Edição de Vídeo com Software Livre para Educação a

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Edição de Vídeo com Software Livre para Educação a
Edição de Vídeo com Software Livre para Educação a Distância
Video Editing with Free Software for distance education
Silma Cortes da Costa Battezzati, Doutora em Comunicação Social
Universidade Federal do Paraná
[email protected]
Resumo:
A tecnologização que a sociedade experimenta nas últimas décadas trouxe a profusão de máquinas
informatizadas e softwares. Neste período, a indústria desenvolveu sofisticados e caros softwares aplicativos
proprietários para uso destas máquinas, o que colocou parte do mercado nas mãos de poucas empresas
multinacionais. Nos processos de produções audiovisuais o crescimento do uso da tecnologia de software está
relacionado com a unificação dos modos de produção da informação nos meios de comunicação e na educação.
Nas últimas décadas do século XX, o espírito libertário de alguns membros das comunidades científicas e
hackers promoveu o desenvolvimento do software livre e aberto, que pode ser usado como bem social mais
amplo e, principalmente, evoluir no melhor do espírito colaborativo. Um software livre é distribuído com código
aberto – Open Source –, pode ser gratuito e permite que os usuários saibam como foi construído e que possam
modificá-lo ou redistribuí-lo livremente. Este tipo de tecnologia, desenvolvida sob as regras da licença GPL –
General Public License ou Licença Pública Geral, idealizada por Richard Stallman no final da década de 1980,
começou a se apresentar como alternativa natural de mercado ao software proprietário e a despertar a atenção da
comunidade técnica, acadêmica e de negócios em todo o mundo. Considerando a importância de os docentes que
atuam na educação a distância serem preparados para utilizar novas tecnologias de software, este artigo
apresenta algumas características gerais do software livre e as possibilidades de uso para criação de conteúdos
audiovisuais na Educação a Distância.
Palavras-chave: Software Livre. Audiovisual. Educação a Distância.
Abstract
The intense use of technology experimented by society on the last decades brought a profusion of computer and
software. During that period, a new industry developed sophisticated and expensive proprietary software to the
use of these machines and placed great part of software market on the hands of multinational companies. On
audio and video production the increase of software technology use is related to the unification of the production
mode of information by media companies. During the last decades of the 20th Century, the Libertarian Spirit of a
few scientific community members and hackers have alerted to the importance of considering free and open
software as a social wealth and their development as a collaborative effort. Free software is distributed with open
code – Open Source – many times priceless and with rights for the user to modify, copy and distribute freely.
This type of technology, developed and distributed under GPL- General Public License, idealized by Richard
Stallman at the end of the nineteen-eighties, started to represent an alternative to the proprietary software and
called the attention of technical, academic and business communities all over the world. Considering the
importance and need of teachers who work with distance education to acquire the ability to use professional
software, this article presents a few general characteristics of free software and possibilities to use it for creating
audio and video content for distance education.
Palavras-chave: Free Software. Audiovisual. Distance Education.
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A Educação a Distância e o Software Livre
Este artigo relata a comparação sobre as funcionalidades dos softwares proprietários
e livres para produção de conteúdos para a educação a distância - EaD. O estudo é parte da
pesquisa apresentada na tese de doutoramento em Comunicação Social sobre as possibilidades
de uso de softwares livres nos processos de ensino e aprendizado em duas instituições de
ensino. Na época em que a pesquisa foi realizada, uma das instituições, localizada em São
Paulo, utilizava apenas softwares proprietários. A outra, localizada em Curitiba, apenas
softwares livres. Embora nosso objetivo seja apresentar as funcionalidades de alguns
softwares que podem ser utilizados na produção de conteúdos para a EaD, é importante
lembrar que a complexa e bem sucedida indústria de software tornou-se um negócio lucrativo
e estratégico para o desenvolvimento econômico de muitas nações. No segmento de software
proprietário pré-empacotado para microcomputadores pessoais, PCs, um pequeno número de
grandes empresas praticamente monopoliza a produção e distribuição de softwares tais como
sistemas operacionais, automação de escritórios, computação gráfica etc. A Microsoft é um
ícone nestes segmentos e praticamente monopoliza os mercados de sistemas para
microcomputadores pessoais.
De forma geral podemos conceituar software proprietário como aquele protegido por
direito autoral; com código fechado; que não pode ser modificado; e que é comercializado
mediante o pagamento de licença. As licenças que os acompanham definem as regras
estabelecidas pelos fabricantes para seu uso. Do ponto de vista econômico, na maioria das
vezes, os usuários deste tipo de software além de arcarem com pagamentos de licenças,
assistência e manutenção, são obrigados a realizar investimentos contínuos para atualizar
versões anteriores destes produtos, pois a utilização de cópias não licenciadas de softwares
proprietários é considerada crime de pirataria. No final da década de 1990, uma nova
alternativa de tecnologia de software começou a despertar a atenção da comunidade técnica,
acadêmica e de negócios em todo o mundo – o software livre. O modelo de negócio do
software livre se espalhou pela aldeia global como alternativa natural de mercado para
confrontar monopólios privados. Taurion (2004, p. 4) contextualiza essa afirmação:
[…] vemos extensa cobertura da mídia; um crescente número de softwares livres
disponíveis às organizações, como o Linux e o Apache; a entrada de pesos-pesados
da indústria como a IBM no negócio de softwares livres; e as discussões políticas e
comerciais, muitas vezes movidas por ideologias e não pela racionalidade, do
impacto deste novo modelo de negócios nas empresas usuárias e na própria indústria
de software. O software livre já não é mais apenas um brinquedo nas mãos de
hackers, mas já faz parte da agenda política e estratégica de empresas privadas e
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públicas. É um negócio sério e profissional. [...] Já existem hoje dezenas de milhares
de projetos de softwares livres em desenvolvimento no mundo inteiro. Alguns já são
nomes representativos como o sistema operacional Linux, o servidor Web Apache, o
correio eletrônico Sendmail e a suíte OpenOffice (similar ao Office da Microsoft).
O crescimento da opção pelo Open Source está, entre outros motivos, relacionado ao
fato de este tipo de tecnologia permitir que qualquer pessoa possa ter acesso ao código fonte
do programa e, assim, ler, entender ou modificar o software. Ter acesso ao código fonte é,
portanto, a chave para abrir e modificar qualquer programa, bem como para adaptá-lo a
realidades específicas de países, empresas e pessoas. Ademais, com o código aberto, o
conhecimento sobre como os softwares funcionam deixa de ser uma propriedade econômica
de algumas pessoas e empresas e passa a ser um conhecimento que pode ser compartilhado
universalmente. Portanto, além de encampar o conceito de Open Source, a tecnologia de
software livre pode representar uma nova opção para a produção de conteúdos no contexto da
Educação a Distância – EaD, pois não envolve a cobrança pelas licenças de uso dos softwares,
embora, contrariamente ao senso comum, muitos não sejam necessariamente gratuitos, como
explicado mais adiante. Em outras palavras, as licenças de uso dos softwares livres explicitam
os direitos dos usuários para: a) acesso ao código fonte do software; b) permissão para
utilização de quantas cópias o usuário desejar ou precisar e; c) permissão para qualquer
usuário fazer modificações no código.
As condições para o estabelecimento desse paradigma de produção e distribuição de
software com código aberto decorreram de muitos acontecimentos diferentes que envolveram
pessoas, instituições de ensino e empresas cujas atitudes permitiram que as tecnologias
geradas se tornassem um bem público, e não um produto proprietário a mais. Em alguns
casos, tais condições resultaram de altruísmo e tiveram por objetivo simplesmente beneficiar
certas comunidades; em outros, estão relacionadas com a ideia libertária de se dar maior
importância aos indivíduos e de protegê-los contra o controle e excessos do mercado, estados
e governos. Enfim, existem casos em que tais atitudes fizeram parte de estratégias voltadas à
promoção da educação e da formação de pessoas, como é o caso da educação a distância, que
a cada dia passa a utilizar mais e mais softwares especializados nos processos de produção de
aulas, de conteúdos audiovisuais.
Modelo de Desenvolvimento do Software Livre
As facilidades decorrentes da popularização da Internet e de acesso à informação têm
favorecido a constante formação de comunidades virtuais colaborativas de trabalho neste
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início do século XXI. Muitas das pessoas que fazem parte de comunidades estão envolvidas
com o desenvolvimento de free software, embora nem sempre os conceitos de free softwares
sejam por elas totalmente compreendidos. Ou seja, esse conceito costuma causar confusão
especialmente entre brasileiros, pois a palavra inglesa free – que é utilizada com o significado
de livre – é por vezes confundida com a palavra ‘grátis’. Como nos explica Taurion (2004, p.
17):
O software livre é diferente das modalidades tradicionais de comercialização e
distribuição de software, no sentido de que é também distribuído em formato fonte,
portanto legível e passível de ser alterado e redistribuído pelos usuários. Além disso,
seu autor outorga a todos direitos de usar, copiar, alterar e redistribuir o programa.
De maneira geral são gratuitos quando copiados a partir de um site na web.
Para Augusto Campos (2006, p.1 apud BATTEZZATI, 2009, p.81) o software é livre
quando sua distribuição segue critérios de licenciamento estabelecidos pela Free Software
Foundation, ou seja:
A forma usual de um software ser distribuído livremente é sendo acompanhado por
uma licença de software livre (como a GPL ou a BSD), e com a disponibilização do
seu código-fonte. Software livre é diferente de software de domínio público. O
primeiro, quando utilizado em combinação com licenças típicas (como as licenças
GPL e BSD), garante os direitos autorais do programador/organização. O segundo
caso acontece quando o autor do software renuncia à propriedade do programa (e
todos os direitos associados) e este se torna bem comum.
Outras denominações podem confundir free software com outros tipos de software, a
exemplo dos Freeware e Shareware. Freeware é um tipo de programa que pode ser
redistribuído sem, necessariamente, se pagar para utilizá-los, pois são disponibilizados na
Internet, mas este tipo de software não pode ser modificado porque o código fonte não é
disponibilizado aos usuários. Os Shareware também são disponibilizados na Internet com
permissão para que sejam redistribuídos, mas sua utilização implica pagamento de licença,
embora os custos sejam menores do que os cobrados por tradicionais indústrias de software.
O desenvolvedor pode cobrar pelo Shareware, pode ainda vendê-lo para uma empresa e esta
não é obrigada a distribuí-lo. Geralmente o código fonte deste software também não é
disponibilizado para os usuários, portanto, não é possível fazer modificações nos softwares
shareware. Os softwares de domínio público ou sem direito autoral – sem copyright –
também podem apresentar alguns tipos ou versões que não são livres.
No Brasil, em muitas instituições de educação superior que ofertam cursos a
distância alguns docentes ainda ignoram as possibilidades que as tecnologias de softwares
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podem trazer para facilitar a transmissão de conteúdos de aprendizagem. Neste recorte,
completa Squirra (2007, p.2)
[...] é possível afirmar que em muitas cabeças com forte influência na academia
encontra-se arraigada a crença de que a tecnologia é para os seres 'menos sensíveis e
mais frios', justamente aqueles profissionais 'desprovidos de preocupação filosóficohumanista-poética' ao encarar os dilemas do conhecimento. Alguns admitem
claramente (outros nem tanto) que 'tecnologia' é coisa para engenheiro, que só sabe
construir pontes e fazer cálculos. Outros olham enviesados para o pessoal que se
graduou com 'um pé na profissão', tendo por isso, a compreensão tecnológica que
lhes falta.
Embora os Referenciais de Qualidade para a Educação Superior a Distância (2007,
p.2) tenham definido os princípios, diretrizes e critérios de qualidade para a oferta de cursos
na modalidade a distância em muitas entidades, ou em muitas cabeças, como coloca Squirra
(2007, p.4), a atuação dos docentes continua a ser fundamentada estritamente na oralidade ou
na postagem de textos e slides nos supostos “ambientes virtuais de aprendizagem”. Com
exceção das tentativas do governo federal, ainda não há na área educacional brasileira,
notadamente na área de EaD, muitos projetos desenvolvidos com software livre – S.L. Para
Sérgio Amadeu da Silveira1 (informação verbal), a tentativa de implantação preferencial do
software livre nos projetos do governo federal não se justifica apenas pela redução de custos,
sobretudo com pagamento de licenças, e sim porque o Brasil tem mais que o direito, tem a
necessidade de utilizar tecnologias que permitam aumentar a sua autonomia tecnológica, a sua
participação como ‘desenvolvedor’ de soluções na sociedade da informação. Comunidades de
Open Source sempre procuram aumentar sua autonomia tecnológica adaptando produtos
desenvolvidos às reais necessidades dos projetos para, assim, desenvolver novas soluções que
podem ser melhoradas e adaptadas à realidade dos projetos. Assim, a comunicação pela rede
entre membros de comunidades de desenvolvedores de software livre se caracteriza como um
novo paradigma denominado por Eric Raymond, na obra The Cathedral and the Bazaar
(1998, p. 1), de bazar, pois é um paradigma diferente daquele praticado pela indústria
tradicional:
Eu fui um dos primeiros contribuintes para o projeto GNU nos meados de 1980. [...]
Eu pensei que eu sabia como isso era feito. [...] Eu estava pregando o modo Unix de
uso de pequenas ferramentas, de prototipagem rápida e de programação
evolucionária por anos. Mas eu acreditei também que havia alguma complexidade
crítica, acima da qual uma aproximação mais centralizada, mais a priori era
requerida. Eu acreditava que os softwares mais importantes (sistemas operacionais e
ferramentas realmente grandes como o Emac) necessitavam ser construídos como as
1
Silveira (2006) postula que o software livre representa avanço na sociedade democrática (informação verbal).
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catedrais, habilmente criados com cuidado por mágicos ou pequenos grupos de
magos trabalhando em esplêndido isolamento, com nenhum beta para ser liberado
antes de seu tempo. O estilo de Linus Torvalds de desenvolvimento - libere cedo e
freqüentemente, delegue tudo que você possa, esteja aberto ao ponto da
promiscuidade - veio como uma surpresa. Nenhuma catedral calma e respeitosa aqui
- ao invés, a comunidade Linux pareceu assemelhar-se a um grande e barulhento
bazar de diferentes agendas e aproximações (adequadamente simbolizada pelos
repositórios do Linux, que aceitaria submissões de qualquer pessoa) de onde um
sistema coerente e estável poderia aparentemente emergir somente por uma sucessão
de milagres. O fato de que este estilo bazar pareceu funcionar, e funcionar bem, veio
como um distinto choque. O mundo do Linux não somente não se dividiu em
confusão, mas parecia aumentar a sua força a uma velocidade quase inacreditável
para os construtores de catedrais.
“De fato, eu penso”, continua Raymond (idem), “que a engenhosidade do Linus e a
maior parte do que desenvolveu não foram a construção do kernel do Linux em si, mas sim a
sua invenção do modelo de desenvolvimento do Linux”. Linus estava diretamente direcionado
a maximizar o número de pessoas-hora dedicadas à depuração e ao desenvolvimento do
kernel do Linux, mesmo com o possível custo da instabilidade no código e extinção da base
de usuários se qualquer erro sério provasse ser intratável.
Linus estava se comportando como se acreditasse em algo como isto: Dada uma
base grande o suficiente de beta-testers e co-desenvolvedores, praticamente todo
problema será caracterizado rapidamente e a solução será óbvia para alguém. Ou,
menos formalmente, ‘Dados olhos suficientes, todos os erros são triviais’. Eu chamo
isso de: ‘Lei de Linus’. Minha formulação original foi que todo problema 'será
transparente para alguém'. Linus objetou que a pessoa que entende e conserta o
problema não é necessariamente ou mesmo frequentemente a pessoa que primeiro o
caracterizou. ‘Alguém acha o problema’ ele diz, ‘e uma outra pessoa o entende. E eu
deixo registrado que achar isto é o grande desafio.’ Mas o ponto é que ambas as
coisas tendem a acontecer rapidamente. (RAYMOND, 1998, p. 2).
A resposta que deve ser dada às organizações que duvidam das possibilidades de se
utilizar a plataforma de softwares livres em entidades escolares, empresas, etc, a iniciar com o
Linux, com receio de terem problemas com bugs que jamais serão solucionados ou levarão
tempo demasiadamente longo para ser reparados, é apresentada por Raymond (1998, p. 2) a
seguir:
Na visão catedral de programação, erros e problemas de desenvolvimento são
difíceis, insidiosos, um fenômeno profundo. Leva meses de exame minucioso por
poucas pessoas dedicadas para desenvolver confiança de que você se livrou de todos
eles. Por conseguinte os longos intervalos de liberação, e o inevitável
desapontamento quando as liberações por tanto tempo esperadas não são perfeitas.
Na visão bazar, por outro lado, você assume que erros são geralmente fenômenos
triviais – ou, pelo menos, eles se tornam triviais muito rapidamente quando expostos
para centenas de ávidos co-desenvolvedores triturando cada nova liberação.
Consequentemente você libera frequentemente para ter mais correções, e como um
benéfico efeito colateral você tem menos a perder se um erro ocasional aparece. E é
isto. É o suficiente. Se a ‘Lei de Linus’ é falsa, então qualquer sistema tão complexo
como o kernel do Linux, sendo programado por tantas mãos quantas programam o
kernel do Linux, deveria a um certo ponto ter tido um colapso sob o peso de
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interações imprevisíveis e erros ‘profundos’ não descobertos.
Considerando as palavras de Raymond (idem), podemos concluir que o novo e
revolucionário paradigma de desenvolvimento do software livre pode ser uma interessante
alternativa para o processamento de vídeos para os cursos de EaD no Brasil.
Comparação entre Softwares Proprietários e Livres para produção de conteúdos
audiovisuais no contexto da EaD
O constante desenvolvimento de novas tecnologias digitais, especialmente para
criação de conteúdos para veiculação no rádio e na televisão, impulsionou o crescimento da
tecnologia de software livre e proprietário. Portanto, programas de formação de professores
para a EaD devem privilegiar o aprendizado para uso de softwares que podem ser utilizados
na produção de conteúdos audiovisuais para EaD. Neste estudo, a comparação entre os
softwares proprietários e livres que podem ser usados na produção de conteúdos para a EaD
foi feita com base no modelo de um quadro comparativo elaborado por Benoît Saint-Moulin,
fundador e administrador do site TD T3D The Dream Team, que apresenta as conclusões das
pesquisas comparativas que realizou sobre softwares de computação gráfica.
No processo de comparação consideramos um modelo com três macro-funções
denominadas – Entrada => Processamento => Saída – que permitiram comparar os recursos
disponíveis em alguns dos softwares para importar (digitalizar) conteúdos para dentro do
computador; para tratá-los digitalmente; e, para exportar os resultados em formatos e
resoluções de arquivos e dispositivos de representação adequados.
Para aqui descrever com brevidade os resultados da análise comparativa, apresentamos
apenas as quatro tabelas que explicam as variáveis funcionais ou categorias dos softwares
proprietários e livres empregados em atividades de edição de vídeo para conteúdos de EaD.
A primeira categoria – denominada Dados Gerais – descreve as características gerais
dos softwares e pode ser útil para orientar a escolha de produtores iniciantes. A segunda
variável ou categoria – Plataformas de Operação – indica as plataformas de sistemas
operacionais nas quais os softwares podem ser operados.
A terceira – Formatos de Alta Definição para Importação de Vídeo – diz respeito aos
formatos de arquivos a partir dos quais os softwares são capazes de importar (digitalizar) os
conteúdos. A quarta – Formatos de Arquivos de Trabalho e Saída – se refere aos formatos de
arquivos nos quais os softwares podem gravar os resultados dos seus trabalhos.
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Tabela 1. Categoria 1. Dados Gerais
SOFTWARE
TIPO DE
LICENÇA
FABRICANTE
OU
DESENVOLVEDOR
Final Cut Pro
Proprietário
Apple
Edição e
Montagem de
Vídeo
6
(2007)
R$ 2.663,24
ou
R$ 3.699,00
Sony Vegas
Proprietário
Sony
Edição de vídeo
.0c (2007)
U$ 549,95
After Effects
Proprietário
Adobe
Editor de efeitos
visuais 2D – 3D.
C 5.4 (9.0)
(2008)
R$ 1.620,00
Cinelerra
Livre
Heroine Virtual
Editor de vídeo.
4.0 (2008)
Livre
Jahshaka
Livre
The Jahshaka
Project
Editor de efeitos
visuais 2D - 3D
2.0 RC3
(2006)
Livre
MODALIDADE
ANO E
VERSÃO
ANALISADA
CUSTO2
Tabela 2. Categoria 1. Plataformas de Operação
SOFTWARE
WINDOWS
MAC OS X
UNIX
Final Cut Studio
Não
Sim
Não
Sony Vegas
Sim
Não
Não
After Effects
Sim
Sim
Não
Cinelerra
Não
Sim
Sim
Jahshaka
Sim
Sim
Sim
Tabela 3. Categoria 1. Formatos de Alta Definição para Importação de Vídeo
SOFTWARE
DV
Standard
HDV
720p 1080i
DVC IMX AVC XD AVCI RAW DNx REDPRO
HD CAM
HD HD CODE
Final Cut Pro
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
?
Sim
Sim
Sony Vegas
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
?
After Effects
Sim
Sim
Sim
?
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Cinelerra
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Jahshaka
Sim
Sim
Sim
?
Sim
Sim
?
Sim
Sim
Sim
Sim
Alguns formatos sinalizados com (?), ainda não podem ser considerados adequados
pois as pesquisas não permitem considerá-los confiáveis e, assim, recomendá-los.
2
Os valores apresentados na coluna Custo (em dólar – US$ ou real U$) foram, no período de realização da
pesquisa, divulgados nos websites de cada fabricante e distribuidores e confirmados nas lojas que comercializam
os produtos na cidade Curitiba, a exemplo da Fenac.
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Tabela 4. Categoria 1. Formatos de Arquivos de Trabalho e Saída
SOFTWARE
DVD
HDV
OPEN-EXR
QUICKTIME
WINDOWS
MEDIA
MPEG4
Final-Cut Pro
Sim
Sim
Não
Sim
Sim
Sim
Sony Vegas
Sim
Sim
(Blu-ray)
Não
Sim
Sim
Sim
After Effects
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Cinelerra
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Jahshaka
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Os dados da tabela 4 nos mostram que tanto os softwares proprietários e livres são
capazes de trabalhar com quase todos os formatos comparados. Uma exceção é que os
editores Final-Cut Pro e Sony Vegas não trabalham com o formato Open EXR, apesar de sua
importância para o vídeo e o cinema.
Considerações Finais
Neste estudo, os resultados da análise comparativa entre os especializados softwares
editores de audiovisual nos permitiram constatar que os softwares livres analisados
dispunham de recursos similares aos dos proprietários para entrada, processamento e saída de
conteúdo, ou seja, importação de material bruto, processamento e exportação de resultados.
Isso significa dizer os softwares livres estudados podem ser utilizados na criação de
conteúdos audiovisuais para a EaD, pois apresentam o mesmo nível de qualidade que os
softwares proprietários com os quais foram comparados. Interessante vantagem dos softwares
livres em relação aos proprietários está no fato de permitirem que conhecimentos sobre suas
funcionalidades deixem de ser propriedade econômica de algumas pessoas ou empresas para
serem compartilhados universalmente. Um exemplo é a possibilidade de um usuário poder
escolher a língua que o software deve adotar na interface de comunicação com as pessoas,
isso pode ser feito por todos os softwares livres que analisamos e significa que uma mesma
cópia instalada pode rodar 'falando' português, francês ou outras dezenas de línguas. O fato de
poderem ser instalados em qualquer quantidade de computadores sem custos com licenças
também é uma vantagem, pois os valores praticados pela indústria de software proprietário
para a cessão de licenças podem representar um alto investimento para as entidades
educacionais. A constatação de que a quase totalidade dos softwares estudados funciona em
9
diferentes plataformas de hardware e sistemas operacionais - PC/Windows, MAC OS X ou
PC/Linux - também pode ser considerada um benefício para os usuários deste tipo de
tecnologia, assim como a existência de inúmeras comunidades de desenvolvedores,
compostas por um universo fascinante de voluntários que prestam suportes técnicos e
orientações genéricas sobre atualizações, reparos de bug (acertos de erros) e demais serviços é
outro ponto positivo do software livre. Por fim, os resultados deste estudo podem contribuir
para estimular o uso de softwares livres pelas instituições de ensino nos cursos de EaD; o
desenvolvimento de novas pesquisas e formação de comunidades interessadas em
compartilhar conhecimentos sobre inovações tecnológicas, desenvolvimento e interpretação
de conteúdos audiovisuais.
Nota da autora
Doutora em Comunicação Social pela UMESP; Mestre em Educação pela PUCPR;
Especialista em Magistério Superior e Pedagoga pela UTP. Docente na UFPR – Setor Litoral.
Referências
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Tese (Doutorado em Comunicação Social) – Programa de Pós-graduação em Comunicação,
Universidade Metodista de São Paulo. São Bernanrdo do Campo, SP, 2009.
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qualidade para educação superior a distância. Brasília: MEC-SEED, 2007. Disponível em:
http://www.unirio.br/cead/pdf/Referencias_Qualidade_EAD.pdf. Acesso em 10 out. 2009.
CAMPOS, Augusto. O que é software livre. BR-Linux. Florianópolis, março de 2006.
Disponível em: <http://projetoacaodigital.com.br/vs2/material/alunos/SOFTWARE_LIVRE.p
df>. Acesso em: 15 jun 2007 .
RAYMOND. Eric S. A Catedral e o Bazar. Tradução Erik Kohler (2004). Cópia e
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.com/CollegePark/Union/3590/pt-cathedral-bazaar.html>. Acesso em: 18 set. 2006.
SILVEIRA, Sérgio Amadeu da. Introdução de Comunicação Digital e a Construção dos
Commons: redes virais, espectro aberto e as novas possibilidades de regulação. São Paulo:
Editora Fundação Perseu Abramo, 2007.
SQUIRRA, Sebastião Carlos de Morais. A tecnologia, a sociedade do conhecimento e os
comunicadores (mimeo). Intercom. SP. Santos 2007.
TAURION. Cezar. Software Livre: Potencialidades e Modelos de Negócios. Rio de Janeiro:
Brasport, 2004.