O HEXATEUCO

Transcrição

O HEXATEUCO
A SANTA BÍBLIA
(O TESTAMENTO DA ETERNA ALIANÇA)
O
HEXATEUCO
( P E N T A T E U C O + J O S U É )
José haical haddad
CAPÍTULO VI
JOSUÉ
Assim como se dá o cognome de Pentateuco aos cinco primeiros
livros da Bíblia (penta = cinco), ao se acrescentar Josué, usa -se a
denominação de Hexateuco (hexa = seis) aos agora seis primeiros livros.
O que é indispensável destacar é a importância do término do Pentateuco
com a análise do Deuteronômio. Mesmo ao fundamento de na Bíblia nada ser
mais i mportante a conclusão dessa primeira p arte do estudo é de valor
indeclinável para o conheci mento das Sagradas Letras e da História da Salvação.
Sem uma compreensão dessa parte exposta não se poderá, em hipótese alguma,
entender ou assi milar com segurança as reais di mensões até mesmo da doutrin a
cristã. Então, é natural e até mesmo desej ável que este retardamento involuntário
venha a beneficiar a muitos por lhes propiciar ocasião de rever, melhor analisar e
estudar o j á apresentado
O Livro de Josué vem se situar bem após o Deuteronômio chegando a
transparecer uma profunda vinculação e até mesmo o embasamento da sua
continuidade histórica. Tudo aquilo que fora estruturado a partir de Abra ão por
meio de Moisés vai agora se corporificar numa realidade tanto r eligiosa como
política. Também, facilmen te se nota que essa sua disposição faz dele o
prossegui mento natur al de tudo aquilo que, desde os Patriarcas, é parte
indissociável da nacionalidade Israelita qual sej a a história, cultura e índole. É
como um ponto de chegada que ao mesmo t empo se torna um ponto indeclinável
de partida e de transfor mação política, cultural e religiosa. O sedi mentado
anteriormente na tradi ção hebraica desde os Patriarcas tal como a posse de um
território fixo e tornar -se um povo numeroso ―como as estrelas dos céus‖ (Gn
15,5) se corporifica em realidade. Parte -se para a conquista da Terra Prometida,
em obediência a Iahweh, que deter mina o comando de Josué. Com essa conquista
transparece a vitória de Iahweh, o Deus Israelita, sobre os deuses pagãos.
O Pentateuco na Bíbli a Hebr aica tem os nomes de seus cinco li vr os tirados
das palavras com que se iniciam, enquanto que na Bíblia Grega ou a Bíblia dos
Setenta (LXX) ou a Bíblia Septuaginta correspondem ao conteúdo interpretado da
narração. Recebendo como denomi nação o nome de seu p rotagonista, e substituto
de Moisés (Ex 33,11 / Nm 11,28. 27,18. 32,28...), o Livro de Josué destoa da
sistemática em uso sendo o pri meiro a usar um nome próprio do protagonista
como título.
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Também, é o pri meiro da di visão usada na Bí blia Hebraica em Prof etas
Anteriores (Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis), e em Profetas Posteriores
( Isaías, Jeremias, Ezequiel e os Doze Menor es). De certa for ma é bem j ustificável
essa classificação em virtude da identificação profética que neles se encontra de
Moisés e Josué no empenho pela fidelidade à Aliança e aos compr omissos
assumidos com Iahweh. Este centro gravitaci onal de defesa do mor alismo e
monolatria j avista confere aos livros assi m classificados o caráter indiscutível de
proféticos como aquel es protagonist as que f alam em lugar de Iahweh, e não como
visionários pagãos ou gentios que buscam pr ever o futuro. Passaram a ser
conhecidos no cristianismo como Li vros Hist óricos até Rute, por influência da
Bíblia Grega dos LXX ou a Septuaginta.
[ A G U I S A D E E XP L I C A Ç Ã O – 1 . S ã o v á r i o s o s m o t i v o s q u e t ê m
causado atraso na programação do Estudo da Bíblia cujas explicações a
respeito só servirão para dar azo ao provérbio: ―explica, mas não
justifica‖, ou àquele famoso brocard o francês: ―qui s‘excuse s‘accuse‖
(= ‗quem se justifica se acusa‘). Por outro lado, ap resentar as lições
apressadamente e d e qualquer man eira simplesmente para atender a um
compromisso assumido seria imperd oável traição àqueles que segu em o
estudo, n ele dep ositam sua confiança e o apóiam. Por tudo isso ao
autor não resta outra atitude qu e assumir toda a responsabilidade e
desculpar-se garantindo aos leitores que continuará o trabalho, já
superados a quase totalidade dos motivos ocorridos. 2. Ver-se-a que
não se transcreverá a parte citada da Bíblia, ei s sendo conhecidas p oderão ser lidas no original, p oupando -se espaço e tempo. ]
Esta parte da Escritura é tão i mportante que Jesus afirma categoricamente:
―Nã o p enseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para
revogar, vim para cumprir. Porque e m verdade vos digo: até que o céu
e a terra passem, n em um i ou um til jamais passará da Lei, até que
tudo se cumpra‖ (Mt 5,17 -18).
A Lei que Jesus aqui menciona é exatament e a Torah dos Israelitas, que se
compõe dos cinco pri meiros li vros da Escri tura, tendo por denominação hebraica
―os cinco quintos da lei ‖. Também, a expr essão ― ... até que tudo se cumpra‖
(Mt 5,18) precisa de esclarecimento: um fato é cumprido quando se realiza com
perfeição: a lei se diz cumprida quando o que ela prevê se perfaz; o profeta é
cumprido quando o que previu acontece. Por isso, em seguida, no Cânon Israelita,
logo após os cinco quintos da lei veem os Profetas que Jesus acentua. Bom será
que se apri more o conheci mento dessa parte que agora se completa, pois
dominando -a com se gurança fácil será o desenrolar e aproveitament o do restante.
Daí se poder di zer que até mesmo uma si mpl es leitura da Sagrada Escritura
para ser bem ordenada deve começar na sua primeira página e seguir com ordem
até o final: ―não se começa a construção d e um edifício pelo último andar e sim
pelo alicerce‖, e o alicerce da Bíblia é a Torah, isto é de Gênesis até
Deuteronômi o, a Torah dos Israelitas, interpretada em Jesus Cristo.
CUMPRE SE A ALIANÇA
6.0. – PRELIMINARES.
O Livro de Josué vem se situar be m após o Deuteronômio chegando a
transparecer profunda vinculação e até mesmo o embasamento da sua
continuidade histórica. Tudo aquilo que fora estruturado a partir de Abra ão por
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meio de Moisés vai agora se corporificar numa realidade tanto r eligiosa como
política. Também, facilmente se nota que essa sua disposição faz dele o
prossegui mento natur al de tudo aquilo que , desde os Patriarcas , é parte
indissociável da nacionalidade Israelita qual sej a a história, cultura e índole. É
como um ponto de chegada que ao mesmo t empo se torna um ponto indeclinável
de partida e de transfor mação política, cultural e religiosa. O sedi mentado
anteriormente na tradi ção hebraica desde os Patriarcas tal como a posse de um
território fixo e tornar -se um povo numeroso ―como as es trelas dos céus‖ (Gn
15,5) se corporifica em realidade. Parte -se para a conquista da Terra Prometida,
em obediência a Iahweh, que deter mina o comando de Josué. Com essa conquista
transparece a vitória de Iahweh, o Deus Israelita, sobre os deuses pagãos.
O Pentateuco na Bíbli a Hebraica tem os nomes de seus cinco li vr os tirados
das palavras com que se iniciam, enquanto que na Bíbli a Grega ou a Bíblia dos
Setenta (LXX) ou a Bíblia Septuaginta correspondem ao conteúdo interpretado da
narração. Recebendo como d enomi nação o nome de seu protagonista, e substituto
de Moisés (Ex 33,11 / Nm 11,28. 27,18. 32,28...), o Livro de Josué destoa da
sistemática em uso sendo o pri meiro a usar um nome próprio do protagonista
como título.
Também, é o pri meir o da divisão usada na Bíblia Hebraica em Profetas
Anteriores (Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis), e em Profetas Posteriores
( Isaías, Jeremias, Ezequiel e os Doze Menor es). De certa forma é bem j ustificável
essa classificação em virtude da identificação profética que ne les se encontra de
Moisés e Josué no empenho pela fidelidade à Aliança e aos compromissos
assumidos com Iahweh. Este centro gravi tacional de defesa do moralismo e
monolatria j avista confere aos livros assim classificados o caráter indiscutível de
proféticos como aquel es protagonistas que f alam em lugar de Iahweh, e não como
visionários pagãos ou gentios que buscam prever o futuro. Passaram a ser
conhecidos no cristianismo como Li vros Históricos até Rute, por influência da
Bíblia Grega dos LXX ou a Septuaginta.
Não se perca de mira que não se pode anali sar este livro apenas como uma
guerra de conquista esvaziando -o de seu principal conteúdo de relacionamento
tradicionalmente reli gioso de Iahweh com o Povo dos Filhos de Israel. Assi m,
como se disse aci ma, relembra -se a Promessa a Abraão de dar à sua posteridade
―... a terra em que habitas...‖ (Gn 17,8; 15,7; 12,7) e destaca -se o cumpri mento
da Aliança. Isso, sem deixar de mencionar a finalidade pri mordial da erradicação
do paganismo si gnificado na idolatria re inante no mundo gentio de então.
Principal mente a religião reinante na Terra de Canaã com o deus Baal como causa
e fonte de fertilidade, da própria vida e suas exigências; também, com Astarte, a
deusa da fecundidade e o culto profano e nefasto da prostitui ção sagrada de
homens e mulheres, bem como dos bár baros e cruéis sacrifícios humanos
inclusive de filhos.
Quanto a Josué, que desde antes do Sinai e desde a mocidade esteve ao
lado de Moisés, demonstrando em várias oportunidades fidelidade e lealdade a
toda prova, sempre que se demandava a necessária coesão em torno do nome de
Iahweh. O quadro ret ratado pelo Bezerro de Ouro mostra a posição de Josué
mesmo contra seus ir mãos efrai mitas ( vide comentários a respeito em Ex 32 a Ex
34).
Ao se ler a Sagrada Esc ritura, não se pode desvincular aquilo que nela se
narra das instituições culturais da época mesmo pagãs , como se destaca em todas
as oportunidades. É o caso da proeminênci a hereditária a que f ora guindada a
Tribo de Efraim, advi nda da bênção de José, o fi lho predileto de Jacó, sentindo -
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se traída pela posição de Moisés da Tribo de Levi no comando ger al. Não se pode
deixar de obser var como li gado a isso , e como motivo político para a pacificação
tribal, a nomeação de Josué , u m efrai mita, como ministro e asse ssor j á destinado
à sucessão. Também, a sua atuação j unto de Moisés é muito mar cante em várias
oportunidades, apesar da sua mocidade, indicando grande disponibilidade,
fidelidade e presença de espírito nunca lhe f altando com o apoio ( Ex 24,13. 32,17
/ Nm 11,28. 14,30). A i mportância de Josué nessas várias oportunidades se
destaca no sentido nacional, disciplinar e religioso, nas ceri mônias e l utas
havidas com ini mi gos, e mesmo em sedições ou ocasiões em que se pretendeu
apostatar a guisa de re torno ao Egito:
• - Fi lho de Nun, da Tribo de Efraim (E x 33,11 / Nm 11,28; 13,8.16 / Dt 1,38; 32,44 / Js
1,1 / 1 Cro 7,27 / Eclo 46,1), que detinha o direito de Primogenitura n ela;
• - C o m a n d o u o s Is r a e l i t a s n o c o m b a t e a o s Am a l e c i t a s ( E x 1 7 , 8 - 1 6 ) ;
• - Esteve presente n o Sinai, até mesmo nos retiros, com Moisés (Ex 24,13; 32,17);
• - Servo ou Ministro d e Moisés, d esd e a juventude (― na’ar‖ se diz em heb raico – Ex
24,13; 33,11 / Nm 11,28), acompanhando -o em oração até mesmo no interior da Ten da
da Reunião (Ex 33,11);
• - Pa rticipou, por sua Trib o, na exp edição d e bated ores e rec onhecimento em Canaã
(Nm 13,8;14,38), contestando e op ondo -se juntamente com Caleb às infundadas
justificativas para não se penetrar e conquistar a Terra Prometida. Tendo sido os
recalcitrantes d e o p ovo condenados a perecer no d eserto durante 40 anos, foi -lhes
assegurad o, pen etrar na Terra Prometida (Nm 14,30.38; 26,65; 32,12), pelo emp enho
d e m o n s t r a d o j u n t o a o p o v o p a r a q u e c o n f i a s s e n a s P r o m e s s a s d e Ia h w e h ;
• - Ia h w e h o i n d i c a p a r a s u b s t i t u i r M o i s é s , q u e l h e i m p ô s a s m ã o s , p e l o q u e é i n v e s t i d o
na mesma autoridade numa solen e cerimônia religiosa na presença do sacerdote Eleazar
(Nm 27,15-17.18-23 / cfr. Dt 31,7s.14s.23). Desd e os p reparativos da tentativa
fracassada d e Conquista de Canaã deu -se a profética mudança de seu n ome primitivo
O s é i a s ( H o s h é a = L i b e r t a ç ã o — N m 1 3 , 8 . 1 6 / D t 3 2 , 4 4 ) p a r a Y e ‘ h o s h u a = Ia h w e h é
Salvação (Dt 3,21 / Jz 2,7 / Js 1,1.9.10); da raiz ys‘ = libertar, d onde veio também
Y e s h u a ( E s d 2 , 2 ; 3 , 2 . 8 ) ; e , o g r e g o ‗ Ie s o u s ( E c l o 4 6 , 1 ; 4 9 , 1 2 ) , q u e o r i g i n o u o n o m e d e
Jesus (Mt 1,21).
• - S u a f i d e l i d a d e a o n o m e e x c l u s i v o d e Ia h w e h , e m f a c e d a s t r a d i ç õ e s t r i b a i s e f r a i m i t a s
bem claras no episódio do Bezerro de Ouro (Ex 32,17.27 -29), que utilizava Elohim
c o m o o n o m e d e D e u s Is r a e l i t a .
• - O encargo de dividir e distribuir, junto com Eleazar, e um membro d e cada tribo
r e s t a n t e , e m h e r a n ç a , a T e r r a P r o m e t i d a a o s Fi l h o s d e Is r a e l ( N m 3 4 , 1 7 ) .
Assi m é que, por todos esses atributos, o narrador o apresenta
intencional mente como um segundo Moisés, ―ch eio do espírito de sabedoria‖
―advindo da i mposição das mãos (de Moisés)‖ (Nm 27,15 -23 / Dt 34,9). Com a
morte de Moisés Iahweh lhe aparece e confia -lhe o prossegui mento da missão ,
outorgando -lhe a garantia da mesma assistência que prestou a Moisés em cont ra
partida da fidelidade às nor mas j á delineadas e agora ratificadas (Js 1,1 -9). Para
melhor identificá -lo o narrador usa do artifício de selecionar na sua traj etória
histórica aqueles fatos ou aconteci mentos, que corresponderam pela semelhança
ocasional, como se f ora uma repetição dos praticados com Moisés podendo se
destacar:
• - R e c e b e r á a m e s m a p r o m e s s a d e o b e d i ê n c i a d o s Fi l h o s d e Is r a e l , t a l c o m o é r a t i f i c a d a
pelas tribos que receb eram u ma antecipação da herança (Js 1,16 -17);
• - É alvo da mesma garan tia dada a Moisés, pela repetição da frase, quanto ao sucesso
da conquista, de que lh e seria entregue ―tod o o lugar onde pusesse os p és‖ (cfr. Js 1,3 /
Dt 11,24);
• - T a m b é m v a i p r e p a r a r o p o v o q u a n d o f o r n e c e s s á r i a a i n t e r v e n ç ã o d e Ia h w e h ( J s 3 , 5 /
Ex 19,14s);
• - É t a m b é m e x a l t a d o e e n a l t e c i d o p o r Ia h w e h p e r a n t e o p o v o ( J s 3 , 7 . 4 , 1 4 ) i m p o n d o - o
ao resp eito geral;
• - Quando da passagem do Jordão rep ete -se o fen ômeno do Mar Vermelh o (Js 4,23);
• - T a m b é m s e r e p e t e a a p a r i ç ã o d o An j o n a s p r o x i m i d a d e s d e J e r i c ó ( J s 5 , 1 3 s s ) c o m
p a l a v r e a d o i d ê n t i c o a o d a S a r ç a Ar d e n t e ( E x 3 , 5 s ) ;
• - Ia h w e h e s c u t a J o s u é t a l c o m o e s c u t a r a M o i s é s ( J s 1 0 , 1 4 / D t 9 , 1 9 . 1 0 , 1 0 ) .
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Com essa pequena int rodução ser vindo de f undamento e ponto de apoio,
pode-se passar à análise geral conside rando -se o livro como o relat o da Conquista
da Terra Prometida, que nessa perspect iva e para facilidade do estudo e
compreensão, se di vide em:
6 . 1 C o n q u i s t a e O c u p a ç ã o d a T e r r a P r o me t i d a ( 1 , 1 – 1 2 , 2 4 ) ;
6 . 2 - D i v i s õ e s d a H e r a n ç a e n t r e a s T r i b o s ( 1 3 , 1 — 2 2 , 3 4 ); e ,
6 . 3 E p í l o g o : ú l t i mo s d i s c u r s o s d e J o s u é e e p i s ó d i o s d e s u a v i d a ( 2 3 – 2 4 , 3 3 ) .
6.1. CONQUISTA E OCUPAÇÃO DA TERRA PROMETIDA
Saltando-se a di visão de capítulos da Escritura Sagrada e prosseguindo -se
sem interrupção a leitura como se ela fosse contínua, tem-se por vezes uma
desenvoltura mais compreensí vel da narrativa. Isso pode ser visto na continuação
entre o término de Deuteronômio e o início de Josué, fazendo -se uma só leitura
cursiva e ininterrupta, qual sej a:
― D i s s e - l h e Ia h w e h : E s t a é a t e r r a q u e , s o b j u r a m e n t o , p r o m e t i a Ab r a ã o , a Is a a c
e a Jacó, dizendo: à tua d escendência a darei; eu te faço vê -la com os próprios
o l h o s ; p o r é m n ã o i r á s p a r a l á . As s i m , m o r r e u a l i M o i s é s , s e r v o d e Ia h w e h , ( . . . )
então, se cumpriram os dias do pranto n o luto por Moisés. Josué, filho d e Nun,
estava ch eio d o espírito d e sabed oria, p orquanto Moisés impôs sobre ele as
m ã o s ; a s s i m , o s f i l h o s d e I s r a e l l h e d e r a m o u v i d o s e f i z e r a m c o m o Ia h w e h
o r d e n a r a a M o i s é s . N u n c a m a i s s e l e v a n t o u e m Is r a e l p r o f e t a a l g u m c o m o
Moisés, (...) n o tocante a todas as ob ras d e sua pod erosa mão e aos grandes e
t e r r í v e i s f e i t o s q u e o p e r a s s e M o i s é s à v i s t a d e t o d o o Is r a e l . ‖ ( f i n a l d o
Deuteronômio: Dt 34,4-12 em prosseguimento, o começo de Josué ) ―Suced eu,
d e p o i s d a m o r t e d e M o i s é s , s e r v o d e Ia h w e h , q u e e s t e f a l o u a J o s u é , f i l h o d e
Nun, servidor d e Moisés, dizendo: Moisés, meu servo, é morto; dispõe -te,
agora, passa este Jordão, tu e tod o este povo, à terra qu e eu dou aos filhos d e
Is r a e l . T o d o l u g a r q u e p i s a r a p l a n t a d o v o s s o p é , v o - l o t e n h o d a d o , c o m o e u
prometi a Moisés. (...) como fui com Moisés, assim serei contigo; não te
deixarei, nem te d esampararei.‖ (Js 1,1 -5).
Por causa dessa vinculação natural, facilmente perceptível, pret endeu -se
anexar o Li vro de Josué ao Pentateuco e assim não estabelecer o Hexateuco. É até
mesmo natural e lógico que deste modo se pretenda, dada a perf eita unidade de
assunto, como se tratasse de capítulo novo do mesmo tomo. Josué vai consumar a
obra iniciada por Moisés como este a deixou ao morrer, dotado que era de
idêntico e proporcional carisma pessoal e amparado por Iahweh, como se deve
reler (Dt 34,9 — Js 1,5) .
Morto Moisés, Iahweh i mediatamente reassume a chefia e comando da
operação, destaca o cumpri mento da Promessa a Abraão e ordena a Josué que
parta para a conquista. Essa presença de Iahweh vai ser uma constante na vida
Israelita, simbolizada na Arca da Aliança, sempre na dianteira do povo toda a vez
que se locomove (Nm 10,35 -36) principal mente em combate . Toda a legislação
em elaboração se estruturava em vista do estabelecimento definitivo e em
segurança religiosa de Israel na Terra Prometida em cumpri mento das Promessas
de Iahweh:
―Escrevei -as nos umbrais d e vossa casa e nas vossas portas, para que se
m u l t i p l i q u e m o s v o s s o s d i a s e o s d i a s d e v o s s o s f i l h o s n a t e r r a q u e Ia h w e h , c o m
juramento, prometeu dar a vossos pais, e durem tanto quanto o céu acima da
terra. Porque, se diligentemente guardardes todos estes mandamentos que vos
o r d e n o p a r a o s g u a r d a r d e s , a m a n d o Ia h w e h , v o s s o D e u s , a n d a n d o e m t o d o s o s
s e u s c a m i n h o s , e a e l e v o s a c h e g a r d e s , Ia h w e h d e s a p o s s a r á t o d a s e s t a s n a ç õ e s ,
e possuireis nações maiores e mais p oderosas do qu e vós. Todo lugar que pisar
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a planta do vosso pé, desde o d esert o, desd e o Líbano, desd e o ri o, o rio
Eufrates, até ao mar ocidenta l, será vosso. Ninguém vos pod erá resistir;
Ia h w e h , v o s s o D e u s , p o r á s o b r e t o d a t e r r a q u e p i s a r d e s o v o s s o t e r r o r e o v o s s o
temor, como já vos tem dito.‖ (Dt 11,20 -25).
Reproduz também alguns aspectos anteri or mente ventilados bem como
coloca Josué na fun ção ou missão a que fora destinado. Repeti ndo as mesmas
diretrizes para vi gorar após sua morte Moisés revi gora a eleição de Josué como
executor da obra com os mesmos deveres e para isso com os mesmos poderes,
mas sempre ao comando e domínio de Iahweh:
― . . . C h a m o u M o i s é s a J o s u é e l h e d i s s e n a p r e s e n ç a d e t o d o o Is r a e l : S ê f o r t e e
corajoso; porque, com este povo, entrarás na terra que Iahweh, sob juramento,
p r o m e t e u d a r a t e u s p a i s ; e t u o s f a r á s h e r d á - l a . Ia h w e h é q u e m v a i a d i a n t e d e
ti; ele será contigo, n ão te deixará, n em te d esamparará; não temas, n em te
atemori zes. Esta lei, escreveu -a Moisés e a deu a os sac erdot es, fi lhos de Levi,
q u e l e v a v a m a a r c a d a A l i a n ç a d e Ia h w e h , e a t o d o s o s a n c i ã o s d e Is r a e l . ‖ ( D t
31,1-9).
Estas transcrições comprovam pela repetição de determinadas frases a
sistemática usada na época como paradi gma para especificar relação indissociável
entre dois aconteci mentos distintos. É o caso das seguintes orações:
Dt 11,20.24-25
―na
terra
que
Ia h w e h
prometeu
dar a vossos pais,
sob juramento...‖
―...Todo lu gar qu e
pisar a planta do
vosso pé, desde o
deserto,
d esd e
o
Líbano, desde o ri o,
o rio Eufrates, até
ao mar ocidental,
será
vosso.
Ninguém vos p oderá
resistir;
Ia h w e h ,
vosso Deus, porá
sobre toda terra que
pisardes
o
vosso
terror e o vosso
temor como já vos
Dt 31,6-8
Sed e
fortes
e
corajosos, não temais,
nem vos atemorizeis
diante deles, porqu e
Ia h w e h , v o s s o D e u s , é
quem vai convosco;
não vos deixará, nem
vos
desamparará.
( . . . ) Ia h w e h é q u e m v a i
adiante de ti; ele será
contigo,
não
te
deixará,
nem
te
desamparará;
não
temas,
n em
te
atemorizes.
Chamou
Moisés
a
Josué e lhe disse na
presença de todo o
Is r a e l :
Sê
forte
e
corajoso; porque, com
este p ovo, entrarás na
t e r r a q u e Ia h w e h , s o b
juramento,
prometeu
dar a teus pais; e tu os
farás h erdá-la.
Dt 34,4
Js 1,2-3.5
Esta é a Terra que,
sob o juramento,
p r o m e t i a Ab r a ã o , a
Is a a c e a J a c ó ,
dizendo:
à
tua
descendência
a
darei; eu te faço
vê-la
com
os
próprios
olhos;
porém não irás para
lá.‖
At r a v e s s a e s s e e s t e J o r d ã o , t u e
todo este povo para a terra que
l h e s d o u ( a o s f i l h o s d e Is r a e l )
Todo lugar que pisar a planta do
vosso p é, vo -lo tenho dado, como
eu prometi a Moisés. Desde o
desert o e o Líbano at é ao grand e
rio, o rio Eufrates, toda a terra
dos h eteus e até ao mar Grande
para o poente do sol será o vosso
limite. Ningu ém pod erá te resistir
durante toda a sua vida; como fui
com Moisés, serei contigo; não te
deixarei, nem te d esampararei.‖
7
tem dito
6.1.1. PREPARATIVOS PARA A TOMADA DE CANAÃ.
Imediatamente Josué toma posse, assume o c omando e inicia os
preparativos para a Travessia do Jordão, estabelecendo em território inimi go um
centro inicial de operações. Dá ordens aos mesmos escribas nomeados como
auxiliares dos j ulgamentos (Dt 16,18; 20,5.8.9) , que se provisionem
suficientemente para a tomada de posse da terra como preparativo básico para a
captura e ocupação de Jericó, marco inicial da Conquista de Canaã. Os escribas
for mavam uma espéci e de oficiais de j ustiça da estrutura Israel ita (Js 3,2 -4;
8,33):
―Então, d eu ordem Josué aos escribas do p ovo, dizendo: Passai pelo meio do
acampamento e ordenai ao povo, dizendo: Preparai provisões, porque, dentro d e
t r ê s d i a s , p a s s a r e i s e s t e J o r d ã o , p a r a e n t r a r n a t e r r a q u e v o s d á Ia h w e h , v o s s o
Deus, para a p ossuird es.‖ (Js 1,10 -11).
Como pri meiro ato de sua liderança ratifica solenemente e como
deter minado por Moisés (Nm 32,28 -32) a antecipação da herança dos rubenitas,
gaditas e meia tribo de Manassés (cfr. Dt 3,18 -20 / Nm 32,1 -42). Submete -os à
concordância e obediência ao acordo j á feito co m o j uramento de fidelidade e
obediência a Josué de então em diante e continuando a participar da luta comum
(Js 1,10 -18). Essa antecipação ficou na ocasião condicionada por Moisés à
per manência das tribos aquinhoadas com as demais até a tomada total, que não
prevaleceria se não participassem da conquista. (Nm 32,28 -31).
6.1.2. - O RECONHECIMENTO DE JERICÓ.
Para a travessia do Jordão Josué determina uma expedi ção de
reconheci mento a Jericó, a primeira localidade a ser conquistada a partir de
Seti m, últi ma etapa mencionada da peregrinação pelo deserto ( Nm 33,49; 25,1):
―De Setim enviou Josu é, filho de Num, dois homens, secretamente, como espias,
d i z e n d o : An d a i e o b s e r v a i a t e r r a e J e r i c ó . F o r a m , p o i s , e e n t r a r a m n a c a s a d e u m a
mulher prostituta, cujo nome era Rahab, e pousaram ali. Então, se deu notícia ao rei de
J e r i c ó , d i z e n d o : E i s q u e , e s t a n o i t e , v i e r a m a q u i u n s h o m e n s d o s f i l h o s d e Is r a e l p a r a
espiar a terra. Mandou, pois, o rei d e Jericó dizer a Rahab: Manda sair os h omens q ue
vieram a ti e entraram na tu a casa, porque vieram espiar toda a terra. A mu lher, p orém,
havia tomado e escondido os dois homens; e disse: É verd ade que os dois homens vieram
a mim, porém eu não sabia donde eram. Havendo -se de fechar a porta, sendo já escuro,
eles saíram; não sei para onde foram; ide após eles d epressa, porque os alcançareis. Ela,
porém, os fizera subir ao eirado e os escond era entre as canas do linho que havia
disposto em ord em no eirado. Foram -se aqueles homens após os espias pelo caminho que
dá aos vaus do Jord ão; e, havendo saído os que iam após eles, fechou -se a porta.‖ (Js
2,1-7).
Pelas Leis da Aliança, era profundamente comprometedor, e at é mesmo
vedado, o comércio carnal de um Israelita com uma gentia, pela i mpureza
contagiante (Nm 25,1 -18; 31,14 -16 / 1Rs 11,2 / Dt 7,3 -4 / Lv 18,1-5.24-30 / e,
também, o uso do sexo, em caso de guerra, 1Sm 21,5 -6). Afastada esta
possibilidade, só se pode concluir que os espias foram à casa de Rahab, a mulher
prostituta no cumpri mento de seu dever de ―andar e obser var a terr a e Jericó‖.
Principal mente, pelo f ato de denominá -la mulher prostituta (na V ulgata: mulieris
meretricis; e, na hebraica isha zonah), insi nua -se clara referênci a à prostituição
8
sagrada. Porém, as expressões bíblicas, ― vieram a ti‖ (v. 3) e ―vieram a mim‖ (v.
4), pelas quais se poderia pretender eventual prática sexual dos emissários (cfr.
Gn 38,16 / Jz 16,1 / 2Sm 11,4; 12,24), não passam do teor do diálogo do rei de
Jericó com Rahab, o qual assi m j ulgou, disso aproveitando -se ela sem contesta r
para dissuadi -lo da idéia de que os acobertava em sua casa , e despistar os
perseguidores.
Além disso, em se mencionando uma mulher prostituta , é de se observar
que não se trata da meretriz profissional, aquela que vende o uso do próprio
corpo, mas de uma devota de ído lo pagão cultuand o-o com tal ato de oferta. Mais
um motivo pelo que os espias de Josué não poderiam praticar com ela um
comércio carnal em sacrifício a um deus pagão; nem ela, se ent ão convertida, o
faria impunemente. Assim é que, alertada pelo rei e ao to mar conheci mento de
que se tratava de ―uns homens dos filhos de Israel para espiar a terra‖, manifesta lhes e j ustifica -lhes a sua tendência à converter -se a Iahweh. Ao Deus de Israel
de quem j á se ouvira notícias de Sua Onipotência, inclusi ve contr a as fo rças da
natureza ―secando as águas do mar Ver melho, bem como votando ao interdito os
reis dos inimi gos de Israel‖. Sabendo di sso, os acoberta e consegue a sua
segurança e a de sua parentela. Presta -lhes as informações que buscavam,
principalmente do ânimo e das condições de resistência da população, sob o
j uramento deles de proteção para a sobrevivência dela e seus familiares. Assi m
cambiadas as garant ias, ―os fez descer por uma corda‖ e orientou -os
detalhadamente no retorno:
― An t e s q u e o s e s p i a s s e d e i t a s s e m , f o i e l a t e r c o m e l e s n o e i r a d o e l h e s d i s s e : B e m s e i
q u e Ia h w e h v o s d e u e s t a t e r r a , e q u e o p a v o r q u e i n f u n d i s c a i u s o b r e n ó s , e q u e t o d o s o s
m o r a d o r e s d a t e r r a e s t ã o a c o v a r d a d o s . P o r q u e t e m o s o u v i d o q u e Ia h w e h s e c o u a s á g u a s
do mar Vermelho diante d e vós, quando saíeis do Egito; e tamb ém o que fizestes aos
dois reis dos amorreus, Seon e Og, que estavam além do Jordão, os quais votastes ao
interdito. Ouvindo isto, d esfaleceu -nos o coração, e em ningu ém mais há coragem
a l g u m a , p o r c a u s a d a v o s s a p r e s e n ç a ; p o r q u e Ia h w e h , v o s s o D e u s , é D e u s e m c i m a n o s
c é u s e e m b a i x o n a t e r r a . Ag o r a , p o i s , j u r a i - m e , v o s p e ç o , p o r Ia h w e h q u e , a s s i m c o m o
usei de misericórdia para convosco, também d ela usareis para com a casa de meu pai; e
que me dareis um sinal certo de que conservareis a vida a meu pai e a minha mãe, como
também a meus irmãos e a minhas irmãs, com tudo o que têm, e d e que livrareis a n ossa
vida da morte. Então, lh e disseram os homens: A n ossa vida responderá pela vossa se
n ã o d e n u n c i a r d e s e s t a n o s s a m i s s ã o ; e s e r á , p o i s , q u e , d a n d o - n o s Ia h w e h e s t a t e r r a ,
usaremos contigo de misericórdia e d e fid elidade. Ela, então, os fez descer por uma
corda pela janela, porque a casa em que residia estava sobre o muro da cidade. E disse l h e s : Id e - v o s a o m o n t e , p a r a q u e , p o r v e n t u r a , v o s n ã o e n c o n t r e m o s p e r s e g u i d o r e s ;
escondei-vos lá três dias, até que eles voltem; e, dep ois, tomareis o vosso caminho.‖ (Js
2,8-16).
Não se pode negar o valor dessa mulher, que vai se i mpor de tal maneira
que, além de ter sido poupada (Js 6,2 5), passará a viver entr e os Israelitas.
Integrar -se-á de tal maneira entre eles que se tornará uma das ancestrais de Jesus
Cristo, pertencendo pelo casamento com Salmon (Rt 4,21 / Mt 1,5) à Tribo de
Judá, tornando -se a mãe de Booz, esposo de Rute , avó de Daví . Sua fé e a sua
obra de conversão são expressas pela suj eição ao Poder de Iahweh, no que será
reconhecida por dois dos apóstolos de Cristo (cfr. Hb 11,31 / T g 2,25). Entre ela
e os espiões vários detalhes são debatidos evitando -se qualquer erro ou mal
entendido, ficando clara a confiança nela d epositada pelos dois emissários
cumprindo fiel mente as instruções que lhes dá:
―Disseram -lhe os h omens: De sob rigados seremos d este teu ju ramento que nos fizeste
jurar, se, vindo n ós à terra, não atares este cord ão d e fio escarlate à janela p or onde nos
fizeste d escer; e se não recolheres em casa contigo teu pai, e tua mãe, e teus irmãos, e a
toda a família de teu pai. Qualquer que sair para fora da porta da tua casa, o seu sangue
9
lhe cairá sobre a cabeça, e n ós s eremos inocentes; mas o sangue d e qualquer que estiver
contigo em casa caia sob re a nossa cabeça, se algu ém n ele puser mã o. Tamb ém, se tu
denunciares esta nossa missão, seremos d esobrigad os do juramento que nos fizeste
jurar. E ela disse: Segundo as vossas palavras, assim seja. Então, os despediu; e eles se
foram; e ela atou o cordão escarlate à jan ela. Foram -se, p ois, e ch egaram ao monte, e ali
ficaram três dias, até que voltaram os perseguidores; porque os perseguidores os
procuraram por todo o camin ho, p orém não os acharam.‖ (Js 2,17 -22).
Tanto se impôs que os espias não buscaram outra infor mação
per manecendo escondidos durante o tempo que ela deter minou e , sem nenhum
outro contato, desceram o monte onde se esconderam para retransmitir a Josué a
certeza da facilidade da conquista:
―Assim, os dois homens voltaram, e desceram do monte, e passaram, e vieram a Josu é,
filh o d e Nun, e lh e contaram tudo quanto lhes acontecera; e disseram a Josué:
C e r t a m e n t e , Ia h w e h n o s d e u t o d a e s t a t e r r a e m n o s s a s m ã o s , e t o d o s o s s e u s m o r a d o r e s
estão apavorados diante de n ós.‖ (Js 2,23 -24).
6.1.3. - A TRAVESSIA DO JO RDÃO .
Após essas infor mações encoraj adoras dos batedores, Josué parte de Setim
com o povo e per manece na mar gem do Jordão três dias à espera da Passagem da
Arca. A conquista é religiosa e comandada por Iahweh si gnificado pela Arca da
Aliança (Nm 10,35 -36 / Js 6), que deveria sempre diri gir a marcha (Nm 10,33).
Era transportada pelos Sacerdotes, pois ―certamente Iahweh nos deu toda esta
terra em nossas mãos e tod os os seus moradores estão apavorados diante de nós‖:
― L e v a n t o u - s e , p o i s , J o s u é d e m a d r u g a d a , e , t e n d o e l e e t o d o s o s f i l h o s d e Is r a e l p a r t i d o
de Setim, chegaram ao Jordão e pousaram ali antes d e p assar. Suced eu, ao fim d e três
dias, que os escribas passa ram p elo meio d o acampamento e ord enaram ao p ovo,
d i z e n d o : Q u a n d o v i r d e s a A r c a d a A l i a n ç a d e Ia h w e h , v o s s o D e u s , e q u e o s l e v i t a s
sacerdotes levam, partireis vós tamb ém e a seguireis. Con tudo, haja a distância de cerca
de dois mil côvad os entre vós e ela. Não vos chegueis a ela, para que conh eçais o
caminho pelo qual haveis d e ir, visto que, por tal caminho, nunca passastes antes. Disse
J o s u é a o p o v o : S a n t i f i c a i - v o s , p o r q u e a m a n h ã Ia h w e h f a r á m a r a v i l h a s n o m e i o d e v ó s . E
também fa lou aos Sacerdot es, dizend o: Levantai a Arca da Aliança e passai adiante do
povo. Levantaram, p ois, a Arca da Aliança e foram anda ndo adiante do povo.‖ (Js 3, 1 6).
―Santificai -vos, porque amanhã Iahweh fará maravilhas no meio de vós‖: a
santificação ritual, exigida em todas as ma ni festações características da presença
de Iahweh. São as condições de pureza da participação nas cerimônias sacrificais
regulamentadas desde antes da peregrinação do deserto ou nas teofanias de
Iahweh (Ex 19,10 -15.22 / Lv cc. 17 a 26; 20,26 / Nm 11,18 / J s 7,13 / 1Sm 16,5 /
2Cr 29,5). ― Santificar-se‖ é estar em condições de comparecer à presença de
Iahweh ―separados‖ do profano em har monia com o seu fundamento teológico,
―sede santos, porque eu, Iahweh vosso Deus, sou santo ‖ (Lv 19,2). Isso si gnifica
que o Israelita deveri a ― separar-se‖ do profano pelo cumpri mento das Leis da
Aliança e da Santidade, pois sendo ― i magem e semelhança de Deus ‖ o Homem
reflete Deus como um espelho . Assi m como Deus não se confunde com a Criação,
transcendendo -a e ao profano, o Is raelita também não pode se confundir, e dele se
―separa‖ ―santificando-se‖ como Iahweh é ―separado‖, ―Santo‖, diferente da
população. Não se li mita à limpeza física ou de vestes, mas também na abstenção
de outros atos, até mesmo os sexuais, aspectos exteri ores e também interiores,
que se tornam perceptíveis pela conduta e comportamento numa verdadeira
consagração. Essa santificação é também car acterizada pela distância que se deve
manter da Arca de Israel, a presença de Iahweh, tal como no Monte Sinai (Ex
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19,12), a ―separação‖ de Iahweh do profano (Gn 28,16 -17 / Ex 3,5; 40,35 / Lv
16,2 / Nm 1,51; 18,22 / 2Sm 6,7).
Satisfeitas todas as deter minações transmitidas por meio de Moisés,
Iahweh se manifesta a Josué, dando -lhe toda a cobertura necessária, ditando -lhe
comandos, que comprovam a identidade de ambos na continuidade da obra,
iniciada no Egito e integrante da Aliança. A Arca da Aliança evoca a presença de
Iahweh no comando, sempre na dianteira participando ativament e dos combates
(Nm 10,35 -36; 21,14 / Js 6 / 1Sm 4,3 -8 / 2Sm 11,11 / Sl 24,7 -10), iniciando a
Conquista da Terra Prometida, cumprindo a Promessa e nos termos da Aliança
proj etada e iniciada em Abraão:
― E n t ã o d i s s e Ia h w e h a J o s u é : H o j e c o m e ç a r e i a e n g r a n d e c e r - t e p e r a n t e o s o l h o s
d e t o d o o Is r a e l , p a r a q u e s a i b a m q u e , a s s i m c o m o f u i c o m M o i s é s , s e r e i
c o n t i g o . T u , p o i s , o r d e n a r á s a o s S a c e r d o t e s q u e l e v a m a Ar c a d a A l i a n ç a ,
dizendo: Quando chegard es à beira das águas do Jordão, aí parareis. Disse
e n t ã o J o s u é a o s f i l h o s d e Is r a e l : A p r o x i m a i - v o s , e o u v i a s p a l a v r a s d e Ia h w e h
vosso Deus. E acrescentou: Nisto conhecereis qu e o Deu s vivo está n o meio d e
vós, e que certamente expulsará de diante de vós os cananeus, os heteus, os
h e v e u s , o s f e r e z e u s , o s g e r g e s e u s , o s a m o r r e u s e o s j e b u s e u s . E i s q u e a Ar c a d a
A l i a n ç a d o Ia h w e h d e t o d a a t e r r a p a s s a r á a d i a n t e d e v ó s p a r a o m e i o d o J o r d ã o .
T o m a i , p o i s , a g o r a d o z e h o m e n s d a s t r i b o s d e Is r a e l , d e c a d a t r i b o u m h o m e m ;
porque assim que as p lantas dos p és d os Sacerdotes que levam a Arca de
Ia h w e h , o D e u s d e t o d a a t e r r a , p o u s a r e m n a s á g u a s d o J o r d ã o , e s t a s s e r ã o
cortadas, e as águas que vêm de cima, pararão, amontoando -se.‖ (Js 3,7 -13).
Como no Mar Ver mel ho (Ex 14,5 -31), a travessia do Jordão, mar cada pela
presença de Iahweh na Arca da Aliança, fez recuar o Rio Jord ão ao simples toque
dos pés dos Sacerdotes que a conduziam. Assim per maneceram at é que todos os
Israelitas penetrassem na Terra de Canaã (Js 3,7 -4,18) ―... pelo seco...‖ (3,17), tal
como na saída do Egi to, ―... os filhos de Israel entraram no mei o do mar a pé
enxuto...‖ (Ex 14,22). Antes foi a coluna de fogo ou nuvem que os guiava e
marcava a presença ef icaz de Iahweh (Ex 13,21 -22 / 14,19 -20); agora, é a Arca
(Js 3,6 -17 / 4,10 -11) à testa da tropa em conquista. Antes de prosseguir, Josué
pronuncia uma derra deira exortação ao povo, anunciando que Iahweh cumpria o
que lhe fora prometido: ―... hoj e começarei a engrandecer -te perante os olhos de
todo o Israel, para que saibam que, assi m como fui com M oisés, serei contigo...‖
(3,7).
Sete povos foram mencionados o que per mite antever a ent rega da
totalidade dos habitantes do território em virtude da si gnificação, cultural e
religiosa do número sete. Várias tentativas de explicações e int erpretações são
oferecidas por eruditos para essa passagem do Rio Jordão. Poré m, mesmo que se
faça quase que exaustivamente per manece sensivel mente uma dificuldade de
aceitação e compreensão o que é até mesmo natural em face da vi olação das leis
da natureza, como é o caso. O que se deve considerar é que mesmo tendo ocorrido
um fenômeno natural , a sua ocorrência no momento propício, mostra na sua
concatenação o ato de Deus na ocasião cert a. Além disso, al gum aconteci mento
extraordinário deve ter ocorrido somente atribuível a Iahweh a quem nada ―existe
de i mpossí vel‖ (Gn 18,14 / Lc 1,3 7), que a epopeia guerreira exaltou com sua
simbologia própria:
―Partindo o povo das suas tendas, para atravessar o Jordão, levaram os
Sacerdotes a Arca da Alian ça na dianteira; e, quando os qu e levavam a Arca
chegaram até ao Jordão, e os seus p és se molh aram na borda das águas (porque
o Jordão transbordava sobre todas as suas ribanceiras, todos os dias da ceifa),
pararam as águas que vinham de cima; levantaram -se como uma pared e, muito
longe, em Adam, que fica ao lado d e Sartan; e as qu e desciam para o ma r da
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Arabá, o mar Salgado, foram de todo separadas; e passou o povo defronte d e
J e r i c ó . P o r é m o s s a c e r d o t e s q u e l e v a v a m a A r c a d a A l i a n ç a d e Ia h w e h
e s t a c i o n a r a m - s e n o m e i o s e c o d o J o r d ã o , e t o d o o Is r a e l p a s s o u a p é e n x u t o ,
atravessando o Jordão.‖ (Js 3,14 -17).
Assi m ter minou a travessia do Jordão com o que os Filhos de Israel
penetram no território que lhes destinara Iahweh. Porém, f altava ainda a
conquista de toda a terra iniciando -se com um memorial da posse total erigindo se um monumento com doze pedr as (uma para cada tribo) comemorativo do fato
histórico:
― T e n d o , p o i s , t o d o o p o v o p a s s a d o o J o r d ã o , f a l o u Ia h w e h a J o s u é , d i z e n d o :
Tomai do povo doze homens, um de cada tribo, e ord enai -lh es, dizendo: Daqui
do meio d o Jordão, do lugar ond e, parados, p ous aram os sacerdotes os p és,
tomai doze p edras; e levai -as convosco e d epositai -as no acampamento em qu e
haveis d e passar esta noite. Chamou, pois, Josué os doze homens que escolh era
d o s f i l h o s d e Is r a e l , u m d e c a d a t r i b o , e d i s s e - l h e s : P a s s a i a d i a n t e d a a r c a d e
Ia h w e h , v o s s o D e u s , a o m e i o d o J o r d ã o ; e c a d a u m l e v e s o b r e o o m b r o u m a
p e d r a , s e g u n d o o n ú m e r o d a s t r i b o s d o s f i l h o s d e Is r a e l , p a r a q u e i s t o s e j a p o r
memorial entre vós; e, quando vossos filhos, n o futuro, perguntarem, dizendo:
Que vos significam es tas p edras?, então, lh es direis q ue as águas do Jordão
f o r a m c o r t a d a s d i a n t e d a Ar c a d a Al i a n ç a d e Ia h w e h ; e m p a s s a n d o e l a , f o r a m a s
águas do Jordão cortadas. Essas pedras serão, para sempre, um memorial aos
f i l h o s d e Is r a e l . Fi z e r a m , p o i s , o s f i l h o s d e Is r a e l c o m o J o s u é o r d e n a r a , e
l e v a n t a r a m d o z e p e d r a s d o m e i o d o J o r d ã o , c o m o Ia h w e h t i n h a d i t o a J o s u é ,
s e g u n d o o n ú m e r o d a s t r i b o s d o s f i l h o s d e Is r a e l , e l e v a r a m - n a s a o
acampamento, ond e as depositaram. Levantou Josué ta mbém doze pedra s no
meio do Jordão, no lu gar em que, parados, pousaram os pés os sacerdotes que
levavam a arca da Aliança; e ali estão até ao dia de hoje.‖ (Js 4,1 -9).
―Essas pedras serão, para sempre, um memorial aos filhos de Israel‖ (v. Js
4,7) – os mesmos representantes, um de cada tri bo, j á antes designados por Josué
(Js 3,12), separam e carregam as pedras par a a ereção do memorial imortalizando
o evento histórico. Não se confundem com as pedras que Josué mandou er guer no
meio do Jordão ( v. 9), no lugar tocado pelos pés dos sacerdotes ao cruzar o rio,
que lá devem ter per manecido submersas em comemoração ao feito, pelo menos
―até os dias de hoje ‖, isto é, até os dias em que foi escrita essa narrativa. Após,
passarem os Sacerdotes com a Arca da Al iança apresentaram -se os Filhos de
Israel, encabeçados pelos filhos de Rúben, os filhos de Gad e a meia tribo de
Manassés, confor me a ordem estabelecida por Josué (Js 1,12 -15) finalizando a
marcha de entrada (Js 4,10 -13) e posicionando -se para a conquista armada. Com
esse feito milagr oso, passand o o rio a pé seco Iahweh engrandece Josué , como
fazia com Moisés. Também os Sacerdotes t al como ordenado por Iahweh a Josué
deixaram o leito enxut o do rio e subiram par a a mar gem , nor mali zando -se o fluxo
das águas tão logo assomaram a ribanceira:
― N a q u e l e d i a , Ia h w e h e n g r a n d e c e u a J o s u é n a p r e s e n ç a d e t o d o o Is r a e l ; e
respeitaram-n o tod os os dias da sua vida, como haviam resp eitado a Moisés.
D i s s e , p o i s , Ia h w e h a J o s u é : D á o r d e m a o s s a c e r d o t e s q u e l e v a m a a r c a d o
Testemunho que subam do Jordão. Então, ord e nou Josu é aos sacerd otes,
dizendo: Subi do Jordão. Ao subirem d o meio do Jord ão os sacerdotes qu e
l e v a v a m a a r c a d a A l i a n ç a d e Ia h w e h , e a s s i m q u e a s p l a n t a s d o s s e u s p é s s e
puseram na terra seca, as águas do Jordão se tornaram ao seu lugar e corriam
como dantes sobre todas as suas ribanceiras. Subiu, pois do Jordão o povo n o
d i a d e z d o p r i m e i r o m ê s ; e a c a m p a r a m - s e e m Gá l g a l , d o l a d o o r i e n t a l d e J e r i c ó .
A s d o z e p e d r a s q u e t i r a r a m d o J o r d ã o e r i g i u - a s J o s u é e m Gá l g a l . E d i s s e a o s
f i l h o s d e Is r a e l : Q u a n d o n o f u t u r o v o s s o s f i l h o s p e r g u n t a r e m a s e u s p a i s ,
d i z e n d o : Q u e s i g n i f i c a m e s t a s p e d r a s ? Fa r e i s s a b e r a v o s s o s f i l h o s , d i z e n d o :
Is r a e l p a s s o u e m s e c o e s t e J o r d ã o . P o r q u e Ia h w e h , v o s s o D e u s , f e z s e c a r a s
á g u a s d o J o r d ã o d i a n t e d e v ó s , a t é q u e p a s s á s s e i s , c o m o Ia h w e h , v o s s o D e u s ,
fez ao mar Vermelh o, ao qual secou perante nós, até que passamos. Para que
12
t o d o s o s p o v o s d a t e r r a c o n h e ç a m o q u a n t o é p o d e r o s a a m ã o d e Ia h w e h , a f i m
d e q u e t e m a i s a Ia h w e h , v o s s o D e u s , t o d o s o s d i a s . ‖ ( J s 4 , 1 4 - 2 4 ) .
6.1.4.– ISRAEL EM GÁLGAL.
―As doze pedras que t iraram do Jordão, eri giu -as Josué em Gál gal ‖, onde
Josué erige o memorial (Js 4,5 -7), que se torna o centro operacional de várias
expedições dos Israeli tas para a Conquista da Terra Prometida (Js 9,6; 10,6.43;
14,6); e, será ai edificado um monumento e um local de veneração. Pela
etimologia do nome Gál gal que significa ―círculo ou roda‖ se deduz que o
memorial foi eri gido em for ma de colunas for mando um circulo tal como se usava
para caracterizar um l ugar de culto, que vei o se to rnar um histórico Santuário a
Iahweh (1Sm 10,8; 11,15). Por outro lado, os fatos que se deram nessa
oportunidade se difundem no território, amedrontando os seus habitantes pelo
poder de Iahweh, na concepção cultural do tempo de que a vitória de um povo era
a vitória de seu deus. Com essa vitória a Missão de Israel começa a se manifestar
na qualidade de ― primícias ou primogênit o ‖ entre todos os povos (Ex 4,22), e
difundindo o nome de Iahweh no coração deles. O Coração para el es era o centro
das principais fa culdades humanas da inteligência, da vontade, dos sentimentos e
emoções.
Ao mesmo tempo Israel vem de começar a se impor como uma for te nação
conduzida pelo novo profeta j á que ―naquele dia, Iahweh engrandeceu a Josué na
presença de todo o Israel; e respe itaram-no todos os dias da sua vida, como
haviam respeitado a Moisés‖ (Ex 14,31). Amedrontados pel a proj eção da
ocorrência sentiram-se fracos e i mpotent es com isso expri mi ndo um forte
reconheci mento da presença da maj estade divina concorrendo para o respei to pelo
povo de Iahweh. O nome de Iahweh por mei o dos Filhos de Israel difundia -se e se
impunha entre os genti os:
― P o r q u e Ia h w e h v o s s o D e u s f e z s e c a r a s á g u a s d o J o r d ã o d i a n t e d e v ó s , a t é q u e
passásseis, assim como fizera ao Mar Vermelho, ao qual fez seca r perante nós,
até que passássemos; para que todos os p ovos da terra conheçam qu e a mão d e
Ia h w e h é f o r t e ; a f i m d e q u e v ó s t a m b é m t e m a i s a Ia h w e h v o s s o D e u s p a r a
semp re. Quando, pois, todos os reis dos amorreus que estavam ao oeste do
Jordão, e todos os r eis dos cananeus que estavam ao lado do mar, ouviram que
Ia h w e h t i n h a s e c a d o a s á g u a s d o J o r d ã o d e d i a n t e d o s f i l h o s d e Is r a e l , a t é q u e
passassem, derreteu -se-lh es o coração, e não houve mais coragem n eles, por
c a u s a d o s f i l h o s d e Is r a e l . ‖ ( J s 4 , 2 4 - 5 , 1 ) .
Vários atos são aí prat icados, advindos das Leis da Aliança, a começar com
a circuncisão indispensável para se participar do rito da Páscoa (Ex 12,48), que
se celebrava ao tér mi no da peregrinação pelo deserto. Nele tendo perecido todos
os que se amotinara m contra Iahweh ( Nm 14,26 -35) foi praticada da maneira
tradicional com facas de pedra (Ex 4,25) nos filhos sobrevi ventes dos insurretos
(Nm 14,31) . Desde a Aliança contraída com Abraão (Gn 17,9 -11) manti veram os
Israelitas a circuncisão como sinal físico d a vinculação de todo o povo com
Iahweh, tendo assi m permanecido no Egito (Js 5,5), abandonando -a apenas
durante a travessia do deserto, para voltarem a praticá -la no seu ter ritório:
― N a q u e l e t e m p o , d i s s e Ia h w e h a J o s u é : Fa z e f a c a s d e s í l e x e p a s s a , d e n o v o , a
c i r c u n c i d a r o s f i l h o s d e Is r a e l . E n t ã o , J o s u é f e z p a r a s i f a c a s d e s í l e x e
c i r c u n c i d o u o s f i l h o s d e Is r a e l e m G i b e a t e - H a r a l o t e ( = C o l i n a d o s P r e p ú c i o s ) .
Foi esta a razão p or que Josué os circuncidou: todo o povo qu e tinha saído do
Egito, os homens, tod os os homens d e guerra, eram já mortos no deserto, p elo
caminho. Porque todo o povo que saíra estava circuncidado, mas a nem um
deles que nascera n o d eserto, pelo caminho, d epois d e terem saído do Egito,
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h a v i a m c i r c u n c i d a d o . P o r q u e q u a r e n t a a n o s a n d a r a m o s f i l h o s d e Is r a e l p e l o
deserto, até se acabar toda a gente dos h omens de guerra que saíram do Egito,
q u e n ã o o b e d e c e r a m à v o z d e Ia h w e h , ( . . . ) . P o r é m e m s e u l u g a r p ô s a s e u s
filh os; a estes Josu é circuncidou, porquanto estavam incircuncisos, porque os
não circuncidaram no camin ho. Tendo sid o circuncidada toda a nação, ficaram
n o s e u l u g a r n o a c a m p a m e n t o , a t é q u e s a r a r a m . D i s s e m a i s Ia h w e h a J o s u é :
Hoje, removi de vós o opróbrio do Egito; pelo que o nome daquele lugar se
c h a m o u Gá l g a l a t é o d i a d e h o j e . ‖ ( J s 5 , 2 - 9 ) .
Aqui em Gál gal a cir cuncisão readquire o valo r fundamental a que fora
elevado , como o ―si nal da Aliança‖ (Gn 17,1 -14) contraída com Abraão e
passando a vi gorar na Terra Prometida cuj a conquista se iniciava, recebendo -a de
Iahweh como ― possessão perpétua‖ (Gn 17,8). Por causa disso é que Iahweh
proclamou que ―Hoj e, removi de vós o opróbrio do Egito; pel o que o nome
daquele lugar se chamou Gál gal até o dia de hoj e‖. A palavra Gál gal quando
usada como verbo pode ter o sentido de ― tirar, remover, rol ar‖, correspondendo
aqui à outra etimologi a . Também, além da circuncisão remove -se o opróbrio em
virtude de se instalar definitivamente no Território de Iahweh o Povo com o qual
for mulou, solenemente no Sinai, uma Aliança Eterna inaugurada com a
celebração da Pri meira Páscoa no novo país:
― E s t a n d o , p o i s , o s f i l h o s d e Is r a e l a c a m p a d o s e m Gá l g a l , c e l e b r a r a m a P á s c o a
no dia catorze do mês, à tarde, nas campinas de Jericó.‖ (Js 5,10).
Por isso, a Páscoa celebrada na entrada da Terra Prometida concretiza o
significado de sua instituição como comemoração da libertação ―da mão dos
Egípcios e para fazê -l o subir daquela terra para uma terra boa e espaçosa...‖ ( Ex
3,8). Aconteceu quando fir mados na Terra Prometida, ou sej a, ―quando, pois,
tiverdes entrado na terra que Iahweh vos dará como tem prometido, guar dareis
este culto... o Sacrifício da Páscoa de Iahweh...‖ (Ex 12,25.26):
― C h a m o u , p o i s , M o i s é s t o d o s o s a n c i ã o s d e Is r a e l , e d i s s e - l h e s : Id e e t o m a i - v o s
cord eiros segundo as vossas famílias, e imolai a páscoa. E ntão tomareis um
molho de hissop o, emb eb ê-lo-eis no sangu e que estiver na bacia e marcareis
com ele a verga da porta e os dois umbrais; (...) ao ver o sangu e na verga da
p o r t a e e m a m b o s o s u m b r a i s , Ia h w e h s a l t a r á a q u e l a p o r t a ( . . . ) Q u a n d o , p o i s ,
t i v e r d e s e n t r a d o n a t e r r a q u e Ia h w e h v o s d a r á , c o m o t e m p r o m e t i d o , g u a r d a r e i s
este culto. E quando vossos filh os vos p erguntarem: Qu e quereis dizer com este
c u l t o ? R e s p o n d e r e i s : E s t e é o s a c r i f í c i o d a P á s c o a d e Ia h w e h , q u e s a l t o u a s
c a s a s d o s f i l h o s d e Is r a e l n o E g i t o , q u a n d o f e r i u o s e g í p c i o s , e l i v r o u a s n o s s a s
c a s a s . E n t ã o o p o v o i n c l i n o u - s e e a d o r o u . E o s f i l h o s d e Is r a e l , c o m o Ia h w e h
ord enara a Moisés e a Aarão, assim fizeram.‖ (Ex 12,21 -28).
Celebrada a Páscoa , como se fora seu efeito imediato, adveio ao Po vo de
Deus uma profusão de bênçãos guiando -l he os passos e mantendo -o nutrido,
física e espiritualment e, demonstrando assi m a presença de Iahweh. Também, ao
começar a se alimentar dos produtos do território cessa o Maná, sinal evidente da
consecução da Pro messa de Iahweh a Abraão dando a seus descendentes a ―terra
onde peregrinava‖ (Gn 13,15). Com isso assinalava -se a realização de todas as
promessas de Iahweh exaradas por Moisés em torno do cumpri mento dos
mandamentos e estatutos que lhe foram entregue, co mo anterior mente consignado
(Ex 16,35):
―Comeram do fruto da terra, no dia seguinte à Páscoa; pães ázimos e cereais
tostados comeram n esse mesmo dia. No dia imediato, d epois que comeram d o
p r o d u t o d a t e r r a , c e s s o u o m a n á , e n ã o o t i v e r a m m a i s o s f i l h o s d e Is r a e l ; m a s ,
naquele ano, comeram dos novos frutos da terra de Can aã.‖ (Js 5,11 -12) / ―E
c o m e r a m o s f i l h o s d e Is r a e l m a n á q u a r e n t a a n o s , a t é q u e e n t r a r a m e m t e r r a
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habitada; comeram maná até que chegaram aos limites d a terra d e Canaã.‖ (Ex
16,35).
Em Gál gal, percebe Josué a presença de um Mensageiro de Iahweh , o Autor
da Conquista, um Anj o portador de instruções (Js 5,14; 6,2 -5) e r atificando a sua
identidade com Moisés, principal mente com a semelhança desse episódio com o
da Sarça Ardente (Ex 3,5). Tais teofanias são repetidas em di versas ocasiões
pelos mais variados motivos i mpondo um pr ofundo respeito e temor reverenciais
sendo reais manifestações de Iahweh (cfr. Gn 16,7 -14; 18,1 -33; 21,14 -21 / Jz 2,1 5; 6,11 -24; 13,2 -5):
―Estando Josu é p erto d e Jericó , levantou os olhos e viu que se achava em p é
diante dele um homem empunhando uma espada desembainhada. Josu é
aproximou-se dele e disse-lhe: És tu dos nossos ou dos nossos adversários?
R e s p o n d e u e l e : N ã o ; s o u l í d e r d o e x é r c i t o d e Ia h w e h e a c a b o d e c h e g a r . E n t ã o ,
Josu é se prostrou com o rosto em terra, e o adorou, e disse -lhe: Qu e diz meu
Ia h w e h a o s e u s e r v o ? R e s p o n d e u o l í d e r d o e x é r c i t o d e Ia h w e h a J o s u é :
Descalça as sandálias dos pés, porqu e o lugar em qu e estás é Santo. E fez Josué
assim.‖ (Js 5,13-15).
6.1.5. – A TOMADA DE JERICÓ.
Inicia -se a conquista de Jericó em obediência às instruções de Iahweh a
Josué, ao comando das tropas pel a Arca da Aliança posicionada na dianteira. A
cidade era cercada de muralhas cuj os habitantes amedrontados (Js 5,1 -2)
reforçaram-nas, e i mpediam tanto a entr ada como a saída, pretendendo se
resguardar da penetração dos Israelitas. Em vão, porém! Iahweh j á os entregara
aos Filhos de Israel e dá as instruções estratégicas para a tomada e posse
definitivas. Por elas se percebe que se tratava de uma verdadeira guerra santa,
como se considerava uma operação militar em que o deus local participava,
―vencendo -se um povo vencia -se o seu deus‖, e os combatentes eram
―consagrados ou santificados‖ (Is 13,3 / Jr 22,7; 51,27s.; 6,4 / Jl 4,9 / Js 3,5),
assim entre os gentios como entre os Israelitas. Ao mesmo tempo, concorre para
essa convicção a presença ativa dos Sacerdot es , empregando chifres de carneiro a
guisa das trombetas que se usavam em soleni dades reli giosas (Lv 25,8 -10) e como
sinal de partida para os combates (Nm 10,1 -10): inegavel mente, é uma ―guerra
consagrada ou santa‖:
― O r a , J e r i c ó e s t a v a r i g o r o s a m e n t e f e c h a d a p o r c a u s a d o s f i l h o s d e Is r a e l ;
n i n g u é m s a í a , n e m e n t r a v a . E n t ã o , d i s s e Ia h w e h a J o s u é : O l h a , e n t r e g u e i n a t u a
mão Jericó, o seu rei e os seus gu erreiros. Vós, todos os combatentes, rodeareis
a cidade, cercando-a uma vez; assim fareis por seis dias. Sete sacerdotes
levarão sete trombetas d e chifre de carn eiro adiante da Arca; no sétimo dia,
rod eareis a cidade sete veze s, e os sacerdotes tocarão as tromb etas. E, tocando se com fragor a tromb eta de chifre de carn eiro, ou vindo vós o toqu e dela, todo
o povo p rorromp erá forte grito d e gu erra, as muralhas da cidade cairão, e o
povo subirá, cada um do lugar em que estiver para a frente.‖ (Js 6,1 -5)
Josué, ao comando da operação, passa as nor mas recebidas c om mais
detalhes aos Sacerdotes que conduziam a Ar ca da Aliança em torno das muralhas
de Jericó tocando o chifre a cada dia e tendo à frente os guerreiros armados. Fez
isso durante seis dias consecutivos e no sétimo dia a cidade foi contornada sete
vezes e todo o povo pr oferiu um uníssono e f orte clamor (Nm 10,9) , concomitante
ao toque das trombetas de chifre, e as muralhas ruem (Js 6,6 -16.20) e a cidade é
tomada:
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―E suced eu que, na sétima vez, quando os Sacerd otes tocavam as tromb etas,
d i s s e J o s u é a o p o v o : G r i t a i , p o r q u e Ia h w e h v o s e n t r e g o u a c i d a d e ! P o r é m a
c i d a d e s e r á i n t e r d i t a d a a Ia h w e h , e l a e t u d o q u a n t o n e l a h o u v e r . S o m e n t e v i v e r á
Rahab, a prostituta, e todos os que es tiverem com ela em casa, porque ocu ltou
os mensagei ros que en viamos. Tã o somente gua rdai -vos das coisas interditadas,
para que, sendo elas interditadas, não as tomeis; e assim torneis interdito o
a c a m p a m e n t o d e Is r a e l e c a u s e m a s u a d e s g r a ç a . P o r é m t o d a p r a t a , e o u r o , e
u t e n s í l i o s d e b r o n z e e d e f e r r o s ã o c o n s a g r a d o s a Ia h w e h ; i r ã o p a r a o s e u
t e s o u r o . Gr i t o u , p o i s , o p o v o , e o s S a c e r d o t e s t o c a r a m a s t r o m b e t a s . T e n d o
ouvido o povo o sonido d a trombeta e levantado grande grito, ruíram as
muralhas, e o p ovo su biu à cidade, cada qual em frente de si, e a tomaram.‖ (Js
6,16-20).
Dentre as determinações de Moisés destacava -se uma desti nada ao
procedi mento com respeito às localidades obj eto de conquista. Antes de aplicar o
Interdito oferecer -se-á a paz. Essa paz traduz o buscado na Missão de Israel com
a conversão do povo vencido, pela derrota do seu deus, passando a servir com
trabalhos forçados aos Israelitas. Essa regra, com sentido aparentemente
humanitário, só admitia exceção para aqueles povos que habitavam o território
cananeu, pelo peri go do contagio que si gnificavam para a pureza e fidelidade do
Israelita à Aliança com Iahweh. Nesse tempo da Conquista da Terra Prometida
era usual entre os povos o que os Israelitas denominaram de interdito na
concepção sagr ada das guerras de então em que os deuses dos povos encabeçavam
as batalhas. Tudo aquilo que se opôs ao novo deus vitorioso, necessariamente e
por segurança reli giosa e nacional, deveria ser erradicado definitivamente. O
interdito era uma instituição que r etirava as pessoas ou coisas do domínio
humano passando ao de Iahweh sej a pelo extermínio total (Lv 27,29 / Nm 21,2 /
Dt 7,1 -10; 13,13 -17), sej a também, como consagração ao culto (Lv 27,28)
entregando -se ao tesouro do Templo (Js 6,18 -19) os materiais ou co isas de valor
encontradas. É o perigo que si gnificava para o Israelita a influência de cultos
pagãos ou ainda uma apostasia a deuses a quem diri giam os gentios suas
reivindicações supersticiosas para a fertilidade do solo, a ponto de lhes
oferecerem em sac rifício os próprios filhos, a prática da prostituição sagrada e
outras aberrações:
― Q u a n d o Ia h w e h , t e u D e u s , t e i n t r o d u z i r n a t e r r a a q u a l p a s s a s a p o s s u i r , e
tiver lançado muitas nações de diante d e ti, (...) sete nações mais numerosas e
m a i s p o d e r o s a s d o q u e t u ; e Ia h w e h , t e u D e u s , a s t i v e r d a d o a t i , p a r a a s f e r i r ,
totalmente as destruirás; não farás com elas aliança, nem terás piedade delas;
nem contrairás matrimônio com os filhos dessas nações; não darás tuas filhas a
seus filh os, nem tomarás suas fi lhas para teus filhos; pois elas fariam d esviar
t e u s f i l h o s d e m i m , p a r a q u e s e r v i s s e m a o u t r o s d e u s e s ; e a i r a d e Ia h w e h s e
acenderia contra vós outros e dep ressa vos destruiria. Porém assim lh es fareis:
derribareis os seus altares, q uebrareis as suas col unas, cortareis os seus troncos
sagrad os e queimareis as suas imagens de escultura‖ (Dt 7,1 -5).
Em confor midade com essa determinação e identificando -se coerentemente
com essa teologia, Jericó foi totalmente vot ado ao interdito, poupando -se apenas
Rahab e seus familiares. Além do fato do interdito na guerra ter sempre um
sentido religioso desti nando -se entre Israelitas a Iahweh ( Dt 13,16 / 1Sm 15,1 -3),
como despoj o ou oferenda, significava essa interdição que se erradicava o
paganismo e toda a sua forma d e culto e devoção a deuses sem vida. Erradicavam
os pagãos e os seus sacrifícios e aberrações para que Iahweh ocupasse todo o
espaço conquistado, fato traduzido pela retirada de Rahab e seus familiares.
Rahab, convertida, casar -se-á com um Israelita chega ndo à glória de ter
por descendente o próprio Jesus (Mt 1,5). A erradicação foi para sempre, pelas
maldições devotadas a quem restaurasse a cidade de Jericó, o que seria uma
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apostasia em face do j uramento, ―... diante de Iahweh...‖, feito por todo o povo
numa celebração solene. Essa maldição irá se consumar no tempo do reinado de
Acab, em Israel do Norte, na fortificação do local por Hiel de Betel, com isso
perdendo o seu filho primogênito e o filho mais moço durant e a restauração
condenada (1Rs 16,34) :
―Tudo quanto na cidade havia dest ruíram totalment e a fio d e espada, tanto
homens como mulh eres, tanto meninos como velh os, também bois, ovelhas e
jumentos. Então, disse Josu é aos dois homens que espiaram a terra: Entrai na
casa da mulher prostituta e tirai -a de lá com tudo quanto tiver, como lh e
jurastes. Então, entraram os jovens, os espias, e tiraram Rahab, e seu pai, e sua
mãe, e seus irmãos, e tudo q uanto tinha; tiraram também toda a sua parentela e
o s c o l o c a r a m e m s e g u r a n ç a f o r a d o a c a m p a m e n t o d e Is r a e l . P o r é m a c i d a d e e
tudo quanto havia nela, queimaram -no; tão somente a prata, o ouro e os
u t e n s í l i o s d e b r o n z e e d e f e r r o d e r a m p a r a o t e s o u r o d a C a s a d e Ia h w e h . M a s
Josu é conservou com vida a prostituta Rahab, e a casa de seu pai, e tudo quanto
t i n h a ; e h a b i t o u n o m e i o d e Is r a e l a t é a o d i a d e h o j e , p o r q u a n t o e s c o n d e r a o s
mensageiros que Josué enviara a espiar Jericó. Naquele tempo, Josu é fez o povo
j u r a r e d i z e r : M a l d i t o s e j a , d i a n t e d e Ia h w e h , o h o m e m q u e s e l e v a n t a r e
reedificar esta cidade de Jericó; com a p erda do seu primogênito lh e porá os
f u n d a m e n t o s e , à c u s t a d o m a i s n o v o , a s p o r t a s . As s i m , e s t e v e Ia h w e h c o m
Josu é; e corria a sua fama por toda a terra‖ (Js 6,21 -27).
―... Josué fez o povo j urar e dizer: Maldito sej a, diante de Iahweh, o
homem que se levantar e reedificar esta cidade...‖ / ―Tão somente guardai -vos das
coisas interditadas, para que, sendo elas interditadas, não as tomeis; e assim
torneis interdito o acampamento de Israel e causem a sua desgr aça‖ / ―... tão
somente a prata, o our o e os utensílios de bronze e de ferro deram para o tesouro
da Casa de Iahweh‖ – Essas frases mostram a gravidade com que se encarava uma
Interdição Sagrada , cuj os efeitos danosos atingiriam aqueles que o
desrespeitassem. Não se tratava de uma disposição cruel e manada diretamente de
Iahweh, mas a i mposi ção cultural de séria e indeclinável medida de segurança da
integridade moral e física de todos os novos habitantes do território em
conquista. Nessa condição religiosa da guer ra santa, a interdição é a separação
para Iahweh , votando -se à destruição os habitantes, todos os bens e até mesmo os
rebanhos (Lv 27 -29 / Dt 13,16 / 1Sm 15,1 -3).
Tal como na passagem do Mar Ver melho, muita tentativa se fez e se faz
para uma explicação plausível para ambos os fatos milagrosos da passagem do
Jordão a seco e essa queda das muralhas de Jericó com o que Iahweh engrandeceu
Josué (Js 1,5 e 6,27). Da mesma for ma que lá aqui também é claro que o
nacionalismo israelita até mesmo pode ter influenciado e tornado mais épica a
narrativa de um combate havido (Js 24,11). Porém, o fato que se torna
indiscutível é ter sido Jericó conquistada (Js 24,11 / 2Mac 12,15 / Hb 11,30) ao
comando de Iahweh dos Exércitos, cognome que recebe por ser o comandante
significado na Arca da Aliança, que segue à frente das guerras santas vencidas
por Israel (1Sm 1,3.11 / 2Sm 6,2.17 -18).
6.1.6. - O CONFLITO DE HAI.
Outra localidade se i nterpõe no traj eto de Israel e Josué envia batedores
antes de qualquer outra providência, cul minando, porém na pri meira derrota
sofrida pelos Israelit as, por imprudência e presunção, não tendo consultado
Iahweh como de costume:
―Enviou, pois, Josué, de Jericó, alguns homens a Hai, perto de Bet -Áven, ao
oriente d e Betel, dizendo -lh es: Subi e espiai a terra. Subiram, pois, aqueles
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homens e espiaram Hai. E voltaram a Josué e lhe disseram: Não suba todo o
povo; subam uns dois ou três mil homens, a ferir Hai; não fatigu eis ali todo o
povo, porque são poucos os inimigos. Assim, subiram lá do povo uns três mil
homens, os quais fugiram dia nte dos homens de Hai. Os homens de Hai feriram
deles uns trinta e seis, e aos outros p erseguiram desd e a porta até às p edreiras,
e os derrotaram na descida; e o coração do povo se derreteu e se tornou como
água‖ (Js 7,2-5).
Foi um desastre, a ponto do ― ... coração do povo se derreteu e se tornou
como água‖! – em outras palavras, ―acovardou -se total mente, dominados pelo
medo‖, sentindo -se abandonado por Iahweh. Outra coisa não significava que o
fim de tudo, pelo que Josué e os anciãos vão se penitenciar e m nome de todo o
povo de maneira idêntica a que Moisés fi zera (Ex 32,11 -13 / Nm 14,13 -16 / Dt
9,26-29). Busca o socorro de Iahweh em frente da Arca para uma solução
percebendo -se que algo de errado e muito sério havia, a ponto de se comprometer
com essa derrocada, o nome de Iahweh, que é o comandante dos Isr aelitas, se bem
que a presença da Arca não foi mencionada:
―Então, Josué rasgou as suas vestes e se p rostrou em terra sobre o rosto p erante
a a r c a d e Ia h w e h a t é à t a r d e , e l e e o s a n c i ã o s d e Is r a e l ; e d e i t a r a m p ó s o b r e a
c a b e ç a . D i s s e J o s u é : Ah ! I a h w e h D e u s , p o r q u e f i z e s t e e s t e p o v o p a s s a r o
Jordão? Teria sido para nos entregar nas mãos d os amorreus e n os fazer
perecer? Melhor nos seria contentarmos em ficar além do Jordão. Eu suplico,
Ia h w e h , q u e d i r e i ? P o i s Is r a e l v i r o u a s c o s t a s d i a n t e d o s s e u s i n i m i g o s !
Ouvindo isto os canan eus e todos os moradores da terra, n os cercarão e
desarraigarão o nosso nome da terra; e, então, que farás ao teu grande n ome?‖
(Js 7,6-9)
O narrador j á antecipara uma espécie de j ustificativa para o fracasso,
apresentando uma int rodução a propósito ( Js 7,1), em que o apr esenta como o
resultado da violação do preceito de ―não se tomar coisa al guma interditada,
movidos pela cobiça; e assim tornar interdito o acampamento de Israel e causar a
sua desgraça‖ (Js 6,18 / cfr. Dt 7,25). Um membro da comunidade apropriou -se
de al guns obj etos preciosos e os escondeu em sua tenda, violando a interdição
que o obrigava a não se apoderar deles, sem contaminar todo o acampamento. Foi
um ato de insubordinação contra Iahweh, verdadeira apostasia, rompendo -se a
Aliança e contaminando -se todo o acampamento com a i mpureza do obj eto de
culto pagão. Agravar -se-ia mais ainda a i nsubordinação pela solidariedade de
todos com o ato de um só, no caso de i mpun idade do faltoso, só sanável com a
sua morte em reparação e punição (Dt 7,26; 13,18; 20,16 -18 / Lv 27,28 / Js 6,17).
Identificava -se o ato de um só como do todo em virtude do conceito de
nacionalidade e unidade vi gente na cultura de então, acreditando que o ato
isolado individual atinge o todo por seus efeitos maléficos, como o próprio
Iahweh j á prescrevera. Houve também al guma indiferença e menosprezo de Josué
e do povo não se tendo invocado ou consult ado Iahweh para a conquista de Hai,
confiando -se apenas e demasiadamente nas próprias forças:
― P r e v a r i c a r a m o s f i l h o s d e I s r a e l n a s c o i s a s i n t e r d i t a d a s ; p o r q u e Ac a n , f i l h o d e
Carmi, filho d e Zabdi, filh o de Zerah, da tribo de Judá, tomou das coisas
i n t e r d i t a d a s . A i r a d e Ia h w e h i n f l a m o u - s e c o n t r a o s f i l h o s d e Is r a e l ‖ ( J s 7 , 1 ) /
― E n t ã o , d i s s e Ia h w e h a J o s u é : L e v a n t a - t e ! P o r q u e e s t á s p r o s t r a d o a s s i m s o b r e o
r o s t o ? Is r a e l p e c o u , e v i o l a r a m a m i n h a a l i a n ç a , a q u i l o q u e e u l h e s o r d e n a r a ,
pois tomaram das coisas interditadas, e furtaram, e dissimularam, e até debaix o
d a s u a b a g a g e m o p u s e r a m . P e l o q u e o s f i l h o s d e Is r a e l n ã o p u d e r a m r e s i s t i r a o s
s e u s i n i m i g o s ; v i r a r a m a s c o s t a s d i a n t e d e l e s , p o r q u a n t o Is r a e l s e f i z e r a
condenado; já não serei con vosco, se não eliminard es do vosso meio a coisa
roubada. Dispõe-te, santifica o povo e dize: Santificai -vos para amanhã, porque
a s s i m d i z Ia h w e h , D e u s d e Is r a e l : H á c o i s a s i n t e r d i t a d a s n o v o s s o m e i o , ó
Is r a e l ; a o s v o s s o s i n i m i g o s n ã o p o d e r e i s r e s i s t i r , e n q u a n t o n ã o e l i m i n a r d e s d o
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vosso meio as coisas interditadas. Pela manhã, p ois, vos chegareis, segundo as
v o s s a s t r i b o s ; e s e r á q u e a t r i b o q u e Ia h w e h d e s i g n a r p o r s o r t e s e c h e g a r á ,
s e g u n d o a s f a m í l i a s ; e a f a m í l i a q u e Ia h w e h d e s i g n a r s e c h e g a r á p o r c a s a s ; e a
c a s a q u e Ia h w e h d e s i g n a r s e c h e g a r á h o m e m p o r h o m e m . Aq u e l e q u e f o r a c h a d o
com a coisa interditado será queimado, ele e tudo q uanto tiver, porquanto
v i o l o u a a l i a n ç a d e Ia h w e h e c o m e t e u u m a i n f â m i a e m Is r a e l ‖ ( J s 7 , 1 0 - 1 5 ) .
Além de se enquadrar dentro das normas legais e culturais da época,
Iahweh estabelece especificamente para Jericó os seguintes preceitos que foram
violados, tipificando o rompi mento com a Al iança contraída solenemente no Sinai
e ratificada em Moab:
―Tã o soment e guardai -vos das coisa s interditadas, para que, sendo elas
i n t e r d i t a d a s , n ã o a s t o m e i s ; e a s s i m t o r n e i s i n t e r d i t o o a c a m p a m e n t o d e Is r a e l e
causem a sua desgraça‖ (Js 6,18) / ―... tão somente a prata, o ouro e os
u t e n s í l i o s d e b r o n z e e d e f e r r o s e r ã o c o n s a g r a d o s a Ia h w e h e e n t r a r ã o n o
t e s o u r o d e Ia h w e h ‖ ( J s 6 , 1 9 ) .
― Aq u e l e q u e f o r a c h a d o c o m a c o i s a i n t e r d i t a d o s e r á q u e i m a d o , e l e e t u d o
q u a n t o t i v e r , p o r t e r v i o l a d o a A l i a n ç a d e Ia h w e h e c o m e t i d o u m a i n f â m i a e m
Is r a e l ‖ – v i o l a r a A l i a n ç a d e Ia h w e h e r a c o n d e n a r Is r a e l à i n f â m i a , c a u s a n d o l h e o a b a n d o n o a s u a p r ó p r i a s o r t e , n ã o m a i s c o n t a n d o c o m a p r e s e n ç a d a Ar c a
n o c o m a n d o , e s e m Ia h w e h s ó l h e a d v i r i a a d e r r o t a . In f â m i a e m Is r a e l é t o d o a t o
que contraria a Aliança, principalmente contra a lei divina, a moral, os
c o s t u m e s , p r i n c i p a l m e n t e o d e c á l o g o ( Gn 3 4 , 7 / J z 1 9 , 2 3 - 2 4 / 2 S m 1 3 , 1 2 / D t
22,21). Daí a sua necessária e indispensável erradicação plena da comunidade,
não mais a contaminando com a impureza que adquirira, livrando -se assim o
a c a m p a m e n t o d a m a l d i ç ã o e d a In f â m i a a d v i n d a . Ia h w e h d e t e r m i n a q u e o
culpado seja localizado por sorte, conforme se pr aticava (1Sm 2,28; 10,20 -21;
14,18.36-42) e receba nele a interdição a que fora condenada Jericó. Feito o
sorteio (Js 7,16 -23), d escobriu -se o resp onsável, Acan, que confessou, e,
juntamente com todos os seus familiares e perten ces, foram lapidados,
queimados e soterrados (Nm 16,30 -32), punição esta destinada a crimes
d i r e t a m e n t e r e l a c i o n a d o s c o m a f i d e l i d a d e à L e i d e Ia h w e h ( L v 2 0 , 2 / 1 R s
21,10):
― E n t ã o , J o s u é e j u n t o c o m t o d o o Is r a e l t o m a r a m Ac a n , f i l h o d e Z e r a h , e a
prata, e a manta, e a barra d e ouro, e seus filhos, e suas filhas, e seus bois, e
seus jumentos, e suas ovelh as, e sua tenda, e tudo quanto tinha e levaram -n os
a o v a l e d e Ac o r . D i s s e J o s u é : P o r q u e n o s t r o u x e s t e a d e s g r a ç a ? Ia h w e h , h o j e ,
t e d e s g r a ç a r á . E t o d o o Is r a e l o a p e d r e j o u ; e , d e p o i s d e a p e d r e j á - l o s , q u e i m o u os. E levantaram sobre ele um montão de p edras, que p ermanece até ao dia de
h o j e ; a s s i m , Ia h w e h a p a g o u o f u r o r d a s u a i r a ; p e l o q u e a q u e l e l u g a r s e c h a m a o
v a l e d e Ac o r a t é a o d i a d e h o j e ‖ ( J s 7 , 2 4 - 2 6 )
Superado o i mpasse criado, retorna -se à conquista e se dirige a Hai, agora
em consonância com i nstruções, plano de at aque e comando de Iahweh levando -se
em conta a força real anterior mente desdenhada (Js 7,3) dos habitantes da
localidade e seu exército:
― D i s s e Ia h w e h a J o s u é : N ã o t e m a n ã o t e a t e m o r i z e ; t o m a c o n t i g o t o d a a g e n t e
de guerra, e dispõe-te, e sob e a Hai; olha que entreguei nas tuas mãos o rei de
H a i , e o s e u p o v o , e a s u a c i d a d e , e a s u a t e r r a . Fa r á s a H a i e a s e u r e i c o m o
fizeste a Jericó e a seu rei; somente qu e para vó s outros saqueareis os seus
despojos e o seu gado; arma uma emboscada contra cidade, por detrás d ela.
Então, Josu é se levantou ... Eis que vos poreis d e emb oscada contra a cidade,
por d etrás d ela... quando saírem, como dantes, contra nós, fugiremos diante
deles. Deixemo-los, p ois, sair atrás d e n ós, até que os tiremos da cidade;
porque dirão: Fogem diante de nós como dantes. Assim, fugiremos diante deles.
E n t ã o , s a i r e i s v ó s d a e m b o s c a d a e t o m a r e i s a c i d a d e ; p o r q u e Ia h w e h , v o s s o
Deus, vo-la entregará nas voss as mãos. Havendo vós tomado a cidade, por -lh ee i s f o g o ; s e g u n d o a p a l a v r a d e Ia h w e h , f a r e i s ; e i s q u e v o - l o o r d e n e i ‖ ( J s 8 , 1 - 8 ) .
―Ar ma uma emboscada contra cidade, por detrás dela‖ essa estratégia,
assim planej ada por Iahweh, foi posta em execução por Jos ué, armando a cilada
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aos habitantes de Hai, usando a mesma manobra que lhes deu a primeira vitória.
Os Israelitas foram ao seu encontro pela frente com um grupo de soldados e
deixando de prontidão o grosso de seu exér cito atrás da cidade. Saíram o rei e
todos os habitantes em perseguição aos Israelitas que, repetindo a operação
militar anterior, fugir am atraindo -os para bem longe enquanto que os demais
guerreiros Israelitas, que estavam de tocaia ocupavam e incendiavam Hai. Os que
fingiam fugir voltaram atr ás e passaram a enfrentar os perseguidores j unto com
os invasores, que os atacaram pela retaguarda ficando os combatentes de Hai
encurralados no mei o de duas tropas, sendo então derrotados e votados ao
Interdito (Js 8,23 -29).
Outra semelhança com Moisés é apresentada ao se mencionar a ordem
recebida por Josué para manter sua lança levantada, mantendo -a erguida até a
derrota final. Da mesma for ma que Josué presenciou a maldição de Moisés a
Amalec ele mesmo agora amaldiçoa Hai, apontando -l he a lança (Js 8,18 -19.26/Ex
17,10-13), a derrota, conquista–a e a reduz a ruínas, enforcando o seu rei (Js
8,26-29).
6.1.6.1 – A CO NSAGRAÇÃO DA CONQUISTA.
Josué passa à Renovação da Aliança e às determinações d e Moisés para se
efetivarem tão logo penetrada a Terra Promet ida. Consagra -a e santifica-a por um
Sacrifício de Comunhão (Dt 27,7) e fixa em pedras a Lei de Iahweh para vi gorar
sempre no território. É a consolidação definitiva de Iahweh como o Deus de
Israel, em se apossando do território, glorificando para sempre n a História a Sua
presença e santificando a operação pelo Sacrifício (Dt 11,26 -32; 27,2 -8). Eri ge
um Altar tal como ordenado no Sinai, ―com pedras não lavradas para que o cinzel
não as profanasse‖ ( Ex 20,25), onde todos ―comem alegrando -se diante de
Iahweh‖ ( Dt 27,7). Também, ―escreveu sobre pedras uma cópia da Lei de
Moisés..., depois leu t odas as palavras da Lei... palavra al guma houve que Josué
não lesse‖, metade do povo diante do Monte Ebal outra metade em frente ao
Garizin, ―como Moisés, servo de Iahweh, outrora, ordenara que fosse abençoado
o povo de Israel‖ (Js 8,30 -35). Bênção é aquele instituto da Criação incorporando
as coisas ou os seres com a fecundidade e desenvol vi mento har mônicos confor me
os desígnios de Deus (cfr. Gn 1,22.28); santificando (Gn 2,3) assim todo o povo
tão logo penetre no território, ainda em conquista, j á antecipando o sucesso do
empreendi mento.
O Monte Ebal e o Monte Garizin são dois pólos centrais na História de
Israel compondo a História da Sal vação ( Jo 4,20 -42) . Geograficamente, esses
dois montes se situavam ao norte e ao sul de Siquém, local de importância ao
culto Israelita além de Betel, e se tornaram Santuários, confor me tradição
advinda dos Patriarcas (Gn. 12,6 -7; 13,3; 28,18 -19; 33,17 -20; 35,2 -4). Em ambos
os locais Abraão (ainda com o nome Abrão) , quando de sua conver são, eri giu um
Altar a Iahweh (Gn 12,6.8); Jacó, enterrou os deuses pagãos em Si quém, optando
definitivamente por Iahweh, eri gindo -LHE um Altar em Bet el (Gn 35,2 -7) ,
localidades da região ; e, Josué e o Povo de Israel, ao término da campanha aí
farão a opção definitiva por Iahweh (Js 24,15.25 -27). Também, nesse local já
sagrado e santificado , se dará o encontro de Jesus com a Samaritana, com a
conversão dela, a quem se revela o Ungido, o Messias ou o Cristo (Jo 4,20 -25.28 30.39-42), e anuncia a Renovação da Eterna Aliança que i mplanta:
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―Mas vem a h ora e é agora, na qual os verdadeiros adoradores adorarão o Pai
em espírito e verdade; tais são, com efeito, os adorad ores qu e o Pai procu ra‖
(Jo 4,23).
6.1.7. OS GABAONITAS.
Todos esses acontecimentos se propagaram por toda a região e os seus
habitantes entenderam o significado de todos os atos praticados. Compreenderam
que os Israelitas a estavam conquistando e dela se apropriando sob o comando de
seu Deus Iahweh, que marchava à frente do Seu exército identificado na Arca da
Aliança. Votando as conquistas ao interdito demonstrava a instalação de um
Reino de Iahweh, ―o deus ciumento‖ (Dt 4,24), que não aceitava em seu domínio
a adoração de outro deus ou deuses. Possuídos pelo temor, al guns se coligaram
com a finalidade de se defender, derrotá -los e expulsá -los do ter ritório. Não se
pode deixar de perceber nesta providência a influência cultural de uma coli gação
dos seus deuses contra Iahweh , o Deus de Isr ael, j á que a guerra de u m povo era a
guerra de seu deus.
O povo de uma região próxi ma, um grupo distinto que habitava em Gabaon,
Cafira, Berot e Cariat -Iari m (v. 17), os gabaonitas, ouvindo a mesma notícia
temeu em face do poderio de Israel, mas não se uniu aos demais. Ao invés de
deflagrarem uma guerra aos invasores pr eferiram or gani zar uma comiti va e,
ardilosamente, di zendo -se de um país distante, conseguiram fir mar um Tratado ou
Aliança e se unir a Josué. O fundamento da astúcia usada foi a narrativa bem
detalhada das vitórias de Iahweh desde o Egito (Js 9,9 -10). Convencido, Josué
prestou -lhes um j uramento de paz poupando -os do Interdito. A refeição comum
das provisões gabaoni tas selou a Aliança (Gn 31,46s) feita sem uma consulta a
Iahweh, a que o narrador atri bui redundar em grave erro pelo descumpri mento de
uma das prescrições da Aliança de Iahweh (Ex 23,32 -33; 34,12 / Js 9,14 -18).
Descoberta a trama , e apesar da astúcia usada não se pôde deixar de cumprir o
compromisso de paz i nviolável pelo j uramento. Passar am a vi ver entre os Filhos
de Israel reduzidos à condição social de ―escravos, rachadores de lenha e
carregadores de água para toda a comunidade e para o Altar de Iahweh‖ ( vs. 21 e
27), confor me decisão geral que , após séria admoestação , foi ratificada por Josué
(Js 9,16 -21.23.27):
―Chamou-os Josué e disse -lhes: Por que nos en ganastes, dizendo: Habitamos
mui longe d e vós, sendo qu e viveis em nosso meio? Agora, pois, sois malditos;
e d entre vós nunca deixará de haver escravos, rachadores d e lenha e tiradore s
de água para a casa do meu Deus. Então, resp onderam a Josué: É que se
a n u n c i o u a o s t e u s s e r v o s , c o m o c e r t o , q u e Ia h w e h , t e u D e u s , o r d e n a r a a s e u
servo Moisés qu e vos desse toda esta terra e d estruísse todos os moradores dela
diante de vós. Por isso, tememos muito por nossa vida por causa de vós e
fizemos assim. Eis que estamos na tua mão; trata -n os segundo te parecer b om e
r e t o . A s s i m l h e s f e z e l i v r o u - o s d a s m ã o s d o s f i l h o s d e Is r a e l ; e n ã o o s
mataram. Naquele dia, Josu é os fez rachadores de lenha e tira dores d e água para
a c o n g r e g a ç ã o e p a r a o A l t a r d e Ia h w e h , a t é a o d i a d e h o j e , n o l u g a r q u e D e u s
escolhesse‖ (Js 9,22 -27).
Dentre os que habitavam a região, ―... cinco reis dos amorreus...‖
coligaram-se para a retomada de Gabaon, a recuperação da posi ção estratégica
perdida em virtude dessa Aliança recém contraída e impedir assim o avanço de
Josué. Estando sob a proteção de Israel, nos termos do j uramento, os gabaonitas
clamaram por Josué para socorrê -los. Atendendo -os, Josué ataca de surpresa os
agressores e ― Iahweh os derrotou diante de Israel, e os feriu com grande matança
em Gabaon, e os foi perseguindo pelo cami nho que sobe a Bet -Horon, e os
21
derrotou até Azeca e Makeda‖ e ―... fez Iahweh cair dos céus sobre eles grandes
pedras, até Azeca, e morreram. Mais foram os que morreram pelo grani zo do que
pela espada dos filhos de Israel‖ (Js 10,1 -11). Narra -se a seguir , ao que se di z
transcrito do ―Livro do Justo‖ (Js 10,13b) um fenômeno inexplicável e até mesmo
inaceitável pelas leis físicas. Iahweh ―obedece‖ a ordem de Josué para ― parar o
sol, e a lua‖, para assi m aumentar o dia facilitando a vitória:
― E n t ã o , J o s u é f a l o u a Ia h w e h , n o d i a e m q u e Ia h w e h e n t r e g o u o s a m o r r e u s n a s
m ã o s d o s f i l h o s d e Is r a e l ; e d i s s e n a p r e s e n ç a d o s i s r a e l i t a s : S o l , d e t é m - t e e m
Ga b a o n , e t u , l u a , n o v a l e d e Ai a l o n . E o s o l s e d e t e v e , e a l u a p a r o u a t é q u e o
povo se vingou d e seus inimigos. Nã o está isto esc rito n o Livro d os Just os? O
sol, pois, se deteve no meio do céu e não se apressou a pôr -se, quase um dia
inteiro. ―Não hou ve dia semelhante a este, nem antes nem d epois d ele, tendo
Ia h w e h , a s s i m , a t e n d i d o à v o z d e u m h o m e m ; p o r q u e Ia h w e h p e l e j a v a p o r
Is r a e l . J o s u é e t o d o o Is r a e l v o l t a r a m a o a c a m p a m e n t o e m Gá l g a l ‖ ( J s 1 0 , 1 2 15).
Tão logo vencedor ―Josué e todo Israel voltaram ao acampamento em
Gál gal‖ (Js 10,15) / cfr. tb ―Js 10,43: Ent ão, Josué com todo Israel voltou ao
acampamento em Gál gal‖ (cfr. tb.: Js 4.19s / 5,2 -9 / 9,6 / 10,7.15.43) – Gál gal
[em hebraico Guil gal e em grego Galiléia (compare -se em ambas as versões o
trecho em Js 12,23, em que o Guil gal hebreu é vertido na Septuaginta para
Galiléia)], vai se tornando um centro regi onal, religioso, admi nistrativo e de
operações militares de Josué. Ali se estrutura toda a conquista da Terra
Prometida, do Sul e do Norte, de lá s e parte e para lá se retorna e vai pr oj etar -se
no ponto cul minante da História da Redenção do Homem, ou História da
Salvação. Jesus, cuj o nome é o mesmo Josué, vai se situar, como informam os
Evangelhos Sinópticos na Galiléia, de onde também parte para a d i fusão do Reino
de Deus. Da mesma for ma o Li vro dos Atos dos Apóstolos, seguindo de perto este
esquema, fará de Anti oquia (At 13,1 -4 / 15,35 -36 / 18,22 -23) o centro irradiante
das viagens de São Paulo, finalizando em Jerusalém e daí em Roma a
consolidação do Reino de Deus, de que a T erra Prometida foi figura. Outro fato
significativo é a menção do Mar de Quinerot (Js 12,3), que veio a ser no Tempo
de Jesus o Lago de Genesaré (Lc 5,1) ou Tiberíades (Jo 21,1), e do Mar Sal gado
(Js 12,3) que virá a ser o Mar M orto, fatos que confirmam o nome da região, dado
pela versão dos LXX, de Galiléia como tradução de Guilgal.
Várias são as tentativas de explicações do fenômeno do sol e a l ua terem
deixado o seu movi mento nor mal, fica ndo parados até que a luta ter minasse.
Inutil mente, porém: qualquer solução encontrada fica dependendo de outra
explicação para um tipo diferente de fenômeno que se apresenta, ou se modifica o
contexto, oferecendo -se outra narração. As hipóteses se avolumam, mas não
existe solução, a não ser q ue se faça um deslocamento cultur al ao tempo e
verificar casos semelhantes que caracterizam a presença de Iahweh na defesa de
Israel, o Povo Eleito. Lendo o Cântico de Débora (Jz 5,2 -31) , e outros hinos,
verificam-se metáforas muito semelhantes. Indica iss o que se trata da maneira
poética de se exprimir ao se narrar uma epopeia guerreira, cultural mente
condicionada à mentalidade e conheci mentos pertinentes à época. Compara -se o
poder de Iahweh com as manifestações incompreensí veis ao tempo, das forças da
natureza, e como elas, também misteriosas, i dentificando -O, e expr imindo -O:
― E n t ã o , d e s c e u o r e s t a n t e d o s n o b r e s , o p o v o d e Ia h w e h e m m e u a u x í l i o c o n t r a
os pod erosos...‖ (...) ―Do alto dos céus combateram as estrelas, d e suas órbitas
p e l e j a r a m c o n t r a S í s a r a ‖ ( . . . ) ― . . . A m a l d i ç o a i a M e r o z , d i z o An j o d e Ia h w e h ,
amaldiçoai duramente os seus moradores, porque não vieram em socorro d e
22
Ia h w e h , e m s o c o r r o d e Ia h w e h e s e u s h e r ó i s . . . ‖ ( . . . ) . . . ― . . . A s s i m , ó Ia h w e h ,
pereçam tod os os teus inimigos ! Porém os que te ama m brilham como o sol
quando se levanta no seu esplendor. E a terra ficou em paz quarenta anos‖ (Jz
5 , 1 3 . 2 0 . 2 3 . 3 1 / c f r . t b . 1 S m 7 , 1 0 ) / ― T r o v e j o u , e n t ã o , Ia h w e h , n o s c é u s ; o
Altíssimo levantou a voz, e houve granizo e brasas d e fogo. Despediu as suas
setas e espalh ou os meus inimigos, multiplicou os seus raios e os desbaratou.
Então, se viu o leito das águas, e se descob riram os fu ndamentos do mundo,
p e l a t u a r e p r e e n s ã o , Ia h w e h , p e l o i r o s o r e s f o l g a r d a s t u a s n a r i n a s ‖ ( S l 1 8 , 1 3 15).
O que se pode constatar é a presença de tais perturbações da normalidade
nos fenômenos at mosf éricos ou físicos quando Iahweh combate por Israel ou o
protege ou cumpre a Aliança. Obser va -se f acilmente que isso acontece j á quando
da libertação do Povo dos Filhos de Jacó do Egito c om as pragas do grani zo (Ex
9,13-26) e das trevas (Gn 10,21 -23), para se mencionar apenas algumas
semelhantes. Também, várias outras demonstrações quase iguais, a começar com
o episódio da Passagem do Mar Vermelho (Ex 14,15 -31), a Teofania do Sinai (Ex
19,16-25), o fogo que devorou Nadab e Abiú (Lv 10,1 -2) , a terra consumindo
Coré, Datan, Abiran e os seus familiares e bens (Nm 16,31 -35), a vara de Aarão
(Nm 17,16 -25), a j umenta de Balaão (Nm 22,27 -35), a água do rochedo, o Maná e
as Codornizes (Ex 16,1 -17,7), a passagem do Jordão ―a pé enxuto‖ (Js 3,14 -17), a
queda das muralhas de Jericó (Js 6,20 -21) etc..
Conclui -se então ser o modo do hagiógrafo retratar o Poder e a Glória de
Iahweh a partir das leis da natureza incontr oláveis pelo homem, mas submissas a
um si mples comando de Deus, geral mente em favor de Seu Povo e Seus
Desí gnios. Que esses aconteci mentos se i ntegraram na Históri a de Israel é
inegável tendo sido r etratados como epopéias comemorativas, onde enaltecem a
Glória de Iahweh e o comando vitorioso de Josué da ―guerra de Iahweh‖ (Eclo 46,
1-6.3). Situam-se na mesma perspecti va o uso que os Profetas fazem em suas
admoestações dos astr os como sinais escatológicos ( Is 13,9 -10; 34,4; 38,8 / Am
8,9 / Jl 3,1 -5; 2,10 -11; 4,15) ou de Teofania. Mesmo os sina is apontados por São
Pedro, como o Anúncio do Dia de Iahweh, no dia de Pentecostes (At 2,14 -21),
bem como os oferecidos por Jesus para anunciar a Ressurreição e a destruição do
Templo pelos Romanos (Mt 24,29 -31) e no relato do fim dos tempos, apontados
como sinais escatológicos (Ap 6,12 -17). Esses dados per mitem ver na narrativa
do milagre do sol e da lua uma manifestação poética e a demonstração visí vel da
vitória de Iahweh sobr e os ini mi gos de Israel. Essa conclusão vai f icar mais clara
com o exame desse mesmo uso por Jesus e por Pedro j á mencionados:
―Tendo Jesus saíd o do templo, ia -se retirando, quando se aproximaram dele os
seus discípulos para lh e mostrar as construções do templo. Ele, porém, lh es
disse: Não ved es tudo isto? Em verdade vos digo que nã o ficará aqui pedra
sobre pedra que não seja destruída. No monte das Oliveiras, achava -se Jesus
assentado, quando se aproximaram dele os discípulos, em particular, e lhe
pediram: Dize-n os quando sucederão estas coisas e que sinal haverá da tua
vinda e da c onsumação do século. (...). Ond e estiver o cadáver, aí se ajuntarão
os abutres. Logo em seguida à tribulação daqueles dias, o sol escurec erá, a lua
não dará a sua claridade, as estrelas cairão d o firmamento, e os pod eres dos
c é u s s e r ã o a b a l a d o s . E n t ã o , a p a r e c e r á n o c é u o s i n a l d o Fi l h o d o H o m e m ; t o d o s
o s p o v o s d a t e r r a s e l a m e n t a r ã o e v e r ã o o Fi l h o d o H o m e m v i n d o s o b r e a s
nuvens do céu, com pod er e muita glória. E ele enviará os seus anjos, com
grande clangor de trombeta, os quais reunirão os seus escolhido s, d os quatro
v e n t o s , d e u m a a o u t r a e x t r e m i d a d e d o s c é u s . Ap r e n d e i , p o i s , a p a r á b o l a d a
figu eira: quando já os seus ramos se renovam e as folh as brotam, sab eis que
e s t á p r ó x i m o o v e r ã o . As s i m t a m b é m v ó s : q u a n d o v i r d e s t o d a s e s t a s c o i s a s ,
sabei que está pr óximo, às portas. Em verdade vos digo que não passará esta
geração sem que tudo isto aconteça‖ (Mt 24,1 -3.28-34).
23
São Pedro vê na teofania do Dia de Pentecostes a realização desse
presságio de Jesus se manifestando, ratificando dentre outros o Profeta Jo el. E,
na defesa dos Apóstol os acusados de embri aguez, pela manifestação do Espírito
Santo ali ocorrida , faz uma acomodação escatológica da Profeci a de Joel, qual
sej a, voltada para o fim dos tempos:
Jl 3,1-5a ou Jl 2,28-32
At 2 , 1 7 - 2 1
A ― A C O M O D AÇ Ã O ‖
―E acontecerá, d epois
disto, que d erramarei o
meu Espírito sobre toda
a carne;
E
acontecerá
nos
últimos dias, diz o
Ia h w e h , q u e d e r r a m a r e i
do meu Espírito sobre
toda a carne;
A P r o f e c i a d e J o e l r e f e r i a - s e a o ― d i a d e Ia h w e h ‖
no fim dos temp os. E, São Pedro, a aplica ao
fen ômeno ocorrid o como o ―Dia d e Jesus‖, ―qu e
D e u s o f e z Ia h w e h e C r i s t o ‖ ( At 2 , 3 6 / c f r . t b . R m
1 0 , 9 / 1 C o r 1 2 , 3 / Ap 1 9 , 1 6 )
Vossos filhos e vossa s
filhas
profetizarão,
vossos
jovens
terão
visões,
e
sonharão
vossos velhos
até
sobre
os
meus
servos
e
sobre
as
minhas
servas
derramarei
do
meu
Espírito naqueles dias,
e profetizarão.
Mostrarei prodígios em
cima no céu e sinais
embaixo
na
terra:
sangue, fogo e vapor de
fumaça.
O
sol
se
converterá em trevas, e
a lua, em san gue, antes
que venha o grande e
glorioso
Dia
do
Ia h w e h .
Joel concebe o profetizar com o Espírito dado a
Moisés, sem exclusão de ninguém (Nm 11,29;
12,6), e como um fato final; e, São Pedro o
mostra já presente no Espírito Santo.
Vossos filhos e vossas
filhas
p rofetizarão,
vossos
velhos
sonharão,
e
vossos
jovens terão visões;
até sobre os escravos e
sobre
as
escravas
derramarei
o
meu
Espírito naqueles dias.
Mostrarei prodígios no
céu e na terra: sangue,
fogo
e
colunas
de
fumaça.
O
sol
se
converterá em trevas, e
a lua, em sangue, antes
que venha o grand e e
t e r r í v e l D i a d e Ia h w e h .
E acontecerá qu e todo
aquele que in vocar o
N o m e d e Ia h w e h s e r á
salvo‖..
At é m e s m o a s e s c r a v a s e e s c r a v o s t e r i a m o
Espírito profético; e, com Sã o Pedro tod os os
discípulos d e Cristo, falariam o que Deus quer (=
profeta)
Ta l como em Joel os sinais são simbólic os,
apresentando os na Ec on omia cristã realizada
quando da manifestação do Espírito Santo em
Pentecostes. Mas, o ―sol n ão se converteu em
trevas, n em a lua em sangu e‖.
E a c o n t e c e r á q u e t o d o Ia h w e h e m J o e l s e r e a l i z a n o Ia h w e h C r i s t o J e s u s
aquele que invocar o com São Pedro.
N o m e d o Ia h w e h s e r á
salvo‖
É uma narrativa muit o antiga cuj o real significado teológico per manece
oculto, que também ocorre no Livro do Apocalipse, escrito para determinada
classe de lei tores que conheciam os fatos. O narrador usa a mesma for ma para
expor o poder de Deus nos astros e na natureza em geral, muitos ainda
misteriosos para o homem:
―Vi quando o Cord eiro abriu o sexto selo, e sob reveio grande terremoto. O sol
se tornou n egro c omo saco d e crina, a lua toda, como sangue, as estrelas d o céu
caíram pela terra, como a figueira, quando abalada por vento forte, deixa cair
os seus figos verdes, e o céu recolh eu -se como um pergaminho quando se
enrola. Então, tod os os montes e ilhas fora m movidos do seu lugar. Os reis da
terra, os grand es, os comandantes, os ricos, os pod erosos e todo escravo e tod o
livre se esconderam nas cavernas e n os p enhascos dos montes e disseram aos
montes e aos roch edos: Caí sobre nós e escondei -n os d a face daquel e que se
assenta no trono e da ira do Cord eiro, porqu e chegou o grande Dia da sua ira; e
q u e m é q u e p o d e s u s t e r - s e ? ‖ ( Ap 6 , 1 2 - 1 7 ) .
Final mente, é de se destacar a orientação de não se deixar perder e prender
pela desproporção de tais narrativas, as mais d as vezes incompreensí veis e
inaceitáveis material mente. Para o entendi mento delas, como se vêm di zendo, é
24
indispensável deslocar -se abstratamente ao t empo e à cultura da época em que foi
escrita, não a interpretando de acordo com os avanços atuais do conhe ci mento.
Naqueles tempos não se tinha o conheci mento astronômico, nem físico, nem de
espécie alguma da nat ureza, que não adviesse dos sentidos nus, daí advindo uma
visão distorcida da realidade. Pretendeu o narrador ressaltar a Presença Dinâmica
de Iahweh em ampar o ao Povo Eleito. Assim sendo, fantástica é a chuva de
grani zo atingir apenas e tão somente os amorreus , ful minando -os Iahweh com o
Seu Exército de forças da natureza.
Os cinco reis fugiram e se esconderam em uma caverna de Makeda onde
ficaram trancafiados r olando -se pedras e tampando a entrada. Após a eliminação
de todos os ini mi gos Josué mandou retirá -los, matou -os e dependurou -os no
madeiro, não sem antes deter minar que todos os ―comandantes Israelitas
pusessem os pés sobr e o pescoço deles‖ em s inal de vitória. Põe assim ter mo à
luta (Js 10,16 -27 / 110,1; 116,12 / Is 51,23 / Gn 3,15), e os encoraj a com a
afirmação solene da comprovada proteção de Iahweh. Cobriram a entrada da
caverna onde haviam se escondido e os soterrou com pedras (Js 10,25 -27) ,
significando o caráter cri minoso contra Iahweh, como com Acan (Js 7,26) e Hai
(Js 8,29).
6.1.8. – A CONQ UISTA DO SUL E DO NORTE.
Vencidas essas pri meiras etapas prossegue Josué atacando vitori osamente
outras localidades do Sul amparado por Iahweh, que entrega em suas mãos os
respectivos reis e a população. Aplicando-l hes o Interdito arrasa todas sem deixar
sobrevi ventes quei mando e soterrando a tudo e a todos. A narrat iva se desenrola
mantendo sempre em evidência al guns refrão s que se repetem sistemati camente
após a menção do rei e do povo. Josué apodera -se de Makeda e Lebna, cuja
descrição ser virá de paradigma para as demais conquistas, pel a repetição de
idênticos refrãos (Js 10,28-29). ―... feriu -a à espada, bem como ao seu rei;
destruiu -os total mente , e a todos os que nela estavam, sem deixar nenhum
sobrevi vente. Fez ao rei (...) como fi zera ao rei de Jericó...‖ – Com diferenças
apenas redacionais, repete -se essa sentença de interdito em Lebna (v. 29 -30); em
Laquis (v. 31 -32); com Horam, rei de Gezer e seu povo ( v. 33); em Eglon ( v. 34 35); em Hebron ( v. 36 -37); dá uma volta no traj eto e finaliza essa etapa da
conquista em Dabir ( v. 38 -39) e ―toda aquel a terra‖, voltando a Guilgal (Js 10,40 43).
O mesmo temor que se apossara dos demais povos e dos do Sul, vai atingir
os do Norte, forçando -os a reação e tentativa de afastamento do invasor (Js 11,1 5). Novamente se manifesta Iahweh em defesa de Israel, que os ataca j unto às
fontes de águas da cidade de Merom, tratando -os da maneira costumeira a nenhum
deixando vi vo, e ―j arretou os seus cavalos e quei mou os seus carros‖ por não
serem de utilidade aos Israelitas, que não os empregavam em seus combates (Js
11,6-9).
Da mesma for ma que no Sul, aqui no Norte, Iahweh também vai entregar
nas mãos de Israel os ge ntios da região para lhes aplicar o Interdito. Uma
observação se i mpõe: a barbaridade das guerras desse tempo ocor rem ainda nos
campos de batalha atuais bem como nas regiões conquistadas, que os noticiários
pouco comentam ou quando comentam mencionam o fat o com uma si mples
j ustificativa dos ofensores em nada convincente ou atenuadora da barbaridade
praticada aos auspíci os dos tempos ci vilizados. Antes, nos tempos anti gos, a
cultura do tempo exi gi a , como defesa e segur ança da população , o afastamento de
25
qualquer contato, por menor que f osse com costumes pagãos que causassem a
apostasia pela adoção de crenças antagônicas e com práticas abjetas (Js 11,1012) . ―Josué tomou todas as cidades desses reis e também a eles e os feriu à
espada, votando -os ao Interdito. ..‖ –como nas conquistas anteriores, Josué
obedece ao preceito determinado por Iahweh a Moisés. Essa determi nação, apesar
de advir de Iahweh, se enquadra ao uso nos dias de então não se t ratando de uma
inovação criada por Deus, mas de uma adequação , como sempre l he aprouve com
os atos do homem, mesmo pecaminosos, cuj a liberdade de ação comandada pelo
livre arbítrio respeita amplamente. Porém, é necessário dizer que àquela época
não havia ainda leis internacionais e tratados que viessem em garantia de direit os
dos vencidos, se bem que tais nor mas sempr e se estruturam com base no conceito
de soberania nacional e da autodeterminação dos povos, dois conceitos que as
mais das vezes deli mitam e ainda i mpossibilitam ação eficaz dos poderes
internacionais. Mas, naqu ela época, em Israel, houve um surto de humanidade e
misericórdia, como reconhecem os sírios (1Rs 20,31), e, numa época em que se
matavam todos os prisioneiros, Davi rompe com o costume e deixa vi vos um terço
deles (2Sm 8,2) . Ainda , quanto às nações que nã o cananéias, não l ocais, portanto,
haveria sempre uma t régua para a negociação da paz, porém, mesmo não sendo
conseguida, mulheres e crianças seriam poupadas (Dt 20,10 -15); bem como, ter se-á pela mulher cati va um tratamento especial, podendo -se até mesmo tomá -la
por esposa ( Dt 21,1 -14). Verdadeiro contraste com aquela ordem de i mpedi r o
povo Israelita de sofrer a influência nefasta dos ritos religi osos de povos
aparentemente mais civilizados e de maior sucesso. Por isso er a indispensável
eliminá -los completamente como condição at é mesmo de sobrevi vência nacional.
A conquista do Nort e vai detalhada na perícope (Js 11,13 -23): ―Tão
somente não quei maram os israelitas as cidades que estavam sobre as colinas de
ruínas... E a todos os despoj os destas cidades e a o gado os filhos de Israel
saquearam para si; porém a todos os homens feriram à espada, até que os
exter minou e ninguém sobrevi veu‖ – O que se insinua é que essas localidades
teriam sido utili zadas como moradia pelos Israelitas, motivo de as ter poupado
mesclando -se com os habitantes da região, como vai infor mar o Livro de Juízes
em vários locais, destacando -se:
― A s e r n ã o e x p u l s o u o s h a b i t a n t e s d e Ac o , n e m o s d e S i l o n , o s d e A a l a b , o s d e
Ac a z i b , o s d e H e l b a , o s d e A f i c e o s d e R o o b ; p o r é m o s a s e r i t a s c o n t i n u a r a m n o
meio dos cananeus que habitavam na terra, porquanto os não expulsaram.
N e f t a l i n ã o e x p u l s o u o s h a b i t a n t e s d e B e t - S e m e s , n e m o s d e B e t - An a t ; m a s
continuou no meio dos cananeus que habitavam na terra; porém os d e Bet -Semes
e B e t - An a t l h e f o r a m s u j e i t o s a t r a b a l h o s f o r ç a d o s ‖ ( J z 1 , 3 1 - 3 3 , c f r . t b . J z
1,19.21.27.29).
―Porquanto de Iahweh vinha o endureci mento do seu coração para saírem à
guerra contra Israel, a fim de que fossem interditos e não lograssem piedade
alguma; mas, fossem de todo extirpado s, como Iahweh tinha ordenado a Moisés‖
– Essa expressão bíbl ica (Ex 4,21 / 1Sm 2,25 / Is 6,10) traduz a concepção que
atribui a Iahweh a causa primeira de todos os fatos e acont ecimentos que
ocorrem. Esse endurecimento do coração acontece desde a saída do Egito em que
Iahweh lutava contra seus deuses pagãos, por causa do despeito ou da oj eriza
provocados pela vitór ia que Israel então alcançava, incentivando os partidários
dos deuses locais à resistência. O Israelita via nessa atitude de oposição
sistemática como uma tolerância de Iahweh para que fossem destruídos pelo
interdito. Além disso, esse endureci mento exaltava mais ainda a vitória final e a
tomada de posse da ter ra, sob o comando dir eto de Josué, que ―...t omou toda esta
26
terra, segundo tudo o que Iahweh tinha dito a Moisés; e Josué a deu em herança
aos filhos de Israel, confor me as suas divisões e tribos. E o país descansou da
guerra‖ (Js 11,23) .
Após a consolidação da vitória de Iahweh por meio de Israel recapitulam se todas as conquistas j á pratic adas relacionando -se as situadas a l este do Jordão,
cuj as terras distribuíram às Tribos de Rubens, Gad e Meia Tribo de Manassés.
Têm relação com as narrativas do Li vro de Deuteronômi o (Js 12,1 -6 / Dt 3,8b; Js
12,2-3 / Dt 1,4; 3,12b; 16 -17; Js 12,4 / Dt 1,4 ; 3,11 / Js 12,5 / Dt 3 ,13-17) e de
Josué (v. tb. Js 13,8 -12). Detalhadas essas pri meiras vitórias expõem -se as que
Josué e os Filhos de Israel venceram e dominaram após a morte de Moisés j á na
Cisj ordânia, ao comando direto de Iahweh com a invasão e posse da Terra
Prometida. Já aqui a referência é com o pr óprio Livro de Josué (Js 12,7 -8 / Js
11,17a; 11,23a; 10,40; 11,16a; 9,1b; Js 12,9 -13a / Js 6 -10; Js 12,7 -24 / Js 12,13b
onde transcreve inf or mações de seu conheci mento pessoal ou de fonte
desconhecida) , conqui stas dalém e daquém do Rio Jordão.
―Assi m, tomou Josué toda esta terra, segundo tudo o que Iahweh tinha dito
a Moisés; e Josué a deu em herança aos filhos de Israel, confor me as suas
divisões e tribos. E o país descansou da guerra‖ (Js 11,23) ; Ainda, ―São estes os
reis da terra aos quais Josué e os filhos de Israel feriram daquém do Jordão para
o ocidente, desde Baal -Gad, no vale do Líbano, até ao monte Hal ac, que sobe a
Seir, e cuj a terra Josué deu em possessão às tribos de Israel, segundo as suas
divisões, a saber...‖ ( Js 12,7 -8) – uma visão geral e tomada de consciência da
obra realizada desde o início das batalhas, num balanço final (cfr. tb. um esboço
inicial de inventário dos reis e povos dominados, em Js 11,16 -20) até esse
momento, dando -se, com o ―descanso da guerra‖, por concluída a Conquista da
Terra Prometida, passando -se à Partilha da Herança de Abraão aos seus
descendentes. Essa visão geral ficará mais bem distribuída numa tabela
comparati va levando -se em conta várias outr as fontes de refer ência usadas para o
inventário geral da conquista:
1.º Os Reis vencidos por Moisés, desde a Transj ordânia:
Balanço das Conquistas em Josu é
―São estes os reis da terra, aos quais os filh os
d e Is r a e l f e r i r a m , d e c u j a s t e r r a s s e a p o s s a r a m
dalém do Jordão para o nascente, desd e o
ribeiro de Arnon até ao mon te Hermon e toda
a planície do oriente‖ (Js 12,1)
Seon, rei dos amorreus, que habitava em
Hesebon e dominava desde Aroer, qu e está à
beira d o vale d e Arn on, e desde o meio d o
vale e a metade d e Galaad até ao ribeiro de
J a b o c , l i m i t e d o s f i l h o s d e Am o n ; d e s d e a
campina até ao mar de Quinero t, para o
oriente, e até ao mar da Campina, o mar
Salgado, para o oriente, p elo caminho de Bet J e s i m o t ; e d e s d e o s u l a b a i x o d e As d o t - Fa s g a ‖
(Js 12,2-3)
―Como tamb ém o limite de Og, rei de Basan,
que havia ficado dos refaítas e que habitava
em Astarot e em Edrai‖ (Js 1 2,4).
Referências
―Assim, nesse temp o, tomamos a terra da mão daqueles
dois reis dos amorreus que estavam dalém do Jordão:
desde o rio d e Arnon até ao monte Her mon‖ (Dt 3,8).
―d epois que feriu a Seon, rei d os amorreus, que
habitava em Heseb on, e a Og rei de Basan, que
habitava em Astarot, em Ed rai‖ (Dt 1,4) / ― Tomamos,
pois, esta terra em p ossessão n esse temp o; desd e
Aroer, que está junto ao vale de Arnon, e a metad e da
r e g i ã o m o n t a n h o s a d e Ga l a a d , c o m a s s u a s c i d a d e s , d e i
aos rubenitas e gaditas. (...) Mas aos rubenitas e
g a d i t a s d e i d e s d e Ga l a a d a t é a o v a l e d e A r n o n , c u j o
meio serve de limite; e até ao rib eiro de Jaboc, o
limite dos filhos de Amon, como tamb ém a Arabá e o
Jordão por limite, d esde Quenerot até ao mar da Arabá,
o m a r S a l g a d o , p e l a s f a l d a s d e Fa s g a , p a r a o o r i e n t e ‖
(Dt 3,12.16-17).
―d epois que feriu a Seon, rei d os amorreus, que
habitava em Heseb on, e a Og rei de Basan, que
habitava em Astarot, em Ed rai‖ (Dt 1,4) / ― Porque só
Og, rei de Basan, restou dos refaítas; eis que o seu
leito, leito de ferro, não está, porventura, em Rabat
dos filhos de Amon, sendo de nove côvados o seu
comprimento, e de quatro, a sua largura, pelo côvado
27
―e dominava no monte Hermon, e em Salca, e
em toda a Basan, até ao limite dos gessureus e
d o s m a a c a t e u s , e m e t a d e d e Ga l a a d , l i m i t e d e
Seon, rei d e Heseb on‖ (Js 12 ,5)
comum?‖ (Dt 3,11)
―O resto de Galaad, como também tod o o Basan, o
rein o d e Og, d ei à meia tribo de Man assés; toda aquela
região de Argob, todo o Basan, se chamava a terra dos
refaítas. Jair, filh o de Manassés, tomou toda a região
d e Ar g o b a t é a o l i m i t e d o s g e s s u r e u s e m a a c a t e u s , i s t o
é, Basan, e às ald eias chamou pelo seu nome: Havot J a i r , a t é o d i a d e h o j e . A M a q u i r d e i Ga l a a d ‖ ( D t 3 , 1 3 15) / cfr. tb. ―Com a outra meia tribo, os rubenitas e os
gaditas já receb eram a sua herança dalém do Jordão,
para o oriente, como já lh es tinha dado Moisés, servo
d e Ia h w e h . C o m e ç a n d o c o m A r o e r , q u e e s t á à b o r d a d o
vale de Arnon, mais a cidade que está no meio d o vale,
todo o p lanalto de Madabá até Dibon; e todas as
cidades de Seon, rei dos amorreus, qu e rein ou em
Hesebon, até ao limite dos filh os de Amon‖ (Js 13,8 10).
2.º Os Reis vencidos por Josué e os Filhos de Israe l, j á na Cisj ordânia:
Js 12,7-24
―São estes os reis da terra aos quais Josu é
e o s f i l h o s d e Is r a e l f e r i r a m d a q u é m d o
Jordão, para o ocidente, d esde Baal -Gad,
no vale do Líbano, até ao monte Ha lac,
que sob e a Seir, e cuja terra Josu é d eu em
p o s s e s s ã o à s t r i b o s d e Is r a e l , s e g u n d o a s
suas divisões, a saber, o que havia na
região montanhosa, nas planícies, n o
Arabá, nas descidas das águas, no deserto
e n o Negu eb, ond e estava o h eteu, o
amorreu, o cananeu, o ferezeu, o heveu e o
jebuseu‖ (Js 12,7-8).
―o rei d e Jericó, um; o d e Ai, que está ao
lado d e Betel, outro; o rei de Jerusalém,
outro; o rei de Heb ron, ou tro; o rei de
Jarmut, outro; o de Laquis, outro; o rei de
Eglon, outro; o de Gezer, outro; o rei de
D e b i r , o u t r o ; o d e Ga d e r , o u t r o ‖ ( J s 1 2 , 9 13).
―o rei d e Horma, outro; o de Arad, outro; o
r e i d e L e b n a , o u t r o ; o d e Ad u l a m , o u t r o ; o
rei d e Makeda, outro; o de Betel, outro; o
rei d e Ta fuá, outro; o de Hefer, outro; o
rei de Afec, outro; o de Saron, outro; o rei
de Madom, outro; o de Hasor, outro; o rei
d e S e m e r o n M e r o m , o u t r o ; o d e Ac s a f ,
outro; o rei d e Ta anac, outro; o d e
Magedo, outro; o rei d e Qued es, outro; o
de Jocnaam do Carmelo, outro; o rei d e
Dor, em Nafat Dor, outro; o de Goim, em
Ga l i l é i a , o u t r o ; o r e i d e T e r s a , o u t r o ; a o
todo, trinta e um reis‖ (Js 12,14 -24).
R E FE R Ê N C I A S E S P AR S AS
― d e s d e o m o n t e H a l a c , q u e s o b e a S e i r , a t é B a a l - Ga d , n o
vale do Líbano, a o p é do monte Hermon; tamb ém tomou
todos os seus reis, e os feriu, e os matou (...) Assim,
tomou Josu é toda esta terra, segundo tudo o que o
IAHWEH tinha dito a Moisés; e Josué a d eu em h erança
a o s f i l h o s d e Is r a e l , c o n f o r m e a s s u a s d i v i s õ e s e t r i b o s ; e
a t e r r a r e p o u s o u d a g u e r r a ‖ ( J s 1 1 , 1 7 . 2 3 ) / ― As s i m , f e r i u
Josu é toda aquela terra, a região montanhosa, o Negueb e,
as campinas, as descidas das águas e todos os seus reis;
destruiu tudo o que tinha fôlego, sem d eixar nem sequ er
u m , c o m o o r d e n a r a o I A H W E H , D e u s d e Is r a e l ‖ ( J s 1 0 , 4 0 )
/ ―Tomou, pois, Josué t oda aquela t erra, a saber, a regiã o
montanhosa, todo o Negu ebe, toda a terra de Gósen, as
p l a n í c i e s , a Ar a b á e a r e g i ã o m o n t a n h o s a d e Is r a e l c o m
suas planícies‖ (Js 11,16) / ―Suced eu que, ouvindo isto
todos os reis qu e estavam daquém do Jordão, nas
montanhas, e nas campinas, em toda a costa do ma r
Grande, defronte do Líbano, os het eus, os amorreus, os
cananeus, os ferezeus, o s heveus e os jebuseus‖ (Js 9,1)
O narrador se manteve identificado ao teor dos capítulos
seis a dez de Josué ( Js 6,1 -10,43). Uma simples leitura é
capaz de mostrar a exatidão das referências.
Tamb ém neste t recho ob edec e ao já na rrad o e à tradições
não registradas, de outras fontes naturalmente, até mesmo
ora l, disp ensando-se maiores divagaç ões. Ta mbém aqui
muitas das referências são da lemb rança de qu em vem
acompanhando fielmente o curso,
― As s i m, t o mo u J o s ué to da e sta t erra , se g un do t u do o q ue
Ia hw e h t i n ha d ito a M o is és; e J o s ué a de u e m hera nça a o s fi l ho s
de Is ra e l, co nfo r me a s sua s div i sõ e s e tr ibo s. E o pa í s d es ca n so u
da g uer ra ‖ ( J s 1 1 ,2 3 ).
28
Com a posse do Sul e do Norte de Canaã, Josué conquista estrategicamente
a Terra Pro metida e se i mpõe militar ment e tomando -a das mãos de poderosas
nações pagãs, que a dominavam. Apesar de seu poderio militar vencendo até
mesmo coligações , não se operou nem se logro u o domínio pleno , sedi mentando
Israel desse modo e de pleno direito a poss e de sua conquista entre os pagãos.
Aconteceu também que, tendo -se em vista localidades não destinadas à interdição
ou as que aceitaram as condições de paz que se lhes impôs, como era estabelecido
para alguns povos (Dt 20,10 -18), nem sempr e foi possível a erradicação de todos
os gentios. Percebe -se então que foi essa uma conquista definit iva, apesar de
preliminar, total mente motivada pela fidelidade a Iahweh e promovida pelo
próprio Iahweh, nos termos da Aliança. Era necessário seguir fielmente o
prescrito por Moisés, para a segurança do culto Israelita, i munizando -o do
contágio do paganismo e a este erradicando pela interdição em cumpri mento à
Aliança.
Esse relato não é exaustivo, ―restando ainda muita terra por conquistar‖ (Js
13,2), per manecendo em poder de gentios. Israel veio para ficar e, tendo sido a
conquista considerada uma tomada de posse da Terra Prometida, passa Josué à
distribuição ideal e teórica dessa herança entre as doze tribos dos Filhos de
Israel. Estes assumiriam cada qual a sua parte, mesmo que recorrendo à mão
ar mada não lograssem recuperá -la das mãos de povos que dela se apossaram, e se
opunham à ocupação e ao domínio pleno Isr aelita. O que é digno de destaque é a
per manência de Israel em seu território de di reito, ratificada pela conqu ista ainda
incipiente de uma posse que somente com Davi se daria a consumação n o domínio
pleno.
6.2. – A PARTILHA DA TERRA PROMETIDA ENTRE AS TRIBOS .
Após a conquista (Js 13,1 -25) iniciam -se a distribuição e divisão da
Terra Conquistada, ainda incomplet a, ―restando ainda muita terra por
conquistar‖ (Js 13,2). Após um breve excurso passando pelas partes já
entregues descreve o ainda não Conquistado :
― E r a J o s u é , p o r é m , j á i d o s o , e n t r a d o e m d i a s ; e d i s s e - l h e Ia h w e h : J á e s t á s
velh o, entrad o em dias, e ainda muitíssima terra p or con quistar. Esta é a terra
ainda não conquistada: todas as regiões dos filisteus e toda a Gesur; d esd e Sior,
que está d efronte do Egito, até ao limite de Ecrom, para o norte, qu e se
considera como dos cananeus; cinco príncipes dos fil isteus: o d e Gaza, o d e
A s d o d e , o d e A s q u e l o m , o d e Ga t e e o d e E c r o m ; a o s u l , o s a v e u s , t a m b é m t o d a
a terra dos cananeus e M eara, que é dos sidônios, até Afeca, ao limite dos
amorreus; ainda a terra d os gibleus e todo o Líbano, para o nascent e do sol,
d e s d e B a a l - Ga d e , a o p é d o m o n t e H e r m o m , a t é à e n t r a d a d e H a m a t e ; 6 t o d o s o s
q u e h a b i t a m n a s m o n t a n h a s d e s d e o Lí b a n o a t é M i s r e f o t e - M a i m , t o d o s o s
s i d ô n i o s ; e u o s l a n ç a r e i d e d i a n t e d o s f i l h o s d e Is r a e l ; r e p a r t e , p o i s , a t e r r a p o r
h e r a n ç a a Is r a e l , c o m o t e o r d e n e i ‖ ( J s 1 3 , 1 - 6 ) .
6.2.1 – DISTRIBUIÇÃO COMPLEMENTAR.
Passa à partilha complementar (Js 13,7 -14) levando em conta a
antecipação já feita (v. Js 8 -13 / Nm 32 e Dt 3,12 -17) e a substituição da
parte de Levi pelo serviço religioso , entregando-lhe “... as ofertas
queimadas de Iahweh, Deus de Israel, que são a sua herança... ‖ (J s 1 3 , 7 -1 4 ) :
29
―Distribui, pois, agora, a terra por h erança às nove tribos e à meia tribo de
Manassés. Com a outra meia tribo, os rub enitas e os gaditas já receb eram a sua
herança dalém do Jordão, para o oriente, como já lhes tinha dado Moisés, servo
d e Ia h w e h . C o m e ç a n d o c o m A r o e r , q u e e s t á à b o r d a d o v a l e d e A r n o m , m a i s a
cidade que está no meio do vale, todo o p lanalto de Med eba até Dibom; e todas
as cidades d e Seom, rei dos amorreus, que reinou em Hesbom, até ao limite d os
f i l h o s d e A m o m . E Gi l e a d e , e o l i m i t e d o s g e s u r i t a s , e o d o s m a a c a t i t a s , e t o d o
o monte Hermom, e toda a Basã até Salca; tod o o reino d e Ogu e, em Basã, qu e
r e i n o u e m As t a r o t e e e m E d r e i , q u e f i c o u d o r e s t o d o s g i g a n t e s , o q u a l M o i s é s
f e r i u e e x p u l s o u . P o r é m o s f i l h o s d e Is r a e l n ã o d e s a p o s s a r a m o s g e s u r i t a s , n e m
o s m a a c a t i t a s ; a n t e s , G e s u r e M a a c a t e p e r m a n e c e r a m n o m e i o d e Is r a e l a t é a o
dia de hoj e. Tão somente à tribo d e Levi nã o d eu herança; as ofertas qu eimadas
d e Ia h w e h , D e u s d e Is r a e l , s ã o a s u a h e r a n ç a , c o m o j á l h e t i n h a d i t o ‖ ( J s 1 3 , 7 14).
Aquinhoa a Tribo de Rúben (Js 13,15-23); passa à Tribo de Gad (Js
13,24-28); e, completa a de Manassés (Js 13,20-33) e as do Oeste do
Jordão.
6.2.2. – AS TRÊS GRANDES TRIBOS DO OESTE DO JORDÃO.
Para cum pri r as i nst ruções d e Moi sés ( Nm 34,16 -20 e Nm 32,28),
nom ei am -se El eaz ar , m enci onado ant es de J osué, e os chefes de fam í l i a
das doz e t ri bos, p ar a asse gura r um a rep art i ção j ust a e por s ort e r eal i z ada
na ent rad a da Tend a da R e uni ão , per ant e Iahw eh . Ex i gi a -se a presen ça de
doi s chefes, um rel i gi oso e um l ei go, com o cont i nuadores de Arão e
M oi s és na part i l ha d a heran ça a part i r d e Gi l gal :
― S ã o e s t a s a s h e r a n ç a s q u e o s f i l h o s d e Is r a e l t i v e r a m n a t e r r a d e C a n a ã , o q u e
Eleazar, o sacerdote, e Josué, filh o d e Num, e os cabeças dos pais das tribos dos
f i l h o s d e Is r a e l l h e s f i z e r a m r e p a r t i r p o r s o r t e d a s u a h e r a n ç a , c o m o Ia h w e h
ord enara por intermédio de Moisés, acerca das n ove tribos e meia. Porquanto, às
duas tribos e meia, Moisés j á dera herança além do Jordão; mas aos levitas não
tinha dado herança entre seus irmãos. Os filh os d e José foram duas tribos,
Manassés e Efraim; aos levitas não d eram herança na terra, senão cidades em qu e
h a b i t a s s e m e o s s e u s a r r e d o r e s p a r a s e u g a d o e p a r a s u a p o s s e s s ã o . C o m o Ia h w e h
o r d e n a r a a M o i s é s , a s s i m f i z e r a m o s f i l h o s d e Is r a e l e r e p a r t i r a m a t e r r a . ‖ ( J s 1 4 , 1 5).
Ao final da partilha repete -se a afirmação, com exclusão desses dois
chefes, o religioso e o leigo, para se acentuar o desempenho de Jos ué:
―Essas são as p ossessões que o sacerdote Eleazar, Josué, filh o de Nun, e os chefes
d e f a m í l i a d a s t r i b o s d o s f i l h o s d e Is r a e l d i s t r i b u í r a m p o r s o r t e e m S i l o , n a
p r e s e n ç a d e Ia h w e h à e n t r a d a d o t a b e r n á c u l o d e r e u n i ã o , t e r m i n a n d o a s s i m a
distribuição da s terras‖ ( J s 1 9 ,5 1 ) .
C al eb da Tri bo de J udá recl am a e rec eb e ant eci p adam ent e:
― C h e g a r a m o s f i l h o s d e J u d á a J o s u é e m Gi l g a l ; e C a l e b e , f i l h o d e J e f o n é , o
q u e n e z e u , l h e d i s s e : T u s a b e s o q u e Ia h w e h f a l o u a M o i s é s , h o m e m d e D e u s , e m
Cades-Barn éia, a resp eito de mim e d e ti. Tinha eu quarenta anos quando Moisés,
s e r v o d e Ia h w e h , m e e n v i o u d e C a d e s - B a r n é i a p a r a e s p i a r a t e r r a ; e e u l h e r e l a t e i
como sentia no coração. M as meus irmãos que subiram comigo desesperaram o
p o v o ; e u , p o r é m , p e r s e v e r e i e m s e g u i r Ia h w e h , m e u D e u s . E n t ã o , M o i s é s , n a q u e l e
dia, jurou, dizendo: Certamente, a terra em que puseste o p é será tua e d e teus
f i l h o s , e m h e r a n ç a p e r p e t u a m e n t e , p o i s p e r s e v e r o u e m s e g u i r Ia h w e h , m e u D e u s .
E i s , a g o r a , Ia h w e h m e c o n s e r v o u e m v i d a , c o m o p r o m e t e u ; q u a r e n t a e c i n c o a n o s
h á d e s d e q u e Ia h w e h f a l o u e s t a p a l a v r a a M o i s é s , a n d a n d o Is r a e l a i n d a n o d e s e r t o ;
e, já agora, sou de oitenta e cinco anos. Estou forte ainda hoje como no dia em que
30
Moisés me enviou; qual era a minha força naquele dia, tal ainda agora pa ra o
combate, tanto para sair a ele como para voltar. Agora, p ois, dá -me este monte de
q u e Ia h w e h f a l o u n a q u e l e d i a , p o i s , n a q u e l e d i a , o u v i s t e q u e l á e s t a v a m o s
a n a q u i n s e g r a n d e s e f o r t e s c i d a d e s ; Ia h w e h , p o r v e n t u r a , s e r á c o m i g o , p a r a
desapossá-los, como prometeu. Josué o abençoou e deu a Caleb e, filh o de Jefon é,
Heb rom em h erança. Portanto, Hebrom passou a ser de Calebe, filho de Jefon é, o
q u e n e z e u , e m h e r a n ç a a t é a o d i a d e h o j e , v i s t o q u e p e r s e v e r a r a e m s e g u i r Ia h w e h ,
D e u s d e Is r a e l . D a n t e s o n o m e d e H e b r o m e r a Q u i r i a t e - A r b a ; e s t e A r b a f o i o m a i o r
homem entre os anaquins. E a terra rep ousou da gu erra (Js 14,6 -15).‖
A preeminência de Judá como a de José se distingue m face à inércia
das demais que Josué impulsionava à ação (Js 18,2 -7). Essa preeminência
está presente na despedida feita por Jacó no Egito na qual profetizou a
respeito do futuro dos filhos exaltando seus abençoados primogênitos Judá
e José, como explanado nos comentários do Livro de Gênesis a respeito
dessa instituição cultural da Primogenitura, que ora se resume repetindo:
―Dep ois, chamou Jacó a seus filhos e disse: Ajuntai -vos, e eu vos farei sab er o que
v o s h á d e a c o n t e c e r n o s d i a s v i n d o u r o s : Aj u n t a i - v o s e o u v i , f i l h o s d e J a c ó ; o u v i a
Is r a e l , v o s s o p a i . 3 R ú b e n , t u é s m e u p r i mo g ê n i t o , m i n h a f o r ç a e a s p r i mí c i a s d o
m e u v i g o r , o ma i s e x c e l e n t e e m a l t i v e z e o m a i s p a i e o p r o f a n a s t e ; s u b i s t e à
m i n h a c a ma . 5 S i m e ã o e L e v i s ã o i r mã o s ; a s s u a s e s p a d a s s ã o e x c e l e n t e e m
p o d e r . 4 I mp e t u o s o c o mo a á g u a , n ã o t e r á s ma i s p r i m a z i a , p o r q u e s u b i s t e a o
leito de teu i nstrumentos de violência. 6 No seu conselho, não entre minha
a l ma ; c o m o s e u a g r u p a me n t o , mi n h a g l ó r i a n ã o s e a j u n t e ; p o r q u e n o s e u f u r o r
matara m ho mens, e na sua vontade perversa jarretaram touros. 7 Maldito seja
o seu furor, pois era forte, e a sua ira, pois era dura; dividi -los-ei em Jacó e os
e s p a l h a r e i e m I s r a e l . 8 J u d á , t e u s i r mã o s t e l o u v a r ã o ; a t u a mã o e s t a r á s o b r e a
c e r v i z d e t e u s i n i mi g o s ; o s f i l h o s d e t e u p a i s e i n c l i n a r ã o a t i . 9 J u d á é
l e ã o z i n h o ; d a p r e s a s u b i s t e , f i l h o me u . E n c u r v a - s e e d e i t a - s e c o mo l e ã o e c o mo
leoa; quem o despertará? 10 O cetro não se arredará de Judá, nem o bastão de
entre seus pés, até que venha Siló (conjectural: o tributo lhe seja trazido ); e a
e l e o b e d e c e r ã o o s p o v o s . 1 1 E l e a ma r r a r á o s e u j u me n t i n h o à v i d e e o f i l h o d a
s u a j u m e n t a , à v i d e i r a ma i s e x c e l e n t e ; l a v a r á a s s u a s v e s t e s n o v i n h o e a s u a
capa, em sangue de uvas. 12 Os seus olhos serão cintilantes de vinho, e os
d e n t e s , b r a n c o s d e l e i t e . . . . ‖ ( Gn 4 9 , 1 - 1 2 )
Jacó, no mesmo momento em que desfavorece Rube m, Simeão e Levi
desvinculando -os dos compromissos da primogenitura, enaltece Judá e
profetiza a sua coroação Messiânica ao dizer: ― O cetro não se arredará de
Judá, nem o bastão de entre seus pés, até que venha Siló (tradução
conjectural de Siló= o tributo lhe seja trazido ; Siló era o centro religioso
até Jerusalém); e a ele obedecerão os povos ‖, qual seja “O cetro não se
arredará de Judá, nem o bastão de entre seus pés, até que: o tributo lhe
seja trazido; e a ele obedecerão os povos” . Essa profecia ficará tão
impregnada na mentalidade israelita que Herodes busca sua nomeação direta
de Roma e se assusta por demais com a visita dos Três Magos e determina a
matança das crianças menores de dois anos para atingir ―o rei dos judeus
que acaba de nascer (Mt 2,2)‖ ; Principalmente, não sendo ele da Tribo de
Judá, mas descendente de Esaú, um Idumeu não abrangido pela Profecia, e
cuja presença no trono a feria:
―22
J o s é é u m r a mo f r u t í f e r o , r a mo f r u t í f e r o j u n t o à f o n t e ; s e u s g a l h o s s e
e s t e n d e m s o b r e o m u r o . 2 3 O s f l e c h e i r o s l h e d ã o a ma r g u r a , a t i r a m c o n t r a e l e e
o a b o r r e c e m. 2 4 O s e u a r c o , p o r é m, p e r ma n e c e f i r me , e o s s e u s b r a ç o s s ã o f e i t o s
a t i v o s p e l a s m ã o s d o P o d e r o s o d e J a c ó , s i m, p e l o P a s t o r e p e l a P e d r a d e I s r a e l ,
25
pelo Deus de teu pai, o qual te ajudará, e pe lo Todo-Poderoso, o qual te
abençoará com bênçãos dos altos céus, com bênçãos das profundezas, com
31
b ê n ç ã o s d o s s e i o s e d a ma d r e . 2 6 A s b ê n ç ã o s d e t e u p a i e x c e d e r ã o a s b ê n ç ã o s d e
m e u s p a i s a t é a o c i mo d o s m o n t e s e t e r n o s ; e s t e j a m e l a s s o b r e a c a b e ç a d e J o s é
e s o b r e o a l t o d a c a b e ç a d o q u e f o i d i s t i n g u i d o e n t r e s e u s i r mã o s . 2 7 B e n j a m i m é
lobo que d esp edaça; pela manhã devora a presa e à tarde reparte o d esp ojo. 28 São
estas as doze tribos de Israel; e isto é o que lhes falou seu pai quando os
abençoou; a cada um deles abençoou segundo a bênção que lhe cabia . Depois,
lhes ord enou, dizendo: Eu me reúno ao meu povo; sepultai -me, com meus pais, na
caverna que está no campo de Efrom, o heteu, na caverna que está no campo de
M a c p e l a , f r o n t e i r o a M a n r e , n a t e r r a d e C a n a ã , a q u a l Ab r a ã o c o m p r o u d e E f r o m
com aquele campo, em posse de sepultura. 31 Ali sepultaram Abraão e Sara, sua
m u l h e r ; a l i s e p u l t a r a m I s a q u e e R e b e c a , s u a m u l h e r ; e a l i s e p u l t e i L i a ; ( Gn
49,22-31)
Nas partes em negrito, vê -se que Ruben, Simeão e Levi se viram
privados pelo pai dos direitos da primogenitura por mau procedimento
pessoal. Biblicamente primogênito não se refere ao primeiro gerado como
significado da própria palavra (primo=primeiro; genito=gerado ), mas ao
―filho que abria (‘inaugurava a pa ssagem’) o seio materno para a
passagem dos demais que viessem a nascer ‖ (Ex 13,2-3; Nm 3,12). Atributo
concernente a Jesus ―o Primogênito de toda criatura ‖ (Col 1,15 -18; Rm
8,29; Hb 1,1-6 etc.), em quem ― aprouve a Deus fazer habitar toda a
plenitude‖ (Col 1,19). Ele ―abriu o seio materno da eternidade para o
Homem ingressar na vida eterna ―tendo derribado a parede da separação
que estava no meio ‖, entre o ―Santo‖ e o ―Santo dos Santos‖. Cristo a
aboliu ―na sua carne a lei dos mandamentos na forma de ordena nças, para
que dos dois criasse, em si mesmo, um novo homem, fazendo a paz, e
reconciliasse ambos em um só corpo com Deus, por intermédio da cruz,
destruindo por ela a inimizade‖ (Ef 2,14 -16):
―Mas, agora, em Cristo Jesu s, vós, qu e antes estáveis longes, foram aproximad os
pelo san gue d e Cristo. Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um; e, tendo
derribado a pared e da separação que estava no meio, a inimizade, aboliu, na sua
carne, a lei dos mandamentos na forma d e ord enanças, para que dos dois crias se,
em si mesmo, um novo homem, fazendo a paz, e recon ciliasse ambos em um só
corpo com Deus, por intermédio da cruz, destruindo por ela a inimizade. E, vindo,
anunciou paz a vós outros que estáveis longe e paz também aos que estavam perto;
p o r q u e , p o r e l e , a m b o s t e m o s a c e s s o a o P a i e m u m E s p í r i t o . As s i m , j á n ã o s o i s
estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família d e Deus,
edificados sobre o fundamento dos apóstolos e p rofetas, sendo ele mesmo, Cristo
Jesus, a p edra angu lar; no qual tod o o edifício, b em ajustado, cresce para santuário
d e d i c a d o a Ia h w e h , n o q u a l t a m b é m v ó s j u n t a m e n t e e s t a i s s e n d o e d i f i c a d o s p a r a
habitação de Deus n o Espírito‖ (Ef 2,13 -22 / era vedada a presença de gentios no
Temp lo At 21,28 -29).
Em Cristo consuma-se a Comunhão ―que nem a morte, nem a vida,
nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do
porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer
outra criatura poderá separar -nos do amor de Deus, que está em Cristo
Jesus, nosso Iahweh‖, ―o primogênito entre muitos irmãos‖ (Rm 8,29.38 39). Para melhor compreensão é de se recordar que José do Egito era o filho
predileto de Jacó com Raquel, filha de Labão, que foi a escolhida por ele e
ardilosamente trocada pelo pai, por Lia , no pernoite nupcial:
― À n o i t e , c o n d u z i u a L i a , s u a f i l h a , e a e n t r e g o u a J a c ó . E c o a b i t a r a m.
( P a r a s e r v a d e L i a , s u a f i l h a , d e u L a b ã o Z e l f a , s u a s e r v a ) . A o a ma n h e c e r ,
viu que era Lia. Por isso, disse Jacó a Labão: Que é isso que me fizeste? Não
te servi eu por amor a Raquel? Por que, pois, m e enganaste? Respondeu
32
Labão: Não se faz assim em nossa terra, dar -se a mais nova antes da
p r i mo g ê n i t a . D e c o r r i d a a s e ma n a d e s t a , d a r - t e - e m o s t a mb é m a o u t r a , p e l o
t r a b a l h o d e ma i s s e t e a n o s q u e a i n d a me s e r v i r á s . C o n c o r d o u J a c ó , e s e
p a s s o u a s e ma n a d e s t a ; e n t ã o , L a b ã o l h e d e u p o r mu l h e r R a q u e l , s u a f i l h a . ‖
( Gn 2 9 , 2 3 - 2 8 ) / ― V e n d o Ia h w e h q u e Li a e r a d e s p r e z a d a , f ê - l a f e c u n d a ; a o p a s s o
que Raquel era est éri l. C oncebeu, poi s, Lia e d eu à luz um filh o, a qu em
chamou Rúben, pois disse: Iahweh atendeu à minha aflição. Por isso, agora me
amará meu marido. Concebeu outra vez, e d eu à luz um filho, e disse: Soube
Ia h w e h q u e e r a p r e t e r i d a e m e d e u m a i s e s t e ; c h a m o u - l h e , p o i s , S i m e ã o . O u t r a
vez conc ebeu Lia, e deu à luz um fi lho, e disse: Agora, d esta vez, se unirá mais
a mim meu marido, porque lhe dei à luz três filh os; por isso, lhe chamou Levi.
De novo conceb eu e d eu à lu z um filho; então, disse: Desta vez louvarei
Ia h w e h . E p o r i s s o l h e c h a m o u J u d á ; e c e s s o u d e d a r à l u z ‖ ( Gn 2 9 , 3 1 - 3 5 ) /
―Lembrou-se Deus de Raquel, ouviu -a e a fez fecunda. Ela concebeu, deu à lu z
um filho e disse: Deus me tirou o meu vexame. E lh e chamou José, dizendo:
D ê - m e o Ia h w e h a i n d a o u t r o f i l h o . ‖ ( Gn 3 0 , 2 2 - 2 4 ) / P a r t i r a m d e B e t e l . An t e s d e
chegar a Efrata, d eu à lu z Raquel um filho cujo nascimento lh e foi a ela
penoso. Em meio às dores d o parto, disse -lh e a parteira: Não temas, pois ainda
terás este filh o. Ao sair -lhe a alma (porque morreu), d eu -lhe o nome d e Ben oni;
m a s s e u p a i l h e c h a m o u B e n j a m i m . As s i m , m o r r e u R a q u e l e f o i s e p u l t a d a n o
c a m i n h o d e E f r a t a , q u e é B e l é m ( Gn 3 5 , 1 6 - 1 9 ) ‖ .
A História de José fica embutida na de Jacó:
―Esta é a história... Tendo José d ezessete anos, apascentava os rebanhos com
seus irmãos; sendo ainda jovem, acompanhava os fil hos de Bala e os filhos de
Z e l f a , m u l h e r e s d e s e u p a i ; e t r a z i a m á s n o t í c i a s d e l e s a s e u p a i . O r a , Is r a e l
amava mais a José que a todos os seus filh os, p orque era filho da sua velhice; e
fez-lhe uma túnica talar d e mangas compridas. Vendo, p ois, seus irmão s que o
pai o amava mais que a todos os outros filhos, odiaram -no e já não lhe podiam
falar pacificamente‖ (Gn 37,2 -4).
―... Israel amava mais a José que a todos os seus filhos, porque era
filho da sua velhice e com Raquel, a sua mulher preferida; e, fez -lhe uma
túnica talar (que ia até os joelhos, túnica indicativa da majestade de reis )
de mangas compridas...‖, o que não deixou de gerar ciúme e inveja nos
irmãos. Sabe-se do desenrolar da História de Israel que esses fatos
causarão, por meio de Jeroboão , a separação de Israel do Norte e Israel do
Sul, Judá e Israel , cujos pormenores pode-se ler em 1Rs 12,1-33. Os
acontecimentos originaram -se com Roboão, o filho de Salomão e herdeiro
do trono, que se recusou atender ao pedido das tribos em diminuir as
exigências até então em uso.
A Tribo de Judá recebe em herança o descrito em Js 15,1 -12: ―Caiu
para o sul, até ao limite de Edom, até ao Deserto de Zim, até a extremidade
do Lado Sul ‖; aos Calebitas se destina o território de Hebron (Js 15,13-20).
Seguem os nomes então em uso de localidades da região, dispensando -se a
reprodução com maiores detalhes, lendo -as como estão na própria Escritura
sem necessidade de comentários (Js 15,21-63); Passa-se a entregar a herança
de José começando por Efraim (Js 16,1-10); e, completando com Manassés
(Js 17,1-13); e, os Filhos de José reclamam e Josué os atende e soluciona
(Js 16,1-18).
6.2.3. – AS SETE TRIBOS RESTANTES .
Não haviam recebido sua porção da herança as sete tribos seguintes: a
de Benjamim, a de Simeão, a de Zabu lon, a de Isaacar, a de Aser, a de
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Neftali e a de Dã. Todos os Filhos de Israel se reuni ram em Silo para
ultimar a conquista e sortear as glebas da heran ça faltantes (Js 18,1 -10):
1ª. - Em primeiro lugar sorteia-se a herança da Tribo de
Benjamim (Js 18,11-20), e couberam -lhe as localidades (Js
18,21-27).
2ª. – Em seguida as demais a partir da de Simeão (Js 19,1-9),
que recebe a sua parte ―no meio da herança dos filhos de Judá‖ .
3ª. – Também a Tribo de Zabulon recebeu sua herança: v. J s 19,1016.
4ª. – A de Issacar: (Js 19,17-23).
5ª. – de Aser: (Js 19,24 -31).
6ª. – Neftali: (Js 19,32 -39).
7ª. – e,Dã: (Js 19,40-51).
6.3 - APÊNDICE: CIDADES DE REFÚGIO E LEVÍT ICAS
Várias disposiçõ es penais trazem um conceito d e responsabilidade
pessoal por todo o co rpo social , sensível evidência de u ma figura do ―Corpo
Místico‖ de Cristo, como S. Paulo afirma: ―... vós sois o Corpo de Cristo ,…
são membros dele‖ (1 Cor 12,27; também Lc 10,16; Mt 18,5; 25,35 -36; At
22,7-8; 1Cor 12,12-27; Col 3,9,-11; Jo 15,1-8); ―Se um membro sofre, todos
os membros compartilham o seu sofrimento...‖ (1 Cor 12,26) . É o caso de
algumas cidades distinguidas por sua finalidade que foram separadas. Pr imeiro as destinadas ―para que fuja para ali o homicida que, por engano, m atar alguma pessoa sem o querer; para que vos sirvam de refúgio contra o
vingador do sangue ...‖, ―... até comparecer perante a congregação ‖.
Em seguida as Cidades Levíticas para os descendentes da Tribo de Levi
que não haviam recebido território (Js 13,14.33; 14,3 -4; 18,7 / Nm 35,1-8):
aos Caatitas (Js 21,9-26); a os Filhos de Gérson (Js 21,27-33); e a os Filhos de
Merari (Js 21,34 -40). Assi m , fica a Partilha Concluída:
A s c i d a d e s , p o i s , d o s l e v i t a s , n o m e i o d a h e r a n ç a d o s f i l h o s d e Is r a e l , f o r a m , a o
todo, quarenta e oito ci dades com seus arredores; cada uma das quais com seus
arredores em torno de si; assim foi com todas estas c idades. Desta maneira, d eu
I A H W E H a Is r a e l t o d a a t e r r a q u e j u r a r a d a r a s e u s p a i s ; e a p o s s u í r a m e h a b i t a r a m n e l a . IA H W E H l h e s d e u r e p o u s o e m r e d o r , s e g u n d o t u d o q u a n t o j u r a r a a
seus pais; n enhuns de todos os seus inimigos resistiram diante deles; a tod os
eles IAHWEH lh es entregou nas mãos. Nenhuma promessa falh ou de todas as
b o a s p a l a v r a s q u e IA H W E H f a l a r a à c a s a d e Is r a e l ; t u d o s e c u m p r i u . ( J s 2 1 , 4 1 45).
6.4. – FATOS E INSTRUÇÕES FINAIS.
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. ―Nenhuma promessa falhou de todas as boas palavras que I ahweh falara à
casa de Israel; tudo se cumpriu ‖ (Js 21,41 -45): com este final não se con clui a-
penas a partilha, mas a conquista total, tal como Iahweh prom etera a Abraão
(Gn 12,7; 13,15). ―Então, Josué chamou os rubenitas, os gad itas e a meia tribo
de Manasses‖, os elogia, os exorta à fidelidade para com Iahweh e as abe nçoa.
Deter mina a di visão dos despoj os com os ir mãos na Transj ordânia (22,1 -8) . Porém, um Altar eri gido às mar gens do Jordão ameaça nova discór dia conto rnada
com o esclareci mento de que não era para oferta de sacrifícios, mas um sinal de
cooperação entre as t ribos e de fidelidade a Iahweh , restabelecendo -se assi m a
paz ( 22,21 -34) .
6.4.1. – EPÍLOGO. ÚLTIMOS DISCURSOS DE JOSUÉ E EPISÓDIOS DE
SUA VIDA (23–24,33). JOSUÉ SE DESPEDE.
Os dois últimos capítulos formam o epílogo do livro e trazem os últ imos atos de Josué: o discurso de adeus (23,1 -16), a assembléia em Siquém
(24,1-28), a Morte de Josu é e outras informações.
1º. O DISCURSO DE ADEUS (Js 23,1-16):
Dirigido a todo Israel, especificamente aos chefes, anci ãos, seus
juízes e oficiais . Em linhas gerais lembra atos semelhantes de Jacó (Gn 47,29 49,33) e Moisés (Dt 29,1 -33,29) . Principia r epetindo as palavras de Moisés (29,1)
referentes às intervenções de Deus que asseguram a sua continui dade se o povo
per manecer fiel, sem se misturar às nações pagãs anexas (23,3 -13); se for violada
a Aliança Deus os expulsará (23,14 -16).
2º. A ASSEMBLÉIA DE SIQUÉM (24,1-28):
―... chamou os anc iãos de Israel, os seus cabeças, os seus j uízes e os
seus oficiais; e eles se apr esentaram diante de Deus ‖ e dirige -lhes a palavra a
partir da expressão ― assim diz Iahweh (24,2 )‖ e faz uma síntese da história desd e
os patriarcas (24,2 -4), do êxodo e da conqui sta (24,8 -13) e os convida a escolher
entre Iahweh e os deuses pagãos ... Afir ma Josué que ― Eu e a minha casa ser vir emos a Iahweh‖ (24,15) , opção ratificada por todos com o que fica r enovada a Al i ança (24,25 -28) .
3º. MORTE DE JOSUÉ E O UTRAS INFORMAÇÕES (24,29 -33):
Fala melhor a própria transcrição da Escritura começando com a notícia da Morte de Josué e seu sepultamento na herança de Efraim; o enterro dos
ossos de José trazidos do Egito em S iquém; o falecime nto de Eleazar e sepult amento por Finéias em Gibeá:
Depois destas coisas sucedeu que Josué, filho de Num ser vo
de Iahweh , faleceu com a idade de cento e dez anos. Sepult aram-no na sua própria herança, em Timnate -Sera, que está na
região montanhosa de Efra i m, para o norte do monte Gaás.
Serviu, pois, Israel a Iahweh todos os dias de Josué e todos os
dias dos anciãos que ainda sobrevi veram por muito tempo d e-
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pois de Josué e que sabiam todas as obras feitas po r Iahweh a
Israel. Os ossos de José, que os filhos de Israel trouxeram do
Egito, enterraram-nos em Siquém, naquela parte do campo
que Jacó comprara aos filhos de Hamor, pai de Siquém, por
cem peças de prata, e que veio a ser a herança dos filhos de
José. Faleceu também Eleazar, filho de Arão, e o sepultara m
em Gibeá, pertencente a Finéias, seu filho, a qual lhe fora d ada na região montanhosa de Efrai m. (Js 24,29-33).
Fonte: www.mundocatolico.com.br/Biblia/curso.htm

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