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27 Análise do semieixo homocinético utilizado no veículo Baja da equipe Clarengex e proposta de melhoria para o sistema Felipe Muniz ARNALDO1 Rodrigo dos Santos ANTUNES2 Eduardo CASARIM3 Resumo: Este trabalho tem o objetivo principal de compreender a metodologia de especificação de linha de transmissão de torque através de semieixo homocinético e avaliar o quanto o resultado oriundo desta aplicação influenciou na falha e, consequentemente, no desacoplamento do semieixo homocinético em uma aplicação real. Foram realizadas três linhas de trabalhos distintos: primeiro, foi compreendida toda a história e metodologia de utilização do semieixo homocinético; em seguida, foram isoladas as possíveis causas do desacoplamento do eixo homocinético, realizado cálculos e simulada a aplicação no Baja via MEF (Método dos elementos finitos); e, por fim, foram coletados os dados obtidos na primeira e segunda metodologia e a proposta de melhoria a fim de otimizar o semieixo homocinético, para uma futura aplicação no veículo Baja. Palavras-chave: Semieixo homocinético, análise por elementos finitos, proposta de melhoria. 1 Felipe Muniz Arnaldo. Graduado em Engenharia Mecânica pelo Claretiano – Centro Universitário, polo de Rio Claro (SP). 2 Rodrigo dos Santos Antunes. Graduado em Engenharia Mecânica pelo Claretiano – Centro Universitário, polo de Rio Claro (SP). 3 Eduardo Casarim. Especialista em Metodologia de Educação a Distância pelo Claretiano – Centro Universitário, Especialista em Logística Empresarial pelo Instituto Nacional da Pós-graduação, Especialista em Administração Industrial pelo Instituto Nacional de Pós-graduação, Graduado em Engenharia Mecânica pela Escola de Engenharia de Piracicaba (EEP-FUMEP). E-mail: <[email protected]>. Ling. Acadêmica, Batatais, v. 6, n. 1, p. 27-44, jan./jun. 2016 28 Analysis of the homokinetic half-shaft used in the Baja vehicle of Clarengex team and a proposal for improving the system Felipe Muniz ARNALDO Rodrigo dos Santos ANTUNES Eduardo CASARIM Abstract: This work has the main objective of understanding the methodology for specifying a torque transmission line through a homokinetic half-shaft and evaluate how the result derived from this application influenced the fault and, consequently, the uncoupling of the homokinetic half-shaft in a real application. Three different work approaches were carried out: firstly, all the history and use methodology of the homokinetic half-shaft was understood; secondly, the possible causes for the disconnection of the homokinetic half-shaft were isolated, and, also, calculations were made and the application in the Baja via MEF (Method of finite elements) was simulated; and, finally, the data obtained in the first and second methodologies were collected and the improvement proposal in order to optimize the homokinetic half-shaft, for a future application in the Baja vehicle. Keywords: Homokinetic half-shaft, finite element analysis, improvement proposal Ling. Acadêmica, Batatais, v. 6, n. 1, p. 27-44, jan./jun. 2016 29 1. INTRODUÇÃO Análise do semieixo homocinético utilizado no veículo Baja da equipe Clarengex e proposta de melhoria para o sistema. O objetivo geral deste trabalho é analisar as possíveis falhas que ocorreram no semieixo homocinético e, assim, buscar propor soluções para que o próximo veículo não apresente os mesmos problemas. Nosso objetivo específico é analisar o sistema homocinético do veículo Baja, coletar dados e informações em campo para compararmos com os atuais, observar e analisar o semieixo homocinético trabalhando no veículo e, também, avaliar todo o sentido da homocinética. Este trabalho é importante, pois, inicialmente, gerará conhecimentos que contribuirão para o embasamento técnico na utilização adequada do sistema do semieixo homocinético do veículo Baja. Além disso, este estudo ajudará a identificar as deficiências do projeto da equipe Clarengex e também auxiliará na escolha de um modelo de junta homocinética ideal para o projeto. É importante, ainda, em nível pessoal, pois a vivência em grupo durante o projeto nos proporcionou o aprimoramento de atividades como: trabalho em equipe, desenvolvimento pessoal, planejamentos diversos, entre outros. No âmbito acadêmico, ele será muito significativo, já que contribuirá com ideias científicas para as questões aqui propostas dentro da área de Engenharia Mecânica, fazendo com que possa contribuir com mais esse aporte científico de estudos e reflexões nas universidades brasileiras. Além disso, o projeto nos permitiu colocar toda a teoria adquirida em sala de aula na prática, até a construção final do veículo Baja. Os dados obtidos em nossa pesquisa cientifica vão ficar à disposição dos alunos que farão parte da nova formação da equipe Clarengex; além disso, a abordagem do problema é qualitativa, complementando a realização dos objetivos de forma explicativa, analisando, dessa forma, soluções para o problema durante a comLing. Acadêmica, Batatais, v. 6, n. 1, p. 27-44, jan./jun. 2016 30 petição SAE Baja Brasil 2015. O procedimento técnico adotado foi experimental, onde serão apontadas as correções necessárias para o novo projeto do conjunto homocinético. Em março de 2015, ocorreu a 21ª Competição Baja SAE Brasil, onde a Faculdade Claretiano de Rio Claro – SP teve sua primeira participação com a equipe Clarengex. Cada instituição participante deveria construir um veículo off road (veículo fora da estrada) seguro e capaz de superar os mais variados tipos de terrenos. Durante a prova de enduro, a junta homocinética sofreu um deslocamento axial em seu trabalho, fazendo com que ela se desacoplasse do eixo. Nesse trabalho, levantamos algumas hipóteses para nos auxiliar a encontrar a causa raiz do problema proposto. 1.1. Torque do motor muito alto. 1.2. Rolamento do semieixo homocinético com fadiga. 1.3. Vibração excessiva. 1.4. Limites de trabalho angular muito alto. 2. DESENVOLVIMENTO A junta homocinética vem do grego homos = igual + kinein = movimento e foi criada pelo francês Pierre Fenaille em 1927, com o objetivo de se obter a tração dianteira, por ela possibilitada, permitindo a tração e a direção estarem no mesmo eixo. Antecessora da junta homocinética, existia a junta universal, que basicamente consistia em dois “U” unidos por um pino transmitindo movimento para o outro, fazendo que esses eixos pudessem ter um movimento independente e gerar um ângulo. Porém, esse tipo de junta possuía um problema: quando o “U“ transmitia movimento para o outro, existia a diferença de velocidade e aceleração entre as duas peças, causando movimentos indesejáveis do volante de direção, ocasionando um desconforto nas curvas para o piloto. A maior falha da junta universal foi eliminada na junta homocinética. Nesse modelo, há esferas entre a parte condutora e a parte conduzida, mantidas espaçadas por meio de pistas. Ling. Acadêmica, Batatais, v. 6, n. 1, p. 27-44, jan./jun. 2016 31 A junta homocinética surgiu devido à necessidade de anular o efeito de desequilíbrio da transmissão e, também, à necessidade de conseguir ângulos maiores de trabalho, pois a junta universal possuía uma limitação nesse quesito. Com esse tipo de junta, o movimento é transmitido de uma forma uniforme à velocidade constante. Por essa razão, esta junta também é denominada junta de velocidade constante (constant velocity joint ou, abreviadamente, CV joint). Em um projeto de um semieixo homocinético, devem ser levados em consideração quatro parâmetros básicos, que variam conforme a aplicação: Torque, Rotação, Ângulos e a Variação de comprimentos (NETO, 2012). O projeto do sistema de transmissão da equipe Clarengex foi dimensionado para que o veículo Baja alcançasse um torque alto e conseguisse superar terrenos acidentados; para isso, a variação de comprimento da junta homocinética auxiliaria na transmissão de torque em diferentes ângulos, fazendo com que o Baja não tenha perda de tração, independentemente do tipo de terreno. Com o projeto Baja SAE, os estudantes de engenharia conseguem colocar todo o conhecimento adquirido em sala de aula na prática. Cada equipe que participa da competição Baja SAE BRASIL deverá projetar um veículo fora de estrada (off road) visando à sua comercialização. O veículo tem de ser seguro, de fácil manutenção e operação. Deve, também, ser capaz de superar todos os tipos de terrenos. Os alunos deverão desenvolver todo o projeto do veículo (projeto, construção, testes, promoção e sua operação) respeitando todas as regras disponibilizadas que foram impostas (REGULAMENTO BAJA SAE BRASIL, 2013). Com o objetivo de melhor compreender o sistema de juntas homocinéticas, realizamos nossas pesquisas a fim de entender a real falha do sistema. No projeto Baja, da equipe Clarengex, foi utilizada a junta homocinética birfield do VW Gol, marca Spicer, modelo 952042HD e modelo VW 5X3407272. Utilizamos esse tipo de junta para transmitir a força gerada pelo motor para as rodas do veículo, independentemente do tipo de terreno em que o Baja estivesse operando. Ling. Acadêmica, Batatais, v. 6, n. 1, p. 27-44, jan./jun. 2016 32 Segundo Cepra (2000), a junta homocinética birfield permite transmitir trabalho em diferentes ângulos e certo deslocamento axial. Esse tipo de homocinética é a mais bem-sucedida de todos os tipos de uniões homocinéticas. Na aplicação no veículo Baja, o deslocamento axial não foi o suficiente para o ângulo máximo necessário para nosso projeto. Uma necessidade do projeto foi trabalhar em conjunto com a suspensão, que é constituída por um sistema independente, e, por essa necessidade, precisávamos de um sistema que permitisse um desalinhamento angular e paralelo dos eixos. Para tal função, aplicamos o semieixo homocinético. Outra possibilidade seria usarmos as cruzetas (juntas universais) conforme Figura 1 a seguir, porém, estas apresentam maiores perdas para um desalinhamento elevado, bem como vibração excessiva. Figura 1. Desenho de uma junta universal (cruzeta). Fonte: Ningbo Rito (2015). Entretanto, os semieixos homocinéticos (Figura 2) são de difícil fabricação, o que nos levou a adquirir um modelo comercial empregado no VW gol, mais leve e compacto dentro dos encontrados nos veículos populares. Ling. Acadêmica, Batatais, v. 6, n. 1, p. 27-44, jan./jun. 2016 33 Figura 2. Semieixo homocinético (modelo 3D). Fonte: Ningbo Rito, 2015. De acordo com SENAI, 2005, o semieixo homocinético (Figura 3) pode ser dividido em: Figura 3. Vista explodida de um semieixo homocinético. Fonte: Senai (2005). A Figura 3 mostra: 1) Árvore de saída (ponta de eixo com junta homocinética fixa). 2) Anéis de travamento. 3) Braçadeiras. 4) Coifas de proteção. Ling. Acadêmica, Batatais, v. 6, n. 1, p. 27-44, jan./jun. 2016 34 5) Semiárvore. 6) Junta homocinética deslizante. 7) Arruelas Belleville. 8) Anel Centralizador. O eixo semiárvore ou eixo monobloco foi desenvolvido para a indústria automotiva, compondo o conjunto semieixo homocinético. Sua função é a transmissão do torque entre as juntas homocinéticas, devendo possuir elevada rigidez à torção. Ele possui ranhuras/entalhes e rasgos para a fixação das juntas homocinéticas. De acordo com Steyer (2006, p. 2) “Os semieixos homocinéticos são compostos por duas juntas homocinéticas, duas sanfonas (chamadas de mangas ou coifas) e um eixo interconector e sua configuração depende do tipo de aplicação.” O veículo Baja possui um semieixo para cada roda motriz, dessa forma, a tração é transmitida para as duas rodas traseiras. Os eixos de interconexão das juntas (Figura 4) podem ser maciços, tubulares soldados ou monobloco tubular, e são confeccionados normalmente em SAE 1045 ou SAE 1050 e temperados por indução. Figura 4. Desenho 2D de um eixo de interconexão. Fonte: GKN do Brasil (2015). Ling. Acadêmica, Batatais, v. 6, n. 1, p. 27-44, jan./jun. 2016 35 Análise por elementos finitos No Projeto Baja, realizamos análises do semieixo homocinético, que é uma das partes do veículo que mais sofreu impacto durante a competição Baja SAE Brasil 2015. Nessa análise, colhemos informações do RPM do motor utilizado no Baja, câmbio cvt, redutor, mancais e coroa, criamos um memorial de cálculo, logo após os cálculos, aplicamos os resultados por método de elementos finitos com o software Solid Works Simulation. Memorial de cálculo Todos os eixos que giram e transmitem potência sofrem flexão e torção (flexo-torção). A torção ocorre devido, pelo menos, a dois momentos que agem, no eixo, em sentidos contrários (a carga puxa de um lado, e o torque puxa do outro, e tendem a cisalhar o eixo). Para eixos totalmente fixos em uma extremidade, basta apenas um momento aplicado em qualquer ponto do seu comprimento para provocar torção. Assim, todos os eixos que transmitem potências terão de ser calculados à flexo-torção. Porém, o engenheiro, sem correr nenhum risco, poderá calcular esses eixos somente à torção, desde que use um artifício para atenuar a flexão, segundo Niemann (1996). O semieixo homocinético possui um diâmetro de 24,2 mm, material SAE 1045 temperado pelo método de indução. RPM na saída da redução: Onde: N final = Rotação máxima final (RPM) - 3800 Redução do redutor – 1:7,44 Redução do CVT – 1: 0,54 3800 / 0,54 X 7,44 = 945,83 RPM Ling. Acadêmica, Batatais, v. 6, n. 1, p. 27-44, jan./jun. 2016 36 O motor que equipa o Baja possui 10 HP, mas, devido à perda de potência no sistema, logo, a potência final é de: HP x CVT x redutor x mancais x coroa = CV 10 x 0,97 x 0,96 x 0,985 x 0,98 = 8,98 CV Cálculo de torção no semieixo homocinético: A atuação da torção, basicamente, se segue conforme a Figura 5 a seguir: Figura 5. Aplicação de torção em um eixo. Fonte: Vicentini (2013). N n Onde: N = potência do eixo (cv) e n = rotação do eixo (rpm) MT = 716200 x N / n MT = 716200 X 8,98 / 945,83 MT = 6799,8 Kgf / mm Aplicando a fórmula de torque máximo: Ƭ max = Mt / Wt Ƭ max = Mt / (π x d³) / 16 Ƭ max = 6799, 8 / (π x 24, 2³) / 16 Ƭ max = 2, 44 kgf/mm² Aplicamos o momento torçor: M t = 71620 × Ling. Acadêmica, Batatais, v. 6, n. 1, p. 27-44, jan./jun. 2016 37 Portanto, a Ƭ max (torque máximo) = 2, 44 kgf/mm², esse resultado será utilizado posteriormente para a realização de cálculo por elementos finitos. No caso da torção e do cisalhamento puro, conforme Figura 6 a seguir, as tensões aparecem no plano da seção da peça, ou seja, perpendiculares ao eixo, e são chamadas de Tensões de cisalhamento e expressas pela letra (Ƭ). Figura 6. Atuação da tensão de cisalhamento em um eixo. Fonte: Vicentini (2013). Valores sugeridos para Fator de segurança (N) na Tabela 1 a seguir: Tabela 1. Tabela de valores sugeridos para fator de segurança (N). Aços Tipo de solicitação Sobre a Ruptura Sobre Escoamento Materiais Frágeis Ferro Fundido Estática 1,5 a 2 3a4 5a6 Oscilante 3 6 7a8 Alternante 4 8 10 a 12 Choques 5a7 10 a 15 15 a 20 Fonte: Vicentini (2013). Ling. Acadêmica, Batatais, v. 6, n. 1, p. 27-44, jan./jun. 2016 38 Adotamos o número 4 como nosso coeficiente de segurança, pois aplicamos uma carga estática e com uma tensão sobre ruptura do material. Adotaremos para o aço 1045 temperado o valor de 680 Mpa, conforme mostra a Tabela 2 a seguir: Tabela 2. Tabela de valores de tensões para alguns tipos de aço (Mpa), segundo a AISI. Aço Recozido σe Temperado / Revenido Normalizado σr σe σr σe σr 1020 250 380 - - 1030 320 480 345 520 500 700 - 1045 360 580 400 620 680 880 1060 375 630 420 780 670 985 4130 360 560 440 670 910 1280 4140 780 1000 - - 1360 1470 4340 900 1100 - - 1400 1560 8640 680 900 - - 1000 1170 Fonte: Vicentini (2013). Aplicando a fórmula de tensão admissível: t ADM = tE N Onde: tADM = Tensão admissível, tE = Tensão de escoamento, N = Fator de segurança. 2,72 = 0,6 x 68 / N portanto N = 15. O fator de segurança encontrado foi de N= 15, o que nos mostra que o semieixo homocinético estava superdimensionado para esse tipo de aplicação. Ling. Acadêmica, Batatais, v. 6, n. 1, p. 27-44, jan./jun. 2016 39 O valor ideal para o fator de segurança para a aplicação no Baja é de N= 4. Devido à necessidade que encontramos no nosso projeto, precisaríamos de uma junta que transmitisse movimentos do torque do motor para as rodas e, também, que sofresse variações de ângulos. Segundo Generoso (2009, p. 69), “Esse tipo de junta é usado para transmitir movimento entre árvores que precisam sofrer variação angular, durante sua atividade”. A transmissão de trabalho entre árvores que operam em diferentes planos só é possível com a utilização de alguns tipos de junta. Análises realizadas para encontrar a real causa do problema de desacoplamento do semieixo homocinético: Torque do motor muito alto Com os resultados obtidos nas equações, será possível realizar a análise por elementos finitos. Para a simulação por software, travaremos um lado do semieixo homocinético e aplicamos a tensão de cisalhamento calculada na outra extremidade. Com o resultado, conseguiremos identificar pontos de maior concentração de tensão no material e se o torque exercido pelo motor ocasionou a falha do sistema. Análise no software Solid Works Simulation de elementos finitos, conforme Figuras 7 e 8: Ling. Acadêmica, Batatais, v. 6, n. 1, p. 27-44, jan./jun. 2016 40 Figura 7. Dados do eixo analisado. Fonte: acervo do autor. Figura 8. Resultado da tensão por Von Mises. Fonte: acervo do autor. As tensões aplicadas no eixo foram baixas e não causaram impacto no material. O fator de segurança (N) foi 15, mas o valor ideal para o fator de segurança era 4, porem, já esperávamos esse Ling. Acadêmica, Batatais, v. 6, n. 1, p. 27-44, jan./jun. 2016 41 comportamento, pois utilizamos o semieixo homocinético, que foi projetado para atender ao VW gol no Baja. Esses fatores indicam que a homocinética utilizada estava superdimensionada para essa aplicação, ou seja, ela foi projetada para atender um veículo que opera em uma RPM e potência muito maior do que a aplicação no nosso projeto Baja. Rolamento do semieixo homocinético com fadiga Durante a prova de frenagem da competição Baja SAE Brasil 2015, o veículo Baja da equipe Clarengex desacoplou o sistema homocinético da ponta de eixo. Após análises realizadas pelos mecânicos da equipe, foi identificado que o sistema não tinha sido comprometido, somente desacoplado. A inspeção realizada no conjunto homocinética após a falha do sistema indica que o material não estava comprometido, todas as peças estavam dentro dos limites de operação, sem a presença de desgaste, fadiga e folga. Com isso, a fadiga do rolamento está descartada de ser uma possível falha do sistema. Vibração excessiva O veículo apresentava certa vibração no sistema homocinético quando em movimento. Ao confrontar informações do projeto com teorias de ampliação do semieixo homocinético, foi constatado que o sistema estava com um ângulo alto para aplicação daquele modelo de junta. De acordo com SENAI-SP (2005), a transmissão de trabalho com limite angular muito alto pode ocasionar vibrações no conjunto da junta homocinética. Limites de trabalho angular muito alto Analisando o semieixo homocinético, foi constatado que o sistema estava trabalhando no limite máximo de ângulo admissível para aquele tipo de homocinética, sendo esta a real causa do problema encontrado no semieixo homocinético do veículo Baja. Ling. Acadêmica, Batatais, v. 6, n. 1, p. 27-44, jan./jun. 2016 42 3. CONCLUSÃO Com o estudo da teoria adquirida e as análises feitas para a realização deste trabalho, foi possível identificar que a causa raiz do problema encontrado no projeto do veículo Baja da equipe Clarengex foi a utilização do tipo de semieixo homocinético inadequado. O modelo de junta homocinética birfield limitou o ângulo de trabalho da suspensão do veículo Baja para o máximo de 22°. A melhor escolha para o nosso tipo de aplicação seria a junta homocinética fixa Rzeppas, pois esse tipo de junta permite trabalho com ângulos superiores a 50°. Com essa liberdade angular, o veículo Baja não encontraria problemas para transpor barreiras e terrenos irregulares. O melhor modelo a ser adotado para o semieixo homocinético é a junta fixa UF (Undercut Free) Rzeppa. Esse modelo transmite velocidade constante com ângulos máximos superiores a 50° (SOCIETY OF AUTOMOTIVE ENGINEERS, 2014). Acoplamentos, segundo Norton (2013, p. 608): [...] são usados em eixos motores em automóveis, um par de acoplamento de Hooke no eixo motor da tração traseira e Rzeppas (chamado de juntas CV) em automóveis de tração dianteira. Os acoplamentos Rzeppas são os mais utilizados em automóveis e apresentam velocidade constante para a tração dianteira. A junta Rzeppas consiste, basicamente, em um anel interno forjado e usinado conectado ao eixo e um anel externo forjado e usinado que é preso ao cubo da roda. Ambos os anéis são ligados entre si por seis esferas que são posicionadas e mantidas em um plano através de uma gaiola que fica entre os anéis (NETO, 2012). De acordo com Neto (2012, p. 47): A principal vantagem deste tipo de junta é a habilidade de transmitir potência a uma velocidade constante e a ângulos relativamente elevados, podendo chegar a mais de 50º. Além disso, quando comparada a outras juntas, tem alta capacidade de torque para o seu tamanho e é bastante resistente a esforços axiais. Estes esforços axiais são muito frequentes em aplicações com suspensão independente onde a distância entre a roda e o diferencial muda constantemente [Figura 9]. Ling. Acadêmica, Batatais, v. 6, n. 1, p. 27-44, jan./jun. 2016 43 Figura 9. Vista de uma junta fixa de esferas, Rzeppas Undercut Free. Fonte: Society of Automotive Engineers (2014). REFERÊNCIAS CEPRA. Sistema de transmissão. Portugal, Lisboa, fev. 2000. 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