Palavra do Grão-Mestre
Transcrição
Palavra do Grão-Mestre
Expediente Grande Oriente do Distrito Federal, federado ao Grande Oriente do Brasil Grão-Mestre Jafé Torres Grão-Mestre Adjunto Lucas Francisco Galdeano Grandes secretários Alamir Soares Ferreira Cristiano Lodder Fernando Alberto Santoro Autran Junior Fernando S. de Silva Britto Flávio Amauri Fusco Humberto Pereira de Abreu João de Carvalho Santos Laélio L. de Souza Luiz Arino da Silva Luiz Hamilton da Silva Mauro Magalhães Aguiar Sylvio Santinoni Reginaldo Pereira de Araújo Editor-chefe Gilberto Simonassi Corbacho Editor-executivo e jornalista responsável Joaquim Nogales Vasconcelos MTB – 897/05/141/DF Conselho editorial Félix Fischer José de Jesus Filho Lecio Resende da Silva Lucas Galdeano Projeto gráfico, diagramação e capa Renata Guimarães Leitão Revisão gramatical Edelweiss de Morais Mafra Colaboradores Johaben Camargo Lucas Galdeano Laélio Ladeira Walber Coutinho Pinheiro William Almeida de Carvalho Redação GODF – Grande Oriente do Distrito Federal SQN 415 – Área para templos 70878-000 Brasília/DF Tels.: (61) 3340-2427 e 3340-2664 Fax: (61) 3340-1828 www.godf.org.br [email protected] Impressão Mundi Gráfica Tiragem 10.000 exemplares A Ao Zenyte não se responsabiliza por opiniões em artigos assinados. As matérias publicadas podem ser reproduzidas parcial ou totalmente, sem consulta prévia, desde que indicada a fonte. Palavra do Grão-Mestre A Maçonaria está em festa! O Grande Oriente do Distrito Federal chega aos 40 anos com as colunas reforçadas pela energia dos obreiros e dos veneráveis Mestres de nossas Oficinas. Vivemos um dos períodos mais prósperos de nossa história, como diz o historiador e Irmão Adirson Vasconcelos, que abrilhanta as páginas desta edição com uma bela reportagem sobre a história da Maçonaria na Capital Federal. Essa prosperidade é fruto da harmonia e da união que sempre colocamos como as colunas de nosso grão-mestrado. A família maçônica soube reconhecer nosso trabalho, reconduzindo-nos para mais quatro anos à frente do GODF, para mais um mandato, até 2015, com 92,9% dos votos apurados nas eleições ocorridas no último dia 12 de março. A explicação para toda essa aprovação está no compartilhamento de nossa administração com os Irmãos, partindo do princípio de que o Grande Oriente do Distrito Federal pertence verdadeiramente a todos os maçons. Assim foram organizados os festejos que marcaram o nosso aniversário de 40 anos. Uma comissão coordenada pelo Irmão Lucas Galdeano cuidou de todos os eventos e provou, mais uma vez, que unidos somos fortes. O maior sucesso que alcançamos em nosso Grão-Mestrado foi a conscientização dos nossos veneráveis para a necessidade de fazermos essa Maçonaria diferenciada e pujante, na qual todas as diretrizes emanam das bases, que se encontram sólidas e robustas. Esse é o principal motivo para a duplicação dos nossos quadros de obreiros nos últimos quatro anos. Nós não inventamos nem guardamos segredos em nossa gestão, apenas administramos com serenidade, ética, moral e dignidade, que é o verdadeiro papel do homem livre e de bons costumes. Temos certeza de que, com a ajuda do Grande Arquiteto do Universo, que é Deus, viveremos mais quatro anos de pujança de paz, harmonia e concórdia com a família maçônica. Avante, Irmãos de todo o Distrito Federal, independentemente da Potência a que pertence. Unidos sempre chegaremos onde queremos! Jafé Torres Grão-Mestre do Grande Oriente do Distrito Federal Sumário 3 6 8 16 31 3 6 8 11 14 16 20 22 23 24 30 31 32 34 38 42 44 47 48 50 52 54 56 Cristianismo João Paulo II João Paulo II – o papa peregrino o papa peregrino Os conceitos de Deus na história ocidental Manuscritos do Mar Morto Hugo Studart* Jubileu de Prata da Loja Aleijadinho Comunicare 40 anos do Grande Oriente do Distrito Federal 40 anos – flashes Entrevista com um ator maçônico O eternamente jovem Zé de Melo Maçonaria na Capital Federal Brasil – País rico é país sem pobreza +4 anos para os Irmãos Jafé e Lucas Maçonaria diferenciada Chamado contra o câncer Maçonaria no mundo islâmico Rito Schröder – Um caminho do ser Maçom Os Supremos Conselhos no Brasil do Rito Escocês Antigo e Aceito Uma estranha realidade A Arte Real em 5 blogs Maçonaria Operativa gênese da Arte Real Anita Garibaldi “Santo subito” O sono da biblioteca Circulando na web/Humor Escreva para a Ao Zenyte. Anuncie! 38 44 52 [email protected] — exigia a multidão durante os funerais de Karol Wojtyla, em abril de 2005. Vox populi, vox Dei — responderam os prelados católicos. Preparem-se, prezados irmãos, pois vem aí o Papa-Santo! João Paulo II, o papa mais popular da história, acaba de ser oficialmente beatificado pelo Vaticano. É o último estágio para sua canonização oficial. É intrigante entender o que fez desse homem alguém tão encantador. Seis anos após sua morte, como consegue continuar mobilizando multidões? Qual o conteúdo mágico de suas mensagens? Talvez esse papa exprimisse a esperança de um tempo. Já escreveram que ele seria o 13º apóstolo. O Apóstolo do Novo Mundo. Foto: ecclesiadesign.blogspot.com/ ao enyte 3 Na hierarquia das nações, um papa é só um sacerdote, o chefe dos católicos, religião praticada por 17% da população mundial. Manda, de fato, em poucos quarteirões da cidade de Roma (o Vaticano) e em alguns milhares de sacerdotes. Contudo, talvez pelo que pregou ou por sua conduta pessoal, a verdade é que não houve, na tumultuada transição do século XX para o Terceiro Milênio, nenhum outro líder político ou religioso de quem emanasse tanta autoridade moral. Ele foi, decerto, um dos gigantes do cenário político mundial, como Churchill e Adenauer, talvez o último apóstolo com visões amplas e princípios universais a apontar para um novo mundo — daquela estirpe que gerou Gandhi e Martin Luther King. Por onde passava, governantes paravam para recebê-lo e multidões corriam para aclamá-lo. Reunia legiões que ultrapassavam, com frequência, 1 milhão de pessoas. Mais de 200 milhões foram às ruas aplaudi-lo. Antes dele, somente três homens haviam mobilizado multidões fora da terra natal — Alexandre, o Grande, Júlio César e Jonh Kennedy. Em seu pontificado, pronunciou 2.357 discursos no exterior, fez 102 viagens, levou sua pregação a 129 nações, visitou 620 cidades. O recordista anterior era o papa Paulo VI, com 12 viagens. Somente o apóstolo Paulo de Tarso, no início do cristianismo, havia ousado algo semelhante, ao peregrinar por todo o Império Romano, levando sua mensagem. João Paulo II 4 ao enyte percorreu quase 1,2 milhão de quilômetros em linha reta, ou 30 voltas em torno da Terra, façanha capaz de acanhar aventureiros do quilate de Marco Polo. Apenas dois grandes países, China e Rússia, não foram visitados por ele. Ao não conseguir autorização para entrar na China, pregou para poucos nas ilhas Fiji e Seychelles. E, impedido de entrar na União Soviética, foi ao Gabão, Mali, Burkina Fasso. Constatando a miséria no Quênia, afirmou que o país precisava de desenvolvimento econômico. Quando comprovou as injustiças sociais e a insolvência na América Latina, disse que “a dívida externa de um país não poderá nunca ser paga à custa da fome e da miséria de seu povo”. Na prática, criou um impasse moral que acabou levando os organismos multilaterais, como o FMI, a rever seus conceitos. Qualquer que seja o prisma pelo qual se olhe Wojtyla, ainda que se discorde de suas ideias, há que se admitir que ele foi um dos titãs da humanidade. Mas, afinal, qual o conteúdo de suas mensagens? Coisas simples, nada além da pregação normal do Evangelho. Geralmente falava de justiça social, com ênfase na ideia de que a solidariedade entre os povos e a fraternidade entre os homens seriam o único caminho para atingir a liberdade e a igualdade. As multidões costumavam ficar estupefatas quando esse homem vestido de branco acenava para um mundo melhor com a mais absoluta convicção. De resto, este sempre foi um dos segredos dos santos: conseguir impressionar os homens não pelo aparato de armas ou de riquezas, mas pelos predicados éticos. André Frossard, ex-dirigente do Partido Comunista Francês, certa vez observou que esse papa, vindo de Cracóvia, passara diretamente para a Palestina, pois dizia palavras que escaparam ao abismo do tempo, como se ele fosse o 13º apóstolo. sistas, como a de São Paulo. Impôs rígida disciplina nas hostes canônicas e ceifou a democracia interna. Todo o poder ao Vaticano, tudo girando em torno do papa. Por fim, reafirmou os valores mais conservadores, como o celibato sacerdotal e a família mononuclear. Condenou o aborto, a eutanásia, a pena de morte, a clonagem humana, a união entre homossexuais e até os preservativos. “Ele não apenas soube falar aos católicos, mas também se dirigiu a todos os cristãos”, explica Georges Suffert, autor de Tu és Pedro, livro sobre a história dos pontífices. Prossegue: “Sem abandonar uma única letra do Evangelho, ele inventou uma linguagem acessível à imensa maioria dos viventes. Como se a maioria das autoridades políticas e religiosas tivesse aceito, tacitamente, que esse papa exprimia as esperanças comuns dos homens de seu tempo”. Quanto às ovelhas, mandou deixar ir as desgarradas. Contudo, que os sacerdotes abrigassem os divorciados e os filhos das relações pós-modernas. O cardeal Eugênio Sales, ex-arcebispo do Rio, acredita que esse neofundamentalismo tenha dado certo. O rebanho teria ficado com a sensação de vigor e retidão ética, livrando os fiéis daquela sensação de fraqueza e de declínio que antes minava a Igreja. João Paulo II deixou o cetro de uma Igreja ainda em crise profunda — especialmente a crise moral —, mas, em todo o mundo, os templos voltaram a ficar cheios. No Brasil, a Igreja cresceu 150% no reinado de João Paulo II, tanto em número de paróquias quanto em ordenações. “Num palco mundial dominado por profundas divisões econômicas, nacionais e religiosas, o papa se destacou como o único portavoz universal dos valores universais”, escreve o vaticanista Marco Politi. “Ele ofereceu um Evangelho de salvação e de esperança diante dos novos ídolos — egoísmo tribal, nacionalismo exacerbado, fundamentalismo feroz, lucro sem preocupação com a vida humana. Ele definiu o seu tempo como talvez nenhum outro líder o tenha feito. (…) Quando erguia a mão para abençoar os fiéis, ela apontava para um horizonte mais vasto.” “Domine, non sum dignus – Senhor, eu não sou digno.” João Paulo II assumiu o Vaticano numa das piores crises da história, no ápice do desprestígio político. Havia um cisma branco quase consolidado: à esquerda, a Teologia da Libertação na América Latina tentando enxertar no Evangelho a revolução socialista; à direita, o clero tradicionalista, que se recusava a acatar as reformas do Concílio Vaticano II. Seu antecessor, Paulo VI, tentou se equilibrar entre os dois polos, mas conseguiu tão somente assistir, atônito, à fuga, em massa, do rebanho. Qual foi a estratégia de João Paulo II? Primeiro, excomungou a direita. Depois, amordaçou a esquerda. Aposentou bispos e esquartejou prelazias progres- Um de seus traços marcantes é que esse homem jamais foi um eremita encastelado, frágil e ascético, mas forjou sua personalidade e posições políticas nas mais duras experiências da vida. Foi soldado da resistência ao nazismo e ator na clandestinidade. Operário, quebrava pedras para comer. Seus biógrafos o poupam da divulgação de duas informações: se ceifou vidas ou se provou da carne. Tudo indica, porém, que, até os 24 anos, tenha sido um soldado, um ator e um operário como qualquer outro de seu tempo. Depois virou sacerdote. Agora caminha para ser um santo popular, o Papa-Santo! O que diria João sobre essa beatificação? “Domine, non sum dignus — Senhor, eu não sou digno”, costumava repetir. Avaliemos, homens livres e de bons costumes, se, de fato, ele não é um dos personagens mais expressivos da nossa história. * Hugo Studart é jornalista, escritor, historiador, membro da Loja Honra e Tradição. ao enyte 5 Filosofia Os conceitos de Deus na história ocidental Os vinte e cinco séculos do pensamento ocidental repousam, inicialmente, sobre um imenso pilar: Sócrates. Em torno dele acham-se os dois mais importantes grupos de pensadores da Antiguidade, os pré-socráticos Tales de Mileto (625-547 a.C.), Anaxímenes de Mileto (585-528 a.C.), Xenofanes Colofão (570-528 a.C.), Heráclito de Éfeso (540-470 a.C.), Parmênides de Eleia (530-460 a.C), Zenão de Eleia (504-?), Demócrito de Abdera (460-370 a.C.) e Pitágoras de Samos (580497 a.C.), e os pós-socráticos Platão (428-348 a.C.) e Aristóteles (348-322 a.C.). Não levamos em consideração os pensadores da Idade Média: Santo Agostinho (354-430), Santo Anselmo (1033-1109) e São Tomás de Aquino (1225-1274), por subordinarem a Ciência à Teologia, sendo, por isso, mais teólogos do que filósofos. Os pensadores modernos correspondem a um período que vai do Renascimento aos nossos dias. Seus principais representantes são: Baruch de Spinosa (1622-1677), René Descartes (1590-1650), Gottfried Wilhelm Von Leibniz (1646-1716), Sir Francis Bacon (1561-1626), John Locke (1632-1704), George Berkeley (1685-1753), Emanuel Kant (17241804), Johann Gottlieb Fichte (1762-1814), George * A. R. Schmidt-Patier é obreiro da Loja Miguel Arcanjo Tolosa n. 2131, Grande Benfeitora da Ordem, membro da Academia de Artes, Ciências e Letras do GOB e fundador da revista Egregora. 6 ao enyte enyte Wilhelm Friedrich Hegel (17701831), Artur Shopenhauer (17801860) e Friedrich Wilhelm Nietzshe (1844-1900). De todos os filósofos aqui citados, apenas três — Descartes, Spinosa e Leibniz — debruçaram-se sobre os mistérios de Deus e, na tentativa de explicálos, sentiram necessidade de demonstrar sua existência mediante provas. O sistema Leibniz é o de uma ciência universal. Como filósofo, sua principal contribuição é a de uma monadologia: os átomos (mônadas) são centros de força fechados e autônomos, que formam um sistema de evolução universal e, em consequência da harmonia preestabelecida, atuam em consonância com esse fim. O ponto central da harmonia universal é Deus, primeira mônada, criadora de todas as demais. Afirmava que, graças a uma harmonia preestabelecida, Deus teria criado o mundo de tal maneira, que sempre houve e haverá perfeita sincronização. Como se vê, o Deus de Leibniz é bem comportado e com pouca novidade. Foi esse aspecto da filosofia de Leibniz que levou Voltaire a satirizá-lo em Cândido como o ridículo Dr. Pangloss. Descartes foi, ao mesmo tempo, racionalista e crente. Ele atribuía as verdades relativas a Deus à própria Filosofia, independentemente da Revelação. Ele pode ser considerado o fundador da moderna Filosofia. Até a publicação do Discurso do método, a Filosofia não passava de um epifenômeno da Teologia. Tudo isso mudou com a publicação daquele texto. A partir do próprio título, Descartes afirma que o Discurso do método se destina “a bem conduzir a Razão e descobrir a Verdade dentro da Ciência”. Com isso, sacudiu a tutela da Teologia, ao rejeitar sua autoridade, substituindo-a pela evidência científica. A Igreja engoliu em seco, mas engoliu. Tornou-se evidente que o Deus de Descartes era uma divindade dos filósofos, que não tomava conhecimento das coisas terrenas. Uma divindade desse tipo não podia ser confundida com o Todo-Poderoso, a quem os bons cristãos pedem ajuda para resolver seus problemas. A novidade que permanece novidade, mesmo em nossos dias, está contida na obra de Baruch Spinosa. Ele foi considerado ateu, quando, de fato, não passava de um livre-pensador. Os filósofos, no decurso dos séculos, têm apresentado o Panteísmo sob diversas modalidades, mas foi Spinosa, em seu Tratado Teológico-Político, que conferiu a essa ideologia status de filosófico. Para Spinosa, o mundo é governado por leis imutáveis. Deus seria simplesmente o princípio da Lei, a soma de todas as leis eternas existentes. Como Deus é inerente e imanente em todas as coisas, pode ser definido como a Lei que ordena a existência delas. Falar em atividade de Deus no mundo era simplesmente um modo de descrever os princípios matemáticos e causais da existência. A doutrina de Spinosa é, assim, uma nega- A. R. Schmidt Patier* ção absoluta da transcendência divina e da Doutrina revelada. Spinosa era o que, na História da Arte, chamaríamos de maldito, um indivíduo que descobre as coisas com décadas e até séculos de antecedência e paga por isso. Com efeito, nós, hoje, concordamos tranquilamente com o que Spinosa, há 300 anos, afirmava contra a opinião do mundo inteiro. A compreensão da figura de Deus foi lenta até para os pensadores. A época de Kant coincidiu com o Iluminismo, um movimento filosófico que se caracterizava pela defesa da Ciência e da racionalidade crítica. A verdade passou a coincidir com a finitude da Ciência. A fé ficou por conta de cada um. Prescindiu das fontes da Revelação, utilizando somente a Razão. São posturas que encontramos em muitos pensadores da época. Como exemplo, pode ser citado o caso de PierreSimon de Laplace (1749-1827). Ao apresentar a Napoleão Bonaparte sua obra Mecânica celeste, o imperador comentou: “Escreves este enorme livro sobre o sistema do Mundo, sem mencionar uma só vez o nome do Autor do Universo”. Laplace respondeu com uma frase que ficou famosa: “Senhor, não senti a necessidade dessa hipótese”. Esse episódio ilustra bem a grande mudança que ocorreu na passagem do século XVIII para o século XIX. A Ciência proclamava, sem meias palavras, que Deus já não era mais necessário. Por Kant, Deus era simplesmente uma conveniência que podia ser mal usada. A ideia de um criador sábio e onipotente poderia solapar a pesquisa científica e conduzir a uma indolente dependência de um Deus que preenche todas as lacunas de nosso conhecimento. Para ele, o Iluminismo representava a libertação de sua minoridade intelectual. Deus não seria, afinal, mais do que uma simples reprodução de nosso pensamento. Não apenas Kant, mas todos os seus discípulos, eram necessariamente agnósticos. Nietzsche considerou necessário decretar a morte de Deus em alto e bom som: “Gott ist tot” (Deus está morto). O mundo intelectual meneou a cabeça, achando que era isso mesmo. O processo de expulsão de Deus havia começado, e cada filósofo queria dar sua opinião sobre como isso deveria ser feito. ao enyte 7 Religião Com algum atraso, estava se entrando no outono da Modernidade. Já não se tratava de separar o joio do trigo, porque isso já fora feito. Doravante, qualquer coisa que desejasse ser levada em consideração teria de passar pelos laboratórios. Ideias como a origem divina do Universo ou a vida depois da morte foram rebaixadas à categoria de lendas, graças ao monumental trabalho dos cientistas. Enquanto isso, mais de um bilhão de muçulmanos vive ainda em uma espécie de Idade Média. Cinco vezes por dia, prosternam em direção a Meca, em sinal de respeito a “Alá clemente e misericordioso”. Se, diante disso, os europeus sorriem, são compelidos a refletir sobre o quanto lhes custou essa superioridade sobre os orientais. Depois de uma Guerra de 30 anos e uma enorme proliferação de seitas protestantes, a ideia de um Deus pessoal e transcendente havia se tornado cada vez mais inaceitável e acabou surgindo em seu lugar a Deusa Razão. Manuscritos do Mar Morto Palavras que mudaram o mundo Laélio Ladeira* A maior e mais importante descoberta arqueológica do século XX, a coletânea dos Manuscritos do Mar Morto, encontrada em Qumran, no final de 1946 e início de 1947, trouxe uma grande revelação e subsídio à exegese cristã, explicando e esclarecendo vários pontos relativos à Sagrada Escritura e confirmando a veracidade dos textos bíblicos que circulam hoje. O achado ocorreu quando um jovem pastor beduíno da tribo dos Tamirés, chamado Mohammed Ahmed el-Hamed, alcunhado de ed-Dib — o Lobo, acompanhado de dois outros pastores, Khalil Musa e Juma Mahoma Khalil, encontrou uma caverna e, nela, jarros cerâmicos de argila com rolos de manuscritos, ao longo da falésia que margeia o mar Morto, a cerca de doze quilômetros da bíblica cidade de Jericó e a 22 quilômetros a leste de Jerusalém. Darwin deu também sua contribuição. Em sua obra A decadência do homem e a Seleção sexual inclui também o homem na evolução. O homem perdeu, assim, sua posição privilegiada no nexo dos seres vivos. Já não aparecia como criado diretamente por Deus, mas como um produto da descendência biológica universal, ficando reduzido a uma espécie de animal ao lado de muitas outras. O jovem pastor e seus dois amigos, não sabendo do que se tratava, levaram os rolos para o antiquário Abraham Lylia de Belém, para ser examinado. O antiquário, temendo que os documentos fossem roubados de alguma sinagoga, devolveu-os em seguida. Se diante de tudo isso devemos continuar considerando como muito importantes sistemas tradicionais como a Maçonaria, devemos considerar como tão ou mais importante do que ela um sistema de leis naturais e autonecessárias propostas por Baruch Spinosa e que corresponde a uma postura agnóstica. É um modo de pensar que acolhe todas as respostas verificáveis pela Ciência, sem recusar a possibilidade da existência de uma Razão Suprema, que organiza todas as relações existentes no Universo. No início de 1947, os três pastores encontraram mais quatro rolos de pergaminhos na mesma caverna e venderam três deles ao reitor da Universidade Hebraica de Jerusalém, doutor E. L. Sukenik. Ainda em 1947, o Mosteiro sírio-ortodoxo de São Marcos adquiriu outros quatro manuscritos dos beduínos. Os monges tentaram, sem sucesso, com vários estudiosos, identificar os manuscritos. Entraram Nota do autor A. P. Sinnett, em Budismo esotérico, inclui o homem na descendência biológica universal. Ele não teria sido criado por Deus, mas surgiu entre os demais animais, com a Razão despertada. O autor é adepto da Teosofia. 8 ao enyte Manuscrito do livro de Levítico em hebraico encontrado em Qumran, datado entre 30 a.C. e 68 d.C. * Laélio Ladeira, ex-professor da Universidade de Brasília, do Instituto Militar de Engenharia na Praia Vermelha do Rio de Janeiro e da Escola Nacional de Engenharia do Rio de Janeiro é o atual Sumo Sacerdote (High Priest) do Tabernáculo Brasília 236 em Kt.Pt. Laélio Ladeira. em contato com John C. Trevor, da entidade americana American School of Oriental Research. Os pergaminhos, foram analisados e comparados ao papiro Nash, encontrado em 1920 por W.L. Nash, no Egito, nos arredores de Fayum. Verificou-se que os manuscritos eram extremamente parecidos com o texto do século II a.C. Em 1948, os Manuscritos do Mar Morto foram detalhadamente analisados e sua autenticidade atestada. Verificou-se que são de um período que se estende do século III a.C. ao primeiro século da era cristã. Os manuscritos são em hebraico, aramaico e grego. A Bíblia, o livro mais divulgado, traduzido e difundido no mundo, é considerado sagrado e de grande importância para a humanidade. Os idiomas grego, hebraico e aramaico foram utilizados nos seus escritos e ensinamentos, entretanto, não existe nenhuma versão original do manuscrito da Bíblia, só cópias de cópias. Os livros originais se perderam no tempo. As traduções fidedignas da Bíblia baseiam-se nas melhores e mais antigas cópias que existem e que foram encontradas graças às descobertas arqueológicas. Presume-se que a primeira tradução do Antigo Testamento foi elaborada entre 200 e 300 anos antes de Cristo. Foi traduzido para o grego, que era a língua mais usada na época. Os manuscritos atestam a admirável exatidão nas traduções dos textos bíblicos para o grego, latim e hebraico. A partir da primeira descoberta, foram encontrados mais de 900 textos. A maior parte em pergaminhos, alguns em papiros e um gravado em cobre. O precioso material estava oculto em onze cavernas nas redondezas de Wadi Qumran. Livros bíblicos, entre eles Salmos, Deuteronômio, Isaías e Gênesis, foram achados em grande número. ao enyte 9 Loja em foco Especialistas acrescentam: “Trata-se de documentos escritos há mais de dois mil anos, quando Jesus e o cristianismo nasceram. Eles incluem textos bíblicos, apócrifos e comentários sobre a Bíblia. Dizem da origem comum dos judeus e dos cristãos. É verdade que não existem entre eles cópias no Novo Testamento, simplesmente porque o Novo Testamento foi compilado depois que os manuscritos foram escondidos nas cavernas”. Determinar em que época foram redigidos os Manuscritos do Mar Morto não é tão difícil quanto estabelecer, com segurança, quais foram os autores. A chamada tese essênia é a mais amplamente aceita no mundo acadêmico. Segundo seus defensores, os Manuscritos do Mar Morto foram enterrados quando, no ano de 68 d.C., o monastério de Qumran foi totalmente destruído em uma devastadora investida do exército romano, que arrasou a Judeia e destruiu Jerusalém em 70 d.C. O ataque era dirigido aos judeus zelotes, membros de antiga seita religiosa judia de caráter radical, mais rígidos que os fariseus, que se sublevaram contra o domínio romano. Qumran não era uma fortaleza e foi presa fácil para as legiões de César. Muitos essênios fugiram para a fortaleza de Massada, localizada no alto de uma colina, onde foram massacrados, em 73, pelos soldados romanos. Os documentos foram originalmente identificados como provindos dos essênios pelo professor Sukenik, depois que leu a primeira cópia das Regras da Comunidade. Ele notou a clara semelhança com os essênios mencionados por Flávio Josefo em sua obra A guerra dos judeus. Nesse livro, Josefo descreve os três rumos principais do judaísmo no fim do primeiro século. Menciona os fariseus, os saduceus e os essênios. A descrição que Josefo faz dos essênios é muito parecida com o que esse grupo narra sobre si mesmo. Nos manuscritos, todavia, não há nenhuma referência específica aos essênios. O grupo que escreveu os manuscritos chama a si mesmo de yahad, que, em hebraico, significa “o conjunto, a comunidade”. Quando falam de si mesmos, eles sempre descrevem seu modo de viver e suas crenças. Constituem um grupo 10 ao enyte muito piedoso, que decidiu sair da vida de Jerusalém, porque Jerusalém se tinha corrompido. Contudo, não é certo que os membros desse grupo tenham sido os autores de todos os documentos. Os textos bíblicos e os apócrifos podem ter sido compilados ou escritos por outros. Esse grupo ou qualquer outro pode ter recolhido todos esses manuscritos e tê-los escondido nas cavernas. Há outras teorias defendendo que os manuscritos seriam parte da biblioteca do Templo. Outros afirmam que se trata de escritos oriundos de diversos grupos de fiéis. Os manuscritos encontrados englobam mais do que os livros canônicos. Há grande variedade de escritos desconhecidos. Isso desperta o interesse dos pesquisadores e estudiosos da matéria. Como exemplo desses textos não canônicos é citado o chamado Barkhi Napshi, um salmo apócrifo que está em sintonia com as escrituras canônicas, mas que não era conhecido anteriormente. Seja qual for a origem dos Manuscritos do Mar Morto, não cabe duvidar de seu imenso valor e da urgente necessidade de sua preservação e restauração. Por causa do clima, da temperatura e da falta de luz, eles se conservaram e atravessaram os séculos. Quando foram retirados das cavernas, a deterioração natural começou ou continuou, e eles se fragmentaram em uma enorme quantidade de pedaços. São 900 documentos divididos em milhares e milhares de fragmentos. É fundamental que toda a matéria seja publicada e também é indispensável preservar os manuscritos para a posteridade. Essa é a tarefa do Departamento de Antiguidade de Israel. É um processo que vem sendo tratado e estudado por mais de 20 anos. Para os leitores que queiram se aprofundar no assunto, indicamos os textos oficiais publicados na série Discoveries in the Judean Desert (DJD) pela Universidade de Oxford , em 39 volumes. As palavras escritas pela Bíblia são comuns a todos nós. São pronunciamentos nos quais milhões de pessoas no mundo creem, sejam judeus, cristãos ou muçulmanos; portanto, são verdadeiramente palavras que mudaram o mundo. Mesa da Sessäo Magna comemorativa dos 25 anos de fundação da Loja Aleijadinho: Grão-Mestre-Geral do GOB, soberano Marcos José da Silva; venerável Mestre da Oficina, Reginaldo Gusmão de Albuquerque; Grão-Mestre do GODF, eminente Jafé Torres, e Grão-Mestre da GLMDF, sereníssimo Juvenal Amaral. Na extrema esquerda, Irmão Lázaro Inácio Ferreira. Brasília, 8 de dezembro de 2010. Jubileu de Prata da Loja Aleijadinho Reginaldo Gusmão de Albuquerque* Em 2006, após 21 anos sob os auspícios da Muito Respeitável Grande Loja Maçônica de Brasília, a Augusta e Respeitável Loja Simbólica Antônio Francisco Lisboa, conhecida como Loja Aleijadinho, foi regularizada no Grande Oriente do Distrito Federal – GODF, federado ao Grande Oriente do Brasil – GOB. Fundada em 21 de julho de 1985, a Loja Aleijadinho decidiu, no dia 12 de agosto de 2006, desligar-se da Grande Loja. Na mesma ocasião, a Loja deliberou solicitar sua incorporação ao GODF. Em 16 de agosto, o Grão-Mestre da Grande Loja reconheceu a legalidade do desligamento com a expedição do Ato 027/2005-2008, por meio do qual considerou cumpridas as exigências constitucionais. O citado Ato foi publicado no Boletim Informativo 116 daquela Potência. * Reginaldo Gusmão de Albuquerque foi venerável Mestre da Loja Aleijadinho por três mandatos consecutivos, de 20/05/2006 a 02/06/2011, sendo sucedido no cargo por José Ricardo Filho. O pedido de incorporação ao GODF/GOB foi formulado em 21 de agosto de 2006 por meio da Prancha 06/2006-2007, enviada ao eminente Grão-Mestre do GODF, respeitável Ir. Hélio Pereira Leite. No dia 31 de agosto de 2006, o Grão-Mestre-Geral do GOB, soberano Ir. Laelso Rodrigues, expediu o Ato 6.325 deferindo o pedido de Regularização da Loja, sendo registrada no Cadastro Geral de Lojas com o título distintivo de Augusta e Respeitável Loja Simbólica Antônio Francisco Lisboa n. 3.793, sendo também expedida sua Carta Constitutiva. A Sessão Magna de Regularização da Loja teve lugar no Templo do GODF, no dia 23 de setembro de 2006, local onde a Loja se reúne até hoje. Em 2010, a Loja Aleijadinho completou 25 anos de existência. O Jubileu de Prata da Loja foi marcado por Sessão Magna Festiva, em dezembro daquele ano. Previamente, a assembleia da Loja instituiu, com a aprovação do soberano Grão-Mestre-Geral do GOB, ao enyte 11 hh 2º Vigilante: José Ricardo Filho; a Medalha do Mérito Aleijadinho, para homenagear personalidade que contribuíram com o desenvolvimento da Oficina desde sua fundação. Foi aprovado o Regulamento para Concessão da Medalha do Mérito “Aleijadinho” e, na mesma Sessão — em 27/10/2010 —, foram aprovados os nomes dos homenageados. hh Orador: Herbert Drummond; hh Secretário: João Felipe du Pin Calmon; hh Tesoureiro: Áureo Francisco da Silva; hh Chanceler: Divino Valério Martins. No último ano, o engajamento da Loja nos projetos do GODF possibilitou o aumento do número de obreiros e o crescimento da qualidade das ações desenvolvidas interna e externamente. A referida Sessão Magna Festiva traduziu-se em um evento significativo, oportunidade em que a Loja Aleijadinho contribuiu para o congraçamento conjunto de membros e dirigentes do GOB, do GODF e da Grande Loja Maçônica do Distrito Federal. Além disso, contou com a participação de familiares e convidados não maçons. As ações sociais e paramaçônicas trouxeram a oportunidade de levar obreiros da Aleijadinho a participarem, com destaque, em setores diversos, cada um dentro de sua vocação. Atualmente, a Loja conta com o efetivo de 41 obreiros, sendo sua diretoria integrada pelos Irmãos a seguir nomeados: hh Venerável Mestre: Reginaldo Gusmão de Albuquerque; hh 1º Vigilante: Mário do Nascimento Gomes; 1 2 3 O resultado geral das atividades desenvolvidas pela Loja Aleijadinho, onde se insere a efeméride de seus 25 anos de existência, proporcionou uma evolução no contexto da jurisdição do GODF, que resultou em perfeita integração desta Oficina com as diretrizes emanadas do GODF/GOB. 5 4 2 1 4 12 ao enyte Nas fotos 1, 2 e 3, o venerável Mestre da Loja Antônio Franciso Lisboa, Reginaldo Gusmão de Albuquerque, agraciando com a Medalha do Mérito Aleijadinho os Irmãos Jafé Torres, eminente Grão-Mestre do GODF; Luiz Gonzaga da Rocha, fundador e ex-venerável da Loja Aleijadinho e padrinho na Maçonaria do venerável Mestre Reginaldo; e o sereníssimo Grão-Mestre da GLMDF, Juvenal Amaral. No total, 25 personalidades foram homenageadas com a Medalha do Mérito Aleijadinho. Na foto 4, momento solene da Sessão Magna em Homenagem ao Jubileu de Prata da Loja Aleijadinho, realizada em 8 de dezembro de 2010. 3 6 7 1. A presidente da Fraternidade Feminina Cruzeiro do Sul, Maria do Carmo Sales, agradece a Medalha do Mérito Aleijadinho, recebida em reconhecimento pelos valorosos serviços prestados à entidade; 2. Mário do Nascimento Gomes, Reginaldo Gusmão de Albuquerque e José Ricardo Filho; 3. Marcos Aurélio de Abreu, Rodrigo Linhares Drummond e Sebastião Marcelo Chaves de Cequeira Cavalcante; 4. José David de Oliveira e esposa, Max de Almeida Nóbrega e esposa, Reginaldo Gusmão de Albuquerque e esposa, Décio Bottechia Júnior e esposa; 5. Luiz Arino, secretário de educação e cultura do GODF, e esposa, Lucas Galdeano, Grão-Mestre Adjunto do GODF, e esposa, e Juscelino Cunha e esposa; 6. Jairo Torquato de Oliveira e esposa, o sobrinho Luiz Carlos Ferreira Júnior e a noiva, Luiz Carlos Inácio Ferreira e a esposa, Luiz Gonzaga da Rocha (de pé), a sobrinha Jéssica Ferreira e o noivo e José Ricardo Filho e esposa; 7. Osvaldo Joaquim de Souza, Herbert Drummond, Reginaldo Gusmão de Albuquerque, Dalvo Werner Friedrich e Aloísio Bastos Sales. ao enyte 13 Força jovem O Irmão Vítor Andrade é o novo coordenador de projetos da Secretaria da Juventude do Governo do Distrito Federal. Como delegado da Federação Brasileira dos Trabalhadores em Instituições de Ensino Particular do Brasil, Vítor integrou a chapa vencedora, que disputou as eleições do Sindicato dos Professores de Escolas Particulares do DF (Simproep-DF) em abril. Joaquim Nogales A favor da modernidade O senador Ir. Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR) ocupou a tribuna do Senado para parabenizar o GODF pelo seu 40º aniversário. Frisou que "A Maçonaria vive um momento em que precisa, de fato, sintonizar-se com o século XXI, modernizarse e mostrar para a sociedade o que faz. E só faz o bem”. Carta de Manaus O VIII Encontro dos Grão-Mestres do Norte/Nordeste, realizado em Manaus, 21 de abril, divulgou documento com uma série de reivindicações que prometem abalar as estruturas do Grande Oriente do Brasil, caso venham a ser implantadas. A mais polêmica é a instalação de “um Quarto Poder — o Poder Iniciático da Ordem, com o objetivo de instalar uma Teocracia Democrática”. O documento só não explicou o que vem a ser isso. Bem-vindo O embaixador do Congo no Brasil, Aimé Clovis Guillond, é obreiro da Loja Luzes da Ribalta, que se regularizou junto ao GODF em maio. Guillond também é Grande Mestre de Relações Exteriores do Grand Orient ec Loges Associeés du Congo. Autor e obra O artista Ir. José Luiz Pereira, especialista em Heráldica, é o autor do selo e da medalha comemorativa dos 40 anos do GODF e também de muitas logomarcas maçônicas. Templo novo Taxa chinesa A Loja Gonçalves Lêdo promoveu, no dia 5 de maio, bela cerimônia de sagração de seu novo templo, localizado na EPTG. A revista Ao Zenyte parabeniza o venerável Edno Luiz Talamonte e todos os obreiros da Oficina. A exaltação de nada menos que 11 Irmãos no dia 25 de abril, na Loja Areópago de Brasília, é mais uma prova de que a Maçonaria brasileira, especialmente no Oriente do DF, cresce as taxas chinesas, como afirmou o pesquisador William Carvalho, em artigo publicado na edição 9 da revista Ao Zenyte. Estado X Religião A palestra Estado laico brasileiro e o Tratado com o Vaticano, da professora Debora Diniz, da UnB, realizada na Academia Maçônica de Letras do DF, no início de abril, foi uma das mais polêmicas já promovidas pela instituição. A professora demoliu o acordo entre o Brasil e o Vaticano para permitir o ensino confessional nas escolas públicas brasileiras. Segundo ela, a União aprovou o tratado, mas delegou aos estados autoridade para estabelecer o conteúdo da disciplina. Além disso, para Débora, ensinar religião em escola pública fere o princípio laico do Estado e, por essa razão, o acordo é inconstitucional. Sem pobreza Entrevista O autor desta coluna entrevistou o ator maçom John Vaz, autor e protagonista da peça “Dom Pedro I”. O local escolhido foi o delicioso ristorante Buongustaio, no Lago Norte. A entrevista está na página 22. Templo de estudos O ex-Grão-Mestre do GODF, Hélio Pereira Leite, lançou, no dia 5 de maio, o livro/ compêndio intitulado 100 Peças de Arquitetura. As causas da miséria e sua superação é o mais novo livro do Mestre Ulisses Riedel, lançado em março, na biblioteca do Senado Federal. Ao mesmo tempo, Riedel iniciou o Movimento Brasil sem Pobreza (página 30) com a participação da CNBB, OAB, entidades empresariais, sindicatos de trabalhadores e Maçonaria, entre outras instituições. Bônus construção criado pelo GOB em 1981, para erguer o Palácio Maçônico do Poder Central em Brasília. Comemoração Carros antigos e motocicletas Na ensolarada manhã do dia 17, realizou-se memorável exposição de carros antigos e motocicletas no estacionamento da sede do GODF, na SQN 415, em Brasília, com a participação do Clube do Fusca e Carros Antigos de Brasília e do Moto-Clube dos Bodes do Asfalto. Destaque para a iniciativa de organização do Ir. José Marlinoélio de Aguiar Pontes, venerável Mestre da Loja Acácia da Montanha 3249. A exposição representou ainda a abertura dos templos do GODF à comunidade em geral. 1 2 3 4 5 Luiz Arino e William Almeida de Carvalho* comemorações alusivas ao 40º ano de fundação do Grande Oriente do Distrito Federal – GODF, de 16 a 21 de abril, contaram com a expressiva participação da família maçônica e convidados da sociedade em geral. A palestra sobre os 40 Anos do GODF, proferida pelo Ir. Adirson Vasconcelos na Sessão Magna da Loja de Pesquisas Maçônicas do GODF, dia 16, deu partida aos festejos comemorativos. O conferencista, privilegiada testemunha ocular da história, discorreu com brilhantismo sobre os 40 anos de GODF e sobre * Luiz Arino é secretário de Educação e Cultura do GODF. William Almeida de Carvalho é presidente da Academia Maçônica de Letras do DF e venerável Mestre da Loja de Pesquisa do GODF. 16 ao enyte seu relacionamento com o ex-presidente Juscelino Kubitschek. Personalidades do mundo maçônico presentes foram relembradas dos fatos históricos na palestra magistral. As perguntas demonstraram o interesse que envolve o tema. No dia 17 de abril, o Grande Oriente do Distrito Federal promoveu uma exposição de automóveis antigos como parte dos festejos comemorativos de seus 40 anos, com o apoio do Clube do Fusca e Carros Antigos de Brasília e do Moto Clube Bodes do Asfalto. 1. O Ford de 1928 é inegavelmente maçônico; 2. O Grão-Mestre Adjunto, Lucas Galdeano, experimenta uma Romizeta; 3. Três Irmãos pioneiros na Capital Federal: Renes Mauro e seu pai José Carlos de Souza e Adirson Vasconcelos; 4 e 5. Os Bodes do Asfalto, que, na hora do click, entoaram o mantra da confraria: Bééééééééeé!. ao enyte 17 Sessão Magna pública O ponto culminante das comemorações ocorreu em 19 de abril, na Sessão Magna realizada no Templo Nobre do GOB. Entre os convidados especiais, o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro César Peluso, e o vice-governador do Distrito Federal, Irmão Tadeu Filippelli. Após palestra proferida pelo jornalista Adirson Vasconcelos sobre a história do Grande Oriente do Distrito Federal, deu-se o ato solene de entrega de comendas comemorativas dos 40 anos para 40 agraciados, entre eles, o presidente do STF, o vice-governador, os ex-Grão-Mestres do GODF, autoridades maçônicas e Lojas Fundadoras do GODF e do Museu “Ariovaldo Vulcano”. Em seguida, discursaram o Grão-Mestre Jafé Torres, o presidente do STF e o vice-governador. A parte artístico-musical ficou a cargo do maestro Ir. Marden Maluf, que regeu a banda da Aeronáutica no Hino Nacional e no Hino do GODF, de sua autoria, tanto música quanto letra, executada pela primeira vez em audição mundial. Outros números também encantaram a plateia, como as gaitas de fole escocesas dos gaiteiros do Batalhão da Guarda Presidencial (BGP), que entoaram músicas populares brasileiras, como “Muié rendera”. Peça teatral A apresentação da peça de teatro do artista e Ir. John Vaz sobre o papel de D. Pedro I na Maçonaria, no Teatro dos Bancários, dia 20, permitiu o reconhecimento de importantes fatos históricos que cercam o protagonista da nossa Independência. No final, a plateia ovacionou de pé o renomado artista, jornalista e historiador. Trabalhando há 23 anos como ator, é especialista em fazer peças sobre personalidades históricas, como o seringueiro Chico Mendes, o presidente Bossa Nova JK e o guerrilheiro Che Guevara. Carioca nascido em Botafogo, começou sua carreira após assistir a uma peça sobre o poeta e ator francês Antonin Artaud. Nessa peça, quem estava em cena era o ator sul-mato-grossense Rubens Corrêa. Seus primeiros personagens no teatro foram pessoas que tinham problemas psiquiátricos (Van Gogh, Nietzsche, Althusser e Artaud). Entre os anos de 1999 e 2007, foi o coordenador do Teatro Museu da República. John Vaz tem viajado por todo o Brasil, Portugal e diversos países da América Latina, apresentando suas peças sobre D. Pedro I e Jacques Demolay. Foi o evento artístico-teatral da comemoração. 18 ao enyte Criado em 1993, o grupo "Bula do riso" é formado por voluntários maiores de 18 anos. No início, o grupo atuava somente no Hospital Universitário de Brasília (HUB), hoje, o grupo atua em outros hospitais do DF e do entorno, deixando por onde passa um rastro de alegria e esperança. O lema do Bula: “Sorrir pode ser o melhor remédio”. Ação social No dia 21 pela manhã, o GODF realizou ação social no Hospital Regional da Asa Norte – HRAN. Coordenada pelo Grão-Mestre Adjunto, Ir. Lucas Galdeano, e pela presidente da Fraternidade Feminina Cruzeiro do Sul do DF, cunhada Maria do Carmo de Oliveira Sales, a ação compreendeu visitas à enfermaria e à ala de pacientes em observação da pediatria, com a participação de palhaços, que animaram as crianças em espetáculo quase circense. Na ocasião, jovens estudantes voluntários do ensino superior formaram o “Bula do riso”, trazendo entretenimento às crianças internadas e acompanhantes. As mães e os pais que acompanhavam as crianças, com lágrimas nos olhos, agradeceram, por diversas vezes, a grandeza do gesto solidário. O GODF distribuiu brinquedos e ovos de Páscoa. Foi muito emocionante perceber a alegria e o sorriso estampados na face daquelas crianças. Extremamente gratificante para todos que lá compareceram. Louvase o trabalho dos médicos, paramédicos, funcionários da administração, seguranças e o pessoal da limpeza daquela unidade hospitalar da rede pública de saúde, também presenteados com chocolates. Este evento encerrou com “chave de ouro” os festejos comemorativos dos 40 anos do GODF. Preserve a segurança no que se constrói ao longo do tempo! Faça a cotação e descubra por que nossos clientes sentem-se mais seguros! www.alertaseguros.com.br SCS, ed. São Paulo, sala 617 Brasília/DF – CEP: 70360-060 Tel.: (61) 3043-8080 Fax: (61) 3043-8060 Rua 104, n. 192, Setor Sul Goiania/GO – CEP: 74083-300 Tel.: (62) 3093 8080 Fax: (62) 3091-6307 alerta. ao senyte e g u r o s19 20 ao enyte ao enyte 21 Homenagem Entrevista com um ator maçônico J ohn Vaz é um ator experiente. Em 23 anos de carreira, especializou-se em interpretar personagens históricos. Sobre Dom Pedro I diz ter orgulho de mostrar que o Imperador foi, antes de tudo, um carioca. Ao Zenyte – Qual a diferença entre ser somente um ator e um ator maçom? John Vaz – Ser maçom é fácil, se tiver amor à pátria, se for justo e presente na família, se praticar ações nas áreas sociais e tremer de indignação com a miséria. Já ser ator não é nada fácil. Vivemos em um país capitalista e isso basta para você ser massacrado por um sistema que privilegia os que são indicados ou apadrinhados para fazer um trabalho ou conseguir um patrocínio na área privada ou do governo. Ser ator e maçom é uma forma que tenho de estar dentro de um processo de mudança da Ordem. É preciso que sejamos mais iguais e menos pomposos, afinal não falamos sempre em liberdade, fraternidade e igualdade? Ao Zenyte – Em que a Maçonaria influenciou sua carreia artística? John Vaz – Eu já era ator quando entrei para a maçonaria em 97 e não houve influência alguma antes nem depois. Ultimamente tenho feito trabalhos que têm como pano de fundo a história da Maçonaria. Deu certo com o sucesso de “Dom Pedro I” e agora, Joaquim Nogales* no mesmo caminho, estou com novo espetáculo sobre os Templários, no qual interpreto Jacques de Molay, em montagem sobre o fim dessa Ordem. Ao Zenyte – Como a classe artística vê a Maçonaria e por quê, em sua opinião, temos poucos atores maçons? John Vaz – A classe artística, em linhas gerais, se preocupa mais com seus próprios problemas. Não observa, questiona ou se manifesta sobre assuntos além de seu meio. O pensamento e a atitude burgueses predominam na classe, e a vaidade está bem presente no dia a dia. Óbvio que há exceções, como em tudo. Mas isso vai mudar, nem que demore 4 mil anos, mas muda, sim. Ao Zenyte – O que o levou a escrever a peça “Dom Pedro I” e qual a mensagem que deseja transmitir com ela? John Vaz – A prefeitura do Rio patrocinou eventos sobre os 200 anos da chegada ao Brasil da Familia Real, e eu trouxe algo inédito sobre a vida maçônica de Dom Pedro I. Tudo que se fez na mídia e nos palcos sobre ele foi com o caráter de deboche, escracho e piada. Essa montagem teve o objetivo de mostrar, por onde passei (40 cidades em 9 estados brasileiros), algo histórico, biográfico, inédito sobre Dom Pedro I e toda a história de sua família. Atuação nas áreas: tributária, bancária e empresarial 22 ao enyte SRTV qd. 701, bl. A, sala 330 Fone: (61) 3321-2535 Brasília – DF E-mail: [email protected] Melo e d é Z m e v o j e O eternament C onheci o nosso preclaro Irmão José de Melo e Silva em meados de 1995, quando do nascimento das Classes Musicais do Grande Oriente do Brasil, em 17 de junho, circunstância em que a majestosa 5ª Sinfonia de Beethoven ressoou integral no Oriente do Grande Templo do GOB, na festa dos seus 173 anos. As características de Zé de Melo eram de imediato singulares. Pessoa magra, espigada, ágil e de olhos muito vivos e — em que pesem os seus mais de 70 anos de idade quando o conhecemos — manifestava em todos os gestos muita perspicácia e precisão, tudo aureolado por um sincero, luminoso e constante sorriso. À sua maneira e conforme as circunstâncias permitiam, Zé de Melo era o exemplo acabado da vocação política, naquilo que uma vocação tem de mais puro. Vivia sempre interessadíssimo em tudo o que estava acontecendo e, no exercício de sua vocação, sempre envolvido, de alguma forma, em tudo que poderia acontecer. Daí ser eternamente deputado em assembleias distritais e federais; ser venerável * Marden Maluf é maestro, fundador e diretor artístico das Classes Musicais do Grande Oriente do Brasil e membro da Loja Aurora de Brasília. Marden Maluf * como condutor do destino de Lojas; ser Grão-Mestre do GODF, possivelmente como o grande responsável pela reunificação histórica da Maçonaria no Distrito Federal e ser fundador de Oficinas, por acreditar que cada Loja criada poderia aumentar a percepção geral quanto à atuação da Maçonaria. Sempre em ação, sempre em atividade, fosse qual fosse o momento e a circunstância. O tempo e as vicissitudes não conseguiram esmaecer o deslumbre juvenil de Zé de Melo perante a vida e as possibilidades auroreantes e heroicas de seus horizontes. Não por acaso, foi o grande idealizador e fundador de uma Loja que traz o nome de Aurora de Brasília, cuja conhecida pujança é resultante legítima daquele DNA espiritual radiante de Zé de Melo, propício a gerar sóis metafísicos que iluminam pedaços do universo onde quer que se estabeleçam. Zé de Melo era um jovem. Viveu jovem e morreu jovem. Nós, as Classes Musicais do Grande Oriente do Brasil, jamais esqueceremos o momento em que Zé de Melo, há poucas semanas de seu falecimento, entusiasmado por nossa atuação musical no mundo maçônico, telefonou-nos de Goiânia, onde morava, no horário comercial de um dia útil, para simplesmente nos dizer: “Muito bem, Maluf! Siga em frente! A Maçonaria precisa das Classes Musicais!”. ao enyte 23 Reportagem cheguei em 2 de maio de 1957, para cobrir jornalisticamente o início das obras de Brasília. Poderíamos também evocar a interação da Maçonaria com Brasília e o movimento de interiorização da Capital nas ações dos maçons Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes (1889-1891); Hipólito José da Costa (1888-1822); José Bonifácio (1823); Rui Barbosa; Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto (18891891); Lauro Müller (1889-1891) e outros. Mas o que importa, no momento, é destacar o episódio de 1971, quando foi oficialmente criado o Grande Oriente do Distrito Federal, para congregar as lojas maçônicas existentes no DF, em número de 13. Maçonaria na Capital Federal Adirson Vasconcelos * 21 de abril lembra-nos Tiradentes, Tancredo Neves e Brasília, que foi inaugurada no dia 21 de abril de 1960. E nos lembra também a criação do Grande Oriente do Distrito Federal, no dia 21 de abril de 1971, portanto, há 40 anos, como nos recorda, neste abril de 2011, a família maçônica brasiliense. Um marco histórico nos propósitos de servir e de evolução humana, que a Maçonaria tem consubstanciado através dos ideais de igualdade de direitos, liberdade de pensamento e fraternidade universal, fundamentos basilares dos objetivos maçônicos desde priscas * Adirson Vasconcelos é autor do livro A História da Maçonaria em Brasília e membro das Lojas Aurora de Brasília e Renascença Maranhense. 24 ao enyte eras. No meu livro A História da Maçonaria em Brasília (2007), focalizo detalhadamente esses e outros assuntos. Vale trazer à memória que a caminhada dos maçons em prol de Brasília vem de tempos bem mais remotos que 1971. Quando as obras de construção da nova Capital se iniciavam no Planalto goiano, em 1957, os maçons fincaram suas bandeiras na primeira hora. Em 14 de maio de 1957, fundaram a Loja Maçônica Estrela de Brasília, o primeiro templo brasiliense de culto a Deus, que os maçons denominam de Grande Arquiteto do Universo. Os nomes de Dirceu Torres e Joffre Mozart Parada tiveram destaque na construção desse momento marcante. Vivi esse tempo, pois aqui zart Parada, Edístio Carlos Fernandes, Nelson Trancoso Meireles, Elico Gomes de Oliveira Filho, João Pelles, Aloysio Araruna de Almeida, Geraldo Rodrigues dos Santos. A semente fora plantada. E um marco também fincado com a criação do Conselho de Veneráveis do Distrito Federal para a formação do Grande Oriente do Distrito Federal, composto pelos presidentes das oito Lojas existentes: Estrela de Brasília (1957), União e Silêncio (1962), Fraternidade e Justiça (1962), Atalaia de Brasília (1963), Acácia do Planalto (1965), Obreiros do Planalto (1965), Aurora de Brasília (1965) e Luz e Fraternidade (1965). Joffre Mozart Todavia, convém advertir que para chegar a essa decisão de 1971, alguns passos anteriores tiveram de ser dados para a criação do GODF. O mais significativo ocorreu em 1966. Visitava Brasília o soberano Grão-Mestre Álvaro Palmeira, a convite da Universidade de Brasília (UnB), para proferir palestra sobre a educação no Brasil. Em encontro com os maçons brasilienses, Álvaro Palmeira enfatizou a importância e a necessidade de Brasília ter seu Oriente Maçônico, para melhor administrar os trabalhos das Lojas e dos obreiros. Passados alguns anos, finalmente, em 1971, Brasília possuía treze Lojas maçônicas instaladas. O dia 21 de abril é significativo para a Maçonaria por lembrar Tiradentes, seu obreiro e mártir da Independência pátria e o primeiro a propor a interiorização da Capital do Brasil (1789). As Lojas, em número de treze, firmam um documento conjunto, criam seu Grande Oriente e assumem o compromisso de mantêlo como organismo administrativo e incentivador de toda a ação dos obreiros da Arte Real no território do DF. O templo da Aurora de Brasília foi escolhido para sede do GODF. Em 21 de junho, o Conselho Federal Dirceu Torres reconheceu a criação do GODF. O soberano Grão-Mestre Moacyr Nessas tratativas com o soberano Grão-Mestre Ál- Dinamarco autorizou, em 26 de abril de 1972, a insvaro Palmeira, destaca-se a participação de uma talação do Grande Oriente brasiliense. plêiade de maçons atuantes e dedicados, notadamente José de Melo e Silva, Dirceu Torres, Joffre Mo- Foi eleito o primeiro Grão-Mestre do Distrito Federal, o maçom Celso Clarimundo da Fonseca, tendo como ao enyte 25 seu Adjunto o maçom Francisco Pinheiro Brandes, ambos empossados em 18 de novembro de 1972. Galeria dos Grão-Mestres do Grande Oriente do Distrito Federal Os Grão-Mestres do DF Ao longo do tempo, de 1972 aos nossos dias, o Grande Oriente do Distrito Federal tem sido dirigido pelos seguintes Grão-Mestres e seus Adjuntos: hh Celso Clarimundo da Fonseca (1) e seu Adjunto Francisco Pinheiro Brandes (1972-1975); hh José de Melo e Silva (2) e seu Adjunto Benjamim Goldenberg (1975-1978); hh Lourival Abadia Juvenal de Almeida (3) e seu Adjunto Nelson Rabelo Júnior (1978-1981); 1 2 3 4 hh Benjamin Goldenberg (4) e seu Adjunto Erasmo da Silveira (1981-1984); hh Ildacy Silvério Borges (5) e seu Adjunto Albertino José Ribeiro (1984-1987); hh Vanderlan Moreira Santos (6) e seu Adjunto Orlandino Alves de Araújo (de 1987 a 1991); hh Marcos José Muniz (7) e seu Adjunto João Correia Silva Filho (de 1991-1995); hh João Correia Silva Filho (8) e seu Adjunto Manoel Tavares da Silva Neto (1995-1998); hh Manoel Tavares da Silva Neto (9) (de 1998-1999); 5 6 7 8 hh João Correia Silva Filho (8) e seu Adjunto Joseli Dato (1999-2003); hh Hélio Pereira Leite (10) e seu Adjunto Jair Felix da Silva (2003-2006); hh Jafé Torres (11) e seu Adjunto Lucas Galdeano (2007-2011), reeleito em 2011. Um momento difícil, de cisão De 1973 a 1985, o Grande Oriente do Distrito Federal viveu uma fase muito difícil. Nesses 12 anos, esteve desfiliado do poder central maçônico, isto é, do Grande Oriente do Brasil-GOB, a quem fora federado. Isso se deu por causa da cisão político-administrativa ocorrida em consequência de discordâncias com os resultados das eleições para o Grão-Mestrado nacional, ao qual concorreram os maçons Osmane Vieira Resende e Athos Vieira de Andrade. 26 ao enyte 9 10 Outros Orientes estaduais também contestaram a proclamação do resultado, com os quais constituíram os maçons brasilienses uma nova obediência maçônica nacional com a denominação de Colégio dos Grão-Mestres da Maçonaria do Brasil. Uma cisão político-administrativa de cúpula. Os obreiros, de um modo geral, mantiveram-se unidos. Uma cisão 11 desconfortável e comprometedora da tradição, dos ideais e das filosofias pregadas pela Sublime Ordem. Felizmente, o maçom goiano Jair Assis Ribeiro, ao ser eleito soberano Grão-Mestre em 1984, tomou a iniciativa de chamar a todos para um amplo entendimento, o que se efetivou através das gestões do seu Adjunto, Moacyr Salles, que pregou e articulou um Tratado de Unificação, o qual teve a valiosa e abnegada participação de todos os veneráveis Mestres das Lojas maçônicas do DF. Como fator favorável à unificação, é importante destacar a transferência da administração do Grande Oriente do Brasil, o GOB, do Rio de Janeiro para Brasília, no ano de 1978, que fortaleceu muito as colunas dos maçons brasilienses e o prestígio da Ordem no Distrito Federal. O autor da façanha foi outro maçom goiano, o soberano Grão-Mestre Osíris Teixeira. O GOB se instalou no mesmo terreno da Loja Estrela de Brasília, em pleno Plano Piloto de Brasília, na Avenida W5, quadra 913 Sul. Na década de 1980, duas entidades paramaçônicas foram fundadas no DF e, pelo trabalho que desenvolveram, deram grande projeção às ações da Ordem na Capital Federal: a Ação Paramaçônica Juvenil-APJ, fundada em 1983, e a Academia Maçônica de Letras do DF, em 1985. A Ação Paramaçônica Juvenil foi regulamentada e passou a funcionar a partir de 1985, quando o soberano Grão-Mestre Jair Assis Ribeiro a instalou e lhe deu condições de funcionamento, designando para dirigi-la o maçom e escritor Adison do Amaral. A Academia Maçônica de Letras do Distrito Federal — AMLDF nasceu em 1985, com o propósito de congregar maçons dedicados ao saber intelectual membros das duas obediências: Grande Oriente do Brasil – GOB e Sereníssimas Grandes Lojas Maçônicas – GLMs, com o intuito de promover a integração maçônica pelos seus pensadores mais destacados. Hoje, nos 40 anos do GODF, a Academia é dirigida pelo maçom William Carvalho, tendo como antecessores José Carlos Gentili (fundador), José Adirson de Vasconcelos, Jayme Soares Albuquerque, Adison do Amaral, Elano Ribeiro Freire, Guilherme Fagundes de Oliveira, Leon Frejda Sklarowsky, Júlio Capilé, Luiz Gonzaga da Rocha e Hélio Pereira Leite. No ano de 1989, a AMLDF promoveu o congresso maçônico intitulado A Maçonaria de ontem e do amanhã, reunindo obreiros de todo o país em Brasília, durante três dias. Presentes à instalação os três dirigentes das três potências nacionais — o soberano Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil – GOB, o ao enyte 27 presidente da Confederação Nacional da Maçonaria Simbólica do Brasil e o presidente do Colégio do Grão-Mestrado da Maçonaria Brasileira — e os presidentes do Senado Federal, da Câmara dos Deputados e do jornal Correio Braziliense. Vivendo os 40 anos Hoje, em 2011, a Maçonaria brasiliense vive um momento feliz! É Grão-Mestre o maçom Jafé Torres, tendo como seu Adjunto Lucas Francisco Galdeano, recentemente reeleitos para novo mandato até 2015. Um amplo programa de trabalho antecedeu o horizonte hoje vivido. A partir de junho de 2007, quando assumiram, Jafé Torres e Lucas Galdeano traçaram um plano de metas, com o apoio dos veneráveis Mestres, que pode ser medido nas realizações alcançadas, como a reestruturação administrativa do GODF e a informatização de todos os procedimentos, com a implantação da computação em todas as 73 lojas da jurisdição e ingresso na internet. base, a presença da Maçonaria em eventos da sociedade, a realização anual do Festival de massas a partir de 2008 e as promoções sociais que ajudam na maior interação e convívio da família maçônica, pois são eventos que têm contado com a participação de mais de mil maçons e familiares. Não se pode esquecer tampouco os atos públicos de grande repercussão, como a Homenagem às Forças Armadas, no Auditório Pedro Calmon, o Abraço ao Supremo Tribunal Federal, juntamente com a OAB/ DF (Ordem dos Advogados do Brasil – Seção DF) e outras entidades, em defesa de Brasília e contra a intervenção federal, a Campanha da ficha limpa e do Natal da fraternidade, através da Fundação Gonçalves Ledo, que envolveu também outras entidades sociofilantrópicas. No âmbito das entidades paramaçônicas, salientase o apoio às Associações Paramaçônicas Juvenis – APJs, o fortalecimento da Fraternidade Feminina e o incentivo à Academia Maçônica de Letras do DF, marco de integração e unificação da Maçonaria brasiliense, que proporEntre outras metas que cionou mais entrosamenmerecem destaque, a to do GODF com a Serecriação da revista triníssima Grande Loja Mamestral Ao Zenyte, com tiragem de 10 mil exem- Adirson Vasconcelos iniciou os festejos dos 40 anos de criação çônica do Distrito Federal. do GODF com palestra na Loja de Pesquisa. Por todos esses esforços, plares; a reforma geral o quadro de Mestres mada fachada do edifício çons subiu de 935, em 2007, para 2.016, em 2011. sede; a implantação do templo nobre e a reforma dos três templos instalados no edifício sede para Daí a propriedade do pensamento do Grão-Mestre abrigar 22 oficinas maçônicas; a criação da Loja Jafé Torres: “O êxito de nossa administração está Maçônica Francisco Murilo Pinto, em homenagem no fortalecimento das bases, das nossas Lojas, pois ao soberano Grão-Mestre, autor do Compasso para sem elas não chegaríamos a lugar nenhum. Além o futuro e de tantos outros méritos; a revitalização disso, está também o bom entendimento com os do Baile do maçom e a promoção do Natal da famíPoderes Legislativo e Judiciário, somando-se a molia maçônica. tivação ao bom relacionamento dos Irmãos, cunhadas e sobrinhos”. Há também que se ressaltarem as comemorações anuais e homenagens ao Dia do Maçom em casas do Congresso Nacional e na Câmara Legislativa do Distrito Federal, a preocupação com o ensino de 28 ao enyte Álbum de família Vive a Maçonaria brasiliense um momento feliz no 40º aniversário de criação do Grande Oriente do DF, o GODF. Barracão onde funcionou a primeira Loja do DF, Estrela de Brasília, fundada em 14/05/1957, com os IIr. Dolisor Faria França, Fernando Sabino Júnior, José Paulo Sarkis, Otacílio Álvaro Pinto, José Carlos Souza, Olívio Rosa (proprietário do barracão), Dirceu Torres (sentado) e seu filho Luiz. A mesa diretora do congresso A Maçonaria de Ontem e do Amanhã era formada por altas autoridades da República. No detalhe ao lado, o presidente do Senado, senador Nelson Carneiro, o presidente do evento, Ir. Adirson Vasconcelos, e o presidente da Câmara, deputado Paes de Andrade. O historiador Adirson Vasconcelos e o eternamente jovem José de Melo. Início da construção do palácio do Poder Central, na 913 Sul. À direita, o engenheiro Geraldo Rodrigues dos Santos, delegado do soberano Grão-Mestre do GOB em Brasília. ao enyte 29 PA Í S R I CO É PA Í S S E M P O B R E Z A Uma organização social justa e perfeita não pode permitir a existência de pobreza, que se expressa, ainda mais tristemente, nos extremos representados pela pobreza absoluta. As causas desse infortúnio não estão distantes de cada um de nós: originam-se no egoísmo humano, no individualismo sem limites, no salve-se quem puder, no patrimonialismo, no consumismo exacerbado prevalentes na sociedade. É necessário reconhecer que a riqueza material existente no mundo é mais do que suficiente para que todos os habitantes do planeta dela se alimentem em harmonia. A felicidade, o bem-estar do homem, não reside na posse de bens além do necessário para sua sobrevivência digna. Há um provérbio que diz: “Quem quer dispor de segurança deve cuidar para que seus vizinhos não * Ulisses Riedel é fundador do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar – DIAP, presidente da ONG União Planetária e MM das Lojas Areópago, Honra e Tradição e Loja de Pesquisas. anos pa ra os Ulisses Riedel* morram de fome”. Mesmo examinando a questão de um ponto de vista pessoal, sem humanismo, há alta impropriedade naquele que pensa que seu bem-estar se restringe ao atendimento dos seus interesses materiais, sem preocupação com seus “vizinhos”. O grau de insegurança em que vivemos, especialmente nas grandes cidades, é fruto do não atendimento das necessidades básicas de muitos de nós, homens, mulheres e crianças. Na democracia que conhecemos, predomina a liberdade de competir, não de cooperar. No corpo humano, todos os órgãos se completam, se integram, se apoiam mutuamente e, assim também, na sociedade humana, é imprescindível a cooperação e a solidariedade entre os homens. Recorrendo às lições da mãe natureza, vemos pássaros, insetos, árvores, plantas, flores, que se integram em uma rede invisível de cooperação, que resulta no equilíbrio harmonioso da natureza. A prática de uma democracia cooperativa e solidária requer que todos sejam responsáveis pela globalidade, em que mulheres e homens adultos sintam todas as crianças como seus filhos e filhas e todas as idosas e idosos como suas mães e pais. Precisamos nos tratar como iguais e com a noção plena e o entendimento profundo de que, para alcançarmos tal ideal, é preciso criar uma consciência coletiva e, como decorrência, compreender que um país rico verdadeiramente é um país sem pobreza. Irmãos Jafé e Lucas A chapa formada pelos Irmãos Jafé Torres, Grão-Mestre, e Lucas Francisco Galdeano, Grão-Mestre Adjunto, conquistou 92,9% dos votos válidos nas eleições, para dirigentes do Grande Oriente do Distrito Federal, realizadas no dia 12 de março, por mais 4 anos, até 2015. O resultado confirmou o favoritismo da dupla, que já vem administrando o GODF desde 2007. Nesse período, os Irmãos Jafé e Lucas implantaram uma política enérgica de renovação dos quadros da Ordem, com a dispensa de taxas para iniciações, filiações e regularizações de maçons. “Inicialmente, o GODF perde essas receitas, que serão recompensadas pelo regular pagamento das mensalidades da taxa anual de obreiros devida”, assinalam os relatórios anuais endereçados pelo Executivo do GODF à Poderosa Assembleia Distrital Legislativa – PADL, com solicitações para a renovação da Lei que criou as isenções, aprovada, primeiramente, em 2008. Outra política implantada pela administração Jafé/ Lucas que agradou profundamente a família maçônica foi a de ouvir periodicamente os veneráveis Mestres das Lojas do GODF. Todos os eventos promovidos pelo Grande Oriente do DF são debatidos em reuniões prévias com os veneráveis. Essa participação dos veneráveis foi fundamental para o GODF realizar, em 2010, a campanha NATAL DA FRATERNIDADE, em parceria com a Fundação Gonçalves Ledo e o Correio Braziliense, além de três 30 ao enyte Foto: Jo A escolha do lema “País rico é país sem pobreza”, em substituição ao anterior “Brasil para todos”, denota a prioridade em que o novo governo balizará suas ações para extirpar a injustiça, a desigualdade social e a miséria ainda presentes, infelizmente, entre os brasileiros. +4 Eleições aquim N ogales Social festivais de massa em homenagem aos Dias das Mães e os já tradicionais bailes anuais dos maçons. No XVIII Baile do maçom, em 2010, mais de duas mil pessoas lotaram o salão de festas do Grande Oriente do Brasil. Com o apoio dos veneráveis, Jafé e Lucas conseguiram reformar os templos do edifício sede do GODF, na SQN 415. Para isso, as Lojas Fraternidade Brasiliense 2.300, Cavaleiros da Fraternidade 2.315 e Obreiros do Planalto 2.323, que eram possuidoras de 60% da sede do GODF, após a aprovação das respectivas Assembléias Gerais, doaram suas cotas ao Grão-Mestrado. Na administração Jafé/Lucas, o GODF também implantou o Curso de Pós-Graduação de História da Maçonaria em parceria com a Centro Universitário do Distrito Federal – UDF e apoiou os eventos da Academia Maçônica de Letras do Distrito Federal – AMLDF. O resultado do Grão-Mestrado pode ser medido em números. Em 31/12/2007, o quadro de Obreiros do GODF registrava o total de 1.906 maçons regulares em atividade. Esse número saltou para 2.227 em 31/12/2008; 2.304 em 31/12/2009; e 2.422 em 31/12/2010. Com esses números, nada mais natural que a dupla Jafé/Lucas tenha conquistado novo mandato, afinal, maçom ou não maçom, ninguém gosta de mexer em time que está ganhando. J.N. ao enyte 31 Diplomação Maçonaria diferenciada Uma Sessão de diplomação de um Grão-Mestrado geralmente é uma sessão com poucos convidados, na qual os integrantes do Tribunal Eleitoral oficializam a vitória da chapa vencedora no sufrágio realizado. A sessão magna para a diplomação dos Irmãos Jafé Torres e Lucas Galdeano como dirigentes eleitos do Grande Oriente do Distrito Federal para o período 2011/2015, realizada no dia 30 de maio, porém, contou com a participação de mais de 400 pessoas, entre Irmãos e convidados. Faltou espaço no Templo Nobre do GODF. A cerimônia teve a presença de 69 veneráveis Mestres da Jurisdição do GODF. Na oportunidade, eles receberam os diplomas "Honra Quem Honra", uma homenagem da diretoria do GODF aos dirigentes das Oficinas sob sua jurisdição. Presentes, também, representantes do Ministério Público e da Assembleia Distrital Legislativa Macônica, entre eles o presidente da ADLM, Irmão Manoel Tavares. A coordenação musical da sessão ficou a cargo do Irmão maestro Mardem Maluf, que regeu o Hino Nacional Brasileiro e o Hino do GODF, cuja letra e melodia são de sua autoria. 32 ao enyte www.documentalcontabil.com.br E-mail: [email protected] SEPS 705/905, conj. A, salas 309 e 311 – Centro Empresarial Santa Cruz Tels.: (61) 3242-4132 / 3244-6476 Fax: (61) 3244-6476 Terceiro setor Chamado contra o cân ÄÄ detecção precoce dos tumores malignos mais cer comuns, para se identificar e acompanhar clinicamente indivíduos integrantes de grupos de risco, propensos ao desenvolvimento de câncer; ÄÄ maior acessibilidade aos programas de prevenção, ao diagnóstico precoce e ao tratamento do câncer; ÄÄ apoio biopsicossocial aos pacientes de câncer por voluntários dispostos a atuar decisivamente na recuperação dos doentes, provendo apoio psicológico, emocional e material aos pacientes e familiares. Esses cinco pontos cardeais constituem a base da filosofia de trabalho do Hospital Amaral Carvalho, instituição de referência oncológica que mais realizou intervenções cirúrgicas pelo SUS no estado de São Paulo, para extirpação de tumores em 2010, precisamente 18.713 cirurgias. Também foi o hospital que realizou o maior número de transplantes alogênicos (de maior complexidade) de medula óssea no ano passado, respondendo por 25% do total dos procedimentos desse tipo realizados no Brasil. Antonio Luís Cesarino de Moraes Navarro* A maioria das doenças degenerativas sistêmicas chamadas de câncer pode ter cura ou transformar-se em doenças crônicas, com prolongamento da vida com qualidade ao alcance dos pacientes. Apenas alguns tumores malignos extremamente agressivos são letais. Eles formam o segundo grupo de doenças mais mortíferas conhecidas pelo homem. Estima-se que, a cada ano, 12 milhões de pessoas sejam diagnosticadas com algum tipo de câncer no mundo e, no mesmo período, mais de 7 milhões morram em consequência dessas doenças. óbitos registrados no país. Algo em torno de 130 mil mortes por ano, ou seja, quase quatro vezes mais do que as mortes provocadas por acidentes de trânsito. E a tendência, infelizmente, é que esse quadro se agrave com o envelhecimento da população e as dificuldades de acesso ao diagnóstico precoce e ao tratamento do câncer, o que eleva a mortalidade em decorrência de tumores. No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer – INCA calcula a ocorrência de cerca de 490 mil novos diagnósticos de câncer por ano. O grupo constituído por neoplasias responde por aproximadamente 15% dos ÄÄ campanhas educacionais estimulando hábitos e * Antonio Luís Cesarino de Moraes Navarro é Diretor Superintendente da Fundação Amaral Carvalho e presidente da Federação Brasileira das Entidades de Combate ao Câncer – FEBEC. 34 ao enyte Fundado em Jaú, no interior paulista, em 1915, o Hospital Amaral Carvalho conta hoje com 376 leitos (12 UTIs) e cerca de 1.900 funcionários. Com larga experiência no combate ao câncer, o Amaral Carvalho desenvolveu centenas de procedimentos clínicos para o tratamento de diversos tumores. Em todos eles, dois são comprovadamente essenciais: a garantia de acesso ao tratamento médico e o apoio biopsicossocial ao paciente. O sucesso do tratamento contra o câncer está umbilicalmente ligado à assistência social. De pouco vale o diagnóstico da doença se o paciente não obtiver meios de acesso ao tratamento adequado. Também surtirá muito pouco efeito se se tratar um paciente no hospital e ele, ao retornar à sua casa, não tiver condições de manter uma alimentação saudável, não dispuser de recursos para adquirir os remédios necessários ou, ainda, se não contar com cuidados especiais que a recuperação reclama. Dos 75 mil pacientes anuais do Amaral Carvalho, 95% são atendidos pelo Sistema Único de Saúde – SUS e muitos não têm condições de se alimentar adequadamente ou são originários de cidades distantes, não tendo condições de pagar transporte ou hotel na cidade de Jaú. (O hospital atende a pacientes de aproximadamente 900 cidades, sendo metade deles paulistas e a outra metade dos quatro cantos do país.) A boa notícia é que é possível, sim, reduzir esses números se adotarmos uma política de combate ao câncer lastreada em cinco pontos fundamentais: Para contornar essas dificuldades, em meados dos anos 90, a direção do hospital criou, com a colaboração de voluntários, casas de apoio para hospedar, na cidade de Jaú, pacientes visitantes em tratamento e seus familiares. Atualmente, essas casas de apoio oferecem, de graça, em média, 65 mil diárias de hotelaria por ano. Em 2010, elas forneceram cerca de 325 mil refeições, também gratuitamente. alimentação mais saudáveis, com a consequente redução do consumo de produtos potencialmente cancerígenos; ÄÄ campanhas de prevenção voltadas à população em geral sobre a necessidade de exames periódicos para detecção de potenciais tumores malignos; Um dos vários laboratórios de pesquisa do HAC. A pediatria oncológica do HAC é referência nacional e conta com amplo espaço lúdico para as crianças. Esses expressivos números de atenção à saúde foram alcançados graças à atuação dos núcleos de voluntáao enyte 35 rios no combate ao câncer, cuja organização a direção do Amaral Carvalho apoiou em meados dos anos 90. Hoje existem 97 desses grupos, que congregam aproximadamente 4 mil voluntários, que atendem a 350 municípios. Outros mil voluntários não estão ainda organizados em núcleos, mas sua atuação tem contribuído para salvar vidas. A equipe do Hospital Amaral Carvalho constatou que a assistência prestada por esses voluntários resulta em sobrevida de 12,4% para os pacientes de câncer. Em outras palavras, nos grupos de pacientes assistidos por voluntários, há 12,4% de casos de cura ou sobrevida acima de 5 anos a mais do que em grupos não assistidos. São os voluntários que oferecem apoio psicológico e emocional, que garantem os remédios nas horas certas, a alimentação balanceada, enfim, que dão esperança de vida e suporte material aos pacientes assistidos e às suas famílias. Para difundir essas e outras experiências de sucesso comprovado no tratamento oncológico aos agentes de saúde de todo o país, a Fundação Amaral Carvalho – FAC, provedora do hospital, apoiou decisivamente a criação da Federação Brasileira das Entidades de Combate ao Câncer – Febec em 2008. No ano passado, a Febec deu um grande passo na educação e na prevenção contra o câncer, ao firmar parceira com a Editora Andreato, que publica, com sucesso, o Almanaque Brasil de cultura popular desde 1999, para elaboração de revista voltada exclusivamente à promoção de saúde: o Almanaque de cultura e saúde. Pelo acordo, a Editora Andreato elabora o conteúdo da revista, e os recursos provenientes de assinaturas são revertidos à Febec para campanhas contra o câncer. Após décadas de estudo e pesquisa, pode-se dizer, cientificamente, que o tratamento de câncer é mais eficaz com a devida assistência social ao paciente e que a solidariedade humana é, de fato, poderoso agente contra as neoplasias mais temerosas que conhecemos. Com essa constatação, rogamos ao leitor que fique atento a futuras campanhas de combate ao câncer, pois será chamado a demonstrar solidariedade, a qual será decisiva para a preservação da vida de milhares de pacientes que enfrentam nosso arqui-inimigo: o câncer. Hospital Amaral Carvalho Domingos Pereira de Carvalho Anna Marcelina Pereira de Carvalho De maternidade a referência nacional no tratamento oncológico O Hospital Amaral Carvalho foi inaugurado em Jaú, a 296 km da capital, São Paulo, no dia de Natal, 25 de dezembro de 1915. Preocupados com o alto índice de mortalidade infantil e das parturientes na época, Domingos e Anna Marcelina Pereira de Carvalho, casal que, além de dono de cafezais era proprietário do Banco Paulista e acionista da Estrada de Ferro Paulista, doaram a maternidade para gestantes carentes e apoio às crianças. Quase 45 anos se passaram e a então Maternidade de Jahu (antiga ortografia do nome da cidade) eleva sua categoria para hospital geral, na époVista aérea da cidade de Jaú com o Hospital Amaral Carvalho em destaque. ca, de grande importância para a região, com outra denominação: Hospital Amaral Carvalho. Em 1960, a primeira clínica de tumores do estado de São Paulo, vinculada ao Hospital AC Camargo de São Paulo, o então Hospital Amaral Carvalho transformou-se em hospital de especialidade oncológica e, hoje, é referência no país em tratamento e pesquisa do câncer. O Departamento de Medicina Nuclear do Hospital Amaral Carvalho dispõe do moderno equipamento PET-CT, que une a imagem de tomografia por emissão de pósitrons com a imagem obtida por meio da tomografia computadorizada convencional 36 ao enyte de alta definição. Essa fusão de imagens possibilita a detecção e localização precisa de lesões em todo o corpo do paciente, permitindo o diagnóstico precoce de tumores de pequenas proporções ou de novos focos da doença. Em função das características socioeconômicas do paciente do HAC, foram criadas, na década de 90, casas de apoio gratuitas para hospedagem e alimentação de pacientes visitantes em Jaú, além do Espaço Cultural Amaral Carvalho, para apoio psicosociocultural. ao enyte 37 Internacional Líbano Síria Tunísia Iraque Israel Jordânia Kuwait Egito William Almeida de Carvalho* ela é vista e praticada no mundo árabemuçulmano. Para tanto, vamos nos ater aos especialistas da área, principalmente aos IIr. Kent Henderson, da Austrália, e Celil Layiktez, da Turquia, ambos publicados no maior portal maçônico do mundo: http://www.free-masons-freemasonry.com/ e no portal islâmico-maçom: http:// www.grandorientarabe.org/. Um dos maiores orientalistas ocidentais — professor Bernard Lewis, inventor do conceito do “choque de civilizações” e defensor da invasão norte-americana no Iraque — acreditava que havia um defeito irremediável na cultura árabe-muçulmana: a resistência visceral à mudança, que condenaria este mundo à exclusão da modernidade. “A doutrina ocidental do direito de resistir a um mau governo é estranha ao pensamento islâmico”. Existe certa má vontade em relação à Maçonaria nos países islâmicos. Razões históricas e correntes estão na raiz desse descontentamento. Como a existência da Maçonaria está vinculada a um processo de modernização no Ocidente e a um prenúncio de Iluminismo, já é hora de se ver como * William Almeida de Carvalho é economista, cientista político, historiador, presidente da Academia Maçônica de Letras do Distrito Federal e venerável Mestre da Loja de Pesquisa do GODF. 38 ao enyte U.A.E Líbia recentes acontecimentos de mobilização política no norte da África e no Oriente Médio, que culminaram nas quedas dos presidentes Zine el-Abidine Ben Ali, da Tunísia, e Hosni Mubarak, do Egito, em março, e no início de uma guerra civil na Líbia do coronel Muamar Kadafi, trouxeram para a agenda mundial os dilemas e as contradições da cultura política do mundo árabemuçulmano. Com os acontecimentos em janeiro e fevereiro deste ano, este mundo começa a ser inserido no processo político de modernização e de mudança. Culturas que não vivenciaram o processo iluminista — que separou os poderes do Estado das religiões — começam a exigir liberdade, democracia, direitos e respeito à coisa pública. Arábia Saudita Quatar Um pouco de História Os maçons escoceses estabeleceram a primeira loja no Oriente Médio em Aden, em 1850, seguida de uma loja na Palestina, em 1873. O grande avanço, todavia, surgiu no começo do século XX, com lojas no Iraque, logo após a 1ª Guerra Mundial, mas com percalços. Somente em Israel a Maçonaria desabrochou com ênfase e, em menor extensão, no Líbano. Em 1925, foi criada a Loja Jordan #1339 na Jordânia pelos escoceses, e as Lojas Militares James R. Jones #172 e Pernell Cooper #177, ambas sob jurisdição da Grande Loja Prince Hall de Oklahoma, que se reuniam na base militar norte-americana no Golfo Pérsico. As lojas — com cartas patentes inglesas — no Iraque, Yemen (Aden) e outras na península Arábica foram extintas como resultado de fortes pressões políticas e religiosas. Oman Lojas com cartas patentes alemãs foram criadas na Arábia Saudita, mas não se reuniam e tiveram futuro incerto. No Irã, que chegou a possuir uma Grande Loja, a instituição foi destruída, gerando uma das grandes tragédias maçônicas. Yemen No norte da África, as criações e percalços foram semelhantes. A Maçonaria chegou ao Marrocos na década dos 60 e lá ficou até o século XIX. Existem registros de uma loja escocesa em 1902 e de uma inglesa em 1927. Posteriormente, ambas se mudaram para Gibraltar. Em 1967, constitui-se uma Grande Loja no Marrocos, desaparecida alguns anos depois. A Grande Loja Nacional Francesa (GLNF) expediu cartas patentes para três lojas no Marrocos em 30 de junho de 1997: Casablanca, Rabat e Marrakesh. A GLNF conseguiu permissão do governo do Marrocos para erigir lojas, visto que proibia terminantemente discussões políticas e religiosas em suas lojas. Argélia, Líbia e Tunísia tiveram lojas durante seu período colonial. O caso do Egito é emblemático. Suas primeiras lojas datam do início do século XIX, com as primeiras cartas patentes vindas da França e da Alemanha. Ainda na década de 60, começaram a aparecer as cartas patentes inglesas, escocesas e italianas. No período posterior à II Guerra Mundial, os escoceses tinham três lojas sob sua jurisdição, e os ingleses 14, sendo que a mais velha, a Loja Bulwer do Cairo #1068, havia sido iniciada em 1865, sob a jurisdição da Grande Loja Distrital, formada em 1899. Sultão (maçom) Otomano Mehmed V (1917) ao enyte 39 Uma Grande Loja Nacional no Egito era a Obediência Predominante e costumava ter problemas de relacionamento com a Grande Loja Unida da Inglaterra. Suas lojas trabalhavam em diversas línguas: árabe, grego, francês, italiano, hebraico e alemão. A ascensão do Movimento Nacionalista no Egito, com chegada ao poder do presidente, levou a Maçonaria a ser proibida em meados da década de 1950. A Maçonaria e o Islã A pergunta central se impõe: Por que existe uma relação conflituosa entre os países islâmicos em geral e os árabes em particular? Nos países ocidentais, o movimento iluminista serviu também para cortar os caninos das grandes religiões monoteístas, domesticando-as e separando-as do Estado, que se tornou mais laico, e a religião transformou-se em assunto privado, garantido pelo Estado. No Islã, que ainda está em fase pré-iluminista, a religião domina quase integralmente todas as esferas do poder. O movimento de mobilização política a que se assiste atualmente, centrado nas redes sociais, começa a desmontar a reserva de mercado religioso. No Ocidente, a Igreja Católica foi a mais tenaz opositora das ideias iluministas em seu início, principalmente nos países de monopólio católico, como as bulas papais condenatórias sempre demonstraram nos séculos XVIII e XIX, mas hoje ela já começa a conviver em paz com esses princípios. Os países do Islã não possuem um Vaticano, ou seja, uma estrutura centralizada, mas, desde meados do século XIX, proliferam os artigos, atos e decretos condenatórios à Maçonaria. Um dos mais influentes corpos consultivos para promulgar e interpretar a Lei Islâmica é o Colégio Jurisdicional Islâmico (CJI), da Universidade El-Azhar no Cairo. O CJI, em 15 de julho de 1978, exarou uma “bula” condenatória sobre a “Organização Maçônica”. Sinteticamente, o Supremo Conselho do CJI dizia o seguinte: Após uma exaustiva pesquisa concernente à esta organização, baseado em textos escritos de diversas fontes, nós determinamos: A Maçonaria é uma organização clandestina, que esconde ou revela seu sistema, dependendo das 40 ao enyte circunstâncias. Seus atuais princípios são escondidos de seus membros, exceto para aqueles escolhidos de seus graus superiores. Os membros da organização, mundialmente são recrutados entre homens, sem preferência por religião, fé ou seita. A organização atrai membros no intuito de providenciar benefícios pessoais. Arranja para que sejam politicamente ativos e seus fins são injustos. Novos membros participam de cerimônias com diferentes nomes e símbolos, temerosos de desobedecer a seus regulamentos e ordens. Normalmente os membros são livres de praticar sua religião, mas somente aqueles que são ateus são promovidos aos mais altos graus, baseados no afã de quererem servir aos seus perigosos princípios e planos. É uma organização essencialmente política. Serviu a todas as revoluções, às transformações militares e políticas e em todas as perigosas mudanças uma relação desta organização aparece, ora explícita, ora velada. É uma organização judaica em suas raízes. Seu alto corpo diretivo secreto internacional é judeu e promove atividades sionistas. Entre os seus objetivos primordiais está o de desviar e confundir o espírito de todas as religiões, inclusive separando os muçulmanos do Islã. Tenta recrutar pessoas influentes no mundo financeiro, político, social e científico para utilizá-los. Não considera candidatos aqueles que não possa utilizar. Recruta reis, primeiros-ministros, altos funcionários públicos e indivíduos similares. Tem fachadas sob diferentes nomes como camuflagem para que o povo não possa rastrear suas atividades, especialmente se o nome “Maçonaria” possui oposição. Essas fachadas escondidas são conhecidas como Lions, Rotary e outros. Perseguem perversos princípios, completamente opostos às regras do Islã. Existe clara relação entre a MaçoJuiz Ragheb Idris Bey, ex-governador de Kalioubieh, Grão-Mestre e Soberano Comendador do Egito. naria, o Judaísmo e o Sionismo Internacional. Tem controlado as atividades dos altos funcionários árabes, no tocante ao problema palestino. Tem limitado seus deveres, obrigações e atividades, em benefício do Judaísmo e do Sionismo Internacional. Assim, dado que a Maçonaria traz em si perigosas atividades, ela é um grande perigo, com princípios iníquos, que o Sínodo Jurisdicional determina que a Maçonaria é uma perigosa e destrutiva organização. Qualquer muçulmano que se afilie, sabendo a verdade de seus objetivos, é um infiel do Islã. Conclusão Esses 10 pontos, apesar de seus absurdos e inverdades, representam para o Islã mais fundamentalista as principais causas da antipatia em relação à Maçonaria. O Islã mais exposto aos valores da modernidade despreza tais “bulas” condenatórias. Acredita-se que, na medida em que o Islã se modernize econômica e politicamente, a Maçonaria, assim como outras instituições não islâmicas, possam conviver em paz em um mundo mais tolerante. Evidente que as cargas históricas não são fáceis de ser removidas. Colonialismo, conflito com Israel, aversão aos imperialismos, atraso econômico e tecnológico etc. são sérios óbices a uma cultura mais tolerante. A política dos EUA em relação aos países islâmicos tem também boa chance de mudar, pois a lição da história de 1848 até 1989 é que levantes tornam-se virais e ricocheteiam de país a país. A mensagem transmitida pela Praça Tahir é a seguinte: os egípcios experimentaram o nasserismo, o islamismo e agora querem experimentar o sistema representativo aberto, sem copiar os países do Atlântico norte, pois isso deve ecoar entre os árabes e também no Irã. Querem sair do dilema mortal das últimas décadas: uma “estabilidade” envolvendo o “ancien régime” de Mubarak ou uma “instabilidade” que deve ser evitada a qualquer custo. O recentíssimo fenômeno social das redes sociais — Facebook, Twitter etc. — pode lubrificar os mecanismos de revolta em países esclerosados pelas ditaduras de uma Era dos extremos, de Hobsbawn, que, parece, está sendo erodida. Tudo leva a crer que os ditadores analógicos, aqueles que faziam discursos absurdamente longos no rádio e na TV, começam a Loja Maçônica no Cairo, em 1940, sob o retrato do Rei Farouk. minguar. Na geração dos autocratas 2.0, os pronunciamentos cabem em 140 caracteres, porque todo ditador que se preze tem hoje um perfil no Twitter. O Egito tem atualmente dois rumos a seguir e ambos são instáveis. Em um deles, o movimento pelo sistema representativo sucumbe, e o Egito se transforma em um imenso Paquistão; no outro, também há, necessariamente, instabilidade, com as dores de parto da modernidade política e institucional em um sistema aberto, como na Indonésia e na África do Sul. A comunidade internacional, apesar da constatação de muitos países terem sido colonizadores e outros estarem de olho no petróleo do Oriente Médio, pode ajudar, e muito, o mundo islâmico a recuperar sua autoestima e sepultar, de uma vez por todas, seu complexo de vitimização. Os novos ventos soprados no Magreb — liberdade, igualdade e fraternidade — são indicadores de novos tempos esperançosos pós-Al Qaeda, pois a liberdade não é um valor que só os países cultos e evoluídos prezam. Como bem frisou o mestre Mário Vargas Llosa: “Massas desinformadas, discriminadas e exploradas também podem, às vezes por caminhos tortuosos, descobrir que a liberdade não é um ente retórico desprovido de substância, mas uma chave mestra para sair do horror, um instrumento para construir uma sociedade onde homens e mulheres possam viver sem medo, dentro da legalidade e com oportunidades de progresso”. Quem viver verá... Inshallah. ao enyte 41 Fraternidade Rito Schröder Um caminho do ser Maçom “Quem considera seu Rito, sua Grande Loja, Grande Oriente, ou sua Loja superior aos demais, ainda não compreendeu o verdadeiro significado de ser maçom” (Rui Jung Neto – GLMERGS). Ari de Sousa Lima* O criador do Rito, Friedrich Ulrich Ludwig Schröder (1744-1816), foi ator, teatrólogo, produtor, dono de teatro em Hamburgo e um dos reformadores da Maçonaria na Alemanha. As Lojas realizam, no mínimo, uma Sessão Ritualística mensal e se utilizam regularmente das Sessões “a campo” (fora do Templo ou não), dedicadas a assuntos administrativos, para ensaios ritualísticos ou apresentação de trabalhos ou instrução. A Maçonaria Moderna nasceu no século XVIII, auge do Iluminismo, quando pensadores como Schröder, Goethe, Herder, Schiller, Voltaire e o Imperador Frederico II semearam os conceitos de Igualdade e Fraternidade entre todos os homens, independentemente de nacionalidade, raça, credo ou posição social. Schröder adaptou peças de teatro dos originais franceses e ingleses, bem como traduziu para o alemão, dirigiu e interpretou as principais obras de Shakespeare. Aos 35 anos, era considerado o maior ator da Alemanha. Respeitado por sua conduta ilibada, desde tenra idade relacionou-se com a nobreza germânica e com os mais proeminentes homens do seu tempo: Herder, Lessing, Goethe, Fessler, Schiller. Iniciado na Ordem em 1774, por proposição do Ir. Bode (membro da Loja Absalom), na Loja Emanuel à Flor de Maio, entendia que a “caridade, no sentido mais amplo, é a característica e o espírito da Franco-Maçonaria”. Em 1787, foi eleito venerável Mestre da Loja Emanuel, quando então encaminhou reformas e leis da Loja, incluindo o retorno ao sistema de 3 graus, nova constituição e ritual para a Grande Loja Provincial de Hamburgo e da Baixa Saxônia. 42 O templo Schröder e sua decoração O templo do maçom é uma sala retangular decorada com as três grandes Luzes, as três pequenas Luzes e o Tapete (a planta do Templo de Salomão). Esses são os elementos necessários ao trabalho maçônico. O ritual Schröder, em 1960, procurou dar maior amplitude à simplicidade aplicada aos rituais brasileiros. Qualquer sala, de preferência retangular, pode constituir-se um templo, de preferência em um piso único. Friedrich Ulrich Ludwig Schröder Em 1809, Schröder foi eleito Grão-Mestre da Grande Loja de Hamburgo, vindo a falecer em 1816. Conhecendo o Rito Anos mais tarde, em 1801, quando eleito Grão-Mestre Adjunto, presidiu a assembléia geral dos maçons da Loja Provincial da Baixa Saxônia e Hamburgo, filiada à Grande Loja de Londres, na qual se aprovou a adoção do ritual que viria a ser denominado, em 1814, Rito Schröder, e seria adotado pela Grande Loja de Hamburgo, por Lojas de toda a Alemanha e também de todos os continentes. O Rito Schröder é composto de cinco rituais: o da Loja de Aprendiz, de Companheiro, de Mestre, de Lojas de Mesa e de Funeral. Adota a corrente dos Modernos, que defendem o desenvolvimento maçônico baseado nos princípios da Grande Loja de Londres, também conhecida como a Grande Loja dos Modernos, a quem esteve filiada de 1740 a 1811, quando se transformou na Grande Loja de Hamburgo. * Ari de Sousa Lima é Grande Secretário-Geral de Orientação Ritualística Adjunto para o Rito Schröder/Grande Oriente do Brasil, membro do Colégio de Estudos do Rito Schröder e das Lojas Jeremias Pinheiro Moreira n. 2099 – REAA e Lázaro Luís Zamenhof n. 3600 – Rito Schröder (fundador). “É um rito simplificado, próprio para os dias modernos. Ele exige apenas atitudes simples, para que possamos viver em fraternidade. E é a isso que a Maçonaria se pro- ao enyte põe. Ela não é um estado social como muitos pensam ser. Ela é um estado de espírito, uma união de pessoas que se consideram irmanadas na busca de um pensamento humanitário para o mundo. Isso está espelhado nos rituais dos graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre. É muito importante a leitura constante desses rituais, pois só assim poderemos entender a mensagem do Irmão Friedrich Ludwig Schröder”, escreveu o Irmão Antônio Gouveia Medeiros — Secretário-Geral de Orientação Ritualística do GOB. O Templo (um dos) da Loja Absalom zu den drei Nesseln n. 1. O Rito Schröder no Brasil apresentou expressivo crescimento a partir de 1995. De 14 lojas então existentes, expandiram-se para as 102 atuais, das quais 32 pertencentes ao Grande Oriente do Brasil. Uma das causas da expansão ocorrida foi a fundação do Colégio de Estudos do Rito Schröder de Florianópolis (SC), em 1997, que mantém estreito contato com to- das as Lojas Schröder do Brasil, visando manter sintonia com os ideais de Schröder, com as tradições ritualísticas de Hamburgo, bem como com a uniformidade de pensamento entre todas as lojas. O Colégio é integrado exclusivamente por Mestres Maçons. O Colégio conta com a participação de membros da Maçonaria Alemã, possuindo inscritas em seu quadro as 102 Lojas Schröder de 17 Potências Regulares Brasileiras (GOB, CMSB e COMAB) e mais de 300 Irmãos Mestres (dos diversos ritos), que recebem, a cada dois meses, por meio eletrônico, boletim sobre assuntos relacionados com o rito, denominado As Notícias do Rito. No Rito Schröder, o orientador, o conselheiro ou instrutor do Aprendiz e do Companheiro fora da Loja é o Mestre Maçom, chamado de Garante, conhecido como Padrinho. Daí o Colégio enfatizar a preparação do Mestre Maçom para o exercício dessa nobre missão. O Garante é a tradução literal da palavra “Burge” em alemão. O Padrinho, no sistema maçônico brasileiro, é aquele que propõe, o que nem sempre acontece com o Garante. Tanto na Iniciação como na Promoção e Elevação, ele terá de se manifestar sobre sua responsabilidade em relação ao Candidato, ao Aprendiz e ao Companheiro. O Ritual, os usos e costumes Schröder estabelecem que, em Loja, a instrução é de responsabilidade do venerável Mestre e, fora, do Garante. Sintetizo o pensamento de um grande Irmão do Rito como sendo meu entendimento do sistema de ensino maçônico: apesar de amar o Rito Schröder e trabalhar pela sua consolidação e crescimento em todas as Potências Regulares do Brasil (no meu caso em particular, Grande Oriente do Brasil), devo enfatizar minha convicção de que não há, e nem poderia haver, supremacia de um Rito sobre os demais. Os Ritos maçônicos Regulares devem ser venerados e estudados por todos os maçons, pois têm suas próprias origens históricas e filosóficas e são métodos de ensino que retratam uma época e uma ideologia. “Quem considera seu Rito, sua Grande Loja, Grande Oriente, ou sua Loja superior aos demais, ainda não compreendeu o verdadeiro significado de ser maçom” — Irmão do Rito Schröder. ao enyte 43 Loja emde Tempo foco estudo Os Supremos Conselhos no Brasil A história do Supremo Conselho do Grau 33, fundado no Brasil em 1832 por Francisco Gê Acayaba de Montezuma, confunde-se com a do Grande Oriente do Brasil, pois as duas instituições fundiram-se em 1854. O Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil era, então, simultaneamente, o Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho. O cisma ocorrido na Maçonaria brasileira em 1927 constituiu-se o divisor de águas entre ambas. As divergências que originaram a cisão ocorreram no Supremo Conselho, com repercussão direta no Simbolismo, com a criação das Grandes Lojas nos estados, autônomas. No Supremo Conselho, a defecção não foi unânime, permitindo ao Grande Oriente do Brasil (GOB) sua recomposição. Os dois Supremos Conselhos, que então passaram a coexistir no Brasil, deram início ao processo de disputa de reconhecimento e regularidade diante das demais Oficinas Chefes em outros países, principalmente da Loja Mãe (Inglaterra). O Supremo Conselho do Grau 33 do REAA para a República Federativa do Brasil, em face das circunstâncias diversas e de sua atuação na Convenção de Supremos Conselhos ocorrida em Paris, em 1929, fez com que o Supremo Conselho, então ligado ao GOB, fosse impedido de participar do conclave. Já a facção dissidente, de acordo com os historiadores maçônicos, por discordar da orientação existente até 1927, contou com as graças do organizador, recebendo, naquela ocasião, os foros de legitimidade e regularidade, sem que fosse dada a oportunidade ao Supremo Conselho ligado ao GOB de apresentar sua versão dos fatos. * Marcos A. P. Noronha é Grande Inspetor-Geral do REAA nos Altos Corpos e atual Presidente (Comandante em Chefe) do Mui Poderoso Consistório dos Príncipes do Real Segredo n. 16. 44 ao enyte do Rito Escocês Antigo e Aceito Marcos A. P. Noronha* Em 1951, o Supremo Conselho remanescente, ligado ao GOB, tornou-se autônomo, separando sua administração da Obediência Simbólica. Desde então, registramos a independência de atuação do hoje denominado Supremo Conselho do Brasil do Grau 33 para o Rito Escocês Antigo e Aceito. Em que pese tal divisão, há cooperação mútua entre esse Supremo Conselho e o GOB, com quem mantém tratado de amizade e mútuo reconhecimento. Tanto é assim, que é exigido, ou pelo menos deveria ser, ao maçom, para frequentar e galgar Graus no Supremo Conselho, pertencer e estar regular em uma Loja Simbólica federada ao GOB. O Supremo Conselho possui como órgãos subordinados as Delegacias Litúrgicas e o Colégio dos Grandes Inspetores Gerais e como Corpos subordinados as Augustas Lojas de Perfeição, os Sublimes Capítulos Rosa-Cruzes, os Ilustres Conselhos Filosóficos de Kadosh e os Mui Poderosos Consistórios de Príncipes do Real Segredo. Os graus superiores do Rito Escocês Antigo e Aceito no Brasil É comum, ao ser iniciada a escalada maçônica no escocesismo a partir das Lojas de Perfeição, ser expresso: “Ah! Agora você está frequentando os graus filosóficos!” ou ainda: “Você está no filosofismo!”. Levado ao pé da letra, filosofismo significa, segundo Aurélio Buarque de Holanda Ferreira em seu Novo Dicionário da Língua Portuguesa: “Filosofismo. S. m. 1. Mania filosófica. 2. Falsa filosofia”. A se considerar tal definição, a utilização do termo filosofismo é imprópria, até porque a Maçonaria objetiva a evolução; para tanto, há que se filosofar, pois quando o homem em geral e o maçom em particular se dedicam a decifrar os enigmas da vida, estarão, inquestionavelmente, filosofando. A Maçonaria é eclética, como convém ao equilíbrio da mente, afastada do sectarismo, do fanatismo e do proselitismo e, portanto, abrange a filosofia, a história, a mítica, a mística etc. Para alguns pensadores maçônicos, a Maçonaria dividese em Maçonaria Simbólica e Maçonaria Filosófica. No entanto, para outros, os Maçons não deveriam utilizar essa conceituação, pois, mesmo nos Graus Simbólicos, a filosofia se diz presente e, ainda, porque, utilizando o rigor maçônico no que concerne ao Rito Escocês Antigo e Aceito, o estudo filosófico propriamente dito é iniciado no Conselho Filosófico de Kadosh. O Rito Escocês Antigo e Aceito é composto de 33 Graus, com duas subdivisões: Graus Simbólicos — Aprendiz, Companheiro e Mestre — e os Graus Supe- riores, constituídos de quatro séries, a saber: I – Graus Inefáveis: do 4° ao 14°; II – Graus Capitulares: do 15° ao 18°; III – Graus Filosóficos: do 19° ao 30° e IV – Graus Administrativos: do 31° ao 33°. Portanto, o estudo filosófico da Maçonaria, na acepção do termo, ocorre quando do ingresso no Conselho Filosófico de Kadosh. Dessa forma, um verdadeiro maçom, principalmente aquele que chega a “cursar” os chamados Graus Superiores, que no caso do REAA significa passar por cada um dos Corpos citados nos parágrafos precedentes, só o é se for cumpridor de seus deveres com a Ordem e com os Irmãos, procurando exercitar, na plenitude, apesar das limitações inerentes ao homem, a trilogia Maçônica: Fraternidade, Liberdade e Igualdade — alterada a ordem —, uma vez que somente sendo verdadeiramente fraterno, buscador da liberdade é que poderemos chegar a uma relativa igualdade. Conclusão Os trabalhos nos Corpos dos Graus Superiores exigem esforço, dedicação e estudo aprofundado da mensagem iniciática de cada Grau. A contrapartida ao obreiro dessa caminhada é o seu crescimento espiritual. A Maçonaria, como sociedade iniciática, adota para o ensino de suas doutrinas método diverso do de outras ordens iniciáticas, ou seja, avança na interpretação esotérica dos símbolos oferecidos ao estudo de seus adeptos. É o denominado método iniciático eminentemente autodidático, que dispensa magistérios. O maçom que não adentra na escalada maçônica nos Graus Superiores, em regra, deixa de estudar e compreender novos horizontes, o que o leva ao esquecimento dos principais objetivos e princípios da Ordem, circunscrevendo-se à compreensão das matérias contidas nos Rituais, Constituições, Regulamentos e outras publicações oficiais de fundo administrativo. ao enyte 45 Obra em destaque As palavras do grande Nicola Aslan na obra Instruções para Lojas de Perfeição para o 4º Grau reforçam “que as atividades sociais, filantrópicas, administrativas, litúrgicas, ritualísticas e outras não passam de meros instrumentos utilizados pela Maçonaria para motivar e vitalizar as Lojas, mas, de modo algum, porém, representam os objetivos da instituição maçônica”. Uma estranha realidade za, estará cumprindo seus deveres consigo mesmo e com a Maçonaria. Não é demais relembrar que o dever do maçom envolve seu crescimento moral e elevação espiritual em busca da possível perfeição, que, no plano em que vivemos, constitui-se ideal difícil de ser alcançado. Porém, como seres perfectíveis que somos, temos de buscá-la permanentemente, irradiando seus reflexos salutares aos planos materiais e mentais. Assim agindo, edificamos joias de valor incalculável e nos aproximamos dos princípios da Fraternidade Universal, requeridos de todos nós, para descortinarmos os elevados planos do Grande Arquiteto do Universo. “Na vida do iniciado não há espaço para a dúvida, que leva à estagnação. Ele é sempre o veloz, o caminhante, que carrega na testa a ligação com o Mundo Superior, o Tau invertido: o Horizonte e Deus, acima dele. Ele fica no mundo relativo, da Ilusão, mas vive e edifica sua realidade, no mundo Absoluto, no Macrocosmo. Toda a sua postura ante os acontecimentos será diferente. Terá a solução. O sorriso brincará em seus lábios numa permanente declaração de gratidão ao GADU e às hierarquias que nele apostaram e ofereceram a oportunidade de ser o veloz dos pés, de caminhar numa velocidade inimaginável para a humanidade profana. Por isso, envolto na Luz Divina, emite ondas da mais elevada vibração, para amainar o sofrimento do outro.” (Instrução dada pelo autor na ARLS Universitária Ordem, Lua e Amor – 2008). Deve-se, ainda, salientar a necessidade de o maçom dedicar-se ao estudo da doutrina, não somente da letra de seu Estatuto, mas, sobretudo, do sentido oculto e elevado dos ensinamentos contidos na Ordem. O maçom que assim proceder, mesmo com as limitações e falhas que ainda possuímos, com certe- O iniciado não é aquele que tem plena consciência do Ser que É. Projeta, idealiza, transforma e realiza. Conquista a plenitude do Eu Sou. Torna-se a fusão dos dois Taus. Vive no Micro e edifica no Macro, pois, sendo alma, é luz divina, é amor, é vontade, é o plano de Deus estabelecido. Há 40 anos trabalhando junto com você. Conheça nossa linha Office e torne seu trabalho mais prático. Conciência e Cosmos, de Menos Kafatos e Thalita Kafatou, Tradução de Marly Winckler. Brasília: Teosófica, 1994, 264 p. R$ 34,00. Em Rubi Rodrigues* essência, a obra questiona se o modo científico de pensar que vigora em nosso tempo pode nos conceder efetiva compreensão da realidade e da natureza que nos circunda. Kafatos é um físico que leciona na Califórnia e Thalia é PhD em ciência da computação. Ambos possuem interesse por ciências alternativas e oferecem uma critica à ciência contemporânea. O ponto forte da obra é a exposição acessível e detalhada do percurso cumprido pela Física, partindo da Física Clássica de Newton, passando pela Relatividade Especial de Einstein e chegando à Física Quântica atual. Os autores cumprem esse percurso destacando os pressupostos usados em cada uma dessas abordagens, ressaltam seus resultados mais consistentes, mas também revelam seus pontos fracos, com especial ênfase nos paradoxos identificados na Mecânica Quântica, que, tendo sido testados e confirmados, * Rubi Rodrigues é escritor, membro da Academia Maçônica de Letras do DF e MM da Loja Três Poderes 2308. colocam em cheque parte do edifício de conhecimentos físicos até aqui desenvolvido, pois indicam que algo está decididamente equivocado. Os autores destacam que a Física acalenta como principal sonho produzir uma unificação definitiva da gravidade de Einstein com a teoria do campo quântico. Dado que eles também não possuem solução para tal problema, chegam a declarar que pode ser mera presunção “supor que a mente humana possa reduzir todas as complexidades do Cosmo a uma única teoria matemática produzida pela própria mente”. Em contraponto a essa abordagem científica, destacam saberes contidos na tradição oriental, em particular do Shaivinismo e do Cachemira, que já contemplam muitas das percepções despertadas pela Física Quântica e encerram o trabalho apontando os princípios universais sugeridos pela Filosofia Perene (Huxley/Blavatsky) como alternativa para se enfrentar a questão da totalidade cósmica e da necessária inclusão da consciência no equacionamento das coisas. Enfim, um texto imperdível para aqueles que pressentem que algo de fundamental está por acontecer no campo da cultura. 40 anos de tradição (61) 3349-0880 www.brito.com.br [email protected] [email protected] SOF/SUL, quadra 4, conj. A, lote 2/4 – Guará – Fone: (61) 3362-2700 – Fax: 3361-6136 SOF/Sul, quadra 5, conj. B, lote 1/4 – Guará (linha pesada) – Fone: (61) 3362-2300 – Fax: 3361-7322 2º Av., bl. 341-A, loja 1 – Núcleo Bandeirante – Fone: (61) 3486-8800 – Fax: 3386-2525 SHN, Área Esp. 19 – Taguatinga Norte – Fone: (61) 3355-8500 – Fax: 3354-7474 46 ao enyte Quadra 4, lote 1.560, Setor Leste Industrial – Gama – Fone: (61) 3484-9200 – Fax: 3384-1462 ADE, conj. 1, lote 1 (atrás da Nasa Caminhões) – Fone: (61) 3212-2020 ADE – Área de desenvolvimento econômico – Núcleo Bandeirante Brasília/DF ao enyte 47 Internet A Arte Real em Q ual maçom nunca escutou que a internet é a decadência da Maçonaria? Os defensores dessa teoria baseiam-se no conteúdo quase infinito disponível na internet, incluindo manuais com toques, sinais, palavras de passe, além de toda espécie de rituais, de todos os ritos e de todos os graus. Para os mais curiosos, é possível até iniciar-se pela internet, através de “Obediências Maçônicas”, 100% virtuais. Mas vejamos: Qual maçom também nunca ouviu falar de Samuel Prichard e seu famoso livro A Maçonaria Dissecada? Ou Léo Taxil? William Wilmont? Abade Perau? Augutinho Barruel? Esses e muitos outros “anônimos” publicaram livros divulgando rituais, modos de reconhecimento e combatendo a Maçonaria por meio da ignorância e da difamação, sem sonhar que, um dia, a internet iria existir. A internet surgiu na década de 90, e a Maçonaria vem enfrentando ataques há, pelo menos, três séculos. A internet é apenas um meio de comunicação e, assim como todos os outros, pode ser usada para construir templos ou para cavar masmorras. Não será a internet que fará mais ou menos mal à Maçonaria, senão a própria ignorância do homem. A verdade é que a Internet tem servido de ferramenta útil para os maçons e a Maçonaria Universal. Aliás, pode-se dizer que a “universalização” da Maçonaria tem ocorrido graças à internet: as Obediências têm se comunicado entre si e com seus membros de forma mais espontânea e natural por meios de seus sites, fóruns, listas de discussão e e-mails; os laços de amizade entre os Irmãos têm se estreitado nas redes sociais; o alcance de conhecimentos deixou de estar isolado nas prateleiras e restrito a poucos, para compor a catequese de todo maçom interessado; os e-books reduziram os preços da literatura, isso quando não são gratuitos. * Kennyo Ismail é autor do blog “No Esquadro”: www.noesquadro.com.br. 48 ao enyte Kennyo Ismail* 5 blogs Além do site tradicional, um modelo que vem se destacando no universo maçônico virtual, tanto pela objetividade quanto pela atualização mais frequente, é o blog. Conheça alguns blogs maçônicos que merecem atenção pela qualidade e seriedade: www.noesquadro.com.br — dedicado a “derrubar mitos na Maçonaria”, procura combater os “achismos”, que, de tão repetidos e publicados, acabam se tornando verdade até para os Mestres mais respeitados. www.deldebbio.com.br — o blog “Teoria da Conspiração”, do Irmão Marcelo Del Debbio, pode ser considerado a maior miscelânea esotérica do país. Seus textos abordam assuntos de diferentes vertentes, doutrinas e tradições, incluindo a Maçonaria. www.blog.madras.com.br — chamado “O Editor” e assinado por Wagner Veneziani Costa, é ligado à Editora Madras. Não é restrito à Maçonaria, sendo voltado também a diversos temas esotéricos. www.blog.msmacom.com.br — blog do site homônimo tem recebido atualização constante e publicado artigos respeitáveis, servindo não somente de fonte maçônica como também de fonte cultural aos seus leitores. www.a-partir-pedra.blogspot.com — assinado por quatro irmãos da Loja Mestre Affonso Domingues, de Lisboa, Portugal. Com mais de duzentos seguidores e atualização semanal, o blog possui interessante conteúdo, com foco principal no REAA. Muitos blogs não foram listados, por não serem atualizados com frequência ou por não produzirem conteúdo, apenas copiando de outras fontes. Outros bons blogs podem ter ficado de fora, por esquecimento ou simples desconhecimento do autor. Mas o importante é que você, caro Irmão, compreenda que a Dualidade, tão comentada na Maçonaria, também está presente na internet. E assim como nela há lixo, há também belos diamantes lapidados. Basta procurar. E se você é um daqueles que critica a internet, lembre-se daquele ditado popular: “Se não pode vencê-los, junte-se a eles!”, e comece a pesquisar. ao enyte 49 História cumento mais antigo entre as Old charges. Porém, a maioria dos pesquisadores afirma ser o Manuscrito regius, ou Manuscrito Halliwell, grafado em inglês arcaico, com letras góticas sobre pele de carneiro, verdadeiramente o mais antigo. O conhecimento das Antigas obrigações traz ao maçom melhor visão de conjunto da instituição e das suas origens, revelando o que até então parecia obscuro sobre questões referentes à Ordem Maçônica. Os Antigos deveres compreendem a regulamentação da conduta moral dos maçons, os juramentos e compromissos, o amparo para casos de doença ou desemprego, os recursos à instância superior, o devotamento exigido para a obra a ser edificada, as bases do Conselho de Família e a transformação das Lojas em grupos familiares maçônicos como instrumento racional de solução de problemas. Tratam também da necessidade de uma saudável organização familiar como elemento básico para a aquisição de um bom e futuro obreiro, da prática do Tronco de Beneficência ou de Solidariedade, do socorro aos maçons nas suas intempéries, inclusive com a Justiça, da polêmica questão sobre o Livro da Lei, não aceito à época como um livro sagrado, mas tão somente como o Livro da Corporação, ou seja, o Regimento da Oficina. Maçonaria Operativa gênese da Arte Real Lucas Francisco Galdeano* A 50 Maçonaria Operativa surgiu em um período em que a Ordem Maçônica esteve diretamente ligada à arte da construção, cujo apogeu se deu no século XIII. Também conhecida por Maçonaria de Ofício, resplandeceu na Idade Média sob a influência espiritual da Igreja. A Europa viveu, no período, efervescente demanda por construções de catedrais, igrejas, abadias, mosteiros, conventos, palácios, basílicas, torres, casas nobres, mercados e paços municipais. O continente possuía grande abundância de monumentos e construções arquitetadas e executadas por maçons operativos. * Lucas Francisco Galdeano é o Grão-Mestre Distrital Adjunto do Grande Oriente do Distrito Federal e pós-graduando do Curso de História da Maçonaria no Centro Universitário do Distrito Federal – UDF. Os primeiros documentos de grande importância para a Maçonaria — não por coincidência — surgiram nessa época. As Old charges ou Antigas obrigações ou, ainda, Antigos deveres são escritos que se referem às Lojas e aos Regulamentos Gerais. Alguns estudiosos apontam a Carta de Bolonha como o do- ao enyte Tais documentos antigos refletem religiosidade. Temia-se o inferno e essa é a razão de a Maçonaria ter tido vários padroeiros — Severo, Severiano, Carpóforo, Vitorino (os Quatro Coroados), São Thomaz, São Luís, São Braz, Santa Bárbara e São João — que permanecem em alguns Ritos Maçônicos até os dias de hoje. É importante salientar que ainda não havia citações sobre as antigas civilizações, como a egípcia e a grega. Essa influência mística só viria incorporarse à Maçonaria no Renascimento. No início do século XVII, elementos estranhos às profissões manuais começaram a ser admitidos nas Corporações. Um dos primeiros “Maçom Aceito” foi John Boswell, Lord de Auschileck, que ingressou na Loja da Capela de Santa Maria, em Edimburgo, no ano de 1600. Evidentemente, as Corporações tiveram de modificar seus estatutos e objetivos para que pudessem conviver, lado a lado, maçons “Antigos” (construtores) e maçons “Aceitos” (nobres, professores, naturalistas, eclesiásticos etc). A Maçonaria Operativa contribuiu com a Maçonaria Especulativa, principalmente quanto: hh à prendizagem por meio de símbolos, lendas, mitos e alegorias; hh ao reconhecimento interpessoal com uso de sinais, toques e palavras; hh à reunião dos maçons em “Lojas” — no período operativo, a Loja era uma construção precária anexa à edificação, na qual o maçom trabalhava ao abrigo do tempo e onde eram guardadas as ferramentas. Algumas lojas acabavam se transformando em alojamento de operários; hh à utilização simbólica dos instrumentos de trabalho dos maçons Operativos, como o Esquadro, o Compasso, o Nível, o Prumo, a Alavanca, a Régua, o Cinzel, o Martelo e a Trolha; hh ao uso do Livro da Lei; hh ao emprego do Tronco de Beneficência ou de Solidariedade; hh à Cadeia de União; hh à regulamentação da conduta moral dos maçons; hh ao Conselho de Família; hh ao auxílio entre os membros da Ordem; hh ao reconhecimento da existência de Deus; hh às Batidas ou Baterias; hh à Expressão “Tudo está Justo e Perfeito”. A opinião de que a origem da Maçonaria “se perde na noite do tempo” é destituída de senso e não encontra respaldo em estudos históricos cientificamente comprovados. Ao tomarem o exemplo dos maçons operativos, que construíram as grandes catedrais fisicamente, os maçons atuais devem seguir construindo grandes catedrais internamente, para o seu próprio benefício e glória ao Grande Arquiteto do Universo. Enquanto o maçom operativo ergueu templos na dimensão espaço, o maçom atual deve construir na dimensão tempo, por meio da simbologia e dos conceitos herdados, o Grande Templo Ideal, que é o homem integrado e em harmonia com a sociedade. ao enyte 51 Personagem Anita Garibaldi heroína ou uma grande mulher? Francisco Roni da Rosa* Na região de Laguna, Santa Catarina, em 1821, Anita Garibaldi nasceu de uma família de origem humilde, que, no entanto, lhe proporcionou estudos elevados para o padrão da época. Assimilou os ideais da revolução e lutou ao lado de seu companheiro pela independência da região sul do Brasil na Revolução Farroupilha, bem como em lutas no Uruguai e na Itália. Anita foi uma mulher além do seu tempo, pois, no século XVIII, já demonstrava a força da mulher, tendo sido amante, esposa, dona de casa, mãe, revolucionária e, acima de tudo, uma mulher de fibra e cheia de ideais. Não faltam histórias da coragem de Anita nas memórias de seu apaixonado Garibaldi, que procura descrever a intrepidez de Anita em cruzar o fogo inimigo dentro de uma embarcação, para transportar as armas dos farrapos até a praia. O corsário italiano assevera que ela fez o trajeto em pé, na barca, “ereta, calma e altaneira como uma estátua de Palas”. Ele afirma a coragem e a valentia de sua companheira, colocando-a no mesmo patamar dos deuses gregos imortais. Aos 14 anos, em cumprimento aos costumes locais, casou-se com Manuel Duarte de Aguiar, um pacato sapateiro. Com o inicio da revolução, seu marido foi lutar nas fileiras do Exército imperial, deixando-a em casa de amigos. Com a chegada de Giuseppe Garibaldi em sua cidade, teve seu coração sufocado por ardente paixão, tornando-se amante dele. Em suas memórias, Giuseppe descreve assim seu primeiro momento com a então Aninha: “Do meu bordo, eu descobria as belas jovens ocupadas nos seus diversos afazeres domésticos. Uma delas atraía-me mais especialmente que as outras... Dada a ordem de desembarque, tomei o caminho da casa sobre a qual havia já algum tempo fixara-se toda a minha atenção [...]. ‘Virgem criatura, tu serás minha!’ foi o que disse ao ter a jovem diante de mim”. Anita poderia ter se contentado em apenas ter o sobre- nome Garibaldi, poderia ter vivido na sombra do General Giuseppe, mas optou por escrever seu nome na história deixando sua marca, a marca da mulher brasileira, que, apesar de sofrida e discriminada, não desistiu nunca. Não há dúvida de que, em um primeiro momento, houve resistência da tropa em ter em suas fileiras uma mulher, mas Anita provou que tinha todas as condições de ser uma guerreira, tendo seu papel reconhecido por seus companheiros. Após uma vida de lutas e paixão, Anita teve seu estado de saúde sensivelmente agravado pela febre tifoide durante os combates em Roma, vindo a falecer antes de completar trinta anos de idade. Giuseppe Garibaldi Monumentos foram erguidos em sua homenagem, considerando-a uma heroína, mas o maior de todos eles foi elevar, em sua época e até os dias de hoje, a importância feminina em todos os seus aspectos, deixando um exemplo para a emancipação e a valorização da mulher. A partir daquele momento, Aninha passou a ser Anita Garibaldi, em um primeiro momento, dona de casa e mãe do primeiro filho do casal. Em decorrência do grande amor que tinha por Garibaldi, procurou demonstrar que tinha condições de acompanhar o revolucionário em suas batalhas, tendo se aperfeiçoado no uso da espada e de armas de fogo. Anita Garibaldi * Francisco Roni da Rosa é venerável Mestre da Loja Bento Gonçalves. 52 ao enyte ao enyte 53 Crônica O sono da biblioteca Innocêncio Viégas* M eia-noite completa. Aqui no Rancho, todos dormem. Preparo-me também para dormir. Lembro-me de que terei de fazer uma pesquisa e, para ganhar tempo, decido separar os livros que usarei no trabalho. Sigo devagar em direção à biblioteca, a minha “cela” de reflexão e, em determinados momentos, minha clausura. Abro a porta vagarosamente, para que os gonzos não despertem as inteligências maiores, que, emparelhadas nas estantes, parecem adormecidas permanentemente. Não ligo a luz para não despertar os mais velhos. Risco um palito de fósforo e acendo a vela perfumada do castiçal que ali também dormita, embelezando o ambiente. Ouço vozes. Parece que estão num gostoso sarau. Assento-me sobre a velha cadeira de palhinha e fico escutando o burburinho. Só aí me dou conta de que a biblioteca não dorme. Aos ouvidos dos pobres mortais, ela parece dormitar, mas para os que aprenderam naqueles compêndios a arte da fuga à realidade material e se transportam para além das fronteiras da alma ela está desperta. A chama da vela crepita tênue e parece crescer quando um deles altera a voz. É Castro Alves gritando: “Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?”; *Innocêncio Viégas é teólogo, escritor, membro da Academia de Letras de Brasília, Academia Maçônica de Letras do DF, Academia Maçônica de Letras Paranaense, Academia Maçônica de Letras e Artes do Brasil – GOB e Confraria dos Amigos da Boa Mesa – COMES. 54 ao enyte sua viola, exalta, em versos, as gostosuras da Feira de Caruaru, onde, segundo Luiz Gonzaga, “tem tudo o que a gente quer”. Drummond se pergunta: “E agora, José?”. Jean Genet conta suas aventuras na prisão e recomenda o seu Diário de um ladrão, que, no dizer de Sartre, devia ser lido como um livro poético, que, não sendo arte literária, é um meio de salvação. Xico Trolha e Catellani lembram Murilo Pinto e seus tangos em Buenos Aires. Shakespeare lamenta a interpretação dada ao seu drama Romeu e Julieta. Fernando Sabino sorri e o chama de O grande mentecapto. Jorge Amado fala da sua Gabriela, das noitadas no Bataclam e lembra os bolinhos do bar Vesúvio do seu Nacibe, lembra do vinho em sua casa, em companhia da Zélia e do Neruda. Julio Ribeiro, que fora esquecido até por seus irmãos da Sublime Ordem, recomenda a leitura de sua obra-prima, A carne. Hermann Hesse diz que esse conto era Para ler e guardar. Cervantes, na pessoa de Dom Quixote, chora a sua saudosa Dulcineia. James Joyce recomenda o seu Ulisses, o que desagrada a Fernando Pessoa, que diz ser muito volumoso e difícil de alguém o ler. Camões, ofendido, reclama de Pessoa e lhe fala do seu Os Lusíadas e de suas longas estâncias. Patativa do Assaré ri de todos e pede permissão para relatar o encontro nos seus rimados cordéis. Thomas Mann tenta levar todos para a verdadeira iniciação em sua A montanha mágica. Josué Montello cantarola uma toada do “Bumba meu Boi da Madre Deus”, de Zé Garapé, ao mesmo tempo em que recorda os bons tempos estampados em Os tambores de São Luis. Dostoievski fala dos Irmãos Karamázovi; Hemingway, com saudades de Cuba, de La Bodeguita e do seu eterno daiquiri, diz que Paris é uma festa. Boccaccio relê o seu Decamerom; Júlio Dantas sorri admirado, comparando aquele momento com sua A ceia dos cardeais. Humberto de Campos, ah! Humberto de Campos diz ter ainda na boca o gosto do doce de caju, dos cajus do seu saudoso cajueiro. Raquel de Queiroz lidera as meninas ao lado de Clarice, Guiomar Chianca, Dolores Duram, Cora Coralina e Florbela Espanca, que suspira e diz: “Ai as almas dos poetas, não as entende ninguém; são almas de violetas que são poetas também”. Pablo Neruda recorda a sua vidinha lá na Isla Negra e recita os seus poemas que inebriam o mundo. Domingos Souza, o querido “Chatô”, diz querer “um mundo sem fronteiras, um mundo de todo mundo com uma só bandeira”. Ele nem imagina que, um dia, apareceria a internet, abrindo todas as fronteiras do mundo. Gonçalves Dias, do exílio, recorda as palmeiras e seus sabiás. Relata sua última viagem no navio Ville de Boulogne. Lopes Bogéa canta Os pregões de São Luis, adoçando a boca de todos com o sorvete de taperebá. Enquanto muitos se esbaldam como se estivessem em um animado lupanar, um violão cadenciado transforma aquela nostalgia em festa. São Vinícius e Tom Jobim cantando e a todos prometendo “um dia pra vadiar”, com água de coco e cachaça de rolha, na areia de Itapoã. Zé Limeira, o poeta do absurdo, com José de Alencar chora a sua Iracema e diz guardar ainda o gosto de mel dos seus lábios. Gregório de Matos continua sendo “O boca do inferno”. Machado de Assis — o bruxo do Cosme Velho — lembra a Missa do galo e suas aventuras amorosas. Marcel Proust continua Em busca do tempo perdido. Robert Louis Stevenson não sai da sua A ilha do tesouro. Jorge Luis Borges, sem a bengala, não dava sinais de ser cego, lia trechos do seu livro Atlas, escrito com Maria Kodama. Saramago, recém-chegado, traz nas mãos o seu livro Caim, perseguido pela Igreja Católica. Herman Melvile lembra da sua baleia Moby Dick. Daniel Defoe grita por Robinson Crusoé. Rui Barbosa, imponente, lê o seu Discurso aos moços, o que ele não fez em vida. J. D. Salinger, preocupado por não entenderem o seu livro, O apanhador no campo de centeio, por ser uma narrativa de um jovem de 17 anos. Peter Kelder ensina a todos os exercícios da sua A fonte da juventude. Franz Kafka teima com a sua Metamorfose. Jack London briga com o comandante da escuna Ghost — Lobo Larsen —, que ele chama de O lobo do mar e o convida para um trago de rum em seu barco fantasma. Alex Munthe recomenda a leitura de O livro de San Michele, escrito em 1928. Sempre sorridente, chega Armando Nogueira, feliz com seu livro O canto dos meus amores, elogiando Garrincha, a quem chama O poeta do drible. No intervalo das libações, João Ferreira de Almeida aconselha aos ateus a leitura da Bíblia Sagrada na sua versão. Vinícius, provocando-o, canta... “eu que não creio, peço a Deus por minha gente”. Maomé, balançando a cabeça, lê o Alcorão, pregando a adoração ao Deus único. Allan Kardec diz: Este livro — o dos espíritos, é de todos nós. Vitor Hugo fala do seu Os miseráveis. Goethe recorda o diálogo de Deus com Mefistófeles. Balzac continua com suas Ilusões perdidas e Dante tenta organizar a sua Divina comédia. Centenas deles, ainda por marcar presença, contentam-se em ouvir os mais afoitos. Lá no fundo deste Templo aos livros, quase esquecido, José Middlin, com os originais de Vidas secas nas mãos, diz aos escritores: “Vocês são todos meus”. O meu galo — o Cigano — amiúda o canto aqui no Rancho, nas montanhas do Velho Duca, anunciando um novo dia. O meu velho carrilhão, guardião constante da biblioteca, faz soar três compassadas badaladas. Acordei. A vela do castiçal da biblioteca, igual à vela de Saramago, “lança uma chama mais forte antes de se extinguir”. Levanto a cabeça ainda sonolento e passo a constatar que a biblioteca, com todo o seu encanto, está adormecendo. O deus dos livros recolheu-se para o Olimpo e entregou-se também aos braços de Morfeu. A biblioteca dorme. ao enyte 55 Circulando na web Dialogo satanico da economia O s gregos acreditavam que a história se repete. Para aqueles que ainda têm duvidas ou não, leiam o diálogo entre Jean-Baptiste Colbert e Jules Mazarin, respectivamente ministro da economia e primeiro-ministro de Luís XIV, o Rei Sol, na França do século XVII. Confiram se a conversa não poderia estar ocorrendo neste exato momento, em algum lugar do mundo, especialmente no Brasil. mos de obtê-lo se já criamos todos os impostos imagináveis? Colbert – Para encontrar dinheiro, há um momento em que enganar [o contribuinte] já não é possível. Eu gostaria, Senhor Superintendente, que me explicasse como é que é possível continuar a gastar, quando já se está endividado até ao pescoço... Mazarin – Os ricos também não. Eles não gastariam mais. Um rico que gasta faz viver centenas de pobres. Mazarin – Se se é um simples mortal, claro está, quando se está coberto de dívidas, vai-se parar à prisão. Mas o Estado... o Estado, esse, é diferente!!! Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se... Todos os Estados o fazem! Colbert – Ah sim? O Senhor acha isso mesmo? Contudo, precisamos de dinheiro. E como é que have- Humor Evolução 56 ao enyte Mazarin – Criam-se outros. Colbert – Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres. Mazarin – Sim, é impossível. Colbert – E então os ricos? Colbert – Então como havemos de fazer? Mazarin – Colbert! Tu pensas como um queijo, como um penico de um doente! Há uma quantidade enorme de gente situada entre os ricos e os pobres: os que trabalham sonhando em vir a enriquecer e temendo ficar pobres. É a esses que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre mais! Esses, quanto mais lhes tirarmos, mais eles trabalharão para compensarem o que lhes tiramos. É um reservatório inesgotável!
Documentos relacionados
O MALHETE Nº 35 PARA PDF.cdr
para atividades religiosas. Isso daria azo à renovação da pretérita, mas sempre repetida, discussão sobre se a maçonaria é ou não uma religião, revoluteando um tema que de muito deveria estar super...
Leia mais