Revista Arautos do Evangelho

Transcrição

Revista Arautos do Evangelho
Aprovações pontifícias e
condecoração papal
Ano XI
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Nº 76 - Setembro 2009
26/08/2009 09:55:26
Nova agência católica de notícias na web
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SumáriO
Flashes de
Fátima
Boletim da Campanha
“O Meu Imaculado Coração Triunfará!”
Ano XI nº 76 - Setembro 2009
Director:
Manuel Silvio de Abreu Almeida
Conselho de redacção:
Guy Gabriel de Ridder, Juliane
Vasconcelos A. Campos, Luis Alberto
Blanco Cortés, Mariana Morazzani
Arráiz, Severiano Antonio
de Oliveira
Escrevem os leitores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
4
Aprovações pontifícias e condecoração papal
(Editorial) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
5
Arautos no mundo
......................
30
Jesus e eu somos um
A voz do Papa –
Cristo é o
“Bispo das almas”
........................
6
Comentário ao Evangelho –
Uma sociedade marcada
pela inocência
Editor:
Associação dos Custódios de Maria
R. Dr. António Cândido, 16
1050-076 Lisboa
I.C.S./D.R. nº 120.975
Dep. Legal nº 112719/97
Tel: 212 338 950 / Fax: 212 338 959
......................
www.arautos.pt / www.arautos.org.br
E-mail: [email protected]
......................
Cardeal Franc Rodé
comemora aprovações
pontifícias
10
......................
32
A palavra dos Pastores –
Somos chamados
com urgência à Missão
......................
36
Aconteceu na Igreja e
no mundo
18
......................
39
Assinatura anual: 24 euros
Com a colaboração
da Associação
Privada Internacional de Fiéis
de Direito Pontifício
ARAUTOS DO EVANGELHO
Impressão e acabamento:
Pozzoni - Istituto Veneto
de Arti Grafiche S.p.A.
Via L. Einaudi, 12
36040 Brendola (VI)
Os artigos desta revista poderão ser reproduzidos,
desde que se indique a fonte e se envie cópia à
Redacção. O conteúdo das matérias assinadas
é da responsabilidade dos respectivos autores.
Membro da
Associação de Imprensa de
Inspiração Cristã
Tiragem: 40.000 exemplares
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Palavras de agradecimento
de Mons. João Scognamiglio
Clá Dias, EP
......................
22
Homilia do Cardeal Rodé –
Olhar para a História com
olhos celestes
......................
24
Cardeal Franc Rodé
abençoa a Casa-Generalícia
de Regina Virginum
......................
28
História para crianças...
Um prodigioso
esquecimento
......................
44
Os santos de
cada dia
......................
Entrevista
“Palavras que
mudaram o mundo”
......................
46
48
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E SCREVEM
SENSO DE FÉ NA IGREJA
Escrevo para agradecer pelo lindíssimo número de junho da revista
Arautos do Evangelho. Fico sempre
muito bem impressionado ao recebê-la, não somente com seus artigos, como também pela atenção e
cuidado tomados em sua publicação.
Realmente, esta é uma obra de
Fé e amor. O que nela mais impressiona talvez seja o senso de Fé
na Igreja — suave, mas ao mesmo
tempo sólido como uma rocha —
que motiva cada artigo. E este senso é obviamente o que motiva as
inumeráveis vocações jovens que se
vê nas fotos do seminário: um farol
de esperança, de que tanto precisamos.
Pe. Chris Findlay-Wilson
Pároco de Nossa Senhora
de Todas as Nações
Londres – Inglaterra
LUZ QUE ESCLARECE
NOSSOS PENSAMENTOS
Somos assinantes desta revista desde o seu primeiro número.
Consideramo-la excelente veículo de comunicação e de formação
nos meios católicos, pois estamos
num mundo em que há muita informação e pouca formação. Na confusão das mentes em que vivemos,
a revista Arautos do Evangelho é
uma luz que esclarece nossos pensamentos. Sua linguagem agradável, clara e coerente, atrai leitores
de todas as idades. Seus artigos enriquecedores são acessíveis a qualquer nível de educação e cultura.
Em seus escritos transparecem frutos de muitos estudos e reflexões,
sempre alicerçados em princípios
católicos.
4
OS LEITORES
Nos círculos de nossas amizades,
só ouvimos elogios desta magnífica revista. Muitos usam seus artigos
para a catequese, outros para alguma exposição escolar, e muitos outros para meditar e rezar; e também
para se atualizar com as notícias da
Igreja. Além da voz do Vigário de
Cristo e dos excelentes artigos dos
Bispos e padres, destacamos os artigos do Mons. João S. Clá Dias. Seus
comentários sobre os Evangelhos
são sempre recheados com citações
de Doutores e Santos da Igreja e
percebe-se que sua exposição nasce
de uma profunda reflexão e densidade de pensamentos. Quem — ao
fim da leitura de seus santos ensinamentos — não tiraria alguma lição de vida e proveito espiritual para suas almas?
Outra coisa que nos chama a
atenção, também, são os jovens redatores desta revista. Ainda em sua
curta idade, como já escrevem bem!
Podemos deduzir que a formação
que os Arautos do Evangelho dão a
estes jovens é a melhor possível.
Antônio Nobuhiro e Luiza Nakagawa
Bom Jesus dos Perdões – SP
FAZEM MUITO BEM AO ESPÍRITO
Quero agradecer profundamente
o generoso envio da revista Arautos
do Evangelho. Ela me enche de alegria e é minha mais agradável companheira durante o período que me
detenho em assimilar suas leituras
sempre interessantes, profundas e
bem apresentadas.
Fazem-me muito bem ao espírito e me acompanham com sabedoria
nesta etapa de minha vida em que o
Senhor, por meio da enfermidade,
me solicita uma renúncia mais profunda. Ofereço minhas orações para a querida família dos Arautos do
Evangelho.
Irmã Lucy Sanchez, FMM
Casa das Irmãs Enfermas
San Felipe – Chile
ADMIRO E ACOMPANHO A REVISTA
HÁ MUITO TEMPO
Fico muito grato pelo bem que
faz esta revista Arautos do Evangelho. Há muito tempo que a admiro
e acompanho, quase desde o seu começo, com meu irmão franciscano, o
Cardeal Hummes. Espero poder receber sempre nossa querida, alentadora e linda revista.
Frei Rafael Arcos Gallardo
Fraternidade Franciscana
de Belalcázar
Córdoba – Espanha
UM HOMEM TODO FEITO DE
FÉ E DE AMOR A DEUS
Leio todos os meses, com avidez e
em primeiro lugar, o comentário ao
Evangelho, escrito pelo Mons. João
Scognamiglio Clá Dias. Vê-se que é
um homem todo feito de fé e de amor
a Deus, e vive o que escreve. De vez
em quando vejo pela TV Arautos suas homilias, já que não tenho dificuldade com o idioma, pois vivo em uma
cidade fronteiriça com o Brasil. São
palavras cheias de sabedoria e de fé.
Mons. João Clá é um verdadeiro
pastor de almas, pois transmite com
profundidade e contagiante entusiasmo os ensinamentos tão simples, mas
tão belos, do Evangelho. Através da revista, informo-me também do trabalho
desenvolvido pelos Arautos em todo o
mundo e rezo para ter oportunidade
de conhecer sua maravilhosa igreja da
Virgem do Rosário, em São Paulo.
Catalina Sosa Ferreira
Rivera – Uruguai
CONSELHOS QUE
ME ENCHEM O ESPÍRITO
Quero agradecer-lhes por sua revista, que recebo a cada mês em meu
lar e que me enche o espírito com lindas histórias e conselhos, os quais tenho procurado pôr em prática, junto
a outros irmãos.
Dayse Judith Gutiérrez de León
Guayaquil – Equador
Flashes de Fátima · Setembro 2009
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Editorial
APROVAÇÕES PONTIFÍCIAS E
CONDECORAÇÃO PAPAL
N
cias e
es pontifí
Aprovaçõ ção papal
condecora
o 2009
Ano XI
Setembr
Nº 76 -
Mons. João Clá
cumprimenta o
Cardeal Rodé durante a Missa de
Ação de Graças
(Foto: Sérgio Miyazaki)
osso Senhor Jesus Cristo, ao dizer que as portas do inferno não prevaleceriam
contra a Igreja, (cf. Mt 16, 18), não prometeu somente que ela perduraria até
o fim dos tempos, mas também que estaria sempre crescendo e Se aperfeiçoando a cada momento pela ação do Espírito Santo.
A Igreja é imortal. Ela não pode ficar oculta debaixo do alqueire nem desaparecer. Sempre existirá, sempre será visível, sempre terá manifestações, fulgores e vigores novos, porque é o próprio Corpo Místico de Cristo e Templo do Espírito Santo.
Um dos indícios dessa exuberância vital é a grande multiplicidade de carismas,
regras, constituições, estilos, objetivos e espiritualidades que o Paráclito suscita ao
longo dos séculos, com uma diversidade e riqueza que, longe de quebrar a unidade
eclesial, a fortalecem, revigoram, impulsionam e até mesmo sustentam.
Bem assinalou essa realidade o Papa Bento XVI, numa celebração para membros dos Movimentos Eclesiais: “Se consideramos a história, se olhamos esta assembleia aqui na Praça de São Pedro, então compreendemos como Ele suscita sempre novas dádivas; observamos como são diferentes os órgãos que Ele cria; e como, sempre de novo, age corporalmente. No entanto, nele a multiplicidade e a unidade caminham juntas” (Homilia durante a celebração das Primeiras Vésperas de Pentecostes, 3/6/2006).
Com efeito, no plurissecular florescimento de uma plêiade de famílias religiosas discerne-se uma das melhores provas da generosidade com a qual Nosso Senhor
cumpre a promessa feita a Pedro.
Desde que São Paulo Eremita se retirara ao deserto, tornando-se o primeiro anacoreta do cristianismo por volta do ano 250 da nossa era, até as mais recentes fundações ocorridas no terceiro milênio, os Institutos de Vida Consagrada, as Sociedades
de Vida Apostólica e os Institutos Seculares foram sempre um importante esteio para a Igreja e um sinal de sua vitalidade. Verdadeiros reservatórios de oração, contemplação e penitência, de um lado; e de outro, dedicada e renovada força missionária.
* * *
Nascidas dentro da grande família dos Arautos do Evangelho, foram recentemente reconhecidas pelo Santo Padre como de direito pontifício duas Sociedades
de Vida Apostólica: Virgo Flos Carmeli, clerical, e Regina Virginum, feminina.
Para comemorar solenemente junto com os Arautos esse grande dom, o Emmo.
Cardeal Franc Rodé, Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, quis viajar até o Brasil e presidir a Missa de
Ação de Graças.
Paternalmente, escolheu ele a data dessa Eucaristia de forma a coincidir com o
aniversário do fundador dos Arautos do Evangelho, Mons. João Scognamiglio Clá
Dias, a quem trouxe um presente do Papa: a condecoração Pro Ecclesia et Pontifice.
Essa dupla aprovação introduz a Associação dos Arautos do Evangelho no âmago do Corpo Místico de Cristo, a instituição divina que durará pelos séculos dos séculos. E reforça-os na convicção de que tudo quanto na Igreja há de santidade, de
autoridade, de virtude sobrenatural está subordinado, condicionado, dependente da
união à Cátedra de Pedro.
Setembro 2009 · Flashes
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de Fátima
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A VOZ DO PAPA
Cristo é o
“Bispo das almas”
O verdadeiro Pastor, relembra o Santo Padre, deve não apenas
alimentar o seu rebanho com a Palavra, mas defendê-lo contra os
lobos e preservar a unidade. Para isto, acentua, o Pastor precisa viver a
experiência da Fé e tornar-se um modelo para as suas ovelhas.
D
irijo a todos a minha saudação cordial com as palavras do Apóstolo junto de cujo túmulo nos encontramos: “Graça e paz vos sejam dadas em abundância” (I Pd 1, 2). Saúdo, em particular, os Membros da Delegação do Patriarcado ecumênico de
Constantinopla e os numerosos Metropolitas que hoje recebem o Pálio.
Na coleta deste dia solene pedimos
ao Senhor “que a Igreja siga sempre o
ensinamento dos Apóstolos dos quais recebeu o primeiro anúncio da Fé”. O pedido que fazemos a Deus interpela ao
mesmo tempo a nós mesmos: seguimos nós os ensinamentos dos grandes
Apóstolos fundadores? Conhecemolos verdadeiramente? No Ano Paulino, que se concluiu ontem, procuramos ouvi-lo de maneira nova, a ele que
é “mestre das nações”, e assim aprender de novo o alfabeto da Fé. Procuramos reconhecer com Paulo e mediante
Paulo o Cristo, e desta forma encontrar
o caminho para a reta via cristã.
Pedro fala aos Pastores de
todas as gerações
No cânone do Novo Testamento, além das Cartas de São Paulo, há
6
também duas Cartas sob o nome de
São Pedro.
A primeira delas conclui-se explicitamente com uma saudação de Roma,
mas que está sob o nome apocalíptico de cobertura de Babilônia: “Saúdavos a coeleita que vive na Babilônia...”
(5, 13). Ao chamar a Igreja de Roma
a “coeleita”, insere-a na grande comunidade de todas as Igrejas locais —
na comunidade de todos os que Deus
reuniu, para que na “Babilônia” do
tempo deste mundo construam o seu
Povo e façam entrar Deus na História.
A primeira Carta de São Pedro é uma
saudação dirigida de Roma a toda a
Cristandade de todos os tempos. Ela
convida-nos a escutar “o ensinamento
dos Apóstolos”, que nos indica o caminho para a vida.
Esta Carta é um texto muito rico,
que provém do coração e toca o coração. O seu centro é — como poderia
ser diversamente? — a figura de Cristo, que é ilustrado como Aquele que
sofre e que ama, como Crucificado e
Ressuscitado: “quando O insultavam,
não insultava, e, sofrendo, não ameaçava... Pelas suas chagas fostes curados”
(I Pd 2, 23s). Partindo do centro que
é Cristo, a Carta constitui depois tam-
bém uma introdução aos Sacramentos cristãos fundamentais do Batismo
e da Eucaristia e um discurso dirigido
aos sacerdotes, no qual Pedro se qualifica como copresbítero com eles. Ele
fala aos Pastores de todas as gerações
como aquele que foi pessoalmente encarregado pelo Senhor de apascentar
as suas ovelhas e assim recebeu de modo particular um mandato sacerdotal.
Cristo é o protótipo de
todos os ministérios
episcopais e sacerdotais
Que nos diz, portanto, São Pedro
— precisamente no Ano Sacerdotal
— sobre a tarefa do sacerdote?
Antes de tudo, ele compreende o
ministério sacerdotal totalmente a partir de Cristo. Chama Cristo o “pastor e
guarda das... almas” (2, 25). Onde a tradução italiana fala de “guarda”, o texto grego usa a palavra episcopos (Bispo). Mais à frente, Cristo é qualificado como o Pastor supremo: archipoimen (5, 4). Surpreende que Pedro chame o próprio Cristo Bispo — Bispo das
almas. O que pretende dizer com isto?
Na palavra grega episcopos está contido o verbo “ver”; por isso
foi traduzida como “guarda”, ou se-
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O Pastor deve tornar-se
modelo do rebanho
Assim a palavra “Bispo” aproxima-se muito da palavra “pastor”,
aliás, os dois conceitos tornam-se intercambiáveis. É tarefa do pastor
apascentar e guardar o rebanho, e
conduzi-lo às pastagens justas.
Apascentar o rebanho significa
preocupar-se por que as ovelhas encontrem o alimento justo, que seja
saciada a sua fome e satisfeita a sua
sede. Fora da metáfora, isto significa: a palavra de Deus é o alimento do
qual o homem precisa. Tornar sempre de novo presente a palavra de
Deus, e assim alimentar os homens,
é a tarefa do Pastor reto. E ele deve
saber também resistir
aos inimigos, aos lobos.
Deve preceder, indicar
o caminho, conservar a
unidade do rebanho.
Pedro, no seu discurso aos presbíteros, evidencia ainda um aspecto
muito importante. Não é
suficiente falar. Os Pastores devem tornar-se
“modelos do rebanho” (5,
3). A palavra de Deus é
transposta do passado
para o presente, quando é vivida. É maravilhoso ver como nos santos a
palavra de Deus se torna uma palavra dirigida
ao nosso tempo. Em figuras como Francisco e
depois de novo como Padre Pio e muitos outros,
Cristo tornou-se deveras
contemporâneo da sua
geração, saiu do passado
e entrou no presente. Isto significa ser Pastor —
modelo do rebanho: viver a Palavra agora, na
grande comunidade da
santa Igreja.
L'Osservatore Romano
ja, “vigilante”. Mas certamente não
se quer indicar uma vigilância externa, como convém talvez a um guarda
da prisão. Ao contrário, indica-se um
ver do alto — um ver a partir da altura de Deus. Um ver na perspectiva
de Deus é um ver do amor que deseja
servir o outro, deseja ajudá-lo a tornar-se deveras ele mesmo.
Cristo é o “Bispo das almas”, diznos Pedro. Isto significa: Ele vê-nos
na perspectiva de Deus. Olhando a
partir de Deus, tem-se uma visão de
conjunto, veem-se tanto os perigos
como as esperanças e as possibilidades. Na perspectiva de Deus vê-se a
essência, vê-se o homem interior.
Se Cristo é o Bispo das almas, o objetivo é evitar que a alma no homem
se empobreça, é fazer com que o homem não perca a sua essência, a capacidade para a verdade e para o amor.
Fazer com que ele conheça Deus; que
não se perca em becos sem saída; que
não se perca no isolamento, mas permaneça aberto a todos. Jesus, o “Bispo das almas”, é o protótipo de todos
os ministérios episcopais e sacerdotais. Ser Bispo, ser sacerdote significa
nesta perspectiva: assumir a posição
de Cristo. Pensar, ver e agir a partir da
Sua posição elevada. A partir dEle estar à disposição dos homens, para que
encontrem a vida.
“Ser Bispo, ser sacerdote significa assumir
a posição de Cristo. Pensar, ver e agir a partir
da Sua posição elevada”
A Fé cristã é uma esperança
que se funda na racionalidade
Gostaria de chamar de novo a
atenção muito brevemente sobre outras duas afirmações da primeira Carta de São Pedro, que se referem a nós
de modo especial, neste nosso tempo.
Antes de tudo, a frase hoje novamente descoberta, com base na qual os teólogos medievais compreenderam a
sua tarefa, a tarefa do teólogo: “venerai sempre Cristo Senhor nos vossos corações e estai sempre prontos a responder a todo aquele que vos perguntar a
razão da vossa esperança” (3, 15).
A Fé cristã é esperança. Abre o caminho rumo ao futuro. E é uma esperança que possui racionalidade; uma
esperança cuja razão podemos e devemos expor. A Fé provém da Razão
eterna que entrou no nosso mundo e
nos mostrou o verdadeiro Deus. Vai
além da capacidade própria da nossa
razão, assim como o amor vê mais do
que a simples inteligência. Mas a Fé
fala à razão e no confronto dialético
pode prevalecer sobre a razão. Não a
contradiz, mas caminha a par com ela
e, ao mesmo tempo, conduz além dela
— introduz na Razão maior de Deus.
Como Pastores do nosso tempo,
temos a tarefa de sermos os primeiros a compreender a razão da Fé. A
tarefa de não deixar que ela seja simplesmente uma tradição, mas de a reconhecer como resposta às nossas
perguntas. A Fé exige a nossa participação racional, que se aprofunda e se
purifica numa partilha de amor. Faz
parte dos nossos deveres como Pastores penetrar a Fé com o pensamento
Setembro 2009 · Flashes
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de Fátima
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para sermos capazes de demonstrar a
razão da nossa esperança no debate
do nosso tempo. Contudo, o pensar
— mesmo se tão necessário — sozinho não é suficiente. Assim como falar, sozinho, não é suficiente.
Para o Pastor, a Fé não pode
permanecer teoria: deve ser vida
Na sua catequese batismal e eucarística no segundo capítulo da sua
Carta, Pedro faz alusão ao Salmo usado na Igreja antiga no contexto da comunhão, isto é, ao versículo que diz:
“Saboreai e vede como é bom o Senhor” (Sl 33, 9; I Pd 2, 3). Só o saborear conduz ao ver. Pensamos nos discípulos de Emaús: só na comunhão convival com Jesus, só na fração do pão se
abrem os seus olhos. Só na comunhão
com o Senhor deveras experimentada eles se tornam videntes. Isto é válido para todos nós: além do pensar e
do falar, precisamos da experiência da
Fé; da relação vital com Jesus Cristo.
A Fé não deve permanecer teoria: deve ser vida. Se no Sacramento encontramos o Senhor; se na oração falamos com Ele; se nas decisões
cotidianas aderimos a Cristo — então “vemos” cada vez mais como Ele
é bom. Então experimentamos que é
muito bom estar com Ele.
Desta certeza vivida deriva depois a capacidade de comunicar a Fé
aos outros de modo credível. O Cura
d’Ars não era um grande pensador.
Mas ele “saboreava” o Senhor. Vivia
com Ele até nas pequenezas da vida
cotidiana e nas grandes exigências do
ministério pastoral. Deste modo tornou-se “um que vê”. Tinha saboreado,
e por isso sabia que o Senhor é bom.
Rezemos ao Senhor a fim de que nos
conceda este saborear e assim possamos tornar-nos testemunhas credíveis
da esperança que está em nós.
Sem a cura das almas
não pode haver salvação para
a humanidade
Por fim, gostaria de fazer notar
ainda uma pequena, mas importante palavra de São Pedro. Logo no começo da Carta ele diz que a meta da
nossa Fé é a salvação das almas (cf.
1, 9). No mundo da linguagem e do
pensamento da atual Cristandade,
esta é uma afirmação estranha, para
alguns talvez seja até escandalosa.
fotos: L'Osservatore Romano
Na Solenidade
dos Santos
Apóstolos
Pedro e Paulo,
o Papa Bento
XVI entregou o
pálio a 34 novos
Arcebispos,
dentre eles
quatro
brasileiros:
Dom Orani
João Tempesta,
Arcebispo do
Rio de Janeiro
(RJ); Dom Gil
Antônio Moreira,
Arcebispo
de Juiz de
Fora (MG);
Dom Sérgio
da Rocha,
Arcebispo
de Teresina
(PI), e Dom
Maurício Grotto
de Camargo,
Arcebispo de
Botucatu (SP)
8
Flashes de Fátima · Setembro 2009
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26/08/2009 09:56:11
A “ditadura do relativismo”
E
stimados irmãos e irmãs, 150 anos após a morte do
Santo Cura d’Ars, não são menos exigentes os desafios da sociedade hodierna. Pelo contrário, talvez sejam mais complexos. Se havia naquela época a “ditadura do racionalismo”, hoje se verifica em muitos ambientes uma espécie de “ditadura do relativismo”. Uma e outra apresentam respostas inadequadas à justa procura do
homem, de usar plenamente a própria razão como elemento distintivo e constitutivo da sua identidade.
O racionalismo foi inadequado porque não tomou
em consideração os limites humanos, e pretendeu ele-
A palavra “alma” caiu em descrédito. Diz-se que isto levaria a uma divisão do homem em espírito e em físico, em alma e corpo, enquanto na
realidade ele seria uma unidade indivisível. Além disso, “a salvação das
almas” como meta da Fé parece indicar um cristianismo individualista,
uma perda de responsabilidade pelo
mundo no seu conjunto, na sua corporeidade e na sua materialidade.
Mas de tudo isto nada se encontra na
Carta de São Pedro.
O zelo pelo testemunho a favor da
esperança, a responsabilidade pelos
outros caracterizam todo o texto. Para compreender a palavra sobre a salvação das almas como meta da Fé, devemos partir de outro lado. É verdade que a falta de cuidado das almas,
o empobrecer-se do homem interior,
não destrói apenas o indivíduo, mas
ameaça o destino da humanidade no
seu conjunto. Sem a cura das almas,
sem o restabelecimento do homem a
partir de dentro, não pode haver uma
salvação para a humanidade.
São Pedro qualifica a verdadeira
doença das almas, para nossa surpresa, como ignorância, ou seja, como
não-conhecimento de Deus. Quem
var a razão ao nível de única medida de todas as coisas, transformando-a numa deusa. O relativismo contemporâneo ofende a razão, porque chega a afirmar
que o ser humano não pode conhecer com certeza nada que esteja além do campo científico positivo.
Hoje porém, como naquele tempo, o homem,
“mendicante de significado e de conclusão”, procura
incessantemente respostas exaustivas às questões de
fundo que não cessa de pôr-se.
(Excerto da Audiência Geral de 5/8/2009 – Tradução:
Arautos do Evangelho)
não conhece Deus, quem pelo menos
não O procura sinceramente, permanece fora da vida (cf. I Pd 1, 14).
Mais uma palavra da Carta pode sernos útil para compreender melhor a
fórmula “salvação das almas”: “Purificai as vossas almas com a obediência
à verdade” (cf. 1, 22). É a obediência
à verdade que purifica a alma. E conviver com a mentira polui-a.
A obediência à verdade começa
com as pequenas verdades da vida cotidiana, que com frequência podem
ser cansativas e dolorosas. Esta obediência alarga-se depois até à obediência incondicionada face à própria
Verdade que é Cristo. Esta obediência torna-nos não só puros, mas sobretudo também livres para o serviço
a Cristo e assim à salvação do mundo,
que tem sempre o seu início na purificação obediente da própria alma mediante a verdade. Só podemos indicar
o caminho para a verdade se nós próprios — em obediência e paciência —
nos deixarmos purificar pela verdade.
Sede Pastores justos a
exemplo de Cristo
Dirijo-me agora a vós, queridos
Irmãos no episcopado, que neste
momento recebereis da minha mão
o Pálio. Foi tecido com a lã dos cordeiros que o Papa abençoa na festa de Santa Inês. Deste modo ele
recorda os cordeiros e as ovelhas
de Cristo, que o Senhor ressuscitado confiou a Pedro com a tarefa
de os apascentar (cf. Jo 21, 15-18).
Recorda o rebanho de Jesus Cristo, que vós, queridos Irmãos, deveis apascentar em comunhão com
Pedro.
Recorda-nos o próprio Cristo, que
como Bom Pastor carregou sobre os
seus ombros a ovelha tresmalhada, a
humanidade, para reconduzi-la à casa. Recorda-nos o fato de que Ele,
o Pastor supremo, quis fazer-Se Ele
mesmo Cordeiro, para assumir a partir de dentro o destino de todos nós;
para nos reconduzir e curar a partir
de dentro. Rezemos ao Senhor a fim
de que nos conceda ser a Seu exemplo Pastores justos, “não constrangidos, mas de boa vontade... como
apraz a Deus... com ânimo generoso...
modelos do rebanho” (cf. I Pd 5, 2s).
Amém. 
(Homilia na Missa de imposição do
pálio aos novos Arcebispos, 29/6/2009)
Todos os direitos sobre os documentos pontifícios estão reservados à Libreria Editrice Vaticana.
A íntegra dos documentos acima pode ser encontrada em www.vatican.va
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de Fátima
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Vitral da Igreja de
St. Patrick, Roxbury
(Estados Unidos)
a EVANGELHO A
“Tendo partido dali, atravessaram a Galileia. Não queria, porém, que ninguém o soubesse. 31 E ensinava os seus discípulos: ‘O Filho do homem será entregue nas mãos dos homens, e matá-Lo-ão; e ressuscitará três dias
depois de sua morte’. 32 Mas não entendiam
estas palavras; e tinham medo de Lhe perguntar. 33 Em seguida, voltaram para Cafarnaum.
Quando já estava em casa, Jesus perguntoulhes: ‘De que faláveis pelo caminho?’. 34 Mas
Gustavo Kralj
30
10
eles calaram-se, porque pelo caminho haviam
discutido entre si qual deles seria o maior.
35
Sentando-Se, chamou os Doze e disse-lhes:
‘Se alguém quer ser o primeiro, seja o último
de todos e o servo de todos’. 36 E tomando um
menino, colocou-o no meio deles; abraçou-o
e disse-lhes: 37 ‘Todo o que recebe um destes
meninos em Meu nome, a Mim é que recebe;
e todo o que recebe a Mim, não Me recebe,
mas Aquele que Me enviou’” (Mc 9, 30-37).
Flashes de Fátima · Setembro 2009
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COMENTÁRIO AO EVANGELHO – XXV DOMINGO DO TEMPO COMUM
Uma sociedade
marcada pela inocência
Estando com Seus discípulos na Galileia, o Divino Mestre lhes fala de
perseguições, morte e ressurreição, em contraposição à ideia de um
Messias meramente humano, restaurador do poder temporal de Israel.
Diante deles abre-se um panorama inteiramente novo: humildade,
desapego e serviço serão as características de quem quiser
exercer a autoridade segundo o espírito de Jesus.
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP
I – A SOCIEDADE HUMANA
NO PARAÍSO
Uma sociedade que se desenvolvesse no Paraíso Terrestre, composta
por uma humanidade em estado de
justiça original, seria regida pela graça divina e favorecida por dons preternaturais e sobrenaturais concedidos por Deus. Nela reinariam a plena
harmonia e o total entendimento entre os homens, sem inveja nem rivalidades. Cada qual admiraria a virtude dos outros, alegrando-se com eles
e desejando-lhes a maior santidade
possível.
Aconteceu, contudo, que o homem
pecou e foi expulso do Paraíso. Despojada dos dons de que gozavam nossos
primeiros pais, a humanidade ficou sujeita à doença, à morte, ao desequilíbrio psíquico e a tantas outras mazelas.
Mais grave ainda, a alma perdeu o
dom da integridade, pelo qual dominava a concupiscência e mantinha as
paixões em perfeita ordem.1 Sem este
dom, elas entraram em ebulição, tornando necessária ao ser humano uma
contínua luta interior para poder governá-las. A inocência entrou em estado de beligerância para se preservar do pecado.
A causa mais profunda
das dissensões
Consequências dessa desordem são
a inveja e as rivalidades, principal cau-
sa, por sua vez, das rixas e dissensões.
Pois, como afirma o Apóstolo São Tiago na segunda leitura deste 25º Domingo do Tempo Comum, “onde há inveja e rivalidade, aí estão as desordens e
toda espécie de obras más” (Tg 3, 16).
Com efeito, é a inveja um dos vícios mais perniciosos. Quem por ela
se deixa levar, não conhece a felicidade. O invejoso está sempre se comparando com os outros, e quando se
depara com quem o supera em qualquer ponto, logo se pergunta: “Por
que ele é mais e eu menos? Por que
ele tem e eu não?”. Essa atitude torna ácida e amargurada a sua vida,
causando toda espécie de dissabores
e, por vezes, até de mal-estar físico.
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de Fátima
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Gustavo Kralj
Durante o trajeto, o Divino Mestre instruía os discípulos por meio do convívio,
dando-lhes a conhecer tudo quanto ouvira do Pai
Vitral da Igreja de St. Patrick, Roxbury (Estados Unidos)
Deste “por que” — proveniente
em última análise do orgulho — decorrem os males todos. Bem claramente o aponta São Tiago: “De onde
vêm as guerras? De onde vêm as brigas
entre vós? Não vêm, justamente, das
paixões que estão em conflito dentro de
vós?” (Tg 4, 1).
Quanta luta trava o homem hoje, por exemplo, para obter mais dinheiro, mais poder ou mais prestígio,
recorrendo muitas vezes a meios ilícitos ou até criminosos! Em quantas
misérias morais cai ele, para atingir
esse objetivo!
Contudo, mesmo tendo acumulado imensa fortuna, ou galgado o
suprassumo do poder, nunca estará satisfeito. Sempre quererá mais,
porque a alma humana é insaciável,
por natureza, uma vez que é feita
para o infinito, para o absoluto, para o eterno.2 Daí conclui São Tiago:
“Cobiçais, mas não conseguis ter.
Matais e cultivais inveja, mas não
conseguis êxito. Brigais e fazeis guerra, mas não conseguis possuir” (Tg
4, 2).
Enorme esforço faz o homem ganancioso para obter algo que, em vez
de trazer-lhe a felicidade, o fará perder a paz de alma!
12
Para vencer
e recuperar o
equilíbrio de alma
há apenas um
caminho: abraçar as
vias da santidade
Portanto, o Reino de Deus prosperará nesta terra na medida em que
houver entre os homens almas santas, faróis de virtude e de inocência a
iluminar o caminho da humanidade.
Será o Reino da inocência, à imagem
do Inocente por excelência, Nosso
Senhor Jesus Cristo. Teremos, assim,
a realização mais próxima possível da
civilização paradisíaca. É esta uma
das importantes lições a tirar do rico
Evangelho deste domingo.
A santidade faz recuperar
o equilíbrio perdido
Para vencer as paixões desregradas
e recuperar o equilíbrio de alma perdido por causa do pecado, há apenas um
caminho: abraçar as vias da santidade.
Na luta constante contra as próprias paixões, procurando submetê-las
à Lei Divina, irá o homem restaurando
a inocência primitiva, e, com isso, suas
reações de alma se tornarão cada vez
mais semelhantes àquelas que teria no
Paraíso. O que ali lhe seria fácil, custalhe agora, nesta terra de exílio, grande
esforço, dura luta interior e muita ascese, acompanhados do indispensável
auxílio da graça. Pois sem esta nenhum
homem é capaz de dominar a tremenda ebulição das próprias paixões.
II – DUAS MENTALIDADES
EM ENTRECHOQUE
“Tendo partido dali, atravessaram a Galileia. Não queria, porém, que ninguém o soubesse”.
30
Após descer do monte Tabor e
exorcizar um menino possesso, diante de numerosa multidão, Jesus dirigiu-se à Galileia.
Quis fazer a viagem discretamente,
só com os mais próximos, porque ao
longo do caminho “ensinava os Seus
discípulos”.3 O Evangelista deixa aqui
transparecer a divina pedagogia de Jesus. Ele instruía os discípulos durante
o trajeto, por meio do convívio. Não
lhes ensinava a filosofia dos gregos,
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nem a doutrina dos mestres de Israel. Abria-lhes os segredos de Seu Divino Coração, dava-lhes a conhecer tudo quanto ouvira do Pai (cf. Jo 15, 15).
Jesus prepara os Apóstolos
para a provação
Do sublime episódio ocorrido no
Tabor — ao qual só assistiram Pedro,
Tiago e João —, nada havia transpirado. Entretanto, os outros Apóstolos, vendo aqueles três tão radiantes
e cheios de luz, muito provavelmente
percebiam que algo de grandioso devia ter acontecido. Sem dúvida, estavam curiosos, talvez aflitos, para saber o que sucedera.
Quiçá pensassem, segundo seus critérios mundanos, que o Senhor tivesse revelado algum ousado plano para
a conquista do poder e havia, portanto, necessidade de se guardar rigoroso segredo. A ideia da restauração de
um reino temporal que desse aos israelitas um domínio sobre os demais
povos estava tão arraigada nos judeus
daquele tempo — portanto, também
nos seguidores de Jesus —, que após
a Ressurreição ainda houve quem Lhe
perguntasse: “Senhor, é agora que ides
restaurar o reino de Israel?” (At 1, 6).
Aos poucos, pacientemente, o
Mestre ia retificando essa visualização mundana e materialista de Seus
discípulos. O próprio fato de deslocar-Se com eles sem que ninguém o
soubesse correspondia a esse objetivo. Jesus desejava estar a sós com os
Apóstolos para formá-los e preparálos para as difíceis provações futuras.
“E ensinava os Seus discípulos: ‘O Filho do homem será entregue nas mãos dos homens, e matá-Lo-ão; e ressuscitará três dias depois de Sua
morte’”.
31
Anunciando Sua Paixão e morte,
Jesus punha diante dos Doze o amargor da prova e da perseguição.
Ora, “nada repugnava mais aos judeus que a ideia de um Messias sofre-
dor e vítima”, afirma Didon.4 Eles esperavam com avidez a glória, o triunfo de Israel, uma paz e prosperidade
de séculos ou até de milênios... Ou
seja, aspiravam a uma eternidade de
gozo terreno.
Davam-se conta os Apóstolos, sem
dúvida, de que Jesus estava criando
uma instituição para dar continuidade à Sua Obra. Percebiam também
que Ele os ia formando para, em determinado momento, cada qual exercer um importante papel. Continuavam, entretanto, tomados pela ideia
equivocada de um reino terreno, e
sua preocupação era justamente saber quem ocuparia os altos cargos
nessa nova organização.
Assim o assinala Didon, ao comentar as rivalidades que se levanta-
Davam-se conta
os Apóstolos,
de que Jesus
estava criando uma
instituição para
dar continuidade
à Sua obra
vam entre eles: “Pedro tinha sido designado como chefe; Tiago e João pareciam gozar de certa predileção. Ora,
estas preferências manifestas não deixavam de despertar entre os outros algum ciúme e inveja. [...] Daí as disputas azedas, as rivalidades, as ofensas,
as feridas de amor próprio”.5
Nesse clima de ambição e de delírio de mando dos Seus discípulos,
Nosso Senhor os está pacientemente
preparando para não sucumbirem à
terrível provação que se aproximava.
“Mas não entendiam estas palavras; e tinham medo de
Lhe perguntar”.
32
Não era a primeira vez que o Messias anunciava Sua Paixão e Ressur-
reição aos Apóstolos. Estes, porém,
tão distantes estavam de tais cogitações, que nem sequer Pedro, Tiago e João, testemunhas privilegiadas
da Transfiguração, entenderam o que
Ele lhes quis dizer.
Ao descer do Monte Tabor, o Senhor já os havia alertado para nada
contarem “até que o Filho do homem
tivesse ressurgido dos mortos” (Mc 9,
9). Entretanto, ignoravam o sentido
dessas palavras, pois discutiam entre
si o que significaria “ser ressuscitado
dentre os mortos” (Mc 9, 10).
Bem aponta o Crisóstomo “quão
pouco compreendiam os discípulos o
sentido da clara predição da morte do
Senhor. Inclusive depois de todos esses
milagres reveladores, após essa singular revelação de identidade de Jesus por
parte da voz celeste, e depois da predição explícita de Sua morte e Ressurreição, continuavam eles sem entender o
mais importante e estavam preocupados por sua própria ansiedade”.6
De sua parte, o padre Lagrange
assim analisa esta passagem: “Os discípulos continuam não compreendendo. O que menos convinha ao Messias
era a Paixão; o que menos se entendia
da doutrina de Jesus ainda era a necessidade do sofrimento. Quando o Mestre disto falou pela primeira vez, Pedro
protestou, mas foi vivamente repreendido (cf. Mc 8, 31); na segunda,
eles mudaram de assunto (cf.
Mc 9, 11); agora eles não
ousam sequer perguntar”.7
Sua mentalidade
estava em choque
com Nosso Senhor
Ora, se os discípulos
não compreendiam o que
o Mestre lhes dizia, qual
a razão de terem medo de perguntar? Jesus sempre
os tratara
com uma bondade inefável e
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a ocasião não podia ser mais propícia, estando eles a sós com o Mestre.
Era tão fácil, sobretudo naquele momento de intimidade, pedir-Lhe um
esclarecimento!
Havia para isso uma profunda razão
psicológica. A perspectiva da morte do
seu Mestre ia contra todos os planos
de projeção social, de solução política
e econômica que eles almejavam. Significava a destruição do castelo de ilusões que os israelitas montaram a respeito do Messias: o de um homem capacíssimo, cheio de dons para libertar
do domínio romano o Povo Eleito e
projetá-lo acima dos outros povos.
Os Apóstolos percebiam que a
mentalidade deles estava em choque
com a de Nosso Senhor. O Mestre
ensinava uma doutrina que eles, no
fundo dos seus corações, não desejavam ouvir. A resposta de Jesus podia
tornar clara demais essa dissonância,
colocando-os na obrigação de mudar
de mentalidade, o que de todo eles
não queriam.
Bem observa o padre Tuya a este
propósito: “Eles sabem que as predições do Mestre se cumprem. Têm um
pressentimento em relação àquele programa sombrio — para Jesus e para
eles — e evitam insistir sobre ele”.8
O homem, segundo nos ensina
a filosofia tomista, nunca pratica o
mal enquanto mal; sempre procura
justificá-lo, dando-lhe uma aparência de bem.9 E no espírito dos discípulos, duas ideias contraditórias
entravam em conflito: a do autêntico Messias, que lhes falava de per-
Os Apóstolos
percebiam que
a mentalidade
deles estava em
choque com a de
Nosso Senhor
seguições, morte e Ressurreição, e
a de um Messias meramente humano, restaurador do poder temporal
de Israel. Eles então racionalizavam
para justificar a ideia errada na qual
insistiam em acreditar.
O receio de romper os alicerces
dessa mentalidade política e terrena
os fazia ter medo de perguntar.
“Em seguida, voltaram para Cafarnaum. Quando já estava em casa, Jesus perguntoulhes: ‘De que faláveis pelo caminho?’. 34 Mas eles calaramse, porque pelo caminho haviam discutido entre si qual deles seria o maior”.
33
Sabia Cristo perfeitamente de
qual assunto os Apóstolos trataram
ao longo do percurso. À incômoda
indagação, porém, eles ficaram calados, envergonhados de dizer ao Mestre que o tema de sua conversa havia
sido uma egoística disputa de primazia pessoal.
O seu silêncio já era um meio reconhecimento da falta cometida, da
qual eles tinham certa consciência,
como afirma o Cardeal Gomá: “Sua
conduta está em flagrante oposição
com o sentir do Mestre, e estão confusos diante dEle”.10
No mesmo sentido se pronunciam
comentaristas da Companhia de Jesus: “O silêncio dos discípulos perante
a pergunta do Mestre é muito psicológico. Sentem-se, sem dúvida, conscientes de que suas aspirações não encontrariam aprovação”.11
Um novo conceito de autoridade
“Sentando-se, chamou os
Doze e disse-lhes: ‘Se alguém
quer ser o primeiro, seja o último de todos e o servo de todos’”.
35
Gustavo Kralj
Anunciando sua Paixão e
morte, Jesus punha diante dos
Doze o amargor da prova e da
perseguição
“Jesus Flagelado” - Convento dos
padres dominicanos, Salvador (BA)
14
O Mestre conhecia bem aqueles
que escolhera, pois, conforme comenta o padre Lagrange, Ele “não
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se espanta com a preocupação dos
discípulos, nem contesta o princípio
da hierarquia, mas insinua o espírito novo do qual deve estar animado
quem tem cargo de direção. Há certamente aqui a previsão de outra ordem
de coisas”.12
Com Suas palavras, Jesus não
condena o desejo de obter a primazia, mas põe uma condição: para ser
o primeiro, é preciso ser “o último de
todos e o servo de todos”. Essa afirmação abria um panorama completamente novo para os Apóstolos, os
quais compartilhavam do conceito de
autoridade comum e corrente naquela época: quem é mais forte, mais capaz, mais inteligente, mais rico, ou
mais esperto, esse manda e os outros
obedecem.
Perante essa visão, Nosso Senhor
declara qual é a regra de governo que
deverá vigorar na Era Cristã: “O novo Reino que quero instaurar não será como os reinos da terra. O que deve
animar Meus discípulos não é o espírito de ambição, a procura das grandezas. Pelo contrário, a primeira condição, a condição fundamental, para almejar o primeiro posto no Reino messiânico é a humildade, o menosprezo
das honras, o desinteresse de quem se
esquece de si mesmo para dedicar-se
ao serviço dos irmãos”.13
Humildade, menosprezo das honras, desinteresse por si mesmo e dedicação aos irmãos: são estas as características de quem deve mandar
de acordo com o espírito de Jesus. É
a precedência da virtude e da inocência na sociedade. Nada mais oposto à
ira, à inveja e às rivalidades que tanto
atormentam o homem depois do pecado original!
A esse respeito, transcreve o padre Maldonado expressivo comentário do Bispo e mártir São Cipriano:
“Com Sua resposta, cortou Jesus qualquer emulação e extirpou toda ocasião
e pretexto da mordaz inveja. Não é lícito ao discípulo de Cristo ter essas rivalidades e invejas, nem pode existir entre nós peleja para sobressair-se, pois
aprendemos que o caminho para a primazia é a humildade”.14
Convém notar, por fim, que Jesus
“sentou-Se” antes de fazer esta solene declaração, “como para julgar no
Seu Tribunal e ensinar aos Apóstolos,
da Sua Cátedra, algo grave e importante que merecia ser dito não de pé e como que de passagem, mas sentado e
de propósito, com plena advertência e
consideração”.15
O verdadeiro
discípulo precisa
apresentar-se sem
qualquer pretensão,
admirando as
qualidades alheias
III – GOVERNAR EM
FUNÇÃO DA INOCÊNCIA
“E tomando um menino, colocou-o no meio deles; abraçou-o...”.
36
Comentam extensamente os exegetas este episódio no qual Jesus chama para junto de si uma criança, relacionando-o com a narração de São
Lucas, que no final do seu relato reproduz estas palavras do Salvador:
“Pois quem dentre vós for o menor, esse será grande” (Lc 9, 48).
As crianças estão isentas
de inveja e vanglória
Ressalta-se, em geral, como o Divino Mestre serve-Se deste eloquente recurso pedagógico para fazer ver
aos discípulos, cegos pelo desejo de
supremacia, a necessidade de serem
simples e humildes. Pois, como observa o Crisóstomo, “o menino está
isento de inveja, de vanglória e de qualquer ambição de primazia”.16
Por sua vez, Beda o Venerável ressalta o quanto Deus tem em alta es-
tima a virtude da humildade: “Pelo
qual, ou simplesmente aconselha aos
que querem ser os primeiros que recebam, em honra dEle, os pobres de Cristo, ou que sejam como meninos, a fim
de conservarem a simplicidade sem arrogância, a caridade sem inveja e a dedicação sem ira. O fato de abraçar o
menino significa que os humildes são
dignos de Seu abraço e de Seu amor”.17
Mostra assim Jesus, neste episódio,
quanto o verdadeiro discípulo não deve estar preocupado se será, ou não,
maltratado, esquecido, posto de lado.
Ele precisa apresentar-se sem qualquer pretensão, nem orgulho, mas,
pelo contrário, admirando as qualidades alheias. Quem assim age será o
primeiro a receber a misericórdia de
Deus. Aquele que se tem por último e
se considera o menor será quem mais
recebe da Divina Providência.
Pode-se conjecturar a profunda perplexidade dos Doze naquele momento.
Queriam eles ocupar posição de destaque, Jesus aponta-lhes a necessidade
de procurar o último lugar. Aspiravam
a um reino messiânico glorioso, Jesus
alerta-os sobre Sua Paixão e morte na
Cruz... O choque de mentalidades vaise tornando cada vez mais patente. Porém, tudo é dito com doçura, sem acrimônia, no momento oportuno, de forma a que as divinas palavras do Mestre penetrem beneficamente nos
espíritos. Manifesta Ele aqui,
uma vez mais, a admirável
e delicada arte de corrigir, que servirá de modelo a todos quantos tiverem o encargo da direção das almas.
Jesus externa seu amor
por quem jamais pecou
“...e disselhes: 37 ‘Todo o
que recebe
um destes
meninos
em Meu
nome, a
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Gustavo Kralj
Mim é que recebe; e todo
o que recebe a Mim, não
Me recebe, mas Aquele
que Me enviou’”.
Nessa perspectiva, lembra
Maldonado que São Marcos
“aduz esta razão em lugar da
conclusão posta por São Mateus: Em verdade vos digo que,
se não vos converterdes e vos
tornardes como crianças, não
entrareis no Reino dos Céus.
Prova-se implicitamente esta
conclusão com o que diz aqui
São Marcos, que ninguém entrará no Reino de Deus se não
for semelhante a Deus. Nenhuma coisa manchada poderá entrar naquela cidade (como escreve São João no Apocalipse,
21, 27). Não podeis ser semelhantes a Deus se não O recebeis; e não O podeis receber se
não Me recebeis, a Mim que fui
enviado pelo Pai. E não Me podeis receber se não recebeis em
Meu nome os meninos e não
vos assemelhais a eles. Portanto, se não vos converterdes e vos
tornardes como meninos, não
entrareis no Reino dos Céus”.21
Embora os Evangelistas sejam muito sintéticos ao narrar
esta passagem, podemos bem
imaginar o quanto Nosso Senhor deve ter-Se demorado
com esse menino, fazendo belíssimas considerações sobre a
infância. Podemos supor também com quanto ardor elogiou
sua humildade e desprendimento, pondo em realce as virtudes próprias a quem jamais
pecou.
Transparece assim, neste
último versículo do Evangelho hoje comentado, todo o
amor de Jesus pela inocência,
representada na criança por
Ele abraçada. Esse menino —
o futuro mártir Santo Inácio
Santa Maria Madalena amou o Divino Mestre
de Antioquia, segundo refere
a ponto de ser venerada como a primeira das
Eusébio de Cesareia18 — simVirgens na ladainha de Todos os Santos
boliza a pessoa que se entre“Santa Maria Madalena” por Francisco Brea - Museu
Uma nova forma de
ga a Deus, sem reservas nem
Palazzo Rosso, Gênova (Itália)
governar e se relacionar
racionalizações, com reta intenção.
De acordo com o espírito do EvanEm uma sociedade
Cristo é modelo de inocente, engelho, pouco antes declarado pelo Diquanto Homem, e a Inocência em esvino Mestre, quem quiser ter autorimarcada pela
sência, enquanto Deus. Ele chama
dade deve estar disposto a servir. Jeinocência, a
para junto a Si aquela criança porsus acaba de ensinar aos Apóstolos esque, como ensina São Leão Magno,
sa verdade, chocando inteiramente a
autoridade deve
“ama a infância, mestra de humildade,
mentalidade pagã que dominava os
governar o súdito
norma de inocência, modelo de manseus espíritos, segundo a qual se deve
sidão. Cristo ama a infância, sobre a
os outros à base da força.
como quem governa dominar
qual quer modelados os costumes dos
Em uma sociedade marcada peadultos, e à qual quer reconduzida a
la inocência, a autoridade deve gouma criança
idade senil; e leva a seguir seu humilde
vernar o súdito como quem goverexemplo àqueles que depois eleva ao centa: ‘E todo o que recebe a Mim, na uma criança. Ela não tem delírios
Reino eterno”.19
não Me recebe, mas Aquele que Me en- de mando; é despretensiosa, flexíSobre este versículo, comenta o viou’, etc., querendo ser considerado vel e humilde; está sempre à disposição dos outros. Sendo ela tenra e fráCrisóstomo: “E acrescenta ‘em Meu em grau igual ao de Seu Pai”.20
nome’ para que os discípulos, guia“Todo o que recebe um destes me- gil, pede ser conduzida com carinho e
dos pela razão, adquiram em nome de ninos em Meu nome, a Mim é que re- afeto. E, para isso, o governante tem
Cristo a virtude que o menino pratica cebe”. Jesus mostra-se assim igual ao de se pôr ao serviço dos seus suborguiado pela natureza. Entretanto, pa- Pai, indicando, ao mesmo tempo, que dinados, criando um regime que busra não se pensar que Ele se referia só quem recebe o inocente, o afaga e o que mais atrair do que impor, procuàquele menino quando ensinava que protege, abraça na realidade ao pró- rando despertar neles o entusiasmo
pela prática do bem.
Ele era honrado nos meninos, acres- prio Deus.
16
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IV – O BEM MAIS PRECIOSO
QUE O HOMEM PODE RECEBER
Preservar a inocência batismal —
ou recuperá-la, caso tenha tido a desgraça de perdê-la — deve ser a meta
de todo cristão. Porque quem a possui conserva na alma Nosso Senhor
Jesus Cristo, o Pai e o Espírito Santo.
A inocência é o bem mais precioso
que o homem pode receber. A união
com a Santíssima Trindade de quem
jamais pecou outorga-lhe uma autoridade que nem o poder, nem o dinheiro, nem as manobras diplomáticas são capazes de conceder.
Em sua primitiva inocência, o homem era inerrante, pois como ensina
São Tomás: “Não era possível, enquanto durasse a inocência, que o intelecto
humano desse sua aquiescência a al“Como toda a integridade do estado harmônico de que acabamos de
falar era produzida pela submissão da vontade humana a Deus, resultou da subtração da vontade humana a essa submissão divina uma alteração da submissão perfeita das potências inferiores à razão, e do corpo à
alma. Em consequência,
o homem sentiu no apetite sensitivo inferior os
movimentos desordenados da concupiscência, da
cólera e das outras paixões estranhas à ordem
da razão, e mesmo contrárias à razão, envolvendo-a nas trevas, na maior
parte das vezes, e perturbando-a em suas faculdades” (SÃO TOMÁS DE
AQUINO. Compêndio de
Teologia. c. 192).
3
Cf. AQUINO, São Tomás
de. Suma Teológica. I-II,
q. 2 e 3.
Cf. MALDONADO, SJ,
Pe. Juan de. Comentarios
a los cuatro Evangelios –
II San Marcos y San Lu-
Devemos envidar
todos os esforços
para manter sem
pecado a nossa
alma, ainda que seja
necessário sacrificar
a própria vida
cas. Madrid: BAC, 1951,
p. 146.
1
2
gum erro como se fosse verdade”.22 De
forma análoga, o homem que mantém sua inocência batismal será infalível na medida que em se deixe guiar
pela graça, pelas virtudes infusas e os
dons do Espírito Santo. Assim o afirma o padre Garrigou-Lagrange: “Na
4
DIDON, Henri, OP. Jesus
Cristo. Porto: Liv. Int. de
Ernesto Chardron, 1895,
V. 2, p. 227.
5
Idem, p. 228.
6
Apud ODEN, Thomas C.
e HALL, Cristopher A.
La Biblia comentada por
los Padres de la Iglesia –
Nuevo Testamento 2 San
Marcos. Madrid: Ciudad
Nueva, 2000, p. 184.
7
8
9
11
LAGRANGE, OP, P. M.J. Evangile selon Saint
Marc. 5. ed. Paris: Gabalda et Fils, 1929, p. 244.
TUYA, OP, Pe. Manuel
de. Biblia Comentada –
II Evangelios. BAC: Madrid, 1964, p. 695.
Cf. AQUINO, São Tomás
de. Suma Teológica. I-II
q. 78, a. 1.
10
GOMÁ Y TOMÁS, Card.
Isidro. El Evangelio explicado. Barcelona: Rafael Casulleras, 1930, V. 3,
p. 83.
12
ordem da graça, a fé infusa faz-nos aderir à palavra divina e ao que esta exprime. […] Enquanto os sábios dissertam
longamente e levantam todo tipo de hipóteses, Deus faz Sua obra naqueles
que têm o coração puro”.23
Devemos, portanto, envidar todos os esforços para manter sem
pecado a nossa alma, ainda que seja necessário, para isto, sacrificar a
própria vida. E se, por infelicidade,
tivermos perdido a inocência batismal, empenhemo-nos ao máximo em
recuperá-la, como o fez Santa Maria Madalena, através de um ardente amor ao Divino Mestre. E tanto
amou que se assemelhou ao Amado
a ponto de ser venerada como a primeira das virgens na ladainha de todos os Santos. 
La Sagrada Escritura. Texto y comentarios por Profesores de la Compañía
de Jesus. Nuevo Testamento.– Evangelios. Madrid: BAC, 1961, Vol. 1,
p. 450.
LAGRANGE, OP, P. M.J. Op. cit., p. 244-245.
13
DEHAULT. L’Evangile
expliqué, défendu, médité – tome troisième. Paris:
Lethielleux, 1867, p. 290.
14
MALDONADO. Op. cit.,
p. 151.
15
Idem, ibidem.
16
JUAN CRISÓSTOMO, San. Homilías sobre el Evangelio de Mateo,
hom. 58, 3.
17
BEDA, São. In Marci Evangelium Expositio,
l. 3, c. 9: PL 92, 0224.
18
Cf. DEHAUT, Op. cit.,
p. 290.
19
LEÃO MAGNO, São.
Sermones in præcupuis totius anni festivitatibus ad
romanam plebem habiti. Serm. 37, c. 3: PL 54,
0258.
20
BEDA, São. Op. cit., PL
92, 0225.
21
MALDONADO. Op. cit.,
p. 152-153.
22
AQUINO, São Tomás de.
Suma Teológica. I, q. 94,
a. 4.
23
GARRIGOU-LAGRANGE, OP, P. Réginald Marie. El sentido común. La
filosofía del ser y las fórmulas dogmáticas. Buenos Aires: DEDEBEC y
Ediciones Desclée, De Brouwer, 1945,
p. 340-344.
Setembro 2009 · Flashes
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de Fátima
17
26/08/2009 09:56:28
Sérgio Miyazaki
Cardeal Franc Rodé co
Uma nova era na história dos Arautos foi
aberta pelo Cardeal Franc Rodé, vindo
especialmente de Roma para comemorar
a aprovação pontifícia de duas Sociedades
de Vida Apostólica: “Virgo Flos Carmeli” e
“Regina Virginum”.
“O
s Arautos do Evangelho puderam experimentar de maneira inesquecível “como é
bom, como é agradável os irmãos morarem juntos” (Sl 132, 1) com
o pai! No dia 15 de agosto, Solenidade da Assunção da Virgem Maria,
veio especialmente de Roma o Cardeal Franc Rodé para comemorar a
aprovação pontifícia das duas Sociedades de Vida Apostólica surgidas no
seio dessa Associação: Virgo Flos Carmeli (clerical) e Regina Virginum (feminina).
Aniversário do fundador
A data foi escolhida pelo Cardeal
para coincidir com o aniversário de
Mons. João Scognamiglio Clá Dias,
fundador de ambas as Sociedades, a
quem trazia uma surpresa.
O Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica presidiu a Celebração Eucarística
festiva na Igreja de Nossa Senhora do
Rosário, anexa ao Seminário internacional dos Arautos, situado na Grande São Paulo. No final, entregou a
Mons. João a Medalha Pro Ecclesia et
Pontifice, outorgada pelo Papa Bento
18
XVI, o qual — disse Sua Eminência
— “quis premiar vossos méritos”.
dades de Vida Apostólica aprovadas
(32 masculinas e 12 femininas).
Sociedades de Vida Apostólica
A paternalidade de um
príncipe da Igreja
As Sociedades de Vida Apostólica surgiram no século XVI. A primeira delas aprovada na História da Igreja foi a Congregação do Oratório, fundada por São Felipe Néri, em 1575.
Ele pediu ao Papa Gregório XIII que
a família religiosa por ele organizada
não fosse obrigada a assumir nenhuma das formas jurídicas anteriormente estabelecidas. Na sua Congregação,
os membros “não deviam estar vinculados por votos ou promessas, mas o
único vínculo deveria ser o amor”.1 Como nos explica o Anuário Pontifício,2
muitos fundadores de famílias religiosas utilizaram as fórmulas jurídicas já
existentes. Outros, como São Felipe
Néri, criaram novas formas. Este é o
caso também dos Arautos do Evangelho, com as duas Sociedades de Vida
Apostólica aprovadas neste ano: Virgo
Flos Carmeli (clerical) e Regina Virginum (feminina). É a fecunda ação do
Espírito Santo enriquecendo a Igreja
ao longo dos séculos com novos carismas. Até dezembro de 2008, segundo
o Anuário Pontifício, havia 44 Socie-
Em sua homilia — transcrita adiante — o Cardeal Rodé comoveu o público pela paternalidade manifestada para com os Arautos, cujo carisma manifesta admirar e compreender a fundo. Com seu porte digno, aliado à afabilidade no trato, cativou todos quantos dele se aproximaram. Uma autêntica figura de príncipe da Igreja, e de pai
e protetor dos pequenos.
A solenidade da cerimônia litúrgica, as calorosas palavras dirigidas pelo Cardeal ao fundador dos Arautos,
a beleza dos cantos, o esplendor do
templo sagrado, tudo contribuiu para
tonificar o espírito católico dos assistentes e dar-lhes a convicção de que
se abria uma nova era na história dos
Arautos do Evangelho. 
1
G. SCHWAIGER. La Vita Religiosa
dalle origini ai nostri giorni. Milano:
1997, p. 335.
2
Annuario Pontificio. Città del Vaticano: 2007, p. 1943-1944.
Flashes de Fátima · Setembro 2009
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Ivan Tefel
Héctor Matos
dé comemora aprovações pontifícias
Setembro 2009 · Flashes
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de Fátima
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26/08/2009 09:56:40
Gustavo Kralj
Ivan Tefel
César Díez
Sérgio Miyazaki
Quarenta sacerdotes concelebraram a Missa presidida por Sua Eminência o Cardeal Rodé.
O Cardeal Franc Rodé ladeado por Monsenhor Blaž
Jezeršek, seu secretário pessoal, e Monsenhor Franci
Petrič, diretor do semanário católico
“Družina” (A Família), de Liubliana (Eslovênia).
20
No final, Sua Eminência entregou a
Mons. João Sconamiglio Clá Dias a Medalha
“Pro Ecclesia et Pontifice”, outorgada
pelo Papa Bento XVI.
Flashes de Fátima · Setembro 2009
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26/08/2009 09:56:48
César Díez
Sois da estirpe
dos heróis e dos santos
Calorosas palavras do Cardeal Franc Rodé
a Mons. João Scognamiglio Clá Dias, na entrega
da medalha “Pro Ecclesia et Pontifice”.
N
o momento de vos entregar a
condecoração com a qual o Santo Padre quis premiar vossos méritos,
vêm-me à mente as palavras de São
Bernardo, no início de seu tratado De
laude novæ militiæ: “Faz algum tempo
que se difunde a notícia de que um novo
gênero de cavalaria apareceu no mundo”. Essas palavras podem ser aplicadas ao momento presente. Com efeito,
graças a Vossa Excelência, surgiu uma
nova cavalaria não secular, mas religio-
sa, com um novo ideal de santidade e
um heroico empenho pela Igreja.
Neste empreendimento, nascido
em vosso nobre coração, não podemos deixar de ver uma graça particular dada à Igreja, um ato da Divina Providência em vista das necessidades do mundo de hoje.
O ideal que propondes àqueles
que são vossos é o de seguir a Cristo no grande movimento dos Arautos do Evangelho, com radicalismo
evangélico, “combatendo sem trégua
— como diz São Bernardo — uma
dupla batalha, seja contra a carne e o
sangue, seja contra os espíritos malignos do mundo invisível”.
Obrigado, Monsenhor, por vosso
nobre empenho, obrigado por vossa santa audácia, obrigado por vosso
amor apaixonado pela Igreja, obrigado pelo esplêndido exemplo de vossa
vida. Vós sois da estirpe dos heróis e
dos santos!
Héctor Matos
Testemunho sobre os Arautos
Em declarações à TV Arautos, o Cardeal Franc Rodé referiu-se a esta
Associação como “uma nova grande família religiosa que nasceu na Igreja,
graças ao gênio do Monsenhor João”.
C
onheci os Arautos do Evangelho
inicialmente na Eslovênia, quando era Arcebispo de Liubliana, e depois, evidentemente, quando cheguei a
Roma, como Prefeito da Congregação
para os Institutos de Vida Consagrada
e as Sociedades de Vida Apostólica.
O que me impressionou muito foi,
para começar, a personalidade do
fundador e superior geral, o Mons.
João Scognamiglio Clá Dias. É uma
pessoa extraordinária, um carisma
manifesto e, sobretudo, creio eu, um
grande organizador e um homem capaz de levar atrás de si tantos jovens.
Ontem estivemos no Centro de
Formação das Moças, estes dias estou
aqui no Tabor, onde vivem centenas
de rapazes, e vejo o entusiasmo, a ale-
gria de ser cristãos, a alegria de pertencer à Igreja e de servir ao Reino de
Cristo. Tudo isso faz parte do carisma
dos Arautos do Evangelho.
Em Roma, cerca de 15 estudantes
arautos estão se preparando para serem, mais tarde, professores aqui no
Tabor, na Faculdade de Teologia.
Os Arautos do Evangelho representam para mim a novidade que se
manifesta nos últimos anos na Igreja: um grande dinamismo apostólico,
um grande amor à Igreja, uma grande fidelidade ao Papa e à Santa Sé.
Aqui não se tergiversa, aqui não
há nenhuma tentação de se desviar
da doutrina reta e sã da Igreja, e os
Arautos do Evangelho estão provando isso todos os dias. O que me im-
pressiona também é a disciplina.
Aqui existe ordem, disciplina, vontade de trabalhar e de fazer algo por
Cristo e pela Igreja.
Ademais, o que é raro no mundo
de hoje, o culto da beleza na expressão mais alta e mais nobre da palavra:
a Liturgia, os cantos, a orquestra, todo o comportamento dos Arautos do
Evangelho é extremamente nobre,
distinto, grande, belo!
Sinto-me feliz de poder dar hoje
meu testemunho sobre os Arautos do
Evangelho, com grande otimismo para o futuro. É uma nova grande família religiosa que nasceu na Igreja, graças ao gênio do Mons. João, e que seguramente tem um grande porvir na
Igreja, para o bem do Reino de Deus.
Setembro 2009 · Flashes
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de Fátima
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26/08/2009 09:56:55
EXCERTOS DAS PALAVRAS DE AGRADECIMENTO DE MONS. JOÃO SCOGNAMIGLIO CLÁ DIAS, EP
Momento histórico para os Arautos
Ao agradecer a honrosa condecoração recebida do Papa Bento XVI,
bem como as palavras e a paternal dedicação do Cardeal Franc Rodé,
Mons. João Scognamiglio Clá Dias mostra quanto esses acontecimentos
marcarão a fundo a história dos Arautos do Evangelho.
A
medalha Pro Ecclesia et
Pontifice vem para mim, e
para as Sociedades de Vida Apostólica que temos a honra de
conduzir, num momento muito oportuno. Ela nos enche de alegria porque no sermão de Vossa Eminência
ficou patente um ponto muito ressaltado do nosso carisma, que é a devoção a Nossa Senhora.
Temos um empenho total de uma
entrega completa em relação a Ela.
E o sermão de Vossa Eminência não
poderia ser mais lógico e cheio de sa-
22
bedoria, no referente a esse dado
fundamental.
Um Arcebispo heroico
O Cardeal acaba de falar do heroísmo de outros que aqui se encontram no dia de hoje. Porém, ele mesmo foi um grande herói porque nasceu e se desenvolveu sob regime comunista, na Eslovênia, sofrendo perseguições. Tem um irmão, Andrej
Rodé, que foi mártir do comunismo.
Ele próprio, Cardeal, teve de sair
do país. Quando regressou, o fez co-
mo Arcebispo de Liubliana. Ali, ele
enfrentou todas as dificuldades, deixando a bandeira da Igreja Católica Apostólica Romana, não só elevada, mas sobretudo com um brilho que ela não tinha antes de nosso
Eminentíssimo Cardeal ter governado essa Arquidiocese.
Carisma para conhecer e
conduzir as almas
Ele tem um carisma para conhecer
e conduzir as almas, ou seja, o discernimento dos espíritos. O carisma é
Flashes de Fátima · Setembro 2009
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26/08/2009 09:56:59
César Díez
Uma palavra sobre
a nossa devoção ao Papa
Além do dito a respeito do Cardeal, é indispensável dedicar umas palavras à Cátedra de Pedro, da qual
me vem esta honrosa medalha.
Eu fui formado por um líder católico do Brasil, Plinio Corrêa de Oliveira, que, entre muitas outras virtudes, ensinou-me a amar o Papa. Em
um artigo no Legionário, na época órgão oficioso da Arquidiocese de São
Paulo, ele externa de forma belíssima
o que está no meu coração e no de
todos os Arautos a respeito do Papa:
“Tudo quanto na Igreja há de santidade, de autoridade, de virtude sobrenatural, tudo isto — mas absolutamente tudo sem exceção, nem condição, nem restrição — está subordinado, condicionado, dependente da
união à Cátedra de Pedro. As instituições mais sagradas, as obras mais veneráveis, as tradições mais santas, as
pessoas mais conspícuas, tudo enfim
que mais genuína e altamente possa
exprimir o Catolicismo e ornar a Igreja de Deus, tudo isto se torna nulo, estéril, digno do fogo eterno e da ira de
Deus, se separado do Sumo Pontífice.
Conhecemos a parábola da videira e
dos sarmentos. Nessa parábola, a vi-
“Tudo quanto na Igreja há de
santidade, de autoridade, de virtude
sobrenatural está subordinado,
condicionado, dependente da união
à Cátedra de Pedro”
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Sergio Miyazaki
uma dádiva gratis data por Deus com
vistas a beneficiar terceiros. E tenho
observado o quanto o nosso Cardeal é assistido pelo Espírito Santo, na
sua função de Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, o quanto ele analisa e sabe pesar as coisas.
Ele tem as fórmulas perfeitas. É
um homem de passos firmes, mas
macios, de mãos também muito enérgicas, mas cheias de suavidade, e sabe resolver situações com uma categoria única.
“As palavras de Vossa Eminência
e todo o carinho manifestado
nesta ocasião marcarão a fundo
a história dos Arautos
do Evangelho”
deira é Nosso Senhor Jesus Cristo, os
sarmentos são os fiéis. Mas como Nosso Senhor Se ligou de modo indissolúvel à Cátedra Romana, pode-se dizer
com toda segurança que a parábola seria verdadeira entendendo-se a videira
como a Santa Sé, e os sarmentos como as várias dioceses, paróquias, Ordens Religiosas, instituições particulares, famílias, povos e pessoas que constituem a Igreja e a Cristandade. Isto tudo só será verdadeiramente fecundo na
medida em que estiver em íntima, calorosa, incondicional união com a Cátedra de São Pedro”.1
O amor a Cristo e ao Papa
se confundem
Continua ele: “‘Incondicional’, dissemos, e com razão. Em moral, não há
condicionalismos legítimos. Tudo está
subordinado à grande e essencial condição de servir a Deus. Mas, uma vez
que o Santo Padre é infalível, a união a
seu infalível magistério só pode ser incondicional.
“Por isto, é sinal de condição de vigor espiritual, uma extrema susceptibilidade, uma vibratilidade delicadíssima e vivaz dos fiéis por tudo quanto diga respeito à segurança, glória e tranquilidade do Romano Pontífice. Depois do amor a Deus, é este o mais al-
to dos amores que a Religião
nos ensina. Um e outro amor
se confundem até. Quando
Santa Joana d’Arc foi interrogada por seus perseguidores que queriam
matá-la, e que para isto procuravam
fazê-la cair em algum erro teológico,
por meio de perguntas capciosas, ela
respondeu: ‘Quanto a Cristo e à Igreja, para mim são uma só coisa’. E nós
podemos dizer: ‘Para nós, entre o Papa
e Jesus Cristo não há diferença’. Tudo
o que diga respeito ao Papa diz respeito
direta, íntima, indissoluvelmente, a Jesus Cristo”.2
A presença do Cardeal nos une
mais ao Papa
De fato, estamos inteiramente
unidos ao Papa. Esta medalha é símbolo dessa união, e para mim tem um
grande valor.
Porém, mais do que esta condecoração, faz-me sentir a união com o
Santo Padre a pessoa deste Cardeal
posto pela Providência em nosso caminho. Cardeal, nós sabemos, vem
do latim de cardo, cardinis, que significa gonzo, dobradiça. A porta gira,
abre e fecha em dobradiças e o termo “cardeal” tem origem nesta imagem: os cardeais são as “dobradiças”
que ligam o mundo ao Papa.
Por isso, as palavras de Vossa Eminência e todo o carinho manifestado
nesta ocasião, esta cerimônia, a medalha Pro Ecclesia et Pontifice, marcarão a fundo a história dos Arautos do
Evangelho, da Sociedade Virgo Flos
Carmeli, da Sociedade Regina Virginum e de outras instituições que surgirem no futuro.
Na base de tudo isso está a figura de nosso queridíssimo Cardeal. O
nosso coração tem gravado por dentro, indelevelmente, o nome de Franc
Rodé! 
1
CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. A
Guerra e o Corpo Místico. In: O Legionário, 16/4/1944.
2
Ibidem.
Setembro 2009 · Flashes
de Fátima
23
26/08/2009 09:57:03
HOMILIA NA SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DA BEM-AVENTURADA VIRGEM MARIA
Olhar para a História
com olhos celestes
Neste dia dedicado a Maria, damos graças ao Pai pela aprovação pontifícia das
duas Sociedades de Vida Apostólica emanadas dos Arautos do Evangelho. E pelo
aniversário de seu fundador, Mons. João Scognamiglio Clá Dias, instrumento
dócil e clarividente do Espírito Santo, por meio de quem a grande família dos
Arautos do Evangelho foi doada à Igreja universal.
Cardeal Franc Rodé, CM
Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada
e as Sociedades de Vida Apostólica
E
stamos reunidos nesta grandiosa Igreja de Nossa Senhora do Rosário para celebrar a
solenidade da Assunção ao Céu da
Bem-aventurada Virgem Maria, a
festa da Mãe, a definitiva glorificação de Maria, Mãe de Cristo, Mãe da
Igreja, Mãe de todos os homens, Mãe
terníssima de cada um de nós. Sentimentos de exultação, de maravilhamento, de ternura e de devoção, sentimentos de fidelidade e de devoção,
nos enchem o coração neste dia, porque Refulge a Rainha, à direita do Senhor.
O Papa Pio XII, na Constituição
Apostólica Munificentissimus Deus,
que pronunciava, declarava e definia o dogma da Assunção ao Céu da
Bem-aventurada Virgem Maria em alma e corpo, assim escrevia: “Imaculada na Sua concepção, sempre virgem
na Sua maternidade divina, generosa
24
companheira do divino Redentor, que
obteve triunfo completo sobre o pecado e suas consequências, alcançou por
fim, como suprema coroa dos seus privilégios, que fosse preservada da corrupção do sepulcro, e que, à semelhança de
seu divino Filho, vencida a morte, fosse
levada em corpo e alma ao Céu, onde
refulge como Rainha à direita do seu Filho, Rei imortal dos séculos”.1
Damos graças pelas duas
sociedades e pelo fundador
Neste dia, inteiramente dedicado
a Maria, temos o júbilo de dar graças ao Pai de toda misericórdia pelos
dons de bondade que Ele nos prodigalizou com tanta plenitude: o reconhecimento de direito pontifício da
Sociedade de Vida Apostólica clerical Virgo Flos Carmeli e da Sociedade de Vida Apostólica feminina Regina Virginum, primícias da Asso-
ciação internacional dos Arautos do
Evangelho; e o aniversário do caríssimo Monsenhor João Scognamiglio
Clá Dias, instrumento dócil e clarividente do Espírito Santo, por meio de
quem a grande família dos Arautos
do Evangelho foi doada à Igreja universal.
Para ele vão minhas calorosas saudações, minhas afetuosas felicitações,
o agradecimento em meu nome pessoal e no da Igreja inteira e, também, no
de todos vós que neste momento constituem como que uma coroa de filhos
amadíssimos, por ele gerados na Fé.
Damos graças, sobretudo, ao Senhor, por seu amor de predileção, por todas as qualidades com as
quais Ele o tem agraciado. Monsenhor João, por haver sido um ouvinte atento daquilo que o Espírito diz
à Igreja — em particular a esta santa Igreja que está no Brasil — por sua
Flashes de Fátima · Setembro 2009
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26/08/2009 09:57:07
Darío Iallorenzi
“O vosso fundador tem sido
para vós como é o Senhor: pai e mãe!
Ele vos acolheu e fez crescer no amor,
na descoberta e no viver a vossa
vocação específica”
perseverança em seguir a inspiração
divina, por sua atenta e primorosa
orientação e por seu paterno empenho em plantar, regar, fazer crescer e
germinar na Igreja esta grande família dos Arautos do Evangelho, o vosso
fundador tem sido para vós como é o
Senhor: pai e mãe! Ele vos acolheu e
fez crescer no amor, na descoberta e
no viver a vossa vocação específica.
Sinto-me particularmente feliz
por estar aqui convosco, participando desta festa de família, e presidir a
esta Eucaristia para agradecer ao Senhor todos os Seus benefícios.
Maria conduzirá a bom termo
a nossa salvação
Hoje festejamos, pois, a Solenidade da Assunção de Maria, a Mãe de
Jesus: esta festa nos torna presente,
melhor diria que nos torna atual, a visão do “Céu”. Hoje olhamos para o
Céu com os olhos límpidos de
Maria, por meio de seu olhar
virginal, de sua pureza esponsal, de sua beleza inigualável.
Contemplamos o Céu em
Maria, para nos fazermos fiéis discípulos de Seu Filho.
Nós O contemplamos nAquela que foi Mulher sempre aberta à presença de Deus, à Sua
ação na própria vida e na história do homem. Fixemos o olhar
em Maria: aprendamos a ter fome e sede de Deus. Esse Deus,
que primeiramente A amou,
tornou-A também capaz de doar-Se sem reservas a Seu plano
salvífico. Aprendamos com Ela
a estarmos disponíveis e a ser
generosos ao acolher o desígnio de Deus para a nossa vida.
Roguemos a Maria que interceda por nós para que, como Ela, peregrina da Fé e Virgem do caminho, possamos
conservar nossa união com o
Senhor em todas as circunstâncias, e até sob o peso da
Cruz (cf. LG 58).
Ajoelhemo-nos com fé viva
a meditar o mistério da Mãe do Filho
de Deus, que hoje foi levada ao Céu.
“Nossa rainha nos precedeu — cantava São Bernardo —, nos precedeu
e foi recebida com tal júbilo que nós,
seus pequenos servos, seguimos com
fidelidade nossa rainha, clamando:
‘Atrai-nos para Vós, correremos atrás
do aroma de vossos perfumes’. A caminho, na terra do nosso exílio, enviamos antes de nós uma advogada que,
na qualidade de Mãe do Juiz e de Mãe
misericordiosa, conduzirá a bom termo, com sua oração eficaz, nossa salvação”.2
Monsenhor João tem vos
ensinado a olhar para
a História com olhos celestes
Maria é a Mulher forte na Fé. É a
Mulher do silêncio, que reza e adora
o desígnio do Pai, que leva ao colo o
mistério de amor. Maria é a Mulher
de grande coração, incapaz
de dizer não a quem se lhe
dirige com coração simples,
bom e puro, por qualquer necessidade e penúria. Mas não pensemos que para Ela foi fácil penetrar
no mistério: “Ela resguardou sua promessa de fidelidade dentro de um espaço de incompreensibilidade – escrevia Romano Guardini. […] Ela era o
portal para o santo futuro”. 3
“Por isso — sublinha o Papa Bento XVI — pode ser a Mãe de toda
consolação e de toda ajuda, uma Mãe
à qual, em qualquer necessidade, todos podem dirigir-se na sua própria
debilidade e no seu próprio pecado,
porque Ela tudo compreende e para
todos constitui a força aberta da bondade criativa. [...] Mediante o ser e o
sentir juntamente com Deus, seu coração alargou-se. Nela a bondade de
Deus se aproximou e se aproxima muito de nós. Assim, Maria está diante de
nós como sinal de consolação, de encorajamento e de esperança. Ela se dirige a nós, dizendo: ‘Tenha a coragem
de ousar com Deus! Tente! Não tenha
medo dEle! Tenha a coragem de arriscar com a fé! Tenha a coragem de arriscar com a bondade! Tenha a coragem de arriscar com o coração puro!
Comprometa-se com Deus, e então verá que precisamente assim a sua vida
vai se tornar ampla e iluminada, não
tediosa, mas repleta de surpresas infinitas, porque a bondade infinita de
Deus jamais se esgota!”.4
Monsenhor João tem tido esta coragem, a coragem de “apostar a própria vida” por Cristo e pelo Evangelho. A coragem de arriscar tudo por
tudo, com confiança ilimitada no Senhor da Misericórdia e de Sua Mãe
Maria. E tem experimentado na sua
própria pessoa que a bondade de
Deus não se exaure nunca, é plena
de surpresas. Essas surpresas têm os
olhos, a face e o coração de cada um
de vós, seus filhos e filhas amadíssimos. Nestes anos, ele tem ensinado a
cada um de vós a olhar para a História com olhos celestes, como Maria.
Setembro 2009 · Flashes
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de Fátima
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26/08/2009 09:57:12
A beleza insiste hoje em
ser reconhecida
Em Maria vemos o exemplo de
uma humanidade nova
Que Beleza, então, salvará o mundo? — perguntava o jovem moribundo ao príncipe Myskin de Dostoié
vski.7 É uma só a resposta cristã: o
Amor é a verdadeira beleza, que supera todas as harmonias das formas
perfeitas.
A beleza de Maria é a beleza da
santidade e da graça, que, depois de
Cristo, nEla atingem o vértice. João
Maria Vianney, o Santo Cura d’Ars,
que recordamos de modo especial
neste ano sacerdotal, dizia: “Deus
podia haver criado um mundo mais
belo, mas não podia dar vida a uma
criatura mais bela que Maria”. É beleza interior, feita de luzes, de harmonia, de correspondência perfeita entre a realidade e a imagem que
Deus tinha idealizado ao criar a mulher. É Eva em todo o seu esplendor
e perfeição, a nova Eva.
Olhemos para Maria. Veremos a
beleza, a plenitude, a realização perfeita da pessoa humana. NEla a graça
de Cristo nos mostra quem somos. A
Virgem Mãe projeta sobre o caminho
da humanidade uma grande esperança. A figura da Bem-aventurada Virgem Maria nos faz ver que uma criatura humana pode atingir a beleza da
perfeição cristã, abrindo-se à ação do
Dario Iallorenzi
E cada um de nós tem o dever
de dar aos irmãos e às irmãs, que
compartilham o nosso caminho, um
olhar celeste; tem a missão de dar
uma visão de esperança a este nosso mundo o qual, muitas vezes, olha
lastimavelmente para baixo, permanecendo sem ideais, sem sonhos, e
voltado para si mesmo. O desejo de
felicidade, a sede de justiça, a necessidade de amor parecem ser sistematicamente frustrados pela infidelidade, pela fragilidade, pela mediocridade. A harmonia e a beleza são
profanadas pela violência, pelo sofrimento e pelas divisões. Contatos
sem relações, quereres sem desejos,
emoções sem sentimentos, esperas
sem esperança. As trevas parecem
crescer hoje até a exasperação.
Aparentemente, o mundo de hoje perdeu todo traço do Verdadeiro,
do Bem, do Belo. Dizia Simone Weil
que “a beleza está para as coisas como
a santidade está para a alma”.5 Mas, no
mundo de hoje, há demasiadas situa-
ções humanas, espirituais e culturais
que, pelo contrário, são feias (portanto, o contrário de belas); são, pois, os
sinais da desarmonia, da dilaceração e
da fratura. A beleza de Maria, a pureza e a simplicidade de seu Magnificat,
que ouvimos ressoar durante a leitura
do Evangelho, parecem perdidos.
Mas talvez, sobretudo agora, a Beleza se faz presente e insiste em ser reconhecida por corações e olhos atentos, por aqueles que, obstinadamente,
a buscam e sofrem com sua ausência.
O teólogo suíço Hans Urs von Balthasar escrevia: “em um mundo sem
beleza, também o bem perdeu sua força
de atração, a evidência de seu dever-serrealizado. […] Em um mundo que não
mais se crê capaz de afirmar o belo, os
argumentos em favor da verdade esgotaram sua força de conclusão lógica”.6
“Damos graças a Deus por todas as qualidades com as quais tem agraciado Monsenhor João, por haver sido
um ouvinte atento daquilo que o Espírito diz à Igreja, por sua perseverança em seguir a inspiração divina”
26
Flashes de Fátima · Setembro 2009
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26/08/2009 09:57:16
Súplica final
“Estrela radiosa do Oriente; aurora que precede o sol; dia que não conhece a noite”,8 “dulcíssima Mãe e virgem Maria, que gerou a morte da morte, a vida do homem, o perdão dos pecados, a bem-aventurança de todos os
justos”,9 vimos hoje até Vós, depositando a Vossos pés os males que nos
oprimem, seguros de encontrar em
Vosso coração de Mãe compreensão
e perdão, encorajamento e conforto.
Nós Vos confiamos, ó Maria, nossas alegrias e nossas dores, as esperas
e as desilusões, os projetos e as esperanças. Acolhei os propósitos de pureza, de altruísmo, de coerência, que
guardamos no coração, e obtende para as vontades frágeis o dom da coragem e da perseverança.
Nós vos confiamos, ó Rainha Assunta ao Céu, a família, pequena
Igreja na qual se desenvolve a fé das
novas gerações, e todos os Arautos do
Evangelho. Defendei-os das insídias
às quais os expõe a mentalidade contemporânea, muitas vezes estranha
Héctor Matos
Espírito Santo e colaborando com a
graça de Deus. Em Maria, portanto,
vemos o exemplo de uma humanidade nova, redimida que, com a luz de
sua beleza não contaminada pelo pecado, ilumina nosso caminho de vida
cristã em meio a não poucos obstáculos e dificuldades.
Assim, devemos abraçar, com o
olhar, o horizonte inteiro no qual somos chamados a habitar, como discípulos de Jesus Cristo: de um lado,
não podemos ficar contemplando o
céu, mas de outro, não podemos deixar de ver nossa história, nossas cidades, nossos irmãos, nossas vidas
com os olhos cheios de Deus, com os
olhos repletos de Sua beleza.
A Virgem Assunta ao Céu se torna, então, nossa porta privilegiada
para o “santo futuro”. Ela é a plenitude da humanidade. Contemplando Maria e sua beleza, vemos nossa
história com olhos celestes, plenos de
Deus.
“Nós Vos confiamos, ó Rainha dos Apóstolos, Mons. João Scognamiglio
Clá Dias, vosso devoto cavaleiro; dai-lhe renovado ardor apostólico, e
toda riqueza de bênçãos de Vosso Divino Filho” (Sua Eminência durante
a homilia; à sua direita, Mons. Blaž Jezeršek, seu secretário pessoal)
aos valores do Evangelho, e ajudaios a realizar na vivência concreta do
cotidiano o desígnio maravilhoso que
Deus tem para eles.
Nós Vos confiamos Virgo Flos Carmeli e Regina Virginum, estas duas
plantinhas da vinha do Senhor, que
levam o Vosso nome. Vós, a Toda Bela, a Toda Santa, a Toda Pia, obtende que estes Vossos filhos possam fazer a experiência de Deus Beleza e
Amor, para, como Vós, serem um reflexo vivo dEle, neste mundo.
Nós Vos confiamos, ó Rainha dos
Apóstolos, o Monsenhor João Scognamiglio Clá Dias, vosso devoto cavaleiro; dai-lhe renovado ardor apostólico, e toda riqueza de bênçãos de
Vosso Divino Filho.
Nós vos confiamos, por fim, a
Igreja, que torna presente o mistério do Verbo encarnado, morto e ressuscitado pela salvação do homem.
Estendei sobre ela o Vosso manto e
protegei-a de todo perigo. Vós, Estrela da manhã, sede sempre para ela
a guia segura. Amém. 
1
PIO XII. Const. Ap. Munificentissus
Deus qua fidei dogma definitur Deiparam Virginem Mariam corpore et
anima fuisse ad cælestem gloriam
assumptam. 1 novembre 1950: AAS
42(1950), p. 753-771.
2
BERNARDO DI CHIARAVALLE.
Omelia sull’Assunzione della Beata
Vergine Maria 1, 1-2.
3
R. GUARDINI. La Madre del Signore. Una lettera. Brescia: Morcelliana, 19972, p. 29.
4
BENEDETTO XVI. Omelia nel quarantesimo anniversario della conclusione del Concilio Ecumenico Vaticano II, 8 dicembre 2005.
5
Cf. S.WEIL. Pensieri disordinati
sull’amore di Dio. Vicenza, 1982, p. 44.
6
H. U. von BALTHASAR. Gloria. Milano: Jaca Book, 1985, V. I, p. 10-12.
7
F. M. DOSTOIÉVSKI. L’Idiota.
8
PIETRO IL VENERABILE. Poemi, (371).
9
GOFFREDO DI VENDÔME. Omelia per ogni festa della beata Maria,
Madre di Dio (354).
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de Fátima
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Gustavo Kralj
Héctor Matos
Sérgio Miyazaki
Sérgio Miyazaki
Gustavo Kralj
Acompanhado por Mons. João Scognamiglio Clá Dias, fundador da instituição, o Cardeal Rodé
conheceu as várias dependências antes de presidir a Eucaristia comemorativa na Igreja de Nossa Senhora do Carmo.
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Flashes de Fátima · Setembro 2009
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Gustavo Kralj
Cardeal Rodé abençoa a
Casa-Generalícia de Regina Virginum
A
Héctor Matos
s jovens arautos da Sociedade de Vida Apostólica
Regina Virginum tiveram
um luminoso marco em sua história
com a bênção de sua Casa-Generalícia pelo Cardeal Franc Rodé, Prefeito da Congregação para os Institutos
de Vida Consagrada e as Sociedades
de Vida Apostólica, no último dia 14
de agosto.
Amplas instalações da
Casa-Generalícia
Situada em Caieiras, na Grande
São Paulo, as amplas instalações proporcionam condições privilegiadas para um melhor desenvolvimento da vida comunitária, dos estudos e da formação espiritual das centenas de jovens, segundo o carisma dos Arautos
do Evangelho, para o serviço da maior
glória de Deus e bem do próximo. Será o centro de irradiação das atividades da Sociedade de Vida Apostólica
Regina Virginum nos mais de 70 países
onde atuam os Arautos.
O Cardeal percorre
as instalações
Acompanhado por Mons. João
Scognamiglio Clá Dias, fundador da
instituição, o Cardeal Rodé conheDr. Fábio de Salles Meirelles,
presidente da FAESP,
cumprimenta o Cardeal Rodé
ceu as várias dependências, felicitando os Arautos do Evangelho por mais
este significativo passo.
A superiora do instituto, M. Mariana Morazzani Arráiz, e várias das
religiosas explicaram para o Cardeal a finalidade de cada uma das salas
e os diversos aspectos do governo da
instituição.
Missa comemorativa
Em seguida, S. Ema. presidiu a
Eucaristia na bela Igreja de Nossa
Senhora do Carmo, anexa à CasaGeneralícia, e que foi inaugurada em
21 de abril do corrente.
Concelebraram Mons. João Scognamiglio Clá Dias, fundador da Sociedade de Vida Apostólica Regina
Virginum; Mons. Blaž Jezeršek, secretário pessoal do Cardeal; Mons.
Franci Petrič, Diretor do semanário
católico “Družina” (A Família), de
Liubliana (Eslovênia); bem como diversos sacerdotes arautos.
Mais de 600 membros ou aspirantes da Sociedade Regina Virginum
participaram da Eucaristia. 
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de Fátima
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E
Sérgio Miyazaki
Dario Iallorenzi
m tocante cerimônia, no último dia 20 de julho, festa de Santo Elias profeta, na Igreja Nossa Senhora
do Rosário, do seminário internacional dos Arautos
do Evangelho, Dom José Maria Pinheiro, Bispo de Bragança Paulista, ordenou 14 sacerdotes e 10 diáconos pertencentes à Sociedade de Vida Apostólica Virgo Flos Carmeli. Procedem eles de vários países: Argentina, Colômbia, Canadá,
Costa Rica, Espanha e Portugal, além do Brasil.
Concelebraram a Eucaristia Dom Benedito Beni dos Santos, Bispo de Lorena, Monsenhor João Scognamigio Clá
Dias, fundador e presidente geral dos Arautos do Evangelho
e outros 50 sacerdotes.
Ivan Tefel
D. José Maria Pinheiro
ordena sacerdotes e diáconos
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Flashes de Fátima · Setembro 2009
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Fotos: Sergio Miyazaki / Gustavo Kralj
Julho, mês de Congressos
“O
nde dois ou três estão reunidos em Meu nome, aí estou
Eu no meio deles” (Mt 18,
20), ensina Nosso Senhor. Esta foi
a experiência que tiveram os participantes de dois congressos promovidos pelos Arautos do Evangelho
nas dependências anexas ao seminário desta Associação, na Grande
São Paulo.
Congresso do Setor Feminino
Do VIII Congresso do Setor Feminino dos Arautos, de 16 a 19 de julho, participaram mais de 500 jovens,
provenientes de nove países.
Iniciava-se o dia com a Missa na
Igreja de Nossa Senhora do Rosário,
seguida de bênção do Santíssimo Sacramento. Durante todo o evento, o
Santíssimo ficou exposto em adoração permanente, inclusive durante
a noite, atraindo à oração as jovens
congressistas.
A programação em torno do tema “O pecado e a graça” foi atraente e variada, alternando-se palestras
ilustradas com peças teatrais e projeções de vídeos, terços processionais,
cantos e círculos de estudo. O animado convívio favoreceu um maior conhecimento do carisma dos Arautos
do Evangelho, possibilitando, assim,
o discernimento da própria vocação.
Como de costume, houve batizados, primeiras comunhões e crismas.
O encerramento deu-se com uma solene Missa presidida pelo Presidente Geral dos Arautos, Mons. João
S. Clá Dias, que manifestou grande
contentamento com o fervor das jovens e estimulou-as à perseverança
na vida de piedade.
Congresso de Cooperadores
No mesmo espírito de devoção
a Jesus Eucarístico e à Sua Santíssima Mãe, realizou-se de 24 a 26 de ju-
lho o VI Congresso Internacional dos
Cooperadores dos Arautos do Evangelho, reunindo 700 participantes de
13 países.
Em ambiente de benquerença
mútua e entusiasmo, puderam os
congressistas aprofundar seus conhecimento da moral católica, exposta em palestras ilustradas com
peças teatrais e debatida em animados círculos de estudos. O ato mais
importante de cada dia era a Santa
Missa, seguida da Adoração eucarística. Tatiane Lacerda, de Montes
Claros (MG), bem exprimiu o sentimento geral, nestas palavras: “Aqui
nos congressos enchemos o coração de graças, transformamos nossos pensamentos, nos reabastecemos de fé e amor, e recebemos luzes para enfrentar nossos problemas do dia-a-dia. É realmente um
local de formação espiritual para
cada um de nós”.
Setembro 2009 · Flashes
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de Fátima
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BEATA DINA BÉLANGER
Jesus e eu somos um
No início do século XX, uma alma escolhida por Deus amou
tanto a perfeição que se fez um só com Aquele que, sendo
um com o Pai, é perfeito como Ele mesmo o é.
Elisabeth Veronica MacDonald
A
pós a Encarnação do
Filho de Deus, muitas
almas generosas buscaram a sublime forma de união com Jesus
Cristo que consiste em procurar viver
nEle para que Ele viva em nós (cf. Jo
15, 4). São Paulo, o Apóstolo dos Gentios, que convivera durante três anos
com Nosso Senhor, levou essa devoção
a um grau tão perfeito que pôde afirmar: “Eu vivo, mas já não sou eu, é Cristo que vive em mim” (Gal 2, 20).
Já no século XIX, um advogado de
Lyon, regressando de Ars, na França,
após ter ouvido apenas um sermão
de São João Maria Vianney, deu testemunho da união do humilde pároco com Cristo usando expressivas palavras: “Vi Deus num homem!”.
E no início do século passado, uma
alma de escol, Maria Margarida Dina Adelaide Bélanger — a primeira canadense da cidade de Quebec a
ser proclamada bem-aventurada pela
Igreja — procurava descrever sua disposição interior dizendo: “Jesus e eu
não somos mais dois. Somos um: somente Jesus. Ele faz uso das minhas faculdades, dos meus sentidos, dos meus
32
membros. É Ele quem pensa, age, reza,
olha, fala, anda, escreve, ensina: numa
palavra é Ele quem vive...”.1
Dina almejou intensamente essa
união. Conhecer em profundidade a
Beata Dina Bélanger é, pois, descortinar novos aspectos de Cristo Jesus.
Nesse íntimo convívio da criatura com
o Criador, Dina desaparece e Ele refulge em toda a Sua glória. Ela passa
a ser como um abajur que difunde discreta e suavemente a luz de Cristo, ou
como um vitral que a tamisa e reveste de cores belamente adaptadas para a sensibilidade humana. “Meu dever
agora, e minha ocupação na eternidade, até o fim dos tempos, é e será o de
irradiar Jesus para todas as almas, por
meio da Santíssima Virgem”.
A tal ponto ela se tornou uma com
Cristo, que Ele próprio, a chamou
afetuosamente de “Meu pequeno Eu
mesmo”.
Jesus quer sua Autobiografia
Dina teria passado despercebida se sua superiora não tivesse discernido os favores de Deus para com
ela. “Você deve escrever a sua vida, minha querida irmã”, disse-lhe. É por is-
so que temos sua Autobiografia, “uma
das mais perfeitas joias da literatura espiritual do século XX”, segundo o teólogo carmelita, padre François-Marie
Léthel.
Para Dina, escrever sobre si própria constituía um verdadeiro ato de
heroísmo: “Falar continuamente de
mim mesma, e repetir o pronome ‘eu’,
que preferiria ver abolido para sempre... Oh!”. Mas obedeceu, a ponto de
encher com sua esmerada caligrafia
vários cadernos que a superiora guardava cuidadosamente.
Certa vez, Nosso Senhor lhe confidenciou: “Você fará bem por meio de
seus escritos”. E assim foi. Dina falava com Cristo com familiaridade, e ao
anotar Suas sagradas palavras não o
fazia visando apenas o próprio benefício, mas também o dos sacerdotes, dos
religiosos e de toda a humanidade.
A infância de Dina Bélanger
Os primeiros anos de Dina se desenrolaram na atmosfera tranquila
de uma família franco-canadense de
muita fé. Nasceu no distrito de SaintRoch, da cidade de Quebec, e foi batizada no próprio dia de seu nascimen-
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to, a 30 de abril de 1897, com o nome
de Maria Margarida Dina Adelaide.
Seu único irmão morreu aos três
meses de idade. A partir desse momento, seus pais concentraram
nela todo o seu afeto e cuidados.
Sobre esse período de sua vida,
Dina escreveu: “O que teria sido de mim se tivesse sido deixada
à mercê do meu orgulho, minha
obstinação, meus caprichos e minhas traquinagens injustificáveis?”.
Serafina, sua mãe, levava-a
sempre à igreja e em suas visitas
aos pobres. Ela gostava muito de
cantar para a filha, o que levou a menina, naturalmente dotada de senso
artístico, a ter paixão pela música.
O pai, Otávio, era contabilista. Talvez tenha sido dele que Dina herdou
sua precisão ao expressar-se e a forma
metódica de cumprir seus deveres.
Resoluções e metas de vida
Ao longo de sua vida, Dina tomou
numerosas resoluções e as cumpriu
eximiamente. Quando era estudante,
proclamou: “Prefiro a morte a corromper-me”. No postulado, sua meta foi:
“Se começar, comece com perfeição”. E
na vida religiosa visava “amar e sofrer”.
Como fizera Teresa de Lisieux, poucos
anos antes, ela tomou a firme resolução de ser “uma santa”. E, para guiarse nesse caminho, adaptou o princípio
de Santo Agostinho ama et quod vis
fac (ama e faze o que queres), transformando-o no lema que caracterizou
toda a sua espiritualidade: “Amar e deixar-se conduzir por Jesus e Maria”.
Com efeito, foi pelas mãos da
Virgem Santíssima que aos 13 anos
consagrou-se a Jesus Cristo como
escrava de amor, segundo o método ensinado por São Luís Maria
Grignion de Montfort.
Na oração inicial de sua Autobiografia, ela agradece a Nosso Senhor
tudo quanto Ele lhe concedeu por
meio de Sua Mãe Santíssima: “Sem
exceção alguma, Vós me concedestes vossas graças por meio de Maria,
Vossa e minha bondosa Mãe, a quem
“Jesus e eu não somos mais dois.
Somos um: somente Jesus. Ele
faz uso das minhas faculdades,
dos meus sentidos, dos meus
membros”
Dina Bélanger, aos 14 anos de idade
quero tanto! E é meu desejo constante deixá-La agir livremente em minha
vida, para promover Vossa obra em
mim”.
Lutas de alma e oferecimento
como vítima
Quando chegou o tempo dos estudos, Dina entrou para o Colégio Bellevue, um internato religioso dirigido
pelas irmãs de Notre Dame, no qual
sua primeira oração a Jesus foi: “Que
eu nunca Vos ofenda nem com o menor pecado venial voluntário, durante
minha permanência aqui”. Lá começaram as lutas que, devido à sua índole tímida e reservada, teria de travar durante toda sua vida. “Eu procurava sorrir para todo mundo, mas
quanto preferiria estar sozinha!” Por
ocasião de uma visita da mãe, ela lhe
confidenciou essa dificuldade: “Mamãe, não é brincadeira viver com outras pessoas!”.
Dina conta com toda simplicidade que na primeira sexta-feira do mês
de outubro de 1911, enquanto as estudantes se dirigiam à capela para fazer
uma visita ao Santíssimo Sacramento, ela consagrou sua virgindade a
Nosso Senhor. Foi também por
essa época que se ofereceu como
vítima de amor: “Mal ouvira falar
dessa doação de si mesmo, conhecida como o oferecimento heroico,
eu já me ofereci; abandonei-me inteiramente à vontade de Jesus, como sua vítima”. Inflamada pelo
desejo de entregar a vida, estava
certa de que lhe seria dada a graça
do martírio do amor.
Ainda naquela época, antes de tornar-se religiosa, adotou uma “regra de
vida”, com hora certa para as orações
matutina e vespertina, comunhão, rosário, meditação e confissão semanal.
E deixou ao Divino Artesão de sua alma a tarefa de guiá-la em segredo.
Assim que soube do início da 1ª
Guerra Mundial, em 1914, ofereceu-se
uma vez mais a Nosso Senhor, de corpo e alma, em espírito de reparação e
de amor: “Fiquei aflita, sobretudo, pelo
perigo moral que ameaçava o mundo”.
Estudos em Nova York
Depois de ter terminado os estudos no internato, já com 16 anos,
voltou a viver em sua casa. Seus pais
decidiram que deveria continuar
com o estudo da música, que iniciara
em pequena. Esta arte lhe aproximava de Deus e oferecia-Lhe cada uma
de suas notas ao piano como um ato
de amor, constituindo para ela uma
verdadeira oração, pois seu coração
pertencia somente a Deus.
Alguns meses mais tarde, pediu
ao diretor espiritual para entrar no
convento das Irmãs de Notre Dame,
de Villa-Maria, mas foi aconselhada a adiar sua decisão pela negativa
dos pais. Cumpria as obrigações sociais com dignidade, dava concertos,
apesar destes lhe custarem um esforço enorme, e chegou a ser uma pianista de certo renome. Sempre teve
um verdadeiro amor ao próximo, sendo muito sensível à cortesia e ao bom
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de Fátima
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tinha-se aprofundado e sua consciência
permanecia sem mancha alguma: “Tive
de seguir a moda e seus caprichos no que
dizia respeito às cores e tecidos, mas evitei vigorosamente as suas exigências extravagantes e culposas”.
Caminho de perfeição
e vida religiosa
Quando Dina retornou de Nova
York, contava com 21 anos. Nos quatro anos que transcorreram até sua
entrada na vida religiosa, em 1921,
os quais passou na casa de seus pais,
rezou muito e passou por tremendas
aridezes de alma.
Continuou um curso de harmonia
por correspondência no Conservatório de Nova York e seguia com os concertos musicais. Gostava muito da música. Mas a vida contemplativa lhe encantava e esse contraste da vida do
mundo com suas aspirações lhe provavam a alma. Às vezes podia ouvir a
voz de Cristo no fundo do seu coração,
mas ficava incerta, com receio de estar sendo vítima de alguma ilusão; depois, porém, se tranquilizava: “Eu notava que Jesus só me falava ao coração
quando tudo estava absolutamente calmo”. Em uma ocasião, Nosso Senhor mostrou-lhe um caminho cheio de espinhos pelo
qual Ele tinha passado, manifestando
o desejo de que ela O seguisse. Para
ajudá-la, deu-lhe Sua Mãe Santíssima.
Quando soube que Santa Margarida Maria havia feito um voto de perfeição, Dina imediatamente tomou a
resolução de fazer em todas as ocasiões o que era o mais perfeito, embora
não tivesse autorização para se obrigar por um voto formal. “Parecia-me
que fazer algo menos perfeito seria sinal de um amor tíbio”, escreveu ela.
Diante da dúvida sobre qual comunidade religiosa deveria escolher, o
próprio Jesus lhe comunicou: “Quero
que você entre na Congregação das Religiosas de Jesus e Maria”. Tinha sido
fundada na França, em 1818, por Santa Claudine Thévenet, dedicada à educação das jovens. Ali foi recebida como noviça em 15 de fevereiro de 1922,
adotando o nome de Maria Santa Cecília de Roma. Em 15 de agosto de
1923 fez a profissão religiosa, recebendo a incumbência de ensinar a arte musical para as alunas da Congregação.
Grandes experiências místicas
Antes de entrar na plena alegria
da união com Cristo, nos albores da
sua vocação, ela tinha sentido o tormento da “noite escura da alma”.
Entretanto, nesse período de prova-
Fotos: François Boulay e Darío Iallorenzi
trato. Mas no fundo sempre pensava
em seu desejo de ser religiosa. Surgiu-lhe, então, uma boa oportunidade de aperfeiçoar, num Conservatório
de Nova York, seus estudos de piano,
harmonia e composição. A oferta era
tentadora:“Gostei do plano, pois apreciava apaixonadamente a arte e a beleza. E sempre almejei a perfeição.”
Seus pais duvidaram, mas aconselhados pelo pároco que insistia nisso
consentiram, pensando que seria uma
boa experiência para sua formação e,
de 1916 a 1918, ela estudou nos Estados Unidos. Sendo do Canadá francês, teve dificuldades para se comunicar em inglês, mas encontrou conforto
na música, já que o piano tem o mesmo
som em qualquer país... Vivia na residência Nossa Senhora da Paz, dirigida
pelas religiosas de Jesus-Maria, e estudava bastante no Conservatório, sentindo forte atração pela harmonia musical, matéria que mais gostava. Ao término dessa experiência em Nova York,
seu relacionamento com Nosso Senhor
As ruas da cidade de Quebec conservam ainda hoje,
em boa medida, o aspecto da época em que viveu Dina Bélanger
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Flashes de Fátima · Setembro 2009
_Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 34
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ções fortaleceu-se sua vocação e
recebeu diversas graças, entre as
quais a de um rompimento tão
profundo com seu passado, que
ela se sentia como se tivesse morrido e nascido novamente.
Nos primeiros tempos de sua
vida de religiosa, Dina recebeu
por duas vezes uma singular graça
de amor: numa experiência mística, ela “viu” Jesus levar seu coração e deixar o dEle em seu lugar.
Depois, já professa, ela “viu” mais
uma vez Jesus mostrar-lhe seu coração, que Ele havia levado para
Si, queimá-lo todo no altar de Seu
amor, bem como ela mesma, e soprar sobre as cinzas, fazendo-as
desaparecer, e ficando Ele próprio em seu lugar.
Jesus avisou-lhe ainda que ela
morreria em 15 de agosto de 1924,
exatamente um ano depois de sua profissão. Quando chegou esse dia, ela não
morreu fisicamente, mas Ele deu-lhe a
entender que misticamente havia morrido para este mundo e sua união eterna com Ele tinha começado.
Em 3 de outubro desse mesmo ano,
foi-lhe permitido fazer o tão almejado
voto de perfeição. Numa linda formulação, prometeu a Jesus fazer, em qualquer circunstância, tudo do modo mais
perfeito, nos pensamentos, desejos, palavras e ações. Ela se entregou a Deus
com confiança e com plena consciência
de sua própria fragilidade.
É Cristo que vive e fala em Dina
Depois dessa data, tendo Dina “desaparecido”, é somente a voz de Cristo
que domina sua autobiografia. Ele lhe
fala com uma ternura tocante e nela encontra a maior receptividade possível.
Certo dia, na festa do Nome de
Jesus — que ela considerava a sua
festa, uma vez que tinha sido substituída por Cristo — escrevia: “Desde
o meio-dia, o meu doce Mestre me tem
atraído a Si com uma ternura inefável...
Depois do meu exame de consciência,
notei que estava gozando da presença
sensível de Jesus. E Ele me disse deli-
seu amor: “Meu Coração está tão
transbordante de amor pelas almas
que já não consegue mais segurar as
torrentes de graças que Eu gostaria
de derramar sobre elas: mas a maioria das almas não quer ter nada a
ver com o meu amor...”.
“As almas ficam tristes na medida em que se distanciam de Deus.
O grande desejo do meu Pai, e o
meu, é de ver todas as almas felizes,
ainda nesta terra”.
Um cântico de amor
“Minha ocupação na eternidade,
até o fim dos tempos, é e será o de
irradiar Jesus para todas as almas,
por meio da Santíssima Virgem”
cadamente: ‘Em honra da minha festa!’ Oh! Quanto eu gostaria poder pôr
em palavras a doçura de Jesus!”.
Muitas vezes, antes de entregar-lhe Seu cálice ou Sua cruz, para que
ela sofresse com Ele, pedia o consentimento dela com Sua costumeira gentileza: “Aceita?”. De um modo
que a deixava sem palavras de tanto
amor: “O sofrimento de meu Coração
é o martírio do amor; e é isto, minha
pequena esposa, que estou lhe dando”.
Jesus falava-lhe da necessidade de
que seus sacerdotes tenham uma perfeita vida interior: “Meus sacerdotes...
Oh! Quanto os quero! Eu os chamo a serem outros Cristos, a serem réplicas minhas. [...] Ofereça a meu Pai, por meus
sacerdotes, o espírito de oração do Meu
Coração, o Meu espírito de oração, a
perfeita união do meu Coração com Ele.
Isto é o que falta à maioria dos meus sacerdotes: espírito de oração e uma intensa vida interior. [...] Demasiados religiosos e almas sacerdotais não compreendem que os sacrifícios que lhes peço são
chamas de amor que vão se desprendendo de meu Divino Coração para os arrastar e santificar seu humano coração”.
Pela pena de Dina, Jesus se manifestava à humanidade, esquecida de
Dina faleceu no dia 4 de setembro de 1929, apenas sete meses antes de completar a “idade
perfeita”, em que Cristo entregou Sua vida por nós na Cruz: 33
anos. Nos sofrimentos da enfermidade que a levou à morte — a
tuberculose —, Jesus aceitou seu
oferecimento como vítima, colhendo-a em tão jovem idade.
Em seus últimos escritos, de julho de 1929, num “cântico de amor”,
Nosso Senhor abraça, por meio dela,
a humanidade inteira:
“Nenhuma invocação responde melhor do que esta ao imenso desejo de
meu Coração Eucarístico de reinar nas
almas: ‘Coração Eucarístico de Jesus, venha o Vosso reino, pelo Imaculado Coração de Maria’. E ao meu infinito desejo de comunicar minhas graças às almas,
nenhuma invocação responde melhor do
que esta: ‘Coração Eucarístico de Jesus,
abrasado de amor por nós, abrasai nossos corações de amor a Vós’”.
* * *
A Irmã Maria Santa Cecília de
Roma foi beatificada em 20 de março
de 1993, por João Paulo II, e seus restos mortais repousam na nova capela da comunidade de Sillery, em Quebec. 
1
Todas as citações em itálico, entre aspas, foram extraídas de BÉLANGER, Dina. Autobiography. Edition
revised and update. 3a. ed. Atelier
Rouge: Quebec, 1997.
Setembro 2009 · Flashes
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de Fátima
35
26/08/2009 09:58:23
A PALAVRA DOS PASTORES
Somos chamados
com urgência à Missão
“Não podemos nem desencorajar-nos nem ter medo da
sociedade atual nem simplesmente condená-la. É preciso
salvá-la!”, afirma Dom Cláudio Hummes, em carta dirigida
aos sacerdotes do mundo inteiro, por ocasião da festa de
São João Maria Vianney.
Cardeal Cláudio Hummes, OFM
Prefeito da Congregação para o Clero
A
atual cultura ocidental dominante, sempre
mais difundida em todo
o mundo, através da mídia global e da mobilidade humana,
também nos países de outras culturas,
apresenta novos desafios, não pouco
empenhativos, para a evangelização.
Trata-se de uma cultura marcada profundamente por um relativismo que
recusa toda afirmação de uma verdade absoluta e transcendente e, em consequência, arruína também os fundamentos da moral e se fecha à Religião.
Dessa forma, perde-se a paixão
pela verdade, relegada a uma “paixão inútil”. Jesus Cristo, no entanto, apresenta-Se como a Verdade, o
Logos universal, a Razão que ilumina e explica tudo o que existe. O relativismo, ademais, vem acompanhado de um subjetivismo individualista,
que põe no centro de tudo o próprio
ego. Por fim, chega-se ao niilismo, se36
gundo o qual não há nada nem ninguém pelo qual vale a pena investir a
própria inteira vida e, portanto, a vida humana carece de um verdadeiro
sentido.
A cultura dominante leva
à descristianização
Todavia, é preciso reconhecer que
a atual cultura dominante, pós-moderna, traz consigo um grande e verdadeiro progresso científico e tecnológico, que fascina o ser humano,
principalmente os jovens. O uso deste progresso, infelizmente, não tem
sempre como escopo principal o bem
do homem e de todos os homens.
Falta-lhe um humanismo integral, capaz de dar-lhe seu verdadeiro sentido
e finalidade. Poderíamos referir-nos
ainda a outros aspectos dessa cultura: consumismo, libertinagem, cultura do espetáculo e do corpo. Não se
pode, porém, não frisar que tudo isso
produz um laicismo, que não quer a
Religião, faz de tudo para enfraquecê-la ou, ao menos, relegá-la à vida
particular das pessoas.
Essa cultura produz uma descristianização, por demais visível, na
maioria dos países cristãos, especialmente no Ocidente. O número das
vocações sacerdotais caiu. Diminuiu
também o número dos presbíteros,
seja pela falta de vocações, seja pelo
influxo do ambiente cultural em que
vivem. Tais circunstâncias poderiam
conduzir-nos à tentação de um pessimismo desencorajante, que condena
o mundo atual, e induzir-nos à retirada para a defensiva, nas trincheiras
da resistência.
Cristo quer salvar a todos
Jesus Cristo, ao invés, afirma: “Eu
não vim para julgar o mundo, mas para salvá-lo” (Jo 12, 47). Não podemos
nem desencorajar-nos nem ter medo
Flashes de Fátima · Setembro 2009
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26/08/2009 09:58:39
da sociedade atual nem simplesmente condená-la. É preciso salvá-la!
Cada cultura humana, também a
atual, pode ser evangelizada. Em cada cultura há “sementes do Verbo”,
como aberturas para o Evangelho.
Certamente, também na nossa atual
cultura. Sem dúvida, também os assim chamados “pós-cristãos” poderiam ser tocados e reabrir-se, caso
fossem levados a um verdadeiro encontro pessoal e comunitário com a
pessoa de Jesus Cristo vivo. Em tal
encontro, cada pessoa humana de
boa vontade pode, por Ele, ser alcançada. Ele ama a todos e bate à porta
de todos, porque quer salvar a todos,
sem exceção. Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida, para todos. É o único
mediador entre Deus e os homens.
Não podemos ter medo
Caríssimos Presbíteros, nós, pastores, nos tempos de hoje, somos
chamados com urgência à missão,
seja “ad gentes”, seja nas regiões
dos países cristãos, onde tantos batizados afastaram-se da participação em nossas comunidades ou,
até mesmo, perderam a fé. Não
podemos ter medo nem permanecer quietos em casa. O Senhor disse a seus discípulos: “Por que tendes
medo, homens fracos na fé?” (Mt 8,
26). “Não se acende uma lâmpada e
se coloca debaixo do alqueire, mas
no candieiro, para que ilumine a todos os que estão na casa” (Mt 5, 15).
“Ide por todo o mundo e pregai o
Evangelho a toda criatura” (Mc 16,
15). “Eis que estou convosco todos
os dias, até a consumação dos séculos” (Mt 28, 20).
Não lançaremos a semente da Palavra de Deus apenas da janela de nossa
casa paroquial, mas sairemos ao campo aberto da nossa sociedade, a começar pelos pobres, para chegar também
a todas as camadas e instituições sociais. Iremos visitar as famílias, todas
as pessoas, principalmente os batizados que se afastaram. Nosso povo quer
sentir a proximidade da sua Igreja. Nós
o faremos, indo à nossa sociedade com
alegria e entusiasmo, certos da presença do Senhor conosco na missão e certos de que Ele baterá à porta dos corações aos quais O anunciarmos.
(Carta aos Presbíteros, 1/8/2009 –
Texto original em http://www.annussacerdotalis.org)
A santidade é sempre atual
Deixemos ressoar em nossos corações, com fidelidade
quase obstinada, o sim de Maria: o seu “para tudo” e
“para sempre”, que constituem a medida verdadeira de
nossa existência sacerdotal.
Dom Mauro Piacenza
Secretário da Congregação para o Clero
C
aros Coirmãos no Sacerdócio, nesta ditosa celebração
do 150º aniversário do nascimento para o Céu de São João Batista Maria Vianney (4 de agosto de
1859-2009), tenho o prazer de lhes
dirigir meus renovados votos de um
bom Ano Sacerdotal!
O Cura d’Ars destaca-se diante de nós como exemplo excelso de
santidade sacerdotal, não vivida mediante especiais obras de caráter extraordinário, mas na fidelidade cotidiana do exercício do ministério.
Tendo-se transformado em modelo
e “farol” para a França do início do
século XIX e para a Igreja inteira,
de todos os tempos e lugares, o Santo Cura é, para cada um de nós, fonte de consolação e de esperança, até
mesmo em meio a um certo “cansaço” que nos pode acometer em nosso sacerdócio.
Sua dedicação é um estímulo para nossa alegre doação a Cristo e
aos irmãos, de modo que o ministério seja sempre um reflexo luminoso
da consagração de que deriva o próprio mandato apostólico e, nele, toda
e qualquer fecundidade pastoral!
Setembro 2009 · Flashes
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de Fátima
37
26/08/2009 09:58:41
A PALAVRA DOS PASTORES
Sérgio Hollmann
Que seu amor a Cristo, cheio
também de uma afeição extremamente humana e sincera, seja para nós um encorajamento a que
nos “apaixonemos” cada vez mais
profundamente pelo “nosso Jesus”: que Ele seja o olhar que buscamos pela manhã, a consolação
que nos acompanha à noite, a memória e a companhia de cada respiro do dia. Viver apaixonados pelo Senhor, a exemplo de São João
Maria Vianney, significa conseguir
manter sempre elevada a propensão missionária, tornando-nos, de
modo progressivo, mas real, imagens vivas do Bom Pastor e daquele que proclama ao mundo: “Eis o
Cordeiro de Deus”.
Que o verdadeiro “arrebatamento” espiritual do Cura d’Ars
na celebração da Santa Missa seja
para cada um de nós um convite
explícito a que tenhamos sempre
consciência plena do grande dom
que nos foi confiado, dom que
nos faz cantar com as palavras de
Santo Ambrósio: “...Que nós, elevados a tal dignidade, a ponto de
consagrar o Corpo e o Sangue de
Nosso Senhor Jesus Cristo, possamos todos ter a esperança da Vossa
Misericórdia!”.
Que sua dedicação heroica ao
confessionário, alimentada por um
“Viver apaixonados pelo Senhor, a
exemplo de São João Maria Vianney,
significa conseguir manter sempre
elevada a propensão missionária”
Afresco da Basílica de Ars-sur-Formans,
França
espírito expiatório verdadeiro e pela consciência de ter sido chamado
a participar da “substituição vicária”
do único Sumo Sacerdote, instiguenos a voltar a descobrir a beleza e a
APOSTOLADO
MARIA RAINHA
necessidade da celebração do Sacramento da Reconciliação, também para nós, sacerdotes. Tal Sacramento, bem sabemos, é um espaço de contemplação real das
obras maravilhosas de Deus nas
almas que Ele delicadamente fascina, conduz e converte. Tolher-se
desse “espetáculo maravilhoso” é
uma privação irreparável e injusta, não apenas para os fiéis, mas
também para o próprio ministério,
que se alimenta da estupefação
provocada pelo milagre que se repete cada vez que a liberdade humana diz “sim!” a Deus!
Que, enfim, o amor filial e repleto de comoventes gestos de
atenção do Santo Cura d’Ars pela Bem-aventurada Virgem Maria, a quem não hesitou consagrar-se, com toda a sua paróquia,
seja um estímulo a que nós, neste Ano Sacerdotal e sempre, deixemos ressoar em nosso coração
de padres, com uma fidelidade
quase obstinada, o sim de Maria:
o seu “para tudo” e “para sempre”, que constituem a única medida verdadeira de nossa existência sacerdotal.
DO
(Reflexões do Arcebispo Secretário,
4/8/2009 – Texto original em http://
www.annussacerdotalis.org)
ORATÓRIO
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Flashes de Fátima · Setembro 2009
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26/08/2009 12:26:26
Novos diáconos da
Comunidade Canção Nova
O Arcebispo de Palmas (TO),
Dom Alberto Taveira Corrêa, ordenou em 12 de julho cinco novos diáconos da Comunidade Canção Nova,
durante cerimônia realizada na sede
dessa instituição eclesial, localizada
em Cachoeira Paulista (SP).
Em sua homilia, o Bispo focalizou
a missão do diácono e do sacerdote,
ressaltando que eles não são ordenados para si mesmos, mas para “servir
a Igreja nos pobres, nos pequenos, na
pregação da Palavra e na Eucaristia”.
No final, os neodiáconos agradeceram a todos que fizeram parte de
sua história vocacional, sobretudo ao
fundador da Comunidade, Mons. Jonas Abib.
Primeira TV católica via
cabo no Paquistão
CNBB – Catholic TV é o nome
do primeiro canal televisivo católico
via cabo no Paquistão. A iniciativa é
da paróquia São Francisco de Lahore, com o apoio do padre capuchinho
Morris Jalal, que também é diretor
do canal.
Segundo padre Jalal, a iniciativa
“pode contribuir para construir e reforçar uma sociedade pacífica e tolerante” no Paquistão.
A Catholic TV oferece uma programação rica e articulada: filmes
cristãos, documentários sobre atividades nas paróquias das arquidioceses,
entrevistas, música religiosa, a oração
do terço, perguntas sobre a Bíblia e as
Santas Missas dominicais ao vivo.
www.padrebruno.altervista.org/
O Arcebispo de Lahore, Dom Lawrence Saldanha, entusiasta da iniciativa, afirmou: “Este novo canal católico produziu bons resultados em
tempo muito breve, apesar dos poucos recursos, conseguindo chegar não
somente aos nossos paroquianos, mas
também a um público mais vasto”.
Vice-reitor do “Angelicum”
nomeado consultor da
Congregação para a
Doutrina da Fé
O Santo Padre nomeou em 23 de
junho o sacerdote dominicano Bruno
Alessio Esposito consultor da Congregação para a Doutrina da Fé.
Nascido em Terracina, na Itália,
em 1959, Frei Bruno é vice-reitor da
Pontifícia Universidade San Tommaso d’Aquino, de Roma, e decano da
Faculdade de Direito Canônico da
mesma instituição, conhecida também como Angelicum.
Com a missão de promover e proteger a doutrina e a moral em todo o
mundo católico, a Congregação para a Doutrina da Fé se compõe atualmente de 23 membros que são assistidos por um colégio de 33 consultores,
peritos nas diversas disciplinas eclesiásticas, escolhidos pelo Papa entre os
professores das Universidades Pontifícias romanas.
Nova sede do Observatório
Astronômico do Vaticano
A fim de dotá-lo do necessário espaço para abrigar seu rico acervo, o
Observatório Astronômico da Santa
Sé foi transferido do Palácio Apostólico de Castelgandolfo para as amplas
instalações de um antigo mosteiro na
vizinha cidade de Albano. Além de
uma valiosa coleção de meteoritos, a
instituição possui uma biblioteca com
mais de 20 mil livros, entre os quais se
destacam obras de Nicolau Copérnico, Galileu Galilei e Isaac Newton.
O Observatório Astronômico do
Vaticano é uma das mais antigas instituições do gênero. Suas raízes se remontam a 1578, ano em que o Papa Gregório XIII erigiu a Torre dos
Ventos e convidou os astrônomos e
matemáticos do Colégio Romano a
prepararem a reforma do Calendário, promulgada quatro anos depois.
Em 1891, a Specola Vaticana — nome pelo qual tornou-se conhecido —
foi oficialmente refundada pelo Papa
Leão XIII.
Dirigido atualmente pelo jesuíta argentino Pe. José Gabriel Funes,
o Observatório Astronômico do Vaticano organiza periodicamente encontros internacionais de especialistas, cursos de verão e atividades de
pesquisas científicas. Suas principais
tarefas de investigação astronômica são realizadas no Monte Graham,
Arizona (EUA).
Arcebispo português na
Cúria Romana
Bento XVI nomeou o Arcebispo
português Manuel Monteiro de Castro, de 71 anos, como novo Secretário da Congregação para os Bispos,
na Cúria Romana.
O prelado, natural de Santa Eufémia (perto de Guimarães), é doutorado em Direito Canónico e desempenhava desde 2000 o cargo de Núncio
Apostólico em Espanha e Andorra.
Setembro 2009 · Flashes
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de Fátima
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O “Codex Sinaiticus”
disponível na internet
O Codex Sinaiticus, um dos textos
mais antigos da Bíblia e documento
de inapreciável valor para o estudo
do Novo Testamento e da Septuaginta, já está disponível na internet, na
página www.codexsinaiticus.org.
Escrito entre os anos 330 e 350 da
Era Cristã, ele permaneceu no Mosteiro de Santa Catarina, no Monte Sinai (daí o seu nome Sinaiticus), até
1844, ano em que foi descoberto pelo
arqueólogo alemão Constantin von
Tischendorf.
Hoje se conservam mais de 400 páginas do valioso manuscrito, repartidas entre a Biblioteca Britânica, a Biblioteca da Universidade de Leipzig,
a Biblioteca Nacional da Rússia e o
próprio Mosteiro de Santa Catarina.
Núncio Apostólico em
Portugal defende a Família
O Núncio Apostólico em Portugal, D. Rino Passigato presidiu às
40
cerimónias do dia 13 de Julho, em
Fátima. Durante a homilia, ele defendeu a instituição da família citando Bento XVI: “a família, fundada
no matrimónio indissolúvel entre um
homem e uma mulher, expressa a dimensão relacional, filial e comunitária, e é o âmbito no qual o homem pode nascer com dignidade, crescer e se
desenvolver de modo integral”.
“Vim aqui, de modo particular, para confiar à Mãe de Deus, em cujo ventre o Verbo Se fez carne, as famílias do
mundo inteiro. Contemplando em Maria Aquela que acolheu em Si o Verbo
de Deus e O entregou ao mundo, rezemos, nesta Santa Missa, por todos
quantos constituíram família, no sacramento do matrimónio, a fim de que
nos seus corações permaneça sempre a
fidelidade que juraram mutuamente”,
afirmou o prelado.
Insultos à Igreja na Espanha
Um grupo anarquista autodenominado La Gallinaire reivindicou a
autoria dos ataques feitos contra a
Igreja em Barcelona, na noite de 25
para 26 de julho.
De madrugada, as fachadas de
vinte igrejas foram pichadas com frases ofensivas e ameaçadoras e em várias delas foram colocados cadeados
para impedir a entrada dos fiéis.
Em nota distribuída à imprensa no
dia 27, a Arquidiocese protesta contra esse atentado “à liberdade religiosa e de culto dos cidadãos”, um direito
fundamental reconhecido na Constituição do país, e conclui acentuando
que “respeitar e defender esse direito é
elemento integrante de uma sociedade
autenticamente democrática”.
Aprovados oito decretos
de martírio
Oito mártires do século XX — seis
sacerdotes espanhóis, um sacerdote alemão e um Bispo húngaro — estão a um passo da beatificação. O Papa Bento XVI aprovou em 3 de julho
os decretos de martírio, apresentados
pela Congregação para as Causas dos
Santos, relativos aos seguintes Servos
de Deus:
Teófilo Fernández de Legaria
Goñi e quatro Companheiros, sacerdotes da Congregação dos Sagrados
Corações, mortos por ódio à Fé, durante a perseguição religiosa na Espanha, em 1936.
José Samsó i Elías, sacerdote diocesano, pároco e arcipreste de Santa Maria de Mataró, assassinado por
ódio à Fé em 1936, durante a perseguição religiosa na Espanha.
Georg Häfner, sacerdote diocesano, morto no campo nazista de concentração de Dachau (Alemanha)
em 1942.
Zoltán Ludovico Meszlényi, Bispo auxiliar de Esztergom, vítima da
perseguição comunista na Hungria,
em 1951.
wikipedia.org
codexsinaiticus.org
Esta congrecação foi fundada em
1588 com o objectivo de ocupar-se
das matérias que se referem “à constituição e à provisão das Igrejas particulares”, como a nomeação de Bispos, bem como ao exercício da missão de cada Bispo, à constituição das
Conferências Episcopais e à revisão
dos seus estatutos
Predispõe ainda tudo o que se refere às visitas “ad Limina” dos Bispos de todo o o mundo, examinando
os seus relatórios e transmitindo aos
Bispos diocesanos as conclusões referentes à própria diocese.
Cura milagrosa por intercessão
do Cardeal Newman
Foi aprovado em 3 de julho pelo
Papa Bento XVI o decreto da Congregação para as Causas dos Santos
que reconhece como milagrosa uma
cura obtida por intermédio do Cardeal João Henrique Newman.
O diácono Jack Sullivan, de Boston (EUA), sofria de uma grave deficiência na coluna vertebral, que o impedia de andar. Em 15 de agosto de
2001, rezou ao Cardeal Newman, pedindo sua intercessão para ser curado dessa moléstia e, pouco depois,
conseguiu pôr-se de pé e sair caminhando. Os médicos e especialistas
que estudaram o caso chegaram à
conclusão de que a cura de Sullivan é
cientificamente inexplicável.
Flashes de Fátima · Setembro 2009
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26/08/2009 09:59:05
Legionários de Cristo têm
38 novos diáconos
FIDES – Na Capela do Centro de
Estudos Superiores de Roma, realizou-se em 30 de junho a celebração
de ordenação diaconal de 38 Legionários de Cristo. O rito foi presidido
por Dom Mauro Piacenza, Secretário
da Congregação para o Clero. Como
concelebrantes, entre outros, o Padre
Álvaro Corcuera, LC, Diretor Geral
dos Legionários de Cristo e do movimento Regnum Christi, e o seu Vigário Geral, padre Luis Garza, LC.
Os novos diáconos são provenientes de 9 países: Brasil, Canadá, República Tcheca, Espanha, Itália, México, Estados Unidos, Venezuela e
Vietnã. Atualmente, a Congregação
dos Legionários de Cristo está presente em 22 países, com 800 sacerdotes e 2.600 seminaristas. Conta com
127 casas religiosas e dirige mais de
240 centros educativos.
Sacerdote salesiano
condecorado na Colômbia
O sacerdote salesiano Javier de
Nicoló recebeu em 23 de julho a Ordem de Boyacá, a mais alta distinção
concedida pelo governo da Colômbia. A condecoração — entregue pelo presidente Álvaro Uribe Vélez, em
Bogotá — é uma homenagem ao esforço e ao trabalho desse religioso
em favor do povo desse país.
“Nós colombianos nos sentimos orgulhosos em poder contar com o Pe.
Javier de Nicoló nos programas de extensão do governo”, como também
“na ampliação do Sistema de Educação Nacional de Aprendizado”, declarou o presidente.
No decreto de outorga da condecoração, o religioso é apontado como um homem que “consagrou mais
de 50 anos de sua vida apostólica ao
incansável trabalho pelo bem-estar dos
necessitados”.
Nascido em Bari (Itália) em 1928,
Javier de Nicoló ingressou, logo após a
II Grande Guerra, na comunidade salesiana local, conhecida pelo trabalho
social com a população carente. Em
1958, atravessou o Atlântico para estudar Filosofia e Teologia na Colômbia,
onde foi ordenado dez anos depois.
msjroscrea.ie
Com esse reconhecimento do milagre, ficam abertas as portas para a beatificação do famoso Cardeal britânico.
João Henrique Newman nasceu
em 1801 e era sacerdote anglicano
quando converteu-se ao Catolicismo,
em 1845. Dois anos depois, foi ordenado sacerdote católico, em Roma.
Tornou-se conhecido como líder do
Movimento de Oxford. É o fundador
dos Oratórios de São Felipe Néri na
Inglaterra. Recebeu a púrpura cardinalícia das mãos de Leão XIII, em
1879. Faleceu em 1890.
diu validar a eleição, dispensando o
eleito do limite mínimo de idade.
150 aniversário do
nascimento do Padre Cruz
Cumpriram-se em julho 150 anos
do nascimento do Padre Francisco
Rodrigues da Cruz, nascido em a 29
de Julho de 1859.
Ordenado a 3 de Julho de 1882,
desempenhou funções de director no
Colégio dos órfãos e director espiritual no Seminário de S. Vicente de
Fora. Praticou heroicamente o que
inculcava aos sacerdotes: “Confessar
enquanto se apresentarem pecados,
pregar enquanto houver ouvintes, e
rezar até já não se poder mais”.
Em 1940 cumpriu um desejo antigo e fez-se jesuíta aos 80 anos. Faleceu
no primeiro dia de Outubro de 1948.
Três anos depois, em 1951, o processo
de beatificação iniciou-se em Lisboa e
entregue à Santa Sé em 1965.
Mais de 2 mil espécies de
plantas endêmicas
Um abade de apenas 33 anos
Foi necessária uma dispensa especial da Santa Sé para validar a eleição
de Dom Richard Purcell como novo
abade do Mosteiro Cisterciense do
Monte São José, em Roscrea, Irlanda.
Primeiro porque Dom Richard
não completou ainda os sete anos
de vida monacal, contados a partir a
profissão solene dos votos, estabelecidos pelo Código de Direito Canônico; e segundo porque tem apenas 33
anos de idade, dois a menos do exigido pela Regra de sua Ordem.
O mosteiro recorreu ao Cardeal
Franc Rodé, Prefeito da Congregação
para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica,
o qual concedeu a dispensa relativa
ao tempo insuficiente de vida monacal. E a Dom Eamon Fitzgerald, Abade Geral dos Cistercienses, que deci-
Por iniciativa da Universidade
Estadual de Feira de Santana (BA)
e da ONG Conservação Internacional, foi lançado em 2 de julho o livro
Plantas Raras do Brasil, o qual cataloga 2.291 espécies de plantas que
são encontradas exclusivamente no
território brasileiro.
A obra é resultado de dois anos de
pesquisas nas quais colaboraram 175
cientistas de 55 instituições brasileiras e internacionais.
Estima-se que o Brasil detenha
15% de toda a flora mundial.
Padre colombiano nomeado
bispo nos Estados Unidos
O Papa Bento XVI nomeou em
27 de julho o sacerdote colombiano Luis R. Zarama Bispo auxiliar da
Arquidiocese de Atlanta (EUA).
Nascido em 1958, Dom Zarama
cursou Filosofia e Teologia na Universidade Mariana de Pasto (Colômbia), e Direito Canônico na Universidade Javeriana, de Bogotá. ReceSetembro 2009 · Flashes
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de Fátima
41
26/08/2009 09:59:10
quais 223 sacerdotes, 100 seminaristas e 195 leigos consagrados de ambos os sexos.
benedictdaswa.com
beu a ordenação presbiteral em 1993,
na Arquidiocese de Atlanta, da qual
se tornou vigário-geral em 2006. Será ordenado Bispo em 29 deste mês.
Comunidade Emanuel
tem novo Moderador
Os 400 delegados da Comunidade Emanuel — representando mais
de 8.000 associados espalhados por
57 países — elegeram em Paris no
dia 12 de julho os dezessete membros
do Conselho Internacional. A eleição
realizou-se na presença do Cardeal
André Vingt-Trois, Arcebispo de Paris e assistente eclesiástico dessa Associação Pública de Direito Pontifício. O Conselho recém-eleito, por
sua vez, elegeu o novo Moderador,
Laurent Landete.
Enfermeiro em Bordeaux, pai de
família, Laurent Landete exercia até
então o cargo de responsável pela
Comunidade na França.
A Comunidade Emanuel nasceu
em Paris em 1972 e conta hoje com
mais de 8.000 membros, entre os
Um leigo sul-africano a
caminho dos altares
Após cinco anos de pesquisas e depoimentos de testemunhas, a diocese
de Tzaneen, África do Sul, encerrou
a fase diocesana do processo de beatificação de Benedict Daswa, leigo
católico assassinado em 1990 por ter
combatido as crenças e os rituais supersticiosos praticados em seu país.
A documentação respectiva, informa a agência Fides, foi encaminhada à Congregação para as Causas dos
Mais de 110.000 visitam
exposição em Fátima
E
42
O título da Exposição é uma
reminiscência do costume que tinham Lúcia, Francisco e Jacinta,
de dar à lua o nome de “candeia
de Nossa Senhora” e às estrelas o
de “candeias dos anjos” para iluminar a noite.
www.fatima.pt
stima-se que mais de 110 mil
pessoas visitaram a exposição Francisco Marto: candeia que
Deus acendeu, aberta no Santuário de Fátima em 4 de abril e encerrada em 30 de junho.
Durante esses quase três meses, os fiéis puderam contemplar
objetos ligados à família do pastorinho, peças de escultura e de
pintura, além de inestimáveis relíquias, tudo ordenado em três
setores que recordavam Francisco enquanto criança em Aljustrel, enquanto vidente de Nossa Senhora e enquanto Beato da
Igreja.
Santos, a qual nomeará um postulador romano para proceder nas fases
sucessivas do processo. Nessa expectativa, a Conferência Episcopal SulAfricana decidiu publicar uma biografia e um DVD para difundir a vida e a obra do Servo de Deus “como
modelo e testemunha da Fé”.
Benedict converteu-se à religião
Católica quando estudava para se
tornar professor e logo assumiu uma
atitude de forte oposição à bruxaria,
e ao uso de pseudo-remédios e de
amuletos. Por isso foi assassinado a
pauladas e pedradas, em 12 de fevereiro de 1990, pouco antes de completar 44 anos.
Universidade homenageia
embaixador britânico
junto à Santa Sé
Francis Martin-Xavier Campbell,
embaixador do Reino Unido da GrãBretanha e da Irlanda do Norte junto
à Santa Sé, recebeu da Queen’s University o Doutorado por distinção no
serviço público.
Campbell nasceu em 1970. Formou-se na Queen’s University de
Belfast e fez pós-graduação na Universidade Católica de Louvain, Bélgica. Ingressou no serviço diplomático
aos 27 anos, foi secretário particular
(2001-2003) do ex-primeiro-ministro Tony Blair e era primeiro secretário da embaixada britânica em Roma quando foi nomeado embaixador
junto à Santa Sé, em 2005.
Morreu o jesuíta mais
idoso do mundo
Faleceu em 19 de julho, aos 104
anos, o mais idoso jesuíta do mundo.
Nascido em Saint Louis (EUA) em
1905, Pe. Raymond Reis ingressou na
congregação aos 21 anos. Doutorouse em biologia pela Universidade de
Saint Louis, em 1940. Lecionou durante muitos anos na Universidade
Marquette, de Milwaukee, e no Rockhurst College, de Kansas City. Foi
também pesquisador convidado na
Universidade de Milão.
Flashes de Fátima · Setembro 2009
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26/08/2009 09:59:16
Cristãos perseguidos no Nepal
Os organizadores afirmam que
em alguns lugares se registraram
conflitos entre polícia e grupos de
manifestantes, aos quais as forças
de segurança tinham intimado a não
sair em cortejo pelas ruas. Apesar
das ameaças, os fiéis desfilaram, realizando uma manifestação que alguns definem como a mais imponente já ocorrida no país por motivos religiosos.
SHROUDSTORY
“Estamos preocupados e tememos que atentados como o perpetrado contra a igreja da Assunção possam se repetir. Mas nós cristãos não
temos medo e não abandonaremos o
país”, afirmou à agência Fides o Pe.
Pius Perumana, pró-vigário apostólico em Nepal.
Pe. Pius acrescentou que as intimidações contra os cristãos aumentam a cada dia nesse país asiático.
Muitas igrejas, escolas e estabelecimentos cristãos receberam ameaças.
Algumas instituições católicas foram
“convidadas” a deixar o país no prazo de um mês, sob pena de sofrerem
atentados.
Primeiros passos da
Obra na Romênia
Na festa de São Josemaría Escrivá
começou o trabalho estável do Opus
Dei na Romênia, com a instalação de
um novo Centro em Bucarest.
A missão desta nova unidade,
moldando-se ao carisma do fundador, será de difundir a mensagem
de que o trabalho e as circunstâncias do dia-a-dia são ocasião de encontro com Deus e de santificação,
de serviço aos outros e de melhora
da sociedade.
Vietnã: manifestações de católicos
Rádio Vaticano – Meio milhão de
católicos vietnamitas saíram às ruas
de suas cidades para protestar contra
as violências perpetradas pela polícia
a centenas de fiéis no último dia 20
de julho, nas proximidades da ruína
da igreja de Tam Toa.
A diocese de Vinh, 300 km ao sul
de Hanói, e outras limítrofes, organizaram 19 cortejos para pedir a imediata libertação dos fiéis que foram
surrados e detidos pelos policias de
Tam Toa. Cerca de 170 sacerdotes e
420 religiosas guiaram as manifestações de protesto pacíficas que se realizaram simultaneamente em diversas localidades das províncias de
Nghe An, Ha Tinh e Quang Binh.
de voluntariado missionário, que ajudam algumas das populações mais
pobres do mundo. Este despertar
da consciência missionário é um fenómeno muito relevante na vida da
Igreja dos nossos dias, fruto de um
processo gradual que tem gerado um
novo dinamismo.
381 voluntários portugueses partem para dez países diferentes, reforçando a dinâmica de voluntariado
missionário no nosso país, com 50 entidades promotoras, mais 99 do que
em 2008, o que representa um aumento de 35%.
Os voluntários são na sua grande
maioria jovens estudantes universitários e recém-licenciados. As áreas
de trabalho são quase sempre as mesmas: a saúde, a educação e a evangelização, que é a parte principal.
D. Jacinto encoraja sacerdotes
a imitarem S. João Vianney
Papa irá venerar o Santo
Sudário em Turim
A Sala de Imprensa do Vaticano
confirmou que o Papa Bento XVI
irá no próximo ano a Turim, por ocasião da exposição do Santo Sudário,
a qual terá início em 10 de abril e se
encerrará em 23 de maio.
O Santo Sudário é exposto em intervalos de aproximadamente vinte
anos. A última vez que essa preciosa
relíquia permaneceu franqueada à visitação pública foi por ocasião do Jubileu do ano 2000.
Voluntários missionários
reforçam acção em 2009
Ano após ano, coincidindo com
a chegada do Verão, centenas de jovens portugueses partem para países lusófonos, oferecendo o seu tempo de férias ao serviço de projectos
No dia em que celebrou a memória litúrgica de S. João Maria Baptista Vianney, precisamente quando ocorreu o 150.º aniversário da sua
morte, D. Jacinto Botelho, Bispo de
Lamego, exortou os sacerdotes a terem como ponto de referência o Santo Cura de Ars.
“O propósito de Sua Santidade está
bem claro no lema por ele mesmo escolhido para a sua celebração: Fidelidade de Cristo, fidelidade do sacerdote. Bem podemos dizer que esta foi a
preocupação permanente do humilde
pároco de Ars, garantida com uma vida de oração e de sacrifício inexcedíveis e determinantes duma disponibilidade e de um zelo imparáveis e incansáveis que arrastaram àquela pequeníssima localidade que paroquiava
multidões vindas de toda a parte, para
experimentarem a presença e a Graça
de Deus tão palpável nele, como confessava deslumbrado um advogado de
Lyon depois de o contactar: ‘Vi Deus
num homem’”.
Para ver o texto na íntegra, consulte http://www.diocese-lamego.pt/incio/59
Setembro 2009 · Flashes
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HISTÓRIA PARA CRIANÇAS... OU ADULTOS CHEIOS DE FÉ?
Um prodigioso
esquecimento
Por que a porta do quarto que ocupara aquele sacerdote não
se abria? E que luz era aquela, que se fazia ver pelo buraco da
fechadura? O hospedeiro estava intrigado com tais prodígios...
Diana Carolina López López
E
ram duros os tempos das
primeiras missões evangelizadoras da América do Norte. Muitos habitantes daquelas terras
não conheciam a Religião de Cristo e
os apóstolos eram em número insuficiente para levar a todas as almas a verdadeira Fé. “A messe é grande, mas os
operários são poucos” (Mt 9, 37), diz a
Escritura. Mas, gradualmente, com o
auxílio da graça, a Santa Igreja ia-se estabelecendo naquelas vastidões territoriais, como a gota de azeite se espalha
silenciosamente pela folha de papel.
No povoado de Santa Maria dos
Anjos, onde já todos eram católicos
fervorosos, exercia seu fecundo apostolado o padre Jorge. Levantava-se de
madrugada, passava uma hora de adoração a Jesus Hóstia e em seguida celebrava a Santa Missa. Hauria, assim,
as forças para a labuta de cada dia.
Cuidava da catequese das crianças e
dos adultos, dirigia a escola e o hospital local, administrava os sacramentos,
visitava os enfermos de toda a região.
Certo dia, chamaram-no para
atender um doente em estado grave,
44
que morava bem longe do povoado.
O Sol já estava baixando, não tardaria a anoitecer. O pároco aprontou-se
rapidamente, pegou os Santos Óleos
para a Unção dos Enfermos e preparou tudo para levar o Santo Viático.
Valério, o sacristão, ofereceu-se
para acompanhá-lo, pois a viagem
era longa e não isenta de perigos,
mas o sacerdote achou melhor que
ele ficasse, para cuidar da igreja. Ele
então selou o cavalo e ajudou o padre
Jorge a montar, já com o Santíssimo
Sacramento numa pequena teca, que
levava dependurada ao pescoço, dentro de uma delicada bolsa.
Fustigando a montaria para acelerar a marcha, o pároco percorreu
em pouco tempo vários quilômetros.
Mas... aconteceu o inesperado: desabou um forte temporal, as escuras nuvens e o aguaceiro toldavam as últimas
réstias de luz do Sol que ainda iluminavam aquela estrada cheia de acidentes
e obstáculos. E o padre viu-se obrigado a parar numa pequena hospedaria,
muito simples, mas limpa e ordenada.
Curiosamente, ali se abrigara, forçado também pela tempestade, um
mensageiro do enfermo, enviado para comunicar-lhe que este dava sinais
de recuperação e, portanto, já não
era tão urgente a ida do sacerdote.
Tranquilizado por essa notícia, o padre Jorge tomou essa coincidência como um sinal da Providência e decidiu
pernoitar ali, para não expor o Santíssimo Sacramento aos numerosos riscos
de uma viagem sob a borrasca.
Ocupou um quarto no segundo andar, onde preparou da melhor forma
possível um pequeno armário para
servir de tabernáculo. Nele depositou
a Sagrada Hóstia, pôs-se de joelhos e
rezou durante algum tempo, depois
trancou a porta e desceu para o refeitório, onde já estava servido o jantar.
Ali foi informado, em conversa
com outros hóspedes, que o dono do
hotel e sua família eram pagãos. Por
prudência, evitou tudo quanto pudesse revelar que ele levava consigo Nosso Senhor Sacramentado e, terminada a refeição, recolheu-se sem demora ao seu quarto-capela, preparandose para partir cedinho no dia seguinte.
Quando raiou o Sol, estava já ele
a cavalo, para reiniciar sua viagem.
Flashes de Fátima · Setembro 2009
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Edith Petitclerc
O piedoso sacerdote foi invadido por uma grande alegria: essa luz só podia ser fruto de um milagre
No meio do caminho, levou instintivamente a mão ao peito para sentir a
presença do Santíssimo Sacramento e
percebeu que a preciosa teca não estava aí! Encomendando-se à Santíssima Virgem, fez meia-volta, esporeou o
animal e partiu de volta a todo galope.
Cruzando o portal da hospedaria,
o padre Jorge saltou da cavalgadura
e correu à procura do hoteleiro:
— Senhor, desculpe, mas alguém
mais ocupou o quarto em que pernoitei?
Surpreso, ele lhe respondeu:
— Não, senhor padre. E que bom
o senhor ter voltado, porque, desde a sua partida, fizemos de tudo para abrir a porta daquele quarto e não
conseguimos. O que fez o senhor para deixar a chave emperrada na fechadura de maneira que ninguém
consegue girá-la?
Impressionado, o sacerdote disse:
— Nada. Apenas deixei lá a chave...
— É, mas além de não conseguirmos abrir a porta, vê-se pelas frestas
que o quarto está iluminado por uma
luz desconhecida. O senhor deixou
alguma vela acesa ali?
O piedoso sacerdote, que já tinha
passado da terrível apreensão para a
tranquilidade, foi invadido por uma
grande alegria: essa luz só podia ser
fruto de um milagre. Teriam os Anjos do Céu vindo fazer companhia a
Jesus Sacramentando, protegendo-O
de qualquer sacrilégio ou mesmo de
simples irreverências?
— Vamos lá. Vou tentar abrir a
porta.
E subiu rapidamente as escadas. O hoteleiro seguiu atrás, acompanhado da esposa, dos filhos, dos
criados e até de vários hóspedes, todos desejosos de desvendar aquele
mistério.
Lá chegando, padre Jorge girou a
chave e abriu a porta com toda facilidade. Imaginem sua emoção ao ver
que daquele armário — o tabernáculo por ele improvisado — saía uma luz
celestial, enquanto músicas angelicais
se faziam ouvir dentro do quarto.
Pondo-se de joelhos, adorou, comovido ao extremo, o Rei dos reis
que quis manifestar-Se daquela maneira para atrair mais almas a Seu Sacratíssimo Coração Eucarístico.
Em seguida, explicou a todos o
que se passara. Entre atônitos e maravilhados, foram-se ajoelhando um
a um... Agora nenhum deles duvidava da Presença Real de Jesus na Eucaristia! O hoteleiro pediu para receber o Batismo, junto com toda a sua
família.
O padre Jorge não podia abandonar essas almas que o próprio Senhor
conquistara por meio de tão prodigioso fato! Passou, pois, alguns dias
no hotel, ensinando-lhes as belezas e
as verdades da Fé Católica. Durante
esse tempo, a Sagrada Eucaristia permaneceu no seu precário tabernáculo, recebendo a adoração do hoteleiro, de sua família e de vários habitantes da região. Muitos destes também
se converteram, de modo que o padre Jorge teve a alegria de ministrar
o Batismo a uma pequena multidão
de novos filhos da Santa Igreja.
Por fim, foi à casa do enfermo
que, uma semana antes, havia solicitado sua assistência, e o encontrou já
curado.
O Senhor quis, Ele mesmo, operar
prodígios em favor de sua messe! 
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de Fátima
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OS SANTOS DE CADA DIA _________
Sergio Hollmann
no reinado de Jaime I da Inglaterra, porque propagava a Fé Católica a todos que encontrava.
6. XXIII Domingo do Tempo
Comum.
Beato Pascual Torres Lloret,
mártir (†1936). Pai de família fuzilado durante a Guerra Civil Espanhola por esconder livros, objetos sagrados e mesmo o Santíssimo Sacramento.
7. Santos Marcos Crisino, Estêvão Pongracz e Melquior Grodziecki, presbíteros e mártires
(†1619). Marcos era sacerdote se“Santa Eufemia”, por Francisco
cular, os outros eram jesuítas. Torde Zurbarán - Museu do Prado, Madri
turados e mortos em Cosice, Eslováquia, por se recusarem a aderir
1. São Lupo de Sens, Bispo (†623). à Reforma protestante.
Bispo de Sens, desterrado para Vio8. Natividade de Nossa Senhora.
meu por haver afirmado que o povo
Beata Serafina Sforza, religiosa
deve obedecer mais a Deus do que
(†1478). Esposa do senhor de Pésaaos governantes desta terra.
ro, Itália, que causou-lhe grandes so2. Beato Alexandre Carlos Len- frimentos e, por fim, a obrigou se refant, presbítero e mártir (†1792). Jesu- tirar ao mosteiro das clarissas onde
íta, renomado orador e grande devoto viveu o resto de sua vida observando
do Sagrado Coração de Jesus, nomea- fielmente a Regra.
do pregador do rei Luís XVI. Morto na
9. São Pedro Claver, presbítero
Revolução Francesa, por ter-se negado
(†1654).
a jurar a Constituição Civil do Clero.
Beata Maria Eutimia Üffing, vir3. São Gregório Magno, Papa e gem (†1955). Pertencente à Congregação das Religiosas da Miseridoutor da Igreja (†604).
Santa Febe. Piedosa auxiliar do córdia, cuidou dos feridos duranApóstolo Paulo em Cêncris, Grécia, te a II Guerra Mundial. Ardorosa
mencionada por ele na epístola aos devota do Santíssimo Sacramento,
passava horas ajoelhada diante do
Romanos.
tabernáculo.
4. São Bonifácio I, Papa (†422). O
10. Santo Autberto, Bispo
início de seu pontificado foi marcado
por tumultos com o antipapa Eulá- (†725). Bispo de Avranches, Franlio. Dedicou-se à reforma da discipli- ça, que mandou construir no Monna eclesiástica e defendeu a primazia te Tombe um santuário em honra
de São Miguel. O edifício, muito
da Sé Romana.
ampliado ao longo dos anos, é atu5. Beato Guilherme Browne, már- almente a famosa abadia do Mont
tir (†1605). Fervoroso leigo, morto Saint-Michel.
46
11. Santo Elias Speleota, abade (†960). Aos dezoito anos, recusou desposar uma jovem da nobreza
e partiu como peregrino para Roma,
onde tomou o hábito de São Basílio
e levou vida de penitente na gruta de
Melicuccà, Itália.
12. Santíssimo Nome de Maria.
Beato Apolinário Franco, presbítero e mártir (†1622). Religioso franciscano espanhol, partiu como missionário para as Filipinas e
depois para o Japão, onde fundou
muitos estabelecimentos de caridade. Foi queimado vivo durante a
perseguição.
13. XXIV Domingo do Tempo Comum.
São João Crisóstomo, Bispo e doutor da Igreja (†407).
São Maurílio, Bispo (†453). Discípulo de São Martinho de Tours, por
quem foi ordenado. Eleito Bispo de
Angers, França, procurou extinguir
as superstições pagãs.
14. Exaltação da Santa Cruz.
Santo Alberto, Bispo (†1215).
Patriarca de Jerusalém que, em
tempos de muitas contendas, soube semear o bom entendimento.
Foi assassinado durante uma procissão, por um homem cuja má conduta havia censurado.
15. Nossa Senhora das Dores.
Beato Antonio Maria Schwartz,
sacerdote (†1929). Fundador da Congregação dos Operários Cristãos de
São José Calasanz, dedicados à educação da juventude operária.
16. São Cornélio, Papa (†253) e
São Cipriano, Bispo (†258) mártires.
Santa Eufemia, virgem e mártir (†303). Nos tempos do imperador Diocleciano, na cidade de Bitínia, atual Turquia, suportou cruéis
Flashes de Fátima · Setembro 2009
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_____________________ SETEMBRO
suplícios até a morte, por não querer apostatar.
17. São Roberto Berlamino, Bispo
e doutor da Igreja (†1621).
São Lamberto, Bispo e mártir
(†705). Bispo de Maastricht num período de turbulências políticas, foi
exilado e viveu sete anos como simples monge.
18. Beato José Kut, presbítero e
mártir (†1942). Sacerdote polonês
encarcerado e submetido a cruéis
tormentos no campo de concentração de Dachau.
20. XXV Domingo do Tempo
Comum.
Santo André Kim Tae-gon,
presbítero, Paulo Chong Hásang e companheiros, mártires
(†1839-1867).
Santa Teresa Kim Im-i, mártir (†1837). Nascida em Seul de
família cristã, aos 17 anos consagrou sua virgindade a Deus e
passou a dedicar-se às obras de
caridade. Durante a perseguição na Coreia, foi presa e estrangulada.
23. São Pio de Pietrelcina, presbítero (†1968).
Beata Bernadina Jablonska, virgem (†1940). Filha espiritual de Santo Alberto Chmielowski e cofundadora da Congregação das Irmãs Servas dos Pobres.
24. Beato José Raimundo Ferragud Girbés, mártir (†1936). Pai de família fuzilado durante a Guerra Civil
Espanhola.
25. Santos Paulo e Tatta, e seus filhos, mártires (†séc. IV). Família de
26. Santos Cosme e Damião, mártires (†séc. III).
Beata Lúcia de Caltagirone, virgem (†1400). Religiosa da Terceira
Ordem Regular Franciscana, insigne
por sua fidelidade à Regra e sua devoção às Cinco Chagas de Cristo.
27. XXVI Domingo do Tempo Comum.
São Vicente de Paulo, presbítero
(†1660).
São Bonfílio, Bispo (†1115). Bispo de Foligno, Itália, enviado à Terra Santa com os cruzados. Ao retornar, dez anos depois, fez-se monge
no mosteiro de Storaco, do qual havia sido abade.
29. São Miguel, São Gabriel e
São Rafael Arcanjos.
São Maurício, abade (†1191).
Por humildade, renunciou ao
cargo de superior no mosteiro cisterciense de Langonnet,
França. Logo depois foi eleito
abade de Carnoët.
21. São Mateus, Apóstolo.
São Cadoc, abade (†séc. VI).
Filho dos reis de Gales, abade
de Llancarfan e fundador de diversos mosteiros.
22. Beato Vicente Sicluna
Hernández, presbítero e már-
Damasco, Síria: pai, mãe e quatro filhos, presos e torturados até a morte,
por serem cristãos.
28. São Venceslau, mártir (†929).
São Lourenço de Manila
Ruiz e companheiros, mártires
(†1633-1637). Leigo filipino
acompanhante dos missionários dominicanos a Taiwan e
ao Japão, onde foi martirizado com eles.
Victor Toniolo
19. São Januário, Bispo e mártir
(†305).
Santa Maria de Cervelló, virgem
(†1290). Pediu a São Pedro Nolasco para ser admitida na ordem por ele fundada, tornando-se a primeira religiosa
mercedária. Incansável na assistência
aos pobres e enfermos, ficou conhecida como Maria do Socorro.
tir (†1936). Zeloso sacerdote da cidade de Navarrés, que não quis abandonar os fiéis durante as perseguições da
Guerra Civil Espanhola.
“Santos Cosme e Damião” Igreja de Santo Isidro, Madri
30. São Jerônimo, presbítero
e doutor da Igreja (†420).
Beata Felícia Meda, abadessa (†1444). Superiora do mosteiro de Santa Úrsula, em Milão. A pedido da Duquesa de
Pésaro, foi enviada para fundar
um mosteiro de clarissas nessa
cidade.
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ENTREVISTA EXCLUSIVA COM A DRA. PNINA SHOR
“Palavras que
mudaram o mundo”
Fragmentos dos célebres manuscritos do Mar Morto, junto com outros objetos
de incalculável valor arqueológico, compõem a exposição “Palavras que
mudaram o mundo”, atualmente exibida no Royal Ontario Museum, em Toronto.
Para conhecermos melhor esses valiosíssimos documentos, entrevistamos com
exclusividade a Dra. Pnina Shor, chefe de Seção de Conservação de Artefatos
do Departamento de Antiguidades de Israel.
Gustavo Adolfo Kralj
U
ma das descobertas arqueológicas mais significativas do século XX
ocorreu há 60 anos,
quando um beduíno, Muhammed
edh-Dhib Hassan, à procura de uma
cabra perdida, encontrou, escondidos numa caverna no deserto, rolos de pergaminhos escritos dois mil
anos atrás. Estavam guardados em
jarros e surpreendentemente bem
conservados.
A partir daí, entre 1947 e 1956, foram descobertos quase 900 textos, a
maior parte deles em pergaminhos,
uma pequena parcela em papiros e
um gravado em cobre. O valioso material estava oculto em onze cavernas
nas redondezas de Wadi Qumran,
perto das ruínas do antigo assentamento de Khirbert Qumran, a noro48
este do Mar Morto, nome que mais
tarde se associou aos documentos.
Atestada a sua autenticidade em
1948, foi possível determinar que sua
origem remonta a um período que se
estende do século III a.C. ao primeiro século da era cristã. Uns estão escritos em hebraico, outros em aramaico e outros ainda em grego.
Seguiram-se décadas de pesquisa,
e passou-se a utilizar uma tecnologia
desenvolvida por cientistas da NASA
para recuperar o texto dos manuscritos, que com o tempo estavam se desintegrando. Uma vez analisado, cada
fragmento passou a fazer parte de um
enorme quebra-cabeças não inteiramente resolvido até hoje.
O encargo de conservar esse valiosíssimo acervo cabe à Dra. Pnina Shor, chefe da Seção de Conser-
Fragmento 11Q14,
pertencente ao Livro da
Guerra (entre 20 e 50 d.C.)
Flashes de Fátima · Setembro 2009
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Palavras nas quais milhões
de pessoas creem
De início, chama atenção a escolha do lema do evento: Words that
changed the World – Palavras que
mudaram o mundo. Qual é a relação
do lema com os documentos do Mar
Morto?
Pnina Shor esclarece: “A meu ver,
o lema abrange muito bem o tema da
exibição no sentido de que aqui estão
palavras da Bíblia, e como tal, são palavras pronunciadas para o mundo inteiro. São palavras comuns a todos
nós, palavras nas quais milhões de pessoas no mundo creem, sejam judeus,
cristãos, ou muçulmanos; portanto,
são verdadeiramente palavras que mudaram o mundo”.
Após lembrar a recente viagem
de Bento XVI a Terra Santa, a especialista israelense acrescenta: “Tratase de documentos escritos há mais de
dois mil anos, quando Jesus e o cristianismo nasceram. Eles incluem textos bíblicos, apócrifos e comentários
sobre a Bíblia. Falam da origem comum dos judeus e dos cristãos. É verdade que não existem entre eles cópias do Novo Testamento, simplesmente porque o Novo Testamento foi compilado depois que
os manuscritos foram escondidos
nas cavernas.1 Mas podem-se ver
neles as origens do cristianismo, junto com textos bíblicos e outros textos
judaicos. Constata-se assim, a origem
comum das duas religiões. Isto está na
linha do que o Papa falou em sua visita à Terra Santa”.
Debate sobre as origens
— a “tese essênia”
Determinar em que época foram
redigidos os Manuscritos do Mar
Morto não é tão difícil
quanto estabelecer com
segurança quais foram
seus autores.
A chamada “tese essênia”, embora seja em
nossos dias alvo de muitos debates, é a mais amplamente aceita no mundo acadêmico. Assim a
descreve Aimé Fuchs
(1925-2006), catedrático
no Instituto de Pesquisa
de Matemáticas Avançadas de Strasbourg: “Os
historiadores do primeiDra. Pnina Shor: “Aqui estão palavras da
ro século da nossa era, FíBíblia, e como tal, são palavras pronunciadas
lon de Alexandria, Caio
para o mundo inteiro”
Plinio Segundo e, sobretudo, Flávio Josefo, relataram que, ao
“Nesse livro, Josefo descreve os três
noroeste das margens do Mar Mor- ramos principais do judaísmo, no fim
to, vivia naquela época uma comuni- do primeiro século. Menciona os faridade de cenobitas chamados essênios, seus, os saduceus e os essênios. A desque eram celibatários, vegetarianos crição que Josefo faz dos essênios e de
e praticavam um modo de vida bem como eles viviam é muitíssimo pareciaustero segundo as prescrições da To- da com o que esse grupo narra sobre si
rá. Ora, os manuscritos foram encon- mesmo.
trados justamente nessas paragens per“Mas, nos manuscritos não há neto do Mar Morto. Essa coincidência nhuma referência específica aos essêfez com que surgisse a tese [...] segun- nios. O grupo que escreveu os manusdo a qual o conjunto dos manuscritos critos chama a si mesmo de yahad,
do Mar Morto provém de uma comu- que em hebraico significa ‘o conjunnidade essênia que então se encontra- to’, ‘a comunidade’. Quando falam
va na região de Qumram. E que essa de si mesmos, eles sempre descrevem
comunidade, por causa do avanço das seu modo de viver e suas crenças. Eles
tropas romanas, teria escondido esses constituem um grupo muito piedomanuscritos nas cavernas da redonde- so que decidiu sair da vida de Jerusaza um pouco antes da queda de Jerusa- lém, porque, para eles, Jerusalém se tilém, em 70 d. C.”.2
nha corrompido. Eles, ou pelo menos
De sua parte, Pnina Shor adverte alguns deles, decidiram se retirar”.
De outro lado, não é certo que os
que estabelecer a origem dos documentos é uma questão muito compli- membros desse grupo tenham sido os
cada e controvertida, mas aponta al- autores de todos os documentos:
“Os textos bíblicos e os apócrifos poguns dos argumentos que reforçam a
dem ter sido compilados ou escritos por
“tese essênia”:
“Os documentos foram original- outros. Esse grupo ou qualquer outro
mente identificados como provindos pode ter recolhido todos estes manusdos essênios pelo Prof. Sukenik,3 de- critos e escondido nas cavernas. Há oupois que ele leu a primeira cópia das tras teorias que falam do Templo e de
Regras da comunidade. Ele notou que os manuscritos seriam parte da bia clara semelhança com os essênios blioteca do Templo. Outros afirmam
mencionados por Flávio Josefo em sua que se trata de escritos oriundos de diversos grupos de fiéis”, conclui Shor.
obra A guerra dos judeus.
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de Fátima
Fotos: Gustavo Kralj
vação de Artefatos do Departamento de Antiguidades de Israel. Ela é
a responsável pelos Manuscritos do
Mar Morto e por outros objetos em
exposição — até 3 de janeiro de 2010
— no Royal Ontario Museum em Toronto, Canadá.
49
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Admirável exatidão nas traduções
do grego, latim e hebraico
A exegese bíblica é uma das disciplinas mais beneficiadas pelos Manuscritos do Mar Morto. Tomandoos como ponto de referência, até
que ponto são precisas as ulteriores
traduções para o grego e o latim dos
primeiros tempos da Igreja? Há contradições ou discrepâncias entre elas
e os manuscritos do Mar Morto?
Pnina Shor responde: “Não há contradições, já que estamos falando sobre a transmissão de um texto. A transmissão de um texto é feita por pessoas,
e, portanto, é normal que com o tempo haja diferenças devido à variação
do pensamento e das capacidades humanas, podendo até aparecer algum
erro. Mas penso que devemos analisar
a questão por outro lado. O que é impressionante neste caso é que o conteúdo foi preservado na tradução grega.
Mais tarde foi traduzido para o latim,
sendo em seguida traduzido novamente
para o hebraico. Quando os Manuscri-
tos foram encontrados, verificou-se que
a exatidão das traduções é realmente de
admirar — e isso é emocionante”.
Alguns escritos eram
até agora desconhecidos
Perguntada sobre se os manuscritos contêm unicamente livros canônicos, como hoje os conhecemos, Pnina
Shor esclarece: “Não, os Manuscritos
abrangem muito mais do que os livros
canônicos. Há uma grande variedade
de escritos, previamente desconhecidos. Isso desperta o interesse dos pesquisadores e estudiosos da matéria”.
Como exemplo desses textos nãocanônicos, Pnina Shor menciona “o
chamado Barkhi Napshi, um salmo
apócrifo que está em sintonia com as
escrituras canônicas, mas que não era
conhecido anteriormente”.
“Estamos falando da existência de
mais de 900 manuscritos. Podemos então conjeturar que eles contêm muitos
textos que eram desconhecidos anteriormente. Isso atrai investigadores do
mundo inteiro, de todas as denominações religiosas”.
Três valiosos
elementos
arquitetônicos
do Templo
Fragmento 4Q1, contendo Gn, 11-21
(ano 125 a 100 a.C.) e jarro de terracota
achado em uma das covas da região
(séc. I a.C. a ano 70 d.C.)
50
A exposição em
Toronto não se restringe somente aos
Manuscritos do Mar
Morto, mas também a outros artefatos arqueológicos cuja
importância é bem ressaltada pela
especialista israelense.
“Ao passear pela exposição, temos a impressão fascinante de estarmos indo da Galileia a Jerusalém pelo deserto. Todos os objetos
são fascinantes — eu não gostaria
de pô-los em uma ordem de precedência —, mas penso que vale a pena
prestar atenção em três elementos arquitetônicos.
“O primeiro é a pedra angular do
Monte do Templo de Jerusalém. É a
pedra onde o sacerdote subia para to-
car a trombeta convocando a todos para comemorar o sábado e as demais
festas. Como podemos saber que é autêntica? Pela inscrição que está nela,
no mesmo tipo de letra dos manuscritos — portanto, do mesmo período —
que afirma ser essa ‘a pedra angular
onde soa a trombeta’”.
O segundo elemento pertence ao
Templo Herodiano, que era dividido
em vários pátios. “Ao pátio principal,
qualquer pessoa podia ter acesso; depois de certo ponto, somente podiam
ingressar os judeus; mais adiante, somente homens; e no Santo dos Santos,
apenas o sumo sacerdote podia entrar
e apenas uma vez por ano, no dia de
Reconciliação, o Yom Kippur. Marcando a divisão onde somente os judeus podiam entrar, havia uma pedra
com uma inscrição. Essa pedra também faz parte da exibição.
“O terceiro elemento de interesse
são três restos arquitetônicos do tríplice portão da entrada principal do
Monte do Templo. Todos estes objetos foram descobertos durante diversas escavações ao redor do Monte do
Templo.
“Nenhum de nós conheceu o Templo. Conhecemo-lo através das Escrituras, e posteriormente através de nossas investigações. Todavia, aqui temos
objetos tangíveis que o tornam novamente vivo entre nós” — conclui Pnina Shor.
Longo processo rumo
à publicação
Seja qual for a origem dos Manuscritos do Mar Morto, não cabe dúvida quanto ao seu imenso valor e à urgente necessidade de sua preservação e restauração. Este é o campo
próprio do trabalho de Pnina Shor.
Assim explica ela o desafio enfrentado por seu Departamento de Antiguidades de Israel:
“A conservação e a restauração dos
manuscritos é um processo minucioso,
entediante e interminável. Conhecemos especialistas que dedicam sua carreira acadêmica somente a este labor.
Flashes de Fátima · Setembro 2009
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Nas décadas de 60 e 70 os estudiosos continuaram a decifrar o conteúdo dos manuscritos, mas surgiu a preocupação
de conservá-los, recorrendo-se,
para isto, aos melhores métodos
conhecidos na época.
“No fim da década de 80, o
Departamento de Antiguidades
de Israel foi constituído tendo como objetivo a preservação dos
manuscritos, bem como a publicação de seu conteúdo. No início, muito poucos deles foram
publicados, pois eram poucos os
especialistas trabalhando nesses
“Quando os Manuscritos foram
documentos os quais, como hoje
encontrados, verificou-se que a exatidão
sabemos, são mais de 900”.
das traduções dos documentos bíblicos
O que o Departamento fez,
é realmente de admirar”
informa a Dra. Shor, foi distri“A primeira e principal razão dis- buir o material disponível entre 80
so é que estamos falando de manus- especialistas do mundo todo, de dicritos que têm mais de dois mil anos. versas religiões, dando-lhes uma déEles ficaram escondidos e preservados cada para publicar o material receem cavernas no deserto. Por causa do bido.
clima, da temperatura e da falta de
Conservar o que foi preservado
luz, eles se conservaram e atravessapor dois mil anos
ram os séculos. Quando foram retirados das cavernas, a deterioração na“É bom que toda a matéria seja putural começou ou continuou, e eles se blicada, mas também é indispensável
fragmentaram em uma enorme quan- preservar os manuscritos para a postetidade de frações. São 900 documen- ridade. Esta é a tarefa do Departamentos divididos em milhares e milhares to de Antiguidades de Israel”, afirma a
de fragmentos.
Dra. Shor.
“Ora, quando os manuscritos foPara isso, especialistas como os
ram trazidos das escavações, ficaram chefes de conservação da Library of
espalhados em longas folhas de pa- Congress e do Getty Conservation Inspel e, como um quebra-cabeça, foi-se titute viajaram a Israel a fim de ajudar
tentando juntar os pedaços. Naquele a determinar os melhores processos a
tempo, os especialistas estavam inte- serem empregados.
ressados em conhecer o conteúdo dos
“A primeira e principal tarefa é retimanuscritos; não havia preocupação rar os manuscritos dos vidros em que
com a necessidade de conservá-los e foram colados e retirar os restos de fipreservá-los” — explica a Dra. Shor.
ta adesiva. Isto foi o que causou o daAssim, foi usada fita adesiva para no maior. É preciso trabalhar placa
unir os fragmentos, o que acelerou a por placa, manuscrito por manuscrito,
sua deterioração. Os manuscritos são fragmento por fragmento...”.
muito frágeis: 80% deles são de perTrata-se de um processo levado
gaminho orgânico, enquanto os ou- a cabo com muito cuidado, e que já
tros 20% são escritos em papiros. Se dura 18 anos. Visando sua revisão e
não forem guardados e manuseados aperfeiçoamento, o Departamencom o devido cuidado, eles ressecam to de Antiguidades têm pedido a coe se racham.
laboração do Ministério da Cultura
Italiano e do Istituto Centrale per la
Patologia del Libro, entre outros.
“Nosso lema é: ‘se os Manuscritos
foram preservados durante dois mil
anos, é nosso dever conservá-los por,
pelo menos, outros dois mil’” — enfatiza Pnina Shor. Pois, afinal, são “palavras que mudaram o mundo!”. 
1
Convêm lembrar que, em 1972, o
papirólogo jesuíta espanhol José
O’Callaghan Martínez identificou
os versículos 52 e 53 do capítulo sexto de São Marcos no fragmento 7Q5
desses manuscritos, despertando
nos círculos de especialistas enorme
polêmica, que perdura até hoje.
2
FUCHS, Aimé. Les manuscrits de la
Mer Morte. Strasbourg: Institut de
Recherche Matématique Avancée,
2000, p. 2 – tradução nossa.
3
Prof. Eleazar Lipa Sukenik (18991953), arqueólogo israelense e professor da Universidade Hebraica de
Jerusalém.
Fragmento da inscrição, em grego,
que vedava o ingresso dos não
judeus além do pátio dos gentios, no
Templo Herodiano (séc. I a.C.)
Setembro 2009 · Flashes
_Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 51
de Fátima
51
26/08/2009 10:00:06
Lucia Vu
Nossa Senhora e
Sua mãe Sant'Ana
- Imagem venerada
na comunidade
Lumen Cœli,
dos Arautos do
Evangelho
H
oje, a Liturgia recorda a Natividade da
Bem-Aventurada Virgem Maria. Esta
festa, muito sentida pela piedade popular, leva-nos a admirar em Maria Menina a
aurora puríssima da Redenção. Contemplamos
4CP_Natividade_RAE93_Portugal_76_.indd 52
uma menina como todas as outras, e ao mesmo
tempo única, a “bendita entre as mulheres” (Lc 1,
42). Maria é a Imaculada “filha de Sião”, destinada a tornar-se a Mãe do Messias.
João Paulo II, Audiência de 8/9/2004
26/08/2009 13:18:48

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