Percepção da configuração prático

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Percepção da configuração prático
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Edilene Leandro de Brito
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Graduada em Design pela
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Universidade Federal de Pernambuco
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Gabriela Sousa Ribeiro
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Mestre
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pela Universidade
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Federal de Pernambuco
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Resumo
Este trabalho propõe avaliar a percepção da configuração práticofuncional de usuários quanto ao uso dos artefatos pedais de
automóveis, referente ao formato, tamanho e espaçamento entre
sete modelos populares utilizados como viaturas policiais. A
pesquisa, conduzida a partir dos métodos descritivo e explicativo,
baseada em revisão bibliográfica e técnicas de observação,
descrição, comparação, análise e síntese e levantamento físico,
além de entrevistas e questionários, foi realizada junto a motoristas
policiais de um Batalhão da Polícia Militar, em Pernambuco. Foram
identificadas dificuldades entre os pesquisados em perceber o pleno
funcionamento dos pedais, proveniente em ser o pedal um artefato
sem ligações emocionais na hora da escolha do carro e no seu uso.
Além dos problemas inerentes do produto pedal, outros fatores de
interferência foram identificados como o sapato dos militares, o
coturno. Avalia-se ser o pedal do carro um artefato que necessita ser
mais estudado para interferências mais concretas.1
Palavras chaves:
configuração prático-funcional, pedais de automóveis, coturno.
Abstract
This study proposes to evaluate the perception of users’ practicalfunctional configuration, regarding the use of automobiles’ pedals,
referring to the shape, size and spacing between seven popular cars
models used by the police force. The survey, conducted from the
descriptive and explanatory methods, based on bibliographic review
and observation, description, comparison, analysis, synthesis and
physical survey techniques, as well as interviews and questionnaires,
was managed among drivers of a Military Police Battalion, in
Pernambuco. Difficulties were identified among those surveyed in
1 Este artigo é fruto de pesquisa orientada pela Profa. M.Sc.
Gabriela Sousa Ribeiro, durante suas atividades junto a
Universidade Federal de Pernambuco, Centro Acadêmico do
Agreste.
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noticing the full operation of the pedals, because they’re an artifact
without emotional attachments when it comes to choosing and
using the car. Besides the problems inherent the pedals, another
interfering fact was identified as the shoes of the military wear, the
combat boots. The cars’ pedals were evaluated as artifacts that need
to be further studied, in order to suffer more concrete interferences.
Keywords:
practical-functional configuration, cars’ pedals, combat boots.
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1. Introdução
A indústria automobilística, há décadas, investe em pesquisa
de mercado e, a cada novo lançamento, a propaganda ressalta nos
modelos as inovações estéticas e simbólicas, mesmo quando se
refere à potência dos motores, porque o carro, há muito tempo, se
tornou um objeto de desejo.
Paralelo ao crescente desejo do consumidor em adquirir um
automóvel, está o aumento em acidentes, envolvendo as mais
diversas causas, e, muitas vezes, com vítimas fatais. A legislação
de trânsito brasileira busca coibir algumas práticas de motoristas
e também orienta as montadoras com itens obrigatórios como
cinto de segurança em todos os modelos. Em relação aos pedais do
carro, a lei volta-se ao motorista e penaliza com multa quem não
estiver usando um calçado firme ao pé (CONTRAN, 2010). A falta de
especificações quanto ao tipo de calçado deixa uma brecha para ser
guiada pelo bom senso do motorista ou do agente de trânsito.
Mesmo sendo um artefato com uma linguagem simbólica
imensa, várias empresas adotam automóveis populares como item
indispensável para a execução das tarefas, como é o caso de um
Batalhão de Polícia Militar, em Pernambuco. As viaturas são carros
de modelos utilizados pela população civil, mas identificados com a
marca da corporação para o serviço da segurança pública.
O valor simbólico embutido no carro, a legislação de trânsito,
os altos investimentos em pesquisa de mercado promovido pela
indústria automobilística para captar percepções dos consumidores,
a utilização do carro como ferramenta de trabalho e, em especial,
as controvérsias da função prática do pedal gerou o problema
desta pesquisa buscando responder quais aspectos interferem
negativamente no uso dos pedais de carros utilizados como viaturas
policiais: a configuração dos pedais (não se considera o sistema ao
qual ele faz parte, mas formado, espaçamento e altura) ou é apenas
o calçado (coturno), segundo a percepção dos motoristas policiais?
Busca-se assim, neste artigo, avaliar as percepções dos consumidores
na função prática quanto ao uso dos artefatos pedais de automóvel,
durante a realização de suas atividades como motoristas policiais.
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A partir da revisão bibliográfica foi identificada uma carência
de estudo nesta área. Há muitas pesquisas quanto à parte mecânica
e valores simbólicos, mas a função prática dos demais artefatos que
compõe o carro e, em específico, os pedais, não. Para coleta de dados e
pesquisa de campo, este trabalho apoia-se em outros procedimentos
metodológicos, além do bibliográfico, compreendendo nos métodos
descritivo e explicativo. Técnicas como observação assistemática,
descrição, análise e síntese, levantamento físico e comparação
auxiliaram na condução da pesquisa com vistas a obter as respostas
almejadas. Esta última técnica teve maior enfoque na análise dos
dados com a aplicação de questionário estruturado junto à amostra
escolhida, a partir de perguntas abertas. Um questionário inicial foi
aplicado a uma pequena amostragem de sete policiais motoristas
para os devidos ajustes ao questionário final respondido por 84
policiais de um Batalhão da Polícia Militar, em Pernambuco.
A apresentação da pesquisa está distribuída, a partir da
introdução, com uma breve revisão bibliográfica, compondo a
segunda parte deste artigo, comentários sobre a legislação de
trânsito, aspectos dos pedais do carro, do calçado coturno. Em
seguida, a revisão bibliográfica foca a percepção do consumidor
e as estratégias da indústria automobilística na configuração da
função simbólica.
A terceira parte contém os procedimentos metodológicos e
a justificativa da escolha da amostra pesquisada. A quarta parte
compreende os resultados e análises da pesquisa de campo
ilustradas com gráficos e imagens. Segue-se, como quinta parte, a
conclusão possível com a pesquisa de campo compatível com a
fundamentação teórica. Para o acesso às informações contidas neste
trabalho, as fontes pesquisadas estão nas referências bibliográficas
e o artigo finaliza com o agradecimento aos respondentes de um
Batalhão da Polícia Militar, locado em uma cidade de Pernambuco.
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2. O artefato pedal veicular e suas relações
As pesquisas bibliográficas feitas sobre o tema pedal
apontou pouca literatura sobre o assunto. Os pedais do carro,
relativos aos dispositivos para acionamento de embreagem, freio
e aceleração, quando mencionados, são apenas para descrever o
momento em acionar a parte mecânica. Os estudos concentramse no funcionamento do sistema de embreagem/freio/aceleração
apresentando eficiência ou deficiência na parte mecânica. Apesar
de muito pouco ser mencionado quanto ao uso específico do
pedal e sua relação com o motorista, se há ou não interferência no
desempenho no ato de dirigir e acionar os sistemas de embreagem,
velocidade e freio, Santos e Costa Neto (2007) afirmam que o sistema
de acionamento da embreagem está diretamente relacionado com
conforto e ergonomia do veículo.
Formato, tamanho e espaçamento não são considerados. Ao
longo dos anos, a experiência do motorista transforma o ato de
dirigir em algo mecânico e, ao se trocar de carro, é necessário se
readaptar às configurações colocadas por cada fabricante em seus
distintos modelos veiculares.
Santos (2006) lembra que cada fabricante de automóvel e
caminhão tem um modelo específico para o pedal, cilindro mestres,
auxiliares, tubulações, garfos de acionamento, discos e platôs de
embreagem. O autor foca sua pesquisa no desempenho mecânico
do sistema de embreagem de caminhões leves, mas faz uma rápida
relação com o tamanho dos pés (diferencia em gênero) com os
pedais, afirmando que o curso do pedal depende da distância da
cadeira.
2.1 O calçado e o uso dos pedais
O código de trânsito brasileiro nos artigos 103 a 105 trata
sobre os itens de seguranças que as montadoras nacionais e
internacionais são obrigadas a colocar nos veículos. Quanto aos
pedais, não fazem referências, mas em seu artigo 252, inciso
IV, considera infração média e penaliza com multa o motorista
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que estiver “usando calçado que não se firme nos pés ou que
comprometa a utilização dos pedais” (CONTRAN, 2010). Não há um
detalhamento sobre qual tipo de calçado é ou não é firme aos pés ou
o que pode comprometer o acionamento dos pedais e deixa sobre
a responsabilidade do agente de trânsito definir o tais critérios no
momento da fiscalização.
Para este artigo, o sapato analisado em uso com os pedais é o
coturno utilizado pelos militares. Segundo Martins e Melo (2005),
o coturno no formato atual foi criado no século XVII e, mesmo com
modelos e tecnologias mais avançados, segue a mesma estrutura
rígida, porém, adéqua-se ao código nacional de trânsito em firmarse no pé.
Os pedais são alavancas geralmente suspensas na parte
inferior do carro e são acionadas pelos pés do motorista. Suas
funções são acionar a parte mecânica da embreagem, freio e
aceleração (KAWAGUCHI, 2005).
Kawaguchi (2005) faz uma análise quanto à avaliação de
consumidores de carro de passeio sobre o uso do pedal de freio e sua
resposta com a parte mecânica do veículo. O autor afirma o erro na
metodologia das pesquisas das montadoras, e por isso, as respostas
dos consumidores e revistas especializadas são vagas e subjetivas
não fornecendo aos departamentos de marketing e planejamento
de produto informações consistentes para o desenvolvimento
satisfatório ao consumidor de veículo de passeio.
Gillespie (1992) levanta a importância da ergonomia do pedal
do freio para a sensação no sistema de frenagem. Ainda sobre a
relação formato do pedal e qualidade no sistema de frenagem,
Markus (1999) mostra que pedal com tamanho maior responde com
mais eficiência em veículos com freio de disco nas quatro rodas.
A análise feita por Kawaguchi (2005), mesmo sendo específica
para o pedal de freio, pode ser estendida para os pedais de embreagem
e aceleração. Quando menciona a falha nas pesquisas de mercado das
montadoras reforça as afirmações de Bürdek (2006) e Heskett (2006)
no foco da indústria automobilísticas na busca de informações para
o desenvolvimento das funções simbólicas e estéticas. Para analisar
a função prática é necessária pesquisa específica.
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De acordo com Lojacono e Zaccai (2004), isto ocorre em
produtos que não possuem ligações emocionais. Geram, com isso,
dificuldades na coleta de informações pelas pesquisas de mercado
voltadas a desenvolvimento e aprimoramento de produtos. O
consumidor, simplesmente, não sabe opinar porque não percebe a
função. A ligação emocional do consumidor está no carro como um
todo, os pedais passam despercebidos.
2.2 Função percebida do artefato carro
Para perceber é necessário sentir. Esta afirmativa resume o
processo de escolha do consumidor apresentado por Solomon
(2002). Enfatiza o autor da necessidade das campanhas de marketing
estimular os cinco sentidos do público-alvo. Porém, o marketing,
ao apresentar o produto, este deve conter na sua configuração
os estímulos básicos de cor, luz, som, odores e texturas, conforme
menciona Löbach (2001), Bürdek (2006) e Heskett (2006).
Na configuração de produtos, as funções prática, estética e
simbólica estão presentes, entretanto, uma função pode sobressair
em relação às outras e o mesmo produto em seu redesign sofrerá
alterações de valores em sua configuração, de acordo com o
entendimento de como uma sociedade vive em um determinado
espaço de tempo que este produto esteja sendo criado ou em
processo de redesign (LÖBACH, 2001).
Para traduzir nos artefatos uma linguagem a expressar os
desejos dos consumidores, a indústria investe em pesquisa. Isto
reflete no desenvolvimento de produtos com melhor posicionamento
no mercado. Para Bürdek (2006), é o carro que melhor representa um
artefato com informações geradas da observação e compreensão
do que deseja o consumidor. A indústria automobilística analisa as
percepções sentidas das experiências com produtos já existentes
e, a cada modelo lançado no mercado, há destaques para novas
percepções estimuladas pela propaganda e com as experiências
dos tests drives nas concessionárias.
No automóvel, as funções simbólicas e estéticas sobressaem
na percepção. A importância para a função simbólica do carro é uma
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estratégia antiga da indústria automobilística. A análise feita por
Heskett (2006) do modelo Cadillac “Eldorado” e seu rabo de peixe
dos anos de 1950 exemplifica o quanto as necessidades simbólicas
moviam os consumidores a adquirirem o automóvel naquela época.
“Eles [os Cadillacs Eldorado] eram uma imagem da riqueza e do
poder” (HESKETT, 2006, p. 184), mesmo apresentando deficiências
funcionais notórias, uma delas, o alto consumo de gasolina, mesmo
assim, por status, ninguém questionava e era o carro dos sonhos dos
norte-americanos.
A percepção de valor simbólico e também estético ainda
permanece no consumidor na escolha do automóvel. Pouco analisa
as questões funcionais de itens importantes.
O automóvel é um composto de vários outros produtos
(bancos, portas, faróis, volante, painel, rodas, entre outros artefatos)
e alguns têm maior atenção do consumidor do que outros. No caso
dos pedais, é um item ligado a parte mecânica do carro e na pesquisa
realizada para este estudo, o grupo entrevistado teve dificuldades
em analisar a função prática do objeto em foco na sua totalidade.
3. Procedimentos Metodológicos
Para a elaboração deste artigo, dentro dos procedimentos
científicos, buscou-se uma análise entre os procedimentos
metodológicos possíveis a serem aplicados. Para melhor
compreensão e explanação das justificativas referentes às escolhas,
dividiu-se este item quanto ao método e à técnica, e, quanto ao
universo e amostra pesquisada.
3.1 Quanto ao método e à técnica
Foram utilizados os métodos bibliográfico, explicativo e
descritivo nesta pesquisa. Conforme Vergara (2003), o método
bibliográfico possibilita uma análise sistematizada sobre o assunto
estudado e as fontes são livros, revistas e outras publicações. A
mesma autora afirma que para a utilização do método explicativo,
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necessita-se do método descritivo como base de suas explicações.
Os métodos escolhidos auxiliaram na elaboração da fundamentação
teórica (bibliográfico) e na análise da pesquisa de campo (descritivo
e explicativo).
As técnicas escolhidas para este estudo foram:
• Observação assistemática: para a estruturação dos
questionários foram recolhidas e registradas informações
e fatos de maneira informal (Marconi; Lakatos, 2004)
juntamente com relatos dos policiais motoristas e outros
condutores fora da PM, que auxiliaram a estruturação dos
questionários.
• Descrição: foi-se questionado quanto ao tamanho e
espaçamento entre os pedais
• Comparação: os pedais dos veículos analisados são
comparados para identificar os modelos mais apreciados
e os menos apreciados entre os entrevistados. A tabela 1
descreve os modelos pesquisados.
• Análise e síntese: todos os dados passaram por análise e
buscou-se sintetizar as informações de forma coerente e
imparcial.
• Levantamento físico em nível dos equipamentos: os policiais
entrevistados analisam quanto ao espaço reservado para
os pedais em condições de uso.
• Entrevistas e a aplicação de um questionário junto aos
policiais motoristas, com intenção de confirmar os dados
anteriormente levantados e se aprofundar no assunto.
3.2 Quanto ao universo e à amostra pesquisados
O universo pesquisado foi os motoristas da Polícia Militar de
Pernambuco (PM-PE), com número estimado em PMs habilitados
na função em todo o estado em 3.796 motoristas. A frota da PMPE é de 2.823 viaturas. A amostra compreendeu 98 motoristas
entrevistados após a chegada do plantão de 12 horas, locados
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em um Batalhão da Polícia Militar, em Pernambuco. O número
da amostra compreendeu três dias de entrevistas nas trocas do
plantão permitindo ao motorista PM a escolha em responder ou
não o questionário. A limitação de dias obedeceu ao acordo entre as
pesquisadoras e o comando do Batalhão pesquisado. A frota para a
amostra foi 39 viaturas.
A escolha pelo grupo deu-se pelos seguintes fatores:
• Todos os entrevistados usam o mesmo tipo de calçado,
o coturno, calçado desenvolvido para ser fixo no pé e de
solado antiderrapante, que faz parte do uniforme dos
pesquisados (FIGURA 1).
• A frota de viaturas são carros sem adaptações, em especial,
nos pedais, e são modelos populares usados pela população
sem sistemas automáticos.
• Os militares dirigem vários modelos e vários carros do
mesmo modelo.
• O plantão varia de 12 a 24 horas para o motorista. Possibilita
para a pesquisa um período longo na sequência ao ato de
dirigir.
• Todos dirigem em diversas condições de velocidades,
estresse e estradas (autoestrada, área urbana com ruas
calçadas, esburacadas, asfaltadas, solo batido, entre outros).
Figura 1: PMs em serviço calçados com coturno. Fonte: acervo das autoras (2010)
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Quanto à frota, está distribuída de acordo com a Tabela 1:
Tabela 1 - Frota Batalhão da Polícia Militar estudado
Quantidade
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01
01
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Modelo
Parati
S-10
L-200
Gol
Pálio
Sprinter
Bandeirantes
Fonte: Batalhão estudado, 2010
Fabricante
Volkswagen
Chevrolet
Mitsubishi
Volkswagen
Fiat
Mercedez
Toyota
Ano
2010
2008
2007
2006
2003
2001
2000
3.3 Quanto à aplicação de entrevistas e
questionários
Após análise dos dados por meio da revisão bibliográfica
acerca do tema e da coleta dos dados a partir das primeiras técnicas
supracitadas, foram elaboradas perguntas abertas e aplicadas a sete
motoristas da amostra. Esta primeira fase possibilitou a estruturação
do questionário a ser aplicado.
Elaborado o questionário, outros sete policiais motoristas
foram selecionados para a aplicação do pré-teste. A partir da
análise das duas primeiras etapas dos questionários, percebeu-se a
necessidade de reformulações nas questões, foi, então, elaborado o
questionário com perguntas fechadas e abertas e aplicado com 84
motoristas. A abordagem final ocorreu entre as trocas de plantão na
sede do Batalhão estudado entre os dias 08 e 10 de junho de 2010.
4. Resultados e discussões
Alguns dados foram recolhidos como possíveis informações
para análises mais aprofundadas compreendendo:
• O tamanho do calçado: 26% calçam 41; 25%, tamanho 40;
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18% usam 38; 16%, 42; 8% têm o pé tamanho 43; 4% são
44; 2% usam sapatos 38 e apenas 1% dos entrevistados é
acima da numeração 45.
• Tempo de habilitação: 43% dirige de 0 a 9 anos; 41% dos
entrevistados têm de 10 a 19 anos de habilitação; 14%, de
20 a 29 anos; 1% está habilitado há mais de 30 anos e 1%
não soube responder.
• Quantidade de modelos que já dirigiram na vida: 1 a 5
modelos, 16%; 6 a 10 modelos, 50%; de 11 a 15 modelos,
14%; 16 a 20, 5%; acima de 21 modelos, 2%, e 13% não
souberam responder.
Quanto ao tempo de serviço na corporação como motorista, os
dados foram os apresentados no Gráfico 1:
Gráfico 1 – Tempo na função motorista como policiais
Com a abertura de concurso e o aumento do número de efetivos
na corporação, justifica-se 42% dos entrevistados estarem na função
motorista há 1 ano. Para isso, as informações complementares, como
tempo de habilitação, número de modelos de automóveis que os
entrevistados dirigiram durante a vida e a dinâmica do desempenho
na função profissional, validam o grupo para esta pesquisa.
Para certificar-se do tipo de calçado usado em serviço, 100%
dos entrevistados afirmaram utilizarem o coturno ao dirigir as
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viaturas e 43% responderam já ter dirigido os modelos utilizados na
PMs com outro tipo de calçado. Dentre esses 43%, foi questionado
quanto à diferença no uso do pedal com outro tipo de calçado. Os
resultados estão no Gráfico 2:
Entre os entrevistados, 36% afirmaram que outro sapato é
melhor para o uso dos pedais. Somados aos outros percentuais,
observa-se que o coturno interfere no uso dos pedais.
O Quadro 1 apresenta os carros mais utilizados na corporação,
sendo a Parati, fabricante Volkswagen, o modelo de mais acesso
entre os motoristas.
Gráfico 2 – Mesmo modelo das viaturas, mas usando outro tipo de calçado
Quadro 1 – carros mais utilizados pelos motoristas do Batalhão pesquisado
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Dos entrevistados, 65% afirmaram já ter dirigido os mesmos
modelos das viaturas, porém, de anos anteriores. Do grupo que
assinalou positivo, 57% não percebeu se há diferença e 43%
afirmaram ter percebido mudanças nos pedais. Dos 43%, esses
foram questionados quanto à percepção da evolução do produto e
o desempenho no uso dos pedais ficando os seguintes percentuais,
conforme Gráfico 3:
Gráfico 3 – Percepção da evolução e desempenho dos pedais no mesmo modelo de
anos diferentes
O fato de 44% nunca ter reparado nos pedais entre os
modelos de anos diferentes, somado aos 57% que não perceberam
diferença entre os mesmos modelos de veículos de anos anteriores,
comprovam a teoria que os pedais dos veículos são artefatos sem
ligações emocionais e, assim, dificulta a opinião do consumidor.
Para uma análise comparativa dos dados, os resultados dos
gráficos 4, 5 e 6 concernem aos aspectos físicos dos pedais e são
apresentados simultaneamente:
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Gráfico 6 – Quanto à distância
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Há o mesmo percentual de 49% ao formato e ao tamanho:
os entrevistados consideram bom e correto, respectivamente.
Em relação ao formato, os percentuais relativos a perfeito, muito
bom e bom fornecem respostas satisfatórias ao artefato para este
item. Em relação ao tamanho, 15% responderam nunca perceber
e 25% considera o tamanho pequeno. Referente à distância entre
os pedais, o percentual dos que nunca perceberam torna-se maior:
35% contra 23% que considera a distância perfeita.
A atenção fica nos percentuais referente à falta de percepção
quanto aos três itens pesquisados. Os dados gerados nos gráficos 5
e 6 despertam para uma maior necessidade de avaliação do produto.
Dentro da função prática, o pedal deve atender às exigências
plenas de funcionamento por questões de segurança. Para isso,
perguntou-se se o pé já enganchou no pedal. O resultado está no
Gráfico 7. Os motivos dos engates estão no Gráfico 8.
Gráfico 8 - Motivos apresentados pelos motoristas porque o pé enganchou no pedal
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Apenas 29% afirmaram ter o pé já enganchado entre os pedais.
Entre os motivos apresentados pelos motoristas dos que já tiveram
o pé enganchado, há razões inerentes ao próprio pedal (29%
referem-se ao espaço pequeno entre os pedais e 12% mencionaram
o desgaste do produto); 21% mencionam outro artefato que
compõe o carro (o tapete) e outros 13% afirmaram a tensão no
momento da ocorrência, ou seja, pressões psicológicas provocadas
no desempenho da função como policial.
Outra pergunta referente ao pleno funcionamento foi se o pé
escorregou dos pedais. A maioria, 61%, respondeu sim. Os motivos
estão no Gráfico 9.
As respostas geradas no Gráfico 9 foram a partir de uma
pergunta aberta. Entre os problemas apontados, alguns são
específicos do pedal, outros do coturno, além de outros motivos,
como a tensão para atender a ocorrência. O maior percentual ficou
com o coturno molhado, 31%. Se o calçado militar foi desenvolvido
para ser antiderrapante, molhado não atende a esta função prática,
porém, o pedal também não oferece atrito o suficiente para evitar
que o pé escorregue.
Os pedais de cada um dos automóveis utilizados como viaturas
foram fotografados e alguns já apresentam desgaste justificando as
informações dos entrevistados conforme a Figura 2.
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a) Parati – 2010
b) Sprinter - 2001
c) Gol – 2006
d) L-200 – 2007
e) S-10 – 2008
f) Pálio – 2003
g) Bandeirantes - 2000
Figura 2 – pedais dos veículos utilizados como viaturas pelo Batalhão estudado.
Fonte: acervo das autoras (2010)
Os pedais têm tamanhos e espaçamentos diferentes.
Alguns como Gol, Pálio e L-200 já apresentam sinais de
desgaste. Os entrevistados ficaram livres para assinalarem
quais modelos apresentavam os melhores pedais. A Parati,
Sprinter, L-200 e S-10 foram assinaladas como melhores.
Menos de 50% dos entrevistados tem acesso ao modelo
Bandeirantes. Dos que dirigem este carro, todos consideraram
o pior pedal. A Parati e a Sprinter são de fabricantes diferentes
(Volkswagen e Mercedes), mas os pedais de freio e aceleração
são idênticos e ambos estão entre os carros favoritos no item
pedais.
Desde a pesquisa aberta para definição do questionário
final, os entrevistados mencionaram outros modelos que não
fazem parte da frota pesquisada, mas tiveram oportunidade
em dirigir. Alegaram serem os tamanhos e espaçamentos dos
modelos, em geral, desconfortáveis, em especial ao policial
devido ao tipo de calçado, o coturno, porque o pé fica quase
imobilizado.
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5. Conclusão
Para atender ao objetivo proposto neste trabalho, que foi
avaliar as percepções dos consumidores na função prática quanto
ao uso dos artefatos pedais de automóvel, chegou-se às seguintes
conclusões:
• A dificuldade dos entrevistados em analisar as configurações
prático-funcionais dos pedais ocorre por ser este um
artefato sem ligações emocionais.
• O coturno, mesmo desenvolvido com solado antiderrapante
apresenta problemas, em especial, quando está molhado.
• Outros artefatos que compõem o carro também interferem
no desempenho do pedal, em especial, o tapete.
• Para os que percebem o funcionamento dos pedais, a
constância do uso e o conseguinte desgaste, somado
aos problemas de tamanho e distância podem provocar
problemas sérios como o pé escorregar ou enganchar entre
os pedais.
• Produtos utilizados na limpeza, como o óleo de limpeza
veicular, foram apontados como motivos de interferência
no desempenho dos pedais.
O calçado dos policiais tem influência no desempenho dos
pedais, porém, os policiais motoristas entrevistados alegaram
também perceberem as inconveniências dirigindo o mesmo modelo
calçado com outros tipos de sapatos.
Há no mercado uma infinidade de sapatos e adequar os
solados aos pedais dos carros torna-se ilógico. Pode-se afirmar que
o artefato pedal precisa ser repensando em sua configuração, em
particular, para a função prática, por ser um item de segurança no
carro, mesmo que a legislação de trânsito brasileira penalize apenas
o condutor quanto ao tipo de calçado e não acionam os fabricantes
para a busca de soluções do problema.
O calçado dos militares, o coturno, mesmo sendo considerado
adequado para dirigir, segundo a pesquisa realizada, apresenta
falhas em contato com os pedais. Por isso, o problema proposto
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neste artigo em saber quais aspectos interfere negativamente no
uso dos pedais de carros utilizados como viaturas, a configuração do
pedal ou do calçado, segundo a percepção dos motoristas policiais,
passa a ser respondido: ambos impõem restrições.
Almeja-se que os resultados apresentados nesta pesquisa
auxiliem na conscientização do problema e dê subsídios à
continuidade de pesquisas sobre o assunto, com vistas ao redesign
do artefato pedais, possibilitando mais segurança e conforto aos
motoristas em seus deslocamentos.
6. Referências bibliográficas
BÜRDEK, B. E. História, teoria e prática do Design de Produto. 1ª ed. São
Paulo: Edgard Blücher, 2006
CONTRAN. Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997. Código de Trânsito Brasileiro. Disponível em: http://www.planalto.gov.br Acesso em 06 jul. 2010
GILLESPIE, T. D. Braking Performance. In: GILLESPIE, T. D. Fundamentals of
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7. Agradecimentos
Aos policiais do Batalhão da Polícia Militar estudado, que
gentilmente contribuíram a realização desta pesquisa e aos quais
almejamos poder contribuir, de alguma forma, para possibilitar
melhores condições de trabalho.
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