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FACULDADE DE CIÊNCIAS, CULTURA E EXTENSÃO DO RN - FACEX
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CARPE DIEM
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1
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Revista Cultural e Científica
Faculdade de Ciências, Cultura e Extensão do RN
Natal, Rio Grande do Norte
ISSN 1518-5184
FICHA CATALOGRÁFICA
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C294 Carpe Diem / Faculdade de Ciências Cultura e Extensão do Rio
Grande do Norte. - Natal: FACEX, v. 8, n. 8, jan./dez. 2010.
Revista Cultural e Científica – Coordenação de Pesquisa e
Extensão.
ISSN: 1518-5184
Anual
2001 –
Disponível em:
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1. Educação Superior – Periódico 2. Ciências Humanas –
Periódico 3. Ciências Sociais e Aplicadas – Periódicos 4. Ciências da Saúde – Periódicos I. Título.
EDUCAÇÃO
REVISTA CULTURAL E CIENTÍFICA DA FACEX
FACULDADE DE CIÊNCIAS, CULTURA E EXTENSÃO DO RN
v. 8, n. 8, jan./dez. 2010
O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO COMO FERRAMENTA NA ELABORAÇÃO
DE UM PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO........................................................ 79
Marcelo Vilela Quirino
ENFERMAGEM
SUMÁRIO
BIOLOGIA
RECONHECENDO O TERRITÓRIO DE FORMA HUMANESCENTE: UM
ESPAÇO VIVO DA SAÚDE........................................................................................... 99
Ana Tania Lopes Sampaio
Claudio José da Costa Custódio
Débora Karla Sampaio Alves Custódio
Kátia Brandão Cavalcanti
TEMPORAL DYNAMICS OF FEEDING AND REPRODUCTION OF THE
DAMSEL FISH (Stegastes fuscus).................................................................................. 11
Bhaskara Canan
Liliane L. G. Souza
LITERATURA
Gilson L. Volpato
Arrilton Araújo
POESIA NA SALA DE AULA: FORMANDO LEITORES...................................... 113
Sathyabama Chellappa
Diva Sueli Silva Tavares
WOMEN AND VICTORIAN LITERATURE............................................................ 127
ANATOMIA ECOLÓGICA DE Sesuvium Portulacastrum L. (AIZOACEAE)
Daise Lílian Fonseca Dias
OCORRENTE NA RESERVA BIOLÓGICA DO ATOL DAS ROCAS, ESTADO DO
RIO GRANDE DO NORTE............................................................................................ 33
Maria das Dores Melo
PSICOLOGIA
Berta Lange de Morretes
REFLEXÕES SOBRE STRESS E TRABALHO EM HOSPITAIS PÚBLICOS DE
NATAL-RN..................................................................................................................... 147
Luciana Carla Barbosa de Oliveira
LEVANTAMENTO FLORÍSTICO DO CONJUNTO DOS PROFESSORES, NATAL/
Priscilla Cristhina Bezerra de Araújo
RN: UM SUBSÍDIO PARA ARBORIZAÇÃO URBANA............................................ 51
Eulália Maria Chaves Maia
Mellinna Carol Dantas Pereira
Daniele Bezerra dos Santos
Francisco Freitas Filho
SERVIÇO SOCIAL
Maria das Dores Melo
A MODERNIDADE ANALIZADA SOB A ÓTICA DO CONSUMO: ALGUMAS
CONTRIBUIÇÕES DE ZYGMUNT BAUMAN E ANTHONY GIDDENS............ 159
BIOLOGIA POPULACIONAL DO ROBALO Centropomus undecimalis
Adna Rejane de Freitas Rego
(OSTEICHTHYES: CENTROPOMIDAE) DO ESTUÁRIO DE RIO POTENGI,
NATAL, RIO GRANDE DO NORTE, BRASIL........................................................... 63
NORMAS PARA APRESENTAÇÃO DO TRABALHO.............................................169
Wallace Silva do Nascimento
Liliane de Lima Gurgel
Kelly Cristina Araújo Pansard
Renata Swany Soares Nascimento
Hélio de Castro Bezerra Gurgel
Sathyabama Chellappa
TEMPORAL DYNAMICS OF FEEDING AND
REPRODUCTION OF THE DAMSEL FISH
(Stegastes fuscus)
Bhaskara Canan1; Liliane L. G. Souza2; Gilson L. Volpato3;
Arrilton Araújo1; Sathyabama Chellappa2
ABSTRACT: This study reports on the feeding and reproductive dynamics of
the damsel fish, Stegastes fuscus (Osteichthyes: Perciformes: Pomacentridae)
in the rocky coastal reefs of Búzios, Rio Grande do Norte, Brazil. Water
temperatures and rainfall data were registered and fish were captured on a
monthly basis during one year. Fish body weights and lengths were measured and
the stomachs were removed and classified according to their degree of fullness.
The gonads were weighed, examined for sex determination and maturation was
determined based on macroscopic inspections. A higher frequency of females
(78%) was registered in relation to males (22%). The lowest degree of stomach
fullness was observed in August and the highest in January. Only 2.49% of the
fish had empty stomachs and the rest 97.51% had mainly macroalgae in their
stomachs. The period from February to August was associated to a long phase
of gonadal resting in males and females. Two peaks of partial spawning were
registered during January and September/October.
KEY-WORDS: Feeding. Reproduction. Biological rhythm. Environmental
parameters. Pomacentridae.
DINAMICA TEMPORAL DE ALIMENTAÇÃO E
REPRODUÇÃO DO PEIXE-DONZELA, Stegastes fuscus
RESUMO: O presente trabalho relata sobre a dinâmica de alimentação e reprodução do peixe-donzela, Stegastes fuscus (Osteichthyes: Perciformes: Pomacentridae), nos arrecifes rochosos de Búzios, Rio Grande do Norte, Brasil. A temperatura da água e os dados de pluviosidade foram registrados e os peixes foram
SENAI. Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia, Departamento de Fisiologia,
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Av. Salgado Filho, 3000, Lagoa Nova,
Natal, Rio Grande do Norte, Brasil, CEP 59.072-970. E-mail: meioambiente@cetcm.
rn.senai.br
2
Programa de Pós-Graduação em Bioecologia Aquática, Departamento de Oceanografia
e Limnologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Praia de Mãe Luiza, s/n,
Natal/RN, Brasil, CEP 59.014-100.
3
Laboratório de Fisiologia e Comportamento Animal, (RECAW), Departamento de
Fisiologia, IB, CAUNESP, UNESP, Botucatu, SP, Brasil. CEP: 18618-000
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capturados mensalmente durante o período de um ano. Os peixes foram medidos,
pesados, dissecados, as gônadas foram removidas, pesadas e examinadas para
identificação do sexo. Foi realizada a avaliação macroscópica dos estádios de
maturação gonadal. Os estômagos foram removidos e classificados em relação
ao grau de enchimento. Foi registrada uma maior freqüência de fêmeas (78%)
em relação aos machos (22%). O menor grau médio de repleção dos estômagos
ocorreu no mês de agosto e o maior ocorreu no mês de janeiro. Apenas 2,49%
dos peixes apresentaram estômagos vazios enquanto que 97,51% de indivíduos
apresentaram estômagos com alimento, principalmente as macroalgas. O período
de fevereiro a agosto foi associado a um longo período de repouso gonadal de
ambos os sexos. Dois picos de desova foram registrados durante janeiro e setembro/outubro.
PALAVRAS-CHAVE: Alimentação. Reprodução. Ritmos biológicos. Parâmetros ambientais. Pomacentridae.
12
1 INTRODUCTION
The species that inhabit coral reefs are strongly influenced at
low tides by external factors such as temperature, luminosity, and
rainfall, among others (Klumpp, Mckinnon and Daniel, 1987;
Cleveland and Motgomery, 2003). These effects are due to
the low volume of water in these areas, which are usually trapped in
tide pools. Thus, it is expected that tropical fish communities living in
tide pools are influenced by external factors which vary throughout
the year. Fishes show a wide adaptive radiation in their foraging
habits and marine fish populations exhibit annual changes in their
feeding pattern (Lison De Loma et al. 2000) and reproductive
dynamics (Richardson, Harrison and Harriott, 1997;
Asoh 2003; Picciulin et al., 2004; Araújo and Chellappa,
2002). Effects of temperature, luminosity and rainfall on annual
distribution and population structure have been detected in marine
fish (Gibson, Ansell and Robb, 1993; Schwamborn and
Ferreira, 2002). However, few studies have dealt with tropical
reef fish (Schwamborn and Ferreira, 2002; Osório, Rosa
and Cabral, 2006)
Fishes in the equatorial regions are more influenced by rainfall
and are less subjected to variations in temperature and photoperiod,
since they are practically constant all around the year (Volpato
and Trajano 2006). Thus, fishes in the equatorial regions are
useful for investigating the influence of the dry and rainy periods on
fish biology, since other intervening factors are rather reduced.
The damselfish, Stegastes fuscus (Cuvier 1830), (Osteichthyes:
Perciformes: Pomacentridae), which occurs in tide pools located
in the coastal reefs in northeastern Brazil was investigated in the
present study. The objective of this study was to investigate the sex
ratio, the size structure of males and females, the degree of stomach
fullness and gonadal development in a coral reef population of S.
fuscus in order to understand the temporal dynamics of feeding
and reproduction. An attempt was made to correlate the spawning
season of this species with rainfall, one of the environmental factors
known to modulate the duration and timing of the spawning period
of tropical fish.
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2 MATERIAL AND METHODS
2.1 Study area and sample collection
The study area is located in the South Atlantic Equatorial Zone.
Samples of damselfish S. fuscus were captured from the tide pools
located in reef formations (approximately 3 km in extension), in
Búzios Beach, Nizia Floresta, Brazil (06º00’40’’S; 35º 06’38’’W)
(FIG. 1). In the collection site there were other co-occurring fish
species pertaining to Pomacentridae, Serranidae, Lutjanidae,
Haemulidae and Scianidae. The benthonic macroalgal flora of this
area included Rhodophyta, Chlorophyta and Ochrophyta with
dominance of Hypnea musciformis (Rhodophyta), Gracilaria
spp (Rhodophyta), Solieria filiformis (Rhodophyta), Gelidium
coarctatum (Rhodophyta) and Padina gymnospora (Ochrophyta)
(Marinho-Soriano, Carneiro and Soriano, 2009).
Fish were captured on a monthly basis during the lowest daytime
tides, from September 2004 to August 2005. The observations
on fish occurrence were made at low tide periods, which is when
they are most influenced by variations over the course of the year.
Water temperatures (°C) were recorded monthly in the field when
the fish were captured. Rainfall data (mm) was obtained from the
FIGURA 1 – Relação teórica desenvolvida
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Meteorological Station of the Universidade Federal do Rio Grande
do Norte (UFRN), Natal, Brazil.
Fish were captured with a 0.5 cm mesh hand net, 90 min before
and 90 min after peak low tide. The collected specimens were placed
in plastic bags and packed in ice in a thermal container and were then
transported to the Laboratory for immediate inspection. The voucher
specimens are deposited in the fish collection of the Museum of the
Departamento de Oceanografia e Limnologia, Universidade Federal
do Rio Grande do Norte, Brazil.
2.2 Measurements
The total body mass (TW) of each fish was registered to the
nearest 0.001 g. The fish were then measured to obtain standard
(SL) and total (TL) body lengths to the nearest 0.1 cm. The gonads
were examined to identify sex. Gonadal development stages were
determined macroscopically according to classification of Asoh
(2003). Gonadosomatic index (GSI) was calculated as the ratio
between gonad mass and total body mass for females (Wootton,
Evans and Mills, 1978).
2.3 Estimation of the degree of fullness of stomachs
The stomachs were removed and their degree of fullness were
classified according to Berg (1979): 0 (empty), 1 (up to 25% full), 2
(between 25% and 75% full) and 3 (between 75% and 100% full). To
estimate these percentages, the food contents were accumulated at
the bottom of the stomach and then this filled region was estimated
in relation to total stomach volume. Stomach contents were identified
using identification manuals for macroalgae and Diatomaceae
(Werner, 1977; Reviers, 2006; Marinho-Soriano,
Carneiro and Soriano, 2009).
2.4 Statistical analyses
Monthly analysis of male and female frequencies was performed to
obtain the sex proportion. Mean values were compared by ANOVA in
order to assess the variations considering month, sex and seasonality
(dry and rainy). Tuckey test was used for testing differences between
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particular pairs of means. The repletion index was square root
transformed. The Goodman’s test was used to verify the proportions
between the numbers of fish (Goodman 1965), while χ2 was used to test
for differences in the frequency of males and females along the year and
in the dry and rainy seasons. Significance was attributed at 5% level.
3 RESULTS
3.1 Rainfall and water temperature
During the study period, northeastern Brazil experienced six
months of dry season from September, 2004 to February, 2005.
During the dry season the rainfall varied from a maximum of 44.0
mm to a minimum of 2.0 mm, with a mean (±sd) rainfall of 18.33
mm (± 17.39 mm). The rainy season was from March to August,
2005, during this period the rainfall varied from a maximum of 752.0
mm to a minimum of 90.0 mm, with a mean rainfall of 307.83 mm (±
274.52 mm). There was a significant difference between the rainfall
levels during the dry and rainy seasons (t = 2.578; p=0.0275).
The water temperature varied from a maximum of 36°C in March,
2005 to a minimum of 25°C in July, 2005. During the dry season the mean
water temperature was 32.67ºC (± 1.21ºC), with a maximum of 34.5ºC to
a minimum of 31ºC. During the rainy season the mean water temperature
was 30.58ºC (± 4.65ºC) with a maximum of 37ºC to a minimum of 26ºC.
There was no significant difference between the water temperature during
the dry and rainy seasons (t = 1.259; p = 0.2366).
3.2 Total body length, body mass and sex proportion
The frequency of individuals by standard length classes showed a
normal distribution. Males and females ranged from 3.0-4.5 to 10.5-12.0
cm length classes (FIG. 2a). There were significant differences in the
number of males and females throughout the study period, except for the
months of July and August (FIG. 2b). There was a higher proportion of
females (78%) than males (22%) in the total sample (n = 562) (χ2 = 35.75).
The length-mass relation was not different for males and females
and indicated that mass increment is positively allometric in relation
to total length. The length and mass was correlated by an exponential
curve (r = 0.9876 for females and r =0.9911 for males). (Fig. 3)
16
FIGURA 2 – Class frequency of occurrence (a) and monthly variation
in percentage of occurrence (b) of males and females of Stegastes
fuscus in the coastal rocky reefs of Búzios Beach during 2004 to 2005
(Asterisks indicate significant differences).
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The total length of fish was more distinct between the sexes at the
beginning of the dry season (FIG. 4a; F = 0.43; p = 0.83). The fish
were significantly larger in March and April than in the other months
(F = 2.38; p = 0.04) (FIG. 4a). However, standard length of fish varied
between the sexes and the months. In the months of July-August and
November- December, the females were significantly larger than the
males (FIG. 4b; F = 3.24; p = 0.007). The females captured in MarchApril and July-August had higher mean standard length compared to
the other months. The males captured in March-April were the largest
and those captured in November-December were the smallest. Body
mass was equally affected in relation to sex and month (FIG. 4c; F
= 2.75; p = 0.02). The females had greater body mass than the males
in January-February, whereas the male body mass was the highest in
March-April (FIG. 4c).
FIGURA 3 – Relation between body length and body mass in males
and females of Stegastes fuscus
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3.3 The degree of fullness of stomachs
Of the 562 specimens examined, a low proportion (14; 2.49%)
had empty stomachs, whereas 548 (97.50%) specimens had stomach
contents consisting mainly of macroalgae (Gelidium sp., Grasilaria
sp. and Padina sp.), benthonic diamatoceae and organic debris.
The highest frequencies of empty stomachs occurred from AugustDecember, whereas the highest frequencies of stomachs with food
occurred from January to July. The stomach fullness did not change
throughout the year. The lowest mean repletion level (1.59) was in
August, and the highest (2.29) occurred in January (FIG. 5).
FIGURE 5 - Mean monthly values for degree of stomach fullness in
Stegastes fuscus (for pooled sex).
FIGURE 4 - Size (total length, standard length and body mass) of
Stegastes fuscus in relation to sex and seasonal variation during
2004 to 2005. Measurements indicated in similar simple letters were
not significantly different among themselves (comparison across the
months). The asterisks indicate significant differences between the sex,
when compared during the same period
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Repletion index of fish varied over the months (FIG. 6). No
correlation was observed between fish size (standard length, total
length and body mass) and repletion index, regardless of sex and
season (r = 0.45, p>0.05, n = 6). Repletion index did not differ
between males and females (F = 0.38; p=0.54), despite the variations
observed over the months (F = 2.22; p = 0.05) (FIG. 6).
FIGURE 6 - Stomach repletion rate in Stegastes fuscus according to
sex, season and across months during 2004 to 2005. The grouping of
horizontal lines indicate similar indices and simple letters above the
lines indicate significant differences (medium with the same letter,
however they were not significantly different among themselves).
3.4 Macroscopic aspects of gonads and GSI
Five stages of gonadal maturation (immature, developing,
mature, spent and resting) were identified: The gonadosomatic
index (GSI) of females was high in September, 2004 and in
January, 2005. The period between February and August, 2005
was associated to a gonadal inactivity period. Females with
developing and resting gonads predominated in the rainy season
(FIG. 7a; FIG. 8). The highest mean GSI values coincided with
the lowest temperatures (FIG. 7b).
22
FIGURE 7 - Monthly mean values of (a) rainfall and GSI (b) water
temperatures and GSI in females of Stegastes fuscus during the
period of 2004 to 2005.
Though gonadal development did not vary much throughout the
year, the gonadal development profiles of males and females were
different between one another in both dry and rainy seasons (FIG. 8).
The females were predominately with developing gonads, whereas
the males, for the most part, were juvenile and with immature gonads.
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4 DISCUSSION
The dynamics of reproduction of S. fuscus is associated mainly
to rainfall, which is expected for fish populations in an equatorial
region. Both males and females of this species showed positive
allometric growth. Though the classical sex ratio is a balanced one,
usually being 50% of males and 50% of females (Nikolsky, 1969),
the proportion between males and females was different from 1:1
in the present study and females were predominant during most of
the months. This is possibly due to the behavior of these individuals
since territoriality is common among pomacentrids during the
reproductive phase. Males guard the eggs in territories before and
after they hatch, thus keeping off the predators and unwanted female
intruders. Male care also includes ventilation of eggs, cleaning of
territory and discarding dead eggs, and these activities occupy about
25% of their time (Petersen, 1995). This behaviour, possibly
results in potential coasts for the territorial males, which include
lack of food availability during parental care (Tabata, 1995;
Blazquez, Zanuy and Piferrer, 1998; Gaillard et
al., 2004), predation risks from bigger fishes, mortality difference
between the sexes and ambient temperature (Hatcher, 1981;
Carpenter, 1986; Klumpp and Polunin, 1989).
The difference in territorial distribution between S fuscus males
and females, as well as for other species, has been reported (Munro,
1976). In this study S fuscus males were distributed predominately
along the outer edges of the reefs, which are deeper, while the females
were found in shallower areas.
Populational stratification could be another factor responsible
for the unbalanced sex ratio of this species. The predominance of
males of S. diencaeus in Barbados appears to be related to specific
exigencies of males and females, resulting from environmental
resources, like appropriate sites for breeding territories, proximity
to cleaning stations and search for cleaning agents, depending on
the parasitic loads (Cheney and Côté, 2003). Thus, a possible
populational stratification appears to be a more adequate explanation
to justify the difference observed in sex ratio and such intra-specific
variation is a common characteristic among reef fishes (Nemtzov,
1997; Sikkel, Herzlieb and Kramer, 2005).
Seasonal variation in relation to the body size, food intake and
gonadal development of S. fuscus was observed, with variations
associated to rainfall. The mass-length equation indicates how
much one variable changes in association with the variation of the
other. In this context, the relation between body mass and length
of S. fuscus showed slightly higher values compared to the value
reported by Bohnsack and Harper (1989). This difference may be
explained by the fact that smaller fish (from 3 to 8 cm in furcal
length) were used, whereas in the present study the size range of
fish was larger (2.9 to 11.4 cm).
Differences in the mass-length relation between sexes have
been reported for several fish species (Le Cren, 1951), and are
a consequence of the higher energy expenditure of females during
gonadal maturation (Wootten, 1995). Even though the fish in the
present study were predominately in the immature and developing
gonadal phases, the expected marked effect of sex on the weightlength relation did not occur. One explanation for this finding is
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FIGURE 8 - Fish proportion in relation to sex, gonadal status, dry and
rainy season in Stegastes fuscus.
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that, although female energy expenditure in producing gonads is
greater, S. fuscus males spend energy defending their territory and
protecting the territory (Itzkowits, Ludlow and Haley,
2000; Sikkel, Herzlieb and Kramer, 2005). Coasts of
territorial defense by males may be equivalent to expenditure of
energy by female on gonadal development, which could explain the
similarity in the mass-length curves of males and females.
This study confirms the herbivorous nature of S. fuscus in
accordance with Ferreira et al. (1998) and Osório, Rosa and Cabral,
(2006). There was no difference between the sexes in stomach
repletion rates, though there was a higher rate between January and
June. The increased ingestion may be related to the reproductive
phase. This association may lead to accumulation of sufficient
energy to complete the gonadal development. On the other hand, the
higher repletion level may result from greater food availability. That
is, reproduction may be associated with the period of greater food
supply, which would guarantee not only adult development, but also
offspring survival. This profile coincides partially with the higher
S. fuscus length patterns found in March-April and July-August.
There was a predominance of larger specimens in the rainy season,
which seems to be a response more associated to food availability
than to reproduction. The food supply is greater in the rainy season
and therefore, in the dry period, the larger specimens must search for
other feeding sites, which would explain the size variation of the fish
collected in this study.
Considering the gonadal development phase of S. fuscus, the
females were mainly in developing stages and the males in the
immature or developing stages. That is, the females were in a more
advanced stage of gonadal development than the males. The action
of external influences has been considered as important spawning
synchronizers, for example, in Chromis dispilus (Tzioumis and
Kingsford, 1995). The different gonadal development phases
between S. fuscus males and females suggest that there must be
some acceleration mechanism for males or a delay mechanism for
females that synchronizes the spawning period in this species.
However, rainfall had no effect on overall gonadal development.
26
Since temperature and photoperiod duration are relatively constant
throughout the year in the study area, other environmental
stimuli may have had an influence. In tropical regions the rainy
and dry seasons seem to be the most important in regulating fish
reproduction (Volpato and Trajano, 2006; Chellappa et al., 2009).
This association was not clearly found in this study. The spawning
of S. fuscus occurred mainly in the dry season (September and
February), whereas the initial gonadal development stages
predominated in the rainy season.
The spawning season observed in this study is slightly different
to those reported for pomacentrids from other geographical regions.
Sale (1977) reported a 5-9 month spawning season duration for
pomacentrids, with multiple, weekly or monthly frequencies,
promoting a wide dispersion. In the northeast Caribbean, Chronis
cyanea spawn in April, Microspothodon chrysurus in March,
S. fuscus in January, June and September, and S. leucostictus
in September (Erdman, 1976) In the Red Sea, the numerous
pomacentrid species, with their varied spawning behavior, reproduce
from March-April to September (Fischelson, Popper and
Aviador, 1974).
ACKNOWLEDGEMENTS
This study was supported by the National Council for Scientific
and Technological Development of Brazil (CNPq) in the form of
Research grants (S. Chellappa, A. Araújo and G. L. Volpato) and by
the Foundation CAPES/MEC (scholarship awarded to L.L.G. Souza
during the study period).
REFERENCES
ARAÚJO, A. S.; CHELLAPPA, S. Estratégia reprodutiva do peixe
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ANATOMIA ECOLÓGICA DE Sesuvium
portulacastrum L. (AIZOACEAE) OCORRENTE NA
RESERVA BIOLÓGICA DO ATOL DAS ROCAS,
ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE
Maria das Dores Melo1; Berta Lange de Morretes2
RESUMO: Neste estudo, fez-se uma análise dos órgãos vegetativos da espécie
Sesuvium portulacastrum L. que se desenvolvem na Reserva Biológica do Atol
das Rocas ocupando a zona mais próxima ao mar. As folhas de S. portulacastrum, são mais suculentas, o eixo caulinar compreende uma região aérea e subterrânea e as raízes são longas e finas. Quanto à distribuição dos estômatos, as
folhas são anfiestomáticas, com estômatos do tipo paracítico. O número de estômatos é maior na epiderme da superfície adaxial; apresentando metabolismo ácido crassuláceo, a presença de um parênquima aqüífero bem desenvolvido revela
a adaptação ao ambiente salino. Raiz e caule de S. portulacastrum compreende
estrutura primária e secundária e crescimento anômalo.
PALAVRAS-CHAVE: Anatomia. Órgãos vegetativos. Halófitas.
ECOLOGICAL ANATOMY OF Sesuvium portulacastrum L.
(AIZOACEAE) PRESENT IN ATOL DAS ROCAS BIOLOGICAL
RESERVATION, IN THE STATE OF RIO GRANDE DO NORTE
ABSTRACT: In this study, an analysis was made of the vegetative organs of the
Sesuvium portulacastrum L. species that develop in Atol das Rocas Biological
Resevation and occupies the nearest area to the sea. The leaves of S. portulacastrum, are more succulent, the stem comprises a shaft and the underground, and
the roots are long and thin. As the distributions of stomata, the leaves are only
anfiestomtics with paractico stomata type. The numbers of stomata is higher in
the epidermis of the adaxial surface, showing a crassulaceo acid metabolism, and
the presence of a well developed parenchyma aquiferous reveals the adaptation
to the saline environment. The root and the stem of S. portulacastrum includes
primary elementary and secondary structure and anomalous growth.
KEY-WORDS: Anatomy. Vegetative organ. Halophyte.
1
Professora da FACEX. Rua Francisco Pignataro, 1926 – Capim Macio. CEP 59.082-070,
Natal, RN. E-mail: [email protected]
2
Professora. Instituto de Biociências. Departamento de Botânica. Universidade de São
Paulo. E-mail: [email protected]
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1 INTRODUÇÃO
Sesuvium portulacastrum é uma planta herbácea comumente encontrada desenvolvendo-se na faixa litorânea, próxima as embocaduras de rios. Sua dispersão se dá por todas as regiões marinhas dos
trópicos e subtrópicos (FIG. 1A). No Brasil é encontrada em toda
zona costeira do País. A raiz axial é bem desenvolvida, crescendo
perpendicularmente à superfície do solo, chegando a atingir cerca
de 2,20m; esse crescimento se deve a mobilidade do solo. As raízes
de maior extensão foram registradas em espécies da faixa costeira.
O caule é dividido em aéreo e subterrâneo. O caule aéreo é formado
por um eixo do qual partem ramos nitidamente divididos em nós e
internós, os quais por sua vez, emitem ramos laterais e raízes adventícias. O caule é suculento e a partir do terceiro nó observa-se uma
coloração avermelhada, devido a produção de antocianina. No caule
subterrâneo, as raízes adventícias também se originam nos nós e os
ramos aéreos fixam-se no solo arenoso. Esse caule apresenta coloração amarela passando a parda nas regiões mais velhas do órgão. As
folhas são simples, glabras, lisas, lineares e de ápice agudo e bordo
inteiro. A suculência da lâmina foliar aumenta nos indivíduos que se
aproximam da região atingida pela maré alta. A filotaxia é opostacruzada; o pecíolo é curto e sua base apresenta uma diminuta bainha. As flores são curtamente pediceladas. O cálice tem a cor verde
e a corola apresenta coloração vermelho púrpureo. À medida que as
flores envelhecem, a coloração das pétalas se altera, passando gradativamente para róseo claro. Os estames são numerosos e de comprimento igual ao do cálice. Em Atol das Rocas S. portulacastrum
se desenvolve na faixa litorânea recebendo borrifos da maré alta.
Das espécies que se desenvolvem próximas ao mar, ou que ficam
submersas em maré alta, o caule e as folhas produzem uma grande
quantidade de antocianina, chegando à mudança de coloração para
vermelho intenso, como também são mais suculentas.
Em virtude da escassez de estudos sobre a anatomia ecológica de
espécies da região costeira, bem como das ilhas oceânicas, o objetivo
desta pesquisa é analisar os órgãos vegetativos e seus mecanismos
de adaptação de S. portulacastrum L. ocorrente em Atol das Rocas,
Estado do Rio Grande do Norte.
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2 MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Local de estudo
O Atol das Rocas está localizado na costa brasileira a cerca de
144 milhas da cidade do Natal, Rio Grande do Norte e a 80 milhas de Fernando de Noronha, entre as coordenadas 3º05’-3º56’S e
33º37’-33º56’W. A área da Reserva Biológica compreende 360 Km2,
incluindo o atol e as águas que o circundam até a isóbata de 1000
metros (SALES 1991).
O clima é o da zona equatorial, quente ao sol e suave à sombra. O
mês mais quente é agosto, aonde chega a atingir a mínima de 22ºC e
a máxima de 38ºC. O período chuvoso é de março a julho, chovendo
mais nos meses de abril a maio (KIKUCHI 1994)
No que se refere à vegetação insular, observa-se que na face da
ilha voltada para o continente, as espécies que ocorrem na ilha e no
continente, são as mesmas. As espécies em questão revelam caracteres de plantas halófitas. Strogonov (1959) e Schimper (1935) referem
que as plantas que crescem em habitat arenoso, nas proximidades do
mar, sujeito à ação da água salgada que se infiltra no solo e dos sais
depositados pelo vento sobre a superfície, determinando uma concentração salina relativamente alta.
O Atol das Rocas apresenta uma vegetação densa, tipicamente
herbácea, resistente a salinidade, excessiva luminosidade e constante ação das marés. As espécies possuem características de
plantas halófitas. Plantas como Sesuvium portulacastrum L. (Aizoaceae) apresentam seus ramos orientados para o mar e estruturas resistentes ao soterramento, tais como rizomas e estolões, os
quais crescem continuamente, formando um emaranhado.
se. Para o estudo anatômico do caule foram seccionados do primeiro
ao sétimo internós. A estrutura dos órgãos em questão foi analisada
em secções transversais e longitudinais.
A fixação se deu em FAA 70 e posteriormente conservado em álcool etílico a 70%. Para confecção de lâminas permanentes, o material foi desidratada em série etílica, infiltrada e incluída em parafina
(SASS, 1958). Os cortes foram obtidos em micrótomo Reichert-Jung
2040, variando a espessura de 8 a 15 μm. após a desparafinação e hidratação foram submetidos ao processo de dupla coloração safranina
e azul de astra, segundo metodologia descrita por Bukatsch (1872)
apud Kraus et al. (1998). A montagem foi feita em bálsamo do Canadá com acetato de butila.
Paralelamente, foram feitas secções à mão livre as quais foram
coradas com safranina e azul de astra (KRAUS et al., 1998) e, montadas em gelatina glicerinada.
2.2 Metodologia
O material botânico utilizado para o estudo morfológico e anatômico foi retirado de exemplares coletados na Reserva Biológica do Atol
das Rocas.
Foram coletadas plantas adultas destinadas aos estudos anatômicos, onde as folhas investigadas foram extraídas do terceiro e quarto internó, efetuando-se cortes transversal e longitudinal. Os dados
morfológicos foram obtidos utilizando-se 25 folhas para cada análi-
3 RESULTADOS
Para o estudo da estrutura foliar, foram utilizadas folhas adultas
provenientes do terceiro e quarto nós. Em vista frontal (FIG. 1B), as
células da epiderme adaxial das folhas dos indivíduos do Atol das
Rocas apresentam um formato poligonal e tamanho variado, com
paredes anticlinais retas, delgadas, na maioria destas, são observadas estrias epicuticulares e alguns idioblastos epidérmicos, também
visíveis em microscopia eletrônica de varredura. A epiderme abaxial, em vista frontal, revela que as células se mostram de formato
irregular, porém menos alongadas do que as da epiderme adaxial.
Em secção transversal, verifica-se que a epiderme é unisseriada e
suas células são de formato retangular, as paredes periclinais externas são espessadas e retas, enquanto que a interna são arredondadas
e menos espessas. A cutícula é delgada em toda a extensão do limbo.
Os estômatos estão localizados no mesmo nível as demais células da
epiderme.
A folha é anfiestomática. Os estômatos estão distribuídos de forma aleatória, ocorrendo também em fileiras ao longo das nervuras.
Enquadram-se no tipo paracítico, sendo uma das células subsidiárias
consideravelmente maior. Em secção transversal, as células guarda
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são pequenas e revelam um espessamento nas paredes periclinais
externa e interna e, em conseqüência, o lume se torna reduzido. A
parede periclinal externa apresenta cristas estomáticas, com uma
câmara subestomática relativamente ampla e as células subsidiárias
entram em contato com as células paliçádicas do mesofilo. Também
foram observados estômatos geminados.
Examinando-se o mesofilo (FIG. 1C) de S. portulacastrum em
secção transversal da lâmina foliar, a organização da folha é isobilateral. No mesofilo ocorrem três camadas de parênquima paliçádico
junto a epiderme adaxial e a epiderme abaxial. Estas células apresentam paredes delgadas sendo providas de numerosos cloroplastídios.
As células parenquimáticas se dispõem compactamente. Entre as
células paliçádicas das superfícies adaxial e abaxial, situa-se um parênquima cujas células são destituídas de cloroplastídios. A primeira
camada em contato com as células paliçádicas é representada por
células grandes de formato esférico contendo cristais de oxalato de
cálcio do tipo drusa. Algumas dessas células estão em conexão com
duas ou mais células do parênquima paliçádico, assemelhando-se a
uma célula coletora. A região mediana é ocupada por um parênquima aqüífero, cujas células são grandes, de paredes delgadas, geralmente são isodiamétricas. O formato destas células se altera ao redor
da nervura mediana, tornando-se alongadas. As unidades vasculares
se localizam neste parênquima numa mesma linha (FIG. 1D).
Os feixes vasculares de menor porte, do tipo colateral, estão em
contato com a camada de células que contém drusas, tanto na face
adaxial quanto na abaxial. O feixe vascular mediano revela a presença de um nítido câmbio vascular que diferencia novos elementos do
xilema e do floema.
O padrão de venação, de acordo com a classificação de Hickey
(1979) é do tipo Camptodromo aproximando-se do subtipo Brochidodromo. Os fatos descritos são válidos para as folhas dos dois ambientes.
Numa análise do ápice caulinar, em secção longitudinal, verificase que o mesmo é constituído de túnica e corpo, sendo a primeira
formada por duas camadas de células que originam a epiderme e o
córtex e a segunda responsável pela formação do sistema vascular
e parênquima da medula. As células da primeira camada da túnica
dividem-se anticlinalmente para a formação da epiderme. A segunda
camada apresenta células com divisões anticlinais e periclinais. O
corpo constitui-se de células com divisões segundo vários planos.
As células da túnica e do corpo são pequenas apresentando paredes delgadas, citoplasma denso e núcleo grande. A certa distância
das camadas iniciais do corpo observa-se um meristema em costela,
cujas células são maiores e vacuolizadas. Neste estágio de desenvolvimento, o procâmbio já se encontra instalado, suas células são
estreitas e alongadas, apresentando ainda citoplasma denso e pouco
vacuolizado.
Os estômatos são do tipo paracítico ou anomocítico, dispondo-se
em fileiras paralelas ao maior eixo do órgão, nos indivíduos dos dois
ambientes. Foram registrados, em caule de ambos os ambientes, estômatos teratológicos geminados, ou seja, entre dois estômatos ocorre apenas uma estreita célula subsidiária.
A secção transversal realizada ao nível do primeiro interno (FIG.
1E), dos indivíduos dos dois ambientes, revela que a epiderme é
unisseriada. Os estômatos situam-se em uma pequena depressão;
as células guarda apresentam paredes periclinais externa e interna
espessadas, condicionando um lume celular reduzido. A câmara
subestomática é pequena. Algumas células epidérmicas tornamse proeminentes, assumindo aspecto vesiculoso e a cutícula que
recobre é espessada. Abaixo da epiderme, um colênquima angular
encontra-se em diferenciação. No parênquima cortical ocorrem espaços intercelulares, ora retangulares, ora triangulares de diferentes dimensões. As células parenquimáticas da região cortical apresentam paredes delgadas e vacúolo grande. Idioblastos cristalíferos
ocorrem neste parênquima, em diferentes posições, algumas vezes,
situam-se junto à epiderme. Geralmente cada idioblasto contém
apenas uma drusa, podendo, no entanto, mais raramente ocorrer
duas. A camada mais interna do córtex é formada por células menores, nas quais se situam pequenos grãos de amido; esta camada
ocupa a posição de uma endoderme. Nas células em questão, não
foram registradas estrias de Caspary. Abaixo da camada amilífera,
situa-se o periciclo unisseriado.
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Nos feixes vasculares, o câmbio fascicular já é ativo, mas, não se
registrou um câmbio interfascicular. Os elementos de vaso apresentam disposição geralmente radiada e já possuem paredes bem lignificadas. As células do parênquima da medula apresentam as mesmas
características das do parênquima cortical. Para os estudos, foram
empregadas raízes adventícias, em virtude da mobilidade do solo,
que é constante no Litoral Oriental.
Secções transversais realizadas a 0,5mm do ápice radicial dos indivíduos provenientes dos dois ambientes, revelaram a presença de
dois estratos de células da coifa; a protoderme, três estratos de meristema fundamental e o procâmbio. Nesta etapa do desenvolvimento
já são reconhecíveis os precursores da endoderme e do periciclo. No
procâmbio, a maioria das células ainda apresenta paredes delgadas,
citoplasma denso e núcleo grande. Na região do meristema fundamental, neste estágio do desenvolvimento já estão presentes espaços
intercelulares.
Secções transversais realizadas a 1 mm do ápice revelam que a
epiderme, o parênquima cortical, endoderme, periciclo e sistema
vascular primário, já estão diferenciados. A epiderme é unisseriada
e sua cutícula é muito delgada. As células do parênquima cortical
são freqüentes vezes volumosas, apresentando paredes delgadas e
vacúolo grande. Na região cortical, os espaços intercelulares aumentam de volume e a endoderme apresenta nítidas estrias de Caspary.
O periciclo é unisseriado. No cilindro vascular, o xilema e o floema apresentam a disposição diarca ou triarca. A região central da
raiz é ocupada pelo metaxilema. Nesta fase do desenvolvimento
ocorre a instalação dos arcos cambiais (FIG. 1F).
40
A
B
C
D
E
F
FIGURA 1 – A) Vista geral de Sesuvium portulacastrum L. ocorrente
no Atol das Rocas; B) Vista frontal da epiderme adaxial da folha de S.
portulacastrum; C) Secção transversal do mesofilo revelando a presença
de estômatos; D) Secção transversal do mesofilo mostrando o parênquima
aqüífero; E). Secção transversal do caule em estágio primário com
epiderme de células altas; F) Secção transversal da raiz em estrutura
primária mostrando espaços intercelulares.
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4 DISCUSSÃO
De acordo com Larcher (1986) os habitats salinos têm, em comum, um conteúdo superior ao normal de sais prontamente solúveis.
Os oceanos, os lagos salgados e as lagoas salinas são habitats salinos
aquáticos. Em terra, existem solos salinos tanto sob condições climáticas úmidas como áridas. Nas regiões com precipitação pesada,
é possível ao solo tornar-se salgado na região de borrifos da zona de
maré, sobre as dunas e nos pântanos.
A salinidade é conhecida por afetar muitos aspectos do metabolismo das plantas e induzir mudanças na sua morfologia e anatomia.
Essas mudanças podem ser consideradas adaptações da planta a fim
de suportar o estresse imposto pela salinidade. Segundo PoljakoffMayber (1975) a salinidade influencia no tempo e padrão de germinação, porte das plantas, tamanho de ramos e folhas e em toda
sua anatomia. A suculência é um dos aspectos comuns em plantas
halófitas. O fato descrito por Poljakoff-Mayber (1975) é confirmado pela análise dos resultados obtidos em Sesuvium portulacastrum
crescidos na Reserva Biológicas do Atol das Rocas. Kemp e Cunningam (1981) em seus experimentos verificaram que quanto maior
a salinidade, mais espessa se torna as folhas, especialmente quando
a temperatura e a intensidade luminosa também sofrem alteração. A
salinidade existente em Atol das Rocas é muito alta, fato que explica
o maior porte dos indivíduos, ramos e folhas, bem como um alto
grau de suculência nas plantas desenvolvidas nesse ambiente.
Esau (1965; 1977), Cutter (1986) e Fahn (1990) afirmam que a
estrutura das folhas pode variar estando estas variações vinculadas
aos diferentes habitats. A epiderme de Sesuvium portulacastrum é
unisseriada, recobertas por uma cutícula delgada. Para Cutler, Alvin
e Price (1982) a parede periclinal externa das células epidérmicas é
revestida por um estrato cuja espessura varia. Este estrato é formado
por um depósito de cutina, a cutícula, podendo sob ele ocorrer outros estratos de diferentes composições, tais como: pectatos, hemiceluloses ou compostos graxos. A cutícula, portanto, é representado
apenas pelo estrato de cutina, cuja espessura pode variar. Existem
cutículas delgadas e outras espessas; sobre a cutícula ocorrem ornamentações, tais como: estrias, verrugas ou bastonetes. Price (1982),
Eschrich (1995) e Dickison (2000) afirmam que a proteção contra a
evaporação é dada especialmente pela camada de cutina e que, esta
proteção resulta do arranjo das partículas estruturais da cutícula. Em
conseqüência podem ocorrer cutículas delgadas que protegem melhor do que as espessas. Oliveira (1999) estudando três espécies da
caatinga e três do cerrado afirma que as cutículas espessas são mais
permeáveis que cutículas delgadas, indicando que a espessura não
pode ser considerada como um único fator de controle da permeabilidade. Por sua vez, Price (1982) e Oliveira (1999) esclarecem
que a cutícula é a primeira barreira para redução da perda de
água, contra os efeitos de herbicidas e poluentes atmosféricos.
Segundo os dois autores, o conhecimento de sua permeabilidade
constitui um tema de grande importância econômica. A epiderme
foliar de Sesuvium portulacastrum é revestida por uma cutícula e
seus estratos cuticulares.
Em Sesuvium portulacastrum, a folha é isolateral e o desenvolvimento do parênquima paliçádico pluriestratificado, conspícuo e de
poucos cloroplastídios. Chrysler (1904) verificou as espécies como
Atriplex hastata, Xanthium canadense e Polygonium mostram uma
tendência para a forma isolateral aquelas que se desenvolvem na região de pós-praia e bifacial ou quando crescendo no interior do continente. De acordo com Fahn (1974) a folha de Atriplex halimus é
isolateral. Segundo esse autor, as epidermes são delgadas e cobertas
de tricomas de sal. Roth (1992) afirma que folhas isolaterais podem
resultar da posição da folha ou por intensa iluminação especial em
plantas de dunas ou da costa. A autora estudou oito espécies de dunas
e verificou que todas apresentavam estrutura isolateral. Roth (1992)
lembra ainda que a falta d’água, alto teor salino e conseqüente seca
fisiológica pode induzir folhas com estrutura isolateral. Sousa (1997)
observou que as folhas de Lavoisiera, espécie do cerrado, apresentam características xeromórficas com células epidérmicas com paredes periclinais espessadas, ceras epicuticulares, anfistomia, mesofilo
isobilateral, parênquima lacunoso compacto e traqueídes alogandas
e curtas nas terminações vasculares.
Registrou-se em Sesuvium portulacastrum L. a presença de um
parênquima aqüífero abaixo do parênquima paliçádico, de células
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isodiamétricas e paredes delgadas. Segundo Hamza (1980), o parênquima aqüífero desenvolve grandes vacúolos em suas células. Metcalf e Chalk (1950) citam a presença de mesofilo suculento, consistindo de um parênquima assimilador e outro aquífero, interligados
ou separados em zonas na espécie de P. grandiflora. Ainda Pyykkö
(1966) e Shields (1950) destacam a presença de hipoderme, como um
parênquima aqüífero, compacto, com forte lignificação da epiderme,
presença de fibras como características fortemente xeromórficas, revelando uma adaptação.
As folhas de Sesuvium portulacastrum apresentam características de plantas CAM como: morfologicamente a suculência;
e estruturalmente hipoderme, parênquima aqüífero e reduzidos
feixes vasculares. Estudos realizados por Koch e Kennedy (1980)
para folhas e caules de P. oleracea L. com o objetivo de observar
a ocorrência do metabolismo ácido crassuláceo (CAM), indicaram que sob certas condições, tais como estresse hídrico e fotoperíodo curto, essa espécie é capaz de desenvolver um metabolismo
ácido semelhante ao metabolismo ácido crassuláceo. A maioria
dessas plantas vive em ambiente de alta luminosidade e estresse
hídrico. Entre as espécies vasculares, as plantas CAM são mais
amplamente distribuídas do que as plantas C4. O metabolismo
CAM foi relatado em pelo menos 23 famílias de dicotiledôneas,
duas monocotiledôneas, uma gimnospermas, uma espécie aquática do gênero Isoetes e algumas pteridófitas. Algumas apresentam
alto grau de suculência enquanto outras não, como em bromeliáceas dos gêneros Ananas e Tillandsia. Winter e Lüttge (1976)
observaram numa variedade de plantas C3, o fenômeno CAM que
pode ser induzido em resposta aos fatores externos. Boyce (1954)
lembra que a deficiência de nitrogênio e a exposição de folhas aos
borrifos de água do mar condicionam suculência.
A epiderme do caule de S. portulacastrum é unisseriada e é
recoberta por uma cutícula espessa em flanges. Esses flanges estão relacionados ao fator água, produzindo certa plasticidade na
ausência da água. Piza Araújo (1980) observou flanges cuticulares
em caules de Philoxerus portulacoides. A periderme da epiderme em questão que se instala no sistema subterrâneo caulinar, se
mostra geralmente com poucas camadas, o mesmo acontece no
sistema aéreo, normalmente provido de poucas camadas de súber.
Essa periderme tem origem a partir de um felogênio subepidérmico. Achutti (1978) observou no caule aéreo de P. rotundifolia,
um colênquima do tipo angular. Em Philoxerus portulacoides o
colênquima foi registrado disposto em círculo contínuo. Em Sesuvium portulacastrum, sob epiderme, no caule aéreo, verifica-se
um colênquima do tipo angular. Alguns pesquisadores afirmam
que a função do córtex no sistema subterrâneo pode estar relacionada com o armazenamento, onde essas estruturas, os internós
comumente são curtos. Esse crescimento pode está associado a
adaptações fisiológicas. Dickison (2000) relata que esses padrões
anômalos protegem xilema e floema que se encontrem em estresse intenso, podendo ainda aumentar a formação de conexões para
as raízes adventícias. O autor acima citado afirma ainda que os
vários tipos de crescimento anômalo secundário são de difícil
classificação em grupos distintos, em função de sua diversidade estrutural e sua integração com padrões normais da atividade
cambial. Nas espécies Portulaca oleracea e Sesuvium portulacastrum, o caule subterrâneo acumula grande quantidade de amido,
levando-se a crer que esse órgão é uma adaptação a mobilidade
do solo em função da fixação, como também ao de armazenamento de substâncias. Brandle e Crawford (1987) afirmam que o acúmulo de amido é uma adaptação para hipoxia, garantindo assim,
reserva de carbono em situações de emergência.
Segundo Esau (1959) as células do córtex, observadas transversalmente, dispõem-se ordenadas em fileiras radiais ou podem alternar entre si nas sucessivas camadas concêntricas. A
presença de aerênquima está relacionada às características xeromórficas e é citado por Omer e Mosely (1981) como um caráter
xeromórfico comum as plantas de ambientes salinos, salientando não se tratar de uma situação necessariamente de halófitas.
Rawitscher (1944) cita a ocorrência de grandes lacunas no córtex das raízes de Panicum spectabile e Echinolaeana inflexa e
chama a atenção para isolamento do cilindro central devido á
presença de considerável quantidade de ar. Foram observados
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nos indivíduos de S. portulacastrum grande lacunas na região
cortical, provocadas pela lise das células, que segundo Sculthorpe (1967), esta organização é comum em algumas monocotiledôneas e plantas aquáticas.
Sajo (1982) pesquisando raízes adventícias de V. sessifolia e V.
psilophylla, realizadas nas regiões distais dos órgãos, verificou uma
variação no número de pólos de protoxilema. Thiel (1934) observou
em Helianthus annus L. uma raiz diarca, nas proximidades do ápice,
tornando-se triarca e tetrarca, em regiões, mais afastadas do mesmo.
Melo (1995) em estudos para a espécie Tabebuia aurea ocorrente na
Caatinga dos Estados de Pernambuco e Rio Grande do Norte, verificou uma variação entre quatro a sete pólos de protoxilema. Nos indivíduos de S. portulacastrum ocorreu uma variação na organização
dos elementos, de três a quatro pólos de protoxilema.
5 CONCLUSÕES
Nas folhas de Sesuvium portulacastrum L a suculência aumenta
nos indivíduos que se desenvolvem na região atingida pela maré alta.
Quanto à distribuição dos estômatos, a folhas é anfiestomática; do
tipo paracítico, sendo uma das células subsidiárias maior. As células
guarda são pequenas, revelando um espessamento nas paredes periclinais externa e interna. Quanto à organização do mesofilo, a folha é
isobililateral, a região mediana é ocupada por um parênquima aqüífero com a presença de cristais de oxalato de cálcio do tipo drusa.
A cutícula que reveste o caule é espessa com a presença de flanges
cuticulares. Foram observados ainda, estômatos teratológicos geminados. O colênquima do tipo angular. Na região cortical e medular
do caule, observam-se grãos de amido e o periciclo é unisseriado e
espesso. Na raiz, a coifa é pouco desenvolvida.
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LEVANTAMENTO FLORÍSTICO
DO CONJUNTO DOS PROFESSORES, NATAL/RN:
UM SUBSÍDIO PARA ARBORIZAÇÃO URBANA
Mellinna Carol Dantas Pereira1; Daniele Bezerra dos Santos2;
Francisco Freitas Filho3; Maria das Dores Melo4
THIEL, A. F. Anatomy of the transition region of Helianthus annuus.
J. Elisha Mitchell Scient. Soc., v. 50, p. 268-274, 1934.
RESUMO: O presente trabalho teve como objetivo efetuar o levantamento florístico do Conjunto Residencial dos Professores, localizado no bairro de Capim
Macio, na cidade do Natal/RN. Fez-se o levantamento somente para vegetação
de porte arbóreo e arbustivo das áreas verdes, ruas, terrenos baldios e praças,
totalizando em 402 indivíduos pertencentes a 18 famílias e 37 espécies. A identificação das espécies foi feita através de chaves analíticas, consultas a especialistas e comparação com exsicatas devidamente identificadas. As famílias com
maior número de espécies foram Caesalpinaceae (7) e Mimosaceae (5). Baseado nos resultados do levantamento, concluiu-se que é necessário um acréscimo
efetivo no quantitativo de espécies arbóreas, para que represente uma melhoria
ambiental, na paisagem, estética e na oferta de outros serviços ambientais específicos da arborização.
WINTER, K.; LÜTTGE, U. Balance between C3 and CAM patway
of photosynthesis. Ecological Studies, v. 19, p. 323-332, 1976.
PALAVRAS-CHAVE: Levantamento Florístico. Arborização Urbana. Endemismo.
SOUZA, H.C. Estudo comparativo de adaptações anatômicas
em órgãos vegetativos de espécies de Lavoisiera DC.
(Melastomataceae) da Serra do Cipó, MG. 1997. 121 f. Tese
(Doutorado em Botânica) – Instituto de Biociências, Universidade
de São Paulo, São Paulo, 1997.
STROGONOV, V. P. The water regime of plants on saline soils.
Paris: UNESCO, 1959. 16p.
FLORISTIC SURVEY OF CONJUNTO DOS PROFESSORES, IN CAPIM
MACIO NEIGHBORHOOD, NATAL/RN: AN ALLOWANCE FOR
URBAN AFFORESTATION
ABSTRACT: This study has as its main objective to do a floristic study of Conjunto dos Professores (Natal / RN). A survey of all vegetation-sized trees and
shrubs at the green areas, streets, vacant lots and squares was made, a total of 402
individuals belonging to 18 families and 37 species. The species identification
was made through analytical keys, consulting the experts and comparison with
Graduando. Concluinte do curso de Ciências Biológicas da FACEX. Rua: Professor
Adolfo Ramires, Qd. 14, Bloco A, Apt. 101, Bairro Capim Macio; CEP:59078-460, Natal/
RN; Tel.:(84)9405-9997; e-mail: [email protected].
2
Mestre em Ecologia. Professora do curso de Ciências Biológicas da FACEX. Rua: Rua
Orlando Silva, 2897 Capim Macio; CEP: 59080-020 - Natal/RN; Tel.: (84) 8897-7917;
e-mail: [email protected]
3
Mestre. Professor do curso de Ciências Biológicas da FACEX. Rua: Rua Orlando Silva,
2897 Capim Macio; CEP: 59080-020 - Natal/RN; Tel:. (84) 9982-1217; e-mail: [email protected].
4
Doutora em Botânica. Professora da FACEX. E-mail: [email protected]
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specimens properly identified in the herbarium of FACEX. The families with the
biggest number of species were Caesalpinaceae (7) and Mimosaceae (5). It was
also classified as to the origin, and we identified the exotic predominate the group.
The distribution of specimens altogether, however, was not uniform, observing
several places with no shortage or afforestation.
KEY-WORDS: Floristic. Urban afforestation. Endemism.
52
1 INTRODUÇÃO
Arborização urbana é toda cobertura vegetal de porte arbóreo
existentes na cidade. Sob o ponto de vista sócio, econômico e ambiental, a arborização exerce um papel de vital importância para a
qualidade de vida nos centros urbanos, bem como as propriedades
ao seu entorno (FARIAS, 2009).
Por suas múltiplas funções, as árvores atuam diretamente sobre
o clima, a qualidade do ar, propicia sombra, diminui o impacto da
chuva, contribui para o balanço hídrico, ameniza os ruídos, é fator
paisagístico, constitui refúgio indispensável à fauna remanescente
nas cidades, além de ser fator educacional (SEVERINO, 2009).
Os benefícios da arborização estão condicionados a qualidade
do planejamento. Planejar a arborização é indispensável no desenvolvimento urbano por não trazer prejuízos ao meio ambiente
e, para que isso não ocorra, devem ser considerados vários fatores
como: condições do ambiente, características da espécie, largura
de calçadas e ruas, fiação aérea e subterrânea, afastamentos e
diversificação das espécies (PIVETTA e SILVA FILHO 2002).
Ainda no tocante do planejamento, a pesquisa e seu desenvolvimento
assumem um importante papel para sua evolução, contribuindo para o
desenvolvimento científico do presente e futuro da arborização urbana
em geral, considerando que a arborização é fator determinante da salubridade ambiental, pois tem uma grande influência sobre o bem estar
da população, em virtude dos benefícios que proporciona ao meio (PINHEIRO, 2008). A pouca diversidade da vegetação nos centros urbanos
é de grande risco para o equilíbrio ecológico do planeta, devendo ser
evitada. A diversidade da vegetação é condição favorável para a sobrevivência da fauna. As cidades que assim encontram-se poderão se transformar em desertos verdes, podendo comprometer o crescimento, adaptabilidade e desenvolvimento das árvores. Para que isso não aconteça
seria necessário que cada cidade utilizasse na arborização as espécies
nativas da região, que são adaptadas ao local (PINHEIRO 2008).
Segundo Souza (1997), a uniformidade quanto ao emprego das
espécies é conseqüência generalizada da arborização urbana de cidades brasileiras, que se deve, a uma cidade procurar imitar a arborização da outra. Daí a pouca diversidade, obtendo um número
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reduzido de espécies e causando os mesmos problemas.
Para Mello Filho (1985) sob o ponto de vista botânico, a arborização urbana é um campo com possibilidades ilimitadas de pesquisas,
dizendo que na flora brasileira existem de cinco a seis mil árvores
precisando de estudos e experimentos, mais a cota atualmente introduzida em arborização não chega a cem espécies.
Nesse sentido, esta pesquisa objetiva um levantamento florístico
no Conjunto dos Professores na cidade do Natal/RN a fim de contribuir para os programas de arborização urbana.
2 MATERIAL E MÉTODOS
O Conjunto Residencial dos Professores situa-se na zona sul da cidade do Natal, no bairro de Capim Macio e possui 179.941,20 m² de área,
limitando-se ao norte com Lagoa Nova; ao sul, o bairro de Capim Macio;
ao leste, o Parque das Dunas; e ao oeste, o bairro de Mirassol (FIG. 1).
O conjunto dos Professores é uma área predominantemente residencial, habitado por famílias de classe média. A área estudada contém trechos de ruas, praças e terrenos baldios, onde foram coletadas
amostras das espécies de árvores encontradas para herborização e
identificação. O conjunto é constituído por 13 ruas, 1 avenida, 1 terreno baldio e 1 praça.
Com o auxílio dos mapas dos conjuntos fornecidos pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Urbanismo - SEMURB, delimitouse como área de estudo todos os logradouros (áreas verdes, ruas,
praças, travessa e terreno baldio).
O levantamento florístico das espécies arbóreas e arbustivas foi
realizado por meio de coletas ao longo de caminhadas de forma a
percorrer cada rua, do conjunto, em toda sua extensão.
O material coletado foi herborizado e identificado no herbário da
FACEX. As identificações foram feitas utilizando chaves analíticas
e consultas a especialistas e comparações com exemplares devidamente identificados do herbário da FACEX. O sistema de classificação adotado foi o de Cronquist (1988) sendo apresentada em ordem
alfabética por famílias, gênero e espécies.
A partir da lista das identificações foram classificadas as espécies
endêmicas e exóticas, assim com base em dados e informações de
54
FIGURA 1 - Mapa do Conjunto Residencial dos Professores, Natal, RN.
Fonte: SEMURB, 2009
especialistas.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nesta pesquisa foram identificados 402 indivíduos de porte arbóreo, pertencentes a 18 famílias e 37 espécies. A espécie mais abundante foi Cassia siamea Lam com 43 indivíduos, distribuída em todo
o conjunto residencial. Das 18 famílias registradas, as com maiores
freqüência foram Caesalpinaceae e Mimosaceae (Tab. 1).
De acordo com levantamento realizado para o Conjunto Residencial de Mirassol, Natal/RN, Souza (1997) ou, destaca a predominância das leguminosas nas áreas urbanas. Em trabalhos realizados
no bairro Centro da cidade de Nova Iguaçu – RJ e na cidade de
Campina Grande – PB. Rocha et al. (2004) e Dantas e Souza (2004),
afirmaram que a espécie mais frequente na arborização também é a
Cassia siamea Lam. Para Rocha et al. (2004), as espécies Cassia siaCarpe Diem
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mea, Terminalia catappa, Delonix regia e Clitoria fairchildiana não
são adequadas para arborização de vias públicas devido à incompatibilidade com locais urbanos; a primeira espécie é de crescimento rápido e madeira que quebrar com facilidade, causando transtornos; a
Castanhola possui folhas grandes que nos meses de julho e agosto se
soltam da árvore, sujando as ruas e entupindo esgotos; o Flamboyant
não é indicado por apresentar raiz superficial, podendo danificar calçadas e o Sombreiro é uma espécie que apresenta ataques de insetos
desfolhadores. De acordo com Rocha et al. (2004), recomenda-se a
substituição dessas espécies por outras mais adequadas às condições
urbanas.
Considerando que a espécie a Cassia siamea Lam. predominou
na área de estudo, Leal, Biondi e Rochadelli (2008), afirmam que
espécies de crescimento rápido e de pequeno porte possuem um custo menor para arborização, pois esses custos são avaliados quanto à
produção de muda e operações de poda.
Das 37 espécies encontradas, 47% são de origem nativa e 53% de
origem exótica sendo esta última predominante na área em questão.
Teixeira (1999) ao analisar a arborização do Conjunto Residencial
Tancredo Neves, RS, afirma ter encontrado uma situação semelhante, onde 44% dos indivíduos eram de origem nativa e 56% de origem
exótica, também predominante em todo o conjunto.
A
B
C
D
E
F
FIGURA 2 – A) Vista de uma rua pouco arborizada; B) Árvores
plantadas inadequadamente; C) Rua Prof. José Gurgel; D) Praça existente
no conjunto residencial bem arborizada; E) Terreno baldio de pouca
cobertura vegetal; F) Raiz da espécie Flamboyant soerguendo a calçada.
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e funções bem definidas. Contra a poda não existe defesa, a não ser a
tentativa de recompor sua estrutura. Só se admite a poda para as árvores frutíferas, onde realizamos a poda de frutificação visando à maior e
melhor produção dos frutos.
TABELA 1: Relação das espécies arbóreas do Conjunto Residencial
dos Professores, Natal/RN.
FIGURA 3 - Representação da quantidade de espécies nativas e
exóticas do Conjunto Residencial dos Professores, Natal/RN.
Segundo Klein (1985), o sucesso obtido pela introdução das espécies exóticas se deve a fatores tais como: grande facilidade da coleta
de sementes, metodologia silvicultural desenvolvida, adequada seleção das espécies, porém as nativas representam as mais adequadas
para manter a dinâmica do solo e clima regional.
Com relação a podas, observou-se a falta de conhecimento aos
responsáveis pelos plantios, quanto ao porte das espécies. Foram
constatadas árvores quebrando calçadas e atingindo a rede elétrica, serviços de telefonia, dentre outros. Essas espécies deveriam ser
substituídas por espécies de pequeno porte (FIG. 4a e 4b).
Dantas e Souza (2004) ressaltam que o principal fator por essa
situação é a falta de uma política de educação ambiental por parte
do poder público, que resulta num melhor esclarecimento e maior
conscientização da população para o plantio, conservação e proteção
da arborização. Se planejado de maneira adequada, o resultado será
uma melhor distribuição das espécies, adequadas e compatíveis com
o ambiente urbano.
De acordo com Barnewitz (1997), podar ou mutilar uma árvore é
crime, pois é uma agressão a um organismo vivo que possui estruturas
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FAMÍLIA
NOME CIENTÍFICO
1. Anacardiaceae
2. Araucariaceae
3. Bignoneaceae
4. Bombacaceae
5. Caesalpinaceae
6. Crhysobalanaceae
7. Combretaceae
8. Malpighiaceae
9. Malvaceae
10. Meliaceae
11. Mimosaceae
12. Moraceae
13. Myrtaceae
14. Palmae
15. Fabaceae 16. Punicaceae
17. Rutaceae
18. Verbenaceae
Anacardium occidentale L.
cajueiro
Mangifera indica L.
mangueira Araucaria heterophylla Salisb
pinheiro
Tabebuia aurea Manso
ipê amarelo
Tabebuia chrysotricha Mart
ipê
Pachira aquatica Aubl.
munguba
Bauhinia variegata L.
pata de vaca
Caesalpinia echinata Lam.
pau- Brasil
Caesalpinia ferrea Mart.
jucá
Cassia fistula L.
chuva de ouro
Cassia siamea Lam.
cássia nordestina
Delonix regia Raff.
flamboyant
Erythrina indica Lam.
brasileirinho
Licania tomentosa Benth
oiti
Terminalia catappa L.
castanhola
Byrsonima verbascifolia Rich
murici
Hibiscus tiliaceus L.
algodão da praia
Azadirachta indica A. Juss.
nim
Melia azedarach L.
cinamomo
Adenanthera pavonina L.
tento carolina
Calliandra brevipes Benth.
esponjinha
Leucaena leucocephala Lam.
leucena
Mimosa hostilis Benth.
jurema preta
Prosopis juliflora DC
algaroba
Ficus benjamina L.
ficus
Psidium guajava L.
goiabeira
Syzygium jambolanum Lam.
azeitona roxa
Syzygium malaccensis L.
jambo
Archantophoenix cunninghamiana Wendl. palmeira hawaii
Cocos nucifera L.
coqueiro
Roystonea oleracea Jacq.
palmeira imperial
Clitoria fairchildiana Howard
sombreiro
Indigofera sp.
indigofera
Punica granatum L.
romã
Citrus limon L.
limão
Citrus sinensis L.
laranjeira
Duranta repens L.
pingo de ouro
Total
37
18
Carpe Diem
v. 8, n. 8
NOME VULGAR
37
jan./dez. 2010
ORIGEM
Nº
nativa
exótica
nativa
nativa
nativa
nativa
nativa
nativa
nativa
exótica
exótica
exótica
nativa
nativa
exótica
nativa
exótica
exótica
exótica
exótica
nativa
exótica
nativa
exótica
exótica
nativa
exótica
exótica
exótica
nativa
exótica
nativa
nativa
exótica
exótica
exótica
exótica
21
26
1
29
5
4
1
7
1
1
43
2
4
17
21
1
2
27
1
23
1
10
1
8
22
2
5
18
11
21
1
10
3
2
1
2
47
37
402
59
cidade de Campina Grande - PB: Inventário e suas espécies. Revista de
Biologia e Ciências da Terra, v. 4, n. 2, 2004.
FARIAS, Caroline. Arborização urbana. Disponível em:< http://www.
infoescola.com/meio ambiente/arborizacao-urbana>. Acesso em: 25
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LEAL, Luciana; BIONDI, Daniela; ROCHADELLI, Roberto. Custos
de Implantação e manutenção da arborização de ruas da cidade de
Curitiba, PR Revista Árvore, Viçosa – MG, v. 32, n. 3, p. 557-565, 2008.
FIGURA 4 - Representa a quantidades de indivíduos encontrados
de cada família.
4 CONCLUSÃO
Diante o estudo realizado conclui-se que a arborização urbana no
Conjunto dos Professores possui um grande déficit na cobertura verde,
onde mostrou pouca diversidade e as espécies que predominaram eram
de origens exóticas.
É preciso conscientizar a população da importância de uma boa relação com as árvores, pois é a falta de participação da comunidade nos
programas de arborização o principal fator que gera prejuízos aos plantios de árvores de ruas. Assim, considera-se de suma importância incentivar o uso de espécies nativas, já que a maioria das espécies plantadas
no Brasil são invasoras.
REFERÊNCIAS
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Ijuí-RS. Revista de Direito Ambiental, v. 26, p. 185, 1997.
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PINHEIRO, Jairo A. N. Arborização Urbana. Disponível em: <http://
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2009.
Carpe Diem
v. 8, n. 8
jan./dez. 2010
61
BIOLOGIA POPULACIONAL DO ROBALO,
Centropomus undecimalis
(OSTEICHTHYES: CENTROPOMIDAE)
DO ESTUÁRIO DE RIO POTENGI, NATAL,
RIO GRANDE DO NORTE, BRASIL
SILVA, Alexandre F. et al. Composição florística e grupos ecológicos das
espécies de um trecho de floresta semidecídua submontana da fazenda
São Geraldo, Viçosa – MG. Revista Árvore, v. 27, n. 3, p. 311-319, 2003.
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Mansour, na cidade de Uberlândia – MG. Caminhos de Geografia, v.
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SOUSA, Aurélio L. Estudo urbano – Florístico do Conjunto Mirassol
– Natal – RN. 21 f. Monografia (Especialização em Bioecologia) Departamento de Botânica, Ecologia e Zoologia, Universidade Federal
do Rio Grande do Norte, Natal, 1997.
TEIXEIRA, Ítalo F. Análise qualitativa da arborização de ruas do
conjunto habitacional Tancredo Neves, Santa Maria – RS. Ciência
Florestal, Santa Maria, v. 9, n. 2, p. 9-21, 1999.
Wallace Silva do Nascimento1, Liliane de Lima Gurgel1, Kelly
Cristina Araújo Pansard2, Renata Swany Soares do Nascimento3,
Hélio de Castro Bezerra Gurgel4, Sathyabama Chellappa1
RESUMO: O presente estudo teve com objetivo determinar a estrutura da população estabelecendo a proporção sexual, estrutura em comprimento e relação
peso-comprimento e a biologia alimentar do Robalo, Centropomus undecimalis.
As amostragens mensais foram efetuadas no período de agosto de 2004 a junho
de 2005, no Estuário do Potengi, Natal, RN. Para as capturas dos peixes foram
utilizadas as tarrafas e os anzóis. Para cada exemplar foi registrado o peso total
(gramas), o comprimento total (cm) e o sexo. Foram capturados um total de 189
exemplares de C. undecimalis. A proporção entre sexos demonstrou totalidade
de indivíduos machos durante todo o período estudado. A distribuição das freqüências, por classe de comprimento variou de 9,5 a 36 cm, com predomino nas
classes de 15-24 cm, indicando uma grande quantidade de jovens na população
amostrada. A relação entre peso total e comprimento total foi representada pela
equação: Wt = 0,007 Lt 2,9998 com r = 0,9969, indicando uma correlação significativa entre as variáveis e que a espécie apresenta um crescimento do tipo
isométrico Os indivíduos jovens foram encontrados principalmente na classe
de 15-21 centímetros. Analisando o grau de repleção foi verificado que os estômagos sem alimento foi mais representativo para todo período de estudo (GR
0 = 48%). Os recursos alimentares mais consumidos por C. undecimalis foram
os peixes (IAi = 0,91) e seguidos pelos crustáceos (IAi = 0,09). A espécie apresentou-se carnívora com tendência piscívora. A ausência das fêmeas é justiçada
pela espécie em estudo sendo uma hermafrodita protândrico.
Wallace - UFRN, Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Centro de Biociências,
Departamento de Oceanografia e Limnologia, Laboratório de Ictiologia. Praia de Mãe
Luíza, s/n, 59014-100, Natal, RN, Brasil.
2
UFRN, Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia, Campus Universitário, Lagoa
Nova, CEP 59072-970, Natal, RN, Brasil.
3
UFRN, Centro de Biociências, Departamento de Morfologia, Campus Universitário,
Lagoa Nova, CEP 59072-970, Natal, RN, Brasil.
4
UFRN, Centro de Biociências, Departamento de Fisiologia, Campus Universitário,
Lagoa Nova, CEP 59072-970, Natal, RN, Brasil.
1
62
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63
PALAVRAS-CHAVE: Centropomus undecimalis. Estrutura populacional. Hermafrodita protândrico. Conteúdo estomacal.
POPULATION BIOLOGY OF COMMOM SNOOK Centropomus
undecimalis (OSTEICHTHYES: CENTROPOMIDAE) POTENGI RIVER
ESTUARY, NATAL, RIO GRANDE DO NORTE, BRAZIL
ABSTRACT: This study aimed to determine the population structure of Centropomus undecimalis by establishing the sex ratio, length structure, length-weight
relationship and feeding biology. Monthly sampling of this species was carried
out during August, 2004 and June, 2005 in the Potengi estuary of Natal, RN.
The fish were captured by cast nets and hooks. For each specimen the total weight (grams), total length (cm) and sex were registered. A total of 189 specimens
were captured. The analysis of the sex ratio showed only the presence of males
throughout the study period. The distribution of frequencies, by class length varied from 9.5 to 36 cm, with a predominance in the class of 15-24 cm, indicating
presence of juvenile fish in the population. The relationship between weight and
length was represented by the equation: Wt = 0.007 Lt2,9998, with r = 0.9969, indicating a significant correlation between the variables and that the species has
isometric growth. Juveniles were found mainly in the class of 15-21 cm. The
degree of repletion indicated the presence of stomachs without food, which was
more representative for the whole study period (GR 0 = 48%). The food resources
consumed by C. undecimalis were mostly fish (IAi = 0.91), followed by crustaceans (IAi = 0.09). C. undecimalis is a carnivorous species with a strong preference
to fish. Females were absent as the study species is a protandric hermaphrodite.
KEY-WORDS: Centropomus undecimalis. Population structure. Protandric
hermaphrodite. Stomach contents.
64
1 INTRODUÇÃO
Os estudos relacionados á biologia de espécie visa fornecer subsídios para facilitar a implementação de medidas de manejo, principalmente para espécies de grande interesse econômico, como é o caso dos
robalos, que altamente requisita- dos pela pesca esportiva, artesanal e
industrial. Despertam, também, enorme interesse para a aqüicultura,
pois são peixes promissores para as atividades de piscicultura marinha, que é cada vez mais crescentes.
Os peixes da família Centropomidae ocorrem em águas tropicais e
subtropicais, representada no continente americano pelo gênero Centropomus com doze espécies, sendo seis no oceano atlântico e seis no
Pacífico (RIVAS, 1986). A espécie Centropomus undecimalis, conhecida vulgarmente no Brasil como robalo, robalo-flecha, camorim ou
camurim e nos países de lingua inglesa, common snook, sendo considerados os maiores do gênero. Distribui-se do Sul dos Estados Unidos
a toda costa do Brasil, à exceção do Rio Grande do Sul, ocorrendo em
simpatria com C. parallelus. São eurihalinos, podendo ser encontrado
tanto no mar como nas águas salobras estuarinas, lagunas e lagoas de
água doce (MARSHAL, 1958; VOLPE, 1959).
A análise das fontes alimentares utilizadas pelos peixes pode fornecer dados sobre habitat, disponibilidade de alimento no ambiente e
mesmo sobre alguns aspectos do comportamento, enquanto que informações acerca da intensidade na tomada de alimento podem ser
úteis para a complementação de estudos que visem a detectar interações competitivas entre as espécies ou partição de recursos entre elas,
assim, gerando subsídios para um melhor entendimento das relações
existentes entre os componentes da ictiofauna e os demais organismos
da comunidade aquática. (HAHN et. al., 1997).
Tendo em vista os impactos a que estão submetidos os sistemas
continentais e marinhos, a carência de informações sobre as nossas
espécies de estuários e a captura desordenada do robalo em ambiente
natural, o presente trabalho visa analisar aspectos da biologia da população de Centropomus undecimalis do estuário do Potengí, no que
tange a estrutura populacional e o habito alimentar, servindo como
importante ferramenta para o conhecimento de informações referentes aos seus aspectos biológicos e ecológicos.
Carpe Diem
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65
2 MATERIAIS E METODOS
2.1 Área de coleta
A área de coleta situa-se na região costeira, no estuário do Rio Potengi/RN, (FIG. 1), sob as coordenadas 5º 47’ 47” S e 035º 13’ 67
W”. O Rio Potengi corta o município Natal, nascendo na Serra de
Santana região semi-árida, seguindo seu curso percorrendo os relevos
convexos e aguçados do Planalto da Borborema e do agreste potiguar,
banhando cerca de sete municípios até desembocar em forma de estuário no mar. Possui apenas 30 km navegáveis, no qual desempenha
importante papel econômico, social e ecológico.
FIGURA 1 - Área de Estudo: Estuário do Potengi, município de Natal/
RN, Brasil (coordenadas 5º 47’ 47” S e 035º 13’ 67 ”W).
2.2 Coleta de dados
As coletas foram realizadas, mensalmente, de agosto de 2004 a julho de 2005, empregando-se um e esforço de pesca de 3h por coleta,
com a utilização de tarrafas de malhas de 2,0 a 5,0 cm entre nós e
anzóis. Os peixes capturados foram transportados para o Laboratório
de Ecologia e Fisiologia de Peixes da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte. Os exemplares foram mensurados para a obtenção
do comprimento total e padrão, utilizando-se um ictiômetro, pesados
66
com balança de precisão de centésimos de grama e dissecados por
meio de uma incisão ventral-mediana para identificação dos sexos.
Para a análise do conteúdo estomacal o tratos digestivos foram removidos, pesados, fixados em formol a 4% e preservados em álcool 70%.
2.3 Análise dos dados
A proporção entre os sexos foi determinada pelas freqüências relativas de macho e fêmeas para todo período de estudo.
A estrutura em comprimento baseou-se na distribuição das freqüências percentuais das classes de comprimento total para todo período de estudo com amplitude de 3 cm.
Para a obtenção da relação peso total/comprimento total, procedeuse à distribuição dos pontos empíricos individuais destas variáveis, a
fim de estabelecer a expressão matemática que melhor se ajustasse aos
dados da relação entre as duas variáveis envolvidas. A tendência dos
pontos demonstrou a relação (SANTOS, 1978):
Wt = a.Ltb
Os valores de “a” e “b” foram estimados pelo método dos mínimos
quadrados após transformação logarítmica dos dados empíricos, havendo entre essas duas variáveis transformadas linearidade através da
expressão:
ln Wt = -ln a + b ln Lt
Estimou-se o valor do coeficiente linear de Pearson (r) para demonstrar a aderência dos pontos empíricos à reta calculada.
Para cada indivíduo foi verificado o grau de repleção estomacal
(GR), o qual foi adotada uma escala de valores de acordo com o volume de alimento presente no estômago (HAHN, 1997). Sendo: Grau 0
= estômago completamente vazio; Grau 1 = estômago com até 25%;
Grau 2 = estômago entre 25 e 75% e Grau 3 = estômago acima de 75%.
O índice de repleção foi calculado mensalmente com base na expressão:
.100
IR= WE
WT
Para análise do conteúdo gástrico foram utilizados 45 estômagos,
sendo a identificação detalhada dos itens alimentares em cada conteCarpe Diem
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67
údo foi feita através de um microscópio óptico com auxilio de bibliografia adequada.
Os itens alimentares foram analisados pelos métodos de freqüência
de ocorrência e volumétrico (HYNES, 1950) e posteriormente conjugados no índice de importância alimentar (IAi) adaptado para porcentagem (KAWAKAMI e VAZZOLER, 1980), que fornece os itens que
mais contribuem para a dieta das espécies, através da expressão:
A relação entre peso total e comprimento total foi representada
pela equação: Wt = 0,007Lt2,9998 com r = 0,9969, indicando uma
forte correlação entre as variáveis e que a espécie apresenta um crescimento do tipo isométrico (FIG. 3a). A linearização, também chamada de curva ajustada, corroborou os resultados da relação peso/
comprimento através da transformação dos pontos empíricos em logaritmos naturais (FIG. 3b).
F xV
IAi = n i i
∑ (Fi xVi)
n=1
O fator de condição corrigido foi calculado mensalmente através
da expressão:
Ф*= WtФ
Lt
3 RESULTADOS
Foram capturados 201 exemplares Centropomus undecimalis. A
análise macroscópica das gônadas demonstrou uma totalidade de
machos para todo período de estudo.
A distribuição das freqüências, por classe de comprimento variou
de 9,5 a 36 cm, com predomino nas classes de 15-24 cm (FIG. 2), indicando uma elevada quantidade de jovens na população.
FIGURA 3 - Relação Peso/Comprimento e curva ajustada de C. undecimalis para todo período de estudo.
Analisando o grau de repleção para todo período de estudo, foi verificado que os estômagos sem alimento (GR 0 = 48%) e com pouco
alimento (GR 1 = 20 %) foram mais representativos (FIG. 4)
FIGURA 2 - Distribuição de freqüências relativas de C. undecimalis por
classes de comprimento total para todo período de estudo.
FIGURA 4 - Proporção do grau de repleção dos estômagos de C. undecimalis, para todo o ano.
68
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69
As freqüências relativas dos graus de repleção mensal mostraram
que estômagos sem alimentos ou com pouco alimento predominaram
nos meses de janeiro a julho (100% de estômagos GR 0). Estômago
com grau de repleção II e III foram mais representativos nos meses de
agosto (83% de estômagos com alimento) a dezembro (FIG. 5).
FIGURA 5 - Distribuição da freqüência do grau de repleção dos estômagos de C. undecimalis, por mês de coleta.
FIGURA 6 - Distribuição mensal do Índice de Repleção e do Fator de
Condição de C. undecimalis.
Os maiores valores para o índice de repleção (IR) ocorrem no trimestre agosto, setembro,outubro, sendo o mês de julho o de menor índice,
enquanto que o fator (FC) de condição evidencia que a época em que os
exemplares encontram-se em melhores condições alimentares é de agosto
a novembro (FIG. 6).
A análise do conteúdo gástrico através da freqüência de ocorrência nos 49 estômagos analisados evidenciou basicamente em sua dieta
peixes, crustáceos, representado por camarões e caranguejos (FIG. 7).
FIGURA 7 - Freqüência de ocorrência do conteúdo gástrico de C. undecimalis para todo o período de estudo.
70
Carpe Diem
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71
O índice alimentar, quando aplicado para o total de estômagos analisados (n = 45) observa-se que os peixes, constituem o recurso alimentar mais consumido pela espécie com um IAi = 0,91, seguidos
pelos crustáceos com um IAi = 0,09 (FIG. 8).
4 DISCUSSÃO
A proporção entre machos e fêmeas é uma informação importante
para a caracterização da estrutura de uma espécie ou população, além
de constituir subsídio para o estudo de outros aspectos como avaliação
do potencial reprodutivo e estimativas do tamanho do estoque, alem
de ser um parâmetro capaz de facilitar inferências à respeito do tipo
de ambiente no qual determinada população se desenvolveu (VAZZOLER, 1996; NIKOLSKY, 1969). O resultado obtido nesse estudo sobre
a proporção entre os sexos mostrou uma predominância de indivíduos
machos, diferindo da proporção esperada de 1:1. Esse resultado não
muito típico pode ser explicado pela estratégia reprodutiva da espécie,
que se apresenta como hermafrodita protândrico, ou seja, o indivíduo
se desenvolve macho e em um certo período de seu ciclo de vida seus
testículos começam a se degenerar e ao mesmo tempo células germinativas femininas se proliferam. Para C. undecimalis a média de transição é de 50 cm, tamanho mínimo para sua captura no Brasil (IBA-
MA, 2006). Estudos realizados anteriormente também relataram um
predominância de machos para a espécie, como: Mendonça (2004),
estudando C. undecimalis em ambiente hipersalino (19,7:1), Taylor et
al. (2000), em estudo realizado na Flórida com peixes menores de 50
cm, e abaixo de 2 anos de idade a proporção (3:1) e Thue et al. (1982)
estudando peixes com mais de 80 cm e acima de 8 anos de idade (1:11).
A ausência de fêmeas em nosso trabalho pode estar ligada a muitos
fatores, dentre eles a seletividade amostral e a dispersão dos peixes
no ambiente. Tendo em vista que os peixes de maior comprimento são
solitários, habitam regiões mais profundas.
A estrutura da população em classe de comprimento reflete as condições ambientais presentes e pregressas as quais a população se desenvolveu. Segundo Odum (1983), as populações podem ser divididas
em três categorias: Ascensão, quando existe uma grande proporção
de indivíduos de menor tamanho; Estabilidade, quando a proporção
é balanceada entre jovens, adultos e velhos; e declínio, caracterizada
por apresentar um grande número de indivíduos mais velhos. No entanto não foi possível determinar a categoria da população devido a
estratificação existente entre peixes menores e maiores, mostrando a
preferência das fêmeas (peixes maiores) por outros ambientes.
Foi registrada um variação de 9 cm a 36 cm sendo a classe mais
representativa entre 15 a 21 cm, como a espécie pode chegar a mais de
1,25m e que a estuários são utilizados por várias espécies como locais
de desova, proteção e alimentação podemos dizer que o C. undecimalis utiliza a área estudada com importante centro de crescimento
para revitalização dos estoques. As freqüências elevadas de indivíduos de classe de comprimento menores podem denotar altos níveis
de recrutamento (BENEDITO, 1989). Nikolsky (1963), afirma que o
dimorfismo sexual que ocorre em relação ao tamanho do corpo, em
que as fêmeas alcançam comprimentos maiores que os dos machos,
é vantajosos, na medida em que a fecundidade aumenta exponencialmente com o crescimento.
A Relação Peso Total/Comprimento permite que sejam feitas inferências a respeito do tipo de crescimento dos peixes. Essa relação
tem sido descrita através da formula Wt = a.Ltb , onde a =Ф, constante
que indica o estado nutricional do peixe, podendo variar em função
72
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FIGURA 8 - Distribuição mensal do índice de importância alimentar
(IAi), de C. undecimalis.
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do ambiente e do estádio de desenvolvimento gônadal; b = θ indica o
tipo de crescimento (constante de alometria) do peixe e pode variar de
2,5 a 4,0. Segundo Rossi-Wongtschowisk (1977), esse parâmetro pode
variar entre peixes de localidades diferentes, de sexos diferentes ou diferentes fases de crescimento, sendo geralmente constante para peixes
dentro de cada um destes aspectos.
As espécies cujo valor de b seja três,caracterizam-se pelo crescimento “isométrico”, ou seja, a forma do corpo e a gravidade não variam.
Se os valores forem maiores ou menores que três o crescimento é tipo
“alométrico”, podendo ser denominados positivo ou negativo, respectivamente (RICKER, 1975).
Neste estudo foi encontrado para C. undecimalis o valor de θ (b)
é igual a 2,9998, ou seja isométrico, significando que a espécie apresenta um crescimento estatisticamente igual. Resultado semelhante
foi encontrado por Silva (1976) em estudos com a mesma espécie em
viveiros de Pernambuco, com θ = 3,0. Santos (1994) realizou experimentos em tanques com C. undecimalis e encontrou valores para θ que
variaram entre 2,842 a 3,229.
O conhecimento de o espectro alimentar de uma espécie, importante
em pesquisas auto-ecológicas, constitui uma maneira de se obterem dados
preciosos sobre a estrutura trófica do ecossistema (GURGEL, 1992). O habito alimentar do peixe é um importante indicador das relações ecológicas
entre os organismos, podendo determinar as estratégias de coexistência
de espécies afins.
O grau de enchimento do estômago é um bom indicador das condições ecológicas interativas entre peixes e meio ambiente (AGUILLAR e
MALPICA, 1993). O elevado número de estômagos vazios, durante todo
período de estudo, pode ser explicado pela dieta basicamente piscívora.
Uma alimentação baseada em peixes tem um grande valor energético,
isso reduz a necessidade de ingestão continua de alimento, ou seja, a espécie tende a procurar novas presas quando se encontra faminta. Esse procedimento è normal em animais carnívoros (NIKOLSKY, 1963).
Os índices alimentares, devido ao seu caráter quantitativo, definem
com mais segurança qual a época que os peixes apresentam as melhores condições alimentares (BARBIERI e MARINS, 2001).
O Índice de Repleção para C. undecimalis do Estuário Rio Po-
tengi se apresentou baixo, devido ao elevado número de estômagos
vazios. Mesmo assim foi verificar um aumento no peso dos estômagos nos meses de julho a novembro, isso pode ter ocorrido pelo
aumento da disponibilidade de alimento.
Outra forma de analisar alimentação é através do fator de condição
é um índice muito utilizado em estudos de biologia pesqueira, pois
indica o grau de bem estar do peixe em relação ao ambiente em que
vive além de fornecer indicações quando se deseja comparar duas ou
mais populações vivendo em determinadas condições de alimentação,
densidade, clima; como também para determinar a duração da fase
de maturação gonadal e acompanhar o grau de atividade alimentar de
uma espécie, verificando se ela está ou não fazendo bom uso da fonte
alimentar (BRAGA, 1986). Para C. undecimalis o período encontrado
que melhor condição vai de agosto a novembro, mesmo período em
que o índice de repleção também se eleva, confirmando assim que o
período de agosto a novembro é o de melhor condição da espécie no
ambiente, ou seja, é quando a espécies aproveita de maneira satisfatória os recursos disponíveis.
Analisando o conteúdo estomacal dos camurins, constatou-se
uma preferência por peixe em sua alimentação. Para verificar melhor
o resultados utilizamos o IAi (Índice de importância alimentar), afim
de se verificar se o conteúdo mais freqüente é o mais importante.
Evidenciamos com este método, que alimentação da espécie é a base
de peixes apresenta maior importância, sendo sua principal fonte de
recurso alimentar, seguido de crustáceos, representados por camarões e caranguejos. Esses resultados foram similares aos relatados
por Gilmore et al. (1983), onde registraram que os robalos se alimentam basicamente de peixes seguido de camarão, Fore e Schmidt,
(1973) encontraram os peixes na base da alimentação dos robalos, seguido de camarões, caranguejos, insetos e micro crustáceos.
Rivas, (1962), Vasconcellos Filho e Galiza, (1980) e Chávez (1963),
também relataram a preferência alimentar por peixes, sem seleção de
espécies, completando sua dieta com crustáceos, moluscos, ovos de
peixes e insetos. Pode-se dizer ainda que sua alimentação esta totalmente ligada à coluna d’água, pois raramente são encontradas presas
bentônicas em seus conteúdos estomacais.
74
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75
5 CONCLUSÃO
O ambiente estudado pode ser caracterizado como área de alimentação e crescimento de juvenis da espécie. A espécie em estudo
apresenta um crescimento do tipo isométrico. A alimentação da espécie é carnívora com forte tendência piscívora, tendo como complemento alimentar camarões e caranguejos.
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RESUMO: Trata-se da utilização do Planejamento Estratégico - empregado
pelas organizações em geral, na definição dos seus objetivos e metas - como
ferramenta na elaboração de um Projeto Político-Pedagógico (PPP) para Instituições de Ensino Superior. Procedeu-se uma pesquisa bibliográfica sobre estratégia, sua origem e significado, assim como planejamento estratégico e seus
instrumentos de elaboração, acompanhamento e avaliação. Realizaram-se as
conexões entre planejamento organizacional e projeto político-pedagógico, a
partir da definição e elaboração deste último, para finalmente, demonstrar a
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STRATEGIC PLANNING AS A TOOL IN THE ELABORATION OF A
POLITICAL-PEDAGOGIC PROJECT
ABSTRACT: This paper deals with the use of Strategic Planning - used by
organizations, in general, in the definition of their objectives and goals – as a
tool in the elaboration of Political-Pedagogical Project (PPP) for Institutions
of Superior Education. A bibliographical research was carried out on strategy,
its origin and meaning, as well as strategic planning and its instruments of
elaboration, accompaniment and evaluation. The connections between
organizational planning and political-pedagogical project were analyzed from
the definition and elaboration of this last one, in order to demonstrate the utility
of strategic planning principles in the conception of a PPP.
KEY-WORDS: Strategy. Strategic planning. Political-pedagogical project.
Education.
1
Este artigo é resultado do TCC do Curso de Especialização em Formação Docente da
Faculdade de Ciências, Cultura e Extensão do Rio Grande do Norte sob a orientação da
Profª Dr.ª Rita Diana de Freitas Gurgel - Email: [email protected]).
2
Administrador de Empresas. Especialista em Gestão Empresarial (MBA em Gestão
Empresarial – FGV). Funcionário de carreira do Banco do Nordeste do Brasil S/A,
ocupante da função de Gerente de Negócios. E-mail: [email protected].
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1 INTRODUÇÃO
O objetivo deste trabalho é analisar a eficácia da utilização do planejamento estratégico utilizado pelas Instituições de Ensino Superior
(IES) no estabelecimento de sua missão, valores, metas e objetivos,
como uma ferramenta na elaboração de um projeto político-pedagógico.
O planejamento estratégico é utilizado pelas organizações em geral,
como instrumento de formação de sua identidade organizacional, assim
como, elemento de análise do alcance dos seus objetivos, reavaliação e
correção de rumos. Nessa trajetória, as organizações têm oportunidade
não somente de avaliarem, mas também de se reavaliarem, e em muitos
casos de, se reinventarem-se, criando novos objetivos e metas. Conforme Montgomery e Porter (1998, p. 5), “Estratégia é a busca deliberada
de um plano de ação para desenvolver e ajustar a vantagem competitiva
de uma empresa”. Desta forma, se para as organizações, a elaboração
de um planejamento estratégico é condição sine qua non para o sucesso, certamente, entendemos nós, que este mesmo instrumento poderá
ser utilizado na elaboração de um projeto político-pedagógico de cursos
superiores, pois auxiliaria a IES no alcance dos seus objetivos e metas.
A construção deste trabalho foi possível mediante uma pesquisa
bibliográfica que consistiu basicamente no levantamento de abordagens do problema (convergentes e divergentes), em obras que tratam
de planejamento estratégico e projeto político-pedagógico.
Inicialmente, estaremos analisando a origem do planejamento
estratégico e sua utilização como importante instrumento de apoio
empresarial. Abordaremos o planejamento na educação no Brasil, a
importância do projeto político-pedagógico e a sua construção, e, finalmente, a eficácia da utilização do planejamento estratégico como
ferramenta na elaboração de um PPP.
1.
Arte de coordenar a ação das forças militares, políticas, econômicas e morais implicadas na
condução de um conflito ou na preparação da defesa
de uma nação ou comunidade de nações.
2.
Parte da arte militar que trata das operações e
dos movimentos de um exército, até chegar em condições vantajosas, à presença do inimigo.
3.
Por extensão: arte de aplicar com eficácia os
recursos de que se dispõe ou de explorar as condições favoráveis de que porventura se desfrute, visando o alcance de determinados objetivos.
No século VI a. C., o general Sun Tzu, escreveu o livro “A Arte da
Guerra”, sendo este considerado um clássico no estudo da Estratégia,
em seu manual, assim se expressa sobre a guerra (Sun Tzu, 2004, p.
7): “A arte da guerra é de importância vital para o estado. É uma questão de vida ou morte, um caminho tanto para a segurança como para
a ruína. Assim, em nenhuma circunstância deve ser negligenciada”.
No clássico Da Guerra, o general prussiano Carl von Clausewitz
apresenta o seu tratado de arte militar, publicado em 1832-1837, após
sua morte. Clausewitz (1996, p. 171), assim define estratégia e a sua
principal finalidade:
A estratégia é a utilização do reencontro para atingir
a finalidade da guerra. Ela tem, pois, de fixar uma finalidade para o conjunto do ato de guerra que corresponda ao objetivo da guerra. Quer dizer: estabelece
o plano de guerra e determina em função do objetivo
em questão uma série de ações que a ele conduzem;
elabora portanto os planos das diferentes campanhas
e organiza os diferentes encontros destas ações. Dado
que todas essas decisões em grande parte só poderão
assentar suposições que nem sempre se realizam, e
que um grande número de outras suposições mais detalhadas não podem ser tomadas antecipadamente, resulta que a estratégia tem de acompanhar o exército no
campo de batalha par que, no próprio local, se tomem
as disposições de detalhes necessárias e se proceda as
modificações gerais que se impõem incessantemente.
De modo que a estratégia não pode em nenhum momento retirar-se do combate.
2 CONCEITUANDO ESTRATÉGIA
A palavra strategia, tem a sua origem no grego antigo, e significa a
qualidade e a habilidade do general. É a capacidade de o comandante
organizar e conduzir as campanhas militares para obterem pleno êxito.
Estratégia, em sua origem primeira, expressava as ações relacionadas
a situações políticas, guerras, ou jogos. Para Houaiss (2001), estratégia
tem as seguintes definições:
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Para Peter Ferdinand Drucker, falecido em novembro de 2005, e
considerado o pai da administração moderna por revolucionar as estratégias e conceitos de grandes empresas em todo o mundo, a estratégia tem uma importância para as organizações em geral, pois,
Toda organização opera sobre uma teoria do negócio,
isto é, um conjunto de hipóteses a respeito de qual é
seu negócio, quais seus objetivos, como ela define resultados, quem são os seus clientes e a que eles dão
valor e pelo que pagam. A estratégia converte essa
teoria em desempenho. Sua finalidade é capacitar a
organização a atingir os resultados desejados em um
ambiente imprevisível, pois a estratégia lhe permite
ser intencionalmente oportunista. A estratégia também é o teste da teoria do negócio. A sua incapacidade
para produzir resultados esperados é, normalmente, a
primeira indicação séria de que a teoria do negócio
precisa ser redefinida (DRUCKER, 1999, p. 42).
Na opinião de Porter (1996, p. 9), estratégia consiste em: “[...] integrar o conjunto de atividades de uma empresa. O sucesso da estratégia
depende de se conseguir fazer muitas coisas bem e saber integrá-las. Se
não houver adaptação entre as atividades, não há estratégia distintiva
nem sustentabilidade”.
Hoje em dia, estratégia é uma ferramenta gerencial imprescindível
para as empresas. Os manuais propõem definições variadas: estratégia é
planejamento, é o sinônimo mais comum, ao lado de direção, de guia, de
modo de ação futura, trajetória para ir de um ponto a outro; estratégia é
modelo, é um padrão que mantém a coerência ao longo do tempo.
Conforme Júlio (2005, p. 19),
[...] pior que uma estratégia rasa é não ter estratégia.
Pior que uma estratégia simplificada é não parar para
pensar o negócio e discutir seu futuro, sua concorrência, suas possibilidades de novos produtos, clientes e mercados. Pior que uma estratégia que não seja
a mais defensável tecnicamente é navegar sem bússola. Afinal, um avião que voa 10 minutos no sentido
contrário ao de sua rota está 20 minutos mais longe
do destino desejado [...].
82
No livro “Alice no País das Maravilhas”, um dos maiores clássicos
da literatura universal, escrito pelo inglês Lewis Carroll, tem uma passagem em que a personagem principal, Alice, ansiosa por escapar dos
domínios da Duquesa, conversa com o Gato de Cheshire:
“O senhor poderia me dizer, por favor, qual o caminho que devo
tomar para sair daqui?”, pergunta Alice.
“Isso depende muito para onde você quer ir”, responde o Gato.
“Não me importa muito para onde [...]”, diz Alice.
“Então, se você não sabe para onde quer ir em qualquer caminho
você chegará lá”, sentencia o Gato.
A transcrição revela o princípio maior da estratégia, saber aonde
se quer chegar, e o que fazer para chegar lá. É fundamental, em estratégia, a definição do objetivo e das metas, pois somente desta forma,
consegue-se ter êxito na jornada que for traçada, seja ela qual for.
3 CONCEITUANDO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO
Conforme o Houaiss (2001), a palavra planejar, significa projetar,
programar, ter intenção de; já planejamento, tem haver com elaboração de plano, programação, organização prévia.
Para Drucker (1998, p. 136), planejamento estratégico:
É o processo contínuo de, sistematicamente e com o
maior conhecimento possível do futuro contido, tomar
decisões atuais que envolvam riscos; organizar sistematicamente as atividades necessárias à execução
dessas decisões; e, através de uma retroalimentação
organizada e sistemática, medir o resultado dessas decisões em confronto com as expectativas alimentadas.
O planejamento começa pelos objetivos da empresa.
Em cada área desses objetivos, é preciso formular a
pergunta: Que temos que fazer agora para alcançar
amanhã os nossos objetivos?(grifos do autor).
Conforme Montgomery e Porter (1998, p. 5):
[...] é a busca deliberada de um plano de ação para
desenvolver e ajustar a vantagem competitiva de uma
empresa. Para qualquer empresa, a busca é um processo interativo que começa com o reconhecimento
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de quem somos e do que temos nesse momento.
Reafirma-se que é através do planejamento estratégico que as organizações constroem a sua identidade, mas não é só isso. Por meio
desta importante ferramenta empresarial se busca saber o que se é,
onde se estar, aonde se quer chegar e, finalmente, como fazer para
alcançar os objetivos e metas definidas.
Entende-se, portanto, que a atividade primeira de qualquer organização,
é a elaboração do seu planejamento estratégico, pois é com ele e por meio
dele que serão alcançados os objetivos e metas a serem perseguidas. É através do planejamento estratégico que a organização, olha para dentro de si,
analisa-se, percebe-se e estabelece os seus princípios, valores e a sua missão, ou seja, constrói a sua identidade, constituindo-se em algo socialmente
válido, alcançando os resultados, respeitando os aspectos sócio-ambientais.
4 A ELABORAÇÃO DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO
A formulação do planejamento estratégico de uma organização deve
ser realizada a partir da tomada de consciência por parte dos seus líderes,
e aqui, entende-se por líderes as lideranças formais (dirigentes) e nãoformais, sobre a importância e de que há necessidade de se verter um
olhar sobre o objetivo da entidade, estabelecendo a visão, sua missão,
enquanto algo socialmente válido, e os valores cultivados pela mesma.
O planejamento estratégico decorre do raciocínio estratégico, este
por sua vez, relaciona-se com a visão e a missão, com a elaboração
dos objetivos e das principais orientações estratégicas da organização.
Embora seja amplamente utilizado na gestão empresarial, Sanyal
(1993 apud PARENTE, 2003, p. 37) considera que:
O planejamento estratégico como a melhor e mais
apropriada abordagem para ajudar as instituições de
ensino superior a enfrentarem os desafios atuais referentes à autonomia e auto-sustentação financeira, a
diversificação de programas para atender às demandas socioeconômicas, a introdução de novas tecnologias, as necessidades de estratégicas de longo prazo
para a pesquisa em época de revolução científica e
tecnológica e a criação de uma imagem pública numa
era de competição por fundos e estudantes.
84
Devemos ainda acrescentar que o atual cenário econômico mundial, permeado por uma crise econômica que trouxe aumento no nível
de desemprego, diminuição do consumo e da oferta de crédito, demanda que as empresas, independente da área, estejam atentam a essas mudanças para que não amarguem prejuízos ou cheguem a fechar
suas portas.
Considerando que o ensino superior e suas instituições são marcados pela complexidade e diversidade, esse cenário deve ser considerado,
vez que nem mesmo os analistas econômicos chegam a um consenso se
essa crise é de curto, médio ou longo prazo. Todavia, cremos que todas
as instituições de ensino superior podem ser afetadas, seja ela pública
ou privada. A pública, por exemplo, pelos cortes nos investimentos em
pesquisa, e isso já foi feito para o orçamento do ano em curso. E as
instituições privadas, pela queda da demanda em face do aumento do
desemprego, diminuição da oferta de crédito e a evasão.
Embora as instituições privadas sejam em maior número e tenham
também mais alunos, não é verdade que a maioria esteja terminando os
cursos. Dados do Senso da Educação Superior, realizado pelo Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP)
revelam que em 2007 as universidades federais tiveram a maior taxa
de conclusão, cerca de 72,6%, já as instituições privadas apresentaram
55,4% (INEP, 2009). Esses dados reforçam a necessidade de estratégias que captem novos alunos, que façam com que permaneçam na
instituição e que concluam seus cursos.
Todavia, a implementação da estratégia, as orientações estratégicas
devem redundar em ações concretas para alcançar os objetivos elaborados. A função do planejamento estratégico é apoiar e complementar o
raciocínio estratégico.
Na elaboração do planejamento estratégico, os envolvidos, que devem estar representando o corpo diretivo e não-diretivo, formulam as
seguintes bases do olhar estratégico sobre a organização:
a) Visão: consiste da percepção não só das necessidades do mercado mas de como a organização vai poder atendê-las. A visão deve
ser coerente e criar uma imagem clara do futuro. O planejamento estratégico é será usado com a finalidade de concretizar a visão. Ao elaborar a visão, elabora-se também a chamada “visão do futuro”, a qual
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estabelece onde e como a organização quer estar num futuro previamente estabelecido.
Conforme Serra, Torres e Pavan (2004, p. 45), na formulação da visão corporativa, devem ser respondidas as seguintes perguntas: Qual
é o nosso objetivo? Qual é a força que nos impulsiona? Quais são os
nossos valores básicos? O que fazemos melhor? O que desejamos realizar? O que gostaríamos de mudar?
b) Missão: é uma declaração formal da organização, firmando o
seu compromisso sobre as suas intenções e aspiração. É a razão da
existência de qualquer entidade, e é de longo prazo.
c) Valores: dizem respeito aos princípios cultivados pela organização, são intrínsecos e estão relacionados à conduta adotada por
todos que a compõem. Podemos citar como exemplo, ética, transparência, responsabilidade social, entre outros.
d) Análise Externa ou do Macro-Ambiente: é a verificação e análise do ambiente onde atua a organização. Tem a ver com o ambiente
político, econômico, social, tecnológico, enfim, todo e qualquer fator
que influencia ou pode vir a influenciar o desempenho da entidade
como um todo. Esta análise capacita à organização obter êxito em um
ambiente de competição. Conforme Sun Tzu (2004, p. 28),
Se conhecermos o inimigo e a nós mesmos, não precisamos temer o resultado de uma centena de combates. Se nos conhecemos, mas não ao inimigo, para
cada vitória sofreremos uma derrota. Se não nos conhecemos nem ao inimigo, sucumbiremos em todas
as batalhas.
podem afetar os cenários e refletem influências? Devemos corrigir nosso rumo para que possamos alcançar nossos propósitos ou é preferível simplesmente
nos adaptar? Cenário não é previsão, nem objetivo
ou visão, e não garante a certeza. Construir cenários
é imaginar possíveis futuros, modelos do que pode
vir a acontecer.
A formatação de cenários, calcado na análise do macro-ambiente,
permite a organização traçar as suas estratégias de atuação, e, por
conseguinte, formular o seu planejamento estratégico, se não com a
certeza do futuro que virá, mas independentemente deste, preparada
para o mesmo.
f) Análise Setorial Método das Cinco Forças Competitivas: leva
a organização se preocupar em identificar os principais atores, no segmento de negócio ou atuação em que a mesma está inserida.
O chamado modelo das cinco forças da concorrência foi desenvolvido na década de 1970 pelo economista, consultor e professor de
Harvard, Michael E. Porter, um dos mais renomados gurus do planejamento estratégico da atualidade. As cinco forças competitivas são:
1) O grau de rivalidade entre as empresas; 2) A ameaça dos novos
entrantes potenciais; 3) A ameaça dos produtos substitutos; 4) O poder
de barganha dos consumidores/clientes e 5) O poder de barganha dos
fornecedores.
Conforme Porter (1986, p. 22-24):
A essência da formulação de uma estratégia competitiva é relacionar uma companhia em seu meio
ambiente. Embora o meio ambiente relevante seja
muito amplo, abrangendo tanto forças sociais como
econômicas, o aspecto principal do meio ambiente
da empresa é a indústria ou as indústrias em que
ela compete. A estrutura industrial tem uma forte
influência na determinação das regras competitivas
do jogo, assim como das estratégias potencialmente
para a empresa [...] A meta da estratégia competitiva
para uma unidade empresarial em uma indústria é
encontrar uma posição dentro dela em que a companhia possa melhor se defender contra estas forças
competitivas ou influenciá-las em seu favor [...]. O
e) Elaboração de Cenários: é realizada a partir da leitura dos fatores externos, a organização busca criar cenários onde estará inserida
no curto, médio e longo prazo.
Para Serra, Torres e Pavan (2004, p. 61), a construção de cenários,
É uma possibilidade abrangente do futuro, elaborada segundo uma configuração predeterminada do
ambiente, para auxiliar as organizações na tomada
de decisões estratégicas. A criação de cenários é a
resposta para: Onde estamos agora? Onde gostaríamos de estar daqui a 15 anos? Quais direcionadores
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conhecimento destas fontes subjacentes da pressão
competitiva põe em destaque os pontos fortes e os
pontos fracos críticos da companhia, anima o seu
posicionamento em sua indústria, esclarece as áreas em que mudanças estratégicas podem resultar no
retorno máximo e põe em destaque as áreas em que
as tendências da indústria são da maior importância,
quer como oportunidade, quer como ameaça [...].
As cinco forças competitivas – entrada, ameaça de
substituição, poder de negociação dos compradores,
poder de negociação dos fornecedores e rivalidade
entre os atuais concorrentes – refletem o fato de que a
concorrência em uma indústria não está limitada aos
participantes estabelecidos. Clientes, fornecedores,
substitutos e os entrantes potenciais são todos “concorrentes” para as empresas na indústria, podendo
ter maior ou menor importância, dependendo das circunstâncias particulares.
g) Fatores Críticos de Sucesso (FCS): na elaboração do seu planejamento estratégico, a organização analisa quais são as atividadeschave do negócio, que precisam ser muito bem executadas para que
os seus objetivos sejam alcançados. Identificado os mesmos, faz-se
necessário concentrar esforços, para que estes FCS se transformem
em pontos fortes. São exemplos de FCS, tecnologia, fabricação, distribuição, comercialização e capacidade organizacional.
Na visão de Serra, Torres e Pavan (2004, p. 80), os fatores críticos
de sucesso podem ser determinados pelas respostas a três questões:
“Quais são os critérios dos clientes para a escolha dos produtos? Quais
são os recursos e capacidades competitivas necessárias para se ter sucesso? O que é necessário para obter vantagem competitiva?”.
h) A Análise de SWOT: o nome SWOT é um acrônimo que tem origem
em quatro palavras do idioma inglês: Strenght = Força; Weakness = Fraqueza; Opportunities = Oportunidades; Threats = Ameaças. Trata-se de
uma das principais ferramentas utilizadas, na formulação do planejamento
estratégico. Desenvolvida pelo economista americano Keneeth Andrews,
nos anos 1960, busca encontrar o equilíbrio entre as forças (strenght), fraquezas (weakness), oportunidades (opportunities) e ameaças (threats) da
organização, em relação ao ambiente interno e externo.
88
FORÇAS
(Strenght)
FRAQUEZAS
(Weakness)
OPORTUNIDADES
(Opportunities)
AMEAÇAS
(Threats)
FIGURA 1 - Representação gráfica, clássica, da análise de SWOT.
Fonte: Serra; Torres; Pavan (2004, p. 87)
Ainda para esses autores “a função primordial da análise
SWOT é possibilitar a escolha de uma estratégia adequada – para
que se alcancem determinados objetivos – a partir de uma avaliação crítica dos ambientes interno e externo” (SERRA; TORRES;
PAVAN, 2004, p. 86).
Após a análise de SWOT, identificadas as forças, fraquezas, oportunidades e ameaças, em relação ao ambiente interno e externo da
organização, procede-se a inter-relação entre estes fatores, buscando
eliminar as fraquezas e otimizar as oportunidades.
FORÇAS
Proteção por patentes
Instalações modernas
Vantagem de custo
Recursos financeiros
Vulnerabilidade
OPORTUNIDADES
Novos mercados
Alianças estratégicas
Acesso a novas tecnologias
Novos produtos e serviços
Problemas
AMEAÇAS
Regulação governamental
Novos concorrentes
Mudança no gosto dos
consumidores
Alavancagem
FRAQUEZAS
Distribuição falha
Altos custos de produção
Gerenciamento inadequado
Limitações financeiras
Limitações
FIGURA 2 - Exemplo de uma análise de SWOT.
Fonte: Serra; Torres; Pavan (2004, p. 87)
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i) Balanced ScoreCard (BSC): é um instrumento de planejamento e
gestão de empresas, originalmente desenvolvido na década de 1990 por
Robert Kaplan e David Norton, professores da renomada Universidade de
Harvard, nos Estados Unidos. Atualmente já é adotado pela maioria das
empresas de porte mundial, além de milhares de organizações de porte
médio, líderes em seus mercados no Brasil e em todo o globo terrestre.
Outro fator que alavancou seu rápido sucesso foi o fato de ser aplicável não apenas a empresas, mas a qualquer tipo de organismo social. A sua forma única de estruturar objetivos e medir performances fizeram-no ser adotado por várias Cidades, Estados e Ministérios
em vários países, como EUA, Suécia, Austrália, Áustria, Dinamarca,
Nova Zelândia, Inglaterra, Canadá, França, etc. Também é cada vez
mais utilizado por outras organizações, sem fins lucrativos, mas que
precisam igualmente ter uma administração eficiente e transparente,
como universidades, escolas, hospitais e ONG´s.
O Balanced Scorecard baseia-se na representação equilibrada
de indicadores financeiros e operacionais segundo quatro perspectivas: financeira, dos clientes externos, dos processos internos
e do aprendizado e crescimento.
Na opinião de Kaplan e Norton (2004, p. 8-9) o Balanced Scorecard deve ser pensado como:
Conforme demonstram os mesmos autores, a estrutura do BSC é
formada por quatro perspectivas: a financeira, clientes, aprendizado e
crescimento, e processos internos. O BSC sugere que a empresa seja
vista a partir dessas perspectivas e para desenvolver medidas, colete
dados e os analise sobre o foco de cada perspectiva.
Os instrumentos e mostradores de cabine de comando de um avião. Para as tarefas complexas de navegação e sustentação do avião, os pilotos necessitam
de informações detalhadas sobre muitos aspectos do
vôo. Precisam de dados sobre combustível, velocidade, altitude, direção, destino e outros indicadores
que resumem o ambiente efetivo e previsto. A confiança em apenas um instrumento pode ser fatal. Do
mesmo modo, a complexidade do gerenciamento das
organizações de hoje exige que os gerentes tenham
condições de visualizar o desempenho da empresa
sob quatro importantes perspectivas e fornece respostas a quatro questões básicas: 1. Como os clientes
nos vêem? (perspectiva do cliente) 2. Em que devemos ser excelentes? (perspectiva interna) 3. Seremos
capazes de continuar melhorando e criando valor?
(perspectiva de inovação e aprendizado) 4. Como parecemos para os acionistas? (perspectiva financeira)
No quadro a seguir veremos uma demonstração de objetivos, indicadores, metas e ações a serem adotadas segundo cada uma das
perspectivas do balanced scorecard. Os indicadores, segundo as perspectivas, estão relacionados conforme a ligação de causa e efeito apresentada, fazendo com que aquelas ações que não causem impactos
positivos, sejam abandonadas.
O BSC oferece para os administradores da organização, os instrumentos que necessitam para alcançar o sucesso no futuro. Visto
que, mede o desempenho organizacional sobre as quatro perspectivas
equilibradas, revelando claramente os vetores de valor para um desempenho financeiro e competitivo superior e a longo prazo. Os administradores precisam reconhecer esses vetores do sucesso a longo
prazo, cujos objetivos e medidas utilizadas no BSC não se limitam a
um conjunto de desempenho financeiro e não-financeiro, mas derivam
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FIGURA 3 - BSC, Perspectivas e Metas.
Fonte: Kaplan; Norton (2004, p. 10)
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de um processo hierárquico norteado pela missão e estratégia traduzida em objetivos e medidas tangíveis. As medidas representam o equilíbrio entre indicadores externos, voltados para acionistas e clientes,
e as medidas internas dos processos críticos de negócios, inovação,
aprendizado e crescimento. Há um equilíbrio entre as medidas de resultado passado e futuro.
Desde a sua criação, a metodologia BSC tem sido utilizado por milhares de organizações do setor privado, setor público e ONG’s de todo
o mundo. Chegou mesmo a ser escolhido, pela famosa revista Harvard
Business Review como uma das práticas de gestão mais importantes e
revolucionárias dos últimos 75 anos.
QUADRO 1 - Relação de causa e efeito entre os indicadores do BSC
Perspectiva
Relação de
Causa e Efeito
Finanças
Lucratividade
Aumento da Receitas
Clientes
Qualidade do Produto
Objetivos
Indicadores
Metas
Crescimento
Receita operacional
20% de aumento
rentável
do negócio
Vendas X ano anterior 12% de aumento
Qualidade
Taxa de retorno
do produto
Iniciativas
Programas
“como”
Reduzir em Programa de
50% cada ano
gerenciamento
de um associado
da qualidade
qualificado
Programa de
Experiência Compras
Lealdade do cliente
2,4 unidades
lealdade do
cliente
Melhorar o
Percentual de
70% até o
Programa de
Internos
desempenho
mercadorias
terceiro ano
desenvolvimento
da fábrica
de fábricas
corporativo
“classe A”
da fábrica
Plano em linha
Itens em estoque
de gerenciamento
X planejado
Processos
Fábrica “classe A”
60% e
85%
Aprendizado e Habilidades de
Treinar e equipar Percentual de crescimento a força de trabalho
habilidades
habilidades
estratégicas
Ano 3 = 75%
disponíveis
estratégicas
“Mesa” dos
relacionamento
Ano 1 = 50% Habilidades de
compra/planejamento
Plano de
5 A IMPORTÂNCIA DO PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO
NO ENSINO SUPERIOR
No que se refere à importância do uso das ferramentas utilizadas
pelo planejamento estratégico, na elaboração de um Projeto PolíticoPedagógico, continuamos a nossa reflexão a partir dos dados do Senso
da Educação Superior no Brasil, no que concerne a evasão de alunos.
A análise do senso permite constatar que a taxa de conclusão mais
alta é das universidades federais, com 72,6%. O cálculo levou em consideração o número de alunos que ingressaram quatro anos antes e o
total de concluinte dos cursos s em 2007. A média nacional obtida ficou
em 58,1%, com predominância nas universidades públicas (63,8% nas
estaduais e 62,4% nas municipais). O indicador dá-nos uma idéia do
tamanho da evasão dos alunos do ensino superior. A partir do ano em
curso, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP),
pretende adotar um novo modelo de coleta de dados que listará o nome
dos universitários e sua trajetória acadêmica, a exemplo do que já ocorre
no ensino básico. Na opinião do presidente do INEP, Reynaldo Fernandes, a evasão universitária está ligada, de um lado, à troca de cursos no
início da faculdade e, de outro, as dificuldades para pagar as mensalidades nas instituições privadas. No ano de 2007, o censo revela que o país
tinha 4.880.381 universitários, o que representa um crescimento de 4,4%
em relação ao ano anterior. Desse total, o setor privado respondia por
3.639.413 matrículas, cerca de 74,57% do total, ante 615.542 nas federais, com 12,61%, 482.814 nas estaduais, com 9,9% e 142.612 matrículas
nas municipais, cerca de 2,92% (INEP, 2009).
É mister indagar, o que ocorreu com as IES na elaboração dos seus
Projetos Político-Pedagógico, que não previram uma situação acima
descrita? Quê cenário foi trabalhado? Quê visão, missão e valores foram definidos? Foram definidos os fatores críticos de sucesso? Quais as
ações deveriam ser implementadas com vistas ao alcance dos objetivos?
Inicialmente, precisamos definir o que é um Projeto Político-Pedagógico. Para Veiga e Fonseca (2007, p. 12-14)
[...] o projeto político-pedagógico vai além de um
simples agrupamento de planos de ensino e de atividades diversas. O projeto não é algo que é construído
e em seguida arquivado ou encaminhado as autori-
comerciantes
Ano 5 = 90%
Fonte: Serra; Torres; Pavan (2004, p. 129)
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dades educacionais como prova do cumprimento de
tarefas burocráticas. Ele é construído e vivenciado
em todos os momentos, por todos os envolvidos com
o processo educativo da escola. [...] Desse modo, o
projeto político-pedagógico tem a ver com a organização do trabalho pedagógico em dois níveis: como
organização da escola como um todo e como organização da sala de aula, incluindo sua relação com
o contexto social imediato, procurando preservar a
visão de totalidade. Nesta caminhada será importante ressaltar que o projeto político pedagógico busca
a organização do trabalho pedagógico da escola na
sua globalidade.
Após definido os principais participantes, escolhidos entre o Corpo
Diretivo, Corpo Docente e Discente, de forma tal que o PPP represente
o sentimento de todos os que influenciam ou são influenciados pela
aplicação desse Projeto, os chamados grupos de interesse (stakeholders), este Grupo tratará da elaboração, buscando dar respostas coerentes às seguintes indagações:
6 UTILIZANDO AS FERRAMENTAS DO PLANEJAMENTO
ESTRATÉGICO NA ELABORAÇÃO DE UM PROJETO
POLÍTICO-PEDAGÓGICO
Apresentamos a seguir uma dinâmica para a elaboração de um
Projeto Político-Pedagógico, voltado para uma Instituição de Ensino
Superior – IES, mais especificamente, para o curso de Administração.
a) Visão – Qual é a real necessidade da implementação do Curso? Qual é a atual dinâmica econômica e social em que o Curso está
inserido, seja como influenciado ou influenciador? Qual é a visão do
futuro que se pode ter do Curso?
b) Missão – Qual é a Missão do Curso? Quais profissionais o
Curso pretende formar? A Missão é formar meros administradores ou
administradores-cidadãos, conscientes do seu papel transformador da
sociedade?
c) Valores – Quê valores a IES cultiva? Quais os valores estarão permeando o Projeto Político-Pedagógico? Estes valores estão em
consonância com os valores da IES, são eles transformadores?
d) Análise Externa ou Macro-Ambiente – Em que contexto político, econômico, social e tecnológico o Curso se encontra? O PPP
propicia a formação dos alunos para atuarem nesse contexto? Qual é a
importância do contexto atual para a elaboração do PPP, ou o inverso?
e) Elaboração de Cenários – As situações descritas na análise do
macro-ambiente são permanentes ou transitórias? Qual é o cenário
que podemos vislumbrar num horizonte de cinco anos ou dez anos?
As premissas do PPP estão compatíveis com uma mudança de cenário
ou tem flexibilidade suficiente para mudar?
f) Fatores Críticos de Sucesso (FCS) – É preciso identificar quais
princípios ou práticas, o PPP deve ter, sob pena de não obter o sucesso
deseja, ou não fazer cumprir o desejado. É necessário identificar os
princípios-chave que o Projeto Político-Pedagógico deve ter.
g) Análise de SWOT (Strenght = Forças; Weakness = Fraqueza;
Opportunities = Oportunidades; Threats = Ameaças) – Faz-se necessário, identificar quais são as principais forças, fraquezas, oportunidades e ameaças, que o Projeto Político-Pedagógico tem, e promover
ações que visem fortalecer os pontos positivos, e neutralizar os fatores
94
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Ainda acrescentamos o que pensa Vasconcelos (2007, p. 169):
O Projeto Político-Pedagógico (ou Projeto Educativo) é o plano global da instituição. Pode ser entendido como a sistematização, nunca definitiva, de
um processo de Planejamento Participativo, que se
aperfeiçoa e se concretiza na caminhada, que define
claramente o tipo de ação educativa que se quer realizar. É um instrumento teórico-metodológico para a
intervenção e mudança da realidade. É um elemento
de organização e integração da atividade prática da
instituição neste processo de transformação.
Neste contexto, compreendemos que o Projeto Político-Pedagógico
por se assemelhar com o Planejamento Estratégico, uma vez que busca responder as perguntas, onde queremos está no futuro? Qual é a
nossa missão? Quais são os nossos valores? É perfeitamente possível
a utilização das premissas do Planejamento Estratégico, na elaboração
e formatação de um PPP.
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negativos. Como pode ser observado nas Figuras 1 e 2.
h) Balanced ScoreCard (BSC) – Analisa a organização segundo
quatro perspectivas: financeira, dos clientes externos, dos processos
internos e do aprendizado e crescimento. Ao se adaptar esta ferramenta ao Projeto Político-Pedagógico se fomentaria as seguintes indagações: Financeira – Em que medida o PPP torna o Curso viável
e auto-sustentavel? Clientes (Alunos) – Em que medida o PPP leva a
uma formação cidadã? Aprendizagem e Crescimento – Em que medida o PPP promove e incentiva uma educação continuada, por parte
do Corpo Docente? Processos Internos – O quão o PPP torna o Curso
atualizado e possível de atualização, quais são os pontos críticos que
merecem maior atenção?
Ainda sobre a elaboração do Projeto Político-Pedagógico, assim se manifestam Vieira e Albuquerque (2001 apud Parente,
2003, p. 112):
A construção do Projeto Pedagógico demanda uma
atitude de reflexão coletiva permanente do corpo da
escola em direção às intenções e à consecução desses
intentos por parte daqueles que são responsáveis pela
condução desse projeto. Requer do corpo da escola
conhecimentos e saberes específicos, bem como ousadia coletiva que vai se traduzindo na prática cotidiana a ser feita e refeita dentro e forma da escola.
As possibilidades de aplicação das ferramentas do Planejamento
Estratégico, na elaboração de um Projeto Político-Pedagógico são amplas, conforme ficou demonstrado. Para tal, cabe ao Corpo Diretivo da
IES de forma democrática e aberta, permitir que seja formado o grupo
de interesse, dando ao mesmo os poderes e a liberdade de ação que
precisam, além de promover uma ampla discussão no âmbito da Instituição, e não temer a quebra de paradigmas, por saber que, se o novo
assusta, mas que sem ousadia e inovação, não é possível sobreviver.
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste artigo, demonstramos o que é Planejamento Estratégico tem
sua importância para as organizações e que apresenta possibilidade
96
de utilização na elaboração de um Projeto Político-Pedagógico. Mas,
e em nossa vida pessoal, é possível aplicar estas mesmas ferramentas?
Chegaremos fatalmente à conclusão que sim. Assim como as organizações, todos nós temos a nossa visão do futuro, missão, valores,
pontos fortes e pontos fracos (análise de SWOT), fatores críticos de
sucesso, etc. Então, todos nós planejamos, mal ou bem, mas planejamos, e assim como as organizações, dependendo de como fizermos o
nosso planejamento pessoal, alcançaremos ou não os nossos objetivos,
pois, se não planejarmos, forçosamente iremos escutar a sentença do
Gato de Cheshire, extraída do clássico “Alice no País das Maravilhas”:
“Então, se você não sabe para onde quer ir em qualquer caminho você
chegará lá”.
Diante da complexidade da formação humana e das incertezas do
mundo do trabalho, devemos ter clareza dos objetivos educacionais
e persegui-los para que não tenhamos egressos no ensino superior
alheios àquilo que foi planejado e ao que sociedade almeja da educação superior.
REFERÊNCIAS
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Pioneira, 1998.
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VEIGA, Ilma Passos Alencastro; FONSECA, Marília (Orgs.). As dimensões do projeto político-pedagógico. 5. ed. São Paulo: Papirus,
2007.
RECONHECENDO O TERRITÓRIO DE FORMA
HUMANESCENTE: UM ESPAÇO VIVO DA SAÚDE
Ana Tania Lopes Sampaio1; Claudio José da Costa Custódio2;
Débora Karla Sampaio Alves Custódio3; Kátia Brandão
Cavalcanti4
RESUMO: A construção do Sistema Único de Saúde (SUS), a partir da Reforma Sanitária iniciada em 1988, tem trazido importantes mudanças para a
sociedade brasileira. Uma delas está vinculada ao modelo de atenção norteado
pelo conceito ampliado de saúde que adota a prática de vigilância a saúde, a
qual tem no princípio de territorialidade sua principal premissa. Formar profissionais sensíveis a essa nova concepção de saúde exige um novo olhar sobre a
concepção de território. O artigo pretende relatar a experiência transdisciplinar
vivenciada entre os cursos de especialização em gestão ambiental, graduação
em enfermagem e o curso de psicologia da Faculdade de Ciências Cultura e Extensão do Rio Grande do Norte, ao adotarem a Pedagogia Vivencial na aprendizagem significativa da concepção de território no contexto da atenção à saúde.
O estudo é do tipo analítico descritivo, no qual utilizamos os fundamentos da
fenomenologia para fazer uma micro-descrição etnográfica da experiência vivenciada. Os resultados obtidos nos mostram a possibilidade da vivenciar o conhecimento do território de saúde através de metodologias ativas no âmbito da
Pedagogia Vivencial, como prática acadêmica que supera o modelo da causalidade determinista trazendo para formação em saúde um novo enfoque político,
epistemológico e metodológico do território.
PALAVRAS-CHAVE: Território. Vigilância à saúde. Formação humanescente.
1
Enfermeira Sanitarista. Mestra em Enfermagem. Doutora em Educação pela UFRN.
Professora e Consultora do curso de Enfermagem da FACEX. E-mail:anatsampaio@
hotmail.com
2
Geógrafo pela UFRN. Especialista em Gestão Ambiental pela FACEX. Professor
substituto do CEFET. Professor do Centro de Educação Integrada - CEI e do Overdose
Colégio e Curso. E-mail: [email protected]
3
Psicóloga. Mestra em Psicologia pela UFRN. Professora da FACEX. E-mail:
[email protected]
4
Doutora em Filosofia. Coordenadora da Base de Pesquisa “Corporeidade e Educação”
do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRN. E-mail: katiabrandão@terra.
com.br
98
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KEY-WORDS: Territory. Health Inspection. Humanizing Education.
1 TERRITÓRIO COMO ESPAÇO DE APRENDIZAGEM
NO SUS
A inserção do tema território nos currículos da formação em
saúde é hoje uma realidade necessária às Universidades brasileiras,
considerando a constituição de 1988, a reforma sanitária iniciada
na década de 90, a Lei 8.080/90 e o modelo de atenção adotado no
Brasil que tem a prática de vigilância à saúde com norteadora da
organização da assistência no sistema Único de Saúde. A reforma
sanitária brasileira vivenciada no Brasil com a instalação do Sistema Único de Saúde – SUS assume um novo paradigma assistencial,
considerando que este modelo de atenção representa uma ousada
inovação na busca de conquistas quanto à garantia dos direitos sociais, legitimando a cidadania como princípio básico para integrar
as ações relativas à saúde.
Neste contexto, a universalidade, integralidade e equidade são
princípios doutrinários deste novo modelo de atenção. A universalidade se baseia no acesso de todos os brasileiros aos serviços de
saúde, a equidade promove a atenção desigual aos desiguais, ou seja,
o processo da inclusão social da saúde, e a integralidade na organização dos serviços e das práticas que refletem na identificação dos
problemas de saúde a serem enfrentados pelos profissionais da saúde
a partir do território da população atendida.
Esta perspectiva está norteada pela prática da vigilância à saúde,
com o qual o SUS se propõe a atuar. Sustentado em três pilares básicos: o território-processo, os problemas de saúde e a intersetorialidade (Mendes, 1996), o princípio da vigilância da saúde contribui
para a reorientação do modelo assistencial à medida que orienta uma
intervenção integral sobre momentos distintos do processo saúdedoença (PAIM, 2003).
A Vigilância à Saúde se apresenta como uma prática pautada no
conceito ampliado de saúde. Na lógica organizativa, define a operacionalização de ferramentas de informação, de planejamento e de
acompanhamento das ações de saúde tendo como referência o espaço local e a identificação de como se expressa os problemas relacionados com o processo saúde doença de grupos populacionais
espacialmente localizados em microáreas (de risco).
100
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RECOGNIZING THE TERRITORY IN A HUMANIZING WAY:
A HEALTH LIVE SPACE
ABSTRACT: The development of the Unified Health System (SUS), from the
Health Reform started in 1988, has brought important changes to the Brazilian
society. One of them is the caring model guided by a broad sanitary concept
that adopts the practice of sanitary inspection, which has the principle of
territoriality as its main premise. To train professionals sensitive to this new
idea of health system requires a new look at the concept of territory. The article
aims to describe the experience lived between disciplinary specialization
courses in environmental management, degree in nursing, and psychology
degree from the Faculty of Culture and Extension of Rio Grande do Norte by
adopting the Experiential Education in the meaningful learning of the concept
of territory in context of health care. The study is an analytical and a descriptive
one in which the foundations of phenomenology were used to make a microethnographic description of the experience. The results show the possibility of
experiencing the knowledge of the area of health through active methodologies
within the Experiential Education as academic practice that goes beyond the
model of deterministic causality bringing health education to a new political
focus, epistemology and methodology of the territory.
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101
Esta é uma preocupação que nos envolve, uma vez que apesar
dos referenciais teóricos se referirem a inclusão do território solo, do
econômico, do político, do ideológico, do cultural e do epidemiológico, é o perfil epidemiológico que tem se destacado nos diagnósticos,
planejamento e formação em saúde. Os números, gráficos e mapas
se destacam nos referenciais dos riscos. Se resgatarmos o conceito
de Distrito Sanitário apontado pelos autores vinculados a esta abordagem, teremos “O Distrito Sanitário compreendido, num territóriopopulação, como processo social de mudança das práticas sanitárias,
de modo a adequá-las a uma lógica de organização informada pela
epidemiologia” (UNGLERT, 2004, p. 35).
Preocupa-nos a limitação de algumas concepções que se reproduzem na prática sanitária. A implantação do conjunto de técnicas
que orientam o processo de territorialização, entre elas os sistemas
de informações de base geográfica e os métodos de estimativa rápida
(Villarosa, Tasca e Grego, 1995), operam de modo a não ir
além de descrições plotadas sobre mapas, quantitativas, na maioria
das vezes.
A implantação do SUS já provocou profundas mudanças nas práticas de saúde, mas ainda não é o bastante. Para que novas mudanças ocorram, é preciso haver também profundas transformações nas
práticas educativas. Isso significa que só conseguiremos mudar realmente a forma de cuidar, tratar e acompanhar a saúde dos brasileiros
se conseguirmos mudar também os modos de compreender a saúde,
ensinar e aprender.
Neste sentido, a Faculdade de Ciências Cultura e Extensão do Rio
Grande do Norte – FACEX lança uma proposta ousada para o ensino
de graduação em enfermagem. Um curso com currículo integrado,
organizado a partir de oito Eixos Temáticos, inspirado no pensamento complexo, que tem a Pedagogia Vivencial Humanescente como
práxis pedagógica e a integralidade como princípio maior da formação para o cuidado. Um projeto pedagógico com a responsabilidade de criar espaços de aprendizagens que possibilitem a interação
entre ser e conhecer, pensar e fazer, intervir e cuidar, considerando
os aspectos da subjetividade e da ludicidade, do pensamento críticoreflexivo e das habilidades técnicas, políticas e humanas.
2 A PEDAGOGIA VIVENCIAL HUMANESCENTE
No contexto acadêmico da FACEX ousamos, de forma transdisciplinar, envolvendo os cursos de enfermagem, Especialização em
Educação ambiental e psicologia, discutir e vivenciar o processo de
territorialização, utilizando a Pedagogia Vivencial Humanescente
(CAVALCANTI, 2005).
Sair do imaginário para o real é o itinerário onde está se dando as
experiências vivenciais de um novo fazer pedagógico o qual envolve
o ser em sua totalidade, e, portanto, seu território de vida para corporalização desse pensamento, partimos do pressuposto teórico da humanescência, que conforme Cavalcanti (2006, p. 3): “é o processo de
expansão da essência humana que irradia luminosidade, beneficiando
outros seres, a natureza, a sociedade e o planeta”. assim, a saúde como
um campo vivencial para humanescência, necessita de uma educação
humanescente. acrescenta a autora:
Introduzir a noção de corporalização nos estudos que envolvem a
vida humana, particularmente a educação, significa reconhecer a implicabilidade dos sentimentos e emoções que fazem brilhar a presença
do Ser no mundo. A maior ou menor intensidade desse brilho depende
da força interior que impulsiona o Ser para o autodesenvolvimento
através da autotranscendência. O fenômeno da corporalização referese à manifestação corpórea da essência do Ser, de sua subjetividade,
abrangendo toda expressividade humana que se concretiza pela via
corporal. Corporalizar significa, portanto, tornar corpóreo, subjetivar
corporalmente uma idéia, um sentimento, uma emoção, intencionalmente ou não (CAVALCANTI, 2006, p. 3).
Cientes de todas essas possibilidades e coerentes com a proposta
pedagógica do curso de enfermagem que ora coordenamos, ousamos a
partir da herança primordial de Paulo Freire, incorporar os pressupostos da formação humana apontados por Maturana, à visão eco-sistêmico do humano e a moderna cosmologia, a uma Pedagogia Vivencial
a qual passou a chamar-se: Pedagogia Vivencial Humanescente (CAVALCANTI, 2006).
Nela, os aprendentes assumem os sentimentos, as sensações, as paixões. Uma aprendizagem que encara um jeito novo e diferente, através
102
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103
do potencial auto-organizativo da Corporeidade no processo de aprender a aprender. São essas Paixões construtivas que reencantam a vida
e a educação (ASSMANN, 2003).
A nossa prática pedagógica vivencial tem nos possibilitado avanços
consideráveis em busca do re-encantamento da educação visando uma
aprendizagem significativa. Destarte adotamos os seguintes pressupostos:
1. Educação como campo energético que possibilite o resgate
da subjetividade, da espiritualidade como estado do ser e da aprendizagem como resultados de conexões significativas entre aprendentes
(educadores e educandos).
2. Prática educativa como espaço vivencial de convivência a qual
permite e facilita o crescimento dos educandos como seres humanos
que respeitam a si próprios e os outros com consciência social e ecológica de modo que possa atuar com responsabilidade, liberdade no
contexto pessoal e profissional a qual pertence;
3. Educadores que aceitam os educandos como um ser legítimo
em sua totalidade, ou seja, em suas dimensões individual, social, espiritual, planetária e cósmica.
4. A aprendizagem considerada, não apenas como conhecimentos adquiridos, mas também como habilidades e atitudes incorporadas
de forma significativa no cotidiano.
5. Ambientes de aprendizagem que mobilizem sentidos, sentimentos, emoções, afetos e se tornem significativos para os educandos.
6. Práticas pedagógicas que partam das situações e/ou realidades
apresentadas pelos educandos (experiências prévias, dos seus imaginários ou de situações vividas) possibilitando à criatividade, a ludicidade, a sensibilidade e a reflexividade histórica/vivencial.
Apresentaremos a seguir um esquema de nossa autoria, pelo qual
tentamos expor, de forma sistemática, as conexões processuais do
percurso pedagógico da prática vivencial humanescente.
104
Educação
Humanescente
FIGURA 1 - Esquema Vivencial
Fonte: Sampaio (2009)
Defendemos uma educação de dentro para fora (do ser aprendente)
e não de fora para dentro (transmissão de conhecimentos). Associamos-nos aos conceitos de aprendizagem como um ato autopoiético
(MATURANA e VARELA, 2001) e de percepção considerada fenômeno de duas vias, de fora para dentro e de dentro para fora e não
somente de fora para dentro, caracterizando a dualidade transmissor/
receptor (ASSMANN, 1995).
Como diz Cavalcanti (2006, p. 4): o vivencial, o vivido, a vida da
Pedagogia Vivencial não pode se distanciar do humano, da humanidade, da humanescência.
Aprendizagem corporalizada significa a modificação do comportamento como resultado na transformação da experiência, a qual considera a interação da vivência (experiências, sensações e sentimentos) e
o contexto-meio social e cultural (conceitos, experiências dos outros).
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105
Para isso, nos deparamos com algumas fases experienciais as quais
visam uma aprendizagem significativa:
a) Imaginar ou resgatar Experiências prévias: Inicialmente o
educando é levado a pensar, imaginar ou recordar algo relacionado
aquela temática, ou seja, trazer para o momento os saberes ou experiências prévias sobre o assunto.
b) Expressar o imaginário através de uma atividade simbólica: Em seguida o educador estimula o educando a representar através de técnicas expressivas (desenho, pintura, música, teatro, poesia,
histórias de vida) simbolicamente seu pensamento e imaginação.é o
momento da unir o objetivo e o subjetivo, consciente e inconsciente,
indivíduo e sociedade, interno e externo e , por conseguinte, também
mente e corpo, imaginação e conduta.
c) Promover dissonância cognitiva: A dissonância cognitiva é
uma das etapas da Pedagogia Vivencial a qual possibilita as discordâncias ou conflitos cognitivos entre os participantes da atividade, as
quais representam as diferenças e, a partir dos quais, mediante atividades, o educando consegue discernir, superando a discordância e
ressignificando o conhecimento.
d) Relacionar o imaginário com o real: É uma etapa vivencial
onde o educando deverá interagir com o contexto, conhecendo situações reais relacionados à temática em discussão e comparando com as
concepções teóricas ou imaginárias do grupo. É o momento da Refletividade Histórica e/ou Vivencial.
e) Ressignificar conceitos e práticas: A partir das experiencialidade vivida é o momento da possibilitar a expansão da consciência,
de estimular os dois hemisférios cerebrais. Associar o cognitivo com o
sensitivo. Trazer as sensibilidades para o campo da racionalidade. E o
momento da reforma do pensamento. Consequentemente da corporalização de novas práticas.
f) Possibilitar mudanças través de um novo fazer: A mudança
de pensamentos gera novos sentimentos e conseqüentemente novas
atitudes. O amor amplia a inteligência, a criatividade e a sensibilidade
(MATURANA e REZEPKA, 2003). Seres mais plenos agem de forma mais humanescente.
106
Esse processo pedagógico possibilita a incorporação da sensação
ou da experiência gerando novos conhecimentos. As informações são
assimiladas conforme a significação dada a elas. Ao final, ocorre à
formulação ou a reformulação da experiência. Cada pessoa, por meio
da interpretação da sua experiência, estrutura seu processo de construção do conhecimento.
A gestão desse processo como coordenadora do curso, nos leva
a pensar e corporalizar, em movimento, as relações complexas que
fluem da identidade do curso, da unidade acadêmica, do Ser educador,
da aprendizagem, da estrutura e da sociedade, ou seja, do sistemaorganização. É o desafio de assumir um currículo como práxis transdiciplinar.
Como diz Macedo (2004, p. 24):
Na medida em que o currículo como práxis interativa
passa a ser visto como um sistema aberto e relacional,
extremamente sensível às recursividades, à dialogicidade, à contradição, aos paradoxos cotidianos, a indexalidade das práticas, como instituição eminentimente moderna, precisa de uma urgente ressignificação de
sua emergência tradicionalmente “dura” e excludente,
o pensamento complexo e multirreferencial aparece
como mobilizador contemporâneo potente, de uma
outra visão, de uma outra prática no campo das concepções e implementações curriculares.
Concordamos plenamente com o autor, a realidade vivenciada no
decorrer da implantação dos oito Eixos Temáticos desse currículo,
nos leva constantemente a incertezas e inacabamentos, a construções
e reconstruções no âmbito do micro e macro-contexto enquanto um
sistema comunicante que envolve seres auto-organizadores e eco-organizados. Os caminhos estão sendo construídos no caminhar e junto
com os caminhantes, ou seja, os atores e autores do processo.
3 COMPREENDENDO O TERRITÓRIO DE SAÚDE DE
FORMA HUMANESCENTE
Iniciaremos nosso relato concordando com Alves (2005) quando
Carpe Diem
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107
afirma que são duas, apenas duas, as tarefas da educação... O corpo educativo carrega duas caixas. O educador na mão direita, mão
da destreza e do trabalho, leva uma caixa de ferramentas. E na mão
esquerda, mão do coração, ele leva uma caixa de brinquedos. Merhy
(2007), ao analisar a produção do cuidado, nos apresenta a imagem do
médico com valises tecnológicas: uma valise das mãos com estetoscópio, ecógrafo, endoscópio etc. (tecnologias duras); outra na cabeça
com saberes da clínica e epidemiologia (tecnologias leve-duras) e,
finalmente, outra que carrega a materialidade em ato, presente no espaço relacional trabalhador-usuário (Tecnologias leves).
Concordando com as metáforas, acrescentamos aos pensamentos
dos autores as ferramentas necessárias aos educadores e profissionais
de saúde formados para o SUS: nas mãos os instrumentos que permitem a aplicação dos saberes relacionados às “tecnologia duras”; na
cabeça os saberes que possibilitam uso da clínica e epidemiologia, ou
seja, as tecnologias leve-duras e, finalmente, no coração os saberes
humanescentes1 que definem a qualidade das relações interpessoais
às “tecnologias leves”.
No decorrer da apropriação dessas ferramentas o inusitado está
acontecendo, a junção do que tradicionalmente sempre foi separado.
Está sendo possível encontrar e encantar o fazer pedagógico unindo
nossos sentimentos e emoções ao nosso raciocínio e intelecção. A experiência visou proporcionar aos discentes do curso de enfermagem
uma vivencia pedagógica do imaginar-conhecer-sentir-pensar-fazer na busca da mudança atitudinal frente à dimensão social, afetiva e
cultural do território na formação em saúde.
Na organização dos conteúdos de ensino, em lugar de esquematizá-los previamente, a proposta é trabalhar com uma lógica do imaginário e das significações, respeitando os conhecimentos prévios,
as diferentes maneiras e os ritmos de cada discente na construção do
conhecimento, permitindo o desenvolvimento da capacidade crítica
reflexiva, de investigação, criação e de intervenção.
1º Momento: É organizado a partir de trabalhos em grupos. Um
Saberes que emergem de dentro do Ser, de suas habilidades humanas, da sua subjetividade,
da sua corporeidade (CAVALCANTI , 2006, p. 5).
1
108
momento de construção simbólica através do imaginário coletivo. O
grupo expressa no “instrumento 1“ (de nossa autoria) as significações
e percepções prévias a respeito do que seria um “território” e uma
“comunidade” a partir da técnica de colagem; 2º Momento: Há uma
reaproximação com os cenários simbolicamente construídos pelos
grupos no “Instrumento 1” e a partir deles, o grupo é orientado a iniciar uma discussão sobre suas características e a descrevê-la detalhadamente. É a possibilidade dos participantes compreenderem a importância da caracterização de um território e dos tipos de informações
possíveis – objetivas e subjetivas “Instrumento 2”. Neste encontro, no
momento da dissonância cognitiva, são abordados as concepções de
“território vivo” e “Território morto” (MERHY, 2007) da Natureza
do Espaço: Técnica e Tempo; Razão e Emoção (SANTOS, 1999); 3º
Momento: É feita uma exposição dialogada com a apresentação das
diferentes ferramentas possíveis de serem utilizadas para um reconhecimento territorial na lógica do conceito ampliado de saúde e com suporte teórico da visão complexa do território enquanto espaço vivo de
histórias e contextos sociais, econômicos, geográficos e culturais; 4º
Momento: É o trabalho de campo onde os alunos visitam a comunidade para registro de informações e observações da realidade identificadas naquele território de saúde, através da utilização das ferramentas
aprendidas nos encontros presenciais e a partir da Pedagogia Vivencial
Humanescente; 5º Momento: os grupos apresentam os cenários do
reconhecimento territorial por eles realizados, utilizando os princípios
da sensibilidade, ludicidade, criatividade e reflexividade vivencial e
histórica. É feito um amplo debate sobre o sentido e vivido na experiência e de sua importância no atual modelo de atenção do SUS.
4 CONSIDERAÇÕES
A metodologia utilizada no estudo do território como espaço
produtor de saúde, possibilitou, tanto aos educandos como aos educadores, a vivência de sujeitos cognoscentes estando naturalmente implicados pelas relações com seus contextos de vida, ou seja,
com a realidade social, afetiva, cultural, econômica, política etc.
Esta implicação tornou-se possível pela capacidade de identificar e
situar essas relações na ordem simbólica, dotada de uma intencioCarpe Diem
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109
nalidade explicitada coletivamente e motivada por um projeto de
desenvolvimentos pessoal e comunitário.
E de fundamental importância a ressignificação do território
enquanto espaço da saúde, várias são os recortes feitos pelo SUS,
microárea, área, distrito, microrregião, região, enfim, divisões
que definem territórios delimitados e que servem de suporte
para o planejamento em saúde. No entanto, se faz necessário
pensar estas divisões num olhar integralizado que não fragmenta e nem separa a objetividade da subjetividade, os lugares das
pessoas, a razão da emoção, os números das histórias de vida,
enfim, a saúde da doença. Conclui-se que é possível juntar o objetivo do subjetivo no processo de construção do conhecimento.
A aprendizagem como função complexa do cérebro e do corpo
no todo, propicia ao sujeito cognoscente uma reflexão a partir
de seu imaginário e do mundo real, visando uma interpretação
pessoal e uma intervenção social.
O processo vivenciado na aprendizagem da terrritorialização em
saúde como processo vivo, foi rico de criatividade, sensibilidade, ludicidade e reflexividade. O cenário ensino-serviço-comunidade oportunizou o pensar e o sentir em busca de um novo fazer no âmbito do
território de saúde como espaço do cuidado em enfermagem. Pode-se
afirmar que o processo contemplou uma aprendizagem significativa.
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______. Para abraçar a humanescência na pedagogia vivencial.
Trabalho apresentado no XII Endipe – Encontro Nacional de Didática
UNGLERT, Carmem Vieira S. Territorialização em Sistemas de Saúde. In: MENDES, Eugênio V. (Org.). Distrito Sanitário: O processo
110
Carpe Diem
ALVES, Rubens. Educação dos sentidos e mais.... Campinas, SP:
Verus Editora, 2005.
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111
POESIA NA SALA DE AULA:
FORMANDO LEITORES
social de mudança das práticas sanitárias do Sistema Único de Saúde.
2. ed. São Paulo: Hucitec, 2004.
Diva Sueli Silva Tavares1
RESUMO: Este trabalho visa discutir o ensino de poesia na sala de aula, a partir
de uma pesquisa semi-experimental realizada numa escola do Ensino Médio da
rede estadual de Natal/RN. Apresentamos alternativas para se trabalhar adequadamente a leitura do texto poético, a partir de novas concepções de leitura de
literatura bem mais producentes, como as que promovem o encontro entre o leitor
e o texto. Tratamos do conceito de poesia e apresentamos possibilidades didáticas
de aplicação da poeticidade no universo cultural de nossos jovens. Os aportes
teóricos que deram apoio a este estudo foram as reflexões promovidas pela estética da recepção e da cooperação interpretativa, conforme a formulam Jauss,
(2002a), Iser, (1996) e Eco (2002); concepção de leitor e processo de leitura, de
acordo com Smith (1989) e na leitura por andaime (scaffolding), Graves e Graves
(1995). Nossas análises permitem-nos afirmar que, na perspectiva interacionista,
o papel do aluno é atuante e pensante no processo de leitura, permitindo-se, em
sala de aula, outras leituras que não sejam a do professor, ou até mesmo a do livro
didático, tido por esse professor como portadores da verdade. Os resultados a
que chegamos apontam para a necessidade de os professores assumirem papéis
mais ativos no trabalho educativo como um todo e, especificamente, na produção
do saber escolar, inclusive da poesia por se considerar que esse gênero contribui
de maneira singular para a formação lingüística, cognitiva, afetiva e psicológica
dos alunos. Essas reflexões e as possibilidades de formar o aluno em leitor, especificamente no que se refere à recepção do poema, foram fatores essenciais de
motivação da pesquisa.
PALAVRAS-CHAVE: Ensino de literatura. Poesia. Ensino Médio.
POETRY IN THE CLASSROOM: FORMING READERS
ABSTRACT: The objective of this paper is to discuss the teaching of poetry in
the classroom through a semi-experimental research carried out in a public High
School in Natal/RN. We introduce alternatives for an appropriate way of teaching
the poetic text through new conceptions of reading concerning the literary text.
We deal with the concept of poetry and introduce didactic alternatives as tools
for dealing with the poetic element in the cultural universe of our youth. The
theoretical approaches that support this paper are the theory of reception and
interpretative cooperation, according to Jauss (2002a), Iser (1996) and Eco (2002);
1
Doutora em Educação. Professora de Português Instrumental da FACEX. E-mail:
[email protected]
112
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reader conception and reading process, according to Smith (1989), and scaffolding
reading, according to Graves and Graves (1995). Our analysis gives us support
to say that, in the interactionist perspective, the role of the reader is an active and
a reflexive one, and that stimulate in the classroom other kinds of readings that
may differ from the textbook’s and the teacher’s, and this is important because
usually the textbook’s and the teacher’s readings are considered the true ones. The
results show that the teachers need to be more active in their educational work,
but specifically in the production of knowledge in the school, and that includes
working with poetry once this genre contributes to the linguistic, cognitive,
affective and psychological formation of the students. These considerations and
the possibilities of forming readers, mainly concerning poetry, were key factors
that motivated us to develop this research.
KEY-WORDS: Teaching reading. Poetry. High School.
114
Este artigo é um recorte da tese Da leitura da poesia à poesia da
leitura: a contribuição da poesia para o Ensino Médio. Na investigação feita nessa pesquisa sobre o contexto da literatura no ensino
médio e mais especificamente o de poesia, constatamos que as atividades de leitura de poesia, não têm atraído os estudantes. Tampouco
têm se mostrado produtivas, e alcançado alguns de seus objetivos:
despertar nos jovens o gosto pela literatura e desenvolver neles a
capacidade da leitura crítica e reflexiva. Neste contexto de leitura
de poesia se insere o ensino de literatura, como uma evidência da
leitura. Se a leitura de literatura é de certa forma um problema nas
instituições de ensino, o de literatura é ainda mais complexo, visto
que este ensino é, em sua essência, ensino de leitura.
A leitura é um ato de percepção e atribuição de significados, através de uma conjunção de fatores pessoais como o momento, o lugar
e as circunstâncias, ou seja, é uma interpretação sob as influências
de um determinado contexto. Nesse processo o indivíduo é levado
a uma compreensão particular e social da realidade. Trata-se de um
conceito de ordem cognitivo-sociológica, pelo qual a leitura é concebida como um processo de compreensão mais abrangente. Essa
dinâmica envolve componentes sensoriais, emocionais, intelectuais,
fisiológicos, neurológicos, além dos culturais, econômicos e políticos. O que confirma a posição de Martins (1988, p. 30) quando afirma que o ato de ler “é um processo de compreensão de expressões
formais e simbólicas, não importando por meio de que linguagem”.
Entretanto, grande parte de nossas nossas escolas, ainda concebe a leitura vinculada a uma decodificação de signos lingüísticos
através do aprendizado estabelecido a partir do condicionamento
estímulo-resposta, ou seja, a aprendizagem ocorre pela transmissão
e pela memorização através de uma série de exercício para treinamento e memorização. Essa concepção de ensino, calcada na verbalização, em que o aluno assume uma postura de ouvinte, desconhece
a profundidade da experiência do contato do indivíduo que, ao atuar
sobre o objeto de conhecimento, e, pela atividade cognitiva, estabelece relações de análise e de generalizações. Nesse sentido, “o ensino
tem sua função social redefinida: ele passa a contribuir para o desenvolvimento dos indivíduos, possibilitando-lhes vivenciar modos de
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construir conhecimento por si mesmo, modos de aprender pensando.” (FONTANA, 1997, p. 110)
No que diz respeito ao ensino, a sociedade contemporânea vê
como finalidade da educação, organizar a experiência do indivíduo
na vida cotidiana, desenvolver-lhe personalidade e garantir-lhe sobrevivência. Além disso, está direcionada com as técnicas aplicadas,
com as normas vigentes e com os valores compartilhados pelos indivíduos. Neste contexto, o ensino de literatura nas escolas é questionável. O texto literário é constituído por uma simbologia utilizada
na construção de textos que não possui um sentido produtivo na vida
prática, isto é, não tem utilidade do ponto de vista da sociedade capitalista, visto que não gera capital por meio do trabalho. Por outro
lado, o trabalho intelectual proporcionado pela leitura de literatura é
dialetizado na sua função estética, pois gera aprendizagem à medida que proporciona prazer não só pelo entretenimento, mas também
pela realização do leitor ao descobrir os enigmas do texto e preencher os vazios que o texto traz. Além do mais, a literatura é, em
princípio, comunicação. Ela possui uma estrutura de apelo, uma comunicabilidade com o leitor que, articulada com suas experiências,
constrói significação. Iser (1996, p. 13-14) acredita que:
A interpretação da literatura, orientada pela estética
da recepção, visa à comunicação, por meio da qual
os textos transmitem experiências que, apesar de não
familiares, são, contudo compreensíveis. [...] através
desses textos, acontecem intervenções no mundo,
nas estruturas sociais dominantes e na literatura
existente.
Considerando que o ensino de literatura não tem uma finalidade
específica, um uso social pragmático, as sociedades mais tecnologizadas tendem a encarar o saber científico ou prático como o objetivo
do ensino, e menosprezam o pensamento, a linguagem e as artes,
relegando-os a acessórios instrumentais e de apropriação natural.
Nesse caso, dispensa-se o ensino. Essa abordagem não se coaduna
com o pensamento de (BORDINI, 1991, p. 14). Para essa autora:
... essa é uma atitude falsificadora da realidade, pois
116
separa, hierarquiza e confunde modalidades correlativas e imbricadas do saber. Discrimina disciplinas
como Filosofia, Línguas, Artes e Psicologia e promove outras como Matemática, Física, Química, Biologia na formação escolar...
A sociedade precisa compreender o ensino de literatura como o
meio mais eficaz para o desenvolvimento cognitivo, pois abre possibilidades de leitura e faz com que o leitor reflita, dialogue com o próprio texto e com outros leitores. O texto literário é plurissignificativo,
permite diversas leituras justamente por ter seus aspectos em aberto,
fornecendo ao leitor uma gama muito maior de informações. A riqueza polissêmica da literatura é um campo de plena liberdade para
o leitor, o que não ocorre com outros textos. Daí provém o prazer da
leitura, uma vez que ela mobiliza mais intensamente a consciência
do leitor, desobrigando-o a manter-se nas amarras do cotidiano.
No tocante ao ensino de poesia, objeto dessa pesquisa, vários estudos como os de Averbuck (1982), Lajolo (1993), Amarilha (1997),
Maia (2001), Pinheiro (2002) entre outros verificaram a forma equivocada com a qual se tem trabalhado esse gênero no ensino médio, e
por, conseguinte, a pouca vivência de leitura do texto poético em sala
de aula. O trabalho desenvolvido nas salas de aula, geralmente, utiliza-se dos textos extraídos de manuais didáticos, muitas vezes fragmentados e elaborados com intuito mercantilista, apenas fornecem
dados que os organizadores / elaboradores consideram relevantes
para as séries a que são destinados. Por ter acesso apenas fragmentos de textos, os alunos não vivenciam o prazer estético apresentado
a eles no ato de leitura. O que se constata na realidade, é que hoje
os jovens encontram outros meios, outras formas para substituir o
prazer que anteriormente era encontrado na leitura. Diante dessas
constatações é possível vislumbrar na sala de aula um ensino de literatura, mais especificamente, de poesia, tema escolhido para nossas
reflexões.
Esta pesquisa é do tipo quase experimental e se realizou numa
sala de aula de uma escola pública do município de Natal, Rio Grande do Norte. Selecionou-se o contexto da escola pública, tendo em
vista que essas escolas enfrentam alguns problemas de ordem ecoCarpe Diem
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nômica e estrutural, o que poderia de alguma forma “justificar” a
exclusão da poesia no seu cotidiano. A Escola Estadual Professor
Edgar Barbosa (selecionada para este estudo) localiza-se na Avenida
Miguel Castro, sem número, Lagoa Nova, Natal – RN.
A seleção dessa escola se deu por vários fatores. Um deles é o fato
de o público ser heterogêneo, oriundo de diversas camadas sociais,
proveniente de bairros diferentes e ainda a descoberta da inexistência em sua biblioteca de um acervo literário que pudesse despertar o
gosto dos alunos por literatura e conseqüentemente, por poesia.
Tivemos como atores (sujeitos) alunos do primeiro ano do ensino médio. A escolha desse nível de ensino se deu pelo fato de que
nessa fase da vida, dos 15 aos 17 anos, um mundo de novidades se
abre para esses adolescentes. A descoberta da modificação corporal,
essência da puberdade, e o desenvolvimento dos órgãos sexuais e da
capacidade de reprodução são vividos pelos adolescentes como irrupção de um novo papel, que modifica sua posição frente ao mundo
e que também compromete em todos os planos da convivência. A
adolescência é uma transformação substancial do corpo do jovem,
que adquire as funções e os atributos do corpo adulto. Em outras
palavras, como afirma Calligaris (2000, p. 19) “é uma manifestação
de mudanças hormonais, um processo natural”.
Nesse processo, os adolescentes sofrem crises de susceptibilidade, eles amam, odeiam, estudam, brigam, batalham. Batalham com
seus corpos que se esticam e se transformam. Lidam ainda com as
dificuldades de crescer no seio de uma sociedade e de uma família moderna. Sua inserção no mundo social do adulto vai definindo
sua personalidade, pois seu novo plano de vida lhe exige estabelecer
o problema dos valores éticos, intelectuais e afetivos, isso implica
no nascimento de novos ideais e a aquisição da capacidade de luta
para consegui-lo. Este processo supõe um desprendimento, isto é,
abandonar a solução do como se do jogo e da aprendizagem, para
enfrentar o se e o não irreversíveis da realidade ativa que tem em
suas mãos. Isso implica, ainda, um distanciamento do presente e,
juntamente, da fantasia de projetar-se no futuro.
Elegemos para este estudo a metodologia do tipo de pesquisaação, visto que estivemos envolvidos nas diferentes partes da pes-
quisa, desde a definição do problema, até a implementação de uma
ação que resultou em uma melhoria para o grupo de participantes
em estudo. Houve, nesse caso, um sentido político claro nessa concepção, qual seja, partir de um problema definido, usar instrumentos
e técnicas para conhecer esse problema e delinear um plano de ação
que trouxesse benefício para o grupo (ANDRÉ, 1986, p. 33).
Os instrumentos que utilizamos na coleta de dados foram, primeiramente, a entrevista, do tipo semi-estruturada, a que apresenta
um único respondente. A entrevista (GASKEL, 2004) proporciona
ao pesquisador o esclarecimento e acréscimos em pontos importantes com sondagens apropriadas e questionamentos específicos.
Para esse autor:
118
Carpe Diem
Toda pesquisa com entrevista é um processo social,
uma interação ou um empreendimento cooperativo
em que as palavras são o meio principal de troca.
Não é apenas um processo de informação de mão
única, passando de um (o entrevistado) para outro
(o entrevistador). Ao contrário, ela é uma interação,
uma troca de idéias e de significados em que várias
realidades e percepções são exploradas e desenvolvidas tanto o entrevistado quanto o entrevistador estão, de maneira diferentes, envolvidos na produção
de conhecimento. (GASKEL, 2004, p. 73)
Como procedimentos utilizados nessa pesquisa, a entrevista teve
um caráter exploratório, serviu para tomarmos conhecimento do
processo de ensino de literatura nessa escola. Primeiramente, entrevistamos a professora que ministra a disciplina Língua Portuguesa e Literatura. Em seguida, selecionamos um pequeno grupo
(uma amostra de 15% da turma) para nos acercarmos do universo
dos alunos a fim de tomarmos conhecimento de suas preferências de
leitura e podermos estruturar o experimento. No final, aplicamos um
questionário em que os sujeitos participantes (alunos) deveriam responder perguntas para que pudéssemos mensurar o nível de aprendizagem. Para registro dos dados obtidos, usamos o diário de sala de
aula. Nele registramos todos os acontecimentos que ocorreram ao
longo do experimento.
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Nosso estudo sobre o ensino de poesia, na sala de aula, teve início com o seguinte questionamento: por que os jovens costumam
afirmar que não gostam de ler poesia? Essa questão nos inquietava
e desconfortava, e a realidade se apresentou quando numa das entrevistas iniciais com os jovens que participaram do experimento,
obtivemos a seguinte posição de um dos alunos:
Pesquisadora – Você gosta de poesia? João – Não. Pesquisadora
– Gostaria de vivenciar um trabalho com poesia? João – Não.
Essa informação contribuiu para viabilizar ainda mais a importância um trabalho mais voltado para a poesia. Por isso, era preciso
saber: o aluno não gosta do gênero porque não gosta ou porque nunca teve contato, nunca a vivenciou nos moldes como acreditamos que
deva ser vivenciada em sala de aula. Para nós, ler poesia é descobrir
com os alunos a sutileza da comunicação através da palavra, uma
vez que o homem é “um ser de palavras” e “ a palavra é o próprio
homem” (PAZ, 1982, p. 36).
Após estudos e pesquisas, descobrimos que a presença da poesia
na sala de aula torna-se, pois, necessária para queremos desenvolver
nos alunos uma formação de leitor, uma vez que ela desperta para
o prazer que essa leitura proporciona. Esse prazer advém do texto
literário ao trazer na sua constituição e interação com o leitor, característica do jogo e, de acordo com sua estrutura e organização,
nunca prescrever o modo como deve ser jogado. O resultado pode
ser vivenciado de diversas maneiras. A experiência do leitor é que
possibilitará um resultado mais consistente na descoberta de significado do texto.
Assim, o ensino desse gênero não pode ser excluído do cotidiano dos alunos. As atividades lúdicas relativas ao processo de desenvolvimento não deve ser substituídas pelas atividades consideradas
mais “sérias” e úteis, deixando o jogo e a brincadeira para momentos
de recreação. Essa abordagem não considera o jogo ou a brincadeira
como atividade universal e inerente aos animais e seres humanos.
Geralmente, crianças e adultos encontram prazer no jogo. Assim, a
importância do jogo deve ser reconhecido, porque ele ajuda a explorar o mundo por intermédio da fantasia. Como se verifica na afirmação de (HUIZINGA, 2001, p. 134)
É um jogo e como tal, cabe ao leitor desafiado, descobrir os paradigmas e na luta vencer os obstáculos da linguagem figurada, cifrada,
enigmática. A vitória “é a do sentido, e o prazer é o da conquista, da
compreensão do texto” (AMARILHA, 1997, p. 33).
É na exploração das várias possibilidades geradas a poesia e na abertura de espaços para que os alunos discutam suas idéias que reside o
papel de mediação do professor, um leitor mais experiente que colabora
na construção do sentido do texto. Nessa atitude de colaboração Graves
e Graves (1995) denominada de scaffolding (leitura por andaime), o professor proporciona a seus alunos a construção conjunta dos significados
presentes no texto lido. A técnica de andaime consiste no apoio de um
leitor experiente que conduz o processo de leitura, resolve os problemas
e desafios identificados no texto, permitindo aos leitores em processo
de aprendizagem uma assistência direcionada. Essa técnica foi de suma
importância para a apresentação de poesias para os alunos, pois colaborou para o despertar da sensibilidade, para o jogo e para as emoções que
esse gênero suscita, além disso, revelou que esse gênero textual não está
tão distanciado de seu mundo como alguns acreditam.
120
Carpe Diem
A poesia está para além da seriedade. [...] Em sua
função original da fatos das culturas primitivas a
poesia nasceu durante o jogo e enquanto jogo – jogo
sagrado sem dúvida mas sempre, mesmo em caráter
sacro nos limites da extravagância, da alegria e do
divertimento.
A estrutura é estabelecida, como num jogo, por regras
de versificação, que encontra no espaço da representação do verso, do ritmo e da ordem, a harmonia veiculada por uma linguagem metafórica. Ampliando
esse conhecimento, HUIZINGA (id. Ibid) continua:
A ordenação rítmica ou simétrica da linguagem, a
acentuação eficaz pela rima ou pela assonância, o
disfarce deliberado de sentido, a construção sutil e
artificial das frases, tudo isto poderia constituir-se
em manifestações do espírito lúdico (HUIZINGA,
2001, p. 134).
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121
Dessa forma, a presença de uma mediadora, a pesquisadora, leitora
mais experiente, na dinâmica da leitura e discussão desse gênero de
texto contribuiu para que os jovens se interessassem e aprendessem a
ler e a gostar de poesia, pois observamos alteração no comportamento dos alunos depois que esse gênero lhes foi apresentado sob uma
perspectiva que não era a que estavam acostumados, como a leitura pragmática em que a compreensão dos significados é apresentada unicamente pelo texto. Essa concepção de leitura que os alunos
vivenciavam não leva em consideração o leitor como construtor de
significados, nem sua história. Não compreende que na leitura o leitor
é produtor, participa, percebe, identifica-se, mobiliza-se e transformase, como se percebe na fala da aluna – Hoje eu sei o que é poesia. Eu
sinto a poesia. Eu me vejo dentro dela. Aprendi a respeitar os gostos musicais dos outros. Um outro aluno assim posicionou a respeito
do experimento: A participação da gente foi interessantíssima, pois
através das aulas aprendemos a aguçar mais nossas mentes para um
aprendizado melhor, através de textos que nos ensinavam bastante e
ao mesmo tempo intrigavam, mas essa intriga logo se transformava
em aprendizado, pois tudo era discutido, tudo era esclarecido.
Percebemos, lamentavelmente, a permanência de uma visão institucionalizada de que a leitura em sala de aula deve servir para obtenção de
nota. A fala de um aluno, no questionário feito no final do experimento,
confirma nossa posição. Quando perguntamos que sugestões ele daria
caso houvesse continuidade nos encontros, ele assim se posicionou: –
Que quando for fazer essas atividades de novo, poder contar pontos.
Essa resposta se contrapõe ao que sabemos da literatura, que é fascinante e essencial para o desenvolvimento da cognição e da afetividade, e o quanto o universo letrado nos faz crescer e apreender aspectos
fundamentais do ser humano. Por isso, compreendemos que a leitura de literatura, de poesia em particular, como parte constitutiva do
mundo social, deve, não apenas constar nos currículos escolares, mas
também ser vivenciada, pois colabora na formação do leitor, visto que
expressa as visões de mundo que circulam no social. Visões essas que
são informadas pelas experiências históricas concretas de grupos sociais que as formulam, mas também elas mesmas construtoras dessas
experiências. Essas visões compõem a prática social material desses
indivíduos e dos grupos aos quais pertencem ou com os quais se relacionam, favorecendo o engajamento emocional e o estabelecimento
de uma relação texto vida. Assim sendo, perde-se o ponto de vista dos
que acreditam que a literatura é apenas o espelho da realidade, para
percebê-la também como parte constitutiva do mundo social.
Por isso, o ensino de literatura não pode ter a mesma perspectiva
que o de história, geografia, por exemplo, em que se estuda o fenômeno. Na literatura, ela é o próprio fenômeno. Deve ser lida não como
algo a ser contado, ilustrado, mas vivenciado, pois possui um discurso
carregado de vivência íntima e profunda que suscita no leitor o desejo,
não só de prolongar essas vivências, mas também de renová-las, porque se constitui como um elo entre o homem e o mundo, supre suas
fantasias, desencadeia emoções, ativa o intelecto e produz conhecimento. É preciso, pois, estudá-la, compreendendo-a nos seus fatores
constituintes, visto que, como criação, adensa irrealidade com a realidade, tornando os leitores observadores deles mesmos. Assim, o aluno
compreenderá que ler um texto literário significa entre outras coisas,
entrar em novas relações, sofrer um processo de transformação que
o torna capaz de ler e compreender o mundo que o cerca. Porquanto
prática social, a literatura pode ser vista como atividade humana em
intenção transformadora do mundo, que expressa não só o peculiar da
relação do homem com o mundo, mas também os modos de ser do
homem no mundo, e nisso, a poesia é singular.
O experimento consistiu em trazer poesias para sala de aula. Em
cada encontro, 12 ao todo, líamos e abríamos espaço para discussões do poema selecionado para o dia. Começamos com pequenos
textos conhecidos por eles na sua vida cotidiana, até uns mais complexos que exigiam uma elaboração maior por parte desses leitores.
Para desenvolvermos esse trabalho com poesia, mais envolvente e
significativo, enveredamos pelo universo desses alunos, procuramos
descobrir seus gostos e desejos para que de posse desse conhecimento trouxéssemos para o contexto da sala de aula poesias que se
aproximassem do mundo dos adolescentes. Isto teve por fim o envolvimento de todos os alunos na leitura significativa, como algo para
ser sentido e vivido. E que devido ao encantamento, aos sonhos e
emoções que ela suscita, esses adolescentes pudessem mostrar ao
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mundo o que estão sentindo, a certeza e a incerteza, a voz que grita e
cala, a tristeza e a alegria, sentimentos que se contradizem, mas que
se completam nessa fase da vida em que um mundo de novidades se
apresenta para eles.
Essa foi uma das formas que utilizamos para convidá-los a tomar
gosto pela leitura desse gênero de texto, aproximando os jovens da
literatura de modo significativo, divertido e diferente daquela maneira que as escolas costumam vivenciar. Como depõe um aluno –
Eu gostei dos encontros porque foram muito divertidos e aprendi a
gostar mais ainda de poesia. Porque a poesia está presente em tudo
que vemos, ouvimos, tocamos, falamos... E a poesia está presente em
nosso dia-a-dia.
Dessa forma, eles redescobriram o desejo pela palavra, perdido
ao longo das séries, além de saborear a palavra, a vontade de expressar, compreender, inventar e reinventar o mundo das letras. Podemos
demonstrar isso através da posição de um aluno: – Eu aprendi com
você a ver mundo das palavras de outro jeito. Usar a imaginação
e voar com as palavras. Esse posicionamento, demosntrou que esse
estudo contribuiu não só para a formação lingüística, cognitiva, afetiva e psicológica dos alunos, acrescentando experiências, mas também para sua formação de leitor.
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125
WOMEN AND VICTORIAN LITERATURE
Daise Lílian Fonseca Dias1
ABSTRACT: The objective of this work is to analyze, from a feminist
perspective, the importance of women for the Victorian Literature concerning
issues linked to their literary production, as well as to their representation
in fiction. This discussion will also deal with the double standard of literary
criticism of the hegemonic male tradition in relation to the writers of the female
tradition which was in its beginning.
KEY-WORDS: Women. Literature. Victorian Age. tradition.
AS MULHERES E A LITERATURA VITORIANA
RESUMO: Este trabalho tem como objetivo analisar, sob uma perspectiva feminista, a importância da mulher na literatura vitoriana, tanto no que se refere
à questões ligadas à produção literária de autoria feminina quanto à representação da mulher na ficção. A discussão também abordará o duplo padrão de crítica literária da tradição hegemônica e masculina à obras e autoras da tradição
que ora se formava.
PALAVRAS-CHAVE: Mulher. Literatura. Era Vitoriana.Tradição.
Professor of English and Literatures in English at UFCG (Universidade Federal de
Campina Grande). E-mail: [email protected]
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The importance of English women for the Victorian Literature
is deeply linked to the development of the novel. The genre novel
in the modern sense of the word has been defended by scholars,
like Freedman (1978), for example, as having been first written in
England by Samuel Richardson with his Pamela (1740). For critics
such as Said (1994), Robinson Crusoe (1719) by Daniel Defoe can
be considered the first novel in English, while some others believe
Robinson Crusoé to be travel writing literature, a popular genre at
the time it was written. Allen (1991) suggests that Bunyan’s Pilgrim’s
Progress (1678) is the first novel written in English fiction. Bakhtin
(2002) believes the genre novel to have been created by the Greeks,
and as an example, he mentions Satiricon, by Petronius. For scholars
like Zéraffa (1971) and Lukács (2000), it isgenerally accepted that the
novel began with the rise of the bourgeois society, and it became the
dominant form also due to that new social class for several aspects
– but it is a consensus that the novel as it is known today is prior to
the Victorian Age.
It is important to mention that writing novels was seen by the
English society, for example, as different from writing poetry,
mainly because the figure of the poet had a different status in society,
which was that of a lesser god since Aristotle, as Gilbert and Gubar
(1984) state, specially because writing poetry was linked to formal
education, that is, knowledge, historically linked to the powerful
aristocratic, patriarchal tradition that controlled society.
The poor people and women were historically denied access to
formal education, which prevented them, in general, from writing
professionally, and in the case of women, having a profession out of
what was linked to the domestic sphere was also a male privilege.
So, as the bourgeois society was made by the new social class that
emerged from the common people, and once they theoretically
did not have that much knowledge - which was common for the
aristocracy - they were also considered a simple-minded audience,
and therefore, the new genre novel was appropriate for them, mainly
because it was considered a simple form which was about simple
subjects, written by simple people, for a simple-minded audience.
As Showalter (1977) puts it, that point of view judged the new genre
quite appropriate for being written by women, then.
Due to its biographical nature and a generally accepted feature
of female writing, the novel is about the life of the problematic
individual, in lukacian terms, in search of himself/herself, that is,
self-knowledge. These aspects are appropriate for the condition of
the new individual - and the new rising social class - whether male or
female, that came out of the social transformation of the 17th century,
but female in special, once they were in a period of transition, and
had begun to look for autonomy and assertion of an identity of their
own, not only the identity they had been forced to accept by society
– that of passive, submissive beings, who lived to serve men and their
own families Women were in search for a broader understanding of
their relations either internal or external concerning their own selves,
men, and society.
According to Lukács (2000), the hero (or anti-hero) of the
novel is disappointed about life, and that led him not only to a
dramatic loneliness, but also to a psychological one, for the author
believes that this new kind of hero suffers from an incompatibility
concerning the external world, which is hostile to him, and that
would lead him to self-destruction. Obviously, this condition was
that of the human being in general, but besides anything, it was the
historical condition of women.
Writing novels in the 18th and 19th centuries was not an easy
task neither for men nor for women, mainly because the genre
was in its full force already by the beginning of the 19th century,
and writing it meant joining a “competition” – not only in the
bloomian sense – with the masters of that form, for the novel had
gained credibility in England. Some of those masters were Daniel
Defoe who wrote Moll Flanders (1722), a first-person narrative
written around 20 years before Pamela, about the life of a female
thief. In 1749, Fielding published Tom Jones; his masterpiece is a
Bildungsroman, and it is about the life, loves and developments of
the protagonist. The other great name of the 18th century novel is
the Irish writer Laurence Stern with his (anti)novel Tristan Shandy
(1760-1767), as Freedam (1978) puts it.
The gothic novel also developed during the second half of this
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century; its creator was Horace Walpole in 1764 with his The
Castle of Otranto. However, the new century brought some other
controversies for the genre, and the main one was a profound and
systematic interest of women not only in reading novels, but in
writing them. One example is the first great female master of the
genre, Jane Austen. Ousby (1998, p. 46) informs that she began her
literary career at the age of 15
with Love and Friendship, a burlesque of Richardson;
other pieces belonging to the 1790s caricature, the
sentimentality or excessive ‘sensibility’ of much late
18th-century literature. Her eye for the ridiculous in
contemporary taste also inspired Northanger Abbey
(published posthumously in 1818 but probably her
earliest extended work of fiction), which satirizes
her heroine’s penchant for gothic fiction, and Sense
and Sensibility (begun in 1797 but not published
until 1811).
Austen also wrote Pride and Prejudice, begun in 1796 or 1797, but
published only in 1813; this novel marks out her territory, as well as
the subject and the mode of her following works. Austen mastered the
genre novel with her Mansfield Park (1814), Emma and Persuasion
(both published posthumously in 1816 and 1818 respectively). Pride
and Prejudice and Mansfield Park were quite popular in Austen’s
days, and she was admired by the great writer of historical novels,
the Scottish Walter Scott, as well as by the Prince Regent. According
to Ousby (1998, p. 46),
In these works Jane Austen chose deliberately to
portray small groups of people in a limited, perhaps
confining, environment and to mould the apparently
trivial incidents of their lives into a poised comedy
of manners. Her characters are middle-class and
provincial; their most urgent preoccupation is with
courtship and their largest ambition is marriage. The
task she set herself required careful shaping of her
material, delicate economy and precise deployment
of irony to point the underlying moral commentary.
She developed not by obvious enlargement of her
130
powers but by the deepening subtly and seriousness
with which she worked inside the formal boundaries
she has established.
Gilbert and Gubar (1996, p. 329) says that Austen comically
criticized the overvaluation “of love, the miseducation of women,
the subterfuges of the marriage market, the rivalry among women
for male approval, the female cult of weakness and dependency,
the discrepancies between women’s private sphere and public
(male) history.”
Freedman (1978) affirms that Austen seemed indifferent to the
Romantic, the French and the American Revolutions; he says that
she preferred to remain faithful to the principles and values of the
18th century. He notices that two of Austen’s brothers were in the
British Navy during the Napoleonic Wars, however, England is
always in peace in her novels. Despite the criticism from the public
(Austen was accused of writing the same novel) and from female
writers decades later (the Brontë sisters felt uncomfortable about
the nature of her works concerning the docility of her heroines and
their main preoccupation being marriage) she is considered the first
great female writer of the English novel. Austen is recognized by her
perfect technique, and profound view of social life, but mainly for
delineating the restricted life of a provincial lady. Allen (1991, p. 115)
says that “the attainment of self-knowledge on the part of the heroine
is always part of Miss Austen’s themes.”
Austen did not live to be part of the Victorian Age - generally
accepted to have began in 1837 with the rise of Queen Victoria to
the English throne; the monarch died in 1901 – but she will be a
reference for the female writers of the future generations, as well as
Mary Shelly with her Frankestein (1818), although in a much lesser
degree. Daughter of the rationalist philosopher William Godwin, and
the feminist theoretician Mary Wolstonecraft, who in 1792 wrote the
classic feminist pamphlet A vindication of the rights of women, and
married to one of the most important Romantic poets, Pierce B. Shelly,
Mary Shelly had a privileged life in terms of intellectual experience;
one of her friends was the great poet Byron, who suggested them to
write a ghost-story each; the result was her masterpiece.
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Frankenstein is considered by Gilbert and Gubar (1996, p. 353)
“perhaps the most memorable and influential science fiction fantasy
ever published in English.” Shelley’s gothic narrative follows the
features of the genre and it is free of the conventions and restrictions
of texts considered more realists in that Age of Reason. Frankestein
shows the power of feeling and imagination against the tyranny of
reason; imagination is seen as process of transgression in relation to
the complicate reality of XIX century with its social transformation.
The novel exploits the forbidden boundaries of human science, and
brought a new sophistication to literary terror; in doing so, Shelly
made the Gothic novel over into what today is called science fiction.
According to Ousby (1998), “none of her [Mary Shelly’s] later
novels matched the power, originality, and mythical sweep of her
legendary first work – both Lodore (1835) and Faulkner (1837) are
little more than romantic pot-boilers.” Mary Shelley gave up writing
long fictions when the interest of the general public moved from the
Byronic heroes to the realism of Dickens. However she also wrote
Mathilde, an unfinished novel begun in 1819, but published only in
1959. Valperga (1832), the story is set in the 14th-century Italy, and
portrays the lovelessness “and destructiveness of personal political
ambition. The last man (1826), a political disillusioned and conservative
vision of the end of human civilization, set in the 21st century”
(OUSBY, 1998, p. 845), and Perkin Warbeck (1830). According to the
Ousby, she wrote short stories for periodicals like The Keepsake, and
produced some volumes of “Lives for Lardener’s Cabinet Cyclopedia,
and the first authoritative edition of Shelley’s poems, with a preface
and valuable notes.” Her travelogue, Rambles in Germany and Italy,
in 1840, 1842 and 1843 (1844), was well received.
As it can be seen, these two great female names represent the
beginning of a tendency, that is, women writing fiction in a systematic
way, and not only fiction, but high quality fiction. They later would
be seen as some of the pioneers of a female writing tradition, for
they dared to cross the mine field of the literary male tradition, and
launched the steps of a new one, a female tradition.
However, the issue of female appropriation of a form considered
male – of course all literary genres appeared in the male tradition -
did not happen without problems for women. According to Gilbert
and Gubar (1984), that can be seen as an irreconcilable contradiction
which involves literary genre and gender. The point is, women will at
first follow the male patterns, but later, they will look for promoting
a revision of the literary genres, as an attempt to use them according
to their own needs and to denounce their social condition, mainly
because the female writers of the 18th and 19th centuries were stuck
in a social structure created for and by men, even though, they tried
to subvert aspects of the male tradition either in form or in content –
mostly in relation to the last one.
The fact that women brought some changes to the genres of the
male tradition is a belief that is possible from a feminist perspective of
today, because in general, because of the accepted belief concerning
works written by women, as it is stated by Showalter (1977), and
seen in the first paragraphs, there was a generalized skepticism in
relation to the quality of their work, from the public in general, but
also from many women. However, it is important to highlight some
examples of women who took the novel form to a further step: Emily
and Charlotte Brontë.
The Brontë sisters appeared in the literary market in the 1840s,
the decade of the novel, the decade when the profession of novelist
became recognized in England, according to Cuddon (1998). They
belong to the early Victorian generation of great novelist, along
with Scott, Thackeray, Dickens, Trollope, and Elizabeth Gaskell.
According to Allen (1991, p. 139), these early Victorian “were at one
with their public to a quite remarkable degree; they were conditioned
by it, as of course any novelist must be […]. They identified themselves
with their age and were its spokesmen.” Differently, the writers of
the late Victorian period, George Eliot, Thomas Hardy, and Joseph
Conrad, for example, “were writing in some sense against their age;
they were critical, even hostile, to its dominant assumption. Their
relation with the reading public was nearer to that of the twentiethcentury novelist than to the early Victorians.”
In order to better understand the importance of the Brontë sisters
for the Victorian Age and for the English fiction, it is necessary to
consider with Freedman (1978, p. 28; my translation) that when the
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Romantic Movement hit England by the end of the XVIII century, it
first grew stronger in poetry – the most representative names were
Blake, Wordsworth, Coleridge, Keats, Shelly and Byron – so it was
not fertile in novels. However, after the first romantic wave, “the
Brontë sisters produced at least two masterpieces of fiction which
deserve to be equaled to the best poetry of Keats and Shelley.”
In Jane Eyre and Wuthering Heights they highlighted most of the
common Victorian themes: sickness, death, and the pathetic, for
example, from a powerful female perspective, although they did
not want to be linked to the category of female writers, since the
term was still seen as negative. They published under androgynous
pseudonyms, a recurrent strategy for female writers to avoid the
double standard of criticism towards novels written by women, as
Showalter (1977) shows.
Emily Brontë introduced in the English fiction the use of multiples
narrators, and a gypsy protagonist in her only novel, Wuthering
Heights (1847). Her sister Charlotte provoked a revolution in the
representation of female and male identities as well as their roles
in gender relations with her Jane Eyre (1847). Charlotte, and Anne
Brontë – who wrote Agnes Grey (1947) and The tenet of Wildfell Hall
(1948) - chocked critics and readers of the Victorian Age because
of elements considered unfeminine in their novels. However, even
more different from what was expected for a female standard of
content – the 1840s saw the emergence of many female novelists,
although, this work will deal only with some of the greater names,
those responsible for forming a tradition – was Emily’s masterpiece.
In a well known study of her novel, Cecil (1958, p. 138) defends
that Emily is ahead of any tradition, mainly because Wuthering
Heights does not follow the conventions of the Victorian, canonic
and male novel:
She writes about different subjects in a different
manner and from a different point of view. She stands outside the main current of nineteenth-century
fiction as markedly as Blake stands out the main current of eighteenth-century poetry.
134
Actually, Emily Brontë is considered by many scholars to be the
first modern writer, in the English tradition. Cecil highlights that she
did not write to please an audience - like Dickens did – so that she
was not limited by issues related to the reception of her work. In her
novel, she surprised readers by bringing up a controversial issue:
the metaphorical link between oppressed groups and their union by
identification – women and foreigners united against the patriarchal
tyranny and the British imperialism.
Charlotte and Anne still shared the traditional ways of thinking
concerning marriage as the typical female and Romantic ideal although Charlotte in Jane Eyre brought a more assertive behavior
concerning gender relations as it can be seen in her heroine.
Differently, Emily Brontë killed the married women of her novel;
the married women die at giving birth - the exceptions are the old
Mrs. Earnshaw and Linton. The only women who survived in the
end are childless: the narrator Nelly Dean and Catherine’s daughter;
the latter one has the cultural power as a tool for controlling the male
figure of her future husband, Hereton.
Wuthering Heights is considered a dramatic and romantic poem,
and many critics compare it to Shakespare’s King Lear (1605), and
Emily Brontë to Shakespare himself (ALLOT, 1979). Although
Wuthering Heights portray some of the issues of its age, at the same
time it seems out of the Victorian traditional novel. According to
Freedman (1978), it is about a metaphysical search of the human
being and its place in the universe; it is a question and a statement of
the Romantic ideals; a criticism to the Romantic egoism.
Emily Brontë’s sister Charlotte Brontë was more explicit in her
dealings with what became known as “feminist” issues. It is obvious
that each writer, whether male or female, usually writes about the
experiences that he/she had, therefore, his/her production will deal
with themes that are part of his/her own concerns. The relevance
and the greatness of the production of Jane Austen, for example, can
not be questioned, once they are fundamental for the development
of a female literary tradition. However, the Brontë sisters seemed to
have misunderstood the irony of Austen’s work concerning women’s
behavior towards men and other issues, so they felt uncomfortable
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about the nature of Austen’s heroines, and also about some of their
contemporary female writers.
From one hand, historically, the representation of women by
male writers showed portrayals of ideal women (angels, passive,
submissive, childlike), and feared women (prostitutes, witches, Evas,
Lilliths). Heroines created by men seemed to follow prescribed roles
for women; they seemed to keep imprisoning women in images that
were imposed on them, and even female writers like Jane Austen –
as the Brontë sisters felt – seemed to somehow reproduce that male
model of women, instead of proposing changes in a more explicit
way.
Eagleton (2005) says that the Brontë sisters lived in a world of
transition, and because of that, they felt the need for a different female
attitude, a more assertive behavior towards life, marriage, career,
religion, moral values, and their own selves. Due to that, the nature
of Charlotte’s writings was more volcanic; her world was romantic,
spontaneous, sexual and supernatural, as it can be seen in Jane Eyre.
This novel changed the route of the female literary tradition that was
in its beginning, for Charlotte creates a heroine with a mind of her
own, of independent spirit, and in search for economic, professional
and emotional satisfaction, and a hero that treats women the way
they would like to be treated, that is, as equals.
Jane Eyre became a symbol of what meant to be a young, single
girl growing up, developing herself and getting mature as an
individual, as a professional and as a woman in the Victorian Age,
mainly because “the typical individual of the new social order, as
Charlotte’s heroines again reveal, was self-seeking and hard-headed,
yet fragile and desperately exposed” (EAGLETON, 2005, p. xiii).
However, the Victorian public was not ready to see these features
in a heroine, specially in a novel written by a woman, and mainly a
heroine that when called “angel” by her beloved Mr. Rochester says
that she would rather be a thing than an angel.
In Jane Eyre, Charlotte Brontë portrayed the attempts of a woman
to express herself freely - out of what was expected for her sex - and
her search for her own identity. The writer seems to have done this
unconsciously through the several resources of her narrative, such as
dreams, hallucinations, and visions that represent the psychological
development of her heroine’s inner life. Charlotte Brontë wrote a
novel that denounces the terrible limitations imposed on the women
of the Victorian Age, mainly those of low social class. She wrote
about their hard working conditions as governesses, teachers, and
artists; about the emptiness of the lives of young women awaiting
marriage, and about the appropriation of women’s proprieties by
their husbands that can result in madness.
Jane Eyre was responsible for the rising of a new kind of heroine
that was a professional and that represented a kind of model for
future generations. Jane was a fictional ideal that matched strength
and intelligence with female tenderness, witty and domestic skills
in order to live in a time of profound economic changes, due to the
Industrial Revolution, as Showalter (1977) shows. And this heroine
had above all, a mind of her own, as Jane herself tells Mr. Rochester.
Showalter (1977, p. 28) defends that Charlotte Brontë subverts the
female gothic, and “the mad wife locked in the attic symbolizes the
passionate and sexual side of Jane’s personality, an alter ego that her
upbringing, her religion, and her society have commanded her to
incarcerate.”
The Brontë sisters were not affected by a new way of production
that appeared in England around 1940s, which changed the nature of
the English novel: the system of publication in series, that is, a novel
would appear in parts in newspapers or magazines. Each issue would
publish from three to four chapters of a novel, and after the end of the
series, the reader would have the whole book in parts, or could buy
it in three volumes, as Freedmam (1978) puts it. This transformation
had a tremendous impact for the Victorian novel, because the novelist
would create the story according to the interest of the public, and
Dickens mastered this technique with his A Christmas Carol (1843),
David Copperfield (1850), Great Expectations (1860-1), and became
the great name of his day, different from Jane Austen, Mary Shelley,
and the Brontë sisters, who – except Charlotte Brontë – had their
value only posthumously recognized.
The presentation of Dicken’s work in series and the freshness of his
humor helped his acceptance from the public, specially because he was a
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man of little education writing for an audience that was very much similar
to himself. The thematic of Dickens world, as those of important male
novelists of his days, like Thackeray with his Vanity Fair (1847-48), for
example, was about earthly issues related to an increasing materialistic
male world of ambition, during the transformations brought by the
Industrial Revolution. He was responsible for discovering an important
writer of the Victorian fiction, Elizabeth Gaskell, who contributed to his
magazine, Household Words, and later wrote the biography of Charlotte
Brontë, shortly after her death.
Mrs. Gaskell first novel was published in 1848, Mary Barton,
subtitled “A tale of Manchester life,” as a distraction from grief - a
common start for many women - for she had lost a son; her attitude
exemplifies a tendency that turned out to be recurrent in women
that became writers in the nineteenth century, as Showalter (1977)
observes. Ousby (1998, p. 360) says that “it is a tale of industrial strife
and unrest, touched by the melodramatic, and growing out of the
Chartist movement of the 1840s;” she was charged of class prejudice,
for many believed she preferred the workers to the employers.
Ousby reminds that one of her most successful novels, Cranford,
appeared at irregular intervals in Dicken’s magazine from December
1851 until May 1853, a book that discusses the verities and decencies
of the human condition. In this novel, she caught the quiet and
humorous atmosphere and the equally quiet disasters of the lives of
middle-class women who lived in a small town. Allen (1991, p. 183)
says that “The society delineated is almost entirely feminine, and
the work is a little triumph of literary tact;” this novel is probably
an Amazon utopia, an important aspect of female writing, which is
using the male form for female purposes.
Mrs. Gaskell published Ruth in 1853, a novel dealing with the
concealment of an unmarried working-class mother’s problem, and
North and South (1855), another industrial story, among other novels
and short-stories. It is a tale that compares “the industrialized north
of England to the more agrarian south – Mrs. Gaskell continued to
undertake fictional studies of what nineteenth-century called the
‘condition of England’ question” (GILBERT and GUBAR, 1996, p.
421). It is important to consider that
138
In a century rich in women writers Mrs Gaskell
stands to the forefront in her sympathy for the
deprived, her evocations of nature, her gentle humor
and her narrative pace. Of note is her exceptionally
direct development as novelist form loosely
structured melodramatic writing to the urbanity and
balance form of her later work, particularly Wives
and Daughters (OUSBY, 1998, p. 361).
Elizabeth Ckeghorn Stevenson – Mrs.Gaskell - is also known for
being an admirable woman in harmony with the society of her time.
Allen (1991, p. 183) reminds that
her serenity existed side by side with a vigorous and
courageous social conscience, of which these novels
are the fine expression. They are flawed, as so many
Victorian novels are, because of the author’s obligation
to fill up three volumes irrespective of whether her
talent could sustain them.
Gilbert and Gubar (1996, p. 421) says that Mrs. Gaskell had a
special ability to deal in her fiction with sensitivity and sympathy
about circumstances that were particularly different from her
own, and that would indicate the range of her literary talents, so
that “some critics have considered those talents as distinctively
‘womanly’ because of their delineation of ‘woman’s oddities’ in a
work like Cranford.”
Critics such as Cecil (1958, p. 183) highlight some interesting
points about Mrs. Gaskell, and one of them is exactly about her choice
of pen name. He says that other female writers such as Charlotte
Brontë or George Eliot were eagles concerning their need for
independence, while Mrs. Gaskell chose to be known by the public
through her affiliation with her husband’s last name. He suggests
that although these female writers he mentions are feminine, Mrs.
Gaskell “was all a woman was expected to be: gentle, domestic,
tactiful, unintellectual, prone to tears, easily shocked.” Although
these adjectives are too strong, she was the typical Victorian woman,
and that would be reflected in her work.
It seems that Cecil – who makes a fair judgment of the other
Carpe Diem
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139
female novelists in his book – wants to highlight the differences in
attitude within the female tradition. That difference of attitude could
be seen as it follows: Emily and Charlotte Brontë, and George Eliot,
did not want their names to be linked to any kind of association with
the female tradition that they helped to form, mainly because that
would mean to be disrespected, and have their work misjudged, so
they decided to use male or androgynous pseudonym.
However, it seems that Mrs. Gaskell – considered one of the few
married (and happy) female writers of the period - was not that much
worried about the problems of reception, and decided to write in a
feminine way, about feminine issues from a feminine perspective.
Cecil reproduces a standard of criticism for her that echoed that of
the 19th century. He says that her work “was wholly lacking in the
virile qualities. Her genius is so purely feminine that it excludes
from her achievements not only specifically masculine themes, but
all the more masculine qualities of thought and feeling” (p. 185). His
attitude shows that double standard that male critics used since the
19th century to judge a text written by a woman, as Showalter (1977)
discusses. It also shows that virility, which is obviously associated to
man, should be a present quality in a woman’s text, since virility was
associated with the power of the patriarchal authority.
Cecil did not consider that other patterns of themes, and point of
view were already in progress in his own century through a different
tradition – the female one. He also did not consider that women
wanted to be free to write from their own experiences, and not to have
the male experience as the basis for their own, basically because they
were different. Besides, understanding and/or portraying virility was
not the goal of female writing, mostly because they were writing
against that element, which represented the male authority that had
been responsible for excluding them from the literary tradition, to
say the least.
It was through fiction, mainly through the novel, that women,
specially the pioneers of the 19th century, used this genre to question
and defy the male attitude of writing about women from a perspective
that contradict women’s interests and misrepresented them in male
fiction and in history, and denied them a voice of their own to speak
about themselves. The historical behavior of the patriarchal society
led women to promote a gradual fight in the private and public
spheres in order to offer a counter-point to what silenced them as
individuals and as women capable of forming an opinion and express
it through any media, including the public and professional writing
activity, no matter what genre was chosen.
Another leading figure of this period and tradition was Mary
Ann Evans, best known for her pseudonym, George Eliot (181980). Allen (1991), among other scholars, says that this writer
promoted a change in the English novel that would be decisive
for the development of the novel in England. Considered by Cecil
(1958) as the first modern novelist, she led the novel to its second
and mature phase. Freedman (1978) reminds that Virginia Woolf
considered Eliot’s Middlemarch (1871-2) one of the few novels in
English written for adults, mostly because there was no fiction
for children in that country until the 19th century, so novels were
seen as entertainment for children, teenagers and adults. However,
Freedman defends that Middlemarch is a new genre in the sense
seen by Woolf. He believes that one of the unique features of
Middlemarch as a Victorian novel is the way the condition of
matrimony is analyzed – for Eliot applies one of the most subtle
analytical view of all English fiction to the marriages in that novel.
George Eliot either in her life (she lived with George Henry
Lewes, a married man, for decades, and despised Charlotte Brontë’s
morality in Jane Eyre) or in her work defied several of the standards
of the Victorian society. Actually, the fact that she adopted a
male pseudonym shows that as a clear historical sign of a literary
consciousness marked by gender. She is one of the most influential of
all English novelists, and is admired as much for her acute powers of
observations and in-depth characterization as for her novels.
According to Ousby (1998), George Eliot was a novelist, critic,
poet, - editor of the radical Westminter Review but for a while got
no salary for that -, and journalist. She translated from the German
and published anonymously, The life of Jesus, critically examined
by Dr. David Strauss (1846), and Essence of Christianity (1854);
later, she would go through a typically Victorian crisis of faith in
140
Carpe Diem
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141
Christianity. Following the current practice of her days, her debut
as a fully fledged writer of narrative did not come until the serial
publication in Blackwood’s Edinburg Magazine in 1857 of “The Sad
Fortunes of the Reverend Amos Barton,” “Mr. Gilfil’s Love-Story”,
and “Janet’s Repentance.” The next year they were published and
well received as Scenes of clerical life, which was followed by Adam
Bede (1859), The mill of the floss (1860), and Silas Marner (1861). She
also serially published Romola (1862-3). Then, Felix Holt the radical
(1866), Middlemarch: a study of provincial life in independent parts
from 1871-2, and from 1874-6 she published Daniel Deronda; her
last work was a series of essays The impressions of Theophrastus
Such (1879). She also wrote some novellas and poetry, including The
Spanish Gypsy (1868), and The legend of Jubal and other poems
(1874).
Commenting on the reception of Eliot’s work, Gilbert and Gubar
(1996, p. 801-2) reminds that Lewes once said that “’people would
have sniffed’ at Eliot’s first novel, Adam Bede (1859), ‘if they had
known the writer to be a woman,’ and its instant success did place
George Eliot in the ranks of major novelists such as Dickens and
Thackeray.” They also mention that Silas Marner.
was so popular that her publisher, Blackwood,
had to double the original edition of four thousand
copies within a month after publication. By that time
Eliot had become a careful business woman who
negotiated herself for the 7,000 [pounds] she received
for Romola (1863).
The writers also say that the recurrent subject of Eliot’s mature
novels – Felix Holt, Middlemarch, Daniel Deronda – was about
the relations between the private lives of men and women and the
public issues of culture and society. Considered by many critics such
as Cecil (1958) and Allen (1991) as an intellectual, and praised for
her skills in dealing with subjects in a deep way, Eliot “lived in a
much larger world of ideas, ideas which conditioned her views of
fiction, the shape her novel took, and the very imagery of her prose”
(ALLEN, 1991, p. 219-20). He highlights that she changed the nature
142
of the English novel, and the
plot in the old sense of something external to
character and often working unknowns to it, is
irrelevant and unnecessary. Character, in fact, itself
becomes plot; though in her greatest novel character
itself is discovered to be conditioned by environment,
or rather, its capacity for growth and scope to be
limited, almost to the point of tragedy, by the world
around it (ALLEN, 1991, p. 221).
Cecil (1958, p. 263) says that George Eliot “does not break with
the tradition she had inherited, she develops it, and develops it in a
direction which entails alteration for its fundamental character.” She
used the old formulas, but for a new purpose, for he believes other
typical Victorian novelists like Dickens, Mrs. Gaskell, and Charlotte
Brontë to be instinctive novelists, different from Eliot who was an
intellectual writer, and because of that, her books are constructed
around a central ideal. However, what makes her different from them
is that she was an innovator, “not only because her approach to her
subject is intellectual, but also because her intellect took in a great
deal of new country” (CECIL, 1958, p. 266). Cecil defends that she
broke with those “fundamental conventions both of form and matter
within which the English novel up till then had been constructed.”
(p. 266).
It is important to mention that George Eliot became a critic of
some kinds of novels written by women. She wrote an article titled
“Silly Novels by Lady Novelists,” in which she denounced the
covert victories of feminine values; she considered many of them
inauthentic and charged them of copying male style. She was against
those novels which were focused on love fantasies, for she was one of
those women who could imagine fantasies of power for women out
of the love sphere.
Considering the work of these female writers of the 19th century,
shortly mentioned here, one can agree with Showalter (1977, p.
29), when she says that despite its restrictions, the novel written by
women from Jane Austen to George Eliot moved “in the direction
of an all-inclusive female realism, a broad, socially informed
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143
exploration of the daily lives and values of women within the family
and community.” The author reminds that both Charlotte Brontë
and George Eliot “increasingly came to dominate their period and
to represent the models against which other women novelists were
measured, they too became the objects of both feminine adulation
and resentment” (p. 104). They were the two main figures, and it
was for them that women writers looked up as their main model and
source of inspiration, as their predecessors looked to Jane Austen.
This work showed the importance of women in the Victorian
literature highlighting different aspects related to each writer, but
each one in fact shows a picture of the situation of women writers
and their fiction in a society going through a period of deep transition
in several areas, so that the reader could have an idea about the
difficulties of being a woman and a woman writer in the 19th century.
It could be seen how the themes and interests of these women varied,
and how the pioneers’ point of view helped to pave the way for the
new generations, even though the new writers saw the rise of different
needs as well as accomplishments that promoted the development of
a literary tradition written by women.
The female writers mentioned here also took to a further step
the perspectives of the pioneers in a sense that they not always
agreed with them, but in disagreeing, they promoted changes that
helped to promote other changes in the form and in the content
of the English novel, and in the condition of women as writers
and as women. Had they not decided to break the silence and take
chances, the world would not have benefited from the powerful
imagination and literary work of great women who dared to defy
the prescribed roles for women in that century. The second half
of the Victorian Age saw an increase in women in active roles in
society, but the women writers discussed here were responsible for
forming a tradition that guided the new generations into the mine
field which is that of the literary world.
BAKHTIN, Mikhail. Questões de literatura e estética: a teoria do
romance. 5. ed. São Paulo: HUCITEC, 2002.
CECIL, David. Victorian novelists: Dickens, Thakeray, the Brontës,
Mrs. Gaskell, Trollope, Eliot. London: Cambridge University Press,
1958.
CUDDON, J. A. The Penguin dictionary of literary terms and
literary theory. Fourth Edition. New York: Penguin, 1998.
FREEDMAN, Richard. Romance. Lisboa-São Paulo: Editorial
Verbo, 1978.
EAGLETON, Terry. Myths of power: A Marxist study of the Brontës.
Anniversary edition. New York: Palgrave-Macmillan, 2005.
GILBERT, Sandra; GUBAR, Susan. The Norton anthology of
literature by women: the traditions in English. 2nd. ed. New York:
W. W. Norton & Company, 1996.
LUCKÁCS, Georg. A teoria do romance. Rio de Janeiro: Editora
34 & Duas Cidades, 2000.
OUSBY, Ian (Ed.). The Wordsworth companion to literature in
English. Cambridge: CUP, 1998.
ZÉRAFFA, Michel. Romance e sociedade. Lisboa: Estúdios Cor,
S.A.R.L., 1971,
REFERENCES
ALLEN, Walter. The English novel: from The Pilgrim’s Progress to
Sons and Lovers. New York: Penguin, 1991.
144
Carpe Diem
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jan./dez. 2010
145
REFLEXÕES SOBRE STRESS E TRABALHO EM
HOSPITAIS PÚBLICOS DE NATAL-RN
Luciana Carla Barbosa de Oliveira1; Priscilla Cristhina Bezerra
de Araújo2; Eulália Maria Chaves Maia3
RESUMO: O estudo avalia a presença ou não de stress e os diversos níveis sintomatológicos apresentados junto a 126 profissionais de saúde atuantes nas enfermarias de 06 hospitais públicos de referência na cidade de Natal, Rio Grande
do Norte, Brasil. Como instrumento conta-se com um questionário semi-estruturado e o um Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de LIPP (ISSL).
A sobrecarga de trabalho é expressa através da extensa carga horária, cujos
profissionais contam com múltiplos vínculos (61,9%), estes necessários à complementação da renda destes trabalhadores. Apesar dos indivíduos com stress
não se enquadrarem em uma fase crítica (57,9%), há uma incidência de risco
ocupacional (42,1%), possibilitando estabelecer reflexões sobre a influência das
condições de trabalho sobre o stress. Cabe o alerta para investimentos em ações
objetivando um efeito minimizador do stress, assim, prevenindo e tratando da
saúde psíquica deste trabalhador.
PALAVRAS-CHAVE: Stress. Profissionais de Saúde. Trabalho. Enfermarias.
ANALYSIS ON STRESS AND WORK IN PUBLIC HOSPITALS OF
NATAL-RN
ABSTRACT: Working as a source of stress can have a number of negative effects
on the physical and emotional health of the individual. It can be considered
that the hospital context is also a source of stress for health professionals. This
paper evaluated the level of stress in health professionals in infirmaries of 6
public hospitals in the city of Natal, Rio Grande do Norte, Brazil. A transversal
descriptive study with 126 health professionals (proportional stratified sample)
Doutora em Ciências da Saúde pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Especialista em Psicologia da Saúde: Desenvolvimento e Hospitalização pela UFRN.
Graduada em Psicologia pela UFRN. Docente do Curso de Psicologia da Facex. Psicóloga do
Hospital de Pediatria Prof. Heriberto Bezerra/UFRN. Endereço para correspondência. Rua
Irmã Rosaly, 3505, Candelária. Natal - RN/Brasil; e-mail: [email protected].
2
Psicóloga pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Mestranda do curso de
pós-graduação em Psicologia da UFRN.
3
Doutora em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo. Docente do curso de
graduação e pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Coordenadora do Curso de Especialização em Psicologia da Saúde: Desenvolvimento e
Hospitalização pela UFRN.
1
Carpe Diem
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147
was carried on. The Lipp Stress Symptoms Inventory (ISSL) for adults was used
as well as a questionnaire on personal and professional data. Work overload is
evident, owing to the excessive hourly load resulting from the multiple jobs,
so that 61,9% needed to supplement income. Although the subjects under
stress were not in the critical stage (57,9%), there is an occupational risk of
42,1%, requiring a reassessment of the influence of working conditions on the
development of stress. The results point to the need for investing in actions
aimed at minimizing the effects of stress, in order to protect and treat the
psychic health of these professionals.
KEY-WORDS: Stress. Health Professionals. Work. Hospitals.
1 INTRODUÇÃO
A profissão exercida no contexto da saúde é marcada por inúmeros aspectos que influenciam a capacidade laboral destes funcionários,
sendo um ambiente de trabalho circunscrito e com dificuldades que
perpassam desde a ausência de materiais, passando pela inadequação
na ambiência até a insuficiência de pessoal qualificado para atender a
demanda solicitada (Queiroz e Araújo, 2007). Ocorrendo ainda, exigências institucionais que transcorrem desde a produtividade, disponibilidade, eficiência à agilidade (Bermúdez, 1998; OMS, 2007).
O trabalho, dessa forma, pode ser entendido como uma fonte de
stress, e assim sendo, pode trazer vários reflexos negativos à saúde física
e emocional ao indivíduo (OPAS, 2001; Guido, 2003; Costa, 2007).
Nesse sentido, o nível de stress pode variar de acordo com a intensidade
da pressão exercida sobre eles, conforme retratado pela OMS:
Aunque el estrés puede producirse en situaciones laborales muy diversas, a menudo se agrava cuando el empleado siente que no recibe suficiente apoyo de sus supervisores y colegas, y cuando tiene un control limitado
sobre su trabajo o la forma en que puede hacer frente a
las exigencias y presiones laborales” (OMS, 2007, p. 3).
Sintomas como ansiedade, angústia, depressão, stress e distúrbios
psicossomáticos já foram detectados em pesquisas (OPAS, 2001;
Guido, 2003; Costa, 2007). Romero complementa tal concepção,
afirmando que:
Los trabajadores y trabajadoras de los hospitales,
particularmente el personal de enfermería, están expuestos a una serie de riesgos, tales como: la exposición a agentes infecciosos, posturas inadecuadas,
levantamiento de cargos durante la manipulación de
los pacientes, desplazamientos múltiples, (...). El contacto con la enfermedad, el sufrimiento y la muerte,
constituyen una carga mental para este grupo de trabajadores (ROMERO, 1998, p. 113).
Apesar de nos últimos tempos haverem estudos que abordam com
freqüência questões relacionadas à saúde dos profissionais que tra148
Carpe Diem
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jan./dez. 2010
149
balham no âmbito da saúde, as pesquisas ainda são escassas e as
Políticas abrangendo a saúde laboral são restritas e de pouco alcance
(Brasil, 2001; Guido, 2003; Albaladejo, 2004; OMS, 2006).
Ao longo dos anos, muitos estudos vêm investigando os conceitos
de stress e suas influências (Guido, 2003; Lipp, 2004; Gil-Monte,
Nuñez-Román e Selva-Santoyo, 2006; Costa, 2007). Dentre os diversos conceitos e modelos de stress, Selye (1976) ainda é um
dos mais citados. Ele identificou fases em que o stress pode se apresentar ao indivíduo, a saber, as fases de alerta, resistência e exaustão.
A pesquisadora Marilda Lipp, também fundamentada na proposta de
Selye, acrescentou uma nova fase (cuja resistência está agravada em
processo de exaustão) e a denominou de quase-exaustão, assim sendo:
2 MATERIAIS E MÉTODOS
Trata-se de um estudo descritivo de corte transversal, cuja população esteve constituída em uma amostragem aleatória proporcional, com
um “n” de 126 trabalhadores (31,7% de enfermeiros, 28,6% de médicos,
19% de nutricionistas, 16,7% de assistentes sociais, e 4% de psicólogos)
possibilitando uma margem de confiança de 95%. Quanto à variação
percentual existente entre as profissões, considerou-se a peculiaridade
do quadro de profissionais distribuídos por área nas instituições, em que
o médico e o enfermeiro compõem geralmente a maioria do quadro funcional. Para aos critérios de inclusão da amostra foram ponderados: a
vinculação funcional (servidor público) concursado no hospital por no
mínimo de dois anos; estar em exercício profissional em cargo de nível
superior sem desvio de função; desempenhar suas atribuições junto ao
setor de enfermaria; e, estar em exercício durante o plantão diurno, por
predominar uma dinâmica de funcionamento setorial mais ativa. Os sujeitos que não contemplassem todos estes aspectos - estivesse de licença,
afastados por motivo de doença, férias, participação no pré-teste, ser a
pesquisadora, ter respondido de forma incompleta os instrumentos ou se
recusassem a participar do estudo - foram excluídos da amostra. Vale salientar que para acesso e levantamento dos dados referente aos sujeitos,
o referido estudo contou com o apoio de profissionais responsáveis pelos
Setores de Recursos Humanos de cada instituição. Foram fornecidos
nomes, dias e horários de plantão, cargo e função e tempo de vinculação funcional. Neste sentido, diante da obtenção da população, foi então
possível realizar o cálculo amostral necessário.
Como instrumento utilizou-se um questionário semi-aberto
(constando dados sócio-demográficos, informações pessoais e profissionais), e o “Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de
Lipp” (ISSL). Este inventário foi selecionado a partir da perspectiva
em que existe a possibilidade em mensurar a variedade (grau) de
tensão vivenciada pelo indivíduo, principalmente em momentos de
persistência da resistência. Tal instrumento foi estruturado segundo
o conceito de Seyle e Marilda Lipp, cuja última autora acrescentou a
fase de quase-exaustão (Selye, 1976; Lipp, 2004). A estrutura do
caderno de aplicação é composta por 37 itens/questões de natureza
somática e 19 de psicológica, cujo objetivo principal está em identificar e avaliar: o sintoma significativo de stress, a fase do stress
em que a pessoa se encontra (alerta, resistência, quase-exaustão e
exaustão) e a predominância de sintomatologia somática (física) ou
psicológica. Considera-se a importância da referência do instrumen-
150
Carpe Diem
“Quando a tensão excede o limite do gerenciável, a
resistência física e emocional começa a se quebrar
(...). Há muita ansiedade nesta fase. (...) O cortisol
é produzido em maior quantidade e começa a ter o
efeito negativo de destruir defesas imunológicas. Doenças começam a surgir (Lipp, 2004).
Conforme os aspectos supracitados pode-se considerar que o contexto hospitalar é uma fonte de stress para os profissionais de saúde e que
esse contexto pode contribuir tanto para o desencadeamento de problemas físicos quanto emocionais. Neste sentido, tornam-se proeminentes
estudos que visem identificar, avaliar e analisar elementos estressores
que podem acometer estes indivíduos, para que, a partir dos resultados obtidos, se possam orientar as instituições acerca de propostas para
ações preventivas e minimizadoras de tal problemática. Diante dessa
conjuntura citada, o presente trabalho tem como objetivo diagnosticar a
presença de stress e os diversos níveis apresentados junto aos profissionais de saúde atuantes nas enfermarias de hospitais públicos de referência na cidade de Natal, Rio Grande do Norte, Brasil.
v. 8, n. 8
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151
to (ISSL), pela sua validação e referência via Conselho Federal de
Psicologia – Brasil (Lipp, 1998). Todos os instrumentos foram aplicados em um único encontro, no local de trabalho, ao intervalo das
atividades do profissional. Os dados foram coletados entre Junho de
2006 a Dezembro de 2007. È importante salientar que a referida pesquisa, durante o processo de coleta de dados, passou por duas greves
(uma em nível federal e outra em nível estadual), sendo necessário
interromper a atividade momentaneamente. Esta pesquisa foi aprovada pelo Conselho de Ética e Pesquisa da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte em cumprimento à Resolução No. 196/96 do
Conselho Nacional de Saúde/Brasil.
Em sua análise dos dados utilizou-se, além dos manuais específicos de correção do ISSL, o programa SPSS,
versão 12.0, seguido de formatação, armazenamento
de informações e tratamento. Para tanto, optou-se pelo
teste estatístico do qui-quadrado (x2) para avaliar possíveis relações entre stress e as demais variáveis.
3 RESULTADOS
3.1 Caracterização da amostra
Considerando os dados demográficos, constatou-se que: os profissionais são em sua maioria mulheres (84,9%), casadas (54,8%),
apresentando idades de 46 a 55 anos (40,5%), cujo tempo de serviço
na instituição permeia entre acima de 20 anos (22,2%) e 16 a 20 anos
(20,6%) respectivamente. Dentre os profissionais 69% cursaram algum tipo de especialização.
Tais sujeitos possuem uma renda salarial mensal de 04 a 06 salários mínimos (50,8%). Os trabalhadores têm uma multiplicidade de
vínculos (61,9%) como uma alternativa para complementar a renda
salarial. Dentre estes com outros vínculos, 52,2% trabalham em mais
uma instituição, além da investigada, encontrando também aqueles
que estão vinculados a mais duas (25,6%). Quanto à carga horária
que dispõe para exercer suas atividades no hospital varia de 30 a 40
horas-semanais (71,4%). Ao indagar as condições de trabalho necessárias para atender a demanda, 61,9% relataram ser insuficientes.
Quanto a programas institucionais voltados a qualidade de vida no
152
trabalho, 32,5% responderam não existir e 28,6% desconhecer.
3.2 Dados sobre o stress
O fato de muitos trabalhadores estarem submetidos às escalas em
turnos geralmente irregulares pode ter uma influência decisiva no estado de saúde desses profissionais, que, a partir dos resultados obtidos,
demonstra estar um tanto fragilizada, com uma incidência significativa de stress em 42,1% dos profissionais. É importante colocar que
o quantitativo entre os que não apresentam stress (57,9%) comparado
aos que foram diagnosticados a sintomatologia, não se constatou grandes diferenças, não descartando assim, a preocupação com a incidência de stress (ver Tab. 1). Pode-se perceber também que entre os profissionais com stress, predominaram os enfermeiros (41,5%), variando
de modo equilibrado entre os demais (exceto psicólogos).
TABELA 1 - As fases do stress de acordo com as categorias
profissionaisa
Fase do Stressb
Profissionais com Stressc Alerta ResistênciaQuase-ExaustãoExaustão
No. %
No.
% No.
%
Médico
10 18,8
--
--
Enfermeiro
22 41,5
01
1,8 15,1
07
Assist. Social 10 18,8
--
--
12
01
Nutricionista 11 20,7
--
--
22,6
03
08
No.
--
Psicólogo
00 0,0
-- -- 09
16,9
08
15,1
---
--
TOTAL
11
53 100
01
1,8 37
69,7
%
No.
%
02
3,8
13,2
02
3,8
1,8
--
--
--
--
--
--
--
5,6
--
20,6
04
7,6
Valor e análise segundo padrões estabelecidos pelo Manual do Inventário de Sintomas de Stress
para Adultos de LIPP – ISSL; b P = 0, 995; c Amostra total = 126 profissionais.
a
Carpe Diem
v. 8, n. 8
jan./dez. 2010
153
O ISSL também permite avaliar dentre os que apresentam stress
a predominância de sintomatologias em nível psicológico ou físico
(TAB. 2).
Apesar do quantitativo não apresentar grande disparidade em
seus valores, a sintomatologia psicológica predomina (58,5%), demonstrando uma maior probabilidade dos profissionais desenvolverem sintomas depressivos e ansiogênicos. Quanto aos que prevalecem à sintomatologia física (41,5%), as dores musculares, sudorese,
insônia, distúrbios gastrintestinais e fadiga podem estar presentes.
4 DISCUSSÃO
A partir da análise dos dados apresentados, percebe-se uma incidência de stress preocupante entre os profissionais de saúde. A sintomatologia expressa exprime cuidados e medidas preventivas por
parte das instituições. Vários aspectos devem ser considerados, visto
a multiplicidade de características setoriais existentes em um mesmo
contexto: o hospital.
O ambiente da enfermaria pode ser caracterizado por muitos
como um local composto por corredores de aspecto frio, com queixas constantes por parte de pacientes, com péssimas condições laborais. A pressão do trabalho passa a ter um reflexo não somente
na saúde, mas também em atitudes despersonalizadas por parte dos
profissionais em relação aos pacientes.
Acrescido a tantas dificuldades, a saúde pública atualmente vem
passando por um processo de intenso agravo quanto às condições oferecidas. A demanda assistida é enorme, o número de profissionais é insuficiente, os salários são precários, o que muitas vezes contribui para
que eles (os profissionais) acabam por “despir-se” de seus conceitos e
concepções éticas, cedendo espaço à atuação estritamente técnica.
Percebe-se com os dados a presença de uma jornada intensa, visto
que além da vida pessoal (com casa, filhos, e demais necessidades)
os profissionais aqui abordados estão também submetidos vários
vínculos trabalhistas. A carga laboral é um fator de grande relevância, principalmente ao se considerar que são poucos os profissionais
que exercem suas atividades em uma única instituição. A sobrecarga de trabalho em que esses profissionais estão expostos é evidente,
pois a carga horária é extensa (principalmente ao se considerar a
multiplicidade de vínculos necessários à complementação da renda
dos profissionais). Neste sentido, considera-se que além do hospital
pesquisado se tem uma carga horária também exigida nos outros
locais de trabalho.
De fato, lidar com o sofrimento humano não é fácil. Presencia-se
a dor, desespero, angústia, ansiedade e tensão, nesta relação doençahospitalização. É possível perceber que há um misto de pressão, influenciando o indivíduo tanto psicologicamente quanto fisicamente.
O ambiente sob pressão torna-se uma ameaça ao indivíduo ocasio-
154
Carpe Diem
Aos que apresentam stress, a fase de resistência (69,7%) é a mais
freqüente. Nesta fase o organismo está tentando impedir o desgaste
total de energia. Aqui há uma queda na produtividade, permitindo
que o indivíduo fique mais vulnerável a vírus e bactérias. Contudo,
caso o elemento estressor seja abolido, o indivíduo reencontra aos
poucos recursos para a sua recuperação.
Também 20,6% encontram-se na fase de quase-exaustão. Nesta
fase há o predomínio em sua sintomatologia de forte crise de ansiedade, surgimento de doenças e aumento da tensão física e emocional. Caso contrário, o indivíduo ficará sujeito ao agravamento de
doenças, principalmente as de caráter psicossomático, assim como,
o risco de depressões e outras sintomatologias de ordem psicológica
(Lipp, 1998; Costa, 2007).
TABELA 2 - Predominância da sintomatologia de stress de
acordo com as categorias profissionaisa
Sintomatologia Prevalecente do Stressb
Profissionais com stresscFísico
N
53
Psicológico
%
N
%
N%
100
22
41,5
3158,5
Valor e análise segundo padrões estabelecidos pelo Manual do Inventário de Sintomas
de Stress para Adultos de LIPP (ISSL); b P = 0, 995; c Amostra total = 126 profissionais.
a
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155
nando reflexos tanto em sua vida pessoal quanto no exercício de suas
funções no trabalho. Apesar dos sintomas não expressarem estados
gravíssimos de stress, há uma incidência de risco ocupacional, possibilitando estabelecer reflexões sobre a influência das condições de
trabalho sobre o stress ocupacional.
Mesmo que a sintomatologia prevalecente (resistência) não indicasse uma maior gravidade, cabe colocar um alerta aos gestores
institucionais a necessidade de um “olhar” clínico a saúde destes trabalhadores, ao se considerar as características do ofício neste campo (Bermúdez, 1998; Romero, 1998; Costa e Martinez,
2000; Albaladejo, 2004).
Geralmente o profissional de saúde não se encontra inserido como
alvo para investimentos das instituições. Acredita-se que a exposição crônica de indivíduos suscetíveis a condições de trabalho estressantes traz como suas conseqüências desde a dificuldade de atuação,
insatisfação profissional, stress até a péssima qualidade de vida, refletindo assim, tanto no seu desempenho ocupacional quanto na sua
vida pessoal. Programas direcionados à avaliação, acompanhamento e orientações são bastante eficientes. Ações preventivas que busquem a melhoria da saúde e qualidade de vida podem estar inseridas.
Lazer, atividades educativas e físicas são essenciais. Investimentos
em ergonomia e recursos humanos também são primordiais.
Enfim percebe-se a necessidade de maiores pesquisas que viabilizem propostas eficazes em prol de melhorias ambientais, assistenciais e cuidados preventivos aos profissionais de saúde, de modo
qualificado e adequado à realidade apresentada. Estudos como este,
podem ser realizados em outros hospitais brasileiros, inserindo outros níveis de profissionais na área da saúde, sob os mais diversos
vínculos, permitindo uma possível corroboração ou quem sabe refutação relacionada aos dados então discutidos. Abre-se aqui o espaço
para estudos epidemiológicos, assim como inserir profissionais de
outras especialidades, outros vínculos (terceirizados e prestadores de
serviços) e outros hospitais. Pode-se inserir também um estudo dividido em fases, aplicando os instrumentos antes e depois do plantão.
Estas sugestões possibilitariam uma maior abrangência do dimensionamento do tema em questão.
Agradecimentos
Ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde e ao Grupo de Estudos: Psicologia e Saúde – Universidade Federal do Rio
Grande do Norte. Aos colaboradores José Helder Franco Aquino,
Tabita Aija Silva Moreira, Daniela Pousa Farias e Camomila Lira
Ferreira. Aos hospitais e aos profissionais integrantes do estudo.
156
Carpe Diem
REFERÊNCIAS
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trabalho em turnos sobre saúde e a vida social em funcionários da
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LIPP, Marilda E. N. O stress no Brasil: pesquisas avançadas. Campinas: Papirus, 2004.
______. Manual do Inventário de sintomas de Stress para Adulv. 8, n. 8
jan./dez. 2010
157
A MODERNIDADE ANALIZADA SOB A ÓTICA
DO CONSUMO: ALGUMAS CONTRIBUIÇÕES DE
ZYGMUNT BAUMAN E ANTHONY GIDDENS
tos de Lipp (ISSL). São Paulo: Casa do Psicólogo, 1998.
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Trabalho em Saúde. Disponível em: <http:// www.who.int/globalatlas/default.asp>. Acesso em: dezembro, 2006.
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- OPAS. Doenças relacionadas ao trabalho: manual de procedimentos para os serviços de saúde. Brasília: Ministério da Saúde do
Brasil, 2001.
QUEIROZ, Elizabeth; ARAÚJO, Tereza Cristina C. F. Trabalho em
Equipe: um estudo multimetodológico em instituição hospitalar de
reabilitação. Revista Interamericana de Psicología, v. 41, n. 2, p.
221-230, 2007.
Adna Rejane de Freitas Rego1
RESUMO: Esse estudo tem por objetivo tecer algumas reflexões acerca da
modernidade sob a ótica do consumo. Para tanto, procura-se estabelecer uma
relação dialógica sobre a temática em questão, prioritariamente, a partir das
contribuições teóricas de grandes analistas do assunto como Zygmunt Bauman
e Anthony Giddens. Nesse estudo, pontuam-se algumas considerações sobre
a sociedade de consumo líquido moderna, caracterizada como uma sociedade
instável, fluida onde os indivíduos independentes de sua condição social e econômica se tornam ávidos consumidores de uma gama de bens, serviços e artefatos. Aborda-se também as implicações ecológicas e de saúde que se encontra
submetido a sociedade e os indivíduos nesse cenário.
PALAVRAS-CHAVE: Sociedade de consumo. Implicações ecológicas. Artefatos.
MODERNITY DETECTED FROM THE PERSPECTIVE OF
CONSUMPTION: SOME CONTRIBUTIONS ZYGMUNT BAUMAN
AND ANTHONY GIDDENS
ROMERO, Aismara B. Personal de Enfermería: condiciones de trabajo
de alto riesgo. Salud de los Trabajadores, v. 6, n. 2, p. 113-119, 1998.
SELYE, H. Stress in Health and Disease. Boston: Butterworth, 1976.
ABSTRACT: This study aims to make some reflections about modernity from
the perspective of consumption. To do so, it aims to establish a satisfactory relationship on the subject in question, primarily from the theoretical contributions
of great analysts of the subject as Zygmunt Bauman and Anthony Giddens. In
this study, punctuate some considerations on the liquid modern consumer society, a society characterized as unstable, fluid where individuals independent
of their social and economic condition become avid consumers of a range of
goods, services and artifacts. It also discusses the implications of ecological
and health that is subjected to society and individuals in this scenario.
KEY-WORDS: Consumer society. Ecological implications. Artifacts.
Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Doutoranda
em Ciências Sociais pela UFRN. Professora da Faculdade de Ciências Cultura e Extensão
do Rio Grande do Norte - FACEX e da Universidade Potiguar do RN.
1
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159
A expressão sociedade de consumo encontra-se relacionada a
exacerbação de uma quantidade e variedade de bens, serviços e
artefatos que o consumidor na sociedade capitalista tem a sua disposição. A premissa básica de uma sociedade de consumo é satisfazer os desejos humanos de maneira tal que nenhuma sociedade do
passado teve a capacidade de realizar tamanho empreendimento.
Apropriando-se dessa discussão de forma mais profunda, grande
estudioso do assunto Bauman (2008) chama atenção para dois tipos
de sociedade presentes no contexto societal e que são determinantes para que se possa compreender a verdadeira dimensão do que
se denomina sociedade líquido-moderna, quais sejam: a sociedade
sólido moderna dos produtores e a sociedade de consumidores.
A sociedade de produtores, concebida como principal modelo
societário da fase sólida da modernidade teve como eixo principal a orientação para a segurança, pautada em um ambiente
confiável, ordenado, regular, transparente, duradouro, seguro e
resistente ao tempo. Afirma o citado autor que tratou-se de uma
era caracterizada pela presença de fábricas e exércitos de massas, de regras obrigatórias em conformidade às mesmas, “assim
como de estratégias burocráticas e panópticas de dominação que,
em seu esforço para evocar disciplina e subordinação basearamse na padronização e rotinização do comportamento individual”.
(BAUMAN, 2008, p.42)
Sendo assim, no contexto em que predominou a sociedade sólido moderna de produtores que por sua vez, tinha como principal
propósito a questão da “segurança”, os bens que eram adquiridos
não se destinavam ao consumo imediato, devendo ser protegidos
da depreciação, dispersão para que assim pudesse permanecer de
forma intacta. Ou seja, a satisfação encontrava-se sustentabilidade na promessa de segurança em um longo prazo.
Em contrapartida, na sociedade de consumidores, criadora da
“síndrome do consumismo”, vê-se a todo o momento, a degradação da duração e a promoção da transitoriedade. Nesse sentido, o
que está em referência não é valor da permanência como uma das
características presente na sociedade sólido moderna, mas o valor
da novidade que é materializada numa gama de artefatos que são
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161
colocados a total disposição dos consumidores.
Nesse contexto, os bens e os prazeres não são duradouros, são
voláteis e transitórios, o que torna possível a acessibilidade de outros bens e prazeres que chega ao consumidor numa velocidade
estonteante, numa incitação do desejo por outros desejos, sempre
se renovando. A esse respeito argumenta Bauman (2008, p. 45):
A instabilidade dos desejos e a insaciabilidade das
necessidades, assim como a resultante tendência ao
consumo instantâneo e à remoção, também instantânea, dos seus objetos harmonizam-se bem como a
nova liquidez do ambiente em que as atividades existenciais foram inscritas e tendem a ser conduzidas
no futuro previsível. Um ambiente líquido-moderno
é inóspito ao planejamento, investimento e armazenamento de longo prazo.
Nesse sentido, a promessa de satisfação dos infinitos desejos humanos só permanecerá sedutora nesse tipo de sociedade enquanto o
desejo continuar irrealizado e também enquanto houver uma suspeita de que os desejos não foram plenamente satisfeitos.
Por outro lado, Giddens (1997) uma grande referência nas discussões que envolvem “modernidade”, chama atenção para as ações que
são empreendidas pelos indivíduos nesse novo contexto societal. Argumenta que as ações cotidianas de um indivíduo produzem aquilo
que se denomina “consequências globais”. Alerta que a decisão de
se comprar uma determinada peça de roupa, por exemplo, ou um
tipo específico de alimento, tem muitas implicações globais, quais
sejam: afeta a sobrevivência de alguém que vive do outro lado do
mundo, mas de outra forma pode contribuir para um processo de
deteriorização ecológica com sérias consequências potenciais para
toda a humanidade.
Com relação à deteriorização ecológica na sociedade moderna
pode-se considerar em grande medida a existência do lixo sólido.
Um dos problemas mais sérios que a sociedade contemporânea apresenta, principalmente, nas grandes aglomerações urbano-industriais.
As cidades processam uma expressiva quantidade de matéria e energia, além de toneladas de dejetos que não são processados por ela.
162
Nesse processo, os excedentes vão se acumulando em grande medida. Por outro lado, com a elevação da população, sobretudo com o
estímulo do consumismo, o problema só tende a se agravar.
Segundo informações concedidas pelo Jornal Perspectiva (2002),
no Brasil cada pessoa produz em média 800 gramas a 1 k de lixo por
dia, ou 4 a 6 litros. Isso significa, por exemplo, que em São Paulo, são
geradas aproximadamente 15.000 toneladas de lixo por dia ou 75.000
000 de litros por dia. Isso equivale a aproximadamente a 3.750 caminhões baú por dia. Em fila, esses caminhões cobririam por ano
a distância entre São Paulo e Nova Yorque no percurso ida e volta.
Informa ainda que acerca de 40 anos, a quantidade de resíduos ou
lixo era bem inferior a que é produzida atualmente.
Para Giddens (1997), queiramos ou não, estamos todos presos em
uma grande experiência, que está ocorrendo no momento da nossa
ação enquanto agentes humanos que se apresenta de forma imponderável. Ressalta que não se trata de uma experiência laboratorial,
uma vez que “não controlamos os resultados dentro de parâmetros
fixados – é mais parecida com uma aventura perigosa, em que cada
um de nós, querendo ou não tem de participar” (1997, p. 25) Nesse
contexto, a tecnologia desempenha um papel principal, tanto no que
diz respeito à tecnologia material quanto da especializada “expertise
social”.
O potencial da sociedade de consumo está na sua capacidade permanente de tornar a insatisfação um estado contínuo, inacabado e
infinito. E uma das formas de causar esse efeito segundo Bauman
(2007) é depreciar e desvalorizar os produtos de consumo logo depois de terem chegado ao universo dos desejos do consumidor. Outra
forma mencionada é o método de satisfazer todas as necessidades,
desejos e vontades de uma maneira que provoque a existência de
outras necessidades, desejos e vontades.
O indivíduo inserido nesse tipo de sociedade se torna insaciável,
convivendo com uma ânsia inesgotável de ver infinito e múltiplos
desejos satisfeitos, mas que na realidade nunca conseguem atingir
um estado de satisfação plena. O que se pode perceber são posturas
compulsivas que invadem as ações humanas no seu cotidiano. Para
Giddens (1997), essa compulsão que nitidamente se visualiza nas
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163
práticas humanas transformou-se no outro lado da “revolução cognitiva da modernidade”, que por sua vez traz a tona algumas implicações. Ressalta-se que:
Embora as conexões necessitem ser expressas com
maiores detalhes, assim como em relação a Freud estamos nos referindo aqui a uma inclinação emocional
para a repetição, que é em grande parte inconsciente
ou pouco compreendida pelo indivíduo em questão.
(GIDDENS, 1997, p. 42)
Na sociedade vigente, o corpo enquanto potencialidade assume
um novo caráter. Os cuidados com este, nesse processo de exacerbação do consumo, passa a ser uma fonte de lucratividade. Basta
lembrar-se da proliferação de academias de ginásticas, lipoaspirações, cirurgias plásticas, clínicas de estéticas entre tantas outras estratégias que são criadas. A luta pela estética, pela boa forma, passa
a ser a palavra de ordem, muitas vezes ocasionando ações compulsivas, gerando vícios e consequentemente trazendo danos a saúde do
indivíduo.
A anorexia enquanto uma das patologias mais evidenciadas nesse
cenário representa um grave problema de saúde concentrando-se sobremaneira entre as mulheres. Segundo dados publicados pela Folha
de São Paulo (2009) ainda que a maior freqüência seja por volta dos
15 anos, crianças e adolescentes nas faixas etárias de 9 a 10 anos tem
sido acometido por essa patologia, chegando aos consultórios com
perda exagerada de peso achando-se “gordas”.
De acordo com a pesquisa, não há estatísticas sobre a incidência
da anorexia no Brasil, contudo dados internacionais revelam que ela
pode afetar até 20% das adolescentes pertencentes a todas as classes
sociais. Apesar da causa da doença ainda ser desconhecida, uma das
hipóteses mais aceita é que trata-se de um distúrbio psiquiátrico causado por alterações neuroquímicas cerebrais.
Refletindo sobre a problemática da anorexia entendida como um
dos vícios do mundo atual, Giddens (1997) é emblemático ao enfatizar que o progresso do vício é uma das características significantes
do universo social pós-moderno.
164
De início parece estranho considerar a anorexia um
vício, porque ela aparece mais uma forma de autonegação que uma dependência de substância que proporcionam prazer. Em um mundo em que se pode
ser viciado em qualquer coisa (drogas, álcool, café,
mas também em trabalho, exercícios, esporte, cinema, sexo ou amor) à anorexia é entre outros vícios
relacionados à alimentação. (GIDDENS, 1997, p. 43)
Por outro lado, as cirurgias com finalidades estéticas têm aumentado consideravelmente. Em nível de Brasil, segundo pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica – SBCP, divulgada pela Folha de São Paulo em 13 de fevereiro de 2009, o número
de cirurgias estéticas de mama, seja de aumento ou redução, ultrapassou o de lipoaspiração. De um total de 629 mil procedimentos de
médio e de grande porte feitos em 2008, 151 mil foram de mama ao
passo que os outros 91 mil foram de lipoaspiração.
Segundo ainda a pesquisa, uma das explicações para a queda da
lipo reside no fato de que muitas cirurgias passaram a serem realizadas por médicos e não por cirurgiões plásticos. Nesse sentido, a não
especialização tem sido apontada como um dos fatores determinantes para o surgimento de complicações nas cirurgias.
De acordo com o Conselho Regional de Medicina do Estado de
São Paulo, dos 289 médicos processados na área estética de 2001 a
2008, 283 não eram especialistas em cirurgia plástica.
Na realidade, o próprio indivíduo se torna uma mercadoria A
esse respeito acrescenta Bauman (2008, p. 53):
[...] O que anunciam com mais avidez e vendem com
maiores lucros é o serviço de excisão remoção e descarte: de gordura corporal, rugas faciais, acne, odores corporais, depressão, pós isso ou pós aquilo, dos
montes de fluídos misteriosos ainda sem nome ou
então de restos indigestos de antigos banquetes que
se estabelecem dentro do corpo de forma ilegítima e
não sairão ao menos que extraído a força.
O apelo ao consumo é trabalhado de forma contundente. As técniCarpe Diem
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cas de publicidade e marketing ocupam um lugar de destaque nesse
processo, trabalhando na perspectiva de publicização e divulgação
de informações que passam a contribuir de forma decisiva no escoamento da produção. Assim, independente de sexo, etnia, faixa etária,
condição geográfica ou poder aquisitivo, todos os cidadãos passam
a serem cidadãos consumidores. O consumo passa a ser um direito
e um dever de caráter universal, pois todos passam a ser absorvidos
sem exceção pela cultura do consumo.
Sendo assim, consumismo e abundância terminam se configurando no ideário de bem-estar social no interior do qual a sociedade de
consumo vem absorvendo de forma crescente e paulatinamente uma
quantidade desenfreada de adeptos. Seus produtos inundam o mercado e milhares de produtos similares fazem concorrência na aquisição de novos consumidores. Nesse contexto, mercadorias em muito
pouco tempo de uso terminam se enquadrando no leque de artefatos
obsoletos e ultrapassados, momento oportuno para a substituição de
outras mercadorias com outros formatos, exercendo novos atrativos
e atraindo novos compradores. Sendo assim:
[...] bombardeados de todos os lados por sugestões de
que precisam se equipar com um ou outro produto
fornecidos pelas lojas se quiserem ter a capacidade
de alcançar e manter a posição social que desejam,
desempenhar suas obrigações sociais e proteger a
auto-estima – assim como serem vistos e reconhecidos por fazerem tudo isso -, consumidores de ambos
os sexos, todas as idades e posições sociais irão sentir-se inadequados, deficientes e abaixo do padrão a
não ser que respondam com prontidão a esses apelos.
(BAUMAN, 2008, p. 7)
Com relação ao poder aquisitivo, e considerando as camadas vulneráveis economicamente, Bauman (2007] chama atenção para os
indivíduos das periferias que mesmo distantes e empobrecidos se
vêem forçados a uma situação na qual tem de gastar o pouco dinheiro ou os poucos recursos que dispõe para a aquisição de objetos
de consumo supérfluos, não condizente com suas reais necessidades
básicas e elementares.
166
Nesse sentido, as formas tradicionais de identidades baseadas
na aquisição de bens duráveis, tão cara a sociedade sólido moderna
encontram-se fragilizadas. Na sociedade de consumo, aberta e ao
mesmo tempo anômica, as pessoas se identificam com aquilo que
possui ou ostentam. Tal realidade pode ser assimilada de forma mais
clara nos estudos de Boudrillard (1995), quando chama atenção para
a existência da estigmatização de grupos sociais que se apresentam
a partir da quantidade de bens que manipulam e ostentam. Um consumo ostentatório que povoa as relações sociais estabelecidas.
Vale salientar que toda essa realidade é permeada por aquilo que
Simmel (2005) denomina de “espírito contábil”. A cidade grande
moderna alimenta-se, preponderantemente, da produção para o mercado, para fregueses completamente desconhecidos, que nunca se
encontrarão cara a cara com os produtores. Para o autor, essa relação
de interesse é permeada por uma objetividade impiedosa, pois:
Seus egoísmos econômicos, que calculam com o
entendimento, não tem a temer nenhuma dispersão
devido aos imponderáveis das relações pessoais. E
isso está evidente, em uma interação tão estreita com
a economia monetária – que domina nas grandes cidades e desaloja os últimos restos da produção própria e da troca imediata de mercadorias... (SIMMEL,
2005, p. 580)
Ainda seguindo a perspectiva analítica do autor, o espírito moderno tornou-se sobremaneira um espírito contábil. Isso porque, a
idéia de ciência natural de transformar o mundo em um exemplo de
cálculo e de fixar uma de suas partes em fórmulas matemáticas corresponde a exatidão contábil da vida prática trazida pela economia
monetária. Enfatiza que somente “a economia monetária preencheu
o dia de tantos seres humanos com comparações, cálculo, determinações numéricas, redução de valores qualitativos a valores quantitativos”. (SIMMEL, 2005, p. 580)
Como se pode perceber, o consumo tornou-se a palavra de ordem
na sociedade pós-moderna. Consome-se além do necessário, o que
possibilita a expansão do consumismo que mesmo prejudicando a
saúde do indivíduo ou que possa provocar danos ao meio ambienCarpe Diem
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167
te (como por exemplo, uma enorme concentração de lixo) gerando
dependência e fragilidade no tecido social, a sociedade de consumo
vem ganhando força e expressividade encontrando a cada dia mais
adeptos a um mundo líquido-moderno.
REFERÊNCIAS
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BAUMAN, Zigmunt. Vida líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
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GIDDENS, Anthony. A vida em uma sociedade pós-tradicional.
São Paulo: Ed. UNESP, 1997.
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SIMMEL, Georg. As grandes cidades e a vida do espírito. Mana,
Rio de Janeiro, v. 11, n. 2, p. 577-591, 2005.
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1 LINHA EDITORIAL
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2.6 Os colaboradores só poderão publicar, no máximo, 2 (dois) trabalhos
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em um mesmo número da Revista por vez;
2.7 Só serão aceitos textos que obedecerem aos quesitos de conteúdo e
formatação aqui estabelecidos;
2.8 O(s) trabalho(s) enviado(s) deverá(ão) se enquadrar em uma das
seguintes seções:
• Editorial: refere-se a assuntos selecionados em cada número da revista
pela sua importância para a comunidade científica. Geralmente, são
redigidos pelo Editor ou encomendados a especialistas de destaque na
área de interesse.
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e pesquisas científicas, com autoria declarada, que apresenta e discute
idéias, métodos, técnicas, processos e resultados nas diversas áreas do
conhecimento. Extensão máxima: 20 laudas.
• Artigos de revisão/Atualização: estudos que fornecem visão
sistematizada e crítica de avanços do conhecimento em determinadas
áreas/temáticas, a partir de informações já publicadas, devendo
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(inglês), Introdução que justifique a revisão incluindo o método quanto
à estratégia de busca utilizada (base de dados, referências de outros
artigos, etc), e detalhamento sobre critério de seleção da literatura
pesquisada; Revisão da Literatura comentada com discussão;
Comentários Finais e Referências. Extensão máxima: 20 laudas;
• Relatos de experiência ou de técnica: descrições criteriosas de
práticas de intervenções e vivências profissionais que possam interessar
à atuação de outros profissionais. Extensão máxima: 10 laudas.
• Resenhas: revisões críticas de livros, artigos, dissertações o teses,
com opiniões que possam orientar) interesse para leitura ou não da
publicação na íntegra. Mínimo de 3 e máximo de 5 laudas.
• Resumos: descrições sucintas e de caráter informativo do conteúdo de
dissertações, teses ou monografias de graduação ou de pós-graduação,
devendo conter: título (português e inglês), autor, orientador,
instituição, programa, área, local, ano da defesa, resumo e abstract.
Extensão máxima: 1 lauda.
3 ESTRUTURA DOS MANUSCRITOS
Os trabalhos encaminhados para publicação deverão obedecer às seguintes
normas:
170
3.1 Forma e apresentação gráfica
3.1.1 Os originais devem ser submetidos ao Conselho Editorial, em
português, inglês ou espanhol, com estilo de redação claro e coerente
na exposição das idéias, devendo ser digitado em extensão *.doc
“Word for Windows versão Office 97 ou superior”, arquivo gravado
de preferência em CD-ROM (na etiqueta do CD-ROM deverão constar
o título do trabalho, autores e versão do software), acompanhado de 2
(duas) cópias impressas em uma só face e em uma coluna, papel A4
(210 x 297 mm), e com os seguintes atributos:
3.1.1.1 - espaço simples entre linhas e espaço duplo entre parágrafos;
espaço duplo entre partes e entre texto e exemplos, tabelas, figuras ou
ilustrações (gráficos, fotos, gravuras, esquemas) e citações;
3.1.1.2 – digitação em fonte “Times New Roman”, tamanho 16,
para títulos (na língua empregada no artigo); 14 para subtítulos;
12 para nome(s) do(s) autor(es), 10 para resumo, palavras-chave,
tradução do título, abstract, keywords; 12 para corpo do texto; 11
para ilustrações (figuras, tabelas, quadros, etc); 10 para epígrafes e
citações longas; 9 para notas de rodapé;
3.1.1.3 - margens (superior e esquerda) de 3 cm e (inferior e direita)
de 2 cm.
3.1.1.4 - adentramento de 1,25 cm;
3.1.1.5 - alinhamento justificado, entre linhas: 1,5 linha.
3.1.1.6 – numeração das páginas: embaixo, à direita.
3.2 Estruturação do artigo original
3.2.1 Quando se tratar de artigo original, deve conter, na primeira
lauda a seguinte estrutura:
Título
O título, em português, (inglês ou espanhol, quando for o caso), letras
maiúsculas, negrito e centralizado no alto da primeira folha; deve ser
conciso e informativo, evitando termos supérfluos e abreviaturas, com
até 40 caracteres (incluindo os espaços).
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Nome(s) do(s) autor(es)
O(s) nome(s) do(s) autor(es), em negrito, deve(m) ser mencionado(s)
por extenso, centrado(s) em letra minúscula, duas linhas abaixo do
título e numerado, (exemplo.: José Francisco de Oliveira1), separados
por ponto e vírgula (;), no caso de mais de um autor.
Ainda na primeira página, em nota de rodapé, deve(m) ser
mencionado(s) os seguintes dados sobre o(s) autor(es): profissão,
cargo, afiliação acadêmica ou institucional, maior titulação
acadêmica, endereço, telefone e correio eletrônico, (quando for o
caso). Ex.: Economista. Professor do Curso de Administração da
FACEX. Especialista em Administração de Empresas (UFRN). Av.
21 de Outubro, 25 – Centro; CEP 59.075-840 – Natal, RN; Tel.:
(84)3225-2222; e-mail: [email protected].
Resumo
A palavra Resumo, em negrito, seguida de dois pontos (:) deve estar duas
linhas abaixo do(s) nome(s) do(s) autor(es), sem adentramento e, na mesma
linha, o início do texto digitado em português, explicitando objetivo(s),
metodologia, resultados e conclusões, mesmo que parciais, devendo
ser redigido com o verbo na voz ativa e terceira pessoa do singular, não
ultrapassando 250 palavras de acordo com a NBR-6028/2003
Palavras-chave
A expressão “Palavras-chave”, em negrito, seguida de dois pontos (:),
deve estar duas linhas abaixo do final do Resumo, sem adentramento,
separadas entre si por ponto e finalizadas também por ponto, devendo
conter, de 3 a 5 termos.
Observação: Os subtítulos do texto, sem adentramento, devem estar
em negrito e em letras minúsculas, sendo apenas a primeira letra
de cada subtítulo em maiúscula. O corpo do texto do trabalho deve
obedecer ao sistema de numeração progressiva de acordo com a NBR6024/2003.
3.2.1 Quando se tratar de artigo original deve conter, na segunda
lauda, (não sendo necessário inserir novamente o título do trabalho),
os seguintes subtítulos:
3.2.1.1 Introdução
A introdução deve apresentar a delimitação do assunto tratado, o(s)
objetivo(s) do trabalho (claramente expostos no último parágrafo), a
sua relação com outros da mesma área de pesquisa e as razões que
levaram o(s) autor(es) realizar(em) o trabalho.
3.2.1.2 Metodologia
A metodologia ou material e métodos deve conter informações
disponíveis na revisão de literatura que permitam o desenvolvimento
do trabalho. Devem estar claramente descritos de forma a possibilitar
réplica do trabalho ou total compreensão do que e como foi realizado
3.2.1.3 Resultados
O Abstract, em negrito, seguido de dois pontos (:), deve estar duas
linhas abaixo do final das Palavras-chave, sem adentramento, podendo
ser a versão para o inglês do Resumo;
Os resultados devem ser apresentados de forma clara e sucinta,
podendo ser utilizadas TABELAS (numeradas com algarismos
arábicos - Ex.: TAB. 1) ou ilustrações (gravuras, fotografias, mapas,
organogramas, fluxogramas, esquemas, desenhos, fórmulas, modelos
gráficos, fotos, gravuras, esquemas) denominadas FIGURAS,
numeradas no texto com algarismos arábicos, de forma abreviada,
entre parênteses ou não, de acordo com a seguinte redação: (FIG. 1),
FIG. 2, que permitam uma melhor compreensão dos dados obtidos.
As tabelas e as figuras devem trazer abaixo um título ou legenda
digitada, com indicação da fonte, se for o caso.
Keywords
3.2.1.4 Discussão
A expressão “Keywords”, em negrito, seguida de dois pontos (:), deve
A discussão deve analisar os resultados, tentando relacioná-los com
Tradução do título
Apresentação do título em inglês.
Abstract
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estar duas linhas abaixo do final do Abstract, podendo ser a versão para
o inglês das palavras-chave;
Carpe Diem
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dados existentes na literatura. Deve sempre ter como base os resultados
apresentados, com comentários a respeito dos resultados obtidos.
3.2.1.5 Conclusão
A conclusão deve ser breve, exata e acompanhar a sequência proposta
nos objetivos. Deve responder exclusivamente o(s) objetivo(s),
diretamente ligada aos resultados obtidos. Podem ser positivas ou
negativas, de forma impessoal.
3.2.1.5 Referências
A expressão “Referências”, sem adentramento, deve ser colocada
duas linhas antes dos autores, relacionados em ordem alfabética,
sem numeração, espaço simples entre as linhas. As referências, na
lista, devem ser separadas entre si por espaço duplo. O formato das
referências deve seguir as últimas normas da ABNT (NBR-6023/2002):
EXEMPLOS
Obs.: Quando o autor da obra for o mesmo da parte, substitui-se o
nome por um traço equivalente a 6 (seis) espaços, seguido de ponto
( ______. ).
Para ARTIGOS EM PERIÓDICOS:
1)
AUTOR. Título do artigo. Título do periódico em negrito, local da
publicação, número do volume; número do fascículo; página inicial e final;
mês e ano.
Ex.: SANTOS, Daniele Bezerra, SEIXAS, Ana Anita A., NELSON,
Margarida de Lourdes de Melo. Avaliação preliminar da biodiversidade de
macroalgas da praia de Búzios, Rio Grande do Norte, Brasil. Carpe Diem,
Natal, v. 5, n. 5, p. 79-93, jan./dez. 2007.
Para TRABALHOS EM EVENTOS
1)
Para LIVROS
1)
Formato convencional
AUTOR. Título da obra em negrito. número da edição (se não for primeira);
local da publicação: nome da editora; data de publicação.
Ex.: GIL, A. C. Didática do Ensino Superior. São Paulo: Atlas, 2006.
Formato convencional
Formato convencional
AUTOR. Título: subtítulo. In: NOME DO EVENTO, número, ano, local de
realização. Título da publicação... subtítulo. Local de publicação (cidade):
Editora, data. Páginas inicial-final do trabalho.
ALOISE, D. A., MAIA-LIMA, F. A., MOLINA, W. F. Análise citogenética
de Litopenaeus vannamei(Crustacea, Penaeidae. In: ENCONTRO DE
GENÉTICA DO NORDESTE, 16., 2002, São Luís. Resumos... São Luís:
SBG, 2002. p. 36.
Para CAPÍTULOS DE LIVRO OU PARTES DE COLETÂNEA
3.2.2.7 Notas de rodapé
1)
As notas de rodapé devem ser resumidas ao máximo e colocadas na
parte inferior da página, ordenadas por números arábicos que no texto
serão colocados logo após a frase a que diz respeito e elevadas. São
separadas do texto por um traço contínuo de 3 cm e digitadas em espaço
simples e com caractere menor do que o usado no texto e sem espaço
entre elas, devendo ser alinhadas à esquerda pela primeira palavra,
deixando a chamada numérica em evidência. Não é permitido o uso de
notas de rodapé de referências.
Formato convencional
AUTOR. Título do capítulo. In: ______. Título da obra em negrito. número
da edição (se não for primeira); local da publicação: nome da editora; data
de publicação.
Ex: MASETTO, M. T. Processo de avaliação e processo de aprendizagem.
In: ______. Competência pedagógica do professor universitário.
São Paulo: Summus, 2003.
174
Carpe Diem
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jan./dez. 2010
175
3.2.2.8 Citações
Nas citações diretas devem ser observados os seguintes critérios de
estrutura:
a) Citações textuais pequenas (com até três linhas) deverão vir entre
aspas duplas, ao longo do texto.
b) Citações textuais longas (com mais de três linhas) devem ser
apresentadas em parágrafos independentes, utilizando-se margem
própria, recuada 4 cm à esquerda, (fonte tamanho 10), sem as aspas,
tendo como limite a margem direita do documento .e ter espaçamento
simples. As citações devem incluir a indicação da fonte (sobrenome
do autor, ano e página), de acordo com a NBR 10520/2002. Ex.:
(Lima, 1994, p. 45).
3.2.2.9 Ilustrações
As ilustrações (figuras, tabelas, quadros, gráficos, gravuras, fotografias,
mapas, organogramas, fluxogramas, esquemas, desenhos, fórmulas,
modelos e outros) servem para elucidar, explicar e simplificar o
entendimento de um texto. Devem ser utilizadas no máximo 10 (dez)
ilustrações que sejam importantes para o entendimento do texto. As
fotos, mapas, gráficos ou tabelas devem ser digitalizadas em boa
resolução (no mínimo de 3000 dpi). Devem ser apresentadas na forma
JPG, separadas do texto, mas sua indicação deve aparecer no texto
contendo a legenda e a fonte. As imagens enviadas para publicação
deverão, obrigatoriamente, vir acompanhadas de um termo de
responsabilidade (autorização do detentor da imagem) por parte do(s)
autor(es), sobretudo, se as imagens não pertencerem ao acervo do
autor.
Exceto as tabelas, quadros e gráficos, todas as demais ilustrações
deverão ser mencionadas no texto como figuras.
• Figuras: Sua indicação pode fazer parte do texto, ou estar localizada
entre parênteses no final da frase.
Exemplos:
a) A FIG 2 apresenta .......
b) Durante os primeiros trinta dias..........as diferentes durações de HV
(FIG. 5).
Recomendações:
176
a) Quando se fizer referência a mais de uma figura, a abreviatura FIG.
deve ser usada somente no singular.
b) As figuras (inclusive as demais ilustrações) deverão ser numeradas
no decorrer do texto com algarismos arábicos;
c) O título deve ser digitado abaixo da figura e na mesma margem
desta, escrito em letras minúsculas, exceto a inicial da frase e dos
nomes próprios, após a palavra FIGURA, e dela separada por hífen:
Ex.: FIGURA 6 –
d) A legenda (texto explicativo que acompanha a figura) deve ser
colocada logo após o título, usando-se a mesma pontuação de uma
frase comum. Ex.: FIGURA 6 – Eletroforese em gel de amido.......
e) Caso a figura (inclusive outros tipos de ilustração) já tenha sido
publicada anteriormente, deve-se colocar, abaixo da legenda, dados
referentes à fonte (autor, data e página) de onde foi extraída, conforme
a lei que regulamenta os direitos autorais (Lei nº 9.610 de 19/02/1998,
cap. I, art. 7º), não esquecendo de citar ao final do trabalho a referência
completa na listagem das referências].
f) As figuras, inclusive as demais ilustrações, dever ser centradas na
página e impressas em local o mais próximo possível do trecho onde
são mencionadas no texto, podendo ser agrupadas no final do trabalho,
como anexos, quando forem em grande número e/ou em tamanho
normal.
• Gráficos
Devem ser numerados com algarismos arábicos, o título precedido da
palavra GRÁFICO em letras maiúsculas e a citação no texto será pela
indicação GRAF., acompanhada do número de ordem a que se refere.
• Tabelas e quadros
As tabelas e os quadros devem estar inseridas no texto em seu devido
lugar, com um título claro e conciso, sem abreviações, numerados
sequencialmente em todo o trabalho, com algarismos arábicos,
localizado acima sobre as mesmas, (Ex.: TABELA 1) de acordo com a
norma de apresentação tabular do IBGE (1993).
• Anexos
Quando houver, devem ser indicados no corpo do texto e apresentá-los
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177
no final, após as Referências, identificados por letras maiúsculas (A, B,
C, D, e assim por diante).
• Notas
As notas inseridas no corpo do texto devem ser indicadas por números
arábicos elevados imediatamente depois da frase a que diz respeito,
e restritas ao mínimo indispensável, devendo constar no rodapé da
mesma página em que são inseridas.
• Agradecimentos
Agradecimentos e auxílios recebidos de instituições de financiamento
deverão aparecer no final do texto e antes das Referências.
4 PROCESSO DE AVALIAÇÃO DOS ARTIGOS POR PARES
(PEER REVIEW)
Todos os trabalhos submetidos à revista, que atenderem às “Normas
para apresentação de trabalhos” assim como ao objetivo e política
editorial, serão avaliados, sendo garantido o anonimato durante todo o
processo de julgamento;
• Serão levados em consideração os seguintes critérios de avaliação: a)
fundamentação teórica e conceitual; b) relevância, pertinência e atualidade
do assunto; c) consistência metodológica; d) formulação em linguagem
correta, clara e concisa.
• Cada trabalho deverá ser avaliado por dois revisores, especialistas que
trabalham em áreas relacionadas com o tema do manuscrito, membros do
corpo editorial da revista,
• Os revisores receberão o manuscrito, sem nenhuma identificação do(s)
autor(es), além de um documento com instruções acerca do processo de
revisão e um formulário de avaliação, para manifestar seus comentários
e recomendações sobre a aceitação, rejeição ou correção do manuscrito;
• Em nenhuma etapa do processo, os revisores conhecerão a identidade
do(s) autor(es), assim como, o(s) autor(es) não saberão a identidade dos
revisores
• Excepcionalmente, dado a especificidade do assunto do manuscrito, o
Editor poderá solicitar a colaboração de consultores ad hoc;
• Somente serão encaminhados aos revisores os trabalhos que estejam
rigorosamente de acordo com as normas acima descritas;
178
• Os revisores farão comentários gerais, devendo incluir em seus
pareceres, sugestões cabíveis visando à melhoria de conteúdo e forma do
trabalho e decidirão se o mesmo deve ser:
a) aprovado;
b) recusado;
c) aprovado com correções.
O artigo com as correções deverá passar por novo processo de avaliação
a fim de que possa garantir a publicação.
• Os revisores enviam seus comentários e recomendações ao Editor, o
qual, preservando o anonimato dos revisores, encaminhará resposta ao
autor responsável pelo trabalho, via correio eletrônico;
• Os trabalhos aceitos com reformulações serão devolvidos com os
devidos pareceres para serem efetuadas as modificações. A aceitação
com alterações implicará em que o(s) autor(es) se responsabilize(em)
pelas reformulações as quais serão novamente submetidas a outro
revisor.
• Trabalhos recusados pelos revisores, não serão devolvidos, porém o
autor responsável receberá os pareceres com o referido julgamento;
• O Editor, de posse dos comentários dos revisores, tomará a decisão
final. Caso haja discrepâncias entre os revisores, poderá ser solicitada
uma nova opinião para melhor julgamento;
• Após a aprovação do trabalho, o autor receberá uma carta de aceite
do editor, via e-mail, indicando a data provável e o número da revista
prevista para a publicação do artigo.
OBSERVAÇÕES IMPORTANTES
a) Ao enviar o material para publicação, o(s) autor(es) está(ão)
automaticamente abrindo mão de seus direitos autorais, concordando
com as diretrizes editoriais e, além disso, assumindo que o texto foi
devidamente revisado;
b) Quando o manuscrito for submetido, o autor deve necessariamente
apresentar o resumo em inglês (abstract);
c) O trabalho deve ser inédito e não ter sido enviado para quaisquer
outros órgãos editoriais ou anais de congresso para publicação;
Carpe Diem
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d) O Conselho Editorial não se responsabiliza pelos conceitos ou
afirmações expressos nos trabalhos assinados, que são de inteira
responsabilidade do(s) autor(es).
e) A partir de 2011 a Revista Carpe Diem estará disponível apenas no
suporte digital on line. Desta maneira os autores não mais receberão
os 2 (dois) exemplares do fascículo impresso (até a edição de 2007).
Sugere-se ao(s) autore(s_ imprimir(em) a versão em PDF que
disponibiliza o formato original da revista.
f) O tamanho padrão de impressão da revista é de 260 x 360 mm (aberto).
5 DO ENCAMINHAMENTO DO MANUSCRITO
• Cada manuscrito deve indicar o nome de um autor responsável pela
correspondência da revista, e seu respectivo endereço, telefone e endereço
eletrônico de contato.
• O trabalho deve ser enviado ao Editor da revista Carpe Diem, Prof.
Francisco de Assis Maia Lima, acompanhado da Carta de Submissão e
Declaração de Responsabilidade e Termo de Transferência de Direitos
Autorais, para o seguinte endereço:
Revista Carpe Diem
A/C Prof. Francisco de Assis Maia Lima
Rua Orlando Silva, 2897 – Capim Macio
CEP 59.080-020 – Natal, RN
Tel.: (84) 3235-1421 – E-mail: [email protected]
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