Revista Atitude Nº 05
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Revista Atitude Nº 05
Pede-se permuta 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 1 2009-11-23 14:25 REVISTA ATITUDE – Construindo Oportunidades Periódico da Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre - Ano III - Nº 5 - Janeiro a Junho de 2009 Porto Alegre - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre. ISSN 1809-5720 A REVISTA ATITUDE - Construindo Oportunidades tem por finalidade a produção e a divulgação do conhecimento nas áreas das ciências aplicadas produzido particularmente pelo seu corpo docente e colaboradores de outras instituições, com vistas a abrir espaço para o intercâmbio de ideias, fomentar a produção científica e ampliar a participação acadêmica na comunidade. O Conselho Editorial reserva-se o direito de não aceitar a publicação de matérias que não estejam de acordo com esses objetivos. Os autores são responsáveis pelas matérias assinadas. É permitida a cópia (transcrição) desde que devidamente mencionada a fonte. Endereço para permuta: Rua Mal. José Inácio da Silva, 355 Passo D’Areia - Porto Alegre - RS Tel: (51) 3361.6700 www.faculdade.dombosco.net Porto Alegre, 2009 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 2 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Construindo Oportunidades – Revista de Divulgação Científica da Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre Ano III, Volume 3, número 5, jan-jun 2009 – ISSN 1809-5720 Diretor/Director Prof. Dr. Pe. Marcos Sandrini - [email protected] Editor/Editor Prof. Dr. Marco Antonio Fontoura Hansen - [email protected] Comissão Editorial/Editorial Board Profa. Dra. Aurélia Adriana de Melo - [email protected] Prof. Ms. José Nosvitz Pereira de Souza - [email protected] Prof. Dr. Luís Fernando Fortes Garcia - [email protected] Prof. Ms. Luiz Dal Molin - [email protected] Prof. Dr. Marco Antonio Fontoura Hansen - [email protected] Comissão Científica/Scientific Committee Avaliadores ad-hoc/Ad-hoc reviewers Prof. Ms. Aécio Cordeiro Neves (FDB/Porto Alegre, RS) Profa. Dra. Angela Beatrice Dewes Moura (FDB/Porto Alegre, RS) Prof. Dr. Bachir Hallouche (UNISC/Santa Cruz do Sul, RS) Profa. Ms. Beatriz Stoll Moraes (FDB/Porto Alegre, RS) Pesq. Ms. Camila Cossetin Ferreira (INPE-CRS/Santa Maria, RS) Prof. Dr. Carlos Garulo (IUS/Roma, Itália) Prof. Dr. Erneldo Schallenberger (UNIOESTE/Cascavel, PR) Prof. Dr. Fábio José Garcia dos Reis (UNISAL/Lorena, SP) Prof. Dr. Friedrich Wilherm Herms (UERJ/Rio de Janeiro, RJ) Prof. Dr. Geraldo Lopes Crossetti (FDB/Porto Alegre, RS) Prof. Dr. José Néri da Silveira (FDB/Porto Alegre, RS) Profa. Dra. Letícia da Silva Garcia (FDB/Porto Alegre, RS) Pesq. Dr. Manoel de Araújo Sousa Jr. (INPE-CRS/Santa Maria, RS) Prof. Dr. Pe. Marcos Sandrini (FDB/Porto Alegre, RS) Profa. Dra. Marisa Tsao (UNILASALLE/Canoas, RS) Prof. Dr. Nelson Luiz Sambaqui Gruber (UFRGS/Porto Alegre, RS) Prof. Dr. Osmar Gustavo Wöhl Coelho (UNISINOS/São Leopoldo, RS) Pesq. Ms. Silvia Midori Saito (INPE-CRS/Santa Maria, RS) Prof. Dr. Stefano Florissi (UFRGS/Porto Alegre, RS) Pesq. Dra. Tania Maria Sausen (INPE-CRS/Santa Maria, RS) Profa. Ms. Viviani Lopes Bastos (UCS/Caxias do Sul, RS) Publicação e Organização/Organization and Publication Revista Atitude - Construindo Oportunidades Rua Mal. José Inácio da Silva, 355 – Porto Alegre – RS – Brasil CEP: 90.520-280 – Tel.: (51) 3361 6700 – e-mail: [email protected] Produção Gráfica/Graphics Production Arte Brasil Publicidade R. P. Domingos Giovanini, 165 – Pq. Taquaral – Campinas – SP CEP 13087-310 – Tel: (19) 3242.7922 – Fax: (19) 3242.7077 Revisão: Cristiane Billis – MTb 26.193 Os artigos e manifestações assinados correspondem, exclusivamente, às opiniões dos respectivos autores. 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 3 2009-11-23 14:25 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 4 2009-11-23 14:25 Sumário Apresentação ...................................................................................................................... 7 CIÊNCIAS SOCIAIS E APLICADAS ................................................................................... 9 1. Modelos de gestão e os desafios de uma organização com mais de 100 anos de participação nos mercados nacional e internacional .......................... 11 Neuri Antonio Zanchet, Marcela Maria da Silva 2. Yo soy, tú eres, todos somos ........................................................................................ 21 Neiva Maria Mallmann Graziadei 3. Artigo Científico: estrutura, forma e estilo ................................................................. 29 Maria Cristina dos Santos Martins 4. A razoável duração do processo na experiência europeia ....................................... 39 Isabel da Cunha Bisch CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS .............................................................................................. 49 1. AccessMIGPostgreSQL: uma ferramenta para migração de banco de dados .......... 51 Adriana Paula Zamin Scherer, Daniel Gonçalves Jacobsen e Marcelo Luis dos Santos 2. Implicação da implantação da Lei Federal nº 11.445/2007 no processo de tratamento de água potável .............................................................. 59 Beatriz Stoll Moraes, Tomaz Mattos da Silva, Samuel Sant´Anna Teses e Monografias .......................................................................................................... 65 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 5 2009-11-23 14:25 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 6 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 Apresentação REVISTA ATITUDE, Construindo Oportunidades, número 5, esboça um pouco do muito que se reflete em nossa Faculdade. Professores e acadêmicos partilham suas reflexões e experiências profissionais. Para a área de Ciências Sociais e Aplicadas são apresentados dois artigos: - Neuri Antonio Zanchet, Marcela Maria da Silva descrevem sobre o modelo híbrido de gestão de uma organização, tratando da relação existente entre empregado, empregador e mercado, com foco nos processos das possibilidades de expansão. - Neiva Maria Mallmann Graziadei trata da obrigatoriedade da inclusão da língua espanhola, a partir de 2010, nas escolas de Ensino Fundamental e Médio, tanto as públicas quanto privadas, levando em conta uma Lei Federal. - Maria Cristina dos Santos Martins elabora um texto para auxiliar na redação técnico-científica, tendo como base a NBR 6022 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). - Isabel da Cunha Bisch retrata as descrições do artigo 5o da Emenda Constitucional no. 45/04, que apresenta a razoável duração de tramitação do processo judicial e estabelece um comparativo com as ações da Corte Europeia de Direitos Humanos. Para a área de Ciências Tecnológicas são apresentados quatro artigos: - Adriana Paula Zamin Scherer, Daniel Gonçalves Jacobsen, Marcelo Luis dos Santos descrevem sobre a possibilidade de migração de banco de dados comercial MS Access® para PostgreSQL para uma ferramenta gratuita. - Beatriz Stoll Moraes, Tomaz Mattos da Silva, Samuel Sant’Anna discutem a Lei Federal, que trata da disposição dos lodos gerados pelas estações de tratamentos de água e de esgoto. Em Teses e Monografias é apresentada uma tese em desenvolvimento: - Cleber Gouvêa, Stanley Loh, Luís Fernando Fortes Garcia referem-se ao georreferenciamento de textos em ambiente WEB. . - Isabel da Cunha Bisch apresenta o resumo de sua dissertação de mestrado, que apresenta um comparativo do Amicus Curiae no controle da constitucionalidade levando em conta as experiências americana, europeia e brasileira. Como se vê, fiel ao nosso lema de que Formação é Atitude, nossos articulistas e colaboradores abordam questões atuais e polêmicas tomando posição e apontando caminhos. Conselho Editorial da Revista Atitude – Construindo Oportunidades 7 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 7 2009-11-23 14:25 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 8 2009-11-23 14:25 Ciências Sociais e Aplicadas 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 9 2009-11-23 14:25 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 10 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 Modelos de gestão e os desafios de uma organização com mais de 100 anos de participação nos mercados nacional e internacional Neuri Antonio Zanchet1, Marcela Maria da Silva2 Resumo: Este estudo tem o propósito de identificar o modelo de gestão de uma organização, os tipos de mudanças, bem como os desafios enfrentados na implementação do modelo. Trata-se de uma pesquisa empírica, de natureza exploratória, através do método de estudo de caso. Os resultados mostram que a organização atua utilizando um modelo híbrido singular de gestão de pessoas que se caracteriza por mesclar um modelo centrado na especialização e outro na presença constante dos consultores. As mudanças foram evolutivas voltadas para o crescimento dos funcionários e expansão da organização. Os desafios enfrentados passam desde o formato estabelecido pelo modelo de gestão da organização, pela mudança cultural, bem como pela participação da consultoria interna de recursos humanos como apoio às áreas organizacionais. Palavras-chave: Modelos de Gestão, Desafios, Mudanças nas Organizações. Abstract: This study aims at identifying the management model of a company, types of changes, as well as the challenges faced by the company to introduce this model. It has been done as empirical research, of an exploratory type, following the methods of a case study. Results showed that this company uses a unique hybrid management model characterized by mixing specialized type with another one based on the permanent influence of consulters. The introduced changes contributed to employee developmentand company expansion. The challenges addressed are rela ted to the format established by the management model, as well as to the participation of the internal consultation office of human resources as a support for the organizational areas. Key-words: Managment Model, Challenges, Changes in Organizations. Introdução A forma como as organizações são administradas sofre transformações constantes ao longo do tempo, tendo se tornado especialmente mais evidentes depois do início do século XX, época em que se concretizava a chamada “Segunda Revolução Industrial”. Nessa época, os modelos de gestão, entendidos como os mais adequados, investiam na racionalização do trabalho e na maximização dos resultados, sendo as pessoas consideradas apenas um elo da cadeia de produção, ou seja, lhes era exigida pouca habilidade intelectual, apenas força física. A partir da década de 50, ocorre uma transformação importante no contexto organizacional. O mundo, em decorrência da II Guerra Mundial (1939 -1945), passa a ser mais integrado e, por consequência, o ambiente dessas organizações passa a ser mais dinâmico e competitivo. O acesso às novas tecnologias facilita a criação de novos produtos e serviços, fazendo com que as organizações necessitem de constante atualização. Esta realidade traz uma necessidade organizacional diferenciada, ou seja, faz-se necessário implantar um processo de aprendizagem organizacional focado na criação e disseminação de conhecimento, (1) Bacharel em Administração com habilitação em Recursos Humanos; Mestre em Ciências Sociais Aplicadas; Doutorando em Desenvolvimento Regional pela Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC; consultor de empresas e professor da Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre. E-mail: [email protected] (2) Acadêmica do curso de Administração – Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre. E-mail: [email protected] 11 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 11 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 para que as organizações possam se adaptar às contingências mercadológicas e, portanto, se manterem vivas e atuantes. É nesse contexto que a capacidade, o talento e a determinação dos funcionários e empresários, antes esquecidos com a valorização da análise de números, hoje ocupam lugar de destaque nas organizações. A forma de gerir pessoas tem se aprimorado lado a lado com as diversas práticas de gestão organizacional, surgindo assim um novo conceito dentro da administração de recursos humanos: a gestão de pessoas com seus diferentes modelos. cia, dos controles e dos conflitos. As soluções de ontem mostram-se insatisfatórias aos problemas de hoje. A delegação se faz imperiosa. Aumentam-se concomitantemente a insegurança, os custos e muda-se o estilo gerencial. Esta fase geralmente ocorre após uma fase de crescimento ou de expansão, quando a organização começa a firmar sua imagem, seus produtos passam a ser conhecidos e ela principia a assegurar seus mercados. Se a crise do crescimento for superada, a organização entra no terceiro estágio, que marca o advento da administração profissional. Este estágio se caracteriza pela 1. O contexto de mudanças nas organicapacidade de autorrenovação. A organizazações De um modo geral, as mudanças nas ção alcança a maturidade, sustenta a sua organizações podem acontecer de várias maidentidade, sem perder a flexibilidade e a neiras, que vão desde as mudanças naturais, capacidade de adaptação. Aprende quando passando pelas reativas, pee como mudar, a diversificar las evolutivas, até as mudanseus produtos, a focalizar ças revolucionárias. Também o cliente, servindo-o com As mudanças nas orgapodem ser tanto planejadas, presteza e qualidade, sem nizações podem acontesob responsabilidade dos deixar de atender aos intecer de várias maneiras, gestores das organizações, resses dos acionistas e dos que vão desde as muquanto emergentes. empregados. danças naturais, passanAssim, as organizações, Assim, cada degrau aldo pelas reativas, pelas como exemplo de sistema cançado conduz a um paevolutivas, até as musocial, passam por mudanças tamar sucessivo, mesmo danças revolucionárias. naturais, ou seja, nascem, que o ingresso em um novo crescem, amadurecem, deestágio não signifique o definham e morrem. Moura saparecimento de todos os (1978) identifica três estágios típicos na bioproblemas vividos nas fases precedentes. grafia de uma organização: a fase pioneira, a Porém, como todos os sistemas orestável e a autorrenovável. gânicos, as organizações envelhecem. A sobrevivência é a principal preocupação Enrijecidas pelas suas rotinas, presas pela na fase pioneira. A presença marcante do líder acomodação, inebriadas pelos sucessos natural, ou fundador, que tem a visão do negóalcançados no passado, as organizações se cio, molda os valores iniciais da organização a esquecem de que o ciclo vital é permanente seu modo. A administração é baseada numa e deixam de cuidar de si. Quando menos única fonte: o líder, a quem todos respeitam esperam, estão cheias de equipamentos, e de quem todos dependem. processos e comportamentos superados Essa fase dificilmente é superada pelas pelas mudanças que ocorreram fora dela e organizações. Muitas sucumbem às primeiras que elas, voltadas para o próprio “umbigo”, crises, quase sempre relacionadas com as não conseguiram perceber. dificuldades de viabilização das ideias criaAs mudanças reativas são as do dia a doras. Aquelas que reagem improdutivamente dia que as organizações adotam de forma a essas crises morrem ou se marginalizam. incremental, por força das circunstâncias, Outras, que conseguem superá-las, passam quando não podem mais resistir a elas. O para o segundo estágio. desenvolvimento tecnológico funciona como Na segunda fase (estável), como o próprio um grande impulsionador dessas mudanças, nome indica, o foco é a busca da estabilidade. mas, de modo geral, elas são parciais e A organização se torna muito mais complexa, fragmentadas, frutos de pressões isoladas em decorrência do crescimento, da burocrae quase sempre implantadas sem um plano 12 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 12 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 definido, ou uma análise minuciosa de seus a mudança emergente. Não dar atenção à efeitos. São medidas isoladas, de baixo faceta emergente pode, de fato, contribuir impacto comportamental, lentas, atrasadas, para desvirtuar a compreensão da natureza rotineiras; meras respostas adaptativas a da mudança. Mais que isso, pode induzir os situações de absoluta inadequação. investigadores e os gestores a tomarem a Este tipo de mudança é irreversível e não parte (a componente planejada) pelo todo há como fugir dela. De modo geral, adotado (a mudança organizacional), com todas as por empresas acomodadas, que esperam até consequências daí decorrentes. o último momento para introduzir mudanças Esta perspectiva tem uma base teleológie só aceitam aquelas indispensáveis à sua ca, tratando a gestão da mudança como uma sobrevivência. responsabilidade daqueles que estão no topo As mudanças evolutivas são planejadas, da organização, ou seja, dos gestores. A estes conscientes, consentidas, voltadas para o compete conduzir a mudança de tal forma que crescimento, a expansão e o desenvolvimento a organização se torne mais adaptada e, até da empresa. Quase todos os processos de mesmo, mais adaptativa. mudança evolutiva baseiam-se em estratégias A mudança emergente, por sua vez, denota educacionais. Trabalha-se a mudança em características e pressupostos profundamentodas as suas fases, a partir da percepção te diferentes. Ela consiste no surgimento de até a fase final de acompanhamento e institu- novos padrões organizacionais como concionalização. Por traduzirem sequência da adaptação às valores de crescimento, decontingências locais e na senvolvimento e expansão, ausência de um programa A ideia de que a mutanto dos indivíduos como pré-estabelecido. Seu ponto dança é um processo das organizações, geram de partida é a complexidade planejado corresponde menos resistências, mas, das interações sociais no sisà visão dominante nos por outro lado, apresentam a tema organizacional, a qual estudos organizacionais desvantagem de serem muito reduz qualquer tentativa de e na gestão. lentas, mostrando resultados entender a mudança através somente a longo prazo, senda análise das decisões da do incompatíveis com a turbulência ambiental gestão de topo. Ou seja, a mudança, segundo da nossa era. Cunha (2002), é um processo “auto-organizaAs mudanças revolucionárias são rápidas, tivo” e não apenas um processo planejado de de grande impacto, geralmente, provocadas gestão da organização. por um evento externo significativo, como por Essas duas esferas devem ser consiexemplo, os planos econômicos, a abertura deradas quando o assunto em questão é a dos mercados e a globalização da economia. mudança organizacional, uma vez que tanto Surgem, quase sempre, de uma decisão estra- uma quanto a outra são importantes como tégica emanada da direção, fruto de momen- fonte de vitalidade organizacional. A mudança tos difíceis que exigem soluções radicais, que emergente, sendo espontânea e originada a prescrevem medidas duras de reestruturação, qualquer momento e em qualquer ambiente da enxugamento, diminuição de tamanho, fusão, organização, não é menos relevante do que os venda ou privatização. Decidida a mudança, processos de mudança planejados, focados e ela se torna impositiva; é implantada de cima controlados pelos gestores. Ambas constituem para baixo, muitas vezes de surpresa, quase a comunicação no ambiente organizacional. nunca através de processos participativos. 2. Os modelos de gestão nas organizaMesmo quando reconhecidamente necessárias, não são consensuais e geram pouco ções Um modelo de gestão pode ser definido comprometimento. Produzem efeitos rápidos, nem sempre duradouros e são quase sempre como um conjunto de teorias e técnicas que traumáticas, provocando grande resistência, visam organizar e padronizar a forma de gestão das organizações. Desde o início do século XX, mágoas e até boicotes. Já de acordo com Cunha (2002), não basta estes conjuntos de teorias e técnicas passaram considerar a mudança como um processo por várias abordagens, sendo que os primeiplanejado, sendo também necessário acolher ros modelos usados foram nomeados como 13 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 13 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 ções de Henry Ford e Henry Fayol, uma vez que foi com Ford que houve a organização de processos produtivos, a criação de linhas de montagem móvel e com elas estratégias de produção em larga escala. Já Fayol contribuiu para esta abordagem ao propor que atividades administrativas deveriam ser desvinculadas da atividade operacional. Adotou princípios como a divisão do trabalho, autoridade e responsabilidade, disciplina, unidade de comando, unidade de direção, subordinação aos interesses gerais, remuneração do pessoal, centralização, hierarquia, ordem, equidade, estabilidade do pessoal, iniciativa e espírito de equipe (CHIAVENATTO, 2004). As contribuições dessa abordagem para a discussão posteriormente levantada sobre a Gestão de Pessoas e o uso da inteligência são primordiais, uma vez que esta abordagem foi responsável pela criação de conceitos e técnicas que alavancaram os processos produtivos organizacionais, fazendo com que as pessoas tivessem a necessidade de criar e aprender novos métodos e processos, de forma mensurada e controlável. Assim, essa abordagem considera a inteligência como algo rígido e, embora tenha o foco em tudo aquilo que diz respeito ao tangível, é a partir dela (e das críticas sobre ela) que as organizações começam a moldar a suas formas de administrar negócios, gerir equipes e gerenciar pessoas. Neste cômputo de críticas e análises, surgiu espaço para se pensar em necessidade do uso de uma inteligência flexível. A abordagem humanística tinha como principal objetivo estabelecer uma relação entre os fatores humanos e os processos de gestão. Os idealizadores desta abordagem – Mary Parker Follet, Elton Mayo, dentre outros nomes – procuravam entender os relacionamentos nas organizações no intuito de possibilitar que as pessoas que faziam parte do processo produtivo fossem, cada vez mais, adequadas ao mesmo. Deu-se após o experimento de Hawthorne, realizado por Mayo, e procurava tornar as relações laborais menos desgastantes; passou a considerar as pessoas parte do processo produtivo e não mais apenas como recursos (CHIAVENATTO, 2004). Esta abordagem caracteriza-se por tentar associar aos ganhos da abordagem estrutural as inter-relações dos grupos informais, de tal forma que os incentivos psicossociais juntamse aos financeiros, na tentativa de resultados decorrentes de uma abordagem estrutural. Em seguida vieram os decorrentes de uma abordagem humanística e, sucedendo a abordagem humanística, desenvolveram-se modelos baseados em abordagens integrativas, que influenciam os modelos de gestão atualmente desenhados (FERREIRA et al., 2005). Os modelos de gestão surgem nesse contexto e procuram, através dos tempos, sistematizar e preparar as organizações e a gestão de pessoas, modificando-se em paralelo com as diferentes perspectivas de cada época. Acredita-se que investir em modelos de gestão é proporcionar processos mais adequados para se extrair os resultados mais produtivos, tanto dos processos, quanto dos recursos e das pessoas. Observa-se mais detalhadamente como a literatura administrativa pesquisada caracteriza tais abordagens. A abordagem estrutural emergiu com as mudanças econômicas, sociais e políticas da Revolução Industrial, tais como intensa urbanização, aumento da população, a substituição do ferro pelo aço como matéria-prima, utilização do petróleo e energia elétrica no lugar do vapor, além do desenvolvimento das indústrias e do aumento do comércio interno e externo (KWASNICKA, 1995). Essa abordagem subsidiou o advento da administração científica que, por sua vez, visou melhorar a produtividade dos operários, tornando as organizações mais eficazes, a produção mais dinâmica e, consequentemente, atingindo mais lucratividade ao aplicar o método científico no estudo do trabalho, gerando, assim, a especialização do trabalhador e os parâmetros de eficiência, efetividade e eficácia no trabalho (ROBBINS, 2009). Tem-se, como data marcante, o ano de 1895, com Frederic Winslow Taylor, embora notasse, na literatura, indícios de que cem anos antes James Watt Jr. e Matthew Boulton já introduziam técnicas de padronização dos componentes dos produtos em suas maneiras de gerir negócios. Taylor sistematizou a execução do trabalho ao usar dois métodos: o tempo base e a introdução de padrões diferenciais. Além disso, determinou uma forma mais eficaz de executar tarefas ao selecionar e treinar pessoas adequadas a essas tarefas, motivando-as através de incentivos salariais (CHIAVENATTO, 2004). Além de Taylor, vale destacar as contribui14 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 14 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 mais expressivos. Foi nesse sentido que as uma maneira de serem mais dinâmicas em ideias de Mary Parker Follet ecoaram, visto que relação a um mercado tão instável quanto o preconizavam que as organizações deveriam atual (MARQUES, 2006). buscar sustentação em processos que inteDeste modo, pode-se perceber que desde grassem os indivíduos, tendo, como foco prin- que foram implantados os conceitos da admicipal do processo de ação, as tarefas a serem nistração científica no contexto organizacional realizadas e não os poderes hierárquicos de no início do século XX, muitas foram às mouma pessoa sobre a outra (ROBBINS, 2009). dificações ocorridas no que diz respeito aos Vale lembrar ainda que essa abordagem, modelos de gestão. Sempre visando a uma embora “humanista”, tinha como foco dirimir melhor forma de administrar, estas abordagens conflitos internos, ao entender o fator humano evoluíram desde a ênfase na execução das tae assim causava dispêndio às empresas e, refas na abordagem estruturalista, até as novas por consequência, interferia na lucratividade abordagens que enfatizam o conhecimento (MOTTA, 2001). como diferencial competitivo. A abordagem integrativa surgiu após a II 3. Os desafios dos modelos de gestão Guerra Mundial (1939 – 1945), momento de falta de estabilidade financeira, ampliação dos de pessoas A atividade de gestão de pessoas é mais recursos de comunicação e fortalecimento dos mecanismos de consumo em massa que, conhecida como administração de recursos conjuntamente, levaram a uma evolução dos humanos. Essa nomenclatura deriva do fato setores produtivos e aprimoramento de práticas de, convencionalmente, a organização ser gerenciais. Pode-se afirmar que foi uma tenta- considerada a conjugação de três ordens de tiva de romper com o excesso de formalidades recursos: financeiros, materiais e humanos. Essa concepção, no entanto, erra ao e regras dos modelos criados a partir de outras abordagens e que se afiguravam como muito equiparar as pessoas às outras ordens de burocráticos e engessados. Dessa maneira, recursos. Os funcionários são, na verdade, era necessária agilidade para atender às novas pessoas que não devem ser tratadas como recursos. exigências mercadológicas A organização que preque aconteciam no atual moOs funcionários são, tende alcançar a excelência mento, agilidade esta que, em na verdade, pessoas deve estabelecer uma política um modelo burocrático, não que não devem ser traadequada de gestão de seu era possível de ser atingida. tadas como recursos. pessoal, dando ao mesmo o Daí o surgimento de uma tratamento diferenciado que abordagem que tentasse unir merece. o que era julgado melhor, tanto Segundo Chiavenatto (2004), a gestão de do ponto de vista estrutural, quanto humanista pessoas tem como objetivo fundamental tornar (MOTTA, 2001). Mais recentemente, quando as organiza- a relação entre os funcionários da organizações vivem em um ambiente de intensas e rá- ção, representados pelos seus dirigentes e pidas mudanças, incertezas e competitividade os trabalhadores, a mais produtiva e menos acentuada, torna-se necessário se preparar conflituosa possível. Dutra (2002, p. 17) caracteriza a gestão de para permanecer atuante no mercado, aprendendo com o ambiente e investindo constan- pessoas como “um conjunto de políticas e prátemente no desenvolvimento de profissionais ticas que permitem a conciliação das expectaque nelas atuam. Uma das propostas que tivas e necessidades entre a organização e as surge com esse intento é a adhocracia que pessoas no presente e em relação ao futuro”. é proposta por Mintzberg (1995). Como uma O foco, então, passa do apassivamento para estrutura pouco formalizada, descentralizada o desenvolvimento das pessoas por meio do do poder e caracterizada pelo foco na realiza- estabelecimento de três pilares principais: ção das tarefas da organização, a adhocracia, cultura de aprendizagem, consideração da de certo modo, representa uma antítese à individualidade das pessoas e gestão de pesorganização burocrática. Trata-se, portanto, soas por competência. De acordo com Dutra de uma abordagem que se adequou melhor à (2002), o modelo de gestão por competências filosofia de muitas empresas que procuravam passou por diferentes fases até se consolidar 15 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 15 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 no modelo mais defendido hoje. desenvolver competências necessárias ao Todavia, Orlickas (2001, p.52) aborda a sucesso das estratégias traçadas. Estas políexistência de três modelos de gestão de pes- ticas levarão a empresa a se preocupar com o soas: o chamado tradicional, o da administra- sistema de remuneração que vai adotar, com ção de recursos humanos e o de consultoria a estratégia de participação que será ofereciinterna de recursos humanos (RH). Empresas da aos colaboradores e com o seu índice de tradicionais ainda mantêm a estrutura de re- rotatividade. Finalmente, o terceiro aspecto cursos humanos focada diretamente nos con- está relacionado à formação de competências troles e processos funcionais. No entanto, de propriamente ditas, isto é, com a análise de um modo geral, a administração de recursos alguns indicadores, tais como o nível educahumanos e a consultoria interna de RH trazem cional dos funcionários, o nível educacional em seu contexto a atuação na cultura organi- exigido para as funções-chave da empresa e zacional, no gerenciamento, planejamento e o grau de satisfação deste nível educacional na assessoria à organização. e o investimento em treinamento e desenvolApesar disso, observa-se que vários au- vimento que a empresa vem realizando. tores têm definido modelos que em parte se No entanto, pode-se conceituar modelo de complementam, em parte se opõem. Isto hoje gestão de pessoas como a maneira de uma orrepresenta uma das dificuldades que se têm ganização se estruturar para gerenciar e orienencontrado para a difusão do sistema: sua tar o comportamento humano no ambiente de difícil conceitualização. trabalho. Um modelo de gestão de pessoas Segundo Fischer (2002), um modelo de é formado por todos os elementos que intergestão de pessoas deve oferecer um conjunto ferem de alguma maneira no comportamento de conceitos e referenciais dos indivíduos no contexto que, a um só tempo, permita organizacional. Este conceito No entanto, pode-se concompreender a realidade não se restringe ao caráter ceituar modelo de gesorganizacional e disponibilize instrumental da gestão de tão de pessoas como a instrumentos para agir sobre pessoas, mas diz respeito maneira de uma organiesta realidade. O modelo de às diferentes lógicas que inzação se estruturar para gestão se materializa nas fluenciam o comportamento gerenciar e orientar o organizações através de polína organização. O modelo comportamento humano ticas e práticas que permitem de gestão de pessoas, desta no ambiente de trabalho. ao gestor avalizar os riscos maneira, sistematiza compodas decisões e avaliar, postenentes políticos, ideológicos, riormente, o impacto de suas sociais e comportamentais decisões. No caso da gestão de pessoas, as que orientam a ação e a decisão no contexpolíticas e práticas de gestão deveriam per- to organizacional (MASCARENHAS, 2003; mitir ao gestor avaliar o risco de uma decisão FISCHER, 2002). Segundo Fischer (2002), sobre cada uma das pessoas diretamente o que diferencia um modelo do outro são as envolvida, sobre as demais pessoas e sobre características dos seus elementos constituina organização como um todo. tes, como princípios, processos, estruturas e A migração de um modelo de gestão para políticas de Recursos Humanos. o outro conduz a mudanças que ocorrem em três aspectos (FLEURY e FLEURY, 2001). 4. Procedimentos metodológicos A pesquisa proposta se caracteriza como O primeiro diz respeito à importância dada às pessoas para o êxito das estratégias do um estudo de caso, pois buscou aprofundar negócio. Desta forma, a empresa passa a o tema circunscrevendo o processo, que é considerar fundamental a participação do amplo, em uma unidade de uma organização responsável pela gestão de pessoas na defi- nacional com mais de 100 anos de atuação e nição das estratégias e na tomada de decisão, participação nos mercados nacional e interalém de ter suas políticas de gestão de pes- nacional, onde a produtividade e a qualidade soas claramente definidas e constantemente tornam a atualização tecnológica imperativa. revisadas. O segundo aspecto envolve as políticas Além disso, adotadas pela empresa para atrair, reter e 16 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 16 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 O estudo de caso é apenas uma das muitas maneiras de se fazer pesquisa em ciências sociais [...]. Em geral, os estudos de caso representam a estratégia preferida quando se colocam questões do tipo ‘como’ e ‘por que’, quando o pesquisador tem pouco controle sobre os eventos e quando o foco se encontra em fenômenos contemporâneos inseridos em algum contexto da vida real. (YIN, 2002, p. 19). Para este estudo, atuou-se em dois níveis: o primeiro, indireto, através de um estudo sistematizado, desenvolvido com base em material publicado em livros, revistas especializadas, teses e dissertações. O segundo foi direto, no qual buscou-se entrevistar vinte funcionários (amplamente qualificados), que exercem as atribuições na organização conforme quadro 1, para identificar o modelo de gestão, os tipos de mudanças, bem como os desafios enfrentados na implementação do modelo. É pertinente destacar que a escolha desta técnica fundamentou-se no conhecimento fornecido por Lakatos e Marconi (1992, p.107) de que “a entrevista não consiste em ver e ouvir, mas também em examinar fatos ou fenômenos que se deseja estudar”. O presente estudo de caso é um estudo exploratório, ou seja, não é e nem pretende ser conclusivo, pois se realiza em áreas onde existe pouco conhecimento acumulado e sistematizado. Apesar da temática, e de modelos de gestão possuírem um volume considerável de pesquisas, verificou-se a inexistência de trabalhos específicos no segmento de indústrias de papel e celulose. Quadro 1 - Caracterização dos sujeitos Escolaridade Quantidade Cargo Tempo na Empresa (mês) Tempo no Cargo (mês) Graduação 1 Gerente Administrativo 36 36 Graduação 1 Gerente Comercial 90 48 Graduação 1 Gerente de Produção 36 36 Especialização 1 Gerente Recursos Humanos 90 48 Especialização 10 Operador de Produção 60 48 Técnico 2 Técnico Mecânico 90 90 2º grau 2 Auxiliar Administrativo 36 24 Graduação 2 Analista da Qualidade 36 36 Observou-se, pelas respostas dos entrevistados, que entre as principais mudanças detectadas está a cultural: transição de um modelo que traz a especialização como uma característica mais passiva para uma estrutura de atuação no âmago do negócio, ou seja, há envolvimento e influência nas decisões de cada área existente. Neste sentido, os resultados obtidos possibilitam sinalizar que a organização estudada atua utilizando um modelo híbrido singular de gestão de pessoas que se diferenciam, porque mescla um modelo centrado na especialização e outro na presença constante dos consultores internos. Há 5. Resultados A análise dos dados coletados leva à percepção de que o modelo de gestão na organização estudada surgiu de uma decisão estratégica da direção, sob intensa pressão política, que exigia inicialmente medidas radicais incluindo reestruturação e demissões. No entanto, no decorrer da implementação do modelo, as mudanças não foram revolucionárias mas, sim, evolutivas, baseadas nas estratégias educacionais. Assim, as mudanças foram planejadas, conscientes e consentidas. As reações dos funcionários foram de participação e de compartilhamento. 17 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 17 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 também evidência de melhoria na comunicação com empregados, informatização, prática de avaliação de desempenho, oportunidade de crescimento e cooperação. As afirmações referentes às novas relações (cooperação), como vantagens das mudanças encontram base em Dutra (2002), quando este afirma que o comprometimento está relacionado ao atendimento concreto das expectativas e necessidades que as pessoas possuem no presente e em relação ao futuro. Os desafios enfrentados foram muitos e voltados principalmente à aproximação do processo decisório, da base operacional, no deslocamento de áreas-meio como assessoria aos gestores e proporcionando, a estes últimos, foco nos processos e eficiência organizacional. Contudo, o principal desafio encontrado no modelo adotado foi referente à implementação de uma mudança cultural na área-meio: a participação da consultoria interna de recursos humanos como apoio às áreas organizacionais. A solução encontrada foi divulgar esta filosofia como um elemento facilitador e propulsor de crescimento para todos os envolvidos. Foram utilizados vários meios de comunicação (internet, intranet, folders, banners, cartas, reuniões, jornal da organização) para promover a disseminação do conceito, bem como os benefícios advindos aos funcionários e à organização. funcionários para conhecer suas aspirações, pela mudança cultural, pela participação da consultoria interna de recursos humanos, com apoio às áreas organizacionais e por um complexo entendimento do ambiente em que se encontra a organização. Os resultados mostram que as mudanças foram evolutivas voltadas para o crescimento dos funcionários e expansão da organização. Dessa forma, encontrou-se na unidade um movimento de planejamento e conscientização voltados para o crescimento e desenvolvimento, impactando positivamente os funcionários e a organização. Referências BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1995. CHIAVENATTO, I. Gestão de pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações. Rio de Janeiro: Elsevir, 2004. CUNHA, M. P. As duas faces da mudança organizacional: planejada e emergente. Lisboa: Universidade Nova de Lisboa, 2002. DUTRA, Joel S. Gestão de pessoas: modelo, processos, tendências e perspectivas. São Paulo: Atlas, 2002. Considerações finais O ponto de partida para a elaboração deste estudo-caso foi o de identificar o modelo de gestão de uma organização, os tipos de mudanças, bem como os desafios enfrentados na implementação do modelo. A importância reside na identificação dos elementos chaves das formas de organização do trabalho face às constantes transformações na sociedade contemporânea, onde a reestruturação produtiva introduz inovações tecnológicas, organizacionais e de gestão, redimensionando o lugar do trabalhador. Assim, este estudo possibilitou sinalizar que a organização estudada atua utilizando um modelo híbrido singular de gestão de pessoas, mesclando um modelo centrado na especialização e outro na presença constante dos consultores. Os desafios enfrentados passam desde o formato estabelecido pelo modelo de gestão da organização no qual a empresa deve e precisa estabelecer diálogos com seus FERREIRA, V. C. P.; CARDOSO, A. S. R.; CORRÊA, C. J.; FRANÇA, C. F. Modelos de gestão. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2005. FISCHER, R. M. Mudança e transformação organizacional. In: Fleury, M.T.L. (coord.). As Pessoas na Organização. São Paulo: Gente, 2002. FLEURY, A e FLEURY, M. T.L. Estratégias empresariais e formação de competências – um quebra-cabeça caleidoscópico da indústria brasileira. Rio de Janeiro: Atlas, 2001. KWASNICKA, E. L. Introdução à administração. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1995. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia do trabalho científico. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1992. 18 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 18 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 MARQUES, S. M. Gestão de pessoas na adhocracia. Estação Científica, Juiz de Fora, MG, n. 3, out. 2006. MOURA, Paulo. O benefício das crises. Rio de Janeiro: Ed. Livro Técnico, 1978. ORLICKAS, E. Consultoria interna de recursos humanos: pesquisa e benchmarking em empresas de ponta. São Paulo: Futura, 2001. MASCARENHAS, A. Tecnologia da informação e gestão de pessoas – o valor da TI na transição da área de RH. 2003. Dissertação (Mestrado em Administração de Empresas) – Fundação Getulio Vargas – FGVEAESP. São Paulo. ROBBINS, S. P. Fundamentos do comportamento organizacional. São Paulo: Pearson/Prentice Hall, 2009. MINTZBERG, H. Criando organizações eficazes: estruturas em cinco configurações. São Paulo: Atlas, 1995. YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e método. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2002. MOTTA, P. R. Transformação organizacional. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2001. 19 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 19 2009-11-23 14:25 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 20 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 Yo soy, tú eres, todos somos Neiva Maria Mallmann Graziadei1 Resumo: Este artigo tem por objetivo tecer algumas considerações a respeito da obrigatoriedade do ensino da Língua Espanhola, Língua Estrangeira, E/LE, nas escolas públicas e particulares de todo território nacional a partir de 2010. Também faz um breve histórico desse idioma e sua trajetória em nosso país, além de expor a atual situação do Espanhol no Brasil e sua recepção e inserção não só nas escolas mas também na sociedade, além de comentar sobre as ações desenvolvidas pela Embaixada da Espanha, pela Consejería de España, no Brasil, pelo Colégio Miguel de Cervantes, e por professores e universidades brasileiras. Os pressupostos teóricos se baseiam na Lei Federal 11.161/05 que regulamenta a obrigatoriedade do idioma no Brasil, nas tratativas do MERCOSUL, na Lei de Diretrizes e Bases e também nos artigos reunidos no livro do professor João Sedycias a favor da implementação do ensino do Espanhol como segunda língua estrangeira em nosso país. Palavras-chave: Língua Espanhola, Ensino, Obrigatoriedade, Lei 11.161/05. Abstract: This article has for objective write some considerations about the obligatoriness of the Teaching of Spanish, as a Foreign Language, E/LE, in the Public or Private Schools in all National Territory, from 2010 on the also makes a short description of this language and its trajectory in our country, besides exposes the actual situation of Spanish in Brazil and its reception and introduction, not only in the schools, but also in the society, besides expounds about the actions developed by the Embassy of Spain, by the Consejería of Spain in Brazil, by the Colégio Miguel de Cervantes, and by the teachers and Brazilian Universities. The theorical presupposed are based on the Federal Law no 11.161/05, that rule the obligatoriness of the language in Brazil, in the MERCOSUL’s agreements, in the Lei de Diretrizes e Bases and also in the articles that are into the book of the teacher João Sedycias that are favorable to the implementation of the Teaching of Spanish, as a second language, in our country. Key-words: Spanish Language, Teaching, Obligatoriness, Law no 11.161/05. 1 Graduada em Letras, com habilitação em Língua Espanhola e respectivas literaturas pela UFSM, (1999), pós-graduada em Língua Espanhola e suas literaturas pela PUC/RS (2001) e mestrado em Letras – Literatura Comparada pela UFSM (2002). Desde 2000 faz parte do GT “Literatura e Autoritarismo” da UFSM, tendo participado de eventos internacionais e publicações do grupo. Trabalhou como professora substituta nesta mesma Universidade e em outras seis como horista. Fez parte do quadro de professores efetivos da UNIJUÍ de 2001 a março de 2008, atuando na área de Letras, com ênfase em Língua Espanhola e suas Literaturas, Tradução e Literatura Comparada. 21 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 21 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 cubanos y mejicanos. Tales comportamientos caracterizan la búsqueda por una identidad estable y fija y que ya no se justifica más, debido al proceso de descentramiento y de fragmentación, decurrente del fenómeno de la globalización y de la rapidez con que hechos sociopolíticos se desarrollan delante nuestros ojos. Vivimos todavía, una crisis de identidad que consiste en la revisión de posiciones y conceptos respecto al sujeto posmoderno o sea lo qué eso significa, actor principal de esa nueva identidad, alguien cuya vida se caracteriza por constantes ajustes sociales. Hall (1999), define nuestras identidades culturales como “pertenencias, culturas étnicas, raciales, lingüísticas, religiosas, y además, nacionales”. Ésos, enfin, son los elementos que actúan directamente en el sujeto, mas que así lo identifican, sirven como obstáculos que le impiden de mirar hacia el otro con la mirada de la aceptación. Todorov (1999), aborda tal tema bajo el enfoque de la alteridad y del distanciamiento, justificando, por ejemplo, el porqué de nuestra mirada diferenciadora en relación al que no habla nuestro idioma: Eu sou, tu és, todos somos Eso es más bien una reflexión que un artículo académico y todo lo que lo caracteriza tradicionalmente como tal. El tema, aunque extraño pero no totalmente desconocido de los brasileños, suscita reacciones diversas y se espera que a lo largo de este año la debida atención y el debate se intensifiquen aún más no solo en los medios académicos, pero principalmente en las CRES y escuelas públicas primarias y secundarias que es donde hay más resistencias a causa de prejuicios infundados, entre otros motivos. El asunto enfin, trata de la obligatoriedad de la inclusión del Español Lengua Extranjera en todas las escuelas públicas y privadas del territorio nacional a partir de 2010. Todos nosotros, los que trabajamos con el idioma español, sea en las universidades, sea en las escuelas, o en cursos libres, sabemos que el debate y el diálogo con las instancias educacionales bien como con el público en general, solo tiene a contribuir para la formulación de futuros rumbos para la enseñanza de ese idioma, de sus literaturas y culturas en nuestro país. Sin embargo, los prejuicios, las resistencias, los lugares comunes, las bromas de mal gusto incluso, llevan al brasileño a hacer poco caso del español. Creemos que el desconocimiento de lo que realmente significa aprender esta lengua en el momento en que Brasil se destaca en varias frentes no solo económicas sino culturales en que la educación es punto fundamental para la comprensión de lo diferente, no contribuye para la tan deseada aproximación entre países de un mismo bloque geográfico y económico. El hecho de que hablamos el portugués ya nos distingue de lo restante de América Latina del mismo modo como nos distancia de nuestros vecinos de habla española. Si por un lado tal hecho nos beneficia, por otro, colabora para que permanezcamos aislados entre nosotros reforzando los prejuicios hacia el otro. Buscamos en nosotros mismos, los medios y las soluciones para problemas que son comunes al territorio latinoamericano, pero, insistimos en ignorar o apenas hechamos una mirada a este otro que no habla nuestro idioma, y que nos está tan próximo y tan prójimo, no obstante, al mismo tiempo lejano de nosotros. A ejemplo de los Estados Unidos, aunque no tan destacado, tratamos a un uruguayo, a un argentino, a un chileno, etc., del mismo modo como ellos tratan a los Quero falar da descoberta que o eu faz do outro. (...). Podem-se descobrir os outros em si mesmo, e perceber que não se é uma substância homogênea, e radicalmente diferente de tudo o que não é si mesmo: eu é um outro. Mas cada um dos outros é um eu também, também, sujeito como eu. (...) Posso conceber os outros como uma abstração, como uma instância de configuração psíquica de todo indivíduo como o Outro, outro ou outrem em relação a mim. Ou então, como um grupo social concreto ao qual nós não pertencemos. (...) Ou pode ser exterior a ela, uma outra sociedade que, dependendo do caso, será próxima ou longínqua: seres que em tudo se aproximam de nós, no plano cultural, moral e histórico, ou desconhecidos, estrangeiros cuja língua e costumes não compreendo, tão estrangeiro que chego a hesitar em reconhecer que pertencemos a uma mesma espécie. (p. 3-4). Queremos creer que los motivos que llevan al brasileño decir que no necesita aprender el español porque se lleva muy bien con el “portuñol”, sean éstos de tono sociológico presentados por Todorov (1999). Porque si no, es una gran decepción darnos cuenta que somos resistentes a lo diferente. No obstante, el idioma de Cervantes es una de las lenguas extranjeras más buscadas por los estudiantes brasileños, a la hora de inscribirse para el vestibular, por ejemplo. Es imprescindible, por lo tanto, un análisis del verdadero lugar de este idioma en el ámbito pedagógico y cultural de nuestro país. 22 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 22 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 Desde la constitución del Mercado Común Nacional desde 1994, y que entraba y salía del Sur (Mercosur), y del cual, de los cajones conforme los Brasil representa nada menos intereses políticos y económicos, El idioma de Cervantes finalmente, la Cámara de los que uno 70% del PIB de la región, e s u n a d e l a s Diputados, el 07 de julio de 2005 la preocupación de los países miembros, además de tratar lenguas extranjeras aprueba dicho proyecto bajo el de comercios entre ellos, fue más buscadas por número 3.987/00 de autoría del también la de definir que tanto l o s e s t u d i a n t e s diputado Àtila Lira (PSDB-PI). el Portugués cuanto el Español brasileños, a la hora Según el Ministro de Educación serían las lenguas oficiales del de inscribirse para el en Brasil, en la época, Tarso Mercosur. Y, si recién ahora, vestibular, por ejemplo. Genro, afirmó que como desde 2005 en delante, hay A aprovação pela Câmara do projeto de una mayor potencialización de la lei, tornando obrigatório o ensino do espanhol nas escolas formación de profesores de Español, Lengua de ensino médio de todo o país, reforça o projeto das esExtranjera, E/LE, 1 lo mismo no se puede decir colas bilíngues que estão sendo implantadas nos estados en relación a los países miembros del bloque, que fazem fronteira com países de língua espanhola2. ya que, por ejemplo, en Uruguay, Argentina y Paraguay, se forman profesores del Portugués Aseguró aún el señor ministro, que la Lengua Extranjera en los cursos de licenciatura deuda que Brasil tenía con España podría desde 1992. Entonces, a partir de este dato, ser revertida en inversiones educacionales en vemos lo ignorado que fue el español en Brasil Brasil, lo que de hecho está siendo cumplido por hasta los últimos años. Pero, por la presencia el gobierno español tanto en la parte editorial de la Consejería de Educación y Ciencia de la cuanto en la parte de orientaciones didácticosEmbajada de España en Brasilia, por el Colegio pedagógicos por responsabilidad de los Miguel de Cervantes, en São Paulo, por la órganos educacionales españoles. Además de Asociación Colegio Español de São Paulo, la posición del ministro, el entonces. Secretário por la Cámara Oficial Española de Comercio de Educação Básica do MEC, señor Francisco en Brasil, por las asociaciones de profesores das Chagas Fernandes, afirmó lo siguiente: de español en todo nuestro territorio, y hay una A medida vai contribuir para estreitar os laços por lo menos en cada capital brasileña, por la culturais do Brasil com os demais países da América Oficina DELE de la Dirección Académica del Latina, o que já é uma orientação do governo federal. Instituto Cervantes y por el Instituto Cervantes Existe uma tendência mundial em busca da integraen São Paulo, además de las universidades ção econômica, onde o domínio da língua oficial dos países com os quais nos relacionamos é importante3. que deseaban abrir sus Licenciaturas de Letras – Español y sus Respectivas Literaturas, bien Con la finalidad de apoyar los estados en como por una publicación titulada Datos y cifras. Informe sobre la enseñanza del español el cumplimiento de esa exigencia legal, MEC en Brasil (1998), elaborada por la Consejería de está preparando un plan de acción para los Educación y Ciencia de la Embajada de España sistemas de enseñanza, según la directora de en Brasilia, el español pasó a ser enseñado Políticas de Ensino Médio, Lucia Lodi4: en mayor grado en nuestro país con un tanto As ações prevêem produção de material didático de retraso y en número aún reducido para la para professores e alunos, aquisição de obras em demanda que ahora se presenta. Sin embargo, espanhol para as bibliotecas escolares e a ampliação a lo largo de los años, las licenciaturas plenas, de vagas em licenciatura em letras/espanhol nas universidades federais, principalmente no período noturno. y porque varias escuelas tanto a nivel privado como públicas en Brasil ya tenían en sus Pero, estudios más avanzados respecto programas clases de castellano, y después que el proyecto que tramitaba en el Congreso a la presencia del español en Brasil, nos 1 2 3 4 De aquí en delante se usará esta sigla, E/LE, para referirse al Español Lengua Extranjera, puesto que es así que el idioma es tratado en las universidades brasileñas y escuelas siguiendo la regla de la Real Academia Española y del Ministerio de Educación y Cultura del Reino de España. Portal MEC – Alexandre Costa – 8.7.2005. Idem, ibidem. Idem, ibidem. 23 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 23 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 este aporte. Puesto que la LDB no especifica qué idiomas deben figurar en el currículo, la tendencia general es seguir ofreciendo inglés y comenzar a enseñar español. Ahora bien, pasa que en cuanto a la ley 11.161/05, la argumentación por parte de los Tratado de Tordesillas (Hernádez Sánchez-Barba, directores, coordinadores didácticos pedagógicos 1992: 21 69); a las décadas en que Brasil perteneció a la y profesores de escuelas públicas, es que Corona Española (1580-1640), unida a la de Portugal en no hay ni material ni profesores adecuados. tiempos de Felipe II (Buarque de Holanda, 1936:68-69). Notadamente ésta es una de las disculpas que no tiene más sentido ya que También es justo afirmar el sector editorial fortaleció los que las relaciones entre Brasil y Puesto que la LDB lazos entre España y Brasil y por España se intensificaron a partir no especifica qué ahora las importaciones de libros del movimiento inmigratorio de idiomas deben figurar españoles alcanzaron una cuota los últimos cien años. Las crisis en el currículo, la de mercado de un 22%, eso que económicas desde mediados las cifras corresponden al año de del siglo XIX padecidas en las tendencia general 2005. Pero Moreno Fernández5 regiones menos industrializadas, es seguir ofreciendo inglés y comenzar a comenta de manera realista, más tales como Galicia y Andalucía bien en tono casi de denuncia, enseñar español. aportaron aquí con mano de obra lo que de hecho ocurre en el barata que vino a sustituir en mercado editorial brasileño en Brasil la población esclava en los relación al español: cafetales. “Actualmente, el número de españoles censados en los consulados de España en todo Sin embargo, precisamente por lo llamativo de este Brasil supera la cifra de 120.000”. (Consulado éxito, sorprende que sigan existiendo los problemas de General de España en São Paulo). información y distribución que han caracterizado históricamente la situación del libro iberoamericano en general. Según Francisco Moreno Fernández, Los libros españoles más utilizados en la enseñanza de la (Instituto Cervantes, Chicago, EUA), (2005), lengua (español como lengua extranjera, manuales univerla situación actual el español es de auge y sitarios, obras de referencia), son caros y no se encuentran prestigio de un modo general, a causa de tres con facilidad: los precios pueden fácilmente cuadruplicar factores: el Mercosur que potencia futuramente, los de España para el mismo producto; y algo similar ocurre con los libros de otros países hispanohablantes. incluso, una única moneda para los países miembros; la creación de grandes empresas de Por otro lado, la formación de profesores de origen español y el peso de la cultura hispánica reflejado en las músicas y en las literaturas español a cada año que pasa y principalmente después de la firma de la Ley por el Presidente hispánicas. La LDB en vigor, (9.394/96), prevé la de la República, Luis Inácio Lula da Silva, ha enseñanza de lenguas extranjeras de forma aumento día tras día. De tal modo que en todo obligatoria para el nivel de Primaria y para el territorio nacional se puede afirmar que más de nivel Secundario establece que “será incluida 30 universidades públicas y 24 privadas (cifras una lengua extranjera moderna, como disciplina de 2005), ofrecen la licenciatura de 4 años de obligatoria, escogida por la comunidad escolar, Lengua Española como E/LE, y algunas la tiene y una segunda lengua, con carácter optativo, como licenciatura doble, o sea, Portugués/ dentro de las posibilidades de la institución” (art. Español, lo que a mi ver, no es lo ideal puesto 36,III). Por lo que afirma Moreno Fernández, que las carencias de profundizar estudios las lenguas extranjeras más estudiadas como en ambos idiomas se agudiza dado el poco obligatorias son el inglés y el francés dada tiempo disponible para tanto, y siendo que en la inercia de cambios hacia el español. Sin general, se prioriza en una licenciatura doble, embargo, aún de acuerdo con este autor, el mucho más la lengua materna (LM) tanto en francés está perdiendo su vez para dar lugar al el área de la Lingüística cuanto en el área de español en función de que en el Sur la proximidad las Literaturas. Por ello, MEC aconseja que con los países de habla hispánica propicia las universidades abran cursos de licenciatura remite al año 1494, dos años después de que Cristóbal Colón descubriera América (1492). Los años 1494-1495 marcó la venida de este navegador a la costa sudamericana, para asesorar los reyes de España respecto al 5 Idem, ibidem. 24 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 24 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 lindo es leer los premios Nobel de literaturas hispanoamericanas en su idioma original. Basta recordar Gabriel García Márquez, Pablo Neruda, Gabriela Mistral, entre tantos. Brasil, infelizmente, no tiene ninguno. 7a. Turismo: viajes hacia España o Hispanoamérica – el conocimiento razonable del español hace una gran diferencia a la hora de viajar a uno de los países de habla hispánica. Jamás, según Seydicias (2005), pensar que con el portuñol damos cuenta de la comunicación entre culturas distintas, sí, porque lengua y cultura son indisociables, una no pervive sin la otra. De esta forma, “el maestro no tiene ropa y necesita un saco nuevo para ir a la fiesta”, si el brasileño no sabe lo qué significa, es probable que entienda algo que no tiene nada que ver con la situación descripta en la frase. 7.b.Turismo: viajes de hispanohablante a Brasil – El turismo representa una vía de doble mano. De la misma manera que el conocimiento del español enriquecerá la experiencia de un brasileño en un país de lengua española, el opuesto también es verdad, basta comprobar en el Nordeste brasileño, en las playas de Sta. Catarina y en Rio de Janeiro, solo para hablar de los más buscados por hispanoamericanos y españoles. Principalmente en Sta. Catarina, para atender a las necesidades del los turistas hispanohablantes, Florianópolis cuenta con profesionales debidamente entrenados y con dominio de lengua extranjera, principalmente el español. Por ello se le atribuye gran importancia al aprendizaje de este idioma. Los cursos de lengua reciben cada vez más, la gente que trabaja en el área del turismo, como recepcionistas de hoteles, bares, restaurantes, aeropuertos, mozos, cajeros, telefonistas, taxistas, conductores de colectivos, guías de turismo, agentes de viajes, entre otros más. 8. La importancia en los EUA.: Parece increíble, pero desde el primer gobierno Clinton en la década de los 90, hay una búsqueda por más votantes inmigrantes hispanohablantes. Por ello, Se creó un proyecto de ley más o menos semejante al de Brasil que todavía no se transformó en ley a causa de los mismos desintereses que aquí existían/existen, a ver lo que va a ocurrir ahora en el gobierno Obama. Además, el mayor mercado del mundo, aproximadamente13/% (datos de simple de 4 años incluyendo, como en los demás cursos, la realización de una monografía en una de estas dos áreas. Además, los cursos de posgrado crecen con la posibilidad de defender tesinas o tesis doctorales sobre ”temas de Lengua Española o Literatura Española o Hispanoamericana”6. En su libro, “O ensino do español no Brasil. Passado, presente e futuro” (2005), el Professor João Seydicias da UFPE, justifica con diez razones el por qué de que los brasileños deben aprender español, sin que con eso se desconozca el lugar privilegiado del inglés como primera lengua extranjera como herramienta de la comunicación internacional en el comercio, economía y mercados. Pero, afirma categóricamente que el español está en segundo lugar en esos ámbitos, hecho que realmente se comprueba por las diez razones ahora presentadas en este artículo. Veámoslas entonces: 1. Lengua mundial – el Español es la segunda lengua más hablada en el mundo. Más de 332 millones de personas la hablan como primera lengua. Hay más hablantes de español como lengua nativa que el inglés que cuenta apenas con 322 millones de hablantes nativos. 2, Es la lengua oficial de 21 países. 3, Tiene importancia internacional – como vehículo de comunicación es la segunda lengua en el ámbito del comercio internacional y la tercera en la política, diplomacia, economía y cultura, después del inglés y francés. 4. Muy popular como segunda lengua - en los EUA y Canadá el español es la lengua extranjera más popular, más enseñada en las universidades y en las escuelas primarias y secundarias. 5. El Mercosur – el Español es la lengua oficial de todos los países del bloque a parte de Brasil. Si queremos comprar algo de ellos, podremos ciertamente usar el portugués, pero si queremos que ellos compren nuestros productos tendremos que hablar su lengua 6. Es la lengua de nuestros vecinos – Todos los países que hacen frontera con Brasil, a excepción de las Guianas y Suriname, tienen el castellano como lengua oficial y eso es tan importante tanto del punto de vista económico como cultural, afinal de cuentas, somos todos latinoamericanos, nos guste o no. Además, qué 6 Idem, ibidem. 25 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 25 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 temas más variados, profundos y refinados del sentimien2005) de la población norteamericana es to humano. Del lado de acá del Atlántico, tenemos los hablante de español como primera lengua. Y inolvidables boleros cubanos y mejicanos que nos hacen tal cifra representa un mercado gigantesco de soñar. ¿Qué otro idioma, si no el español, podría decir “yo consumidores y con un poder aquisitivo de más te amo” de esta forma?: “Mujer, si puedes tú con Dios hablar, pregúntale si yo alguna vez te he dejado de adorar.7 de 220 billones de dólares. Así que, si Brasil quiere participar de este enorme mercado, con Hasta aquí he relatado, informado y circulación de productos brasileños, tendrá analizado algunas de las causas de la que tener no solo el conocimiento del inglés importancia del castellano para Brasil. sino también del español. En el cuarto párrafo de este artículo, me 9. El portugués y el español son lenguas hermanas: por el hecho de que ambas referí a los prejuicios, a los lugares comunes, a provienen directamente del latín vulgar, las bromas de mal gusto y eso no se encuentra entre las dos hay mucho más proximidades comprobado a través de documentos y libros, y semejanzas que diferencias. En realidad, sino por medio de la convivencia que tengo según Seydicias (2005), es más fácil un con el español por el hecho de que enseño brasileño aprender español correctamente este idioma por lo mínimo 15 años, y abarca que un hablante del castellano aprender el prácticamente todas las regiones del Estado de portugués. Eso, en parte se debe al hecho de RS, además, porque acompaño regularmente que el portugués tiene más sonidos vocálicos la situación del castellano en Brasil, puedo con toda seguridad referirme con tal términos en (12) que el español (5) y este artículo. además en nuestro idioma, Uno de los motivos que se eliminaron algunos Uno de los motivos que llevan al brasileño resistir sonidos que todavía llevan al brasileño resistir al al aprendizaje del español permanecen en el español, y aprendizaje del español es es algo tan banal que uno tal cosa ocurre porque hubo algo tan banal que uno no no cree que tal cosa sea una “evolución” lingüística, cree que tal cosa sea posible posible en un país como aún según Seydicias (2005). en un país como el nuestro. el nuestro. Me refiero al Particularmente, no la veo los embates deportivos como una evolución, sino entre, por ejemplo Brasil y bien más como un cambio, una transformación a lo largo de los siglos, Argentina. Pues imagínense que a la hora puesto que toda lengua viva es algo pasible de eligir un idioma el aprendiz va a buscar el de mudanzas a causas variadas sean inglés a causa de que, as veces Brasil pierde de origen políticos, sociales, climáticos, para Argentina. O sea, rivalidades deportivas interfieren a la hora del aprendizaje de una económicos etc. 10. El último motivo listado por Seydicias LE (Lengua Extranjera). Otro motivo es peor, (2005) nos lleva al campo de la sentimentalidad aún: se estudia inglés, no solo por reconocer que es el idioma de la comunicación casi y la sensibilidad humanas. 10. La belleza y el romance: Bueno si nada universal, sino, ¡pasmen! porque también más logró convencer a alguien a estudiar le confiere algún tipo de status social. Se español por las causas anteriores, que sea sabe que una gran mayoría de los gauchos entonces para aprender con la finalidad de cursaron alguna escuela de idiomas muy escuchar y quizás, cantar las músicas y de leer buenas; llevaron años estudiando inglés y no su vasta y excepcional literatura. De acuerdo saben comunicarse oralmente en ese idioma. Otro motivo, y hasta parece una broma, pero, con este autor: pasa que nos toca la suerte de que somos Aunque no haya pruebas concretas, todos sabemos gauchos. ¿Segregacionistas? İNoooo…!en que el español hace bien al alma y al corazón, principalbuen portugués, yo diría, “bairrista”. Sin mente aquéllos que están apasionados. El español es embargo, antes de todo, latinoamericanos, una de las lenguas más lindas, melodiosas y románticas sí. ¿Raro, no? Y algunos, menos informados que el mundo tuvo la felicidad de escuchar. Además de las cualidades intrínsecas obvias, tenemos a nuestra nos dirían: “espere aí: latino-americano é o disposición, en castellano, una vasta y maravillosa literaargentino (Arghs…!), do Uruguai, (Que país tura – las obras del siglo de oro – por ejemplo, sobre los é este?), do Paraguai (Os muambeiros), 7 Idem, ibdem. 26 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 26 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 etc.” Pues, fíjense ustedes que las cosas persona perspicaz, habilidosa, tiene el mismo no son lo que hemos construido en nuestro sentido en portugués; alambrado, extender el imaginario ficcional mediático. Yo soy, tú eres, hilo de acero en los campos para delimitar un nosotros somos, todos, latino-americanos. área de tierra – aquí lo usamos con la misma Puesto que en América Latina se hablan finalidad. Del otro lado del Atlántico, a partir dos idiomas derivados directamente del latín de 1492, vino junto con el bagaje cultural vulgar como bien afirmó Seydicias el español de los españoles, palabras como azúcar, y el portugués, a parte de que tenemos otros almohada (almofada), alcohol, los números provenientes del africano. arábigos, alfiler (alfinete), y una infinidad Ocurre que nos han hecho una limpieza de otras palabras puesto que la Península cerebral a lo largo de los siglos y que tal acción Ibérica, que incluía Portugal y España, tuvo fue muy eficiente, tanto que nos olvidamos que 800 años de dominación pacífica árabe, y tal existen dos Américas, la anglosajona y la de herencia lingüístico/cultural pervivió durante origen latino, aunque ambas deban existencia siglos hasta llegar hacia nosotros. a una única fecha, el 12 de octubre de 1492. La contribución cultural no generó apenas De esta forma, incorporamos por cuenta de un en nuestro favor, sino también de aquí poderío innegable y constante y en algunos para la Península, por el hecho de que los campos, benéficos, una cultura que nada indígenas de las millares de tribus dominadas tiene de latinoamericana, un idioma que ni lo y diezmadas por los españoles, pasaron a la aprendemos correcta y completamente y que cultura peninsular, palabras y alimentos tales nos fue impuesto en los años de la dictadura como cacahuete (amendoim), canoa, patata en detrimento del español, del francés, del (batata), tabaco, maíz, o choclo, (milho) y por alemán, y del latín, que fueron desterrados ahí va el intercambio lingüístico entre ambos de las escuelas públicas continentes. y privadas de enseñanza Y, para finalizar esta Nos toca a nosotros, dar media en nuestro país. reflexión, la gran mayoría marcha al proceso de Pasa que no hay nada de los brasileños, en integración latinoamericano. de mal que aprendamos especial, nosotros, los Las fronteras existen. Algunas inglés, desde que no seamos gauchos, creemos que las aceptamos como un los que dicen “a book is on el término “español”, se destino. Otras, las creamos the table” solamente. De refiere a España, solamente al sabor de modismos mi parte, confieso que me y que el “castellano”, a los y desconocimientos he dedicado a aprender el argentinos, y aún más, que generan prejuicios. idioma de Shakespeare, no categóricamente afirmamos he alcanzado un éxito todavía, que el correcto es el español pero, despacito sigo… y el castellano es o bien Hay una infinidad de presuntos motivos un dialecto o bien que está ¡errado! Puesto para no incorporar el español en las escuelas así, entonces, ¿qué referencia lingüística brasileñas. El hecho de que los brasileños daríamos a los colombianos, a los chilenos creemos que seamos los mejores, “los tales”, a los costarricenses, a los mejicanos, a los nos sintamos muy presumidos, y que hemos cubanos, a los paraguayos, a los peruanos, vivido siempre de espaldas a los demás a los puertorriqueños, a los uruguayos, etc.? países de este lado sur del mundo, “la cruz Pasa que tanto el español y el castellano son del sur” como diría Borges, bueno, a pesar de palabras sinónimas justo porque el castellano todo, en que pese la Ley Federal 11.161/05, proviene de la comunidad autónoma de ésta ha de ser puesta en práctica más día Castilla, el territorio de la Reina Isabel de menos día. A título de ejemplo, ya tenemos Castilla, que financió el viaje de Cristóbal Colón en nuestro vocabulario, no el de los centros hacia América. En cuanto al término, español, de tradición, sino al cotidiano lenguaje que su origen es más antiguo y significaba “tierra nosotros usamos sin darnos cuenta, por de conejos” nombrada así por los romanos ejemplo, términos como tche que en español, en tiempo del Gran Imperio Romano en la che, significa amigo, usada como interjección, Península, desde entonces, sobrevivió el más bien para llamar la atención de alguien; su nombre Hispania proveniente del latín vulgar origen es de los indios araucanos; canchero, impuesto a los innúmeros pueblos que allá 27 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 27 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 vivían. Así que, son términos que significan y se refieren a la misma cosa, o sea, a un mismo origen. Dudas, que las hay, las hay, resistencias por parte de otros grupos de profesores de francés, de inglés, de alemán, por ejemplo, y muy justo las encuentro; ¡ojalá volviéramos a tener en todo territorio nacional, la enseñanza de estos idiomas como regulares en las escuelas como era hasta 1964, juntamente con el castellano! El debate está puesto y vale recordar que con accesar el sitio de MEC ya tenemos una idea de que todavía hay mucho por hacer en favor de esta lengua, sino, más que tengamos todas las informaciones posibles. Por fin, nos toca a nosotros, dar marcha al proceso de integración latinoamericano. Las fronteras existen. Algunas las aceptamos como un destino. Otras, las creamos al sabor de modismos y desconocimientos que generan prejuicios. Sin embargo, fronteras existen para que sean transpuestas. passado, presente, futuro. São Paulo: Parábola Editorial, 2005, p. 14-34. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução: Tomaz Tadeu da Silva. Guaracira Lopes Louro. 3. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 1999. SEYDICIAS, João (Org.). O Ensino do Espanhol no Brasil: passado, presente, futuro. São Paulo: Parábola Editorial, 2005. TODOROV, Tzvetan. A conquista da América. A questão do outro. Tradução: Beatriz Perrone Moisés. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. Portal MEC. (2009) Câmara aprova projeto que obriga o ensino do espanhol nas escolas <http://portal.mec.gov.br/index. php?option=com_content&view=article&id=3 522&catid=211.>, abril. Portal Presidência da República. (2009). Presidente da República fala sobre o ensino da língua espanhola. <http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11161. htm>, abril. Referências FERNÁNDEZ, Francisco Moreno. El español en Brasil. In: SEDYCIAS, João (Org.). O Ensino do Espanhol no Brasil: 28 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 28 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 Artigo Científico: estrutura, forma e estilo Scientific Article: structure, form and style “os limites da minha linguagem denotam os limites do meu mundo” (Wittgenstein) Maria Cristina dos Santos Martins1 Resumo: O presente trabalho apresenta os principais cuidados para elaboração de artigos científicos, especialmente no que se refere à estrutura, forma e estilo. Este estudo surgiu da necessidade de discutir entre o corpo docente da Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre – FDB, no Seminário Pedagógico de 2008, algumas diretrizes sobre este tema. Estas devem ser entendidas aqui como um modelo didático e circunstancial. Didático porque é uma resposta a solicitações de alunos de graduação e do corpo docente da Instituição no sentido de terem um modelo referencial. Circunstancial porque se acredita que, muito em breve, a prática do corpo docente da Faculdade irá suscitar novos modelos. Neste estudo foi utilizada a NBR 6022 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) que estabelece um sistema para apresentação de um artigo. Palavras-chave: Artigo científico, Norma da ABNT, Estruturação, Redação. Abstract: This paper presents the main care for development of scientific articles, especially with regard to structure, form and style. This study arose from a need for discussion between the faculty of the Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre - FDB, at the Pedagogical Seminary in 2008, some guidelines on this subject. These should be understood here as a teaching and circumstantial model. Teaching because it is a response to requests from graduation students and faculty of the institution in having a reference model. Circumstantial, because it is believed that very soon, the practice of the faculty of the School will lead to new models. This study used the NBR 6022 Brazilian Association of Technical Standards (ABNT) establishing a system for submitting an article. Key-words: Scientific article, The ABNT standard, Structuring, Writing. Introdução A publicação de artigos é uma das atividades desenvolvidas pelos pesquisadores e deve satisfazer o conceito que a comunidade científica possui de seu trabalho e da própria ciência. Sabe-se que algumas características são comuns a todas as áreas e devem, consequentemente, estar presentes nas publicações publicações científicas, entre elas, a lógica, a clareza, a precisão. Um artigo científico é um relatório escrito e publicado descrevendo resultados originais de pesquisa, cuja forma atual tem sido definida por séculos de tradição e de construção 1 de uma ética e de uma estética específicas, de práticas editoriais diversas e de uma forte interação entre procedimentos de impressão e publicação. O resultado deste processo é que praticamente todo artigo científico tem um título (title), resumo (abstract), introdução, parte experimental, resultados e discussão. O artigo tem como objetivo fundamental ser um meio rápido e sucinto de divulgar e de tornar conhecidos, através de sua publicação em periódicos especializados, a dúvida investigada; o referencial teórico utilizado (as teorias que serviram de base para orientar a pesquisa); a metodologia empregada; os resultados Professora-pesquisadora da Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre, da Faculdade Senac de Porto Alegre e Ftec de Novo Hamburgo,RS. Mestre em Linguística Aplicada e Especialista em Linguística do Texto. E-mail: [email protected] 29 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 29 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 alcançados e as principais dificuldades no processo de investigação ou na análise de uma questão. Assim, os problemas abordados nos artigos podem ser os mais diversos: podem fazer parte de questões que historicamente são polemizadas, ou de problemas teóricos ou práticos novos. Contudo, a ordem das seções apresentadas acima pode ser distinta em diferentes revistas. Portanto, o pesquisador deve estar preparado para revisar e reformatar seu artigo no formato adequado à revista escolhida quando estiver pronto para submetê-lo à publicação. Neste sentido, o presente estudo tem por objetivo apresentar aos interessados na elaboração de artigos científicos alguns conceitos e orientações, dispersos na literatura acerca de sua elaboração, bem como enriquecer aspectos sobre sua finalidade, sua redação, organização, ordenação, exposição metódica de informações científicas, bem como suas principais características. Por tudo isso, entende-se que este é um texto muito mais didático que pretende colaborar minimizando as diversas dúvidas de muitos pesquisadores sobre a elaboração e organização deste tipo de publicação. o artigo, são elas: • Artigo científico: parte de uma publicação com autoria declarada, que apresenta e discute ideias, métodos, técnicas, processos e resultados nas diversas áreas do conhecimento. • Artigo de revisão: parte de uma publicação que resume, analisa e discute informações já publicadas. • Artigo original: parte de uma publicação que apresenta temas ou abordagens originais. Cabe salientar que tem sido comum, no meio acadêmico, a solicitação de artigos que não necessariamente tratem de comunicações de resultados de pesquisas, mas textos com rigor científico que procedem à revisão de literatura disponível em uma temática. Tais textos devem seguir as orientações normativas dos trabalhos acadêmicos, observando-se em especial a NBR 6022/2003 que trata da apresentação de artigo em publicação periódica científica impressa. Para Azevedo (1997, p. 78), “A publicação de artigos é peça-chave no intercâmbio científico, no progresso do conhecimento”. O autor ainda destaca que a estrutura de um artigo varia dependendo da tradição do campo de conhecimento em que se insere, lembrando 1. Conceituação e características Elaborar um artigo científico é, num sen- sempre da estrutura cabível em textos de tido genérico, contribuir para o avanço do qualquer natureza: introdução (15% a 20% do conhecimento e para o progresso da ciência. texto), desenvolvimento (70% da extensão) e No início, a produção tende a aproveitar, em conclusão (10% a 15% da extensão). Ainda, conforme o autor, em geral, os argrande medida, os saberes e conhecimentos de outros autores, ficando o texto final com tigos científicos objetivam publicar e divulgar um percentual elevado de ideias extraídas os resultados de estudos, de: • originais: quando aprede várias fontes (que devem sentam abordagens ou asser obrigatoriamente citadas). suntos inéditos; utilizados Com o exercício contínuo da Chama-se de artigo para o relatório de experiênpesquisa e da investigação científico aquele texto cia de pesquisa, estudo de científica, consolida-se a auque tem como objetivo caso, etc; toria, a criatividade e a origicomunicar resultados • revisão: quando apresennalidade, bem como a síntese de pesquisas, publicado tam um estudo aprofundado de novos saberes. em revistas especializasobre determinado tema com O artigo pode ser definido das em uma área espeo propósito de estabelecer como a discussão de uma cífica do conhecimento. um debate entre os autores ideia de forma resumida de pesquisados e deles com o um assunto mais amplo. Chama-se de artigo científico aquele texto que tem autor do artigo, para a identificação das ideias, como objetivo comunicar resultados de pesqui- posições e posturas acadêmicas, bem como sas, publicado em revistas especializadas em o estado da arte, marco teórico ou quadro teórico, principalmente por meio de publicauma área específica do conhecimento. De acordo com a ABNT (NBR 6022, 2003, ções periódicas científicas e especializadas, p. 02), três definições são apresentadas para objetivando identificar o grau de profundidade 30 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 30 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 dos estudos desenvolvidos até mesmo sobre apoio das próprias ideias em fontes reconheo assunto. cidamente aceitas” (p.44). Contudo, tem se observado, muitas veQuanto às características, a mais imporzes, a utilização de ambas as situações na tante de qualquer artigo, independentemente elaboração dos artigos, onde são incluídas do número e do nome das seções, é sua informações inéditas, tais como resultados lógica interna. Essa lógica deve presidir desde pesquisa, juntamente com uma funda- de a escolha do título e a apresentação do mentação teórica baseada em conhecimentos problema até a discussão dos resultados. As publicados anteriormente por outros ou pelo seções devem articular-se de forma coerente mesmo autor. e com vistas a um objetivo bem determinado. Na maioria dos casos, dependendo da área Nada deve aparecer gratuitamente, mas nada do conhecimento e da natureza do estudo, en- deve faltar. contram-se artigos priorizando a divulgação de: 1.1 Estrutura do artigo • procedimentos e resultados de uma pesNo artigo científico, o conhecimento e o quia científica (de campo); domínio pelo autor da estrutura básica pa• abordagem bibliográfica e pessoal sobre drão são importantes para a elaboração do um tema; trabalho. • relato de caso ou experiência (profissioQuanto à estrutura, a NBR 6022/2003 indica nal, comunitária, educacional, etc.) pessoal e/ e elenca a presença de elementos pré-textuais, ou grupal com fundamentação bibliográfica; textuais e pós-textuais. Os elementos pré-tex• revisão bibliográfica de um tema, que tuais são constituídos de (a) título e subtítulo pode ser mais superficial ou bem aprofundada, (se houver); (b) autoria; (c) resumo na língua também conhecida como review. do texto; (d) palavras-chave na língua do texto. É importante considerar que essas abor- Os elementos textuais constituem-se de (a) dagens não se excluem, pelo contrário, são introdução; (b) desenvolvimento; (c) conclusão. amplamente flexíveis, assim como a própria Os elementos pós-textuais são constituídos ciência, podendo na elaboração do artigo de (a) título, e subtítulo (se houver) em língua científico serem utilizadas de forma conjugada, estrangeira; (b) resumo em língua estrangeira; desde que resguardadas as preocupações (c) palavras-chave em língua estrangeira; (d) relativas à cientificidade dos resultados, ideias, notas explicativas; (e) referências; (g) glossário; abordagens e teorias, acerca dos mais dife- (h) apêndice(s); (i) anexo(s). rentes temas que caracterizam o pensamento A organização deste tipo de texto científico científico. obedece a dois grandes paradigmas, de acorUm dos recursos amplamente utilizados do com a área em que o estudo se insere: atualmente em artigos de periódicos, principalmente nas ciências humanas e sociais, a) o primeiro, voltado para as Ciências é, sem dúvida, o “relato de experiência”. Ele Humanas e Sociais, é reconhecido pela sigla enriquece a fundamentação teórica do texto IDC (que significa Introdução; Desenvolvimencom a própria vivência profissional ou pessoal to – revisão da literatura e resultados obtidos; do autor, sem a formalidade de Conclusão); enquadrar o conteúdo numa metodologia de estudo de b) o segundo, utilizado nas Quanto às característicaso, que tornaria o trabalho Ciências Naturais, Exatas, cas, a mais importante de bem mais oneroso. O relato Tecnológicas e da Saúde, qualquer artigo, independe experiência é a descrição, representado pela sigla IRden-temente do número de maneira mais informal, e MRDC (que significa Introe do nome das seções, sem o rigor exigido na apredução; RMRD – revisão da é sua lógica interna. sentação de resultados de literatura, materiais e métodos, pesquisa, que se incorpora no resultados, discussão; Contexto e dá, muitas vezes, mais clusão). vida e significado para leitura do que se fosse apenas um texto analítico. Independente do Nos dois casos, são descritos todos os protipo ou objetivo, Medeiros (1997) afirma que cedimentos de realização da pesquisa, como a elaboração de “um artigo científico exige o esclarecimento dos questionamentos sobre 31 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 31 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 os resultados encontrados até o momento e sua demonstração no artigo científico, considerando o rigor dos aspectos metodológicos envolvidos. Para a estruturação de um artigo, Azevedo (1997, p. 78) indica a seguinte estrutura: A) Título (title) Descreve de forma lógica, rigorosa, breve e gramaticalmente correta a essência do artigo. Ele deve ser motivo de preocupação, uma vez que será lido por muitas pessoas, seja no artigo de jornal, seja em revisões de literatura, etc. Poucas podem ser as pessoas que lerão o artigo, mas muitas lerão o título. Por isso, ele deve ser estratégico, elaborado após o autor já ter avançado em boa parte da redação final, estando com bastante segurança sobre a abordagem e o direcionamento que deu ao tema. Deve ser uma composição de originalidade e coerência, que certamente provocará o interesse pela leitura. Não há um tamanho mínimo, desde que consiga expressar adequadamente o assunto, mas não deve ser muito longo. A maioria dos periódicos limita o número de palavras ou de caracteres (estabelecem o mínimo de 8 e o máximo de 12 palavras). Deve compreender os conceitos-chave que o tema encerra, e ser numerado para indicar, em nota de rodapé, a finalidade do mesmo. É importante que sejam omitidas todas as palavras desnecessárias do tipo: “Um estudo de...”; “Investigações de...”; “Observações em...”; etc. Um artigo cujo título foi escolhido de forma inadequada corre o risco de nunca atingir o público ao qual foi destinado; portanto, o pesquisador deve ser o mais preciso e específico possível. Se o estudo é sobre uma espécie particular ou um determinado composto químico, especifique-a(o) no título. Se o estudo foi limitado a uma determinada região ou sistema, e as inferências (conclusões) que o artigo contém são igualmente limitadas, então explicite o nome da região ou sistema no título do artigo. Quanto ao subtítulo, ele é opcional e deve complementar o título com informações relevantes, necessárias; por isso, aparecerá somente quando for para melhorar a compreensão do tema. a) INTRODUÇÃO: onde é estabelecida a delimitação do tema, os problemas de que trata e os objetivos desejados. b) REVISÃO DE LITERATURA: onde é indicado o estágio da investigação do problema a partir da bibliografia disponível. c) MATERIAIS E MÉTODOS: onde são apresentadas as técnicas de coleta de dados, os instrumentos de análise, os materiais e equipamentos utilizados. d) RESULTADOS: onde são oferecidos os resultados da pesquisa ou as análises do autor acerca do referencial teórico. e) DISCUSSÃO: onde são comentados os resultados da pesquisa. f) CONCLUSÕES: onde são indicadas, de modo sintético, as descobertas do autor a partir dos dados apresentados anteriormente. Resumindo, cada um dos elementos vistos (pré-textual, textual e pós-textual), e seus respectivos componentes, é imprescindível na composição do artigo, apresentando informações e dados fundamentais para a compreensão do trabalho como um todo, sendo muito importante não omiti-los. Passa-se, então, a analisar cada um dos componentes citados. 1.1.1 Componentes de um artigo científico Neste item são descritos os diversos componentes de um artigo científico, apresentados segundo a ordem pela qual o leitor os encontra. É importante lembrar que esta ordem não corresponde, de modo nenhum, à sequência pela qual eles são escritos. Na prática, com efeito, as conclusões, a introdução e o resumo são geralmente os últimos a serem produzidos, e o título sofre muitas alterações radicais de última hora. B) Autor(es) O nome do autor (ou autores) deve ser acompanhado de um breve currículo que o(s) qualifique na área do conhecimento. O currículo, bem como o endereço postal ou eletrônico, deve aparecer em rodapé na página de abertura. Quando há mais de um autor, normalmente o primeiro nome é do autor principal, ou 1º autor, sendo sempre citado à frente dos demais. 32 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 32 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 C) Epígrafe É um elemento facultativo, que expressa um pensamento referente ao conteúdo central do artigo. todos, resultados e conclusões. Já o abstract é o resumo traduzido para o inglês, sendo que alguns periódicos aceitam a tradução em outra língua. D) Resumo e Abstract É a apresentação concisa dos pontos relevantes de um texto. Uma versão em miniatura do artigo. O resumo deve ser colocado precedendo o texto na língua original. Ele é a ponte entre o título e o conteúdo completo do artigo, apresentando o essencial. Um resumo bem preparado permite identificar o conteúdo básico de um documento de forma rápida e precisa, para determinar sua relevância e decidir se há interesse em ler integralmente o documento. Sua redação deve ser feita em espaçamento simples e sua extensão deve ficar entre 100 e 250 palavras ou 15 linhas. Além disso, deve ser redigido em linguagem clara e precisa, com frases curtas e completas. Essa limitação de palavras é praticamente um padrão entre os periódicos. Eles também devem conter, de forma concisa, a resposta às quatro questões básicas presentes em todos os artigos, ou seja: E) Palavras-chave (keywords) As palavras-chave caracterizam o domínio ou domínios em que o artigo se inscreve, é um elemento obrigatório e elas podem ser formadas por termos simples ou compostos, ou expressões características. Além disso, elas devem ser escolhidas segundo os conceitos básicos presentes no trabalho. Normalmente, são listadas no mínimo três e no máximo cinco palavras-chave. Um bom critério para escolhêlas é selecionar as que o pesquisador usaria para procurar na Web um artigo semelhante ao seu. Elas serão, ainda, separadas por ponto e também encerradas por ponto. F) Introdução Uma função importantíssima da introdução é estabelecer a significância do trabalho que está sendo apresentado no artigo: “Por que houve a necessidade e/ou interesse em conduzir este trabalho de pesquisa?”. Tendo introduzido a literatura pertinente ao assunto e demonstrado a necessidade e/ou interesse para a realização do estudo a ser apresentado no artigo, mostra-se de forma clara e precisa a área de abrangência do artigo e os objetivos do mesmo, sem usar listas (usar a prosa). Em outras palavras, é levar o leitor que “está por fora” a ficar “por dentro” do assunto. Ela fornece ao leitor o enquadramento para a leitura do artigo, e deve esclarecer: – a natureza do problema cuja resolução se descreve no artigo; – a essência do estado da arte no domínio abordado; – o objetivo do artigo e a relevância para fazer progredir o estado da arte; – a indicação dos métodos para atacar o problema, e – a descrição da forma como o artigo está estruturado. Recomenda-se que a introdução seja a última parte do trabalho a ser redigida. Ela pode terminar com a apresentação dos objetivos ou, como algumas pessoas preferem, com uma breve sentença apresentando as principais “descobertas” (contribuições) do artigo. De qualquer forma, o leitor deve ter uma ideia de onde o artigo quer chegar para ser capaz de • o que é que o autor fez – 2 a 3 frases; estabelecer os objetivos principais da pesquisa; • como o fez – se for relevante – 1 a 2 frases; descrever a metodologia empregada; • quais são os principais resultados, numericamente, se for o caso – 2 a 3 frases; sumarizar os resultados; • qual a importância e o alcance dos resultados – 2 a 3 frases; estabelecer as conclusões principais. O resumo não deve conter conclusões que não aparecem no artigo. Também não é usual incluir referências bibliográficas neste ponto do trabalho. Vale lembrar que os verbos são colocados no passado, quando se referem ao trabalho apresentado, recomenda-se o uso da terceira pessoa do singular. A conclusão é redigida no presente. O texto deve ser composto em sequência corrente de frases concisas e não em tópicos. Como é sempre acompanhado do título do artigo, o resumo não deve repetir o que está dito no título na construção da frase inicial. Para finalizar, tradicionalmente o texto é apresentado em um único parágrafo composto por frases cuja disposição corresponde às partes do texto: introdução, material e mé33 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 33 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 acompanhar o desenvolvimento do mesmo. Por fim, quanto ao estilo, deve-se usar o tempo verbal no passado para falar sobre o trabalho apresentado e no presente para citar os resultados já publicados. Vale lembrar que na redação do(s) objetivo(s) usa-se a forma infinitiva dos verbos. tos. No que se refere às tabelas (e quadros, eles não empregam dados estatísticos), devese sempre incluir um título (auto-explicativo) em todas que forem inseridas no texto e legendas para cada coluna das mesmas. O título e as legendas devem conter informações suficientes para que o leitor entenda a tabela sem ter de buscar informações no texto. Além disso, o título deve estar na parte superior dela. Quanto às figuras (fotografias, gráficos, mapas), deve-se sempre incluir uma legenda descrevendo cada figura. A legenda deve estar abaixo delas, e não se deve ficar tentando incrementar demais o artigo apresentando dados em forma de figuras que poderiam ser facilmente substituídos por uma sentença ou duas no texto. Por fim, tanto as tabelas quanto as figuras são numeradas sequencialmente em algarismos arábicos na ordem em que aparecem no texto, precedidos das palavras: Tabela, Quadro ou Figura, em letra minúscula. G) Material e métodos O objetivo principal dessa seção é fornecer detalhes suficientes de forma que uma pessoa que trabalhe na área do autor do artigo possa repetir o estudo apresentado e reproduzir os resultados. Ou seja, descreve-se, pormenorizadamente, em linguagem precisa e técnica, como o estudo foi desenvolvido, isto é, seu planejamento, a coleta de dados e a análise dos resultados. Em Material ou Casuística descreve-se claramente a seleção feita dos sujeitos observados ou que participam da experiência (pessoas, pacientes, animais). Já em métodos, relatam-se os procedimentos que operacionalizam a pesquisa proposta. A ordem usual de apresentação dos métodos é cronológica. A credibilidade do artigo dependerá em grande parte dos detalhes experimentais oferecidos nesta seção. Na introdução, o método foi citado; aqui, devem aparecer os detalhes completos. Finalmente, deve-se evitar o erro comum de misturar o conteúdo desta seção com o de Resultados. I) Discussão Aqui se discutem e não se recapitulam os resultados. Por isso, um bom teste para saber se eles estão bem estruturados é compará-los com a declaração de objetivos da introdução. Os objetivos foram alcançados? As questões propostas foram respondidas? Nesta seção se interpreta, critica, justifica e enfatiza os resultados encontrados. É a parte da argumentação. Para dar suporte às afirmações feitas neste item, refira-se aos resultados do estudo. Não estenda as conclusões além daquelas que são diretamente sustentadas pelos resultados da pesquisa. Um parágrafo curto de especulação a respeito do significado (de uma maneira geral) dos resultados do trabalho é usualmente aceitável, mas não deve ser a principal parte da seção. Para encerrar esta parte da pesquisa, finalize com um breve resumo ou conclusão que diga respeito à significância do trabalho. Como dica, vale sugerir, como possibilidade para iniciar a redação deste item, por ser mais simples, começar com a discussão relacionada ao material e aos métodos, isto é, “Por que foram escolhidos os indivíduos, os grupos e os métodos utilizados no trabalho?”. Em seguida, explique: “Este procedimento foi adequado à pesquisa proposta? Havia outras possibilidades metodológicas quanto aos indivíduos escolhidos?”. E, por fim, “Quais as vantagens e desvantagens do procedimento usado em relação a outros?”. H) Resultados Consiste no relato do registro de todas as observações ou experimentações, sem comentários, discussão ou comparação com dados anteriores. Os resultados devem vir acompanhados dos respectivos valores estatísticos, ou dos dados qualitativos. Deve ser escrito de forma objetiva, sucinta e clara, apontando sua significância e importância. Os verbos, para a descrição, também deverão estar no passado e a linguagem apresentada de forma impessoal. Os dados resultantes respondem às perguntas originadas dos objetivos e são organizadas em função deles. A apresentação simples permite ao leitor identificar, de imediato, o significado dos resultados e vislumbrar as conclusões. Embora seja a seção mais importante do relato, é geralmente a menor. Os resultados são apresentados, normalmente, em tabelas e gráficos, na mesma sequência em que foram ordenadas as informações em Material e Método, ou seja, na mesma ordem de realização dos experimen34 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 34 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 J) Conclusão N) Apêndice(s) e Anexo(s) É a parte final do artigo e contém a resposEstes elementos são opcionais. Os apênta para o problema proposto na introdução. dices são identificados por letras maiúsculas Não é uma ideia nova, é uma síntese do que consecutivas, travessão e pelos respectivos foi apresentado anteriormente. É a generali- títulos. Excepcionalmente utilizam-se letras zação dos achados e o resumo interpretativo maiúsculas dobradas, na identificação do das observações e experimentações. Por apêndice, quando esgotadas as letras do isso, entende-se que uma boa conclusão alfabeto possui: essencialidade – síntese marcante (APÊNDICE A – Avaliação numérica de...; e interpretativa dos principais argumentos APÊNDICE B – Avaliação de...). Os anexos, do estudo; brevidade – concisa, enérgica, por sua vez, também são opcionais e igualexata, firme e convincente, arrematando o mente identificados por letras maiúsculas que foi descrito; personalidade – define o consecutivas, travessão e pelos respectivos ponto de vista do autor. Ela é o fecho do títulos. Excepcionalmente utilizam-se letras estudo, mas deve abrir perspectivas para maiúsculas dobradas na sua identificação novas pesquisas. Em suma, nesta seção é (ANEXO A – Representação gráfica de... – importante: i) estabelecer as conclusões com Grupo de controle I; ANEXO B – Representaclareza, relacionando-as com as hipóteses ção gráfica de... – Grupo de controle II). enumeradas na Introdução; ii) sumarizar as evidências que suportam cada conclusão. 2. Linguagem do artigo e dicas gerais Finalmente, é necessário O autor, antes de iniciar estabelecer o significado do a redação, precisa ter assitrabalho, destacando sua milado o assunto em todas O autor, antes de iniciar a contribuição para a ciência as suas dimensões, no seu redação, precisa ter assimie para a sociedade, isto é, todo como em cada uma das lado o assunto em todas as deve-se saber “vender o suas partes, pois ela é semsuas dimensões, no seu peixe”. pre uma etapa posterior ao todo como em cada uma das processo criador de ideias. suas partes, pois ela é semComo o artigo se caracteL) Agradecimento(s) pre uma etapa posterior ao Aqui é o lugar adequado riza por ser um texto sucinto, processo criador de ideias. para expressar o reconheciexige-se: mento às pessoas que for- linguagem correta e neceram matérias-primas, precisa – são demonstradas fontes, equipamentos, material de cultura, numa redação científica, quando as ideias etc. Além disso, não devem ser esquecidos apresentadas pelo autor não deixam dúvida; os órgãos que apoiaram financeiramente a - coerência na argumentação – a redação pesquisa. deve obedecer a uma ordem lógica; - clareza na exposição das ideias – deve-se M) Referências evitar o excesso, o verbalismo, a prolixidade, Elas são um conjunto de elementos que a adjetivação, bem como argumentações permitem a identificação, no todo ou em parte, emotivas ou sentimentais; de documentos impressos ou registrados em - objetividade – verificada pelo uso de diferentes tipos de materiais. As publicações palavras, expressões e ideias adequadas à devem ter sido mencionadas no texto e devem transmissão do pensamento do autor; obedecer as Normas da ABNT. Trata-se de - concisão e fidelidade às fontes citadas uma listagem obrigatória dos livros, artigos – deve-se procurar ser conciso e objetivo, e outros elementos de autores efetivamente como por exemplo: em vez de escrever “não utilizados e referenciados ao longo do artigo. há dúvida que, com toda a probabilidade...” As recomendações da ABNT a respeito de redigir apenas “provavelmente”. Além de tudo isso, há frases que são consiqualquer aspecto pertinente às citações de trabalhos de literatura científica podem ser deradas inadequadas para este estilo de texto, seguidas. Entretanto, grande número de re- a saber: “É interessante notar que...”; “Aqui travistas adota sistemática própria para registro zemos nossa modesta contribuição...”; “Considas citações bibliográficas. derando a importância de pesquisa nesta área, 35 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 35 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 decidiu-se estudar...”. As expressões taxativas também devem ser evitadas. Por exemplo, ao invés de dizer “afirma-se, comprovou-se, procurou-se...” que são vocábulos muito conclusivos, devido ao caráter probabilístico da estatística é melhor escrever “os resultados sugerem, evidenciou-se, supõe-se...”. • 3. mérito técnico-científico; • 4. apresentação; • 5. organização; • 6. legibilidade (readability); e • 7. referências bibliográficas. Por isso, para que o artigo não seja considerado um trabalho de baixa qualidade, é bom que o pesquisador atente para os itens já citados e os mostrados a seguir: • Introdução apresentada como sendo uma revisão, sem o estabelecimento de objetivos ou justificativas; • texto confuso e organizado de forma não apropriada; redação confusa e obscura; • dados ou coletas de resultados sem conclusões. Dados não analisados suficientemente; • discussão que vai muito além dos resultados e/ou não é identificado adequadamente o que é novo e relevante no trabalho; • texto não original ou de relevância questionável em termos de questões atuais. Como última sugestão, para garantir a proporcionalidade de cada elemento textual em relação ao tamanho total do corpo ou parte principal do artigo científico, pode-se seguir a distribuição de páginas abaixo, a saber: • Introdução: 2 a 3/10. • Desenvolvimento: 6 a 7/10. • Conclusão ou Considerações finais: 0,5 a 1/10. 2.1. Sugestões de VERBOS para serem empregados na linguagem científica Quanto aos verbos a serem empregados na linguagem científica, sugerem-se para: i) determinar o estágio cognitivo de conhecimento, os verbos: apontar, definir, enunciar, inscrever, registrar, relatar, repetir, sublinhar e nomear; ii) determinar o estágio cognitivo de compreensão, os verbos: descrever, discutir, esclarecer, examinar, explicar, expressar, identificar; iii) determinar o estágio cognitivo de aplicação, os verbos: aplicar, interpretar, inventariar, manipular, praticar, traçar e usar; iv) determinar o estágio cognitivo de análise, os verbos: analisar, classificar, comparar, constatar, criticar, debater, distinguir, examinar, provar, investigar, diferenciar e experimentar; e v) determinar o estágio cognitivo de avaliação, os verbos: apreciar, avaliar, eliminar, escolher, estimar, julgar, preferir, selecionar, validar e valorizar. Considerações finais Pretendeu-se neste trabalho proporcionar, de forma muito sintética, mas objetiva e estruturante, uma familiarização com os principais cuidados a serem observados na escrita de um artigo científico. Para satisfazer este objetivo, optou-se por uma descrição sequencial dos componentes típicos de um documento desta natureza. O resultado obtido satisfaz os requisitos de objetividade e pequena dimensão que se pretendia atingir. O presente estudo, acredita-se, constituir-se-á em um auxiliar útil, de referência frequente para o leitor que pretenda construir a sua competência na escrita de artigos, pois não se deve esquecer que o objetivo da pesquisa científica é a publicação. E é através do artigo científico e de sua publicação que o conhecimento, enquanto resultado da atividade humana, ganha valor, torna-se bem de consumo, converte-se em riqueza social. Finalizando, é importante frisar que este estudo é fruto da colaboração dos 2.2. Os sete pecados capitais de estilo São considerados pecados capitais de estilo, os seguintes itens: - frases longas (repletas de vírgulas ou não); - erros ortográficos e/ou gramaticais (paralelismo, concordância, conjugação, crase); - imagens/tabelas ilegíveis; - cópia literal; - palavras desnecessárias (blablabla) ou pouco familiares, termos que não retratam o leitor; - tradução literal e imbromation; - registro para impressionar e não para expressar. E, para concluir, é importante citar o que geralmente é avaliado pelo(s) revisor(es) de artigo: • 1. relevância (enquadramento no evento); • 2. originalidade; 36 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 36 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 GONÇALVES, Hortência de Abreu. Manual de Artigos Científicos. São Paulo: Avercamp, 2004. colegas docentes, por meio das proveitosas trocas de ideias e de discussões sobre o tema. Por fim, cabe lembrar que ninguém se pode considerar perfeito neste tipo de tarefa, pois a arte de escrever artigos científicos se constrói no dia a dia, através da experiência e do “fazer e refazer”. KÖCHE, José Carlos. Fundamentos de Metodologia Científica: teoria da ciência e prática da pesquisa. 22. ed. Petrópolis: Vozes, 2004. Referências ABNT. NBR 6022: informação e documentação: artigo em publicação periódica científica impressa: apresentação. Rio de Janeiro, 2003. LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Fundamentos de Metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2007. MÁTTAR NETO, João Augusto. Metodologia científica na era da informática. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. AZEVEDO, Israel Belo. O prazer da produção científica: descubra como é fácil e agradável elaborar trabalhos acadêmicos. Piracicaba: Unimep, 1997. MORO, M.M. Dicas para escrever artigos científicos. Disponível em: <http://www. cs.ucr. edu/~mirella/Dicas.html> Acesso em: 02 jul. 2008. MEDEIROS, João B. Redação Científica: a prática de fichamentos, resumos e resenhas. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1997. MÜLLER, Mary Stela; CORNELSEN, Julce. Normas e padrões para teses, dissertações e monografias. 5. ed. Londrina: Eduel, 2003. Obras Consultadas ANDRADE, Maria Margarida de. Como Preparar Trabalhos para Cursos de PósGraduação: noções práticas. São Paulo: Atlas, 2008. SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 22. ed. São Paulo: Cortez, 2002. DAY, Robert. A. How to write and publish a scientific paper. 2 ed. Philadelphia: ISI Press, 1979. SILVA, Antonio Carlos Ribeiro de. Metodologia da pesquisa aplicada à contabilidade: orientações de estudos, projetos, relatórios, monografias, dissertações, teses. São Paulo: Atlas, 2003. DEMO, Pedro. Pesquisa: princípios científico e educativo. São Paulo: Cortez, 2000. FRANÇA, Júnia Lessa et alii. Manual para normalização de publicações técnico-científicas. 6. ed. Belo Horizonte: UFMG, 2003. TEIXEIRA, Gilberto J. W. Artigo científico: orientações para sua elaboração. Disponível em: <http://www.serprofessoruniversitario.pro. br/ler.php?modulo=21&texto=1334> Acesso em: 07 fev. 2009. FURASTE, P. A. Normas técnicas para o trabalho científico: explicitação das normas da ABNT. Porto Alegre: Bookman, 2006. 37 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 37 2009-11-23 14:25 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 38 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 A razoável duração do processo na experiência europeia Isabel da Cunha Bisch1 Resumo: A fim de compreender a recente inovação trazida pela Emenda Constitucional n. 45/04, que inseriu, no rol do art. 5º, o direito à razoável duração do processo, o presente artigo examina o modo como o continente europeu delimitou a matéria. A Corte Europeia de Direitos Humanos vem fixando critérios objetivos para decidir o que é ou não razoável em termos de duração de um feito judicial. Segundo a jurisprudência consolidada do Tribunal Europeu, é na análise de casos concretos que se pode determinar o prazo oportuno para o julgamento de um feito, observando-se três fatores: complexidade do caso, comportamento das partes e comportamento das autoridades judiciárias atuantes no processo. Analisam-se, então, importantes decisões do Tribunal de Estrasburgo que lidaram com protestos de litigantes contra as autoridades judiciais de seu país, assim como se faz exame da peculiar abordagem que o tema obteve na Itália, por meio da promulgação da Lei no 89/2001. Palavras-chaves: Razoável Duração do Processo, Emenda Constitucional n. 45/04, Corte Europeia dos Direitos Humanos. Abstract: By analyzing the way the European Court of Human Rights disciplines what may be considered the reasonableness of the length of judicial proceedings, this article intends to understand the innovative 45th Amendment of the Brazilian Constitution, passed in 2004. It is verified that the European Court assesses the solution in each case according to the particular circumstances and having regard to the criteria laid down in the Court’s case-law, that is: a) complexity of the case, b) conduct of the applicants and c) conduct of relevant authorities. In order to understand these criteria, important decisions that dealt with breach of the reasonable length of proceedings requirements are examined. It is also analyzed the statute passed in Italy, concerning the administration of justice without delays. key-words: Reasonableness of the length of judicial proceedings, 45th Amendment of the Brazilian Constitution, European Court of Human Rights. processo”, de que trata a emenda constitucional, não é de fácil definição, já que abstrato e vago. Para que tenhamos uma apreensão mais aprofundada do tema, examinaremos, com cuidado, de que maneira a Corte Europeia de Direitos Humanos buscou dar contornos mais objetivos à questão. Assim, segundo a jurisprudência consolidada do Tribunal Europeu, somente na análise de casos concretos é que se poderá ter elementos suficientes a fim de determinar o prazo oportuno para o julgamento de um feito. Nesse panorama, é objeto do nosso trabalho averiguar os critérios fixados pela Corte Europeia para determinar o que é ou não razoável a título de duração do processo. Imprescindível é que recorramos Introdução A emenda constitucional nº 45, de dezembro de 2004, ao inserir na CRFB/88 a denominada “reforma do judiciário”, acrescentou ao seu artigo 5º o inciso LXXVIII, que estabeleceu que “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”. Tal dispositivo, em que pese seja carente de uma regulamentação mais detalhada e até mesmo mais impositiva, representou a preocupação de nosso constituinte com uma das mazelas do Poder Judiciário, qual seja a inquestionável demora na prestação da tutela jurisdicional. Entretanto, o termo “razoável duração do 1 Professora de Ciência Política e Teoria Geral do Estado na Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre E-mail: [email protected] 39 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 39 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 à experiência do continente europeu, a qual previsões tais como direito à vida, proibição não é recente, pois desde 1950 o tema já de tortura, direito à liberdade de pensaé amplamente discutido no mento, consciência, religião, seio do Tribunal de Estrasreunião e associação, entre É objeto do nosso trabalho burgo, pioneiro na proteção outros direitos, a convenção averiguar os critérios fixada celeridade dos processos estabelece, em seu art. 6º, dos pela Corte Europeia judiciais. Para tanto, proceaquela garantia jurídica que para determinar o que é deremos ao exame de imporé o cerne da nossa pesquisa: ou não razoável a título tantes julgados, bem como à o direito à razoável duração de duração do processo. análise de recomendações e do processo. Os artigos 13, relatório anual do Conselho 35 e 41 da convenção comda Europa acerca da efetividade do Poder plementam o artigo 6º e dispõem, respectivaJudiciário. mente, o seguinte: Artigo 6°. Direito a um processo equitativo 1. Qualquer pessoa tem direito a que a sua causa seja examinada, equitativa e publicamente, num prazo razoável por um tribunal independente e imparcial, estabelecido pela lei, o qual decidirá, quer sobre a determinação dos seus direitos e obrigações de caráter civil, quer sobre o fundamento de qualquer acusação em matéria penal dirigida contra ela. O julgamento deve ser público, mas o acesso à sala de audiências pode ser proibido à imprensa ou ao público durante a totalidade ou parte do processo, quando a bem da moralidade, da ordem pública ou da segurança nacional numa sociedade democrática, quando os interesses de menores ou a proteção da vida privada das partes no processo o exigirem, ou, na medida julgada estritamente necessária pelo tribunal, quando, em circunstâncias especiais, a publicidade pudesse ser prejudicial para os interesses da justiça. 1. A Convenção Europeia dos Direitos Humanos e a Razoável Duração do Processo Celebrada em Roma em 4 de novembro de 1950, a Convenção para a Proteção dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais foi elaborada no seio do Conselho da Europa e entrou em vigor em 1953. Conforme consta da exposição de motivos, prévia à enumeração dos dispositivos da Convenção, buscava-se, à época, tomar as medidas aptas para assegurar a garantia de alguns dos direitos já previstos na Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948. Além de ter dado proteção legal a direitos-liberdade (direitos de primeira geração), a Convenção Europeia instituiu órgãos incumbidos de fiscalizar e garantir o respeito aos direitos nela declarados, julgando eventuais violações pelos Estados signatários. Nesse aspecto, em 1959, foi estabelecido o órgão de maior destaque na proteção dos direitos fundamentais: a Corte Europeia de Direitos Humanos (CEDH), situada em Estrasburgo, na França. Reconheceuse, ainda, na mesma convenção, o indivíduo como sujeito de direito internacional no que tange à proteção dos direitos humanos. Para tanto, criou-se um órgão de intermediação entre o particular e o tribunal (Comissão de Direitos Humanos), encarregado de fazer a triagem das denúncias formuladas, de investigar os fatos e manifestar sua opinião sobre a ocorrência ou não de violação a direitos. O Protocolo n. 11 à Convenção, em vigor desde 1998, inseriu cláusula de obrigatoriedade de submissão de todos os EstadosMembros às decisões da Corte Europeia, o que acabou por extinguir a Comissão, já que grande parte de suas atribuições foi conferida exclusivamente ao Tribunal. Ao lado de Artigo 13°. Direito a um recurso efetivo Qualquer pessoa cujos direitos e liberdades reconhecidos na presente Convenção tiverem sido violados tem direito a recurso perante uma instância nacional, mesmo quando a violação tiver sido cometida por pessoas que atuem no exercício das suas funções oficiais. Artigo 35°. Condições de admissibilidade 1. O Tribunal só pode ser solicitado a conhecer de um assunto depois de esgotadas todas as vias de recurso internas, em conformidade com os princípios de direito internacional geralmente reconhecidos e num prazo de seis meses a contar da data da decisão interna definitiva. . Artigo 41°. Reparação razoável Se o Tribunal declarar que houve violação da Convenção ou dos seus protocolos e se o direito interno da Alta Parte Contratante não permitir senão imperfeitamente obviar às consequências de tal violação, o Tribunal atribuirá à parte lesada uma reparação razoável, se necessário. Mauro Cappelletti, analisando o art. 6º da Convenção, já concluía que “em muitos países, as partes que buscam uma solução judicial precisam esperar dois ou três anos, ou mais, por uma decisão exequível. Os efeitos dessa delonga, especialmente se considerados os índices de inflação, podem ser devastadores. Ela aumenta os custos para 40 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 40 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 as partes e pressiona os economicamente a sofrer danos em decorrência da demora da fracos a abandonar suas causas, ou a aceitar atividade jurisdicional. Sendo assim, é direito acordos por valores muito inferiores àqueles de quem litiga em juízo obter do Estado a a que teriam direito. A Convenção Europeia entrega da tutela em tempo e em condições adequadas a preservar, de para Proteção dos Direitos modo efetivo, o bem da vida Humanos e Liberdades FunMuitas situações de que lhe for devido, ou, se for damentais reconhece expliatraso no julgamento de o caso, obter dele medida citamente, no artigo 6º, paprocessos representam, de garantia de que tal tutela rágrafo 1º, que a Justiça que em verdade, flagrante será efetivamente prestada não cumpre suas funções denegação de justiça. no futuro. Sem essa qualidentro de ‘um prazo razoável’ ficação, a da efetividade, a é, para muitas pessoas, uma Justiça inacessível”. (CAPPELETTI e GARDT, tutela jurisdicional estará comprometida e poderá ser inútil. 1998, p. 20-21) Refira-se, por relevante, que a previsão Com efeito, a duração do processo tem se mostrado, nos julgados do Tribunal europeu, da razoável duração do processo não foi atriponto de grande preocupação entre os juris- buto apenas da Convenção europeia, mas, tas, devido à importância atribuída ao art. 6º certamente influenciada por essa, foi disposta da Convenção. Em verdade, a morosidade em diversas Constituições. As Constituições processual passou a ser vista como grande portuguesa e espanhola, ad exemplum, inimiga dos direitos fundamentais. Afinal, se o estabeleceram, respectivamente, em seus processo é o meio legítimo para se preservar artigos 24 e 20, o direito à consecução de uma tais direitos, eles restarão ameaçados com decisão judicial em prazo razoável ou sem uma demora injustificável do processo, na dilações indevidas. A Constituição italiana, medida em que a efetividade da justiça está após repreensões do Tribunal de Estrasburdiretamente relacionada com a tempestivida- go, que acabou assorbebado com o imenso volume de processos contra o estado italiano de da prestação jurisdicional. Não se pode esquecer, aliás, que o gran- em decorrência da demora na prestação jude escopo do direito é a manutenção da risprudencial, sofreu positiva modificação, ao paz social, por meio de uma atuação estatal ter acrescentado ao seu art. 111, que já falava imparcial, que veta a vingança privada, ou a em direito a um justo processo, o direito a uma auto-tutela de direitos. Essa atuação estatal, “ragionevole durata”. porém, deixa de fazer sentido se a solução Embora o enfoque do presente estudo à lide apresentada é oferecida a destempo. seja a duração dos processos na experiência Muitas situações de atraso no julgamento de europeia, cabe mencionar, a título demonsprocessos representam, em verdade, flagrante trativo da preocupação mundial com o tema, denegação de justiça. Como bem refere Cruz que no direito norte-americano, desde 1791, e Tucci, “o processo é o instrumento destina- está estampada na 6ª emenda à Constituição do à atuação da vontade da lei, devendo, na Americana a conhecida “speedy trial clause”, medida do possível, desenvolver-se sob a ver- que, em princípio, é dirigida a feitos de ordem tente extrínseca, mediante um procedimento criminal. Esse dispositivo constitucional teria célere, a fim de que a tutela jurisdicional emer- objetivos: evitar prisões preventivas desnecesja realmente oportuna e efetiva” (TUCCI, 1997, sárias, diminuir a ansiedade que é intrínseca p.27). Esse compromisso de prestar a tutela às acusações públicas e limitar os modos jurisdicional representa exatamente o amparo, pelos quais o atraso no julgamento possa vir a defesa e a vigilância que o Estado, por seus a prejudicar a preparação da defesa. órgãos jurisdicionais, prestam aos direitos Em 1974, o Congresso americano aprovou dos indivíduos. Teori Albino Zavascki, com a o Federal Speed Trial act, o qual regula apeclareza que lhe é peculiar, define a importân- nas lides federais. Esse ato normatiza que cia da efetividade no exercício da jurisdição: os julgamentos devem ocorrer em até 100 “Ora, se o Estado assumiu o monopólio da dias após a decretação da prisão preventijurisdição, proibindo a tutela de mão própria, va, ressalvadas poucas exceções. Após 10 é seu dever fazer com que os indivíduos a ela anos da edição do ato normativo, dois terços submetidos compulsoriamente não venham dos estados americanos já tinham aprovado 41 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 41 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 legislação com semelhante teor. O Federal detalhadamente o enfoque que a Corte EuroSpeed Trial act resultou da importância que se peia de Direitos Humanos conferiu ao tema. conferiu a alguns precedentes, dentre os quais se destaca o case Barker v. Wingo, de 1972. A 2. Julgamentos da Corte Europeia e os Suprema Corte norte-americana foi chamada Requisitos Estabelecidos pela Jurisprua decidir em quanto tempo a demora em um dência para a Determinação da Razoável julgamento acarretaria inconstitucionalidade. Duração do Processo O processo tratava da demora para julgar Para compreendermos os parâmetros utiuma acusação interposta há cinco anos, em lizados pela Corte de Estrasburgo para definir que se atribuía ao indivíduo Barker o crime a expressão contida no art. 6º da Convenção de homicídio, em co-autoria com um sujeito Europeia, é indispensável recorrermos a alguchamado Manning. Para provar a culpa de mas decisões proferidas. Não restam dúvidas, Barker, o promotor precisava que Manning é verdade, de que o adjetivo “razoável” presdepusesse, mas o mesmo se recusou a fazê- tigia certa margem de discricionariedade por lo, com base na 5ª Emenda da Constituição parte dos julgadores, à medida que o termo, Americana. Assim, o promotor decidiu levar, elástico por natureza, admite interpretações primeiramente, a julgamento Manning. Entre- diversas. De fato, a expressão é definitivatanto, o julgamento de Manning levou mais do mente vaga, não sendo possível determinar que se esperava – 5 anos – até que Barker abstratamente o seu exato sentido. Por tal fosse condenado. Os advogados de Barker razão, a Corte Europeia vem prudentemente apelaram à Suprema Corte, alegando violação reconhecendo que a razoabilidade no tempo à 6ª Emenda, mas a Corte, por unanimidade, de julgamento somente pode ser avaliada à rejeitou as alegações. Os juízes se recusaram luz dos casos concretos. a interpretar a 6ª Emenda como se a mesma Também, em diversas ocasiões, o Tribudispusesse qualquer limite de tempo para nal de Estrasburgo firmou entendimento no julgamento. Ao invés, o Juiz Powell condu- sentido de que os países que se submetem ziu a opinião majoritária, estabelecendo um a sua jurisdição devem organizar seus siste“teste de equilíbrio” que se aplicaria ao caso mas legais de modo que as cortes possam sob julgamento. Esse teste é conhecido por garantir a todos os indivíduos o direito a uma uma série de nomes, como “Justice Powell’s decisão final em um tempo razoável. Portanto, balancing test”, “Barker test”, ou mesmo “ad a Corte não admite escusas dos Estados que hoc balancing test”. Esse teste estabelece buscam fugir das indenizações alegando falta quatro critérios para determinar uma demora de estrutura judiciária. injustificada no julgamento de um feito crimiNoutro norte, Paulo Hoffman observa, ainnal: a) a duração do atraso (quanto maior, da, que para a Corte Europeia, a duração do mais irrazoável); b) as razões para o atraso (o processo “[...] deve ser compreendida em seu promotor deve possuir justificadas razões); c) todo, ou seja, não só a parte do processo de o momento em que o réu alega a violação de conhecimento, mas também a da satisfação direito e d) até que ponto o atraso prejudicou do direito reclamado em juízo [...]. Assim, se o réu (no caso, por exemplo, até o trânsito em julgado da de alguma testemunha de sentença o processo tiver defesa morrer no transcorrer Não restam dúvidas, é ver- sido supereficiente, mas o dade, de que o adjetivo “ra- cumprimento desta for indedo processo). Em 1990, o Congresso zoável” prestigia certa mar- sejável, também será devida Americano também aprovou gem de discricionariedade a indenização” (HOFFMAN, o “Civil Justice Reform Act”, por parte dos julgadores, à 2006, p. 62). que buscou estabelecer pa- medida que o termo, elásCumpre dizer, igualmente, râmetros de celeridade nos tico por natureza, admite que tanto o autor quanto o réu feitos, recomendando que interpretações diversas. podem pleitear indenização, nos distritos federais se elaindependente de quem saia borassem planos e modelos vencedor na causa, bastando de uma justiça mais célere, em que processos a simples indefinição advinda da duração excivis fossem julgados em até 18 meses após cessiva da lide judicial. Afinal, é evidente que o ajuizamento. Cabe, por ora, examinar mais a demora excessiva de processos judiciais 42 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 42 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 acarreta às partes, sejam autoras ou rés, tanto danos econômicos quanto psicológicos (non-pecuniary damages), em razão da indeterminação na solução de direitos atingidos. Nessa seara, assim se pronunciou o Tribunal Europeu na decisão STRĂIN AND OTHERS v. ROMANIA: “among the matters which the Court takes into account when assessing compensation are pecuniary damage, that is the loss actually suffered as a direct result of the alleged violation, and non-pecuniary damage, that is reparation for the anxiety, inconvenience and uncertainty caused by the violation, and other non-pecuniary loss”. Interessante observar que ao julgar casos de infração por duração exagerada do processo, a Corte não estabelece em seus julgados um tempo mínimo ou máximo para o término dos feitos. O que o Tribunal Europeu consolidou em sua vasta jurisprudência sobre o tema foi, isso sim, o estabelecimento de critérios que devem ser analisados em todos os casos em que um Estado seja acusado de retardar demasiadamente lides judiciárias. Seriam esses os seguintes requisitos a serem analisados: a) complexidade do caso; b) comportamento das partes e comportamentos das autoridades judiciárias relevantes ao processo. Conforme sustenta Cruz e Tucci, “o reconhecimento desses critérios traz como imediata consequência a visualização de dilações indevidas como um conceito indeterminado e aberto, que impede de considerá-las como o simples desprezo aos prazos processuais pré-fixados” (TUCCI, 1999, P. 239). Com efeito, analisando decisões que tratam de postulações contra a duração excessiva de feitos judiciais (breach of the reasonable length of proceedings requirements), notamos que em todas elas é seguido pelos julgadores um método objetivo e cuidadoso para averiguar a ocorrência ou não de irrazoabilidade na duração do processo. Examinam-se, sempre, os critérios acima elencados, de modo a se fazer o balanço entre o que é ou não admissível a título de demora nos julgamentos. Cabe, por ora, analisar três acórdãos em que tal método foi empregado. Ao julgar o processo RUIZ-MATEOS v. SPAIN, a Corte Europeia de Direitos Humanos condenou a Espanha a indenizar a parte autora pela demora da prestação jurisdicional. Tratava-se de pedido de restituição de propriedade e indenização contra o estado espanhol que, em 1983, expropriara a integralidade das ações da empresa RUMASA S.A, às quais pertenciam a seis irmãos (família Mateos). A ação de restituição foi interposta em 1983 e em 1984 foi submetida à Corte Constitucional questão de inconstitucionalidade contra o decreto expropriatório. A Corte Constitucional apenas em dezembro de 1986 emitiu decisão, confirmando a constitucionalidade da expropriação. Após a prolação da sentença e dos acórdãos proferidos em grau de recurso, a parte autora teve sua ação julgada improcedente pelo estado espanhol, em decisão transitada em julgado em 1991. A Corte Europeia, examinando o caso, não isentou a Espanha de culpa pela demora no julgamento, como essa pleiteava. O estado espanhol alegou que o rito processual na Corte Constitucional é mais demorado, sofisticado e complexo do que nas demais cortes do país, o que justificaria o atraso. O Tribunal de Estrasburgo, assim como em outros precedentes, rejeitou o argumento, afirmando que o fato de as cortes constitucionais terem funções mais complexas e estarem sobrecarregadas com o julgamento de recursos, não seria justificativa para os Estados deixarem de primar pela celeridade processual. Desse modo, mesmo diante da complexidade do caso, aferida pela Corte, julgou-se que as autoridades espanholas – no caso, os Juízes do Tribunal Constitucional Espanhol – feriram o art. 6º da Convenção Europeia para proteção dos direitos humanos. Já no processo KRASUSKI v. POLAND, por exemplo, reclamou-se à Corte Europeia a reparação de danos pela excessiva demora no julgamento de feito que, levado em fevereiro de 1996 ao judiciário polonês, pelo autor KRASUKI, envolvia pedido de indenização decorrente de inadimplemento contratual por parte de uma empresa de transporte. O processo, após ser instruído com perícias técnicas, diversas audiências e recursos, teve decisão final proferida em 2002. A Corte Europeia, provocada a se manifestar sobre a ocorrência ou não de dilações indevidas e de atraso no julgamento por parte do estado polonês, decidiu que, apesar de o feito ter certa complexidade, por envolver perícias, a parte autora não dera causa à demora no andamento do processo. Por outro lado, afirmou o Tribunal Europeu, os ritos do processo civil polonês foram corretamente seguidos, não ocorrendo qualquer abuso por parte das 43 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 43 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 autoridades judiciárias, que respeitaram todos os prazos previstos. Assim, numa conjugação de fatores, restou decidido que o art. 6º da Convenção Europeia não fora violado. No caso HORVAT v. CROATIA, houve a particularidade de o feito ainda não ter sido julgado no país de origem. Tratava-se de simples ação de cobrança, ajuizada na Croácia, em 1995, contra duas empresas. Devido à demora na citação das rés, a primeira audiência foi marcada para outubro de 2000, período em que a Corte Europeia foi provocada a se manifestar sobre a violação ao art. 6º da Convenção. No caso em análise, o estado croata foi condenado a indenizar a parte autora, pois, na opinião do Tribunal Europeu, é responsabilidade das autoridades estatais informar o endereço correto dos demandados em juízo ou mesmo indicar representantes legais, o que ainda não fora efetuado. Afora isso, conforme consta no acórdão, o caso não guardaria qualquer complexidade e a demandante não seria responsável pela demora na tramitação do feito. Veja-se que outros casos poderiam ser aqui comentados, relativos à aplicação dos critérios pela Corte Europeia nos processos cujo conteúdo é a demora na prestação jurisdicional (breach of the reasonable length of proceedings requirements), mas todos eles possuem a mesma lógica de apreciação das decisões comentadas acima, de conjugar, no caso concreto, a complexidade do caso, a atuação das partes e o comportamento das autoridades estatais envolvidas. longa e falha. Assim, cada vez mais novos deveres se impuseram ao país, em especial os de prestação da tutela jurisdicional em tempo razoável. Diante desse quadro, de morosidade da justiça italiana, os cidadãos, confiando mais na efetividade de um recurso à Corte Europeia, como forma de fazer valer seus direitos, passaram a recorrer à mesma, exigindo a finalização dos processos judiciais em tempo justo ou mesmo indenização pelos prejuízos materiais e morais advindos da exagerada duração do processo. E, ademais, apesar de o art. 35 da Convenção – acima transcrito – estabelecer que a Corte não pode ser acionada enquanto não exauridos os recursos internos dentro do país infrator, o art. 41 favorece interpretação diversa, segundo a qual os cidadãos podem recorrer diretamente à Corte para pleitear prejuízos advindos, por exemplo, da duração exagerada do processo. Com tal interpretação legal, os cidadãos italianos, insatisfeitos com os lentos procedimentos judiciais do país, passaram a levar as reclamações à Corte Europeia, o que acarretou à mesma um grande acúmulo de demandas; nessa ordem, passou a CEDH a diminuir suas condições de cumprir os prazos e demais atribuições administrativas. Após grande pressão e censura exercida pela Corte Europeia, a Itália viu-se obrigada a modificar sua legislação e inclusive sua própria Constituição, como antes referido. Além da emenda constitucional que inseriu no art. 111 a expressa menção ao direito à razoável duração do processo (ragionevole durata), em 24.03.2001, foi promulgada a Lei nº 89/2001, a chamada Legge Pinto, fruto das violentas repreensões que a Justiça italiana vinha sofrendo, e tratou do dever de indenizar aquele que sofra prejuízo em decorrência da duração exagerada do processo. A lei positivou em seus artigos jurisprudência já firmada pelo Tribunal de Estrasburgo, ao fixar os mesmos critérios para a averiguação de ofensa ao art. 6º da Convenção (complexidade do caso, comportamento das partes e atuação das autoridades). Aspecto interessante dessa lei é a previsão de que entre a distribuição e o julgamento do pedido de indenização deva transcorrer apenas quatro meses e de que a decisão, ainda que sujeita a recurso, é executiva. Contudo, é fácil perceber que essa lei, prevendo uma reparação justa, não é um fim em si mesma, pois apenas repara quem 3. O caso italiano e a Lei nº 89/2001 (Legge Pinto) No contexto examinado, a situação da Itália em relação aos demais países europeus é de todo peculiar. Desde a adesão do país à comunidade europeia, multiplicaram-se aos milhares os processos perante o Tribunal Europeu, em que se reclamava indenização pela demora excessiva nos julgamentos dentro do estado italiano. Não poucas vezes o país foi repreendido tanto por desrespeitar sua legislação processual interna, quanto por desobedecer às condenações impostas pela Corte, diante das reiteradas ofensas ao artigo 6º da Convenção. Mesmo com a edição do CPC italiano, em 1942, que, recentemente, sofreu dinâmicas alterações, a duração do processo na Itália ainda se mostrava demasiadamente 44 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 44 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 sofreu com a demora no processo, mas não à razoável duração do processo, indepenfaz as reformas necessárias na legislação e dente da quantia que esteja em jogo, devem na estrutura da máquina judiciária. ser indenizados, em virtude da ansiedade e O Tribunal europeu, em diversos acórdãos, do estresse causados pela demora no julgatem se pronunciado sobre a lei Pinto, afirman- mento, que atingem as partes em qualquer do que a razão de sua existência decorreu da circunstância (non-pecuniary damage). A Cornecessidade de oferecer aos nacionais italia- te também ressalta que a melhor solução, em nos um instrumento judicial doméstico contra termos absolutos, para a redução da duração as violações à razoável duração do processo. dos processos, é a prevenção, alertando que O Tribunal frisa, nessa esteira, que o objetivo o artigo 6º da convenção impõe aos Estadosprimeiro da lei foi dar efeito ao princípio da Membros o dever de organizar seus sistemas subsidiariedade (subsidiarity principle), o qual judiciários, de modo a que suas cortes julguem rege a intervenção do Tribunal de Estrasbur- os casos em um tempo razoável. Destarte, go, conforme o art. 35, e que determina que a Corte assevera que a lei Pinto traria uma Estados-Membros da Comunidade Europeia solução somente “a posteriori”, sem modificar garantam aos indivíduos a proteção dos as principais mazelas da estrutura estatal direitos reconhecidos pela Convenção Euro- italiana, ao prever uma medida puramente peia dos Direitos Humanos. E essa proteção indenizatória. Em algumas decisões, o Tribudeve ser, antes de tudo, efetiva, isto é, de um nal cita que países como Áustria, Croácia e modo que não se necessite recorrer à Corte Polônia combinaram dois tipos de soluções: Europeia. uma para acelerar os procedimentos e outra A lei Pinto (Lei nº 89/2001) constitui, as- para proporcionar indenização pela demora sim, o instrumento judicial interno italiano excessiva. disponível às vítimas de uma violação ao art. 6º da Convenção, de modo que seja possível 4. A Comissão Europeia para Eficiência aos indivíduos, antes de se dirigirem à Corte da Justiça (recomendações do conselho da Europeia, reclamar o justo reparo no próprio Europa para a efetividade dos processos país. Mas aqui vem interessante observação judiciais) constante em recentes decisões em que se fez Em 2002, o Conselho da Europa organireferência à lei Pinto e a instrumentos legislati- zou uma comissão (Comissão Europeia para vos de outros países que tenham semelhantes Eficiência da Justiça), a fim de melhorar o funpropósitos: os mecanismos para implementa- cionamento do Poder Judiciário dos Estadosção da Convenção Europeia e para a obser- Membros da Comunidade Europeia, de modo vância do princípio da subsidiariedade não são a garantir que todos os indivíduos pudessem levados em conta nos casos em que a Corte fazer valer de modo efetivo os direitos postos considera que as consequências advindas na Convenção, criando, desse modo, confianda violação não tenham sido sanadas, ainda ça dos cidadãos no sistema judiciário. que o tenham sido parcialmente. Em uma Referida comissão observou que os mecasituação dessas, é admissível que a Corte aja nismos que se limitam a indenizar a demora diretamente para proteger os direitos da vítima dos processos são muito fracos e inadequanão protegida de modo adequado pelo ins- dos para fazer os Estados modificarem a trumento processual interno. Nesse sentido, estrutura operacional do Judiciário. Em vera Corte tem reiteradamente dade, o Conselho da Europa decidido ser imprópria a projá possuía um conjunto de O que mais desperta a atenteção fornecida pelo Estado princípios e regras relativos à ção do estudioso do tema Italiano ao implementar a Lei eficiência da Justiça, contidos sob enfoque é, sem dúvida, nº 89/2001. em uma série de resoluções a preocupação mundial com Uma das críticas que a e recomendações do Comitê a efetividade da Justiça. CEDH faz a tal implementade Ministros, na esteira do ção legal é relativa à negativa que já vem sendo consolidado do Estado italiano em indenipela jurisprudência da Corte zar a demora no julgamento em processos Europeia. Na recomendação nº 5 de 1984, de pequeno valor, quando violado o art. 6º da são elencados alguns princípios destinados a Convenção. Para a Corte, os danos da ofensa diminuir a sobrecarga de processos. Sugere45 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 45 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 se que os feitos não tenham mais do que duas audiências, que sejam estabelecidas severas sanções aos advogados que litigam de má-fé, procrastinando os feitos, e que, de um modo geral, seja conferido maior poder aos Juízes ao conduzir as audiências. A recomendação nº 12, de 16 de setembro de 1986, a seu turno, trata da necessidade de se incentivar os acordos e conciliações, bem como julgamentos pelo método da arbitragem, além de propor que certas questões não sejam mais tratadas pelo Judiciário, como, por exemplo, casos de reconhecimento de paternidade, casos de tutela e curatela, celebração de casamento, estabelecimento de acordos em propriedades familiares, entre outros. Já na recomendação nº 5 de 1995, elaborada pelo Comitê de Ministros dos EstadosMembros para a melhora do funcionamento dos sistemas de recursos judiciais, sugere-se aos países uma série de medidas processuais, como a efetivação de execução provisória das decisões, (antes do trânsito em julgado), a irrecorribilidade de certas decisões interlocutórias, a limitação no número de possibilidades de recurso de apelação, o julgamento, em grau de recurso, por apenas um juiz, ao invés de órgão colegiado em certos casos (como, por exemplo, casos urgentes, casos de direito de família, ou mesmo casos de menor valor, entre outras hipóteses). Recomenda-se, também, que as Cortes de Segunda Instância diminuam os tempos de defesa nas sustentações orais por parte dos advogados. Em relação à recomendação nº 3 de 2001, o Conselho se refere ao papel do avanço da tecnologia e suas vantagens no meio judicial, sugerindo a todos os Estados-Membros que os cidadãos tenham acesso às lides por meio da internet e que as ações possam ser ajuizadas eletronicamente. países signatários da Convenção organizem seus sistemas judiciais de modo a que o art. 6º seja cumprido. A Itália, nesse panorama, é o país que mais sofreu repreensões da Corte, obrigando-se tanto a alterar sua Constituição quanto lançar mão de instrumento legislativo que buscasse indenizar as vítimas das demoras indesejadas nos processos. O Brasil, em 2004, com a Emenda Constitucional nº 45, e após muitos debates sobre a necessidade de reforma do Poder Judiciário, inseriu dispositivo constitucional que protege o direito à razoável duração do processo. Julgamos, sem hesitar, ser positiva a inovação, à medida que diversas alterações visando à celeridade processual foram inseridas no nosso ordenamento, além de ser de elogiosa a criação do Conselho Nacional de Justiça, como forma de efetivar o controle do Poder Judiciário. Tem-se ciência, porém, de que não bastam apenas medidas legais de alteração no processo civil brasileiro para que o art. 5º, inc. LXXVIII seja cumprido. Necessitamos, é verdade, de um Judiciário eficaz, devidamente aparelhado com profissionais competentes, atualizado com modernas tecnologias de informação e comunicação, e com estrutura física capaz de acomodar os operadores do direito. Referências CAPPELLETTI, M e GARTH, B. Acesso à justiça. Porto Alegre: Antônio Fabris Editor, 1998. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Relatório Anual das Atividades da Corregedoria Nacional de Justiça, 2005. Disponível em <http://www.cnj.gov.br> Acesso em: 07 jan. 2007. COUNCIL OF EUROPE. Relevant Council of Europe Resolutions and Recommendations in the field of efficiency and fairness of justice, Strasbourg, 10 September 2002.. Disponível em:<http://www.coe.int/t/e/ legal_affairs/legal_co-operation/operation_of_ justice/conferences/DIRJUR_ 2002_10%20 Justice%20recommendations.pdf> Acesso em: 11 dez. 2006 Considerações finais O que mais desperta a atenção do estudioso do tema sob enfoque é, sem dúvida, a preocupação mundial com a efetividade da Justiça. Há mais de 50 anos considerado direito fundamental dos cidadãos europeus, o julgamento dos processos em um tempo razoável ocupa posição de destaque na Convenção Europeia dos Direitos Humanos e é objeto de desenvolvida jurisprudência no Tribunal de Estrasburgo. A Corte Europeia tem sido firme ao determinar que todos os _____. 3rd Annual Report. January to December 2002. Report by the Commissioner for Human Rights 19 46 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 46 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 September 2003. Disponível em:<http:// assembly.coe.int/Documents/WorkingDocs/ doc04/edoc9916.htm> Acesso em: 10 dez. 2006. KRASUSKI v. POLAND, Application no. 61444/00, STRASBOURG, 14/06/2005; MAGHERINI v. ITALY, Application no. 69143/01, STRASBOURG, 1/06/2006; EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS. Decisões disponíveis em <http://www. echr.coe.int/ECHR> Acesso em: 12 e 13 dez. 2006: A.P. V. ITALY, Application no. 35265/97, 28/07/1999; MICHALAK V. POLAND, Application no. 24549/03, STRASBOURG, 01/03/2005; RUIZ-MATEOS v. SPAIN, Application no. 12952/87, STRASBOURG, 23/06/1993; BLAKE v. THE UNITED KINGDOM. Application no. 68890/01, STRASBOURG, 26/09/2006; STRĂIN AND OTHERS v. ROMANIA, Application no. 57001/00, STRASBOURG, 21/07/2005; COCCHIARELLA v. ITALY. Application no. 64886/0, STRASBOURG, 29/03/2006; TOMAŠIĆ v. CROATIA, Application no. 21753/02, STRASBOURG, 19/10/2006; FERRARI V. ITALY, Application no. 33440/96, STRASBOURG, 28/07/1999; WEMHOFF v. GERMANY, Application no. 2122/64, STRASBOURG, 27/06/1968. FRYDLENDER v. FRANCE. Application no. 30979/96, STRASBOURG, 27/06/2000; HALL L. Kermit. (Ed.). The oxford companion to American law. New York: Oxford University Press, 2002. GIUSEPPINA AND ORESTINA PROCACCINI v. ITALY. Application no. 65075/01, STRASBOURG//, 29/03/2006; HOFFMAN, Paulo. Razoável duração do processo. São Paulo: Quarter Latin, 2006. GOLDER v. THE UNITED KINGDOM. Application no. 4451/70, STRASBOURG, 21/02/1975; TUCCI, José Rogério Cruz e (Coord.). Garantias constitucionais do processo civil: homenagem aos 10 anos da constituição federal de 1988. São Paulo: Rev. dos Tribunais, 1999. GUINCHO V. PORTUGAL. Application no. 8990/80, STRASBOURG, 10/08/1984; HORVAT v. 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Application no. 33379/96, STRASBOURG, 27/07/ 2000; 47 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 47 2009-11-23 14:25 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 48 2009-11-23 14:25 Ciências Tecnológicas 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 49 2009-11-23 14:25 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 50 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 AccessMIGPostgreSQL: Uma ferramenta para migração de banco de dados Adriana Paula Zamin Scherer1 Daniel Gonçalves Jacobsen2 Marcelo Luis dos Santos3 Resumo: Este artigo descreve o desenvolvimento de uma ferramenta de migração de bancos de dados MS Access® para PostgreSQL que é livre e gratuita. Todas as ferramentas que oferecem tal funcionalidade são proprietárias e requerem investimentos financeiros para a aquisição de suas licenças. A ferramenta apresentada é de fácil utilização e possui uma interface clara pois tem, como objetivo de utilização, um público que necessita migrar suas bases de dados e não dispõe de recursos financeiros para contratar mão-de-obra especializada, podendo desta forma realizar o processo de migração de maneira autônoma. Palavras-chave: Banco de dados, Software Livre, Migração, PostgreSQL. Abstract: This article describes the development of a tool for migration of MS Access® databases to PostgreSQL that is a free software and freeware. All the tools that offer such functionality are held and they request financial investments for the acquisition of their licenses. The presented tool is easy of use and has a clear interface because it is directed to a public who needs to migrate their bases of data and does not have financial resources to hire skilled labor, being that way able to accomplish the process of migration in an autonomous way. Key-words: Database, Free Software, Migration, PostgreSQL. Introdução A implantação de softwares gratuitos na área de banco de dados nas organizações já é uma realidade. Os bancos de dados livres estão tomando o lugar dos bancos de dados proprietários dentro de muitas organizações. Este fato é impulsionado pela necessidade imediata das organizações cortarem seus custos. E, ainda, outro fator determinante para o aumento na procura por bancos de dados 1 2 3 livres é a qualidade que estes vêm apresentando, equiparando-se aos melhores bancos de dados proprietários disponíveis no mercado. Partindo destas motivações é possível identificar a origem e destino dos bancos de dados que estão sendo migrados. Em Scherer et al. (2007) é apontado como origem das migrações o banco de dados proprietário MS Access® e como destino o PostgreSQL. Mestre em Ciências da Computação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Professora da Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre, RS - Brasil. Tem experiência na área de Ciência da Computação, com ênfase em Metodologia e Técnicas da Computação, atuando principalmente nos temas: Banco de Dados, Programação, Oracle, Java. Rua Marechal José Inácio da Silva, 355 - Bairro Passo D’Areia - Porto Alegre - RS - Brasil. E-mail: [email protected] Bacharelando do curso de Sistemas de Informação da Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre. Atualmente trabalha com desenvolvimento de aplicações web na empresa Embratec – Good Card. Atua como programador em ColdFusion, Java, Sybase e Oracle. Rua Marechal José Inácio da Silva, 355 - Bairro Passo d’Areia - Porto Alegre - RS - Brasil. E-mail: [email protected], Bacharelando do curso de Sistemas de Informação da Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre. Atua na área de desenvolvimento de sistemas na empresa InfoSaúde utilizando as tecnologias ASP.NET, C# e banco de dados Oracle. Rua Marechal José Inácio da Silva, 355 - Bairro Passo d’Areia - Porto Alegre - RS - Brasil. E-mail: [email protected] 51 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 51 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 tir em um software proprietário, para migrar seus sistemas. Todos os aplicativos avaliados realizam a migração automática, isto é, não há necessidade de se ter o conhecimento específico do funcionamento dos SGBDs origem e destino, respectivamente, MS Access® e PostgreSQL. O processo utilizado para migração em todas as ferramentas – inclusive na ferramenta AccessMIGPostgreSQL, descrita a seguir, na seção 3 – é muito parecido e segue o mesmo padrão. No primeiro momento é preciso escolher o local onde se encontra a base de dados MS Access®, informando os dados para conexão. No segundo momento informa-se o nome a ser utilizado pela base de dados que será criada no PostgreSQL, também informando os dados para conexão. Por último, determina-se a estrutura a ser migrada, existindo a possibilidade de se escolher e alterar os nomes dos campos, das tabelas e dos tipos de dados de cada campo, incluindo ou não a utilização das chaves primárias e estrangeiras no processo de migração, entre outras. No entanto, o custo das migrações deste tipo envolve cifras que para a maioria das organizações é praticamente inviável. Existe um gasto considerável com a mão-de-obra para realizar este serviço, que definitivamente deve ser feito por pessoas extremamente qualificadas. De acordo com Scherer et al. (2007), o processo pode ocorrer de duas formas distintas: manualmente ou através de aplicativos desenvolvidos pelo próprio pessoal envolvido. Assim, a migração dos bancos de dados torna-se possível quando há a possibilidade de utilização de um software e que este não precise ser desenvolvido pelo pessoal envolvido no processo. Isto reduz, consideravelmente, o custo do processo de migração favorecendo também as pequenas e médias empresas a utilizarem um banco de dados que não possui custo de licença de uso e que atende às suas necessidades. De acordo com estas constatações, pela demanda atual e futura desta área, justifica-se a criação de ferramentas que possam facilitar o processo. A necessidade do desenvolvimento de novas ferramentas decorre do fato de que poucas são as ferramentas disponíveis hoje no mercado e que estas são proprietárias, inviabilizando a sua aquisição pelas empresas que necessitam reduzir seus custos. Este artigo tem como objetivo apresentar a ferramenta livre e gratuita AccessMIGPostgreSQL desenvolvida para ser utilizada em migrações de bancos de dados MS Access® para PostgreSQL. Para tanto, primeiramente é feita uma descrição do estado da arte das ferramentas disponíveis para este propósito. Em seguida, na seção 3, é descrita a ferramenta desenvolvida onde são salientados seus pontos positivos e suas deficiências. Finalmente, são apresentadas algumas considerações sobre o desenvolvimento da mesma e suas contribuições. Os aplicativos encontrados e avaliados são: a) ESF Database Convert, disponível para teste em (EasyFrom Technolog, 2007) e desenvolvido pela EasyFrom Technology; b) o DBConvert for MS Access & PostgreSQL, disponível em (DMSoft Technologies, 2007) e desenvolvido pela DMSoft Technologies; c) o DBSync for MS Access & PostgreSQL, disponível em (DMSoft Technologies, 2007) também desenvolvido pela DMSoft Technologies; d) Navicat for PostgreSQL, disponível para teste em (NAVICAT, 2007) desenvolvido pela Navicat. 1. O estado da arte Existem algumas ferramentas para realização da migração de MS Access® para PostgreSQL disponíveis no mercado. No entanto, nenhuma é open source, o que significa a inviabilidade de utilização por empresas que não têm condições financeiras de inves- A tabela 1 apresenta um comparativo de funcionalidades entre estes programas. 52 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 52 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 Tabela 1 - Comparativo das ferramentas disponíveis para conversão ESF Database Convert DBConvert for MS DBSync for MS Access Access & PostgreSQL & PostgreSQL Navicat for PostgreSQL Plataformas Windows 95/ 98/ NT/2000/ Millenium/ XP/ 2003/ Vista Windows Vista/ XP/2000/NT Windows Vista/ XP/2000/NT Windows e Mac OS Código Livre Não Não Não Não Possui outras funcionalidades Conversão entre várias bases de dados Conversor para PHP script Sincroniza Access com PostgreSQL É um kit de administração e desenvolvimento para PostgreSQL Possui suporte Sim (inglês) Sim (inglês) Sim (inglês) Sim (inglês) Trata espaços Sim Sim Sim Sim Permite alterar nomes das tabelas e campos Sim Sim Sim Sim Versão utilizada nos testes 5.6.41 1.7.1 2.1.0 8.0.20 MS Access® para o uma nova base de dados no PostgreSQL. A base de dados no PostgreSQL é criada automaticamente de acordo com o nome da base de dados de origem. A aplicação tem como objetivo migrar todos os dados das tabelas, juntamente com seus índices, chaves primárias, chaves estrangeiras e visões que o banco de dados de origem possui. O processo de migração compreende duas fases. A primeira resgata todos os dados de schema do banco, englobando as tabelas, índices, chaves primárias, chaves estrangeiras e visões. Esta primeira etapa é realizada por uma aplicação desenvolvida em rotinas dentro do próprio MS Access®, e sua execução gera um arquivo com extensão. mig, contendo todos os dados descritos anteriormente. O arquivo.mig deverá ser utilizado na próxima etapa: a escolha das opções de migração. A segunda fase foi completamente desenvolvida em Java e lança mão de uma interface gráfica para a interação do usuário. A divisão do processo em duas fases distintas se deu pelo fato de o MS Access® não permitir que aplicações externas acessem suas tabelas internas de controle, onde ficam todos os dados relacionados com o schema. A primeira etapa é realizada através de um formulário.mdb desenvolvido no próprio MS Access®. Para correto funcionamento As ferramentas testadas possuem outras funcionalidades além da migração. O Navicat for PostgreSQL, por exemplo, é um kit completo para gerenciamento do PostgreSQL. Neste caso a migração de MS Access® para PostgreSQL é apenas uma das funcionalidades do aplicativo. No entanto, para a utilização destas funcionalidades adicionais se faz necessário um conhecimento técnico mais específico quanto ao funcionamento do PostgreSQL, o que não é a intenção deste trabalho. O projeto prevê a utilização do AccessMIGPostgreSQL por usuários leigos em tecnologia e com o único objetivo de migrar uma base de dados MS Access® para PostgreSQL. Não foi encontrado nenhum aplicativo gratuito com esta funcionalidade. Também não foi encontrado nenhum aplicativo que tivesse sido desenvolvido no Brasil. Isto reforça mais uma vez a importância da ferramenta desenvolvida neste trabalho. 2. Ferramenta para migração de Access para PostgreSQL implementada A atual versão do sistema desenvolvido, disponível para download em (Scherer, 2008), se propõe a migrar completamente os principais recursos de uma base de dados no 53 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 53 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 do mesmo, o formulário utiliza uma interface gráfica na qual o usuário deverá indicar todo o caminho onde se encontra o banco de dados de origem da migração. Ao informar o caminho correto do banco de dados de origem, o formulário.mdb gerará um arquivo com a extensão especial.mig exatamente na mesma pasta que o formulário se encontra. Esta extensão especial serve para a aplicação principal desenvolvida em Java identificar o arquivo a ser lido. O nome do arquivo gerado corresponde à seguinte estrutura: SQL<nomearqaccess>.mig. Por exemplo, um arquivo MSAccess® chamado canil.mdb, gerará um arquivo SQLcanil.mig. O formulário .mdb é capaz de ajustar todos os nomes das tabelas para a formatação específica do PostgreSQL, como por exemplo, retirar acentos e espaços dos nomes das tabelas e das suas respectivas colunas. A figura 1 ilustra o processo de geração do arquivo .mig Cada estrutura que compõe o arquivo.mig possui informações diferentes em suas linhas O escopo 1, “cabeçalho”, possui o nome do banco de origem, o nome do banco de destino e a data de geração do arquivo.mig. Já a linha correspondente ao escopo 2, “tabela”, possui o nome da tabela no MS Access® e o nome da tabela destinada à conversão, por exemplo, a tabela 3 descreve a representação do arquivo.mig para cada escopo Tabela 3 - Relação escopo/representação de um arquivo.mig Escopo Representação 1 Escopo; Nome do Arquivo Access. mdb; Nome do banco no PostgreSQL; Data de geração 2 Escopo; Nome; Novo Nome 3 Escopo; Nome da Tabela; Nome do Campo; Novo Nome; Tipo de dado; Tamanho do campo 4 Escopo; Nome da Tabela; Nome do Índice; Único; Chave primária; Permite Nulo; Campos 5 Escopo; Nome da Tabela Principal; Nome do Campo da Tabela Principal; Nome da Tabela Secundária; Nome do Campo da Tabela Secundária; Tipo Integridade; Nome do Relacionamento 6 Escopo; Código SQL da Visão 9 Escopo; Número de linhas do Arquivo; Número de Tabelas; Número de consultas; Número de IR Figura 1 - O formulário.mdb O arquivo.mig, é onde ficam armazenadas todas as informações relacionadas à estrutura da base de dados, dispostas em linhas. Cada linha representa um tipo de informação diferente, que pode ser identificada pela numeração do início da mesma, conforme pode ser visto na tabela 2 Independentemente do escopo da estrutura, as indicações “Nome” e “Novo Nome” na representação significam, respectivamente, o nome da estrutura no MS Access® e o nome que será criado na base de dados de destino no PostgreSQL. Já no escopo 3, a indicação “Tipo de Dado” refere-se ao tipo de dado no MS Access®, que são os seguintes: Bit, Byte, Integer, Long, Currency, Single, Double, Date, Text, LongBinary, Memo, GUID. A indicação “Único” do escopo 4 classifica o índice em único ou que permite repetições. Os valores possíveis são: ‘T’ (único), “F” (permite repetição). A indicação “Chave Primária” representa se o índice é do tipo Tabela 2 - Relação entre escopo/estrutura de um arquivo.mig Escopo Estrutura Correspondente 1 Cabeçalho 2 Tabela 3 Campo 4 Índice 5 Relacionamento 6 Visão 9 Fim do arquivo 54 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 54 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 chave primária, tendo os valores “T” se for chave primária e “F” se não for chave primária. O indicador “Permite Nulo” tem como valores possíveis “T” se permitir valores nulos e “F” se não permitir valores nulos. O indicador “Campos” representa o nome dos campos que formam o índice, indicando antes de qualquer campo sua ascendência (+ ou -). Por poder se tratar de vários campos, e estes delimitados pelo separador de lista do Windows (que poderá ser o ponto e vírgula (;)), eles são delimitados por colchetes ([ ]). No escopo 5, o indicador “Tipo de Integridade” indica a integridade que será criada com base no campo da tabela principal e no campo da tabela secundária. Os valores podem ser 2, 0, 256, 4096, 4352, que significam, respectivamente, a informação de que existe relacionamento entre os dois campos (sem impor nenhuma integridade), integridade sem propagação, integridade com propagação apenas na atualização de dados, integridade com propagação apenas na exclusão de dados e integridade com propagação na exclusão e na alteração de dados. No escopo 9, pode-se notar que o indicador “Número de Linhas do Arquivo” desconsidera a linha referente ao escopo 1 e a linha referente ao próprio escopo 9, respectivamente, cabeçalho e rodapé. A figura 2 representa um arquivo.mig aberto pelo Notepad com todas as informações estruturais de uma base de dados a ser migrada. A segunda etapa é quando devem ser escolhidas todas as opções da migração, como, por exemplo, se o usuário deseja migrar os dados ou apenas a estrutura do banco, ou ainda se ele deseja migrar todas as tabelas ou apenas algumas tabelas específicas. Caso o usuário selecione a migração de apenas algumas tabelas, a aplicação ainda assim tentará criar as chaves primárias, relacionamentos e visões relacionadas a todas as tabelas do banco de origem, mas sem sucesso naquelas que não foram selecionadas. Quando isto acontece, uma série de erros são listados na tela da aplicação, mas isso não caracteriza erro na aplicação e sim pela ausência de algumas tabelas que não foram selecionadas pelo usuário. O AccessMIGPostgreSQL é um conjunto de classes que, em funcionamento, são capazes de ler o arquivo.mig e efetuar a migração corretamente. O processo neste momento transcorre de forma automática, sem que seja necessária a interferência do usuário, o que reforça a possibilidade de usuários leigos utilizarem a ferramenta para suas migrações. A figura 3 representa o grupo de classes implementadas. Figura 3 - Classes que integram o aplicativo AccessMIGPostgreSQL A classe Arquivo é responsável por fazer a leitura de todo o arquivo .mig, armazenando todas as informações em memória para futuras utilizações. Esta classe utiliza uma estrutura de dados para armazenar todas as linhas lidas do arquivo .mig. Além disso, a classe Arquivo resgata o nome do banco de destino a ser criado, resgata o nome das tabelas e de seus respectivos campos e monta os comandos SQL para o banco de destino já fazendo a conversão dos tipos dos dados. Os comandos SQL para criar os relacionamentos também são feitos nesta classe e ambos estão armazenados em estruturas de dados distintas da estrutura onde são armazenadas todas as linhas do arquivo .mig. A tabela 4 representa a relação entre os tipos de dados no MS Access® e os tipos de dados correspondentes que são criados no PostgreSQL. Figura 2 - Representação de um arquivo.mig 55 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 55 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 Tabela 4 - Relação entre os tipos de dados MS Access®/PostgreSQL MS Access® PostgreSQL Long Bigint Text Varchar Date Timestamp with time zone Memo Text Double Double Precision Bit Boolean Figura 4 - Fluxo de Execução da aplicação Considerações Finais Este artigo apresentou uma proposta de ferramenta para migração de bases de dados MS Access® para PostgreSQL, que é livre, gratuita e realiza todo o processo de migração de forma automática e transparente. São estas características que permitem aos usuários leigos em Tecnologia da Informação migrar suas bases sem que sejam necessários investimentos com aquisição de licença de software para migração ou a contratação de empresa técnica especializada em processos desta natureza. A validação da ferramenta AccessMIGPostgreSQL foi realizada exclusivamente em ambientes de desenvolvimento com modelo e banco de dados de testes, empregando tipos de dados mais comuns. Para melhor avaliação e aperfeiçoamento é imprescindível que sejam feitos testes em ambientes de produção. Somente assim será possível identificar as melhorias necessárias para o uso em escala desta ferramenta. As maiores contribuições de cunho acadêmico deste artigo consistem no estudo das diversas ferramentas disponíveis para migração de banco de dados, apresentando suas características e peculiaridades, além da criação e apresentação da ferramenta desenvolvida. As contribuições de cunho social baseiam-se no fato de que através da ferramenta AccessMIGPostgreSQL as micro, pequenas e até as médias empresas podem beneficiar-se da ferramenta como uma maneira de acompanhar a evolução tecnológica utilizando um banco de dados que está em constante atualização e, também, reduzindo ainda mais seus custos com a tecnologia, uma vez que o banco destino é gratuito. Nesta versão inicial do AccessMIGPostgrQL, somente foram relacionados para conversão os principais tipos do MS Access®. Entretanto, a conversão dos demais tipos é uma funcionalidade que pode ser incluída na aplicação, uma vez que seu código é software livre. A classe CriaDatabase é responsável por criar a base de dados no PostgreSQL. Para isso, esta classe cria e executa três arquivos: um arquivo .bat, um arquivo script SQL para a criação da base de dados e um script SQL para criação do tablespace onde será armazenada a nova base de dados. O arquivo .bat abre o Psql (programa gerenciador do PostgreSQL) e nele são executados os seguintes scripts: um para criação do banco e outro para a criação do tablespace associado à pasta criada. As classes ConexaoAccess e ConexaoPostgres estabelecem a conexão com os dois bancos de dados. A classe ConexaoPostgres utiliza todas as estruturas de dados para armazenamento de comandos SQL da classe Arquivo. Ainda assim, esta classe estabelece a conexão entre os dois bancos, recupera os dados do MS Access® e os insere no PostgreSQL. As classes AdicionaVisoes e AdicionaPK são responsáveis pela criação das visões e das chaves primárias, respectivamente. A figura 4 representa o fluxo de execução da aplicação. 56 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 56 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 Referências EasyFrom Technology (2007). Download and evaluate the latest version. <http:// www.easyfrom.net/download/>, novembro. NAVICAT (2007). Download for 30-day demo version Navicat <http://www.navicat. com/download.html>, novembro. SCHERER, Adriana Paula Zamin; Jacobsen, Daniel Gonçalves; Santos, Marcelo Luis dos (2007). Banco de Dados – Migração de Software Proprietário para Software Livre. DMSoft Technologies (2007). Try DBConvert for Access & PostgreSQL converter <http://dbconvert.com/convert-access-toPostgreSQL-pro.php>, novembro. SCHERER, Adriana Paula Zamin. (2008). <http://www.harppia.com.br/adrianascherer/ projetos.html> DMSoft Technologies (2007). Try DBSync for Access & PostgreSQL converter <http://dbconvert.com/convert-access-toPostgreSQL-sync.php>, novembro. 57 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 57 2009-11-23 14:25 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 58 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 Implicação da implantação da Lei Federal nº 11.445/2007 no processo de tratamento de água potável Beatriz Stoll Moraes1 Tomaz Mattos da Silva2 Samuel Sant’Anna3 Resumo: A Lei Federal nº 11.445, de janeiro de 2007, foi criada com o intuito de estabelecer as diretrizes nacionais e a política federal para o saneamento básico no Brasil, substituindo outras legislações que estavam ultrapassadas para a atual situação de escassez dos recursos hídricos. Este artigo comenta as mudanças que ocorrerão no setor público com relação ao tratamento e disposição final dos lodos das estações de tratamento de água (ETA) após a implantação da lei em dezembro de 2010. Palavras-chave: Saneamento Básico, Saúde Pública, Proteção ao Meio Ambiente. Abstract: The Federal Law nº 11.445, of january 2007, was created with intention of establishing the national guidelines and the federal politics to the basic sanitation in Brazil, substituting other legislations that were surpassed for the current situation of shortage of the hydric resources. This article comments the changes that will happen in the public section with relationship to the treatment and final disposition of the water treatment station(ETA) sludges after the implantation of the law in December of 2010. Key-words: Basic Sanitation, Public Health, Protection to the Environment. Introdução Muitas são as causas da piora de qualidade e quantidade dos mananciais de abastecimento de água potável. Entre elas estão o lançamento dos esgotos urbanos e dos resíduos (lodos) formados durante o processo de potabilização das águas brutas nas estações de tratamento de água (ETA). Com a escassez dos recursos hídricos no nosso país, fez-se necessário atualizar as 1 2 3 legislações ligadas à proteção destes, como é o caso da Lei Federal nº 11.445, de janeiro de 2007, que especifica as diretrizes nacionais e a política federal para o saneamento básico no Brasil. Neste artigo, serão abordadas, de forma teórica, as mudanças que deverão ocorrer no processo de tratamento de água para abastecimento público, para que estes sistemas se adequem a nova lei. Doutoranda do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH/UFRGS); mestre pelo mesmo Instituto, coordenadora e professora do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária da Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre; professora e orientadora no curso de Administração. Rua Marechal Inácio da Silva, 355, Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre - Bairro Passo D’Areia - Porto Alegre RS - CEP 90520-280 - Tel/Fax: +55 3361-6700 E-mail: [email protected] Bolsista de Iniciação Científica, graduando do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária da Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre. E-mail: [email protected] Bolsista de Iniciação Científica, graduando do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária da Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre; técnico em edificações pela Escola Técnica Estadual Parobé de Porto Alegre. E-mail: [email protected] 59 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 59 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 1. Situação do saneamento no Brasil Em encontro ocorrido em Gramado, de 24 a 29 de maio de 2009, a 39ª Assembleia Nacional da ASSEMAE, foi comentado que antes da Lei nº 11.445 não se ouvia falar em política estadual de saneamento. Com o Projeto de Lei, teve-se que reconstruir a participação dos municípios e dos estados com relação à gestão do saneamento (Jornal VS de 30/05/2009). No Brasil, 56% dos esgotos são coletados, mas nem todo é tratado. (IBGE, 2000 apud www.planetainteligente). Somente 65% destes recebem algum tipo de tratamento. No Rio Grande do Sul esta porcentagem está na faixa de 67,6% para coleta e tratamento variando bastante. Por exemplo, 27% em Porto Alegre, 2% em Novo Hamburgo, 11% em São Leopoldo. Muitas prefeituras estão tomando providências para elevar a porcentagem de esgoto a ser tratado, incentivadas pelo Governo Federal através do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC). Na cidade de Porto Alegre estão sendo construídas estações que passarão de 27 para 75 a porcentagem de esgoto coletado a ser tratado. Em Novo Hamburgo, estão aprovadas pelo PAC três novas estações, que passarão de 2% para 12% de esgotos tratados. Segundo a reportagem de 14 de maio de 2009, do site Planeta Inteligente, a porcentagem do Produto Interno Bruto (PIB) investida em tratamento de esgotos e água diminuiu bastante da década de setenta para cá: em 1970 era de 0,34%; em 1980 diminuiu para 0,28% e em 1990 caiu para 0,13%. Hoje, com o PAC, o governo prevê gastos de R$ 46,5 bilhões, sendo R$ 32 bilhões para coleta e tratamento de esgotos. O valor total corresponde a 0,36% do PIB, maior que de 1970. O Quadro 1 apresenta os valores resumidamente destinados, de 1970 a 2000, para o saneamento básico no Brasil: Figura 1 - Ponto de lançamento de esgoto no Rio dos Sinos, entre as cidades de Novo Hamburgo e São Leopoldo (RS) Além dos esgotos brutos lançados nos recursos hídricos, deve-se lembrar dos lodos gerados durante o tratamento tanto da água como do esgoto. A grande maioria destes também retorna ao recurso hídrico. Então, a mesma fonte de água bruta recebe os dejetos da cidade. A figura 2 apresenta um esquema completo desde a captação da água bruta até a coleta e tratamento do esgoto, destacando o aproveitamento completo dos dejetos formados durante o tratamento deste último. Quadro 1 - Cobertura de redes de abastecimento de água e coleta de esgotos no Brasil – percentagem de domicílios urbanos atendidos 1970 1980 1990 2000 Água 60,5 79,2 86,3 89,8 Esgoto 22,2 37 47,9 56 Figura 2 - Esquema geral do sistema de captação de água bruta e coleta dos esgotos (Fonte: Di Bernardo, 2005) A nova lei veio para evitar a prática atual dos lançamentos indevidos nos corpos d’água dos esgotos brutos, dos lodos das ETA’s e das ETE’s. Fonte: IBGE 2000 apud site do planeta inteligente 60 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 60 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 2. Lodos de ETA No Brasil, o processo mais utilizado para o tratamento de água ainda é o de coagulação/ floculação com coagulantes metálicos, ou seja, aqueles à base de metais como alumínio e ferro (DI BERNARDO & DANTAS, 2005), (RICHTER, 2001). Para exemplificar, na região do Vale do Rio dos Sinos, somente uma das estações (cidade de Novo Hamburgo) utiliza um coagulante orgânico à base de tanino de Acácia, como coagulante principal em seu tratamento. As demais utilizam coagulantes metálicos, na sua maioria à base de alumínio. Estado de São Paulo. O lançamento dos lodos das ETA’s nos mananciais pode infringir o artigo 3º, incisos II e III da Lei nº 6.938/1981, e os responsáveis pelo gerenciamento das ETA’s podem ser enquadrados na Lei de crimes ambientais (Lei nº 9.605/1998), como podem ser vistas nos trechos destas leis abaixo: Lei 6.938/1981 “Art 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas; II - degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características do meio ambiente; III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividaFigura 3 - Amostra de lodo de uma esta- des sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; ção de tratamento de água d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; As impurezas complee) lancem matérias ou xadas pelos coagulantes energia em desacordo com são retiradas nos decanInfelizmente, na região e na os padrões ambientais estadores, por processo de maioria do país, todo o lodo tabelecidos...” sedimentação. Com o temdescartado volta para o mesmo po, estes decantadores samanancial de onde é retirada Lei 9.605/1998 turam e sua eficiência cai, a água bruta para tratamento. “Art. 2º. Quem, de qualprejudicando a qualidade quer forma, concorre para final da água que será fora prática dos crimes previsnecida à população. Após a saturação, o lodo deve ser descartado. In- tos nesta Lei, incide nas penas a estes comifelizmente, na região e na maioria do país, nadas, na medida da sua culpabilidade, bem todo o lodo descartado volta para o mesmo como o diretor, o administrador, o membro de manancial de onde é retirada a água bruta conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de pessoa para tratamento. Algumas estações tratam este lodo de jurídica, que, sabendo da conduta criminosa forma adequada: umas desidratando e dis- de outrem, deixar de impedir a sua prática, pondo em aterros para resíduos perigosos; quando podia agir para evitá-la. Art. 54. Causar poluição de qualquer naoutras enviam para siderúrgicas e olarias para serem utilizadas como carga em até 4% tureza em níveis tais que resultem ou posem peso (HOPPEN et al, 2003) (QUINTO, sam resultar em danos à saúde humana, ou 2003). Ainda há aquelas que estão recupe- que provoquem a mortandade de animais ou rando o alumínio e compostando o restante a destruição significativa da flora: Pena - redo material (substrato para adubo orgânico); clusão, de um a quatro anos, e multa. § 1º. Se o crime é culposo: Pena - detenoutras ainda enviam para estações de tratamento de lodo (ETL), como, por exemplo, a ção, de seis meses a um ano, e multa. § 2º. Se o crime: instalada pela SANASA, em Campinas, no 61 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 61 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 I - tornar uma área, urbana ou rural, im- São eles: • quantidade e qualidade da água a ser própria para a ocupação humana; II - causar poluição atmosférica que pro- tratada; • tipo de prestador do serviço de tratavoque a retirada, ainda que momentânea, dos habitantes das áreas afetadas, ou que mento e distribuição: municipal ou estadual; • valores e porcentagem de inadimplência cause danos diretos à saúde da população; III - causar poluição hídrica que torne ne- do pagamento das tarifas. cessária a interrupção do abastecimento pú4. Modificações com a implantação da lei blico de água de uma comunidade; A lei nº 11.445/2007 padroniza o serviço IV - dificultar ou impedir o uso público das e a qualidade da água a ser abastecida, inpraias; dependente de quem a traV - ocorrer por lançate, fornecendo as diretrizes mento de resíduos sólidos, Muitos são os problemas para os novos contratos líquidos ou gasosos, ou decausados pelo lançamento de prestação de serviço e tritos, óleos ou substâncias indevido dos lodos em um caminhos para a solução oleosas, em desacordo dos conflitos existentes, com as exigências estabemanancial. permitindo investimentos lecidas em leis ou regulaprivados. mentos: Pena - reclusão, Alguns pontos fortes de mudanças no de um a cinco anos.” saneamento básico relativos à lei são os se3. Prejuízos ao meio ambiente guintes (MUKAI, 2007): Muitos são os problemas causados pelo 1. As estações de tratamento de água lançamento indevido dos lodos em um ma- (ETA) e de tratamento de esgotos (ETE) senancial. rão obrigadas a dar destino aos lodos proA carga orgânica lançada provoca a falta duzidos dentro destas estações que hoje, de oxigenação, pela elevada demanda bio- na sua maioria, são descartados no mesmo química de oxigênio (DBO), causando a mor- manancial utilizado para o abastecimento de te de peixes e outros organismos e, ainda, água potável. os metais presentes podem se depositar no 2. A padronização dos serviços, sem diferenleito do rio e também provocar a morte por ciar se o gerenciador é municipal ou esta-dual. intoxicação por metais pesados, levados em 3. O conceito de saneamento básico pasdias de enxurradas ou em secas muito pro- sa a ser “serviços públicos cuja natureza longadas. sejam os abastecimentos de água, o esgoUm tratamento preliminar nas ETA’s, tamento sanitário, o manejo de resíduos sólicomo a desidratação do lodo antes do des- dos e o manejo de águas pluviais”. tino, pode representar uma economia muito 4. Quanto às tarifas e outras formas de grande para as estações, já que este lodo remuneração: aplicação do princípio do popossui geralmente 4% em sólidos e o restan- luidor-pagador, ou seja, o usuário do recurso te é água com materiais solubilizados (VA- natural ou o gerador do resíduo deve arcar NACÔR, 2005) (QUINTO, 2003). com o ônus econômico decorrente. Esta desidratação poderá ser feita em 5. A Lei não criou um Sistema Nacional de leitos de secagem (considerados não muito Saneamento Básico, mas previu uma Polítiadequados para a região sul), centrífugas e ca Federal de Saneamento Básico e ainda, prensas (DI BERNARDO & DANTAS, 2005), no art. 52, previu a criação de um Plano Na(RICHTER, 2001). cional de Saneamento Básico. Novamente a A água drenada pode retornar à estação e Lei Federal nº 11.445, de 2007, obriga as eseste volume drenado corresponde à mesma tações, tanto de tratamento de água como de quantidade de água que poderá ser “poupada” esgoto, a tratar e dispor adequadamente os na captação, garantindo uma lâmina d’água lodos gerados em suas unidades. Até a data maior na estação de tratamento seguinte. limite, as estações continuarão devolvendo Mukai (2007) aponta os conflitos em re- para o rio cargas elevadas de metais pesagiões metropolitanas que utilizam a mesma dos e materiais orgânicos, que contaminam fonte hídrica para o abastecimento público. o leito e sua biota. 62 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 62 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 11.445/2007 acarretará profundas mudanças no setor público de abastecimento d’água. A principal modificação será o tratamento dos lodos gerados tanto nas ETA’s como nas ETE’s; não serão mais permitidos lançamentos destes lodos nos mananciais. Desta forma, pretende-se melhorar as condições gerais da qualidade dos mananciais. 5. Pontos em destaque da lei Os pontos em destaque da Lei Federal nº 11.445/2007 são os seguintes: Art. 1° Esta Lei estabelece as diretrizes nacionais para o saneamento básico e para a política federal do saneamento básico. Art. 2º... III - abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo dos resíduos sólidos realizados de formas adequadas à saúde pública e à proteção do meio ambiente; Art. 19... § 3° Os planos de saneamento básico deverão ser compatíveis com os planos das bacias hidrográficas em que estão inseridos. Art. 44. O licenciamento ambiental de unidades de tratamento de esgoto sanitário e de efluentes gerados nos processos de tratamento de água considerará etapas de eficiência, a fim de alcançar progressivamente os padrões estabelecidos pela legislação ambiental, em função da capacidade de pagamento dos usuários. Art 58... § 3° As concessões a que se refere o § 2° deste artigo, inclusive as que não possuam instrumento que as formalize ou que possuam cláusula que preveja prorrogação, terão validade máxima até o dia 31 de dezembro de 2010, desde que até o dia 30 de junho de 2009 tenham sido cumpridas. Referências BRASIL. Lei Federal nº 11.445, de janeiro de 2007. Estabelece diretrizes nacionaispara o saneamento básico; altera as Leis nº 6.766/1979, 8.987/1990, 8.666/1993, 8.987/1993, 8.987/1995, revoga a Lei nº 6.528/1978; e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 8 de janeiro de 2007. BRASIL. Lei Federal nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 2 de setembro de 1981. BRASIL. Lei Federal nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 13 de fevereiro de 1998. 6. Dificuldades para aplicação da lei Dificuldades são apontadas na aplicação da Lei Federal nº 11.445/2007, como a contrapartida exigida nos investimentos do PAC. Na 39ª ASSEMAE, prefeitos e representantes de diversas cidades brasileiras reivindicaram o fim da contrapartida em investimentos do PAC, o que, segundo os prefeitos presentes, facilitará a aplicação de recursos na execução dos projetos de saneamento e habitação. Exemplificando, em Porto Alegre foram investidos R$ 560 milhões, sendo destes R$ 464 milhões do PAC e R$ 104 milhões de contrapartida da prefeitura. Este tipo de desembolso dificulta as novas aplicações (Jornal VS, 30/05/2009). Considerações finais A implantação da Lei Federal DI BERNARDO, Luis; DANTAS, A. B. Métodos e Técnicas de Tratamento de Água. V. 2. 2. ed. São Carlos, SP: RIMA. 2005. 792.p. HOPPEN, C. et al. Estudo de incorporação do lodo centrifugado da estação de tratamento de água Passaúna em matrizes de concreto, com dosagem de 3%. In: 22º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. Joinvile: ABES, 2003. MUKAI, Toshio (coord). Saneamento básico – diretrizes gerais – comentários à Lei 11.445 de 2007. Rio de Janeiro, RJ: Lúmen Júris, 2007. Plano Nacional de Saneamento. Jornal Vale dos Sinos, São Leopoldo, 30 de maio de 2009, Especial, p. 19. nº 63 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 63 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 Prefeitos querem o fim da contrapartida no PAC. Jornal Vale dos Sinos, São Leopoldo, 30 de maio de 2009, Especial, p. 19. Rio dos Sinos e Gravataí estão entre os de pior qualidade do país, aponta pesquisa. <// zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default. jsp?uf=18local=18section=geral&newsID=22 455396.xml>. Acesso em: 27 de mar. 2009. Quase metade dos brasileiros vive sem sistema de esgoto. <www.planetainteligente.com.br>. Acesso em: 14 mai. 2009. VANACÔR, Romualdo Nunes. Avaliação do coagulante Veta-Organic utilizado em uma estação de tratamento de água para abastecimento público. 2005. 188p. Dissertação Mestrado em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental – Programa de Pós-Graduação em Recursos Hídricos e SaneamentoAmbiental, Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH/UFRGS), Porto Alegre/RS. QUINTO, Antônio Carlos. Projeto viabiliza uso de resíduos de Estação de Tratamento de Água na fabricação de cerâmica. Boletim nº 1334 – USP de 10 de dez. 2003. <www.usp.br/agen/bols/2003/rede1334. htm#primdestaq>. Acesso em: 21 de out. 2008. RICHTER, Carlos A. Tratamento de lodos de Estações de Tratamento de Água. Porto Alegre,RS: Edgard Blücher, 2001. 64 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 64 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 Teses e Monografias Uma abordagem para o enriquecimento de Gazetteers a partir de notícias visando o georreferenciamento de textos na Web Cleber Gouvêa1 Stanley Loh1, Luís Fernando Fortes Garcia2 Com o advento da Internet e o crescente número de informações disponíveis, torna-se necessária a definição de estratégias especiais que permitam aos usuários o acesso rápido a informações relevantes. Como a Web possui grande volume de informações, principalmente com o foco geográfico, é necessário recuperar e estruturar essas informações de forma a relacioná-las com o contexto e realidade das pessoas através de métodos e sistemas automáticos. Essa tarefa, denominada de Resolução de Topônimos, apresenta, no entanto, desafios importantes principalmente do ponto de vista linguístico, já que uma localidade pode possuir variados tipos de ambiguidade. Com relação a isso, a principal estratégia para superar estes problemas compreende a identificação de evidências que auxiliem na identificação e desambiguação das localidades nos textos. Para isso, uma das possibilidades é o georreferenciamento dos textos, ou seja, identificar as entidades geográficas presentes e associá-las com sua correta localização espacial. Nesse sentido, os topônimos (ex: nomes de localidades como cidades, países, etc.), identificam, de forma precisa, determinada região espacial, apresentando-se como ideais para a identificação do contexto geográfico dos textos. 1 2 Para essa verificação são utilizados geralmente os serviços de um ou mais dicionários toponímicos (Gazetteers). Como são criados de forma manual, eles apresentam, no entanto, deficiência de informações relacionadas principalmente a entidades que podem identificar, embora de forma indireta, determinados tipos de lugares como ruas, praças, universidades etc., as quais são definidas como Indicadores de Localidade. O presente trabalho propõe uma abordagem para a recuperação dessas entidades aproveitando, para isso, o caráter geográfico das informações jornalísticas. Para ilustrar a viabilidade do processo, diferentes tipos de corpo de notícias foram testados e comparados pela habilidade de criação de Gazetteers com os Indicadores recuperados, sendo os Gazetteers avaliados então pela capacidade de identificação das cidades relacionadas às notícias testadas. Os resultados demonstram a utilidade da abordagem para o enriquecimento de Gazetteers e consequentemente para a recuperação de Indicadores de Localidade com mais simplicidade e extensibilidade que os trabalhos atuais. Palavras-chave: Recuperação de Informações Geográficas, Resolução de Topônimos, Georreferenciamento de Textos, Gazetteers. Universidade Católica de Pelotas Dissertação co-orientada dentro do convênio UCPEL – Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre 65 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 65 2009-11-23 14:25 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 66 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 O Amicus Curiae, as tradições jurídicas e o controle de constitucionalidade: um estudo comparado à luz das experiências americana, europeia e brasileira Isabel da Cunha Bisch1 na exata natureza processual do amicus curiae (se parte, terceiro interessado, colaborador informal, perito ou auxiliar da Justiça), mas buscou compreender as razões do nascimento e desenvolvimento do instituto, bem como sua compatibilidade com o controle de constitucionalidade adotado por países que incorporaram o Direito romano-germânico. Analisaram-se as possíveis repercussões e consequências jurídicas e sociais da institucionalização da assim chamada “comunidade aberta de intérpretes” no Estado Democrático de Direito. Para a análise aprofundada das consequências e implicações do uso do amicus curiae na jurisdição constitucional brasileira, julgou-se essencial ir às raízes históricas do instituto. Já que foi nos Estados Unidos onde se desenvolveu com vigor a prática do amicus curiae brief (isto é, petição de amicus curiae), buscaram-se, à exaustão, fontes bibliográficas sobre o assunto. Impressionante foi verificar o volume de trabalhos acadêmicos e artigos escritos por estudiosos interessados em compreender a influência dos amici curiae sobre as decisões da Suprema Corte. Assim, para escrever sobre a dinâmica do amicus curiae nos Estados Unidos, mostrou-se necessário recorrer à leitura de nove teses de doutorado sobre o assunto1, além de artigos adquiridos em A dissertação apresentada aborda tema novo na prática constitucional brasileira, qual seja, a inserção da figura do amicus curiae no controle de constitucionalidade. Instituto inédito na revisão judicial de atos normativos, o amicus curiae foi previsto e regulamentado no Brasil pelas Leis no 9.868/99 e no 9.882/99. Veio, isso é certo, para inovar o julgamento de ações diretas, possibilitando a interferência na interpretação constitucional das leis, não só aos conhecidos legitimados ativos, mas também aos mais diversos interessados em auxiliar o Poder Judiciário, notadamente na esfera do Supremo Tribunal Federal. A doutrina pátria sustenta, por isso, a inegável abertura e democratização do controle abstrato, à medida que indivíduos, associações, experts e grupos representativos podem apresentar opiniões abalizadas, pareceres ou mesmo informações de cunho não-jurídico para defender seu ponto de vista sobre a constitucionalidade ou inconstitucionalidade de determinada lei. O trabalho desenvolvido, na tentativa de compreender a essência do amicus curiae, não refletiu sobre a ótica estritamente processual. Buscou, antes, refletir sobre o tema à luz do Direito Constitucional Brasileiro e do Direito Constitucional Comparado. Assim, o estudo não só se deteve, de modo central, 1 Professora de Ciência Política e Teoria Geral do Estado na Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre E-mail: [email protected] (1) Cabe citar os principais trabalhos acadêmicos utilizados: COMPARATO, Scott A. Amici Curiae, Information and State Supreme Court Decision-Making. Tese de Doutorado. Washington University, St. Louis, MO, 2000; HIRT, Catharina Csaky. The Efficacy of Amicus Curiae Briefs in the School Prayer Decisions. Tese de Doutorado. Venderbilt University, Nashville, Tennessee, 1995; HANSFORD, Thomas Geoffrey. Organized interest Lobbying Strategies at the Decision to Participate at the U.S. Supreme Court as Amicus Curiae. Tese de doutorado. Universisty of California, Davis, 2001; JOHNSON, Dennis William. Friend of the Court: The United States Department of Justice as amicus curiae in civil rights cases before the Supreme Court, 1947-1971. Tese de doutorado. Duke University, 1972; KUCINSKI, Nancy Ellis. Interests, Institutions, and Friends of the Court: An Analysis of Organizational Factors Related to Amicus Curiae Participation. Tese de doutorado. University of Texas at Dallas, 2004; PURO, Steven. The role of the Amici Curiae in the United States Supreme Court: 1920-1966. Tese de Doutorado. New York State Univeristy Buffalo, 1971; SEURKAMP, Mary Pat. Amicus Curiae Participation in Higher Education Litigation: Supreme Court and Circuit Courts, 1960-1986. Tese de Doutorado em State University of New York, 1990; SCOURFIELD, Judithanne. Congressional Participation As Amicus Curiae Before The U.S. Supreme Court during the Warren, Burguer and Rehnquist Courts. (October terms 1953-1997). Tese de Doutorado. New York, 2005. SHIPAN, Charles Richard. Judicial Review as a political variable interest groups, Congress and Communication policy. Tese de Doutorado. Stanford University, California, 1993. 67 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 67 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 portais de revistas científicas americanas e britânicas. Estudou-se, outrossim, o posicionamento das Cortes Constitucionais, do Tribunal de Justiça Europeu e da Corte Europeia de Direitos Humanos sobre a admissibilidade do amicus curiae, para então passar à apreciação do desenvolvimento do instrumento processual no Brasil, especialmente no âmbito do controle de constitucionalidade, examinando-se principais decisões judiciais sobre o tema, os mais frequentes participantes perante o STF, bem como o teor dos dispositivos das Leis no 9.868/99 e no 9.882/99 relativos ao tema. Fez-se, por fim, estudo sobre a relação entre o pensamento de Peter Häberle acerca da comunidade aberta de intérpretes, o amicus curiae, o Estado Democrático de Direito, o pluralismo e os grupos de interesse. 68 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 68 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 A REVISTA ATITUDE é uma publicação semestral de acesso irrestrito que publica artigos científicos originais e inéditos nas áreas de Ciências Sociais Aplicadas, Ciências Tecnológicas e áreas afins. A submissão de manuscritos é gratuita e por demanda espontânea, e a seleção dos artigos é feita a partir da recomendação de avaliadores ad-hoc, escolhidos entre os pares da comunidade técnico-científica nacional e internacional. NOTAS PARA AUTORES A Revista ATITUDE - Construindo Oportunidades está aberta a colaborações do Brasil e do exterior. A pluralidade de abordagens e perspectivas é incentivada. Podem ser publicados artigos de desenvolvimento teórico e artigos baseados em pesquisas empíricas (de 10 a 15 páginas, incluindo tabelas e figuras, etc.), Resumos de Teses, Dissertações, Monografias, Resenha Bibliográfica e Comunicações Técnicas (máximo de duas páginas). A aceitação e publicação dos textos implicam a transferência de direitos do autor para a Revista. Não são pagos direitos autorais. Os textos enviados para publicação serão submetidos a dois avaliadores ad-hoc, da área de conhecimento, sendo um pelo menos com a titulação de doutor. Os artigos deverão ser encaminhados para o Núcleo de Editoração (Ned) com as seguintes características: • Para avaliação dos artigos submetidos, deve-se considerar a seguinte estrutura: » Introdução com apresentação do(s) objetivo(s). » Desenvolvimento (referencial teórico e, se aplicável, método, apresentação e discussão dos resultados). » Conclusões (em caráter opcional, recomendações). » Referências bibliográficas. • Em folha de rosto deverão constar o título do artigo, o(s) nome(s) completo(s) do(s) autor(es), acompanhado(s) de breve currículo, relatando experiência profissional e/ou acadêmica, endereço, números do telefone, do fax e e-mail. • A primeira página do artigo deve conter o título (máximo de dez palavras). • O resumo em português (máximo de 250 palavras) e as palavras-chave (mínimo de três e máximo de cinco), assim como os mesmos tópicos vertidos para uma língua estrangeira (inglês - title, abstract, key-words), com recuo nos lados esquerdo e direito de 1 cm. • A formatação do artigo, gráficos, tabelas e quadros devem ser editados no Microsoft Word for Windows em tamanho A4 (210x297 mm). As margens espelho superior: 3,0 cm; inferior: 3,0 cm; esquerda: 2,4 cm e direita: 1,6 cm; em layout: cabeçalho: 1,6 cm, rodapé: 2,8 cm com alinhamento vertical superior; em duas colunas de 8,1 cm com espaçamento interno de 0,8 cm e espaçamento de 1,5 linha. • Fonte para o texto Arial 12 e tabelas Arial 10; títulos de tabelas e figuras em Arial 10, em negrito; e demais títulos Arial 11, em negrito. • Todas as referências bibliográficas devem ser citadas no corpo do texto pelo sistema autor-data. As referências bibliográficas completas deverão ser apresentadas em ordem alfabética no final do texto, de acordo com as normas da ABNT (NBR-6.023). Todas as citações no texto devem estar em letras minúsculas e nas referências, em maiúsculas. Os títulos das publicações devem ser apresentados em itálico. • Diagramas, quadros e tabelas devem ser numerados sequencialmente, apresentar título e fonte, bem como ser referenciados no corpo do artigo. • Quanto às figuras: devem ser inseridas sem a opção “flutuar sobre o texto” e as mesmas devem ter todos seus elementos agrupados. • As ilustrações, fotografias e desenhos gráficos devem ser submetidos em formato JPEG, com resolução mínima 300 dpi, em tons de cinza ou hachurados e inseridos no texto. À exceção das tabelas, todas as demais ilustrações serão tratadas como Figura e referidas sempre por extenso (Figura ou Tabela). Devem ser elaboradas de modo adequado a sua 69 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 69 2009-11-23 14:25 Revista Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano III • Número 5 • Janeiro - Junho de 2009 • • • • • • • • publicação final, já que a dimensão das menores letras e símbolos não deve ser inferior a 2 mm depois da redução. Ilustrações em cores são aceitas, mas o custo de impressão é de responsabilidade do autor. As citações no interior do texto devem obedecer as seguintes normas: um autor (Linsen, 1988); dois autores (Vergara e Vermonth, 1960); três ou mais autores (Larrousse et al., 1988). Trabalhos com mesmo(s) autor(es) e mesma data devem ser distinguidos por sucessivas letras minúsculas (Exemplo: Scouth 2000a,b), o mesmo ocorrendo com trabalhos de múltiplos autores que tenham em comum o primeiro deles. Não utilizar op. cit. nem apud. Devem ser evitadas citações a informações pessoais e de trabalhos em andamento. Os artigos deverão ser enviados em CD, acompanhado de duas vias impressas ou via e-mail, em arquivo eletrônico anexo, desde que não ultrapasse a 8 Mb. O autor receberá a confirmação de recebimento. Os artigos serão selecionados de acordo com a sua relevância, originalidade e qualidade científica. Toda submissão deverá estar adequada às normas da revista ATITUDE e aprovada por todos os autores do trabalho. Os trabalhos enviados para a publicação serão analisados, primeiramente, por um dos membros da Comissão Editorial, que decidirá pela sua pertinência para as áreas de Ciências Sociais, Ciências Tecnológicas ou afins. Posteriormente, os manuscritos serão enviados a pelo menos dois avaliadores ad-hoc, que farão uma revisão cega. Os pareceres dos avaliadores deverão discorrer sobre os seguintes pontos do manuscrito: atendimento das normas de publicação estipuladas; pertinência na área; relevância dos resultados; adequação científica da redação; atualização da literatura utilizada; clareza dos objetivos, da metodologia e dos resultados; e sustentabilidade da discussão pelos resultados obtidos e na literatura científica. O parecer final poderá ser: aceito sem modificação; aceito com modificações; ou recusado. O(s) autor(es) serão informados da decisão, assim que ela for tomada. Os artigos que tiverem recomendação de alteração serão remetidos ao autor para as devidas providências e será necessário o reenvio de nova cópia impressa em um mês e outra em disquete ou CD ou e-mail para a Comissão Editorial. A aceitação final do manuscrito será condicionada à concretização das modificações solicitadas pelo pareceristas ou com a devida justificativa do(s) autor(es) para não fazê-la. O Conselho Editorial da Revista Atitude fará revisões de linguagem no texto submetido, quando necessário. Toda responsabilidade do conteúdo do artigo é do(s) autor(es). Cada artigo submetido à Revista Atitude receberá cinco exemplares da revista. 70 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 70 2009-11-23 14:25 THE ATITUDE JOURNAL is an open access, biannual scientific journal that publishes original scientific papers on the Social Sciences, Technological Sciences and their applications. Manuscript submission is spontaneous and free of charge, and the papers selection is based on recommendation by ad-hoc reviewers, using peer-review process. Submission Procedures and manuscript evaluation Manuscripts will be selected according to relevance, originality and scientific quality. All submission must meet the journal’s format expectations. Each authors needs to approve of the article’s content. The submitted papers will be analyzed primarily by one of the members of the Editorial Committee to assess whether if it is appropriate for the journal. Then the manuscript will be sent to at least two reviewers. The reviewers will evaluate the manuscript according to the following criteria: conformity to the expected format and style; its fit with the particular area of the Journal; quality and relevance of the findings; scholarly content of the review; scientific adequacy; coverage of current literature; clarity of the study aims, methods and results; adequate correspondence between results obtained and discussion and scientific review. The final decision can be: accepted without modifications; accepted with modifications or refused. The author(s) will be informed of the final decision in a timely manner. The final manuscript acceptance will depend upon the authors’ revision of the paper according to the modifications suggested by the reviewers or with an adequate author(s) report justifying why the suggested modifications were not performed. The Editorial Committee of Atitude Journal of Dom Bosco Faculties from Porto Alegre, RS, Brazil will make language revisions in the submitted text, when necessary. 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 71 2009-11-23 14:25 10184 - Porto Alegre (Revista Atitude nº5) FINALIZADA_2.indd 72 2009-11-23 14:25