REVISTA DA FUNDAÇÃO A LORD | 2014 ANO 16 N.º23

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REVISTA DA FUNDAÇÃO A LORD | 2014 ANO 16 N.º23
REVISTA DA FUNDAÇÃO A LORD | 2014 ANO 16 N.º 23
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PRESENÇA | 2014
PRESENÇA | 2014
FUNDAÇÃO A LORD
EDITORIAL
Todos os anos a revista Presença faz uma compilação das principais atividades desenvolvidas pela Fundação A LORD. Desta forma, damos a conhecer o nosso trabalho e damos, também, a possibilidade de analisar o
nosso desempenho aos que nos acompanharam ao longo do ano de 2014.
Sabemos que a perfeição se vai conquistando no dia a dia, por isso nos
empenhámos para que as nossas atividades decorressem de uma forma
responsável, disponibilizando aos participantes as melhores condições.
Estamos conscientes de que podemos e devemos fazer mais.
Num ano, marcado pelo agravamento das conjunturas económica e financeira do país, são inúmeros os pedidos de ajuda que nos chegam. Além
de satisfazer as necessidades básicas da nossa população, a Fundação
A LORD tem feito um enorme esforço para conjugar a sua vertente social
com o desenvolvimento de projetos de índole cultural e educacional.
Com o contributo dos que ajudaram a concretizar os diversos programas da Fundação, foi possível garantir a qualidade das nossas atividades.
A todos expressamos a nossa gratidão pela disponibilidade demonstrada,
bem como pelo empenho com que conduziram todos os projetos.
Neste contexto, justifica-se anunciar que, no ano de 2014, a Cooperativa
de Electrificação A LORD adquiriu o antigo quartel dos Bombeiros Voluntários de Lordelo, doado a esta Instituição pela Cooperativa nos anos
setenta, onde até então funcionou a sua primeira sede. Votado ao abandono, a aquisição deste edifício é o resgatar da história da Cooperativa e da
própria cidade de Lordelo.
Com a recuperação deste espaço, a A LORD passará a dispor de mais um
equipamento para desenvolver as suas atividades culturais, educacionais
e sociais, mas também de um Museu Interativo que permitirá dar a conhecer a sua história e a evolução da energia elétrica. Este é o nosso novo
desafio. Contamos com os lordelenses para o superar!
Participe na vida da Fundação A LORD! O seu apoio é imprescindível
para o melhoramento dos nossos projetos!
Francisco Leal
Presidente da Fundação A LORD
Ficha Técnica
Presença
Revista da Fundação A LORD
Ano 16, n.º 23, 2014
diretor
Francisco Manuel Moreira Leal
Presidente do Conselho de
Administração da Fundação A LORD
coordenação
Ana Maria Martins
Lasalete Silva
colaboração
Álvaro Pacheco
Ana Ferreira
Ana Jorge
Ana Maria Martins
António Pedro Mieiro
António Rodrigues Pimentel Trigo
Beatriz Ester Moura de Castro
Carla Cunha
Célia Sousa
Donzília Martins
Elisângela Costa
Eugénia Gonçalves
Fátima Carneiro
Henrique Manuel Pereira
Isabel Leal Barbosa
Lasalete Silva
Levi Guerra
Manuel Monteiro
Manuela Pinto da Costa
Maria da Graça Mourão
Maria Florinda Almeida
Marília Almeida
Marta Santos
Odete Mendes
Rosário Barbosa
Rosário Correia Machado
Sara Lamas
Sérgio Veludo Coelho
Sílvia Rebanda
edição e propriedade
Fundação A LORD
Rua da Cooperativa, 27
4580-809 Lordelo PRD
Tel.: 224 447 357
[email protected]
www.fundacaoalord.pt
periodicidade
Anual
tiragem
500 exemplares
depósito legal
design gráfico
João Oliveira
impressão
-
índice
ACADEMIA
Clube de Teatro da Fundação A LORD
Orfeão da Fundação A LORD
Orquestra da Fundação A LORD
Escola de Música da Fundação A LORD
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AUDITÓRIO
Brinquedos Antigos – Exposição de brinquedos
Uma Missa para a Paz – Concerto de Reis
Versões de um Amor de Perdição – Exposição de fotografia
O Intervalo da Vida II – Teatro
Danças Clássicas e Latino-Americanas
Música Tradicional Portuguesa
O Ator no Pan-Ótico – Exposição de pintura
A Torre dos Alcoforados – Teatro
Autismo e Atraso de Desenvolvimento – Lançamento de livro
81.º Aniversário da Cooperativa de Electrificação A LORD
Banda Portuense “Mesa” – Concerto
Percursos – Exposição de escultura
XV OrffLORD – Encontro de orfeões
Gandarela – Teatro
Lordelo Aberto ao Mundo, O Artesanato dos Yanomami – Exposição de artesanato
Encontros Musicais – Concertos
Clarinet & Electronics Project – Frederic Cardoso Big Band Pedaços de Nós Doenças Malignas do Sangue – Conferência
Tradições à Letra – Uma viagem pelo Portugal tradicional
XVIII Aniversário da Fundação A LORD / XIV Aniversário da Biblioteca A LORD
Património da Paróquia de São Salvador de Lordelo
Arte Sacra – Exposição
Concerto de Natal
Excertos do Bailado “O Quebra-Nozes”, Jazz e Contemporâneo
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BIBLIOTECA
Histórias de Encantar e Teatro de Fantoches
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Escritor do Mês
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O Leituras Sugere…
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Dia Mundial do Livro 29
Feira do Livro 29
Sábados D´Encantar / Sábados na Biblioteca
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Iniciativas Culturais
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Visitas Culturais
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XIV Ateliê de Olaria
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XVIII Aniversário da Fndação A LORD / XIV Aniversário da Biblioteca
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Exposições34
O nosso Blog
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COOPERAÇÃO
Colónia de Férias
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Gabinete de Apoio ao Doente
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Lordelo Solidário
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É Tempo de Natal, Tempo de Ofertas
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Visitas Culturais
37
Ateliês37
Atividades de Férias
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Dia Mundial dos Avós
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Sessões de Cinema
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Serviços de Mediateca
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FORMAÇÃO
Cursos na Área de Informática
Design de Joias
Brigadas de Primeira Intervenção
OPINIÃO
Bastava que… – Álvaro Pacheco
Lordelo: Cidade que tem História, um Presente Condigno e
um Amanhã Prometedor – António Rodrigues Pimentel Trigo
Um Sentido para a Escola – Beatriz Ester Moura de Castro
Prevenir os Acidentes Domésticos Infantis – Carla Cunha
Sublime Quarteto – Henrique Manuel Pereira
As Associações de Apoio a Doentes em Portugal – Isabel Leal Barbosa
Da Vida Médica – Levi Guerra
Ternura Escondida – Texto de Maria Florinda Almeida; ilustrações de Marília Almeida
O Valor do Património Religioso – Manuela Pinto da Costa
Rota do Românico, Palcos do Românico – Rosário Correia Machado
O Advogado, Pedra Angular na Administração da Justiça – Sílvia Rebanda
POESIA
Daqui para o céu; Um poema para ti; Uma balada de amor – Donzília Martins
Sobre o mar…; Médico, ainda…; O tempo – Levi Guerra
Seguindo Torga; Pombo Real; Viagem – Odete Mendes
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Academia
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PRESENÇA | 2014
ACADEMIA
A Academia é um espaço de aprendizagem
de artes — musicais e teatrais; um espaço de
crescimento e valorização.
CLUBE DE TEATRO
DA FUNDAÇÃO A LORD
Eugénia Gonçalves
Descobrir o prazer da representação tem sido uma
preocupação constante deste Clube de Teatro, quer
com as crianças, quer com os jovens.
LORDATOR
O intervalo da vida II
No mês de fevereiro, para
concretizar os objetivos
deste Clube de Teatro da
Fundação A LORD, foi possível levar ao público mais
uma peça original: O intervalo da vida II.
Crime, drama e muita comédia não faltaram neste
espetáculo, levando o público à interação com os atores
e ao divertimento.
Um homicídio ou suicídio
por resolver deixa em aberto a possibilidade da continuação desta peça, visto
que, no final todos são suspeitos.
Um ambiente agradável e
boa disposição marcaram o
espetáculo.
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FUNDAÇÃO A LORD
LORDATOR JUVENIL
Mostra de teatro na comemoração
do Dia Mundial do Livro
No mês de abril, na comemoração do Dia mundial do livro, o grupo de teatro LORDator Juvenil apresentou a peça
Vem aí o Zé das Moscas de António Torrado.
Foi um espetáculo de artes performativas, dança e música, em que este grupo mostrou o seu crescimento.
A peça relata a história de Zé das Moscas que, perseguido pelos seus zumbidos e por incómodos, vai de doutor em
doutor até ao senhor juiz, que o cura das suas maleitas.
Mais uma experiência gratificante no percurso do
LORDator Juvenil.
Teatro na comemoração do
XVIII Aniversário da Fundação A LORD
e XIV Aniversário da Biblioteca A LORD
No dia 6 de dezembro, a Fundação
e a Biblioteca A LORD comemoraram
os seus aniversários.
O grupo de teatro LORDator Juvenil participou com a apresentação da
peça A Verdadeira História da Batalha
de S. Mamede, de Inácio Nuno Pigna-
telli. De forma divertida, este relembrou aos presentes um pouco da história do nosso país e de importantes
figuras, nomeadamente, Egas Moniz,
D. Urraca, D. Teresa e D. Afonso. De
um modo humorístico, retrata as discórdias entre D. Afonso Henriques,
mais conhecido por Afonsinho, que
se recusa a comer a sopa. A sua mãe
D. Teresa, zangada, decide resolver o
assunto numa batalha. Esta foi ganha
por D. Afonso Henriques que, mais
tarde, veio a proclamar a independência.
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PRESENÇA | 2014
ORFEÃO DA FUNDAÇÃO A LORD
Manuel Monteiro
No ano de 2014, assistimos a uma
consolidação da qualidade das apresentações efetuadas pelo Orfeão da
Fundação A LORD. Esta foi conseguida, quer através da entrada de novos
elementos, quer através da introdução de novas músicas. Os novos elementos, com boas vozes, em conjunto
com os elementos mais antigos completaram a sonoridade do Orfeão.
Em termos de atuações, é de referir:
· Concerto de Reis, realizado no
Seminário Padre Dehon, em Fânzeres (Gondomar), com a participação de outros coros e agrupamentos musicais, no dia 4 de
janeiro.
· Concerto de Reis, realizado na Capela de N.ª S.ª da Ponte, em Rio
Tinto (Gondomar), com a participação de outros coros e agrupamentos musicais, no dia 12 de
janeiro.
· Concerto de Páscoa, realizado no
Salão Paroquial de Lordelo, com
a colaboração de um Quarteto de
Cordas, no dia 18 de abril.
· Participação na missa de aniversário da Cooperativa A LORD, na
Igreja Paroquial de Lordelo (Paredes), no dia 10 de maio.
· Realização do XV OrffLORD, no
Auditório da Fundação, com a
colaboração do Grupo Ensemble
Vocal de Freamunde, do Coro do
Porto de Leixões, além da participação do Orfeão da Fundação
A LORD, no dia 28 de junho.
· Realização do espetáculo “À Descoberta de Novas Sonoridades”,
no Auditório da Fundação, com a
colaboração de vários instrumentistas, alunos do Conservatório de
Música do Porto, no dia 4 de outubro.
· Concerto de Natal, realizado no
Auditório da Fundação, com a colaboração da Orquestra da Fundação
A LORD, no dia 13 de dezembro.
· Concerto de Natal, realizado na Casa
da Cultura, em Seroa (Paços de Ferreira), no dia 28 de dezembro.
Para além das atuações em 2014, o
Orfeão da Fundação A LORD manteve como objetivos:
· Abordar novos temas musicais
cantados a 4 vozes e à capela.
· Dar a conhecer à população de
Lordelo o género de música coral.
· Procurar o aprimoramento na
qualidade das suas apresentações
musicais.
· Divulgar a função cultural da Instituição, Fundação A LORD, pelo
país.
· Abrir o Orfeão a todos aqueles que
a ele se queiram juntar.
Em 2015, o Orfeão pretende melhorar os objetivos alcançados em 2014,
incluindo também uma nova deslocação a Espanha.
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FUNDAÇÃO A LORD
ORQUESTRA DA FUNDAÇÃO A LORD
Rui Leal
A música é uma expressão humana,
artística e cultural que a todos enriquece.
Nestes quase dois anos de existência, a Orquestra da Fundação A LORD
tem promovido um meritório trabalho
a nível musical e social.
Durante este tempo, foram desenvolvidas atividades musicais que
criam o gosto pela música a quem assiste aos concertos da Orquestra.
No ano de 2014, este agrupamento
teve o prazer de poder acompanhar
um solista de renome, o saxofonista
Fernando Ferreira, professor de saxofone na Escola Profissional e Artística
do Vale do Ave (ARTAVE), que integrou o programa comemorativo do
Dia Mundial da Música da Fundação
A LORD. Este programa proporcionou cinco concertos durante o mês de
outubro, contando com a participação
de cinco grupos distintos: Concentus
Trumpet Ensemble, Orfeão da Fundação A LORD, Frederic Cardoso &
Electronic Project (Clarinete), Big
Band Pedaços de Nós e, por fim, a
Orquestra da Fundação A LORD e o
solista Fernando Ferreira. Pudemos,
assim, assistir a alguns concertos de
diferentes estilos musicais.
De salientar a participação da
Orquestra da Fundação A LORD no
1.° Concurso Internacional de Bandas
Filarmonia D’Ouro, onde obteve o 2.°
prémio na categoria Académica.
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PRESENÇA | 2014
ESCOLA DE MÚSICA
DA FUNDAÇÃO A LORD
Rui Leal
A Escola de Música da Fundação A LORD depois de ter interrompido a sua
atividade durante alguns anos reiniciou-a em outubro de 2013 com 9 alunos,
com idades compreendidas entre os 4 e os 13 anos, distribuídos pelas classes de
Flauta, Piano, Guitarra e Saxofone.
No ano letivo de 2014 frequentaram a escola 26 alunos dos 5 aos 65 anos,
distribuídos pelas classes de flauta, piano, guitarra, saxofone, cavaquinho, percussão e violino. Estes usufruíram, também, das disciplinas de Formação Musical, Iniciação Musical e Orquestra. De salientar que alguns alunos da Escola de
Música integram o Orfeão da Fundação A LORD.
Deste modo, pretende-se contribuir para a formação musical de pessoas de
todas as idades com sensibilidade para esta área artística.
Auditório
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PRESENÇA | 2014
AUDITÓRIO
O Auditório da Fundação A LORD apresenta-se como um ponto de encontro,
onde se reavivam memórias e se criam referências, onde se cruzam gerações e se
revelam talentos – na música, na fotografia, na dança, no teatro… Um espaço onde
se partilham saberes – em conferências, palestras, etc..
Os eventos realizados no Auditório reforçam os “alicerces” já criados
pela Fundação A LORD, só possíveis numa relação com todos aqueles que
tornam exequível uma programação cultural em favor da comunidade: atores,
conferencistas, artistas plásticos, escritores e espectadores.
Uma razão para que se continue a incentivar acontecimentos que criem na
coletividade o prazer de frequentar um espaço de cultura.
Ana Maria Martins
BRINQUEDOS ANTIGOS
EXPOSIÇÃO DE BRINQUEDOS
Ana Maria Martins
às crianças de observar os brinquedos
utilizados pelas gerações anteriores
para despertar nelas o gosto pelos usos
do passado.
UMA MISSA
PARA A PAZ
CONCERTO DE REIS
Odete Mendes
As quadras festivas de Natal e de Ano
Novo impulsionaram algumas iniciativas, entre elas, a exposição Brinquedos
Antigos, cedida pela Companhia de
Teatro Pé de Vento.
Numa época em que as tecnologias
ocupam os tempos livres das crianças
e dos jovens, torna-se educativo e estimulante mostrar uma coleção de pequenos brinquedos que caracterizam
um período anterior ao brinquedo de
plástico e, mais recentemente, ao brinquedo eletrónico.
Pensamos que a colaboração da
Companhia de Teatro Pé de Vento com
a Fundação A LORD deixou no ar a importância que se deve dar à recuperação e conservação do que é antigo.
Aprendemos, através desta exposição, que é necessário dar oportunidade
«Quando for grande, não quero ser médico, engenheiro
ou professor. Não quero trabalhar de manhã à noite, seja
no que for. Quero brincar de manhã à noite, seja com o
que for. Quando for grande, quero ser um brincador.
Ficam, portanto, a saber: não vou para a escola aprender a ser um médico, um engenheiro ou um professor.
Tenho mais em que pensar e muito mais que fazer. Tenho tanto que brincar, como brinca um brincador, muito mais o que sonhar, como sonha um sonhador, e também que imaginar, como imagina um imaginador…
A minha mãe diz que não pode ser, que não é profissão
de gente crescida. E depois acrescenta, a suspirar: “é
assim a vida”. Custa tanto a acreditar. Pessoas que são
capazes, que um dia também foram raparigas e rapazes, mas já não podem brincar.
A vida é assim? Não para mim. Quando for grande, quero ser um brincador. Brincar e crescer, crescer e brincar,
até a morte vir bater à minha porta. Depois também,
sardanisca verde que continua a rabiar mesmo depois
de morta. Na minha sepultura, vão escrever: “Aqui jaz
um brincador. Era um homem simples e dedicado, muito dado, que se levantava cedo todas as manhãs para ir
brincar com as palavras».
O Brincador,
Álvaro Magalhães
O que significa coro?
Pode ser o presente do indicativo
do verbo corar (eu coro, tu coras ele
cora….) e aqui o o é aberto, pode indicar uma parte da igreja destinada ao
canto ou pode ser um grupo de cantores, entre outras coisas menos usadas
mas possíveis na língua portuguesa.
Esta introdução, que pode parecer
estranha, tem duas razões de ser. A primeira é que acabo de ler um texto contra o novo acordo ortográfico em que
se critica o desaparecimento de alguns
acentos (entre outras coisas) – mas, vejam lá! – nunca ninguém se lembrou de
protestar contra o facto de eu coro e o
coro se dizerem de maneira diferente
e se escreveram de igual forma, sem
acento, já antes do acordo… A segunda
razão é mais agradável e menos polé-
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FUNDAÇÃO A LORD
despertar nos visitantes o interesse em
conhecer melhor a obra do escritor.
O INTERVALO
DA VIDA II
TEATRO
Sara Lamas
mica: a A LORD proporcionou-nos,
no dia 18 de janeiro de 2014, um ótimo
espetáculo do Coro de S. Tarcísio. Todos sabemos que os meios de comunicação social costumam festejar o Ano
Novo e o dia de Reis com um concerto
por orquestras famosas. Não saindo da
música clássica, a importante Instituição de Lordelo trouxe-nos, este ano,
uma obra que eu desconhecia – Uma
missa para a paz – de Karl Jenkins.
Com a curiosidade de ser apresentada
por um coro do Porto, a exibição foi,
também, acompanhada com a passagem de filmes quase sempre relacionados com a guerra, o que aumentou a
tragicidade do espetáculo. Ainda bem
que assim foi, porque o texto da obra
é em alemão, língua que desconheço
assim como, provavelmente, a maior
parte do público presente. Mas, sobre
este Concerto de Reis há muito a dizer.
Como solistas destacaram-se a mezzo-soprano Patrícia Quinta e o barítono
Pedro Telles. Este, assim como Jairo
Grossi que acompanhou o espetáculo
ao piano, são os atuais maestros do grupo. Acerca do coro propriamente dito
quero salientar a qualidade dos cantores, principalmente das sopranos e dos
baixos que apresentaram uma amplitude pouco habitual em coros amadores.
Estas vozes bem colocadas são tanto
mais de realçar quanto a maior parte
dos coristas já não são muito jovens.
Um dos elementos do grupo confessou-
-nos mesmo que têm muita dificuldade
em atrair gente nova porque, agora, há
muitas distrações. Da apresentação em
geral destaco um momento em que o
grupo canta só com sons reproduzindo
(a meu ver) o desespero de uma fuga
atabalhoada à guerra. De arrepiar…
O Coro de S. Tarcísio, que nasceu em
1956 na igreja da Lapa, e se encontra,
atualmente, sediado na igreja da Trindade, está, sem dúvida, de parabéns. Obrigada!
No dia 1 de fevereiro, o Clube de Teatro da Fundação A LORD — LORDator
— interpretou uma peça intitulada O
intervalo da vida II, perante o Auditório da Fundação repleto de espectadores, ansiosos por mais peripécias e
diabruras de duas personagens inesquecíveis, D. Micas e D. Carlota.
Esta representação, fruto da dedicação e do esforço de todos os envolvidos, foi apreciada pelo público, provocando inúmeras gargalhadas.
DANÇAS CLÁSSICAS E
LATINO-AMERICANAS
Donzília Martins
VERSÕES DE UM AMOR
DE PERDIÇÃO
EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA
Ana Maria Martins
Durante os meses de fevereiro e março, no Auditório da Fundação A LORD,
esteve patente ao público a exposição
Versões de um Amor de Perdição, composta por um conjunto de fotografias
de três adaptações cinematográficas
de Camilo Castelo Branco, dos realizadores Georges Pallu, António Lopes
Ribeiro e Manoel d`Oliveira, de 1921,
1943 e 1979, respetivamente.
Espera-se que esta exposição, organizada pela Casa de Camilo, Museu-Centro de Estudos, tenha permitido
“Dia 22 de fevereiro, pelas 21h30,
no Auditório da Fundação A LORD,
Danças Clássicas e Latino-Americanas,
pelo Clube de Dança de Salão do
Porto.”
Apesar dos três dias anteriores, 20, 21
e 22, terem sido completamente cheios
e desgastantes nas Correntes D’Escrita
da Póvoa de Varzim e ser ainda um sábado à noite anunciando frio e chuva,
não podia perder este magnífico espetáculo que se adivinhava.
Em A LORD, sempre tudo vale a
pena! Sempre nos brinda com variadas
e apelativas obras de arte e cultura, nos
acena com os mais belos espetáculos
de excelente organização, com um leque de profissionais que não deixam
os créditos por mãos alheias. Assim,
acabada de chegar da Póvoa de Var-
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PRESENÇA | 2014
executavam os passos de dança! Apeteceu-me ir para a pista deslizar com
elas, rodopiar ao som dos meus tempos de menina… Prouvera Deus que
estas crianças sejam felizes como eu
fui, ontem e hoje, a revivê-las. Porque
afinal é o sonho que comanda a vida e
“a saudade é o amor que fica”.
MÚSICA TRADICIONAL
PORTUGUESA
Ana Jorge
zim, só tive tempo de pegar no carro e
deslocar-me até Lordelo, ao Auditório
da Fundação.
Eram 21h30. Muita gente! Olhares
curiosos e expectantes! Grupos de
amigas dialogando! No meio do público variado, avistei uma colega do Porto!
Que sim. Já costumava vir e, desde que
soube destes maravilhosos acontecimentos culturais, verdadeiras celebrações de arte, tão escassos num país de
obscurantismo, não os queria perder.
Anunciei que, em breve, no mesmo
Auditório, seria também exibido não
um, mas dois acontecimentos artísticos, numa mistura de duas expressões
de arte: a música de cavaquinhos e a
apresentação do meu livro, O Ratinho,
o Milho e a Flor do Vento.
Entrámos. E logo depois um florilégio de sons de músicas latino-americanas nos invadiu os sentidos,
transportando-nos a uma juventude
dos anos sessenta, em que, bailando,
amando, sonhando, nos perdíamos nos
sons românticos, nos sonhos por abrir,
no sono desperto sem cansaço, em que
sempre e em tudo a vida florescia.
Enquanto as melodias de sempre se
expandiam no ar, perfumando a plateia, deslizavam pelo palco as doces e
sorridentes bailarinas, crianças e adolescentes, em ritmos de som e cor como
por magia, como se fossem anjos e tivessem asas nos pés. Foi lindo! Muito
belo! Uma a uma ou aos pares, as danças sucediam-se num ritmo brilhante
e colorido, como se vividas e enamoradas pelos pequenos-grandes bailarinos que as executavam. A cor, o som,
a melodia, o brilho, a luz extasiavam
os espectadores que freneticamente
aplaudiam sem cessar. Descrever mais
é impossível, porque as palavras nem
sempre são capazes de ter força bastante para descrever estes verdadeiros
momentos de magia e encantamento.
Ficamos pelos silêncios, pelas reticências, pelo deslumbramento, a aplaudir,
a cantar baixinho com o coração a pedir que venham mais coisas belas que
sejam bálsamos e tenham o condão de
fazer os homens felizes.
Obrigada à Fundação A LORD. Parabéns à programação, organização e
escolha dos eventos, atraindo assim todos os grupos etários, proporcionando
momentos de rara beleza. A vida é isto,
feita de pequenas belezas que sabe bem
saborear. Parabéns ao Clube de Dança
de Salão do Porto pela escolha dos temas e pela coreografia. Continuem! A
magia de distribuir arte, som, dança,
ritmo, música, poesia e encantamento
aqueceu a noite com a luz e a cintilação de dez estrelas maiores. Algumas
vezes, quase deixei cair duas lágrimas
de saudade.
As amigas, atrás, comentavam alegremente o espetáculo. Ninguém ficou
indiferente ao belo, ao calor humano,
à graciosidade dos olhares, dos gestos,
dos rodopios ritmados de sons e cores;
nem à magia das crianças que tão bem
No dia 15 de março, no Auditório da
Fundação A LORD, tive oportunidade
de assistir a um dos programas culturais que têm vindo a realizar-se nesta
Instituição.
O programa iniciou-se com a apresentação do livro O Ratinho, o Milho e
a Flor do Vento. Uma história que apela
ao contacto com a natureza, onde todos
os dias a vida é uma festa e que termina
mencionando o significado dos livros.
A autora, Donzília Martins, referiu-se
ao papel da leitura como suporte da
valorização pessoal desde a infância
até à idade adulta. A propósito, apontou a função cultural da Biblioteca da
Fundação A LORD, realçando o seu espólio, em parte, lamentavelmente destruído aquando do passado incêndio.
Ainda na primeira parte, assistiu-se
a uma atuação do Grupo de Cavaquinhos Vira`agora, de Lordelo (Paredes).
Os dez elementos do grupo mostraram
em palco que, apesar das suas diversas idades e atividades profissionais, é
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FUNDAÇÃO A LORD
possível, com esforço e motivação, trilharem um percurso comum tendo em
vista uma aprendizagem musical. O
concerto apresentado foi muito apreciado, atendendo à marca tradicional
do repertório.
Na segunda parte, o Conjunto de
Cavaquinhos Dr. Gonçalo Sampaio, de
Braga, exibiu-se de forma exemplar.
O grupo revelou uma competência
musical que lhe vem da sua história já
antiga e que tem sido adaptada e valorizada através da seleção de um vasto
repertório, abrangendo composições
musicais de todo o país.
Durante o espetáculo, notou-se a interação entre o público, que preenchia
completamente a capacidade do Auditório, e os executantes, criando-se uma
atmosfera alegre, em que a rotina do dia
a dia deu lugar a uma vivência saudável.
O ATOR NO PAN-ÓTICO
EXPOSIÇÃO DE PINTURA
Ana Maria Martins
De abril a junho, a Fundação
A LORD foi “palco” de uma exposição
de pintura sobre o ator nas suas diversas figurações.
Tal como Domingos Loureiro refere
na apresentação do catálogo da exposição: “O diálogo estabelecido entre
pintor e objeto assemelha-se ao diálogo entre ator e personagem e emerge
não apenas naquilo que se observa no
palco ou na tela (se se tratar de pintu-
ra sobre tela, claro), mas especialmente no próprio autor, no ser.”.
Domingos Loureiro fala, ainda, das
“personagens sem rosto, desprovidas
de território… mas que são de todos
os lugares e que têm o tormento na
alma…”.
As pessoas que tiveram oportunidade de visitar a exposição e confrontar
as obras expostas entre si, também
manifestaram inquietação, reconhecendo as diversas representações associadas à experiência do pintor e ator.
Podemos sublinhar nesta exposição
que, enquanto a produção artística do
pintor é um ato solitário, a produção
artística de um ator de teatro exige
sempre um diálogo com o público.
Ao dar acolhimento a esta exposição, a Fundação A LORD materializou, de algum modo, o diálogo do pintor com o público.
A TORRE DOS
ALCOFORADOS
TEATRO
Marta Santos
A peça de teatro A Torre dos Alcoforados, de Fernando Moreira, foi apresentada nos dias 4, 5, 11 e 12 de abril,
pelo grupo Astro Fingido e elementos
amadores de Lordelo (Paredes), no
Auditório da Fundação A LORD.
A obra retrata a existência da Torre
dos Alcoforados ou Torre dos Mouros
ao longo do tempo. Apresenta um misto de lendário e histórico que evoca
um passado longínquo ligado à nossa
terra.
O elenco contribuiu para realçar o
valor da existência da Torre, prendendo a atenção do público.
É de salientar o enquadramento
desta peça de teatro nas atividades
promovidas pela Rota do Românico e
a parceria da Fundação A LORD com
esta Instituição, permitindo fazer renascer a Torre como monumento.
AUTISMO E ATRASO DE
DESENVOLVIMENTO
UM ESTUDO DE CASO
LANÇAMENTO DE LIVRO
Carla Maia
No passado dia 26 de abril, o Auditório da Fundação A LORD encheu
para a apresentação do livro Autismo
e Atraso de Desenvolvimento – Um Estudo de Caso, da autoria do professor
lordelense Miguel Correia, licenciado
em Filosofia e pós-graduado em Educação Especial. O prefácio do livro é
da autoria da Prof.ª Doutora Preciosa
Fernandes, docente da Faculdade de
Psicologia e de Ciências da Educação
da Universidade do Porto.
Na mesa do evento, estiveram presentes o presidente da Fundação
A LORD, Dr. Francisco Leal, a orientadora do trabalho, Prof.ª Doutora Isabel Cunha, da Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti (ESEPF), o
autor da obra, Dr. Miguel Correia, e
o coordenador do Departamento de
Educação Especial e de Psicologia da
ESEPF, Prof. Doutor Carlos Afonso.
O Dr. Francisco Leal e a Prof.ª Doutora Isabel Cunha elogiaram a qualidade e pertinência da obra, realçando
que é um contributo para alertar a sociedade para a necessidade da inclusão das pessoas com Perturbação do
Espectro do Autismo. O Prof. Doutor
Carlos Afonso referiu que a obra é “de
alguém do terreno prático que, perante uma inquietação pessoal e profissional, veste a pele de investigador, vai
à procura, encontra algumas respostas
e, certamente, novas perguntas, devolvendo esse conhecimento e essa reflexão a outros, não fechando o círculo,
mas abrindo-o a novos caminhos”.
A obra, na parte teórica, apresenta
várias perspetivas sobre as causas do
autismo, as diversas definições, as ca-
16
PRESENÇA | 2014
precoces, do trabalho multidisciplinar
e do papel fundamental dos pais e das
organizações.
Alguns professores, terapeutas, estudantes e pais de crianças com espectro
do autismo, presentes na sessão, colocaram questões sobre esta problemática. O autor respondeu a todas as
questões, lembrando que, para além
das técnicas e terapias existentes, é
preciso tratar o problema com muita
“compreensão, amor e carinho”.
O evento foi muito participado e
permitiu a reflexão sobre um tema
complexo e apaixonante fora do formalismo dos meios académicos.
A sessão foi abrilhantada pela pianista Suzanna Lidegran e pela violinista Isolda Lidegran Correia, que
interpretaram, no início do programa,
Sonata em Mi, 1.º andamento, de W. A.
Mozart, e Valsa Cinderela, de S. Prokofiev e, no final, Romance do 2.º concerto, de H. Wieniawski, e Dança de fogo,
de W. Peterson-Berger.
O programa encerrou com uma concorrida sessão de autógrafos e um Porto de honra.
81.º ANIVERSÁRIO
DA COOPERATIVA DE
ELECTRIFICAÇÃO A LORD
Lasalete Silva e Sara Lamas
racterísticas associadas à perturbação
e os diferentes modelos de intervenção. Ainda na parte teórica, aborda as
reações da família e da escola face ao
autismo e “interpela-nos quanto ao
que seria desejável a nível de intervenção precoce e a nível da intervenção especializada em contexto escolar, de modo a que família e a escola
contribuam, coletiva e articuladamente, para a evolução da criança”.
Sobre a parte prática, o Prof. Doutor
Carlos Afonso destacou o teor marcadamente qualitativo e biográfico e a
inquietação pelo facto das respostas
de intervenção serem encontradas essencialmente fora do contexto escolar,
o que “nos remete para um questionamento mais vasto a nível legislativo e
prático”.
De seguida, o autor da obra, na sua
intervenção, começou por agradecer a
presença das diversas personalidades
e instituições, afirmando que as motivações que nortearam o seu estudo
foram de índole pessoal, profissional
e social, e que este constitui uma ferramenta útil para estudantes, professores e público em geral. Apresentou
algumas inquietações que decorreram
da sua investigação tais como: o fraco
investimento de recursos humanos e
físicos por parte das entidades governativas e os obstáculos que existem
para materializar o princípio da inclusão, patente nos textos legislativos, e
que deve estar subjacente às práticas
pedagógicas. Para fazer face a estas dificuldades, o docente realçou a necessidade do diagnóstico e intervenção
A Cooperativa de Electrificação
A LORD festejou mais um aniversário
no passado dia 10 de maio, realizando
uma missa na Igreja de Lordelo e um
concerto de música, no Auditório da
Fundação A LORD.
A cerimónia religiosa teve a participação do Orfeão da Fundação
A LORD, encerrando com a oferta de
uma imagem de Nossa Senhora em
prata ao pároco da freguesia, Senhor
Padre Rui Pinheiro. Terminada a cerimónia religiosa, as pessoas foram convidadas para um lanche convívio.
À noite, realizou-se um concerto de
música, executado pela Orquestra da
Fundação A LORD que apresentou
um repertório composto por músicas
conhecidas, nomeadamente, Robin
Hood, Suite Alentejana, entre outras,
finalizando a sua atuação com um
hino inédito, criado como símbolo
d`A LORD – o Hino A LORD.
17
FUNDAÇÃO A LORD
Durante o concerto, os aplausos do
público demonstraram o sucesso do
trabalho desenvolvido pelo maestro
Rui Leal e pelos músicos que compõem a Orquestra da Fundação.
tu nunca vais saber. Porque não ouves
a rádio que eu oiço. É um pouco marginal...”.
PERCURSOS
BANDA
PORTUENSE MESA
CONCERTO
Ana Jorge
Em família, semanas antes do concerto, comprou-se o último CD deste
grupo pop e eletrónico, Pés que sonham ser cabeças. No carro, ouvi o
CD sem parar. Acompanhei vezes sem
conta a música Senti. Uma, duas, três
vezes...
Conheci os Mesa com a voz de Mónica Ferraz. Atualmente, com Rita
Reis, as músicas ganham outra tonalidade e as letras de João Pedro Coimbra são como que “segredadas ao ouvido”.
A atuação dos Mesa no Auditório da
Fundação A LORD não nos desapontou.
Gostei da limpidez da voz da vocalista e da delicadeza dos seus movimentos corporais.
Em músicas como Cedo o meu lugar, apercebemo-nos de que a vida de
uma canção para além do tom que lhe
dá quem a interpreta, também está na
construção, muitas vezes poética, da
sua letra, na melodia e ritmo que estão
registados na sua pauta musical.
Claro que um espetáculo também
vive do ambiente que se instala para
além do palco.
Durante o concerto, o público, heterogéneo, acolheu com grande entusiasmo esta atuação musical.
Partimos com vontade de continuar
a cantar em voz alta… “Se eu amo e não
posso dizer. E sei que com esta canção
EXPOSIÇÃO DE ESCULTURA
Susana Namura
E foi assim!
Fechei com chave d’ouro aquele
mês de junho. Mês de festas e arraiais, santos populares e cascatas,
perfumes de manjerico e cidreira,
sardinha assada e maresias e noites
de orvalho saudosas…
Recebi o convite da Fundação
A LORD, uma produção gráfica de
qualidade na conceção e no design
– registo a que a A LORD já nos
habituou, de resto – e ato imediato, marquei na agenda. Não é que
tenha assim tantos eventos sociais
na minha pacata existência que me
pudessem causar alguma responsabilidade, mas antes e acima de tudo,
porque a Maria José me merecia a
presença e a nossa amizade exigia
que assim fosse. E assim foi!
Rodeada de amigos (muitos) e
amantes da arte, semeando sorrisos
e olhares plenos de gratidão e com a
sua voz doce e afável, de todos captou
a atenção, levando-nos pelo seu percurso de vida, das vidas ali presentes e expostas, existências de seres e
fruto de experimentações interiores
e íntimas, fruto de mãos delicadas e
laboriosas, mãos que sentem e perscrutam a essência dos materiais que
transforma e anima em formas claras
e nítidas de espírito: “E cravam-se
no tempo como farpas as mãos que
vês nas coisas transformadas. Folhas
que vão no vento: verdes harpas.”
(Manuel Alegre)
Não faltaram os discursos e os
agradecimentos inerentes à ocasião.
A A LORD teve mais uma noite de
glória em prol do desenvolvimento
cultural do concelho. Parabéns!
Já com alguma distância temporal do momento em que escrevo este
modesto registo, e perdoem-me os
leitores por alguma afetação inusitada, recordo sobretudo a profusão
de imagens suscitadas por aquela
existência real. Corpos femininos,
pensantes, insinuantes, prenhes de
força e de vida promissora, belos, leves e, simultaneamente, vigorosos e
robustos. Árvores e corpos, corpos e
troncos, troncos e torsos: seres que
se projetam na alma de cada um, ganham vida e nos lançam na inequívoca e impositiva catarse aristotélica.
Afinal, a vida é um teatro sem palco
definido e os papéis nem sempre são
os nossos!
Seres que povoam as paisagens e
as casas que habitam em nós! Seres
que ficam para além do tempo circular, impiedoso e inexorável!
À minha Amiga, Maria José, permito-me desejar, ou exigir, não sei
bem:
“Nem um momento só podes perder
A linha musical do encantamento
Que é teu sol tua luz teu alimento”
(Sophia de Mello Breyner Andresen)
Ouviu-se música e o velho Porto
brindou à vida!
E foi assim, no dia 28 de junho de
2014.
18
PRESENÇA | 2014
XV ORFFLORD
ENCONTRO DE ORFEÕES
Ana Maria Martins
No mês de junho, para dar cumprimento a um dos objetivos da Fundação
A LORD, promoveu-se um encontro
de coros. Participaram neste evento o
Orfeão da Fundação A LORD, o Orfeão
Famalicense e o Orfeão Leonés.
O encontro decorreu num ambiente
de participação e camaradagem intergeracional, o que revelou a importância do intercâmbio entre grupos corais
que desenvolvem a sua atividade com
grande empenho.
A surpreendente coordenação de vozes deixou o público entusiasmado já
GANDARELA
TEATRO
Ana Maria Martins
A peça de teatro “Gandarela”, 1.ª
obra do Grupo Teatral Freamundense (GTF), foi apresentada no Auditório da Fundação A LORD, no dia 27
de setembro, dando cumprimento a
um programa cultural diversificado.
A peça, de costumes populares,
documenta episódios da vida de outrora em Freamunde que merecem
ser lembrados como espelho de uma
micro sociedade, onde um desfile
de personagens mostra duas zonas
diferenciadas: a dos ricos, “Leigal”,
e a dos pobres, “Gandarela”. Os costumes duma época anterior ao 25 de
abril são recreados com sentido de hu-
que, apesar de não existirem instrumentos musicais, as vozes dos participantes deram expressão melódica aos
diversos repertórios.
É de relevar o papel dos maestros
Manuel Luís Bovião Monteiro, Fernando Dantas Moreira e Maria Jose
Flecha Perez na direção dos respetivos grupos corais.
mor, quase caricatural.
A competição entre a Banda da
Pocariça e a Banda Cómico-Musical
de Figueiró, o pregão do cauteleiro,
o fotógrafo à la minute, entre outros
intervenientes, imprimiram à peça
os ingredientes necessários para ser
apreciada pelo público, nomeadamente, pelas pessoas mais idosas que
identificaram o retrato da época.
19
FUNDAÇÃO A LORD
LORDELO ABERTO AO MUNDO
O ARTESANATO DOS YANOMAMI
EXPOSIÇÃO DE ARTESANATO
Ana Maria Martins
A reposição da exposição Lordelo aberto ao mundo – o
artesanato dos Yanomami partiu da iniciativa da Fundação
A LORD, aproveitando a documentação e objetos recolhidos
pelo Senhor Padre Fernando Rocha, Missionário da Consolata, que amavelmente os cedeu a esta Instituição.
Esta mostra deu a conhecer um povo índio que vive no
extremo norte do Brasil, numa região que faz fronteira com
a Venezuela, pertencendo à floresta amazónica, onde existe
uma grande variedade de animais selvagens, rios… Todos os
objetos expostos – utensílios domésticos, adornos, instrumentos bélicos e de pesca – têm a particularidade de terem
sido fabricados pelos índios Yanomami.
Através dos objetos expostos, foi possível compreender o
sistema económico e a organização social deste povo, bem
como a funcionalidade e utilidade das suas manifestações
artísticas – tecelagem, cestaria, pintura, adornos…
O conhecimento desta realidade longínqua deu oportunidade de desvendar um universo que nos transporta para
o período da emigração de muitos lordelenses para o Brasil. Por isso, entende-se que esta iniciativa foi oportuna para
abrir Lordelo ao Mundo.
EXPOSIÇÃO
LORDELO
ABERTO AO MUNDO
O artesanato dos
ORGANIZAÇÃO - FUNDAÇÃO A LORD
2 de outubro
a 29 novembro 2014
Segunda
a sexta-feira
10h00 > 12h30
14h00 > 18h00
MEC ENAS
ENCONTROS MUSICAIS
CONCERTOS
Ana Maria Martins
Durante o mês de outubro, teve lugar, no Auditório da
Fundação, um ciclo de música – Encontros Musicais – que
contou com a participação de diversos executantes, entre
eles os elementos do Orfeão da Fundação A LORD, o clarinetista Frederic Cardoso, os intérpretes da Big Band Pedaços de Nós e, ainda, a Orquestra da Fundação A LORD e o
solista Fernando Ferreira.
Esta iniciativa deu continuidade à divulgação de vários
estilos musicais. Todos os concertos mereceram o interesse
da população, jovem e adulta, que habitualmente frequenta
este Auditório.
Salienta-se o programa À descoberta de novas sonoridades,
da iniciativa do maestro Manuel Luís Bovião Monteiro, que iniciou o ciclo musical concretizando um repertório variado com
momentos vocais e momentos instrumentais de qualidade.
A boa execução dos participantes justifica o registo, já que
serve de motivação para todos aqueles que queiram prosseguir uma aprendizagem na área da música. Como exemplo,
aponta-se a atuação de quatro jovens músicos: a flautista
Maria Carolina Monteiro de 9 anos, a pianista Joana Raquel
Monteiro de 15 anos, o violinista Tomás Cardoso Pinto de
15 anos, bem como o flautista Cristiano Marques de 14 anos.
Estes jovens surpreenderam pela sua apresentação em público de forma natural, revelando o seu talento musical.
A finalizar o ciclo musical, é de referir o concerto de encerramento, com a atuação da Orquestra da Fundação e a
participação do destacado saxofonista Fernando Ferreira,
convidado pelo maestro Rui Leal, que confirmou a sua excelente qualidade de execução.
A atmosfera criada durante o concerto refletiu-se na atenção e interesse do público perante o trabalho apresentado.
20
PRESENÇA | 2014
CLARINET &
ELECTRONICS PROJECT
FREDERIC CARDOSO
Rui Leal
No dia 11 de outubro de 2014, a Fundação A LORD presenteou-nos, no seu
Auditório, com um recital de Clarinete
e Música Eletrónica, executado pelo
clarinetista Frederic Cardoso.
Este programa faz parte do seu novo
trabalho – Clarinet & Electronics Pro-
ject –, um projeto muito recente, mas
muito promissor, que segue a tendência da evolução do meio musical, mostrando assim a grande transformação
da música ao longo dos tempos.
Frederic Cardoso selecionou obras
de vários compositores (alguns de-
les têm-se revelado jovens promessas
portuguesas) tais como: Ruah para
clarinete e Tape de André Rodrigues;
Shovelhead para clarinete baixo e eletrónica de Steven Snowden; Reflex
para clarinete baixo e eletrónica de
Ângela da Ponte e, por fim, Frames#87
para clarinete baixo, vídeo e eletrónica
em tempo real de Igor C. Silva.
De início, o público mostrou alguma
curiosidade e algum desconhecimento
sobre a música eletrónica, sendo este
colmatado, por parte do solista, com
informação sobre cada música e cada
compositor e sua obra.
A música eletrónica foi, assim, uma
boa surpresa para o público em geral.
O concerto mostrou também que a
Fundação A LORD tem uma identidade
muito própria, surpreendendo sempre o
público com diferentes espetáculos.
BIG BAND
PEDAÇOS DE NÓS
DE FREAMUNDE
CONCERTO
Filipa Tojal
Saí há pouco tempo do encontro musical da Fundação A LORD, protagonizado
pela BIG BAND da Associação Cultural e
Recreativa Pedaços de Nós de Freamunde. Foram 120 minutos que passaram
demasiado rápido, por muito que os músicos tivessem sido “forçados” a fazer bis
umas quantas vezes.
Foi um serão marcado não só de música do mais alto nível mas também pela
notável atitude dos músicos, traduzida
pela boa disposição, união e espontaneidade. Os executantes fizeram-nos revisitar algumas das melhores músicas de
blues e jazz, assim como o tão “nosso”
Rui Veloso. Se não houve dança por parte
do público, certamente foi por “vergonha”! Valeu a pena estar ali, conviver e
apreciar momentos tão simples que valem tanto!
Apelo a todos os que não estiveram
presentes a não faltar em próximos concertos. Para a Fundação A LORD um
bem-haja pelo trabalho cultural e social
que tem realizado.
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FUNDAÇÃO A LORD
DOENÇAS MALIGNAS
DO SANGUE
CONFERÊNCIA
Elisângela Costa
Foi a 15 de novembro de 2014 que a
Associação Portuguesa de Leucemias e
Linfomas (APLL) organizou, em parceria com a Fundação A LORD, a conferência «Doenças malignas do sangue».
A iniciativa decorreu no Auditório da
Fundação, em Lordelo, Paredes.
Tratou-se de uma sessão de esclarecimentos moderada pelo Doutor Joaquim
Andrade, Chefe de Serviço de Hematologia do Hospital de S. João, e contou
com as intervenções do Doutor Herlander Marques, Oncologista do Hospital de
Braga, e da Doutora Isabel Leal Barbosa,
Presidente da APLL.
A sessão foi iniciada com uma exposição do Doutor Herlander Marques sobre as doenças malignas do sangue e os
tratamentos existentes. O interveniente
salientou que a colaboração de vários
agentes da sociedade é fundamental
para incentivar a contínua melhoria da
qualidade de vida dos cidadãos.
A intervenção que se seguiu pertenceu
à Doutora Isabel Barbosa que dissertou
sobre a APLL, referindo que se trata
de uma Associação sem fins lucrativos,
constituída por doentes e familiares,
profissionais de saúde e voluntários.
A missão da APLL é transversal, pois
procura apoiar os doentes e os seus familiares a nível informativo, financeiro
e psicológico. Divulga saberes junto da
sociedade civil e colabora com instituições afins. Tem, ainda, participado em
reuniões e congressos, sempre com o
objetivo de difundir e partilhar conhecimentos.
Reforçou que há a plena consciência da
insensibilidade social perante os mais frágeis,
razão pela qual há necessidade de unir esforços, uma vez que existem milhares de doentes que estão neste momento sem recursos
económicos para se tratarem.
A conferência contou com a apresentação dos testemunhos de duas ex-doentes
que deram a conhecer à vasta plateia as
suas experiências e as suas dificuldades.
As intervenções, na primeira voz, foram
demonstrativas de que não se pode baixar os braços a constrangimentos e indefinições. É preciso ter a capacidade de
iniciativa e de resiliência.
O encerramento esteve a cargo
do Presidente da Fundação A LORD,
Dr. Francisco Leal, que frisou que sessões como estas são uma forte aposta
para que as pessoas tomem consciência
de que as doenças malignas de sangue
existem e que é imperativo apostar na
prevenção e na inovação. Salientou que
no atual contexto de recessão interna e
externa é necessário trabalhar em conjunto, apostando na qualidade de vida
de todos os portugueses, neste caso em
concreto, na área da saúde.
TRADIÇÕES À LETRA
UMA VIAGEM PELO PORTUGAL TRADICIONAL
Núcleo de Etnografia e Folclore da Universidade do Porto
Ana Jorge
Ao longo dos últimos anos, a Fundação
A LORD tem vindo a organizar iniciativas culturais diversificadas.
Neste âmbito, no dia 29 de novembro,
assistiu-se a um espetáculo de música,
dança, cantares e outras manifestações
tradicionais portuguesas que se inserem
no repertório do Núcleo de Etnografia e
Folclore da Universidade do Porto (NEFUP).
Ao presenciar o espetáculo, reconhece-se o trabalho de investigação desta
Associação no que diz respeito às temáticas da cultura etnográfica, bem como
à abrangência e diferenciação de cada
uma das regiões de Portugal.
Foi possível apreender, ao longo de um
“itinerário visual e auditivo”, as características de cada região, expressas através
das cores, dos movimentos, das falas e dos
cantares. Quadros vivos que nos transportaram para tempos idos, mas que ainda permanecem em algumas comunidades.
Assim, identificaram-se: Trás-os-Montes,
o Minho, o Douro, o litoral, o interior
montanhoso, o Ribatejo, o Alentejo, o
Algarve e, atravessando o Atlântico, os
Açores e a Madeira.
Apreciou-se o espetáculo pela sua
dimensão cultural e recreativa, sendo
manifesta a interação entre o público e
o NEFUP. Notou-se a simbiose da assistência com os intervenientes em diversos
momentos do espetáculo: os momentos
da entrada e da saída, através dos acessos
laterais da plateia, e os momentos da distribuição de pão e de flores…
A musicalidade do espetáculo, marcada pelos vários instrumentos – adufe,
acordeão, viola –, ajudou à conjugação da
proximidade entre o grupo artístico e o
público.
Pode dizer-se que o espetáculo foi um
sucesso, quer pelo clima que criou, quer
pela mensagem cultural que transmitiu.
22
PRESENÇA | 2014
XVIII ANIVERSÁRIO DA FUNDAÇÃO A LORD
XIV ANIVERSÁRIO DA BIBLIOTECA A LORD
Lasalete Silva
No dia 6 de dezembro, comemorou-se, mais uma vez,
os aniversários da Fundação e da Biblioteca A LORD.
Para celebrar a data, a A LORD promoveu a entrega
de certificados de formação profissional nas áreas de
informática e do artesanato e, ainda, a peça de teatro
A Verdadeira História da Batalha de S. Mamede, de Inácio Nuno Pignatelli, contracenada pelo grupo de teatro
LORDator Juvenil. Propiciou, assim, mais um momento lúdico, criativo e divertido, numa tarde de dezembro,
com a “prata da casa”.
Nos dezoito anos da sua existência, esta Instituição
pautou a sua ação pela interatividade constante entre a
comunidade em geral e a comunidade escolar.
PATRIMÓNIO DA PARÓQUIA DE
SÃO SALVADOR DE LORDELO
EXPOSIÇÃO DE ARTE SACRA
Reverendo Padre Rui Pinheiro
Vítor Moreira
EXPOSIÇÃO DE
ARTE
SACRA
ORGANIZADA PELA FUNDAÇÃO A LORD
COM O APOIO DA PARÓQUIA DE
SÃO SALVADOR DE LORDELO - PAREDES
MECEN AS
ARTE SACRA
A arte sacra pode ser o caminho que nos conduz ao
reencontro com Deus, através da beleza intrínseca das
suas peças.
A exposição de Arte Sacra, patente ao público no Auditório da Fundação A LORD, faz parte da Paróquia de São
Salvador de Lordelo – Paredes. Em cada ato da liturgia da
Igreja Católica podemos contemplar parte das peças aqui
expostas. O acervo da nossa Paróquia contém peças de arte
sacra de grande valor histórico, algumas com séculos de
existência.
Não confundamos a arte religiosa com a arte sacra. Elas
têm destinos diferentes: a religiosa pertence apenas ao artista, tem conteúdo humano e terreno; a sacra existe no
culto divino, está na liturgia, é transcendente. A arte sacra
não é apenas a expressão material do artista, mas representa
toda a comunidade e manifesta a existência de Deus, transformando o visível em invisível, conduzindo o fiel à oração.
Toda a arte sacra é arte religiosa mas nem toda a arte religiosa é arte sacra.
23
FUNDAÇÃO A LORD
ARTE SACRA
EXPOSIÇÃO
Ana Maria Martins
Na Fundação A LORD, esteve aberta ao público uma exposição de Arte
Sacra que teve em vista dar continuidade a uma dinâmica cultural assinalável na cidade de Lordelo.
Terminada a exposição, é importante tecer algumas considerações sobre
a mesma.
Esta exigiu uma organização que
impôs a deslocação de peças que fazem parte do património religioso
da Paróquia de Lordelo, bem como a
limpeza e a consolidação de algumas
dessas peças.
Pretendeu-se que o visitante se visse confrontado com obras deslocadas
do seu contexto para uma melhor
apreciação artística, tal como numa
galeria. Algumas dessas peças, dos
séculos XV, XVII e XVIII, fizeram
reviver artes antiquíssimas como a
estatuária, a cinzelagem, o bordado,
a pintura, realçando um universo de
artífices de outrora, que continuam a
ser valorizados hoje.
Para se criar uma atmosfera religiosa e mística, fez-se ouvir uma seleção de música barroca que ajudou à
contemplação e apreciação das obras.
Prova disso, foi o testemunho dos inúmeros visitantes que manifestaram o
seu apreço e a sua surpresa pelo que
viram.
Pensa-se que esta prática contribuirá para valorizar o que de melhor
existe na comunidade de Lordelo.
CONCERTO DE NATAL
Lasalete Silva
O Auditório, no dia 13 de dezembro, encheu-se de alegria com cânticos natalícios entoados pelo Orfeão e pela Orquestra da Fundação A LORD. O concerto
teve três momentos musicais.
Em primeiro lugar, o Orfeão da Fundação A LORD apresentou canções em
diversas línguas. É de realçar o conhecido cântico Adeste Fideles.
De seguida, a Orquestra da Fundação A LORD executou com rigor as obras:
Fate of the Gods de Steven Reineke, Of sailors and whales de W. Francis Mcbeth, Amazing grace de Frank Ticheli e The spirit of Christmas de Jacob de Haan.
Para além da execução instrumental, os elementos da orquestra mostraram a
sua aptidão vocal na composição Of sailors and whales.
O evento finalizou com a apresentação do tema Então é Natal, no qual intervieram todos os músicos.
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PRESENÇA | 2014
EXCERTOS DO BAILADO “O QUEBRA-NOZES”,
JAZZ E CONTEMPORÂNEO
Sérgio Veludo Coelho
No dia 20 de dezembro de 2014, teve lugar no Auditório
da Fundação A LORD, em Lordelo, Paredes, o espetáculo
de Natal apresentado pela Associação de Bailado das Antas.
Este evento de dança, com excertos do bailado O Quebra-nozes, de Tchaikovsky, um dos mais conhecidos compositores russos do século XIX, e vários números de dança Jazz
e Contemporâneo, trouxe ao público momentos que assinalam as mais recentes produções daquela Associação.
Os jovens bailarinos mostraram instantes de beleza de
“O Quebra-nozes”, em perfeita sintonia com a época natalícia. Saltaram, depois, para a época contemporânea com
os ritmos quentes do jazz coreografado e da música da
atualidade, em execuções entusiasmantes.
O brilho do evento faz-nos ansiar por mais espetáculos
da Associação de Dança das Antas, que nos garante sempre
a conjunção da qualidade com o rigor que a dança, nas suas
diversas vertentes, exige.
Bem hajam!
Biblioteca
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PRESENÇA | 2014
Biblioteca
Maria da Graça Mourão
Fátima Carneiro
Sem livros, dificilmente se aprende a gostar de ler
Ruth Rocha
Estudos de todo o mundo
mostram que a criança que lê e
tem contacto com a literatura
desde cedo, principalmente se
for com o acompanhamento dos
pais, aprende melhor, pronuncia
melhor as palavras e comunica
melhor de forma geral. A leitura
desenvolve a criatividade, a imaginação — por meio dos livros,
criamos lugares, personagens,
histórias.
Ler favorece a aquisição da
cultura, dos conhecimentos e
dos valores.
Ler é fundamental para o nosso desenvolvimento pessoal e
profissional. É uma forma de ter
acesso às informações.
Ler é um hábito que se reflete
no domínio da escrita. Ou seja,
quem lê mais, escreve melhor.
Ler é contagiante. Se os pais
se sentam, mergulhados num
bom livro, a criança com certeza receberá a mensagem: ler dá
prazer. Muitos daqueles que não
leem nunca viram os pais a ler
ou nunca receberam livros na
infância.
Partilhar uma história já é uma
forma de leitura. O facto de a
criança ainda não saber ler convencionalmente não significa
que não possa vivenciar as mais
variadas situações de leitura.
Assim, o adulto é um mediador
entre a criança e o livro, ou seja,
é ele quem lê para ela, de preferência com entoação e emoção.
Daí, a importância do papel desempenhado pelos pais e pelas
bibliotecas.
Este é o sentido maior do nosso trabalho.
“ Sem livros, dificilmente se
aprende a gostar de ler ”
Para quem não compra livros
porque são caros, está na hora
de abandonar a desculpa: visite a Biblioteca! Habitue-se a
frequentá-la com o seu filho e
mostre-lhe as coisas interessantes que ele pode descobrir com
os livros.
O nosso objetivo é o de sermos
uma estrutura de apoio à leitura, oferecendo livros e suportes
para ler diversificados, uma sala
atraente e confortável e um conjunto de atividades interessantes ligadas ao livro.
Maria da Graça Mourão
27
FUNDAÇÃO A LORD
HISTÓRIAS DE ENCANTAR E
TEATRO DE FANTOCHES
É sempre gratificante o trabalho desenvolvido com as crianças que nos
visitam.
Ao longo deste ano, cerca de 1750
meninos de infantários e escolas básicas dos concelhos de Paredes, Paços de Ferreira e Penafiel vieram à
Biblioteca, aprenderam a estar neste
espaço e a saber usá-lo. Depois, experimentaram a magia das Histórias de
Encantar e interagiram com variados
fantoches, personagens das histórias
apresentadas no Teatro de Fantoches.
Antes do regresso às suas escolas,
tempo ainda para uma atividade plástica, em alegre convívio.
28
PRESENÇA | 2014
Divulgar escritores e a sua obra bem como as novidades mensais
disponibilizadas pela Biblioteca a leitores de todas as faixas etárias,
no sentido da promoção da leitura e do alargamento cultural, constitui, sempre, um dos nossos principais objetivos.
ESCRITOR
DO MÊS
Janeiro:
Ernest Hemingway
Fevereiro:
Alice Munro
Março:
Sebastião da Gama
Abril:
Fernando Namora
Maio:
António Ramos Rosa
Junho:
António Lobo Antunes
Julho:
Natália Correia
Agosto:
Mário Cláudio
Setembro:
Gabriel Garcia Márquez
Outubro:
Vasco Graça Moura
Novembro:
Richard Zimler
Dezembro:
José Rodrigues dos Santos
O LEITURAS SUGERE...
O LEITURAS SUGERE…
Janeiro:
Trocado por Miúdos | Alexandra Sá Pinto e outros
Fevereiro:
Granadas Castanhas no jardim dos cãezinhos | Manuela Mota Ribeiro
Março:
Poesia para todo o ano | seleção de Luísa Ducla Soares
Abril:
Astérix entre os Pictos | Jean-Yves Ferri – Didier
Maio:
A fábrica do tempo | Sílvia Alves
Junho:
Sobrei da história dos meus pais? | Graça Gonçalves
Julho:
O dia em que o mar desapareceu | José Fanha
Agosto:
Big Nate numa classe à parte | Lincoln Peirce
Setembro:
O livro das receitas malucas | José Jorge Letria
Outubro:
Comprar, Comprar, Comprar | Luísa Ducla Soares
Novembro:
Félix o pé de vento | Joachim Masannek
Dezembro:
A noite de Natal | Sophia de Mello Breyner Andresen
29
FUNDAÇÃO A LORD
DIA MUNDIAL
DO LIVRO
FEIRA
DO LIVRO
A Biblioteca da Fundação A LORD assinalou esta efeméride, no dia 26 de abril, no Auditório.
A iniciar a sessão, reencontrámos o grupo LORDator Juvenil que apresentou o texto dramático Vem ai o Zé das
Moscas, de António Torrado, atuação muito aplaudida
pelo público presente.
Seguidamente, o Presidente da Fundação A LORD, Dr.
Francisco Leal, saudou os presentes e anunciou a entrega
dos Prémios de Mérito Escolar que a Fundação A LORD
atribui, anualmente, a alunos do Agrupamento de Escolas de Lordelo, no âmbito da promoção do desenvolvimento cultural da cidade.
Os prémios foram entregues aos melhores alunos do ano
letivo 2012/2013.
Alunos premiados:
Cumprindo a tradição, a Biblioteca da Fundação A LORD
realizou a Feira do Livro, de 26 de maio a 7 de junho, na
Alameda de S. Salvador.
No cenário colorido e apelativo dos livros, organizou um
conjunto de atividades dirigidas aos mais pequenos, contando com a colaboração de convidados.
As Histórias de Encantar animaram todas as manhãs,
com ouvintes muito curiosos e atentos.
Nomes
Ano
André Filipe Vilela e Abreu
4.º Ano
Maria Esperança da Silva Lopes
4.º Ano
Marta Manuel Ladeira Martins
4.º Ano
Vitória Gonçalves Ribeiro
4.º Ano
Bárbara Maria Torres Pinho
5.º Ano
Helena Isabel Coelho Martins
5.º Ano
Joana da Costa Fonseca
5.º Ano
Raquel Alves Pacheco
5.º Ano
Beatriz Nogueira Barbosa
6.º Ano
Sara Cruz Neto
7.º Ano
Ana Margarida Ladeira Martins
8.º Ano
Ângela Sofia Moreira Marques
9.º Ano
Catarina Andreia de Sousa Ribeiro Silva
10.º Ano
Ana Isabel de Sousa Pimenta
11.º Ano
Joana Catarina Cunha da Silva
12.º Ano
No dia 2 de junho, a contadora de histórias Sónia Aguiar
conduziu as crianças ao mundo da fantasia e da imaginação, num ambiente de festa que a todos encantou e divertiu.
Todos receberam um diploma e um cheque prenda.
No final da sessão, os presentes puderam folhear e comprar
livros, na mostra patente no átrio do Auditório.
Mas, porque uma história não se conta apenas por palavras mas também pela força sugestiva das imagens, foi
nossa convidada a ilustradora Carla Anjos que explicou
as várias etapas do seu trabalho, as técnicas utilizadas na
criação das ilustrações e a sua importância na narração de
uma história.
30
O escritor João Manuel Ribeiro trouxe alegria e boa disposição aos meninos que o aguardavam na nossa Biblioteca, já que a chuva teimara em aparecer e nos impedira de
usufruir do espaço agradável da Feira. As lengalengas, os
poemas cantados e as adivinhas andaram no ar, num jogo
interativo de sentidos e de sonoridades. Todos queriam
mais...
Para as escolas participantes, a visita à Feira foi, também,
a oportunidade de receberem livros autografados pelos
convidados e oferecidos pela Biblioteca.
SÁBADOS D’ENCANTAR
SÁBADOS NA BIBLIOTECA
Uma vez por mês, a Biblioteca continua a disponibilizar
os seus serviços ao sábado, no horário habitual.
Relaxar na leitura de um jornal, de uma revista ou de um
livro, fazer uma pesquisa, navegar na internet, preparar um
trabalho escolar ou requisitar um livro para ler em casa, é
o convite que endereçamos a todos os que queiram visitar-nos.
À tarde, o projeto SÁBADOS DE ENCANTAR proporcionou aos mais novos a leitura de contos complementada
com atividades plásticas.
PRESENÇA | 2014
INICIATIVAS
CULTURAIS
ENCONTRO COM A ESCRITORA
MANUELA MOTA RIBEIRO
Foi com muito prazer que, em fevereiro, recebemos a visita da Dr.ª Manuela Mota Ribeiro.
O encontro estava marcado e a magia das histórias, que
apelam à imaginação e à criatividade mas que também educam, aconteceu. Os 100 meninos participantes, curiosos e
atentos, seguiram as personagens das histórias, apresentadas de forma dinâmica e cativante pela escritora e que,
construídas em diferentes materiais, foram saindo de dentro de sacos coloridos.
Manuela Mota Ribeiro, médica de formação e escritora
por paixão, faz, também, das suas apresentações sessões
educativas, sensibilizando para temas tão importantes
como a higiene oral, a alimentação saudável, o “bullying” e
a prevenção rodoviária, entre outros.
As despedidas foram feitas ao som da canção “Kiko, o
dentinho de leite”, entoada por todos, num ambiente de
alegria.
Os meninos levaram consigo as histórias da escritora, nos
livros oferecidos pela Biblioteca às escolas participantes.
Para continuarem a sonhar e a aprender.
VAMOS AO TEATRO
Em março, o TEATRO ARAMÁ - grupo nascido no Porto
em 1995 - trouxe até ao Auditório o seu espetáculo TÃO
ESTRANHAMENTE EU, com textos da obra ortónima e
heterónima de Fernando Pessoa.
Esta iniciativa, direcionada para os alunos do ensino secundário do Agrupamento de Escolas de Lordelo, inseriu-se no programa de apoio e complemento curricular dinamizado pela Biblioteca.
“Não sei quantas almas tenho” – Fernando Pessoa. É sob
este mote que o espetáculo se desenvolve. As características de cada heterónimo, Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos, assim como do criador, o ortónimo, compõem um conjunto de quadros onde o universo pessoano
vai desfilando na sua diversidade e complexidade.
FUNDAÇÃO A LORD
“Tão Estranhamente Eu” mergulha o espectador num
mundo onde sensações, sentimentos e construções labirínticas do pensamento se entrecruzam num espetáculo onde
o trabalho dos atores e a encenação ganham relevo.
31
Após uma pausa para almoço e um retemperador passeio
à beira mar, na Foz do Douro, seguiu-se a visita a um dos
espaços que integram o património museológico da Câmara Municipal do Porto.
A Casa Museu Marta Ortigão Sampaio apresenta as
coleções herdadas e reunidas por Marta Ortigão Sampaio
ao longo do século XX e legadas à Câmara Municipal do
Porto em 1978.
Evoca os ambientes da grande burguesia portuense de
meados do século XX, destacando-se os espólios das pintoras Aurélia de Sousa e Sofia de Sousa e a coleção de joias
da doadora.
O regresso a Lordelo fez-se num fim de tarde verdadeiramente primaveril.
BAÚS BIBLIOTECA
Porque os Centros Escolares possuem já as suas próprias
bibliotecas, os nossos baús têm feito menos viagens.
Este ano, partiram cheiinhos de livros, jogos didáticos e
filmes para a Creche ADR – Rebordosa, para a Escola EB1
de Parteira e para JI de Corregais, em Lordelo.
VISITAS CULTURAIS
Jardim Botânico do Porto
Casa Museu Marta Ortigão Sampaio
Sob o lema Conhecer melhor o Porto, realizou-se mais
uma visita cultural, tendo como destino o Jardim Botânico
e a Casa Museu Marta Ortigão Sampaio.
Numa manhã de junho que se anunciava chuvosa mas
que não quis desiludir os participantes nesta visita, o sol
iluminou o Jardim Botânico.
Este jardim oferece aos visitantes um conjunto de espécies raras, nomeadamente espécies exóticas. É ainda representativo das quintas de recreio do Porto oitocentista e é
também um espaço literário. Ele é um lugar de referência
na vida e na obra dos escritores Sophia de Mello Breyner
Andresen e Ruben A..
Museu Romântico da Quinta da Macieirinha
Museu Nacional de Soares dos Reis
Em setembro, prosseguindo o objetivo de dar a conhecer
os espaços culturais do Porto, a Biblioteca organizou uma
visita ao Museu Romântico da Quinta da Macieirinha e ao
Museu Nacional de Soares dos Reis.
Numa manhã de outono com sabor a verão, a Rua de Entrequintas conduziu o grupo de visitantes ao Museu Romântico da Quinta da Macieirinha, situado no centro de
Massarelos e rodeado pela verdura dos jardins do Palácio
de Cristal, o bosque e os antigos terrenos agrícolas que lhe
conferem um ambiente romântico.
Este museu da vida romântica está instalado numa casa
de campo dos finais do séc. XVIII que pertenceu à família
Pinto Basto e onde viveu durante dois meses o Rei Carlos
Alberto do Piemonte, tendo nela morrido a 28 de julho de
1849.
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No final da visita, tempo ainda para um breve passeio nos
jardins do Palácio de Cristal, antes de uma pausa para almoço.
PRESENÇA | 2014
XIV ATELIÊ DE OLARIA
Cumprindo a tradição, o Ateliê de Olaria voltou a animar
a Biblioteca, no mês de fevereiro. As oito sessões dinamizadas pela Maria Fernanda Braga, prestigiada ceramista e
nossa colaboradora de longa data, foram direcionadas para
dois públicos distintos: de manhã, para 200 crianças dos
jardins de infância de Soutelo – Lordelo, de Monte – Mouriz, de Pulgada – Aguiar de Sousa, de Trás-de-Várzea e do
Centro Escolar de Mouriz e, à tarde, para um grupo de 13
senhoras frequentadoras de ateliês anteriores e que continuam a evidenciar interesse e gosto por esta arte.
Para descrever, resumidamente, estas sessões, registamos o testemunho da mestre ceramista:
“Utilizando a matéria com que Deus criou o primeiro Homem, os nossos jovens aprendizes de oleiro puderam explorar este material com muito entusiasmo.
Amassar, esticar, rolar, colar e finalmente modelar, foram
novas experiências vividas com o barro.
O desafio lançado foi o de modelar uma andorinha, inspiração para que a Primavera nos venha visitar com a brevidade
possível!”
O Palácio dos Carrancas foi construído nos finais do séc. XVIII,
a partir de 1795, para habitação e fábrica dos Moraes e Castro,
tornando-se, mais tarde, Paço Real, adquirido por D. Pedro V
para servir de alojamento aos soberanos em visita ao norte do país. Em 1942 torna-se sede do Museu Nacional de
Soares dos Reis.
Guiados pelas Dr.as Paula Santos e Maria Palmira,
inexcedíveis em informações sobre o espólio, os visitantes
puderam apreciar coleções de pintura e de escultura portuguesa dos séculos XIX-XX e, também, coleções de artes
decorativas.
A despedida do Porto fez-se na Ribeira, junto ao Douro,
em fim de tarde luminoso e em ambiente fervilhante de turistas e de passeantes, naturais da cidade.
Mas, se para os mais pequenos a proposta foi mais simples, às senhoras pediu-se mais criatividade:
“Trabalhar com o barro é a única Arte em que os 4 elementos da natureza estão presentes: o Ar, a Terra, a Água e o
Fogo. Só em harmonia com os 4 elementos, podemos chegar
a um resultado positivo: modelar peças lindas!
Este grupo de 12 senhoras explorou o barro sem receios e
com muita inspiração.
FUNDAÇÃO A LORD
Tendo como base os instrumentos musicais, podemos modelar muitas peças, desde as tradicionais flautas aos apitos,
com formas muito divertidas. Depois de cozidas, novo desafio: pintar para depois as experimentar, tentando produzir
33
sons divertidos.”
As fotos ajudam a compreender o entusiasmo, o empenhamento e a satisfação de todos ao olharem as peças saídas das suas mãos.
XVIII ANIVERSÁRIO DA FUNDAÇÃO A LORD
XIV ANIVERSÁRIO DA BIBLIOTECA
A Fundação A LORD e a Biblioteca celebraram mais um
aniversário com uma sessão comemorativa, no Auditório
da Fundação.
No momento inicial, o Presidente da Fundação A LORD
saudou os presentes e procedeu à entrega de certificados
atribuídos no âmbito da Formação Profissional, aos participantes dos cursos de:
Design de Joias
Noções Básicas de Informática
Informática na Ótica do Utilizador
Informática-Internet
Seguiu-se a atuação do jovem grupo de atores LORDator
Juvenil, com a peça A verdadeira história da Batalha de
S. Mamede de Inácio Pignatelli. A boa prestação dos intervenientes mereceu os aplausos da assistência.
A terminar, o público presente foi convidado a cantar os
parabéns às aniversariantes e a saborear o bolo festivo.
Para assinalar a data, todos receberam uma lembrança.
34
PRESENÇA | 2014
EXPOSIÇÕES
Ao longo deste ano, a Biblioteca selecionou um conjunto de grandes temas sobre os quais trabalhou e cujo resultado foi tornado público nas exposições realizadas na BIBLIOTECA e na COOPERATIVA DE ELECTRIFICAÇÃO A LORD.
EXPOSIÇÕES PATENTES
NA COOPERATIVA DE
ELECTRIFICAÇÃO A LORD
EXPOSIÇÕES PATENTES
NA BIBLIOTECA DA FUNDAÇÃO
A LORD
Janeiro: Retrato de Portugal:
Palavras e Imagens – Minho e Douro Litoral
Fevereiro: Retrato de Portugal:
Palavras e Imagens – Douro e Trás-os-Montes
Março: Retrato de Portugal:
Palavras e Imagens – Beira Litoral e Beira Interior
Abril: Retrato de Portugal:
Palavras e Imagens – Estremadura e Ribatejo
Junho: Retrato de Portugal:
Palavras e Imagens – Alentejo e Algarve
Julho: Retrato de Portugal:
Palavras e Imagens – Madeira e Açores
Agosto: Os Nossos Escritores
(os destaques de 2013 da Biblioteca
da Fundação A LORD)
Setembro: Os Nossos Escritores
(os destaques de 2013 da Biblioteca
da Fundação A LORD)
Outubro: A ver Lordelo
Novembro: A ver Lordelo
Janeiro: Sob Céus Estranhos – Ilse Losa
Fevereiro: Sob Céus Estranhos – Ilse Losa
Março: A Primavera nos jardins de Lordelo
Abril: A Primavera nos jardins de Lordelo
Maio: Portuguesas Ilustres
Junho: Portuguesas Ilustres
Julho: Inspirar, Expirar Vamos conhecer o ar!
Agosto: Inspirar, Expirar Vamos conhecer o ar!
Setembro: Vultos da Cultura Portuguesa –
Rafael Bordalo Pinheiro
Outubro: Vultos da Cultura Portuguesa –
Vitorino Nemésio
Novembro: Vultos da Cultura Portuguesa –
Vieira da Silva
Dezembro: Vultos da Cultura Portuguesa –
Machado de Castro
O NOSSO BLOG
O Blog da Biblioteca da FUNDAÇÃO A LORD
(http://bibliotecadafundacaoalord.blogspot.pt/) abre para a divulgação cultural, desde as notícias sobre as atividades dinamizadas pela Biblioteca até à informação sobre efemérides e acontecimentos
relevantes de caráter nacional e internacional, proporcionando, ainda, o acesso a serviços como a consulta de um dicionário ou de um jornal, uma lista de sítios com interesse, as sugestões de leitura e as
aquisições mais recentes.
Cooperação
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PRESENÇA | 2014
COOPERAÇÃO
FILANTROPIA
Este conceito, de origem grega, significa “amor à humanidade”.
Ser filantrópico é ter uma atitude altruísta, é ajudar o
próximo sem esperar contrapartidas.
COLÓNIA DE FÉRIAS
PRAIA DA APÚLIA - ESPOSENDE
Ana Ferreira
A Fundação A LORD pretende dar resposta a algumas
necessidades da população de Lordelo, entre as quais a
ocupação dos tempos livres das crianças, concretizando o
seu objetivo através de diversas iniciativas, das quais a Colónia de Férias é um exemplo que permite a diversão em
contacto com a natureza.
Neste sentido, de 14 a 18 julho, proporcionou uma semana de praia a 47 crianças, na Apúlia (Esposende), para que
pudessem usufruir de banhos de sol e muito divertimento.
Houve tempo para jogos de futebol (com outras colónias),
jogo do limbo, vários jogos pedagógicos e construções na
areia.
No final da semana, o benefício de se viver ao ar livre
estava estampado no rosto das crianças. Ficou o desejo de
se repetir a experiência no próximo ano.
GABINETE DE
APOIO AO DOENTE
ARTIGOS ORTOPÉDICOS
Lasalete Silva
A Fundação A LORD promoveu o bem-estar à população
com carências de saúde e financeiras, emprestando artigos
ortopédicos.
Neste âmbito, ajudou alguns lordelenses, cedendo-lhes
camas articuladas, canadianas e cadeiras de rodas.
LORDELO
SOLIDÁRIO
Célia Sousa
Lasalete Silva
Por forma a colmatar a sobreposição de ajudas com géneros alimentares de diversas instituições às mesmas famílias, a Fundação A LORD estabeleceu um protocolo com
todas as que tinham projetos similares.
O protocolo foi celebrado, no dia 18 de abril de 2014, e
37
FUNDAÇÃO A LORD
englobou as seguintes instituições:
Fundação A LORD, Cooperativa de
Electrificação A LORD, CRL, Associação para o Desenvolvimento Integral
de Lordelo (ADIL), Agrupamento de
Escolas de Lordelo, Centro Sócio-Educativo e Profissional de Parteira,
Câmara Municipal de Paredes, Junta
de Freguesia de Lordelo, Paróquia de
São Salvador de Lordelo e Conferência de São Vicente de Paulo.
Devido ao número elevado de famílias referenciadas, reforçou-se a
atribuição do apoio, entre os meses de
abril e junho. Em termos médios, Lordelo Solidário auxiliou, mensalmente,
128 agregados familiares, num total
de 410 pessoas por mês. Comparando
com o período homólogo do ano anterior, os agregados familiares apoiados
aumentaram substancialmente, contabilizando-se um acréscimo de 3 259
beneficiários.
Esta cooperação entre as várias instituições da cidade ajuda a aliviar as
carências sociais existentes em algumas franjas da comunidade.
Deseja-se que, no futuro, a criação
de emprego seja uma aliada neste gesto solidário.
TABELA N.º 1
INSCRIÇÕES
N.º DE
FAMÍLIAS
N.º DE
BENEFICIÁROS
Janeiro
133
434
Fevereiro
133
434
Março
133
434
Abril
136
447
Maio
136
447
Junho
140
460
Julho
116
374
Agosto
115
355
Setembro
120
367
Outubro
125
381
Novembro
129
396
Dezembro
124
395
1540
4924
TOTAL
VALORES
ACUMULADOS
Fonte: A LORD
É TEMPO
DE NATAL,
TEMPO DE
OFERTAS
Ana Ferreira
A Fundação A LORD, mais uma vez,
presenteou crianças, professores e auxiliares dos centros escolares e dos jardins-de-infância de Lordelo e, ainda, as escolas que participaram nas atividades da
Biblioteca, durante o mês de dezembro.
Um lápis com a figura de joaninha ou de
abelha foi o pequeno presente que deixou miúdos e graúdos felizes.
Nada é mais valioso do que um sorriso estampado no rosto das crianças!
ATELIÊS
Rosário Barbosa
ARTES MANUAIS
Durante este ano, um dos temas
predominantes dos ateliês de Artes Manuais foi a reciclagem. Foram
transformados CD´s estragados em
porta velas, garrafas de água em belas e coloridas flores, garrafas de vidro em jarrinhas forradas com tecido
para colocar flores, jornais enrolados
em bases para tachos e revistas velhas em cestinhas. Com o material
EVA, foram elaborados os seguintes
trabalhos: mascarilhas de carnaval
brilhantes e umas vistosas bonecas.
Este ateliê, muito esperado, realizou-se a seguir às férias de verão. Pelo
Natal, todas as participantes fizeram
uma coroa com flores de papel.
Também foram comemorados o
Dia do Pai, com a montagem e decoração de umas caixinhas em cartolina, e o Dia da Mãe, com um ateliê de
pintura de lenços de seda.
VISITAS
CULTURAIS
Ana Ferreira
Ao longo do ano 2014, foram realizadas várias visitas culturais pelo país,
nomeadamente, ao Reservatório Mãe
D´Água (Lisboa), Museu do Mel e Apicultura (Macedo de Cavaleiros), Museu Militar (Lisboa), Jardim Botânico
e Casa Museu Marta Ortigão Sampaio
(Porto), Casa do Careto (Macedo de Cavaleiros), Museu Romântico da Quinta
da Macieirinha e Museu Nacional de
Soares dos Reis (Porto). Participaram
nestas iniciativas 339 pessoas.
Com estas visitas, pretendeu-se enriquecer os conhecimentos dos participantes, através do contacto com manifestações culturais do passado que continuam
presentes nos locais visitados.
CULINÁRIA
NO MICRO-ONDAS
Para dar continuidade ao uso do nosso “eletrodoméstico maravilha”, em
maio, todas as participantes puderam
38
saborear uma gostosa bola de carne feita muito rapidamente. Em novembro,
para comemorar o S. Martinho, este
ateliê transformou-se num lanche convívio, com sumos e vinho do Porto e,
claro, com a elaboração de um bolo de
castanhas que fez as delícias de todos os
participantes.
ATIVIDADES
DE FÉRIAS
Eugénia Gonçalves
PÁSCOA
Como em anos anteriores, durante
as férias escolares da Páscoa, realizou-se, de 7 a 17 de abril, um conjunto de
atividades para crianças com idades
compreendidas entre os 3 e os 14 anos.
Foram executados trabalhos muito
diversificados, com materiais e técnicas do agrado das crianças e dos respetivos pais: postais com meninos em
EVA; sabonetes com a técnica découpage; alfinetes em feltro e caixas para
amêndoas. Houve também sessões de
cinema em 3D, entre outras atividades.
No final, viram-se crianças divertidas, cheias de ânimo e com vontade de
continuar.
PRESENÇA | 2014
VERÃO
A Fundação A LORD, ano após ano,
vem repetindo as atividades de Férias
de Verão. Este ano, devido à elevada
procura, realizou-as durante um período mais alargado: no mês de junho,
julho e agosto, sem interrupções.
Estas atividades proporcionaram às
crianças, a ocupação dos tempos livres, e aos pais, um local seguro onde
deixar os filhos.
Desenvolveram-se atividades muito variadas, com materiais e técnicas
para despertar o interesse nas crianças.
A Fundação e o Parque do rio Ferreira foram os espaços onde se realizaram estas atividades que proporcionaram tardes de convívio, alegres e
divertidas.
DIA MUNDIAL
DOS AVÓS
Rosário Barbosa
No dia 25 de julho, foi comemorado
o Dia Mundial dos Avós, com muita
animação, filmes, música, dança, cânticos, assim como entoação de orações. A avó com menos idade e a avó
com mais idade receberam ramos de
flores. No final, houve um grande lanche convívio.
As presenças do Sr. Presidente da
Fundação A LORD, Dr. Francisco
Leal, assim como do Reverendo Padre
Rui Pinheiro surpreenderam todos os
participantes, tendo contribuído para
animar o lanche.
NATAL
A época natalícia é uma das preferidas das crianças e, na altura de férias,
a Fundação A LORD promove atividades diversificadas, entre elas, sessões
de leitura, enquadradas em diversos
ateliês, com o objetivo de as incentivar
e desenvolver.
Estas tardes foram muito produtivas.
SESSÕES
DE CINEMA
Rosário Barbosa
A Fundação A LORD presenteou as
crianças de várias escolas do concelho
com sessões de cinema 3D, assegurando-lhes também o transporte. Promoveu, deste modo, o gosto dos mais jovens pelo cinema.
Às terças-feiras de cada mês, foi ainda exibido um filme para adultos pertencentes à comunidade em geral.
SERVIÇOS
DE MEDIATECA
Rosário Barbosa
Este serviço é um dos mais requisitados, já que dá a possibilidade aos
utilizadores de poderem usufruir dos
computadores e da rede wireless, para
realizarem trabalhos escolares ou
ocuparem os tempos livres.
Formação
40
PRESENÇA | 2014
FORMAÇÃO
Formar não é uma tarefa fácil, no sentido em que exige ao formador a capacidade de descer ao nível do conhecimento do formando para transmitir os conhecimentos de uma forma simples e prática, permitindo-lhe o entendimento
dos conteúdos. Ser formador não é saber muito sobre uma determinada área, é,
sobretudo, ser um bom comunicador. Este é o grande desafio.
Considerando que a formação é um processo global e contínuo, em 2014, a
Fundação A LORD desenvolveu as seguintes ações de formação, destinadas a
adultos e trabalhadores: Noções Básicas de Informática, Informática na Ótica
do Utilizador e Informática-Internet, na área da Informática; Design de Joias,
na área do Artesanato, e Brigadas de Primeira Intervenção, na área de Proteção
de Pessoas e Bens.
Lasalete Silva
CURSOS NA ÁREA
DE INFORMÁTICA
O conhecimento torna a alma jovem e diminui a amargura da velhice.
Colhe, pois, a sabedoria. Armazena suavidade para o amanhã.
Leonardo da Vinci
Sara Lamas
A formação profissional tem vindo
a ser um marco importante na Fundação A LORD. É de salientar que existe
uma grande preocupação por parte
desta Instituição em fornecer conhecimentos à população de Lordelo que
pretenda enriquecer-se.
Neste âmbito, no ano de 2014, criou
três cursos de informática: Noções
Básicas de Informática, Informática
na Ótica do Utilizador e Informática-Internet. Nestes cursos, inscreveram-se 23 pessoas com a idade média de
60 anos e, por isso, não houve apenas
transmissão de conhecimentos, mas
também partilha de experiências e vivências.
O quadro apresentado pretende
mostrar algumas componentes dos
cursos desenvolvidos.
41
FUNDAÇÃO A LORD
Curso
Objetivos
Atividades
Noções Básicas
de Informática
· Conhecer os conceitos básicos relacionados com as tecnologias
da informação e da comunicação.
· Definir conceitos de hardware e software.
· Reconhecer os vários periféricos de entrada e de saída.
· Trabalhar com várias janelas.
· Executar programas e ficheiros.
· Reconhecer e trabalhar com os acessórios.
· Trabalhar corretamente com o programa de gestão de ficheiros,
pastas e atalhos.
· Compreender a perigosidade do vírus informático.
Ficha de
diagnóstico
· Conhecer os conceitos básicos relacionados com as tecnologias
da informação e da comunicação.
· Executar programas e ficheiros.
· Compreender a perigosidade do vírus informático.
· Trabalhar corretamente com o programa de gestão de ficheiros,
pastas e atalhos.
· Especificar as principais características do processador de texto.
· Criar e editar documentos.
· Formatar documentos.
· Utilizar ferramentas de correção de texto.
· Aferir sobre a finalidade da internet.
· Conhecer a terminologia World Wide Web.
Ficha de
diagnóstico
· Conhecer os conceitos básicos relacionados com as tecnologias
da informação e da comunicação.
· Executar programas e ficheiros.
· Compreender a perigosidade do vírus informático.
· Trabalhar corretamente com o programa de gestão de ficheiros,
pastas e atalhos.
· Aferir sobre a finalidade da internet.
· Conhecer a terminologia World Wide Web.
· Enunciar conceitos básicos de navegação.
· Utilizar motores de pesquisa.
· Obter documentos e programas gratuitos da internet.
· Enviar e receber mensagens do correio eletrónico.
· Conhecer as redes sociais e comunicar em tempo real.
Ficha de
diagnóstico
Informática na
Ótica do Utilizador
Informática-Internet
Número de
Participantes
Duração
do curso
8
20h00
8
20h00
6
20h00
Fichas
de trabalho
Fichas
de trabalho
Fichas
de trabalho
No final do curso, foi manifesta a evolução dos formandos, cujas competências lhes permitiram
executar as atividades propostas.
Segue-se um depoimento que dá testemunho dos resultados do programa desenvolvido.
42
PRESENÇA | 2014
NOÇÕES BÁSICAS DE INFORMÁTICA
António Mieiro
Quando acabar este curso
Vou ficar com muita saudade
Pelos dias que aqui passei
E muitas horas durante a tarde
E para a doutora
Que faz a coordenação
De toda atividade
Que se faz aqui na Fundação
A Cooperativa A LORD
Através da sua Fundação
Tudo faz para trazer cultura
Para a nossa população
Para a nossa formadora
O meu e o vosso agradecimento
Por aquilo que nos ensinou
Pelo seu enorme talento
Esta atividade sénior
Que estamos a disfrutar
E uma forma de passar o tempo
E de nos dar algum bem-estar
Ao terminar estas quadras
Que as escrevi com muita amizade
Deixo um abraço para todos
E despeço-me com muita saudade
Lordelo, 25 junho 2014
DESIGN DE JOIAS
Lasalete Silva
No ano de 2014, ao impulsionar o curso de Design de
Joias, a Fundação A LORD ofereceu uma experiência formativa enriquecedora, na sua sede, para todos os que manifestaram interesse por esta área.
Dada a afluência de pessoas interessadas, e atendendo à
situação laboral de algumas, a ação dividiu-se em dois grupos, funcionando um, em regime laboral, e outro, em regime pós-laboral.
O curso teve a duração de 40 horas, distribuídas entre os
meses de março e maio, e foi frequentado por formandas
com idades compreendidas entre os 23 e os 72 anos.
Com o decorrer das sessões, vinte e sete formandas deram azo à criatividade e executaram interessantes trabalhos, nomeadamente, colares, pulseiras, brincos, anéis, alfinetes e diversos acessórios para o cabelo.
Todas as formandas obtiveram aproveitamento.
Os trabalhos realizados estiveram expostos no átrio da
Fundação A LORD de 20 de junho a 31 de agosto.
BRIGADAS DE
PRIMEIRA INTERVENÇÃO
Lasalete Silva
A ação Brigadas de Primeira Intervenção destinou-se a
dezoito trabalhadores d´A LORD e teve a duração de trinta
e cinco horas, distribuídas entre os dias 29 de setembro e 17
de dezembro.
Para a realização deste curso, a Associação Humanitária
dos Bombeiros Voluntários de Lordelo disponibilizou um
formador. As sessões de formação decorreram na sede da
Cooperativa e Fundação A LORD e noutros espaços, nomeadamente na Biblioteca, armazém e Auditório e, ainda,
nas instalações dos Bombeiros Voluntários de Lordelo.
A formação visou a sensibilização para a segurança contra os incêndios. Abordaram-se os seguintes conteúdos
programáticos: fenomenologia da combustão, equipamentos de proteção individual (EPI´s), agentes extintores, ventilação tática e hidráulica, busca e salvamento, sistemas de
proteção contra incêndios, procedimentos de segurança e
práticas simuladas.
Todos os formandos concluíram o curso com aproveitamento, manifestando vontade de continuar a atualizar os
seus conhecimentos nesta área.
Opinião
43
44
PRESENÇA | 2014
BASTAVA
QUE…
Álvaro Pacheco
Sacerdote do Instituto dos Missionários da Consolata - IMC
Vivemos num mundo muito conturbado, com tantas situações de dor
e injustiças, de corrupção e miséria,
de desrespeito pelos direitos básicos
de cada ser humano, de tal forma que
muitas pessoas dizem já nem ver os
noticiários porque, precisamente, estes só falam de desgraças. Mas mesmo
assim, não deixo de os ver, até porque
relatam o que o ser humano vai fazendo neste belo mundo que é o nosso.
Certo, as desgraças são imensas e todos os dias se juntam muitas novas às
que já conhecemos. Outras só são notícia quando atingem proporções terríveis e preocupantes, como o drama
de milhares e milhares de pobres e refugiados que atravessam diariamente
o Mar Mediterrâneo em busca de uma
vida digna, escapando da miséria e da
morte. Este é só um de muitos exemplos que podemos citar, porque há
imensos casos de abusos e formas de
opressão que fazem parte do quotidiano de muita gente em muitos países
desde sempre: tráfico humano, tráfico de armas e drogas, racismo e ataques desnecessários ao ecossistema,
só para mencionar alguns. Outras só
são notícia quando se revelam como
tragédia verdadeiramente dramática, como os tsunamis ou terramotos
(Haiti, Tailândia e mais recentemente Nepal, só para mencionar alguns)
… mas passadas umas semanas caem
no esquecimento de todos, exceto na
preocupação dos que continuam a sofrer os efeitos dessa mesma tragédia.
Quando são feitas análises e comentários a estes e outros problemas, os
especialistas reúnem-se todos à volta de um mesmo objetivo: analisar as
causas desses mesmos problemas. E
não só: apresentam também soluções
para a sua resolução. Infelizmente, a
maior parte destes especialistas ou
comentadores pouco ou nada podem
fazer para solucionar os problemas.
Sabemos a quem toca esta tarefa, mas
é aqui que surge outro problema: nem
todos analisam as coisas da mesma
maneira, ou seja, os problemas são
vistos, interpretados e sentidos de
forma diferente, muitas vezes de forma radicalmente oposta. Esta atitude
é mais facilmente detetada quando se
trata de problemas ou tragédias causadas por intervenção humana. Na
minha modesta opinião, uma das soluções para estes problemas é bastante fácil: bastava que cada um fizesse
bem o que tem de fazer, sobretudo os
que se encontram em posição de poder de decisão e com o controle sobre
os meios necessários para a resolução
dos problemas… e não só: também
cada um de nós, a todos os níveis, não
só o profissional. Ou seja, se sou padre,
devo fazer os possíveis por ser bom no
que faço, tendo em conta uma máxima muito importante que se encontra
em muitas culturas e que mesmo Jesus mencionou nos seus ensinamentos: faz aos outros o que queres que te
façam a ti. Ser bom no que fazemos
significa assumirmos a responsabilidade dos nossos compromissos para
com o nosso próximo: isto vale para
todos, desde reis a presidentes, desde
primeiros-ministros a pais de família,
de médicos a professores e advogados, e assim por diante. Fazer bem o
que temos de fazer significa fazê-lo
com retidão, com seriedade e empenho, com sentido de justiça e pelo
bem comum. No meu ver, 90 por cento dos males que há no mundo seriam
facilmente evitáveis ou reduzidos se
cada um fizesse bem o que deve fazer.
Porque o que fazemos tem impacto
na vida dos outros, seja de forma direta ou indireta. Costumamos dizer
que as crianças são fruto da educação
que recebem; mas os pais também são
condicionados por muitos fatores –
situação familiar, económica, social e
até mesmo religiosa – que são, por seu
lado, condicionados por quem está em
posição de autoridade e decisão sobre
esses mesmos fatores. Como tal, estamos todos interligados e cada vez
mais, porque “cada vez mais o mundo
é pequeno”. Somos todos membros desta aldeia global, por isso, as decisões que
hoje são feitas na China ou Estados Unidos têm impacto em cada um de nós,
mesmo que indiretamente.
Ora, se todos fizermos e dermos o
melhor de nós, com responsabilidade e sentido de justiça, haverá menos
corrupção, menos abusos e discriminações, menos violações dos direitos
humanos, menos dor e sofrimento,
menos lágrimas e morte. E Deus semeou em cada ser humano as sementes do amor, da paz, da justiça, do perdão e da solidariedade. Toca a cada
um de nós fazê-las crescer e dar fruto.
Sim, porque um outro mundo é possível…
45
FUNDAÇÃO A LORD
LORDELO: CIDADE QUE
TEM HISTÓRIA, UM PRESENTE
CONDIGNO E UM AMANHÃ
PROMETEDOR
António Rodrigues Pimentel Trigo
Professor do Ensino Secundário
Paredes foi durante o século XVIII um modesto lugar
pertencente à freguesia de Castelões de Cepeda. Elevada a
concelho em 1836, após a entrada em vigor da constituição
de 1820, integrou vinte e três localidades. Algumas destas,
do extinto município de Aguiar de Sousa, passaram a fazer
parte da nova circunscrição administrativa, sendo Lordelo
uma delas.
Antes de 28 de junho de 1984, esta freguesia considerava-se a mais progressiva das terras paredenses e, nessa
data, teve a honra de ser promovida a vila; a 26 de agosto
de 2003 adquiriu o título, com justeza, de cidade.
Situa-se numa ampla área da região do Vale do Sousa
estendendo-se por 9,2km2 e, consoante o censo de 2011,
segundo rezam as estatísticas, ali vivem 10 025 habitantes. Há documentos relacionados com a situação socioeconómica desta terra, quando ainda a marcenaria não era a
principal atividade laboral.
Relativamente a essa época, dos pilares fundamentais da
sua economia, interessa sublinhar o cultivo de cereais –
milho e centeio –, vinho e a criação de gado bovino. Grande parte da população masculina dedicava-se ao amanho
do solo agrícola exercendo uns o ofício de jornaleiros e outros, os caseiros, trabalhavam nas quintas, onde exploravam a lavoura e a pecuária. A produção dividida a meias ou
ao terço, conforme o contrato estabelecido com os senhorios, não era mais do que uma ocupação de sobrevivência,
ocorrendo condições similares por todo o país rural. Nesse tempo já o adensamento populacional em Lordelo era
notável. Este facto e a proximidade com o centro urbano
– a cidade do Porto – originaram a formação de uma nova
estrutura social, exercendo influência no comportamento
mais citadino dos moradores. Tanto assim que a localidade predominantemente rústica se transformou, paulatinamente, num agregado humano industrializado e marcadamente comercial, cujas causas se deveram à expansão do
fabrico de mobiliário e do comércio daí decorrente.
A procedência desta indústria tem uma narrativa digna
de ser contada e, com esse propósito, apesentamos uma hipótese proposta pelo falecido professor, Dr. Hermano Saraiva, historiador de grande gabarito. Alegava este erudito
que no século XIX existia no Porto uma numerosa comunidade constituída por cidadãos britânicos; estes exerciam o
seu trabalho por vários ramos comerciais, mormente pelos
negócios dos vinhos do Alto Douro.
O contacto frequente com a capital do Norte criou oportunidades que permitiram a muitos lordelenses a aquisição de conhecimentos sobre diversos estilos de mobílias
usadas pelas famílias oriundas do Reino Unido que, nessa
altura, habitavam a urbe portuense. A observação dos móveis ingleses seria o ponto de partida para o início da sua
fabricação intensiva. Sendo assim, em concordância com o
entendimento do Dr. Hermano Saraiva, podemos admitir
ser Lordelo o berço da indústria em causa.
Novos caminhos se abriram graças a esta recente dinâmica laboral, induzindo muitas oficinas a iniciarem o funcionamento. Estas circunstâncias incentivaram a compra
de madeira, tendo como efeito a proliferação de fábricas de
serrar essa matéria-prima; estas empresas, designadas serrações, contribuíram sobremaneira para uma maior empregabilidade, nesse setor, de uma boa parte da população.
Assim, a desventurada situação da classe trabalhadora
viu diminuída a gravidade da privação ou da pouca abundância de nutrientes básicos, necessários à manutenção da
saúde ou mesmo da vida. Ansiosas por uma existência mais
confortável, desejosas de ocuparem uma posição que lhes
permitisse maior dignidade na sociedade, as classes populares, menos favorecidas em termos pecuniários, libertaram-se gradualmente do servilismo.
O incremento do labor fabril proporcionou o soerguimento financeiro das famílias e a transformação dos seus
costumes. O resultado traduziu-se no fim de uma forma
particular de viver, na qual a humildade era o emblema da
indigência existente na comunidade. Para trás ficou a freguesia de Lordelo de ontem, cheia de potencialidades tão
46
variadas mas parca nas suas infraestruturas; para a frente
caminhou garbosa, até atingir os estatutos, respetivamente, de vila e de cidade. Esta evolução resultou da audácia e
energia dos lordelenses, detentores de aptidões e talento
para conduzirem, lado a lado com a educação e promoção
social, a elevação do seu cantinho natal à altura que lhe
competia. Estes procedimentos determinaram o aparecimento de profundas mudanças, umas de ordem material,
outras em conformidade com os direitos dos cidadãos.
Deste modo a industrialização ativou o comércio, aumentando a riqueza; uma maior equidade monetária aproximou todos aqueles que estavam na posse dos requisitos
exigidos pela cidadania. Estes atos originaram uma justiça
social mais eficaz.
Muitos melhoramentos indispensáveis permitiram a
valorização cultural do povo, tornando bem evidentes os
seus efeitos benéficos. Por isso, ao percorrermos a cidade,
sentimos o entusiasmo de vermos bem desperta a consciência das pessoas por terem atingido o grau de prosperidade a que tinham direito.
Vejamos que assim é: os lordelenses regozijam-se com
o fomento da disseminação dos ensinos pré-escolar, básico e secundário. Há outros pontos que é justo focar: o
alargamento do abastecimento de água, a generalização do
saneamento, a construção de novas ruas e vias rodoviárias,
a abertura de estabelecimentos comerciais bem integrados
no ambiente dos novos tempos. Marcadas pelo conceito da
modernidade, estas realizações levaram uma salutar polí-
PRESENÇA | 2014
tica de conforto à população. É também uma evidência a
existência de uma proteção materno-infantil e o alargamento
da medicina voltada para o social, por intermédio do SNS. Estas ações não exigem que o Estado faça grande esforço financeiro, visto que na medida em que defende a saúde pública
acautela o património humano da nação e, portanto, aperfeiçoa a base do desenvolvimento económico.
Também os valores patrimoniais de feição histórica e
locais de lazer merecem ser referidos: a Ponte Romana,
memória que deve ser preservada; a Torre dos Mouros
ou Torre dos Alcoforados, datada como sendo dos séculos XIV e XV. Os peritos em arqueologia descrevem-na
como um monumento de planta quadrangular com rés do
chão e dois andares. Nota-se que a sua estrutura de quatro paredes graníticas se encontra muito degradada, mas
em recuperação. Foi classificada como imóvel de interesse
público e, outrora, foi utilizada como residência militar; o
Parque do Rio Ferreira localizado num sítio paradisíaco;
os Moinhos de Água, recordação da moagem do milho e
do centeio em épocas passadas; a Igreja Matriz, local de
oração para os crentes, merecedora de ser visitada pelos
apreciadores de arte sacra.
Em Lordelo, terra ciosa de predicados, fica bem indicar
à posteridade alguns dos seus ilustres filhos que se distinguiram na área desportiva e não seria elegante omitir os
seus nomes: Ribeiro da Silva, meu companheiro na escola
primária, cuja estátua glorifica e perpetua a sua fama de
ciclista de renome internacional; mais recentemente Jaime Pacheco e Rui Barros futebolistas de elite do Futebol
Clube do Porto; Jorge Sousa participante na equipa de arbitragem da final da liga dos campeões, o que deixou orgulhosos os conterrâneos. Seria falta de cortesia olvidar
eventos culturais desportivos e sociais, visando com especial interesse, o registo de alguns desses casos: no Auditório da Fundação A LORD tem-se recitado poesia; no âmbito do desporto lê-se num blog: “Jaime Pacheco o melhor
treinador do futebol chinês.”. É, também, uma realidade a
solidariedade entre a população: organizam-se caminhadas e cito como referência o percurso pedestre efetuado
com o objetivo da obtenção de fundos para aquisição de
viaturas de combate aos incêndios, oferecidas depois aos
bombeiros voluntários; realizam-se visitas culturais e,
para exemplificar, menciono a levada a efeito ao museu da
RTP, em Lisboa.
Os casos abordados mostram à mocidade, à gente moça,
dinâmica e academicamente qualificada, que pode e deve
iniciar uma nova sementeira da qual os progénitos obterão
safras abundantes de boa qualidade. A marcha no sentido
de um devir cada vez mais esperançoso tem de continuar,
ir mais além, sem delongas, para que a próxima geração
não acuse os ascendentes de ociosidade e de inépcia.
Indicou-se o caminho certo que se tem seguido e, certamente, os descendentes percorrê-lo-ão de igual maneira,
porque acreditam no provérbio “querer é poder”. Quando
se possui esta convicção íntima colabora-se animosamente na efetuação de fins comuns.
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FUNDAÇÃO A LORD
UM SENTIDO
PARA A ESCOLA
Beatriz Ester Moura de Castro
Diretora do Agrupamento de Escolas de Lordelo
A Lei de Bases do Sistema Educativo, aprovada pela Lei n.º 46/86, de 14
de outubro, alterada pelas Leis n.os
115/97, de 19 de setembro, 49/2005, de
30 de agosto, e 85/2009, de 27 de agosto, consagra o direito à educação pela
garantia de uma permanente ação
formativa orientada para o desenvolvimento global da personalidade, o
progresso social e a democratização
da sociedade. Por sua vez, e de acordo
com a Lei n.º 85/2009, a escolaridade
mínima obrigatória vai dos 6 aos 18
anos (artigo 2.º, n.os 1 e 4, alínea b)).
Assim sendo, da escola esperam-se
projetos atrativos (Conselho Nacional
da Educação, 1998), que conduzam o
aluno à participação e à vivência de
uma realidade que adote como sua.
Para que tal aconteça, terão que existir compromissos concretos e duradouros entre os vários atores internos
(alunos, professores, pessoal docente
e não docente, pais e encarregados
de educação) e externos à instituição
escolar (autarquia, empresas, instituições culturais, desportivas e recreativas).
De acordo com Guerra (2000), a
escola tem a missão de ensinar cada
cidadão, formando-o em todas as dimensões da pessoa humana e incorporando-o criticamente na sua cultura.
A escola tem como objetivo ensinar,
objetivo este que se torna complexo e
problemático uma vez que exige respostas e questões específicas e únicas: O que se deve ensinar aos alunos?
Como ensinar a quem não quer aprender? Como saber que aprenderam?
Como é que a escola se deve adaptar a
cada um? Como educar para uma cidadania responsável?.
A escola não pode ficar à margem
do contexto social que a envolve. A
48
escola deve assumir as suas responsabilidades perante cada um dos alunos,
dos pais e encarregados de educação
e perante a sociedade, porque faz parte integrante da sua missão social e,
deve atuar num quadro de liberdade
e de respeito pela diversidade. A escola tem de fazer com que cada aluno
aprenda, progrida constantemente e
que se desenvolva com equilíbrio, sendo uma instituição que recebe alunos
provenientes de agregados familiares
e meios sociais diversos.
A escola pública portuguesa está
estruturalmente dependente das
orientações e normas emanadas do
Ministério da Educação e Ciência. A
administração central, é regra geral,
muito centralista e burocrática não
concedendo às escolas uma autonomia real, formatada quer no que respeita à sua missão, aos seus objetivos,
à sua configuração institucional, quer
no que respeita aos atores educativos que nela intervêm e ao seu papel
dentro da organização. Com efeito,
compete à escola adaptar o curriculum básico comum de acordo com as
características, exigências e necessidades específicas dos alunos, definir
conteúdos, metodologias, medidas de
PRESENÇA | 2014
promoção do sucesso, realizar avaliações, estabelecer normas de funcionamento, em prol das aprendizagens
bem-sucedidas dos alunos, para que
todos aprendam e progridam.
A escola é capaz de capitalizar o conhecimento sobre o contexto social
que a envolve, as suas diversas culturas, as expectativas das famílias face à
escola e aos seus filhos, os principais
atores locais, as suas disponibilidades
e os seus recursos, de forma a conduzir as suas ações em busca de uma melhoria contínua do seu desempenho.
Cidadãos mais instruídos não só se
tornam mais conscientes dos seus direitos e deveres, como pode significar
uma vantagem competitiva nos planos
de desenvolvimento local, regional e
nacional.
Segundo Fernando Savater (2010),
o objetivo explícito da escola é conseguir indivíduos livres. Ser livre é
libertar-se da ignorância primeira,
do determinismo genético, de apetites e impulsos que a convivência ensina a controlar. Antigamente, o pedagogo educava e o mestre instruía.
A educação estava orientada para a
formação da alma e transmissão dos
valores morais, enquanto a instrução
destinava-se a dar a conhecer competências técnicas e científicas. Neste
sentido, não se deve separar educação
de instrução. Mais do que nunca, com
a flexibilização e constante inovação
do mercado de trabalho, é necessário
uma educação sólida, tanto ou mais
que uma instrução especializada, para
que cada cidadão possa vingar pessoal
e profissionalmente.
Interessa que a escola atual seja
uma instituição que ajude a desenvolver a personalidade dos alunos
tornando-os cidadãos responsáveis,
autónomos, solidários, detentores de
valores cívicos, capazes de construir
os seus projetos de vida, de julgar com
espírito crítico o meio social em que
se integram e de responder aos desafios do mercado de trabalho.
Referências Bibliográficas
- AZEVEDO, J. (2003). Cartas aos diretores de escolas. Porto: Edições Asa.
- CONSELHO NACIONAL DA EDUCAÇÃO
(1998). Abandono precoce da escolaridade obrigatória e ingresso na vida ativa. Recomendação
n.º 1/98.
- GUERRA, M. A. S. (2000). A escola que aprende.
Porto: Edições Asa.
- SAVATER, F. (2010). O valor de educar, o valor
de instruir. Lisboa: Fundação Francisco Manuel
dos Santos.
FUNDAÇÃO A LORD
49
PREVENIR
OS ACIDENTES
DOMÉSTICOS
INFANTIS
Carla Cunha
Enfermeira
Os acidentes infantis constituem um grave problema de
saúde pública, uma vez que são a primeira causa de morte
em crianças de um aos 14 anos. Nestas idades, há mais mortes por lesões que pela soma de todas as doenças infantis.
No entanto, segundo a Associação para a Promoção da Segurança Infantil (APSI), 80% dos acidentes com crianças
podem ser evitados se se adotarem medidas preventivas
adequadas.
A ignorância do perigo, a curiosidade, o grande impulso de autonomia e o alto grau de atividade são fatores que
explicam o grande número de acidentes com crianças. Se
tivermos em conta o sexo, os acidentes ocorrem 2,5 vezes
mais nos meninos do que nas meninas.
O tipo de acidentes muda conforme a idade:
· Em menores de um ano, os acidentes mais frequentes são
as quedas, as queimaduras e os estrangulamentos.
· Em maiores de um ano, são os traumatismos e as intoxicações. Nesta idade, as crianças são muito curiosas,
querem investigar e explorar, tudo o que pegam levam à
boca. São atraídas pelos objetos que sobressaem. Iniciam
a deambulação: gatinham, caminham e trepam. São ainda atraídas por fios elétricos e tomadas de corrente e, por
isso, exploram-nas.
· Aos 3 anos, a criança já é muito autónoma e os adultos
acreditam que podem dar-lhe responsabilidades que não
está em condições de cumprir. Esta confusão é um fator
de risco, já que as crianças não sabem reconhecer os perigos. Os acidentes mais frequentes nesta idade são as
quedas, as intoxicações, as mordidelas e os afogamentos.
· Aos 4 e 5 anos de idade, as crianças têm uma grande
curiosidade por máquinas e aparelhos que as atraem e
entretêm. Podem mudar subitamente a atenção de um
jogo seguro para outro perigoso ou esquecer as habilidades adquiridas de controlo e autocuidado. Desenvolvem grande confiança em si mesmas, o que as impulsa
até situações perigosas pela sua inexperiência; não sa-
50
bem reagir perante o perigo ou podem fazer o contrário
ao conveniente; entusiasmam-se com as brincadeiras e
descuidam-se.
Quando uma criança começa a gatinhar e, mais tarde, a
andar, está na altura de tornar a casa mais segura. Algumas
sugestões podem parecer evidentes e de senso comum,
mas há muitas questões que os pais não consideram, especialmente quando são pais de primeira viagem. Os adultos
estão habituados a ver o mundo através dos seus olhos e
podem desvalorizar alguns pequenos perigos escondidos.
A criança é uma exploradora nata. Depois de tantos meses sem se conseguir movimentar sozinha, começar a gatinhar é um momento revolucionário e o início de uma longa
viagem a caminho da independência. Quando se começa a
deslocar sozinha, os espaços que lhe estavam vedados passam a ser acessíveis. A partir desse momento, não há escada, janela ou cadeira que não consiga subir ou buraquinho
que não se torne numa verdadeira tentação para meter os
dedos.
As crianças pequenas não têm capacidade para avaliar o
perigo, pelo que, qualq uer objeto que encontram em casa
pode transformar-se num brinquedo muito interessante.
As medidas de prevenção não são custosas. Requerem,
sim, educação, constância, responsabilidade, participação
e compromisso dos pais e de toda a comunidade.
Saiba como protegê-las dos perigos presentes em todas
as casas!
Atitudes que podem salvar
Não se limite a proibir as crianças de fazerem isto ou
aquilo, deve procurar ensiná-las e alertá-las para os riscos
que certos atos envolvem, para que elas possam desenvolver a noção do que é o perigo e do que são comportamentos perigosos, mesmo quando as crianças são pequenas e
a explicação requer muita paciência. E, sobretudo, dê o
exemplo. As crianças imitam os adultos. Sempre que necessário, explique à criança porque é que as suas ações lhe
são permitidas a si, e a ela não, apontando razões de idade,
capacidade, responsabilidade, segurança, etc..
Cuidados com medicamentos
· Todos os medicamentos devem ser guardados fora do alcance das crianças, em lugares altos e, de preferência, em
armários ou caixas bem fechadas.
· Não tome, nem dê medicamentos sem prescrição ou
orientação médica.
· Não tome medicamentos à frente das crianças, pois tendem a imitá-lo.
· Não use remédios cujo prazo de validade já expirou ou
cujas embalagens estão deterioradas. Junte-os e entregue-os na farmácia mais próxima.
Cuidados com escadas
· As escadas devem ter um corrimão de apoio e o piso não
deve ser escorregadio ou ter tapetes.
· Se tem crianças pequenas, principalmente se estão na fase
PRESENÇA | 2014
de gatinhar ou a começar a andar, coloque proteções e
barreiras em todos os acessos da casa às escadas.
· Não se esqueça de fechar as proteções e barreiras dos
acessos às escadas, depois de passar por elas. Um portão
mal fechado é como se não existisse.
Cuidados com janelas e varandas
· Verifique os fechos de segurança das janelas e portas.
· Não deixe cadeiras, camas e bancos perto de janelas, pois
as crianças podem escalá-las e debruçar-se sobre elas. O
mesmo vale para móveis baixos perto de estantes e armários altos.
· Coloque grades ou redes de proteção em todas as janelas
e varandas. É a única forma de evitar acidentes graves em
apartamentos.
Cuidados com piscinas, lagos, lagoas e praia
· Nunca deixe a criança sozinha perto de uma piscina,
mesmo que esta seja própria para ela.
· Nunca deixe uma criança sozinha na piscina, seja em que
circunstância for. Muitos afogamentos de crianças até
aos 4 anos ocorrem porque os adultos se ausentam por
“um minuto”, para atender o telefone, ir buscar o lanche,
etc..
· Esteja atento às brincadeiras das crianças na água.
· Coloque braçadeiras ou coletes às crianças que não sabem nadar, mesmo quando elas estão a brincar ao pé da
piscina. Se escorregarem e caírem para dentro da água
estarão mais protegidas.
· Se tem piscina em casa, coloque uma vedação ou tela de
proteção à volta, de forma a impedir que a criança tenha
acesso à água.
Cuidados na cozinha
· Não deixe crianças sozinhas na cozinha.
· Guarde facas, objetos cortantes e eletrodomésticos de pequeno porte, em locais pouco acessíveis.
· Não deixe tachos e panelas ao lume sem ninguém na cozinha e tenha especial cuidado com líquidos quentes, como
sopa ou água a ferver, já que, queimaduras com líquidos
quentes são frequentes em crianças.
· Não deixe os bicos do fogão ligados quando acaba de cozinhar.
· Vire os cabos das frigideiras para o interior do fogão, o
que evita que as crianças tentem pegar-lhes.
· Cumpra sempre as indicações de segurança ao utilizar
panelas de pressão.
· Tenha cuidado na utilização do gás no fogão. Acenda o
fósforo antes de abrir o gás. Se o seu fogão tiver acendedor elétrico, acenda primeiro o gás, no mínimo, e só
então acione o acendedor.
· Quando acender o forno, coloque-se de lado e não em
frente do fogão.
· Evite usar roupa de tecidos sintéticos e aventais de plástico quando está a cozinhar. Use apenas toalhas, aventais
e panos de tecidos naturais.
· Ao usar o micro-ondas, não cubra os alimentos com papéis metalizados nem coloque, no seu interior, louças
com decoração prateada ou dourados.
FUNDAÇÃO A LORD
Cuidados com produtos de limpeza e outros produtos
tóxicos
· Há produtos tóxicos, muitas vezes inflamáveis, e a sua ingestão ou inalação pode ter consequências graves ou até
fatais. Há fechos e protetores que impedem a abertura de
armários e gavetas onde se encontram estes produtos.
· Seja na cozinha, despensa ou em qualquer outra divisão
da casa ou no jardim, guarde estes produtos em locais inacessíveis a crianças.
· Nunca coloque detergentes, lixívia, inseticidas ou pesticidas em garrafas de água ou de refrigerantes já usadas,
porque as crianças podem ingerir o produto pensando
ser água ou sumo, resultando num acidente com grande
gravidade.
Cuidados com eletricidade e tomadas
· Monte, se possível, todas as tomadas com ligação terra.
· Instale protetores adequados em todas as tomadas da
casa, para evitar choques elétricos.
· Esteja sempre alerta, pois uma tomada tem uma atração
especial para as crianças que estão na fase de gatinhar ou
até um pouco mais crescidas, parecendo os locais ideais
para tentarem enfiar os dedos e os mais variados objetos.
· Nunca deixe o ferro ligado com o fio desenrolado e ao alcance das crianças. Além da ligação à eletricidade, é perigoso pelo seu peso e pela alta temperatura.
Cuidados com armas
· Não tenha armas em casa. Se tiver, arrume-as ou guarde-as longe do alcance das crianças.
· Nunca tenha as armas carregadas em casa.
· Nunca deixe as munições junto à arma. Guarde-as em local seguro e inacessível às crianças.
Cuidados com as fontes de calor
· Ponha um muro de proteção diante da sua lareira. Mantenha estufas, fornos, braseiros fora do alcance das crianças.
· Impeça que as crianças brinquem com fósforos, isqueiros
ou líquidos inflamáveis.
· Aumente o cuidado na presença de sprays, cheios ou vazios, porque são altamente inflamáveis.
· Se fumar, não se esqueça de apagar bem os cigarros.
· Tome precauções com a exposição solar das crianças, evite as queimaduras solares.
Outros riscos
· Nunca deixe bebidas alcoólicas ao alcance de crianças.
· Procure ajuda médica se o seu filho engolir uma substância não alimentar.
· Anote os números dos telefones do seu pediatra, do hospital, dos centros de envenenamento e de outros centros
de ajuda em local bem visível.
· Leia atentamente os rótulos das embalagens antes de usar
qualquer produto.
· Ensine as crianças a não aceitarem bebidas, comida, doces
que lhes sejam oferecidos por adultos que não conhecem.
51
· Ajuste os brinquedos à idade das crianças.
· Transporte sempre as crianças numa cadeira de segurança quando sair de automóvel.
· Não deixe que crianças com idade inferior a 10 anos andem sozinhas de elevador.
“O seguro morreu de velho” e, por isso, nunca é demais
reforçar a segurança do ambiente que a criança frequenta,
renovar os materiais sempre que estejam desgastados ou
inutilizados e garantir que potenciais riscos fiquem fora do
seu alcance.
Se seguir estes conselhos, é provável que consiga criar
em sua casa um ambiente mais seguro. Fora de casa, o ambiente pode ser mais perigoso e difícil de controlar: são os
produtos de limpeza na cozinha da avó, os medicamentos
do avô, o poço sem tampa no quintal do vizinho, os baloiços em movimento no parque infantil, a piscina dos tios ou
as tomadas desprotegidas em casa dos amigos. Mas não se
esqueça: quem tem a maior responsabilidade de vigiar o
ambiente onde a criança está são os pais e os educadores.
Faça sempre uma inspeção visual rápida quando chegar a
qualquer sítio e não espere que os outros tenham a mesma
preocupação com os aspetos da segurança.
Em caso de acidente, esteja preparado para agir. Tenha
sempre junto do telefone e no telemóvel ou agenda os números de emergência e aprenda o básico em primeiros socorros. São gestos que podem salvar uma vida.
Criar um ambiente seguro não é “fechar a criança a sete
chaves” ou mantê-la “numa redoma”. Ela tem que se desenvolver e explorar o mundo. Portanto, se houver mais do
que uma forma de aumentar a segurança, opte por aquela
que permita oferecer maior liberdade de movimentos. E,
lembre-se sempre que, para as crianças, todas as coisas são
brinquedos e tudo é brincadeira e não são elas que estão erradas mas sim o ambiente mal adaptado que construímos à
sua volta.
52
PRESENÇA | 2014
SUBLIME QUARTETO
Variações sobre um
mesmo tema
Henrique Manuel Pereira
Professor da Escola das Artes – Universidade Católica do Porto
Também ao grande texto da história importa o cisco, o fragmento,
os sinais dos pequenos instantes. São eles, com frequência, que
tornam o tempo legível e permitem ver sentidos no que parece
não ter sentido. Não será o caso da matéria destas linhas. Contudo, e seja qual seja a importância que o leitor lhes atribua, não
deixam de ser raiz ou fio do tempo na teia inacabada da História.
1
Vínhamos falando de Alda Lara (1930-1962). Não há muito
quem hoje recorde o seu funeral e saiba que o Padre Telmo
Ferraz foi quem, em Angola, lhe celebrou as exéquias fúnebres em Cambambe, e depois no cemitério do Dondo, no remoto Janeiro de 1962. “Era um mar de gente. Comovi-me”.
Também eu, ao ouvi-lo recordar na conversa que serviu de
base ao filme Telmo Ferraz: Mibangas e frutos. Telmo Ferraz é autor desse belíssimo livro que tem por título “O Lodo
e as Estrelas”. Sendo Padre da diocese de Bragança, é Padre
da Obra da Rua, e sob o influxo inspirador do Padre Américo,
deu vida e corpo à Casa do Gaiato de Malanje, Angola, que
recentemente celebrou 50 anos de vida fecunda e fecundante.
Será difícil entender Alda Lara dissociada de Orlando de
Albuquerque (1925-1997), seu marido, seja pelo que com fa-
cilidade se entrevê, seja sobretudo no que respeita à própria
formação poética de Alda Lara. Médico como ela, ambos formados em Coimbra, com relevante ação na Casa dos Estudantes do Império, Orlando de Albuquerque foi também um
notável escritor com obra extensa e de qualidade, repartida pela Poesia, Conto, Romance, Teatro, Crónica e Ensaio.
Nasceu em Lourenço Marques, a 16 de agosto de 1925, vindo a falecer em Braga, a 6 de outubro de 1997. Aguarda por
quem lhe estude a obra e a ação, prestando-lhe justo reconhecimento e homenagem.
Em julho de 1956, próximo, portanto, do impacto da morte, também Orlando de Albuquerque escreveu sobre o “Santo Padre Américo”, no Jornal de Benguela, nesta crónica até
hoje nunca recolhida:
53
FUNDAÇÃO A LORD
“Morreu o Padre Américo!... Não me envergonho de dizer que as lágrimas me
vieram aos olhos quando tive conhecimento da notícia.
Sabia-o doente. Bastante mal. Lera a notícia do desastre nos jornais. Mas nunca
acreditei que o fim estivesse tão próximo. Ninguém acreditava que Pai Américo
nos ia deixar. Talvez só ele, homem marcado por Deus, estivesse preparado para
a sua morte.
Morreu serenamente num leito de Hospital, com a mesma simplicidade com
que construiu a sua grandiosa Obra. Extraordinária figura a deste Padre Américo, que toda a gente conhecia como o Pai dos Pobres e dos garotos da Rua.
Da estirpe de um São João de Deus ou dum São Vicente de Paula, Padre Américo marcou a siglas de fogo no coração dos portugueses a sua passagem pela
Terra. Católicos e não católicos, crentes e não crentes prestam-lhe justiça perante a grandeza da Obra que este modesto “padre da rua” construiu em pouco
mais de uma dúzia de anos. Embora cedo para se ajuizar da sua justa grandeza
e projeção, ela impôs-se já como uma força criadora no campo humano e social.
Fogo que queimando faz nascer na mensagem do Evangelho, eis a síntese da
obra do Padre Américo.
Nos tempos de egoísmo e de ódios, que vão correndo, custa a crer como tenha sido possível seguir uma figura moral e espiritual tão gigantesca como a do
fundador da “Obra da Rua”. Incompreendido, como acontece sempre com os
grandes Homens, ele teve que lutar com a indiferença e o egoísmo, senão com
a ironia dos que o rodeavam. Mas lutou sempre, sem um desfalecimento. Se os
teve, soube tirar deles maior força criadora para conseguir.
Padre Américo era uma figura curiosa. Vi-o umas três vezes quando eu era ainda estudante. Grandalhão, não muito bem-parecido, com uma voz desagradável. Mas não sei que fluido misterioso emanava desse Padre, sem qualquer aspecto de santo ou de apóstolo, que nos conquistava e dominava. A sua palavra,
quer escrita quer falada, parecia fogo candente. Ia direita ao coração dos que o
ouviam. É que ele falava por Cristo e pela Justiça. Não a Justiça dos Homens,
sempre falível, mas a Justiça de Deus, que não se engana.
Padre Américo exigia em nome de Deus e em nome da Justiça. Dizem que era
muito caridoso. É mentira! Padre Américo não fazia caridade. Fazia Justiça – a
Justiça do Evangelho, a Justiça do Cruxificado.
***
Padre Américo foi rico. Trabalhou em África numa importante Empresa, onde
desfrutou posição de relevo. Um dia ouviu a Voz que lhe dizia:
– Deixa tudo e segue-me!...
E soube segui-La, apesar de todas as oposições. A Empresa onde trabalhava exigiu-lhe cem contos pela rescisão do contrato. Mas o dinheiro não contava para o Homem que sentia em si apelos para destinos mais grandiosos.
Entrou num convento em Tuy. As paredes do convento e o espírito da Ordem eram
demasiado acanhados para a grandeza daquela alma de eleição. E foi o próprio Superior que lhe pediu que os deixasse, pois não sentia que ele fosse homem para se
amarrar à prisão da ordem conventual. Não tinha vocação religiosa.
Que fosse! Ele era um ser destinado a criar servindo e não a servir morrendo.
Tentou ordenar-se padre. O então Bispo do Porto abanou a cabeça e negou-lhe
entrada no Seminário.
– Era demasiado velho!...
Foi para Coimbra. Aí conseguiu ordenar-se. E começou então a luminosa trajetória duma vida de eleição. Tinha 50 anos. Morreu com 69.
Dezanove anos (tão pouco!). Foi de quanto tempo dispôs para a organização da
gigantesca Obra que nos deixou!... Dezanove anos a arder de paixão por amor
do próximo e dos desgraçados… Dezanove anos de coração sangrando pelos outros…” 1
1. Orlando de Albuquerque, “Santo Padre Américo”. Jornal de Benguela (26 jul. 1956) pp. 1, 6.
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PRESENÇA | 2014
2
Não há notícia de que Alda Lara tenha escrito sobre o Padre
Telmo Ferraz. Já Orlando de Albuquerque sim. A nosso conhecimento, fê-lo por três vezes, sempre sob a forma de crónica que publicou com o título genérico de “A Casa do Tempo”, no Jornal de Benguela (Angola). Das três, apenas duas
conseguiu retomar em livro 2, encontrando-se esta, com o título “Outra vez o Padre Telmo”, até agora, dispersa:
“Padre Telmo anda embrulhado.
São as vacas, as estufas, os telheiros, as escolas, um ror de
obras que é preciso fazer andar sem ter quem as toque, a
não ser a Fé na ajuda do Senhor.
A parábola dos lírios do campo traduzida em contas do dia
a dia, das necessidades de cada momento.
Não que ele se queixe. Padre Telmo jamais se queixa. Tão
pouco se lamenta. Escolheu deliberadamente a sua cruz e
carregar com ela é a sua realização consciente.
Mas isto, pelos vistos, não impede que as vacas fiquem ao
relento e que as escolas não tenham telhado.
E Padre Telmo embrulha-se em cálculos, revira os bolsos
vazios e caminha em frente.
Cristo disse um dia aos seus discípulos:
Ide e pregai!
Se alguns se perderam pelo caminho, outros continuaram
espalhando a semente, apesar das intempéries e da aridez
dos solos.
Nem só de palavras são as pregações. Cada vez o são menos, pois orelhas moucas cada vez o são mais.
Prega melhor quem arregaça as mangas e lança mãos à
rabiça dum arado com o nome de Deus no coração, que
aqueles que o têm constantemente na boca e lhe fecham o
próprio coração.
Padre Telmo é homem para esquecer o nome de Deus nas
palavras, mas tê-lo sempre presente nos atos.
Até mesmo no prato cogulado de arroz. Aquele arroz que se
espera cada dia e não se sabe se haverá amanhã, a não ser na
confiança em Deus, que não esquece os seus filhos.
Padre Telmo preocupa-se com as vacas, que andam no capim, como que a monte. A casa de Deus que tem que estar
pronta. Os telheiros que falta cobrir. Um sem número de
coisas que falta fazer, que é preciso fazer.
Preocupa-se, mas as preocupações não são angústia e sim
incentivo para buscar novas preocupações.
É preciso andar.
Cristo disse um dia aos seus discípulos:
– Ide e pregai!
E em nome de Cristo, Padre Telmo caminha sempre confiante.
Mas é preciso que haja quem o ajude. É preciso que o óbolo da viúva (sobretudo esse) não falte. Para que Padre Telmo e outros poucos (infelizmente tão poucos), que há por
aí, possam continuar a caminhar, já que nós, perdidos na
voragem do dia a dia, estamos imobilizados pelo materialismo da vida, de ouvidos moucos à Palavra.
À Palavra que esses poucos empunham como um facho e
como um facho conduzem na escuridão dos nossos dias.” 3
O Padre Telmo Ferraz cumpre em novembro próximo 90
anos de idade. Se a vida de cada um tem muitas vidas, a vida de
alguns parece carregar no peito o incansável coração do mundo. Assim, a meus olhos, a do Padre Telmo Ferraz. Para trás,
deixou o tempo da acção – do lodo e das estrelas de Picote e
Dange-ia-Menha, do levantar casas e vidas no Culamuxito, do
auxílio na guerra, da reconstrução… –; agora, livre de amarras
secundárias, será talvez mais ainda o tempo da contemplação
e da ação de graças, porventura o tempo da sabedoria, que é o
outro nome do tempo de Deus.
2 São elas “O Lodo e as Estrelas” e “Padre Telmo”, respetivamente publicadas em Orlando de Albuquerque, A Casa do Tempo. Sá da Bandeira: Publicações Imbondeiro, 1964, pp. 95-97 [recentemente retomada por Maria Luísa Albuquerque, “Memórias”. In Henrique Manuel Pereira [Org.], Telmo Ferraz: Uma vida, tantas
vidas! Bragança: Diocese de Bragança-Miranda – Casa do Gaiato, 2013, pp. 140-142]; e em Idem, As Borboletas também Voam. Braga: APPACDM, 1996, pp. 19-20.
3 Orlando de Albuquerque, “A Casa do Tempo: Outra vez o Padre Telmo”. Jornal de Benguela (29 set. 1966), pp. 8, 6.
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FUNDAÇÃO A LORD
AS ASSOCIAÇÕES DE
APOIO A DOENTES EM
PORTUGAL
Professora Doutora Isabel Leal Barbosa
Presidente da Associação Portuguesa de Leucemias e Linfomas
As Associações de Apoio a Doentes
são organizações sem fins lucrativos,
formadas por pessoas, que têm em comum uma doença, e por sobreviventes, familiares, voluntários e profissionais de saúde. Os membros destes
grupos partilham as suas experiências
pessoais e oferecem uns aos outros
conforto emocional e apoio moral.
Aos doentes podem dar conselhos
práticos e pistas para os ajudar a lidar
com as novas situações de saúde e familiares.
Uma investigação elaborada pelo
Centro de Estudos Sociais (CES) da
Universidade de Coimbra, publicada
em 2007, revelou que as Associações
de Doentes possuem já uma expressão “bastante significativa” em Portugal, mas ainda não suscitaram uma
atenção correspondente da sociedade. A maioria destas organizações foi
criada após a Revolução de 25 de abril
de 1974 e, à data deste estudo, foram
identificadas cerca de 100 que “desempenham um papel fundamental
de apoio e complementaridade aos
cuidados de saúde em Portugal”. Estas
organizações têm recursos limitados
e apoiam-se no trabalho do voluntariado, sendo umas mais assistenciais,
outras de promoção da investigação e
outras ainda, atuando como fomentadoras de políticas de saúde.
A localização destas Associações
centra-se em Lisboa e no Porto. Menos de 15% situam-se noutros pontos
do país e são caracterizadas pela sua
pequena dimensão: 50% tem menos
de 300 associados. Do estudo do CES,
de 2007, “… estas Associações assumem muitas vezes a representação
pública das pessoas doentes e das pessoas portadoras de deficiências no domínio do espaço público, tornando-se
porta-vozes das suas reivindicações e
causas.”.
Apesar de todo o trabalho de divulgação efetuado pelas Associações, de
2007 até 2014, um novo inquérito telefónico, dirigido ao público em geral,
revelou que a informação global sobre
os objetivos e atividades destas instituições continua a ser desconhecida.
Algumas das perguntas colocadas foram: Qual a visão e trabalho das Associações? Que papel devem desempenhar? Que tipo de atividades devem
desenvolver? O que acha do comportamento atual das Associações?
Concluiu-se que a maioria dos inquiridos sabe da existência das Associações – sendo a mais conhecida
a Liga Portuguesa Contra o Cancro
–, tem conhecimento das atividades
desenvolvidas, sendo a prevenção a
mais conhecida. As ações mencionadas foram: divulgação, rastreio e apoio
psicológico e social aos doentes, entre
outras.
Neste último inquérito, a Associação
Portuguesa de Leucemias e Linfomas
é uma das organizações menos conhecida.
Justifica-se, por isso, dar a conhecer esta Associação sem fins lucrativos, constituída, em 2001, por doentes
com leucemias, linfomas, mielomas e
outras doenças oncológicas do sangue, seus familiares, profissionais de
saúde e voluntários e que é atualmente uma IPSS.
Graças à solidez de um projeto que
se fortaleceu desde a sua fundação,
ao dinamismo do grupo e à eficácia das
ações desenvolvidas, a APLL tem dado
um apoio incondicional aos doentes e
familiares, tendo escrito e reescrito a
palavra esperança, enfrentando, muitas
vezes, lutas desiguais sem esmorecer.
Persistência e esperança são dois
dos princípios que caracterizam uma
ação multifacetada perseguindo os
grandes objetivos:
· Apoiar doentes e familiares.
· Promover eventos (cumprindo o
duplo objetivo de esclarecer e sensibilizar).
· Envolver instituições afins numa
política de parcerias, criando um
maior impacto na sociedade civil.
Ao longo destes anos, as várias campanhas para a sociedade civil têm
unido a sociedade aos doentes. Dentre estas iniciativas, destaca-se, como
evento promocional com grande impacto, o “Pedalar contra o Linfoma”,
associado às comemorações do Dia
Mundial Contra o Linfoma, cuja data
é assinalada em setembro de cada ano.
A APLL tem, também, estabelecido
cooperação com Associações congéneres internacionais, de cuja interação tem resultado mais informação,
inovação, intercâmbio e discussão sobre novos tratamentos, participação e
alertas para os direitos dos doentes.
Aproveitando o sucesso da internet e
das redes sociais, a APLL tem ainda
alargado o âmbito da sua ação informativa junto da população.
Espera-se que alguns doentes sintam ânimo ou vontade para partilhar
as suas experiências de vida e se inscrevam na base de doentes da Associação. Deseja-se, ainda, que a população em geral se sinta motivada para
fazer parte desta grande família.
Lá diz o velho adágio “ a união faz a
força” e é nesse entrelaçar de esforços
que a APLL persegue o grande objetivo de congregar um maior número de
doentes e mobilizar todos aqueles que
acreditam que podem fazer a diferença.
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PRESENÇA | 2014
DA VIDA
MÉDICA
Levi Guerra
Médico Internista e Nefrologista, Professor Catedrático
Jubilado de Medicina, Prémio Nacional de Saúde 2013
Ser médico é uma profissão exigente. A preparação médica é longa e trabalhosa.
A Medicina é uma profissão que tem
algo de específico, quanto às condições pessoais exigidas para a exercer.
Aceita-se que deve ser uma vocação,
ou seja, que deverá crescer na pessoa, em geral no jovem ou na jovem,
o fascínio por ir salvar vidas, aliviar
sofrimentos, curar doenças, ao mesmo tempo que uma vontade indómita
de o conseguir que é a condição para
se vencer o longo e laborioso percurso
que terá de se enfrentar. Está implícito no que digo que tem de se ter classificações no Secundário que deem
acesso ao Curso Médico.
A Medicina é uma Ciência, e como
tal tem um património vastíssimo de
saberes que estão sempre em progresso dado que, como em qualquer ciência, o que se sabe num dia prepara o
que se vai saber no dia a seguir, pois
todo o conhecimento científico nunca
chega ao fim. Por isso é que o médico
é eternamente estudante.
O Curso Médico é laborioso, não só
por ser extensa a quantidade das matérias e a sua diversidade, como pela
natureza dos atos médicos, do sangue
frio a ter perante situações de urgência, por vezes, até à condução eficaz e
segura das decisões a tomar e à forma
como se informa o doente ou/e os seus
familiares. Durante o Curso Médico,
há as chamadas disciplinas básicas,
como a Anatomia e a Fisiologia, entre outras. Depois há a fase das Clí-
nicas, em programações progressivas
de abordagem a doentes. Hoje, e bem,
o estudante de Medicina entra cedo,
ainda antes de chegar às Clínicas, em
contacto com doentes e com pessoas a
viverem em contextos sociais variados
e difíceis, de pobreza e/ou de doença,
não sempre em ambiente hospitalar.
É um exercício valioso de natureza
psicológica para o estudante. O estudante de Medicina gosta logo de se
ver envolvido a poder prestar algum
auxílio a pessoas, e isso faz-lhe bem. E
porquê? Exercita-o a perceber, nessa
realidade social em que entra, o mistério da dor de pessoas, a tragédia de
existências incuráveis e penosas, o
enfrentar da morte. Também entra em
contacto com as medidas e soluções
possíveis e tem um papel importante
nesse socorro, quando tem uma adequada abordagem relacional com as
pessoas doentes, carentes, desesperadas, solitárias, viciadas, que sei? Leva
isso a quê, no jovem estudante de Medicina?
Leva-o a preparar uma virtude que
tem de estar sempre presente na atuação do médico que é ter compaixão.
Uma consulta médica é um ato nobre
e exigente. A nobreza está no médico
ter diante de si alguém doente, uma
pessoa queixosa, mais ou menos ansiosa. Essa pessoa tem de ser acolhida
com uma afabilidade digna e educada, convidada a sentar-se, inquirida
em termos respeitosos sobre as suas
queixas e deve ser escutada atentamente, sempre a olhá-la, sem deixar
de tomar notas. Ao mesmo tempo, o
médico, ao longo desse tempo, desenvolve um forte esforço intelectual
para perceber o que se passa. Depois
de a ouvir na inquirição apropriada dos sintomas gerais aos específicos, consoante o aparelho ou o órgão
doente, vem o tempo da observação
clínica, a ser feita com delicadeza e
57
FUNDAÇÃO A LORD
respeito. Percorrerá, então, o corpo
do paciente segundo uma sistematização adequada de processos: observação, auscultação, palpação, percussão,
manobras, colheita de valores, uso de
meios instrumentais, etc., etc., etc..
Naturalmente, depois, vêm os exames
subsidiários e complementares a levar
em conta, se eventualmente já feitos.
No fim, o médico tem de desenvolver
um juízo diagnóstico e atuar em conformidade.
Ora, por isto, uma consulta médica
é a realização duma ação de investigação de índole científica. É investigação enquanto procura esclarecer
de que doença se trata, qual a causa,
qual a sua extensão ou gravidade, e
que prescrever ou que fazer. Assim,
do diagnóstico ao tratamento, quantos
conhecimentos jogados em confronto,
quantas dúvidas percorridas, quanta
sensatez a presidir nas atitudes a tomar ou na medicação a prescrever. E
é óbvio que tudo isso se movimenta
na base de conhecimentos científicos
adquiridos. Na prática médica tem-se
consciência de que cada doente, face
a qualquer doença, tem muito de peculiar e próprio, dependendo de muitos fatores, quer da sua constituição
genética quer das morbilidades associadas que possui. Daí o dizer-se que
há doentes, não doenças, o que é um
aforismo que o médico sempre deve
manter vivo no seu espírito.
Aqui cabe dizer ainda que no exercício da Medicina é muito importante a
prática, Medecin is case related, dizem
os anglo-saxões. Ver muitos doentes,
praticar muitos atos médicos de consulta, de seguimento de doentes, de
intervenções cirúrgicas – cada cirurgião tem de ter realizado um número
mínimo de operações antes de possuir
a especialidade –, também a prática
intensa de observações instrumentais,
as mais diversas.
Há especialidades que são tecnicamente mais exigentes que outras. Porém, a formação clínica de base deve
ser uma exigência de todas elas. E isso
compreende-se, pois que o nosso organismo está todo interligado e há
uma permanente comunicação entre
todos os órgãos. Todo o especialista tem de ser médico, no sentido de
saber perceber o que se possa estar
a passar no resto do organismo ante
qualquer alteração evidente do órgão
ou sistema de que a sua especialidade
cuide.
Depois, com o avançar da idade, o
médico vai-se sentindo mais realizado
na medida em que vê a sua ação alargar-se a cada vez mais doentes. E tem
prazer em partilhar o seu saber com
os mais novos.
Também reconhece como na memória do tempo se registam esquecidos
êxitos e insucessos, vitórias e derrotas… que a morte é sempre a última
vencedora! Ah! Mas acompanhar alguém nos seus últimos momentos é
sempre um ato de transcendente humanidade de que o médico nunca se
devia alhear. Nesse momento supremo do passamento, a presença do médico cria no moribundo uma enorme e
preciosa paz! E se a morte ocorre em
presença de familiares, essa presença
é um conforto insubstituível e valioso.
Aliás, como dizia um grande Mestre
da Medicina, o ato médico é de tal especificidade ao cuidar da vida humana que não é pagável. Ao traduzi-lo em
valor monetário, justo e nunca exorbitante, ou se realizado em instituições
de saúde onde o médico recebe um salário, o que o médico recebe deve ser
sempre olhado como um estipêndio
simbólico. Dar vida… não tem preço!
E depois ainda, virá o tempo para
além da reforma do médico… Esse facto arrasta esquecimentos inevitáveis e
para os quais o médico com o avançar
da idade se deve preparar.
Por fim, dirá o médico, no encerramento da sua atividade: vivi para dar
vida ao meu semelhante. Agradeço
a Deus a vida que tive como médico.
Cumpri a vida! Como a flor do estio…
no deambular do outono!
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PRESENÇA | 2014
TERNURA ESCONDIDA
Texto de Maria Florinda Almeida
Médica Oftalmologista
Ilustrações de Marília Almeida
Professora do Ensino Básico
O clã familiar era grande. Naquele
tempo, primeiras décadas do século
XX ainda não se colocava a precaução nem, tão pouco, a preocupação do
número de filhos que viriam alegrar e
realizar a vida de um casal.
Cada criança gerada era sempre
uma bênção Divina, mesmo em famílias pouco abastadas ou até bem desfavorecidas socialmente. Uma vida
que acordava para o mundo era uma
riqueza, uma felicidade! Deus, no céu,
sempre cuidaria do novo ser, ainda
que aos progenitores, por vezes, a coragem estremecesse e os assustasse
enfrentar mais responsabilidade e trabalhos acrescidos.
Recorde-se, por exemplo, do Salmo
37 (36), 5, “… Confia ao Senhor o teu
destino, espera n’Ele que Ele atuará…” ou do Salmo 23 (22), 1 e 6, “O Senhor é meu pastor, nada me falta...”,
“A Sua graça e a bondade hão-de
acompanhar-me todos os dias da minha vida...” . Versículos como estes
rumavam a sua vida. Deus era a sua
força e o seu descanso. Cada gravidez era acolhida como decreto divino
emoldurado de júbilo e amor.
O casal, dois jovens deliciosamente
enamorados, contraíram matrimónio
e, muito felizes, deram início a um
futuro comum com a doce e ardente
paixão que lhes enchia os corações.
Cada bebé que o céu lhes concedia
era um acréscimo a uma riqueza imaterial que aumentava a sua felicidade
conjugal. Juntos, com o decorrer dos
anos, tiveram sete filhos que encheram a sua casa com risos, traquinices
e também com lágrimas. Por duas vezes, a vontade Divina determinou o
fim precoce a dois filhinhos. Só o tempo foi apagando a dor, deixando uma
doce saudade. A vida, contudo, avançou, a Fé era forte suporte à convicção
de que, se a perda era dura, o Paraíso
conceder-lhes-ia, mais tarde, a suprema felicidade e esta seria eterna.
Apesar dos desaires sofridos, cinco
lindas crianças desabrocharam felizes, brincando livres, descontraídas,
confiantes e, para animar ainda mais,
a eles se juntavam nas brincadeiras
crianças da vizinhança avivando, se
tal era possível, a alegria daquele lar.
O tempo, porém, não era só para folias, pois os estudos eram fundamentais na preparação para a vida. O Pai,
rigoroso, além de disciplina e responsabilidade na formação do caráter dos
seus filhos, dava o relevo indispensável ao desenvolvimento intelectual e,
de entre as atividades escolares, incluía
a arte musical. Empenhou-se, assim,
em incutir-lhes o gosto pela música e a
todos ensinou, com denodo e orgulho,
a linguagem das pautas com as suas
claves de sol e de fá, tempos, bemóis e
sustenidos. Enfim, tudo o que lhes permitisse, através da música, elevar o seu
espírito e dominar o instrumento musical que cada um mais apreciasse.
A Mãe, felicíssima com a sua prole,
até esquecia os momentos conturbados da época, politicamente tão agitada, que então se vivia – da monarquia à república, uma primeira guerra
mundial a que se seguiu uma segunda.
Os tempos eram difíceis, o futuro imprevisível. Porém, sempre de Fé inabalável porque o Senhor conforme os
males assim daria o remédio, de quando em quando, olhando embevecida
para os cinco filhos que, de sete Deus
lhe deixara, uma delicada imagem se
desenhava na sua mente. Cinco filhos, cinco graças, um lindo ramo de
quatro Amores-perfeitos (seus filhos
homens), e uma bela Margarida (sua
única filha). Que bela fantasia!... Até
parecia desprender um suave perfume que a deixava inebriada.
Rodopiando como o vento, o tem-
po, numa mudança constante, deixou
intacto aquele ramo tão colorido por
longos e longos anos. À medida que
os cabelos daqueles pais se salpicavam de fios prateados e nas suas faces
pequenas rugas se iam vincando, os
Amores-perfeitos e a Margarida cresciam, individualizando as suas personalidades como se a uniformidade da
sua cor original, a pouco e pouco, do
arco-íris buscasse um colorido diferente para cada Amor-perfeito. Apenas a Margarida, flor singela, manteve
a sua brancura com um pequeno coração dourado, muito embora de menina a mulher também a sua personalidade se tivesse modificado. Tornou-se
uma Margarida afirmativa, um pouco
suscetível e um tanto autoritária.
Esta última característica, oscilando entre autoridade e teimosia, era
comum a todos os elementos florais
daquele ramo maternal.
Estranhamente ou não, a Mãe, de
temperamento forte, escrupuloso,
capaz de impor respeito sempre que
necessário fosse e a quem quer que
fosse, sem dúvida de coração amoroso
para com todos os seus filhos, amolecia facilmente perante as desobediências e, mais tarde, estroinices dos seus
quatro Amores-perfeitos, mas não da
sua Margarida.
Margarida deveria ser como um prolongamento da Mãe, sua continuação,
e agir maternal e complacentemente
em relação aos Amores-perfeitos. Era
uma exigência incontornável, inteiramente compreensível para a senhora
e dona daquele ramalhete de flores de
vivas cores.
A Mãe apoiava-se na sua única Margarida a quem atribuía o dever de agir,
como ela, na sua função maternal para
com os mimados Amores-perfeitos.
Margarida reagia, ora procurando fugir àquela obrigação, para ela injusta,
FUNDAÇÃO A LORD
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PRESENÇA | 2014
porque também queria ser mimada,
ora enchendo-se de mágoa. Contrariada, contudo, acabava por satisfazer o firme querer de sua Mãe.
Nas manifestações de carinho,
também existiam diferenças. A Mãe
preferia receber a dar e era bem parcimoniosa nas demonstrações do
amor que guardava ciosamente no
seu coração. Os filhos, espertos, sabiam contornar a situação. Por um
lado, com beijos e abraços, que sentidos ou não, conseguiam perdão para
as suas irreverências, por outro lado,
com estratagemas bem concebidos,
alcançavam o que queriam, fosse
dinheiro, saídas noturnas, usando
atrevidamente o carro sem o Pai ter
conhecimento. A Mãe lá os encobria.
Depois, nervosa, ficava acordada,
rezando aos santos e anjos para que
trouxessem de volta, sãos e salvos, os
seus Amores-perfeitos antes que o
Pai desse conta e estoirasse uma trovoada caseira.
O Pai não autorizava à toa o uso
do carro e muito menos para saídas
noturnas. Sabe-se lá para que farras e
com que consequências! Mas a tentação do fruto proibido era forte de mais
para os jovens cheios de vigor e para
quem a vida ainda não mostrara a sua
dureza. Então, às escondidas, na calada da noite, os Amores mais imperfeitos do que perfeitos, silenciosamente, empurravam o carro com o motor
desligado, luzes apagadas e já fora dos
portões, em cumplicidade com amigos, partiam para a paródia até se fartarem, com um sentimento de vitória,
como se desobedecer ao Pai e afligir
a Mãe fosse uma conquista de invictos guerreiros. A Mãe, como sempre,
permanecia acordada, girando de um
lado para o outro, misturando orações
e resmungos, até os filhos pisarem de
novo a soleira da porta. A filha, por
sua vez, irritada com o atrevimento
dos irmãos e o consentimento, embora contrariado, da Mãe, situações que
se repetiam amiúde e que também lhe
estragavam o sono, maquinou uma
forma de impedir aquele abuso, resultado de um mimo excessivo de que ela
61
FUNDAÇÃO A LORD
tão pouco usufruía.
Certa vez, a linda Margarida, que
até sabia conduzir o carro e tinha
aprendido alguma coisa sobre as entranhas do automóvel, resolveu fazer uma partidinha aos manos e seus
amigalhaços. Uma noite, de mansinho, já com a casa adormecida, por
porta ou janela, os Amores-perfeitos
chegaram ao carro, destravaram-no
e no escuro da noite empurraram-no
para longe da casa, o suficiente para
o motor não acordar ninguém. Impantes saltaram para o seu interior,
rodaram a ignição, mas… emudeceram de espanto... o motor do carro
não tugiu nem mugiu. Que deceção!
Tanto esforço e tanta esperteza para
nada! A farra dessa noite foi empurrar de novo o carro de volta a casa,
em silêncio forçado, com os jovens
de queixo caído pelo imprevisto e
pelo receio de terem avariado alguma coisa. O que diria e faria o Pai?
Em casa, Margarida ria por dentro,
enquanto dizia à Mãe, mal os irmãos
se esgueiraram de casa:
“Hoje pode ir dormir descansada. Os
seus ricos filhinhos, não tarda muito,
estão em casa”
“Que estás para aí a dizer? Como sabes?”
(Com um sorriso maroto, Margarida agitou nas mãos uma peça que ela
mesma tinha retirado do carro.)
Mais tarde, os irmãos deram conta
do sucedido, não gostaram nada da
partida e, por isso, não foi fácil repetir a dose.
As farras dos Amores-perfeitos, os
medos e rezas da Mãe e o aborrecimento da única Margarida daquele
“bouquet” tão amoroso e colorido
continuaram até que a responsabilidade trazida pelos anos acalmou o
ardor da juventude.
O tempo, sem parança, foi correndo e cada flor daquele ramalhete,
Amor-perfeito ou Margarida, seguiu
o seu caminho construindo cada um
a sua novela pessoal. Para uns, a vida
foi mais fácil, materialmente mais
proveitosa, para outros, não. Uns foram presenteados com filhos, arranjando, assim, um charmoso conjunto
de netos a seus Pais, mas não a Mar-
garida. A sua saúde, continuamente,
se foi ressentindo com o correr dos
anos. Interessante, porém, foi ter-se
mantido o sentimento de sua Mãe,
sempre complacente para com os filhos homens e exigente com a filha,
apesar da sua fragilidade de mulher
e da sua pouca saúde. Em qualquer
ocasião a Margarida deveria apoiar
qualquer dos Amores-perfeitos com
obrigação de mãe.
Os temperamentos também diferiam muito entre Mãe e filha, tal como
o preto do branco ou o dia da noite. As
manifestações de carinho maternas
mantiveram-se escassas, era difícil
deixá-las transparecer.
A vida continuou modificando-se
quase sem se dar conta. Tudo e todos
foram amadurecendo, envelhecen-
62
do. O Pai, o chefe do clã familiar, foi
o primeiro a despedir-se deste mundo,
atravessando a estrada da margem de
cá para a outra margem ao encontro
de Deus.
Um dia, aproximou-se a altura da
Mãe, já bem velhinha, cansada das
lutas e labutas desta vida, dizer adeus
ao seu maravilhoso e amado ramo de
quatro Amores-perfeitos e, a contrastar entre eles, uma Margarida de pétalas branquinhas e macias que nem
veludo, com um botão dourado no
centro.
No seu leito, emagrecida e débil,
respirando lentamente, lá estava
aquela Mãe, outrora saudável, vigorosa, cheia de autoridade, em que a
PRESENÇA | 2014
meiguice mais se escondia do que
se mostrava, rodeada pela família,
onde se destacavam os filhos (seus
Amores-perfeitos), a filha, sua única
Margarida, e uma nora muito amiga.
Pesavam pouco, naquela altura, as
diferenças marcantes entre todos ao
longo da vida.
Amar nem sempre é sinónimo de
dar a conhecer o amor com abraços e
beijos. O sentimento existe e sem se
fazer ver é sentido, é compreendido.
Tal foi o jeito daquela Mãe no lidar
com todos os que pôs no mundo. Todos a entenderam. Por isso, era por
todos amada.
Naquele ambiente onde a alegria
não tinha espaço, a dado momento,
com as forças fugindo, aquela Mãe,
com voz sumida mas clara, pediu:
“Ajeitem-me as almofadas”. Todos
acorreram pressurosamente a fim de
satisfazer o pedido de ajuda, especialmente a filha, um pouco mais próxima. A Mãe, porém, com um pequeno
gesto imperioso, fê-la parar e olhando-a com doçura, disse: “Tu, não. Tu
não podes”.
Apontou para a nora amiga dizendo: “... ela ajuda-me”. “Claro, Mãe”
(tratava assim a sogra).
Sentou-se a seu lado, colocou as almofadas a preceito, puxou o corpo da
sogra, leve como uma pena, dizendo:
“Encoste-se ao meu peito e descanse.
Fica mais confortável”.
A Mãe assim fez. Repousou o magro
corpo nos braços da nora, esboçou
um sorriso, olhou todos com saudade antecipada, fixando, então, a sua
única filha, a sua Margarida e exalou
o último sopro de vida, numa eterna
despedida.
Tantos anos passados, tantos acontecimentos vividos, mas no último
minuto da sua longa vivência, aquela
Mãe foi capaz, talvez num esforço supremo, de abrir o seu coração e deixar
que a ternura tão teimosamente escondida se manifestasse, mostrando
a sua preocupação pela pouca saúde
da sua filha e, assim, a sua querida e
única Margarida recebeu um belo e
inesquecível presente de amor.
FUNDAÇÃO A LORD
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O VALOR DO
PATRIMÓNIO
RELIGIOSO
Manuela Pinto da Costa
Museóloga / Conservadora
PATRIMÓNIO. Herança. Bens não adquiridos por compra
ou negócio direto, mas recebido dos ancestrais que, por sua
vez, também os obtiveram de alguém. Foram mantidos nas
famílias, nas instituições por motivos de acumulações de riqueza, mas muito principalmente, como forma de promover
uma identidade cultural. Por vezes, até o seu valor intrínseco
ou monetário é insignificante; contém aquilo que, frequentemente, ouvimos designar como valor “afetivo”. Isto, mais não
representa do que a tradição familiar, local, regional ou nacional, a qual nos permite sentir uma união, como “qualquer
coisa” capaz de nos identificar culturalmente.
Ao longo de milénios, a religiosidade dos povos permitiu, pela sua preservação acidental ou não, que as tradições,
costumes, artes fossem atravessando civilizações e territórios, até chegarem aos nossos tempos. E, com isso, nos admira e deslumbra!
Na grande maioria das vezes, foram os testemunhos religiosos – artefactos, textos, músicas – que chegaram até ao
século XXI. Quase por milagre! Nenhum ser humano cria
arte para guardar para o futuro.
A sua permanência no tempo resulta das circunstâncias
proporcionadas. É neste capítulo que surge a preservação
e com ela a transmissão cultural e de identidade.
Contudo, verifica-se que o avanço milenar, civilizacional
dos povos parece não existir, pois a destruição de patrimónios da humanidade, por razões fúteis e incompreensíveis,
empobrece mais em cada dia a Humanidade, detentora e
fruídora dele.
Muito se vem falando de Património. “É uma palavra que
está na moda dos profissionais e dos aficionados da Cultura, dos empresários que funcionam e lucram em seu nome,
dos técnicos de Planeamento e até dos políticos. E com outro sotaque, ela está também presente e, certamente, cada
vez mais, nos intentos e nas intervenções das associações
que se interessam pela sua defesa e pela salvaguarda de
valores com assinalável significado estético ou cultural de
uma sociedade ou preservação da qualidade de vida.” 1
A religiosidade dos povos e culto das divindades foram
sempre geradoras de arte em todas as vertentes, pois “para
Deus sempre é melhor”, e de um modo muito particular e
bem próximo de nós, o Cristianismo não fugiu a esta regra.
Com exceção dos três primeiros séculos, em que a Igreja na sua criptomilitância procurava passar despercebida,
após o Édito de Milão (313 d. C.), explodiu em manifestações artísticas, rivalizando e ultrapassando as do próprio
poder real.
Os melhores artistas de todos os tempos criaram Arte,
enobreceram espaços de culto, dando a Deus o que tinham
de melhor e de mais belo.
Durante séculos, foi-se mantendo e preservando, como
por acaso, um património rico em arquitetura, imaginária,
pintura e joalharia. A paramentaria, devido à sua natural
fragilidade, ao esquecimento e aos maus tratos, foi menos
conservada. Apesar disso, alguma teimou em sobreviver,
para dar, em nossos dias, testemunho de resistência, de
identidade e valor patrimonial.
Portugal, talvez devido à sua crónica falta de recursos
monetários, conjugada com uma certa indiferença ou ignorância cultural, com exceção de algum património edificado, pouca atenção dedicou à preservação da sua herança
cultural e patrimonial. E se alguma coisa ainda tem sido
efetuada nesse sentido, deve-se, sobretudo, à ação da Igreja
Católica e a muitas das suas instituições, que, nos últimos
tempos, lhe têm dedicado a atenção possível, através da
promoção dos inventários diocesanos.
É igualmente de louvar e referenciar a atitude de algumas instituições laicas ou religiosas que, compreendendo
o valor da identidade cultural para uma comunidade ou
sociedade, desenvolvem ações demonstrativas desse valor,
através de patrocínios, financiamentos para estudo, divulgação e exposição desse Património.
Dentro desse âmbito, há que salientar as atividades da
Fundação A LORD, a qual, durante cerca de dois meses,
permitiu e apoiou, no seu espaço físico, a exposição de um
espólio religioso existente na Paróquia de Lordelo.
O Património Religioso exposto abrangeu diversas áreas,
desde a Imaginária, passando pela Joalharia / Prataria, Documentação e Paramentaria.
Tendo sido uma experiência modelar e pioneira, desejamos que esta iniciativa se volte a repetir de maneira a divulgar a beleza das peças culturais para melhor compreender o seu valor para a identidade de uma comunidade.
1 ALMEIDA, Carlos Alberto FERREIRA de — Património: Riegl e hoje. Revista da Faculdade Letras da Universidade do Porto. História, série II, vol. 10, 1993,
pgs. 407-416.
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PRESENÇA | 2014
ROTA DO ROMÂNICO
PALCOS DO ROMÂNICO
Rosário Correia Machado
Diretora da Rota do Românico
A Rota do Românico, que agrega 12 municípios – Amarante,
Baião, Castelo de Paiva, Celorico de Basto, Cinfães, Felgueiras, Lousada, Marco de Canaveses, Paços de Ferreira, Paredes,
Penafiel e Resende –, tem representado, para o território dos
vales do Sousa, do Douro e do Tâmega um grande desafio,
enquanto projeto de desenvolvimento regional, aproveitando
um importante património constituído por 58 monumentos
românicos.
Este projeto visa, assim, constituir-se como uma estratégia
dinamizadora para uma nova economia social regional, designadamente nas áreas do turismo, da conservação e salvaguarda do património, da produção de conhecimento científico, da
educação patrimonial e da cultura.
Implementar um programa cultural que contribuísse para
o desenvolvimento do território da Rota do Românico, potencializando os objetivos gerais e a missão deste projeto,
assumiu-se como propósito último do programa a que demos
o nome de “Palcos do Românico” e que desenvolvemos ao
longo de 2014. Os monumentos da Rota do Românico foram
o palco principal destes eventos, sem esquecer os excelentes
equipamentos culturais do território.
Com o “Palcos do Românico” pretendemos valorizar, de
forma sustentada, o nosso património imaterial – contos, lendas, músicas, danças –, dando-lhe uma nova vitalidade e significado. Este extraordinário recurso, memória e identidade
mais profunda da nossa comunidade, constituiu a matéria-prima sobre a qual pretendíamos intervir e a partir da qual
produzimos novos bens culturais e criativos, com relevante
valor social, cultural e económico.
Por outro lado, a utilização do património edificado, transformando-o em “palco” de criações artísticas, permitiu uma
valorização do mesmo, aumentando a sua visibilidade e o conhecimento das comunidades e visitantes.
A comunidade do território da Rota do Românico foi, também, um elemento fulcral deste processo, “Palcos do Românico”. Num programa que assentou, fundamentalmente, em
novas criações artísticas, ligámos profissionais a amadores,
residentes a não residentes, nacionais a locais. Pelo seu envolvimento intrínseco e pela sua participação ativa nesta construção coletiva, a comunidade local mereceu e merece um
lugar de destaque neste “palco”.
FUNDAÇÃO A LORD
O “Palcos do Românico” pôs, assim, em evidência o papel
deste território na nova produção cultural e exprimiu um modelo que se diferencia da abordagem convencional, pela utilização de valores e tradições locais ao serviço da criatividade
contemporânea.
As expectativas espelharam-se nos resultados. Percorremos os 12 municípios da Rota do Românico com mais de 200
eventos, entre teatro, música, dança, exposições, oficinas, etc..
Envolvemos cerca de 2 000 pessoas da comunidade no trabalho com os profissionais, naquilo que era um dos principais
objetivos do projeto. Contámos com a participação de mais
de 50 agentes culturais profissionais nacionais e 12 da região.
E os 20 000 espectadores que nos confiaram a sua presença
nas diferentes atividades da programação são um motivo de
orgulho para nós.
A Torre dos Alcoforados, a comunidade e a Fundação
A LORD no “Palcos do Românico”
A Torre dos Alcoforados, monumento da Rota do Românico
situado em Lordelo, em Paredes, foi o elemento inspirador da
peça de teatro A Torre dos Alcoforados.
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Concebida pela Astro Fingido – companhia com ampla
experiência no desenvolvimento de parcerias criativas com
a comunidade lordelense –, esta peça, baseada em histórias
regionais e contos da tradição oral, foi um exemplo paradigmático do envolvimento dos agentes locais num projeto artístico desenvolvido por profissionais, e para o qual contámos
com o apoio da Fundação A LORD que nos cedeu a sua “casa”,
convertendo-a no palco privilegiado deste espetáculo durante quatro dias.
Cumprindo os objetivos a que nos propúnhamos, em palco
juntámos cerca de duas dezenas de atores amadores do concelho de Paredes, numa produção que contou, ainda, com a
participação especial da Orquestra da Fundação A LORD. Na
plateia, uma “casa cheia” orgulhosa dos seus artistas.
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PRESENÇA | 2014
O ADVOGADO
PEDRA ANGULAR NA
ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA
Sílvia Rebanda
Advogada
“… demasiadamente orgulhoso para ter
protetores, demasiadamente obscuro para
ter protegidos, sem escravo e sem dono…”
Henrion de Pensey
A sociedade humana é tocada e por isso
caracterizada pela inquietude das relações, pelo conflito sempre latente, pelo
perfilhar de posições e opiniões. Desde as
primeiras cosmogonias, desde que o logos
conquistou os meandros incontornáveis
do Mito, que as palavras mudança e devir
se encontram, inventando soluções, criando conflitos e acordos; assim, o plasma o
pensamento de Heráclito: “… a vida é um
rio que vai correndo, sempre diferente,
sempre igual …”.
Vemo-nos e revemo-nos num mundo
de diferenças que nos afastam, mas que
nos identificam, unem e tornam iguais.
A sociedade é na sua génese conflitual,
mas é nos arquétipos, qual Teoria da Caverna, que todos, neste mundo de paixões, nos referenciamos.
Por isso, antes de subsumirmos os
factos da vida ao Direito, vamos antes subsumi-los à Justiça. Não à nossa,
ainda com as impurezas da falaciosa
existência, mas sim à Justiça enquanto primado do Direito Natural. É que a
verdadeira fonte encontra-se no a priori jurídico, que é a Lei Moral Natural.
Aqui, realmente, residem os princípios:
“dar a cada um o que é seu”, “não faças
aos outros o que não queres que te façam a ti”, entre muitos outros.
É aqui que vai beber o Direito Natural
e é neste que sempre se inspirou qualquer ordem jurídica, por mais incipiente que seja, ou até por mais injusta que
seja a sociedade à qual se refere.
É, pois, neste universo de razões
contraditórias que aparece, desde que
o mundo assim o é pois houve alguém
para assim o chamar, uma vocação de
defesa, de auxílio, de ajuda, uma missão
de socorro.
“… o primeiro homem a defender o seu
semelhante contra a injustiça, a violência e a fraude, com as armas da razão e
da palavra, terá sido também o primeiro Advogado.” (Anselme Desmarest)
O Ad vocatus é aquele que é chamado
a ajudar sem mais, sem reservas. É este
o carácter nobre da missão do advogado. Olhando a Justiça com a Verdade no
horizonte e no coração, desfralda a razão, a ciência e a palavra e mergulha no
mar de paixões e de conflitos; é o paladino de todo aquele a que um qualquer
direito assista.
O Advogado é diante dos demais jurídicos mesteres “… o representante e interveniente qualificado nesses conflitos
de direitos e interesses, é o busílis da boa
administração da Justiça.”.
Poesia
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PRESENÇA | 2014
Poesia
Poemas…
Conhecimento do outro…
Pedaços de afeto e imaginação…
Frações da realidade…
Donzília Martins
Professora do Ensino Básico
Daqui para o céu
Lá em casa, nesta Páscoa, mais uma vez ouvi o teu cantar.
Era tal a melodia, a serenidade e paz
Que duas lágrimas furtivas caíram do meu olhar!
E nem sequer de mais palavras fui capaz.
Ergui o teu castelo, não o deixei ruir,
Areei as paredes, limpei-lhes o pó,
Por todo o lugar do lar voou o meu sentir,
Colhendo em cada canto, teu sorriso, avó.
Na casa, agora, não há fumo nem fogueira
Tudo se extinguiu e virou saudade
Apenas deixei branca a pedra da lareira
Para, sentada no escano, seres, outra vez verdade.
Aquele teu condado é agora o meu,
O teu sonho em mim também se cumpriu
Minha prece envio, daqui para o céu,
Meu colo e lágrimas todas para ti.
Caía a noite e sob a luz da lua
Contavas histórias. Eu era a princesa!
O silêncio e a sombra dormiam na rua,
Cintilavam estrelas em cima da mesa.
Teus olhos cansados de tanta fadiga
Cerziam rendados p`ra noiva de véu.
Eu, adolescente! Tu, a voz! A mão amiga
Te aperto ao meu peito, daqui para o céu.
Um poema para ti
Grande e culta Fundação!
Contigo, muitos valores já vivi
Nas artes, literatura, poesia e até no coração.
Vives Lordelo, teu chão de luz cristalina
Cantas a vida com saberes de muita cor
Do teu ventre de energia és sempre menina
Sarça-ardente, toque quente e doce amor.
Quisera como tu ser mar, ser céu,
Ter sempre azul no mais puro horizonte
Mas, para te cantar, poema fosse eu
Pois tu és caminho, “Presença” e fonte.
Uma balada de amor
Um dia caminhando no passado
Passei pelo amor. Peguei-o em minhas mãos
Embalei-o no meu colo de criança
E fui sonho e mar e lua cheia de esperança.
Cantei as pedras, acordei as fragas das altas montanhas,
Subi ao monte mais alto e, de mão na testa, olhei o horizonte!
Via-se o mar! Um mundo fervilhante onde o sol tremia,
Muita gente com dor e lágrimas que para o sonho corria
Sem tempo de olhar as flores à beira do caminho.
Os pássaros que viviam junto a mim cantavam noite e dia.
Os mais tristes e sem penas emigravam perdendo asas na tropelia
Com que todos corriam apressados.
– Mas é esse o teu caminho – disse o amor.
Desci então ao vale e, entre fraguedos
Comecei a pensar se o meu sonho teria assim tanto valor
Para deixar os pássaros, o lar, as histórias e os segredos
Ou se naquele chão de água num lago doce eu iria estagnar.
Não. Disse eu ao amor. A vida é luta. Deixa-me sonhar
E, peguei o sonho, o sono, os cansaços e fiz meu caminhar.
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FUNDAÇÃO A LORD
Levi Guerra
Médico Internista e Nefrologista, Professor Catedrático Jubilado de
Medicina, Prémio Nacional de Saúde 2013
Sobre o mar…
O tempo
Navego ainda, depois de muito navegar…
Sigo no balanço das ondas que me embalam
E acaricio a espuma que o vento me traz ao rosto,
Branqueando-o, humedecendo-o, refrescando-o…
Que és tempo?
O permanente existir…
Que é, mas sempre deixa de ser…
No teu rasto fica a história…
Ante ti, o nada…
És o ilusionista do viver
Que enganas e entreténs,
Sem mesmo tal parecer…
Ah! Não me canso de abrir meus braços,
Todas as manhãs, à alba que carmina o horizonte,
Nem dispenso meu despertar aos fulvos crepúsculos,
Visões de luz e cor que me dão esperança de vida.
Navego ainda, depois de muito navegar…
Mas não desejo ao porto de abrigo chegar…
Ah! Tu, Mar… depois de tantas tempestades e acalmias,
Guardas para mim um talismã que quero encontrar.
Brincas com a inteligência,
Que desnorteias com engodos…
Também com vãs promessas…
Com a ilusão de muitos sonhos…
Não te quero no que me lembras,
Mas agradeço-te o que me fazes esquecer…
Médico, ainda…
Médico ainda… veja-se lá!
Atrás de mim, no tempo,
A multidão dos que consultei…
Os quantos tratei e curei,
Os muitos que já morreram…
Hoje, continuo a consultar,
Porque sei que o faço bem,
Que ouço queixas atentamente,
Que com cuidado observo,
Que diagnostico e medico,
Apenas no que é ao meu alcance…
Ah! E o que não está?...
Naturalmente pró hospital
Os dirijo, recomendados…
Sabe-se porque assim faço?
Porque continuar a fazer
O que sempre na vida fiz,
É forma recomendada
De prolongar a própria Vida,
Não de querer mais ter…
Antes de levar mais longe o viver…
Agora! Sê meu amigo… deixa-me viver!
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PRESENÇA | 2014
Odete Mendes
Professora do Ensino Secundário
Bucólica
Pombo Real
A vida é feita de nadas
De grandes serras paradas
À espera de movimento;
De searas onduladas
Pelo vento;
Pombo Real
Onde vais?
Leva-me contigo
Ajuda-me a fugir da minha gaiola dourada
Que perdeu o brilho
Que perdeu a cor.
Ajuda-me a voar
Em direção ao sol
Em direção ao azul.
De casas de moradia
Caídas e com sinais
De ninhos que outrora havia
Nos beirais;
De poeira;
De sombra de uma figueira;
De ver esta maravilha:
Meu Pai erguer uma videira
Como uma mãe que faz a trança à filha.
Miguel Torga, S. Martinho de Anta, 30 de abril de 1937
Seguindo Torga
A vida é feita de nadas
Pequenas coisas olhadas
Dentro e fora de nós.
A vida é momento a sós
Voando ao sabor do vento
E vive do pensamento
De simples coisas sentidas
Profundamente vividas
Que vão nas asas do tempo
Mas que nos fazem ser nós.
Viagem
Tinha cara de menino
E diziam que era jovem.
Fidalgo desconhecido,
Em momento de perigo
Foi lanterna intermitente
Vinda a avivar a gente,
O grupo, o homem.
Com a gadanha da morte
Convocou forças esquecidas,
Varapaus, foices, mãos nuas,
Porque só vontade é vitória,
Naquele planalto distante
De sorte longínqua e só.
Depois,
De todo desapareceu
Mas ficou no coração
De uns, nunca de todos.
E quem detém a razão?
O que vale a guerra?
O que vale uma nação?
O que vale a morte?
E o triunfo?
Hoje veneram-no,
Vestem-lhe roupas delicadas
Mudadas segundo a estação.
Quem se lembra da nação?
Da honra? Do sacrifício?
Dos valores, o que nos fica?
Hoje resta a tradição,
Folclore da vida.
Rua da Cooperativa, 27
4580-809 Lordelo Paredes
TEL.: 224 447 357
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