Fátima 39 26/08/2009 09:58:58 O “Codex Sinaiticus” disponível na internet O Codex Sinaiticus, um dos textos mais antigos da Bíblia e documento de inapreciável valor para o estudo do Novo Testamento e da Septuaginta, já está disponível na internet, na página www.codexsinaiticus.org. Escrito entre os anos 330 e 350 da Era Cristã, ele permaneceu no Mosteiro de Santa Catarina, no Monte Sinai (daí o seu nome Sinaiticus), até 1844, ano em que foi descoberto pelo arqueólogo alemão Constantin von Tischendorf. Hoje se conservam mais de 400 páginas do valioso manuscrito, repartidas entre a Biblioteca Britânica, a Biblioteca da Universidade de Leipzig, a Biblioteca Nacional da Rússia e o próprio Mosteiro de Santa Catarina. Núncio Apostólico em Portugal defende a Família O Núncio Apostólico em Portugal, D. Rino Passigato presidiu às 40 cerimónias do dia 13 de Julho, em Fátima. Durante a homilia, ele defendeu a instituição da família citando Bento XVI: “a família, fundada no matrimónio indissolúvel entre um homem e uma mulher, expressa a dimensão relacional, filial e comunitária, e é o âmbito no qual o homem pode nascer com dignidade, crescer e se desenvolver de modo integral”. “Vim aqui, de modo particular, para confiar à Mãe de Deus, em cujo ventre o Verbo Se fez carne, as famílias do mundo inteiro. Contemplando em Maria Aquela que acolheu em Si o Verbo de Deus e O entregou ao mundo, rezemos, nesta Santa Missa, por todos quantos constituíram família, no sacramento do matrimónio, a fim de que nos seus corações permaneça sempre a fidelidade que juraram mutuamente”, afirmou o prelado. Insultos à Igreja na Espanha Um grupo anarquista autodenominado La Gallinaire reivindicou a autoria dos ataques feitos contra a Igreja em Barcelona, na noite de 25 para 26 de julho. De madrugada, as fachadas de vinte igrejas foram pichadas com frases ofensivas e ameaçadoras e em várias delas foram colocados cadeados para impedir a entrada dos fiéis. Em nota distribuída à imprensa no dia 27, a Arquidiocese protesta contra esse atentado “à liberdade religiosa e de culto dos cidadãos”, um direito fundamental reconhecido na Constituição do país, e conclui acentuando que “respeitar e defender esse direito é elemento integrante de uma sociedade autenticamente democrática”. Aprovados oito decretos de martírio Oito mártires do século XX — seis sacerdotes espanhóis, um sacerdote alemão e um Bispo húngaro — estão a um passo da beatificação. O Papa Bento XVI aprovou em 3 de julho os decretos de martírio, apresentados pela Congregação para as Causas dos Santos, relativos aos seguintes Servos de Deus: Teófilo Fernández de Legaria Goñi e quatro Companheiros, sacerdotes da Congregação dos Sagrados Corações, mortos por ódio à Fé, durante a perseguição religiosa na Espanha, em 1936. José Samsó i Elías, sacerdote diocesano, pároco e arcipreste de Santa Maria de Mataró, assassinado por ódio à Fé em 1936, durante a perseguição religiosa na Espanha. Georg Häfner, sacerdote diocesano, morto no campo nazista de concentração de Dachau (Alemanha) em 1942. Zoltán Ludovico Meszlényi, Bispo auxiliar de Esztergom, vítima da perseguição comunista na Hungria, em 1951. wikipedia.org codexsinaiticus.org Esta congrecação foi fundada em 1588 com o objectivo de ocupar-se das matérias que se referem “à constituição e à provisão das Igrejas particulares”, como a nomeação de Bispos, bem como ao exercício da missão de cada Bispo, à constituição das Conferências Episcopais e à revisão dos seus estatutos Predispõe ainda tudo o que se refere às visitas “ad Limina” dos Bispos de todo o o mundo, examinando os seus relatórios e transmitindo aos Bispos diocesanos as conclusões referentes à própria diocese. Cura milagrosa por intercessão do Cardeal Newman Foi aprovado em 3 de julho pelo Papa Bento XVI o decreto da Congregação para as Causas dos Santos que reconhece como milagrosa uma cura obtida por intermédio do Cardeal João Henrique Newman. O diácono Jack Sullivan, de Boston (EUA), sofria de uma grave deficiência na coluna vertebral, que o impedia de andar. Em 15 de agosto de 2001, rezou ao Cardeal Newman, pedindo sua intercessão para ser curado dessa moléstia e, pouco depois, conseguiu pôr-se de pé e sair caminhando. Os médicos e especialistas que estudaram o caso chegaram à conclusão de que a cura de Sullivan é cientificamente inexplicável. Flashes de Fátima · Setembro 2009 _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 40 26/08/2009 09:59:05 Legionários de Cristo têm 38 novos diáconos FIDES – Na Capela do Centro de Estudos Superiores de Roma, realizou-se em 30 de junho a celebração de ordenação diaconal de 38 Legionários de Cristo. O rito foi presidido por Dom Mauro Piacenza, Secretário da Congregação para o Clero. Como concelebrantes, entre outros, o Padre Álvaro Corcuera, LC, Diretor Geral dos Legionários de Cristo e do movimento Regnum Christi, e o seu Vigário Geral, padre Luis Garza, LC. Os novos diáconos são provenientes de 9 países: Brasil, Canadá, República Tcheca, Espanha, Itália, México, Estados Unidos, Venezuela e Vietnã. Atualmente, a Congregação dos Legionários de Cristo está presente em 22 países, com 800 sacerdotes e 2.600 seminaristas. Conta com 127 casas religiosas e dirige mais de 240 centros educativos. Sacerdote salesiano condecorado na Colômbia O sacerdote salesiano Javier de Nicoló recebeu em 23 de julho a Ordem de Boyacá, a mais alta distinção concedida pelo governo da Colômbia. A condecoração — entregue pelo presidente Álvaro Uribe Vélez, em Bogotá — é uma homenagem ao esforço e ao trabalho desse religioso em favor do povo desse país. “Nós colombianos nos sentimos orgulhosos em poder contar com o Pe. Javier de Nicoló nos programas de extensão do governo”, como também “na ampliação do Sistema de Educação Nacional de Aprendizado”, declarou o presidente. No decreto de outorga da condecoração, o religioso é apontado como um homem que “consagrou mais de 50 anos de sua vida apostólica ao incansável trabalho pelo bem-estar dos necessitados”. Nascido em Bari (Itália) em 1928, Javier de Nicoló ingressou, logo após a II Grande Guerra, na comunidade salesiana local, conhecida pelo trabalho social com a população carente. Em 1958, atravessou o Atlântico para estudar Filosofia e Teologia na Colômbia, onde foi ordenado dez anos depois. msjroscrea.ie Com esse reconhecimento do milagre, ficam abertas as portas para a beatificação do famoso Cardeal britânico. João Henrique Newman nasceu em 1801 e era sacerdote anglicano quando converteu-se ao Catolicismo, em 1845. Dois anos depois, foi ordenado sacerdote católico, em Roma. Tornou-se conhecido como líder do Movimento de Oxford. É o fundador dos Oratórios de São Felipe Néri na Inglaterra. Recebeu a púrpura cardinalícia das mãos de Leão XIII, em 1879. Faleceu em 1890. diu validar a eleição, dispensando o eleito do limite mínimo de idade. 150 aniversário do nascimento do Padre Cruz Cumpriram-se em julho 150 anos do nascimento do Padre Francisco Rodrigues da Cruz, nascido em a 29 de Julho de 1859. Ordenado a 3 de Julho de 1882, desempenhou funções de director no Colégio dos órfãos e director espiritual no Seminário de S. Vicente de Fora. Praticou heroicamente o que inculcava aos sacerdotes: “Confessar enquanto se apresentarem pecados, pregar enquanto houver ouvintes, e rezar até já não se poder mais”. Em 1940 cumpriu um desejo antigo e fez-se jesuíta aos 80 anos. Faleceu no primeiro dia de Outubro de 1948. Três anos depois, em 1951, o processo de beatificação iniciou-se em Lisboa e entregue à Santa Sé em 1965. Mais de 2 mil espécies de plantas endêmicas Um abade de apenas 33 anos Foi necessária uma dispensa especial da Santa Sé para validar a eleição de Dom Richard Purcell como novo abade do Mosteiro Cisterciense do Monte São José, em Roscrea, Irlanda. Primeiro porque Dom Richard não completou ainda os sete anos de vida monacal, contados a partir a profissão solene dos votos, estabelecidos pelo Código de Direito Canônico; e segundo porque tem apenas 33 anos de idade, dois a menos do exigido pela Regra de sua Ordem. O mosteiro recorreu ao Cardeal Franc Rodé, Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica, o qual concedeu a dispensa relativa ao tempo insuficiente de vida monacal. E a Dom Eamon Fitzgerald, Abade Geral dos Cistercienses, que deci- Por iniciativa da Universidade Estadual de Feira de Santana (BA) e da ONG Conservação Internacional, foi lançado em 2 de julho o livro Plantas Raras do Brasil, o qual cataloga 2.291 espécies de plantas que são encontradas exclusivamente no território brasileiro. A obra é resultado de dois anos de pesquisas nas quais colaboraram 175 cientistas de 55 instituições brasileiras e internacionais. Estima-se que o Brasil detenha 15% de toda a flora mundial. Padre colombiano nomeado bispo nos Estados Unidos O Papa Bento XVI nomeou em 27 de julho o sacerdote colombiano Luis R. Zarama Bispo auxiliar da Arquidiocese de Atlanta (EUA). Nascido em 1958, Dom Zarama cursou Filosofia e Teologia na Universidade Mariana de Pasto (Colômbia), e Direito Canônico na Universidade Javeriana, de Bogotá. ReceSetembro 2009 · Flashes _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 41 de Fátima 41 26/08/2009 09:59:10 quais 223 sacerdotes, 100 seminaristas e 195 leigos consagrados de ambos os sexos. benedictdaswa.com beu a ordenação presbiteral em 1993, na Arquidiocese de Atlanta, da qual se tornou vigário-geral em 2006. Será ordenado Bispo em 29 deste mês. Comunidade Emanuel tem novo Moderador Os 400 delegados da Comunidade Emanuel — representando mais de 8.000 associados espalhados por 57 países — elegeram em Paris no dia 12 de julho os dezessete membros do Conselho Internacional. A eleição realizou-se na presença do Cardeal André Vingt-Trois, Arcebispo de Paris e assistente eclesiástico dessa Associação Pública de Direito Pontifício. O Conselho recém-eleito, por sua vez, elegeu o novo Moderador, Laurent Landete. Enfermeiro em Bordeaux, pai de família, Laurent Landete exercia até então o cargo de responsável pela Comunidade na França. A Comunidade Emanuel nasceu em Paris em 1972 e conta hoje com mais de 8.000 membros, entre os Um leigo sul-africano a caminho dos altares Após cinco anos de pesquisas e depoimentos de testemunhas, a diocese de Tzaneen, África do Sul, encerrou a fase diocesana do processo de beatificação de Benedict Daswa, leigo católico assassinado em 1990 por ter combatido as crenças e os rituais supersticiosos praticados em seu país. A documentação respectiva, informa a agência Fides, foi encaminhada à Congregação para as Causas dos Mais de 110.000 visitam exposição em Fátima E 42 O título da Exposição é uma reminiscência do costume que tinham Lúcia, Francisco e Jacinta, de dar à lua o nome de “candeia de Nossa Senhora” e às estrelas o de “candeias dos anjos” para iluminar a noite. www.fatima.pt stima-se que mais de 110 mil pessoas visitaram a exposição Francisco Marto: candeia que Deus acendeu, aberta no Santuário de Fátima em 4 de abril e encerrada em 30 de junho. Durante esses quase três meses, os fiéis puderam contemplar objetos ligados à família do pastorinho, peças de escultura e de pintura, além de inestimáveis relíquias, tudo ordenado em três setores que recordavam Francisco enquanto criança em Aljustrel, enquanto vidente de Nossa Senhora e enquanto Beato da Igreja. Santos, a qual nomeará um postulador romano para proceder nas fases sucessivas do processo. Nessa expectativa, a Conferência Episcopal SulAfricana decidiu publicar uma biografia e um DVD para difundir a vida e a obra do Servo de Deus “como modelo e testemunha da Fé”. Benedict converteu-se à religião Católica quando estudava para se tornar professor e logo assumiu uma atitude de forte oposição à bruxaria, e ao uso de pseudo-remédios e de amuletos. Por isso foi assassinado a pauladas e pedradas, em 12 de fevereiro de 1990, pouco antes de completar 44 anos. Universidade homenageia embaixador britânico junto à Santa Sé Francis Martin-Xavier Campbell, embaixador do Reino Unido da GrãBretanha e da Irlanda do Norte junto à Santa Sé, recebeu da Queen’s University o Doutorado por distinção no serviço público. Campbell nasceu em 1970. Formou-se na Queen’s University de Belfast e fez pós-graduação na Universidade Católica de Louvain, Bélgica. Ingressou no serviço diplomático aos 27 anos, foi secretário particular (2001-2003) do ex-primeiro-ministro Tony Blair e era primeiro secretário da embaixada britânica em Roma quando foi nomeado embaixador junto à Santa Sé, em 2005. Morreu o jesuíta mais idoso do mundo Faleceu em 19 de julho, aos 104 anos, o mais idoso jesuíta do mundo. Nascido em Saint Louis (EUA) em 1905, Pe. Raymond Reis ingressou na congregação aos 21 anos. Doutorouse em biologia pela Universidade de Saint Louis, em 1940. Lecionou durante muitos anos na Universidade Marquette, de Milwaukee, e no Rockhurst College, de Kansas City. Foi também pesquisador convidado na Universidade de Milão. Flashes de Fátima · Setembro 2009 _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 42 26/08/2009 09:59:16 Cristãos perseguidos no Nepal Os organizadores afirmam que em alguns lugares se registraram conflitos entre polícia e grupos de manifestantes, aos quais as forças de segurança tinham intimado a não sair em cortejo pelas ruas. Apesar das ameaças, os fiéis desfilaram, realizando uma manifestação que alguns definem como a mais imponente já ocorrida no país por motivos religiosos. SHROUDSTORY “Estamos preocupados e tememos que atentados como o perpetrado contra a igreja da Assunção possam se repetir. Mas nós cristãos não temos medo e não abandonaremos o país”, afirmou à agência Fides o Pe. Pius Perumana, pró-vigário apostólico em Nepal. Pe. Pius acrescentou que as intimidações contra os cristãos aumentam a cada dia nesse país asiático. Muitas igrejas, escolas e estabelecimentos cristãos receberam ameaças. Algumas instituições católicas foram “convidadas” a deixar o país no prazo de um mês, sob pena de sofrerem atentados. Primeiros passos da Obra na Romênia Na festa de São Josemaría Escrivá começou o trabalho estável do Opus Dei na Romênia, com a instalação de um novo Centro em Bucarest. A missão desta nova unidade, moldando-se ao carisma do fundador, será de difundir a mensagem de que o trabalho e as circunstâncias do dia-a-dia são ocasião de encontro com Deus e de santificação, de serviço aos outros e de melhora da sociedade. Vietnã: manifestações de católicos Rádio Vaticano – Meio milhão de católicos vietnamitas saíram às ruas de suas cidades para protestar contra as violências perpetradas pela polícia a centenas de fiéis no último dia 20 de julho, nas proximidades da ruína da igreja de Tam Toa. A diocese de Vinh, 300 km ao sul de Hanói, e outras limítrofes, organizaram 19 cortejos para pedir a imediata libertação dos fiéis que foram surrados e detidos pelos policias de Tam Toa. Cerca de 170 sacerdotes e 420 religiosas guiaram as manifestações de protesto pacíficas que se realizaram simultaneamente em diversas localidades das províncias de Nghe An, Ha Tinh e Quang Binh. de voluntariado missionário, que ajudam algumas das populações mais pobres do mundo. Este despertar da consciência missionário é um fenómeno muito relevante na vida da Igreja dos nossos dias, fruto de um processo gradual que tem gerado um novo dinamismo. 381 voluntários portugueses partem para dez países diferentes, reforçando a dinâmica de voluntariado missionário no nosso país, com 50 entidades promotoras, mais 99 do que em 2008, o que representa um aumento de 35%. Os voluntários são na sua grande maioria jovens estudantes universitários e recém-licenciados. As áreas de trabalho são quase sempre as mesmas: a saúde, a educação e a evangelização, que é a parte principal. D. Jacinto encoraja sacerdotes a imitarem S. João Vianney Papa irá venerar o Santo Sudário em Turim A Sala de Imprensa do Vaticano confirmou que o Papa Bento XVI irá no próximo ano a Turim, por ocasião da exposição do Santo Sudário, a qual terá início em 10 de abril e se encerrará em 23 de maio. O Santo Sudário é exposto em intervalos de aproximadamente vinte anos. A última vez que essa preciosa relíquia permaneceu franqueada à visitação pública foi por ocasião do Jubileu do ano 2000. Voluntários missionários reforçam acção em 2009 Ano após ano, coincidindo com a chegada do Verão, centenas de jovens portugueses partem para países lusófonos, oferecendo o seu tempo de férias ao serviço de projectos No dia em que celebrou a memória litúrgica de S. João Maria Baptista Vianney, precisamente quando ocorreu o 150.º aniversário da sua morte, D. Jacinto Botelho, Bispo de Lamego, exortou os sacerdotes a terem como ponto de referência o Santo Cura de Ars. “O propósito de Sua Santidade está bem claro no lema por ele mesmo escolhido para a sua celebração: Fidelidade de Cristo, fidelidade do sacerdote. Bem podemos dizer que esta foi a preocupação permanente do humilde pároco de Ars, garantida com uma vida de oração e de sacrifício inexcedíveis e determinantes duma disponibilidade e de um zelo imparáveis e incansáveis que arrastaram àquela pequeníssima localidade que paroquiava multidões vindas de toda a parte, para experimentarem a presença e a Graça de Deus tão palpável nele, como confessava deslumbrado um advogado de Lyon depois de o contactar: ‘Vi Deus num homem’”. Para ver o texto na íntegra, consulte http://www.diocese-lamego.pt/incio/59 Setembro 2009 · Flashes _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 43 de Fátima 43 26/08/2009 09:59:26 HISTÓRIA PARA CRIANÇAS... OU ADULTOS CHEIOS DE FÉ? Um prodigioso esquecimento Por que a porta do quarto que ocupara aquele sacerdote não se abria? E que luz era aquela, que se fazia ver pelo buraco da fechadura? O hospedeiro estava intrigado com tais prodígios... Diana Carolina López López E ram duros os tempos das primeiras missões evangelizadoras da América do Norte. Muitos habitantes daquelas terras não conheciam a Religião de Cristo e os apóstolos eram em número insuficiente para levar a todas as almas a verdadeira Fé. “A messe é grande, mas os operários são poucos” (Mt 9, 37), diz a Escritura. Mas, gradualmente, com o auxílio da graça, a Santa Igreja ia-se estabelecendo naquelas vastidões territoriais, como a gota de azeite se espalha silenciosamente pela folha de papel. No povoado de Santa Maria dos Anjos, onde já todos eram católicos fervorosos, exercia seu fecundo apostolado o padre Jorge. Levantava-se de madrugada, passava uma hora de adoração a Jesus Hóstia e em seguida celebrava a Santa Missa. Hauria, assim, as forças para a labuta de cada dia. Cuidava da catequese das crianças e dos adultos, dirigia a escola e o hospital local, administrava os sacramentos, visitava os enfermos de toda a região. Certo dia, chamaram-no para atender um doente em estado grave, 44 que morava bem longe do povoado. O Sol já estava baixando, não tardaria a anoitecer. O pároco aprontou-se rapidamente, pegou os Santos Óleos para a Unção dos Enfermos e preparou tudo para levar o Santo Viático. Valério, o sacristão, ofereceu-se para acompanhá-lo, pois a viagem era longa e não isenta de perigos, mas o sacerdote achou melhor que ele ficasse, para cuidar da igreja. Ele então selou o cavalo e ajudou o padre Jorge a montar, já com o Santíssimo Sacramento numa pequena teca, que levava dependurada ao pescoço, dentro de uma delicada bolsa. Fustigando a montaria para acelerar a marcha, o pároco percorreu em pouco tempo vários quilômetros. Mas... aconteceu o inesperado: desabou um forte temporal, as escuras nuvens e o aguaceiro toldavam as últimas réstias de luz do Sol que ainda iluminavam aquela estrada cheia de acidentes e obstáculos. E o padre viu-se obrigado a parar numa pequena hospedaria, muito simples, mas limpa e ordenada. Curiosamente, ali se abrigara, forçado também pela tempestade, um mensageiro do enfermo, enviado para comunicar-lhe que este dava sinais de recuperação e, portanto, já não era tão urgente a ida do sacerdote. Tranquilizado por essa notícia, o padre Jorge tomou essa coincidência como um sinal da Providência e decidiu pernoitar ali, para não expor o Santíssimo Sacramento aos numerosos riscos de uma viagem sob a borrasca. Ocupou um quarto no segundo andar, onde preparou da melhor forma possível um pequeno armário para servir de tabernáculo. Nele depositou a Sagrada Hóstia, pôs-se de joelhos e rezou durante algum tempo, depois trancou a porta e desceu para o refeitório, onde já estava servido o jantar. Ali foi informado, em conversa com outros hóspedes, que o dono do hotel e sua família eram pagãos. Por prudência, evitou tudo quanto pudesse revelar que ele levava consigo Nosso Senhor Sacramentado e, terminada a refeição, recolheu-se sem demora ao seu quarto-capela, preparandose para partir cedinho no dia seguinte. Quando raiou o Sol, estava já ele a cavalo, para reiniciar sua viagem. Flashes de Fátima · Setembro 2009 _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 44 26/08/2009 09:59:33 Edith Petitclerc O piedoso sacerdote foi invadido por uma grande alegria: essa luz só podia ser fruto de um milagre No meio do caminho, levou instintivamente a mão ao peito para sentir a presença do Santíssimo Sacramento e percebeu que a preciosa teca não estava aí! Encomendando-se à Santíssima Virgem, fez meia-volta, esporeou o animal e partiu de volta a todo galope. Cruzando o portal da hospedaria, o padre Jorge saltou da cavalgadura e correu à procura do hoteleiro: — Senhor, desculpe, mas alguém mais ocupou o quarto em que pernoitei? Surpreso, ele lhe respondeu: — Não, senhor padre. E que bom o senhor ter voltado, porque, desde a sua partida, fizemos de tudo para abrir a porta daquele quarto e não conseguimos. O que fez o senhor para deixar a chave emperrada na fechadura de maneira que ninguém consegue girá-la? Impressionado, o sacerdote disse: — Nada. Apenas deixei lá a chave... — É, mas além de não conseguirmos abrir a porta, vê-se pelas frestas que o quarto está iluminado por uma luz desconhecida. O senhor deixou alguma vela acesa ali? O piedoso sacerdote, que já tinha passado da terrível apreensão para a tranquilidade, foi invadido por uma grande alegria: essa luz só podia ser fruto de um milagre. Teriam os Anjos do Céu vindo fazer companhia a Jesus Sacramentando, protegendo-O de qualquer sacrilégio ou mesmo de simples irreverências? — Vamos lá. Vou tentar abrir a porta. E subiu rapidamente as escadas. O hoteleiro seguiu atrás, acompanhado da esposa, dos filhos, dos criados e até de vários hóspedes, todos desejosos de desvendar aquele mistério. Lá chegando, padre Jorge girou a chave e abriu a porta com toda facilidade. Imaginem sua emoção ao ver que daquele armário — o tabernáculo por ele improvisado — saía uma luz celestial, enquanto músicas angelicais se faziam ouvir dentro do quarto. Pondo-se de joelhos, adorou, comovido ao extremo, o Rei dos reis que quis manifestar-Se daquela maneira para atrair mais almas a Seu Sacratíssimo Coração Eucarístico. Em seguida, explicou a todos o que se passara. Entre atônitos e maravilhados, foram-se ajoelhando um a um... Agora nenhum deles duvidava da Presença Real de Jesus na Eucaristia! O hoteleiro pediu para receber o Batismo, junto com toda a sua família. O padre Jorge não podia abandonar essas almas que o próprio Senhor conquistara por meio de tão prodigioso fato! Passou, pois, alguns dias no hotel, ensinando-lhes as belezas e as verdades da Fé Católica. Durante esse tempo, a Sagrada Eucaristia permaneceu no seu precário tabernáculo, recebendo a adoração do hoteleiro, de sua família e de vários habitantes da região. Muitos destes também se converteram, de modo que o padre Jorge teve a alegria de ministrar o Batismo a uma pequena multidão de novos filhos da Santa Igreja. Por fim, foi à casa do enfermo que, uma semana antes, havia solicitado sua assistência, e o encontrou já curado. O Senhor quis, Ele mesmo, operar prodígios em favor de sua messe! Setembro 2009 · Flashes _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 45 de Fátima 45 26/08/2009 09:59:41 OS SANTOS DE CADA DIA _________ Sergio Hollmann no reinado de Jaime I da Inglaterra, porque propagava a Fé Católica a todos que encontrava. 6. XXIII Domingo do Tempo Comum. Beato Pascual Torres Lloret, mártir (†1936). Pai de família fuzilado durante a Guerra Civil Espanhola por esconder livros, objetos sagrados e mesmo o Santíssimo Sacramento. 7. Santos Marcos Crisino, Estêvão Pongracz e Melquior Grodziecki, presbíteros e mártires (†1619). Marcos era sacerdote se“Santa Eufemia”, por Francisco cular, os outros eram jesuítas. Torde Zurbarán - Museu do Prado, Madri turados e mortos em Cosice, Eslováquia, por se recusarem a aderir 1. São Lupo de Sens, Bispo (†623). à Reforma protestante. Bispo de Sens, desterrado para Vio8. Natividade de Nossa Senhora. meu por haver afirmado que o povo Beata Serafina Sforza, religiosa deve obedecer mais a Deus do que (†1478). Esposa do senhor de Pésaaos governantes desta terra. ro, Itália, que causou-lhe grandes so2. Beato Alexandre Carlos Len- frimentos e, por fim, a obrigou se refant, presbítero e mártir (†1792). Jesu- tirar ao mosteiro das clarissas onde íta, renomado orador e grande devoto viveu o resto de sua vida observando do Sagrado Coração de Jesus, nomea- fielmente a Regra. do pregador do rei Luís XVI. Morto na 9. São Pedro Claver, presbítero Revolução Francesa, por ter-se negado (†1654). a jurar a Constituição Civil do Clero. Beata Maria Eutimia Üffing, vir3. São Gregório Magno, Papa e gem (†1955). Pertencente à Congregação das Religiosas da Miseridoutor da Igreja (†604). Santa Febe. Piedosa auxiliar do córdia, cuidou dos feridos duranApóstolo Paulo em Cêncris, Grécia, te a II Guerra Mundial. Ardorosa mencionada por ele na epístola aos devota do Santíssimo Sacramento, passava horas ajoelhada diante do Romanos. tabernáculo. 4. São Bonifácio I, Papa (†422). O 10. Santo Autberto, Bispo início de seu pontificado foi marcado por tumultos com o antipapa Eulá- (†725). Bispo de Avranches, Franlio. Dedicou-se à reforma da discipli- ça, que mandou construir no Monna eclesiástica e defendeu a primazia te Tombe um santuário em honra de São Miguel. O edifício, muito da Sé Romana. ampliado ao longo dos anos, é atu5. Beato Guilherme Browne, már- almente a famosa abadia do Mont tir (†1605). Fervoroso leigo, morto Saint-Michel. 46 11. Santo Elias Speleota, abade (†960). Aos dezoito anos, recusou desposar uma jovem da nobreza e partiu como peregrino para Roma, onde tomou o hábito de São Basílio e levou vida de penitente na gruta de Melicuccà, Itália. 12. Santíssimo Nome de Maria. Beato Apolinário Franco, presbítero e mártir (†1622). Religioso franciscano espanhol, partiu como missionário para as Filipinas e depois para o Japão, onde fundou muitos estabelecimentos de caridade. Foi queimado vivo durante a perseguição. 13. XXIV Domingo do Tempo Comum. São João Crisóstomo, Bispo e doutor da Igreja (†407). São Maurílio, Bispo (†453). Discípulo de São Martinho de Tours, por quem foi ordenado. Eleito Bispo de Angers, França, procurou extinguir as superstições pagãs. 14. Exaltação da Santa Cruz. Santo Alberto, Bispo (†1215). Patriarca de Jerusalém que, em tempos de muitas contendas, soube semear o bom entendimento. Foi assassinado durante uma procissão, por um homem cuja má conduta havia censurado. 15. Nossa Senhora das Dores. Beato Antonio Maria Schwartz, sacerdote (†1929). Fundador da Congregação dos Operários Cristãos de São José Calasanz, dedicados à educação da juventude operária. 16. São Cornélio, Papa (†253) e São Cipriano, Bispo (†258) mártires. Santa Eufemia, virgem e mártir (†303). Nos tempos do imperador Diocleciano, na cidade de Bitínia, atual Turquia, suportou cruéis Flashes de Fátima · Setembro 2009 _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 46 26/08/2009 09:59:47 _____________________ SETEMBRO suplícios até a morte, por não querer apostatar. 17. São Roberto Berlamino, Bispo e doutor da Igreja (†1621). São Lamberto, Bispo e mártir (†705). Bispo de Maastricht num período de turbulências políticas, foi exilado e viveu sete anos como simples monge. 18. Beato José Kut, presbítero e mártir (†1942). Sacerdote polonês encarcerado e submetido a cruéis tormentos no campo de concentração de Dachau. 20. XXV Domingo do Tempo Comum. Santo André Kim Tae-gon, presbítero, Paulo Chong Hásang e companheiros, mártires (†1839-1867). Santa Teresa Kim Im-i, mártir (†1837). Nascida em Seul de família cristã, aos 17 anos consagrou sua virgindade a Deus e passou a dedicar-se às obras de caridade. Durante a perseguição na Coreia, foi presa e estrangulada. 23. São Pio de Pietrelcina, presbítero (†1968). Beata Bernadina Jablonska, virgem (†1940). Filha espiritual de Santo Alberto Chmielowski e cofundadora da Congregação das Irmãs Servas dos Pobres. 24. Beato José Raimundo Ferragud Girbés, mártir (†1936). Pai de família fuzilado durante a Guerra Civil Espanhola. 25. Santos Paulo e Tatta, e seus filhos, mártires (†séc. IV). Família de 26. Santos Cosme e Damião, mártires (†séc. III). Beata Lúcia de Caltagirone, virgem (†1400). Religiosa da Terceira Ordem Regular Franciscana, insigne por sua fidelidade à Regra e sua devoção às Cinco Chagas de Cristo. 27. XXVI Domingo do Tempo Comum. São Vicente de Paulo, presbítero (†1660). São Bonfílio, Bispo (†1115). Bispo de Foligno, Itália, enviado à Terra Santa com os cruzados. Ao retornar, dez anos depois, fez-se monge no mosteiro de Storaco, do qual havia sido abade. 29. São Miguel, São Gabriel e São Rafael Arcanjos. São Maurício, abade (†1191). Por humildade, renunciou ao cargo de superior no mosteiro cisterciense de Langonnet, França. Logo depois foi eleito abade de Carnoët. 21. São Mateus, Apóstolo. São Cadoc, abade (†séc. VI). Filho dos reis de Gales, abade de Llancarfan e fundador de diversos mosteiros. 22. Beato Vicente Sicluna Hernández, presbítero e már- Damasco, Síria: pai, mãe e quatro filhos, presos e torturados até a morte, por serem cristãos. 28. São Venceslau, mártir (†929). São Lourenço de Manila Ruiz e companheiros, mártires (†1633-1637). Leigo filipino acompanhante dos missionários dominicanos a Taiwan e ao Japão, onde foi martirizado com eles. Victor Toniolo 19. São Januário, Bispo e mártir (†305). Santa Maria de Cervelló, virgem (†1290). Pediu a São Pedro Nolasco para ser admitida na ordem por ele fundada, tornando-se a primeira religiosa mercedária. Incansável na assistência aos pobres e enfermos, ficou conhecida como Maria do Socorro. tir (†1936). Zeloso sacerdote da cidade de Navarrés, que não quis abandonar os fiéis durante as perseguições da Guerra Civil Espanhola. “Santos Cosme e Damião” Igreja de Santo Isidro, Madri 30. São Jerônimo, presbítero e doutor da Igreja (†420). Beata Felícia Meda, abadessa (†1444). Superiora do mosteiro de Santa Úrsula, em Milão. A pedido da Duquesa de Pésaro, foi enviada para fundar um mosteiro de clarissas nessa cidade. Setembro 2009 · Flashes _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 47 de Fátima 47 26/08/2009 09:59:53 ENTREVISTA EXCLUSIVA COM A DRA. PNINA SHOR “Palavras que mudaram o mundo” Fragmentos dos célebres manuscritos do Mar Morto, junto com outros objetos de incalculável valor arqueológico, compõem a exposição “Palavras que mudaram o mundo”, atualmente exibida no Royal Ontario Museum, em Toronto. Para conhecermos melhor esses valiosíssimos documentos, entrevistamos com exclusividade a Dra. Pnina Shor, chefe de Seção de Conservação de Artefatos do Departamento de Antiguidades de Israel. Gustavo Adolfo Kralj U ma das descobertas arqueológicas mais significativas do século XX ocorreu há 60 anos, quando um beduíno, Muhammed edh-Dhib Hassan, à procura de uma cabra perdida, encontrou, escondidos numa caverna no deserto, rolos de pergaminhos escritos dois mil anos atrás. Estavam guardados em jarros e surpreendentemente bem conservados. A partir daí, entre 1947 e 1956, foram descobertos quase 900 textos, a maior parte deles em pergaminhos, uma pequena parcela em papiros e um gravado em cobre. O valioso material estava oculto em onze cavernas nas redondezas de Wadi Qumran, perto das ruínas do antigo assentamento de Khirbert Qumran, a noro48 este do Mar Morto, nome que mais tarde se associou aos documentos. Atestada a sua autenticidade em 1948, foi possível determinar que sua origem remonta a um período que se estende do século III a.C. ao primeiro século da era cristã. Uns estão escritos em hebraico, outros em aramaico e outros ainda em grego. Seguiram-se décadas de pesquisa, e passou-se a utilizar uma tecnologia desenvolvida por cientistas da NASA para recuperar o texto dos manuscritos, que com o tempo estavam se desintegrando. Uma vez analisado, cada fragmento passou a fazer parte de um enorme quebra-cabeças não inteiramente resolvido até hoje. O encargo de conservar esse valiosíssimo acervo cabe à Dra. Pnina Shor, chefe da Seção de Conser- Fragmento 11Q14, pertencente ao Livro da Guerra (entre 20 e 50 d.C.) Flashes de Fátima · Setembro 2009 _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 48 26/08/2009 09:59:55 Palavras nas quais milhões de pessoas creem De início, chama atenção a escolha do lema do evento: Words that changed the World – Palavras que mudaram o mundo. Qual é a relação do lema com os documentos do Mar Morto? Pnina Shor esclarece: “A meu ver, o lema abrange muito bem o tema da exibição no sentido de que aqui estão palavras da Bíblia, e como tal, são palavras pronunciadas para o mundo inteiro. São palavras comuns a todos nós, palavras nas quais milhões de pessoas no mundo creem, sejam judeus, cristãos, ou muçulmanos; portanto, são verdadeiramente palavras que mudaram o mundo”. Após lembrar a recente viagem de Bento XVI a Terra Santa, a especialista israelense acrescenta: “Tratase de documentos escritos há mais de dois mil anos, quando Jesus e o cristianismo nasceram. Eles incluem textos bíblicos, apócrifos e comentários sobre a Bíblia. Falam da origem comum dos judeus e dos cristãos. É verdade que não existem entre eles cópias do Novo Testamento, simplesmente porque o Novo Testamento foi compilado depois que os manuscritos foram escondidos nas cavernas.1 Mas podem-se ver neles as origens do cristianismo, junto com textos bíblicos e outros textos judaicos. Constata-se assim, a origem comum das duas religiões. Isto está na linha do que o Papa falou em sua visita à Terra Santa”. Debate sobre as origens — a “tese essênia” Determinar em que época foram redigidos os Manuscritos do Mar Morto não é tão difícil quanto estabelecer com segurança quais foram seus autores. A chamada “tese essênia”, embora seja em nossos dias alvo de muitos debates, é a mais amplamente aceita no mundo acadêmico. Assim a descreve Aimé Fuchs (1925-2006), catedrático no Instituto de Pesquisa de Matemáticas Avançadas de Strasbourg: “Os historiadores do primeiDra. Pnina Shor: “Aqui estão palavras da ro século da nossa era, FíBíblia, e como tal, são palavras pronunciadas lon de Alexandria, Caio para o mundo inteiro” Plinio Segundo e, sobretudo, Flávio Josefo, relataram que, ao “Nesse livro, Josefo descreve os três noroeste das margens do Mar Mor- ramos principais do judaísmo, no fim to, vivia naquela época uma comuni- do primeiro século. Menciona os faridade de cenobitas chamados essênios, seus, os saduceus e os essênios. A desque eram celibatários, vegetarianos crição que Josefo faz dos essênios e de e praticavam um modo de vida bem como eles viviam é muitíssimo pareciaustero segundo as prescrições da To- da com o que esse grupo narra sobre si rá. Ora, os manuscritos foram encon- mesmo. trados justamente nessas paragens per“Mas, nos manuscritos não há neto do Mar Morto. Essa coincidência nhuma referência específica aos essêfez com que surgisse a tese [...] segun- nios. O grupo que escreveu os manusdo a qual o conjunto dos manuscritos critos chama a si mesmo de yahad, do Mar Morto provém de uma comu- que em hebraico significa ‘o conjunnidade essênia que então se encontra- to’, ‘a comunidade’. Quando falam va na região de Qumram. E que essa de si mesmos, eles sempre descrevem comunidade, por causa do avanço das seu modo de viver e suas crenças. Eles tropas romanas, teria escondido esses constituem um grupo muito piedomanuscritos nas cavernas da redonde- so que decidiu sair da vida de Jerusaza um pouco antes da queda de Jerusa- lém, porque, para eles, Jerusalém se tilém, em 70 d. C.”.2 nha corrompido. Eles, ou pelo menos De sua parte, Pnina Shor adverte alguns deles, decidiram se retirar”. De outro lado, não é certo que os que estabelecer a origem dos documentos é uma questão muito compli- membros desse grupo tenham sido os cada e controvertida, mas aponta al- autores de todos os documentos: “Os textos bíblicos e os apócrifos poguns dos argumentos que reforçam a dem ter sido compilados ou escritos por “tese essênia”: “Os documentos foram original- outros. Esse grupo ou qualquer outro mente identificados como provindos pode ter recolhido todos estes manusdos essênios pelo Prof. Sukenik,3 de- critos e escondido nas cavernas. Há oupois que ele leu a primeira cópia das tras teorias que falam do Templo e de Regras da comunidade. Ele notou que os manuscritos seriam parte da bia clara semelhança com os essênios blioteca do Templo. Outros afirmam mencionados por Flávio Josefo em sua que se trata de escritos oriundos de diversos grupos de fiéis”, conclui Shor. obra A guerra dos judeus. Setembro 2009 · Flashes _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 49 de Fátima Fotos: Gustavo Kralj vação de Artefatos do Departamento de Antiguidades de Israel. Ela é a responsável pelos Manuscritos do Mar Morto e por outros objetos em exposição — até 3 de janeiro de 2010 — no Royal Ontario Museum em Toronto, Canadá. 49 26/08/2009 09:59:57 Admirável exatidão nas traduções do grego, latim e hebraico A exegese bíblica é uma das disciplinas mais beneficiadas pelos Manuscritos do Mar Morto. Tomandoos como ponto de referência, até que ponto são precisas as ulteriores traduções para o grego e o latim dos primeiros tempos da Igreja? Há contradições ou discrepâncias entre elas e os manuscritos do Mar Morto? Pnina Shor responde: “Não há contradições, já que estamos falando sobre a transmissão de um texto. A transmissão de um texto é feita por pessoas, e, portanto, é normal que com o tempo haja diferenças devido à variação do pensamento e das capacidades humanas, podendo até aparecer algum erro. Mas penso que devemos analisar a questão por outro lado. O que é impressionante neste caso é que o conteúdo foi preservado na tradução grega. Mais tarde foi traduzido para o latim, sendo em seguida traduzido novamente para o hebraico. Quando os Manuscri- tos foram encontrados, verificou-se que a exatidão das traduções é realmente de admirar — e isso é emocionante”. Alguns escritos eram até agora desconhecidos Perguntada sobre se os manuscritos contêm unicamente livros canônicos, como hoje os conhecemos, Pnina Shor esclarece: “Não, os Manuscritos abrangem muito mais do que os livros canônicos. Há uma grande variedade de escritos, previamente desconhecidos. Isso desperta o interesse dos pesquisadores e estudiosos da matéria”. Como exemplo desses textos nãocanônicos, Pnina Shor menciona “o chamado Barkhi Napshi, um salmo apócrifo que está em sintonia com as escrituras canônicas, mas que não era conhecido anteriormente”. “Estamos falando da existência de mais de 900 manuscritos. Podemos então conjeturar que eles contêm muitos textos que eram desconhecidos anteriormente. Isso atrai investigadores do mundo inteiro, de todas as denominações religiosas”. Três valiosos elementos arquitetônicos do Templo Fragmento 4Q1, contendo Gn, 11-21 (ano 125 a 100 a.C.) e jarro de terracota achado em uma das covas da região (séc. I a.C. a ano 70 d.C.) 50 A exposição em Toronto não se restringe somente aos Manuscritos do Mar Morto, mas também a outros artefatos arqueológicos cuja importância é bem ressaltada pela especialista israelense. “Ao passear pela exposição, temos a impressão fascinante de estarmos indo da Galileia a Jerusalém pelo deserto. Todos os objetos são fascinantes — eu não gostaria de pô-los em uma ordem de precedência —, mas penso que vale a pena prestar atenção em três elementos arquitetônicos. “O primeiro é a pedra angular do Monte do Templo de Jerusalém. É a pedra onde o sacerdote subia para to- car a trombeta convocando a todos para comemorar o sábado e as demais festas. Como podemos saber que é autêntica? Pela inscrição que está nela, no mesmo tipo de letra dos manuscritos — portanto, do mesmo período — que afirma ser essa ‘a pedra angular onde soa a trombeta’”. O segundo elemento pertence ao Templo Herodiano, que era dividido em vários pátios. “Ao pátio principal, qualquer pessoa podia ter acesso; depois de certo ponto, somente podiam ingressar os judeus; mais adiante, somente homens; e no Santo dos Santos, apenas o sumo sacerdote podia entrar e apenas uma vez por ano, no dia de Reconciliação, o Yom Kippur. Marcando a divisão onde somente os judeus podiam entrar, havia uma pedra com uma inscrição. Essa pedra também faz parte da exibição. “O terceiro elemento de interesse são três restos arquitetônicos do tríplice portão da entrada principal do Monte do Templo. Todos estes objetos foram descobertos durante diversas escavações ao redor do Monte do Templo. “Nenhum de nós conheceu o Templo. Conhecemo-lo através das Escrituras, e posteriormente através de nossas investigações. Todavia, aqui temos objetos tangíveis que o tornam novamente vivo entre nós” — conclui Pnina Shor. Longo processo rumo à publicação Seja qual for a origem dos Manuscritos do Mar Morto, não cabe dúvida quanto ao seu imenso valor e à urgente necessidade de sua preservação e restauração. Este é o campo próprio do trabalho de Pnina Shor. Assim explica ela o desafio enfrentado por seu Departamento de Antiguidades de Israel: “A conservação e a restauração dos manuscritos é um processo minucioso, entediante e interminável. Conhecemos especialistas que dedicam sua carreira acadêmica somente a este labor. Flashes de Fátima · Setembro 2009 _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 50 26/08/2009 10:00:04 Nas décadas de 60 e 70 os estudiosos continuaram a decifrar o conteúdo dos manuscritos, mas surgiu a preocupação de conservá-los, recorrendo-se, para isto, aos melhores métodos conhecidos na época. “No fim da década de 80, o Departamento de Antiguidades de Israel foi constituído tendo como objetivo a preservação dos manuscritos, bem como a publicação de seu conteúdo. No início, muito poucos deles foram publicados, pois eram poucos os especialistas trabalhando nesses “Quando os Manuscritos foram documentos os quais, como hoje encontrados, verificou-se que a exatidão sabemos, são mais de 900”. das traduções dos documentos bíblicos O que o Departamento fez, é realmente de admirar” informa a Dra. Shor, foi distri“A primeira e principal razão dis- buir o material disponível entre 80 so é que estamos falando de manus- especialistas do mundo todo, de dicritos que têm mais de dois mil anos. versas religiões, dando-lhes uma déEles ficaram escondidos e preservados cada para publicar o material receem cavernas no deserto. Por causa do bido. clima, da temperatura e da falta de Conservar o que foi preservado luz, eles se conservaram e atravessapor dois mil anos ram os séculos. Quando foram retirados das cavernas, a deterioração na“É bom que toda a matéria seja putural começou ou continuou, e eles se blicada, mas também é indispensável fragmentaram em uma enorme quan- preservar os manuscritos para a postetidade de frações. São 900 documen- ridade. Esta é a tarefa do Departamentos divididos em milhares e milhares to de Antiguidades de Israel”, afirma a de fragmentos. Dra. Shor. “Ora, quando os manuscritos foPara isso, especialistas como os ram trazidos das escavações, ficaram chefes de conservação da Library of espalhados em longas folhas de pa- Congress e do Getty Conservation Inspel e, como um quebra-cabeça, foi-se titute viajaram a Israel a fim de ajudar tentando juntar os pedaços. Naquele a determinar os melhores processos a tempo, os especialistas estavam inte- serem empregados. ressados em conhecer o conteúdo dos “A primeira e principal tarefa é retimanuscritos; não havia preocupação rar os manuscritos dos vidros em que com a necessidade de conservá-los e foram colados e retirar os restos de fipreservá-los” — explica a Dra. Shor. ta adesiva. Isto foi o que causou o daAssim, foi usada fita adesiva para no maior. É preciso trabalhar placa unir os fragmentos, o que acelerou a por placa, manuscrito por manuscrito, sua deterioração. Os manuscritos são fragmento por fragmento...”. muito frágeis: 80% deles são de perTrata-se de um processo levado gaminho orgânico, enquanto os ou- a cabo com muito cuidado, e que já tros 20% são escritos em papiros. Se dura 18 anos. Visando sua revisão e não forem guardados e manuseados aperfeiçoamento, o Departamencom o devido cuidado, eles ressecam to de Antiguidades têm pedido a coe se racham. laboração do Ministério da Cultura Italiano e do Istituto Centrale per la Patologia del Libro, entre outros. “Nosso lema é: ‘se os Manuscritos foram preservados durante dois mil anos, é nosso dever conservá-los por, pelo menos, outros dois mil’” — enfatiza Pnina Shor. Pois, afinal, são “palavras que mudaram o mundo!”. 1 Convêm lembrar que, em 1972, o papirólogo jesuíta espanhol José O’Callaghan Martínez identificou os versículos 52 e 53 do capítulo sexto de São Marcos no fragmento 7Q5 desses manuscritos, despertando nos círculos de especialistas enorme polêmica, que perdura até hoje. 2 FUCHS, Aimé. Les manuscrits de la Mer Morte. Strasbourg: Institut de Recherche Matématique Avancée, 2000, p. 2 – tradução nossa. 3 Prof. Eleazar Lipa Sukenik (18991953), arqueólogo israelense e professor da Universidade Hebraica de Jerusalém. Fragmento da inscrição, em grego, que vedava o ingresso dos não judeus além do pátio dos gentios, no Templo Herodiano (séc. I a.C.) Setembro 2009 · Flashes _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 51 de Fátima 51 26/08/2009 10:00:06 Lucia Vu Nossa Senhora e Sua mãe Sant'Ana - Imagem venerada na comunidade Lumen Cœli, dos Arautos do Evangelho H oje, a Liturgia recorda a Natividade da Bem-Aventurada Virgem Maria. Esta festa, muito sentida pela piedade popular, leva-nos a admirar em Maria Menina a aurora puríssima da Redenção. Contemplamos 4CP_Natividade_RAE93_Portugal_76_.indd 52 uma menina como todas as outras, e ao mesmo tempo única, a “bendita entre as mulheres” (Lc 1, 42). Maria é a Imaculada “filha de Sião”, destinada a tornar-se a Mãe do Messias. João Paulo II, Audiência de 8/9/2004 26/08/2009 13:18:48
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