DIÁRIO DE SINTRA

Transcrição

DIÁRIO DE SINTRA
Urca Filmes, Aruac Filmes e Filmes do Tejo/Maria João apresentam
DIÁRIO DE SINTRA
um filme de Paula Gaitán
Festivais
9° Festival do Rio (2007, Rio de Janeiro, Première Brasil, Competição de Documentário)
31° Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (20 07, São Paulo, Mostra Brasil Competição
Novos Diretores)
Mostra “Eu é Um Outro” (2008, Rio de Janeiro)
3º CINEOP Mostra de Cinema de Ouro Preto (2008, Ouro Preto)
7° Tribeca Film Festival (2008, Nova Iorque, North American Premiere)
9° Seoul International Film Festival (2008, Seul, Asian Première)
10º Buenos Aires Festival Internacional de Cine Independiente (2008, Buenos Aires)
XXIII Festival Internacional de Cine en Guadalajara (2008, México, seleção oficial)
46º Vienna Film Festival (2008, Viena)
Festival Internacional del Nuevo Cine Latinoamericano (2008, Havana)
Mostra de cinema Sapo Cururu (2008, Olinda)
Les Signes de la Nuit (2009, Paris)
Mostra Museo Reina Sofia (2008, Madri)
Festival Internacional de Cine de Cali (2009, Cali)
Documentário - Brasil - 2007 - 90 min - HDCAM / super-8 / 16 mm - estéreo – cor
um tempo que morre
tempo que está
separado de outro
tempo, mas que
se torna presente
Assessoria de imprensa
Foco Jornalístico – (11) 3023.5814 / 3023.3940 / www.focojornalistico.com.br
Regina Cintra – [email protected]
João Perassolo – [email protected]
Sinopse curta
Diário de Sintra é um ensaio baseado em uma viagem que a diretora Paula Gaitán fez a
Sintra, Portugal, em 2007, onde ela viveu com seu marido, o cineasta brasileiro Glauber
Rocha, e seus dois filhos, Eryk e Ava, em 1981.
Sinopse longa
Diário de Sintra se estrutura a partir dos registros pessoais do cotidiano na cidade de
Sintra realizados pela cineasta e artista plástica Paula Gaitan, onde passou, em 1981,
uma temporada com seus filhos Eryk Aruac e Ava Patrya Yndia Yracema, e seu
companheiro e pai de seus filhos, o cineasta Glauber Rocha (1938-1981). Tomando como
ponto de partida uma viagem a Sintra em 2007, a diretora refaz percursos, reencontra
amigos da cidade e mostra imagens de Glauber na fase portuguesa.
O documentário apresenta um duplo movimento: a viagem a Portugal e a viagem
(metafórica) da memória em busca de outro tempo. Acompanhamos a câmera na
chegada de Gaitán ao país, em passeios por ruas e vielas de Sintra, acompanhamos a
reação de moradores locais (uma camponesa, uma funcionária de uma peixaria) a quem
são entregues fotografias de Glauber Rocha.
Em diversos momentos do filme, Paula Gaitán lança mão dessas fotografias que tirou,
registros dos tempos de Portugal e alguns mais antigos, em que Glauber está mais jovem:
espalhadas pelo chão de um terreno, penduradas em árvores, seguindo o curso da água
de um rio ou sob a areia do mar, os instantâneos são parte importante nesta viagem da
memória.
O filme é construído através de vários suportes: imagens em super-8 realizadas em 1981
e 2007, imagens em 16mm, tomadas em digital e fotografias - materiais que refletem, 25
anos depois, sobre o exílio voluntário do cineasta e sobre os últimos meses de sua vida.
As texturas, a composição de imagens, o desenho de som e a edição seguem um fluxo
mental muito pessoal, todavia pretendendo estabelecer uma conexão com o espectador,
revelando um processo através do qual o mundo se torna mais compreensível. Diário de
Sintra é um relato sobre a memória e a maneira pela qual ela pode construir a realidade.
Ficha Técnica
Diário de Sintra (Days in Sintra)
Duração: 90 minutos
HDCAM / super-8 / 16 mm
cor, estéreo
Documentário, 2007
Roteiro e Direção: Paula Gaitán
Produção Executiva: Eryk Rocha e Leonardo Edde
Produtora: Claudia Tomaz
Produção de base: Felipe Rocha
Montagem: Daniel Paiva e Paula Gaitán
Direção de Fotografia: Paula Gaitán e Pedro Urano
Direção de Produção: Daniela Martins
Desenho Sonoro: Edson Secco, Daniel Paiva e Paula Gaitán
Trilha original: Edson Secco
Intérprete: Ava Rocha
Edição de som e mixagem: Edson Secco
Assistente de direção: Clara Linhart e José Quental
Colaboração montagem: Karen Akerman e Vinícius Quintela
Som direto: Nilson Primitivo
Finalização: Leonardo Edde e Renato Martins
Co- produção: Filmes do Tejo/ Maria João
Participações especiais
Paula Guedes
Ava Rocha
Eryk Rocha
Paulo Rocha
Rui Simoes
Apresentando
Maíra Senise
Nosso céu não é feito de
luz. Nosso céu é feito
de lamentações aquosas
entre gritos sonolentos
de túmulos perdidos...
Nosso céu tem
no ventre o infortúnio da
cólera
Apresentação, por Paula Gaitán
Em 1981, vivemos, meus filhos, eu e meu companheiro Glauber Rocha, em Sintra,
Portugal. 25 anos depois, regresso à cidade para realizar o filme Diário de Sintra,
buscando entre nós um dialogo amoroso e poético através do cinema e da memória. Meu
olhar deixa-se impregnar pelo que vê - as paisagens, as pessoas, amigos que encontro
no caminho.
Um diário de viagem que reúne anotações do passado e presente, redescobrindo esse
espaço geográfico, essa topografia da memória. Convido o espectador a trilhar comigo
esse percurso, caminhar por labirintos imagéticos.
Não se trata de um documento histórico em torno de um personagem mítico. É um ensaio
amoroso-poético que resgata a figura do homem, para que, ao superar o mito, possamos
nos aproximar do seu pensamento, da sua personalidade contagiante e mágica. Nas
brechas do dia-a-dia despontam flashes da memória, vestígios do passado em cartas,
objetos, fotos, depoimentos. Vozes que se misturam com as imagens em super-8
realizadas em 1981. Os registros do tempo presente e os fragmentos realizados em 1981
se entrecruzam criando uma nova temporalidade. Camadas ficcionais e documentais se
fundem.
O que me parece importante enfatizar no Diário de Sintra é, em primeiro lugar, o seu
caráter de documentário reflexivo. É a partir desse ponto que se pode estruturar um
trabalho autêntico, singular, poético, forte e apaixonante. Refletida essa questão, as
demais vão ganhar respostas, pois se encontram submetidas a isto.
A força desse projeto, no meu entender, está na ênfase sobre o olhar, a memória afetiva e
crítica sobre aquele período em que vivi ao lado de Glauber e meus filhos em Portugal. Ao
chamar a atenção para o olhar, ganham destaque os meios e as mediações que
constroem meu discurso. O que estrutura meu olhar sobre o mundo sensível? As texturas
do filme, as composições de imagem e som, a montagem que segue um fluxo mental e
extremamente singular e pessoal, mas que através disso pode atingir os espectadores. É
o processo de entendimento do mundo através da memória que precisa ficar claro. Por
isso não é, e não se propõe realista, não é uma “janela sobre o mundo”. A ênfase não é
sobre o real, mas sobre a memória e a forma que ela constrói o real. A consciência sobre
os mecanismos de medição é algo fundamental.
Não é um filme de caráter jornalístico ou histórico no sentido de que pretende esmiuçar
detalhadamente uma questão ou um evento. Tampouco é um filme de encontros onde
se destacam os momentos singulares entre realizador e personagens registrado pela
câmera. Glauber aparece através do meu olhar, que, hoje, olha para aquele momento de
nossas vidas com 25 anos de acúmulos e reflexões. O momento tão pouco conhecido da
vida de Glauber, os meses que antecederam sua morte, o momento que ele denominou
de “intervalo”, de “fim de um ciclo”.
Glauber inicia no final dos anos 60 uma peregrinação pelo mundo que reforça esse
movimento. É um nômade. Vive o movimento de descolonização da África. Em 1974 a
revolução dos cravos faz sentir esse movimento em Portugal. Caminha entre a estética da
fome e a estética do sonho. Diário de Sintra é um território da memória e do presente.
".....Tudo isso me conduziu a Portugal, numa viagem metafórica, numa viagem poética...."
Glauber Rocha em entrevista para o Diário de Noticias, Portugal, 28 de fevereiro de 1981
Biografia e questões para Paula Gaitán
Paula Gaitán nasceu em Paris, em 1954, filha do poeta e escritor colombiano Jorge
Gaitán Duran com a escritora e dramaturga brasileira Dina Moscovici. Artista visual,
fotógrafa, poeta e cineasta, cresceu entre Colômbia, Brasil e Europa, antes de morar com
Glauber Rocha no Rio, em 1977, onde ficou até 1994. Voltou para a Colômbia por mais
seis anos, e reside no Brasil desde 2000.
Graduada em Artes Visuais e Filosofia pela Universidad de Los Andes de Bogotá, dá
aulas de Cinema Experimental na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de
Janeiro, e é sócia da produtora Aruac Filmes. Trabalha como cineasta desde 1978,
quando foi diretora de arte de Idade da Terra, de Glauber Rocha – ela conheceu o
cineasta três anos antes, em Bogotá. A carreira autoral de Paula inclui vários
documentários, trabalhos em video-arte e instalações de artes plástica. Já expôs no
Malba, em Buenos Aires (2004), no Salão da Bahia (2003 e 2006) e no Itaú Cultural, em
São Paulo (2008). Seu longa-metragem Uaká (1998), filmado no Xingu, foi premiado em
Amiens, São Francisco e Brasília.
FILMOGRAFIA E TRABALHOS PARA A TV
Olho D’Água, 1987, 36’
Uaká (Sky), documentário, 1989, 90’
Lygiapape, documentário, 1991, 43’
Arquitetura do Espaço – Rogelio Salmona, 1995, 28’
Série Design, 1995 – séria da TV Cultura, 1995, 28’ cada
Presença/Ausência, 1996, 28’
Pela Água, 2004, 8’
Kogi, 2005, 13’
Cinema e Pensamento, 2006. 4 episódios da série do Canal Brasil, 28’ cada
Diário de Sintra, documentário, 2007, 90’
Vida, 2007, 70’
Pelo Rio (River), 2007, 13’
Monsanto, 2008, 22’
Por que voltar a Sintra 25 anos depois? Como surgiu esta ideia?
Tinha realizado essas filmagens em super-8 no período entre 79 e 81, em vez de escrever
poemas (sou poeta e artista visual, também). Filmava como escrevia, diariamente,
minhas impressões sobre a viagem, como anotações, diário.
Fiz mais de 40 documentários desde esse período até 2007 (Uaka, Lygiapape e muitos
outros no tempo em que morei na Colômbia). Senti a necessidade, depois de ter
realizado alguns filmes, de construir esse ensaio pessoal sobre o período de Sintra,
investigar o território da memória, da memória involuntária, da construção imagética a
partir desse tema. Ganhei um edital do Rumos (Itaú Cultural), e decidi fazer o longa.
Trata-se de um filme em primeira pessoa, uma viagem de reminiscências, uma
viagem física até Portugal, país ao qual eu não tinha voltado desde 81, e em paralelo
uma viagem da memória. Trata-se de um filme sensorial, afetivo, pessoal, um filme de
amor, sobre a perda, um ensaio sobre eu mesma, sobre minha família, sobre Glauber,
meu companheiro. Passado, presente e futuro, tudo está incluído nesse Tempo - tempos
paralelos, que se mesclam e dialogam, o presente dialoga com o passado numa
interpolação de tempos.
Quanto tempo ficou em Portugal, em 2007?
Fui com uma pequena equipe de filmagem e ficamos um mês percorrendo vários lugares
de Portugal, um pouco nômades, à deriva, descobrindo paisagens, pessoas. Nem tudo
que aparece no filme são cenários e locações que necessariamente já conhecia. Por isso
eu digo esta frase no inicio do filme: “Caminhos que levam a Sintra ou talvez a lugar
nenhum". Quer dizer que não é um filme memorialista, anedótico ou jornalístico, mas sim
um filme de percurso imagético, quase uma reinvenção dessa memória e desse período.
Por que a escolha de fazer um documentário com narrativa não-linear?
Acredito que um filme sobre a memória não pode ser linear, a memória é entrecortada,
fragmentada, difusa, tem silêncios, lacunas. Os sons também são fragmentados,
longínquos. Nunca a memória é anedótica.
Quais seus próximos projetos?
Fiz dois longas nos últimos dois anos: Diário de Sintra e Vida, e alguns curtas como
Monsanto e Kogi, que representou este ano o Brasil no festival de Tribeca. Vida, filme
com a atriz Maria Gladys, tem a memória do corpo como tema central, através desta atriz
fabulosa – a memória afetiva, a potência de vida e de transformação contido no corpo
dessa atriz. O tema da memória perpassa meus últimos filmes. Para compor esse tríptico
sobre a memória, vou realizar (esta em fase de captação e pré-produção) o filme Sobre a
Neblina, meu primeiro filme de ficção (considero que Diário de Sintra também transita
pelo território da ficção, mas digamos que do ponto de vista de produção, atores, etc,
seria meu primeiro filme de ficção). Uma produção a partir do romance da escritora
mineira Christianne Tassis com o mesmo nome.
O elenco é muito interessante: Vicenzo Amato (Respiro, Nuevomundo), Clara Choveaux
(Tiresia), Taina Muller, Pierre Baitelli, Maira Senise (minha filha com
o artista plástico Daniel Senise), em uma co-producao da Franco Produções e Monica
Botelho, mais nossa produtora Aruac Filmes, com fotografia de Inti Briones (fotógrafo
chileno, do Raoul Ruiz). As locações incluem a região de mineração de Minas, próximo a
Belo Horizonte, e o deserto de Atacama, no Chile.
Sinto-me agora como
se estivesse construindo
uma ponte delicada
e intrincada na noite
silenciosa cruzando as
trevas de uma tumba
a outra enquanto o
gigante dorme...
O que já se disse sobre o filme
Walter Salles, cineasta
“Assistir Diário de Sintra, de Paula Gaitán, é ser convidado para uma jornada
cinematográfica que mantém pouca semelhança com qualquer filme que você já tenha
visto. Uma meditação poética sobre lembrança, tempo e perda, Diário de Sintra é também
uma das mais tocantes e honestas ‘prestação de contas pessoais’ no cinema em um
longo período. 26 anos depois da morte de seu marido, o fundador do Cinema Novo
Glauber Rocha, Gaitán retorna a Sintra, a pequena cidade de Portugal onde eles viveram
seus últimos momentos como uma família no exílio, junto com o filho Eryk e a filha Ava.
Um tom hipnótico, impressionista permeia a visita de Gaitán ao passado. Material de foro
íntimo capturado em super 8 no fim dos anos setenta e início dos oitenta, mescla-se com
imagens atuais de Sintra. A voz dela se entrelaça com a última entrevista de Glauber
Rocha, registrada pelo ator Patrick Bauchau. Passado e presente estão interligados.
Somos lembrados, como Borges dizia, que o presente não é nada além do instante no
qual o futuro se desintegra no passado. Em Diário de Sintra, Paula Gaitán recupera os
vestígios de uma longa e distante jornada e tenta conferir pertinência e uma nova vida a
eles. Ela faz isso sem uma pitada de sentimentalismo, e com uma coragem raramente
vista em filmes atuais. É mais do que talento e sensibilidade privilegiada propor tal filme. É
necessária uma visão única do mundo para mergulhar em um território tão delicado. E no
final da projeção nós sentimos como se Glauber estivesse vivo, como se aquela família
estivesse viva – e então nós também estamos.”
Walter Carvalho, diretor de fotografia e cineasta
“Vi seu belo filme ontem, passei a noite pensando.
Você juntou fragmentos, vestígios, interstícios, e entre frinchas da memória, você
construiu um poema pictórico intenso, amoroso. E trouxe de volta a ausência do guerreiro,
do poeta. Fui tomado pelo seu filme, que espalhou em meus olhos o vigor de um cinema
necessário, pessoal. Ao fim juntei os fragmentos e com as ruínas das imagens e da
paisagem do filme construí um sonho de epifanias e fiquei feliz.”
Amir Labaki, diretor do festival É Tudo Verdade
Diário de Sintra nos oferta sons e imagens inesquecíveis do crepúsculo de Glauber.
Aqueles que mais me tocaram documentam seu cotidiano com Ava e Eryk, na época com
angelicais dois e três anos, respectivamente. Ei-los brincando na praia, num parque de
diversões, em casa. Num registro apenas sonoro, ei-lo ensinando-os a cantar: “Do-ré-mifá-sol-lá-si-dó”.
É com toda a vida que Gaitán nos reconecta nestes fragmentos – mas ela escancara
também o espectro da morte, sobretudo a partir de um impressionante depoimento de
Glauber em francês, apenas em áudio: “Eu não quero morrer porque tenho só 42 anos e
tenho muita coisa para fazer. Vivi muito bem, fiz os filmes que quis, jamais enganei
alguém, então me sinto um homem feliz. Me movimentei muito então o coração treme um
pouco. Mas acho que sou ainda forte para superar isso tudo. Existe uma força espiritual
grande. Não tenho medo da morte. Tenho medo de uma morte estúpida. Mas morrer do
coração, por causa de uma vida agitada e revolucionária como a minha, não será
perturbador”.
Francesca Azzi , diretora do festival Indie de cinema
“Paula Gaitán dirigiu, escreveu e fotografou esse belo documentário experimental sobre a
passagem de seu marido, Glauber Rocha, por Sintra, em Portugal, quando de seu exílio.
Dizer que o filme é uma busca de um registro histórico daquele momento é simplificar
demais, reduzir a quase nada a bela ideia que ela consegue concluir quando se constata
o trabalho terminado. Não poderia ser comum um trabalho que fale do diretor baiano - não
têm sido comuns os diversos trabalhos que falam de Glauber a que tive oportunidade de
ver ultimamente; com buscas extremadas, com ideias pouco comuns, como se todos que
falam dele tenham resolvido ser desonroso retratá-lo através de linguagem comum,
edição comum, narrativa comum. Mas Paula acabou por entregar um dos mais belos de
todos que vi. Foi mulher dele e mãe de alguns de seus filhos e tamanho nível de
proximidade parece ter-lhe "oferecido" uma autoridade especial.”
Pedro Paulo Rocha, cineasta
“O filme Diário de Sintra, da artista visual e cineasta Paula Gaitán, perpassa esse
universo singular de imagens fluidas, onde uma imagem da imagem seria um rastro que,
sobre a memória, deixa vestígios, marcas, e faz emergir simulacros de imagens,
imaginários de memórias. Memória onde tudo se esquece e na poética do instante,
permeando por aí, tempo vibrante, exatamente pelo rio da memória que passa e torna, o
que é matéria artística, material sensível, em um mesmo gesto, memórias plásticas,
esquecimentos e aparecimentos. Voltar e tornar in comum, o que seria individual, pessoal.
Tornar e voltar às potências de muitos nomes, encontros, desvios.”
Luiz Rosemberg Filho, cineasta
“O sublime lado das imagens é o percurso adotado por Paula Gaitan, que, deixando a
razão que tudo explica de lado, contempla folhas amareladas, fotos, rio, árvores... Sua
doce imagem permite superar a rigidez da despedida, fazendo esculturas com a
paisagem. Ou com o que consegue ver. É um trabalho tão além do que se faz hoje no
nosso empobrecido cinema, que se perpetuará como a música de Mozart ou Satie. Entre
o pensamento e a voz, as imagens poéticas rompem com qualquer sentido de uso. Em
suma, quer-se simultaneidade de afetos e encontros. Um pouco como a música como
linguagem dos deuses. Paula se permite voar com suas imagens, estabelecendo a
desordem como instrumental poético.”
Caminhos que levam a
Sintra, ou talvez a lugar
nenhum, imagens que ultrapassam a memória
e comunicam apenas
uma parte do seu
segredo...
O que saiu na imprensa
Carlos Alberto Mattos, Docblog – O Globo
“A ausência de um destino certo, apesar de Sintra, é o segredo da beleza desse doc
experimental. Belos são os silêncios que se opõem à verborragia comumente associada a
Glauber, a delicadeza de uma estrutura feita inteiramente de fragmentos, a edição
desesperada e muda que quer traduzir a agonia do cineasta perto do final. Não sabemos
como Paula lavou e esfregou suas recordações intimamente, mas dividimos com ela esse
bonito momento em que as botou para corar ao sol suave de Sintra.”
http://oglobo.globo.com/blogs/docblog/post.asp?cod_post=74182
Luiz Carlos Merten, O Estado de S. Paulo
“(...) Paula Gaitán, a viúva de Glauber fez um documentário muito bonito sobre os dois
últimos anos do marido em Portugal, Diário de Sintra (...)
http://blog.estadao.com.br/blog/merten/?title=glauber_o_eterno_retorno&more=1&c=1&tb=
1&pb=1
Sérgio Rizzo, Folha de S. Paulo
“Diário de Sintra retorna ainda a Portugal em busca de vestígios da passagem da família,
na memória de lugares e de pessoas. Com a montagem, cria espaços e emoções
atemporais, na busca por traduzir em imagens e sons o que fica dos que se vão dentro de
cada um de nós.”
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0309200717.htm
http://www.nordesteweb.com/not07_0907/ne_not_20070903a.htm
Eduardo Valente, Revista Cinética
O tempo todo o filme trabalha na chave da resignificação: como transformar aquelas
imagens antigas, que seriam de “consumo” caseiro, em material estético para consumo
externo, para exibição para um público? Como tornar o sentimento pessoal potência
fílmica? Paula tenta uma série de caminhos, e entre eles os mais emocionantes talvez
sejam as curtas conversas com os amigos que estiveram com eles em Sintra. É um filme
que, no estilo de Paula (cuja influência já tínhamos sentido no Rocha que Voa, filme-irmão
deste aqui, realizado por Eryk Rocha, filho de Glauber e Paula), constrói uma série de
camadas visuais e sonoras em busca da mistura entre passado, sonho, imaginação e
real, que presentifique um homem, talvez permitindo uma cerimônia final de seu luto – e
aqui o filme também nos faz lembrar, não sem emoção, do Floresta dos Lamentos, de
Naomi Kawase.
http://www.revistacinetica.com.br/diariodesintra.htm
Rodrigo de Oliveira, Contracampo
Um filme que abdica o tempo inteiro dos rodeios pomposos, da afetação “profunda” e
cheia de significados submersos, baseado na superfície de uma dúzia de fotografias. É só
aí que Diário de Sintra pode existir, na superfície aflorada das coisas. Um filme em que se
declara explicitamente a posição afetiva de onde se fala (ouvimos versos como “uma
viúva se parece com as árvores, um objeto-sombra”). Um filme desses não poderia tomar
outra atitude diante da morte. O que não quer dizer que não seja num céu incrivelmente
azul e limpo, num dia claro de sol, que o último plano do filme queira repousar. O sono
dos justos.
http://www.contracampo.com.br/91/pgcineop02.htm
A cada hora ele construía
um sonho esta falsa
pátria e nunca deixava
de sonhar
Sobre Glauber Rocha
Glauber de Andrade Rocha, baiano de Vitória da Conquista, é o diretor emblemático do
Cinema Novo brasileiro – movimento cinematográfico de crítica social influenciado pela
nouvelle vague francesa e pelo neo-realismo italiano. Em 42 anos de vida, dirigiu longasmetragens incendiários e foi triplamente premiado em Cannes: em 1967, A Idade da Terra
ganhou o prêmio da crítica (FIPRESCI); no ano seguinte, foi eleito o melhor diretor por O
Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro; em 1977, Di-Glauber ganhou como melhor
curta.
FILMOGRAFIA
Longas-metragens
Barravento (1961)
Deus e o Diabo na Terra do Sol (1963)
Terra em Transe (1965)
O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro (1968)
Cabeças Cortadas (1970)
O Leão de Sete Cabeças (1971)
Câncer (1972)
Claro (1975)
A Idade da Terra (1980)
Curtas e médias
Pátio (1959)
Amazonas, Amazonas (1965)
Maranhão 66 (1968)
Di-Glauber (1976)
Jorjamado no Cinema (1977)
Urca Filmes
Desde 2002 atuando no mercado de entretenimento, a Urca Filmes tem a missão de
oferecer produtos audiovisuais de alta qualidade para o público – documentários, filmes
de ficção e programas de tv. Atuando em co-produções, atendendo à produções
internacionais e desenvolvimento projetos culturais, a empresa se propõe a fortalecer a
identidade do país por meio da criteriosa seleção temática de suas produções e através
da democratização das informações geradas pelos seus filmes.
Dentre os trabalhos destacam-se no cinema: Tamboro, de Sérgio Bernardes, 2009,
Pachamama, de Eryk Rocha, 2008, Os Desafinados, de Walter Lima Jr., 2008, O
Engenho de Zé Lins, de Vladimir Carvalho, 2007, Soy Cuba - O Mamute Siberiano, de
Vicente Ferraz, 2005, e, na televisão: Depois Rola o Mocotó, de Débora Herszenheut e
Jefferson Don, 2009, Tira Onda – 6ª temporada, Multishow, Globosat, Equador, minissérie
para TVI (Portugal).
Aruac Filmes
Produtora formada por Eryk Rocha, Ava Rocha e Paula Gaitan, que tem no currículo os
longas Rocha que Voa (2002), Intervalo Clandestino (2005) e Pachamama (2008), de
Eryk Rocha; Diário de Sintra (2007) e Vida (2007), de Paula Gaitán; a série Cinema e
Pensamento (Canal Brasil, 2006); e os curtas Dramática (2005), de Ava Rocha; Olhos de
Ressaca (2009), de Petra Costa; Kogi (2005) e Monsanto (2008), de Paula Gaitán;
Quimera (2004) e Medula (2005), de Eryk Rocha.
Patrocinadores
Diário de Sintra foi filmado em 2007 e finalizado no mesmo ano com recursos da Energisa
e Itaú Cultural, e distribuído através do Concurso de Distribuição da Petrobras, com
produção associada da Urca Filmes e Aruac Produções.
Poemas e textos ditos no filme ‘Diário de Sintra’ por Paula Gaitán e Maíra Senise