Recursos Espirituais
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Recursos Espirituais JULHO 2010 Í N D I C E 1. Os 10 Elementos Fundamentais em um Modelo de Igreja Apostólica de Atos 19 ......................................................... 03 George O. Wood A igreja de Éfeso, liderada pelo apóstolo Paulo, nos oferece um checklist muito útil à medida que empregamos nossos próprios esforços. 2. Caminhando para a Colheita ........................................................ 10 J. Don George Como um pastor conduz sua igreja à colheita com um passo de cada vez. 3. A Bíblia ensina sobre segurança eterna? .................................... 16 W.E. Nunnally Se afastar-se de Deus não fosse uma possibilidade nítida, Jesus não teria falado sobre o assunto. 4. Princípios de Liderança Espiritual das Saudações de Paulo ...... 25 James D. Hernando Paulo não considerava seus subordinados como subordinados, mas como colaboradores ou companheiros servos do Senhor. 1234567890123456789 1234567890123456789 1234567890123456789 1234567890123456789 1234567890123456789 1234567890123456789 1234567890123456789 1234567890123456789 1234567890123456789 1234567890123456789 1234567890123456789 1234567890123456789 1234567890123456789 1234567890123456789 1234567890123456789 1234567890123456789 1234567890123456789 1234567890123456789 1234567890123456789 1234567890123456789 1234567890123456789 1234567890123456789 1234567890123456789 5. O Batismo no Espírito Santo: A Vida e o Ministério de Jesus ..... 28 Edgard R. Lee O Espírito Santo desceu em Jesus no batismo expressamente para conceder-Lhe poder para começar e completar Sua missão na terra com êxito. 6. Jesus, o Ungido: Nosso Exemplo para um Ministério Sobrenatural ................................................................................. 34 Tim Enloe O ministério de pregação/ensino/profecia de Jesus exemplifica para nós o discurso sobrenatural e com poder do Espírito Santo. www.enrichmentjournal.ag.org JULHO 2010 | Recursos Espirituais •1 A VIDA NOS ENSINA LIÇÕES IMPOR TANTES IMPORT Sempr e se lembr e daqueles que te serviram Sempre lembre Numa época em que o sorvete custava bem menos do que hoje, um menino de 10 anos entrou na lanchonete de um hotel e sentou-se à mesa. Uma garçonete colocou um copo de água na frente dele. – Quanto custa um sundae? – perguntou o garoto. – 50 centavos. – respondeu a garçonete. O menino puxou as moedinhas do bolso e começou a contá-las. Bem, quanto custa um sorvete simples? – ele perguntou. A essa altura, mais pessoas estavam esperando por uma mesa e a garçonete, quase perdendo a paciência, disse de forma brusca: – 35 centavos. O menino, mais uma vez, contou as moedinhas e disse: – eu vou querer, então, o sorvete simples. A garçonete trouxe o sorvete simples e a conta, colocou em cima da mesa e saiu. O menino acabou o sorvete, pagou a conta no caixa e foi embora. Quando a garçonete voltou, começou a chorar à medida que ia limpando a mesa, pois, ali, ao lado do prato, havia 15 centavos em moedas, ou seja, o menino não pediu o sundae porque queria que sobrasse a gorjeta da garçonete. Life Publishers International © Copyright Life Publishers 2010 Publicado por Life Publishers, Springfield, Missouri – EUA Todos os direitos reservados. Agora você pode acessar online Recursos Espirituais em 13 idiomas. Visite o website do Enrichment Journal e tecle na opção desejada. Você será direcionado para um dos treze idiomas que selecionar: português, espanhol, francês, alemão, russo, ucraniano, romeno, húngaro, croata, tâmil, bengalês, malaio ou hindi. Você terá oportunidade para ler os periódicos online ou pode ainda transferir os arquivos, para sua conveniência. As informações para contato encontram-se no site: www.enrichmentjournal.ag.org Equipe Editorial / V ersão em Português Versão Tradução: Nadja Matta e Bruno Ferrari Revisão de textos: Martha Jalkauskas Diagramação: ©MMDesign Revisão geral: Neide Carvalho Coordenação: Márcio Matta Entre em contato conosco para obter informações adicionais ou fazer perguntas através do e-mail [email protected] 2 • enrichment | JULHO 2010 Os 10 elementos fundamentais em um Modelo de Igreja Apostólica de Atos 19 POR GEORGE O. WOOD A igreja de Éfeso, liderada pelo apóstolo Paulo, nos oferece um checklist muito útil à medida que empregamos nossos próprios esforços. JULHO 2010 | Recursos Espirituais •3 Os 10 elementos fundamentais em um Modelo de Igreja Apostólica, de Atos 19 E m Atos 19, Lucas narrou o modelo de igreja de maior sucesso na história do Cristianismo. Este modelo de igreja iniciou-se com 12 discípulos espiritualmente dormentes e dentro de 30 meses cresceu a tal ponto que mais de 25.000 cidadãos se reuniram de forma tumultuosa em um teatro aberto para protestar contra a igreja que acabara de florescer porque a economia pagã estava entrando em colapso. Se tivéssemos uma situação similar hoje, toda a indústria do pecado – a indústria do sexo e da pornografia, os shows imorais da TV, o comércio do álcool e do tabaco (apenas para nomear alguns) – reagiria de igual modo, veementemente, contra o crescimento do Evangelho dentro da nossa cultura secular. O modelo de igreja de Éfeso, liderada pelo apóstolo Paulo, oferece-nos um checklist muito útil à medida que empregamos nossos próprios esforços em levar o Evangelho para inúmeras comunidades sem uma igreja evangélica. Aqui estão 10 elementos fundamentais, de Atos 19, para um modelo de igreja que sacode toda uma cidade. T TEMPO No início de sua segunda viagem missionária, Paulo queria ir para a província romana da Ásia, mas o Espírito Santo o impediu (At 16.6). A importante cidade da Ásia era Éfeso. É compreensível porque Paulo queria ir lá. Sua estratégia repousava em alcançar e focar as áreas urbanas e, a partir desses centros populacionais, ele iria então espalhar novas igrejas para outras regiões. Ele parou por pouco tempo em Éfeso quando estava perto do final da segunda viagem missionária e perguntou: “... Querendo Deus, outra vez voltarei a vós.” (At 18.21). Somente um retrospecto nos faz entender porque o Espírito impediu-o de ir mais cedo. Na primeira viagem missionária, Paulo fundou igrejas ao leste de Éfeso; e, na segunda viagem, estabeleceu igrejas no lado oeste. 4 • enrichment | JULHO 2010 Quando finalmente veio para Éfeso, na terceira viagem missionária, ele estava a uma distância igual das igrejas do leste e das do oeste. Estava perfeitamente posicionado para enviar cartas para ambas as direções, assim essas congregações recém-abertas poderiam ser fortalecidas e conservarem-se sãs na doutrina e na prática. Além disso, o Espírito Santo sabia que Paulo necessitava construir os pilares de um modelo de igreja antes que chegasse a Éfeso. Ele escreveu tendo que lutar contra as bestas em Éfeso (1Co 15.32), cidade que apresentava o maior desafio de então. Era uma cidade onde o Oriente encontrava o Ocidente, onde a adoração pagã cristalizava-se em uma das sete maravilhas do mundo antigo – o Templo de Diana. Conquistar essa cidade não era moleza e o Espírito Santo sabia disso. Então, o Espírito Santo fez com que Paulo esperasse até o momento oportuno. Nós, da mesma forma, não devemos simplesmente mergulhar em um modelo de igreja sem esperar pelo Espírito Santo e perguntar: “É este o tempo certo? Será que temos uma luz verde do Espírito Santo? É este o momento estratégico de oportunidade?” g gABARITO Gabarito é um padrão ou um molde utilizado como guia para formar uma peça ou produto. Há certamente um gabarito no qual tudo se moldou quando Paulo encontrou doze cristãos nominais de Éfeso. Aqui está o pano de fundo. O grande pregador/orador Apolo antecedeu Paulo em Éfeso; era um judeu aprendiz alexandrino, profundo conhecedor das Escrituras, cheio de grande fervor, e ensinava muito sobre Jesus. Entretanto, ele sabia somente sobre o batismo de João, tanto que Priscila e Áquila, de forma particular, ensinaram-no mais acuradamente. A deficiência de Apolo parece ter sido uma falta de conhecimento concernente à pessoa e à obra do Espírito Santo. Essa deficiência é refletida nos 12 crentes que Paulo – porque a comunidade de encontra em Éfeso, procrentes na prolífica cidade de vavelmente convertidos por Éfeso tinha apenas 12 discíApolo, uma vez que eles pulos improdutivos. também somente conheciam Paulo sabia que, se o batismo de João. estava para crescer e gerar um Paulo perguntou-lhes: poderoso impacto na cidade, “... Recebestes vós já o Espírito a igreja de Éfeso tinha que Santo quando (ou depois que) começar, como fez a cidade crestes?” (At 19.2). de Jerusalém, com o gabarito A pergunta que Paulo fez é de crentes batizados no EspíPlantar igrejas envolve fundamental para a teologia rito Santo. Ele precisava de muito mais do que pentecostal do batismo e do um chumaço em chamas para demografia correta, recebimento do poder do começar. liderança eficaz, conjunto Espírito Santo. Sua pergunta Embora não fosse contém um particípio aorista pentecostal, G. Campbell de habilidades, diversida(tendo crido) e um verbo prinMorgan fez este comentário de de dons, finanças e cipal aorista (recebestes vós?). acerca de Atos: “Apolo, um planejamento. judeu, alexandrino, aprendiz, No grego, quando um particípoderoso nas Escrituras, fervoroso pio aorista é apresentado com Nós necessitamos no Espírito, cuidadoso em seus o verbo principal aorista, a do ensinamentos, firme em suas ação descrita pode ser simuldeclarações, podia levar as tânea ou subsequente. pessoas somente até onde ele Por exemplo, Judas disse: chegou, nem um metro além disso, nem um centíme“... Pequei (verbo principal aorista) tendo traído tro além disso... Paulo chegou, não porque ele fosse (particípio aorista) sangue inocente.” (Mt 27.4). um homem melhor que Apolo, mas porque ele tinha Claramente, o pecar e o trair são eventos um conhecimento mais completo, uma experiência simultâneos. mais completa, ele elevou estes mesmos doze hoEntretanto, olhe em Mateus 22.25: “... tendo mens para um nível alto.”. casado, (particípio aorista) morreu... (verbo principal aorista)”. Claramente o casar e o morrer Precisamos reconhecer que plantar igrejas são sequenciais e não simultâneos. envolve muito mais do que demografia correta, Em Atos, Lucas descreve o batismo do liderança eficaz, conjunto de habilidades, Espírito Santo como sequencial (At 2.4; 8.17; diversidade de dons, finanças e planejamento. 9.17) à conversão e simultâneo à conversão Nós necessitamos do Espírito Santo. (At 10.44-48). Que sejamos como o apóstolo Paulo, que Claramente, os 12 crentes de Éfeso eram não tinha medo de perguntar à sua recente seguidores de Jesus na medida em que eram congregação ou ao grupo inicial de sua igreja: “tendo crido, vocês receberam o Espírito Santo?”. chamados discípulos. Paulo não os trata como pré-crentes e quer saber uma coisa: eles tamOs não pentecostais não fazem esta pergunta. bém receberam o Espírito Santo quando creNós devemos fazer – se quisermos ver resultados apostólicos. ram ou depois que creram? A resposta é clara: “Não.” (At 19.2). Que, ao iniciarmos novas congregações, posEm seu primeiro encontro com eles, Paulo samos fazê-lo com o gabarito de crentes cheios do Espírito Santo. imediatamente soube onde residia o problema Espírito Santo. JULHO 2010 | Recursos Espirituais •5 Os 10 elementos fundamentais em um Modelo de Igreja Apostólica, de Atos 19 E ENSINO O método de Paulo de ministrar aos efésios consistia em uma apologética baseada em conteúdo para a fé. Ele arguia persuasivamente (At 19.8). Em resumo, ele conhecia as perguntas que precisavam ser respondidas e as respondia com conhecimento e paixão. Em alguns círculos hoje não se faz quase nada para alcançar as pessoas, exceto apresentar respostas para perguntas importantes e fundamentais. Paulo aconselhou Timóteo, que mais tarde segue-o como pastor em Éfeso: “Procure (isto é, estude) apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra de verdade.” (2Tm 2.15). Pedro acompanha Paulo: “... estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós.” (1Pe 3.15). Se intentamos estabelecer igrejas sólidas, temos que ter conteúdo. Música, fenômenos externos, amabilidade e publicidade podem atrair, mas discipulado tem que estar no centro de nossa abordagem. Temos que evitar o perigo de ganharmos um público; buscamos transformar aqueles que foram chamados para formar a igreja verdadeira e viva de Jesus. Em Éfeso, Paulo respondia a perguntas. Sabemos que ele ensinou em 3 lugares: três meses na sinagoga (At 19.8); dois anos na escola de Tirano (At 19.10); e continuamente de casa em casa (At 20.20). Eu estou especialmente interessado na escola de Tirano porque creio que aquele detalhe põe em questão algo que nós somos tentados a negligenciar em nossas igrejas hoje – intensidade no processo de discipulado. Não conseguimos gerar profunda transformação na vida das pessoas tendo-as somente durante uma ou duas horas no sábado à noite ou no domingo à noite. Uma determinada versão bíblica chamada Versão Ocidental – para Atos 19.9 mostra que Paulo ensinava na escola de Tirano das 11:00h às 16:00h. Este período era utilizado como siesta em Éfeso, mas Paulo usava essa folga cultural 6 • enrichment | JULHO 2010 para treinar crentes. Vamos fazer a conta. Cinco horas por dia durante 2 anos. Suponhamos que isso ocorresse 5 dias por semana, com 4 semanas de férias por ano. O total chega a 1.200 horas de treinamento/ensino por ano (5 horas diárias x 5 dias x 48 semanas = 1.200). Não é de admirar que o Evangelho tenha se disseminado a partir de Éfeso para toda a província romana da Ásia. Paulo ensinava intensivamente e treinava outros para pregar o Evangelho. Ele construiu uma igreja participativa, não uma igreja que simplesmente assistia a poucos fazerem o ministério acontecer. Cada uma de nossas igrejas deveria considerar a si mesma uma escola bíblica que treina os crentes leigos continuamente para a obra de evangelismo. Cada membro aprendendo, crescendo, testemunhando e assumindo liderança deve se tornar o nosso mantra. E EQUIPE Toda a Ásia ouviu a santa Palavra do Senhor (At 19.10). Como? Através dos discípulos. Paulo tinha auxiliares, dois dos quais eram Timóteo e Erasto (At 19.22). Seus mentoreados se tornaram anciãos (At 20.17). Seu trabalho vocacional deu suporte às suas próprias necessidades e àqueles de sua companhia (At 20.34). Escrevendo de Éfeso aos coríntios, Paulo citou aqueles que ministravam com ele: Sóstenes, Estéfanas, Fortunato, Acaico (1Co 1.1; 16.17), Apolo (1Co 16.12; 2Co 8.18,19), Áquila e Priscila (1Co 16.19) e Tito (2Co 8.16, 17). Em outras palavras, Paulo não plantava igreja sozinho. Ele mentoreava futuros líderes. Sequer tentava fazer algo sozinho. Ninguém conquista uma cidade ou uma comunidade sem uma equipe. T TRABALHO Não permita que alguém brinque com você. Plantar igreja (ou qualquer outro ministério) é tarefa árdua. Paulo, evidentemente, usava as tardes para ensinar na escola de Tirano, e à noite ensinava de casa em casa. Então, o que ele fazia de manhã? Fazia tendas. Os “lenços e aventais” que levavam do seu corpo (At 19.12) não eram edredons ou lençóis de linho branco mas panos de sentar e aventais de trabalho. Ele repete seu trabalho em Éfeso, dizendo que era um bem sucedido e árduo trabalhador autônomo (At 20.34,35). Mais tarde, em uma cidade onde o ganho financeiro era a inspiração para todo serviço religioso (relíquias de prata da deusa Diana exportados para todo o mundo), Paulo recusou a prata, o ouro ou qualquer acessório. Adiante, quando descreve seu ministério em Éfeso, Paulo não foca nos milagres (que foram muitos), mas no mundano. Ele nunca converteu dinheiro em milagres. Investia em outros não em si mesmo. Eu imagino um pastor cuja igreja engajou-se em um longo dia de distribuição de alimentos e evangelismo aos pobres. Quando perguntado se o faria novamente, ele respondeu: “Não. Isso é um trabalho muito árduo”. Não é de admirar porque sua igreja não cresce. Plantar igreja (ou outro ministério) não é para aqueles que querem estar “à vontade em Sião”. L LÁGRIMAS Você pode trabalhar de forma tão árdua no ministério a ponto de perder a sensibilidade para com as pessoas. Paulo trabalhou e enfrentou grandes pressões e ainda assim continuou “servindo ao Senhor com toda a humildade e com muitas lágrimas...”. (At 20.19). Não trabalhemos tão arduamente a ponto de perdermos a ternura do coração. Eu olho para trás no ministério pastoral e vejo que a minha maior satisfação reside não nas estruturas que construímos, nos membros que ganhamos, no aumento das ofertas missionárias que experimentamos. Satisfação advém das vidas que foram tocadas. Ao fazer uma saudação final para a liderança da igreja de Éfeso, Lucas registra que: “... levantou-se um grande pranto entre todos e, lançando-se ao pescoço de Paulo, o beijavam, entristecendo-se muito, principalmente pela palavra que dissera, que não veriam mais o seu rosto.” (At 20.37, 38). Você obtém aquele tipo de profundidade em um relacionamento e compromisso somente quando ama as pessoas terna e profundamente. Eu lamento quando ministros ficam contentes ao deixar uma igreja ou a igreja fica contente quando os ministros partem. Isso me diz que algo de vital importância se perdeu em uma igreja que deveria ser sadia e crescente. Deixemo-nos Plantar igreja (ou outro ministério) não é para aqueles que querem estar “à vontade em Sião”. JULHO 2010 | Recursos Espirituais •7 Os 10 elementos fundamentais em um Modelo de Igreja Apostólica, de Atos 19 ser movidos com compaixão pelas pessoas ao plantarmos novas igrejas. M MECHA Mecha é um objeto inflamável adaptado para uso como uma ignição. Seu propósito é atear fogo ou inflamar. Isso certamente acontecia em Éfeso. As pessoas pegavam panos e aventais suados da oficina de Paulo e colocavam sobre enfermos e endemoninhados, e eles eram curados. Paulo estivera fazendo todas as coisas certas, trabalhando e evangelizando. Mas se a igreja intenta ir além do crescimento normal, então tem que haver coisas de Deus. Pastor Mung preRecai sobre gou com meu pai os líderes muitos anos atrás no noroeste da China. piedosos a Quando a perseguição responsabilidade finalmente se levantou, ele recomeçou a de cuidar do igreja em 1983 com 30 pessoas idosas. À época em que morreu, em 2004, na idade de 96 anos, a igreja contava com 15.000 membros. da Igreja Antes de morrer, eu perguntei a ele “Como isso aconteceu?”. Ele respondeu: “Bem, Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre... e nós oramos bastante” e então descreveu os milagres que o Senhor fizera naquela cidade. Que possamos similarmente descrever nosso trabalho de plantar igreja e revitalizar o crescimento em termos não do que temos feito mas do que o Senhor tem feito (At 14.27). A partida final para a mecha em Éfeso veio no momento crucial dos 7 ocultistas – filhos de bemestar 8 • enrichment | JULHO 2010 Cevas – que experimentaram o nome de Jesus explodindo em suas mãos, como uma bomba manuseada de forma errada (At 19.13-20). Olhe para essa anomalia. Isso foi o milagre mais eficaz nos quase 3 anos de Paulo em Éfeso, e ele não tinha nada com o que fazê-lo. Mas o efeito foi tremendo – tanto sobre o público geral que foram “tomados com temor” como sobre os crentes que queimaram a parafernália ocultista que tinham mantido depois da conversão. Quando o poder do Espírito Santo atinge uma igreja, descobrimos que muitos crentes têm retido em sua possessão as “obras das trevas” do inimigo. Se as pessoas em nossas igrejas trouxessem seus vídeos pecaminosos, DVDs, revistas, livros, sites da internet, garrafas e drogas ilegais, teríamos uma fogueira completa. Elas guardam isso porque não há nenhuma demonstração compelida do poder do Espírito na igreja. Crescimento exponencial na plantação de igreja ocorre quando há mecha – um evento ou uma série de eventos que somente o Espírito Santo pode orquestrar, uma ocasião ou ocasiões que catapultam a igreja para um novo nível de crescimento e influência. E ESPINHO O espinho é a parte que gostaríamos de ficar sem. Mas toda plantação de igreja o terá. Escrevendo aos efésios, no final de sua 3ª viagem missionária, Paulo contou à igreja de Corinto sobre o espinho na sua vida e que, mesmo com oração, não havia sido removido. Paulo não diz o que o espinho era, e é bom que nunca tenha dito, pois nenhum de nós tem o mesmo espinho. Eu não conheço nenhum ministério eficaz ou igreja que esteja sendo plantada em que não tenha havido sofrimento de algum modo por parte de liderança. Eu gostaria de poder aconselhar os plantadores de igreja que tudo seria um mar de rosas, mas, na verdade, haverá fadiga e dificuldade, independentemente das orações e dos melhores esforços. Não devemos deixar nosso espinho derrotar nossa missão. Nós podemos ter o mesmo testemunho de Paulo “... A minha graça te basta porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza.” (2Co 12.9). T TRANSPARÊNCIA Paulo contou aos anciãos efésios ao se despedir: “Vocês sabem como eu vivi o tempo todo em que estive com vocês, desde o primeiro dia que eu vim para a província da Ásia.” (At 20.18). Que declaração! Nenhuma brecha na sua vida, nem tempo livre para pecado, preguiça ou autoindulgência. Ele estava de plantão o tempo todo. Ele nunca foi um plantador ou pastor de igreja somente em tempos bons. Escrevendo de Éfeso, contou aos coríntios que ele nunca usara máscara (2Co 3.13-18). Não havia diferença entre sua vida ministerial e sua vida pessoal; ou, como ele diria, entre sua conduta no púlpito e sua conduta particular. Plantar igreja somente será eficaz à medida que os plantadores forem autênticos. Nossa tarefa é viver continuamente de modo tal que possamos viver para os outros. Siga-me, assim como eu sigo Cristo (ver 2Ts 3.7,9). A AMEAÇA Os plantadores de igreja devem tomar cuidado com o perigo. Paulo certamente tomava. Ele advertiu os anciãos de Éfeso sobre duas ameaças ao bem-estar da igreja: 1. Lobos externos adentrando a igreja; e 2. A insurgência daqueles de dentro que iriam distorcer a verdade para levar as pessoas a segui-los (At 20.28-30). Lobos trazem o caos. Dilaceram as pessoas. A verdadeira natureza dos lobos e falsos mestres é de causar divisão devido à sua fome insaciável de autopromoção. Estão mais interessados em construir sua própria igreja, seu próprio ninho, do que em construir a Igreja de Cristo. Assim, recai sobre os líderes piedosos a responsabilidade de cuidar do bem-estar da Igreja que Cristo comprou com Seu próprio sangue. Antes de dizer para os líderes que cuidem do rebanho, Paulo apela para que “Olhai, pois, por vós...” (At 20.28). A vigilância é pessoal é orientada para o ministério. Devemos cuidar de nós mesmos antes de cuidarmos de outros. Você é um supervisor, não um grande chefe. Somos protetores e defensores do povo de Deus, lembrando do alto custo da possessão que nós agora guardamos. Conclusão Plantação dinâmica de uma igreja e crescimento ocorrem quando esses 10 elementos apostólicos estão presentes: 1. Tempo 2. Gabarito 3. Ensino 4. Equipe 5. Trabalho 6. Lágrimas 7. Mecha 8. Espinho 9. Transparência 10. Ameaça Observe o resultado quando estes elementos estiverem presentes na plantação de igrejas. “Assim, a palavra do Senhor crescia poderosamente e prevalecia.” (At 19.20). Que o Senhor possa nos dar esse tipo de resultado nas comunidades ainda não alcançadas do nosso país, à medida que nós possamos vigorosamente plantarmos novas igrejas e revitalizarmos aquelas já existentes. GEORGE O. WOOD Doutor em Teologia Prática Presidente da Convenção Geral das Assembleias de Deus dos EUA. Springfield, Missouri (EUA) JULHO 2010 | Recursos Espirituais •9 Caminhando para Como um pastor conduz sua igreja à colheita com um passo de cada vez. POR J. DON GEORGE Quando cheguei em Irving, Texas (EUA), em 1972, eu tinha 17 anos de experiência de ministério – 6 anos como evangelista e 11 anos como pastor. Durante minhas viagens evangelísticas, minha esposa, Gwen, e eu vimos inúmeras igrejas que alcançavam sua comunidade de diversas maneiras. Quando aceitei pastorear Irving, questionei a Deus: Como devo alcançar essa cidade? Mais de 80 igrejas estão localizadas aqui. Existem milhares de igrejas em toda metrópole das cidades texanas de Dallas/Fort Worth. Que estratégia de crescimento de igreja o Senhor quer que eu use? Parecia que as igrejas já estabelecidas com seus grandes corais, lindos prédios e elaborados programas tinham vantagem em alcançar essa região com o Evangelho. O que eu deveria fazer? 10 10 • enrichment | JULHO 2010 • enrichment | JULHO 2010 Deus claramente falou ao meu espírito. Revelou-me que as igrejas já existentes tinham lugar em Seu plano, mas que havia brechas em suas ações sociais. Disse-me para estender a mão para pessoas que ninguém estava alcançando. Desafiou meu coração e eu aceitei o desafio pela fé. Fiz o compromisso de visitar pessoalmente 500 lares toda semana. Toda segunda-feira de manhã, eu preparava 500 folhetos e separava-os em montes de 100. Cumpri fielmente meu compromisso de visitar 100 lares por dia. Durante essas visitas, eu conversava de uma maneira bem pessoal, fazendo com que as pessoas entendessem que eu me importava com elas. Então, de maneira discreta e descomprometida, eu lhes indicava nossa igreja como um lugar onde poderiam encontrar esperança através de um encontro com Jesus Cristo. a Colheita Caminhadas Diárias As caminhadas diárias pela vizinhança de Irving me colocaram em contato com pessoas que estavam no meio de sua rotina. Dependendo de quantas pessoas se comprometiam em conversar comigo, essas caminhadas consumiam uma grande parte do meu dia. Às vezes, levava o dia todo para visitar 100 casas. Ao contrário do que muitas pessoas teriam levado você a pensar, o evangelismo pessoal não é um foguete de ciências. Não requer Ph.D. em psicologia, ou faculdade de sociologia ou comunicação interpessoal. A maior parte do evangelismo pessoal consiste em conversar com as pessoas. Se conversar com várias, alguma você alcançará. Geralmente eu digo: “Sou um pastor novo na cidade. Existe uma igreja nessa cidade que você pode não conhecer. Quero te falar sobre essa igreja. Estamos aqui para ajudá-lo. Receba um folheto. Adoraríamos vê-lo em nosso culto.” Às vezes, as pessoas se empenham em conversar comigo. Quando não há ninguém em casa, deixo um folheto na porta. Às vezes, a resposta é educada – “Obrigado”. Às vezes, nem tanto – “Não estou interessado”. Mas se conversar com bastante gente, você encontrará a colheita. Minhas caminhadas se estenderam por semanas e meses. Os meses se estenderam por 3 anos. Nossa igreja viu o fruto dessas caminhadas. As pessoas começaram a visitar nossos cultos de domingo. Na semana seguinte eu procuraria mais 500 novos lares para visitar. Nos sábados eu fazia contato com as pessoas que tinham ido à igreja no domingo anterior. Meu propósito em visitar a vizinhança de Espirituais JULHO 2010 | Recursos • 11 Espirituais JULHO 2010 | Recursos • 11 © 2007 Jonny Hawkins Irving não era o de impressionar as pessoas com nossa igreja ou comunidade. Enquanto eu queria maximizar o ministério da nossa igreja, não fazia 500 visitas semanais apenas para colocar nossa igreja num caminho artificial de expansão, mas porque era minha maneira pessoal de alcançar a cidade para Deus. Sabia que não poderia depender de ninguém para fazê-lo. Era um mandamento de Deus para mim. Com essa filosofia em mente, também comecei o ministério em casas de repouso. Descobri duas em nossa cidade que me permitiram ir todas as quartas-feiras de manhã, onde ia e cantava músicas evangélicas, fazia o devocional e mostrava o amor de Cristo pelas pessoas. Essas visitas raramente as 12 12 • enrichment | JULHO 2010 • enrichment | JULHO 2010 colocavam nos bancos da igreja. Os idosos não davam nenhuma oferta. Mas minhas visitas ainda cumpriam a lei da colheita: se semear a semente, você colherá os frutos; se semear a semente, a colheita crescerá. Muitas vezes Deus faz com que plantemos a semente em uma área e colhamos os frutos em outra. O ponto de partida é cumprir a Grande Missão através do envolvimento com a comunidade. Caminhando como Exemplo Um pastor não pode levar ninguém para onde ele mesmo ainda não tenha ido. Uma outra pessoa pode tentar, mas o chamado do pastor não é conduzir pessoas. Pastores são chamados para liderar o rebanho de Deus. Devemos andar por onde esperamos que as pessoas nos sigam. O pastor que não está disposto a se comprometer com o evangelismo será incapaz de levar outros para a verdade. Se quisermos pessoas envolvidas em evangelismo pessoal, então nós, como líderes, devemos tam- bém nos envolver. Se esperamos pessoas comprometidas com uma causa – evangelismo, ações sociais amplamente voltadas para a comunidade, ou um ministério dentro da igreja – então devemos estar comprometidos primeiro. Devemos dar o exemplo de envolvimento que as pessoas possam seguir. O exemplo do pastor não deve evaporar quando a igreja começa a crescer. Alguns pastores descem para as trincheiras na dianteira do desenvolvimento de suas igrejas. Então, quando levantam uma congregação de 1.000 membros e deram vida a uma dúzia de ministérios, perdem o desejo pelo envolvimento de base com as pessoas. Alguns se imaginam executivos e trocam de cargo, ficando apenas no administrativo. Quando minhas responsabilidades evoluíram ao longo dos anos, determinei não perder minha conexão com os ministérios dentro de nossa igreja. Viajava-se para pregar em uma conferência numa quinta ou sexta-feira, voava de volta para casa na sexta à noite para poder comparecer ao café do discipulado nos sábados de manhã. Eu queria estar presente todo final de semana para nossas ações sociais feitas pelo ministério de ônibus aos sábados porque esta é linha de contato de nossa igreja com a comunidade. Acredito em estar envolvido com a igreja no nível da fundação. Não se consegue liderar pessoas até que se ganhe seu coração. As pessoas não seguirão um pastor pela força de seu curriculum. Você deve ganhar o coração das pessoas antes que venham a seguir você e ajudar a ganhar a cidade para Deus. Ganhar o amor e a fidelidade das pessoas requer tempo e ação. A fidelidade é intransferível. Não importa quão amado e respeitado seja um pastor em uma cidade; quando ele muda para uma igreja ou um cidade diferente, o processo deve começar de novo. As pessoas observam o pastor e o que ele faz. Quando ele diz “Faremos isso”, as pessoas avaliam seu envolvimento. Se for comprometido com o ministério que está pedindo que sejam, uma ligação espiritual acontece. As pessoas desenvolvem complacência para seguí-lo. Um grupo de crentes é moldado e o Evangelho chacoalha a comunidade. Caminhando com o Espírito Se a vida e o ministério do pastor devem ser inspiração para a congregação e para a comunidade, então sua caminhada com o Espírito deve ser próxima e consistente. O Espírito caminha conosco na rotina mundana da vida e então, repentinamente, apresenta-nos oportunidades que surgem para que Deus trabalhe em proporções miraculosas. Pense no tempo em que Pedro e João caminharam até o templo de Jerusalém. Eles eram homens cheios do Espírito, alimentados fielmente pelos ensinamentos de Cristo e moldados continuamente pela confiança em Deus. Isso era um processo. Jesus sabia do futuro ministério de Pedro e trabalhou com ele para ajudá-lo a crescer além de sua natureza impulsiva e impetuosa, de sua pressa em criticar, de sua relutância em se arrepender e de suas explosões de raiva. Embora não seja classificado da mesma maneira que Pedro, João estava entre os discípulos o tempo todo argumentando sobre quem era o melhor e tentava se posicionar como o favorito de Jesus. João precisava de maturidade também. Após o Espírito Santo ter transformado dramaticamente Pedro e João no Cenáculo e tê-los revestido com o poder do alto, Pedro se tornou o portavoz da Igreja nas ruas de Jerusalém. João ministrou à Igreja Primitiva através de suas epístolas e do Livro de Apocalipse. Pedro e João caminharam para o templo muitas vezes durante todo processo de transformação. Passavam por um homem coxo todos os dias quando iam para o templo orar. Nunca tinham parado para curá-lo até o dia em que receberam o revestimento – o poder de Deus – durante o derramamento no Cenáculo. Foram transfor- mados naquele dia. Mais adiante, quando visitavam o templo, encontraram o coxo, pegaram-no pela mão, ministraram a cura, levantaram-no e o libertaram (Atos 3.1-10). O poder do Pentecostes equipa os cristãos para o evangelismo, concede paixão aos crentes e dá ordens para marchar à igreja. É tolice pensar que um crente possa ser eficaz no evangelismo sem que o poder do Espírito de Deus habite em todas as áreas de sua vida. Caminhar com o Espírito faz a diferença entre apenas outro dia no gabinete escrevendo um sermão e um encontro pessoal e poderoso com Deus que vivifique sua mensagem. Caminhar com o Espírito faz a diferença entre trabalhar sobre uma lista de visitações e um encontro pessoal com Deus que confere energia divina para alcançar as pessoas em suas casas, nos hospitais e nos supermercados. O pastor que caminha com o Espírito não precisa correr ou pular obstáculos. Não precisa programas grandiosos ou orçamentos de 6 dígitos. Apenas precisa ouvir a calma voz de Deus que o guia. Caminhando com o Mentor O pastor que estiver caminhando para uma grande colheita andará com pessoas que estão na jornada há mais tempo – pessoas cuja sabedoria divina ele acalenta. Muitos homens de Espirituais Espirituais JULHO JULHO 2010 2010 | Recursos | Recursos • 13 • 13 Deus têm beneficiado minha vida e meu ministério. Aprendi uma grande coisa com meu pai. Quando me aconselhava, eu sentia como se estivesse numa escola bíblica. Servia na igreja de meu pai porque ele era um pastor maravilhoso. Por 6 anos servi como evangelista e aprendi grandes coisas com os pastores de onde eu pregava. Sempre tentei aprender com os pastores mais bem sucedidos. Enquanto observava, eu aprendia a fazer várias coisas. Também aprendi a não fazer muitas. Muitas igrejas que permanecem estagnadas não crescem porque o pastor está fazendo as coisas erradas, como dirigindo mal as pessoas. O pastor pode ser voltado para o conflito, com um espírito de pugilista, ao invés de mostrar amor, perdão e aceitação. Com muita frequência, a ideia do © 2010 Dik LaPine 14 14 • enrichment | JULHO 2010 • enrichment | JULHO 2010 pastor é: É do meu jeito ou rua; se você não aguenta, pegue sua mala e suma; ou ainda, É do meu jeito ou a porta da rua é a serventia da casa. Se o pastores pelo menos confiassem no poder do Evangelho e parassem de contar com a iniciativa dos homens... O Evangelho produz resultados. A lei da colheita é: quando semeia a semente, você sega a colheita. Fiz algumas coisas em meu primeiro pastorado que não deveria. Usei a motivação errada em um ano, enquanto encorajava as pessoas a pagarem os dízimos. Dificultei a situação para aqueles que não estavam pagando. O resultado foi que algumas pessoas deixaram a igreja. Aprendi logo a não fazer isso novamente. Aprendi a dizer, como Tommy Barnett: “Você tem que ampliar seu círculo de amor”. Precisa continuar alcan- çando pessoas em amor e aceitação. Durante 10 anos de pastorado em Plainview, nossa média anual de comparecimento não foi superior a 150 pessoas. Entendi o que os pastores passam quando pastoreiam em cidades pequenas. Entendi a dificuldade de ter visitantes em sua porta e a dureza de ter que corrigir suposições impróprias em relação à igreja em uma comunidade. Existem várias razões porque igrejas não crescem. Muitos são os pastores que trabalham em campos difíceis. Contudo, aprendi muito através dessas experiências. Por mais que eu tenha valorizado tudo que aprendi com meus mentores, nunca imitei o ministério deles. É um erro copiar outro pastor, ou mesmo duplicar a metodologia de alguém. É um erro porque Deus não concede os mesmos talentos a todas as pessoas. Na verdade, Deus nos criou diferentemente. Ele tem um plano único para cada pastor, cada pregador e cada homem. Copiar algo que alguém tem feito pode ser um fracasso. Quando você considera o fato de que toda igreja, cidade e cultura é diferente, percebe que seu ministério deve ser diferente para que se cumpra a Grande Comissão em seu campo de colheita. O pastor precisa observar o que pastores bem sucedidos fazem e então utilizar os princípios que eles usam, ao invés de utilizarem exatamente os mesmos métodos. Os bem sucedidos utilizam princípios. Por exemplo, o princípio de um pastor é andar onde ele espera que as pessoas andem. Outro princípio é de que o preenchimento do Espírito Santo provê poder para o ministério. Revestimento de poder capacita os crentes a um evangelismo eficiente. Pastores precisam aplicar os princípios, mas precisam também orar e escolher cuidadosamente seus métodos. Caminhando com os Discípulos Um grande princípio que tem modelado meu ministério é este: o pastor deve desenvolver os discípulos através da associação com eles. Foi o que Jesus fez. Este princípio é o inverso do princípio de mentoreamento que segui. Porque Deus tem trazido pessoas para minha vida para que compartilhem sua sabedoria e experiência, e também abençoem minha jornada no ministério. Devo isto a outros para oferecer o mesmo encorajamento e orientação sob a liderança de Deus. A maior parte de minha responsabilidade espiritual é a de discipular jovens para saírem de nossa igreja e fazerem uma grande obra para o Reino. Um de meus objetivos é discipular pelo menos 10 indivíduos que levantarão igrejas maiores e farão uma obra ainda maior do que a que estamos fazendo para Deus aqui e agora. Deus já estendeu esse crescimento para mais de 10 pessoas que eu tinha vislumbrado. Existe talvez uma dúzia de jovens no ministério agora em crescimento que eu acredito que expandirão além das dimensões do meu ministério. Não posso apontar exata- mente quando o discipulado começou a impactar meu ministério. Estava em minha Calvary Church há mais ou menos 10 anos quando nasceu em mim que aquele discipulado era o que eu precisava estar fazendo. Desde que empreguei esse princípio, ele tem tocado tudo o que faço. Investi em mim para treinar jovens, mandando-os ao campo e motivando-os a terem visão e paixão. Enquanto os ajudei a entenderem como fazemos o ministério na Calvary, também forcei-os a descobrir o plano de ação social que Deus tem para cada um deles no campo da colheita. Caminhando sem Cansar Compartilho minha história com pastores que procuram maneiras de maximizar a ação social de sua igreja – de acordo com o tamanho de cada uma. Diversos pastores das Assembleias de Deus servem em igrejas pequenas. Eles se perguntam: Como posso fazer isso? Como nossa igreja pode, com recursos limitados, ter um impacto mensurável em nossa comunidade? Nunca esquecerei que perguntei a Deus as mesmas coisas quando cheguei na cidade texana de Irving. A lei da colheita afirma que se você plantar o que tem, colherá de acordo com a generosidade de Deus. Hoje, nossa igreja se associa com ministérios como Convoy of Hope. Nossos ônibus trazem jovens e crianças do outro lado da cidade. Nossos grupos de evangelismo levam o Evangelho à comunidade. Estamos animados com projetos que nos permitem doar bicicletas, bonecas e bolas enquanto impactamos milhares de jovens e crianças com o Evangelho. Embora não estivéssemos fazendo nada disso em 1972, Deus já tinha tudo em foco. Ele tem grandes planos para cada igreja que levanta. Um pastor pode dizer, “Não podemos fazer o ministério ‘A’ porque não temos dinheiro o suficiente”. Tudo bem. Descubra o ministério ‘B’ ou o ‘C’. Encontre a ação social que Deus tem para sua comunidade. Sempre existe uma maneira de alcançar pessoas com o amor de Deus mesmo quando os recursos são limitados. Toda igreja grande começou como igreja pequena. Deus está abençoando a Calvary Church, mas Sua benção veio quando encontramos uma maneira de alcançar a cidade através do compromisso pessoal. Caminhamos para nossa colheita um passo de cada vez. Continuamos a caminhar firmemente comprometidos em ouvir a voz do Espírito. E você? Está preparado para sua jornada? J. DON GEORGE Doutor em Divindade Pastor-Presidente da Calvary Church, em Irving, Texas (EUA) Espirituais Espirituais JULHO JULHO 2010 2010 | Recursos | Recursos • 15 • 15 Enriquecimento Teológico / W.E. NUNNALLY A Bíblia Ensina sobre Segurança Eterna? Podem os cristãos perderem sua salvação ao recusarem o senhorio de Cristo? Introdução Em um artigo anterior, eu discuti brevemente a posição doutrinária da perseverança dos santos, segurança eterna, ou, uma vez salvo, salvo para sempre. Aqui, porém, discutirei de forma mais completa. A doutrina da segurança eterna ensina que uma vez que a pessoa experimenta a salvação, nada pode fazê-la perder esse status. Millard J. Erickson afirma: “A posição Calvinista é clara e decisiva neste assunto: ‘Eles, a quem Deus tem aceitado, que foram chamados, e santificados pelo Seu Espírito, não podem perder nem totalmente nem definitivamente o estado da graça, mas deve perseverar até o fim, e serem eternamente salvos’”. (WESTMINTER CONFES- FAITH, 17.1). Henry C. Thiessen adiante afirma: SION OF “De acordo com a afirmação de que eles ‘não podem perder nem totalmente nem definitivamente o estado da graça’. Isso não é equivalente a dizer que eles nunca poderão ter uma recaída, nunca pecarão, ou W.E. NUNNALLY, Ph.D. Professor de Judaísmo Primitivo e Origens Cristãs na Universidade Evangel Springfield, Missouri (EUA) 16 • enrichment | JULHO 2010 nunca deixarão de louvar a Aquele que os chamou das trevas para Sua maravilhosa luz. Apenas significa que eles nunca perderão totalmente o estado da graça e retornarão ao lugar de onde eles foram tirados.” Assim como a expiação limitada, Agostinho popularizou no século V a.C. a doutrina da perseverança dos santos. A Igreja Católica Romana finalmente adotou seus ensinos sobre esse assunto como doutrina oficial. Foi a posição comumente aceita no tempo da Reforma Protestante. Líderes da Reforma, como João Calvino, também a aceitou e promoveu juntamente com uma série de outras doutrinas e práticas católico-romanas préreforma. Dessa maneira, a segurança eterna adentrou nos sistemas doutrinários de diversas denominações protestantes modernas de hoje. A tradição arminiana-wesleyana de santidade e as Assembleias de Deus que cresceram fora disso têm historicamente rejeitado a crença da segurança eterna. O website oficial das AD afirma: “As Assembleias de Deus tomaram uma posição contrária ao ensinamento de que a soberania de Deus substituirá completamente o livre arbítrio do homem para que este O aceite e O sirva. Em virtude disto nós acreditamos que é possível que uma pessoa uma vez salva se afaste de Deus e esteja perdida novamente”. Muito embora as Assembleias de Deus tenham tomado uma posição forte e inequívoca, as pessoas a quem ministramos podem não entender essa doutrina ou nossa posição em relação a este assunto. As pessoas em nossas congregações geralmente trabalham com outras que acreditam em segurança eterna. Elas precisam saber como refutar as crenças de seus colegas de trabalho. Por isso, é importante que os pastores ensinem os argumentos usados pelos proponentes da perse- verança dos santos/segurança eterna, as respostas apropriadas para suas afirmações e a base bíblica da nossa posição: crentes podem voluntariamente perder sua salvação se se afastarem do senhorio de Cristo. Há, com certeza, crenças diversas com relação à segurança eterna dentro do Calvinismo. Por exemplo, uma visão extrema argumenta que Deus levará um crente para casa porque ele não endireita sua vida e tornou-se um estorvo para Ele. Outros que acreditam em segurança eterna, mas não acreditam que esta dê licença para pecar: “Por outro lado, porém, nosso entendimento da doutrina da perseverança não permite a indolência nem a negligência. É questionável se uma pessoa que racionaliza, ‘Agora que eu sou um cristão, posso viver como eu quiser’, foi realmente convertida e regenerada. A fé genuína surge, ao contrário, no fruto do Espírito.” Textos usados para sustentar Seg. Eterna e suas próprias interpretações Aqueles que apoiam a visão da salvação de Segurança Eterna (SE) geralmente se referem a João 5,24 para sustentar sua posição, “Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida.” Proponentes acreditam que este versículo signifique que, uma vez que passou da morte para a vida, você eternamente terá vida. O contexto gramatical desse versículo, porém, esclarece que a palavra eterna não é um advérbio que modifica o verbo, como quando se diz eternamente terá vida. Ao contrário, é parte do substantivo composto. Assim, a vida é eterna, não a posse dela. Também, as palavras ouvindo e crendo estão no gerúndio, o que significa ação contínua. Proponentes também argumentam Crentes podem voluntariamente perder sua salvação se se afastarem do senhorio de Cristo. JULHO 2010 | Recursos Espirituais • 17 A Bíblia ensina sobre Segurança Eterna? (Cont. da p. 17) Se afastar-se de Deus não fosse uma possibilidade nítida, Jesus não teria falado sobre o assunto. 18 que, uma vez que a pessoa e Deus se unem, esse laço nunca pode ser desfeito; apelam para João 6.37, “Tudo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora.” Não podemos dizer, porém, que este texto exclua a possibilidade de que alguém possa escolher ir embora (compare com João 17.12). João 10.27,28 também é usado para sustentar a doutrina da SE: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheçoas, e elas me seguem; e dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará das minhas mãos.” A estes versículos podemos também acrescentar Romanos 8.35,39: “Quem nos separará do amor de Cristo? ... Nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor!” Deve-se observar também que o tempo presente no grego denota ação contínua. Esse versículo é traduzido literalmente como “As minhas ovelhas continuam ouvindo a minha voz, e eu continuo conhecendo-as, e elas continuam me seguindo; e continuo dando-lhes a vida eterna.” Significa que o fato de não perecermos depende da nossa ação contínua de ouvir e de seguir a Jesus, tema que ecoa em toda a Bíblia. Ao contrário de sustentar a SE, este texto sustenta a possibilidade de um crente se afastar de Deus se rejeitar a continuar a obediência a Cristo. Usando João 15.1-11, proponentes afirmam “Se os crentes se fizeram um em Cristo e Sua vida flui neles (Jo 15.1-11), nada pode anular essa conexão.” Mas o capítulo 15 inteiro mostra a possibilidade de essa conexão ser quebrada. A palavra traduzida como permanecer em todo o capítulo 15 é meno, que significa ficar, continuar. Portanto, Jesus diz, “Toda vara em mim que não dá fruto, a tira...Se alguém não permane- • enrichment | JULHO 2010 ce [fica, continua] em mim, será lançado fora, como a vara, e secará; e os colhem e lançam no fogo, e ardem.” (Jo 15.2,6). A próxima seção começa com Jesus declarando, “Tenho-vos dito essas coisas para que vos não escandalizeis.” (Jo 16.1). Se afastar-se de Deus não fosse uma possibilidade nítida, Jesus não teria falado sobre o assunto. Alguns adeptos da SE apontam para as palavras de Paulo em Filipenses 1.6 para apoio, “Tendo por certo isto mesmo: que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao Dia de Jesus Cristo.” Lendo os versículos 1-11, porém, torna-se claro que o que Paulo estava seguro era o fato do desejo dos filipenses de forçarem a maturidade – a única segurança real do crente. Isto é sustentado pela advertência aos filipenses para “operar a vossa salvação com temor e tremor.” (2.12). Além disso, após notar que mesmo seu próprio destino eterno ainda não estava escrito nas pedras (3.12,13), e para ter certeza de sua vida eterna, Paulo se esforçou para uma maior maturidade e obediência (3.14). Ele exortou os filipenses a seguirem seu exemplo e evitarem seguir o exemplo daqueles cujo fim é a destruição (3.17-19). As pessoas, às vezes, apelam para Hebreus 7.25, “Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles.” Defensores entendem que a palavra sempre se refira àqueles que se aproximam de Deus para salvação. O contexto imediato, porém, e a mensagem do livro de Hebreus requerem a frase para se referir a Jesus e a duração de tempo em que Ele, como Sumo Sacerdote, é capaz de prover a expiação a qual faz com que a salvação seja possível não para a segurança eterna do crente (compare também os vv. 3,17,21,25; 5.6; 6.20). Mas o texto favorito daqueles que adotam a SE é 1 João 2.19, “Saíram de nós, mas não eram de nós; porque, se fossem de nós, ficariam conosco; mas isto é para que se manifestasse que não são todos de nós.” Adeptos usam essa passagem para afirmar que aqueles que pararam de seguir a Cristo nunca tinham experimentado a salvação. Existem várias coisas que devemos examinar neste versículo. Primeiro, o texto não afirma explicitamente o que os proponentes de SE asseveram que afirme (que separação significa que a salvação deles não era real). João estava escrevendo depois de sua deserção e observando que o abandono era prova de que eles não pertenciam mais à comunidade dos remidos. João os estava comparando àqueles que tinham resistido aos falsos ensinamentos, continuado a adotar a verdade e persistido em permanecer em Cristo (v. 24). Segundo, o contraste entre as respostas de ir embora e permanecer/ficar relembram os próprios ensinamentos de Jesus em João 15, onde Ele descreveu membros do corpo de Cristo que falham em permanecer, não continuam a produzir frutos, secam e são finalmente lançados fora. Terceiro, ambos os AT/NT estão repletos de exemplos de pessoas e grupos que estavam, em algum ponto, claramente ao lado de Deus mas que depois repudiaram Seu senhorio (Gn 4.3-16 [comp. Jd v. 11]; Êx 32.32, 33; Nm 3.2-4; 4.15-20; 16.1-33; 22.8, 12,19,20,32-35; 24.1,2,13; 31.7,8; 1Sm 10.1-7,9-11; 13.8-15; 16.14,31; Jo 6.66 [comp. v. 67]; 1Co 5.1-13; 1Tm 1.19, 20; 2Tm 1.15; 2.17,18; 4.10; Tt 1.1216; Hb 12.15-17; 2Pe 2.1; Ap 2.6,15 [comp. At 6.5; HISTÓRIA ECLESIÁSTICA – Eusébio 3.29, 20]). Passos que Levam à Apostasia 1. O crente, por sua falta de fé, deixa de levar plenamente a sério as verdades, exortações, advertências, promessas e ensinos da Palavra de Deus (Mc 1.15; Lc 8.13; Jo 5.44,47; 8.46). 2. Quando as realidades do mundo chegam a ser maiores do que as do Reino celestial de Deus, o crente deixa paulatinamente de aproximar-se de Deus através de Cristo (4.16; 7.19,25; 11.6). 3. Por causa da aparência enganosa do pecado, a pessoa se torna cada vez mais tolerante ao pecado na sua própria vida (1Co 6.9,10; Ef 5.5; Hb 3.13). Já não ama a retidão nem odeia a iniquidade. 4. Por causa da dureza do seu coração (3.8,13) e da sua rejeição dos caminhos de Deus (3.10), não faz caso da repetida voz e repreensão do Espírito Santo (Ef 4.30; 1Ts 5.19-22). 5. O Espírito Santo se entristece (Ef 4.30, cf. Hb 3.7,8); seu fogo se extingue (1Ts 5.19) e seu templo é profanado (1Co 3.16). Finalmente, Ele afasta-se daquele que antes era crente (Jz 16.20; Sl 51.11; Rm 8.13; 1Co 3.16,17; Hb 3.14). Donald Stamps, Editor Geral da Bíblia de Estudo Pentecostal (CPAD). Argumentos que Advertem os Crentes sobre a Possibilidade da Apostasia Às vezes, os adeptos do Arminianismo não têm articulado claramente sua posição doutrinária. Temos usado a expressão perder sua salvação, como se esse ato pudesse ser acidental, não intencional e o resultado de um deslize momentâneo. Os detratores têm justamente atacado essa frase como uma reflexão imprecisa das Escrituras. Por isso, devemos nos refamiliarizar com passagens que sustentem nossa doutrina e então articularmos de uma maneira que reflita apropriadamente o ensinamento da Palavra de Deus. Os ensinamentos arminianoswesleyanos sobre santidade e Pentecostes sustentam que os crentes man- Devemos nos refamiliarizar com passagens que sustentem nossa doutrina. JULHO 2010 | Recursos Espirituais • 19 A Bíblia ensina sobre Segurança Eterna? (Cont. da p. 19) Deus não invadirá ou violará o livre arbítrio que Ele propositalmente criou no homem. têm seu livre arbítrio mesmo após a salvação. As Escrituras ensinam que aqueles que confiam e obedecem a Jesus são ainda mais livres após a salvação do que antes (Jo 8.36; Gl 5.1,13), não menos. Nossa doutrina pode ser descrita pelas frases bíblicas “da graça tendes caído” (Gl 5.4), “apartar do Deus vivo” (Hb 3.12) e “recaíram.” (Hb 6.6). J. Rodman Williams afirma: “Mas, por causa do fato de que a salvação de Deus opera através da fé – a fé viva – o abandono dessa fé pode levar à apostasia. Ao falhar em permanecer em Cristo, em continuar nEle e em Sua palavra, perseverar em meio a julgamentos mundanos e tentação, fazer com que a fé se firme e fortaleça – desse modo permitindo que a incredulidade entre – os crentes podem se afastar de Deus. Assim poderão tragicamente perder sua salvação . (Ver quadro, Passos que Levam à Apostasia). A palavra apostasia é a transliteração da palavra grega apostasia do NT. Referências observam que essa palavra e sua forma verbal incluem essas nuanças: tomar uma posição, cometer deserção ou traição política, separar de, afastar-se de , induzir a revolta, retirar, desviar, desaparecer, cessar toda interação com, desertar, pôr de lado (como em divórcio). Nenhum desses itens sugere uma perda de pacto como resultado de uma brecha acidental ou temporária de padrões estabelecidos de santidade. Ao contrário, todos eles implicam a previsão, intenção e estado persistente de rebelião contra a autoridade de Jesus sobre a vida de alguém (ver quadro Apostasia). Livre Arbítrio Apostasia A postatar significa cortar o relacionamento salvífico com Cristo, ou apartar-se da união vital com Ele e da verdadeira fé nEle. Sendo assim, apostasia individual é possível somente para quem já experimentou a salvação, a regeneração e a renovação do Espírito Santo (cf. Lc 8.13; Hb 6.4,5); não é simples negação das doutrinas do NT pelos inconversos dentro da igreja visível. A apostasia pode envolver dois aspectos distintos, embora relacionados entre si: (a) a apostasia teológica, i.e., a rejeição de todos os ensinos orginais de Cristo e dos apóstolos (1Tm 4.1; 2Tm 4.3); e (b) apostasia moral, i.e., aquele que era crente deixa de permanecer em Cristo e volta a ser escravo do pecado e da imoralidade (Is 29.13; Mt 23.25-28; Rm 6.15-23; 8.6-13). 20 • enrichment | JULHO 2010 Deus criou o homem à Sua imagem e semelhança (Gn 1.26). Em parte, isto significa que da mesma forma que Deus pensa, planeja, raciocina e decide, o homem também o faz. Embora a queda tenha parcialmente apagado a imagem de Deus estampada sobre a humanidade na criação, esses outros atributos certamente não o foram. Além disso, Deus não invadirá ou violará o livre arbítrio que Ele propositalmente criou no homem de aceitar ou não a Cristo. No AT, Deus tratou com os israelitas quase que exclusivamente através de pactos condicionais. Deus continuou a adverti-los para que cumprissem suas obrigações no pacto ou o relacionamento com Ele poderia ser anulado (compare Êx 32.33; Lv 22.3; Nm 15.27-31; Dt 29.18-21; 1Re 9.6,7; 2Re 17.22, 23; 24.20; 1Cr 28.9; 2Cr 7.19-22; 15.2; 24.20; Sl 69.28; Is 1.2-4; 59.2; Jr 2.19; 5.3,6,7; 8.5,12; 15.1,6,7; 16.5; Ez 3.20; 18.12,13; 33.12). A graça estava disponível no AT (Êx 34.6, Nm 6.25; Jr 3.12), mas como no NT, a graça nunca foi uma desculpa para se continuar em pecado e nunca diminui as exigências de um pacto (compare Jo 1.16,17; Rm 6.1,2; 8.7-11; Lc 12.48; compare também Rm 1.31, “incrédulos” ou “pérfidos”). Os Evangelhos João, o Batista, audaciosamente proclamou, “E também já está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não dá bom fruto é cortada e lançada ao fogo.” (Mt 3.10; Lc 3.9). De fato, Jesus começou Seu ministério reiterando esta mesma mensagem (Mt 7.19). Jesus também ensinou que se não estivermos predispostos a perdoar, removemos a possibilidade de recebermos o perdão de Deus (Mt 6.15). No contexto histórico original de Jesus e no contexto canônico de Mateus, a nova comunidade em aliança – composta por crentes – Jesus disse que apenas aqueles que resistirem até o fim serão salvos (Mt 10.22; 24.13), e que se O negar-mos diante dos homens, Ele nos negará diante do Seu Pai (Mt 10.33). Quando disse, “todo pecado e blasfêmia se perdoará aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito Santo não será perdoada aos homens.” (Mateus 12.31), Ele não fez distinção entre os salvos e os não salvos. Na parábola do Semeador, a semente caía na terra e começava a produzir frutos, mas várias circunstâncias finalmente a destruíram (Mt 13.3-23). Em Mateus 18.15-17, Jesus ordenou que os membros da comunidade da aliança que persistiam em falta de não se arrepender fossem colocados para fora da igreja e tratados como excluídos da aliança. Jesus também advertiu que, nos últimos dias, falsos messias “enganarão muitos” (Mt 24.5) e, durante a perseguição, “muitos seriam escandalizados” (Mt 24.10). O versículo 24 recorda os ensinamentos de Jesus em que falsos messias e falsos profetas “desviariam, se possível, até os escolhidos.” Defensores da SE acham que a frase “se possível” aponta para uma situação hipotética e mostra que não é possível que alguém perca a fé. Este argumento, porém, não considera o contexto maior (Mt 24.5,10) ou outros textos (1Ts 4.1,2) que claramente afirmam que alguns crentes nos últimos dias se desviariam da fé por diversas razões. Lucas relatou que Jesus ensinava que “Ninguém que lança mão do arado e olha [continuamente] para trás é apto para o Reino de Deus” (Lc 9.62). O contexto esclarece o significado da metáfora. O mesmo pode ser dito acerca de Lucas 14.34,35, “Bom é o sal, mas se ele degenerar, com que se adubará? Nem presta para a terra, nem para o monturo; lança-os fora. Quem tem ouvidos, que ouça” (sobre os ensinamentos de Jesus, ver mais em Mt 7.16,17,21,24,26; 10.38; 18.23-35; Lc 9.23ss; 14.25-33). Jesus ordenou que os membros da comunidade da aliança que persistiam na falta de não se arrepender fossem colocados para fora da igreja e tratados como excluídos da aliança. Ensinamento Paulino No campo missionário, após terem “feito muitos discípulos”, Paulo e Barnabé retornaram às igrejas que haviam levantado anteriormente, fortaleceram os discípulos e os encorajaram a continuarem na fé (At 14. 21,22). Poderia ter sido um desperdício de tempo e energia se apostasia não fosse uma opção. Mais tarde, Paulo advertiu os líderes da igreja em Éfeso que “...entrarão no meio de vós JULHO 2010 | Recursos Espirituais • 21 A Bíblia ensina sobre Segurança Eterna? (Cont. da p. 21) Paulo advertiu os coríntios que acreditar em uma versão errada das boas-novas poderia pôr em perigo sua salvação 22 lobos cruéis, que não perdoarão o rebanho. E que, dentre de vós mesmos, se levantarão homens que falarão coisas perversas, para atraírem os discípulos após si.” (At 20.29,30.) Nas cartas de Paulo, seu ensinamento não era diferente de suas pregações em Atos. Ele advertiu as igrejas em Roma, “Porque, se Deus não poupou os ramos naturais, [Israel], que te não poupe a ti também [cristãos em Roma]. Considera, pois, a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; mas, para contigo, a benignidade de Deus, se permaneceres na sua benignidade; de outra maneira, também tu serás cortado.” (11.21,22). Ele também os desafiou, “Mas, se por causa da comida se contrista teu irmão, já não andas conforme o amor. Não destruas por causa da tua comida aquele por quem Cristo morreu.” (14.15; compare também 1Co 8.11, onde os mesmos termos aparecem). Em 1 Coríntios 5. 1-13 (compare também 2Ts 3.6,14). Paulo desafiou os coríntios a excomungarem as pessoas que vivessem em pecado (compare Mt 18.15-17). Ele repreendeu os libertinos na igreja de Corinto por deixarem com que sua liberdade causasse destruição do “irmão fraco, pelo qual Cristo morreu” (1Co 8.11). “Irmão” indica que todos envolvidos são membros de uma mesma comunidade de aliança. Acreditava que existia a possibilidade de que mesmo ele pudesse ser um náufrago na fé (1Co 9.27). Paulo, mais adiante, advertiu os cristãos em Corinto de que este poderia ser o destino deles também e que poderiam acabar como os israelitas que morreram no deserto (1Co 10.1-13). “Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe que não caia.” (v. 12). Paulo também advertiu os coríntios que acreditar em uma versão • enrichment | JULHO 2010 errada das boas-novas poderia pôr em perigo sua salvação: “Também vos notifico, irmãos, o evangelho que já vos tenho anunciado, o qual também recebestes e no qual também permaneceis; pelo qual também sois salvos, se o retiverdes tal como vo-lo tenho anunciado, se não é que crestes em vão.” (1Co 15.1,2). Mais adiante, desafiou-os novamente, “Examinai-vos a vós mesmos se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não sabeis, quanto a vós mesmo, que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados.” (2Co 13.5). Este desafio é similar àquele que fez à igreja dos colossenses: Jesus os apresentaria inculpáveis perante Deus, mas apenas se [eles] “permanecerdes fundados e firmes na fé.” (Cl 1.21-23). Às igrejas de Gálatas Paulo exclamou: “Maravilho-me de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro evangelho.” (Gl 1.6). Em Gálatas 4.1-11, ele descreveu a progressão em que os cristãos gálatas passaram de escravos para filhos e então para escravos novamente. Na conclusão dessa seção, Paulo disse, “Eu temo por vocês, que talvez, eu tenha trabalhado com vocês em vão.” Àqueles que haviam sido salvos pelo sangue de Jesus mas aceitado o Evangelho “plus” dos judaizantes que acrescentaram circuncisão aos Ordo Salutis (caminho da salvação), Paulo proclamou, “Separados estais [kataergo: rompido, esvaziado, anulado de, cancelado de, trazido ao fim, destruído, aniquilado] de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes caído [ekpipto: cair de, confiscar, perder, causar o fim] .” (Gl 5.4). À igreja dos filipenses, Paulo afirmou ter sofrido a perda de todas as coisas “para conhecê-lo, e a virtude da sua ressurreição, e a comunicação de suas aflições, sendo feito conforme a sua morte; para ver se, de alguma maneira, eu possa chegar à ressurreição dos mortos.” (Fp 3.10,11). Se a salvação de Paulo fosse decisiva e nada pudesse mudar seu status com Deus, ele não estaria ciente disso. Paulo levou a sério a ruína espiritual na vida de alguns de seus companheiros mais próximos porque, no mesmo contexto, ele falou à igreja de Filipos sobre as pessoas que haviam sido crentes muito conhecidas, mas que lamentava agora por “serem inimigos da cruz de Cristo.” (Fp 3.18). Quando Paulo instruiu pastores, a mensagem foi a mesma: “Mas o Espírito expressamente diz que, nos últimos tempos, apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios.” (1Tm 4.1; compare 2Tm 4.3,4). As Epístolas Gerais e o Apocalipse A advertência do NT também é clara sobre o fato de o crente poder voluntariamente perder sua salvação. O Livro de Hebreus contém algumas das advertências mais claras contra a apostasia e também exortações urgentes para se permanecer firme até o fim – todas direcionadas a cristãos. Por causa da revelação maior que veio com a encarnação de Cristo, o autor de Hebreus disse aos cristãos, “Portanto, convém-nos atentar, com mais diligência, para as coisas que já temos ouvido, para que, em tempo algum, nos desviemos delas” (2.1). Neste texto, o escritor incluiu a si próprio em uma advertência contra se deixar o caminho da salvação. No mesmo contexto, levantou uma questão retórica, “Como escaparemos nós [julgamento, compare v. 2), se descuidarmos de uma tão grande salvação?” (v. 3). Novamente, o autor se incluiu em seu público cristão. Devemos notar que o verbo é descuidar, não rejeitar. Seus leitores eram cristãos descuidados, e não des- crentes rejeitadores. Em 3.6, ele lançou o mesmo desafio feito por Jesus e Paulo: E nós somos Sua “própria casa... se tão somente conservarmos firme a confiança e a glória da esperança até o fim.” Ele reiterou além disso, “Porque nos tornamos participantes de Cristo, se retivermos firmemente o princípio da nossa confiança até o fim.” (v. 14). Advertiu aos crentes, “Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel, para se apartar [apostaenai, apostasia] do Deus vivo.” (3.12, ênfase adicionada). Os crentes precisam “temer, pois, que, porventura, deixada a promessa de entrar no seu repouso, pareça que algum de vós fique para trás” (4.1), porque até crentes podem “cair no mesmo exemplo de desobediência [que os da aliança de Israel demonstravam]” (4.11). Em 6.4-6, o autor declara: “Porque é impossível que os que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se fizeram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus e as virtudes do século futuro e recaíram sejam outra vez renovados para arrependimento; pois assim, quanto a eles, de novo crucificam o Filho de Deus e o expõe ao vitupério.”. Reminiscente de Números 15.30,31, Hebreus afirma: “Porque, se pecarmos voluntariamente, depois de termos recebido o conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados, mas uma certa expectação horrível de juízo” (10.26,27, ênfase adicionada). E continua, “Quebrantando alguém a lei de Moisés, morre sem misericórdia, só pela palavra de duas ou três testemunhas. De quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por profano o sangue do testamento, com que foi santificado, e fizer agravo ao Espírito da graça?” (10.28,29, ênfase adicionada). O Livro de Hebreus contém algumas das advertências mais claras contra a apostasia e também exortações urgentes para se permanecer firme até o fim. JULHO 2010 | Recursos Espirituais • 23 A Bíblia ensina sobre Segurança Eterna? (Cont. da p. 23) A única segurança do crente está atrelada à firme obediência à vontade do Mestre. 24 A parte em negrito desses versículos fornece uma evidência incontestável de que o público é cristão. Esses crentes são advertidos a não “rejeitarem” (em oposição a “perder acidentalmente”) sua salvação (10.35). O escritor de Hebreus deixou ao seu público cristão esta exortação: “Tendo cuidado de que ninguém se prive da graça de Deus, e de que nenhuma raiz de amargura [compare com Dt 29.1821], brotando, vos perturbe, e por ela muitos se contaminem. E ninguém seja fornicador ou profano, como Esaú, que, por um manjar, vendeu seu direito de primogenitura. Porque bem sabeis que, querendo ele ainda depois herdar a bênção, foi rejeitado, porque não achou lugar de arrependimento, ainda que, com lágrima, o buscou.” (Hb 12.15-17). Tiago nos diz: “se algum de entre vós se tem desviado da verdade, e alguém o converter, saiba que aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador salvará da morte uma alma.” (Tg 5.19,20). Pedro escreve: “E também houve entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos doutores, que introduzirão encobertamente heresias de perdição e negarão o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina perdição.” (2Pe 2.1). No mesmo contexto, continua: “Portanto se, depois de terem escapado das corrupções do mundo pelo conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, forem outra vez envolvidos nelas e vencidos, tornou-se lhes o último estado pior que o primeiro. Porque melhor lhes fora não conhecerem o caminho da justiça do que, conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado. O cão voltou ao seu próprio vômito; a porca lavada, ao espojadouro de lama.” (2Pe 2.20-22, ênfase acrescentada para demonstrar o fato de que o autor está descrevendo pessoas que haviam sido contadas entre os • enrichment | JULHO 2010 redimidos). João descreveu um pecado que é “para a morte” e não pode ser perdoado (1Jo 5.16). O contexto na primeira metade do versículo, assim como o uso da mesma terminologia em outros lugares nessa carta (1Jo 3.13,14) deixa claro o fato de que se trata de morte espiritual e não física. Essa mensagem não é diferente da de Apocalipse. Lá, ele prometeu vida eterna apenas àqueles que vencerem e perseverarem fiéis até o fim (Ap 2.10,25, 26). Por outro lado, ele garantiu rejeição e perda da vida para aqueles que não o fizerem (Ap 2.5; 3.11,16). Até o final do livro (e, portanto, o NT), ele continuou a alertar sobre a possibilidade de se perder a salvação (Ap 22.19). Conclusão É evidente que a Bíblia alerta contra a possibilidade de perda do status com Deus. As Escrituras são claras no que diz respeito a que a única segurança do crente está atrelada à firme obediência à vontade do Mestre. Essa realidade se encaixa perfeitamente na definição bíblica de salvação, que não é um evento único que sela um crente por toda a eternidade, mas um processo que tem estágio passado (Rm 10.9,10; 2Co 5.17), presente (Lc 9.23; 1Co 1.18; 2Co 2.15; 3.18; Fp 2.12; 3.8-16) e futuro (Rm 8.19-24; 1Co 15.24-28; 1Pe 1.37; Ap 12.10; 20.1-10; 21.1 – 22.14). Os crentes detêm a opção de escolher uma vida de obediência e submissão à vontade de Deus ou de se desviar do relacionamento com Deus e sofrer a separação eterna de Deus como resultado. Ao ensinar esta verdade às pessoas, você pode encorajá-las a uma vida divina e a responderem aqueles que creem na segurança eterna. < Enriquecimento Teológico < Tratamento aos membros subordinados da equipe: Princípios de Liderança Espiritual das Saudações de Paulo POR JAMES D. HERNANDO S am1 sentou-se para tomar sua xícara de café. A expressão em seu rosto me dizia que sua experiência ministerial tinha se mostrado dolorosa. Sua dor fora causada por um promissor pastorado de jovens que havia se tornado amargo. No início, nem suas 60 ou 70 horas de trabalho por semana eram suficientes para refrear seu entusiasmo. Ele mal podia acreditar que estava fazendo o trabalho do ministério e sendo pago para isso. Embora sua responsabilidade inicial fosse com o ministério de jovens, o pastor sênior gradualmente foi colocando mais e mais responsabilidades sobre seus ombros. Ele mergulhou de cabeça em cada uma das tarefas com alegre diligência. Paulo... sai do seu caminho para afirmar as louváveis contribuições e reconhecimento de seus subordinados. Sam especialmente gostava das poucas vezes em que pregava aos domingos à noite quando o pastor estava em compromissos ministeriais fora da igreja. As pessoas pareciam gostar de sua pregação e eram na maioria positivas. Depois de um ano, Sam sentia frieza e rigidez em suas conversas com o pastor sênior, que havia se tornado crítico com relação aos menores detalhes no desempenho do ministério de Sam. Este intensificou seus esforços para agradar o pastor, mas sem resultado. Menos de 2 anos depois, o pastor informou a Sam que, devido a uma reestruturação na equipe e a restrições orçamentárias, ele estava sendo dispensado. A entonação de suas palavras deixou dúvidas a respeito de suas verdadeiras razões. Com os olhos rasos d'água Sam deixou o gabinete do pastor. Eu não consigo contar quantas vezes eu ouvi histórias similares a essa durante os meus 20 anos de ensino na faculdade e no seminário. A história de Sam obviamente apresenta apenas um lado. No entanto, ela levanta o sério problema das relações da equipe do pastor e sua dinâmica incrivelmente complexa. Há poucos anos atrás eu comecei a estudar os princípios da liderança espiritual no NT e fui levado ao exemplo e aos escritos de Paulo. Em particular, meu interesse primeiro pairou sobre o tratamento dispensado por Paulo a seus companheiros de trabalho. O impulso para esse meu estudo surgiu de um trecho muito improvável das Escrituras – as saudações de encerramento em Romanos. Estranhamente, no livro de Romanos, Paulo está escrevendo para uma igreja que ele não havia fundado, tampouco viJULHO 2010 | Recursos Espirituais • 25 sitado. Em Romanos 16.1-16, no entanto, ele saúda ou menciona 27 indivíduos pelo nome. É provável que Paulo tivesse encontrado essas pessoas em suas viagens missionárias, e depois elas tivessem se mudado para Roma. Algumas provavelmente eram convertidas por aqueles a quem Paulo havia discipulado e treinado para o ministério. Como apóstolo, Paulo era um líder espiritual para as igrejas que ele fundava e para as pessoas a quem treinava. Após o mais fino escrutínio, a passagem nos dá um insight acerca do tratamento e do relacionamento de Paulo com seus subordinados – crentes que não eram seus companheiros apostólicos. O USO QUE PAULO FAZ DO ENALTECIMENTO E DO RECONHECIMENTO Paulo era rápido em elogiar e livre em seus enaltecimentos. Veja a frequência disso neste caso. Febe havia sido uma ajudante ou “serva”2 não somente para Paulo, mas também para muitos na igreja (Rm 16.2)3. Priscila e Áquila “arriscaram suas próprias vidas” por Paulo (Rm 16.3,4). Trifena e Trifosa foram chamadas de “trabalhadoras do Senhor” (Rm 16.12). Maria e Pérside foram singularizadas como trabalhadoras árduas (Rm 16.6,12). Paulo, ao que parece, sai do seu caminho para afirmar as louváveis contribuições e reconhecimento de seus subordinados4. PAULO COLOCA ÊNFASE NA IGUALDADE Paulo com frequência considerava seus subordinados como sendo iguais. Ele fez isso ao anexar a preposição grega sun (junto com) a um substantivo. Eles eram cooperadores em Cristo (Rm 16.3,9; compare com o v. 21). Andrônico e Júnia eram para Paulo “companheiros de prisão” por causa do Evangelho (Rm 16.7). O que nós observamos aqui é a perspectiva que Paulo conservou ao longo de seus escritos. Tito é companheiro de Paulo (koinonos, 26 • enrichment | JULHO 2010 significando parceiro ou participante) no trabalho do Evangelho (2Co 8.23). Epafrodito não era somente “irmão” de Paulo, mas “cooperador e companheiro de lutas” (Fp 2.25). Ao mesmo tempo em que Timóteo era um “filho [espiritual] na fé” (1Tm 1.2) e “filho amado” (2Tm 1.2) de Paulo, o apóstolo o considerava contudo igual e um “irmão e cooperador no evangelho de Cristo” (1Ts 3.2). Paulo não considerava seus subordinados como subordinados, mas como colaboradores... Analisando cuidadosamente, as epístolas paulinas rendem uma memorável descoberta. Paulo não considerava seus subordinados como subordinados. Eles eram colaboradores ou companheiros servos do Senhor. Paulo não enfatizava seu chamado apostólico, posição ou autoridade ao se relacionar com aqueles a quem servia como apóstolo5. Paulo entendia sua autoridade como um apóstolo, mas ele não o mencionava a não ser quando tratava com igrejas ou grupos que estavam se opondo ou ameaçando a obra do Senhor6. Paulo estava ainda relutante em usar sua autoridade apostólica para propósitos de disciplina. Mesmo quando repreendia os problemáticos coríntios7, Paulo os lembrava: “... estando presente eu não use de rigor, segundo a autoridade me dada pelo Senhor para edificação e não destruição.” (2Co 13.10). PAULO CONHECIA OS SEUS SUBORDINADOS As saudações de Romanos 16 indicam claramente que Paulo conhecia essas pessoas pessoalmente. Como diz o antigo ditado: “Não há nada que soe mais doce aos ouvidos de alguém do que o som de seu próprio nome”. Paulo não somente os chamava pelo nome, mas muitos eram também conhecidos íntimos. Paulo podia chamar Epêneto, Ampliato e Pérside de “meus amados”8 (Rm 16.5,8,12). Ele também os conhecia a ponto de enaltecê-los individualmente. Em nenhum outro lugar Paulo podia dizer que alguém mantivesse o mesmo espírito de preocupação com os filipenses como Timóteo (Fp 2.20). Tíquico foi chamado de “irmão amado e fiel ministro no Senhor” (Ef 6.21). Ele notou a constante vida de oração de Epafras (Cl 4.12) e que Tito fora “dedicado” (2Co 8.17) , “provado” e “achado diligente em muitas coisas” (2Co 8.22). Paulo havia testemunhado a fidelidade deles na obra e capaz de tecer seus elogios para destacar suas forças e contribuições para a obra do Senhor. PRINCÍPIOS DE LIDERANÇA ESPIRITUAL A análise acima não nos revela uma teologia inovadora, somente alguns conselhos práticos relacionados ao tratamento dos membros de uma equipe de subordinados a partir dos princípios paulinos de liderança espiritual – princípios normalmente perdidos e que necessitam ser trazidos à lembrança. O líder espiritual sábio nutre seus subordinados e traba- trução de uma equipe ministerial de lha para construir com eles um relacionamento próximo iguais, de colaboradores em Cristo. A liderança é mais eficaz quando feita em um relacionamento de amor e confiança. Quando reconheceu o direito de usar sua autoridade apostólica para exortar os Tessalonicenses, Paulo preferiu lembrá-los de seu amor e preocupação paternais para com eles como crianças espirituais (1Ts 2.7,8 conf. 1Co 4.15). O pastor sênior é chamado para liderar, mas se ele não conhecer individualmente as pessoas, sua liderança estará prejudicada. A liderança paulina exige um comprometimento profundo com construir relacionamentos e mentoreamento pessoal. O líder espiritual sábio afirma e publicamente enaltece seus subordinados. Enaltecimento público e afirmação pessoal feitos com sinceridade9 promovem boa vontade, edificação e motivação dos membros da equipe de subordinados. Não só edifica a confiança dos subordinados, mas também os ajuda a construir credibilidade junto à congregação. Além disso, o enaltecimento público comunica um valor importante para a igreja – que os membros do Corpo são necessários e apreciados dentro do Corpo por seus dons para o Corpo. Aqueles que herdaram essa estruturas podem querer considerar alterá-la ou mudá-la através da implementação de políticas, procedimentos e práticas que mitiguem as tensões hierárquicas e promovam um espírito de equipe cooperativo e colegiado. Esses são princípios de liderança espiritual dignos de nota extraídos do apóstolo Paulo. Como exatamente devem ser implementados é melhor deixar para os praticantes pastorais decidirem. Contudo, para aqueles que buscam responder à instrução das Escrituras, são princípios que não devem ser ignorados. JAMES D. HERNANDO, Ph.D. Professor de NT no Seminário Teológico das Assembleias de Deus - AGTS Springfield, Missouri (EUA) O líder espiritual sábio promove um conceito de liderança que enfatiza a igualdade entre os membros da equipe. A perspectiva de Paulo de autoridade espiritual e da igreja como o corpo de Cristo formou seu entendimento acerca de liderança espiritual. A percepção de Paulo de autoridade espiritual remete a um dos ensinamentos de Jesus de que autoridade no Reino era concedida com o propósito de servir aos outros (Mc 10.42-45). Grande responsabilidade requer maior autoridade. Autoridade não provém do gabinete, mas da responsabilidade funcional entregue aos cuidados do gabinete. A perspectiva de Paulo sobre a igreja como o corpo de Cristo foi desenvolvida a partir de seus próprios ensinamentos sobre a unidade e interdependência de membros dentro do corpo de Cristo (1Co 12.12-27). O projeto de Deus faz cada membro no Corpo importante e necessário para o propósito e a função geral do Corpo. Assim, não há lugar para atitudes de inferioridade ou superioridade (1Co 12.15-25). Isto explica porque Paulo discorda da exaltação dos coríntios aos líderes apostólicos, tais como ele próprio, Apolo e Cefas (1Co 1.12; 3.4-6,22. 4.6). Tais distinções e tentativas de elevar uma pessoa sobre uma outra não levam em conta o fato de que os membros podem exercer diferentes funções, mas cada pessoa tem um propósito singular e é cooperador de Deus àquele fim (1Co 3.8,9). Uma dialética inerente existe entre estruturas autoritárias e o projeto igualitário do Corpo que Paulo ensina. Hierarquia deixada ao léu diminui o colegiado. A estrutura ou regime eclesiástico que comunica uma hierarquia de status, posição e autoridade trabalha contra a cons- NOTAS 1. Esta situação ministerial baseia-se em uma história verídica. Nomes e detalhes foram mudados para proteger as pessoas envolvidas. 2. A palavra grega usada é diakonon. Significa servo ou ministro, também pode se referir ao diácono na igreja. Paulo a usa neste sentido por 5 vezes (Fp 1.1; 1Tm 3.8,10,12,13). 3. Na tradução da New American Standard Version. 4. Esta é uma prática comum de Paulo, como suas epístolas amplamente atestam (e.g.: 2Co 8.16-23: Tito; Fp 2.19-21: Timóteo; Fp 2.25: Epafrodito; Ef 6.21: Tíquico; Cl 4.9: Onésimo; Cl 4.10: Aristarco; Cl 4.12: Epafras; e Cl 4.14: Lucas). 5. Paulo absorveu a grandeza do espírito do Reino ensinada pelo próprio Senhor: “Então Jesus, chamando-os para junto de si, disse: Bem sabeis que pelos príncipes dos gentios são estes dominados, e que os grandes exercem autoridade sobre eles. Não será assim entre vós; mas todo aquele que quiser entre vós fazer-se grande seja vosso serviçal; E, qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, seja vosso servo; Bem como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos.” (Mt 20.25-28). 6. Veja 1 Coríntios 4.15; 2 Coríntios 10.8; 1 Tessalonicenses 2.6; 4.1; Tito 2.15. 7. Veja 2 Coríntios 2.3,4,9; 7.12. Esta tão conhecida carta "escrita entre muitas lágrimas" não é 1 Coríntios, mas uma das cartas "ausentes" de Paulo escrita aos Coríntios. Veja também 1 Coríntios 5.9. Paulo apelaria muito mais para eles como uma ama ou pai espiritual (1Co 4.15; 1Ts 2.7,8). 8. Uma outra tradução poderia ser "amado de (ou ‘por’) mim”. 9. Alguns pastores sentimentalmente enaltecem a equipe e os membros da igreja de uma forma que é fora de proporção quanto à realidade. Quando isso ocorre, o enaltecimento parece insincero e perde credibilidade e seu efeito positivo. Observe que Paulo em suas saudações menciona diversas pessoas sem comentário ou elogio (Rm 16.15,16; compare Demas em Cl 4.17). Paulo não se sente compelido a enaltecer todo mundo, apenas aqueles que ele conhece bem o suficiente para verdadeiramente elogiar ou enaltecer. JULHO 2010 | Recursos Espirituais • 27 Enriquecimento Teológico O Batismo no Espírito Santo: A Vida e o Ministério de Jesus POR EDGARD R. LEE N ossa intenção nestes artigos é mostrar que recebemos a doutrina pentecostal do batismo no Espírito Santo de todas as Escrituras canônicas, não apenas de algumas passagens do Livro de Atos. O AT relata o ministério do Espírito em Seu trabalho carismático de conceder poder a líderes escolhidos para funções específicas. Ele frequentemente mostra que os fenômenos sobrenaturais são a evidência da vinda do Espírito. Mas o AT também promete que o Espírito trará vida espiritual e transformação moral. Podemos dizer que o Espírito, no AT, tem um ministério duplo: carismático e conversivo. Esses dois aspectos do ministério do Espírito vividamente profetizados no AT correspondem ao cumprimento único na vida e no ministério de Jesus, que é ministro cheio do Espírito por excelência e que, desde o início dos Evangelhos, é o ungido batizador no Espírito. O Espírito no Nascimento e na Infância de Jesus A jovem Maria, surpreendida pelo anjo Gabriel com o anúncio de que daria luz ao Messias, respondeu com consternação: “Como se fará isso, visto que não conheço varão?” Gabriel respondeu: “O Espírito Santo virá sobre você, e o poder do Altíssimo irá ofuscá-la. Então o santo que vai nascer será chamado de Filho de Deus.” (Lc 1.34,35). Então seguiu-se a concepção virginal miraculosa, sem o auxílio de paternidade humana, realizado pelo Espírit o de Deus, que fora ativo na criação do mundo (Gn 1.1). Aquele assim concebido só pode ser “o santo”, “o Filho de Deus”. 28 • enrichment | JULHO 2010 Apesar do nascimento miraculoso, em sua infância Jesus fez pouco para demonstrar Sua origem incomum. Mas daí então, um breve rasgo das profecias inspiradas pelo Espírito apontaram para Sua verdadeira identidade. O Espírito que capacitara Maria a milagrosamente conceber é também o Espírito de profecia que preencheu alguns poucos pios profetas para proclamar a vinda de Jesus, a começar por Isabel (Lc 1.42-45). Simão, “movido pelo espírito”, encontrou o pequeno Messias com Seus pais no templo e o identificou como “salvação” de Deus (Lc 2.25-32). Então veio a profetisa Ana, presumivelmente também movida pelo Espírito, que reconheceu a criança (Lc 2.36-38). Além dos breves relatos de Mateus e Lucas, conhecemos pouco sobre a infância de Jesus. Lucas descreve por alto seus primeiros 12 anos dizendo apenas: “a criança cresceu e se fortificou; ele foi cheio de sabedoria e a graça de Deus estava sobre ele.” (Lc 2.40). Certamente não o milagreiro que alguns dos Evangelhos apócrifos retratam que a sabedoria precoce e consciência divina do jovem Jesus o distinguiam de outras crianças. O primeiro sinal da autoconsciência de Jesus advém quando Seus pais, encontraram-nO com os ensinadores no templo. “Não sabeis que me convém tratar dos negócios de meu pai?”, Ele perguntou (Lc 2.49). Então Jesus retornou à Sua identidade de criança obediente e Lucas descreve rapidamente e por alto Sua natureza humana, “E crescia Jesus em sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e os homens.” (Lc 2.52). Concebido e habitado pelo Espírito Santo, Jesus, desde o começo, era uma criança extraordinariamente devota, que aparentemente avançava de forma normal para um jovem extraordinariamente devoto. João Batista reconheceu a natureza e o caráter extraordinário de Jesus ao hesitar em batizá-lO (Mt 3.14). A Igreja Primitiva iria mais tarde dar testemunho de que Ele não possuía pecado (2Co 5.21; Hb 4.15; 1Pe 2.22). O Espírito na Unção e no Batismo de Jesus O batismo de Jesus avulta nos Evangelhos, particularmente na luz que acompanhava a descida do Espírito. Como descrevem os Evangelhos, repentinamente, aos 30 anos de idade, Jesus emergiu da obscuridade de Seu trabalho manual em Nazaré e apareceu no Jordão pedindo ao seu primo João que O batizasse. Constrangido com o pedido e, sem dúvida, iluminado pelo Espírito de profecia, João recusou. “Eu careço de ser batizado por Ti e vens Tu a mim.” (Mt 3.14). Somente quando Jesus reafirmou que o Seu batismo era para “cumprir toda a justiça” (3.15) foi que João de fato cedeu. Mas, particularmente significativo na descrição batismal é o que aconteceu após o batismo, quando Jesus estava orando: “o Espírito Santo de Deus descendo como uma pomba e vindo sobre Ele. E eis que uma voz do céu dizia: Este é o meu Filho Amado em quem me comprazo.” (Mt 3.17), “...o qual eu amo e me comprazo.” (Lc 3.22). Os Evangelhos nos contam que Jesus viu o céu abrindo e uma pomba descendo. João Batista disse: “Eu vi o Espírito descer do céu como uma pomba e repousar sobre Ele.” (Jo 1.32). Pode ser, baseado no uso da terceira pessoa por Mateus, que alguns da multidão tenham visto esses fenômenos também. A peça central do evento do batismo é sem dúvida a descida do Espírito Santo sobre Jesus para qual Ele mesmo logo forneceu explicação. Na sinagoga de Nazaré, Jesus leu as palavras do profeta Isaías, “O Espírito do Senhor é sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-me a curar os quebrantados de coração, a apregoar a liberdade aos cativos, a dar vista aos cegos, a por em liberdade os oprimidos, a anunciar o ano aceitável do Senhor.” (Lc 4.18-19). O Espírito Santo desceu em Jesus no batismo expressamente para conceder-Lhe poder para começar e completar Sua missão na terra com êxito. Depois de volver o rolo ao assistente da sinagoga, Jesus disse “Hoje, se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos.” (Lc 4.21). Lucas cuidadosamente colocou essa cena no início do ministério de Jesus na Galileia para mostrar que o Espírito, conforme o AT promete, tinha agora ungido Jesus para Sua missão. E “o Ungido” é por definição o Messias, o Cristo. Pedro bem mais tarde repercutiria esse entendimento da unção de Jesus. Pregando na casa de Cornélio, disse, “Deus ungiu Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e poder o qual andou fazendo o bem e curando a todos os oprimidos pelo diabo, porque Deus era com ele.” (At 10.38). O Espírito Santo não veio para regenerar ou purificar Jesus. Como o sem pecado, filho de Deus encarnado, Ele não JULHO 2010 | Recursos Espirituais • 29 Batismo no Espírito Santo: A Vida e o Ministério de Jesus (Cont. da p. 29) precisou nascer de novo ou ser espiritualmente purificado. Também não veio o Espírito meramente para habitação ou cooperação com Deus, com a qual Jesus já havia Se deleitado. O Espírito Santo desceu em Jesus no batismo expressamente para conceder-Lhe poder para começar e completar Sua missão na terra com êxito. Imediatamente após Seu batismo e unção, no entanto, Jesus enfrentou um desafio. Marcos escreve, “E logo o espírito o impeliu para o deserto. E ali esteve no deserto quarenta dias, tentado por Satanás.” (Mc 1.12,13). Marcos usou um verbo forte, ekballo, (atirar ou jogar) para retratar o novo e repentino ímpeto do Espírito em Jesus. Nós frequentemente observamos que durante seus 40 dias de permanência no deserto, Jesus superou o Diabo pela Palavra de Deus. Mas nós também precisamos lembrar que agora é Jesus ungido pelo Espírito que maneja tão habilmente a Palavra contra Seu poderoso adversário. Jesus – O Batizador no Espírito Enquanto Jesus ainda trabalhava como carpinteiro em Nazaré, João Batista surgia do deserto e começava 30 • enrichment | JULHO 2010 a pregar e a batizar junto ao Rio Jordão. Fundamental ao chamado de João Batista ao arrependimento era o anúncio de que alguém mais poderoso do que ele estava a caminho. Como o Senhor havia falado através de Malaquias muitas centenas de anos antes, “Eis que eu envio o meu Anjo, que preparará o caminho diante de mim; e de repente, virá ao seu templo o Senhor, a quem vos buscais.” (Mq 3.1). Cumprindo as profecias do AT, João Batista proclamou a vinda do Messias: “E eu em verdade, vos batizo com água para o arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu; Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo.” (Mt 3.11). A profecia do batismo do Messias no Espírito é tão importante que os quatro evangelistas a colocam no princípio de seu Evangelho, dando “primazia à lição sobre pneumatologia”. O palavreado dos Sinóticos é quase idêntico (Mt 3.11; Mc 1.8; Lc 3.16). No Evangelho que escreveu, João Batista relembra refletidamente e testifica, “aquele que me enviou para batizar com água me disse, O homem a quem você ver o Espírito descer e repousar é aquele que irá vos batizar com o Espírito Santo.” (Jo 1.32). É importante perceber que a prática do batismo em água empregada por João em seus companheiros judeus era radical e ultrajante. Embora tivessem muitos cerimoniais de purificação, os judeus não eram batizados. Somente os gentios que se convertiam à fé judaica eram batizados e mesmo assim não totalmente nesse padrão. Profeticamente, os líderes judeus recusaram o batismo de João. Mas tão radical quanto o batismo de João Batista, a atividade de Jesus de batizar no Espírito é para ser ainda mais radical e significativa. O poder da metáfora batismal é convincente. O verbo batizar é baptizo, derivado do verbo bapto, que denota uma imersão completa como de um pedaço de pano em um tanque de tinta ou de uma pessoa em água. O batismo de João indicava uma total reorientação de vida, em que a pessoa confessava e abandonava seus pecados na expectativa do Messias vindouro. Mas rispidamente contrastado com o batismo em água de João, o batismo do Messias no Espírito era para ser ainda mais definitivo e transformador. Com essa introdução de tal maneira forçada do batismo no Espírito prometido em Jesus, especialmente dentro do contexto mais amplo da profecia do AT e cumprimento do NT, parece que a teologia cristã histórica fez pouco caso disso e emula a linguagem para fazer o batismo no Espírito Santo falar somente da conversão ou, em alguns casos, da experiência de santificação dos crentes. O Espírito no Ministério de Jesus A vinda do espírito provocou uma diferença dramática na vida de Jesus. Lucas vividamente salientou a mudança. “Jesus voltou a Galileia no poder do Espírito, e as notícias sobre Ele se espalhavam por todo o campo.” (Lc 4.14). Em consequência disso, Jesus começou um estarrecedor ministério de ensino, pregação, cura e expulsão de demônios. Seus antigos vizinhos em Nazaré ficaram aturdidos com a mudança em seu “faztudo” de antes. As pessoas estavam tão maravilhadas que perguntavam, “O que é isso?” Um novo ensinamento – e com autoridade! Ele ordena e os espíritos malignos os obedecem (Mc 1.27). Incidentalmente, com relação aos exorcismos, não há indícios de que espíritos malignos reconhecessem Jesus antes da Sua Unção no Espírito ou de que Ele os expulsasse. Depois disso, tornouse uma ocorrência comum. Às vezes é erroneamente assumido que Jesus desempenhou Seu ministério no poder de Sua divindade. Para sermos exatos, nós não podemos esquadrinhar a interação entre a natureza humana e a divina de Jesus. Sua divindade parece de fato resplandecer na Transfiguração, por exemplo, e está certamente envolvida em Sua remissão dos pecados. Alguns veriam sua divindade em operação também em seus milagres na natureza, como o acalmar o mar. Mas ao longo dos Evangelhos, nós também temos o testemunho de Paulo, “sendo em forma de Deus , não teve [Jesus] por usurpação ser igual a Deus, mas a si mesmo se [kenoo] esvaziou [tornando-Se nada], tomando forma de servo... fazendo-se semelhante aos homens.” (Fp 2.6,7). “Esvaziou-se” é a tradução literal do verbo grego kenoo. Mas não devemos assumir que o Filho de Deus ao encanar, “esvaziou-se” de Sua divindade, como alguns antigos eruditos erroneamente ensinavam. Deus não pode deixar de ser Deus. O que Paulo parece querer dizer é que o Filho de Deus, ao assumir a carne humana, voluntária e propositadamente limitou o uso de Seus atributos divinos para viver e servir como um ser humano. A estrutura narrativa dos Evangelhos, assim como as próprias palavras de Jesus, atesta Sua dependência do poder do Espírito. Lembremos que não há ministério messiânico da parte de Jesus antes da vinda do Espírito em Seu batismo. Em meio aos conflitos de Jesus com os fariseus, Mateus inseriu uma outra profecia de Isaías, “Aqui esta meu servo, que escolhi, o meu amado, e quem a minha alma se compraz. Porei sobre ele o meu Espírito, e anunciará juízo aos gentios.” (Mt 12.18, citando Is 42.1-4). Como não podiam negar o poder de Jesus de curar e expulsar demônios, os fariseus alegavam que Seu poder provinha de Belzebu, o príncipe dos demônios. Em uma resposta contundente, Jesus indicou o Espírito de Deus como a fonte de Seu poder (Mt 12.28). Tão radical quanto o batismo de João Batista, a atividade de Jesus de batizar no Espírito é para ser ainda mais radical e significativa. Lucas indica em sua narrativa sobre a volta dos 72 discípulos que Jesus vivenciava intimidade pessoal com o Espírito. Quando ouviu seus relatos, “Senhor, pelo teu nome até os demônios se nos submetem” (Lc 10.17), Jesus parece quase triunfante. “Naquela mesma hora alegrou-se Jesus no Espírito Santo e disse: Graças te dou ó Pai, Senhor do céu e da terra, que escondeste estas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste às criancinhas. Assim é, ó Pai, porque assim te aprouve.” (Lc 10.21). Os Ensinamentos de Jesus sobre o Espírito, nos Sinóticos Os escritores sinóticos, depois de dramaticamente colocarem sua pneumatologia do batismo no Espírito no início de seus Evangelhos, relatam muito pouco sobre os ensinamentos de Jesus a respeito do Espírito. Lucas registra que, enquanto ensinava sobre como orar, Jesus disse que assim como os humanos dão bons presentes para seus filhos, o Pai que está no céu dará o Espírito Santo àqueles que a Ele pedirem (Lc 11.13). Lucas então reiterou isso com seu relato do exorcismo onde as críticas dos judeus insistiam que Jesus expulsava demônios pelo poder de Belzebu. (vv. 14-25; compare Mt 12.22-37). Jesus combatia dizendo que Ele o fazia pelo “dedo de Deus” (v. 20; “Espírito de Deus”, Mt 12.28) e que, assim, o Reino de Deus havia chegado (Lc 11.14-26). O desenvolvimento de Lucas dessa passagem em seu contexto parece indicar que o “bom presente” do Espírito pode bem vir após a conversão e com as obras de poder carismático. Há também outras duas passagens de Lucas onde Jesus promete sabedoria e discurso carismático. Em Lucas 12.12, Ele fala aos discípulos que, sob ameaça das cortes, que eles não devem estar ansiosos pois “o Espírito Santo irá vos ensinar na hora certa o que deverão dizer.”. E, semelhantemente em Lucas 21.15, Jesus promete mais uma vez que quando os discípulos estiverem diante dos magistrados: “Eu vos darei boca e sabedoria (supostamente pelo Espírito, assim como em 12.12) a que não poderão resistir nem contradizer todos os que se vos opuserem.”. As narrativas de Lucas após a ressurreição são particularmente significativas. “Envio sobre vos a promessa de meu Pai; mas ficai na cidade, até que do alto sejais revestidos de poder.” (Lc 24.49). Qualquer dúvida sobre a natureza da promessa do Pai é rapidamente solucionada na introdução de JULHO 2010 | Recursos Espirituais • 31 Batismo no Espírito Santo: A Vida e o Ministério de Jesus (Cont. da p. 31) como regeneração (conversãoiniciação) e assim privá-lo de poder carismático é quase conforme o desenvolvimento das narrativas do Evangelho. O Ensinamento de Jesus sobre o Espírito no Evangelho de João Lucas a Atos, onde ele novamente cita Jesus, “Não vos ausenteis de Jerusalém, mas esperai a promessa do Pai, a qual, disse ele, de mim ouvistes. Pois João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo.” (At 1.4,5). Lucas estruturou sua narrativa cuidadosamente para mostrar que Jesus encerrou Seu ministério terreno reiterando a promessa de João sobre o batismo no Espírito Santo. Jesus, como batizador no Espírito, estava agora preparado para dramaticamente imergir Seus seguidores no mesmo Espírito que o dera poder ao Seu próprio ministério. A natureza carismática da promessa do Pai é inequívoca. Quando a promessa for cumprida, os discípulos serão “do alto revestidos de poder [dynamis].” Em Atos 1.8 Jesus disse, “Mas recebereis poder [dynamis], ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas.” Pode haver algum questionamento de que o batismo no Espírito profetizado por João no início do Evangelho de Lucas pretenda retratar uma poderosa visitação do Espírito, que prepare os discípulos para um serviço dinâmico como testemunha de Cristo. Para interpretar o batismo no Espírito 32 • enrichment | JULHO 2010 De todos os Evangelhos, João apresenta o ensinamento mais abrangente acerca do Espírito. Começando pelo testemunho de João, este Evangelho reflete uma pneumatologia um pouco mais completa e lança luz sobre os ensinamentos de Jesus com relação à obra maior do Espírito. Geralmente a ênfase de João tende a ser mais soteriológica do que carismática e revela nuanças dos ensinamentos de Jesus que os Sinóticos não apresentam. Os destaques da pneumatologia de João brevemente citados são: • João testificou que, no batismo de Jesus, o Espírito desceu do céu sobre Jesus – e permaneceu sobre Ele (1.32-33). • Esse evento certifica que Jesus é O que batiza com o Espírito Santo (1.33) • Em Seu diálogo com Nicodemos, Jesus indicou que Seus seguidores devem ser nascidos do Espírito (3.6,8). • Deus concede o Espírito a Jesus sem limite (3.34). • É o Espírito quem concede vida (6.63). • O Espírito não estaria universalmente à disposição dos discípulos e outros seguidores até que Jesus fosse glorificado (7.39). • Na glorificação de Jesus e depois, os crentes receberão o Espírito como “fonte de água” que “jorrarão do interior” deles (7.38) • João revela o Espírito como o Paracleto que virá para os discípulos depois da partida de Jesus, para estar com eles como Confortador, Amigo e Advogado para sempre (14.16,26; 15.26; 16.7). • João revela o Espírito como Espírito da Verdade que ensinará os discípulos e os lembrará de tudo o que Jesus havia dito (14.17,26; 15.26; 16.13). • O Espírito provém de ambos, Pai e Filho (14.26; 15.26). • O Espírito vem, não como uma autoridade autônoma ou independente, mas para tornar conhecidas as coisas de Cristo (16.15). Conferindo grande importância à obra soteriológica do Espírito que segue à partida de Jesus, a narrativa de João indica uma culminação dramática. Diferente dos demais Evangelhos, João descreve a repentina aparição do Senhor ressuscitado para dez apóstolos ansiosos que ainda estavam para vê-lO (20.19-22). Jesus os acalmou com uma saudação de paz e lhes assegurou Sua identidade e a realidade de Sua ressurreição. “Assim como o Pai me enviou eu vos envio”, Ele disse (v. 21). Mas particularmente impressionantes são as palavras a seguir, “E dizendo isso soprou sobre eles e disse: Recebei o Espírito Santo.” (v. 22). Com essa declaração, João parece trazer os ensinamentos de Jesus sobre o Espírito para um dramático cumprimento. Os pentecostais primitivos acreditavam que esse evento fosse o ponto em que os primeiros discípulos haviam nascido de novo pelo Espírito. Enquanto isso permanece sendo ponto de debate entre pentecostais e nãopentecostais, parece que nós podemos justificar esta visão. Primeiro, como observado acima, o Evangelho de João cuidadosamente dispôs os ensinamentos de Jesus acerca do Espírito para indicar um encontro definitivo, culminante e de doação de vida com o Santo Espírito após a Ressurreição e no final do Evangelho. Essa passagem parece ser o clímax de tudo que o viera antes. Segundo, a linguagem utilizada é impressionante. O verbo grego para sopro é emphysao, que tem um significado teológico poderoso na teologia bíblica. Na tradução grega do AT (a Septuaginta) amplamente usada nos dias de Jesus, este verbo é encontrado em Gênesis 2.7, onde “Deus... soprou-lhe nas narinas (de Adão) o fôlego da vida.”; em 1 Reis 17.21, onde Elias se “estendeu” sobre o menino morto e esse retornou a vida; e em Ezequiel 37.9, onde Deus ordenou, “Vem... assopra [pneuma] sobre estes mortos para que vivam.” reza da fé trinitariana demanda a presença e a atividade do Espírito e muitos textos parecem respaldar. A Morte e Ressurreição de Jesus no Espírito Nosso propósito nessa série de artigos é mostrar que a doutrina pentecostal clássica do batismo no Espírito está profundamente arraigada no circuito completo da história redentora tanto no decorrer do AT quanto do NT. As narrativas do Evangelho contribuem com um número de insights relevantes para o nosso entendimento sobre o batismo no Espírito. • Jesus obviamente teve uma experiência de habitação do Espírito Santo desde o momento de sua concepção. • A descida do Espírito sobre Jesus após Seu batismo em águas Enquanto os Evangelhos não dizem nada diretamente sobre a obra do Espírito na morte e na ressurreição de Jesus, o maior testemunho no NT nos ajuda a reconhecer que Jesus viveu, morreu e ressuscitou, experimentando o poder do Espírito Santo. De acordo com o escritor de Hebreus, “Cristo... que pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus.” (Hb 9.14). O NT nunca diz que Cristo se levantou da morte. Normalmente, é o Pai (Deus) quem ressuscitou Jesus da morte. A natureza precisa do papel do Espírito na ressurreição é incerta e o significado exato em alguns textos é questionável. Mas a própria natu- O maior testemunho no NT nos ajuda a reconhecer que Jesus viveu, morreu e ressuscitou, experimentando o poder do Espírito Santo. Em Romanos 1.4, Paulo escreveu, “(Jesus) foi declarado Filho de Deus com poder, segundo o Espírito de santidade, pela ressurreição dos mortos.” Em Romanos 8.11, o Santo Espírito é “o Espírito que dentre os mortos ressuscitou Jesus” e o agente através do qual nossos corpos mortais experimentam a ressurreição. Em 1Pe 3.18, Cristo “foi morto na carne, mas vivificado pelo Espírito.” As Implicações da Experiência e dos Ensinos de Jesus sobre o Espírito Santo propiciou uma nova experiência do Espírito, uma dotação carismática, que conferiu-Lhe poder para o Seu ministério. • Foi o Espírito que capacitou Jesus a cumprir Seu ministério de pregação, ensino e obras milagrosas. O texto bíblico não respalda a crença de que Jesus operava Sua obra através do poder de Sua divindade. • Em Seus ensinamentos, Jesus certamente associou o Espírito Santo ao novo nascimento, embora nunca Se refira ao novo nascimento como um “batismo no Espírito Santo”. • Nós podemos considerar de extrema importância o fato de que o sopro de Jesus sobre os apóstolos após a ressurreição pode muito bem ser a experiência deles de novo nascimento que seria então anterior ou separada de seu batismo no Espírito no dia de Pentecostes (embora a doutrina pentecostal do batismo no Espírito Santo não resida somente nesta conclusão). • A única referência de Jesus ao batismo no Espírito Santo a identifica como batismo de poder que irá capacitar os discípulos a serem Suas testemunhas eficazes. Jesus nunca identificou o batismo no Espírito com o novo nascimento que advém do Espírito. A experiência de Jesus com o Espírito, assim como Seus ensinamentos sobre a pessoa e obra do Espírito fornece dados cruciais que se somam às do AT e de Atos, como também as Epístolas, à medida que formulamos uma doutrina bíblica do batismo no Espírito Santo. EDGARD R. LEE, S.T.D Deão Acadêmico Emérito e Professor Sênior de Formação Espiritual e Teologia Pastoral do Seminário Teológico das Assembleias de Deus – AGTS Springfield, Missouri (EUA) JULHO 2010 | Recursos Espirituais • 33 Enriquecimento Teológico Jesus, o Ungido: Nosso Exemplo para um Ministério Sobrenatural POR TIM ENLOE E u jamais vou esquecer aquele entardecer perfumado de Agosto, quando encontrei Jesus como meu batizador no Espírito Santo. Embora não estivesse completamente consciente do por quê queria aquele apoderamento, eu tinha um desejo que me impulsionava a experimentá-lo. Assim que comecei a pronunciar meu discurso em Sua direção, uma nova era em minha jovem vida espiritual teve início. E os vários dias que se seguiram revelaram as possibilidades agora disponíveis para mim – assim como as novas responsabilidades que agora se esperavam de mim – uma vez que eu levava alguém para o Senhor e testemunhava a cura enquanto orava por outrem. A porta para o mi34 • enrichment | JULHO 2010 nistério sobrenatural estava aberta. O ministério sobrenatural estimula a expansão do Reino no NT. Eu não consigo imaginar um ministério que não deseje experimentar e realizar aspectos sobrenaturais deste chamado feito por Deus. Talvez até mesmo pastores radicais, de colarinho rijo, adorariam uma visitação de poder da parte do Santo Espírito – mesmo que isso flexibilizasse sua estrutura teológica. Como você pode ler os Evangelhos e o Livro de Atos sem sen- tir a barriga roncar de fome de um ministério sobrenatural? Andar pelas estradas empoeiradas com os ouvidos ao alcance dos ensinos e os olhos ao alcance dos milagres de Cristo arruinaria até mesmo o crente mais preguiçoso. O conceito de Jesus como nosso Modelo para um ministério com o poder do Espírito Santo precisa ser reexaminado. Se Ele operou o sobrenatural e nos disse para seguí-lO operando também, por que nós não o estamos fazendo? Dentro desta pergunta há outras perguntas. TIM ENLOE De Wichita, KS (EUA) é um evangelista itinerante que viaja por todos os EUA e exterior, pregando e ensinando sobre o Espírito Santo. 1. Como podemos seguir Jesus como Modelo se Ele é divino e nós não? Jesus operou milagres puramente fora de Sua divindade (como o Filho eterno) ou havia algum outro fator em questão? A Escritura é clara. Como o messiânico homem de Deus, Ele nunca estaria destituído de Sua divindade (Cl 2.9), mas operaria sob os auspícios da unção do Espírito. Lucas 4 registra o cumprimento da profecia de Isaías: “O Espírito do Senhor é sobre mim, pois que me ungiu” (Lc 4.18ss; Is 61.1). O apóstolo Pedro revelava a pneumatologia cristológica de Jesus quando ensinava os cesarianos que “Deus ungiu Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e poder, e em como ele fez o bem e curou a todos aqueles que estavam sobre o domínio maligno, porque Deus estava com Ele.” (At 10.38). Jesus operou sob os auspícios da capacitação do Espírito – não porque Sua divindade fosse insuficiente, mas porque, como nosso Exemplo, Ele precisaria nos conduzir por caminhos que conseguiríamos trilhar. Sua promessa de poder advindo com o batismo no Espírito Santo (At 1.8) nos permitiria operar em reinos não acessíveis a um mero ser humano. A promessa de “operar coisas maiores” (Jo 14.12, VKJ) manteve muitos ministros até tarde da noite em introspecção. Jesus falou-nos sobre “coisas maiores”, mas como podem principiantes terrenos esperar que isso aconteça? Falemos sobre ser subqualificado. No con- texto das palavras de Cristo, Ele falou sobre o eminente envio do Espírito Santo – o mesmo Espírito que descera sobre ele em Seu batismo no Rio Jordão – para conceder poder aos crentes. Mais que uma oportunidade para foto trinitariana, o batismo de Jesus e a subsequente descida do Espírito Santo – juntamente com a expressão audível da aprovação do Pai – deveria falar muito sobre o processo de nossa busca pessoal pelo ministério sobrenatural. 2. De que maneiras podemos seguir Jesus, o Ungido, como nosso maior Exemplo? No comissionamento do ministério messiânico de Jesus em Lucas 4, encontramos duas áreas generalizadas de expectativa sobrenatural: o poder do Espírito nos discursos e nas ações. O ministério de pregação/ensino/profecia de Jesus exemplifica para nós o discurso sobrenatural e com poder do Espírito. Os sinóticos revelam a ad- O ministério de pregação/ensino/profecia de Jesus exemplifica para nós o discurso sobrenatural e com poder do Espírito. Jesus não precisava de perdão para pecados pessoais nem do poder do Espírito Santo para capacitar à fraqueza pessoal, mas sim para nos servir de exemplo. Ele atendeu à vontade do Pai passo a passo, preparando o caminho que nós – que desesperadamente precisamos de perdão e poder – poderíamos trilhar. A descida do Espírito Santo sobre Jesus em Seu batismo estabeleceu uma outra faceta do padrão que devemos seguir, pois, imediatamente depois, Lucas registra que Jesus estava “cheio” do Espírito (Lc 4.1). A confiança de Cristo no poder do Espírito Santo fala sobre nossa desesperada necessidade de sermos batizados no Espírito e “cheios” de poder sobrenatural que advém com ele. Nós podemos seguir o exemplo de Cristo como nosso Modelo de ministério porque, como Ele, nós podemos experimentar e confiar no poder do Espírito Santo. miração da multidão à medida que se maravilhava com a autoridade e o poder das palavras faladas de Cristo (Mt 7.29; Mc 1.22; Lc 4.32). Do mesmo modo, o Espírito Santo mostrou Seu poder nas ações sobrenaturais de cura, exorcismo e milagres (Mt 9.8; 15.31; Mc 1.27; Lc 4.36). Esses atos chamavam a atenção para a pessoa e para a mensagem de Jesus. A continuidade desse padrão se estende a nós. Embora Jesus, o Modelo divino, tenha o Espírito “sem medida” (Jo 3.34), vemos o trabalhar do nosso batismo no Espírito abrindo as mesmas portas para nós. Atos 1.8 delineia o procedimento: primeiro, recebendo poder, e, segundo, sendo testemunhas; uma experiência profeticamente de comissionamento e poder trilhada por um ministério profético e com poder. Observemos que imediatamente depois do derramamento inicial no Pentecostes, Pedro declara que Jesus é o Cristo com tamanho poJULHO 2010 | Recursos Espirituais • 35 Jesus, o Ungido: nosso Exemplo para um Ministério Sobrenatural (Cont. da pág. 35) Ungido, enche-nos de segurança. Muitos der que têm, presunçosamente, tentado as pessoas são trilhar no sobrenatural sem um “compungidas pelo cocompromisso forte com a Palavra, ração” (At 2.37). Compacom a oração e com a presença de re com a reação anterior das Deus; e, como os 7 filhos de Ceva, pessoas às palavras de Cristo. Enseus ministérios estão sendo destão o capítulo 3 mostra Pedro e viados pela busca de ataduras e João demonstrando não um discurfolhas de figo. Certamente dor e so com poder do Espírito, mas tamhumilhação são produtos garantibém atos cheios de poder, como o dos da presunção dissociada. coxo publicamente restaurado próSe nós estivermos verdadeiraximo à Porta Formosa. Lucas quer mente focados em nosso Exemplo que seus leitores vejam que os sedivino, Jesus, o Ungido, e estiverguidores de Cristo cummos comprometidos priram o padrão do mi- Não existe nenhum curso, centro ministerial em cumprir Sua missão nistério de Cristo: disdelegada, as ferramenou doação para uma casa de oração que curso cheio do espírito tas do poder sobrenatupossa garantir um crescimento verdadeiro ral do discurso e dos fae fatos cheios do Espírito após o batismo no da nossa fé e do nível de unção. tos com poder do EspíEspírito. Receber e dar rito irão da mesma forsão os selos da experiência de ba- conceito do que a vida sobrenatu- ma mexer com a nossa vida. Esse tismo no Espírito. ral normal de fato se parece. Não foco sobre Jesus e a linha da vida existe nenhum curso, centro mi- de oração, a presença de Deus e a 3. Como os ministros podem ter a nisterial ou doação para uma casa Palavra nos protegerão da impetusegurança de que o sobrenatural de oração que possa garantir um osidade natural, da presunção e do irá acontecer através de nós? crescimento verdadeiro da nossa fé orgulho. Podemos ter recebido o batismo no e do nível de unção; no entanto, Minha experiência do batismo Espírito anos atrás e resultado em uma simples imersão na Palavra e no Espírito Santo seguido de ação um evento ministerial sobrenatu- a presença de Deus podem reno- – receber e ser – mudou minha traral ocasional ao longo do caminho. var nossas expectativas. As Escri- jetória espiritual, alinhando minha Mas como podemos seguramente turas testificam que “a fé vem pela vida de forma mais próxima ao subir ao nível de uma experiência, pregação, e a pregação, pela palavra exemplo de Cristo. Mas, talvez dependência e obediência maiores de Cristo.” (Rm 10.17, ARA) . Nós você, assim como eu, tenha notahoje? Nós geralmente baseamos as podemos construir nossa fé através do que nossas experiências histórespostas para essa pergunta em do “orando no Espírito Santo.” (Jd ricas podem gerar memórias manossos medos e na consciência de v. 20). ravilhosas que causem menos imnossas fraquezas. Simplesmente, Quando nós amenizamos este pacto à medida que o relógio gira. em geral conseguimos testificar medo com as Escrituras, oração e Por que não se juntar a mim em que a Pomba desceu sobre nós no presença de Deus, um constrangi- uma nova busca por Jesus, o Ungibatismo do Espírito, mas o medo mento santo pode nos consumir ao do, em oração, estudo da Palavra, ainda espreita em algum lugar den- ponto da obediência – não impor- e tempo na presença do Espírito? tro de nós. Podemos facilmente ser ta que resultados possam parecer As Escrituras são claras. O moparalisados pelos nossos medos. tivo de o Espírito Santo descer soque sejam. Eu não estou defenEntão quais os maiores medos dendo uma abordagem impruden- bre nós é nos ungir para o ministéque minam nossa segurança? Pro- te ou cavalheiresca, mas viver nas rio sobrenatural, recebendo poder vavelmente os dois mais consisten- palavras e na presença de Jesus, o e sendo testemunhas (At 1.8). tes que enfrentamos no ministério sobrenatural são o medo de que nada irá acontecer e o medo de que iremos, de algum modo, estragar o processo devido à nossa inexperiência ou inaptidão. Devemos superar esses medos pelo Espírito, pela Palavra e pela oração. Nenhum tipo de torcida ou agito pode nos fazer despertar dessa prisão de medo. Somente despendendo um tempo extra mergulhado na voz (particularmente de Evangelhos e Atos) e a presença de Deus podem restabelecer o 36 • enrichment | JULHO 2010