Série de reportagens

Transcrição

Série de reportagens
38
SÁBADO E DOMINGO
14 e 15 de dezembro de 2013
REPORTAGEM
REPORTAGEM
SÁBADO E DOMINGO
14 e 15 de dezembro de 2013
39
Gazeta do Sul
1
Gazeta do Sul
PA
R
TE
HERANÇA ESQUECIDA
3 mil toneladas
a cada 24 horas
Série de reportagens mostra que produção e descarte crescem sem controle, enquanto a reciclagem desafia a sociedade
Fotos: Rodrigo Assmann
O tempo passa, ele fica
No mundo
US$ 40
bilhões
Pela usina de triagem de Santa Cruz do Sul passam diariamente mais de 80 toneladas de materiais recolhidos no município
do Vale do Rio Pardo, localizado na área central do Rio
Grande do Sul, são geradas 62,8 mil toneladas de lixo
por ano. Santa Cruz do Sul, o principal polo econômico da região, que deve chegar aos 124,5 mil habitantes
uando a tecnologia do vinil ainda era conside- até o fim deste ano, considerando a estimativa do Instirada uma novidade, nos anos 1950, Elvis Pres- tuto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), joga
ley se consagrou como um astro da música quase 82 mil quilos de restos por dia no lixo. Até 2050,
ao ter os seus álbuns entre os mais vendidos quando a população atingirá 134 mil, cada santa-cruzense deverá descartar 1,6 quilo de rejeida década. Mais de meio século deto diariamente. Atualmente, a média
pois, o rei do rock não está entre nós O descarte se multiplica em
é de 640 gramas. Depois que sai das
há 36 anos, o inventor do vinil, Horesidências, a maior parte dos resíduward Scott, morreu no ano passado, equação incalculável. Somente
os percorre um caminho que subutia popularidade de um artista já não no território do Vale do Rio
liza o que foi descartado.
pode mais ser medida pela vendagem Pardo, são geradas 62,8 mil
A reciclagem ainda encontra poude discos e o vinil se tornou um arti- toneladas de lixo por ano
co espaço no Brasil. Por aqui, apego quase obsoleto. Você já pensou no
nas 13% dos resíduos sólidos urbaque aconteceu com os discos que fonos são encaminhados para reutiliram parar nas lixeiras? Possivelmente, nada. Como a maioria dos resíduos que produzimos, zação, segundo o Ministério do Meio Ambiente. O reo plástico com o qual é fabricado o vinil precisa de cem aproveitamento dos materiais descartados também é tíanos para se decompor. Ou seja, boa parte do material mido no Vale do Rio Pardo. Os 23 municípios da redescartado desde a época em que Elvis ainda nem so- gião, que encaminham seus resíduos ao aterro do município de Minas do Leão, produzem juntos 5,2 mil tonhava ser cantor ainda não se decompôs.
Dos anos dourados até aqui, a produção, o consumo e, neladas de lixo por mês. Embora essa quantidade paspor consequência, o descarte de resíduos se multiplica- se por triagem antes de ser encaminhada ao destino firam. Uma conta que soma a cada ano mais 1,4 bilhão de nal em 18 municípios, a imensa maioria desse material
toneladas produzidas no mundo. Somente no território não é reaproveitada.
é o valor que seria
necessário em investimentos
para estender a coleta de
lixo à metade da população
mundial que hoje não conta
com esse serviço, segundo
um estudo realizado
pela International Solid
Waste Association (Iswa) –
Associação Internacional de
Resíduos Sólidos. Esse grupo
está concentrado em países
da África, do sudeste asiático
e da América Latina.
Jeniffer Gularte e Letícia Mendes
[email protected] [email protected]
Q
A c oleta
Na maioria dos municípios
do Vale do Rio Pardo, a coleta
de lixo é feita três vezes por
semana na área urbana. No
interior, muitas localidades
têm seus resíduos recolhidos
apenas uma vez ao mês. É
o caso de Candelária, Mato
Leitão e Estrela Velha. Em
cidades como Santa Cruz do
Sul, Rio Pardo, Vera Cruz e
Sobradinho, existe a coleta
seletiva em alguns bairros,
onde catadores recolhem
nas residências materiais
que podem ser reciclados. A
iniciativa, embora mostre a
face de uma realidade que
começa a mudar, ainda é frágil
diante da produção diária de
lixo.
Em média, o lixo que sai da sua casa
demora de 24 a 48 horas para atravessar os portões da Central de Resíduos
do Recreio. Localizado em Minas do
Leão, município a 80 quilômetros de
Porto Alegre, o maior aterro sanitário
do Estado é o principal destino dos dejetos produzidos na região.
Em uma área de 500 hectares, circulam cerca de 80 cargas por dia. A central recebe 3 mil toneladas a cada 24
horas, originárias dos 140 municípios
gaúchos atendidos. Por mês, são 90
mil toneladas de resíduos sólidos urbanos que chegam ao local, o que não
inclui lixo hospitalar e industrial.
Pertencente à Companhia Riograndense de Valorização de Resíduos
(CRVR), a Central de Resíduos do
Recreio está localizada em uma cava
gerada pela mineração de carvão. Os
rejeitos são enterrados em um terreno
com 70 metros de profundidade que,
antes de recebê-los, é impermeabilizado com três camadas de argila compactada, colocada entre uma camada
de areia e outra de polietileno. O ob-
Os resíduos são enterrados em
um terreno com 70 metros de
profundidade que, antes de
recebê-los, é impermeabilizado
jetivo é fazer com que o material não
entre em contato com o solo. O chorume, líquido originado da decomposição do lixo, é canalizado é transferido a uma estação de tratamento e
posteriomente usado para lavagem
de carvão.
Do local onde os resíduos são enterrados, 14 mil metros de tubos sugam
biogás, que gera energia ao próprio
aterro. “Antigamente tinha-se o conceito de um depósito permanente de
resíduos, que não se usaria mais. De
um tempo para cá, passou-se a enxergar o aterro como uma reserva energética”, explica o gerente comercial da
CRVR, Antônio Saldanha Nunes.
SEGUNDA-FEIRA
Uma sonhadora vive na usina
de triagem de Santa Cruz
Em uma área
de 500 hectares,
a Central de
Resíduos do
Recreio é o maior
aterro sanitário
do Rio Grande do
Sul.
Você sabe quanto produz?*
2,4 mil toneladas
SANTA CRUZ DO SUL
124.577
19,2 quilos/hab
230 toneladas
SOBRADINHO
14.861
15,4 quilos/hab
750 toneladas
VENÂNCIO AIRES
69.154
10,8 quilos/hab
* Produção de toneladas por mês, número de habitantes por município e quantidade mensal de lixo produzido por habitante.
270 toneladas
VERA CRUZ
25.338
10,6 quilos/hab
360 toneladas
RIO PARDO
38.861
9,2 quilos/hab
240 toneladas
CANDELÁRIA
31.334
7,6 quilos/hab
60 toneladas
SINIMBU
10.390
5,7 quilos/hab
50 toneladas
VALE DO SOL
11.563
4,3 quilos/hab
16 toneladas
GRAMADO XAVIER
4.168
3,8 quilos/hab
20 toneladas
PANTANO GRANDE
10.029
1,9 quilos/hab
12
REPORTAGEM
REPORTAGEM
SEGUNDA- FEIRA
16 de dezembro de 2013
SEGUNDA- FEIRA
16 de dezembro de 2013
Gazeta do Sul
2
Gazeta do Sul
Bruno Pedry
Central que faz triagem diária dos resíduos de Santa Cruz do Sul é comandada por grupo cooperativado de catadores
Fotos: Rodrigo Assmann
PA
R
TE
PARA QUEM TEM CORAGEM
Há nove anos trabalhando
como catadora, Ângela
acompanhou a conquista da
autonomia em um trabalho que
anima poucos
Uma sonhadora vive na usina
Jeniffer Gularte e Letícia Mendes
[email protected] [email protected]
Â
ngela Maria Nunes, 46 anos,
caminha pela usina de triagem de resíduos de Santa
Cruz do Sul como se estivesse em casa. E, de certa forma, está.
A luta pelo reconhecimento dos catadores como parte fundamental do processo de reciclagem exige esforços.
Até mesmo deixar a própria casa de
lado. O trabalho na cooperativa de catadores também não é fácil. Ainda assim, para quem sabe o que é fome, defender algo que lhe permite pagar as
contas no fim do mês, e ao mesmo tempo auxilia na preservação ambiental, é
como viver um sonho.
A forma impositiva como fala e gesticula lhe rendeu o título de Sargentão.
“Me chamam assim, mas não vivem
sem mim”, diz ela se referindo às colegas. Apesar de garantir que não quer
O lixo para mim não é
lixo, é uma joia. É dele
que consigo tirar o alimento
para os meus filhos
Ângela Maria Nunes
Catadora
destaque, o apelido não a incomoda.
Para quem já apanhou da vida, é quase uma honra. Ângela, que é uma das
mais antigas associadas da cooperativa,
divide a esteira de triagem com outras
dez mulheres. São 22 mãos que tentam
frear um descarte diário de quase 82 toneladas de lixo no município.
A rotatividade de trabalhadores é
alta. Alguns trabalham um dia e desistem. Quem fica precisa ser ágil. No
mês passado, as catadoras conseguiram 40 toneladas de materiais recicláveis. Uma quantidade que poderia ser maior se as pessoas fizessem o
descarte de forma correta. O material
que está em contato com o lixo orgânico não pode ser aproveitado. Além
do que é retirado da esteira, a cooperativa trabalha com resíduos doados
por empresas e com a coleta seletiva. Da venda desse material depende o salário dos catadores. Na usina
são 33 e no pavilhão onde funciona
a coleta seletiva, mais 31.
Como a maioria, Ângela se tornou catadora por necessidade. Há
nove anos desempregada, apegou-se
à oportunidade com a força de quem
quer sobreviver. Mãe de dois filhos,
ela trabalha junto com o marido Ari
Dirceu da Silva, 44 anos. Quando fala
da família, se emociona. “O lixo para
mim não é lixo, é uma joia. É dele
que eu consigo tirar o alimento para
os meus filhos”, diz.
Filha de uma família de 14 irmãos,
ela só estudou até a 4ª série. Mas hoje
tem um discurso de quem sabe que
precisa defender uma causa. Escorrega pouco nas palavras. Chegar à usina, repassada aos catadores em 2010,
representou a conquista de um sonho.
O caminhão Ford 1962, comprado
com dificuldade pelos trabalhadores
nos primeiros anos de atividade, hoje
é guardado como uma relíquia. Um
símbolo de que eles estão evoluindo.
Hoje, a cooperativa conta com mais
três veículos.
A usina ainda precisa de melhorias.
A empilhadeira usada para armanzenar os fardos é alugada. A máquina
para triturar pet, que permitirá agregar valor ao produto, precisa ser colocada em funcionamento. A cooperativa espera receber doações de materiais de mais empresas. Outra meta
é incluir mais catadores no processo.
“O nosso sonho vai voar mais alto”,
espera Ângela.
AMANHÃ
Histórias de quem vive de um
trabalho pouco atrativo
13
REPORTAGEM
TERÇA- FEIRA
17 de dezembro de 2013
TE
3
Gazeta do Sul
PA
R
PROFISSÃO: CATADOR
Fotos: Rodrigo Assmann
Quem carrega o peso da cidade
Pai de quatro filhos, Cenildo nem pensa em deixar o trabalho de lado
Professor por dez anos, Arceli hoje puxa seu carrinho em Santa Cruz
Jeniffer Gularte e Letícia Mendes
O
[email protected] [email protected]
peso do carrinho deixou há mui- seguir uma vaga como catador junto à cooto tempo de ser motivo para di- perativa responsável pela coleta seletiva no
ficultar a caminhada de Cenildo município, para a qual trabalham 31 catadodos Santos, 53 anos. O santa-cru- res. A coleta, hoje realizada em nove bairros,
zense desce a Rua Venâncio Aires, no Cen- deve dobrar no ano que vem. Arceli faz duas
tro de Santa Cruz do Sul, com o embalo de viagens por dia recolhendo os materiais que
quem leva a vida, nem sempre fácil, do me- são encaminhados para a triagem. “O peso
lhor jeito que pode. E, para ela, reserva seu da carrocinha é o pior”, diz. Apesar das difisorriso largo. A poucas quadras dali, Arceli culdades, ele afirma que não trocaria a prodos Santos Garcia, 51 anos, também puxa seu fissão pela de professor. A vida o transforcarrinho pela Marechal Deodoro. Para quem mou. “Eu tinha que ter estudado mais. Acho
começou na profissão há pouco mais de um que não era pra mim”, conforma-se.
mês, a carga pesada ainda faz
Diferente de Arceli,
Não tem como parar. Cenildo sabe muito bem
o suor escorrer no rosto com
A gente ganha muita o que quer. Quando mefacilidade. Às vezes é preciso parar para descansar. Em coisa boa. E eu também
nino, não gostava da esmeio à rua quase sempre lo- conheço muita gente
cola. “Só queria moletada de carros com os quais
cagem”, lembra entre ridividem espaço, os dois casos. Deixou o colégio na
tadores passam quase des5ª série. O estudo fez falCenildo dos Santos
percebidos.
ta na hora de procurar
Arceli e Cenildo não têm Catador
emprego. Acabou trabaem comum apenas os sobrelhando como operário na
nomes. Nascidos em famílias humildes, pre- construção, mas não era o que queria. Há
cisaram buscar alguma forma de se susten- 22 anos, começou a puxar seu carrinho em
tar. Natural de Sobradinho, Arceli conseguiu busca de materiais recicláveis e não parou
com esforço completar os estudos. Com pou- mais. “Adoro a minha profissão”, diz o caco mais de 20 anos, inscreveu-se em um con- tador que, apesar do sorriso constante, não
curso municipal para ser professor. Na peque- é de muitas palavras.
na escola, da qual não recorda mais o nome,
Pai de quatro filhos pequenos, percorre
diz ter passado dez anos de sua vida, no inte- três ruas do município quatro vezes por dia.
rior do município. Lecionava para cerca de 30 O itinerário é sempre o mesmo, desde que
crianças pela manhã e à tarde. “Dava aula para passou a trabalhar como associado da cooa primeira até a quarta série”, lembra.
perativa responsável pela coleta seletiva. O
A vida de professor também era castigada. carrinho não para. Descansar, somente aos
O salário era baixo, e o trabalho exigia dedi- fins de semana. “Não tem como parar. A
cação. Quando se casou, decidiu acompanhar gente ganha muita coisa boa. E eu também
a mulher e se mudar para Santa Cruz do Sul. conheço muita gente”, diz. Para o futuro,
Pai de dois filhos, hoje Arceli está separa- Cenildo espera apenas poder continuar pudo. Trabalhou como operário nas indústrias e xando seu carrinho pelas ruas. Um pedido
em obras. Chegou a retornar para o interior e que carrega a humildade de quem transforse empregar na colheita do tabaco. Até con- ma o mundo sem pedir muito em troca.
“É dele que eu vivo”
O material reciclável que é recolhido pelos
catadores e pelo caminhão da cooperativa é
encaminhado para um pavilhão, no Centro de Santa
Cruz do Sul. Um grupo de mulheres trabalha na
esteira onde são despejados os materiais. Entre elas,
duas carregam o mesmo sobrenome de Cenildo e
Arceli. Rejane Santos, 51 anos, e Odete dos Santos,
40 anos, dividem espaço ao lado da esteira. As duas
também são moradoras do Loteamento Beckenkamp
e encontraram na reciclagem uma oportunidade de
renda fixa. “Não tenho vergonha. Para mim o lixo é
um luxo, porque é dele que eu vivo”, afirma Odete.
AMANHÃ
Por que o empresário que se tornou
catador faz a diferença no mundo
21
28
REPORTAGEM
QUINTA- FEIRA
19 de dezembro de 2013
AMANHÃ
Os recursos que são perdidos com os
resíduos que vão parar nas lixeiras
Gazeta do Sul
PA
R
TE
5
RASTRO IRRESPONSÁVEL
Animais, plantas e até as próprias pessoas sofrem com a poluição provocada por materiais abandonados na natureza
Jeniffer Gularte e Letícia Mendes
[email protected]
[email protected]
D
Bruno Pedry
Quando o descarte é destrutivo
ouglas Henrique Ebert não sabe dizer ao certo a última vez em que se
refrescou nas águas do Arroio Levis Pedroso, na localidade de Capão da Cruz Oeste, interior de Santa Cruz do
Sul. A lembrança mais recente do menino de
11 anos remete a um lugar poluído e fétido
onde a quantidade de resíduos descartados
chega a camuflar a cor da água. Em meio a
garrafas pet, embalagens de vidro, calçados,
brinquedos e até capacetes, plantas e animais
lutam para continuar vivendo em um hábitat comprometido pela ação humana. Ao ser
descartada de forma irresponsável, até mesmo uma boneca, que já foi inofensiva na função de entreter uma criança, se transforma em
risco para a natureza. A poluição de rios e arroios do Vale do Rio Pardo é mais comum –
e ameaçadora – do que você imagina.
O local, que já serviu de ponto de encontro
Cenário do Arroio Levis Pedroso reflete situação enfrentada pelos afluentes do Rio Pardinho
e diversão, agora atrai a gurizada da localidade que enfrenta a poluição em busca de bolinhas de tênis usadas para jogar taco. A quan- Pardinho, que abastece a cidade – estão contidade e a diversidade de lixo não deixam que taminados pela poluição. Além de ameaçar a
24 milhões
os garotos saiam de lá de mãos vazias. “Sem- qualidade da água, os materiais que vão parar
de toneladas de
pre achei bolinhas, já encontrei seis de uma em rios e arroios dificultam o escoamento em
resíduos foram
vez”, conta Douglas.
dias de chuva, potencializando o
descartados em
No mesmo arroio, na
efeito das enxurradas.
É preciso insistir
lugares inadequados
área onde o lixo ainNo dia 21 de novembro, a precipino ano passado por
na
conscientização,
da não chegou, a famítação de 68 milímetros que atingiu
3 mil municípios
lia do menino aprovei- caso contrário estaremos
Santa Cruz do Sul em poucas horas
brasileiros, segundo a Associação
ta para pescar enquan- comprometendo as gerações expulsou moradores de áreas ribeiBrasileira de Empresas de Limpeza
to é possível.
rinhas a arroios no Bairro ProgresPública e Resíduos Especiais (Abrelpe).
O doutor em Ciências
so, na Zona Sul da cidade. Após o
Esse volume seria suficiente para
Biológicas da Universi- Eduardo Lobo
temporal, a Prefeitura iniciou uma
encher 168 estádios de futebol do
dade de Santa Cruz do Biólogo
operação de limpeza e retirou, em
tamanho do Maracanã.
Sul (Unisc), Eduardo
um dia, seis cargas de caminhões
Lobo, explica que qualcom materiais que estavam reprequer material estranho ao ambiente de um rio sando o fluxo das águas, como galhos de áraltera o equilíbrio do ecossistema e compro- vores, sofás, peças de móveis e eletrodomésmete a cadeia alimentar dos seres vivos. Se- ticos. “É preciso insistir na conscientização,
de toneladas de plástico são jogadas nos
gundo ele, os quatro arroios de Santa Cruz do caso contrário estaremos comprometendo as
oceanos por ano segundo a International
Sul – Arroio das Pedras, do Almoço, Levis Pe- gerações futuras, o que é um conceito básico
Solid Waste Association (Iswa).
droso e Lajeado, todos eles afluentes do Rio de sustentabilidade”, alerta Lobo.
10 milhões
SEXTA- FEIRA
20 de dezembro de 2013
REPORTAGEM
Gazeta do Sul
A SÉRIE
Publicadas desde o
final de semana, seis
reportagens mostraram
os desafios para o
descarte adequado do
lixo doméstico.
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SÁBADO E DOMINGO
14 e 15 de dezembro
de 2013
REPORTAGEM
RT
E1
Gazeta do Sul
PA
HERANÇA ESQU
mostra que produção
e descarte crescem
Fotos: Rodrigo
Assmann
Série de reportagens
O tempo passa,
REPORTAGEM
ECIDA
sem controle,
enquanto a reciclagem
ele fica
3 mil toneladas
a cada 24 horas
desafia a sociedade
bilhões
Pela usina de
triagem de Santa
Cruz do Sul passam
diariamente mais
Jeniffer Gularte
de 80 toneladas
e Letícia Mendes
[email protected]
m.br leticia.mendes@gazeta
dosul.com.br
de materiais recolhidos
é o valor que
seria
necessário em
investimentos
para estender
a coleta de
lixo à metade
da população
mundial que hoje
não conta
com esse serviço,
segundo
um estudo realizado
pela International
Waste Association Solid
(Iswa) –
Associação Internacional
de
Resíduos Sólidos.
Esse grupo
está concentrado
em países
da África,
no município
do sudeste asiático
do Vale do Rio
e da América
Grande do Sul, Pardo, localizado na área central
Latina.
por ano. Santa são geradas 62,8 mil toneladas do Rio
uando a tecnologia
Cruz do Sul,
de lixo
rada uma novidade, do vinil ainda era conside- co da região, que deve chegaro principal polo econômiaos 124,5 mil
ley se consagrou nos anos 1950, Elvis Pres- até o fim deste ano, considerando
habitantes
tuto Brasileiro
como um astro
a estimativa do
ao ter
de
A coleta
da
da década. Mais os seus álbuns entre os mais música quase 82 mil quilosGeografia e Estatística (IBGE),Instivendidos quando
de restos
joga
pois, o rei do rockde meio século dea população atingirá por dia no lixo. Até 2050,
Na maioria dos
não está entre nós
municípios
134 mil,
há 36 anos, o inventor
do Vale do Rio
se deverá descartarcada santa-cruzenPardo, a coleta
do vinil, Ho- O descarte se multiplica
ward Scott, morreu
de lixo é feita
1,6 quilo de rejeiem
to diariamente.
três
no ano passado, equação incalculável.
a popularidade
semana na área vezes por
de um artista já
é de 640 gramas.Atualmente, a média
Somente
pode mais ser medida
não no território do
interior, muitas urbana. No
Depois que sai
residências, a maior
Vale
das
localidades
pela vendagem
de discos e o vinil
têm seus resíduos
parte dos resíduPardo, são geradas do Rio
os percorre um
recolhidos
go quase obsoleto. se tornou um articaminho que subutiapenas uma
toneladas de lixo 62,8 mil
liza o que foi descartado.
vez ao mês.
Você já pensou
que aconteceu
É
no
o caso de Candelária,
por ano
com os discos
A reciclagem
Mato
que foram parar nas lixeiras?
Leitão e Estrela
co espaço no ainda encontra pouVelha. Em
Possivelmente, nada. Como
Brasil.
cidades como
nas 13% dos resíduosPor aqui, apeSanta Cruz do
o plástico com a maioria dos resíduos que produzimos,
Sul, Rio Pardo,
sólidos
o qual é fabricado
Vera Cruz e
zação, segundo nos são encaminhados para urbaanos para se decompor.
o vinil precisa
Sobradinho,
o Ministério do
reutiliexiste a coleta
de cem aproveitamento
Ou seja, boa parte
descartado desde
Meio
seletiva em
Ambiente.
do
dos
alguns bairros,
nhava ser cantor a época em que Elvis ainda material mido no Vale do materiais descartados tambémO reonde catadores
Rio
ainda
nem so- gião,
Dos anos dourados não se decompôs.
que encaminhamPardo. Os 23 municípios daé tínas residências recolhem
reseus resíduos
materiais
nicípio de Minas
por consequência, até aqui, a produção, o consumo
que podem ser
do Leão, produzem ao aterro do mureciclados. A
e, neladas de
ram. Uma conta o descarte de resíduos se
iniciativa, embora
juntos 5,2 mil
lixo por
multiplica- se
que soma a cada
tomostre a
toneladas produzidas
por triagem antesmês. Embora essa quantidade
ano mais
face de uma
realidade que
de ser encaminhada
pasno mundo. Somente 1,4 bilhão de nal em 18
começa a mudar,
municípios,
ao destino fino território
ainda
não é reaproveitada. a imensa maioria desse
diante da produção é frágil
material
diária
Q
Os resíduos são
enterrados em
um terreno com
70
profundidade que, metros de
antes de
recebê-los, é impermeabilizad
o
SEGUNDA-FEIRA
Uma sonhadora
vive na usina
de triagem de
Santa Cruz
Você sabe quant
o produz?*
2,4 mil toneladas
SANTA CRUZ DO
SUL
124.577
19,2 quilos/hab
* Produção de toneladas
por mês, número
230 toneladas
SOBRADINHO
14.861
15,4 quilos/hab
de habitantes por
município e quantidade
750 toneladas
VENÂNCIO AIRES
69.154
10,8 quilos/hab
mensal de lixo
produzido por
270 toneladas
VERA CRUZ
25.338
10,6 quilos/hab
habitante.
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jetivo é fazer com
entre em contato que o material não
com o solo. O
rume, líquido originado
choda decomposição do lixo, é
canalizado é transferido a uma estação
de tratamento
posteriomente
usado para lavageme
de carvão.
Do local onde os
resíduos são enterrados, 14 mil metros
de tubos sugam
biogás, que gera
energia ao próprio
aterro. “Antigamente
ceito de um depósito tinha-se o conpermanente
resíduos, que não
se usaria mais. de
um tempo para
De
cá,
gar o aterro como passou-se a enxertica”, explica o uma reserva energéCRVR, Antôniogerente comercial da
Saldanha Nunes.
de
lixo.
SÁBADO E DOMINGO
14 e 15 de dezembro
de 2013
Gazeta do Sul
Em média, o lixo
que sai da sua casa
demora de 24 a
48
sar os portões da horas para atravesCentral de Resíduos
do Recreio. Localizado
em Minas do
Leão, município
Porto Alegre, o a 80 quilômetros de
maior
do Estado é o principal aterro sanitário
destino dos dejetos produzidos
na
Em uma área de região.
lam cerca de 80 500 hectares, circucargas por dia.
tral recebe 3 mil
A cenhoras, originárias toneladas a cada 24
dos 140 municípios
gaúchos atendidos.
Por mês, são 90
mil toneladas de
banos que chegamresíduos sólidos urao local, o que
inclui lixo hospitalar
não
e industrial.
Pertencente à Companhia
Riograndense de Valorização
de Resíduos
(CRVR), a Central
de Resíduos do
Recreio está localizada
gerada pela mineração em uma cava
rejeitos são enterrados de carvão. Os
em um terreno
com 70 metros
de
antes de recebê-los,profundidade que,
é impermeabilizado com três camadas
de argila compactada, colocada
de areia e outra entre uma camada
de polietileno.
O ob-
No mundo
US$ 40
Em uma área
de 500 hectares,
a Central de
Resíduos do
Recreio é o maior
aterro sanitário
do Rio Grande
do
Sul.
360 toneladas
RIO PARDO
38.861
9,2 quilos/hab
240 toneladas
CANDELÁRIA
31.334
7,6 quilos/hab
60 toneladas
SINIMBU
10.390
5,7 quilos/hab
50 toneladas
VALE DO SOL
11.563
4,3 quilos/hab
16 toneladas
GRAMADO XAVIER
4.168
3,8 quilos/hab
20 toneladas
PANTANO GRANDE
10.029
1,9 quilos/hab
14 e 15 de dezembro: a
produção desenfreada
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REPORTAGEM
Gazeta do Sul
PARA QUEM TEM
PA
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SEGUNDA-FEIRA
16 de dezembro
de 2013
triagem diária
dos resíduos de
Santa Cruz do
CORAGEM
Sul é comandada
REPORTAGEM
por grupo cooperativado
SEGUNDA-FEIRA
16 de dezembro
de 2013
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Gazeta do Sul
de catadores
Fotos: Rodrigo
Assmann
Bruno Pedry
Central que faz
Há nove anos
como catadora, trabalhando
Ângela
acompanhou
a conquista da
autonomia em
um trabalho que
anima poucos
Uma sonhadora
vive na usina
Jeniffer Gularte
e Letícia Mendes
jeniffer@gazetadosul.
com.br leticia.mendes@gazeta
dosul.com.br
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mês passado,
as
ram 40 toneladascatadoras conseguiFilha de uma família
ngela Maria Nunes,
de materiais recicláveis. Uma quantidade
de 14 irmãos,
ela
caminha pela usina 46 anos,
que pode- temsó estudou até a 4ª série. Mas hoje
ria ser maior se
O lixo para mim
um
as
gem de resíduos de trianão é
descarte de forma pessoas fizessem o precisa discurso de quem sabe que
de Santa
lixo, é uma joia.
defender uma causa.
Cruz
correta. O material
É dele
que está em contato
vesse em casa. do Sul como se esti- que consigo
Escorrega pouco nas palavras.
E, de certa forma,
tirar o alimento
nico não pode ser com o lixo orgâ- na, repassada
Chegar à usiA luta pelo reconhecimento
está. para
os meus filhos
do que é retirado aproveitado. Além representou aos catadores em 2010,
dos catadores como parte
fundamental do
rativa trabalha da esteira, a coope- O caminhãoa conquista de um sonho.
cesso de reciclagem
procom resíduos doados
Ford 1962, comprado
por empresas e
Até mesmo deixar exige esforços. Ângela Maria Nunes
com a coleta seleti- com dificuldade pelos
a própria casa
va. Da venda desse
trabalhadores
lado. O trabalho
de Catadora
material depen- nos primeiros anos de atividade,
de o salário dos
tadores também na cooperativa de cahoje
catadores. Na usina é guardado como uma
são 33 e no pavilhão
relíquia. Um
sim, para quem não é fácil. Ainda as- destaque,
sabe o que é fome,
onde funciona símbolo de que eles estão evoluindo.
o apelido não
fender algo que
Hoje, a cooperativa
de- Para
a incomoda. a coleta seletiva, mais 31.
conta com mais
Como a maioria,
contas no fim do lhe permite pagar as se quem já apanhou da vida, é
Ângela se tor- três veículos.
uma honra. Ângela,
quamês, e ao mesmo
po auxilia na preservação
temA usina ainda
que é uma das nou catadora por necessidade.
nove anos desempregada,
ambiental, é mais antigas associadas da cooperativa,
Há A empilhadeira precisa de melhorias.
como viver um
divide a esteira
sonho.
usada
apegou-se
à oportunidade
para armanzede triagem
A forma impositiva
nar os
como fala e ges- dez mulheres. São 22 mãos com outras quer sobreviver.com a força de quem para fardos é alugada. A máquina
ticula lhe rendeu
triturar pet, que
que tentam
frear um descarte
permitirá
ela trabalha juntoMãe de dois filhos, gar valor
diário de quase
“Me chamam o título de Sargentão. neladas
com
ao produto, precisa agre82 to- Dirceu
assim, mas não
de lixo no município.
sem mim”, diz
da Silva, 44 anos.o marido Ari locada em funcionamento.
vivem
ser coA
ela
Quando fala rativa
da família, se emociona.
A coopelegas. Apesar de se referindo às co- alta. rotatividade de trabalhadores
espera
receber
garantir que não
Alguns trabalham
“O
é mim não
doações de maquer sistem.
é lixo, é uma joia.lixo para teriais de mais empresas.
Quem fica precisaum dia e de- que eu consigo
É
ser ágil. No
tirar o alimento dele é incluir mais catadores Outra meta
os meus filhos”,
para “O nosso
no processo.
diz.
sonho
espera Ângela. vai voar mais alto”,
AMANHÃ
Histórias de quem
vive de um
trabalho pouco
atrativo
16 de dezembro: o
momento da triagem
REP ORTAGE M
PA
R
TE
3
Gazeta do Sul
Assmann
Fotos: Rodrigo
TERÇA-FEIR A
17 de dezembro
de 2013
21
PROFISSÃO: CAT
ADOR
Quem carrega
o peso da cidad
e
Pai de quatro
filhos, Cenildo
nem pensa em
Jeniffer Gularte
O
jeniffer@gazet
adosul.com.br
deixar o trabalho
de lado
Professor por
e Letícia Mendes
dez anos, Arceli
hoje puxa seu
leticia.mendes@
gazetadosul.com
carrinho em Santa
Cruz
.br
peso do carrinho
to tempo de ser deixou há mui- seguir uma
vaga como catador
motivo para dificultar a caminhada
perativa responsável
junto à coode Cenildo
pela coleta
dos Santos, 53
anos. O santa-cru- município, para a qual trabalham seletiva no
O material reciclável
zense desce a Rua
res. A coleta, hoje
31 catadoque é recolhido
catadores e pelo
tro de Santa Cruz Venâncio Aires, no Cenpelos
caminhão da cooperativa
deve dobrar no realizada em nove bairros,
encaminhado
ano que vem. Arceli
quem leva a vida, do Sul, com o embalo de
é
para um pavilhão,
viagens por dia
faz duas
Cruz do Sul. Um
no
recolhendo os
lhor jeito que pode.nem sempre fácil, do megrupo de mulheres Centro de Santa
materiais que
são encaminhad
E, para ela, reserva
esteira onde são
trabalha na
sorriso largo. A
despejados os
seu da carrocinha os para a triagem. “O peso
poucas quadras
duas carregam
materiais. Entre
é o pior”,
dos Santos Garcia,
dali,
o mesmo sobrenome
elas,
51 anos, também Arceli culdades, ele afirma diz. Apesar das difiArceli. Rejane
de Cenildo e
carrinho pela Marechal
Santos, 51 anos,
puxa seu fissão
que
e Odete dos Santos,
40 anos, dividem
pela de professor. não trocaria a procomeçou na profissão Deodoro. Para quem
espaço ao lado
A
vida
mou.
o
também são moradoras
transforda esteira. As
“Eu
há pouco mais
mês, a carga pesada
duas
de um que não tinha que ter estudado mais.
do Loteamento
e encontraram
ainda faz
Acho
era pra mim”,
Beckenkamp
na
o suor escorrer
conforma-se.
renda fixa. “Não reciclagem uma oportunidad
no rosto com
Não tem como
e de
tenho vergonha.
facilidade. Às vezes
Diferente de
um
parar.
Para
luxo,
Arceli,
mim
é preciporque é dele
so parar para descansar.
Cenildo
A gente ganha
que eu vivo”, afirma o lixo é
muita o que sabe muito bem
Odete.
Em coisa
meio à rua quase
boa. E eu também
quer. Quando
tada de carros sempre lo- conheço
nino, não gostava mecom os quais
muita
gente
dividem espaço,
cola. “Só queria da estadores passam os dois cacagem”, lembra molequase despercebidos.
sos. Deixou o entre ricolégio
Cenildo dos Santos
na
5ª série. O estudo
Arceli e Cenildo
em comum apenas não têm Catador
ta na hora de fez falprocurar
nomes. Nascidos os sobreemprego. Acabou
trabacisaram buscar em famílias humildes, preconstrução, mas lhando como operário na
alguma forma
de
tar. Natural de
Sobradinho, Arceli se susten- 22 anos, começounão era o que queria. Há
com esforço completar
conseguiu busca
a puxar seu carrinho
de materiais recicláveis
os estudos. Com
em
co mais de 20 anos,
pou- mais. “Adoro
e não parou
inscreveu-se em
a minha
curso municipal
um con- tador
para
que, apesar do profissão”, diz o cana escola, da qual ser professor. Na pequesorriso constante,
é de muitas palavras.
não recorda mais
não
diz ter passado
o nome,
dez
Pai de quatro
rior do município. anos de sua vida, no intefilhos pequenos,
três
Lecionava para
crianças pela manhã
cerca de 30 O ruas do município quatro vezespercorre
itinerário é sempre
e à tarde. “Dava
por dia.
a primeira até a
aula para passou
o
quarta
a trabalhar como mesmo, desde que
A vida de professor série”, lembra.
associado da cooperativa responsável
O salário era baixo, também era castigada.
carrinho não para. pela coleta seletiva. O
e o trabalho
cação. Quando
se casou, decidiu exigia dedi- fins de semana. Descansar, somente aos
a mulher e se mudar
acompanhar
gente ganha muita“Não tem como parar. A
Pai de dois filhos, para Santa Cruz do Sul.
coisa boa. E eu
conheço muita
gente”, diz. Para também
do. Trabalhou comohoje Arceli está separaCenildo espera
o futuro,
apenas poder continuar
em obras. Chegou operário nas indústrias e
xando seu carrinho
puse empregar na a retornar para o interior e
pelas ruas. Um
AMANHÃ
que carrega a humildade
colheita do tabaco.
pedido
Por que o empresário
Até con- ma
de quem transforo mundo sem
pedir muito em
catador faz a diferençaque se tornou
troca.
“É dele que eu
vivo”
no mundo
17 de dezembro: quem faz
a coleta
REP ORTAGE M
3
Gazeta do Sul
QUARTA-FEI
RA
18 de dezembro
de 2013
PA
R
TE
RECICLAGEM QUE
VIRA NEGÓCIO
Rodrigo Assmann
Nilton Drochner
trocou a vida
de empresário
para trabalhar
com materiais
que não têm utilidade
à maioria das
17
pessoas
AMANHÃ
As consequências
do descarte
irresponsável
dos resíduos na
natureza
Jeniffer
Gularte e Letícia
Mendes
jeniffer@gazet
adosul.com.br
leticia.mendes@
N
gazetadosul.com
ão há dúvidas de
.br
faz a diferença que Nilton Drochner volume
no
camiseta feita de mundo. A frase na do no de material que agora fica
tecido feito com
porta-malas da
acomodarafa pet
gar- do veículo
kombi. Na companhia
vida do homem e algodão sintetiza a opção
Volkswagen branco,
de
de 54 anos, que
vida de empreiteiro
há 14 trocou a escolas públicas e particulares percorre 25
O sonho de jovens
de obras e
gião, além
de toda
trabalhar com
empreendedores
o recolhimento empresário para merciais. de fábricas e estabelecimentosa rede
reciclagem. Quando
de materiais para
Convicto
coCruz do Sul permite Santa
de, faz todo o serviçoda importância da atividamaioria das pessoas, perdem a utilidade para
que todos
os meses 300
sozinho – coleta,
toneladas
plástico e eletrônicos itens de alumínio, papel,a e entrega ao reciclador
triagem
de garrafas pet,
– e admite ter
dade para achar
passam
que teriam
a dar trabalho –
dificulmão de obra a
como destino o
e render negófim de dividir
lixo,
cios – para Drochner.
as tarefas. “Existe
Meu trabalho é
ser reaproveitada possam
Por seum mercado
isso:
s. A Clean
mana, ele recolhe
enorme
Plast, criada há
e pessoal desconhetrabalhar com
pouco mais
ladas de resíduos quatro toneaquilo ce. E meu otrabalho
de dez anos, é
responsável
vadas e vendidas que são le- que as pessoas não
balhar com aquilo é isso: trapor transformar
que as pesmensalmente
de reciclagem em centrais sabem que rende
soas
não
6
milhões
sabem
em Lajeado e
de unidades, adquiridas
Porto Alegre.
do as pessoas que rende. Ajureciclagem de
de empresas de
que
diversos pontos
O engajamento
te não sabem ou simplesmendo Estado,
prima para outras
indústrias. Comercializaem matérianer em reaproveitar de Droch- Nilton Drochner
incomodar com não querem se
triturado,
aquilo
conhecido como
o material
isso.”
que Reciclador
a maioria dispensa
flake (flocos, em
O negócio sempre
para indústrias
quase foi
inglês),
que produzem
deu tão
abruptamente interrompido
certo que conseguiu
embalagens e
produtos, como
outros
tecidos de poliester.
ajudar a pahá quase
As sequelas de
Segundo um dos
um acidente vasculardois anos. ção, Turismo gar as faculdades de Administra(AVC) o deixaram
e Publicidade
cerebral
Kollett, 35 anos, proprietários, o contador Adriano
a vontade de abrir
e mais de um ano seis meses longe do volante as três filhas. Os reflexos e Propaganda para
surgiu ainda durante
um negócio
do trabalho, no
com a kombi, massem conseguir escrever. Ficou tanto, não se limitam à
a universidade.
enreciclagem de
família. A importância
Na época, a
garrafa
va para carregar vendeu o caminhão que usa- da reciclagem é repassada
ele passou a pesquisarpet estava em evidência.
a alunos em palesAssim,
o acidente seria materiais por estar certo de que tras nas escolas. Para Drochner,
junto com
engenheiro de
o começo de uma
produção Juliano o atual sócio, o
forçada. Persistente,
aposentadoria o conceito de lixo seja reavaliado é preciso que
sobre o plástico.
Oliveira, 35 anos,
adotou uma nova
ração. Aliás, faz
pela
Quando
nova
exercícios e alimentação
a
geempresa iniciou
rotina com seja
questão
eram processadas
a operação,
saudável
usada em referência de que a palavra não
lego necessário
entrada de outras 100 toneladas por mês. Mas
ao material que
para retornar a e ganhou o fô- leta e encaminha
com a
empresas no mercado,
atividade.
ele coVoltou ao trabalho,
ampliar a capacidade.
foi necessário
Drochner que, para reciclagem. Está claro
mas adequou
de coleta. Deixou
“A
demanda
além
a
as
fontes
Muitos
da
aumentou bastante.
possibilidade de
produtos são fabricados
de atender residências,
os resíduos que
minuiu a quantidade
reuso,
já
com
prima, inclusive
de clientes e aumentoudi- para a maioria se deixaram se ser necessários
a própria garrafa”, essa matériatransformam em
Clean Plast, no
afirma Adriano.
o de um ciclo
combustível
entanto, hoje enfrenta
A
de emprego e
garrafas pet, que
a escassez das
renda.
tiveram
6 milhões de garrafa
s pet
trituradas por
mês
elevação no valor.
18 de dezembro: reciclagem
que vira negócio
28
QUINTA-FEIR
A
19 de dezembro
de
REP ORTAGE M
2013
Os recursos que
são perdidos com
resíduos que vão
os
parar nas lixeiras
AMANHÃ
TE
5
Gazeta do Sul
PA
R
RASTRO IRRESPO
NSÁVEL
Animais, plantas
e até as próprias
pessoas sofrem
Quando o descar
te é
e Letícia Mendes
Bruno Pedry
Jeniffer Gularte
com a poluição
jeniffer@gazet
adosul.com.br
leticia.mendes@
gazetadosul.com
.br
D
provocada por
materiais abandonado
s na natureza
destrutivo
ouglas Henrique
Ebert não sabe
zer ao certo a última
direfrescou nas águas vez em que se
do Arroio Levis Pedroso, na
localidade de
pão da Cruz Oeste,
CaSul. A lembrança interior de Santa Cruz do
11 anos remete mais recente do menino de
a um lugar poluído
onde a quantidade
e fétido
chega a camuflar de resíduos descartados
a cor da água.
garrafas pet, embalagens
Em meio a
de vidro,
brinquedos e até
capacetes, plantas calçados,
lutam para continuar
e animais
vivendo em um
tat comprometi
hábidescartada de do pela ação humana. Ao ser
forma irresponsáve
mo uma boneca,
l, até mesção de entreter que já foi inofensiva na funuma
risco para a natureza.criança, se transforma em
A poluição de
roios do Vale do
rios e are ameaçadora Rio Pardo é mais comum
–
– do
O local, que já que você imagina.
e diversão, agora serviu de ponto de encontro
de que enfrenta atrai a gurizada da localidaa poluição em
Cenário do Arroio
nhas de tênis usadas
busca de boliLevis Pedroso
reflete situação
tidade e a diversidadepara jogar taco. A quanenfrentada pelos
Pardinho,
afluentes do
de lixo não deixam
os garotos saiam
Rio Pardinho
que taminados que abastece a cidade – estão
de lá de mãos vazias.
pre achei bolinhas,
pela poluição.
conAlém de
já encontrei seis “Sem- qualidade da água,
vez”, conta Douglas.
de uma em
os materiais queameaçar a
rios e arroios dificultam
vão parar
No mesmo arroio,
24 milhões
área onde o lixo na
dias de chuva, o escoamento em
É preciso insistir
de toneladas
potencializando
ainde
da não chegou,
efeito das enxurradas.
o
resíduos foram
a
famína conscientização,
lia do menino
No dia 21 de novembro,
aprovei- caso contrário
descartados em
ta para pescar
tação de 68 milímetros a precipiestaremos
enquanlugares inadequados
que atingiu
comprometendo
to é possível.
Santa Cruz do
Sul em poucas
no ano passado
as
gerações
horas
expulsou moradores
por
O doutor em Ciências
de áreas ribeibrasileiros, segundo3 mil municípios
Biológicas da Universirinhas a arroios
a Associação
Brasileira de Empresas
dade de Santa
so, na Zona Sul no Bairro ProgresCruz do Eduardo Lobo
da cidade. Após
de Limpeza
Pública
Sul (Unisc),
temporal,
o
e Resíduos
a Prefeitura
Eduardo Biólogo
Esse volume seria Especiais (Abrelpe).
Lobo, explica que
operação de limpeza iniciou uma
suficiente para
qualencher 168 estádios
quer material estranho
um dia, seis cargas e retirou, em
de futebol do
de caminhões
ao ambiente de
tamanho
altera o equilíbrio
com
materiais
do
um rio sando
Maracanã.
do ecossistema
o fluxo das águas, que estavam repremete a cadeia
e comproalimentar dos
como galhos de
seres vivos. Se- vores, sofás, peças de móveis
gundo ele, os quatro
árticos. “É preciso
e eletrodomés
arroios de Santa
Sul – Arroio das
Cruz do
insistir
droso e Lajeado,Pedras, do Almoço, Levis Pe- caso contrário estaremos na conscientização,
compromete
todos eles afluentes
de toneladas
gerações futuras,
de plástico são
o que é um conceito ndo as
do Rio de sustentabilid
jogadas nos
oceanos por ano
básico
segundo
ade”, alerta Lobo.
Solid Waste Association a International
10 milhões
(Iswa).
19 de dezembro: reflexos
da poluição
RTE
2
SEXTA-FEIRA
20 de dezembro
de
2013
Gazeta do Sul
REPO RTAGE M
RECURSOS ENTE
Santa Cruz envia
anualmente para
o aterro de Minas
do Leão R$ 2,6
Seu dinheiro vai
V
Jeniffer Gularte
RRADOS
milhões em materiais
que poderiam
REPO RTAGE M
Tempo de decom
Produção vai aumenta
r
posição x valor
SEXTA-FEIRA
20 de dezembro
de 2013
Gazeta do Sul
ser reciclados
para o lixo
e Letícia Mendes
* jeniffer@gazetadosu
l.com.br leticia.mendes@gaze
ocê jogaria mais
tadosul.com.br
lixeira? Esse é de R$ 20 bilhões na lação
o
santa-cruzense,
recuperado todosvalor que poderia ser mil no
que deve chegar
fim deste ano.
os anos caso o
aos 124
sil adotasse medidas
BraOu seja, o fato
para o reaproveitamento
mais eficientes
de não haver uma
dos resíduos descarta- adequada do lixo doméstico
separação
dos pela população.
nomista, consultor O valor, estimado pelo eco- desperdício do qual a maioriaprovoca um imenso
da Organização
da
se dá conta. Das
Unidas (ONU),
das Nações
81,8 toneladas população não
O mundo deverá
é autor do livro Sabetai Calderoni, que também estima-se que aproximadamente diárias geradas,
descartar
em 2050 um
17,42 são de reseria suficiente Os Bilhões Perdidos no Lixo, síduos recicláveis. A grande
total de 4
para custear um
maioria diz respeibilhões de toneladas
ma Bolsa Família
ano do progra- O fato
de não haver
de resíduos por
lhões de pessoas – benefício que atende 50 miano.
na linha da pobreza.
adequada do lixo uma separação
Atualmente, são
“10 bilhões de
1,4 bilhão
doméstico provoca
de toneladas.
um imenso desperdício
Brasil por não dólares por ano são perdidos
Além do
no
reciclar. Daria
crescimento populacional,
do qual a
para pagar a cesta maioria da
básica mensal para
o aumento do
população
poder de consumo
as
famílias
não se dá conta
tação de habitação”,
e mais
como um dos
principais fatores é apontado
alerta Calderoni. uma presCruz do Sul, estimativas
na produção. Os
para o salto
Em Santa
dados
feitas pelo
ambiental e chefe
estudo do Internationalfazem parte de um
do Departamento engenheiro to a lixo orgânico,
Solid Waste Association
e Qualidade Ambiental
(Iswa). No Brasil,
de Controle do
cada
em fertilizante. que poderia ser transformada Secretaria
de Meio Ambiente,
1,1 quilo de resíduos pessoa gera em torno
de
Saneamento e Municipal
Para Calderoni,
por dia. A média
dade (Semmas),
mundial é de
Sustentabilias iniciativas
diária
1,2 quilos por
R$ 2,6 milhões Daniel Stoelben, apontam que vistas como a principal forma municipais são
habitante.
riais recicláveis são perdidos ao ano com mate- descarte daquilo que poderia de tentar frear o
gerar renda. “O
tor privado já recicla
Leão. Este valor enviados ao aterro de Minas
se- tidos mais
bastante.
do
poderia
O
cla
Brasil não recide R$
mais porque as
ser distribuído
integrantes da
prefeituras
entre os
ção de descarte. 5 milhões no custeio da operacooperativa de
O maior volume
catadores do mu- de reciclagem. 60% do total não têm centrais nhado
nicípio, aplicado
ainda é encamitas para qualificarem investimentos de ferramen- é resto de comida que pode do lixo domiciliar cípio ao aterro sanitário. Todos
os dias, o munigasta R$ 14,5 mil
o trabalho e expandir
virar adubo se
compostado. Para
seletiva, que atualmente
for
para coletar, transportar
que
a
atende 27,6% da coleta se eu posso fazer algo transportar e enterrar isso aterrar o lixo doméstico. Cada
popu177,80. Recursos
útil?”, questiona.
tonelada custa e
Em Santa Cruz
R$
que poderiam
do Sul, em 2013,
gerar renda e reforam inves- duzir o impacto ambiental
acabam enterrados.
na reciclagem
SABETAI CALDERONI
veitado. Os
municípios
podem aproveitar
a fração
organizada do
lixo domiciA legislação está
A SÉRIE
liar para fazer
apertando.
adubo, fertiEstamos em uma
lizante, podem
Publicadas desde
aproveitar
mudança
o
final de semana,
o plástico para
total de mentalidade.
seis
fazer sacos
reportagens mostraram
Os
plásticos. O lixo
lixões até 2014
tem valor
têm que ser
os desafios para
econômico
eliminados. No
elevadíssimo
descarte adequadoo
Brasil, isso é uma
em forma de
revolução
produto.
lixo doméstico. do
central de reciclagem A
é
que faz essa
valorização e
evita o aterramento
que é
um erro muito
dar orientação
grande. Não
e isso não se
se deve
enterrar o que
faz só
tem valor econômico. com governo e empresas.
Incineração e
É uma corresponsabilidade
aterramento é
. Não é um sozinho
equivalente a queimar
que
Não é uma prova e enterrar dinheiro. ximasvai resolver o problema. As
próde sanidade.
gerações estão
vindo
com pensamento em sustentabilidade.
Gazeta–Por que
14 e 15 de dezembro:
É uma
não se deve aterrar doutrina que está na
o lixo? O que se
produção desenfreada a
mídia, no comportamento das
deve fazer?
empresas. As
empresas não podem
exportar e vender
Calderoni–Porque
duto
prose
não
os resíduos têm
estão colaborando
valor econômico.
meio
com
para levar o lixo Gasta-se dinheiro serão ambiente. As próximas geraçõeso
ro. Por que não e recebê-lo no ater- que muito mais conscientes. Espero
pegar o lixo e
o governo e os
formar em algo
transútil para a economia? sam praticar e não empresários posGazeta do Sul–O
só sonhar com
senhor tem uma Lixo enterrado vira chorume
mundo melhor.
um
ligação com as
que preE
judica o meio
questões envolvendo
lhor através de ter um mundo mereciclagem, o reaproveitamento
a um processo ambiente. Através de
comportamento
16 de dezembro:
grado envolvendo
de parceria
inteteriais, que vem
de ma- vada
o
educação, empresa,
(PPP), as prefeituraspúblico pri- governo
de família, do
momento da triagem
seu
Pode nos contar
e ONGs.
poderiam
um pouco dessa pai. implantar centrais
de
ria?
histó- custo
zero. Ela garante reciclagem a
Gazeta–Sem aterro,
que o investidor cubra 100%
o que a gente
faria com aquilo
do investimento
Sabetai Calderoni–Meu
que não pode
depois as prefeituras
e
ser reapai foi preso em campo
fariam a com- proveitado?
pra dos produtos
de concentração
por um preço
Itália, pois era
na vilegiado,
prisoldado do exército
como fertilizantes,
Calderoni–Me
grego. Ele fugiu
energia,
diz o que não
tijolos, poste...
com trinta homens
ser reaproveitado?
pode
pé até a Suíça.
a
Destes, apenas
comida , orgânico, 60% é resto de
sobreviveram.
três
que pode ser
Na Suíça trabalhou
transformado
como cidadão
em
adubo
livre
te. Metade disso e fertilizanprimeiros recicladorese foi um dos
Não se deve enterrar
que atuaram
escorrer. Depois é agua e vai
no mundo. No
o
mundo pós-guerra
que tem valor
papel, plástico tem 30% de
havia falta de
17 de dezembro:
econômico.
vidro, alumínio
matéria-prima
quem faz
e aço. Tudo que
e ele
buscava no lixo
Incineração e
a
coleta
essa matéria-prima.
eu
aterramento
falei
pode
ser reaproveitado,
Ele dizia: ‘Meu
equivalente a
filho preste atenção:
queimar e enterrar é
Sobram
10%: lixo de
existe até ouro
dinheiro. Não
banheiro, fralda,
no lixo. Chamam
é uma prova
papel higiênico
lixo mas não
de
de sanidade
é lixo.
embalagem
de shampoo
primas preciosas ’ São matériase pasta
Esses itens podem de dente.
ser descartado. e não material a
ir para um
gaseificador
e virar energia
elétrica. Então
Gazeta–Em comparação
eu
com
achar nada para não consigo
países, como
Gazeta– É possível
a Holanda, que outros
o aterro.
é desta- ção
que em reciclagem,
de lixo? De que reduzir a produGazeta–Como
forma?
situação do Brasil como o senhor vê a
o
em relação ao
estará a situação senhor acredita que
no que dá aos
destido lixo,
Calderoni–Atravé
seus resíduos?
s da reutilização, e da reciclagem no futuro?dos resíduos,
da logística
18 de dezembro:
reversa que
Calderoni–O
significa
reciclagem
grande problema que materiais como
Calderoni–A reciglagem
que vira negócio
é a falta de
embalagens de
centrais de reciclagem. agrotóxicos têm
no futuro será integral.
Se houvesse
produtor. A pet que voltar para o a
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logística reversa já vai programar
tem que
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com a coleta
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vão receber tudo.
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Vai existir a política
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do depósito e
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separa o lixo
retorno.
de resíduos
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e esse lixo acaba casa produtor vai reaproveitar.porque esse Devolve com as garrafas de cerveja.
do misturado
e recebe a cerveja,
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Quem faz o
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houvesse central ir para o aterro. Se borracha, aproveitar o vidro, plástico, garrafa não fica nunca
com a gente.
de reciclagem
ferro e metal.
Essa mesma
município o
no do reuso,
É
política serve
produto seria
diminuir a geraçãoa política pilhas, baterias,
para as
reapro- duos
de resíde forma simples.
tadores. Se cada celulares e compufazer isso hoje município decidisse
em um ou dois
Gazeta–Investir
anos ia
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resultado maravilhoso.
em edu19 de dezembro:
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decisão política.
Calderoni–É,
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para o aterro
las. É muito
bom. Isso tem que não têm planos de
gestão de resido feito. As
crianças ficam síduos. A legislação está
apertando.
cutucando os
pais e co- Estamos em uma mudança
brando um comportamento
total de
mentalidade.
Os lixões até
mais adequado.
2014 têm
que ser eliminados.
É preciso
No Brasil, isso
uma revolução.
é
20 de dezembro:
bilhões
que vão para
o lixo .
Divulgação/GS
ENTREVISTA
20
PA
ENTREVISTA
ção organizada do lixo domiciliar para fazer adubo,
A legislação está apertando.
SABETAI CALDERONI
fertilizante, podem aproEstamos em uma mudança
veitar o plástico para fazer
Divulgação/GS
total de mentalidade. Os
sacos plásticos. O lixo tem
valor econômico elevadíslixões até 2014 têm que ser
simo em forma de produto.
eliminados. No Brasil, isso é uma
A central de reciclagem é
revolução
que faz essa valorização e
evita o aterramento que é
um erro muito grande. Não
se deve enterrar o que tem
se faz só com governo e empresas. É
valor econômico. Incineração e aterramento é equivalente uma corresponsabilidade. Não é um
a queimar e enterrar dinheiro. Não é sozinho que vai resolver o problema.
As próximas gerações estão vindo
uma prova de sanidade.
com pensamento em sustentabilidaGazeta–Por que não se deve aterrar de. É uma doutrina que está na mídia,
no comportamento das empresas. As
o lixo? O que se deve fazer?
empresas não podem exportar e venCalderoni–Porque os resíduos têm der produto se não estão colaborando
valor econômico. Gasta-se dinheiro com o meio ambiente. As próximas
para levar o lixo e recebê-lo no ater- gerações serão muito mais conscienro. Por que não pegar o lixo e trans- tes. Espero que o governo e os empreformar em algo útil para a economia? sários possam praticar e não só sonhar
Lixo enterrado vira chorume que pre- com um mundo melhor. E ter um munGazeta do Sul–O senhor tem uma judica o meio ambiente. Através de do melhor através de comportamento
ligação com as questões envolvendo a um processo de parceria público pri- integrado envolvendo educação, emreciclagem, o reaproveitamento de ma- vada (PPP), as prefeituras poderiam presa, governo e ONGs.
teriais, que vem de família, do seu pai. implantar centrais de reciclagem a
Gazeta–Sem aterro, o que a gente
Pode nos contar um pouco dessa histó- custo zero. Ela garante que o invesria?
tidor cubra 100% do investimento e faria com aquilo que não pode ser readepois as prefeituras fariam a com- proveitado?
Sabetai Calderoni–Meu pai foi pre- pra dos produtos por um preço priCalderoni–Me diz o que não pode
so em campo de concentração na Itá- vilegiado, como fertilizantes, energia,
ser reaproveitado? 60% é resto de
lia, pois era soldado do exército grego. tijolos, poste...
comida, orgânico, que pode ser transEle fugiu com trinta homens a pé até
a Suíça. Destes, apenas três sobreviveGazeta– É possível reduzir a produ- formado em adubo e fertilizante. Metade disso é água e vai escorram. Na Suíça trabalhou como cidarer. Depois tem 30% de papel,
dão livre e foi um dos primeiros replástico vidro, alumínio e aço.
cicladores que atuaram no mundo.
Não se deve enterrar o
Tudo que eu falei pode ser reNo mundo pós-guerra havia falta
que tem valor econômico.
aproveitado, Sobram 10%: lixo
de matéria-prima e ele buscava no
Incineração e aterramento é
de banheiro, fralda, papel higilixo essa matéria-prima. Ele dizia:
equivalente a queimar e enterrar
ênico embalagem de shampoo
‘Meu filho preste atenção: existe
dinheiro. Não é uma prova
e pasta de dente. Esses itens
até ouro no lixo. Chamam de lixo
podem ir para um gaseificador
mas não é lixo.’ São matérias-pride sanidade
e virar energia elétrica. Então
mas preciosas e não material a ser
eu não consigo achar nada
descartado.
para o aterro.
Gazeta–Em comparação com ouGazeta–Como o senhor acredita que
tros países, como a Holanda, que é des- ção de lixo? De que forma?
estará a situação do lixo, dos resíduos,
taque em reciclagem, como o senhor
vê a situação do Brasil em relação ao
Calderoni–Através da reutilização, e da reciclagem no futuro?
destino que dá aos seus resíduos?
da logística reversa que significa
Calderoni–A reciclagem no futuque materiais como embalagens de
Calderoni–O grande problema é agrotóxicos têm que voltar para o ro será integral. E já vai programar
a falta de centrais de reciclagem. Se produtor. A pet tem que voltar para a logística reversa completa. As inhouvesse mais, a população ficaria quem produzir, automóvel tem que dústrias vão receber tudo. Vai exismais entusiasmada com a coleta se- voltar para quem faz. Isso é fator de tir a política do depósito e retorno.
letiva. Hoje a população se sente tra- diminuição de resíduos porque esse Como é com as garrafas de cerveja.
ída porque separa o lixo em casa com produtor vai reaproveitar. Quem faz o Devolve e recebe a cerveja, então a
carinho e esse lixo acaba sendo mis- carro vai aproveitar o vidro, plástico, garrafa não fica nunca com a gente.
turado ao ir para o aterro. Se houves- borracha, ferro e metal. É a política Essa mesma política serve para as
se central de reciclagem no municí- do reuso, diminuir a geração de resí- pilhas, baterias, celulares e computadores. Se cada município decidisse
pio o produto seria reaproveitado. Os duos de forma simples.
fazer isso hoje em um ou dois anos ia
municípios podem aproveitar a fraGazeta–Investir em edu- conseguir um resultado maravilhoso.
cação é uma forma de redu- Se o prefeito não quiser, nunca vai
acontecer. Se quiser fazer mudança,
zir essa produção?
Hoje a população se sente
tem que tomar decisão política. O
traída porque separa o lixo
Calderoni–É, nas esco- tribunal está ameaçando prefeitos
em casa com carinho e esse
las. É muito bom. Isso tem que não têm planos de gestão de resido feito. As crianças ficam síduos. A legislação está apertando.
lixo acaba sendo misturado ao ir
cutucando os pais e co- Estamos em uma mudança total de
para o aterro
brando um comportamento mentalidade. Os lixões até 2014 têm
mais adequado. É preciso que ser eliminados. No Brasil, isso é
dar orientação e isso não uma revolução.
20 de dezembro: bilhões
que vão para o lixo.
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