aplicação do kaizen nas operações internas de logística
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aplicação do kaizen nas operações internas de logística
UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ Joaquim Alves dos Santos Neto APLICAÇÃO DO KAIZEN NAS OPERAÇÕES INTERNAS DE LOGÍSTICA DE UMA MONTADORA DE VEÍCULOS Taubaté – SP 2008 UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ Joaquim Alves dos Santos Neto APLICAÇÃO DO KAIZEN NAS OPERAÇÕES INTERNAS DE LOGÍSTICA DE UMA MONTADORA DE VEÍCULOS Dissertação apresentada para obtenção do Título de Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional pelo Departamento de Economia, Contabilidade e Administração da Universidade de Taubaté. Área de Concentração: Gestão de Recursos Socioprodutivos. Orientador: Prof. Dr. José Glenio Medeiros de Barros. Taubaté – SP 2008 JOAQUIM ALVES DOS SANTOS NETO APLICAÇÃO DO KAIZEN NAS OPERAÇÕES INTERNAS DE LOGÍSTICA DE UMA MONTADORA DE VEÍCULOS Dissertação apresentada para obtenção do Título de Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional pelo Departamento de Economia, Contabilidade e Administração da Universidade de Taubaté. Área de Concentração: Gestão de Recursos Socioprodutivos. Data: ________________________ Resultado: ____________________ BANCA EXAMINADORA Prof. Dr. José Glenio Medeiros de Barros Universidade de Taubaté Assinatura __________________________ Prof. Dr. Cyro Alves Borges Júnior Universidade do Estado do Rio de Janeiro Assinatura __________________________ Prof. Dr. José Luis Gomes da Silva Assinatura __________________________ Universidade de Taubaté “Aprender é a única coisa de que a mente nunca se cansa, nunca tem medo e nunca se arrepende”. Leonardo da Vinci À Isabel, minha esposa, que me acompanhou, colaborou e me apoiou no desenvolvimento deste trabalho. À minha mãe, que me guiou nos primeiros passos da aprendizagem e continua me incentivando. Ao meu pai, que me mostrou o valor do trabalho, da humildade e da honestidade. AGRADECIMENTOS Ao Prof. Dr. José Glenio Medeiros de Barros, pela dedicação e perspicácia na orientação e na contribuição para o desenvolvimento deste trabalho. À Profa. MSc. Miroslava Hamzagic, que trouxe sugestões de grande importância para a qualidade desta dissertação. Aos Professores Dr. Antonio Pascoal Del’Arco Júnior, Dr. José Luis Gomes da Silva e Dr. Francisco Cristóvão Lourenço de Melo, pelo incondicional apoio, parceria e colaboração no desenvolvimento deste aluno e profissional. Aos Srs. Antonio Carlos da Silva e Roberto Pereira Pinto Júnior, que colaboraram para o levantamento dos dados e resultados deste trabalho. A todos os companheiros de classe e professores da Turma 7 do Mestrado em Gestão e Desenvolvimento Regional, pelas alegrias nos bate-papos, pelo incentivo nos momentos difíceis e pela presteza na hora da necessidade. RESUMO A abertura econômica realizada no início da década de 90, no Brasil, levou as empresas brasileiras a investir em novos métodos e tecnologias para ampliar sua competitividade diante da concorrência global. Basicamente nesta época, o mercado automobilístico brasileiro era atendido por quatro grandes montadoras (Volkswagen, Ford, General Motors e Fiat) e, recebeu novos concorrentes, que trouxeram produtos e instalações modernas. Esse fator aumentou a capacidade produtiva do País na indústria automobilística, e a oferta excedeu a demanda do mercado. Como decorrência, as empresas do setor concentraram esforços e investimentos em melhorias dos seus processos e produtos para enfrentar a concorrência no mercado interno e no mercado internacional. Muitas dessas empresas têm buscado implentar a filosofia da Produção Enxuta para criar condições para obter vantangem competitiva. É nesse contexto que o presente estudo se fez oportuno e foi desenvolvido numa unidade de produção de uma montadora de veículos localizada no Estado de São Paulo. Este descreve as ações desenvolvidas para aumentar a produtividade das operações internas de logística desta empresa, baseadas na aplicação de conceitos da Produção Enxuta. Isso significou o estabelecimento de uma parceria entre a montadora e seu fornecedor de serviços nas operações internas de logística. Os parceiros concordaram em compartilhar objetivos e recursos e utilizar a metodologia do processo de melhoria contínua. A empresa automobilística concordou em transferir ao fornecedor o seu conhecimento sobre aplicação das ferramentas e sobre os conceitos da metodologia do Kaizen. Para medir os resultados obtidos, foram definidos indicadores de produtividade, qualidade e custos. Durante o período de estudo, os indicadores utilizados mostraram que o desempenho das operações internas de logística foi aperfeiçoada, mas também apontou que ainda há oportunidades de melhoria as quais dependem de novos investimentos. Palavras-chave: Produção Enxuta. Produtividade. Provedor de Serviços Logísticos. ABSTRACT The economical opening of the beginning of decade of 90, in Brazil, led the Brazilian companies to invest in new methods and technologies to increase them competitiveness in face of global competition. Basically at that time, Brazilian automobile market share was attended by four great car manufacturing (Volkswagen, Ford, General Motors and Fiat) and, received new competitors who brought modern products and facilities. This fact increased the productive capacity of the country in the automobile industry and supply exceeded demand in the market. As a result, companies concentrated efforts and investments on process and products improvements in order to confront the competition on internal market and international market. Many of these companies have been trying to implement the Lean Production philosophy to create conditions to achieve competitive advantage. It is in this context that the present study was timely and was developed at production unit of a car manufacturing located in São Paulo State. The study describes the actions accomplished to increase the productivity of this company’s logistic internal operations, based on application concepts from Lean Production. This fact signified the establishment of a partnership process with the car manufacturing and its Third Party Logistic supplier. The partners agreed to share resources and goals and use the methodology of continuous improvement process. The automobile company agreed to transfer to the supplier its knowledge about application of the tools and concepts of Kaizen methodology. To measure the results obtained some indicators of productivity, quality and cost were defined. During the period of study, the indicators showed the performance of logistics internal operations was improved, but also pointed out that there are still opportunities for improvement which depend on new investment. Keywords: Lean Production. Productivity. Third Party Logistics. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - A primeira linha de montagem em 1913, para o modelo T ..................... 27 Figura 2 - Fluxograma sobre o funcionamento do STP........................................... 30 Figura 3 - A casa do Sistema Toyota de Produção ................................................. 33 Figura 4 - Cartão Kanban ....................................................................................... 40 Figura 5 - Ciclo do PDCA ........................................................................................ 47 Figura 6 - Equipamentos industriais para operação interna de logística ................. 61 Figura 7 - Provedor de serviços logísticos na cadeia de suprimentos..................... 64 Figura 8 - Conceito do 4PL...................................................................................... 66 Figura 9 - Esquema do fluxo do processo produtivo na Unidade de Produção VP . 68 Figura 10 - Fluxo de atividades do provedor logístico ............................................. 73 Figura 11 - Composição do time no workshop de PMP .......................................... 80 Figura 12 - Nove desperdícios do SPO ................................................................... 82 Figura 13 - Os onze passos do PMP....................................................................... 84 Figura 14 - Fluxograma ........................................................................................... 88 Figura 15 - Redução do tempo de ciclo das atividades do provedor logístico....... 102 Figura 16 - Carrinhos adicionais no abastecimento da linha de montagem .......... 108 Figura 17 - Organização do depósito .................................................................... 111 Figura 18 - Foto da simulação do transbordo do assoalho central........................ 114 Figura 19 - Indicadores de qualidade na portaria .................................................. 118 Figura 20 - Indicadores de qualidade no recebimento .......................................... 119 Figura 21 - Redução de custos por veículo produzido na logística ....................... 121 Figura 22 - Redução no custo por veículo produzido da unidade de produção .... 121 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Descrição dos módulos do Sistema de Produção Ômega .................... 70 Quadro 2 - Oportunidade de melhorias nas operações internas de logística........ 100 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Produção na portaria............................................................................ 104 Tabela 2 - Produção no recebimento 1 da montagem final................................... 105 Tabela 3 - Produção no abastecimento Kanban na linha de montagem ............... 109 Tabela 4 - Produção nas atividades de depósito da montagem final .................... 113 Tabela 5 - Melhorias na movimentação de subconjuntos e laterais ...................... 116 Tabela 6 - Redução de custos operacionais ......................................................... 122 LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS 3PL: Third Party Logistics 4PL: Fourth Party Logistics 5S: Cinco Sensos ASN: Advanced Shipping Notices ANEEL: Agência Nacional de Energia Elétrica BOM: Bill of Material BSC: Balanced Scorecard CPMS: Central de Pré-montagem e Seqüenciamento CSCMP: Council of Supply Chain Management Professionals EAN: European Article Numbering GLP: Gás Liquefeito do Petróleo GTDA: Guia de Transporte de Dispositivos de Acondicionamento JIT: Just-in-Time KD: Knocked Down MTM: Method Time Measurements NF: Nota Fiscal PCP: Programação e Controle da Produção PDCA: Plan, Do, Check e Action PMP: Processo de Melhoria da Produtividade PSL: Provedor de Serviços Logísticos SABESP: Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo SGA: Sistema de Gestão Ambiental SPS: Set Pallet System STP: Sistema Toyota de Produção TPM: Total Productive Maintenance VP: Vale do Paraíba WS: Workshop SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 15 1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 NATUREZA DO PROBLEMA......................................................................... 19 OBJETIVO GERAL DO TRABALHO.............................................................. 22 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO......................................................................... 23 RELEVÂNCIA DO ESTUDO .......................................................................... 23 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO .................................................................. 24 2 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................ 26 2.1 A PRODUÇÃO EM MASSA ........................................................................... 26 2.2 A PRODUÇÃO ENXUTA................................................................................ 28 2.2.1 A filosofia da Produção Enxuta ........................................................... 30 2.2.2 O processo da Produção Enxuta......................................................... 34 2.2.2.1 A cultura da qualidade – Jidoka....................................................... 35 2.2.2.2 A padronização de atividades e o nivelamento da produção........... 36 2.2.3 O valor da organização......................................................................... 38 2.2.4 O método enxuto e suas ferramentas ................................................. 39 2.2.4.1 O método Kanban............................................................................ 40 2.2.4.2 O processo de melhoria contínua .................................................... 42 2.2.4.3 A causa raiz dos desperdícios ......................................................... 44 2.2.4.4. A solução dos problemas................................................................. 45 2.2.4.5 O ciclo PDCA e suas características ............................................... 46 2.3 A LOGÍSITICA NA PRODUÇÃO ENXUTA..................................................... 49 2.3.1 Operações logísticas na manufatura .................................................. 50 2.3.2 A armazenagem .................................................................................... 51 2.3.2.1 O recebimento ................................................................................. 53 2.3.2.2 O depósito ....................................................................................... 54 2.3.2.3 A expedição ou abastecimento........................................................ 55 2.3.2.4 Avaliação de desempenho............................................................... 56 2.3.3 O manuseio de materiais...................................................................... 57 2.3.3.1 - Equipamentos para o manuseio de materiais............................... 59 2.3.4 A terceirização ...................................................................................... 62 2.3.5 Parceria no gerenciamento da cadeia de suprimentos ..................... 65 3 CONTEXTO INDUSTRIAL DO ESTUDO.............................................................. 68 3.1 OS ELEMENTOS DO SISTEMA DE PRODUÇÃO ÔMEGA – SPO .............. 69 3.2 A LOGÍSTICA INTERNA E SUAS ATIVIDADES............................................ 71 3.3 ATIVIDADES DO PROVEDOR LOGÍSTICO.................................................. 74 4 A IMPLANTAÇÃO DO PROCESSO DE MELHORIA DA PRODUTIVIDADE ...... 77 4.1 DESENVOLVIMENTO DO ESTUDO DE CASO ............................................ 78 4.2 O PROCESSO DE MELHORIA DA PRODUTIVIDADE ................................. 78 4.2.1 Descrição do processo......................................................................... 80 4.2.1.1 Preparação das reuniões de melhorias ........................................... 81 4.2.1.2 As atividades do grupo de trabalho ................................................. 82 4. 3 TEMPOS E MÉTODOS................................................................................. 84 5 PROPOSIÇÃO METODOLÓGICA ....................................................................... 86 5.1 TIPO DE ABORDAGEM DA PESQUISA ....................................................... 86 5.2 ETAPAS DA METODOLOGIA ....................................................................... 87 5.2.1 Caracterização do problema ................................................................ 88 5.2.2 Definição dos objetivos........................................................................ 89 5.2.3 Definição dos indicadores de acompanhamento............................... 91 5.2.3.1 Indicadores de produtividade............................................................ 91 5.2.3.2. Indicador de qualidade .................................................................... 94 5.2.3.3. Indicador de custos.......................................................................... 95 5.2.4 Definição do período de controle ........................................................ 97 5.2.5 Levantamento e tratamento dos dados .............................................. 98 5.2.6 Realização dos workshops .................................................................. 98 6 RESULTADOS E DISCUSSÕES........................................................................ 100 6.1 AUMENTO DA PRODUTIVIDADE............................................................... 102 6.1.1 Ação de melhoria na atividade de portaria ....................................... 103 6.1.2 Ação de melhoria na atividade de recebimento ............................... 105 6.1.3 Ação de melhoria na atividade de abastecimento ........................... 106 6.1.4 Ação de melhoria na atividade de depósito ..................................... 109 6.1.4.1 A organização dos depósitos da montagem final .......................... 110 6.1.4.2 A produtividade dos depósitos da montagem final ........................ 112 6.1.5 Ações de melhorias nas atividades de subconjuntos e lateral ...... 113 6.1.6 Melhorias no fluxo de abastecimentos ............................................. 117 6.2 MELHORIA DA QUALIDADE....................................................................... 118 6.3 REDUÇÃO DE CUSTOS ............................................................................. 120 7 CONCLUSÃO ..................................................................................................... 124 REFERÊNCIAS....................................................................................................... 127 GLOSSÁRIO........................................................................................................... 133 15 1 INTRODUÇÃO A maioria das empresas atuantes no Brasil tem buscado se tornar cada vez mais competitivas, com o objetivo de aumentar sua participação no mercado nacional e internacional. O processo de abertura econômica no Brasil, iniciado em meados da década de 90, trouxe às empresas investimento em novos métodos e tecnologias e mudanças de caráter cultural e operacional. Em particular, a indústria automobilística brasileira realizou um forte trabalho na implementação da filosofia da Produção Enxuta como mudança na cultura das empresas, visando adquirir vantagem competitiva. A Produção Enxuta foi criada e desenvolvida no Japão pela Toyota Motor Company, ao longo das décadas de 50, 60 e 70. Esta filosofia é constituída por estratégias de produção, que, entre outros benefícios, maximizam as reduções de perdas nos processos. Seu reconhecido sucesso propiciou o crescimento da Toyota, tornando-a a empresa mais lucrativa do mercado automobilístico. Assim, outras organizações, concorrentes e fornecedores têm adotado seus conceitos e premissas nas mais variadas atividades e operações dentro das empresas. Nesse contexto, o presente trabalho aborda a aplicação da estratégia de produtividade na logística de operações internas de uma montadora de automóveis, com base na Produção Enxuta. O estudo foi desenvolvido em uma planta industrial localizada no Vale do Paraíba, no Estado de São Paulo. Para preservar a empresa envolvida no estudo, esta foi denominada Empresa Ômega e a planta citada como Unidade de Produção do Vale do Paraiba ou Unidade de Produção VP. Esta Unidade de Produção VP tem desenvolvido iniciativas de introdução dos conceitos 16 contidos na filosofia da Produção Enxuta com sucesso. Essa experiência tem sido transferida para as demais plantas nacionais do mesmo grupo por benchmarking. A Unidade de Produção VP vem adotando conceitos e metodologias que visam ao aumento da produtividade, à redução de custos e ao aperfeiçoamento do seu sistema de gestão da qualidade. As metas estabelecidas buscam o melhor aproveitamento das instalações e insumos disponíveis, o que aumenta a eficiência da produção por meio da ampliação da capacidade produtiva. Os meios utilizados para atingir essas metas baseiam-se na aplicação de técnicas e metodologias variadas, tais como o Just-in-time e a gestão de melhoria contínua no modelo japonês, denominada Kaizen. A política desenvolvida para a área da qualidade fundamentou-se na certificação de qualidade, Norma ISO 9001, e na implantação do Sistema de Gestão Ambiental - SGA. Resultados significativos têm sido obtidos com o uso da melhoria contínua (Kaizen) para a solução de problemas e a implementação de melhorias nos processos e produtos. Essas ações têm sido realizadas por equipes multifuncionais. As melhorias obtidas nos últimos três anos, com a eliminação de perdas nos processos produtivos dessa unidade de produção, possibilitaram um aumento de aproximadamente 30% da produção líquida horária. A implementação do Just-in-time na unidade de produção VP promoveu a introdução dos conceitos de logística integrada, do Kanban, do Milk Run e das janelas de entregas para os fornecedores. A redução de custos indiretos de produção ocorreu, principalmente, nos materiais de manutenção e de suprimentos e nas ferramentas administrativas. Isso resultou na implementação de novos materiais e fornecedores, inclusive com a nacionalização de alguns itens e componentes. 17 A implementação do Sistema de Gestão Ambiental (SGA) teve duas premissas: atender à normatização da ISO 14000 e, ao mesmo tempo, identificar oportunidades para a aplicação dos processos de melhoria contínua em áreas diretas e indiretas. O SGA colaborou com o processo de melhoria contínua, pois reduziu as despesas e o consumo e, em alguns casos, transformou despesa em receita. A redução no consumo de água tratada fornecida pela SABESP e a redução do consumo de energia elétrica são exemplos de redução de despesas. Contudo, alguns materiais que eram depositados em aterro sanitário passaram a ser reciclados e vendidos a outras empresas. Pode-se citar o caso da borra de tinta. Durante a aplicação de tinta nos veículos, por jato, parte desse material recaía sobre o chão da cabine de pintura. Esse resíduo, denominado borra de tinta, anteriormente era coletado e lançado em aterro sanitário. Atualmente, esse material é reaproveitado na fabricação de tintas de segunda linha, utilizadas, geralmente, para a pintura de cascos de barcos e navios, ou como combustível para empresas de fabricação de cimento. Essa ação transformou despesa em receita. A redução do consumo de água tratada deu-se com a introdução de um sistema de reuso de água. Isso permitiu uma redução de 40% no volume de água tratada adquirida da SABESP. Além da importância ambiental dessa ação, o custo da água tratada para reuso é inferior ao custo da água adquirida da companhia de saneamento. Por último, foi criado um grupo para gerenciar o consumo de energia elétrica na planta, mediante padronização de atividades, identificação de desperdícios, implantação e monitoramento de ações de redução do consumo de energia elétrica. As ações implantadas nos últimos anos promoveram a redução do consumo de energia e da demanda contratada, mesmo com o aumento de produção observado no mesmo período. Por definição, a demanda contratada é a potência 18 ativa disponibilizada no ponto de uso (empresa) a ser paga integralmente, sendo ou não consumida pela empresa solicitante (ANEEL, 2000). Os êxitos obtidos com a aplicação da técnica do processo de melhoria contínua nas atividades diretas e indiretas de produção, em conjunto com o SGA, possibilitaram que essa estratégia fosse expandida para a aplicação no desenvolvimento de novos produtos e na rede de suprimentos. Dessa maneira, o campo de oportunidades para a redução de custos na empresa Ômega foi ampliado, com vistas a se manter a sustentabilidade da competitividade interna e externa da empresa. Para cumprir com eficiência as metas planejadas, a empresa Ômega contratou uma consultoria internacional especializada no desenvolvimento e treinamento da aplicação da Produção Enxuta. A consultoria atuaria como suporte e orientadora dos trabalhos, durante o ano de 2006, com foco no processo produtivo e no fluxo interno de materiais. No processo produtivo, a ferramenta utilizada foi a análise do fluxo de valor. Este pode ser entendido como o mapeamento de um processo, identificando as operações que agregam valor ao produto e aquelas que são consideradas desperdícios. Para esses desperdícios são avaliadas oportunidades de sua redução ou eliminação, as quais são analisadas e corrigidas pelo processo de melhoria contínua. Para a melhoria do fluxo interno do processo, foi necessário envolver o fornecedor de serviços de logística interna, que, neste trabalho, foi denominado provedor logístico. Esta ação se integrou à aplicação da metodologia Kaizen na rede de suprimentos e no caso específico das atividades desenvolvidas pelo provedor logístico. Assim, as metas estabelecidas tiveram por objetivo padronizar as atividades, otimizar o fluxo de materiais e reduzir custos operacionais. Contudo, para 19 o sucesso da operação, era necessário o compartilhamento de esforços, metodologias e conhecimentos entre a empresa Ômega e o provedor logístico, num autêntico processo de parceria. 1.1 NATUREZA DO PROBLEMA O objetivo de realizar um processo de melhoria contínua em um fornecedor tornou-se um desafio para a unidade de produção VP e para o próprio provedor logístico. Para a unidade de produção VP, esse desafio consistiu, inicialmente, em transferir o conhecimento da metodologia da melhoria contínua ao seu fornecedor de serviços e em convencê-lo de que os trabalhos desenvolvidos, com a adequada aplicação da metodologia, trariam benefícios às duas empresas. Por outro lado, coube ao provedor logístico concordar e comprometer-se com o projeto, contribuindo com recursos próprios e seu conhecimento operacional. Para as duas empresas e para o grupo de trabalho formado, além do alcance das metas, havia o desafio de engajar e treinar os empregados do provedor logístico, motivando-os a contribuir com soluções para os desperdícios encontrados. A montadora de veículos Ômega, mediante a análise dos indicadores de produtividade, qualidade e custos das operações de logísticas, como também da realização de benchmarking dos serviços prestados, identificou oportunidades em diversas atividades. Em decorrência dessa análise, também se verificou que o prestador de serviços não tinha conhecimento para a total aplicação da filosofia da Produção Enxuta, conforme objetivos estabelecidos. No entanto, a montadora também entendeu que contribuía para essa baixa eficiência no processo logístico, 20 pois não realizou investimentos para a atualização de recursos, bem como não desenvolveu um planejamento de melhorias para a área. A partir dessa situação, as oportunidades foram identificadas, tanto no fornecimento de recursos por parte da empresa automobilística, quanto no desempenho nas atividades operacionais por parte do provedor de serviços logísticos. Foi evidenciada uma baixa eficiência do fluxo de abastecimentos e movimentação de materiais, proveniente de falta de padronização no fluxo de movimentações, de equipamentos adequados, de rotas e freqüências não definidas, da expansão não planejada do processo produtivo e do uso excessivo de empilhadeiras. O uso de empilhadeiras, em vez de rebocadores elétricos, trazia perda de eficiência, em razão de o rebocador transportar uma maior quantidade de carga de mesmo volume em relação às empilhadeiras, que só transportam um volume por vez. Outro ponto observado na movimentação por empilhadeiras foi a alta freqüência de movimentações vazias, ou seja, empilhadeiras sem carga ou com embalagens vazias. Desse modo, as operações apresentavam-se com baixa eficiência quanto ao uso dos equipamentos industriais, bem como um fluxo excessivo de veículos nas ruas internas das alas, o que criava condição insegura aos empregados de ambas as empresas. Outra ineficiência das operações internas de logística encontrava-se no recebimento de peças e partes dos fornecedores, o que ocasionava demora na liberação da entrada do veículo, como também na descarga do caminhão. Isso gerava constantes reclamações dos fornecedores. Para os clientes externos, os motoristas de caminhões responsáveis pela entrega de peças e insumos dos fornecedores à Unidade de Produção VP, os problemas iniciavam-se no portão de 21 entrada da montadora. Havia uma burocracia significativa na preparação da documentação de liberação de entrada e filas de espera para as docas de recebimento. Com a entrada do veículo e este estacionado na doca, a descarga dos materiais ocorria de maneira lenta também, situação esta em que dois motivos chamavam a atenção. O primeiro motivo era a distribuição irregular dos recebimentos ao longo do dia e entre os dias da semana, ou seja, o fluxo de veículos era mais intenso no período da manhã e no início da semana. O segundo motivo residia no fato de a montadora utilizar dois turnos de produção, ou seja, trabalhar apenas 16 horas por dia, enquanto o Recebimento necessitava de três turnos para realizar os recebimentos, trabalhando 24 horas por dia. Isso gerava um aumento de custo para a empresa automobilística relacionado diretamente com o provedor e indiretamente com os insumos de energia e suprimentos para os equipamentos logísticos necessários. Essas situações concorreram para a definição de ações de melhoria de processos logísticos, visando ao aumento de produtividade relacionado aos insumos utilizados e à parceria das empresas no desenvolvimento dos trabalhos. Desse esforço de melhoria surgiram os seguintes questionamentos: quais ações podiam ser implantadas para aumentar a produtividade, a qualidade e reduzir os custos nas atividades da operação interna de logística? A metodologia do processo de melhoria contínua utilizada pela montadora seria eficiente e eficaz na solução dos problemas das operações de logística? Haveria dificuldades no compartilhamento de recursos, de objetivos e de tecnologia para a realização desse projeto? Os “ruídos” poderiam prejudicar o desenvolvimento adequado dos trabalhos e a sua eficiência? Destas 22 questões surgiram a necessidade e a motivação para o desenvolvimento da presente dissertação. 1.2 OBJETIVO GERAL DO TRABALHO O objetivo geral deste trabalho é a análise dos ganhos nas atividades de logística interna com a Produção Enxuta. O objetivo específico é resultado da análise do processo de logística interna e da identificação de oportunidades de melhoria na unidade de produção VP, que resultaram na elaboração de um plano de ações e na definição de uma equipe multifuncional responsável pela implementação dessas propostas. O trabalho concentrou-se nos resultados de aumento da produtividade e qualidade, bem como na redução de custos e na otimização do uso de equipamentos. O plano de ações tinha como proposta central a eliminação do terceiro turno na atividade de recebimento de componentes e insumos em geral, bem como a otimização dos abastecimentos de linhas e postos de trabalho. Sendo assim, seria necessário: • Adequar o layout dos depósitos. • Planejar os fluxos de entrega e as freqüências adequadas para o abastecimento de linha de montagem e postos de trabalho. • Otimizar e eliminar operações de transbordo de materiais. • Otimizar as operações de portaria, recebimento e abastecimento dos pontos de uso de materiais. O grupo de trabalho envolvido, no qual o autor foi integrado, elaborou uma revisão dos fluxos de fornecedores mediante a uniformização das quantidades de 23 recebimentos diários (fornecedores) buscando distribuir de maneira equilibrada toda a entrega durante os dois turnos de trabalho e produção da montadora. 1.3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO As atividades de logística foram estudadas abordando-se exclusivamente a operação interna de logística, ou seja, os serviços operacionais realizados dentro da unidade de produção VP. As atividades analisadas, conforme já mencionado, foram aquelas relacionadas ao recebimento de fornecedores e de material, à administração de depósito e à movimentação de materiais dentro da planta. Para o desenvolvimento da dissertação, houve contínuo acompanhamento das ações de melhorias de processos realizadas entre julho de 2006 e julho de 2007. O trabalho realizado na empresa Ômega utilizou a metodologia do próprio grupo automobilístico, baseada nos princípios e conceitos da Produção Enxuta, que está inserida em seu sistema de produção e é denominada Processo de Melhoria da Produtividade (PMP). Essa metodologia foi transferida ao provedor logístico mediante compartilhamento de conhecimentos na elaboração de melhorias contínuas em suas atividades. 1.4 RELEVÂNCIA DO ESTUDO A relevância deste estudo está no fato de ele trazer informações sobre melhorias que podem ser implantadas para a otimização de fluxos de abastecimento 24 e no recebimento de fornecedores para outras empresas desse setor. Dessa implantação discute-se a adequabilidade da aplicação da Produção Enxuta em todos os processos de logística interna dentro de uma planta com as características apresentadas, inclusive contando com a parceria de fornecedores na sua aplicação, em função dos resultados obtidos. Os benefícios e as dificuldades na realização da transferência de conhecimentos do cliente para o fornecedor, ocorrida no caso estudado, tornam-se uma referência para novos processos. As informações apresentadas servem como “melhores práticas” para uso da própria empresa com novos fornecedores e, principalmente, para outras organizações que estão planejando realizar processos similares. Para a empresa automobilística estudada, a relevância da aplicação da metodologia trouxe ganhos financeiros, evidenciou ser benéfica para a parceria com este fornecedor e serviu como importante contribuição para o banco de best practice da empresa. 1.5 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO O trabalho foi elaborado em sete partes. O Capítulo 1 traz informações sobre o contexto do estudo desenvolvido e fornece a descrição dos objetivos detalhados e da relevância pretendida pelo estudo, bem como as suas delimitações. No Capítulo 2, é apresentada a revisão bibliográfica, que objetiva fornecer o embasamento teórico ao entendimento do trabalho e a justificativa das ferramentas 25 escolhidas. Essa revisão da literatura inclui obras relevantes sobre o tema e artigos recentemente publicados sobre os conhecimentos discutidos. No Capítulo 3, pretende-se inteirar o leitor no contexto das empresas onde o trabalho foi executado, auxiliando-o com informações sobre o processo produtivo da montadora, sobre o seu sistema de produção e também sobre as atividades do seu fornecedor de serviços logísticos. O Capítulo 4 descreve o processo de melhoria contínua da montadora de automóveis, compartilhado com seu fornecedor, para o desenvolvimento, em parceria, dos trabalhos de melhoria nas operações de logística. A proposição metodológica com a descrição dos processos de medição e a avaliação dos resultados das melhorias realizadas está no Capítulo 5. Nesse capítulo procura-se fornecer, de maneira clara, como se procedeu ao estudo e o porquê dos indicadores escolhidos. As ações implementadas e os resultados obtidos, com suas respectivas análises estão elaborados no Capítulo 6. Para facilitar o entendimento dos trabalhos elaborados e seus resultados, são apresentadas figuras e tabelas contendo os valores obtidos antes e depois da aplicação das melhorias. Para finalizar, o Capítulo 7 traz as conclusões e a contribuição do estudo realizado, bem como propostas de desdobramentos em novos estudos, que possam enriquecer a literatura sobre o assunto abordado. 26 2 REVISÃO DA LITERATURA A indústria automobilística foi considerada por Drucker (1946, apud Womack et al., 1992) como a “indústria das indústrias”. Womack (1992) justificou essa importância devido aos conceitos inovadores introduzidos. No entendimento destes pesquisadores foram dois os conceitos surgidos, um em cada metade do século passado, que estabeleceram tamanha distinção: a Produção em Massa e a Produção Enxuta. 2.1 A PRODUÇÃO EM MASSA Para Megginson et al. (1998) a Produção em Massa é resultado do desenvolvimento da teoria da administração científica elaborada por Frederick W. Taylor e outros estudiosos. No entendimento de Maximiano (2004), a administração científica traduz-se em reduzir custos de produção por meio do incentivo monetário, em determinar cientificamente a melhor maneira de se executar cada atividade do processo, em treinar os operadores selecionados adequadamente conforme determinado e em promover um ambiente integrado entre administração e trabalhadores. Ohno (1997, p. 105) diz que ”Henry Ford criou o sistema de produção automotivo”, o qual originou o sistema de Produção em Massa. A característica principal desse conceito, conforme descrita por Maximiano (2004) e Ohno (1997), está na capacidade de transformar progressivamente a matéria-prima de cada processo e de todos eles fluírem para uma linha de montagem final. Essa linha de 27 montagem se movimenta em velocidade regular, enquanto as partes e peças são agregadas por operadores distribuídos em postos fixos em toda a sua extensão. Os carros saem totalmente montados, um após o outro, no final da linha de montagem. Womack et al. (1992) e Ohno (1997) apontam a produção em massa como inovação com foco em “quantidade e velocidade” com “baixa flexibilidade” da produção. A Figura 1 ilustra a linha de montagem instalada em 1913, em Highland Park, para a produção do modelo Ford T na fábrica da Ford Motor Company. FOTOS da PRIMEIRA LINHA de MONTAGEM Figura 1 - A primeira linha de montagem em 1913, para o modelo T Fonte: www.images.google.com.br. Acesso em: 16 mar. 2007 Esse modelo de produção ficou conhecido como produção empurrada, porque a linha de produção não pára quando ocorrem defeitos e esses são identificados. As peças ou produtos são segregados para retrabalho posterior ou enviados a outra área, para conserto. 28 2.2 A PRODUÇÃO ENXUTA A manufatura na indústria automobilística, conforme a visão de Slack (1993), é estrategicamente importante para a obtenção da competitividade. Este é o local onde o produto é elaborado com qualidade, produtividade, flexibilidade e agilidade, e ainda melhorando a cada dia. O resultado disso é o desempenho crescente, que traz como conseqüência a redução de custos e a competitividade. Este também era o pensamento de Ohno (1997), que refere que é na produção e por meio de sua observação adequada que se pode entendê-la e otimizá-la, o que gera um diferencial competitivo. O desenvolvimento da empresa automobilística da Toyota resultou em uma inovação do sistema produtivo, o Sistema Toyota de Produção (STP) (LIKER, 2005). O STP tomou consistência na década de 50. Ohno (1997) comenta que a produção da Toyota deveria ser flexível para produzir diferentes tipos de veículos e otimizar o uso de insumos devido à escassez de recursos no Japão. O objetivo era tornar-se competitivo no mercado japonês frente aos Estados Unidos e competir com sua produção em escala. Essa necessidade gerou a pesquisa e o desenvolvimento de uma metodologia que pudesse oferecer otimização da mão-de-obra, baixo nível de estoque de materiais e atender a uma produção diversificada e de pequeno volume mensal. A isso Shingo (1996) denominou evolução da linha de montagem da Ford. O STP, aqui no Brasil, ficou conhecido também pelo termo Produção Enxuta, que é a tradução de Lean Production, e descrito por Liker (2005) como sendo adotado inicialmente por Womack, Jones e Ross (1992) no best seller “A Máquina que Mudou o Mundo”. Este livro é o resultado do trabalho acadêmico para entender 29 as práticas desenvolvidas por Eiji Toyoda e Taiichi Ohno na Toyota, que lhe conferiam enorme competitividade no mercado mundial de automóveis. Essas práticas do STP refletem a filosofia e os métodos de trabalho adotados pela empresa japonesa. A disciplina, em sua aplicação, garante à empresa produzir carros com alto desempenho, design arrojado, baixos custos de produção e, conseqüentemente, preços competitivos e aumento da lucratividade, o que possibilita sua expansão no mercado (LIKER, 2005). Holweg (2006) acrescenta o processo de aprendizado constante como uma das importantes características do STP. Entretanto, é essencial o envolvimento de todos os envolvidos, desde o fornecedor de matérias-primas ou partes e componentes, até o prestador de serviços encarregado de entregar o produto ao cliente. Assim, Ohno (apud Liker, 2005) propõe o envolvimento e o comprometimento de fornecedores, distribuidores e de todos os funcionários da empresa, independentemente do nível hierárquico, em realizar, diariamente, suas atividades cada vez melhor, identificando desperdícios e eliminando-os. Com esse incremento no desempenho, é possível aumentar cada vez mais a competitividade no mercado. Os autores Liker e Meier (2007) entendem que a filosofia da Produção Enxuta fundamenta o STP mediante a interação entre o processo, a valorização da organização e a solução contínua dos problemas em sua causa raiz. Nesse sentido, os autores descrevem o processo de eliminação de desperdícios, representado pelo fluxograma ilustrado na Figura 2, como a dinâmica de funcionamento do próprio STP, o qual será mais bem detalhado a seguir. 30 FLUXOGRAMA DA ELIMINAÇÃO DOS DESPERDÍCIOS FILOSOFIA Eliminação de Perdas Medida de Desem penho Redução do lead time PRINCÍPIO Criação do fluxo de processo contínuo ESTRATÉGIA Criação de processos "estendidos" interdependentes Ferram entas Enxutas Kanban, supermercados, rotas FIFO definidas Resultado As perdas são reduzidas MÉTODO Sistema puxado RAZÃO Os problemas são trazidos à tona rapidamente e são críticos Método de Controle Utilização de controles visuais de modo que nenhum problema fique oculto EFEITO Os problemas devem ser corrigidos rapidamente Figura 2 - Fluxograma sobre o funcionamento do STP Fonte: Liker e Meier (2007, p. 93) 2.2.1 A eliminação dos desperdícios Define-se desperdício, ou perda, como toda atividade que não agrega valor ao produto, também conhecido por Muda, em japonês. Então, ao se aplicar a Produção Enxuta, duas características servem como medida, ou alerta: o nivelamento da produção e a padronização das atividades. No entendimento de Liker e Meier (2007), o nivelamento é conseqüência da estabilidade da demanda produtiva, pois, ao se adotar uma produção uniforme e constante, os problemas irão 31 aparecer para serem solucionados. Os autores apontam a padronização como o resultado da estabilidade e da repetibilidade do processo. Ao se distribuir de maneira uniforme a carga de trabalho no eixo do tempo, torna-se possível identificar e eliminar os desperdícios. Isso também permite eliminar as sobrecargas de trabalho, denominadas Muri em japonês. E, finalmente, essa sobrecarga é responsável pela quebra de qualidade ou de máquina, gerando a produção de material defeituoso, chamada de Mura. Para promover a solução desta tríade, é necessário desenvolver um sistema estável e uniforme, em que o conceito seja garantir o nivelamento do plano de trabalho, o qual a Toyota denomina Heijunka. Pela sua importância, Ohno (1997) distinguiu as perdas ou desperdícios em sete tipos distintos: superprodução, tempo disponível ou espera, transporte, processamento, estoque disponível, movimento do empregado e produção de produtos defeituosos. Para os autores Shingo (1996) e Liker (2005), as definições de cada um desses sete tipos ajudam no entendimento e no conhecimento de suas principais características e sustentam a sua aplicação adequada. Portanto, os sete desperdícios são entendidos da seguinte forma, segundo Liker e Meier (2007), Liker (2005) e Shingo (1996): • Superprodução: exceder a utilização dos recursos produtivos em razão da produção antecipada, ou em volume excedente ao necessário, gerando alto volume de estoque. • Espera: operador parado pelos seguintes motivos: quebra de máquina, falta de material, setup, aguardando operação de máquina, aguardando operação de gargalo, atrasos de processos ou excesso de estoque. 32 • Transporte ou transferência: movimentação desnecessária de matériaprima, material em processo ou produto acabado, no estoque ou durante o processo. • Superprocessamento ou processamento incorreto: realização do trabalho desnecessário, ou seja, que exceda a necessidade, ou trabalho ineficiente, realizado devido a recursos inadequados que ocasionarão defeitos. • Excesso de estoque: excesso de matéria-prima, material em processo e produtos acabados, gerando alto valor de estoque, necessidade de espaço para alocação, além de não possibilitar a identificação de problemas no processo. • Deslocamentos desnecessários: movimento que não agrega valor ao produto ou locomoção do empregado durante sua atividade produtiva. • Defeitos: consumo adicional de recursos produtivos para realizar retrabalho ou produzir material para substitiuir material refugado. O planejamento inadequado, seja de marketing, seja de logística, seja ainda de engenharia pode causar a produção em excesso, a movimentação ou fluxo inadequado e a realização de atividades desnecessárias ou inadequadas e, respectivamente, causar perdas. A falta de distribuição adequada da carga de trabalho para máquinas e empregados, bem como o desbalanceamento das atividades e dos fluxos de materiais, geram a perda por espera para o empregado e excesso de estoque. O processamento inadequado também pode resultar na produção de produtos defeituosos que necessitarão ser refugados ou até na realização da atividade extra de retrabalho. E, ainda, o planejamento deficiente dos layouts dos postos de trabalho pode causar excessiva movimentação dos 33 operadores para buscar material ou equipamento para realização de sua atividade (LIKER, 2005). Rawabdeh (2005) conclui em sua pesquisa que os tipos de desperdícios se influenciam mutuamente em maior e ou menor grau, sendo que as perdas por superprodução e defeitos são as de maior impacto e, conseqüentemente, as que mais influenciam os demais desperdícios. A Figura 3 traz uma representação gráfica do STP. SISTEMA TOYOTA DE PRODUÇÃO Melhor Qualidade - Menor Custo - Menor Lead time - Mais Segurança - Motivação redução do fluxo de produção pela elim inação das perdas Just-in-time Autonomação Pessoas e Equipe de trabalho Peça certa Quantidade certa Tem po certo Takt tim e Fluxo contínuo Sistem a Puxado Troca rápida Logística Integrada Controle de qualidade Solução de problem as Melhoria Contínua Andon Redução de Perdas Separação pessoal e m áquina Produção Nivelada Processos estáveis e padronizados Gerenciamento Visual Sistema Toyota de Produção Figura 3 - A casa do Sistema Toyota de Produção Fonte: Liker (2005) Esta representação do STP em forma de casa foi elaborada por Fujio Cho, discípulo de Taiichi Ohno, e teve como objetivo disseminar a filosofia nos 34 fornecedores da Toyota. De acordo com Liker (2005), foi uma maneira de facilitar o entendimento do funcionamento desse sistema de produção. 2.2.2 O processo da Produção Enxuta O desenvolvimento do STP teve início com a idéia de fluxo contínuo e unitário de peças, para atendimento do cliente na hora exata, com a quantidade certa e no local correto (LIKER, 2005). Ohno (1997) conta que a maneira imaginada faria com que cada processo recebesse, continuamente, informações do que deveria ser sua tarefa seguinte; assim poder-se-ia otimizar suas atividades e, conseqüentemente, os insumos utilizados. Portanto, seria criado um fluxo contínuo mediante a migração de peças e componentes do processo inicial para o seguinte, até a linha de montagem final, sincronizados em quantidades, tempo e local. O objetivo deste sistema é perseguir o estoque zero, que é a idéia precursora do Just-in-time (JIT). E, como a produção de cada estação seria determinada pela estação seguinte, ou seja, do fim para o começo, surgiu o termo “produção puxada” (OHNO, 1997). A ferramenta desenvolvida para propiciar o fluxo unitário de mercadorias foi o Kanban, um cartão de chamada enviado pela operação posterior à anterior, solicitando sua necessidade de material. Destaca-se, assim, a importância de uma comunicação eficiente entre os processos. Para Fullerton e McWatters (2001), além da redução do nível de estoque e de custos, o método propicia um alto compromisso com o consumidor e o incremento da qualidade, por meio da eliminação de desperdícios e pelo desenvolvimento do processo de melhoria contínua. 35 2.2.2.1 A cultura da qualidade – Jidoka Liker (2005) define o Jidoka como a “qualidade intrínseca”, ou seja, a abordagem da qualidade nas atividades humanas, nas máquinas e na interação entre ambas. O termo japonês Jidoka é também conhecido por autonomação. Liker e Meier (2007) explicam que a aplicação da autonomação, seja em máquinas, seja pela ação humana, implica o uso da cultura de se parar a operação no momento em que um problema ocorre e somente seguir adiante após sua solução definitiva. A eficácia do sistema depende disto (LIKER, 2005). Shingo (1996) aborda a autonomação no caso das máquinas como a maneira de transferir atividades humanas para as máquinas, pela implementação de dispositivos que permitam identificar automaticamente o problema, cessando a operação e emitindo aviso. Este sistema é denominado Andon em japonês (LIKER; MEIER, 2007). Para Kim e Gershwin (2005), como o Jidoka trabalha na prevenção de falhas e na solução definitiva dos problemas identificados, ele resulta na estabilidade do processo, na maior qualidade do produto e no menor tempo de produção. Shingo (1996) acrescenta que esses benefícios são obtidos com o rebalanceamento das atividades produtivas e a otimização dos insumos, principalmente da mão-de-obra. Ao se identificar um problema, deve-se reunir um grupo de empregados para compartilhar a identificação das causas e a proposição de soluções. Liker (2005) e Ohno (1997) concordam que esse envolvimento cria um ambiente motivacional à propagação dos conhecimentos e experiências, pois todos da equipe colaboram e aprendem. 36 Uma importante ferramenta desenvolvida pela Toyota para a detecção da causa do problema identificado é a simples aplicação da pergunta: “por quê?”, cinco vezes. Liker (2005) enfatiza a importância dos “5 porquês” para a identificação correta da origem do problema, para, assim, poder implantar a solução ideal. Liker (2005) e Ohno (1997) afirmam que o Jidoka, ou a autonomação, juntamente com o JIT, formam os pilares de sustentação do Sistema Toyota de Produção. 2.2.2.2 - A padronização de atividades e o nivelamento da produção Liker e Meier (2007, p. 118) vêem a “padronização como o ponto de partida para a melhoria contínua”. No entendimento de Penner (2005, p. 63), a padronização “é um esforço dirigido para o ganho de produtividade por meio da redução do tempo de ciclo e da eliminação de desperdícios”. E Ohno (1997, p.41) resume como sendo uma “combinação eficaz dos materiais, operários e máquinas para produzir com eficiência”. Ohno (1997) entende que o trabalho padronizado depende de três fatores: o tempo de ciclo (takt time), a seqüência de processo, e o nível de estoque. O primeiro fator determina o ritmo de trabalho para atender a necessidade do cliente; o segundo refere-se à seqüência de atividades para obter-se o produto; e, por último, tem-se o estoque necessário para manter o funcionamento sincronizado do processo (LIKER, 2005). Para Liker e Meier (2007), a padronização deve atuar no processo como um todo, distribuindo metodicamente a carga de trabalho e 37 fornecendo orientação clara ao empregado quanto à execução de suas tarefas, mas lhe concedendo a oportunidade de inovar ou melhorar o processo. Os autores Liker (2005) e Ohno (1997) vêem o trabalho padronizado como fundamental para a determinação científica do tempo de ciclo, para a descrição eficiente da seqüência de trabalho e para a determinação adequada do nível de estoque. Essas ações também contribuem para a eliminação de defeitos e, conseqüentemente, para a melhoria da qualidade. Para se padronizar um processo, primeiramente é necessário que ele se encontre estável. A identificação da variação é um objeto de desenvolvimento no processo de melhoria contínua e, após a implantação da solução que tone o processo estável e repetitivo, realiza-se a redivisão das cargas de trabalho (LIKER; MEIER, 2007). O nivelamento de produção, ou Heijunka em japonês, apresentado por Witcher (2004), é descrito como a eliminação das variações nas quantidades diárias do volume de produção. McClellan (2004), em sua pesquisa, cita que, para atender à variação do mix de produção, a manufatura deve ser flexível e apresentar setups rápidos, empregados bem treinados e flexíveis e carga de trabalho balanceada entre os funcionários. Nos comentários de Liker e Meier (2007), o nivelamento provoca benefícios, tais como flexibilidade da manufatura, uso otimizado dos recursos, produção planejada, fornecedores internos operando com custos menores e melhor qualidade. No entanto, há três aspectos que devem ser garantidos para a sua obtenção: o volume de produção, o mix de produção (o volume distribuído por tipos ou modelos de produto), e a seqüência dos modelos durante a produção. 38 Ohno (1997) salienta que o nivelamento quebra o paradigma do lote econômico, possibilitando que se produza em lotes pequenos e, dessa forma, se reduza o tempo de setup (troca de ferramentas), o que permite que o processo ocorra de maneira uniforme. Hafner (2003) sumariza o trabalho padronizado e o nivelamento da produção como a base para o desenvolvimento dos pilares do JIT e da Autonomação. 2.2.3 O valor da organização A organização, para atingir os objetivos e os benefícios da Produção Enxuta, precisa investir na mudança de atitude do seu corpo gerencial, no treinamento constante de todos os seus empregados e na prática do trabalho em equipe, com sinergia e compartilhamento dos conhecimentos individuais (OHNO, 1997). No entendimento de Liker e Meier (2007), são três os fatores que valorizam a capacidade da organização no desenvolvimento da Produção Enxuta: a formação de líderes, o aculturamento dos funcionários e a parceria no trabalho. Em síntese, temse, nos líderes, além das habilidades gerenciais, o conhecimento detalhado do processo e da filosofia da Produção Enxuta, para auxiliar e orientar na correta aplicação de seus métodos, de maneira corriqueira. Adiciona-se a isso o fato de que todos empregados devem conhecer e ter o compromisso de praticar essa metodologia , de maneira constante, nas suas atividades na empresa. A organização deve trabalhar em parceria com seus fornecedores, a fim de compartilhar os conhecimentos, a solução de problemas e desenvolver melhorias no processo comum, para um crescimento mútuo. 39 O sucesso da aplicação das metodologias depende das pessoas que constroem essa organização. Assim, Liker (2005) pondera sobre a necessidade de se criar uma organização do aprendizado e um ambiente de motivação. No STP os líderes são os responsáveis pela divulgação e aplicação da cultura da Produção Enxuta, pelo treinamento dos empregados e pela conduta de desafiar e propiciar o desenvolvimento das pessoas. Isso é capaz de conduzir a organização a um ambiente de motivação e de desafio profissional e de levar seus empregados a identificar oportunidades de melhorar sua condição de trabalho e também de se desenvolver profissionalmente. Os meios utilizados para isso são a aplicação correta e constante das metodologias e parcerias no trabalho, o que conduz ao compartilhando de problemas e soluções. Tudo isso também deve ser praticado com os fornecedores da cadeia de suprimentos, o que denota o desenvolvimento e crescimento mútuo. 2.2.4 O método enxuto e suas ferramentas O texto de Liker (2005) explica que o ideal de fluxo unitário e de sistema puxado de produção foi desenvolvido a partir da criação de pequenos lotes entre as operações, em que eles somente seriam repostos conforme fossem sendo consumidos, evitando-se, assim, a superprodução. Essa prática manteria a produção uniforme e constante. Este sistema foi denominado Kanban, responsável por “administrar e garantir o fluxo e a produção de materiais em um sistema de produção Just-in-time”. Ohno (1997) define que o método de operação do Sistema Toyota de Produção é o 40 Kanban. No entendimento de Liker e Meier (2007), o método Kanban é uma comunicação visual que informa à operação anterior a necessidade do cliente. 2.2.4.1 O método Kanban A palavra Kanban significa “cartão ou etiqueta”, onde são concentradas as informações sobre o item de produção, local de consumo, local no depósito ou processo anterior, quantidade necessária e forma de acondicionamento (OHNO, 1997). A Figura 4 apresenta um modelo de Kanban para um melhor entendimento. Figura 4 - Cartão Kanban Fonte: Lopes (1998). O processo de aplicação do Kanban tem algumas funções e obedece a determinadas regras para atingir seus objetivos. Conforme foi enumerado por Ohno (1997), as funções do Kanban são de movimentação de informações sobre o 41 material, tais como: o que e onde buscar, onde e quanto entregar. Nenhum material poderá ser transportado sem essa etiqueta, e muito menos ser produzido em ela. Os produtos transportados devem obedecer à quantidade requerida; portanto, não haverá produção em excesso nem estoques intermediários. Os itens movimentados devem estar aptos para o uso na próxima operação; por isso, não poderão apresentar defeitos. A redução das quantidades transportadas deve fazer parte da rotina de trabalho, pois traz à tona problemas, ou seja, desperdícios, que podem e devem ser solucionados. A pesquisa realizada por Chan (2001) sobre os efeitos do tamanho do Kanban considera como principal vantagem dessa técnica a redução do estoque. Como conseqüência, obtém-se a redução de custos e maior agilidade e rapidez na movimentação de material. Shingo (1996, p.223) definiu o sistema Kanban como “um meio com a característica fundamental para a melhoria total e contínua dos sistemas de produção”. A interrelação entre o sistema e a necessidade de nivelamento da produção é grande. A sua aplicação, conforme planejado por Ohno (1997), é responsável também por uniformizar a produção pela constância de abastecimentos, que promovem a sincronia entre os processos produtivos e otimizam o consumo dos recursos socioprodutivos. A necessidade de os empregados manterem-se atentos às sinalizações permite entender o sistema, para, conseqüentemente, transformar esse conhecimento em experiência e, assim, sanar os problemas rapidamente. Para Liker (2005), o sistema consiste em delegar responsabilidade aos empregados para que eles estejam aptos a identificar e eliminar desperdícios e gerar o aumento da 42 produtividade. Os benefícios de sua aplicação eficiente são qualidade, flexibilidade, segurança e aumento de espaço físico. A flexibilidade ocorre com a ocupação ideal da estação, da máquina ou do equipamento, uma vez que produzo mais rápido e em espaços de tempo menores. A segurança e a redução do espaço físico ocorrem devido à movimentação mais freqüente de menores quantidades; portanto, os equipamentos utilizados causam menos transtornos durante o fluxo, e, com a redução dos estoques, os espaços físicos disponíveis aumentam. 2.2.4.2 O processo de melhoria contínua O processo de melhoria contínua, conhecido também pelo termo japonês Kaizen, está diretamente relacionado com a solução dos problemas. Para Liker (2005), o Kaizen só ocorre quando o processo estiver estabilizado e padronizado. Em sua obra, Ohno (1997) justifica a questão da solução de problemas como a parte do sistema da Produção Enxuta responsável por eliminar os problemas, ou desperdícios, identificados pela aplicação da metodologia JIT. Em sua pesquisa sobre a aplicação de Kaizen em empresas de autopeças, Delbridge e Barton (2002, p. 680) identificaram-no como importante valor para “a interação interorganizacional, principalmente nas áreas de desenvolvimento do produto, gerenciamento da qualidade e redução de custos”. Contudo, Bessant et al. (2001), em seu artigo sobre o desempenho na implantação de programas de melhorias contínuas, argumentam que a dificuldade das organizações está em desenvolver uma atmosfera favorável e em incurtir uma mudança de atitude nos 43 seus empregados. Esses autores comentam que “apesar da importância estratégica do programa para a empresa, o seu gerenciamento ainda é realizado de maneira errada”. Para os autores é vital que toda a organização entenda que a aplicação dessa ferramenta traz a evolução e a agregação de valores às suas rotinas e processos. Sendo assim, é fundamental que a filosofia do processo de melhoria contínua possa ser disseminada como meio de obtenção dos objetivos estratégicos. Para Slack (1993), o desenvolvimento de uma cultura de aprendizado vai proporcionar um questionamento contínuo, o qual facilitará a adaptação às mudanças e à melhoria dos sistemas de manufatura. Novamente descreve-se a importância da experiência individual e do grupo e, também, do desenvolvimento de uma cultura de aprendizagem. Ahlström (1998) entende que a forma usual utilizada é a formação de equipe multifuncional, que se reúne para prover solução definitiva para o problema proposto na parte do processo com o qual se relacionam. A mudança de atitude e a harmonia entre os membros da equipe e entre os processos são, para Ohno (1997), a chave para a evolução do sistema. A partir desses dois pontos, obtém-se o desenvolvimento individual, mediante a experiência e a especialização, e a solução dos problemas, como resultado do conhecimento compartilhado e integrado dos indivíduos. Liker (2005) afirma a necessidade de capacitação profissional como base para o desenvolvimento da rotina de melhoria contínua, e isso se reflete na formação de um ambiente motivacional. O autor confirma a referência feita por Womack et al. (1992) de que a eliminação das perdas resulta em redução do lead time devido ao incremento da qualidade e da redução de custos e, ainda, na melhora da segurança e do ambiente da organização. 44 Por outro lado, a troca de experiência entre empresas que visam compartilhar conhecimentos para obter vantagem competitiva, conforme estudo de Bessant et al. (2003), na área da cadeia de suprimentos, apresentou grandes oportunidades e muitas dificuldades. Os estudos realizados com empresas da Inglaterra concluíram que há benefícios para a competitividade e a sustentabilidade, mas as empresas ainda apresentam dificuldades em compartilhar seus conhecimentos. 2.2.4.3 A causa raiz dos desperdícios Liker e Meier (2007) enfocam a importância da identificação e solução dos problemas em suas causas raízes. Para isso é necessário conhecer o processo, identificar claramente o problema e suas causas, para que seja possível propor uma solução definitiva. O uso dessa prática é universal e ela pode ser utilizada, desde a concepção do produto, até o processo de manufatura ou de serviços, sempre com o objetivo de gerar produtividade e redução de custos. Estes autores também analisam que a eficiência de aplicação dessa tarefa depende de vivência no conceito da Produção Enxuta, treinamento, trabalho em equipe, para se utilizar o capital intelectual da empresa, e de aplicação de ferramentas. Liker (2005) cita duas ferramentas utilizadas: o método dos “5 Porquês” e o diagrama de causa e efeito. O primeiro busca identificar a causa raiz de um problema mediante os questionamentos consecutivos de “por quê?” e, de acordo com Ohno (1997), esses questionamentos levarão à causa do problema e à solução do problema. O diagrama causa e efeito, no entendimento de Wekerma (1995; 9596), é utilizado para auxiliar na identificação das causas raízes, por meio de uma 45 “representação gráfica entre o processo (efeito) e os fatores (causas) do processo”. Isso facilita o entendimento do problema e o alcance da solução, pois existem várias influências ou causas comprometendo um único processo. Dessa forma, pode-se distribuir as ações e priorizar os esforços na solução. 2.2.4.4. A solução dos problemas O uso do Kanban e da autonomação provoca o aparecimento dos problemas, das perdas, e a sua solução é básica para o incremento da produtividade. Para Ohno (1997), o aumento da produtividade é parcialmente decorrente do nivelamento da produção, como já foi citado anteriormente. A aplicação dos cinco sensos (denominação brasileira), ou Programa 5S, é muito útil na identificação de problemas no ambiente de trabalho, no entendimento de Liker (2005; p.155). O autor diz que o “programa 5S no Japão compreende uma série de atividades para eliminar as perdas que contribuem para os erros, os defeitos e os acidentes de trabalho”. Esse programa, na visão de Bertaglia (2005), é aplicado pelos funcionários da equipe no seu local de trabalho e também para organizar melhor suas idéias. Os 5S significam: • Seiri (utilização): classifica todo e qualquer material de maneira a separar o que é útil, identifica-o e descarta os itens desnecessários. • Seiton (ordenação): organiza e define que cada coisa deverá ser disposta no seu devido lugar. • Seiso (limpeza): remete à necessidade de todos em manter seu ambiente de trabalho e áreas comuns limpas, fazendo uso dos dois sensos anteriores. Este 46 senso apresenta como característica básica a eliminação de condições inseguras que possam causar a perda de qualidade no produto, avarias nos equipamentos e acidentes de trabalho. • Seiketsu (padronização): tem a função de padronizar, mediante regras e normas que monitorem a constante aplicação dos três sensos anteriores. • Shitsuke (autodisciplina): reforça a necessidade de envolvimento do grupo e mudança de atitude, para se praticar regularmente os sensos como parte importante do processo de melhoria contínua. A prática do Programa 5S também reforça a metodologia do gerenciamento visual, que é responsável por evidenciar ou tornar visível todos os problemas (LIKER, 2005). 2.2.4.5 O ciclo PDCA e suas características O processo de melhoria contínua é a metodologia aplicada para a solução dos problemas e se espelha no desenvolvimento do ciclo do PDCA, ferramenta da qualidade elaborada por Deming (LIKER, 2005). Os autores Ohno (1997) e Liker (2005) afirmam que o processo de melhoria contínua é essencial para o nivelamento da produção e para a padronização das atividades, pois são responsáveis pela estabilidade e uniformidade do processo, além de garantir condições ergonômicas adequadas e melhoria das condições de trabalho. Portanto, o Kaizen utiliza-se deste sistema como metodologia para a solução dos problemas e para a introdução de melhorias realizadas por indivíduos em grupos, com autonomia para decisões e para implementações, baseadas em 47 consenso (LIKER, 2005). A melhoria de um processo traduz-se em ações constantes de monitoramento e identificação das causas que afetam o processo, a fim de reduzi-las e provocar o melhor desempenho do processo. A metodologia do ciclo do PDCA, representado na Figura 5, consiste em 4 estágios, conforme apresentado por Ishikawa (1989, apud WERKEMA, 1995): • PLAN (Planejar) – estabelecer as metas e os métodos utilizáveis para alcançá-las, empregando para isso um sistema de padrões, além de definir os itens que serão controlados. • DO (Executar) – executam-se os processos conforme planejamento, com pessoal adequadamente treinado. É feita a coleta de dados para a etapa seguinte. • CHECK (Verificação) – os dados coletados são comparados com as metas planejadas. • ACT (Ações Corretivas) – executam-se as ações corretivas necessárias para que os problemas detectados na etapa anterior não se repitam, atuando nas causas fundamentais destes. CICLO do PDCA A AGIR Padronizar e educar no caso de sucesso Tomar ação corretiva no caso de insucesso C Verificar os efeitos do trabalho executado em relação às metas VERIFICAR Figura 5 – Ciclo do PDCA Fonte: Adaptação de Ômega (2006) Identificar os problemas e estabelecer as metas P PLANEJAR Estabelecer plano de ação Executar o plano de ação D EXECUTAR 48 Quando o ciclo do PDCA é utilizado para atingir metas de melhorias, Werkema (1995) denomina Método de Solução de problemas, pois se trata de um método de gestão que é auxiliado por ferramentas da qualidade e técnicas estatísticas. O autor também descreve que, no ciclo PDCA de melhoria, primeiramente são definidas as metas, e o seu desenvolvimento ocorre em oito passos: 1. Identificação do problema 2. Levantamento das características do problema 3. Identificação das principais causas desse problema 4. Elaboração de plano de ação para eliminação das causas raízes 5. Implementação das ações conforme planejado 6. Monitoramento do processo para averiguar a eficiência das ações tomadas 7. Caso se confirme a eficiência das ações, deve-se padronizá-las por meio de documentação; porém, se não resultar em eficiência, retorna-se ao segundo passo. 8. Rever as atividades e planejar as próximas ações. No entendimento de Werkema (1995, p.42), as ferramentas da qualidade são “utilizadas para coletar, processar e dispor as informações necessárias ao giro dos ciclos do PDCA para manter e melhorar resultados”. Esta interação confere condição vital à realização do ciclo do PDCA. A seguir, estão apresentados as características e os principais usos dessas ferramentas. 49 2.3 A LOGÍSTICA NA PRODUÇÃO ENXUTA O dicionário Houaiss traz uma definição de logística como um termo militar responsável pela “organização teórica da disposição, do transporte e do abastecimento de tropas em operação militar”. As práticas logísticas, para Bowersox et al. (2006), alteraram-se, ao longo do século 20, em razão da globalização, também motivadas pelo crescimento da influência do consumidor sobre o produto e pela evolução dos meios de produção e dos transportes. Para esses autores, a década de 1990 trouxe outra significativa mudança: o avanço da tecnologia da informação e a massificação da internet. A evolução da logística tornou sua definição ampliada para atender a novos conceitos agora praticados pelas empresas. Um conceito amplo e genérico também é dado pelo próprio Baudin (2004), que refere que a logística passou a compreender todas as operações necessárias para entregar produtos e serviços, exceto fabricá-los ou executá-los. Vitasek (2006) apresenta a definição elaborada pelo Council of Supply Chain Management Professionals (CSCMP), como sendo “a parte da cadeia de suprimentos responsável por gerenciar o fluxo, eficiente e eficaz, dos bens, do serviço e da informação, do ponto de origem até o consumidor, e vice-versa, conforme os requisitos”. Para Christopher e Towill (2000), a flexibilidade é característica preponderante numa organização ágil, criando-se, portanto, na logística, um fator potencial de vantagem competitiva. Collin e Lorenzin (2006) entendem que a habilidade de adaptação a mudanças rápidas e inesperadas confere à organização a capacidade de crescimento no mercado globalizado. Por conseguinte, pode-se entender o valor da logística dentro e fora da empresa, haja vista que ela promove a 50 interação da cadeia produtiva, desde a matéria-prima, até o consumidor do produto, possibilitando a articulação de todas as áreas da empresa por meio de informação e produtos, acabados ou em processo (BOWERSOX et al., 2006). Para Bowersox et al. (2006), a logística pode ser dividida em três segmentos, conforme o nível de interação com os fornecedores, a produção e o cliente. A integração entre eles deve ocorrer estrategicamente, tanto na operação, quanto na tecnologia (HULT et al., 2004). Nessa pesquisa, eles concluem que o compartilhamento de informações e divergências de idéias provoca melhorias no processo e redução do tempo de ciclo, que traz o incremento do desempenho das atividades logísticas. 2.3.1 Operações logísticas na manufatura As operações de logística, segundo Bowersox et al. (2006), são responsáveis pelos fluxos de estoque e de informação entre os fornecedores e os clientes e se dividem em três partes: compras, apoio à produção e distribuição ao mercado. Bertaglia (2005) define compras como processo de aquisição de materiais e serviços, mantendo-se como premissas: atender às necessidades locais e corporativas, elaborar e colocar pedidos, selecionar fornecedores, elaborar contratos de negociação que incluem a seleção de fornecedores, os contratos de negociação. O apoio à produção foi interpretado por Baudin (2004) como o gerenciamento, o manuseio e a distribuição física de materiais para garantir o fluxo adequado de material entre as áreas de produção, dentro da planta. A eficiência das operações reflete diretamente na redução, ou otimização do lead time e, conseqüentemente, na 51 redução dos custos (BAUDIN, 2004). Bowersox et al. (2006, p.53) definem a distribuição ao mercado como “a movimentação de produtos acabados para o cliente”, bem como do esforço em garantir a disponibilidade do produto na quantidade e local solicitados. Bertaglia (2005) refere as devoluções de produtos defeituosos, com prazo de validade vencido ou obsolescência, como parte desta atividade. Liker (2005) considera a logística integrada como uma das práticas necessárias à implantação do JIT e uma parte importante na construção de uma manufatura enxuta. Dentro da manufatura, Bowersox et al. (2006) vêem a logística dividida em duas macroatividades: armazenagem e manuseio de materiais. De maneira mais detalhada, Baudin (2004) apresenta essas atividades, que abrangem o fluxo de materiais numa planta, compreendendo o recebimento de matéria-prima ou partes, o transporte, a armazenagem, o manuseio e a entrega no ponto de uso ou expedição. 2.3.2 A armazenagem De acordo com Stock e Lambert (2001, p. 390) o armazenamento é “a ligação primária entre fornecedores e clientes”. Frazelle (2002) destaca a importância da armazenagem nas atividades logísticas, pois ela completa o ciclo iniciado com a solicitação do cliente, passando pelo gerenciamento do estoque, suprimentos e transporte. O autor caracteriza este valor como decorrente de três razões: • Planejamento adequado pode eliminar a necessidade de armazenagem. 52 • A armazenagem pode ser executada por um provedor de serviços logísticos para atender a especificações estratégicas. • A armazenagem deve ser dimensionada para atender aos procedimentos de produção, conter um estoque adequado, disponbilizar mão-de-obra e equipamentos industriais suficientes para suportar os itens anteriores. No entendimento de Frazelle e Goetzer (1999), a logística interna inicia-se a partir do portão de entrada da empresa, onde serão recebidos os materiais, garantindo sua qualidade, integridade e quantidade, conforme pedido elaborado. Os autores Stock e Lambert (2001) apontam a importância de alguns fatores, tais como tempo, qualidade, melhoria da produtividade e flexibilidade no desempenho desta atividade. Esses fatores criam oportunidades para garantir a pontualidade, a acuracidade e a continuidade na entrega do material e da informação, bem como para promover melhorias no sistema que tragam a redução do tempo de suas atividades e que sejam capazes de absorver mudanças. No glossário elaborado por Vitasek (2006), define-se o recebimento, a separação do pedido, a preparação para entrega do material e a contagem cíclica como atividades de armazenagem. No entanto, os autores Bowersox et al. (2006) segmentam o armazenamento em apenas quatro macroatividades, quais sejam: o manuseio, o recebimento, a estocagem e a expedição. Contudo, estes autores apresentam como características inerentes às atividades de armazenamento a movimentação de materiais, o acondicionamento no depósito e o envio de material conforme pedido. 53 2.3.2.1 Recebimento O recebimento, na descrição de Stock e Lambert (2001), abrange as atividades de descarregamento do material, identificação, conferência e atualização do sistema de informação, movimentação para depósito, seleção, conforme ordem de pedido e abastecimento ou expedição. Frazelle e Goetzer (1999) alertam para o fato de que a movimentação e o local de destino devem atender às características físicas do material. Bowersox et al. (2006), Baudin (2004) e Stock e Lambert (2001) apontam como principais atividades do armazenamento de materiais a seleção do pedido, o seqüenciamento e o cross-docking. A seleção de pedido é considerada por Frazelle (2002, p. 147) como a “principal atividade no depósito para a implementação de melhorias de produtividade”. Conforme o autor, esta atividade requer maior concentração de mãode-obra entre todas as atividades de depósito e, ainda, é determinante para o sucesso de técnicas como o JIT. Dessa, forma, esta atividade torna-se um foco para a implementação de melhorias, para a redução do tempo de ciclo de abastecimento e conseqüentemente, para o aumento da produtividade. O seqüenciamento é o processo de combinar vários materiais em uma nova embalagem formando um kit por produto, com a finalidade de atender às especificações de entrega do material, de forma sincronizada com a produção (BAUDIN, 2004). Portanto, este sistema é uma variação do sistema de separação de pedidos, ou picking. Esse sistema é denominado set pallet system (SPS) e tem por objetivos diminuir a complexidade e a quantidade de embalagens ao longo da linha de montagem, reduzir a movimentação do montador e melhorar a qualidade na área (SMALLEY, 2004). Para Svensson (2004), este sistema exige maior nível de 54 confiabilidade entre fornecedor e cliente, pois há o compromisso do fornecimento com sincronismo de tempo, conforme ordenação de produção requerida. Entretanto, Baudin (2004) entende que o sistema garante a menor possibilidade de erro quanto ao fornecimento dos materiais, ou seja, maior qualidade do serviço de abastecimento. O cross-docking é a operação na qual o material é entregue diretamente no ponto de uso para o devido consumo, com precisão do ciclo de fornecimento (BOWERSOX et al., 2006). Essas características garantem ao sistema a eliminação dos processos de transferência para o depósito, tempo de permanência no depósito e processo de seleção do pedido, o que reduz os custos de serviços logísticos (STOCK; LAMBERT, 2001). 2.3.2.2 O depósito A função do depósito na armazenagem de material é a manutenção de estoque interno para suprir as necessidades do processo produtivo, mediante a renovação sistêmica do estoque (STOCK; LAMBERT, 2001). Bowersox et al. (2006) comentam a importância da organização no estoque como fator de desempenho da atividade. Alocar os materiais de forma planejada, obedecendo-se suas características físicas, é essencial. No entando, para garantir a rapidez na seleção de pedidos e abastecimentos, faz-se necessário organizar também por ordem de freqüência de consumo, alocando-se o material próximo ao seu ponto de uso (BOWERSOX et al., 2006). Isso reduz as distâncias percorridas, possibilita menor 55 intensidade no fluxo de equipamentos, bem como a redução dos ciclos de abastecimentos. A seleção de pedido (picking) é a preparação do material para ser enviado ao seu ponto de uso e que precisa de acondicionamento adequado, precisão no material, na quantidade e no tempo de entrega (STOCK; LAMBERT, 2001). Frazelle e Goeltzer (1999) acrescentam que a característica do material definirá a escolha do tipo de transporte até o ponto de uso. A qualidade do processo é obtida pela conferência e manutenção da acuracidade das informações de estoque físico e sistêmico (FRAZELLE; GOELTZER, 1999). Stock e Lambert (2001) destacam a importância da elaboração do planejamento do fluxo de abastecimento, do arranjo físico para distribuição dos materiais e da periodicidade de entregas, com vistas a gerar funcionamento eficiente e otimizado do processo. 2.3.2.3 A expedição ou abastecimento Bowersox et al. (2006) entendem que a movimentação de materiais do depósito para o ponto de uso, os meios e as formas (embalagens) de transporte descrevem as operações de expedição ou abastecimento. As operações de distribuição, para Frazelle e Goeltzer (1999), devem contemplar alguns princípios para garantir sua qualidade e competitividade por meio da melhoria contínua e da inovação. De maneira sucinta, essas atividades são: • planejar, elaborar e manter perfil dos pedidos e itens. • realizar continuamente o benchmarking com outros sistemas de depósito. 56 • otimizar processos eliminando-se as atividades desnecessárias. • implementar sistemas de informação que garantam rapidez e eficiência no desempenho das atividades de distribuição. • Investir em equipamentos ou sistemas mecanizados que possam agilizar a movimentação ou aumentar a oferta de espaço físico de estocagem. • manter atualizado o fluxo e o layout de abastecimentos. • promover o trabalho participativo e a integração no ambiente de trabalho. A aplicação desses fatores, conseqüentemente, irá conduzir à aplicação de melhorias nos sistemas, obtendo-se com resultado o incremento do desempenho operacional. 2.3.2.4 Avaliação de desempenho Na visão de Bowersox et al. (2006), torna-se necessária a criação de sistemas de avaliação financeira e de desempenho, como maneira de desenvolver uma vantagem competitiva na cadeia de suprimentos. Estes sistemas precisam ser eficientes, integrados, além de garantir o monitoramento, o controle, o direcionamento das operações e agregar valor ao acionista. Iozzi e Salles (2004) relatam que é importante a empresa desenvolver indicadores que, além das metas financeiras, sejam capazes e eficazes em avaliar a cadeia de suprimentos, ou parte dela, de forma a auxiliar na tomada de decisões e no direcionamento de investimentos. Quatro são os enfoques de avaliação para Bowersox et al. (2006): custo, qualidade, produtividade e benchmarking, os quais Iozzi e Salles (2004, p.6) 57 denominam como sendo “perspectivas financeiras, de clientes, de processos internos e de aprendizado/inovação”. Hernandes et al. (2000) entendem que essas perspectivas foram definidas para uso da ferramenta do Balanced Scorecard (BSC), que tem por objetivo focalizar o desempenho organizacional. Maior ênfase é dada por Brewer e Speh (2000), que consideram a inter-relação entre BSC e cadeia de suprimentos como uma oportunidade de alavancar uma vantagem competitiva. A metodologia do BSC foi desenvolvida para suprir uma deficiência e incluir o fator não-financeiro e intangível na avaliação de desempenho. No entanto, Herrero Filho (2006), em sua palestra no Instituto de Gerenciamento de Projetos, mostrou que o BSC, desde sua criação por Robert Kaplan e David Norton em 1992, evoluiu e tornou-se mais do que uma ferramenta de indicadores. Hoje, ele se traduz em um modelo de gestão estratégica integrado. Segundo seu entendimento, em seu conceito atual, o BSC tem a capacidade de elaborar um desdobramento da estratégia de uma empresa em objetivos, medidas, metas e iniciativas, de fácil compreensão para os participantes da organização. Ao mesmo tempo, é uma ferramenta capaz de capturar, descrever e transformar os ativos intangíveis de uma organização em valor para os stakeholders. Para os ativos intangíveis, cabe uma relação de causa e efeito para um alinhamento adequado dos indicadores, pois, se não houver, pode-se causar uma disfunção organizacional (BASSO; PACE, 2003). 2.3.3 O manuseio de materiais Para Bowersox et al. (2006), o manuseio de materiais ocorre durante o recebimento, na transferência de material para o depósito, e na preparação para 58 envio ao ponto de uso, no depósito. Stock e Lambert (2001) entendem que o manuseio é intrínseco às atividades de recebimento, depósito e abastecimento. Na análise de Bowersox et al. (2006), o manuseio deve ocorrer de maneira a movimentar a maior quantidade de carga possível, a fim de otimizar o uso dos veículos e equipamentos de transporte e reduzir sua movimentação. Em sua pesquisa, os autores Kritikos e Ioannou (2007) reforçam essa idéia, pois os resultados mostraram que é possível reduzir os custos fixos referentes à frota de veículos industriais e os custos variáveis com a mão-de-obra. A embalagem tem por objetivo proteger o produto ou material durante o transporte, e os autores Bowersox et al. (2006) e Stock e Lambert (2001) apontam duas funções básicas: uma é mercadológica e a outra logística. Bowersox et al. (2006) afirmam que a embalagem apresenta significativo impacto na produtividade e eficiência do armazenamento de materiais e no seu transporte. De acordo com Stock e Lambert (2001), o desempenho logístico dá-se mediante a aplicação adequada de seis funções: • capacidade física adequada para conter e transportar com eficiência o material ou produto sem causar problemas ou perdas. • condições de proteger a integridade física do produto. • fracionamento adequado para conter tamanho e quantidade adequada ao transporte eficiente e necessidade do cliente. • capacidade de unitizar-se em uma única embalagem para facilitar a movimentação e armazenagem. • capacidade de oferecer comodidade ao cliente quanto ao uso e manuseio do material. 59 • condições de permitir a identificação eficaz do conteúdo por meio da padronização de informações contidas no código de barras – EAN (European Article Numbering). Para a escolha adequada do sistema de manuseio de materiais, Bowersox et al. (2006) apresentam seis princípios: a padronização, o fluxo contínuo de produtos, a concentração de investimentos no manuseio, a utilização eficiente dos equipamentos, a movimentação de materiais por gravidade e a minimização da razão tara/peso útil. Essas ações buscam tornar o sistema eficiente, eficaz e flexível. 2.3.3.1 - Equipamentos para o manuseio de materiais Na operação interna de logística das atividades de armazenagem e de distribuição de itens aos pontos de uso, são utilizados vários equipamentos para promover o acondicionamento, a estocagem no armazém e no ponto de uso e na movimentação desses itens. Fayet (2002) concluiu que equipamentos e sistemas devem estar projetados para atender às necessidades atuais e futuras da organização, visando, assim, garantir condições de competitividade à empresa. Os sistemas de manuseio de materiais podem ser mecanizados ou automatizados ou, ainda, uma mescla desses dois modelos (BOWERSOX et al., 2006). Enquanto o sistema automatizado reduz a necessidade de mão-de-obra com altos valores de investimento em equipamentos e tecnologia da informação, o sistema mecanizado necessita menor investimento e é mais flexível. Para Baudin (2004), o sistema mecanizado é mais eficiente e econômico. 60 Portanto, mediante análise dos trabalhos de Baudin (2004), Frazelle e Goeltzer (1999), Bowersox et al. (2006) e Stock e Lambert (2001), são apresentados a seguir alguns equipamentos utilizados por um sistema mecanizado para o manuseio de materiais, dentro de uma manufatura. A Figura 6 apresenta os elementos descritos a seguir: • Palete: embalagem, geralmente de madeira ou plástico, que serve de base para unitização de carga. • Porta-palete (prateleira): local de acondicionamento (alocação) dos materiais no depósito. Devem estar adequadas ao tipo e tamanho do material a ser alocado. • Contêineres: para o uso interno numa manufatura; são caixas plásticas, cestos aramados, embalagens metálicas e dispositivos de acondicionamento de material específico. O tipo e dimensão devem atender ao sistema de manuseio utilizado, conforme já foi abordado anteriormente. • Empilhadeira: carro com dispositivo elevatório utilizado para transportar cargas unitárias, carregar e descarregar cargas e alocar no porta-palete ou no ponto de uso. Esse equipamento é movido a gás liquefeito de petróleo (GLP), diesel e a eletricidade. • Rebocador: carro de tração com capacidade para movimentar mais de uma carga por vez. É bastante utilizado no abastecimento dos pontos de uso. • Plataformas móveis (dollies): são plataformas metálicas dotadas de rodas, o que as torna manobráveis. São utilizadas para transporte de cargas pesadas unitizadas em palete, ou contidas em embalagens plásticas ou metálicas, de porte aproximado de 1,5 m³. São tracionadas por rebocadores, geralmente em comboio, formando o chamado trem logístico. 61 • Carretas seqüenciadoras: são dispositivos manobráveis confeccionados para transportar uma determinada peça ou componente (conjunto), já ordenado seqüencialmente conforme o mix da produção. Palete Porta-palete Contêiner grande (GLT) Contêiner pequeno (KLT) Empilhadeira Rebocador Elétrico Plataforma móvel (dolly ) Carreta Seqüenciadora Estante Inclinada Dispositivo Inclinador Dispositivo de Acondicionamento (rack ) Carro Paleteira Figura 6 - Equipamentos Industriais para operação interna de logística Fonte: Diversas (internet) 62 • Estante inclinada: trata-se de prateleira alocada ao lado do ponto de uso e que recebe caixas plásticas contendo suprimento para atender ao Kanban planejado. O operador, ao utilizar a última peça da caixa, retira a caixa vazia e a dispõe no local adequado. Pela força da gravidade, a caixa cheia movimenta-se para frente e assume o local da caixa retirada. • Base de elevação para contêiner: pode ser fixa ou móvel e contém dispositivo, hidráulico ou mecânico, que possibilita erguer, inclinar ou girar o dispositivo, para facilitar a retirada de material pelo operador. • Dispositivo de embalagem: são embalagens desenvolvidas para transportar um único tipo de material, peça ou componente. • Carro paleteira: veículo com dispositivo elevatório para retirada e alocação de material em locais estreitos. 2.3.4 A terceirização Terceirização é o termo, em português, para outsourcing, e sua prática consiste em “subcontratar outras empresas para assumir processos e funções que não são chaves para o andamento do negócio”. Como estratégia, o intuito é oferecer as melhores práticas às atividades não consideradas processos-chave pela organização, mediante a contratação de empresas especializadas, garantindo vantagem econômica e técnica (LIMA, 2004). Devido à opção de se conseguir vantagem competitiva, terceirizando-se parcialmente ou por completo as operações logísticas, a empresa compartilhará suas operações com um provedor de serviços logísticos ou, conforme definição em inglês, Third Party Logistic Service Provider – 3PL (SAHAY; MOHAN, 2006). A 63 decisão de terceirizar a logística, segundo Moore (1998), remete à relação, entre a empresa e o provedor de serviços logísticos, baseada na confiança e no compromisso. Pires (2004) enfatiza a importância de um relacionamento colaborativo e interdependente para integrá-los e maximizar o uso de suas competências. Em seu artigo, van Hoek (2000) descreve que a terceirização nas operações de logística tem expandido e se estabelecido em todos os segmentos. O relacionamento entre organização e prestador de serviços, conforme McQuiston (2001), baseia-se em seis valores: no compartilhamento de informação, na interdependência, na livre comunicação, no foco sobre a satisfação do cliente, na vantagem competitiva e na confiança. Para o autor, há quatro fatores que sustentam o relacionamento: o envolvimento da alta gerência, o processo de melhoria contínua, o respeito profissional e o trabalho de parceria. O provedor logístico pode atuar em diversas etapas da cadeia de suprimentos, entre o fornecedor de suprimentos e o cliente, ou seja, desde a atividade de compra até a distribuição ou entrega do produto ao cliente (SETH et al., 2006). A Figura 7 mostra mais claramente essas afirmações. O provedor de serviços logísticos também pode atuar na logística reversa, movimentando o produto usado, defeituoso ou obsoleto, do cliente para o produtor, ou para um local apropriado para disposição (MUKHOPADHYAY; SETAPUTRA, 2006). Neste caso, as características de qualidade e agilidade tornam-se ferramentas de marketing, ao mesmo tempo em que atendem às políticas governamentais e, principalmente, estão diretamente relacionadas à satisfação do cliente. 64 FLUXOGRAMA COM AS ATIVIDADES DE UM PROVEDOR DE SERVIÇOS LOGÍSTICOS Empresa Fornecedor PSL PSL Distribuidor Cliente PSL PSL Figura 7 – Provedor de Serviços Logísticos na Cadeia de Suprimentos Fonte: Adaptação de Seth et al. (2006) Conforme descrição de Ballou (2006), a evolução da tecnologia da informação determinou uma mudança na organização: a parceria pela colaboração, segundo a qual as empresas, clientes e fornecedores compartilham a informação para obter benefícios mútuos. O mesmo autor apresenta algumas sugestões para o sucesso do relacionamento com um 3PL, das quais destacam-se três: • Desenvolvimento de indicadores de desempenho capazes de avaliar as operações do 3PL e garantir seu alinhamento ao plano estratégico da organização. • Avaliação do 3PL nos aspectos tangíveis e não-tangíveis. 65 • Comunicação, compartilhamento e reconhecimento das informações, dos riscos e dos benefícios obtidos com os trabalhos do 3PL. 2.3.5 Parceria no gerenciamento da cadeia de suprimentos A globalização dos mercados tem demandado esforços das empresas para tornarem-se, ao mesmo tempo, competitivas e eficientes em seus custos. Isso tem provocado mudanças na cadeia de suprimentos, uma vez que os fornecedores estão sendo impelidos a se adaptar às necessidades impostas (LEMOINE; SKJOETTLARSEN, 2004). Isso fez surgir uma categoria de provedores logísticos, denominada Fourth Party Logistics (4PL), capaz de atuar como parceiro do cliente no gerenciamento da cadeia de suprimentos, sugerindo melhorias e inovações (VAN HOEK; CHONG, 2001). Stefansson (2006) conceitua o 4PL como a “logística colaborativa” devido às suas características de parceria, da confiança mútua e de bom relacionamento em toda a cadeia logística. Fulconis et al. (2007) caracteriza o 4PL como o responsável por gerir toda a cadeia de suprimentos de uma determinada empresa, monitorando fornecedores e o 3PL, escolhendo os sistemas adequados, organizando as atividades logísticas e controlando os fluxos físicos e de informação. No entanto, eles declaram que há controvérsia entre pesquisadores quanto à capacidade desta estratégia em identificar antecipadamente as oportunidades de melhoria na cadeia de suprimentos pela análise dos problemas culturais, financeiros e organizacionais da empresa. Para van Hoek e Chong (2001), nessa estratégia, a empresa (cliente) e prestador de serviços (4PL) necessitam manter suas relações bem estreitas para 66 que ocorra sucesso na parceria. Pode-se observar, na Figura 8, o posicionamento do provedor de serviços logísticos 4PL dentro da cadeia produtiva. Conceito do 4PL 4PL Figura 8 - Conceito do 4PL Fonte: Adaptação de Fulconis et al. (2007) Hui et al. (2003) afirmam, em sua pesquisa sobre e-commerce, que o uso do 4PL torna-se um desafio durante a escolha adequada de um prestador de serviços que atenda às suas necessidades, por meio de valor agregado entre todos os envolvidos, a saber: a empresa contratante, os 3PLs, os fornecedores e o cliente. Um provedor de serviços 4PL, na sua função de integrador da cadeia produtiva, deve apresentar uma elevada capacitação organizacional e tecnológica, pois seu ativo é o capital intelectual. 67 Seus desafios são proporcionar melhor desempenho da rede logística, promovendo a customização e a padronização do fluxo de informações. Com isso, a empresa torna-se ágil, é possível reduzir-se os custos de transações entre as empresas da rede e, por fim, garante-se a sinergia para desenvolver inovações e assegurar a sustentabilidade e a competitividade das operações da cadeia logística (FULCONIS et al., 2007). Esses conceitos do 4PL foram inicialmente elaborados pela Accenture Company; contudo, esta estratégia ainda se encontra em evolução. O bom funcionamento da estratégia depende da interação eficiente promovida pelo 4PL entre o cliente, por meio do seu ativo, do capital humano, das operações e de seu staff, as operações de transporte e de armazenagem (3rd Party Logistic) e, finalmente, com sua rede de parceiros, tais como consultorias e provedores de tecnologia da informação. E ainda deve ser capaz de trazer inovação e melhorias ao sistema administrado (LIMA, 2004). As parcerias são necessárias para fornecer benchmarking, melhores práticas, novos sistemas e softwares e, com isso, estar atento a oportunidades de aumento de desempenho das atividades integradas. 3 CONTEXTO INDUSTRIAL DO ESTUDO A exemplo das outras unidades industriais da empresa automobilística Ômega no Brasil, as áreas produtivas da Unidade de Produção VP podem ser 68 estratificadas em quatro macroprocessos, quais sejam: estamparia, carroceria, pintura e montagem final. A Figura 9 ilustra essas quatro grandes áreas de produção, bem como fluxo do processo produtivo e montagem de um veículo ao longo da planta. FLUXO PRODUTIVO DA UNIDADE DE PRODUÇÃO VP Estamparia Carroceria Montagem Final Pintura Figura 9 – Esquema do fluxo do processo produtivo na Unidade de Produção VP Fonte: Documentação interna (adaptado pelo autor) A estamparia é composta por quatro grupos de prensas responsáveis por conformar todas as peças externas do veículo, como as portas, as tampas dianteira e traseira, as laterais, o teto, os pára-lamas e os painéis internos das portas e das laterais. Na segunda etapa de produção, é executada a armação da carroceria, unindo-se as peças que formam a plataforma do veículo: caixa da roda, longarinas, assoalhos traseiro e dianteiro, painel transversal e chapa de escoamento. Todas essas peças são produzidas em fornecedores. Na seqüência são montados os conjuntos de superfície (teto, portas e tampas), dando-se formato final à carroceria do veículo. A denominação desta área é armação de carrocerias. O transporte das 69 carrocerias para a terceira etapa é efetuado por um sistema de elefantes localizados sobre uma plataforma. As carrocerias são içadas por um sistema automatizado que também as coloca ordenadamente nos elefantes transportadores. Ao chegar na terceira etapa, a área de pintura, a carroceria é lavada para receber aplicação de tinta e massa anticorrosiva, pintura e verniz. Finalmente, a carroceria é conduzida à quarta etapa, a linha de montagem final, onde são montados os revestimentos, os chicotes elétricos, o conjunto motriz, os vidros, os bancos, os pneus, os párachoques, o painel de instrumentos, e onde são realizados os alinhamentos dos faróis e das rodas. Após a montagem, realizam-se os testes elétricos e mecânicos em todos os veículos, testando-se, inclusive, a estanqueidade de suas vedações. 3.1 OS ELEMENTOS DO SISTEMA DE PRODUÇÃO ÔMEGA (SPO) Conforme está redigido na versão atualizada do Manual do SPO (2005), a adoção e uso destes procedimentos fazem parte da estratégia da empresa para atingir metas por meio de melhorias contínuas dos processos produtivos e do produto e promover a satisfação dos empregados. As características e conceitos dos elementos são apresentados a seguir, no Quadro 1. 70 MÓDULOS DO SPO Módulo Descrição Trabalho em equipe Uso do capital intelectual dos empregados, distribuidos em equipes multifuncionais para promover a melhoria contínua para cumprir as metas da empresa em qualidade, produtividade, custos e meio ambiente . Processos padronizados de qualidade O sistema que contém a metodologia para monitorar, prevenir e detectar problemas que afetam a qualidade do processo ou produto e informar e treinar colaboradores para a promoção da qualidade. Solução de problemas Utilização das ferramentas da qualidade adequadas para solução definitiva dos problemas. Manutenção Produtiva Total TPM Reduzir as paradas, as quebras, as falhas e os riscos e melhorar as condições de qualidade, de higiene e de segurança e do ambiente de trabalho e, assim otimizar o uso dos equipamentos por meio de manutenções adequadas e participação de todos os funcionários. Housekeeping Modo de trabalho com foco nos cinco sensos: organização, arrumação, limpeza, saúde e segurança e que visam melhorar as condições de trabalho e eficiência. Gerenciamento visual Comunicação rápida e simples ao time por meio de informações padronizadas e expostas em quadros contendo os indicadores da área ou célula. Qualificação e treinamento Desenvolver a capacitação e a versatilidade dos empregados a fim de melhorar o desempenho de suas funções e garantir a qualidade do produto e do ambiente. Trabalho padronizado Promover a descrição das atividades e uniformização do trabalho entre os turnos a fim de garantir um padrão e a eliminação de desvios que possam influenciar na qualidade do processo ou produto. Sistemas de materiais Garantir o fluxo adequado dos produtos em processo, evitando faltas, excessos e estoques. Utiliza as metodologias do Kanban , Just-in-time , cestas de artigos, seqüenciamento interno e fornecimento interno de conjuntos pré-montados. Processo de Melhoria da Produtividade - PMP Método padronizado para trabalho em grupos multifuncionais fundamentadas em onze passos que compreendem a metodologia do PDCA. Quadro 1 - Descrição dos módulos do Sistema de Produção Ômega Fonte: Adaptação do Manual SPO (ÔMEGA, 2005) A utilização do SPO tem proporcionado excelentes resultados no aumento da capacidade produtiva e conseqüente aumento da produtividade e da qualidade. Os trabalhos realizados também têm resultado em redução de custos e na melhoria do ambiente de trabalho. O elemento do PMP é a metodologia utilizada para o 71 incremento da eficiência nas atividades logísticas referentes a este trabalho, portanto será apresentada de maneira mais detalhada no capítulo sobre metodologia. 3.2 A LOGÍSTICA INTERNA E SUAS ATIVIDADES A logística é parte integrante do processo de manufatura e também tem grande importância para o funcionamento adequado do sistema produtivo, pois é responsável pela provisão de informação e de insumos. A logística da Unidade de Produção VP é formada pelas atividades de programação e controle da produção, planejamento logístico, disposição de materiais diretos e indiretos, planejamento de estoques e logística operacional. Suas atividades consistem no gerenciamento da programação, recepção, movimentação interna, armazenagem e deslocamento até os pontos de utilização de todos os materiais diretos e indiretos necessários para o andamento do processo produtivo da fábrica em geral. A programação e controle da produção (PCP) de veículos coordena o planejamento interno do volume de produção nas diferentes etapas da produção do carro e seu respectivo mix. O processo inicia-se na área de disposição de materiais diretos e indiretos, que se responsabiliza pelo controle do atendimento dos pedidos de peças agendados junto a cada fornecedor e o respectivo recebimento de materiais. Os volumes recebidos devem atender ao volume de produção de veículos, respeitandose sempre os níveis de estoques definidos dentro dos objetivos da planta. O Planejamento Logístico elabora, analisa e implementa projetos e processos 72 logísticos, tais como Kanban e seqüenciamento. Nas suas atribuições, inclui-se a participação no desenvolvimento de novos fornecedores e a implementação de melhorias de âmbito logístico, a fim de tornar os custos mais competitivos. O planejamento de estoques monitora, diariamente, a quantidade de material no depósito e em processo, para evitar divergências que possam prejudicar a produção ou as metas de material em estoque. A logística operativa é formada por empregados da Unidade de Produção VP e por um prestador de serviços que realiza as atividades de recebimento, depósito e movimentação de materiais dentro da planta. As atividades dos empregados da Unidade de Produção VP consistem em monitorar as atividades de prestação de serviço e administrar o contrato com esse fornecedor. Esse prestador de serviços logísticos é denominado provedor logístico. O provedor logístico realiza as atividades de portaria, de recebimento, de gerenciamento dos depósitos e de abastecimento de materiais no ponto de uso. A Figura 10 apresenta um esquema de funcionamento dessas atividades com seu respectivo fluxo. Na atividade de portaria são recolhidas e conferidas as notas fiscais, e a quantidade de material recebida é lançada no sistema de gerenciamento logístico. O caminhoneiro recebe a sua documentação de controle de permanência na empresa, sendo direcionado à doca de recebimento do material. Os veículos que trazem os materiais dos fornecedores são descarregados nas docas de recebimento, onde os materiais são conferidos fisicamente, confirmados no sistema de gerenciamento, identificados e alocados no depósito. O gerenciamento do depósito realiza as atividades de armazenamento, contagem cíclica, controle de estoque, preparação para entregas Kanban e transbordo de material. 73 FLUXO DE ATIVIDADES DO PROVEDOR LOGÍSTICO Entrada Recebimento: • Descarga de material • Conferência de material e embalagens • Identificação • Armazenamento Saída Pátio de Embalagens: • Recebimento, armazenamento e expedição de racks • Carregamento de caminhões • Emissão de GTDA Portaria: • Conferência NF • Digitação de NF • Emissão de Packing List • Sistemas de entrega Abastecimento: • Coleta de material do depósito • Abastecimento • Identificação • Emissão de embalagens vazias Depósito: • Controle de estoque • Transbordo • Gerenciamento do abastecimento Fluxo de Abastecimento Figura 10 - Fluxo de Atividades do Provedor Logístico Fonte: Adaptação de Provedor Logístico (2006) Fluxo de Vasilhames 74 Grande parte dos transbordos é realizada quando a embalagem de entrega não está adequada ao tipo de embalagem no ponto de uso. A operação final do provedor logístico é o abastecimento do ponto de uso do material, seja ele produzido internamente, seja ele entregue por um fornecedor. Portanto, o abastecimento consiste tanto da movimentação de material entre operações quanto do depósito para a linha de montagem ou ponto de uso. 3.3 ATIVIDADES DO PROVEDOR LOGÍSTICO O provedor logístico assumiu, no contrato de prestação de serviços, o compromisso de garantir a aplicação das normas e procedimentos da empresa contratante, divulgar entre seus empregados e praticar os programas de qualidade implantados pela contratante. As atividades contratadas pela empresa junto ao provedor logístico estão descritas a seguir, sendo parcialmente pesquisadas no presente estudo de caso: • Portaria: administra e controla o processo da documentação de descarga (packing list), atua em itens críticos e na devolução de materiais e acompanhamento e medição do volume de veículos transportadores. • Recebimento físico de bens: responsabiliza-se por receber, descarregar, conferir embalagens e materiais, acessar o sistema para registrá-los, definir local para a alocação, acondicionamento no depósito. identificá-los e disponibilizá-los para o 75 • Depósito de bens: as principais atividades desempenhadas são armazenagem e alocação eficientes, transbordo de materiais e separação, identificação, preparação e destinação de materiais para abastecimento interno e expedição, mantendo-se o sistema atualizado. • Abastecimento de bens: promove o gerenciamento das atividades contidas na movimentação de material desde o depósito ou recebimento até o ponto de uso. As atividades visam separar e preparar os materiais conforme programa de produção ou procedimento e seqüenciar e dispor material conforme determinação da contratante. • Movimentação entre processos: refere-se à atividade de movimentação de material em processo entre atividades da célula ou entre células, que não sejam manuais e exijam transporte por veículo. • Remessa de materiais: refere-se à atividade de expedição de material e embalagens e compreende a alocação adequada, a conferência física, o preenchimento da documentação necessária e lançamentos nos sistemas e carregamento dos itens no veículo de transporte. • Elaboração de lista crítica: compete ao provedor elaborar diariamente uma lista da situação de estoque dos materiais estratégicos, com a finalidade de informar a contratante sob os riscos de comprometimento da produção por falta de material. • Material de novos produtos: administra o recebimento, gerencia o estoque, o abastecimento e a remessa de devolução de materiais destinados a novos projetos e modificações do produto. 76 • Administração do posto de combustíveis: administra e abastece os veículos de frota e equipamentos industriais da contratante e controla seu consumo, mantendo o sistema de materiais atualizado. • Carregamento de baterias: administra o carregamento e a substituição de baterias tracionárias elétricas nos equipamentos industriais de movimentação logística e de todos os materiais necessários para o desempenho da atividade. 77 4 A IMPLANTAÇÃO DO PROCESSO DE MELHORIA DA PRODUTIVIDADE Compartilhar conhecimentos foi o método adotado pela empresa automobilística Ômega para obter vantagem competitiva pelo incremento da produtividade em toda a cadeia produtiva. A empresa já contava com um sistema de produção (SPO) implantado e, em 2006, realizava duas ações simultâneas: a capacitação dos empregados e a aplicação intensa do Kaizen. A primeira visava fornecer conhecimentos para que os empregados praticassem todos os módulos do SPO. A segunda ação teve o objetivo de desenvolver o processo de melhorias em atividades de seus parceiros, compartilhando conhecimentos, investimentos e ganhos. A unidade de produção VP foi a escolhida para iniciar a parceria no processo de melhoria contínua, e o processo escolhido foram as atividades do seu provedor logístico. A unidade apresentava longa experiência na aplicação da metodologia de melhoria contínua, com importantes resultados obtidos em dez anos de uso. A escolha do provedor logístico é decorrente da representatividade dos custos operacionais na unidade de produção VP. Adicionalmente a esse fato, uma consultoria identificou oportunidades de redução de desperdícios e melhorias nas atividades logísticas, que resultariam em ganhos para as duas empresas. O caso estudado é importante, pois servirá de referência para esta unidade de produção planejar a mesma abordagem em outros fornecedores e, também, para desenvolver essas ações em outras unidades dessa empresa. 78 4.1 DESENVOLVIMENTO DO ESTUDO DE CASO Inicialmente, otimizações no processo operacional e melhorias organizacionais foram planejadas para os processos de logística interna. Para cada ação foi previsto um workshop. A relação dos workshops foi distribuída em duas fases distintas: a primeira realizou-se no segundo semestre de 2006 e a outra, no primeiro semestre de 2007. O intuito de cada fase foi organizar e agir individualmente em cada processo e, em seguida, analisar a interação entre os processos e introduzir mudanças de conceitos. No segundo passo, a proposta foi discutida e aprovada pelo diretor, pela engenharia e logística da unidade de produção VP e pela diretoria do provedor logístico. Em consenso, foi elaborado um plano de realização dos workshops de PMP, com a programação de melhorias esperadas no período previsto. Nessa fase, escolheram-se as pessoas da equipe fixa do PMP, com um moderador da logística da unidade de produção VP, um moderador do provedor logístico e um engenheiro industrial para o estudo dos tempos e métodos dos processos logísticos. Os demais participantes alternaram-se conforme a área considerada no workshop. 4.2 O PROCESSO DE MELHORIA DA PRODUTIVIDADE O Manual do Sistema de Produção Ômega (SPO), Ômega (2005), considera que o Processo de Melhoria da Produtividade (PMP) se caracteriza por promover a melhoria contínua em pequenas e cíclicas alterações que apresentam curto prazo de implantação, baixo investimento, forte participação dos empregados e objetivos 79 monitorados. O PMP é desenvolvido em reuniões organizadas e padronizadas denominadas workshops, que visam à análise de problemas e à eliminação de desperdícios, com suas ações registradas em atas e formulários próprios. Os seus objetivos estão distribuídos em quatro focos, apresentados a seguir: • Desenvolvimento de um fluxo adequado e enxuto da produção; • Distribuição, o mais uniforme possível, das atividades produtivas entre os empregados; • Desenvolvimento da cultura da produção puxada; • Estabilização dos processos internos da empresa reduzindo os defeitos. A empresa Ômega aplica, periodicamente, treinamento e capacitação da metodologia em seus empregados, para que estes possam exercer funções de moderadores (coordenadores) e de participantes em um workshop. O desenvolvimento de um workshop de PMP obedece ao ciclo do PDCA e contém alguns requisitos básicos à sua realização. A responsabilidade de coordenar o workshop é do moderador, e há uma equipe de empregados treinados para essas atividades, os quais estão subordinados à engenharia industrial. Esse grupo tem um supervisor que faz a ligação entre as gerências das áreas e as necessidades e dificuldades identificadas no desenvolvimento das reuniões de melhorias. Semanalmente, são apresentados ao corpo diretivo da unidade de produção VP os resultados de PMP finalizados na semana anterior. Essa ação permite a divulgação das melhorias obtidas e propõe discussões de problemas que necessitam de uma solução gerencial. 80 4.2.1 Descrição do processo O primeiro passo ocorre antes mesmo do início do workshop. O moderador deve discutir com o solicitante ou beneficiário o tema a ser desenvolvido pelo grupo, principalmente para conhecer as oportunidades identificadas. Após conhecer o processo e as oportunidades apresentadas, ele deve planejar a rotina das reuniões e os respectivos prazos, escolhendo os participantes. Esses participantes são representantes das áreas envolvidas, com bom conhecimento técnico da situação a ser discutida e estão divididos em três categorias, conforme o tipo de participação no workshop. A Figura 11 apresenta os participantes e o tipo de participação de cada um durante a realização de uma reunião de PMP. Participantes do Grupo de Melhoria Contínua no PMP Seg. Trabalho Líder Supervisor Gerente Monitor Eng. Produto Moderador do PMP Logística Qualidade Assegurada Engenheiro Industrial Compras Manutenção Eng. Processo Eng. Recursos Manufatura Humanos Dedicação Integral Dedicação Parcial Conforme necessidade Figura 11 - Composição do time no workshop de PMP Fonte: Manual do SPO (ÔMEGA, 2005) 81 4.2.1.1 Preparação das reuniões de melhorias Escolhidos os participantes, o moderador providencia o local e os demais recursos necessários para a realização das atividades e envia a convocação e informação para todos os participantes do PMP. A convocação é feita para os participantes em período integral e parcial e informa da realização do workshop àqueles que participarão apenas se houver necessidade. O passo seguinte inclui algumas ações que são iminentes para o bom andamento do processo de melhoria e estão relacionadas, inicialmente, ao envolvimento e à facilitação dos clientes nas pessoas do supervisor e do líder de célula. O moderador tem como responsabilidade promover uma atmosfera motivadora, de investigação, de solução dos problemas, começando logo na palestra de abertura. Cabe a ele iniciar os trabalhos promovendo a interação mediante a apresentação dos participantes, seguida do tema e dos objetivos. Ainda nessa etapa, são apresentados aos participantes os conceitos que definem os nove tipos de desperdícios, conforme o SPO, devendo ser verificadas suas ocorrências no trabalho que se segue. A Figura 12, retirada do manual do SPO, apresenta os nove tipos de desperdícios considerados na metodologia. Os desperdícios considerados são: superprodução, transporte, tempo de espera, retrabalhos, movimentação, estoque, condição ergonômica, falha de comunicação e processos desnecessários. O SPO ressalta, sistematicamente, a importância da ergonomia nos postos de trabalho, uma vez que sua prática evita seqüelas nos funcionários, e também a atenção especial que se deve ter na busca da eficiência e da rapidez na comunicação entre os empregados. Os sete outros desperdícios já foram descritos anteriormente e se baseiam no STP. 82 9 Tipos de Desperdícios do SPO Superprodução Processo Desnecessário Movimentação Estoque Retrabalho Transporte Condição Ergonômica Espera Falha de Comunicação Figura 12 - Nove desperdícios do SPO Fonte: Adaptação do Manual SPO (ÔMEGA, 2005) 4.2.1.2 As atividades do grupo de trabalho Na etapa seguinte, os participantes irão tomar conhecimento da situação atual do processo in loco, onde farão suas análises da situação. Em seguida, retornam para a sala e transcrevem os desperdícios ocorridos, priorizam ações, fazem sua mensuração e usam os indicadores-chave para quantificar os resultados das 83 análises. Então, o grupo passa a propor soluções e desenvolver melhorias necessárias para conseguir os objetivos propostos. Nesse momento, devem ser realizados testes e simulações para avaliar as propostas identificadas. Todos os dados pertinentes a elas devem ser identificados e relacionados, assim como ações mandatórias para a sua implementação. Após os testes, o grupo define, em consenso, as soluções e as ações necessárias e as formaliza, em formulário adequado, determinando prazos e respectivos responsáveis. Nos testes e simulações devem estar presentes os participantes com dedicação parcial para colaborar e aprovar as ações. Esta fase encerra a primeira parte da metodologia, o ato de planejar, conforme a orientação do ciclo do PDCA. A segunda fase, relativa à execução do ciclo do PDCA, propõe a implementação das soluções de consenso, para que o grupo possa avaliar e mensurar os benefícios e ganhos obtidos. A terceira fase do ciclo do PDCA, a verificação dos resultados obtidos, confronta os resultados com os objetivos previstos no workshop. Se o desempenho atingir as metas e obtiver a aprovação do cliente, as alterações no processo devem ser padronizadas. A última fase refere-se à preparação para a finalização do PMP e a apresentação para a gerência das metas, do desenvolvimento e dos resultados obtidos no workshop. Todas as informações necessárias para a padronização do processo devem estar documentadas e, após a apresentação à gerência, sua aprovação formal deverá ser obtida. A partir desse momento, a responsabilidade pela manutenção da implantação, da padronização, dos treinamentos, da verificação 84 dos resultados e da realização de revisão é da liderança da área em que ocorreu o processo de melhoria. Uma revisão dos resultados e pendências do workshop é realizada após 4 meses, para garantir a eficiência e eficácia das soluções implantadas pelo time do PMP. A Figura 13 traz os onze passos de um workshop, para facilitar o entendimento da metodologia do PMP. ONZE PASSOS DA METODOLOGIA DO PMP 1. Preparação do Workshop 11. Acompanhamento das medidas 10. Apresentação AGIR 9c. Padronização PLANEJAR VERIFICAR 9b. Controle dos Resultados EXECUTAR 9a. Implantação das ações 2. Introdução ao Workshop 3. Entendimento da seqüência do processo 4. Análise da situação atual 5. Identificação dos desperdícios 6. Identificação das melhorias 7. Desenvolvimento da solução 8. Preenchimento da folha de acompanhamento das reuniões da equipe Figura 13 - Os onze passos do PMP Fonte: Adaptado da Cartilha do SPO (ÔMEGA, 2006) 4. 3 TEMPOS E MÉTODOS O estudo de caso utilizou a cronoanálise e o estudo de MTM para mensurar a capacidade e a produtividade dos processos. Tanto a cronoanálise quanto a análise de tempos e métodos (MTM) determinam o tempo operacional de uma atividade, porém os métodos utilizados diferem entre si. Na cronoanálise, o analista irá observar a atividade a ser medida, fazer sua descrição em subatividades e, por último, medir o tempo num determinado número 85 de ciclos. O tempo da operação é definido pela média dos tempos dos ciclos medidos Para a aplicação da cronoanálise, o ciclo deve ocorrer com operadores treinados sob a visão do analista, para que ele identifique todas as ocorrências. O tempo gasto para se realizar um estudo é relativamente pequeno, ou seja, uma ou duas horas, dependendo da duração do ciclo. Contudo, ele apresenta dificuldades para medir algumas operações logísticas, pois os veículos logísticos percorrem distâncias significativas e transitam por locais que dificultam a visão. No estudo de MTM, o analista identifica os tipos de movimentos realizados e o respectivo nível de dificuldade e a distância percorrida nesse movimento. O estudo deve relacionar cada movimento necessário para executar um ciclo completo. Feito o estudo, utiliza-se uma tabela que contém um tempo padrão para cada tipo de movimento; dessa maneira, o estudo é mensurado. Geralmente este tipo de estudo dos tempos é bem mais demorado, principalmente quando se trata de operações exclusivamente manuais, que exigem inúmeros movimentos. Contudo, numa atividade logística, em que praticamente todas as movimentações são efetuadas por veículos de transporte e movimentação de carga e os movimentos se restrigem a retirar e colocar embalagens, ele se adequa inteiramente. Nesse caso, o analista trabalha somente com as informações de distâncias de ponto de origem e ponto de uso, tamanho da embalagem e forma de abastecimento. Os dois métodos foram utilizados na medida dos tempos de operação, e a sua escolha adequou-se ao tipo de atividade. Como resultado, pode-se calcular o tempo de ocupação operacional de cada atividade e do equipamento utilizado no processo analisado. A partir desses dados, foi elaborado um balanceamento das atividades, melhorias foram propostas e implementadas mudanças de conceitos que resultaram em ganhos de produtividade. 86 5 PROPOSIÇÃO METODOLÓGICA O objetivo do presente trabalho é identificar e analisar os ganhos e perdas provenientes da implantação de conceitos da Produção Enxuta em um provedor logístico de uma montadora automobilística. Nesse caso, o cliente e o fornecedor desenvolveram em conjunto o trabalho para a redução mútua de seus custos operacionais. Também houve o interesse em analisar as dificuldades encontradas na transferência de conhecimentos e no desenvolvimento do trabalho. Para isso, buscou-se definir indicadores que pudessem refletir os benefícios ou possíveis perdas obtidas com a implantação de conceitos da Produção Enxuta à logística da empresa automobilística. Nesse sentido, foram estabelecidos indicadores de produtividade, qualidade e custos, alinhados com o objetivo de melhorias dos resultados financeiros, para evidenciar a eficácia das ações e o desempenho do setor com os novos conceitos adotados. 5.1 TIPO DE ABORDAGEM DA PESQUISA Esta pesquisa enquadra-se em natureza aplicada, de abordagem quantitativa e de objetivo exploratório, pois se trata de um estudo de caso. Para Cervo e Bervian (1996, p. 47), a natureza aplicada da pesquisa “busca soluções para problemas concretos”, e Gil (1999, p. 43) explica que sua “característica fundamental está no interesse pela aplicação, utilização e conseqüências práticas dos conhecimentos”. 87 Já a abordagem qualitativa, no entendimento de Lakatos e Marconi (2000, p.109) pressupõe a correlação entre “características observáveis, ou experimentalmente determináveis, de um objeto de estudo ou classe de fenômenos” e as teorias estabelecidas. Para essa condição, também se propõe que a pesquisa deva ser exploratória e descritiva, pois necessita de detalhamento dos fatos, e usa o conhecimento para poder identificar relações entre elas (CERVO; BERVIAN, 1996). Para Gil (2006; p. 54, apud Yin, 2001), o estudo de caso é mais adequado para pesquisar um fenômeno “no seu contexto real, onde os limites entre este fenômeno e o contexto não são claramente percebidos”. Gil (2006, p. 44) também define que a pesquisa bibliográfica faz uso de “material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos”, que irão colaborar com a análise do conteúdo, no suporte às práticas e metodologias adotadas, bem como facilitar o entendimento dos leitores sobre o desenvolvimento dos trabalhos. 5.2 ETAPAS DA METODOLOGIA Com a finalidade de planejar e controlar o desenvolvimento das atividades inerentes às mudanças estabelecidas na forma de operar do provedor logístico, foi elaborado um fluxograma contendo as etapas metodológicas de implantação e verificação das melhorias obtidas, conforme ilustrado na Figura 14. 88 INÍCIO Implantação de melhorias contínuas no processo de um provedor logístico mediante transferência de conhecimento do cliente para o fornecedor Definição do Caso a ser estudado Caracterização do Problema Definição dos objetivos (Re)Definição dos indicadores de acompanhamento Definição do período de controle Não Os indicadores estão adequados? Levantamento e tratamento dos dados pertinentes aos indicadores definidos Sim Realização de workshops de melhorias da produtividade conforme metodologia do PMP Acompanhamento da evolução dos indicadores Comparação e avaliação dos indicadores com os objetivos FIM Figura 14 - Fluxograma do estudo de implantação de melhorias 5.2.1 Caracterização do problema Nesta etapa metodológica, buscou-se levantar informações para evidenciar os problemas de processos já identificados, conforme relatório de uma consultoria contratada. A relação de oportunidades apontava problemas nas principais 89 atividades desempenhadas pelo provedor logístico: recebimento, depósito, abastecimento do ponto de uso, expedição de material em processo e de embalagens vazias. Esses problemas causavam baixo desempenho das atividades de recebimento de materiais e desnivelamento das entregas, o que resultava no acúmulo de caminhões nos pátios. O uso inadequado do Kanban pelos operadores, tanto do cliente, quanto do fornecedor, e o dimensionamento precário em várias operações tornavam o sistema pouco eficiente. O uso de empilhadeiras para realizar a maior parte dos abastecimentos, nas linhas de montagem e postos de trabalho, causava baixo rendimento desta atividade e alto fluxo de circulação de veículos industriais, o que também é uma condição insegura. O depósito apresentava dois tipos de perdas. A primeira em razão do grande número de transbordo, que não agregava valor ao produto, causando desperdício de mão-de-obra. A segunda relaciona-se aos materiais alocados aleatoriamente, gerando longos percursos das empilhadeiras para buscar os materiais para reposição no ponto de uso. O operador logístico contava com uma infra-estrutura de 334 funcionários distribuídos nas atividades operacionais, em julho de 2006, data de início dos trabalhos de melhorias. 5.2.2 Definição dos objetivos A unidade de produção VP contém diferentes capacidades produtivas entre as áreas de produção e isso é compensado com um terceiro turno nas áreas com “gargalos” de produção. Dessa forma, o terceiro turno das áreas de armação e 90 pintura apresentava as seguintes características: produção horária líquida menor e efetivo reduzido. Somente a área de montagem final trabalhava em dois turnos e a estamparia, em três turnos completos. Essa situação foi alterada a partir do mês de maio de 2007, devido ao aumento no volume diário de produção e conseqüente necessidade de implantação do terceiro turno para a montagem final. No entanto, os resultados apurados durante os três últimos meses de estudo desconsiderou esse incremento no efetivo, tendo permanecido com o mesmo padrão do início ao fim do estudo. A amostra analisada compreende 13 meses, desde o início dos trabalhos, em julho de 2006, até o mês de julho de 2007, e inclui a realização de quinze workshops. Os trabalhos em conjunto continuam, porém, para atender às datas de apresentação do presente trabalho, adotou-se o mês de julho como data limite para efetuar a coleta dos resultados. As áreas envolvidas são: portaria, docas de recebimento da área de montagem final, depósito de materiais de uso da montagem final e operações de abastecimento da montagem final e da armação de carrocerias. Os tipos de abastecimentos adotados foram em número de três, a saber: • Comboio logístico realizado por rebocador elétrico, que abastece a linha de montagem, originário de célula de seqüenciamento. • Abastecimento da linha de montagem no sistema Kanban, realizado por rebocadores elétricos provenientes do depósito. • Abastecimento da linha de montagem no sistema Kanban, realizado por empilhadeiras provenientes do depósito. 91 5.2.3 Definição dos indicadores de acompanhamento Para monitorar a evolução dos trabalhos, foram estabelecidos indicadores de desempenho, visando medir a evolução dos índices de produtividade e de qualidade. Caso, após o levantamento e tratamento dos dados, se algum indicador se mostrar inadequado, haverá a necessidade de redifinição desse indicador ou daqueles que se façam necessários. A redução de custos dos processos envolvidos era esperada como resultados das ações de melhorias, sem meta definida; contudo, foi necessário definir um indicador de custos para acompanhar a sua evolução. 5.2.3.1 Indicador de produção O indicador de produção (IP) adotado tem por objetivo medir a variação da necessidade de mão-de-obra nas atividades em que foram realizadas melhorias, com o objetivo de otimizá-la. Este indicador tem por unidade de medida a razão entre a quantidade planejada de veículos a ser produzida e o total de horas trabalhadas numa determinada atividade, em um dia de produção (produção diária de veículos / horas). O total de horas é resultado da soma das horas de trabalho de todos os empregados envolvidos e necessários para a realização da atividade. A Equação (1) indica o processo de cálculo citado. 92 VDP IP = (1) TH Sendo: IP: Indicador de produção das atividades analisadas [veículos/horas] VDP: Quantidade de veículos produzidos em um dia de trabalho [veículos/dia] TH: Quantidade total de horas necessárias diariamente [horas/dia] A variação deste indicador mostra a maior ou menor necessidade de mão-deobra para desenvolver a atividade analisada. Assim, pode-se utilizar o valor deste indicador em duas condições: para o cálculo da necessidade de pessoal e para determinar a capacidade máxima de produção de um processo. Na primeira condição, o produto do indicador pela quantidade de veículos a serem produzidos diariamente resulta na quantidade de pessoas para cumprir o trabalho. E, na segunda condição, parte-se da quantidade de pessoas que desenvolvem a atividade e multiplica-se pela quantidade de horas úteis disponíveis num dia normal de trabalho. O produto dessa multiplicação é dividido pelo indicador citado; como resultado (quociente), tem-se a capacidade máxima de produção para a mão-deobra disponível. A determinação da necessidade de mão-de-obra tem como base a cronoanálise e a análise de tempos e métodos (MTM). Os tempos medidos para cada atividade e as respectivas freqüências diárias de ocorrência, para cada item, foram utilizados para totalizar a necessidade de mão-de-obra para cada atividade. A esse total foi adicionado um percentual para suprir as necessidades de férias, de 93 faltas, de necessidades fisiológicas pessoais e gerais ou de recuperação de esforço realizado. Os percentuais são variáveis e estatísticos e obedecem ao padrão adotado pela empresa Ômega e a valores da unidade de produção VP. A Equação (2) reflete a explicação acima. n NP = ( Σ TPi x FRi ) x [ 1 + (FA + FE + PP + PR) ] (2) i=1 Sendo: NP: Necessidade de pessoal, obtido em horas de trabalho TP: Tempo padrão de cada atividade analisada, obtido em horas FR: Freqüência de ocorrência da atividade analisada FA: Percentual estatístico de faltas ocorridas no último trimestre FE: Percentual de férias proposto para o período PP: Percentual de perdas para atender necessidades pessoais PR: Percentual de tempo de recuperação por esforço físico Contudo, pequenas melhorias ou pequenas variações na quantidade de veículos ou, ainda, no mix de produção, podem ocorrer e reduzir a necessidade de mão-de-obra, mas não o suficiente para retirar uma pessoa do processo. Portanto, haverá uma diferença entre a quantidade de pessoas necessárias e a quantidade de pessoas disponíveis nesse processo. A razão entre estas duas quantidades resulta no nível de ocupação, como mostra a Equação (3). E, ainda, este fator indica também a capacidade do processo analisado. 94 NP NO = x 100 (3) QD Sendo: NO: Nível de ocupação da atividade [%] NP: Necessidade de pessoal para a atividade analisada [quantidade de pessoas necessárias] QD: Quantidade de mão-de-obra disponível para atividade analisada [quantidade de pessoas trabalhando] 5.2.3.2. Indicador de qualidade Nas áreas de recebimento (portaria e docas), utiliza-se um indicador para medir o tempo de permanência do veículo dentro da fábrica. Esse tempo é medido desde o momento em que o caminhoneiro entrega as documentações na portaria para autorizar sua entrada até sua saída da empresa. Contudo, são consideradas etapas para avaliar o seu tempo de permanência em cada estação. A primeira etapa é o recebimento na portaria, onde ele aguardará até ser autorizado a entrar na fábrica. A etapa segunda é o tempo de permanência na doca de recebimento, onde o material é descarregado e de onde ele se encaminha para o depósito de embalagens para realizar a terceira etapa, ou seja, carregar o seu veículo com embalagens vazias para retorno, finalizando o processo. O processo de monitoramento do tempo de permanência inicia-se com a entrega de um cartão magnético ao motorista, no ato da chegada na portaria para 95 apresentar as documentações requeridas. Nesse instante, ele ativa o sistema acionando o coletor com o cartão fornecido, e o aciona novamente ao ser encaminhado para o processo seguinte. Em todas as áreas de recebimento e expedição, há leitoras de cartões instaladas. O tempo de permanência em cada processo é obtido pela diferença entre os horários de entrada de cada etapa. Com esse procedimento, ficarão registrados todos os tempos de permanência em cada local e, no geral, o tempo despendido dentro da unidade de produção VP. Se analisarmos o processo sob a ótica operacional, o tempo de permanência também é um indicador de produção das áreas. Contudo, está se analisando sob o ponto de vista do motorista de caminhão, e a agilidade e a rapidez no recebimento da carga e no carregamento de dispositivos vazios dentro da empresa estão relacionados à qualidade do serviço prestado a ele. E é com essa finalidade que se pretende analisar e utilizar este indicador. 5.2.3.3 Indicador de custos As ações de produtividade e de qualidade influenciam diretamente os custos operacionais, pois contribuem para a otimização dos recursos. O principal recurso influenciado nesta pesquisa foi a mão-de-obra do provedor logístico. Os esforços foram concentrados na otimização das atividades manuais; no entanto, essas ações propiciaram a redução da necessidade de equipamentos industriais e, conseqüentemente, dos insumos indiretos consumidos por esses equipamentos. Conforme definição contratual entre a montadora e o provedor logístico, as ações de melhorias realizadas, que resultaram numa necessidade de menos mão- 96 de-obra, propiciaram uma redução no valor mensal pago pela montadora. Para definir o valor da mão-de-obra, utilizou-se o valor da despesa mensal da montadora com o provedor logístico. Este valor foi dividido pela quantidade de empregados que esta empresa mantinha operacionalizando a logística da unidade de produção VP. O valor referente à metade de cada quantidade de mão-de-obra dispensada pelo efeito das melhorias seria reduzido do valor a ser pago pela montadora ao provedor logístico. Este iria aumentar sua margem de lucro com essa condição. No entanto, para os fins deste trabalho, foi considerado o valor integral como redução nos custos da montadora, para que o leitor possa verificar o impacto total na redução dos custos com as ações realizadas. As melhorias foram abordadas conforme sua natureza de custos, ou seja, a redução de pessoas refletiu nas despesas com serviços comprados pela montadora de veículo. As despesas com insumos operacionais ocorreram pela redução da necessidade de equipamentos e serão apresentadas como combustível, materiais de manutenção e suprimentos. O consumo de combustível de empilhadeiras é o gás liquefeito de petróleo (GLP) e a energia elétrica é carregada nas baterias que movimentam os rebocadores. A redução na compra de peças de reposição amortizou as despesas com materiais para manutenção desses equipamentos e de suprimentos, tais como óleo, graxas, fluidos, entre outros. A apuração desses resultados ocorreu mediante a comparação dos gastos médios entre o semestre anterior à implantação da melhoria e o semestre seguinte. O indicador adotado é utilizado pela empresa automobilística em seus Indicadores-chave da Produção, também conhecidos pela expressão inglesa Key Production Indicators (KPI). Nesse caso, são os custos divididos pela quantidade de veículos produzidos no período. A Equação (4) apresenta o indicador. 97 DG CPV = (4) VDP Sendo: CPV: Custo por veículo produzido [R$ / veículo] DG: Despesas gerais operacionais no período [R$] VDP: Quantidade de veículos produzidos em um dia de trabalho [veículos] A evolução dos custos foi observada pela comparação entre os custos por veículo produzido (CPV), antes e depois da implantação das melhorias, e os custos serão apresentados na unidade monetária brasileira pelo volume de produção, ou seja, Reais por veículo (R$/veículo). 5.2.4 Definição do período de controle O acompanhamento dos indicadores para medir o desempenho das melhorias no processo do provedor logístico, para efeito deste trabalho, ocorre no período de julho de 2006 a julho de 2007. Contudo, o levantamento de dados para subsidiar as ações de melhoria já vinha ocorrendo desde janeiro de 2006, quando se contratou uma consultoria e logo se observou a possibilidade de melhoria nas atividades realizadas pelo provedor logístico. A despeito do período descrito acima, o processo de melhoria das atividades das operações internas de logística continuam ocorrendo, com subseqüente coleta 98 de dados, ações e monitoramento. Isto faz parte do plano estratégico da montadora para incremento de produtividade. 5.2.5 Levantamento e tratamento dos dados Os dados coletados, utilizados para análise, com o propósito de responder às questões propostas para esse trabalho, foram obtidos nos relatórios de Processo de Melhoria da Produtividade (PMP) realizados. Para facilitar o entendimento e preservar as empresas envolvidas quanto à divulgação de dados referentes à quantidade de mão-de-obra e produtividade na capacidade de produção, tanto as meta quanto os valores obtidos, serão tabulados em forma percentual. Os objetivos propostos e não realizados serão analisados e discutidos basendo-se nas informações apresentas nos relatórios de produtividade. E aqueles indicadores que se apresentarem inadequados necessitarão de redefinição, revisão do período de controle, para novo levantamento e tratamento dos dados. 5.2.6 Realização dos workshops Conforme planejamento elaborado para a realização de melhorias, as reuniões com os grupos de trabalho são realizadas sucessivamente, de acordo com a programação e os objetivos. Os resultados são inseridos no relatório de controle para medir a eficiência das soluções implantadas e medir o desempenho dos trabalhos realizados. Também é feito um relatório de pendências que têm prazo 99 máximo de realização de 120 dias. Ao final desse prazo, é feita uma revisão final do workshop e recertificados ou retificados os benefícios e ganhos de produtividade obtidos. 100 6 RESULTADOS E DISCUSSÕES A base do desenvolvimento do processo de melhorias está descrita no Quadro 2, que relata os desperdícios identificados, suas possíveis causas e as prováveis soluções. ANÁLISE DOS PROBLEMAS E OPORTUNIDADES NAS ATIVIDADES DE LOGÍSTICA INTERNA Problemas Causas Soluções Acúmulo de caminhões no pátio aguardando liberação para entrada na fábrica Rotina inadequada, excesso de digitação, layout de trabalho inadequado Melhorar a disposição dos postos de trabalho Reduzir a quantidade de notas fiscais digitadas Operadores não treinados Treinamento dos operadores Informações do Kanban não estão completas Adicionar o ponto de ordem Embalagens grandes sem plataforma móvel para transporte Reduzir tamanho de embalagens e dinamizar abastecimentos Implementar o requisito de duas embalagens no ponto de uso Implementar o transporte por trem logístico em substituição às empilhadeiras Kanban não é utilizado com eficiência pelos operadores Uso excessivo de empilhadeiras para realizar abastecimentos no ponto de uso Esforço excessivo na atividade de picking Operações desnecessárias de transbordo na Célula de Prémontagem e Seqüenciamento CPMS Baixa eficiência do abastecimento por trem logístico (rebocadores elétricos com várias embalagens grandes) Reduzir tempo de abastecimento para determinados itens Recebimento de material em caixas Substituir as embalagens de com tamanhos inadequados para o fornecimento para o tamanho abastecimento direto no ponto de adequado ao ponto de uso (sem uso incremento de custos à empresa) Transbordo realizado não agrega valor à operação Melhorar o processo de embalar na CPMS Partes são movimentadas para o ponto de uso em quantidades inadequadas Redimensionar as quantidades de entrega para sincronizar abastecimento do ponto de uso Fluxo inadequado, muitas vezes realizado sem transportar embalagem Definir fluxos e rotas Aplicar adequadamente o kanban Área requerida não está disponível no local adequado Uso de áreas livres Quadro 2 - Oportunidades de melhorias nas operações internas de logística Fonte: Documentação interna adaptada pelo autor A análise inicial estendeu-se pelas principais áreas de operação do provedor logístico; entretanto, os trabalhos foram planejados para ocorrer somente nas atividades que mais utilizavam mão-de-obra e que são estratégicas para as 101 atividades da montadora. Dessa maneira, os trabalhos foram realizados nas atividades de portaria, de recebimento de peças e de componentes da área de montagem final, de depósitos de peças e componentes da área de montagem final, de operações de abastecimentos da área de montagem final e da armação de subconjuntos; este último na carroceria. Os desperdícios identificados referem-se, principalmente, à baixa eficiência das operações de abastecimentos, que muitas vezes realiza viagens sem movimentar nenhuma embalagem, geralmente por falta de rotina de trabalho ou de treinamento do operador. O uso excessivo de empilhadeiras para fazer o abastecimento do ponto de uso na linha de montagem ou armação de subconjuntos também foi considerado um desperdício de transporte. A utilização de empilhadeiras tem por característica o transporte de uma embalagem unitizada por vez e deve movimentar-se em pequenas distâncias, a fim de usar com eficiência a sua agilidade. As soluções priorizadas pelo grupo de trabalho foram a implantação de comboios (trens) logísticos e a elaboração de rotas de abastecimentos. A movimentação de várias unidades de carga alocadas em plataforma móveis (dolly) realizada por rebocadores de tração traria otimização de atividades e equipamentos industriais, bem como a redução do fluxo de veículos industriais pelas áreas. A definição de rotas traria a garantia para suportar, de maneira padronizada, o abastecimento por comboio logístico. As melhorias nas atividades de portaria, de recebimento e dos depósitos foram ações específicas e propiciaram o incremento da sua eficiência e a melhoria das condições de trabalho. 102 6.1 AUMENTO DA PRODUÇÃO Foram realizados dezesseis workshops (WS), durante o período de estudo. Em cinco deles, obteve-se um aumento da capacidade de produção na ordem de 5,4% mediante a redução dos tempos dos ciclos das atividades analisadas. As melhorias implementadas possibilitaram realizar uma nova distribuição das cargas de trabalho e, com isso, reduzir a quantidade de mão-de-obra necessária. A Figura 15 apresenta o gráfico com as áreas onde ocorreram as melhorias e os respectivos resultados das melhorias implantadas. [horas / veículo] 3,150 Redução de 5,4% 0,019 0,056 3,050 3,000 na quantidade horas para produzir um veículo. 0,038 3,100 0,038 3,144 0,019 2,950 2,974 2,900 2,850 base: junho 2006 portaria recebimento abastecimento depósito subconjuntos julho de 2007 Figura 15 - Redução do tempo de ciclo das atividades do provedor logístico O valor de 3,144 horas por veículo tomou como base o efetivo total do provedor logístico, em junho de 2006, para realizar a produção diária de 850 veículos. Esta produção não apresentou variação ao longo do estudo. Em termos absolutos (horas/veículo) obteve-se ganho nas atividades de portaria, recebimento, abastecimento na montagem final, depósito da área de 103 montagem final e em subconjuntos da armação. Em julho de 2007, as reduções representavam o valor de 0,17 horas por veículo ou 5,4% de variação em relação à base de junho de 2006. Foram realizados nove WS para melhorar e organizar as atividades nos postos de trabalho (housekeeping), inclusive criando um fluxo adequado de movimentação, mas que não resultaram em redução do tempo de trabalho. Em outros dois WS não se conseguiu obter as metas estimadas, pois houve necessidade de investimentos, os quais não estavam planejados pela empresa automobilística. As ações eram a implantação de comboio logístico e padronização das quantidades de materiais e componentes transportados da Célula de Prémontagem e Seqüenciamento (CPMS) para a linha de montagem. A implantação dessas melhorias implicava a aquisição de plataformas móveis (dollies) e a confecção de dispositivos de armazenagem para transporte dos itens seqüenciados. As análises das principais ações e de seus respectivos resultados serão apresentadas neste capítulo. 6.1.1 Ação de melhoria na atividade de portaria Os trabalhos foram iniciados pela portaria, onde se realizou um trabalho de cronoanálise de todo o processo e que orientou as soluções implementadas no local. Essas ações resultaram na redução do tempo de digitação de notas fiscais e da movimentação interna e externa dos operadores da portaria e estão relacionadas a seguir: • Organização do layout interno, conforme fluxo do processo. 104 • Redistribuição de atividades externas e padronização de horários. • Incremento de fornecedores usuários do sistema Advanced Shipping Notices (ASN). Os dois primeiros itens ajudaram a disponibilizar os atendentes no posto de trabalho por mais tempo. Isso agilizou o atendimento aos caminhoneiros, bem como as outras atividades de separação de notas fiscais e a digitação dos itens recebidos no sistema de materiais. As atividades externas foram distribuídas para empregados de outras áreas, que, em seu fluxo de trabalho, passavam diariamente pela Portaria. O terceiro item foi o responsável pela redução do tempo de digitação no sistema de controle de materiais, pois, com um maior número de empresas usuárias do sistema ASN, os dados constantes nas notas fiscais já estavam disponíveis no sistema, e o digitador apenas conferia os dados e inseria as confirmações. A Tabela 1 mostra os ganhos de produção com base nos indicadores anteriormente apresentados. Tabela 1 - Produção na portaria Atividades Situação Antes Depois Variação Produção - IP [volume diário de produção / horas] 10,63 13,28 25% Nível de Ocupação - NO (%) 80% 89% 11% Os trabalhos realizados diminuíram a quantidade de horas necessárias para a realização das atividades diárias em 0,019 horas por veículo causando um aumento de 25% do indicador de produção da portaria. Isto é resultado da redução do tempo de digitação no sistema de materiais devido ao incremento de fornecedores usuários do ASN, que aumentou de 45 % para 80%, nos 13 meses de estudo. Conseqüentemente, houve uma redução na quantidade de pessoas disponíveis para 105 a realização deste processo e também houve um aumento no nível de ocupação da mão-de-obra disponível após a realização das melhorias. 6.1.2 Ação de melhoria na atividade de recebimento No recebimento de materiais para a área de montagem final, tentou-se eliminar o uso do terceiro turno, uma vez que essa área trabalha apenas em dois turnos. Durante a realização do workshop, foram identificadas as seguintes oportunidades: • Redistribuição das entregas de materiais pelos fornecedores (janelas de entrega) para os dois primeiros turnos. • Incremento de uma empilhadeira no recebimento, para suprir necessidades da redistribuição das janelas de entrega. • Otimização da quantidade de carga recebida por caminhões de entrega. • Redução de movimentação dos conferentes, por meio da instalação de um terminal de sistema de materiais da empresa Ômega, próximo às áreas de conferência de material. As melhorias realizadas não atingiram os resultados esperados, conforme apresentação da Tabela 2. Tabela 2 - Produção no recebimento da montagem final Atividades Situação Antes Depois Variação Produção - IP [volume diário de produção / horas] 3,94 4,62 17% Nível de Ocupação - NO (%) 67% 75% 13% 106 Os dados referentes à Tabela 2 mostram que houve uma redução de 0,038 horas por veículo no tempo de execução dessas atividades. Este fato resultou num aumento da capacidade de produção em 17% (indicador de produção) e ainda, possibilitou um aumento da taxa de ocupação da mão-de-obra de 67% para 75%. A redução de tempo planejada era de 33%, mas o terceiro turno não foi eliminado, apenas reduziu-se a quantidade de pessoas disponíveis. A quantidade de janelas disponíveis no primeiro e segundo turnos seria suficiente para atender a todos os recebimentos diários, pois a capacidade é de 84 recebimentos, com uma variação de 70 a 80 recebimentos diários. No entanto, os recebimentos provenientes de outras plantas, especificamente motores e a malha de transporte interplantas, não permitiram alterações, sem modificar outras entregas. Isso manteve os recebimentos desses materiais no terceiro turno, mas o planejamento logístico se comprometeu a realizar uma análise detalhada para atender às solução propostas. Em janeiro de 2007, um remanejamento interno permitiu direcionar um veículo industrial adicional para a área de recebimento, porém a relocação do terminal mais próximo foi postergada. A decisão ocorreu com base no planejamento de modificações que serão implantadas para a produção de um novo produto, em 2008. 6.1.3 Ação de melhoria na atividade de abastecimento O abastecimento da linha de montagem no sistema Kanban é realizado por rebocadores elétricos e teve sua atividade cronometrada em todo o processo logístico. A cronoanálise mostrou que havia um alto grau de ociosidade nos postos 107 de trabalho. Isso gerou análise e rebalanceamento das cargas de trabalho nos sete postos existentes. Dessa forma, permitiu-se maior sinergia entre as atividades, o que resultou na redução de três postos por turno de trabalho, totalizando seis. As ações implantadas que permitiram melhorar a rotina e as condições de trabalho foram: • Redimensionamento do Kanban. • Redefinição clara das atividades de separação e abastecimento. • Garantia de um fluxo contínuo de processo. • Disponibilidade de carrinhos de transportes adicionais, mais adequados para o acondicionamento das embalagens plásticas e para movimentação durante a separação de pedidos (picking). Foi realizado um planejamento para a fabricação dos carrinhos com término previsto para dezembro de 2007, o qual foi cumprido. As demais ações foram implantadas durante a realização do workshop. O redimensionamento do Kanban foi realizado, conforme os procedimentos do Sistema de Produção da Ômega, que exige o mínimo de duas horas de material disponível na linha de montagem. A partir dessa premissa, determinou-se a necessidade adequada de embalagens a serem transportadas diariamente para as prateleiras da linha de montagem. A redifinição de atividades delineou as funções do separador de pedido e do abastecedor, descrevendo suas respectivas atividades. Isso evitou a realização de atividades em duplicidade, muitas vezes ocasionada por mau dimensionamento do Kanban ou falta do cartão de chamada de material. O uso de carrinhos adicionais para o transporte de materiais visava eliminar o transbordo de caixas entre equipamentos de movimentação de material. O separador fazia o supermercado de peças, conforme o pedido, e colocava as 108 embalagens em um dispositivo, movimentando-o ao longo do porta-palete. Ao finalizar essa atividade, o abastecedor relocava as embalagens para a carretinha engatada ao rebocador elétrico utilizado por ele para a movimentação de material. Na situação atual, o separador faz o picking e coloca as embalagens diretamente no carrinho de transporte. O abastecedor, ao chegar, desengata o dispositivo que ele trouxe com embalagens vazias e engata o dispositivo preparado pelo separador. Em seguida, parte para novo abastecimento. A Figura 16 ilustra a implantação dessa melhoria. CARRINHO DE ABASTECIMENTO ADICIONAL SITUAÇÃO ANTERIOR SITUAÇÃO POSTERIOR Figura 16 - Carrinhos adicionais no abastecimento da linha de montagem 109 A Tabela 3 traz os resultados obtidos após a implantação de melhorias propostas pelo grupo do PMP. Tabela 3 - Produção no abastecimento Kanban na linha de montagem Atividades Situação Antes Depois Variação Produção - IP [volume diário de produção / horas] 7,59 13,28 75% Nível de Ocupação - NO (%) 54% 94% 75% As ações realizadas colaboraram para a melhoria das condições de trabalho dos empregados. Porém, a alta taxa de ociosidade apurada com a realização da cronometragem constatou a possibilidade da redistribuição de atividades. O trabalho foi realizado, os operadores foram orientados e treinados. Realizou-se, então, uma simulação para a aprovação conjunta do setor de medicina e segurança do trabalho, do sindicato da categoria e dos demais participantes do workshop. O balanceamento das cargas de trabalho reduziu a quantidade de mão-deobra disponível e aumentou a taxa de ocupação, de 54% para 94%. As horas necessárias para cumprir a produção diária foram reduzidas em 0,056 horas por veículo, melhorando em 75% indicador de produção da área após as modificações. 6.1.4 Ação de melhoria na atividade de depósito As ações no depósito iniciaram pela organização e, em seguida, visaram redistribuir as atividades e redimensionar a necessidade de pessoal. 110 6.1.4.1 A organização dos depósitos da montagem final Foram desenvolvidos cinco workshops nos depósitos, um para cada grupo de células de abastecimento: bancos e pneus, vidros e pára-choque, pré-montagem e montagem do conjunto motriz, teto-tapete e painel, e central de pré-montagens e seqüenciamento. Os objetivos foram: • Reagrupamento dos materiais das células de produção numa única célula de depósito, tão próximo quanto possível da área de consumo. • Correção da freqüência de entrega para o fornecedor com acerto da Bill of Material (BOM) e, conseqüentemente, da quantidade de material em estoque. • Nova rotina de retirada de embalagens vazias, incluindo liberação de área e redução de movimentação da empilhadeira e do consumo de gás GLP. • Rearranjo do depósito conforme a freqüência de abastecimento. • Eliminação do duplo manuseio na operação de separação de pedido. • Redução dos ítens transbordados que não agregam valor ao produto. A nova rotina para retirada de embalagens vazias trouxe melhorias ao operador de empilhadeira do depósito. No processo anterior, as embalagens vazias eram transportadas até a área de separação e expedição de embalagens vazias aos fornecedores, localizada a 500 metros do depósito, numa freqüência de sete vezes por turno. A rotina implantada passou a utilizar o fluxo de retirada de embalagens vazias da linha de montagem, que era realizado por uma carreta. A área disponível para a alocação das embalagens era distante 80 metros do depósito. A ociosidade foi reduzida no processo da carreta com o aumento da carga de embalagens e no depósito reduziu-se o percurso diário da empilhadeira em aproximadamente 6 km. 111 As ações realizadas melhoraram a organização no depósito, ordenando os materiais nos porta-paletes, de acordo com o local de consumo no processo produtivo e a freqüência de consumo. Isso facilitou a execução das atividades de separação de pedido, reduzindo a movimentação dos separadores. A Figura 17 ilustra essas ações: os círculos e os quadrados são materiais utilizados nas células de produção diferentes, e as cores significam a freqüência de seu abastecimento (vermelho=alta, amarelo=média, verde=baixa). DISTRIBUIÇÃO DOS MATERIAIS NO DEPÓSITO Situação Anterior SEPARAÇÃO Porta-palete Material Situação Atual CÉLULA 1 CÉLULA 2 SEPARAÇÃO Figura 17 - Organização do depósito 112 A redução de itens transbordados de uma embalagem para outra, sem agregar valor, necessitou e ainda necessita de ação entre o planejamento logístico da montadora e o fornecedor dos respectivos materiais. Essa situação foi criada pela empresa automobilística, ao incrementar o abastecimento de Kanban em embalagens pequenas, ao longo da linha de montagem, sem contar com a substituição imediata da embalagem adequada ao ponto de uso na linha. Muitos fornecedores alegaram não ter condições para investir na substituição das embalagens. Isso causou a necessidade de realizar o fracionamento da carga e o transbordo de peças entre embalagens, aumentando a carga de trabalho no depósito. A negociação com os fornecedores é lenta e, geralmente, ocorre somente na renovação do pedido. Contudo, até julho de 2007, já havia sido reduzido em 45% o número de itens transbordados nessa situação. 6.1.4.2 A produção dos depósitos da montagem final Em conjunto com as atividades de melhorias implantadas e apresentadas anteriormente, foi realizada uma cronoanálise das seis diferentes atividades do depósito para verificar a ocupação de cada uma delas. Estas atividades são: separação de pedido das células, transbordo de materiais, separação de pedido para Knocked Down (KD), Recebimento de Kanban, separação de materiais susceptíveis ao furto, operação de empilhadeira. Essas atividades estavam distribuídas entre 11 empregados. A Tabela 4 mostra os resultados após o estudo. 113 Tabela 4 - Produção nas atividades no depósito da montagem final Atividades Situação Antes Depois Variação Produção - IP [volume diário de produção / horas] 4,83 5,90 22% Nível de Ocupação - NO (%) 85% 90% 5% O estudo de tempos e métodos forneceu dados para orientar as ações de melhorias elaboradas pelo grupo de trabalho. Como resultado, foram obtidas condições de redistribuir algumas atividades e eliminar postos de trabalho. Isso pode ser observado no aumento do indicador de produção, de 4,83 para 5,90 veículos por hora. Esse aumento corresponde a 22 % na capacidade de atender aos pedidos e manuseios de materiais para a produção diária executada. Como conseqüência, a quantidade de mão-de-obra do depósito sofreu uma redução da necessidade de pessoal. O nível de ocupação também foi afetado e apresentou uma redução de 5% da ociosidade média das atividades. O trabalho realizado pelo planejamento logístico da montadora para a redução do transbordo, citado anteriormente, colaborou para essa otimização, e a sua completa eliminação poderá melhorar ainda mais o desempenho nas atividades do depósito. 6.1.5 Ações de melhorias nas atividades de subconjuntos e lateral A segurança do trabalho e a medicina ocupacional solicitaram eliminar duas atividades, na área de armação de carroceria, que apresentavam condições antiergonômicas, com riscos à segurança dos empregados. 114 A primeira situação ocorria na área de soldagem e armação da caixa da roda e do assoalho central do veículo, onde havia um manuseio adicional inadequado na retirada de peças KD prontas. Tanto o assoalho quanto a caixa da roda são peças de proporções dimensionais grandes. Os funcionários da montadora realizam suas atividades na soldagem destes conjuntos, acondicionando-os em dispositivo localizado ao lado do posto de trabalho até utilizar o espaço completamente. Então, dois empregados do provedor logístico retiravam as peças, uma a uma, e as transportavam, manualmente, por aproximadamente 15 metros até um outro dispositivo de acondicionamento, localizado na rua interna de movimentação de materiais. A operação seguinte era realizada por um operador de empilhadeira, que retirava o dispositivo cheio e o movimentava para a área de expedição. A Figura 18 é uma foto que simula a movimentação de peças realizada pelos operadores do provedor logístico. Figura 18 – Foto da simulação do transbordo do assoalho central Fonte: Ômega (2007) 115 A outra condição inadequada ocorria no transporte de laterais externas, após a operação de soldagem do suporte do bocal de combustível. O operador da montadora movimentava manualmente um dispositivo contendo 15 conjuntos até o equipamento de soldagem do conjunto lateral. Para realizar esse abastecimento, ele percorria 350 metros, empurrando o dispositivo por uma rua interna com fluxo intenso de circulação de rebocadores e empilhadeiras, o que poderia causar acidente ao operador. Também fazia parte dessa atividade a operação de transbordo e separação de um rack de acondicionamento para dispositivos ergonômicos e adequados ao layout das respectivas estações de trabalho. Para eliminar os riscos na primeira situação, foram adquiridos oito dollies para movimentar dois dispositivos de acondicionamento móveis para o assoalho central e dois para a caixa da roda, lados direito e esquerdo. Dessa forma, os operadores da empresa automobilística passaram a acondicionar as peças KD nesse novo dispositivo e, depois de completar todos os espaços disponíveis, eles próprios faziam a movimentação até a rua de abastecimento. Para que isso ocorresse, foram realizadas melhorias nos dispositivos de montagem e no layout da área, bem como verificado se os tempos adicionais não influenciariam na capacidade de produção do posto de trabalho. Isso extinguiu a necessidade dos operadores do provedor logístico. A segunda atividade, a movimentação de laterais externas do veículo, passou a ser executada pelo provedor logístico. No entanto, um rebocador elétrico foi disponibilizado para transportar o dispositivo com as laterais, reduzindo, assim, a condição de risco de acidentes. A condição antiergonômica de o operador empurrar o dispositivo foi eliminada. A operação de transbordo não sofreu ações de melhorias, mas também passou a ser realizada pelo operador do provedor logístico. 116 A implantação dessas melhorias resultou na otimização de mão-de-obra do provedor, reduzindo-a para dois operadores, um por turno, e os benefícios podem ser observados na Tabela 5. Tabela 5 – Melhorias na movimentação de subconjuntos e laterais Atividades Situação Antes Depois Variação Produção - IP [volume diário de produção / horas] 26,56 53,13 100% Nível de Ocupação - NO (%) 65% 95% 46% As ações planejadas tiveram sucesso e resultaram em: • Eliminação do transbordo da caixa de roda e do assoalho central. • Eliminação da condição antiergonômica durante a movimentação. • Substituição do tipo de veículo que realizava a atividade de escoamento, de empilhadeira para rebocador. • Redução dos riscos de acidentes. Essa condição contribuiu para a redução da necessidade de mão-de-obra do provedor logístico e, ao mesmo tempo, para a melhoria das condições de trabalho nas atividades envolvidas, tanto para operadores da indústria automobilística, quanto para os empregados do provedor de serviços logísticos. A eliminação de um posto de trabalho é responsável pela redução de 0,019 horas por veículo nas atividades do provedor logístico, a qual alterou a capacidade de produção de 26,56 para 53,13 veículos produzidor por hora. Com a mudança das atividades, houve um aumento da taxa de ocupação do operador, que passou de 65% para 95%. Enquanto que, uma análise conjunta destes dois postos mostrou um 117 aumento da capacidade de produção do prestador de serviços e como conseqüência, houve um incremento de 100% no indicador de produção. 6.1.6 Melhorias no fluxo de abastecimentos Os abastecimentos realizados por empilhadeira nas áreas da linha de montagem final de armação de carrocerias foram estudados, com o intuito de alterar o tipo de abastecimento para comboio logístico. De maneira geral, as ações desenvolvidas redistribuíram o fluxo de abastecimentos, uniformizando as cargas de trabalho de cada rota. O modelo de abastecimento não pôde ser alterado devido ao investimento que seria necessário para a aquisição de plataformas móveis (dollies) para o transporte de caixas plásticas de grande dimensão, caixas metálicas (caçamba) e dispositivos. O cálculo determinou uma necessidade de 220 unidades de dollies. Como não havia provisão para este investimento, a montadora postergou a implementação para 2008, durante o desenvolvimento de um novo veículo da empresa. Realizaram-se quatro workshops no abastecimento de peças e componentes da célula central de pré-montagem e seqüenciamento (CPMS) para a linha de montagem, com o objetivo de redefinir os fluxos e rotas de abastecimento. Esses abastecimentos já são realizados no modelo de comboio logístico. O problema idenficado foi a falta de padronização das quantidades nos dispositivos de abastecimentos, que dificultam a otimização dos fluxos. Mas, nesse caso também, o investimento foi postergado para ocorrer simultaneamente ao desenvolvimento do novo veículo, como no caso anterior. 118 6.2 MELHORIA DA QUALIDADE O estudo de melhoria da qualidade avaliou somente as duas atividades do provedor logístico: portaria e recebimento da área de montagem final. Nestas duas atividades também foram desenvolvidas ações que incrementaram a produtividade, como já apresentado nos itens 6.1.1 e 6.1.2. O indicador de produtividade nessas duas áreas avaliou a variação do cumprimento do prazo de atendimento ao motorista de caminhão na portaria e a variação do tempo para realizar a retirada de carga do caminhão no recebimento. Conforme determinação da montadora de veículos, o tempo de permanência na portaria é de 40 minutos e, no recebimento, de 60 minutos. As Figuras 19 e 20 mostram as variações do atendimento dentro do prazo e compara com a variação de entregas recebidas, tanto na portaria, quanto no recebimento. [veíc.] [ %] 95 300 87 240 100 241 239 80 180 60 120 40 60 20 0 0 jan-fev 2006 caminhões recebidos Figura 19 - Indicador de qualidade na portaria jan-fev 2007 atendimento no prazo 119 [veíc.] 100 96 [ %] 95 100 75 80 80 66 60 60 40 40 20 20 0 0 jan-fev 2006 caminhões recebidos jan-fev 2007 atendimento no prazo Figura 20 - Indicador de qualidade no recebimento O período adotado para esta análise foi o primeiro semestre de 2006 e de 2007, pois as alterações ocorreram durante o segundo semestre de 2006, assim foi possível avaliar antes e depois das ações implementadas. A Figura 19 reflete os dados apurados após as modificações elaboradas no processo da Portaria, que aumentaram a produtividade. Ao mesmo tempo, ocorreu o aumento no nível de atendimento dentro do prazo. Em valores absolutos, esse atendimento cresceu de 87% para 95%, sem que houvesse uma variação na quantidade de caminhoneiros atendidos diariamente. A maior agilidade na liberação de entrada dos caminhões resultou no incremento da qualidade de atendimento. O objetivo do recebimento da montagem final difere da anterior, pois aqui as melhorias implementadas visaram ao aumento da quantidade de recebimentos nos dois primeiros turnos. As variações apresentadas na Figura 20 mostram que houve um aumento na quantidade de veículos recebidos diariamente, de 66 para 75 caminhões. Isso atendeu aos objetivos propostos e não influenciou o nível de 120 atendimento dentro do prazo, que permaneceu em aproximadamente 95%; manteve-se a qualidade e a agilidade dos serviços prestados durante a descarga dos caminhões. 6.3 REDUÇÃO DE CUSTOS O aquecimento do mercado de venda de automóveis novos alterou algumas rotinas da unidade de produção VP, primeiramente com a introdução da produção em regime aos sábados. Com a manutenção dessa situação, foi necessário criar um turno adicional para aumentar a produção e, com isso, foi necessária a admissão de mão-de-obra. Contudo, os dados referentes aos custos operacionais foram tabulados para desconsiderar essas situações e não prejudicar a qualidade dos resultados. Então, tomou-se como base os custos operacionais por veículo produzido do ano de 2006, de onde foram subtraídos os valores médios das reduções de custos ocorridas em conseqüências das ações de produtividade, totalizando o custo final. Esses custos foram apresentados conforme categoria contábil utilizada pela montadora, descritos a seguir: • Serviços comprados (mão-de-obra do provedor logístico). • Manutenção e suprimentos de equipamentos industriais devido à redução do uso de dois rebocadores elétricos e uma empilhadeira. • Combustível para movimentar os referidos equipamentos industriais. 121 As Figuras 21 e 22 mostram a redução de custo por tipo de despesa operacional, analisando a área de logística e a unidade de produção VP, respectivamente. [R$/veículos] 86 85,5 0,1 0,2 3,4 85 84 83 81,8 82 81 base 2006 combustível manutenção serviços comprados custo final Figura 21 - Redução de custos por veículo produzido na logística [R$/veículos] 305 303,9 304 0,1 0,2 3,4 303 302 301 300,2 300 299 base 2006 combustível manutenção serviços comprados Figura 22 - Redução no custo por veículo produzido da unidade de produção custo final 122 A redução total foi de R$ 3,70 por veículo produzido, somando-se as despesas evitadas com combustíveis (R$ 0,10/veíc.) e com a manutenção de veículos industriais retirados do processo (R$ 0,20/veíc.). O valor dos serviços prestados pelo provedor logístico foi reduzido, em conseqüência da otimização do seu processo e da redução da quantidade de mão-de-obra. Para a montadora, essa redução ocorreu nas despesas com serviços comprados, em que se observou a maior redução dos custos (R$ 3,40/veíc.). No entanto, é importante salientar que, com a retirada do processo de quatro veículos industriais, o fluxo de veículos melhorou e o risco de acidentes foi reduzido, mesmo que esses benefícios não sejam mensuráveis. A Tabela 6 mostra a redução do custo de veículos, tanto na área de logística, quanto na unidade de produção VP. Tabela 6 – Redução de custos operacionais Custo por veículo [R$/veiculos produzidos] Antes Situação Depois Variação Área de Logística 85,50 81,85 -4,3% Unidade de Produção VP 303,86 300,20 -1,2% Tanto nas Figuras 21 e 22, quanto na Tabela 6, a redução de custos obtida (R$ 3,70/veíc.) mostra o impacto nas despesas da área de logística e na unidade de produção VP. As bases são diferentes, ou seja, as despesas da área de logística estão contidas nas despesas da unidade de produção, por isso apresentam percentuais diferentes. O impacto dos valores reduzidos nas despesas da área de logística foi de 4,3 % e de 1,2% nos custos da unidade de produção. 123 Os valores dos custos operacionais tomados como base excluem os custos com a mão-de-obra dos empregados da montadora, tanto para a unidade de produção, quanto para a área de logística. 124 7 CONCLUSÃO O presente trabalho analisou os resultados obtidos em produtividade, qualidade e custos, a partir da implantação de conceitos da Produção Enxuta em um provedor de serviços logísticos de uma indústria automobilística. Também avaliou as dificuldades ocorridas na transferência de conhecimentos entre uma montadora de automóveis e o seu fornecedor de serviços logísticos, com relação ao desempenho do trabalho em conjunto na redução mútua de seus custos operacionais. Dessa forma, o estudo também almejou contribuir, com base nas lições aprendidas, para o desenvolvimento regional que envolvem a transferência de conhecimentos entre empresas parceiras locais. Os resultados apresentados e discutidos atingiram as metas propostas e corresponderam às expectativas da montadora em seu empreendimento em parceria com seu provedor de serviços logísticos. As otimizações realizadas nas atividades de logística contribuíram para o aumento da eficiência na execução das atividades do provedor logístico e, conseqüentemente, reduziu-se a necessidade dessa mão-de-obra. Estas ações também permitiram a retirada do processo de veículos industriais, o que possibilitou a redução do consumo de combustível, de materiais de manutenção e de suprimentos para esses equipamentos. Os resultados também apresentaram melhoria nas condições de trabalho, com a redução de condições inseguras e riscos de acidentes, sejam em postos fixos, sejam na criação de um fluxo ordenado e padronizado dos veículos industriais. A indústria automobilística é responsável por uma parcela dos desperdícios ocorridos nas atividades de seu parceiro de serviços logísticos. Muitas ações foram realizadas sem o planejamento adequado, o que onerou as atividades logísticas. 125 Exemplos disso são os transbordos realizados para se adequar o tipo e o tamanho de embalagens de fornecimento a aquelas necessárias no local de consumo, e a necessidade de se manter um terceiro turno para receber materiais para uma produção que trabalha em regime de dois turnos. O provedor logístico recebeu o conhecimento da aplicação de uma nova metodologia, a qual ele poderá aplicar em outras unidades e obter os mesmos benefícios. Contudo, durante o desenvolvimento deste projeto, observou-se falhas de treinamento, de comunicação e de comprometimento. Para se aplicar adequadamente a metodologia, há que se treinar e fornecer conhecimentos da prática de cada ferramenta. O desdobramento dos objetivos da empresa em objetivos individuais para toda a média liderança poderia assegurar o comprometimento de todos. Este conjunto de ações possibilitaria ao provedor logístico desenvolver suas melhores práticas, tornando seus processos eficientes e eficazes e garantindo-lhe uma vantagem competitiva. As informações contidas neste trabalho podem contribuir com informações para outras empresas que planejam transferir suas atividades para um provedor de serviços logísticos (3PL) quanto a desenvolver um processo de melhoria contínua em parceria com seu fornecedor ou contratante, compartilhando conhecimentos. No entanto, se faz necessária uma abordagem mais ampla para ambos os casos. A terceirização de atividades traz benefícios estratégicos e operacionais, mas exige uma comunicação eficiente, parceria e comprometimento recíproco das partes envolvidas, bem como definição clara e eficaz das atividades, dos objetivos e dos indicadores de desempenho. Então, seria importante para um mercado em desenvolvimento, como o Cone Leste Paulista, avaliar os benefícios, as dificuldades encontradas e as soluções adotadas por parcerias entre empresas do setor 126 automobilístico e seus fornecedores de serviços logísticos. Esta pesquisa forneceria dados sobre as melhores práticas encontradas e serviria de orientação para novos empreendimentos, contribuindo, dessa forma, para a adoção de modelos eficientes e para o crescimento do setor. Ao se desenvolver um estudo que aborda a aplicação de conceitos da Produção Enxuta em parcerias, a qual permite compartilhar conhecimentos entre empresas brasileiras, estar-se-á contribuindo para o reconhecimento da importância da relação eficiente entre cliente e fornecedor. Os resultados podem fornecer benchmarking para desenvolver confiança mútua, redução da resistência às mudanças, comunicação eficiente, cultura de compartilhar objetivos e estratégia de redução de custos. A soma destas duas propostas forneceria subsídios para elaborar os requisitos para a contratação de um fornecedor e promover um relacionamento adequado com ele. Para o fornecedor, estas informações seriam uma orientação para o seu desenvolvimento quanto à capacidade de atender às necessidades do mercado e, conseqüentemente, do seu cliente. 127 REFERÊNCIAS AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA – ANEEL. Condições Gerais de Fornecimento de Energia Elétrica. Artigo 2, inciso 9º da resolução 456 de 29 de novembro de 2000. AHLSTRÖM, P. Sequences in the Implementation of Lean Production. Artigo. London Business School: European Management Journal, 1998. Vol. 16. N. 3, pp. 327–334. Disponível em: <http://elsevier.com> Acesso em: 29 dez. 2006. BALLOU, R. H. Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos/Logística Empresarial. Tradução Raul Rubenich. Porto Alegre: Bookman, 2006. 616 p. Título original: Business Logistics/Supply Chain Management. BASSO, L. F. C; PACE, E. S. U. 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Acesso em: 23 mai. 2007. 133 GLOSSÁRIO • Advanced Shipping Notices: sistema de envio dos dados de nota fiscal diretamente do emissor (fornecedor) para o recebedor (cliente), com o objetivo de agilizar a entrada de material na empresa. • Andon: quadro indicador de parada de linha (OHNO, 1997). • Balanced Scorecard: gestão de desempenho da organização por meio de indicadores de itens tangíveis e não-tangíveis. • Benchmarking: metodologia de identificação oportunidades de melhorias por comparação com modelos pré-conceituados. • Best practice: melhores práticas, geralmente inseridas em banco de dados para consultas futuras. • Bill of material: lista de materiais. • Carroceria: denominação de objeto (conjunto) montado na área de armação da carroceria. • Cross-docking: recebimento de materias diretamente no ponto de uso. • Design: desenho, projeto, esboço. • Dolly / dollies: plataforma móvel para transporte de cargas. • Empowerment: enriquecimento da atividade com responsabilidade e autonomia. • Feedback: informação de retorno, avaliação. • Fourth party logistics: provedor de serviços logísticos de integração de toda a cadeia de suprimentos, incluindo também outros provedores, por meio de organização e gerenciamento de recursos e tecnologia. • Heijunka: termo japonês para nivelamento da produção. 134 • Housekeeping: utilização dos 5 sensos japoneses para organização do local de trabalho. • In loco: termo em latim para designar a expressão “no local”. • Kit: conjunto de peças, componentes, ou materiais. • Knocked Down (KD): partes de conjuntos de peças do veículo produzidas para suprir o mercado interno de reposição. • Know-how: conhecimento • Kaizen: filosofia japonesa sobre o processo de melhoria contínua. • Jidoka: termo japonês que designa a autonomação, ou seja, a automação com toque humano. • Just-in-time: filosofia desenvolvida pela Toyota para o fluxo unitário de material, que significa o material adequado, no tempo certo, no local correto e na quantidade exata. • Layout: desenho esquemático de um local, processo ou instalação. • Lead time: tempo de duração do processo. • Lean: enxuto • Lean Manufacturing: produção enxuta • Marketing: mercadologia • Milk run: sistema de rota regular que circula por vários fornecedores recebendo material ou componente e entregando embalagens vazias e finalizando na empresa do cliente entregar o material recolhido e retirar as embalagens vazias. • Mix: mistura, distribuição, uniforme ou não, de produtos diferentes numa linha de montagem. 135 • Muda: perda em japonês; identifica as atividades que não agregam valor ao produto. • Mura: significa denivelamento em japonês e é o resultados de perdas que causam irregularidades na produção. • Muri: termo japonês para sobrecarga de trabalho, tanto em pessoas, quanto em máquinas e, respectivamente, causa falta de segurança e/ou quebra de qualidade e quebra de máquinas e defeitos. • Outsourcing: termo em inglês que designa a terceirização de atividades. • Packing list: lista de embalagens com materiais recebidos. • Picking: separação de pedido no depósito para entrega e consumo no posto de trabalho. • Plan, Do, Check e Act: fases da metodologia do PDCA desenvolvida por E. Deming; em português, as ações são planejar, executar, controlar e agir. • Racks: dispositivos de armazenagem para manuseio de materiais em paletes, geralmente horizontais. • Seiri, seiton, seiso, seiketsu e shitsuke: termos japoneses que designam os cincos sensos (utilização, ordenação, arrumação, padronização e autodisciplina) • Set pallet system: uma das desinações do transporte de materiais seqüenciados para posto de trabalho. • Set up: tempo de troca de ferramentas. • Stakeholder: usuário, interessado ou cliente interno na organização. • Takt time: templo ciclo padrão, ou ritmo. • Teamwork: trabalho em equipe 136 • Third party logistics: provedor de serviços logísticos para atividades compreendidas entre fornecedores de partes e materiais, empresa e distribuidores. As atividades são de transporte, armazenagem, gerenciamento de inventário, embalagem e expedição. • Workshop: reunião de trabalho estruturada entre uma equipe multifuncional para desenvolvimento de projetos.