Série de reportagens
Transcrição
Série de reportagens
38 SÁBADO E DOMINGO 14 e 15 de dezembro de 2013 REPORTAGEM REPORTAGEM SÁBADO E DOMINGO 14 e 15 de dezembro de 2013 39 Gazeta do Sul 1 Gazeta do Sul PA R TE HERANÇA ESQUECIDA 3 mil toneladas a cada 24 horas Série de reportagens mostra que produção e descarte crescem sem controle, enquanto a reciclagem desafia a sociedade Fotos: Rodrigo Assmann O tempo passa, ele fica No mundo US$ 40 bilhões Pela usina de triagem de Santa Cruz do Sul passam diariamente mais de 80 toneladas de materiais recolhidos no município do Vale do Rio Pardo, localizado na área central do Rio Grande do Sul, são geradas 62,8 mil toneladas de lixo por ano. Santa Cruz do Sul, o principal polo econômico da região, que deve chegar aos 124,5 mil habitantes uando a tecnologia do vinil ainda era conside- até o fim deste ano, considerando a estimativa do Instirada uma novidade, nos anos 1950, Elvis Pres- tuto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), joga ley se consagrou como um astro da música quase 82 mil quilos de restos por dia no lixo. Até 2050, ao ter os seus álbuns entre os mais vendidos quando a população atingirá 134 mil, cada santa-cruzense deverá descartar 1,6 quilo de rejeida década. Mais de meio século deto diariamente. Atualmente, a média pois, o rei do rock não está entre nós O descarte se multiplica em é de 640 gramas. Depois que sai das há 36 anos, o inventor do vinil, Horesidências, a maior parte dos resíduward Scott, morreu no ano passado, equação incalculável. Somente os percorre um caminho que subutia popularidade de um artista já não no território do Vale do Rio liza o que foi descartado. pode mais ser medida pela vendagem Pardo, são geradas 62,8 mil A reciclagem ainda encontra poude discos e o vinil se tornou um arti- toneladas de lixo por ano co espaço no Brasil. Por aqui, apego quase obsoleto. Você já pensou no nas 13% dos resíduos sólidos urbaque aconteceu com os discos que fonos são encaminhados para reutiliram parar nas lixeiras? Possivelmente, nada. Como a maioria dos resíduos que produzimos, zação, segundo o Ministério do Meio Ambiente. O reo plástico com o qual é fabricado o vinil precisa de cem aproveitamento dos materiais descartados também é tíanos para se decompor. Ou seja, boa parte do material mido no Vale do Rio Pardo. Os 23 municípios da redescartado desde a época em que Elvis ainda nem so- gião, que encaminham seus resíduos ao aterro do município de Minas do Leão, produzem juntos 5,2 mil tonhava ser cantor ainda não se decompôs. Dos anos dourados até aqui, a produção, o consumo e, neladas de lixo por mês. Embora essa quantidade paspor consequência, o descarte de resíduos se multiplica- se por triagem antes de ser encaminhada ao destino firam. Uma conta que soma a cada ano mais 1,4 bilhão de nal em 18 municípios, a imensa maioria desse material toneladas produzidas no mundo. Somente no território não é reaproveitada. é o valor que seria necessário em investimentos para estender a coleta de lixo à metade da população mundial que hoje não conta com esse serviço, segundo um estudo realizado pela International Solid Waste Association (Iswa) – Associação Internacional de Resíduos Sólidos. Esse grupo está concentrado em países da África, do sudeste asiático e da América Latina. Jeniffer Gularte e Letícia Mendes [email protected] [email protected] Q A c oleta Na maioria dos municípios do Vale do Rio Pardo, a coleta de lixo é feita três vezes por semana na área urbana. No interior, muitas localidades têm seus resíduos recolhidos apenas uma vez ao mês. É o caso de Candelária, Mato Leitão e Estrela Velha. Em cidades como Santa Cruz do Sul, Rio Pardo, Vera Cruz e Sobradinho, existe a coleta seletiva em alguns bairros, onde catadores recolhem nas residências materiais que podem ser reciclados. A iniciativa, embora mostre a face de uma realidade que começa a mudar, ainda é frágil diante da produção diária de lixo. Em média, o lixo que sai da sua casa demora de 24 a 48 horas para atravessar os portões da Central de Resíduos do Recreio. Localizado em Minas do Leão, município a 80 quilômetros de Porto Alegre, o maior aterro sanitário do Estado é o principal destino dos dejetos produzidos na região. Em uma área de 500 hectares, circulam cerca de 80 cargas por dia. A central recebe 3 mil toneladas a cada 24 horas, originárias dos 140 municípios gaúchos atendidos. Por mês, são 90 mil toneladas de resíduos sólidos urbanos que chegam ao local, o que não inclui lixo hospitalar e industrial. Pertencente à Companhia Riograndense de Valorização de Resíduos (CRVR), a Central de Resíduos do Recreio está localizada em uma cava gerada pela mineração de carvão. Os rejeitos são enterrados em um terreno com 70 metros de profundidade que, antes de recebê-los, é impermeabilizado com três camadas de argila compactada, colocada entre uma camada de areia e outra de polietileno. O ob- Os resíduos são enterrados em um terreno com 70 metros de profundidade que, antes de recebê-los, é impermeabilizado jetivo é fazer com que o material não entre em contato com o solo. O chorume, líquido originado da decomposição do lixo, é canalizado é transferido a uma estação de tratamento e posteriomente usado para lavagem de carvão. Do local onde os resíduos são enterrados, 14 mil metros de tubos sugam biogás, que gera energia ao próprio aterro. “Antigamente tinha-se o conceito de um depósito permanente de resíduos, que não se usaria mais. De um tempo para cá, passou-se a enxergar o aterro como uma reserva energética”, explica o gerente comercial da CRVR, Antônio Saldanha Nunes. SEGUNDA-FEIRA Uma sonhadora vive na usina de triagem de Santa Cruz Em uma área de 500 hectares, a Central de Resíduos do Recreio é o maior aterro sanitário do Rio Grande do Sul. Você sabe quanto produz?* 2,4 mil toneladas SANTA CRUZ DO SUL 124.577 19,2 quilos/hab 230 toneladas SOBRADINHO 14.861 15,4 quilos/hab 750 toneladas VENÂNCIO AIRES 69.154 10,8 quilos/hab * Produção de toneladas por mês, número de habitantes por município e quantidade mensal de lixo produzido por habitante. 270 toneladas VERA CRUZ 25.338 10,6 quilos/hab 360 toneladas RIO PARDO 38.861 9,2 quilos/hab 240 toneladas CANDELÁRIA 31.334 7,6 quilos/hab 60 toneladas SINIMBU 10.390 5,7 quilos/hab 50 toneladas VALE DO SOL 11.563 4,3 quilos/hab 16 toneladas GRAMADO XAVIER 4.168 3,8 quilos/hab 20 toneladas PANTANO GRANDE 10.029 1,9 quilos/hab 12 REPORTAGEM REPORTAGEM SEGUNDA- FEIRA 16 de dezembro de 2013 SEGUNDA- FEIRA 16 de dezembro de 2013 Gazeta do Sul 2 Gazeta do Sul Bruno Pedry Central que faz triagem diária dos resíduos de Santa Cruz do Sul é comandada por grupo cooperativado de catadores Fotos: Rodrigo Assmann PA R TE PARA QUEM TEM CORAGEM Há nove anos trabalhando como catadora, Ângela acompanhou a conquista da autonomia em um trabalho que anima poucos Uma sonhadora vive na usina Jeniffer Gularte e Letícia Mendes [email protected] [email protected]  ngela Maria Nunes, 46 anos, caminha pela usina de triagem de resíduos de Santa Cruz do Sul como se estivesse em casa. E, de certa forma, está. A luta pelo reconhecimento dos catadores como parte fundamental do processo de reciclagem exige esforços. Até mesmo deixar a própria casa de lado. O trabalho na cooperativa de catadores também não é fácil. Ainda assim, para quem sabe o que é fome, defender algo que lhe permite pagar as contas no fim do mês, e ao mesmo tempo auxilia na preservação ambiental, é como viver um sonho. A forma impositiva como fala e gesticula lhe rendeu o título de Sargentão. “Me chamam assim, mas não vivem sem mim”, diz ela se referindo às colegas. Apesar de garantir que não quer O lixo para mim não é lixo, é uma joia. É dele que consigo tirar o alimento para os meus filhos Ângela Maria Nunes Catadora destaque, o apelido não a incomoda. Para quem já apanhou da vida, é quase uma honra. Ângela, que é uma das mais antigas associadas da cooperativa, divide a esteira de triagem com outras dez mulheres. São 22 mãos que tentam frear um descarte diário de quase 82 toneladas de lixo no município. A rotatividade de trabalhadores é alta. Alguns trabalham um dia e desistem. Quem fica precisa ser ágil. No mês passado, as catadoras conseguiram 40 toneladas de materiais recicláveis. Uma quantidade que poderia ser maior se as pessoas fizessem o descarte de forma correta. O material que está em contato com o lixo orgânico não pode ser aproveitado. Além do que é retirado da esteira, a cooperativa trabalha com resíduos doados por empresas e com a coleta seletiva. Da venda desse material depende o salário dos catadores. Na usina são 33 e no pavilhão onde funciona a coleta seletiva, mais 31. Como a maioria, Ângela se tornou catadora por necessidade. Há nove anos desempregada, apegou-se à oportunidade com a força de quem quer sobreviver. Mãe de dois filhos, ela trabalha junto com o marido Ari Dirceu da Silva, 44 anos. Quando fala da família, se emociona. “O lixo para mim não é lixo, é uma joia. É dele que eu consigo tirar o alimento para os meus filhos”, diz. Filha de uma família de 14 irmãos, ela só estudou até a 4ª série. Mas hoje tem um discurso de quem sabe que precisa defender uma causa. Escorrega pouco nas palavras. Chegar à usina, repassada aos catadores em 2010, representou a conquista de um sonho. O caminhão Ford 1962, comprado com dificuldade pelos trabalhadores nos primeiros anos de atividade, hoje é guardado como uma relíquia. Um símbolo de que eles estão evoluindo. Hoje, a cooperativa conta com mais três veículos. A usina ainda precisa de melhorias. A empilhadeira usada para armanzenar os fardos é alugada. A máquina para triturar pet, que permitirá agregar valor ao produto, precisa ser colocada em funcionamento. A cooperativa espera receber doações de materiais de mais empresas. Outra meta é incluir mais catadores no processo. “O nosso sonho vai voar mais alto”, espera Ângela. AMANHà Histórias de quem vive de um trabalho pouco atrativo 13 REPORTAGEM TERÇA- FEIRA 17 de dezembro de 2013 TE 3 Gazeta do Sul PA R PROFISSÃO: CATADOR Fotos: Rodrigo Assmann Quem carrega o peso da cidade Pai de quatro filhos, Cenildo nem pensa em deixar o trabalho de lado Professor por dez anos, Arceli hoje puxa seu carrinho em Santa Cruz Jeniffer Gularte e Letícia Mendes O [email protected] [email protected] peso do carrinho deixou há mui- seguir uma vaga como catador junto à cooto tempo de ser motivo para di- perativa responsável pela coleta seletiva no ficultar a caminhada de Cenildo município, para a qual trabalham 31 catadodos Santos, 53 anos. O santa-cru- res. A coleta, hoje realizada em nove bairros, zense desce a Rua Venâncio Aires, no Cen- deve dobrar no ano que vem. Arceli faz duas tro de Santa Cruz do Sul, com o embalo de viagens por dia recolhendo os materiais que quem leva a vida, nem sempre fácil, do me- são encaminhados para a triagem. “O peso lhor jeito que pode. E, para ela, reserva seu da carrocinha é o pior”, diz. Apesar das difisorriso largo. A poucas quadras dali, Arceli culdades, ele afirma que não trocaria a prodos Santos Garcia, 51 anos, também puxa seu fissão pela de professor. A vida o transforcarrinho pela Marechal Deodoro. Para quem mou. “Eu tinha que ter estudado mais. Acho começou na profissão há pouco mais de um que não era pra mim”, conforma-se. mês, a carga pesada ainda faz Diferente de Arceli, Não tem como parar. Cenildo sabe muito bem o suor escorrer no rosto com A gente ganha muita o que quer. Quando mefacilidade. Às vezes é preciso parar para descansar. Em coisa boa. E eu também nino, não gostava da esmeio à rua quase sempre lo- conheço muita gente cola. “Só queria moletada de carros com os quais cagem”, lembra entre ridividem espaço, os dois casos. Deixou o colégio na tadores passam quase des5ª série. O estudo fez falCenildo dos Santos percebidos. ta na hora de procurar Arceli e Cenildo não têm Catador emprego. Acabou trabaem comum apenas os sobrelhando como operário na nomes. Nascidos em famílias humildes, pre- construção, mas não era o que queria. Há cisaram buscar alguma forma de se susten- 22 anos, começou a puxar seu carrinho em tar. Natural de Sobradinho, Arceli conseguiu busca de materiais recicláveis e não parou com esforço completar os estudos. Com pou- mais. “Adoro a minha profissão”, diz o caco mais de 20 anos, inscreveu-se em um con- tador que, apesar do sorriso constante, não curso municipal para ser professor. Na peque- é de muitas palavras. na escola, da qual não recorda mais o nome, Pai de quatro filhos pequenos, percorre diz ter passado dez anos de sua vida, no inte- três ruas do município quatro vezes por dia. rior do município. Lecionava para cerca de 30 O itinerário é sempre o mesmo, desde que crianças pela manhã e à tarde. “Dava aula para passou a trabalhar como associado da cooa primeira até a quarta série”, lembra. perativa responsável pela coleta seletiva. O A vida de professor também era castigada. carrinho não para. Descansar, somente aos O salário era baixo, e o trabalho exigia dedi- fins de semana. “Não tem como parar. A cação. Quando se casou, decidiu acompanhar gente ganha muita coisa boa. E eu também a mulher e se mudar para Santa Cruz do Sul. conheço muita gente”, diz. Para o futuro, Pai de dois filhos, hoje Arceli está separa- Cenildo espera apenas poder continuar pudo. Trabalhou como operário nas indústrias e xando seu carrinho pelas ruas. Um pedido em obras. Chegou a retornar para o interior e que carrega a humildade de quem transforse empregar na colheita do tabaco. Até con- ma o mundo sem pedir muito em troca. “É dele que eu vivo” O material reciclável que é recolhido pelos catadores e pelo caminhão da cooperativa é encaminhado para um pavilhão, no Centro de Santa Cruz do Sul. Um grupo de mulheres trabalha na esteira onde são despejados os materiais. Entre elas, duas carregam o mesmo sobrenome de Cenildo e Arceli. Rejane Santos, 51 anos, e Odete dos Santos, 40 anos, dividem espaço ao lado da esteira. As duas também são moradoras do Loteamento Beckenkamp e encontraram na reciclagem uma oportunidade de renda fixa. “Não tenho vergonha. Para mim o lixo é um luxo, porque é dele que eu vivo”, afirma Odete. AMANHà Por que o empresário que se tornou catador faz a diferença no mundo 21 28 REPORTAGEM QUINTA- FEIRA 19 de dezembro de 2013 AMANHà Os recursos que são perdidos com os resíduos que vão parar nas lixeiras Gazeta do Sul PA R TE 5 RASTRO IRRESPONSÁVEL Animais, plantas e até as próprias pessoas sofrem com a poluição provocada por materiais abandonados na natureza Jeniffer Gularte e Letícia Mendes [email protected] [email protected] D Bruno Pedry Quando o descarte é destrutivo ouglas Henrique Ebert não sabe dizer ao certo a última vez em que se refrescou nas águas do Arroio Levis Pedroso, na localidade de Capão da Cruz Oeste, interior de Santa Cruz do Sul. A lembrança mais recente do menino de 11 anos remete a um lugar poluído e fétido onde a quantidade de resíduos descartados chega a camuflar a cor da água. Em meio a garrafas pet, embalagens de vidro, calçados, brinquedos e até capacetes, plantas e animais lutam para continuar vivendo em um hábitat comprometido pela ação humana. Ao ser descartada de forma irresponsável, até mesmo uma boneca, que já foi inofensiva na função de entreter uma criança, se transforma em risco para a natureza. A poluição de rios e arroios do Vale do Rio Pardo é mais comum – e ameaçadora – do que você imagina. O local, que já serviu de ponto de encontro Cenário do Arroio Levis Pedroso reflete situação enfrentada pelos afluentes do Rio Pardinho e diversão, agora atrai a gurizada da localidade que enfrenta a poluição em busca de bolinhas de tênis usadas para jogar taco. A quan- Pardinho, que abastece a cidade – estão contidade e a diversidade de lixo não deixam que taminados pela poluição. Além de ameaçar a 24 milhões os garotos saiam de lá de mãos vazias. “Sem- qualidade da água, os materiais que vão parar de toneladas de pre achei bolinhas, já encontrei seis de uma em rios e arroios dificultam o escoamento em resíduos foram vez”, conta Douglas. dias de chuva, potencializando o descartados em No mesmo arroio, na efeito das enxurradas. É preciso insistir lugares inadequados área onde o lixo ainNo dia 21 de novembro, a precipino ano passado por na conscientização, da não chegou, a famítação de 68 milímetros que atingiu 3 mil municípios lia do menino aprovei- caso contrário estaremos Santa Cruz do Sul em poucas horas brasileiros, segundo a Associação ta para pescar enquan- comprometendo as gerações expulsou moradores de áreas ribeiBrasileira de Empresas de Limpeza to é possível. rinhas a arroios no Bairro ProgresPública e Resíduos Especiais (Abrelpe). O doutor em Ciências so, na Zona Sul da cidade. Após o Esse volume seria suficiente para Biológicas da Universi- Eduardo Lobo temporal, a Prefeitura iniciou uma encher 168 estádios de futebol do dade de Santa Cruz do Biólogo operação de limpeza e retirou, em tamanho do Maracanã. Sul (Unisc), Eduardo um dia, seis cargas de caminhões Lobo, explica que qualcom materiais que estavam reprequer material estranho ao ambiente de um rio sando o fluxo das águas, como galhos de áraltera o equilíbrio do ecossistema e compro- vores, sofás, peças de móveis e eletrodomésmete a cadeia alimentar dos seres vivos. Se- ticos. “É preciso insistir na conscientização, de toneladas de plástico são jogadas nos gundo ele, os quatro arroios de Santa Cruz do caso contrário estaremos comprometendo as oceanos por ano segundo a International Sul – Arroio das Pedras, do Almoço, Levis Pe- gerações futuras, o que é um conceito básico Solid Waste Association (Iswa). droso e Lajeado, todos eles afluentes do Rio de sustentabilidade”, alerta Lobo. 10 milhões SEXTA- FEIRA 20 de dezembro de 2013 REPORTAGEM Gazeta do Sul A SÉRIE Publicadas desde o final de semana, seis reportagens mostraram os desafios para o descarte adequado do lixo doméstico. 38 SÁBADO E DOMINGO 14 e 15 de dezembro de 2013 REPORTAGEM RT E1 Gazeta do Sul PA HERANÇA ESQU mostra que produção e descarte crescem Fotos: Rodrigo Assmann Série de reportagens O tempo passa, REPORTAGEM ECIDA sem controle, enquanto a reciclagem ele fica 3 mil toneladas a cada 24 horas desafia a sociedade bilhões Pela usina de triagem de Santa Cruz do Sul passam diariamente mais Jeniffer Gularte de 80 toneladas e Letícia Mendes [email protected] m.br leticia.mendes@gazeta dosul.com.br de materiais recolhidos é o valor que seria necessário em investimentos para estender a coleta de lixo à metade da população mundial que hoje não conta com esse serviço, segundo um estudo realizado pela International Waste Association Solid (Iswa) – Associação Internacional de Resíduos Sólidos. Esse grupo está concentrado em países da África, no município do sudeste asiático do Vale do Rio e da América Grande do Sul, Pardo, localizado na área central Latina. por ano. Santa são geradas 62,8 mil toneladas do Rio uando a tecnologia Cruz do Sul, de lixo rada uma novidade, do vinil ainda era conside- co da região, que deve chegaro principal polo econômiaos 124,5 mil ley se consagrou nos anos 1950, Elvis Pres- até o fim deste ano, considerando habitantes tuto Brasileiro como um astro a estimativa do ao ter de A coleta da da década. Mais os seus álbuns entre os mais música quase 82 mil quilosGeografia e Estatística (IBGE),Instivendidos quando de restos joga pois, o rei do rockde meio século dea população atingirá por dia no lixo. Até 2050, Na maioria dos não está entre nós municípios 134 mil, há 36 anos, o inventor do Vale do Rio se deverá descartarcada santa-cruzenPardo, a coleta do vinil, Ho- O descarte se multiplica ward Scott, morreu de lixo é feita 1,6 quilo de rejeiem to diariamente. três no ano passado, equação incalculável. a popularidade semana na área vezes por de um artista já é de 640 gramas.Atualmente, a média Somente pode mais ser medida não no território do interior, muitas urbana. No Depois que sai residências, a maior Vale das localidades pela vendagem de discos e o vinil têm seus resíduos parte dos resíduPardo, são geradas do Rio os percorre um recolhidos go quase obsoleto. se tornou um articaminho que subutiapenas uma toneladas de lixo 62,8 mil liza o que foi descartado. vez ao mês. Você já pensou que aconteceu É no o caso de Candelária, por ano com os discos A reciclagem Mato que foram parar nas lixeiras? Leitão e Estrela co espaço no ainda encontra pouVelha. Em Possivelmente, nada. Como Brasil. cidades como nas 13% dos resíduosPor aqui, apeSanta Cruz do o plástico com a maioria dos resíduos que produzimos, Sul, Rio Pardo, sólidos o qual é fabricado Vera Cruz e zação, segundo nos são encaminhados para urbaanos para se decompor. o vinil precisa Sobradinho, o Ministério do reutiliexiste a coleta de cem aproveitamento Ou seja, boa parte descartado desde Meio seletiva em Ambiente. do dos alguns bairros, nhava ser cantor a época em que Elvis ainda material mido no Vale do materiais descartados tambémO reonde catadores Rio ainda nem so- gião, Dos anos dourados não se decompôs. que encaminhamPardo. Os 23 municípios daé tínas residências recolhem reseus resíduos materiais nicípio de Minas por consequência, até aqui, a produção, o consumo que podem ser do Leão, produzem ao aterro do mureciclados. A e, neladas de ram. Uma conta o descarte de resíduos se iniciativa, embora juntos 5,2 mil lixo por multiplica- se que soma a cada tomostre a toneladas produzidas por triagem antesmês. Embora essa quantidade ano mais face de uma realidade que de ser encaminhada pasno mundo. Somente 1,4 bilhão de nal em 18 começa a mudar, municípios, ao destino fino território ainda não é reaproveitada. a imensa maioria desse diante da produção é frágil material diária Q Os resíduos são enterrados em um terreno com 70 profundidade que, metros de antes de recebê-los, é impermeabilizad o SEGUNDA-FEIRA Uma sonhadora vive na usina de triagem de Santa Cruz Você sabe quant o produz?* 2,4 mil toneladas SANTA CRUZ DO SUL 124.577 19,2 quilos/hab * Produção de toneladas por mês, número 230 toneladas SOBRADINHO 14.861 15,4 quilos/hab de habitantes por município e quantidade 750 toneladas VENÂNCIO AIRES 69.154 10,8 quilos/hab mensal de lixo produzido por 270 toneladas VERA CRUZ 25.338 10,6 quilos/hab habitante. 39 jetivo é fazer com entre em contato que o material não com o solo. O rume, líquido originado choda decomposição do lixo, é canalizado é transferido a uma estação de tratamento posteriomente usado para lavageme de carvão. Do local onde os resíduos são enterrados, 14 mil metros de tubos sugam biogás, que gera energia ao próprio aterro. “Antigamente ceito de um depósito tinha-se o conpermanente resíduos, que não se usaria mais. de um tempo para De cá, gar o aterro como passou-se a enxertica”, explica o uma reserva energéCRVR, Antôniogerente comercial da Saldanha Nunes. de lixo. SÁBADO E DOMINGO 14 e 15 de dezembro de 2013 Gazeta do Sul Em média, o lixo que sai da sua casa demora de 24 a 48 sar os portões da horas para atravesCentral de Resíduos do Recreio. Localizado em Minas do Leão, município Porto Alegre, o a 80 quilômetros de maior do Estado é o principal aterro sanitário destino dos dejetos produzidos na Em uma área de região. lam cerca de 80 500 hectares, circucargas por dia. tral recebe 3 mil A cenhoras, originárias toneladas a cada 24 dos 140 municípios gaúchos atendidos. Por mês, são 90 mil toneladas de banos que chegamresíduos sólidos urao local, o que inclui lixo hospitalar não e industrial. Pertencente à Companhia Riograndense de Valorização de Resíduos (CRVR), a Central de Resíduos do Recreio está localizada gerada pela mineração em uma cava rejeitos são enterrados de carvão. Os em um terreno com 70 metros de antes de recebê-los,profundidade que, é impermeabilizado com três camadas de argila compactada, colocada de areia e outra entre uma camada de polietileno. O ob- No mundo US$ 40 Em uma área de 500 hectares, a Central de Resíduos do Recreio é o maior aterro sanitário do Rio Grande do Sul. 360 toneladas RIO PARDO 38.861 9,2 quilos/hab 240 toneladas CANDELÁRIA 31.334 7,6 quilos/hab 60 toneladas SINIMBU 10.390 5,7 quilos/hab 50 toneladas VALE DO SOL 11.563 4,3 quilos/hab 16 toneladas GRAMADO XAVIER 4.168 3,8 quilos/hab 20 toneladas PANTANO GRANDE 10.029 1,9 quilos/hab 14 e 15 de dezembro: a produção desenfreada 12 REPORTAGEM Gazeta do Sul PARA QUEM TEM PA RT E2 SEGUNDA-FEIRA 16 de dezembro de 2013 triagem diária dos resíduos de Santa Cruz do CORAGEM Sul é comandada REPORTAGEM por grupo cooperativado SEGUNDA-FEIRA 16 de dezembro de 2013 13 Gazeta do Sul de catadores Fotos: Rodrigo Assmann Bruno Pedry Central que faz Há nove anos como catadora, trabalhando Ângela acompanhou a conquista da autonomia em um trabalho que anima poucos Uma sonhadora vive na usina Jeniffer Gularte e Letícia Mendes jeniffer@gazetadosul. com.br leticia.mendes@gazeta dosul.com.br  mês passado, as ram 40 toneladascatadoras conseguiFilha de uma família ngela Maria Nunes, de materiais recicláveis. Uma quantidade de 14 irmãos, ela caminha pela usina 46 anos, que pode- temsó estudou até a 4ª série. Mas hoje ria ser maior se O lixo para mim um as gem de resíduos de trianão é descarte de forma pessoas fizessem o precisa discurso de quem sabe que de Santa lixo, é uma joia. defender uma causa. Cruz correta. O material É dele que está em contato vesse em casa. do Sul como se esti- que consigo Escorrega pouco nas palavras. E, de certa forma, tirar o alimento nico não pode ser com o lixo orgâ- na, repassada Chegar à usiA luta pelo reconhecimento está. para os meus filhos do que é retirado aproveitado. Além representou aos catadores em 2010, dos catadores como parte fundamental do rativa trabalha da esteira, a coope- O caminhãoa conquista de um sonho. cesso de reciclagem procom resíduos doados Ford 1962, comprado por empresas e Até mesmo deixar exige esforços. Ângela Maria Nunes com a coleta seleti- com dificuldade pelos a própria casa va. Da venda desse trabalhadores lado. O trabalho de Catadora material depen- nos primeiros anos de atividade, de o salário dos tadores também na cooperativa de cahoje catadores. Na usina é guardado como uma são 33 e no pavilhão relíquia. Um sim, para quem não é fácil. Ainda as- destaque, sabe o que é fome, onde funciona símbolo de que eles estão evoluindo. o apelido não fender algo que Hoje, a cooperativa de- Para a incomoda. a coleta seletiva, mais 31. conta com mais Como a maioria, contas no fim do lhe permite pagar as se quem já apanhou da vida, é Ângela se tor- três veículos. uma honra. Ângela, quamês, e ao mesmo po auxilia na preservação temA usina ainda que é uma das nou catadora por necessidade. nove anos desempregada, ambiental, é mais antigas associadas da cooperativa, Há A empilhadeira precisa de melhorias. como viver um divide a esteira sonho. usada apegou-se à oportunidade para armanzede triagem A forma impositiva nar os como fala e ges- dez mulheres. São 22 mãos com outras quer sobreviver.com a força de quem para fardos é alugada. A máquina ticula lhe rendeu triturar pet, que que tentam frear um descarte permitirá ela trabalha juntoMãe de dois filhos, gar valor diário de quase “Me chamam o título de Sargentão. neladas com ao produto, precisa agre82 to- Dirceu assim, mas não de lixo no município. sem mim”, diz da Silva, 44 anos.o marido Ari locada em funcionamento. vivem ser coA ela Quando fala rativa da família, se emociona. A coopelegas. Apesar de se referindo às co- alta. rotatividade de trabalhadores espera receber garantir que não Alguns trabalham “O é mim não doações de maquer sistem. é lixo, é uma joia.lixo para teriais de mais empresas. Quem fica precisaum dia e de- que eu consigo É ser ágil. No tirar o alimento dele é incluir mais catadores Outra meta os meus filhos”, para “O nosso no processo. diz. sonho espera Ângela. vai voar mais alto”, AMANHà Histórias de quem vive de um trabalho pouco atrativo 16 de dezembro: o momento da triagem REP ORTAGE M PA R TE 3 Gazeta do Sul Assmann Fotos: Rodrigo TERÇA-FEIR A 17 de dezembro de 2013 21 PROFISSÃO: CAT ADOR Quem carrega o peso da cidad e Pai de quatro filhos, Cenildo nem pensa em Jeniffer Gularte O jeniffer@gazet adosul.com.br deixar o trabalho de lado Professor por e Letícia Mendes dez anos, Arceli hoje puxa seu leticia.mendes@ gazetadosul.com carrinho em Santa Cruz .br peso do carrinho to tempo de ser deixou há mui- seguir uma vaga como catador motivo para dificultar a caminhada perativa responsável junto à coode Cenildo pela coleta dos Santos, 53 anos. O santa-cru- município, para a qual trabalham seletiva no O material reciclável zense desce a Rua res. A coleta, hoje 31 catadoque é recolhido catadores e pelo tro de Santa Cruz Venâncio Aires, no Cenpelos caminhão da cooperativa deve dobrar no realizada em nove bairros, encaminhado ano que vem. Arceli quem leva a vida, do Sul, com o embalo de é para um pavilhão, viagens por dia faz duas Cruz do Sul. Um no recolhendo os lhor jeito que pode.nem sempre fácil, do megrupo de mulheres Centro de Santa materiais que são encaminhad E, para ela, reserva esteira onde são trabalha na sorriso largo. A despejados os seu da carrocinha os para a triagem. “O peso poucas quadras duas carregam materiais. Entre é o pior”, dos Santos Garcia, dali, o mesmo sobrenome elas, 51 anos, também Arceli culdades, ele afirma diz. Apesar das difiArceli. Rejane de Cenildo e carrinho pela Marechal Santos, 51 anos, puxa seu fissão que e Odete dos Santos, 40 anos, dividem pela de professor. não trocaria a procomeçou na profissão Deodoro. Para quem espaço ao lado A vida mou. o também são moradoras transforda esteira. As “Eu há pouco mais mês, a carga pesada duas de um que não tinha que ter estudado mais. do Loteamento e encontraram ainda faz Acho era pra mim”, Beckenkamp na o suor escorrer conforma-se. renda fixa. “Não reciclagem uma oportunidad no rosto com Não tem como e de tenho vergonha. facilidade. Às vezes Diferente de um parar. Para luxo, Arceli, mim é preciporque é dele so parar para descansar. Cenildo A gente ganha que eu vivo”, afirma o lixo é muita o que sabe muito bem Odete. Em coisa meio à rua quase boa. E eu também quer. Quando tada de carros sempre lo- conheço nino, não gostava mecom os quais muita gente dividem espaço, cola. “Só queria da estadores passam os dois cacagem”, lembra molequase despercebidos. sos. Deixou o entre ricolégio Cenildo dos Santos na 5ª série. O estudo Arceli e Cenildo em comum apenas não têm Catador ta na hora de fez falprocurar nomes. Nascidos os sobreemprego. Acabou trabacisaram buscar em famílias humildes, preconstrução, mas lhando como operário na alguma forma de tar. Natural de Sobradinho, Arceli se susten- 22 anos, começounão era o que queria. Há com esforço completar conseguiu busca a puxar seu carrinho de materiais recicláveis os estudos. Com em co mais de 20 anos, pou- mais. “Adoro e não parou inscreveu-se em a minha curso municipal um con- tador para que, apesar do profissão”, diz o cana escola, da qual ser professor. Na pequesorriso constante, é de muitas palavras. não recorda mais não diz ter passado o nome, dez Pai de quatro rior do município. anos de sua vida, no intefilhos pequenos, três Lecionava para crianças pela manhã cerca de 30 O ruas do município quatro vezespercorre itinerário é sempre e à tarde. “Dava por dia. a primeira até a aula para passou o quarta a trabalhar como mesmo, desde que A vida de professor série”, lembra. associado da cooperativa responsável O salário era baixo, também era castigada. carrinho não para. pela coleta seletiva. O e o trabalho cação. Quando se casou, decidiu exigia dedi- fins de semana. Descansar, somente aos a mulher e se mudar acompanhar gente ganha muita“Não tem como parar. A Pai de dois filhos, para Santa Cruz do Sul. coisa boa. E eu conheço muita gente”, diz. Para também do. Trabalhou comohoje Arceli está separaCenildo espera o futuro, apenas poder continuar em obras. Chegou operário nas indústrias e xando seu carrinho puse empregar na a retornar para o interior e pelas ruas. Um AMANHà que carrega a humildade colheita do tabaco. pedido Por que o empresário Até con- ma de quem transforo mundo sem pedir muito em catador faz a diferençaque se tornou troca. “É dele que eu vivo” no mundo 17 de dezembro: quem faz a coleta REP ORTAGE M 3 Gazeta do Sul QUARTA-FEI RA 18 de dezembro de 2013 PA R TE RECICLAGEM QUE VIRA NEGÓCIO Rodrigo Assmann Nilton Drochner trocou a vida de empresário para trabalhar com materiais que não têm utilidade à maioria das 17 pessoas AMANHà As consequências do descarte irresponsável dos resíduos na natureza Jeniffer Gularte e Letícia Mendes jeniffer@gazet adosul.com.br leticia.mendes@ N gazetadosul.com ão há dúvidas de .br faz a diferença que Nilton Drochner volume no camiseta feita de mundo. A frase na do no de material que agora fica tecido feito com porta-malas da acomodarafa pet gar- do veículo kombi. Na companhia vida do homem e algodão sintetiza a opção Volkswagen branco, de de 54 anos, que vida de empreiteiro há 14 trocou a escolas públicas e particulares percorre 25 O sonho de jovens de obras e gião, além de toda trabalhar com empreendedores o recolhimento empresário para merciais. de fábricas e estabelecimentosa rede reciclagem. Quando de materiais para Convicto coCruz do Sul permite Santa de, faz todo o serviçoda importância da atividamaioria das pessoas, perdem a utilidade para que todos os meses 300 sozinho – coleta, toneladas plástico e eletrônicos itens de alumínio, papel,a e entrega ao reciclador triagem de garrafas pet, – e admite ter dade para achar passam que teriam a dar trabalho – dificulmão de obra a como destino o e render negófim de dividir lixo, cios – para Drochner. as tarefas. “Existe Meu trabalho é ser reaproveitada possam Por seum mercado isso: s. A Clean mana, ele recolhe enorme Plast, criada há e pessoal desconhetrabalhar com pouco mais ladas de resíduos quatro toneaquilo ce. E meu otrabalho de dez anos, é responsável vadas e vendidas que são le- que as pessoas não balhar com aquilo é isso: trapor transformar que as pesmensalmente de reciclagem em centrais sabem que rende soas não 6 milhões sabem em Lajeado e de unidades, adquiridas Porto Alegre. do as pessoas que rende. Ajureciclagem de de empresas de que diversos pontos O engajamento te não sabem ou simplesmendo Estado, prima para outras indústrias. Comercializaem matérianer em reaproveitar de Droch- Nilton Drochner incomodar com não querem se triturado, aquilo conhecido como o material isso.” que Reciclador a maioria dispensa flake (flocos, em O negócio sempre para indústrias quase foi inglês), que produzem deu tão abruptamente interrompido certo que conseguiu embalagens e produtos, como outros tecidos de poliester. ajudar a pahá quase As sequelas de Segundo um dos um acidente vasculardois anos. ção, Turismo gar as faculdades de Administra(AVC) o deixaram e Publicidade cerebral Kollett, 35 anos, proprietários, o contador Adriano a vontade de abrir e mais de um ano seis meses longe do volante as três filhas. Os reflexos e Propaganda para surgiu ainda durante um negócio do trabalho, no com a kombi, massem conseguir escrever. Ficou tanto, não se limitam à a universidade. enreciclagem de família. A importância Na época, a garrafa va para carregar vendeu o caminhão que usa- da reciclagem é repassada ele passou a pesquisarpet estava em evidência. a alunos em palesAssim, o acidente seria materiais por estar certo de que tras nas escolas. Para Drochner, junto com engenheiro de o começo de uma produção Juliano o atual sócio, o forçada. Persistente, aposentadoria o conceito de lixo seja reavaliado é preciso que sobre o plástico. Oliveira, 35 anos, adotou uma nova ração. Aliás, faz pela Quando nova exercícios e alimentação a geempresa iniciou rotina com seja questão eram processadas a operação, saudável usada em referência de que a palavra não lego necessário entrada de outras 100 toneladas por mês. Mas ao material que para retornar a e ganhou o fô- leta e encaminha com a empresas no mercado, atividade. ele coVoltou ao trabalho, ampliar a capacidade. foi necessário Drochner que, para reciclagem. Está claro mas adequou de coleta. Deixou “A demanda além a as fontes Muitos da aumentou bastante. possibilidade de produtos são fabricados de atender residências, os resíduos que minuiu a quantidade reuso, já com prima, inclusive de clientes e aumentoudi- para a maioria se deixaram se ser necessários a própria garrafa”, essa matériatransformam em Clean Plast, no afirma Adriano. o de um ciclo combustível entanto, hoje enfrenta A de emprego e garrafas pet, que a escassez das renda. tiveram 6 milhões de garrafa s pet trituradas por mês elevação no valor. 18 de dezembro: reciclagem que vira negócio 28 QUINTA-FEIR A 19 de dezembro de REP ORTAGE M 2013 Os recursos que são perdidos com resíduos que vão os parar nas lixeiras AMANHà TE 5 Gazeta do Sul PA R RASTRO IRRESPO NSÁVEL Animais, plantas e até as próprias pessoas sofrem Quando o descar te é e Letícia Mendes Bruno Pedry Jeniffer Gularte com a poluição jeniffer@gazet adosul.com.br leticia.mendes@ gazetadosul.com .br D provocada por materiais abandonado s na natureza destrutivo ouglas Henrique Ebert não sabe zer ao certo a última direfrescou nas águas vez em que se do Arroio Levis Pedroso, na localidade de pão da Cruz Oeste, CaSul. A lembrança interior de Santa Cruz do 11 anos remete mais recente do menino de a um lugar poluído onde a quantidade e fétido chega a camuflar de resíduos descartados a cor da água. garrafas pet, embalagens Em meio a de vidro, brinquedos e até capacetes, plantas calçados, lutam para continuar e animais vivendo em um tat comprometi hábidescartada de do pela ação humana. Ao ser forma irresponsáve mo uma boneca, l, até mesção de entreter que já foi inofensiva na funuma risco para a natureza.criança, se transforma em A poluição de roios do Vale do rios e are ameaçadora Rio Pardo é mais comum – – do O local, que já que você imagina. e diversão, agora serviu de ponto de encontro de que enfrenta atrai a gurizada da localidaa poluição em Cenário do Arroio nhas de tênis usadas busca de boliLevis Pedroso reflete situação tidade e a diversidadepara jogar taco. A quanenfrentada pelos Pardinho, afluentes do de lixo não deixam os garotos saiam Rio Pardinho que taminados que abastece a cidade – estão de lá de mãos vazias. pre achei bolinhas, pela poluição. conAlém de já encontrei seis “Sem- qualidade da água, vez”, conta Douglas. de uma em os materiais queameaçar a rios e arroios dificultam vão parar No mesmo arroio, 24 milhões área onde o lixo na dias de chuva, o escoamento em É preciso insistir de toneladas potencializando ainde da não chegou, efeito das enxurradas. o resíduos foram a famína conscientização, lia do menino No dia 21 de novembro, aprovei- caso contrário descartados em ta para pescar tação de 68 milímetros a precipiestaremos enquanlugares inadequados que atingiu comprometendo to é possível. Santa Cruz do Sul em poucas no ano passado as gerações horas expulsou moradores por O doutor em Ciências de áreas ribeibrasileiros, segundo3 mil municípios Biológicas da Universirinhas a arroios a Associação Brasileira de Empresas dade de Santa so, na Zona Sul no Bairro ProgresCruz do Eduardo Lobo da cidade. Após de Limpeza Pública Sul (Unisc), temporal, o e Resíduos a Prefeitura Eduardo Biólogo Esse volume seria Especiais (Abrelpe). Lobo, explica que operação de limpeza iniciou uma suficiente para qualencher 168 estádios quer material estranho um dia, seis cargas e retirou, em de futebol do de caminhões ao ambiente de tamanho altera o equilíbrio com materiais do um rio sando Maracanã. do ecossistema o fluxo das águas, que estavam repremete a cadeia e comproalimentar dos como galhos de seres vivos. Se- vores, sofás, peças de móveis gundo ele, os quatro árticos. “É preciso e eletrodomés arroios de Santa Sul – Arroio das Cruz do insistir droso e Lajeado,Pedras, do Almoço, Levis Pe- caso contrário estaremos na conscientização, compromete todos eles afluentes de toneladas gerações futuras, de plástico são o que é um conceito ndo as do Rio de sustentabilid jogadas nos oceanos por ano básico segundo ade”, alerta Lobo. Solid Waste Association a International 10 milhões (Iswa). 19 de dezembro: reflexos da poluição RTE 2 SEXTA-FEIRA 20 de dezembro de 2013 Gazeta do Sul REPO RTAGE M RECURSOS ENTE Santa Cruz envia anualmente para o aterro de Minas do Leão R$ 2,6 Seu dinheiro vai V Jeniffer Gularte RRADOS milhões em materiais que poderiam REPO RTAGE M Tempo de decom Produção vai aumenta r posição x valor SEXTA-FEIRA 20 de dezembro de 2013 Gazeta do Sul ser reciclados para o lixo e Letícia Mendes * jeniffer@gazetadosu l.com.br leticia.mendes@gaze ocê jogaria mais tadosul.com.br lixeira? Esse é de R$ 20 bilhões na lação o santa-cruzense, recuperado todosvalor que poderia ser mil no que deve chegar fim deste ano. os anos caso o aos 124 sil adotasse medidas BraOu seja, o fato para o reaproveitamento mais eficientes de não haver uma dos resíduos descarta- adequada do lixo doméstico separação dos pela população. nomista, consultor O valor, estimado pelo eco- desperdício do qual a maioriaprovoca um imenso da Organização da se dá conta. Das Unidas (ONU), das Nações 81,8 toneladas população não O mundo deverá é autor do livro Sabetai Calderoni, que também estima-se que aproximadamente diárias geradas, descartar em 2050 um 17,42 são de reseria suficiente Os Bilhões Perdidos no Lixo, síduos recicláveis. A grande total de 4 para custear um maioria diz respeibilhões de toneladas ma Bolsa Família ano do progra- O fato de não haver de resíduos por lhões de pessoas – benefício que atende 50 miano. na linha da pobreza. adequada do lixo uma separação Atualmente, são “10 bilhões de 1,4 bilhão doméstico provoca de toneladas. um imenso desperdício Brasil por não dólares por ano são perdidos Além do no reciclar. Daria crescimento populacional, do qual a para pagar a cesta maioria da básica mensal para o aumento do população poder de consumo as famílias não se dá conta tação de habitação”, e mais como um dos principais fatores é apontado alerta Calderoni. uma presCruz do Sul, estimativas na produção. Os para o salto Em Santa dados feitas pelo ambiental e chefe estudo do Internationalfazem parte de um do Departamento engenheiro to a lixo orgânico, Solid Waste Association e Qualidade Ambiental (Iswa). No Brasil, de Controle do cada em fertilizante. que poderia ser transformada Secretaria de Meio Ambiente, 1,1 quilo de resíduos pessoa gera em torno de Saneamento e Municipal Para Calderoni, por dia. A média dade (Semmas), mundial é de Sustentabilias iniciativas diária 1,2 quilos por R$ 2,6 milhões Daniel Stoelben, apontam que vistas como a principal forma municipais são habitante. riais recicláveis são perdidos ao ano com mate- descarte daquilo que poderia de tentar frear o gerar renda. “O tor privado já recicla Leão. Este valor enviados ao aterro de Minas se- tidos mais bastante. do poderia O cla Brasil não recide R$ mais porque as ser distribuído integrantes da prefeituras entre os ção de descarte. 5 milhões no custeio da operacooperativa de O maior volume catadores do mu- de reciclagem. 60% do total não têm centrais nhado nicípio, aplicado ainda é encamitas para qualificarem investimentos de ferramen- é resto de comida que pode do lixo domiciliar cípio ao aterro sanitário. Todos os dias, o munigasta R$ 14,5 mil o trabalho e expandir virar adubo se compostado. Para seletiva, que atualmente for para coletar, transportar que a atende 27,6% da coleta se eu posso fazer algo transportar e enterrar isso aterrar o lixo doméstico. Cada popu177,80. Recursos útil?”, questiona. tonelada custa e Em Santa Cruz R$ que poderiam do Sul, em 2013, gerar renda e reforam inves- duzir o impacto ambiental acabam enterrados. na reciclagem SABETAI CALDERONI veitado. Os municípios podem aproveitar a fração organizada do lixo domiciA legislação está A SÉRIE liar para fazer apertando. adubo, fertiEstamos em uma lizante, podem Publicadas desde aproveitar mudança o final de semana, o plástico para total de mentalidade. seis fazer sacos reportagens mostraram Os plásticos. O lixo lixões até 2014 tem valor têm que ser os desafios para econômico eliminados. No elevadíssimo descarte adequadoo Brasil, isso é uma em forma de revolução produto. lixo doméstico. do central de reciclagem A é que faz essa valorização e evita o aterramento que é um erro muito dar orientação grande. Não e isso não se se deve enterrar o que faz só tem valor econômico. com governo e empresas. Incineração e É uma corresponsabilidade aterramento é . Não é um sozinho equivalente a queimar que Não é uma prova e enterrar dinheiro. ximasvai resolver o problema. As próde sanidade. gerações estão vindo com pensamento em sustentabilidade. Gazeta–Por que 14 e 15 de dezembro: É uma não se deve aterrar doutrina que está na o lixo? O que se produção desenfreada a mídia, no comportamento das deve fazer? empresas. As empresas não podem exportar e vender Calderoni–Porque duto prose não os resíduos têm estão colaborando valor econômico. meio com para levar o lixo Gasta-se dinheiro serão ambiente. As próximas geraçõeso ro. Por que não e recebê-lo no ater- que muito mais conscientes. Espero pegar o lixo e o governo e os formar em algo transútil para a economia? sam praticar e não empresários posGazeta do Sul–O só sonhar com senhor tem uma Lixo enterrado vira chorume mundo melhor. um ligação com as que preE judica o meio questões envolvendo lhor através de ter um mundo mereciclagem, o reaproveitamento a um processo ambiente. Através de comportamento 16 de dezembro: grado envolvendo de parceria inteteriais, que vem de ma- vada o educação, empresa, (PPP), as prefeituraspúblico pri- governo de família, do momento da triagem seu Pode nos contar e ONGs. poderiam um pouco dessa pai. implantar centrais de ria? histó- custo zero. Ela garante reciclagem a Gazeta–Sem aterro, que o investidor cubra 100% o que a gente faria com aquilo do investimento Sabetai Calderoni–Meu que não pode depois as prefeituras e ser reapai foi preso em campo fariam a com- proveitado? pra dos produtos de concentração por um preço Itália, pois era na vilegiado, prisoldado do exército como fertilizantes, Calderoni–Me grego. Ele fugiu energia, diz o que não tijolos, poste... com trinta homens ser reaproveitado? pode pé até a Suíça. a Destes, apenas comida , orgânico, 60% é resto de sobreviveram. três que pode ser Na Suíça trabalhou transformado como cidadão em adubo livre te. Metade disso e fertilizanprimeiros recicladorese foi um dos Não se deve enterrar que atuaram escorrer. Depois é agua e vai no mundo. No o mundo pós-guerra que tem valor papel, plástico tem 30% de havia falta de 17 de dezembro: econômico. vidro, alumínio matéria-prima quem faz e aço. Tudo que e ele buscava no lixo Incineração e a coleta essa matéria-prima. eu aterramento falei pode ser reaproveitado, Ele dizia: ‘Meu equivalente a filho preste atenção: queimar e enterrar é Sobram 10%: lixo de existe até ouro dinheiro. Não banheiro, fralda, no lixo. Chamam é uma prova papel higiênico lixo mas não de de sanidade é lixo. embalagem de shampoo primas preciosas ’ São matériase pasta Esses itens podem de dente. ser descartado. e não material a ir para um gaseificador e virar energia elétrica. Então Gazeta–Em comparação eu com achar nada para não consigo países, como Gazeta– É possível a Holanda, que outros o aterro. é desta- ção que em reciclagem, de lixo? De que reduzir a produGazeta–Como forma? situação do Brasil como o senhor vê a o em relação ao estará a situação senhor acredita que no que dá aos destido lixo, Calderoni–Atravé seus resíduos? s da reutilização, e da reciclagem no futuro?dos resíduos, da logística 18 de dezembro: reversa que Calderoni–O significa reciclagem grande problema que materiais como Calderoni–A reciglagem que vira negócio é a falta de embalagens de centrais de reciclagem. agrotóxicos têm no futuro será integral. Se houvesse produtor. A pet que voltar para o a E mais, a população logística reversa já vai programar tem que ria mais entusiasmada fica- quem completa. As produzir, automóvelvoltar para dústrias com a coleta inseletiva. Hoje vão receber tudo. tem que voltar para quem a população Vai existir a política faz. Isso é fator se sente diminuição traída porque do depósito e de Como separa o lixo retorno. de resíduos em é com carinho e esse lixo acaba casa produtor vai reaproveitar.porque esse Devolve com as garrafas de cerveja. do misturado e recebe a cerveja, sen- carro vai Quem faz o ao então a houvesse central ir para o aterro. Se borracha, aproveitar o vidro, plástico, garrafa não fica nunca com a gente. de reciclagem ferro e metal. Essa mesma município o no do reuso, É política serve produto seria diminuir a geraçãoa política pilhas, baterias, para as reapro- duos de resíde forma simples. tadores. Se cada celulares e compufazer isso hoje município decidisse em um ou dois Gazeta–Investir anos ia conseguir um Hoje a população resultado maravilhoso. em edu19 de dezembro: se cação sente Se é o reflexos uma prefeito não forma traída porque quiser, nunca da poluição separa o lixo zir essa produção? de redu- acontecer. vai Se quiser fazer em casa com mudança, tem que tomar lixo acaba sendo carinho e esse decisão política. Calderoni–É, tribunal está O misturado ao nas escoameaçando prefeitos ir para o aterro las. É muito bom. Isso tem que não têm planos de gestão de resido feito. As crianças ficam síduos. A legislação está apertando. cutucando os pais e co- Estamos em uma mudança brando um comportamento total de mentalidade. Os lixões até mais adequado. 2014 têm que ser eliminados. É preciso No Brasil, isso uma revolução. é 20 de dezembro: bilhões que vão para o lixo . Divulgação/GS ENTREVISTA 20 PA ENTREVISTA ção organizada do lixo domiciliar para fazer adubo, A legislação está apertando. SABETAI CALDERONI fertilizante, podem aproEstamos em uma mudança veitar o plástico para fazer Divulgação/GS total de mentalidade. Os sacos plásticos. O lixo tem valor econômico elevadíslixões até 2014 têm que ser simo em forma de produto. eliminados. No Brasil, isso é uma A central de reciclagem é revolução que faz essa valorização e evita o aterramento que é um erro muito grande. Não se deve enterrar o que tem se faz só com governo e empresas. É valor econômico. Incineração e aterramento é equivalente uma corresponsabilidade. Não é um a queimar e enterrar dinheiro. Não é sozinho que vai resolver o problema. As próximas gerações estão vindo uma prova de sanidade. com pensamento em sustentabilidaGazeta–Por que não se deve aterrar de. É uma doutrina que está na mídia, no comportamento das empresas. As o lixo? O que se deve fazer? empresas não podem exportar e venCalderoni–Porque os resíduos têm der produto se não estão colaborando valor econômico. Gasta-se dinheiro com o meio ambiente. As próximas para levar o lixo e recebê-lo no ater- gerações serão muito mais conscienro. Por que não pegar o lixo e trans- tes. Espero que o governo e os empreformar em algo útil para a economia? sários possam praticar e não só sonhar Lixo enterrado vira chorume que pre- com um mundo melhor. E ter um munGazeta do Sul–O senhor tem uma judica o meio ambiente. Através de do melhor através de comportamento ligação com as questões envolvendo a um processo de parceria público pri- integrado envolvendo educação, emreciclagem, o reaproveitamento de ma- vada (PPP), as prefeituras poderiam presa, governo e ONGs. teriais, que vem de família, do seu pai. implantar centrais de reciclagem a Gazeta–Sem aterro, o que a gente Pode nos contar um pouco dessa histó- custo zero. Ela garante que o invesria? tidor cubra 100% do investimento e faria com aquilo que não pode ser readepois as prefeituras fariam a com- proveitado? Sabetai Calderoni–Meu pai foi pre- pra dos produtos por um preço priCalderoni–Me diz o que não pode so em campo de concentração na Itá- vilegiado, como fertilizantes, energia, ser reaproveitado? 60% é resto de lia, pois era soldado do exército grego. tijolos, poste... comida, orgânico, que pode ser transEle fugiu com trinta homens a pé até a Suíça. Destes, apenas três sobreviveGazeta– É possível reduzir a produ- formado em adubo e fertilizante. Metade disso é água e vai escorram. Na Suíça trabalhou como cidarer. Depois tem 30% de papel, dão livre e foi um dos primeiros replástico vidro, alumínio e aço. cicladores que atuaram no mundo. Não se deve enterrar o Tudo que eu falei pode ser reNo mundo pós-guerra havia falta que tem valor econômico. aproveitado, Sobram 10%: lixo de matéria-prima e ele buscava no Incineração e aterramento é de banheiro, fralda, papel higilixo essa matéria-prima. Ele dizia: equivalente a queimar e enterrar ênico embalagem de shampoo ‘Meu filho preste atenção: existe dinheiro. Não é uma prova e pasta de dente. Esses itens até ouro no lixo. Chamam de lixo podem ir para um gaseificador mas não é lixo.’ São matérias-pride sanidade e virar energia elétrica. Então mas preciosas e não material a ser eu não consigo achar nada descartado. para o aterro. Gazeta–Em comparação com ouGazeta–Como o senhor acredita que tros países, como a Holanda, que é des- ção de lixo? De que forma? estará a situação do lixo, dos resíduos, taque em reciclagem, como o senhor vê a situação do Brasil em relação ao Calderoni–Através da reutilização, e da reciclagem no futuro? destino que dá aos seus resíduos? da logística reversa que significa Calderoni–A reciclagem no futuque materiais como embalagens de Calderoni–O grande problema é agrotóxicos têm que voltar para o ro será integral. E já vai programar a falta de centrais de reciclagem. Se produtor. A pet tem que voltar para a logística reversa completa. As inhouvesse mais, a população ficaria quem produzir, automóvel tem que dústrias vão receber tudo. Vai exismais entusiasmada com a coleta se- voltar para quem faz. Isso é fator de tir a política do depósito e retorno. letiva. Hoje a população se sente tra- diminuição de resíduos porque esse Como é com as garrafas de cerveja. ída porque separa o lixo em casa com produtor vai reaproveitar. Quem faz o Devolve e recebe a cerveja, então a carinho e esse lixo acaba sendo mis- carro vai aproveitar o vidro, plástico, garrafa não fica nunca com a gente. turado ao ir para o aterro. Se houves- borracha, ferro e metal. É a política Essa mesma política serve para as se central de reciclagem no municí- do reuso, diminuir a geração de resí- pilhas, baterias, celulares e computadores. Se cada município decidisse pio o produto seria reaproveitado. Os duos de forma simples. fazer isso hoje em um ou dois anos ia municípios podem aproveitar a fraGazeta–Investir em edu- conseguir um resultado maravilhoso. cação é uma forma de redu- Se o prefeito não quiser, nunca vai acontecer. Se quiser fazer mudança, zir essa produção? Hoje a população se sente tem que tomar decisão política. O traída porque separa o lixo Calderoni–É, nas esco- tribunal está ameaçando prefeitos em casa com carinho e esse las. É muito bom. Isso tem que não têm planos de gestão de resido feito. As crianças ficam síduos. A legislação está apertando. lixo acaba sendo misturado ao ir cutucando os pais e co- Estamos em uma mudança total de para o aterro brando um comportamento mentalidade. Os lixões até 2014 têm mais adequado. É preciso que ser eliminados. No Brasil, isso é dar orientação e isso não uma revolução. 20 de dezembro: bilhões que vão para o lixo. 2 21