Newsletter: Vol. 06 – # 16 – Genética dos Tumores de Wilms
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Newsletter: Vol. 06 – # 16 – Genética dos Tumores de Wilms
GETH Newsletter Volume 06 Número 16 07 de junho de 2008 Genética dos Tumores de Wilms GETH Newsletter é uma publicação semanal distribuída aos sócios do Grupo de Fernanda Teresa de Lima Universidade Federal de São Paulo/ Hospital Albert Einstein Estudos de Tumores Hereditários O tumor de Wilms tem uma incidência de 1 em cada 10.000 nativivos, podendo-se apresentar como um tumor esporádico ou como um tumor hereditário, Sede além de poder estar associado a várias síndromes e malformações. É um tumor R José Getúlio, 579 cjs 42/43 peculiar, uma vez que sua patogênese está intimamente relacionada com distúrbios Aclimação São Paulo - SP da diferenciação tecidual e apresenta muitas características histológicas típicas do CEP 01503-001 E-mail [email protected] Site http://www.geth.org.br desenvolvimento renal. É considerado um tumor maligno primitivo, apresentando múltiplas linhagens de precursores embrionários fetais. Tipicamente, exibe três linhagens histológicas, blastema, epitélio e estroma, com alterações genéticas idênticas, além de estar associado a restos nefrogênicos. Os restos nefrogênicos são raros nos rins após um ano de idade, mas estão presentes em 100% dos tumores multifocais ou bilaterais, e em 30% dos Editores tumores esporádicos, e são classificados de acordo com a posição no lobo renal, sendo Erika Maria Monteiro Santos perilobares em 15% dos tumores de Wilms, e intralobares em 25% dos tumores de Ligia Petrolini de Oliveira Diretoria Presidente Benedito Mauro Rossi Vice-Presidente Erika Maria Monteiro Santos Diretor Científico Gilles Landman Secretário Geral Fábio de Oliveira Ferreira Primeira Secretária Ligia Petrolini de Oliveira Tesoureiro Wilson Toshihiko Nakagawa Wilms. O primeiro gene a ser relacionado ao tumor de Wilms foi o gene WT1, que codifica a proteína relacionada ao tumor de Wilms 1, e está localizado em 11p13. Este gene tem alta expressão em tecidos que sofrem transformação de mesênquima para epitélio durante o desenvolvimento, como os rins e as gônadas. No rim, é responsável pela sobrevivência e diferenciação do mesênquima metanéfrico e diminui sua expressão com o final do desenvolvimento renal, mantendo-se expresso somente nos podócitos glomerulares. Interage intimamente com a via da beta catenina e do glipican 3. A proteína WT1 é uma proteína que apresenta um domínio de transativação e um domínio de ligação ao DNA dedos de zinco. Existem múliplas isoformas, por diferenças de emenda do RNA. A isoforma II está relacionada à presença de três aminoácidos entre o terceiro e o quarto dedos de zinco, lisina (K), treonina (T) e serina (S) e a proteína pode ser forma KTS + ou forma KTS -. A proteína WT1 atua no controle do ciclo celular, no crescimento celular e na diferenciação. Mutações neste gene são associados a uma tríade fenotípica que inclui tumor de Wilms, anomalias Genética dos Tumores de Wilms genitourinárias e disfunções renais. Existem pelo menos há uma tendência a manter a expressão do alelo paterno. três síndromes associadas a alterações no gene WT1:WAGR, Denys-Drash e Frasier. Mutações no gene WT1 estão presentes também em 10% dos pacientes com leucemia mielóide aguda, e foram A WAGR é assim denominada por ser um acrônimo encontradas em outros tumores sólidos como tumores para Wilms, Aniridia, anomalias Genitourinárias e Retardo de mama, colorretal, tumores desmóides e de sistema mental. Está presente em 7 a 8 de 1000 indivíduos com nervoso central. O achado de mutações do gene WT1 tumor de Wilms, e leva a falência renal ao redor dos 20 anos. em tecidos que normalmente não expressam este gene, Apresenta um risco de 30% de desenvolvimento do tumor levanta a hipótese de que possa ter um papel oncogênico. de Wilms. É considerada uma síndrome de genes contíguos, Nos tumores desmoplásicos de pequenas células redondas, e a perda do PAX6, contíguo ao WT1, é responsável pela observou-se uma translocação (11;22) que funde o gene aniridia. EWSR1 com o WT1, fazendo com que este último adquira A síndrome de Denys-Drash apresenta tumor de Wilms em 90% dos casos, nefropatia, que é muito precoce, por uma uma atividade transativadora potente e demonstrando o potencial oncogênico do WT1. esclerose difusa, e leva a falência renal entre 3 a 10 anos de Em 2007, por meio de hibridação genômica comparativa, idade e anomalias genitourinárias, que pode incluir reversão tumores de Wilms foram associados a inativação de outro sexual. As disgenesias gonadais são extremamente freqüentes, gene, identificado inicialmente como FAM123B/FLJ39827, e associadas a uma elevada incidência de gonadoblastoma. mas atualmente denominado WTX, por estar localizado no As mutações no gene WT1 nesta síndrome são do tipo cromossomo X (Xq11.1). As mutações neste gene não se dominante-negativas e afetam a expressão do alelo normal. sobrepõe com as do WT1 e beta-catenina e parecem estar A síndrome de Frasier também está associada a anomalias presentes em até 30% dos tumores. genitourinárias e nefropatia, que é focal e leva a falência São poucas as famílias com segregação de tumor de renal mais tardiamente. As mutações nesta síndrome afetam Wilms, representando menos de 2% dos tumores. Estudos o sítio doador de emenda do éxon 9 e são responsáveis por de ligação nestas famílias possibilitaram a identificação de produção de proteína KTS negativa. dois loci, FWT1 em 17q12-q21 e FWT2 em 19q13.4, mas No tumor de Wilms, as mutações no gene WT1 não são os genes ainda não foram identificados. associadas a um pior prognóstico, mas alteram a histologia Outras síndromes malformativas e de predisposição tumoral, estando associadas a estroma proeminente e hereditária ao câncer possibilitaram o estudo de genes diferenciação miogênica, e maior concentração de restos associados ao tumor de Wilms. Entre elas está a síndrome de nefrogênicos intralobulares. Aproximadamente 15% dos Beckwith-Wiedeman, síndrome macrossômica caracterizada pacientes apresentam mutações no gene WT1. Também por são descritas mutações ativadoras do gene da beta-catenina, predisposição a tumores. Esta síndrome é causada por CTNNB1, em 15% dos tumores, mas existe uma grande perda de genes localizados na região 11p15 que tem sobreposição com as mutações no gene WT1. Assim, expressão preferencial de acordo com a origem parental. mutações em ambos os genes são responsáveis por cerca de Somente os alelos vindos da mãe são expressos e a perda 15% dos tumores. dos alelos maternos causa a doença. Nesta região tem um macroglossia, visceromegalias, hemihipertrofia e Classicamente, o gene WT1 é considerado um gene gene denominado IGF2, responsável pelo crescimento e supressor de tumor que participa da tumorigênese quando proliferação celular. A alta freqüência de tumores de Wilms ocorre perda de heterozigose, com perda de função de associados a esta síndrome fez com que um novo lócus para ambos os alelos. No entanto, somente 40% dos tumores tumor de Wilms fosse descrito, o WT2, nesta região. Até apresenta perda de heterozigose, e nos que não apresentam 70% dos tumores de Wilms exibem perda do imprinting de GETH Newsletter 2008 Volume 06 Número 16 Genética dos Tumores de Wilms IGF2, com reativação do alelo que deveria estar silenciado. É proposto rastreamento para detecção precoce de A síndrome de Li-Fraumeni é uma síndrome de alterações nos pacientes que apresentam risco de tumor de predisposição hereditária ao câncer causada por mutações Wilms maior que 5%. Este rastreamento deve-se iniciar após germinativas no gene TP3 e pode cursar com tumor de avaliação genética e consiste de ultrassonografia renal a cada Wilms. Nas famílias Li-Fraumeni com tumor de Wilms, 3 ou 4 meses até os 5 anos de idade, exceto nas síndromes de as mutações sempre foram do tipo alterações de emenda. Beckwith-Wiedeman, Simpson-Golabi-Behmel e tumor Este mesmo gene é encontrado mutado em menos de 5% de Wilms familair, mantido até os 7 anos de idade. Pode dos tumores de Wilms esporádicos, mas conferem um grau ser feito em centro local, desde que por ultrassonografista maior de anaplasia e pior prognóstico. experiente em pediatria, mas as alterações manejadas em Existe um número grande de síndromes associadas ao tumor de Wilms, mas em muitos casos são síndromes raras com só um paciente descrito com tumor de Wilms. Síndromes com freqüência maior têm muito poucos casos descritos e as séries de revisão não mostram aumento do risco. Na tabela abaixo, as síndromes associadas ao tumor de Wilms são classificadas de acordo com o risco. Tabela 1 – Risco para tumor de Wilms nas síndromes Risco alto (>20%) Risco moderado (5-20%) Risco baixo (<5%) Deleções WT1 WAGR Mutações WT1 – DenysDrash Mutação emenda íntron 9 WT1 Frasier Hemihipertrofia isolada Bloom Perlman Mosaico de aneuploidias variadas Anemia de Fanconi subgrupo D1 Beckwith-Wiedeman SimpsonGolabi-Behmel Hemihipertrofia Li-Fraumeni Hiperparatireoidismotumor mandibular Nanismo de Mulibrey Trissomia 13 e 18 centro especializado. O aconselhamento genético auxilia na identificação dos casos sindrômicos. Bibliiografia Rivera MN, Haber DA.Wilms´ tumour: connecting tumorigenesis and organ development in the kidney. Nat Rev Cancer 2005;5:699-712. Rivera MN, Kim WJ, Wells J, Driscoll DR, Brannigan BW, Han M et al.An X chromosome gene, WTX, is commonly inactivated in Wilms tumor. Science 2007; 315: 642-5. Scott RH, Stiller CA, Walker L, Rahman N. Syndromes and constitutional chromosomal abnormalities associated with Wilms tumour. J Med Genet 2006;43:705-15. 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